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PROVÍNCIA LA SALLE

BRASIL – CHILE

OBRAS COMPLETAS

DE

SÃO JOÃO BATISTA


DE LA SALLE

VOLUME lII
© Editora Unilasalle, 2012

Capa: Marketing Unilasalle


Projeto gráfico: Clo Sbardelotto

Coordenador da tradução: Irmão Edgard Hengemüle


Tradutores principais
Irmão Albino Afonso Ludwig (In memoriam)
Irmão Joaquim Deitos Sfredo (In memoriam)
Outros tradutores
Irmão Arnaldo Mário Hillebrand
Irmão Albano Constâncio (Alberto Arlindo Flach)
Revisores finais
Irmão Henrique Justo (José Arvedo Flach)
Irmão Edgard Hengemüle
Revisor ortográfico
Irmão Germano Rebbelatto

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


L111o La Salle, João Batista de, Santo, 1651-1719
Obras completas de São João Batista de La Salle / coordenador: Edgard
Hengemüle ; tradutores: Albino Afonso Ludwig ... [et al.]. – Canoas, RS :
Unilasalle, 2012.
4 v. em 6 : il. ; 23 cm.
Conteúdo: v. 1. Escritos autobiográficos e históricos – v. 2-A. Escritos
ascéticos e espirituais – v. 2-B. Escritos ascéticos e espirituais – v. 3. Escritos
pedagógicos – v. 4-A. Escritos catequéticos – v. 4-B. Escritos catequéticos.
Bibliografia.
ISBN 978-85-89177-13-9 (Volume III)
ISBN 978-85-89177-09-2 (Obras Completas)
1. La Salle, João Batista de, Santo, 1651-1719 – Biografia – História.
2. Orientações espirituais. 3. Escola conforme La Salle. 4. Catequese. 5. Liturgia.
6. Sacramentos. 7. Cânticos. I. Hengemüle, Edgard. II. Título.
CDU: 929LA SALLE
Bibliotecário responsável: Samarone Guedes Silveira - CRB 10/1418

Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA UNILASALLE


Av. Victor Barreto, 2288 - Canoas / RS
Tel.: (51) 3476-8500
editora@unilasalle.edu.br
www.unilasalle.edu.br

Província La Salle Brasil – Chile


Impresso no Brasil / Printed in Brazil
2012
ESCRITOS PEDAGÓGICOS

1. Guia das Escolas Cristãs – GE

2. Regras do Decoro
e da Urbanidade Cristãos – RU

3. Exercícios de Piedade feitos ao longo do dia


nas Escolas Cristãs – EP
1

GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS

GE
Página de rosto da edição princeps do Guia das Escolas Cristãs,
publicado em Avinhão, em 1720.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 9

APRESENTAÇÃO

1. Os primeiros textos que nos chegaram do Guia das Escolas

O Guia das Escolas é o livro que contém tudo o que os Irmãos das
Escolas Cristãs deviam levar em conta no modo de lecionar e dirigir as
escolas do Instituto.
A primeira edição é de 1720, ano seguinte ao da morte de São João
Batista de La Salle. Mas, no preâmbulo, avisa-se que o livro já existe há
tempo e, para chegar-se ao texto apresentado, foram feitas duas revisões.
Uma delas, por proposta do Capítulo Geral que elegeu o Irmão Bartolomeu
como sucessor do Fundador. O Capítulo pediu que fossem revistos alguns
pontos que constavam entre as normas, e o Fundador anuiu ao pedido.
A outra foi quando se decidiu imprimir o texto, no intuito de prepará-lo
do melhor modo possível para a edição. Na página de rosto desta edição
aparece claramente o lugar e o ano: Avinhão, na tipografia de José Carlos
Chastanier, 1720.
Mas na Biblioteca Nacional de Paris existe um manuscrito (n. 11.759),
cujo texto é substancialmente o mesmo que o da edição de 1720, embora
com significativo número de diferenças.
Considera-se que este manuscrito não é original, mas uma cópia,
por vezes feita um tanto de afogadilho. É lógico supor que, se os Irmãos
deviam observar as prescrições do Guia das Escolas – e se este não estava
impresso – teriam, pelo menos, de dispor de cópias manuscritas, uma no
mínimo em cada casa. E esta suposição torna-se mais verossímil quando
se leva em conta que se recomendava aos Irmãos que a lessem e relessem
com atenção, e ao Inspetor da Escolas e ao Diretor que, além disso, lhe
exigissem o cumprimento.
O manuscrito conservado em Paris não pode ser datado com preci-
são absoluta, mas há indícios que levam a situá-lo entre 1704 e 1706. Em
várias ocasiões, nos modelos de catálogos que se oferecem, consta a data
de 1706. E chama a atenção o fato de que, na edição de 1720, essas datas
tenham mudado para 1722.

2. Quando e como se elaborou o Guia das Escolas

Alguns indícios nos permitem conjeturar a origem desta obra. Um


é a aprovação que foi incluída no final da edição de 1720, assinada pelo
10 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

inquisidor Petrus La Crampe, que só pode tê-la concedido durante o período


em que ocupou tal cargo, isto é, entre 1704 e 1706.
E o Fundador, em carta dirigida ao Irmão Gabriel Drolin, a de 4 de
setembro de 1705, diz que o inquisidor havia devolvido, a 29 de agosto, ao
Irmão Alberto, Diretor de Avinhão, os livros que tinham sido apresentados
para a aprovação. E que ele havia aprovado todos.
Em tal data, o inquisidor era o citado Petrus La Crampe. O mesmo
que assina a aprovação que aparece na edição de 1720. Significa isso que,
entre os livros apresentados para aprovação de 1705, estava o Guia das
Escolas, embora sua edição impressa demorasse 15 anos.
Outra consideração nos é sugerida pelo prefácio que aparece
no manuscrito, que supomos de 1706. Diz-nos que o conteúdo do livro
foi elaborado após a discussão de todos os conteúdos, em numerosas
oportunidades, entre os Irmãos mais capacitados do Instituto e depois de
“uma experiência de vários anos” de prática desse conteúdo nas escolas.
Tudo isto significa que o Guia das Escolas é obra que foi tomando
corpo paulatinamente e talvez desde o momento em que o Fundador e os
Irmãos se deram conta de que era necessário adotar uma série de normas
para ensinar e para conseguir que em todas as escolas fossem observadas
uniformemente as mesmas práticas. E, se levamos em consideração que já
nas primeiras escolas fora de Reims e, depois, nas de Paris, onde os Irmãos
chegaram em fevereiro de 1688, havia e se observavam normas comuns
para ensinar às crianças e dirigir as escolas, não é arriscado pensar que,
praticamente desde os primeiros anos do Instituto, foram sendo colocadas
as bases do Guia das Escolas, bases, que, de início, eram certamente muito
simples e elementares, mas que, com a experiência a que se alude no
prefácio do manuscrito, se iriam aperfeiçoando e tomando corpo dia a dia,
ano a ano.
O certo é que, em 1706, a obra já existia, mesmo que só em cópias
manuscritas. E, se havia cópias, é porque existia um original anterior. E é
também evidente que esse original já tinha plena forma e estruturação em
1705, quando foi aprovado, em Avinhão, pelo inquisidor, em vista de sua
possível publicação.
Conclusão natural de todas estas circunstâncias é que essa obra
foi resultado de todo um processo de aperfeiçoamento ao longo de anos
e da colaboração de muitos Irmãos experientes, tudo iniciado quase nos
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 11

primórdios do Instituto. O próprio prefácio de 1706 diz que remonta aos


mais veteranos Irmãos.
Muito provavelmente, João Batista de La Salle foi o redator pessoal
e último de todo este trabalho, pois é ele que apresenta a obra em 1705
para aprovação. Sem sombra de dúvida, nesta obra, há numerosos indícios
que revelam vocabulário, construção de frases, circunlóquios, sintaxe e
pensamentos muito peculiares ao Fundador, presentes também em outros
escritos seus. Mas é indubitável que muitas outras pessoas, Irmãos com
experiência, contribuíram para a elaboração de seu conteúdo.

3. Valor do Guia das Escolas para os Irmãos


e a História da Pedagogia

Poder-se-ia pensar que essa obra era como que a “Regra” dos
Irmãos para a escola, assim como as Regras Comuns o eram para a vida
comunitária. O próprio prefácio do manuscrito de 1706 esclarece o assunto.
Diz que o livro não está concebido como regra e há nele muitos pontos
que será difícil cumprir, sobretudo por alguns Irmãos. Estimula, porém, e
recomenda que os Irmãos o observem cuidadosamente, como expressão da
vontade de Deus, manifestada através dos superiores.
O Guia das Escolas tem valor pedagógico de primeira ordem. Pôde
inspirar-se em outras obras ou práticas existentes na época. Mas não há
dúvida de que tipificou um estilo próprio de ensinar e educar que carac-
terizou as Escolas Cristãs, e que muitos outros pedagogos, alguns deles
fundadores de Institutos docentes, hauriram nele ideias educacionais.
Muitos pontos de que trata referem-se à organização pedagógica.
Outros poderiam ser chamados de psicologia educativa; outros de didática;
outros de espiritualidade pedagógica; outros de relações humanas, etc.
Observa-se que a finalidade do livro é assegurar a unidade de ação em
todas as Escolas Cristãs do Instituto fundado por São João Batista de La
Salle, e que a todo mestre jovem se ensinava a dar aula segundo as normas
do Guia.
É certo que, com o passar do tempo, houve pontos que se foram
tornando anacrônicos ou foram sendo superados pelas novas realidades.
Os próprios Irmãos que contribuíram para estabelecer o Guia o perceberam
e, na edição de 1720, diz-se que pontos impraticáveis ou inúteis foram
supressos. A mudança e a adaptação teriam que ser feitas necessariamente
12 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

na fidelidade à natureza da obra. Nas sucessivas edições e traduções


do Guia das Escolas, advertiu-se a necessidade de adequar-se a muitas
realidades novas: tipos de centros educacionais, níveis de ensino, conteúdos
e matérias novas, etc. Contudo, em todas elas, apesar da acentuada
diferença com a primeira, permanece um fundo bem reconhecível: o estilo
educacional. Estilo baseado na pessoa e nos valores do educador, em seus
relacionamentos com o menino, na maneira de ensinar e de educar, no
funcionamento e organização geral da escola, no modo de viver o sentido
religioso, etc. Diríamos haver algo de essencial, que permanece no decorrer
do tempo; e algo, também, que evolui, como fruto da experiência diária,
tratando-se, por vezes, de assuntos de grande importância e com enfoques
muito profundos. Toda essa evolução ajuda a medir o grande valor do
Guia das Escolas na História da Pedagogia. Ainda que muitos teóricos o
desconheçam, foi obra que marcou profundamente a evolução da escola e
das ideias pedagógicas.
Com relação a esse vade-mécum da pedagogia lassaliana, os histo-
riadores da Educação e da Pedagogia observam e discutem seu caráter
prático e uniformizador, a forma cooperativa e experimental de sua ela-
boração, sua pertinência com relação à clientela que visa educar e ao
período histórico para o qual foi confeccionado, sua busca do novo dentro
de sua época, seu rigor, sua precisão “quase jurídica” de que fala Petitat
(1994, p. 110).
Conforme G. Vincent (1980, p. 66), esse clássico em pedagogia
“ofereceu um modelo de forma escolar”. Prairat (1994, p. 202) constata
que ele foi “o manual mais lido e mais influente em matéria de prática
pedagógica” no século XVIII. E Romano Vacca (1980 apud Nunes, 1981, p.
150) o vê como “a carta magna da escola elementar”.

4. Edições das diversas partes do Guia das Escolas

O Guia das Escolas teve, em francês, vinte e quatro edições diferen-


tes: duas no século XVIII; vinte no século XIX; e duas no século vinte.
Dentre elas, merece menção particular a edição crítica do manuscrito de
1706, realizada pelo Irmão Anselme, em 1951.
O Cahier Lasallien n. 24 coteja texto do manuscrito de 1706 com a
edição princeps de 1720, em forma de páginas paralelas, confrontadas uma
com a outra.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 13

Na edição francesa das Obras Completas publicadas em Roma, em


1993, reproduziu-se o manuscrito de 1706, o mesmo que o Irmão Anselme
transcreve em seu estudo crítico de 1951 e que é apresentado nas páginas
da esquerda no Cahier Lasallien n. 24.
Na presente edição brasileira das Obras Completas, seguiu-se basi-
camente o texto do manuscrito de 1706, mantendo-se cada parte em seu
lugar correspondente, e no final, na parte em que assim o requer a edição
de 1720 (cap. 19 ou 9º da 2ª parte), repetem-se os elementos necessários
(com leves mudanças em relação ao manuscrito de 1706).
Além disso, há outra variante de certa importância. Na edição de
1720, ao tratar dos castigos, acrescentam-se parágrafos que não consta-
vam no manuscrito de 1706. As Obras Completas em frances os incluíram.
Na presente edição também são inseridos, mas indica-se a procedência.
O Guia das Escolas consta de três partes, diz o prefácio do manus-
crito, a saber: 1ª, as atividades da escola; 2ª, os meios que o mestre deve
empregar para ensinar e, 3ª, quatro pontos: a) as obrigações do Inspetor
das Escolas; b) as funções do formador de novos mestres; c) as qualidades
que devem adquirir os mestres e, d) o que devem fazer os alunos.
A realidade é que no manuscrito de 1706 só constam as duas primei-
ras partes. Da terceira parte, na edição princeps de 1720, aparece o relativo
ao Inspetor das Escolas. Este conteúdo é transcrito na presente edição das
Obras Completas, como foi feito na edição francesa das mesmas.
O relativo ao “Formador de novos mestres” não apareceu na edi-
ção de 1720. Mas existe um manuscrito de 24 páginas nos arquivos do
Departamento de Vaucluse, Avinhão, em cuja primeira página se diz: “Regra
do formador de novos mestres”. E, ao final do texto, lê-se a indicação:
“Terceira parte do Guia das Escolas”. O Irmão Anselme a reproduz, em sua
edição crítica, como apêndice. Esse texto traz, no final, dois breves com-
plementos: “Regra do mestre dos internos” e “Diversos tipos de casas deste
Instituto”. Na presente edição, consta todo o documento, com o que se
publica o Guia das Escolas com o conjunto dos textos de que efetivamente
se compunha.
Confrontando os dois textos paralelos do Cahier lasallien 24, isto
é, o manuscrito de 1706 e o texto impresso de 1720, pode-se observar a
quantidade e a natureza das mudanças operadas ao longo dos 14 anos que
14 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

vão da cópia do primeiro e da edição do segundo texto. A carta introdutória


à obra impressa fala de que do manuscrito se procurou eliminar o que
nele havia de impraticável ou inútil. Mas percebe-se que também houve
outras supressões, como, por exemplo, de coisas repetidas. Igualmente,
numerosas passagens recebem acréscimos ou, sem serem eliminadas, são
modificadas, com elementos que tornam as prescrições, ora mais exigentes
ou determinadas, ora mais brandas ou flexíveis; ou que, ora as simplificam,
sintetizam ou enxugam, ora as ampliam ou explicitam. As notas de roda-
pé introduzidas na tradução brasileira visam permitir observar esses vários
tipos de evoluções havidas.
A opção por traduzir o manuscrito de 1706 possibilita o cotejo
com o texto idêntico constante nas Obras Completas em francês e es-
panhol. Mas significa enfrentar-se com os inconvenientes próprios de
uma cópia manuscrita e, no caso presente, possivelmente feita para uso
pessoal: abreviações, lacunas correspondentes a palavras ou frases não
transcritas, termos erroneamente copiados, etc. Para não sacrificar a
quem lê, escreveram-se integralmente os vocábulos abreviados; colocou-
se a palavra ou expressão correta nos casos de equívoco evidente já
corrigido na edição impressa; situaram-se entre colchetes palavras ou
frases não transcritas, mas necessárias e também já presentes na edição
princeps. Quanto a parênteses, o manuscrito os usa raramente (3,7,8;
15,0,21). Acrescentaram-se outros para, em função da clareza, explicitar
ideias mantidas implícitas.

5. Precisões sobre o vocabulário do Guia das Escolas

Se, em todos os escritos de João Batista de La Salle é necessário


levar em conta o significado dos termos tal como eram entendidos em seu
tempo, no Guia das Escolas é preciso tê-lo presente de modo especial, já
que a terminologia mudou bastante e alguns conceitos caíram em desuso
ou se perderam.
Os conceitos abaixo podem facilitar ao leitor a compreensão de
algumas partes do Guia das Escolas.
• École (escola). Esse termo que, para nós, hoje, significa escola, nos
tempos de La Salle aplicava-se muitas vezes ao que hoje se entende
por classe. Na tradução, está-se obrigado a alternar com frequên-
cia o conceito de classe e o de escola. Nas chamadas Pequenas
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 15

Escolas da época, a imensa maioria só tinha um professor e um


grupo de alunos, isto é, uma só classe, a qual se designava com a
palavra école. Nas escolas dos Irmãos, que em geral tinham duas
ou três classes, já se começava a distinguir entre classe e escola, o
que se reflete também no Guia das Escolas.
• Écolier (escolar). Emprega-se quase sempre com o sentido que, para
nós, tem hoje a palavra “aluno”, já que “escolar” tem por vezes ma-
tizes que mudariam o valor do termo usado no Guia das Escolas.
• Leçons (lições), ordres de leçon (ordens de lição). São conceitos pró-
prios da época, que, hoje, não se empregam com o mesmo sig-
nificado de “lições” e “ordens de lições”. Chamavam-se lições as
diversas etapas de aprendizagem da leitura que havia na escola,
cada uma delas com um “programa de estudo” concreto. Ordens
de lições seriam, embora não exatamente, o que hoje chamamos
níveis dentro de uma aprendizagem. As ordens, enquanto níveis de
uma lição, são três: dos iniciantes, dos medianos, e dos avança-
dos ou perfeitos. Às vezes, tem-se traduzido, tanto lições, quanto
ordens de lições, por grupos de alunos, o que não corresponde ao
conceito em voga no tempo de La Salle.
Nesta edição, preferimos manter a denominação daquela época,
compreendendo-a tal como se explicou.
• As lições são entendidas, sobretudo, em relação à leitura. As demais
matérias – escrita, ortografia, aritmética – estavam relacionadas
com lições bem determinadas da leitura.
Ordinariamente, quando o Guia das Escolas fala da escrita e da arit-
mética, refere-se a “ordens” e não a “lições”, se bem que, por vezes,
muito poucas – também se diga “lição”, estando esta sempre em
conexão com a “lição” de leitura.
• Lecture par pauses (leitura por pausas). É a leitura dos alunos, de
forma seguida, observando os sinais de pontuação e dando a cada
um destes a devida duração.
• Caractère (caráter). Aplicado à escrita, é cada uma das letras de um
escrito. Na época, havia formas diversas de escrever os caracteres:
com letra redonda, bastarda, corrida... Atente-se que, em francês,
16 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

gros caractères, grands caractères (caracteres grandes) ou petits ca-


racteres (pequenos caracteres)... significam maiúsculas e minúscu-
las, ao passo que gras caractères (caracteres “gordos”) é o negrito.
• Ecriture par ligne (escrita por linhas). Era o exercício que os alu-
nos deviam fazer escrevendo uma linha inteira com a mesma letra,
ligando sempre a anterior com a seguinte, como se todas juntas
constituíssem uma só palavra.
• Catalogues (catálogos). Esse termo equivale ao que, na organização
escolar atual, se chamam “registros”. Por vezes, corresponde tam-
bém ao que hoje se chama “lista”. Além disso, tenha-se presente
que o termo francês régistre equivalia também, na época, ao que
hoje chamamos manuscritos. Nesta tradução, se utiliza tanto catá-
logos (13) como registros (13,1,2; 13,17; 3,10).
• Livre, sol, denier (em moedas: libra, soldo, denário). Embora as inter-
pretações dos termos usados na época variem, ao falar do cartaz da
aritmética, adota-se a tradução de libra, soldo e denário.
• Enseigne (emblema, insígnia). Ao referir-se ao endereço do domicí-
lio dos alunos, fala-se de enseigne, que era a insígnia, o emblema
em muitas casas da época e servia de indicação de domicílio. Estes
emblemas eram, por exemplo, um sininho, uma estrela, um sol, um
animal, etc.
• Capacité (capacidade). É termo francês que, em nosso linguajar
atual, indica tanto capacidade, quanto habilidade, destreza, prepa-
ração... Dada a complexidade do significado atual da palavra, nesta
edição preferiu-se manter a tradução de “capacidade”, que abrange
os diversos matizes indicados.
• Oficial: É o aluno que exerce um ofício, isto é, uma função na escola,
ou em sua sala de aula.
• Casa. Escola. Diretor. Inspetor. Primeiro mestre (RC 11. GE 20,1,1).
Quando o Guia fala em casa, está se referindo à residência da co-
munidade dos Irmãos. A(s) escolas(s) pode(m) estar anexa(s) à casa,
ou estar em outro(s) local(is). Ou uma delas junto a ela, e outras,
afastadas. Mas todas dependem da casa. O Diretor da Comunidade
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 17

será o Diretor, o último responsável por todas elas. Sendo várias as


escolas que dependem da mesma casa, o Diretor pode designar um
ou mais Irmãos Inspetores que, sob a dependência dele, o substi-
tuem na inspeção delas. Na ausência do Diretor e Inspetor, o mestre
da classe mais avançada, chamado primeiro mestre, responde pela
direção da escola.

6. Duas observações sobre o texto do Guia das Escolas

Quem estudar atentamente esta obra de João Batista de La Salle,


perceberá o fato de ela ter sido elaborada aos poucos, à medida que iam
sendo experimentadas as decisões que os Irmãos adotavam para o fun-
cionamento das escolas. Fato que explica, por exemplo, a introdução das
reflexões que precedem “os castigos” na edição de 1720, que não constava
no manuscrito de 1706. Explica também que, na terceira parte do Guia,
“Regra do formador dos novos mestres”, se relacionem as qualidades que
estes devem adquirir e, depois, se desenvolva só uma parte delas e outras
se agrupem de maneira resumida. E explica, igualmente, que se anuncie
que serão incluídos os “deveres” dos alunos e depois não constem no livro.
Sem dúvida, era uma parte que se previa ser acrescida depois, mas que
ainda não estava pronta ao ser impresso o livro.
Os cartazes utilizados nas Escolas dos Irmãos para leitura, ortogra-
fia e aritmética aparecem tanto no manuscrito de 1706, quanto na edi-
ção de 1720, mas em lugares diferentes, e não são exatamente iguais. A
experiência, certamente, aconselhou as mudanças observadas, ainda que
estas não sejam importantes.
A edição francesa das Obras Completas não os acolheu, nem tam-
pouco vários modelos ilustrativos de catálogos que se usavam na escola, e
encaminha ao Cahier lasallien n. 24.
Na presente edição, foram incluídos tanto os cartazes, quanto os
modelos dos catálogos; em relação aos cartazes, foram incorporados os
de 1706, no capítulo 3º, e os de 1720, no capítulo 19. Os estudiosos terão
assim possibilidade de compará-los entre si.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 19

GE GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS DIVIDIDO EM TRÊS


PARTES

GE 0,0,1 Prefácio
Foi preciso redigir este Guia das Escolas Cristãs, para que
houvesse uniformidade em todas as escolas e localidades
em que se encontram Irmãos deste Instituto e para que as
práticas nelas fossem sempre idênticas. O homem é tão
inclinado ao relaxamento, inclusive à mudança, que necessita
regras escritas para retê-lo nos limites de seu dever e para
impedir que introduza alguma novidade ou destrua o que foi
sabiamente estabelecido.
GE 0,0,2 Este Guia só foi redigido em forma de regulamento1 após
numerosas trocas de ideias entre os Irmãos2 mais antigos
deste Instituto e os mais aptos em dar aula, e após experiência
de vários anos. Nada foi nele introduzido que não fosse
muito consensual e bem comprovado, de que não se tivessem
ponderado as vantagens e inconvenientes e previsto, tanto
quanto possível, as boas ou más consequências.
GE 0,0,3 Este Guia não foi elaborado como Regra – por haver nele
várias práticas apenas em vista de se alcançar o melhor
possível e que, talvez, não possam ser facilmente observadas
pelos pouco aptos em dar aula, e por serem várias delas
acompanhadas e apoiadas por razões para as fazer com-
preender e dar a conhecer o modo de utilizá-las. Os Irmãos,
no entanto, se esforçarão, com grandíssimo esmero, por se
tornarem fiéis na observância de todas essas práticas, per-
suadidos de que só haverá ordem em suas classes e escolas
na medida em que se for exato em não descuidar nenhuma
delas. Acolherão este Guia como dado por Deus, através da
mediação dos Superiores e dos primeiros Irmãos do Instituto.

1
O texto impresso de 1720 diz: só foi coletado e ordenado (pelo falecido Senhor
de La Salle). (As notas de rodapé são do coordenador da tradução portuguesa).
2
1720: entre ele e os Irmãos
20 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 0,0,4 Este Guia divide-se em três partes3. Na primeira, são tratadas


as atividades da escola e o que se faz nela desde a entrada até
a saída. A segunda expõe os meios necessários e úteis, dos
quais os mestres devem servir-se para estabelecer e manter a
ordem nela. A terceira trata, primeiro, dos deveres do Inspetor
das Escolas; segundo, do cuidado e empenho que deve ter o
formador dos novos mestres; terceiro, das qualidades que os
mestres deverão possuir ou adquirir, da conduta que devem
ter para desempenharem bem as obrigações escolares;
quarto, dos deveres dos alunos4. Este é, de modo geral, o
conteúdo deste livro.
GE 0,0,5 Os superiores5 das casas do Instituto e os Inspetores das
escolas empenhar-se-ão em estudar bem este Guia e em
dominar perfeitamente todo o seu conteúdo. Farão com que
os mestres não deixem de cumprir e observem exatamente
todas as práticas que nele lhes são prescritas, até as mínimas,
a fim de assegurar, por esse meio, grande ordem nas escolas,
proceder bem regular e uniforme dos Irmãos encarregados
delas e excelentes resultados nas crianças nelas instruídas.
GE 0,0,6 Os Irmãos em atividade na escola lerão e tornarão a ler muitas
vezes o que nele lhes concerne, a fim de não esquecerem nada
e se tornarem fiéis em praticá-lo6.

3
1720: só publica as duas primeiras, embora anuncie e dê o plano das três.
4
1720: substitui esta última frase por: Esta terceira parte será usada somente
pelos Irmãos Diretores e formadores dos novos mestres.
5
1720: “Os Irmãos Diretores das casas do Instituto...”. É que as Regras Comuns
(12,1) estatuíam que “os Irmãos darão o nome de Superior somente ao Irmão
Superior do Instituto”.
6
O texto impresso de 1720 repete esse prefácio. Mas o Irmão Superior Geral,
Irmão Timóteo, o precede com uma carta de apresentação, na qual: 1º Reconhece
o zelo demonstrado pelos Irmãos no exercício de seu transcendente ministério.
2º Lembra a solicitude de La Salle para que este ministério fosse realizado
bem e de forma uniforme nas Escolas Cristãs, redigindo, para isso, um Guia,
melhorado por ele, a pedido da assembleia de 1717. 3º Fala, por um lado, do
interesse dos Irmãos de terem cópia do Guia e, por outro, da dificuldade para
fazer cópias manuscritas dele para atendê-los, além do fato de nestas cópias
se irem introduzindo erros por falhas dos copistas. 4º Por isso, comunica que,
respondendo a desejo pessoal e a pedido dos Irmãos, decidiu imprimir esse
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 21

GE 1 PRIMEIRA PARTE
DAS ATIVIDADES REALIZADAS NAS ESCOLAS CRISTÃS7
E DO MODO COMO DEVEM SER FEITAS

Capítulo 1º
Da entrada na escola e do início das aulas

GE 1,1 Artigo 1º
Da entrada dos alunos na escola8
GE 1,1,1 A porta das escolas será aberta sempre às sete e meia pela
manhã e a uma hora, à tarde.
GE 1,1,2 Os alunos, tanto pela manhã, como pela tarde, terão sempre
meia hora para se reunirem.
GE 1,1,3 Cuidar-se-á para que não se aglomerem na rua em que está
a escola, antes da abertura da porta, e não façam algazarra,
gritando ou cantando.
GE 1,1,4 Não se tolerará que brinquem, correndo ou jogando, durante
esse tempo, no quarteirão junto à escola; ou que, de qualquer
forma que seja, incomodem os vizinhos; mas cuidar-se-á que
andem de modo tão comportado na rua onde está a escola, e
que permaneçam depois, ante a porta, aguardando que seja
aberta, com tal compostura que os passantes possam ficar
edificados.
GE 1,1,5 O primeiro mestre ou Inspetor das escolas terá o cuidado de
encarregar um dos alunos mais bem comportados de observar
quem faz algazarra enquanto se reúnem. Esse aluno somente
observará, sem nada dizer, e comunicará, depois, ao mestre o
que passou, sem que os outros o possam perceber.

texto, após providenciar pela remoção do que nele havia de inútil. 5º Faz votos
de que o Guia impresso seja bem acolhido e sirva de fonte de prudência e
sabedoria necessárias na realização do ministério, com a realização do qual os
Irmãos se salvarão a si mesmos e a muitos outros.
7
1720 elimina: Cristãs
8
1720 não traz este subtítulo.
22 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 1,1,6 Ao abrir-se a porta, se estará atento a que os alunos não


se apressem para entrar atropeladamente, mas o façam de
maneira tranquila, um depois do outro.
GE 1,1,7 Ao entrarem na escola, os alunos andarão tão leve e
pausadamente, que não sejam ouvidos; tendo o chapéu na
mão, tomarão a água benta e, fazendo o sinal da santa cruz, se
dirigirão em seguida, diretamente à respectiva sala de aula.
GE 1,1,8 Os que passarem por outras salas para irem à sua, não se
deterão em nehuma delas, por qualquer razão que seja,
mesmo a pretexto de falar a alguém, ainda que este fosse o
seu irmão9.
GE 1,1,9 Serão estimulados a entrar em suas salas com profundo
respeito, por causa da presença de Deus. Chegados ao meio
da sala, farão profunda inclinação ao crucifixo, saudarão
o mestre, caso ele estiver e, a seguir, por-se-ão de joelhos
para adorarem a Deus e dirigirem curta oração à Santíssima
Virgem. Concluída a prece, levantar-se-ão, farão novamente
reverência ao crucifixo, saudarão o mestre, indo em seguida,
devagar e sem ruído, a seu lugar costumeiro.
GE 1,1,10 Enquanto os alunos se reunirem e entrarem na sala, todos
observarão silêncio tão rigoroso e exato, que não se ouça
o menor rumor, nem mesmo dos passos; de forma que não
se possa distinguir os que entram, nem perceber os que
estudam10.
GE 1,1,11 Uma vez em seus lugares, permanecerão quietos e não sairão
dali, por motivo nenhum, até a chegada do professor.
GE 1,1,12 Os mestres terão cuidado de avisar que os que falarem ou
fizerem o mínimo11 ruído, na classe, durante sua ausência,
serão punidos rigorosamente12 e que não lhes perdoarão as

9
1720 elimina este parágrafo.
10
1720: nem perceber que os outros estudam.
11
1720 elimina: o mínimo
12
1720 elimina: rigorosamente
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 23

faltas cometidas contra o silêncio e a boa ordem durante esse


tempo.
GE 1,1,13 Desde a entrada dos alunos na escola até a chegada do mestre,
os que sabem ler estudarão o catecismo, e em voz tão sumida
que não possam ser ouvidos uns pelos outros e que nem
mesmo se escute ruído algum na sala13. Os que ainda não
sabem ler e não estão em condições de aprendê-lo de cor se
ocuparão estudando sua lição14.
GE 1,1,14 Durante esse tempo, haverá dois alunos15 na primeira classe
encarregados, da parte do mestre, de apontar, nos dois cartazes
do alfabeto e das sílabas, ora uma letra ou sílaba, ora outra,
em diferentes partes dos cartazes, para que os alunos que as
aprendem possam estudar suas lições.
GE 1,1,15 Os desta lição, todos ao mesmo tempo, olharão, no cartaz,
a letra ou a sílaba que for indicada, e cada um a lerá em voz
sumida, de forma16 a ser ouvido somente pelos dois colegas a
seu lado.
GE 1,1,16 Os que forem designados17 para apontar nos cartazes18, o
farão19 sem dizer uma só palavra. O mestre prestará sobretudo
atenção a que sejam fiéis20 a isso.
GE 1,1,17 Os mestres terão muito cuidado para todos os alunos estarem
presentes na aula21, e para que nenhum sequer chegue atrasado,

13
1720: elimina o que segue.
14
O parágrafo seguinte mostra como as crianças podem estudar sem saberem
ainda ler.
15
1720: um aluno
16
1720: Cada aluno de todas as lições de cada cartaz lerá, um após outro,
seguindo a ordem dos bancos. Enquanto o encarregado da leitura lê em voz
alta, todos os demais, olhando juntos no cartaz a letra ou a sílaba apontada, a
leem em voz sumida, de forma a...
17
1720: O que for designado
18
GE 3,2,1.
19
1720: o fará sem corrigir e sem dizer...
20
1720: seja fiel
21
1720: antes deles
24 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

a não ser22 por motivo sério e por necessidade. Serão muito


exatos em fazer observar este ponto, e o Inspetor das escolas
vigiará sobre isso, alertando mesmo os pais, na inscrição dos
alunos, da obrigação de estes comparecerem à escola todos os
dias, na hora marcada, e que são admitidos somente com esta
condição.

GE 1,2 Artigo 2º
Da entrada do mestre e do início da aula
GE 1,2,1 Os mestres dirigir-se-ão às escolas assim que terminar a reza
do terço, tanto na parte da manhã como de tarde23, logo depois
das Ladainhas de São José, sem deter-se em nenhum lugar da
casa24.
GE 1,2,2 Andarão muito modesta e silenciosamente, com passo não
apressado, porém moderado, e conservando os olhos e todo o
exterior em grande reserva.
GE 1,2,3 Ao entrarem na escola, se descobrirão, tomarão água benta
com muito respeito. Chegados ao centro de sua classe25, farão
inclinação ao crucifixo, por-se-ão de joelhos, farão o sinal da
santa cruz e, em seguida, breve oração; depois, feita inclina-
ção ao crucifixo, irão a seu lugar.
GE 1,2,4 Quando os mestres entrarem na escola, todos os alunos da
classe26 de cada mestre se levantarão, ficando de pé até que o
mestre tiver ocupado seu lugar.
GE 1,2,5 Aqueles diante dos quais ele passar, o saudarão, a seu passo;
os demais o farão quando ele tiver chegado ao meio da sala
para fazer sua oração; e todos saudarão de novo o mestre

22
1720: raramente,
23
No original consta: “nos dias de jejum”, sem se perceber o porquê deste
acréscimo.
24
1720 suprime: da casa.
25
1720: chegados à sua classe,
26
1720: de cada classe
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 25

quando tiver chegado a seu lugar e não se sentarão enquanto


ele não o tiver feito27.
GE 1,2,6 Se o Irmão Diretor ou algum externo vier à escola, procederão
da mesma forma, mas somente na primeira vez que entrarem.
Caso permanecerem, ou passarem de uma sala a outra, os
alunos se manterão descobertos até o mestre lhes fazer sinal
de sentar-se e se cobrir.
GE 1,2,7 Os mestres, desde que se tiverem sentado em seus lugares
até o início da aula, ocupar-se-ão lendo o Novo Testamento,
e ficarão em silêncio para dar exemplo aos alunos, vigiando
sobre tudo o que ocorrer na classe a fim de manter nela boa
ordem.
GE 1,2,8 Pela manhã, as aulas iniciarão sempre, pontualmente, às oito
horas e, depois do meio-dia, a uma hora e meia. Na última
batida das oito horas e na última de uma e meia, um aluno
tocará a sineta28 da escola e, no primeiro toque, todos os
alunos se colocarão de joelhos, com braços cruzados29, em
postura e exterior muito recolhidos.
GE 1,2,9 Tão logo a sineta parar de tocar, o encarregado iniciará a
oração, em voz forte, clara e pausada: após haver feito o sinal
da santa cruz, acompanhado por todos os alunos, iniciará
o Veni Sancte Spiritus30, etc. Os31 alunos continuarão, com
ele, mas num tom menos forte e, assim, com ele, recitarão
todo o restante da oração, de acordo com o indicado no livro
das orações das Escolas Cristãs32. Terminada a oração, os

27
1720 simplifica este parágrafo: Aqueles diante dos quais ele passar o saudarão
quando ele se colocar de joelhos para fazer sua oração, e não se sentarão
enquanto ele não o tiver feito.
28
No original diz-se: “cloche” (sino). Mas a edição princeps (p. 228, por erro,
118), diz claramente do que se trata: ...na classe dos escreventes, haverá uma
pequena sineta para dar o sinal para os exercícios da escola.
29
1720: com os braços cruzados e os olhos baixos,
30
Vinde, Santo Espírito,
31
1720: Os outros alunos
32
1720 introduz: Pela manhã, o encarregado das orações rezará a bênção da
comida em latim: Benedicite, e, após o desjejum, a ação de graças: Agimus
26 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

mestres baterão com as mãos e todos os alunos, ao mesmo


tempo, se levantarão, tomando em seguida, silenciosamente,
o desjejum.

GE 2 Capítulo 2º
Do desjejum e da merenda

GE 2,1 Artigo 1º
Das coisas a que o mestre deverá estar atento durante o
desjejum e a merenda
GE 2,1,1 O mestre deve estar atento a que os alunos tragam diariamente
o necessário para o desjejum e a merenda, a não ser que esteja
seguro de sua pobreza33.
GE 2,1,2 Não permitirá que tragam carne e, se alguém a trouxer, fará
com que seja dada aos pobres que ele sabe que não a comem
em sua casa34.
GE 2,1,3 Cuidará também que não joguem caroços nem cascas no
chão, mas os obrigará a guardá-los nos bolsos ou sacolas.
GE 2,1,4 Para estar seguro de que não tomaram seu desjejum e que o
trouxeram, fará com que todos o mostrem assim que a oração
tiver terminado e antes que se inicie a comer. Se alguém que
o devia trazer não o traz, será castigado.

tibi gratias. Após o meio-dia, rezará estas orações em francês, assim como
está no livro de orações. O livro de orações de que se fala é o dos Exercícios de
Piedade feitos ao longo dia nas Escolas Cristãs.
33
1720 não conserva: a não ser que esteja seguro de sua pobreza. Mas acrescenta:
Em lugar determinado da sala, será colocada pequena cesta, na qual os alunos,
sem serem obrigados a isso, poderão colocar, se quiserem, o pão que lhes tiver
sobrado, para ser distribuído aos que são pobres. Os mestres estarão atentos
a que não deem tanto pão que não fiquem com o suficiente para si mesmos.
Os que tiverem pão para dar, levantarão a mão, mostrando o pedaço que têm
para oferecer. Um aluno, encarregado de recolher as esmolas, irá recebê-las.
E, quando os alunos estiverem terminando de comer, os mestres distribuirão o
pão aos mais pobres, exortando-os a rezarem por seus benfeitores.
34
1720 exclui este parágrafo, bem como o 2,1,4; 2,1,5 e 2,1,6.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 27

GE 2,1,5 O mestre cuidará de informar-se (para saber) se alguém não


toma o desjejum na rua.
GE 2,1,6 É preciso ser muito cuidadoso em não admitir, como razão
de os alunos não trazerem pão à escola, o fato de os pais o
proibirem, por receio de que se obrigue a dá-lo na escola.
Porque não se deve coagi-los a dar pão aos pobres. Isso é
inteiramente livre, e eles não o devem fazer a não ser muito
voluntariamente e por amor a Deus.
GE 2,1,7 É necessário fazer-lhes compreender que, se a gente deseja
que comam na escola, é para ensinar-lhes a fazê-lo de forma
bem comportada, com moderação, e educadamente, e para
rezarem a Deus antes e depois de fazê-lo.
GE 2,1,8 O mestre velará para que os alunos não brinquem durante
o desjejum e a merenda, porém estejam muito atentos ao
exercício feito na escola durante esse tempo. E, para certificar-
se disso, fará repetir, de tempo em tempo, por alguém, o que
foi dito35.
GE 2,1,9 Não se permitirá aos alunos darem um ao outro seja o que for,
mesmo de seu desjejum, nem de o trocarem entre si36. Se o
mestre perceber que alguém o faça, o punirá imediatamente
GE 2,1,10 Os que não tiverem tomado o desjejum ou não tiverem
terminado de tomá-lo ao se fazer a ação de graças, não comerão
depois, excetuado os que tiverem estado obrigatoriamente
ocupados durante este tempo, fato a que o mestre estará
atento37.

GE 2,2 Artigo 2º
Do que se faz durante o desjejum e a merenda
GE 2,2,1 Durante o desjejum e a merenda, dois alunos, estando no meio
da classe, um de um lado e outro de outro, farão a recitação.

35
1720 acrescenta: excetuado os que estão ocupados com a escrita.
36
Em 1720 o resto do parágrafo desaparece.
37
1720 substitui este parágrafo por: Os mestres cuidarão para que os alunos, na
medida do possível, tenham terminado o desjejum às oito horas e meia.
28 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 2,2,2 Nos dois primeiros dias da semana em que houver aula o dia
inteiro, os alunos que leem sem silabar, durante o desjejum
farão recitação da oração da manhã, e durante a merenda,
da oração da tarde38; nos dois últimos dias da semana em
que houver aula o dia inteiro, os alunos recitarão, durante o
desjejum e a merenda, o que tiverem aprendido ao longo da
semana no catecismo da diocese. O mestre cuidará para que
todos, sem exceção de ninguém, o recitem nesses dois dias.
O que deverão ensinar em cada aula, no decorrer da semana,
lhes será indicado pelo Irmão Diretor39.
GE 2,2,3 Para esse efeito, em cada classe haverá um ou mais catecismos
da diocese, nos quais serão indicadas, por algarismos e por
barras, todas as lições que os alunos dessa classe e dessa lição
deverão aprender cada semana, de acordo com a lição em que
estiverem40.
GE 2,2,4 Na quarta-feira, quando na quinta-feira for feriado todo o
dia, ou no dia livre na parte da tarde, se houver uma festa na
semana, os que leem latim, recitarão as respostas da santa
Missa no desjejum41.
GE 2,2,5 Se na classe em que se recitam as respostas da santa Missa
houver alunos que já as saibam ou sejam capazes de as
aprender, embora ainda não leiam o latim, o mestre se
empenhará para que as saibam bem e igualmente a eles lhas
fará recitar.
GE 2,2,6 Os alunos que recitarão todas as coisas de que se fala acima,
deverão tê-las aprendido de cor em casa ou durante o tempo

38
1720 acrescenta: Nas aulas dos que escrevem, na segunda e na terça-feira,
durante o desjejum e a merenda, um aluno ficará num lugar indicado, recitando,
com voz inteligível, todas as orações: durante o desjejum, a oração da manhã
e, após o meio-dia, a da tarde, os mandamentos de Deus, os da Igreja, e o
Confiteor. O mesmo farão todos, uns depois dos outros. Se exigirá dos alunos
que aprendam as orações de cor e, durante o desjejum e a merenda desses dois
dias, as recitarão, e o Inspetor admoestará os que não as souberem.
39
1720 continua: ou o primeiro mestre.
40
1720 corta este parágrafo.
41
1720 acrescenta: e mesmo na primeira meia hora do catecismo da tarde.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 29

em que se reúnem42. E não as recitarão com a finalidade de


aprendê-las, mas unicamente para mostrar que as sabem, e
as orações e respostas da santa Missa, para aprenderem a
pronunciá-las corretamente43.
GE 2,2,7 Todos os alunos que recitarem as orações e as respostas da
santa Missa as recitarão, cada um por sua vez, um depois do
outro, em seguida, em ordem diferente daquela das orações44.
O mestre, toda vez que se recitarem as orações, terá o cuidado
de assinalar, por um sinal particular, sobre o catálogo do
banco45, os nomes dos dois últimos que as recitaram, para que
o possa ter presente e identificar quais os que deverão recitá-
las por primeiro na vez seguinte em que houver recitação. Da
mesma forma, assinalará o nome do último que tiver recitado
as respostas da santa Missa46.
GE 2,2,8 47
A oração será recitada da seguinte maneira: Um dos dois
[alunos]48 dirá o título das orações, e o outro recitará os
atos ou os artigos, todos em ordem e em sequência, desde o
começo da oração até o final. E ambos farão as duas coisas,
um após outro.
GE 2,2,9 Quem enunciar os títulos das orações e as perguntas do
catecismo, corrigirá o colega, caso este cometer algum erro.
Se isso não for feito, o mestre terá o cuidado de dar um clique
com o sinal49 para fazer a correção. Caso o aluno não se
der conta de sua falha, o mestre – cuja preocupação, neste
momento, será estar atento tanto aos que recitam como à

42
1720 acrescenta: na escola.
43
1720 continua: Também se fará com que as aprendam e recitem os que não as
sabem, embora já estejam há tempo na lição de escrita.
44
No original, reintera-se: recitarão as respostas da santa Missa.
45
GE 13,5,1.
46
1720 só guarda a primeira frase deste parágrafo.
47
1720 acrescenta, neste início: Nas classes dos menores,
48
Esse termo, acrescido em 1720, corresponde a uma espécie de recitador das
orações.
49
Sinal: Pequeno instrumento usado pelo professor lassaliano para comunicar
ordens através de ruídos e sinais convencionados (Cf. adiante: 12,0,4 – 12,0,5).
30 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ordem de toda a classe – fará sinal a outro aluno para corrigir


ao que errou, assim como se procede na leitura.
GE 2,2,10 Na classe dos escrevedores, por estar o mestre ocupado
durante este tempo com a escrita, um aluno, com a função
de inspetor, fará o que caberia ao mestre, nesta recitação, e
somente nela, já que o mestre, durante este tempo, não deverá,
de forma nenhuma, eximir-se de vigiar sobre a ordem em toda
a classe.
GE 2,2,11 As respostas à santa Missa se recitarão da maneira seguinte:
Um aluno fará, durante toda a recitação, o que cabe ao
sacerdote, e dirá o que este deve dizer, conforme consta em
seu ofício50. Um outro, ao seu lado, responderá e fará o que
deve fazer o coroinha.
GE 2,2,12 Este fará exatamente tudo o que está assinalado no livro de
orações das Escolas Cristãs. Os que recitarem as orações
e as respostas à santa Missa, permanecerão, durante esse
tempo, em postura muito modesta e piedosa, mantendo as
mãos juntas e todo o exterior em grande recolhimento. Isso
porque é preciso exigir-lhes, nessa ocasião, que as recitem
com a mesma modéstia e piedade, com a mesma postura e da
mesma forma com que se deseja que ajudem a santa Missa e
rezem em casa.
GE 2,2,13 O mestre zelará para que os que recitam as orações e respostas
da santa Missa ou do catecismo, durante esse tempo, falem
muito pausadamente, com tom de voz moderado51, antes
baixo do que alto, a fim de obrigar os alunos a guardarem
silêncio, a escutarem e a estarem atentos ao que estiver sendo
recitado.
GE 2,2,14 Durante todo esse tempo, o mestre velará52 sobre tudo o que
se passa na sala e terá cuidado para que todos estejam atentos.
De vez em quando, fará parar os recitadores, para perguntar

50
GE 18,2.
51
1720 acrescenta: para que todos os possam ouvir,
52
1720: muito cuidadosamente
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 31

o que está sendo recitado aos que nota não estarem53 atentos.
Caso estes não souberem responder, lhes imporá alguma
penitência ou os castigará, de acordo com o que julgar
conveniente54.
GE 2,2,15 No decorrer desta recitação, o mestre terá em mãos, ou o livro
de orações ou o catecismo e tratará de que os alunos façam a
recitação com55 exatidão e muito baixo.
GE 2,2,16 Os alunos que aprendem as letras ou as sílabas nos cartazes ou
no silabário, e que soletram e leem no segundo livro, recitarão
as orações durante o desjejum e a merenda, não somente nos
dois primeiros dias da semana, mas também nos dois dias em
que se deve recitar o catecismo56.
GE 2,2,17 Os que aprendem a ler no primeiro cartaz aprenderão e
recitarão somente o Pater, a Ave, o Credo57, em latim e em
francês, o Confiteor58 em francês como estão no livro de
orações das Escolas Cristãs.
GE 2,2,18 Os que leem no segundo cartaz aprenderão e recitarão os atos
de presença de Deus, de invocação ao Espírito Santo, de adora-
ção e de agradecimento, que se encontram sequencialmente
tanto no começo da oração da manhã, como da tarde.
GE 2,2,19 Os que leem no Silabário aprenderão e recitarão, um depois
do outro, de acordo com a ordem seguinte: os atos de ofere-
cimento e de petição, contidos na parte da oração da manhã; o
ato de apresentar-se a Deus com confusão; o ato de contrição
e o ato de oferecimento do sono, que se encontram na oração

53
1720: suficientemente
54
1720: o que julgar necessário.
55
1720: com grande exatidão e muito bem.
56
1720 reduz este parágrafo e o subsequente (2,2,17) ao seguinte texto: Nos dois
primeiros dias da semana e nos dois dias em que se deve recitar o catecismo, os
que estudam suas letras no cartaz do alfabeto, aprenderão e recitarão somente
o Pater, a Ave, o Credo e o Confiteor em latim e em francês, como estão no livro
de orações das Escolas Cristãs.
57
Creio (em Deus),
58
(Eu, pecador, me) confesso
32 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

da tarde; a oração ao santo anjo da guarda e as que seguem a


esta, constantes tanto na oração da manhã, como da tarde.
GE 2,2,20 Se houver alunos das duas últimas dessas três lições que não
souberem as orações que deveriam ter aprendido na lição ou
nas lições anteriores, o mestre os fará aprender e recitar o que
não sabem, com os da lição em que se deve aprendê-lo: com
os do primeiro cartaz, por exemplo, se não souberem bem o
Pater, a Ave, o Credo e o Confiteor. Quando o souberem bem,
ou supondo que o saibam bem, aprenderão com os leitores
no segundo cartaz os atos que devem aprender59 os que estão
nesta lição.
GE 2,2,21 Os que60 leem no segundo livro aprenderão e recitarão todas
as orações, tanto da manhã como da tarde. Se o mestre, na
recitação, notar que alguém não sabe corretamente alguma
delas, exigirá que a aprenda em particular no livro de orações
da escola e lhe concederá um prazo para recitá-la, seja por
inteiro, seja por partes, segundo julgar oportuno.
GE 2,2,22 Caso, na mesma classe, houver alunos que devam recitar o
catecismo, o farão somente no sábado ou no último dia de
aula da semana. E se, durante o desjejum e a merenda desse
dia, houver mais tempo que o necessário para que todos o
recitem, o tempo restante será empregado em fazer recitar as
orações.
GE 2,2,23 Recitarão a oração da seguinte maneira: Um diz um período e
o outro o seguinte. O primeiro dirá, por exemplo: Lembremo-
nos que estamos na presença de Deus e digamos. Depois
acrescenta: Meu Deus, creio firmemente que estais em toda
parte e que estais presente aqui. O outro continua: que me
vedes e me ouvis. O primeiro diz, em seguida: Creio que nada
vos está oculto e que conheceis todos os meus pensamentos e
o fundo de meu coração61.

59
1720: que devem recitar todos os
60
1720: Os que soletram e
61
1720 omite este parágrafo e o seguinte (2,2,24).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 33

GE 2,2,24 Da mesma forma recitarão os demais atos, seguindo as pausas


indicadas no livro usado pelo mestre para fazer essa recitação.
GE 2,2,25 Nos dias da semana em que os demais alunos recitarem as
respostas da santa Missa, estes alunos aprenderão a rezar o
terço, e o farão dois a dois, da seguinte maneira:
GE 2,2,26 Ficarão de pé, um frente ao outro, e farão simultaneamente
o sinal da santa cruz. Um deles dirá: Dignare me laudare
te, Virgo Sacrata62; e o outro responderá: Da mihi virtutem
contra hostes tuos63. 64Em seguida, um dirá: Credo in Deum,
e o outro responderá: Credo in Spiritum Sanctum; assim
continuarão alternadamente. Um dirá Pater, e o outro Ave,
e o que tiver rezado Pater, dirá Sancta Maria. Dessa forma,
rezarão as três Ave rezadas no começo do terço, após o que
aquele que tiver rezado Ave Maria dirá Gloria Patri, e aquele
que tiver rezado Sancta Maria dirá Sicut erat. Depois, aquele
que antes tiver rezado Ave Maria, dirá Pater, e aquele que
antes tiver rezado Sancta Maria dirá Ave Maria, e o que tiver
rezado Ave Maria dirá Sancta Maria.
GE 2,2,27 Rezarão apenas essa dezena65. E o mestre lhes fará compreender
que para rezar o terço, é preciso rezar seis dezenas como as
que rezaram.
GE 2,2,28 Depois desta dezena, se lhes fará rezar: Maria Mater gratiae,
Mater misericordiae, tu nos ab hoste protege, et hora mortis

62
Dignai-vos (conceder-me) que vos louve, ó Virgem Sagrada;
63
Dai-me força para lutar contra vossos inimigos.
64
1720 pormenoriza assim o restante deste parágrafo: Em seguida, dirá, sobre a
cruz do rosário: Credo in Deum; sobre o grão maior que segue, rezará o Pater
noster, etc. e, sobre cada um dos três grãos menores, recitará uma Ave Maria.
Após isso, dirá: Gloria Patri, etc. e: Sicut erat, etc. Continuará, da mesma forma,
a recitar a dezena seguinte, no final da qual, dirá novamente Gloria Patri, etc.
Depois que este terminou, o outro rezará, também em voz forte e inteligível, o
que seu colega recitou. Assim, um depois do outro, recitará apenas essa dezena
do terço. O mestre lhes explicará que, para recitar um terço, é preciso rezar
seis dezenas iguais à rezada.
65
1720: Assim, rezarão apenas, um depois do outro, essa dezena do terço,
34 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

suscipe66. E se lhes fará compreender que é preciso concluir o


terço com esta oração.
GE 2,2,29 Ensinar-se-á a rezar o terço desse modo a quantos não sou-
berem a maneira de recitá-lo.
GE 2,2,30 Haverá somente uma ordem67 para todos os alunos destas
quatro lições no repasse da oração. Todos recitarão, sequen-
cialmente, as que devem saber, começando pelos aprendizes
do alfabeto e concluindo com os que soletram e os leitores do
segundo livro.
GE 2,2,31 Haverá uma outra ordem para os que aprenderem a rezar o
terço68.

GE 2,3 Artigo 3º
Da coleta feita para os pobres e da maneira de fazer sua
distribuição69
GE 2,3,1 Durante o desjejum e a merenda, um dos alunos, a saber, o
primeiro de um dos bancos da frente, terá diante de si uma
cesta para recolher pão para os pobres. Os que tiverem trazido
pão em quantidade poderão dar algum pedaço dele, ou o que
lhes tiver sobrado depois de haverem comido o suficiente. O
mestre, contudo, estará atento para que não deem tanto pão
que não sobre o suficiente para eles.
GE 2,3,2 De vez em quando, durante o próprio tempo do desjejum, os
estimulará a esta ação caritativa, seja por algum exemplo,
seja por alguma razão tocante, que os anime a fazê-la de bom
grado e com gosto, por amor de Deus.
GE 2,3,3 Algumas vezes, louvará algum aluno que tiver feito esta ação
de forma caritativa, por exemplo, privando-se da fruta trazida,

66
Maria, mãe da graça, mãe da misericórdia, defendei-nos do inimigo, e buscai-
nos na hora da morte.
67
GE 3,1,3.
68
1720 omite essa frase.
69
1720 omite este artigo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 35

ou dando todo o seu pão num dia de jejum da Quaresma,


uma vez por semana ou, eventualmente, numa sexta-feira
ou sábado; o que deve ser raro, no máximo uma vez a cada
quinze dias, ou uma vez por semana, para os maiores.
GE 2,3,4 Os que tiverem pão para dar levantarão a mão, mostrando o
pedaço que têm para dar, para que o esmoler70 o possa ver
para ir buscá-lo.
GE 2,3,5 Pelo final do desjejum, um pouco antes da ação de graças,
quando as esmolas tiverem sido todas ou quase todas reco-
lhidas, o mestre tomará, da cesta, um pedaço de pão; depois,
tendo feito o sinal da cruz, o segurará na mão, momento em
que todos os pobres se levantarão e permanecerão de pé sem
fazer sinal nenhum.
GE 2,3,6 O mestre passará, em seguida, por todos, um após o outro,
para distribuir-lhes o que houver na cesta, de acordo com a
necessidade de cada um.
GE 2,3,7 Se, na cesta houver quantidade maior ou menor de pão do
que os pobres possam comer razoavelmente, o mestre se
informará junto ao Irmão Diretor sobre o que deverá fazer
nestas ocasiões.
GE 2,3,8 O mestre estará atento para somente dar as esmolas distri-
buídas durante o desjejum e a merenda àqueles que são
realmente pobres. Para assegurar-se disso, buscará infor-
mar-se, e elaborará uma lista, de comum acordo com o Irmão
Diretor ou Inspetor das escolas.
GE 2,3,9 Para isso, não tomará como base o que asseguram os pais nem
as razões alegadas pelo aluno que não tiver trazido pão. Isso
porque vários pais se dispensariam, facilmente, do cuidado
de dar comida aos seus filhos para que esta lhes seja dada na
escola, e haveria os que facilmente deixariam de trazer pão
por esse motivo71.

70
GE 18,3.
71
GE 2,1,6.
36 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 2,3,10 O mestre estimulará aqueles aos quais tiver distribuído as


esmolas para que rezem particularmente a Deus por seus
benfeitores.

GE 3 Capítulo 3º
Das lições

GE 3,1 Artigo 1º
Das lições em geral

GE 3,1,1 Seção 1ª
Daquilo que se refere a todas as lições
GE 3,1,2 Existem nove espécies de lições nas Escolas Cristãs: 1.
o cartaz do alfabeto; 2. o cartaz das sílabas; 3. o silabário;
4. o primeiro72 livro; 5. o73 segundo livro, no qual os que
souberem silabar perfeitamente começam a ler; 6. o terceiro
livro, que serve para aprender a ler por pausas; 7. o saltério;
8. a Urbanidade; 9. os manuscritos.
GE 3,1,3 Todos os alunos, de todas as lições, exceto os que leem nos
cartazes, serão distribuídos em três ordens: a primeira, dos
principiantes; a segunda, dos médios; e a terceira, dos avan-
çados e dos perfeitos nesta lição.
GE 3,1,4 Os principiantes são assim chamados, não porque apenas
começam a estar nesta lição, pois vários poderiam permanecer
muito tempo nessa ordem de lições pelo fato de não haverem
evoluído o suficiente para serem colocados numa ordem mais
adiantada.
GE 3,1,5 A ordem dos iniciantes em cada lição é, portanto, formada
por aqueles que ainda cometem muitos erros na leitura. A
ordem dos médios em cada lição será formada por aqueles
que poucos erros cometem ao ler, isto é, no máximo um ou
dois cada vez.

72
1720: o segundo livro, para aprender a soletrar e a ler por sílabas;
73
1720: o mesmo segundo livro,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 37

GE 3,1,6 A ordem dos avançados e perfeitos de cada lição será a


daqueles que leem corretamente e, de ordinário, não cometem
nenhum erro durante a leitura.
GE 3,1,7 Contudo, haverá somente duas ordens de leitores na Urba-
nidade. A primeira, formada por aqueles que cometem erros
na leitura; a segunda, pelos que, ao lerem, não cometem74 erro
algum.
GE 3,1,8 Cada ordem de lição terá seu lugar determinado na sala, de
maneira tal, que os alunos de uma ordem de lição não fiquem
mesclados e confundidos com os de outra ordem da mesma
lição, como, por exemplo, os iniciantes com os médios.
Deverão ser facilmente distinguidos uns dos outros pelo lugar
que ocupam.
GE 3,1,9 Todos os alunos de todas as três ordens lerão, no entanto,
juntos, sem separação e distinção, segundo indicar o mestre.
GE 3,1,10 Não é possível, neste regulamento75, limitar o tempo das
lições para cada classe, porque o número de alunos de cada
lição nem sempre é igual. Por esse motivo, corresponde ao
Irmão Diretor ou ao Inspetor a prescrição do tempo para cada
lição, em cada classe.
GE 3,1,11 Todos os alunos de cada lição terão o mesmo livro e a mesma
lição76. Far-se-á sempre ler, em primeiro lugar, os menos
avançados, iniciando pela lição inferior e terminando pela
superior.
GE 3,1,12 Na classe mais elevada, no entanto, após o almoço, se houver
alunos que não escrevem, far-se-á ler primeiramente os
que escrevem e os demais lerão depois que os escreventes
tiverem lido, inclusive durante o tempo da escrita, até as três
horas e meia.

74
1720: quase erro algum.
75
1720: neste Guia,
76
Modo simultâneo, em lugar do modo individual de ensino, anteriormente em
voga no ensino primário.
38 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 3,1,13 Seção 2ª
Da postura que deverão ter mestres e alunos e da maneira
como deverão portar-se durante as lições
GE 3,1,14 O mestre deve ficar sempre sentado ou de pé, diante de sua
cadeira, em todas as lições, tanto as dos cartazes, como as dos
livros ou dos manuscritos.
GE 3,1,15 Não deve deixar seu lugar sem grande necessidade e, com
um mínimo de atenção, descobrirá que essa necessidade é
muito rara.
GE 3,1,16 Cuidará de guardar exterior muito reservado e manter-se
muito sério, sem deixar-se levar por nada de inconveniente
ou que tenha algo pueril ou de um escolar, como seria rir ou
fazer algo que pudesse levar os alunos a rir.
GE 3,1,17 Essa gravidade exterior77 exigida do mestre não consiste em
manter aparência austera, em mostrar-se amuado, nem em
dizer palavras duras. Consiste, antes, em grande controle78
nas ações e nas palavras.
GE 3,1,18 O mestre tomará especialmente cuidado de não se familiarizar
com os alunos, de não lhes falar de maneira frouxa e de não
tolerar que lhe falem a não ser com grandíssimo79 respeito.
GE 3,1,19 Para cumprir bem seu dever, o mestre deve estar formado
para poder fazer simultaneamente estas três coisas80: 1º
vigiar sobre todos os alunos, para levá-los a cumprirem bem
o dever e para mantê-los em ordem e silêncio; 2º ter nas
mãos, no decorrer de cada lição, o livro que se esteja lendo
no momento e cuidar de acompanhar o leitor; 3º prestar
atenção ao leitor e à maneira como lê, a fim de corrigi-lo ao
cometer algum erro.

77
1720 omite: exterior
78
1720: controle nos gestos, nas ações e nas palavras.
79
1720: grande
80
1720 elimina: simultaneamente
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 39

GE 3,1,20 Os alunos devem permanecer todo o tempo sentados durante


as lições, inclusive ao lerem os cartazes, mantendo o corpo
ereto, os pés apoiados no soalho e corretamente posiciona-
dos. Os que leem nos cartazes devem estar de braços cruzados,
e os que leem nos livros devem segurar o livro com as duas
mãos, sem colocá-lo nem sobre os joelhos nem sobre a mesa;
devem ter também o rosto voltado, levemente, para o lado
do mestre. Este, todavia, tomará cuidado para que não virem
a cabeça tanto que possam conversar com os colegas e que
não a movam, ora de um lado ora de outro. Enquanto um lê,
todos os demais da mesma lição seguirão no próprio livro,
que devem sempre segurar na mão.
GE 3,1,21 O mestre estará muito atento para que todos os alunos leiam,
em voz baixa, aquilo que o leitor estiver lendo em voz alta; de
vez em quando, mandará alguém ler algumas palavras, a fim
de surpreendê-lo e verificar se realmente acompanha a lição.
Se alguém não estiver seguindo a leitura, o mestre lhe imporá
uma penitência ou castigo81. Se, inclusive, notar que alguns
não gostam de acompanhar ou que mais facilmente82 deixam
de fazê-lo, tomará o cuidado de fazê-los ler por último e,
mesmo, repetidas vezes em momentos diferentes, um pouco
por vez, para os outros também terem tempo de ler.
GE 3,1,22 Todos os alunos de uma mesma lição ficarão com a cabeça
descoberta83 desde o início da lição e não se cobrirão enquanto
não tiverem lido.
GE 3,1,23 Caso o mestre os fizer ler mais de uma vez, na segunda ou na
terceira ou, mesmo, nas vezes seguintes, eles se descobrirão
ao iniciarem a leitura e se cobrirão logo ao terminar.

81
GE 15 explicita em que consistem as penitências e os castigos ou correções.
82
1720: e mais ordinariamente
83
Estar coberto no interior de aposento é o normal (RU 204,1,219), e no caso
presente serve para saber os que já leram.
40 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 3,1,24 Seção 3ª
Do que deve fazer cada mestre a fim de preparar os alunos
para serem promovidos a outra lição
GE 3,1,25 Os mestres nunca mudarão de lição nem de ordem de lição a
nenhum aluno de sua classe. Apenas apresentarão84 ao Inspetor
os [nomes dos] julgados aptos para serem promovidos.
GE 3,1,26 Cuidarão muito particularmente de não apresentar ao Inspe-
tor, para ser promovido, nenhum aluno que não esteja bem
capacitado. Os alunos desanimam facilmente se, aprovados
pelo mestre, não são promovidos pelo85 Inspetor.
GE 3,1,27 Para que nenhum mestre se engane sobre a capacidade dos
alunos para serem promovidos de lição, cada um deles exa-
minará, no final de todo mês, no dia que lhe for assinalado
pelo Irmão Diretor ou pelo Inspetor das escolas, todos os
alunos de todas as lições e de todas as ordens de lição, para
verificar os que estão em condições de serem promovidos no
final do mês86.
GE 3,1,28 Após este exame, os mestres assinalarão em seus catálogos,
com furo de alfinete, após87 cada nome, os por eles reconhecidos
como incapazes88 de serem promovidos de lição. E se houver
alguns sobre cuja capacidade tiver dúvida ou que não lhe
pareçam estar suficientemente preparados a fim de passar a
uma lição superior, ou a uma ordem superior da mesma lição,
dá-los-ão a conhecer ao Inspetor das escolas89, para que este
possa examiná-los acuradamente. Depois, em casa, durante
o tempo da escrita e no dia marcado pelo Irmão Diretor, o
mestre fará uma lista dos alunos sem condições de serem
promovidos de lição ou de ordem de lição90.

84
1720: ao Irmão Diretor ou ao Inspetor das escolas
85
Irmão Diretor ou Inspetor.
86
GE 24,1,1 explicita os que não poderão ser mudados.
87
1720: antes e ao lado de
88
1720: capazes
89
1720: os indicarão no mesmo lugar, com furo duplo, para que o Diretor possa...
90
1720 omite esta última frase. Mas a seguir orienta sobre como indicar os
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 41

GE 3,1,29 Os mestres se porão de acordo com o Inspetor91 sobre os


alunos que poderiam ser promovidos e cuja promoção não
seja aconselhada neste momento, [por serem muito novos]
ou por haver necessidade de deixar em cada lição e ordem de
lição alguns assaz bons na leitura, para animar os demais e
servir-lhes de modelo para formá-los a ter boa pronúncia e a
articular claramente as letras, as sílabas ou as palavras, ou a
fazer bem as pausas.
GE 3,1,30 Antes do dia em que se faz a mudança de lição, os mestres
terão cuidado em prever com o Irmão Diretor ou com o
Inspetor, a lista dos alunos sobre os quais houve consenso em
não promovê-los, seja para o próprio bem deles, por serem
ainda muito novos, seja em benefício da classe e desta lição,
a fim de permanecerem alguns que possam servir de apoio
aos demais. Farão com que estes alunos estejam contentes
por continuarem na lição ou na ordem da lição na qual se
encontram.
GE 3,1,31 Para isso, os incentivarão, inclusive, com alguma recompensa,
quer encarregando-os de algum ofício92, como, por exemplo,
o de primeiro do banco, fazendo-lhes compreender que é
melhor ser o primeiro ou dos primeiros numa lição inferior,
do que dos últimos em outra mais adiantada.
GE 3,1,32 Se é depois do meio-dia que os alunos são promovidos de lição,
na manhã precedente, ou, se a promoção é feita de manhã, na
tarde precedente, o mestre dará a cada um dos avançados ou
perfeitos em cada lição uma leitura para ser preparada e para
ser lida como se eles estivessem efetivamente na lição para a
qual pretendem ser promovidos93.

julgados em condições de serem promovidos na leitura da Urbanidade e dos


registros, na escrita e na aritmética, e como indicar aqueles sobre cuja promoção
se tem dúvida.
91
1720: com o Irmão Diretor
92
GE 18.
93
1720 corta este parágrafo.
42 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 3,2 Artigo 2º
Dos cartazes94

GE 3,2,1 Seção 1ª
Dos dois cartazes, daquilo que devem conter e da maneira
de colocar os alunos que neles leem
GE 3,2,2 Os alunos que ainda não aprenderam nada, não utilizarão livro
para ler enquanto não começarem a soletrar bem as sílabas de
duas e três letras.
GE 3,2,3 Para tanto, na primeira classe, haverá dois grandes cartazes
afixados na parede a uns seis ou sete pés de altura, a contar da
parte superior dos cartazes até o piso. Um dos cartazes estará
preenchido por letras simples, minúsculas e maiúsculas, e por
ditongos95; o outro, por sílabas de duas ou três letras.
GE 3,2,3-1 (Desde GE 3,2,3-1 até GE 3,2,3-9 segue-se o manuscrito de 1706).
(19,0,1) Os dois cartazes serão confeccionados da seguinte maneira, e
serão os mesmos nas casas das Escolas Cristãs:

Modelo de cartazes do alfabeto

1º cartaz: do alfabeto

a b c d e A B C D E
f g h i y F G H I Y
j l m n o J K L M N
p q r s f P Q R T U
t u v x z q d h b p
& oe ae ct ft sl ss sst ffl si (*)

(*) No manuscrito, essa última linha é duvidosa. A apresentada é transcrição da edição


crítica, do Irmão Anselme, mas o que parece constar são os signos seguintes: sl ff fft ffl fi.

94
1720 omite esse título.
95
1720 acrescenta: e letras ligadas,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 43

Modelo do cartaz das sílabas

me ba et eux ai ga nos
em ji jo hu of cu qui
oeu en ci cho vu go ont
ny ge in gne ah on sça
im eu xi gue hé ou pei
est cé el cum gu ji nez
om ex ir hau co ze moy

GE 3,2,3-2 Os cartazes terão, ao menos dois pés e quatro polegadas de


(19,0,2) largura e um pé e oito polegadas de altura96.

GE 3,2,3-3 As letras e sílabas estarão colocadas uma sobre a outra, tal


(19,0,3) como indicado acima, no modelo dos cartazes.
GE 3,2,3-4 O cartaz do alfabeto conterá dois quadros. O primeiro estará
(19,0,4) preenchido com letras minúsculas; o segundo, com maiús-
culas, como indicado anteriormente.
GE 3,2,3-5 Cada quadro conterá seis linhas, e cada linha cinco letras:
(19,0,5) assim como as demais letras que, em cada linha, só ocupam o
espaço de uma, também as letras unidas e ligadas entre si, por
exemplo, oe, ff, por constituírem como uma só letra.
GE 3,2,3-6 Os dois quadros das letras maiúsculas e minúsculas estarão
(19,0,6) separados um do outro pelo espaço aproximado de três
polegadas, de maneira que haja três polegadas de distância
entre o e minúsculo – última letra da primeira linha da
primeira parte – e o A – primeira letra da primeira linha da
segunda parte; e assim nas demais linhas.
GE 3,2,3-7 O primeiro membro de cada letra, em ambos os quadros,
(19,0,7) deve estar afastado do primeiro membro da letra seguinte por,

96
1720 acrescenta: Não compreendidas as molduras.
44 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ao menos, duas polegadas e meia; e as linhas devem estar


separadas uma da outra ao menos três polegadas.
GE 3,2,3-8 O segundo cartaz, que é o das sílabas com duas ou três letras,
(19,0,8) deve ter sete linhas e cada linha sete sílabas. As três primeiras
sílabas, assim como a quinta e sexta, devem ser sílabas de
duas letras; a quarta e a sétima, devem ser sílabas de três
letras, como se indica acima, no modelo.
GE 3,2,3-9 Em cada linha do cartaz das sílabas, deve haver ao menos
(19,0,9) duas polegadas e dois terços de polegada entre as sílabas, isto
é, do final da sílaba precedente até o início da seguinte; e as
linhas devem estar separadas uma da outra por três polegadas.
GE 3,2,4 Os bancos dos que leem nos cartazes não estarão nem muito
perto nem muito afastados dos cartazes, para que os alunos
que os leem possam ver neles com facilidade todas97 as letras
e sílabas. Por isso, se terá o cuidado de que a parte dianteira
do primeiro banco diste ao menos quatro pés da parede em
que estão pendurados os cartazes.
GE 3,2,5 Pela mesma razão, os alunos que leem nos cartazes estarão
colocados diante do cartaz em que leem, de tal maneira que,
se há vinte e quatro alunos que leem no cartaz do alfabeto e
doze no das sílabas, e em cada banco há doze alunos, eles
estarão distribuídos em três bancos, um atrás do outro e em
cada um dos três haverá oito alunos que leem no cartaz do
alfabeto, em face a este cartaz, e quatro que leem no cartaz
das sílabas, que sejam colocados de tal maneira que também
estejam em frente a este.
GE 3,2,6 Tomar-se-ão proporcionalmente estas mesmas medidas,
conforme caibam mais ou menos alunos nos bancos, e
conforme seja maior ou menor o número dos que leem em
um ou outro dos dois cartazes.

97
1720 omite: todas
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 45

GE 3,2,7 Seção 2ª
Da maneira de fazer ler no primeiro cartaz98
GE 3,2,8 Todos os alunos que leem neste cartaz terão como lição
somente uma linha de letras minúsculas e99 maiúsculas. Só
lerão na linha seguinte depois de saberem perfeitamente as
que têm que aprender. Mas, para que não esqueçam as linhas
precedentes, já aprendidas, acompanharão e dirão em voz
baixa, olhando atentamente, as letras pronunciadas alto por
aquele que lê.
GE 3,2,9 Cada aluno desta lição lerá sozinho e em particular, pelo
menos três vezes, todas as letras100 da linha que tem por lição;
uma vez, em forma seguida, e nas outras duas vezes sem
ordem, para que não saiba as letras apenas por rotina.
GE 3,2,10 Quando um aluno não souber ler uma letra, se ela é minúscula,
o mestre lhe mostrará a maiúscula de mesmo nome. Se não
souber nem uma nem outra, mandará que a leia alguém que
o saiba fazer bem, e por vezes, inclusive, que não seja da
mesma lição. Não tolerará que um aluno troque mais de duas
vezes uma letra por outra, como seria ler b, q, p em lugar de
d e, c101.
GE 3,2,11 Se alguém tiver dificuldade para memorizar alguma letra, o
mestre o madará repeti-la diversas e seguidas vezes, e o aluno
não será promovido de linha sem que saiba perfeitamente esta
letra, assim como todas as demais.
GE 3,2,12 Quando um aluno tiver aprendido todas as letras102 do alfa-
beto, antes de ser promovido ao segundo cartaz103, terá por
lição, durante alguns dias104, o alfabeto inteiro, cujas letras se

98
1720: no alfabeto
99
1720: ou
100
1720: minúsculas e maiúsculas
101
1720 acrescenta: e assim com as outras (letras).
102
1720: todas as linhas
103
1720: para as sílabas,
104
1720: até o fim do mês,
46 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

lhe fará ler sem nenhuma ordem, a fim de certificar-se de que


as conhece todas e muito perfeitamente105.
GE 3,2,13 É preciso advertir que é sumamente importante não fazer
um aluno interromper o estudo do alfabeto antes que o saiba
perfeitamente, pois sem isso jamais saberá ler bem, e os
mestres que estarão encarregados dele depois terão muita
dificuldade com ele.
GE 3,2,14 Os que leem no primeiro cartaz olharão todos o segundo cartaz
e acompanharão os que têm este cartaz por lição durante todo
o tempo que leem nele; e os que leem no segundo cartaz
olharão também para o primeiro e acompanharão a leitura106
feita neste durante todas as lições deste cartaz107.
GE 3,2,15 Durante todas as lições do primeiro cartaz108, o próprio mestre
indicará sempre, com a vareta, todas as letras109 que deseja
fazer ler.
GE 3,2,16 Terá cuidado para os alunos pronunciarem bem todas as letras
durante a leitura, especialmente as que, por vezes, se tem
dificuldade de pronunciar corretamente, como as seguintes:
b, c, d, e, f, g, h, m, n, o, p, r, t, x, z. Inclusive se esforçará
particularmente a fim de fazer-lhes perder o sotaque regio-
nal, como seria dizer: “baye” em vez de dizer “bé”, “caye”
em vez de “cé”, “daye” em vez de dizer “dé”, etc; o m e o
n, devem ser pronunciados como “ème”, “ène”, e não como
“ame”, “ane”; o x como “icse” e não como “isque”; o y como
i e não como ipsilone; o z deve ser pronunciado como “zède”
e não como “zèdre”, etc.; o & como “et”, em latim como

105
1720: Elimina: muito perfeitamente. Mas acrescenta: Não será mudado desta
lição se não souber todas as letras muito distintamente.
106
Em 1720 este parágrafo ganha outra redação: Os que leem no alfabeto acom-
panharão e olharão, com os que têm as sílabas por lição, durante todo o tempo
em que as lerem; os que leem sílabas olharão igualmente no alfabeto e seguirão
essa lição por todo o tempo.
107
1720: no alfabeto seguirão e acompanharão os que têm as sílabas por lição...
Trata-se de fazer seguir conjuntamente alunos de duas lições diferentes.
108
1720: do alfabeto e das sílabas,
109
1720: e as sílabas
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 47

“ette”, sem dizer “et perluette”; o ae e oe como e não como se


estivessem separados: como a e e o e.
GE 3,2,17 As letras i e u podem ser tanto consoantes como vogais.
Quando isoladas ou diante de uma ou duas vogais sem
consoantes, são consideradas consoantes. Quando essas duas
letras são consoantes elas são escritas110 diferentemente de
quando vogais. O i consoante é escrito com uma cauda para
baixo, assim j, e o u consoante, com uma ponta para baixo,
assim v111.
GE 3,2,18 O i consoante se pronuncia como gi, e o u consoante como
vé, sendo conveniente diferenciá-los112 tanto na pronúncia
como na escrita.
GE 3,2,19 Todas as letras do alfabeto devem ser pronunciadas bem
distinta e separadamente uma da outra, fazendo alguma pausa
no meio.
GE 3,2,20 O mestre cuidará para que o leitor abra bem a boca e não
pronuncie as letras entre os dentes, o que constitui grave
defeito; não leia demasiado depressa nem exageradamente
devagar, nem com tom e maneiras que denotem afetação,
mas seja muito natural. Cuidará também para nenhum aluno
elevar demasiadamente a voz ao ler a lição. Será suficiente
que o leitor possa ser ouvido por todos os que estão na mesma
lição.
GE 3,2,21 Far-se-á também pronunciar as letras ligadas bem distintamente
e cada uma em separado como se estivessem efetivamente
separadas uma da outra. Para ler bem, por exemplo, estas113
duas letras: et, é preciso dizer primeiramente o e, e depois,
após pequena pausa, dizer t, e o mesmo com as outras letras.

