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PASTOREAMENTO INTELIGENTE

O Padrão de Aconselhamento na Libertação


Quarta Edição – Setembro de 2015

Diagramação: Marcos de Souza Borges

Correção: Ana Glaubia de Sousa Paiva

Capa: Eurípedes Mendes

Revisão Final: Marcos de Souza Borges

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte da edição deste livro deve ser
reproduzida de forma alguma sem a autorização, por escrito, do autor,
exceto em casos de citações curtas em artigos ou resenhas.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Borges, Marcos


de Souza

Pastoreamento Inteligente - O Padrão de Aconselhamento na Libertação


Almirante Tamandaré, PR: Editora Jocum Brasil, 2015.

240 páginas; 23cm.

ISBN 978-85-60363-33-9

1. Vida cristã. 2. Liderança. 3. Saúde emocional. 4. Teologia e


aconselhamento pastoral. 5. Libertação. 6. Discipulado.

I. Borges, Marcos - II. Título.

CDD 240

Índice para catálogo sistemático:

1. Ética cristã e Teologia devocional - 240

Edição, Impressão e Acabamento

Gráfica e Editora Jocum Brasil


Distribuição e Vendas:

Editora Jocum Brasil

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pedidos@editorajocum.com.br

Fone: 55 41 3657-2708

ÍNDICE

PARTE I

Conceitos Básicos

1. Introdução.........09

2. Aconselhamento e Libertação.....31

3. Situações que inviabilizam uma libertação.....45

PARTE II

Analisando o diagrama do

Padrão de Aconselhamento na Libertação

1. Sintomas de Maldição.......57

2. Processo do Mapeamento......103

3. Causas de Maldição......133

4. Processo da Crucificação......171

5. A Cruz de Cristo......213

6. Processo da Avaliação......227
Parte I

Conceitos básicos
1

INTRODUÇÃO

Essa “nova tolerância” baseada na inversão e na aversão aos valores


bíblicos tem produzido uma “nova geração” bem diferenciada.

Enfrentamos o pior ti po de perseguição espiritual que a Igreja poderia


sofrer, a permissividade moral, que associada ao avanço tecnológico tem
engendrado uma cultura globalizada cada vez mais anti -cristã, afetando
diretamente a confi guração da família e a saúde da Igreja.

A real situação da igreja é sempre um refl exo do que vem acontecendo na


família. Parti ndo da premissa que a família é a célula da sociedade, o que
temos hoje é um gigantesco câncer social. “A família está acabando,” é o
que declara o psicanalista francês Char-les Melman numa matéria à Revista
Veja. Ele diz: “Assisti mos a um acontecimento que talvez não tenha
precedente na história, que é a dissolução do grupo familiar. Pela primeira
vez a insti tuição familiar está desaparecendo, e as consequências são
imprevisíveis” .

A sociedade que melhor defi niu e estruturou a família foi a sociedade


ocidental (norte-americana), por isso tornou-se tão incompara-velmente
mais forte. Porém, a parti r da década de 60, um crescente retrocesso tem
ocorrido. Esse é um breve apanhado histórico da desfuncionalização
familiar que tem se espalhado por todo o mundo:

• Começou com a descriminalização do adultério e a famosa cultura do


divorce no fault (divórcio sem culpa) nos USA, durante as
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

décadas de 60 e 70.

• Seguido pela cultura do não-casamento (o sexo livre, drogas e rock). Essa


cultura se propagou tanto que, atualmente, além dos heterossexuais não
quererem se casar, os homossexuais estão brigando pelo direito de casar.

• Consequentemente veio a epidemia das adolescentes grávidas e dos pais


precoces, que vão se multi plicando em um ciclo geracional reduzido a 15
anos, em média.
10

• Isso agigantou a sinistra indústria do aborto, onde milhões de crianças têm


sido assassinadas pelas próprias pessoas que mais deveriam aceitá-las,
protegê-las e amá-las. É di� cil avaliar o crédito de injusti ça que tem sido
espiritualmente acumulado com tanto derramamento de sangue.

• Tudo isso tem produzido um aumento exponencial das desordens


psicoemocionais. Pesquisas apontam que em trinta anos o percentual de
pessoas com distúrbios depressivos subiu de 3% para 30% na população
americana.

1 | INTRODUÇÃO

• A perda dos vínculos existenciais elevou exorbitantemente os índices de


Abuso e violência. Mães solteiras, pais marginalizados, fi lhos vulneráveis,
famílias miseráveis. Esta é a receita para proliferação da pedofi lia, da
prosti tuição infanti l, da pornografi a e de todo ti po de violência e
perversão sexual.

Dessa plataforma de falência familiar, emerge e cresce o legado de miséria


e violência, o cenário de uma verdadeira guerra urbana que dissemina o
pânico, principalmente nas grandes cidades. Essencialmente, toda essa
patologia social fundamentada na violência e na criminalidade é apenas o
efeito colateral da morte da família - as trágicas reações de uma geração que
tem sido privada dos relacionamentos existenciais, sofrendo de todo ti po de
psicopati as.

• Agora temos uma confusão entre correção e violência, ou seja, PARTE I -


CONCEITOS BÁSICOS

são tantos os abusos, que isso tem levado o governo (começando também
pela América do Norte) a interferir diretamente na forma como os pais
educam os fi lhos. Temos uma geração delinquente que cresce sem correção
e cada vez menos respeita os pais e qualquer outro ti po de autoridade.

Uma mãe zelosa em uma igreja nos USA onde eu ministrei estava sendo
ameaçada de perder a guarda do seu fi lho. O moti vo é porque usava uma
varinha para corrigi-lo. Depois de explicar biblicamente por que agia dessa
forma, perguntou ao policial que a confrontava: Sabe por que uso a vara
para corrigir o meu fi lho quando isso é necessário?

Ele respondeu: Por que? Ela disse: Está vendo esse cassetete pendu-rado no
seu cinto? Sim, disse ele. Se eu não corrigir o meu fi lho com a vara, daqui
a pouco, quem vai bater nele com esse cacetete é você!

MARCOS DE SOUZA BORGES

• E por fi m, agora temos a ditadura homossexual. O princípio da ditadura


se estabelece pela falta de discernimento entre aceitação e aprovação.
Aceitação é incondicional, ligada ao valor intrínseco do ser
humano; porém a aprovação é condicional e depende do caráter, ou seja,

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das escolhas. Aceitar a pessoa independentemente das suas escolhas é uma


questão de civilidade; ser obrigado a aprovar uma conduta que fere os
valores próprios é abuso. Apesar de aceitarem a pessoa em questão, os que
não aprovam a conduta homossexual são ostensivamente marginalizados e
discriminados, tudo em nome do preconceito. Com isso o 1 |
INTRODUÇÃO

processo de anarquia social parece chegar ao fundo do poço.

Estudando sobre a queda e destruição de grandes impérios e sociedades que


marcaram a história da humanidade (sociedade diluviana, Sodoma e
Gomorra, impérios como o babilônico, romano, inca...) percebe-se alguns
aspectos comuns aos que têm sucedido em nossos dias:
• A relati vização moral. Sociedade cujos fundamentos estão profundamente
ameaçados pela banalização do pecado e a legalização da iniquidade.

• Perversão e animalização do sexo. A cultura hedonista do prazer em


detrimento do casamento, o prazer pelo prazer, onde os relacionamentos se
tornam descartáveis.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

• Perda dos vínculos familiares. Quando uma massa críti ca da sociedade


encontra-se desconectada dos relacionamentos existenciais, desconhecendo
quem é pai, mãe, marido, esposa, fi lho, etc.

• A explicitação do oculti smo. Um crescente e explícito envolvimento com


rituais satânicos. A era dos bruxos, feiti ceiros e vampiros.

Este tem sido o desafi ador pano de fundo principalmente das sociedades
ocidentais. Se não fi zermos algo como Igreja, certamente estaremos
fadados a uma inevitável destruição.

O papel da Igreja

Precisamos nos ajustar pastoralmente para interagir com toda


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

essa arena de desafi os, ou, caso contrário, ao mesmo tempo em que uma
grande colheita tem sido feita, os frutos rapidamente se perderão. São tantos
os que tentam permanecer na igreja enfermos, e consequentemente infru�
feros, que acabam desisti ndo da fé, morrendo espiritualmente. Isso, quando
não acontecem os abusos espirituais que os traumati zam ainda mais,
acelerando o processo de perdas.

O pior é que todo esse impacto tem favorecido um evangelho cada vez mais
humanista, permissivo e descentralizado da glória de Deus.
12

Hoje, a grande demanda ministerial é fechar a porta dos fundos da Igreja. É


nesse aspecto que inúmeros pastores mais têm expressado difi culdades.
Essa defi ciência ministerial tem produzido uma população absurda de mais
de 40 milhões de desviados no Brasil. Ou seja, uma população equivalente
à população evangélica, que já foi evangélica, e agora está apostatada. Uma
geração pós-cristã. Pessoas que estão se transformando nas piores pessoas
da sociedade.

Isso nos leva a uma triste conclusão acerca do crescimento dos evangélicos:
a grande quanti dade tem sido um atestado de baixa qualidade, 1 |
INTRODUÇÃO

redundando em enormes perdas. Esse paradigma eclesiásti co que não


prioriza a saúde e a qualidade do crescimento precisa ser confrontado.
O processo de qualifi cação do crescimento demanda pensar não apenas em
transformação, ou seja, uma mudança de forma, mas em transfundação,
uma mudança de fundamentos, valores e culturas em relação a essa nova
geração que está chegando em nossas igrejas, o que só é possível pela
sabedoria da cruz.

Obviamente, é necessário um grande esforço para os pastores conseguirem


consolidar um novo converti do, uma difi culdade maior ainda em
transformá-lo num discípulo e, nem se fala, no enorme investi mento para
se produzir um líder idôneo, confi ável. Sem um bom trabalho de base no
discipulado, o processo de santi fi cação estagna e, em não poucas
situações, é abortado.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

O ministério da maioria dos pastores resume-se apenas em uma roti na


desgastante de “apagar incêndios” e “pastorear as crises” de seus membros
e discípulos. São os pastores “bombeiros.”

Eles não estão pastoreando as pessoas, mas as crises delas. Os fundamentos


não são confrontados. Isto, além de exausti vo, não constrói soluções
sólidas que viabilizam o crescimento com esta-bilidade. O esforço pastoral
muitas vezes se resume em paliati vos, e o ciclo das crises nunca é
quebrado. A Igreja vai fi cando cada vez mais superfi cial e insípida.

Atendendo ao apelo de incontáveis líderes, pastores, missionários e


intercessores que aspiram um treinamento pastoral inteligente e efi ciente,
esta abordagem visa educar o corpo de Cristo com princípios e valores
bíblicos, investi ndo na saúde da Igreja, e, MARCOS DE SOUZA
BORGES

principalmente, no seu crescimento qualitati vo, resgatando valores do


sacerdócio e da função pastoral, com profundidade, e de maneira
contextualizada com as necessidades emergentes dessa geração.
O padrão de aconselhamento na libertação estabelece uma abor-

13

dagem centralizada em princípios e que também visa desmisti fi car a área


da libertação, curando, capacitando e viabilizando a maturidade pastoral,
especialmente daqueles que sentem a responsabilidade de também ajudarem
outros, estando adequadamente calçados com os princípios de
aconselhamento, libertação, reeducação do caráter e 1 | INTRODUÇÃO

da identi dade, restauração geracional, reconciliação, etc. Ou seja, o objeti


vo é promover dinamicamente a santi fi cação da igreja em uma perspecti
va fundamental e práti ca.

DISCERNIMENTOS BÁSICOS

Antes de entrarmos no diagrama do padrão de aconselhamento na


libertação, para construirmos um entendimento adequado sobre o assunto, é
importante estabelecermos alguns discernimentos e conceitos básicos:

I. EXPULSÃO DE DEMÔNIOS X LIBERTAÇÃO

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

A palavra “libertação” na cultura evangélica vem sendo, ao longo de sua


história, associada restritamente ao conceito de expulsão de demônios.
Porém, no padrão de aconselhamento, é fundamental disti nguirmos a
“expulsão de demônios” da “libertação.” Isso é muito claro no ministério de
Jesus. Em muitos episódios você observa Jesus expulsando diretamente os
demônios de uma pessoa, mas em outros, a libertação ocorre sem nenhum ti
po de expulsão.

A expulsão de demônios normalmente está associada ao processo de


evangelização. O ministério evangelísti co quase sempre é acompanhado de
dois dons: cura de enfermos e expulsão de demô-

nios. Quando ocorre uma manifestação de demônios em um apelo


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

evangelísti co, obviamente, expulsamos aqueles demônios para que a


pessoa esteja livre para fazer a sua decisão por Jesus. Ou seja, a expulsão
demônios, quando for necessária, deve se prestar ao objeti vo maior de
conduzir a pessoa a render-se a Jesus, experiencializando a salvação. Tendo
feito essa decisão, isso quer dizer que essa pessoa já está totalmente livre?
Todo o seu passado está resolvido? A resposta é não! Será necessário lidar
responsavelmente com as respecti vas causas que viabilizaram a exploração
demoníaca.
14

Na verdade, os demônios são meros parasitas espirituais que se alimentam


das injusti ças humanas. Eles são colaterais em qualquer quadro de batalha
espiritual. Vamos exemplifi car isso. Imagine um local onde o lixo vai
sendo acumulado. Obviamente muitas moscas e outros parasitas como
baratas e ratos serão atraídos. Como combater esses parasitas? Por mais que
nos esforcemos em espantar as moscas, pisotear as baratas e matar os ratos,
eles proliferam em uma velocidade maior que tentamos eliminá-los, e
acabam retornando, mantendo o ambiente infestado.

1 | INTRODUÇÃO

Isso é o que chamamos de ministério do “sai-sai” e do “quebra-quebra”,


quando persisti mos em expulsar irresponsavelmente os demônios de uma
pessoa. Porém, se ao invés de espantar os mos-quitos e pisotear as baratas,
você decide eliminar o lixo e desinfetar o ambiente, automati camente, os
parasitas não voltam mais. Isso é a libertação. Signifi ca lidar
responsavelmente com o lixo da alma, em uma perspecti va pessoal,
geracional e territorial. Vamos explicar mais à frente que a libertação da
alma está diretamente associada ao processo de conversão, e vai além do
conceito do novo nascimento.

Não adianta muito sermos especialistas em parasitas, conhe-cermos a


hierarquia ou as diferentes espécies e ti pos de moscas, ratos, etc. Em
libertação, a ênfase precisa ser dada ao lixo. Quando se elimina o lixo, os
parasitas vão junto!

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

A essência da libertação é a santi fi cação. A presença de demônios e


maldições é sintomáti ca, colateral. É necessário identi fi car e lidar
responsavelmente com as causas de perseguições espirituais: a memória
ferida por culpas, vergonhas, abusos e traumas encobertos, cadeias
pecaminosas vigentes, pecados ocultos, iniquidades e feridas geracionais,
iniquidades e feridas territoriais que infl uenciam de maneira específi ca a
nossa realidade, relacionamentos quebrados, inimizades crônicas, traumas
conjugais, quebras de aliança, crises familiares, etc.

II. DESMISTIFICANDO A MALDIÇÃO

Quando se fala em maldição, muita gente reage contra. Alguns expressam


aversão, outros já taxam de heresia, outros fi cam teo-MARCOS DE
SOUZA BORGES

logicamente indignados... Realmente, tem muito fogo estranho e


desequilíbrio, tanto no ensino, quanto na práti ca ao se lidar com a questão
das maldições. O mundo evangélico está cheio de supers-
ti ções. Toda fé sem base bíblica é supersti ção, misti cismo. Vamos

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juntos tentar desmisti fi car este conceito:

1. A palavra “maldição” é uma palavra bíblica.

Primeira coisa é que a palavra “maldição” não vem do oculti smo, 1 |


INTRODUÇÃO

pelo contrário, é uma palavra bíblica, com mais de 200 ocorrências, ou seja,
não é algo que deva ser menosprezado. Portanto, por mais esti g-mati zada
que esteja a palavra “maldição”, e por mais que não gostemos dela, que não
caia bem, que nos desagrade, independentemente de tudo isso, é uma
palavra bíblica, que merece nosso esforço de compreensão.
Existem várias palavras na Bíblia para designar a maldição. Basicamente,
todas essas palavras resumem três signifi cados:

• O casti go advindo da quebra de um mandamento, uma aliança com Deus,


ou quebra de uma promessa ou juramento. A palavra que tem este senti do
no Anti go Testamento é Alah, e no Novo Testamento temos a palavra
Anathema, que também signifi ca aquilo que é proibido por força de
punição, casti go ou destruição.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

• Uma situação ati va de afl ição ou perseguição estabelecida, onde algo ou


alguém está preso, impedido, cati vo. É exatamente a condição oposta
àquela promovida pelo favor de Deus. O vocábulo usado para isso é a
palavra hebraica Arar, se referindo ao próprio estado de maldição ou uma
maldição em cumprimento.

• Maldição advinda por falar mal, praguejar, difamar, execrar, xingar,


desejar mal. No Anti go Testamento temos as palavras Qalal, Qabab,

Naqab e Za’am que têm, basicamente, este mesmo signifi cado. No Novo
Testamento temos as palavras Kataraomai, Kakologeo e Raca

(xingamento). Este é o ti po de maldição que procede do falar e que não se


cumpre sem causa. Sobre isso Jesus nos adverti u dizendo: “A ninguém
amaldiçoeis” . Também devemos abençoar aqueles que nos amaldiçoam.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

2. Quase todas as vezes que a palavra maldição ocorre

na Bíblia, ela aparece contextualizada ao povo da aliança,

e não aos descrentes ou ímpios.

Talvez isso te surpreenda. É natural concluir que uma pessoa ímpia e


incrédula esteja em uma condição espiritual desfavorável. A maldi-
ção parece não ser muito apropriada para caracterizar a vida de uma
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pessoa “crente”. Porém, na Bíblia, a palavra maldição quase sempre aparece


associada ao povo da aliança, o povo que deveria ser guardião dos preceitos
e mandamentos divinos. As bênçãos que desfrutamos por causa da Bíblia
não são uma herança permanente. Nossas escolhas determinam se nós conti
nuamos seguros nelas ou não.

Toda aliança carrega consigo uma maldição, assim como todo mandamento,
lei ou princípio. Um conselho você obedece opcional-mente; uma aliança,
mandamento, lei ou princípio não. As respecti vas consequências virão:
“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz 1 | INTRODUÇÃO

do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus


mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas
estas maldições sobre ti e te alcançarão” (Dt 28:15).
Ao dizer estas palavras, Deus não estava se referindo aos povos ímpios,
mas ao seu povo, mostrando a responsabilidade implícita em uma aliança
com Ele. A possibilidade da maldição vem no pacote da aliança.

Talvez você pense: isso é coisa do Anti go Testamento; porém, o escritor da


carta aos hebreus mostra a que ponto pode chegar a consequência de
macular a Nova Aliança: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez
foram iluminados, e provaram o dom celesti al, e se tornaram parti
cipantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes
do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para
arrependimento, visto que, de novo, estão crucifi cando para si mesmos
PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia” (Hb 6:4-6).

Lógico que este texto tem um contexto bem específi co que não deve ser
futi lmente generalizado. Uma maneira forte de confrontar boa parte da
igreja hebreia que estava apostatando-se do cristi anismo para o legalismo
judaico. O importante é que de forma ainda mais grave, o Novo Testamento
reforça a responsabilidade implícita do crente em relação à sua aliança com
Deus.

3. O principal papel da maldição é denunciar as desordens espirituais


agregadas ou acumuladas pessoal, geracional ou territorialmente.

A maldição desempenha um serviço fundamental na realidade MARCOS


DE SOUZA BORGES

humana. Apesar de possuir uma conotação negati va, a maldição, na sua


essência, é uma bênção. Vamos entender melhor esse paradoxo.

Por exemplo, o nosso organismo possui uma série de mecanismos de


alerta (como a dor, a febre, a ânsia de vômito, etc.) para nos adverti r

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em relação às desordens em geral que podem ocorrer. Essas coisas são boas
ou ruins? Uma conclusão importante é que ser bom nem sempre signifi ca
ser agradável. A dor, obviamente não é agradável, mas cumpre um papel
vital. Quando você tem uma dor, isso simplesmente indica que existe uma
desordem exatamente naquele local. A dor nos 1 | INTRODUÇÃO

avisa que precisamos tratar do problema. Se não fosse por esse alar-me, a
desordem (doença) poderia evoluir a ponto de colocar a vida da pessoa em
risco. As piores e mais fatais desordens ou doenças são as silenciosas, que
nos destroem sem dar o mínimo aviso.

Pensando dessa forma, a dor é boa, apesar de ser muito desagradável.


Força-nos a um processo de restauração (correção e educação) que
reconduz à saúde. Em vista disso, fi ca mais fácil entender a maldição como
mecanismo divino. A maldição (que pode vir na forma de perseguições,
enfermidades, colapsos, explorações demoníacas, etc.) denuncia a
existência de desordens espirituais, em relação às quais não tomamos ainda
as devidas providências.

Ainda que a moti vação divina através do princípio da maldição é PARTE I


- CONCEITOS BÁSICOS

nos alertar, corrigir e salvar, existe a possibilidade de sermos destru-

ídos. Portanto, a maldição nos guia, severamente, pelo caminho de volta a


um concerto com Deus, a parti r do qual nossa vida retoma o seu senti do
eterno. Isso produz, obediência, maturidade e um verdadeiro sacerdócio. A
maldição, por incrível que pareça, é uma bênção!

Por isso, querer “quebrar uma maldição” sem lidar diretamente com as
desordens espirituais inerentes, nada mais é que pura ignorância!

4. A essência do conceito da maldição é o casti go.

O verbo casti gar vem do lati m e signifi ca no literal purifi car pelo
sofrimento. O objeti vo da maldição, por incrível que pareça, é corrigir os
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

nossos caminhos. Deus corrige o fi lho que ama (Hb 12:7). Temos a
tendência de pensar na maldição como algo negati vo que obrigatoriamente
se repete na vida das pessoas como um karma. Porém, na Bíblia, a palavra
maldição não tem uma conotação fatalísti ca; muito pelo contrário, a
maldição é uma mensagem que nos ajuda a discernir as desordens
espirituais e reparar pessoalmente e sacerdotalmente os erros.

Todas as esferas do universo são regidas por leis. Quando alguém


desobedece uma lei certamente vai sofrer as respecti vas consequên-
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cias. Uma pessoa que intencionalmente ou acidentalmente coloca a sua mão


no fogo sofrerá uma queimadura. Não é que Deus está amaldiçoando a
pessoa. Ela apenas está sofrendo a consequência de não respeitar o limite
estabelecido por uma lei.

Espiritualmente, as coisas funcionam da mesma forma, porém com agentes


diferentes. Satanás e seus demônios já foram sentenciados pela lei divina, e
agora, em virtude da injusti ça humana, desempenham esse papel de acusar,
afl igir, perseguir, roubar, matar...

Um reino moral exige um sistema de julgamento, correção e pu-1 |


INTRODUÇÃO

nição. Toda base do direito judicial está na Bíblia, que também defi ne os
principais elementos de um tribunal: o juiz, o réu, o advogado de defesa e o
acusador. O ser humano é intrinsecamente responsabilizável. O livro de Jó
mostra como Deus deu ao diabo a permissão de monitorar a terra e
comparecer perante o seu tribunal, tendo uma ação, obviamente limitada à
Sua justi ça, tolerância e bondade.

A Bíblia não apresenta um conceito de expiação onde o casti go é


dispensado com exati dão. As leis de Deus são razoáveis. Seus
mandamentos não são apenas proibições negati vas, mas salvaguardas para
todos. Quando a lei divina proíbe o furto, isso resguarda o direito de
propriedade. Para que uma lei tenha valor de lei, é necessário que haja casti
go para os infratores. O objeti vo da sansão é evitar que o ato seja prati cado
novamente. O mais importante aspecto da lei é coibir deso-PARTE I -
CONCEITOS BÁSICOS

bediências futuras. Está claro também que as leis de Deus são justas e boas
para todos sem exceção, por isso Ele espera a nossa obediência.

Portanto, sempre haverá casti go (maldição) para os transgressores.

Dizer que não existe maldição é afi rmar que pecado não traz
consequências, o que é ridículo de admiti r. Algumas pessoas dizem: posso
pecar à vontade porque Deus já me perdoou em Cristo. Isso pode ser
verdade, porém esse ti po de sofi sma ignora as consequências que
certamente visitarão ou permanecerão sobre a própria vida, casamento, fi
lhos, etc. Semear é uma escolha, colher é uma obrigação.

5. O princípio da maldição parte de Deus e não do diabo.

Talvez isso te surpreenda também, mas quem fere a terra com MARCOS
DE SOUZA BORGES

maldição é Deus, e não o diabo. Deus está afi rmando através do profeta
Malaquias que é Ele mesmo o principal mentor da maldição: “... ele
converterá o coração dos pais aos fi lhos e o coração dos fi lhos a seus
pais, para que eu (Deus) não venha e fi ra a terra com maldição” (Ml

19

4:6). A Bíblia nos mostra Deus como o supremo e idôneo governante do


Universo. Ele chama para si mesmo toda a responsabilidade em relação ao
bem e ao mal:

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio

1 | INTRODUÇÃO

o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas” (Is. 45:7).

A palavra criar aqui, não é “bará” (criar do nada), mas criar em virtude de
uma desobediência, maldade, injusti ça ou rebelião prati ca-da sistemati
camente. Embora, muitas vezes a maldade seja proposta e executada por
Satanás, ela é autorizada a parti r do trono de Deus, o qual é fundamentado
em justi ça, juízo, verdade e misericórdia (Sl 89:14).

Esse ti po de mal é criado (por Deus) em virtude de um outro mal prati cado
(pelo homem), com o intuito de corrigir a situação. Isso é bem exemplifi
cado na morte de Acabe (II Cr 18:18-22), um dos mais iníquos reis que
Israel já teve. Portanto, originalmente, Deus não criou o “mal”, mas apenas
a “possibilidade de se conhecer o mal”: “O Senhor PARTE I -
CONCEITOS BÁSICOS

Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores ... e a árvore da ciência do
bem e do mal” (Gn 2:9).

Também, não existe uma disputa entre Deus e o diabo pelo poder. Isso é
indiscu� vel. O desti no de todos aqueles que escolhem o mal já está
selado. Essa não é a questão. Demônios são periféricos, parasitas. A Bíblia
não revela Satanás como o protagonista da história do ser humano. Pelo
contrário, ele aparece pouco na Bíblia e sempre perifericamente, como
Pedro diz: “O diabo, vosso adversário, anda em

derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (I Pe


5:8), apenas se oportunizando da desobediência humana.

Considerando a ênfase que devemos dar à ação demoníaca, John Dawson,


em seu livro “Reconciliação - Curando as Feridas das Nações” ,
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

faz uma descrição que cabe muito bem aqui: 1Em Deuteronômio 28 temos
uma enorme lista de maldições que viriam como consequência da
desobediência à aliança estabelecida com Deus. Isso não é um Criador
zanga-do, perdendo o controle de Si mesmo e fazendo ruindades.

Deuteronômio 28 também não é uma advertência sobre alguma fraqueza no


caráter de Deus. Este mesmo
20

Pai celeste foi revelado em Jesus. A provação de Jesus no Getsêmani e a


cruz conti nham tentações a um comportamento vingati vo maiores do que
qualquer personalidade no universo jamais tolerou; porém, o autocontrole
de Cristo se manteve. Não é de se admirar que podemos confi ar nEle.

De certo modo, a maldição pode ser vista como a ausência do favor


necessário de Deus. Muitas pessoas entendem que Deus é santo e que o
pecado causa a reti rada de Sua presença revelada, mas tendemos a pensar
que as 1 | INTRODUÇÃO

coisas simplesmente prosseguem como são, mas o salário do pecado é a


morte. As consequências vêm. Veja de novo Deuteronômio 28. É uma
ladainha de morte.

A presença revelada de Deus não é extra-opcional. A pior coisa que poderia


ser escrita sobre sua vida, sua igreja, sua cidade, ou sua nação é Icabode -
“Foi-se a glória” (I Sm.

4:21). Não é que Deus abdique do Seu governo em um só metro quadrado


deste planeta. Sua persistente graça conti nua. “Onde abundou o pecado,
superabundou a graça”

(Rm. 5:20). Mas Sua presença revelada está coberta. “De nuvens Te
cobriste para que não passe a nossa oração.”

Muito mais terrível do que a presença do adversário é a maldição que


resulta quando o Senhor vira Seu rosto de PARTE I - CONCEITOS
BÁSICOS

nós. Isto foi o que aconteceu a Israel em Ai, por causa do pecado de Acã.
“Pelo que os fi lhos de Israel não puderam resisti r aos seus inimigos; ...
porquanto se fi zera condenado: já não serei convosco” (Js. 7:12).

Portanto, nosso objeti vo primordial, em intercessão e libertação, não é a


remoção do inimigo, mas a volta da glória, a restauração do favor
necessário de Deus. Quando encontramos uma fortaleza espiritual, isto não
é um testemunho da presença de um grande demônio, mas antes, da
ausência da glória de Deus. Assim como a natureza aborrece um vácuo,
também no campo invisível, quando a glória se vai, os demônios se
achegam.

Pense nos dias de Neemias. Sua tarefa era reconstruir MARCOS DE


SOUZA BORGES

Jerusalém. Uma das prioridades era reparar os portões, ou seja, os lugares


legíti mos de entrada, autoridade e decisão.

Mas, e as brechas nos muros?


Foi aí que o inimigo se levantou operando num espírito

21

de acusação e engano. “Mas ouvindo Sambalá e Tobias, os arábios, os


amonitas e os asdoditas, que a reparação dos muros de Jerusalém ia avante
e que já se começavam a fechar-lhes as brechas, fi caram sobremodo
irados.

Ajuntaram-se todos de comum acordo para virem atacar 1 |


INTRODUÇÃO

Jerusalém, e suscitar confusão ali” (Ne. 4:7,8).

O que você teria feito? Se eu esti vesse no lugar de Neemias,


provavelmente ordenaria uma investi da militar imediata contra esse
aborrecimento. Mas, Neemias foi mais sábio. Sua prioridade era a
construção do muro. Cada construtor ti nha de trazer sua espada à cinta,
mas permanecer construindo. Neemias não permiti u que a presença do
inimigo o distraísse de sua tarefa primária. “Estou fazendo grande obra, de
modo que não poderei descer; por que cessaria a obra, enquanto eu a
deixasse e fosse ter convosco?” (Ne. 6:3).

Serão estas as prioridades dos intercessores de hoje?

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

Estamos caçando o inimigo, ou reparando o muro? Claro que temos


autoridade para remover demônios, mas será esta a tarefa principal?

6. A essência da maldição reside na desconexão geracional.

Voltando ao texto de Malaquias 4:6, isso fi ca bem claro. Essa informação


bíblica é essencial. Quando os pais não se convertem aos fi lhos e os fi lhos
aos pais... Quando a injusti ça, abandono, imoralidade, abuso, etc. dos pais
é correspondido com a rebelião e desonra dos fi lhos. Ou seja, nesta
desconexão entre as gerações, a maldição se instala através de infortúnios e
perseguições espirituais possibi-PASTOREAMENTO INTELIGENTE

litando que o insucesso dos pais se repita na realidade dos fi lhos.

Essa é a brecha das gerações, quando os pais provocam os fi lhos à ira e os


fi lhos não ouvem os pais, sendo espiritualmente desnorteados pela
amargura e pela rebelião. Essa foi a história de Caim, Esaú, Absalão e de
muitos de nós. Essa quebra de relacionamentos entre pais e fi lhos distorce
a identi dade, danifi ca a capacidade emocional de estabelecer
relacionamentos e endemoniza a herança da posteridade, fazendo com que
os fi lhos incorram nos mesmos erros que os pais. Fica claro,
22

porém, que esses legados familiares não devem ser interpretados de maneira
fatalísti ca, mas, antes, como realidades que podem e devem ser
sacerdotalmente redimidas e alteradas.

E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as
inimizades. (Ef 2:16) O princípio mais elevado para lidar com as maldições
reside na reconciliação: entre pais e fi lhos, entre marido e esposa, entre 1 |
INTRODUÇÃO

líder e liderado, entre raças, entre nações, etc. Não se “quebra” uma
maldição em nome de Jesus independentemente de se desfazer o crédito de
injusti ça e amargura agregado aos relacionamentos.

Apenas quando alguém decide pessoalmente ou intercessoriamente se


colocar nessa brecha das gerações, confessando e perdoando as iniquidades
geracionais, redimindo o pecado dos pais e a desonra dos fi lhos,
reconciliando os corações, remediando as feridas, é que as maldições
começam a ser aplacadas.

Não se deve usar o nome de Jesus como um amuleto ou fazer do novo


nascimento o único argumento contra as maldições. Biblicamente não
funciona assim. A principal condição bíblica para crucifi car as maldições
se fundamenta na reconciliação.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

III. NOVO NASCIMENTO X CONVERSÃO DA ALMA Para a maioria


dos crentes estes dois conceitos signifi cam a mesma coisa. Uma confusão
nesse senti do pode gerar paradigmas teológicos equivocados e resultados
frustrantes.

A Bíblia diz que é necessário nascer de novo. É lógico que o novo


nascimento abrange o aspecto inicial da conversão da alma, mas é só o
iniciozinho. O que é nascer de novo? É um novo nascimento do espírito
humano. O Espírito de Deus recria o espírito e passa a habitar nele.

É uma regeneração da vida espiritual. Nós a chamamos de salvação.

Quanto tempo precisa para um espírito humano nascer de novo? É

instantâneo. É só crer na obra redentora de Jesus tomando a decisão de


segui-lO. Essa fé brota sobrenaturalmente do arrependimento me-
MARCOS DE SOUZA BORGES

diante a pregação da mensagem do Evangelho. E fácil nascer de novo.

Mas há outra palavra: CONVERTER-SE. É uma palavra com outro signifi


cado. Conversão é o processo con� nuo de regeneração da
alma. Isso leva tempo e tem o seu preço. Demanda uma mudança de

23

direção, valores e paradigmas sob vários aspectos, sincronizando os nossos


pensamentos com os pensamentos de Deus, afetando todo o nosso
comportamento e relacionamentos.

Portanto, nascer de novo é a regeneração instantânea do espírito e


conversão é o processo perseverante de libertação e regeneração da 1 |
INTRODUÇÃO

alma. A salvação é gráti s, mas tornar-se um discípulo lhe custará tudo.

Você pode ser salvo e não ser converti do. Por quê? Porque a conversão
acontece na alma. A salvação acontece no espírito. Você pode ser salvo, ter
um espírito vivifi cado pela presença de Deus, ser uma nova criatura em
Cristo, e ainda não ser converti do na alma em relação a muitas áreas da
vida.

O que é sua alma? Você é um ser trino: um corpo, uma alma e um espírito
(ITs. 5:23). Seu espírito é a parte do seu ser onde você experimenta a
consciência, comunhão e a intuição de Deus. Sua alma é basicamente sua
mente, sua vontade e suas emoções. Seu corpo é sua casa. Jesus pode salvar
seu espírito num instante, mas a sua alma exige um longo tempo para se
converter.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

Nada é mais perigoso que um ser humano salvo, porém não convertido.
Você sabe que nasceu de novo, mas ainda pensa com a velha mente, seus
velhos hábitos ainda dominam você, algumas atitudes ainda não mudaram,
alguns raciocínios errados ainda continuam iguais. As convicções negativas
permanecem.

Pensamentos malignos ainda frequentam a sua mente e tentam estrangular a


voz da consciência. Corrupção, amargura, inveja, ódio ainda continuam
com você. Você ainda luta com alguns desejos descontrolados. Mas você é
salvo. Não se sabe por quanto tempo o Espírito Santo vai contender com
sua carnalidade, mas até então, você está salvo.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Um ensino descontextualizado

“E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si,
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Por isso daqui por
diante a ninguém conhecemos segundo a carne; . . Pelo que, se alguém está
em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo” (II Co 5:15-17).
24

Quero tocar numa questão muito delicada, mas que é teolo-gicamente


preocupante. Sei que não é fácil mudar um ponto de vista doutrinário, visto
que eu mesmo ti ve de fazê-lo e foi uma experiência cortante.

Na verdade, seria muita ingenuidade fazermos uma doutrina centralizada no


verso 17 desse texto em relação às maldições, dizendo que as coisas velhas
já passaram e que todo nosso passado está resolvido porque aceitamos o
plano de salvação.

Nunca é sábio tentar estabelecer uma doutrina em cima de 1 |


INTRODUÇÃO

um versículo isolado do seu contexto. Neste caso, Paulo exorta que Cristo
morreu por todos e por isso não devemos nos relacionar com as pessoas que
já fi zeram uma decisão por Jesus nos baseando na sua aparência ou na sua
anti ga reputação. Ele estava enfati zando a importância de quebrar as
barreiras e evitar preconceitos em relação aos novos crentes. Ou seja, não
conhecê-los segundo a carne, mas sob a nova perspecti va do novo
nascimento.

Podemos entender melhor esse texto quando um underground cabeludo,


tatuado, que se move fazendo “bling bling” de tanto pier-cings, com uma
rude aparência, é salvo e começa a frequentar nossa igreja. Como iremos
nos relacionar com essa pessoa? Com reservas ou com franca
hospitalidade?

A libertação faz parte do processo de regeneração da alma via-PARTE I -


CONCEITOS BÁSICOS

bilizando a santi fi cação e a fruti fi cação. Ela não ocorre plenamente na


experiência do novo nascimento. Ou seja, o novo nascimento tráz uma
proteção divina e uma nova perspecti va de vida, porém não cancela
automati camente e nem nos isenta totalmente das maldi-

ções ou perseguições espirituais, doenças, enfermidades, tentações, dívidas,


maus hábitos, pendências judiciais, etc.

O perigo, portanto, é usar este verso como se o novo nascimento fosse tudo.
Dizer para uma pessoa que acabou de aceitar a Jesus que tudo já está
resolvido na sua vida seria enganá-la. É superfi cializar situações que, na
realidade, são graves. Isso acaba se tornando um pretexto para a
irresponsabilidade de muitos, respaldando também o comodismo, a falta de
crescimento espiritual e doutrinas que incon-dicionalizam a salvação. Ou
seja, mesmo na práti ca compulsiva da ini-MARCOS DE SOUZA
BORGES

quidade, sem coerência espiritual e perseverança, mesmo sonegando


perdão, “uma vez salvo, salvo para sempre”. Isso é um desastre! Esse ti po
de ensino tem transformado muitas igrejas em prisões.
Por mais que as pessoas tentem manter um ar de espiritualidade,

25

muitas delas ainda conti nuam envolvidas em pecados seríssimos, confl itos
de consciência, perturbações espirituais, distúrbios emocionais e
depressivos, relacionamentos em crise e tantos outros sintomas que
apontam para grandes desordens e uma forte exploração demoníaca. Como
foram ensinados que com a salvação tudo já deveria 1 | INTRODUÇÃO

ter sido resolvido, perdem a esperança e acabam espiritualmente frustrados.


Por isso tantos permanecem infru� feros e até mesmo desviados dentro da
igreja, e não poucos acabam apostatando de-fi niti vamente da fé.

Toda pessoa nascida de novo tem, em Cristo, o direito a uma vida


totalmente livre. Porém, existe uma distância espiritual entre
“ter o direito a uma vida livre” e “concreti zar esse direito na sua própria
realidade”. Cada bene� cio do sacri� cio de Jesus precisa ser recebido
pessoalmente, bem como correspondido especifi camente através dos
princípios adequados.

Suponha que antes de aceitar a Jesus você ti vesse uma dívida com uma fi
nanceira. O fato de você ter nascido de novo cancelaria PARTE I -
CONCEITOS BÁSICOS

sua dívida? Você obviamente me responderia que não. Mas alguém poderia
argumentar: “Mas, as coisas velhas não passaram e tudo não se fez novo?”
O gerente da fi nanceira concordaria se eu dissesse que minha dívida com
ele foi cancelada porque aceitei a Jesus no últi mo domingo? Provavelmente
ele iria rir de mim. O novo nascimento lida com a culpa do passado, mas
não nos isenta das pendências ou consequências, sejam elas materiais ou
espirituais.

Como resolver isso de fato? De variadas formas, é possível que Deus nos
supra o montante dessa dívida? Sim! Ele passou a ser o nosso Pai! Então,
com esse montante devemos ir até o caixa da financeira e pagar a dívida.
Temos que ter os recursos, ir lá e quitar o débito. Só então estaremos livres!
Isso é libertação; é PASTOREAMENTO INTELIGENTE

você usar os recursos garantidos pela graça de Deus, em Cristo, interagindo


com os princípios implícitos no sacrifício de Jesus para quitar cada
pendência que se fizer necessário, calando a voz do credor e acusador.

Nada é automáti co no reino espiritual. Uma ação de Deus sempre é


respaldada por uma ati tude humana. Jesus morreu para que todos sejam
salvos, curados, libertos, santi fi cados, etc. Todos estão salvos? Ainda não!
Apenas aqueles que atenderam ao apelo
26

do Evangelho e se arrependeram. Todos foram curados de seus males em


virtude da salvação? Não! Apenas aqueles que ti veram ou receberam fé
para isso. Todos estão totalmente libertos por que aceitaram Jesus? Também
não! Estão todos santi fi cados debaixo do bati smo com o Espírito Santo e
fogo? Quem dera! O mundo já estaria todo evangelizado!

A salvação, de fato, é uma experiência defi nida e instantânea.

Ao estabelecermos uma aliança com Deus através do sacri� cio de Jesus,


nosso espírito é recriado, ou seja, nascemos de novo. A alma, 1 |
INTRODUÇÃO

porém, é uma conquista diária que envolve humilhação, resti tuição,


quebrantamento, renúncia, disciplina, revelação, discernimento, intercessão,
obediência, perseverança, etc. Por mais que não nos simpati zemos com
estas palavras, elas evidenciam os caminhos de Deus que nos levam às mais
elevadas conquistas espirituais.

A conquista da alma é muito bem alegorizada pela conquista da terra de


Canaã. Canaã signifi ca a promessa de uma vida abundante em Cristo. Para
isso muitos reis e fortalezas inimigas precisam ser vencidos.

A terra precisa de libertação. Josué, uma ti pologia do Espírito Santo,


precisa colocar a planta dos seus pés em cada área da nossa alma. Tudo o
que submetemos ao Espírito Santo está debaixo do poder redentor do
Senhor Jesus. Tudo o que não submetemos ao Espírito Santo conti nua
vulnerável às infl uências e infortúnios malignos.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

IV. OS TRÊS ASPECTOS DA RESTAURAÇÃO

1. Regeneração

A regeneração é o processo de sermos gerados de novo, por um novo


Espírito e novos valores. Entendo que, na práti ca, isso engloba o processo
de evangelização, o novo nascimento e um discipulado até que a pessoa
possa estabelecer um compromisso real com os valores do reino de Deus,
sendo capaz de desenvolver uma “vida devocional própria”.

“... quanto ao procedimento anterior, vos despojeis do velho homem, que se


corrompe pelas concupiscências do MARCOS DE SOUZA BORGES

engano; e vos renoveis no espírito do vosso senti do; e vos revistais do novo
homem, que segundo Deus, é criado em verdadeira justi ça e santi dade.
Pelo que deixai a menti ra,
e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos
27

membros uns dos outros. Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre
a vossa ira. Não deis lugar ao diabo.

Aquele que furtava, não furte mais...” (Ef 4:22-28).

Podemos estabelecer duas práti cas importantes na regeneração: 1 |


INTRODUÇÃO

• Despojar-se do velho homem e se revesti r do novo. Uma troca de valores


e procedimentos que faz jus ao novo nascimento. A Bíblia não diz que
temos que nos despojar dos velhos demônios. Essa não é a questão. A
exploração demoníaca é sempre o efeito colateral da corrupção humana. É
fundamental uma transformação de valores.

Você não pode transformar uma pessoa ou tratar dos problemas espirituais
dela sem mudar os valores dessa pessoa.

• Não deis lugar ao diabo. Simultaneamente, após despojar-se do velho


homem e se revesti r do novo, o apóstolo Paulo adverte que não devemos
dar lugar ao diabo. Não podemos separar nossos valores e procedimentos de
uma respecti va infl uência espiritual. Veja PARTE I - CONCEITOS
BÁSICOS

bem que essas admoestações foram feitas aos “santos que estão em Éfeso e
fi éis em Cristo Jesus”(Ef 1:1).

De acordo com o contexto da igreja em Éfeso, quando se instala uma


situação de descontrole em relação a ira, menti ra, roubo, etc., essa área se
torna uma jurisdição (lugar) de Satanás na vida do “fi el” em Cristo (Ef
1:1). Essas portas de descontrole precisam ser fechadas. O conceito de
liberdade espiritual e maturidade se fundamentam no exercício do domínio
próprio como fruto do nosso relacionamento com Deus.

2. Libertação
A libertação pode

ser melhor denomina-

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

da como o “padrão de

aconselhamento na li-

bertação”. Este processo

se resume em um acon-

selhamento específico,

onde se aplica de forma

inteligente o conheci-

mento e o poder do sa-


28

cri� cio de Jesus Cristo, lidando com a “história” pessoal, geracional e


territorial e o “esti lo de vida” da pessoa em questão. Podemos dizer que a
libertação corresponde a 10% do pacote da santi fi cação. Libertação é
fundamental, mas não é tudo. Precisa ser enfati zada nas devidas
proporções. É importante ter em mente que a ênfase deste livro é nestes
10% do todo, correspondentes ao padrão de aconselhamento na libertação.

Como falamos anteriormente, a ênfase da libertação não é atacar


diretamente a exploração demoníaca ou os sintomas de per-1 |
INTRODUÇÃO

seguição espiritual latentes na vida da pessoa, antes, é lidar com as causas


fundamentais: culpas, vergonhas, traumas, ressenti mentos, iniquidades
geracionais, pactos estabelecidos através do oculti smo, portas de
carnalidade envolvendo dependência emocional, senti -
mental, orgânica, sexual, etc. Este é um aspecto fundamental do
pastoreamento.

A libertação tem por fi nalidade “zerar” todo crédito de injusti ça


acumulado pessoalmente e geracionalmente (por herança). É o processo de
emudecer qualquer possibilidade de acusação satânica ou perseguição
espiritual, viabilizando uma atmosfera espiritual férti l.

Isto é o que muitos, ingenuamente, pensam acontecer em virtude do novo


nascimento. A libertação ministrada com discernimento, em uma pessoa
genuinamente regenerada, é um divisor de águas.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

3. Reeducação

A reeducação visa construir um caráter de obediência em áreas que �


nhamos uma história de pecados e derrotas. Essa é, sem dúvidas, a parte
mais trabalhosa. O maior desafi o reside aqui, na reeducação da identi dade
(espiritual, sexual, vocacional, etc.), na reintegração da personalidade, no
desengessamento da alma em relação a estruturas e sofi smas emocionais,
morais, racionais, mudança de hábitos e abandono de vícios, etc. O
processo de libertação quando ignora a reeducação da alma torna-se
irresponsável e inefi caz. Aqui, a regeneração se aprofunda.

Podemos entender melhor a reeducação, através de três posicionamentos


que devem fazer parte do nosso esti lo de vida de seguir a Jesus: MARCOS
DE SOUZA BORGES

• Aprender a desaprender. Eliminar argumentos e raciocínios contrários à


sabedoria de Deus e que encarceram a alma. Ou seja, um
descondicionamento emocional e moral em relação a maus hábitos,
ideologias falsas e posturas erradas. Esse é um processo de despoja-

29

mento. São mudanças internas que afetam diretamente o esti lo de vida:

“Pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestí gio


do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é
poderosa para salvar as vossas almas” (Tg 1:21).

As feridas da alma criam uma terrível oportunidade para as especulações e


raciocínios malignos serem implementados. Esses raciocínios são
interpretados pelo apóstolo Paulo como “fortalezas da mente” , ou seja,
“um cárcere construído por pensamentos” . As prisões da alma consistem
em pensamentos malignos que se estabelecem devido, principalmente, às
feridas e injusti ças sofridas. É
necessário não apenas tratar essas feridas como confrontar esses raciocínios
contrários à mente de Cristo, que têm o poder de sustentar um quadro
espiritual de miséria sobre vários aspectos da vida e dos relacionamentos.
Pensamentos baseados em intolerância, violência, amargura, sarcasmo,
desprezo, isolamento, inferioridade, soberba, religiosidade,
denominaciolatria, etc.

Precisamos aprender a desaprender essas ideologias. Para isso, um


relacionamento devocional diário com a Palavra de Deus é imprescindível,
promovendo resultados realmente surpreendentes.

• Aprender a reaprender. Estar aberto para novos conceitos e valores que


nos aproximam mais de Deus e que nos reconciliam com as pessoas. Essa é
a essência do quebrantamento. Reaprender é aprender de novo. Isto requer
paciência e muita humildade. Numa realidade onde todos erram, a maior
virtude é a capacidade de se corrigir. Esse é um processo psicoterapêuti co
que aprimora a quali-PASTOREAMENTO INTELIGENTE

dade de vida.

• Aprender a aprender sempre. Aqui temos um esti lo de vida de


humildade, disciplina e sabedoria que precisa ser preservado. Aprender
sempre, de tudo e de todos, demonstrando grati dão. Uma vida de crescer na
graça e no conhecimento do Senhor Jesus. As maiores e mais preciosas
lições vêm de fontes que menosprezamos. Aqui entra o perigo da síndrome
da maturidade. Pessoas que desaprenderam
30

a aprender. A pessoa se sente tão madura, que já apodreceu e nem percebe.


Como diz o provérbio:

“Melhor é o mancebo pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que não
se deixa mais admoestar” (Ec 4:13).

MARCOS DE SOUZA BORGES

N���:

1John Dawson, “Reconciliação - Curando as Feridas das Nações”

- Editora Jocum Brasil.


2

ACONSELHAMENTO

E LIBERTAÇÃO

Toda pessoa tem uma história e um caráter, ou seja, um passado e um


presente, que precisam ser redimidos. Apesar da história (familiar,
geracional e territorial) não determinar obrigatoriamente o caráter de um
indivíduo, exerce uma infl uência que não deve ser subesti mada. A
bagagem histórica determina culturas que sustentam poderes espirituais
capazes de ditar os rumos de uma sociedade, seja educando-a ou
aprisionando-a na ignorância.

É praxe na igreja ocidental valorizar muito o comportamento, ignorando as


heranças espirituais. Isso estabelece uma viseira cultural que limita
expressivamente a nossa percepção espiritual no aconselhamento. É um
grande erro descartar a história como uma fonte espiritual de infl uências e
informações acerca de traumas e iniquidades que infl uenciam as nossas
escolhas. Esta é uma legíti ma carga de intercessão que não deve ser tratada
com superfi cialidade.

A capacidade sacerdotal de diagnosti car, enfrentar e resolver as feridas e


iniquidades relacionadas ao esti lo de vida e ao passado geracional, aliada à
edifi cação de um caráter fundamentado nos valores do Evangelho, sinteti
zam o objeti vo supremo do padrão de aconselhamento na libertação.
Perseverando nisso, a vida espiritual PASTOREAMENTO INTELIGENTE

tende a fl uir de forma sólida e crescente.

CONCILIANDO RESPONSABILIDADE E HERANÇA

A primeira coisa a ser compreendida em relação ao padrão de


aconselhamento na libertação é que não devemos separar o aconselhamento
da libertação. Aqui se quebra aquele paradigma da libertação que se resume
apenas em uma oração de poder, expulsão
32

ou quebra de opressões malignas. Veja bem, com isso não estou des-
merecendo o poder de uma oração de fé inspirada por Deus, mas, em
termos práti cos, na maioria das vezes, isso ati nge superfi cialmente nosso
verdadeiro objeti vo. O aconselhamento requer tempo de qualidade, ou seja,
envolve um diálogo espiritualmente inteligente, profundo e sem pressa. Isso
é essencial para conduzir a pessoa a uma interação adequada com os
princípios bíblicos de libertação.

O aconselhamento subtraído dos princípios de libertação é inefi -

ciente e a libertação sem a sabedoria do aconselhamento pode virar um


show de terrorismo espiritual e legalismo. Negar ou negligenciar os
princípios de libertação no discipulado vai trazer frustração e, por 2 |
ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO
sua vez, supervalorizar estes princípios em detrimento da responsabilidade
de escolha, vai produzir desequilíbrio, misti cismo e escândalo.

Saber discernir e conciliar os princípios bíblicos de aconselhamento e


libertação proporciona uma plataforma altamente sinérgica para o
desenvolvimento de soluções.

O aconselhamento é fundamental no processo de criar uma interação empáti


ca com a pessoa em situações de ajuda e confronto pessoal, seja em relação
a situações delicadas de traumas ou situações grotescas de pecado, e,
também, no processo pós-libertação, quando será necessário, nas áreas
fragilizadas, promover uma reeducação do esti lo de vida da pessoa em
questão, disciplinando a vontade.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

Por sua vez, a libertação focaliza a capacidade de lidarmos com as


perseguições espirituais respaldadas pelo crédito de injusti ças acumulado
pessoalmente, geracionalmente e territorialmente através dos princípios
redenti vos implícitos no sacri� cio de Jesus. O comportamento humano
tende a ser um refl exo das infl uências espirituais que nos acompanham.

Preciso admiti r que no início do meu ministério enfrentei muitas situações,


nas quais, literalmente, esgotava meu repertório de aconselhamento, sem
conseguir remover aquela pessoa, um milí-

metro que fosse, do seu confl ito. Dessa forma, senti , na pele, que todo
trabalho de aconselhamento que ignora os princípios bíblicos de libertação
acaba sendo víti ma da escassez de resultados em não poucas situações.

MARCOS DE SOUZA BORGES

Atendendo uma situação conjugal críti ca, após um longo tempo de


acompanhamento e esgotantes aconselhamentos, percebi que as coisas só
pioravam ao invés de melhorarem. Já bem desgastado, sem
saber mais o que argu-

33

mentar ou fazer, tal foi


a minha frustração e o

senti mento de incapa-

cidade em relação ao

2 | ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

casal, que lhes disse:

“Nunca aconselhei um

casal a se separar e ja-

mais farei isso, porém, se vocês se separarem, eu entendo.” Esse foi o meu
atestado de derrota com o qual encerrei minha parti cipação no caso. Hoje,
olho com pesar para essa situação, porque saberia exatamente como ajudá-
los melhor.

Aconselhamento e libertação precisam andar juntos para que o ministério


da restauração não se posicione em extremos que dese-quilibram o nosso
potencial de ajuda. Em muitos casos complicados envolvendo
homossexualidade, adultério, colapsos psicoemocionais, desestrutura
familiar, satanismo ou situações graves que implicam em uma infestação
demoníaca, se não tomarmos uma rota de liber-PARTE I - CONCEITOS
BÁSICOS

tação, acabaremos implodindo todo o processo de aconselhamento em uma


gerência vazia e sem resultados.

Para dimensionar melhor as proporções no padrão de aconselhamento na


libertação é importante estabelecer que, em média, um atendimento pastoral
demanda 80 a 90% de aconselhamento e 10 a 20% de libertação.

É fundamental caminharmos simultaneamente na área de aconselhamento e


libertação. Na práti ca, não se separam essas duas coisas, porém, para um
melhor esclarecimento didáti co, vamos tentar delinear isoladamente esses
dois conceitos.

ACONSELHAMENTO – enfatiza a lei da responsabilidade


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

A área do aconselhamento lida basicamente com os males psicossomáti cos.


Uma desordem psicossomáti ca pode ser defi nida como um problema da
alma ( psico) que refl ete no corpo ( soma), produzindo disfunções
orgânicas e enfermidades � sicas, para as quais não existe uma cura
meramente química.

Assevera-se cienti fi camente que 80% das enfermidades como problemas


digesti vos, úlceras, dor de cabeça, alergias, etc., são de ca-
34

ráter psicossomáti cos. Por trás dessas enfermidades, existem


comportamentos emocionais crônicos de ansiedade, insegurança, medo,
culpa, vergonha, etc., que são, basicamente, respaldados pela dor emocional
em relação às cargas de rejeição e feridas emocionais. Por isso, é mais
importante você saber “que ti po de pessoa tem uma doença” do que

“que ti po de doença tem uma pessoa”. É exatamente nesses casos que os


remédios servem apenas para tourear os efeitos colaterais orgânicos sem
interagir com as verdadeiras causas que são, primariamente, de cunho
espiritual; secundariamente, de cunho psicoemocional, e que, por fi m,
somati zam organicamente em várias patologias.

Por baixo de uma desordem psicossomáti ca normalmente existe 2 |


ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO
uma plataforma de rejeições e abusos. Porém, o aspecto mais importante
não são as rejeições ou injusti ças que sofremos, mas as escolhas que fi
zemos em virtude delas. Não importa tanto o que fi zeram conosco; o que
realmente importa é o que nós estamos fazendo com aquilo que fi zeram
conosco. Nossas escolhas constroem hábitos que defi nem o nosso caráter e
determinam o nosso desti no. Esta é a lei da responsabilidade. Não podemos
fazer das rejeições, ou infl uências herdadas, uma justi fi cati va para a
nossa irresponsabilidade moral; ou seja, não podemos fazer da tentação um
pretexto para o pecado.

