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SUMÁRIO
MÓDULO 04
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INTERDISCIPLINAR - CIÊNCIAS SOCIAIS
MÓDULO
UNIDADE DE APRENDIZAGEM 2
OBJETIVOS
04
1 Analisar as mudanças que a Proclamação da República trouxe para
as relações entre política e religião
Bons estudos!
A relação da Igreja Católica com o Estado brasileiro não havia conseguido conter in-
fluência das ideias secularizantes oriundas do positivismo francês e que ganharam a sim-
patia dos círculos militares. A maçonaria era outro espaço social no qual circulavam as
ideias positivistas que se opunham à influência católica sobre o Estado. A queda da mo-
narquia e a Proclamação da República, em 1889, assinalaram uma nova etapa na relação
Estado e religião no Brasil. A Constituição de 1891, revisada por Rui Barbosa e inspirada
na Constituição dos Estados Unidos, consagrava a separação entre Estado e religião e a
Igreja Católica Apostólica Romana deixou de ser a religião oficial do Brasil. Observe-se que
até então, cabia a Igreja Católica emitir certidões de nascimento, casamento e falecimento.
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Somente em 1893 o Estado assumiu seu papel na emissão desses documentos. A adminis-
tração dos cemitérios foi transferida para os municípios.
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A Igreja Católica empreendeu uma luta para firmar-se como religião da população bra-
sileira no imaginário social. Um dos símbolos mais importantes será a inauguração do Cris-
to Redentor, em 12 de outubro de 1931, com a presença do presidente Getúlio Vargas.
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O cenário político, após o fim da ditadura do último período de Getúlio Vargas, teve um
curto intervalo democrático (1946-1964). A Guerra Fria torna-se nesses anos e até os anos
80, o grande assunto da geopolítica mundial. O mundo divide-se entre o lado Ocidental
capitalista e lado Oriental comunista. Do lado de cá a liderança é dos Estados Unidos e,
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do lado de lá, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) imprimirá o ritmo dos
acontecimentos políticos.
Dominado o Congresso, que nas democracias é responsável pela feitura das leis, a ou-
tra ponta a ser controlada era o judiciário, responsável por julgar segundo a Constituição.
O governo militar aprovou leis que aposentavam compulsoriamente os juízes contrários à
ditadura e novos juízes eram nomeados.
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to, as eleições diretas para governadores e prefeitos foram mantidas em 1965. O resultado
das urnas acendeu o sinal de alerta para os militares, pois, em vários estados e municípios
opositores ao regime foram eleitos. Menos de um mês após esse resultado, o regime militar
acabou com a eleição direta para governadores.
O golpe dentro do golpe veio no dia 13 de dezembro de 1968 com o Ato Institucional
número 5, conhecido como AI-5. O Congresso foi fechado. O AI-5 não tinha data para ter-
minar, diferentemente dos atos institucionais anteriores e duraria até 1979. O AI-5 ampliava
os poderes do Presidente da República que poderia fechar o Congresso, cassar deputados
e realizar a intervenção em Estados e Municípios a qualquer momento.
O lado mais tenebroso da ditadura ficou por conta da chamada Doutrina de Segurança
Nacional. Em sintonia com essa Doutrina o AI-5 suspendeu o habeas corpus, basicamente
o direito de uma pessoa se defender em liberdade de uma acusação. Na prática qualquer
pessoa suspeita de crítica ao regime era presa na clandestinidade, sem direito a um advo-
gado de defesa e torturada até confessar o suposto crime contra o Governo. Familiares de
presos não conseguiam obter qualquer informação e tampouco tinham permissão para
visitar os presos. Na prática estavam impedidos de cumprir Mateus 25.43 “Estive preso e
foste ver-me”.
Violência gera mais violência. O AI-5 fez multiplicar nos movimentos de esquerda a
criação de grupos de luta armada, eram os chamados movimentos de guerrilha no campo
e nas cidades. Os mais famosos foram os grupos liderados por Carlos Lamarca, um ex-ca-
pitão do Exército e Carlos Marighella.
Os abusos aos Direitos Humanos foram intensificados com o AI-5. A partir de 1969 foi
criada a Operação Bandeirantes (Oban) e, em seguida o DOI-CODI, siglas do Destacamento
de Operações e Informações e do Centro de Operações de Defesa Interna. Esses organis-
mos se estabeleceram em vários estados realizando prisões com base em denúncias tor-
turas e mortes.
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dificuldades para governar o país, os chefes militares começavam a enxergar que a institui-
ção militar poderia se desagregar num bando de soldados sem comando. Pressionava em
favor de uma abertura do regime o fato que os resultados da economia começaram a piorar
e o crescimento do “milagre econômico” foi feito com grande endividamento do país e não
resultou em distribuição de renda ou melhores serviços de saúde, educação e transporte para
a população. Internamente a Igreja Católica começou gradativamente a ser opor ao regime
militar atuando principalmente na defesa dos Direitos Humanos. Do Exterior chegavam pres-
sões de países e organismos internacionais questionando a prática da tortura e a repressão
às críticas ao regime. Tudo isso somado, fez dos anos finais da ditadura um processo lento
de negociação com as forças da sociedade a retomada do regime democrático.
E as igrejas evangélicas?
Essa tensão foi sendo alimentada durante a década de 50. Os embates da Guerra Fria
fizeram circular nas igrejas muita propaganda sobre o ateísmo dos comunistas e a per-
seguição às igrejas cristãs. Quando o Golpe de 1964 ocorreu, as igrejas viram-no como
resposta às orações dirigidas a Deus para que o Brasil não viesse a se tornar um país de
regime comunista. Sem exceções, todas as denominações enviaram mensagens ao Presi-
dente da República expressando seu apoio ao novo regime. Cultos de ação de graças pelo
ocorrido no dia 31/03/1964 tornaram-se comuns nas igrejas evangélicas.
E qual foi a reação das Igrejas quando começaram a aparecer as violações aos Direitos
Humanos praticadas pelo regime militar instaurado no país? As igrejas não só não mani-
festaram seu repúdio, mas a máquina de tortura do Estado foi usada por lideranças conser-
vadoras para denunciar aqueles que não eram apoiadores da ditadura militar. Importante
ressaltar que não se tratava necessariamente de pessoas envolvidas em movimentos de
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O apoio ao regime militar não foi uma exclusividade das igrejas evangélicas, lembre-
mos que a Igreja Católica também apoio o Golpe de 1964. Nesse sentido as igrejas acom-
panhavam a maioria da sociedade brasileira. Entretanto, a Igreja Católica diante das viola-
ções dos Direitos Humanos praticadas pela ditadura militar foi gradativamente retirando
seu apoio até assumir o papel de opositora. Infelizmente o mesmo não ocorreu na seara
evangélica e, como vimos acima, não só fizeram vistas grossas às violações aos Direitos
Humanos, mas se valeram desse crime para resolver diferenças entre irmãos. Se o capítulo
seguinte das relações entre igreja e política será marcado pelo lema: irmão vota em irmão.
O capítulo igreja e ditadura militar foi marcado pelo vergonhoso lema: “irmão delata irmão”.
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