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O QUE É EUGENISMO?

Eugenia é um termo que veio do grego e significa ‘bem nascido ou bom em


sua origem’, é a seleção dos seres humanos com base em suas características
hereditárias com objetivo de melhorar as gerações futuras.
É uma ideia disseminada por Francis Galton, responsável por criar o termo,
em 1883, ele pretendia comprovar que além de aspectos fisiológicos, a capacidade
intelectual, os traços comportamentais, habilidades intelectuais, poéticas e artísticas
também seriam hereditárias e assim justificar a exclusão dos negros, imigrantes
asiáticos, deficientes de todos os tipos, e todos que fossem do padrão branco
europeu.
Ele acreditava que o conceito de seleção natural de Darwin que argumentava
que algumas raças eram mais "evoluídas" do que outras também se aplicava aos
seres humanos.
Dalton foi o responsável por criar um projeto e tentar tornar o eugenismo
ciência, porém a prática eugenista já é mais antiga, Platão por exemplo, na
antiguidade clássica no mundo grego defendia o melhoramento dos seres humanos
e para ele a reprodução humana deveria ser controlada e monitorada pelo Estado.
Outro exemplo também seria na idade média, onde a própria noção de raça
que aparece é para classificar pessoas de classes sociais de nascimento vinculada
à nobreza.
E já na modernidade o termo também ganha um significado dentro das
grandes teorias ou pelo menos nas grandes sociedades de corte que seria a
sociedade baseada em nobreza, como é o caso da França.
Antes da Primeira Guerra Mundial, essa teoria recebia apoio irrestrito de
políticos e cientistas e compôs a legislação de 30 estados norte-americanos até
metade do século 20. E os questionamentos só vieram acontecer com o fim da
Segunda Guerra Mundial, onde os nazistas foram acusados de esterilizar 140 mil
judeus compulsoriamente e matar 6 milhões nos campos de concentração.

Contexto social, político e científico que influenciou a chegada do eugenismo


no Brasil;

O Brasil não só ‘exportou’ a ideia como criou um movimento interno de


eugenia e foi o primeiro país da América do Sul a adotar as ideias de eugenia, foi
influenciada por uma combinação de fatores sociais, políticos e científicos que
estavam ocorrendo no país e no mundo durante o final do século XIX e início do
século XX.
Como por exemplo, a abolição da escravatura em 88 que trouxe à tona
questões relacionadas à integração dos afrodescendentes ex-escravos na
sociedade, isso gerou debates com relação ao lugar desses grupos na estrutura
social e econômica, o que alimentou teorias de superioridade racial e a necessidade
de controlar a reprodução.
A Influência Internacional já que as ideias eugênicas estavam se espalhando
globalmente, influenciando a adoção dessas ideias por intelectuais e cientistas no
Brasil. Além das preocupações com a saúde pública e o crescimento populacional,
que também levaram a discussões sobre controle da natalidade e regulação da
reprodução como meio de evitar doenças hereditárias e superpopulação.
Sem contar que muitos defensores do eugenismo eram membros da elite
brasileira, que estavam preocupados com a manutenção de seu status e poder.
Então o eugenismo oferecia uma justificativa "científica" para manter o poder nas
mãos de uma determinada classe social.
Então as principais justificativas teorias que disseminaram a teoria eugenista
foi:
O Darwinismo Social: Que é na verdade a interpretação equivocada da teoria
da evolução de Charles Darwin foi usada para justificar a hierarquia racial e social, e
utilizada como argumento de que algumas raças eram mais "evoluídas" do que
outras, o que servia como base para políticas eugênicas.
Teoria das Raças que foi influenciada pelo pensamento racialista do século
XIX, e categoriza a humanidade em diferentes raças hierárquicas, com a raça
branca frequentemente considerada superior e as outras raças sendo vistas como
menos desenvolvidas.
Francis Galton e a Eugenia: Francis Galton, primo de Charles Darwin, criou o
termo "eugenia" e defendeu a ideia de melhorar a raça humana através da seleção
de características genéticas seja encorajando traços desejáveis ou desencorajando
traços indesejáveis.
Pseudociência Racial: Muitas teorias raciais do século XIX não eram
baseadas em evidências científicas sólidas, mas sim em preconceitos e
estereótipos. Isso incluía medições cranianas, classificações de grupos humanos
com base em características físicas e interpretações tendenciosas de dados.
Essas teorias raciais e eugenistas sem fundamentação empírica sólida e
com grande potencial para promover discriminação e injustiça tiveram um impacto
significativo na sociedade e levaram a políticas para implementacao da eugenia no
Brasil