110
1720: designadas
111
Nos dicionários do tempo, as palavras iniciadas por i e j ainda vêm efetivamente
escritas num único bloco. Da mesma forma, as começadas por u e por v.
112
1720: do i e do u vogal
113
1720: estas duas letras: ct, é preciso dizer primeiro somente c, e depois, após
pequena pausa, dizer t, e o mesmo com as outras letras.
48 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 3,2,22 Seção 3ª
Da maneira de fazer ler no segundo cartaz114
GE 3,2,23 No segundo cartaz115 far-se-á ler sequencialmente como116
nos livros.
GE 3,2,24 Os que aprendem no primeiro cartaz olharão e acompa-
117

nharão enquanto os outros [do segundo cartaz] estiverem


lendo118.
GE 3,2,25 Cada um dos que leem neste cartaz lerá119 ao menos três
linhas.
GE 3,2,26 O que, a respeito do alfabeto, foi dito sobre a maneira de
pronunciar bem claramente todas as letras, deve ser igual-
mente observado na leitura das sílabas.
GE 3,2,27 O mestre cuidará para que os alunos não leiam as sílabas
atropeladamente, mas que façam pequena pausa entre as duas
sílabas120, e evitará cuidadosamente permitir-lhes ler várias
demasiado rápido e demasiado seguidas.
GE 3,2,28 Há três letras que apresentam alguma dificuldade quanto à
pronúncia. São elas: c, g, t. Quando o c vier antes de um a,
de um o ou de um u, é pronunciado como q, a não ser que
haja121 vírgula embaixo do c, assim: ç. Pronuncia-se, então,
como s. Terá também a mesma pronúncia se vier antes de um
e ou de um i.
GE 3,2,29 Igualmente o g colocado antes de um a, um o, ou um u, deve
ser pronunciado como se houvesse um u entre os dois, da
mesma maneira como se pronunciam, em francês, essas três
sílabas: gua, guo, gue.

114
1720: no quadro das sílabas.
115
1720: no quadro das sílabas
116
1720: na lição dos livros, e o mestre sempre indicará a sílaba com a vareta.
117
1720 elimina este parágrafo.
118
GE 3,2,14.
119
1720: Os alunos desta lição lerão
120
1720: uma pequena pausa entre as letras de uma sílaba, façam também uma
maior entre cada sílaba,
121
1720: cauda ou vírgula.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 49

GE 3,2,30 Quando o g está colocado diante de um e ou diante de um i,


ele122 é pronunciado como um j consoante. Por exemplo: ge =
je, gi = ji123.
GE 3,2,31 O t é pronunciado c quando vem antes de um i seguido de
outra vogal. Por exemplo: a palavra prononciation; enuncia-
se “prononciacion”. E assim outras palavras.

GE 3,3 Artigo 3º
Do Silabário124
GE 3,3,1 O primeiro livro em que os alunos aprenderão125 nas Escolas
Cristãs, constará de todo tipo de sílabas francesas com duas,
três, quatro, cinco, seis e sete letras, e de algumas palavras,
para facilitar a pronúncia das sílabas.
GE 3,3,2 Esse livro corresponde a uma só lição e126 sempre são dadas
duas páginas por lição.
GE 3,3,3 Os principiantes não devem ler nele menos de duas linhas; os
demais, pelo menos três, de acordo com o número de alunos
e o tempo de que o mestre dispuser.
GE 3,3,4 Os que começam a ler no silabário assinalarão as sílabas com
vareta de madeira ou de arame, que ficará sempre na classe,
a fim de poderem seguir mais facilmente e não se exporem a
perder de vista o lugar onde se está lendo127.
GE 3,3,5 Para que o aluno recém colocado nessa lição possa acostumar-
se a seguir em seu livro enquanto os outros leem, o mestre
terá o cuidado de lhe dar, durante alguns dias, segundo o
julgar necessário, um colega para lhe ensinar a maneira

122
1720: ele é chamado g brando e
123
1720: Por exemplo: ge, gi. Faz-se estas duas sílabas soar como je, ji.
124
La Salle publicou, em 1698, um Silabário Francês, de 72 páginas, do qual não
sobrou nenhum exemplar.
125
1720: a ler
126
1720 só conserva a segunda parte desta dupla afirmação, trocando, nela, a
palavra sempre por ordinariamente.
127
1720 suprime este parágrafo.
50 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

de [acompanhar a leitura], seguindo128 e fazendo-o seguir,


segurando ambos o livro pelas extremidades, o primeiro de
um lado e o segundo do outro.
GE 3,3,6 No Silabário, os alunos se limitarão a soletrar as sílabas e não
lerão. Será necessário fazer-lhes conhecer, desde o início, as
dificuldades encontradas na pronúncia das sílabas, e que não
são poucas em francês. Para isso, será necessário que cada
mestre saiba perfeitamente o129 tratado da pronúncia.
GE 3,3,7 Para aprender a soletrar adequadamente, é preciso pronun-
ciar bem todas as letras no mesmo tom e bem distintamente,
de maneira a se poder ouvi-las soar inteiramente, uma se-
parada da outra, e fazer pronunciar de maneira idêntica as
sílabas, de modo que, quem as soletrar faça ouvir inteiramente
uma sílaba completa e de maneira distinta, antes de começar
a soletrar a seguinte, pronunciando-as quase separadamente,
como se houvesse uma sílaba130 entre as duas. Por exemplo,
para soletrar esta sílaba quo, é preciso fazer-lhe pronunciá-
la distinguindo e separando bem todas as letras: q,u,o, quo,
e assim por diante131, e não depressa e atropeladamente: qo,
quo. Esta prática é muito importante. É mesmo muito mais
de recear e há muito mais inconvenientes em soletrar e ler
demasiado rápido ao fazer a leitura, do que com exagerada
lentidão.

GE 3,4 Artigo 4º
Do primeiro livro
GE 3,4,1 O primeiro livro de texto seguido a ser utilizado nas
Escolas132.

128
1720: acrescenta: com ele no mesmo livro. E elimina: pelas extremidades,
129
1720: o pequeno tratado
130
1720: uma vírgula
131
1720: Separando e distinguindo bem todas as letras: q, u, o. c, a, r. t, a, r, e assim
por diante,
132
1720 completa: Cristãs será um texto seguido. Os que nele lerem somente
soletrarão, e sempre lhes será dada uma página por lição.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 51

GE 3,4,2 Cada aluno soletrará, pelo menos133 três linhas, segundo o


tempo disponível e o número de alunos.
GE 3,4,3 O mestre cuidará para que os desta lição distingam e separem
as sílabas e as palavras tão bem umas das outras, que não
coloquem na primeira sílaba uma letra que deve estar na
segunda, e assim das outras. Por exemplo, na palavra: declare,
não digam: dec - la - re, mas sim, de - cla - re, etc.
GE 3,4,4 O mestre terá cuidado para os alunos pronunciarem todas as
sílabas de uma mesma palavra, como devem ser pronunciadas
nesta palavra e não como seriam pronunciadas se estivessem
separadas uma da outra, e em palavras diferentes. Por exem-
plo, a sílaba son deve ser pronunciada na palavra personne
fazendo soar o n como se faz soar sempre. Na palavra son,
quando essa sílaba forma sozinha uma palavra que significa
ruído, não se apoia tanto o n. Da mesma maneira, nesta palavra:
louppe, pronuncia-se a primeira sílaba loup, diferentemente
de loup quando esta sílaba constitui uma palavra que signi-
fica um animal. Pois na primeira palavra louppe, deve-se
pronunciar o p na primeira sílaba; e na segunda palavra, loup,
não se pronuncia o p, mas pronuncia-se como se estivesse
escrito unicamente lou.
GE 3,4,5 O mestre cuidará para todos os alunos desta lição pronuncia-
rem as palavras como se estivessem isoladas, sem considerar
nem a palavra anterior nem a posterior. Por exemplo, nesta
frase: Ne pensez point à ce que vous aurez à dire134, eles
soletrarão esta palavra point como se a estivessem soletrando
isoladamente e sem haver vogal em seguida; assim, não
pronunciarão o t; pronunciarão somente como se estivesse
escrito poin, soletrando, contudo, todas as letras da palavra
desta maneira: p, o, i, n, t, point.
GE 3,4,6 Da mesma maneira na palavra vous, soletrarão todas as letras:
v, o, u, s, e a pronunciarão como se ela não tivesse o s final,
e dirão: v, o, u, s, vou. O mesmo farão nesta outra palavra:
aurez, não pronunciando o z; e, depois de haverem enunciado

133
1720: aproximadamente pelo menos
134
Não penseis no que haveis de dizer,
52 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

todas as letras da última sílaba, r, e, z, pronunciarão a sílaba


como se não houvesse z: ré, com o acento sobre o é, sem ter
em conta em uma e em outra dessas palavras as vogais que as
seguem.

GE 3,5 Artigo 5º
Do segundo livro
GE 3,5,1 O segundo livro a ser utilizado nas Escolas Cristãs135. Os
alunos só terão esse livro como lição quando souberem ler
perfeitamente, sem titubear.
GE 3,5,2 Haverá dois tipos de leitores desse livro: uns que soletrarão e
lerão por sílabas; e outros que não soletrarão e lerão somente
por sílabas.
GE 3,5,3 Todos terão a mesma lição e, enquanto um soletrar ou ler,
todos os demais da mesma lição o acompanharão, tanto os
que soletrarem e lerem, quanto os que apenas lerem.
GE 3,5,4 Todos os que soletram e leem, pela manhã, apenas soletrarão
e não lerão136; depois do meio-dia, soletrarão e lerão: primeiro
soletrarão; segundo, depois que todos tiverem soletrado, lerão
indistintamente com os que somente leem.
GE 3,5,5 Se os que somente leem estiverem na mesma classe dos que
soletram e leem, enquanto estes soletrarem, os demais apenas
acompanharão.
GE 3,5,6 O mestre cuidará, no entanto, para, de vez em quando, sur-
preender alguns, fazendo-os soletrar algumas palavras, para
verificar se efetivamente acompanham.
GE 3,5,7 Todos os que lerem neste livro, lerão somente por sílabas,
isto é, com pausa igual entre cada sílaba, sem considerar as
palavras que elas compõem. Por exemplo: Es-ti-en-ne plein
de foi et du Saint Es-prit fai-sait de grands pro-di-ges137.

135
1720 completa: será um livro de instruções cristãs.
136
1720 elimina: todos e: e não lerão;
137
Estevão, cheio de fé e do Espírito Santo, fazia grandes prodígios (At 6,5.8).
1720 coloca outra frase: Cons-tant-tin, Em-pe-reur, as-sis,ta au con,ci,le, de
Ni-cé (Constantino, Imperador, assistiu ao Concílio de Niceia).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 53

GE 3,5,8 Se os dois tipos de leitores estão em classes diferentes, cada


um dos que apenas leem soletrará mais ou menos uma linha
no máximo, todos os dias, pela tarde, antes de alguém iniciar
a leitura.
GE 3,5,9 Os “soletrantes” soletrarão cerca de três linhas e, em seguida
lerão138 tanto quanto tiverem soletrado. Aqueles que tão-
somente lerem, lerão cinco ou seis linhas, de acordo com o
número de alunos e do tempo de que o mestre possa dispor.

GE 3,6 Artigo 6º
Do terceiro e quarto livros139
GE 3,6,1 O terceiro livro a ser utilizado nas Escolas Cristãs para
aprender a ler140.
GE 3,6,2 Os que lerem nesse livro o farão por frases seguidas e só
fazendo pausas nos pontos e nas vírgulas. Nessa lição serão
admitidos unicamente os que souberem ler perfeitamente por
sílabas141.
GE 3,6,3 Serão dadas cada vez duas a três páginas como lição, indo de
uma unidade142 de sentido a outra.
GE 3,6,4 Os iniciantes lerão aproximadamente oito linhas; e os adian-
tados, doze a quinze, de acordo com o número de alunos e o
tempo de que o mestre dispuser.
GE 3,6,5 Aos que leem no terceiro livro serão ensinadas143 todas as
regras da pronúncia francesa, a maneira de pronunciar per-
feitamente as sílabas e as palavras, assim como fazer soar as
consoantes no final das palavras quando a palavra seguinte
iniciar por uma vogal.

138
1720: aproximadamente
139
1720: Do terceiro livro
140
1720 completa: será aquele que, em cada local, os Irmãos Diretores combinarem
com o Irmão Superior do Instituto.
141
1720 enfatiza: sem cometer erros.
142
1720 acrescenta: um capítulo, um artigo, ou uma seção.
143
1720: também
54 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 3,6,6 O mestre ensinará essas coisas aos alunos no decorrer da


leitura, chamando-lhes a atenção sobre as faltas cometidas
contra a pronúncia, corrigindo-as com exatidão, sem deixar
passar nenhuma.
GE 3,6,7 Para isso, cada mestre deve saber perfeitamente o tratado da
pronuncia144.

GE 3,7 Artigo 7º
Dos cartazes das vogais e consoantes, pontuações e acentos
e do cartaz dos algarismos
GE 3,7,1 Aos alunos que estão no terceiro livro se ensinará a conhecer
as vogais e consoantes, e a distingui-las umas das outras.
Se lhes ensinará, inclusive, compreensivamente o motivo
de umas serem chamadas vogais e outras consoantes. Serão
instruídos145 sobre as pausas a serem feitas num só ponto, em
dois pontos, no ponto e vírgula, e somente na vírgula, as suas
diferenças e o motivo desses sinais (. : ; , ).
GE 3,7,2 Ensinar-se-lhes-á o que é um ponto de interrogação ?, um
ponto de exclamação !, os parênteses ( ), o hífen - , os dois
pontos sobre um ë, sobre um ï, e sobre um ü, e as razões por
que todas essas coisas são usadas; as diferentes abreviações, e
seu significado; os três diferentes acentos e os motivos pelos
quais são utilizados e o que eles significam é, à, ô.
GE 3,7,3 Ensinar-se-lhes-á também a designar os algarismos, tanto
franceses como romanos, até cem mil146, com todas as suas
modalidades.
GE 3,7,4 Para tanto, nessa classe haverá dois cartazes.
GE 3,7,5 Um deles contém, separadamente, vogais e consoantes e, por
sobre cada consoante, a sílaba com a qual é chamada essa
consoante. Neste cartaz haverá [também] diversos sinais de
pontuação, palavras e períodos em que aparecem o apóstrofo,

144
1720 não conserva esse parágrafo, que trata de insistência já feita antes (GE
3,3,6).
145
1720: serão instruídos também
146
1720: ao menos,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 55

parênteses, hífen, dois pontos sobre um ë, sobre um ï e sobre


um ü, os três diferentes acentos e palavras abreviadas em
todas as formas que possam ocorrer.
GE 3,7,6 O outro cartaz deve conter os algarismos franceses e roma-
nos, separados uns dos outros por colunas, até o número
cem mil147.
GE 3,7,7 Para ensinar todas essas coisas, se utilizará um quarto de
hora148, duas vezes por semana, ao início149.
GE 3,7,8 No primeiro dia de aula da semana, se ensinará, durante este
quarto de hora, (após o meio-dia duas vezes por semana)150
tudo o que consta no primeiro cartaz, da seguinte maneira:
GE 3,7,9 O mestre fará com que diversos alunos, um depois do outro,
digam, apontando no cartaz, as dificuldades e as razões do
que ali está exposto.
GE 3,7,10 Enquanto um explica, os demais olharão atentamente no car-
taz, para poderem compreender e memorizar o que ele expõe.
GE 3,7,11 O mestre terá o cuidado de perguntar, algumas vezes, a
outros alunos a respeito do mesmo assunto, para assegurar-
se da atenção prestada às explicações do colega e se as
compreendem.
GE 3,7,12 Quanto aos números, serão ensinados da mesma forma, no
dia seguinte ao da folga151, ou no terceiro dia de aula, se não
houver festa na semana152.

[Os quadros seguintes estão reproduzidos do manuscrito de 1706. Os


modelos de quadros da edição de 1720 aparecem em GE 19,0,1 e GE
19,0,11].

147
1720: e mais.
148
1720: meia hora
149
1720 acrescenta: da lição do terceiro livro.
150
1720: esta meia hora, em vez de este quarto de hora; e elimina o que está entre
parênteses.
151
1720 acrescenta: depois do meio-dia,
152
1720 acrescenta: Nos lugares em que só há duas classes, naquela dos escreven-
tes far-se-á a recitação na sexta-feira, em lugar da aritmética.
56 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

PRIMEIRO CARTAZ
Vogais
a e i o u
Consoantes
bê cê dê efe gê agá jota cá ele
b c d f g h j k l
eme ene pê quê erre esse tê vê dábliu
m n p q r s t v w
Pontuação
Ponto . dois pontos : ponto e vírgula ; vígula ,
Interrogação ? Exclamação !
Onde está Deus? Ó meu Deus!
Apóstrofo ´
Il n’y a qu’un seul Dieu. (Existe um só Deus).
Parênteses ( )
Dai (vos diz Jesus Cristo) e se vos dará.
Hifen -
Y-a-t-il, est-il, donnez-moi (Há, é ele, dá-me).
Acento agudo ´
Aimé, loué, prisé, donné
(Amado, louvado, valorado, dado)
Acento grave `
Après, près, auprès, à, là
(após, perto, junto, a, lá)
Circunflexo ^
Vôtre, même, maître, être
(Vosso, mesmo, mestre, ser)
e, i, u encimados por dois pontos
ë, vuë, ruë, duë, suë, éluës (ë, visto, rua, devido, sabido, eleitos).
ï, païs, aïez, roïal, voïons, haïr (ï, país, tende, real, vejamos, odiar).
ü, foüille, roüille, seüil, deüil (ü, escavação, ferrugem, limiar, morte).
Abreviaturas
Deû, âte, nûmquã, dus, ej’, utíq,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 57

SEGUNDO CARTAZ

3 2
5 4 3*
7 6 5 4
9 8 7 6 5
6 5 9 8 7 6
9 8 9 2 9 8 7
6 7 9 0 3 1 9 8
1 2 7 4 5 6 7 8 9
10 11 12 13* 14 15
16 17 18 19 20 30
40 50 60 70 80 90
100 1.000 10.000 100.000

[3*, no original está 4; 13*, no original está 14. As duas diferenças são provavelmente
erros do copista].
58 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 3,8 Artigo 8º
Da leitura do latim
GE 3,8,1 O livro em que se aprenderá a ler em latim é o saltério.
Nesta lição, serão colocados somente os que souberem ler
perfeitamente em francês.
GE 3,8,2 Haverá duas ordens153 de leitores no latim: os principiantes,
que lerão somente por sílabas154, e os adiantados, que lerão
por pausas155. Somente se lhes fará ler por pausas quando
lerem perfeitamente por sílabas. Tanto os que leem por pausas
como os leitores por sílabas estarão na mesma lição. Lerão,
no entanto, separadamente, mas uns acompanhando enquanto
os outros leem.
GE 3,8,3 Os que aprenderem a ler no latim antes de aprender a escre-
ver, lerão no latim tanto de manhã quanto depois do meio-
dia, excetuado nos dias em que se aprendem as vogais e os
algarismos, dias em que não lerão no latim após o meio-dia156.
GE 3,8,4 Pela manhã, lerão no latim depois de terem lido no terceiro
livro; após o meio-dia, começarão lendo no latim157.
GE 3,8,5 Os que aprendem a escrever lerão no latim somente pela
manhã, e no francês depois do meio-dia. Cada vez se lhes
dará somente duas páginas como lição. Os leitores por sílabas
lerão aproximadamente seis linhas e os leitores por pausas,
aproximadamente dez linhas.
GE 3,8,6 Aos que iniciam a ler no latim, o mestre lhes ensinará a
maneira de bem pronunciá-lo, a qual, com frequência, é
diferente da pronúncia francesa.
GE 3,8,7 Sobretudo, lhes fará compreender que no latim todas as letras
são pronunciadas, e que todas as sílabas começadas por um g

153
1720: três ordens
154
1720 acrescenta: os medianos, que começarão a ler por pausas,
155
1720 acrescenta: sem fazer nenhum erro.
156
1720 acrescenta: depois de terem lido no terceiro livro.
157
1720 elimina este parágrafo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 59

ou um q são pronunciadas de modo diferente que no francês,


como se indica ao final do tratado da pronúncia.
GE 3,8,8 O mestre ensinará aos alunos o que se refere à pronúncia
latina enquanto eles leem, como se diz no relativo ao francês.

GE 3,9 Artigo 9º
Da Urbanidade158
GE 3,9,1 Quando os alunos souberem ler perfeitamente, tanto em
francês quanto em latim159, se lhes ensinará a escrever; e
desde que começarem a escrever, se lhes ensinará a ler no
livro da Urbanidade160.
GE 3,9,2 Esse livro contém todos os deveres161 tanto para com Deus
como para com os pais, e as regras da urbanidade civil e
cristã. Está impresso em caracteres góticos, de leitura mais
difícil que os caracteres franceses.
GE 3,9,3 Neste livro, não se soletrará e não se lerá por sílabas, mas
todos aqueles aos quais ele será dado lerão, desde o início e
sempre, de forma seguida e por pausas.
GE 3,9,4 No livro da Urbanidade se lerá somente pela manhã. Cada
vez será dada, como lição, um capítulo162, ou um artigo, ou
uma seção. Os principiantes lerão nele aproximadamente dez
linhas163 e os adiantados aproximadamente quinze164.

158
1720 acrescenta: Cristã
159
1720: perfeitamente em francês e estiverem na terceira ordem do latim
160
1720 acrescenta: Cristã.
161
1720: das crianças
162
1720 acrescenta: ou até a primeira estrofe ou asterisco,
163
1720: pelo menos quatro linhas
164
1720: pelo menos dez.
60 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 3,10 Artigo 10º


Dos registros
GE 3,10,1 Aos que estiverem na quarta ordem da escrita em letra
redonda e165 na terceira em escrita bastarda, se ensinará a ler
nos registros. O Inspetor estará atento a isso.
GE 3,10,2 Para distribuir bem esses papéis ou pergaminhos escritos à
mão, chamados registros, deve haver grande quantidade deles
em cada casa, diferentes e distintos uns dos outros, de acordo
com a facilidade ou dificuldade que pode haver para a sua
leitura166.
GE 3,10,3 Os registros de igual dificuldade são, ordinariamente, de um
mesmo autor e têm a mesma forma de letra, especialmente os
contidos em apenas uma folha ou folheto, como são títulos de
propriedade, promissórias, quitações, etc. Por isso, é muito
útil fazer os alunos lerem sequencialmente todos os registros
de um mesmo autor porque, tendo-se impresso no espírito e
na imaginação a forma das letras e das abreviações de um
autor, os alunos já não encontram, depois, dificuldades para
os ler, e os mais difíceis e confusos se lhes tornam, por esse
meio, muito fáceis.
GE 3,10,4 Os alunos que leem nos registros serão distribuídos em seis
ordens, segundo as séries de registros mais fáceis ou mais
difíceis, para que, lendo todos esses papéis sequencial e
ordenadamente, acabem adquirindo facilidade para ler os
mais difíceis, e leiam em ordem e de forma seguida todos os
tipos de papéis ou registros existentes na sala de aula167.
GE 3,10,5 Ler-se-á nos registros duas vezes por semana, no começo das
aulas depois do meio-dia, no primeiro e no quarto dia de aula,

165
1720: ou começarem a escrever
166
1720 acrescenta várias ideias: graduação dos registros a aprender: dos mais
fáceis aos mais difíceis; proibição de os alunos, normalmente, trazerem
registros de casa; obrigação de os mestres dominarem perfeitamente a leitura
desses manuscritos.
167
1720 exclui esse parágrafo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 61

se não houver festa; e no primeiro e terceiro dia de aula, se


não ocorrer festa na terça-feira, ou duas festas na semana168.
GE 3,10,6 Os alunos lerão neles um após outro. Virão dois a dois, e
um após outro, diante do mestre, de acordo com o lugar que
ocuparem no banco em que estão [sentados] e de acordo com
a disposição dos bancos na classe; de maneira que todos os do
mesmo banco venham sucessivamente, e depois deles os do
banco seguinte ou do que estiver atrás.
GE 3,10,7 Os principiantes lerão neles quatro palavras169 ou aproxima-
damente; os das ordens seguintes, dez palavras ou apro-
ximadamente a mais que os da ordem precedente e, assim,
cada ordem lerá dez palavras a mais que a outra.

GE 4 Capítulo 4º
Da escrita

GE 4,1 Artigo 1º
Do que se refere à escrita em geral
GE 4,1,1 Antes de os alunos começarem a escrever, é necessário que
saibam ler com perfeição170 tanto em francês quanto em latim.
GE 4,1,2 Se, no entanto, houver alunos que tenham atingido doze anos
de idade e ainda não tiverem começado a escrever, se po-
derá fazê-los escrever antes que aprendam a ler em latim171,
contanto que saibam ler bem e corretamente o francês e se
presuma que não virão à escola por tempo suficiente para
poderem aprender a escrever o quanto necessitam. O Irmão
Diretor ou o Inspetor das escolas estará atento a isso.

168
1720: Ler-se-á nos registros duas vezes por semana, no começo das aulas
depois do meio-dia, no primeiro e no quinto dia de aula, se não houver festas;
e no primeiro e quarto dia de aula se não ocorrer festa na quarta-feira, ou duas
festas na semana.
169
1720: lerão trinta palavras aproximadamente;
170
1720: com muita perfeição
171
1720: Substitui: antes que aprendam a ler em latim, por: colocando-os no latim,
62 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,1,3 Procurar-se-á que os alunos não aprendam a escrever antes de


terem atingido os dez anos de idade172.

GE 4, 2 Artigo 2º
Dos objetos específicos usados na escrita

GE 4,2,1 Seção 1ª
Do papel
GE 4,2,2 O mestre cuidará para que os alunos tenham sempre papel em
branco na escola. Por isso, lhes recomendará que o peçam aos
pais, o mais tardar quando lhes restarem apenas seis folhas
de papel em branco. Velará, inclusive, para que algum aluno
negligente em trazer papel não receba de volta aquele que
escreveu enquanto não tiver trazido papel em branco173.
GE 4,2,3 Todos os que escrevem trarão, à escola, pelo menos meia mão
de bom papel174, cada vez.
GE 4,2,4 O mestre cuidará para que ele não seja nem muito espesso,
nem cinzento demais, nem demasiado áspero, mas que seja
branco e liso, bem seco e bem colado, sobretudo, não absorva
tinta com facilidade, o que é grande falha e grande empecilho
à escrita175.
GE 4,2,5 Não se deve176 tolerar que algum aluno traga papel sem cos-
tura, ou dobrado em quatro. As folhas devem estar costuradas
de alto a baixo.
GE 4,2,6 O mestre estará atento a que os alunos mantenham seu
177

papel sempre muito limpo, não manchado, nem dobrado nas


pontas.

172
1720 não conservou esta frase.
173
1720 omite esta última frase. É que para os pobres o papel é fornecido grátis
(Cf. 21,1,6).
174
Mão de papel correspondia a 24 folhas.
175
Trata-se de uma espécie de caderno de escrita, sem linhas.
176
Tampouco se deve
177
Enfim, o mestre estará
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 63

GE 4,2,7 Na escola, haverá178 um armário ou uma peça em que serão


colocados todos os papéis, ordenados segundo os níveis dos
alunos, para que lhes possam ser dados sequencialmente.
GE 4,2,8 Os oficiais da escrita179, que distribuirão e recolherão os
papéis, ao recolhê-los um após outro, terão o cuidado de180
observar se cada aluno tem um modelo, uma transparência,
um mata-borrão; se cumpriu sua tarefa e fez o que o mestre
lhe disse ou ensinou ao corrigi-lo; se não deixou cair tinta
sobre o papel ou não fez borrões, e disso informarão o
professor.

GE 4,2,9 Seção 2ª
Das penas e do canivete
GE 4,2,10 Deve-se exigir181 dos que escrevem que levem, todos os dias,
ao menos duas grandes penas para a escola, a fim de que
possam escrever sem interrupção com uma, enquanto a outra
é talhada.
GE 4,2,11 É preciso cuidar para que as penas trazidas não sejam nem
finas, nem grossas demais, mas redondas, consistentes, lisas,
secas e de segunda muda.
GE 4,2,12 O mestre estará atento a que as penas estejam limpas182, e não
cheias de tinta e gastas na ponta, nem aparadas muito curtas,
e que os alunos não as coloquem na boca, nem as deixem
atiradas em qualquer lugar.
GE 4,2,13 Os que escrevem na terceira ordem devem ter também um
canivete, a fim de que possam aprender a talhar as penas.
GE 4,2,14 Todos os que escrevem terão também um estojo para guardar
nele as penas e o canivete183.

178
1720: um cofre ou um armário, no qual serão colocados todos os papéis e
utensílios da escola.
179
Cf. GE 18,10.
180
1720 substitui o restante do parágrafo por: fazê-lo com ordem e silêncio, e
estarão atentos para não misturar uns com os outros.
181
1720: O mestre exigirá
182
1720: bem limpas,
183
1720: seus canivetes.
64 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,2,15 O mestre procurará que todos os alunos tenham sempre estojos


bastante longos, os mais longos que se possam encontrar184,
para que não sejam obrigados a cortar sua pena demasiado
curta185, o que os impediria de poderem escrever bem.

GE 4,2,16 Seção 3ª
Da tinta
GE 4,2,17 Aos alunos será fornecida tinta. Por isso, nas mesas186 serão
colocados187 tinteiros de chumbo, de tal maneira que não
possam ser derrubados. Será colocado um entre cada188 dois
alunos que escrevem.
GE 4,2,18 O mestre cuidará para que se coloque tinta neles quando
necessário, e que o coletor dos papéis limpe os tinteiros uma
vez por semana, no último dia de aula. Nos tinteiros não
haverá algodão, mas unicamente tinta189.
GE 4,2,19 O mestre zelará para que os alunos se sirvam da tinta
moderadamente, molhando somente a ponta da pena, e depois
sacudindo-a no tinteiro e nunca contra o piso190.

GE 4,2,20 Seção 4ª
Dos modelos
GE 4,2,21 Aos alunos serão dados dois tipos de modelos191: uns, do
alfabeto contendo um alfabeto de letras todas ligadas umas às
outras.
GE 4,2,22 O segundo tipo de modelos é o dos modelos em linhas, cada
um dos quais deve conter cinco192 linhas.

184
1720: que todos eles tenham estojos os mais longos que se possam encontrar,
185
1720: cortar suas penas demasiado curtas,
186
1720 não traz: nas mesas
187
1720 acrescenta: na medida do possível
188
1720 omite cada
189
1720 acrescenta: a qual será fornecida gratuitamente.
190
1720: sacudindo-a levemente no tinteiro e não contra o piso.
191
1720 traz, para o restante do parágrafo: um com alfabeto de letras não ligadas,
seguido de alfabeto com todas as letras ligadas.
192
cinco ou seis
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 65

GE 4,2,23 Os modelos que serão dados aos alunos constarão em fo-


lhas soltas. Os mestres nunca escreverão sobre a folha dos
alunos193.
GE 4,2,24 Todos os modelos em linha serão sentenças da Sagrada
Escritura194, ou máximas cristãs extraídas ou dos Santos
Padres ou dos livros de piedade.
GE 4,2,25 Para isso, haverá, em cada casa, duas coleções, uma de sen-
tenças da Sagrada Escritura, tanto do Antigo como do Novo
Testamento, e outra de máximas de piedade195 extraídas de
diversos bons livros.
GE 4,2,26 Os mestres não darão aos alunos nenhum modelo que não seja
de uma dessas duas coleções. Procurará, sobretudo, extraí-los
da Sagrada Escritura, a qual deve produzir impressão mais
profunda e tocar mais fortemente os corações, por ser ela a
Palavra de Deus.
GE 4,2,27 Os modelos de alfabeto serão todos em letras maiúsculas de
contabilidade.
GE 4,2,28 Os modelos dos que escrevem em linhas devem ser de
três diferentes tipos de letras: uns, de maiúsculas de
contabilidade196; [outras, de comércio197]; e outras, de letra de
minuta pausada198.

GE 4,2,29 Seção 5ª
Das transparências e do mata-borrão
GE 4,2,30 Somente se fornecerão transparências aos alunos que não
conseguem escrever em linha reta por si mesmos.

193
1720 acrescenta: a não ser as grandes letras maiúsculas ou traços no início das
páginas. Este ponto é de importância.
194
Assim como em frases dadas como exemplos, na leitura (Cf 3,4,5; 3,5,7);
195
Máximas, para La Salle, são normalmente afirmações de caráter prático, que
comprometem com a vida cristã.
196
De tamanho grande.
197
De tamanho médio.
198
De tamanho pequeno.
66 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,2,31 O Inspetor das escolas verá os que possam ter necessidade


delas, e estes as utilizarão o menos possível.
GE 4,2,32 A transparência é uma folha de papel pautado do com-
primento da folha dos alunos, com linhas horizontais, de
comprimento adequado. Chama-se transparência porque,
colocada sob a folha em que os alunos escrevem, as li-
nhas pautadas são visíveis sob esta folha, servindo para o
alinhamento, porque os alunos escrevem sobre as linhas
pautadas da transparência199.
GE 4,2,33 Cada um dos que escrevem disporá, entre seus papéis, de
uma folha200 de papel [espesso], da altura do seu papel201,
que absorve a tinta muito facilmente, a fim de [a] poder
secar sem borrá-la. Chama-se mata-borrão por causa do uso
que dela se faz.
GE 4,2,34 O mestre e os oficiais (da escrita) cuidarão para que todos a
tenham.202

GE 4,3 Artigo 3º
Do tempo que se empregará na escola para a escrita e do
que cada aluno deverá escrever todos os dias
GE 4,3,1 Os alunos consagrarão à escrita uma hora de manhã e outra
de tarde. De manhã, das oito às nove; de tarde, das três às
quatro.
GE 4,3,2 Desde 15 de novembro inclusive até 15 de janeiro inclu-
sive203, se começará a escrever às duas e meia e se terminará
às três e meia.

199
Em realidade, a palavra transparência é enganosa. Do que se trata é de uma
pauta, de um papel pautado. Não é este que é transparente, mas ele é visto por
transparência, através da folha em que se escreve.
200
1720: uma folha ou duas
201
1720: suprime: da altura do seu papel,
202
1720 não traz esse alerta. Como também o parágrafo 4,3,3 do artigo seguinte.
203
1720: desde o começo de novembro até o fim de janeiro,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 67

GE 4,3,3 Coisa idêntica se fará nos dias em que se dará uma hora de
catecismo, (isto é) nas vésperas dos dias em que se fará re-
cesso o dia inteiro.
GE 4,3,4 Se acontecer de alguns alunos virem à escola apenas por
algum tempo e precisarem de mais tempo que os outros para
aprenderem a escrever o quanto necessitam, pode-se permitir-
lhes escrever durante todo o tempo de aula, excetuado no
momento da leitura dos registros, das orações e do catecismo,
contanto que saibam ler tão bem, tanto o francês, quanto o
latim e a Urbanidade, que já não possam melhorar em nada
nessas leituras, que leiam quando for a sua vez durante as
lições, e que também, quando lhes toca, façam a recitação do
catecismo, das respostas da santa Missa e das orações durante
o desjejum e a merenda, e que tenham escrito pelo menos
durante seis meses em linhas. E isso não será concedido a
ninguém sem a ordem do Irmão Diretor.
GE 4,3,5 Os alunos escreverão ao menos duas páginas por dia, uma
de manhã e outra pela tarde.

GE 4,4 Artigo 4º
Dos diversos tipos de alunos que escrevem em letra redonda
GE 4,4,1 Haverá oito204 ordens de escreventes em letra redonda, dife-
rentes uma da outra, de acordo com as variadas coisas que se
ensinará em cada uma delas aos alunos.
GE 4,4,2 A primeira ordem, ou nível, de escreventes será a dos que
aprendem a posicionar bem o corpo e a pena e a fazer com
facilidade os dois movimentos, o retilíneo e o circular.
GE 4,4,3 Com relação aos dessa ordem, os mestres se preocuparão
apenas de que posicionem adequadamente o corpo, a pena
e as mãos, e que façam corretamente esses dois movi-
mentos205.

204
1720: seis
205
1720 acrescenta: É muito importante que os alunos não comecem a escrever
antes de saberem segurar corretamente a pena e terem adquirido o livre
movimento dos dedos.
68 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,4,4 A segunda ordem, ou nível de escreventes, estará constituída


pelos que aprendem a traçar as quatro letras o, i, f, m206, e que,
para tal efeito, devem preencher uma página dessas quatro
letras207, uma após outra208.
GE 4,4,5 A terceira ordem é a dos que aprendem a fazer bem todas as
letras209 e que, para isso, devem escrever uma linha de cada
letra do alfabeto210, uma após a outra211.
GE 4,4,6 Quanto aos alunos dessas duas ordens, os mestres cuidarão
apenas e com frequência para que deem às letras a forma
correta, e que façam as ligações unidas e tais como devem
ser, e bem localizadas. Quando souberem fazer bem as letras,
antes de fazê-los passar à quarta ordem212, lhes ensinarão as
derivadas do o, do i, do f, e o modo de fazê-las.
GE 4,4,7 A quarta ordem será a dos que, além de se aperfeiçoarem
nas coisas que devem aprender os das ordens precedentes,
se esmeram em dar às letras o posicionamento adequado e
parelho que devem ter numa mesma linha, e a erguer-lhes a
cabeça acima do corpo da escrita, e a puxar e fazer descer as
caudas tanto quanto é devido, segundo a regra213.
GE 4,4,8 Para esse efeito, escreverão uma linha de cada letra, com cada
uma das letras feitas ligada à outra214.

206
1720: as cinco letras c, o, i, f, m. GE 23,3,4 traz cinco letras.
207
1720: de cada letra
208
A partir deste ponto do artigo quarto, a ordem dos parágrafos da edição impressa
de 1720 é diferente daquela do manuscrito de 1706.
209
1720: todas as letras do alfabeto
210
1720: devem escrever inicialmente uma página de cada letra
211
1720 adiciona: E quando o mestre o julgar oportuno, lhes fará escrever uma
linha de cada letra.
212
1720 elimina: Quando souberem fazer bem as letras, e diz: Antes de fazê-los
passar à terceira ordem,
213
1720 acrescenta: da escrita.
214
1720 substitui esse parágrafo por: Com esse objetivo, os alunos dessa ordem
escreverão, em cada linha, o alfabeto inteiro, ligando as letras entre si, e se lhes
fará observar as mesmas regras que se observam para uma palavra extensa que
ocupasse uma linha inteira. Como 1720 só guarda seis das oito ordens iniciais,
na edição princeps, o final deste artigo 4º se reduz a estes poucos parágrafos:
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 69

GE 4,4,9 A quinta ordem será a dos que, além de se aperfeiçoarem nas


coisas precedentes, se esmeram, particularmente, em traçar as
letras com firmeza, segurança e desembaraço, e a posicionarem
as letras e as linhas na distância que devem ter uma da outra.
GE 4,4,10 Os alunos dessa ordem escreverão o alfabeto ligado, inteiro
e sequencialmente em cada linha. Nesse alfabeto, escrito
sequencialmente numa mesma linha, se lhes fará seguir as
mesmas regras observadas numa palavra tão longa que ocu-
passe uma linha inteira.
GE 4,4,11 A sexta ordem é a dos que escrevem em letras maiúsculas
de contabilidade frases formando texto seguido. Enquanto
escrevem essas letras, devem escrever, durante uma semana,
uma página de cada linha de seu modelo, uma após outra.
De maneira que escreverão somente uma linha em cada um
dos cinco dias de duas semanas de aula, e nas duas semanas
seguintes copiarão todo o seu modelo de forma seguida. Desse
modo, copiarão todos os modelos da letra que lhes forem
dados e, todos os meses, se lhes darão diferentes modelos.
Escreverão também, todos os dias, o alfabeto ligado e inteiro
em cada linha, no reverso de sua folha, a metade de uma página
por vez, no começo da escrita, tanto de manhã como de tarde.
GE 4,4,12 A sétima ordem ou nível de escreventes será a dos que
escrevem em letra de contabilidade e de comércio. De manhã,
devem escrever letras de contabilidade, e após o meio-dia,
letras de comércio. Escreverão sempre o seu modelo inteiro
e de forma seguida, e continuarão a escrever o alfabeto em
letras maiúsculas como os da ordem precedente.

A quinta ordem é formada pelos que escrevem textos em caracteres grandes


de contabilidade. Enquanto fazem esse tipo de letra, os alunos devem escrever
primeiramente uma página de cada linha do exemplo, uma depois da outra.
Quando o mestre, de acordo com o Irmão Diretor, o julgar a propósito, copiarão
o modelo todo inteiro, trocando-o todos os meses.
Escreverão também o alfabeto inteiro ligado em cada linha, no verso da folha,
até o saberem fazer perfeitamente. Então se lhes fará copiar o modelo de frases
seguidas em todas as páginas do papel.
A sexta ordem, finalmente, corresponde aos que escrevem em grandes caracteres
de contabilidade na primeira face do papel, e com letra de comércio no verso.
70 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,4,13 A oitava ordem ou nível dos escreventes será a dos que


escrevem em letra de comércio pela manhã, e em letra de
minuta após o meio-dia.
GE 4,4,14 Os dessa ordem, em vez de escrever o alfabeto no começo da
escrita, escreverão cada vez letras de minuta corrida sobre a
metade do reverso do seu papel. Para tal efeito, se lhes fará
copiar todos os dias, pela manhã, de algum bom livro, sobretudo
coisas práticas, que lhes convenham; e todos os dias, após o
meio-dia, copiarão papéis escritos à mão, também chamados
registros, particularmente citações em juízo e mandados de
apresamento, promissórias, recibos, orçamentos e contratos
de trabalho, aluguéis, contratos notariais de diferentes tipos.
Quando tiverem copiado, durante três meses, papéis escritos à
mão, duas vezes por semana, nos dias em que se dá aritmética,
em vez de copiar esse tipo de papéis, redigirão, por si mesmos,
cartas, promissórias, recibos, aluguéis e contratos de trabalho
e outras coisas que lhes possam ser úteis posteriormente.
GE 4,4,15 O mestre cuidará para que os dessa ordem escrevam todas
essas coisas com escrita corrente, bem legível e bem orto-
grafada. Lhes corrigirá as faltas que tiverem cometido, tanto
na dicção, quanto na escrita, na ortografia e na pontuação.

GE 4,5 Artigo 5º
Dos diversos tipos de alunos que escrevem em letra
bastarda215
GE 4,5,1 Nenhum aluno escreverá na letra bastarda sem ter escrito na
terceira ou segunda ordem da letra redonda, e se não estiver

215
Com relação a este artigo 5º, em 1720: 1. Em vez de bastarda, passa-se a falar em
letra italiana. 2. Eliminam-se os parágrafos 4,5,1; 4,5,2; 4,5,11; (Cf. 23,4,10);
4,5,12 e 4,5,16. 3. As cinco ordens do manuscrito passam a seis. 4. Para
iniciar, observa-se o prescrito para o aprendizado das primeiras ordens da letra
redonda. 5. Na primeira ordem, aprendem-se as devidas posições e movimentos
dos dedos. Na segunda, faz-se uma página de c,o,i,f,m. Na terceira, uma página
e, depois, linhas do alfabeto, com o devido posicionamento e inclinação das
letras. Na quarta, aprende-se o correspondente à segunda da letra redonda: faz-
se o alfabeto inteiro em cada linha, e também se cuida da segurança e do passar
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 71

em condições de ser promovido da terceira ordem e passado


à quarta, a menos que seja pelas razões apontadas no artigo 1º
do presente capítulo.
GE 4,5,2 De forma que um aluno não iniciará, ordinariamente, a
escrever na letra bastarda sem ter começado a estar na quarta
ordem dos escreventes, e então, se o Inspetor ou o mestre
julgam conveniente fazê-lo escrever na letra bastarda, lhe
farão deixar a letra redonda.
GE 4,5,3 Portanto, se um aluno começa a escrever pela letra redonda,
haverá unicamente cinco216 ordens de escreventes na bastarda.
GE 4,5,4 A primeira ordem será a daqueles aos quais se ensina a dife-
rença entre o formato da letra bastarda e o da letra redonda, e a
forma de fazer as próprias letras bastardas, o posicionamento
a dar-lhes e a maneira de incliná-las.
GE 4,5,5 Para isso, escreverão uma página de cada letra, ligando à
seguinte cada uma das letras escritas sequencialmente.
GE 4,5,6 A segunda ordem será a daqueles aos quais se ensina a
uniformidade que devem ter as letras entre si, a distância que
deve haver entre uma e outra letra, e o afastamento a guardar
entre as linhas.
GE 4,5,7 Nesta ordem, eles devem ser formados também para que
escrevam com firmeza e passem facilmente de uma letra a
outra.
GE 4,5,8 Os alunos dessa ordem escreverão o alfabeto inteiro e sequen-
cialmente em cada uma [das linhas].
GE 4,5,9 Na terceira ordem dos escreventes em letra bastarda, os alu-
nos [escreverão] frases formadas com letras maiúsculas.

fácil de uma letra a outra. A quinta bastarda corresponde à terceira redonda, e


a sexta bastarda aproximadamente à quarta redonda. 6. Nos parágrafos finais,
repete-se o prescrito na redonda quanto à flexibilidade a ter para atender os
alunos que não têm muito tempo para aprender a escrita.
216
1720: seis
72 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,5,10 Os da quarta ordem escreverão, pela manhã, períodos


formados com letra de comércio, e após o meio-dia, com letra
minúscula e, nessas três ordens de escreventes, os mestres
e os alunos observarão as mesmas coisas que na 6ª, 7ª e 8ª
ordem dos que escrevem em letra redonda.
GE 4,5,11 Se um aluno começa a escrever pela letra bastarda e dispuser
somente de seis meses para aprendê-la, escreverá o alfabeto
durante três [meses: nos primeiros dois meses uma linha] de
cada letra ligada uma a outra, e no terceiro mês o alfabeto
inteiro e de forma seguida em cada linha.
GE 4,5,12 Em seguida, durante os três outros meses, escreverá frases
em letras de comércio, escrevendo o alfabeto ao início da
escrita, da forma como está indicado acima no relativo à letra
redonda.
GE 4,5,13 Se o aluno que começa a escrever pela letra bastarda tiver
um ano, isto é, onze meses para aprendê-la, no primeiro mês
se lhe ensinará a manter corretamente o corpo e a pena e a
fazer os dois movimentos, o retilíneo e o circular, assim como
indicado com relação à letra redonda. Depois, escreverá o
alfabeto durante seis meses, nos dois primeiros, uma página
de cada letra ligada, [nos dois meses seguintes, uma linha de
cada letra ligada], nos dois últimos meses, o alfabeto inteiro
e de forma seguida em cada linha, e nos quatro últimos
meses, escreverá períodos em letra de comércio, e escreverá
o alfabeto no início da escrita, assim como indicado com
relação à letra redonda.
GE 4,5,14 Quanto aos alunos que tiverem, assim, pouco tempo para
escrever, se lhes distribuirá o tempo segundo se indicou
acima, de acordo com o tempo de que dispõem para aprendê-
lo, e serão promovidos por necessidade ao final do período
previsto, quer saibam, quer não, o que devem saber para
serem promovidos.
GE 4,5,15 Os mestres, contudo, se empenharão em continuar a lhes
ensinar, na lição seguinte, o que é da anterior, suposto que
não o saibam suficientemente217.

217
1720: perfeitamente.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 73

GE 4,5,16 Cada uma dessas ordens de escreventes terá seu lugar


assinalado na sala de aula, de forma que os escreventes de
uma mesma ordem estejam situados sequencialmente, e seja
possível distinguir facilmente os de uma ordem dos de outra.

GE 4,6 Artigo 6º
Da maneira de ensinar a postura correta do corpo
GE 4,6,1 O mestre cuidará para os alunos manterem218 o corpo o
mais ereto possível, inclinando-o somente um pouco para a
frente, sem tocar a mesa, de maneira que, estando o coto-
velo apoiado nesta, o queixo possa ficar encostado sobre o
punho. É necessário que o corpo esteja um pouco voltado,
desimpedido, para o lado esquerdo e que todo o peso do corpo
caia sobre o mesmo lado. O mestre lhes fará respeitar com
exatidão todos os aspectos referentes à postura do corpo, de
acordo com as normas da escrita.
GE 4,6,2 Terá cuidado especial para os alunos não separarem dema-
siadamente do corpo o braço direito e não apoiarem o ventre
na mesa, porque tal postura, além de muito desagradável219,
poderá causar-lhes graves danos físicos.
GE 4,6,3 Para fazer o aluno manter boa postura do corpo, o próprio
mestre o colocará na posição em que deve conservar-se220.
Para isso, lhe colocará cada membro no lugar em que lhe
cabe estar, e ao reparar que o aluno mudou de posição, terá o
cuidado de o repor nela.

GE 4,7 Artigo 7º
Da maneira de ensinar a segurar corretamente a pena e o
papel
GE 4,7,1 A segunda coisa a que o mestre deverá prestar atenção
durante a escrita, é a de ensinar o modo correto de manter

218
1720: sempre
219
1720: deselegante,
220
1720: o colocará na posição em que deve conservar-se e cada membro no lugar
em que lhe cabe estar,
74 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

posicionados a pena e o papel. Esse cuidado é importante,


porque os alunos que não forem habituados, desde o início,
a segurar adequadamente a pena nunca chegarão a escrever
bem.
GE 4,7,2 Para ensinar bem221 o modo de segurar corretamente a pena,
o próprio mestre deve ajeitar a mão do aluno e colocar[-lhe] a
pena entre os dedos, da forma indicada na regra da escrita.
GE 4,7,3 Quando os alunos começam a escrever, é útil e conveniente
dar-lhes uma haste da espessura de uma pena, com três
entalhes, dois à direita e um à esquerda, para indicar os pontos
em que devem ser colocados os três dedos, com o objetivo
de ensinar-lhes a segurar corretamente a pena com eles e
acostumá-los à boa posição desses três dedos.
GE 4,7,4 O mestre estará atento a que coloquem os três dedos nos três
entalhes e que, durante oito dias222, se exercitem na escola,
durante a primeira meia hora de escrita223, a flexibilizar bem a
mão com esta haste224. Os exortará mesmo a fazê-lo no ato e,
posteriormente, o mais das vezes que o puderem, em sua casa
e em qualquer outro lugar.
GE 4,7,5 Aos que tiverem mão dura, fará que, em lugar da haste, tomem
um parafuso de cama ou um pedaço de ferro redondo225.
GE 4,7,6 Quanto aos dois últimos dedos a serem colocados na parte
baixa da pena, lhes fará226 atá-los na posição em que devem
estar, durante algum tempo, tanto quanto julgar que [isso]
lhes seja necessário.
GE 4,7,7 Referente ao bom posicionamento do papel, é necessário que
ele seja colocado reto. A isso o mestre prestará muita atenção,

221
1720 não conserva esse bem, assim como a parte final: da forma indicada na
regra da escrita.
222
1720: quinze dias, ao menos,
223
1720: durante a escrita,
224
1720: esta haste ou uma pena não talhada.
225
Em 1720 desaparece esta prescrição.
226
1720: seria conveniente fazer-lhes
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 75

porque, se o papel está colocado atravessado, as linhas em


geral são feitas tortas, o corpo não pode estar em postura
adequada, e as letras não podem ser bem227 traçadas.

GE 4,8 Artigo 8º
Da maneira de formar à boa escrita
GE 4,8,1 Desde o momento em que um aluno começar a escrever, e
estiver na segunda e terceira ordem de escrita, o mestre lhe
ensinará a traçar bem as letras: por onde é preciso começar,
quando é necessário diminuir a pressão da pena e erguê-la, o
que deve ser feito de um só traço e o que deve ser feito com
vários recomeços. A seguir, lhes fará compreender a maneira
de fazer bem todas essas coisas.
GE 4,8,2 Para que os alunos possam dar-se perfeitamente conta do
traçado das letras e aprendê-lo bem, o mestre terá o cuidado
de lhes guiar a mão, de quando em vez, segundo julgar que
tenham necessidade disso. Mas só o fará com alunos da
primeira e segunda ordens de escrita.
GE 4,8,3 Depois de, por algum tempo, haver-lhes guiado a mão e ensi-
nado a formar as letras, deixará que escrevam sozinhos; mas
verificará, de vez em quando, o que tiverem escrito.
GE 4,8,4 Exercitá-los-á, em seguida, e os ajudará a fazerem bem as
ligações, de maneira leve, reduzindo um tanto a pressão da
pena do lado do polegar, e cuidará para que o façam sempre
da mesma forma.
GE 4,8,5 O mestre não permitirá que os alunos escrevam coisa diferente
do que estiver em seu modelo. Em consequência, que nenhum
deles escreva nada a não ser o alfabeto até que esteja na sexta
ordem da letra redonda e na terceira da bastarda228.
GE 4,8,6 Prestará também atenção, quando os alunos estiverem escre-
vendo o alfabeto, para não juntarem e nem afastarem demais
as letras e as linhas.

227
1720: tão bem
228
1720 corta esse parágrafo.
76 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,8,7 Desde o momento em que o mestre passar os alunos à segunda


ordem de escrita, lhes dará uma transparência, para acostumá-
los a escrever em linha reta. Cuidará para colocarem a base do
corpo das letras sobre a linha da transparência.
GE 4,8,8 Contudo, não lhes deixará usá-la sempre, mas a recolherá de
vez em quando, fazendo que os alunos escrevam cinco ou seis
linhas sem ela, para que se acostumem a escrever em linha
reta por si mesmos e sem ajuda.
GE 4,8,9 Os que escreverem por linhas229, só utilizarão a transparência,
no máximo, durante o primeiro mês.
GE 4,8,10 É importante não se fazer os alunos escreverem por linhas
antes de saberem formar corretamente todas as letras e es-
crever o alfabeto em todas as formas indicadas nas diversas
ordens da escrita. É preciso estar convencido de que, seguindo
essa prática, os alunos progredirão, depois, mais na escrita em
um mês do que em seis (com outra).

GE 4,9 Artigo 9º
Da ocasião em que o mestre talhará as penas dos alunos e
do momento e do modo como lhes ensinará a fazê-lo
GE 4,9,1 Quando os alunos precisarem, o mestre lhes talhará as penas,
unicamente durante o tempo da escrita.
GE 4,9,2 Com esse objetivo, os alunos que tiverem necessidade de
fazer aparar suas penas, terão o cuidado de colocá-las diante
deles, para que o mestre, ao vir corrigir-lhes a escrita, pos-
sa vê-las. Manter-se-ão descobertos até que o mestre as
devolva e, ao recebê-las, lhe beijarão a mão e lhe farão uma
inclinação. Não deixarão de escrever enquanto o mestre lhes
talhar as penas.
GE 4,9,3 Quando o aluno tiver escrito durante um mês, no máximo,
na terceira230 ordem, o mestre lhe exigirá aparar sozinho as
penas.

229
1720: utilizarão a transparência o menos que lhes for possível.
230
1720 acrescenta: ou quarta
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 77

GE 4,9,4 O mestre tomará o tempo dos primeiros quinze dias do pri-


meiro mês em que um aluno escrever na terceira ordem para
ensinar-lhe o modo de talhar corretamente as penas, e não o
ensinará a cada aluno mais que uma vez ao dia231.
GE 4,9,5 Para que um aluno possa aprender bem a talhar as penas, o
mestre o fará vir junto a si e lhe fará observar tudo o que é
necessário para fazê-lo bem, procedendo da seguinte maneira:
GE 4,9,6 Para ensinar a bem talhar a pena em todas as suas formas,
o mestre utilizará uma pena nova, e ensinará ao aluno: 1º a
maneira de tirar a penugem, sem estragar a pena232; 2º o modo
de segurá-la entre os dedos; 3º a forma de abrir a cânula da
pena, do lado da ponta, tanto na parte posterior, como na da
frente; 4º a maneira de segurar a pena para fendê-la; 5º com
quê e de que forma se deve fendê-la; 6º o quanto ela deve ser
fendida, tanto para a letra redonda, como para a letra bastarda
e a corrente; 7º o modo de a encavar e que, para fazê-lo, é
preciso usar a ponta do canivete. 8º que, para a letra corrente,
é necessário que os dois ângulos da pena sejam iguais; e que,
para as outras letras, um dos ângulos deve ser mais grosso e
comprido e o outro mais fino e curto; 9º qual o lado que deve
ser mais espesso e comprido; 10º qual o que deve ser mais
fino e curto; 11° a maneira de abrir a pena, o comprimento e
a profundidade da abertura, qual a parte do fio do canivete a
ser usada para fazê-lo; 12º o modo de afilar a ponta da pena e
de cortá-la com o meio da lâmina; 13º como é preciso segurar
o canivete para fendê-la: se na posição reta ou inclinada; 14º
finalmente, que a pena não deverá ser cortada sobre a unha do
polegar233, mas sobre a cânula de outra pena, que se introduz
naquela que estiver sendo preparada.
GE 4,9,7 O mestre ensinará, a seguir, ao aluno, todos os termos utili-
zados no talhar a pena, como, por exemplo, o que se chama
de ângulos, bordas, etc., e fará com que ele os repita.

231
1720, deste parágrafo, só guarda a ideia de que o mestre lhe ensinará o modo de
o fazer.
232
1720 acrescenta: e a endireitá-la, caso estiver curva;
233
1720 acrescenta: esquerdo, sobre a mesa ou madeira,
78 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,9,8 Para fazer com que os alunos compreendam, retenham e


façam bem todas essas coisas, referentes à forma de talhar
corretamente a pena234, o mestre fará três coisas: 1. talhará
uma pena nova, durante três dias, diante do aluno, enquanto
este olha, e o mestre lhe faz compreender tudo o que faz para
talhá-la e como o faz; 2. o mestre talhará uma pena diante do
aluno e, logo em seguida, fará que o próprio aluno talhe uma
outra, dizendo-lhe tudo o que se deve fazer e o modo de fazê-
lo bem. Se errar em algo, o corrigirá. Fará isso durante oito
dias; 3. o mestre, assim que chegar ao aluno, lhe fará talhar
uma, sem lhe dizer nada do que deve fazer, fazendo-lhe, em
seguida, apontar os erros em que possa ter incorrido ao talhá-
la, e fará com que os emende, o que lhe fará fazer até que
saiba talhar perfeitamente.

GE 4,10 Artigo 10º


Da maneira de acompanhar os que escrevem e de corrigir-
lhes a escrita
GE 4,10,1 O mestre deve acompanhar cada vez235 os escreventes, e
mesmo diversas vezes os iniciantes. Ao fazê-lo, cuidará se
as penas dos que as talham estão bem talhadas; se o corpo
se encontra na postura em que deve estar; se o papel está na
posição reta e é limpo; se os alunos seguram bem as penas;
se têm modelos; se escrevem tanto quanto devem; se são
aplicados em fazê-lo bem; se não escrevem com demasiada
pressa; se escrevem em linha reta; se colocam todas as letras
numa mesma posição e corretamente distanciadas; se o corpo
de todas as letras é de igual altura e tipo; se as letras são bem
precisas e traçadas; se as palavras e as linhas não estão muito
juntas e nem muito distantes.

234
1720 simplifica o restante do parágrafo: o mestre talhará uma delas, nova,
durante três dias, diante do aluno. Far-lhe-á compreender tudo o que ele faz
para talhá-la e porque o faz. Em seguida, fará o aluno talhar outra, dizendo-lhe
tudo o que se deve fazer e o modo de fazê-lo bem. Se errar em algo, o corrigirá.
Fará isso mais ou menos durante oito dias.
235
1720: cada dia
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 79

GE 4,10,2 O mestre corrigirá cada vez a escrita da metade dos que


escrevem e, dessa forma, corrigirá, sem falha, a escrita de
todos, tanto dos da manhã como dos da tarde.
GE 4,10,3 Passará por trás de todos, um depois do outro, motivo por que
haverá algum espaço entre os bancos dos alunos da escrita.
Colocar-se-á do lado direito daquele que tiver que corrigir
e lhe apontará todas as falhas cometidas ao escrever, tanto
na postura do corpo, como na maneira de segurar a pena
e de formar as letras e em todas as demais coisas sobre as
quais deve chamar a atenção ao acompanhá-los, e que estão
indicadas a seguir236.
GE 4,10,4 Quando, ao fazer a correção, falar em pernas, pés, cabeças,
caudas, membros e corpos de letras, separação, distância,
afastamento, altura, largura, circularidade e semicirculari-
dade, grosso e delgado, minúscula e maiúscula, explicará aos
alunos cada um desses termos em particular, pedindo-lhes,
depois, explicação, perguntando, por exemplo, o que são
pernas das letras.
GE 4,10,5 O mestre cuidará que os alunos estejam atentos quando lhes
corrigir a escrita, assinalando-lhes, por meio de pequeno traço
de pena, os principais erros cometidos.
GE 4,10,6 No princípio, cuidará de lhes chamar a atenção apenas sobre
três ou quatro erros, receando atrapalhá-los com a indicação
de número maior e de fazer-lhes esquecer o que lhes ensinou,
por causa da confusão que a grande quantidade de erros
assinalados causaria em sua mente.
GE 4,10,7 Quando corrigir, desta maneira, a escrita, fará os alunos
observarem como ele escreve as sílabas e as letras para retifi-
cá-las, visando a que se esforcem, depois, para imitar o modelo
deixado por ele no alto ou na margem da folha. Far-lhes-á
escrever uma linha de cada letra ou de cada sílaba que tiver
corrigido e duas linhas de cada palavra. Se eles não tiverem
tempo suficiente para fazer tudo isso no dia em curso, ordenará

236
1720: indicadas acima.
80 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

que o terminem no dia seguinte, antes de começarem a copiar


o seu modelo. E se, mesmo depois disso, não o conseguirem,
lhes exigirá que repitam somente as sílabas, letras ou palavras
que tiverem errado, duas ou mais vezes seguidas, durante todo
o tempo de que dispõem para escrever.
GE 4,10,8 Ao corrigir a escrita dos alunos, o mestre não escreverá sobre
a folha deles nenhuma linha nem palavra de várias sílabas:
bastará que escreva a letra mal traçada pelo aluno e, se este
errou na ligação, que escreva as duas letras enlaçadas ou, a
sílaba, no máximo.
GE 4,10,9 Enquanto o mestre fizer o acompanhamento e corrigir a escrita
[de algum] dos alunos, cuidará de não perder de vista a todos
os demais; para isso, erguerá, de vez em quando, a cabeça, para
observar o que está ocorrendo na sala. Se observar alguém
cometendo alguma falta, o advertirá com um sinal oral237.
Velará particularmente sobre os mais necessitados, ou seja,
os principiantes e os negligentes. Prestará atenção para que,
durante todo este tempo, nada escape a seus olhos.
GE 4,10,10 Ao acompanhar os alunos e corrigir-lhes a escrita, cuidará
daqueles que fazem os movimentos retilíneos e circulares: se
a pena não lhes escapa dos dedos, caso em que a colocará na
mão deles238 e lhes dará a conhecer o que é preciso fazer para
que a segurem assim; se, ao fazerem esses movimentos, não
movem o braço, em lugar de (apenas) alongar e dobrar os
dedos; se fazem mais esforço por movimentar os dedos que o
braço; se movem sempre primeiro o polegar; e se não fazem
estes movimentos com a mão apoiada, em vez de fazê-los com
leveza. Mostrar-lhes-á esses defeitos239 e os meios de corrigi-
los, dando-lhes a conhecer como devem encolher e alongar os
dedos; como colocar o braço sem apoiá-lo demasiadamente
na mesa; como devem poder escrever de uma ponta a outra
da folha, roçando apenas ligeiramente o papel com o bico da

237
1720 omite: oral.
238
1720: a recolocará como deve estar,
239
1720: Em lugar de: esses defeitos, escreve: os defeitos que podem cometer
nessas coisas e os meios de corrigir-se deles,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 81

pena, deslizando levemente o braço de um lado a outro, da


esquerda para a direita.
GE 4,10,11 Em relação ao movimento retilíneo, observará se fazem os
traços retos de cima para baixo e se não têm os dedos muito
tesos, mas se os dobram tanto quanto necessário para fazer
bem esse movimento, e se conservam sempre a pena240 sem
afastar-se, seja ao subir, seja ao descer.
GE 4,10,12 Quanto ao movimento circular, se o começam com a mesma
facilidade embaixo como em cima, bem como da direita para
a esquerda e da esquerda para a direita; se não mantêm os
dedos demasiado tensos e o braço colado à mesa.
GE 4,10,13 O mestre observará, de vez em quando, os alunos da primeira
ordem fazendo esses dois movimentos, a fim de verificar
pessoalmente quais os erros que cometem com relação a
todas as coisas acima indicadas e de fornecer-lhes, ao mesmo
tempo, os meios de se corrigirem deles imediatamente241.
GE 4,10,14 O mestre fará observar aos alunos da segunda e da terceira
ordem, inclusive aos das ordens superiores, todos os erros
relacionados com o modo de traçar bem as letras: Se, por
exemplo, um b em letra redonda, feito por um aluno, está
demasiadamente inclinado para um lado ou outro; se não
está encurvado ou corcunda; se tem todas as dimensões
requeridas, quer dizer, se não lhe falta altura, a qual deve ser
de dois corpos da escrita, isto é, oito pontas de pena, ou se ela
não é demasiada; se tem a largura que deve ter no alto ou na
base; se lhe falta alguma de suas partes na cabeça ou na base;
se não tem mais partes que deve ter242; se os traços grossos ou
os finos estão onde devem estar. E assim procederá com todas
as demais letras.
GE 4,10,15 Indicar-lhes-á todos os erros cometidos, na feitura dessas
letras, com um traço de pena, em cada lugar. Por exemplo,
se a letra b estiver inclinada demais para o lado direito, o

240
1720 acrescenta: no mesmo nível
241
1720: os meios de se corrigirem e de o fazerem imediatamente.
242
1720 omite: na cabeça ou na base; se não tem mais partes que deve ter;
82 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

indicará com um traço na direção em que deveria estar; se é


para o lado esquerdo que está muito inclinada, fará um traço
a partir do lado esquerdo.
GE 4,10,16 Mostrará aos alunos da terceira ordem e das seguintes todos
os erros que possam haver cometido no referente às liga-
ções: 1. Se não as fizeram onde não as deveriam ter feito; 2.
se não deixaram de fazê-las onde deveriam ter sido feitas;
3. se não as iniciaram em ponto da letra diferente daquele
em que deveriam ter começado a fazê-las; 4. se não sobem
demais; 5. se não sobem insuficientemente; 6. se não são
excessivamente finas 7. se não são demasiado grossas; 8. se
não são serpeantes quando devem ser circulares; 9. se não
são retas quando devem ser circulares; 10. se os alunos não
seguram a pena como deveriam para fazê-las, se a giram em
vez de reduzir-lhe a pressão.
GE 4,10,17 Para fazer compreender facilmente e muito bem aos que
escrevem os erros em suas letras e ligações, o mestre, após
lhes ter mostrado [o erro], lhes pedirá que digam o que falta
à letra ou à ligação mal feita pelo aluno. [Em seguida, dará
à letra ou à ligação] a forma que devem ter, traçando uma e
outra sobre as mal feitas pelo aluno. Perguntar-lhe-á depois a
razão de estar correta a corrigida por ele e o que é que estava
errado na letra do aluno. Depois traçará uma letra ou duas
unidas, acima, entre as linhas, e mandará o aluno repetir
alguma igual, observando como a traça.
GE 4,10,18 Quando o mestre tiver ensinado ou corrigido algo de um
aluno das três primeiras ordens, não o deixará logo em
seguida, mas lhe fará praticar o que lhe tiver ensinado ou
as letras que lhe tiver corrigido. E isso ficando junto dele e
observando-o, tanto para verificar se ele segura a pena como
lhe mostrou, como para ver243 se faz bem o que lhe ensinou,
com o fim de lhe dizer em que está falhando. Pois, se o
deixasse em seguida, este aluno esqueceria tudo o que lhe

243
1720 acrescenta: se começa bem as letras e
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 83

tivesse ensinado. Ao passo que, permanecendo junto a ele,


isso agradaria aos pais, porque ele não deixaria de contar
que o mestre lhe ensinou, fazendo-lhe escrever junto a ele244
e lhe guiou a mão, e assim por diante.
GE 4,10,19 Se o aluno se engana no posicionamento das letras245, o
mestre traçará duas linhas retas com a pena, por toda a ex-
tensão da linha em que o aluno falhou. Um dos traços, desde
a base da primeira letra bem posicionada, e o outro, no alto
do corpo dessa letra.
GE 4,10,20 Em seguida, lhe explicará em que consiste o erro na proporção
e quais as letras não bem proporcionadas.
GE 4,10,21 O mestre procederá da mesma forma quando as pernas das
letras não tiverem a mesma altura ou proporção. Para corri-
gir a falha de distância entre as letras, ele mostrará qual o
espaço que deveria haver entre a anterior e a seguinte. Depois,
fará, com a pena, um traço de cima para baixo, passando pelo
lugar onde deveria estar situado o primeiro membro da letra
seguinte, que está demasiado perto ou afastada demais da
precedente.
GE 4,10,22 Para corrigir a incorreta distância entre duas palavras, por
estarem elas ou muito próximas ou demasiado afastadas, o
mestre escreverá entre as duas um m, que mede sete pontas
de pena246, o que corresponde à distância que deve haver entre
duas palavras247, separadas por um ponto.
GE 4,10,23 Se houver um ponto, um ponto e vírgula, ou dois pontos, o
mestre fará [entre as duas palavras] dois n, correspondentes
a dez bicos de pena, que é a distância que deve existir entre
uma e outra.

244
1720: na presença dele
245
1720 acrescenta: isto é, quando não forem bem proporcionadas,
246
1720 acrescenta: em termos de largura,
247
1720 intercala: Se houver um ponto entre as palavras, o mestre fará cinco
hastes contíguas de m, correspondentes a 13 bicos de pena, que é o espaço que
deve haver entre duas palavras.
84 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 4,10,24 Para corrigir a distância incorreta entre linhas, traçará quatro


corpos de letra na margem da folha, entre as linhas que estão
muito juntas ou separadas demais, para fazer o aluno perceber
qual o espaço que deve haver entre as duas linhas. O mestre
fará, por exemplo, quatro o, os quais, colocados um sobre o
outro, medem dezesseis bicos de pena.
GE 4,10,25 Para fazer os alunos adquirirem leveza e corrigirem a falta
de soltura ao escrever, o mestre cuidará para que não façam
pressão sobre o papel, mas somente [o] toquem de leve com
a ponta da pena, quase sem o sentir, e não escrevam com
excessiva lentidão.
GE 4,10,26 Mostrar-lhes-á que essa incorreção provém do fato de esta-
rem com os braços como que grudados na mesa, de não
flexibilizarem os dedos e não lhes imprimirem o movimento
que devem ter, ou de o corpo estar demasiadamente inclinado
ou, até, debruçado sobre a mesa.
GE 4,10,27 Para fazer que um aluno se corrija dessa incorreção, se for
lento, é preciso estimulá-lo a escrever rápido, sem apoiar o
braço sobre a mesa, pousando sobre ela somente a extremidade
dos dois dedos de apoio, sem ter em conta se está traçando
bem ou mal as letras ou palavras, preocupando-se unicamente
em lhe fazer adquirir segurança e desenvoltura.
GE 4,10,28 Tratando-se de aluno expedito por natureza, é suficiente
posicionar-lhe corretamente a mão, o braço e o corpo e,
após haver-lhe ensinado o que deve fazer, deixá-lo escrever
sozinho, contendo-o, ou moderando-o se for excessivamente
apressado.
GE 4,10,29 Para fazer adquirir liberdade e desembaraço a todos os alu-
nos, o mestre lhes ensinará a maneira de passar bem de uma
letra a outra, como248 de um j a um f, de um c a um o, etc.,
num traçado único, sem levantar a pena. E, para corrigir o que

248
1720: substitui: de um j a um f, de um c a um o por: de um i a um f, de um c a
um l, de um o a um i,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 85

pudessem ter feito de errado em todas essas coisas referen-


tes tanto à segurança como à desenvoltura, ele mesmo fará,
diante deles, o que deseja que façam para se corrigirem, e lhes
ordenará fazer, em seguida, o que acaba de realizar e que eles
executaram mal.

GE 5 Capítulo 5º
Da aritmética
GE 5,0,1 Em cada classe em que se escreve em linhas, haverá um
grande quadro249, com a largura de...pés, e a altura de...,
contendo dois painéis, sobre cada um dos quais se possam
escrever operações de aritmética, excetuada a divisão e as
operações que dela dependem, para as quais é necessário
um painel inteiro250.
GE 5,0,2 Esse quadro deve estar preso à parede, no local mais ade-
quado, a parte inferior à altura de cinco pés do chão e a parte
alta inclinada meio pé para frente.
GE 5,0,3 Também será preciso que os dois painéis desse quadro
estejam pintados com óleo de cor preta, para que se possa,
com giz, fazer sobre eles as operações. O quadro deve ser
feito como se indica na página seguinte.
GE 5,0,4 Na lição de aritmética, haverá alunos de diferentes li-
ções251: Alguns que aprenderão a soma; outros, a subtração,
ou a multiplicação ou a divisão, segundo o respectivo
adiantamento.
GE 5,0,5 O mestre terá o cuidado de escrever no quadro uma operação
de cada lição252, todos os sábados ou nos últimos dias253 de
aula da semana, se houver festa no sábado.

