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OBJETIVA
Professora: Raquel Domingues do Amaral
FIDES E A MITOLOGIA
Fides, A Deusa Romana da Palavra.
Fides é a Deusa Romana da Palavra e do Destino.
Também considerada Deusa da Fé e da Lealdade.
Fides personificava a base da comunidade
humana. Sem a sua influência, duas pessoas não
podiam confiar o suficiente para cooperarem.
Era a guardiã da integridade e honestidade nos
empreendimentos e transações entre indivíduos
ou grupos.
http://witchblue2009.blogspot.com.br/2011/10/fe
stival-de-fides.html
Boa-fé primitiva
Fides Sacra - Lei das XII tábuas, previa
pena religiosa para o patrão que
defraudasse a fides do cliente.
Fides Fato: não tinha conotação moral
ou religiosa. Está ligada a noção de
garantia.
Fides Ética: Ganha conotação moral.
Essa Fides é mais que um fato, tem um
sentido de dever.
(Antônio Manuel da Rocha e Menezes
Cordeiro – Boa Fé no Direito Civil.
Coimbra: Almedina, 1997, p. 55)
A Boa-fé no Direito Clássico (Greco-
Romano)
No Direito Romano, a palavra “fides”, conforme Emilio Betti:
“[...] expressa uma qualidade objetiva que se atribui àquilo em que se
pode confiar”. “Representa uma segura confiança. Que é digno de fé,
exemplo: um documento autêntico, um testemunho”.
Betti, modernamente, observa que: “[...] há um novo sentido de fides,
bona fides (...)”
“É especialmente fidelidade e compromisso de cooperação”. Bona
fides exige: lealdade e probidade - o mínimo ético - tanto nas relações
contratuais como nas possessórias.
Boa-fé subjetiva # Boa-Fé objetiva
Boa-fé subjetiva: A boa-fé subjetiva está inserida no campo da intenção
do sujeito da relação jurídica. Aqui analisa-se dados internos, o estado
psicológicos, pertinente ao sujeito. Trata-se de situação em que o sujeito
ignora o caráter ilícito de seu ato, de modo que a boa-fé subjetiva é uma
crença ou uma ignorância.
Boa-fé objetiva: estabelece regras de conduta, que prescrevem um
comportamento fundado na lealdade, a ser observado por todos, que
devem considerar as expectativas geradas por terceiro. Aqui há um dever
de agir de acordo com determinados padrões sociais estabelecidos e
reconhecidos. Modelo ético de conduta social. A boa-fé objetiva é fonte
de obrigação.
BOA-FÉ SUBJETIVA E OBJETIVA NA JURISPRUDÊNCIA DO
STJ -REsp 1143216 / RS RECURSO ESPECIAL 2009/0106075-0 –
LUIZ FUX
11. Destarte, a existência de interesse do próprio Estado no
parcelamento fiscal (conteúdo teleológico da aludida causa suspensiva
de exigibilidade do crédito tributário) acrescida da boa-fé do
contribuinte que, malgrado a intempestividade da desistência da
impugnação administrativa, efetuou, oportunamente, o pagamento de
todas as prestações mensais estabelecidas, por mais de quatro anos (de
28.08.2003 a 31.10.2007), sem qualquer oposição do Fisco, caracteriza
comportamento contraditório perpetrado pela Fazenda Pública, o que
conspira contra o princípio da razoabilidade, máxime em virtude da
ausência de prejuízo aos cofres públicos.
BOA-FÉ SUBJETIVA E OBJETIVA NA JURISPRUDÊNCIA DO
STJ -REsp 1143216 / RS RECURSO ESPECIAL 2009/0106075-0 –
LUIZ FUX
12. Deveras, o princípio da confiança decorre da cláusula geral de boa-fé
objetiva, dever geral de lealdade e confiança recíproca entre as partes, sendo
certo que o ordenamento jurídico prevê, implicitamente, deveres de conduta a
serem obrigatoriamente observados por ambas as partes da relação
obrigacional, os quais se traduzem na ordem genérica de cooperação, proteção
e informação mútuos, tutelando-se a dignidade do devedor e o crédito do titular
ativo, sem prejuízo da solidariedade que deve existir entre ambos.
