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Mestre em Teologia
Professor do Angelicum
SOBRE O PERNICIOSÍSSIMO
ERRO DO LAICISMO
(Discurso pronunciado na Academia Romana de Santo Tomás
de Aquino, Revue thomiste, 1925)
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PRÍNCIPES EMINENTÍSSIMOS,
ILUSTRES ACADÊMICOS,
OUVINTES SELETÍSSIMOS,
Considerado o nome laicismo, ainda que esta forma seja algo novo e que
constitua um verdadeiro barbarismo, não deixa, no entanto, de apresentar por
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si mesmo um significado bastante claro. Designará, com efeito, algo referente
aos leigos, enquanto leigos se distinguem propriamente dos clérigos. Daqui se
segue que no termo se evoca de imediato certa oposição às coisas que são
próprio da Igreja: e precisamente, segundo esta oposição vai aumentando e
manifestando-se cada vez mais, teremos no sentido mais formal, como
veremos, o laicismo em sua acepção última e perfeita.
Os graus desta oposição dos homens que não fazem parte do clero da
Igreja às coisas da Igreja se distinguem bastante claramente na continuação
desta narrativa.
A partir desse momento, estas duas causas, a rebelião dos príncipes contra
o governo da Igreja e a rebelião dos pseudo-reformadores contra seu
magistério, atuando simultaneamente, ainda que nem sempre juntas,
prepararam as vias a um certo novo magistério - puramente civil ou leigo,
aquele - no qual, em sentido próprio e, como em sua parte principal e formal,
devia constituir o laicismo.
Se segue disto que quem submeta sua inteligência à regra da fé, ou seja,
quem se diga e confesse ser católica, inclusive quem ponha como fundamento
de sua vida moral e humana uma verdade qualquer de ordem metafísica,
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sobretudo com respeito do ser soberano e subsistente que todos os homens
chamam Deus, este, qualquer que seja, deve ser necessariamente rechaçado do
seio da sociedade laica. E se é assim de fato, temos a prova manifesta de que
esta sociedade, que existe em forma de instituição política que rege e
administra as coisas da nação, exclui de suas escolas e de sua vida de maneira
mais absoluta e com uma aspereza e tenacidade incansável, não somente o que
é de fé católica ou cristã, mas também tudo relacionado com o Deus
verdadeiro e pessoal. Tanto é assim que entre os membros desta sociedade não
se permite a ninguém, nem sob nenhum pretexto, pronunciar jamais o nome de
Deus quando fazem atos como membros da sociedade laica.
II
Tal doutrina é errônea: não há católico que não deva convencer-se disso
por somente sua exposição que acabamos de fazer. É que, com efeito, todas as
mesmas razões que para um católico provam a verdade da Igreja, demonstram
necessariamente por oposição a falsidade do laicismo. Por isso mesmo, temos
ouvido os partidários do laicismo se opor à Igreja não com relação a algumas
verdades particulares que negaria conservando as demais, mas porque destrói
até o primeiro fundamento de toda a Igreja, a saber: a possibilidade mesma do
ato de fé, segundo implica a submissão da inteligência a uma autoridade
existente por fora e acima da razão laica. Urgirá refutar, mas deveria bastar o
afastamento, de maneiro mais absoluta, através de proibições tão severas como
justas, os fiéis católicos de toda participação ao menos doutrinal com os
promotores ou partidários deste erro tão pernicioso. Assim, porque este erro
tende hoje a penetrar em todas as partes e se aplica a difundir de uma
infinidade de maneiras as falsas razões que apresenta para enganar os espíritos,
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talvez não careça de utilidade examinar de forma direta e distinta dois ou três
de seus axiomas fundamentais e mostrar a sua falsidade radical.
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O homem, como efeito, não é propriamente homem senão pela razão. Por
outro lado, a razão, segundo é no homem um princípio de conhecimento
distinto do sentido, é algo de ordem estritamente metafísica, porque seu objeto
próprio não é o ser sensível como tal, senão o ser percebido nas coisas
sensíveis, no qual e segundo o qual é necessário que ela julgue e ordene todas
as coisas quando se trata da ação propriamente humana: e isto mesmo, que é
senão a ordem metafísica? Querer excluir, pois, a metafísica da organização da
vida humana é querer organizar a vida sem este mesmo que é seu princípio
próprio.
E que não se diga que a vida humana pode se organizar somente com a
ajuda do conhecimento experimental, tal como proporciona a experiência
cotidiana ou a experiência alheia conservada e transmitida pelo testemunho da
história, ou, se ainda faz falta algum princípio da razão, somente pelo princípio
da razão prática formulado por Kant, sob o nome de imperativo categórico, e
hoje chamado voz da consciência ou do dever.
