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Resumo: A experiencia mística, pouco explorada pela filosofia como um tudo, mas
principalmente, pela filosofia política, encontra-se em destaque nas análises
desenvolvidas por aquele que talvez tenha sido o maior filósofo mineiro do século XX,
Henrique Claudio de Lima Vaz. O profundo imbricamento das camadas conceituais da
ideia do místico, ou dos místicos é desenvolvida por Lima Vaz inicialmente em seu
sublime Antropologia Filosófica e aprofundada no seu Experiência Mística e a Filosofia
na tradição Ocidental. Ao perpassar pela renomada e conhecida sapiência e capacidade
de Padre Vaz em discorrer a respeito dos mais amplos campos da filosofia, incluindo os
mais obscuros, nos ocorreu uma inquietação. Os ares de “terra arrasada” geralmente
encontrados em debates de filosofia política e principalmente no embate desse campo
do conhecimento com a ideia, e ou, solução de Razão de Estado no Brasil são de, no
mínimo desanimar, chegam a causar um acabrunhamento vexatório quando olha-se para
a realidade do tempo presente. Portanto, qual seria o intento dessa comunicação?
Perpassar o entendimento do desenvolvimento do místico enquanto conceito vaziano,
para que se entenda a já não tão nova onda neopentecostal e suas possíveis relações para
com o conceito do místico, a fim de que, a falaciosa discussão a respeito do “Estado
laico” (não é possível mais entendermos o estado brasileiro como laico devida às
inúmeras aberrações que todos os poderes e autarquias da república vêm realizando;
para alguns autores como Horta, o Estado Brasileiro já passa por uma crise
constitucional intransponível, que só seria ajustada como uma nova constituinte) não
seja a única e vazia porta para o debatimento e tentativa de influência direta – que já
resta explícita – da religião na política. Ainda, o entendimento do místico como
elemento cultural de suprassunção de política e religião; para tamanha ousadia, dever-
se-á discutir inicialmente o momento conceitual do místico, o momento de
desenvolvimento do Neopentecostalismo em segundo momento, para que se realize o
intento de, através da Razão, desatar nós que insistem em ser atados e vigiados pelos
grupos que os realizam.
1
Mestrando em Direito sob orientação do Prof. Dr. José Luiz Borges Horta e Bacharel em ciências do
Estado pela UFMG, mestrando em Planejamento, Desenvolvimento e Território pela UFSJ com bolsa
Capes, sob orientação do Prof. Dr. Claudio Gontijo. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1768723348597820
1. Introdução
Entendendo que “não é o intelecto que entende, mas o homem por meio do
intelecto”, nas palavras de São Tomás de Aquino, Lima Vaz dissocia que a viagem
sobre o entendimento do que expressa, totalmente a vida humana têm-se em dois
campos. A experiencia política, essa mais próxima dos populares jargões acadêmicos e
a relação com o Absoluto na mística, e aqui temos o Absoluto enquanto conceito
hegeliano. Entendendo a complexidade da experiencia mística, Vaz nos ensina que o
testemunho experiencial, ainda que tratado como frágil e falível pela ciência, é a
primeira e talvez principal fonte de entendimento sobre o que estamos a descrever;
ainda assim por se tratar de uma acepção pelo Absoluto, esta tende a estar livre dos
vícios do Espírito Objetivo, também por se tratar de um caminho guiado pelo próprio
Espírito Absoluto. A experiencia mística é fruitiva, no direto que isso significa.
Nas palavras do virginiano padre Vaz, “O místico é o sujeito da experiência, o
mistério, seu objeto, a mística, a reflexão sobre a relação místico-mistério” (LIMA
VAZ, 2015. p. 18). Fortemente ligado ao estudo do homem e da sua formação, Vaz
aprofunda em uma vertente antropológica da formação do místico. Existe a importância
de saber que o antropológico é o lugar da possibilidade de manifestação fenomênica do
místico e diz respeito da inteligência do espiritual.
A teoria da experiencia mística, seja a que está implícita no próprio
testemunho dos místicos, seja a que é explicita na reflexão filosófica e
teológica, é construída, portanto, sobre um fundamento antropológico, na
qual a concepção do ser humano está aberta ao acolhimento de uma dupla
dimensão da transcendência: a) de um lado, a transcendência da inteligência
espiritual, seja sobre entendimento discursivo e o livre-arbítrio, seja sobre as
atividades próprias do psiquismo; b) de outro, a transcendência ontológica do
absoluto sobre o sujeito finito que a ele se une na experiencia mística. [...]
(LIMA VAZ, 2015. p. 22).
Ainda, e seguindo:
Lembra-se ainda o autor que a fruição mística arca com limitações do espírito
objetivo, mesmo que guiado pelo absoluto formal possui, portanto, limitações, mas
sempre, buscando a universalidade do ser, e assim, o Absoluto real.
No desenvolvimento trial do pensamento vaziano, e, portanto, fortemente
hegeliano, a mística se desdobra em três: mística especulativa; a mística mistérica e a
mística profética. Sendo a especulativa sendo iniciada em Platão, com a tentativa de
unir entusiasmo e razão, como descrito pelo próprio Hegel em KOMOTH (1984) Hegel
und die spekulative Mystik, Hegel-Studiem 19.