249
Um quadro-negro (Cf. 5,0,3).
250
1720 elimina este parágrafo e os dois seguintes (5,0,2 e 5,0,3).
251
Passagem que patenteia a ambiguidade da palavra lição, ora significando
matéria de ensino, ora conteúdo preciso por aprender geralmente num mês, ora
ainda o grupo de alunos que estudam esse conteúdo.
252
Um operação-exercício para cada nível de trabalho.
253
1720: no último dia
86 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

SOMA MULTIPLICAÇÃO

3267l 17s 9d 2324 cavalos


+ 0923 19 10 a 24l 15s 8d
–––––––––––––––––– __________________
4825 9 7 1162 1162
581 384
9296 15.416
+ 46587
7
____________ 2 8
7
57526
prova

SUBTRAÇÃO DIVISÃO ITALIANA

3252l 16s 8d 25.864 68


– 2985 19 9 20 4 380
––––––––––––––––––––– _______ 68
0266 16 11 05 46 –––––––
––––––––––––––––––––– 5.44 3040
3252 16 8 prova ––––––– 2280
00.24 –––––––
25.864 prova

GE 5,0,6 Estará atento a que cada um dos que aprendem aritmética


copie a sua operação, na segunda-feira de manhã, no início
da escrita, ou no primeiro dia de aula da semana, quando
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 87

segunda-feira for dia de festa. Devem dispor, para isso, de um


caderninho de papel branco dobrado em quatro.
GE 5,0,7 Somente se fará aprender aritmética aos alunos que254
estiverem iniciando a escrever na quarta ordem da letra
redonda e na segunda ordem da bastarda. Ao Irmão Diretor
ou ao Inspetor caberá colocá-los nesta lição, assim como nas
demais.
GE 5,0,8 Ensinar-se-á aritmética na terça e na sexta-feira, após o meio-
dia, desde uma e meia até as duas horas. Ocorrendo uma festa
na terça-feira, ela será ensinada na quarta255; se na sexta-feira
for dia de festa, será dada no sábado.
GE 5,0,9 Para ensinar aritmética, o mestre permanecerá sentado em seu
lugar, ou de pé diante de sua cadeira. Um aluno de cada lição
fará, de pé, a conta que lhe corresponde, mostrando com uma
vareta os números um após outro: adicionando, subtraindo,
multiplicando ou dividindo-os em voz alta.
GE 5,0,10 Assim, para fazer bem uma adição, começará pelos dená-
rios, e sempre a partir do alto. Dirá, por exemplo, 6 e 9 são
15256, etc.
GE 5,0,11 Enquanto um aluno realizar a operação de sua lição, o mestre
lhe fará diversas perguntas referentes à mesma, para levá-
lo a compreendê-la e retê-la melhor. Caso o mestre utilize
termos que o aluno não entenda, isto é, termos próprios da
aritmética, ele lhos explicará todos e fará com que os repita
antes de passar adiante.
GE 5,0,12 O mestre igualmente interrogará, de vez em quando, a alguns
outros alunos da mesma lição, para verificar se estão atentos
e compreendendo.
GE 5,0,13 Se aquele que faz a operação errar em alguma coisa, o mestre
apontará para outro aluno da mesma lição ou de lição superior

254
1720 simplifica o resto da frase: estiverem iniciando a quarta ordem de escrita.
255
1720 adiciona: a não ser que ocorra uma festa na segunda e na terça;
256
1720: 10 e 6 são 16, e assim por diante.
88 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

para corrigi-lo, dizendo corretamente aquilo que o outro tiver


dito errado. Se não houver lição superior à que é dada, e
nenhum aluno tiver condições de corrigir o erro, o próprio
mestre o fará.
GE 5,0,14 O aluno que efetuar a operação no quadro, ao realizá-la, deve
escrever por baixo o total da adição, a quantia subtraída e o
total da subtração, o produto e o257 total da multiplicação, o
cociente e as quantias a serem subtraídas na divisão, e em
seguida, tirar a prova da operação realizada. Depois, apagará
tudo o que tiver escrito, e nada mais, para que outro aluno
possa fazer a mesma operação.
GE 5,0,15 Na aritmética, da mesma forma como nas demais lições, se
iniciará com as operações mais simples e se terminará com as
mais difíceis.
GE 5,0,16 Quando o aluno que faz a operação da primeira lição, isto é, da
mais fácil, tiver terminado, aquele que deve fazer a operação
da lição seguinte fará a operação da mesma maneira, e assim
com as demais258.
GE 5,0,17 Quando um aluno fizer a operação aritmética, de qualquer
uma das lições, todos os demais da lição, sentados, estarão
com o olhar voltado ao quadro e atentos aos algarismos que o
aluno indicar e ao que ele disser para fazer a operação.
GE 5,0,18 Todos os alunos da escrita e que ainda não aprendem arit-
mética, prestarão a mesma atenção.
GE 5,0,19 O mestre terá uma lista de todos os alunos que aprendem
aritmética, separados por lição, e cuidará para que, em aula,
todos, sem exceção de um só259 e um após outro, façam uma
operação de sua lição no quadro.
GE 5,0,20 Os alunos de cada lição estarão, inclusive, separados em ini-
ciantes e adiantados. Os iniciantes farão sua operação sobre

257
1720: o total da adição, da subtração, da multiplicação e da divisão. Neste caso,
é o manuscrito que usa os termos apropriados.
258
1720 não conserva este parágrafo, bem como os posteriores 5,0,20 e 5,0,21.
259
1720: sem exceção de nenhum
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 89

seu papel depois que o aluno de turno o tiver feito em voz alta;
e, quanto aos que estão na divisão, os iniciantes farão algumas
operações de subtração e de multiplicação, enquanto que os
das primeiras lições farão sua operação para não esquecer o
que aprenderam260.
GE 5,0,21 Todos os adiantados de qualquer lição que seja farão por
si mesmos operações de sua lição, enquanto os das demais
lições fazem a sua.
GE 5,0,22 Na terça-feira de cada semana ou no primeiro dia de aritmé-
tica, todos os alunos que a aprendem e estão entre os adian-
tados, deverão trazer, feita sobre seus papéis, a operação da
lição que o mestre tiver escrito no quadro, para esta semana,
com algumas outras criadas por eles mesmos. Na sexta-
feira, deverão trazer certo número de operações, tanto de sua
lição, como das inferiores, que eles mesmos tiverem criado,
conforme indicação do mestre e segundo a capacidade deles.
GE 5,0,23 O mestre corrigirá, na terça e sexta-feira de tarde, durante o
tempo da escrita, as operações que os alunos que aprendem
aritmética tiverem inventado por si mesmos, sobre seu papel,
em vez de corrigir-lhes a escrita. Dar-lhes-á a conhecer todas
as dificuldades, perguntando-lhes, por exemplo, no caso da
adição, porque se inicia com os denários, porque se reduzem
os denários a soles, e os soles a libras, e fazendo-lhes outras
perguntas semelhantes, segundo a necessidade neles perce-
bida, dando-lhes de tudo perfeita compreensão.

GE 6 Capítulo 6º
Da ortografia
GE 6,0,1 O mestre de escrita tomará a peito ensinar a ortografia aos
da sétima ordem dos que escrevem em letra redonda e na 4ª
da bastarda261. O Inspetor262 das escolas estará atento a esse
ponto.

260
1720 corta esse parágrafo (5,0,20), bem como o seguinte (5,0,21).
261
1720: aos da 6ª ordem da letra redonda e da letra italiana.
262
1720: O Irmão Diretor
90 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 6,0,2 A maneira de ensinar-lhes ortografia consistirá em fazer-


lhes copiar documentos manuscritas, sobretudo coisas cujo
aprendizado lhes possa ser útil e das quais terão necessidade
no futuro, como são: promissórias, recibos, contratos de
trabalho, contratos notariais, títulos de dívida, procurações,
aluguéis e arrendamentos, citações em juízo, atas, etc, com
a finalidade de gravarem na memória tais coisas e aprende-
rem a fazer semelhantes. Depois de haverem copiado esse
tipo de escritos durante algum tempo, o mestre lhes pedirá
comporem eles mesmos promissórias, recibos, quitações, con-
tratos de trabalho, relação do custo de trabalhos realizados
em diferentes profissões, relação de mercadorias entregues,
orçamento de obras, etc.
GE 6,0,3 Exigirá também que escrevam o que retiveram do catecismo
que lhes foi dado durante a semana, sobretudo o dos domingos
e das quartas-feiras, vésperas dos feriados e do dia da festa,
se houver uma durante a semana263. Se o mestre achar que
alguns alunos não o possam fazer, dar-lhes-á, como tarefa,
escrever a lição do catecismo da diocese aprendida na semana
anterior, que devem escrever sem consultar o livro. Para isso,
os obrigará a terem um livreto e a trazê[-lo] para ele todas as
terças e sextas-feiras ou nos outros dias em que estudarem
aritmética, [para corrigi-lo com as operações aritméticas] que
tiverem feito.
GE 6,0,4 Para corrigir os erros de ortografia em seus escritos, o pró-
prio mestre acrescentará as letras omitidas pelos alunos, ou
escreverá (as letras corretas) em lugar das outras colocadas
por eles, riscando as que estiverem incorretas264. Se há várias
palavras iguais que um aluno tenha escrito da mesma forma
e em que tenha errado com relação à ortografia, o mestre
corrigirá a primeira dessas palavras, colocando nela as letras
necessárias e cortando as supérfluas, e nas outras palavras

263
1720: sobretudo dos catecismos dos domingos e festas, ou da quarta-feira
véspera de feriado, se não houve festas durante a semana.
264
1720 não conserva o restante desse parágrafo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 91

indicará, com iguais traços de pena, o lugar em que o aluno


errou.
GE 6,0,5 O mestre obrigará, depois, os alunos de cujos escritos tiver
corrigido a parte ortográfica a recopiá-los, passando-os a
limpo em casa, assim como ele os corrigiu, e estará atento,
na primeira vez que lhes corrigir a ortografia, para verificar se
cumpriram esse dever265.

GE 7 Capítulo 7º
Das orações

GE 7,1 Artigo 1º
Das orações diárias feitas na escola
GE 7,1,1 No início da aula da manhã, às oito horas, assim que terminar
o toque da campainha, se fará o sinal da santa cruz e, depois,
se rezará: Veni Sancte Spiritus, etc. Após o meio-dia, se dirá:
Vem, Espírito Santo, etc., como está indicado no livro das
orações das Escolas Cristãs.

265
1720 adiciona quatro parágrafos, nos quais aparece o elemento novo que
é o ditado: Para a ortografia, procede-se ainda assim: O mestre ditará, por
exemplo: Deus onipotente e misericordioso. Todos escreverão, e somente um
aluno, enquanto escreve, soletra: De-us o-ni-po-ten-te e mi-se-ri-cor-dio-so.
Se este errar, ao soletrar, dizendo, por exemplo mis em vez de mi-se, etc., o
mestre, ou aquele que dita, diz a letra ou a sílaba mal pronunciada pelo aluno.
O encarregado de ditar estará atento para indicar os lugares onde deverão ser
colocados os pontos e as vírgulas.
Uma vez escrito o que foi ditado, o mestre fará soletrar, somente um aluno, e em
voz bem alta, o que os alunos escreveram, e todos o acompanharão soletrando
em voz sumida.
O mestre cuidará que este aluno que soletra em voz alta indique quando há
os acentos graves e agudos, nomeando as letras sobre as quais devem ser
colocados tais acentos. O mesmo fará com um ponto, dois pontos, vírgula,
ponto de exclamação e ponto de interrogação. Quem, durante a soletração, se
enganar, fará sua própria correção.
Os alunos farão o exercício de ortografia no verso de suas folhas e o passarão
a limpo naquela dobrada em quatro.
92 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 7,1,2 Antes e depois do desjejum e da merenda, se rezarão as


orações indicadas para antes e depois da comida, no mesmo
livro266.
GE 7,1,3 Durante todo o período das aulas, fora do tempo do cate-
cismo e das orações267, haverá sempre dois ou três alunos de
joelhos, um de cada sala, rezando o terço, uns após outros, em
local da escola preparado para isso268.
GE 7,1,4 A cada hora do dia, serão feitas algumas orações curtas, que
servirão ao mestre para renovar a atenção sobre si mesmo e à
presença de Deus e, aos alunos, para habituá-los a pensarem,
de vez em quando, em Deus, no decorrer do dia, e dispô-
los a lhe oferecer todas as ações, para atrair sobre elas sua
bênção269.
GE 7,1,5 No inicio de cada lição, serão feitas algumas orações ou
alguns atos270, para solicitar a Deus a graça de estudá-la e
aprendê-la bem.
GE 7,1,6 Na escola serão, feitas, todos os dias, a oração da tarde e da
manhã271. A oração da manhã se rezará às dez horas e três
quartos, no caso de se fazer os alunos assistirem à santa Missa
durante o tempo das aulas. Mas, se a ouvem somente no final
das aulas, a oração da manhã será feita às dez horas.
GE 7,1,7 A oração após o meio-dia será feita ao final das aulas da
tarde, às quatro horas e meia. Durante o inverno, desde 15 de

266
1720 substitui este parágrafo por este outro: Antes e depois do desjejum e da
merenda, e durante todo o tempo da aula, de manhã das oito e meia até as
dez horas, e de tarde desde as duas até as três horas, se rezarão as orações
indicadas no mesmo livro.
267
1720 elimina: fora do tempo do catecismo e das orações. Em compensação,
acrescenta, ao final: e escolhido pelo Irmão Diretor ou Inspetor.
268
Trata-se de prática que só desapareceu na segunda metade do século XIX.
269
1720: suas bênçãos.
270
1720: serão feitos alguns atos,
271
1720 exclui o início: Na escola, serão feitas, todos os dias, a oração da tarde e
da manhã.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 93

novembro até 15 de janeiro inclusive272, a oração da tarde será


rezada às quatro horas.

GE 7,2 Artigo 2º
Das reflexões na oração da manhã e do exame na oração
da tarde273
GE 7,2,1 Há cinco reflexões na oração da manhã, para os cinco dias de
aula da semana. Serão lidas todos os dias, fazendo-se pequena
pausa entre uma e outra. O aluno que presidir a oração, depois
de haver lido todas, repetirá uma delas, à qual se deverá
prestar atenção particular naquele dia. Em seguida, será feita
pausa com a duração de um bom Miserere274, durante a qual
cada mestre, na respectiva classe, fará breve exortação a seus
alunos sobre o tema dessa reflexão, segundo o alcance deles.
GE 7,2,2 Todas as cinco reflexões serão repetidas dessa forma em
ordem, servindo cada uma de tema de exortação, uma após
outra, em cada um dos cinco dias da semana em que houver
aula.
GE 7,2,3 Se, durante a semana ocorrer uma festa na segunda, terça, ou
quarta-feira, nos dois dias, destes três, em que houver aula, o
mestre falará sobre o tema das duas primeiras reflexões e, na
quinta-feira, sobre o terceiro. Se a festa ocorre na sexta-feira
ou no sábado, o mestre falará na quinta-feira sobre o tema
da quarta reflexão, e no dia posterior que não for festa, sobre
o tema da quinta. No caso de haver duas festas na semana,
omitirá falar da primeira reflexão, e havendo três, omitirá
falar das duas primeiras275.
GE 7,2,4 Na oração da tarde, há um exame cujo conteúdo são as faltas
mais comuns em que as crianças podem cair. Este exame está

272
1720: desde o primeiro dia de aula do mês de novembro até o último dia de
janeiro,
273
As reflexões: EP 2,8. O exame: EP 9.
274
Salmo 51(50): Miserere mei Deus (Tende piedade de mim, Deus…)
275
1720 exclui este parágrafo, a parte final do 7,2,5 (e após...), assim como todo o
7,2,6.
94 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

dividido em quatro partes, e cada parte ou artigo, em cinco


pontos.
GE 7,2,5 Ler-se-á cada dia apenas um dos quatro artigos e se repetirá
o mesmo artigo todos os dias da mesma semana; assim, estes
quatro artigos servirão para quatro semanas concecutivas, e
após a última semana, se recomeçará a ler o primeiro artigo.
GE 7,2,6 No relativo aos cinco pontos do artigo que se leem durante
a semana, se guardará a mesma ordem e as mesmas práticas
assinaladas acima com relação às cinco reflexões indicadas
para a oração da manhã.
GE 7,2,7 Assim, cada dia em que houver aula durante a semana276,
cada mestre explicará, em sua classe, um dos cinco pontos do
artigo do exame lido nesta semana, e fará conhecer a todos
os alunos, detalhadamente, as faltas que podem cometer, com
relação a este artigo, sem nunca determinar se a falta é mortal
ou venial. Tratará, ao mesmo tempo, de lhes inspirar horror a
elas e lhes proporá os meios para evitá-las.

GE 7,3 Artigo 3º
Das orações não diárias feitas na escola
GE 7,3,1 Todos os sábados e véspera das festas da Santa Virgem,
depois da oração da tarde, se recitarão as Ladainhas da
Santíssima Virgem.
GE 7,3,2 Nas vigílias das festas de Natal, da Adoração dos Reis e da
Purificação, serão recitadas, no final da oração [da tarde], as
Ladainhas do Santo Menino Jesus.
GE 7,3,3 Na vigília da Circuncisão, serão recitadas as Ladainhas do
Santo Nome de Jesus e, na vigília de São José, as Ladainhas do
mesmo santo, tudo como está indicado no livro das orações277
das Escolas Cristãs.

276
Em 1720 desaparece o início: Assim, cada dia em que houver aula durante a
semana,
277
1720: no livro dos exercícios de piedade
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 95

GE 7,3,4 Durante a oitava do Santíssimo Sacramento e na segunda e


terça-feira antes da Quaresma278, se enviará os alunos, dois a
dois, um de cada classe, ou três a três, se houver três classes279,
uns depois dos outros, à igreja mais próxima em que esteja
exposto o Santíssimo Sacramento, para adorá-lo, e eles ali
permanecerão pelo espaço de meia hora e todo o tempo de
joelhos280.
GE 7,3,5 Nos três dias das Quatro Têmporas e no dia de São Marcos
e das Rogações, [de manhã], depois da oração feita ao início
da aula e antes da oração281 que precede o desjejum, rezar-se-
ão as Ladainhas dos Santos, tanto pelas necessidades282 pelas
quais a Igreja reza particularmente nestes dias, como pelos
sacerdotes e outros ministros da Igreja, a serem ordenados no
sábado283.
GE 7,3,6 Quando, na escola, se ouvir o toque da sineta, avisando que o
Santíssimo Sacramento está sendo levado a um doente, todos
os alunos se colocarão de joelhos, e cada qual, em particular,
adorará o Santíssimo Sacramento até o mestre fazer sinal para
se levantarem.
GE 7,3,7 Quando, na cidade, morrer um dos mestres284, no final da
oração tanto da manhã como da tarde, após a oração pelas
almas do purgatório285 e antes da bênção, será rezado um
De profundis286, aquele que preside as orações rezando um
versículo e os alunos, o seguinte. Terminado este salmo,

278
1720 acrescenta: em lugar do terço que deve ser rezado durante a aula,
279
1720 acrescenta: ou número maior, de acordo com a quantidade de classes,
dois a dois,
280
1720 acrescenta: Tomar-se-á, no entanto, cuidado para que sempre haja um
que seja capaz de conduzir o outro ou os outros.
281
1720: e imediatamente antes da oração
282
No manuscrito aparece, aqui, um daqueles, supérfluo e, por isso eliminado.
283
1720: no sábado das Quatro Têmporas.
284
1720 acrescenta: nos três primeiros dias de aula após seu falecimento,
285
Em 1720 não aparece: após a oração pelas almas do purgatório e
286
Salmo 130(129): Das profundezas (clamo a ti, Senhor),
96 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

quem preside as orações rezará a oração Inclina Domine287,


pelo descanso da alma do falecido288.
GE 7,3,8 Quando falecer um aluno de uma das classes da escola, rezar-
se-á, para o repouso de sua alma, somente em todas as clas-
ses desta escola289, o salmo De profundis e a oração Inclina
Domine, no primeiro dia de aula após sua morte,290 desde que
o falecido tenha, ao menos, sete anos de idade.
GE 7,3,9 Não se fará rezar, na escola, nenhuma outra oração, e em
nenhuma outra circunstância que não as indicadas no presente
artigo. Não se acrescentará mesmo nada sem ordem do Irmão
Superior do Instituto, o qual poderá, por alguma necessidade
pública ou alguma causa relacionada às necessidades do
Instituto, fazer acrescentar, no final da oração, as Ladainhas da
Santíssima Virgem ou alguma outra curta oração, e somente
por algum tempo.

GE 7,4 Artigo 4º
Da postura que o mestre e os alunos devem manter
durante as orações. Do modo de rezá-las e da ordem a ser
observada nelas
GE 7,4,1 Durante as orações, como em qualquer outra oportunidade, o
mestre fará o que deseja que os alunos façam. Por isso, nas
orações do início das aulas, nas rezadas ao final das aulas
da manhã e da tarde e nos atos rezados antes de se ir à santa
Missa, ele permanecerá sempre de pé, diante do seu assento,
com exterior muito grave, reservado, e circunspecto, de braços
cruzados e com muito recolhimento, para dar aos alunos o
exemplo de como devem proceder durante esse tempo.

287
Inclinai, Senhor,
288
1720 adiciona, ao final: E em todas as demais casas do Instituto, se fará rezar
nas escolas, durante um dia, um De profundis, com a coleta Inclina, etc.
289
1720 não traz: somente em todas as classes desta escola,
290
1720 acrescenta: ao final da oração da tarde,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 97

GE 7,4,2 Os alunos ficarão todo o tempo de joelhos, de braços cruza-


dos, o corpo ereto, bem ordenados e de olhos baixos.
GE 7,4,3 O mestre cuidará para que não se remexam, não mudem de
postura, não apoiem os cotovelos, e não se apoiem sobre os
braços291 nem pela frente, nem por trás; que, tampouco, se
sentem sobre os calcanhares; que não voltem a cabeça para
olhar para trás, nem olhem diante deles; e, sobretudo, que não
toquem a si mesmos, nem toquem uns aos outros, o que292
não farão se o mestre cuidar de que estejam sempre de braços
cruzados.
GE 7,4,4 Nas demais orações feitas em comum [na] aula293, o mestre
e os alunos ficarão sentados em seu lugar, com os braços
cruzados, e com o mesmo exterior modesto que devem ter
nas orações da manhã e da tarde, conforme indicado acima.
GE 7,4,5 Em cada escola, haverá um aluno da classe principal que
estará encarregado de iniciar todas as orações nela feitas. Será
chamado, por isso, de recitador das orações294. Ele dirá sozinho
o título dos atos, as reflexões e o exame. Nas orações do Veni
Sancte e Vinde, Santo Espírito, rezadas ao início das aulas,
dirá os versículos sozinho, (assim como) as coletas e a Ave,
Maria até Santa Maria. Nas ladainhas, dirá o Kyrie eleison295,
ao que os alunos responderão Christe exaudi nos296; depois,
dirá todas as invocaçõs, e os alunos responderão Miserere ou
Ora pro nobis297; e no final dirá a oração sozinho.

291
Houry é de parecer que se trata de erro do copista que, em vez de bancos,
copiou braços.
292
1720: ...não se apoiem sobre os bancos pela frente nem por trás e não os toquem;
que, tampouco, se sentem sobre os calcanhares; que não voltem a cabeça para
olhar ao seu redor e, sobretudo, que não se toquem uns aos outros, o que...
293
1720: nos diversos momentos
294
O resto deste parágrafo, em 1720, é assim resumido: Ele dirá, sozinho, o título
dos atos, as reflexões, os exames, tudo segundo o uso estabelecido nas escolas.
295
Senhor, tende piedade,
296
Cristo, ouve-nos;
297
Roga por nós;
98 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 7,4,6 Rezará todas as orações298 com voz forte e de maneira inte-


ligível299, de forma que os demais possam ouvir claramente
tudo o que disser, até as menores sílabas.
GE 7,4,7 Observará todas as pausas. O mestre, no entanto, cuidará
para que não grite, nem fale alto demais300, e que todos os
alunos o façam pelo menos num tom mais baixo que ele, mas
suficientemente alto para poderem ser ouvidos claramente.
GE 7,4,8 Todos os alunos seguirão o recitador das orações, de tal modo
que não digam uma só palavra, nem antes, nem depois dele.
Para evitar confusão, deter-se-ão também, com ele, nas pausas
que fizer, e pelo tempo que elas duram.
GE 7,4,9 Os alunos se disporão às orações tão logo a campainha comece
a tocar, e o recitador as iniciará assim que ela tenha terminado
de soar. Todos farão o sinal da santa cruz sobre si mesmos,
cada vez que se disser In nomine Patris, ou Em nome do Pai
e, na bênção: Pai, Filho e Espírito Santo301. E todos baterão
no peito, quando se rezar no Confiteor: Por minha culpa.
GE 7,4,10 Durante as orações, o mestre não falará aos alunos, nem
individual, nem coletivamente, quer para repreendê-los, quer
por qualquer outra razão.
GE 7,4,11 Tampouco castigará a aluno algum durante esse tempo, por
qualquer razão que seja. Se notar que alguém esteja fazendo
algo repreensível e merecedor de castigo, o adiará para outro
momento.
GE 7,4,12 Abster-se-á mesmo de tudo o que pudesse desviar os alunos
da atenção que devem manter na oração, assim como de tudo
o que fosse capaz de distraí-los, como seria trocar um aluno
de lugar, etc.

298
1720 substitui: rezará todas as orações, por: terá especial cuidado de rezar as
orações
299
1720: de maneira inteligível e muito pausada... ouvir muito claramente
300
1720 termina assim o parágrafo: que os alunos não gritem nem rezem alto
demais, mas o façam de tal maneira que apenas se possa ouvi-los.
301
Em 1720, o parágrafo termina aqui, desaparecendo: E todos baterão no peito,
quando se rezar, no Confiteor: Por minha culpa.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 99

GE 7,4,13 O principal cuidado de um mestre, durante as orações, será


o de vigiar, com esmero muito particular, sobre tudo o que
ocorre na sala. Velará também sobre si mesmo, e muito mais
durante este tempo do que em qualquer outro, para não fazer
nada fora de propósito e, sobretudo, para não se deixar levar
por alguma leviandade.

GE 8 Capítulo 8º
Da santa Missa
GE 8,0,1 Procurar-se-á que, em todas as partes, os alunos ouçam
diariamente a santa Missa, na igreja mais próxima e na hora
mais conveniente.
GE 8,0,2 O tempo mais oportuno para ir à santa Missa [é no final das
aulas. Para se poder ir nesse momento, será necessário que a
Missa] só inicie às dez e meia, para que, antes de ir a ela, se
possa dispor do tempo necessário para fazer a oração, às dez.
GE 8,0,3 Caso não se puder ir à Santa Missa após as aulas, se procurará
ouvi-la às nove horas, ou pelas nove.

GE 8,1 Artigo 1º
Da maneira como os alunos devem sair da escola para ir à
santa Missa, e de como devem comportar-se na rua ao se
dirigirem a ela
GE 8,1,1 Quando se fizer os alunos ouvirem a santa Missa no final das
aulas, eles se disporão para sair da escola da mesma forma
como devem proceder ao sair dela depois do meio-dia, assim
como é indicado no capítulo referente à saída dos alunos.
GE 8,1,2 Quando forem ouvir a santa Missa durante o tempo de aula,
sairão da escola uns atrás dos outros, por ordem e por bancos:
o primeiro de um banco tomará por companheiro ao segundo;
o terceiro, ao quarto, etc.
GE 8,1,3 O mestre cuidará para que todos saiam da escola com muita
modéstia, silêncio e recolhimento, e sem ruído nenhum302.

302
1720 não traz o final: e sem ruído nenhum.
100 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 8,1,4 Indo à igreja, nas ruas, e na própria igreja, caminharão dois a


dois, um atrás do outro, sem deixar o companheiro, e sem se
distanciarem dele, até estarem ajoelhados na igreja.
GE 8,1,5 O mestre cuidará303 que todos andem uns atrás dos outros,
alinhados com os da frente, à distância apenas de dois passos.
Estará igualmente atendo a que304 não façam nenhum ruído e
que, no caminho, não falem com seus companheiros.
GE 8,1,6 Os estimulará mesmo a que rezem, com seu companheiro, o
terço ou alguma outra oração, a fim de torná-los mais atentos a
si mesmos305 e mais recolhidos, e para mantê-los na modéstia.
GE 8,1,7 O mestre vigiará muito sobre seus alunos durante esse tempo.
Entretanto, seria desejável306 que eles não percebessem essa
cuidadosa vigilância do mestre sobre eles.
GE 8,1,8 Ele próprio dará aos alunos, através de sua modéstia e
recolhimento, o exemplo de como devem caminhar.
GE 8,1,9 A fim de poder ver mais facilmente os alunos e observar a
maneira como se comportam ao se dirigirem à santa Missa,
enquanto eles andam por um lado da rua, o mestre caminhará
pelo outro307.
GE 8,1,10 Não chamará à atenção os alunos na rua pelas faltas nela
cometidas; mas, para fazê-lo, esperará até o dia seguinte,
antes de sair para a santa Missa.
GE 8,1,11 Terá o cuidado de lembrar aos alunos, de vez em quando, na
escola, enquanto se dispõem a sair ou as outras classes estão
saindo, a maneira como devem andar nas ruas e comportar-se

303
1720 acrescenta: de não se aproximarem demais das paredes, nem das lojas,
nem das valetas, e
304
1720 acrescenta: caminhem pausadamente. E elimina o cuidado final: de não
falarem com seus companheiros.
305
1720: mais atentos a si mesmos, mais sossegados e mais modestos.
306
Entretanto, seria conveniente
307
1720 acrescenta: com o rosto suficientemente voltado para o lado dos alunos,
de modo a poder enxergar a todos.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 101

na igreja, e a obrigação que têm de edificar o público308, e os


estimulará a isso por motivações cristãs.
GE 8,1,12 Também lhes deixará claro que será muito mais rigoroso
em punir as imodéstias e faltas praticadas nas ruas309 que as
cometidas na escola, por serem elas motivo de escândalo para
os que os pudessem estar vendo.

GE 8,2 Artigo 2º
Da maneira como os alunos devem entrar na igreja
GE 8,2,1 O mestre tomará cuidado muito grande para fazer que os
alunos entrem na igreja em silêncio e com recolhimento todo
particular.
GE 8,2,2 É conveniente que o mestre entre sempre por primeiro na
igreja, à frente dos alunos, e que o mestre seguinte cuide de
reparar nos que ainda estão fora, assim como nos próprios.
GE 8,2,3 É importante o mestre vigiar muito a conduta dos alunos,
principalmente ao entrarem na igreja, para impedir que façam
qualquer ruído, seja com os pés, seja com a língua, e para
fazê-los caminhar calmamente, com os braços cruzados310,
e na ordem a ser observada nas ruas, conforme o indicado
acima, sem que haja a mínima confusão e ruído311.
GE 8,2,4 Haverá um aluno, chamado porta-aspersório, encarregado de
apresentar água benta a todos os alunos, um depois do outro,
ao entrarem na igreja e ao saírem dela.
GE 8,2,5 Ele entrará por primeiro e tomará, de tempo em tempo, água
benta na pia com o aspersório, que segurará de maneira a
todos os alunos poderem servir-se dela facilmente.
GE 8,2,6 O mestre não permitirá que os próprios alunos tomem água
benta da pia, mas cuidará para a tomarem somente do asper-

308
1720: o próximo,
309
1720: nas ruas e na igreja
310
1720: em vez de braços cruzados, traz: olhos baixos,
311
1920 elimina: e ruído.
102 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

sório, de forma respeitosa e que manifeste a piedade com a


qual deve ser praticado esse ato.
GE 8,2,7 Assim que chegarem ao lugar que lhes está destinado na
igreja, os alunos se porão de joelhos, uns após os outros312.
GE 8,2,8 O mestre cuidará para os alunos ficarem bem alinhados
dentro da igreja, que estejam dois a dois, uns atrás dos outros.
Geralmente serão colocados em diversas filas de dois, de
acordo com a largura e o comprimento do espaço que ocupam.
GE 8,2,9 Estarão dispostos de tal maneira que os de uma mesma fila
(dupla), tanto no comprimento, como na largura, estejam
todos alinhados em relação aos outros.
GE 8,2,10 Se houver colunas no espaço a ser ocupado pelo alunos,
estes serão colocados de tal maneira que os da mesma classe
estejam entre as colunas e a parede, a fim de que cada mestre
possa ver facilmente seus alunos e vigiar sobre eles.
GE 8,2,11 Os alunos serão acostumados e estimulados313 a se enfileira-
rem sozinhos, sem o mestre precisar intervir.

GE 8,3 Artigo 3º
Com que os alunos devem ocupar-se durante a santa Missa
GE 8,3,1 O mestre da classe inferior de cada escola estará atento
para que o porta-terços314 leve os terços à igreja cada vez
que se for a ela, e que um deles seja entregue a cada um dos
que não sabem ler.
GE 8,3,2 A distribuição dos terços será feita por tantos alunos, dos mais
bem comportados, quantas forem as filas de dois na igreja.
GE 8,3,3 Assim que os alunos estiverem ajoelhados, o porta-terços e
seus auxiliares distribuirão os terços, cada um na fila que lhe
for assinalada, indo do início ao fim dela.

312
Isto é: à medida que vão chegando a seus lugares, põem-se de joelhos.
313
1720 elimina: e estimulados
314
1720: o encarregado dos terços
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 103

GE 8,3,4 Cada um deles os recolherá, da mesma forma, ao final da


santa Missa, prestando atenção para recolhê-los todos e não
perder nenhum. Se alguém não devolver o terço que lhe tiver
sido dado, o oficial o comunicará ao mestre315.
GE 8,3,5 O mestre zelará com muita diligência para que todos os que
tiverem recebido terços os utilizem todo o tempo para rezar, e
não os empreguem para brincar.
GE 8,3,6 Nos dias em que ensinar aos alunos a reza do terço, também
lhes mostrará o modo de segurá-lo, e os animará a fazê-lo de
maneira a se poder vê-lo facilmente.
GE 8,3,7 Cada um dos que souberem ler terá um livro dos exercícios
e orações usado nas Escolas Cristãs316 para servir-se dele
durante o tempo da santa Missa, e o utilizará durante esse
tempo. O mestre estará atento a isso e cuidará que, durante
esse tempo, não estejam com outros livros fora deste317.
GE 8,3,8 Ao assistirem todos juntos à santa Missa nos dias de aula, os
alunos não se levantarão enquanto o sacerdote estiver lendo
os Evangelhos, para evitar o barulho e a perturbação que isso
poderia ocasionar. O mestre, contudo, lhes recomendará que,
ao responderem Gloria Tibi, Domine318, no início do santo
Evangelho319, tracem três vezes o sinal da cruz sobre si mesmos,
a saber, um na fronte, outro na boca e o terceiro no peito.
GE 8,3,9 Um dos alunos, o porta-aspersório, estará encarregado de
tocar uma sineta320, suposto que o que serve a Missa não a
toque, a fim de alertar para a consagração. Dará cinco ou seis
toques sequenciais, no momento de o sacerdote estender as
mãos sobre o cálice, para fazer saber aos alunos que devem
dispor-se a adorar a Nosso Senhor. Depois tocará para a

315
1720 elimina essa afirmação final: se alguém não devolver...
316
Cf. Instruções e orações para a santa Missa, de 1,5 a 1,8.
317
1720 omite esta última frase: O mestre estará...
318
Glória a ti, Senhor,
319
1720: no início de cada Evangelho,
320
Ge 18,4 não inclui essa tarefa entre as funções do porta-aspersório. E 1720
corta este parágrafo.
104 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

elevação da hóstia, por três diferentes vezes, dando cada vez


cinco ou seis toques; e depois tocará da mesma forma para a
elevação do cálice.
GE 8,3,10 Quando se tocar a campainha, alertando para se dispor à con-
sagração, todos os que utilizarem livros os colocarão debaixo
do braço, e os que estiverem com o terço, passarão o braço
por dentro dele; a seguir, todos juntarão as mãos, assim como
também o mestre, até depois da elevação do cálice.
GE 8,3,11 Ao tocar a campainha para a elevação, tanto da hóstia como
do cálice, todos os alunos farão leve inclinação da cabeça e
do corpo, para adorar a Nosso Senhor na hóstia e no precioso
sangue contido no cálice.

GE 8,4 Artigo 4º
Do dever dos mestres durante a santa Missa
GE 8,4,1 Os mestres exercerão contínua vigilância sobre os alunos
durante a santa Missa, para se darem conta de como se
comportam, das faltas que, então, podem cometer, e para
impedi-los de conversarem entre si321, trocarem de livro, se
tocarem322, ou cometerem alguma leviandade semelhante,
muito frequente entre crianças.
GE 8,4,2 Para impedir os alunos de incorrerem em todas essas faltas e
nas demais que poderiam cometer durante a santa Missa, serão
usados os três meios seguintes: O primeiro consiste em exigir
que tenham todo o tempo seu livro nas duas mãos e diante dos
olhos, fixando-os nele continuamente323. O segundo será o de
os mestres se colocarem em locais donde possam ver, com
facilidade, a todas os alunos de frente. O terceiro consistirá
em separá-los sempre o mais possível uns dos outros, de
acordo com o tamanho e a configuração do lugar.
GE 8,4,3 Os mestres devem estar persuadidos de que, ao fazerem seus
alunos ouvir a santa Missa, não é para si mesmos que a ela

321
1720 acrescenta: de se passarem qualquer coisa um ao outro,
322
1720: se empurrarem,
323
1720: nas duas mãos, lendo nele continuamente.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 105

assistem, mas unicamente para vigiar sobre os alunos. Essa é


também a única coisa em que atentamente pensarão324.
GE 8,4,4 Os mestres não sairão de seu lugar para advertir os alunos
quando estes brincarem325, a não ser em necessidade muito
grande, e nunca326 os ameaçarão na igreja.
GE 8,4,5 Não estarão sequer com um livro durante esse tempo: con-
tentar-se-ão em estar simplesmente atentos ao Sacrifício.
GE,8,4,6 Os mestres cuidarão igualmente para seus alunos não levarem
à igreja nada de inadequado ou que lhes possa ser motivo
de distração na oração327, como seria seu papel escrito. Caso
levarem a ela estufa durante o inverno, a colocarão perto
deles, sem tocar nela328.

GE 8,5 Artigo 5º
Do que se deve fazer ao entrar na igreja se a Missa já tiver
iniciado ou já estiver adiantada
GE 8,5,1 Quando os alunos chegarem à igreja e a santa Missa já
houver iniciado e, caso esta já estiver bem adiantada, far-
se-á que a ouçam, se não começar outra pouco depois. E se
imediatamente após começar outra, se lhes fará ouvi-la toda.
Mas não se rezando outra depois, se permanecerá na Igreja
pelo tempo necessário para completar, com a Missa assistida
em parte, a duração de uma Missa inteira.
GE 8,5,2 Ter-se-á muito cuidado que todos os alunos tenham chegado
à igreja, estejam enfileirados, colocados em seus lugares e
ajoelhados, antes do início da Missa. Para isso, se tomarão
todas as medidas necessárias, mesmo se fosse preciso enviar
um aluno à igreja para329 solicitar que o toque do sino seja

324
Em 1720 esse parágrafo consta mais adiante.
325
1720: quando estes caírem em falta,
326
1720: e tampouco os ameaçarão na igreja.
327
1720 omite: na oração,
328
1720 substitui as três últimas palavras por: em lugar em que não apareça, e não
a usarão na igreja.
329
1720: avisar ou
106 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

atrasado um pouco, ou a Missa iniciada algo mais tarde. Esse


ponto é muito importante e, em caso de necessidade, deve-se
omitir antes a oração que deixar de assistir à santa Missa.
GE 8,5,3 Quando não se puder fazer os alunos assistir à santa Missa330,
se lhes fará rezar o terço na escola, permanecendo os alunos
em pé, uma parte deles dizendo: Ave Maria e a outra: Sancta
Maria.

GE 8,6 Artigo 6º
Da saída dos alunos da igreja
GE 8,6,1 Os alunos retornarão da igreja para a escola, após o tempo
331

de um Pater, uma vez terminada a Missa. O Irmão Diretor


ou Inspetor, ou mesmo o mestre encarregado disso dará uma
batida, à qual todos os alunos se levantarão. Depois dará uma
segunda batida, à qual todos os alunos de uma fila de uma
mesma classe farão uma inclinação, deixando imediatamente
seu lugar para sair dois a dois como vieram.
GE 8,6,2 Dará uma terceira batida, em momento e de maneira a que os
da segunda fila desta mesma classe possam fazer a inclinação
e deixar seu lugar, para imediatamente seguirem atrás dos
alunos da primeira fila desta mesma classe. Contiuará sempre
batendo as mãos, da mesma forma, até que todos as alunos de
todas as classes tenham saído de seus lugares.
GE 8,6,3 Quando os alunos voltarem da igreja para casa, serão enca-
minhados dois a dois, como quando saem da escola. O Irmão
Diretor ou o Inspetor das escolas ou um dos mestres que tiver
recebido essa incumbência, ficará na porta da igreja, para

330
1720 acrescenta: em tempo de geadas ou de chuva extraordinária,
331
Este parágrafo, mais o seguinte (8,6,2), em 1720 aparecem resumidos num
único, a saber: Os alunos retornarão da igreja para a escola, após o tempo de
um Pater, uma vez terminada a missa. O mestre cuja classe sair primeiro, ou o
encarregado disso, faz o sinal de costume, e então todos os alunos de uma fila
se levantarão, farão uma inclinação, e deixarão imediatamente seu lugar para
sair, dois a dois, como vieram. O mesmo se observará para fazer sair todas as
outras filas, e cada mestre procederá da mesma forma com sua própria classe.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 107

velar a fim de os alunos não brincarem nem fazerem barulho


na rua, e reparar nos que o poderiam estar fazendo ou detendo-
se nela.
GE 8,6,4 Todos os alunos andarão sempre dois a dois, tanto nas ruas,
como na igreja, distanciados ao menos quatro passos uns dos
outros, para evitar ruído, tumulto e confusão332.
GE 8,6,5 Os mestres terão cuidado para instruírem os alunos sobre o
modo como se deve entrar na igreja e sair dela.
GE 8,6,6 As mesmas coisas serão observadas para impedir as de-
sordens que pudessem ocorrer quando da saída dos alunos
da escola333.

GE 8,7 Artigo 7º
Da assistência à Missa paroquial e às Vésperas
GE 8,7,1 Assitir-se-á à Missa solene da paróquia com os alunos, nos
lugares e nas paróquias onde se puder fazê-lo facilmente.
Também se assistirá às Vésperas com eles após o catecismo
dos domingos334 e festas, na igreja mais próxima e conveniente.
Ao Superior do Instituto compete determinar o que deve ser
feito com relação a isso.
GE 8,7,2 Os mestres instruirão os alunos sobre a origem da solene335
Missa paroquial e a maneira de como se deve assistir a ela.
Caso houver sermão acompanhado de avisos e comunicações,
terão o cuidado de que os escutem com muita atenção e
respeito. Inspirar-lhes-ão, inclusive, estima336 toda particular
pelos ofícios da igreja, sobretudo os realizados em sua
paróquia.

332
1720 elimina: tumulto
333
1720 não conserva este parágrafo.
334
1720 apresenta variantes neste início do artigo: Assistir-se-à à missa paroquial
com os alunos, quando se puder fazê-lo facilmente. Também se levará os
alunos às Vésperas após o catecismo...
335
1720 suprime solene neste ponto, bem como em 8,7,6; 8,7,10; 8,7,11 e 8,7,12.
336
1720: e afeição todo particulares
108 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 8,7,3 Para a Missa paroquial, os alunos se reunirão, na igreja337, e


[se] lhes exigirá estarem todos presentes antes da bênção do
lugar338, e de ficarem nela até o final da Missa.
GE 8,7,4 Se na igreja houver bancos para eles, os ocuparão, e os mestres
zelarão para dispô-los neles.
GE 8,7,5 Durante todo o tempo em que os alunos estiverem na igreja,
339

durante a Missa paroquial e as Vésperas, permanecerão sen-


tados, de pé ou de joelhos, de acordo com a prática da diocese
ou da paróquia. Contudo, ficarão todos de joelhos, durante
o ofertório até o prefácio, caso não houver oferenda; e até a
oferenda, se houver340, a fim de se unirem, durante este ato,
à intenção do sacerdote e oferecer-se também a si mesmos a
Deus para serem inteiramente consagrados a Ele.
GE 8,7,6 Ficarão de pé durante o prefácio e, ao se cantar o Sanctus, se
porão de joelhos, permanecendo assim até o final da solene
Missa.
GE 8,7,7 Se não houver bancos para os alunos, eles permanecerão de
pé enquanto as demais pessoas estiverem sentadas, afora
o tempo do ofertório. Os mestres presentes a fim de vigiá-
los cuidarão para que estejam sempre bem alinhados e em
perfeita ordem.
GE 8,7,8 Todos os domingos e festas em que se der o catecismo, se fará
os alunos assistirem às Vésperas na igreja mais próxima e [na
hora] mais conveniente. Contudo, se preferirá a paróquia a
outra igreja341.
GE 8,7,9 Cuidar-se-á de sair com suficiente antecedência para se poder
estar ao início das Vésperas.

337
1720 inicia com uma eliminação e faz dois acréscimos: ...os alunos se reunirão,
pois, na igreja, nos domingos e festas,
338
1720: da água benta,
339
1720 elimina a circunstância com que começa este parágrafo: durante...
Vésperas,
340
1720 acrescenta: e se ela é feita imediatamente após o ofertório,
341
Este parágrafo e o seguinte (8,7,9) não aparecem em 1720.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 109

GE 8,7,10 Durante a Missa solene paroquial e durante as Vésperas, os


mestres terão sempre os alunos sob o olhar e estarão atentos
para que os que não sabem ler rezem o terço, como nos
demais dias, e os que sabem ler tenham sempre nas mãos o
livro de orações da santa Missa e um livro de Ofício durante
as Vésperas e leiam neles todo o tempo.
GE 8,7,11 Para a saída dos alunos da igreja, ao final da Missa solene e
das Vésperas, observar-se-ão as mesmas coisas que na saída
da santa Missa nos dias de aula.
GE 8,7,12 Quando se der pão bento aos alunos, um deles, o porta-
terços342, levará uma cesta para nela colocar os pães e, no final
da Missa solene, os distribuirá a todos, um após outro343, no
momento de deixarem os seus lugares para sair.

GE 9 Capítulo 9º
Do catecismo

GE 9,1 Artigo 1º
Do tempo a ser empregado para dar catecismo na escola,
e dos assuntos sobre os quais deve ser dado
GE 9,1,1 O catecismo será dado todos os dias, durante meia hora: das
quatro até as quatro e meia. Desde quinze de novembro até
quinze de janeiro344, será dado das três e meia às quatro.
GE 9,1,2 Nas quartas-feiras, véspera de dia livre, o catecismo será
dado durante uma hora: das três e meia às quatro e meia; no
inverno, das três às quatro345: meia hora sobre o compêndio, e
meia hora sobre o tema indicado para a semana.

342
Mais uma função do porta-terços, da qual não se fala em 18,5.
343
1720 suprime a circunstância que segue.
344
1720: Desde o primeiro dia de novembro até o último dia de janeiro inclusive,
345
1720 substitui o que segue por: Será também dado durante uma hora na véspera
das festas de São José, da Visitação, da Apresentação da Santíssima Virgem, da
Transfiguração de Nosso Senhor e da Exaltação da Santa Cruz.
110 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 9,1,3 Caso houver uma festa no decorrer da semana, deixar-se-á


livre somente a tarde, na terça ou quinta-feira e, neste dia, se
abreviarão as lições da manhã e se dará o catecismo ao final
das aulas, durante meia hora.
GE 9,1,4 Na Quarta-feira Santa, após o meio-dia, os alunos não lerão
nem escreverão. Apenas se dará o catecismo, desde uma
hora e meia até as três, como se faz nos domingos e festas. O
mesmo se fará nas vigílias das festas de...346.
GE 9,1,5 Ao final do catecismo, se fará a oração, depois da qual os
347

alunos serão liberados, como sempre.


GE 9,1,6 Para o catecismo, os alunos de todas as classes serão divididos
em seis classes: A primeira será a dos que leem no primeiro
cartaz; a segunda, dos que leem no segundo cartaz; a terceira,
dos que leem no silabário; a quarta, dos que leem no primeiro
livro; a quinta, dos que leem no segundo livro; e a sexta, dos
que leem no terceiro livro e de todos os demais das lições
superiores348.
GE 9,1,7 Nas quartas-feiras, véspera de dias inteiramente livres, e nos
domingos e festas ordinárias, o catecismo será dado em todas
as classes: na primeira meia hora, sobre o compêndio dos
principais mistérios; no restante do tempo, sobre o assunto
marcado para a semana.
GE 9,1,8 Nas festas solenes, para as quais houver assunto específico
no catecismo, este será dado sobre o tema da festa ou do
mistério, assim como consta no catecismo.
GE 9,1,9 Na Quarta-feira Santa, após o meio-dia se dará catecismo
durante uma hora e meia, na primeira meia hora sobre os
principais mistérios, e das duas às três sobre a maneira como
se devem passar os dias seguintes, até a Páscoa.

346
1720 completa: da Santíssima Trindade e do Natal.
347
1720: Às três horas, ao final...
348
1720 suprime esse parágrafo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 111

GE 9,1,10 Nas vigílias das Festas de...349, também se350 dará catecismo
durante uma hora, assim como nos domingos e festas, desde
as duas até as três horas. E o tema do catecismo será a festa
que a Igreja celebra no dia seguinte.
GE 9,1,11 Na segunda-feira, se começará a falar do assunto a ser trata-
do durante a semana, e o domingo será o último dia de se
abordar esse tema351.
GE 9,1,12 Todos os dias, se proporá e explicará somente uma ou duas
perguntas da matéria dada durante a semana, de acordo com
o que será explicitado na folha do tema da semana, à margem
da qual será indicada, por um dos algarismos seguintes: 1, 2,
3, 4, 5, a matéria de que se deverá falar cada dia352.
GE 9,1,13 Cada um dos algarismos indicará, por ordem, o tema do qual
se deverá falar no catecismo, em cada um dos cinco dias da
semana em que houver aula, a pergunta ou as duas perguntas
propostas para cada dia.
GE 9,1,14 O mestre fará várias sub-perguntas. No domingo se recapi-
tulará tudo o que tiver sido apresentado durante a semana, e
o mestre interrogará os alunos sobre todas as perguntas que
tiverem servido de matéria do catecismo em cada um dos
cinco dias da semana.
GE 9,1,15 Nas classes em que se ensinar cada dia somente o compêndio
do catecismo, nos domingos e festas ou nas quartas-feiras,
vésperas de folga de dia inteiro, [dar-se-á catecismo] sobre
um tema particular fixado para a semana.
GE 9,1,16 No domingo, o Irmão Diretor dará e assinalará o tema sobre o
qual se deverá começar a falar no catecismo da segunda-feira
e sobre o qual se continuará falando no restante da semana.

349
1720 precisa: da Santíssima Trindade e do Natal,
350
1720: Todo o restante do período é substituído por: procederá da mesma forma.
351
1720 adiciona: e se recapitulará tudo o que foi apresentado durante os cinco
dias da semana.
352
1720 não conserva esse parágrafo 9,1,12, nem o 9,1,13 e o 9,1,16.
112 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 9,2 Artigo 2º
Da maneira de interrogar os alunos durante o catecismo
GE 9,2,1 Durante o catecismo, o mestre não falará aos alunos como
quem prega, mas [os] interrogará quase continuamente, por
meio de múltiplas perguntas e sub-perguntas, a fim de lhes
fazer compreender o que lhes ensina.
GE 9,2,2 Fará a mesma pergunta em sequência a vários alunos, sete ou
oito ao menos, ou mesmo dez ou doze e, por vezes, até a um
número maior.
GE 9,2,3 Os alunos serão interrogados e responderão em sequência,
segundo a ordem dos bancos. Se, no entanto, o mestre
observar que vários, um depois do outro, não têm condições
de responder à pergunta, ou não respondem bem a ela, poderá
interrogar um ou vários outros353 em distintos lugares da
classe. Então, após haver clicado o sinal, indicará um para
responder. Após um ou vários haverem respondido, fará
responder o aluno antes interrogado, dentro de sua ordem.
GE 9,2,4 Interrogará a todos os alunos diariamente e, até, por diversas
vezes, se possível. De tempo em tempo, interromperá,
no entanto, a ordem e a sequência dos que respondem no
catecismo, a fim de perguntar aos que notou não estarem
atentos ou, mesmo, aos mais ignorantes.
GE 9,2,5 Sobretudo será cuidadoso em interrogar, e muito mais vezes
que aos outros, aos mais ignorantes354, particularmente sobre
o compêndio e, mais ainda, sobre os pontos do compêndio
que todo cristão está obrigado a saber.
GE 9,2,6 Nos dois dias da semana em que se der o catecismo durante
meia hora sobre o compêndio dos principais mistérios, na
quarta-feira ou no dia de festa e no domingo, o mestre não
interrogará sequencialmente, seguindo a ordem dos ban-

353
1720: alguns outros, sem ordem,
354
1720: Além dos ignorantes, fala dos de inteligência lenta e limitada e dos que
têm dificuldade para guardar...
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 113

cos, como no catecismo sobre o tema semanal, nem fará as


perguntas de forma ininterrupta, de acordo com a ordem
do catecismo, mas interrogará um ou vários alunos de um
lugar, depois um ou vários em outro lugar. De modo idêntico
interrogará ora sobre uma ou várias questões referentes aos
mistérios, ora sobre os sacramentos da Penitência, ou da
Eucaristia ou sobre algum outro tema, e assim por diante, sem
ordem nenhuma. Continuará a interrogar assim durante355
meia hora.
GE 9,2,7 Ao perguntar, empregará expressões simples e palavras fá-
ceis de compreender e que, se possível, não necessitem de
explicação; e fará com que as perguntas e respostas sejam as
mais curtas possíveis.
GE 9,2,8 Nunca fará os alunos responderem com palavras soltas, mas
exigirá que deem respostas inteiras [e] sequenciais. Se hou-
ver algumas crianças [muito pequenas] ou limitadas que
não consigam dar resposta inteira, o mestre a subdividirá de
maneira a possibilitar ao aluno responder em três vezes aquilo
que não logrou fazer em uma.
GE 9,2,9 Se acontecer, inclusive, que alguém for tão curto de inte-
ligência que não consiga repetir bem uma resposta dada por
diversos, um depois do outro, a fim de fazer-lhe retê-la, o
mestre fará com que seja retomada quatro ou cinco vezes,
alternadamente, primeiro por um aluno que a saiba bem e
depois por aquele que não a sabe, para permitir-lhe aprendê-
la com mais facilidade.

GE 9,3 Artigo 3º
Dos deveres do mestre durante o catecismo
GE 9,3,1 Um dos principais cuidados que o mestre deve ter durante o
catecismo, consiste em procurar que todos os alunos estejam
muito atentos, e retenham facilmente tudo aquilo que lhes
disser.

355
1720: durante a primeira meia hora.
114 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 9,3,2 Para isso, terá sempre todos os alunos sob o olhar e observará
tudo quanto fizerem. Estará atento a perguntar muito e falar
muito pouco. Falará apenas sobre a matéria proposta para o
dia, e cuidará para não se afastar de seu assunto.
GE 9,3,3 Falará sempre de forma356 que possa inspirar respeito e
contenção aos alunos. Nunca dirá nada de vulgar, nem que
possa provocar risadas.
GE 9,3,4 Será cuidadoso para não falar de maneira mole e que seja
capaz de causar tédio. Em cada catecismo, não deixará de
indicar aos alunos algumas práticas e de instruí-los, o mais
aprofundadamente que lhe for possível, sobre o que se refere
aos costumes e ao procedimento a guardar para viver como
verdadeiro cristão. Mas dará a essas práticas e pontos de mo-
ral forma de perguntas e respostas, o que contribuirá muito
para tornar os alunos atentos e para que retenham facilmente
tais práticas e pontos. Cuidará para não perturbar o catecismo
com inoportunas repreensões ou correções. E, se acontecer
que alunos mereçam uma ou outra, sem avisá-los, ele as
deixará para antes do catecismo do dia seguinte357.
GE 9,3,5 Nos domingos e festas em que o catecismo dura três vezes
mais do que nos outros dias, escolherá uma história de que
os alunos possam gostar e a contará de modo que lhes agrade
e lhes renove a atenção,358 com detalhes que impeçam de se
aborrecerem.
GE 9,3,6 Não dirá nada, nos catecismos, que não tenha lido em livros
devidamente aprovados e de que não esteja muito seguro.
Nunca arbitrará se algo é pecado mortal ou pecado venial.
Poderá somente dizer: “Isto é grande ofensa a Deus; é pecado
que se deve temer muito; é pecado que acarreta funestas
consequências; é grande pecado”, etc., quando julgar que o é.

356
1720: séria e
357
1720 continua: Poderá, contudo, algumas vezes, mas raramente, aplicar algu-
mas palmadas durante esse tempo, quando o julgar inevitável.
358
1720 acrescenta: e o fará
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 115

GE 9,3,7 Não se deve fazer crer os pecados maiores do que são; con-
tudo, mais perigoso é fazê-los parecer pequenos ou leves. É
preciso inspirar sempre grande horror a eles, por menores que
pareçam: uma ofensa a Deus não pode ser pequena, e o que se
refere a Deus não pode ser irrelevante.
GE 9,3,8 Os mestres proporão ao Irmão Diretor todas as subperguntas
antes de fazê-las em aula359.
GE 9,3,9 Velarão para que as perguntas e as subperguntas, bem como
as respostas às subperguntas tenham as quatro360 condições
seguintes: 1. que sejam curtas; 2. que tenham sentido comple-
to; 3. que sejam corretas; 4. que as respostas se situem no
nível dos alunos, não dos mais capacitados, nem dos mais
inteligentes, porém, dos medianos, de tal modo que a maioria
possa responder às perguntas que lhes são feitas.
GE 9,3,10 Os mestres terão tanto cuidado com a instrução de todos os
seus alunos que não deixarão um só na ignorância, ao menos
das coisas que o cristão está obrigado a saber, tanto no refe-
rente à doutrina quanto à prática.
GE 9,3,11 E, a fim de não descuidarem ponto de tão grande importân-
cia, considerarão, muitas vezes, atentamente, que prestarão
contas a Deus e que serão culpados perante Ele pela ignorân-
cia das crianças que tiverem estado sob sua orientação e pelos
pecados a que tal ignorância os tenha induzido se não se
tiverem esforçado suficientemente para retirá-los dela; e que
não haverá nada sobre o que Deus os examinará e julgará com
mais rigor do que sobre esse ponto.
GE 9,3,12 Os mestres ajudarão os alunos a que tenham a máxima apli-
cação ao catecismo, a qual não lhes é naturalmente fácil, e
que lhes dura, ordinariamente, por pouco tempo. Para isso,
utilizarão os meios seguintes: 1. Cuidarão para não os melindrar
nem assustar, quer por palavras, quer por outra forma, quando

359
1720 não traz este item.
360
O original diz três, mas no texto apresenta quatro.
116 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

não souberem responder corretamente a pergunta que lhes


tiver sido feita. 2. Estimulá-los-ão e, mesmo, os ajudarão a
dizer o que tiverem dificuldade em reter. 3. Lhes acenarão
com recompensas, que distribuirão, de tempo em tempo,
[aos mais bem comportados e mais atentos e, algumas vezes,
inclusive,] aos mais ignorantes que mais se tiverem esforçado
para aprender bem.
GE 9,3,13 Lançarão mão de vários outros meios semelhantes, que a
prudência e a caridade lhes farão encontrar facilmente361 para
incentivar os alunos a aprenderem mais rapidamente o cate-
cismo [e] a retê-lo com maior facilidade.

GE 9,4 Artigo 4º
Dos deveres dos alunos durante o catecismo
GE 9,4,1 Durante todo o tempo do catecismo, os alunos permanecerão
sentados, com o corpo ereto, o rosto voltado para o lado do
mestre e os olhos fixos nele, os braços cruzados e os pés bem
postos. Não362 olharão uns para os outros, e o mestre [tomará]
cuidado para que se mantenham em grande contenção.
GE 9,4,2 Durante o catecismo, todos os alunos serão interrogados e
responderão por turno, uns após os outros, segundo a ordem
dos bancos.
GE 9,4,3 O mestre indicará, com o sinal, o primeiro que interrogará.
Este, para responder, ficará de pé e descoberto; fará, em
seguida, o sinal da santa cruz e responderá à pergunta do mes-
tre, de maneira tal que363 sua resposta tenha sentido, incluindo
nela a pergunta.
GE 9,4,4 Quando o primeiro tiver quase terminado de responder, o
seguinte fará o sinal da cruz, dizendo as palavras em voz sufi-
cientemente sumida para não interromper ao que responde; e

361
1720 elimina: facilmente
362
1720 exclui o restante deste parágrafo e todo o seguinte (9,4,2).
363
1720: ... o sinal da santa cruz, tirando as luvas se as está usando; depois, de
braços cruzados, responderá à pergunta que lhe foi feita, de tal maneira...
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 117

procurará ter feito o sinal da cruz quando aquele que responde


tiver terminado sua resposta.
GE 9,4,5 Quando aquele que responde tiver terminado, o seguinte
dará a mesma resposta, a não ser que o mestre lhe faça outra
pergunta.
GE 9,4,6 Todos os subsequentes do mesmo banco ou do banco seguinte,
procederão de forma igual.
GE 9,4,7 Caso acontecer de o mestre, interrompendo a ordem seguida,
interrogar a um aluno ou a vários seguidos, ele364 ficará de pé
durante este tempo, até o mestre lhe fazer sinal de responder;
também ficará em pé se o mestre acrescentar algo como
explicação, e responderá logo que ele tiver acabado de falar.
GE 9,4,8 O aluno que responder durante o catecismo, terá os olhos mo-
destamente baixados e não encarará fixamente o mestre365.
GE 9,4,9 [Todos os alunos estarão muito atentos durante todo o cate-
cismo]. O mestre cuidará para não cruzarem as pernas uma
sobre a outra e não colocarem as mãos nos bolsos, nem em
outra parte debaixo de suas roupas ou seu chapéu366, para não
poderem fazer nada, por mínimo que seja, contrário à pureza.
GE 9,4,10 O mestre não permitirá que aluno algum ria quando alguém
não tiver respondido corretamente, nem que sopre a seu
colega o que este não sabe e não consegue responder: esses
dois pontos são muito importantes.
GE 9,4,11 O mestre cuidará para que os alunos, durante o catecismo,
saiam o mínimo possível e somente por grande necessidade.

364
Trata-se do aluno que está na vez de responder.
365
1720 acrescenta: Nem girará levianamente a cabeça de um lado para outro.
Manterá o corpo ereto e ambos os pés apoiados corretamente no soalho. Fa-
lará moderadamente alto, antes baixo que alto, para não poder ser ouvido, se
possível, em outras classes, e para os outros alunos prestarem mais atenção.
Sobretudo, falará lenta e claramente, para que se possam ouvir não somente as
palavras, mas também todas as sílabas. O mestre estará atento a que pronuncie
todas, especialmente as finais.
366
Em 1720 desparecem: nos bolsos, nem outra parte e: ou seu chapéu,
118 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 9,5 Artigo 5º
Do que há de particular nos catecismos dos domingos e
festas
GE 9,5,1 Em todos os domingos e festas se dará o catecismo durante
hora e meia, exceto nos dias de367..., nos quais não será dado.
GE 9,5,2 Os alunos se reunirão durante a meia hora que precede o
catecismo. Enquanto se reunirem, em duplas, se interrogarão
um ao outro, sobre o catecismo da diocese, assim como se
procede nas recitações feitas durante o desjejum e a merenda.
O mestre terá o cuidado de indicar aqueles que devem per-
guntar e responder o catecismo neste tempo.
GE 9,5,3 Nos lugares onde as Vésperas são rezadas às três horas, o
catecismo será dado da uma hora até as duas e meia. Os
alunos se reunirão entre meio-dia e meia e uma hora.
GE 9,5,4 Às duas horas e meia, se rezará a oração feita todos os dias
no final das aulas da tarde. Terminada esta e sobrando tempo,
cantar-se-ão seis368 estrofes de um cântico, como de costume.
A seguir, os mestres levarão os alunos às Vésperas.
GE 9,5,5 Nos lugares onde as Vésperas são rezadas às duas e meia, o
catecismo começará ao meio-dia e meia e terminará às duas
horas. Às duas horas, será feita a oração, e depois os alunos
serão levados à igreja, como indicado acima.
GE 9,5,6 Nos lugares em que se rezam as Vésperas às duas horas,
da uma hora até uma e meia se dará o catecismo sobre o
compêndio. A uma e meia será feita a oração, após a qual
se levará os alunos às Vésperas. Depois das Vésperas, se
conduzirá os alunos para a escola, e se lhes dará o catecismo
das três às quatro horas, sobre o tema da semana ou da festa.
Às quatro horas, se fará com que rezem apenas, de joelhos, a
oração feita ao final do catecismo e, depois, o ato de pedido

367
1720 especifica: ... de Páscoa, de Pentencostes, da Santíssima Trindade e do
Natal,
368
1720: algumas
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 119

da bênção ao final da oração. Em seguida, serão liberados


como de costume369.
GE 9,5,7 Durante a primeira meia hora, o catecismo será dado sobre o
compêndio; durante esse tempo, o mestre só fará perguntas,
sem dar nenhuma explicação.
GE 9,5,8 Não tratará somente de um assunto, mas fará diversas per-
guntas sobre o conjunto do compêndio, sem observar nenhu-
ma ordem. Durante a hora seguinte, dará catecismo sobre
todo o assunto explicado por partes, em cada um dos dias da
semana precedente, ou sobre o tema da festa.
GE 9,5,9 Durante esse tempo, interrogará diversas vezes os alunos370 e,
ao final, lhes indicará algumas práticas como fruto que devem
tirar do assunto que lhes tiver explicado.

GE 9,6 Artigo 6º
Dos externos que assistem ao catecismo nos domingos e
festas371
GE 9,6,1 Nos domingos e festas, poderão ser admitidos externos que
assistam ao catecismo. Por externos, entendem-se os que não
frequentam as Escolas Cristãs nos dias de aula.
GE 9,6,2 Todos os externos serão recebidos e admitidos da mesma
forma como são recebidos os alunos que vêm à escola. Se
são pouco avançados em idade, tendo menos de quinze anos,
serão trazidos por seus pais. Se tiverem mais de quinze anos,
poderão ser recebidos sem serem acompanhados pelos pais,
mas só depois de terem sido bem examinados.
GE 9,6,3 Para este efeito, antes de admiti-los, se fará que venham
duas ou três vezes, para falar-lhes e para instruí-los sobre

369
1720 sintetiza este parágrafo: Nos lugares em que se rezam as Vésperas às duas
horas, às doze e meia se dará o catecismo sobre o compêndio; da uma às duas,
sobre um assunto específico, e não se rezará a oração. Às duas horas, se levará
os alunos às Vésperas, sendo liberados em seguida para irem para casa.
370
1720: todos os alunos
371
1720 não traz este artigo 6º e termina o artigo 5º por: Nos catecismos, poderão
ser recebidos externos, desde que não causem nenhuma perturbação.
120 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

seus deveres e as normas que deverão observar ao virem ao


catecismo e sobre a forma como deverão portar-se.
GE 9,6,4 A todos os externos se lhes exigirá que sejam assíduos ao
catecismo; que estejam presentes nele desde o início e
fiquem até o fim; que sejam muito modestos e atentos; que
não conversem, nem brinquem; não causem perturbação,
mas tenham a mesma postura, a mesma retenção e a mesma
atenção dos alunos.
GE 9,6,5 Só serão admitidos ao catecismo se parecer que vêm assitir
a ele para serem instruídos nas coisas que estão obrigados a
saber e a praticar.
GE 9,6,6 Não serão obrigados a assistir, com os alunos, nem às Vés-
peras, nem à oração; bastará que sejam assíduos ao catecismo.
E, quando tiver terminado o ato rezado ao final do catecismo372,
os mestres lhes darão tempo para se retirarem – a menos que
desejem espontaneamente permanecer, ao que os mestres os
estimularão.
GE 9,6,7 Nenhum dos externos admitidos ao catecismo se ausentará
dele sem permissão. Se ocorrer que algum se tenha ausentado
por iniciativa pessoal, o mestre se informará da razão por que
faltou. Se algum dos externos faltar três vezes seguidas ao
catecismo sem um bom motivo e mesmo sem autorização,
quando a poderia ter pedido antes; se causar perturbação no
catecismo, ou não se comportar bem nele, e não se esforçar
por mudar de conduta, será excluído e riscado do registro –
o que, no entanto, só será feito depois de se haver pedido o
parecer do Diretor.
GE 9,6,8 Se, posteriormente, pedir para ser novamente admitido, pedirá
esse favor durante dois meses até que lhe seja concedido, o
que só será feito com grandes precauções, e depois que ele
tiver dado mostras de verdadeira mudança.
GE 9,6,9 Não se obrigará os externos a serem interrogados como os
alunos; bastará que prestem atenção. Se procurará, no entanto,

372
Ato duplo: de agradecimento e de pedido (Cf. EP 7,2,6).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 121

interrogar, de tempos em tempos, alguns, sobretudo quando


se verifica que isso não lhes custa e que lhes agrada responder.
GE 9,6,10 Os mestres procurarão incentivar os externos a serem assí-
duos e atentos, e a responderem de bom grado nos catecismos.
Para isso, utilizarão os meios que lhes pareçam os mais
apropriados, e lhes darão, inclusive, de tempos em tempos,
recompensas, particularmente aos que tiverem respondido de
bom grado e se tiverem aplicado a fazê-lo bem.

GE 10 Capítulo 10º
Dos Cânticos373

Capítulo 11 (10º)
Da saída da escola

GE 10,1 Artigo 1º
Do modo como os alunos devem sair da escola
GE 10,1,1 Os alunos das classes inferiores sairão antes dos das aulas
mais adiantadas. Por exemplo, os da classe inferior [sairão
primeiro; os da imediatamente superior, em seguida; e assim
as outras, até a mais avançada. Quando houver três ou mais
classes na escola de um bairro, os alunos da classe inferior]
sairão enquanto se executam os cantos.
GE 10,1,2 Os alunos sairão de sua classe e da escola, dois a dois, cada
um com o colega que lhe tiver sido dado pelo mestre374.
GE 10,1,3 Os alunos sairão de seu lugar375 em ordem, da seguinte
maneira: tendo o mestre feito sinal ao primeiro do banco
para se levantar, este, de chapéu na mão e braços cruzados,
deixará seu lugar, com aquele que lhe tiver sido dado por
companheiro. Ambos se encontrarão no meio da sala, um ao
lado do outro e, depois de haverem feito [uma] inclinação [ao

373
1720 não traz capítulo sobre os cânticos; no manuscrito consta apenas o título:
Dos cânticos
374
1720 não traz: pelo mestre.
375
1720: de sua classe
122 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

crucifixo, se voltarão] ao mestre, para376 fazê-la também a ele.


Se o Diretor ou o Inspetor das escolas ou algumas (pessoas)
externas se encontrarem na sala neste momento, os alunos377
lhe farão ou, sendo várias, lhes farão uma inclinação a todas
juntas e depois ao mestre. Em seguida, sairão calmamente, de
braços cruzados e chapéu na mão, até estarem fora de todas as
salas.
GE 10,1,4 Quando os dois primeiros chegarem ao meio da classe,
o segundo do banco cujo primeiro tiver sido indicado se
levantará e, ao mesmo tempo, o seu companheiro378, e irão,
de igual forma, ao meio da sala, fazendo, em seguida, a
inclinação, como os dois anteriores379. E todos os demais
farão, depois, a mesma coisa380.
GE 10,1,5 Todos os outros381 de todas as classes sairão na mesma ordem
e da mesma forma.
GE 10,1,6 Os mestres cuidarão para que andem sempre dois a dois, até
sua casa, distanciados, ao menos, de um pique382 uns dos
outros.

GE 10,2 Artigo 2º
Das orações que os alunos rezam durante todo o tempo da
saída das aulas
GE 10,2,1 Terminados os cânticos, se rezará em voz alta: Pater, Ave,
Credo, De profundis e Miserere. O Recitador das orações
dirá, sozinho, em voz alta e clara: Roguemos a Deus por nos-
sos mestres e383 benfeitores vivos, para Deus os conservar
na fé da Igreja católica, apostólica e romana e em seu santo

376
1720: para saudá-lo
377
1720: as saudarão primeiro, e depois o mestre.
378
1720: se levantará com aquele que o segue,
379
1720: fazendo em seguida inclinação como os dois outros.
380
1720 elimina: E todos os demais farão, depois, a mesma coisa.
381
1720: todos os alunos
382
Lança antiga de aproximadamente um metro e meio.
383
1720: não traz: nossos mestres e
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 123

amor, e digamos: Pater, etc...; e os demais alunos continuarão


rezando com ele, em tom mais baixo, até o final do Símbolo.
GE 10,2,2 Finda a reza do Símbolo, o recitador das orações dirá: Ro-
guemos a Deus por nossos mestres, por nossos pais e384
nossos benfeitores falecidos e digamos, para o repouso de
suas almas: De profundis, Requiem aeternam385, A porta
inferi386, Domine exaudi387, etc.
GE 10,2,3 Todas as orações serão rezadas alternadamente, como é ha-
bitual na escola. Depois, o mesmo recitador das orações dirá:
Oremus, Fidelium, etc388.
GE 10,2,4 Terminadas essas preces, o mesmo389 recitador das orações
continuará dizendo, sozinho, em voz alta: Roguemos a Deus,
para que nos perdoe as faltas em que hoje caímos na escola,
e digamos, nesta intenção: Miserere. Este salmo será rezado
alternadamente, como o salmo De profundis; o recitador das
orações rezará um versículo inteiro, e os outros390 alunos,
dirão juntos o seguinte; e assim os demais391.
GE 10,2,5 Uma vez fora de sua sala, os alunos deixarão de rezar em voz
alta, e caminharão em silêncio, em ordem, uns atrás dos outros.
GE 10,2,6 Os mestres exortarão, depois392, os alunos e procurarão com-
prometê-los393 a rezarem o terço no caminho, cada um com
seu companheiro, até terem chegado a sua casa. Essa prática
os manterá recatados durante todo o caminho e será, sem
dúvida, de edificação muito grande.

384
1720 não traz: nossos mestres, por nossos pais e
385
Descanso eterno,
386
Do poder do inferno,
387
Senhor, ouve,
388
1720 acrescenta: E os outros responderão: Amém. (Oremus, Fidelium= Oremos.
Ó Deus, Criador e Redentor de todos os fiéis...)
389
1720 omite: mesmo
390
1720: e todos os alunos
391
1720 suprime: e assim os demais.
392
1720 substitui: depois, por: no entanto,
393
1720 acrescenta que, além de recatados, sejam modestos, e que o façam desde
que saem da escola.
124 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 10,3 Artigo 3º
Dos deveres do mestre enquanto os alunos saem da escola
e depois que saíram
GE 10,3,1 Se houver mais de dois mestres, um deles vigiará a saída
dos alunos, desde a última classe até a porta da rua, atento,
entretanto, ao que se passa nessa classe.
GE 10,3,2 Se houver apenas dois mestres, um deles vigiará as duas
classes, para fazer sair os alunos em ordem, e o outro vigiará
na porta da rua.
GE 10,3,3 O Diretor ou o Inspetor das escolas ou um dos mestres
encarregado desta função, postado junto à porta da rua, tomará
cuidado para os alunos saírem da escola ordenada, recatada e
calmamente394.
GE 10,3,4 Cuidará para que os das duplas não se separem um do outro
nas ruas, não atirem pedras, não corram e não gritem395 e nem
incomodem a ninguém, mas caminhem sempre em silêncio.
GE 10,3,5 Os mestres recomendarão particularmente a seus alunos não
fazerem suas necessidades396, não urinarem nas ruas na saída
da escola, avisando-os de que os que o necessitarem, o façam
antes de sair.
GE 10,3,6 Os mestres darão ordem a seus alunos de não se falarem um
ao outro, nem de uma fileira a outra mesmo estando nas ruas.
O mestre que vigiar na porta da rua estará atento a isso, e
também cuidará que não se aproximem demais uns dos
outros397.

394
1720: Muda este parágrafo para: Aquele, portanto, que for encarregado desta
função pelo Diretor, postado junto à porta da rua, tomará cuidado para os alunos
saírem ordenada e recatadamente.
395
1720 acrescenta: não se aproximem demais uns dos outros. E elimina a última
afirmação: mas caminhem sempre em silêncio.
396
1720 substitui o que segue por: naturais na rua, por ser algo oposto ao pudor
e às boas maneiras, recomendando-lhes irem, para isso, a lugares onde não
possam ser vistos.
397
1720: Não conservou este parágrafo (10,3,6), nem o seguinte (10,3,7).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 125

GE 10,3,7 Um bom meio para fazer-lhes observar todas essas coisas


muito facilmente será exigir que os dois companheiros não se
afastem um do outro até que cheguem à casa de um deles, e
estimulá-los a rezarem o terço pelo caminho.
GE 10,3,8 Como o mestre somente pode ver o que se passa na rua da
escola, o Diretor ou o Inspetor das escolas, de comum acordo
com os Irmãos, dará ordem a alguns alunos para repararem
em tudo o que ocorre nas ruas seguintes, sobretudo naquelas
onde moram muitos alunos, e de relatarem fielmente ao
mestre o que tiverem observado.
GE 10,3,9 É necessário, contudo, que esses alunos se limitem a observar,
sem dizerem uma só palavra. Se não o fizerem, que sejam
castigados ou recebam uma penitência por haverem falado.
GE 10,3,10 Quando todos os alunos tiverem saído da escola, os dois
últimos, chegados à porta da rua, saudarão o Inspetor ou o
mestre que ali estiver, e um deles, com a mão, lhe fará sinal
de que pode entrar, e que não há mais alunos.
GE 10,3,11 Imediatamente, este Inspetor ou mestre398 voltará à escola, e
todos os mestres399, reunidos numa das classes, se colocarão
de joelhos diante do crucifixo. Se [a escola] for anexa à
moradia, ele dirá: Viva Jesus em nossos corações, e os
demais responderão: Para sempre. Depois, todos entrarão na
residência.
GE 10,3,12 Nas escolas fora da casa, ele dirá: Dignare me laudare te,
etc., e os demais responderão: Da mihi virtutem, etc., e, em
sequência, todos dirão: Pater Noster. Em seguida, sairão da
escola em silêncio, continuando o terço por todo o caminho,
até chegarem em casa. Ali chegados, irão ao oratório e
rezarão: O Domina mea400, etc., e depois: Viva Jesus em
nossos corações. Para sempre.