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sujeito que atua o que é seu bem e o que é seu mal. Em tal forma que a voz da
consciência e do dever, o imperativo "faz isto", pressuponha necessariamente
duas coisas: o primeiro princípio da razão prática que declara que há que se ir
ao bem e fugir do mal, e uma determinação da razão que mostre que isto é, na
verdade, o bem para um indivíduo. Mas vejamos, esta determinação da razão,
ainda que seja imediata e natural para as coisas a que a natureza se inclina e
que neste caso parecem imediatamente como coisas boas[4], no entanto, já que
existe no homem diversas inclinações naturais, sobretudo considerando
enquanto animal e enquanto homem, se deduz que não pode haver nele [esta
claridade no agir] e que há de fato contrariedade de inclinação, mesmo na
ordem mais imediata e mais natural. Enquanto o instinto animal diz "faça isto"
através da voz da inclinação natural sensível, a razão por sua vez, através de
sua inclinação natural, diz "faz aquilo", e muito frequentemente estas duas
coisas são totalmente contrárias. Será preciso, pois, para acabar com este
conflito, com o auxílio da razão especulativa e metafísica, determinar qual é
destas duas partes a parte superior no homem e qual é a parte inferior, obrigada
consequentemente a submeter-se a outra. E tudo isto nos demonstra uma vez
mais a necessidade absoluta dos conceitos metafísicos na organização de uma
vida humana.
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Mas ainda quando eles consideram este primeiro ponto, a saber: que para
organizar a vida humana são indispensáveis certas noções de ordem metafísica,
que por exemplo há que se saber o que é o homem, quais são as partes que lhe
integram, e o que é requerido por sua natureza ou pela natureza dos seres que
estão em torno dele, e mais ainda, concedem que a doutrina metafísica deve
ser a doutrina tradicional, a que devemos a Aristóteles. No entanto, o laicismo
seguirá sendo um erro e um erro supremamente pernicioso, devido a esse
segundo princípio ou axioma em que se afirma que a vida humana, seja
privada ou pública, pode e até deve organizar-se independentemente de
qualquer doutrina ou de qualquer consideração referente a Deus, de tal modo
que deva ser banido das escolas e da vida pública do Estado até mesmo o
nome de um Deus pessoal.
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querem garantir. Inclusive há entre eles quem professam o maior respeito pela
Igreja Católica e seu ensinamento mais integral ao ponto de que não cessam de
demonstrar sua admiração pelo Syllabus de erros modernos condenados pela
Igreja, e muito longe de apartar a Igreja e sua influência da sociedade cujo bem
de ordem político querem garantir, lhe indica o primeiro lugar na ordem desta
sociedade. Assim, pois, se esses homens falham como doutores, estão muito
longes de estar em falta como estão os demais, do ponto de vista da instituição
política que querem organizar para o bem da sociedade, porque o que não
podem fazer eles mesmos, dão à Igreja Católica, mestra da verdade perfeita,
pleno poder e inteira liberdade para fazê-lo. Os promotores do laicismo, ao
contrário, se esforçam por todos os meios, inclusive os mais iníquos, por
apartar de sua instituição político-social, seja das escolas onde se forma a
juventude ou de toda a vida dos cidadãos, qualquer outra instituição, mas
sobretudo a Igreja Católica, que falará de Deus de qualquer maneira possível.
Contudo, além destas razões que dizem respeito mais à questão de fato - a
saber, que não se estabelecerá nunca entre os homens, tais quais a experiência
nos revela, uma moral verdadeira e completa, excluindo de maneira positiva da
organização de um Estado ou de uma sociedade, tudo que se refere a Deus -,
devemos apontar outra razão que chega até as últimas raízes do erro tão
pernicioso que descrevemos.
Diremos, pois, que se havendo descartado tudo o que diz respeito a Deus,
é necessário que a vida moral do homem, individualmente ou em sociedade,
fique sem o único fundamento último que a apoia ou sem a única razão última
que a justifica e explica.
