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Texto da aula Aulas do curso

Terapia das Doenças Espirituais

O pecado da tristeza
Para quem crê no amor de Deus, há sempre algo de nocivo em alimentar a tristeza e
mendigar o amor dos outros com vitimismos e ressentimentos. Mas, afinal de contas,
toda tristeza é má?

Descubra, nesta nova aula, como usar o luto e a dor a seu favor e não se deixar arrastar
pela doença paralisante da tristeza.

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Embora não estivesse no plano original do Criador, a tristeza, enquanto


paixão, é uma realidade moralmente neutra, como já se falou na última
aula. Para que seja pecaminosa, torna-se necessário o concurso da
inteligência e da vontade.

Antes, porém, de falar sobre como a tristeza assume o caráter de doença


espiritual, importa distinguir que a palavra "pecado" – entre múltiplas
classificações possíveis [1] – pode ser usada para se referir:

1. ao pecado original, que, em toda a humanidade, com exceção


de Adão e Eva, não é uma falta cometida, mas simplesmente
contraída, herdada;
2. ao pecado pessoal (também chamado de atual) que "é aquele
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que o homem, chegado ao uso da razão, comete por sua livre
vontade" [2]; ou ainda

3. aos chamados pecados capitais (às vezes simplesmente


chamados de vícios), que são as "doenças espirituais"
propriamente ditas.

No que diz respeito a essa última acepção, a tristeza – bem como os


outros pecados capitais – pode estar alojada na alma, ainda que esta se
encontre em estado de graça. Assim é, porque o pecado capital se trata
de um hábito, uma tendência que provém do pecado e conduz a ele –
dependendo da liberdade do indivíduo para se transformar em ato.

Convém explicar que as paixões podem ser antecedentes ou


consequentes à intervenção da inteligência e da vontade. Tome-se como
exemplo o pecado da luxúria. Nem todos os movimentos carnais – ou,
em uma linguagem mais popular, nem toda excitação – são provocados.
O simples sentir não é pecado, mas o consentir. Só se peca quando,
diante da percepção do movimento carnal, se passa a alimentar a
fantasia.

O mesmo ocorre com a tristeza. Pode ser que, por razões físicas – o
cérebro não esteja produzindo serotonina como deveria, por exemplo –,
uma pessoa caia em tristeza, sem que sequer se dê conta de que está
triste. É quando ela toma consciência de seu estado e age
deliberadamente para alimentá-lo, que acontece o pecado. Por isso, São
Paulo escreve, em sua Carta aos Filipenses: "Alegrai-vos sempre no
Senhor!" (Fl 4, 4). De fato, para quem crê no amor de Deus, há sempre
algo de malsão em entristecer-se propositalmente e mendigar o amor
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dos outros por meio de vitimismos.

Nem toda tristeza, porém, é má. Santo Tomás de Aquino define a paixão
da tristeza simplesmente como uma dor interior diante de um mal. Se
este mal é um mal verdadeiro, Tomás enxerga, com perspicácia, a
existência de uma tristeza boa. Diz ele:

"A tristeza tem utilidade, se é por causa de um mal a evitar. (...) Assim, a
tristeza do pecado é útil para o homem fugir do pecado, segundo diz o
Apóstolo, em 2 Cor 7, 9: 'Alegro-me não de que vocês estejam tristes, mas
de que vossa tristeza vos levou à penitência'." [3]

Assim, quando alguém se entristece porque perdeu o sumo Bem, essa


tristeza o leva de volta para casa, como fez o filho pródigo (cf. Lc 15, 11-
32). Esse luto também é chamado pelos padres gregos de πένθος
(pénthos) e está ligado ao dom de lágrimas.

Quando, porém, o que a pessoa perde é um bem aparente, como que um


lobo vestido em pele de cordeiro (cf. Mt 7, 15), tem-se a tristeza ruim.
Explica Santo Tomás que "assim como a tristeza pelo mal procede de
uma vontade e de uma razão reta, que detestam o mal, assim a tristeza
pelo bem procede de uma razão e vontade perversa, que detestam o
bem" [4]. O pecado da tristeza, portanto, está ligado mais a "uma razão e
vontade perversa" do que propriamente à paixão presente na alma.

Por isso, São Paulo fala de duas tristezas (cf. 2 Cor 7, 10): uma que é
segundo a carne ("κόσμου λύπη", kosmou lipe) e uma que é segundo Deus
("Θεὸν λύπη", Teón lipe).
Noutro lugar, o Aquinate ainda fala sobre as espécies de tristeza [5],
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dentre as quais se destacam:

1. A acídia [6], que se entristece com o bem divino;

2. A inveja [7], que se entristece com o bem do próximo.

Cabe esclarecer que o Doutor Angélico segue aqui a classificação


tradicional, tal como encontrada em São Gregório Magno [8] e nos
demais padres latinos. Em João Cassiano [9], Evágrio Pôntico e nos
outros padres gregos, porém, a distinção entre as espécies de tristeza é
um pouco mais nebulosa e a acídia figura apenas como uma espécie de
tristeza mais grave. Santo Tomás, distinguindo os diferentes objetos das
tristezas, consegue ser mais cirúrgico nessa questão.

Tomás também enumera, citando o Papa Gregório, as filhas espirituais


da inveja, que são "o ódio, a murmuração, a detração, a satisfação com as
adversidades alheias e a decepção com a sua prosperidade" [10]. Afinal, é
isto o que constitui um vício capital, a saber, o fato de que eles "geram
outros pecados, outros vícios" [11].

Referências

1. Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1853; Suma Teológica, I-II, q. 72.

2. Catecismo de São Pio X, 946.

3. Suma Teológica, I-II, q. 39, a. 3.

4. Suma Teológica, I-II, q. 39, a. 2, ad 2.

5. Cf. Suma Teológica, I-II, q. 35, a. 8.

6. Cf. Suma Teológica, II-II, q. 35.


7. Cf. Suma Teológica, II-II, q. 36.
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8. Cf. Moralia in Job, XXXI, 87: PL 76, 621.

9. Cf. Conlatio, V, 2: PL 49, 611.

10. Suma Teológica, II-II, q. 36, a. 4.

11. Catecismo da Igreja Católica, 1866.

Bibliografia

LARCHET, Jean-Claude. Terapia delle malattie spirituali. Un'introduzione alla


tradizione ascetica della Chiesa ortodossa. San Paolo Edizioni, 2003. 814p.

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