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SUMÁRIO
MÓDULO 04
1
FATIPI EAD
MÓDULO
04
UNIDADE DE APRENDIZAGEM 1
OBJETIVOS
Olhamos, nessa unidade de aprendizagem e, neste módulo de modo geral, para o modo
como se organizaram no Brasil as relações entre politica e religião. Muitas vezes cristãos
torcem o nariz para o envolvimento com a política, entretanto, igrejas e seus membros ocu-
pam determinado território nacional, possuem obrigações políticas e partilham das ideais e
preferências políticas que circulam no seu tempo. Nessa primeira etapa a presença protes-
tante ainda é pequena e o catolicismo está profundamenta entranhado no Estado.
Nesse período o Estado, poder político, e a religião, Igreja Católica atuam lado a lado.
São as duas instituições básicas da organização da colonização do Brasil. É até difícil dis-
tinguir uma da outra. Lembremos que a discussão sobre a separação entre Igreja e Estado
ocorrerá somente nos séculos XVIII e XIX. A religião do Estado era a católica e os súditos,
lembremos que não havia também o conceito de cidadania, deveriam ser católicos.
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para inculcar nas pessoas a obediência ao poder do Estado. O poder da Igreja era muito
grande uma vez que ela falava diretamente ao povo e o acompanhava em todas as etapas da
vida: nascimento, batismo, casamento e morte. Lembremos que a expectativa de vida nesse
período era muito baixa e não havia secularização, portanto, o sentido da vida era proveniente
sobretudo do discurso religioso católico. A própria “extrema-unção” conferia uma poder enor-
me à Igreja pois ela era a guardiã da passagem para o céu. A Igreja Católica controlava os
cemitérios, ou seja, não ser católico significa não ter um lugar para ser sepultado.
Um ruído no sistema do Padroado Real foi o lugar ocupado pelas ordens religiosas,
como a Companhia de Jesus. Essas ordens sempre foram muito disciplinadas e em muitos
casos tinham recursos próprios o que as tornava menos suscetíveis aos controles exerci-
dos pelo Estado. Além dos jesuítas outras ordens poderosas no período colonial foram:
franciscanos, mercedários, beneditinos e carmelitas. Essas ordens divergiram do Estado
em alguns momentos, como por exemplo, no caso da política indígena. Quando o Estado
pagava o salário do padre de uma determinada cidade, era fácil para exercer o controle so-
bre ele, o caso era diferente no caso das ordens, muitas delas detentoras de fazendas, es-
colas e hospitais, portanto, não dependiam financeiramente do Estado e sentiam-se livres
para defender seus próprios interesses.
Gilberto Freyre (1987) observou que no Brasil o catolicismo no período colonial será
uma religião de família e não de catedral. Na prática muitas veze o clero secular ( o padre
do povoado) era mantido financeiramente pelos senhores de engenho, formando um cato-
licismo patriarcal e rural do que propriamente estatal e metropolitano.
O historiador Boris Fausto (1999) registra que a famosa Inconfidência Mineira contou
com a participação de padres e em todos os movimentos de rebelião contra a Coroa padres
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apareciam entre os apoiadores. A hipótese para adesão de alguns padres aos movimentos
de contestação está na maior proximidade deles com os sofrimentos da população e por
serem, a maioria deles, provenientes dos extratos mais pobres da sociedade.
o dia 7 de março de 1557, um ano e três meses depois da primeira expedição, chegou
a segunda leva de franceses: cerca de 300 colonos, católicos e sem religião em sua
maioria. Com eles vieram quatorze huguenotes (nome que se dá aos reformados de
língua francesa) de Genebra, enviados por João Calvino, a pedido do próprio Villegaig-
non. Entre estes estavam o doutor em teologia Pierre Richier, de 50 anos, o pastor
Guillaume Chartier, o historiador Jean de Léry e dez artesãos.
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(https://ultimato.com.br/sites/blogdaultimato/2018/06/15/os-calvinistas-estao-chegando-o-
-primeiro-culto-protestante-na-baia-de-guanabara/)
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Fletcher circulou com grande desenvoltura junto à elite imperial. Certamente sua condi-
ção de bem-nascido e de viajante ofereciam-lhe o traquejo social para tal tarefa. Mas quais
eram seus ideais quanto ao Brasil? Fletcher explicitou seu plano de ação nos seguintes
termos: converter o Brasil ao protestantismo e ao “progresso” (Vieira, 1980, p. 63).
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Seus primeiros contatos com o Imperador Dom Pedro II haviam começado ainda em
1852, quando no exercício do cargo de Secretário da Legação Americana. A razão da visita
era o agradecimento por ter o Imperador aceitado o convite para visitar o navio mercante
City of Pittsburg que se encontrava atracado no porto do Rio de Janeiro (Kidder; Fletcher,
1941, p. 273). Na segunda etapa elaborou plano mais ousado, através do qual viria a estrei-
tar laços com o Imperador. Fletcher sabia do interesse de Dom Pedro II pela modernização
do Brasil e via os Estados Unidos como modelo industrial a ser seguido. Assim, ele orga-
nizou uma exposição com produtos industriais trazidos dos Estados Unidos. O Imperador
visitou a exposição e manifestou sua aprovação ao esforço do Rev. Fletcher em ajudar o
Brasil no projeto de modernização.