Quando se tenta compensar um défi cit emocional com um crédito de


concupiscência, a personalidade é distorcida e barreiras PARTE I -
CONCEITOS BÁSICOS

internas são geradas. A carência afeti va só aumenta o apeti te pelo pecado,


deixando um rastro de destruição na personalidade. Aqui entra o
aconselhamento, que ajuda a diagnosti car problemas emocionais e
raciocínios opostos ao conhecimento de Deus, desafi ando o esti lo de vida,
e norteando a pessoa por princípios verdadeiros a fazer as escolhas
necessárias.

Aconselhamento produz conhecimento. Conhecimento produz


responsabilidade. Responsabilidade produz liberdade. Quanto mais
inteligente e proféti co é o aconselhamento, maior é o conhecimento
específi co e a luz que a pessoa recebe para organizar a sua própria vida.
Quanto maior a luz, maior é a sua responsabilidade, e quanto mais
responsabilidade a pessoa abraça, maior é a liberdade. Não existe liberdade
sem responsabilidade. Esta dinâmica expressa o MARCOS DE SOUZA
BORGES

poder de um aconselhamento.

Em algumas culturas, especialmente a lati na, o conceito de liberdade está


relacionado com conforto e riqueza, ou seja, uma
“próspera tranquilidade”. Porém, na verdade, estas coisas não trazem

35

nem realização e muito menos liberdade, senão tédio e frustração.

A verdadeira liberdade está associada à responsabilidade.

O aconselhamento conecta a pessoa com as verdades divinas adequadas.


Isso ati va o mecanismo de renovação da mente, desfazendo 2 |
ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

menti ras, sofi smas, culturas e fortalezas que escravizam e distorcem a sua
forma de pensar e agir, levando-a, responsavelmente, a posicionamentos
práti cos, que têm o poder de transformar a vida e reverter qualquer situação
desastrosa. A essência do aconselhamento é redimir a capacidade de pensar
e reagir, através do discernimento da verdade.

O esforço pessoal e a abordagem sistêmica O diagrama abaixo, elaborado


pelo Rabbi Edwin H. Friedman1

e adaptado por Steve Reynolds, mostra quatro ti pos de pessoas em virtude


de dois importantes eixos da vida: qualidade do ambiente X

resposta pessoal nos relacionamentos.

- No primeiro quadrante: Pessoa muito madura, que é fruto de um ambiente


funcional e tem uma resposta emocional madura.

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

PASTOREAMENTO INTELIGENTE
36

- No segundo quadrante: Pessoa imatura que, apesar de estar em um


ambiente funcional, responde com imaturidade nos relacionamentos. Essas
são as pessoas que mais buscam aconselhamento e frequentam as salas de
terapia.

- No terceiro quadrante: Pessoa madura que, apesar de viver em um


ambiente desfuncional, age com superação e maturidade.

- No quarto quadrante: Pessoa muito imatura, que cresceu em um ambiente


estressante e responde imaturamente. Muitas delas se tornam
marginalizadas (mendigos, viciados, assaltantes, etc.) Para equacionar a
maioria dos problemas humanos que enfrenta-2 | ACONSELHAMENTO E
LIBERTAÇÃO

mos, podemos estabelecer uma fração entre a hosti lidade do ambiente e a


resposta pessoal (HA/RP), considerando fatores como resistência
emocional, resiliência, autocontrole, esperança, etc. Sempre que au-
mentamos o denominador (resposta pessoal), temos um grande poder para
reduzir o valor do numerador (hosti lidade do ambiente). Quando o
denominador (resposta pessoal) tende a zero, o que ocorre em pessoas
passivas, com postura de víti ma, negati vas, altamente reati vas sem
autocontrole, então não importa quão pequeno é o numerador (hosti lidade
do ambiente), produz proporções infi nitas.

Em uma sociedade orientada em direção à patologia (Ciência que estuda a


origem, os sintomas e a natureza das doenças), a tendência PARTE I -
CONCEITOS BÁSICOS

é focar apenas o eixo horizontal - a condição do ambiente. Entretanto, o


crescimento do ser humano, a maturidade dos relacionamentos, a evolução
social, e talvez toda cura que perdura, depende mais das qualidades que são
medidas pelo eixo verti cal - a resposta das pessoas nos relacionamentos.

Obviamente, se o seu alvo principal é ação social e uma direta


transformação dos fatores tóxicos do ambiente, então o eixo horizontal é, e
deverá ser a sua prioridade. Mas, estou falando de um ponto de vista
clínico, e, nesse contexto, uma orientação em direção ao eixo horizontal
(condição do ambiente) maior que no verti cal (resposta pessoal) é contra-
evoluti vo. De outra forma, desconsiderar a condição do ambiente pode
prejudicar muito os resultados esperados no aconselhamento. O que se
observa na práti ca é que a resposta da pessoa depende do sistema
MARCOS DE SOUZA BORGES

social onde ela está inserida (principalmente o familiar).

Este é o aspecto sistêmico da vida. Por exemplo, um viciado que depois de


nove meses internado em um ambiente apropriado se
recupera, quando volta para o anti go sistema social (família desfun-

37

cional), retorna rapidamente ao vício. Em contraparti da, se além de colocar


o viciado em programa de restauração, também trabalha-se com a família,
diminuindo o estresse do ambiente e investi ndo na qualidade dos
relacionamentos, quando a pessoa recuperada volta 2 |
ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

para o lar, a chance dela recair é muito pequena.

De fato, a menos que os esforços dos membros da família sejam


implementados e promovidos, todo esforço para melhorar o ambiente tende
a ruir. Em outras palavras, melhoramentos nas condições externas da
família não duram onde não existe um esforço correspondente de todos que
fazem parte do sistema.
É comum vermos pais que rotularam um fi lho rebelde, viciado, etc. como
sendo o “problemáti co” da família. Porém, quando você encara a questão
do ponto de vista sistêmico, percebe que aquele fi lho nada mais é que o
resultado de um sistema familiar desfuncional, altamente estressante. Os
relacionamentos são gerenciados de maneira totalmente imatura e muitas
vezes abusiva. O próprio fato dos pais culparem o fi lho de “problemáti co”
já refl ete uma defi ciência PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

emocional no sistema.

O processo de cura deve estar localizado tanto no organismo curado (pessoa


viciada) quanto no curador (família desfuncional). Assim o processo da
restauração leva a pessoa a se movimentar no eixo verti cal, e todos podem
crescer em maturidade. Para maximizar o potencial do aconselhamento
devemos trabalhar nos dois eixos, primeiro aumentando a maturidade e
também diminuindo o estresse do ambiente.

LIBERTAÇÃO – enfatiza a lei da herança

A psicologia, apesar de esmiuçar o passado emocional das pessoas, ignora


os princípios espirituais de redenção. Da mesma forma,
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

a psiquiatria, ao combater apenas as desordens bioquímicas do organismo,


na maioria dos casos, não interage com as verdadeiras causas dos
distúrbios. Sem desmerecer os aspectos positi vos da psicologia e da
psiquiatria, toda ciência que peca contra o discernimento do mundo
espiritual é uma faca de dois gumes. Por um lado ajuda, e por outro, torna-
se inefi ciente, e até mesmo prejudicial.

O que estamos convencionando aqui como sendo a área de libertação lida


basicamente com os males “pneumo-psico-somáti cos”
38

(pneuma = espírito, psico = alma e soma = corpo). Esta é uma terminologia


que acabei criando, na tentati va de defi nir os problemas espirituais que afl
oram emocional, psíquica e fi sicamente. Este, na verdade, é o elo perdido
da psicologia e o ponto cego das ciências humanas. Existem espíritos
malignos que se infi ltram em áreas específi cas da vida de uma pessoa,
devido a feridas ou iniquidades de cunho pessoal ou geracional.

Ignorar as leis que governam o mundo espiritual é um erro catas-trófi co, e


ignorar os seus agentes piora ainda mais a situação. De forma alguma quero
construir um ensino sobre libertação, com ênfase nos demônios. Isto seria
tragicamente superfi cial. Nosso maior problema 2 |
ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

em batalha espiritual não é a presença dos demônios, mas a ausência de


Deus. A questão é que muitos de nós já demos, defi niti vamente, um
“cartão vermelho” para o Espírito Santo em áreas específi cas de nossas
vidas. Na verdade, toda infestação demoníaca nada mais é que o efeito
colateral de um processo de banir a presença de Deus. Assim como a
palavra de Deus só fruti fi ca quando semeada em terra férti l, os demônios
precisam de uma mente suscep� vel aos seus desígnios.

Iniquidades geracionais, injusti ças sofridas sistemati camente, feridas


causadas por autoridades, pecados legados no processo de formação
familiar podem construir mentalidades que facilitam uma acentuada infi
ltração demoníaca. Assim sendo, os demônios desem-PARTE I -
CONCEITOS BÁSICOS

penham uma tarefa de acordo com a natureza da brecha que foi aberta. Para
cada pecado existe um espírito maligno com natureza correspondente. Eles
se alojam e atormentam as pessoas, sustentando cadeias pecaminosas e
prisões espirituais nas diversas áreas da vida humana: emocional, fi
nanceira, sexual, saúde � sica, profi ssional, mental, conjugal, familiar, etc.

A Bíblia narra várias situações que ilustram isso. Um bom exemplo foi
quando Jesus confrontou a limitação de Pedro em perdoar, narrando a
famosa parábola do credor incompassivo - um homem que foi perdoado de
uma dívida milionária e sonegou o perdão em relação a uma dívida insignifi
cante. Assim sendo, esse credor recebe um veredicto impiedoso por
oferecer uma graça muito aquém da que ele recebera: “E, indignado, o seu
senhor o entregou aos MARCOS DE SOUZA BORGES

atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também,
meu Pai celesti al, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as
suas ofensas” (Mt 18:35,36).
Jesus expõe o caráter espiritual de muitos problemas e enfermi-

39

dades. Ele ensina aos seus discípulos como a falta de perdão invoca os
atormentadores ou “espíritos torturadores”. No literal, esses agentes
espirituais desempenham a tarefa do carrasco. Diversos ti pos de tormentos
emocionais e � sicos são sustentados por esses espíritos 2 |
ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

de afl ição que entram pelas feridas da alma. Não temos aqui uma situação
meramente orgânica ou psicológica. Portanto, sem esse discernimento da
realidade espiritual, a maneira como intervimos em diversas situações
torna-se irrelevante.

Analisando um episódio de libertação


Para ilustrar a importância de atuarmos simultaneamente com princípios de
aconselhamento e libertação, vamos considerar um episódio bíblico narrado
no Evangelho de Lucas:

“Jesus estava ensinando numa das sinagogas no sábado.

E estava ali uma mulher que ti nha um espírito de enfermidade

havia já dezoito anos; e andava encurvada, e não podia de PARTE I -


CONCEITOS BÁSICOS

modo algum endireitar-se. Vendo-a Jesus, chamou-a, e disselhe: Mulher,


estás livre da tua enfermidade; e impôs-lhe as mãos e imediatamente ela se
endireitou, e glorifi cava a Deus.

Então o chefe da sinagoga, indignado porque Jesus curara no sábado,


tomando a palavra disse à multi dão: Seis dias há em que se deve
trabalhar; vinde, pois, neles ... Respondeu-lhe, porém, o Senhor:
Hipócritas, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu
boi, ou jumento, para o levar a beber? E não devia ser solta desta prisão,
no dia de sábado, esta que é fi lha de Abraão, a qual há dezoito anos
Satanás

ti nha presa?E dizendo ele essas coisas, todos os seus adversários fi cavam
envergonhados; e todo o povo se alegrava por PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele” (Lc 13:10-17).

Era um dia de sábado, quando as pessoas estavam na igreja e Jesus


ministrava. De repente, Ele se dirige a uma mulher encurvada e a cura. Ao
narrar a situação, Lucas fornece um diagnósti co. Ele afi rma que essa
mulher ti nha um “espírito de enfermidade”. Sendo um médico, um homem
da área cien� fi ca, ele deixa bem claro que a causa do problema não era
de natureza � sica, mas espiritual.
40

É importante ressaltar que Jesus se refere a essa mulher, classifi cando-a


como uma “fi lha de Abraão” , ou seja, uma prati cante da fé. O aspecto
principal está no diagnósti co estabelecido pelo próprio Jesus. Ele revela
que a despeito da sua fé, essa mulher por 18 anos tornara-se uma prisioneira
de Satanás. Imagino que isso pareça estranho e até chocante para muitos.
Satanás a prendia através de uma deformidade � sica! Como pode uma fi
lha de Abraão, uma pessoa legiti mamente salva, ter um espírito de
enfermidade e ser uma prisioneira de Satanás? Sei que isso não combina
com a teologia de muitos de nós. Ao mesmo tempo em que Jesus endos-sou
a salvação da mulher, também afi rmou que ela encontrava-se 2 |
ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

aprisionada fi sicamente por um “espírito de enfermidade” .


Considerando as implicações da sua deformidade, como ela vivia encurvada
sem poder se endireitar, estava sempre olhando para o chão da vida! Temos
aqui o refl exo de uma pessoa interiormente enferma.

Essa mulher representa uma igreja dentro da igreja que padece


espiritualmente: gente encurvada, deformada, olhando para os próprios pés,
sem nenhuma perspecti va espiritual, lambendo as próprias feridas,
idolatrando as próprias necessidades. Pessoas mergulhadas na inferioridade,
rejeição e desesperança. Quero enfati zar que estou falando de pessoas
salvas, crentes, que fazem parte da Igreja.

Muitos casos como esse não se tratam apenas de um “problema PARTE I -


CONCEITOS BÁSICOS

emocional”, que pode ser resolvido com um simples aconselhamento ou


uma receita psiquiátrica, mas de uma situação demoníaca, literalmente
satânica, a qual exige uma genuína libertação. Este foi o diagnósti co
inquesti onável do próprio Jesus: “E não devia ser solta desta prisão, no
dia de sábado, essa que é fi lha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás
ti nha presa?” (Lc 13:16).

Essa fi lha de Abraão estava aprisionada por uma enfermidade espiritual


que afetava não apenas a sua autoesti ma, mas a sua objeti vidade. Vivia
encurvada. Necessitava de uma libertação espiritual.

Todo aconselhamento do mundo não seria sufi ciente para ajudá-la.

Naturalizar situações como essa é um erro. Por causa disso, muitos


processos de aconselhamento não são mais que ti ros no vazio.

Precisamos entender que esse não é apenas um episódio simples MARCOS


DE SOUZA BORGES

de cura � sica. Temos aqui uma aula práti ca de libertação. Traumas e


feridas constroem fortalezas de onde o inimigo nos ataca de dentro de nós
mesmos, através de mentalidades doenti as e sofi smas contrários
ao conhecimento divino, que aprisionam a alma comprometendo a

41

capacidade de se relacionar sadiamente. É isso o que Jesus deno-minou


como sendo prisões de Satanás. É fundamental lidar com a dor residual
destas feridas, exti rpando os raciocínios e hábitos que foram
desenvolvidos.

2 | ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

Lidando com a memória ferida - cura interior Na verdade, a


deformidade daquela mulher, apesar de ser sustentada pela presença de um
agente demoníaco, fora causada por um trauma que o texto demonstra existi
r. Aquele espírito de enfermidade estava apenas parasitando uma situação
não resolvida.
Jesus aprofundou o processo ao revelar publicamente a idade do trauma.
Isso foi altamente estratégico. Ela fora aprisionada por Satanás há 18 anos.
Isso não foi apenas uma mera sati sfação à murmuração dos religiosos, mas
a maneira cirúrgica de desenterrar o fato específi co que causara o seu
aprisionamento espiritual. Também, foi mais que uma revelação espiritual
sobre a causa do problema; Jesus estava confrontando a forma como aquela
mulher vinha lidando com PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

essa realidade.

Jesus estava tocando cirurgicamente a sua ferida. Naquele momento, vendo-


se face a face com aquela situação de 18 anos atrás, sua memória
incendiou-se de dor, medo e outros senti mentos e constrangimentos
perturbadores. Ao datar o trauma, Jesus ati vou a sua memória, levando-a a
enfrentar a origem de todo aquele mal, porém, com os recursos espirituais
que Ele mesmo estava providen-ciando. Estava diante da vívida
oportunidade de, fi nalmente, com a graça oferecida por Deus, desancorar a
sua vida daquele “passado presente”, para nunca mais precisar revivê-lo.

Uma das principais fontes de realimentação da alma é a memória.

Por mais que a memória pode uti lizar-se de mecanismos “subconscien-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

tes”, ela é, basicamente, um elemento ligado à nossa consciência, onde


estão os registros de cada fato da nossa história. Pessoalmente, não gosto
muito dos termos “subconsciente” ou “inconsciente”, porque eles podem
ser interpretados de uma maneira perigosa em detrimento do principal
aspecto moral do ser humano, que é a responsabilidade pessoal. A Bíblia
simplesmente estabelece que o ser humano é um ser consciente e não
subconsciente ou inconsciente. Na verdade, estas terminologias não são
encontradas na Bíblia.
42

Portanto, quando me refi ro à cura interior, estou enfati zando a redenção


dessa memória ferida. Isso é produto de um conjunto de ati tudes exercidas
intencionalmente, com inteligência emocional, discernimento espiritual e,
acima de tudo, domínio próprio. Podemos alistar os princípios fundamentais
que constroem uma linha de ação inteligente no processo clínico da cura da
alma.

Princípios básicos no processo de cura interior

• Revelação / confrontação. Pessoas enfermas na alma precisam ser


confrontadas na sua memória e história. O que temos visto, na práti ca, é
que o próprio Deus é o grande especialista em caminhar 2 |
ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

nas feridas das pessoas, exatamente porque Jesus já carregou essas dores no
seu sacri� cio. Muitas pessoas que aceitam este confronto acabam tendo
experiências sobrenaturais com o amor do Pai. O ensino, orações e atos de
reconciliação de cunho sacerdotal (represen-tati vo) podem ser ferramentas
altamente estratégicas e terapêuti cas para canalizar uma unção que
confronta os traumas conhecidos e revela os desconhecidos.

• Confi ssão da culpa e da vergonha. Esta é a maneira bíblica de quebrar o


poder de um trauma. Por incrível que pareça, o caminho não é se proteger,
mas se expor, ti rar as mordaças emocionais. A grande pedra no caminho da
cura das memórias é a reputação, a PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

dor da vergonha. A principal evidência de uma pessoa curada é a


capacidade de falar da sua história com bom humor.

• Perdoar incondicionalmente injusti ças e rejeições sofridas. Isto é um


mandamento que tem que ser obedecido com profundidade e muita fi
rmeza. A decisão irrevogável de perdoar, além de ti rar o chão dos
demônios, é altamente restauradora.

• Assumir a responsabilidade pelas escolhas erradas que foram feitas em


função desses traumas. Fazer uma decisão interior de não mais reagir desta
forma. Mudar a maneira de pensar e reagir em relação a essas injusti ças.
Aqui entra o poder transformador do arrependimento.

• Reconciliar-se unilateralmente com essas pessoas que pro-vocaram o


trauma. Se converter a elas, agindo com compaixão e MARCOS DE
SOUZA BORGES

misericórdia.

• Confessar intercessoriamente os pecados e injusti ças com os quais as


pessoas nos feriram. Isso exti ngue, ou inibe signifi ca-
ti vamente a exploração demoníaca, viabilizando uma intervenção

43
salvadora de Deus na vida dessas pessoas. Discernindo a natureza da nossa
batalha, não lutando contra carne e sangue é que com-batemos o bom
combate da fé.

2 | ACONSELHAMENTO E LIBERTAÇÃO

Definição

Com tudo isso podemos sinteti zar o conceito de cura interior.

Precisei colocar vários parêntesis para ampliar o entendimento desta defi


nição. Cura interior é quando alguém, conscientemente (o espí-

rito do profeta está sujeito ao profeta), respaldado pela maturidade


espiritual adquirida, com uma níti da consciência da presença graciosa
de Deus, pode enfrentar o seu passado (prefi ro o termo enfrentar o
passado do que voltar no passado - enfrentar signifi ca trazer para a frente,
eliminando a possibilidade de uma regressão, que é um mecanismo da
hipnose) sendo levada a interagir (através de uma experiência pessoal
com Deus ou de atos de intercessão criati va e proféti ca) com a memória
ferida (situações das quais ela se lembra com paralisante vergonha, culpa,
medo e dor), lidando com estas situações com os PARTE I - CONCEITOS
BÁSICOS

princípios implícitos no sacri� cio de Jesus (humilhação, confi ssão,


perdão, resti tuição, intercessão, etc.)

PROPORÇÕES BÍBLICAS

Como vamos trabalhar bastante com o conceito das heranças espirituais, é


importante estabelecer as proporções encontradas na Bíblia sobre estes dois
conceitos: Herança e Responsabilidade.

Sempre que lidamos com um assunto dando uma ênfase despro-porcional à


ênfase que a Bíblia dá, acabamos construindo um ensino desequilibrado.
Comparati vamente, podemos afi rmar de forma geral que a ênfase bíblica
na responsabilidade pessoal é 70%, enquanto PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

nas heranças, 30%.

Na práti ca, respon-

sabilidade e herança

são princípios implícitos

um no outro. São inse-

paráveis. Toda escolha

pessoal gera consequên-

cias de caráter coleti vo.


44

O pessoal afeta o coleti vo e o coleti vo infl uencia o pessoal. Esse é o


princípio ati vo para se construir uma cultura. É o que a ciência defi ne
como o princípio da co-responsabilidade. A essência da responsabilidade é
a escolha; a essência da herança é a infl uência. Uma infl uência não é uma
obrigação. O caráter, o desti no e a vida são construídos pelas escolhas.

Basicamente temos dois ti pos de escolha: “... pus diante de ti a vida e a


morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a
tua descendência” (Dt 30:19). Ou escolhemos a obediência, produzindo
vida e prosperidade, ou escolhemos o pecado, produzindo morte e casti go,
na forma de infortúnios e perseguições 2 | ACONSELHAMENTO E
LIBERTAÇÃO

variadas.

• A obediência produz um crédito de justi ça em uma perspecti va


pessoal (... para que vivas, tu...) e um entesouramento de promessas em
uma perspecti va geracional (... e a tua descendência). A Bíblia menciona
como Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado como justi ça. Esse
crédito de justi ça redundou em um saldo de promessas que incluiu ele
mesmo e toda a sua descendência.

• O pecado produz um crédito de injusti ça, ou seja, uma culpa de caráter


pessoal e, também, uma perseguição espiritual de cará-

ter coleti vo, ou seja, uma consequência geracional, uma infl uência
herdada. Por conta do pecado de Adão, a morte passou a todos os PARTE I
- CONCEITOS BÁSICOS

homens. Toda a raça humana foi afetada.

Obviamente, a responsabilidade pessoal está acima das heranças espirituais.


Na cultura hebraica a lei da herança sempre foi muito considerada, até com
exagero. Vale adverti r que não podemos fazer do pecado dos nossos pais e
antepassados um pretexto para a nossa irresponsabilidade moral. Esse ti po
de extremo é fortemente confrontado pelo profeta Ezequiel (capítulo 18).
Em contraparti da, na cultura ocidental-cristã, a lei da herança perdeu o seu
signifi ca-do, estabelecendo uma viseira teológica que deforma a
cosmovisão bíblica e limita a redenção.

MARCOS DE SOUZA BORGES

N���:

1Rabbi Edwin H. Friedman DD - “The Challenge of Change and the Spirit


of Adventure”.
3

SITUAÇÕES QUE

INVIABILIZAM UMA LIBERTAÇÃO

Antes de processar uma libertação mais profunda, é importante fazer uma


boa avaliação em relação ao processo de regeneração experimentado pela
pessoa. Os sintomas de uma pessoa genuinamente nascida de novo,
regenerada são bem característi cos incluindo sensibilidade ao pecado, apeti
te espiritual, desejo de testemunhar a fé, aberta à comunhão, etc.

Entendendo como funciona o processo de restauração, para chegarmos na


fase da libertação é fundamental estabelecermos alguns pré-requisitos para
que a pessoa não se torne víti ma de uma libertação prematura e até mesmo
irresponsável. Na verdade, lidar com todas essas situações já é uma parte do
processo de libertação.
Uma libertação prematura pode causar mais mal do que bem.

A libertação, quando não correspondida, através de uma postura de


compreensão e obediência, faz com que o segundo estado da pessoa se
torne pior que o primeiro (II Pe 2:20). Isso pode ser altamente destruti vo.
Ao invés de ajudar, pode-se piorar ainda mais a situação da pessoa.
Precisamos estar alertas para algumas situações que o bom senso nos leva a
evitar ou prorrogar uma libertação.

É necessário construir um alicerce espiritual na vida da pes-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

soa que sirva como base para uma libertação bem-sucedida. Essa postura
deve ser assimilada antes de um processo profundo de libertação, e não
depois. Portanto, vamos alistar algumas situações que inviabilizam um
aconselhamento no padrão da libertação.

1. Pessoas não crentes

A maior cruz do ministério da libertação é que muitas vezes sabemos como


libertar as pessoas, porém, não podemos fazê-lo.
46

Enquanto a pessoa não tomar uma posição clara em relação a Cristo,


experimentando o novo nascimento, mostrando evidências claras de
regeneração e compromisso com o caráter de Deus, não devemos processar
uma libertação pessoal.

O máximo que podemos fazer é um aconselhamento evangelísti co. Toda


libertação envolve uma colisão espiritual com as forças demoníacas. Para
essa colisão, a pessoa precisa primeiramente estar sob a proteção espiritual
oferecida pela certeza da salvação.

Também, só devemos expulsar os demônios de um não-crente com o


propósito de evangelizá-lo. Caso ele não queira um compromisso com
Jesus, em hipótese alguma deve-se insisti r nesse processo.

Por incrível que pareça, algumas pessoas não querem abrir mão da 3 |
SITUAÇÕES QUE INVIABILIZAM A LIBERTAÇÃO
suposta proteção oferecida pelos demônios disfarçados de santos, guias ou
orixás, que elas cultuam. Sem uma disposição clara de renunciar o esti lo de
vida de servir às enti dades e se comprometer com Jesus, não temos o que
fazer, senão alertá-la da sua perigosa situação espiritual.

2. Pessoas recém-convertidas ao evangelho É desaconselhável ministrar


uma libertação em pessoas recém-converti das. É necessário que elas
recebam um discipulado primeiro, fortaleçam-se, alicerçando-se melhor em
Cristo, para suportarem PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

com maior facilidade o período de provas que naturalmente sucede o


processo de libertação.

O que muitas vezes temos observado na práti ca é que uma libertação


prematura acaba se revertendo em um processo de apostasia. Tão
importante quanto a libertação é manter a libertação, enfrentando com
consistência e perseverança a responsabilidade de construir um caráter de
obediência em áreas onde a pessoa teve uma história de fracassos e feridas
morais. Pessoas recém-converti das, na sua maioria, não têm ainda o
entendimento e os senti dos espirituais sufi cientemente exercitados para
suportar o repuxo de uma libertação profunda.

Normalmente, os demônios quando saem, voltam com refor-

ço (sete espíritos piores), para tentarem reconquistar o território MARCOS


DE SOUZA BORGES

perdido. É neste ponto que a empolgação da pessoa desaparece e a pessoa


se vê numa prova que não consegue discernir. Muitos acabam abaixando a
guarda e não poucos até mesmo abandonam a fé.
A larga experiência de muitos libertadores ensina que todo ne-

47

ófi to deve ser discipulado por um período de seis meses a um ano antes de
ser submeti do a um processo profundo de libertação. O que 3 |
SITUAÇÕES QUE INVIABILIZAM A LIBERTAÇÃO

se pode fazer é um “pronto socorro” em área específi cas que estejam


trazendo uma perturbação ou opressão extrema para a pessoa. Isso precisa
ser calçado com muito ensino e esclarecimento, gerando responsabilidade e
sustentabilidade no processo.

3. Pessoas descomprometidas com o Evangelho Nesta época em que ser


evangélico virou moda, existem muitas pessoas superfi ciais, levianas,
interessadas apenas nos bene� cios do Evangelho e não no esti lo de vida
de seguir a Jesus. Pessoas que não têm uma disposição franca de abandonar
o pecado estão desqua-lifi cadas para passar por um processo de libertação.
Na verdade, o que essas pessoas precisam é de um processo de
reevangelização.

Apenas devemos submeter a um processo mais profundo de libertação


aquelas pessoas comprometi das com a verdade e com uma vida de santi fi
cação. Libertação é somente para pessoas que estão PARTE I -
CONCEITOS BÁSICOS

debaixo do senhorio de Jesus e que O buscam genuinamente. Sem esse


fundamento, a libertação se reverte contra a própria pessoa, transformando-
se em condenação.

4. Pessoas que não são batizadas

O bati smo estabelece não só um senti mento sólido de membre-sia como


também de paternidade espiritual. A pessoa passa a ter um referencial de
liderança, igreja, identi dade e herança denominacional, visão de corpo.
Tudo isso é indispensável para alguém que quer levar a sério a vida
espiritual.

Para termos autoridade precisamos estar debaixo de autoridade.

O bati smo, como testemunho público da nossa fé, libera a ousadia


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

do Espírito Santo para sermos suas testemunhas. O sintoma mais expressivo


do novo nascimento é a liberdade de testemunhar publicamente de Jesus. O
bati smo também promove o entendimento de corpo e unidade na
diversidade, promovendo proteção espiritual e autoridade.

Se a pessoa ainda não se bati zou é importante trabalhar nessa questão.


Podem haver constrangimentos e até traumas pessoais no que tange a uma
aproximação maior com uma comunidade ou
48

liderança. É fundamental tratar dessas questões primeiro através de um


aconselhamento específi co que vai confrontar toda a história da pessoa.

5. Pessoas que não congregam

Aqui temos uma ampliação do ponto anterior. Essas pessoas fi cam sem
cobertura espiritual ou um discipulador ou conselheiro que a acompanhará
após o processo de libertação. Na verdade, não podemos ser de Jesus e não
sermos do corpo de Jesus, que é a Igreja.

Todos nós precisamos de um vínculo denominacional. O isolamento peca


contra a sabedoria do Corpo: “Aquele que vive isolado busca seu próprio
desejo; insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Pv 18:1). É

3 | SITUAÇÕES QUE INVIABILIZAM A LIBERTAÇÃO


comum ouvirmos frases como: “Não me submeto a homens, apenas a
Deus”; “Não preciso de uma igreja”; “A Igreja é uma insti tuição falida”;
etc. Essa é a voz do relacionamento fracassado.

Esses casos normalmente são bem sérios. Pessoas que não congregam,
invariavelmente, estão amarradas por traumas e fortes decepções que
promoveram mentalidades de independência, rejeição, amargura, rebelião e
isolamento que podem comprometer totalmente os resultados esperados
numa libertação. Toda pessoa que defende esta posição de não congregar,
isolando-se da comunhão dos santos, já está à mercê de muita infl uência
demoníaca. O

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

primeiro passo para desestabilizar a ação desses demônios é lidar com as


raízes dessa situação de isolamento. Assim como somos feridos nos
relacionando, também só seremos curados nos relacionando.

Ninguém jamais é ou será curado se isolando.

Pessoas isoladas, que desisti ram de se relacionar signifi cati vamente com
outros precisam superar esta difi culdade antes de passar por uma
libertação. Um aconselhamento consistente nesta direção é fundamental. A
menos que tais situações sejam sati sfatoriamente resolvidas, a libertação
não terá efeito ou trará mais prejuízos que bene� cios.

6. Pessoas que se recusam a perdoar de coração alguém A falta de


perdão no contexto da libertação é uma brecha “im-MARCOS DE SOUZA
BORGES

perdoável”. Isso bloqueia a graça de Deus, fortalecendo as cadeias e a


sentença imposta pelos “atormentadores”, como o próprio Jesus ensinou.
Algumas pessoas se obsti nam na amargura e na desilusão.
Quando constatamos que a pessoa não intenciona perdoar quem

49

quer que seja, interrompe-se a libertação e passamos a trabalhar apenas no


aconselhamento, até demover a pessoa dessa situação.

3 | SITUAÇÕES QUE INVIABILIZAM A LIBERTAÇÃO

Caso a pessoa, defi niti vamente, recuse a perdoar, o processo acaba por aí
mesmo. Isso é di� cil de acontecer, mas infelizmente acontece.

É estratégico começar a libertação pelas áreas de traumas, injusti ças e


abusos que a pessoa sofreu. Muitas infl uências demoníacas que estão
sustentando os mais terríveis quadros de perseguição e afl ição interior
estão sendo abrigadas e alimentadas pelo ressenti -
mento, amargura, ódio e indiferença que a pessoa nutre em relação aos seus
agressores.

7. Pessoas amasiadas ou que namoram em jugo desigual Toda situação


que sustenta um pecado vigente contra a aliança inviabiliza a libertação.
Deus não tem compromisso com os descomprometi dos e levianos. Ele é
um Deus de aliança. O próprio conceito de maldição está embuti do na
quebra de aliança. Não existe como crucifi car a maldição de uma pessoa
que permanece numa situação PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

de maldição.

Infelizmente, as igrejas estão infestadas de pessoas amasiadas, inclusive


ocupando posições de liderança. Pouca gente toca neste assunto, mas essa é
uma realidade corriqueira. Pessoas amasiadas devem ser sabiamente
orientadas a resolver estes confl itos. Basicamente existem duas alternati
vas: ou casar com a pessoa ou separar-se dela. Alguns parâmetros vão pesar
signifi cati vamente nesta decisão: se a outra pessoa é crente ou não, a
existência de fi lhos, dependência fi nanceira, tempo de vida conjunta, etc.
Esta pode se tornar uma equação diferente para cada ti po de situação e não
muito simples de resolver, e que vai demandar uma agenda pastoral de
visitas, oração, evangelismo, aconselhamento, etc.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Namoro em jugo desigual deve ser terminado em quaisquer que sejam as


instâncias. Ou a pessoa escolhe o relacionamento ou escolhe a Jesus. Não
tem como optar simultaneamente pelos dois. Sempre aconselho a pessoa a
deixar o “Lázaro” morrer. Se, no futuro, essa pessoa vier a converter, e
Deus quiser ressuscitar o “Lázaro”, ok.

Um dos perigos aqui é a outra pessoa “se converter” aparentemen-te por


causa da pessoa que gosta e acabar se tornado um lobo com pele de ovelha.
Quando isso acontece, invariavelmente, após o casamento,
50

o lobo ti ra a pele de ovelha e aí será tarde demais. Em pouco tempo a


paixão vira traição, desilusão e até mesmo aversão. O jugo desigual sempre
traz muita opressão espiritual e sofrimento familiar.

3 | SITUAÇÕES QUE INVIABILIZAM A LIBERTAÇÃO

PARTE I - CONCEITOS BÁSICOS

MARCOS DE SOUZA BORGES


Parte II

Analisando o

Diagrama do Padrão de
Aconselhamento

na Libertação
52

MARCOS DE SOUZA BORGES


Analisando o Diagrama

O diagrama da libertação é simplesmente um mapa através do qual


construímos, de forma lógica e sequencial, o processo de aconselhamento
na libertação, congregando os princípios perti nentes.

Cada parte deste diagrama é essencial. Cada ponto e cada distância


percorrida são fundamentais para o resultado fi nal. Ao percorrermos este
diagrama em uma libertação, pequenas falhas ou grandes negligências
podem comprometer seriamente todo o processo.

Toda doença implica em três situações básicas: os sintomas, as causas e o


tratamento:

• O sintoma é o mecanismo de alerta, que indica a existência de alguma


desordem naquele organismo. Seja uma dor � sica, uma depressão
emocional, uma perseguição espiritual, etc. Essas coisas em si não são o
problema; elas só alertam em relação ao problema.
• Por sua vez, a causa é a disfunção em si, a verdadeira origem do
problema, que precisa ser descoberta e atacada. Normalmente tem uma
conotação multi fatorial.

• E por fi m, o tratamento, o remédio, a terapia que está associada a uma


solução específi ca que precisa ser proporcionada em virtude de um
diagnósti co correto.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Existe uma relação inteligente entre o sintoma, a causa e a cura dos males
pneumo-psico-somáti cos que precisa ser discernida. Relacionar esses três
elementos de maneira adequada é vital para o processo de restauração. Para
isso elaborei o que chamo de “Diagrama da Liberta-

ção”, através do qual um padrão de aconselhamento está formulado de


maneira fácil e funcional. Isso pode ser usado como um modelo para
equacionar e resolver as mais diversas situações que qualquer terapeuta da
alma precisa enfrentar.
54
Este diagrama dimensiona três pontos que precisam ser bem defi nidos e
trabalhados na realidade específi ca da pessoa: 1. Sintomas latentes de
maldição

2. Causas respecti vas


3. Cruz de Cristo
Também estabelece três distâncias que precisam ser cabalmente percorridas:
1. O processo do mapeamento
2. O processo da crucifi cação

3. O processo da avaliação

Descrevendo resumidamente o diagrama, primeiramente pontua-se os


sintomas de maldição ouvindo os principais moti vos devido aos quais a
pessoa entende que precisa de uma libertação.

Essas queixas, normalmente, representam os próprios sintomas de maldição


ou perseguição espiritual.

Tendo constatado a relevância dos sintomas de maldição apresentados, o


próximo passo é encontrar as causas. Se os sintomas de perseguição
espiritual estão presentes, obviamente, também existe um conjunto de
causas que os sustentam. Porém, como mostra o diagra-PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

MARCOS DE SOUZA BORGES


ma, existe uma distância espiritual entre os sintomas e as causas. Essa

55

distância pode signifi car, em algumas situações, um caminho fácil de ser


percorrido, porém, em outras, um caminho obscuro, di� cil e trabalhoso.

Para isso, a parti r dos próprios sintomas apresentados, é necessário


percorrer essa distância através de um mapeamento sufi cientemente
profundo e completo. As causas das desordens espirituais estão
normalmente relacionadas com pecados ocultos, estruturas de carnalidade e
passividade, iniquidades geracionais e/ou territoriais, feridas, abusos,
culpas, vergonhas, inimizades, barreiras, etc.

Da mesma forma, assim como existe uma distância espiritual entre os


sintomas e as causas, também existe uma distância entre as causas e a cura.
Todo diagnósti co requer uma medicação adequada. Espiritualmente
falando, a cura se fundamenta na cruz de Cristo. O sacri� cio de Jesus
signifi ca perdão para os pecados, cura para as feridas, libertação para as
maldições, etc. É essencial percorrermos no aconselhamento essa distância
entre as causas de maldição e a cruz de Cristo. Ou seja, estabelecidas as
causas, vem o doloroso processo de crucifi cá-las, sem se esquivar de
nenhuma P

das alternati vas genuinamente viáveis e necessárias. O processo ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

de crucifi cação se fundamenta nos princípios de transparência e


reconciliação:

“Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com
os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifi ca de todo pecado” (I Jo
1:7).

O contexto básico aqui não é perdão, porém purifi cação. Purifi cação vai
bem além de ser perdoado; signifi ca que se esgotaram todos os recursos
para que a situação fosse exposta, resolvida, tratada e concertada. Só assim
o sangue de Jesus é glorifi cado nas nossas PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

vidas, eliminando toda contaminação espiritual.

Transparência e reconciliação se desdobram nos princípios fundamentais do


reino de Deus para a redenção humana, tais como: humilhação,
quebrantamento, confi ssão, renúncia, arrependimento, resti tuição, perdão,
reconciliação, obediência, etc. O exercício desses princípios é, na verdade,
o que causa uma genuína identi fi cação com o sacri� cio de Jesus,
invocando os seus bene� cios. Essa é a forma correta de aplicar o sangue
de Jesus. Sem o exercício destes princípios,
56

não funciona. Não adianta apenas afi rmar verbalmente o poder do sangue
de Jesus se você não enfrenta suas mazelas espirituais exerci-tando
transparência e reconciliação. O processo de cura e purifi cação está
condicionado ao exercício desses princípios.

É necessário, portanto, percorrer essa distância espiritual entre as causas de


maldição e a cruz de Cristo. Isso é imprescindível. É aqui que o sacri� cio
de Jesus prevalece, restaurando sobrenaturalmente a vida espiritual da
pessoa, estabelecendo um novo céu sobre ela.

Por fi m, vem o processo da avaliação, onde comparamos os sintomas


apresentados inicialmente com os sintomas após a tentati va de libertação,
retornando ao processo de mapeamento e crucifi cação, em virtude de
algum sintoma residual.
É importante mencionar que no serviço da libertação não buscamos efi
ciência, mas efi cácia. Ou seja, não podemos estar presos ao tempo. O
padrão de aconselhamento na libertação exige um atendimento de qualidade
que pode se estender por algumas horas.

Não tem como processar uma libertação em 15 minuti nhos, ou com uma
oração, tão forte quanto superfi cial. Não é que não devamos orar pelas
pessoas, mas só não chame isso de libertação. Neste caso estaríamos
produzindo uma expectati va que provavelmente será frustrada. Seria como
você ir a uma consulta e o médico lhe receitar um medicamento sem ao
menos o examinar. Se não temos o tempo necessário para esgotar a carga de
libertação, é melhor deixar para uma outra oportunidade.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Seguindo o roteiro do diagrama, vamos estudar cada ponto e distância


considerando os aspectos mais relevantes que nos ajudarão a construir todo
um entendimento de como se processa uma libertação efi caz.

MARCOS DE SOUZA BORGES


1

SINTOMAS DE MALDIÇÃO

1. Quando a pessoa está “servindo

a Deus” com dons espíritas:

- Profecia X Adivinhação

- Ouvir a voz de Deus X Audição mediúnica

- Visão proféti ca X Terceiro olho aberto

- Arrebatamento de espírito X Projeção astral

- Cura interior X Regressão


2. Enfermidades repeti das ou crônicas sem diagnósti co médico claro,
especialmente se são de caráter hereditário 3. Esterilidade crônica

4. Quadros de desintegração familiar

5. Insufi ciência econômica con� nua, principalmente quando as


entradas parecem ser sufi cientes

6. Situação crônica de perdas repenti nas, acidentes e cirurgias


frequentes PASTOREAMENTO INTELIGENTE

7. Fracasso crônico associado à história de suicídios na família 8. Ira


inconti da associada à história de homicídios e crimes na família 9.
Insanidade e colapsos mentais crônicos ou cíclicos 10. Períodos da
memória da infância apagados e tendência ao surto 11. Transferência
familiar de comportamento e vícios.

12. Quadro familiar crônico de mortes prematuras, viuvez e perda de fi


lhos 13. Cadeias pecaminosas de caráter hereditário 14. Problemas
anormais e desvios na área sexual
1

SINTOMAS DE MALDIÇÃO

Um sintoma real de maldição é a grande premissa para uma libertação.


Podemos defi nir sintoma como o efeito colateral do problema.

É um erro interpretar o sintoma como o problema. Este paradigma


equivocado frustra os esforços empreendidos no aconselhamento.

Uma leitura correta dos sintomas é o genuíno ponto de parti da para uma
libertação efi ciente. Os infortúnios escabrosos, doenças estranhas,
tentações incomuns, perturbações e perseguições variadas, de fundo
espiritual, ou de caráter hereditário, podem caracterizar o que defi nimos
como sintomas de maldição.

Precisamos saber avaliar o real signifi cado de cada sintoma. Todo sintoma
carrega consigo uma mensagem natural ou espiritual que deve ser
discernida corretamente. Muitas vezes isto é algo simples de processar, mas
algumas vezes pode inspirar grandes dúvidas.

Numa libertação não podemos ignorar os sintomas relevantes e nem fi car


procurando “chifre em cabeça de cavalo”. Se não existe um sintoma claro a
ser investi gado, não há por que insisti r numa libertação. Em contraparti da,
mesmo que a pessoa já tenha passado por várias libertações, se um sintoma
de maldição ainda persiste é sinal de que ainda não se ati ngiu o ponto que
precisa ser ati ngido no aconselhamento.

A infi ltração de maldições e a exploração demoníaca são sintomáti cas.


Cada sintoma oferece uma mensagem que deve ser discer-
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

nida espiritual e naturalmente como convier. A grande chave é não


espiritualizar o natural, e também, obviamente, não naturalizar o espiritual.
Isto pode parecer uma tarefa simples, porém, em muitas ocasiões não é. É
aqui que muitos trocam os pés pelas mãos.

A libertação não é analfabeta, ou seja, é necessária uma leitura inteligente


que nos permita discernir os sintomas reais, bem como desconsiderar os
irreais e fantasiosos. Ler os sintomas é o ponto de parti da para o libertador
chegar às raízes verdadeiras do problema,
60

desenvolvendo um processo efi caz de libertação. Sem uma boa


interpretação dos sintomas, já de cara, todo processo fi ca comprometi do.

A libertação também não é surda. É necessário ouvir sufi cientemente a


pessoa, e, principalmente, o Espírito Santo. Em muitos casos não dá para
economizar tempo neste senti do. Uma impressão equivocada do que
realmente está acontecendo com a pessoa pode nos desviar totalmente do
caminho. Normalmente, quando não ouvimos a pessoa, também não
ouvimos o Espírito Santo. Temos uma boca e dois ouvidos, ou seja, até a
nossa anatomia ensina que precisamos ouvir mais e falar menos.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

Para ouvir a coisa certa é necessário fazer a pergunta certa.


O libertador precisa da sabedoria de Deus para propor perguntas
inteligentemente relacionadas aos sintomas apresentados, que vão
desenterrar as raízes e elucidar o quadro. É um trabalho clínico.

Também, é preciso tomar cuidado com o misti cismo. A base do misti


cismo é especulação e orgulho. O misti cismo sempre oferece uma visão
corrompida e exagerada na análise de sintomas, o que compromete o
diagnósti co. Sem o diagnósti co correto, as verdadeiras causas que
sustentam o problema permanecerão intocáveis.

EXTREMOS PERIGOSOS E PERIGOS EXTREMOS

Os maiores inimigos no campo da batalha espiritual são os extremos que


procedem de um discernimento imaturo. Muitos liber-PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

tadores neófi tos podem, suti lmente ou desenfreadamente, permiti r orgulho


espiritual e um legalismo insuportável. É assim que tantos se escandalizam,
deslocando-se para um outro extremo de raciocínio, que antagoniza a
necessidade de um padrão de aconselhamento na libertação, depreciando o
legíti mo conceito de batalha espiritual, gerando ênfases equivocadas,
confusão, críti cas prematuras, divisão e até heresias teológicas que se
inspiram nas divergências e frustra-

ções. Vamos tratar dos dois extremos básicos.


1. Espiritualizar o natural
Pessoas ainda novas na fé ou emocionalmente imaturas tendem MARCOS
DE SOUZA BORGES

a supervalorizar as manifestações demoníacas. Elas têm uma necessidade


muito grande de serem reconhecidas espiritualmente, o que as leva ao
perigo de serem víti mas de um falso discernimento. De
certa forma, as coisas sobrenaturais polarizam a atenção das pessoas.

61

Isso pode facilmente conduzir ao extremo de “forçar algumas barras”

espiritualizando aquilo que é meramente natural.

Pode-se desenvolver um terrorismo espiritual, fomentado pelo exagero em


misti fi car tudo, e, também, uma insistência infeliz de procurar problemas
onde não existem problemas. A vida espiritual 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

vira um trem fantasma. Esse ti po de fé no inimigo ti ra Deus de cena e


acaba dando ao diabo um lugar perigoso de autoridade.

Sabemos que o maior terrorista do mundo é o próprio diabo. Ele dissemina


medo, ansiedade e insegurança através de sua arma favorita: a inti midação.
Seu objeti vo é desvirtuar a fé e o crescimento espiritual das pessoas. Toda
práti ca cristã que coloca as ati vidades demoníacas acima da grandeza de
Deus é potencialmente desequilibrada.

Também extremos em relação aos “objetos contaminados”

podem desviar a nossa atenção em relação aos pontos realmente


importantes, construindo uma abordagem desequilibrada e precá-

ria de resultados. Sabemos sobre o poder dos feti ches e objetos de


encantamento, mas construir uma doutrina baseando-se neles pode P

produzir um evangelho legalista que se baseia muito mais no medo ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

do diabo do que na liberdade de servir a Deus.

Deus pode simplesmente nos levar a santi fi car objetos “sus-peitos” pela
oração: “...pois todas as coisas criadas por Deus são boas, e nada deve ser
rejeitado se é recebido com ações de graças; porque pela palavra de Deus
e pela oração são santi fi cadas” (I Tm 4:4-5). Outras coisas, Deus nos
levará a destruí-las: “Muitos também dos que ti nham prati cado artes
mágicas ajuntaram os seus livros e os queimaram na presença de todos; e,
calculando o valor deles, acharam que montava a cinquenta mil moedas de
prata” (At 19:19).

Existem objetos e infl uências que Deus certamente nos orientará a refutá-
los, porém, isso deve acontecer de forma pessoal e sob uma
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

convicção específi ca do Espírito Santo. É importante não fi car criando


regras e imposições nesse senti do. É bem possível que acabaremos
oprimidos e oprimindo a muitos.

Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto


dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado
na sua carnal compreensão, ... Se, pois, estais mortos com Cristo quanto
62

aos rudimentos do mundo, porque vos carregam ainda de ordenanças,


como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não
manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e
doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de
sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo,
mas não são de valor algum senão para a sati sfação da carne” (Cl 2:18-
23).

O que algumas vezes acontece é que Deus tem um trabalho 1 | SINTOMAS


DE MALDIÇÃO

imenso para transformar um homem “natural,” totalmente céti co, em uma


pessoa espiritual. Alguém que agora entende a forte realidade do mundo
invisível. Alguns, porém, tornam-se tão, mas tão espirituais, exageram
tanto, que Deus terá um trabalho maior ainda para transformar essa pessoa
tão “espiritual” em alguém “normal”.

O exagero sempre peca contra o discernimento.

No texto acima, Paulo rotula a moti vação dessas pessoas que se tornam
místi cas, como carnais, pessoas defi citárias e desequilibradas
emocionalmente. Esse excesso de espiritualidade é, na verdade,
carnalidade, e muitos espíritos de engano se aproveitam para gerar
religiosidade, confusão e destruição na Igreja.
2. Naturalizar o espiritual
Esta postura normalmente ocorre como reação ao misti cismo.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Decepções com o misti cismo e também com a manipulação espiritual de


outras pessoas podem produzir um ceti cismo crônico. O princípio da
descrença se baseia na decepção. O coração fecha. Quanto mais alguns se
tornam místi cos, tanto mais, outros se tornam céti cos. Tudo passa a ser
analisado de uma perspecti va meramente natural e psicológica.

Limita-se tanto à própria cultura humana e teológica, que ela pode matar.
Esse é o suti l desequilíbrio entre a letra e o Espírito. Ao invés de
vivenciarmos o Evangelho que transforma, tornamo-nos víti mas de uma
teologia rígida que deforma.

Paulo adverti u que a letra sem o Espírito mata, e o conhecimento sem amor
e obediência apenas incha, ensoberbece. Também, Jesus MARCOS DE
SOUZA BORGES

alertou que as tradições humanas anulam os mandamentos de Deus.

Aqui começamos a engessar a vida espiritual, bloqueando o nosso


discernimento. A efi cácia pastoral fi ca substancialmente afetada.
O resultado é que, em muitos casos, apenas perdemos tempo em

63

aconselhamentos exausti vos e inefi cientes.

SINTOMAS COMUNS DA EXISTÊNCIA DE MALDIÇÕES

Não devemos menosprezar o poder destruti vo do pecado. Pe-1 |


SINTOMAS DE MALDIÇÃO

cados e iniquidades não redimidos pelo sacri� cio de Jesus, sejam em


relação a nós mesmos, ou à nossa ascendência, impõem um jugo de
maldições que podem facilmente ser identi fi cadas. Para esclarecer bem
este ponto de parti da do nosso diagrama, quero apresentar um quadro
abrangente dos sintomas mais comuns, que, certamente, indicam a presença
de portas de perseguições ainda abertas sobre a vida da pessoa.
SINTOMA 1. Dom ministerial contaminado - Quando a pessoa está
“servindo a Deus” com dons espíritas Vamos dar uma ênfase maior a este
tópico devido às suti lezas P

envolvidas nessas situações. Para alguns, isso pode parecer estranho ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

e até inadmissível, mas se você estudar as cartas de Jesus às igrejas da Ásia


vai se deparar exatamente com essas realidades. Ele menciona que dentro
das igrejas havia os que eram sinagoga de Satanás (Esmirna), os que eram
da doutrina de Balaão, os que seguiam a doutrina dos nicolaítas (Pérgamo),
os adeptos de Jezabel (Tiati ra), etc.

Essa infi ltração dos dons espíritas no ministério da igreja normalmente


resulta de um passado de oculti smo vivido pela pessoa e também está
associada a uma herança familiar de feiti çaria.

Quando analisamos as nossas origens como nação brasileira, e também a


forma como a nossa história se desenrolou, percebemos uma pesada carga
de oculti smo na nossa bagagem cultural. Nossa PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

cosmovisão religiosa e cultural foi formada por um sincreti smo envolvendo


a pajelança nati va, o catolicismo islamizado de Portugal (sincreti zado com
a necromancia e outras formas de espiriti smo), a quimbanderia negra dos
escravos africanos, o kardecismo francês, etc. Tudo isso se misturou dando
origem a várias outras religiões.

Existem três opções para lidarmos com o nosso passado geracional: a


primeira é fi car lamentando sobre as nossas terríveis heranças espirituais
baseadas em imoralidade, oculti smo, violência e escravi-
64

dão e como fomos roubados e abusados pelos colonizadores, etc. A outra


seria, simplesmente, ignorar a nossa história e tentar remar o barco com a
âncora lançada. Arrastar esse ti po de âncora pode fazer com que
demoremos muito mais a chegar onde precisamos chegar no propósito de
Deus e, até mesmo, colocar nossos esforços em colapso. A terceira opção, a
que realmente é viável, seria redimir a nossa história, desempenhando como
igreja, o papel sacerdotal que nos cabe: “E eles edifi carão as anti gas
ruínas, levantarão as desola-

ções de outrora, e restaurarão as cidades assoladas, as desolações de


muitas gerações” (Is 61:4).

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

A maioria dos nossos familiares e antepassados se envolveram direta ou


indiretamente com o oculti smo. Em muitas famílias percebe-se um cajado
de feiti çaria sendo passado de geração em geração. Apesar do rótulo
“católico, apostólico, romano”, ou também

“evangélico”, em cada geração, é fácil encontrar uma ou mais pessoas


envolvidas diretamente com oculti smo, magia, bruxaria, satanismo, espiriti
smo, sociedades secretas, pajelança, etc.

Portanto, como sintoma latente, pessoas desde criança apresen-tam dons


sobrenaturais, como premonição, visão de espíritos, audição de vozes,
desdobramento (viagem astral), adivinhação, incorporação e guia de enti
dades e outras formas de mediunidade. Médium, que em lati m signifi ca
“aquele que está no meio” , é a palavra usada pelo espiriti smo para
designar pessoas que seriam um elo entre o mundo dos vivos e o mundo dos
mortos. A pessoa desde a infância é acometi da PARTE II - ANALISANDO
O DIAGRAMA

por uma forte atração e desejos estranhos ligados ao oculti smo, fi lmes de
terror, feiti çaria, ligação com mortos e perversão sexual.

Muitas dessas pessoas, com o intuito de “se desenvolver,” seguem o


caminho do oculti smo na sua variedade infi ndável de rami-fi cações,
envolvendo-se diretamente com as enti dades demoníacas.

A essência do oculti smo é receber e manipular conhecimento, poder, prazer


e favores de todas as espécies provenientes de uma fonte espiritual
realmente demoníaca, não divina. ( Para maiores informações sugiro que
você leia o capítulo 6 - “Ligações com o oculti smo” do meu livro “Raízes
da Depressão” ).

Quando essas pessoas chegam à experiência da salvação na MARCOS DE


SOUZA BORGES

pessoa de Jesus Cristo, inicia-se um confronto com todos esses há-

bitos, padrões, dons, etc. que foram recebidos no oculti smo, seja por práti
ca ou herança.
Porém, a questão básica a ser trabalhada com toda pessoa que

65

vem do oculti smo é a idolatria pelo poder. Em prati camente todos os


ramos do oculti smo desenvolve-se uma cultura de idolatria pelo
sobrenatural, uma sensação arrogante de ser mais “especial”. Isto precisa
ser disciplinadamente arrependido e renunciado pela pessoa.

É comum vermos pessoas recém-converti das, que vieram do 1 |


SINTOMAS DE MALDIÇÃO

oculti smo, onde ocupavam até mesmo posições sacerdotais, que em pouco
tempo já se autoestabelecem como líderes e pastores de uma igreja. Conti
nuam sendo inspiradas pela mesma concupiscência de poder que
aprenderam no oculti smo. Se isso não for tratado, mesmo que o ministério
dessas pessoas tenha uma roupagem evangélica, a essência será espírita.
Portanto, o ponto mais importante a ser tratado em uma pessoa que veio das
práti cas oculti stas é a idolatria pelo poder, a concupiscência de posição e
� tulo. Esta é uma maneira suti l do inimigo se infi ltrar na igreja e usurpar
e ti ranizar a autoridade divina causando grandes prejuízos.

Simão Pedro X Simão, o mago

Um bom exemplo bíblico sobre isso é o de Simão, o mago: “E

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

creu até o próprio Simão e, sendo bati zado, fi cou de contí nuo com Filipe;
e admirava-se, vendo os sinais e os grandes milagres que se faziam” (At
8:13). Percebemos aqui como Simão ti nha uma admiração muito maior
pelo “poder de Deus” do que pela “pessoa de Deus.”