13. Assim é que o titular do direito subjetivo que se desvia do sentido
teleológico (finalidade ou função social) da norma que lhe ampara (excedendo
aos limites do razoável) e, após ter produzido em outrem uma determinada
expectativa, contradiz seu próprio comportamento, incorre em abuso de direito
encartado na máxima nemo potest venire contra factum proprium.
BOA-FÉ OBJETIVA NO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR
A boa-fé objetiva é marcada pelo seu caráter proteiforme, ou seja, seu conteúdo
varia ao sabor do caso concreto, de sorte que se afigura impossível uma prévia e
exaustiva catalogação.
-Deve haver cooperação por parte dos contratantes que devem abster-se de
praticar qualquer ato que desequilibre a relação negocial, o que envolve
tanto deveres positivos como negativos.
BOA-FÉ OBJETIVA COMO FUNÇÃO CORRETIVA
IMPONDO LIMITE AO EXERCÍCIO DE DIREITOS – Art.
187, CC
Situações que identificam o abuso do direito (sistematização doutrinária e jurisprudencial) –
Aspectos parcelares da boa fé objetiva (Flavio Tartuce) ou Funções relativas da boa-fé objetiva
(Cristiano Chaves)
a)venire contra factum proprium
b)suppressio
c)surrectio
d)tu quoque
e)abuso de nulidade por motivos formais
f)adimplemento substancial
g)exercício desequilibrado de direitos
h)duty to mitigate the loss
i) Exceptio doli
VENIRE CONTRA FACTUM
PROPRIUM
Decorre da “teoria dos atos próprios”, consiste na
quebra da confiança pela inovação, pela adoção
de um comportamento contraditório, divorciado
daquilo que se esperava do sujeito, a partir da
análise de seu histórico comportamental.
VENIRE CONTRA FACTUM
PROPRIUM - STJ
O STJ julgou improcedente a pretensão de contribuinte que
sofria, no bojo de execução fiscal, constrição de imóveis
utilizados para a integralização do capital social de pessoa
jurídica, com averbação na Junta Comercial. A tese dos
executados defendia a impossibilidade de repercussão dos
efeitos da execução fiscal sobre os bens, por ausência de
registro no ofício imobiliário, o que teria impedido a
perfectibilização da propriedade em favor da pessoa jurídica.
VENIRE CONTRA FACTUM
PROPRIUM - STJ
“não se ignora que, nos termos do art. 1.245, §1º, do Código Civil, ‘Enquanto não se registrar o
título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel”. Todavia, pontuou que a
Lei de Sociedades Anônimas, em seu art. 135, §1º, obsta que a falta de cumprimento de
formalidades de alterações ultimadas nos estatutos societários seja invocada pela companhia ou
seus acionistas contra terceiros de boa-fé. Ressaltou o Ministro Sérgio Kukina, prolator do voto
vencedor, que “permitir que a alteração do contrato social (registrada na junta comercial) pudesse
ser desconsiderada em sede de embargos de terceiros, após efetivada a penhora dos imóveis na
execução fiscal movida contra a pessoa jurídica, equivaleria a ignorar a proibição do venire contra
factum proprium.”(AgInt no AREsp 126.003/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel.
p/ Acórdão Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/06/2017, DJe 29/06/2017).
VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM-REsp 1245645 / RS
RECURSO ESPECIAL
2011/0065524-3
“Na hipótese, o voto vencedor concluiu que houve perda apenas parcial do imóvel. Somado a isso, a
requerente, de forma espontânea, declarou que houve a perda parcial no momento em que realizou
acordo sobre o valor das mercadorias perdidas. Ao intentar, posteriormente, ação aduzindo a
ocorrência da perda total da coisa para fins de indenização integral, a autora acaba por incorrer em
das expectativas geradas por uma empresa especializada na fabricação de extratos de tomates, uma vez que a empresa
tinha por hábito entregar-lhes sempre as sementes para plantio, e comprar o resultado da posterior colheita. No ano em
que a empresa entregou as sementes e não comprou a colheita, os agricultores alegaram ter sofrido prejuízos pela quebra
de expectativas geradas pela empresa. Segundo consta do acórdão em questão: “Tanto basta para demonstrar que a ré,
após incentivar os produtores a plantar safra de tomate – instando-os a realizar despesas e envidar esforços para plantio,
ao mesmo tempo em que perdiam a oportunidade de fazer o cultivo de outro produto – simplesmente desistiu da
industrialização do tomate, atendendo aos seus exclusivos interesses, no que agiu dentro do seu poder decisório. Deve, no
entanto, indenizar aqueles que lealmente confiaram no seu procedimento anterior e sofreram o prejuízo.”
SUPPRESSIO
b)suppressio
- O protraimento desleal do exercício de um direito gerando a extinção
do mesmo. É a supressão de um direito pela falta de seu exercício no
tempo, de forma a possibilitar o reconhecimento da sua renúncia
tácita.
-Implica a extinção de um direito.
SUPPRESSIO – STJ -REsp 1.694.324-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd.
Min. Moura Ribeiro, por maioria, julgado em 27/11/2018, DJe 05/12/2018
SURRECTIO
- A prática reiterada de certos atos gera, num dos figurantes
da relação, a convicção de que possui um direito. Representa a
contraface da suppressio. Representa o surgimento de um
direito em razão de um comportamento tolerado pelo outro
contratante.
-Implica a criação de um direito
SURRECTIO -REsp 1309800 / AM RECURSO ESPECIAL
-2012/0033585-0- Rel. Luis Felipe Salomão
Inspirada na célebre frase de Júlio César (tu quoque, Brute, fili mi?),ao se referir a Brutus com
Significa que a parte que tenha gerado violação a uma determinada norma não pode, posteriormente,
extrair proveito desta situação, por ela mesma criada, sob pena de conduta antiética, ofensiva à boa-
fé objetiva. Este sentido, embasado em doutrina, também foi exposto pelo STJ, conforme trecho da
ementa:
- Vedação imposta à pessoa, que viole uma norma jurídica, de invocar essa mesma norma em seu
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA
PROMISSÓRIA. ASSINATURA ESCANEADA. DESCABIMENTO. INVOCAÇÃO DO VÍCIO POR QUEM O DEU CAUSA.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. APLICAÇÃO DA TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOS SINTETIZADA NOS
BROCARDOS LATINOS 'TU QUOQUE' E 'VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM'.
1. A assinatura de próprio punho do emitente é requisito de existência e validade de nota promissória.
2. Possibilidade de criação, mediante lei, de outras formas de assinatura, conforme ressalva do Brasil à Lei
Uniforme de Genebra.
3. Inexistência de lei dispondo sobre a validade da assinatura escaneada no Direito brasileiro.
4. Caso concreto, porém, em que a assinatura irregular escaneada foi aposta pelo próprio emitente.
5. Vício que não pode ser invocado por quem lhe deu causa.
6. Aplicação da 'teoria dos atos próprios', como concreção do princípio da boa-fé objetiva, sintetizada nos
brocardos latinos 'tu quoque' e 'venire contra factum proprium', segundo a qual ninguém é lícito fazer valer um
direito em contradição com a sua conduta anterior ou posterior interpretada objetivamente, segundo a lei, os
bons costumes e a boa-fé 7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema.
8. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
TU QUOQUE -RHC 51.017/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe 21/03/2016
• 1. O princípio duty to mitigate the loss conduz à ideia de dever, fundado na boa-fé objetiva, de
mitigação pelo credor de seus próprios prejuízos, buscando, diante do inadimplemento do
devedor, adotar medidas razoáveis, considerando as circunstâncias concretas, para diminuir suas
perdas. Sob o aspecto do abuso de direito, o credor que se comporta de maneira excessiva e
violando deveres anexos aos contratos (v.g: lealdade, confiança ou cooperação), agravando, com
isso, a situação do devedor, é que deve ser instado a mitigar suas próprias perdas. É claro que não
se pode exigir que o credor se prejudique na tentativa de mitigação da perda ou que atue
contrariamente à sua atividade empresarial, porquanto aí não haverá razoabilidade.
