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Jornal Memorial da Medicina 2020, vol. 2 (2), p.8-14

HISTÓRIA DA MEDICINA
ISSN 2674-7103 (on-line) revisão

Compreendendo o processo saúde-doença e o nascimento do


medicina social

Compreensão do processo saúde-doença e o nascimento da Medicina Social

Isadora Sabrina Ferreira dos Santos1 , Laís Eduarda Silva de Arruda1 , Luís Roberto da Silva1 , Erlene Roberta
Ribeiro dos Santos2
¹Acadêmicos do Curso de Bacharel em Saúde Coletiva do Centro Acadêmico de Vitória, Universidade Federal de
Pernambuco – CAV/UFPE, Pernambuco, Brasil.
²Departamento de Saúde Coletiva, Centro Acadêmico de Vitória, Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco,
Brasil.

Abstrato
A Medicina Social nasceu da discussão no século XIX sobre o processo saúde-doença, sendo uma das precursoras
da promoção da saúde, na qual era vista como uma tecnologia da época para o processo saúde-doença da
população. O processo saúde-doença se transforma ao longo do tempo, sendo imprescindível um pensamento
universal que entenda que os gradientes de mortalidade e morbidade envolvem classes socioeconômicas. O objetivo
desta revisão é revisitar as teorias que fundamentaram as definições do processo saúde-doença ao longo da história
da humanidade e a contribuição da medicina social para o contexto atual da saúde coletiva. É relevante abordar que
as condições de vida e trabalho da população estiveram diretamente ligadas à sua situação de saúde, fatores sociais,
culturais e psicológicos que influenciam na ocorrência de doenças e adoecimentos. Portanto, promoção, prevenção,
cura e reabilitação foram medidas iniciais baseadas na educação em saúde e ações utilizadas pelo Estado. Além
disso, o campo da medicina social contribuiu fortemente para aprimorar e implementar o modelo de atenção primária
à saúde (APS), voltado para a comunidade, considerando os determinantes sociais da situação de saúde das
comunidades, além dos aspectos individuais de cada ser.

Palavras-chave: Processo saúde-doença; Medicina social; Saúde coletiva.


_____________________________________________________________________________________

Introdução Assim, o processo saúde-doença

sofre transformações ao longo do tempo, nas quais


A medicina social surgiu a partir do século XIX
pensamento universal é essencial, entendendo que
século de discussão sobre o processo saúde-doença,
os gradientes de mortalidade e morbidade envolvem
sendo um dos precursores da promoção da saúde, em
classes socioeconômicas, de modo que as pessoas com
que era vista como uma tecnologia da época para o
rendimentos são vulneráveis a uma situação de saúde pior.
processo saúde-doença da população.1 Assim,
Assim, as transformações que o processo saúde-doença
o processo saúde-doença que está intimamente ligado
processo pelo qual passa ao longo dos anos é fundamental para
o contexto econômico da sociedade tem sido
compreender intimamente todo o contexto que
transformado ao longo do tempo, devido ao fato de que
envolve a doença e a saúde do social
as explicações exigiam melhor coesão e coerência com
corpo, desde a situação de saúde até o contexto
o que o corpo social precisava.2
socioeconômico.3

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Além disso, a medicina social, que nasce

com uma crítica muito intrincada da medicina biomédica

modelo, começa a se pontuar como modelo

com base nos determinantes sociais, o que vai contra

a história e a transformação da saúde-doença

processo ao longo dos anos, que começa a romper com a

ideia da doença como pecado da época.2

Assim, o objetivo desta revisão é

revisitar as teorias que sustentaram a

definições do processo saúde-doença ao longo

história humana e a contribuição da sociedade Figura 1- Pintura da parábola do primeiro Lázaro da Bíblia, a
medicina ao contexto atual da saúde coletiva. partir de fotos.
Fonte: Aventuras na História - Repositório Digital UOL

Processo saúde-doença
Além disso, o povo hebreu não
As concepções de saúde e doença começaram a
necessariamente acreditar que a doença era um pecado divino,
desenvolver a partir do povo sumério, bem como em
mas um sinal dela, como forma de alertar o ser humano
antigo Egito, onde a doença era vista e analisada
ser para seus pecados. No entanto, é possível
como um castigo divino, tendo um caráter mágico-religioso
ver que a doença era um sinal de desobediência ao
concepção resultante da ação de forças estranhas
mandamentos divinos, e que esta doença
ao organismo que eles introduziram pelo pecado ou maldição.
proclamada de forma visível, como a lepra (Figura 2).4
Além disso, o processo saúde-doença manifestou-se

se insere no campo das artes (através das obras, da cultura

(através de mesas, chás, preparações, rituais de magia),

e ciência já nos séculos mais atuais (Figura 1).4

Figura 2- Ilustração de membros da igreja fazendo o


diagnóstico de hanseníase, por Alexandre Teles.
Fonte: Aventuras na História - Repositório Digital UOL.

