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INTERDISCIPLINAR - CIÊNCIAS SOCIAIS

SUMÁRIO
MÓDULO 04

UNIDADE DE APRENDIZAGEM 5 165

5. Ideias sobre como tratar política e eleições


com a igreja............................................................165

Referências 174

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INTERDISCIPLINAR - CIÊNCIAS SOCIAIS

MÓDULO
04
UNIDADE DE APRENDIZAGEM 5

5. Ideias sobre como tratar política e eleições com a igreja

OBJETIVOS

1 Subsidiar debate, dentro da igreja e pela igreja, sobre política e eleições municipais,
estaduais e federais

2 Alertar para modos equivocados de tratar o tema

PARA INÍCIO DE CONVERSA

A aspiração natural de todo estudante de teologia é dividir com o povo de sua igreja
aquilo que aprendeu na Faculdade. Nessa unidade de aprendizagem chegamos exatamen-
te nesse ponto. Na primeira parte será feito um diagnóstico dos perigos que rondam o tema
e na segunda parte serão apresentadas algumas dicas sobre como conduzir o assunto com
a igreja. Ao fina há uma seleção de textos bíblicos que podem ser estudados com a igreja.
Quando for colocar em prática essa unidade, lembre-se de abrir espaço para ouvir e dialo-
gar com as pessoas sobre a experiência delas e sobre o modo como enxergar o assunto. O
caminho do diálogo é sempre mais enriquecedor para o crescimento. Bons estudos.

Algumas síndromes estranhas

Você já ouviu falar da síndrome de Jerusalém? Os hospitais de Jerusalém são prepa-


rados para receber turistas que surtam durante visitas à cidade sagrada. Visitantes sem
um histórico anterior de surtos podem ficar repentinamente agressivos, terem alucinações
e proclamarem-se investidos de uma missão divina. O caso clássico é o de um australiano
que, em 1969, colocou fogo numa mesquita. Mas existe também a síndrome de Paris, ca-
pital da França. Trata-se de outra síndrome que atinge turistas. Seus sintomas são delírios,
sentimentos de perseguição, tonturas, taquicardia, sudorese. Trata-se de um processo de-
sencadeado pelo choque cultural agudo. Síndrome de Jerusalém e Síndrome de Paris são
síndromes curiosas, mas existe outra síndrome ainda mais estranha. Trata-se da síndrome
do restaurante chinês. Você já ouviu falar? Veja comigo na do que se trata:
“Eu tenho uma síndrome estranha sempre que eu como em um res-
taurante chinês, especialmente naqueles que servem comida chinesa
do norte. A síndrome, que geralmente começa quinze a vinte minutos
depois de ter comido o primeiro prato, dura cerca de duas horas, sem

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efeito de ressaca. Os sintomas mais proeminentes são dormência na


parte de trás do pescoço, gradualmente irradiando para ambos os bra-
ços e as costas, fraqueza geral e palpitações… (https://pt.wikipedia.
org/wiki/S%C3%ADndrome_do_restaurante_chin%C3%AAs)

Gosto bastante da comida chinesa e já estive em alguns restaurantes chineses e sem-


pre me senti muito bem. Nunca estive em Jerusalém ou Paris, portanto, não sei se seria
acometido de algum surto.

E a síndrome eleitoral?

Mas, já que comecei a falar em síndromes, há outra síndrome que me preocupa mais
nos últimos tempos – trata-se da síndrome eleitoral. Ela não está na Wikipédia ainda, mas
vamos a ela. Evidentemente, estou usando o termo síndrome de modo metafórico e não no
sentido estrito que a medicina utiliza. Uma síndrome é um conjunto de sinais e sintomas
que define as manifestações clínicas de uma enfermidade. Então, com “síndrome eleitoral”
quero ressaltar os aspectos emocionais e inconscientes que movem as escolhas, as pai-
xões e as brigas nos períodos eleitorais. Síndrome eleitoral é um termo para falar da passio-
nalidade e agressividade que borbulham em períodos eleitorais, mas também é um termo
que ajuda a entender as ilusões e desilusões típicas desse período.
Tanto a sociologia quanto a psicologia social têm buscado identificar as forças mais
profundas que movem as escolhas que as pessoas fazem em períodos de disputas elei-
torais. A psicologia das massas tem intrigado os estudiosos do comportamento humano
desde as primeiras décadas do século XX. Portanto, a síndrome eleitoral é bem antiga e
não foi inventada pelas redes sociais, a diferença é que os recursos atuais de comunicação
tornaram sua propagação verdadeiramente viral. Vamos então à descrição da síndrome
eleitoral e o conjunto de sintomas que a identifica:

Identificação do grande inimigo

Épocas marcadas por desemprego, corrupção, retrocesso geral na economia e violência


facilitam a identificação de um grande culpado por esse estado de coisas. É um instinto
humano procurar culpados quando a vida se torna insatisfatória e insegura. O inimigo será
sempre o portador de alguma diferença, os mais comuns são: cor da pele, raça, ideologia e
comportamento moral.