E que não se diga que é em nome de todo o povo que se faz o mandato,
de tal forma que se deva obedecer em consciência ou por necessidade de razão
a quem manda em nome de todo o povo. Isto é não dizer nada em absoluto,
seja porque o povo como povo é somente um agregado de vontades humanas,
porque a vontade humana como tal não tem direito de mandar em outra
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vontade humana, senão somente se tem o lugar da vontade divina e manda em
seu nome, ou pelo menos participa em sua autoridade. Seja também porque o
povo, ainda sob sua razão de povo, ou enquanto constitui um certo todo, o que
lhe dá a razão de superior em comparação com as vontades dispersas dos
indivíduos e particulares, não é, no entanto, a razão suprema de todo no mundo,
senão que ele mesmo tem algo por cima de si. Assim, pois, se ele não obedece
a seu superior, que é Deus, reconhecendo formalmente seus direitos e
submetendo-se a Ele, nenhuma vontade individual tomada em particular estará
obrigada a obedecer-lhe desde o ponto de vista da razão, de tal maneira que o
povo tenha o direito de exigir esta obediência, se se a negam, porque ele
mesmo a nega àquele a que se lhe deve.
III
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A forma de laicismo que acabamos de examinar, como foi ela mesma a
causa e o motivo da primeira forma, na qual a ordem da razão especulativa é
demolida para poder mais facilmente impedir a razão natural de ascender até
Deus, teve sua origem e sua fonte na má disposição dos homens para com a
Igreja Católica.
A Igreja Católica, com efeito, ensina sobre Deus a verdade mais inteira e
mais perfeita. Disto se seguiu e devia se seguir que subtraindo-se sua
influência, ou até a atacando abertamente e rechaçando o que lhe toca, era
necessário, por uma espécie de progressão necessária do mal, que se
rechaçasse também o que diz respeito a Deus. Por onde se vê que a
separação da Igreja Católica ou a má disposição para com ela foi o começo e o
ponto de partida destes erros tão perniciosos que atacam a Deus mesmo ou a
ordem essencial e transcendente de nossa razão.
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Mas se levamos em consideração o homem elevado a um fim
sobrenatural por uma vontade imperativa de Deus, de tal maneira que se o
homem não chega a tal fim, ao menos quando se trata de adultos, incorrerá
necessariamente na desgraça eterna e em horríveis suplícios - porque
"horrenda coisa é, por certo, cair nas mãos do Deus vivo"[7]. Neste caso, querer
estabelecer entre os homens um modo de ser e viver onde não não tenham
nenhuma parte com a Igreja Católica, única instituída por Deus para conduzir
os homens ao seu fim sobrenatural, que coisa é senão mostrar-se inimigo mais
cruel do gênero humano? Com que termo se chamará estes homens que
aspiram administrar a coisa pública entre as nações e os povos e que não têm
senão a obsessão, da qual se gloriam ao invés de se envergonharem, de
expulsar a Igreja Católica e, se pudessem, destrui-la totalmente?
Eis aqui nossa resposta a este última razão. Longes de prover o bem dos
cidadãos que deve ter como efeito objetivo, o Estado, ao contrário, através da
atitude em questão, compromete este bem de forma mais grave. É que, com
efeito, o bem dos cidadãos não somente consiste na prosperidade da terra, nem
em um certo falso repouso ou em uma tranquilidade enganosa, que será mais
ou menos favorável de acordo com os assuntos e o estabelecimento das
pessoas. Tanto deve preferir-se a esta falsa tranquilidade, para cada cidadão, o
acesso aberto e fácil a respeito da obtenção do bem espiritual e sobrenatural,
que seria muito melhor ter esse acesso aberto e fácil ao lado ou inclusive em
meio de alguns transtornos de ordem humana e terrena, a ver as coisas
humanas na mais absoluta tranquilidade e na maior prosperidade e com uma
virtual impossibilidade de viver a vida sobrenatural. Não é acaso Cristo mesmo
quem nos diz no Evangelho: "Não penseis que eu vim para trazer a paz sobre a
terra, não vim trazer a paz, mas a guerra"[8]. - Se, portanto, a indiferença ou
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neutralidade do Estado para com a Igreja Católica deve ter como consequência
- e o terá necessariamente - levar a um grande número de cidadãos e até a sua
imensa maioria a imitar esta indiferença, enquanto que, se o Estado desse o
exemplo, eles mesmos caminhariam com passo mais atento na via da
bem-aventurança, não se seguirá que somente por esse motivo o Estado haverá
atuado da maneira mais perniciosa contra o bem dos cidadãos?
