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Cenário político de pandemia revelam autonomia de evangélicos e abertura para

pautas progressistas. Entrevista especial com Jacqueline Moraes Teixeira


Pesquisadora destaca como até mesmo segmentos mais aderidos ao governo Bolsonaro ensaiam
movimentos de descolamentos, assim como outros acolhem ainda mais pautas progressistas no
conturbado 2020

João Vitor Santos

Quem pesquisa os segmentos evangélicos insiste em destacar que não se trata de uma massa
homogenia e compacta, mas sim grupos com diferentes perspectivas e nuances. É o caso da
antropóloga Jacqueline Moraes Teixeira que, nesse ano de 2020, percebeu ainda mais essas
distinções com relação a experiência da pandemia e todos os desdobramentos políticos frente ao
governo de Jair Bolsonaro. Olhando para a Igreja Universal, seu objeto de estudo e que também
tem grande representatividade no segmento, reconhece um apoio mais coeso a posturas do
governo. No entanto, aponta que tal apoio começa a revelar fissuras nesse ano pandêmico.
“Tenho percebido que, pela primeira vez, desde janeiro de 2019, essa aliança entre Bolsonaro e
esse núcleo específico de apoio do seu governo — Igreja Universal do Reino de Deus —, começa
a dar sinais de um enfraquecimento”, observa, em entrevista concedida via áudios de WhatsApp
enviados à IHU On-Line.

Para Jacqueline, tais fissuras tem relação com o resultado eleitoral de candidatos apoiados por
Bolsonaro e também pelo fim de grandes mandatos, como o de Marcelo Crivella no Rio de
Janeiro. “Então, assim se configura uma necessidade para garantir boas alianças políticas para
manter uma boa performance no Legislativo e uma aliança crescente para produzir, realmente,
os acessos ao Executivo”, analisa.

Além disso, outros segmentos descolaram do governo nos temas da pandemia e passaram a
defender as orientações de cientistas e da própria Organização Mundial da Saúde – OMS.
Segundo a pesquisadora, é interessante ainda observar o discurso de quem ainda seguiu com o
governo, como a Universal. Mais uma vez reducionismos não cabem, pois não se treta
simplesmente de negacionismo científico. “O que se produzia e se circulava o tempo todo eram
outras correntes científicas que diziam coisas distintas dos estudos e das pesquisas divulgadas
pela OMS e outras instituições importantes e que realmente estavam fazendo todo o processo de
saúde sanitária durante a pandemia”, observa.

Jacqueline chama atenção para uma ideia de fraude e perseguição que transcende a ideia de
negar a realidade. Para ela, “é válido refletir como essa sensação de fraude, de adulteração, que é
algo fundamental que vai construir todo esse processo que resulta na invasão do Capitólio nos
Estados Unidos, também está muito forte e esteve fortemente presente no Brasil durante todo
esse período de pandemia, em que teremos o tempo todo uma desconfiança em relação aos
dados produzidos pelas instituições científicas”.
Por fim, ainda analisa outra pauta de 2020 entre o segmento evangélico: o antirracismo.
Recuperando outros estudos, a pesquisadora comprova que esse é um tema presente em setores
evangélicos há tempos e que ainda foi intensificado em 2020. “Esses movimentos se configuram
e se apresentam publicamente como ‘evangélicos progressistas’, que não apenas têm formado
associações importantes de evangélicos contrários ao governo Bolsonaro, mas que têm
produzido posições relevantes para pensar a democracia e a relação entre religião e Estado laico
sob outros termos. Como são grupos que também têm pensado a questão racial a partir de uma
relação com os movimentos e com o feminismo negro”, destaca.

Jacqueline Moraes Teixeira é doutora em Antropologia Social na Universidade de São


Paulo – USP, onde também obteve o título de mestre. Possui graduação em Ciências Sociais pela
USP e graduação em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É pesquisadora do
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – Cebrap, realizando pesquisas na área de gênero,
sexualidade e religião. Ainda atua no Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana da USP –
NAU, onde desenvolve pesquisas sobre religiosidade em contextos urbanos, e no Núcleo dos
Marcadores Sociais da Diferença da USP – Numas. Atualmente é professora substituta no
Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da Faculdade de Educação da
USP, professora credenciada no Programa de Pós Graduação em Educação (PPGE-USP) e
realiza estágio de Pós Doutorado no Programa de Pós Graduação em Antropologia Social
(PPGAS-USP).

Confira a entrevista.

IHU On-Line — A invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos, escancarou as reações


da chamada extrema-direita, ou nova direita, às instituições constitucionais e a
própria democracia. Que relações podemos estabelecer com esse episódio e a
associações de grupos religiosos a essas perspectivas políticas, tendo em vista,
especialmente, o cenário brasileiro?

