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O Caminho Místico:

A possibilidade da sua exaltação para a discussão da Razão de


Estado no Brasil
Gabriel de Souza Oliveira e Silva1

Resumo: A experiencia mística, pouco explorada pela filosofia como um tudo, mas
principalmente, pela filosofia política, encontra-se em destaque nas análises
desenvolvidas por aquele que talvez tenha sido o maior filósofo mineiro do século XX,
Henrique Claudio de Lima Vaz. O profundo imbricamento das camadas conceituais da
ideia do místico, ou dos místicos é desenvolvida por Lima Vaz inicialmente em seu
sublime Antropologia Filosófica e aprofundada no seu Experiência Mística e a Filosofia
na tradição Ocidental. Ao perpassar pela renomada e conhecida sapiência e capacidade
de Padre Vaz em discorrer a respeito dos mais amplos campos da filosofia, incluindo os
mais obscuros, nos ocorreu uma inquietação. Os ares de “terra arrasada” geralmente
encontrados em debates de filosofia política e principalmente no embate desse campo
do conhecimento com a ideia, e ou, solução de Razão de Estado no Brasil são de, no
mínimo desanimar, chegam a causar um acabrunhamento vexatório quando olha-se para
a realidade do tempo presente. Portanto, qual seria o intento dessa comunicação?
Perpassar o entendimento do desenvolvimento do místico enquanto conceito vaziano,
para que se entenda a já não tão nova onda neopentecostal e suas possíveis relações para
com o conceito do místico, a fim de que, a falaciosa discussão a respeito do “Estado
laico” (não é possível mais entendermos o estado brasileiro como laico devida às
inúmeras aberrações que todos os poderes e autarquias da república vêm realizando;
para alguns autores como Horta, o Estado Brasileiro já passa por uma crise
constitucional intransponível, que só seria ajustada como uma nova constituinte) não
seja a única e vazia porta para o debatimento e tentativa de influência direta – que já
resta explícita – da religião na política. Ainda, o entendimento do místico como
elemento cultural de suprassunção de política e religião; para tamanha ousadia, dever-
se-á discutir inicialmente o momento conceitual do místico, o momento de
desenvolvimento do Neopentecostalismo em segundo momento, para que se realize o
intento de, através da Razão, desatar nós que insistem em ser atados e vigiados pelos
grupos que os realizam.

Palavras Chaves: Místico, Neopentecostalismo, Razão de Estado, Política.

1
Mestrando em Direito sob orientação do Prof. Dr. José Luiz Borges Horta e Bacharel em ciências do
Estado pela UFMG, mestrando em Planejamento, Desenvolvimento e Território pela UFSJ com bolsa
Capes, sob orientação do Prof. Dr. Claudio Gontijo. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1768723348597820
1. Introdução

A experiencia mística, pouco explorada pela filosofia como um tudo, mas


principalmente, pela filosofia política, encontra-se em destaque nas análises
desenvolvidas por aquele que talvez tenha sido o maior filósofo mineiro do século XX,
Henrique Claudio de Lima Vaz. O profundo imbricamento das camadas conceituais da
ideia do Místico, ou dos místicos é desenvolvida por Lima Vaz inicialmente em seu
sublime Antropologia Filosófica e aprofundada no seu Experiência Mística e a Filosofia
na tradição Ocidental. Ao perpassar pela renomada e conhecida sapiência e capacidade
de Padre Vaz em discorrer a respeito dos mais amplos campos da filosofia, incluindo os
mais obscuros, nos ocorreu uma inquietação. Os ares de “terra arrasada” geralmente
encontrados em debates de filosofia política e principalmente no embate desse campo
do conhecimento com a ideia, e ou, solução de Razão de Estado no Brasil são de, no
mínimo desanimar, chegam a causar um acabrunhamento vexatório quando olha-se para
a realidade do tempo presente. Portanto, qual seria o intento dessa comunicação?
Perpassar o entendimento do desenvolvimento do Místico enquanto conceito vaziano,
para que se entenda a já não tão nova onda neopentecostal e suas possíveis relações para
com o conceito do místico, a fim de que, a falaciosa discussão a respeito do “Estado
laico” (não é possível mais entendermos o estado brasileiro como laico devida às
inúmeras aberrações que todos os poderes e autarquias da república vêm realizando;
para alguns autores como Horta, o Estado Brasileiro já passa por uma crise
constitucional intransponível, que só seria ajustada como uma nova constituinte) não
seja a única e vazia porta para o debatimento e tentativa de influência direta – que já
resta explícita – da religião na política. Ainda, o entendimento do místico como
elemento cultural de suprassunção de política e religião; para tamanha ousadia, dever-
se-á discutir inicialmente o momento conceitual do místico, o momento de
desenvolvimento do Neopentecostalismo em segundo momento, para que se realize o
intento de, através da Razão, desatar nós que insistem em ser atados e vigiados pelos
grupos que os realizam.

