O documento resume a trajetória acadêmica e áreas de pesquisa de Fabíola Rohden, professora de Antropologia da UFRGS. Ela pesquisa sobre relações de gênero, corpo, sexualidade e saúde no Brasil do século XIX, analisando como a ginecologia emergiu nesse período para regular a sexualidade feminina com base em ideias sobre a natureza inferior das mulheres.
Descrição original:
Aula sobre texto de Fabíola Rohden sobre gênero e reprodução
O documento resume a trajetória acadêmica e áreas de pesquisa de Fabíola Rohden, professora de Antropologia da UFRGS. Ela pesquisa sobre relações de gênero, corpo, sexualidade e saúde no Brasil do século XIX, analisando como a ginecologia emergiu nesse período para regular a sexualidade feminina com base em ideias sobre a natureza inferior das mulheres.
O documento resume a trajetória acadêmica e áreas de pesquisa de Fabíola Rohden, professora de Antropologia da UFRGS. Ela pesquisa sobre relações de gênero, corpo, sexualidade e saúde no Brasil do século XIX, analisando como a ginecologia emergiu nesse período para regular a sexualidade feminina com base em ideias sobre a natureza inferior das mulheres.
Ginecologia, Gênero e Sexualidade na Ciência do Século XIX Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina
Mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (2000).
É professora adjunta do Departamento de Antropologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da
Saúde (NUPACS)
Pesquisadora associada do Centro Latino Americano em Sexualidade
e Direitos Humanos.
Áreas de pesquisa: Relações de gênero, corpo, sexualidade, saúde,
gênero e ciência e história da medicina no Brasil. Uma ciência da diferença: sexo e gênero na medicina da mulher. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001;2009 A arte de enganar a natureza: contracepção, aborto e infanticídio no início do século XX. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003 Ciências na vida: antropologia da ciência em perspectiva. Orgs. Claudia Fonseca, Fabíola Rohden e Paula Sandrine Machado, São Paulo: Terceiro Nome, 2012. Corpo e Saúde na Mira da Antropologia: Ontologias, Práticas, Traduções. Orgs. Cecília MacCallum e Fabíola Rohden (EdUFBA/ABA, 2015) Antropologia da Ciência e da tecnologia: dobras reflexivas, Orgs. Claudia Fonseca, Paula Sandrine Machado e Heloisa Salvatti Paim. RS: Sulina, 2016 Objetivos:
Analisar a emergência da ginecologia brasileira na
2ª metade do século XIX.
◦ Qual a singularidade histórica desta especialidade no
campo da medicina?
◦ Qual a justificativa ideológica para sua consolidação?
2a metade do século XIX => período de significativas transformações socioeconômicas: Industrialização Urbanização crescente Grandes empreendimentos científicos e tecnológicos A entrada mais efetiva da mulher no mercado de trabalho O surgimento de movimentos de reivindicação de direitos => ideário da Revolução Francesa ◦ Movimento abolicionista ◦ Movimento feminista de ‘primeira onda’: direitos políticos, sociais e econômicos, ou seja, as demandas eram por direito ao voto, trabalho remunerado, direito ao estudo e propriedade privada Consolidação do dimorfismo sexual enquanto norma e ideal Segundo Laqueur, a passagem da hegemonia do modelo de sexo único para o modelo de dois sexos teria ocorrido entre o final do século XVIII e inicio do século XIX. Conforme vimos na aula passada, esse deslocamento está relacionado a 2 processos: ◦ Transformações epistemológicas – formas de apreensão do mundo e do indivíduo ◦ Transformações políticas A partir de um levantamento das teses produzidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro entre 1833 e 1940, a autora procura nos mostrar: O grande interesse em problemas relativos à sexualidade e reprodução – 22,3% das teses A desproporção entre os trabalhos que se dedicam especificamente às mulheres e aos homens em se tratando destas temáticas diferentemente do homem, “a mulher é tratada no discurso médico como eminentemente presa à função sexual reprodutiva.” (2002, 107) Emerge como especialidade cirúrgica Avanços científicos e tecnológicos foram cruciais para seu desenvolvimento ◦ Anestesia ◦ Anti-sepsia ◦ Assepsia ‘Pais’ da ginecologia – Ephraim MacDowell = primeira ovariotomia em 1809 J. Marion Sims = cirurgia de fístula vésico-vaginal 1849 Criação do Espéculo de Sims Consolidação associado ao desenvolvimento de instituições hospitalares (2ª metade sec. XIX) vinculadas a escolas médicas e ou voltadas especificamente para mulheres “Intervindo no terreno da reprodução e sexualidade, estavam sujeitos aos questionamentos de ordem moral. Eles aliavam, paralelamente, o prestígio advindo com a maior precisão das intervenções, eficácia nos tratamentos e complexificação das teorias, à fragilidade moral inerente ao seu campo de atuação.” (2002,115) ◦ Ascenção social da G.O. assoc. a Sua desvinculação com práticas de aborto e contracepção Sua definição como “especialidade guardiã da honra feminina e da regulação das manifestações corporais da mulher, de modo que a maternidade fosse bem encaminhada, a reprodução garantida e a ordem social cristalizada.” (2002, 115) “É a crença na singularidade do corpo feminino como determinado `a reprodução que possibilitou a formação dessa especialidade, que definiu as mulheres como um grupo particular de pacientes e um tipo distinto na espécie humana.” (ROHDEN, 2002,115) MOSCUCCI – “A democracia minara a antiga base da autoridade patriarcal, e, consequentemente, era necessário repensar a relação entre os sexos segundo novas linhas. À natureza, não à religião ou à metafisica, cabia definir o lugar que homem e mulher ocupariam na nova ordem social.” (MOSCUCCI, 1996, 3 apud. ROHDEN, 2002,116) Segundo Jamieson (1887), ginecologista e professor de medicina. Objeto da Antropologia – historia natural da raça humana Objetivo da Antropologia- criação de classificações distintivas entre os homens ◦ Grau de civilização ◦ Cor da pele ◦ Tipos de fala ◦ Sexo e diferenças sexuais
Ginecologia Andrologia ::::::
Tensão e tentativa de reconciliação entre unidade da espécie (Natureza humana) e delimitação de diferenças nem sempre irredutíveis
Antropologia do séc. XIX até os anos 1930 e a Ginecologia:
◦ Ambas buscavam determinar como se processava a interação entre natureza e cultura: corpo e mente Instinto e razão Sentidos e faculdades morais Diferenças sexuais ◦ Não se limitam aos órgãos genitais ◦ Dizem respeito à totalidade da fisiologia e anatomia (corpo) e da psicologia (mente) ◦ São universais e constitucionais
Sexualidade: um processo biológico dinâmico que transcorre da
concepção à puberdade recorre-se ao modelo unicista para discutir a origem embrionária e o desenvolvimento sexual ◦ Fascínio pela indeterminação e ambiguidade que também é vista como maior fonte de perigo: bissexualidade; latente hermafroditismo ◦ Como indica Laqueur, o modelo do sexo único não desapareceu com a proeminência do dimorfismo sexual Buscava-se estabelecer as evidências ‘naturais’ e ‘científicas’ da inferioridade feminina para legitimar diferenças entre seus papeis sociais: Homens: mundo público Mulheres: esfera privada – reprodução da família
O cérebro do homem governaria seus instintos e emoções.
O homem se distingue da mulher pela sua maior capacidade intelectual
A mulher seria governada pela sua fisiologia inerentemente
patológica. A mulher seria dominada pelas suas funções instintivas e emocionais Craniometria: homem:: pelvimetria: mulher
Homens e mulheres especializados para funções
diferentes e complementares ◦ Craniometria: estabelece a ‘superioridade’ do homem branco ◦ Pelvimetria: estabelece a ‘superioridade’ da mulher branca “ A relação intrínseca entre a patologia e a natureza feminina exigia a criação de uma ciência específica; ao passo que, embora existissem as desordens na próstata e testículos, a patologia do sistema sexual masculino não determinava a natureza do homem.” (ROHDEN, 2002, 120 apud MOSCUCCI, 1996, 31-3) Assimetria entre a antropologia e a ginecologia: a antropologia tratava da humanidade a partir do modelo masculino A ginecologia tem por objeto a ‘natureza’ da mulher a partir de uma concepção patológica do seu sistema sexual “O interessante é que ambas têm em comum o recurso a supostos dados biológicos que legitimam visões de mundo e hierarquias sociais” (ROHDEN: 2002, 122)