Jacqueline Moraes Teixeira – Apesar de a gente perceber a presença de grupos religiosos


na invasão, com faixas de apoio a Donald Trump e mesmo com as cruzes em homenagem a Ku
Klux Klan, (considerando que a cruz sempre foi um símbolo importante para grupos
supremacistas brancos), acredito que seja fundamental pensarmos no papel de determinadas
lideranças religiosas no apoio ao Trump e a crença de que as eleições presidenciais tinham sido
fraudadas. É possível destacar duas lideranças religiosas de alcance nacional, o primeiro deles
é Franklin Graham, filho de Blly Graham, um dos mais importantes evangelistas do século XX.
Desde a eleição, Graham tornou-se "conhecido, acima de tudo, como o aliado evangélico mais
vociferante" de Trump. Ele se opôs fortemente ao processo de impeachment, chamando-o de
"inquisição injusta". Em uma entrevista de 21 de novembro de 2020, Graham sugeriu que a
oposição a Trump era obra de um "poder demoníaco". Em dezembro, quando a revista
Christianity Today, fundada por seu pai, Billy Graham, publicou um editorial chamando Trump
de "profundamente imoral" e apoiando sua destituição do cargo, Franklin Graham respondeu
dizendo que seu pai também votou em Trump.
As postagens constantes de apoio a Trump e de questionamento do resultado das eleições
presenciais, e declarações de defesa da própria posição de Trump em relação a invasão do
Capitólio resultou em várias manifestações contrárias a Graham, com a produção de uma
petição para que ele seja afastado do cargo que ocupa junto a uma associação de ação
humanitária.
Não estou tentando estabelecer uma relação direta de causalidade entre as posições publicas
dos religiosos que citei aqui e a invasão ou a violência ocorrida no Capitólio, o que estou
pensando na verdade é que o modo como posições públicas podem funcionar como
produtoras de justificativas éticas para ativismos que representam risco a democracia.

Quando eu escolhi fazer referência à relação entre o Franklin Graham e o Donald Trump, bem
como pensar as declarações dele e as afirmações publicadas nas suas redes sociais — redes que
são seguidas por milhões de pessoas —, de que as eleições nos Estados Unidos tinham de fato
sido adulteradas, considerei que essa relação entre Trump e Graham pode, de alguma maneira,
nos ajudar a pensar uma série de questões que relacionam e produzem uma imagem do que vem
se configurando como uma extrema direita ou nova direita no Brasil. E pensando a relação que
essa imagem vai se constituindo com determinadas lideranças religiosas, nesse caso específico,
algumas lideranças evangélicas.

Em primeiro lugar, é superimportante considerar a relevância do evangelista Billy Graham, ou


Graham Pai, para a configuração das imagens de multidões e ocupações públicas relacionadas
ao segmento evangélico no Brasil. Isso porque as suas visitas e cruzadas evangelísticas ocorridas
no país, entre aos nos 1960 e 1970, produziram, por exemplo, a ocupação de praças, do estádio
do Maracanã, no Rio de Janeiro, e do Pacaembu, em São Paulo, fazendo com que de alguma
maneira se constituíssem as primeiras imagens das denominações evangélicas relacionadas às
grandes multidões. A escolha do Graham Pai em fundar uma missão evangelística com
característica interdenominacional fez com que também suas mensagens circulassem pelo
Brasil, tanto por denominações que compõem o que entendemos por protestantismo histórico,
como por denominações pentecostais e neopentecostais.

Nesse sentido, além de inspirar os enquadramentos para os primeiros programas televisivos


evangélicos, por exemplo, e de suscitar as primeiras relações significativas de visibilidade entre
ritos evangélicos e equipamentos públicos fundamentais, o Blly Graham (ou Graahm pai)
também inspirou o modelo de ação política tendo atuado como conselheiro religioso direto, de
ao menos quatro presidentes nos Estados Unidos.

Avivamento de igrejas

No ano de 2018, o nome do Billy Graham voltou a circular com força no Brasil em decorrência
de sua morte e, nesse período, foi muito comum a circulação em redes sociais e plataformas de
notícias gospel uma profecia que foi dita por um outro evangelista, cujo livros e mensagens
também circulam pelo Brasil, Benny Hinn. Hinn dizia que no ano da morte do Billy Graham e a
morte em si serviriam como um sinal para que as igrejas evangélicas se reunissem num grande
avivamento. 2018, esse mesmo ano, foi o ano de eleição de Jair Bolsonaro e, lembro bem,
acompanhando grupos de WhatsApp das pesquisas que realizo, que era muito comum ver uma
vinculação entre a votação do Bolsonaro como uma resposta a esse avivamento, que seria fruto
desse sinal enviado por Deus, totalmente atrelado ao Billy Graham, que teria sido um “grande
homem de Deus”.

É interessante pensarmos como o Bolsonaro, que tem esse perfil que não parece aceitar
conselho de ninguém, se encaixou de alguma maneira nesse imaginário desse estadista ou
político, que se sentaria à mesa com seus pastores conselheiros e que receberia conselhos de
como guiar o país e como guiar uma nação que estaria totalmente salvaguardada debaixo do
poder de Deus.

A invasão do Capitólio e cenário brasileiro

É válido refletir como essa sensação de fraude, de adulteração, que é algo fundamental que vai
construir todo esse processo que resulta na invasão do Capitólio nos Estados Unidos, também
está muito forte e esteve fortemente presente no Brasil durante todo esse período de pandemia,
em onde assistimos que teremos o tempo todo uma desconfiança em relação aos dados
produzidos pelas instituições científicas, uma desconfiança em relação às mortes e às políticas
sanitárias de isolamento social. Consequentemente, sempre há a necessidade de se pensar e se
olhar para essa figura central que estaria o tempo todo sendo foco de uma série de conspirações.

Esse, de alguma maneira, seria o jogo que constrói todo o processo e o engajamento dentro das
linguagens produzidas pelo governo de Jair Bolsonaro e, de alguma maneira, o modo como isso
também constrói as imagens desses movimentos, que passam a se configurar e se entender
como movimentos de direta e de extrema direita no Brasil.

