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A Ingratidão dos Filhos e os Laços

de Família
Boa noite a todos. É um prazer estar aqui novamente e ter a oportunidade de ser
usado pelos bons espíritos para dirigir o estudo da noite. É como vi uma vez escrito num
caminhão: “Sou eu quem dirijo, mas é Deus quem me guia.”
O tema que hoje fui designado para abordar é um assunto tão corriqueiro que
quase parece ser banal, mas não é. Tanto não é banal e merece atenção especial de
todos, que está presente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, na Instrução dos
Espíritos do Capítulo 14, intitulado “Honra a teu pai e tua mãe”. Este capítulo trata dos
seguintes temas: “Piedade Filial”, “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”,
“Parentesco Corporal e Espiritual” e por fim a Instrução dos Espíritos é dada pelo
grande teólogo da Igreja Católica Santo Agostinho. O assunto do qual discorre Santo
Agostinho é de suma importância para a conclusão do capítulo.
Parte deste assunto é a ingratidão. E diz Emmanuel sobre a ingratidão: “Se o
ingrato percebesse o fel da amargura que lhe invadirá, mais tarde o coração, não
perpetuaria o delito da indiferença. A ingratidão constitui doença da alma que
poucos de nós pode considerar-se imune”.
Eu costumo estudar o significado das palavras e a origem das mesmas quando
estou preparando a pregação e segundo a definição do dicionário, ingratidão é a
característica da pessoa ingrata; qualidade de quem não reconhece o bem que lhe foi
oferecido nem a ajuda que lhe foi concedida; ausência de gratidão; comportamento ou
atitude da pessoa que expressa falta de gratidão, ou seja ingratidão é a característica
daquele que não tem gratidão, gratidão, por sua vez, é saber reconhecer um favor ou
uma graça recebida.
Segundo São Tomás de Aquino, outro grande Teólogo da Igreja Católica, a
gratidão se expressa em três níveis: Reconhecer o benefício recebido, Dar graças pelo
benefício e por último retribuir de acordo com suas possibilidades e segundo as
circunstâncias mais oportunas de tempo e lugar. Portanto gratidão é muito mais do que
um simples “Obrigado”, inclusive certa vez ouvi dizer que a única dívida que não se
paga e a Dívida de Gratidão. Pesquisando mais a fundo ainda essa palavra, descobri que
sua origem no latim é “Gratus” e significa: Aquele que é agradável, portanto, este
sentimento nos torna pessoas mais agradáveis ao convívio com o próximo. Mas se o
tema é ingratidão, por que falo de seu antônimo? Porque eu acredito ser necessário
entender tudo que cerca um determinado assunto, neste caso, sabendo o que é gratidão,
tudo diferente disso é ingratidão.
Vamos analisar na escritura sagrada onde temos demonstração de ingratidão. No
Evangelho de Lucas, capítulo 17 é dito que Jesus estava caminhando para Jerusalém
quando na divisa entre Samaria e Galileia, ao entrar num vilarejo foi abordado por 10
leprosos que permanecendo a uma distância segura entre eles e Jesus, para que não
houvesse contágio, gritaram para que Jesus tivesse compaixão deles e o Mestre
respondeu-lhes dizendo que fossem ao templo mostrar-se aos sacerdotes e eles assim o
fizeram. Acontece que enquanto eles iam caminhando em direção à Sinagoga,
perceberam que a doença estava sendo curada, seus corpos estavam ficando limpos das
feridas constantemente abertas. Antes de ir ao templo, ao verificar a cura, um deles
voltou e diz Lucas que este voltou louvando a Deus em voz alta e prostrou-se aos pés de
Jesus, e agradeceu, e o que era “pior” para os judeus, este que voltou era Samaritano. E
Jesus pergunta onde estão os outros nove, porque Ele havia curado dez e não um,
questionou ainda se ninguém além do estrangeiro voltaria para agradecer e despediu-se
do samaritano pedindo que este levantasse e fosse, pois a sua fé o havia salvo.
Recordei-me que no livro Há 2000 anos, temos uma famosa cena de ingratidão
protagonizada pelo Senador Publio Lentulus, uma das vidas passadas de Emmanuel.
Naquele tempo, o Senador procurou por Jesus, quando o sol se punha para pedir que o
Mestre curasse sua filhinha, Flávia, que padecia de uma terrível doença de pele, ele O
encontra, tem uma conversa incrível, inesquecível para Públio, Jesus cura a filha dele e
ao chegar em casa e atestar que a filha estava curada e que a cura se dera no mesmo
instante em que ele conversava com Jesus, o orgulho Senador Romano, atribui a cura a
outros fatores e proibi que se fala sobre o acontecimento em sua casa.
