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Não raro o cristão se torna uma subcultura dentro de uma nação. Ele tem seus valores, atitudes,
crenças e costumes. Mas daí, surgem as perguntas: O cristão pode participar das festas
nacionais? O cristão pode beber? Como o cristão lida com arte, cinema, etc.? O cristão pode ser
um diretor, ator, etc.? O cristão pode ouvir música do mundo? Como o cristão lida com economia,
política, filosofia? O cristão deve impor sua cultura quando sai em missões? O que pode ser
tolerado? O que deve mudar?
H. Richard Niebuhr (1894-1962), apresentou em seu livro Cristo e cultura (download gratuito)
cinco categorias de classificação do relacionamento entre o cristão e a cultura, fornecendo,
assim, ferramentas para descrever a forma que os cristãos encaram questões sociais, éticas,
políticas e econômicas.
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02/03/2020 Franklin Ferreira – O Cristão e a Cultura
“Quarto, unimos nossas forças no que diz respeito à separação do mal. Devemos nos afastar
do mal e da perversidade que o diabo semeou no mundo, para não termos comunhão com
isso e não nos perdermos na confusão dessas abominações. Aliás, todos que não aceitaram a
fé e não se uniram a Deus para fazer a sua vontade são uma grande abominação aos olhos
de Deus. Deles não poderão acrescentar ou surgir nada mais do que coisas abomináveis.
Não existe nada mais no mundo e em toda a criação do que o bem e o mal, crentes e
incrédulos, trevas e luz, os que estão no mundo e fora do mundo, os templos de Deus e dos
ídolos, Cristo e Belial, e nenhum deles poderá ter comunhão um com o outro. Para nós,
pois, é obvio o imperativo do Senhor, pelo qual nos ordena que nos afastemos e nos
mantenhamos longe dos maus. Assim, ele será nosso Deus e nós seremos seus filhos e
filhas. Além disso, ele nos exorta a abandonar a Babilônia e o paraíso terreno egípcio, para
não passar pelos sofrimentos e dores que o Senhor enviará sobre eles. (…) Devemos nos
afastar de tudo isso e não participar com eles. Porque tudo isso não passa de abominações,
que nos tornam odiosos diante do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos libertou da
escravidão da nossa natureza pecaminosa e nos tornou aptos para o serviço de Deus, por
meio do Espírito que nos ortogou.” (Confissão de Schleitheim, IV)
2. O cristão da cultura
Os ensinos do evangelho têm íntima relação com as estruturas culturais, num processo de
acomodação a esta. Ou seja, toda e qualquer cultura é incorporada no cristianismo.
Apesar das objeções que são lançadas a esta posição, ela tem sido influente na história da
igreja. Os ensinos de gnósticos do século III, Abelardo de Paris (1079–1142) e dos teólogos
liberais do século XIX refletem esta posição.. A igreja evangélica na Alemanha, por influência
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deste entendimento, trocou seu nome para Igreja do Reich e seus pregadores juraram
obediência a Hitler.
Lutero enfatizou este tema com sua doutrina dos “dois reinos”: a mão esquerda, mundana,
segura a espada do poder no mundo, enquanto a mão direita, celeste, segura a espada do
Espírito, a Palavra de Deus. Não se pode tentar coagir a fé, nem se pode tentar acomodar a fé
aos modos seculares de pensamento.
Agostinho (354-430), João Calvino (1509-1564), John Wesley (1703-1791) e Abraham Kuyper
(1837-1920) são alguns dos que entenderam que os cristãos são agentes de transformação da
cultura, posição que é exposta nesta obra de Niebuhr. Em Apocalipse, vemos que Deus redime
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Nesta posição, não há divisão entre o sagrado e o profano – essa é uma dicotomia católica (a
divisão sagrado/profano afirma que na igreja fazemos atividades sagradas e, no mundo,
atividades profanas; ou seja, rezar, ser padre é algo sagrado, mas construir um prédio e ser um
engenheiro são coisas profanas). A divisão bíblica é entre o que é santo e está em pecado; e
que está em pecado deve ser santificado.
Relatório de Willowbank
A afirmação de que o cristão é um agente transformador da cultura pode ser resumida na
compreensão de que “uma vez que o homem é criado por Deus, parte de sua cultura será rica
em beleza e bondade. Por causa da queda e do pecado do homem, toda a sua cultura [usos e
costumes] está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca” (Pacto de Lausanne §10) — o
evangelho nunca é hóspede da cultura, mas sempre seu juiz e redentor.
Categoria de costumes
Como um missionário deve proceder em uma cultura diferente? O Relatório de Willowbank
propõe uma relação quádrupla do cristão com a cultura:
1. Alguns costumes não podem ser tolerados, como a idolatria, infanticídio, canibalismo,
vingança, mutilação física, prostituição ritual, entre outros.
2. Alguns costumes podem ser temporariamente tolerados [por uma geração], como a
escravidão, o sistema de castas, o sistema tribal, a poligamia, entre outros.
3. Há alguns costumes cujas objeções não são relevantes para o evangelho, como o
costume de o homem e a mulher sentarem separados nos cultos, os costumes
alimentares, vestimentas, hábitos de higiene pessoal, entre outros.
4. Assuntos secundários (adiáforos) sobre os quais há controvérsias mas que pode-se ter
liberdade de análise, como escatologia, governo da igreja, ceia e batismo
Exemplo do ponto 2: quando chefes tribais polígamos se convertiam, eles eram obrigados pelos
missionários a abandonar todas suas esposas, que ou morriam de fome ou se prostituiam,
podendo morrer apedrejadas. Vendo isso, os missionários acharam uma medida sábia não exigir
desse chefe tribal o abandono da poligamia, mas exigir tal atitude da próxima geração de
cristãos.
Aplicação do ponto 3: Se você é um novo pastor, não tente mudar a cultura da igreja, se ela se
encaixa neste nível. Pregue o evangelho!
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02/03/2020 Franklin Ferreira – O Cristão e a Cultura
“Não se distinguem os cristãos dos demais, nem pela região, nem pela língua, nem pelos
costumes. (…) Seguem os costumes locais relativamente ao vestuário, à alimentação e ao
restante estilo de viver, apresentando um estado de vida admirável (…). Enquanto cidadãos,
de tudo participam, porém tudo suportam como estrangeiros. (…) Se a vida deles decorre na
terra, a cidadania, contudo está nos céus. Obedecem as leis estabelecidas, todavia superam-
nas pela vida. Amam a todos, e por todos são perseguidos (…) Para simplificar, o que é a
alma no corpo são no mundo os cristãos”. (5-6) (Epístola a Diogneto)
Bibliografia Complementar
Não sei se vocês lembram, mas já falamos, de forma simplificada, sobre o assunto aqui no VE:
Os 3 Rs do Envolvimento do Cristão com a Cultura. Os 3R de Mark Driscoll (Rejeitar, Receber ou
Redimir) encaixam-se bem nos quatro pontos apresentados pelo Relatório de Willowbank.
Por: Franklin Ferreira. Palestrado no dia 11/02/13, na 15ª Consciência Cristã (VINACC).
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