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RESENHA

CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte imperial. São Paulo,
Cia da Letras, 1996.

JOÃO VICTOR GOMES ALBA

CAIO CESAR SOUTO

KEVIN ANDRES ROSERO ALZATE

FOZ DO IGUAÇU,08 DE DEZEMBRO DE 22


Sidney Chalhoub - um dos nossos mais talentosos historiadores, reconhecido por seus
importantes e instigantes estudos sobre cotidiano e trabalho e sobre escravidão - faz uma
incursão bem sucedida nas areas dos saberes e das práticas em torno da doença que com o objeto
das últimas décadas de muitas pesquisas e estudos no âmbito das chamadas ciências humanas,
os médicos e os higienistas, as doenças, as políticas de saúde pública, as instituições médicas, e
as temáticas relacionadas à construção e à consolidação de saberes e práticas da medicina social,
eles vêm conquistando um espaço cada vez mais significativo no campo da história. No Brasil,
estes estudos têm sido marcados predominantemente Seguindo uma linha de análise bastante
distinta. da saúde e da cura. Os cortiços, as epidemias de febre amarela, o serviço de vacinação e
a cultura vacinophobica, aspectos que marcaram profundamente a trajetória e que são os objetos
centrais das histórias das políticas de saúde pública, narradas em sua mais recente obra.

No primeiro capítulo o autor inicia apontando sobre o mais notável cortiço do Rio de
Janeiro na época de 1890, o Cabeça de Porco. Um pedaço desse cortiço teria sido fechado pela
Inspetoria Geral de Higiene do Rio de Janeiro. Os moradores foram avisados para se retirar do
local para que demolissem as casas do cortiço. A intimação fora ignorada pelos residentes e em
janeiro de 1893, várias entidades governamentais da Intendência municipal se reúnem para
iniciar a destruição do ‘Cabeça do Porco’. Diversas famílias negaram abandonar seus lares e
alguns só saiam quando os escombros começavam a os atingir. Ao amanhecer do dia seguinte, o
Cabeça de Porco não passava de pedras sobre pedras, os moradores desamparados são ignorados
enquanto as grandes mídias ditam a destruição do cortiço como um ato de coragem do prefeito
“Em geral, as notícias sobre o episódio louvavam a decisão e a coragem do prefeito com alusões
à mitologia greco-romana” (CHALLOUB, 1996, p.18). Com o fim da escravidão, a relação de
liberto e escravo vira um problema. As teorias racistas entram mais em evidencia e a ideia de
negros vivendo livres os faz buscar novos modos de os manter sob controle. Esses cortiços
serviam de lar para esses povos, pois eles surgem pelo aumento dos alugueis e das imigrações,
aumentando assim o número de pessoas pobres que se veem obrigadas a sair. A diante disso
surge a ideologia de higiene que toma essas classes pobres como a fonte dos males da sociedade,
como vícios e doenças. Os higienistas passam a ganhar mais poder na administração pública,
esse crescimento chama atenção de empresários que usam suas ações como justificativa de
expansão urbana, se aproveitando da situação para lucrar. O capítulo termina com o autor
expressando sua opinião “Eu realmente não acho que todos os reformadores da cidade na virada
do século eram movidos apenas por considerações maquiavélicas e interesseiras” (CHALLOUB,
1996, p.56). Fica evidente como o racismo e o preconceito com as classes pobres e negros livres
os tomando como a “classe perigosa” onde seus principais objetivos era eram tornar o país
melhor e mais seguro para receber imigrantes.

No segundo capitulo o autor menciona a chegada das epidemias como a febre amarela, tipo
de salubridade e algumas teorias do ano 1850 , em como afetava a economia do brasil e das
reflexões desenvolvidas entre a história da febre amarela e “a história das transformações nas
políticas de dominação e nas ideologias raciais no Brasil do século XIX”. Assim, o autor fala da
relação entre febre amarela, teorias médicas e política na década de 1850,tambem fala o autor
que situando, de um lado, as controvérsias teóricas ja mencionadas no campo científico,
opondo infeccionistas a contagionistas e, de outro, o caráter restrito das medidas de combate às
epidemias de febre amarela veiculadas pelo governo imperial. No que se refere a este último
aspecto são levados em consideração os próprios limites do conhecimento médico acerca da
doença e seus conseqüentes desdobramentos, enfatizando-se, contudo, que a
ameaça social representada por uma doença que poupava os africanos - e a população negra em
geral - era vista de forma atenuada num contexto marcado pelo suprimento suficiente de mão-
de-obra escrava. A partir dos anos 1870, momento em que se exaltam as vantagens do trabalho
assalariado dos imigrantes brancos, determinaria a elaboração e a difusão de “novos sentidos
políticos e ideológicos”. Sendo assim que a febre amarela, vista como “obstáculo ao progresso e
à civilização” do país. Deste modo, a compreensão das razões que levaram autoridades públicas,
médicos e higienistas a priorizar o combate à febre amarela - em detrimento de doenças tão ou
mais graves, como a tuberculose. Por fim, nosso autor cita uma comparação como portugueses e
imigrantes africanos, pois os africanos conseguem resistir mais à febre amarela do que os
imigrantes portugueses.