2. Desenvolvimento – O que é o Místico?

A experiencia mística requer cuidado para que trabalhemos sobre as infinitas


possibilidades de seu conhecimento. Iniciaremos nossa digressão sobre o Místico
explicitando en passant, pelos tipos e formas do místico que Lima Vaz nos transmite.
Dentre esses místicos tentaremos explicitar do que se trata o conceito e o porquê de sua
importância. Somente depois traremos nossas possibilidades de místico, como o mítico
neopentecostal, hoje consolidado de forma forte e pulsante na figura das mais variadas
denominações que temos pelo país, a maioria de forte influência estadunidense. Para
somente depois falar da possibilidade de um “místico sincrético nacional”, talvez uma
ideia suprassumida destes conceitos, para que com este terceiro tipo místico possamos
focar na reabilitação da Razão plena, e não potente, do Estado brasileiro.
Para entendermos com clareza do que se trata o místico vaziano, precisamos
recorrer ao que não define o místico vaziano. Para isso, primeiramente, padre Vaz
explica que a deterioração semântica é uma marca forte do tempo presente em que o
filósofo postula suas ideias, o triste século XX. A mística esvaziada, nada tem a ver com
os ideais de progresso e desenvolvimento. A tal Mística não diz respeito do que é o
intangível do esporte. Por tanto, e em linhas gerais, o que seria o famigerado Místico?
Do ponto de vista do sujeito, a experiencia mística tem lugar nun plano
trasracional, ou seja, onde cessa o discurso da razão: inteligência e amor
convergem na fina ponta do espírito – apex mentis – numa experiencia
inefável do Absoluto, que arrasta consigo toda a energia pulsional da alma
(LIMA VAZ, 2015. p. 11).

Entendendo que “não é o intelecto que entende, mas o homem por meio do
intelecto”, nas palavras de São Tomás de Aquino, Lima Vaz dissocia que a viagem
sobre o entendimento do que expressa, totalmente a vida humana têm-se em dois
campos. A experiencia política, essa mais próxima dos populares jargões acadêmicos e
a relação com o Absoluto na mística, e aqui temos o Absoluto enquanto conceito
hegeliano. Entendendo a complexidade da experiencia mística, Vaz nos ensina que o
testemunho experiencial, ainda que tratado como frágil e falível pela ciência, é a
primeira e talvez principal fonte de entendimento sobre o que estamos a descrever;
ainda assim por se tratar de uma acepção pelo Absoluto, esta tende a estar livre dos
vícios do Espírito Objetivo, também por se tratar de um caminho guiado pelo próprio
Espírito Absoluto. A experiencia mística é fruitiva, no direto que isso significa.
Nas palavras do virginiano padre Vaz, “O místico é o sujeito da experiência, o
mistério, seu objeto, a mística, a reflexão sobre a relação místico-mistério” (LIMA
VAZ, 2015. p. 18). Fortemente ligado ao estudo do homem e da sua formação, Vaz
aprofunda em uma vertente antropológica da formação do místico. Existe a importância
de saber que o antropológico é o lugar da possibilidade de manifestação fenomênica do
místico e diz respeito da inteligência do espiritual.
A teoria da experiencia mística, seja a que está implícita no próprio
testemunho dos místicos, seja a que é explicita na reflexão filosófica e
teológica, é construída, portanto, sobre um fundamento antropológico, na
qual a concepção do ser humano está aberta ao acolhimento de uma dupla
dimensão da transcendência: a) de um lado, a transcendência da inteligência
espiritual, seja sobre entendimento discursivo e o livre-arbítrio, seja sobre as
atividades próprias do psiquismo; b) de outro, a transcendência ontológica do
absoluto sobre o sujeito finito que a ele se une na experiencia mística. [...]
(LIMA VAZ, 2015. p. 22).