IHU On-Line — Você A senhora pesquisa há algum tempo essa incidência da


religião, especialmente de evangélicos, no espectro político e na vida urbana. Em
que medida a experiência mundial da pandemia reconfigura essas relações? E, em
específico no caso do Brasil, como a senhora apreende isso?

Jacqueline Moraes Teixeira – Se formos pensarmos essa relação entre igrejas evangélicas,
vida urbana e cenário político nacional durante a pandemia, a primeira coisa que podemos
apreenderentender é que a pandemia produziu uma mudança significativa, quase que como
uma alteração ontológica de uma paisagem. Isso porque É importante perceber o modo como a
pandemia exigiu que as igrejas evangélicas, principalmente — pensando no que eu já falei sobre
o Billy Graham —, se defrontassem com a necessidade de vão se reconstruir sua imagem pública
a partir dessa imagem dea religião das multidões, a medida em que grandes multidões ou
grandes ajuntamentos pois tiveram que reconfigurar essa imagem a partir do momento em que
as multidões deixam de ser permitidoas.

Isso trouxeaz a necessidade de se recalcular e produzir novas imagens sobre essa forma pública
de religiosidade. Esse processo vai alcanças desdese configurar as na medida em que várias
igrejas e denominações que aderem muito rapidamente às políticas sanitárias de isolamento
social, e realmente deixam de fazer seus cultos mesmo antes disso se tornar de fato foco de
decreto, até as . E, por outro lado, igrejas e denominações evangélicas que se recusaramm a
parar de funcionar e que de fato assumiram de modo mais diretoficam a necessidade de
tentando reconfigurar esse enquadramento, de as imagens da religião de multidão, apesar do
impedimento produzido pelos decretos para que as igrejas funcionassem.

Estou me referindo a isso pensando n lembrando da Igreja Universal do Reino de Deus — IURD,
que é a denominação neopentecostal que estudo o há mais de dez anos, e o modo como durante
todo esse período de pandemia aa IURD se posicionou contrária as políticas sanitárias de
isolamento assumindo pra si o compromisso de reconfigurar enquadramentos e atualizar as
imagens capazes de manter a experiência pública da multidão, e isso se deu logo no inicio da
pandemia, quando a igreja orientou para que asvai sempre posicionar e tentar colocar pessoas
se organizassem para cumprir alguns horários de culto, ajoelhadas nas ruas próximas a
algumdos seus grandes templo da IURDs, mantendo pessoas ajoelhadas com um metro de
distanciamento entre uma e outra. , Essas imagens circularam pelas redes sociais da igreja,
pelos grupos de whastsapp e foram foco de reportagens na Record. vai Ifotografar e circular
essas imagens na internet. Isso acontece especificamente entre abril e maio de 2020 e é
interessante como isso trazia a ideia de uma religiosidade cuja possibilidade de realização
depende sempre de sua capacidade de produzir figuras públicas, de uma corporeidade cuja
expressão religiosa depende sempre das condições para se produzir formas de ajuntamentos
públicos. que essa população não aceita ficar longe da sua comunidade eclesiástica, de sua
igreja, ela precisa se juntar. Essas imagens foram fundamentais para se sustentar, ainda no
primeiro trimestre de pandemia no Brasil, a defesa de que igrejas deviam ser reconhecidas como
serviços essenciais para garantir a realização de cultos e outras atividades presenciais se.
discurso Também foi importante para fortalecer pautas como o uso de medidas preventivas e
profiláticas ao Covid 19, fortalecendo a distribuição de alguns medicamentos que compunham o
chamado “tratamento precoce” isso tanto em igrejas evangélicas como em fundações e
associações de confissão católica. — discurso anti-isolamento social — estava muito concatenado
com os discursos, tanto de negação da própria infecção por covid-19, Esse princípio de uma
religiosidade que só se realiza mediante a suas possibilidades de ocupar, de produzir imagens de
ajuntamento públicocomo também dos discursos anti-isolamento social proferidos pelo
presidente Jair Bolsonaro e por vários ministros do seu governo podem ser recuperadas também
se pensarmos nas manifestações intituladas: “Evangélicos contra o isolamento social” ocorridas
em 1 de junho de 2020, em várias cidades do Maranhão, em protesto contra as medidas de
lockdown defendidas pelo Governador do Estado, além de exibir bíblias e de cantar hinos que
falavam sobre o Exército de Cristo, os manifestantes queimaram máscaras e frascos de álcool
gel em praça pública. Essas imagens foram importantes na construção de uma cortina de
desconfiança em relação a medidas sanitárias e mesmo, do número de mortes durante a
pandemia, o que garantiu, ampla circulação das críticas de desconfianças apontadas pelo
próprio Jair Bolsonaro..

Discursos negacionistas?

Esse processo também vai se constituir por uma série de discursos que passamos a entender
como discursos negacionistas, mas olhando a partir dos dados que coletei durante esse período
de pandemia, principalmente os dados circulados pela Igreja Universal, não se tratava de uma
política negacionista, mas fundamentalmente de uma disputa por discursos científicos. O que se
produzia e se circulava o tempo todo eram outras correntes científicas que diziam coisas
distintas dos estudos e das pesquisas divulgadas pela Organização Mundial da Saúde — OMS e
outras instituições importantes e que realmente estavam a frente de fazendo todo o trabalho de
articulaçãoprocesso de medidassaúde sanitária durante a pandemia.