398
1720 substitui: este Inspetor ou mestre por: ele
399
1720 substitui: todos os mestres por: todos os outros,
400
Ó minha senhora,
126 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 11 SEGUNDA PARTE
DOS MEIOS PARA ESTABELECER E MANTER
A ORDEM NAS ESCOLAS

Há nove coisas principais que podem contribuir para esta-


belecer e manter a ordem nas escolas: 1. a vigilância do
mestre; 2. os sinais; 3. os catálogos; 4. as recompensas; 5.
as correções; 6. a assiduidade e pontualidade dos alunos;
7. a regulamentação dos dias feriados; 8. a designação dos
diversos oficiais e a fidelidade deles em exercerem bem suas
funções; 9. a estrutura, a qualidade e a uniformidade das
escolas e a adequação dos móveis401.

GE 11,0,1 Capítulo 11
Da vigilância que o mestre deve exercer na escola
A vigilância do mestre, na escola, consiste especialmente
em três coisas: 1. Em corrigir todas as palavras mal lidas por
aquele que lê; 2. fazer que todos os que estão na mesma lição
a sigam; 3. fazer guardar silêncio muito exato na escola402.
Deve prestar atenção contínua a essas três coisas.

GE 11,1 Artigo 1º
Do cuidado que o mestre deve ter para corrigir todas as
palavras na lição403, e da maneira de fazê-lo bem
GE 11,1,1 É necessário que o mestre seja muito fiel em corrigir todas
as letras, sílabas e palavras mal pronunciadas pelo aluno na
leitura. Os alunos adiantarão tanto mais na leitura quanto
mais rigoroso o mestre for nesse ponto.
GE 11,1,2 O mestre não utilizará a palavra, nem outra manifestação
oral para corrigir a leitura, mas dará duas batidas curtas
seguidas com o sinal. Imediatamente, o aluno que lê repetirá

401
Em 1720 o anúncio desses meios não segue exatamente essa mesma ordem: A
assiduidade e pontualidade aparece em 4º lugar; a regulamentação dos feriados,
em 5º; as reecompensas, em 6º; e as correções em 7º.
402
1720 elimina: na escola.
403
1720 não traz: todas e na lição,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 127

a última palavra lida. Se a ler de novo equivocadamente ou se


disser termo diferente daquele em que se enganou, o mestre
continuará repetindo os dois cliques seguidos, até o aluno ler
corretamente a palavra que tiver errado.
GE 11,1,3 Se o aluno continuar a pronunciá-la erroneamente até por
três vezes, sem se dar conta do erro cometido ou sem corrigi-
lo, o mestre dará uma só batida com o sinal, e404 fará sinal a
outro aluno para fazer a retificação; este dirá somente a letra,
a sílaba ou a palavra que o primeiro tiver lido incorretamente.
GE 11,1,4 Depois disso, o mestre fará repetir, duas ou três vezes seguidas,
a sílaba ou a palavra àquele que lê e que o fez mal405.
GE 11,1,5 Quando um aluno se enganar na leitura, o mestre será fiel
em clicar com o sinal no mesmo instante em que ele errou,
para que não necessite ir procurar a palavra que tiver enun-
ciado mal.
GE 11,1,6 Quando um aluno errar na leitura e, depois, continuar lendo
duas ou três palavras antes de o mestre clicar para corrigi-
lo406, como, por exemplo, no caso de se enganar na primeira
sílaba ao ler: Senhor Deus onipotente e eterno, deve-se evitar
com muito cuidado deixá-lo prosseguir sem emendá-lo. Mas
é preciso, nesta ocasião, assim como em todas as outras
semelhantes, que o mestre dê repetidamente dois cliques,
até o aluno chegar à palavra que pronunciou mal, ou, então,
o mestre dará imediatamente três cliques seguidos, para
significar ao aluno que a palavra em que clicou a primeira vez
não é a que ele errou.
GE 11,1,7 Se o aluno, que lê silabando, não pronunciar corretamente
alguma sílaba de uma palavra e não conseguir corrigi-la
sozinho, o mestre indicará outro aluno para fazê-lo. Este não

404
1720 elimina: dará uma só batida com o sinal, e
405
1720: Depois disso, aquele que leu errado a repetirá duas ou três vezes
seguidas.
406
O início do parágrafo (Quando um aluno... para corrigi-lo), em 1720 recebe
outra redação: Se, contudo, errar uma palavra, e continuar lendo duas ou três
outras palavras antes de ser alertado pelo estalido do sinal,
128 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

dirá somente a sílaba que o primeiro tiver enunciado mal, mas


repetirá a palavra inteira, lendo separadamente as sílabas407,
uma depois da outra, como no caso de quem diz semelante em
lugar de semelhante,
GE 11,1,8 o aluno que o corrige dirá semelhante, e não apenas a sílaba
corrigida: lhan.
GE 11,1,9 O mestre prestará muitíssima atenção aos alunos que
silabarem, para não arrastar a pronúncia e não repetir várias
vezes a mesma sílaba. Se acontecer que o façam, lhes imporá
alguma penitência, a fim de não se acostumarem com esse
modo de ler, muito desagradável e muito difícil de corrigir
nos que se habituaram a ele.
GE 11,1,10 O mestre também velará para que os alunos não pronunciem
muito rápido, comendo sílabas, dizendo, por exemplo, go,
quo, mas que pronunciem distintamente todas as sílabas:
q, u, o408. Também estará atento para que não as emitam
demasiado lentamente, mas pausadamente, primeiro porque
lendo demasiado rápido estão sujeitos a colocar a letra
seguinte diante da anterior, dizendo, por exemplo, om, em
lugar de mo; segundo, porque os iniciantes na lição e os de
inteligência lerda não conseguem acompanhar os que leem
tão apressadamente; e terceiro, porque os alunos que leem
desta forma pausada aprendem muito mais facilmente409.
GE 11,1,11 O mestre deve ter cuidado muito grande410 para que aquele
que lê tenha pronúncia tão clara que todos os demais possam
entendê-lo facilmente; que os que leem por pausas o façam de
forma correta, sem arrastar e sem incorrer em outras formas
não corretas; que pronunciem as sílabas separadamente, de
maneira que se possa distinguir umas das outras enquanto
leem; e que observem todas as pausas pelo tempo requerido:

407
1720: cada sílaba,
408
1720 substitui go, quo, por qo, e todas as sílabas, por todas as letras.
409
1720: Neste parágrafo: 1. Omite os ordinais, e substitui por e o 2º e 3º. 2.
Acrescenta: e arrastando, depois de: demasiado lentamente; e atabalhoadamente,
depois de: demasiado rápido; ou su para dizer us, depois de om.
410
Em 1720, o início do parágrafo passa a ser: Enfim, ele deve ter grande cuidado
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 129

muito pouco nas vírgulas; um pouco mais no ponto e vírgula;


nos dois pontos, o dobro que nas vírgulas; e no ponto, o dobro
que nos dois pontos.

GE 11,2 Artigo 2º
Do cuidado que o mestre deve ter para fazer seguir a todos
os que estão na mesma lição
GE 11,2,1 Em todas as lições dos cartazes, do silabário411 e dos demais
livros, tanto em francês, como em latim e, mesmo de arit-
mética, enquanto se lê412, todos os outros da mesma lição
acompanharão, isto é, sem fazer nenhum ruído com os lábios,
lerão em voz baixa, em seus livros, aquilo que o leitor estiver
lendo alto no dele.
GE 11,2,2 O mestre cuidará para que todos os alunos de uma mesma
lição acompanhem à medida que o leitor avançar de síla-
ba413, ou de palavra em palavra, e que o indicado para ler
não repita nenhuma das palavras lidas por quem leu antes
dele. Essa prática permite saber melhor se quem for ler está
seguindo bem.
GE 11,2,3 O mestre nunca permitirá aos alunos soprarem uns aos outros
as letras, as sílabas ou as palavras das lições, nem sequer as
respostas completas414 nas recitações e no catecismo.
GE 11,2,4 O mestre estará muito atento às lições e terá sempre nas mãos
o livro415 e, no entanto, cuidará, de tempos em tempos, que
todos os da lição acompanhem.
GE 11,2,5 Para ser fiel a essa prática416, ele não terá nada entre as mãos,
durante todo o tempo das aulas, exceto o sinal, o livro da

411
Início do parágrafo de 1720: Em todas as lições dos cartazes do alfabeto, das
sílabas, do Silabário...
412
1720: enquanto um lê,
413
1720: de sílaba em sílaba,
414
1720: respostas completas ou parciais
415
1720: Restante da frase: sem, contudo, perder de vista os alunos, a fim de
perceber se todos estão acompanhando.
416
1720: Para que nada o impeça de ser fiel a essa prática,
130 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

lição, e, se estiver na lição dos que escrevem, as penas, o


papel e outros objetos necessários para a escrita.
GE 11,2,6 Se um dos alunos brincar com alguma coisa na sala de aula,
outro aluno estará encarregado de retirá-la417 e a guardará
até o final das aulas, momento em que, tendo saído todos
os alunos418, e estando presentes o aluno ou os alunos aos
quais pertencem as coisas por ele guardadas em mãos, ele as
apresentará ao mestre, para que as devolva a estes alunos ou
para, no ato mesmo, dispor delas segundo o mestre o julgar
conveniente, caso creia que estas coisas lhes possam ser
prejudiciais.
GE 11,2,7 O mesmo se observará em relação aos livros, papéis impressos
ou figuras que os alunos possam ter trazido à escola, diferentes
daqueles que necessitam no tempo em que estão nela. O
mestre não ficará com eles, nem os examinará, nem os lerá
durante todo o tempo de aula, mesmo que julgasse necessário
verificar se contêm algo de nocivo. Tomará para isso um
momento ao final das aulas, quando todos os alunos tiverem
saído, olhando alguns títulos do livro419.
GE 11,2,8 Os mestres serão muito fiéis em nada receberem de seus alunos
e de não reterem nada do que eles tiverem trazido à escola,
sob qualquer pretexto que seja, exceto os livros ruins420, os
quais entregarão ao Irmão Diretor, para os queimar. Esse
ponto é muito importante.
GE 11,2,9 Para obrigar os alunos a acompanharem a lição, o mestre
utilizará os meios seguintes421: primeiro, vigiará cuidadosa-
mente sobre todos, especialmente sobre os que não são fiéis

417
Em 1720, no lugar de: outro aluno estará encarregado de retirá-la, aparece:
mandará que outro aluno, dos mais confiáveis, a retire
418
1720 simplifica o restante: o devolverá a ele, a não ser que o mestre julgue que
lhe possa ser prejudicial.
419
1720: o título do livro.
420
1720: perniciosos
421
1720: Meio muito útil para obrigar os alunos a acompanharem a lição é fazer
uso das práticas seguintes:
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 131

em seguir a lição; segundo, fará cada um ler várias vezes


e um pouco por vez; terceiro, impedirá que os que não se
servem de haste de madeira coloquem os dedos sobre seus
livros422; quarto, exigirá423 que todos os que fizer ler e que
observar não estarem acompanhando a lição se apresentem
espontaneamente a ele para pedir-lhe castigo, sem diferi-lo
um só momento e, a fim de comprometê-los a serem fiéis
no acompanhamento, às vezes lhes perdoará e, quando não
tiverem sido fiéis em fazê-lo, os castigará severamente.

GE 11,3 Artigo 3º
Do cuidado que o mestre deve ter para fazer observar
grandíssimo silêncio na escola
GE 11,3,1 O silêncio é dos principais meios para estabelecer e conservar
a ordem nas escolas. Por isso, cada mestre fará com que
seja observado estritamente em sua aula, não tolerando que
alguém fale sem licença.
GE 11,3,2 O mestre fará os alunos compreender que devem observar o
silêncio não por ele, mestre, estar presente, mas por Deus os
estar vendo e por ser esta a sua santa vontade.
GE 11,3,3 Ter-se-á o cuidado de que os alunos estejam colocados de tal
maneira que os mestres os possam ter sempre sob os olhos424.
O mestre vigiará especialmente sobre si mesmo para só falar
mui raramente e em voz sumida, a não ser que seja necessário
que todos os alunos ouçam o que tem a dizer.
GE 11,3,4 Quando lhes der algum aviso, sempre o fará em tom mode-
rado, fazendo o mesmo em toda outra oportunidade em que
tiver que falar ao conjunto dos alunos.

422
Em 1720 desaparece este terceiro meio. E o 4º torna-se 3º, sofrendo diversas
variações.
423
1720: A principal dessas variações é: vigiará passa a vigiar, e os posteriores
fará, exigirá, perdoará e punirá se tornam fazer, exigir, perdoar e punir.
424
1720 não traz a primeira frase deste parágrafo: Ter-se-á...olhos.
132 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 11,3,5 Não falará a nenhum dos alunos em particular, nem a todos


em conjunto, sem haver analisado antes o que irá dizer e sem
que o tenha julgado necessário425.
GE 11,3,6 Se um aluno pedir para lhe falar, só o atenderá mui raramente.
Unicamente lhe falará sentado em sua cadeira e sempre em
voz baixa.
GE 11,3,7 Não permitirá que os alunos lhe falem enquanto são castiga-
dos, nem saiam de seu lugar sem autorização.
GE 11,3,8 Far-lhes-á compreender que só lhes é permitido falar alto426,
na escola, em três momentos, a saber: ao recitarem a lição, no
catecismo e na oração.
GE 11,3,9 Também o próprio mestre observará regra semelhante, fa-
lando em voz alta somente em três oportunidades: primeiro,
para corrigir os alunos, durante a lição, quando necessário,
isto é, se nenhum aluno for capaz de fazê-lo; segundo, durante
o catecismo; terceiro, nas reflexões e no exame427.
GE 11,3,10 Fora dessas três circunstâncias, só falará em voz alta428 se o
julgar necessário, e cuidará para que essa necessidade seja
muito rara.
GE 11,3,11 Quando os alunos andarem pela sala, o mestre estará atento a
que fiquem descobertos, de braços cruzados, que caminhem429
pausadamente, sem arrastar os pés no assoalho, ou fazer
ruído com os tamancos, no caso de os usarem, para que não
prejudiquem o silêncio, que deve ser permanente na escola.
GE 11,3,12 O mestre fará que o silêncio seja facilmente observado, se
cuidar que os alunos estejam sempre sentados e mantenham

425
1720 introduz: Quando falar, o fará de modo muito grave e sempre em poucas
palavras.
426
1720 suprime: alto,
427
Exames de consciência feitos na oração do fim da tarde (EP 9,1-9,4,5).
428
1720 suprime: em voz alta
429
1720: muito pausadamente, sem arrastar os pés, nem fazer ruído com eles no
assoalho, para que...
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 133

o corpo sempre ereto430; que tenham sempre o rosto voltado


para frente e um tanto em direção a ele; que segurem os livros
com as mãos431, e que olhem continuamente nos mesmos;
que tenham os braços e as mãos colocados de tal maneira que
o mestre os possa ver; que não se toquem uns aos outros com
os pés ou as mãos; que não se deem nada reciprocamente;
que nunca se olhem um ao outro; que nunca se comuniquem
por meio de sinais; que tenham os pés sempre posicionados
corretamente; que nunca432 os tenham fora dos sapatos ou
dos tamancos; que os que escrevem não se debrucem sobre
a mesa enquanto recitam a lição; que não tomem postura
alguma inconveniente.

GE 12 Capítulo 12
Dos sinais utilizados nas Escolas Cristãs
GE 12,0,1 De pouco serviria o mestre esforçar-se por fazer os alunos
guardarem o silêncio, se ele mesmo não o observasse. Por isso,
lhes ensinará melhor essa prática com o exemplo do que atra-
vés de palavras. E seu silêncio, mais do que qualquer outro
meio, produzirá ordem muito grande na escola e lhe possibilita-
rá vigiar facilmente sobre si mesmo e sobre os alunos.
GE 12,0,2 Este foi o motivo por que se estabeleceu nas Escolas Cristãs
o uso dos sinais.
GE 12,0,3 Há muitas ocasiões em que os mestres poderiam falar, mas
nas quais se lhes impõe o uso de sinais em vez da palavra.
Isso foi o que obrigou a estabelecer grande número de sinais
de variados tipos. Para433 ordená-los de alguma forma, foram
classificados conforme os exercícios e as ações mais ordina-
riamente praticados nas Escolas Cristãs434.

430
1720 elimina: e mantenham o corpo sempre ereto
431
1720: com ambas as mãos
432
1720 substitui os três nunca deste parágrafo por três não.
433
1720: Para facilitar-lhe (ao mestre) guardar o silêncio e ordená-los (os sinais)
de alguma forma
434
1720 suprime: Cristãs. Em 12,0,2 e 12,0,3 nem todas as ideias estão na mesma
ordem que no manuscrito.
134 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 12,0,4 Para fazer a maior parte desses sinais em uso nas Escolas
Cristãs435, será usado um instrumento436 chamado sinal437,
feito da seguinte forma:
GE 12,0,5 Em todas as casas, todos os sinais terão formato igual, sem
que nada neles seja mudado nem acrescentado, e todos os
mestres se servirão dos mesmos sinais. Os que estão em uso
são438 os seguintes:

GE 12,1 Artigo 1º
Dos sinais durante a comida
GE 12,1,1 Para fazer recitar as orações, o mestre juntará as mãos.
GE 12,1,2 Para indicar que se repassem as respostas da santa Missa,
baterá no peito. Para expressar que se recite o catecismo, fará
o sinal da santa cruz439.
GE 12,1,3 Para saber se um aluno está atento durante o tempo das
recitações, o mestre dará um clique com o sinal, para fazer
parar o que estiver falando; em seguida, com a extremidade

435
1720 não conserva: em uso nas Escolas Cristãs, mas fala de Sociedade (das
Escolas Cristãs), ao final do parágrafo.
436
1720: instrumeno de ferro
437
Sinal: Pequeno instrumento, inicialmente de ferro e depois de madeira, usado
pelo professor lassaliano para comunicar ordens através de ruídos e sinais
convencionais. “O sinal tradicional se compõe de duas hastes de madeira dura:
uma grossa, avolumada perto da extremidade, e uma fina, presa sobre a parte
avolumada por uma cordinha enrolada ao redor desta. Abaixando e depois
soltando a haste fina, ela golpeia a extremidade da grossa emitindo um rápido
estalido” (Anselme, 1951, p. 125).
438
1720: os tratados nos artigos seguintes:
439
1720 acrescenta: ou, então, apontará, com o sinal, o lugar da classe onde deve
ser recitado.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 135

do sinal, apontará o outro aluno, para indicar-lhe que repita o


que seu colega acabou de dizer.

GE 12,2 Artigo 2º
Dos sinais referentes às lições
GE 12,2,1 Para indicar aos alunos que se preparem para iniciar a leitura,
o mestre dará uma batida com a mão sobre o livro440 no qual
se começará a ler.
GE 12,2,2 Para dar a entender que um leitor pare, dará um clique com
o sinal, e todos os alunos olharão para ele; em seguida, com
a ponta do sinal, indicará um deles, para dar-lhe a entender
que comece a leitura.
GE 12,2,3 Para avisar que se corrija quem estiver lendo erroneamente,
pronunciando mal uma letra, sílaba ou palavra, ou não tiver
feito pausas onde devia fazê-las, ou feito uma longa demais441,
o mestre clicará duas vezes seguidas com o sinal. Se, depois
de o mestre haver feito sinal duas ou três vezes, o aluno não
lê corretamente, o mestre clicará uma única vez com o sinal,
para interromper a leitura e fazer que todos os alunos olhem
para ele; então indicará um outro para ler, em voz alta, a letra,
a sílaba ou a palavra que o primeiro leu ou pronunciou mal.
GE 12,2,4 Se o aluno que leu não se deu conta da razão pela qual o
mestre fez sinal duas ou três vezes, e não recomeça a palavra
que leu ou pronunciou mal, por ter lido várias antes de o
mestre clicar para corrigi-lo, este dará três cliques sucessivos,
para avisá-lo de recomeçar442 a ler algumas palavras antes, e
continuará a fazer este sinal, até o aluno chegar à palavra que
havia errado.

440
1720: sobre o livro fechado
441
1720 não conserva: ou não tiver feito pausas onde devia fazê-las, ou feito uma
longa demais,
442
1720: Há variantes no início deste parágrafo: Se, depois de haver feito sinal
duas a três vezes, e o leitor não encontrar e retomar a palavra lida erradamente
ou mal pronunciada, por haver avançado várias palavras antes de ser advertido,
fará três cliques seguidos, para avisá-lo de recomeçar...
136 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 12,2,5 Para avisar de falar mais alto, o mestre levantará o sinal com
a ponta para cima; e para indicar de moderar a voz, baixará o
sinal com a ponta voltada para o soalho.
GE 12,2,6 Para advertir um ou vários alunos para não lerem com voz
tão forte, ao acompanharem a lição ou quando estiverem
estudando, o mestre levantará um pouco a mão443, como se a
quisesse levar à orelha. O mesmo fará ao escutar algum ruído
na sala. Se este vier do lado direito, levantará a mão direita;
se do lado esquerdo, levantará a mão esquerda.
GE 12,2,7 Para fazer sinal de ler pausadamente, o mestre dará dois
cliques distintos e um pouco444 espaçados um do outro.
GE 12,2,8 Para fazer sinal de ler ou445 soletrar uma palavra que um aluno
iniciante não tenha lido bem, baixará uma única vez a ponta
do sinal sobre o livro que tem na mão.
GE 12,2,9 Para indicar ao que lê por sílabas ou pausas, quando um aluno
não faz pausa entre duas sílabas, quando lê só por sílabas, ou
nas pontuações, quando lê por pausas, baixará só uma vez a
ponta do sinal sobre o livro que tem na mão, pausadamente e
repetidas vezes446.
GE 12,2,10 Para fazer mudar de lição, baterá com a mão sobre o livro
aberto e, ao mesmo tempo, quem estiver lendo interromperá
a leitura e dirá bem alto: Deus seja bendito para sempre447.

443
1720 acrescenta: com o sinal,
444
1720 omite: um pouco
445
1720 não traz: ler ou
446
1720: Esse parágrafo é modificado e completado por dois outros: Para indicar
a quem soletra ou lê por sílabas, que não fez pausa suficientemente longa entre
duas letras ou entre duas sílabas, baixará a ponta do sinal sobre o livro que tem
na mão, pausadamente e repetidas vezes.
Para fazer sinal ao que lê por pausas, caso não as observar ou não as fizer
suficientemente longas após uma vírgula ou após um ou dois pontos, colocará
a ponta do sinal, imóvel, no lugar da leitura.
A fim de advertir a quem lê e que faz pausa onde não deveria, ou a faz muito
longa; ou aquele que soletra ou lê por sílabas e arrasta ao soletrar ou ao ler,
deslizará o sinal sobre o livro aberto.
447
Tb 13,1.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 137

GE 12,2,11 Todos os alunos devem, nesse momento, descobrir-se e


preparar seu livro ou lição. Tudo isso será feito num instante.
GE 12,2,12 E para fazer sinal de terminar a última lição e de fechar os
livros, o mestre dará uma palmada sobre a capa do livro que
tem na mão e que está sendo lido.

GE 12,3 Artigo 3º
Dos sinais relacionados à escrita
GE 12,3,1 No começo da escrita, para dar início a ela448, o mestre dará,
intervaladamente, três cliques com o sinal.
GE 12,3,2 Ao primeiro clique, os alunos tirarão todos os estojos [para
estarem todos à vista. Ao segundo, os abrirão e retirarão]
as penas e o canivete, se devem ter um, e os mostrarão449,
de modo que o mestre possa vê-los todos muito bem. Ao
terceiro, mergulharão a pena na tinta e todos começarão
simultaneamente a escrever.
GE 12,3,3 Se algum aluno, ao escrever, se inclinar sobre a mesa ou tiver
postura defeituosa, o mestre fará sinal com a boca, e depois450
levará a mão [da] direita para a esquerda, para lhe significar
que assuma posição corporal correta.
GE 12,3,4 Se um ou diversos alunos não segurarem corretamente a pena,
o mestre451 dará dois cliques com o sinal. Se observar alguém
que não esteja escrevendo, lhe fará sinal com a boca e depois
fará, com os dedos, o movimento (de escrever).

448
1720: Não reproduz a redundância deste começo, escrevendo: Para dar início à
escrita...
449
1720: e os mostrarão também,
450
1720 exclui: fará sinal com a boca, e depois
451
1720 substitui: dará dois cliques com o sinal, por: mostrará com a mão o modo
de bem segurá-la. E substitui: e lhe fará sinal com a boca... por: e lhe fará sinal
olhando-o; levantará, depois, a mão e fará, com os dedos, o movimento (de
escrever). E se perceber que ainda não escreve, lhe imporá uma penitência.
138 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 12,4 Artigo 4º
Dos sinais durante o catecismo452
GE 12,4,1 Para fazer sinal a um aluno de cruzar os braços, o mestre
fixará nele os olhos e, concomitantemente, ele mesmo cruzará
os seus.
GE 12,4,2 Para indicar a um aluno que mantenha o corpo ereto, o mestre
deve encará-lo fixamente, e, ao mesmo tempo, endireitar o
próprio corpo e depois posicionar adequadamente os pés.
GE 12,4,3 Se algum aluno não tiver feito corretamente o sinal da santa
cruz, o mestre colocará sua mão sobre a fronte453.
GE 12,4,4 A fim de fazer sinal a um aluno para baixar os olhos, deverá
olhá-lo fixamente e, ao mesmo tempo, baixar os próprios.
GE 12,4,5 Para fazer sinal a um aluno de juntar as mãos, o mestre juntará
as suas, olhando para ele. Numa palavra, nessas ocasiões e
em outras semelhantes, o mestre fará, olhando para os alunos,
o que deseja que eles façam e cumpram.

GE 12,5 Artigo 5º
Dos sinais durante as orações454
GE 12,5,1 Ao querer fazer iniciar a oração, deve-se dar batida com as
duas mãos; todos os alunos, ao mesmo tempo, se descobrirão
e se colocarão na posição devida.
GE 12,5,2 Quando todos os alunos estiverem na posição e postura em
que devem estar, dará uma segunda batida com as duas mãos,
para fazer começar a oração.
GE 12,5,3 Quando um aluno não estiver rezando, deve-se olhá-lo
fixamente, rezando a oração um pouco fortemente.

452
1720 acrescenta: e as orações
453
1720 acrescenta: para que recomece.
454
1720 não contempla este artigo 5º com os seus três parágrafos.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 139

GE 12,6 Artigo 6º
Dos sinais para as correções
GE 12,6,1 Todos os sinais de correção serão reduzidos a cinco. Os
mestres farão os alunos saber por qual destes cinco motivos
vão455 ser castigados.
GE 12,6,2 As cinco questões ou os cinco motivos pelos quais se aplicarão
castigos na escola são: 1. Por não haver estudado; 2. por não
haver escrito; 3. por ter faltado às aulas456; 4. por não haver
prestado atenção no catecismo; 5. por não haver rezado.
GE 12,6,3 Haverá cinco sentenças, em diferentes locais de cada classe,
indicanado a obrigação de fazer essas cinco coisas. Cada uma
dessas sentenças será formulada nos termos seguintes457:
1. É preciso não faltar à escola, nem chegar atrasado sem
autorização.
2. É preciso aplicar-se na escola a estudar a lição.
3. É preciso escrever sem interrupção, e sem perder tempo.
4. É preciso escutar atentamente o catecismo.
5. É preciso rezar com piedade na igreja e na escola.
GE 12,6,4 Quando o mestre quiser punir algum aluno, lhe fará sinal458
apontando para ele com a ponta do sinal, e lhe mostrará,
com a mesma ponta do sinal, a sentença contra a qual faltou,
e depois lhe fará sinal para se aproximar dele, se for para
lhe aplicar a palmatória. Se for para lhe aplicar um castigo
(com as varas), lhe mostrará, com o sinal, o local onde este é
administrado.
GE 12,6,5 Se o mestre quiser ameaçar os alunos com alguma punição,
clicará uma vez com o sinal e depois, enquanto todos o

455
1720: devem
456
1720 acrescenta: ou ter chegado atrasado;
457
Em 1720, o caput deste parágrafo passa a ser: Estas cinco coisas serão for-
muladas em sentenças, afixadas, para tal finalidade, em diferentes lugares
de cada classe, indicando a obrigação de fazer estas cinco coisas, cada uma
formulada nos termos seguintes.
458
1720: lhe fará sinal para obrigá-lo a olhar e depois, lhe mostrará
140 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

olham,459 mostrará, com o mesmo sinal, a sentença que indi-


ca o dever por cuja transgressão ameaça castigá-los, e depois,
com o mesmo sinal, lhes mostrará o local onde se aplica a
correção, ou então estenderá a mão como ela é colocada para
receber a palmatória.

GE 12,7 Artigo 7º
Dos sinais feitos em algumas ocasiões particulares
GE 12,7,1 Quando um aluno solicitar permissão para falar460, ficará em
pé, em seu lugar, com os braços cruzados e os olhos mo-
destamente baixos, sem fazer nenhum sinal.
GE 12,7,2 Se o mestre lhe concede a palavra, lhe fará sinal para se
aproximar dele461, indicando com a ponta do sinal para si
mesmo. Utilizará o mesmo gesto sempre que tiver necessidade
de falar com algum aluno. Se lhe recusar licença para falar,
baixará o sinal para o soalho, na direção do aluno.
GE 12,7,3 Quando algum aluno solicitar licença para ir satisfazer suas
necessidades462, ficará sentado, levantando a mão. Para
conceder essa permissão, o mestre voltará o sinal em direção
à porta; para recusá-la, fará sinal para não se mover, baixando
o sinal em direção ao soalho.
GE 12,7,4 A fim de pôr um aluno de joelhos, o mestre lhe apontará o
meio da sala com o sinal463. Para fazer beijar464, porá a ponta
do sinal sobre a boca, e depois mostrará o assoalho com o
mesmo sinal.

459
Em 1720, o restante do parágrafo se reduz a: mostrará a sentença por cuja
transgressão ameaça castigá-los.
460
Pela sequência, fica claro não se tratar de falar em voz alta, mas de ir falar com
o mestre.
461
1720 omite: dele,
462
1720: necessidades naturais,
463
1720: 1. Acrescenta: Para ordenar que se levante quem está de joelhos, erguerá
um pouco o sinal com a mão. 2. Elimina: Para fazer beijar...mesmo sinal.
464
Subentendido: o chão,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 141

GE 13 Capítulo 13
Dos catálogos
GE 13,0,1 Uma das coisas que pode contribuir muito a manter a ordem
nas escolas é a existência, nelas, de catálogos bem ordenados.
Nas escolas, deve haver seis465 tipos deles: 1. catálogos de
recepção; 2. catálogos das mudanças de lição; 3. catálogos das
ordens de lição; 4. catálogos das boas e más qualidades dos
alunos; 5. catálogos dos primeiros dos bancos; 6. catálogos
dos visitantes dos ausentes.
GE 13,0,2 Os dois primeiros estarão a uso do Inspetor das escolas. Os
mestres utilizarão os dois seguintes. E os dois últimos estarão
aos cuidados dos alunos466.

GE 13,1 Artigo 1º
Dos catálogos de recepção
GE 13,1,1 Os catálogos de recepção são aqueles em que serão apontados
todos os nomes dos alunos recebidos e admitidos nas escolas,
desde o início do ano escolar até o fim.
GE 13,1,2 Todos os catálogos de cada ano serão escritos sequencialmente
num registro volumoso, separando-se os alunos recebidos em
um ano dos aceitos em outro.
GE 13,1,3 No começo de cada catálogo, constará, como título: Catálogo
dos alunos recebidos e admitidos nas escolas de N...
GE 13,1,4 Em seguida, se escreverá, em maiúsculo, o mês em que cada
um dos alunos tiver sido recebido; e cada um dos meses será
escrito, da mesma forma, no começo e acima dos nomes dos
alunos que tiverem sido recebidos durante esse mês.

465
Em 1720 permanecem apenas os segundos e terceiros e se acrescenta o catálogo
de bolso. Presume-se que vários catálogos foram supressos para não fornecer
aos mestres calígrafos informações confidenciais sobre as famílias (Cf. Blain,
1961, v. II, p. 8 e 42).
466
1720, em função da redução dos catálogos a três, formula assim este parágrafo:
O primeiro estará a uso do Inspetor das escolas. Os mestres utilizarão os dois
outros.
142 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 13,1,5 À margem se escreverá, com números, somente o dia do mês


em que se tiver recebido o aluno. Se houver vários admitidos
no mesmo dia, esse dado será indicado somente ao lado do
nome do primeiro aluno que tiver sido recebido nesse dia.
GE 13,1,6 O sobrenome de cada aluno será também escrito à margem,
ao lado do local de sua inscrição no catálogo, para que possa
ser encontrado facilmente. Se recebeu o sacramento da Con-
firmação, isto será indicado com uma cruz, assim: , e se já
recebeu a primeira comunhão, com um C.
GE 13,1,7 Ao final do catálogo, haverá índices dos nomes e sobrenomes
dos alunos de todos os catálogos contidos no registro, por
ordem alfabética: um índice para cada ano escolar, e depois
de cada sobrenome se indicará por um número a página do
registro na qual ele está inscrito.
GE 13,1,8 No início de cada índice, constará como título: Índice dos
nomes e sobrenomes dos alunos recebidos no ano N.
GE 13,1,9 O índice de uma ano escolar será escrito somente ao final
deste, quando já não haverá alunos a receber.
GE 13,1,10 No corpo do catálogo se escreverá: o nome e sobrenome de
cada aluno admitido e sua idade; se foi confirmado, se recebeu
a primeira comunhão, e há quanto tempo; o nome do pai e da
mãe, ou, se é órfão, de um ou de outro; o nome da pessoa com
quem mora, a rua, a insígnia, o domicílio e a paróquia; em
que lição e em que ordem de lição foi colocado; se não deve
vir à aula desde o começo até o fim; a que hora deve vir de
manhã e de tarde, e em que dia da semana pode ausentar-se;
se já foi à aula, e por quanto tempo; se já esteve com um ou
vários mestres, e com quantos; por que motivo os deixou; se
desistiu de ir à escola, e quanto tempo faz.
GE 13,1,11 Depois de escritas todas essas coisas, deve-se deixar espaço
suficiente em branco, para nele ser escrito o que houver
para ser acrescentado mais tarde sobre as coisas a seguir
indicadas, a saber: que tipo de espírito ele é; se está con-
firmado, se fez a primeira comunhão depois que veio à
escola, em que dia, em que mês e em que ano; se é assíduo,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 143

se não o é, por que motivo, se falta com frequência, quantas


vezes aproximadamente por mês, se se ausenta no inverno;
se chega tarde à escola, se com frequência, quantas vezes
aproximadamente por semana ou por mês; se é esforçado,
se aprende bem, se é promovido ordinariamente dentro do
tempo previsto; se sabe o catecismo e as orações; quais são
suas boas ou más qualidades, ou hábitos; se deixou a escola,
em que dia, e para fazer o quê; em que dia foi recebido [a]
primeira, segunda, ou terceira vez; se deixou a escola uma
segunda vez, em que dia, para fazer o quê.
GE 13,1,12 De todas essas coisas, o Diretor escreverá no catálogo o que
julgar bom acrescentar.

GE 13,1,13 Modelo
Dos alunos recebidos e admitidos nas escolas da casa de
Reims, no ano de 1706
João Mulot, recebido em 31 de agosto de 1706467, de 16 anos
de idade. Confirmado faz dois anos. Recebeu a primeira
comunhão na úlltima Páscoa. Filho de José Mulot, cardador
de lã, domiciliado na rua Contray, paróquia de Santo Estevão,
perto da Cruz de Ouro.
GE 13,1,14 Foi colocado na terceira ordem dos que escrevem, e na
primeira da Urbanidade. Deve vir à aula às nove e às três.
Esteve dois anos na escola do senhor M. Caba, na rua de Santo
Estêvão; oito meses, na do senhor Ralot; um ano na do senhor
Huysbecq; e quatro meses na do senhor Mulot, mestre-escola.
Deixou-as, por seus pais pensarem que aprenderia melhor em
outros lugares.
GE 13,1,15 De acordo com o escrito acima, do que aprendeu, seja por
si mesmo, por sua primeira experiência, seja pelo informe
dos mestres, especialmente pelo catálogo das boas e más
qualidades de seus alunos, feitos ao final de cada ano:

467
A data é fictícia, pois o dia de sua matrícula é o mesmo de sua saída (Cf.
13,1,16).
144 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 13,1,16 é de espírito volúvel; ausenta-se uma vez ao mês, por neces-


sidade da mãe; é medianamente esforçado; aprende com fa-
cilidade e raramente deixou de ser promovido de lição; sabe
o catecismo, mas pouco as orações; é dado à mentira e à
gula; sua piedade e modéstia são apenas regulares; deixou de
frequentar a escola durante três meses, no inverno; saiu dela
definitivamente, dia 31 de agosto de 1706, para aprender o
ofício de escultor, ou para ser criado, ou para ir a...

GE 13,2 Artigo 2º
Dos catálogos das mudanças de lição468
GE 13,2,1 Cada um dos Inspetores das mudanças de lição469 terá um
catálogo no qual os nomes dos alunos serão registrados e
agrupados por lição e por ordem de lição. Cada aluno será
inscrito sob o título da ordem da lição em que estiver.
GE 13,2,2 Haverá tantos desses catálogos quantas forem as escolas
dependentes da mesma casa. Cada um deles começará pelos
nomes dos alunos da primeira ordem da lição mais elemen-
tar, continuando até a última ordem da lição superior, que é a
dos registros470.
GE 13,2,3 Os catálogos de mudança na leitura, na escrita, tanto da
redonda como da bastarda, e na aritmética estarão escritos,
sem intervalos, num mesmo livro471. Os catálogos da escrita
redonda começam pela 1ª ordem e terminam pela 7ª; os da
escrita bastarda, começam pela 1ª e terminam pela 5ª; os da
aritmética, começam pela 1ª e terminam pela 5ª.
GE 13,2,4 Haverá um livro contendo os catálogos das promoções de
lição de escrita e de aritmética para cada uma das escolas que
dependem da mesma casa.

468
1720: de mudança de lições
469
1720: das escolas
470
1720 omite: que é a dos registros.
471
1720 omite o resto deste parágrafo (Os catálogos...pela 5ª). Igualmente deixa
de transcrever os parágrafos 13,2,4 e 13,2,6.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 145

GE 13,2,5 Cada folha desse catálogo será dividida em cinco colunas,


separadas por linhas de alto abaixo. A coluna do meio deve
ser mais larga do que as outras quatro.
GE 13,2,6 No alto de cada folha será escrito, como título, a ordem da
lição em que estão os alunos cujos nomes estão escritos na
folha.
GE 13,2,7 Segundo livro [1ª ordem]
Na coluna do centro, são registrados, sem intervalo e sem
nenhuma ordem472, os nomes e sobrenomes dos alunos de uma
mesma ordem de lição, na sequência em que foram admitidos
na escola ou mudados de lição.
GE 13,2,8 Na primeira coluna, ao lado de cada nome, se escreverá o
dia do mês em que cada aluno inscrito na folha foi admitido
nessa ordem de lição; na segunda coluna, o mês; [na terceira,
se escreverá o nome e o sobrenome].
GE 13,2,9 Na quarta, ao lado de cada nome, se escreverá o dia do mês
em que cada aluno desta ordem de lição foi mudado para
outra; e na quinta, se escreverá o mês473.

Modelo, Escrita (da 3ª ordem)


1 janeiro Jacques Maturin 2 abril
1 março Hubert Valle 3 junho
2 maio François Duterioux 6 julho
1 junho Nicolas Paulet 1 agosto
1 julho Loius Adam Rive 1 outubro
2 agosto Jean Grimoine 2 novembro
1 outubro Philippe Le Gendre 1 dezembro
2 novembro Pierre Le Large 2 fevereiro

472
1720 elimina: e sem nenhuma ordem
473
1720 adiciona: em que o aluno tiver sido promovido, conforme o modelo
seguinte.
146 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 13,3 Artigo 3º
Dos catálogos das ordens de lição
GE 13,3,1 Cada mestre terá um catálogo474 contendo 24 folhas475, no
qual serão escritos os nomes dos alunos de sua classe, por
lição e476 por ordem de lição. Todos os nomes dos alunos da
mesma ordem de lição serão registrados em sequência, sob o
título da ordem da lição na qual se encontram.
GE 13,3,2 Cada mestre terá cada ano um catálogo novo desse tipo477.
GE 13,3,3 O Inspetor escreverá ou fará escrever todos os catálogos das
ordens e os dará aos mestres no primeiro dia de cada mês, de
manhã, antes de se dirigirem à escola.
GE 13,3,4 Em cada folha desse catálogo, haverá três colunas, separadas
por traços, de alto abaixo.
GE 13,3,5 Na primeira coluna, mais estreita, escrever-se-á, ao lado de
cada nome, o mês e478 o dia do mês no qual cada aluno foi
inscrito nessa ordem de lição.
GE 13,3,6 Na do meio, o nome e sobrenome de cada aluno479 de uma
mesma ordem de lição, tudo em seguida480, sem nenhuma
ordem481 conforme sua admissão à escola, ou conforme
tenham sido colocados na ordem de lição em que se encon-
tram. Todos os nomes estarão separados um do outro por
linhas horizontais, de um lado a outro da folha.
GE 13,3,7 Na terceira coluna, haverá quatro quadrinhos ao lado de cada
sobrenome, nos quais se assinalará, por pequenos pontos:
no primeiro, quantas vezes o aluno chegou atrasado; no
segundo, quantas vezes o aluno esteve ausente com licença;

474
1720: um catálogo em forma de livro
475
1720: vinte e quatro folhas, duas para cada mês,
476
1720 elimina: por lição e
477
1720: Este parágrafo, assim como o seguinte (13,3,3) não aparecem.
478
1720: ou o dia do mês
479
1720: dos alunos
480
1720: todos em seguida,
481
1720 não guarda: sem nenhuma ordem
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 147

no terceiro, quantas vezes esteve ausente sem licença; e no


quarto, quantas vezes não soube o catecismo da diocese. No
alto do quadrinho da primeira coluna estará escrito: Atrasado;
no segundo: ausente com licença; no terceiro: ausente sem
licença; e no quarto: não soube o catecismo.
GE 13,3,8 Os mestres anotarão, nestes catálogos, os que chegaram
atrasados e os que se tiverem ausentado, no momento de os
primeiros do banco e os visitantes dos ausentes lhes darem
conta das ausências482, e anotarão483 os que não tiverem
sabido o catecismo da diocese no momento em que se fizer a
recitação dele.

GE 13,3,9 Modelo

Registro da 3ª classe da Rua da Princesa para janeiro de 1706


Aus. Aus. Não
Maturin Mouchet Atrasado
c. l. s. l. soube c.
Denis Maillot
Do 20
Antoine Renault
1 junho
Antoine Dory
Antoine Fatrice
Prudent Du But
Antoine Pierre Du But
3ª ordem
Denis Vison
1 julho
François Thiéry
Simon Cottin
1 agosto Jean Augé

482
1720 substitui: no momento...das ausências por: (pelo final das aulas),
483
1720 elimina: anotarão
148 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 13,4 Artigo 4º
Das boas e más qualidades dos alunos
GE 13,4,1 Pelo fim do ano escolar, no último mês de aula antes das
férias, cada mestre elaborará um catálogo de seus alunos, no
qual indicará suas boas e más qualidades, conforme as tenha
observado durante o ano. Registra o nome e o sobrenome de
cada aluno, quanto tempo faz que vem à escola, a lição e a
ordem de lição em que está, seu caráter, se é piedoso na igreja
e nas orações, se, por acaso, está sujeito a alguns vícios, tais
como mentira, blasfêmia, roubo, impureza, gula, etc.
GE 13,4,2 Se tem boa vontade ou se é incorrigível; como se deve
proceder com ele; se a correção lhe é útil ou não; se foi
assíduo à escola ou se faltou às aulas frequente ou raramente;
se foi por motivo justo ou não, com autorização ou sem
ela; se foi pontual em chegar na hora e antes do mestre;
se é aplicado nas aulas; se o é espontaneamente; se não se
deixa levar à tagarelice e a brincadeiras; se tira proveito do
ensino; se geralmente foi promovido no tempo previsto, ou
por quanto tempo permaneceu em cada ordem de lição além
do previsto para ser promovido à seguinte; se isso foi por
própria culpa ou porque é de inteligência limitada; se sabe
bem o catecismo e as orações ou se ignora a um e às outras;
se é obediente na escola, se não é de temperamento difícil,
obstinado e inclinado a resistir ao mestre; se não é mimado
pelos pais; se estes não gostam que seja corrigido e se, às
vezes, não se queixam disso; se foi oficial e em que ofício, e
como o desempenhou.
GE 13,4,3 No fim do ano escolar, cada mestre entregará este catálogo por
ele confeccionado ao Irmão Diretor, o qual, no primeiro dia de
aula depois das férias, o dará ao mestre que terá a seu encargo
essa classe, se este for diferente daquele do ano anterior. O
mestre se servirá do catálogo durante os três primeiros meses,
para chegar a conhecer os seus alunos e o modo como deverá
proceder com eles. Se o mestre for o mesmo, o Diretor o
guardará.
Passados três meses do ano escolar, o mestre devolverá ao
Diretor o catálogo que lhe tiver sido entregue no primeiro dia.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 149

O Diretor os conservará todos e terá o cuidado de confrontar


os dos anos precedentes com os dos anos seguintes, e os de
um mestre com os de outro da mesma classe e dos mesmos
alunos, para verificar se concordam ou diferem em tudo ou
em parte.
GE 13,4,4 Se ocorrer que algum mestre jovem não saiba elaborar esse
catálogo, o Diretor ou o Inspetor lhe ensinará a fazê-lo ou, se
necessário, o fará em seu lugar.

GE 13,4,5 Modelo
Catálogo dos alunos da quarta classe da rua São Plácido no
ano de 1706, em que constam suas boas e más qualidades
Francisco de Terieux, de oito anos e meio, vem à escola faz
dois anos; está na terceira ordem da escrita desde o dia 1º de
julho passado; tem espírito irrequieto, é pouco piedoso e nada
modesto na igreja e nas orações, a menos que seja vigiado,
mas isso por leviandade; seu defeito peculiar é a imodéstia.
Tem bastante boa vontade; é preciso conquistá-lo e estimulá-
lo a comportar-se bem; por ser leviano, a correção lhe é pouco
útil; faltou às aulas poucas vezes, algumas sem autorização,
por ter-se encontrado com algum companheiro travesso e por
sua leviandade; foi muitas vezes impontual; sua aplicação é
apenas regular e, com frequência, se distrai e não faz nada, a
menos que seja vigiado.
GE 13,4,6 Aprende com facilidade; duas vezes não foi promovido de
lição da segunda à terceira ordem por falta de aplicação; sabe
bem as orações; quando repreendido, é submisso, se o mestre
tem autoridade, mas, se não a tem, é indócil; entretanto, não
é de caráter difícil: desde que seja conquistado, fará o que
se quiser; seus pais o amam: não gostam que seja punido;
não desempenhou nenhum ofício, por não ser muito capaz;
é esperto, e cumpriria bem o seu dever se não viesse fre-
quentemente tarde.
GE 13,4,7 Lambert du Long, de doze [anos] e meio; vem à escola faz
quatro anos; está na sétima ordem de escrita há seis meses, e
na quinta ordem dos registros e na quarta de aritmética desde o
150 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

dia 4 de maio último; é de temperamento superficial e leviano;


aprende e retém com facilidade; é muito pouco piedoso na
igreja e nas orações; frequenta pouco os sacramentos; seu
defeito peculiar é o orgulho: sofre muito quando humilhado;
o castigo, às vezes, lhe é útil; ordinariamente é assíduo, e é
muito aplicado no catecismo; na escrita e na aritmética sem-
pre foi promovido de lição no tempo previsto; é submisso,
se o mestre tem autoridade, caso contrário é desobediente;
seus pais não se incomodam que seja corrigido; foi recitador
das orações e primeiro do banco, desempenhando muito bem
essas funções.

GE 13,5 Artigo 5º
Dos catálogos dos primeiros dos bancos
GE 13,5,1 Em toda sala de aula haverá um catálogo de cada banco, no
qual constam os nomes e sobrenomes de todos os alunos do
mesmo banco.
GE 13,5,2 Um dos alunos deste banco, que estará colocado na ponta
e que será chamado primeiro do banco, estará encarregado
desse catálogo e o seu nome será o primeiro a constar nele.
GE 13,5,3 Em continuação, serão colocados os nomes de todos os de-
mais alunos desse banco, na ordem que ocupam depois dele
no banco. Os catálogos serão feitos com um cartão coberto
por um papel da altura de meio pé e da largura aproximada de
quatro polegadas.
GE 13,5,4 Os nomes dos alunos serão escritos nele em fichas de cartão,
cujos dois extremos serão atravessados por dois cordões, entre-
laçados do alto até embaixo do catálogo. Em ambos os lados
de cada ficha haverá uma fita de fio vermelho, a de um lado
para indicar os que chegaram tarde, e a de outro, os ausentes.
GE 13,5,5 Uns e outros serão marcados pelos primeiro do banco, assim
como está marcado no artigo sobre o seu ofício. Esses catá-
logos estarão pendurados, por um cordão, num prego cravado
na parede, cada catálogo diante do banco em que estão os
alunos cujos nomes nele constarem.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 151

Modelo

Ausentes Atrasados

Damien Rivasson
Lambert du Long
Martin Hacq
Jean-Baptiste La Chapelle
Nicolas du Four, etc.

GE 13,6 Artigo 6º
Dos catálogos dos visitantes dos ausentes
GE 13,6,1 Em cada sala de aula haverá catálogos dos visitantes dos
ausentes, cada um dos quais conterá, no máximo, quinze ou
vinte alunos. Em cada um desses catálogos constarão alunos
de um mesmo quarteirão, que possam ser facilmente visitados
pelos visitantes deste.
GE 13,6,2 Cada visitante terá o seu catálogo, e todos os dias marcará nele
os ausentes, como está dito no artigo referente aos visitantes
dos ausentes484. Esses catálogos serão confeccionados com
cartão dobrado em dois, coberto de papel branco pelo lado
interno e de pergaminho por fora. Cada lado do catálogo terá
aproximadamente a largura de duas polegadas e a altura de
meio pé.
GE 13,6,3 Neles os nomes dos alunos estarão escritos em fichas de
cartão, cujos dois extremos serão introduzidos em dois cor-
dões entrelaçados do alto até embaixo do catálogo. Na borda
e nos dois lados de cada ficha haverá uma fita de fio vermelho,
que será puxada para o lado esquerdo da ficha para indicar
que um aluno chega tarde, e para o lado direito na ficha para
indicar que está ausente.

484
GE 18,9.
152 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Modelo

0 Jean B. Lardier 0 André Gazin 0


Rue de Thiellois485 Rue Saint-Jacques
0 Nicole Ruvene 0 Quentin Dubré 0
Rue de Bougresle Rue Maillet
0 Nicole Le Becq 0 Henry Guimbert 0
Rue de la Couture À la Couture
0 Pierre Drotin 0 Jean Guimbert 0
Rue Bourgresle À la Couture
0 Joseph d’Allure 0 Thiéry Guimbert 0
Rue Chativer À la Couture
0 Nicolas Mulot 0 Pierre Henry 0
Rue de Tapissiers Vieille Couture
0 Pierre Jobart 0 Nicolas Muet 0
Rue des deux Anges Vieille Couture

GE 14 Capítulo 14
Das recompensas
GE 14,1,1 Os mestres darão, de vez em quando, recompensas aos alunos
mais fiéis no cumprimento do dever, para incentivá-los a que o
realizem com empenho e estimular aos demais, na esperança
do prêmio.
GE 14,1,2 Há três tipos de recompensas a serem dadas nas escolas: 1.
recompensas pela piedade; 2. recompensas pela capacidade;
[3.] recompensas pela assiduidade.
GE 14,1,3 As recompensas pela piedade serão sempre mais bonitas e de
maior valor486 que as demais; e as pela assiduidade, melhores
do que as pela capacidade.

485
Como observa Anselme, essas ruas são de Reims.
486
1720 não traz: e de maior valor
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 153

GE 14,1,4 As coisas dadas por recompensa serão de três diferentes


níveis: 1. livros; 2. estampas de pergaminho fino, figuras de
gesso, como virgens, agnus487 e outras pequenas peças feitas
à mão; 3. estampas de papel e sentenças em maiúsculas488.
GE 14,1,5 As recompensas mais ordinariamente dadas aos alunos serão
sentenças489, por serem ordinariamente mais úteis e, muitas
vezes, melhor acolhidas; e todas essas sentenças serão de
piedade.
GE 14,1,6 Também490 todas as estampas491 serão de piedade; o mais das
vezes, serão usados, como recompensa: crucifixos, mistérios
do Santo Menino Jesus, da Santíssima Virgem, de São José.
GE 14,1,7 Os livros492 servirão somente como recompensas extraor-
dinárias e serão dados exclusivamente pelo Irmão Diretor,
depois de ter examinado aqueles que o mestre julgar mais
dignos de recebê-los.
GE 14,1,8 Os livros que poderão ser dados como recompensa sempre
serão de piedade. Por exemplo: Imitação de Jesus Cristo,
Sábios Colóquios, Verdades Cristãs, Pensamentos Cristãos,
Pense bem nisso, etc.
GE 14,1,9 Cânticos espirituais, as orações da escola, o catecismo da
diocese e outros livros utilizados nas escolas poderão ser
dados somente aos pobres, e não aos que os podem comprar.
GE 14,1,10 Todas as semanas serão dadas, em cada classe, como re-
compensa, uma estampa e uma sentença, uma mais bonita e
outra menos; a sentença, ou a mais bonita, caso houver duas,
será para aquele que tiver respondido e recitado melhor o

487
1720 exclui: agnus e outras pequenas peças feitas à mão, e introduz: crucifixos
488
1720 substitui em maiúsculas por: gravadas e, mesmo, terços.
489
Em 1720, todo o resto do parágrafo (por serem...de piedade) desaparece.
490
1720 corta: também
491
1720: as estampas e sentenças
492
1720, antes de livros, introduz: terços; e depois: ou outros objetos de piedade
de valor significativo
154 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

catecismo; e a estampa ou a sentença inferior será para quem


o tiver melhor aprendido depois dele493.
GE 14,1,11 Recompensas por capacidade serão entregues somente todos
os meses, quando o Irmão Diretor ou Inspetor494 examinar
os alunos. Haverá tão-somente um prêmio, dado ao mais
capacitado de cada lição.
GE 14,1,12 Todos os meses, também será dado, em cada classe, uma
recompensa àquele que tiver sido o mais piedoso e modesto
na igreja e durante as orações.
GE 14,1,13 Igualmente, todos os meses se dará495, em cada classe, uma
sentença extraordinária e muito grande, ou uma estampa
grande e bonita, ou alguma outra coisa que seja do gosto e
do apreço particular dos alunos aos quais serão concedidas;
e esta recompensa será dada àquele que se tiver distinguido
em tudo, isto é, na piedade e modéstia496, na assiduidade e
na capacidade. É necessário que essas quatro coisas estejam
presentes naquele a quem se concede tal prêmio497.
GE 14,1,14 Os prêmios ordinários de cada semana e do último dia de aula
antes das férias serão distribuídos pelos mestres. Os prêmios
extraordinários dados cada mês, de acordo com o que ficou
dito acima, serão conferidos pelo Diretor ou Inspetor das
escolas498.

493
1720 não traz este item. E também não guarda o 4,1,12. Nem tampouco o
14,1,14.
494
1720 elimina: ou Inspetor
495
1720: se poderá dar,
496
Modéstia significando, aqui, bom comportamento, compostura, boa educação.
497
Esse ponto, em 1720, recebe formulação sintetizada: Poder-se-á também con-
ceder, todos os meses, em cada classe, uma recompensa àquele que se tiver
distinguido em tudo; isto é, que tiver sido o mais piedoso, o mais modesto na
igreja e durante as orações; de maior capacidade e assiduidade.
498
1720 substitui este parágrafo pelo seguinte: Dar-se-ão aos mestres de cada
sala, todos os meses, dez ou doze gravuras, segundo o critério do Irmão Diretor,
para serem distribuídas por eles aos alunos, no decorrer do mês.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 155

GE 15 Capítulo 15
Das correções em geral499

Introdução
GE 15,0,1 A correção dos alunos é uma das coisas mais importantes feitas
nas escolas e aquela com a qual é preciso ter particularmente
cuidado, para que seja feita adequadamente e para que resulte
proveitosa, tanto para aqueles a quem é aplicada como para
os que a presenciam500.
GE 15,0,2 Por isso, há muitas coisas a serem observadas na prática das
correções que poderão ser feitas nas escolas. Delas se falará
nos artigos seguintes501, após haver explicado a necessidade
de se aliar brandura com firmeza na condução das crianças.
GE 15,0,3 A experiência fundada na doutrina permanente dos santos
e os exemplos que nos deram provam suficientemente que,
para fazer progredir aqueles que se dirige, é preciso atuar
com eles ao mesmo tempo de maneira branda e enérgica502.
Não poucos, contudo, se veem obrigados a confessar ou, ao
menos, demonstram com suficiente evidência, pelo modo de
proceder com aqueles de que estão encarregados, que não
veem facilmente como essas duas coisas se podem harmoni-
zar na prática.
GE 15,0,4 Pois se, por exemplo, se proceder com autoridade absoluta
e excessivo rigor com as crianças, parece muito difícil que
não se torne demasiado dura e insuportável essa maneira
de dirigi-las: Ainda que nascida de zelo rigoroso, não está

499
Capítulo que pode ser lido em paralelo com a MR 204.
500
Ter presente que, até o século XVII, e ainda muito depois, os castigos físicos
eram vistos e praticados como algo inteiramente normal, não apenas na escola,
mas também na família e na sociedade em geral (Cf. Hengemüle, 2000, p. 274-
275).
501
O texto dos artigos seguintes – GE 15,0,3 a 15,0,23 – não aparece no manuscrito
de 1706, mas na edição princeps de 1720. Observar o uso muito mais frequente
de correção que de castigo e punição.
502
Cf. MF 101,3,2.
156 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

de acordo com a sabedoria, como diz São Paulo503, por tão


facilmente esquecer a fragilidade humana.
GE 15,0,5 Por outro lado, caso se tiver excessiva consideração pela
fraqueza humana e, sob pretexto de usar de compaixão com as
crianças, se lhes deixa fazer o que bem entendem, o resultado
serão alunos maus, indisciplinados e desregrados504.
GE 15,0,6 O que é preciso, então, fazer para que a firmeza não degenere
em dureza e a brandura em fraqueza e frouxidão?
GE 15,0,7 Para esclarecer, de algum modo, essa questão, que não se
afigura de pouca importância, parece conveniente expor, em
poucas palavras, alguns pontos básicos aos quais se reduz
quase todo o rigor e dureza presentes na maneira de dirigir
e educar as crianças e, em seguida, alguns outros, dos quais,
pelo contrário, se origina todo relaxamento e desordem, etc.
GE 15,0,8 As coisas que tornam o proceder de um mestre áspero e
insuportável àqueles de quem está encarregado são:
GE 15,0,9 Primeiro, quando as penitências são muito rigorosas e o jugo
que o mestre impõe aos alunos é demasiadamente pesado,
em consequência, muitas vezes, de sua falta de discernimento
e sensatez, pois, não raro, acontece que os alunos não têm
suficiente força física nem espiritual para levar fardos sob os
quais, com frequência, sucumbem.
GE 15,0,10 Segundo, quando impõe, ordena ou exige das crianças algo
com palavras exageradamente duras e de forma demasiado
impositiva, sobretudo quando isso provém de algum impulso
desordenado de impaciência ou de cólera.
GE 15,0,11 Terceiro, ao urgir demais a execução de alguma coisa, quando
a criança não está preparada, e ao não deixá-la tranquila, nem
com tempo para refletir no que deve fazer.
GE 15,0,12 Quarto, quando exige coisas pequenas com a mesma vee-
mência que as grandes.

503
Rm 10,2.
504
Eclo 30,7-13.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 157

GE 15,0,13 Quinto: quando rechaça, de saída, as razões e desculpas das


crianças, não querendo escutá-las de forma alguma.
GE 15,0,14 Sexto, enfim, quando, sem olhar para si mesmo, não sabe
ser sensível às debilidades das crianças, exagerando-lhes os
defeitos e, ao repreendê-las ou castigá-las, lhe parece mais
estar tratando ou agindo com objeto insensível do que com
ser dotado de razão.
GE 15,0,15 As coisas que, ao contrário, tornam o comportamento das
crianças negligente e relaxado são as seguintes:
GE 15,0,16 Primeiro, quando se dá atenção apenas às coisas importantes
como fatores de desordem, e se negligenciam gradualmente
as outras menos importantes.
GE 15,0,17 Segundo, quando não se insiste suficientemente na execução
e na observância das práticas da escola e dos deveres das
crianças.
GE 15,0,18 Terceiro, quando se tolera facilmente que se deixe de fazer o
que está prescrito.
GE 15,0,19 Quarto, quando, para conservar a amizade das crianças, se
lhes manifesta demasiado afeto e ternura, dando algo de par-
ticular aos mais chegados, ou lhes concedendo exagerada
liberdade, o que não edifica os demais e causa desordem.
GE 15,0,20 Quinto, quando, por timidez natural, se fala ou se repreende
as crianças tão branda e frouxamente que elas não prestam
atenção ou que isso não lhes causa impressão nenhuma.
GE 15,0,21 Sexto, finalmente, quando se esquece, com facilidade, o dever
do mestre quanto a seu exterior (que consiste principalmente
em ele manter seriedade tal que conserve os alunos no
respeito e na reserva), seja por falar-lhes com demasiada
frequência e familiaridade, seja por permitir-se com eles
alguma vulgaridade.
GE 15,0,22 Por tudo isso, é fácil concluir em que consiste o excesso de
severidade e o exagero de brandura; o que deve ser evitado,
tanto em um como em outro desses dois extremos, para não
ser demasiadamente duro, nem condescendente demais, de
158 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

maneira a ser firme para atingir o objetivo e suave no modo


de alcançá-lo, e manifestar muita caridade, acompanhada
de zelo.
GE 15,0,23 É preciso ter muita persistência, sem permitir, no entanto,
que os alunos esperem a impunidade e façam tudo quanto
querem, etc., pois não é nisso que se deve fazer consistir a
brandura. Mas é necessário saber que esta consiste em que,
nas repreensões feitas, não transpareça nada de duro, nem que
ressinta cólera ou descontrole, mas que nelas se manifeste
seriedade de pai, compaixão repleta de ternura e certa bran-
dura, que seja, no entanto, firme e eficaz, e que o mestre que
repreende ou pune deixe claro que é por uma espécie de
necessidade e por zelo pelo bem comum que o faz.

GE 15,1 Artigo 1º
Dos diferentes tipos de correção
GE 15,1,1 Para punir as faltas das crianças é possível servir-se de várias
e diferentes formas: 1. a palavra; 2. a penitência; 3. a palma-
tória; 4. as varas; 5. o açoite505; 6. a expulsão da escola506.

GE 15,1,2 Seção 1ª
Da punição com a palavra
Como uma das principais regras dos Irmãos das Escolas
Cristãs é a de falar raramente em sua Escola Cristã507, nela
a punição com palavras deve ser algo muito raro. Parece
mesmo que seria muito melhor não servir-se absolutamente
dela.
GE 15,1,3 As ameaças são um tipo de punição por palavra. É possível
empregá-las, mas o ameaçar deve ser raro e feito com muita
circunspecção, e quando o mestre ameaçou os alunos com

505
1720 elimina: o açoite;
506
1720 acrescenta: Como existe algo de particular a observar quanto às peni-
tências, falar-se-á especificamente delas após haver tratado de tudo o que se
refere às correções.
507
1720: em suas escolas,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 159

algo, caso alguém incorrer na falta que o mestre ameaçou


castigar, ele o punirá sem lhe perdoar.
GE 15,1,4 Nunca se devem fazer ameaças incondicionais, como, por
exemplo: “Vocês serão punidos com a palmatória; serão
castigados”. Mas deverão ser feitas sob certas condições.
Por exemplo508: “Vocês vão ser castigados se fizerem tal
coisa509. Se um só de vocês voltar a cabeça na igreja510 será
castigado. Aquele que chegar tarde por último será casti-
gado”. Ordinariamente, as ameaças devem ser feitas por
sinal, conforme indicado nos sinais referentes às correções.
GE 15,1,5 Algumas vezes, o mestre poderá, não obstante, falar aos
alunos de maneira enérgica e firme, para intimidá-los, mas
sem exagero e descontrole, pois havendo descontrole, os
alunos o perceberiam facilmente, e Deus não daria a bênção à
fala do mestre511.

GE 15,1,6 Seção 2ª
Das palmatórias. Por que motivos se podem ou se devem
usá-las, e da maneira de fazê-lo
A palmatória é instrumento formado por dois pedaços de
couro costurados um sobre o outro. Ela terá o comprimento
de... Terá um cabo para segurá-la512 e uma palma, que será oval
e terá513... de diâmetro, com a qual se baterá na mão. A parte
interna da palma terá um recheio para não ser inteiramente
lisa, mas a externa será abaulada.
GE 15,1,7 A palmatória deve ser feita desse modo e ter essa forma514.

508
1720: Desta forma:
509
1720: Elimina esta frase.
510
1720 troca para: se um só deixar de rezar durante a santa Missa, ou aquele que
chegar tarde por último na escola será castigado.
511
Cf. RC 8,3; C 98,1.
512
1720: Ela terá dez a doze polegadas de comprimento, incluído o cabo para
segurá-la,
513
1720: duas polegadas.
514
1720 elimina esta prescrição.
160 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 15,1,8 A palmatória poderá ser usada por diversas razões: 1. por (o


aluno) não haver seguido a lição; 2. por ter brincado515; 3. por
ter chegado atrasado; 4. por não haver obedecido ao primeiro
sinal, e por diversos outros motivos semelhantes, ou seja, por
faltas não muito graves.
GE 15,1,9 Não se deve dar mais de uma batida por vez na mão do aluno.
Se, alguma vez, for necessário dar mais, não se deve passar
nunca de duas.
GE 15,1,10 As batidas devem ser dadas na mão esquerda, sobretudo
dos que escrevem, para não lhe entorpecer a mão516, o que
constituiria grande obstáculo para a escrita.
GE 15,1,11 A palmatória não517 deve ser aplicada a quem estiver com
as mãos machucadas; a estes, deve-se, ou puni-los com as
varas518, ou dar-lhes alguma penitência. É preciso também519
prever o que de funesto poderia ocorrer em tal correção e
procurar evitá-lo.
GE 15,1,12 Nunca se deve520 tolerar que os alunos gritem alto, seja ao
receberem, seja depois de haverem recebido521 uma palmada
ou qualquer outro castigo. Se o fizerem, nunca se deverá
deixá-los sem castigo, mesmo severo522, por haverem gritado,
explicando-lhes que é por isso que são punidos.
GE 15,1,13 É preciso observar que, quando se quer aplicar a palmatória
a um aluno, por haver cometido alguma falta que o desviou
de seu dever, como, por haver conversado, brincado, rido,
etc., não se lhe deve dizer que está sendo castigado por haver
falado, brincado, rido, etc., mas por não ter rezado523.

515
1720 faz um item só dos itens 1 e 2.
516
1720: mão direita,
517
1720: tampouco
518
1720 omite: ou puni-los com as varas, ou
519
1720 suprime: também, e começa a frase por: porque
520
1720: Não se deve
521
1720, de: seja ao receberem, seja depois de haverem recebido, guarda apenas:
ao receberem,
522
1720 exclui: mesmo severo,
523
1720 acrescenta: na igreja.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 161

GE 15,1,14 Da mesma forma, quando se quiser castigar um aluno por ter


olhado para trás, ou brincado na igreja, não se lhe deve dizer
que é por ter brincado, rido, etc., que está sendo castigado,
mas por não ter rezado. Isso porque, se os alunos forem dizer
em casa que foram castigados por haver brincado, rido, etc.,
vários pais ficariam descontentes, considerando esta falta
muito pequena e não merecedora de tal punição524.
GE 15,1,15 Para que as correções, seja com a palmatória, varas ou o
açoite, possam ser proveitosos, as batidas dadas devem ser
poucas e devidamente aplicadas.

GE 15,1,16 Seção 3ª
Das varas e do açoite525
O açoite é um bastão longo de oito ou nove polegadas, na
ponta do qual deve haver quatro ou cinco cordas; na ponta de
cada uma delas haverá três nós. Deve ser feito dessa forma.
Ele é usado para chicotear os alunos.
GE 15,1,17 As varas ou o açoite podem ser usados para punir os alunos
por várias razões526: 1. por alguém não ter querido obedecer
prontamente527; 2. por não acompanhar habitualmente a lição;
3. por haver feito rabiscos, bobagens ou tolices no papel, em

524
1720 sintetiza 15,1,13 e 15,1,14 num único parágrafo: É preciso observar que,
quando se quer aplicar a palmatória, ou qualquer outro castigo a um aluno,
por haver cometido alguma falta que o desviou de seu dever, como por haver
conversado ou brincado na igreja e na escola, ou ter olhado para trás de si, etc.,
não se lhe deve dizer que que está sendo castigado por haver falado ou brincado,
etc., mas por não ter estudado sua lição e por não ter rezado na igreja. E o
parágrafo 15,1,15 desaparece.
525
Açoite. Em francês, “martinet”, definido por Littré como um “chicote formado
por diversas cordas na ponta de um cabo, e do qual os mestres-escola se serviam
para castigar os alunos”. Em 1720, esse instrumento desaparece completamente
no Guia das Escolas, tanto neste título (que fica: da correção com varas) como
em todas as passagens em que se falava dele no manuscrito de 1706, incluído o
parágrafo 15,1,16, introdutório à seção 3ª.
526
1720 substitui essa primeira frase por: As varas podem ser usadas para punir os
alunos (de acordo com o uso estabelecido nas Escolas Cristãs):
527
1720 corta: prontamente;
162 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

lugar de escrever; 4. por ter brigado na escola ou nas ruas; 5.


por não haver rezado na igreja; 6. por não ter sido modesto na
santa Missa e no catecismo; 7. por haver faltado, por própria
culpa, à santa Missa e ao catecismo, nos domingos e528 festas.
GE 15,1,18 Todas as correções, sobretudo as com varas e açoite529, devem
ser feitas com grande parcimônia e tranquilidade.
GE 15,1,19 Geralmente, não se devem dar mais de três batidas com as
varas ou o açoite; se alguma vez houver necessidade de ultra-
passar tal número, esse não pode ir além de cinco sem ordem
especial do Irmão Diretor.

GE 15,1,20 Seção 4ª
Da expulsão de alunos da escola
GE 15,1,21 Pode-se e deve-se, às vezes, expulsar alunos da escola, mas
não se deve fazê-lo sem o parecer e a ordem do Diretor.
GE 15,1,22 Os que devem ser expulsos são: os corrompidos, capazes de
desencaminhar os outros; os que faltam fácil e frequente-
mente às aulas; os que, por culpa de seus pais, faltam à
Missa paroquial e ao catecismo, nos domingos e festas530; os
incorrigíveis, quer dizer, os que, depois de punidos muitas
vezes, não mudam de comportamento531.

GE 15,2 Artigo 2º
Da frequência dos castigos e do que se deve fazer para
evitá-la
GE 15,2,1 Caso se quiser que numa escola haja disciplina e 532ordem,
é necessário que os castigos sejam raros: a palmatória deve
ser usada só quando necessário, e é preciso procurar que tal
necessidade seja rara.

528
1720: ou
529
1720 substitui: Todas as correções, sobretudo as com varas e açoite, por: Essas
correções
530
1720 acrescenta: fazendo disso um costume;
531
1720 acrescenta: Contudo, expulsar um aluno da escola deve ser algo raro.
532
1720: muita ordem
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 163

GE 15,2,2 Não é possível determinar com precisão o número de vezes


que ela pode ser aplicada por dia, devido às diferentes
situações que ocorrem ao longo da jornada e que podem
obrigar a empregá-la mais ou menos vezes.
GE 15,2,3 Contudo, pode-se dizer que não se deve ultrapassar o número
de três em meio dia; para empregá-la mais vezes, é preciso
haver algo incomum.
GE 15,2,4 O castigo ordinário533 com as varas ou o açoite534 deve ser
muito mais raro que com palmatória. Isso porque as faltas
por causa das quais ele é dado são muito menos frequentes do
que aquelas pelas quais se aplica a palmatória535. Poderá ser
aplicado, no máximo, três a quatro vezes por mês.
GE 15,2,5 Os castigos extraordinários devem, por conseguinte, ocorrer
muito raramente, pela mesma razão.
GE 15,2,6 Colocar um aluno fora de aula deve ser coisa raríssima536.
GE 15,2,7 Para evitar a frequência de castigos, que constitui grande
perturbação numa escola, é preciso ter bem presente que
o silêncio, a vigilância e a moderação do mestre é que
estabelecem a boa ordem numa aula e não a aspereza e as
batidas.
GE 15,2,8 É preciso empenhar-se537 para agir com perícia e criatividade
a fim de manter os alunos em ordem quase sem recorrer a
castigo.
GE 15,2,9 Para ser exitoso nisso538, não se deve usar sempre o mesmo
meio, uma vez que os alunos se acostumariam a ele, mas será
preciso, por vezes, ameaçar, outras, castigar, e outras ainda,
perdoar, e servir-se de vários meios539 que a inventividade

533
1720 elimina: ordinário
534
1720 substitui ou o açoite por: etc.
535
1720 não conserva esta justificativa (Isso porque...a palmatória).
536
1720 elimina essa frase.
537
1820: empenhar-se muito
538
1720 elimina: nisso,
539
1720: de vários outros meios
164 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

do mestre atento e reflexivo lhe fará facilmente encontrar


conforme o momento.
GE 15,2,10 Se acontecer, porém, algum mestre descobrir algum meio
diferente que, a seu juízo, seja adequado para manter os
alunos no dever e evitar os castigos, antes de usá-lo, o propo-
rá ao Irmão Diretor, e só o aplicará depois de ter recebido
ordem ou permissão dele.
GE 15,2,11 Os mestres não darão nenhum castigo extraordinário sem
o haverem proposto antes540 ao Diretor. Para este efeito,
o adiarão, algo que, aliás, é muito oportuno fazer, a fim de
tomarem o tempo conveniente para refletir previamente sobre
ele e possibilitar aplicá-lo com mais ponderação e deixar
maior impressão na mente dos alunos.

GE 15,3 Artigo 3º
Das condições que devem ter as correções
GE 15,3,1 Para ser proveitosa, a correção deve vir acompanhada das dez
condições seguintes:
GE 15,3,2 1. Há de ser pura e desinteressada, ou seja, aplicada somente
em vista da glória de Deus e a fim de cumprir-lhe a santa
vontade, sem nenhum desejo de vingança pessoal, sem o
mestre levar absolutamente a si mesmo em consideração.
GE 15,3,3 2. Caridosa, isto é, motivada por verdadeira caridade para
com o aluno que recebe a correção e pela salvação de sua
alma.
GE 15,3,4 3. Justa, razão por que se deve, antes, analisar bem se o
motivo pelo qual o mestre castiga um aluno é, efetivamente,
uma falta e se tal falta merece esta punição.
GE 15,3,5 4. Adequada e de acordo com a falta pela qual é aplicada, o
que significa que deverá ser proporcional à falta cometida,
tanto no referente à espécie como à gravidade. Como há
diferença entre a falta cometida por malícia e obstinação e

540
1720 corta: antes
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 165

a praticada por fragilidade, deve existir também diferença


entre o castigo com que é punida uma e outra.
GE 15,3,6 5. Moderada, quer dizer que deve ser, de preferência, menos
severa do que demasiado rigorosa e situar-se num justo meio
termo, e não ser nunca aplicada com precipitação.
GE 15,3,7 6. Serena, de forma tal que, quem a aplicar não seja movido
pela raiva, mas tenha total domínio sobre si mesmo; e que
aquele a quem for aplicada a receba de forma sossegada e
com tranquilidade de espírito e contenção exterior.
GE 15,3,8 É inclusive necessário que quem aplica o castigo cuide muito
para não aparecer nada nele que possa dar a entender estar
zangado. Com este fim, caso se sentir alterado, será muito
oportuno, diferir por algum tempo a correção, para não fazer
algo de que talvez deva arrepender-se depois.
GE 15,3,9 7. Prudente da parte do mestre, que deve ter extremo cuidado
com o que faz para evitar qualquer coisa inconveniente e que
possa acarretar más consequências.
GE 15,3,10 8. Voluntária, aceita da parte do aluno, devendo se tratar
de obter a livre anuência dele ao castigo, fazendo-lhe
compreender que o mereceu, pintando-lhe a gravidade de sua
infração, a obrigação que tem de remediá-la, o grande mal
que faz a si mesmo, e o que pode causar aos colegas por seu
mau exemplo.
GE 15,3,11 9. Respeitosa da parte do aluno, que a deve receber com
submissão e acatamento e como se recebesse um castigo com
que o próprio Deus o punisse.
GE 15,3,12 10. Silenciosa, 541da parte do mestre, o qual não deve falar, ao
menos em voz alta, nessa circunstância; em segundo lugar, da
parte do aluno, que não deve dizer uma só palavra, nem gritar,
nem fazer ruído algum.