HOLOCASTRO BRASILEIRO

Embora os campos de concentração tenham ficado conhecido por conta do


Holocausto na Alemanha nazista, a ideia desse tipo de confinamento civil que
explorava o regime de escravidão, promovia o extermínio, a tortura e a
mão-de-obra, e de centenas de anos atraz, com os russos fazendo isso desde
meados do século XVIII. Oficialmente, foram os espanhóis que geraram o termo
“campo de concentração”, durante uma rebelião em Cuba. Logo após isso, no ano
de 1900, os Estados Unidos foi o segundo país a instalá-los, já utilizando esse
nome.
Holocausto ou assassinato em massa aqui usado como sinônimo para
designar toda a vez que conflitos, guerras, imposição de uma eugenia de raças,
regimes totalitários, dominância de classes, o despojar de minorias matando
milhares de pessoas em detrimento da própria visão egocentrica. Isso aconteceu no
Camboja, em 1917; na Alemanha Nazista, em 1941; na Turquia, em 1915; em
Nanquim, em 1937 e em diversos lugares, no Brasil, a gente troxe dois momentos
que são “esquecidos” pela historia mais que devem ser lembrados e lamentados
para que não venham a se repetir.
Os Campos de Concentração da Seca foram instaurados no Ceará, em 1915,
para impedir que os retirantes que morriam de fome pela seca chegassem à capital
do estado. Quando a Grande Seca castigou o sertão nordestino em 1877 sendo
responsável pela morte de cerca de 500 mil pessoas, por volta de 100 mil pessoas
famintas migraram para a capital do Ceará em busca de sobrevivência, triplicando a
população e “aterrorizando” a sociedade urbana elitizada.
Então em 1915, no segundo pior período de seca do Brasil, Fortaleza foi
invadida por milhares de pessoas novamente. Que desesperados e famintos
geraram uma onda de roubos, assassinatos, suicídios e outros crimes se
espalharam pelas ruas da cidade onde boa parte dos sertanejos se alojaram.
Sendo assim, visando preservar as exigências dos ricos e do que o próprio
governo considerava como “gente de verdade”, foram criados os “Currais Humanos”
ou “Currais do Governo”, que foram os primeiros campos de concentração
brasileiros, implementados pelo Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS). Com o
objetivo de evitar que os retirantes chegassem à Fortaleza.
O governador Benjamin Liberato Barroso foi o responsável por erguer o
primeiro campo de concentração que foi chamado de Alagadiço que, em tese,
deveria abrigar esses refugiados com condições básicas de sobrevivência, mas a
proposta não saiu como estava nos papéis. Pois os soldados capturavam as
pessoas e as lançavam nesse campo de 500 metros quadros, onde não havia
cuidado ou inspeção. Com uma população de 8 mil pessoas e sendo o foco de
epidemias,sem água, comida e nem produtos de higiene básica, sem médicos e
essas pessoas ainda eram forçados a trabalharem na frente de obras sob a
vigilância de soldados que os torturavam.
Boa parte deles morreram com as chuvas de setembro e outubro, por
insolação, doenças, inanição e também assassinadas para controle demográfico. O
campo de Alagadiço foi desativado no dia 18 de dezembro de 1915 porém em 1932
quando a seca voltou a devastar o sertão do ceará, foram construídos novos
campos de concentração em pontos estratégicos que não foram o suficiente para
conter uma possível invasão às cidades então o governo optou por bancar
passagens para a Amazônia, onde as pessoas trabalharam como seringueiros. Foi
nesse período que os retirantes ocuparam várias regiões do Brasil. A estimativa é
de que 90 mil retirantes habitavam sete campos de concentração até o final da
seca. Muitos documentos permanecem até hoje ocultos, mas muita coisa também
foi queimada.
Outro momento em que o país foi novamente palco de uma dizimação em
massa Em 1903, Barbacena, MG, ganhou o apelido de “Cidade dos Loucos”, graças
à inauguração de sete instituições psiquiátricas no município Na época Barbacena
era vista como propícia para o tratamento de doenças mentais. Uma dessas
iniciativas era o Hospital Colônia. Mas, com o tempo, o que era planejado como uma
instituição médica tornou-se um depósito humano.
Na época a propriedade de Joaquim Silvério dos Reis era constituída por 16
pavilhões independentes, cada um com uma função diferente, sempre separando
homens de mulheres, à princípio o hospital particular era destino de pacientes
tuberculosos.
