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Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que "o Reino dos céus é dos
violentos" [3]. Isso significa que aquele que se decide por Deus,
precisa fazer violência para romper com o pecado, para odiar os
maus passos. Logo, a paixão da ira, em si mesma, é como uma faca
que pode ser usada para uma coisa boa ou para um crime. Trata-se
de algo moralmente indiferente.
De forma resumida, é possível dizer que a ira é uma energia que está
presente no ser humano porque este é formado de corpo e alma.
Esta capacidade (energia) foi criada por Deus e em si mesma não é
boa nem ruim, mas neutra. Tragicamente, por causa do pecado
original, essa energia, que deveria ser canalizada para a busca e o
alcance da santidade, no mais das vezes se transforma na doença
espiritual da ira, tema da próxima aula.
O pecado da ira
Quando nos irritamos e perdemos a paciência,
nossa alma fica cega e, governada por sua
sensibilidade animal, acaba tolhida de toda a sua
dignidade humana. Nesta aula do curso de
Terapia das Doenças Espirituais, conheça o
pecado mortífero da ira, que torna o ser humano
semelhante ao demônio, "homicida desde o
princípio".
Quando nos irritamos e perdemos a paciência, nossa alma fica cega
e, governada por sua sensibilidade animal, acaba tolhida de toda a
sua dignidade humana.
Na aula passada, vimos que existe uma ira que não é pecado. Trata-
se de uma energia que pode fazer o bem ou o mal (θυµός, em
grego), que significa exatamente uma pulsão, uma possibilidade que
existe dentro de todo ser humano e, se bem usada, pode ser
positiva.
Esse apotegma mostra que não adianta colocar a culpa da própria ira
nos outros. A serpente está dentro de cada um. Por isso, é
necessário lutar, fadigar-se. E como a ira constantemente aparece,
sujeitando o ser humano a constantes acessos de raiva, a
capacidade de amar é prejudicada.
Essa grave doença espiritual se torna também um vício, uma vez que
faz com que o doente seja intemperante, que se deixe levar pelas
forças irracionais que conduzam a vida, o contrário do que Deus quis
para o homem. Deus fez o homem inteligente para viver plenamente
a sabedoria. Assim, a cura para ira é ingressar no caminho do
amor.
Não foi à toa que Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de amor que se
fez carne e veio habitar no meio dos homens, exortou: "Se alguém
quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e
siga-me" [7]. Embora muitos vejam nessa exortação uma faceta do
cristianismo que parece completamente absurda - por exigir que as
pessoas se contrariem e aceitem uma injustiça -, ela não é. Somos
nós quem criamos as condições adversas para o amor, tornando-
nos incapazes de amar.
O perdão por sua vez, reconhecer que houve a culpa, que o ato foi
injusto e inadequado e, mesmo assim, se perdoa - per-doar, ou
seja, doar intensamente. A dificuldade de perdoar reside
justamente numa postura errônea de inocência. Por isso,
quando se assume a condição de pecador, é possível
transformar a ira em uma grande fonte de amor.
A cruz de Cristo mostra que, ali, uma grande injustiça foi cometida.
Mas também mostra que Nosso Senhor ofereceu-se como sacrifício,
com o fogo do Espírito Santo a consumi-Lo. Esse fogo transforma a
dor em amor. Diante de uma injustiça, portanto, suplique o Espírito
Santo, que transformará a dor em amor e o livrará do veneno da ira.
A tristeza enquanto paixão
A tristeza é uma reação normal e sadia de todo
ser humano às coisas más. Por que, porém, o
que deveria ser algo neutro acaba se
transformando em uma realidade perigosa e
doentia em nossas vidas? Por que, mesmo
enquanto sentimento, a tristeza constitui uma
espécie de desordem na humanidade? Como
Cristo, suando sangue no Horto das Oliveiras,
redimiu a tristeza humana?
A tristeza é uma reação normal e sadia de todo ser humano às
coisas más. Por que, porém, o que deveria ser algo neutro acaba se
transformando em uma realidade perigosa e doentia em nossas
vidas? Por que, mesmo enquanto sentimento, a tristeza constitui
uma espécie de desordem na humanidade? Como Cristo, suando
sangue no Horto das Oliveiras, redimiu a tristeza humana?
