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Rio de Janeiro
2020
Ricardo Alexino Ferreira é professor da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (USP). Doutor em Ciências da Comunicação pela USP
com a pesquisa ‘Olhares negros: Estudo da percepção crítica de
afro-descendentes sobre a imprensa e outros meios de comunicação’, 2001.
Possui título de Mestre em Ciências da Comunicação com a pesquisa “A
representação do negro em jornais no centenário da abolição da escravatura no
Brasi”l,1993. Graduou-se em Comunicação Social e foi professor efetivo da
Universidade Estadual Paulista (Unesp). Transferiu-se para a USP e foi diretor da
Rádio Universitária Unesp (Rádio Unesp-FM), onde abriu espaço para a
divulgação e democratização do conhecimento científico. As duas pesquisas
citadas resultaram no artigo “Negro Midiático: construção e desconstrução do
afro-brasileiro na mídia impressa” públicado na Revista USP no ano de 2006.
Neste artigo o autor argumenta que com o colapso da URSS e o consequente fim
da Guerra Fria, questões étnicas e de gênero ganharam centralidade nas
discussões. Afrodescendentes, homossexuais, idosos, crianças, adolescentes e
outras segmentações demográficas entraram na pauta das discussões públicas e
forçaram “os profissionais de imprensa a uma mudança de postura” (p. 81). Em
primeiro lugar levantaram-se questões acerca do conteúdo dessas notícias;
especialmente as que envolviam conflitos geopolíticos como a Guerra dos Balcãs,
o Conflito Israel-Palestina e mais recentemente os levantes no norte da África e a
Guerra Cívil na Síria. Ferreira ressalta que muitas vezes essas notícias “passam
pelo filtro das agências de notícias, que muitas vezes estão sediadas em países
que até patrocinam tais conflitos. Também nota que conflitos europeus ganham
por parte da imprensa uma vasta contextualização histórica; ao passo que o
mesmo não acontecia com conflitos em outros continentes. Nesse caso limitam-se
a simplificação em adjetivos como ‘radicais’, ‘violentos’ e até mesmo ‘tribais’
(p.82). Não ocorre ao autor que esse não é exatamente uma ruptura com a Guerra
Fria, já que tais manipulações da opinião pública sempre ocorreram com exemplos
notáveis como a Revolução Cubana, a Guerra do Vietnã e outros que persistem
até hoje como as notícias falsas que constantemente vilipendiam a imagem da
República Popular da Coréia.
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https://www.youtube.com/watch?v=OK2HNvh6zEI&t=2s&ab_channel=NonCompete
especialmente caro para a compreensão dessa realidade, especialmente a
escravidão, o racismo e suas consequências. Não obstante, tais táticas tendem a
funcionar contra aliados de causa por conta do alto teor moral das acusações. E
por esse mesmo motivo é totalmente inofensiva contra figuras que buscam
destaque na sociedade justamente por manifestarem seus preconceitos. Se em
2006 Ricardo Ferreira via na incompreensão e má vontade das elites o grande
inimigo da qualificação da linguagem (politicamente correta) e no descompasso
com a linguagem coloquial do povo brasileiro seu grande desafio (p. 84, p.85 e
p.87), hoje podemos afirmar que há um presidente que entre outros fatores
utilizou-se da imagem de ‘politicamente incorreto’ para garantir empatia popular e
alçar-se ao poder.