Essa disputa traz novamente à tona essa relação significativa entre Estados Unidos e Brasil, na
medida em que vários desses institutos de pesquisa e várias dessas pesquisas tinham sido
produzidas em universidades privadas norte-americanas, que são reconhecidas como
importantes laboratórios produtores e formadores de cientistas e acadêmicos de uma chamada
direita política ou de um pensamento conservador.

IHU On-Line — Ainda sobre a pandemia, sua experiência escarnou uma crise
ambiental, uma imensa desigualdade e gerou um assombroso desemprego. De que
forma esses grupos (político-religiosos, se dá para chamar assim) têm reagido a
essas consequências da grande crise pandêmica?

Jacqueline Moraes Teixeira – É preciso ressaltar o quão segmentado e difuso são os


evangélicos e, consequentemente, o quanto, de alguma maneira, quando estamos pensando em
respostas, ou possíveis soluções ou possibilidade de gestão dessa grande crise pandêmica em
que continuamos mergulhados, estamos falando de uma infinidade de respostas, de inúmeras
possibilidades e, portanto, de vinculações políticas que também resultam de várias dessas
práticas e posições. Nesse sentido, podemos pensar que determinados grupos de lideranças e
denominações evangélicas que ainda permaneceramm um pouco mais próximos das pautas e do
modo como governo Bolsonaro vem vem lidand0do com a pandemia. Esse engajamento a
narrativa do governo acerca da pandemia, desenvolvida, sobretudo, no âmbito do Executivo
Federal, se dá para algumas lideranças evangélicas pela defesa daEntão, essa seria uma resposta
muito atrelada aos processos e à garantia da manutenção do funcionamento dos serviços
considerados não essenciais, assegurando a manutenção dea abertura econômica e dos postos
de trabalho, justificativa que esteve muito presente na adesão das lideranças e nas posturas
públicas da Igreja Universal contra o endurecimento das medidas de distanciamento social.
respostas que estão o tempo todo pensando que políticas mais restritivas de circulação, mesmo
com o aumento de infecções por covid-19 e das mortes, até mesmo a partir do caso de Manaus,
que a economia brasileira estaria num risco maior e que já está passando por um momento de
crise.

Por outro lado, existem outros grupos e lideranças evangélicas que pensam a questão da
pandemia sob outros termos e, assim, vêm apresentando posturas de distanciamento em relação
a postura e às práticas difundidas pelo governo Bolsonaro. Um dos exemplo que posso citar
aquis é o modo como várias denominações e lideranças evangélicasreligiosas têm feito questão
de produzir posicionamentos públicos favoráveis à vacina, têm explicitado de que a crise
provocada pelo da covid-19 seja enfrentada com soluções científicas cabíveis – e o que tem
suscitado posicionamentos públicos contra o especialmente em relação ao tratamento precoce,
que foi difundido não apenas pelo presidente Bolsonaro, mas também pelo Ministro da Saúde,
Eduardo Pazzuelo e que continua sendo foco de investimento do Ministério da Saúde em 2021,
quando ainda enfrentamos altos índices de infecção e de óbito.

Todas essas posições vão configurando ora, um processo de identificação e ainda engajamento a
questões relacionadas ao governo Bolsonaro, ora u distanciamentos e engajamentos de lutas que
tentam, cada vez mais, se traduzir em pesar pedidos de impeachment.

Sobre isso é importante falarmos sobre o documento que foi assinado em protocolado em Um
exemplo disso é que, no dia 26-01-2021, reunindo assinatura de várias associações importantes
católicas e evangélicas. Pelo menos, assim como 300 lideranças católicas e evangélicas
assinaram uma carta pedindo o impeachment de Bolsonaro, o documento sustentou a denúncia
de inúmeras negligências e crimes comtidos durante a pandemia, desde por conta de todo um
contingente de negligências de políticas públicas em saúde que não foram implementadas, até
ações de negligência que e que causaram mortes e que resultaram também na crise oxigênio
vivida em Manaus em no final do mês de janeiro.

IHU On-Line — Como você a senhora analisa os apoios da base religiosa ao


Governo Bolsonaro atualmente? Que movimentos foram possíveis detectar desde
o início da pandemia?

Jacqueline Moraes Teixeira – É importante destacar que quando estamos pensando em


uma base religiosa para o governo Bolsonaro, e uma base que tem sua substancialidade muito
configurada pela participação evangélica, é difícil imaginar as estabilidades dessa base pensando
numa aliança política constituída por um grupo que é tão fragmentário. Isso porque ao falar de
evangélicosPorque estamos falando sempre de inúmeras denominações, de lideranças distintas,
de formas de interpretações bíblicas, de vinculações teológicas específicas — Teologia da
Prosperidade, Teologia da Missão Integral e Teologia da Guerra. Portanto, é sempre muito
difícil pensarmos no conteúdo dessa uma base religiosa do governo Bolsonaro e é importante
reconhecermos que essa estabilidade de uma base religiosa, que depende significativamente
dessa capacidade de engajar e de produzir imagens públicas de ajuntamento, é muito mais um
efeito do que de fato de algo possível e factível de se observar nas relações e nas alianças
políticas estabelecidas com o governo Bolsonaro. Nesse sentido, estamos o tempo todo olhando
para disputas, para novas alianças, para todo um devir de processos políticos que estão se
configurando dentro desse efeito que nos permite pensar e visualizar odo que seria essa base
religiosa dentro do governo Bolsonaro.