É lamentável meus irmãos como nós nos encontramos num estágio evolutivo em
que nós esquecemos o quanto é importante sermos gratos, aos menores gestos, aos
menores favores. Esperamos gratidão do próximo, reclamamos quando não a temos, e
faltamos com ela todos os dias. Mais triste ainda é que o tema do estudo desta noite não
se resume à ingratidão, a instrução de Santo Agostinho é dirigida à ingratidão dos
filhos, tema que é magnificamente dissecado por ele. Vejamos o que ele nos diz,
recorrendo ao texto do Evangelho Segundo o Espiritismo.
“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo, e revolta sempre
os corações virtuosos. Mas a dos filhos para com os pais tem um sentido ainda mais
odioso. É desse ponto de vista que a vamos encarar mais especialmente, para
analisar-lhe as causas e os efeitos. Nisto, como em tudo, o Espiritismo vem lançar
luz sobre um dos problemas do coração humano.” Nós sabemos que todos os
defeitos são filhos das duas grandes chagas da humanidade: O Orgulho e O Egoísmo.
Os defeitos ou são filhos de um, ou filhos do outro, ou filhos dos dois, e aqui a
ingratidão é definida como fruto do egoísmo. A ingratidão ao nosso redor, quer seja
conosco, quer seja com o próximo é sempre algo que incomoda quem vê, mas incomoda
ainda mais quando vemos um filho que maltrata seu pai, que vira as costas à sua mãe ou
aqueles que lhes deram o berço e o lar, mesmo sem tê-los posto no mundo, por isso
Santo Agostinho diz que a ingratidão dos filhos tem sentido odioso, mas ele continua
que nisto como em tudo o Espiritismo lança luzes para que possamos entender melhor
essas situações.
Então para entender a origem destas situações, Agostinho volta à condição dos
espíritos depois da morte e antes do reencarne, dizendo: “Quando o Espírito deixa a
Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza, e vai no
espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto,
levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais
adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos
de suas paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se
dirigirem a Deus, só existe uma senha – caridade. Mas não há caridade sem
esquecimento das ofensas e das injúrias, não há caridade com ódio no coração e
sem perdão.”
O que Santo Agostinho está dizendo é que ninguém deixa pra trás ao
desencarnar suas más tendências ou suas virtudes, mas que infelizmente muitos não
estão na condição de perceber isso e acabam por estacionar. Aqueles que já conseguem
reconhecer seus erros e entender a necessidade do aprimoramento buscam se preparar
para uma nova experiência terrena, todavia, percebam, estes espíritos que já têm gral de
evolução necessário para tomar boas resoluções, ou seja, decidem por melhorar e não
ficarem parados, também carregaram consigo os “ódios violentos e desejos de
vingança”, o que posso dizer é que neste mundo de provas e expiações, mesmo cheios
de boas resoluções, eles ainda podem falhar e deixá-las vir a tona em suas
reencarnações.
O caminho para se dirigir a Deus, corrobora Agostinho, é a Caridade, mas não é
possível ser caridoso carregando no peito ódio, sem aprender a amar e a perdoar. Por
esse motivo, em voltando à Terra o espírito vem cheio de motivação e vontade de se
aperfeiçoar, mas então se vê diante daquele que lhe foi um desafeto, um inimigo ou
alguém que ele mesmo prejudicou e então a situação se complica, aí ele está diante de
seu maior desafio: Vencer sentimentos negativos que ele nem mesmo sabe porque sente.
Segue dizendo Santo Agostinho: É então que, por um esforço inaudito,
voltam o seu olhar para os que detestaram na Terra. À vista deles, porém, sua
animosidade desperta. Revoltam-se à idéia de perdoar, e ainda mais a de
renunciarem a si mesmos, mas sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram
talvez a fortuna, a honra, a família. Não obstante, o coração desses infortunados
está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa
resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos Bons Espíritos que lhes dêem
forças no momento mais decisivo da prova.
Vejam bem como Agostinho está descrevendo a situação daquele que tem
liberdade para escolher e não daqueles que reencarnam compulsoriamente, mas se até os
que escolhem reencarnar junto dos desafetos do passado tem enorme dificuldade de
lidar com a situação e podem falhar, imaginem então como é a relação daqueles que são
obrigados a conviver com os inimigos temporários sem terem nem tido opção, digo
inimigos temporários, pois afinal de contas, o objetivo da vida é a evolução moral
constante, logo, quando houver um só rebanho e um só pastor, todos os homens se
reconhecerão como irmãos e se amarão como o mestre nos pediu: Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei. Todos se amarão.
Então, os espíritos que temos ao nosso redor, sempre são desafetos ou inimigos?