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patogênese e período de patogênese, "explicando",


Na Idade Média, a doença ainda é vista como um
na época, os processos de adoecimento advindos de
relação com o pecado, e a cura como uma questão de fé,
agentes etiológicos específicos, para cada doença”.5
os cuidados aos doentes, na maioria dos casos, eram prestados ao

ordens religiosas que administravam o hospital, mas não Quando essa teoria foi esgotada, baseada em

como local de cura, mas de repouso para os enfermos.4 as transformações demográficas e

Características epidemiológicas do Brasil


Entre as teorias que explicam a saúde
população, marcada na década de 1950, quando
processo da doença, no Brasil, no final do século XIX
doenças não transmissíveis ocupam um lugar de destaque
século, a concepção primitivista atribuída ao
lugar no cenário de morbidade e mortalidade no
doença uma situação de causa única e/ou
país, o modelo não apresentou robustez para
causa sobrenatural, muitas vezes associada a uma
explicar as causas, permitindo assim a quebra de
punição do céu para os enfermos. Como um concreto
este paradigma e discussão da teoria com base em
causa de geração de doenças, também foi aceito o
a determinação social da Saúde-Doença
crença na teoria dos miasmas, em que a doença é
processo, fortalecido na década de 1960, na América
associado ao contato, sentido do tato, atmosférico
América.
condições (Figura 3).

Apresentando maior poder explicativo ao

fenômenos sociais de saúde e doença, no

contexto de subordinação ao capitalismo do

países do mundo e aumentando a

desigualdade (medicina social dos modelos da França,

e Alemanha), esta teoria fundamenta a origem

doença, na corrente de pensamento da patologia social,

trazendo a necessidade do tratamento dos problemas sociais e

processos políticos de intervenção na saúde

processo de doença.

Medicina Social e contribuição para a saúde


Figura 3- Triunfo da morte, de Pieter Bruegel.
Fonte: Repositório digital história das artes. processo de doença

A partir das experiências empíricas (iniciais A Medicina Social vem com três
evidências), aperfeiçoamento do método científico
subdivisões. A medicina de Estado, que se desenvolveu em
e a observação de outros aspectos que influenciaram
Alemanha, com o objetivo de intervir no
a condição saúde-doença, o modelo baseado na
estagnação do desenvolvimento econômico, buscando melhor
história natural da doença (tríade ecológica) foi
alternativas para aprimorar as ações do Estado,
expandido, trazendo conceitos relacionados ao pré
uma vez que a economia estava desestruturada e vários

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funcionários ficaram paralisados. Logo, seus superiores

foram forçados a fazer um processo de planejamento e

organização.6

A segunda modalidade, desenvolvida na França,

com a medicina urbana o Estado passou a ter um

unificação do poder urbano para fins econômicos e

razões políticas. E, a partir da terceira modalidade de

construção que a medicina social começa a desenvolver

na Inglaterra, caracterizada como a medicina do

pobre. Com o desenvolvimento industrial, bem como a

crescimento do proletariado, nasceu a lei dos pobres.6 Figura 4- Doenças na Idade Média
Fonte: História Interativa See More

Desta forma, a forma como eles se beneficiaram


Assim, a Medicina Social buscou alternativas
assistência médica, a população também teria
que integrava ciências sociais, epidemiologia,
submeter-se a controles médicos, e a partir disso o
determinação de doenças e políticas de saúde. Com
a resistência popular a esse controle começaria a
o objetivo de contribuir, por meio de
emergir. Nesta perspectiva, a necessidade de integrar
modelos individuais e coletivos na saúde
surge os pilares essenciais, ou seja, a prática clínica
dimensão da doença.7
realiza o estudo da doença no indivíduo,

Assim, é relevante abordar que os vivos verificando caso a caso, e estudos epidemiológicos

e as condições de trabalho da população eram os fatores que determinam o comportamento do

diretamente ligada à sua situação de saúde, social, frequência e distribuição de doenças na população
4
fatores culturais e psicológicos que influenciam o grupos.

ocorrência de doenças e enfermidades. Portanto,


Sendo o objetivo da Epidemiologia
promoção, prevenção, cura e reabilitação foram
produzir conhecimentos e tecnologias,
medidas iniciais baseadas na educação para a saúde e
que ajudam na divulgação e contribuição
ações utilizadas pelo Estado visando a melhoria da qualidade
do processo saúde-doença, capaz de
de vida (Figura 4).8
promoção da saúde individual por meio de medidas
de alcance coletivo. Para avaliar o

criação de políticas públicas equitativas, universais e

integrativas (Figura 5).9

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Figura 6 - Ilustração da II Revolução Industrial.