Até um certo ponto isso é natural com novos converti dos, porém, mais
adiante, Simão não se contém, e tenta, literalmente, manipular, comprar
esse poder, que tanto cobiçava: “Quando Simão viu que pela imposição das
mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro” (At
8:18). Mediante isto, Pedro imediatamente discerne a infi ltração maligna e
confronta a Simão, indo na verdadeira raiz do seu problema, que era,
exatamente, a idolatria pelo poder: PASTOREAMENTO INTELIGENTE

“Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata conti go à perdição, pois cuidaste


adquirir com dinheiro o dom de Deus. Tu não tens parte nem sorte neste
ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te,
pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja
perdoado o pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de
amargura, e em laços de iniquidade” (At 8:20-23).
66

A Bíblia nos oferece aqui uma verdadeira aula de libertação à moda de


Pedro. Veja bem que Simão já havia se converti do publicamente em uma
das grandes cruzadas evangelísti cas de Filipe. Também já havia sido bati
zado, sendo considerado parte da Igreja. Tornou-se um discípulo e apoiador
do ministério de Filipe. Representava um grande testemunho para todos,
tanto é que sua conversão é mencionada na Bíblia. Estava parti cipando da
ministração dos apóstolos.

Porém, apesar de ser considerado como um cristão, conti nuava portando-se


como um feiti ceiro. Da mesma maneira como ele se autopromovia
manipulando o poder de Satanás queria fazer com o 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

poder de Deus.
Fico imagino quantos “Simãos mágicos” estão dentro de nossas igrejas.
Podemos identi fi car esse ti po de pessoa como sendo um “sa-tanista
laranja” , ou seja, pessoas, muitas delas sinceras, que estão tentando servir
a Deus com seus ministérios, porém agindo com a inspiração, dons e
mecanismos da feiti çaria. Apesar disso parecer muito estranho, essas
pessoas, na verdade, estão servindo a Deus com dons espíritas. Na verdade,
precisam de libertação.

Isto é muito suti l, porque a pessoa, como Simão, não consegue perceber,
por já estar tão condicionada aos mecanismos do oculti smo, que ainda
conti nua subjugada, como Pedro muito bem expõe, a uma moti vação
maligna: “em fel de amargura,” e ati tude iníqua: “em la-

ços de iniquidade”. Precisava ainda se desprender dessas ataduras em


relação às suas heranças familiares e às iniquidades prati cadas PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

no oculti smo, arrependendo-se também, principalmente, da forma como


idolatrava o poder. Isto é o que realmente determina a libertação de uma
pessoa que estabeleceu raízes no oculti smo. Acredito que esta intervenção
de Pedro tenha mudado os rumos da vida e ministério de Simão.

Cajado ou cobra?

Observamos este mesmo ti po de confronto com Moisés. Ele fora educado


no Egito, uma nação aprofundada no oculti smo, que cultuava a morte
construindo gigantescas pirâmides, que na verdade eram túmulos ou altares
aos espíritos de feiti çaria e morte. Isso MARCOS DE SOUZA BORGES

tudo contaminou tanto sua moti vação de ajudar o seu povo que ele acabou
se envolvendo em um assassinato, o que causou a sua fuga para um longo
exílio.
Depois de 40 anos no deserto sob os cuidados de Jetro, tra-

67

balhando como pastor, vem juntamente com o seu chamado uma poderosa
libertação. Não foi fácil Deus arrancar toda essa bagagem de Moisés. Deus
não apenas cura o seu coração, como também purifi ca o seu ministério.
Sem prolongar, só quero enfati zar a maneira como Deus revela para Moisés
que havia uma séria contaminação 1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

espiritual no exercício do seu ministério.

Deus ordena a Moisés que jogue a sua vara ao chão e quando ele o faz, ela
se transforma em uma serpente. Havia “cobra” no cajado de Moisés. É
como se Deus esti vesse dizendo a ele: você está tentando me servir, mas
seu ministério está contaminado. Havia uma infi ltração demoníaca no seu
cajado pastoral. Aquilo ti nha que ser enfrentado e subjugado. Era
necessário que Moisés enfrentasse o seu passado de feiti çaria, amargura,
decepção que culminara em um assassinato no Egito.

O segredo da libertação ministerial é abrir mão do cajado, lidando com a


fascinação pelo poder, como vimos no caso de Simão.

Moisés ti nha uma obsti nação em ser o libertador da nação. Ele P

chegou a matar por isso. Sua mentalidade fora construída por uma ARTE II
- ANALISANDO O DIAGRAMA

cultura megalomaníaca de oculti smo. Não podemos servir a Deus


construindo pirâmides em nossa homenagem. Ministério é servi-

ço; é diferente. Moisés queria o poder faraônico da posição. Deus então


ordenou: jogue ao chão a sua vara, renuncie para mim o seu ministério, abra
mão disso, jogue fora essa mentalidade, sacuda esse jugo. Nesse momento,
quando ele obedece a direção de Deus de abrir mão de tudo, o inimigo que
estava no seu ministério se revela.

A vara virou serpente!

Juntamente com Deus, Moisés enfrenta não apenas o seu passado


contaminado, as suas frustrações, como também o principado demoní-

aco do Egito teofanizado naquela serpente, se expondo, em obediência


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

a Deus, e pegando-a pela cauda. A sua libertação e a de todo o povo de


Israel começou ali. Agora, a serpente virou vara. Seu ministério, seu dom,
seu chamado estavam purifi cados, se tornaram legíti mos, consagrados
apenas ao Deus Vivo. Com esse novo cajado ele se tornou o grande
libertador da sua nação, operando as maravilhas de Deus.

A verdade é que tem muita gente como Moisés ministrando na igreja do Pr.
Jetro, gente que está com o dom ministerial contaminado e precisa de uma
libertação. Vamos entender isso melhor.
68

O profano disfarçado de santo

Neste campo, é bem importante saber disti nguir entre o santo e o profano.
Existe uma linha fi na que separa alguns conceitos, que, na sua
manifestação podem ser bem parecidos, mas, espiritualmente, são
antagônicos e confl itantes. A questão é que muito do esforço de Satanás se
concentra na falsifi cação, na camufl agem, tentando se confundir com o
divino.

• Profecia X adivinhação

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

“E disse-me o Senhor: Os profetas profeti zam menti ras em meu nome; não
os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei. Visão falsa, adivinhação,
vaidade e o engano do seu coração é o que eles vos profeti zam” (Jr
14:14).

A profecia, divinamente inspirada, sempre ocorre com a moti va-

ção e o propósito de consolar, edifi car e exortar. Quando a essência do


profeta ou da profecia diverge disso, a situação está atravessando uma linha
perigosa. Por isso, toda profecia precisa ser julgada, passando por estes
cinco fi ltros: o caráter de Deus, a palavra de Deus, os princípios de Deus, o
conselho de Deus, e, principalmente, a paz de Deus.

Por incrível que pareça, existe uma diferença suti l entre profecia e
adivinhação, embora a profecia seja divina e a adivinhação seja demo-
PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

níaca. É comum observarmos muita confusão nas igrejas envolvendo o


ministério proféti co. A adivinhação é a falsifi cação satânica da profecia,
muitas vezes veiculada por pessoas que já se decidiram por Jesus, que estão
na Igreja, porém que ti veram uma história no oculti smo.

É interessante observar que na cultura religiosa afro-brasileira, assim como


existe o falso Jesus, o Oxalá, a falsa Maria, a Iemanjá, também existe o
falso Espírito Santo, o Ifã (Pitom), que, literalmente, é o espírito da
adivinhação, mediunizado e consultado por tantos, através dos búzios, tarôs,
consultas espíritas, etc.

Podemos observar esse discernimento entre a adivinhação e a profecia no


seguinte episódio bíblico:

MARCOS DE SOUZA BORGES

Ora, aconteceu que quando íamos ao lugar de oração, nos veio ao encontro
uma jovem que ti nha um espírito
adivinhador, e que, adivinhando, dava grande lucro a seus

69

senhores. Ela, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: São servos do


Deus Altí ssimo estes homens que vos anun-ciam um caminho de salvação.
E fazia isto por muitos dias.

Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Eu te ordeno em


nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

hora saiu” (At 16:16-18).

Apesar do texto logo de início denunciar que essa jovem ti nha um espírito
adivinhador, isso só foi percebido por Paulo muitos dias depois. É
interessante notar como ela parti cipava das reuniões de oração como uma
crente qualquer, tendo oportunidade de profeti zar até mesmo sobre a vida
de Paulo e Silas. Inclusive, o conteúdo de suas profecias confi rmava alguns
fatos reais de forma animadora. Mesmo sem conhecê-los, ela falou
acertadamente tudo sobre eles. Imagino que no início Paulo e Silas tenham
até se senti do encorajados com as suas profecias e com o ministério dela.

Porém, depois de muitos dias, como diz o texto, o espírito de P

Paulo se perturbou com a situação. Foi quando, fi nalmente, ele ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

teve um claro discernimento acerca do ministério proféti co daquela irmã.


Paulo entendeu no seu espírito que a verdadeira natureza das suas profecias
era adivinhação. Ela era estranhamente uma “crente pitonisa”.

Uma das lições aprendidas por Paulo neste episódio é que na adivinhação a
moti vação é o amor ao lucro, e o dom não se fundamenta na inspiração
divina, mas na presença de um espírito enganador. Esse espírito de
adivinhação seduz as pessoas levando-as a se venderem por dinheiro, lucro.
Como menciona o texto: “...adivinhando, dava grande lucro a seus
senhores”.

Uma característi ca inconfundível de um falso profeta é uma


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

moti vação centrada no amor ao dinheiro. Seu compromisso com o

“dinheiro” é maior que o seu compromisso com a “voz de Deus”. As


oportunidades ministeriais são ditadas pela oferta e não pela direção de
Deus. Isto é muito bem ilustrado na história de Balaão, que amou o prêmio
da injusti ça. Um forte indício de que a pessoa é um adivinho e não um
profeta é quando ela eliti za o seu ministério dedicando-se apenas a pessoas
ricas e importantes. As demais pessoas ou igrejas são tratadas com total
desconsideração.
70

Algumas traduções bíblicas dizem da seguinte forma: “uma mulher que ti


nha o espírito de Pitom” , para com isso descrevê-la como uma pitonisa ou
adivinha. A adivinhação bajula e não encoraja ou confronta; revela
sobrenaturalmente o passado das pessoas, mas a moti vação é menti rosa e
manipulati va; é fascinantemente místi ca, mas vazia da genuína
espiritualidade; não produz paz, antes gera confl ito, perturbação e engano.
Estas coisas nunca terminam bem.

Este discernimento entre profecia e adivinhação também pode ser


expandido conceitualmente de outras formas.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

• Ouvir a voz de Deus X audição mediúnica (esquizofrenia)


A Bíblia fala de homens que ouviam a voz de Deus diretamente da Sua
boca, e não indiretamente. A voz de Deus soava audivelmente aos ouvidos
de Samuel. Da mesma forma, Deus falava cara a cara com Moisés. A
contrafação satânica disso é conhecida como mediunidade auditi va,
quando alguém começa estranhamente a ouvir vozes sobrenaturais. A
princípio, a pessoa pode se senti r “especial, escolhida”

confundindo muita gente bem intencionada, porém, mal informada, mas


depois, invariavelmente, isso se transforma em sérias perturba-

ções. (É comum as pessoas em seus envolvimentos espíritas serem


doutrinadas por seus “guias” através de contato auditi vo e visual).

Estas situações podem evoluir até um quadro de mania de perseguição,


esquizofrenia, produzindo confusão, loucura e até suicídio e homicídio.
Recentemente visitei um jovem que estava cumprindo pena PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

em um sanatório. Estava junto com o pastor da igreja de onde sua mãe


pertencia e que ele mesmo já havia frequentado. Sua mãe havia ser-vido aos
demônios por muitos anos e depois da sua conversão o fi lho começou ouvir
as vozes. Ele nos disse: as vozes me diziam que eu ti nha que matar a minha
mãe. Então ele disse à sua mãe que a amava mas precisava matá-la e depois
de algumas tentati vas de assassinar a mãe acabou sendo preso.

Este ti po de sintoma tem sido cada vez mais comum com pessoas crentes,
gente da igreja, e normalmente está associado com um passado pessoal e
geracional no oculti smo, juntamente com situações crônicas de abusos
verbais, � sicos, sexuais, etc. Nestes casos, uma MARCOS DE SOUZA
BORGES

abordagem meramente psiquiátrica será frustrante. Além de não interagir


com a verdadeira raiz do problema, apenas coloca a pessoa em uma camisa
de forças química.
• Visão proféti ca X terceiro olho aberto

71

Como a Bíblia diz: “Anti gamente em Israel, indo alguém consultar a Deus,
dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, outrora se
chamava vidente” (I Sm 9:9). Profetas como Samuel, Eliseu e muitos outros
ti nham da parte de Deus uma vidência legiti mamente proféti ca.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

A contrafação disso é conhecida como a abertura do “terceiro olho” ou do


“chacra frontal” sendo uma práti ca muito comum no espiriti smo oriental
(China, Índia, Tibet, etc.), e principalmente, nas religiões da Nova Era ou
sociedades secretas como a Rosa Cruz. Essa é a capacidade de enxergar o
mundo espiritual (invisível) através da intervenção de uma enti dade
demoníaca. É o dom da vidência ati vado malignamente. Muitos rituais são
feitos para que a pessoa ati nja esse nível de “iluminação”. Esses rituais
redundam em pactos extremamente sérios que foram fechados com forças
obscuras que essas pessoas, na verdade, ignoram.

... Certa vez, estava ensinando em uma de nossas bases de Jocum.

Ao terminar a primeira aula, um dos alunos me procurou, se apresentan-P

do como o profeta da sua cidade. Ele falou tanto de si mesmo, e de como


ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

guiava vários pastores e pessoas da sua igreja com as suas profecias, que,
realmente, aquilo soou de forma muito estranha para mim. Havia uma forte
postura de arrogância e, simplesmente, não dei muita atenção.

Durante a semana, a liderança do curso solicitou que eu pudesse ter um


tempo de aconselhamento com ele. Quando nos assentamos, ele olhou para
mim e começou a mirabular as suas visões, o que fez com que o meu
espírito fi casse inquieto. Não sou fechado para profecias, mas ali ti ve a
certeza que realmente ti nha algo errado com ele. Cuidadosamente, mudei o
rumo da conversa, e comecei a entrevistá-lo sobre a sua vida antes de
conhecer o Evangelho. Depois de poucas perguntas, ele come-

çou a descrever, com certo orgulho, de como se envolvera com as trevas.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Por muitos anos, havia sido um seguidor de bruxos famosos e ti nha um


amplo currículo no esoterismo e satanismo, até mesmo, fora do país.

Tentei explicar que o seu ministério, apesar de ser algo que realmente
impressionava a muitos, estava contaminado e precisava renunciar esta
visão aberta que ele ti nha do mundo espiritual. Imediatamente ele me
contrariou rispidamente, dizendo: Não! Dessa forma o meu ministério vai
acabar! Expliquei, detalhadamente, que ele estava ministrando as pessoas,
não pelo Espírito de Deus, mas
72

usando dons espíritas. E, também, como a resistência dele apenas justi fi


cava a perigosa moti vação de idolatrar o poder, o que, na verdade, é a
característi ca de um bruxo e não de um profeta. Ele relutou até quando o
perguntei se ele ti nha recebido estes dons antes ou depois da sua decisão de
seguir a Cristo. Ele então admiti u que havia recebido os seus poderes no
satanismo, bem antes de conhecer a Jesus, e assim, fi nalmente se
quebrantou.

Quando começamos a orar renunciando os dons paranormais, as capas de


bruxaria, bem como todos os rituais que ele precisou fazer para obter esses
poderes, aconteceram manifestações extremamente 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

fortes na sua libertação que deixaram algumas pessoas presentes


aterrorizadas. Aquilo foi um tremendo confronto de poderes onde, mais
uma vez, a cruz de Cristo triunfou.

Depois de tudo, fi quei pensando nos pastores e nas inúmeras pessoas que
ele havia ministrado, profeti zado e imposto suas mãos.

Qual teria sido a reação delas diante daquela chocante libertação?

Infelizmente, ele não passava de um bruxo com capa de profeta, um canal


aberto para o espírito de adivinhação e controle. Apesar da sua sinceridade,
ele estava servindo a Deus com dons espíritas.

• Arrebatamento de espírito X projeção astral

O arrebatamento de espírito também é uma experiência bíblica,


experimentada por vários profetas e apóstolos.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

“Eliseu, porém, lhe disse: Porventura, não fui conti go em espírito, quando
aquele homem voltou do seu carro ao teu encontro? Era isto ocasião para
receberes prata e roupa, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e servas?”
(II Re 5:26).

“Imediatamente fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto


no céu, e um assentado sobre o trono” (Ap 4:2).

“Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei,
se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu” (II
Co 12:2).

MARCOS DE SOUZA BORGES

A projeção ou desdobramento astral é a forma satânica de uma pessoa sair


fora do seu corpo, viajando pelo mundo espiritual regido pelos demônios,
estabelecendo pactos, monitorando a vida de pes-
soas, etc. Algumas pessoas se tornam, literalmente viciadas nisso. É

73

comum atendermos pessoas que, em certos períodos de suas vidas,


passaram mais tempo no “mundo paralelo” do que no mundo visível.

A viagem astral é um dos principais elementos da bruxaria: a “vassoura da


bruxa.” Essa é a grande moda do momento.

... Conversando com uma pastora, ela começou a me relatar algo 1 |


SINTOMAS DE MALDIÇÃO

que estava acontecendo na sua igreja. Frequentemente algumas pessoas se


reuniam para uma “vigília”. A questão é que o foco dessas vigílias era
apenas induzir as pessoas a experiências de arrebatamento. Na verdade, ela
estava um pouco frustrada porque, nas vezes que parti ci-pou, ela não
conseguiu ter nenhum ti po de experiência sobrenatural.
Perguntei, então, como isto acontecia. Era mais ou menos assim: O líder
falava para as pessoas se deitarem. Começava a levar o grupo a um
processo de relaxamento, falando para deixarem a imaginação fl uir. Depois
ia induzindo uma visualização espiritual. Visualize isto

... visualize que você está em determinado lugar, assim e assim ... e muitos
se embalavam em diferentes experiências de projeção astral.

Normalmente, estes eram os que já vinham do oculti smo, inclusive o P

próprio pastor que liderava a vigília.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Diante disso, disse a ela: graças a Deus que você não teve nenhum ti po de
experiência nessas vigílias. Isto está mais para “arre-bentamento” do que
para “arrebatamento”! Na verdade, o pastor ti tular dessa igreja já vinha há
vários anos em adultério, e a igreja só defi nhando com uma série de
problemas crônicos. Tudo isso confi gura um sintoma gravíssimo de uma
igreja e liderança infi ltrados pelo satanismo, ou seja, pessoas servindo a
Deus com dons espíritas.

... Um dos casos mais fortes que atendi foi o de um “líder de intercessão e
libertação”. Apesar da posição e ministério que ocupava na sua igreja, sua
vida, casamento e família estavam quase destruídos.

Fico chocado como pessoas que não governam bem a própria casa são
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

colocadas, irresponsavelmente, em posições de liderança na igreja.

Ele estava com muitos problemas mesmo, e quando olhei sua fi cha percebi
que já se envolvera com tudo quanto é coisa que se possa imaginar no oculti
smo. Seu maior envolvimento havia sido na umbanda, onde disputava com
outros “colegas” quem possuía maior poder. Muito rápido recebeu a
capacidade de vidência, sendo doutrinado pelo seu “guia”, um espírito a
quem podia visualizar.
Aprofundou-se muito na projeção astral.
74

Narrou-me como esse “guia” forneceu-lhe uma receita, envolvendo um


ritual com velas, aromas e músicas para prati car a proje-

ção astral, saindo facilmente do seu corpo, visitando “planetas” e lugares


realmente estranhos. Perdoem-me se tudo isto soa como um exagero místi
co, mas o que estou contando aqui foi exatamente o que ele me reportou.

Certo dia ele teve uma experiência que realmente foi o diferencial na sua
vida de bruxaria. Ele desafi ou o seu “guia” a mostrar-lhe todo o seu poder.
Foi quando ele viu essa enti dade puxando-o pelo braço, fazendo com que
ele entrasse em projeção astral. Juntos, 1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

viajando numa velocidade que ele ainda desconhecia nas projeções, se viu
indo na direção de um cemitério. Com a sensação de que iam se chocar,
atravessaram pelo portão, indo em direção a um grande cruzeiro que havia
no cemitério, quando após senti r uma forte colisão, percebeu estar subindo,
mas, na verdade, se viu descendo por um túnel escuro e, fi nalmente,
aterrissaram num local, que parecia uma fl oresta sombria. Estava em algum
lugar que jamais esti vera antes, provavelmente, algum “departamento do
inferno”.

O guia, então, disse-lhe: “A parti r daqui você precisa ir sozinho”, e o


deixou. Após caminhar um pouco naquele lugar tenebroso, ele avistou um
grande trono com uma enti dade, realmente macabra, de uns três metros de
altura. Colocou-se defronte do trono, quando essa enti dade movimentou
seus braços, espalmando suas mãos (garras) diante dele.

Entendeu que deveria colocar suas mãos sobre as mãos espalmadas PARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

daquela criatura espantosa. Um pouco receoso, vacilou, mas a criatura fi


cou na mesma posição, até que ele se convenceu, e fez o que estava ali para
fazer: receber poder. Um enorme calor o energizou, indicando que ele se
ligara aos poderes daquele principado demoníaco.

Foi inesquecível, quando, ao começar narrar esse pacto, ele sofreu um


ataque terrível, se contorcendo na minha frente. Entre os dentes, uma voz
estranha que não era a dele falava ameaçadoramen-te: “Não conte! Não
conte!” Ajudei-lhe, pedindo que reagisse e não deixasse aquilo tomar conta
dele. Tentando explicar-me o que senti a, disse que algo estava incrustado
nas suas costas, como se ele fosse um ser híbrido com aquela enti dade. Foi,
realmente, uma guerra.

MARCOS DE SOUZA BORGES

Finalmente, o grande segredo dos seus poderes foi trazido à luz, em


verdadeiro arrependimento e repúdio. Ele se arrependeu da sua idolatria aos
poderes místi cos. Desfi zemos esse pacto feito dentro
do inferno, numa viagem astral, desligando-o dessa terrível enti da-

75

de. Tratamos das tantas outras situações e experiências que ti vera através
da bruxaria. Foi algo inesquecível. Veja bem, que este irmão era o líder do
ministério de intercessão e libertação, ministrando e impondo suas mãos
sobre muita gente na sua igreja.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

• Cura interior X regressão

É preciso desmisti fi car o conceito de cura interior. Podemos defi -

nir a cura interior como a ati tude de enfrentar conscientemente, com a


presença de Deus e a maturidade espiritual de que desfrutamos, os traumas
não superados do passado, interagindo com as injusti ças, rejeições e
respecti vas reações pecaminosas através dos princípios implícitos no
sacri� cio de Jesus. Assim poderemos prosseguir nossa vida espiritual em
direção à santi fi cação e serviço ao Corpo.

É importante mencionar que existe uma linha fi na que separa a

“cura interior” da “regressão”. Em hipótese alguma se deve confundir cura


interior com regressão. A regressão, reconhecida como uma ferramenta
cien� fi ca por muitos, lança mão de recursos baseados P

na hipnose, parapsicologia, espiriti smo, etc. que, na verdade, se ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

fundamentam numa direta manipulação demoníaca disfarçada de

“poder da mente” ou “métodos cien� fi cos”.

Na regressão, por exemplo, quando uma pessoa relaxa seu espírito, se


submetendo à imposição de mãos de um sacerdote com roupagem de profi
ssional, os demônios entram na pessoa produzindo experiências espirituais,
algumas baseadas em fatos reais que aconteceram com a pessoa, e outras,
totalmente menti rosas, que no fi nal irão acentuar os traumas existentes, ou
fazer a pessoa acreditar em traumas inexistentes. Satanás é o pai da menti
ra, o arti culador de todo o engano.

Só para ilustrar, um ti po diferente de regressão pode ser fre-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

quentemente observado nas sessões de umbanda, quando enti dades


espirituais como “Cosme e Damião”, “Erês”, “Exus Mirins” se encar-nam
no médium. Adultos, estranhamente, passam a se comportar de forma
perturbante como se fossem crianças. Na verdade, essas enti dades
desempenham a tarefa espiritual de prender os adultos em traumas de
infância.

Há alguns anos atrás fui procurado por um casal que ainda enfren-tava as
sequelas de uma infeliz libertação na sua igreja. Aquela mulher,
76

apesar de ser crente havia um bom tempo, foi ministrada através de um


processo de hipnose. Esses ministradores, apesar de parecerem sinceros,
eram imaturos e mal informados como conselheiros.

Na ministração, após regredir aos seus 4 anos de idade, vivenciou


fortemente um trauma nessa fase de sua vida, só que, ao invés de se libertar,
ela fi cou aprisionada na situação. Estranhamente, algo a desconectou da
sua razão adulta e ela permaneceu surtada, se com-portando como uma
criança de 4 anos de idade, por quase 3 meses.

As pessoas responsáveis pela libertação, sem saber o que fazer,


simplesmente abafaram o caso, deixando o novo problema com a 1 |
SINTOMAS DE MALDIÇÃO

família. Quando a atendi, precisei, primeiramente, “libertá-la da libertação”


a que foi submeti da, para depois poder tratar mais profundamente da sua
vida.

Redenção cultural e as técnicas de terapia espíritas Este tópico é um


apêndice desse capítulo. É importante discernir a forma como a cultura
oriental sincreti za terapias corporais com as práti cas espíritas envolvendo
invocação de energias cósmicas, potencialização, veneração a ancestrais
mortos, etc. Ao mesmo tempo que existe uma riqueza de conhecimento e
práti cas nos costumes orientais (exercícios de respiração, controle
muscular, alongamen-to, controle emocional, etc.), tudo isso se encontra
misturado com ati vidades e princípios espíritas antagônicos à Bíblia. Dessa
forma a ciência (alternati va) se mistura com a falsa religião.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Nas religiões da Nova Era acredita-se que o corpo tem uma “energia” que
circula por todo o organismo por meio de vias específi cas chamadas de
“meridianos”. É o que eles classifi cam como energia Yin, ou negati va, e
energia Yang, ou positi va. A saúde seria resultado do equilíbrio dessas duas
energias. Em contraparti da, o desequilíbrio produz a doença. Esse
mecanismo de redenção que se resume em equilibrar o bem e o mal se
fundamenta em um paradigma totalmente errado, que peca frontalmente
contra a verdade absoluta da salvação em Cristo.

Por exemplo, na acupuntura acredita-se que a esti mulação pelas agulhas


restaura o fl uxo da energia. Na verdade, essa energia vital MARCOS DE
SOUZA BORGES

aponta para uma interação entre o espírito humano e os espíritos


demoníacos e pode ser diversamente denominada de aura, corpo etéreo, fl
uido, serpente (Kundalini), chi, etc.
É necessário separar as coisas naturais das coisas espirituais,

77

estabelecendo um discernimento da suti leza de Satanás. Não devemos


desmerecer o aspecto cien� fi co da acupuntura, que se baseia na esti
mulação de endorfi na na massa muscular pelo uso de agulhas.

Como a endorfi na é uma substância analgésica, os efeitos terapêuti -

cos são sensíveis, mesmo que paliati vos. Assim sendo, a acupuntura 1 |
SINTOMAS DE MALDIÇÃO

pode ser prati cada isolada dos rituais espíritas.

O que quero enfatizar é que seria imaturo simplesmente satanizar a cultura


oriental e assim eliminar o bem e o mal juntos. Essa é uma outra maneira do
inimigo nos roubar. É sempre importante fazer essa distinção entre o pecado
e o pecador, o princípio e a contaminação. Não podemos sair jogando tudo
fora. Na verdade, é possível separar o que é bom, saudável e estratégico e
resgatar essas coisas em prol do reino de Deus e do bem-estar das pessoas.

Assim como hoje temos profi ssionais cristãos que uti lizam os bene� cios
da acupuntura, o mesmo pode ser feito na Yoga,Tai-Chi-Chuan, homeopati
a, etc. onde nenhum ti po de “esvaziamento”, meditação transcendental,
“potencialização” espiritual ou “ener-P

gização” é invocada. Muito pelo contrário, isso se torna uma opor-ARTE II


- ANALISANDO O DIAGRAMA

tunidade de comparti lhar as Boas Novas do Evangelho.

Não podemos ignorar que os demônios estão sempre procurando corromper


aquilo que pode ser usado de forma construti va.

Uma coisa má, escondida em uma coisa boa. Desta forma, além de satanizar
aquele recurso, os demônios os uti lizam com a fi nalidade de prender as
pessoas em vários outros ti pos de enganos.

Uma fraqueza da Igreja é não discernir esta intenção demoníaca,


concordando com essa satanização, ao invés de redimir e prati car estes
recursos, respaldados biblicamente pelo conjunto de princípios que os
regem.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

SINTOMA 2. Enfermidades repetidas ou crônicas sem diagnóstico


médico claro, especialmente se são de caráter hereditário

Alguns teólogos fazem uma disti nção entre doenças e enfermidades


sugerindo que as doenças estão relacionadas a alguma disfunção ou
contaminação biológica enquanto as enfermidades são provocadas por
espíritos demoníacos. Aqui é muito importante
78

o discernimento para não espiritualizar uma doença que tenha uma natureza
orgânica, nem medicalizar uma enfermidade que tenha uma natureza
espiritual. Lógico que também pode haver uma combina-

ção de doença e enfermidade numa mesma situação. Todos esses conceitos


estão presentes na Bíblia:

“E, chamando a si os seus doze discípulos, deu-lhes autoridade sobre os


espíritos imundos, para expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças
e enfermidades.” (Mt 10:1).

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

Muitas perseguições ou infestações demoníacas se dão através dos espíritos


de enfermidade. Em alguns textos bíblicos, observa-se a presença destes
três conceitos: doenças, enfermidades e demônios, mostrando como eles
podem se associar. Escolhi propositalmente estes textos no evangelho de
Lucas, por ele ser um médico, uma pessoa da área cien� fi ca, mas que
também reconhecia o caráter espiritual de algumas enfermidades:

“... bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos
malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual ti nham
saído sete demônios”

(Lc 8:2).

“E estava ali uma mulher que ti nha um espírito de enfermidade havia já


dezoito anos; e andava encurvada, e PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

não podia de modo algum endireitar-se” (Lc 13:11).

O que se enfrenta, na práti ca, são vários males que se evidenciam


estranhamente na vida das pessoas, quando um diagnósti co médico claro fi
ca totalmente inviabilizado. Alguns exemplos corriqueiros seriam casos de
insônia crônica, sonolência exagerada, bloqueios mentais, desmaios,
convulsões, alguns ti pos de epilepsia, peso e dor na coluna, dor de cabeça
crônica, impressão de inchaço na cabeça, pontadas no corpo, alguns casos
de doenças congênitas, etc.

Na verdade, os espíritos demoníacos podem se alojar nas pessoas tomando


a forma de qualquer ti po de enfermidade, desde um sim-MARCOS DE
SOUZA BORGES

ples distúrbio na saúde até uma enfermidade fatal. O que caracteriza mesmo
esse ti po de situação é a ausência de um diagnósti co médico.

Quando não se tem um diagnósti co cien� fi co, provavelmente, têm-


se um diagnósti co espiritual. Ou seja, a ausência de um diagnósti co

79

cien� fi co aponta para a necessidade de um diagnósti co espiritual.

... Certa vez, em um de nossos seminários, atendemos um caso que ilustra


bem o que estamos falando. Uma moça nos procurou um tanto quanto
desesperada pelas coisas que vinham acontecendo na sua família. A irmã
mais velha contraíra uma enfermidade bem estra-1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

nha que a fez defi nhar totalmente. Foram usados todos os recursos médicos
para descobrir o que ela ti nha, porém sem sucesso. Depois de fi car
inválida na cama, acabou falecendo.

Estranhamente, ela havia dito que, quando morresse, a enfermidade dela


passaria para uma das irmãs. E foi exatamente o que ocorreu. Uma de suas
irmãs foi acometi da do mesmo mal e já estava à beira da morte. A
enfermidade estava migrando de uma pessoa para outra. Obviamente,
quando uma coisa assim acontece, é imprescindível uma investi gação de
caráter espiritual.

Doenças congênitas

Uma das recentes descobertas da ciência é que os P

97% do genoma que achavam não ter função nenhuma ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

são o que faz a conexão do gene com o ambiente externo, ligando-o ou


desligando-o de acordo com os hábitos e o esti lo de vida da pessoa.

Antes acreditava-se que a herança genéti ca infl uía mais do que os hábitos
e o modo de vida na consti tuição de uma pessoa. Hoje, já é provado que o
ambiente interfere de modo decisivo no código genéti co, promovendo
alterações no fun-cionamento dos genes. O genoma sofre muitas alterações,
que podem ser de caráter reversível ou irreversível.

No câncer, o crescimento descontrolado das células é desencadeado por


genes modifi cados e existem dezenas de PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

outros genes relacionados às doenças que podem ser ati vados ou


silenciados por micro RNAs sinteti zados em laboratórios...

(Revista VEJA, 22 de Abril de 2009).

Sem querer estabelecer nenhuma doutrina sobre isso, mas vá-

rias experiências têm demonstrado que muitas doenças congênitas podem


ter uma conotação espiritual no aspecto de heranças espirituais. Aqui
cruzamos a linha entre a ciência e a fé. Isto se comprova,
80

exatamente porque no processo de libertação, através da confi ssão


intercessória das iniquidades geracionais essas doenças desapare-cem. Isso
é muito característi co ao se confrontar o oculti smo e a apostasia familiar:
“Então o Senhor fará espantosas as tuas pragas, e as pragas de tua
descendência, grandes e permanentes pragas, e enfermidades malignas e
duradouras” (Dt 28:59).

Não podemos descartar a possibilidade de uma manipulação demoníaca na


genéti ca humana. Na verdade, se o próprio homem, com sua tecnologia
humana limitada, já tem acesso ao seu genoma, imagine os demônios. O
que podemos concluir é que a alteração ge-1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

néti ca está não apenas relacionada ao esti lo de vida (escolhas, hábitos,


ambiente), mas também com a condição espiritual do indivíduo e da sua
linhagem familiar.

SINTOMA 3. Esterilidade crônica

“Quanto a Efraim, a sua glória como ave voará; não haverá nascimento,
nem gravidez, nem concepção. Ainda que venham criar seus fi lhos, eu os
privarei deles, para que não fi que nenhum homem. Ai deles, quando deles
eu me apartar! ... Efraim levará seus fi lhos ao matador. Dá-lhes, ó Senhor;
mas que lhes darás? Dá-lhes uma madre que aborte e seios ressecados ...
Efraim foi ferido, secou-se a sua raiz; eles não darão fruto; sim, ainda que
gerem, eu PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

matarei os frutos desejáveis do seu ventre. O meu Deus os rejeitará, porque


não o ouviram; e errantes andarão entre as nações” (Os 9:11-17).

Este texto refl ete a implacável inferti lidade do povo de Deus como um
sintoma de uma obsti nada apostasia. A madre ou útero e também os seios
simbolizam na Bíblia o potencial de gerar e sustentar não apenas fi lhos,
mas também relacionamentos, projetos, ministérios, planos, etc. A ferti
lidade é uma consequência natural da vida saudável, porém a esterilidade
crônica denuncia desordem, rebelião e morte espiritual.

MARCOS DE SOUZA BORGES

É muito comum lidarmos com pessoas que se veem dominadas pela


incapacidade de iniciar e principalmente terminar o que se iniciou. Também
pessoas que frequentemente são víti mas de interrup-
ções estranhas estabelecendo frustrações crônicas em diversas áreas

81

da vida. As coisas não se iniciam, ou quando iniciam, estranhamente


morrem, são abortadas.

Tenho ouvido muitas pessoas dizendo que tudo que elas tocam
simplesmente morre, acaba, se perde. De maneira estranhamente anormal,
objetos quebram ou somem, aparelhos estragam, animais 1 | SINTOMAS
DE MALDIÇÃO

de esti mação morrem, a empresa quebra, amigos abandonam, a igreja


divide e regride, projetos sucumbem, sonhos abortam, senti -

mentos se frustram, casamento se destrói, etc. Obviamente esse ti po de


quadro qualifi ca um sintoma de maldição e merece um aconselhamento no
padrão da libertação.
Podemos alistar algumas coisas mais que reforçam este sintoma de
perseguição espiritual: tendências ao aborto ou vários abortos involuntários,
problemas menstruais crônicos e de caráter anormal, perda do útero e seios,
esterilidade espiritual, emocional, senti mental, profi ssional, etc. Nada
prospera.

SINTOMA 4. Quadros de desintegração familiar PARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

A esfera familiar é um dos principais campos para se constatar a existência


de infi ltrações demoníacas. Grande parte do esforço do inimigo se resume
em desintegrar a família. A fragmentação familiar desprotege o indivíduo e
compromete a sua formação, gerando uma situação crônica e precoce de
destruição.

Um dos principais sintomas de maldição numa sociedade é a perda dos


vínculos familiares. Por exemplo, quando a pessoa já não sabe mais quem é
o próprio pai, ou quem é seu fi lho ou não, ou quem é, de fato, o marido ou
a esposa, etc. A ausência desses vínculos normalmente muti la a identi dade
da pessoa sob vários aspectos.

Algumas coisas importantes a serem consideradas, sob o ponto


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

de vista familiar, é quando se observa:

- Um alto percentual de adultério, separação conjugal e divórcio na história


familiar.

- Ódio, rupturas e inimizades na família, em grande escala.

Irmãos que odeiam de morte irmãos ou parentes. Pais que não con-versam
com fi lhos há vários anos ou fi lhos que cortaram totalmente o
relacionamento com os pais. Situações crônicas de violência e brigas, ou até
mesmo, assassinatos entre familiares e parentes.
82

- Cadeia familiar de inversão de papéis entre marido e mulher.

Certa vez, ouvindo o desabafo de uma mulher, ela disse que na sua família,
que era composta por mais quatro irmãs, todas as mulheres se casaram com
“homens bananas”. Todas elas é que sustentavam os maridos e faziam as
coisas “funcionarem” em casa.

Todas essas coisas são signifi cati vas, caracterizando um quadro de


fracasso espiritual, que precisa ser sacerdotalmente confrontado.

SINTOMA 5. Insuficiência econômica contínua, principalmente


quando as entradas parecem ser suficientes 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

Na área fi nanceira, a questão maior não é o quanto a pessoa ganha, mas a


sufi ciência desses recursos diante das suas necessidades.
É comum vermos pessoas que ganham o que seria bem mais que sufi ciente
para suas despesas, porém, na metade do mês, o saldo já está negati vo. De
outra forma, muitas pessoas têm um ganho que mal daria para as despesas,
porém, no fi nal do mês, ainda sobejou.

Os aspectos principais neste ponto são sufi ciência e paz.

Uma questão importante aqui é como a pessoa se relaciona com o dinheiro.


O dinheiro é importante, mas não pode ser o carro chefe.

Ele não pode determinar o que vamos fazer ou deixar de fazer na vida. A
vida fi nanceira precisa ser regida pela fé. O justo viverá pela fé; não pelo
salário (dinheiro). Quando o dinheiro deixa de ser o servo e passa a ser o
senhor, a vida espiritual entra em desequilíbrio. Jesus PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

deixou bem claro: não podemos servir a Deus e a Mamon (riquezas).

Jesus identi fi cou o amor ao dinheiro com a presença de Mamon, uma enti
dade demoníaca, muito versáti l, que está presente em todas as áreas da vida
humana.

Na questão fi nanceira, algumas coisas importantes de serem consideradas


como sintomas de perseguição espiritual são:

- Perdas e roubos frequentes.

- Dívidas constantes, consumismo exagerado, inconti nência fi nanceira


(dinheirorréia). Enormes gastos desnecessários e até sem explicação. Todo
ti po de compulsão incontrolável aponta para uma questão de exploração
demoníaca.

MARCOS DE SOUZA BORGES

- Avareza. Medo paralisante de passar necessidades.


- Casos de bancarrota e falência na família. Pais e avôs que eram ricos e
simplesmente perderam tudo, etc.
Educação fi nanceira

83

É importante considerar que uma das principais causas das desordens


econômicas é a má-educação fi nanceira, para não dizer

“burrice”. Inteligência está ligada ao planejamento. Planejar é colocar a sua


inteligência a seu favor. Se você gasta menos do que ganha você vai
enriquecer. Se você gasta mais do que ganha você vai empobre-1 |
SINTOMAS DE MALDIÇÃO

cer. É uma matemáti ca simples e exata. A falta de planejamento nos gastos


pode causar um rombo fi nanceiro.

Também a falta de estabelecer as prioridades certas pode ser fatal. Primeiro,


as dívidas e obrigações. Em segundo lugar as necessidades (alimentação,
gasolina, etc.) e depois, se for possível, as vontades. Vontade custa caro; é
um outro patamar. A Bíblia diz que Deus suprirá em glória todas as nossas
“necessidades”, e não todas as nossas “vontades.” Se você coloca a sua
vontade antes da necessidade vai ter sérios problemas.

Outra burrice fi nanceira é a cultura do crediário. Se você compra uma


mercadoria a prazo, vai pagar no fi nal o dobro do que ela vale.

Se você ajunta o dinheiro para comprar a vista, tem o poder de bar-P

ganha e vai pagar menos do que ela vale. Ou seja, a diferença entre ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

comprar a vista e a prazo pode signifi car quase três vezes o valor do
produto. Não é pecado você ajuntar dinheiro para conquistar um objeti vo.
Isso, na verdade é inteligência.

Portanto, se você é fi nanceiramente mal-educado não adianta fi car


colocando a culpa no diabo. Você mesmo se torna o seu diabo!

SINTOMA 6. Situação crônica de perdas repentinas, acidentes e


cirurgias frequentes

Não estamos falando de acidentes banais como abalroar o carro no portão


da garagem. Não dá para dizer que isso é uma perseguição
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

demoníaca. Não é nada mais que imperícia ou desatenção. Estou falando de


repeti das situações envolvendo acidentes sérios e estranhos, algumas vezes
inexplicáveis.

Algumas pessoas são um desastre ambulante. Elas estão conti nuamente


sendo víti mas de sérios acidentes com perigos de morte. Um após o outro,
como se alguma coisa esti vesse tentando insistentemente destruí-las de
todas as formas possíveis. A pessoa sofre acidentes automobilísti cos,
acidentes no trabalho, em casa, se envolve em confusões
84

e brigas, sofrendo ferimentos graves e às vezes até fatais. Isso merece uma
investi gação.

Outra questão são as cirurgias. De certa forma, qualquer um está sujeito a


ter que fazer algum ti po de cirurgia, porém, quando isso se torna muito
frequente, é necessário atentar para os envolvimentos dessa pessoa com o
oculti smo, mais especifi camente com o Kardecismo. Atendi um caso de
uma pessoa que passou por sete cirurgias em apenas um ano. Havia sido
instrumento do “Dr. Fritz” por anos a fi o, e, após sua conversão, além de
enfrentar doenças constantes na sua família, essa enti dade vinha se
alimentando do seu sangue 1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

derramado em cirurgias frequentes.

SINTOMA 7. Fracasso crônico associado à história de suicídios na


família
Todas as vezes que uma tentati va de suicídio é prati cada, a pessoa torna-se
ainda mais refém dos espíritos de morte e com profundo senti mento de
fracasso em relação ao moti vo pelo qual desejou ti rar sua própria vida. O
suicídio normalmente estabelece um legado de depressão, fracasso e
bancarrota na linhagem.

SINTOMA 8. Ira incontida associada à história de homicídios e crimes


na família

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

O homicídio invoca um espírito de perseguição e prisão. Produz uma dívida


espiritual e social que transforma a pessoa em prisionei-ro ou fugiti vo. A
pessoa sente-se perseguida e frequentemente em sérios perigos e ameaças
de morte. Cada homicídio é um pacto de sangue com o espírito de morte:
“O vingador do sangue matará ao homicida; ao encontrá-lo, o matará”
(Nm 35:19).

O espírito de morte passa a infl uenciar ou se manifestar na pessoa através


de episódios de ira inconti da, ódio irracional caracterizado por desejo de
matar, impondo assim uma tendência cada vez maior à criminalidade: “O
homem carregado do sangue de qualquer pessoa fugirá até à cova;
ninguém o detenha” (Pv 28:17).

MARCOS DE SOUZA BORGES

As consequências de um homicídio também podem se tornar implacáveis


na família e descendência do criminoso. Quando Joabe, chefe do exército
de Israel, em um ato injusto de vingança, assassi-
nou friamente Abner, que acabara de se aliar a Davi, o próprio Davi

85

mencionou a maldição que passara a vigorar:

“Inocente para sempre sou eu, e o meu reino, para com o Senhor, no
tocante ao sangue de Abner, fi lho de Ner. Caia ele sobre a cabeça de Joabe
e sobre toda a casa de seu pai, 1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

e nunca falte na casa de Joabe quem tenha fl uxo, ou quem seja leproso, ou
quem se atenha a bordão, ou quem caia à espada, ou quem necessite de
pão” (II Sm 3:26-29).

Apesar dos seus familiares não terem nenhuma responsabilidade direta, eles
sofreriam consequências. Davi interpretou espiritualmente a situação,
esclarecendo que muitos descendentes de Joabe sofreriam de doenças
venéreas, lepra, aleijamentos, morte por assassinato e mendicância. Joabe
teria a infelicidade de presenciar as consequências do seu crime na sua
própria família e descendência.

SINTOMA 9. Insanidade e colapsos mentais P

crônicos ou cíclicos

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Normalmente todo quadro de desordem psicoemocional possui um caráter


multi fatorial. Vários aspectos, às vezes de diferentes naturezas, vão se
sobrepondo construindo situações realmente desafi adoras, como falência
psicoemocional causando internamento, depressão, múlti plas
personalidades, crises de loucura, tristeza crôni-ca, solidão profunda,
neuroses, fobias, pânico, colapso nervoso, etc.

Porém, normalmente esses distúrbios são apenas a ponta do iceberg.


Desordens emocionais como a depressão são apenas o sintoma de que há
muito tempo algo vem morrendo de dentro para fora na vida da pessoa.
Tudo isso é o resultado direto e indireto de PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

desenvolver sistemati camente um esti lo de vida que agride a própria


natureza e identi dade.

É importante mencionar que muitos colapsos psicoemocionais resultam de


toda uma construção envolvendo vários fatores. Devemos avaliar a situação
sob várias perspecti vas: emocional, orgânica, genéti ca, nutricional,
ambiental, etc., porém não ignorando que prati camente todo ti po de
falência psicoemocional tem um componente espiritual que não pode ser
desconsiderado. É um processo que vai
86

se prolongando por anos e anos, algumas vezes décadas. Por isso nem
sempre é simples reverter essas situações.
Normalmente não se consegue em poucas horas ou dias des-construir algo
que levou tanto tempo para ser construído. Como nos mostra o diagrama
abaixo, o principal alicerce a ser combati do é medo e passividade. A
pessoa precisa se reeducar no senti do de superar isso em Deus, enfrentando
os respecti vos abusos e traumas.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

MARCOS DE SOUZA BORGES


SINTOMA 10. Períodos da memória da infância

87

apagados e tendência ao surto

Este é um aprofundamento do sintoma anterior. A pessoa, devido a abusos


sofridos e fuga de fortes rejeições, deleta aquele período da memória.
Normalmente isso está relacionado com 1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

abusos sexuais prolongados envolvendo principalmente incesto por parte do


pai. Todo esse sofrimento acaba sendo “superado”

ativando-se um mecanismo de defesa baseado em uma autoami-nésia (ver


diagrama). A pessoa simplesmente foge dessa situação insuportável,
jogando toda essa vergonha e dor para debaixo do tapete da alma.
É comum, quando ao tentar lidar com a situação a pessoa produzir um
surto. Ou seja, a pessoa prefere surtar a enfrentar todo esse sofrimento pelo
qual preferiu se anular. Na verdade, o surto é um mecanismo de fuga
mediante traumas fulminantes, podendo durar horas e até dias. Obviamente
que por essa porta de fuga muitos espíritos malignos podem atuar na
situação. Aqui o pisicoemocional P

se mistura com o espiritual.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

A chave é trabalhar com aconselhamento, levando a pessoa a reagir e


acreditar que, em Deus, ela pode e deve enfrentar essa memória ferida.

Muitas vezes o medo de enfrentar a situação é ainda mais nocivo do que a


situação em si que a levou a fugir, transformando-se numa verdadeira prisão
espiritual. Os hospitais psiquiátricos estão cheios de gente assim, sendo
inapropriadamente medicadas.

... Lembro-me de uma moça que atendi. Ela me relatou que por anos havia
falado para si mesma que precisava se esquecer de algo que acontecera na
sua história. Com o passar dos anos, realmente ela se esqueceu
completamente daquilo. Agora, tentando desenvolver sua vida espiritual,
sabia que precisava enfrentar a situação, porém, o PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

problema é que por mais que se esforçasse, não conseguia se lembrar do


que ocorrera. Era como um cadeado sem a chave.

Após um tempo de oração juntos, ela começou a recuperar sua memória,


enfrentando o terrível trauma dos abusos sexuais que sofrera por parte do
próprio pai. Foi uma libertação cirúrgica, muito dolorosa, porém efi caz.
Finalmente, ela pôde perdoar seu pai e lidar com toda a passividade e
contaminação sexual que havia contraído.

Agora desfrutava a paz que todos podemos ter em Cristo.


88

Uma importante observação aqui é que nessas situações é muito comum um


conselheiro imaturo cometer um abuso espiritual com essas pessoas ao
tentar forçar uma ajuda. Está na contramão do aconselhamento impor uma
ajuda. A porta sempre tem que abrir de dentro para fora, ou seja, com o
pleno consenti mento da pessoa.

Você encoraja a pessoa a resgatar a memória recalcada, enfrentando a sua


dor, porém, se de alguma forma ela se recusa a isso, você não deve insisti r
no processo.

SINTOMA 11. Transferência familiar

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

de comportamentos e vícios
É quando se percebe claramente um mesmo problema, de característi cas
idênti cas, migrando de uma pessoa para outra dentro do círculo familiar.
Ou seja, quando um melhora o outro piora. Isso qualifi ca um quadro de
transferência de espíritos. Pode se manifestar de várias formas:
consumismo, alcoolismo, enfermidades, hipocondria, depressão, etc.

“Ora, havendo o espírito imundo saído do homem, anda por lugares


áridos, buscando repouso, e não o encontra.

Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, chegando, acha-a
desocupada, varrida e adornada. Então vai e leva consigo outros sete
espíritos piores do que ele e, entretanto, PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

habitam ali; e o últi mo estado desse homem vem a ser pior do que o
primeiro. Assim há de acontecer também a esta geração perversa” (Mt
12:43-45).

Este texto tem uma forte conotação ligada à apostasia, mas também revela
algo interessante: o espírito imundo sai do homem e retorna para a casa.
Esta palavra casa, no literal, se refere à geração dessa pessoa,
comprovando o princípio da transferência de espíritos.

Obviamente esses espíritos vão se transferir para alguém espiritualmente


vulnerável que está dando lugar a eles.

Por exemplo, quando o pai morre e a esposa desse homem ou MARCOS


DE SOUZA BORGES

algum fi lho assume o mesmo perfi l negati vo de comportamento, percebe-


se claramente uma transferência desse espírito alojado na árvore
genealógica. Esse seria um caso de libertação.
SINTOMA 12. Quadro familiar crônico de mortes

89

prematuras, viuvez e perda de filhos

Quando acontecem mortes estranhas de caráter repeti ti vo.

Todos os homens morrem com determinada idade; a maioria das mulheres


na família morrem de câncer; todas as mulheres fi cam 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

viúvas precocemente; todas as mulheres abortam o primeiro fi lho; todos os


primogênitos morrem jovens de morte violenta.

Observa-se exatamente esse padrão de maldição na casa de Eli.


Porque Eli, no exercício do seu sacerdócio, não teve força moral para
corrigir e punir os abusos morais e ministeriais prati cados pelos fi lhos, ele
abriu uma porta de destruição e morte prematura em relação às suas
sucessivas gerações: “O homem da tua linhagem a quem eu não
desarraigar do meu altar será para consumir-te os olhos e para entristecer-
te a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão na idade varonil.
E te será por sinal o que sobrevirá a teus dois fi lhos, a Hofni e a Finéias;
ambos morrerão no mesmo dia” (I Sm 2:33,34).

SINTOMA 13. Cadeias pecaminosas de caráter hereditário: ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

prostituição, divórcio, vício, roubo, filhos bastardos, etc.

Ao fazer uma varredura espiritual em relação à família em uma esfera de


três a quatro gerações percebe-se um alto percentual de pessoas reincidindo
em determinado problema. Por exemplo, quando 90% dos homens são
alcoólatras, 100% das mulheres são mães solteiras, 100%

dos homens são adúlteros, 90% dos casamentos acabam em divórcio, etc.

Não precisa ser um expert em aconselhamento espiritual para discernir que


existe um quadro maligno de perseguição instalado na linhagem. O crédito
de iniquidade só vai intensifi cando a situação, levando cada vez mais a
descendência a uma situação de total desgraça e colapso.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

SINTOMA 14. Problemas anormais e desvios na área sexual

Defi nindo o casamento

Antes de falarmos sobre problemas sexuais, é fundamental defi nirmos o


casamento. A essência do casamento e da família é a aliança, ou seja, um
compromisso pelo resto da vida baseado em fi delidade, confi ança e
respeito. Quatro bênçãos relacionadas às esfe-
90

ras de autoridade estabelecidas por Deus funcionam como alicerces


espirituais que irão defi nir o sucesso do casamento:

• A bênção dos pais (família). Na Bíblia, é fácil observar que a principal


insti tuição responsável pelo casamento é a própria família da pessoa. Os
casamentos nos tempos bíblicos eram realizados mediante a aprovação dos
pais, em casa. Em Gênesis a Bíblia mostra essa ligação entre o casamento e
os pais: “Portanto, deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à
sua mulher, e serão uma só carne” (Gn 2:24).

O casamento se resume na emancipação, ou seja, na autorização dos pais


para deixá-los, em honra, assumindo diante de Deus uma aliança 1 |
SINTOMAS DE MALDIÇÃO

até que a morte os separe.


• A bênção sacerdotal (igreja). O conselho dos líderes e pastores é essencial
para confi rmar um passo tão importante como é o casamento. Qualquer
advertência nesse senti do deve ser levada a sério.

• A bênção judicial (governo). Faz parte do dever civil e bíblico de se


submeter às autoridades insti tuídas por Deus. Isso traz uma proteção legal.
O não-casamento no cartório estabelece uma situação espiritual ilegíti ma
em relação ao casamento, ou seja, o amasiamento.

• A bênção sexual (aliança), estabelecida pela pureza e fi delidade conjugal.


A inti midade sexual sanciona e renova uma aliança de sangue entre o casal,
construindo a condição espiritual de uma só carne, uma só alma, a afi
nidade conjugal: “... Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne” (I
Co 6:16).

Normalmente, quando a vida sexual dentro do casamento acaba, PARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

é sinal que esse casamento está seriamente danifi cado, adoecido e em


perigo. Casamento sem sexo está deixando de ser casamento.

As questões e contaminações relacionadas à vida sexual das pessoas


precisam ser muito bem resolvidas.

A intimidade sexual no casamento

Quase sempre as pessoas estão em confl ito com essas questões.

O que pode e o que não pode na inti midade conjugal? O sexo oral é
pecado? E o sexo anal? É pecado? Em um livro como este, precisamos
tratar desse ti po de questão, especialmente devido aos tantos casais que
atendemos enfrentando problemas de falsa culpa, que sempre MARCOS
DE SOUZA BORGES

redundam em sérias frustrações.


Outro fator aqui são os abusos espirituais relacionados ao aconselhamento.
Quando qualquer conselheiro cristão começa a doutri-
nar como deve ser a inti midade sexual de um casal está cruzando

91

uma linha perigosa, podendo cometer um abuso espiritual. Nessas questões,


o melhor é deixar a Bíblia falar.

A primeira consideração relevante é que o sexo oral e anal são fortemente


proibidos na Bíblia, porém, sempre relacionados ao contexto da
homossexualidade. Quando você estuda o primeiro 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

capítulo da carta de Paulo aos romanos, por exemplo, vai perceber que o
contexto implícito não é o casamento ou a vida marital, mas é o
homossexualismo e toda perversão resultante de gente que explici-tamente
renega a Deus, caindo no que ele chama de paixões infames:
“Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas
mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza;
semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se
infl amaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com
varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa
do seu erro” (Rm 1:26,27).

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Não dá para associar esse texto ao casamento. Também, quando a Bíblia


fala sobre a sodomia, é importante entender que sodomia está
descontextualizada do casamento. O conceito de sodomia tem a sua origem
na Bíblia. A história da sodomia está essencialmente ligada ao
homossexualismo, ou seja, quando os habitantes de Sodoma chegaram a
recusar a proposta de Ló em relação às fi lhas, cobiçando sexualmente os
varões que hospedara em sua casa. Por incrível que pareça, você não
encontra na Bíblia o conceito de sodomia vinculado ao casamento.