Acrescenta-se a esta razão que com este modo de atuar o Estado não pode
realizar de maneira perfeita seu dever essencial. O Estado, na realidade, como
sociedade perfeita, está obrigado estritamente a render a Deus, autor da
sociedade, o culto que se lhe deve. Assim, pois, se quer ignorar a Igreja
Católica, será necessário, que se abstenha totalmente de render a Deus
qualquer culto, como pedem os instigadores do laicismo absoluto, e este é -
como dissemos - o maior dos crimes, ou ainda que ele mesmo, o Estado,
organize um culto a Deus a sua maneira, independentemente da Igreja Católica,
e neste caso renderá a Deus um culto indevido, que Deus não pode nunca
aceitar como agradável, exceto apenas o caso da boa fé e da consciência reta
embora errônea, mas este último caso não é possível se se trata de homens
católicos, e ainda se se trata dos demais, é apenas concebível, a partir do
momento em que se supõe que estes homens negam a priori e absolutamente
todo ponto de contato com a Igreja Católica.
Além destas razões podem dar-se uma razão geral que mostrará de
maneira mais clara que esta última forma de laicismo, em qualquer grau que se
encontre e sob qualquer forma que seja posta em prática, deve ser considerada
por todos, e em si mesma, como um erro supremamente pernicioso. Esta razão
se baseia na natureza mesma do Estado e da Igreja. O Estado, com efeito, está
ordenado para o bem temporal dos cidadãos, enquanto que a Igreja está
ordenada ao bem espiritual e eterno desses mesmos cidadãos. Mas vejamos, é
manifesto que o bem temporal dos cidadãos deve ser promovido pelo Estado
de tal maneira que, longe de prejudicar seu bem espiritual, ao contrário, o
favoreça da melhor forma possível. Porque os dois fins em questão, o temporal
e o espiritual, permanecem ordenados e subordinados entre si, e ambos, ao fim
espiritual considerado como superior e ao fim temporal como inferior,
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devendo em todas as coisas influir de maneira conjunta para o bem perfeito do
homem. A esta pretensão de que todas as coisas seriam melhor se o Estado e a
Igreja se ocupem, separadamente, do que lhes é próprio, ignorando-se
mutuamente e sem ter em nada em comum, Santo Tomás responde com uma
só palavra que encerra para sempre a questão. Falando do movimento de nossa
alma a Deus com vistas a honrá-lo e render-lhe o culto que lhe devemos, o
santo Doutor diz: "pelo fato de honrar e reverenciar a Deus, nossa alma se
humilha diante d'Ele, e nisto consiste a perfeição da mesma, já que todos os
seres se aperfeiçoam ao subordinar-se a um ser superior, como o corpo ao ser
vivificado pela alma e o ar ao ser iluminado pelo sol"[10]. Notamos por estas
palavras que, longe de encontrar perfeição alguma no fato de estar separado da
Igreja, este Estado somente pode se encontrar em seu mal supremo. É, com
efeito, verdadeira a comparação do Estado em relação a Igreja, como o corpo
em relação a alma que o vivifica. Pois bem, quem poderá sustentar que a
perfeição do corpo consiste em não estar submetido à alma ou a estar separado
dela? Sabemos com que nomes se chamam esta insubordinação e finalmente
separação: deficiência, incapacidade e morte. Igualmente, também para utilizar
a outra comparação de Santo Tomás, quando o ar não está submetido à
iluminação do sol, o que pode restar nele senão as trevas e a noite? Por
consequência, quando se pretende atribuir uma razão de perfeição a qualquer
Estado possível supondo-o imperfeitamente sujeito à Igreja, ou separado dela,
esta perfeição não passa de ilusão e mentira.
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Agora podemos captar como que de um só olhar todo este erro tão
pernicioso do laicismo. Consiste propriamente em que dá como perfeição e
bem do homem o que é seu mal supremo e sua última miséria. Persuade ao
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homem a não submeter-se a seu superior, seja seu superior a Igreja, ou Deus,
ou os primeiros princípios mais indispensáveis e mais seguros da razão. E
porque, como ensina Santo Tomás, é necessário que "se se levanta alguém
contra uma ordem, é lógico que seja iluminado por essa ordem mesma ou pelo
que a preside"[11], se deduz que, conforme avança o laicismo, o homem que por
si se rebela contra todas as ordens e contra toda superioridade, se encontrará
deprimido por todos: depressão que se chama com o nome de pena ou castigo.
Já será uma pena muito grave para o homem encontrar-se subtraído da
influência salutável e vivificante de seus superiores, a saber: a razão, Deus e a
Igreja. Mas essa pena não pode bastar para restabelecer a ordem violada. Por
seu ato culpável de insubordinação, o homem agiu contra a ordem. É preciso,
pois, por justiça, que o princípio da ordem, o que o tem em custódia, vingue
também a ordem ultrajado. E o princípio de todas estas diversas ordens não é
outro, em última análise, que Deus mesmo. E d'Ele lemos em sua Escritura que
se reserva de uma maneira muito especial ao cuidado da vingança: "Sim, a
mim pertence a vingança, e eu lhes darei o pago no tempo em que seus pés
resvalarem, pois já está próximo o dia de sua perdição e esse prazo vem
voando"[12]. Como consequência, quando vemos agora o universo inteiro
castigado por um mal inaudito[13], se queremos entender o que ocorre, devemos
recordar que nunca desde a origem do mundo houve entre as nações um crime
tão horrível como o que hoje em dia se está propagando, um pouco por todo o
mundo, ainda que não sempre com a mesma forma de extrema perversidade.
