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Texto da aula Aulas do curso

Terapia das Doenças Espirituais

A ira enquanto paixão


A ira é sempre pecaminosa ou pode ser considerada justa em alguns casos? Não iria
ela contra a ordem de Jesus, que nos ensinou a mansidão e a humildade de coração?

Conheça, nesta aula de nosso curso de Terapia das Doenças Espirituais, a "santa ira", a
partir das lições de Santo Tomás de Aquino.

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Existe uma discordância entre o pensamento de Santo Tomás de Aquino


e João Cassiano acerca da ira. João Cassiano, escreve: "Ne dum iubemur
irasci cum causa, etiam sine causa irascendi nobis intromittatur occasio
– Não nos é consentido nunca e de nenhuma forma irar-nos, nem por
causas injustas, nem por causas justas." [1] Assim, para os Padres gregos,
dos quais João Cassiano aprendeu a vida ascética, a ira é sempre ruim.
Não se poderia jamais ter ira contra o irmão, mas tão somente contra o
pecado e o demônio. Trata-se da escola ascética oriental.

Santo Tomás de Aquino, ao contrário, quando fala sobre a ira, pontua


claramente a existência de uma ira virtuosa contra os irmãos.

O homem é capaz de conhecer as coisas por meio da sensibilidade e do


intelecto. Enquanto aquele está ligado a um apetite sensível, este tem a
ver com um apetite racional, também chamado de vontade. A diferença
entre os dois pode ser mais facilmente percebida quando entram em
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conflito. Por exemplo, o apetite sensível sente repugnância de um
remédio amargo e, ao mesmo tempo, o apetite racional quer a saúde. A
vontade faz com que o remédio seja ingerido livremente, em que pese o
apetite sensível desejar o contrário. Ora, os animais possuem o apetite
sensível, mas não a vontade livre. Por isso, quando seu apetite sensível é
contrariado, surge neles uma realidade chamada ira.

Segundo Santo Tomás de Aquino, essa ira, em si mesma, não é boa, nem
má. Ela passa a ser boa ou má quando a alma entre em ação, quando
surge, por exemplo, um querer desordenado ou quando se rechaça algo
que deveria ser desejado. O pecado começa quando a ira passa da
sensibilidade e abarca a alma.

A ira, portanto, é um processo. Primeiro, tem-se o conhecimento da


coisa; depois, o seu julgamento; em terceiro lugar, então, toma-se uma
decisão de agir, punindo ou não o causador daquela situação. Ao
analisar simplesmente a paixão da ira, Santo Tomás de Aquino afirma
que ela tem a ver com o castigo, com a repreensão: "Ira é o apetite de
fazer o mal ao outro em razão de uma justa vingança." [2] Quando, então,
esse apetite deve entrar em ato? Somente depois dos três primeiros
passos, no momento da ação. Tomados pela ira, inúmeros são aqueles
que testemunham terem a vista escurecida e, claro, isso pode prejudicar
qualquer julgamento. Não é à toa que dizem ser a ira uma péssima
conselheira. Portanto, somente depois que a ira é aplacada se pode
julgar e decidir de forma adequada acerca da punição. Esta seria a justa
ira descrita por Santo Tomás de Aquino.
Para João Cassiano, a ira é sempre ruim. Para Santo Tomás, é preciso ter
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o coração manso como o de Jesus, pois somente assim é possível
enxergar o que está acontecendo, julgar com sabedoria, segundo os
princípios divinos, e, então, decidir o que fazer, em profunda sintonia
com o coração de Deus, punindo ou não.

Se Deus criou a ira, ela tem alguma função no ser humano. O problema é
quando ela entra de uma forma desordenada. Um ato praticado com o
todo é mais perfeito do que um ato feito só com uma parte, ou seja, um
ato somente racional é bom, mas não perfeito. Seria perfeito se usasse
também as energias sensíveis, afinal, o ser humano não é um anjo. Anjo
não tem paixão, o homem é uma combinação estranha de um anjo e um
animal que vivem juntos. É, portanto, o composto do homem que deve
agir, corpo e alma.

Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que "o Reino dos céus é dos
violentos" [3]. Isso significa que aquele que se decide por Deus, precisa
fazer violência para romper com o pecado, para odiar os maus passos.
Logo, a paixão da ira, em si mesma, é como uma faca que pode ser usada
para uma coisa boa ou para um crime. Trata-se de algo moralmente
indiferente.

De forma resumida, é possível dizer que a ira é uma energia que está
presente no ser humano porque este é formado de corpo e alma. Esta
capacidade (energia) foi criada por Deus e em si mesma não é boa nem
ruim, mas neutra. Tragicamente, por causa do pecado original, essa
energia, que deveria ser canalizada para a busca e o alcance da
santidade, no mais das vezes se transforma na doença espiritual da ira,
tema da próxima aula.
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Referências

1. Instituições Cenobíticas, VIII, 20: PL 49, 350

2. Suma Teológica, I-II, q. 47, art. 1

3. Mt 11, 12

Recomendações

The Moral Status of Anger: Thomas Aquinas and John Cassian, Michael Rota

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