Basicamente, em relação ao sexo, a Bíblia estabelece duas condições


fundamentais:

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

• A primeira condição é o casamento

Qualquer ti po de inti midade sexual fora do casamento é pecaminosa, e


certamente trará consequências espirituais e sociais destruidoras. Você pode
encontrar em toda a Bíblia inúmeras restrições e proibições para o sexo fora
do casamento. Entretanto, no contexto do casamento, você não vai achar
nenhuma referência bíblica regula-mentando ou restringindo o que um casal
pode ou não fazer na sua
92

inti midade sexual. Não existe! Muito pelo contrário, se estudarmos o livro
de Cantares de Salomão, vamos nos surpreender descobrindo a importância
do eroti smo e da liberdade sexual dentro do matrimônio.

O sexo dentro das fronteiras do casamento deve ser encarado como um


presente de Deus e deve ser desfrutado com todo prazer.

É importante quebrarmos alguns sofi smas que tentam impor que o sexo
matrimonial é sujo, vergonhoso ou indecente. Nada disso deve ter espaço
no matrimônio. Pelo contrário, quando existem barreiras, constrangimentos
ou até mesmo bloqueios na vida sexual de um casal é bem possível que
exista uma infi ltração demoníaca 1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

respaldada principalmente por abusos sexuais ou religiosos. Todas as


restrições bíblicas em relação ao sexo estão em um contexto extraconjugal.
• A segunda condição, que depende da primeira, é o consenso

Quem ama respeita. Quando não existe respeito ou conivência, haverá


violência. Onde existe violência haverá sofrimento. Não existe prazer sem
respeito. Havendo consenso, a inti midade sexual dentro do casamento não
encontra regras ou restrições bíblicas.

Na verdade, a única restrição que Paulo colocou está relacionada à absti


nência sexual (I Co 7:5), que deve ser feita em comum acordo, por um
tempo que não seja longo, e com a moti vação de consagração e oração.
Infelizmente, por moti vos diversos, envolvendo principalmente
deslocamento devido ao trabalho, alguns casais se abstêm da PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

inti midade sexual por um tempo demasiadamente longo, e isso acaba


funcionando como um convite ao adultério, como Paulo adverte: “...

para que Satanás não vos tente pela vossa inconti nência.”

O sexo envolve todo o corpo das pessoas. Provém de Deus que o casal
desfrute de prazer, o que se confi rma pela própria anatomia humana. Isso é
fundamental na vida de pessoas maduras (casadas) que precisam enfrentar
tantos momentos de responsabilidade e tensão. O sexo é um mecanismo
altamente desestressante e que refi na emocionalmente e espiritualmente a
inti midade do casal.

Portanto, desde que haja consenso, não existem regras ou restrições bíblicas
para o sexo dentro do casamento. Paulo endossa esse MARCOS DE
SOUZA BORGES

entendimento dizendo: “A mulher não tem autoridade sobre o seu pró-

prio corpo, mas sim o marido; e também da mesma sorte o marido não tem
autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher” (I Co 7:4).
Obviamente, este texto explica que o sexo está ligado ao corpo e

93

não a parte dele, o que envolve a mente, todos os senti dos (visão, au-dição,
paladar, tato e olfato), assim como toda a pele (não parte dela), o sistema
nervoso, glandular, hormonal, etc. O sexo engloba todo o corpo.

Veja bem, foi Deus quem criou a anatomia humana dessa forma, e não o
diabo! É lógico que se um dos cônjuges não se sente bem 1 | SINTOMAS
DE MALDIÇÃO

com alguma forma de investi mento sexual, ele deve ser respeitado.

Quem ama respeita. Porém, naquilo que ambos se sentem esti mulados e
mutuamente realizados, não existe pecado e muito menos condenação. Este
ti po de tabu precisa ser eliminado. É o ti po de religiosidade que pode até
destruir um casamento.
Ressalvas a serem consideradas

• Penso que em relação ao sexo anal cabe o conselho de Paulo:

“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as
coisas me são lícitas; mas eu não P

me deixarei dominar por nenhuma delas. Os alimentos são ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém aniquilará,


tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prosti tuição, mas para
o Senhor, e o Senhor para o corpo” (I Co 6:12,13).

Apesar do contexto desse texto ser a “prosti tuição” e não o “sexo marital”
e de não encontrarmos nenhuma proibição bíblica para o sexo anal
associada à vida marital, penso que apesar de ser “lícito” havendo o
consenso entre o casal, ele não convém por uma série de questões de cunho
orgânico, fi siológico, emocional, higiênico, etc. Esse é um conselho (não
regra) que dou àqueles que me perguntam sobre isso.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

• Também, por conta dos envolvimentos e contaminações passadas de um


casal com a perversão sexual, como, por exemplo, uma mulher que veio de
um passado homossexual e que agora, casada, só sente prazer com o sexo
oral, o Espírito Santo pode convencê-los a não se envolverem sexualmente
dessa forma. Mas, isso tem que parti r de uma convicção pessoal do Espírito
Santo na vida deles e não da imposição do conselheiro.
94

É um erro querer doutrinar a inti midade conjugal. Nem a Bíblia faz isso. Se
nem a Bíblia estabelece regras sexuais para o casamento, penso que não
devemos querer ser mais sábios que Deus. Portanto, o que temos aqui, sem
desmerecer o zelo das pessoas que agem dessa forma, é que elas pegam um
texto fora do contexto, forçam uma interpretação sob um pretexto de santi
dade e sem perceber acabam abusando da inti midade conjugal alheia.

Essas restrições sexuais dentro do casamento podem soar como algo


espiritual, mas não são, pois está interferindo na inti midade das pessoas em
algo que não existe um respaldo bíblico legíti mo.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

Esse ti po de sofi sma só reforça o espírito de religiosidade e priva o casal


de desfrutar de uma liberdade e responsabilidade outorgadas pelo próprio
Deus. Nesse contexto vale aplicar um outro conselho de Paulo: “A fé que
tens, guarda-a conti go mesmo diante de Deus.

Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que


aprova” (Rm 14:22).

Atração e intenção

Para esclarecermos as relações interssexuais é relevante disti nguirmos estes


dois conceitos: atração e intenção. Existe uma distância entre a atração e a
intenção sexual. Essa é a mesma distância entre a fome e a gula, a sede e a
bebedice, o sono e a preguiça, o zelo e o ciúmes, etc. São coisas diferentes,
que não devem ser confundidas.

Atração e intenção estão na base da tentação e pecado respec-PARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

ti vamente. Atração corresponde à tentação, assim como a intenção ao


pecado. Atração e tentação são involuntários. Intenção e pecado, por sua
vez, implicam em uma decisão interior tomada, e, portanto, da nossa inteira
responsabilidade.

Toda tentação pode ser vencida e todo pecado pode ser evitado.

Vencer a tentação é uma questão de velocidade. A grande chave para lidar


com a tentação é não se entreter com ela. Quanto mais rápido falamos
“não” à tentação mais fácil é.

Discernindo essa distância entre a tentação e o pecado concluí-

mos que, na verdade, pecamos menos que pensamos que pecamos.

O grande perigo de confundir a tentação com o pecado é que, ao MARCOS


DE SOUZA BORGES

ser tentada, a pessoa equivocadamente conclui: “pequei em pensamento!” E


isso pode se tornar um falso pretexto: Já que pequei em pensamento, vou
até o fi m! Esta é a receita do desastre!
É fundamental compreendermos que a atração intersexual é algo

95

insti nti vo, natural, biológico e hormonal. Todo ser humano normal, em
relação ao sexo oposto, está sujeito à atração � sica. Precisamos trabalhar
com a intenção. Ou seja, a atração é basicamente hormonal, enquanto a
intenção é basicamente moral. Não temos como castrar o desejo sexual,
mas temos como dominá-lo.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

O pecado é, a rigor, uma questão de intenção, e não de atração.

O desejo sexual em si não deve ser castrado. Nesse caso estaríamos


estabelecendo um jugo que agride nossa própria natureza. Atração sem uma
intenção ilícita não tem nenhuma conotação pecaminosa. Acho importante
esclarecer isso pois muita gente carrega uma terrível sobrecarga de
condenação pelo simples fato de se senti rem sexualmente atraídos, ou seja,
por serem normais.

Certa vez, um homem que levava muito a sério a sua vida espiritual
desabafou comigo: “Pastor, sou um pecador terrível! Eu perguntei
preocupado: O que aconteceu? Ele respondeu: Algumas vezes sinto-me
sexualmente atraído por outras mulheres (vale mencionar que ele vive em
uma cidade onde as mulheres são terrivelmente P

provocati vas). Então eu o questi onei: Mas, nessas vezes que isso ARTE II
- ANALISANDO O DIAGRAMA

tem ocorrido, você já chegou a intencionar um relacionamento caso ti vesse


a chance para isso? Ele disse: De forma alguma, jamais! Sou fi el à minha
família! Ao explicar para ele que aquilo que estava acontecendo é
exatamente porque ele é normal, foi como se uma tonelada de falsa
condenação saísse dos seus ombros. Aquilo foi libertador!

O desejo sexual é uma faculdade natural na vida de qualquer ser humano.


Isso faz parte da própria química do organismo. Ninguém é imune à atração
sexual. Porém, é importante considerar que o apeti te e a atração sexual
podem sofrer severos desequilíbrios indicando uma infi ltração de caráter
espiritual.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Vamos passar agora aos sintomas latentes que evidenciam uma perseguição
espiritual de cunho sexual:

SINTOMA A. Tendência à Homossexualidade Forte atração sexual por


pessoas do mesmo sexo e nenhuma atração pelo sexo oposto. A atração
intersexual é concernente a natureza humana, porém, a atração homossexual
denuncia a infi ltração de
96

um espírito de perversão sexual. O homossexualismo pode também se


desenvolver através de outras deturpações como:

- Transexualismo: o indivíduo não aceita o seu sexo e deseja mudá-lo. A


perseguição homossexual desde a infância da pessoa é tão intensa que ela se
sente inadequada sexualmente. É algo altamente demoníaco. Isso não é só
carne e sangue ou hormônios. A pessoa está convicta de que nasceu com o
sexo errado. Muitas vezes sente ódio de Deus e se torna ainda mais
revoltada espiritualmente. Essa semente de perversão contamina outras
áreas da vida.

- Travestismo: Desejo intenso e compulsivo de vesti r-se com 1 |


SINTOMAS DE MALDIÇÃO

roupas do sexo oposto. Esse ti po de aprisionamento espiritual evidencia um


confl ito maligno instalado na identi dade. Esse é um sintoma extremo de
perseguição homossexual, que mostra a necessidade não apenas de uma
libertação, mas de um processo de reeducação da identi dade.

SINTOMA B. Desejo sexual desordenado

Existem dois extremos em relação ao desejo sexual: a neurose sexual e a


impotência sem diagnósti co médico claro.

• A neurose sexual

A neurose sexual se fundamenta em um apeti te sexual desco-munal,


incontrolável. Certa vez um missionário me procurou pedindo PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

ajuda. Ele resumiu o seu problema dizendo que se masturbava em torno de


dez vezes ao dia. Descobriu que havia se transformado em um maníaco
sexual compulsivo.

Hoje já temos organizações de ajuda como os Viciados Sexuais Anônimos,


onde muitos cristãos frequentam. Obviamente são pessoas que precisam de
ajuda mesmo. É comum ouvirmos histórias de pessoas que ti nham quinze
relações sexuais (sem ajuda de Viagra) numa única noite... Lógico que essas
pessoas estão turbinadas por espíritos malignos de perversão sexual.
Certamente necessitam de uma libertação.

MARCOS DE SOUZA BORGES

• Impotência e frigidez

O outro extremo é o apeti te sexual ausente, ou seja, casos de impotência


sexual ou marital sem nenhum diagnósti co médico.
Frigidez feminina

97

Em relação à frigidez feminina, o que normalmente encontramos é:

- Adultério oculto. Incrivelmente, na maioria dos casos, o adultério abre


uma porta de frigidez e até aversão sexual no casamento.

- Abuso sexual na infância. Mulheres traumati zadas por abusos 1 |


SINTOMAS DE MALDIÇÃO

sexuais desenvolvem uma fortaleza demoníaca de caráter sexual. É

como uma arma dormente que é ati vada após o casamento, produzindo um
ti po de “cinto de casti dade”. Esse ti po de prisão acaba destruindo a vida
sexual do casal, deixando-o suscep� vel ao adultério e divórcio. É algo
realmente maligno.
Impotência masculina

- Feiti çaria. É impressionante como muitos casos de impotência marital


estão associados a um passado não redimido de imoralidade sexual e feiti
çaria.

Em um de nossos seminários, uma psicóloga que fazia parte daquela igreja


se candidatou para um aconselhamento demons-P

trati vo. Seu maior dilema era que havia já seis anos que não ti nha ARTE II
- ANALISANDO O DIAGRAMA

relações sexuais com o marido. Aquilo trazia uma terrível frustração, que
estava pesando em vários aspectos da sua vida. Mesmo tendo aceitado o
Evangelho há três anos atrás, o quadro simplesmente não havia alterado.

Perguntei se ela suspeitava de algo específi co que produzira essa situação.


Então, veio à tona a causa do problema. Desde que se casou, seu marido
nunca foi um homem fi el a ela. Isso foi trazendo uma crescente amargura e
revolta ao seu coração. A questão já era conhecida da família, e sua mãe,
que já ti nha uma longa práti ca no oculti smo, sugeriu que ela procurasse
na macumba uma pessoa que era especialista em resolver esses casos.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Apesar de não simpati zar muito com essas coisas, ela acabou indo. O ritual
aconteceu em uma sala absolutamente escura. O feiti -

ceiro entregou a ela um objeto com forma cilíndrica e orientou que ela
mordesse aquilo com toda força até que ele falasse para ela parar.

Ela relatou que a sensação que ti nha é que aquele homem estava se
masturbando enquanto fazia uma série de rezas e invocações...

Depois disso, nunca mais o seu marido a traiu, mas também nunca mais
teve relações sexuais com ela. Na verdade, ele tornou-se
98

sobrenaturalmente impotente. Perguntei se ela já havia conversado com o


seu marido sobre essa vingança, e ela respondeu que, apesar de arrependida,
nunca teve coragem para isso. Oramos pedindo perdão a Deus, desfazendo
esse ritual onde o órgão sexual do marido havia sido “muti lado”
espiritualmente.

Sugeri então que ela enfrentasse a situação, não apenas perdoando o marido
pelas traições, como também pedindo perdão a ele pela amargura e
vingança que se consumaram através desse ritual macabro. Ela foi para a
sua casa resoluta. No outro dia, apareceu com um largo sorriso,
maravilhada. Incrivelmente, havia ti do uma 1 | SINTOMAS DE
MALDIÇÃO

lua-de-mel após seis anos de absti nência sexual com o marido.


- Pornografi a. Existe uma demoníaca ligação entre a pornografi a e a
impotência marital. Como a pornografi a é um esti mulante sexual, isso
pode parecer contraditório, mas é fato. Existe uma lógica espiritual nesse
raciocínio. Sabemos que o homem é sexualmente despertado por aquilo que
vê. Seus hormônios são ati vados pelo senti do da visão. Na verdade, para a
maioria dos homens, o sexo visual dá mais prazer que a própria relação em
si.

O principal alvo de Satanás através da pornografi a é ati ngir a fi gura do


marido e do pai. Devido a difi culdades diversas no relacionamento sexual e
à facilidade de acesso, o homem pode facilmente refugiar-se na pornografi
a, pela qual acaba sendo totalmente absorvido. Dessa forma, o marido
começa a trocar sua esposa pelo sexo pornográfi co, fi cando horas e horas
todos os dias mergulhado na PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

pornografi a.

Em muitas situações, o que temos constatado é que quanto mais a pessoa se


envolve com a pornografi a, mais ela vai perdendo o interesse sexual pela
esposa. Seu desejo sexual começa a migrar de dentro para fora do
casamento. A inti midade sexual no casamento malignamente perde a graça
e morre.

SINTOMA C. Feitiçaria sexual

Não são poucas as pessoas que se envolvem no oculti smo em busca de


favores na área sexual. Passam a ser acompanhadas por MARCOS DE
SOUZA BORGES

espíritos de sedução. Recebem uma capacidade sobrenatural de atração e


sedução senti mental e sexual. Essas infl uências malignas funcionam como
um feromônio sexual.
Mesmo já tendo aceitado o Evangelho e frequentando uma igre-

99

ja, algumas pessoas carregam um espírito de sensualidade e sedução senti


mental. A pessoa se obsti na senti mentalmente por alguém e quando essa
pessoa se apaixona também por ela, ela sente aversão e a rejeita. Mal saiu
de um relacionamento, já entra em outro. Assim vai colecionando corações
quebrados e senti mentos machucados.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

Noutros casos, depois de se apaixonar e envolver sexualmente com pessoas


espiritualmente vulneráveis, é sobressaltada por uma aversão terrível. Esses
episódios de paixão, sedução, fornicação e aversão vão se repeti ndo com
várias pessoas e em várias igrejas, trazendo enormes prejuízos emocionais e
espirituais.
SINTOMA D. Sexolatria, pornografia e masturbação Essa é a linha de
ação de uma pessoa com a mente viciada nas fantasias sexuais. É
fundamental estabelecer um limite para as fantasias sexuais. A mente é o
principal campo de batalha espiritual.

É na mente que decidimos se governaremos os nossos desejos e P

senti mentos ou seremos espiritualmente desgovernados por eles.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Hoje presenciamos uma eroti zação cultural. O sexo cada vez mais se
agiganta como um ídolo. O cérebro é o principal órgão sexual do ser
humano. Não existe limite para as fantasias sexuais. Essas fantasias podem
evoluir para neuroses, se transformando nas mais terríveis cadeias
demoníacas, destruindo a vida espiritual, ministerial, conjugal e familiar de
muita gente.

SINTOMA E. Sonhos eróticos constantes

e relações sexuais espíritas

Isso é bem estranho, mas está cada vez mais presente nos acon-
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

selhamentos. Pessoas que confi denciam esse ti po de perturbação


espiritual, sofrendo uma constante abordagem sexual por parte de espíritos
demoníacos. É algo literalmente sobrenatural e opressor.

Na práti ca, desvendamos três situações que podem estar presentes nesse ti
po de sintoma:

- Legado de perversão sexual na família (homossexualismo, incesto, etc.).


Dependendo das instâncias, a imoralidade geracional pode abrir uma porta
de opressão, perseguição, obcecação e até pro-
100

porcionar essa terrível situação, onde a pessoa passa a ser abordada


sexualmente por espíritos demoníacos.

- Besti alidade. A besti alidade é espiritualmente um pacto de sangue, um


casamento com espíritos demoníacos de perversão sexual. A pessoa fi ca
vulnerável a esse ti po de abordagem sexual.

- Casamento na macumba (casamento ou relacionamento sexual no oculti


smo). Algumas relações sexuais prati cadas ritualisti camente na feiti çaria,
principalmente com pessoas que ocupam uma posição sacerdotal, confi
guram um casamento entre a pessoa e a enti dade representada por esse
sacerdote.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO
Certa vez, fui procurado por uma senhora. Apesar de já ser casada e estar
fazendo um curso preparatório para desenvolver um projeto missionário
internacional, ela vinha vivendo essa pavorosa perturbação. Perguntei
quando isso começou e a história que ela me contou desvendou a natureza e
a verdadeira causa do problema.

Ela vinha de um lar oculti sta. Sua mãe era uma sacerdoti sa naquela
religião. Havia também ali um pai de santo que recebia o orixá do terreiro,
segundo ela, um tal de Exú-lúcifer. Pouco antes de completar seus dezesseis
anos, a mãe comunicou a ela um recado desse orixá. Ela precisaria realizar
um importante ritual no dia do seu aniversário.

Em obediência à mãe, ela simplesmente foi. No meio do seu de-poimento,


ela desabafou: “Até hoje, eu não sei se a minha mãe sabia o que iria
acontecer comigo ali”. Realmente foi algo trágico. Foi levada a PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

um local reservado, onde fi cou sozinha com esse homem que chefi ava
aquele terreiro. Ela descreveu como percebeu visivelmente esse orixá se
incorporando nele e parti ndo para cima dela. Inexplicavelmente, quase sem
reação, ela foi defl orada sexualmente por aquele espírito incorporado no
sacerdote. Só depois veio descobrir que a oferenda que aquela enti dade
queria era a virgindade de uma moça de 16 anos.

Após esse fato, começaram a acontecer as abordagens sexuais de caráter


espiritual. Ela senti a invisivelmente essa enti dade apal-pando o seu corpo
e visitando-a na sua própria cama. Na verdade, o que acontecera naquele
ritual foi, literalmente, um casamento. Ela fora dada pela mãe em
casamento ao Exú-lúcifer, fi cando na posição MARCOS DE SOUZA
BORGES

conjugal de esposa.

Mesmo depois que aceitou o Evangelho e se casou, esse ti po de exploração


demoníaca conti nuava acontecendo, ainda que de forma
mais amena. Lógico que esse ti po de situação evidencia um sintoma

101

de perseguição espiritual, o que demanda um aconselhamento no padrão da


libertação.

SINTOMA F. Pedofilia

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

É a atração sexual por crianças. Normalmente, pessoas abusadas na infância


tornam-se adultos pedófi los. Esse é um ti po de cadeia que pode se estender
por gerações. É algo doenti o. Quando uma pessoa adulta começa a ter
desejos sexuais por crianças, realmente tem algo muito errado com ela.
Certamente existem muitos problemas espirituais e sexuais enraizados na
sua história pessoal e familiar. Os abusos acontecem com maior frequência
com pessoas da mesma família, mas vale mencionar que um dos locais
prediletos para os pedófi los é a igreja, o ministério com crianças e
adolescentes...

A cada oito minutos uma criança brasileira é víti ma de abuso, independente


da classe social. A agressão geralmente vem acompanhada de agressão
moral e � sica. Quando a pessoa deixa de buscar ajuda, P

mais cedo ou mais tarde será descoberta. Muitos acabam na prisão.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

SINTOMA G. Exibicionismo

O exibicionismo pode ser defi nido como o desejo anormal de exibir os


órgãos sexuais. Quando uma pessoa perde contato com o pudor, quando
passa a ser seduzida pela vontade de seduzir outros exibindo os órgãos
sexuais, isso denuncia uma forte infi ltração demoníaca.

Existe uma vergonha que Deus vesti u: “E o Senhor Deus fez túnicas de
peles para Adão e sua mulher, e os vesti u” (Gn 3:21). É

o que vemos na queda do homem. O pecado desvesti u o homem


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

e trouxe a vergonha. A Bíblia fala muito sobre vestes. Deus deseja lidar
com as nossas vergonhas nos vesti ndo de justi ça, alegria, santi dade,
louvor, etc. Por sua vez, Satanás quer nos desmoralizar ainda mais através
da nudez e da indiscrição: “Como jóia de ouro em focinho de porca, assim
é a mulher formosa que se aparta da discrição” (Pv 11:22).

O exibicionismo sempre vai incitar um desejo que não será sati sfeito da
maneira correta. Esse é o princípio da defraudação. O
102

exibicionismo é uma área de tentação principalmente para as mulheres,


visto que o homem é atraído, essencialmente, por aquilo que vê. Quando
alguém se sente à vontade para seduzir, ou colecionar a cobiça alheia
através do exibicionismo, obviamente, existe uma infi ltração espiritual
latente.

Poderíamos alistar várias práti cas sexuais perverti das que precisam ser
confrontadas e trabalhas em um processo de libertação.

Algumas delas são inacreditáveis: Masoquismo, Sadomasoquismo,


Voyeurismo, Coprofagia, Necrofi lia, Urofi lia, etc.

1 | SINTOMAS DE MALDIÇÃO

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA


MARCOS DE SOUZA BORGES
2

PROCESSO DO

MAPEAMENTO

- Pesquisa e entrevista

- Revelação
PASTOREAMENTO INTELIGENTE
MARCOS DE SOUZA BORGES
2

PROCESSO DO

MAPEAMENTO

Definição

Seguindo o nosso diagrama, o mapeamento espiritual corresponde à


distância entre os sintomas de maldição e as suas respecti vas causas. Este é
o processo de se estabelecer o diagnósti co. O mapeamento é construído
pela habilidade de percorrermos a distância espiritual entre os sintomas de
maldição apresentados e o respecti vo conjunto de causas que os sustentam,
através de pesquisa (entrevista) e, principalmente, da revelação de Deus.

O mapeamento é a mira do processo de aconselhamento e libertação,


através do qual vamos compreender a verdadeira natureza e causas do
problema. Ou seja, é o processo investi gatório de desvendar as verdadeiras
causas relati vas aos sintomas apresentados.

Falhas neste processo comprometem severamente os resultados de um


aconselhamento.

A primeira coisa que aprendemos no campo da libertação é que, para


obtermos soluções defi niti vas, devemos remediar as causas, e não os
sintomas do problema. Precisamos saber interpretar os sintomas sob uma
perspecti va pessoal, territorial e sistêmica, de tal forma que esse
discernimento nos ajude a desvendar as verdadeiras raízes do problema que
precisam ser combati das.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Um dos mais importantes aspectos da intercessão é o mapeamento


espiritual. É fundamental o discernimento e a perseverança para pesquisar,
rastrear e cartografar a história pessoal, familiar, hereditária e territorial: as
feridas, os traumas, injusti ças sofridas ou prati cadas, pecados repeti ti vos,
fortalezas na mente, histórias de abusos e abandono, culturas baseadas em
valores inverti dos, as alianças quebradas, as profecias e os legados
demoníacos, crimes relevantes, etc.
106

O poder da confissão inteligente

Heather Marjorybanks, uma experiente missionária da Jocum que trabalha


com mapeamento espiritual de nações, deu o seguinte relato:1

“Durante a Segunda Guerra Mundial eram necessárias 53 mil bombas para


acertar um alvo desejado. Na guerra da Coréia este número caiu para 16 mil
bombas. Posteriormente na guerra do Vietnam já haviam dispositi vos que
conseguiram reduzir este número para 700 bombas. E na guerra do golfo
dispunha-se de armas de precisão absolu-2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO

ta, um míssil para cada alvo. Hoje, portanto, temos o que chamamos de
“mísseis inteligentes”, uma guerra cirúrgica onde cada míssil tem a
capacidade de ati ngir com precisão o alvo para o qual foi designado”.
Esta mesma precisão bélica tem se expressado na realidade espiritual
através dos princípios de cartografi a e mapeamento espiritual.

Quanto melhor um quadro de maldição ou perseguição espiritual é


mapeado, mais inteligente e precisa torna-se a confi ssão e a intercessão. Os
resultados disso são palpáveis. A confi ssão inteligente é o aspecto mais
importante da intercessão. A capacidade de mapear com precisão as culpas
pessoais, hereditárias e territoriais defi ne a efi cácia de uma intercessão.
Sem esta objeti vidade, nos tornamos PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

confusos e pastoralmente inefi cazes ao enfrentar um quadro de perseguição


ou aprisionamento espiritual.

A revelação de Deus é dinâmica. O Senhor está sempre descorti nando e


redescorti nando sobre a sua Igreja estratégias e discernimentos novos e anti
gos que nos permitem estar sempre um passo à frente do inimigo. O
principal elemento responsável pela destreza e perícia na batalha espiritual
é o mapeamento espiritual, que pos-sibilita o que Tiago denomina de a
“oração do justo”, a qual muito pode em seus efeitos, visto que discerne
com precisão “culpas” que precisam ser inteligentemente confessadas (Tg
5:16).

O sucesso de uma libertação depende da asserti vidade do diag-MARCOS


DE SOUZA BORGES

nósti co. O mapeamento espiritual nos conduz com profundidade ao


diagnósti co correto que nos permite fazer intercessões e confi ssões
inteligentes, objeti vas e fulminantes, com resultados precisos.
As duas rotas do mapeamento espiritual

107

- Entrevista e pesquisa

Uma sábia entrevista é indispensável na condução de um pro-2 |


PROCESSO DO MAPEAMENTO

cesso de libertação. Todo libertador precisa desenvolver um apeti te pela


pesquisa. Aqui reside o trabalho de inteligência da libertação.

Por isso é tão importante incenti var o espírito investi gatório presente no
ministério sacerdotal.

Estudando o o� cio sacerdotal no Anti go Testamento, principalmente no


livro de Levíti cos, entendemos claramente essa responsabilidade de investi
gar para diagnosti car situações específi cas, como na lei da praga e da
lepra, lei do adultério, lei do homicida, etc.

O libertador, como intercessor que é, precisa desenvolver o perfi l de um


“investi gador espiritual”, seguindo pistas verdadeiras, lendo acertadamente
os sintomas presentes, fazendo as perguntas certas e, principalmente, ouvir
o Espírito Santo para trazer à luz tudo que ainda esteja sob jurisdição do
príncipe das trevas. Os demônios farão P

tudo para que determinadas revelações que sustentam um crédito ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

de injusti ça não venham à luz. Enquanto as verdadeiras causas de um


quadro de maldição são ignoradas, a perseguição espiritual permanece.

A primeira coisa em aconselhamento é saber ouvir a pessoa.

Para discernir é necessário ouvir. Para ouvir é necessário uma escuta ati va.
Para isso, é necessário nos despojarmos da nossa autobiografi a e de
qualquer outro ti po de viseira cultural, religiosa, etc. É indispensável
entender o problema da pessoa do ponto de vista dela, porém usando a
cosmovisão bíblica. Discernimento, sabedoria e compaixão precisam andar
juntos.

- Revelação

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

A essência da revelação está na dependência de Deus: Essa é a alma do


mapeamento espiritual. A dependência de Deus é a alavanca da revelação.
O que não descobrimos pela pesquisa e entrevista podemos obter pela
revelação de Deus. A revelação é mais importante que a informação. A
revelação é o passo que vai além da informação e produz um entendimento
completo do quadro. A informação ajuda muito, porém a revelação libera
uma intervenção sobrenatural de
108

Deus que, não apenas traz à luz o que é necessário, como também defi ne a
questão. Este episódio bíblico ilustra perfeitamente o que estamos
explicando:

“Nos dias de Davi houve uma fome de três anos consecuti vos; pelo que
Davi consultou ao Senhor; e o Senhor lhe disse: É por causa de Saul e da
sua casa sanguinária, porque matou os gibeonitas” (II Sm 21:1).

Uma fome (seca) de três anos consecuti vos é algo fulminante para qualquer
cidade. Obviamente por todo esse tempo o governo 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO

de Davi vinha tentando entender o que estava acontecendo. É bem provável


que muitas informações foram levantadas sobre o assunto, porém, nada que
ajudasse a alterar o quadro.
É quando fi nalmente Davi decide consultar a Deus. Antes tarde do que
nunca. Abrindo mão de toda sua ciência e experiência humanas, ele
simplesmente ouve o que Deus ti nha a revelar. A revelação de Deus
evidencia com total clareza e precisão a verdadeira causa do problema: “É
por causa de Saul e da sua casa sanguinária, porque matou os gibeonitas”
.

A família de Saul é denunciada como “casa sanguinária”. Os crimes que


Saul prati cara contra os gibeonitas, que também incidiam na quebra da
aliança feita por Josué com esse povo, eram o moti vo essencial. Temos em
pauta o poder da revelação de Deus em uma PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

situação onde o mapeamento espiritual se torna chave. Quantos anos aquela


fome poderia ter perdurado se não fosse pela iniciati va de Davi em libertar
a terra? Quantas pessoas, famílias, igrejas, cidades estão sofrendo e sendo
destruídas devido a uma negligência nesse mesmo senti do?

A dinâmica da revelação é fruto de disciplinarmos nossa alma a uma


dependência constante do Espírito Santo, reconhecendo que a glória
pertence a Deus e a ninguém mais. Ou seja, adoração gera revelação e
revelação produz adoração. É simplesmente empolgante.

Neste campo é proibido se estribar no próprio entendimento.

No mapeamento é necessário estabelecer essa poderosa si-MARCOS DE


SOUZA BORGES

nergia entre a pesquisa e a revelação. Pesquisa produz revelação e a


revelação auxilia no aprofundamento da pesquisa. Devemos ouvir as
pessoas e também ouvir atentamente a Deus. Devemos ouvir
mais e falar menos. Temos dois ouvidos e apenas uma boca. Se não

109

ouvimos a pessoa, provavelmente não ouviremos a Deus. Quando ouvimos


a pessoa, simultaneamente, criamos uma oportunidade para Deus falar. No
momento certo vem a palavra de conhecimento que descorti na tudo,
aumentando a efi cácia do aconselhamento.

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

Essas são as duas pernas do mapeamento espiritual: pesquisa e revelação.


Andando com essas duas pernas fi ca fácil percorrer a distância espiritual
entre um sintoma real de maldição e o conjunto de causas que o sustenta.

Princípios bíblicos de mapeamento espiritual O livro de Josué agrega


uma riqueza incomparável sobre princí-
pios de libertação e restauração da alma. O livro de Êxodos enfati za
alegoricamente a experiência de salvação, ou seja, a saída do Egito.

Deus julgou todas as divindades do Egito, desde o Rio Nilo que era adorado
como fonte de prosperidade, até a morte que era sinistra-mente cultuada
através das megalomaníacas pirâmides ou túmulos.

Ou seja, as dez principais divindades do Egito foram abati das pelas ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

dez pragas sinalizadas por Moisés. Assim, Deus salvou Israel da escravidão
para uma nova vida. É como um novo nascimento. Esse é o processo de
sermos ti rados do mundo, do império das trevas, e sermos transportados
para o reino do fi lho do Seu amor. A travessia do mar vermelho com
Moisés signifi ca o bati smo da salvação.

Depois veio o deserto, quando Deus tratou com a mentalidade de


escravidão. Isso aponta para uma mudança interna de valores que nos
amadurece para tomarmos posse da terra prometi da. Essa foi uma etapa
mais trabalhosa, onde muitos pereceram. A travessia do Jordão, com Josué,
marcou esse avanço espiritual.

Logo após vem a libertação da terra. A terra é a alma. A con-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

quista da terra prometi da nada mais é que a rendição gradati va de cada


área da nossa alma a Deus. Disciplinamos um esti lo de vida de renúncia e
quebrantamento, onde sob o governo do Espírito lidamos com as áreas de
descontrole. As fortalezas, os gigantes, as estruturas pecaminosas que
conspiram contra o reino de Deus vão sendo, uma a uma, abati das. O
Espírito Santo precisa colocar a planta dos seus pés sobre cada área da
nossa alma. A grande questão da conquista reside em sermos conquistados.
110

A presença dos inimigos em Israel sempre esteve associada à au-sência de


Deus, e a ausência dos inimigos sempre esteve associada à presença de
Deus. Em Canaã observamos a abrangência da alma, muitas regiões,
montes e vales ocupados por estruturas inimigas, que para serem
conquistados demandam uma decisão nossa e uma postura de
quebrantamento, fé, obediência e perseverança.

Canaã alegoriza a qualidade de vida que podemos desfrutar em Cristo. A


alma é como uma terra que mana leite e mel, terra de abundância, porém
infestada de inimigos. Canaã está dentro de nós. A conquista da vida
abundante não é imediata. Jesus ensinou: “Na vossa perseverança
possuireis as vossas almas”; “Se alguém quer vir após 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO

mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mt 16:24).


Não devemos confundir a experiência imediata do novo nascimento com a
experiência progressiva da conversão da alma. São conceitos bíblicos
diferentes. Como já foi explicado anteriormente, no “novo nascimento” o
espírito é recriado. É uma experiência críti ca, marcante, um grande divisor
de águas. Porém, a “conversão da alma”

é um processo dinâmico que envolve todas as áreas da nossa vida.

Apesar da salvação e da mudança de valores que nos escravi-zavam no


Egito (a vida sem Deus), ainda existe na Canaã da nossa alma fortalezas e
prisões espirituais que precisam ser destruídas, reis (áreas de egoímo) que
precisam ser destronados, gigantes internos (áreas de inti midações) que
precisam ser derrotados, muralhas e fortalezas (barreiras emocionais e
relacionais) que precisam ser PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

derrubadas. Muito espaço precisa ser conquistado e preenchido na Canaã da


nossa alma.

O perfil do mapeador

Não temos espaço para um estudo minucioso do livro de Josué, mas quero
ressaltar apenas o ministério dos espias, que sinteti zou a importância do
mapeamento espiritual da terra no processo de libertação e conquista da
alma.

“E enviou Josué, fi lho de Num, dois homens desde Siti m MARCOS DE


SOUZA BORGES

a espiar secretamente, dizendo: Andai e observai a terra e a Jericó. Foram,


pois, e entraram na casa de uma mulher prosti tuta, cujo nome era Raabe, e
dormiram ali” (Js 2:1).
Dissecando este versículo, podemos estabelecer não apenas a

111

importância e o conceito básico do mapeamento espiritual, como também


alguns princípios importantes que gostaria de ressaltar: 1. Maturidade
sacerdotal: Mapeadores precisam ser pessoas 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO

investi das de autoridade e experiência. Esta não é uma tarefa para pessoas
neófi tas. Nem todos têm um perfi l para isso. Na primeira vez, quando
Moisés enviou os 12 espias, cada um deles era príncipe de uma das tribos
de Israel. Eram homens de patente elevada, que realmente ti nham ou
deveriam ter maturidade, experiência em liderança e a capacidade
sacerdotal de representar o povo. Ainda assim, diante da inti midação e
oposição que enfrentaram ao espiar a terra, reagiram com incredulidade.
Por causa desse fracasso no mapeamento da terra, isso custou à nação de
Israel uma peregrina-

ção de 38 anos no deserto. Quando se fracassa no mapeamento, o processo


de libertação fi ca interrompido.

Depois desse primeiro fracasso, exatamente no processo de mapeamento,


Josué, agora, seleciona ainda mais esse grupo. Ele P

escolhe apenas dois homens, fazendo jus a esses que dentre os doze ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

creram na libertação da terra.

2. Comissionamento espiritual: “E enviou Josué...”

Mapeadores precisam ser enviados de Deus. Eles precisam estar legiti


mamente autorizados e comissionados pelo Espírito Santo, bem como, sob
a cobertura espiritual de uma liderança conivente com esse
comissionamento recebido. Isso pode parecer não ser algo signifi cati vo,
mas esse ti po de respaldo faz toda a diferença.

Josué incorpora a ti pologia do Espírito Santo. O aspecto mais importante


no mapeamento espiritual é uma legíti ma dependência e obediência a
Deus. Não pode haver espaço para a presunção e a PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

independência. Pessoas que se envolvem no campo do mapeamento


precisam absorver uma ati tude de cooperação, principalmente com a
liderança, sendo legiti mamente orientadas e chamadas por Deus.

3. Unidade, parceria, concordância: “... dois homens...”

O número dois é o diferencial entre uma pessoa e uma igreja. A parti r de


duas pessoas, reunidas em torno do nome de Jesus, obtemos a tremen-da
vantagem da manifestação de Deus, que prevalece contra as portas do
112

inferno. No campo do mapeamento, intercessão e libertação sempre


precisamos pensar em um contexto de equipe.

Mapeamento envolve interdependência e conivência entre o conselheiro e o


aconselhado para discernir com veracidade as informações relevantes. No
campo do mapeamento é indispensável culti varmos relacionamentos
sadios, evitando ansiedade, controle, manipulação ou qualquer outra moti
vação tóxica à comunhão. A legíti ma capacidade e autoridade para mapear
depende da concordância, da conivência, interdependência ministerial e
complementabilidade dos dons.

4. Respaldo, cobertura: “... desde Siti m...”

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO
Siti m era onde estavam todas as forças de Israel reunidas. Mapeadores
precisam de uma retaguarda ministerial, sacerdotal, um

“Quartel General”, uma base de operações. É fundamental estar respaldado


por uma estrutura ministerial robusta. Aqui entra o papel fundamental da
igreja, que promove investi das e avanços contra as portas do inferno
através de um pastoreamento inteligente, liber-tando pessoas e territórios
sob cati veiro demoníaco.

Mapeadores não podem ser pessoas isoladas, independentes.

Devem ser capazes de representar a conjuntura ministerial que os


comissionou.

5. Prudência, perícia, destreza: “... a espiar secretamente...”

Podemos desdobrar essa perícia espiritual no trabalho do ma-PARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

peamento em algumas característi cas que são cruciais no esti lo de vida do


libertador:

• Discrição. Mapeadores precisam ser bons observadores, pessoas discretas,


leais, confi áveis que sabem guardar segredos e respeitar a privacidade de
outros. A fofoca é o suicídio ministerial do conselheiro.

• Livre da concupiscência de reconhecimento. O mapeador precisa ser uma


pessoa que já venceu as barreiras impostas pelas carências emocionais,
alguém que não precisa chamar a atenção para si mesmo, que não tenta
carnalmente impressionar os outros com a sua espiritualidade, se expondo
ao inimigo e comprometendo MARCOS DE SOUZA BORGES

o processo. Gente madura, discreta, que não negocia a éti ca.

• Também precisa saber encarar o inimigo sem supervalorizá-lo, confi ando


plenamente na pessoa, no caráter e na provisão de Deus.
6. Poder de mobilidade e observação espiritual: “... Andai e

113

observai a terra...”

Essas são as duas principais ações do mapeamento. Aqui reside de forma


simplifi cada e abrangente o conceito de mapeamento espiritual: a
capacidade investi gatória de percorrer o território da alma 2 | PROCESSO
DO MAPEAMENTO

nos campos emocional, senti mental, moral, espiritual, etc. Podemos


estabelecer duas ações básicas:

• O primeiro verbo do mapeamento é andar. O mapeador precisa ter a


capacidade pastoral de percorrer todos os redutos da alma humana,
mobilizar-se através de perguntas inteligentes, e aproximar-se das mazelas
da pessoa através da compaixão.
Foi isso que o bom samaritano fez para com aquele homem víti ma dos
salteadores: “Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele e,
vendo-o, encheu-se de compaixão, e aproxi-mando-se...” (Lc 10:33). Para
se aproximar da ferida é necessário condoer-se, ou seja, senti r as dores
com a pessoa. Essa moti vação é o maior segredo do mapeamento
espiritual. Quanto mais você P

se aproxima dos escombros da alma da pessoa, mais você percebe ARTE II


- ANALISANDO O DIAGRAMA

o coração de Deus por ela. A compaixão gera a aproximação que gera


responsabilidade. Tudo isso resulta na capacidade de ajudar e de fazer a
diferença.

O mesmo exemplo pode ser observado através de Neemias, quando


cavalgava pelas ruínas de Jerusalém: “E de noite saí pela porta do vale, e
para o lado da fonte do dragão, e para a porta do monturo, e contemplei os
muros de Jerusalém, que estavam fen-didos, e as suas portas, que ti nham
sido consumidas pelo fogo...”

(Ne 2:13).

Jerusalém signifi ca o “lugar de paz,” a alma onde o Reino de Deus se


estabelecera, porém agora em cati veiro. Discretamente, se
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

esquivando dos inimigos de Jerusalém, Neemias percorreu e pôde ver de


perto a real situação da cidade. O mapeador precisa ter coragem moral e
sabedoria para se aproximar das ruínas da alma das pessoas, ver de perto
esses basti dores. O templo destruído e saqueado, o altar derrubado, ou seja,
um quadro de morte, ausência espiritual. Os muros da cidade feitos em pó,
ou seja, os limites espirituais da alma destruídos e os portões queimados, a
alma totalmente desprotegida, à mercê da invasão inimiga.
114

• O segundo verbo do mapeamento é observar, ou seja, fazer a leitura


correta da situação, examinar com profundidade, obter as informações
necessárias para resolver defi niti vamente a situação.

Mapeadores precisar saber valorizar os detalhes relevantes, desenvolver um


espírito investi gatório.

7. Identi fi car a natureza externa da fortaleza: “... e a Jericó...”

Esse é um detalhamento do tópico anterior. Havia um alvo específi co. Eles


deveriam andar e observar não apenas a terra, mas a Jericó. A base de
qualquer libertação é lidar com as fortalezas espirituais que foram
estabelecidas na alma da pessoa, as áreas de 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO
autoproteção, autoafi rmação, compensação, fuga e descontrole. Jericó é a
fortaleza vista de fora. Pelas barreiras comportamentais que a pessoa
apresenta você tem o discernimento da direção a seguir.

Isso nos ajuda a chegar às raízes certas. Saber identi fi car as fortalezas do
inimigo implementadas na alma da pessoa. Todos sabemos que Jericó é a ti
pologia perfeita ou a externalização de uma fortaleza espiritual construída
internamente na vida das pessoas. Fortalezas são frequentemente
construídas por pensamentos e senti mentos contrários à sabedoria de Deus
e que nos escravizam através de comportamentos sectários.

No Novo Testamento, quando Paulo menciona sobre as fortalezas da mente,


no literal, traz o senti do de uma “prisão formada por pensamentos inimigos
da sabedoria divina, áreas onde a pessoa, PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

mesmo sabendo que está prati cando algo contrário à vontade de Deus,
perdeu a esperança de poder reverter a situação”. Essas são as principais
áreas que precisam ser mapeadas e trabalhadas na libertação.

8. Penetrar na fortaleza: “... entraram na casa de uma mulher...”

Aqui temos o aprofundamento do processo. Entrar na casa, signifi ca


mergulhar na história familiar, desfrutar de uma compreensão sistêmica da
questão. Somos um produto da nossa história familiar.

Dentro de toda Jericó existe a casa de uma mulher. A mulher é descrita por
Pedro como o “vaso frágil,” no caso aqui entendemos como MARCOS DE
SOUZA BORGES

sendo o aspecto vulnerável que a fortaleza estabelece na vida da pessoa.

Na verdade, quanto maior a fortaleza externa, maior é a fragili-dade interna.


É esse o caminho que o mapeador tem que percorrer.
Bater nas portas certas. Chegar com a permissão da pessoa no ponto

115

onde ela está fragilizada, onde tem vivido debaixo de condenação e agido
com dissimulação e deslealdade. Ou seja, saber identi fi car essas áreas
específi cas que vão fornecer informações profundas sobre a real situação
espiritual da pessoa.

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

9. Identi fi car a natureza interna da fortaleza: “... prosti tuta, cujo nome
era Raabe, e dormiram ali”.

Os espias puderam compreender como eram as noites de Raabe; não só


entraram na sua casa, mas dormiram ali. O mapeador precisa ter acesso às
coisas que são feitas nas trevas. Entrar com a permissão da pessoa onde a
pessoa não queria que ninguém ti vesse acesso.
Trazer à luz áreas que representam um reservatório de vergonha e dor
emocional.

O mapeador, oferecendo a graça de Deus, penetra no pros� bulo da alma,


nas áreas onde a pessoa se prosti tuiu, se vendeu, negociou valores, se
autodegradou, áreas de profunda dor e vergonha. Aqui se estabelecem as
prisões da culpa, do ódio de si mesmo.

A base da fortaleza é a ferida, a vergonha, a culpa. É necessário ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

aprofundar a libertação nessas áreas frágeis, onde a pessoa sofreu abusos


morais, espirituais, � sicos, sexuais, etc., onde foi muti lada na alma, na
identi dade. Toda fortaleza espiritual é inspirada por feridas.

Feridas estabelecem senti mentos e pensamentos deformados que


conspiram contra a liberdade da alma.

Apesar de todo esti gma que a palavra prosti tuta estabelece, essa pessoa
tem um nome, Raabe, uma identi dade que precisa ser resgatada, redimida.
Toda libertação tem um caráter pessoal. O mapeador precisa ter a habilidade
de penetrar no interior da fortaleza, obtendo informações ínti mas que serão
cruciais para uma profunda e defi niti va libertação.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

10. Saquear a fortaleza: “Porque temos ouvido que o Senhor secou as


águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saístes do Egito, e também o
que fi zestes aos dois reis dos amorreus, Siom e Ogue, que estavam além de
Jordão, os quais destruístes totalmente.

Quando ouvimos isso, derreteram-se os nossos corações, e em ninguém


mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso
Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra. Agora
116

pois, peço-vos, jurai-me pelo Senhor que, como usei de bondade para
convosco, vós também usareis de bondade para com a casa e meu pai” (Js
2:10-12).

Aqui nós temos a rendição de Raabe. Raabe, assim como Jericó e toda a
terra de Canaã, não estão fora de nós; estão dentro. No processo de
libertação, o mapeamento desarma o inimigo, desmonta toda a sua
resistência. Nesse momento as muralhas de Jericó ruíram. Esse é o poder do
mapeamento espiritual, que ao lidar com as áreas obscuras da alma, apenas
confi rma o estado de pavor e derrota do inimigo.

Todos nós sabemos como a história de Raabe terminou. Sua intercessão


salvou a vida de todos os seus familiares, que fi caram 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO
sob a proteção do cordão escarlate. A libertação pessoal sempre produz um
impacto coleti vo. E, por fi m, acabou sendo incluída na genealogia
messiânica, tornando-se a bisavó do Rei Davi.

Tudo porque acolheu em paz os espias. Correspondeu com transparência e


responsabilidade ao processo de mapeamento espiritual.

Hospedou, recebeu em seu coração os enviados de Deus. Deixou que os


espias ti vessem a acesso a toda a sua vida. Levou-os ao esconderijo da
casa: “Ela, porém, os ti nha feito subir ao eirado, e os ti nha escondido
entre as canas do linho que pusera em ordem sobre o eirado” (Js 2:6).

Nada fi cou oculto, nem mesmo os porões da alma. O linho fala da justi ça,
no caso aqui a justi ça humana, os sofi smas que corromperam Raabe a se
tornar uma prosti tuta. O coração corrompido, os basti dores da alma, os
moti vos ínti mos onde se apoiava para convi-PARTE II - ANALISANDO
O DIAGRAMA

ver com sua consciência foram expostos. Tudo foi colocado na luz,
obedecendo às condições oferecidas pelos espias. Esse mapeamento
espiritual foi decisivo na conquista de Canaã e na transformação de Raabe,
o que mudou os rumos de toda a sua descendência.

ÁREAS A SEREM MAPEADAS EM UM ATENDIMENTO


PESSOAL: I. CAMPO DA HERANÇA

Analisar abusos, injusti ças, cadeias pecaminosas, traumas que obedecem a


um mesmo padrão de ati vidade, feridas, etc. Como de-MARCOS DE
SOUZA BORGES

monstra o diagrama, o campo da herança é bem extenso, abrangendo desde


a história genealógica até 4 gerações (não mais que isso), até a idade da
razão.
117

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO
PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

PASTOREAMENTO INTELIGENTE
118

1. Esfera de mapeamento das iniquidades geracionais (passado


genealógico em uma abrangência de 3 ou 4 gerações).

Por uma questão de estratégia didáti ca, estaremos repeti ndo alguns
conceitos que já têm sido trabalhados anteriormente.

Assim como existe uma herança genéti ca, material, fi nanceira, cultural,
etc., também existe uma herança espiritual que se expressa na forma de uma
visitação, seja ela divina (promessas) ou demoníaca (perseguições). Quando
Deus se apresentou a Moisés, Ele o fez usando as seguintes palavras para
defi nir o seu relacionamento conosco: “Eu sou o Senhor Deus, o Deus de
Abraão, Isaque e Jacó.”

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

Isso estabelece duas implicações:


• Um relacionamento pessoal. Deus se relaciona pessoalmente conosco,
assim como se relacionou pessoalmente com Abraão, Isaque e Jacó. Não
somos mais um número na multi dão. Deus nos conhece pelo nome, fala
conosco individualmente. Na verdade, de todas as religiões do mundo, o
único Deus que é ao mesmo tempo infi nito e pessoal é o Deus da Bíblia.

• Um relacionamento geracional. Deus se relaciona conosco em uma


perspecti va de gerações. O moti vo pelo qual Deus se apresentou a Moisés
era exatamente por conta do relacionamento que ele teve com os seus
ancestrais Abraão, Isaque e Jacó e das palavras que ele PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

empenhou com eles. Mesmo depois de quatrocentos anos, Ele estava ali
para cumprir as suas promessas feitas a Abraão e confi rmadas a Isaque e
Jacó em relação aos seus descendentes. O texto seguinte formula a lei das
heranças espirituais.

“... porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a
iniquidade dos pais nos fi lhos, até a terceira e quarta geração daqueles
que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que
guardam os meus mandamentos” (Ex 20:5).

MARCOS DE SOUZA BORGES

A essência da iniquidade é a idolatria, ou seja, alguém que se curva e serve


algo ou alguém que está ocupando o lugar que só pertence a Deus. Quando
a iniquidade não é redimida, ela vai produzir
uma infl uência latente, fazendo com que os fi lhos repitam os mesmos

119

erros prati cados pelos pais.

Este texto estabelece os dois ti pos de herança espiritual que podemos


receber e deixar em relação à nossa linhagem familiar: 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO

• “... Faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os
meus mandamentos.”

Um crédito de promessas que podemos acumular como heran-

ça para toda a nossa posteridade. Essa é uma das declarações mais


importantes da Bíblia. Precisamos estar cientes do impacto que a nossa
obediência pode causar nas milhares de gerações futuras. É
um bene� cio incalculável. Que responsabilidade! Baseado nessa palavra,
sempre digo que chegará o momento em que vamos parar de falar em
maldições hereditárias e passar a falar apenas em bênçãos hereditárias!

• “... Visito a iniquidade dos pais nos fi lhos, até a terceira e quarta
geração daqueles que me odeiam.”

Quando a Bíblia fala que Deus visita o pecado dos pais nos fi lhos ARTE II
- ANALISANDO O DIAGRAMA

até a terceira e quarta geração, ela está traçando inteligentemente o limite


dentro do qual um mapeamento precisa ser elaborado. Isso é muito práti co.
Imagine se ti véssemos que mapear a história espiritual dos nossos
ancestrais até Adão, estaríamos diante de uma tarefa hu-manamente
inviável e impossível; porém, como a maldição familiar é fortemente
sintomáti ca, basta olhar para nossos parentes nessa esfera de três ou quatro
gerações, que um diagnósti co espiritual da nossa família estará evidente.

Por exemplo, se você olha espiritualmente para a história de seus: 1. Avós;


2. Pais e ti os; 3. Irmãos e primos; e 4. fi lhos e sobrinhos, você tem um
campo de observação que abrange 4 gerações.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Quando a lei moral afi rma que a iniquidade dos pais tende a se repeti r no
comportamento dos fi lhos até a terceira e quarta geração, está subentendida
uma esfera de mapeamento que oferece pleno poder de observação. Para
um diagnósti co espiritual, isso é inteligente, sensato e muito práti co.

Esse é um princípio fundamental de libertação que nos ajuda a identi fi car


as mais remotas iniquidades geracionais que acabam afl orando nas 3 ou 4
últi mas gerações. A parti r desse mapeamento,
120

o arrependimento pessoal e coleti vo, confi ssões inteligentes e uma


intercessão efi caz transformam a situação, mudando os céus sobre a família
e descendência.

Um entendimento sobre mapeamento hereditário (genograma) é


fundamental para nos colocarmos adequadamente na brecha pela nossa
família através da intercessão proféti ca e do arrependimento por identi fi
cação. A Bíblia está cheia desses genogramas e genealogias revelando as
raízes espirituais, humanas, vícios comportamentais, etc. das pessoas. Essas
informações históricas em relação a pessoas, cidades e nações quando
usadas com sabedoria, ajudam consistentemente os intercessores a
cumprirem o seu papel sacerdotal de 2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO
restaurar os lugares anti gamente assolados de geração em geração.

Portanto, esse campo cronológico de 3 a 4 gerações não aparece na Bíblia


por acaso. Esse não é um dado desproposital. Na verdade, nenhuma
informação bíblica é meramente casual. Obviamente, Deus PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

MARCOS DE SOUZA BORGES


sabe o que fala. Esse campo possui um caráter cronológico, mas,

121

acima de tudo, expressa a esfera dos relacionamentos familiares que pode


ser observada. Preste bastante atenção nisso. Essa é uma forma de Deus nos
alertar em relação ao crédito de injusti ça que tem sido agregado no
inventário espiritual ao longo das nossas gerações. O

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

texto explica que isso é defi nido como zelo de Deus: “... porque eu, o
Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito...”

O que quero dizer é que precisamos estar atentos às informações espirituais


fornecidas dentro desse campo geracional que temos acesso, inti midade,
conhecimento, poder de observação. Não é di� cil você construir um
genograma da sua família levando em consideração as últi mas quatro
gerações, identi fi cando cada pessoa, fatos espiritualmente relevantes sobre
elas e a natureza e signifi cância dos relacionamentos familiares. Por
exemplo, é natural que conheçamos nossos avós, pais e ti os, irmãos e
primos, e fi lhos e sobrinhos. Só aí já temos quatro gerações que podem
estar simultaneamente vivas e presentes na nossa realidade. Ou seja, a nossa
esfera familiar de relacionamentos abrange, em média, relacionamentos
com familiares P

que pertencem a quatro gerações disti ntas.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Reiterando, não precisamos de mais que 3 ou 4 gerações para fazer uma


leitura das nossas heranças espirituais. Tudo o que aconteceu antes disso e
que não tenha sido espiritualmente redimido vai salientar-se nas 3 ou 4 últi
mas gerações. Sintomas afl oram. É

incoerente pensar que ti véssemos que fi car vasculhando um passado


geracional longínquo e desconhecido. Deus, muito zelosamente, no próprio
decálogo, a essência da lei moral e cívica, estabeleceu um campo de
mapeamento delimitado a no máximo quatro gerações, o que nos permite
diagnosti car os sintomas latentes de maldição e suas respecti vas causas,
expondo as desordens espirituais não redimidas das mais remotas gerações.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Ou seja, a Bíblia sabiamente nos fornece um foco acessível para o


mapeamento das iniquidades geracionais e as respecti vas perseguições que
elas têm desencadeado e que formam nossa bagagem espiritual hereditária,
que precisa ser crucifi cada. Desse ti po de investi gação facilmente
podemos extrair fatos relevantes, estranhos e incomuns que esclarecem ou
confi rmam sintomas claros de propagação de iniquidades, perseguições
espirituais e, até mesmo, infestações demoníacas de caráter hereditário.
122

Obviamente, o aspecto essencial do mapeamento da nossa história


geracional é entender como esse sistema de relacionamentos e
comportamentos vem funcionando para que possamos assumir nossa
responsabilidade nesses processos, sofrendo as mudanças que necessitamos
e infl uenciando de maneira sadia nossos familiares e parentes. É nessa
direção onde mais precisamos investi r esforços.