• 2. O ajuizamento de ação de cobrança muito próximo ao implemento do prazo prescricional, mas
ainda dentro do lapso legalmente previsto, não pode ser considerado, por si só, como
fundamento para a aplicação do duty to mitigate the loss. Para tanto, é necessário que, além
do exercício tardio do direito de ação, o credor tenha violado, comprovadamente, alguns dos
deveres anexos ao contrato, promovendo condutas ou omitindo-se diante de determinadas
circunstâncias, ou levando o devedor à legítima expectativa de que a dívida não mais seria
cobrada ou cobrada a menor.
Duty to Mitigate the Loss -REsp 1201672 / MS RECURSO ESPECIAL
-2010/0133286-6
• 3. A razão utilizada pelas instâncias ordinárias para aplicar ao caso o postulado do duty to
mitigate the loss está fundada tão somente na inércia da instituição financeira, a qual deixou para
ajuizar a ação de cobrança quando já estava próximo de vencer o prazo prescricional e, com
isso, acabou obtendo crédito mais vantajoso diante da acumulação dos encargos ao longo do
tempo.
• 4.Não há nos autos nenhum outro elemento que demonstre haver a instituição financeira, no
caso em exame, criado no devedor expectativa de que não cobraria a dívida ou que a cobraria a
menor, ou mesmo de haver violado seu dever de informação. Não há, outrossim, elemento
nos autos no qual se possa identificar qualquer conduta do devedor no sentido de negociar sua
dívida e de ter sido impedido de fazê-lo pela ora recorrente, ou ainda qualquer outra circunstância
que pudesse levar à conclusão de quebra da confiança ou dos deveres anexos aos negócios
jurídicos por nenhuma das partes contratantes, tais como a lealdade, a cooperação, a probidade,
entre outros.
• 5. Desse modo, entende-se não adequada a aplicação ao caso concreto do duty to mitigate the loss.
DIREITO CIVIL. CONTRATOS. BOA-FÉ OBJETIVA. STANDARD ÉTICO-JURÍDICO. OBSERVÂNCIA PELAS PARTES
CONTRATANTES. DEVERES ANEXOS. DUTY TO MITIGATE THE LOSS. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO PREJUÍZO.
INÉRCIA DO CREDOR. AGRAVAMENTO DO DANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RECURSO IMPROVIDO.
1. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas
pela probidade, cooperação e lealdade. 2. Relações obrigacionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos
dos contratantes na consecução dos fins. Impossibilidade de violação aos preceitos éticos insertos no
ordenamento jurídico. 3. Preceito decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate the loss: o dever de mitigar o
próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja
agravado. A parte a que a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano.
Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência aos deveres de cooperação e lealdade. 4.
Lição da doutrinadora Véra Maria Jacob de Fradera. Descuido com o dever de mitigar o prejuízo sofrido. O fato de
ter deixado o devedor na posse do imóvel por quase 7 (sete) anos, sem que este cumprisse com o seu dever
contratual (pagamento das prestações relativas ao contrato de compra e venda), evidencia a ausência de zelo com
o patrimônio do credor, com o consequente agravamento significativo das perdas, uma vez que a realização mais
célere dos atos de defesa possessória diminuiriam a extensão do dano. 5. Violação ao princípio da boa-fé objetiva.
Caracterização de inadimplemento contratual a justificar a penalidade imposta pela Corte originária, (exclusão de
um ano de ressarcimento). 6. Recurso improvido.
(STJ - REsp: 758518 PR 2005/0096775-4, Relator: Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/RS), Data de Julgamento: 17/06/2010, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
28/06/2010 REPDJe 01/07/2010)