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Introdução

Carlos Alberto Basílio-de-Oliveira


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1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS época foi prescrever o mais velho receituário
da higiene sexual: a monogamia e o uso de pre-
Não faz muito tempo, foi descrita uma servativos.
nova entidade patológica, a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida, que explodiu As próprias instituições médicas oficiais
através de verdadeira pandemia, deixando sur- abordavam a questão com muita timidez. Até
os políticos lidavam com a epidemia manten-
presa toda a classe médica, espalhando pânico
do o máximo cuidado possível, evitando, inclu-
entre os pacientes, criando dúvidas e temores
sive, as expressões de compaixão. Tornaram-se
incontroláveis. Tornou-se uma realidade mis-
comuns as entrevistas com infectologistas de
teriosa que rapidamente avassalou o mundo
ocasião, o que demonstrou o conhecimento su-
inteiro. Havia medo de tudo, não se podia ga-
perficial de muitas autoridades sanitárias. No
rantir ou até aventar de onde poderia surgir a
entanto, muitos jovens continuavam a morrer.
enfermidade, que se constituiu na nova peste
Mesmo com o desastre em plena escalada, a
do final do século XX3.
comunidade médica permaneceu, com raras
A Aids iria tornar-se em pouco tempo um exceções, estranhamente em silêncio. Não foi
dos maiores problemas de saúde pública da anunciado qualquer programa de investigação
nossa civilização, grassando em todos os conti- pelas autoridades governamentais, até que se
nentes. Se, por um lado, a problemática envol- comprovou a possibilidade de a doença atingir
via questões, muitas vezes acima das decisões a população em geral, quando da implicação do
governamentais, por outro não deixava de en- contágio das infecções virais por transfusões
cerrar responsabilidades individuais. Tornou-se sangüíneas. No Brasil, em especial, o problema
amplo o campo das discussões a propósito dos dos bancos de sangue que controlavam o comér-
valores sociais daquele momento histórico, cio de forma vergonhosa e hedionda explodiu
com abrangência desde as raízes da sociedade de maneira violenta. Manchetes em jornais e nos
humana até os compromissos moral e ético de principais meios de comunicação bradavam
cada cidadão com relação à sua comunidade. contra os mercadores de sangue que não dispu-
Causou impactos psicológico, social e econômi- nham de qualificação profissional e técnica
co proporcionais aos preconceitos que envol- para o controle do produto e de seus derivados.
viam moral, amor, sexo, sangue e morte3. Um dos fatos que, de início, melindraram os
Uma visão retrospectiva deixava verificar a primeiros debates públicos, criando fortes bar-
inadequada apreciação do iminente desastre reiras, dizia respeito ao homossexualismo pela
epidemiológico por parte dos agentes de saúde, singular problemática social, principalmente de
o que permitiu o rápido e progressivo aumen- ordem familiar. Era ainda um tabu, no início
to do número de casos. Ninguém estava certo dos anos 80 do século XX, não totalmente assi-
do que era preciso fazer. A única atitude real- milado pela sociedade brasileira, aliado à pro-
mente tomada pelas autoridades médicas da miscuidade sexual sem paralelo na História. Da
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Capítulo 1 1
mesma forma, as megalópoles, que não dispunham, pelo infectados, devido a particulares circunstâncias, ocorreu
menos na periferia, de água e de esgotos, estavam à espe- em comunidade de hemofílicos, no Centro de Hemato-
ra de um agente novo e selvagem que facilmente passaria logia Santa Catarina, sob a orientação de Augusto Gonzaga.
a ter condições de reeditar em proporções catastróficas as Na nossa cidade, várias reuniões médicas marcaram
pestes da Antigüidade. época. A primeira foi organizada na Sociedade de Medici-
Daqui a muitos anos, quando os historiadores se debru- na e Cirurgia do Rio de Janeiro por Corrêa Lima, em março
çarem sobre a história desta enfermidade, suspeitamos que de 1985, seguindo-se, um ano depois, a primeira publica-
não realçarão as sórdidas imagens de falência social e de ção nacional sobre Aids em forma de livro13. A outra
negligência governamental, mas que, em vez disso, conta- reunião realizou-se na Academia Nacional de Medicina,
rão os notáveis feitos de heroísmo que marcaram este organizada pelo acadêmico Padilha Gonçalves, ainda em
período solitário de lutas, para descobrir o desconhecido. agosto de 1985, que desencadeou o balizamento das prin-
Paralelamente ao descaso, cresceu uma ação coletiva cipais questões médicas sobre o assunto, possibilitando
entre os que estavam em maior risco de contrair a doen- maior abertura política aos futuros debates públicos. Logo
ça. Esta força concentrava-se na firme determinação de depois, em final de novembro do mesmo ano, Morais de
não serem destruídos e na tentativa de deslocar a opinião Sá organizou o primeiro simpósio sobre Aids, denomina-
pública na direção de concreta ação contra a epidemia. do Projeto Aids-Rio de Janeiro.
Ocorreu a formação de várias entidades, com ou sem a so- Vários outros tradicionais centros de excelência fizeram-
lidariedade religiosa, que de forma isolada partiram para se sentir, com particular atenção aos pacientes que se mul-
a proteção aos pacientes, promovendo campanhas que se tiplicavam à porta de seus hospitais, enchendo os
tornaram conhecidas em todo o mundo. Nesta época, al- ambulatórios e ocupando as enfermarias. Deve-se fazer des-
cançaram-se feitos heróicos marcados pela dignidade, co- taque para os esforços desenvolvidos pelos hospitais uni-
ragem individual, respeito ao semelhante e atitude ética48. versitários, que, principalmente através dos serviços de
Os que sofrem não podem ser colocados à margem da doenças infecciosas e parasitárias, voltaram-se para a luta
sociedade. Ao contrário, devem sentir-se na vanguarda contra a epidemia, da mesma forma que aconteceu no Hos-
da civilização moderna, por prestarem essencial serviço à pital dos Servidores do Estado, tendo à frente Adrelírio
humanidade, mostrando o perigo de possível catástrofe para Gonçalves. O laboratório de anatomia patológica do Hospi-
o homem e sua comunidade. A sociedade precisava definir, tal Antônio Pedro também pontuou no estudo de
de maneira objetiva, os rumos de colaboração segura que necropsias de Aids sob a orientação de Barreto Netto. O
fossem capazes de provocar mudanças no destino de mui- Departamento de Imunologia, do Instituto Oswaldo Cruz,
tos. As gerações vindouras nos cobrarão as atitudes e os pro- com o trabalho pioneiro de Bernardo Galvão Castro tam-
gramas não definidos, que deveriam encerrar, antes de tudo, bém marcou forte pontuação pelos estudos sorológicos na
compaixão, coragem, inteligência e sabedoria. Todo este pesquisa e no diagnóstico dos primeiros casos da época.
vendaval fez com que os profissionais de saúde agissem em A tudo se assistia, mas pouco se conhecia para enfrentar
benefício das classes sociais desfavorecidas, como a das tantas questões diagnósticas. Que influências foram capa-
mulheres, a das crianças e a dos adolescentes. zes de criar as condições ambientais e sociais para o de-
O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), consi- senvolvimento da peste de nossos dias? Que fenômeno
derado pioneiro no Rio de Janeiro e no país, enfrentou com biológico, estilo de vida ou comportamento sexual poderiam
determinação e objetividade esta grave enfermidade, mes- justificar tal situação? Seria uma questão multifatorial? Um
mo quando as autoridades de saúde pública negavam que vírus novo, mutante? Vindo de onde? Eram dúvidas que
houvesse epidemia no Brasil, o que tornava a questão sem levaram a desafios históricos quanto à etiopatogenia, pa-
prioridade médica. Os pacientes que bateram às portas tologia geográfica, conceitos epidemiológicos e tantos ou-
deste hospital tiveram pronta e correta acolhida, conforme tros aspectos que brotavam em nossas consciências.
