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Interactividade: A grande promessa do Jornalismo

Online
Elisabete Barbosa
Universidade do Minho

Índice no jornal, faremos referência ao que nos en-


viar”, terminava o director da Siconline, José
1 Introdução 1 Alberto Carvalho.
2 O Jornalismo Online 2
3 As Vantagens da Versão Online 4 Não é fácil, por enquanto, prever qual será
4 A Interactividade: a Grande Promessa o papel da Internet no futuro do jornalismo,
do Jornalismo Online 5 ou mesmo qual será a evolução do jorna-
5 A Análise de Jornais 6 lismo online1 . Os estudiosos dividem-se e
5.1 “Expresso” . . . . . . . . . . . 7 apresentam diferentes perspectivas do que
5.2 “Público” . . . . . . . . . . . . 7 está para vir. Por um lado, defende-se que o
5.3 “El País” . . . . . . . . . . . . . 8 jornalismo online terá práticas e característi-
5.4 “Washington Post” . . . . . . . 8 cas semelhantes às actuais, apenas utilizará
6 Conclusão 9 um meio diferente para a difusão da mensa-
7 Bibliografia 10 gem, um meio que tem a vantagem de conju-
gar texto, imagem e som numa só estrutura e
que está ao alcance de todos, em qualquer lu-
gar do mundo, à distância de um clique. Em
oposição, estão os estudiosos que vêem na
1 Introdução Internet o fim do jornalismo. Não sendo ne-
No “Jornal da Noite” da SIC (estação de te- cessário um mediador que seleccione e apre-
levisão portuguesa privada), no dia em que sente as notícias, uma vez que todos podem
foi apresentado o site da estação (Siconline), aceder às mesmas fontes de informação que
o director do Siconline aparecia em directo, os jornalistas, estes deixarão de ter um papel
junto a um computador, para explicar as po- relevante na sociedade e seremos, ao mesmo
tencialidades do novo meio. “As notícias es-
tão sempre actualizadas na Internet, e qual-
1
quer pessoa pode ver e participar”. Através Neste trabalho utiliza-se a expressão jornalismo
online para caracterizar os trabalhos jornalísticos dis-
da Internet, dizia ainda o director, é possí- ponibilizados na Internet, em sites de órgãos de comu-
vel a qualquer pessoa enviar comentários ou nicação social, sejam exclusivamente online ou ver-
até mesmo notícias. “Quem sabe, amanhã, sões de outros formatos.
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tempo, produtores e consumidores de con- lações interactivas com os jornalistas e edi-


teúdos. tores dos jornais.
O futuro do jornalismo, apesar de ser di-
fícil de prever, deverá estar num espaço in- 2 O Jornalismo Online
termédio entre as duas versões apresentadas
anteriormente. A Internet não representará o A Internet veio revolucionar o jornalismo e
fim do jornalismo e dos jornalistas, mas vai, a forma como trabalham os jornalistas. A
certamente, modificar muitas das práticas ac- afirmação é muitas vezes repetida, mas ainda
tuais nas redacções (mesmo nas de meios não estão devidamente analisadas e explica-
de comunicação online). A deontologia e o das todas as influências e mudanças introdu-
profissionalismo dos jornalistas continuarão zidas pelo novo meio. “Pela primeira vez,
a ser os mesmos; a forma como se investiga num só meio, juntam-se o texto, o som e a
e constrói uma notícia terá semelhanças com imagem”, defendeu, numa conferência em
o que se realiza hoje; a apresentação será di- Braga, Ignacio Ramonet. Em relação aos
ferente e os profissionais do sector terão que meios utilizados anteriormente esta será, cer-
se adaptar às novas tecnologias. tamente, uma vantagem dado que nem a im-
prensa, a rádio ou a televisão o poderiam fa-
Actualmente uma das grandes vantagens zer.
