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Edward Burnett Tylor (século XIX), por sua vez, trazia um enfoque de
que havia uma hierarquia social que eram consideradas conforme a
evolução de suas produções culturais, criando-se uma pseudo
hierarquização entre os povos, grupos e nações.
Sim. A semiótica social tem tudo a ver com esse sistema mórfico
social.
Ora, se as culturas refletem as estruturas sociais e seus
enraizamentos, é certo e lógico que a atuação das políticas públicas
e privadas devam incidir nessas estruturas com o objetivo de se
alterar a cultura de um povo ou grupo social.
Em todos os casos a semiótica social é um dos elementos chave da
metamorfose de culturas. A semiótica social (ou ssociosemiótica),
deve ser equilibrada e focada nos anseios maiores de uma
sociedade livre, igualitária e fraterna. Semiótica, em suma, nada mais
é que a ciência dos sinais dentro de uma sociedade.
Pela semiótica social, entende-se que os significados e sistemas
semióticos são manipulados por fatores e relações de poder. Assim,
conforme o poder se desloca dentro de uma sociedade os
significados podem ganhar variações.
A cultura de cancelamento não foge dessa dinâmica social.
Aliás, a cultura do cancelamento nada mais é que o exercício
irregular do poder, da força que busca tolher e calar a liberdade de
expressão alheia. Aqui, cumpre ressaltar que nos movimentos de
transformação de uma Cultura de não-paz (inclusive cultura de
cancelamento), para uma Cultura de Paz muitas vezes é necessário
o exercício do poder democrático. Daí a razão de surgirem muitos
“coletivos” (grupos com identidade de anseios políticos ou sociais) de
modo a ganhar poder e com isso pautar as ressignificações sociais.
E esse movimento das estruturas nem sempre é pacífico, havendo,
muitas vezes, graves confrontos. Confrontos, aqui, tem a vertente de
aniquilação da ideia do outro, acarretando, inclusive violências ou até
mesmo guerras.
A cultura do cancelamento, mesmo que aparentemente se mostre
como democrática pelo mero fato de ser a maioria, não o é. Na
realidade, a cultura do cancelamento busca aniquilar as posições
contrárias, em especial. Busca aplicar uma pena de banimento ou
exílio social.
É preciso que esses novos pilares da cultura de ódio, representada
pela vertente da cultura do cancelamento, sejam reprogramados na
sociedade. Esses pilares estruturais, como mencionado
anteriormente, atinge grupos, povos e nações, ou seja, pode ser
nacional ou internacional, inclusive. Compreender os movimentos
das estruturas de poder é fatos de suma importância, pois é esse
que poderá com maior probabilidade ditar os significados semióticos,
impactando diretamente na estrutura (de paz ou não-paz) de uma
sociedade. Se não houver conteúdo educacional adequado para
coibir esse modismo da cultura de cancelamento, estará a sociedade
a beira de um colapso democrático. Isso porque, diante da notória
polarização que se manifesta atualmente, teremos em um futuro não
muito distante, constantes conflitos decorrentes dessa ignóbil cultura
de cancelamento.
Assim, para que as estruturas sociais sejam movimentadas de forma
evolucionista e harmônica, entendemos que a educação se mostra
elemento chave para esse desenvolvimento social, baseado na
pacificação social e sustentabilidade, isso porque ao receber
educação de qualidade a pessoa poderá ter maiores chances de ter
pensamento crítico e com isso mobilizar-se em grupos sociais para
aprimorar ao poder democrático de forma adequada, com debates,
com validação dos sentimentos alheios, com diálogos cooperativos,
e com os adequados mecanismos sociais de adequada gestão de
conflitos. Com isso, além de fomentar o conhecimento, o
pensamento crítico, fortalece a cidadania e, em especial, o poder
democrático.
Um fato interessante sobre o poder democrático e suas estruturas
está no parágrafo único do artigo 1º, da Constituição Federal de 1988
ao preconizar que:
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição”. É esse poder que movimentará as estruturas sociais
para o bem ou para o mal.
Logo, a desconstrução e reconstrução de pilares sociais e de
estruturas sociais em prol do convívio harmônico social decorre,
logicamente, do exercício do poder democrático.
A educação potencializa o exercício desse poder. Potencializa,
também, a conscientização de seus direitos e de sua cidadania e
com isso, fomenta maiores êxitos o exercício do poder democrático.
Lembre-se, quem detém o poder (grupos, partidos políticos,
ideólogos, por exemplo) poderá manter ou modificar os significados
da semiótica social.
Sob essa ótica, torna-se um pouco perigoso quando encontramos
entidades políticas ou mesmo políticos atuando ou fomentando a
cultura de cancelamento.
Isso porque, assim agindo estará exercendo o poder concedido pelos
eleitores para aniquilar pensamento opositores ou ideologias
contrárias ou não simpatizantes. É o uso da democracia para a
imposição tirânica de uma posição sobre a outra. Cancelar uma
pessoa ou uma posição, em regra é algo negativo. É positivo quando
se tratar de extremismos com resultados graves (exemplo: nazismo).