Suspeita da grande conspiração

A síndrome eleitoral opera com as narrativas das grandes conspirações. Acredita-se


que uma complexa teia de instituições e pessoas sejam as responsáveis pelos problemas
do país e do mundo. De Iluminatis à grande mídia, quem foi acometido pelo surto vê os si-
nais da conspiração em qualquer informação que se oponha às suas certezas.

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Promessa de retorno a um passado idealizado

A música que embala a síndrome é fazer a roda da história girar pra trás. “Bom mesmo
era quando valia a palavra de um homem”, “bom era quando a garantia era um fio de bigode”
e por aí vai. Entretanto, quando década por década, século por século, seguindo alguma me-
todologia histórica mais rigorosa, nunca se encontra o estado ideal descrito. Brutalidade,
corrupção, fome, desigualdade social e incoerência humanas são encontradas em todas as
épocas da história.

SOBRE O CONSERVADORISMO
PARA PENSAR

… o cristianismo histórico, seja ele protestante, católico roma-


no ou ortodoxo, entende que o alcance desta tradição é rigoro-
samente delimitado e não pode incluir todos os elementos da
cultura geral transmitida pelas gerações passadas. A Grande
Tradição inclui pelo menos a Escritura, doutrinas como as da
Trindade, da encarnação e da ressurreição de Cristo, o Credo dos apóstolos e o Cre-
do de Niceia-Constantinopla e talvez, até as liturgias históricas da igreja, os escritos
patrísticos e assim por diante. Não inclui a crença na democracia ou na monarquia
como forma de governo preconizada pela Bíblia, ou no capitalismo ou socialismo
como o sistema econômico bíblico por excelência. De alguma forma, porém, a maio-
ria dos cristãos corretamente entende que o cristianismo bíblico tem a ver com todas
as áreas da vida, entre as quais a política e a economia. Além disso, devido ao papel
histórico desempenhado pelo cristianismo no desenvolvimento da nossa cultura, é
razoável supor que os sistemas políticos e econômicos já levem em si a marca da
influência cristã que contribuiu para o seu crescimento. Na pior das hipóteses, esse
conservadorismo cristão pode degenerar numa forma irracional de nacionalismo “por
Deus e pela pátria”, incapaz de diferenciar a Grande Tradição das demais tradições.
Em sua melhor forma, ele sabe distinguir corretamente quais das nossas tradições
concordam com a Tradição por excelência, e busca preservá-las e levá-las adiante
(KOYZIS, D. T. 2014, p.109-110)

Busca por salvadores da pátria

No auge do surto parte-se em busca de quem possa vencer o grande inimigo, desmas-
carar a grande conspiração e guiar o país na marcha rumo ao passado glorioso ou ao futuro
revolucionário. As pessoas sentem que estão desprotegidas e projetam no líder a imagem

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do pai que será severo com os desobedientes e carinhoso com os filhos obedientes. Nesse
ponto saímos da ciência política e entramos na psicanálise e psiquiatria.

Retórica do caos

Se não for vencedora determinada opção político-partidária só restará o caos e como


nessa fase do surto as pessoas brigam umas com as outras, de algum modo, até torcem
pelo caos para que se possa dizer: “você viu como eu estava certo”. Nessa retórica do caos
inscreve-se também a não aceitação de outras visões de mundo como válidas.

A síndrome eleitoral e os cristãos

Cristãos e líderes religiosos estão entre os mais afetados pela síndrome eleitoral. Em
períodos eleitorais milhares de vídeos circulam na internet com falas de líderes religiosos di-
zendo: “olha... fiquei calado até agora, mas diante da grande ameaça decidi falar...”. Não será
difícil encontrar os cinco itens da síndrome eleitoral nessas falas: identificação do grande
inimigo, grande conspiração, passado idealizado, salvador da pátria e retórica do caos. Isso
aplica-se àqueles que estão à direita, à esquerda e no centro das opções políticas.