do jornalismo online (ou pelo menos assim é Pode ainda apontar-se um outro proveito
apresentada) é a possibilidade de existir inte- que pode ser retirado da Internet e que ne-
ractividade entre quem escreve e quem lê as nhum meio de comunicação tradicional2 lo-
notícias. A Internet é um meio de comuni- grara ainda atingir: o alcance planetário. É
cação que permite a troca rápida, por vezes sabido que, em muito países, a Internet ainda
imediata, de mensagens entre pessoas que é um bem de luxo, com acesso limitado a
estão nos mais distantes lugares do mundo. poucos indivíduos, mas teoricamente é pos-
O correio electrónico também é uma ferra- sível, com facilidade, a troca de informação
menta que facilita o contacto. O novo meio entre duas ou mais pessoas, localizadas nos
veio potenciar o contacto entre os jornais e mais longínquos lugares, desde que tenham
jornalistas e os seus públicos. acesso a um computador com modem e uma
O objectivo do presente trabalho é anali- linha telefónica. Tudo isto em tempo real.
sar como é estabelecida a interactividade en- A Internet “quebra as fronteiras clássicas
tre os jornalistas e os seus leitores, e como entre os estados e as cidades, pode afirmar-
alguns jornais impressos, que possuem ver- se que é o novo espaço cultural em que ca-
sões online, procuram explorar essa interac- bem a produção, o trabalho, o comércio, a
tividade. Não será objecto deste estudo sa- política, a ciência, as comunicações e a in-
ber os motivos e satisfações de cada um dos formação.” (Edo, 2000) Acarretando enor-
lados, antes observar os sites de quatro jor- mes mudanças para a sociedade e modifi-
nais – “Expresso”, “Público”, “El País” e 2
Entende-se por comunicação social ou jorna-
“Washington Post” - e verificar as ferramen- lismo tradicional o trabalho jornalístico realizado para
tas que cada um disponibiliza no site e que ser difundido num ou mais suportes que não a Internet
permitirão aos leitores estabelecer, então, re- (rádio, televisão e imprensa).

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cando a forma como se comunica, trouxe tão limitados à apresentação linear, informa-
também irreversíveis alterações para o jorna- ção oferecida numa determinada ordem que
lismo. “Ainda que com proporções incom- o utilizador não pode controlar excepto se
paravelmente maiores e com um horizonte mudar para outra notícia ou virar a página.”
mais alargado se pensarmos no futuro” a In- (Rich, 1999, p.66) O mesmo acontece com
ternet é “um fenómeno semelhante ao que se a televisão e a rádio. No entanto, o jorna-
produziu com a chegada da imprensa, do te- lismo online tem outras características. “A
lefone, do cinema, da rádio ou da televisão.” informação pode ser apresentada de forma
(Edo, 2000) não linear com links e não exige que o uti-
O novo meio não virá alterar, de forma ra- lizador siga uma sequência pré-ordenada.”
dical, o jornalismo praticado até agora. Con- (Rich, 1999, p.66) O jornalista terá que es-
tudo, também não é recomendável utilizar na crever de forma não linear quando escreve
Internet e no jornalismo online todos os mé- um texto para ser publicado na Internet, prin-
todos e práticas do jornalismo tradicional. É cipalmente quando se trata de um texto ex-
certo, para já, que a Internet alterou o funci- tenso. A leitura no computador é cansativa
onamento das redacções. Os jornalistas uti- e os utilizadores não gostam de ler gran-
lizam o novo meio para a pesquisa de infor- des conjuntos de texto. Por isso, as notícias
mação, complementar ou não, com que vão mais extensas devem utilizar links ou hiper-
construir a notícia. “O número de jornalis- ligações3 . “Os jornalistas online não devem
tas que utilizam a Internet para a pesquisa de simplesmente publicar na Web artigos escri-
informação tem aumentado de forma acen- tos para jornal sem os editarem, o que sig-
tuada.” (Bastos, 2000, p.73) A constatação nifica encurtar o artigo ou dividi-lo em sec-
de que os jornalistas usam a rede para a pro- ções.”(Kopper et alt. 2000) Será o leitor a
cura de dados é complementada pelo facto decidir as partes do texto que quer ler sem ter
dos computadores serem, hoje em dia, ferra- que seguir a ordem linear. Esta prática pres-
mentas indispensáveis nas redacções. Com o supõe uma nova forma de escrever e deve
aumento dos conhecimentos sobre a utiliza- os jornalistas a investigarem a melhor forma
ção das novas ferramentas, o acesso às infor- de estruturação de textos online para permiti-
mações fica facilitado. “Muitos jornais re- rem ao utilizador uma boa e profícua leitura.