O fim do Auxílio Emergencial, o aumento dos índices de infecção por covid-19, o aumento das
mortes, a crise no norte do país protagonizada pela cidade dede Manaus e a falta de vacinas no
momento em que vários países do mundo estão vacinando com muito mais velocidade, tudo
isso, logo no início de 2021, tem demonstrado que algumas coisas estão se movimentando
transformando dentro dessa rede de apoio ao governo Jair Bolsonaro por parte de algumas
lideranças evangélicas. E quero ressaltar queÉ importante pensar que não estou falando de um
apoio geral e homogêneo, ou seja, desse efeito que nos faz pensar numa base religiosa, mas de
um enfraquecimento nos engajamentos pró-Bolsonaro, nas relações deum apoio dentro de
grupos que já o apoiavam e que foram fundamentais para sua a eleição de Bolsonaro no final de
2018.

Aliás, em nenhum momento foi possível afirmar que havia, de fato, um grupo coeso e fechado
com o governo. O que estamos vendo o tempo todo é que alguns grupos dentro do segmento
evangélico estão mais próximos e uns outros mais distantes e, portanto, existe esse jogo de
aproximações e distanciamentos.

Igreja Universal e governo: uma relação em crise?

Eu gosto sempre de falar na Igreja Universal, porque se formos embarcar de fato nessa ideia da
base religiosa como um efeito, a IURD é fundamental. pensar nessa noção de Vamos voltar um
pouco para a relação entre a coesão e de estar desde o início do governo Bolsonaro junto ao
governo, a Igreja Universal serve para pensarmos essa relação, principalmente se pensarmos a
Universal e sua relação com o governo Bolsonaro durante todo este período de pandemia,
quando chamo atenção para esse ponto, não estou pensando apenas nas atividades e redes
sociais da igreja, mas no modo como isso também produz outros desdobramentos de mídia na
medida em que repercute em temáticas abordadas por jornais e programas da Rede Record.
Considerando esses meios de observação podemos dizer que durante a pandemia a IURD
demonstrou e usou sua rede para produzir engajamentos as posturas e apostas do governo
BolsonaroEssa foi realmente uma relação que se deu de modo muito estável durante a
pandemia, ao fechar um discurso governamental de enfraquecimentos de medidas sanitárias em
nome porque eles fecham dcom o governo nas pautas relacionadas à economia, apostar na
retórica da perseguição religiosa e de que havia uma conspiração cujo foco era produzir um
pânico social frente a uma doença que poderia ser controlada com numa crítica às políticas de
isolamento e de distanciamento social e em relação ao tratamento profilaticoecoce — publicando
na Folha Universal, suando seus programas televisivos e as pautas jornalísticas da mídia aberta
para divulgar pesquisas científicas favoráveis ao uso da cloroquinauso da cloroquina.

DÉ possível ver que durante o ano de 2020 a Igreja Universal, de várias maneirasem todos seus
discursos, fez questão de realmente manter e demonstrar a sua coesão e a sua importância como
par pensar essa base religiosa dentro do governo Bolsonaro. Porém, considerandoIsso levando
em conta o atual cenário nesse início de 2021 e considerando processo como um efeito de uma
série de eventos, dentre eles, os resultados das eleições municipais no final de 2020, quando a
figura de Bolsonaro não garantiu engajamento suficiente para eleger candidatos a prefeitura em
. Além disso, o fato de o Bolsonaro não ter tido uma vitória reconhecida em nenhum grande
município do país, teve também a demora de Bolsonaro em manifestar seu apoio a campanha de
Marcelo Crivella para a reeleição no Rio de Janeiro. , pois, nenhum dos seus candidatos ou das
suas apostas de candidatura foram de fato eleitos. Sem dúvida a Essa derrota de Crivela afeta
essa relação política entre Jair Bolsonaro e a Universal, derrota política acrescida da prisão na
medida em que a Igreja vem de um certo desgaste por conta do fechamento do governo do
Marcelo e do impedimento para concluir o mandato faltando apenas três dias para a posse de
Eduardo Paes. Crivella no Rio de Janeiro, que acaba na prisão dele antes mesmo do
encerramento do mandato.

Se tem um aprendizado importante que as lideranças religiosas que ajudam a compor uma base
religiosa de direita no Brasil é que representatividade e engajamento em pautas e candidaturas
ao Legislativo e ao Executivo Federal dependem do sucesso e da possibilidade de capilaridade
pelos legislativos e executivos de instâncias municipais, tal pedagogia de agenciamento político
se tornou muito contundente, por exemplo, na defesa e tramitação de projetos sobre Ideologia
de Gênero e Escola sem Partido em esferas municipais garantindo centralidade e visibilidade
para essas pautas no governo federal. Isso traz a necessidade de se
Então, assim se configura uma necessidade para garantir boas alianças políticas capazes depara
manter uma boa performance no Legislativo e uma aliança crescente para produzir, realmente,
os acessos ao Executivo. Nesse sentido,— considerando esse resultado ruim relacionado ao
Bolsonaro nas eleições municipais, o fim do Auxílio Emergencial e toda essa crise que vem com
o ocorrido em Manaus, com o aumento dos casos de covid-19 e de mortes, e que vem, na
verdade, com a ausência de uma política para pensar a vacina —, tenho percebido que, pela
primeira vez, desde janeiro de 2019, essa aliança entre Bolsonaro e esse núcleo específico de
apoio ado seu governo — protagonizado em grande medida pela Igreja Universal do Reino de
Deus —, começa a dar sinais de um enfraquecimento. Teremos que ver como isso vai continuar e
se configurar no decorrer do ano de 2021. E se esse movimento terá forças para enfraquecer
Bolsonaro em 2022.
IHU On-Line — Nesse ano de 2020, a pauta do racismo voltou à tona. Quais foram
as reações entre os grupos evangélicos a essa pauta? Como isso vem sendo – ou
passou a ser – discutido nesses grupos?

