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Desigualdades raciais no Brasil:


origens, estruturação e superação
Curso de letramento racial para a comunidade Nelson Willians - Modalidade online

A construção da ideologia racista:


Justificativas religiosas para o colonialismo e a escravidão.
O “racismo científico”: darwinismo social e eugenia

Ministrado pelo Prof. Dr. Ramatis Jacino, docente da UFABC


O racismo tem origem no mercantilismo, nas grandes
navegações, no colonialismo e na escravidão.

O mercantilismo surgiu no fim do período feudal,


contemporânea à expansão da burguesia.

A escravidão fez parte da lógica do mercantilismo, das grandes


navegações e do colonialismo, com portugueses, espanhóis e
holandeses à frente. Invasão de outras terras, invasão do
Brasil, massacre dos índios e sequestro de africanos: calcula-se
que de 5 a 8 milhões de africanos foram sequestrados.
Ocupação do território
e produção de riqueza

• Espanhóis encontraram grande densidade demográfica e


formas de organização da produção semelhantes a dos
europeus. Estes passaram a utilizar as maneiras tradicionais
dos indígenas de organização do trabalho que ficaram
conhecidas como Mita, Encomienda, Repartimiento.
Encontraram, ainda, ouro e prata.

• Portugueses não tem a mesma sorte. Não encontram a


mesma quantidade de índios, a mesma forma de organização
da produção, não encontram ouro e prata imediatamente.
Precisam ocupar o imenso território e produzir algo que
permita o auto financiamento da ocupação e dê lucro
A desigualdade
precisa ser
explicada.
Criam-se, então, teorias
que à justifiquem...

Imagem 1: Babá brincando com criança em Petrópolis, clicada em 1899


por Jorge Henrique Papf. Fonte: LÖFGREN; GOUVÊA, 2018
Origem do racismo
Justificativa religiosa

O racismo foi uma ideologia criada para legitimar a colonização e o sequestro de outros
povos para submetê-los ao trabalho cativo. Não foi o racismo que criou a escravidão,
foi a escravidão que criou o racismo.
Os escravizadores europeus eram cristãos e precisavam legitimar a suas escolhas
econômicas.
Durante muito tempo a justificativa para o
colonialismo e a escravidão era religiosa (a
maldição de Can, denunciado por seus irmãos Sem e
Jafé). Quando a explicações religiosas se tornam
insuficientes para explicar e legitimar a escravidão
e o colonialismo, os europeus lançam mão da
“ciência”. Surge assim o darwinismo social e a
eugenia que hierarquizava as pessoas de acordo
com a “raça”, Ou seja, a consolidação da ideologia
racista.

Imagem 2: Noah saving the world.


Justificativa científica

Charles Darwin,
(12/02/1809/– 19/04/ 1882)
autor de A Origem das
Espécies defendeu a
existência do
evolucionismo na
natureza, que se daria por
meio de uma “seleção
natural” e “sexual”. Teoria
que se tornou base para
explicar diversos
fenômenos na biologia.
Imagem 3: evolução humana (Latinstock/VEJA)

Reparem como a própria


sucessão de imagens
hierarquiza as etnias com o
Homem branco como o ponto
mais alto da evolução
Darwinismo social

Darwinismo social é uma tentativa de se aplicar as teorias de


Darwin às sociedades humanas, utilizando os mesmos conceitos.
A teoria da seleção natural que explica a diversidade de espécies
de seres vivos através do processo de evolução, a luta pela
existência e a sobrevivência dos mais aptos foi utilizada para
justificar a dominação de um povo sobre outro, assim como da
importância de um controle sobre a demografia humana.
Eugenia

Imagem 4: Símbolo da Eugenia. (Imagem retirada do site Campo Grande News )

Derivada do grego, é um
termo criado em 1833 por
Francis Galton (1822-1911),
significando "bem
nascido".Galton definiu
eugenia como "o estudo dos
agentes sob o controle social
que podem melhorar ou
empobrecer as qualidades
raciais das futuras gerações
seja física ou mentalmente".
Imagem 5: A prática de exibir crianças era comum nesses locais Imagem 6: O corpo exótico do Outro, entre exibições
e espetáculos da diferença

Até 1950 africanos e indígenas eram


expostos em verdadeiros zoológicos
humanos nas capitais europeias
Desumanização: Os negros, na Europa,
eram apresentados como seres bizarros
O exemplo de Sarah "Saartjie"
Baartman.