correm agora à pesquisa no ciberespaço para São estas duas grande alterações – a uti-
simplesmente se inteirarem do que mais foi lização da Internet para investigação e a es-
escrito sobre o assunto a tratar, além de utili- crita não linear – que vão, em conjunto com
zarem rotineiramente a pesquisa online para a possibilidade de se juntar som e vídeo ao
a verificação de factos e detecção de especia- texto, alterar a forma como o jornalismo é
listas para as estórias em progressão.” (Bas-
tos, 2000, p.74) 3
Links ou hiperligações são usados em textos para
Por outro lado, a Internet enquanto espaço ligar, mediante um click, a outro documento ou parte
de publicação jornalística implica também de documento que inclui parcelas de texto relaciona-
das. Os links estão normalmente em cor diferente da
mudanças na forma como os jornalistas re- do texto e sublinhados. Também são usados para mu-
alizam o seu trabalho, quando este se des- dar de uma página do site para outra diferente, ou pas-
tina a publicações online. “Os jornais es- sar de uma parte da mesma página para outra.

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produzido quando se fala em publicações on- edições, basta digitar uma palavra chave para
line. Consequentemente, os jornalistas te- ter acesso à informação desejada.
rão que aprender a utilizar novas ferramentas Uma das mais propaladas vantagens da In-
para poderem construir as notícias4 . ternet é a interactividade permitida pelo novo
meio e que, dizem alguns estudiosos, po-
derá ser o grande trunfo do jornalismo on-
3 As Vantagens da Versão Online line. Muitos órgãos de comunicação social
Inicialmente, alguns dos grandes jornais co- disponíveis na rede facilitam diversas ferra-
meçaram por apresentar online cópias das mentas que estimulam a interactividade entre
edições impressas, assim disponíveis para os leitores e os jornalistas e mesmo entre di-
um maior número de pessoas e num espaço ferentes leitores. É o caso dos fóruns e dos
geográfico mais alargado. As rádios e tele- chats5 onde se pretende que os utilizadores
visões seguiram o mesmo percurso, dispo- divulguem a opinião que têm sobre diferen-
nibilizando na Internet versões escritas das tes assuntos, na maior parte dos casos, temas
notícias e informações difundidas nas suas da actualidade. Muitos jornais realizam tam-
emissões. Depois, surgiram os espaços ex- bém diversas sondagens de opinião para aus-
clusivamente online. Primeiro os jornais (em cultarem o que os seus leitores pensam so-
Portugal os mais conhecidos são o Diário Di- bre diversos temas. Neste caso, os resulta-
gital e o Portugal Diário, este último inserido dos obtidos servem apenas como indicação,
no portal IOL que aglomera sites de outros uma vez que aspectos importantes neste tipo
meios de comunicação social como televi- de consulta não são tidos em conta, como é o
são, jornais, rádios e revistas) depois as rá- caso da escolha da amostra e ainda a possibi-
dios e as televisões. lidade de uma mesma pessoa ou grupo vota-
Numa segunda fase, os órgãos de comuni- rem repetidamente para influenciarem o re-
cação social tradicionais optaram por incluir sultado final.
