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Texto da aula Aulas do curso

Terapia das Doenças Espirituais

A soberba
É a "rainha de todos os vícios" o tema desta aula de nosso curso de Terapia das
Doenças Espirituais. Por ela caiu Lúcifer e caíram Adão e Eva. Nela ainda, correm o
risco de cair até as pessoas que venceram os seus pecados mais grosseiros e
começaram a ter uma vida espiritual.

Conheça o perigo da soberba, saiba quais são as espécies deste pecado e descubra
quais as virtudes necessárias para combatê-lo.

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Os Padres do Oriente incluem a soberba no rol dos pecados capitais, os


quais acabam totalizando o número de oito [1]. Em sintonia com o Autor
Sagrado, todavia, para quem "a soberba é o início de todo pecado" (Eclo
10, 15), São Gregório Magno situa a superbia acima dos outros sete
pecados, chamando-a de "rainha dos vícios" [2].

Santo Tomás de Aquino, em concordância com esse raciocínio, explica


[3] que é possível tomar essa palavra em três acepções:

1. Na primeira, como um "apetite desordenado da própria


excelência" (inordinatum appetitum propriae excellentiae) – a
qual se chama também de amor próprio ou filáucia;
2. Na segunda, como um "certo desprezo atual de Deus"
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(quendam actualem contemptum Dei), quanto ao seu efeito, que é
não submeter-se aos Seus mandamentos;

3. Na terceira, como uma "certa inclinação a esse mesmo


desprezo" (quendam inclinationem ad huiusmodi contemptum),
que vem da corrupção da natureza humana, pelo pecado original.

Em todos esses sentidos, a soberba é considerada a raiz de todos os


vícios.

Trata-se, também, por sua natureza espiritual, de um tipo


particularmente grave de pecado. Para entendê-lo, é preciso conhecer a
distinção que existe, quanto ao tipo de prazer que se busca, entre
pecados carnais e pecados espirituais [4]: enquanto os primeiros
consistem em deleites carnais – como a ira, a tristeza, a avareza, a gula
e a luxúria –, os segundos dizem respeito ao espírito – e dessa espécie
são a soberba e a inveja. Considerada simplesmente a diferença entre o
espírito e a carne, explica o Doutor Angélico, esses pecados são mais
graves que os outros, por três razões:

1. Da parte do sujeito (ex parte subiecti): "Enquanto os pecados


espirituais pertencem ao espírito – ao qual é próprio tanto o
converter-se a Deus quanto o afastar-se d'Ele –, os pecados
carnais são consumados no deleite do apetite carnal – ao qual é
próprio principalmente o converter-se ao bem corporal. Assim,
pois, como o pecado carnal tem mais de 'conversão', razão pela
qual é maior a sua adesão, o pecado espiritual tem mais de
'aversão', da qual procede a razão da culpa. Em si mesmo,
portanto, implica maior culpa o pecado espiritual."
2. Da parte daquele contra quem se peca (ex parte eius in quem
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peccatur): "Enquanto tal, o pecado carnal vai contra o próprio
corpo. Este deve ser amado, segundo a ordem da caridade,
menos que a Deus e ao próximo, contra quem vão os pecados
espirituais. Por isso, em si mesmos, os pecados espirituais
implicam maior culpa."

3. Da parte do motivo (ex parte motivi). "Porque quanto maior é o


impulso a pecar, tanto menos o homem peca. Ora, os pecados
carnais procedem de um impulso mais veemente, que é a própria
concupiscência da carne, inata em nós. Por isso, em si mesmos,
os pecados espirituais implicam maior culpa." [5]

Os anjos, como seres puramente espirituais que são, podem cometer tão
somente essa espécie de pecado [6] – e efetivamente o fizeram:
primeiro, quando quiseram ser como Deus, pecando por soberba; depois,
quando seduziram o homem a fazer o mesmo, pecando por inveja.