Ainda, e seguindo:

A teoria mística implícita no testemunho dos místicos ou explicitada pelo


reflexão filosófico-teológica, apoia-se, portanto, nun substrato antropológico,
que é a natureza do espírito enquanto este é capaz de elevar-se por suas
próprias forças – mística natural – ou pela graça divina – mística sobrenatural
– a experiencia fruitiva do Absoluto em si mesmo ou em algumas de suas
manifestações. (LIMA VAZ, 2015. p. 23).

Lembra-se ainda o autor que a fruição mística arca com limitações do espírito
objetivo, mesmo que guiado pelo absoluto formal possui, portanto, limitações, mas
sempre, buscando a universalidade do ser, e assim, o Absoluto real.
No desenvolvimento trial do pensamento vaziano, e, portanto, fortemente
hegeliano, a mística se desdobra em três: mística especulativa; a mística mistérica e a
mística profética. Sendo a especulativa sendo iniciada em Platão, com a tentativa de
unir entusiasmo e razão, como descrito pelo próprio Hegel em KOMOTH (1984) Hegel
und die spekulative Mystik, Hegel-Studiem 19.
Para além dessa riqueza epistemológica de Vaz, que desdobra em longas laudas
e vasta pesquisa sobre o que são os místicos devemos tentar passar pelo contemporâneo
para adentra à política. Isso ocorre quando o filósofo vai falar da periculosidade da
aproximação que se faz da ideologia com o místico, aparentemente fazendo uma mística
profética, Vaz trás que a absorção da mística pela política é agressiva, e o filósofo
coloca na conta dos regimes de “socialismo real” a culpa pelo enfraquecimento da
mística, em uma toada guiada pela globalização anódina, nas palavras do mesmo
(LIMA VAZ, 2015. p. 98). Para uma crítica mais sofisticada e hodierna, por conta da
possibilidade de maturação, através do passar do tempo temos Gonçal Mayos; sobre o
que Lima Vaz profetizou.
Para tentar conciliar o “possível e o melhor”, e tentando fazer da sociedade
política ou o Estado obra da Razão Lima Vaz trás essa denúncia sobre a depravação do
místico em ideologização vazia, algo muito parecido com o verificado hoje no Brasil; o
especulativo foi mistérico e hoje podemos dizer que é profético, mais traduz a realidade
ipsis litteris do que aparenta enquanto devaneio. Para o filósofo mineiro o fim nefasto se
dará pela dominação da vita activa em face da vita contemplativa; a isso será o assinalar
definitivo do advento da pós-modernidade.
Fazendo um paralelo a isso, e consolidando a profeticidade de Vaz, existe uma
inserção diferente do cristianismo na modernidade por meio da sacralização do
consumo e da intervenção midiática. Lembrando que a regulamentação, as conceções de
direito de exploração de mídias televisivas e de rádio, bem como a regulamentação
jurídica e a institucionalização de datas comemorativas na agenda nacional se deu no
governo do ex-presidente lula ainda no seu primeiro mandato.
Ricardo Mariano em uma contribuição sobre a Mudança do Campo Religioso
Brasileiro no Censo 2010 explica que a constatada mudança na distribuição religiosa
brasileira, e a crescente neopentecostal, principalmente “podem estar contribuindo para
seu avanço, entre as quais: a massiva difusão do individualismo, responsável aqui e
alhures pelo paulatino desmanche dos coletivos sociais, contribuindo com o que Vaz diz
em sua Antropologia filosófica ainda no século XX, bem como a contribuição do
mesmo sobre a ideologização do místico. É claro e manifesto que isso é o verificado
hoje no Brasil. Contribuindo para isso podemos colocar, corroborando com Mariano,
que a categoria: evangélico não determinado é a mais expressiva já no censo de 2010 e
isso nos fornece a possibilidade de, mais uma vez denunciar a “desmediação”;,
novamente, anunciada na profética vaziana.
O contraste mais alarmante talvez esteja na oposição de Durkheim trazida por
Mariano que afirma não existir “igreja mágica”, o completo e diametral oposto ao que
prega a construção de toda a tradição ocidental. Mas as diferenças e divergências entre
as culturas ocidentais e extremo ocidentais são bastante claras para nós.
Também temos Mendonça trazendo uma análise profunda e profícua sobre a
importância da adoção de antigos processos “mágicos-religiosos”, e nos permite fazer a
conexão sobre a apropriação que igrejas neopentecostais fazem para atingir os fins que
lhes parece o conveniente, onde a acumulação primitiva de capital é posta como
secundária, ainda que nunca sejam adicionadas cifras negativas e ao contrário, sempre
são crescentes. Esse tipo de ritualística parece ter um norte, como dito bem divergente
do que Vaz defende. Para Mendonça essas designações protestantes se afastaram de
toda a origem do protestantismo e hoje exercem um tipo de religião do espetáculo, e
para nós é possível a esta ideia acrescentar que Guy Debord traz com a “Sociedade do
Espetáculo”. Parece que praticamente tudo é lícito para que se atinja e possibilite que o
rebanho cresça, inclusive a dessacralização da própria religião. “Ao contrário das
previsões positivistas, a religião continua a desempenhar um papel ativo na sociedade”
(MENDONÇA, 2008. p. 227). É claro para Mendonça, utilizando Cunha e Dorneles que
além da fina convergência para se adotar a prosperidade pessoal existe uma guerra
espiritual em vigência. Sobre isso é importante destacarmos a forte influência externa à
cultura brasileira que essas religiões cultuam, sem esquecermos que as próprias religiões
são uma cisão (irreconciliada) com a religião nossa (o catolicismo) e o eixo cultural na
qual o Padre Vaz se arvora; bem como a tradição ocidental.
Outra contribuição que fica claro a diferença entre os eixos culturais, ainda que
o mais recente seja uma província rebelde da nossa tradição, é o fato de a eleição do
melhor está imbricada ao que aufere o maior sucesso, e aqui sucesso é diretamente
sucesso econômico. Tão diferente que são eles declaram guerras em seus escritos e
cultos.