nos seus sites, além do conteúdo já produ- O correio electrónico também é uma fer-
zido, outros serviços disponíveis apenas na ramenta utilizada pelos órgãos de comuni-
versão online. Alguns jornais impressos for- cação social presentes na rede. Neste caso,
necem não só texto e fotografias, mas tam- distinguem-se dois tipos de utilização: o
bém vídeos e sons que complementam as no- acesso aos jornalistas e o envio de notícias
tícias. O facto das edições anteriores esta- para os leitores. Esta última começa a ser co-
rem disponíveis e ligadas a motores de pes- mum nos grandes órgãos de comunicação so-
quisa é também uma mais valia dos órgãos cial. Aos utilizadores é dada a possibilidade
de comunicação online. Não é necessário de escolherem entre um conjunto de temas
percorrer as diferentes páginas de todas as possíveis aqueles que mais lhe interessam e
recebem, comodamente, na sua caixa de cor-
4
Os jornalistas online deverão saber utilizar fer-
5
ramentas informáticas como editores de imagem e Discussões online realizadas através de mensa-
som e, ao mesmo tempo, saber navegar na Internet de gens escritas trocadas entre dois ou mais participan-
forma a obter os dados mais relevantes para a edição tes, em tempo real, ou seja os participantes vão lendo
das notícias. A utilização do computador já é, parece- as mensagens logo que estas são escritas e podem res-
nos, acessível a grande parte dos profissionais. ponder imediatamente.

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reio electrónica, os títulos e, por vezes, um tes uma vez que, ao contrário do que sucedia
pequeno resumo das notícias dos dia. As- anteriormente, o acesso do público aos jor-
sociado a cada notícia está um link que di- nalistas parece ser cada vez mais facilitado.
rige o leitor para a página do jornal (ou rá- “A possibilidade de interacção directa com o
dio, televisão, revista, etc.) onde terá acesso produtor de notícias ou opinião é um trunfo
à notícia completa, se estiver interessado. A forte a explorar pelo webjornalismo6 .” (Ca-
desvantagem deste serviço é o facto dos seus navilhas, 2001) A interactividade entre jor-
utilizadores apenas acederem a parte do con- nalistas e leitores, possível com a tecnolo-
teúdo informativo. Tem a facilidade de ser gia disponível, parece ser, simultaneamente,
mais rápido e cómodo. Ainda sobre o cor- uma das grandes vantagens e um dos grande
reio electrónico, e como já foi referido an- perigos do jornalismo online. Enquanto al-
teriormente, trata-se de uma boa ferramenta guns autores (e mesmo alguns jornalistas)
de comunicação entre o leitor e o jornalista, vêm nesta característica a possibilidade de
relacionamento que é, de resto, o mais men- perceber o que pensa o público, denota-se,
cionado exemplo das vantagens da interacti- quer da parte de alguns jornais, quer de al-
vidade. Em muitos sites, a notícia assinada é guns jornalistas um certo receio pelo futuro.
acompanhada pelo endereço de correio elec- “Interactividade é uma das características
trónico do seu autor para que os leitores pos- mais proeminentes que distingue os media
sam corresponder-se com o jornalista. Nou- online dos media tradicionais. A tecnolo-
tros casos, a ficha técnica do jornal é com- gia da Internet permite uma verdadeira co-
posta pelo nome dos seus trabalhadores (se- municação bi-direccional, utilizando o cor-
jam jornalistas ou não) e, novamente, pelo reio electrónico e os fóruns de discussão
endereço de correio electrónico de cada um. como meios de interligação na comunicação
É ainda indispensável mencionar a persona- de massas ou na comunicação interpessoal
lização dos sites noticiosos. À semelhança em pequena escala.”(Kopper et alt, 2000) Na
do que é feito com o correio electrónico o lei- verdade, a Internet permite não só a comuni-
tor pode escolher de entre os assuntos possí- cação, em tempo real, entre um jornalista e
veis aqueles que lhe merecem mais interesse um leitor como entre grupos de jornalistas e
e, após o registo, sempre que acedem a uma leitores.