Para além dessa riqueza epistemológica de Vaz, que desdobra em longas laudas
e vasta pesquisa sobre o que são os místicos devemos tentar passar pelo contemporâneo
para adentra à política. Isso ocorre quando o filósofo vai falar da periculosidade da
aproximação que se faz da ideologia com o místico, aparentemente fazendo uma mística
profética, Vaz trás que a absorção da mística pela política é agressiva, e o filósofo
coloca na conta dos regimes de “socialismo real” a culpa pelo enfraquecimento da
mística, em uma toada guiada pela globalização anódina, nas palavras do mesmo
(LIMA VAZ, 2015. p. 98). Para uma crítica mais sofisticada e hodierna, por conta da
possibilidade de maturação, através do passar do tempo temos Gonçal Mayos; sobre o
que Lima Vaz profetizou.
Para tentar conciliar o “possível e o melhor”, e tentando fazer da sociedade
política ou o Estado obra da Razão Lima Vaz trás essa denúncia sobre a depravação do
místico em ideologização vazia, algo muito parecido com o verificado hoje no Brasil; o
especulativo foi mistérico e hoje podemos dizer que é profético, mais traduz a realidade
ipsis litteris do que aparenta enquanto devaneio. Para o filósofo mineiro o fim nefasto se
dará pela dominação da vita activa em face da vita contemplativa; a isso será o assinalar
definitivo do advento da pós-modernidade.
Fazendo um paralelo a isso, e consolidando a profeticidade de Vaz, existe uma
inserção diferente do cristianismo na modernidade por meio da sacralização do
consumo e da intervenção midiática. Lembrando que a regulamentação, as conceções de
direito de exploração de mídias televisivas e de rádio, bem como a regulamentação
jurídica e a institucionalização de datas comemorativas na agenda nacional se deu no
governo do ex-presidente lula ainda no seu primeiro mandato.
Ricardo Mariano em uma contribuição sobre a Mudança do Campo Religioso
Brasileiro no Censo 2010 explica que a constatada mudança na distribuição religiosa
brasileira, e a crescente neopentecostal, principalmente “podem estar contribuindo para
seu avanço, entre as quais: a massiva difusão do individualismo, responsável aqui e
alhures pelo paulatino desmanche dos coletivos sociais, contribuindo com o que Vaz diz
em sua Antropologia filosófica ainda no século XX, bem como a contribuição do
mesmo sobre a ideologização do místico. É claro e manifesto que isso é o verificado
hoje no Brasil. Contribuindo para isso podemos colocar, corroborando com Mariano,
que a categoria: evangélico não determinado é a mais expressiva já no censo de 2010 e
isso nos fornece a possibilidade de, mais uma vez denunciar a “desmediação”;,
novamente, anunciada na profética vaziana.
O contraste mais alarmante talvez esteja na oposição de Durkheim trazida por
Mariano que afirma não existir “igreja mágica”, o completo e diametral oposto ao que
prega a construção de toda a tradição ocidental. Mas as diferenças e divergências entre
as culturas ocidentais e extremo ocidentais são bastante claras para nós.
Também temos Mendonça trazendo uma análise profunda e profícua sobre a
importância da adoção de antigos processos “mágicos-religiosos”, e nos permite fazer a
conexão sobre a apropriação que igrejas neopentecostais fazem para atingir os fins que
lhes parece o conveniente, onde a acumulação primitiva de capital é posta como
secundária, ainda que nunca sejam adicionadas cifras negativas e ao contrário, sempre
são crescentes. Esse tipo de ritualística parece ter um norte, como dito bem divergente
do que Vaz defende. Para Mendonça essas designações protestantes se afastaram de
toda a origem do protestantismo e hoje exercem um tipo de religião do espetáculo, e
para nós é possível a esta ideia acrescentar que Guy Debord traz com a “Sociedade do
Espetáculo”. Parece que praticamente tudo é lícito para que se atinja e possibilite que o
rebanho cresça, inclusive a dessacralização da própria religião. “Ao contrário das
previsões positivistas, a religião continua a desempenhar um papel ativo na sociedade”
(MENDONÇA, 2008. p. 227). É claro para Mendonça, utilizando Cunha e Dorneles que
além da fina convergência para se adotar a prosperidade pessoal existe uma guerra
espiritual em vigência. Sobre isso é importante destacarmos a forte influência externa à
cultura brasileira que essas religiões cultuam, sem esquecermos que as próprias religiões
são uma cisão (irreconciliada) com a religião nossa (o catolicismo) e o eixo cultural na
qual o Padre Vaz se arvora; bem como a tradição ocidental.
Outra contribuição que fica claro a diferença entre os eixos culturais, ainda que
o mais recente seja uma província rebelde da nossa tradição, é o fato de a eleição do
melhor está imbricada ao que aufere o maior sucesso, e aqui sucesso é diretamente
sucesso econômico. Tão diferente que são eles declaram guerras em seus escritos e
cultos.
3. Conclusão
Miranda
Renon
Renon
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61338823 - https://biblio.direito.ufmg.br/?
p=3585