Fonte: Repositório digital professorando história, 2017.

Michel Foucault já discutia essa

medicina foi o resultado do desenvolvimento de

conhecimentos, técnicas e formas que trabalham com o

aspecto social do mundo, como o desenvolvimento

da biopolítica (estratégias de gestão que envolvem

os aspectos sociais e biológicos da população).7,8

Virchow, em sua época, já apontava

como as questões socioeconômicas implicavam na saúde


Figura 5- Ilustração de indivíduos acometidos pela peste 10
bubônica. condições da população.
Fonte: Getty imagens
No Brasil, durante a VIII Conferência Nacional de Saúde

Medicina Preventiva, Saúde Coletiva Conferência, os princípios da medicina social foram

comentado e trabalhado, contribuindo para o


A medicina preventiva tem contribuído fortemente para a
implantação do campo da saúde coletiva no reforma sanitária brasileira, aumento da produção

relacionadas aos aspectos sociais da saúde e formação de


mundo e no Brasil. No século XVIII, com a
campo da saúde coletiva no país. Isso também
políticas de higiene que ocorreram na Europa Ocidental,
trouxe críticas ao extremamente assistencialista e
a necessidade de higiene para manter indivíduos e
modelos biológicos de atenção à saúde da época, que
saúde coletiva foi discutida. Isso trouxe o
ainda hoje estão presentes, porém, trouxe a
A responsabilidade do Estado na formulação de políticas e
possibilidade de pensar a saúde de forma ampla e
normas de interesse para a saúde, e mesmo no advento
complexa.11
da Revolução Industrial, o impacto do trabalho

condições de saúde da população já foi percebida (Figura O campo da medicina social tem fortemente

6).10 contribuiu para a melhoria e implementação

do modelo de Atenção Primária à Saúde (APS), voltado para

a comunidade, considerando o social

determinação da situação de saúde do

comunidades, além dos aspectos individuais de cada

ser. O engajamento social é essencial para o

funcionamento da APS, desde a vinculação com o

território permite aos profissionais de saúde conhecer

problemas daquele local, identificar possíveis causas e

soluções para atender as necessidades de saúde da população,

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considerando sua totalidade e não apenas o indivíduo a compreensão da necessidade de ser cuidado, de que
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quadro clínico. foi pensada uma nova visão sobre as medidas a serem utilizadas.

A estratégia saúde da família (ESF), um modelo de Assim, apesar de ser o indivíduo que recebe

A APS adotada no Brasil, tem em sua essência a base doente, a saúde deve ser pensada no coletivo

da medicina social, uma vez que visa atender a saúde dimensão, pois é fundamental reconhecer a

necessidades da população de forma resolutiva e considerando impacto social, meio ambiente e

a integralidade dos usuários.11 determinantes que o indivíduo está inserido, a fim de

promoção da saúde é uma das principais bases da entender os fatores que contribuem para o

ESF e consiste em um conjunto de estratégias que visam doença, para que as necessidades de saúde sejam atendidas.

atender às necessidades individuais e coletivas de saúde e


Diante disso, entende-se que a sociedade
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ampliando a qualidade de vida.
medicina tem um grande impacto na transformação da

A epidemiologia desempenha um papel essencial na forma como se compreende o processo saúde-doença, uma vez que

desenvolvimento da atenção à saúde coletiva, uma vez que é é possível perceber que todo esse processo

a partir dela e de suas ferramentas que é possível elaborar começa a se desenvolver melhor desde o seu nascimento, quando o

e analisar a situação de saúde dos indivíduos acesso à saúde começa a se tornar mais efetivo

viver em um determinado território e, assim, ter apoio para e concreto.

planejamento de ações, elaboração de prioridades e


Com isso, é perceptível a necessidade de
estratégias de intervenção nas necessidades de saúde nesse
fortalecer processos de atenção à saúde baseados em
localidade.
os princípios e concepções da medicina social. Isto
É claro que o campo da saúde coletiva é essencial produzir estudos voltados para a

exerceu forte influência sobre os fundamentos da história dos modelos de atenção à saúde humana com a

medicina social, através das primeiras estratégias para propósito de entender como os modelos atuais
compreender a determinação social da saúde foram construídas e conhecendo suas bases.

situação e doença da população. E acabou Referências


ao longo dos anos, este campo tem crescido e fomentado o
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O processo saúde-doença está diretamente ligado
Disponível em: https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/
ao nascimento da medicina social, bem como a sua esf/2/u
nidades_conteudos/unidade01/unidade01.pdf
contribuição para os avanços da saúde. Já que era de
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autor para correspondência


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Physis, 17(1):29-41.

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