3. Conclusão

Entendido dois pontos fundamentais podemos tentar cometer ilações o


primeiro é que existe uma guerra, que talvez possa ter sido declarada lá em Lutero, mas
que das 95 teses já tenha se afastado muito. A província rebelde, extremo ocidental está
declaradamente em guerra. As eleições últimas brasileiras demonstram como isso se dá
– difícil acreditar que é atoa a escolha do maior país católico americano para se impor
essa guerra cultural que já passa de meio século, e não tem como precursores seus
originários europeus, são protestantes estadunidenses, também do novo mundo que vem
para cá até mesmo antes da década de 1970 realizar o proselitismo religioso que hoje
talvez se encontre no seu apogeu.
Essa guerra tende a se colocar através dos vários tipos de Estado que temos
configurados hoje no mundo, isso sem incluirmos os estados russo e chines quem em
outra cultura se alicerçam. Talvez Huntington estivesse certo quanto ao choque de
civilizações, só não o imaginasse tão próximo. Parece essa a provação maior para o
Estado, que cada vez se mostra mais necessário e mais o melhor caminho possível para
Poder Liberdade e Democracia; o que nos resta esperar é se com o modelo
desmitificado ao extremo, em prol de outros institutos como o mercado, permitirá que o
caminhar de deus sobre a terra siga seu designo – ainda sim sabemos que é irrefreável o
curso da História, e contra o Destino manifesto do poder Absoluto ninguém pode.
4. Referências Bibliográficas:

DE LIMA VAZ, Henrique C. Experiência mística e filosofia na tradição ocidental.


Edicoes Loyola, 2000.
DE LIMA VAZ, Henrique C. Antropologia filosófica. Edições Loyola, 1991.
DE SOUZA MENDONÇA, Joêzer. O evangelho segundo o gospel: mídia, música pop e
neopentecostalismo. Revista do Conservatório de Música, n. 1, 2008.
MARIANO, Ricardo. Mudanças no campo religioso brasileiro no Censo 2010. Debates
do NER, v. 2, n. 24, p. 119-137, 2013.

Miranda
Renon
Renon

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61338823 - https://biblio.direito.ufmg.br/?
p=3585

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