Sabemos bem, por revelação divina, que Deus não tinha projetado o
homem para morrer. Adão, o primeiro homem, em estado de
inocência, era imortal e impassível [1]: o ser humano não foi
designado nem para a morte, nem para o sofrimento. Foi após a
queda que as paixões da alma começaram a manifestar-se
desordenadamente no homem. Os nossos primeiros pais, no
Paraíso, não só não enfrentariam a morte, como não se entristeciam,
não sentiam dor e nem eram acometidos abruptamente por
manifestações passionais [2]. Os movimentos das paixões estavam
inteiramente submetidos à faculdade racional. Mas, por um castigo
de Deus (cf. Gn 3, 16-19), esse dom preternatural foi tirado do
homem, com vistas ao seu próprio bem.
Descubra, nesta nova aula, como usar o luto e a dor a seu favor e
não se deixar arrastar pela doença paralisante da tristeza.
O mesmo ocorre com a tristeza. Pode ser que, por razões físicas – o
cérebro não esteja produzindo serotonina como deveria, por
exemplo –, uma pessoa caia em tristeza, sem que sequer se dê
conta de que está triste. É quando ela toma consciência de seu
estado e age deliberadamente para alimentá-lo, que acontece o
pecado. Por isso, São Paulo escreve, em sua Carta aos Filipenses:
"Alegrai-vos sempre no Senhor!" (Fl 4, 4). De fato, para quem crê no
amor de Deus, há sempre algo de malsão em entristecer-se
propositalmente e mendigar o amor dos outros por meio de
vitimismos.
Por isso, São Paulo fala de duas tristezas (cf. 2 Cor 7, 10): uma que é
segundo a carne ("κόσµου λύπη", kosmou lipe) e uma que é
segundo Deus ("Θεὸν λύπη", Teón lipe).
A cura pelo trabalho. – Há, de fato, uma grande ênfase dos Padres
do Deserto na questão do trabalho. Evágrio Pôntico, por exemplo,
condena várias vezes os que ele chama de "monges giróvagos". "O
monge vagabundo é um arbusto árido da solidão, descansa pouco e
é agitado de lá para cá contra a sua vontade", ele diz. "A planta
transladada não oferece fruto e o monge itinerante não dá fruto de
virtude" [2]. Na mesma linha, João Cassiano, em suas Instituições
Cenobíticas, dedica todo um capítulo à acídia, ressaltando aí a
importância do trabalho humilde e perseverante como remédio à
doença [3].
Mas que tem que ver o pecado da acídia com o terceiro preceito do
Decálogo?
Há, portanto, uma glória justa, buscada pelos santos, e uma glória
vazia, que é capaz de "sugar", por assim dizer, todos os bens
interiores de uma alma, "enquanto torna o homem presunçoso e
confiante demais em si mesmo" [2].
Descubra quais são, nesta 21.ª aula de nosso curso de Terapia das
Doenças Espirituais, as filhas da vanglória, a partir das lições de São
Gregório Magno e Santo Tomás de Aquino.
"O bem árduo possui algo que atrai o apetite, a saber, a sua
própria razão de bem, mas possui também algo que retrai o
apetite, ou seja, a própria dificuldade de conquistá-lo. Desses
elementos, o primeiro faz surgir o movimento da esperança e o
segundo, o movimento do desânimo. Mas os movimentos
apetitivos de caráter impulsivo requerem uma virtude que os
modere e os refreie; e os que causam retração precisam de uma
virtude moral que os reforce e estimule. Portanto, relativamente
ao bem árduo, duas virtudes são necessárias. Uma, que tempere
e refreie a alma, para que não aspire, imoderadamente, a coisas
elevadas, e aí entra a humildade; outra, que fortaleça o espírito
contra o desânimo e o incentive a desejar grandes feitos,
segundo a reta razão, e aí aparece a magnanimidade." [1]
O que vale para nós também se aplica às outras pessoas. Por isso,
explica Santo Tomás, a humildade nos ensina a sujeição a todos os
homens, como está escrito: "Com humildade, considerai os outros
superiores a vós" (Fl 2, 3). De que modo isso se dá, é o próprio
Aquinate quem explica: "A humildade, como se viu, visa,
propriamente, à reverência com que o homem se submete a Deus. E,
por isso, todo homem, por aquilo que é seu, deve sujeitar-se ao
próximo, quem quer que seja, por causa daquilo que é de Deus
nessa pessoa" [7]. Na prática, portanto, devemos humilhar-nos
somente diante de Deus; como, porém, Ele está presente no próximo
– doando-lhe as Suas graças, as Suas virtudes e os Seus dons –,
também devemos nos submeter aos outros. Um modo de fazer isso
é procurar no irmão uma virtude que ele não tem, ou considerar em
si mesmo um defeito que ele não tem. Se não formos capazes de
fazer isso, ainda assim podemos nos humilhar, pensando que, se
aquela pessoa tivesse recebido as graças que recebemos, ela com
certeza seria melhor do que nós.