Filhos de Issacar, filhos da luz

Qual é o papel dos cristãos nesse período eleitoral? O que cabe à igreja? O que cabe
aos pastores e oficiais de uma igreja? Essas perguntas precisam ser feitas se realmente
desejamos entender qual é a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” para a igreja. A
igreja não será fiel à sua missão responsabilidade cristã se entrar pelo caminho indiferença
argumentando que cristãos são cidadãos do céu e, por isso, não tem nada a ver com esse
mundo. Assim como não ajudará em nada no processo se a igreja e o seus pastores assu-
mirem um papel de querer ensinar em qual candidato e partido os membros da igreja preci-
sam votar. Pior ainda, se isto for feito valendo-se do vocabulário e das atitudes das guerras
culturais da atualidade. Igrejas cristãs e pastores não devem assumir uma postura: essa é
a pessoa que vai destruir a fé cristã ou essa é a pessoa que vai salvar o país e os valores
cristãos. Esse é o voto que vai destruir a família ou esse é o voto que vai salvar a família.

Que podemos fazer, então? Qual deve ser a nossa atitude? O texto bíblico abaixo é um
bom ponto de partida para reflexão sobre o tema igreja e eleições:
Ora, este é o número dos homens armados para a peleja, que vieram
a Davi, em Hebrom, para lhe transferirem o reino de Saul, segundo a
palavra do SENHOR... dos filhos de Issacar, conhecedores da época,
para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os
seus irmãos sob suas ordens (1 Crônicas 12.23-24)

A expressão “conhecedores da época” pode ser entendida como “estudiosos dos fa-
tos” ou ainda “conhecedores da história e suas consequências”. Eram pessoas bem-infor-

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madas, atualizadas, e buscavam compreender a realidade. Não só isso. Sobre “filhos de


Issacar” é dito que buscavam entender a realidade “…para saberem o que Israel devia fazer”.
Eram responsáveis pelo discernimento, pela lucidez. Eram pessoas que iam além da psico-
logia das massas e da síndrome eleitoral. Eles estudavam a história, checavam as informa-
ções, avaliavam as consequências das escolhas. Eles ouviam a razão e ouviam a voz de
Deus, eles liam os fatos da história e buscavam a vontade de Deus. A igreja cristã deveria
agir como a tribo de Issacar em cada país. A tribo de Issacar não era a mais numerosa, não
empunhava lanças, nem tocava tambores, mas ela tinha o discernimento espiritual dos
desafios de cada época histórica. Eles sabiam quais as batalhas que deviam ser lutadas
e quais não valiam a pena. Cristãos são chamados a conhecer a época em que vivem e a
ajudar a buscar os melhores caminhos para a paz e a justiça a nação.

Um aprofundamento dessa vocação da igreja para a lucidez em tempos de insanidade


aparece na carta de Paulo aos Efésios no segundo texto que lemos:
Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim
como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta
razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a
vontade do Senhor. (Efésios 5:15-17)

Preste atenção que o apóstolo Paulo escreveu: os dias são maus. Eram maus, conti-
nuaram maus por toda duração do Império Romano. Não deixaram de ser maus quando o
Império Romano ruiu. O período medieval não fez dos dias os melhores. As luzes modernas
do iluminismo parecem ter cegado ainda mais as pessoas, em suma, os dias eram maus e
continuarão sendo maus até a consumação do reino de Deus. Isso não significa que o bem
comum não deva ser buscado, mas cristãos precisam se afastar da idolatria de pessoas e
períodos da história.

O cristão que vive em dias que são maus pode se comportar como insensato ou como
sábio. Pode remir o tempo ou pode desperdiçar o tempo precioso que Deus lhe concedeu.
A diferença entre uma coisa e outra está na busca pela compreensão de qual é a vontade
de Deus. Mas nesse contexto de síndrome eleitoral, de dias maus que vivemos no Brasil e
no mundo, qual é a vontade de Deus para o cristão?

Algumas dicas para tratar do assunto eleições com a igreja


Seja cauteloso com o uso do nome de Deus para defender posições políticas
A mistura tóxica entre cristianismo e campanha política não é uma exclusividade bra-
sileira. Numa das eleições nos Estados Unidos um candidato se dirigiu aos a um grupo de
pastores da seguinte forma: “cuidado, nós estamos a uma eleição de perdermos tudo”. O
que este político estava dizendo era: “olhe o meu partido é a minha eleição preservarão a
igreja e os valores bíblicos”.