as propostas avançadas para a época, depois reconhecidas Em pouco tempo, criaram-se as condições sociocul-
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Centro turais favoráveis à disseminação de um vírus que, até então,
de Controle de Doenças — CDC (Centers for Disease mantinha-se isolado, restrito provavelmente a microam-
Control and Prevention), em Atlanta, Geórgia (EUA)3. bientes populacionais, mas pronto para desencadear a qualquer
Desta forma, foi o HUGG reconhecido como centro momento, na dependência de mudanças do comportamen-
nacional de referência, local de excelência para a assistên- to do homem, verdadeira epidemia que assolou o final do
cia médica, o ensino e a pesquisa da doença, mantendo século XX, perpetuando-se, embora com outro perfil, até
constantes avanços tecnológicos. Isto privilegiou, sem os nossos dias.
dúvida, as primeiras abordagens confiáveis quanto ao com- O vírus necessita de oportunidade para uma transmissão
portamento de risco e as infecções oportunistas documen- rápida, o que foi possivelmente facilitado pela estreita re-
tadas por médicos brasileiros. lação entre o ecossistema viral e o processo de urbanização
Referência especial deve ser estendida ao Hospital ocorrido na África. Um potente coquetel de pobreza, pros-
Emílio Ribas, que se constituiu no primeiro centro de tra- tituição e drogas permitiu que sobrevivessem as mutações
tamento em São Paulo pela sua antiga vocação para as do- mais letais do HIV.
enças infecciosas e parasitárias. O Gaffrée e Guinle e o A impressão dos especialistas que lidaram com os pri-
Emílio Ribas mantiveram atualizadas as trajetórias de luta meiros pacientes, nos dois ou três anos de conhecimento
com os mesmos desafios e ideais. da síndrome, foi de que se tratava de verdadeira peste com
No Rio de Janeiro, a primeira oportunidade de atendi- falência múltipla dos sistemas orgânicos e extrema queda
mento organizado de assistência médica a pacientes imunológica. Em sua maioria, os casos eram muito graves,
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2 Capítulo 1
de instalação rápida, com quadro infeccioso e evolvendo preciosidade do vírus Delta, representado por agente
para o óbito após curta evolução, sendo observados em patogênico defectivo que necessita de combinante meca-
muitas regiões ao mesmo tempo. Essa cadeia de fatos clí- nismo com o vírus B para efetiva agressão aos hepatócitos.
nicos, de causa desconhecida até então e com algumas co- Diante disso, não podemos deixar de compreender as mu-
nexões epidemiológicas, não deixava pensar de outra danças de comportamento dos seres vivos, na tentativa de
maneira: tratar-se-ia de legítima epidemia, como tantas ou- perpetuar o seu ciclo biológico. Ao homem, isto sim, cabe
tras que assolaram o mundo em diferentes épocas. aplicar e desenvolver pesquisas contra as artimanhas bio-
As epidemias acompanharam no tempo a história da lógicas desenvolvidas pelos diferentes agentes agressores
humanidade. O relato de Tucídides sobre a peste em Atenas, do mundo em que vivemos.
na época de Péricles, comparativamente aos nossos primei- A solução de qualquer mistério requer a seleção e o
ros momentos da Síndrome da Imunodeficiência Adquiri- acúmulo de provas capazes de levar à reconstrução de fa-
da, identificam-se na razão do desconhecido. Ambas as tos e acontecimentos, criando um quadro coerente de
comunidades médicas, a da antiga Grécia e a contemporâ- elementos aparentemente não-relacionados. A busca da
nea, pouco sabiam a propósito de suas respectivas pestes. O verdade, no capítulo das doenças transmissíveis, alcança
famoso historiador grego, em plena guerra peloponésica, ao sua contrapartida na medicina moderna através da figura
descrever o surto de peste, já relacionou alguns casos imu- do epidemiologista. Esse especialista se torna mais impor-
nes à infecção, o que mostra naquela época a resistência tante no esclarecimento das doenças infecciosas de rápida
orgânica em face do agente infectante. Isto ocorreu 430 instalação e grande potencial de disseminação. O epide-
anos a.C., bastante tempo antes de se conhecer o verdadeiro miologista estuda as características clínicas das enfermida-
agente etiológico da peste, tão comum na Antigüidade. des, procura a provável distribuição geográfica e as formas
Entre os séculos II e III a.C., a chamada peste negra ou de contágio, e, assim, ajuda a desenvolver programas visan-
bubônica matou milhares de árabes nas regiões que hoje do ao controle da condição patológica. Foi o que aconte-
correspondem à Líbia, ao Egito e à Síria. No século XIV, ceu com relação à Aids.
desta vez na Europa, dizimou milhares de seus habitantes. As infecções causadas pelo vírus da imunodeficiência
Em cerca de sete anos, morreram mais de 25 milhões de humana (HIV) podem apresentar-se desde formas assinto-
pessoas no continente europeu e aproximadamente 23 máticas até um conjunto de manifestações clínicas que ca-
milhões na Ásia. De 1603 a 1605, apenas em Londres, a racterizam a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. É
peste negra fez cerca de 150 mil mortos. freqüente observar a queda da vigilância epidemiológica
No início do século XX, a peste bubônica apareceu em do indivíduo, que passa a apresentar mínimas condições de
outro surto, atingindo vários estados americanos do Norte, defesa orgânica, quase sem resposta celular efetiva, com
Brasil e Argentina. No Rio de Janeiro, precedeu a febre ama- predisposição ao desenvolvimento de infecções oportunis-
rela, que Oswaldo Cruz derrotou através de memorável tas e de condição neoplásica.
campanha sanitarista. Da mesma forma, só o cólera matou, No que diz respeito à Aids (acquired immunodeficiency
no mês de abril de 1832, 12.824 habitantes de Paris19. syndrome/síndrome da imunodeficiência adquirida), tra-
No século XVII, um surto de gripe, que matou milha- ta-se de doença infecciosa causada por um retrovírus, o
res de pessoas, foi atribuído à influência dos astros pelos HIV (human immunodeficiency virus), caracterizada pelo
cientistas da época. A pandemia da gripe espanhola, por comprometimento do sistema imunológico e de outros ór-
seu turno, dizimou, nos anos de 1918/1919, mais de meio gãos, com o aparecimento de múltiplos agentes oportunis-
milhão de americanos, talvez 20 milhões de pessoas em tas e de neoplasias, principalmente o sarcoma de Kaposi
todo o mundo. Foi a epidemia que fez mais vítimas mor- (SK) e os linfomas não-Hodgkin15.
tais do que qualquer outra doença de igual período de du- No Brasil, aconselha-se a não usar o termo SIDA em res-
ração na história do mundo. peito às mulheres de nome Aparecida, familiarmente apeli-
O valor prático de cada um destes episódios excede o dadas de Cidas, inclusive pela conotação de fundo religioso
da literatura. A epidemia da gripe, por exemplo, deu-nos ligado a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país. Tal fato,
uma valiosa experiência de como a variação de um agen- ao evitar a denominação SIDA, não cria discriminação con-
te patogênico, combinada à marcada alteração do estilo de tra as mulheres, embora, na realidade, signifique apenas uma
vida, pode ter efeito tão devastador na população humana. questão de homofonia. Acentue-se, ainda, que esta denomina-
Outras situações na medicina moderna revelam fatos seme- ção (Aids) é utilizada internacionalmente, sendo adotada ofi-
lhantes, porém utilizando diferentes cenários de fundo. É cialmente pelos órgãos públicos do Governo Federal, entre os
o que se viu quando uma bactéria, a Legionella pneumo- quais o Ministério da Saúde4.
phila, de antiga linhagem, conseguiu sair de obscuro nicho, Não havia mais dúvida de que a medicina testemunha-
causando perigosa explosão entre os participantes de uma va uma nova síndrome, não exclusiva de homossexuais. A
convenção de legionários americanos reunidos na Filadél- denominação inicialmente mais popular, GRID (gay-related
fia (EUA), em 1976, seguida de alta mortalidade. Esses immunodeficiency), devida ao comportamento homosse-
bacilos Gram-negativos levam a pneumonias com focos xual com múltiplos parceiros, deveria ser substituída por
necrosantes e grande riqueza de germens, principalmente outra mais apropriada e correta, que fosse razoavelmente
em indivíduos imunodeprimidos. descritiva, sem ser pejorativa. Donald Armstrong (1984),
Para tentar compreender a história natural de algumas chefe do Serviço de Moléstias Infecciosas do New York’s
dessas doenças, exige-se a aplicação de velhos conceitos Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, foi quem pela
epidemiológicos. Breve retrospectiva destaca a doença de primeira vez sugeriu a denominação de Aids, logo aceita
Lyme, os vírus lentos, a intrigante questão dos príons e a universalmente5.