Jacqueline Moraes Teixeira – A pauta racial foi muito forte durante o ano de 2020, isso
porque o processo todo provocado pela pandemia escancarou ainda mais as desigualdades que
atravessam nossa experiência nacional. em que vivemos. Considerando a dimensão racial, essa
desigualdade foi escancarada a partir da divulgação do aumento das mortes de pessoas negras,
mortes por conta do aumento da violência policial, da violência de gênero e da violência
doméstica enfrentada por essa população, e mortes por conta da própria covid-19 — em
números a covid-19 é muito mais letal entre pessoas negras do que em pessoas brancas,
exatamente porque a população negra é muito mais vulnerável por estar mais exposta ao vírus e
ter menos acesso a equipamentoso sistema de saúde. Esse processo promoveu uma série de
movimentos sociais e de importantes e significativas manifestações. Tivemos protestos, tanto
nos Estados Unidos em decorrência do assassinato de Geroge Floyd, como no Brasil em
decorrência do assassinato de vários adolescentes que foram vitimados por operações policiais
nas favelas do Rio de Janeiro. Dentre as milhares de mortes provocadas por violência do Estado
ou pelo racismo estrutural, vale lembrar que a gente A gente fechoua o ano de 2020 com a morte
trágica do João Alberto Freitas no Carrefour de Porto Alegre.

Todo esse processo resulta, consequentemente, em algumas respostas contundentes vindas


superimportantes e contundentes também dentro do segmento evangélico e por parte de grupos
evangélicos. Por isso, é valioso destacar, por exemplo, as pesquisas super atuais de do Vitor
Medeiros e da Simony dos Anjos, desenvolvidas na USP e de Cleiton Rocha e João Pedro
Araujo, ambos da UFRGS,, que têm estudado movimentos sociais de populações negras
protagonizados por e evangélicos, queque vêm lutando pela denúncia do genocídio da população
negra, que vêm denunciando os processos e as dimensões colonialistas que existem dentro da
tradição cristã e que marcam a própria constituição da fé do protestantismo no Brasil e das
dominações evangélicas.

Evangélicos progressistas

Esses movimentos se configuram e se apresentam publicamente como “evangélicos


progressistas”, que não apenas têm formado associações importantes de evangélicos contrários
ao governo Bolsonaro, mas que têm produzido posições relevantes para pensar a democracia e a
relação entre religião e Estado laico sob outros termos. Como são grupos que também têm
pensado a questão racial a partir de uma relação com os movimentos e com o feminismo negro,
há. Tem também uma aliança importante com as teorias feministas e uma aliança significativa
com as populações LGBTIQA+. Portanto, é um movimento que se constitui em meiodentro de
uma necessidade de se pensar numa relação com todos os grupos que estariam sendo os maiores
vulnerabilizados ou foco de produção de discursos violentos por parte desse outro grupo
entendido como extrema direita ou mesmo nova direita.

Esse movimento negro evangélico não surgiu em 2020, ele é bem mais antigo. Temos pesquisas
importantes produzidas por exemplo pelo Pr.pelo Marco Davi, que é um pastor Batista e um
dos fundadores do movimento negro evangélico, também pela pesquisa de doutorado do Prof.
Dr. Rosenilton Oliveira, atualmente professor da Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo — USP. Isso nos mostra o quanto esses grupos já se mobilizavam há um tempo
pensando pata pensar questões relacionadas às cotas étnicos-raciais e para pensar a necessidade
de se construir uma aproximação a uma Teologia Negra.

Dentro desse movimento, por exemplo, temos o Rio de Janeiro como lugar de destaque e nomes
que hoje são nacionalmente e internacionalmente conhecidos, como Ronilso Pacheco, que é o
teólogo mais importante que temos hoje no Brasil pensando Teologia Negra, . Jackson Augusto
que é idealizador da página Afrocrente e Fabíola Oliveira. Assim, eEssa tipo deé uma resposta
que já existe dentro do segmento evangélico, mas é perceptível seu e que estamos percebendo
um crescimento à medida em que essa mobilização cara na história do movimento negro
nacional vai ganhando outros espaços.também se tornou crescente na sociedade como um todo.
É fundamental dizer e lembrar que a maior parte da população evangélica brasileira se
autodeclara negra.