página de abertura personalizada, isto é, ape- Hoje em dia, “a maioria dos jornalistas e
nas com notícias sobre os temas escolhidos editores não podem contentar-se em publi-
previamente. car as notícias. Em vez disso, o processo
está a torna-se cada vez mais um diálogo en-
4 A Interactividade: a Grande 6
Assim define João Canavilhas o que outros au-
Promessa do Jornalismo tores chamam de jornalismo online ou digital. No en-
tanto, este autor considera que o webjornalismo não
Online é a mera transposição de notícias de outros meios
para a Internet mas antes a utilização de “todas as po-
“A máxima nós escrevemos, vocês lêem per- tencialidades que a Internet oferece, oferecendo um
tence ao passado.” (Canavilhas, 2001) A In- produto completamente novo: a webnotícia” (Cana-
ternet veio possibilitar afirmações semelhan- vilhas, 2000)

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tre a imprensa e o público” (Pavlik, 2000) tica intrínseca ao funcionamento das redac-
A participação do público na construção da ções (salvo nas que foram feitas apenas para
notícia, seja através da sugestão de temas de trabalharem em versões online), mas já co-
reportagem, ou de informações sobre deter- meça a estabelecer-se como rotina em alguns
minado assunto que o público faz chegar aos casos. No futuro, os media poderão criar ou-
jornalistas, é cada vez mais fácil e também tras formas de interactividade. “Por exem-
mais frequente. Frequentemente, no jorna- plo, os jornais podem publicar na sua versão
lismo online, logo que a notícia é publicada, impressa excertos de fóruns de discussão, or-
o leitor pode apresentar os seus comentários ganizar debates entre os seus trabalhadores e
seja sobre o assunto alvo de notícia, ou o pró- leitores e promover a publicação de notícias
prio trabalho dos jornalistas. “A notícia deve resultantes da cooperação entre leitores e jor-
ser encarada como o princípio de algo e não nalistas.”(Schultz, 1999)
um fim em si própria.” (Canavilhas, 2000) A interactividade não será, certamente, a
A interactividade, enquanto possibilidade única diferença entre o jornalismo tradicio-
de intercomunicação entre o jornalista e o nal e o jornalismo online. No entanto, é vista
seu leitor, é muitas vezes fomentada pela di- como uma ferramenta fundamental na cria-
recção dos órgãos de comunicação social. ção de novos públicos, nomeadamente entre
Em muitos destes casos, “membros do pú- as camadas mais jovens, onde os leitores já
blico participaram em várias discussões on- não são apenas espectadores, mas também
line com repórteres e editores para debater participantes no processo de formação de no-
e discutir a cobertura de importantes even- tícias, o que poderá reforçar a capacidade de
tos.” (Pavlik, 2000) No entanto, a interactivi- intervenção de alguns cidadãos. É um ce-
dade requer “uma sequência de mensagens, nário optimista, que não chegará a todos os
isto é, uma cadeia de mensagens relaciona- lugares do planeta com a mesma brevidade,
das.” (Schultz, 1999) É necessário distin- mas que poderá ser uma realidade em muitos
guir entre a reacção do público a determi- países e comunidades. Ao mesmo tempo, o
nadas notícias e a interactividade, onde se contacto com os jornalistas contribuirá para
pressupõe que haja um contacto mais alar- a fidelização do público, o objectivo máximo
gado entre o jornalista e os seus leitores e de qualquer empresa de comunicação social.
