A eugenia, também chamada de eugenismo, consiste em uma série de
crenças e práticas cujo objetivo é o de melhorar a qualidade genética da população. Uma das justificativas para a existência da eugenia é a de que as raças humanas consideradas superiores prevalecem no ambiente de maneira mais adequada. Por este motivo, muitas pessoas consideradas não dignas de transmitir suas respectivas hereditariedades a seus descendentes foram submetidas à esterilização contra vontade. O conceito é tido por alguns estudiosos como uma filosofia social, ou seja, uma eugenia social cuja filosofia teria fins de organização da sociedade. No entanto, essa ideia não é aceita universalmente. É um termo criado em 1883 por Francis Galton (1822-1911), significando "bem nascido". Galton definiu eugenia como "o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente". O tema é bastante controverso, particularmente após o surgimento da eugenia nazista, que veio a ser parte fundamental da ideologia de "pureza racial", a qual culminou no Holocausto. Mesmo com a cada vez maior utilização de técnicas de melhoramento genético usadas atualmente em plantas e animais, ainda existem questionamentos éticos quanto a seu uso com seres humanos, chegando até o ponto de alguns cientistas declararem que é de fato impossível mudar a natureza humana. A eugenia defende que raças superiores e de melhores estirpes conseguem prevalecer de maneira mais adequada ao ambiente. Com isso, busca-se aplicar a teoria da seleção natural de Charles Darwin (1809 - 1882) à espécie humana.
Eugenia negativa
No entanto, a eugenia acabou por assumir outras vertentes nos Estados
Unidos, sendo considerada não só para possibilitar a reprodução de gênios (objetivo de Galton), como para evitar que pessoas consideradas inferiores e indignas de transmitir suas hereditariedades pudessem se reproduzir. Surge então o que foi designado de eugenia negativa. A eugenia negativa tinha como objetivo impedir que pessoas consideradas "limitadas" pudessem se reproduzir. Eram consideradas pessoas "limitadas", por exemplo, aqueles que tinham problemas mentais, doenças hereditárias, doenças contagiosas, etc. O conceito de eugenia negativa se tornou tão presente na realidade dos Estados Unidos que chegou a se tornar constitucional no país. Eugenia positiva
A eugenia positiva, na verdade, consiste no conceito original da palavra
eugenia: incentivar as pessoas consideradas superiores e saudáveis a se reproduzirem para, desta forma, dar seguimento a uma espécie humana com características consideradas desejáveis. Essas características consideradas desejáveis contemplavam uma série de fatores como cor dos olhos, cor do cabelo, sobriedade e inclusive alguns pontos curiosos como amor pelo mar e genes de guerreiros.
Eugenia nazista
Apesar de ter se disseminado com maiores proporções nos Estados Unidos,
a verdade é que as ideias e os conceitos defendidos pela eugenia se espalharam por todo o mundo. Muitos atribuem a Hitler a ideia fixa de tentar estipular que determinada raça é superior à outra, mas a verdade é que basta um breve estudo sobre o que significa eugenia para que fique claro que esse conceito é anterior ao período da ditadura nazista. No entanto, não se pode negar que Hitler colocou em prática os princípios eugenistas no que podemos chamar de eugenia racial. A abordagem nazista não se contentou com a esterilização para prevenção de nascimentos e em determinados casos, aplicou o extermínio. Com essa medida, surgiram os campos de concentração do Holocausto, onde milhares de judeus perderam as vidas.
Eugenia no Brasil
Os primeiros textos sobre eugenia surgiram no Brasil em 1910, através de
publicações da imprensa e de artigos acadêmicos no âmbito da medicina. Em 1918 foi fundada a Sociedade Eugênica de São Paulo, fazendo do Brasil o primeiro país da América do Sul a sediar tal gênero de comunidade. A Sociedade reuniu mais de cem associados, dentre eles engenheiros, jornalistas, médicos e alguns nomes da elite intelectual da época, todos liderados por aquele que foi considerado o pai da eugenia no Brasil: Renato Ferraz Kehl. Além de fundador da Sociedade, Renato (que definia a palavra eugenia como “religião da humanidade”) foi um médico natural de São Paulo, que trabalhou em atividades voltadas para o saneamento rural e a educação higiênica e sanitária.
Foi também responsável pelo lançamento do Boletim de Eugenia (em 1929),
publicação que circulou durante quatro anos com o intuito de divulgar medidas eugênicas entre os brasileiros. No mesmo ano, foi realizado o Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia. No início do século XX, acreditava-se que os negros eram responsáveis pela existência de uma série de epidemias. Dessa forma, para os intelectuais da época, a eugenia seria uma forma de realizar uma espécie de “higiene social”. Todo aquele que não se enquadrava no conceito de raça superior estabelecido era considerado um mal a ser combatido. Um dos principais objetivos da eugenia brasileira era o de combater a imigração para evitar misturas de raças no futuro, garantindo assim a conservação de características raciais e físicas consideradas boas. De acordo com os padrões da eugenia, o grande índice de mestiçagem brasileira tornava inviável a existência do Brasil enquanto nação. As ideias eugênicas consideradas capazes de solucionar o problema eram:
Branqueamento: mistura de outras raças com a raça branca europeia com
o intuito de branquear a população. Seleção de imigrantes: criação de uma proposta que sugeria o fim da imigração de não brancos. Educação sexual: com a intenção de garantir uma descendência sadia. Controle da reprodução humana: geração de filhos apenas entre casais considerados sadios (tendo em conta os padrões eugênicos) com o intuito de formar uma elite brasileira perfeita. Controle matrimonial: não realização de matrimônios entre raças e classes sociais diferentes.
Eugenia na Educação Física
A presença dos corpos mal acabados, atrelados à inatividade, serve para
referenciar o belo e o perfeito. Gordas, sedentárias, alcoólatras, sifilíticos e tarados não eram vistos em poucos trajes, exercitando-se ao ar livre; entretanto, seus corpos são fundamentais para dar devida centralidade ao “homem puro- sangue” e atribuir às mulheres o imperativo da beleza. Ao lado dos concursos de miss, da moda em poucos panos e da exposição de belos corpos na praia, a educação física evidencia membros bem torneados, músculos trabalhados, graça, beleza, força e robustez; atribui ao corpo eleito por Kehl valores como disciplina e saúde, concorrendo, assim, para a educação ‘estética’ do povo. Evidenciando a perfeição, os exercícios físicos ensinam quais os “verdadeiros” atributos da formosura ensinando jovens e adultos a escolherem devidamente bons maridos e boas esposas. Em meio ao processo de educação da sensibilidade para a beleza eugênica, a educação física, ao lado de outras formas de exposição do belo, vincula-se ao projeto de “Eugenia positiva”.
Discursos Racista, Etnocentrista e Evolucionista e Sua Contraparte Nas Sociedades Contemporâneas A Eugenia, o Arianismo, o Colonialismo, o Relativismo Cultural e o Multiculturalismo - Compressed