541
1720: primeiramente da parte do mestre
166 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 15, 4 Artigo 4º
Das falhas a serem evitadas nas correções
GE 15,4,1 Há muitas falhas a serem evitadas nas correções e é impor-
tante que os mestres estejam particularmente atentos a elas.
GE 15,4,2 As principais, e que devem ser evitadas com mais cuidado542
são as seguintes:
GE 15,4,3 Não se deve impor nenhuma correção que não se julgue ser
útil e proveitosa. Assim, é erro aplicar alguma sem que se
tenha examinado antes se ela será de utilidade, quer para o
aluno ao qual se tenciona infligi-la, quer aos outros que a
devem presenciar.
GE 15,4,4 Quando se julgar que alguma correção somente será útil
como exemplo para os demais e não para quem deve rece-
bê-la, não deverá ser aplicada, exceto se for necessária para
manter a ordem na classe. Se for possível diferi-la, pedir-
se-á a opinião do Irmão Diretor antes de aplicá-la543; se,
quem acredita não poder diferi-la for um mestre das classes
subalternas, solicitará o parecer do primeiro mestre; e se for
o primeiro mestre (que o acreditar), este só aplicará a puni-
ção com muita precaução e por evidente necessidade; e tanto
um como outro, de regresso da escola prestarão contas ao
Irmão Diretor do que tiverem feito neste caso544.
GE 15,4,5 Não se deve nunca fazer uma correção que possa ser prejudi-
cial a quem se quer aplicá-la, pois isso seria agir diretamente
contra a finalidade das correções, estabelecidas unicamente
para fazer o bem.
GE 15,4,6 Não se deve aplicar correção nenhuma que possa causar
desordem na classe ou, mesmo, na escola, como seria, por
exemplo, a que servisse apenas para fazer uma criança gri-
tar545, ou para desencorajar o aluno, ou irritá-lo contra o mes-

542
Em 1720 desaparece: com mais cuidado
543
1720 elimina: antes de aplicá-la;
544
1720 suprime a frase final: e tanto...neste caso.
545
1720 redige assim o restante do parágrafo: ou desencorajá-la, irritá-la e fazê-la
abandonar a escola, e de modo que lhe sinta, posteriormente, aversão; e que as
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 167

tre, ou, enfim, fazê-lo abandonar a escola; ou fazer que ele,


sinta, posteriormente, aversão pelos mestres e pelos alunos,
de modo que as queixas dele aos pais possam causar repulsa
igual em outros, impedindo-os de enviar seus filhos à escola.
GE 15,4,7 Os mestres devem esforçar-se por evitar todas essas falhas,
antes de aplicar qualquer correção, pois é importante não
incorrer nelas.
GE 15,4,8 Nunca se deve castigar um aluno por sentir-lhe aversão ou
estar magoado com ele, porque incomoda ou porque não se
lhe tem simpatia. Todos esses motivos, maus ou puramente
humanos, estão muito longe dos que devem ter pessoas a que
só cabe agir por espírito de fé e orientar-se por ele.
GE 15,4,9 Não se deve, inclusive, castigar aluno nenhum por desgosto
causado por ele ou seus pais. E, se acontecer de um aluno
faltar de respeito ou cometer alguma falta contra o seu
mestre, é preferível, falando com ele, levá-lo a reconhecer o
erro e a emendar-se dele, em vez de puni-lo por causa disso.
Se, contudo, houvesse necessidade de castigá-lo, devido ao
mau exemplo dado, seria conveniente invocar outro motivo
para corrigi-lo, como de haver causado desordem, ou ter se
mostrado teimoso.
GE 15,4,10 Nas correções, não se deve usar esses termos: tu, teu, vai,
vem, etc., mas os seguintes: você, vá, venha, etc.
GE 15,4,11 Nunca se deve utilizar com os faltosos palavras injuriosas546,
ou minimamente inconvenientes, chamando-os, por exemplo,
de safado, moleque, tinhoso, piolhento547, fedelho, etc. Jamais
palavra alguma dessas deve encontrar-se na boca dos Irmãos
das Escolas Cristãs.
GE 15,4,12 Nunca se deve usar alguma correção afora as habituais nas
escolas e que estão indicadas no artigo primeiro do presente

queixas dela ou as dos pais possam causar repulsa igual em outros, impedindo
crianças de frequentarem a escola.
546
1720: Também é importante nunca utilizar palavras injuriosas,
547
1720 suprime a palavra piolhento.
168 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

capítulo548. Assim, nunca se deve bater nos alunos com a mão,


o pé, ou a vareta. É totalmente contrário às boas maneiras
e à dignidade do mestre puxar pelo nariz, as orelhas ou o
cabelo dos alunos e, muito mais ainda bater neles, empurrá-
los rispidamente ou puxá-los pelo braço.
GE 15,4,13 Nunca549 se deve atirar a palmatória a um aluno para que a
traga de volta, o que assenta muito mal. Tampouco se deve
bater com o cabo da palmatória na cabeça, no corpo ou no
dorso da mão, nem dar dois golpes de férula seguidos na
mesma mão, mas550 deve-se bater sempre com a palma no
meio da mão. Não se deve cair nessas faltas nem mesmo por
inadvertência.
GE 15,4,14 Ao corrigir um aluno, é necessário ter muitíssimo551 cuidado
para não batê-lo em nenhuma parte machucada, a fim de não
agravar o mal, e não bater com tal força que apareçam marcas.
Embora, de outro lado, não se deva fazê-lo tão brandamente
que o aluno não sinta dor nenhuma552.
GE 15,4,15 O mestre nunca553 deve sair do seu lugar para aplicar a
palmatória, nem falar enquanto a faz, nem permitir que fale
o aluno que a receber e, muito menos, que grite ou chore alto
enquanto é punido ou após receber o castigo.
GE 15,4,16 Estará igualmente atento para não tomar nenhuma postura
inconveniente ao castigar, como seria, contorcer o corpo,
espichar o braço e fazer outros gestos inadequados e opostos
à gravidade.
GE 15,4,17 Será exato554 em não aplicar nenhuma correção ao primeiro
impulso ou quando se sentir alterado. Vigiará de tal maneira

548
1720 não consigna: e que estão indicadas no artigo primeiro do presente capítulo.
549
1720: Não
550
1720 substitui a parte final: mas deve-se bater... por: Ao fazer uso da palmatória,
é preciso cuidar para não bater na cabeça, no corpo, nem em parte alguma que
não seja o meio da mão.
551
1720: muito cuidado
552
1720 elimina esta última frase.
553
1720: não
554
1720: Será, enfim, muito exato
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 169

sobre si mesmo, que nem ímpeto de cólera, nem mínimo


assomo de impaciência influa nas correções. Só isso seria
suficiente para impedir o fruto esperado e pôr obstáculo à
bênção que Deus lhes daria.

GE 15,5 Artigo 5º
Das pessoas que devem aplicar a correção555
GE 15,5,1 Cada mestre poderá servir-se, em sua classe, da palmatória
para punir seus alunos556.
GE 15,5,2 Nenhum mestre terá vara ou açoite fora daquele ao qual o
Diretor tiver entregue o cuidado e a guarda dos mesmos. Os
demais Irmãos, quando os precisarem, mandarão pedi-los a
ele; e aquele que os tiver sob sua guarda terá o cuidado de, no
mesmo dia, dizer ao Irmão Diretor que determinado Irmão lhe
mandou pedir varas, e quantas vezes. Se isso aconteceu várias
vezes, o Irmão Diretor pedirá, sem tardar, o motivo pelo qual
este Irmão fez a correção. Será, inclusive muito conveniente
que esse Irmão vá, ele mesmo, dizê-lo ao Irmão Diretor557.
GE 15,5,3 Os jovens Irmãos558 que não tiverem atingido 21 anos não
castigarão com as varas, ou o açoite559, sem havê-lo proposto
ao Inspetor560 ou ao Irmão ao qual tiver sido entregue o cuidado
e a guarda deles, e sem haver solicitado seu parecer a respeito.
GE 15,5,4 Este Irmão estará igualmente atento às correções que estes
jovens Irmãos aplicarem com a palmatória561, e informará ao
Irmão Diretor sobre umas e outras562.

555
1720 não traz esse título. Em compensação escreve diretamente: A respeito de
quem deve ou não aplicar os castigos, proceder-se-á da seguinte maneira.
556
1720 substitui: para punir seus alunos, por: quando necessário.
557
1720 elimina esse parágrafo.
558
1720 suprime: jovens
559
1720 substitui ou o açoite por etc.
560
1720: Diretor, ou aquele ao qual este tiver entregue a guarda,
561
1720 acrescenta: ou outra modalidade,
562
1720 substitui: e informará ao Irmão Diretor sobre umas e outras, por: e
informará, duas vezes por semana, ao Irmão Diretor, sobre todos os castigos
infligidos nas aulas.
170 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 15,5,5 Proceder-se-á da mesma forma com os Irmãos que tiverem


atingido a idade de 21 anos, durante os seis meses de estágio
que farão nas escolas. Quanto a excluir alunos que cometeram
alguma falta grave, para não mais recebê-los de volta, isso
cabe somente ao Irmão Diretor563.

GE 15,6 Artigo 6º
Dos alunos que devem e dos que não devem ser punidos

GE 15,6,1 Seção 1ª
Dos viciosos
Há cinco vícios que, nunca devem ser perdoados564, e que
devem ser punidos sempre com as varas ou o açoite: 1. a
mentira. 2. as brigas. 3. o furto. 4. a impureza. 5. a dissipação
na igreja.
GE 15,6,2 Deve-se corrigir com varas ou açoites565 todas as mentiras,
mesmo as menores, e ensinar aos alunos que, para Deus, não
existe mentira pequena, uma vez que o demônio é o pai da
mentira, de acordo com o ensinamento de Nosso Senhor no
santo Evangelho566; e (dizer-lhes) que se lhes perdoará algumas
vezes quando confessarem sua falta com simplicidade, e
perdoar-lhes efetivamente. Mas, depois, deve-se ensinar-lhes
o horror que hão de ter por sua falta, e levá-los a pedirem
perdão por ela567, humildemente, de joelhos, no meio da
sala, e induzi-los, inclusive, a eles mesmos se imporem uma
penitência568.
GE 15,6,3 Da mesma forma serão também punidos todos os que tive-
rem brigado. Tratando-se de dois ou vários alunos, serão
punidos conjuntamente. Se a briga for de um aluno com
outro, não pertencente à escola, o mestre se informará muito

563
1720: 1. Exclui a frase final do manuscrito (Quanto a excluir...Irmão Diretor).
2. Em compensação, introduz: e durante o primeiro ano após o noviciado.
564
1720: que ordinariamente não devem ser perdoados.
565
1720 não conserva: com varas ou açoites
566
Jo 8,44.
567
1720 acrescenta: a Deus
568
1720 exclui a parte final (e induzi-los...penitência).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 171

acuradamente a respeito da falta cometida e não castigará o


aluno se não tiver muita certeza. Procederá da mesma forma569
em relação a todas as demais faltas cometidas fora da escola.
GE 15,6,4 Se alunos tiverem brigado na escola, serão castigados muito
exemplarmente: o mestre lhes fará compreender ser essa uma
das maiores faltas que possam cometer nela.
GE 15,6,5 Os que tiverem tirado ou furtado algo, por menos valor
que tenha, mesmo tratando-se somente de uma pena, serão
igualmente castigados. Caso se perceber que estão sujeitos a
esse vício, serão excluídos da escola.
GE 15,6,6 Esta mesma correção será aplicada aos que tenham cometido
ação impura ou pronunciado palavras indecorosas. Os que
tiverem brincado com meninas570 ou que as tiverem fre-
quentado, a primeira vez que o tiverem feito serão advertidos
severamente e, se reincidirem nessa falta, receberão a mesma
punição571.
GE 15,6,7 Os mestres estimularão frequentemente seus alunos a evita-
rem com cuidado a companhia dessas pessoas e os incen-
tivarão a nunca se mesclarem com elas. Mesmo se forem
parentes suas e eles se virem obrigados a conversar com elas,
por menores que sejam, o façam sempre na presença dos pais
ou de pessoas prudentes e idosas.
GE 15,6,8 Os que forem dissipados na igreja serão punidos severamente.
Os mestres procurarão, com frequência, fazer com que os
alunos compreendam que devem ter grande respeito a Deus
neste lugar, e que é falta de fé estar nele sem respeito e
recolhimento interior e exterior.
GE 15,6,9 Por esta última falta, não se deve castigar indistintamente
todo o tipo de alunos, grandes e pequenos, pois, a menos

569
1720, em lugar de: procederá da mesma forma, escreve: Observará com muita
exatidão o mesmo proceder
570
1720 substitui com meninas por: com pessoas de outro sexo.
571
1720 substiui: receberão a mesma punição por: serão igualmente punidos com
severidade.
172 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

que o mestre vigie muito sobre os pequenos572, que tenha


adquirido autoridade e seja habilidoso, será difícil que eles se
comportem com a modéstia e recolhimento que se lhes deve
exigir. É necessário, no entanto, estar muitíssimo atento a isso
e não há nada que não se deva fazer a fim de impedir que
algum aluno seja dissipado na igreja.
GE 15,6,10 Se um mestre não for suficientemente vigilante, ou carecer de
autoridade para manter os alunos em ordem na igreja, seria
necessário que outro seja encarregado de vigiar também573 a
eles e de fazer, então, o que o primeiro não consegue.

GE 15,6,11 Seção 2ª
Dos meninos mal-educados e voluntariosos, dos natural-
mente atrevidos e insolentes, e dos que são estouvados e
levianos574
Existem alunos de cuja conduta os pais se preocupam muito
pouco e, às vezes, nada mesmo. Fazem da manhã até a noite o
que bem entendem. Não respeitam os pais, não lhes obedecem,
e reclamam575. Por vezes, esses defeitos não provém do fato
de terem coração e espírito mal dispostos, mas de haverem
sido entregues a si mesmos.
GE 15,6,12 Se não tiverem naturalmente576 espírito atrevido e arrogante,
é necessário conquistá-los, mas também puni-los por seu
mau gênio. Quando, na escola, incorrerem em alguns de seus
defeitos, é preciso sujeitá-los, fazer-lhes frente577 e torná-los
submissos.
GE 15,6,13 Se forem atrevidos e arrogantes, é preciso confiar-lhes algu-
ma função na escola, como a de inspetor, se para isso forem
julgados aptos, ou de coletores de folhas; ou promovê-los em

572
1720: sobre os pequenos enquanto estiverem na igreja,
573
1720 elimina: também
574
1720 reduz o título: Dos meninos mal-educados e voluntariosos
575
1720: reclamam das mínimas coisas.
576
1720: espírito naturalmente atrevido e arrogante
577
1720 elimina: fazer-lhes frente
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 173

algumas coisas, como na escrita, na aritmética578, etc., para


afeiçoá-los à escola e, ademais, corrigi-los e manter o controle
sobre eles, sem deixá-los viver segundo seus caprichos, seja
em que for. Se esses alunos são menores, há menos medi-
das a tomar. É preciso (no entanto) corrigi-los enquanto são
pequenos, para que não persistam em sua má conduta.

GE 15,6,14 Dos meninos naturalmente atrevidos e insolentes579


Quando tiverem cometido alguma falta, deve-se falar-lhes
pouco e sempre com seriedade; humilhá-los e puni-los quando
a correção lhes puder ser proveitosa para envergonhá-los e
debelar-lhes a altivez.
GE 15,6,15 É necessário fazer-lhes frente e não tolerar que repliquem a
tudo o que o mestre lhes possa dizer. Por vezes, será proveitoso
adverti-los e repreendê-los delicadamente e em particular de
seus defeitos, mas sempre com seriedade e de maneira que os
mantenha no respeito.

GE 15,6,16 Dos meninos avoados e levianos580


Deve-se castigar as crianças com esta característica raras
vezes, porque geralmente refletem pouco e, logo após have-
rem recebido uma correção, recaem na mesma falta ou em
outra que merece idêntica punição.
GE 15,6,17 As faltas delas não procedem da581 malícia, mas da superfi-
cialidade de espírito. É preciso agir de maneira que evitem
tais faltas, manifestar-lhes afeto, não lhes confiar, no entanto,
função alguma; colocá-las o mais perto possível do mestre,
sob pretexto de as motivar, mas, na realidade, a fim de vigiá-
las melhor; e sentá-las entre dois alunos de gênio tranquilo,
e que não costumam cometer infrações. Dar-lhes, de vez em

578
1720 insere: ortografia,
579
1720 não traz este subtítulo, mas o parágrafo o inclui: Quanto aos que são
atrevidos e insolentes...
580
1720 não traz este subtítulo, mas o parágrafo o inclui: Quanto aos que são
avoados e levianos...
581
1720 acrescenta: pura
174 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

quando, alguma recompensa, a fim de torná-las assíduas e


afeiçoadas à escola – por serem estas as que mais facilmente
faltam às aulas – e de conseguir que, enquanto nela estiverem,
permaneçam tranquilas e silenciosas.

GE 15,6,18 Seção 3ª
Dos teimosos
Sempre é preciso corrigir os teimosos por sua teimosia,
sobretudo os que são teimosos nas correções, resistindo ao
mestre e não suportando que este os castigue. Quando isso
ocorre, o mestre não deve ceder de forma nenhuma e, depois
de haver decidido corrigir o aluno, deve fazê-lo, mau grado
todas as resistências deste582. Tomará, no entanto, duas pre-
cauções com relação a isso: 1. Não decidir castigá-los sem
haver antes analisado bem a falta que cometeram e sem estar
seguro de que ela merece tal punição. 2. Caso alguém resis-
tir, não querendo deixar-se corrigir, ou recusando-se a sair de
seu lugar, será oportuno deixar-lhe passar o acesso de birra e
não demonstrar a intenção que se tem de puni-lo.
GE 15,6,19 Algum tempo depois, o mestre o chamará para lhe falar e,
calmamente, lhe fará reconhecer e confessar sua falta, tanto
a primeira quanto a que acaba de cometer ao resistir e, em
seguida, o castigará exemplarmente, fazendo-lhe, antes, pedir,
de joelhos, perdão a Deus, ao mestre e aos alunos que escan-
dalizou583. Se, ainda assim, não quisesse aceitar a correção,
seria preciso coagi-lo a recebê-la e, se necessário, fazer-se
mesmo ajudar por outro Irmão, pois seria suficiente um
destes exemplos para fazer vários outros resistirem depois.
GE 15,6,20 Algum tempo depois de esse aluno ter recebido a correção,
quando o mestre julgar que o acesso do aluno passou, o cha-
mará junto a si e, serenamente, o fará entrar em si, confessar
sua falta e pedir desculpas de joelhos.

582
Em 1720 desaparece esta última frase: Quando isso ocorre... resistências deste.
583
1720 exclui: fazendo-lhe... que escandalizou, e, depois: e, se necessário... Irmão,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 175

GE 15,6,21 Contudo, será necessário que os mestres procurem preve-


nir tais tipos de resistências e fazer que só ocorram muito
raramente porque, a não ser assim, elas produziriam conse-
quências muito funestas na escola.
GE 15,6,22 Existe outro tipo de teimosos, e que são os que resmungam
depois de haverem recebido o castigo e, de volta a seu lugar,
apoiam a cabeça sobre o braço ou sobre as mãos584, ou tomam
alguma outra postura inconveniente.
GE 15,6,23 Nunca se devem tolerar tais atitudes, mas, ou obrigar o aluno
a estudar ou a acompanhar a lição 585assim que tiver recebido
a correção, ou aplicar-lhe a correção novamente, como se não
a tivesse recebido.
GE 15,6,24 Se o mestre não puder impedir que o aluno corrigido res-
mungue, murmure, chore ou perturbe a aula de outra maneira,
quer por ser pequeno586, quer por ser falto de compreensão,
e notar que as batidas não o levarão a sujeitar-se ao dever,
mas que, pelo contrário, o tornarão, talvez, mais indócil, ordi-
nariamente será mais conveniente não corrigir esse tipo de
alunos e fazer como se não se reparasse que ele não estuda ou
não cumpre o dever em algum outro ponto587.
GE 15,6,25 Em tais ocasiões, os mestres terão o cuidado de buscar o que
ordena o Superior588 sobre o que lhes cabe fazer. O silêncio
durante os castigos e a sua aplicação correta evitarão, geral-
mente, a maior parte dessas falhas589.

584
Em 1720 desaparece: ou sobre as mãos
585
Em 1720, o restante (assim que... recebido) desaparece.
586
1720: muito pequeno
587
1720 acrescenta: ou mesmo excluí-lo.
588
1720: o Irmão Diretor
589
1720 acrescenta: Um dos meios mais eficazes para evitar muitos desses
inconvenientes é não mandar o aluno de volta ao seu lugar tão logo tenha
recebido a palmatória ou a correção, mas deixá-lo por algum tempo de joelhos,
sob o olhar do mestre.
176 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 15,6,26 Seção 4ª
Das crianças criadas delicada e frouxamente, conhecidas por
crianças mimadas, das meigas e tímidas, das de inteligência
limitada, das machucadas, das pequenas e das recém-vindas
Há crianças criadas pelos pais de tal maneira, que lhes dão
tudo quanto pedem; não as contrariam em nada e nunca as
castigam por suas faltas.
GE 15,6,27 Parece que receiam desgostá-las, e quando a elas algo desa-
grada, os pais, sobretudo as mães, fazem todo o possível para
acalmá-las e fazê-las voltar às suas boas disposições. Em
toda ocasião, lhes manifestam grande ternura590, e não seriam
capazes591 de tolerar que se imponha a elas o mínimo castigo.
GE 15,6,28 Tais crianças, quase sempre, são de natural delicado e
tranquilo. Geralmente não se deve corrigi-las, mas remediar
suas faltas por algum outro meio, como dar-lhes, às vezes,
alguma penitência fácil de cumprir, ou prevenindo-lhes as
faltas de alguma maneira engenhosa, ou fingindo não havê-
las notado, ou advertindo-as delicadamente em particular.
GE 15,6,29 Se alguma vez se julgar necessário castigá-las, não se deveria
fazê-lo sem o parecer do Irmão Diretor592 e neste caso se
deveria corrigi-las leve e muito raramente.
GE 15,6,30 Se os meios empregados para prevenir suas faltas ou remediá-
las não surtem efeito algum, muitas vezes, é melhor desligá-
las da escola, em lugar de as punir, a não ser que, conversando
com os pais, se tenha conseguido que achem bom que elas
sejam castigadas.

GE 15,6,31 Das que são de natureza meiga e tímida593


Ordinariamente, não será preciso castigar alunos com essas
características. O exemplo dos que se comportam bem e

590
1720 omite: e quando... ternura,
591
1720: de sorte que não seriam capazes
592
1720: do Irmão Diretor ou do primeiro mestre
593
1720 não registra este subtítulo, nem os demais desta seção 4ª.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 177

daqueles que são punidos, o temor que elas naturalmente têm


dos castigos que veem sendo aplicados, e algumas penitências
são suficientes para levá-las a cumprir seu dever.
GE 15,6,32 Elas não cometem faltas com frequência e permanecem fa-
cilmente quietas, além de suas faltas não serem considerá-
veis. É preciso, em algumas ocasiões, tolerá-las nelas; em
outras, adverti-las delas e, em outras ainda, uma penitência
lhes será suficiente.
GE 15,6,33 Dessa forma, ordinariamente não haverá necessidade de re-
correr a correções e castigos para as manter em boa ordem.
GE 15,6,34 Há certas crianças de inteligência limitada594 que não fazem
ruído a não ser quando se quer castigá-las. Em geral, não se
deveria castigá-las. Se atrapalham na aula, é melhor desligá-
las; se não causam problemas e não perturbam em nada, é
preciso deixá-las quietas.
GE 15,6,35 As faltas comuns desse tipo de crianças são: não acompanhar
a lição, não ler bem, não memorizar, nem recitar bem o
catecismo, não aprender nada ou muito pouco, etc.
GE 15,6,36 Não se deve exigir delas aquilo de que não são capazes.
Tampouco, deve-se desanimar com elas, mas empenhar-
se em fazê-las progredir, animá-las de tempo em tempo e,
depois, contentar-se com o pouco aproveitamento que têm.

GE 15,6,37 Das crianças machucadas


Não se deve castigar as crianças que apresentarem alguma
machucadura na parte onde se pensa castigá-las, quando o
castigo poderia aumentá-la. É preciso recorrer a algum outro
tipo de correção ou punição, ou penitência.

GE 15,6,38 Das crianças pequenas


Há várias crianças pequenas que não devem ser corrigidas
ou só mui raramente, porque, não tendo o uso da razão, não

594
1720: Pode-se agir de forma mais ou semelhante com as crianças de inteligência
limitada
178 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

são capazes de tirar proveito da correção. Com relação às


correções, com elas é preciso proceder mais ou menos da
mesma forma que com as de inteligência limitada e as meigas
e tímidas.

GE 15,6,39 Das recém-vindas


Não se castigarão as crianças recém-vindas à escola. É pre-
ciso conhecer-lhes, primeiramente, a índole, o temperamento
e as inclinações. Deve-se, de vez em quando, lembrar-lhes o
que lhes cabe fazer e colocá-las perto de alguns que cumprem
bem seu dever, para aprenderem a cumprir o seu pela prática
e pelo exemplo. Seria preciso deixar um aluno frequentar
mais ou menos um mês595 a escola antes de corrigi-lo. As
correções aplicadas aos novatos só poderão desgostá-los e os
afastar da escola596.

GE 15,6,40 Seção 5ª
Dos acusadores e dos acusados
Os mestres não darão facilmente ouvidos às acusações e
informes dados contra alunos. Não desconsiderarão, no
entanto, os seus autores, mas procurarão averiguar bem o
que denunciaram e informaram e não aplicarão castigo nem
leviana, nem imediatamente a partir dos informes dados.
GE 15,6,41 Se forem alunos os que informam algo sobre algum de
seus colegas ou que o acusam, o mestre procurará597 saber
imediatamente se outros o viram cometer a falta, e tratará
de averiguar algumas circunstâncias capazes de lhe fazerem
descobrir a verdade. Se a informação lhe parece duvidosa ou
não totalmente segura, não castigará o acusado, a não ser que
ele mesmo confesse a sua falta. E, neste caso, lhe dará uma

595
1720: mais ou menos quinze dias
596
1720 acrescenta: Mas se é importante agir assim com os alunos novos, não
é menos importante um mestre novato numa classe abster-se de qualquer
punição até conhecer os alunos.
597
1720 acrescenta: de modo reservado
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 179

punição muito mais leve, ou lhe imporá tão-somente uma


penitência, dizendo-lhe que é porque falou a verdade.
GE 15,6,42 Se o mestre descobrir que a acusação feita contra o aluno é
falsa e que foi por vingança ou algum outro sentimento que
esse aluno acusou seu colega, ele será castigado severa e
exemplarmente598.
GE 15,6,43 Se são pais os que vêm acusar os filhos, pedindo para puni-
los, não se deve castigá-los a fim de os atender: Os pais
dizem muitas vezes isso movidos por emoção descontrolada
e não diriam o mesmo em outro momento. Se a falta merece
realmente correção, é preciso fazer-lhes entender que a eles
mesmos cabe corrigir seus filhos.
GE 15,6,44 No caso de serem vários os alunos que cometem a mesma falta
e que uns sabem das transgressões dos outros, corrigindo-
se a um deles, é preciso corrigir também os demais. Por
exemplo, se vários brigaram, ou se dois ou três brincaram
na santa Missa. Mas se vários cometeram a mesma falta –
por exemplo, não acompanham a lição, não estudam, etc599.
– e uns ignoram a falta dos outros, ou julgam que o mestre
não está a par dela, geralmente será muito acertado corrigir
apenas um desses alunos e aparentar que se ignora a falta dos
demais. Nesses casos, deve-se corrigir o aluno cuja correção
produzirá mais efeito, tanto nele como nos outros.
GE 15,6,45 Assim que, nestas ocasiões, o mestre não corrigirá aqueles
para os quais o simples exemplo é suficiente para infundir-
lhes temor e levá-los a cumprirem o dever, ou os que tiverem
cometido uma falta pela primeira vez ou nela incorrem
raramente.

598
1720 corta: e exemplarmente.
599
Em 1720 não aparecem esses dois exemplos.
180 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 15,7 Artigo 7º
Do que se deve observar em todas as correções. Do modo
de fazê-las bem600
GE 15,7,1 Quando o mestre quiser aplicar a palmatória em algum aluno,
dará o sinal convencional para chamar a atenção dos alunos.
Depois, mostrará, com a ponta do sinal, a sentença contra a
qual o aluno faltou e lhe fará gesto para se aproximar.
GE 15,7,2 Uma vez chegado junto ao mestre, o aluno fará o sinal da
santa cruz e estenderá a mão. O mestre cuidará que ela esteja
bem espalmada e firme, e que o aluno não a retire. Caso o
aluno não a tiver bem espalmada e firme, o mestre lhe fará
sinal de estendê-la adequadamente, abrindo ele mesmo a sua.
Se, depois disso, o aluno não a estende, o mestre o obrigará a
fazê-lo e lhe aplicará duas (batidas) em vez de uma.
GE 15,7,3 Se, quando o mestre quiser que o aluno espalme a mão, este
resistir, far-lhe-á sinal de se dirigir ao local onde são feitas as
correções e a fará, procedendo de acordo com o que se diz
mais adiante sobre a correção com as varas ou o açoite601.
GE 15,7,4 Ao aplicar a palmatória, o mestre cuidará que o aluno não
coloque o polegar no meio da palma da mão e não a mantenha
(apenas) semi-aberta.
GE 15,7,5 Depois de o aluno ter recebido a correção com a palmatória,
cruzará os braços, saudará o mestre e voltará discretamente
a seu lugar, sem fazer nenhuma contorção602, nem com os
braços, nem com o corpo, nem qualquer outra coisa indevida,
e sem resmungar ou chorar alto603.

600
1720 não guarda: Do modo de fazê-las bem.
601
1720 substitui ou o açoite por: etc.
602
No manuscrito aparece extensão, por evidente erro do copista.
603
Em 1720 este parágrafo apresenta diversas variantes: E (o mestre), depois disso,
o obrigará a cruzar os braços, a colocar-se de joelhos, ou o mandará voltar
recolhidamente a seu lugar, sem permitir que faça contorções com os braços ou
o corpo, nem outra coisa indevida, nem que resmungue ou chore alto.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 181

GE 15,7,6 E, se fizer alguma dessas coisas, o mestre mandará que volte e


lhe aplicará mais uma vez a palmatória, a não ser que o aluno
pare de imediato com esse mau comportamento.
GE 15,7,7 Quando o mestre quiser aplicar a correção a um aluno com
as varas ou o açoite604, fará o sinal usado para que os alunos
olhem para ele. Depois, indicará, com a ponta do sinal, a
sentença contra a qual o aluno faltou e lhe mostrará o lugar
onde se costuma fazer a correção.
GE 15,7,8 Depois desse sinal, o aluno se dirigirá ao meio da sala, se
colocará de joelhos, de mãos postas, e com o rosto voltado na
direção da sentença que transgrediu. Sem falar alto, pedirá a
Deus perdão da falta que cometeu, e aceitará de bom grado,
por amor a Ele, a correção que vai receber. Depois, o mestre
lhe fará sinal de dirigir-se ao local de aplicação da correção,
e ele o fará modestamente, com os braços cruzados. Assim
que ali chegar, se preparará e se manterá pronto para receber
a correção, de sorte que, ao chegar, o mestre não necessite
fazer nada a não ser bater. O aluno se preparará, no entanto, e
se manterá de tal maneira que não possa ser visto em situação
minimamente inconveniente por nenhum aluno605.
GE 15,7,9 Essa prática – de o próprio aluno preparar-se a fim de receber o
castigo, sem que o mestre se veja de forma alguma obrigado a
tocá-lo – será observada muito rigorosamente e, caso alguém
faltar nisso, será severamente castigado.

604
1720 omite: as varas ou o açoite (relembrando que este último desapareceu
completamente não só nesta passagem mas em toda a edição impressa). Vale
acrescentar que, no processo de eliminação gradativa dos castigos físicos nas
escolas lassalistas, o Capítulo Geral de 1777, além do uso do açoite, proibirá
também o uso das varas. E a palmatória é totalmente abolida em 1860. Como
observa o Irmão Anselme (1951, p. 150), à medida que as correções foram
diminuindo, cresceu também a humanização das penitências e a progressiva
multiplicação das recompensas de todo tipo.
605
Em 1720, a primeira parte deste parágrafo (Depois deste sinal...a não ser bater)
desaparece do texto. E a parte final (O aluno... nenhum aluno) sofre variações:
E o aluno se dirigirá imediatamente a ele (ao lugar de aplicação do castigo) e
se preparará para recebê-lo, mantendo-se de tal maneira que não possa ser visto
indecentemente por ninguém.
182 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 15,7,10 Enquanto o aluno se estiver dispondo a receber a correção, o


mestre se preparará interiormente a aplicá-la com espírito de
caridade e unicamente em vista de Deus. Depois, sairá de seu
lugar pausada e gravemente.
GE 15,7,11 Chegado ao local onde se encontra o aluno, o mestre poderá
dizer-lhe algumas palavras a fim de o dispor a receber o cas-
tigo com humildade, submissão e disposição de se emendar.
A seguir, lhe aplicará, ordinariamente, três batidas. Estará
atento a que, ao dá-las, o aluno não coloque as mãos atrás de
si – sobre o que o deve ter avisado antes – e o estimulará a
receber a correção por amor de Deus606.
GE 15,7,12 O mestre estará atento a não colocar a mão no aluno, sob
qualquer pretexto que seja, enquanto lhe aplicar a correção.
GE 15,7,13 Caso o aluno não estiver preparado, o mestre retornará a seu
lugar sem dizer nada e, quando voltar, infligir-lhe-á a correção
mais forte ordinariamente permitida, ou seja, cinco batidas.
GE 15,7,14 Todos os alunos serão avisados de que deverão estar prontos
para receber a correção antes que o mestre chegue para aplicá-
la e de que, se então não estiverem preparados, receberão
cinco golpes de vara ou de açoite607.
GE 15,7,15 De volta a seu lugar, o mestre permanecerá tranquilo e, algum
tempo depois, se dirigirá novamente ao aluno.
GE 15,7,16 Se este não se mostrar submisso e não estiver preparado, o
próprio mestre o preparará, e, se necessário, pedirá que o
ajude o Irmão encarregado disso nessa escola. Em seguida,
o aluno receberá oito batidas por correção608. O mestre terá
com ele o mesmo proceder usado com os teimosos, se-
gundo indicado acima. Terá, no entanto, o cuidado de, em
semelhantes ocasiões, aliar a firmeza com a moderação.

606
Esta última frase – estará atento...amor de Deus – não consta no texto impresso
de 1720.
607
Deste parágrafo, 1720 não conserva: para aplicá-la e de vara ou de açoite.
608
1720 elimina: ...o próprio mestre... por correção.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 183

GE 15,7,17 Quando o mestre tiver sido, assim, obrigado a coagir um


aluno a receber a correção, procurará, algum tempo depois,
fazer-lhe reconhecer e confessar sua falta, cair em si e tomar
firme e sincera resolução de nunca mais deixar-se levar a
semelhante obstinação.
GE 15,7,18 Quando o mestre, que tiver sido obrigado a coagir o aluno
que puniu, tiver voltado a seu lugar, o aluno irá609 (colocar-
se) humildemente610 de joelhos e de braços cruzados, diante
dele, a fim de lhe agradecer a correção recebida. A seguir, se
voltará para o crucifixo, para dar graças a Deus e prometer-
lhe, ao mesmo tempo, não mais recair na falta pela qual acaba
de ser castigado. Isso o fará sem falar alto. Depois, o mestre
lhe fará sinal para voltar a seu lugar.

GE 15,8 Artigo 8º
Do lugar onde devem ser aplicados os castigos e dos
momentos em que devem ou não devem ser aplicados
GE15,8,1 O mestre nunca deverá abandonar seu lugar para aplicar a
palmatória e, se ocorrer de não estar nele, voltará a ele para
isso.
GE15,8,2 As correções comuns com as varas ou com o açoite serão
aplicadas num dos recantos afastados611 da sala, onde a nudez
do castigado não possa ser vista pelos outros. Deve-se prestar
muita atenção a isso e inspirar aos alunos grande horror pelo
mínimo olhar nesse momento.
GE15,8,3 As correções extraordinárias por certas faltas especiais e
muito graves em comparação com outras, como, por exem-
plo, haver furtado, desobedecido ou resistido ao mestre, etc.,
devem ser aplicadas em público, quer dizer, na presença dos
alunos e no meio da sala, a fim de lhes servir de exemplo e
impressioná-los mais fortemente.

609
1720 substitui a parte inicial (Quando o mestre... o aluno irá) por: Depois que
o aluno tiver sido corrigido, ele irá
610
1720 adiciona: no meio da sala
611
1720: mais afastados e menos iluminados da sala,
184 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE15,8,4 Por faltas muito graves e fora do comum, será, inclusive,


recomendável corrigir um aluno em todas as classes.
GE15,8,5 Não se deve castigar durante o catecismo e as orações. O que
o mestre pode e deve fazer nestes momentos é fixar bem os
que cometeram alguma falta e nada lhes falar, mas dar, em voz
baixa, seus nomes a um aluno de confiança, com o encargo e a
comissão de relembrá-los ao mestre em outro momento, que
lhe indicará612.
GE15,8,6 Tampouco se deve dar castigos nos domingos e festas.
GE15,8,7 As correções com as varas e o açoite613 serão aplicadas pre-
ferentemente após o meio-dia; e nunca serão dadas no final
da aula.
GE15,8,8 Não se fará nada614 na igreja ou nas ruas, que pareça castigo,
como seria, por exemplo, bater com a mão, puxar a orelha
ou os braços, etc., coisas que denotam impaciência, que são
inapropriadas e615 muito opostas à gravidade e à moderação
que um mestre deve sempre manifestar, particularmente
nesses locais.

GE 15,9 Artigo 9º
Das penitências

Seção 1ª
Do uso das penitências, das condições que devem ter e do
modo de impô-las
GE15,9,1 O uso das penitências será muito mais comum nas escolas
que o das correções. Elas aborrecerão menos os alunos,

612
1720 acrescenta: Entretanto, quando achar que a punição é imprescindível,
poderá, alguma vez, mas raramente, aplicar alguns golpes de palmatória
durante o catecismo.
613
1720 suprime: com varas e o açoite
614
1720, em lugar de: não se fará nada, escreve: É igualmente muito importante
nada fazer
615
1720 elimina: inapropriadas e
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 185

causarão menos desgosto aos pais e serão, com frequência,


muito616 proveitosas.
GE 15,9,2 Os mestres as utilizarão para compungir os alunos e dispor-
lhes o coração para se corrigirem das faltas.
GE 15,9,3 Elas serão medicinais e proporcionadas às faltas cometidas
pelos alunos, para que possam ajudá-los a satisfazer por elas
diante de Deus e sejam, mesmo, remédio preventivo que lhes
impeça recair nelas no futuro.
GE 15,9,4 Os mestres terão muito cuidado para que as penitências
impostas não sejam ridículas, que não consistam apenas em
palavras, e que sejam cumpridas somente na classe do mestre
que as impôs e nunca em outra617.
GE 15,9,5 Jamais serão dadas penitências que possam, por sua natureza,
excitar ao riso, como seria a de colocar um tamanco ou um
sapato em sua boca, manter a cabeça voltada para trás, etc.,
numa palavra tudo o que pode dissipar os alunos, prejudicar
o silêncio e a ordem na escola: qualquer coisa que faça perder
tempo e não tenha utilidade jamais deve ser imposta como
penitência618.
GE 15,9,6 Os mestres não darão nenhuma penitência fora das usuais
nas escolas e constantes na seção seguinte. E não imporão
penitências extraordinárias sem tê-las proposto previamente
ao Irmão Diretor e sem este haver dado sua anuência.
GE 15,9,7 Quando o mestre impuser uma penitência a algum aluno, ele
o fará com autoridade619, sentado em seu lugar e de maneira
muito séria, capaz de inspirar respeito a quem a receber, e de
lhe fazer praticá-la com humildade, simplicidade e edificação
para os demais.

616
1720: mais proveitosas.
617
1720 substitui: na classe do mestre que as impôs e nunca em outra, por: na
classe a que pertence o aluno que tiver cometido a falta.
618
1720, deste parágrafo, conserva apenas: Não será dada penitência que possa
prejudicar o silêncio e a ordem na escola: qualquer coisa que faça perder tempo
e não tenha utilidade jamais deve ser imposta como penitência.
619
1720 não registra: com autoridade
186 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 15,9,8 Quando o mestre quiser impor uma penitência a algum


aluno, far-lhe-á o sinal usual para se dirigir até o meio da
sala e pôr-se de joelhos e de mãos juntas. Primeiro, apontará,
com o sinal, para o aluno; depois, com o mesmo sinal, ao
meio da sala. Em seguida, juntará as mãos para significar
ao aluno que ele as junte. Coisas que só serão feitas na
imposição das penitências para mostrar ao aluno ao qual
o mestre a quer impor e, também, aos demais, que é para
receber uma penitência que o aluno está assim ajoelhado no
meio da sala620.
GE 15,9,9 Estando o aluno assim ajoelhado no meio da sala, o mestre,
pronunciará621, com seriedade, a penitência, dizendo a falta
pela qual a impõe, sem dizer uma palavra além do conteúdo
da penitência, dizendo, por exemplo, com tom alto, grave e
inteligível: “Por ter chegado atrasado hoje, você, durante oito
dias, será o primeiro622 a chegar à escola e, se faltar a isso,
estará no lugar onde se recebe a correção quando eu entrar na
sala de aula”623.
GE 15,9,10 Depois de o mestre haver imposto a penitência, o aluno lhe
fará um inclinação para lhe agradecer. A seguir, ficará ainda
algum tempo de joelhos, voltado para o crucifixo, a fim de
manifestar a Deus de que aceita de bom grado a penitência
e para pedir-lhe a graça de cumpri-la com fidelidade e pura-
mente624 por amor a Ele. Depois, o mestre lhe fará sinal para
voltar a seu lugar.
GE 15,9,11 Todas as penitências serão impostas dessa forma: o aluno não
dizendo uma só palavra, e o mestre, nenhuma além daquelas

620
1720, além de introduzir nele algumas variantes, abrevia esse parágrafo, eli-
minando a última parte: Coisas que... no meio da sala.
621
Este início – Estando...o mestre pronunciará – em 1720 é encurtado: Após isso,
ele pronunciará...
622
1720: será dos primeiros
623
1720 substitui a parte final por: e se faltar a isso, você será corrigido, o que
deverá ser feito realmente quando o aluno menos pensar nisso.
624
1720 elimina: puramente
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 187

de que se servirá para indicar a penitência, assim como no


exemplo apresentado acima.
GE 15,9,12 Quando as penitências tiverem sido dadas para serem cum-
pridas em momento diferente daquele em que são impostas,
o mestre encarregará algum aluno ou a vários625 para obser-
varem aquele a quem ela foi dada, verificar se a cumpre e,
depois, informá-lo disso, e fazer-lhe recordá-la626.

GE 15,9,13 Seção 2ª
Catálogo das penitências em uso e que podem ser impostas
aos alunos por faltas cometidas
Quando um aluno chegar atrasado627 pela segunda vez numa
semana, em lugar de lhe aplicar um castigo, poderá ser-lhe
imposta como penitência, durante 8 ou 15 dias, estar na escola
no momento de se abrir a porta, ordenando ao inspetor628
verificá-lo.
GE 15,9,14 Quando um aluno se concentrar na comida a ponto de perder
a atenção que deve ter para escutar ou as orações, ou as
respostas à santa Missa, ou o catecismo, se poderá impedi-lo
de desjejuar629.
GE 15,9,15 Se um aluno cometer vários erros na leitura por não havê-
la preparado, pode-se impor-lhe a memorização de algo do
livro da Imitação ou do Novo Testamento630 ou, mesmo,
toda a lição631 que não estudou, o que poderia ser o mais
acertado. Também se poderia fazê-lo ler, de acordo com sua
capacidade, uma ou duas páginas depois de os outros terem

625
1720: encarregará vários alunos
626
1720 substitui: e fazer-lhe recordá-las, por: sem falhar.
627
1720 acrescenta: por sua culpa
628
Não o Irmão Inspetor das escolas, mas o aluno inspetor de sua classe, ofício
previsto em 18,7. 1720, aliás, o esclarece, escrevendo: inspetor da classe.
629
1720 troca: se poderá impedi-lo de desjejuar, por: será colocado de joelhos
durante certo tempo.
630
1720: algo do catecismo da diocese
631
1720: uma parte da lição
188 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

lido, acenando-lhe com tantas batidas com a vara quantos


forem os erros que cometer632.
GE 15,9,16 Se é da primeira ordem, pode-se dar-lhe meia página para ler;
se é da segunda, se lhe dará uma página; e se da terceira, duas
páginas633.
GE 15,9,17 Caso um aluno não seguir a lição, pode-se aplicar-lhe, como
penitência, conservar o livro em sua frente sem tirar dele a
vista, durante meia hora.
GE 15,9,18 Se um aluno não tiver escrito o que lhe cabe escrever ou não
se tiver aplicado a fazê-lo bem, pode-se prescrever-lhe, como
penitência, escrever, em casa, uma ou duas páginas de certas
letras, palavras ou sentenças, esforçar-se por fazê-lo bem, e
trazer o escrito na aula seguinte.
GE 15,9,19 Quando um aluno não tiver sido respeitoso durante as
orações, ou não tiver rezado, pode-se ordenar-lhe ficar, por
um ou vários dias, no meio da sala durante a oração, com
as mãos juntas, os olhos baixos e em grande modéstia, com
a advertência de que será castigado se levantar os olhos ou
cometer a mínima634 imodéstia.
GE 15,19,20 Se um aluno se tiver dissipado na igreja, pode-se mandá-lo
ouvir uma segunda Missa ao final das aulas, ou, se não há
mais missa, fazer que fique meia hora na igreja635.
GE 15,9,21 Se um aluno, enquanto de joelhos, se tiver sentado sobre
os calcanhares, será mandado ficar de joelhos na escola por

632
1720: acenando-lhe com um castigo se não souber melhor a lição.
633
1720: Esse item com suas discriminações é substituído por afirmação genérica
mais aberta: Dar-se-lhe-á para ler trecho maior ou menor, de acordo com a
ordem da lição em que se encontra.
634
1720: qualquer outra
635
1720 substitui este parágrafo por: Igual proceder se adotará com os que tiverem
sido dissipados na igreja: pode-se mandá-los ficar de mãos postas durante toda
a santa Missa do dia seguinte, sem voltar a cabeça, nem erguer os olhos, e
outras coisas semelhantes.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 189

tempo considerável636, e se fará com que fique por longo637


tempo em pé, com as mãos juntas, os olhos baixos ou fixados
no crucifixo ou em qualquer outra imagem, desde que não
seja durante a lição638.
GE 15,9,22 Far-se-á639 que fiquem de pé os que se debruçarem sobre a
mesa ou tiverem postura desleixada ou inconveniente.
GE 15,9,23 Quando um aluno não tiver memorizado o catecismo do dia
anterior, será obrigado a estudá-lo e a recitá-lo sem cometer
nenhum erro e sem nada omitir. Ou se fará com que o recite ao
final das aulas, ou se lhe exigirá escutá-lo de pé, com a cabeça
descoberta640 e as mãos juntas, ou se lhe imporá estudar, num
dia, uma ou duas lições de catecismo, de acordo com sua
capacidade.
GE 15,9,24 Se um aluno não souber perfeitamente a lição641 que lhe cabia
estudar durante a semana, será obrigado a aprendê-la e recitá-
la na segunda-feira642. E, além disso, se lhe dará para aprender,
na semana seguinte, muito mais que a outro, segundo sua
capacidade, e643 se lhe exigirá sabê-la perfeitamente, sem co-
meter nenhum erro, sob pena de castigo duplo e de continuar
fazendo a mesma penitência na semana seguinte.
GE 15,9,25 Caso um aluno tiver brincado ao voltar da escola, antes de ter
guardado seus livros, se lhe ordenará não brincar durante três
dias, dando-se a vários alunos ordem de estarem atentos a ele
para verificar se deixou de fazê-lo644.
GE 15,9,26 Para castigar os oficiais por não haverem desempenhado bem
seu ofício, se poderá destituí-los dele por alguns dias, e fazer-

636
1720: aproximadamente meia hora,
637
1720: algum
638
1720: suprime a parte final: ou em qualquer outra... a lição.
639
1720: Far-se-á também
640
1720 suprime: com a cabeça descoberta
641
1720 acrescenta: de catecismo
642
1720 acrescenta: ou na terça-feira.
643
1720 elimina desde: além disso até sua capacidade, e
644
1720 não traz este item.
190 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

lhes sentir algum vexame. Uma das penitências mais apro-


priadas e úteis consiste em dar aos alunos algo a decorar.

GE 16 Capítulo 16
Das ausências

GE 16,1 Artigo 1º
Dos diferentes tipos de ausências645

GE 16,1,1 Seção 1ª
Das ausências regulamentadas e autorizadas
Existem alunos que pedem autorização para ausentar-se sis-
tematicamente todos os dias da semana durante determinado
tempo. Tal permissão poderá ser concedida com parcimônia,
e pelos motivos seguintes, após havê-los bem examinado:
GE 16,1,2 Poder-se-á conceder licença a certos alunos para faltarem
à escola alguma vez, durante a semana, por exemplo, para
trabalhar nos dias de feira, ou em virtude de seu emprego,
desde que não seja depois do meio-dia646, e que o motivo seja
o trabalho e nenhum outro.
GE 16,1,3 Pela mesma razão, poder-se-á também permitir que alguns
alunos diariamente venham à escola só depois do meio-dia;
mas, não se permitirá a ninguém frequentar a aula unicamente
pela manhã.
GE 16,1,4 Também se poderá permitir, pela mesma razão, que alguns
alunos venham à escola de manhã somente às nove horas e à
tarde somente às três, desde que permaneçam até o fim (das
aulas)647.

645
1720 exclui o título: Art. 1º Dos diferentes tipos de ausências
646
A sequência do texto (16,1, 5 e 6) esclarece o motivo: não faltar ao catecismo e
à oração.
647
1720 modifica este parágrafo e o completa com justificativa: Proceder-se-á de
maneira tal a não permitir a nenhum aluno entrar somente às nove horas da
manhã, ou de tarde, às três horas, porque, além de isso perturbar a ordem da
escola, levaria a muitos outros a querer fazer o mesmo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 191

GE 16,1,5 Não se permitirá ao aluno que veio à aula desde o começo


sair antes do catecismo, mas todos os alunos serão obrigados
a assistir ao catecismo e à oração648.
GE 16,1,6 Poder-se-á, no entanto, alguma vez, por razão grave, permitir
aos que trabalham e, inclusive, de forma permanente, aos
que escrevem, virem649 desde o início das aulas, para ler ou
escrever, e sair antes do final das mesmas, desde que venham
também depois do meio-dia e assistam ao catecismo e à
oração.

GE 16,1,7 Seção 2ª
Das ausências não regulamentadas que podem ou não ser
permitidas
Acontece, algumas vezes, alunos solicitarem licença para
se ausentar aos domingos e festas, uns para passear, ou para
visitar parentes; outros, para ir em peregrinação650, e outros a
alguma confraria.
GE 16,1,8 Não se permitirá a nenhum aluno651 ausentar-se do catecismo
nos domingos e festas, por nenhuma dessas razões652.
GE 16,1,9 Às vezes653, nos dias de aula, pode-se permitir a alunos ir
em peregrinação a lugares distantes da cidade, e em que há
ordinariamente grande afluência de povo, se forem com os
pais e estiver claro que é unicamente a piedade e a devoção
que os leva a elas654. Esta permissão só lhes será concedida
se os seus pais a pedirem por eles. Mas não se lhes permitirá

648
1720 formula assim este parágrafo: Tampouco se poderá permitir a algum
outro vir à escola após o meio-dia e sair antes do catecismo; mas todos os
alunos serão obrigados a assistir a ele diariamente, bem como à oração.
649
1720 acrescenta: de manhã
650
1720, em lugar de: em peregrinação, coloca: a alguma festa de aldeia,
651
1720: nem a uns, nem a outros
652
1720 acrescenta: a menos que seja alguma vez de passagem, e não sistemati-
camente, e que os pais o solicitem para eles.
653
1720 elimina: às vezes,
654
1720 omite o restante do parágrafo (Esta permissão... outros rapazes).
192 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

jamais irem a elas ou participarem nelas com outros colegas


ou outros rapazes.
GE 16,1,10 Tampouco655 se lhes permitirá ausentar-se das aulas a fim de
participar de procissões, exceto a do Santíssimo Sacramento,
se for realizada nalguma paróquia em dia de aula.
GE 16,1,11 Permitir-se-á aos alunos faltarem às aulas no dia da festa do
padroeiro da paróquia em que residem, no caso de ela ser
solene e os paroquianos a comemorarem.
GE 16,1,12 Aos alunos cujos pais exercem algum ofício pode-se permitir
faltarem à aula no dia da festa do patrono deste ofício. Serão,
contudo, estimulados a virem à escola na tarde deste dia.
GE 16,1,13 Não se permitirá a nenhum aluno ausentar-se no dia da festa
de seu patrono, ou do patrono de seu pai ou de sua mãe, ou de
algum outro dos seus parentes656.
GE 16,1,14 Não se permitirá aos alunos ausentar-se da escola para
irem comprar roupas, sapatos, boné, ou por qualquer outra
necessidade semelhante, a menos que pareça realmente im-
possível aos pais encontrarem, para essas necessidades, tem-
po diferente do da escola, como poderia ocorrer alguma vez
durante o inverno.
GE 16,1,15 Tampouco se permitirá aos alunos ausentar-se da escola para
cuidar da casa, para levar algum recado, para remendar as
roupas, ou para qualquer outra coisa semelhante, a não ser
que isso pareça absolutamente necessário e não possa ser
adiado para outro tempo657.
GE 16,1,16 Não se permitirá a nenhum aluno ausentar-se na segunda e
na terça-feira antes da Quaresma. É preciso ser muito fiel na

655
1720: Mas não
656
1720 não conserva este parágrafo.
657
1720, introduzindo modificação, sintetiza num só os parágrafos 16,1,14 e
16,1,15. Desta forma: As crianças serão autorizadas a faltarem às aulas para
comprar meias, sapatos, etc., e mesmo para remendar as roupas quando isso
parece absolutamente necessário e os pais não dispõem de outro tempo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 193

observância dessa prática, a ser considerada de grandíssima658


importância.

GE 16,2 Artigo 2º
Das causas das ausências e de como remediá-las
GE 16,2,1 Quando os alunos se ausentam facilmente, é, ou por culpa dos
próprios alunos e de seus pais, ou por culpa dos mestres e dos
visitantes.659
GE 16,2,2 A primeira causa da ausência dos alunos provém deles mes-
mos, ou por leviandade, ou por indisciplina, ou por estarem
descontentes com a escola, ou por terem pouca afeição ao
mestre, ou se terem desgostado dele.
GE 16,2,3 Os que se ausentam por leviandade são os que seguem a pri-
meira ideia que lhes vem à mente, e à imaginação660 que vão
correr, ou brincar, ou passear com o primeiro que encontram,
e que agem geralmente sem reflexão.
GE 16,2,4 É muito difícil impedir que tais alunos deixem de se ausentar
de vez em quando. Tudo o que se pode fazer é procurar tornar
suas ausências raras e de curta duração.
GE 16,2,5 Esses alunos deverão ser pouco castigados pelas ausências,
pois, arrastados pela leviandade661, por não refletirem nem
sobre o que lhes foi dito nem sobre a correção recebida,
faltarão de novo no dia seguinte ou na primeira oportunidade.
Serão estimulados a vir à escola mais por meio da bondade
e conquistando-os por uma outra motivação, do que pelo
castigo e a dureza.
GE 16,2,6 Os mestres terão o cuidado de estimular, de vez em quando,
esse tipo de temperamentos, e de animá-los com recompensas,

658
1720: de grande importância.
659
Visitantes dos ausentes: Ofício previsto em GE 18,9. 1720 elimina: e dos
visitantes.
660
1720 elimina: e à imaginação, bem como correr e passear, que vêm a seguir.
661
1720 elimina: arrastados pela leviandade,
194 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

e de torná-los assíduos662 à escola por algum emprego exte-


rior que os ocupe nela e que os torne dóceis, se forem capa-
zes de exercê-lo. Sobretudo nunca os deverão ameaçar com
correção.
GE 16,2,7 A segunda razão pela qual os alunos se ausentam é à indis-
ciplina, ou porque não são capazes de sujeitar-se a estar um dia
inteiro num mesmo lugar, atentos e com a mente concentrada,
ou porque gostam de correr e brincar663.
GE 16,2,8 Esse tipo de crianças estão ordinariamente inclinadas ao mal,
e a sua indisciplina desemboca no vício. Por isso, é preciso
empenhar-se com grandíssima diligência para remediar suas
ausências, e nada há que não se deva fazer para as prevenir ou
coibir.
GE 16,2,9 A esses alunos será muito útil confiar-lhes um ofício, se forem
julgados capazes664. Isso desenvolverá neles afeição pela
escola e, algumas vezes, inclusive, será causa de se tornarem
modelo para os demais.
GE 16,2,10 É muito necessário conquistá-los e estimulá-los e, por outro
lado, ter firmeza com eles e corrigi-los ao procederem mal ou
faltarem às aulas. Porém, demonstrar-lhes muito apreço pelo665
bem que fazem e recompensá-los por pouco que realizem. E
isso só deve ser feito com esse tipo de temperamento e com
os de temperamento leviano666.
GE 16,2,11 A terceira razão por que os alunos faltam é por estarem
descontentes com a escola. Isso pode provir ou do fato de o
mestre ser novo667, sem suficiente formação, e não saber bem

662
1720 elimina: e de torná-los assíduos à escola e que os ocupe nela e que os
torne dóceis,
663
Ter presente que as escolas primárias do tempo normalmente não dispunham de
pátio e que os horários não previam momento de recreio.
664
1720 suprime: se forem julgados capazes.
665
1720: pelo pouco bem
666
1720 elimina a última frase: E isso... leviano.
667
1720 acrescenta: no exercício do magistério,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 195

como agir numa sala de aula, e como impor-se aos alunos668;


ou por ser demasiado frouxo, o que faz que não tenha nem
ordem, nem silêncio na classe.
GE 16,2,12 O remédio para esse tipo de ausência consiste em não deixar
o mestre sozinho numa classe, não lhe confiando inteiramente
a regência dela antes de estar perfeitamente formado por
Diretor de grande experiência nas escolas.
GE 16,2,13 Essa prática é de grande importância, para o bem dos mestres
e dos alunos, e para impedir as frequentes ausências, bem
como várias outras desordens.
GE 16,2,14 Em relação aos mestres frouxos, sem ordem e bom proce-
der na classe, o remédio será o Diretor669 vigiar e fazer vigiar
sobre eles e fazer-lhes dar contas de tudo o que se passa na
aula670. Sobretudo, que vigie sobre os ausentes, e seja muito
firme com eles; e que seja muito fiel em impor uma penitência
a este tipo de mestres, quando tiverem falta-do a algum de
seus deveres, por menor e pouco importante que pareça.
GE 16,2,15 A quarta razão por que os alunos se ausentam da escola é por
terem pouca afeição ao mestre, que não é atraente, não sabe
como conquistá-los671; que tem exterior fechado e rude; que
os afugenta, grita com eles ou bate neles facilmente; e que,
em toda circunstância, os únicos recursos a que apela são o
rigor, a dureza e os castigos. O que faz com que os alunos não
queiram mais vir à escola.
GE 16,2,16 Os remédios a esse tipo de ausências serão os mestres se
esforçarem por se tornarem muito atraentes, apresentarem
exterior afável, digno e acolhedor, sem, contudo, assumir ar
de vulgaridade nem de familiaridade. Que se façam tudo para

668
1720 elimina: e como impor-se aos alunos. Mas adiciona, em seguida: recor-
rendo imediatamente às correções.
669
1720: o Irmão Diretor ou o primeiro mestre
670
1720: O resto do parágrafo recebe nova redação: Sobretudo se tiverem des-
cuidado a atenção aos ausentes ou faltado a algum de seus deveres, por menor
e pouco importante que pareça.
671
1720: O restante do parágrafo é mais enxuto: e que, quase em toda circunstância,
os únicos recursos a que apela são o rigor e os castigos, o que faz com que os
alunos não queiram mais vir à escola.
196 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

todos os alunos, para ganhá-los todos a Jesus Cristo672, e que


se persuadam de que a autoridade, na escola, se adquire e se
mantém, mais através da firmeza, da gravidade e do silêncio,
do que pelos golpes e a dureza – numa palavra, que a causa
principal das frequentes ausências dos alunos é a frequência
dos castigos.
GE 16,2,17 A segunda causa das ausências dos alunos vem da parte dos
pais: ou porque se descuidam em enviá-los à escola, muito
pouco se importando que a frequentem e sejam assíduos
– o que é bastante comum entre os pobres – ou por serem
indiferentes e frios673 com relação à escola, persuadidos de
que os filhos nela não aprendem nada ou muito pouco, ou
porque os fazem trabalhar.
GE 16,2,18 O meio de remediar à negligência dos pais, sobretudo dos
pobres será, [primeiramente] falar com eles e fazer-lhes tomar
consciência da obrigação que têm de fazer instruir seus filhos
e do prejuízo que lhes causam não os fazendo aprender a ler
e a escrever; o quanto isso pode ser danoso para eles; que
praticamente nunca serão aptos a emprego nenhum, por não
saberem ler ou escrever. Disso é que se deve procurar fazer-
lhes tomar consciência mais do que do prejuízo que pode
causar aos filhos a falta de instrução sobre as coisas referentes
à salvação, ponto que ordinariamente pouco sensibiliza aos
pobres, eles mesmos não se importando com a religião674.
GE 16,2,19 Segundo: Como esse tipo de pobres são geralmente aqueles
a quem se dá esmolas, é preciso comprometer aos senhores
curas das paróquias e as damas de caridade, a não lhes dar nem
lhes facilitar nenhum tipo de esmola enquanto não enviarem
seus filhos à escola675. Deve-se mesmo entregar-lhes uma lista

672
1Cor 9,22.
673
1720 não conserva este adjetivo, bem como a afirmação final (ou porque os
fazem trabalhar).
674
A frase final deste parágrafo recebe, em 1720, outra formulação, a saber: Em
seguida, é preciso mostrar-lhes o prejuízo que pode causar aos filhos a falta de
instruções sobre as coisas referentes à salvação, ponto que muitas vezes pouco
sensibiliza aos pobres.
675
1720 elimina (por repetitivo ou óbvio): comprometer aos senhores curas das
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 197

de todos os que não a frequentam, com o nome e a idade


deles, com o nome de seu pai e mãe, com sua paróquia e
residência, para não se dar nenhuma esmola aos pais, e que os
senhores curas os possam obrigar a enviar os filhos à escola.
GE 16,2,20 Terceiro: É preciso tratar de atrair esse tipo de crianças, fazê-
las vir à escola, e conquistá-las por todos os meios possí-
veis, o que poderá produzir, muitas vezes, bom resultado
porque, comumente, os filhos dos pobres só fazem o que lhes
dá vontade, não tendo os pais o menor cuidado com eles,
inclusive idolatrando-os: o que as crianças desejam, os pais
e as mães também querem. De maneira que, bastará os filhos
quererem ir à escola, para os progenitores estarem satisfeitos
com enviá-los à mesma.
GE 16,2,21 Quando os pais retiram os filhos muito pequenos da escola
ou quando não estão ainda suficientemente instruídos, para
fazê-los trabalhar, é preciso [fazer]-lhes compreender que os
prejudicarão muito, e que, para lhes fazer ganhar pouca coisa,
privam-nos de vantagem bem mais considerável. Para isso,
é preciso fazer-lhes ver o importante que é, para um artesão,
saber ler e escrever, pois, por pouco inteligente que seja,
sabendo ler e escrever, é capaz de tudo. É preciso persuadir
os pais a enviarem os filhos, ou uma hora tanto de manhã
como de tarde, ou a tarde inteira676. Há também necessidade
de cuidar, de maneira especial, desse tipo de alunos e lhes
dedicar atenção.
GE 16,2,22 Se677 acontecer os pais se queixarem de que os filhos não
aprendem nada ou muito pouca coisa e que, por este motivo,
desejam retirá-los da escola, é preciso obviar esse inconve-

paróquias e as damas de caridade a não lhes dar nem lhes facilitar nenhum
tipo de esmola enquanto não enviarem seus filhos à escola... com o nome de seu
pai e mãe, com sua paróquia... E substitui: e que os senhores curas os possam
obrigar por: e para que se possa obrigá-los e pressioná-los...
676
1720 substitui: ou uma hora tanto de manhã como de tarde, por: se não todo o
dia, ao menos a tarde inteira.
677
1720: Elimina o 1º e 2º de 16,2,22. Elimina o 16,2,23. Liga o início do 16,2,22
com o 16,2,24: ...obviar esse inconveniente: Os Diretores das casas...
198 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

niente: 1º não colocando, na classe dos que escrevem, mestre


que não seja capaz de ensinar a escrever; 2º procurando não
colocar ou deixar, em nenhuma sala de aula, mestre que não
seja capaz de desemcumbir-se adequadamente de seu dever e
de ensinar bem as crianças a seu encargo.
GE 16,2,23 Como a capacidade dos mestres não é igual, e alguns são na-
turalmente mais firmes, vigilantes e empenhados que outros,
podendo, assim, ensinar a um número maior de alunos do
que aqueles em que essas qualidades são menores e menos
amplas, deve-se adequar o número de alunos à capacidade
dos mestres, para que estes possam ensinar bem aqueles de
que estão encarregados.
GE 16,2,24 Os Diretores das casas ou os Inspetores das escolas devem
acompanhar muito fielmente a todos os mestres a seu en-
cargo, especialmente os menos capazes, e zelar para que
instruam cuidadosamente aos alunos a seus cuidados, não
negligenciem a nenhum deles e que se apliquem igualmente
a todos e, inclusive, mais aos ignorantes e mais negligen-
tes; que todos os mestres façam reinar ordem nas classes e
que os alunos não se ausentem facilmente, já que a causa
de nada aprenderem é a liberdade que se lhes concede para
faltarem às aulas.
GE 16,2,25 A terceira causa por que os alunos se ausentam facilmente
é porque o Inspetor das escolas ou678 os mestres são muito
tolerantes com as ausências e muito facilmente recebem e
desculpam os alunos que se ausentaram sem permissão, ou
porque os mestres são demasiado condescendentes para dar
aos alunos permissão de faltarem às aulas.
GE 16,2,26 O meio para remediar esses males é cada mestre ser fiel em
estar atento aos visitantes679, que estes assinalem com preci-
são os ausentes de seu quarteirão680, que visitem a todos, que

678
1720 elimina: o Inspetor das escolas ou
679
1720: aos que vão à casa dos ausentes,
680
1720: Elimina: que estes assinalem...quarteirão, e: que se informe...o escusa.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 199

não se deixem enganar por falsas razões, e depois informem o


mestre sobre as causas aduzidas; que o Inspetor exija dos pais
que tragam de volta os filhos que se tiverem ausentado e não
receba nenhum aluno ausente sem conhecer e sem examinar
bem as razões que teve para não comparecer; que se informe
também junto ao mestre antes de recebê-lo e, se tiver dúvida
e não souber nada de outra fonte, que se informe junto ao
progenitor que o escusa.
GE 16,2,27 Os motivos mais comuns são: os pais necessitam deles, esti-
veram doentes ou se ausentaram por malandragem.
GE 16,2,28 Relativamente à primeira razão, para ser boa e válida, é pre-
ciso que a necessidade seja considerável e rara.
GE 16,2,29 Quanto à segunda, para ser boa e válida681, o Inspetor e o
mestre não a aceitarão, se o aluno foi visto fora de casa ou
brincando com outros alunos. Cada mestre zelará também
para que os visitantes visitem todos os alunos enfermos, e
que o informem sobre o estado em que os encontraram.
GE 16,2,30 Com relação aos malandros, o Inspetor e o mestre observa-
rão o que foi dito acima, no artigo que trata dos alunos que
devem ou não devem ser castigados. Não os corrigirão eles
mesmos, mas exigirão que os pais os punam em casa, antes
de reenviá-los à escola.
GE 16,2,31 Referente aos que se ausentaram sem autorização sob o
pretexto de que os pais precisam deles, não se deve escusá-los
facilmente. Como são, geralmente, os mesmos a caírem nessa
falta, se pouco se importam em faltar três ou quatro vezes, é
preciso disligá-los e só reaceitá-los depois se tanto eles como
seus pais estiverem dispostos a pedir autorização cada vez
que se forem ausentar.
GE 16,2,32 Mas uma das coisas a que os mestres devem estar mais
atentos é de não conceder facilmente licença de ausentar-se,
o que ocasionaria grande desordem nas escolas, e seria causa
de que nelas sempre alguns estariam ausentes. É necessário

681
1720 elimina: para ser boa e válida,
200 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

que os mestres se mostrem sempre resistentes para conceder


tais licenças: que não as concedam sem terem bem analisado
as razões, e as tenham julgado muito boas e necessárias; e,
se têm dúvidas quanto a isso, que consultem o Diretor ou
o Inspetor. É necessário também que, além da resistência
mostrada, concedam tais licenças só muito raramente682.
GE 16,2,33 Ausências devidas a motivos leves devem ser raras. É pre-
ciso que os mestres e, sobretudo, os Inspetores tenham gran-
díssimo cuidado quanto a isso. É preferível excluir os alunos,
a permitir que se ausentem com frequência, o que se constitui
em exemplo muito pernicioso.
GE 16,2,34 Numa escola se encontrarão três ou quatro, no máximo683,
pedindo esse tipo de ausências684. Atendidos, serão motivo
para os demais faltarem com facilidade. É preferível excluir
esses685 alunos e ter 50 bem assíduos, em lugar de uma centena,
faltando a toda hora686; ou, se precisarem, será melhor que
se ausentem em certos dias da semana, ou que todos os dias
venham somente em determinadas horas. O Inspetor estará
atento a isto e será muito rigoroso e firme em fazer observar
este artigo.
GE 16,2,35 Entretanto, antes de desligar alunos por esse motivo ou por
outras razões, o Inspetor687 falará várias vezes com os pais
para fazer-lhes ver quão importante é os filhos frequentarem
assiduamente a escola, sem o que lhes é quase impossível
aprender algo, esquecendo num dia o aprendido em vários.

682
1720 simplifica esse parágrafo: Quando os alunos solicitarem permissão para
faltar, é necessário que os mestres se mostrem sempre resistentes para conceder
tais licenças: analisem bem as razões e, em caso de as haver julgado muito
boas e necessárias, enviem sempre o aluno ao primeiro mestre, para obter a
permissão, que este, no entanto, só concederá muito dificilmente, e sem nunca
atender o aluno se este pedir autorizações recusadas por seu mestre.
683
1720: elimina: no máximo,
684
1720: pedindo ausentar-se.
685
1720: esse tipo de
686
1720 exclui o resto do parágrafo.
687
1720: o mestre.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 201

GE 16,2,36 Nem o Inspetor das escolas, nem os mestres, excluirão688


alunos, a não ser que pareça claro que, tanto eles como os
pais, não se importam689 com tudo o que se lhes possa ter dito
sobre isso690 e, neste caso, não deixarão de desligá-los.
GE 16,2,37 Antes de excluir os alunos por causa das ausências ou por
outras razões, se poderá e é indicado servir-se dos seguintes
meios: 1. Privar o aluno que se tiver ausentado (mesmo com
permissão) de todas as licensas e recompensas que lhe se-
riam dadas se fosse assíduo 2. Não promovê-lo de classe ou
de lição na vez seguinte, mesmo que saiba ler perfeitamente
ou estiver em condições de ser mudado. 3. Não fazê-lo ler,
durante vários dias, ou mesmo uma semana e pôr-se de
acordo com os pais sobre isto, só o recebendo sob esta con-
dição, sem que possa faltar à escola durante esse tempo, por
qualquer razão que seja691. 4. Fazê-lo permanecer, durante
vários dias de pé na aula, perto da porta692 ou, enfim, lançar
mão de alguma penitência que humilhe a ele e moleste a seus
pais, a fim de levá-lo a vir fielmente à escola e obrigar os
progenitores a torná-lo assíduo.
GE 16,2,38 A quarta causa principal das ausências dos alunos são os
visitantes: ou por serem incompetentes para seu ofício, ou
por não registrarem fielmente os ausentes, ou por não irem
as suas casas cada vez que se ausentam, ou por se deixarem
corromper pelos pais ou pelos alunos, para apresentarem
razões falsas.
GE 16,2,39 Para impedir este mal, [1º] é necessário que o Inspetor e o
mestre de cada classe sejam muito cuidadosos para escolhe-
rem bem os visitantes dos ausentes, e cuidem para que pos-
suam todas as qualidades indicadas no artigo em que se fala
destes oficiais; e se, depois, verificarem que não são aptos para
o exercício de seu emprego ou que não o desempenham bem,

688
1720: Não se excluirão os alunos,
689
1720 acrescenta: nem tiram proveito
690
1720 deixa de transcrever: e, neste caso, ...desligá-los.
691
1720 suprime este terceiro meio. Com o que o 4º passa a 3º.
692
1720 elimina: perto da porta
202 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

os mudarão. No entanto, para estimulá-los a desempenha-


rem bem seu ofício, o Inspetor e o mestre cuidarão para que
sejam recompensados todos os meses, cada um na proporção
da sua fidelidade, e de forma que possam deixá-los contentes
e animá-los a desempenharem bem ofício tão importante.
GE 16,2,40 [2º] É necessário que, todos os dias em que houver aula,
o mestre seja fiel em ler os catálogos dos visitantes e dos
primeiros dos bancos, e em cuidar para que uns e outros não
deixem de lhos trazer na hora indicada no artigo referente a
seu ofício; e que examine, ao lê-los, se todos os ausentes estão
fielmente anotados nos dois catálogos, e se estes coincidem
um com o outro.
GE 16,2,41 3º. Para obrigar os visitantes a irem, cada vez e sem falta, à
casa dos ausentes, o mestre pesará bem as razões das ausências
que os visitantes lhes trazem, examinando cuidadosamente a
solidez e coerência das mesmas; fará, de tempo em tempo,
perguntas imprevistas aos visitantes, para surpreendê-los e
verificar se falam a verdade, e se o que dizem é de fato assim
como dizem.
GE 16,2,42 4º. Para melhor reconhecer se os visitantes não se deixaram
corromper pelos alunos ou por seus pais, o mestre lhes proi-
birá, sob pena de punição, receber qualquer coisa dos alunos
ausentes ou de seus pais.
GE 16,2,43 5º. O mestre se informará, em particular, com alguns alunos
vizinhos para saber se não viram este aluno ausente, e se não
sabem qual a causa de sua ausência, ou o que ele faz. Se o mestre
duvidar da veracidade da razão da escusa que o visitante lhe
trouxer, enviará um aluno fiel à casa do ausente em questão e,
inclusive, de tempo em tempo, à casa de alguns dos ausentes,
durante o próprio tempo de aula e sem o conhecimento do
visitante, para ver se este aluno lhe apresentará a mesma razão
da ausência que o visitante lhe deu. Se o Inspetor ou o mestre
descobrir que o visitante caiu na falta de deixar-se corromper,
corrigirá muito exemplarmente a este em lugar do que esteve
ausente e, se ele recair uma segunda vez, será punido e, em
seguida, deposto.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 203

GE 16,3 Artigo 3º
Do encarregado de receber e escusar os ausentes, e do
modo de fazê-lo
GE 16,3,1 O Irmão Diretor ou o Inspetor das escolas receberá e escu-
sará os ausentes na escola em que estiver no momento de
serem trazidos de volta, no caso de ele ser Inspetor de vários
bairros. Se ele é Inspetor apenas de uma escola, sempre
receberá e escusará os ausentes de todas as classes desta
escola. Se é Inspetor das escolas de diferentes bairros, o
Diretor confiará a um mestre o cuidado de, em cada escola,
receber e escusar os ausentes quando o Inspetor não estiver
nela, e de informá-lo em seguida dos que foram trazidos de
volta na ausência dele693.
GE 16,3,2 Pela manhã, poder-se-á receber e escusar os ausentes o mais
tardar até as 8 horas e meia e, à tarde, até as duas horas694.
GE 16,3,3 Os mestres não deixarão de avisar a todos os alunos que todos
os que se tiverem ausentado devem estar na escola antes do
mestre e que, se não tiverem a justificativa aceita antes de a
campainha começar a tocar, às oito e meia de manhã e às duas
horas após o meio-dia, sejam quais forem as razões alegadas
por eles e por seus pais, serão mandados de volta695.
GE16,3,4 Somente se receberá e se escusará a um aluno ausente em
razão de enfermidade sobre a qual se tenha certeza, e se um
de seus pais o trouxer de volta à escola.
GE 16,3,5 Os alunos que tiverem estado ausentes só voltarão à aula se a
pessoa que os traz de volta tiver falado com quem recebe os
ausentes. O lugar em que os ausentes serão escusados será
na frente da porta de entrada das escolas.