entre o público e os profissionais da comuni-
cação social. “Nem toda a comunicação me-
5 A Análise de Jornais
diada pela Internet é interactiva.” (Schultz,
1999) Ou seja, a simples divulgação dos en- O objectivo deste trabalho não é analisar se
dereços de correio electrónico dos jornalistas a interactividade está presente no relaciona-
pode não conduzir à interactividade, porque mento entre leitores e jornalistas de sites de
esta depende do estabelecimento de um con- órgãos de comunicação social. O que se pre-
tacto entre os dois lados: os jornalistas e os tende é examinar as ferramentas disponíveis
leitores. e como são apresentadas ao leitor. A escolha
Um largo número de sites jornalísticos dos sites a estudar não é totalmente aleató-
disponibilizam ferramentas que podem fo- ria, mas não obedece a regras rígidas. Uma
mentar a interactividade. Não será uma prá- regra para a escolha é que o site pertença a

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um jornal impresso. Foram escolhidos qua- Existe ainda uma secção para comentários
tro jornais, dois portugueses – Expresso e gerais onde são publicados textos que não es-
Público; um Espanhol– El País; e um dos Es- tão relacionados com notícias específicas. O
tados Unidos da América – Washington Post. jornal disponibiliza, além das crónicas dos
Na análise serão tidas em conta a apre- jornalistas, textos de políticos e figuras co-
sentação de endereços de correio electrónico nhecidas que, depois, podem também ser co-
(junto da notícia ou na ficha técnica), a pro- mentados pelos leitores. No que concerne
moção de fóruns de discussão quer estejam ao correio electrónico, os endereços dos jor-
relacionados com uma notícia específica ou nalistas não são divulgados, apenas existem
com temas da actualidade, a possibilidade de os endereços de correio electrónico gerais.
personalizar o site e receber as notícias por Muitos dos artigos nem são assinados. Não é
correio electrónico. Será ainda considerada também possível personalizar a primeira pá-
a promoção dessas ferramentas interactivas gina do site nem receber os títulos por cor-
e uma breve introdução sobre o site. reio electrónico.

5.1 “Expresso” 5.2 “Público”


O site do jornal “Expresso” não apresenta O site do “Público” tem as características de
apenas a versão impressa, disponível nas um portal, uma vez que reúne diversas uti-
bancas ao Sábado. Apesar de ser um sema- lidades além da edição impressa do jornal
nário, o jornal vai actualizando as notícias e da actualização diária de conteúdos. Dis-
ao longo da semana. Depois de um período ponibiliza alguns dossiers com o tratamento
em que era dada relevância à actualização, o alargado de diversos temas, além de informa-
site está actualmente mais vocacionado para ções sobre cinema, meteorologia, televisão,
a opinião, apresentando um número alargado espectáculos, entre outras utilidades.
de cronistas e aberto à participação dos leito- Relacionado com a interactividade o site
res. organiza uma iniciativa intitulada “Ecosfera”
No final de cada notícia é dada ao lei- onde, no âmbito do projecto “Limpar o
tor a possibilidade de a comentar. Muitas mundo, Limpar Portugal”, os leitores po-
vezes, dependendo do assunto noticiado, o dem participar enviando textos sobre activi-
interesse despertado junto do público é ele- dades realizadas, divulgar iniciativas, apre-
vado e os comentários transformam-se num sentar sugestões, etc.
fórum, dado que se estabelece um relacio- Estão online diversos fóruns, mas o acesso
namento entre diferentes participantes. Para a estes não é muito facilitado, ou seja, não
enviar comentário o procedimento é simples. será simples para um utilizador comum che-
Basta escolher um nome e inserir o comen- gar à página onde estes estão publicados,
tário. Em alguns casos, o mesmo leitor parti- porque não existe nenhum link directo. Al-
cipa em fóruns diferentes e é possível, anali- guns destes fóruns são moderados7 . O soft-
sando os diferentes comentários ao longo de 7
Existe um responsável por seleccionar, entre to-
dias, encontrar leitores que participam habi- das as mensagens recebidas as que serão publicadas
tualmente nas discussões. ou não. Em alguns casos o moderador serve apenas

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ware utilizado pelos fóruns é, no entanto, Os temas para os fóruns são escolhidos de
simples. entre os assuntos da actualidade, sejam naci-
Os endereços de correio electrónico dos onais ou internacionais. Também neste caso
jornalistas e editores é disponibilizado na fi- o “El País” escolheu utilizar moderadores.