Teologia antirracista

É essencial compreendermosentender que, por mais que haja na história do movimento


evangélico brasileiro a predominância ddentro da história do processo de vinculações teológicas
comuns as trazidas pelos protestantismo norte americano que defendia a segregação territorial e
supremacia branca, algo que se encaixou ao imaginário das políticas de embranquecimento do
Estado brasileiro permitindo a produção de dimensões éticas capazes de dar materialidade a
projetos políticos tais como o mito da democracia racial ideia de democracia racial vão. Esses
movimentos sociais e teológicosconstruir esse movimento evangélico, imagens de branquitude e
imagens que necessariamente não permitam o aprofundamento da luta, da necessidade de se
pensar direitos civis e uma luta racial, talvez tenhamos que pensar que o segmento evangélico
no Brasil também foi um segmento constituído a partir do imaginário do mito da democracia
racial. de resistência nos permite enxergar como se dão os engajamentos as pautas raciais entre
pessoas evangélicas e como é possívelE assim, é sempre importante pensarmos como esse
processo tem ruído e como movimentos muito importantes têm realmente feito e construído
uma pauta racial e uma preocupação em pensar uma teologia antirracista.

IHU On-Line — Falamos agora de seus estudos mais recentes, envolvendo a


Ministra Damares e a agenda de Direitos Humanos promovida por movimentos
religiosos de direita. . Os Conselhos Tutelares são como que laboratórios políticos
para candidatos e partidos. Como você a senhora analisa a incidência de
candidatos evangélicos nessa eleição para Conselheiros? O que isso revela sobre a
política e sobre a ascensão de religiosos no campo político?

Jacqueline Moraes Teixeira – O nosso último processo de eleição para conselheiros


tutelares, em 2019, teve muitauma visibilidade na, principalmente por parte da mídia, pois
discutia-se uma instrumentalização muito significativa porda parte de pessoas
evangélicasreligiosas com candidaturas para ocupar esses cargos de conselheiros e conselheiras
tutelares. Apesar de, na época, isso ser muito visibilizado como grande novidade, e mesmo como
algo atrelado a Damares Alves e a eleição de Jair Bolsonaro, para quem pesquisa a presença de
evangélicos no cenário político nacional (aqui posso citar pesquisadoras/res que foram
fundamentais para minha formação em pesquisa nessa temática, como Paula Montero, Maria
das Dores Campos Machado; Joanildo Burity; Ricardo Mariano; Ronaldo Almeida e Christina
Vital) todo esse processo de, a constituição e a ocupação que evangélicos vão fazendo na política
vem ocorrendo com mais força desde a redemocratização do país, que vai marcar o ingresso
majoritário de pentecostais na política, logo esse movimento não foi uma novidade desse último
pleito eleitoral , O fato é que para se compreender tais dinâmicas äs quais chamo de pedagogias
eleitorais me parece fundamental olhar para a ocupação majoritária de evangélicos em
Conselhos Tutelares, principalmente nos últimos 20 anos, é superimportante entender que essa
ocupação não foi uma novidade desse último processo eleitoral. Isso é algo que acontece
acompanha todo o processo de eleições para conselhos tutelares praticamente desde a fundação
do Conselho Tutelar com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, nos anos 90..

A Os segmentos pentecostais e neopentecostais têm constituído de maneira muito significativa


dos Conselhos Tutelares, a Igreja Universal é, sem dúvida, a igreja que desenvolve estratégias
mais contundentes nesse sentido. Essa ocupação pode ser pensada como um exercício, um
espaço de aprendizado sobre a infância e sobre o léxico burocrático capaz de garantir que se
trabalhe junto a máquina do Estado, seja em trabalhos de assessoria parlamentar, seja como
parlamentar. Percebi que os Conselhos Tutelares propiciam uma experiência de iniciação
política para pessoas evangélicas sem qualquer histórico de serviço público ou participação
politica, funcionando assim como processo , e um laboratório em que se pode pensar, treinar,
testar algumas pedagogias eleitorais, produzindo formas experiências e formas de ocupação
evangélica na política. Os Conselhos Tutelares, então, são um espaço que não necessariamente
eram foco de algum político ou de algum interesse político, mas esses setores religiosos
enxergam nos Conselhos a possibilidade de atuação política. Para termos uma ideia, na cidade
de São Paulo, no ano de 2019, acredita-se que 53% dos conselheiros/as que foram eleitos são
ligados a denominações pentecostais, a maioria deles ligados à Igreja Universal do Reino de
Deus.

Pautas da infância, a direita e valores conservadores


A construção de uma pauta política sobre a infância a partir dos Conselhos Tutelares acaba se
somando a um conjunto de pautas que têm constituído a imagem pública dessa relação entre
políticos de direita e uma direita religiosa são muito ensaiadas dentro dessa agenda entendida
como direita, extrema direita, nova direita ou movimentos conservadores. Tais políticas
estariam essencialmente vinculadas à proteção de uma espécie de sexualização precoce da
infância, que desloca a luta por Direitos Humanos protagonizada pelos movimentos feministas e
LGBTQIA+ a noção de um pânico moral. Esse não é um processo inaugurado no Brasil, mas é
um processo que vamos perceber com muita força nos Estados Unidos ainda no final dos anos
1970, início dos anos 1980, com os movimentos anti pornografia, na epidemia da AIDS com a
associação da homossexualidade a pedofilia. Algo também presente nas políticas e publicações
do Vaticano quee percebemos também a partir de alguns movimentos produzidos dentro do
Vaticano e movimentos que vão sendo organizados e entendidos a partir da ideia de ideologia de
gênero . Me parece que a infância se torna um lugar de disputa, que as pautas de proteção contra
as formas de violência infantil permite que esse sujeito religioso atualize suas relações com o
Estado, apresentando a religião como um saber capaz de conferir direito de proteger um sujeito
de direito.que vão, consequentemente, produzir uma leitura sobre a infância e um conjunto de
políticas totalmente voltadas para a proteção de uma espécie de sexualização precoce dessa
criança.