693
1720: A primeira afirmação deste parágrafo é substituída por: O Irmão Diretor
confiará a um mestre de cada escola o cuidado de receber e justificar os
ausentes. Elimina-se o restante, bem como 16,3,4 e 16,3,5.
694
Lembrar que as portas da escola são abertas às sete e meia da manhã e a uma
da tarde, e que a aula começa precisamente às oito e a uma e meia (GE 1,1,1 e
1,2,8).
695
1720: serão punidos ou mandados de volta.
204 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 16,3,6 Se os pais, ao trazerem de volta os alunos, se queixam do


mestre, o encarregado de os receber terá o cuidado de escusar
sempre o mestre, mesmo acreditando que este esteja errado696.
GE 16,3,7 A seguir697, dará ao mestre as recomendações julgadas neces-
sários, se for Diretor. Se não o for, terá o cuidado de informar
o Diretor sobre tudo o que se lhe disse, as queixas que lhe
foram feitas e sobre o seu objeto.
GE 16,3,8 O encarregado de escusar as ausências, cuidará de terminar
em poucas palavras com os pais698. Se estes contribuíram
para a ausência de seus filhos, lhes falará de modo firme, para
que o que lhes diga lhes cause impressão, e para não escusar
facilmente. Dará, no entanto, aos pais as recomendações
necessárias para impedir as ausências de seus filhos.
GE 16,3,9 Se é por culpa dos pais que o aluno se ausentou, mandará o
aluno entrar na aula e em seguida falará aos pais em particular,
a fim de se darem conta de sua falta e do prejuízo causado ao
filho, ao causarem ou permitirem suas ausências. Depois os
exortará a serem fiéis a fazer com que o filho venha à escola
com assiduidade, assegurando-lhes que, se faltar de novo
por tais motivos, ele não será mais admitido. O que deverá
efetivamente ser feito.
GE 16,3,10 Se o aluno esteve ausente por própria culpa, o Inspetor ou
quem ocupar o seu lugar, o repreenderá699 em presença do
progenitor que o trouxe, e depois dará a este700, em particular,
as recomendações que julgar necessárias para impedir tais
ausências701.

696
1720, na parte inicial, generaliza: Se os pais... fazem queixas. Por isso, no final,
substitui: mesmo acreditando que este esteja errado, por: caso for ele o objeto
das queixas.
697
1720: A seguir, lhes dará as recomendações julgadas necessárias e terá depois
o cuidado de informar o Irmão Diretor sobre as queixas que lhe foram feitas e
sobre o seu objeto.
698
1720 só conserva esta primeira frase do parágrafo, eliminando o resto.
699
1720 substitui: o Inspetor ou quem ocupar seu lugar, o repreenderá, por: é
necessário repreendê-lo
700
1720: e dar-lhe depois, em particular, as recomendações necessárias
701
1720: para prevenir e impedir as ausências de seu filho.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 205

GE 16,3,11 Se o Inspetor702 desconhece a conduta do aluno e os motivos


pelos quais este se ausentou, ou duvida deles, irá informar-
se com o mestre, deixando o aluno e o pai ou a mãe junto à
porta. Depois, lhes virá falar, e lhes dirá o que for oportuno.
GE 16,3,12 Os alunos que tiverem estado ausentes e foram desculpados,
entrarão de novo na escola e ficarão de pé no meio703 de sua
classe, até que o Inspetor ou aquele que ocupar o seu lugar704
tenha falado com seus mestres, e estes lhes terem feito sinal
de irem a seu lugar ou ao banco dos ausentes705.
GE 16,3,13 Quando706 o Inspetor ou quem o substituir tiver recebido e
escusado os ausentes, cada vez que já não houver ninguém
na porta, irá dizer ao mestre, em cada aula, quais os alunos
trazidos de volta, o que os pais lhe disseram, os que recebeu e
escusou e como e sob que condições os recebeu.

GE 16,4 Artigo 4º
Dos castigos a impor aos alunos que se ausentaram sem
permissão e que chegaram atrasados
GE 16,4,1 Os alunos que se tiverem ausentados sem permissão, tendo
sido recebidos, irão colocar-se, na aula, no banco dos negli-
gentes, destinado aos ausentes sem permissão e aos que che-
garam atrasados. Ficarão neste banco pelo dobro do tempo
que tiverem faltado à aula, de sorte que, se tiverem faltado
meio dia, permanecerão nele por um dia inteiro, e assim
por diante, na proporção do tempo em que tiverem estado
ausentes; e, enquanto continuarem neste banco, não estarão
com os demais de sua lição, mas um aluno os fará ler durante

702
1720: Se o encarregado de escusar as crianças
703
1720: na entrada
704
1720: aquele que escusa
705
Que é o banco dos negligentes (GE 16,4,1).
706
Em 1720: Quando o mestre encarregado de escusar os alunos tiver escusado
os ausentes que se tiverem apresentado cada vez, irá ou mandará dizer a cada
mestre quais os alunos trazidos de volta, o que os pais lhe disseram, como e sob
que condições os recebeu.
206 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

o desjejum e a merenda e, se aprendem a escrever, não


escreverão.
GE 16,4,2 Os que chegarem tarde também se colocarão neste banco
toda vez que se atrasarem; não lerão, e o visitador de seu
quarteirão, ao final da aula, irá dizer aos seus pais que não
leram por terem chegado muito tarde.
GE 16,4,3 Se um aluno chegar tarde duas vezes numa semana, será
punido com varas, a não ser que tenha tido autorização
anterior.
GE 16,4,4 Os que, mesmo com permissão, tiverem faltado à aula dez
vezes, isto é, cinco dias inteiros, durante um mês, não serão
promovidos de lição ao final do mês, mesmo se estiverem em
condições.
GE 16,4,5 Os que, sem permissão, faltarem à aula dois dias inteiros, isto
é, quatro vezes durante um mês, não serão promovidos de
lição ao final do mês. Tampouco serão promovidos os que
chegarem tarde seis vezes durante o mês.

GE 17 Capítulo 17
Dos feriados
GE 17,0,1 É importante que os feriados e férias estejam sempre regu-
lamentados de forma idêntica nas escolas. Isso é uma das
coisas que muito contribuirá para manter nelas a boa ordem.
GE 17,0,2 Há quatro coisas atinentes a esse capítulo: 1. os feriados
ordinários; 2. os feriados extraordinários e as oportunidades
em que podem ou não podem ser dados; 3. as férias; 4. a
maneira de indicar os dias feriados e dar conhecimento deles
tanto aos mestres como aos alunos.

GE 17,1 Artigo 1º
Dos feriados ordinários
GE 17,1,1 Os feriados ordinários são os indicados a seguir. Dar-se-á
feriado o dia inteiro todas as quintas-feiras de cada semana
do ano, na qual não ocorrer alguma festa.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 207

GE 17,1,2 Se houver uma festa na semana, se esta ocorrer na segunda-


feira, na terça ou no sábado, dar-se-á feriado na quinta-feira
à tarde. Se for na quinta ou sexta, o feriado será na terça de
tarde. E se ela cair na quarta,707 não haverá feriado nesta
semana.
GE 17,1,3 Nas semanas em que houver duas ou mais festas, não haverá
feriado708.
GE 17,1,4 No dia de Finados, se dará feriado o dia inteiro709. No dia da
festa de São Nicolau, patrono dos alunos, e no dia das Cinzas,
se dará folga todo o dia em lugar da quinta-feira.
GE 17,1,5 Contudo, em cada um desses dois dias, se mandará os alunos
virem à escola pela manhã, dando-lhes catecismo das oito até
as nove horas, no dia710 de São Nicolau sobre o tema da festa e
no dia das Cinzas sobre a cerimônia das cinzas. Às nove horas
se rezará a oração da manhã; em seguida, se levará os alunos
à santa Missa na Igreja em que constumam ouvi-la.
GE 17,1,6 No dia das Cinzas, após a santa Missa, se fará os alunos
receberem as cinzas. Se houver algum intervalo entre a oração
e a assistência à santa Missa, se lhes ensinará, de maneira
prática, o que devem observar e como devem aproximar-se
do altar para receberem as cinzas. Se não houver intervalo
entre a oração e a assistência à santa Missa, isto será feito
durante o último quarto de hora do catecismo.
GE 17,1,7 Se a festa de São Nicolau ocorrer no domingo, para os alunos
esta celebração será transferida para a quinta-feira seguinte,
dia em que se fará o que foi indicado acima.
GE 17,1,8 No dia da festa de São José, patrono da Comunidade, dar-se-á
feriado durante todo o dia em lugar da quinta-feira. Se esta
festa cair num domingo ou na Semana Santa, será celebrada

707
1720: se dará feriado sexta-feira de tarde.
708
1720 acrescenta: nesta semana.
709
1720 não faz referência a este feriado de Finados.
710
1720 omite: no dia de São Nicolau...até: e, em seguida
208 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

no dia para o qual for transferida pela Igreja ou711 na diocese


de cada casa.
GE 17,1,9 Dar-se-á feriado desde quinta-feira da Semana Santa,
inclusive, até a terça-feira712 seguinte, exclusive, dia em que
se recomeçará a dar as aulas713.
GE 17,1,10 Nos dias das festas da Transfiguração de Nosso Senhor, da
Exaltação da Santa Cruz e da Apresentação e Visitação da
Santíssima Virgem, dar-se-á feriado todo o dia em vez de
quinta-feira714, a menos que alguma destas festas ocorra no
domingo, e não se dará outro feriado durante toda a semana.

GE 17,2 Artigo 2º
Dos feriados extraordinários
GE 17,2,1 Não se dará nenhum feriado extraordinário sem evidente e
absoluta necessidade. Quando o Irmão Diretor de alguma
casa se julgar na obrigação de conceder algum, solicitará o
parecer do Superior do Instituto, antes de o dar, caso possa
prevê-lo.
GE 17,2,2 Se a previsão não tiver sido possível, ele o comunicará em
seguida ao Superior do Instituto, fazendo-lhe saber as razões
que o obrigaram a isso.
GE 17,2,3 Quando houver necessidade de conceder um feriado extra-
ordinário, ele sempre o dará em lugar da quinta-feira, ou do
dia festivo da semana715. Se há uma festa nesta semana, o
feriado extraordinário só será dado na parte da tarde, no caso
de a necessidade ocorrer somente pela tarde, e será dado todo
dia, se a necessidade ocorrer pela manhã.

711
1720: Corta esta última alternativa: ou na diocese de cada casa.
712
1720: quarta-feira
713
1720 adiciona: Todavia, nas duas últimas festas se assistirá à Missa da
paróquia, com os alunos, e se lhes explicará o catecismo.
714
1720 acrescenta: independente do dia da semana em que ocorrem, e inverte
a ordem da parte final: e não se dará outro feriado durante toda a semana, a
menos que alguma dessas festas ocorra no domingo.
715
1720 elimina: da quinta-feira, ou
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 209

GE 17,2,4 As ocasiões em que se dará feriado extraordinário serão as


seguintes: [1.] Dar-se-á feriado nos dias de feira, quando esta
durar apenas um dia.
GE 17,2,5 [2.] Dar-se-á feriado no dia do enterro de um Irmão, falecido
na casa da cidade; se procurará sempre fazer o enterro dos
Irmãos após o meio-dia716.
GE 17,2,6 Se não se puder celebrar o funeral no dia seguinte, nem
durante a semana717, será dado feriado de dia inteiro no dia do
enterro, em lugar da quinta-feira.
GE 17,2,7 Caso se puder celebrar o funeral no dia seguinte, também será
dado feriado todo esse dia.
GE 17,2,8 Se o Ofício for celebrado em dia distante do dia do enterro,
na mesma semana ou em outra718, no dia do Ofício será
concedido feriado o dia inteiro.
GE 17,2,9 [3.] Dar-se-á feriado nos dias de alguma cerimônia ou cir-
cunstância extraordinária na cidade, contanto que não seja má
ou que a participação dos alunos nela não lhes seja prejudi-
cial, e quando se julgar não poder impedir os alunos de irem
a ela, nem obrigá-los a virem à escola719.
GE 17,2,10 Dar-se-á feriado no dia do padroeiro de cada uma das paróquias
nas quais há escolas; igualmente será concedido feriado nos
dias de certas festas, embora não sejam720 de obrigação, desde
que observadas na cidade ou na paróquia onde se situa a casa
do Instituto desta cidade.
GE 17,2,11 Também se dará feriado no dia da oitava do Santíssimo Sacra-
mento, mesmo na ocorrência de uma (outra) festa na semana.
GE 17,2,12 As ocasiões nas quais não se dará feriado, nem ordinário nem
extraordinário, são as seguintes721:

716
1720 não guarda a segunda parte do parágrafo.
717
1720 substitui: durante a semana, por: na mesma semana,
718
1720: na mesma casa ou em outra semana,
719
1720 elimina: nem obrigá-los a virem à escola.
720
1720 acrescenta: feriados nem
721
Transcritas mais sobriamente, como aparecem em 1720.
210 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 17,2,13 [1.] Na segunda e terça-feira imediatamente anteriores ao


primeiro dia da Quaresma, chamadas ordinariamente segunda
e terça-feira gordas722; dias em que, inclusive, se obrigará os
alunos a virem à escola mais regularmente que em qualquer
outro dia, e a não faltarem a ela, a não ser que estejam
doentes723;
GE 17,2,14 [2.] nos dias das Rogações e na festa de São Marcos, sob o
pretexto de participar das procissões, às quais tampouco se
levarão os alunos724;
GE 17,2,15 [3.] no dia da Transladação de São Nicolau725, sem levar em
consideração ser dia de uma das festas do patrono dos alunos;
[4.] e em nenhum dia das festas dos padroeiros dos ofícios726,
sem exceção.
GE 17,2,16 Não se abreviará o tempo de aula, a não ser por evidente e
absoluta necessidade.

GE 17,3 Artigo 3º
Das férias
GE 17,3,1 Este artigo engloba quatro temas: 1. O que se refere às férias
em si; 2. os avisos que os mestres darão aos alunos, a fim de
passarem bem as férias; 3. o que se fará no último dia de aula,
antes das férias; 4. o que será feito no dia do reinício das aulas
após as férias727.
GE 17,3,2 Todos os anos se deixará de dar aula, em toda parte, pelo
espaço de um mês. Essa interrupção das aulas chama-se
férias728.
GE 17,3,3 Não se promoverá os alunos de lição no último dia antes das
férias, mas (para fazê-lo) se esperará para depois das férias. Se

722
Isto é, de carnaval. 1720 não traz esta explicação.
723
1720 elimina o final: a não ser que estejam doentes;
724
1720 suprime: às quais tampouco se levarão os alunos;
725
Diferente da festa deste santo (RC 10,6. GE 17,1,4. DC3: 44,22).
726
Das corporações dos ofícios.
727
1720 elimina: após as férias.
728
1720: É o que se chama férias.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 211

lhes explicará, sobretudo aos de inteligência limitada ou que


se esforçam pouco na escola que, durante as férias, devem, em
casa, estudar e ler com frequência, e mesmo escrever se estão
entre os que aprendem a fazê-lo, para que não esqueçam o
que tiverem aprendido, e que não se necessite fazê-los voltar,
por causa de sua negligência, a uma ordem inferior da lição,
ou mesmo a uma lição inferior àquela em que estão729.
GE 17,3,4 No último dia de aula antes das férias, somente se dará a lição
do catecismo, desde uma e meia até três horas, versando sobre
a maneira como os alunos devem passar o tempo das férias.
GE 17,3,5 Os730 principais avisos que os mestres darão aos alunos para
passarem bem as férias são731: 1. Não deixar, durante este
tempo, de rezar, ao se levantar e ao se deitar732, as orações
rezadas todos os dias nas escolas. 2. Ouvir todos os dias a
santa Missa com piedade e rezar as orações contidas em seu
livro de exercícios durante a santa Missa.
GE 17,3,6 3. Assistir, todos os domingos e festas, à Missa cantada e
às Vésperas, em sua paróquia 4. Confessar-se e, os que já
comungam, fazê-lo ao menos uma vez nesse tempo. 5. Ir
todos os dias, ao menos pelo espaço de quinze minutos733,
diante do Santíssimo Sacramento.
GE 17,3,7 6. Rezar, todos os dias, o terço para adquirir e conservar a
devoção à Santíssima Virgem; 7. Não frequentar más com-
panhias; 8. Não danificar hortas e vinhas, o que seria furto734;
9. Não se banhar; 10. Não jogar cartas ou dados, nem jogar
por dinheiro.

729
1720 exclui este parágrafo. Em compensação, inclui um novo, nos seguintes
termos: As férias serão dadas, em toda parte, durante todo o mês de setembro
e, também em toda parte, as aulas reiniciarão a primeiro de outubro.
730
1720: Entre os
731
1720: A mudança do início do parágrafo exige colocar aqui estão em lugar de
são.
732
1720 suprime: ao se levantar e ao se deitar,
733
1720 amplia a parte final deste parágrafo: ou de meia hora, a alguma igreja,
visitar e adorar o Santíssimo Sacramento.
734
1720 continua: e um grande pecado;
212 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 17,3,8 Às três horas, se fará a oração. A seguir, o mestre entregará


recompensas aos alunos por sua religião e assiduidade735.
GE 17,3,9 Entregarão também os papéis aos que escrevem, e lhes darão
modelos, a fim de poderem exercitar a escrita durante as
férias, estimulando-os mesmo a fazê-lo.
GE 17,3,10 No final do catecismo, lhes chamarão a atenção e os incen-
tivarão para estarem todos presentes no dia que lhes assina-
lar, às sete horas da manhã, para assistir à Missa do Espírito
Santo, que se fará celebrar na intenção deles; e em seguida,
para a mudança de lições que se fará logo depois736.
GE 17,3,11 Cada mestre explicará a seus alunos que aqueles que não
estiverem na escola antes da santa Missa, não serão mudados
da lição em que estavam antes das férias737.
GE 17,3,12 No primeiro dia de volta às aulas após as férias, os alunos se
reunirão às 8 horas, como de costume e, depois de haverem
rezado a oração diária do início das aulas, o mestre os levará
à Missa, que será rezada para implorar a assistência do
Espírito Santo.
GE 17,3,13 Para isso, se pedirá aos senhores párocos rezá-la ou fazê-la
rezar. No caso de não o poderem fazer, ela será mandada
celebrar às custas da casa.
GE 17,3,14 Neste dia e nos seguintes, se exortará738 os alunos e eles serão
mudados de lição. A cada um se lhe indicará sua classe, seu
lugar, sua lição e sua ordem de lição.

735
1720: Desaparece a segunda parte deste parágrafo. E, em lugar dela, encontra-
se: Não se lhes darão, nesta oportunidade, as recompensas, mas a entrega
destas será adiada para o início das aulas depois das férias, a não ser que o
Irmão Diretor achar bom proceder de maneira diferente.
736
1720 exclui: e, em seguida, para a mudança de lições que se fará logo depois.
Mas introduz: Neste dia, enquanto se reúnem na escola, se lhes dará o catecismo
das oito às nove horas após a oração rezada no começo das aulas.
737
Em 1720 este parágrafo some do texto, bem como o 17,3,14 e o 17,3,15.
738
Exortar: fazer exortação, isto é, fala piedosa “que, à diferença do sermão,
pregação e homilia”, é “simples e familiar”, estimulando “à devoção e à prática
dos deveres morais e religiosos” (Bailly, 1946, p. 543).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 213

GE 17,3,15 Os que não tiveram assistido à Missa do Espírito Santo, no


dia de reinício das aulas, permanecerão na ordem de lição em
que estavam antes das férias.

GE 17,4 Artigo 4º
Da maneira de indicar os dias feriados e de dar conheci-
mento deles tanto aos mestres como aos alunos
GE 17,4,1 Todos os domingos, após a ação de graças da comunhão, o
Diretor739 de cada casa anunciará aos Irmãos, estando todos
de pé740, os dias de festa que ocorrerão durante a semana, e o
dia que será feriado, e se este será de dia inteiro ou somente
após o meio-dia.
GE 17,4,2 Se for preciso conceder algum feriado extraordinário, não
previsto pelo Diretor no domingo, ele o comunicará na
véspera, de manhã, depois das Ladainhas do Santo Menino
Jesus, ou após o meio-dia, depois das Ladainhas de São José.
GE 17,4,3 O Diretor fará a comunicação da mesma forma, caso houver
algo de especial a fazer, durante a semana, nas escolas.
GE 17,4,4 Se o previsto pelo Diretor for algo extraordinário, ele o
comunicará no domingo; tratando-se de algo não previsto
por ele, fará a comunicação na véspera, no oratório, após as
Ladainhas do Santo Menino Jesus ou de São José741.
GE 17,4,5 Cada mestre, na própria classe, anunciará os dias feriados, ou
o que houver de especial a fazer neles, no final das aulas da
véspera, imediatamente após a oração da tarde742.
GE 17,4,6 Todos os mestres cuidarão de dizer tudo isso em poucas
palavras, sem nada esquecer, e de formulá-lo de tal maneira
que possam ser compreendidos por todos os alunos.

739
1720: o Irmão Diretor
740
1720 suprime: estando todos de pé,
741
1720 elimina este parágrafo.
742
1720 prossegue: sobretudo os jejuns da Igreja prescritos para a semana.
214 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 18 Capítulo 18
Dos oficiais743 da escola

GE 18,0,1 Nas escolas, haverá diversos oficiais para exercerem variadas


e diferentes funções, que os mestres não podem ou não
devem desempenhar pessoalmente744. Estes oficiais serão:
1. o recitador das orações; 2. aquele que diz o que cabe ao
sacerdote, na recitação da santa Missa, chamado, por isso, de
ministro da santa Missa; 3. o esmoler; 4. o porta-aspersório;
5. o porta-terços e seus ajudantes; 6. o sineiro; 7. o inspetor e
os vigilantes; 8. os primeiros dos bancos; 9. os visitantes dos
ausentes; 10. os distribuidores e coletores de papéis; 11. os
distribuidores e coletores dos livros; 12. os varredores; 13. o
porteiro; 14. o chaveiro745.
GE 18,0,2 Todos estes oficiais serão nomeados pelo mestre, em cada
classe, no primeiro dia746 de aula após as férias. Para isso,
cada mestre747 pedirá o parecer do Diretor ou do Inspetor
das escolas. Se, depois, houver necessidade de trocá-los

743
Ofício, em geral, era uma “função confiada pelo rei a um particular”. Era
“dignidade, porque participação do poder real; função pública, porque serviço
do rei, particularmente no domínio judiciário e financeiro, serviço retribuído
com salário” (Cabourdin e Viard, 1981, p. 235).
744
1720: O parágrafo termina neste ponto, não discriminando os vários “oficiais”
nomeados por cada mestre.
745
Destes oficiais, o texto de 1720 apresenta a descrição de nove, os quais, no
Caderno Lassaliano N. 24, são apresentados em paralelo ao que deles se diz
no manuscrito de 1706. Outros cinco, o texto impresso, embora faça referência
a algum deles, não os contempla desenvolvidamente e, consequentemente,
não os confronta com a descrição feita no manuscrito. São eles: o ministro
da santa Missa, o esmoler, os primeiros dos bancos, os visitantes dos ausentes
e os distribuidores e coletores de livros. Quanto aos que são confrontados,
verificam-se bastantes variações operadas desde 1706 até 1720. Nas notas se
apontarão algumas que pareçam mais significativas.
746
1720: num dos três primeiros dias
747
1720 redige da seguinte forma o restante da frase: proporá todos os que tiver
escolhido ao Irmão Diretor ou ao primeiro mestre, e só lhes fará exercer a
função depois que este os tiver aprovado.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 215

ou mudar algum deles, a nomeação de um ou de outros se


processará da mesma forma748.

GE 18,1 Artigo 1º
Dos recitadores das orações
GE 18,1,1 Em cada escola, haverá dois alunos encarregados de presidir
as orações, um pela manhã e outro à tarde, os quais se subs-
tituirão mutuamente, caso aquele que tiver que presidi-las
chegar tarde ou faltar à aula749. Aquele que houver presi-
dido, durante uma semana, as orações da manhã, na semana
seguinte as presidirá à tarde e vice-versa.
GE 18,1,2 Presidirão todas as orações feitas na escola pausadamente,
com atenção e recolhimento750, seguindo a ordem prescrita
no capítulo das orações, e num lugar donde possam ser facil-
mente ouvidos por todas as classes.
GE 18,1,3 Nenhum aluno será encarregado deste ofício se não souber
perfeitamente todas as orações, se não as recitar distintamente,
se não tiver voz suficientemente forte para fazer-se ouvir em
todas as salas751 e se não for recolhido e modesto, para não ser
causa de distração para os colegas.
GE 18,1,4 Esses recitadores das orações serão nomeados a cada mês, e
ambos pertencerão à classe dos escrevedores. Com o parecer
do Irmão Diretor ou do Inspetor das escolas752, o mestre
poderá mantê-los753, se não houver outros em condições de
desempenhar tão bem esse ofício. Não serão mantidos por
outras razãos, porque essa função contribui muito para fazer

748
1720 acrescenta: Em seguida se falará destes oficiais e de suas obrigações. E
poderia acrescentar mais: e das qualidades que cada um deve ter.
749
1720 não conserva esta eventualidade: caso aquele... faltar à aula.
750
1720 reduz o restante do parágrafo: de tal maneira que sejam facilmente
ouvidos por todos os alunos.
751
Em 1720 desaparece: se não tiver...as salas
752
1720 corta: Com o parecer do Irmão Diretor ou do Inspetor das escolas,
753
1720: poder-se-á mantê-los,
216 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

que os alunos rezem bem as orações em particular, e para que


gostem de rezá-las754 pausada e atentamente.

GE 18,2 Artigo 2º
Do ministro da santa Missa
GE 18,2,1 Haverá um aluno encarregado de fazer a função do sacerdote
na recitação das respostas da santa Missa, na terça-feira de
cada semana, durante o desjejum.
GE 18,2,2 Ele desempenhará este ofício da maneira seguinte: ficará
sempre de pé num mesmo lugar, enquanto aquele que res-
ponde estará de joelhos a seu lado assim como deve estar ao
servir a santa Missa. Começará dizendo: In nomine Patris,
etc... Introibo, etc..., que o sacerdote reza até subir ao altar.
Depois rezará o Kyrie eleison, com o ajudante, e tudo o que
está no livro, que deve ter em mãos durante esse tempo.
GE 18,2,3 Ao final dos dois Evangelhos755, nas duas ou três últimas
palavras, fará uma inflexão de voz; inclinará a cabeça toda
vez que disser: Jesus, Maria e Oremus. Após o Sanctus, fará
lentamente duas genuflexões, uma após outra, para indicar ao
ajudante o momento em que deve tocar para a consagração.
Baterá três vezes no peito no Agnus Dei756 e no Domine non
sum dignus757. Após o Domine non sum dignus, apresentará
um pequeno vaso, feito expressamente como para receber a
primeira ablução. Depois se voltará para o lado do ajudante,
colocando os quatro dedos sobre este vaso, como faz o padre
ao receber a segunda ablução, para indicar ao ajudante o
modo de fazê-la.
GE 18,2,4 A primeira vez em que se recitarem as respostas da santa
Missa, após as últimas orações, ele fechará o livro; na segunda
vez, o deixará aberto, para indicar ao ajudante que, quando

754
1720 acrescenta: em sua casa
755
O segundo Evangelho: O início do Evangelho de São João, o qual, até o
Vaticano II, era lido após a Missa.
756
Cordeiro de Deus
757
Senhor, eu não sou digno.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 217

o padre deixa assim aberto o livro, deve-se transportá-lo ao


outro lado.
GE 18,2,5 Esse aluno deve ser bem comportado, ponderado, modesto e
recatado, para que possa ser motivo de edificação e favorecer
a modéstia daqueles que recitam as respostas da santa Missa.
GE 18,2,6 Este oficial será trocado cada mês, se o mestre o julgar
oportuno, depois de o haver proposto ao Irmão Diretor ou
ao Inspetor das escolas; e, se ele for mudado, é necessário
que quem o suceder seja igualmente bem comportado. Essa
condição é muito importante nesse ofício.

GE 18,3 Artigo 3º
Do esmoler
GE 18,3,1 Em cada classe, haverá um aluno encarregado de recolher as
esmolas, isto é, os pedaços de pão que serão dados aos pobres
durante o desjejum e a merenda.
GE 18,3,2 Pelo meio e o final do desjejum e da merenda, após haver
saudado o mestre, ele tomará, na classe, a cesta destinada a
este fim. Irá apresentá-la diante dos bancos, primeiro de um
lado da classe, e depois de outro, sem dizer uma só palavra
e evitando, cuidadosamente, de jamais pedir coisa alguma a
alguém.
GE 18,3,3 Ao caminhar na sala, enquanto exercer esta função, ele o
fará muito modestamente e sem ruído, cuidando de não olhar
fixamente a nenhum aluno.
GE 18,3,4 Depois das esmolas terem sido todas ou quase todas reco-
lhidas, após haver saudado o mestre, ele lhe entregará a cesta,
para distribuí-las.
GE 18,3,5 Cada mestre zelará para que o encarregado deste ofício tenha
compaixão dos pobres e lhes consagre afeição e, sobretudo,
não seja levado à gula. Não permitirá que ele dê algum pedaço
de pão, nem outra coisa, a quem quer que seja e, muito menos
ainda, que tome para si mesmo algo do que estiver na cesta.
Se for observado que ele tiver feito uma ou outra dessas
coisas, será severamente punido e imediatamente privado
218 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

desse ofício. Este oficial será mudado quando o mestre, com


o parecer do Diretor, o julgar conveniente ou necessário.

GE 18,4 Artigo 4º
Do porta-aspersório
GE 18,4,1 Em cada escola758, haverá um aluno que levará, em todos os
dias de aula, um aspersório [à santa Missa e, aos domingos
e festas], para a Missa e as Vésperas, a fim de os alunos
poderem servir-se de água benta ao entrar e ao sair da igreja.
GE 18,4,2 Este oficial e o porta-terços serão os primeiros na ida à santa
Missa759, e conduzirão os demais no deslocamento para a
igreja.
GE 18,4,3 Ao entrar na igreja, colocar-se-á perto da pia de água benta,
ali permanecendo até que todos os alunos tenham passado e
se servido da água benta.
GE 18,4,4 Da mesma forma procederá quando os alunos saírem da igreja.
No lugar que o mestre ou o Inspetor lhe indicar, se posicionará
de maneira tal que todos os alunos possam facilmente servir-
se da água benta760. Assim que estiver em seu lugar, tomará da
água benta com o aspersório, imergindo-o na pia, e voltando
a tomar dela assim que perceber que ela tiver terminado.
GE 18,4,5 Segurará o aspersório horizontalmente estendido diante de si
e evitará cuidadosamente utilizá-lo para aspergir ou brincar,
sob pena de castigo.
GE 18,4,6 Durante todo o tempo em que os alunos passarem diante dele,
se manterá de pé, em postura recolhida, de olhos baixos, sem
olhar para nenhum dos que passam, e sem girar levianamente
a cabeça.
GE 18,4,7 Quando todos os alunos tiverem saído da igreja, caso não se
regressar à escola, irá até ela, com o porta-terços, recolocar o

758
1720 corta: Em cada escola,
759
Em 1720 desaparece: na ida à santa Missa,
760
1720 continua: do aspersório.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 219

aspersório no lugar onde se costuma pegá-lo761. Este oficial


deve ser muito piedoso e modesto. Não será mudado ao longo
do ano a não ser que762 o mestre, com o parecer do Diretor, o
julgue necessário.

GE 18, 5 Artigo 5º
Do porta-terços e seus ajudantes
GE 18,5,1 Em cada escola763, haverá um aluno designado para levar os
terços à igreja, 764todos os dias na santa Missa, e nos domingos
na missa cantada e nas Vésperas.
GE 18,5,2 Este aluno receberá do mestre os terços contados, e terá o
cuidado de contá-los, todos os dias, antes765 da Santa Missa,
ou após o meio-dia, no início das aulas, caso a Missa for ao
final das aulas766, e avisará o mestre, se faltar algum.
GE 18,5,3 O mestre os contará no último dia de aula de cada semana.
Haverá tantos conjuntos de terços, quantas forem as fileiras
duplas de alunos na igreja. Se os alunos formarem mais de
uma fila de dois, haverá um ou vários auxiliares para distribuir
os terços em cada fila dupla.
GE 18,5,4 A partir do momento em que os alunos estiverem de joelhos
em seu lugar, este oficial tomará um conjunto de terços, e
dará outro ou outros a seu ou a seus ajudantes. Cada um deles
passará em meio a uma fila dupla767, da frente até o fundo,
para distribuir terços aos desta fila dupla que não souberem
ler, isto é, aos que leem nos cartazes768, no silabário e no
primeiro livro769.

761
1720: colocá-lo.
762
1720: se julgue ser necessário. Procedimento que se repete com outros oficiais:
18,3,5; 18,4,7; 18,5,12; 18,6,5; 18,7,9; 18,14,5.
763
1720: Haverá um aluno designado para levar os terços à igreja,
764
1720: O resto da frase: toda vez que se levar os alunos a ela.
765
1720: imediatamente após a
766
1720 omite: no início das aulas, caso a Missa for ao final das aulas,
767
1720: irá a uma fila entre dois alunos,
768
1720: leem nos cartazes do alfabeto,
769
1720 não conserva: no primeiro livro.
220 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 18,5,5 Assim que a santa Missa tiver terminado, cada um deles se


dirigirá, da mesma forma, à fila dupla que lhe foi assinalada,
para recolher os terços daqueles aos quais os tiver entregue
no começo da santa Missa. Depois, o porta-terços tomará os
conjuntos de seus auxiliares, e os reunirá ao seu e, retornando
à escola, os contará770.
GE 18,5,6 Se os alunos, após a santa Missa, não voltam à escola, o porta-
terços irá com o porta-aspersório levar os terços de volta ao
lugar onde se costuma pegá-los771.
GE 18,5,7 Este oficial estará também encarregado de entregar, todos os
dias, no começo das aulas772, o terço aos que deverão rezá-lo,
por primeiro773, e terá o cuidado de se lembrar de quais foram
os últimos que o rezaram, na aula precedente.
GE 18,5,8 Ele774 deve saber a ordem que deve ser guardada para rezá-lo,
por qual banco se deve começar, e por qual terminar. Avisará
a todos os alunos para o rezarem uns após outros, segundo a
ordem dos bancos e o lugar que ocupam no respectivo banco.
Quando dois o tiverem rezado, recolherá o terço, e o entregará
aos dois alunos seguintes.
GE 18,5,9 Cuidará para que os que rezam o terço na escola o façam
pausada e modestamente775. Estará atento a eles, cuidando
para ver se não conversam, se não brincam, se rezam de
fato o terço e se não interrompem a sua reza776; e, se notar
que faltam contra algum de todos esses pontos, avisará
imediatamente o mestre.

770
Em 1720 não aparece: e, retornando à escola, os contará.
771
1720: levar os terços de volta à escola, e os colocará em seu lugar de costume.
772
1720: no começo das aulas, tanto de manhã como depois do meio-dia
773
1720: por primeiro na aula,
774
1720 faz supressão no início (Ele deve saber... por qual terminar) e no final (e
o lugar... alunos seguintes).
775
1720: pausada, piedosa e modestamente.
776
1720 elimina: se rezam de fato o terço e não interrompem a sua reza. E após
este parágrafo, introduz outro novo: Se houver mais de três classes na escola,
haverá dois ou três encarregados deste ofício.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 221

GE 18,5,10 Este oficial, como também o precedente777, deve ser muito


piedoso778 e muito modesto e, além disso, muito responsável,
para cuidar de não extraviar os terços779, não perder e não deixar
que se perca algum deles. Deve também ser bem comportado
e não ser leviano, nem desordenado, nem precipitado.
GE 18,5,11 Este oficial e seus ajudantes serão escolhidos entre os alunos
da classe780 na qual se reza o terço. Se nela não houver nin-
guém capacitado para este ofício,781 será escolhido numa
classe superior, seguindo o parecer do Diretor ou do Inspetor
das escolas.
GE 18,5,12 Este oficial não será mudado durante o ano, a não ser que o
mestre, seguindo o parecer do Diretor, o julgue necessário782.

GE 18,6 Artigo 6º
Do sineiro
GE 18,6,1 Em cada escola, haverá um aluno com a função de tocar a
sineta para o início das aulas e os exercícios escolares.
GE 18,6,2 No início das aulas e em todas as horas dará vinte batidas; e
dará também vinte batidas na metade de cada hora, e ao final
das aulas783, para indicar que estas terminam e que se deve
começar a oração.
GE 18,6,3 Terá o cuidado de escutar as batidas do relógio e tocar exa-
tamente na hora assim que o relógio der a última batida, e na
meia hora, assim que o último sinal tiver soado784.

777
1720 suprime: como também o precedente,
778
1720 substitui piedoso por: bem comportado
779
1720 exclui o restante do parágrafo.
780
1720: Ele será ordinariamente escolhido, com seus ajudantes, entre os alunos
da classe...
781
1720 modifica e reduz o restante para: será buscado numa outra.
782
1720 não contempla este parágrafo.
783
Em 1720, as duas primeiras vinte batidas se reduzem a cinco, e as terceiras, a
cinco ou seis. Assim como as cinco batidas de 18,6,4 diminuem para duas ou três.
784
1720 reduz este parágrafo a: Terá o cuidado de tocar exatamente na hora.
222 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 18,6,4 Aproximadamente um Miserere antes do início da oração


da manhã e do catecismo da tarde, dará cinco batidas785 para
indicar que os alunos fechem os livros, os coletores dos livros
e das folhas os recolham, e todos se disponham e estejam
prontos para a oração e esta possa ser iniciada tão logo a
sineta deixe de soar, sem atrasar um só instante.
GE 18,6,5 Este oficial deve ser bem assíduo às aulas, cuidadoso, vigi-
lante, fiel e muito pontual em tocar na hora marcada, e o
mestre estará atento a que não deixe nunca de tocar na hora.
Não será trocado a não ser que o mestre, com o parecer do
Diretor, o julgue conveniente.

GE 18,7 Artigo 7º
Do inspetor e dos vigilantes
GE 18,7,1 Em todas as classes, haverá inspetores, na ausência dos
mestres, não os havendo nunca fora desta circunstância,
a não ser nas classes dos que escrevem, nas quais haverá
um inspetor durante o desjejum e a merenda, o qual vigiará
sobre os que recitam as orações, o catecismo e as respostas
da santa Missa.
GE 18,7,2 O cuidado do inspetor, em cada classe, consistirá em vigiar786
sobre tudo o que acontece na classe, durante a ausência do
mestre.
GE 18,7,3 Todo o seu empenho consistirá em reparar e em estar atento a
tudo o que acontece na classe, sem nunca dizer uma só palavra,
aconteça o que acontecer, e sem sair do seu lugar. Tampouco
permitirá a aluno nenhum de lhe falar, nem de aproximar-
se dele durante todo o tempo em que estiver exercendo esse
ofício.

785
1720: dará duas ou três batidas
786
Em 1720, os parágrafos 18,7,2 e 18,7,3 se aglutinam, desaparecendo, no 18,7,2:
vigiar, em cada classe, e durante a ausência do mestre.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 223

GE 18,7,4 Nunca787 ameaçará a nenhum aluno, nem por sinal, nem de


outra maneira, independente da falta que este cometa788.
Estará sempre sentado na cadeira que lhe tiver sido indicada.
Será fiel em informar o mestre sobre todas as coisas, como
elas se passaram, com cada uma das circunstâncias. Será
exato em não dizer nada a mais nem a menos. Não deixará
passar a mínima falta dos alunos sem anotá-la789; observará os
que não guardam o silêncio790 e os que fizerem o menor ruído.
GE 18,7,5 O mestre fará que o inspetor compreenda que foi nomeado
não somente para vigiar sobretudo o que se passa na classe,
mas também791 para ser modelo e exemplo em que os outros
possam espelhar-se. O mestre analisará cuidadosamente as
coisas que o inspetor lhe relatar792 antes de decidir se castigará
ou não os denunciados por ele por uma falta cometida. Para
comprovar mais facilmente se é verdade o que o inspetor diz,
o mestre se informará793 junto aos [alunos] mais confiáveis
que testemunharam a falta, se as coisas aconteceram da
maneira e conforme as circunstâncias relatadas pelo inspetor.
GE 18,7,6 Só castigará os alunos acusados no caso de perceber
concordância entre as informações do inspetor e o afirmado
pelos outros.
GE 18,7,7 O mestre escutará as queixas feitas contra o inspetor espe-
cialmente se os queixosos não forem parte interessada e se
forem dos mais794 fiáveis. Se o inspetor for julgado culpado,
receberá castigo mais severo do que outro que houvesse
cometido a mesma falta, e será imediatamente deposto de seu
ofício.

787
1920: Não ameaçará
788
1720 acrescenta: Nunca usará a palmatória, nem coisa alguma para bater nos
alunos.
789
1720 não guarda: Não deixará passar a mínima falta dos alunos sem anotá-la;
790
1720 escreve (equivocadamente): anotará os que guardam o silêncio
791
1720: mas muito mais para
792
1720: lhe deve relatar em voz bem sumida e em particular
793
1720: também discretamente
794
1720: bem comportados e fiáveis.
224 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 18,7,8 Deve-se escolher como inspetor o mais vigilante e o mais fiel


em chegar à escola entre os primeiros795; que esteja atento
a reparar em tudo o que ocorre nela; que seja silencioso e
discreto; que não seja leviano, nem dissimulado796, nem
mentiroso; que seja capaz de não fazer acepção de pessoas;
que denuncie797 tanto a seus irmãos, amigos e companheiros,
quer dizer, aqueles que ele frequenta, como os outros; e,
sobretudo, que não aceite nunca presente algum seja de quem
for. Se provada sua queda nessa falta, o mestre o castigará
muito severamente e passará seu ofício a outro798.
GE 18,7,9 Esse oficial não será mudado a não ser que o mestre, com
o parecer do Diretor ou do Inspetor das escolas, o julgue
conveniente e mesmo necessário.

GE 18,7,10 Dos vigilantes


Em cada classe, haverá dois alunos encarregados de vigiar
a conduta do inspetor enquanto este estiver exercendo seu
ofício, para observar se não se deixa corromper por presentes;
se nada exige dos outros para não denunciar suas faltas ao
mestre; se foi dos primeiros799 a chegar ou mesmo o primeiro;
se guarda o silêncio, e se não é ele mesmo causa de desordem
na classe800; se não sai do seu lugar, e não se agrupa com
outros; se toma cuidado para que ninguém, seja quem for, saia
do seu lugar; enfim, se cumpre fielmente801 o seu dever.
GE 18,7,11 O mestre fará com que esses vigilantes não sejam conhecidos
do inspetor e, por isso, não serão nomeados como os outros
oficias, e nem mesmo levarão este título.

795
Em 1720 essa frase inicial é assim formulada: O inspetor precisa ser muito
diligente em vir à escola e ser um dos primeiros a chegar a ela;
796
1720 não traz: dissimulado,
797
1720: de forma que denuncie
798
1720, em lugar de: o mestre o castigará muito severamente e passará o seu ofício
a outro, põe: ele será castigado muito severamente e depois deposto de seu ofício.
799
1720: se foi sempre dos primeiros
800
1720 corta esta parte: se não é ele mesmo causa de desordem na classe;
801
1720: muito fielmente
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 225

GE 18,7,12 Os vigilantes serão alunos dos mais bem comportados, mais


piedosos, mais diligentes em vir à escola802 e suficientemente
atilados para observar o comportamento do inspetor sem que
isto seja percebido.
GE 18,7,13 O mestre lhes fará saber, em particular, que lhes cabe reparar
na conduta do inspetor, e que o informarão sobre ela, de tempo
em tempo, sem que isso seja percebido803, e inclusive, o mais
cedo possível, caso houver acontecido algo extraordinário.
GE 18,7,14 Haverá também tipos de inspetores ou vigilantes nas ruas,
sobretudo naquelas onde residem muitos alunos, para obser-
var como os alunos deste quarteirão se comportam voltando
da escola.
GE 18,7,15 Haverá vigias em cada diferente quarteirão e em cada rua
importante, os quais observarão o que se passa com os alunos
em cada quarteirão ou rua804, e que disso informarão o mestre,
da forma indicada anteriormente805.

GE 18,8 Artigo 8º
Dos primeiros dos bancos
GE 18,8,1 O primeiro aluno de cada banco será encarregado do catálogo
de seu banco, e marcará os deste banco que faltarem à aula,
puxando o cordão correspondente a cada aluno ausente.
Cada aluno primeiro do banco puxará, cada dia, o cordão dos
ausentes de seu banco, às oito e meia da manhã e às duas horas
da tarde. Logo depois de terem assim marcado os ausentes,
cada um dos primeiros dos bancos irá mostrar ao mestre o seu
catálogo, para que este leia os ausentes e verifique se não há
alguns a mais ou a menos.
GE 18,8,2 Os mestres das classes inferiores, nas quais os alunos não
sabem ler, ensinarão a ler os nomes dos catálogos aos primei-

802
1720 elimina o restante do parágrafo: e suficientemente...percebido.
803
1720 suprime: de tempo em tempo, sem que isso seja percebido,
804
Em 1720 desaparece: com os alunos em cada quarteirão ou rua,
805
1720: e que disso informarão o mestre imediatamente, em particular.
226 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ros dos bancos, inclusive de memória; e se não encontram


quem o faça, ou se não houver quem seja suficientemente
capaz de aprendê-los de cor e de lhes reter a ordem, eles
mesmos os lerão, ou pelo menos aqueles que os primeiros
dos bancos não forem capazes de ler. Os lerão, pela manhã,
antes da oração ao final das aulas, e pela tarde, ao início da
merenda. E também, eles mesmos, marcarão os ausentes
destes bancos puxando os cordões correspondentes.
GE 18,8,3 Os primeiros dos bancos serão dos mais assíduos da escola
e os mais diligentes, os mais bem comportados, e os mais
modestos entre os alunos.
GE 18,8,4 Este ofício ordinariamente lhes será confiado como recom-
pensa por sua assiduidade, seu bom comportamento, sua mo-
déstia, e sua capacidade. Somente serão mudados se o mestre
o julgar necessário, por alguma falta que tenham cometido,
ou por alguma outra razão ponderável.

GE 18,9 Artigo 9º
Dos visitantes dos ausentes
GE 18,9,1 Em cada classe haverá dois ou três alunos que serão encar-
regados de controlar a assiduidade dos alunos de várias ruas
de determinado quarteirão da cidade, que lhes for assinalado.
GE 18,9,2 Cada um deles terá um catálogo com os alunos do quarteirão
de que estiver encarregado, no qual estarão registrados os
nomes e sobrenomes dos alunos e a rua onde moram. Se
nas classes inferiores não se encontrar nem um aluno capaz
de desempenhar esse ofício, ou se não houver número sufi-
ciente, o mestre, seguindo o parecer do Diretor ou do Inspetor
das escolas, recorrerá a alunos de uma classe superior para
suprir a essa incapacidade ou insuficiência.
GE 18,9,3 Os visitantes das classes inferiores que forem escolhidos
em alguma classe superior irão, pelo final da aula da manhã
e durante a merenda da tarde, para marcar (nas classes
inferiores) os ausentes: depois de saudar o mestre, puxarão os
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 227

cordões dos ausentes, sem dizer uma só palavra e, da mesma


forma, retornarão em seguida à sua classe.
GE 18,9,4 Quando os visitantes tiverem, assim, marcado os ausentes
do quarteirão que lhes está assinalado, irão, um após outro,
apresentar seu catálogo ao mestre, o qual lerá os ausentes, e
depois o devolverá a eles.
GE 18,9,5 Cada visitante indicará, cada vez, em seu catálogo, os ausentes
de seu quarteirão puxando o cordão, e terá o cuidado de ir, ao
final das aulas, à casa de cada um deles, sem que o mestre
esteja obrigado a lembrá-los disso.
GE 18,9,6 Cada visitante dará contas ao mestre, ao início da aula se-
guinte, das informações que tiver colhido na casa de cada um
deles, das causas das ausências, com quem falou e quando –
conforme lhe disseram – o ausente voltará à escola.
GE 18,9,7 Os visitantes irão, de quando em quando, de acordo com a
indicação do mestre, e mesmo espontaneamente, à casa dos
colegas doentes do quarteirão de que estão encarregados.
Consolá-los-ão e os estimularão a sofrerem o seu mal pa-
cientemente por amor a Deus. Cientificarão, em seguida o
professor do estado de saúde deles, e se a sua doença piora
ou regride.
GE 18,9,8 Os visitantes falarão sempre com o pai ou a mãe do aluno
ausente, ou com alguma pessoa de idade razoável que possa
informar com segurança sobre a causa da ausência do aluno
e que seja digna de fé. Falarão sempre às pessoas com muita
urbanidade, e as saudarão da parte do mestre.
GE 18,9,9 Se a um dos visitantes se disser que algum dos ausentes de
seu quarteirão está enfermo, ele procurará vê-lo e pedirá
insistentemente que lho permitam, assegurando que é o
mestre quem o envia para saber qual a doença de que sofre e
qual é seu estado de saúde.
GE 18,9,10 Os visitantes tomarão cuidado de não deixar-se corromper,
seja pelos alunos, seja pelos pais, para referirem ao mestre
falsas razões da ausência, e não aceitarão nenhum presente
228 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

dos alunos de seu quarteirão, ou de seus pais, sob qualquer


pretexto que seja.
GE 18,9,11 Cada mestre estará atento sobretudo a isso e, se descobre que o
visitante se deixou corromper, o punirá severamente em lugar
daquele que está ausente, e o deporá de seu ofício, a menos
que prometa nunca mais incorrer nessa falta. Mas se ele recair
por segunda vez, será destituído dele definitivamente.
GE 18,9,12 Quando o mestre duvidar da fidelidade de um visitante,
quando vir, por exemplo, que um aluno se ausenta com
frequência e que as razões aduzidas não são muito sólidas,
enviará, em segredo, um aluno à casa deste ausente, durante
o próprio tempo da aula, para saber mais seguramente se as
razões que foram apresentadas coincidem com as dele.
GE 18,9,13 De tempo em tempo, ter-se-á o cuidado de dar recompensas
aos visitantes que desempenham bem seu ofício, para animá-
los a que continuem sendo fiéis nele. Ordinariamente, estas
recompensas lhes serão dadas, inclusive, todos os meses.
GE 18,9,14 Os visitantes serão escolhidos entre os mais afeiçoados
à escola e os mais assíduos a ela. É necessário que sejam
atilados, bem educados e bem comportados; não sujeitos à
mentira, nem passíveis de serem corrompidos; que tenham
grande respeito pelo mestre, e total submissão e docilidade de
espírito.
GE 18,9,15 Para demonstrarem sua afeição e zelo pela escola, procurarão
estimular os malandros, que se ausentam fácil e levianamente,
a se tornarem assíduos. Inclusive, se encontrarem crianças
errantes e vadias que não frequentam a escola, as concitarão a
que venham a ela.
GE 18,9,16 Os mestres não mudarão estes oficiais durante todo o ano, a
menos que, depois de terem colhido o parecer do Diretor, isso
lhes pareça necessário e que tenham percebido que alguém é
inapto para esse emprego, ou o desempenha mal, ou que haja
outros alunos muito mais capazes de exercê-lo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 229

GE 18,10 Artigo 10º


Dos distribuidores e coletores das folhas
GE 18,10,1 Em cada classe dos escreventes, segundo o número destes,
haverá um ou dois alunos cuja tarefa será distribuir, no início
da lição, as folhas aos que escrevem, recolhê-las quando o
tempo da escrita tiver terminado, e colocá-las em seguida no
lugar em que são guardadas na escola.
GE 18,10,2 Se todos os alunos da classe escrevem, haverá dois
encarregados dessa função. Se apenas uma parte deles o faz e
se esta não for muito numerosa, haverá apenas um.
GE 18,10,3 Os distribuidores e coletores das folhas terão o cuidado de
colocá-las em sequência perfeita, umas sobre as outras, de
acordo com os lugares ocupados pelos alunos aos quais elas
pertencem, a fim de poderem entregar com certeza a cada um
as que são suas.
GE 18,10,4 Passarão de banco em banco, e desde o início de um banco
até o fim dele806, tanto para entregar as folhas, como para
recolhê-las. Colocá-las-ão sobre a mesa, cada uma diante
daquele a quem ela pertence807. Caso um aluno estiver
ausente, colocarão sua folha no lugar dele. Procederão de
maneira a distribuí-las808 com rapidez809, para que nem eles
nem os demais desperdicem o tempo que devem empregar
para escrever810.
GE 18,10,5 Cada vez que houver escrita, esse dois oficiais, imediata-
mente811 antes de recolherem os papéis, passarão por todos os
alunos de que estão encarregados812, e observarão o que cada

806
1720 suprime: e desde o início de um banco até o fim dele,
807
1720 não consigna: Colocá-las-ão sobre a mesa, cada uma diante daquele a
quem ela pertence.
808
1720: e recolhê-las
809
1720: e sem barulho.
810
1720 elimina a parte final: para que nem eles...para escrever.
811
1720: algum tempo
812
1720 substitui: todos os alunos de que estão encarregados, por: todos os que
escrevem, se o mestre o julgar oportuno,
230 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

um escreveu: se escreveu tanto quanto devia; se cada qual


tem um modelo, uma transparência e um mata-borrão, caso
os devem ter813; se a folha não está borrada; se o aluno ao qual
ela pertence não escreveu nada sobre ela além do que está
no modelo. E se verificarem que alguém falhou em alguma
das coisas acima assinaladas814, comunicará em seguida ao
mestre o que estiver falho, e lhe levarão e mostrarão estes
papéis815.Terão cuidado de que todos os alunos816 dobrem o
papel, antes de entregá-lo.

GE 18,11 Artigo 11
Dos distribuidores e coletores dos livros
GE 18,11,1 Em cada classe, haverá certo número de livros de cada lição,
para serem emprestados aos alunos pobres e sem condição de
comprá-los. Um aluno terá o encarregado de distribuir esses
livros àqueles aos quais o mestre ordenar levá-los. Toda classe
disporá de uma lista dos que devem utilizar esses livros, e que
o Superior ou o Inspetor das escolas tiver verificado serem
realmente tão pobres que não lhes é possível adquiri-los. E
esses livros não serão dados para uso de nenhum aluno que
não esteja nessa condição.
GE 18,11,2 Este oficial saberá o número dos livros de cada classe des-
tinados aos pobres. Ao recolhê-los, estará atento para que
em nenhum deles haja nada de estragado, que as folhas não
estejam dobradas, mesmo nos cantos, e que cada um lhe
devolva aquele com que estava; e, se faltar algum, ou algum
aluno tiver danificado o seu, este oficial o comunicará ao
mestre, assim que tiver recolocado os livros em seu lugar.
GE 18,11,3 Terá o cuidado de colocar em ordem as folhas, as palmató-
rias, os livros dos mestres, de dá-los a eles, quando os

813
1720 omite desde: se cada um tem um modelo até: além do que está no modelo.
814
1720: falhou em algum coisa,
815
1720 omite: e lhe levarão e mostrarão esses papéis.
816
1720: os alunos sequem sua escrita e
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 231

necessitarem, e zelará para que nenhuma destas coisas que


estão sob a sua guarda se perca, nem se estrague.

GE 18,12 Artigo 12
Dos varredores
GE 18,12,1 Haverá um aluno, por classe, cujo ofício será varrê-la, con-
servá-la ordenada e limpa. Deverá varrê-la, sem falta, uma
vez por dia, ao final das aulas da manhã. Quando se for à
santa Missa ao final das aulas, ele voltará, para este fim, à
escola. Antes de começar a varrer, moverá os bancos e os
colocará uns sobre os outros817, junto à parede818, uns de um
lado e os restantes do outro. Os819 varredores das duas salas
contíguas se ajudarão mutuamente para erguer os bancos820
ou recolocá-los em seus lugares, mas somente para isso.
GE 18,12,2 Depois de haver retirado os bancos, umedecerá a classe, se
necessário e, a seguir, a varrerá. Levará, com a cesta, o lixo
ao lugar da rua destinado a isso. Depois guardará a vassoura,
a cesta e as demais coisas utilizadas, no lugar costumeiro.
GE 18,12,3 Quando sua vassoura já não mais servir, terá o cuidado de
mostrá-la ao mestre e de seguir as indicações deste para ir
pedir outra na casa821.
GE 18,12,4 O mestre cuidará para que cada um dos varredores varra a
classe de que está encarregado e que ela esteja sempre muito
limpa.
GE 18,12,5 Os varredores não devem ser lentos, mas despachados, para
não levarem demasiado tempo na realização desse ofício.

817
1720 não traz: moverá os bancos e os colocará uns sobre os outros,
818
1720: colocará os bancos junto à parede,
819
1720: Os dois
820
1720: Substitui: se ajudarão mutuamente para erguer os bancos ou recolocá-
los em seus lugares, por: se ajudarão mutuamente, se necessário, para retirar os
bancos, ou recolocá-los em seus lugares,
821
Este parágrafo não consta em 1720.
232 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 18,12,6 Deve-se observar neles grande cuidado com a limpeza e


ordem. É necessário, além disso, serem bem comportados e
não inclinados a desavenças ou parvoices.
GE 18,12,7 Serão escolhidos cada mês, a menos que o mestre, seguindo o
parecer do Diretor ou do Inspetor das escolas, julgue oportuno
que continuem. Cada um deles receberá, todos os meses, uma
estampa e uma sentença como recompensa822.

GE 18,13 Artigo 13
Do porteiro
GE 18,13,1 Cada escola terá apenas uma porta de entrada. Havendo mais
de uma, as outras, a juízo do Diretor, permanecerão fora de
uso e sempre fechadas.
GE 18,13,2 Um aluno de uma das classes, geralmente daquela pela qual
se entra, estará encarregado, segundo ordene o Diretor, de
abrir e fechar essa porta cada vez que alguém entra ou sai da
escola. Será chamado, por isso, de porteiro.
GE 18,13,3 Sentará junto à porta, a fim de poder abri-la imediatamente.
Não a deixará aberta, fechando-a sempre com ferrolho.
GE 18,13,4 Deixará entrar na escola somente os mestres823, os alunos e
o senhor pároco da paróquia em que se localizam as escolas.
Não deixará entrar outras pessoas, a não ser por ordem do
Diretor ou do mestre que, na sua ausência, for o Inspetor
nessa escola824.
GE 18,13,5 Quando alguém bater à porta, ele825, imediatamente, a abri-
rá, o menos que lhe for possível, e somente na medida do
necessário para poder falar e responder à pessoa que bate.

822
1720 não conserva este parágrafo.
823
1720: Irmãos,
824
Em 1720 desaparece a parte final: a não ser...nesta escola.
825
1720 introduz variantes: Quando alguém bater à porta da escola, ele abrirá
imediata e pausadamente, fazendo esperar o mínimo possível, para poder
responder... ao mestre que costuma atender.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 233

Fechará sem tardar a porta com o ferrolho e, depois, avisará


o mestre encarregado de falar (com as pessoas).
GE 18,13,6 Enquanto o mestre falar com alguém, o porteiro deixará a
porta aberta, de tal maneira que se possa ver [do] interior da
sala o mestre e as pessoas com as quais estiver falando. O
porteiro cuidará da porta desde a sua abertura até o início da
saída dos alunos da escola. Por isso, deve ser o primeiro a
chegar.
GE 18,13,7 Guardará silêncio todo o tempo, sem falar a nenhum aluno
que entra ou sai. Se falar a um só, será punido826.
GE 18,13,8 O mestre cuidará para que esse oficial leia quando for a sua
vez, esteja atento à sua lição e a siga todo o tempo em que não
estiver ocupado com a porta827.
GE 18,13,9 Esse aluno terá igualmente a seus cuidados o bastonete entre-
gue aos alunos quando eles vão aos lugares828. Entrega-o ao
aluno que ali for, e estará atento a que nenhum aluno vá sem o
mesmo, e que nunca dois saiam juntos com essa finalidade829.
O guardará todos os dias ao final das aulas, tanto de manhã
como à tarde.
GE 18,13,10 Esse aluno será escolhido dentre os mais diligentes e assí-
duos à escola. Deverá ser bem comportado, discreto, cortês,
silencioso e capaz de edificar as pessoas que venham bater à
porta.

826
1720: Esta segunda frase é excluída.
827
1720 muda o início: Este oficial será fiel em ler quando for sua vez, assim
como os demais; aplicado...porta. E acrescenta, ao final: Deve-se mudá-lo
com frequência, caso possível, e ter cuidado para que não perca seu tempo,
fazendo-o ler no final da aula, ou colocando um outro em seu lugar durante a
leitura.
828
1720: quando eles saem.
829
1720 adiciona: na medida em que isso for possível.
234 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 18,14 Artigo 14
Do chaveiro
GE 18,14,1 Em cada uma das escolas fora da casa, haverá um aluno
encarregado da chave da porta pela qual se entra830. Será
muito fiel em estar todos os dias na hora em que a porta deve
ser aberta, e em que os alunos começam a entrar, isto é, de
manhã, antes das 07h30 e após o meio-dia, antes da uma
hora. Por isto, se cuidará de que ele não more muito longe da
escola831.
GE 18,14,2 Ele está proibido de entregar a chave da escola a aluno
algum sem ordem do mestre832 encarregado do cuidado e da
inspeção833 desta escola, por ordem do Diretor, na ausência
deste.
GE 18,14,3 Quando se regressar à escola após a santa Missa, ele voltará
a ela por primeiro, junto com o porteiro, para conduzir os
alunos. Quando não se retornar para a escola depois da santa
Missa, ele voltará a ela com o porta-terços, o porta-aspersório
e os varredores, e cuidará para que não se faça barulho ao
varrê-la, e não sairá da escola antes deles.
GE 18,14,4 Este aluno estará igualmente encarregado da conservação
de tudo o que estiver na escola e cuidará para que nada seja
levado. Deve ser escolhido dentre os mais assíduos à escola e
que não faltam a ela.
GE 18,14,5 Esse oficial e os três precedentes, quer dizer, o porteiro e os
distribuidores das folhas e dos livros não serão mudados, a
não ser que o mestre, por recomendação do Irmão Diretor ou
do Inspetor das escolas, o julgue necessário.

830
1720 exclui esta primeira frase, razão pela qual inicia por: O chaveiro será....
831
1720 não conserva: Por isso, se cuidará de que ele não more muito longe da
escola.
832
1720: Irmão
833
1720 elimina: e da inspeção, assim como a parte final (por ordem do Diretor, na
ausência deste).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 235

GE 19 Capítulo 19834
Da estrutura, da uniformidade das escolas e dos móveis
adequados a elas
GE 19,0,0-1 As escolas devem ser estruturadas de tal forma que mestres
e alunos possam cumprir nelas facilmente seus deveres:
Os espaços sejam tais que não se necessite nem subir, nem
descer; a porta de entrada esteja, quanto possível, localizada
de maneira que os alunos não passem por outras salas para
entrar na sua.
GE 19,0,0-2 Quando as aulas são dadas em sala que dá para a rua ou para
um pátio comum, é preciso ter cuidado para que as janelas não
estejam a menos de sete pés do soalho, a fim de os transeuntes
não poderem olhar para dentro.
GE 19,0,0-3 É preciso também haver locais para os meninos fazerem suas
necessidades, assentando muito mal irem à rua para isso.
GE 19,0,0-4 É necessário que as salas sejam bem iluminadas e arejadas,
devendo haver, por isso, se possível, janelas nos dois lados de
cada classe, para a ventilação; que tenham pelo menos de 18
a 20 pés, em formato quadrado ou, no máximo, 25, porque as
salas muito compridas ou muito estreitas, são desconfortáveis.
GE 19,0,0-5 Que as salas pequenas e as médias tenham, pelo menos, 15
a 18 pés, em formato quadrado; que a porta de comunicação
esteja disposta de tal modo que seja possível colocar a cadeira
do mestre contra a parede, face a ela.
GE 19,0,0-6 Os bancos nas escolas devem ter diversas alturas, a saber:
de 8, 10, 12, 14 e 16 polegadas, e comprimento de 12 a 15

834
A edição princeps, de 1720, acrescenta um capítulo 9º, uma de cujas partes são
os cartazes, que no manuscrito de 1706 aparecem no capítulo 3º. O Caderno
Lassaliano n. 24 colocou-os ao final, coincidindo com o capítulo 9º de 1720.
Na edição das Obras Completas em francês omitiram-se os cartazes, mas se
apresenta uma parte do capítulo 9º, com a numeração 19 e com o título “Dos
cartazes do alfabeto”; mas reproduzem-se apenas os parágrafos que descrevem
os cartazes. Não sendo os cartazes de 1706 e 1720 exatamente iguais, nesta
edição se transcrevem todos eles, os do manuscrito de 1706 no capítulo 3º, e os
de 1720, em sua integridade, no capítulo que segue.
236 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

pés, tudo encaixado. A espessura de cada banco deve ter ao


redor de uma polegada e meia, e a largura, aproximadamente
6. Cada banco deve ter três conjuntos de pés de apoio, e cada
conjunto, duas peças verticais de sustentação e uma travessa
na base.
GE 19,0,0-7 Em cada uma das classes inferiores deve haver dois bancos
de 8 polegadas de altura, para os alunos menores; 3 de 10
e 3 de 12, para os alunos médios e os maiores, bancos cujo
número pode ser diminuído ou aumentado de acordo com a
quantidade de alunos.
GE 19,0,0-8 Em cada sala dos maiores, deve haver número de mesas de
acordo com a quantidade de alunos para o exercício da escrita:
duas mais altas, para os maiores e as outras mais baixas, para
os menores e os pequenos. Os bancos devem ser do mesmo
comprimento.
GE 19,0,0-9 As mesas mais altas devem ter dois pés e três polegadas na
parte posterior, e dois pés e uma polegada na frente, para
dar inclinação à mesa; os bancos que servem a essas mesas
medirão 16 polegadas de altura. As mesas mais baixas devem
medir dois pés de altura na parte de trás e, na frente, um pé e
dez polegadas; os bancos dessas mesas medirão 14 polegadas
de altura. As mesas devem ter 15 polegadas de largura e pelo
menos uma e meia de espessura. Seu comprimento será de 9,
12 e 15 pés, de acordo com o tamanho da sala.
GE 19,0,0-10 Cada mesa deve ser sustentada por três cavaletes ou pés de
mesa. A parte superior de cada cavalete deve ter o mesmo
comprimento que a largura da mesa, a espessura de umas três
polegadas e a largura de cinco. Os três pés que deverão ser
encaixados com a parte superior devem ter, cada um, duas
polegadas dos quatro lados e a travessa por baixo, a abertura
de umas 15 polegadas, para a solidez e a estabilidade do
cavalete. Cada pé da mesa deve estar preso por um parafuso
grosso de cabeça quadrada, afundado ao nível da mesa,
atravessando de lado a lado a tábua e o cavalete, e fixado na
parte inferior por uma porca.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 237

GE 19,0,0-11 Na medida do possível, haverá, sobre essas mesas, tinteiros


de chumbo, onde os alunos possam servir-se de tinta, dois a
dois.
GE 19,0,0-12 Se, contudo, algum Irmão encontrar posteriormente forma
diferente de construir mesas dos que escrevem, que sejam
mais sólidas e de construção mais fácil, ele a proporá ao
Irmão Superior do Instituto, antes de executá-la.
GE 19,0,1 Os dois cartazes do alfabeto e das sílabas serão confeccio-
nados da maneira seguinte e iguais em todas as casas das
Escolas Cristãs.

MODELO DE CARTAZES DO ALFABETO

MODELO DE CARTAZES DAS SÍLABAS

me ca et eux ce ga nos
em gi jo cho of cu qui
oeu en ei l’hu vu go ont
n’y ge in gue ha on sça
im eu xi cun ou hé pei
est ce el gne gu j’i nez
om ex ni hau co ze moy
238 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 19,0,2 Os cartazes terão, pelo menos, dois pés e quatro polegadas de


largura e um pé e oito polegadas de altura835.
GE 19,0,3 As letras e as sílabas serão colocadas umas por cima das
outras, em forma de coluna, assim como no modelo das duas
tabelas anteriores.
GE 19,0,4 O cartaz do alfabeto será dividido em duas partes: a primeira,
com as letras minúsculas e a segunda, com as maiúsculas,
como indicado no modelo anterior.
GE 19,0,5 Cada cartaz terá seis linhas e cada linha, cinco letras. As letras
unidas e ligadas entre si, constituem como uma única letra,
por exemplo st, sl, fl e outras que, em cada linha, ocupam
somente o lugar de uma letra.
GE 19,0,6 As duas partes do cartaz das letras minúsculas e maiúsculas
ficarão separadas uma da outra aproximadamente três pole-
gadas, de maneira a haver três polegadas de distância entre
a última letra de cada linha da primeira parte e a primeira
letra da segunda. Que haja, por exemplo, três polegadas de
afastamento entre o e minúsculo, que é a última letra da
primeira linha da primeira parte, e o A maiúsculo, que é a
primeira letra da primeira linha da segunda parte, e assim por
diante.
GE 19,0,7 O início de cada letra, tanto numa como noutra parte, deve
distar ao menos uma polegada e dois terços do começo da
letra seguinte, e as linhas deverão distar, pelo menos, três
polegadas uma da outra.
GE 19,0,8 O segundo cartaz, o das sílabas de duas ou de três letras,
deve ter sete linhas e cada linha sete sílabas. As três primeiras
sílabas, assim como a quinta e sexta, devem ser de duas letras;
a quarta e sétima, de três, conforme está indicado no modelo
anterior.
GE 19,0,9 É preciso que haja, pelo menos, duas polegadas e dois
terços entre cada sílaba, quer dizer: desde o final da sílaba

835
1720 adiciona: não compreendidas as molduras.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 239

precedente e o início da seguinte, e as linhas devem distar,


mais ou menos, três polegadas uma da outra.
GE 19,0,10 O cartaz dos algarismos franceses e romanos terá três pés e
oito polegadas de altura e sete pés de largura; será dividido
em dois painéis.
GE 19,0,11 No primeiro, será colada grande folha de papel, na qual estarão
impressos os algarismos franceses e romanos; no outro, as
vogais, as consoantes, as pontuações e as abreviaturas.

MODELO DE NÚMEROS FRANCESES


de milhao
Centena

de milhao
Dezena

Milhão

demilhar
Centena

de milhar
Dezena

Milhar

Milhar
Centena

Dezena

Unidade
1
3 2
5 2 3
6 6 5 4
9 8 7 6 5
6 3 9 8 7 6
6 5 6 3 9 8 7
2 6 3 6 7 3 9 8
1 2 3 4 5 6 7 8 9
10 11 12 13 14 15 16 17 18
19 20 35 43 51 62 73 80 93
100 1012 12011 1673167271
240 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

MODELO DE VOGAIS E CONSOANTES

Vogais
a e i o u
Consoantes
bê cê dê efe gê agá cá ele eme ene
b c d f g h k l m n
Pontuação
Ponto . dois pontos : ponto e vírgula ; vígula ,
Interrogação Exclamação
(Onde está Deus?) (Ó meu Deus!)
Apóstrofo
Il n’y a qu’un seul Dieu. (Existe um só Deus).
Parêntesis
Dai (vos diz Jesus Cristo) e se vos dará.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 241

Hífen
Y-a-il, est-il, donnez-moi (Há, é ele, dá-me).
Acento agudo
Aimé, loué, prisé, pensé, amitié
(Amado, louvado, valorado, pensamento, amizade)
Acento grave
Près, auprès, où, à, là (perto, junto, onde, a, lá)
Circunflexo
Vôtre, même, maître, être (Vosso, mesmo, mestre, ser)
ë ï ü encimados por dois pontos
vuë, ruë, aïez, haïr, seüil, deüil (vista, rua, tende, odiar, limiar, morte)
Abreviaturas

Deu, ãte, numquã, ej’, utíq, Doñs

GE 19,0,12 Em cada uma das salas em que se escrevem textos seguidos,


haverá também um grande cartaz de 5 pés de comprimento e
3 de altura, formando dois painéis, sobre cada um dos quais
possam ser colocadas duas operações aritméticas, afora a
divisão e as operações que dela dependem, para as quais há
um quadro inteiro.
GE 19,0,13 Este grande cartaz deve ser afixado no lugar mais adequado da
parede; sua parte inferior deve estar a 5 pés ou mais ou menos
isso, do soalho, e a parte superior, inclinada para frente.
GE 19,0,14 É preciso igualmente que os dois painéis desse cartaz estejam
pintados a óleo de cor preta, de maneira que as operações
possam ser nele escritas com giz.
GE 19,0,15 O cartaz deve ser feito desta maneira:
242 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Adição Subtração
214 l. 14. 9. 4 606 504. l.
3101. 15. 6. 2 105 063.
523. 10. 3.
_____________
___________ ___________
_____________
___________ ___________

GE 19,0,16 As cadeiras dos mestres, em cada sala, terão, desde o assento


até o estrado, vinte polegadas; o estrado, onde se encontra a
cadeira, medirá 12 polegadas de altura; do assento até o alto
do encosto, haverá 18 polegadas. O assento será de palha.
GE 19,0,17 Haverá um cofre ou armário para guardar as folhas e outros
pertences dos mestres e alunos.
GE 19,0,18 Em cada sala, haverá também um crucifixo em papel, uma
imagem da Santíssima Virgem, uma de São José, do anjo
da guarda e as cinco sentenças mencionadas no artigo 5º,
do capítulo 2º desta 2ª parte. Tudo colado numa moldura ou
caixilho.
GE 19,0,19 Finalmente, na aula dos escreventes haverá uma sineta a fim
de dar os sinais para os exercícios das escolas.

GE 19,1 As doze virtudes de um bom mestre


GE 19,1,1 Gravidade, silêncio, humildade, prudência, sabedoria, pa-
ciência, moderação, mansidão, zelo, vigilância, piedade,
generosidade.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 243

GE 20 TERCEIRA PARTE

GE 20,1 Capítulo 20
Deveres do Inspetor das escolas
GE 20,1,1 Em todas as casas do Instituto, haverá um Inspetor das escolas,
encarregado da supervisão de todas as escolas dependentes
de uma mesma casa. Essa função será exercida pelo Diretor.
Caso houver três ou quatro escolas dependentes da casa que
ele dirige, poder-se-á dar-lhe um Irmão para auxiliá-lo nessa
função nas escolas, cuja supervisão, no entanto, cabe a ele, de
maneira que tal Irmão nada fará que não seja por ordem sua,
e lhe prestará contas de tudo o que tiver feito e de tudo o que
tiver ocorrido nas escolas.
GE 20,1,2 O Inspetor das escolas atuará sempre em alguma das escolas
de que tem a direção, ora numa, ora em outra, não segundo
sua escolha, mas conforme a necessidade que houver de sua
presença; uma depois da outra e por ordem, conforme o que
lhe tiver indicado o Superior do Instituto.
GE 20,1,3 Não se ausentará sem evidente necessidade; e, se for Diretor,
comunicará ao Superior do Instituto por quanto tempo esteve
ausente, a necessidade e as razões de sua ausência.
GE 20,1,4 Permanecerá na mesma escola, do começo ao fim, e estará
atento a tudo o que se passar em todas as classes. Cuidará
para que as regras e práticas da escola sejam observadas
exatamente sem mudança, nem alteração nenhuma.
GE 20,1,5 O ofício de Inspetor das escolas consiste principalmente
em três coisas: 1. na supervisão que deve exercer sobre as
escolas, os mestres e os alunos; 2. em distribuir os alunos nas
classes e em indicar-lhes a lição; 3. em promovê-los, quando
capazes, a uma lição mais adiantada.
244 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 21 Capítulo 21
Da supervisão do Inspetor das escolas

GE 21,1 Artigo 1º
Da supervisão que o Inspetor deve exercer sobre as escolas
GE 21,1,1 O Inspetor das escolas cuidará para que, na porta de cada
uma delas, haja pia com água benta em quantidade sempre
suficiente.
GE 21,1,2 Que, em todas as classes, se encontrem quatro imagens: um
crucifixo, uma imagem da Santíssima Virgem, outra de São
José e outra da Escola de Jesus836; que em todas as classes
haja todas as sentenças que servem de sinal de advertência.
GE 21,1,3 Que, em cada escola, haja terços suficientes para os alunos
que não sabem ler.
GE 21,1,4 Que haja, em cada escola, um aspersório para se persignar
com água benta ao entrar na igreja e ao sair dela; que, em cada
classe, haja uma cesta para recolher o pão dado aos pobres
durante o desjejum e a merenda.
GE 21,1,5 Que nela haja tantos livros de cada lição, quantos necessários
para os pobres que não os podem adquirir.
GE 21,1,6 Que também haja papel para os escreventes pobres que não
o podem ter; que haja todos os livros necessários para cada
mestre; que não haja livros diferentes dos da escola, seja qual
for a razão.
GE 21,1,7 Que, em cada classe de escreventes, haja uma prateleira ou
um armário, se não houver um cômodo especial, para guardar
todas as folhas dos escreventes, os manuscritos, os livros para
os pobres; e que estes últimos estejam bem ordenados.
GE 21,1,8 Que, entre cada dois escreventes, haja tinteiros embutidos nos
bancos, e que todos estejam tapados; que haja um bastonete

836
19,0,18, em lugar da Escola de Jesus prevê a imagem do anjo da guarda.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 245

com uma corda, na ponta da qual se possa passar o braço; que


cada aluno o tome para ir aos lugares837, e que haja um só.
GE 21,1,9 Que haja tantas vassouras quantas forem as classes, e que
sejam substituídas quando necessário; que nas escolas fora
da casa haja um balde, um regador, um rapador, um cesto de
lixo; que haja um catálogo de cada banco; que haja apenas
um feixe de varas ou um açoite para todas as classes de uma
mesma escola; e que um dos mestres esteja encarregado deles
por ordem do Irmão Diretor; que tudo esteja bem arrumado,
ordenado e limpo.
GE 21,1,10 Que todos os bancos estejam sãos e salvos838, isto é, em bom
estado, e que sejam consertados quando houver mínimo reparo
a fazer. Que estejam colocados em ordem e sempre no mesmo
lugar; que nenhum deles seja trocado sem o conhecimento e
sem ordem do Irmão Diretor.
GE 21,1,11 Que as salas de aula sejam limpas, sem papel, pontas de pena,
caroços no soalho, nem qualquer outra coisa que o possa sujar
ou estragar. Que as classes sejam varridas todos os dias, e, ao
varrê-las, sejam borrifadas.
GE 21,1,12 Que não haja barro e sujeira grudados no assoalho das classes;
e que sejam raspados de vez em quando; que as vidraças se
encontrem sempre em bom estado.