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Capítulo 1 3
A infecção pelo HIV/Aids, que inicialmente parecia res- evolução da doença, ainda com alguma competência
trita a adultos e relacionada exclusivamente com determi- imunológica, e não nos estágios avançados, quando as cé-
nados comportamentos de risco, tornou-se uma realidade lulas que se supunha serem os alvos preferenciais do vírus
no contexto pediátrico, que adquire o HIV através das estariam comprometidas, quantitativamente diminuídas
transmissões vertical e sangüínea34. A infecção mostra pro- ou mesmo desaparecidas. Dois médicos desse grupo de
gressivo aumento do número de casos, em especial nos trabalho, Françoise Brum e Willy Rozembaum, propuse-
países onde a transmissão heterossexual do HIV ocorre em ram a pesquisa do vírus em paciente homossexual não-ai-
grande proporção47,53. dético, mas portador de adenomegalias persistentes. Assim,
Em decorrência desta problemática, surgiram as dis- os linfócitos contidos em biópsia de linfonodos foram cul-
cussões a propósito da Aids e o ciclo grávido-puerperal. tivados, tendo esses pesquisadores o cuidado de adicionar
Durante a gravidez e o parto, pode ocorrer infecção em à cultura interleucina-2 e soro antiinterferon, para, de um
torno de 30%. O vírus atravessa a placenta e contamina o lado, assegurar a multiplicação dos linfócitos e, de outro,
feto (transmissão vertical); no puerpério, adquire-se pela impedir que o interferon exercesse sua função, isto é, a
amamentação48. Os recém-nascidos assim contaminados proteção da célula contra a invasão viral. Dessa maneira,
morriam infelizmente, entre três e quatro anos de idade29,45. favorecer-se-ia a multiplicação viral. No início de janeiro
As perspectivas atualmente, diante dos novos horizontes de 1983, duas semanas após o início da cultura, Françoise
terapêuticos, modificaram totalmente os registros de casos Brum detectou no sobrenadante a enzima transcriptase
de óbito, anunciando a queda da epidemia no Brasil. reversa, característica dos retrovírus. Em seguida, nesses
linfócitos assim cultivados, Barré-Sinoussi e equipe de pes-
A descoberta do fator etiológico escreveu um capítulo
quisadores franceses visualizaram ao microscópio eletrô-
à parte na história da Aids. A observação dos pesquisado-
nico a estrutura hoje conhecida como vírus da
res intensificou-se na procura de um agente infeccioso que
imunode-ficiência humana, denominando-o de LAV
seria transmitido pelo contato sexual, uso de drogas veno-
(lymphade-nopathy associated virus)1.
sas e/ou por transfusão de sangue e seus derivados. Pensa-
va-se, de início, que a doença poderia estar relacionada com Entretanto, os pesquisadores americanos discordaram
a exposição a concentrados de fatores da coagulação ricos dos resultados apresentados pelo grupo francês e continua-
em antígenos estranhos ou, ainda, ser transmitida por um ram seus estudos sobre o agente etiológico da Aids, partin-
vírus não detectado pelas técnicas habitualmente utilizadas. do da possível relação com um vírus, variante do HTLV, o
A princípio, foram sugeridos, entre os possíveis agentes qual havia sido anteriormente descrito pelos próprios pes-
etiológicos da Aids, o CMV, o vírus Epstein-Barr (EBV) e o quisadores. Em 1984, revelaram seus resultados, estabele-
vírus da hepatite B (HBV), depois considerados apenas cendo como agente etiológico da Aids um vírus com
semelhanças, mas também com diferenças, com o HTLV-I
oportunistas, favorecidos pela carência imunitária30.
e HTLV-II, de nítido tropismo e efeito citopatogênico para
Mesmo diante de uma epidemia dessa gravidade, eram os linfócitos T, denominando-o de HTLV-III (human T-cell
poucos os centros de biologia molecular que se engajavam lymphotropic virus, type III)22.
na pesquisa para a identificação do agente etiológico da Os dois vírus descritos (LAV/HTLV-III) passaram a ter
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. reconhecida a mesma identidade viral. Em 1986, o Inter-
Pela análise dos relatórios do CDC, que caracterizou national Committee on the Taxonomy Viruses criou uma
um maior risco no grupo sexualmente mais promíscuo, fi- nomenclatura unificante e o agente etiológico da Aids foi
cava cada vez mais evidente que, realmente, só um vírus rebatizado como HIV (human immunodeficiency virus)32.
poderia ser o responsável por essa enfermidade muito co- As opiniões contrárias provocaram longa disputa entre
mum entre os homossexuais. Essa era a confirmação da Montaigner e Gallo, considerados inicialmente co-desco-
participação de um agente infeccioso que, pela similarida- bridores50. A questão da prioridade da descoberta do agen-
de clínica e epidemiológica com certas leucemias, sugeria te etiológico chegou à discussão judicial, que mereceu
ser um retrovírus. No plano teórico, proliferava a idéia de parecer favorável a Montaigner depois de prolongada disputa
que um retrovírus era capaz de provocar acentuada proli- nos tribunais envolvendo méritos científicos e razões de
feração atípica dos glóbulos brancos, determinando o de- importância comercial. Os franceses, os verdadeiros des-
senvolvimento de leucemias, sendo perfeitamente possível cobridores do vírus da Aids, mostraram, de maneira a não
que uma variação genética desse agente pudesse provocar deixar dúvidas, que o vírus não pertencia ao grupo dos
a morte dos linfócitos infectados. HTLV. Este fato foi finalmente reconhecido por Washing-
Duas figuras do mais alto prestígio científico passaram ton em julho de 1994. Agora, o Instituto Pasteur tem direi-
a investir na pesquisa do agente etiológico. Tanto Robert to à maior parte dos royalties da venda de testes para a
Gallo, um dos maiores retrovirologistas americanos — detecção do HIV. A decisão americana reduziu a polêmica
pressionado pelo CDC, embora relutante devido à morte entre os dois países e estimulou um programa conjunto de
de dois virologistas durante pesquisas semelhantes em seu pesquisa da Aids.