É importante entender que desenvolvemos a nossa personalidade estando


mergulhados num sistema formado por padrões que já vêm se repeti ndo
por várias gerações. O mapeamento nos dá a clareza para avaliar toda essa
gravidade comportamental estabelecida pelas heranças familiares, nos
posicionando e reeducando nossas ati tudes 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO

em relação às situações críti cas e negati vas.


Vale ressaltar que a principal fonte de mapeamento espiritual é o próprio
Deus. Muitas vezes, Deus está nos mostrando coisas sobre nossa família,
porém, não entendemos, ou quando entendemos não sabemos o que fazer
com essas revelações.

O mapeamento hereditário é uma das principais chaves para a libertação da


família. É a mira da confi ssão intercessória e de um aconselhamento
familiar consistente. Dessa forma, revelações vitais, ocultas e defendidas
por demônios alojados na linhagem vêm à luz.

“Dar-te-ei os tesouros das trevas, e as riquezas encober-tas, para que


saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chamo pelo teu nome”
(Is 45:3).

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Através da pesquisa e da revelação de Deus, vícios comportamentais são


desafi ados e as confi ssões intercessórias desfazem maldições, ati ngindo
causas ignoradas por longo tempo.

O princípio sacerdotal da confissão das iniquidades geracionais

Primeira coisa a ser entendida é que a resposta bíblica para lidarmos com as
maldições hereditárias é através de uma confi ssão inteligente das respecti
vas iniquidades geracionais. Infelizmente, MARCOS DE SOUZA
BORGES

essa se tornou uma práti ca totalmente perdida ao longo dos sé-

culos, limitando a capacidade sacerdotal da igreja em restaurar os lugares


(situações) anti gamente assolados de geração em geração.
Iniquidades não redimidas funcionam como âncoras que prendem

123

ou limitam o comportamento das sucessivas gerações.

A ignorância em relação à confi ssão das iniquidades geracionais alimenta


uma respecti va infl uência demoníaca que pode deixar a descendência
refém dos mesmos comportamentos, um ti po de 2 | PROCESSO DO
MAPEAMENTO

memória coleti va que estabelece certas práti cas pecaminosas como cultura
familiar, fazendo com que sociedades percam totalmente o contato com
Deus.

Vale ressaltar que todos os homens a quem o próprio Deus no-meou como
intercessores exerciam a práti ca de confessar as iniquidades dos
antepassados que se acumularam ao longo das gerações.
Este é um princípio na Bíblia que poucos sacerdotes conseguiram
redescobrir. Veja esta oração de Daniel:

“Senhor, segundo todas as tuas justi ças, apartem-se a tua ira e o teu furor
da tua cidade de Jerusalém, do teu santo monte; porquanto por causa dos
nossos pecados, e por causa

das iniquidades de nossos pais, tornou-se Jerusalém e o teu P

povo um opróbrio para todos os que estão em redor de nós.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Agora, pois, ó Deus nosso, ouve a oração do teu servo, e as suas súplicas, e
sobre o teu santuário assolado faze resplandecer o teu rosto, por amor do
Senhor” (Dn 9:16,17).

Esfera de confissão das iniquidades geracionais Até quantas gerações


podemos confessar intercessoriamente as iniquidades? Esta é uma questão
que devemos analisar com bom senso. A Bíblia não apenas estabelece uma
esfera de mapeamento de maldições dentro de um campo de três a quatro
gerações, como também estabelece uma esfera de confi ssão de iniquidades
em torno PASTOREAMENTO INTELIGENTE

de dez a catorze gerações. Esses textos seguintes e muitos outros nos dão
uma indicação sobre isso.

“Nenhum bastardo entrará na assembleia do Senhor; nem ainda a sua


décima geração entrará na assembleia do Senhor. Nenhum amonita nem
moabita entrarão na assembleia do Senhor; nem ainda a sua décima
geração entrará jamais na assembleia do Senhor” (Dt 23:2-3).
124

“De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze
gerações; e desde Davi até a deportação para Babilônia, catorze gerações;
e desde a deportação para Babilônia até o Cristo, catorze gerações” (Mt
1:17).

Novamente, é importante ressaltarmos que a Bíblia não tem informações


cegas ou casuais. Precisamos que Deus nos dê o coração de um intercessor
para discernirmos estes textos com inteligência espiritual e sociológica.
Explicando melhor os registros de Mateus, Deus demorou catorze gerações,
ou seja, de Abraão a Davi, para construir uma nação que seria o seu agente
redentor na face da 2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

Terra. No reinado de Davi, a nação de Israel ati ngiu o seu apogeu,


ocupando todo o território que Deus havia prometi do a Abraão,
experimentando o auge de sua glória e o cumprimento das promessas feitas
a eles como povo.

Seguindo a história, após a morte de Davi, iniciou-se um processo de


decadência espiritual, que depois de catorze gerações resultou na destruição
da nação. No governo de Roboão, fi lho de Salomão o reino foi dividido em
duas partes Judá (2 tribos) e Israel (10 tribos).

Aos poucos, um processo de propagação de iniquidades e idolatria se


estabeleceu, culminando no desterro das duas nações. Primeiramente Israel
foi para o cati veiro na Assíria, e depois Judá, para o cati veiro na
Babilônia.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

“E busquei dentre eles um homem que levantasse o muro, e se pusesse na


brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; porém a
ninguém achei” (Ez 22:30).

Como o próprio Deus explica a Ezequiel, por falta de intercessores, a nação


de Israel, que fora levada para a Assíria, nunca mais voltou, tornando-se
conhecida como “as dez tribos perdidas da casa de Israel”. Já no cati veiro
em Babilônia, alguns intercessores experimentaram ministérios expressivos,
que fi zeram com que a nação fosse preservada e depois pudesse retornar à
terra prometi da.

A Bíblia menciona como esses intercessores se humilhavam MARCOS DE


SOUZA BORGES

diante de Deus em face da situação de desterro, confessando os seus


pecados e também as iniquidades de seus pais, desde que o processo de
decadência havia se iniciado há catorze gerações atrás. Homens
como Daniel, Neemias, Esdras, e tantos outros faziam menção e

125

confi ssão sacerdotal das iniquidades geracionais prati cadas por essas 14
gerações como Mateus esclarece: “e desde Davi até a deportação para
Babilônia, catorze gerações.”

A história segue após a deportação para a Babilônia, e passaram-2 |


PROCESSO DO MAPEAMENTO

se mais 14 gerações até que o redentor viesse: “e desde a deportação para


Babilônia até o Cristo, catorze gerações.”

Portanto, aquilo que foi mapeado até quatro gerações pode e deve ser
confessado até dez ou catorze gerações. Obviamente, essa intercessão não
isenta essas gerações da sua culpa diante de Deus, mas desautoriza o direito
de perseguição em relação às sucessivas gerações, estabelecendo um divisor
de águas, um novo céu sobre as futuras gerações, uma nova realidade
espiritual, livre das perniciosas infl uências de Satanás.

Yom Kippur - Jejum corporativo e confissão geracional

“E, no dia vinte e quatro deste mês, ajuntaram-se os P

fi lhos de Israel com jejum e com sacos, e traziam terra ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

sobre si. E a descendência de Israel se apartou de todos os estrangeiros, e


puseram-se em pé, e fi zeram confi ssão

pelos seus pecados e pelas iniquidades dos seus antepas-

sados. E, levantando-se no seu lugar, leram no livro da lei do SENHOR seu


Deus uma quarta parte do dia; e na outra quarta parte fi zeram confi ssão,
e adoraram ao SENHOR seu Deus” (Ne 9:1-3).

No Yom Kippur é quando entendemos melhor essa práti ca. A confi ssão
corporati va das iniquidades geracionais foi estabelecida como estatuto
perpétuo na cultura judaica (Lv 23:26-32). Isso acon-PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

tece até hoje durante a cerimônia do Yom Kippur ou “Dia do Perdão” ,


quando a casa de Jacó ou a família de Israel se reúne anualmente, na Festa
dos Tabernáculos, em jejum e profunda contrição, estabelecendo um
memorável concerto com Deus.

O Vidui, ou confi ssão, é uma parte de suma importância na liturgia do Yom


Kippur. Todos os pecados são confessados, já que no Vidui os parti cipantes
representam todos os judeus e as suas gerações antepassadas. Tamanha é a
purifi cação que acontece nesse dia que
126

ele é conhecido como o dia em que Satanás é derrubado dos céus, garanti
ndo as bênçãos de Deus para o ano que se inicia (calendário judeu) e para as
sucessivas gerações.

Só esclarecendo que não devemos confundir a confi ssão das iniquidades


dos nossos antepassados com a consulta aos antepassados mortos. A
primeira situação é bíblica. A segunda situação, a consulta aos antepassados
é anti bíblica e deve ser rejeitada. Esta é a base do espiriti smo e do oculti
smo que permeia quase todas as grandes religiões do mundo como o
budismo, kardecismo, hinduísmo, etc. prendendo milhões de pessoas.

Na verdade, a consulta aos antepassados mortos é uma versão 2 |


PROCESSO DO MAPEAMENTO

satânica do princípio bíblico de confessar, intercessoriamente, as


iniquidades não confessadas dos nossos antepassados. Através dessa
distorção, muitos que são bem intencionados, porém mal informados
confundem esses conceitos. Dessa forma, a igreja tem sido roubada na sua
capacidade sacerdotal. Esse é um importante princípio de intercessão que
precisa ser redescoberto e resgatado pela Igreja.

2. História da concepção

Outro importante aspecto das nossas heranças espirituais reside na


concepção humana. A história da concepção é o âmago da gênesis espiritual
de qualquer indivíduo. Vários fatores podem ser decisivos nesse senti do,
mas todos eles orbitam em torno do eixo da aliança PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

de casamento.

O princípio básico para a concepção humana está relacionado ao sexo. O


sexo é algo altamente espiritual. Está implícita no relacionamento sexual
uma aliança de sangue que tem um papel fundamental na vida das pessoas
legiti mamente casadas. Ou seja, fi lhos e família são coisas tão sagradas
que só podemos gerar através de um pacto de sangue, uma aliança que deve
perdurar por toda vida.

Em relação à concepção de uma criança, vamos considerar várias situações


que podem pesar negati vamente no ambiente espiritual a que ela estará
sujeita. Basicamente, os problemas aqui giram em torno de imoralidade,
abuso, violência e corrupção. Ou seja, se a MARCOS DE SOUZA
BORGES

criança foi planejada ou não; se é fruto de um relacionamento am-parado


pela aliança conjugal ou se foi concebida na imoralidade: fornicação,
adultério, incesto (abuso), estupro (violência), pros-
ti tuição (corrupção), etc. Cada uma dessas situações pecaminosas

127

na concepção estabelece uma perseguição demoníaca de natureza


correspondente na vida dessa criança.

3. História da gestação

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

Esta é um outro componente fundamental da nossa herança.

Aqui se dá o processo da formação sob todos os aspectos da vida humana.


O ti po de ligação intrauterina mãe-fi lho estabelece parâmetros
fundamentais para os relacionamentos da criança. O mais delicado é que
traumas nessa fase podem produzir sérias consequências.
Muitas formas de injusti ça e violência podem pesar negati vamente na
formação orgânica, psicoemocional e espiritual da criança. Nessa mesma
fase, quando Deus está formando e estabelecendo seu plano é que Satanás
mais intenciona sabotar o processo, colocando contra a criança as pessoas
que mais deveriam preservá-la.

Por exemplo, se a criança foi rejeitada ou abandonada pelos pais em virtude


de uma concepção indesejada; se os pais verbalizaram P

a intenção ou fi zeram alguma tentati va de exterminá-la através do ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

aborto; se pai ou mãe rejeitaram verbalmente o sexo da criança expressando


sua frustração em relação a isso; se houve violência ou espancamento entre
o casal onde a criança (na barriga) sofreu alguma agressão � sica, se houve
algum ti po de ritual ou consagração da criança aos ídolos durante a
gravidez, etc.

4. História do parto

O parto é o momento críti co do nascimento. Por si mesmo, ele já é traumáti


co. Envolve não apenas uma mudança de ambiente, mas uma sangrenta
travessia que pode ser extremamente dolorosa.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

O parto pode ser espiritualmente interpretado como um pacto de sangue


entre mãe e fi lho.

No momento do parto, podem acontecer incidentes, acidentes e traumas


diversos, e em virtude dessas coisas, a própria mãe ou pessoas envolvidas
no parto invocam a ajuda de entidades espirituais, fazendo consagrações e
promessas a ídolos envolvendo e comprometendo a vida, a identidade e o
destino da criança recém-nascida...
128

5. História da infância até a idade da razão Esta fase compreende o


processo inicial de amadurecimento e aprendizagem. Seguindo o nosso
raciocínio espiritual, o pacto de sangue estabelecido no parto entre mãe e fi
lho é reforçado na ama-mentação. Diante da nova realidade, uma profunda
afeição e um senti mento de proteção e responsabilidade naturalmente
surgem, absorvendo o coração dos pais. Tudo isto vai elaborando essa
miste-riosa química presente no amor que estabelece a família.

A história da infância até a idade da razão é uma outra fase que também não
compreende a nossa capacidade de escolha e de defesa.

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

Assim como na gestação, a criança conti nua totalmente dependente e


vulnerável, em virtude da responsabilidade ou irresponsabilidade dos pais.
Abusos emocionais, maus tratos � sicos, abusos sexuais, abandono,
consagração da criança a ídolos e muitas outras situações extremas devem
ser consideradas. A lei da herança assegura que cada palavra frívola dos
pais legaliza uma infl uência demoníaca de natureza correspondente sobre a
vida do fi lho.

II. CAMPO DA RESPONSABILIDADE

O homem é um ser espiritual, autoconsciente, livre para tomar decisões, ou


seja, intrinsecamente dotado de responsabilidade. Deus PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

não tem o ser humano como uma víti ma incapaz de responder ou assumir
as consequências das suas escolhas. Nossos pensamentos determinam
nossos feitos, nossos feitos determinam nossos hábitos, nossos hábitos
determinam nosso caráter e o nosso caráter determina o nosso desti no.

Biblicamente falando, a responsabilidade é moralmente dosada, ou seja, é


proporcional ao nível de luz. No reino de Deus, luz é igual a
responsabilidade. O conceito de luz engloba uma série de parâmetros como
discernimento, conhecimento, experiência, maturidade.

Quanto maior a luz, maior a responsabilidade.

Uma outra coisa importante é que a ignorância não nos isenta MARCOS
DE SOUZA BORGES

das consequências da quebra da lei. Essa é uma dura maneira de cres-


cermos em luz e responsabilidade. Quando uma criança que nunca estudou
sobre a lei da gravidade sofre uma queda, a sua ignorância
não irá isentá-la de um possível ferimento. Apesar de não ter ti do

129

a consciência do perigo que corria, ela vai sofrer as consequências.

O campo da responsabilidade na vida de qualquer pessoa passa a vigorar


após a idade da razão, o que pode variar na faixa de 5 a 7 anos.

No decorrer da vida, muitas escolhas e comportamentos pecaminosos 2 |


PROCESSO DO MAPEAMENTO

podem produzir debilidades morais, traumas emocionais e cadeias


pecaminosas. Isto será entendido melhor quando mencionarmos as causas
de maldição.

III. Campo da territorialidade


Quando o Apóstolo Paulo exorta a igreja de Éfeso sobre a questão da ira
implacável, que é uma porta para o homicídio, ele ressalta:

“... nem deis lugar ao diabo” (Ef 4:27). Essa palavra “lugar” (topos) signifi
ca no literal, “jurisdição”, fazendo alusão a uma área da alma humana que
está descontrolada, mas podendo signifi car também um território.

Basicamente, a Bíblia especifi ca quatro pecados que ferem a P

terra: imoralidade, idolatria, derramamento de sangue inocente e ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

a apostasia. Esses pecados trazem quatro juízos: a seca, a fome, a peste e a


espada.

Principalmente injusti ças e crimes de sangue têm o poder de contaminar


espiritualmente a terra, dando ao diabo uma jurisdição, ou seja, um lugar.
Em várias ocasiões a Bíblia mostra acontecimentos dessa natureza. O
primeiro exemplo está na própria queda da raça humana. O pecado de Adão
também afetou diretamente a terra:

“E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e


comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é
a terra por tua causa” (Gn 3:17). Por causa do assassinato de Abel, Deus
disse a Caim: “... Quando lavrares a terra, não te dará
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

mais a sua força; fugiti vo e vagabundo serás na terra” (Gn 4:12). Da


mesma forma, uma terrível fome assolou a cidade de Jerusalém por três
longos anos, quando o próprio Deus revela para Davi o moti vo:

“E por causa de Saul e da sua casa sanguinária, porque matou os


gibeonitas” (II Sm 21:1).

Crimes, assassinatos, suicídios, abortos, adultérios, práti ca de perversão


sexual, rituais de oculti smo envolvendo invocação de demônios,
despachos, idolatria, assentamento e consagração de
130

“santos”, sacri� cios e oferendas aos orixás, e coisas semelhantes podem


trazer sérias perturbações espirituais, infernizando o lugar.

Todas essas coisas legalizam uma demarcação territorial satânica.

Espíritos demoníacos passam a manipular a mentalidade dessa sociedade,


com o objeti vo de descontrolar o comportamento das pessoas, perturbá-las
e até enlouquecê-las.

A infl uência demoníaca fi ca limitada aos termos territoriais, de cuja


pessoa responsável que prati cou a transgressão ou crime exerce autoridade,
jurisdição ou propriedade (Dt 21:1-9). A ação dos demô-

nios está restrita ao território. Os mesmos princípios e mecanismos usados


para libertar uma pessoa pode e deve ser usado para libertar 2 | PROCESSO
DO MAPEAMENTO
um território, uma propriedade, etc.

PRINCÍPIOS E MANIFESTAÇÕES NA LIBERTAÇÃO

Frequentemente as pessoas dão uma importância exagerada às


manifestações. Não devemos, porém, avaliar o nível de efi ciência de uma
libertação pelas manifestações que ocorrem ou deixam de ocorrer. O ponto-
chave que aciona uma libertação se baseia nos princípios exercidos com
sinceridade e coerência. Princípios são confi áveis; as manifestações nem
sempre. Jamais devemos pensar que uma manifestação seja mais importante
do que a ati tude de andar por fé e obediência.

Um aspecto fundamental no mapeamento é saber receber PARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

orientação, fazendo uma leitura correta dos sintomas ou manifestações


apresentados durante a libertação. As manifestações devem nos inspirar a
investi gar, confi rmar, vigiar e confrontar: Investigar

O principal papel dos sintomas de libertação que acontecem durante um


aconselhamento é apontar onde precisamos cavar mais fundo.
Manifestações tais como dores, pontadas, fortes tonteiras, vômitos e até
mesmo situações críti cas de endemoninhamento durante uma libertação
muitas vezes têm um caráter orientati vo no senti do de apontar uma direção
a ser seguida, ou para confi rmar MARCOS DE SOUZA BORGES

algo já alcançado na libertação.

Em uma libertação, muitas vezes, temos um vasto campo a ser investi gado,
porém existem ganchos específi cos nos quais a explo-
ração demoníaca se fundamenta. Enquanto esses ganchos não são

131

discernidos e eliminados, a libertação permanece comprometi da.

Confirmar

Algumas manifestações na libertação servem para confi rmar 2 |


PROCESSO DO MAPEAMENTO

que esse ponto no qual a fortaleza demoníaca se apoiava foi ati ngido e
rompido. Fica claro que algo substancial aconteceu em favor da pessoa e da
sua família.

Vigiar
Isso também será de muita valia no processo de manter a libertação, pois a
pessoa já está em alerta em relação às suas áreas de maior vulnerabilidade,
onde deve redobrar sua vigilância.

Essa é uma área muito delicada e que exige muito discernimento.

Assim como Deus pode tornar uma manifestação úti l, o diabo também
pode ti rar proveito de certas manifestações, trazendo confusão e desviando
suti lmente o libertador da rota certa, desgastando o processo e frustrando
os resultados.

Outra coisa, é que junto com esses fortes sintomas de libertação, ARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

também pode vir um ataque de soberba e autosufi ciência contra o


libertador, principalmente se é uma pessoa ainda imatura. Isso irá ti rá-lo da
dependência de Deus, o que seria desastroso.

Confrontar

A manifestação demoníaca numa libertação também pode,


surpreendentemente, ter um caráter proféti co em relação a pessoas
presentes. Ou seja, Deus permite manifestações fortes para edifi car,
consolar e até mesmo confrontar pessoas que por algum moti vo estão
assisti ndo à libertação ou parti cipando dela. Em vários atendimentos de
caráter demonstrati vo já experimentamos situações assim, onde
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

algum parti cipante acabava sofrendo uma libertação tão profunda quanto a
pessoa ministrada.
132

2 | PROCESSO DO MAPEAMENTO

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

MARCOS DE SOUZA BORGES

N���:

1Heather Marjoribanks, “ Seminário de Mapeamento Espiritual realizado


em Curiti ba”, 2004.
3

CAUSAS DE MALDIÇÃO
1. Iniquidade dos pais
– Herança familiar

2. Quebra de alianças
3. Idolatria
4. Rebelião contra os pais
5. Pecado encoberto
6. Falta de perdão

7. Palavras ou pragas proferidas por pais e autoridades 8. Jugo


desigual

9. Todo envolvimento com espiriti smo, feiti çaria e satanismo 10.


Necromancia - Reza e devoção a mortos (orixás e santos) 11. Tentati vas
de suicídio e história de suicídios na linhagem 12. Homicídio e história
de assassinatos na linhagem PASTOREAMENTO INTELIGENTE

13. Aborto e história de abortos na linhagem 14. Furtos e roubos

15. Perversão sexual: Prosti tuição, Homossexualismo, Besti alidade


MARCOS DE SOUZA BORGES
3

CAUSAS DE MALDIÇÃO

Muitos de nós pensamos que enquanto o princípio da bênção foi


estabelecido por Deus, o princípio da maldição foi estabelecido pelo diabo.
Mas não é isto o que a Bíblia diz. Como já mencionamos no início, os
princípios, tanto da bênção como da maldição, foram estabelecidos por
Deus, e serão respecti vamente acionados em virtude das escolhas humanas.
O diabo está longe de protagonizar essa questão.

“O céu e a terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante
de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para
que vivas, tu e a tua descendência” (Dt 30:19).

É muito importante desmisti fi carmos algo no campo de batalha espiritual.


Se você fi zer um cuidadoso estudo da Bíblia, vai perceber que o diabo
nunca aparece como o personagem principal nas questões humanas. Na
verdade, são bem poucas as passagens bíblicas que se referem a ele. Muitos
de nós, mais cedo ou mais tarde, acabamos chegando nesta aterradora
conclusão: nosso maior inimigo somos nós mesmos! Portanto, as causas de
maldição são, na verdade, humanas e, também, não é o diabo quem fere a
terra com maldição, mas é o próprio Deus, tratando com a rebelião humana!

A nossa responsabilidade não está acima da nossa fi liação.

Adão era fi lho de Deus, foi formado pelas mãos dEle, mas porque ele
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

desobedeceu, Deus o expulsou do Jardim e o privou da vida eterna.

Lógico que Deus o perdoou, mas a consequente maldição da morte


permaneceu sobre Adão e toda a sua descendência. Não temos como supor
que Deus não fará o mesmo conosco.

O reino espiritual, apesar de não ser imediato, é preciso. O pecado nunca


está isolado da maldição. O salário do pecado é a morte.

A serpente tentou dizer o contrário à mulher, mas o resultado foi a morte.


Por isso, esta parte do nosso diagrama precisa ser levada
136

bem a sério. De forma bem práti ca, vamos enumerar algumas das
principais causas que, normalmente, encontram-se presentes nos quadros de
perseguição ou exploração demoníaca.

CAUSA 1. Iniquidade dos pais – Herança familiar Carregamos a bênção


e a maldição dos nossos antepassados. Isso pode parecer estranho, mas é
verdade. Pelo fato de lermos a Bíblia com a nossa cosmovisão
ocidentalizada, acabamos ignorando a lei da herança. Como ocidentais,
adotamos uma visão individualista da 3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

vida. A lei da herança não exerce um signifi cado relevante. Parece estranho
o pecado de alguém produzir uma consequência nas sucessivas gerações.
Isso não se ajusta com o nosso contexto cultural.

Porém, a cultura não está acima da Escritura.


Ao nos depararmos com as tantas genealogias existentes na Bíblia,
podemos avaliar o grau de importância que Israel aprendeu a dar à herança
familiar e às suas raízes. As raízes de uma pessoa revelam também as raízes
dos seus problemas. Raízes por natureza fi cam enterradas e por isso estão
sempre muito bem escondidas.

Essa ignorância em relação à nossa herança familiar é sintomá-

ti ca. As iniquidades não redimidas dos nossos pais autorizam uma infl
uência maligna de natureza correspondente sobre as nossas vidas e
relacionamentos. Ao ignorar esse fato, passamos a conviver
desnecessariamente com uma série de infortúnios.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Filiação X Merecimento

O principal confl ito é que a lei da herança embute um conceito estranho de


justi ça que não se baseia no merecimento, mas na fi liação. Por exemplo,
uma mulher que gerou um fi lho aidéti co, por que na sua devassidão foi
contaminada. Esse fi lho mereceu nascer aidéti co? Teria ele alguma culpa?
Obviamente que não. Isso é justo? Se dissermos que não é justo, estaríamos
também dizendo que Deus é injusto; o que não é verdade. Esse fi lho não
tem culpa por nascer aidéti co, mas tem a consequência. Isso não deve ser
encarado como fatalismo, mas como uma fatalidade real. Esse é o
MARCOS DE SOUZA BORGES

poder da lei da herança.

De outra sorte, suponhamos uma pessoa cujos pais foram muito bem-
sucedidos na vida acumulando muitos bens e propriedades. Os
pais morrem e toda a sua fortuna passa para o fi lho. Isso é justo? Esse

137

fi lho fez por merecer tudo isso? Ele trabalhou conquistando com o suor do
seu rosto todo esse patrimônio deixado pelos pais? De forma alguma.
Herança é uma questão de fi liação e não de merecimento.

O conceito de justi ça baseado no merecimento é importante, e até


fundamental em muitas situações da vida, mas não é tudo. Essa 3 |
CAUSAS DE MALDIÇÃO

é uma das maiores lições ensinadas na parábola do fi lho pródigo.

Mesmo sem merecer, ele teve direito à sua herança. A herança não está
ligada ao merecimento, mas à fi liação. Da mesma forma, a base do direito
à salvação não está vinculada ao merecimento, mas à fi lia-
ção. Jesus abriu mão do direito de ser o “unigênito do Pai”, e, através da
sua morte e ressurreição, se tornou o “primogênito entre muitos irmãos” ,
incluindo-nos na família de Deus, fazendo-nos herdeiros de Deus e co-
herdeiros com Cristo.

Na verdade, graça e misericórdia andam na contramão do merecimento:


graça é receber o bem que não merecemos e misericórdia é não receber o
mal que merecemos. Essa é a justi ça da cruz.

Se semeamos essa justi ça, pela justi ça vamos colher os respecti vos P

frutos: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque serão tratados ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

com misericórdia” .

Responsabilidade e herança são inseparáveis. Bênção e maldição consti


tuem a essência do princípio da herança espiritual, ou seja, a própria família
e descendência estão incluídas. Vamos ver alguns exemplos bíblicos que
confi rmam esse imutável princípio do reino de Deus.

Na parábola do credor incompassivo, o próprio Jesus endossa esta verdade


espiritual: “... mas não tendo ele com que pagar, ordenou seu senhor que
fossem vendidos, ele, sua mulher, seus fi lhos, e tudo

o que ti nha, e que se pagasse a dívida” (Mt 18:25).

Da mesma forma, quando Geazi se corrompeu cobiçando a oferta de


Naamã, Eliseu declarou a maldição que ele acabara de
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

invocar com a sua ati tude: “Portanto a lepra de Naamã se pegará a ti e à


tua descendência para sempre. Então Geazi saiu da presença dele leproso,
branco como a neve” (II Re 5:27).

Por que não apenas ele fi cou leproso? A Bíblia deixa claro que ele veria as
consequências dos seus pecados na sua descendência.
Que responsabilidade!

Também Acã, quando cobiçou e escondeu alguns despojos da batalha, os


quais haviam sido amaldiçoados ou interditados por Deus
138

previamente. Ele trouxe derrota sobre Israel e morte para si mesmo e para
toda a sua casa (Js 7:1-26). As consequências do seu pecado ati ngiram
muitas pessoas inocentes.

O seguinte texto esclarece ainda mais a mentalidade judaica acerca da


maldição hereditária: “Ao ver Pilatos que nada conseguia, mas pelo
contrário, que o tumulto aumentava, mandando trazer água, lavou as mãos
diante da multi dão, dizendo: Sou inocente do sangue deste homem; seja
isso lá convosco. Todo o povo respondeu: O seu sangue caia sobre nós e
sobre nossos fi lhos” (Mt 27:24-25).

Tanto Pilatos, como conhecedor dos preceitos judaicos, quanto 3 | CAUSAS


DE MALDIÇÃO

todo o povo, ti nham uma clara consciência de que a maldição automati


camente se estende à descendência. Após essa declaração, a maldição
invocada tem pesado sobre cada geração do povo judeu.

Desde o massacre de Jerusalém no ano 70 d.C., onde milhares foram crucifi


cados e queimados vivos, até o holocausto na Segunda Guerra, o povo
judeu tem sido perseguido, espalhado, assassinado, despre-zado, odiado,
etc. O próprio Jesus demonstrou o mesmo raciocínio estabelecendo um
juízo sobre aquela geração: “Para que sobre vós caia todo o sangue justo,
que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao
sangue de Zacarias, fi lho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o
altar” (Mt 23:35).

Por mais que não gostemos dessa ideia de os nossos pecados exercerem
uma consequente maldição sobre nossa descendência, esta é uma imutável
realidade do mundo espiritual.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

“Assim perecereis entre as nações, e a terra dos vossos inimigos vos


devorará; e os que de vós fi carem defi nharão pela sua iniquidade nas
terras dos vossos inimigos, como também pela iniquidade de seus pais”
(Lv 26:38-39).

“E vossos fi lhos serão pastores no deserto quarenta anos, e levarão sobre


si as vossas infi delidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste
deserto” (Nm 14:33).

“Preparai a matança para os fi lhos por causa da mal-

dade de seus pais, para que não se levantem, e possuam a terra, e encham
o mundo de cidades” (Is 14:21).

MARCOS DE SOUZA BORGES

Precisamos entender o que é a iniquidade. A iniquidade embute dois


conceitos básicos: pecados não redimidos ou nunca confessados
que se repetem a cada geração e também o casti go que esses pecados

139

acarretam para as gerações futuras.

Um exemplo clássico nesse senti do nos foi dado por Abraão.

Talvez você nunca tenha se perguntado por que os fi lhos de Israel fi caram
mais de trezentos anos como escravos no Egito. Como pôde o povo de
Deus, a semente abençoada de Abraão, ter fi cado tanto 3 | CAUSAS DE
MALDIÇÃO

tempo reduzida à escravidão?

Quando Abraão foi chamado por Deus, ele deixou a cidade de Ur dos
Caldeus indo em direção à terra de Canaã (Gn12:7). Chegou em Betel onde
levantou a Deus um altar (Gn 12:8). Depois disso veio uma grande prova
pois havia fome na terra. Não é nada fácil quando Deus manda você ao
lugar da bênção, do chamado, e você se depara com a fome.

Portanto, depois de sair para o chamado, Abraão agora saiu do chamado. O


pai da fé tropeçou na incredulidade e desceu ao Egito.

Ali ele se complicou todo. Uma menti ra causou o sequestro da sua esposa.
Deus lançou pragas sobre Faraó, que descobriu a verdade e acabou dando
um sermão em Abraão. Quando o Faraó do Egito passa P

um sermão no profeta de Deus é porque a coisa está feia mesmo! A ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

parti r dali, Abraão retornou para Canaã, orientando-se, como a Bíblia diz,
pelos altares outrora levantados.

O mais interessante desse desvio de rota de Abraão é que o mesmo se


projetaria na realidade dos seus descendentes: “Então disse o Senhor a
Abraão: Sabe com certeza que a tua descendência será peregrina em terra
alheia, e será reduzida à escravidão, e será afl igida por quatrocentos
anos” (Gn 15:13). O erro de Abraão custou à sua descendência
quatrocentos e trinta anos de casti go no Egito, sendo que trezentos anos
foram de dura escravidão. É exatamente isso o que a Bíblia está afi rmando!

Estati sti camente, a tendência é endossar a visitação pecaminosa,


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

como podemos ver no exemplo da idolatria do rei Jeroboão quando Israel se


separou de Judá. Jeroboão desencadeou um legado de idolatria, que foi
sendo endossado pelos seus descendentes.

Todos os reis foram sucessivamente repeti ndo o pecado de Jeroboão:


Nadabe (1 Re 15:26), Baasa (1 Re 16:1,2), Onri (1 Re 16:25,26), Acabe (1
Re 16 30,31), Acazias (1 Re 22:52-54), Joacaz (2 Re 13:1,2), Jeoás (2 Re
13:10-11), Jeroboão (2 Re 14:23,24), Zacarias (2 Re 15:8,9), Pecaia (II Re
15:23-24). Depois vem o reinado de Oséias e Israel é
140

levado para o cati veiro pela Assíria (2 Re 17:20-23). Um processo


ininterrupto de maldição que culminou no cati veiro e na destruição da
nação. Até hoje estas dez tribos que formavam a nação de Israel encontram-
se dispersas!

Em nenhum desses reinados houve o discernimento intercessó-

rio de confessar a idolatria hereditária, interrompendo a maldição.

Este foi o clamor do coração de Deus: “E busquei dentre eles um homem


que levantasse o muro, e se pusesse na brecha perante mim por esta terra,
para que eu não a destruísse; porém a ninguém achei”

(Ez 22:30). Podemos ti rar uma drásti ca conclusão aqui: “O meu povo 3 |
CAUSAS DE MALDIÇÃO
está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4:6).

CAUSA 2. Quebra de alianças

a) Quebra de aliança no casamento - Adultério e divórcio

“Portanto guardai-vos em vosso espírito, e que nin-

guém seja infi el para com a mulher da sua mocidade. Pois eu detesto o
divórcio (lit. repúdio) , diz o Senhor Deus de Israel, e aquele que cobre de
violência o seu vesti do; portanto cuidai de vós mesmos, diz o Senhor dos
exércitos; e não sejais infi éis” (Ml 2:16).

Adultério e repúdio estão implícitos um no outro. Estes são os PARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

principais mecanismos de destruição do matrimônio, deixando


consequências amaldiçoantes. Malaquias expressa a opinião de Deus sobre
o divórcio através de um trocadilho: “Pois eu detesto o divór-

cio” , enfati zando que Ele detesta o detestar, repudia o repúdio e é


divorciado do divórcio. Também explica que o adultério é o aspecto
principal do divórcio, que signifi ca se vesti r de violência. A carga de
violência conti da em um divórcio pode destruir gerações.

No caso de Abraão e Hagar, a poligamia causou uma desestrutura familiar


resultando na expulsão de Hagar e o seu fi lho. Isso, ao longo das futuras
gerações desenvolveu um crescente confl ito entre os descendentes de
Ismael e Isaque, que conti nuam brigando MARCOS DE SOUZA BORGES

até hoje, ameaçando a paz mundial. Essa guerra cultural do terror entre o
bloco islâmico e o mundo judaico-cristão começou com um

“simples” adultério que terminou em repúdio.


As implicações do adultério

141

Vamos começar analisando internamente, de forma práti ca, o que se


observa quando um matrimônio sofre a violação de um adultério. Essas são
algumas das possíveis maldições:

• Marginalização espiritual e ministerial da pessoa que adulterou.

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Tentando descobrir por que os homens têm uma parti cipação tão � -

mida e até inexpressiva nas igrejas em geral, descobre-se que grande parte
deles tem perdido a moral e a autoridade na própria família por conta de
adultérios ocultos. Está cada vez mais di� cil em nossas igrejas achar um
homem que possa dizer: Eu nunca traí a minha esposa!
• O adultério perturba emocionalmente o casamento, produzindo obsessão
por ciúmes, desprezo, competi ção, desentendimento crônicos e todo ti po
de quebra e desvirtuamento na comunicação do casal.

O adultério é o rompimento da aliança, trazendo espiritualmente uma


“pessoa” estranha para dentro do casamento. Não apenas a presença
emocional do(a) amante, como uma intromissão realmente demoníaca.

• O adultério também endemoniza a cama, contamina espiri-ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

tualmente o leito, produzindo em um dos cônjuges ou em ambos inibição,


interrupção ou até mesmo aversão sexual pelo outro. É da natureza do
espírito do adultério remover o prazer sexual de dentro para fora do
casamento.

• O adultério desprotege sexualmente a vida dos fi lhos, deixando-os


suscep� veis a diversas possibilidades de perseguições e abusos sexuais.
Tenho feito uma pesquisa informal que cada vez mais confi rma isso.
Muitas crianças são abusadas sexualmente na mesma época em que um dos
pais, ou ambos, estavam na práti ca do adultério.

• O adultério de um dos cônjuges expõe o outro cônjuge, víti ma


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

da sua traição, à mesma situação. É notório, por exemplo, em casos de


adultério da esposa, descobrir que o marido já vinha, há muito tempo,
adulterando ocultamente.

• O adultério afeta diretamente a vida fi nanceira da família.

Dinheiro começa a ser desviado para a imoralidade. A tendência é o espírito


de adultério levar a família à bancarrota.
• O adultério implica no princípio ati vo do escândalo e da decepção.
Invariavelmente todo adúltero terá que enfrentar um tempo
142

de exposição e apedrejamento. O escândalo ocorrerá mais cedo ou mais


tarde, e de uma forma menos ou mais dolorosa, dependendo da ati tude da
pessoa. Quanto mais a pessoa sonega transparência e responsabilidade,
piores se tornam as consequências. O fator tempo aqui só internaliza e
intensifi ca ainda mais o problema.

Todo adultério, mais cedo ou mais tarde, se não for tratado, vai produzir
uma situação crônica de decepção familiar, dor, rejeição, repúdio, divórcio e
abandono.

UMA PERSPECTIVA BÍBLICA SOBRE O DIVÓRCIO

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Na atualidade, principalmente aqueles que lidam com o dia-a-dia de uma


igreja precisam saber se relacionar com muito bom senso com a conjuntura
bíblica acerca do divórcio. É importante considerar que a lei do divórcio
exerce uma função civilizadora, ajudando a aco-modar as pessoas
envolvidas direta e indiretamente nessas situações de extremo confl ito e
trauma.

Primeiramente, é importante estabelecer a diferença entre o repúdio e o


divórcio. Discernir esses conceitos aprimora a nossa óti ca sobre o assunto.

- O repúdio envolve desonra, rejeição, ódio, separação, adultério, traição,


abandono do lar, ameaça, violência, a indisponibilidade de querer a
reconciliação, etc. E tudo isso vem da dureza de coração. É

isso o que Deus odeia, como afi rma o profeta Malaquias. É quando o
relacionamento é intencionalmente inviabilizado no coração.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

- O divórcio é a carta, um simples documento formalizando, depois de um


processo adequado, a decisão de um dos cônjuges ou de ambos de se
repudiarem. O que realmente está em jogo não é o divórcio, mas o repúdio.

O repúdio é uma falta moral; o divórcio é um dispositi vo legal.

Em muitas situações estabelece-se o confl ito entre o moral e o legal.

São questões di� ceis. O divórcio legaliza a separação, porém existe o


aspecto espiritual. Em muitos casos o legal é absurdamente imoral, podendo
ser socialmente aceitável, mas espiritualmente condenável.

Até que a morte os separe

MARCOS DE SOUZA BORGES

Existe um famoso ditado que diz: “Antes de se casar abra bem os seus
olhos, porque depois terá que fechar para muitas coisas”.

Depois de casado, não adianta alegar que o casamento “não foi de


Deus”. Se não foi de Deus, passou a ser! Votou, cumpra! Deus não

143

se agrada de tolos (Ec 5:1,2).

Não é algo simples lidar com situações de divórcio, redimindo o que é


possível e minimizando as traumati zantes sequelas. Porém, não podemos
deixar de mencionar a consequência básica do divórcio. A Bíblia explica
que o marido está ligado à sua mulher pela lei 3 | CAUSAS DE
MALDIÇÃO

do matrimônio até que a morte os separe (I Co 7:39).

Portanto, qualquer cônjuge que endurece o seu coração, repudian-do o


outro, desonrando a aliança de casamento, abandonando o lar, optando defi
niti vamente pelo divórcio, está invocando a própria morte, como está
escrito: “até que a morte os separe” . Esta é a maldição do divórcio. Isso
vai afetar todas as áreas da vida, gerando fracasso moral, decepção e
escândalo generalizado, perdas familiares (fi lhos), perdas fi nanceiras,
morte espiritual, desestrutura emocional, relacionamentos traumati zados,
destruição ministerial, etc. No divórcio todos perdem.

O casamento é a escola do caráter, o principal teste para a verdadeira


maturidade, envolvendo uma aliança de sangue para a vida inteira.
Infelizmente, um alto percentual de casais fracassam nessa P

prova, que é um dos principais crivos para o governo na igreja.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

A lei do divórcio

Após séculos de escravidão no Egito, enfrentando a dura tarefa de restaurar


os fundamentos da nação, amenizando tantas feridas e desordens sociais,
reorganizando civilmente a família, Moisés legalizou o divórcio. O ideal é
que não precisasse de existi r uma lei como essa, mas como não existe uma
sociedade perfeita, ela acabou sendo insti tuída.

Essa lei por muito tempo vinha cumprindo o seu papel civilizador, quando
no NT surge uma séria denúncia feita pelo próprio Jesus. Na verdade, o
sistema religioso de Israel, simbolizado pela fi gueira que
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Jesus amaldiçoou e que secou-se até as raízes, estava profundamente


corrompido (Mt 23). A lei do divórcio, assim como outras leis, havia
sofrido distorções com o intuito de atender ao interesse daqueles que as
aplicavam.

Portanto, em se tratando do divórcio, é necessário adverti r, como Jesus o


fez ao confrontar os fariseus (Mt 19:8), que o divórcio, apesar de ser
biblicamente legal, pode se tornar um dispositi vo perigoso, distorcível,
abusivo, facilmente usado com moti vações corrompidas,
144

sendo inspirado por egoísmo, leviandade, lascívia, vaidade,


irresponsabilidade, maldade, como arti � cio de vingança, etc.

Por isso é importante considerar o contexto das declarações feitas por Jesus
sobre o divórcio nos Evangelhos. Elas foram feitas para confrontar líderes
religiosos que imoralmente estavam fazendo do divórcio um pretexto para o
repúdio, pervertendo a funcionalidade da lei. Ou seja, a lei do divórcio foi
insti tuída por causa do repúdio, e não para ser um pretexto para o repúdio.
Qualquer pessoa que busca na Bíblia um respaldo para se divorciar está se
colocando em um péssimo caminho! O caminho do coração duro!

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Preste a atenção nisto: Deus não insti tuiu a separação de casais.


Ela surgiu por iniciati va do homem, da dureza do seu coração, como Jesus
afi rmou. Apesar de Deus ter proibido a separação ( aquilo que Deus
ajuntou não separe o homem), pela lei do divórcio, a regulamen-tou. Deus
jamais ordenou que houvesse separações, nem declarou permissão a elas.
Esse jamais foi o seu propósito. Apenas determinou que, já que se defi niu a
separação, essa situação deveria ser forma-lizada; deve haver uma
regularização, uma sati sfação formal para a sociedade. Portanto, a lei do
Divórcio não tem caráter autorizati vo, e sim normati vo.

Os cônjuges não devem apenas largar ou abandonar um ao outro, da mesma


forma como também não devem se ajuntar sem uma aliança de casamento
que envolva a família dessas pessoas. Se há de acontecer a separação, que
siga uma norma apropriada. É uma PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

questão de civilidade. Fique claro que o divórcio não isenta as pessoas das
consequentes maldições; apenas formaliza a nova situação perante a
sociedade. O que podemos fazer no aconselhamento após o divórcio é
tentar amenizar essas consequências.

Após a separação (repúdio), estava proibido o divórcio apenas quando o


marido, injustamente, acusava a mulher de infi delidade, e quando o homem
fosse compelido a casar por haver desonrado a moça (Dt 22:13-29). Sem o
divórcio, essas pessoas estariam legalmente impedidas de contrair um novo
matrimônio.

Em Levíti cos 21:7, vemos a restrição ao casamento de sacerdotes com


divorciadas, e em Ez 44:21-22 a mesma restrição, também es-MARCOS
DE SOUZA BORGES

tendida a viúvas. “Ao entrar no Santuário, nenhum sacerdote beberá vinho.


Não desposarão nem viúva, a não ser que o seja de um sacerdote, nem
divorciada, mas, sim, virgens da esti rpe da Casa de Israel.”
Este é também um preceito muito sábio. Tenho constatado isso

145

bem de perto em algumas situações. Qualquer pessoa que tem um chamado


ministerial, ou seja, que exerce um sacerdócio na igreja, não deve se casar
com divorciada ou viúva que não seja de outro sacerdote. Um segundo
casamento normalmente implica em confl itos entre ex-familiares e a nova
pessoa, ou a falta de aceitação por 3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

parte de fi lhos, enteados, etc., o que pode gerar vários prejuízos e


constrangimentos no desempenho do governo da igreja.

Em relação ao povo em geral, no texto da lei do divórcio insti tuída por


Moisés, havia impedimento para o novo casamento apenas entre os dois que
já haviam sido casados entre si. A lei prevê sucessivos casamentos e
divórcios, como infelizmente é praxe acontecer na atualidade:
“Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que,
se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-
lhe-á uma carta de divórcio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua
casa.

Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro

homem, e este também a desprezar, e lhe fi zer carta de ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

divórcio, e lha der na sua mão, e a despedir da sua casa, ou se este últi mo
homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, então seu primeiro
marido, que a despediu,

não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi
contaminada; pois é abominação perante o Senhor; assim não farás pecar
a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança” (Dt 24:1-4).

O corpo dessa lei nos permite ti rar algumas conclusões: 1. Quais sejam os
moti vos justos do divórcio, eles são menciona-PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

dos em termos gerais, fazendo alusão a algo moralmente reprovável, ou


imoral: “... por nela encontrar coisa indecente (erwãh dabhar)”.

A terminologia hebraica erwãh dabhar ocorre como frase apenas em Dt


23:14-15: “Pois o Senhor teu Deus anda no meio do teu acampamento,
para te proteger, e para entregar-te os teus inimigos.

O teu acampamento será santo, para que Ele não veja em ti “coisa

indecente” , e se aparte de ti .” Ou seja, o mesmo ti po de situação


indecente que faz com que Deus se aparte de nós é o que suposta-
146

mente “justi fi caria” um marido se separar da sua mulher. Esse é o senti do


original da terminologia.

Jesus parece endossar essa mesma postura: “... a não ser por causa de
prosti tuição” (Mt 5:32). Porém, como a Bíblia não estabelece um moti vo
para o divórcio de forma conclusiva, e creio que isso é proposital, porque
cada caso é um caso, minha opinião é que mesmo em caso de adultério,
deve-se tentar de todas as formas possíveis restaurar o casamento. Muitos
matrimônios têm sido salvos, mesmo após a mortal ferida de um adultério.
Vamos abordar sobre como lidar com a ferida do adultério no próximo
capítulo.

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Pessoalmente, considero que a única ressalva para a separação e divórcio é


se um dos cônjuges está realmente correndo risco de vida, ou seja, quando
existe a real possibilidade de um crime passional.

Se existe um histórico de agressões e ameaças que comprovam isso, temos


em questão um caso de polícia, e penso que apenas sob essas circunstâncias
a pessoa deve se separar. Esses crimes, infelizmente, acontecem com mais
frequência do que imaginamos.

2. O novo casamento é proibido entre as mesmas pessoas que foram casadas


e se divorciaram: ... então seu primeiro marido, que a despediu, não poderá
tornar a tomá-la.

Por razões que sinceramente desconheço, apenas tenho minhas


especulações, a Bíblia proíbe a restauração de um casamento víti ma do
divórcio, alegando que isso contamina espiritualmente a terra, PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

ou seja, endemoniza o território, indicando que a situação só faria piorar a


sociedade como um todo.

Trazendo isso para os nossos dias, vale mencionar algumas situa-

ções abusivas onde a igreja obriga a pessoa divorciada (antes mesmo de


conhecer a Jesus) que está no segundo casamento, inclusive com fi lhos, a
abandonar essa mulher e voltar para a primeira, que também já está
recasada com outro, com quem também já possui fi lhos. Isso está mais para
confusão do que para solução, um jugo insuportável.

Esse ti po de doutrina é exatamente oposta à determinação bíblica: não


poderá tornar a tomá-la, sendo espiritualmente ilegal. Ou seja, isso é mais
do que legalismo, é “ilegalismo”. Isso só piora o que já MARCOS DE
SOUZA BORGES

não é bom.

Muitas dessas pessoas, ao se converterem a Jesus, subjugadas por esse ti po


de imposição, acabam desenvolvendo um processo de
rejeição, autocondenação, amargura e apostasia. Assim, a própria

147

igreja, ao invés de ajudar, mata os seus feridos.

Aqui também essa proibição é estabelecida em termos gerais. Apesar dessa


restrição, o próprio Deus, constrangido pelo seu infi nito amor, a
desconheceu no seu drama conjugal vivido com Israel: 3 | CAUSAS DE
MALDIÇÃO

“Eles dizem: Se um homem despedir sua mulher, e ela o deixar, e se ajuntar


a outro homem, porventura tornará ele outra vez para ela? Não se poluirá
de todo aquela terra? Ora, tu te prosti tuíste com muitos amantes; mas
ainda assim, torna para mim, diz o Senhor” (Jr 3:1).

3. O divórcio implica na possibilidade de um outro casamento:


“... Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem”.

Não temos como ignorar esta questão. São nesses casos onde um sábio
aconselhamento torna-se ainda mais imprescindível. Na Bíblia, o conceito
do segundo casamento está implícito na lei do divórcio, o que jamais foi a
intenção original de Deus para o relacionamento P

familiar. Essas situações sempre deixam sequelas sérias envolvendo ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

fi lhos, fi nanças, enteados, ex-cônjuges, etc. As consequências de um


divórcio sempre são fulminantes, e as demandas de um segundo casamento
normalmente são complicadas.

Pessoalmente, tenho uma posição radical contra a separação e o divórcio.


Jamais aconselhei ou aconselharei alguém a se separar e divorciar, porém
precisamos lidar com tantas pessoas que já se encontram nessa situação e
que estão vindo aos montes para as nossas igrejas. Não adianta apenas
condená-las!

No aconselhamento, lidando com questões como divórcio, segundo


casamento, amasiamento, etc. precisamos ter muito discernimento e bom
senso para resolver, processar ou conseguir amenizar PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

as consequências de cada situação. Isso em muitos casos requer uma agenda


pastoral que demandará muito esforço, equilíbrio e sabedoria de Deus. Não
existe uma regra absoluta que se aplique a todos os casos, como uma
“receita de bolo”. Poderíamos simular dezenas de casos diferentes. Cada
caso é um caso. A experiência de uma situação normalmente não se aplica a
outra.

O processo para redimir uma história de divórcio requer construir e


resolver, na medida do possível, uma equação com muitas variáveis:
148

Quem repudiou quem? Quem abandonou o lar? Houve adultério?

Existem fi lhos que vieram desse adultério? Houve ameaça, violência?

Aconteceu antes ou depois do novo nascimento? A pessoa ocupava uma


posição de liderança na igreja? Existem fi lhos? O cônjuge já se casou de
novo? Ainda existe alguma possibilidade de reconciliação?...

Não existe uma maneira de pré-estabelecer uma solução envolvendo tudo


isso. O meu objeti vo é apenas delinear fundamentos e orientações bíblicas
para que possamos compreender melhor o espírito da lei, aperfeiçoar a
nossa capacidade de contextualizá-la, construindo em cada caso as
melhores soluções possíveis.

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO
Também, é importante levantar algumas questões específi cas de forma
construti va no aconselhamento com divorciados, principalmente aqueles
que estão contraindo um outro matrimônio: O que se pode fazer hoje para
amenizar as feridas abertas e melhorar os relacionamentos afetados? Como
agir diante de fi lhos com quem, por força do divórcio, perdeu-se o contato?
O que é possível fazer para reparar os próprios erros, para que a situação
não se repita de forma ainda pior no segundo casamento? O que precisa ser
mudado no próprio caráter?...

Dois extremos

Existem dois extremos altamente destruti vos em relação ao divórcio e ao


segundo casamento:

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

1. Pessoas que se casam e descasam inescrupulosamente.

Isso só reforça a infi delidade, a imoralidade e a perda dos vínculos


familiares, causando a destruição da família e da sociedade.

É aqui que muitos se casam com o adultério e se colocam em um caminho


circular de dor e perdição.

2. Pessoas que condenam taxati vamente o segundo casamento,

excluindo-o normati vamente das Escrituras.

Vale repeti r que em muitas situações o segundo casamento é condenável


mesmo, ou seja, a pessoa passa a viver em uma condição de adultério mas,
em outras, o divórcio funciona como um mecanismo MARCOS DE
SOUZA BORGES

altamente redenti vo, principalmente em relação à pessoa repudiada, lesada,


traída, agredida, abandonada, desamparada no matrimônio.

Em alguns casos, infelizmente, o divórcio é a única alternati va restante:


“E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometi do

149

adultério a rebelde Israel, a despedi, e lhe dei a sua carta

de divórcio, que a aleivosa Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi e também
ela mesma se prosti tuiu” (Jr 3:8).

É o próprio Deus quem está dizendo essas palavras. Ele não se 3 | CAUSAS
DE MALDIÇÃO

divorciou de Israel por iniciati va própria, mas devido a uma obsti nada
rebelião da nação em rejeitá-lO. Israel repudiou ao Senhor, trocando-O
pelos seus amantes. Por incrível que pareça, Deus não ignora esse ti po de
dor. Depois de ser ostensivamente repudiado, Ele passou pela situação de
divórcio e novo casamento, com a Igreja: E Deus disse: Põe-lhe o nome de
Lo-Ami; porque vós não sois meu povo, nem eu serei vosso Deus. Todavia o
número dos fi lhos de Israel será como a areia do mar, que não pode medir-
se nem contar-se; e acontecerá que no lugar onde se lhes dizia: Vós não
sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois fi lhos do Deus vivo. (Os 1:9,10)

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Este veredicto divino mostra como aqueles que eram o povo desposado de
Deus deixaram de ser, e os que não eram povo de Deus passaram a ser. A
nova aliança produziu um novo Israel, que vai além da descendência �
sica de Abraão, mas uma inumerável descendência espiritual que engloba
qualquer um, de qualquer nacionalidade, que tem o coração aberto para crer
e obedecer, como Abraão o fez:

“Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é


exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a
que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos
homens, mas de Deus” (Rm 2:28).

Quer gostemos ou não, quer aceitemos ou não, independente-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

mente das suas consequências, o divórcio e o segundo casamento foram


normati zados na Bíblia. Dizer o contrário é exagerar a lei, des-civilizar a
sociedade, desmerecer a graça e banir a misericórdia. Isso parece ser muito
espiritual, mas pode ser, em alguns casos, altamente destruidor. É trilhar a
cana quebrada e apagar o pavio que fumega.

Acompanhei recentemente a situação de um rapaz muito dedi-cado a Deus.


Poucos meses depois que se casou, sua esposa estranhamente se apaixonou
por uma pessoa da igreja e simplesmente o
150

abandonou. Ele tentou de todas as formas a restauração do casamento,


porém, sem sucesso, ainda mesmo que ela ti vesse engravidado dessa outra
pessoa. Nesse caso, obviamente, o divórcio, a dureza de coração, não está
no coração do marido, mas da esposa. Depois de tudo isso, impedi-lo de se
casar novamente é querer ser mais justo que Deus. É puro legalismo. É
destruti vo! É assim que depois da pessoa ser rejeitada pelo cônjuge passa a
ser rejeitada pela igreja, e tudo isso em nome de Deus. Obviamente, cada
situação, como essa por exemplo, deve ser analisada com muito cuidado.

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Governo e serviço

Ser infi el ao nosso cônjuge é também ser infi el a Deus. Qualquer pessoa
que queira levar Deus a sério precisa levar muito a sério o casamento. O
ministério cristão está associado ao testemunho, à credibilidade moral.
Autoridade e testemunho são valores proporcio-nais. Sem testemunho não
existe autoridade. As palavras se tornam vazias. É a letra sem o espírito, a
verdade sem a coerência, que acaba caindo em descrédito. A falta de
autoridade subtrai o impacto do ministério, tornando-o irrelevante.