Em 1930, o estabelecimento faliu de vez e a Secretaria de Estado de Saúde
de Minas Gerais (SES) se apossou das funções do local, que se tornou uma
instituição pública rebatizada de Hospital Colônia de Barbacena, e oficialmente se
transformou em um hospício.
Tudo o que decorreu a partir daquele ano configura como crime à
humanidade. Então o governo uniu forças para que todos os tipos de desabrigados,
alcoólatras, viciados em drogas, prostitutas, inimigos políticos, homossexuais,
vítimas de estupros, mães solteiras, pobres, pessoas negras, marginais, loucos,
portadores de doenças físicas, jovens, crianças e até mesmo órfãos fossem
encaminhados para a Colônia, além daqueles que simplesmente não se ajustavam
ao padrão normativo da época, como os homens tímidos demais ou considerados
afeminados e as mulheres com temperamento forte e que não desejavam se casar,
também eram confinados na colônia, Estima-se que 70% dos internados não
apresentavam registro de doença mental.
Esses confinados tiveram todos seus documentos e pertences tomados e
ganharam nomes fantasia inventados pelos seus carcereiros para diferenciá-los.
O hospital era literalmente uma colônia, para aqueles que pudessem
"prejudicar" a reputação ou imagem do sistema político, social e familiar da época,
replicando a teoria de eugenia das raças proposta por Hitler, em um momento de
limpeza e reorganização do Rio de Janeiro e também repetindo o que já haviam
feito durante as secas no Ceará.
O Hospital Colônia alcançou a superlotação passando a ocupar até cinco mil
pessoas num local projetado para caber no máximo duzentas. Ao longo de 30 anos
de atividade, os servidores torturavam e execultavam os internos para que o local
pudesse receber mais pessoas para morrer e assim manter a máquina de genocídio
funcionando.
Além de serem exterminados e torturados, existem registros de 1916 que
comprovam que boa parte da receita do hospital foi gerada às custas do trabalho
forçado dos internos em plantações de milho, batata-doce, feijão, consertos
públicos, limpeza etc. Eles não recebiam nenhum tipo de remuneração ou cuidado,
nem mesmo alimentação.
Os cadáveres dos mortos eram vendidos para universidades de medicina e
os ossos eram comercializados até para confecção de artesanato regional.
Estima-se que até 1.853 corpos foram vendidos para 17 faculdades por todo o
Brasil.
Estima Se que durante os 30 anos a Colônia recebeu pessoas de todos os cantos
do país, mais ou menos 60 mil brasileiros morreram lá.
Em 1961, o fotógrafo Luiz Alfredo, do jornal O Cruzeiro, a convite do então
governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, capturou tudo o que se passava
dentro do Hospital Colônia, expondo ao público. O choque dessas fotos não foi
suficiente para que tenham feito algo e em 1979, o jornal O Estado de Minas
publicou uma série de reportagens com o título “Os porões da loucura”, detalhando
o que as fotos não alcançaram – se é que isso era possível. No mesmo ano, o
documentário Em nome da Razão, de Helvécio Ratton, levou uma equipe para
inspecionar a decadência que acontecia na Colônia. Franco Basaglia, grande nome
na luta pelo fim dos sanatórios, declarou abertamente à imprensa, após visitar o
local, que havia estado em um campo de concentração nazista.
Apesar de tudo isso, foi apenas na década de 80 que o Hospital Colônia
encerrou suas as atividades.Soma-se um total de 200 pessoas entre aqueles que
sobreviveram durante e depois do fim do hospital colônia adicionando o registro
daqueles que conseguiram fugir.
Em memória daqueles que foram exterminados na Colônia Barbacena, no
mesmo local, foi aberto o Museu da Loucura em 1996. Contudo, nunca houve uma
reparação formal, nem mesmo com os que sobreviveram, apenas um fechar de
olhos permanente, um desviar de atenção do retrovisor de nossa história.

Conclusão
O movimento eugenista teve um impacto duradouro no Brasil, moldando não
apenas o discurso político, mas também a visão da sociedade em relação à raça e à
hereditariedade. Ao compreendermos o contexto histórico, as ideias centrais e as
consequências do movimento eugenista, podemos refletir criticamente sobre os
aspectos éticos e morais relacionados à ciência, além de buscar um entendimento
mais amplo das complexas dinâmicas raciais do país que não aparecem para nós
nos livros didáticos.

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