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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

VINÍCIUS GANDOLFI DE MORAIS

PERGUNTA III:
FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

CURITIBA
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
DATA: Dezembro de 2021
NOME: Vinícius Gandolfi de Morais
DISCIPLINA: História Contemporânea IV
TURMA: HH208-A
DOCENTE: Otávio Luiz Vieira

PERGUNTA III

"(...) Gostemos ou não, a palavra "fundamentalismo' veio para ficar. E


tenho de concordar com eles: o termo não é perfeito, mas serve para rotular
movimentos que, apesar de suas diferenças, guardam forte semelhança. No
início de seu monumental Projeto Fundamentalista, em seis volumes, Martin E.
Marty e R. Scott Appleby afirmam que todos os "fundamentalismos" obedecem
a determinado padrão. São formas de espiritualidade combativas, que
surgiram como reação a alguma crise”.

ARMSTRONG, K. Em nome de Deus: os fundamentalismos no judaísmo, no


cristianismo e no islamismo. SP: Cia das Letras, 2001, s.p.

Com base no que foi discutido em aula e no trecho acima, discorra


sobre o conceito de fundamentalismo religioso aplicado ao fundamentalismo
protestante estadunidense, e explique a quais crises os fundamentalismos
protestantes americanos reagiram no século XX. Você pode citar exemplos de
reações fundamentalistas de diferentes temporalidades no século XX,
discutindo quais são ações tomadas por esses grupos. Você pode recorrer ao
capítulo 9 do livro de Armstrong – “A ofensiva” (1974-1979) para compor sua
resposta.

O fundamentalismo religioso trata-se de um fenômeno histórico-sociológico


surgido no início do século XX nos Estados Unidos da América como uma reação
direta à incorporação das religiões como objeto de pesquisa das ciências humanas,
ao surgimento de estudos antropológicos da relação entre seres humanos e seres
divinos e a aplicação da Bíblia como um documento histórico. Todos esses eventos
levaram à formação de grupos religiosos protestantes que queriam firmar os
fundamentos de suas crenças na sociedade americana. Com isso, ao longo do
século XX, esses indivíduos perpassaram por momentos de auges e derrotas frente
à opinião pública, ao apoio popular, ao júri americano e outras esferas sociais de
influência nos Estados Unidos, o que terminou por marcar as ações desses grupos
na história americana.

O primeiro desafio desses grupos foi a implementação de seus ideais para


juntar aliados à sua causa, ainda no começo da década de 1910. Para isso, foram
publicados livros que defendiam os preceitos protestantes, que se mantiveram
timidamente entre os círculos religiosos, mas que terminaram por chamar a atenção
de líderes religiosos. Com o aumento da popularidade do movimento, no decorrer
dos anos 1920, já passaram a ocorrer protestos e marchas de indivíduos que
defendiam a temperança (o autocontrole do homem) e a exclusão do ensino
evolucionista nas escolas. Aos poucos, os ideais do grupo acabaram por juntar
adeptos à causa devido à grande parcela da população americana não estar
contemplada pelos avanços da urbanização e secularização, e com isso, temendo a
supressão de Deus na sociedade.

No entanto, rapidamente o movimento se viu desmoralizado após o infame


julgamento de John Scopes em 1925, um professor de biologia que ignorou as leis
implementadas em seu estado sobre o ensino evolucionista nas escolas, fazendo
uso das teorias darwinistas em sala de aula. Apesar de ter perdido o julgamento, os
pontos levantados pela defesa jurídica de Scopes serviu no mínimo para questionar
os ideários fundamentalistas.

Diante disso, ao longo dos próximos anos, o protestantismo americano


buscou refúgio em outras formas de socialização para manter vivo seu
tradicionalismo ativista. Até a década de 1950, através da criação de uma
subcultura, eles estampavam capas de revistas famosas com ícones protestantes,
realizavam shows televisivos, fundaram seus próprios centros-culturais e
sedimentavam sua participação no imaginário popular americano. Não mais
tentando adentrar diretamente nas esferas públicas e jurídicas do Estado, os
fundamentalistas apelavam para a indústria cultural para serem reinseridos na
sociedade americana e manifestarem seu conservadorismo religioso e moral, assim
como seus discursos anticomunistas em tempos de Guerra Fria.
Sob nova face, entre os anos 1960 e 1970, o movimento adere à uma nova
face: não mais no campo legislativo, nem cultural, ele agora avança para o fértil
cenário de campanhas políticas, apoiados pelo Partido Republicano sob a alcunha
da Direita Cristã, sendo contra a ascensão de movimentos como o feminismo,
direitos dos homossexuais e legalização do aborto.

Como explicita Bellotti (2012), o fundamentalismo norte-americano estabelece


seus territórios e campos de batalha na política e na cultura em um contexto de
competição religiosa. Dessa forma, acaba por estabelecer padrões e movimentos
cíclicos. No caso americano, sempre que o movimento entra em crise, ele ressurge,
apoiado em novas táticas comportamentais que ajude a viabilizar sua causa para o
restante da sociedade americana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELLOTTI, Karina Kosicki. “Fiéis Soldados de Jesus Cristo”: Discussões


sobre o fundamentalismo no Brasil recente. Curitiba: Editora UFPR, 2012.

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