cha técnica do jornal, separando os jornalis- Para aceder aos fóruns o leitor deve partir da
tas do “Público.pt” (a edição exclusivamente secção “Participación”.
online) dos do “Público” (versão impressa). No site do jornal encontra-se uma secção
No entanto, no serviço “Última Hora”, feito intitulada “Cartas” onde os leitores podem
pela redacção do “Público.pt” os jornalistas escrever e publicar textos sobre determina-
não assinam os textos. dos assuntos, escolhidos pelo jornal como te-
O “Público” realiza também inquéritos de mas de debate. Os leitores devem preencher
opinião no seu site, versando temas da actu- um formulário para enviarem as cartas, in-
alidade. cluindo nome e contacto, condição necessá-
ria para que os textos sejam publicados. Os
chats disponibilizados não obedecem a te-
5.3 “El País”
mas da actualidade.
O “El País” promove também um serviço de No final de cada notícia o leitor é convi-
última hora, além da edição impressa. Com- dado a analisar o interesse que esta lhe des-
plementa a informação diária com diversos pertou e são disponibilizadas estatísticas so-
dossiers sobre temas da actualidade apresen- bre a mesma (nome do autor, número de vi-
tando desenvolvidamente o assunto. Na sec- sitas, de impressões e de recomendações).
ção “Participacion” estão os chats, fóruns Há ainda a facilidade dos leitores recebe-
e entrevistas digitais, que o jornal promove rem os títulos dos jornais por correio elec-
com personalidades diversas, e sondagens. trónico ou no telemóvel. Além disso, no site
As entrevistas digitais são marcadas anteci- do “El Pais” estão acessíveis serviços como
padamente, divulgadas e, no site do jornal, busca de informação e informações sobre la-
encontra-se informação diversa sobre o en- zer, cultura, etc.
trevistado. Os leitores interessados em parti- As notícias são assinadas, mas não são
cipar acedem ao site na hora marcada e, com divulgados os endereços de correio electró-
a ajuda de um moderador que selecciona as nico dos jornalistas, isto é, apenas é possível
questões (para evitar repetições e controlar o enviar mensagens para as caixas de correio
tempo), podem colocar perguntas ao entre- das secções (política, internacional, etc.) e
vistado, que responde no imediato. O mo- para cartas ao director e provedor dos leito-
derador evita também a apresentação de per- res, porque são os endereços disponíveis.
guntas ou comentários insultuosos. As entre-
vistas já realizadas ficam disponíveis online
para futuras consultas. 5.4 “Washington Post”
Os americanos foram os primeiros a utilizar
para orientar a discussão, mas noutros tem um papel
regulador, ou seja, impede que sejam introduzidos na a Internet de forma mais generalizada e têm
discussão temas ou comentários que podem insultar sido pioneiros em grande parte das inovações
os outros participantes e leitores. apresentadas. No jornalismo também se de-

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nota algum avanço, mas os restantes países, do site estão disponibilizado numa página
nomeadamente os Europeus, têm alcançado chamada “Staff”. Os nomes dos jornalistas
um patamar de evolução semelhante. aparecem por ordem alfabética, seguidos de
O “Washington Post” reúne todas as fer- uma explicação com as tarefas desempenha-
ramentas de interactividade utilizadas actu- das por cada um e a secção do jornal em que
almente. Além disso, ainda apresenta outras trabalha.