É preciso entender que, quando cederam à tentação de Lúcifer, Adão e


Eva pecaram por um "apetite desordenado da própria excelência". Isso
significa dizer que há uma vontade ordenada da própria excelência.
Trata-se da importante virtude da magnanimidade. Não há problema em
que as criaturas aspirem à perfeição, em que os homens queiram ser
semelhantes a Deus. Do contrário, as exortações do Autor Sagrado à
santidade de vida não teriam sentido algum (cf. Lv 11, 44; Mt 5, 48). O mal
está em querer ser como Deus por usurpação, e não por graça; em querer
tomar à força aquilo que deve ser recebido como um dom gratuito do
Criador [7].
Ao lado desse desejo de perfeição, desse saudável anseio pelas coisas do
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alto, deve estar a virtude oposta à soberba, que é a humildade. Como
ensina Santa Teresa, a humildade consiste em "andar na verdade" [8],
cultivando o conhecimento da própria baixeza e reconhecendo a
condição de pecado e de afastamento de Deus em que se vive. À medida
que se cresce nessa virtude, é crescente também a virtude da
magnanimidade. Como no organismo humano normal, em que os órgãos
e membros do corpo crescem todos juntos, no organismo sobrenatural
as virtudes não aumentam sozinhas: quem é humilde não deixa de
aspirar à grandeza; quem se reconhece miserável diante de Deus é, ao
mesmo tempo, magnânimo. Com essas duas virtudes, cresce na criatura
a consciência de sua total dependência em relação a Deus. Não se pode
chegar à semelhança com Ele sem que Ele mesmo venha em auxílio do
homem com a Sua graça.

Cabe assinalar ainda as quatro espécies de soberba convenientemente


elencadas por São Gregório Magno (e ratificadas por Santo Tomás, em S.
Th., II-II, q. 162, a. 4). "Todo o tumor dos arrogantes – diz ele – se
manifesta de quatro modos:

1. Quando estimam possuir o bem graças a eles próprios (cum


bonum a semetipsis habere se aestimant);

2. Quando, mesmo acreditando que o bem lhes foi dado do alto,


acham que foi por seus méritos que o receberam (si sibi datum
desuper credunt, pro suis hoc accepisse meritis putant);

3. Quando se gabam de possuir o que não possuem (cum iactant


se habere quod non habent);
4. Quando, desprezando os demais, apreciam particularmente
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ostentar o que possuem (despectis ceteris, singulariter videri
appetunt habere quod habent)." [9]

Por fim, vale lembrar que o vício da soberba – sendo um pecado


espiritual, como já se disse – é uma armadilha constante no caminho de
quem quer servir a Deus. Depois de lutar contra as faltas mais
grosseiras, como são a gula, a luxúria e a ira, é bem possível que esteja o
demônio, à espreita no final, tentando a pessoa ao pecado da soberba. A
advertência é de São João da Cruz:

"Nesta prosperidade, sentem-se estes principiantes tão


fervorosos e diligentes nas coisas espirituais e exercícios
devotos, que – embora as coisas santas de si humilhem –, devido
à imperfeição deles, muitas vezes lhes nasce certo ramo de
soberba oculta, de onde vêm a ter alguma satisfação de suas
obras e de si mesmos. Nasce-lhes também certa vontade algo vã,
e às vezes muito vã, de falar sobre assuntos espirituais diante de
outras pessoas, e ainda, às vezes, de ensiná-los mais do que de
aprendê-los. Condenam em seu coração a outros quando não os
vêem com o modo de devoção que eles queriam, e chegam até a
dizê-lo claramente. Tornam-se semelhantes ao fariseu que,
louvando a Deus, se gabava das obras que fazia, enquanto
desprezava o publicano." [10]

Referências
1. Cf., v.g., João Cassiano, Collationes, V, 2 (PL 49, 611); Evágrio Pôntico, Tratado sobre
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os Oito Espíritos do Mal (PG 79, 1145-1164).

2. Comentário Moral ao Livro de Jó, XXXI, 87 (PL 76, 620).

3. Suma Teológica, I-II, q. 84, a. 2.

4. Cf. Suma Teológica, I-II, q. 72, a. 2.

5. Cf. Suma Teológica, I-II, q. 73, a. 5.

6. Cf. Suma Teológica, I, q. 63, a. 2.

7. Cf. Suma Teológica, I, q. 63, a. 3.

8. Santa Teresa de Ávila, Moradas, VI, 10, 7. In: Escritos de Teresa de Ávila. Edições
Loyola, São Paulo, Brasil, 2001, p. 560.

9. Comentário Moral ao Livro de Jó, XXIII, 13 (PL 76, 258).

10. Noite Escura, I, 2, 1. In: Obras de São João da Cruz (trad. pelas Carmelitas Descalças
do Convento de Santa Teresa do Rio de Janeiro), vol. I. Petrópolis: Vozes, 1960, pp.
293-294.

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