Claro que não, nós também atraímos os espíritos simpáticos a nós, atraímos aqueles que
nos querem bem, que nos amam, nossos familiares espirituais. Porque sabemos que
existe a família terrena e a família espiritual, esta segunda é muito maior do que a
primeira e seus laços são muito mais fortes e duradouros. A família terrena pode se
dissolver e se dissolve constantemente, mas aquilo que ligarmos na terra ligaremos
também no céu, disse-nos o mestre.
Mas aí então, segue Agostinho dizendo que após meditação e prece, o espírito
usa um corpo em preparação numa família que ele detestou e pede permissão pra
regressar à Terra. Ele diz assim: Enfim, depois de alguns anos de meditação e
de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que se prepara, na família
daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir
as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos
desse corpo que vem de se formar. Qual será, então, a sua conduta nessa
família? Ela dependerá da maior ou menor persistência das suas boas
resoluções.
Ou seja, meus irmãos, uma vez preparada a reencarnação, volve este
espírito à Terra num novo corpo, porém numa família pela qual não nutre ele nem
carinho e nem amor, e como será sua vida e sua relação com os membros desta
casa? Vai depender exclusivamente de sua força de vontade. Kardec pergunta aos
espíritos em O Livro dos Espíritos se o homem é capaz de vencer todas as suas más
tendências numa só encarnação e os espíritos respondem positivamente, dizendo
que o caminho para ele conseguir fazer isso é através da vontade, mas que
pouquíssimos de nós temos força de vontade.
O contacto incessante dos seres que ele odiou é uma prova terrível, da qual
às vezes sucumbe, se a sua vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou
má resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi
chamado a viver. É assim que se explicam esses ódios, essas repulsas instintivas,
que se notam em certas crianças, e que nenhum fato exterior parece justificar.
Nada, com efeito, nessa existência, poderia provocar essa antipatia. Para
encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos ao passado.
Olha aí a vontade que eu acabei de falar, se a vontade não for forte o espírito
sucumbe. Imaginem a seguinte situação: Imaginem que vocês sofreram a perseguição de
um colega de trabalho e que devido a isso perderam o emprego, devido a perda do
emprego você precisou vender seu carro porque não conseguia mantê-lo, por ter
vendido o carro ficou muito mais difícil viajar, transitar pela cidade, fazer compras e
tudo isso começou com um colega de trabalho que inventou coisas a seu respeito. Sabe-
se lá por que, a vida coloca vocês no mesmo caminho e você precisa ir morar na mesma
casa que essa pessoa mora. Como vai ser a convivência entre ambos, se ambos sabem o
mal que um fez ao outro? Terrível, será terrível. Se não houver fortaleza de vontade,
ambos viverão em pé de guerra, em discussões sem fim. O mesmo se dá neste tipo de
reencarnação que Santo Agostinho fala, só que os espíritos não se lembram e por isso só
sentem essa repulsa automática sem saber por quê. E muitas vezes os pais se perguntam
inutilmente: Por que fulano me trata tão mal se eu sempre lhe dei tudo do bom e do
melhor, se eu dei tanto carinho, nunca tratei diferente dos irmãos, pelo contrário, ainda
fiz mais por ele e ele me vira as costas? As causas nunca serão encontradas na atual
existência, somente a pluralidade das existências pode explicar essas situações.
O que fazer então nesses casos? Retribuiremos o mal com mal? Seremos os
responsáveis pela falência desses espíritos? Muito pior meus irmãos, já paramos para
pensar que nós podemos ser esses espíritos, que sentem aversão infundada pelos nossos
pais, ou por um deles? Não, meus irmãos, é preciso resignação. Santo Agostinho nos
exorta dizendo: Oh!, espíritas! Compreendei neste momento o grande papel da
Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna
vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres, e ponde
todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está
confiada e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos
cuidados, a educação que lhe derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua
felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará:
“Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?” Se permaneceu atrasada por
vossa culpa, vosso castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando
dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos,
pedireis para reparar a vossa falta: solicitareis uma nova encarnação, para vós e
para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de
reconhecimento, vos envolverá no seu amor.
Esta última parte meus irmãos, em que Agostinho diz que nós carregados de
remorso pediremos para reparar nossas faltas junto a esses espíritos a quem nós
tínhamos que prestar auxílio e ajudar na evolução e na aproximação com Deus e não o
fizemos, já está acontecendo, as duas coisas acontecem: Tanto acontece dos espíritos
que nos tem esses sentimentos de ódio e vingança reencarnarem como nossos filhos,
como acontece de nós solicitarmos a reencarnação junto destes por havermos falhado
em nossas missões de pais num passado recente ou num passado remoto. A lei de Deus,
meus irmãos, é perfeita e sua harmonia está acima de nossa compreensão, mas nós
precisamos ser perseverantes, porque a perseverança até o fim será recompensada.