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Observe: quando pastores ou candidatos que são religiosos fazem declarações de que
se essa corrente ganhar estaremos seguros ou se aquela corrente política vencer, a igreja
e a família estarão em perigo, o que estão fazendo na verdade é declarando que confiam
mais no poder político do que em Deus. Analisando o uso do nome de Deus para defender
posições políticas o teólogo Michael Horton fez uma afirmação que merece ser ouvida em
nossa síndrome eleitoral: “Jesus não é um mascote para um reduto eleitoral, mas o salva-
dor do mundo.” Michael Horton prossegue, a meu ver profeticamente, dizendo:
Vamos encarar os fatos. Liberais e conservadores, católicos e pro-
testantes, cortejaram o poder político e alegremente se permitiram
ser usados por ele. Isto sempre acontece quando a igreja confunde o
reino de Cristo com os reinos da presente época. Jesus não veio para
impulsionar a teocracia em Israel, muito menos para ser o pai funda-
dor de qualquer outra nação. A única nação cristã no mundo hoje é
aquela reunida “de toda tribo e língua e povo e nação” (Ap 5:9) diante
do seu rei, Jesus. Em sua Grande Comissão, Jesus deu autoridade à
igreja para fazer discípulos, não eleitores desse ou daquele partido;
para proclamar o evangelho, não opiniões políticas; para batizar pes-
soas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não em nome da
direita ou da esquerda; e ensinar tudo o que ele ensinou, não nossas
prioridades pessoais e políticas. E ele prometeu que sua presença
conosco é algo que o mundo nunca pode tirar. (Michael Horton fez
uma afirmação que merece ser ouvida em nossa síndrome eleitoral:
“Jesus não é um mascote para um reduto eleitoral, mas o salvador do
mundo.” (https://www.ultimato.com.br/conteudo/os-evangelicos-es-
tao-com-medo-o-que-eles-temem-perder)

É importante que cristãos não caiam na conversa dos buscadores de votos que utilizam
argumentos para explorar a síndrome eleitoral e a, partir disso, justificando sua eleição
prometendo que utilizarão o mandato político para proteger os cristãos contra os inimigos
da fé. Quem faz isso está fazendo de Jesus um mascote eleitoral e está tomando o nome
de Deus em vão. Jesus não é cabo eleitoral de nenhum pastor ou bispo evangélico.

Mas nesse contexto de síndrome eleitoral, de dias maus que vivemos no Brasil e no
mundo, qual é a vontade de Deus para o cristão?

Engaje-se na política para além das eleições

Na unidade de aprendizagem anterior foram apontadas algumas formas de engaja-


mento político que vai além do período eleitoral e do da lógica partidária. No módulo II, na
unidade de aprendizagem 2.3 foi apresentada a teologia pública e o tema do engajamento
da igreja em favor do bem comum. Essas são formas de ir além da participação motivada
pela síndrome eleitoral. A tradição brasileira é de baixíssimo engajamento político. A Pro-
clamação da Independência foi feita de cima para baixo, a República surgiu de cima para

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baixo. Ao longo de todo século XX esse é o nosso período democrático mais longo, quase
40 anos. Ainda assim, com tentativas de solapara a democracia, como os atos de golpistas
que culminaram no vandalismo de 8 de janeiro na Capital Federal.

Existe na cultura brasileira certo descaso com os assuntos comunitários, por exemplo:
participação nas associações de pais e mestres das nossas escolas ou reunião do condo-
mínio, ausência em assembleias da igreja e de condomínio. Cultiva uma cultura da vitória
individual e ao custo do fracasso coletivo. Foi Luís Fernando Verissimo que disse que no
Brasil aquilo que diz respeito a todos, parece não interessar a ninguém.

Confie em Deus, qualquer que seja o resultado das eleições

Numa democracia somos responsáveis pelas escolhas que fazemos e teremos de lidar
com as consequências, boas ou ruins. Confiar em Deus não significa que não sejamos res-
ponsáveis pelas escolhas políticas que são feitas por meio do voto. Porém, filhos de Issacar,
filhos da luz enxergam mais longe porque olham para a história de joelhos, enxergam mais
longe porque estão curvados em oração diante do Rei dos reis, do Senhor dos senhores.
Quem se curva diante de Deus jamais se curvará submissamente diante de qualquer gover-
no humano. Portanto, não se deixe ser dominado pela retórica do medo que aumenta seus
decibéis sempre que se entra em períodos eleitorais. Michael Horton ajuda-nos quando
afirma que “não é quando somos jogados aos leões que perdemos tudo; é quando prega-
mos outro evangelho, é quando confiamos mais em César do que em Cristo” (https://www.
ultimato.com.br/conteudo/os-evangelicos-estao-com-medo-o-que-eles-temem-perder).