laboratório de Bethesda (EUA) —, quanto Luc Montaigner, No Brasil, os primeiros casos de Aids foram diagnosti-
no Instituto Pasteur, na França, passaram a dirigir sua cados em 1982, em São Paulo e no Rio de Janeiro6. Hoje,
maior atenção para descobrir o possível agente viral. sabe-se que, no final da década de 70 do século XX, o HIV
Desde 1982, formou-se em Paris um grupo de trabalho estava se disseminando por todo o mundo, de forma acen-
constituído por clínicos, epidemiologistas e imunologistas, tuada na África central. O vírus já estava provavelmente,
para estudar o problema da Aids. Esse grupo considerou presente no Brasil antes de 198047, sendo constatado que
que as melhores chances de isolar o agente causal existi- num curto período de tempo o nosso país se transformou
riam quando se investigasse o paciente nas fases iniciais da no segundo do mundo em incidência absoluta de casos. O
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4 Capítulo 1
mais grave e preocupante era a constatação de que para A partir de 1988, o Hospital Universitário Gaffrée e
cada paciente com Aids havia grande número de portado- Guinle (HUGG) participou ativamente dos programas de
res assintomáticos do HIV não-diagnosticados e potencial- treinamento para os profissionais em Aids, principalmen-
mente contagiantes7. te patrocinados pelo Ministério da Saúde, envolvendo a clí-
Mesquita et al.40 descreveram, em julho de 1983, o pri- nica médica, a pediatria e a patologia.
meiro caso publicado de Aids no Brasil. Tratava-se de O HUGG foi pioneiro na implantação de sistema de
bissexual masculino residente na cidade de São Paulo, aconselhamento e testagem anônima (1989), mostrando a
com sarcoma de Kaposi disseminado. No ano seguinte, importância do bissexualismo e a prática de sexo em gru-
Corrêa et al.12 publicaram o primeiro caso no Rio de Janei- po na propagação do HIV por via sexual41.
ro, ressaltando que poderia ser anterior ao primeiro caso Em resumo, a história da Aids distingue-se, até os nos-
brasileiro publicado, pois a sintomatologia do seu paciente sos dias, em três fases distintas. O primeiro espaço de tem-
antecedia ao relato de Mesquita. Vergara et al.57, em 1986, po percorrido pelo HIV é o período silencioso. O vírus
assinalaram na literatura nacional o primeiro caso de com- disseminou-se em silêncio, provavelmente desde o início
plexo sindrômico relacionado com a Aids, comprometen- da década de 70 do século XX. Esse período histórico ter-
do paciente hemofílico, observado em 1979 na cidade do minou em junho de 1981, quando os primeiros casos de
Rio de Janeiro, o que, provavelmente, reforça o fato de o Aids foram notificados ao CDC. Neste contexto, em para-
HIV ter chegado ao Brasil realmente em meados da déca- lelo com o empenho dos cientistas, surgiram os charlatães
da de 70, do século XX. A primeira necropsia que prometiam curas inacreditáveis, aproveitando-se do
comprovadamente de Aids, realizada no Estado do Rio de senso de disparidade das informações médicas e da frus-
Janeiro, foi feita no Hospital São Vicente de Paulo, em no- tração dos indivíduos infectados naquela época.
vembro de 1984, por Basílio-de-Oliveira, em paciente
O segundo período, rotulado como o da descoberta e
hemofílico com 11 anos de idade, que desenvolveu
resposta inicial, estende-se de 1981 até 1985. Descobriu-
aspergilose pulmonar e mico-bacteriose (Valle, 1988).
se o agente etiológico, definiram-se os comportamentos de
As primeiras séries de necropsias realizadas no Brasil risco e as formas de transmissão, ao lado do levantamen-
encerravam a experiência dos principais centros médicos, to epidemiológico da Aids no mundo. Sob o ponto de vis-
que pontilharam importantes contribuições para o conhe- ta científico, foi uma fase extremamente produtiva.
cimento da história natural da doença em nosso país. Deve-
O terceiro período histórico na evolução da pandemia,
se a Delmonte et al. (1984)17, Vieira et al. (1985)59, Fialho
chamado da mobilização global, instalou-se em 1985 com a
et al. (1986)20, Michalany et al. (1987)41 e Vergara et al.
Primeira Conferência Internacional sobre Aids, patrocina-
(1987)56 a definição do perfil anatomopatológico da Aids,
da pela OMS35. Desde então, foram promovidas outras
ao descreverem as múltiplas infecções oportunistas prati-
conferências, que procuraram definir novas políticas e estra-
camente em todos os grupos de comportamentos de risco,
tégias para o diagnóstico, controle e tratamento da doença.
com especial destaque para a toxoplasmose cerebral e a
tuberculose disseminada. Logo depois, ocorreu a fase da desmistificação da
síndrome pela própria população, o que levou à luta polí-
Apesar das dificuldades para a pesquisa científica, im-
tica pela desmarginalização social da Aids. A geração da
plicitamente ligadas ao desafio da Aids e à lamentável si-
década de 80 do século XX muito contribuiu para reverter
tuação da maior parte do sistema de saúde em nosso país,
os preconceitos, permitindo que a saída da clandestinida-
o HUGG conseguiu prestar relevantes serviços à população
de dos portadores do vírus da Aids proporcionasse um
brasileira. Como hospital geral, organizou-se desde 1983 controle mais eficaz da progressão da pandemia. Em 1987,
para enfrentar a Aids a partir dos resultados de necropsias, o interesse global pela questão chegou até a Assembléia
pela ótica da medicina tradicional, com atendimento per- Geral das Nações Unidas, que promoveu amplo debate so-
sonalizado, tendo como sustentação o relacionamento bre os problemas médicos, principalmente a propósito das
médico-paciente. Criou-se a assistência médica sem discri- repercussões geopolíticas e de ordem econômico-financei-
minação, preconceito ou isolamento do paciente. Houve a ra provocadas pelo HIV/Aids no mundo. Foi a primeira vez
formação de equipe de profissionais para oferecer assistên- que uma doença foi debatida nesse foro.
cia clínica e psicossocial, com imediato amparo aos fami-
liares, parentes e amigos que sofriam o forte impacto do Por volta de 1990, observou-se maior desenvolvimen-
to metodológico para o diagnóstico de múltiplos agentes
diagnóstico e da discriminação42. (Prancha 1.1).
oportunistas, mudanças no comportamento epidemioló-
As atividades de pesquisa, desenvolvidas pela clínica gico da população brasileira, com aumento progressivo de
médica, foram feitas inicialmente através da colaboração casos em mulheres na idade fértil e conseqüente cresci-
com o Departamento de Imunologia do Instituto Oswaldo mento da incidência com alarmante número de casos da
Cruz. Em conseqüência, obtiveram-se as primeiras descri- doença em crianças brasileiras. Depois, passou-se a verifi-
ções de perfil imunológico e reações sorológicas para o di- car o aumento de sobrevida dos pacientes com Aids devi-
agnóstico da Aids no Brasil. Esta atividade conjunta resultou do à ação das chamadas terapias combinadas que atuam de
no primeiro isolamento do HIV na América Latina pela forma incisiva sobre os mecanismos de multiplicação do
Fiocruz, em 1987, realizado em amostras de sangue HIV. A recuperação dos pacientes tem sido animadora e,
selecionadas no HUGG. Tratava-se de um jovem paciente de em alguns casos, surpreendente. Tratam-se das chamadas
24 anos, heterossexual, que em 1985 sofrera acidente auto- novas drogas inibidoras da transcriptase reversa, que, além
mobilístico, tendo recebido transfusão sangüínea. Quando do AZT e inibidores da protease, foram desenvolvidas a
do óbito, mostrava acentuada perda de peso, candidíase partir das descobertas sobre o efeito não mais da simples
oral, criptosporidiose e tuberculose renal25. (Prancha 1.2). presença do vírus no organismo, mas da quantidade des-
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Capítulo 1 5
ses vírus, o que corresponde à tão anunciada carga viral, um distintos de produtos, capitais e mão-de-obra daqueles ob-
fator decisivo constatado a partir de pesquisas, que reve- servados na África subsaariana — fatores essenciais à con-
lou grande relação com a evolução da doença, implican- centração e ao deslocamento de pessoas e, portanto, à
do tanto nas decisões quanto ao início e às modificações difusão de uma epidemia que depende principalmente da
da terapêutica. O que na realidade se está presenciando é interação sexual sem proteção ou do uso compartilhado
a melhora das condições imunológicas dos pacientes, que de drogas injetáveis.
