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MESTRADO PROFISSONAL EM TEOLOGIA

Discente: Gladyston Tavares Ladislau

Docente: Prof. Dr. Rubens Muzio

Disciplina: Democracia, Cidadania e Laicidade.

Referência Bibliográfica:PROENÇA, Wander de L. Do sigilo das lojas


maçônicas ao grito revolucionário nas ruas: percursos da participação
evangélica na política brasileira. In: MUZIO, Rubens. (Org). Revolução
Silenciosa. São Paulo: Ed. Recriar, 2022.

O texto do Dr. Wander busca traçar a trajetória dos evangélicos do Brasil e


remonta das tentativas frustradas do protestantismo se arraigar em nossas
terras até os dias de hoje. Nessa trajetória são também abordadas o
posicionamento político partidário dos evangélicos e apontada as causas que
levaram a, na opinião do autor, haver a tendência de “direita” entre os
evangélicos no Brasil. Apresenta ainda a correlação entre fé, política e
interesses econômicos que, desde o início nortearam essa caminhada e ainda
hoje são usados tanto para defesa como para “avanço territorial” do, antes
protestantismo, agora dos “evangélicos”.

Quanto à estrutura podemos perceber a preocupação de fundamentar com


bases históricas a chegada dos primeiros protestantes nos séculos XVII e XVIII
e a luta religiosa e econômica que determinou a expulsão e retorno dos
franceses e holandeses para a Europa. O artigo também aborda pontos
importantes e que demonstram como gradualmente os protestantes foram
chegando e mudando o cenário brasileiro, principalmente, nas áreas social e
também educacional. Finalmente passa a abordar um envolvimento e
engajamento dos evangélicos no cenário político a partir do Século XIX até a
eleição de um candidato que atendia a um anseio da maioria evangélica,
rotulada como conservadora e de direita, à Presidência da República.

Como pontos mais importantes do texto podemos destacar que, desde o início
foi uma disputa envolvendo fé, política e economia. A tentativa de inserção do
protestantismo só ganhou força no século XIX com a chegada da família
imperial ao Brasil fugindo de Napoleão Bonaparte quando, por tratados
políticos, os protestantes foram aceitos e puderam se estabelecer e praticar
seus cultos religiosos, ainda que com restrições. Dentre essas restrições, a
proibição de cultos em língua portuguesa foi contornada pelos maçons que
ofereceram suas lojas para a realização dos cultos e outras atividades dos
protestantes. Essa ajuda dos maçons não ficou somente na cessão de espaço,
mas também a abertura espaço no campo legislativo, o que foi fundamental
para a liberdade religiosa desde a primeira Constituição em 1824.

Nos quase 50 anos do reinado de D. Pedro II o protestantismo ganhou mais


espaço pela não oposição e ainda pela simpatia do imperador à Bíblia Sagrada
e ao trabalho protestante de distribuição e incentivo a leitura. Além da amizade
com o casal Kalley que chegou ao Brasil e ele, como médico particular do
Imperador, se tornou próximo e conseguiu até a permissão para iniciar uma
Igreja e realizar cultos na língua portuguesa.

A partir dai chegaram mais protestantes do exterior que, somados aos


brasileiros que foram estudar fora – Europa – trouxeram mais desenvolvimento
e novas idéias, que inclusive fortaleciam o protestantismo. Apesar de
influenciar indiretamente, o protestante não se envolvia diretamente nas
questões políticas do Brasil até meados do século XX muito pela visão de que
a política seria algo para essa terra e não valeria a pena esse envolvimento.

A partir dos anos de 1960 a situação muda e, a princípio por medo do


comunismo e que poderia trazer a reboque, os evangélicos se aproximaram da
política e apoiaram os militares na tomada do poder em 1964. Na Constituinte
de 1988 quando, movidos pela manutenção interesses e proteger valores
morais na Carta Magna, houve uma participação político-partidária que
mobilizou o povo evangélico e conseguiu eleger 32 deputados federais que
iniciaram o que chamamos hoje de “bancada evangélica”. A partir dai se
espalhou pelo Brasil e nas diversas casas legislativas estaduais e municipais a
candidatura e a eleição de representantes evangélicos, como vemos hoje.

Especialista na Igreja Universal, o Dr. Wander pontua o surgimento e a


ascensão da IURD e de outras neopentecostais como causa para esse
envolvimento mais político dos evangélicos. Em busca de proximidade com o
meio político para alcançar a concessão dos meios de comunicação de massa,
necessários para alavancar a sua pregação, essas igrejas buscaram usar de
seus membros como votos de curral e assim eleger seus representantes.
Nesse período houve a ascensão a cargos de destaque de muitos evangélicos
e buscou-se o favorecimento à igrejas e a reafirmação por diversos atos e
circunstâncias que houve uma “conquista territorial” da igreja e de seus valores
evangélicos.

Apesar de somente agora ter um presidente eleito de direita, o meio


evangélico desde os anos 1960 é predominantemente de direita. Mesmo
havendo os evangélicos de esquerda, esses foram perseguidos nos anos 60/70
e excluídos, cassados e exilados. Até mesmo a literatura considerada de
esquerda, subversiva e comunista foi retirada de bibliotecas e seminários
teológicos, livros estes que tratavam de causas sociais e de direitos das
minorias.

Hoje esses cristãos de esquerda, que se denominam progressistas, se


organizaram e defendem a democracia, pratica da solidariedade e a luta contra
a desigualdade social, tudo sob a bandeira da Missão Integral, que vem a ser
uma Teologia Latino Americana pensada e proposta para a nossa realidade e
busca a justiça social.

Finalizando, o Dr. Wander faz quatro projeções de cenários futuros sendo: o


crescimento continuo dos evangélicos que levará a eleição de representantes
de direita; o aumento dos conflitos entre os próprios evangélicos que se
polarizarão e se dividirão; o aumento dos decepcionados com políticos
evangélicos e ficarão descrentes a ponto de não quererem participar de pleitos,
deixando de votar e retornando o pensamento que a política não é coisa de
crente e finalmente a participação consciente e madura dos evangélicos
entendendo que o papel dos governantes e cuidar de todos, inclusive minorias,
e não privilegiar ninguém.

A leitura, a partir do título, dá ideia de que haveria um foco maior na


participação dos maçons na inserção do protestantismo no Brasil haja vista que
o próprio Imperador era maçon. Outra questão que o texto sugere é quanto ao
“grito revolucionário” que até agora não foi ouvido e que deveria defender a
justiça social e a paz. Apesar desse vazio, quanto a maçonaria pela falta de
mais fatos históricos e, quanto ao “grito”, por não o identificar, o texto nos
brinda com definições originais importantes de “direita” e “esquerda” e sua
percepção atual, muito diferentes do significado primário do texto. A descrição
histórica pontuada a partir do meado do século XX também foi magistral e nos
dá base para olhar e perceber os efeitos dessa herança no nosso momento
atual.

Acredito que o cenário que nos aguarda é próximo a primeira e última


possibilidade apresentada pelo Dr. Wander, quando veremos os evangélicos
crescendo numericamente cada vez mais e ganhando a cada eleição vez mais
força política para eleger seus representantes nas casas Municipais, estaduais
e Federais, porém em uma convergência para as pautas sociais que se fazem
presentes e são necessárias para o desenvolvimento do país e para a paz
social. Creio que, a despeito do momento atual ser de um governo de
esquerda, a direita, conservadora ou progressista, cresceu decorrente do
governo do Presidente Jair Bolsonaro e tem uma tendência a se manter forte,
desejando eu que seja sem extremismo e menos preconceituosa aos que
pensam diferente e ora governam o país.

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