utilidades não muito comuns nos jornais on-
line. São exemplo os vídeos, gráficos, fo-
6 Conclusão
tografias em flash8 (junta num único espaço
várias fotografias e que vão aparecendo alter- A interactividade parece ser uma das carac-
nadamente) complementando assim as notí- terísticas do jornalismo online que poderá
cias. No caso de trabalhos de reportagem acarretar vantagens para o leitor e para os
mais alargados, o jornal junta na mesma pá- jornalistas. Apesar de ainda estar numa fase
gina links para arquivos de imagens, sons e inicial, e pouco aproveitada por alguns dos
textos produzidos pelos jornalistas durante a jornais online, este tipo de utilidades fo-
reportagem, não incluídos na notícia; infor- menta o contacto entre os dois mundos, até
mações sobres os intervenientes; notícias re- aqui separados. Se é certo que os jornalistas
lacionadas. sempre influenciaram, de alguma forma, os
Quanto à interactividade, o site do jornal seus leitores, é possível que agora os leitores
americano permite a personalização da pri- influenciem os jornalistas, dando-lhe a co-
meira página, promove fóruns sobre as no- nhecer novas perspectivas sobre determina-
tícias do dia, aos quais se pode aceder atra- dos assuntos, fornecendo-lhes informações,
vés da notícia, onde existe um link a pedir sugerindo temas de notícias e reportagens.
a opinião do leitor, ou através da página dos As fontes dos jornalistas tornam-se, assim,
fóruns, escolhendo entre os vários temas dis- diversificadas.
poníveis o que mais interessa. Os fóruns são O trabalho dos jornalistas não sofrerá al-
moderados. terações substanciais mas estará mais perto
Diariamente é possível participar em chats do público. Ao mesmo tempo os cidadãos
online com diversas personalidades. À se- interessados (nem todos vão participar acti-
melhança do “El Pais”, estas conversas (o vamente) terão novos meios de participação
jornal não utiliza a palavra chats porque, di- cívica, e podem fazer-se ouvir mais facil-
zem os responsáveis, tem uma conotação ne- mente. Neste momento, poucos são os jor-
gativa para algumas pessoas, preferindo a ex- nais que exploram a totalidade dos recursos
pressão “Live Online”) são moderadas e os disponíveis para fomentar a interactividade.
leitores podem trocar ideias em tempo real Muitos, no entanto, estão conscientes de que
com os seus interlocutores. Os endereços de devem realizar esforços nesse sentido, o que,
correio electrónico dos jornalistas e editores no entanto, representa, muitas vezes, um in-
8
vestimento a nível de pessoal para gerir fó-
Linguagem de programação informática muito
utilizada na criação de páginas para a Internet, porque runs, ou um acréscimo no trabalho dos jor-
permite a introdução de animações gráficas, além de nalistas que terão de ler e analisar as mensa-
outras potencialidades ao nível do design. gens de correio electrónico que recebem.

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No futuro, com a evolução natural do jor- Continuing Research and Major Ques-
nalismo online, deverá ser necessário im- tions in the International Discussion”
plementar todas as possibilidades existentes Journalism Studies, vol. 1, no 3, pp.
agora e fomentar novas ferramentas e activi- 499-512.
dades interactivas.
Ao mesmo tempo, a interactividade não PAVLIK, John, (2000) “The Impact of Tech-
será a única característica do jornalismo on- nology on Journalism ” Journalism Stu-
line a sofrer uma evolução. A convergência dies, vol. 1, no 2, pp. 229-237.
de texto, som e imagem vai continuar a fazer- RICH, Carole, (1999) Creating Online Me-
se sentir. Os jornalistas terão que se adaptar dia: a Guide to Research, Writing and
a novas tecnologias. Os arquivos dos jornais Designing on the Internet, McGraw-
e os serviços de documentação também se- Hill College, Boston.
rão factores decisivos na evolução deste tipo
de jornalismo, uma vez que serão utilizados SCHULTZ, Tanjev, (1999) “Interactive Op-
para complementar as notícias e reportagens tions in Online Journalism: A Con-
e estarão ao alcance de um clique para quem tent analysis of 100 U.S. Newspa-
quiser ler pela primeira vez ou reler. pers”, Journal of Computer Media-
ted Communication, vol. 5, no 1
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