passam a ter melhor qualidade de vida, principalmente A epidemia da Aids na África correlaciona-se com as
quando são afastadas as infecções oportunistas. Entretan- interações e os fatores secundários, tais como o desloca-
to, a utilização dessas combinações medicamentosas já mento de tropas nas contínuas guerras civis da região ou
evidenciou, em alguns casos, a possibilidade de o vírus de- ritmo de produção e recrutamento de mão-de-obra decor-
senvolver resistência ao tratamento. Há muito, não resta rentes de economia basicamente agrícola, além de rotas de
dúvida, que se descobrir sobre a ação e os mecanismos do transporte de cargas seguindo eixos com características
HIV, o que permitirá vislumbrar no horizonte oportunida- diferentes de nossa malha viária. Portanto, o termo
des consideráveis de sobrevida, com melhora das condi- africanização não é adequado para descrever, ainda que por
ções clínicas para os pacientes54. aproximação, a epidemia em nosso meio, tanto no início
A dinâmica da epidemia da Aids no Brasil, entretanto, da epidemia entre nós como hoje. Deve-se partir para a
mostra importantes mudanças de características, parecendo análise da verdadeira distribuição da epidemia em nosso
hoje muito claras as seguintes tendências básicas: aumen- país, visando conhecer corretamente a distribuição geográ-
to da relevância da transmissão heterossexual; aumento da fica da Aids. Não podemos continuar a importar idéias,
participação do seguimento da sociedade representado como a da suposta repetição, entre nós, de um padrão afri-
pelos usuários de drogas injetáveis entre aqueles mais atin- cano ou dos desdobramentos de um modelo europeu/nor-
gidos pela síndrome; aumento de casos entre as mulheres, te-americano. É importante partir para o estudo do nosso
principalmente naquelas de vida sexual estável; pro- padrão, contribuindo para a substituição dos padrões geo-
letarização ou “pauperização” da epidemia, ou seja, a cons- gráficos estanques previamente utilizados.
tatação de que um número crescente de casos vem sendo A análise da distribuição geográfica revela-se um ins-
notificado entre os indivíduos mais pobres. Este fato pode trumento muito útil para o planejamento e a recomposi-
ser aferido tanto por indicadores quanto pela baixa esco- ção da dinâmica histórica da epidemia, já que a importante
laridade dos casos mais recentemente notificados, se com- defasagem entre infecção e notificação de casos só permi-
parados àqueles averiguados epidemiologicamente, no te esboçar tendências com relação ao quadro presente da
início da epidemia, como através de indicadores geoeco- Aids. A oportunidade de intervir, de forma dirigida, em lo-
nômicos (deslocamento para regiões periféricas e mais cais com poucos casos notificados, mas com tendência de
pobres das grandes metrópoles); disseminação da epide- crescimento, é uma das alternativas que a análise da dis-
mia para o conjunto do território nacional; e, finalmen- tribuição geográfica pode proporcionar. É oportuno que se
te, um ponto que começa a ser mais discutido: a faça um perfil da epidemia em nosso meio. A partir daí,
interiorização (ou “ruralização”) da Síndrome da Imuno- teremos argumentos mais fortes para enfrentar a Aids.
deficiência Adquirida19.
O compromisso histórico com relação à Síndrome da
Um termo que agora começa a ser utilizado no Brasil
Imunodeficiência Adquirida em assumir, de forma muito
diz respeito à suposta africanização da doença entre nós,
proposta que merece várias críticas. Em primeiro lugar, rápida, amplo espaço na comunidade médica e entre o pú-
não existe uma única epidemia africana, mas epidemias blico em geral, pelos meios de comunicação de massa, de-
com características inteiramente diversas nas diferentes vido à grande agressividade da doença, aliado à facilidade
regiões do continente africano. A África subsaariana é cons- de sua transmissão, não pode deixar escapar a mais váli-
tituída, de fato, de rico mosaico de culturas e regiões da das medidas contra a Aids — a prevenção. Trata-se da
geopolíticas. Do mesmo modo, não há grande semelhan- mais efetiva arma na luta contra o desconhecido. Neste as-
ça entre a dinâmica da epidemia no Brasil e a da África pecto, torna-se fundamental a correta informação sobre as
subsaariana, com exceção da relevância crescente da trans- diferentes questões de interesse particular ou coletivo, ou
missão heterossexual e do número de mulheres contami- principalmente dirigidas às faixas populacionais com pos-
nadas. Entre as várias diferenças, é importante observar sível risco, que se deve somar à permanente educação dos
que cerca de um quarto dos casos novos de Aids no Brasil jovens no período escolar e das mulheres que pretendem
vem ocorrendo entre os usuários de drogas injetáveis, seg- um dia engravidar.
mento virtualmente inexistente nos países africanos Atualmente, a Ásia sofre verdadeira escalada no apare-
subsaarianos mais afetados pela epidemia, como a Zâmbia, cimento de casos de Aids, apesar de somente a partir de
Uganda e Ruanda, embora hoje já seja observada em cer- 1985 terem começado, naquele continente, a ser detecta-
tos países daquele continente, como a Nigéria. dos os primeiros casos clínicos da síndrome. Consideran-
Os maiores contrastes, entretanto, derivam da completa do que metade da população mundial está no continente
disparidade geoeconômica entre esses países e o Brasil, o asiático, as perspectivas sobre a evolução futura da
que faz com que as diferenças quanto às correlações entre pandemia no terceiro mundo prognosticam enormes difi-
a disseminação da epidemia nessas duas regiões do mun- culdades no controle da Aids nessas regiões, mantida a atual
do e os indicadores sociodemográficos saltem aos olhos situação de conhecimentos precários da ciência médica
pela simples observação comparativa dos mapas geográfi- com relação à sua prevenção. As últimas previsões da OMS
cos. O tamanho das nossas metrópoles e a magnitude mostram progressivo, porém menos acelerado, crescimen-
da atividade industrial brasileira determinam fluxos to dos casos de Aids. O controle e a proteção individual,
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6 Capítulo 1
colocados em prática por determinados grupos de compor- nhecidas de todos os especialistas, principalmente daque-
tamentos de risco, e as medidas práticas no controle da les ligados à pneumologia sanitária.
comercialização do sangue começaram a interferir na ca- A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida é uma
deia de transmissão do HIV e, conseqüentemente, na pro- pandemia de características especiais, pois agride o ser
gressão da epidemia. humano nos âmbitos orgânico, psicológico e social, de
Como atenuante de previsões tão pessimistas, devemos conseqüências degradantes para a sociedade, constituindo-
reconhecer que em nenhuma doença conhecida da medi- se numa das principais lutas da ciência contemporânea.
cina a evolução dos acontecimentos foi assim tão rápida Por certo, o ideal é o combate à disseminação do HIV
quanto à caracterização clínica e patológica da síndrome, com o advento de método imunoprofilático — a vacina.
da epidemiologia, do agente etiológico e do diagnóstico da Entretanto, uma série de dificuldades técnicas inerentes à
enfermidade39. manipulação do vírus, entre as quais a intensa variabilida-
A Aids transformou-se em uma questão de saúde públi- de genômica, a falta de prática em modelos animais, a in-
ca, pois desafia o mais amplo conceito de bem-estar, que certeza sobre como alcançar a imunogenicidade ótima e
não se restringe à saúde física, mas também inclui as saú- os dilemas éticos, torna a vacina, pelo menos em nossos
des psicológica, social, cultural, econômica e política. dias, uma possibilidade ainda remota.