Precisamos manter vivo em nossos espíritos as palavras de nosso codificador: Fora da
Caridade não há Salvação. Infelizmente o tema é longo demais e discorrer sobre ele
demoraria muito mais do que 45 minutos ou do que mesmo duas ou três horas, desta
forma, eu peço licença para ao menos ler o final da instrução de Santo Agostinho.
A tarefa não é tão difícil como podereis pensar. Não exige o saber do
mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, ao
revelar a causa das imperfeições do coração humano.
Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de
sua existência anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm
sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai, pois, os menores sinais que revelam
os germens desses vícios e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem
raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à
medida que os vê aparecerem na árvore. Se deixardes que o egoísmo e o orgulho se
desenvolvam, não vos espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão. Quando os
pais tudo fizeram para o adiantamento moral dos filhos, se não conseguem êxito,
não tem do que lamentar e sua consciência pode estar tranqüila. Quanto à
amargura muito natural que experimentam, pelo insucesso de seus esforços, Deus
reserva-lhes uma grande, imensa consolação, pela certeza de que é apenas um
atraso momentâneo, e que lhe será dado acabar em outra existência a obra então
começada, e que um dia o filho ingrato os recompensará com o seu amor. (Ver cap.
XIII, nº 19)
Deus não faz as provas superiores às forças daquele que as pede; só permite
as que podem ser cumpridas; se isto não se verifica, não é por falta de
possibilidades, mas de vontade. Pois quantos existem, que em lugar de resistir aos
maus arrastamentos, neles se comprazem: é para eles que estão reservados o choro
e o ranger de dentes, em suas existências posteriores. Admirai, entretanto, a
bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chega um dia em
que o culpado está cansado de sofrer, o seu orgulho foi por fim dominado, e é então
que Deus abre os braços paternais para o filho pródigo, que se lança aos seus
pés. As grandes provas, — escutai bem, — são quase sempre o indício de um fim
de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por
amor a Deus. É um momento supremo, e é nele sobretudo que importa não falir
pela murmuração, se não se quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar. Em
vez de vos queixardes, agradecei a Deus, que vos oferece a ocasião de vencer para
vos dar o prêmio da vitória. Então quando, saído do turbilhão do mundo terreno,
entrardes no mundo dos Espíritos, sereis ali aclamado, como o soldado que saiu
vitorioso do centro da refrega.
De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração. Aquele
que suporta com coragem a miséria das privações materiais, sucumbe ao peso das
amarguras domésticas, esmagadas pela ingratidão dos seus. Oh!, é essa uma
pungente angústia! Mas o que pode, nessas circunstâncias, reerguer a coragem
moral, senão o conhecimento das causas do mal, com a certeza de que, se há longas
dilacerações, não há desesperos eternos, porque Deus não pode querer que a sua
criatura sofra para sempre? O que há de mais consolador, de mais encorajador, do
que esse pensamento de que depende de si mesmo, de seus próprios esforços,
abreviar o sofrimento, destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, é
necessário não reter o olhar na Terra e não ver apenas uma existência; é
necessário elevar-se, pairar no infinito do passado e do futuro. Então, a grande
justiça de Deus se revela aos vossos olhos, e esperais com paciência, porque
explicou a vós mesmos o que vos parecia monstruosidade da Terra. Os ferimentos
que recebestes vos parecem simples arranhaduras. Nesse golpe de vista lançado
sobre o conjunto, os laços de família aparecem no seu verdadeiro sentido: não mais
os laços frágeis da matéria que ligam os seus membros, mas os laços duráveis do
Espírito, que se perpetuam, e se consolidam, ao se depurarem, em vez de se
quebrarem com a reencarnação.
Os Espíritos cuja similitude de gostos, identidade do progresso moral e a
afeição, levam a reunir-se, formam famílias. Esses mesmos Espíritos, nas suas
migrações terrenas, buscam-se para agrupar-se, como faziam no espaço, dando
origem às famílias unidas e homogêneas. E se, nas suas peregrinações, ficam
momentaneamente separados, mais tarde se reencontram, felizes por seus novos
progressos. Mas como não devem trabalhar somente para si mesmos, Deus permite
que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre eles, a fim de haurirem
conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio progresso. Eles causam, por
vezes, perturbações no meio, mas é lá que está a prova, lá que se encontra a tarefa.
Recebei-os, pois, como irmãos; ajudai-os, e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a
família se felicitará por haver salvo do naufrágio os que, por sua vez, poderão
salvar outros.

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