GE 21,2 Artigo 2º
Da supervisão que o Inspetor das escolas deve exercer
sobre os mestres
GE 21,2,1 Com relação aos mestres, o Inspetor das escolas velará para
que os que dão aula na escola anexa à casa, dirijam-se a
ela imediatamente após o terço, e que não entrem em lugar
nenhum da casa sem necessidade e sem autorização.

837
Eufemismo usado para designar a privada, latrina, banheiro primitivo.
838
Littré, na 6ª acepção da palavra são, ensina que “são e salvo” significa “sem
acidente, ferimentos, estragos, tratando-se de pessoas e coisas”. E exemplifica :
“As mercadorias chegaram sãs e salvas”.
246 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 21,2,2 Que todos os mestres que vão às escolas fora da casa, saindo
do oratório, se dirijam direto à porta, sem parar em nenhum
lugar; rezem o terço durante todo o caminho e não conversem.
GE 21,2,3 Que, na rua, andem muito modestos, edificando a todos, por
seu exterior.
GE 21,2,4 Que não abordem ninguém nas ruas, e não entrem em
nenhuma casa, sob pretexto algum; se alguém se dirigir a
eles nas ruas, que somente o primeiro [mestre] responda, em
poucas palavras, ao que lhe for dito ou perguntado, caso possa
ou deva fazê-lo; do contrário, se desculpará cortesmente.
GE 21,2,5 Que todos iniciem a aula e os exercícios da escola exatamente
na hora marcada, sem tardar um só momento; que em todas as
classes, o tempo que cada lição deve durar seja estabelecido
de acordo com o número de alunos.
GE 21,2,6 Que nenhum mestre encurte ou prolongue o tempo de cada
lição assim estabelecido.
GE 21,2,7 Que os mestres, em suas classes, nada introduzam contrário à
Regra e sem ordem do Diretor; que sempre estejam ou sentados
ou de pé diante da cadeira, e que não saiam de seu lugar a não
ser por necessidade evidente; que vigiem permanentemente
seus alunos e sempre os tenham sob o olhar.
GE 21,2,8 Que, no tempo das lições, se apliquem a fazer ler os alunos
pausada e distintamente, nem alto nem baixo demais, sem
pronúncia errônea, segundo a sequência e as normas prescritas
para a leitura.
GE 21,2,9 Que sempre utilizem o sinal, nunca falando em voz alta aos
alunos durante o tempo das lições; que sempre sigam em seu
livro e sejam exatos em corrigir durante todo o tempo das
lições.
GE 21,2,10 Que, na escola, não leiam em nenhum livro a não ser nos
manuais adotados e na página da lição; que façam ler todos
os alunos, sem excluir nenhum; que façam ler a cada um
aproximadamente tanto quanto aos demais.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 247

GE 21,2,11 Que os mestres de escrita cuidem muito para que os escreventes


segurem adequadamente a pena e mantenham correta postura
do corpo, e que lhes corrijam os erros cometidos na escrita;
numa palavra, que observem tudo o que está indicado na
regra da escrita.
GE 21,2,12 Que façam os alunos escrever em letra redonda ou bastarda
de acordo com seu pendor, idade, emprego que poderão
exercer e o tempo que devem permanecer na escola; que se
apliquem tanto e mesmo com mais empenho em instruir os
pobres que os ricos, que não deixem nenhum de lado, e não
façam acepção de ninguém.
GE 21,2,13 Que não tenham amizade particular com nenhum aluno; que
em momento nenhum lhes [falem] em particular, a não ser em
poucas palavras, em razão de ausência passada ou prevista, e
que nunca os façam sentar perto de si; que tenham o cuidado
de ensinar as orações aos recém-chegados; que façam exata-
mente o que é de seu dever.
GE 21,2,14 Que nenhum mestre escreva na escola, exceto o mestre de
escrita, e somente para corrigir; que um Irmão não converse
com outro na escola, a não ser ao que estiver no lugar do
Inspetor; se tiver alguma coisa ou alguma sugestão a dar com
relação à escola, que se dirija ao Diretor.
GE 21,2,15 Que dê o catecismo na hora marcada e sobre a lição da
semana; que nesta aula nada afirme que não tenha lido em
livros devidamente aprovados e autorizados, e que nunca
decida se algo é pecado mortal ou venial. Que nunca re-
cebam839 nada dos alunos e, se tomarem alguma coisa deles,
ou por brincarem com ela, ou por outro motivo qualquer, que
a devolvam no final da aula, ou a entreguem ao Irmão Diretor,
se julgarem sua devolução inútil ou prejudicial aos alunos.
Que nunca deem alguma coisa a nenhum aluno, a não ser
como recompensa, e não por amizade ou simpatia.

839
Do singular (ele, mestre) se passa ao plural (eles, mestres), o que ocorre também
em outras passagens do Guia.
248 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 21,2,16 Que não se familiarizem ou façam amizade com ninguém,


por qualquer motivo que seja; que ninguém os venha visitar
na escola e que não falem com ninguém, a não ser com os pais
dos alunos, quando, na ausência do Irmão Diretor, estes vêm
trazê-los de volta; que sempre lhes falem muito educadamente
e em poucas palavras. Que não deixem entrar ninguém na
escola, fora do padre da paróquia em que se encontram as
escolas, ou alguma outra pessoa que tenha autorização do
Diretor de visitar as escolas e conhecer a maneira de lecionar.
Que os mestres não saiam de seu lugar a não ser no caso das
necessidades comuns e ordinárias; que não se deixem levar à
impaciência ao repreenderem ou corrigirem os alunos; que as
correções com varas sejam raras; que as com palmatória não
sejam demasiado frequentes; e que ambas não ultrapassem o
prescrito pela Regra.
GE 21,2,17 Que não corrijam durante o catecismo e as orações; que os
mestres novos e jovens não corrijam com varas, sem o terem
proposto ao Inspetor ou a quem lhe faz as vezes, e que não
apliquem a palmatória com demasiada frequência.
GE 21,2,18 Que os mestres imponham as penitências seriamente e so-
mente as prescritas. Que tenham o cuidado de fazer seus
alunos ouvirem todos os dias a santa Missa, com piedade
e modéstia; que os mestres não estejam com livro nenhum
durante a santa Missa, mas que se ocupem unicamente em
vigiar os alunos. Que os que lecionam fora de casa retornem
a ela assim que as aulas tiverem terminado, sem demorar-se
na escola, nem em nenhum lugar fora da casa; que se dirijam
imediatamente à sala dos exercícios.
GE 21,2,19 Que os mestres informem, na volta da escola, sobre as pessoas
que tiverem vindo, tanto à escola, quanto à porta desta, os
motivos pelos quais vieram, o que ali fizeram e disseram, o
Irmão com o qual falaram, e o que lhe disseram.
GE 21,2,20 O ponto principal a que estará atento e com o qual terá grande
cuidado é o de impedir que os mestres golpeiem os alunos
com os pés, as mãos ou a vareta; que não falem alto, a não
ser raramente e por grande necessidade, fora do tempo do
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 249

catecismo, do exame e das reflexões; que não saiam de seu


lugar; que sigam, no livro [o] que se estiver lendo; que não
façam nada fora de seu dever, em qualquer momento que
seja. Que corrijam a escrita no tempo e segundo a ordem
estabelecida. Que não tenham aluno perto de si; e que um
mestre não converse com outro, a não ser com o encarregado
de escusar os ausentes, quando algum deles for trazido, ou o
encarregado de falar, se for preciso, e que, mesmo este, nas
duas ocasiões, só fale do que é necessário.
GE 21,2,21 Que não recebam, na porta da escola, pessoa alguma que
venha para falar ou fazer-lhes visita, e que não saiam para
falar com ninguém fora da escola. Que não recebam nada,
quer dos alunos, quer de seus pais, ou de qualquer outra pes-
soa, seja qual for a razão ou a maneira, e que não retenham
seja o que for dos alunos, mesmo apenas um alfinete.
GE 21,2,22 Todas essas faltas estão entre as mais graves e consideráveis.
Não devem ser toleradas nos mestres nem sequer uma só vez,
e eles nunca devem incorrer nelas, quaisquer que sejam os
motivos que possam alegar para cometê-las.

GE 21,3 Artigo 3º
Da supervisão que o Inspetor das escolas deve exercer
sobre os alunos
GE 21,3,1 Com relação aos alunos, o Inspetor das escolas estará atento
para que estejam presentes antes do começo das aulas; que
não faltem sem licença e sem justa necessidade bem evidente;
e que sejam modestos, recolhidos e edificantes nas ruas. Que
não se aglomerem, nem ao virem à escola, nem ao regressarem
dela; que nenhum fique parado ou gritando nas ruas; que, uma
vez aberta a porta da escola, não permaneçam diante dela, nem
na rua; que não briguem nem entre si nem com outros; que
não se detenham nas ruas, nem sequer para urinar; que não
façam suas necessidades nas ruas, nem vindo à escola, nem
retornando dela. Que entrem modesta e comportadamente na
classe, ficando nela em silêncio; que sempre tenham os olhos
pregados no livro, seguindo a lição e pronunciando em voz
baixa o que o leitor diz alto.
250 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 21,3,2 Que todos leiam cada vez; e que, durante o tempo da escrita,
todos escrevam, nem demasiado depressa, nem lento demais,
e que formem bem as letras. Que não falem com o mestre sem
necessidade, e o façam em voz baixa e em poucas palavras;
que não conversem com os colegas e não fiquem olhando
para todos os lados.
GE 21,3,3 Que saibam bem as orações e o catecismo e, se capazes,
mesmo as respostas da santa Missa; que rezem todos os dias,
pela manhã e pela tarde; que tenham devoção à Santíssima
Virgem e a São José; que sejam modestos, tenham piedade e
rezem sempre na igreja.
GE 21,3,4 Que, ao passarem diante de alguma igreja, vindo à escola,
entrem nela para rezar e saudar o Santíssimo Sacramento;
que se confessem de vez em quando, e mesmo o mais fre-
quentemente possível; que se peça, por isso, a algum sacer-
dote fazer o obséquio de ouvi-los amiúde em confissão.
GE 21,3,5 Que aqueles que comungam o façam ao menos uma vez ao
mês; que sejam assíduos à paróquia nos domingos e festas,
e frequentem regularmente o catecismo; que tenham grande
respeito por seu pai e mãe, e que [os] assistam com muita
humildade e consideração.
GE 21,3,6 Que saúdem com respeito pessoas de bem, principalmente
eclesiásticos, religiosos, seus mestres e pessoas de autoridade.
GE 21,3,7 Que nenhum aluno vá aos lugares sem o bastonete,840 que
nunca saiam para isso dois ou mais ao mesmo tempo, que
os mantenham limpos e asseados. Que todos tenham seu
companheiro ao sair da escola, que andem sempre com ele, e
não se juntem a outros, até chegar em casa.
GE 21,3,8 Que não frequentem más companhias; que principalmente
evitem, com grande cuidado, a das meninas, mas andem com
companheiros bem comportados, honestos, bem educados e
que os podem levar ao bem com seus exemplos e palavras.

840
O bastonete evitava que dois alunos fossem ao mesmo tempo “aos lugares”
(GE 18,13,9).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 251

Que todos os oficiais de cada escola e cada classe cumpram


exatamente o seu dever.
GE 21,3,9 A atenção que o Inspetor das escolas deve prestar a todos
esses pontos não dispensará a que os mestres devem ter
para observá-los e fazer que sejam observados. Um e outros
devem esmerar-se por manter a boa ordem em suas escolas, de
forma unânime e dependente, e por espírito de regularidade e
de fidelidade ao que lhes é prescrito e que Deus pede deles.

GE 22 Capítulo 22
Da admissão dos alunos

GE 22,1 Artigo 1º
Dos que devem admitir os alunos na escola, e da maneira
de fazê-lo
GE 22,1,1 Somente o Superior841 ou, em sua ausência e por ordem dele,
o Inspetor das escolas admitirá os alunos que se apresentem
para virem à aula.
GE 22,1,2 Ele os admitirá no primeiro dia de aula da semana; se, na
cidade, houver apenas duas escolas dependentes de uma
casa, ele admitirá, de manhã, os alunos para uma escola, no
primeiro dia de aula, e os alunos para a outra escola à tarde
do mesmo dia.
GE 22,1,3 Se houver três ou quatro, matriculará os da 3ª na manhã do
segundo dia de aula, e os da 4ª, no mesmo dia, à tarde.
GE 22,1,4 Os alunos somente serão recebidos no dia da semana e
no horário destinados para a admissão. Todos os que se
apresentarem em outro dia e em outro horário, não serão
atendidos e terão a matrícula adiada para o dia e o momento
indicados, a não ser que o Diretor estiver presente na escola
quando se apresentarem.
GE 22,1,5 Todos aqueles aos quais for impossível ou difícil estar na
escola no dia e na hora marcados para a matrícula dos alunos,

841
Isto é, o Diretor, apesar do que estatui RD 1,1.
252 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

poderão dirigir-se à casa no domingo, dia em que o Diretor


admitirá todos os que se apresentarem para qualquer uma das
escolas.
GE 22,1,6 Quando o Superior admitir, na casa, algum aluno para outras
escolas fora daquela da residência, lhe dará um bilhetinho
para ser admitido, constando nele nome e sobrenome do alu-
no, data de admissão, lição em que será colocado, nome do
pai e da mãe, ou da pessoa com que mora, ofício, rua, insígnia
e domicílio, da seguinte forma:
GE 22,1,7 Jean-Baptiste Gribouval: 6 anos de idade, mora com Pierre
Gribouval, cardador de lã, seu pai, rua da Couture, numa loja;
foi admitido para a escola da Rua Thillois, a 19 de outubro de
1706, para a primeira linha do primeiro cartaz.
GE 22,1,8 François Richard: 12 anos de idade, mora na casa de Simon
Richard, seu pai, fiscal, ou na casa da viúva Richard, sua mãe,
revendedora, ou em casa de seu tio Jean Richard, escrivão,
rua de l’Oignon, na casa de um cirurgião, 2º piso, na frente ou
nos fundos; foi admitido para a escola a 1º de maio de 1706,
para escrever na 6ª ordem da escrita redonda.

GE 22,2 Artigo 2º
Das coisas de que é preciso informar-se ao admitir os
alunos
GE 22,2,1 O Irmão Diretor não admitirá criança para a escola que não
lhe seja apresentada pelo pai ou a mãe, ou pela pessoa com
a qual mora, ou por alguém aparentado com ele, ou de idade
razoável, e que se possa ter certeza de que vem da parte deles.
GE 22,2,2 Ao admitir um aluno, o Diretor se informará, com a pessoa
que o apresenta, acerca do nome e sobrenome da criança, de
seu pai e da mãe, ou da pessoa responsável, sua profissão,
residência, rua, insígnia e paróquia; a idade da criança; se
foi crismada, se fez a primeira comunhão; se já esteve numa
escola, de quem, por que a deixou, se não foi por alguma
travessura ou por ter sido castigada; se já esteve nas Escolas
Cristãs, por quanto tempo; se foi excluída, o que o Diretor
saberá pelo registro, se este estiver em dia.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 253

GE 22,2,3 Se for menino maior, que projeto os pais têm sobre ele: se
querem fazer-lhe aprender uma profissão e em quanto tempo;
sua capacidade para ler e escrever. Ele o fará ler algumas
letras, soletrar ou ler em francês ou em latim, fazendo-o ler
em alguma parte de um livro não comum, para que não leia
mecanicamente. Quais sãos os bons e o maus hábitos ou
qualidades do menino; se tem alguma indisposição ou enfer-
midade corporal, sobretudo escrófula, tinha e epilepsia, ou
alguma outra doença contagiosa, ao que se deve estar muito
atento; se tiver alguma enfermidade corporal, o Diretor se
informará se isso o pode impedir de frequentar a escola.
GE 22,2,4 Há quanto tempo não se confessa, se o faz a miúdo; se não
frequenta libertinos; ele se informará se o aluno dorme so-
zinho ou com alguém e com quem.

GE 22,3 Artigo 3º
Do que se deve exigir dos pais e dos alunos na hora da
admissão
GE 22,3,1 Ao se admitir algum aluno na escola, se exigirá dos pais e
do aluno que tenha todos os livros necessários, e um livro
de orações842, caso souber ler, ou um terço, se não souber ler,
para rezar na santa Missa.
GE 22,3,2 Que seja assíduo à escola, nunca faltando sem autorização;
que seja pontual em estar todos os dias na escola, de manhã
às 7h30, e a uma hora depois do meio-dia843.
GE 22,3,3 Que não falte, sem grande necessidade e sem autorização,
ao catecismo e à missa cantada nos domingos e festas,
sem o que será desligado; que não tome o desjejum nem a
merenda fora da escola, para que se lhe ensine a comer cristã
e educadamente.
GE 22,3,4 Que não conte nada do que tiver passado na escola, quer com
outro aluno, quer com ele mesmo. Se contar algo em casa, ou
alhures, será severamente punido.

842
Exceto dos que são demasiado pobres para tê-los (GE 21,1,5).
843
O Guia (1,1,1 e 1,1,2) deixa meia hora para se reunirem.
254 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 22,3,5 Que os pais não deem ouvidos às queixas que os filhos lhes
possam fazer, seja contra o mestre, seja contra o proceder
deste, mas que, ao lhes fazerem queixa de alguma coisa, eles
façam o obséquio de vir falar com o mestre, sem que os filhos
estejam presentes, e ele procurará fazer com que fiquem
satisfeitos. Que os pais enviem os filhos pequenos à escola
tanto durante o inverno como durante o verão.
GE 22,3,6 Que o aluno tenha roupa adequada e só venha à escola com
roupa conveniente e limpa, bem penteado e livre de piolhos,
ponto ao qual o mestre estará atento com todo os alunos,
principalmente com os menos asseados; que nunca venham à
escola com as pernas expostas, e só de camisa844; do contrário,
serão castigados e mandados para casa.
GE 22,3,7 Que não se banhe no verão, o que constitui grave risco para a
pureza; que, no inverno, não deslize na neve, nem a arremesse
nos demais; que não frequente meninas, nem companheiros
de mau comportamento, mesmo que seja apenas para brincar
com eles.
GE 22,3,8 Que não deite com o pai ou a mãe, nem com alguma de suas
irmãs, nem com pessoa do outro sexo; e, se o faz, deve-se
comprometer os pais a que o separem e, se for preciso, avisar
o padre da paróquia em que reside, para obrigá-lo a isso.
GE 22,3,9 Que os pais não deem dinheiro aos filhos e não permitam que
o tenham, por pouco que seja, já que isso, ordinariamente,
é uma das principais causas por que se desencaminham.
Se o aluno esteve em outra escola, que os pais acertem as
contas com o mestre anterior do filho845, se eventualmente lhe
ficaram devendo algo.

GE 22,4 Artigo 4º
Dos que podem ou não podem ser admitidos
GE 22,4,1 Há quatro tipos de crianças que podem ser apresentadas para
serem admitidas em nossas escolas: as que estiveram em

844
Veste que vai do pescoço e ombros até os joelhos (Dictionnaire de l’ Académie).
845
Cf. MR 194,1,1.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 255

outras escolas; as que nunca frequentaram escola; as que já


estiveram em nossa escola e a deixaram, quer para trabalhar,
quer para ficarem ociosas, ou para irem a outra escola; e as
que foram expulsas da escola.

GE 22,4,2 Seção 1ª
Dos que nunca frequentaram escola
Não se admitirá nenhum aluno que não tenha seis anos com-
pletos, a não ser algum cuja inteligência e tamanho supram a
falta de idade. Não se admitirão crianças pequenas para virem
somente durante o verão, ou quando faz bom tempo, ou mais
tarde do que as outras.
GE 22,4,3 Não se receberá nenhum aluno que seja tão obtuso e embotado
de inteligência que não seja capaz de aprender nada, e que
possa distrair os demais e perturbar a aula.
GE 22,4,4 Seja qual for o motivo alegado, não se inscreverá nenhum
aluno que tenha alguma doença contagiosa, como escrófula,
tinha perniciosa, epilepsia. Se acontecer que algum aluno da
escola vier a contrair alguma dessas enfermidades, se provi-
denciará uma visita do médico da casa e, se o mal é dessa
natureza, sua frequência à escola será interrompidada até que
esteja recuperado, caso o mal tenha cura.
GE 22,4,5 Não se tolerará que o aluno, cujos pais são ricos, venha depois
do primeiro dia de aula sem ter os livros de que necessita para
a sua lição e, caso seja escrevente, sem o papel, as penas e
um estojo. Tampouco se receberá aluno algum que não possa
ser assíduo à escola, quer por alguma enfermidade, quer por
outra razão. Essa assiduidade consiste em não faltar mais de
duas vezes por semana à aula, mesmo por motivo sério e com
autorização.
GE 22,4,6 Não se admitirá ninguém que, nos domingos e festas, não
queira assistir ao Ofício, com o mestre e os alunos, e ao
catecismo; e se alguém não assistir assiduamente a eles, será
desligado.
256 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 22,4,7 Não se aceitará nenhum aluno só para fazer sua leitura ou


para escrever e voltar em seguida para casa. Podem-se receber
alguns alunos que, por motivo de trabalho ou outra ocupa-
ção, cheguem mais tarde, mas em hora determinada. Não se
aceitará nenhum que não assista ao catecismo e à oração.
GE 22,4,8 Não se poderá receber nenhum aluno para chegar mais
tarde que o conjunto, a não ser que seja por seu trabalho. Se
procurará que aqueles aos quais se concedeu virem mais tarde
que os outros, na parte da manhã, assistam à santa Missa com
os demais.
GE 22,4,9 Pode-se admitir algum aluno para frequentar a escola somente
à tarde, mas não para vir apenas de manhã; não se pode receber
aluno para o qual se pede que seja dispensado algumas vezes
a fim de cuidar da casa ou das crianças.
GE 22,4,10 Podem-se admitir alunos que trabalham na escola de um
ofício846 que não seja estorvo, como tecelagem e outro seme-
lhante. Por maior que seja, não se receberá nenhum aluno que
não proceda em tudo como os demais.

GE 22,4,11 Seção 2ª
Dos que estiveram em outra escola
Não se receberão alunos que estiveram em outras escolas sem
saber o motivo pelo qual as deixaram.
GE 22,4,12 Caso se notar que os alunos abandonaram a escola em que
estiveram por excessiva propensão à mudança, se mostrará
aos pais que isso prejudica muito as crianças; que devem
decidir-se a não mais transferi-las e que, se no futuro, deixa-
rem a escola, não serão mais aceitas. Se o motivo de haverem
deixado a escola é o terem sido merecidamente corrigidas, é
preciso dizer aos pais que não devem dar atenção às queixas
dos filhos contra o mestre; que, se não cometessem faltas,
não seriam corrigidos, e que eles devem concordar que sejam

846
Isto é, das corporações de ofício, que, em realidade, eram os locais correspon-
dentes às posteriores escolas técnicas.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 257

corrigidos caso tenham agido mal; do contrário não devem


enviar os filhos à escola. Se o aluno deixa a escola por ter sido
mal ensinado, ou por algum outro motivo, que torne o mestre
aparentemente culpado, é preciso evitar cuidadosamente de
censurar o mestre, e escusá-lo quanto possível.
GE 22,4,13 Se o aluno tiver sido mal ensinado; se, por exemplo, lhe
ensinaram a escrever antes de saber ler, ou a ler antes de
saber soletrar, ou mesmo antes de conhecer todas as letras,
o Inspetor chamará a atenção dos pais sobre esses erros e
sobre o remédio a usar, como seria, por exemplo, ensinar-
lhe primeiramente ou as letras, ou a soletrar, ou a ler antes
de escrever, segundo a falha que houve no ensino, e se lhes
fará compreender, com muita prudência, a importância desse
método, sem o qual o aluno nunca poderia aprender coisa
alguma, mesmo que viesse à escola durante dez anos.
GE 22,4,14 Não se receberá esse tipo de aluno sem que os pais estejam
de acordo com o que se lhes propõe. Se não querem ou não
têm condições de convencer-se disso, se lhes pedirá, no
máximo, três meses de experiência, e se lhes mostrará que
o fundamento da leitura é conhecer perfeitamente as letras, e
saber soletrar, e ler as sílabas distintamente, sem o que será
impossível passar de uma leitura mecânica.

GE 22,4,15 Seção 3ª
Dos que já estiveram na escola e a
abandonaram espontaneamente
Os que já estiveram em nossas escolas e as deixaram
voluntariamente, ou pela grande condescendência e falta de
discernimento dos pais, e que se apresentarem para serem
admitidos, somente serão recebidos com grande precaução.
GE 22,4,16 Deve-se examinar muito cuidadosamente a causa da saída, e
não admiti-los imediatamente. É preciso fazer-se rogar por
algum tempo, não para molestá-los, mas tão-somente para
que sintam o favor que se lhes presta, dizendo-lhes que, se
o filho estava bem em nossas escolas, não deveriam tê-lo
retirado.
258 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 22,4,17 Os alunos que tiverem abandonado nossas escolas para irem a


outras serão admitidos somente duas vezes: só uma vez depois
que a deixaram; e quando esses alunos forem recebidos pela
segunda vez, se deixará claro que esta é a última vez que
são admitidos e que, se a deixarem de novo, não mais serão
aceitos de forma alguma.

GE 22,4,18 Seção 4ª
Dos que foram expulsos da escola
Se, para a admissão na escola, for apresentado alguém que
já tenha estado nela e foi expulso, verificar-se-á no registro
qual foi a causa; e, depois de haver comunicado aos pais os
motivos sérios que se teve de excluir o aluno da escola e de
havê-los feito insistir durante algum tempo, será ele recebido,
caso houver esperança de emenda, sob a condição de expulsá-
lo e de nunca mais readmiti-lo, se não mudar de conduta.
GE 22,4,19 Se houver pouca esperança de que se corrija, que é o que
ordinariamente acontece, somente será recebido depois de
dificultar-lhe muito a admissão e, caso não se corrija, será
expulso.

GE 23 Capítulo 23
Da distribuição dos alunos nas salas de aula e da organi-
zação das lições

GE 23,1 Artigo 1º
Da distribuição dos alunos nas salas de aula e nos lugares
adequados
GE 23,1,1 O Inspetor, depois de haver admitido um aluno e examinado
para o que ele está apto, como foi dito no capítulo anterior,
lhe indicará a classe, a lição e o lugar em que deve sentar.
GE 23,1,2 Ao indicar o lugar ao recém-vindo, terá o cuidado de colocá-lo
ao lado de alguém que possa ensinar-lhe a seguir facilmente (a
lição), e que não se deixe levar a conversar com ele. Em todas
as classes, haverá lugares indicados para todos os alunos de
todas as lições, de modo que os da mesma lição estejam todos
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 259

colocados juntos, em lugar fixo, a menos que essa lição seja


transferida para outra classe.
GE 23,1,3 Os alunos das lições mais adiantadas serão localizados nos
bancos mais próximos da parede, e os outros, em continuação,
segundo a sequência das lições, em direção ao centro da sala.
GE 23,1,4 O Inspetor das escolas cuidará que as mesas dos que escre-
vem estejam situadas de tal maneira que possam fazê-lo
com boa e abundante luz847; quanto aos alunos que leem nos
cartazes, serão posicionados conforme se indica no artigo da
leitura destes.
GE 23,1,5 Cada um dos alunos terá seu lugar assinalado, e nenhum sairá
dele, nem o trocará por outro, a não ser por ordem e com
autorização do Inspetor das escolas.
GE 23,1,6 Este cuidará que os alunos sejam [localizados] com ordem e
prudência, de maneira que aqueles que, por negligência dos
pais, têm parasitas, estejam separados dos que são asseados e
que não os têm; que um aluno irrequieto e avoado esteja entre
dois bem comportados e tranquilos; um pouco piedoso, ou só
ou entre dois de cuja piedade se esteja seguro; um tagarela,
entre dois silenciosos e muito atentos, e assim por diante.
GE 23,1,7 O Inspetor terá o cuidado de distribuir os alunos nas classes, de
assinalar-lhes o lugar e de organizar as classes, à medida que
os alunos retornam depois das férias; colocará, igualmente,
em cada classe, o número adequado de alunos.
GE 23,1,8 Os alunos serão distribuídos nas classes não conforme a lição
em que se encontram, de modo que os de uma mesma lição
estejam todos na mesma classe, mas, conforme o número de
alunos, de maneira que somente haja um número determinado
de alunos em cada classe. Caso o número for demasiadamente
elevado numa classe em comparação com outra ou outras, se
houver várias, o Inspetor colocará uma parte na classe superior
ou na inferior. Contudo, deve cuidar para que os alunos de

847
Cf. GE 19,0,0,4.
260 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

uma mesma lição não estejam em duas classes diferentes, a


menos que absolutamente não possa fazer de outro modo.
GE 23,1,9 O número de alunos em cada classe será de aproximadamente
50 ou 60. Nas escolas em que houver mais de duas classes, o
número de alunos naquela do meio poderá ser maior do que
na primeira e na última.
GE 23,1,10 Nas classes em que houver somente escreventes, ou em que
se lê somente nos cartazes ou no silabário, o número de alu-
nos será, no máximo, de 50.
GE 23,1,11 Quando o Inspetor promover os alunos de uma escola, estará
atento para observar se uma das classes não tem demasiados
alunos em comparação a outra ou a outras, se houver mais de
duas. Fará (nova) distribuição dos alunos nas classes dessa
escola, se for necessário ou, se não é o Diretor, se este o julgar
conveniente.

GE 23,2 Artigo 2º
Da distribuição em diferentes ordens dos alunos que
aprendem a ler
GE 23,2,1 O Inspetor das escolas dividirá em três ordens os alunos de
cada uma das lições, exceto os que leem nos cartazes. A 1ª
ordem será a dos iniciantes; a 2ª, dos médios, e a 3ª, dos
adiantados e dos perfeitos nessa lição.
GE 23,2,2 Os iniciantes são assim chamados, não porque apenas co-
meçam a estar nessa lição, pois vários deles poderiam per-
manecer muito tempo nessa ordem de lição, por não saberem o
suficiente para serem promovidos para ordem mais avançada.
O Inspetor colocará, pois, na ordem dos iniciantes de cada
lição os que ainda fazem muitos erros.
GE 23,2,3 Somente colocará na ordem dos médios, em cada lição, os
que cometem poucos erros ao ler, isto é, um ou dois quando
muito, cada vez.
GE 23,2,4 Na ordem dos adiantados e perfeitos em cada lição colocará
apenas os que leem bem e que, ordinariamente, não come-
tem erro nenhum. Contudo, aos que leem na Urbanidade os
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 261

dividirá somente em duas ordens: na primeira, colocará os


que fazem erros ao ler, e na segunda, os que não cometem
erro algum.
GE 23,2,5 Aos que leem os registros os distribuirá em 6 ordens, confor-
me os registros se diferenciem uns dos outros, e terá cuidado
que os registros de uma ordem superior sejam mais difíceis de
ler do que os da ordem inferior e precedente, assim como está
indicado no artigo décimo848 do capítulo das lições, 1ª parte.
GE 23,2,6 O Inspetor cuidará de assinalar para cada ordem de lição um
lugar fixo e determinado na sala de aula, de modo que os
alunos de uma ordem de lição não estejam juntos e mistura-
dos com os de outra – os iniciantes, por exemplo, com os
médios – mas que sejam facilmente diferenciados uns dos
outros pela localização que ocupam.
GE 23,2,7 Contudo, aos que aprendem a escrever os colocará nos
bancos não conforme a ordem em que estão, mas segundo
seu tamanho: os que são mais ou menos do mesmo tamanho,
num mesmo banco849.
GE 23,2,8 Também estará atento para localizar, quanto possível, um
iniciante em determinada ordem de escrita junto a outro que
já se está aperfeiçoando nela, ou que esteja na ordem seguinte
e imediatamente superior; um aluno que tem dificuldade em
fazer os movimentos, perto de quem os executa com facilidade;
um ao qual custa manter correta posição do corpo ou da pena,
ao lado de um que mantenha bem um e outra, e assim por
diante, para que possam aprender com o exemplo deles.

GE 23,3 Artigo 3º
Da distribuição em diferentes ordens dos alunos que
escrevem em letra redonda
GE 23,3,1 O Inspetor das escolas dividirá os escreventes em 8 ordens
distintas, diferenciadas segundo as várias coisas que lhes
serão ensinadas.

848
No manuscrito consta, erroneamente, nono.
849
Cf. GE 19,0,0,8.
262 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 23,3,2 Colocará na primeira ordem de escreventes os que apenas


começam a aprender, estando atento a que os desta ordem
se apliquem a manter adequadamente a posição do corpo e
da pena, e a fazer de forma correta os dois movimentos: o
retilíneo e o circular.
GE 23,3,3 Colocará na 2ª ordem somente os que mantêm adequadamente
o corpo e a pena, e que adquiriram facilidade para fazer esses
dois movimentos, e terá cuidado que os desta ordem aprendam
a formar estas cinco letras: c, o, i, f, m; que escrevam uma
página de cada uma dessas cinco letras ligadas uma à outra,
até que lhes deem a forma que devem ter; e que escrevam
essas cinco letras em caracteres maiúsculos de contabilidade.
GE 23,3,4 Somente colocará na 3ª ordem de escreventes os que, não
somente mantêm corretamente o corpo e a pena, mas também
sabem escrever esta ordem de letras: c, o, i, f, m; cuidará que
os dessa ordem se apliquem a formar e ligar as letras tão bem
como deve ser.
GE 23,3,5 Tratará que escrevam uma página de cada letra do alfabeto,
uma depois da outra, que liguem umas às outras as letras que
devem ser ligadas e não liguem as que não devem sê-lo. E
velará para que façam assim uma página de cada letra, até que
as saibam formar e ligar bem e sem rasura, conforme deve ser
feito; que sejam bem localizadas; e que, depois, aprendam a
formar [a partir] dessas três letras: o, i, f, as que delas derivam,
sem contudo deixar de fazer uma página de cada letra850.
GE 23,3,6 Também só colocará na 4ª ordem de escreventes os que
formam bem todas as letras, sem excetuar nenhuma, os que
fazem as ligações assim como deve ser, e que sabem as letras
que derivam do o, i, f, e de que maneira derivam delas. Terá
cuidado para que os dessa ordem se apliquem a dar às letras a
localização e uniformidade que devem ter numa mesma linha,
e que subam as cabeças das letras acima do corpo da escrita,
e que desçam as caudas abaixo dele tanto quanto é o correto;

850
Essas letras já foram exercitadas na segunda ordem. Aqui, trata-se de aprender
a escrever as que delas derivam.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 263

e tomará cuidado que os desta ordem escrevam uma linha de


cada letra ligada do alfabeto, uma depois da outra, e que todas
sejam ligadas.
GE 23,3,7 Na 5ª ordem colocará somente os que, além de formarem e
ligarem bem todas as letras, fazem linhas retas, posicionam
as letras ordenadamente, fazem o corpo das letras de altura
igual, e dão às cabeças e às caudas o comprimento que de-
vem ter, segundo a regra. Cuidará que os dessa ordem se
apliquem a dar às letras elegância e firmeza, a traçá-las com
destreza e desenvoltura, e a colocar as letras e as linhas na
distância que devem ter uma da outra, e que escrevam sem-
pre o alfabeto inteiro de forma seguida, em cada linha, a não
ser que haja algumas letras que não fazem perfeitamente, das
quais se lhes mandará fazer algumas linhas no verso de sua
folha, todos os dias, no início da lição de escrita, até que
saibam fazê-las bem todas.
GE 23,3,8 Na 6ª ordem de escreventes colocará somente os que dão a
todas as letras a forma correta, que fazem o corpo das letras
de altura igual, e as cabeças e as caudas do comprimento
que devem ter, conforme a regra; que dão a distância correta
entre uma linha e outra; aqueles cuja escrita tiver elegância e
firmeza, que tiverem adquirido destreza e desenvoltura.
GE 23,3,9 Procurará que os das ordens citadas escrevam, todos os dias,
o alfabeto inteiro seguido, no verso de seu papel, no começo
da aula de escrita; uma página cada vez, de frases formadas
com letras maiúsculas de contabilidade, uma linha do modelo,
cada dia, durante duas semanas, e o modelo todo e de forma
seguida, nas duas semanas seguintes.
GE 23,3,10 Só colocará na 7ª ordem de escrita os que sabem escrever
textos escritos em letras maiúsculas de contabilidade, como
se indicou anteriormente. Velará para que os dessa ordem de
escrita escrevam em letra de contabilidade pela manhã, e letra
de comércio pela tarde; que escrevam o modelo todo seguido,
e continuem a escrever o alfabeto no verso de seu papel.
GE 23,3,11 Na 8ª ordem colocará somente os que souberem escrever
textos em letra de comércio, como indicado acima; terá
264 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

cuidado que os dessa ordem escrevam de manhã com letra


de comércio e, à tarde, [letra] de minuta pausada; e que,
em vez de escrever o alfabeto, no início da aula de escrita,
escrevam em letra de ata corrida na metade do verso de seu
papel, e copiem, de manhã, de algum bom livro e, de tarde,
manuscritos; e que, depois de haverem estado três meses
nessa ordem, duas vezes por semana, nos dias em que se
ensinar a escrita e a ortografia, redijam eles mesmos, em
letra corrente, bem legível e com ortografia correta, cartas,
contratos, recibos, aluguéis, contratos de trabalho, e outras
coisas que lhes possam ser úteis no futuro; estará também
atento a que os mestres corrijam bem os erros que os alunos
tiverem cometido, tanto na dicção como na escrita, ortografia
e pontuação.

GE 23,4 Artigo 4º
Da distribuição em diferentes ordens dos alunos que apren-
dem a escrever na letra bastarda e estudam aritmética
GE 23,4,1 O Inspetor das escolas terá cuidado para que nenhum aluno
escreva na letra bastarda se não escreveu na 2ª e na 3ª da ordem
redonda, e que não esteja em condições de ser promovido da
3ª para a 4ª, exceto pelas razões dadas no artigo 1º do capítulo
4º da escrita, 1ª parte.
GE 23,4,2 Assim, o aluno só iniciará, ordinariamente, a escrever a letra
bastarda, quando passa à 4ª ordem de escreventes da letra
redonda; e então, se o Inspetor e o mestre julgarem conve-
niente que passe à letra bastarda, lhe farão deixar a redonda.
Dividirá os escreventes na bastarda em 5 ordens, depois de
haverem começado a escrever na redonda.
GE 23,4,3 O Inspetor das escolas não colocará nenhum aluno na 1ª
ordem de escrita bastarda a não ser pelas razões assinaladas
na 1ª parte, cap. 4º: [1.] sem que tenha escrito na 3ª ordem de
escreventes em escrita redonda, e saiba formar razoavelmente
a letra redonda; 2. que seus pais o queiram; 3. se ele inclina
muito as letras e não se consegue fazer-lhe perder esse hábito;
4. ou sem que tenha passado por todas as ordens de escrita
redonda, quando se quer que aprenda ambas.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 265

GE 23,4,4 Cuidará que se ensine aos dessa ordem a diferença entre o


tipo de letra da escrita bastarda e da redonda, e a maneira
de formar as letras bastardas e de incliná-las, assim como o
posicionamento que devem ter, e que faça uma linha de cada
letra ligada uma a outra.
GE 23,4,5 Colocará na 2ª ordem somente os que souberem formar bem
todas as letras, sem exceção, e dar-lhes a inclinação e a forma
convenientes. Terá cuidado que os dessa ordem se apliquem a
fazer as letras de altura igual, distanciar as letras tanto quanto
devem, conforme a regra; que também se treinem para dar
elegância às letras, e passar com destreza de uma a outra, e
que escrevam o alfabeto inteiro e em seguida numa mesma
linha.
GE 23,4,6 Na 3ª ordem colocará somente os que dão às letras a devida
forma, posicionamento, inclinação, uniformidade, altura, dis-
tância entre elas e entre as linhas, elegância, destreza e desen-
voltura. Estará atento a que os desta ordem escrevam textos
em letra mediana e os da 5ª textos em letras medianas pela
manhã, e de tarde, em letra pequena851.
GE 23,4,7 Nessas três ordens852 de escreventes na letra bastarda, o
Inspetor observará e fará observar as mesmas coisas que na
6ª, 7ª e 8ª ordem de escreventes na letra redonda.
GE 23,4,8 Caso um aluno, pelas razões indicadas no artigo 1º do
capítulo da escrita, aprende a escrever na letra bastarda sem
ter começado a escrever na redonda, e dispuser apenas de um
ano, isto é, de onze meses, para aprendê-la, o Inspetor lhe
fixará e distribuirá o tempo que permanecerá em cada ordem,
da seguinte maneira:
GE 23,4,9 Durante um mês, o colocará na 1ª ordem, para lhe ensinar
a manter corretamente o corpo e a pena, e a fazer com
desenvoltura os dois movimentos, o retilíneo e o circular. Em

851
A observar que nada se diz da 4ª ordem. Presumivelmente, por omissão do
copista do manuscrito.
852
Confrontando o texto com GE 4,5,10, pode-se entender que essas três ordens
são a 3ª. 4ª, e 5ª.
266 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

seguida, lhe fará aprender o alfabeto durante seis meses: nos


dois primeiros, uma página de cada letra não enlaçada; nos
dois seguintes, uma linha de cada letra enlaçada; e nos dois
últimos meses, o alfabeto inteiro e seguido em cada linha.
Durante os últimos quatro meses, o mandará escrever frases
em letra média, e o alfabeto no início da lição de escrita, como
ficou dito no artigo precedente ao se tratar dos que escrevem
em letra redonda.
GE 23,4,10 Se um aluno dispuser somente de seis meses para aprender a
escrever na letra bastarda, o Inspetor lhe fixará e distribuirá
o tempo da maneira seguinte: mandará escrever o alfabeto
durante três meses; nos dois primeiros, uma linha de cada
letra ligada e, no terceiro, o alfabeto inteiro e seguido em cada
linha. Durante os três outros meses, mandará escrever textos
em letra média, e o alfabeto no início da lição
GE 23,4,11 O Inspetor das escolas distribuirá, da forma acima exposta,
o tempo dos alunos que dispuserem de pouco tempo para
aprender a escrever, de acordo com o que podem dedicar a
isso, e os promoverá por necessidade, ao final do período
estabelecido, independente de saberem ou não o que é neces-
sário saber para serem promovidos.
GE 23,4,12 O Inspetor das escolas dividirá em cinco ordens os alunos que
aprendem aritmética: Na 1ª, colocará só os que são capazes
de aprender a adição; na 2ª, os que sabem bem a soma e que
aprenderão a subtração, a prova da adição pela subtração
e a prova da subtração pela adição. Na 3ª ordem, colocará
unicamente os que souberem bem a adição e a subtração, com
as provas de uma e de outra, e estiverem em condições de
aprender a multiplicação. Na 4ª, colocará os que souberem
perfeitamente a multiplicação, para aprenderem a divisão.
Na 5ª, os que souberem fazer com facilidade todo tipo de
divisões, estiverem em condições de aprender as regras de
três, as partes alíquotas e as frações853.

853
Este parágrafo explicita melhor as cinco ordens de GE 5. No texto consta: as
regras de três porque existe a regra de três direta e a inversa. As partes alíquotas
são os divisores de um número: trata-se, portanto, da decomposição em fatores.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 267

GE 23,5 Artigo 5º
Da maneira de determinar o tempo que devem durar as
lições
GE 23,5,1 Como o número de alunos nem sempre é o mesmo em cada
lição, mas varia quando são mudados de lição, ou vêm novos,
ou se retiram, o tempo que cada mestre deve empregar para
fazer ler os alunos de uma mesma lição não pode ser definido,
nem sempre ser o mesmo; é dever do Diretor ou do Inspetor
das escolas determinar o tempo que os alunos de cada lição
devem empregar na leitura, em todas as classes.
GE 23,5,2 A duração de cada lição deve ser fixada de acordo com o
tempo que o mestre deve empregar para fazer ler, o número
de alunos que há em cada lição, a facilidade ou dificuldade
que eles têm para ler em cada lição e o número aproximado
de linhas que cada aluno deve ler durante a mesma.
GE 23,5,3 O Diretor ou Inspetor estabelecerá o tempo que deve durar
cada lição, conforme a distribuição abaixo, segundo houver
número igual, maior ou menor de alunos em cada lição, que
não há nela na distribuição seguinte854:
GE 23,5,4 Em meia hora, doze alunos podem ler facilmente cada um
três vezes a linha no cartaz do alfabeto; em meia hora, dez
alunos podem facilmente ler cada um três linhas no cartaz
das silabas; oito, facilmente podem soletrar cada um três
linhas em meia hora no [silabário, segundo livro]855; dez
podem facilmente soletrar e ler, depois, cada um três linhas
no segundo livro, em meia hora.
GE 23,5,5 Se todos os alunos acima, que perfazem quarenta, estão na
mesma classe, parece que todos poderão ler no tempo de aula
da tarde e, como de manhã há meia hora de tempo a menos do

854
Qu’il n’y en a (que não há) dans la distribution suivante. Repetição de ideia ou
má transcrição do copista? O Irmão Alain Houry pensa que talvez se deva ler:
que há.
855
O Irmão Anselme propõe ler primeiro livro de leitura, porque as duas palavras
estão riscadas no manuscrito.
268 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

que à tarde, o mestre mandará ler de manhã meio quarto de


hora a menos do que está marcado em cada lição.
GE 23,5,6 Da distribuição acima feita, segue-se que, se em vez de
doze, no cartaz do alfabeto houver dezoito, terão três quartos
de hora para ler; se houver quinze, terão meia hora e meio
quarto de hora; e se somente houver nove, se dará apenas um
quarto de hora e meia para ler. O tempo de leitura lhes será
diminuído ou aumentado segundo o número maior ou menor
de alunos que devem ler; a mesma distribuição proporcional
se fará em todas as demais lições, tanto se elas ocorrem na
mesma classe, ou em classes distintas.
GE 23,5,7 Doze alunos que leem no terceiro livro podem facilmente
ler: os iniciantes, cada um oito linhas, e os adiantados, doze
a quinze, em meia hora. Os que leem no saltério podem
facilmente ler: os que leem por sílabas, seis linhas cada um, e
os que leem por pausas, cada um dez linhas num [quarto de
hora].
GE 23,5,8 Os alunos que leem na Urbanidade, tanto os da primeira como
os da segunda ordem, podem facilmente ler oito linhas cada
um; e os das outras ordens856, cada um dez linhas, num papel
ou pergaminho de largura ordinária, num quarto de hora.
GE 23,5,9 Assim, se houver numa classe de escreventes cinquenta alunos
assíduos, doze ou treze que leem no terceiro livro somente,
doze ou treze que também leem em latim, e vinte ou vinte e
cinco escreventes, dez dos quais lendo nos registros, disporão
de um quarto de hora, à tarde, para ler nos registros e, em
seguida, uma hora para ler em francês; depois, os que leem
em latim lerão durante um quarto de hora. Todos os que leem
somente no terceiro livro lerão apenas em latim durante três
quartos de hora; depois, os que leem na Urbanidade lerão nela
durante um quarto de hora, os que leem em francês somente,
desde oito horas e três quartos até nove horas, e o mestre,
tendo somente a metade de escreventes, só corrigirá a escrita

856
...que também fazem leitura de textos posteriores aos dos livros impressos, e
que são os das seis ordens dos que leem registros (Cf. 23,2,5; 3,10).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 269

deles durante esse tempo. Se todos os alunos escrevem, lerão


de manhã três quartos de hora em latim e um quarto de hora
na Urbanidade; à tarde, meia hora nos contratos manuscritos
e, depois, uma hora em francês.
GE 23,5,10 O Diretor ou Inspetor das escolas terá cuidado que não sobre
tempo para os mestres depois de haverem feito ler a todos
os alunos, e que cada um destes leia857 mais ou menos tanto
quanto o outro. Por isso, se houver menos alunos em cada
classe do que é necessário para preencher todo o tempo que se
deve empregar na leitura, depois que cada aluno leu mais ou
menos o mesmo número regulamentar de linhas, o Inspetor
das escolas velará para que o mestre faça ler a cada aluno mais
ou menos tantas linhas quantas forem necessárias para ocupar
todo o tempo que deve ser empregado na leitura nessa classe,
não devendo sobrar tempo inútil em nenhuma classe ou ser
utilizado de outra maneira do que o prescrito. E se, porém,
acontecer que se esteja obrigado a colocar maior número
de alunos numa classe do que é possível fazer ler no tempo
destinado à leitura, uma vez que cada aluno tiver lido mais
ou menos o número regulamentar de linhas, [o] Diretor ou
Inspetor das escolas cuidará para que os alunos de cada lição
leiam cada um menos linhas do que está marcado para serem
lidas na lição, na proporção do aumento do número de alunos,
para que todos possam ler sem, contudo, empregar na leitura,
naquela classe, mais do que o tempo que lhe é destinado.

GE 24 Capítulo 24
Da promoção dos alunos de uma lição a outra
GE 24,0,1 Uma das coisas de maior importância numa escola é a de
promover adequadamente os alunos de lição, ponto com o
qual o Inspetor das escolas terá grandíssimo cuidado. Para
isso, a promoção de lição se fará segundo normas e de forma
ordenada. Para garanti-lo: [1.] cada mestre preparará seus
alunos, conforme se indica na primeira parte; 2. o Inspetor
fará as promoções, tomando algumas precauções para fazê-

857
O copista colocou: restent (permaneçam? sobrem?)
270 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

las bem; 3. estará atento para que os alunos tenham os


requisitos e aptidões necessárias para serem promovidos; 4.
as promoções serão feitas em tempo e modo determinados.

GE 24,1 Artigo 1º
Do que o Inspetor deve fazer antes de proceder às pro-
moções de lição
GE 24,1,1 Pelo final de cada mês, o Inspetor das escolas comunicará
aos mestres o dia em que fará o exame dos alunos que po-
derão ser promovidos; em seguida, se porão de acordo sobre
os que não serão promovidos, quer por falta de preparo, por
ausências, falta de piedade ou modéstia, em razão de pre-
guiça e negligência, quer por serem demasiado jovens ou,
enfim, para servirem de apoio na lição e esta transcorra em
boa ordem.
GE 24,1,2 Contudo, o Inspetor tomará muito cuidado de só manter na
mesma lição, ou na mesma ordem de lição um aluno capaz
de ser promovido se este ficar muito satisfeito com isso. É o
que procurará conseguir com muita habilidade, juntamente
com os mestres, seja com recompensas, seja confiando-
lhe um ofício, a não ser que o retenha devido a ausências,
negligências e preguiça, ou por alguma falta considerável,
que tomará por pretexto na ocasião oportuna.
GE 24,1,3 Depois, o Inspetor, se for Diretor, marcará o dia em que os
mestres vão elaborar seu informe, para lho poderem entre-
gar antes da promoção de lições; se não for Diretor, pedirá
a este que o marque; e quando receber os informes dos mes-
tres, buscará junto a eles os esclarecimentos e informação
necessários, para não se enganar na promoção.
GE 24,1,4 Em seguida, o Inspetor avisará os alunos de cada escola do
dia em que fará a promoção de lição, para que todos possam
estar na escola, alertando-os que os que não estiverem nela na
hora da promoção, serão promovidos somente ao final do mês
seguinte.
GE 24,1,5 Ao proceder à promoção de lição, o Inspetor não fará nenhuma
acepção de pessoa, não tomará em consideração nenhuma
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 271

recomendação, e não promoverá de lição e de ordem de lição


a nenhum aluno que não estiver preparado e não tiver todas as
condições explicitadas no artigo seguinte. Será, igualmente,
muitíssimo cuidadoso para que os mestres não lhe apresentem,
para serem promovidos de lição ou ordem de lição, alunos
que não estejam bem preparados. Ele fará a promoção de
lição em todas as escolas e classes, seguindo sempre a mesma
sequência e começando sempre pela mesma ordem e classe,
e sempre terminando, de igual forma, pela mesma. Em cada
escola, começará na classe inferior e terminará na mais
adiantada e, da mesma forma, em cada classe, começará pela
lição inferior e pela ordem dos iniciantes nas lições.

GE 24,2 Artigo 2º
Das aptidões e requisitos que os alunos devem ter para
serem promovidos de lição
GE 24,2,1 É muitíssimo importante jamais colocar um aluno em lição
para a qual não está ainda apto, porque fazer o contrário
seria expô-lo a nunca aprender coisa alguma e ao perigo de
permanecer ignorante por toda a vida. Por isso, ao dispor-
se a promover um aluno a uma lição mais avançada, não se
deve levar em consideração a idade, o tamanho, o tempo que
ele passou na lição anterior, mas unicamente a capacidade.
Assim, por exemplo, antes de mandar um aluno ler por pausas,
é preciso que saiba perfeitamente soletrar e ler por sílabas.
GE 24,2,2 Quanto aos pequenos, muito inteligentes e de boa memória,
nem sempre se deve promovê-los quando capazes de sê-lo
pois, caso contrário, não viriam por tempo suficiente à escola.
Isso, todavia, é o desejável e o que se deve tentar conseguir,
tanto quanto possível sem, contudo, descontentar os pais.
É necessário, no entanto, evitar os dois extremos, pois não
convém reter, por tempo excessivo, um aluno numa lição,
com receio de que se desgoste a ele e a seus pais; assim como
não é conveniente adiantar demasiado os muito pequenos e
novos, ou não capazes, pelas razões já referidas. As aptidões
e requisitos que um aluno deve ter para ser promovido de uma
lição para outra, são as seguintes:
272 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,2,3 Os que tiverem faltado de modéstia e piedade, ou tiverem sido


negligentes e preguiçosos no estudo e em seguir as lições,
só muito dificilmente serão promovidos; passarão por exame
mais exigente e meticuloso do que os outros; e se, no mês
subsequente, recaírem na mesma falta, não serão promovidos
na primeira vez seguinte, por mais capazes que sejam.
GE 24,2,4 Os que tiverem faltado à aula cinco dias inteiros, isto é, dez
vezes durante o mês, com autorização, não serão promovidos
de lição no final do mês, mesmo se aptos.
GE 24,2,5 Os que tiverem estado ausentes dois dias completos, isto
é, quatro vezes durante o mês, sem autorização, não serão
promovidos de lição, nem de ordem de lição. Os que tiverem
chegado atrasado seis vezes durante o mês, não serão
promovidos.
GE 24,2,6 Não se promoverá um aluno de uma lição a outra, se não tiver
passado por cada uma das três ordens: iniciantes, médios e
adiantados. Não se promoverá tampouco nenhum aluno de
lição, nem de ordem de lição, se não tiver permanecido pelo
tempo estabelecido para estar nela.
GE 24,2,7 Os alunos não serão promovidos do cartaz do alfabeto sem
antes terem lido nele pelo menos durante dois meses, isto
é, se não tiverem lido cada linha pelo menos durante uma
semana e, no resto dos dois meses, o alfabeto todo inteiro.
Não serão promovidos do cartaz das sílabas se não tiverem
lido nele pelo menos durante um mês.
GE 24,2,8 Os que leem no silabário não serão promovidos se não tiverem
lido nele pelo menos durante cinco meses: dois em cada uma
das duas primeiras ordens, e um na 3ª.
GE 24,2,9 Os que soletram no 1º livro não serão promovidos se não
tiverem lido nele pelo menos três meses, um mês em cada
ordem desta lição.
GE 24,2,10 Os que soletram e leem no 2º livro não serão promovidos se
não tiverem lido durante o mesmo tempo. Os que somente
leem no 2º livro, sem soletrar, não serão promovidos se não
tiverem lido durante o mesmo tempo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 273

GE 24,2,11 Os que leem no 3º livro permanecerão nele pelo menos seis


meses: dois em cada ordem, antes de poderem ser promovidos
de lição. Os que leem em latim, não lerão por pausas, se não
tiverem lido pelo menos durante dois meses por sílabas, e não
serão promovidos se não tiverem lido ao menos quatro meses
por pausas: dois meses na ordem dos médios e dois na ordem
dos perfeitos.
GE 24,2,12 Os que leem na Urbanidade não serão promovidos da 1ª para
a 2ª ordem, se não tiverem lido nela ao menos dois meses,
e permanecerão, depois, na 2ª ordem tanto tempo quanto
continuarem a vir à escola. Os que leem nos registros não
serão promovidos da 1ª para a 2ª ordem, se não tiverem
lido neles ao menos três meses; o que se observa também
na promoção das quatro ordens seguintes. Quando estiverem
na última ordem, permanecerão nela todo o tempo em que
continuarem a vir à escola.
GE 24,2,13 Os alunos não serão promovidos da 1ª ordem de escrita, na
qual se ensina a manter bem o corpo e a pena, e a fazer os dois
movimentos, o retilíneo e o circular, se não tiverem estado, ao
menos, um mês nessa lição. Os da 2ª ordem de escreventes,
que escrevem as cinco letras c, o, i, f, m, não serão promovidos
se não as tiverem escrito ao menos durante três meses.
GE 24,2,14 Os que estão na 3ª e na 4ª ordem, e que escrevem ligadas as
letras do alfabeto, uma página ou uma linha de cada letra, não
serão mudados se não as tiverem escrito pelo menos durante
seis meses: uma página de cada letra durante quatro meses e,
depois, uma linha de cada letra, durante dois meses.
GE 24,2,15 Os que escrevem o alfabeto inteiro, ligado, em cada linha,
não serão promovidos se não tiverem escrito durante três
meses. Os que escrevem em linha, com letra maiúscula de
contabilidade, não serão promovidos caso não tiverem escrito
ao menos durante três meses.
GE 24,2,16 Os da 7ª ordem, que escrevem em letra de comércio, não
serão promovidos para escreverem em letra de minuta e
em letra corrente, se não tiverem escrito na 6ª ordem, pelo
menos, durante 6 meses.
274 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,2,17 Os da 1ª e 2ª ordem de aritmética, que aprendem adição e


subtração, não serão promovidos sem se haverem exercitado
em uma e outra, ao menos durante dois meses.
GE 24,2,18 Os da 3ª ordem, aos quais se ensina a multiplicação, não
serão promovidos, se não a tiverem praticado, ao menos,
durante três meses. Os da 4ª ordem, que fazem as operações
da divisão, não serão promovidos para aprenderem a regra
de três, caso não se tiverem dedicado à divisão simples, pelo
menos, durante quatro meses.

GE 24,3 Artigo 3º858


Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos na lição de leitura
GE 24,3,1 Os alunos que aprendem o alfabeto, para serem promovidos de
linha, devem saber tão bem todas as letras que as pronunciem
todas imediatamente e sem hesitação em nenhuma, assim que
esta lhes for mostrada, sem ordem e sem sequência, e não serão
promovidos para o cartaz das sílabas se não disserem com
exatidão o nome de todas as letras do alfabeto prontamente e
sem titubear.
GE 24,3,2 Os [que] leem no cartaz das sílabas não serão promovidos
para o silabário se não soletrarem perfeita e correntemente
todas as sílabas deste cartaz. Os que soletram e leem, tanto no
silabário como nos outros livros, sejam quais forem, somente
poderão ser promovidos da 1ª para a 2ª ordem de soletração
e de leitura nesse livro, se fizerem muito poucos erros, isto é,
um ou dois.
GE 24,3,3 Os que estiverem na 2ª ordem de soletração ou leitura em cada
livro, somente serão promovidos para a 3ª se, ordinariamente,
não cometerem nenhum erro ao ler, e se os erros (caso os
cometerem), além de muito raros, só acontecerem por inad-
vertência e não por ignorância.

858
Ao subtítulo Artigo 2º, segue o Artigo 4º. É distração do copista, já que apre-
senta a relação dos temas no início do Capítulo.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 275

GE 24,3,4 Os que estiverem na 3ª ordem de soletração ou de leitura em


qualquer livro que seja, somente serão promovidos para outra
lição se lerem perfeitamente naquela em que estão; se, por
exemplo, soletram, é preciso que, para serem promovidos
de lição, o façam perfeitamente, sem terem dificuldade de
identificar as sílabas e sem necessitarem adivinhá-las; da
mesma forma, se leem por sílabas, é preciso que não façam
soar duas delas como uma só, e que, depois de quinze dias
ou três semanas, mais ou menos, se tenham habituado a
pronunciar com segurança e distintamente todas as sílabas,
sem encontrarem nisso dificuldade alguma, para estarem,
assim, em condições de começar a ler por pausas.
GE 24,3,5 Os que leem por pausas, para serem promovidos da 1ª para a
2ª ordem, não podem cometer nenhum erro na pontuação, isto
é, tem que fazer pausas onde se deve, não fazê-las onde não
se deve, fazer cada uma delas com a duração exata. E para
deixar a 3ª ordem e ser promovido à leitura do latim, é preciso
que leiam perfeita, distinta e inteligivelmente, e que tenham
muito boa pronúncia.
GE 24,3,6 Para serem promovidos da 1ª à 2ª ordem, os alunos que leem
em latim devem distinguir e ler bem as sílabas, sem fazer
ordinariamente erro nenhum; e para serem promovidos da
2ª para a 3ª ordem, devem saber ler por pausas, sem ordina-
riamente cometer nenhum erro, nem nas palavras, nem nas
pausas; e para serem promovidos dessa lição e colocados na
escrita, devem ler perfeita e correntemente.
GE 24,3,7 Os que leem na Urbanidade, para serem colocados na 2ª
ordem, devem ordinariamente não cometer nenhum erro. Os
que leem nos registros só poderão ser promovidos de uma
lição a outra, se lerem correntemente aqueles em que estão
lendo, isto é, sem hesitar e sem cometer ordinariamente erro
algum.
276 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,4 Artigo 4º
Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos de lições de escrita

GE 24,4,1 Seção 1ª
Da capacidade que devem ter os alunos para serem promo-
vidos da 1ª para a 2ª e da 2ª para a 3ª ordem dos escreventes
Os que começam a escrever e aprendem a posicionar bem o
corpo e a pena, e a fazer os dois movimentos, o retilíneo e
o circular, não serão promovidos a não ser que posicionem
corretamente o corpo e a pena, e que façam esses dois movi-
mentos com facilidade. O Inspetor das escolas, por isso, os
mandará executá-los, prestando atenção, ao mesmo tempo, se
posicionam corretamente o corpo e seguram direito a pena.
Os que começam a formar as letras e têm por lição as cinco
letras c, o, i, f, m, não serão promovidos se não derem a essas
letras a forma que devem ter.
GE 24,4,2 O Inspetor das escolas examinará, por isso, seus escritos e
observará se as letras têm, em seu conjunto, a forma devida e
não apresentam os defeitos abaixo859.
GE 24,4,3 Que o o não esteja inclinado para a esquerda ou inclinado
para a direita; que não tenha mais parte fina que grossa; que
não seja largo ou estreito, redondo ou achatado, longo ou
curto demais; que não seja corcunda; que o traçado fino não
esteja no lado e o grosso embaixo, mas o grosso nos lados e
o fino no alto e na parte baixa; que não seja pontudo no alto
ou embaixo; que esteja inclinado para a esquerda um bico de
pena; que seja bem fechado em cima e não aberto.
GE 24,4,4 Que o i não esteja inclinado para a direita nem para a esquer-
da; que seu traçado seja reto; que seja fino em cima, não traçado
obliquamente, mas subindo e fazendo volta da esquerda para
a direita; que sua parte fina seja do comprimento de dois

859
Ter presente que a “forma devida” abaixo descrita é a das letras manuscritas,
diferentes das datilografadas e digitadas.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 277

bicos de pena; que a base não seja achatada, mas côncava;


que não seja demasiado grande, mas tenha o comprimento do
bico da pena; que seu enlace tenha a largura de dois bicos de
pena, e não suba como se quem escreve quisesse ligar um i
com uma outra letra, is860; não seja pontudo, nem demasiado
grosso, e da largura do bico da pena.
GE 24,4,5 Que o f não seja inclinado demais para a direita nem para a
esquerda, mas tenha a inclinação de um bico de pena para a
esquerda; que a cabeça não seja chata, mas redonda, e não
mais larga do que quatro bicos de pena; que comece por
um traço grosso e não por uma curva acentuda; que o traço
grosso penetre no interior e esteja voltado para o corpo do f,
à direita, do lado do corpo da letra, e não seja reto ao ir para
a esquerda; que a largura tenha um corpo e meio, isto é, seis
bicos de pena, e a altura três bicos de pena; que haja duas
partes finas no f, uma na cabeça e a outra na cauda, voltando
para a esquerda; que o traço transversal não seja puxado nem
para cima nem para baixo; que não corte o f, e não seja feito
com o grosso da pena; que seja fino e tenha o comprimento
de dois bicos de pena .
GE 24,4,6 A respeito do m, que as três pernas não sejam puxadas uma
para a direita e outra para a esquerda, mas traçadas retas
paralelas; que uma não seja feita mais para cima e outra
mais para baixo, mas todas sejam traçadas com altura igual
e tenham a mesma base; que as partes finas nem iniciem no
meio de uma perna, nem terminem no meio da perna seguinte,
mas comecem na base e subam diretamente à parte superior;
que as partes finas não sejam feitas arredondando da direita à
esquerda, nem serpenteando e, tampouco, em linha côncava,
mas um pouco em linha convexa; que as partes finas não
sejam grossas, mas delgadas; que as bases não tenham forma
de gancho como este...

860
Pode-se entender: como a ligação entre i e s, recordando que o s da época tinha
forma assemelhada ao f.
278 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,4,7 Seção 2ª
Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos da 3ª à 4ª ordem
Para serem promovidos da 3ª ordem dos escreventes – os que
fazem uma página de cada letra do alfabeto ligada – para a 4ª
ordem – que é a dos que fazem uma linha de cada letra ligada
uma à outra – será preciso que os escreventes saibam dar a
todas as letras do alfabeto a forma exata, e que enlacem uma
letra à outra de maneira adequada; que a primeira parte do a,
que é a circular, não seja larga demais, tenha a mesma forma
do o, e se sobreponha à parte grossa do o, começando com
traço fino, como para fazer um e, c, e que as partes superior
e a inferior da segunda parte sejam separadas de um bico de
pena tanto em cima como embaixo da extremidade da segunda
parte; que esta segunda parte do a não suba nem desça mais
que a primeira.
GE 24,4,8 Que o traço superior do b seja como o do f; que ele seja
traçado reto, arredondando embaixo, como para fazer um o,
b, subindo com o reverso da pena, como para tocar o traçado
reto do b, de modo que haja bico e meio de pena entre o traço
reto e o reverso do b; que haja no meio três bicos de pena
entre a parte superior e a inferior; que a parte circular da base
não seja demasiado larga, nem pontuda demais, nem subindo
inteiramente reto, mas arredondando-se da direita para a
esquerda.
GE 24,4,9 Que a cabeça do c seja como a do f, e que a parte fina seja
igual; que seja traçada para a esquerda de forma arredondada,
e não inteiramente reta, terminando por uma ligação fina c.
GE 24,4,10 Que a parte inferior do d seja como um o, e tenha a mesma
altura e largura; que a sua cauda suba tanto quanto a redonda,
isto é, que tenha a altura de um o, não sendo totalmente reta,
mas arredondando da esquerda para a direita.
GE 24,4,11 Que o e seja como o c, exceto a cabeça; que seu capuz seja
como a primeira parte de um r quebrado, começando e
terminando por uma parte fina; que seja redondo e não reto,
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 279

inclinado para a esquerda de um bico de pena, e não inclinado


para a direita.
GE 24,4,12 Que o f seja como foi dito no artigo precedente861.
GE 24,4,13 Que a primeira parte do g seja formada como o o; que a
segunda seja a cauda. É preciso que, ao fazer a segunda parte
do g, para uni-la à primeira, o traço grosso desta se sobreponha
à da segunda, e que esta comece na quarta parte do corpo da
letra pelo alto, e que sua ponta apareça fora a metade de um
bico de pena.
GE 24,4,14 Que a primeira parte do h seja como o l, exceto a base,
que deve ser traçada toda reta, sem gancho e sem ligação,
terminando por parte grossa encorpada; que a segunda parte
inicie no meio da primeira; que sua parte fina comece a um
quarto, indo de baixo para cima h, e que seja feita arredondada
como para fazer um p; que não seja demasiado achatada e
que seu ventre não avance mais do que a cabeça h; que a
extremidade da cauda caia em frente da primeira parte; que
desça por baixo do corpo quatro bicos de pena.
GE 24,4,15 Que o i seja feito conforme dito no artigo precedente.
GE 24,4,16 Que o l seja como a primeira parte do h, excetuado que deve
ser arredondado na parte inferior; que a parte curva tenha a
largura do bico da pena, com ligação de espera; que a mesma
não seja demasiado larga, nem exageradamente inclinada à
direita, nem achatada demais.
GE 24,4,17 Que o m seja formado conforme dito no artigo precedente.
GE 24,4,18 Que o n inicial seja formado como o m, com a diferença de
que o n tem somente duas pernas e o m, três; que a primeira
parte do n final seja formada como um i, exceto que o bico
deve acabar em traço grosso acentuado, sem ligação, e que a
segunda parte comece no meio do i e termine como a segunda
parte do h; sendo, no n, de altura igual à da primeira parte.

861
No artigo precedente. Em realidade: Na seção precedente. O que vale também
para as referências análogas que virão a seguir.
280 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,4,19 Que o o seja formado conforme ficou dito no artigo anterior.


GE 24,4,20 Que a cabeça do p comece com o reverso da pena descendo,
pendendo do lado esquerdo e arredondando a cauda como a
do f; que a cabeça não seja achatada demais, que comece por
um traçado fino, indo da direita para a esquerda e voltando da
esquerda para a direita; que a segunda parte inicie entrando na
primeira sobre o fio da linha, na parte baixa do corpo da letra
o; que não comece por um traço fino, mas por um encorpado,
sobreposto ao da cauda, e termine por um traço grosso frente
à cabeça; que tenha altura igual à da cabeça, e não mais alta,
nem mais baixa, e que entre o alto da primeira e da segunda
parte, haja uma abertura de um bico e meio de pena quando
muito; que sua cauda não seja excessivamente inclinada para
a esquerda, que tampouco seja curta demais, não ultrapasse
ordinariamente a cabeça, quando esta [é] muito larga, e tenha
um corpo e meio de largura, independente de a cabeça ser
larga ou estreita.
GE 24,4,21 Que a primeira parte do q seja formada como um o; que a
segunda parte comece por uma pequena ponta; que a parte
encorpada seja superposta à do o, como a segunda parte de
um g, e que ela desça um corpo e meio mais que o corpo das
letras; que a cauda seja traçada reta e um pouco grossa ao
traçar a extremidade; que não haja gancho embaixo.
GE 24,4,22 Que o r redondo seja como a parte inferior de um b, v, e
não tenha nem mais nem menos abertura no alto; que sua
ligação seja como a da parte superior do i, v; que a cabeça
do r quebrada comece por um traço fino, e entre da esquerda
para a direita, fazendo ao final dessa parte fina o capuz de
um e sem levantar a pena, e que passe por trás da segunda
parte o correspondente a um bico de pena; que sua segunda
parte comece como a segunda parte de um c, e que entre no
segundo traçado fino de sua cabeça, arredondando à esquerda
e terminando por uma ligação de espera, como se forma um c.
GE 24,4,23 Que a cabeça de um s inicial seja como a cabeça do fs; que
seu corpo se incline um pouco à direita, e sua segunda parte
arredondada voltada à esquerda, e que a altura seja de dois
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 281

corpos de escrita, e a cauda, como a de um f, e que a cabeça


avance dois bicos de pena; que ela não penda para a direita,
nem demais para a esquerda; que seu ventre não avance com
relação à cabeça; que não penda tampouco como um f; que o s
medial comece por um traçado fino, elevando-se da esquerda
para a direita, e que seu ventre seja traçado para a direita e a
cauda para a esquerda, arredondando; que não seja mais larga
do que um o, e que não ultrapasse o corpo da escrita mais de
um bico de pena.
GE 24,4,24 Que as duas partes do s final sejam formadas como um e a, e
que haja, no alto, entre as duas partes, o capuz de um a; que
a primeira parte desça meio bico de pena a mais do que a
segunda ; que esta suba um bico a mais que a primeira; que o
capuz esteja entre as duas partes e que seu traçado fino entre
na parte fina da segunda parte um bico de pena acima do alto,
e suba tão alto como a primeira parte.
GE 24,4,25 Que o t inicial e medial seja traçado reto, sem traço fino na
parte superior, e que tenha ligação pela base como a de um i;
que sua flecha seja como a do f, meio corpo abaixo do alto,
e imediatamente acima do corpo das letras o t, de modo que
este t seja dois bicos de pena mais alto que as outras letras;
que o t final seja formado como um j, exceto que na base se
deve fazer um tracinho reto e fino.
GE 24,4,26 Que o u seja formado como dois i unidos, afastados um do
outro com a mesma distância das duas pernas de um n, isto
é, dois bicos de pena, e que a ligação que une as duas pernas
vá da base da primeira perna até um terço da segunda; que o
u inicial seja formado como um r quebrado, excetuado que se
lhe deve acrescentar o reverso de um o; que tenha cinco bicos
de pena na largura e quatro de altura.
GE 24,4,27 Que o x seja formado como dois c: um à direita e outro à
esquerda, só que a cabeça do que está invertido deve estar
embaixo, e que os dois traços grossos cruzem um com o
outro, parecendo um só; que não passem um através do outro,
e que uma das partes não ultrapasse a outra, tanto em cima
como embaixo.
282 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,4,28 Que a parte do y seja como um [n] encurvado, começando por


um traço fino que sobe da esquerda para a direita, continuando
por um cheio indo e descendo da esquerda para direita, e
terminando à direita, arredondando, e baixando também num
traçado grosso encorpado, mais ou menos como a cauda de
um pequeno d; que só tenha duas alturas, mas que a primeira
parte do y desça um pouco mais para a esquerda, cerca de dois
bicos de pena; que a segunda parte comece por um traço fino,
como a cauda de um j, um pouco mais inclinado e delgado, e
que comece entrando no meio da primeira parte; que se una
por baixo, e as duas partes unidas até a cauda só tenham a
altura de um corpo de escrita e a largura de um m; que o y não
seja reto demais, e que o corpo só tenha a largura do o; que a
segunda parte não suba nem desça mais do que a primeira, e
que haja espaço de dois bicos de pena entre ambas as partes;
que a linha traçada de cima para baixo do corpo não seja reta
demais, que sua cauda não avance mais do que dois bicos de
pena para baixo da cabeça, que não seja menos longa do que
um corpo e meio de escrita abaixo do corpo das letras o, v, y.
GE 24,4,29 Que o z inicial comece como um r quebrado, seguido do
traçado de pequena linha de cima para baixo, da direita à
esquerda, e termine por uma cauda, com a largura de um m,
em forma de um o não acabado; que o z medial e final comece
por um e invertido, não acabado, na altura de dois bicos de
pena, e termine como um s medial; que não tenha nenhum
defeito dos que são indicados no s medial; que o capuz não
seja demasiado longo nem separado da primeira parte, e que
não seja fechado; que as duas partes não estejam separadas
uma da outra, e que só haja um bico de pena entre os traços
grossos, tanto no alto como na base.
GE 24,4,30 Quanto às ligações, o Inspetor não promoverá os desta 3ª
ordem enquanto não as fizerem bem claras e delgadas, e
que não sejam ordinariamente demasiado grossas, sendo,
contudo, suficientemente visíveis.
GE 24,4,31 Também terá cuidado para que sejam devidamente localiza-
das; que todas sejam feitas da base até o topo, io; exceto as
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 283

do e que, devido ao capuz, se liga de topo a topo com todo


tipo de letras, e do o, que só enlaça impropriamente, e que se
traça sempre a partir dos dois terços da letra que o segue, de
modo que a ligação somente comece no início da letra, como
se faria uma ligação de espera, que apenas de leve toque o o.
GE 24,4,32 O Inspetor não promoverá tampouco os dessa ordem enquanto
não souberem as letras que derivam do o, i, f, e de que maneira
deles derivam, e que não as saibam formar por si mesmos.