Com o advento da nova geração de drogas inibidoras Alguns avanços na área da terapêutica, com o desenvol-
da transcriptase reversa, passou-se a ter exagerada euforia vimento de um pool de agentes anti-retrovirais, principal-
devido à não criteriosa divulgação dos trabalhos apresen- mente os inibidores da protease, trazem boas perspectivas
tados na Conferência de Vancouver, a qual se tornou, até para o controle da infecção. Acredita-se que no futuro a
certo ponto, prejudicial. O sensacionalismo acerca da cura evolução da Aids será controlada, chegando-se a longos
da Aids causou um desserviço quanto à prevenção. O que períodos de sobrevida.
na realidade acontece, mediante os novos métodos Vale ressaltar que em abril de 2001 a indústria farma-
terapêuticos, é a chance de maior e melhor qualidade de cêutica aboliu os esforços legais quanto ao bloqueio à Áfri-
vida ao paciente. Devemos, desta forma, reconhecer a es- ca do Sul, onde um a cada quatro adultos estão infectados
perança que representa estas novas conquistas médicas com o HIV, ao permitir a importação de drogas genéricas
para os que padecem do mal. A Aids já é a quarta causa de que combatem a Aids por preço mais acessível. Além dis-
óbito da população em geral e, na faixa etária dos 35 aos
so, junto com a vitória legal sobre a indústria farmacêuti-
49 anos, é responsável por 22,5% das mortes.
ca, é importante que os governos estabeleçam programas
Outra ameaça recentemente anunciada tem ares de ca- que proporcionem o tratamento das pessoas infectadas.
tástrofe. Trata-se da Aids na Rússia. O descaso das autori-
Deste modo, a educação e a prevenção constituem os
dades médicas pode deixar o antigo país da cortina de ferro
pilares para o controle da pandemia, objetivos que devem
em situação mais dramática que a do continente africano:
devido a questões econômicas ligadas à política de saúde ser esgotados pelos cientistas e políticos. É urgente repen-
e o crescente número de casos de Aids, talvez a Rússia ve- sar sobre a educação e promover a saúde. Salvar a saúde
nha brevemente a ter de negar tratamento a boa parte dos pública: esta é uma missão dos médicos.
pacientes até mesmo por falta de medicamentos, conde- A epidemia da Aids já matou milhões de pacientes em
nando-os à morte. todo o mundo e ainda permanece fora de controle, entre-
Quanto ao Brasil, duas questões maiores estão chaman- tanto há boas notícias: a vida de quem tem o vírus não é
do muito a atenção das autoridades de saúde pública — o mais uma sentença de morte. Deve-se ressaltar que poucas
controle das doenças sexualmente transmissíveis e a tuber- vezes se presenciou tão grande empenho do meio cientí-
culose. É de especial interesse a prioridade que está sen- fico para alcançar a cura de uma doença. E a Aids já com-
do dada pelo Ministério da Saúde, através do Programa pletou 20 anos, mas parece que a cura, além de não ter
Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis, relacio- chegado, esta bem distante de se concretizar. Por outro
nada com o combate da Aids entre a população carcerária, lado, há de se acreditar que a vida de quem foi infectado
nas instituições para menores infratores e nas delegacias. mudou muito, e esta mudança foi para melhor, não mais
Sabe-se que a contaminação pelo HIV dentro dos presídios significando estar marcado para morrer, nem definhar a
está fora de controle, atingindo até 25% da população olhos vistos, como acontecia com os soropositivos que de-
presidiária. É, da mesma forma, muito preocupante a ques- senvolviam a doença na década de 80 do século XX16.
tão da tuberculose, que começa a merecer especial aten- O mundo enfrenta a Aids, naturalmente longe do ideal
ção, pois é, antes de qualquer coisa, uma questão que todos gostaríamos que fosse, porém perspectivas se
política, vindo depois as de ordem médica, que são co- apresentam para um futuro melhor44.

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Capítulo 1 7
1.2. OS PRIMEIROS ANOS DA AIDS Os estudos imunológicos mostravam leucopenia e
anergia. Estudos in vitro de cultura de linfócitos com
indutores inespecíficos da ativação das células T, como
Walter A. Eyer-Silva fitoemaglutinina e concanavalina A, deixavam claro o
comprometimento da imunidade celular. A indução, com
antígeno pokeweed, da mitose de células B, estimulada pelas
A descrição, no periódico MMWR de 5 de junho de células T, levava a resultados semelhantes. A quantificação
1981, de cinco casos de pneumonia pelo Pneumocystis de imunoglobulinas circulantes mostrava, em geral, valo-
carinii em jovens previamente saudáveis residentes em res normais ou aumentados. Níveis protetores de
Nova Iorque13. mereceu uma nota editorial informando ser anticorpos antitetânicos e antidiftéricos eram demonstra-
esta pneumopatia infecciosa quase que exclusivamente li- dos rotineiramente, bem como anticorpos antipneumo-
mitada aos pacientes imunocomprometidos. Da mesma cócicos contra uma variedade de sorotipos. Até mesmo níveis
forma, o relato, na edição de quatro de julho11, de 26 ca- considerados satisfatórios de anticorpos anti-Pneu-
sos de sarcoma de Kaposi diagnosticados nos 30 meses an- mocystis carinii foram dosados na maioria dos pacientes.
teriores, em residentes de Nova Iorque e da Califórnia, Os estudos do componente fagocítico da resposta imune,
também mereceu uma nota explicando ser esse tumor desde a simples contagem de neutrófilos até o desafio de
“uma neoplasia maligna manifestada primariamente por neutrófilos e monócitos com o nitroblue tetrazolium, pas-
múltiplos nódulos vasculares na pele e outros órgãos”. sando por testes da habilidade dos monócitos em fagocitar
Ambas eram doenças incomuns em Nova Iorque e na o protozoário Toxoplasma gondii, eram sempre normais. Da
Califórnia, embora longe de serem desconhecidas. Ambas mesma forma, eram normais a atividade hemolítica do
as doenças já haviam sido claramente associadas com qua- complemento e os níveis de C3 e C425,37.
dros de imunodepressão. O sarcoma de Kaposi havia sido O espectro clínico e epidemiológico do surto de
descrito no século XIX29; sua ocorrência endêmica, em cer- imunodeficiência adquirida continuou-se ampliando em
tos países da África, era bem conhecida26,19, mas permane- 1982. Em maio, publicou-se um relato de 57 casos de
cia uma curiosidade oncológica. O P. carinii começou a ser linfadenopatia generalizada e persistente em homosse-
descrito na primeira década do século XX por Carlos Cha- xuais masculinos de Atlanta, Nova Iorque e São Francisco7.
gas17, que então o considerou uma forma intermediária do Era um grupo de pacientes com média de idade de 33
agente da tripanossomíase americana. Seu potencial anos, sem manifestações de imunodeficiência, apenas
patogênico no homem, em particular sua predileção por linfadenomegalias, e muitos usavam drogas endovenosas.
hospedeiros debilitados, só foi amplamente reconhecido a Em alguns casos, as avaliações imunológicas mostravam
partir da Segunda Guerra Mundial23,38. resultados similares aos obtidos com os pacientes que ha-
viam desenvolvido o sarcoma de Kaposi e/ou pneumonia
pelo P. carinii. Os investigadores conduziram sem sucesso
OS PRIMEIROS ANOS NA EUROPA E NOS uma extensa busca por causas infecciosas e não-infeccio-
ESTADOS UNIDOS sas de linfadenopatia, como a hepatite B; mononucleose
Seguiram-se novos relatos em agosto10 e setembro27. In- infecciosa; citomegalovirose; rubéola; tuberculose;
vestigações clínicas, epidemiológicas e laboratoriais adicio- micobacteriose não-tuberculosa; sífilis e outras desordens
bacterianas; toxoplasmose; desordens do tecido conjunti-
nais, descritas na edição de 10 de dezembro do The New
vo; reações de hipersensibilidade a drogas e doenças
England Journal of Medicine, contribuíram para ampliar o
neoplásicas, como o linfoma e leucemia. Por ocasião da
conhecimento sobre o inesperado surto dessas doenças,
publicação deste relato, um dos pacientes com linfadeno-
embora sem conseguir desfazer “o presente estado de ig-
patia tinha evoluído para desenvolver o sarcoma de Kaposi7.