Ao decorrer do terceiro capítulo de seu livro denominado “Cidade Febril”, Sidney começa
a relatar sobre o grande movimento antivacina que dava-se início e se alastrava no Rio de
Janeiro. Em específico, esta resistência estava sendo protagonizada por pessoas que se opuseram
à vacinação contra uma das piores doenças que o ser humano já enfrentou e presenciou, a
varíola. Para certa parte dos manifestantes “antivax”, uma das razões desse negacionismo em
adotar a proteção advinda da vacina estava alicerçada em critérios de origem religiosa, como por
exemplo: práticas e dogmas, cultos e devoções fundamentados em tradições africanas.
Este movimento muito bem lembrado até os dias atuais ficou conhecido como “A Revolta da
Vacina” e, iniciado no ano de 1904, teve uma duração breve (por volta de 5 dias), mas bastante
intensa. Além dos fatores culturais e religiosos envolvidos, a grande parcela do acontecimento
dessa revolta se deve ao fato de as políticas e práticas de vacinação terem sido impostas de
maneira obrigatória à população quando a lei n° 1.261 foi aprovada no dia 31 de outubro de
1904 e regulamentada 9 dias depois. O cenário visto seria o seguinte para os não vacinados:
essas pessoas estariam impedidas de realizar matrículas escolares, não conseguiriam empregos,
não viajariam, assim como o pagamento de multas para quem fosse contrário a se vacinar, dentre
outras limitações e restrições. E, justamente por conta deste contexto de exigência vacinal e de
malefícios para os manifestantes revoltosos - “vacinophobos” - os mesmos começaram os seus
protestos nada pacíficos nas ruas da capital do Rio de Janeiro: apedrejando carros, destruindo
bondes, rompendo sistemas elétricos, erguendo barricadas, etc. Enfim, após isso tudo, no dia 16
de novembro daquele ano, a lei que obrigava a vacinação foi revogada. E o culminante desses
ocorridos foi logo no ano seguinte da revolta, quando uma forte epidemia de varíola voltou a
atingir o Rio de Janeiro, sendo relatado por volta de 6.500 novos casos da doença, de acordo
com informações da Casa Oswaldo Cruz. Foi neste momento que, por fim, as pessoas que antes
eram contrárias à vacina, começaram a ir se imunizar por conta própria, procurando postos de
saúde para conseguirem se vacinar. E, após muitas campanhas de conscientização e esforço
demandado de diversos setores da sociedade e governo, o Brasil finalmente obteve o êxito nesta
longa caminhada contra a varíola, no ano de 1973, recebendo o certificado de erradicação da
doença dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O livro trata das reflexões sobre pontos importantíssimos da época, primeiro falando sobre
as lutas de classes contra uma política opressiva. Fala sobre como a ciência histórica não pode
ser estudada sozinha, mas vem acompanhada de suas tensões e resistências, a diferença do
conhecimento popular e cientifico. Mostra como
O livro trata das era de interesse focar apenas nas doenças que afetavam as populações mais
privilegiadas, como o exemplo da tuberculose que é ignorada pelo fato de acometer
principalmente a população negra. E por fim mostra as atitudes do governo para obrigar as
pessoas que tinham receio das medicinas oficiais com leis a fim de não os dar escolha a não ser
se vacinarem, seguindo de uma vacinação forçada, causando assim a conhecida Revolta da
Vacina. A leita do texto é didática e interessante para se estudar de um ponto de vista histórica
com relação as questões da saúde atual, e é escrito de maneira muito inteligente.

Referências Bibliográficas:

CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte imperial.


São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

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