Após a Exposição, a visita para a entrega de objetos da exposição ao casal Imperial, foi
descrita minuciosamente por Fletcher em “O Brazil e os Brasileiros”.
Poucos dias após o encerramento da Exposição, levei os muitos objetos
destinados à família Imperial ao grande palacete de Márquez de Abran-
tes, situado num dos mais belos recantos do Rio, na praia de Botafogo,
que tanto lembrava o golfo napolitano. S. Majestade estava passando,
aí, algumas semanas, para tomar banhos de mar. Passei pela guarda do
portão e, quando subi as escadas, fui visto pelo Imperador, que veio ao
meu encontro, na porta de entrada, agradecendo-me cordialmente por
tudo o que havia feito. Pedi-lhe que me concedesse alguns momentos
até que chegassem os caixotes, pois tinha que lhe dar algumas explica-
ções sobre a fechadura secreta dos excelentes baús, mandados para S.
Majestade por Peddie & Morrison de Newark, N. J. Com a sua permis-
são, penetrei nos belos jardins, onde havia as mais ricas e belas flores
do país, em perpetua florescência. O ambiente estava verdadeiramente
saturado de doces perfumes. Havia aí fontes e estátuas, muitos pás-
saros de brilhantes plumagens, e, tudo na natureza e na arte, feito para
alegrar os que vivem para o belo. Olhando para uma cena tão encanta-
dora, tive um único desejo, de que esta terra, para quem Deus tanto fez
no ponto de vista da natureza, pudesse possuir as vantagens mentais
e morais que pertencem aos mais ríspidos povos do norte, pela sua
educação e religião” (Idem, p. 283).
Um ponto a ser assinalado nas relações entre religião e política nesse período história
do Brasil é que a presença protestante era importante para a elite brasileira e porque não
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para o próprio Imperador D. Pedro II, pois era em si o sinal da modernização do país, sinal
de liberdade e circulação de ideias. A lei eleitoral de 1882 que estendia o direito ao voto aos
não católicos é um dos sinais desse desejo de modernização. Entretanto, se olharmos para
as conversões dos filhos da elite que buscaram como o Mackenzie veremos que interessa-
va para eles interessava muito mais a presença protestante do que a mensagem religiosa
do protestantismo. A mensagem moderna, a intelectualidade brasileira recebera do ilumi-
nismo francês. Essa ambiguidade das elites frente ao tipo de modernidade proposta pelo
protestantismo pode ser ilustrada pela seguinte passagem registrada por Themudo Lessa:
No anno de 1878, em uma excursão a S. Paulo, recebeu a Escola Ame-
ricana a visita honrosa de Sua Majestade o Imperador, que foi aliás um
benemérito da instrução. Demorou-se duas horas no estabelecimen-
to, “inspeccionando as aulas de primeiras e segundas letras e exami-
nando as classes à sua vontade”. Ao deixar a sala dirigida pela hábil
professora D. Adelaide Molina, perguntou-lhe: “Que doutrina se ensina
aqui?” “O Evangelho só” – respondeu-lhe D. Adelaide.
Em consequencia disso, um dos diretores da Escola, indo depois à
Corte, offertou ao Imperador exemplares dos livros da doutrina ensi-
nada na Escola, observando-lhe que aqueles compendios iam à casa
dos paes juntamente com os outros livros, de sorte que ficavam elles
habilitados a inspeccionar o ensino religioso ministrado a seus filhos.
Parece que D. Pedro II não ficou satisfeito, respondendo: “Já sei, já
sei, a doutrina é protestante”. A uma explicação de que taes doutrinas
estavam de acordo com a Biblia, retorquiu que nem a Biblia devia se
achar nas escolas e que o ensino religioso deveria ser ministrado no
lar e na egreja. Falou ainda da boa impressão que tivera da escola em
tudo o que vira, acrescentando: “Se eliminarem o elemento do ensino
religioso, podem contar com a nossa protecção”. O director respon-
deu com firmeza: “A Bíblia tem estado aberta na Escola desde o pri-
meiro dia de sua abertura e, quando fechar-se, fechar-se-ão as portas
da Escola Americana”.
O Imperador deu por encerrada a audiencia com as palavras: “Cada
um tem direito à sua opinião” (Lessa, 1938, p. 151-152).
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mo não segue caminhos paralelos. Aqui no gigante do Sul chegou-se sempre primeiro às
racionalizações teóricas, lá pelos lados do Norte, chegou-se primeiro à racionalização da
vida prática. Disso, resultou o grande dilema protestante no século XIX, vinham de um país
extremamente adiantado no comércio e na indústria, mas pareciam por demais religiosos
para uma elite que se acostumou a ser sempre muito mais adiantada na teoria do que na
prática. Os produtos dos países protestantes interessavam muito mais do que o estilo de
vida protestante. Dois argutos observadores da relação entre protestantismo e cultura no
Brasil apontaram nessa direção:
O Evangelho como ordinariamente tem sido apresentado no Brasil, bem
como através de toda América Latina, geralmente não é atrativo para
as exigentes classes intelectuais. A principal razão para isto é o tipo
de cultura francesa que tem se arraigado na mentalidade brasileira, e
a propaganda evangélica tem apresentado a mensagem do Evangelho
nos moldes da cultura anglo-saxônica (Braga; Grubb, 1932, p. 113)
Neste ponto já nos aproximamos das influências que iriam desaguar na Proclamação
da República e começaram a modificar a relação entre política e religião no Brasil.
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