norância”20 sobre a sua natureza. Gottlieb et al.25, Masur
et al.31 e Siegal et al.37 descreveram em detalhes um total Seguiu-se a descrição de quatro casos de linfoma não-
de 19 pacientes. O caso mais antigo era o de um pacien- Hodgkin em pacientes de São Francisco com as mesmas
te de 27 anos, residente em Nova Iorque, falecido em características epidemiológicas dos pacientes com imuno-
1979 com pneumonia pelo P. carinii e esofagite pela deficiência adquirida6. Os pacientes não tinham qualquer
Candida31. O espectro de desordens clínicas infecciosas se- relação epidemiológica identificável entre si.
ria então ampliado, para incluir a candidíase oral e esofá- Um ano após o seu primeiro alerta, o MMWR publicou
gica, esofagite herpética, pneumonias bacterianas, herpes- um estudo mostrando que nove pacientes com imunode-
zoster, aspergilose, micobacteriose não-tuberculosa e ficiência adquirida, residentes nos municípios de Orange
criptococose, entre outras afecções. Siegal et al.37 descreve- e Los Angeles, na Califórnia, apresentavam uma ligação
ram o surgimento de lesões crônicas e ulceradas perianais epidemiológica entre si: eram parceiros sexuais5. Estes pa-
de etiologia herpética em quatro pacientes. Masur et al.31 cientes pertenciam a uma série de casos interconectados
chamaram a atenção para a presença de usuários de dro- que, bem rastreados, poderiam chegar a outros quinze.
gas injetáveis de orientação heterossexual entre seus paci- E foi então que Ehrenkranz et al.9 descreveram três ca-
entes. Gottlieb et al. 25 já sugeriam a instituição de sos de pneumocistose em pacientes com hemofilia A: um
profi-laxia secundária para a pneumocistose; no editorial, em Nova Iorque, outro no Colorado e outro em Ohio. Dois
Durack20 propunha a profilaxia primária para os pacientes haviam falecido e outro encontrava-se em um estado ex-
com sintomas constitucionais. Uma característica comum tremamente grave. Os três eram heterossexuais e não ti-
a todos os casos era a inexistência de antecedentes de in- nham antecedentes de uso de drogas ilícitas. Estes casos
fecções recorrentes ou outras desordens clínicas: havia um logo seriam seguidos por descrições semelhantes oriundas
déficit imune adquirido. de vários estados norte-americanos15,21 bem como a descri-
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8 Capítulo 1
ção de anormalidades da contagem de subpopulações casos semelhantes em pacientes oriundos da África central,
linfocitárias, com inversão da relação T-auxiliar/T- em especial da atual República Democrática do Congo, que
supressor, em nove entre 12 pacientes assintomáticos com procuravam auxílio médico na Europa. Clumech et al.16
hemofilia A ou B no Estado de Iowa24. relataram 18 casos de infecções oportunistas e cinco de do-
E, uma vez bem contados, ficou claro que o surto de ença compatível com o pródromo da nova imunode-
imunodeficiência adquirida também estava grassando entre ficiência adquirida em pacientes oriundos de um total de
os haitianos, pois já eram 34 em cinco Estados norte-ame- quatro países africanos (República Democrática do
ricanos12. Em março do ano seguinte, dois meses antes de Congo, Burundi, Ruanda e Chade) que procuraram auxí-
Barré-Sinoussi et al.1 descreverem na Science o isolamento lio médico na Bélgica. Entre os 18 casos de Aids, chama-
de um novo retrovírus humano, Pitchenik et al.4 detive- va a atenção a ocorrência de meningite criptocócica em
ram-se sobre os casos de 20 haitianos residentes em Miami- seis. Estes pacientes não apresentavam antecedentes de uso
Dade, Flórida. Todos haviam sido hospitalizados em um de drogas, transfusão sangüínea ou orientação homosse-
hospital local entre janeiro e junho de 1982 em virtude de xual. Uma vez que apenas as classes sociais de melhor po-
uma variedade de desordens consideradas secundárias à der econômico poderiam custear as despesas de tratamento
imunodeficiência celular. O grupo incluía três mulheres. médico na Europa, estes casos provavelmente representa-
Nenhum dos pacientes tinha antecedentes de uso de dro- vam apenas pequena parcela de um grande problema de
gas, e todos eram heterossexuais. Sete pacientes desenvol- saúde pública em curso naqueles países. Investigações ati-
veram tuberculose disseminada. Ao menos três vas em países, como Ruanda38, Zaire33 e Uganda36, demons-
provavelmente adquiriram a imunodeficiência ainda no traram que a nova imunodeficiência adquirida vinha
Haiti. ocorrendo freqüentemente e que estava geralmente asso-
ciada à transmissão heterossexual. Em 31 de março de
Ainda em dezembro de 1982, o CDC publicou suas pri-
1986, um total de 177 pacientes oriundos de 24 países afri-
meiras descrições de imunodeficiência celular de etiologia
canos, a maioria da África central, havia sido descrito em
não-esclarecida e infecções oportunistas em crianças. O
dez países europeus35.
primeiro caso foi em um bebê de 20 meses de idade, resi-
dente em São Francisco7. Sua mãe havia desenvolvido A ocorrência da Aids na África levantou três questões
sensibilização ao antígeno Rh em uma primeira gravidez, fundamentais para a compreensão da nova doença: a) quais
e o bebê nasceu com eritroblastose fetal. Durante o pri- os determinantes de transmissão viral no continente afri-
meiro mês de vida, precisou ser mantido internado e rece- cano; b) quando e onde surgiram os primeiros casos de
beu transfusões de sangue total, concentrado de hemácias AIDS na África; c) quando e onde se deu o próprio adven-
e de plaquetas. A partir dos sete meses, começaram a sur- to dos novos retrovírus humanos?
gir complicações infecciosas, como otite média bacte- A transmissão dos vírus da imunodeficiência humana na
riana, candidíase oral e doença pelo Mycobacterium África era pouco compreendida, mas se sabia nitidamente dis-
avium-intracellulare disseminada. Investigações epidemio- tinta da Europa e dos Estados Unidos. Nestes locais, a razão
lógicas demonstraram que um dos doadores de sangue de sexo chegava a 19:1, enquanto na África se aproximava da
veio, subseqüentemente, a desenvolver imunodeficiência unidade. A maioria dos pacientes não tinha antecedentes de
adquirida. Outros 16 casos de imunodeficiência não- uso de drogas injetáveis, transfusão sangüínea e orientação
explicada em crianças com menos de dois anos de idade, homossexual. A distribuição dos casos africanos ocorria na
quatro delas com infecções potencialmente letais, foram faixa de idade sexualmente ativa, sugerindo um padrão de
publicados na edição seguinte do MMWR14. Algumas des- transmissão heterossexual3. Os dados disponíveis mostravam
sas mães apresentavam, elas também, imunodeficiência. que em 1986 as regiões da África central e, em grau menos
Outras estavam saudáveis, mas tinham antecedentes de intenso, países adjacentes na África oriental e África do Sul
uso de drogas ou de contato com múltiplos parceiros se- eram os mais afetados pela epidemia35.
xuais. Nenhuma das crianças demonstrava as anormalida-
des congênitas da síndrome de Di George.