Essa relação entre Conselho Tutelar e movimentos de políticas conservadores para a infância
ficoua muito evidente em no Brasil no ano de 2020, por causa dnaquela triste história da
menina de 10 anos que residia no nascida na cidade de São Miguel no Espírito Santo e, que foi
vítima de estupro por parte de um tio e que engravidou. A gravidez, que tinha o direito de ser
interrompida por lei, tornou-se foco de uma disputa controvérsia que envolvendou, não apenas
os conselheiros tutelares da cidade, mas tambémmas produziu uma relação direta entre esses
conselheiros assessores de gabinete da Ministra Damares, o Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos, a ministra Damares Alves e uma série de influencers digitais de direita
que produzem uma mobilização na internet contra o a realização de umaborto e contra a
realização do aborto totalmente assegurado garantida por lei.

O desfecho dessa história é bem conhecida Esse proces, sem encontrar quem realizasse o
procedimento no Estado de residência da vítima, foi preciso leva-la so todo vai desencadear na
viagem da menina para Pernambuco , para para que ela pudesse realizar o aborto no hospital, o
mesmo hospital que em 2008 uma outra criança menina vítima de estupro, também e que
estava grávida de gêmeos conseguiu a realização do aborto legal. Na porta do hospital um grupo
ativista militou contra a realização do procedimento de fronte a outra manifestação que buscava
garantir que o direito da criança violentada fosse preservado. Isso produziu uma manifestação
de direita contra o aborto legal e contra essa menina na frente do hospital na cidade de Olinda.

Assim, é possível pensar que os Conselhos Tutelares funcionam como uma tecnologia eleitoral e
como uma tecnologia de aprendizado político logo, é um lugar importante do exercício das
pedagogias das pedagogias eleitorais, isso pelas características dos conselhos, um órgão de
proteção e garantia de direitos que é municipalizado, um espaço importante para garantir
capilaridade a algumas pautas políticas. Exatamente porque essas relações se estabelecem não
apenas no âmbito dos conselhos, mas também isso produz outras relações com as câmaras
municipais, e por sua vez,, relações específicas com outras câmaras estaduais. Assim, os
conselhos tutelares se tornam um primeiro lugar no exercício de aprendizado sobre política, e E
têm, cada vez mais, encontrado um nicho específico no cenário Executivo Federal, na medida
em que o Ministério da Damares, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
tem se colocado como lugar específico de busca, formação e auxílio para conselheiros tutelares
de todo o Brasil — essa é uma das agendas da Secretaria da Criança e do Adolescente no atual
Ministério.

OLHOS
É válido refletir como essa sensação de fraude, de adulteração, que é algo fundamental que vai
construir todo esse processo que resulta na invasão do Capitólio nos Estados Unidos, também
está muito forte e esteve fortemente presente no Brasil durante todo esse período de pandemia
–Jacqueline Moraes Teixeira

O que se produzia e se circulava o tempo todo eram outras correntes científicas que diziam
coisas distintas dos estudos e das pesquisas divulgadas pela OMS – Jacqueline Moraes Teixeira

É possível ver que durante o ano de 2020 a Igreja Universal, em todos seus discursos, fez
questão de realmente manter e demonstrar a sua coesão e a sua importância par pensar essa
base religiosa dentro do governo Bolsonaro – Jacqueline Moraes Teixeira

Tenho percebido que, pela primeira vez, desde janeiro de 2019, essa aliança entre Bolsonaro e
esse núcleo específico de apoio do seu governo — Igreja Universal —, começa a dar sinais de um
enfraquecimento. – Jacqueline Moraes Teixeira

Esses movimentos se configuram e se apresentam publicamente como “evangélicos


progressistas”, que não apenas têm formado associações importantes de evangélicos contrários
ao governo Bolsonaro, mas que têm produzido posições relevantes para pensar a democracia e a
relação entre religião e Estado laico sob outros termos – Jacqueline Moraes Teixeira

É possível pensar que os Conselhos Tutelares funcionam como uma tecnologia eleitoral e como
uma tecnologia de aprendizado político – Jacqueline Moraes Teixeira

FIO TT
Na #EntrevistadoDia de hoje no @_ihu conversamos com a antropóloga Jacqueline Moraes
Teixeira, sobre os efeitos do pandêmicos 2020 no universo evangélico. Acompanhe o fio 👇
(LINK DA ENTREVISTA)

O que se produzia e se circulava o tempo todo eram outras correntes científicas que diziam
coisas distintas dos estudos e das pesquisas divulgadas pela OMS

É válido refletir como essa sensação de fraude, de adulteração, que é algo fundamental que vai
construir todo esse processo que resulta na invasão do Capitólio nos Estados Unidos, também
está muito forte e esteve fortemente presente no Brasil durante todo esse período de pandemia

Tenho percebido que, pela primeira vez, desde janeiro de 2019, essa aliança entre Bolsonaro e
esse núcleo específico de apoio do seu governo — Igreja Universal —, começa a dar sinais de um
enfraquecimento

Movimentos se configuram e se apresentam publicamente como “evangélicos progressistas”,


que não apenas têm formado associações importantes de evangélicos contrários ao governo
Bolsonaro, mas que têm produzido posições relevantes para pensar a democracia

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