Cultura de Paz não é tão simples assim como se mostra no papel.
Decorre historicamente de muitas lutas e conflitos baseados no
poder.
Essa dinâmica do poder é a mesma que reflete na cultura de
cancelamento. Há uma unidade de desígnios no sentido de cancelar
uma pessoa ou sua expressão.
Poder dita o significado. Assim, um movimento virtual organizado
poderá impor um poder democrático falso, em especial, com o
cancelamento de opositores.
O enraizamento de culturas de não-paz, mostra-se um mal nnão
necessário. A sociedade pode e deve evoluir. Essa evolução social
em prol de uma cultura de paz necessita de uma educação de
qualidade com o que os indivíduos de uma sociedade poderão ter
suas autodeterminações de forma crítica e racional.
Sob esse aspecto, já há um ressignificado: o poder, na verdade,
decorre do próprio conhecimento, da educação.
Uma cultura de cancelamento pode, pelo incrível que pareça, atingir
até mesmo os pilares da educação. E isso é natural quando se fala
em movimentos de estruturas sociais. Ora, se dispomos de
estruturas que fomentam uma cultura de ódio que beneficie um ou
outro político, essa mostra-se eficiente para destruir os pilares da
cultura de paz, em especial, a educação, o conhecimento e a
informação adequada. Disparar fakenews ou destruir reputações, por
exemplo, é uma forma de enfraquecer os pilares fundamentais de
uma cultura de paz.
Metaforicamente, portanto, podemos afirmar que a manipulação das
estruturas de paz e não-paz podem ser artificiais, dolosas, de modo
a manter uma situação não evolutiva em sintonia avessa à harmonia
social.
Lutas e conflitos entre poderes constitucionalmente instituídos
seguem a mesma lógica, pois, quem tiver mais poder, ditará os
significados. Aqui entram em jogo as rressignificações. As
ressignificações dos fatos e as revalorizações impostas à uma
sociedade, devem ser trabalhadas ou combatidas no universo
democrático lícito, baseados em informações corretas e verídicas
com amplitude de debates e validação mútua entre os polarizados.
Quando o poder decorrente do conhecimento e da informação não é
o suficiente dáse margem, infelizmente, aos conflitos e confrontos.
Daí a gravidade da cultura de cancelamento: aniquilar a
manifestação ou pensamentos contrários – atitude claramente
antidemocrática. A política de cancelamento ou “lacração”
(popularmente reconhecida) impede o progresso adequado da
construção dos pilares da cultura de paz que garantirá o convívio
harmônico social.
Os conflitos podem ser construtivos, mas os confrontos serão
sempre destrutivos, pois representam a completa aniquilação da
posição do oponente e não é dado qualquer margem de escuta
empática a parte adversa. Isso ocorre claramente no julgamento
sumário advindo da cultura de cancelamento. O resultado do
confronto é sempre com perdas, seja de informação, de valores
patrimoniais ou mesmo inestimáveis, como os direitos da
personalidade, a moral, a honra e a vida. Há situações em que o
desequilíbrio de poder faz com que uma estrutura cultural de não-paz
seja enraizada em uma sociedade. A título de exemplo, podemos
citar as políticas nazistas que promoveram a cultura do ódio com
estruturas notoriamente desumanas. Aqui houve, na realidade
confronto e não um conflito bélico por si só. No plano das ideologias
aquele que estava no poder da Alemanha, Hitler, teve a possibilidade
de dar um novo ressignificado no sentido que lhe interessava,
gerando perseguições étnicas, religiosas e políticas.
Ora, a cultura de cancelamento nada mais é que uma vertente da
cultura de ódio, de intolerância, enfim, de não-paz.
As narrativas são ferramentas cruciais para o desenvolvimento e
construção de pilastras das estruturas sociais para o bem ou para o
mal. Mas, para uma adequada tomada de decisão, realmente
democrática e voltada ao bem-comum, é necessário o diálogo, a
compreensão mútua, a troca de ideias, a empatia e a tolerância. No
mesmo sentido, defendemos que a validação dos sentimentos e das
vontades devam ser preservadas. A cultura do cancelamento
cancela exatamente esses pontos essenciais.
2.4 Guerras de narrativas e a cultura de cancelamento
Teoria da Identidade Social, de outro lado, foi criada por Henri Tajfel
(1972)9, psicólogo polonês.
O principal objetivo foi boicotar o site Breitbart News que atuava com
posicionamentos de extrema direita.
Em todos esses casos, o que percebemos foi que existe uma certa
identidade de desígnios endogrupal e uma diversidade de desígnios
exogrupal. O conflito intergrupal apenas se utiliza da ferramenta
disponível que é o cancelamento, como cultura, portanto.
14
Brewer, M. B. (1993a). Social Identity, Distinctiveness, and Ingroup Homogeneity.
Social Cognition.
15
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/94/Teoria_do_conflito
_realistico.jpg
Mas, o experimento nos traz algo muito construtivo. Parece ser esse
o “termômetro social” desse espelhamento social. E, por ser
espelhamento social, tem potencial de refletir identidades e causar
identificações.
3. Conclusão
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Proof