E surgiu uma nova investigação epidemiológica demons-
OS PRIMEIROS CASOS DE AIDS A TUALMENTE CONHECIDOS
trando o mesmo surto de imunodeficiência adquirida em Estudos subseqüentes documentaram a ocorrência de
uma nova categoria de pacientes: internos de presídios. casos isolados desde a década de 50 do século XX.
Wormser et al.42 descreveram sete casos em pacientes do Nahmias et al.32 pesquisaram anticorpos anti-HIV-1 em
sexo masculino, todos heterossexuais e usuários de drogas 1.213 amostras de plasma coletadas de diversas partes da
injetáveis. Uma conclusão importante deste estudo foi sobre África entre 1959 e 1982 para estudos imunogenéticos.
o período de incubação da nova imunode-ficiência adqui- Uma das amostras, de um indivíduo da atual República
rida: se o uso de drogas injetáveis era a causa da imunode- Democrática do Congo, testou reativa. Também toda uma
ficiência, então havia um período de incubação de vários família norueguesa foi diagnosticada retrospectivamente
meses, visto que os internos não tinham mais acesso às dro- através de amostras de soro congeladas22. O pai de família
gas desde a data de reclusão (eram presídios de Nova era um marinheiro com múltiplas passagens pela África
Iorque) e alguns já eram internos há dois ou três anos. antes de 1966. Uma doença crônica, que incluía linfa-
denopatia generalizada e infecções respiratórias recorren-
O S PRIMEIROS ANOS NA ÁFRICA tes, começou a desenvolver-se a partir de 1966. Sua esposa
começou a apresentar infecções respiratórias e candidíase
E, nessa época, os limites geográficos da nova imuno- mucocutânea a partir de 1967. Ambos faleceram em 1976,
deficiência adquirida começaram a se expandir, para ga- bem como sua filha aos nove anos de idade, provavelmen-
nhar proporções pandêmicas. Médicos europeus descreveram te o mais antigo caso de Aids pediátrica documentado.
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Capítulo 1 9
Estas duas investigações retrospectivas demonstraram ser 4. Bazin AR. Rotina do Serviço de Doenças Infecciosas e Para-
de valiosa importância para a compreensão da evolução sitárias da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
molecular do HIV-1: do plasma de 1959, Zhu et al.43 am- Fluminense. s.l./: Sociedade de Estudos Aplicados em
plificaram seqüências que se posicionaram filogeneti- Infectologia, 1994.
camente próximas ao nodo ancestral dos subtipos B e D; 5. Black D. The Plague Years. Rolling Stone, New York, v. 444,
das amostras coletadas da família norueguesa, Jonassen et p. 48-125, 1985.
al.28 amplificaram seqüências dos genes pol e vif filoge- 6. Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Doenças
neticamente agrupadas com o grupo O do HIV-1. Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológicol —
AIDS. Brasília, n. 5, 1988.
Outros casos anteriores incluem o de uma cirurgiã di-
namarquesa que havia trabalhado durante 1972 e 1975 em 7. Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Doenças
Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológico/Aids,
um vilarejo rural do Norte da República Democrática do Brasília, n. 9, 1990.
Congo, falecida em 1977 de pneumocistose4, e o de uma
secretária de companhia aérea com criptococose sistêmi- 8. Centers For Disease Control. Acquired immunodeficiency
syndrome (AIDS) among patients with hemophilia. /s.l./, p.
ca, falecida na capital daquele país, Kinshasa, em 197840. 613-615 (MMWR, 32), 1983.
O antropologista Daniel Vangroenweghe41 fez uma revisão
dos primeiros casos conhecidos de Aids, a maioria com 9. Centers For Disease Control. Acquired immunodeficiency
syndrome (Aids). /s.l./, p. 465-467 (M.M.W.R., 32), 1983.
confirmação virológica, e sugeriu que o provável epicentro
da epidemia de HIV-1, grupo M, foi a Republica Democrá- 10. Centers For Disease Control. Kaposi’s sarcoma and pneumo-
tica do Congo, Ruanda e Burundi. Todos os casos conheci- nia among homosexual men. New York City and California,
p. 305-308 (MMWR, 25), 1981.
dos, de 1959 a 1979, concentram-se nesta área. Van-
groenweghe especula que houve posterior disseminação 11. Centers For Disease Control. Possible Transfusion Associated
Acquired Immunodeficiency Syndrome (Aids). California, p.
para os países vizinhos Tanzânia e Uganda, a leste, e
652-654. (MMWR, 31), 1983.
Congo-Brazzaville, a oeste. Nos anos que se seguiram a
1958, por ocasião dos distúrbios pré-independência, mi- 12. Corrêa Lima, Carvalho FG, Gomes Jr. et al. Síndrome da
imunodeficiência adquirida: relato de um caso. Jornal Brasi-
lhares de refugiados deixaram Kinshasa em direção a
leiro de Medicina, Rio de Janeiro, v. 47, p. 96-98, 1984.
Brazzaville. Adicionalmente, as populações dos dois países
comunicam-se diariamente por intenso contato fluvial. A 13. Corrêa Lima MB. Aids/Sida: síndrome da imunodeficiência
adquirida. /s.l./: Medsi, 1986.
disseminação para leste, em direção à Tanzânia e Uganda,
deu-se provavelmente em conseqüência da intensa migra- 14. Cortes E, Detels R, Aboulafia D. et al. HIV-1, HIV-2 e HTLV-
ção de pessoas na década de 70 do século XX por ocasião dos I Infection in high-risk groups in Brazil. New England
Journal of Medicine, Boston, v. 320, p. 953-957, 1989.
movimentos pró-independência de uma província con-
golesa. A disseminação para os países mais ao sul pode ser 15. Crosby Jr AW. Epidemic and peace: 1918. Wesrport:
explicada pelo fluxo intenso de caminhoneiros internacio- Greenwood Press, 1976.
nais e exploradores de minas. Entre 1965 e 1970, milhares 16. Darcias C. Os 20 anos da Aids. Jornal do Brasil, Rio de Janei-
de haitianos foram ao Congo-Brazzaville e à República De- ro, p. 10, 2001.
mocrática do Congo patrocinados pela Unesco, para parti- 17. Delmonte VLC, Tuder RM, Vieira WTT et al. Síndrome de
cipar de programas educacionais2,41. Do Haiti para outros imunodeficiência adquirida; descrição anatomopatológica dos
pontos das Américas, a disseminação ocorreu provavelmen- dois casos de necropsia. Revista do Instituto de Medicina Tro-
te via trabalhadores temporários e através da atividade tu- pical, São Paulo, v. 26, p. 222-227, 1984.
rística 41 . Sabemos que a grande maioria (85%) dos 18. Despite legal victory, South África hesitates on Aids drugs.
primeiros casos de Aids no Haiti era do sexo masculino. New York Times. April 21, 2001.
Estes pacientes estavam infectados não apenas com o mesmo 19. Eyer Silva WA. Infecção pelo HIV-1 em Miracema, noroeste
subtipo de HIV-1 (o subtipo B) prevalente nas Américas, mas fluminense. Mestrado em Medicina Tropical — Instituto
com seqüências cujas assinaturas moleculares na região V3 do Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, julho de 2002.
gene do envelope coincidiam com as variantes norte-ameri- 20. Fialho F, Basílio-de-Oliveira CA, Miranda Santos CM. Con-
canas30. Nos últimos anos, grandes progressos vêm sendo ob- siderações anatomopatológicas na síndrome da imuno-defici-
tidos na compreensão de como se deu o advento dos dois ência Adquirida. Folha Médica, Rio de Janeiro, v. 92, p.
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12 Capítulo 1
PRANCHA 1

Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. Panorama. Frente (Rua Mariz e Barros) e fundos (Rua Silva Ramos) com destaque para
o prédio do Laboratório de Anatomia Patológica.

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Capítulo 1 13
PRANCHA 2

Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ. Mourisco. Manguinhos.

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14 Capítulo 1

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