BOX PARA PENSAR


PARA PENSAR

Nosso hábito como cristãos é de lamentar os padrões deprava-


dos do mundo com um ar de desânimo um tanto farisaico. Cri-
ticamos sua violência, sua desonestidade, sua imoralidade sua
negligência com a vida humana e sua ganância materialista.
“O mundo vai de mal a pior” - dizemos encolhendo os ombros.
Mas de quem é a culpa? Deixe-me explicar de outra forma. Se a casa estiver escura ao
anoitecer, não faz sentido culpar a casa, pois é isso que acontece quando o sol se põe.
A pergunta a ser feita é: “Onde está a luz?”. Da mesma forma, se a carne estragar e for
impossível comê-la, não faz sentido culpar a carne, pois isso é o que acontece quando
as bactérias são deixadas ao léu para reproduzirem-se. A pergunta é: “Onde está o
sal?”. Assim também, se a sociedade se deteriora e seu padrões declinam ao ponto
de ela se tornar como uma noite escura ou como um peixe fedorento, não faz sentido

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acusar a sociedade, pois isso é o que acontece quando homens e mulheres decaídos
são deixados à sua própria sorte e o egoísmo humano não é contido. As perguntas a
serem feitas são: “Onde está a Igreja?” Por que a luz e o sal de Jesus Cristo não estão
permeando e mudando a nossa sociedade?”. É uma hipocrisia total de nossa parte de-
monstrar surpresa, indiferença ou apreensão diante desse contexto. O Senhor Jesus
nos disse para sermos sal e a luz do mundo. Se a escuridão e a podridão abundam,
grande parte da culpa é nossa e devemos aceitá-la. (STOTT, J. 2014, p. 89)

Alguns textos bíblicos para estudo ou pregação

Abaixo segue uma compilação de textos bíblicos que podem ser trabalhados com a
igreja em períodos eleitorais. Na seleção estão textos do Antigo Testamento e do Novo
Testamento. A contextualização dos textos é sempre importante para a construção de uma
interpretação que faça sentido para os dias de hoje. Lembre-se que no caso do Antigo Tes-
tamento havia uma concordância entre lei civil e lei religiosa. No Novo Testamento o quadro
é diferente, especialmente nas cartas dirigidas às igrejas estabelecidas fora de Israel. Apli-
cações do Antigo Testamento dirigidas à Israel não devem ser transpostas como dirigidas
aos países e seus governantes no modelo democrático atual. Lembre-se que a nação de
Israel vivia sob Aliança com Deus, a partir da vinda de Cristo não é uma nação/governo que
vive em Aliança com Deus, mas dentre todas as nações Deus estabeleceu sua Aliança com
aqueles que pertencem à igreja. Muitos erros são cometidos pela transposição simples e
direta de passagens dirigidas ao povo de Israel no Antigo Testamento para as nações mo-
dernas onde vivem cristãos. Seja cuidadoso, seja cuidadosa. Queremos orientar a Igreja
por meio da palavra de Deus e não usar a palavra de Deus para convencer nossos irmãos
e irmãs que esta ou aquela opção política é a única possibilidade de obedecer a vontade
divina em tempos de eleições.
ANTIGO TESTAMENTO
Êxodo 3 Juízes 9.7-21 1 Samuel 8.1-21 Neemias 1
Salmo 146 Isaías 5.8-30 Daniel 1 Miquéias 2,3,7
NOVO TESTAMENTO
Mateus 5.1-13 Mateus 14.1-12 Mateus 20.20-28 Mateus 22.15-22
Mateus 27.11-26 Lucas 2.1-20 Lucas 3.8-14 Lucas 4.1-13
Lucas 9.51-56 Lucas 10.25-37 Lucas 13.31-35 João 17
Atos 4 Atos 16 Atos 21-25 Romanos 13
Efésios 5,6 Colossenses 1.13-23 1 Timoteo 2.1-7 Tito 3.1-8
Tiago 5 Apocalipse 4,5

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ANTES DE VIRAR A PÁGINA

Tratar das eleições no contexto da Igreja é sempre delicado e, pensando nisso, tome
os seguintes cuidados: a) comece a se preparar com antecedência estudando os textos
bíblicos e outros materiais de apoio; b) inclua na sua preparação um tempo de oração em
favor do tratamento do tema no contexto da igreja; c) comunique sua intenção para a lide-
rança da igreja e busca envolvê-los no desenvolvimento dos temas; d) seja paciente e não
se sinta na obrigação de encontrar respostas ou soluções para todas as contradições e/ou
problemas da vida política e social; e) comunique com clareza para a igreja os assuntos que
serão tratados e qual o propósito. Isso é muito importante para estabelecer a perspectiva
com a qual você irá desenvolver o tema e não permitir que pressões externas o desviem do
seu propósito.

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Referências

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