Muitas pessoas quando chegam às nossas igrejas já estão no segundo ou


terceiro casamento. Outras se divorciaram mesmo depois de se tornarem
crentes, o que é aterrador. Todos os detalhes relevantes perti nentes a cada
situação devem ser vistos quando você cria oportunidades na igreja para
essas pessoas.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

A Bíblia não impede ninguém de servir, mas coloca condições para


governar. Se a história da pessoa demonstra falhas considerá-

veis em relação ao seu papel na família, essa pessoa não deve ser
estabelecida em uma posição de governo; apenas de serviço. Ela não teria
infraestrutura moral e nem respaldo bíblico para exercer uma função de
governo e cobertura sobre outros. O apóstolo Paulo determina que se
alguém não governa bem a sua casa, também não pode governar a igreja (I
Tm 3:5). A restrição aqui é sobre governar, e não ministrar ou servir. O que
limita o serviço é o próprio testemunho.

b) Filhos bastardos - propagando a maldição MARCOS DE SOUZA


BORGES

A concepção de fi lhos em detrimento da aliança do casamento gera


rejeição e um comportamento de segregação e imoralidade compulsiva e
precoce.
Nenhum bastardo entrará na assembléia do Senhor;

151

nem ainda a sua décima geração entrará na assembléia do Senhor. (Dt


23:2.)

Moisés explica que o fi lho gerado ilegiti mamente não entra na


congregação do Senhor. Acontece um distúrbio espiritual. Instala-se 3 |
CAUSAS DE MALDIÇÃO

uma infl uência espiritual demoníaca que produz uma resistência no senti
do de impedir a pessoa de se encaixar no propósito divino em relação ao
casamento, família e igreja (Assembléia do Senhor). Ou seja, desencadeia
um processo de perseguição espiritual de cunho emocional, sexual e
também homossexual, tentando fazer com que a pessoa precocemente
reproduza a mesma situação pela qual ela foi gerada.
Esse mecanismo de propagação da iniquidade pode produzir um impacto
social que afeta até dez gerações. Este ti po de situa-

ção denunciada por Moisés é muito latente em várias sociedades ao redor


do mundo. Em algumas regiões no Brasil, por exemplo, é comum observar
mulheres que se tornaram mães aos treze anos de idade, avós aos vinte e
seis e bisavós aos trinta e nove. Esse ti po de P

maldição resulta em prejuízos sociais incalculáveis, multi plicando ARTE II


- ANALISANDO O DIAGRAMA

miséria e violência.

c) Quebra da aliança com Deus: Apostasia Em Deuteronômio 28 temos


uma lista com mais de 50 versículos contendo maldições que vêm como
consequência da apostasia.

Esse é o pior ti po de quebra de aliança, porque afeta diretamente a salvação


eterna. A apostasia é denominada por Oséias e também pelo apóstolo Paulo
de prosti tuição espiritual, invocando o casti go e as mais duras correções de
Deus.

A apostasia explica muito sobre o declínio moral da sociedade.

Invariavelmente, pessoas apóstatas se tornam bem piores do que eram


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

antes de experimentarem a Verdade. Por quatro anos, fazendo visitas


evangelísti cas a um hospital psiquiátrico, uma das coisas que mais me
impressionava era o alto percentual de “ex-evangélicos”. Eram os mais
perturbados. A apostasia traz uma série de maldições relacionadas com a
desintegração psicoemocional, depressão e pânico:

“O Senhor te ferirá com loucura, com cegueira, e com pasmo de coração”


(Dt. 28:28).
152

“... O Senhor ali te dará coração tremente, e desfale-cimento de olhos, e


desmaio de alma. E a tua vida estará como em suspenso diante de ti ; e
estremecerás de noite e de dia, e não terás segurança da tua própria vida.
Pela manhã dirás: Ah! quem me dera ver a tarde; e à tarde dirás: Ah! quem
me dera ver a manhã! pelo pasmo que terás em teu coração, e pelo que
verás com os teus olhos”

(Dt. 28:65-67).

“E, quanto aos que de vós fi carem, eu lhes meterei pavor no coração nas
terras dos seus inimigos; e o ruído de uma 3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

folha agitada os porá em fuga; fugirão como quem foge da espada, e


cairão sem que ninguém os persiga” (Lv. 26:36).

CAUSA 3. Idolatria
Todo pecado é uma violação de algum ti po de relacionamento.

A idolatria é um pecado contra o próprio Deus. A idolatria é a suti l e


maligna incorporação da fé desvirtuada, a fé na menti ra, no engano, na
vaidade. Vejamos duas maldições impostas pela idolatria:

• A pessoa se torna tal como o ídolo

Acontece uma permuta de identi dade. O ídolo para a pessoa passa a andar,
a falar, a ouvir, etc., e a pessoa se torna espiritualmente cega, surda, muda,
inerte, insensível como o ídolo. Quanto mais o PARTE II - ANALISANDO
O DIAGRAMA

ídolo se torna ati vo para a pessoa, tanto mais a pessoa se torna passiva e
embrutecida como o ídolo. Esta é uma inviolável lei do mundo espiritual:
Somos transformados na semelhança daquilo que cremos.

“Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos do homem. Têm boca,
mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem;
têm nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas
não andam; nem som algum sai da sua garganta. Semelhantes a eles sejam

os que fazem, e todos os que neles confi am” (Sl 115:4-8).

MARCOS DE SOUZA BORGES

É muito comum vermos pessoas que ti veram grande envolvimento com


idolatria ou que também carregaram imagens em pro-cissões terem
problemas de fraturas, fortes dores nas juntas, dores e
peso na coluna, extrema cegueira espiritual, etc. Tornam-se rígidas,

153

quebradiças e insensíveis como as imagens que adoram e confi am.

• Engano e desproteção espiritual

Sempre que vamos a Deus ou O buscamos inspirados pelos ídolos do nosso


coração, isso nos será por laço. Seremos enganados, víti mas 3 | CAUSAS
DE MALDIÇÃO

da nossa própria idolatria: “Assim diz o Senhor DEUS: Qualquer homem da


casa de Israel que levantar os seus ídolos no seu coração, e puser o tropeço
da sua maldade diante da sua face, e vier ao profeta, eu, o Senhor, vindo
ele, lhe responderei conforme a multi dão dos seus ídolos” (Ez 14:4). Na
idolatria, o próprio Deus endossa o engano do nosso coração. Esse é um dos
piores ti pos de juízo.
Usando essa brecha, enti dades demoníacas camufl am-se através da identi
dade dos santos, parentes mortos, orixás, etc. A principal arti manha de
Satanás é a religião. Não é de se espantar que as maiores atrocidades da
história são prati cadas em nome da religião.

A idolatria é o ramo do oculti smo que trabalha no campo da proteção. É


quando as pessoas buscam proteção ou favores em uma P

fonte espiritual que não é o Deus verdadeiro. O que na verdade ocorre


ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

é que nessas mesmas áreas em que essas enti dades supostamente prometem
proteger e favorecer, elas desempenham uma função oposta, causando
assim uma dependência espiritual cada vez maior do ídolo.

Por isso é comum, por exemplo, observar pessoas devotas a São Cristóvão
(protetor dos motoristas) sofrer inúmeros acidentes automobilísti cos,
pessoas devotas a Santo Antônio (protetor do casamento) se divorciando
várias vezes ou sofrendo de solteirice, pessoas devotas a Iemanjá (protetora
do amor) caindo em desgraça senti mental e familiar, pessoas devotas a
Santa Luzia (protetora dos olhos) sofrendo de problemas nos olhos ou
cegueira senti mental (no sincreti smo, Santa Luzia é o Cupido), pessoas
devotas a São Judas PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Tadeu, o santo das causas impossíveis, estão sempre enfrentando desastres e


perdas irreversíveis, e assim por diante.

CAUSA 4. Rebelião e desonra contra os pais Esse é um ponto relevante.


Todo comportamento inspirado por desprezo e desonra aos pais é altamente
amaldiçoante: “Maldito aquele que desprezar a seu pai ou a sua mãe. E
todo o povo dirá: Amém”
154

(Dt 27:16). Situações como o envolvimento com drogas, menti ras,


agressões verbais e � sicas contra pais, casamento sem o consenti mento
dos pais, etc. acarretam duras consequências, entre elas:

• Situação crônica de desgraça

“. . E, havendo ele dissipado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e
começou a passar necessidades” (Lc 15:14). Essa foi a maldição do fi lho
pródigo, que ao desprezar o seu pai, gastou dissolutamente a sua herança,
reduzindo-se a uma condição de profunda miséria. Foi parar em uma terra
de fome e escassez.

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

• Cegueira e perdição
“O que amaldiçoa a seu pai ou a sua mãe, apagar-se-lhe-á a sua lâmpada
e fi cará em trevas densas” (Pv 20:20). Instalam-se na vida da pessoa
diversas situações desfavoráveis envolvendo desnorteamento vocacional,
vulnerabilidade senti mental e afeti va, desvirtuamento e precipitação na
hora de tomar decisões, relacionamentos errados e tantas outras coisas que
trancam a vida da pessoa e impedem as oportunidades.

• Morte prematura e uma ruim condição de vida

“Honra a teu pai e a tua mãe, como o SENHOR teu Deus te ordenou, para
que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na terra que te dá o
SENHOR teu Deus.” (Dt 5:16). Desonra aos pais faz PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

com que ao invés de prolongar quanti tati vamente e qualitati vamente a


nossa vida, vamos encurtá-la. E também, ao invés de nos sairmos bem,
vamos ir mau em qualquer lugar ou situação que nos colocarmos.

Ou seja, além da pessoa fi car perdida em relação ao propósito da sua


existência, não poucos morrem cedo ou experimentam uma condição
catatônica, paralíti ca em relação a muitas áreas da vida.

CAUSA 5. Pecado encoberto

Todo pecado encoberto funciona como uma âncora que trava o


desenvolvimento e impede a dinâmica de uma vida próspera: “O

MARCOS DE SOUZA BORGES

que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as


confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv 28:13). Isso não apenas nos
afasta, como nos impede de alcançar a misericórdia de Deus e
das pessoas, levando-nos a uma estado de total ruína espiritual. Esta

155

é uma das maneiras de nos privar da graça de Deus.

Ocultamento de pecados também destrói a estrutura da vida, produzindo


resistências que superam as nossas forças: “Enquanto calei o meu pecado,
consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo” (Sl
32:3). A vida passa a ser extremamente 3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

dura, penosa, malignamente sofrida. A pessoa permanece debaixo da


sentença do pecado. Enquanto um pecado é encoberto, ele não é perdoado.
A pessoa não tem alívio, sossego, refrigério. Ao invés de experimentar
misericórdia, está sempre sendo espancada na vida.

CAUSA 6. Falta de perdão e amargura


Esse é um ponto extremamente relevante. O grande trunfo de Satanás é a
falta de perdão mediante injusti ças sofridas. Oferecer a quem quer que seja
uma graça inferior à que recebemos de Deus nos enquadra na práti ca da
injusti ça. Muitas maldições e tormentos se instalam na vida da pessoa.

No Reino de Deus, sonegar perdão é imperdoável. Vamos ana-ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

lisar algumas consequências destruidoras da falta de perdão.

• Envenenamento emocional

A falta de perdão produz uma ferida. Essa ferida, quando alimentada,


produz a amargura. Amargura é uma toxina espiritual tão venenosa quanto
infecciosa. É de onde vem a palavra mágoa, que no literal signifi ca má
água. Não perdoar é você tomar o veneno e querer que a outra pessoa
morra. Obviamente, é você mesmo quem está morrendo. Toda ati tude de
vingança não deixa de ser também um suicídio emocional.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

• Relacionamento aprisionado

O perdão é um princípio decisivo que determina a condição de liberdade ou


aprisionamento espiritual. Quanto mais amarguramos contra uma pessoa,
mais nos unimos iniquamente a ela. Ou seja, a amargura não nos separa da
pessoa; na práti ca, nos aproxima malignamente dela, através de ciúmes,
ressenti mento...

A inimizade (amargura) resume um dos principais ti pos de ligações iníquas


entre almas. Ficamos algemados e condicionados à pessoa que,
156

de coração, não perdoamos. Estaremos sempre competi ndo, invejando e


evitando essa pessoa de tal forma, que ela acaba se tornando o centro das
nossas vidas. Tudo que fazemos ou deixamos de fazer gira sempre em torno
da pessoa a quem estamos sonegando perdão. Perdemos a paz e a liberdade.
O lugar de centralidade, que pertence a Jesus, passa a ser ocupado pela
pessoa que não perdoamos.

• Não seremos perdoados: apostasia

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, 3 | CAUSAS DE


MALDIÇÃO

também vosso Pai celesti al vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes
aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas” (Mt 6:14,15).
Esse é um texto que precisa ser levado muito a sério. O que Jesus está
dizendo é que a falta de perdão é inseparável da apostasia.

Temos aqui uma linha de ação que não pode ser ignorada. Não perdoar nos
leva para uma situação crônica de desgraça, condenação e,
consequentemente, apostasia. A apostasia é uma porta aberta para a
desestruturação espiritual, moral e social. Esse é o ciclo da desgra-

ça: Rejeição - falta de perdão - não graça - apostasia - desintegração


psicoemocional - corrupção social.

Ou seja, quando sonegamos o perdão, colocamo-nos na situa-

ção de não sermos perdoados por Deus. Isso compromete a própria PARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

salvação da alma. Biblicamente, nossa salvação está condicionada a alguns


fatores, e o perdão é um dos mais importantes. Se não podemos conviver
com uma pessoa aqui na terra, muito menos no céu!

É interessante notar que o principal moti vo que leva muitas pessoas a se


afastarem de Deus, apostatando-se da fé, fundamenta-se em um quadro de
decepção e amargura. A amargura nos priva da graça de Deus e,
principalmente, por conta disso, a quanti dade de pessoas apostatadas do
Evangelho é enorme. Pessoas que conhe-ceram a verdade, experimentaram
a salvação, comparti lharam do poder de Deus e, por causa de decepções
ministeriais, senti mentais, abusos de líderes, resistência à correção divina,
orgulho denomina-MARCOS DE SOUZA BORGES

cional, legalismo, etc., acabaram indo para um lugar de amargura e


apostasia, sempre se senti ndo, de alguma forma, “injusti çadas”. No fundo,
o problema todo orbita em torno do eixo da falta de perdão.
• Condenação

157

“Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que
julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós”
(Mt 7:1,2).

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Quando não perdoamos, tornamo-nos vulneráveis para prati car o mesmo


mal que sofremos. Nossos principais erros têm a mesma natureza das injusti
ças que não perdoamos. Essa lei foi bem eviden-ciada pelo apóstolo Paulo:
“Tu que julgas, prati cas o mesmo” (Rm 2:2).

Para averiguar a severidade dessa lei, primeiro faça uma lista com todas as
pessoas que o feriram e de tudo que elas fi zeram contra você. Isso será bem
fácil de se fazer. Como diz o ditado: “quem apanha jamais esquece”.
Depois, tente alistar tudo o que você tem feito e que tem ferido ou
prejudicado outros. Isso certamente será bem mais di� cil de fazer, mas se
esforce. De repente, você vai descobrir que as duas listas coincidem. As
suas agressões estão ligadas com as injusti ças que você sofreu, e que, ao
invés de perdoar, você P

condenou, murmurou, vingou, amaldiçoou...

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

A grande chave para perdoar é ver como temos errado. Não existe
verdadeira santi dade sem um verdadeiro compromisso com a práti ca de
perdoar. Quanto mais perdoamos, menos pecamos. Quanto menos
perdoamos, mais erramos com os outros. Se esse processo não for
interrompido, acabaremos sentenciados pelo nosso padrão de julgamento.
Enfermidades � sicas, colapsos emocionais, crises nervosas e depressivas
passam a frequentar a nossa vida.

A falta de perdão nos transfere da cadeira de juiz para o banco dos réus,
onde acabamos condenados, aprisionados, penalizados, torturados e
atormentados por espíritos, pessoas e situações malignas.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

“Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo


malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste; não devias
tu também ter compaixão do teu companheiro, assim como eu ti ve
compaixão de ti ? E, indignado, o seu senhor o entregou aos verdugos
(espíritos torturadores), até que pagasse tudo o que lhe devia. Assim vos
fará meu Pai celesti al, se de coração não perdoardes, cada um a seu
irmão” (Mt 18:32-35).
158

Amargura e rebelião podem ser defi nidas como o atestado de fracasso


mediante rejeições e injusti ças sofridas. Resumindo, toda a escolha baseada
nessas ati tudes vão impor um quadro de enfermidades, sofrimento
emocional, perturbação temperamental, colapsos nervosos e psíquicos,
opressão espiritual e até mesmo tortura, causados por espíritos demoníacos.

Um outro princípio que enfati za essa ligação entre a falta de perdão e uma
vida condenada é a “ceia”. A essência da ceia do Senhor é reconciliação e
comunhão. Um autoexame nos nossos relacionamentos deve ser
minuciosamente feito. Uma negligência, 3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

nesse senti do, pode ser fatal.

“Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do


cálice. Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria
condenação, se não discernir o corpo do Senhor. Por causa disto há entre
vós muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem” (I Co 11:28-30).

Prati car o ato cerimonial da ceia do Senhor sem discernir o seu conteúdo
moral pode trazer consequências trágicas. Quando tomamos a ceia sem
perdoar, estamos pecando contra a unidade e a integridade do corpo de
Cristo, e esse é o real moti vo de muitas pessoas estarem doentes, e até
mesmo morrerem prematuramente.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

CAUSA 7. Palavras ou pragas proferidas

por pais e autoridades

Temos duas situações a serem consideradas:

• Palavra interditória correspondida com desobediência

Estas foram as palavras ditas interditoriamente por Josué após a destruição


de Jericó:

“Também nesse tempo Josué os esconjurou, dizendo: Maldito diante do


Senhor seja o homem que se levantar e MARCOS DE SOUZA BORGES

reedifi car esta cidade de Jericó; com a perda do seu primogênito a


fundará, e com a perda do seu fi lho mais novo lhe colocará as portas” (Js
6:26).
Séculos depois essa palavra não havia perdido seu vigor:

159

“Em seus dias, Hiel, o betelita, edifi cou Jericó. Quando lançou os seus
alicerces, morreu-lhe Abirão, seu primogênito; e quando colocou as suas
portas, morreu-lhe Segube, seu fi lho mais moço; conforme a palavra do
Senhor, que ele falara por 3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

intermédio de Josué, fi lho de Num” (I Re 16:34).

• Pragas ou palavras abusivas correspondidas com amargura

Nenhum pai ou líder tem o direito de praguejar ou amaldiçoar fi lhos ou


discípulos. Quando isso ocorre, a víti ma desse ti po de abuso só precisa
tomar muito cuidado para não se amargurar. Amargura produz desonra, o
que ati va a respecti va profecia maligna na vida da pessoa. A chave é agir
com quebrantamento, perdão e até mesmo como Jesus estrategicamente
ensinou, mantendo uma postura de oração por essa pessoa. Isso funciona
como um escudo, que evita que a amargura produza suas raízes.

Não havendo amargura, as profecias malignas são anuladas.

Nesse caso, quem fi ca na situação de rebelião em relação a Deus é ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

a pessoa que está abusando da sua posição de poder ou autoridade.

CAUSA 8. Jugo desigual

“... Judá profanou o santuário do Senhor, o qual ele ama, e se casou com a
fi lha de deus estranho. O Senhor exti rpará

das tendas de Jacó o homem que fi zer isto...” (Ml 2:10-12).

Jugo desigual é uma aliança espiritual com demônios, consolida-da através


de sociedades ou casamentos com pessoas ímpias. Sempre digo que o
problema de se casar com uma pessoa em jugo desigual
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

é o “sogro”. Se você é fi lho de Deus e a outra pessoa é fi lha de um

“deus estranho”, esse será espiritualmente o seu sogro. Esse demônio agora
é seu parente. Após o casamento, com que autoridade você irá recusar a
visita do “sogro”? Ao invés de trazer Deus para abençoar, você estará
trazendo demônios para casti gar o seu casamento, e vai passar a “comer o
pão que o sogro amassou”.

Essa foi a transgressão de Salomão (Ne 13:23-27). Como Malaquias


assevera: “O Senhor exti rpará das tendas de Jacó o homem
160

que fi zer isto”, a principal maldição que acompanha o jugo desigual é a


apostasia. A Bíblia fala que os deuses das mulheres de Salomão
corromperam o seu coração. Isso o levou a um longo tempo de apostasia. A
pessoa ao se corromper nos seus valores tentando conciliar luz com trevas,
justi ça com injusti ça e Cristo com Baal está impondo sobre si mesma um
jugo espiritual de excomunhão do corpo de Cristo.

É muito importante considerar estas quatro peneiras antes de se casar. Ou


seja, antes de nos casarmos com uma pessoa é necessário avaliar se também
estamos dispostos a nos casar com o Deus da pessoa, com os valores da
pessoa, com a missão da pessoa e com 3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

a família da pessoa.

• Casar com o Deus da pessoa - Proteção espiritual. Qual é o


“deus” da pessoa? Espiritualmente você está se casando com ele.

Ele será seu novo parente.

• Casar com os valores da pessoa - Proteção moral. Os valores regem o


comportamento. Na mesma proporção que os valores são corrompidos, o
relacionamento sofre.

• Casar com a missão da pessoa - Proteção ministerial. Isso traz segurança


e sustento, afi nidade e complementabilidade. Casar com uma pessoa que
não tem compati bilidade no chamado pode impor uma crise existencial no
matrimônio.

• Casar com a família da pessoa - Proteção geracional. Discernir os


padrões de relacionamento e as heranças. Nós e os nossos PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

fi lhos de várias formas seremos infl uenciados pela história familiar do


nosso cônjuge.

CAUSA 9. Todo envolvimento com o ocultismo (espiritismo, feitiçaria,


satanismo, etc.)

“Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu fi lho ou a
sua fi lha, nem adivinhador, nem prog-nosti cador, nem agoureiro, nem feiti
ceiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem
mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz MARCOS
DE SOUZA BORGES

estas coisas é abominável ao Senhor, e é por causa destas abominações que


o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti ” (Dt 18:10-12).
“As dores se multi plicarão àqueles que fazem oferendas

161

a outro deus” (Sl 16:4).

“Mas ambas estas coisas virão sobre ti num momento, perda de fi lhos e
viuvez; em toda a sua plenitude virão sobre ti , por causa da multi dão das
tuas feiti çarias, e da grande abundância dos teus encantamentos” (Is
47:9).

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

As consequências do envolvimento com o oculti smo são implacáveis.


Sofrimento multi plicado, perda de fi lhos e viuvez precoce, distanciamento
de Deus, destruição, morte e todo ti po de miséria consti tuem as maldições
do envolvimento com o oculti smo.
Tudo que foi recebido no espiriti smo precisa ser radicalmente renunciado.
Como já falamos, é muito comum vermos pessoas em posições estratégicas
de intercessão ministrando com dons espíritas na igreja. Essa distorção
acarreta confusão e muitas maldições.

Pactos, consagrações, votos, bati smos, benzimentos, feti ches, simpati as,
mantras, capacidades sobrenaturais adquiridas, etc. precisam ser da forma
mais específi ca possível repudiados, arrependidos e renunciados.

Vale reforçar que não podemos simplesmente resumir uma libertação ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

em uma oração de renúncia, por mais detalhada que ela seja.

CAUSA 10. História de necromancia na linhagem - reza e devoção a


santos católicos ou ortodoxos Este é um desdobramento do ponto anterior.
Rezar a um santo é cultuar um morto. A invocação de mortos é um ato de
feiti çaria.

Cada vez que isso ocorre, a pessoa está caindo no abominável engano da
necromancia. Apesar de muitas religiões terem essa práti ca, ela é
fortemente proibida pela Bíblia. Pensando que estão invocando a Deus, na
verdade, isso é uma sujeição aos espíritos de morte.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

A Bíblia explica que este ti po de engano algema a pessoa em perdas


existenciais sofridas, fazendo com que essas pessoas sofram ainda mais,
sendo espiritualmente e emocionalmente apedrejadas, feridas e destruídas
na vida:

“O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiti ceiro, certamente


será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles” (Lv 20:27).
162

CAUSA 11. Tentativas de suicídio e história de suicídios na linhagem

O suicídio é o maior atestado de fracasso que uma pessoa pode dar.


Consiste em um sacri� cio humano, abrindo uma porta de perseguição
sobre a descendência dessa pessoa com característi cas bem singulares.
Alguns sintomas tornam-se bem evidentes: forte senti -

mento de fracasso, desistência generalizada, quadros de depressão


caracterizados por pensamentos de suicídio, apati a crônica, medo obsessivo
de morrer ou fi car doente, etc.

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Atualmente, a maioria dos casos de suicídio está relacionado com o


divórcio. Divórcio e suicídio andam juntos. Mais que adolescentes que se
suicidam por causa de lares destruídos, são os homens com idade acima de
50 anos que vivem sozinhos. Quando mais novos, preenchem o vazio
emocional com muitas mulheres, mas após os 50 anos, com a velhice, as
coisas mudam e muitos não suportam a angústi a da rejeição e a solidão.

Existem três questões no suicídio ou na tentati va de suicídio que precisam


ser trabalhadas espiritualmente:

• O pacto de sangue

O sangue derramado em uma morte por suicídio mantém uma aliança com
os espíritos de morte, fracasso, bancarrota e depressão. Espiritualmente
falando, esse crédito de injusti ça autoriza uma PARTE II - ANALISANDO
O DIAGRAMA

perseguição de caráter geracional que pode subjugar pessoas que pertencem


à família. Por isso o suicídio pode se tornar cíclico numa linhagem. Cada
suicídio é um pacto de sangue que precisa ser sacerdotalmente arrependido
e confessado.

• A moti vação do suicídio

Na verdade, o ti po de perseguição espiritual que se instala na fa-mília está


inti mamente associado à real moti vação que levou a pessoa ao
autoextermínio. É exatamente nessa área e com os mecanismos
equivalentes à forma como a pessoa se suicidou que a perseguição espiritual
se estabelece.

MARCOS DE SOUZA BORGES

Em casos de suicídio é fundamental descobrir e tratar intercessoriamente do


real moti vo, através da confi ssão e arrependimento corporati vos. Por
exemplo, traição conjugal, bancarrota fi nanceira,
depressão, solidão, perda de entes queridos, etc. É exatamente nessas

163

áreas específi cas que o espírito de fracasso, bancarrota, depressão se


instalam tentando levar a descendência da pessoa ao mesmo padrão de
desespero e autodestruição.

• O método do suicídio

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

Também é importante lidar com a forma do suicídio, por exemplo,


enforcamento, ti ro, facada, veneno, desligando a infl uência desses
mecanismos de morte em relação à descendência da pessoa que o prati cou.

CAUSA 12. Homicídio e história de assassinatos na linhagem O


assassinato, por sua vez, é o mais implacável ato de ira e descontrole que o
ser humano pode prati car, sancionando um pacto de sangue com os
espíritos de morte, descontrole e violência, trazendo terríveis consequências
sobre a vida, família e descendência da pessoa.

Não me esqueço de um ofi cial da Polícia Militar que ministrei.

Ele havia se envolvido diretamente no “sumiço” de muitos margi-ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

nais. Coisas estranhas começaram a acontecer com ele e a família.

Envolveu-se em acidentes onde pessoas morreram. Sua fi lha começou a


sofrer estranhas possessões demoníacas na infância. Uma situação crônica
de afl ição e violência espiritual, emocional, familiar, fi nanceira se instalou
de forma latente, denunciando uma perseguição do espírito de destruição e
morte.

Por conta de tudo isso, a família procurou ajuda em uma igreja evangélica,
onde se converteram. Porém as possessões conti nuavam a acontecer com a
fi lha. Esse quadro só se reverteu quando ele decidiu tratar da situação
pastoralmente, fazendo um concerto também com a família. A parti r desse
dia nunca mais sua fi lha sofreu os ataques PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

demoníacos. Lógico que nesses casos apenas tratamos da questão espiritual.


A dívida contraída com a sociedade através dos crimes é uma outra questão
que envolve vários fatores. Quero dizer que essa pessoa está sujeita a ser
presa e ter que cumprir uma pena.

Os sintomas de assassinatos na linhagem são latentes: senti -

mento de perseguição, destruição generalizada, perigos de morte con�


nuos, medo e sensação con� nua de morte, ódio descontrolado a ponto de
desejar a morte de pessoas, tendências ao crime.
164

Semelhantemente ao suicídio, em cada homicídio é importante tratar com o


pacto de sangue implícito em cada assassinato, a moti -

vação básica e o método usado no assassinato.

CAUSA 13. Aborto e história de abortos na linhagem Aqui temos uma


extensão do ponto anterior. O aborto pode ser espiritualmente defi nido
como o assassinato da descendência.

Além de trazer um legado de morte, depressão e destruição sobre a


posteridade, também enclausura a pessoa em uma situação crônica 3 |
CAUSAS DE MALDIÇÃO

de esterilidade em diversas áreas da vida. Endemoniza o útero.

O sucesso profi ssional, fi nanceiro, espiritual, senti mental, etc.


é sempre abortado de forma traumati camente surpreendente. Muitas
enfermidades relacionadas ao aparelho reprodutor começam a frequentar a
vida da pessoa. Planos e projetos começam a sofrer um processo crônico de
frustração. Quando a pessoa pensa que vai dar certo, aquilo
inesperadamente morre. Nunca termina o que começa. O espírito de morte
prevalece destruindo a ferti lidade, interrompendo a geração de frutos e
impedindo a realização pessoal sob vários aspectos.

(Para obter informações mais detalhadas sobre este tópico ver capítulo 4 do
livro “O Avivamento do Odre Novo” e capítulo 5 do livro

“Raízes da Depressão” de Marcos de Souza Borges).

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

CAUSA 14. Furtos e roubos

A Bíblia é categórica ao afi rmar que a cobiça prende a alma e traz


perturbação para o lar (Pv 1:19). Todo objeto de roubo faz muito mais mal
do que bem. A pessoa pensa que está sendo esperta, mas, na verdade, tem
pela frente uma colheita de tormentos. O roubo também ati va o princípio
do saquitel (bolso) furado. Pessoas nunca prosperam, encontram-se
escravas de dívidas, sempre passando necessidades, porque não trataram
apropriadamente dos pecados na área de furtos e roubos.

MARCOS DE SOUZA BORGES

“Então disse-me: Esta é a maldição que sairá pela face de toda a terra;
porque qualquer que furtar, será desarraigado, conforme está estabelecido
de um lado do rolo; como
também qualquer que jurar falsamente, será desarraigado,

165

conforme está estabelecido do outro lado do rolo. Eu a farei sair, disse o


Senhor dos Exércitos, e ela entrará na casa do

ladrão, e na casa do que jurar falsamente pelo meu nome; e permanecerá


no meio da sua casa, e a consumirá juntamente com a sua madeira e com
as suas pedras” (Zc 5:3,4).

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

A Bíblia diz que existe uma maldição que está presente em todo lugar por
causa do roubo. Toda pessoa que rouba, pensando que está construindo uma
base segura, terá suas raízes cortadas.
Este texto mostra como o roubo está ligado à menti ra. Quem rouba mente,
e uma maldição, ou um espírito destruidor vem morar na casa da pessoa,
consumindo e roubando toda sustentação familiar, material, etc.

Quando lidamos espiritualmente com o roubo, é necessário mais que o


arrependimento. É fundamental que aconteça a confi ssão e também a resti
tuição, quando possível. Para aplicar esses princípios, o mais importante é
se colocar genuinamente sob a orientação do P

Espírito Santo.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Esse é um aspecto muito importante a ser analisado do ponto de vista


hereditário. A lei moral é clara: “Maldito aquele que remover os marcos do
seu próximo. E todo o povo dirá: Amém” (Dt 27:17). Roubos de terra,
enriquecimento através da escravidão, enriquecimento ilícito através de
exploração social e cargos políti cos, tráfi co e contrabando, exploração
sexual, etc., trazem um legado familiar de bancarrota.

O enriquecimento ilícito é uma forma direta de vender a família.

Há vários anos atrás, uma cena que me chamou muito a atenção em um


certo país da Europa foi o fato de os viciados receberem forne-cimento de
drogas do próprio governo. Fiquei mais chocado ainda quando alguém me
contou que muitos daqueles viciados em heroína PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

eram fi lhos de banqueiros que haviam enriquecido com o dinheiro do


narcotráfi co. Essa ironia do desti no expressa o poder da maldição.

Outro aspecto das riquezas mal adquiridas é que da mesma forma que a
pessoa enriquece, ela também perde tudo, principalmente quando se
converte ao Evangelho. O diabo, nesses casos, permite que a pessoa tenha
riquezas para servir aos seus interesses.
Foram riquezas que o diabo deu, e que ele mesmo ti ra quando a pessoa
ameaça mudar seus valores e propósitos.
166

CAUSA 15. Perversão sexual

A perversão sexual gera muitas maldições de caráter hereditá-

rio, destruindo a família e impondo uma extrema resistência para que a


pessoa não consiga permanecer no Corpo de Cristo. Uma das principais
causas de desmembramento do corpo de Cristo está relacionada à
imoralidade.

Paulo confronta os corínti os dizendo que toda perversão sexual cria o


mesmo ti po de ligação que temos com Deus, só que com espíritos
demoníacos de natureza correspondente à imoralidade 3 | CAUSAS DE
MALDIÇÃO

prati cada: “Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fá-los-ei mem-


bros de uma meretriz? Não, por certo” (I Co 6:15). Toda inti midade
sexual fora do matrimônio constrói espiritualmente uma ligação iníqua
entre almas, um pacto de sangue, a condição espiritual de uma só carne ou
alma: “Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz faz-se um corpo
com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne” (I Co 6:16).

Portanto, é fundamental que em cada relacionamento sexual ilícito


(parceiros sexuais, homossexuais, animais) se faça um des-ligamento de
alma. Cada um desses relacionamentos perverti dos representa uma atadura,
uma ligação maligna. Esse “descasamento”

se dá através da oração de arrependimento e confi ssão juntamente com


pessoas maduras: “... tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e
tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

(Mt 16:19).

Deve-se também orar desfazendo a desordem conjugal, ou seja ti rando a


pessoa da situação de marido ou mulher em relação a essas pessoas (ou
animais) com quem se relacionou ilicitamente, purifi cando assim o espírito
da pessoa, o leito conjugal e a cobertura familiar.

Em alguns atendimentos onde o problema da pessoa tem uma natureza


essencialmente sexual, é importante analisar a história da perda da
virgindade. Principalmente em relação à mulher, a perda da virgindade é um
pacto de sangue no seu corpo construindo também a condição espiritual de
uma só carne. Várias contaminações MARCOS DE SOUZA BORGES

envolvendo imoralidade, prosti tuição, abuso, violência se instalam na


experiência de perda da virgindade. Esse pacto de sangue precisa ser
redimido.
Principais perversões sexuais

167

• Incesto

É o sexo envolvendo pessoas de uma mesma família, ou seja, entre pais e fi


lhos, irmãos e irmãs, ti os e sobrinhos, etc. O incesto e o espírito de abuso e
violência caminham juntos. Os relacionamentos incestuosos 3 | CAUSAS
DE MALDIÇÃO

estão muito bem discriminados na Bíblia, como mostra o texto abaixo.

Só esclarecendo que casamentos entre primos não entram nessa lista.

“Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para


descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor. Não descobrirás a nudez de teu pai
e de tua mãe: ela é tua mãe; não descobrirás a sua nudez. Não descobrirás
a nudez da mulher de teu pai; é nudez de teu pai. A nudez da tua irmã, fi
lha de teu pai, ou fi lha de tua mãe, nascida em casa, ou fora de casa, a sua
nudez não descobrirás. A nudez da fi lha do teu fi lho, ou da fi lha de tua fi
lha, a sua nudez não descobrirás; porque é tua nudez. A nudez da fi lha da
mulher de teu pai, gerada P

de teu pai (ela é tua irmã), a sua nudez não descobrirás. A ARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

nudez da irmã de teu pai não descobrirás; ela é parenta de teu pai. A nudez
da irmã de tua mãe não descobrirás; pois ela é parenta de tua mãe. A
nudez do irmão de teu pai não descobrirás; não te chegarás à sua mulher;
ela é tua ti a. A nudez de tua nora não descobrirás: ela é mulher de teu fi
lho; não descobrirás a sua nudez. A nudez da mulher de teu irmão não
descobrirás; é a nudez de teu irmão” (Lv 18:6-16).

• Prostituição

A prosti tuição é quando alguém manipula dinheiro, bens, po-sições,


favores, etc. em troca de prazer sexual. Todo pagamento ou
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

lucro obti do na prosti tuição amaldiçoa geracionalmente a vida sexual e fi


nanceira da pessoa. Tudo que é adquirido com o dinheiro da prosti tuição
vem com uma terrível dose de contaminação espiritual.

Não trarás o salário da prosti tuta nem o aluguel do sodomita para a casa
do Senhor teu Deus por qualquer voto, porque uma e outra coisa são
igualmente abomináveis ao Senhor teu Deus (Dt 23:18).
168

• Homossexualismo

É importante compreendermos que o homossexualismo é uma construção


que envolve a combinação de uma série de fatores associados à
desfuncionalização familiar e às heranças espirituais:

- Orfandade paterna (ausência de referencial, abuso e rejeição causando um


défi cit emocional e espiritual crônico).

- Inversão de papéis no casamento (marginalização do pai e superproteção


da mãe).

- Concepção fora do casamento, envolvendo fornicação, adultério, incesto,


estupro ou prosti tuição.

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO
- Legado e práti ca de perversão sexual, besti alidade e homossexualismo na
linhagem dos pais.

- Situação crônica de adultério na vida dos pais, ou adultérios ocultos.

- Consagrações religiosas e envolvimentos diretos com enti dades


espirituais que desempenham a tarefa de perverter a identi dade sexual
(Oxumaré, Pombas-giras, Santo Antônio, etc.)

- Rejeição do sexo da criança por pais ou parentes, que verbali-zam sua


frustração, agridem ou duvidam da sua identi dade sexual.

Criar expectati vas sobre o sexo de um bebê é um prato cheio para os


espíritos de homossexualismo.

- Abuso ou molestação homossexual na infância.

- Relacionamentos incestuosos entre irmãos ou irmãs, etc.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Tudo isso acaba engendrando uma perseguição homossexual que confl ita
com a vontade da pessoa e fere traumati camente a identi dade. Sem uma
perspecti va divina de redenção, essa é uma

“guerra injusta” onde a vontade acaba sendo vencida.

É necessário estabelecer a diferença entre a “natureza homossexual” (que


não existe) e a “perseguição espiritual de caráter homossexual”. Essa
perseguição homossexual é muitas vezes real e intensa, mas pode ser
eliminada através dos mecanismos adequados de libertação e reeducação da
identi dade sexual.

Uma coisa muito importante ao lidar com a questão homossexual é ter o


equilíbrio de desaprovar o comportamento sem deixar MARCOS DE
SOUZA BORGES
de demonstrar aceitação e afeto pela pessoa. A aprovação está condicionada
às moti vações, princípios e comportamentos. A Bíblia desaprova a
homossexualidade ou homoafeti vidade, como se queira
chamar. Porém, a aceitação de uma pessoa é incondicional, e está

169

ligada ao valor intrínseco do ser humano. Portanto, essa aceitação


incondicional que também responsabiliza a pessoa pelas consequ-

ências das suas escolhas expressa fi elmente o amor de Deus, que pode
transformar qualquer situação e coração.

Esse é um ponto críti co no terrível confl ito que essas pessoas 3 | CAUSAS
DE MALDIÇÃO

passam. Precisamos, como Igreja, amá-las com esse amor que elas não
conhecem, que as aceita, as respeita, as valoriza, as recebe, sem preconceito
e sem ter que levá-las para a cama. Só o amor de Deus pode restaurá-las ao
propósito eterno da sua existência!
Sob a óti ca do mundo invisível, não existe nenhuma possibilidade de
realização humana dentro de um relacionamento homossexual. É algo
abominável, que invoca forças demoníacas implacavelmente destruidoras.
O homossexualismo muti la a identi dade sexual, levando aos níveis mais
abomináveis de corrupção e perdição: “Com homem não te deitarás, como
se fosse mulher; abominação é” (Lv 18:22).

Mesmo com toda essa campanha da mídia e de governos em P

favor dos gays, lésbicas, simpati zantes, etc., por mais que a sociedade
ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

aceite e até aprove a conduta homossexual, essas pessoas conti -

nuarão sendo espiritualmente, emocionalmente e até fi sicamente rejeitadas,


abominadas, apedrejadas e mortas. Não é uma questão apenas humana, mas
uma infl exível sansão do mundo espiritual: Se um homem se deitar com
outro homem, como se fosse com mulher, ambos terão prati cado
abominação; certamente serão mortos; o seu sangue será sobre eles (Lv
20:13).

• Bestialidade

Besti alidade ou zoofi lia é a práti ca sexual com animais. A con-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

sequente maldição é confusão. Em toda relação sexual existe um comparti


lhamento de identi dade. Acontece uma ligação iníqua entre a pessoa e o
animal, que passa a ser explorada por demônios. Este é o pior ti po de
perversão sexual.

“Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a


mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é”
(Lv 18:23).
170

É muito comum pessoas que prati caram a besti alidade começarem a


desenvolver os hábitos dos animais com quem se relacionaram.

Muitas dessas pessoas assimilam uma passividade “animal e diabó-

lica” que bloqueia espiritualmente a identi dade, a personalidade e o


comportamento.

“Se uma mulher se chegar a algum animal, para ajuntar-se com ele,
matarás a mulher e bem assim o animal” (Lv 20:16).

3 | CAUSAS DE MALDIÇÃO

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

MARCOS DE SOUZA BORGES


4

PROCESSO DA

CRUCIFICAÇÃO

1. Humilhação

2. Confi ssão
3. Arrependimento
4. Perdão

5. Renúncia

6. Resti tuição

7. Reconciliação

8. Disciplina e obediência
9. Descanso

PASTOREAMENTO INTELIGENTE
10. Intercessão
172

MARCOS DE SOUZA BORGES


173

PROCESSO DA

CRUCIFICAÇÃO

A dinâmica de uma vida comprometida com o sacrifício de Cristo Essa


é a parte mais essencial deste livro. Assim como existe uma distância
espiritual entre os sintomas de maldição e as suas respecti vas causas,
também existe uma distância entre as causas e a cruz.

Obviamente, sem a crucifi cação as causas de maldição não estarão sujeitas


à cruz de Cristo.

Segundo o nosso diagrama, a crucifi cação pode ser defi nida como a
capacidade terapêuti ca e redentora de percorrer essa distância espiritual
entre as causas de maldição e a cruz de Cristo. Ou seja, é o processo de
interagir adequadamente com os princípios implícitos no sacri� cio de
Jesus, os quais descreveremos adiante, acionando em nosso favor os
respecti vos bene� cios: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares
celesti ais em Cristo” (Ef 1:3).

Existe uma diferenciação espiritual entre a cruz e a crucifi cação. A cruz é


um fato histórico independente das nossas escolhas. Quer saibamos ou não,
quer aceitemos ou não, Jesus morreu para nos justi fi car e restaurar a nossa
comunhão com o Pai. A crucifi cação é a escolha intencional de nos
sujeitarmos aos princípios propostos por Jesus na sua morte. A cruz precisa
ser “verbalizada”, acionada, ou seja, experiencializada
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

em cada situação específi ca de pecado e injusti ça que tem nos ati ngido.

A cruz de Cristo é a resposta de Deus para a queda humana, enquanto a


crucifi cação é a resposta humana que damos à resposta de Deus, validando
tudo o que Jesus fez por nós. O que adiantaria o fato de Jesus ter pago o
preço da culpa da humanidade se as pessoas desconhecessem isso?
Portanto, ter o direito à salvação não signifi ca ter a salvação. O fato de
Jesus ter morrido na cruz em nosso lugar não torna todas as pessoas
automati camente salvas. Não funciona assim.
174

Da mesma foma, quando entendemos, cremos e aceitamos o que Jesus fez


por nós na cruz, passamos a ter “o direito” a uma vida totalmente livre,
saudável e abundante. Porém, desfrutar efi cazmente dessa vida é muito
mais do que ter o direito a ela. Apesar de todo crente ter o direito a uma
vida totalmente livre, na verdade, poucos a têm. Existe uma distância entre
ter o direito a uma vida livre e, realmente experimentá-la. Esta é a mesma
distância entre a cruz e a crucifi cação.

A cruz de Cristo, ou seja, o evento histórico da morte de Jesus só é validado


quando temos a disposição voluntária de interagirmos com os princípios de
vida propostos na crucifi cação.

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

TRANSPARÊNCIA E RECONCILIAÇÃO
Transparência e reconciliação são considerados como os “princí-

pios tronco” de onde brotam todos os demais princípios perti nentes ao


processo de crucifi cação.

“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com
os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho nos purifi ca de todo pecado” (I
Jo 1:7).

O contexto básico aqui não é apenas perdão, porém purifi -

cação. Uma vida purifi cada signifi ca que a pessoa está não apenas PARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

perdoada, como também livre de toda e qualquer contaminação, saudável,


sujeita à prosperidade. Portanto, o conceito espiritual de purifi cação vai
bem além de ser perdoado. Signifi ca que toda justi ça foi sati sfeita,
esgotaram-se todos os recursos para que a situação fosse esclarecida,
resolvida e concertada. Desfaleceram-se os argumentos contrários. E não
existe tal possibilidade sem total transparência e fl exibilidade para reparar
os danos causados nos relacionamentos.

Veja bem, que esse texto começa com um arti go condicional:

“Se” . É simples, não tem um meio termo. Se você exercita transparência e


reconciliação, o sangue de Jesus o purifi ca. Isso precisa ser MARCOS DE
SOUZA BORGES

desmisti fi cado. Se você não exercita transparência e reconciliação, por


mais que você tenha invocado verbalmente o sangue, ou o nome de Jesus,
isto não vai libertá-lo da contaminação agregada. Ainda
permanece o respecti vo crédito de injusti ça acumulado, que sustenta

175

os argumentos de Satanás contra você.

O nome de Jesus ou o sangue do seu sacri� cio não funcionam como um


amuleto ou uma palavra mágica que nos salva ou protege,
independentemente do nosso relacionamento com Deus e com os 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

valores que Ele estabeleceu para tal.

Perdão versus Purificação

Uma pessoa pode ter sido perdoada e ainda não purifi cada desses mesmos
pecados. Para o perdão dos pecados, basta apenas um sincero
arrependimento. Para a purifi cação, é necessário mais que isso. Se não
houve uma interação com os princípios de transparência (andarmos na luz)
e reconciliação (temos comunhão), é sinal de que ainda existem pendências
espirituais e um saldo de obras mortas que ainda desequili-bram nossa
consciência, sustentando alguma forma de constrangimento e exploração
demoníaca. O arrependimento lida com a culpa do pecado.

Transparência e reconciliação dissolvem as consequências humanas e P

espirituais do mesmo. Emudece a voz do acusador.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Satanás é o príncipe das trevas. Todo campo que envolve ignorância


espiritual, cegueira, pecados e traumas ocultos compreende a sua jurisdição.
Para lidar com a ignorância precisamos da revelação de Deus. Para lidar
com a cegueira precisamos de amar a correção, permiti ndo que outros nos
ajudem a enxergar o que não conseguimos perceber. Para lidar com as
estruturas de vergonha, culpa e pecados ocultos precisamos do
quebrantamento da confi ssão. Da mesma forma, todo ti po de quebra de
alianças, defraudações e ofensas que não foram devidamente resti tuídas e
concertadas agregam uma respecti va contaminação de caráter maligno.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

LIDANDO COM A FERIDA DO ADULTÉRIO

Há muito tempo a sociedade ocidental vem banalizando o adultério, que


tem se tornado cada vez mais corriqueiro, principalmente no contexto da
Igreja. É assustador ver os índices de adultério envolvendo pessoas
“evangélicas”. Portanto, vale a pena ilustrarmos a diferença entre perdão e
purifi cação, aprofundando o discernimento sobre como lidar com a questão
do adultério.
176

Suponhamos um marido que cometeu adultério, e realmente arrependeu-se


em seu coração, porém, ainda não consertou isso com a família. Ele foi
perdoado por Deus? Sim. Seu casamento está purifi cado? Não. Ou seja,
enquanto ele mantém esse pecado na obscuridade, sonegando humilhação,
confi ssão e reconciliação, o casamento e a família permanecem sujeitos a
muitas perturbações.

É importante entender que o casamento é também uma pessoa, ou seja, uma


pessoa jurídica, que traz consigo uma identi dade, uma consciência e um
propósito. O adultério produz uma ferida de morte no casamento,
endemonizando a própria pessoa, o relacionamento, a cama e os fi lhos. É
muito importante refl eti r nas implicações de um 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO
adultério, já mencionadas no capítulo anterior, principalmente se você está
sendo tentado a isso. Depois que o adultério aconteceu, o caminho para uma
possível restauração é sempre muito doloroso, traumáti co.

Reconciliação cirúrgica

“Vinde, e tornemos ao SENHOR, porque Ele despeda-

çou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará
a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele. Então
conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR” (Os 6:1-3).

O livro de Oséias trata de uma das piores fases da nação de Israel, PARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

quando o relacionamento de Deus com o seu povo é dramati zado profeti


camente por Oséias ao se casar com uma prosti tuta. O contexto central é o
adultério da nação. O texto acima mostra a forma como Deus trata com esse
ti po de ferida moral. O que signifi ca fazer a ferida e curar? Nada mais,
nada menos, que uma intervenção cirúrgica.

Essa é a terapia proposta por Deus para tratar o câncer do adultério da


nação. Eles seriam feridos, levados ao cati veiro em Babilônia por setenta
anos e depois restaurados. Um longo processo terapêuti co cirúrgico que
produz o genuíno conhecimento de Deus.

Sei que muitos não gostam do que vou falar, e até não concordam.

Alguns pastores simplifi cam, ou melhor, superfi cializam a situação,


MARCOS DE SOUZA BORGES

achando que isto é duro demais. Já ouvi muitas pessoas que adultera-ram
dizerem: “Se eu contar isso para o meu cônjuge, o meu casamento vai
acabar!” Na verdade, o casamento já acabou quando houve o adul-
tério. Se é que ainda existe alguma chance de resgatá-lo, é através da

177

confi ssão. A confi ssão é apenas a cirurgia para tentar reti rar o “câncer”

que o adultério produziu no casamento e também na família, muitas vezes


já em estado terminal, e tentar salvá-los. É necessário pensar nas
consequências antes de cometer o adultério. Depois, a única solução 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

é enfrentar corajosamente o trauma da cirurgia.

Muitos querem a libertação apenas até este ponto. Quando chega na hora de
morrer para si mesmos, enfrentando com transparência e responsabilidade
os próprios pecados, a pessoa desiste. Por isso, temos tantos casos de
pessoas que já passaram por inúmeras
“libertações”, porém não trouxeram nenhum bene� cio real.

A ferida produzida pelo adultério fi ca tão internalizada, que demanda uma


intervenção cirúrgica. Não tem como resolver ou confessar um adultério
sem que o cônjuge traído, e consequentemente o pró-

prio casamento, sofram uma profunda ferida. Ninguém nunca estará


teoricamente preparado para ouvir uma confi ssão como essa. Isso é como
passar pelo vale da sombra da morte. Mas, por mais dolorosa que seja, essa
é a ferida do médico, a ferida da cruz. Se é que ainda P

existe alguma possibilidade de salvar o casamento, esse é o caminho.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Por incrível que pareça, na minha experiência intermediando várias vezes


esse ti po de confi ssão, até hoje, nunca vi isso dar errado.

Começa com uma confi ssão sincera, sustentada por um legíti -

mo compromisso de mudança. Depois vem o processo da pessoa traída


perdoar o cônjuge. Aí pode vir um processo ainda mais di� cil de perdoar
a pessoa com quem o cônjuge a traiu (em alguns casos, envolvendo
parentes e amigos isso é altamente traumáti co). E, por fi m, o processo
mais di� cil, que é de reconstruir a confi ança perdida.

Perto desse últi mo desafi o, perdoar não é tão di� cil.

O CASO DAVI - BETSEBA

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Vamos analisar uma situação clássica de adultério, o famoso caso Davi e


Betseba - uma libertação ao esti lo do profeta Natã.

“Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti ,
e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o
qual se deitará com tuas mulheres à luz deste sol. Pois tu o fi zeste em
oculto;
178

mas eu farei este negócio perante todo o Israel e à luz do sol” (II Sm
12:11,12).

O adultério é uma das maiores infelicidades que uma pessoa pode cometer
na vida. É di� cil um pecado que traga coleti vamente tanta dor,
sofrimento, destruição e perturbação como o adultério.

Vamos ver alguns entendimentos e passos que precisamos dar para lidar
com estas situações.

O poder latente de um adultério oculto

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

• Normalmente, pessoas que adulteram são levadas aos mais terríveis


extremos na tentati va de esconder a situação. Começam a viver uma vida
alicerçada na menti ra. Davi chegou a assassinar por isso. Depois de várias
tentati vas para que parecesse que aquele fi lho era de Urias, ele decidiu
matá-lo. Urias, esposo de Betseba era um dos seus homens mais leais. Davi
estrategicamente o matou com a espada dos fi lhos de Amon.

• O adultério quando ocultado traz um dos piores ti pos de de-fi nhamento


da alma: “Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo
meu bramido durante o dia todo. Porque de dia e de noite a tua mão pesava
sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de esti o” (Sl 32:3,4). A
vida espiritual da pessoa entra em um processo crônico de defi nhamento,
que viabiliza novas recaídas, PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

compulsão pecaminosa, podendo causar uma completa destruição.

• Mais cedo ou mais tarde, a situação vai vazar. Situações assim funcionam
como uma bomba relógio. Jesus deixou claro que esta é uma lei que não
será quebrada: “... tudo que fazemos às ocultas será apregoado dos
telhados.” Existem duas formas de lidar com o adultério, que podem
produzir consequências bem diferentes:

- Nos expormos. Antecipar o escândalo, agindo com humildade,


quebrantamento e amor à disciplina de Deus. Isso, de certa forma, nos deixa
ainda no controle da situação.

- Sermos expostos. Isso é aterrador. Quanto mais tentamos esconder um


adultério, mais vulnerável nos tornamos. Este é o MARCOS DE SOUZA
BORGES

princípio ati vo para se construir um escândalo, onde perdemos todo o


controle da situação, sendo lançados na sarjeta da família, do ministério, da
igreja...
• Quando endurecemos o nosso coração e deixamos de ouvir

179

o Espírito Santo, Deus levanta os profetas. Foi o que ocorreu com Davi ao
ser confrontado por Natã (II Sm 12). Ao sermos descobertos precisamos
nos humilhar. Talvez haja uma esperança. Escolher a ati tude de negação,
tentar tapar o sol com a peneira, é suicídio. A 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

humilhação de Davi diante da confrontação de Natã foi vital.

Em casos de adultério uma sábia intermediação pode fazer toda diferença.


Temos aqui uma das mais poderosas e efeti vas libertações através da
maneira sabia e proféti ca como Natã se conduziu ao confrontar, tratar e
estabelecer o casti go que viria sobre a casa de Davi.
• Mais cedo ou mais tarde, esse pecado vai nos achar, causando um grande
estrago nos relacionamentos familiares. “... Eis que suscitarei da tua
própria casa o mal sobre ti ...”

A traição está implícita no adultério. Traição está associada aos


relacionamentos mais íntimos. Você não pode ser traído por um
desconhecido; o máximo que poderia acontecer é ser enganado. O adultério
desencadeia um processo de traição, decepção e perdas com as pessoas que
mais amamos e de quem menos P

esperaríamos.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

A família de Davi foi arruinada. Seu primeiro fi lho com Betseba morreu,
Amnon estuprou Tamar, Absalão vingou Tamar assassinando Amnom
friamente em um jantar de família, fazendo justi ça com as próprias mãos.
Com isso, instalou-se uma profunda amargura entre Davi e Absalão, que
após se rebelar contra o pai, foi assassinado por Joabe, sobrinho de Davi e
chefe do seu exército... uma trilha de morte e destruição.

• O que os pais fazem às escondidas os fi lhos farão à luz do dia. O

pior ti po de casti go é ver os nossos pecados ocultos se reproduzindo na


vida dos nossos fi lhos e destruindo-os.

Nem sempre, mas muitas vezes, a rebelião dos fi lhos nada mais
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

é que o efeito colateral do pecado secreto dos pais. “. . e tomarei tuas


mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará
com tuas mulheres à luz deste sol. Pois tu o fi zeste em oculto; mas eu farei
este negócio perante todo o Israel e à luz do sol” (II Sm 12:11,12). O que
Davi fez em oculto, Absalão, seu fi lho, fez à luz do dia. O espírito de
traição que levou Davi ao adultério atacou-o através de Absalão, seu fi lho.
Ele se deita com as concubinas do pai, demonstrando a intenção de matar
Davi e usurpar o seu reino.
180

Enfrentando as consequências do adultério

• Agir com total transparência

Ao ser confrontado pelo profeta Natã, Davi rasgou suas vestes e coração. Se
humilhou. Só aqui, depois de mais de um ano, começou a sua restauração.
Só reforçando o que já falamos, o adultério é o ti po de pecado que produz
uma ferida tão interna, que só pode ser exti rpada cirurgicamente. Sei que
este ti po de situação é bem delicada. É o ti po de “reconciliação cirúrgica”,
que demanda uma sábia intermediação e muita paciência e fi delidade, até a
cicatrização total da ferida.