Nascida em 1789, numa aldeia próxima


ao Rio Gamtoos, na África do Sul, foi
levada para a Europa, e sob o apelido de
"A Vênus Hotentote" foi transformada em
uma atração de circo em Londres e Paris,
por ter uma deformidade física.

Mesmo depois da sua morte, em 29 de


dezembro de 1815, continuou a ser
tratada dessa forma Seu cérebro,
esqueleto e órgãos sexuais continuaram
sendo exibidos em um museu de Paris
até 1974. Seus restos mortais só Imagem 7: A escravizada Sarah Baartman, vítima de racismo e gordofobia no séc. XIX.

retornaram à África em 2002, após a


França concordar com um pedido feito
por Nelson Mandela.
Darwinismo social
Esse conceito motivou as ideias
de eugenia, racismo, e mais
tarde foi a base ideológica do
fascismo, do nazismo e de
grupos supremacistas brancos
como Ku Klux Klan. Serviu para
justificar tanto o colonialismo e
o imperialismo como a
escravidão e a marginalização a
que os negros seriam Imagem 8: O ditador nazista Adolf Hitler

submetidos depois dela.


Imagem 9: Congregatio societatis Ku Klux Klan in oppido

O racismo enquanto “ciência”


foi desenvolvido por
importantes cientistas e
intelectuais europeus como
Arthur de Gobineau, Houston
Chamberlain, Ernest Haeckel,
Thomas Robert Malthus, Egas
Moniz, que ganhou o prêmio
Nobel de Medicina e Fisiologia
em 1949, dentre outros.
No Brasil as ideologias, baseadas na
“ciência” que justificavam as
desigualdades surgiram no século XIX
Um dos principais intelectuais a introduzir a
eugenia no Brasil foi o diploma francês Joseph
Arthur de Gobineau (1816 -1882), amigo de
Dom Pedro II.
Para as elites brasileiras, a eugenia passou a
representar um símbolo de modernidade, uma
ferramenta científica capaz promover o
progresso no País. Entre os temas mais
tratados pelos eugenistas brasileiros estavam a
educação higiênica e sanitária, a seleção de
imigrantes, a educação sexual, o controle
matrimonial e da reprodução humana e
debates em torno da miscigenação, e a
“regeneração racial”, por meio, inclusive, da
esterilização.

Imagem 10: Stanisław Julian Ostroróg, Walery (Sr.) (1834-1890) - LAGO, Pedro
Correa do. Coleção Princesa Isabel: Fotografia do século XIX. Capivara, 2008.
Eugenia e pré eugenia no Brasil
No Brasil já existia uma pré eugenia, colocada em prática pelas Imagem 11: A Redenção de Cam, 1895 - Modesto Brocos

elites, que previa extinção e/ou marginalização dos ex-


escravizados.
A eugenia servia para justificar a exploração de uma classe
sobre a outra e também para explicar as razões da escravidão
e legitimar a sociedade estamental baseada na cor da pele,
que a sucederia no Brasil. Assim, a aplicação prática da eugenia
tinha como propósito branquear a população brasileira.
Essa ideologia racista foi gestada em centros de excelência
acadêmica, como a Faculdade de Direito do Largo de São
Francisco, A Faculdade de Direito de Recife, a Escola de
Medicina da Bahia e o IHGB. Este último teve grande apoio de
Dom Pedro II.
Nesses espaços foi se construindo a ideologia racista que
considerava os negros e os indígenas impedimentos ao
“crescimento” da Nação, por fazerem parte das “raças
inferiores”. Importantes intelectuais do período, do alto do seu
prestígio, sustentavam a ideia da inferioridade dos
descendentes de africanos e sua inaptidão para o trabalho
livre.
A literatura e a arte contribuíram para a popularização desse
pensamento, com escritores como José de Alencar e Aluísio
Azevedo (O Cortiço), e o quadro A Redenção de Can, de
Modesto Brocos.

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