Era necessário que, como outrora, quando todo o universo estava manchado
pelo delito da carne, veio o dilúvio de água a purificá-lo e castigá-lo, hoje o
crime do laicismo foi lavado em todo o universo por um dilúvio de sangue.
Com efeito, o Senhor havia dito: "Levantarei a minha mão ao céu e juro por
minha eternidade: quando se afiar o gume da espada, e o farei como um raio, e
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empunharei minha mão a justiça, tomarei vingança de meus inimigos e
retribuirei aos que me odeiam. Embeberei de sangue minhas flechas"[14], e
acrescentou, indicando que não separava sua causa da causa de sua Igreja:
O Rev. Pe. Fr. Pègues nasceu em 2 de aosto de 1866 em Marcillac. Morreu aos 28
de abril de 1936 em Dax. Fez seus estudos no Grande Seminário de Rodez. Entrado
na província dominicana de Tolosa, ali tomou o nome de Thomas. Tendo-se
convertido em um dos grandes comentaristas de Santo Tomás, firmou numerosos
artigos e livros. Foi professor em vários institutos importantes, incluindo o
Collegium Angelicum de Roma. "Já que é separando-se da escolástica e de Santo
Tomás que o pensamento moderno se perdeu, nosso único dever e nosso único
meio de salvá-lo é devolver-lhe, se quer, esta mesma doutrina", dizia (Revue
thomiste, Julho de 1907).
NOTAS
[1] - Ferdinand Buisson, La foi laïque, p. 62.
[2] - Ibid., p. 69, 70, 71.
[3] - Ibid, p. XIV.
[4] - Santo Tomás, Suma teológica., I-II, q. 94, a. 2.
[5] - Santo Tomás, Suma teológica, II-II, q. 101 a. 1; q. 102, a. 1; q. 104 a. 1.
[6] - Santo Tomás, Suma teológica,II-II, q. 94, a. 3.
[7] - Hebreus 10, 31.
[8] - Mateus 10, 34.
[9] - Santo Tomás, Suma teológica, II-II, q. 99, a. 1, ad 2.
[10] - Santo Tomás, Suma teológica, II-II, q. 81, a. 7.
[11] - Santo Tomás, Suma teológica, I-II, q. 87, a. 1.
[12] - Deuteronômio 32, 35.
[13] - Era o momento mais agudo da Primeira Guerra Mundial quando foi pronunciado este discurso. E
queira Deus que o agravamento do laicismo que presenciamos não atraia novamente sobre a França e sobre
o mundo flagelo de mesma natureza ou ainda pior! Pode haver um meio para prevenir-lo. Este meio seria
que os católicos da França e de todo o mundo despertassem para transformarem-se o quanto antes em um
movimento de salvação nacional e mundial.
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[14] - Deuteronômio 32, 40-42.
[15] - Deuteronômio 32, 43.
NOTA DO TRADUTOR
Importa recordar que neste debate teológico, que vai muito além das questões teóricas, debruçando-se sobre
as possibilidades práticas nas diversas situações, tempos e lugares, sobre as relações da Igreja com o Estado
existem posições diversas, conforme as linhas de pensamento das várias correntes teológicas. Deste modo, é
sumamente importante, e mesmo indispensável para a caridade, que, com exceção daqueles que abertamente
declaram seu repúdio à ação da Igreja Católica, entre os católicos, filhos da Igreja, haja um ambiente de
respeito e reverência para com os de posição diversa. Por mais que se julgue estar em posição mais
conforme à fé católica, deve-se conceder aos demais o benefício (cf. Suma, IIa-IIae, q.60, a.4, ad.1) da boa
vontade e da reta consciência, ainda que errônea, segundo o juízo que se fizer, tratando-os como irmãos na
fé ou mesmo como adversários, porém no âmbito da disputa teológica, jamais como disputa pessoal,
evitando toda forma de ataques contra a virtude da justiça, como a contumélia, a difamação e a zombaria (cf.
Suma, IIa-IIae, q.72, 73 e 75).
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