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

Não tem como um cônjuge confessar um adultério para o outro sem feri-lo
profundamente. Porém, esta é a ferida que trata da ferida.
Infelizmente, muitos males internos só podem ser removidos
cirurgicamente. É necessário abrir, cortar, rasgar, sangrar. Por mais dolorosa
que seja a ferida feita pelo cirurgião, ela, na verdade, é necessária e
terapêuti ca. Este é o poder da transparência.

• Deixar o palácio

É necessário descer do pedestal, abrir mão de muitas conquistas que foram


feitas. Perder essas coisas para Deus. Nesses momentos, se apegar à posição
signifi ca se tornar duplamente reprovado por Deus. Davi passou pela prova
do apego à posição.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Principalmente pessoas que de alguma forma se encontram em uma posição


de autoridade ou governo na igreja precisam estar dispostas a abrir mão de
tudo. Pode parecer estranho, mas essa é uma forma de salvar a sua vida.
Davi, humildemente, descalço, com as poucas pessoas que lhe restaram,
abandonou o trono, o palácio.

Deixou tudo para trás: sua realeza, seu pres� gio, seus � tulos e bus-cou
refúgio na dependência de Deus. Se ti vesse fi cado no palácio, certamente
teria sido assassinado pelo próprio fi lho, que demonstrou essa intenção se
deitando com as suas concubinas à luz do dia.

• A prova de Simei: Discernir e suportar o tempo do apedrejamento


MARCOS DE SOUZA BORGES

Para Davi, o apedrejamento se tornou literal quando, ao deixar o palácio,


teve que enfrentar Simei: “Prosseguiam, pois, o seu caminho,
Davi e os seus homens, enquanto Simei ia pela encosta do monte,

181

defronte dele, caminhando e amaldiçoando, e ati rava pedras contra ele, e


levantava poeira” (II Sm 16:13).

Davi sabia que o seu pecado de anos atrás o estava visitando. Ele fora
avisado disso. Quem estava em cheque não era Absalão ou Simei, 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

mas ele mesmo. Ele entende o que estava acontecendo, e abaixa sua cabeça,
suportando o apedrejamento sem nenhum ti po de revide.

“Então Abisai, fi lho de Zeruia, disse ao rei: Por que esse cão morto
amaldiçoaria ao rei, meu senhor? Deixa-me passar e ti rar-lhe a cabeça.
Disse, porém, o rei: Que tenho eu convosco, fi lhos de Zeruia?
Por ele amaldiçoar e por lhe ter dito o Senhor: Amaldiçoa a Davi; quem
dirá: Por que assim fi zeste?” (II Sm 16:9,10). Incrivelmente, Davi não
disse que Satanás estava usando Simei, mas era o próprio Deus quem estava
por trás daquela dura prova. Que discernimento!

Só aí ele alcançou a purifi cação de Deus e as coisas começaram a se


reverter em seu favor.

Pessoas adúlteras precisam se preparar para enfrentar os “Simeis”.

Simei representa toda agressão verbal, espiritual, conjugal, familiar, P

social, ministerial que vem como consequência do adultério. É neces-ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

sário aguentar isso calado. Isso, na verdade, não é apenas um “ataque do


diabo”, mas uma prova de Deus. Davi passou pela prova de Simei.

Quem cometeu adultério precisa entender que muita gente vai comentar,
praguejar, amaldiçoar, atacar, etc. e agora precisa aguentar isso calado, sem
revidar. Esse é o tempo do apedrejamento. Sinto muito ter que falar isto,
mas é o que realmente ocorre. A maioria sucumbe nessa prova saindo do
curso do quebrantamento.

• A prova de Absalão: Discernir o revide da nossa própria traição e


rebelião

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Toda pessoa que trai vai provar desse mesmo veneno. Davi também passou
pela prova de Absalão. A maneira como lidamos com isso pode estabelecer
rumos totalmente diferentes para a nossa vida. Enquanto a amargura nos
destrói, o quebrantamento restaura.

Depois de se humilhar perante Simei, Davi intercedeu por Absalão.


Precisamos discernir a nossa própria rebelião e infi delidade nos atacando
através de pessoas que amamos e que nos são preciosas.

Mais uma vez Davi não lutou contra carne e sangue.


182

Absalão representa aquelas pessoas que são como fi lhos mesmo, porém
feridos, com questões que não foram resolvidas, potencialmente vulneráveis
a trair. São os levantes internos fulminantes que vêm para trazer uma
implacável destruição. É a traição do adultério se voltando contra a pessoa
multi plicadamente. O pivô de tudo isso não era a rebelião de Absalão, mas
o adultério de Davi. Lidar internamente com a situação dos “Absalãos” é
bem mais di� cil que a dos

“Simeis”. Um fi lho nunca vai deixar de ser um fi lho. Davi tentou de todas
as formas preservar a vida de Absalão, ainda que sem sucesso.

Depois de tudo isso, discernindo a visitação e o tempo do cas-4 |


PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

ti go, suportando calado toda a correção e afronta, sendo aprovado em todas


essas questões, Davi teve o seu trono resti tuído, e ainda foi reconhecido por
Deus como homem segundo o seu coração. Esse é o poder de um
quebrantamento completo que glorifi ca a cruz de Cristo. Deus conti nua
tendo um plano para os que saem do plano!

ACERTANDO O ALVO

Princípios redentivos implícitos no sacrifício de Jesus A crucifi cação


pode ser defi nida resumidamente no processo de negar a si mesmo. A
essência é o exercício pleno de transparência e uma disponibilidade total
para reconciliar e reeducar a capacidade de se relacionar. Vamos analisar os
vários parâmetros da crucifi cação.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Estas são as “armas do sangue”: “E eles o venceram pelo sangue do


Cordeiro...” (Ap 12:11).

PRINCÍPIO 1. Humilhação

É o processo de renunciar a reputação com o objeti vo de tratar


responsavelmente os pecados, feridas, injusti ças e defraudações que
cometemos ou sofremos. Aqui é o ponto mais penetrante do confl ito,
quando o orgulho tenta impor-se das maneiras mais variadas possíveis:
desde um pretexto suti l e plausível de esquivar-se, até uma rebelião
agressiva. Uma infi nidade de argumentos e sofi smas MARCOS DE
SOUZA BORGES

inundam a nossa mente criando justi fi cati vas quase que convincentes para
nos desviar do caminho estreito da humilhação. A voz da justi ça própria,
da amargura, da vergonha estardalhaçam de todas as formas
tentando fazer prevalecer a obsti nação doenti a do nosso coração.

183

Porém, esse confl ito entre a humilhação e a reputação é decisivo. A


humilhação tem que falar mais alto que a reputação.

“Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na 4 | PROCESSO DA


CRUCIFICAÇÃO

eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também
com o contrito e humilde de espírito, para vivifi car o espírito dos humildes,
e para vivifi car o coração dos contritos” (Is 57:15).

A habitação de Deus e a visitação de Deus são experiências bem disti ntas.


Isaías menciona dois lugares onde a presença de Deus habita: ou no “alto e
sublime trono” ou no “contrito e humilde de co-ração” . Não existe um
meio termo; ou Deus reside nas alturas da sua majestade ou ele está
intensamente nas profundezas de um coração quebrantado e que se
humilha: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva
os contritos de espírito” (Sl 34:18).

A humilhação é o carro-chefe da cura de uma terra: “e se o meu P

povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e
perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” (II Cr 7:14).

A maior pedra no caminho da libertação é o orgulho, a idolatria pela honra,


o amor à reputação. Sem transpor essa resistência inicial da alma nos
colocamos no caminho oposto à nossa libertação.

PRINCÍPIO 2. Confissão

É o processo de expor a Deus, expondo também a outra(s) pessoa(s) que se


faz(em) necessária(s) pecados, culpas e vergonhas, de forma pessoal ou
intercessória. Isso produz um impacto instantâneo. É nesse
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

momento que a luz dissipa as trevas, que a verdade desfaz a menti ra, que a
chave do quebrantamento abre as prisões da alma, que os anjos golpeiam os
demônios e que a cruz triunfa sobre as maldições comu-nicando os milagres
de Deus e purifi cando toda a atmosfera espiritual.

“Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para
que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg
5:16).
184

Confessar é expor espiritualmente o pecado à luz de Deus. É importante


entender que o próprio Deus, ao julgar Lúcifer e os anjos que o seguiram na
sua rebelião, os sentenciou a habitarem nas trevas, na escuridão. Jesus se
refere a Satanás como sendo o Príncipe das Trevas.

A esfera de ação delegada por Deus ao diabo não está delimitada ao fato da
pessoa ser ou não um cristão, ou ter ou não uma religião, a acreditar ou não
em Deus, pertencer ou não a uma igreja. A jurisdição ( topos), ou seja, o
ambiente no qual Satanás exerce poder se restringe às trevas. Onde existem
áreas de trevas, obscuridade, menti ra, dissimulação, cegueira, ignorância
na vida de qualquer pessoa, esse é o seu habitat, a sua esfera de infl uência,
opressão, obsessão e até 4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

mesmo possessão. Esse é o seu legado: construir o seu mundo de trevas nas
trevas da alma humana e infernizá-la.
Portanto, fi ca fácil concluir que muitas enti dades demoníacas se
alimentam do nosso silêncio, da culpa calada, do pecado secreto, da
vergonha implícita na passividade moral, das mordaças emocionais, da ti
midez espiritual. O domínio exercido por uma fortaleza demoníaca é
diretamente proporcional à resistência espiritual para confessar determinada
culpa ou vergonha.

Quer gostemos ou não, tudo o que está nas trevas está sujeito a uma
intervenção direta de Satanás. Porém, quando a confi ssão é mais
escandalosa que o pecado, quando decidimos ser ousados espiritualmente
em crucifi car a nossa reputação, julgando-nos a nós mesmos, então não
seremos condenados com o mundo. A Bíblia PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

garante que vamos experimentar a fi delidade e a justi ça de Deus reveladas


no sacri� cio perfeito de Jesus.

PRINCÍPIO 3. Arrependimento

Arrependimento não é convicção de pecado. A convicção de pecado faz


parte do processo de arrependimento, mas não é o arrependimento.
Arrependimento também não é confi ssão. A confi ssão é apenas outro
passo extremamente importante na direção do arrependimento. Não se iluda
apenas com esses dois primeiros passos.

Arrependimento se consuma na decisão de mudar!

MARCOS DE SOUZA BORGES

Como você já deve saber, a palavra grega para arrependimento é metanóia,


que signifi ca mudança de mentalidade, moti vação, propósito, indicando
que a pessoa decidiu andar em uma direção oposta
à que ela se encontrava. Ou seja, arrependimento não é apenas con-

185

vicção ou confi ssão; é mudança, transformação radical de moti vação e


comportamento. Esse aspecto demanda um posicionamento que é crucial.
Arrependimento não é um processo; é uma decisão interior e irreversível de
nos alinharmos com a vontade de Deus em relação 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

aos nossos erros e pecados.

“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as


confessa e deixa alcançará misericórdia”

(Pv 28:13).
Este texto mostra o detalhe crucial do arrependimento: “...e deixa”.
Arrependimento é quando, além de não encobrir, a pessoa confessa e toma a
decisão irrevogável de deixar a transgressão. Como Jesus disse à mulher
adúltera, que por pouco não morreu apedrejada:

“... Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais” (Jo 8:11).

O arrependimento faz brotar o poder para a mudança. Essa não foi uma
palavra de ameaça, mas uma recomendação saturada de graça P

e poder para mudar.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

A travessia do Jordão - O batismo do arrependimento O arrependimento


é bem alegorizado em Josué 3. Aconselho que antes de conti nuar você faça
a leitura desse capítulo na sua Bíblia. O

assunto central desse capítulo é a travessia do Jordão. Essa travessia faz


alusão ao bati smo de arrependimento, ou seja, uma mudança, um divisor de
águas. O jordão faz a separação entre o deserto e a terra de Canaã, ou seja,
separa uma vida medíocre na sequidão do deserto de uma vida abundante
de conquistas em Canaã.

De qual lado você quer fi car? Este é o poder do arrependimento.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

É quando você deixa de viver do maná, do leiti nho espiritual e passa a


viver das novidades da terra, aprendendo a semear e colher no propósito de
Deus. Vejamos algumas coisas importantes sobre o arrependimento:

• Ter o referencial da aliança

“Quando virdes a arca da aliança do SENHOR vosso Deus, e que os


sacerdotes levitas a levam, parti reis vós também do vosso lugar, e
seguireis” (Vs. 3). A salvação se fundamenta em preservar
186

a nossa aliança com Deus. Para isso, é necessário um esti lo de vida de


arrependimento e concerto. O arrependimento é o ingrediente da Ceia que
nos leva a renovar a nossa aliança com Deus, em Cristo, preservando a
nossa comunhão com Ele. “Portanto, qualquer que comer este pão, ou
beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue
do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão
e beba deste cálice” (I Co 11:27,28).

O referencial da vida espiritual é a aliança.

• Sensibilidade ao Espírito Santo

“... Haja contudo, entre vós e ela, uma distância de dois mil 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO
côvados “ (Vs. 4). É necessário dar espaço para o Espírito Santo nos
convencer. Esses dois mil côvados de distância é o espaço que o Espírito de
Deus necessita nos nossos corações para que saibamos escolher a direção
certa. Resisti mos ao Espírito quando nos aproxi-mamos demais da arca
através do orgulho religioso, ou nos afastamos demais através do coração
endurecido. Precisamos dar ao Espírito a distância certa para que ele nos
convença do pecado, da justi ça e do juízo. Isso amadurece a decisão
irrevogável de mudar, implícita no genuíno arrependimento.

• Planejar a decisão de mudar

“Disse Josué também ao povo: Santi fi cai-vos, porque amanhã fará o


SENHOR maravilhas no meio de vós” (Vs. 5). Arrependimen-PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

to exige uma preparação psicológica, um planejamento mental. O

pecado é sedutor, cati vante e viciante. Não é fácil deixar um vício e


quebrar a gravidade imposta pela práti ca ou compulsão do pecado. É

necessário tomar fôlego, psicologicamente falando, para amadurecer a


decisão que o Espírito Santo está nos conduzindo a tomar. Fazer contas para
não voltar atrás. A nossa vontade inclinada para a vontade de Deus é a base
da santi fi cação que Deus pode sobrenaturalmente operar nas nossas vidas.

• Esperança de uma vitória plena

“Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós; e que MARCOS
DE SOUZA BORGES

certamente lançará de diante de vós aos cananeus, e aos heteus, e aos


heveus, e aos perizeus, e aos girgaseus, e aos amorreus, e aos jebuseus”
(Vs. 10). Deus está comprometi do em honrar a
nossa decisão de mudar. A intervenção sobrenatural de Deus que

187

acontece quando nos arrependemos é a garanti a de que o pecado não terá


mais domínio sobre nós. Todos os inimigos da nossa alma serão derrotados.

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

• O passo de fé e obediência e o milagre da mudança

“Porque há de acontecer que, assim que as plantas dos pés dos sacerdotes,
que levam a arca do SENHOR, o Senhor de toda a terra, repousem nas
águas do Jordão, se separarão as águas do Jordão, e as águas, que vêm de
cima, pararão amontoadas” (Vs. 13). Esse é o aspecto divino do
arrependimento. Quando, inspirados pelo nosso chamado sacerdotal e pela
obediência à nossa aliança com Deus, decidimos enfrentar o pecado que nos
separa de uma vida de conquistas, vamos experimentar o sobrenatural de
Deus.

Arrependimento é quando irrevogavelmente decidimos abandonar um


pecado. É quando resisti mos ao pecado até o sangue, como exorta o
escritor de Hebreus, ou seja, é quando falamos para nós mesmos: Ainda que
tenha que suar sangue não faço mais isso!

Simplesmente não faço mais!!!

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Decidimos colocar um ponto fi nal naquele descontrole espiritual. É aí que


a graça e o poder sobrenatural de Deus nos alcança. As águas do Jordão se
separam e um caminho pelo qual nunca havíamos passado se abre, uma
experiência inesquecível, sobre-humana de libertação muda os rumos da
nossa alma. Como Paulo testi fi ca: É

quando Deus opera tanto o nosso querer santi fi cado, quanto o efe-tuar. Ele
completa a obra iniciada pela nossa disposição de mudança!

Aí já não somos mais nós que vamos deixar o pecado, mas é o pecado que
vai nos deixar! O temor do Senhor passa a dominar nessa área da nossa
alma. Começamos a ter o mesmo senti mento de repugnância que Deus tem
em relação ao pecado. A graça de PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Deus nos faz prevalecer. Graça não é permissão para pecar; muito pelo
contrário, é o poder manifesto de Deus nos capacitando a vencer o pecado
que nos escravizava. Aquilo que antes era di� cil evitar, agora fi cou fácil.
Este é o poder sobrenatural do arrependimento! Deus arranca o coração de
pedra da nossa alma e coloca um coração de carne inclinado a guardar os
seus mandamentos. O

arrependimento é o que nos coloca em Canaã, a terra da promessa, uma


vida de conquistas.
188

PRINCÍPIO 4. Perdão

Sem perdoar não podemos ser perdoados. Perdoar é o processo de enfrentar


responsavelmente nossas feridas e ressenti mentos. O perdão não é um senti
mento; é um mandamento. Ele não brota do nada em nossas vidas; antes, é
o resultado de um perseverante processo de escolher o caminho da cruz. É
só da cruz que podemos dizer as mesmas palavras que Jesus disse aos seus
algozes: “Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem.” Vejamos alguns
princípios importantes acerca do perdão:1

• Perdão não é um senti mento; é uma escolha

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

Você jamais vai “senti r de perdoar” uma pessoa que te enganou, humilhou,
abusou, traiu, etc. Você vai ”senti r” é de “esganá-la”! A tendência imediata
é buscar alguma forma de vingança. Para perdoar, é necessário morrer para
os próprios senti mentos e ressenti mentos.

Precisamos negar a nós mesmos.

• Perdão não é uma sugestão; é um mandamento

Jesus estabeleceu o perdão como uma lei inegociável. Quando Pedro o


questi ona sobre até quanto perdoar, Jesus deixa claro que o perdão precisa
ser um modo de viver, ou seja, devemos perdoar não só até sete vezes, mas
setenta vezes sete, por dia. Essa é a matemáti ca espiritual do Reino de
Deus. Perdão precisa se tornar um esti lo de vida.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

• Perdão é unilateral

O perdão não se baseia no merecimento do ofensor; independe da sua ati


tude passada ou atual. Não importa se ela se arrependeu ou não, se ela
reconheceu o seu erro ou não, se ela nos pediu perdão ou não. Precisamos
perdoar porque, só assim, podemos garanti r nossa própria saúde emocional
e proteção espiritual. Caso contrário, a raiz de amargura brota trazendo
sérias perturbações.

• Perdoar não signifi ca esquecer

Perdoar não é esquecer, mas é você não usar mais isso como argumento
contra a pessoa, mesmo se lembrando do que ocorreu.

MARCOS DE SOUZA BORGES

Precisamos entender o processo de cicatrização da ferida. Ou seja, uma


pessoa curada não é uma pessoa que se esqueceu do que sofreu, mas é
aquela que pode se lembrar confortavelmente.
• Perdoar alguém não signifi ca fi ngir que não está ferido

189

Se esse é o caso, para não boicotarmos o relacionamento, precisamos ser


honestos conosco mesmos e com Deus, reconhecendo que a ferida existe.
Se não ignorarmos a ajuda que Deus pode nos dar, vamos impedir que essa
ferida se desenvolva e venha produzir 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

amargura.

• Perdoar não nos obriga a estabelecer uma amizade

Essa é uma questão que deixa muitas pessoas em confl ito. Perdoar signifi
ca obrigatoriamente que tenho que ser amigo daquela pessoa? Perdoar é
incondicional; amizade e inti midade dependem de integridade e
credibilidade. Existem requisitos que vão determinar se podemos ou não
nos expor a uma amizade legíti ma.

Não podemos escolher a quem perdoar e a quem não perdoar, mas podemos
e devemos escolher quem será e quem não será um amigo. Porém, o fato de
não escolhermos alguém como amigo não signifi ca rejeitarmos uma
convivência com essa pessoa ou tê-la como inimiga. É uma linha fi na.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Fases do perdão

É fundamental entendermos o processo do perdão. Essa compreensão pode


ser algo decisivo na batalha interior que uma pessoa ferida tem que
enfrentar.

• Indiferença

A indiferença pode ser a principal característi ca de uma pessoa ferida. Na


práti ca, o extremo oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença. A
rejeição prolongada pode produzir um sofrimento tão agudo que mata os
senti mentos e aniquila qualquer ti po de PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

consideração com o agressor. Depois de lutar muito com a rejeição, a


tendência é se tornar indiferente. Ou seja, como não podemos matar
literalmente a pessoa, escolhemos matá-la dentro de nós, no nosso coração.

• Raiva

Ao perceber que não temos outra alternati va senão perdoar, a tendência é a


indiferença se transformar em raiva. Isso é sinal que
190

a ferida está sendo espremida. A raiva, por incrível que pareça, é menos
pior que a indiferença. A pessoa já está reagindo e saindo do coma
emocional.

• Confl ito

Mediante a convicção do Espírito Santo, a raiva vai perdendo a força e a


pessoa já consegue lidar com seus senti mentos. A pessoa percebe que pode
enfrentar aquilo tudo, mas, ao mesmo tempo, parece não querer. Um senti
mento forte de que o ofensor não merece ser perdoado vem à tona. Porém,
não é mais uma luta desigual. A pessoa, além de saber que precisa perdoar,
começa a perceber que 4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

pode perdoar. Racionalmente, está apta a considerar que essa é a melhor


opção a fazer.
• Frustração

Nesse estágio, a pessoa está totalmente convencida de que tem de perdoar e


de que pode perdoar, apesar de não gostar da ideia. Vem um certo
sentimento de tristeza e frustração. Porém, ao mesmo tempo em que se
sente impotente diante de tudo que sofreu, é fortalecida por uma convicção
de que está fazendo a coisa certa.

• Aceitação

A pessoa se conforma com ideia, colocando sua obediência PARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

acima dos seus senti mentos. A vida emocional volta ao equilíbrio submeti
da ao governo do espírito.

• Paz

Após sustentar com fi rmeza a postura de perdoar, começa a desfrutar da


paz que há tanto tempo perdera. Esse é o indubitável sinal da vitória sobre a
amargura.

• Memória cicatrizada

Consequentemente, sente-se totalmente consolada pelo Espírito de Deus.


Confortavelmente, pode se lembrar das injusti ças sofridas.

MARCOS DE SOUZA BORGES

Por mais que uma cicatriz assinale uma lembrança, a cicatriz não dói, não
incomoda; na verdade, revela o triunfo da cura. Paulo disse: ...

trago no meu corpo as cicatrizes (não feridas) de Cristo.


• Bom humor

191

O sintoma de uma memória curada é o bom humor em relação ao que se


experimentou. Alguns chegam até mesmo a fazer piada da situação vivida.
O bom humor é, simplesmente, a menor distância entre duas pessoas.

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

Todo relacionamento envolve riscos. Estamos sempre vulnerá-

veis a grandes decepções, rejeições, traições, etc. Qualquer pessoa pode ser
ferida. O próprio Jesus foi ferido:

“Veio para os que eram seus, e os seus não o receberam” (Jo. 1:11).
Jesus foi duramente rejeitado por aqueles que intencionalmente amava. A
grande questão é como reagimos. Como você reage é o que faz toda
diferença na sua vida e no mundo.

Precisamos aprender a lidar com essas sobrecargas dos relacionamentos,


situações injustas que já sofremos, estamos sofrendo P

e ainda sofreremos. Não importa o que fi zeram conosco. Importa o ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

que nós estamos fazendo com aquilo que fi zeram conosco. Isso vai
determinar o nosso caráter e a nossa saúde emocional. Ninguém pode nos
ferir sem o nosso consenti mento. Esse é o grande paradigma do perdão.
Para perdoar, precisamos negar a nós mesmos e abraçar o esti lo de vida
demonstrado pela cruz de Cristo.

PRINCÍPIO 5. Renúncia

A renúncia é um repúdio público em relação a todos envolvimentos e


comprometi mentos com o reino das trevas inspirado pela autoridade do
sacri� cio e do nome de Jesus. Fundamenta-se no princípio bíblico de
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

que tudo o que concordamos na terra é concordado nos céus e tudo o que
discordamos na terra será discordado ou desligado nos céus.

Esse é o processo complementar do arrependimento e confissão no sentido


de renegar as obras infrutuosas das trevas, desfazendo e anulando pactos,
alianças, acordos, pedidos, rezas, crenças, etc. em relação às enti dades
demoníacas. Obviamente, não devemos resumir o processo de libertação em
apenas uma longa oração de renúncias.
192

PRINCÍPIO 6. Restituição

É o processo de retratar, devolver e restaurar aquilo que foi danifi cado,


subtraído ou defraudado na vida de outras pessoas, devido às injusti ças que
prati camos. Isto vale para o campo das coisas materiais, como também
emocionais, senti mentais, morais, conjugais, etc. Este é o aspecto mais
profundo e restaurador da libertação.

Em se tratando de resti tuição, pecado oculto (na esfera dos pensamentos)


se confessa ocultamente a Deus; pecado pessoal confessa-se pessoalmente,
com a pessoa lesada; pecado público se confessa publicamente. Esta é a
mais poderosa e efi caz arma para libertar a 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

consciência. A resti tuição é o princípio mais di� cil de prati car, o que
mais dói na nossa carne, mas, ao mesmo tempo, é o princípio mais
poderoso para resolver as coisas e nos libertar inteiramente.

“E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos
pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado
alguém, o resti tuo quadruplicado.

E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é fi
lho de Abraão” (Lc 19:8,9).

Vamos resumir algumas dicas bem práti cas sobre a resti tuição: Como
fazer uma restituição

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Em caso de ofensa, deve haver o reconhecimento e o arrependimento que


será mostrado pelo ato de pedir perdão à pessoa ofendida (Lc 15:17-21; Dt
18:21). Em caso de prejuízo, o arrependimento será mostrado pelo ato de
uma resti tuição material (Nm 5:6-7; Ez 23:14-16).

Desculpas para não restituir

• Vai custar tudo o que eu tenho.

• Vai custar o que não tenho.

• Mas foi uma coisa tão pequena.

• Depois eu resti tuo...

• Não fui o único culpado.

MARCOS DE SOUZA BORGES

• A coisa já melhorou entre nós.

• As pessoas não vão entender.

• A pessoa já se mudou.
• Aconteceu há muito tempo atrás.

193

• Basta a minha disposição e nunca mais acontecerá de novo.

• A desculpa religiosa: “Sou uma nova criatura.”

Maneiras erradas de restituir

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

• Desculpa qualquer coisa.

• Foi sem querer.

• Errei, mas você também...


• Se eu estava errado me perdoe.

• Eu sinto muito.

Maneiras para cauterizar a consciência

• Insisti r no erro ou na perda da alma: quanto mais insisti mos em andar no


pecado, mais perdemos a sensibilidade espiritual.

• Fuga compulsiva: alcoolismo, drogas, diversão, comida, muito trabalho,


sono, etc.

• Perversão: agir com passividade, indo ao extremo de fazer algo que


sabemos que não devemos fazer, principalmente na área P

sexual. Algumas pessoas cruzam algumas linhas que torna cada vez ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

mais di� cil um caminho de retorno.

• Compensação: tentar remover a culpa sendo extremamente prestati vo,


orando muito, fazendo boas obras, etc.

• Autoengano: se justi fi car jogando a culpa em fatos, situações ou pessoas,


ou apontando o erro de outros.

Passos práticos para a restituição

• Pedir ao Espírito Santo que revele o nosso coração.

• Defi nir exatamente o que precisamos resti tuir.

• Pedir sabedoria para não agravar o problema ou culpar outros.

• Identi fi car o moti vo básico, pois, às vezes procuramos resti tuir


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

coisas pequenas e passamos por cima do verdadeiro moti vo.


• Estar disposto a consertar tudo, custe o que custar. Vamos nos surpreender
com o bem que isso vai nos causar.

Chegar-se a Cristo não é escapar dos problemas, mas resolvê-

los. É se tornar responsável por seus atos e ati tudes. Deus é justo, e não
exigirá nada que não estejamos aptos a fazer. O Senhor nos sustentará à
medida que esti vermos sendo sinceros e responsáveis.
194

PRINCÍPIO 7. Reconciliação

É o processo de desfazer pessoalmente ou intercessoriamente as barreiras


pessoais, geracionais, raciais ou territoriais. A reconciliação pode englobar
todos os aspectos mencionados anteriormente com o objeti vo de lidar com
as raízes da inimizade, seja amargura, ressenti mento, ódio, vingança,
preconceito, ou qualquer outra fortaleza demoníaca.

Como se estabelece uma fortaleza maligna?2 Imagi-nemos uma conversa


entre um principado e um demônio, nesse senti do. Lembre-se de que o
objeti vo deles é quebrar 4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

relacionamentos e afl igir o Espírito de Deus. Instruções a um demônio:

• Tome um pouco de verdade.


• Polarize as pessoas em lados diferentes dessa verdade.

• Tente-as com juízos injustos.

• Observe-as ferirem umas às outras com rejeição, palavras ásperas e injusti


ças.

• Agora que estão isoladas, ressenti das e com senti -

mento de culpa, traga-as sob condenação, acusando-as e atormentando-as


com o remorso. Recrute outros demônios.

Esforce-se por estabelecer uma fortaleza permanente.

• Em meio à sua dor e confusão, ofereça-lhes uma saída, através de um


engano camufl ado, um sofi sma, uma PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

nova doutrina que encubra a culpa, transferindo a responsabilidade para a


natureza, fato ou sociedade. Já que ninguém pode viver sem esperança, dê-
lhes uma falsa esperança.

• Esforce-se por fechar a porta da prisão permanente-mente, denegrindo o


conhecimento que têm do caráter de Deus. Acima de tudo, traga acusação
contra Deus.

É simples assim, e tem acontecido desde a queda de Adão. Os métodos de


Satanás nunca mudam. A maior parte da autoridade ganha pelo reino de
Satanás é obti da através da parceria da acusação com o engano. Nossa
vulnerabilidade é a culpa não resolvida e os relacionamentos quebrados.

MARCOS DE SOUZA BORGES

Isso nos traz de volta ao papel exclusivo do povo de Deus, que é exercer o
ministério da reconciliação. Só podemos promover a reconciliação
tornando-nos livres para
exercer imparcialmente a honesti dade. Somos reconciliados

195

com Deus através da confi ssão sincera, e reconciliamos pessoas e povos da


mesma maneira.

PRINCÍPIO 8. Disciplina e obediência (Reeducação) 4 | PROCESSO


DA CRUCIFICAÇÃO

A obediência inspirada por Deus é altamente restauradora. O

coração da obediência é a disciplina baseada no temor de Deus.

Temer a Deus é amar o que Ele ama e também aborrecer o que Ele
aborrece. Disciplina é o processo de exercitar a escolha para construir um
caráter de obediência. Sustentar a conquista alcançada é uma parte essencial
do processo de libertação: “E estando prontos para vingar toda a
desobediência, quando for cumprida a vossa obediência” (II Co 10:6).

Nada é duradouro sem disciplina e perseverança. Este é o ge-nuíno selo de


uma libertação. Sem este selo, o território pode ser reconquistado pelo
inimigo, e o segundo estado torna-se ainda pior que o primeiro.

É importante esclarecer que na luta contra o pecado aconte-ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

cem alguns fracassos. Isto faz parte do processo de aprendizagem e


conquista. Porém, é importante não superesti marmos as vitórias e muito
menos as derrotas. Isto pode produzir, respecti vamente, descuido e
desistência. Saber reconhecer nas conquistas a graça de Deus, como
também, nos fracassos desfrutar da capacidade de perdoar-nos a nós
mesmos como Deus nos perdoa é a legíti ma inspiração da disciplina que
constrói um caráter de obediência. Essa é a poderosa virtude da
longaminidade, que pode ser defi nida como a capacidade de não exigir dos
outros, e também de nós mesmos, uma mudança imediata. Só assim
podemos encontrar o caminho do relacionamento com a graça divina. Com
essa moti vação a dis-PASTOREAMENTO INTELIGENTE

ciplina é sadia e redentora.

Com isso podemos experimentar o poder da Lei da imunidade:

“Seis vezes o mal te visitará e na séti ma não te tocará” (Jó 5:19). Existe
um limite para a infl uência do mal e do pecado. A resistência do pecado
pode ser quebrada quando nos posicionamos corretamente.

O número “seis” na Bíblia refl ete as imperfeições e limitações humanas. Jó


explica: “Por seis vezes o mal te visitará...” , ou seja, é aquele tempo em
que resisti mos e persisti mos dentro das nossas
196

limitações, mas confi ando que chegará uma séti ma vez em que, pela graça
de Deus, vamos vencer o mal. Essa imunidade é a sinergia da graça de Deus
com a nossa perseverança.

O “sete”, por sua vez, é conhecido como o número da totalidade, ou seja, a


perfeição no senti do de completo. De repente, aquilo que nos abalava tanto
no início, agora, depois de um processo completo de perseverança e confi
ança, tornou-se facilmente superável. Ficamos imunes! Isso caracteriza um
verdadeiro encontro com o temor do Senhor.

A disciplina estabelece o caminho do fortalecimento. Isto não é privilégio


de alguns; é uma escolha que todos podemos fazer. A 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

Bíblia nos exorta: “Diga o fraco: sou forte” . Deus disse a Josué: “Sê forte
e corajoso” . Força moral é uma questão de escolha. Isso independe da lei
da herança ou das infl uências que nos oprimem. A fé é uma musculatura
que precisa ser exercitada. A disciplina é a fé em exercício; a sólida
possibilidade de superação humana e espiritual!

PRINCÍPIO 9. Descanso

O descanso é altamente redenti vo e consolida ainda mais cada conquista


alcançada. O descanso vem como resultado de uma rendição genuína e de
uma confi ança completa na graça de Deus. Toda estrutura de resistência a
Deus é desmoronada. Essa é a poderosa relação entre a cruz e o descanso. A
alma passa a fl uir na dinâmica da paz.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Paz é uma segurança absoluta em Deus, mesmo em meio às piores e mais


fustigantes adversidades. É aquele lugar sobrenatural que Davi encontrou
nas batalhas: “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não
serás atingido” (Sl 91:7). A paz elimina qualquer tipo de vantagem do
inimigo em relação a nós. O inimigo perde a voz e a vez de nos acusar,
condenar ou perturbar. A agonia acaba. Esse é um dos principais selos de
uma verdadeira libertação.

A falta de descanso é sintoma de ansiedade, medo, culpa, vergonha ou


qualquer outra toxina que oprime e sobrecarrega a alma.

Sem confrontarmos estas coisas com o descanso, a angústi a fala mais


MARCOS DE SOUZA BORGES

alto que a paz. Perdemos a bênção! É assim que invertemos o espírito do


serviço. Ministério precisa ser o resultado do nosso descanso em Deus, e
não do nosso stress e preocupação.
Deus não se move pelos nossos acessos de ansiedade. Ele não

197

se deixa manipular pelos nossos chiliques, melindres e murmurações.

Isaías revela que Ele trabalha para aqueles que nele esperam (Is 64:4).

Ou seja, enquanto você espera, Deus trabalha, e enquanto você trabalha,


Deus espera. O descanso é um dos grandes paradoxos da cruz 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

e um dos maiores segredos de uma vida espiritual sadia e crescente.

PRINCÍPIO 10. Intercessão

É o processo sacerdotal de representar uma outra pessoa (ou grupo)


inspirado pela compaixão de Deus, senti ndo as suas dores, identi fi cando-
se com os seus pecados e misérias, oferecendo em seu lugar confi ssão,
arrependimento, reconciliação e oração diante de Deus, protegendo-a
espiritualmente, bem como sua família e descendência.

“Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é consti tuído a


favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e
sacrifí cios pelos P

pecados; e possa compadecer-se ternamente dos ignoran-ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

tes e errados; pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza” (Hb
5:1,2).

Na verdade, todos os princípios implícitos na crucifi cação mencionados


anteriormente podem ser prati cados intercessoriamente a favor de uma
pessoa que se encontra impedida ou presa na sua ignorância, amargura ou
qualquer outro ti po de atadura espiritual.

Os 4 níveis da intercessão - As 4 brechas

“E busquei dentre eles um homem que levantasse o muro,


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

e se pusesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a
destruísse; porém a ninguém achei” (Ez 22:30).

O intercessor pode e deve se colocar na brecha:


1. Entre Deus e a pessoa
Levar Deus à pessoa e levar a pessoa a Deus através de evangelismo,
oração, serviço, misericórdia, etc.
198

2. Entre Satanás e a pessoa

Podemos também nos colocar entre uma pessoa e um ataque demoníaco,


escudando-a. Foi o que Jesus fez em relação a Pedro, quando esse tentou
persuadir Jesus a que não se entregasse à morte:
“E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Tenha
Deus compaixão de ti , Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá”

(Mt 16:22). Jesus não apenas discerniu a suti l infi ltração de Satanás na
sugestão de Pedro, como também a interceptou. Ele protege Pedro em
relação a esse momento crucial que fatalmente viria a acontecer: “Para
trás de mim, Satanás, que

me serves de escândalo;

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

porque não estás pensan-

do nas coisas que são de

Deus, mas sim nas que são

dos homens” (Mt 16:23).

Nesse mesmo contex-

to, um pouco mais tarde, a

situação volta a se repeti r:

“Simão, Simão, eis que

Satanás vos pediu para vos

cirandar como trigo; mas

eu roguei por ti , para que

a tua fé não desfaleça; e

tu, quando te converteres,


PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

fortalece teus irmãos (Lc

22:31-32). O processo co-

meça ali mesmo, quando

mais uma vez Pedro se abre para a especulação demoníaca: “Respondeu-


lhe Pedro: Senhor, estou pronto a ir conti go tanto para a prisão como para
a morte. Tornou-lhe Jesus: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo
antes que três vezes tenhas negado que me conheces” (Lc 22:33,34).

O fi nal só não foi pior por causa da intercessão de Jesus. Mesmo tendo
negado a Jesus, Pedro acabou sendo restaurado e pôde exercer um apoio
apostólico que alavancou a igreja do primeiro século.

MARCOS DE SOUZA BORGES


3. Entre o pecado e a pessoa
Esse é o nível mais elevado de sacerdócio. Quando alguém se identi fi ca
com uma pessoa a nível de confessar os seus pecados.
Assim como Jesus assumiu os nossos pecados na cruz, interceden-

199

do pela raça humana, pelo mesmo princípio podemos confessar


intercessoriamente os pecados de outros, especialmente da nossa família,
linhagem, igreja, cidade, nação, etc. Cada membro do corpo de Cristo é um
sacerdote.

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

A intercessão permite nos identi fi carmos corporati vamente com os


pecados da pessoa, senti ndo as dores de Deus pela situação, acionando o
ministério do Espírito Santo em favor dela. Isso era o que Jó fazia pelos
seus fi lhos e o que alguns profetas e restauradores de Israel, como
Neemias, Esdras e Daniel fi zeram em relação aos seus antepassados em
virtude do desterro da nação.
4. Entre alguma circunstância e a pessoa

Algumas vezes Deus nos revela antecipadamente coisas ruins que estão
para acontecer com alguém. Isso pode ocorrer através de um sonho, uma
visão, uma impressão espiritual durante um momento de oração, etc.
Obviamente, se Deus está nos mostrando algo dessa natureza é porque Ele
não quer que isso venha a acontecer. A PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

oração intercessória, nesse senti do, pode fazer a diferença entre o


livramento e a tragédia.

INCREMENTANDO O PODER DA INTERCESSÃO

Vamos ver alguns elementos catalisadores que maximizam a efi ciência do


ministério da intercessão. Esses elementos são fundamentais de serem
compreendidos e exercidos. Muito da batalha espiritual orbita em torno
destes pontos.

1. Perímetro sacerdotal de unidade

Temos aqui um chamado congregacional: “E se o meu povo,


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

que se chama pelo meu nome, se humilhar...” (II Cr 7:14). Especialmente


em se tratando de conquista e redenção territorial, é fundamental mobilizar
e unir as pessoas que desempenham um papel sacerdotal com o intuito de
se humilharem, orarem, ouvirem a Deus, concertarem-se com Ele.. , tudo
isso representando também o povo que vive nessa terra (Joel 1:13,14).
Quanto mais abrangente for esse perímetro de unidade, tanto maior será a
autoridade e os efeitos da intercessão.
200

2. Nível de concordância

“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edifi carei a
minha igreja, e as portas do hades não prevalecerão contra ela; dar-te-ei
as chaves do reino dos céus; o que concordares, pois, na terra será
concordado

nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt
16:18,19).

Temos uma importante questão: Como lidar com os portões e barreiras do


inferno que impedem o estabelecimento e a edifi cação 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

da Igreja? Certamente não vamos derrubar as portas do inferno na base do


grito. Jesus não apenas menciona os “portões do inferno” , mas também
fala das “chaves do reino dos céus” . Chave é algo que combina com porta.
Fica claro o entendimento de que Deus não nos quer como arrombadores,
mas destrancadores. A salvação do perdido, o entendimento, os dons, o
chamado, recursos, etc. de alguma forma foram aprisionados e precisam
ser destrancados.

Tudo que precisamos é disso que Jesus chamou de “chaves do reino dos
céus” .

Mas, o que seriam essas chaves que destrancam as resistências de Satanás?


De onde vem esse poder para abrir e fechar o que precisa ser aberto e
fechado? O que Jesus estava querendo dizer espiritualmente com isto?
Toda porta tem uma fechadura, até mesmo as PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

portas do inferno. A Bíblia menciona que essas chaves da morte e do


inferno estavam sob o poder de Satanás, porém, foram conquistadas
através do ministério messiânico de Jesus que culminou na sua morte e
ressurreição: “Não temas; eu sou o primeiro e o últi mo, e o que vivo; fui
morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves
da morte e do hades” (Ap 1:18).

Isso quer dizer que não é mais Satanás quem detém as chaves da morte e
do inferno; é Jesus! A vitória de Jesus foi tão completa que o diabo perdeu
até as chaves de casa! Todos que ele sequestrou e tudo que ele roubou
mantendo cati vo no seu território pode ser resgatado.

O trabalho da igreja é o trabalho de abrir e resgatar. Porém, abrir só


MARCOS DE SOUZA BORGES

é um trabalho simples e possível quando se tem as chaves. Quando não se


tem, o trabalho pode se tornar não só pesado e arriscado, como também
impossível!
Assim sendo, a questão maior não é mais ter que tomar essas

201

chaves do diabo, mas recebê-las de Deus! E é aqui que a unidade pela qual
Jesus tanto orou entra. Ele esclarece acerca da posse das chaves do reino
dos céus dizendo: “o que concordares (ligares), pois, na terra, será
concordado (ligado) nos céus, e o que discordares (desligares) na 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

terra será discordado (desligado) nos céus” . Ele defi ne o signifi cado
dessas chaves através da oração de concordância.

A concordância da igreja estabelece uma conexão entre o mundo

� sico e o espiritual, afetando a realidade nesses dois planos. A chave que


abre os portões da morte é a própria igreja em concordância, confi gurada
através de um perímetro de unidade.
É bem simples: o poder de avanço e edifi cação da Igreja contra as
resistências demoníacas em qualquer localidade depende primariamente do
nível de concordância e do perímetro de unidade estabelecido pelos líderes
espirituais, assim como seus ministérios e denominações. O problema não
são as “diferenças” denominacionais, mas as “divergências”
denominacionais. Ou seja, é quando a independência toma o lugar da
interdependência.

Não quero dizer que temos que ter uma unidade doutrinária, ARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

mas simplesmente concordar com a diversidade do Corpo de Cristo e com


o fato que temos um inimigo comum. Nossa luta não pode ser direcionada
para uma concorrência denominacional, mas contra Satanás e suas hostes.
A principal força-tarefa de todo principado territorial é produzir divisão e
inimizade entre líderes e denominações. É desta forma que a igreja perde a
chave que determina o seu avanço.

Quando pastores e líderes de uma localidade, interdenomina-cionalmente


se reúnem para orar, confessando compassivamente os seus pecados, os
pecados da igreja, do governo, da cidade, etc.

exercendo legiti mamente o seu sacerdócio, um ambiente de con-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

cordância e autoridade é estabelecido. Essa confi ssão geracional dos


pecados, injusti ças e crimes territoriais através da intercessão corporati
va destranca os portões do inferno. O inferno é forçado a dar lugar ao
Reino dos Céus no coração das pessoas e no ambiente espiritual daquele
respecti vo território! Vem uma grande colheita.

Qualquer esforço evangelísti co passa a surti r um efeito tremendo trazendo


grandes resultados. Todas as igrejas crescem. Experimentamos que Deus
tem muito para todos!
202
3. A profundidade do quebrantamento espiritual e
da
transparência dos intercessores, pastores e líderes reunidos

Esse é um outro aspecto fundamental da intercessão. O carro-chefe da


restauração é a humilhação. Quanto mais profundo e ge-nuíno é o
quebrantamento coleti vo, tanto maior se torna o poder da intercessão.

4. Precisão do mapeamento espiritual

A inteligência e a mira da intercessão residem na precisão das confi ssões


em relação às iniquidades prati cadas e que vinham sustentando a opressão
demoníaca local. Quanto mais preciso é o 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

mapeamento de injusti ças e iniquidades, tanto mais efi caz será a


intercessão. É necessário entender a forma como Satanás está de-marcando
o território que está sob cati veiro e fazer uma confi ssão inteligente,
precisa, trazendo novamente a presença de Deus para a terra.

5. Perseverança

Quanto maior a perseverança, mais devastador é o poder da intercessão


contra as estruturas demoníacas. Quanto maior a esta-bilidade dessas
reuniões de comunhão, mapeamento, confi ssão e intercessão, tanto maior
será a instabilidade das estruturas malignas nessa respecti va localidade.
O reino de Deus prevalece!

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

PRINCÍPIOS BÁSICOS IMPLÍCITOS NA INTERCESSÃO

Vamos ver alguns princípios implícitos na práti ca da intercessão.


Esses princípios, conceitualmente, se misturam, mas visando um
esclarecimento didáti co, vamos salientá-los especifi camente, na tentati va
de discerni-los melhor:

1. O princípio da justificação

A diferença principal entre oração e intercessão é que a intercessão possui


uma faceta redentora. Enquanto a oração se vale do nome de Jesus, a
intercessão apela não apenas ao nome, mas prin-MARCOS DE SOUZA
BORGES

cipalmente ao poder justi fi cador do sangue de Jesus. O sacri� cio de


Jesus foi o mais sublime ato de intercessão, visto que Ele assumiu o nosso
próprio lugar na cruz. Cada vez, que pelo mesmo princípio, in-
tercedemos, ou seja, agimos tomando o lugar da pessoa, instauramos

203

um processo espiritual de justi fi cação. A justi fi cação de uma pessoa e


linhagem cala o acusador, desautorizando as suas perniciosas infl u-

ências e perseguições. Em libertação, “um quilo de intercessão tem maior


efeito que uma tonelada de oração”. Não existe uma libertação 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

consistente sem intercessão, visto que o maior percentual de cargas em uma


libertação são de caráter coleti vo.

2. O princípio do corporativismo (direito de identificação)

Inspirados pela compaixão divina, podemos nos identi fi car com o corpo a
que pertencemos, seja ele familiar, denominacional, territorial, etc. Este foi
o aspecto mais relevante do sacri� cio de Jesus.

Fazendo-se homem, Ele se identi fi cou com toda a raça humana,


assumindo a nossa condenação com o fi m de cumprir a nossa sentença.
Jesus não apenas se identi fi cou com os nossos pecados, dores e
enfermidades, como também se identi fi cou com o coração de Deus
oferecendo perdão e o acesso às promessas divinas.

Na identi fi cação podemos senti r o que aquela pessoa está P

senti ndo, como também orar a oração do coração de Deus por ela.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Aqui experimentamos e levamos outros a experimentar o poder da


compaixão divina que libera os milagres e muitas intervenções
sobrenaturais.

3. O princípio do resgate

Quando você intercede por alguém enxergando a sua cegueira e


confessando intercessoriamente os seus pecados, você estabelece um
processo capaz de resgatá-la da situação em que se encontra e das
consequências que ela e a sua descendência deveriam sofrer. Isso também
produz uma forte confrontação em relação às forças malignas que estão
cegando, prendendo e manipulando a pessoa por quem PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

intercedemos. Desta forma, não só afastamos os demônios, como


viabilizamos a ação da presença de Deus em seu favor. Assim, amarra-mos
o valente, cooperando com uma possível libertação do cati veiro.

4. O princípio da colisão

Através da intercessão, não apenas escudamos as pessoas como também


colidimos com as forças e infl uências demoníacas infi ltradas, aplacando-
as e até mesmo removendo-as. Normalmente o inter-
204

cessor pode senti r o impacto desta colisão durante o processo de


libertação. É possível até mesmo haver a manifestação dos sintomas da
libertação da pessoa na vida do intercessor, poupando assim a pessoa
ministrada.

Não devemos, porém, confundir colisão com retaliação. A colisão é o efeito


colateral momentâneo e edifi cante que o intercessor sente ao se chocar,
através do poder da cruz com os demônios enfrentados em uma libertação.
A retaliação é quando nos tornamos expostos a um contra-ataque, e o
inimigo acaba conseguindo nos acertar mais bem acertado que nós o
acertamos em virtude de brechas existentes na nossa vida e
relacionamentos. Não sejamos ingênuos; não adianta 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO
apenas fazer uma oração proibindo as retaliações do inimigo. Contra
retaliações não basta apenas orar; é necessário fechar as brechas.

5. O princípio do ato profético

Quando você confessa os pecados de alguém, você está construindo uma


possibilidade espiritual, onde essa pessoa por quem você está intercedendo
fará, por si mesma, no tempo oportuno, a mesma confi ssão. A confi ssão
intercessória ati va o ministério do Espírito Santo sobre a pessoa,
convencendo-a do pecado, da justi ça e do juízo. Desta forma, podemos afi
rmar que toda intercessão tem um cunho proféti co e criati vo.

Um ato proféti co de intercessão não é uma adivinhação ou previsão do


futuro, mas uma expressão de fé e compaixão que tem PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

o poder de infl uenciar e modelar a futura realidade.

Um outro aspecto importante é que toda esta metodologia que estamos


estudando, baseada no diagrama do padrão de aconselhamento na
libertação, obviamente, não pode ser usada como um mecanismo fechado,
absoluto, que limita a ação ou intervenção de Deus. É importante não fazer
de uma metodologia, por mais estraté-

gica e funcional que ela seja, algo que restringe a inspiração divina.

Em um aconselhamento precisa haver bastante espaço para a oração de fé,


atos proféti cos, intercessão criati va, atos de identi fi cação e compaixão,
atos de justi ça, reconciliações estratégicas, etc.

Quando aliamos uma metodologia fundamentada nos princí-

MARCOS DE SOUZA BORGES

pios corretos com a inspiração que libera o “davá” (palavra hebraica que
signifi ca a ação criati va de Deus) maximizamos o potencial do
aconselhamento. Este equilíbrio é bem presente no ministério de
Jesus. Algumas vezes, Jesus confrontou as raízes dos problemas das

205

pessoas: a mulher encurvada que precisou de um reencontro com o seu


passado traumáti co, os leprosos que precisaram ter um reencontro com os
seus líderes, o paralíti co que precisava se perdoar, etc.

Outras vezes, Ele agiu inspirati vamente por fé fazendo coisas bem 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

fora do comum: ungindo os olhos de um cego com saliva, dando uma


ordem para que Lázaro saísse do túmulo, amaldiçoando a fi gueira,
derrubando as mesas dos cambistas, etc.

Doutrinação X Inspiração
A intercessão no processo de aconselhamento precisa ter a marca da criati
vidade, ou seja, de uma genuína inspiração divina. Não podemos
simplesmente doutrinar comportamentos ou técnicas que surti ram efeitos
em outros atendimentos. Algo que funcionou em um atendimento não quer
dizer que vá funcionar ou que seja necessário em outro. O grande
diferencial é a inspiração e o guiar de Deus. Se não tomarmos cuidado
nesse senti do podemos engessar os atendimentos em uma roti na religiosa
que subtrai a efi ciência do aconselhamento.

Um aspecto importante da intercessão é o ato proféti co. Obvia-ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

mente, a essência de um ato proféti co reside na obediência a uma direção


específi ca dada pelo Espírito Santo. Não há poder no ato proféti co em si,
mas na obediência que o está moti vando. Atribuir poder ao ato proféti co é
o princípio ati vo do animismo. Animismo é atribuir vida, ânimo ou poder a
um elemento que não tem vida, ânimo ou poder em si mesmo. Esse é um dos
fundamentos das religiões espíritas.

Para que você possa entender a essência do que quero ensinar, por
exemplo, teríamos respaldo bíblico para afi rmarmos que se ungirmos a
porta de nossa casa com óleo a nossa casa estaria protegida por Deus? A
resposta é não. O óleo que foi consagrado ao Senhor tem algum ti po de
poder em si mesmo? A resposta também é não. É

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

bíblico dizer que se ungirmos uma pessoa com óleo ela estará protegida e
abençoada independentemente da ati tude do seu coração para com Deus?
Novamente não. Tem pessoa que podemos derramar uma lata de óleo sobre
a sua cabeça, mas se ela não tomar vergonha na cara não tem jeito! Não
adianta só ungir mecanicamente. Acreditar misti camente no poder desses
atos e elementos, independentemente de uma direção específi ca dada por
Deus, é o que chamamos de espiriti smo evangélico.
206

De outra sorte, se você está ministrando ou orando por alguém e o Espírito


Santo o orienta a ungir a pessoa ou a casa dela e você obedece? A pessoa
ou a sua casa estaria protegida? Sim. Há poder no óleo da unção? Não. Há
poder na obediência; não no óleo. Precisamos ungir quem e o que Deus
está mandando. A essência da manifestação de Deus reside na obediência,
e não na misti fi cação de um elemento. A Bíblia garante que se
obedecermos aos mandamentos e orientações de Deus, as sua bênçãos nos
alcançarão. Em relação aos atos proféti cos, o que falamos sobre o óleo
vale para o vinho, um punhado de terra, estacas, ou qualquer outro
elemento.

Não há regras nesse senti do.

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO
Outra coisa essencial é que não se pode doutrinar um ato proféti co. Isso
faz com que o ato proféti co deixe de ser proféti co e se torne uma forma de
religiosidade desprovida de poder. Sempre que doutrinamos, seja um ato
proféti co, uma estratégia, uma práti ca cerimonial, uma expressão do
mover de Deus, um modelo de crescimento, etc.,abrimos uma fenda para a
infi ltração de uma cultura de religiosidade. Estamos andando na direção
oposta ao guiar do Espírito.

Os psicodramas - o poder da intercessão criativa O capitulo 8 de Josué,


que trata da esmagadora vitória sobre Ai, nos revela como a estratégia
orientada por Deus pode fazer toda a diferença no processo da libertação e
conquista da alma. Já explica-mos que Canaã é uma ti pologia da alma que
precisa ser conquistada.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Ai signifi ca no literal “montão de ruínas” . A cidade de Ai representa


áreas da nossa alma onde sofremos grandes derrotas, perdas e decepções.
A derrota inicial de Israel para a cidade de Ai, relatada no capítulo 7 de
Josué, abalou a fé da nação. Por causa do anátema de Acã, Israel sofreu
uma pesada retaliação, onde 36 homens morreram e o exército foi
envergonhado.

O capítulo 8 mostra como esse quadro foi revertido. A principal conclusão


desse capítulo é que Deus usou a recente derrota como estratégia para a
grande vitória obtida. Você pode observar toda uma encenação que fez com
que o exército de Ai fosse atraído para fora da cidade, que era uma
verdadeira fortaleza, MARCOS DE SOUZA BORGES

deixando-a vulnerável, permitindo, ao mesmo tempo, um cerco contra todo


o exército de Ai que, sem ter para onde ir, acabou sendo totalmente
abatido.
Josué, seguindo a estratégia de Deus, de madrugada, posicionou

207

parte do seu exército, trinta mil homens, emboscando a cidade por trás,
escondidos. Pela manhã, Josué e a outra parte do exército se aproximaram
da cidade de forma provocati va. Quando o exército de Ai os atacaram,
Josué se fi ngiu de vencido, fugindo, com o intuito de 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

afastá-los da cidade. Isso fez com que todos os homens de Ai os per-


seguissem pensando que estavam derrotando-os pela segunda vez.

No momento certo, Josué levanta a sua lança dando sinal para que as
emboscadas atacassem a cidade totalmente desprotegida, destruindo e
queimando a fortaleza de Ai. Nisso, quando o exército de Ai olha para trás,
e percebem a fumaça subindo da cidade, fi cam desnorteados, sem saber o
que fazer e sem ter para onde voltar.
Josué e seus homens reagem pressionando-os de um lado, e pelo outro lado
os exércitos que haviam emboscado a cidade fecham o cerco, aniquilando o
inimigo. Uma vitória esmagadora, onde a primeira derrota se transformou
na estratégia da vitória. A obediência à estratégia de Deus fez toda a
diferença!

Isso é a perfeita alegoria de uma intercessão criati va, por identi -

fi cação, ou o que chamamos também de psicodrama. Dá-se quando o


ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

conselheiro, representando aquele que causou os traumas na pessoa (seja


um pai, mãe, professor, etc.) se humilha, pede perdão, fazendo com que a
pessoa reviva toda a sua dor, porém interagindo com essa ferida de uma
maneira graciosa e construti va.

Ou seja, o quebrantamento do conselheiro ao se identi fi car com o ofensor,


e fazer o que este ofensor deveria ter feito para reparar a situação, faz com
que todo sofrimento interior, as estruturas de vergonha e orgulho da pessoa
ministrada sejam expostas, enfrentadas, perdoadas, crucifi cadas e abati
das. As experiências resultantes dessas intercessões criati vas são
poderosas e muitas vezes sobrenaturais.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

... Certa vez estava aconselhando uma preciosa irmã. Ela ti nha uma
história familiar marcada por uma profunda perda existencial.

Sua mãe engravidou dela quando teve um caso com um professor.

Temendo o escândalo, ao tomar conhecimento da situação, o seu pai deixou


a escola, a cidade e simplesmente sumiu no mundo. Em vista disso, a sua
mãe, sem coragem de enfrentar o fato, conseguiu esconder da família a
gravidez até o dia do seu nascimento. Uma história bem dolorosa.
208

Como um dos principais moti vos do aconselhamento era a difi culdade de


se relacionar com o seu marido, perguntei a ela como estava o seu coração
em relação ao pai que ela nunca havia conhecido. Prontamente, ela disse
que estava tudo bem, e que Deus havia colocado no seu caminho pessoas
que o haviam substi tuído a contento. Porém, o Espírito Santo parecia me
dizer claramente o oposto disso, e que as coisas não estavam nada
resolvidas.

Então, estrategicamente, entendi que deveria colocá-la à prova. Sugeri que


orássemos juntos pedindo que Deus pudesse criar a oportunidade para que
ela encontrasse o seu pai biológico e pudesse expressar para ele tudo
aquilo que ela estava me falando. Começamos 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO
a orar, e, subitamente, sua alma entrou em erupção. Em um acesso de ira e
dor, ela começou a agredir verbalmente o seu pai, dizendo que ele não
valia nada, que era um covarde, que ele não era seu pai...

Ela se descontrolou tanto, que quando foi se acalmando mais, estava


surpresa e muito envergonhada com a própria reação. Parecia não saber
que todos aqueles senti mentos estavam recalcados na sua alma.

Então, cabisbaixa, chorando muito, inesperadamente, algo co-meçou a


acontecer. Deus começou a mostrar uma cena para ela. Ela, então, foi
descrevendo em voz alta para mim: Eu estou me vendo no alto de um
enorme penhasco... e estou segurando uma cadeira de rodas com um
homem assentado nela. Num tom de estranheza, ela disse: ... e esse homem
é o meu pai! Parece que aquilo que eu havia sugerido sobre Deus permiti r
um encontro com o seu pai es-PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

tava acontecendo mais rápido que imaginávamos e de uma forma que


jamais imaginaria. Em um novo acesso de fúria, ela disse: Eu vou jogá-lo
daqui de cima! Entendendo o que estava acontecendo no seu coração,
intervi: Não, não faça isso! Essa é a sua chance de receber o coração de
Deus pelo seu pai!

O próprio Deus, profeti camente, a colocou face a face com o pai pródigo,
ti rando para fora o “exército de Ai” que habitava em uma fortaleza da sua
alma. Então, representando espiritualmente o seu pai, comecei a pedir
perdão a ela. Aquele pedido de perdão que ela jamais ti nha ouvido do pai.
Estruturas de insegurança, medo, raiva foram se rompendo. A cidade de Ai
da sua alma estava em chamas!

MARCOS DE SOUZA BORGES

Ela começou a entender onde Deus queria levá-la com tudo isso.

Seu pai precisava mais da sua ajuda do que ela da dele. Toda aquela
situação ti nha feito dele um inválido. Agora percebia o desespero do
pai que o levou a fugir e todo sofrimento que veio em consequência

209

disso. O cerco estava fechado.

No fi nal, após descer daquele penhasco amparando seu pai, a visão


acabou. Sua alma estava livre. Essa experiência foi um divisor de águas na
sua vida e nos seus relacionamentos.

4 | PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

6. O princípio da coletividade

No âmbito de uma linhagem, a confi ssão intercessória restaura os lugares


anti gamente assolados de geração em geração. Portanto, ao confessarmos
intercessoriamente os pecados das nossas gerações antepassadas,
colidimos com forças e maldições demoníacas alojadas até mesmo por
séculos, deixando um ambiente espiritual livre sobre nossa parentela e
descendência. Promovemos um bene� cio coleti vo.

“Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também por um só ato de justi ça veio a
graça sobre todos os homens para justi fi cação e vida” (Rm 5:18).

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Este texto retrata o aspecto intercessório da morte de Jesus, focalizando o


poder da intercessão legado ao corpo de Cristo. A morte intercessória de
Jesus sancionada pela confi ssão corporati va de pecados e iniquidades em
relação à nossa linhagem sati sfaz a justi ça de Deus, desautorizando a
permanência dos demônios, e reintegrando o direito de infl uência sobre a
nossa família e descendência ao Espírito Santo.

A maldição é intrinsecamente coleti va. A infl uência pecaminosa


endossada por várias gerações pode estabelecer um ti po de memória coleti
va ou fortaleza mental familiar que amarra as pessoas em terrí-

veis enganos baseados em tradições pecaminosas, que se expressam


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

através da idolatria, inversão de papéis no casamento, imoralidade,


alcoolismo, etc. Essas situações se tornam um padrão generalizado que
persegue e que pode se propagar por gerações.

Assim como o pecado de uma pessoa deixa uma consequência para muitas,
pelo mesmo princípio a intercessão de uma pessoa pode resgatar a muitos
dessas mesmas infl uências e consequências. Tanto o pecado quanto a
obediência tem um aspecto coleti vo e hereditário.

Assim como o pecado deixa um teto de maldições, a obediência, por


210

sua vez, deixa um legado de promessas divinas em relação aos


descendentes: “Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais
a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo,
abundou sobre muitos” (Rm 5:15).

A lei da herança também ensina que herdamos não a culpa, mas as


consequências dos pecados não redimidos dos nossos antepassados:
“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e
pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porquanto todos pecaram” (Rm 5:12). Não herdamos a culpa de Adão, mas
a fulminante consequência do seu pecado, que foi a morte. É impossível
herdar o pecado ou a culpa de alguém, 4 | PROCESSO DA
CRUCIFICAÇÃO

visto que o pecado é uma escolha pessoal, moral e intransferível. O


que herdamos, portanto, são as consequências � sicas, emocionais,
espirituais, etc. do pecado.

Obviamente que a intercessão lida apenas com a consequência e não com a


culpa do pecado. Este é um aspecto fundamental que precisa ser bem
compreendido. Quando alguém confessa as iniquidades de uma outra
pessoa, não quer dizer que esta pessoa está sendo redimida da sua culpa,
mas sim que as consequências e infl uências malignas produzidas sobre ela
mesma e a sua descendência estão sendo amenizadas ou canceladas.
Obviamente muitos pecados deixam sequelas irreversíveis.

Por isso é comum, quando uma ou várias pessoas de uma família se reúnem
para discernir e confessar os pecados e iniquidades da PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

linhagem, parentes que antes eram irredu� veis em relação ao evangelho


repenti namente são alcançados pela revelação do Espírito e se convertem.
A intercessão nesse molde é uma arma poderosa para promover a salvação
familiar. As ataduras e bloqueios espirituais, o manto de maldições e o
crédito de injusti ças acumulados pelas gerações são poderosamente
rompidos pela intercessão. A luz do Evangelho da glória de Deus
resplandece nos corações.

UM PROCESSO DE LIBERTAÇÃO NÃO É UM FIM EM SI MESMO

Libertação faz parte do que Paulo chama de “todo conselho de MARCOS


DE SOUZA BORGES

Deus” . A santi fi cação tem várias facetas, e a libertação é apenas uma


delas. Libertação não é tudo. É apenas o aspecto inicial da santi fi ca-

ção, que elimina as contaminações contraídas durante nossa escra-


vidão no Egito, lidando também com todo ti po de serviço formal ou

211

informal que prestamos aos demônios. Isso alarga o caminho para uma
vida crescente de fé e obediência. Porém, sempre que a liberta-

ção não leva a posições de obediência, o processo de ajuda torna-se


viciante e doenti o. A libertação que não leva à obediência é sempre 4 |
PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO

desastrosa, tornando-se incompleta e perigosamente reversível.

“Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne, pois


as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para
demolição de fortalezas; derribando raciocínios e toda alti vez que se ergue
contra o conhecimento de Deus, e levando cati vo todo pensamento à
obediência a Cristo; e estando prontos para vingar toda desobediência,
quando for cumprida a vossa obediência” (II Co 10:3-6).

A consumação de uma vida vitoriosa só se dá quando se constrói um


caráter de obediência em relação às áreas de derrota que sofreram um
processo de libertação. Esse é o auge da batalha P

espiritual onde consolidamos em nossa vida a vitória da cruz. Todo ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

processo de libertação que não responsabiliza a pessoa a reverter o ciclo


de desobediência não ati ngiu a plenitude bíblica que precisa ser ati ngida.
Não podemos ser ingênuos, resumindo o processo de libertação apenas em
uma longa oração de renúncias. O ápice do propósito de Deus na
libertação se dá através de uma postura de obediência!

O PROCESSO DE LIBERTAÇÃO É SUCEDIDO POR UM

PERÍODO DE PROVAS

Isto vem a complementar o entendimento do item anterior.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

Todo processo de libertação é sucedido por um tempo específi co de provas


em relação à área recuperada. Não podemos manter a libertação sem
enfrentarmos e sermos aprovados em provas nas quais

� nhamos uma história de fracassos. Pessoas provadas e aprovadas são


transformadas.

Não existe santi dade de caráter sem aprovação espiritual. É necessário


exercitarmos voluntariamente nossa escolha, optando pela santi dade de
Deus. O “revide demoníaco”, neste caso, não é apenas
212

uma tentação ou uma expressão da fúria maligna, mas, acima de qualquer


outra coisa, uma prova de Deus, que visa conduzir a pessoa a uma vida
espiritual estável e vigorosa.

É possível que venha uma luta sete vezes mais forte do que aquela a que
estamos acostumados. Jesus alertou sobre a possibilidade de o espírito
desalojado voltar com sete espíritos piores que ele para um ataque de
impacto contra nossas vidas em uma tentati va desesperada de recuperar o
território perdido. Ao resisti r a essa prova de impacto, pois muito maior é
o que está em nós do que o que está no mundo, a possibilidade de viver
uma liberdade total é cem por cento.

Jesus também alertou-nos que demônios, quando desalojados, 4 |


PROCESSO DA CRUCIFICAÇÃO
irão procurar descanso em lugares que lhe são convenientes. Ou seja, de
preferência, alguém da nossa família que lhes dê espaço. O

mais provável aqui é que eles estarão rondando nossa “casa” (no lit.

geração), de onde terão uma base estratégica para o contra-ataque.

É interessante e até notório que muitos de nós, ao nos conver-termos e


experimentarmos uma medida de libertação, passamos a ser fortemente
resisti dos e até mesmo afrontados por familiares. Por isso Jesus disse que
os nossos inimigos seriam os da própria família.

Na verdade, estaríamos sendo atacados pelos demônios que antes agiam


em nossa vida, só que agora através das pessoas a quem mais amamos, que
por alguma conveniência espiritual os abrigaram.

Essa, obviamente, não é uma prova fácil. Precisamos discernir a natureza


espiritual da batalha para não entrarmos no jogo do inimigo, PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

combatendo, não o bom, mas o mau combate da fé, lutando contra carne e
sangue. Agindo no espírito oposto, ou seja, não reagindo no mesmo espírito
da ofensa, começamos a conquistar nossa casa para Deus. Assim, a
libertação começa a ganhar uma expressão coleti va, tornando-se também
um trampolim para uma vida crescente de santi dade e autoridade.

N����:

1 Marcos de Souza Borges - Raízes da Depressão / Capítulo 3 -

MARCOS DE SOUZA BORGES

Falta de perdão e raiz de amargura

2John Dawson, “Reconciliação - Curando as Feridas das Nações”

- Editora Jocum Brasil.


5

A CRUZ DE CRISTO

Os pecados precisam do perdão da cruz.

As feridas precisam da restauração da cruz.

As maldições precisam da libertação da cruz.

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

As enfermidades precisam da cura da cruz.

As crenças irracionais precisam do conhecimento da cruz.


214

MARCOS DE SOUZA BORGES


215

A CRUZ DE CRISTO

A cruz é o aspecto central de onde emanam os princípios para a redenção


humana. Qualquer solução espiritual viável está de alguma forma
relacionada à essência do sacri� cio de Cristo:

• Os pecados precisam do perdão da cruz.

• As feridas precisam da restauração da cruz.

• As maldições precisam da libertação da cruz.

• As enfermidades precisam da cura da cruz.


• As crenças irracionais precisam do conhecimento da cruz.

Você pode ter um excelente diagnósti co, mas se o remédio (tratamento) for
inadequado, não haverá cura. Pastores, psicólogos, psiquiatras, ou
qualquer terapeuta que ignora o mecanismo espiritual de redenção
estabelecido pela cruz de Cristo, em não poucas situações, estarão fadados
à frustração.

A cruz não é o sofrimento ou o desconforto que outros nos causam, mas


reside na responsabilidade de negarmos a nós mesmos em prol de uma vida
reconciliada com a vontade de Deus. A essência da cruz não são as injusti
ças e difi culdades que sofremos na vida, mas, acima de tudo, como
reagimos internamente diante delas. Esse é o principal eixo para a cura e
desenvolvimento da alma humana.

A cruz de Cristo também traduz o único mecanismo viável de re-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

denção e resgate. Signifi ca tudo aquilo que Deus legalmente providen-ciou


para quitar todo crédito de injusti ças e iniquidades que avalizam as
sansões demoníacas que aprisionam o ser humano.

Antes da queda do homem, Adão e Eva gozavam de quatro privilégios


maravilhosos:

• Desfrutavam de uma comunhão ínti ma com o Criador e Pai.

• Trabalhavam em plena cooperação com Ele.


216

• Tinham suas orações respondidas.

• Gozavam da plena proteção de Deus.

Porém, depois da queda, todos esses privilégios foram perdidos.

Além do pecado fazer com que eles perdessem esses privilégios de uma vida
no paraíso, não apenas eles, mas posteriormente toda a sua raça ou
descendência também fi caram reféns de quatro consequências:

• Tornaram-se culpados de uma transgressão contra Deus.

• Morreram naquele mesmo dia, não fi sicamente, lógico, mas 5 | A CRUZ


DE CRISTO

espiritualmente.
• Todo o seu ser tornou-se corrup� vel, enfraquecível e maculado.

• Eles se tornaram cati vos, subjugados pelo pecado, pelo ego e,


consequentemente, por Satanás.

Assim sendo, a salvação deve atender a todas as necessidades do homem


caído. Portanto, o plano de salvação que Deus preparou na sua infi nita
sabedoria tem o objeti vo de atender a todas as necessidades do nosso
complexo ser.

A cruz é o plano perfeito de Deus, a única forma de Deus redimir o homem


sem deixar de cumprir sua própria lei; por isso, através da cruz, Jesus se
tornou o justo e justi fi cador de todo aquele que nele crê.

Só a cruz estabelece uma salvação consistente com a lei e o caráter de


Deus. Como Paulo diz: Isso é loucura para os que se perdem, todavia
PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

para nós os que cremos é o poder de Deus. Um paradoxo maravilhoso.

Atualmente, temos um ti po de evangelho moderno que oferece so-luções


apenas para os dois primeiros problemas: culpa e morte espiritual, mas, na
maioria dos casos, as pessoas conti nuam na mesma condição de
perversão, mais ou menos escravizadas pelo pecado e sofrendo as sansões
de Satanás. A salvação deve desfazer todas essas consequências e restaurar
ao homem todos os privilégios que ele perdeu.

OS TRÊS ASPECTOS DA CRUZ1

Naturalmente a cruz é uma só, mas não entendemos todo o MARCOS DE


SOUZA BORGES

seu signifi cado de uma só vez. Um dos grandes segredos de Paulo é que
ele aprendeu a colocar o “Jesus crucifi cado” como centro da sua
mensagem e vida. Ele pregava a Jesus Cristo, e este crucifi cado (I Co
217

5 | A CRUZ DE CRISTO

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA


2:2) porque ele era um Paulo crucifi cado (Gl 2:19). Todas as referências
da cruz feitas na Bíblia podem ser divididas em três categorias.
1. Jesus como nosso substituto

PASTOREAMENTO INTELIGENTE
“Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madei-ro, os nossos
pecados...” (I Pe 2:24).

Aponta para o fato que Jesus morreu em nosso lugar. Vida por vida, sangue
por sangue, sati sfazendo a justi ça de Deus que diz: “a alma que pecar
essa morrerá” . Jesus assumiu intercessoriamente a nossa condenação,
justi fi cando os nossos pecados e também nos
218

abençoando com toda sorte de bênçãos nas regiões celesti ais. Ele abriu
mão de ser o unigênito do Pai e pela sua morte e ressurreição se tornou o
primogênito dentre muitos irmãos, incluindo a raça humana na família de
Deus, redimindo os crentes e fazendo-os herdeiros de um Novo Testamento.

Esse primeiro aspecto da cruz relaciona-se com a salvação em seu ato


inicial. Diz respeito ao problema da culpa e da morte espiritual. A Bíblia
ensina claramente que todos os homens seguem o exemplo de Adão e caem
em pecado voluntariamente, tornando-se culpados. O

mandamento de Deus para sermos perdoados e justi fi cados em Cristo 5 |


A CRUZ DE CRISTO

é arrepender e crer. É a única possibilidade. É impossível alguém crer para


a salvação se antes não se arrepender. Essa é a lógica funcional da
consciência humana. O arrependimento não é uma lei arbitrária que Deus
impôs, mas o evidente fato de que não conseguimos crer que estamos
perdoados a menos que nos arrependamos genuinamente.

Deus fez a sua parte: “...Cristo morreu pelos nossos pecados...”(I Co


15:3), “... ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas
nossas iniquidades ...” (Is 53:5). A justi ça pública foi cumprida sati
sfatoriamente. Quando Jesus deu o seu últi mo suspiro na cruz, dizendo:
“está consumado!” Ele simplesmente fez tudo que era necessário ser feito
para que qualquer pessoa seja salva e readquira todos os privilégios
perdidos na queda de Adão.

Para recebermos a vida eterna, temos que receber a Cristo como Senhor e
Salvador. Está implícita aqui uma experiência sobrenatural PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

do “novo nascimento”. Porém, pouco depois, descobrimos que temos


outras necessidades além de perdão e a certeza da vida eterna. Há em nós
algo mais profundo, que precisa ser solucionado. E o segundo aspecto da
cruz diz respeito a essa ati tude de pecado, onde nos encontramos reféns
dos nossos desejos e senti mentos desgovernados.
2. Jesus como o nosso representante
“E os que são de Cristo Jesus crucifi caram a carne, com as suas paixões e
concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl
5:24,25).

MARCOS DE SOUZA BORGES

Ou seja, tudo que aconteceu com Jesus também precisa acontecer conosco.
Precisamos nos identi fi car com Jesus, na sua cru-
cifi cação, na sua morte, na sua ressurreição e na sua glorifi cação.

219

Lógico que isso é um processo para cada situação e área de nossas vidas.
Toda moti vação, desejos, senti mentos que, por obediência, crucifi camos
até a morte, identi fi cando-nos com a cruz de Cristo, vai ressurgir de forma
glorifi cada. Experimentaremos o melhor de Deus.

Assentaremo-nos nos lugares celesti ais com Ele, numa posição de 5 | A


CRUZ DE CRISTO

autoridade e descanso. Assim vivemos uma vida de fé em fé e de glória em


glória.

Nesse segundo aspecto da cruz lidamos com a questão da pecaminosidade,


fazendo referência ao que podemos chamar de raiz do pecado, ou seja, o
moti vo básico que inspira todos os atos que prati camos: a potencialidade
dos nossos desejos e senti mentos.

Esta é uma perspecti va mais profunda da cruz, ou seja, não foram somente
os nossos pecados - atos que prati camos - que Jesus levou à cruz; ele
também nos levou, o pecado junto com o pecador, ou seja, levou a nossa
pecaminosidade ou a tendência crônica de agradar ao nosso ego e sati
sfazer descontroladamente os nossos desejos. Esse aspecto da cruz nos
ensina a morrer, não para o desejo, mas para P

aquilo que é impróprio ou compulsivo, ou seja, que nos escraviza.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

O pecado nada mais é que um apelo às nossas emoções, desejos e senti


mentos de ultrapassarmos os limites estabelecidos por Deus. Para sermos
mais exatos, o conceito do pecado vem de uma questão interior.

Quem governa quem? Governamos os nossos desejos, senti mentos e


emoções, ou somos desgovernados por eles? É uma questão de domí-

nio próprio. A fonte de poder para exercer o autogoverno espiritual que


nos afasta do pecado reside no esti lo de vida demonstrado por Jesus de
negarmos a nós mesmos. É assim que tocamos a sua graça. Esse é o grande
segredo que nos leva a desfrutar de uma alma saudável e uma vida
espiritual vigorosa e cheia de conquistas em que se cumpre a afi rmati va
de Paulo: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós;
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6:14).

Experimentamos este segundo aspecto da cruz quando decidimos subjugar


nossos desejos e senti mentos ao governo do Es-pírito Santo. Este é um
signifi cado essencial da cruz que garante a qualidade de vida e comunhão
que podemos desfrutar em Cristo.
Depois de perdoados, agora nos tornamos livres do poder do pecado. É
quando resolvemos decididamente o confl ito entre andar na carne e viver
no Espírito.
220

Nós compreenderíamos melhor todas as experiências da vida cristã se


entendêssemos que elas possuem duas facetas. Elas são atos, mas também
são a aquisição de uma ati tude, ou seja, uma decisão e também um esti lo
de vida que acompanha essa decisão.

A entrega pessoal a Deus é um ato, mas também é algo que precisa ser
conservado. É necessária uma ati tude de entrega con� nua.

Quando uma pessoa não se encontra no plano espiritual em que deveria


estar é porque: ou ela desconhece a provisão de Deus, ou não se entregou
totalmente a Ele, ou por algum moti vo não confi a no Seu poder.

William Booth, fundador do Exército da Salvação, respondendo 5 | A CRUZ


DE CRISTO
sobre o segredo do seu sucesso disse: “Quando entreguei minha vida a
Deus, entreguei tudo. Deus já teve em suas mãos homens melhores que eu,
mas de mim Ele recebeu tudo.” Quando perguntaram a A. W.

Tozer: “O que signifi ca ser crucifi cado?” Ele respondeu: “Primeiramente


o crucifi cado não olha para trás. Em segundo lugar, ele não volta atrás.
Em terceiro lugar, ele não possui mais planos próprios para o futuro.”

Esses três aspectos da resposta de Tozer nos ajuda a defi nir a


profundidade da nossa vida espiritual, ou seja, até onde a cruz e o poder de
Deus têm penetrado na nossa alma. Só temos certeza de que desfrutamos
deste segundo aspecto da cruz se mantemos:

• Uma decisão irrevogável de não abandonarmos nosso compromisso e a


nossa esperança em Jesus.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

• Uma decisão irrevogável de jamais cedermos em relação às conquistas


espirituais já efetuadas.

• Uma ati tude con� nua de entrega e rendição ao Espírito Santo, sempre
que Ele nos convencer de algo.

Precisamos fazer essa entrega total a Deus; uma entrega tão completa e
incondicional, que a única palavra que a defi na seja a morte do eu, morte
do princípio de seguirmos nosso próprio caminho.
3. Jesus como nosso estilo de vida

MARCOS DE SOUZA BORGES


“Pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado,
não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (I Pe
2:23).
O terceiro aspecto da cruz é aquele em que Cristo é crucifi cado

221

em nós diariamente. O Cristo crucifi cado deve ter seguidores crucifi


cados. Isso não tem relação com o pecado, pois já aprendemos a morrer
para o pecado, mas sim com a vida que levaremos daqui por diante. O
verso que melhor descreve essa vida é este: 5 | A CRUZ DE CRISTO

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o


vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos
pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus”

(Rm 12:1,2).
Em Lucas 9:23, Jesus afi rma que devemos tomar nossa cruz diariamente e
segui-lo. Portanto, existe um viver diário dessa vida crucifi cada. Esse
terceiro aspecto da cruz possui várias fases. As cinco característi cas que
melhor descrevem essa experiência são: P

sacri� cio, quebrantamento, disciplina, intercessão, e um espírito de


ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

perdão. Esses valores, quando incorporados ao nosso esti lo de vida e aos


nossos relacionamentos, funcionam como um solo férti l de onde brotam as
mais profundas e poderosas revelações de Deus que têm a virtude de
renovar a mente e nos afi nar com a boa, perfeita e agradável vontade de
Deus.

Não adianta tentar disciplinar o velho homem (aquilo que éramos antes). É
o novo homem que precisa ser disciplinado. Para o velho homem, Deus só
tem um desti no: a cruz e o sepulcro. Agora precisamos parti cipar do
poder vivifi cador do Cristo ressurreto.

Outro modo de descrever o terceiro aspecto da Cruz é através do “espírito


do cordeiro imolado”. Nós não nos defendemos. Assimi-
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

lamos um esti lo de vida proati vo agindo com tolerância, compaixão e


sabedoria diante das adversidades e injusti ças da vida. Entendemos a
importância de conciliar renúncia com voluntariedade, servindo de bom
coração a Deus e ao nosso próximo.

Esse terceiro aspecto da cruz se aprofunda na mesma proporção que a


revelação de Deus aumenta. É um processo crescente que dura por toda a
nossa vida. Quanto mais revelações, mais ajustes, e assim caminhamos na
vereda do justo que é como a luz da aurora,
222

e vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. O segundo aspecto da cruz
enfoca o “velho homem”, o terceiro visa ao “novo homem”.

A cruz conti nuará a ser aplicada à nossa vida durante toda nossa
existência. E somente o Espírito Santo pode fazer isso; ninguém mais.

Ele cortará de nós coisas que talvez não sejam pecaminosas, mas que
precisam ser removidas para que possamos crescer. Ele aplicará a cruz à
nossa vida, tornando-a práti ca e pessoal para nós.

A CRUZ E O MINISTÉRIO DA LIBERTAÇÃO

5 | A CRUZ DE CRISTO

Não existe libertação sem a cruz. Não basta apenas orar e gritar repeti
damente que estamos quebrando determinada maldição em nome de Jesus.
As maldições e os demônios não irão desisti r por falarmos mais alto ou
mais baixo com eles. Não é pela estridência da voz ou pela insistência com
a qual repeti mos o mesmo comando.

Não funciona assim.

Todos conhecemos aquela história dos sete fi lhos de Ceva (At 19:13-17),
que foram expulsar os demônios das pessoas em nome do Jesus que era
pregado por Paulo. O que dá a entender é que eles não ti nham a
coerência, o relacionamento com a cruz (I Co 2:2), a legiti midade
espiritual que Paulo ti nha, e, ao invés de expulsar os demônios, foram os
demônios quem os expulsaram. Foram surrados e envergonhados diante de
todos. Esse episódio traz um dos mais poderosos sermões pregados na
Bíblia, feito, por incrível que pareça, PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

por um demônio: “Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço a


Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?” (At 19:15).

Todo ministério que se propõe a atuar na área de batalha espiritual que


não está centralizado na cruz de Cristo torna-se banal, desequilibrado e
inofensivo. Para lidar com qualquer quadro que seja de exploração
demoníaca, é necessária uma interação inteligente com os princípios
implícitos no sangue de Jesus. Nesse senti do, o sangue de Jesus é a arma
mais adequada e que deve ser usada antes do nome de Jesus.

Também não adianta apenas ameaçar ou tentar afastar os de-mônios com


frases como “o sangue de Jesus tem poder”. Não podemos usar o sangue
de Jesus como um amuleto religioso. O poder do MARCOS DE SOUZA
BORGES

sangue de Jesus depende do nosso relacionamento com os princípios perti


nentes à cruz de Cristo. Portanto, no serviço da libertação não é sábio usar
o nome de Jesus sem ter usado o sangue. Pode haver
uma superfi cialidade e até uma ilegiti midade nessa ação. O poder

223

do sangue manifesta seus efeitos quando acionado por uma ati tude
obediente e coerente de identi fi cação com a cruz de Cristo.

O engano do triunfalismo - as orações mágicas O Evangelho triunfalista


se baseia em pregações e orações que 5 | A CRUZ DE CRISTO

oferecem irresponsavelmente soluções e bene� cios que ignoram as


expectati vas bíblicas. É querer de forma gratuita e imediata coisas que
demandam um preço de obediência e perseverança. É o evangelho barato,
do bônus sem ônus. O triunfalismo é acreditar na promessa sem estar
comprometi do com os respecti vos valores inerentes a essas promessas. É
um ti po de fé cega, sem fi delidade, supersti ciosa. Este é o modelo da
indisciplina espiritual, do anti discipulado, da vontade adulada.
Já falamos sobre isso, mas acho importante reforçar. Não quero ti rar o
valor da oração da fé ou do próprio nome de Jesus, o qual foi estabelecido
sobre todo o nome. Na grande maioria das vezes, a libertação envolve um
processo que precisa ser correspondido com quebrantamento, coerência e
responsabilidade. O verdadeiro caráter P

da libertação é a santi fi cação, onde lidamos essencialmente com as ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

impurezas, o lixo da alma. A libertação sem santi fi cação é contradição.

Aqui entra o poder da cruz. O Espírito Santo só penetra nas nossas vidas
até a mesma profundidade que a cruz chegou.

Libertação não é simplesmente o resultado de uma oração mágica que


produz uma solução fácil. Isso é ilusão e apenas nutre ainda mais a
irresponsabilidade espiritual de pessoas acomodadas. Daqui nasce o
hipocondrismo evangélico que transforma a Igreja em uma prisão, onde
tantos se encontram escravos das fi las de oração e exorcismo.

Muitos têm se tornado escravos do “ministério da libertação”.

A cada dia o mesmo demônio é expulso. Acabam virando objeto de show na


igreja. Não se deve expulsar irresponsavelmente os demô-

PASTOREAMENTO INTELIGENTE

nios de uma pessoa, sem identi fi car e tratar as respecti vas causas dessa
exploração. Na maioria das vezes isso só produz estresse. A pessoa precisa
ser adequadamente confrontada em relação a pecados vigentes e estruturas
de passividade em sua vida que funcionam como passe livre para os
demônios.

Muitos vão a um libertador interpretando-o como um “pai-de-santo


evangélico”. Obviamente que o libertador não é um super-homem
espiritual, com superpoderes espirituais. Ele apenas ajuda
224

as pessoas a se posicionarem de forma coerente com o Evangelho,


aplicando os princípios certos que produzem os resultados esperados.

Muito cuidado com as soluções instantâneas. As pessoas querem as coisas


de forma rápida e fácil. Essa mentalidade de um evangelho descentralizado
da cruz não funciona no reino espiritual. Poucos entendem que pagar o
preço é necessário para não cair no engano de uma graça barata. Quem
não quer pagar o preço também não vale muita coisa espiritualmente.

Fala-se demais em prosperar e de menos em perseverar; fala-se muito em


receber e pouco em obedecer. Daqui surgem pessoas 5 | A CRUZ DE
CRISTO

dependentes e parasitas, predispostas a um processo de desilusão.


Ilusão e desilusão são causa e efeito. É só uma questão de tempo para que
a impaciência do egoísmo se transforme em pura decep-

ção e amargura. Esse é o grande dilema de uma vida divorciada da


responsabilidade de negar a si mesmo.

Outro fator é que muitas pessoas que vieram da feiti çaria adqui-rem uma
mentalidade perigosa. Elas se acostumaram a manipular e a controlar
pessoas, situações, favores e lucros egoisti camente. É só fazer um ritual e
as coisas vêm de mão beijada. Esse foi o atalho que Satanás propôs a Jesus
depois de lhe mostrar os reinos do mundo:

“Tudo isso te darei se prostrado me adorares” .

O reino de Deus não tolera esse ti po de facilidade e ociosidade da alma.


Muitas vezes será necessário resisti r, lutar, esforçar-se, renunciar, perdoar,
perseverar, humilhar-se, confessar e até mesmo se expor. Há um PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

preço de cruz no qual o maior inimigo a ser vencido somos nós mesmos.

O perigo da libertação sem sangue

• O primeiro erro da libertação “sem sangue”, ou sem a cruz, é que se


ataca os sintomas de maldição negligenciando a busca pelas causas. Há
uma ênfase exagerada em demônios e enfermidades. Já vimos que é
impossível eliminar consistentemente os sintomas sem resolver as respecti
vas causas. Tudo se resume num sai-sai e quebra-quebra sem fi m. Estes
comandos podem até produzir um efeito momentâneo, porém a situação
espiritual sofrerá pouca ou nenhuma MARCOS DE SOUZA BORGES

alteração enquanto as verdadeiras brechas não forem fechadas.

Outro dia estava vendo uma criança se diverti r com seu gato de esti
mação. Com uma pequena lanterna, aquele garoto projetava um
foco de luz na parede que era freneti camente perseguido pelo gato.

225

Por mais que o animal usasse toda sua agilidade não podia agarrar aquele
ponto de luz, por ser apenas uma projeção, uma imagem abstrata. Muitos
estão tentando agarrar o foco de luz, ao invés de desligar a lanterna.
Libertação lida com a lanterna, e não com a imagem projetada. Pela luz
(sintomas), podemos encontrar a lanterna 5 | A CRUZ DE CRISTO

(fonte causadora da luz) e simplesmente desligá-la.

Como não ministrar uma libertação? Simplesmente quebrando, amarrando,


expulsando demônios e maldições em nome de Jesus.

Isto seria apenas tentar agarrar o foco da lanterna. É como dar uma
aspirina para resolver uma grave infecção. O máximo que pode conseguir é
diminuir temporariamente a febre da pessoa. Daqui a pouco a situação
toda volta. A Bíblia é muito simples e clara: “Como o pássaro no seu
vaguear, como a andorinha no seu voar, assim a maldição sem causa não
encontra pouso” (Pv 26:2).

Maldições e demônios nunca se instalam sem um “lugar de pouso.” Sempre


existe uma razão. Focalizar em fi car apenas expulsando demônios é como
“enxotar as andorinhas”. É momentâneo.

Elas voam e, depois de um vaguear, voltam e pousam novamente no ARTE


II - ANALISANDO O DIAGRAMA

mesmo lugar. Este é o ministério do “sai-sai”, que se resume em fi car


enxotando os demônios cada vez que eles voltam. Uma libertação genuína
consiste em destruir o lugar de pouso. Os demônios não voltam mais
porque perderam o lugar.

• Outro erro da libertação sem sangue reside em focalizar a libertação


apenas na “revelação”, ignorando a necessidade de elucidar e crucifi car
as causas da maldição.

Lembro-me do ministério de um pastor que adivinhava onde estavam


escondidos trabalhos de feiti çaria, patuás, etc. Ele ti nha revelações
assustadoras na área de libertação e orava pelas pessoas, deixando-as
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

realmente impressionadas. Porém, nunca se falava em arrependimento,


confi ssão de pecados, resti tuição, santi dade, etc. Na verdade, a tônica
maior eram as ofertas. É muito complicado julgar cada uma destas
revelações e também avaliar a verdadeira moti vação das pessoas, mas,
depois de um certo tempo, veio à luz que a vida moral desse pastor estava
seriamente comprometi da, envolvendo vários casos de adultério.

Um outro grupo fazia vigílias de batalha espiritual no monte, onde lutavam


corporalmente com demônios. Também não havia
226

o ensino e nem a práti ca das armas da cruz. Esse ti po de “batalha


espiritual” está mais para espiriti smo do que cristi anismo. Parece não ter
muita diferença entre o pastor e o pai de santo. Como já ensinamos, essas
pessoas estão tendo um acesso ilícito ao mundo espiritual regido pelos
demônios, fazendo “batalha espiritual” inspiradas por dons espíritas,
recebidos hereditariamente, ou através de pactos realizados antes da
salvação, ou ainda pela imposição de mãos impuras do líder em questão.

Infelizmente, esses ministros, bem como as pessoas que eles ministram


acabam envolvidos em sérias confusões e perturbações 5 | A CRUZ DE
CRISTO

espirituais. Muitos se desiludem e acabam deixando a igreja em uma


situação ainda pior da que eles entraram.
Vivemos uma época de muito misti cismo e feiti çaria. Muitas dessas
pessoas, quando se convertem, já se inti tulam líderes, pastores,
missionários e querem ministrar as pessoas. Como ainda não foram sufi
cientemente purifi cadas, ao impor as mãos e ministrar a outros, transferem
suas impurezas, causando mais problema que solução.

Conclusão

Toda autoridade demoníaca se fundamenta na transgressão humana em


relação aos mandamentos de Deus. Atuando no ministério de libertação,
não apenas entendemos o poder destruti vo do pecado, como também
aprendemos a aborrecê-lo, evitá-lo e confessá-lo pessoalmente e
intercessoriamente. A verdadeira libertação é sempre PARTE II -
ANALISANDO O DIAGRAMA

inspirada pelo temor de Deus que glorifi ca a cruz de Cristo.

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para


nós, que somos salvos, poder de Deus”

(I Co 1:18).

MARCOS DE SOUZA BORGES

N���:

1Os Três aspectos da Cruz é uma abordagem elaborada por T. A.

Hegre, fundador da Missão Betânia, em seu curso “Vida Vitoriosa”.


6

PROCESSO DA AVALIAÇÃO

Por que algumas pessoas

não são libertas?

1. Falta com a verdade:


Menti ras abertas / Verdades escondidas 2. Falta de arrependimento

3. Falta de reação (indolência espiritual) 4. Moti vos errados ou fúteis


5. Pessoas centradas em si mesmas

PASTOREAMENTO INTELIGENTE
(desejo de atenção)
6. Fracasso em romper com o oculti smo
7. Fracasso em romper com relacionamentos manipuladores e egoístas

8. Falta de se desprender da maldição

9. Problemas de origem natural ou orgânica 10. Quando a questão não é


libertação, mas reeducação
228

MARCOS DE SOUZA BORGES


229

PROCESSO DA AVALIAÇÃO

Após crucifi car as supostas causas de maldição que foram diagnosti cadas
no processo de libertação, precisamos avaliar os resultados obti dos em
relação aos sintomas iniciais apresentados.

A avaliação é o processo de comparar e conferir os sintomas apresentados


antes e depois de uma libertação com a fi nalidade de aperfeiçoar o
resultado. Uma libertação só pode ser considerada bem-sucedida quando
os sintomas iniciais que qualifi cavam o quadro de maldição são
eliminados ou drasti camente amenizados. Sendo assim, deve-se investi r na
sustentabilidade da situação.
Caso os sintomas iniciais tenham permanecido inalterados, provavelmente
houve uma falha no processo de mapeamento, ou no processo de crucifi
cação das causas, ou ainda em ambos. É necessá-

rio conti nuar cavando nestes terrenos até que a carga de libertação seja
sufi cientemente esgotada. A precariedade de resultados pode envolver
situações diversas. Isso nos leva a tentar resolver esta pergunta que pode se
tornar intrigante em várias situações: Por que algumas pessoas não são
libertas? Vamos estudar alguns fatores mais comuns, que possivelmente
estejam impedindo uma pessoa de receber libertação.

POR QUE ALGUMAS PESSOAS NÃO SÃO LIBERTAS?

1. Falta com a verdade: Mentiras abertas PASTOREAMENTO


INTELIGENTE

e verdades escondidas

O princípio mais básico para uma libertação bem-sucedida é expor toda a


verdade: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8:32).
Qualquer distorção, sonegação, dissimulação da verdade compromete todo
o processo. Supõe-se que quando uma pessoa busca libertação ela esteja
disposta a se sujeitar à verdade, mas, na práti ca, nem sempre é isso o que
ocorre.
230

Existem pessoas que mentem na libertação e outras que sonegam verdades


fundamentais. Obviamente que em ambas estas situações a pessoa fracassa
em superar a vergonha que sente e opta por fi car na defensiva em relação
à reputação. Por trás de toda menti ra existem rígidas estruturas de
orgulho que abrigam e sustentam uma situação crônica de perseguição e
aprisionamento espiritual.

A libertação está plenamente condicionada à nossa lealdade à verdade:


“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fi el e justo para nos perdoar os
pecados, e nos purifi car de toda a injusti ça” (I Jo 1:9). Normalmente,
quando uma pessoa busca libertação espiritual, 6 | PROCESSO DA
AVALIAÇÃO

sempre existi rão situações pecaminosas a serem expostas e tratadas.


Quanto mais di� cil um pecado é de se confessar, tanto mais forte ele
impõe um aprisionamento espiritual. Essas resistências mentais funcionam
como bases internas para a exploração maligna na vida da pessoa.

Deus não exige que tenhamos que confessar todos os pecados que
cometemos em toda nossa existência. Seria como estourar um travesseiro
de penas e catar cada uma delas. Porém, muitas vezes, um determinado
pecado ou abuso foi a porta por onde se desencadeou um processo de
derrota nas nossas vidas. E até que isto seja reconhecido e confessado, todo
processo fi ca travado.

A pessoa pode passar por dezenas de libertações com os melhores


conselheiros e libertadores, porém, enquanto não disser toda a verdade que
precisa ser dita jamais será livre.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA


2. Falta de arrependimento
Este texto expressa uma lei que não falha: “O que encobre as suas
transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e dei-

xa, alcançará misericórdia” (Pv 28:13). Depois da confi ssão, o passo


fundamental é o arrependimento, ou seja, após confessarmos precisamos
deixar o pecado. Quando resolvemos fi rmemente deixar a práti ca do
pecado, imediatamente tocamos a misericórdia de Deus.

Muitas pessoas querem libertação para se verem livres das consequências


desconfortáveis da opressão demoníaca. Mas esta MARCOS DE SOUZA
BORGES

não é uma razão sufi ciente. Não podemos desfrutar de uma genuí-

na liberdade espiritual sem abandonar as práti cas que sustentam a


maldição. A bênção de Deus está vinculada aos seus mandamentos.
Se a pessoa não ti ver a disposição de se ajustar ao caráter de

231

Deus sofrendo as mudanças necessárias, a libertação se tornará in-


sustentável. Todo avanço temporariamente conquistado na libertação
acaba se desmoronando, deixando a situação ainda mais desgastada.

É aí que normalmente o segundo estado da pessoa pode se tornar 6 |


PROCESSO DA AVALIAÇÃO

ainda pior que o primeiro.

3. Falta de reação – indolência espiritual Este é um dos princípios mais


relevantes de batalha espiritual:

“Se te mostrares frouxo no dia da angústi a, a tua força será pequena”


(Pv 24:10). Um processo de libertação demanda esforço emocional,
musculatura, fi bra moral. Existem momentos que temos que empreender
toda a nossa energia e assim vamos facilmente sobrepujar o dia da angústi
a.

Quando estamos buscando libertação precisamos compreender a nossa real


situação. Estamos atados por um inimigo cruel que implacavelmente quer
nos destruir. É vital reagir compreendendo P

a sufi ciência do sacri� cio de Jesus e a imensa vantagem que isso ARTE
II - ANALISANDO O DIAGRAMA

nos outorga. Porém, toda pessoa que se submete a uma libertação precisa
entender que está numa luta, e que essa luta pode ser temporariamente
intensa.

A pessoa que apresenta uma postura indolente e passiva, além de


comprometer os resultados da libertação, entrega de bandeja para o
inimigo o controle da situação. Vale mencionar os dois moti vos principais
pelos quais um processo de libertação vai se prolongando além do
necessário, inclusive sendo caracterizado por manifestações demoníacas
que, na verdade, não deveriam acontecer na vida do crente:

• Portas de carnalidade, ou seja, a pessoa está na práti ca vigen-


PASTOREAMENTO INTELIGENTE

te, e até mesmo compulsiva, de algum pecado, que normalmente está sendo
ocultado. Este ti po de situação acaba transformando o processo de
libertação em uma longa e desgastante situação onde os demônios fi cam
saindo e entrando da pessoa, estressando o processo. São aquelas
libertações extremamente dolorosas para a própria pessoa.

Se não houver o discernimento para uma confrontação especí-

fi ca em relação a essa práti ca pecaminosa, a libertação não tem fi m,


232

vira um beco sem saída, onde os demônios fazem o show. É comum vermos
libertadores inexperientes que fi cam horas e horas lidando com esse ti po
de situação, quase sempre sem resultado nenhum.

• Portas de passividade. A pessoa não reage. Tem a vontade fraca,


subserviente aos senti mentos, e a mente suscep� vel à inti midação e
autocondenação. Não toma a posição que deveria tomar em Cristo.

Normalmente, isso também está respaldado por um relacionamento fraco e


superfi cial com Deus.

Poucas igrejas hoje dão a devida ênfase a uma vida devocional 6 |


PROCESSO DA AVALIAÇÃO

diária de relacionamento com a palavra de Deus e à oração. Uma vida


secreta de relacionamento com o Pai é o grande segredo para uma vida
espiritual diferenciada. A maioria dos modelos de igreja multi plicam
pessoas dependentes espiritualmente, seja de líderes, de reuniões,
programas, etc. Esse é um erro na infraestrutura de muitas visões
ministeriais, até mesmo dos seminários teológicos. É

por isso que tanta gente se acomoda a uma vida espiritual passiva,
dependente, irrelevante, egoísta e até mesmo mundana.

Vivemos na era do relaxamento. É a cultura do não-sofrimento e do


hedonismo. Muitas religiões e terapias têm ensinado às pessoas a relaxar e
não a lutar. Muitos psiquiatras, da mesma forma, não esti mulam como
deviam uma reação, mas simplesmente é mais cômodo para a pessoa se
dopar com um medicamento que vai apenas aliviar momentaneamente os
indesejáveis efeitos colaterais do PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

problema, porém sem afetar suas raízes. O eixo para a cura da alma reside
no poder de ração, na iniciati va de mudar o que precisa e pode ser
mudado com a graça de Deus. É vital reagir perseverantemente, fazendo os
ajustes necessários ao esti lo de vida.

Pessoas que se envolveram com as inúmeras técnicas, religiões, ciências e


exercícios da Nova Era têm uma forte tendência à indolência espiritual.
Certamente, essas pessoas precisarão de um exercício de piedade maior
para refortalecer a vontade.

Por mais vulneráveis que estejamos, o poder de Deus tem a incrível


capacidade de se aperfeiçoar exatamente na nossa fraqueza.

Não podemos deixar a inti midação entrar. É necessário reagir, resisti r,


MARCOS DE SOUZA BORGES

posicionar, clamar. Quando a nossa vontade se alinha com a vontade de


Deus experimentamos o poder sobrenatural da fé libertadora.

Caso contrário, a situação de cati veiro prevalece e permanece.


4. Motivos errados ou fúteis

233

Deus tem prazer quando recorremos a Ele buscando a sua ajuda e


restauração; mas se existe algo que Deus leva em conta são as nossas moti
vações. Tiago deixa isso bem claro: “Pedis, e não recebeis, porque 6 |
PROCESSO DA AVALIAÇÃO

pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tg 4:3). Normalmente, o


nosso maior problema não está na falta de libertação, mas exatamente
nessas moti vações fúteis, desviadas do propósito divino.

A despeito do nosso sofrimento e desconforto espiritual, Deus não vai


deixar de tratar profundamente com o que precisa ser tratado.

Deus não tem medo de dizer NÃO! Ele não tem medo de como vamos reagir
quando Ele se opuser aos nossos moti vos corrompidos e não responder às
nossas orações tortuosas. Ele não se deixa manipular pelos nossos
chiliques espirituais e jamais irá respaldar os nossos moti vos obsti nados,
amargurados, rebeldes e malignos.

Deus oferece liberdade para aqueles que irão promover o Seu propósito;
não para aqueles que querem conti nuar em uma vida confortavelmente
egoísta, fúti l e sem signifi cado eterno. Nossas P

moti vações precisam estar sintonizadas aos valores do Evangelho.

ARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

Quando existem intenções corrompidas ou estranhas ao Espírito de Deus, a


libertação da pessoa fi ca comprometi da.

5. Pessoas centradas em si mesmas – concupiscência de atenção

Algumas pessoas sempre se sentem ignoradas e não importantes.

Elas querem estar no centro, mas a vida de alguma forma sempre as coloca
de escanteio, às margens. Elas sentem que ninguém se importa com elas.
Uma possível razão é que são oprimidas e suprimidas por de-mônios. No
fundo, esse desejo crônico de atenção é uma idolatria em
PASTOREAMENTO INTELIGENTE

relação ao défi cit emocional, um culto às rejeições sofridas. Porém, essa


autocomiseração destrói o poder da libertação.

Quando essas pessoas buscam libertação, de repente percebem que estão


no centro das atenções e gostam disso. E depois de receberem alguma
medida de libertação, retrocedem porque julgam que as pessoas já não
estão dando a mesma atenção que teve no início.

Começam a prolongar o problema como se houvesse mais coisas para


serem ministradas, mas no fundo o que querem não é
234

libertação; é atenção! Quando um conselheiro já não dá a tenção que ela


exige, ela procura outro. Este sintoma de concupiscência de aceitação pode
ser diagnosti cado quando a libertação começa a se prolongar indefi
nidamente. Todo aconselhamento exige um começo e um fi m, onde depois
de ajudada, a pessoa prossegue andando responsavelmente com as
próprias pernas.

O objeti vo de um conselheiro é alavancar a pessoa da dependência


emocional para a interdependência. O conselheiro jamais pode permiti r
que a pessoa aconselhada transfi ra as suas responsabilidades para ele.
Aqui entra o grande risco da codependência. O conselheiro 6 | PROCESSO
DA AVALIAÇÃO

imaturo se sente valorizado com a ati tude crônica de dependência do


aconselhado e o aconselhado carente se sente amado pelo conselheiro
condescendente. Ao invés de fazer um discípulo, a pessoa acaba fazendo
um parasita.

Esse espírito de carência e manipulação precisa ser crucifi cado; caso


contrário, a pessoa conti nua suscep� vel à exploração demoníaca. A
codependência pode fazer com que um aconselhamento se prolongue indefi
nidamente sem trazer quase nenhum bene� cio real. Isso pode ocorrer no
discipulado, no aconselhamento pastoral, no acompanhamento psicológico
e psiquiátrico, onde a ênfase é a dependência no terapeuta, na terapia, no
medicamento, etc.

Outro alerta é que esta é uma das principais estratégias do inimigo devorar
o precioso tempo dos conselheiros, a qual eles devem estar atentos. Como
Paulo disse: “Que aprendem sempre, e nunca PARTE II - ANALISANDO O
DIAGRAMA

podem chegar ao conhecimento da verdade” (II Tm 3:7). O princípio mais


elevado para produzir maturidade é a emancipação. Uma das principais
maneiras de ajudar alguém no aconselhamento é não tolerar a
dependência, estabelecendo como propósito essencial do aconselhamento
investi r na emancipação emocional, moral, espiritual, etc. em relação à
pessoa aconselhada.
6. Fracasso em romper com o ocultismo
Na práti ca, nem sempre é uma coisa simples alguém que foi envolvido com
oculti smo romper com isso completamente. Vivemos MARCOS DE SOUZA
BORGES

um reavivamento da bruxaria, feiti çaria e vampirismo. Os relatos das


pessoas que se envolveram no oculti smo são cada vez mais assombrosos.
Satanás sabe como criar uma série de situações para
ancorar espiritualmente a vida de uma pessoa que se colocou em

235

uma posição subserviente a ele. Muitos envolvimentos compromete-dores


são roubados da memória pelo próprio inimigo. Muitos pactos acontecem
sem a pessoa perceber, ou até mesmo em situações de transe e
endemoninhamento. Alguns casos o processo demanda uma 6 | PROCESSO
DA AVALIAÇÃO

intervenção sobrenatural de Deus.

Como já mencionamos, o oculti smo também vicia a pessoa no poder.


Muitos suti lmente são encantados pelo sobrenatural e acabam abrindo
uma fenda para o inimigo agir. A fascinação pela espiritualidade pode
facilmente sustentar a exploração demoníaca na vida da pessoa,
comprometendo a sua libertação.
7. Fracasso em romper com relacionamentos manipuladores e egoístas

Isto é muito comum quando se criou uma forte ligação de alma através de
relacionamentos sexuais ilícitos ou perverti dos. Muitos desses
relacionamentos envolvendo namoro com fornicação, homos-P

sexualismo, lesbianismo, etc. tornam-se essencialmente doenti os, ARTE II -


ANALISANDO O DIAGRAMA

representando um foco intenso de exploração demoníaca. A principal


característi ca de um relacionamento doenti o nesse senti do é a
dependência emocional, onde a pessoa permanece vulnerável a aceitar
uma situação abusiva ou imoral.

Algumas vezes não é fácil para uma pessoa se libertar de uma pressão
egoísta ou de alguém que a quer manipular. Por mais que alguns
relacionamentos sejam escandalosamente abusivos, a pessoa vai se
conformando e alguns chegam a desenvolver uma falsa culpa quando
precisam estabelecer limites em relação a um namorado ciumento, um
cônjuge violento, um líder controlador, um amigo possessivo, uma mãe
dependente (viúva ou divorciada) que se sente PASTOREAMENTO
INTELIGENTE

ameaçada quando o fi lho adulto resolve se casar, etc.

Não importa quão próximos são esses relacionamentos; sua completa


libertação não virá até que você se desprenda do controle e da
manipulação que essa pessoa está exercendo sobre a sua vida. Será
necessário fi rmeza e sabedoria. Com certeza não é fácil o processo para
ajustar esses relacionamentos, mas isto será essencial para uma libertação
total.

Algumas vezes será necessária uma conversa corajosa, bem aberta, lidando
com essas estruturas de insegurança, rejeição e traumas,
236

restabelecendo o respeito e o espaço individual que fi cou asfi xiado.

Em alguns casos é necessário romper e se afastar completamente, e deixar


que Deus restabeleça esse relacionamento no tempo dEle e nos termos
dEle.

8. Falta de se desprender totalmente da maldição Lidar com a maldição


envolve um bom discernimento espiritual da nossa história, das nossas
semeaduras e também um esti lo de vida de intercessão, principalmente em
relação aos nossos familiares, co-6 | PROCESSO DA AVALIAÇÃO

bertura ministerial, governamental que persistem em uma condição


pecaminosa. Existem vários indicadores comuns que denunciam uma
maldição sobre alguém. Se você reconhece essas forças infl uenciando você
de maneira opressora e anormal, reconheça isso como um chamado à
intercessão.
Podem haver também informações importantes que sinteti zam genuínas
cargas de intercessão que ainda precisam ser descobertas e crucifi cadas.
Muitos casos de libertação pessoal estão ligados com a história familiar.
Será necessária uma postura vigilante de avaliar os sintomas de maldição
que persistem, mapeando episódios de injusti ça e iniquidades repeti ti vas
correspondentes. Isto pode ser um processo razoavelmente prolongado.
Porém, se perseverarmos no exercício desse ti po de sacerdócio, será só
uma questão de tempo e vamos experimentar um rompimento espiritual
sobre a nossa vida PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

e a vida dos nossos familiares.

9. Quando o problema é de origem natural ou orgânica Nem toda


desordem psicoemocional tem um caráter ou um componente espiritual. Em
alguns casos é muito importante enca-minhar a pessoa para um médico ou
especialista. Lógico que alguns problemas têm um caráter refl exivo, ou
seja, apesar do sintoma se manifestar psicossomati camente, a origem está
ancorada em uma desordem espiritual; mas existem situações em que a
questão é totalmente fi siológica e se a pessoa não buscar ajuda e
tratamento MARCOS DE SOUZA BORGES

adequados não há libertação que chegue.

É lógico que Deus pode curar qualquer ti po de doença ou desordem


orgânica, e por isso não custa nada orar nessa direção.
10. Quando a questão não é libertação, mas reeducação

237

Muitas pessoas, principalmente aquelas que já estão escoladas em passar


por libertação, ainda estão esperando certos resultados na sua vida que
não estão atrelados à libertação, mas à vital necessidade 6 | PROCESSO
DA AVALIAÇÃO

de uma reeducação. A libertação desacompanhada da reeducação pode


produzir um perigoso retrocesso, onde a pessoa acaba fi cando pior que
antes.

A libertação solta a pessoa, mas não desenvolve o que fi cou atrofi ado.
Para isso é necessária a reeducação, seja a nivel de identi dade,
sexualidade, caráter, vontade, gerenciamento fi nanceiro, etc.
Muita gente resume todo o processo da restauração da alma em algumas
horas de libertação, como se isso fosse tudo. Essa perspecti va incorreta é
altamente frustrante. É necessário entender que todo processo de
libertação precisa ser manti do e correspondido com uma ati tude de
reeducação, o que infalivelmente produz caráter e sustentabilidade.

PARTE II - ANALISANDO O DIAGRAMA

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Este livro foi composto e impresso pela Editora Jocum Brasil, na fonte
Calibri, em papel Off Set 70 g/m2.

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