GE 24,4,33 Seção 3ª
Da capacidade que devem ter os alunos para serem promo-
vidos da 4ª ordem de escreventes e das seguintes
Os que estão na 4ª ordem de escreventes – que fazem
uma linha de cada letra ligada uma à outra – somente
serão [promovidos] se souberem dar às letras o devido
posicionamento e uniformidade. Assim, será preciso que,
para serem promovidos, na letra redonda deem às letras
quatro bicos robustos de pena.
GE 24,4,34 Que as caudas das letras g, p, q, y tenham corpo e meio, isto
é, seis bicos de pena abaixo do corpo das letras; que as caudas
do f, do h, do s maiúsculo e do z tenham somente um corpo
abaixo das letras.
GE 24,4,35 Que as cabeças do b, do f, do h, do l e do s maiúsculos tenham
somente um corpo acima do corpo das letras.
GE 24,4,36 Que a cabeça do t minúsculo inicial e medial só tenha um bico
de pena em cima.
GE 24,4,37 Que todos os corpos das letras estejam sobre a mesma linha;
que as linhas sejam retas; e nenhuma letra passe acima ou
abaixo das outras, exceto as que têm cauda.
GE 24,4,38 Que as letras não sejam tortas, nem inclinadas à direita, mas
retas; que todas tenham corpo de igual altura e espessura.
GE 24,4,39 Os da 5ª ordem de escreventes – que se exercitam nos
diferentes tipos de letras como se formassem uma só palavra
284 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

na mesma linha – somente serão promovidos para a 6ª ordem


– a fim de escrever textos seguidos – se distanciarem as letras
uma da outra tanto quanto devem, e não mais, de sorte que
todos os corpos das mesmas tenham somente um bico e meio
de pena de distância, exceto entre a quebrada e outra que a
precede.
GE 24,4,40 Que entre uma perna e uma curvatura, haja igualmente um
bico e meio de pena, exceto entre o e, c, o, y, entre as quais
deve haver apenas um bico de pena de distância.
GE 24,4,41 Que entre as palavras haja a distância correspondente à largura
de um m, isto é, oito bicos de pena; que as linhas estejam
afastadas umas das outras pela distância correspondente a
quatro corpos de escrita.
GE 24,4,42 Os desta ordem não serão promovidos se não se notar firmeza,
decisão e desenvoltura nas letras. Para isso, o Inspetor exigirá
deles, como condição para serem promovidos à 6ª ordem
que, nas letras, as pernas sejam traçadas retas, não inclinadas
nem para a direita, nem para a esquerda; que os o não sejam
tremidos, quebrados ou deformados, nem pontudos na base ou
no topo, e que todas as letras não sejam nem imprecisas, nem
tremidas, nem amontoadas. Que mostrem estar fazendo as
letras com determinação e soltura; que estas sejam elegantes e
graciosas, e que eles passem facilmente de uma letra a outra.
GE 24,4,43 Os que estão na 6ª ordem de escreventes, escrevendo textos
seguidos em letras grandes de contabilidade, não serão pro-
movidos para a escrita em caracteres de comércio, se não as
traçarem com a mesma facilidade, segurança e desenvoltura
com que os da ordem precedente devem escrever o alfabeto
para serem promovidos. É preciso que tenham as mesmas
condições explicitadas na ordem anterior.
GE 24,4,44 Os da ordem seguinte serão promovidos, de acordo com o
critério do Inspetor, quando escreverem com muita facilidade:
os da 7ª ordem, em caracteres de comércio, e os da 8ª, em
letra de minuta pausada.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 285

GE 24,4,45 Seção 4ª
Da capacidade que devem ter os alunos que escrevem em
letra bastarda para serem promovidos
Quanto aos que escrevem em letra bastarda, após terem
escrito na redonda, os da 1ª ordem - isto é, os que aprendem
a formar as letras bastardas – não serão promovidos a não ser
que deem às letras a forma correta; que as inclinem à esquerda
somente tanto quanto necessário, nem mais nem menos,
isto é, três bicos de pena; que as localizem adequadamente,
de maneira que todos os corpos das letras estejam sobre a
mesma linha, e que todas as linhas sejam retas, por exemplo:
Você não sabe o [que] ordenamos;
GE 24,4,46 que deem ao corpo das letras a devida altura e largura, que
consiste, para a altura, em sete bicos de pena m862..., e para a
largura em cinco m; que façam bem as ligações, que devem
ser traçadas a partir da base da letra anterior ao meio do
seguinte m, exceto na ligação de algumas letras, como x, y, z,
em que a ligação inicia na base da precedente e vai ao topo
dessas três.
GE 24,4,47 Eis como devem ser traçadas as letras bastardas para ficarem
bem, e o que é preciso observar em cada letra para promover
os que aprendem a escrevê-las:
GE 24,4,48 Que todas as partes arredondas e semiarredondadas sejam
ovais e não circulares; o a, o c e o g, a cabeça do f e do q
comecem por linha plena e não fina, e a segunda parte como
um t, encorpado no alto e arredondado embaixo.
GE 24,4,49 Que o e comece por traço fino e um laço.
GE 24,4,50 Que o d, o o e o f finais iniciem com um traço fino; que o o
isolado e o u acabem com traço grosso.
GE 24,4,51 Que o corpo do h seja um c invertido, começando por traço
fino e terminando com um laço.

862
Qual o significado de m...?
286 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,4,52 Que os m e os n sejam redondos no alto e encorpados


embaixo, e que todos os elementos finos estejam entre os
dois membros; que as quatro letras i, l, t, u sejam redondas
embaixo e encorpadas no alto, e que o r direito seja encor-
pado no alto e embaixo, e que seu segundo membro saia do
meio do primeiro, comece fino e termine encorpado, arre-
dondando no alto.
GE 24,4,53 Que as caudas dessas letras se mantenham retas; as caudas do
p e do y se podem traçar retas ou curvas.
GE 24,4,54 Que o corpo do y seja como um v, exceto que a primeira
parte começa com um traço fino da esquerda para a direita,
arredondando.
GE 24,4,55 Todo o restante da forma de todas as letras bastardas, não
indicado acima, se faz como nas letras redondas, exceto que
não devem ser verticais, mas inclinadas, tanto quanto está
indicado acima.
GE 24,4,56 Para promover os da 2ª ordem e colocá-los na 3ª, o Inspetor
observará as mesmas coisas que foram ditas acerca da
promoção dos da 5ª ordem de escreventes em letra redonda
para a 6ª, com a diferença de que as linhas em letra bastarda
devem estar distanciadas uma da outra todo o corpo de escrita
somente.
GE 24,4,57 Para promover os da 3ª ordem e colocá-los na 4ª, se observa-
rão também as mesmas coisas que na promoção da 6ª para a
7ª ordem da letra redonda, e os da 4ª são promovidos para a
5ª como se na letra redonda se mudassem os da 7ª ordem para
a 8ª, uma vez que não há tanta diferença na grossura de letra
como na letra redonda.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 287

GE 24,5 Artigo 5º863


Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos nas lições de aritmética
GE 24,5,1 Os alunos da 1ª ordem de aritmética – na qual se aprende
a adição – somente serão promovidos para a 2ª ordem se
souberem [fazer] sem dificuldade e sem ajuda todo tipo de
adições, por mais difíceis que sejam.
GE 24,5,2 Os da 2ª ordem – na qual se aprende a subtração – somente
serão promovidos caso souberem fazer muito bem, por si
mesmos, todas as espécies de subtrações, [a prova da sub-
tração] pela adição, e a prova da adição pela subtração.
GE 24,5,3 Os da 3ª ordem – em que se aprende a multiplicar – não
serão colocados na 4ª, a não ser que saibam multiplicar por si
mesmos todas as espécies de quantidades.
GE 24,5,4 Os da 4ª ordem – na qual se aprende a divisão simples –
somente serão promovidos e colocados na 5ª se fizerem,
por si mesmos, sem dificuldade, as divisões simples mais
difíceis, e souberem fazer a prova ordinária da divisão pela
multiplicação e a prova da multiplicação pela divisão.

GE 24,6 Artigo 6º
Do tempo em que se devem promover os alunos de lição, e
da maneira de fazê-lo bem
GE 24,6,1 Os alunos de todas as lições, exceto os [que] aprendem o
alfabeto, não serão promovidos no decurso, mas somente no
fim de cada mês.
GE 24,6,2 Os que aprendem o alfabeto – aos quais cabe ler uma linha
por lição – serão promovidos de sua linha ao término de cada
semana, contanto que saibam bem todas as letras que nela
constam; mas não serão promovidos da leitura do alfabeto
inteiro, para serem colocados no cartaz das sílabas, a não ser
no fim do mês.

863
O copista saltou da 4ª para a 6ª seção. Simples erro de enumeração.
288 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,6,3 Se, todavia, acontecer que um aluno aprenda o cartaz do


alfabeto inteiro no começo de um mês, será avançado e
colocado no cartaz das sílabas assim que souber perfeitamente
o cartaz do alfabeto, e será promovido do cartaz das sílabas
no fim do mês, caso o souber.
GE 24,6,4 As promoções de lição serão feitas nos dois últimos dias
do mês e nos primeiros do mês seguinte. Os mesmos serão
fixados pelo Diretor, e indicados em cada escola pelo Inspetor.
GE 24,6,5 Os alunos de qualquer lição864 que não tiverem sido adiantados
no fim do mês, serão admitidos à promoção no mês seguinte,
se forem capazes, e os que têm que ler uma linha por lição
no alfabeto e não souberem todas as letras dessa linha no fim
da semana, serão admitidos à promoção na semana seguinte,
caso as souberem bem.
GE 24,6,6 Chegado o dia marcado para fazer as promoções numa escola,
o Inspetor, a fim de efetuar o avanço dos alunos que aprendem
o alfabeto e passá-los ao cartaz das sílabas, lhes fará ler, a
cada um individualmente, e um depois do outro, mais ou
menos o alfabeto inteiro, não uma letra depois da outra, mas
ora uma, ora outra, particularmente as mais difíceis e as que
têm alguma semelhança entre si, quer pela forma, como: d,
b, p, q, n, u, quer pela pronúncia, como: g, j, e as que são
ligadas, como: et, fs, hf, fb.865
GE 24,6,7 A fim de promover os alunos que leem no cartaz das sílabas,
o Inspetor lhes mandará ler as sílabas de seu cartaz, não
em seguida, mas em diferentes lugares, sobretudo as mais
difíceis; mandará que leiam mais ou menos a metade das que
estão em seu cartaz, observando se as identificam todas com
segurança e sem hesitar; os que estão nesta lição, para serem
promovidos, lerão todos separadamente, um depois do outro.
GE 24,6,8 Nas classes em que se soletra ou se lê, o Inspetor fará ler
os alunos de cada lição e de cada ordem de lição, no livro
que leem, cada um individualmente, um depois do outro, em

864
Trata-se das lições de leitura, já que as lições de escrita duram vários meses.
865
É de se perguntar se Et não seria, antes, ct (ligado).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 289

voz baixa, em algum ponto do livro onde ainda não leram


(se ainda não o tiverem lido todo); os mandará ler nalguma
parte do livro em que já leram faz tempo e que seja difícil
de ser lido ou soletrado, por exemplo, no silabário, sílabas
ou palavras mais difíceis do que as que tiverem lido, e lhes
mandará ler na hora sem que tenham tempo de preparar a
leitura.
GE 24,6,9 Os alunos de cada ordem de lição lerão separadamente dos de
outra; por exemplo, os da 1ª, que é a dos iniciantes, separados
dos da 2ª, que é a dos médios, e assim das demais ordens.
GE 24,6,10 Os que soletram lerão ao menos três linhas, e os que leem
por sílabas lerão também pelo menos três; os que leem por
pausas, os da primeira e da 2ª ordem, cerca de quatro linhas,
e os da 3ª, pelo menos seis .
GE 24,6,11 Os alunos de qualquer ordem de lição lerão todos de forma
seguida, segundo a ordem dos bancos, um após outro. En-
quanto leem em vista da promoção, nem o Inspetor nem o
mestre corrigirá nenhum erro que os alunos fizerem.
GE 24,6,12 Assim que o Inspetor tiver examinado cada aluno, se o achar
em condições de ser promovido, registrará, no catálogo
de mudanças de lição, ao lado direito de cada nome, na 4ª
coluna, o dia do mês e, na 5ª, o mês em que o aluno tiver
sido examinado e promovido de lição ou de ordem de lição,
e somente inscreverá os alunos na ordem em que devem estar
depois de os haver examinado a todos.
GE 24,6,13 Em seguida, o Inspetor comunicará o nome de todos os que
deverão ser promovidos, ordenando que, no dia seguinte,
tragam o livro que lhes vai ser necessário quando mudados de
uma lição para outra, e não serão adiantados de classe, nem
lerão na lição para a qual são transferidos, se não tiverem o
manual necessário.
GE 24,6,14 O Inspetor recompensará, nessa oportunidade, os que tive-
rem lido mais fluentemente e tiverem sido julgados os mais
capazes, um de cada ordem, se houver poucos, e dois, caso
forem muitos os que leem nesse nível de lição.
290 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 24,6,15 Se algum aluno, de qualquer lição ou ordem de lição, houver


sido examinado três vezes para ser promovido, e isso não
ocorreu, por falta de capacidade, será colocado num banco
especial, situado em local visível da classe, que será chamado
o banco dos ignorantes866, e atrás do qual, na parede, estará
escrito: banco dos ignorantes; permanecerá nele até estar em
condições de ser avançado de lição ou de ordem de lição.
GE 24,6,16 O Inspetor das escolas mudará os escreventes de lição e os
examinará, para serem promovidos, durante o seu horário
de escrita. Primeiro, mandará que todos escrevam durante
a primeira meia hora e, enquanto o fazem, lhes observará a
postura, a forma de segurar a pena, a maneira desembara-
çada ou forçada, ágil ou pausada, com que realizam os mo-
vimentos. E, para isso, durante esse tempo, passará por todos
os escreventes que estão no prazo de serem promovidos, e
estará atento a todos, anotando mesmo num bilhete as falhas
que tiver notado neles acerca das coisas acima indicadas, e
examinará sua escrita: 1º a que acabam de escrever; 2º todo
o papel deles, desde o começo até o fim. Verificará se o que
acabam de escrever é igual ao que escreveram nos quinze
dias anteriores, e se houver pouca semelhança, não serão
promovidos;
GE 24,6,17 depois, examinará se o que acabam de escrever e o que
escreveram desde quinze dias tem a forma que deve ter para
serem promovidos dessa ordem, segundo o prescrito no artigo
da capacidade que os alunos devem ter para serem promovidos
dessa ordem de escrita; o Inspetor somente promoverá aqueles
em quem notar, na análise do que escreveram desde faz quinze
dias, que observaram ordinariamente o que está marcado que
devem saber, e a maneira como devem ser formadas as letras
para serem promovidos da ordem de escrita na qual estão e
que, em cada escrevente, não falte a capacidade requerida

866
A Escola paroquial, uma das fontes de La Salle, além de prever este banco
dos ignorantes, também estabelece outras formas de castigo, como o gorro do
burro, não adotado no Guia das Escolas.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 291

para ser promovido, conforme está indicado em todas as


seções do artigo 5º, em que se fala desse assunto.
GE 24,6,18 Também dará a conhecer aos mestres as falhas desse aluno,
e as razões pelas quais não o promoveu, para que o mestre as
leve em consideração e tome os meios para que o aluno as
corrija, e adiará a sua promoção para o fim do mês seguinte.
GE 24,6,19 O Inspetor dará a cada aluno promovido de ordem de escrita
um modelo da ordem em que o coloca, e recolherá o modelo
que tinha na ordem anterior.
GE 24,6,20 Quando o Inspetor quiser promover um aluno de qualquer
ordem de aritmética, [1.] examinará, no caderno desse aluno,
as operações que tiver feito por si mesmo nessa ordem, e o
mandará explicar o porquê de algumas das mais difíceis; 2.
escreverá, no cartaz de aritmética, uma operação das mais
difíceis dessa ordem, mandará que a resolva publicamente e,
depois, lhe ordenará fazer a prova da mesma.

GE 25 Formação dos novos mestres

GE 25,1 Regra do formador dos novos mestres867


GE 25,1,1 A formação dos novos mestres consiste em duas coisas:
1. eliminar nos novos mestres o que eles têm e que não
devem ter;
2. fazer-lhes adquirir o que lhes falta e que lhes é muito
necessário ter.
GE 25,1,2 O que se deve eliminar nos novos mestres é:
1. O falar; 2. a agitação; 3. a leviandade; 4. a precipitação;

867
Esse documento encontra-se nos Arquivos departamentais, em Avignon, sob
o título: Irmãos das Escolas Cristãs de Avignon, II. 1, 2, 3. Trata-se de um
caderno simples, sem capa, 0,46 X 0,36; contém 24 páginas mais algumas
linhas. Na primeira página consta: Regra do Formador dos Novos Mestres; e a
última termina com a indicação: Formação dos Novos Mestres ou 3ª parte do
Guia das Escolas. Todo o caderno é amostra de uma boa caligrafia do século
XVIII. A cópia foi realizada em agosto-setembro de 1931, pelo Irmão Donato
Carlos, arquivista do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs (Lassalistas).
292 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

5. o rigor e a severidade; 6. a impaciência; 7. a aversão a


alguns; acepção de pessoas; 8. a lentidão; 9. a negligência;
10. a frouxidão; 11. o desânimo fácil; 12. a familiaridade;
13. as preferências e amizades particulares; 14. o espírito de
inconstância e a improvisação; 15. exterior desconcentrado,
avoado, ou pregado, fixo nalgum ponto.

GE 25,2 Meios para eliminar e desarraigar todos os defeitos em


um novo mestre
GE 25,2,1 Primeiro. Dos meios para eliminar o falar
GE 25,2,1,1 Levar os novos mestres a não falarem absolutamente nada
e sob pretexto nenhum, durante algum tempo, mesmo se
parecesse conveniente ou necessário fazê-lo. Isso, no início,
durante um quarto de hora, depois por meia hora e, finalmente,
durante uma hora ou mais, segundo se julgar oportuno, para,
dessa maneira, se acostumarem, pouco a pouco, a guardar o
silêncio. Passado esse tempo, levá-los novamente a fazerem
o mesmo por um quarto de hora ou meia hora, segundo se
julgar que sejam capazes.
GE 25,2,1,2 Quando o novo mestre falar inutilmente, fazê-lo, incontinenti,
ou no final da aula, perceber a inutilidade de suas palavras
e, ao mesmo tempo, dizer-lhe o que deveria ter feito para
não falar: por exemplo, ao fazer ler a um aluno, ele mesmo
corrigiu os erros cometidos por este.
GE 25,2,1,3 É necessário fazer-lhe dar-se conta que, em lugar de falar
para fazer tal correção, deveria ter dado dois cliques com
o sinal, o que teria obrigado o aluno a recomeçar a palavra
mal pronunciada e, talvez, a dizê-la corretamente; que, se
depois o aluno não a pronunciasse bem por uma ou duas
vezes, deveria dar somente um clique do sinal, para fazer
todos os alunos olharem para ele e fazer a um aluno da
mesma lição o sinal para ler, o qual teria dito corretamente
a palavra que o outro foi incapaz de ler de forma certa, etc.
GE 25,2,1,4 No início, não se deve exigir deles que guardem silêncio por
longo espaço de tempo, uma vez que isso lhes causaria apre-
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 293

ensão e seria capaz de assustá-los, mas, como foi dito, apenas


por um espaço muito curto, após o qual serão estimulados a
continuarem assim até o final da aula, fazendo-lhes ver que,
se conseguiram abster-se de falar no quarto de hora anterior,
com a mesma facilidade poderão abster-se durante o quarto
de hora seguinte. É bom mesmo impor-lhes essa prática como
penitência, estimulando-os a comunicarem, no final da aula,
se a cumpriram fielmente e como se sentiram. Se os alunos
observaram maior silêncio ou se falaram pouco.
GE 25,2,1,5 Indicar-lhes como prática colocar-se de pé junto à cadeira,
fazer o sinal da santa cruz, pronunciar algumas palavras,
como Jesus, Maria, José, elevar o coração a Deus ou dirigir
o olhar ao crucifixo antes de falar, para que esses atos lhes
lembrem de que se devem calar.

GE 25,2,2 Dos meios para corrigir a agitação e a demasiada pressa


GE,25,2,2,1 Embora não seja conveniente estar sempre na classe como
uma estátua, sem ação e sem movimento, tampouco fica bem
ser nela demasiadamente agitado e precipitado.
GE 25,2,2,2 É preciso evitar esses dois extremos: Um deles faz com que
os mestres não tenham suficiente vigilância e desenvoltura;
o outro os priva de toda autoridade e lhes atrai o menosprezo
de todos os alunos.
GE 25,2,2,3 É necessário eliminar nos novos mestres essa impulsividade e
essa índole agitada e precipitada.
GE 25,2,2,4 É preciso, primeiramente, animá-los a se manterem tranquilos,
sentados em sua cadeira e, como na correção do defeito ante-
rior, estimulá-los a permanecer nessa posição, inclusive, sem
se levantar pelo prazo de um quarto de hora, ou de meia hora.
GE 25,2,2,5 Não lhes permitir ir em direção aos alunos para lhes aplicar a
palmatória ou colocá-los em ordem.
GE 25,2,2,6 Fazer com que não se movimentem com facilidade, não mu-
dem a toda hora de posição, de postura ou de lugar, movendo
ora um dos pés, ora outro.
294 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,2,2,7 Não voltem a cabeça para um dos lados e depois levianamente


para o outro, sem parar e incapazes de permanecer por um
momento na mesma posição.
GE 25,2,2,8 Para isso, estar sempre, ou o mais das vezes possível,
perto dele, para adverti-lo ao fazer algo não conveniente e,
inclusive, impor-lhe penitências apropriadas para recordar-
lhe como deve proceder.
GE 25,2,2,9 Não permitir que, ao clicar com o sinal, o faça com
precipitação, movendo o corpo inteiro; e, quando o fizer,
adverti-lo imediatamente.

GE 25,2,3 Dos meios para eliminar a leviandade


GE 25,2,3,1 Aos novos mestres naturalmente levianos é preciso exigir
que observem silêncio muito rigoroso, não permitir de forma
alguma que falem sem muito grande necessidade, e fazer-lhes
saber quando é necessário e quando não é necessário falar.
GE 25,2,3,2 Vigiá-los muito, e não permitir que, na escola, jamais façam
algo que denote a mínima leviandade.
GE 25,2,3,3 Que não riam; que eles mesmos não façam nada, nem levem
os alunos a fazer nada que seja minimamente inconveniente e
ridículo, nem que possa incitar os demais ao riso.
GE 25,2,3,4 Impor-lhes adequadas penitências quando tiverem incorrido
em alguma leviandade na escola e não se houverem
comportado ponderadamente.
GE 25,2,3,5 Nunca tolerar que chamem alunos para perto de si.
GE 25,2,3,6 Adverti-los de toda leviandade que cometam, tão logo se
perceba que nela caíram, e fazê-lo todas as vezes (que isso
ocorra).
GE 25,2,3,7 Fazer-lhes algum gesto ou sinal para se darem conta de com-
portamento inadequado.
GE 25,2,3,8 Exigir que permaneçam sempre sentados em sua cadeira e
que não se afastem dela por motivo nenhum.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 295

GE 25,2,4 Dos meios para eliminar o excessivo rigor, a severidade e a


impaciência
GE 25,2,4,1 Não lhes permitir frequência de correções e, para isso,
procurar persuadi-los de que não é a dureza e a severidade
que implantam a boa ordem na escola mas, sim, a vigilância
contínua mesclada com prudência e bondade.
GE 25,2,4,2 Estar atento a todas as correções que aplicarem, chamar-lhes
a atenção sobre todas as falhas (ocorridas na aplicação), e
fazer com que eles mesmos se deem conta delas.
GE 25,2,4,3 Acostumá-los a manterem sempre aspecto tranquilo, rosto
sereno e exterior que revele índole firme, repleta de bondade.
GE 25,2,4,4 Prescrever-lhes, tanto quanto possível, as ocasiões em que
devem fazer a correção, e mostra-lhes, muitas vezes, a
maneira de fazê-lo com moderação.
GE 25,2,4,5 Não lhes autorizar batidas excessivamente rudes com a
palmatória, e prescrever-lhes número determinado que não
poderão ultrapassar sem havê-lo submetido à aprovação.
GE 25,2,4,6 Não lhes permitir tocar os alunos com a mão, puxá-los,
empurrá-los ou sacudi-los.
GE 25,2,4,7 Para isso, persuadi-los a que permaneçam sempre no pró-
prio lugar e não se dirijam aos alunos para tirá-los do lugar
deles, etc.
GE 25,2,4,8 Obrigá-los a nunca darem mais do que um golpe de palmatória,
por vez, no mesmo aluno.
GE 25,2,4,9 Não lhes permitir facilmente a correção com o açoite ou a vara
e, sobretudo, (exigir) que só o façam na presença do Inspetor
ou do formador; que nunca deem mais do que três batidas, e
que não as deem muito depressa nem precipitadamente, mas
na forma indicada pela Regra868.

868
Esse parágrafo está riscado no manuscrito. Faz provavelmente parte do texto
primitivo, tendo sido supresso pouco depois, no decorrer do século XVIII.
296 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,2,4,10 Nunca consentir que joguem algo sobre os alunos, como seja,
a palmatória, nem mesmo se o fizessem com moderação.
GE 25,2,4,11 Exigir que nunca imponham correção nenhuma senão após
alguns momentos de reflexão e depois de haverem entrado em
si mesmos, e elevado o coração a Deus. Impor-lhes práticas
semelhantes como penitência.
GE 25,2,4,12 Dar-lhes ordem de prestarem contas de todas as correções
impostas, dos motivos pelos quais as impuseram e da maneira
como procederam.
GE 25,2,4,13 Exigir que observem profundo silêncio e grande moderação
quando se sentirem excitados à impaciência, que permaneçam
muito tranquilos durante todo o tempo da comoção. Não
existe melhor meio que esse para conter tal impaciência.
GE 25,2,4,14 Não deixar perto deles nada com que possam bater nos alunos,
nem palmatória, nem varas.

GE 25,2,5 Dos meios de corrigir a aversão a algum (aluno)


GE 25,2,5,1 É preciso inspirar a todos os novos mestres caridade perfeita
e desinteressada para com o próximo. Induzi-los, mesmo, a
darem maiores demonstrações externas de amizade e afeição
aos pobres do que aos ricos.
GE 25,2,5,2 Quando lhes acontecer de manifestar ou externar aversão
a algum dos alunos, dar-lhes a entender a importância da
obrigação que têm de amar a todos com igual caridade, de
não fazerem acepção de pessoas.
GE 25,2,5,3 Deve-se exortá-los a que, no futuro, demonstrem a eles maior
cordialidade e mais afeto que a qualquer um dos demais.
GE 25,2,5,4 É bom, inclusive, obrigá-los a manifestar, alguma vez, maior
interesse por estes que pelos demais: fazê-los ler mais vezes,
responder com mais frequência durante o catecismo, e corri-
gir-lhes a escrita o dobro de vezes que a dos outros.
GE 25,2,5,5 Nunca lhes falar a não ser com afabilidade e bondade; dar-
lhes alguma recompensa, mesmo no caso de não a terem
merecido inteiramente. Ainda quando houvesse motivo de
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 297

rechaço, trazê-los, inclusive, mais próximos a si, fazendo-o,


sempre que possível, ordenadamente.
GE 25,2,5,6 O formador poderá mesmo dissimular o motivo que tiver
para isso e exortar os novos mestres a se superarem nessas
oportunidades.
GE 25,2,5,7 Contudo, o formador, por sua vez, terá o cuidado de procurar
remediar à falha dos alunos, seja castigando-os, seja exortan-
do-os a procederem melhor.

GE 25,2,6 Dos meios para remediar o desânimo fácil


GE 25,2,6,1 Para alcançar isso, é preciso inspirar a todos os novos mes-
tres caridade perfeita; não lhes apontar vários defeitos e
dificuldades de uma só vez, mas no máximo um ou dois;
ademais, oferecer-lhes os meios para superá-los, animá-los e
exortá-los a isso, encorajando-os de vez em quando.
GE 25,2,6,2 Com esse tipo de temperamentos é preciso tomar precau-
ções, desnecessárias com relação aos prudentes, pois eles
precisam ser orientados com brandura e condescendência,
de sorte que pretender forçá-los ou exigir-lhes em demasia,
ao invés de encaminhá-los a cumprir bem os seus deveres,
levaria a afastá-los de suas obrigações.
GE 25,2,6,3 Quanto aos outros, esses não se deixarão abater tão facilmente.

GE 25,2,7 Da familiaridade
GE 25,2,7,1 Para eliminar prontamente a familiaridade, há uma só coisa
a fazer: não falar com os alunos e não permitir que eles lhe
falem.
GE 25,2,7,2 O formador cuidará para que os novos mestres não falem
com os alunos sem grande necessidade; não falem com eles
desde o seu lugar; não lhes falem em voz alta; que nunca
riam com eles; nada lhes deem movidos por familiaridade;
nada lhes mandem executar levados por este espírito; não
tolerem suas faltas por receio causado pela familiaridade
estabelecida com eles.
298 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,2,7,3 Que nunca permitam que algum aluno lhes fale sem permissão,
sem respeito e sem reserva [mas] exija que o faça de pé, com
a cabeça descoberta e em voz bem sumida.
GE 25,2,7,4 Que nunca os façam vir junto a si para lhes falar; que não
lhes falem a todo momento, sem seriedade e reserva, como
(falam) com seus colegas.
GE 25,2,7,5 O formador deve ter o cuidado de advertir os novos mestres
sobre todos esses tipos de defeitos, toda vez que notar que
eles os cometem, e indicar-lhes os meios para evitá-los.
GE 25,2,7,6 Por exemplo: aplicar a palmatória a todos os que lhes falarem
sem autorização, ou desde seu lugar, ou sem respeito; ou
então enviá-los a ele, para que lhes inspire temor.
GE 25,2,7,7 A familiaridade gera menosprezo e, depois de o mestre ser
menosprezado por seus alunos, qualquer coisa que faça e diga
não os atinge; todo o seu ensino e instruções perdem o seu
poder de influência, não causam nenhum bom efeito. Os alunos
se tornam insolentes e terminam fazendo dele um capacho.
GE 25,2,7,8 O formador deve ter cuidado e estar muito atento a esse
ponto, que é de grande importância; e nada poupar com o fim
de impedir que isso aconteça aos que lhe cabe formar.
GE 25,2,7,9 Para tal efeito, caso for Diretor, deve impor penitências apro-
priadas aos que poderiam incorrer nisso e, se não for, infor-
mará disso o Irmão Diretor.
GE 25,2,7,10 Pode-se falar aos alunos familiarmente ou de maneira fami-
liar, sem cair na familiaridade com eles e sem que percam o
respeito que devem à pessoa com a qual falam869.
GE 25,2,8 Dos meios para corrigir a lentidão e a negligência
GE 25,2,8,1 É preciso velar muito sobre os novos mestres lentos e negli-
gentes, e obrigá-los, inclusive à base de penitências, a cumprir
o dever na escola, a vigiar, a fazer observar silêncio e ordem,
a fazer que todos os alunos sigam;870

869
Isso parece, em realidade, ser uma restrição acrescida.
870
[...] sigam a lição. (Essa elipse é frequente no Guia das Escolas).
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 299

GE 25,2,8,2 a fazer ler a todos e tanto quanto devem e for necessário;


GE 25,2,8,3 a fazer com que todos os exercícios comecem precisamente
na hora, como a recitação da oração, das respostas da santa
Missa, do catecismo, ou do terço, assim que se tiver concluído
a oração da escola pela manhã e a bênção da merenda à tarde;
as lições, assim que terminar a ação de graças na parte da
manhã e, depois do meio-dia, tão logo estiver concluída a
oração da escola, e assim do restante.
GE 25,2,8,4 Deve igualmente estar atento a que tenham dado todas as
lições no horário previsto, e que preferentemente lhes sobre
tempo em vez de este lhes faltar. Isso o conseguirão se cada
vez fizerem ler pouco e muitas vezes.
GE 25,2,8,5 Que não fiquem sem fazer nada na escola e que, sobretudo, no
decorrer das lições, estejam continuamente empenhados em
fazer ler e seguir [a leitura].

GE 25,2,9 Dos meios para corrigir as preferências e amizades particulares


GE 25,2,9,1 Para isso, é preciso, antes de mandar os jovens mestres dar
aula, fazer-lhes compreender que devem ter igual caridade
com todos os seus alunos, assim como com todos os seus
Irmãos, e que nunca devem amar a algum deles em detrimento
dos outros.
GE 25,2,9,2 Isso, contudo, não significa que não se possa e não se deva
preferir sempre os pobres aos ricos, pelo fato de eles se
assemelharem mais com Nosso Senhor Jesus Cristo e lhe
pertencerem mais que os ricos, já que os chama seus irmãos.
GE 25,2,9,3 Isso tampouco quer dizer que não se deva amar particularmente
aqueles que se tornam estimáveis por sua piedade, fidelidade,
esmero, docilidade e assiduidade em comparecer todos os
dias e bem cedo, e também por suas demais boas qualidades,
GE 25,2,9,4 mas que, de ordinário e perante todos, não se deve dar
nenhuma demonstração exterior de amizade maior a uns que
a outros.
300 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,2,9,5 Os formadores, portanto, cuidarão para nunca tolerar que


os mestres que formam demonstrem mais afeto e maior be-
nevolência a uns do que aos outros, mas que a todos as ma-
nifestem com igualdade, a não ser aos mais pobres e aos que
não possuem nenhum atributo exterior que possa atrair seu
afeto e amizade, e isso mais para se mortificar e se vencer do
que para se contentar e satisfazer.
GE 25,2,9,6 Que não mantenham preferidos junto a eles, não lhes façam
confidências, nem lhes confiem seus segredos na escola.
GE 25,2,9,7 Não coloquem perto deles os atraentes, os graciosos, os
inteligentes e os de boa aparência.
GE 25,2,9,8 Não lhes falem em particular, a não ser no final das aulas, um
após outro, para estimulá-los a cumprirem bem o dever.
GE 25,2,9,9 Corrijam de maneira igual aos que tiverem merecido castigo;
não tolerem em alguns o que não estão dispostos a suportar
em outros.
GE 25,2,9,10 Obrigá-los, inclusive a, nestas oportunidades, agirem contra
as próprias inclinações e repugnâncias.
GE 25,2,9,11 O formador lhes fará compreender bem que esses tipos de
amizades particulares são causa de vários graves inconve-
nientes, tanto para os assim amados e acarinhados, como para
os outros que não o são.
GE 25,2,9,12 Os primeiros se prevalecem muitas vezes dessa amizade para
o mal e terminam tornando-se insolentes, perdendo todo o
respeito e todo o temor que deveriam ter aos seus mestres
e deixando de fazer-lhes caso; os outros com frequência se
ralam de ciúmes deles e criam ódio e aversão aos próprios
mestres e aos alunos que julgam mais amados do que eles.

GE 25,2,10 Dos meios para corrigir o exterior desconcentrado, avoado,


ou pregado, fixo nalgum ponto
GE 25,2,10,1 Na escola, embora não se necessite estar de olhos fechados e
nem aplicar-se ao recolhimento exterior assim como na sala
da comunidade ou no oratório, deve-se usá-los tão somente
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 301

para vigiar e ter o olhar continuamente voltado sobre os


alunos.
GE 25,2,10,2 O formador cuidará, portanto, de fazer com que os novos
mestres que lhe couber formar evitem dois extremos: exterior
muito desconcentrado, irrequieto, avoado, desordenado, e
compenetração exagerada, esmero contínuo na concentração
que lhes impeça aquele que devem ter em vigiar os alunos.
GE 25,2,10,3 Para corrigir o primeiro aspecto é preciso exigir-lhes que
não virem muito levianamente a cabeça, e não fiquem bis-
bilhotando o interior das outras salas de aula.
GE 25,2,10,4 Quanto ao segundo, é preciso obrigá-los a que olhem para
os alunos constantemente, observem a todos, não fiquem por
tempo maior que o de um Pater sem vê-los e sem se darem
conta do que fazem, de modo que, se perguntados sobre o
que está fazendo fulano, estejam em condições de responder
imediatamente e dizer: “Está fazendo tal coisa”;
GE 25,2,10,5 que não mantenham os olhos fixos e presos por longo tempo
no mesmo ponto, mas circulem permanentemente o olhar;
GE 25,2,10,6 que, para não se perderem na leitura, enquanto observam por
todos os lados, coloquem o dedo ou a ponta do sinal sobre o
livro, seja na linha que está sendo lida, seja algumas linhas
mais abaixo;
GE 25,2,10,7 que estejam atentos aos alunos e vigiem sobre eles pelo menos
tanto quanto se concentram em seus livros.
GE 25,2,10,8 Numa palavra, tratarão de fazer tudo da melhor maneira
possível, com prudência e a experiência que vão adquirindo
com o tempo.
GE 25,2,10,9 Durante o tempo de sua formação e até estarem bem
acostumados a, simultaneamente, fazer ler, acompanhar a
leitura e vigiar os alunos, seria bom que lessem três ou quatro
vezes a lição a ser lida pela manhã ou à tarde, para fazer-se
dela uma ideia, o que os ajudará a não se perderem facilmente
durante a leitura, ou para reencontrar-se mais prontamente,
caso se perderem.
302 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,3 Das coisas que se devem fazer adquirir aos novos mestres e
dos meios para isso
GE 25,3,0 As coisas que é preciso fazer adquirir são:
1. Coragem. 2. Autoridade e firmeza. 3. Circunspecção:
exterior grave, digno e modesto. 4. Vigilância. 5. Atenção
sobre si mesmo. 6. Compostura. 7. Prudência. 8. Aspecto
animador e atraente. 9. Zelo. 10. Facilidade para falar,
expressar-se com clareza, ordem e ao nível dos meninos aos
quais se ensina.

GE 25,3,1 Dos meios para fazer adquirir autoridade, coragem e


firmeza871
GE 25,3,1,1 É necessário exercitá-los frequentemente, no decorrer do
noviciado, a darem aula; ensinar-lhes o modo de nela haver-
se em tudo, depois que já tenham uma boa noção de como se
leciona e antes de fazê-los entrar na aula para dá-la.
GE 25,3,1,2 Deve-se exigir-lhes que entrem nela com ar decidido e sério,
com a cabeça levantada e olhando para todos os alunos sem
receio algum, como se já tivessem trinta anos de prática.
GE 25,3,1,3 Que façam, a seguir, o que deve ser feito, a saber: pôr-se de
joelhos, saudar o crucifixo e, depois, sentar-se na cadeira .
GE 25,3,1,4 Se algum aluno faz menção de lhe falar, que o mande ajoe-
lhar-se imediatamente, sem nada dizer.
GE 25,3,1,5 Que se dirija à sua cadeira digna e seriamente; faça todas
as coisas tão decididamente como se já lecionasse há muito
tempo.
GE 25,3,1,6 Que não deixe transparecer nenhum temor; durante os pri-
meiros dias, não permita que aluno algum lhe fale.
GE 25,3,1,7 Caso algo deva ser dito na aula, que o diga, em voz baixa, a
um aluno e faça a este repeti-lo em voz alta. Mas que isso não
ocorra com frequência.

871
O que segue não corresponde integralmente aos pontos anunciados, e parece
formado, especialmente na parte final, de algumas respigaduras.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 303

GE 25,3,1,8 Que faça tudo de maneira decidida e desembaraçada. Por


exemplo, que mande a um dos alunos dizer tudo o que deseja
que todos façam.
GE 25,3,1,9 Ao se dirigirem à santa Missa ou durante a mesma, caso
não observarem o que lhes indicou, que os puna com muita
severidade.
GE 25,3,1,10 Que estejam atentos até às mínimas coisas que ocorrem na
escola ou na igreja, e não tolerem nem mesmo que um aluno
volte a cabeça na igreja sem corrigi-lo.
GE 25,3,1,11 Durante os oito primeiros dias não deve ser aplicada nenhuma
correção, a não ser por coisas que tiverem sido comunicadas
de antemão.
GE 25,3,1,12 Que, no início, não corrijam os menores; mas, se for necessá-
rio aplicar alguma correção, a inflijam aos que se comportam
pior e àqueles cuja correção possa inspirar mais temor, como
seria (impô-la) a um dos maiores.
GE 25,3,1,13 No referente à autoridade, que não tolerem que aluno algum
lhes fale em voz alta, sem autorização, ou sem respeito, mas
sempre muito sumidamente, com a cabeça descoberta, de pé
e de forma séria.
GE 25,3,1,14 Que não deixem transparecer meiguice e afeição em público.
GE 25,3,1,15 Que falem pouco e somente com número, peso e medida, de
forma pausada e firme, fazendo cumprir o que dizem.
GE 25,3,1,16 Que não falem inconsideradamente a toda hora e de maneira
confusa, comendo a metade das palavras.
GE 25,3,1,17 Que não sejam irrequietos, mesmo em seu lugar; nem
agitados; que nunca riam, nem sequer quando surgir alguma
ocasião de fazê-lo.
GE 25,3,1,18 Que somente corrijam desde o seu lugar.
GE 25,3,1,19 Ao ter algo a fazer executar, que mandem realizá-lo primei-
ramente pelos maiores; e quanto às faltas que observam,
tenham sempre os olhos voltados para eles, a fim de os punir
preferencialmente aos pequenos.
304 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,3,1,20 Propondo-se a punir um aluno maior que lhes queira resistir,


não usem para isso o tempo do final das aulas, mas um outro
momento em que o possam fazer e ainda lhes sobre tempo;
que não o deixem sair sem havê-lo corrigido.
GE 25,3,1,21 Se o aluno não estiver disposto a obedecer, que o castigue
por não haver obedecido prontamente, mesmo aplicando-lhe
apenas uma batida de palmatória, de modo que, assim, ele
receba a correção normal, ainda não sofrida.
GE 25,3,1,22 Se forem dois ou três os alunos a serem castigados, que lhes
digam que o último a estar preparado será punido com mais
severidade que os outros, se estes forem obedientes e rápidos.
GE 25,3,1,23 Em consideração à sua submissão, será bom perdoar-lhes,
caso a falta não tiver sido considerável.
GE 25,3,1,24 Quando os alunos gritam, é preciso batê-los até que se calem
e, depois, dizer-lhes que ajeitem as calças. A seguir, fazer que
eles mesmos se preparem para receber a punição, e aplicá-la
novamente como se não a tivessem recebido, explicando-lhes
que a primeira correção lhes foi aplicada somente para fazer
que se calassem. Este proceder contribui muito para fazer a
um mestre adquirir autoridade.
GE 25,3,1,25 Que os mestres escutem os alunos em particular apenas uma
vez ao dia, ou uma pela manhã e outra pela tarde.
GE 25,3,1,26 A firmeza consiste em fazer executar imediatamente, sem
delongas o que se quer. Se um aluno não fizer logo o que o
mestre lhe diz, que este não o deixe sem castigo até que o faça;
e, em seguida, exija que o execute. Caso não o executar ainda,
castigá-lo novamente, e que não se dobre nunca perante um
aluno, mas o obrigue categoricamente a fazer o que manda.
GE 25,3,1,27 O formador deverá ter o cuidado de levar o mestre em for-
mação a concluir tudo o que tiver começado; mesmo o auxi-
liará nisto, se necessário.
GE 25,3,1,28 Não consentirá que fique sem ação nenhuma caso um aluno
lhe tenha resistido; mas lhe exigirá fazer todo o possível para
vencer essa resistência, e lhe indicará os meios para isso.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 305

GE 25,3,1,29 Deixará que os novos mestres assumam plena autoridade


no que concerne ao seu dever, e lhes fará compreender que
devem proceder em tudo como se ele (o formador) não esti-
vesse presente.
GE 25,3,1,30 Tanto quanto possível, colocará um mestre novo junto a outro
que desempenha bem o seu dever.
GE 25,3,1,31 É necessário proceder de maneira que os alunos saiam sem-
pre satisfeitos da escola, de modo a não poderem dizer aos
pais nada capaz de os desgostar.
GE 25,3,1,32 Quando não há ordem na escola, o Irmão mestre deve ser bem
firme no começo e corrigir mais vezes e com maior rigor do
que se nela houvesse ordem.
GE 25,3,1,33 No princípio, deve igualmente recompensar os alunos quando
procedem bem e, em geral, não deixar nenhuma falta sem
correção: corrigir aqueles cuja punição servir de exemplo, e
que são normalmente os maiores e os mais indisciplinados.
GE 25,3,1,34 Não deve hostilizar os de gênio tímido e que caem raras vezes
em falta, ou que as cometem sem malícia.
GE 25,3,1,35 É necessário estudar muito o temperamento, os hábitos e as
inclinações dos meninos para poder lidar com eles da maneira
adequada.
GE 25,3,1,36 Se os meninos faltarem em algo, é preciso, ordinariamente,
adverti-los ou castigá-los nesse momento, e não em outro.
GE 25,3,2 A espiritualidade a ser cultivada nos meninos
GE 25,3,2,1 É preciso inspirar-lhes piedade, temor de Deus e horror ao
pecado, e levá-los à frequente recepção dos sacramentos.
GE 25,3,2,2 Reservar mais tempo para o exame e as reflexões. Formar
bem os mestres e ensinar-lhes a maneira de falar e de exortar
os meninos.
GE 25,3,2,3 Dar o catecismo sobre moral duas ou três vezes por semana.
Falar-lhes em particular; fazer com que se confessem todos os
meses e comunguem, e assegurar-lhes bons confessores.
306 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,3,2,4 Fidelidade na reza da oração da manhã e da tarde; assistência


piedosa à santa Missa; oração frequente durante o dia.

GE 25,4 Regra do mestre dos internos872


GE 25,4,1 O Irmão Superior do Instituto confiará a direção dos internos
a um ou, se houver necessidade, a vários Irmãos, que julgar
os mais capacitados para essa função.
GE 25,4,2 O mestre dos internos, ou o primeiro mestre, se houver di-
versos, no momento da recepção dos alunos, fará inventário
detalhado de tudo o que estiver ao uso deles, como roupa de
cama, vestimentas873, louça, etc., para devolver tudo, também
mediante inventário pormenorizado, quando saírem.
GE 25,4,3 Haverá um inventário e relação num livro destinado a esse
fim, do qual será entregue uma cópia ao Irmão Superior do
Instituto, para poder prestar contas a ele ou a quem for desig-
nado para tal fim, quando o tirar da função.
GE 25,4,4 Estará atento para que toda a roupa e toda a baixela dos
pensionistas estejam marcadas, a fim de poder devolvê-las
mais facilmente, segundo o inventário, quando eles saírem.
GE 25,4,5 Terá cuidado para que a roupa e vestimentas sejam bem cuida-
das para se encontrarem sempre em muito bom estado e limpas.
GE 25,4,6 Zelará para que o dormitório seja varrido e as camas bem
arrumadas e que a palha das mesmas seja trocada toda vez
que necessário. E quando julgar que essa necessidade existe,
a lembrará ao Irmão Superior do Instituto, para que este, se
lhe aprouver, tenha a bondade de satisfazê-la.874

872
Essa Regra não faz parte do antigo Guia das Escolas, que não a menciona em
parte nenhuma. Contudo, o Pensionato de Saint-Yon, de Ruão, é de 1705. Sendo
o único internato mantido pelos Irmãos nos inícios do Instituto, possivelmente
seja essa a razão de ela não figurar no Guia, para não lhe onerar a impressão.
873
Original: Habit: Hábito, vestimenta, com a ressalva de que, na época clássica,
vestimenta incluía sempre o calçado e o chapéu ou touca (Robert).
874
O Superior do Instituto tinha a residência na ampla propriedade do Pensionato
de Saint-Yon.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 307

GE 25,4,7 Velará para garantir-lhes o fornecimento de todo o necessá-


rio, e cuidará para nada lhes faltar na alimentação, quando
enfermos ou indispostos, e pedirá então ao Irmão Superior
expedir as devidas ordens para isso.
GE 25,4,8 Velará, sobretudo, para que estejam isentos de parasitas tanto
na cabeça como no corpo. O mestre dos pensionistas menores
revisará a cabeça de cada um uma vez por semana.
GE 25,4,9 Semanalmente prestará contas, ao Irmão Superior ou Diretor,
do proceder dos internos, depois de lhe haver prestado as da
conduta pessoal, e com frequência pedirá sua opinião sobre
o modo de proceder com eles, tanto em geral, como em
particular e, em tudo, seguirá suas ordens.
GE 25,4,10 Quando a presença dos pensionistas for solicitada pelos pais
ou outras pessoas, os mestres, ou algum deles, no caso de
serem vários, ou algum outro Irmão, segundo o Irmão Su-
perior julgar conveniente, os levará ao local destinado para
encontrá-los e falar com eles, e quem os acompanhar não
deixará sua companhia até que as pessoas tenham saído.
GE 25,4,11 Todos os dias, terá o cuidado de, pela manhã e à noite, bem
como no início das principais ações, levá-los a rezar as
orações de costume, pausada, modesta e piedosamente, e a
oferecer suas ações a Deus, e de fazer que se lembrem de
renovar com frequência o oferecimento feito.
GE 25,4,12 Velará particularmente sobre seus costumes, tratando de
inspirar-lhes amor à virtude e aversão ao vício, falando-lhes
disso muitas vezes e contando-lhes histórias tocantes sobre
o tema, porque, sendo as crianças incapazes de maiores ra-
ciocínios, sentem-se mais inclinadas e estimuladas à prática
do bem pela frequente e viva apresentação de exemplos sobre
pessoas jovens semelhantes a elas, do que por longas falas.
GE 25,4,13 Repreendê-los-á por suas faltas, fazendo-lhes sentir vivo horror
por elas, através de comparações ao nível de sua compreen-
são, e isso com tanta delicadeza e caridade que se sintam mais
impressionados pelas faltas cometidas do que pela comoção
que lhes possa haver produzido a viva apresentação feita.
308 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,4,14 Evitará cuidadosamente corrigi-los com descontrole, mas se


for obrigado a castigá-los, deve ser visível que o faz refletida
e caridosamente.
GE 25,4,15 Tratará de fazer-se mais amado que temido. Não deixará,
contudo, de repreendê-los pelas faltas cometidas por malícia,
para impedir que se habituem a elas.
GE 25,4,16 Nunca se manifestará mais amigo de uns do que de outros,
para evitar o ciúme, salvo quando alguém fizer algo lou-
vável, para estimular os demais, dizendo-lhes, ao mesmo
tempo, que todos os que fizerem o mesmo serão igualmente
queridos dele.
GE 25,4,17 Não tolerará, nos internos, gulodice, brigas, inveja, desconsi-
deração, maledicência, mentira, nem relacionamentos que
constituem como a raiz de vários outros vícios nem, sobretudo,
aqueles que levam à impureza.
GE 25,4,18 Nunca deixará alguns sozinhos nem separados dos demais
durante os recreios.
GE 25,4,19 De tempos em tempos, lhes fará o catecismo sobre a con-
fissão e a comunhão, a fim de ensinar-lhes as condições
para que estes sacramentos sejam devidamente recebidos, e
procurará animá-los a que tenham as disposições requeridas,
ao recebê-los.
GE 25,4,20 Cuidará para que se confessem com frequência, hábito que
nunca é cedo demais para adquirir, uma vez que não há
nada mais apropriado para impedi-los de caírem em faltas
consideráveis.
GE 25,4,21 Mesmo que entre eles houvesse alguns ainda sem idade para
receber a absolvição, não deixará de fazer que se confessem,
a fim de prepará-los e acostumá-los, assim, a frequentar os
sacramentos.
GE 25,4,22 Por esse motivo, fará o possível para que nenhum interno,
pequeno ou grande, passe quinze dias sem se confessar, e
[inclusive] os que se confessam sem comungar, contanto que
o confessor o julgue oportuno.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 309

GE 25,4,23 Reservará tempo apreciável, ao menos seis meses, para


preparar à sagrada comunhão os que devem recebê-la por
primeira vez. Seguindo o parecer do Irmão Superior do Ins-
tituto, proporcionará esse benefício somente aos que julgar
estarem preparados, tanto pela piedade e proceder, como pelo
proveito tirado das instruções dadas, e sob a condição de que
tenham pelo menos doze ou treze anos e que os julgue em
condições de conservarem a graça da primeira comunhão.
GE 25,4,24 Se, entre eles, houver quem não estiver crismado, ele os
preparará à recepção do sacramento da Confirmação, se não
lhe for difícil fazer que a recebam.
GE 25,4,25 Ensinar-lhes-á a necessidade de rezar com frequência e a
maneira de fazê-lo bem, e cuidará para cumprirem esse dever
com piedade.
GE 25,4,26 Instruí-los-á também sobre as promessas e renúncias que
fizeram no santo Batismo, por boca de seus padrinhos e
madrinhas.
GE 25,4,27 Inspirará profundo respeito ao Santíssimo Sacramento do
Altar. Que tal respeito faça com que se mantenham atentos na
igreja e durante o Serviço divino, sobretudo na santa Missa,
fazendo-lhes entender que não ter rezado nela é como se não
a tivessem ouvido875, e que os que estão nesta situação são obri-
gados a se confessar como se não tivessem assistido a ela.
GE 25,4,28 Inspirar-lhes-á devoção particular à Santíssima Virgem, a São
José, a seu anjo da guarda e a seu santo padroeiro, levando-os
a ler ou contando-lhes o resumo da sua vida, para fazer com
que os honrem. Dará alguma recompensa aos que observa
afeiçoando-se mais a eles.
GE 25,4,29 Gradualmente lhes fará praticar a piedade e se esmerará com
cuidado para conservar-lhes a inocência batismal, inspirando-
lhes grande estima por ela e fazendo-lhes compreender o
benefício que é conservá-la.

875
No tempo da Missa celebrada em latim, era corrente a expressão “ouvir Missa”.
310 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

GE 25,4,30 Finalmente, lhes ensinará a ler, a escrever, a aritmética e as


regras de civilidade, levando em consideração sobretudo o
livro da Urbanidade Cristã, e esmerando-se com tanto cui-
dado nisso que lhes consiga ensiná-las com a maior perfeição
possível.
GE 25,4,31 Haverá um ou mais Irmãos designados pelo Irmão Superior
do Instituto para dormirem nos dormitórios dos pensionistas,
com o fim de estarem atentos a que nada de inconveniente
aconteça durante a noite. O Irmão Superior poderá fazer que
sejam trocados, de tempo em tempo, ao final da oração da
manhã.
GE 25,4,32 O mestre ou os mestres dos pensionistas, se houver diversos,
irão aos dormitórios para tomar o lugar dos Irmãos que aí
dormiram, para impedir que, ao levantar e ao se vestir, não
cometam alguma imodéstia876.
GE 25,4,33 Tomará cuidado para que, depois de os pensionistas terem
saído dos dormitórios, as janelas sejam abertas, a fim de não
ficar neles o ar viciado, e que sejam varridos adequadamente
e em silêncio.
GE 25,4,34 Será fiel em observar e em fazer observar o regulamento
diário que lhes é próprio.

GE 25,5 Dos diferentes tipos de casas deste Instituto


GE 25,5,1 Para a realização mais ampla possível do fim deste Instituto,
haverá nele três tipos de casas, nas quais a maioria das
atividades serão diferentes.
GE 25,5,2 1. Haverá uma casa na qual serão formados e educados, no
espírito deste Instituto, os que se apresentarem para nele
serem admitidos.
GE 25,5,3 2. Haverá casas de escolas nas quais os Irmãos se dedicarão a
ensinar gratuitamente.

876
A observação se refere aos internos.
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 311

GE 25,5,4 3. Poderá haver casas para seminários, nas quais os Irmãos


irão se consagrar à formação, durante alguns anos, de mestres
para as paróquias das pequenas cidades, vilas e povoações
rurais.
GE 25,5,5 Não haverá casa de escolas dirigidas pelos Irmãos deste
Instituto que não se situe nas cidades e em que não haja pelo
menos cinco Irmãos, quatro para dar aula – um dos quais
será o Diretor da casa – e um Irmão servente, para cuidar das
necessidades temporais da casa e, se necessário, substituir
um Irmão mestre que possa cair doente ou necessitar de
alguns dias de repouso.
GE 25,5,6 Poderá haver, no entanto, algumas casas com dois Irmãos,
contanto que elas sejam em número bem pequeno e que cada
uma delas esteja situada nas proximidades de alguma cidade
com casa completa dos Irmãos deste Instituto. Tais casas para
dois podem ser ocupadas por Irmãos doentes ou idosos, e que
necessitem de repouso.
312 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ÍNDICE

Apresentação .................................................................................................................... 9
Prefácio ............................................................................................................................ 19

PRIMEIRA PARTE
Das atividades realizadas nas Escolas Cristãs
e do modo como devem ser feitas
Capítulo 1º Da entrada na escola e do início das aulas ..................................... 21
Artigo 1º Da entrada do alunos na escola ........................................................ 21
Artigo 2º Da entrada do mestre e do início da aula ....................................... 24
Capítulo 2º Do desjejum e da merenda ................................................................ 26
Artigo 1º Das coisas a que o mestre deverá estar atento
durante o desjejum e a merenda ...................................................... 26
Artigo 2º Do que se faz durante o desjejum e a merenda ............................. 27
Artigo 3º Da coleta feita para os pobres e da maneira de fazer sua
distribuição ...................................................................................... 34
Capítulo 3º Das lições ............................................................................................. 36
Artigo 1º Das lições em geral ............................................................................. 36
Seção 1ª Daquilo que se refere a todas as lições .................................. 36
Seção 2ª Da postura que deverão ter mestres e alunos
e da maneira como deverão portar-se durante as lições ...... 38
Seção 3ª Do que deve fazer cada mestre a fim de preparar os
alunos para serem promovidos a outra lição .......................... 40
Artigo 2º Dos cartazes ........................................................................................ 42
Seção 1ª Dos dois cartazes, daquilo que devem conter e da
maneira de colocar os alunos que neles leem ........................... 42
Seção 2ª Da maneira de fazer ler no 1º cartaz ........................................ 45
Seção 3ª Da maneira de fazer ler no 2º cartaz ....................................... 48
Artigo 3º Do silabário ...................................................................................... 49
Artigo 4º Do 1º livro ............................................................................................ 50
Artigo 5º Do 2º livro ............................................................................................ 52
Artigo 6º Do 3º e 4º livros .................................................................................. 53
Artigo 7º Dos cartazes das vogais e consoantes, pontuações
e acentos e do cartaz dos algarismos ........................................... 54
Artigo 8º Da leitura do latim .............................................................................. 58
Artigo 9º Da Urbanidade .................................................................................... 59
Artigo 10º Dos registros ........................................................................................ 60
Capítulo 4º Da Escrita ............................................................................................. 61
Artigo 1º Do que se refere à escrita em geral .................................................. 61
Artigo 2º Dos objetos específicos usados na escrita ...................................... 62
Seção 1ª Do papel ........................................................................................ 62
Seção 2ª Das penas e do canivete ............................................................. 63
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 313

Seção 3ª Da tinta .......................................................................................... 64


Seção 4ª Dos modelos ................................................................................. 64
Seção 5ª Das transparências e do mata-borrão ...................................... 65
Artigo 3º Do tempo que se empregará na escola para a escrita
e do que cada aluno deverá escrever todos os dias ...................... 66
Artigo 4º Dos diversos tipos de alunos que escrevem em letra redonda .... 67
Artigo 5º Dos diversos tipos de alunos que escrevem em letra bastarda ... 70
Artigo 6º Da maneira de aprender a postura correta do corpo .................... 73
Artigo 7º Da maneira de aprender a segurar corretamente
a pena e o papel ................................................................................... 73
Artigo 8º Da maneira de formar à boa escrita ................................................. 75
Artigo 9º Da ocasião em que o mestre talhará as penas dos alunos,
e do momento e do modo como lhes ensinará a fazê-lo ................ 76
Artigo 10º Da maneira de acompanhar os que escrevem
e de corrigir-lhes a escrita ................................................................. 78
Capítulo 5º Da aritmética ......................................................................................... 85
Capítulo 6º Da ortografia ....................................................................................... 89
Capítulo 7º Das orações ......................................................................................... 91
Artigo 1º Das orações diárias feitas na escola ................................................ 91
Artigo 2º Das reflexões na oração da manhã e do exame
na oração da tarde ............................................................................... 93
Artigo 3º Das orações não diárias feitas na escola ......................................... 94
Artigo 4º Da postura que o mestre e os alunos devem manter durante as
orações. Do modo de rezá-las e da ordem a ser observadas nelas .. 96
Capítulo 8º – Da santa Missa .................................................................................... 99
Artigo 1º Da maneira como os alunos devem sair da escola
para ir à santa Missa, e de como devem comportar-se na rua
ao se dirigirem a ela ........................................................................... 99
Artigo 2º Da maneira como os alunos devem entar na igreja ...................... 101
Artigo 3º Com que os alunos devem ocupar-se durante a santa Missa ......... 102
Artigo 4º Do dever dos mestres durante a santa Missa .................................. 104
Artigo 5º Do que se deve fazer ao entrar na igreja se a Missa já tiver
iniciado ou já estiver adiantada ................................................... 105
Artigo 6º Da saída dos alunos da igreja ..................................................... 106
Artigo 7º Da assistência à Missa paroquial e às Vésperas .......................... 107
Capítulo 9º Do catecismo ............................................................................ 109
Artigo 1º Do tempo a ser empregado para dar catecismo na escola
e dos assuntos sobre os quais deve ser dado ............................. 109
Artigo 2º Da maneira de interrogar os alunos durante o catecismo ........... 112
Artigo 3º Dos deveres do mestre durante o catecismo ............................... 113
Artigo 4º Dos deveres dos alunos durante o catecismo .............................. 116
Artigo 5º Do que há de particular nos catecismos dos domingos e festas ... 118
Artigo 6º Dos externos que assistem ao catecismo nos domingos e festas .... 119
Capítulo 10º Dos cânticos .............................................................................. 121
Capítulo 11 (10º) – Da saída da escola ............................................................. 121
314 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Artigo 1º Do modo como os alunos devem sair da escola ......................... 121


Artigo 2º Das orações que os alunos rezam durante todo o tempo
da saída das aulas ................................................................... 122
Artigo 3º Dos deveres do mestre enquanto os alunos saem da escola,
e depois que saíram ................................................................... 124

SEGUNDA PARTE
Dos meios para estabelecer e manter a ordem nas escolas
Capítulo 11 Da Vigilância que o mestre deve exercer na escola .................. 126
Artigo 1º Do cuidado que o mestre deve ter para corrigir
todas as palavras na lição, e da maneira de fazê-lo bem .......... 126
Artigo 2º Do cuidado que o mestre deve ter para fazer seguir a todos
os que estão na mesma lição ..................................................... 129
Artigo 3º Do cuidado que o mestre deve ter para fazer observar
grandíssimo silêncio na escola .................................................. 131
Capítulo 12 Dos sinais utilizados nas Escolas Cristãs .................................. 133
Artigo 1º Dos sinais durante a comida ..................................................... 134
Artigo 2º Dos sinais referentes às lições .................................................. 135
Artigo 3º Dos sinais relacionados à escrita ............................................... 137
Artigo 4º Dos sinais durante o catecismo ................................................. 138
Artigo 5º Dos sinais durante as orações ..................................................... 138
Artigo 6º Dos sinais para as correções ..................................................... 139
Artigo 7º Dos sinais feitos em algumas ocasições particulares ............. 140
Capítulo 13 Dos catálogos ............................................................................. 141
Artigo 1º Dos catálogos de recepção ........................................................ 141
Artigo 2º Dos catálogos das mudanças de lição ..................................... 144
Artigo 3º Dos catálogos das ordens de lição ............................................ 146
Artigo 4º Das boas e más qualidades dos alunos .................................... 148
Artigo 5º Dos catálogos dos primeiros dos bancos .................................. 150
Artigo 6º Dos catálogos dos visitantes dos ausentes ................................ 151
Capítulo 14 Das recompensas ....................................................................... 152
Capítulo 15 Das correções em geral ............................................................ 155
Introdução ................................................................................................. 155
Artigo 1º Dos diferentes tipos de correção ............................................... 158
Seção 1ª Da correção com a palavra ................................................ 158
Seção 2ª Das palmatórias. Porque motivos se podem
ou se devem usá-las, e da maneira de fazê-lo .................... 159
Seção 3ª Das varas e do açoite ........................................................... 161
Seção 4ª Da expulsão de alunos da escola ......................................... 162
Artigo 2º Da frequência dos castigos e do que se deve fazer para evitá-la .. 162
Artigo 3º Das condições que devem ter as correções ............................... 164
Artigo 4º Das falhas a serem evitadas nas correções ............................... 166
Artigo 5º Das pessoas que devem aplicar a correção ................................ 169
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 315

Artigo 6º Dos alunos que devem e dos que não devem ser punidos ........ 170
Seção 1ª Dos viciosos ........................................................................ 170
Seção 2ª Dos meninos mal-educados e voluntariosos,
dos naturalmente atrevidos e insolentes,
e dos que são estouvados e levianos .................................... 172
Seção 3ª Dos teimosos ...................................................................... 174
Seção 4ª Das crianças criadas delicada e frouxamente, conhecidas
por crianças mimadas, das meigas e tímidas,
das de inteligência limitada, das machucadas,
das pequenas e das recém-vindas ..................................... 176
Seção 5ª Dos acusadores e dos acusados .......................................... 178
Artigo 7º Do que se deve observar em todas as correções.
Do modo de fazê-las bem ......................................................... 180
Artigo 8º Do lugar onde devem ser aplicados os castigos
e dos momentos em que devem ou não devem ser aplicados..... 183
Artigo 9º Das penitências ......................................................................... 184
Seção 1ª Do uso das penitências, das condições que devem ter
e do modo de impô-las ........................................................ 184
Seção 2ª Catálogo das penitências em uso e que podem
ser impostas aos alunos por faltas cometidas ..................... 187
Capítulo 16 Das ausências ............................................................................ 190
Artigo 1º Dos diferentes tipos de ausências ............................................. 190
Seção 1ª Das ausências regulamentadas e autorizadas .................... 190
Seção 2ª Das ausências não regulamentadas que podem
ou não ser permitidas .......................................................... 191
Artigo 2º Das causas das ausências e de como remediá-las ..................... 193
Artigo 3º Do encarregado de receber e excusar os ausentes,
e do modo de fazê-lo ................................................................. 203
Artigo 4º Dos castigos a impor aos alunos que se ausentaram
sem permissão e que chegaram atrasados ................................. 205
Capítulo 17 Dos feriados .............................................................................. 206
Artigo 1º Dos feriados ordinários ............................................................. 207
Artigo 2º Dos feriados extraordinários ..................................................... 208
Artigo 3º Das férias .................................................................................. 210
Artigo 4º Da maneira de indicar os dias feriados e de dar conhecimento
deles tanto aos mestres como aos alunos .................................. 213
Capítulo 18 Dos oficiais da escola ................................................................ 214
Artigo 1º Dos recitadores das orações ...................................................... 215
Artigo 2º Do ministro da santa Missa....................................................... 216
Artigo 3º Do esmoler ................................................................................ 217
Artigo 4º Do porta-aspersório .................................................................. 218
Artigo 5º Do porta-terços e seus ajudantes ............................................... 219
Artigo 6º Do sineiro .................................................................................. 221
Artigo 7º Do inspetor e dos vigilantes ...................................................... 222
316 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Artigo 8º Dos primeiros dos bancos ......................................................... 225


Artigo 9º Dos visitantes dos ausentes ....................................................... 226
Artigo 10º Dos distribuidores e coletores das folhas ................................... 229
Artigo 11 Dos distribuidores e coletores dos livros....................................230
Artigo 12 Dos varredores .......................................................................... 231
Artigo 13 Do porteiro ................................................................................ 232
Artigo 14 Do chaveiro ............................................................................... 234
Capítulo 19 Da estrutura, da uniformidade das escolas
e dos móveis adequados a elas ................................................. 235
As doze virtudes de um bom mestre .......................................................... 242

TERCEIRA PARTE
Dos deveres do Inspetor das escolas
Capítulo 20 Deveres do Inspetor das escolas ............................................... 243
Capítulo 21 Da supervisão do Inspetor das escolas ...................................... 244
Artigo 1º Da supervisão que o Inspetor deve exercer sobre as escolas .... 244
Artigo 2º Da supervisão que o Inspetor das escolas deve exercer
sobre os mestres ........................................................................ 245
Artigo 3º Da supervisão que o Inspetor das escolas deve exercer
sobre os alunos .......................................................................... 249
Capítulo 22 Da admissão dos alunos ............................................................. 251
Artigo 1º Dos que devem admitir os alunos na escola,
e da maneira de fazê-lo ............................................................. 251
Artigo 2º Das coisas de que é preciso informar-se ao admitir os alunos .. 252
Artigo 3º Do que se deve exigir dos pais e dos alunos
na hora da admissão ................................................................... 253
Artigo 4º Dos que podem ou não podem ser admitidos ........................... 254
Seção 1ª Dos que nunca frequentaram escola ..................................... 255
Seção 2ª Dos que estiveram em outra escola .................................... 256
Seção 3ª Dos que já estiveram na escola e a abandonaram
espontaneamente ................................................................. 257
Seção 4ª Dos que foram expulsos da escola ...................................... 258
Capítulo 23 Da distribuição dos alunos nas salas de aula
e da organização das lições ....................................................... 258
Artigo 1º Da distribuição dos alunos nas salas de aula
e nos lugares adequados............................................................ 258
Artigo 2º Da distribuição em diferentes ordens dos alunos
que aprendem a ler .................................................................... 260
Artigo 3º Da distribuição em diferentes ordens dos alunos
que escrevem em letra redonda ................................................. 261
Artigo 4º Da distribuição em diferentes ordens dos alunos que
aprendem a escrever na letra bastarda e estudam aritmética .... 264
GUIA DAS ESCOLAS CRISTÃS 317

Artigo 5º Da maneira de determinar o tempo


que devem durar as lições ......................................................... 267
Capítulo 24 Da promoção dos alunos de uma lição a outra ......................... 269
Artigo 1º Do que o Inspetor deve fazer antes de proceder
às promoções de lição ............................................................... 270
Artigo 2º Das aptidões e requisitos que os alunos devem ter
para serem promovidos de lição ............................................... 271
Artigo 3º Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos na lição de leitura .................................................. 274
Artigo 4º Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos de lições de escrita ................................................ 276
Seção 1ª Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos da 1ª para a 2ª e da 2ª para a 3ª ordem
dos escreventes .......................................................................... 276
Seção 2ª Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos da 3ª à 4ª ordem ................................................ 278
Seção 3ª Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos da 4ª ordem de escreventes e das seguintes ..... 283
Seção 4ª Da capacidade que devem ter os alunos que escrevem
em letra bastarda para serem promovidos .......................... 285
Artigo 5º Da capacidade que devem ter os alunos para serem
promovidos nas lições de aritmética ......................................... 287
Artigo 6º Do tempo em que se devem promover os alunos de lição,
e da maneira de fazê-lo bem ..................................................... 287
Formação dos novos mestres ............................................................................. 291
Regra do formador dos novos mestres .............................................................. 291
Meios para eliminar e desarraigar todos os defeitos em um novo mestre . 292
Primeiro. Dos meios para eliminar o falar ................................................. 292
Dos meios para corrigir a agitação e a demasiada pressa........................... 293
Dos meios para eliminar e leviandade ...................................................... 294
Dos meios para eliminar o excessivo rigor, a severidade e a impaciência .. 295
Dos meios de corrigir a aversão a algum (aluno) ....................................... 296
Dos meios para remediar o desânimo fácil ................................................. 297
Da familiaridade ......................................................................................... 297
Dos meios para corrigir a lentidão e a negligência .................................... 298
Dos meios para corrigir as preferências e amizades particulares ............... 299
Dos meios para corrrigir o exterior desconcentrado,
avoado ou pregado, fixo nalgum ponto ...................................................... 300
Das coisas que se devem fazer adquirir aos novos mestres e dos meios
para isso ...................................................................................................... 302
Dos meios para fazer adquirir autoridade, coragem e firmeza ................... 302
A espiritualidade a ser cultivada nos meninos ........................................... 305
Regra do mestre dos internos .......................................................................... 306
Dos diferentes tipos de casas deste Instituto .................................................. 310
2

REGRAS DO DECORO
E DA URBANIDADE CRISTÃOS

RU
Página de rosto da edição princeps das Regras do Decoro e da Urbanidade Cristãos
Troyes – Reims, 1703
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 321

APRESENTAÇÃO

1. Finalidade deste livro

A obra Regras do Decoro e da Urbanidade Cristãos é livro concebido


e realizado para uso dos alunos na escola, embora, depois, essa primeira
intenção fosse ultrapassada.
Era o livro usado nas Escolas Cristãs para os alunos do oitavo nível
de leitura, porque estava impresso em letra gótica, mais difícil de ler
correntemente que a escrita ordinária. No nível seguinte, nono e último, a
leitura era feita em manuscritos.
O fato de ser pensado para livro de leitura do oitavo nível explica por
que foi elaborado em letra gótica que, com o tempo, passou a se chamar,
precisamente, letra de “civilidade”, isto é, usada no livro de leitura de
“civilidade”.
O menino que já lia corretamente em francês e em latim, deparava-
se, no oitavo nível, com o obstáculo dos caracteres góticos. Mas era preciso
que o texto lido fosse formativo. Nos níveis anteriores, liam-se frases e
sentenças da Sagrada Escritura ou parágrafos extraídos de livros piedosos.
O que se podia colocar nas mãos dos alunos da oitava lição para formá-
los? Essa foi, talvez, a circunstância que levou La Salle a compor um livro
de urbanidade e imprimi-lo em letra gótica.
Livros de urbanidade já existiam, é verdade, e não poucos. Mas, ao
concebê-lo e compô-lo nos moldes em que o fez, La Salle solucionava
simultaneamente duas questões: por um lado, a leitura da letra gótica nas
escolas; por outro, a formação para o decoro e a urbanidade, que aqueles
meninos pobres não podiam desconhecer.

2. As primeiras edições da obra

O livro foi apresentado para aprovação a 2 de novembro de 1702,


dentro de um lote de obras compostas por João Batista de La Salle,
“superior das escolas cristãs”. O censor, Ellies du Pin, aprovou o texto a
26 de dezembro de 1702. A 23 de janeiro de 1703, outorgava-se a licença
de impressão, válida por cinco anos, e a autorização real era concedia em
Versailles a 28 de janeiro. Poucos dias após, a 6 de fevereiro de 1703, era
inscrito no registro de Paris; e o “acabado de imprimir” pela primeira vez,
era certificado no dia 15 de fevereiro de 1703.
322 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

O curto espaço de tempo decorrido entre a aprovação do livro e a


impressão explica-se porque o texto já estava preparado na imprensa, e ao
censor foram apresentadas as provas de tipografia, compostas, como foi
dito, com caracteres “que imitavam os góticos”.
Neste livro, repetindo, os alunos das Escolas Cristãs aprendiam as
regras de decoro e urbanidade próprias da época, ao mesmo tempo que se
exercitavam na leitura. E não se tratava de regras válidas só para meninos
pobres, já que incluíam aspectos relativos às relações sociais, às refeições,
às visitas, às cartas, etc., que ultrapassavam amplamente as possibilidades
e precisões das camadas mais humildes do povo, como eram, em geral, os
meninos que acorriam às Escolas Cristãs.
É certo que este livro, lido nas Escolas Cristãs, transpôs rapidamente
o âmbito escolar, porque, sem tardar, apareceram edições com caracteres
normais, o que significa que já não se tratava de texto para exercício de
leitura, mas para o público em geral.
Essa mudança de perspectiva na finalidade da obra observa-se
no título da edição de 1715, impressa em Ruão: Regras do Decoro e da
Urbanidade Cristãos, muito úteis para a educação dos meninos e pessoas
que não dominam a cortesia do mundo secular nem a língua francesa. Para
uso dos meninos das Escolas Cristãs.
Em vida do Fundador, esse livro teve cinco edições: 1703 (Troyes),
1708 (Paris), 1713 (Troyes?), 1715 (Ruão) e 1716 (Troyes). As duas últimas e,
provavelmente, também a anterior, foram editadas em caracteres normais,
o que, como já visto, significa que já transcendiam o âmbito das Escolas
Cristãs.

3. Outras edições e modificações introduzidas na obra

A edição seguinte deu-se em 1722, em Reims, três anos após a


morte do Fundador, mas com retoques em alguns aspectos, porque, como
se informa no título, era para uso “das Escolas Cristãs de meninas”. Por
isso, foram eliminados alguns pontos que só serviam para os meninos e se
acrescentaram outros, próprios das meninas.
A primeira vez que aparece na página de rosto o nome do autor é
na edição de 1729. O Irmão Timóteo, Superior Geral, numa “Advertência
ao leitor”, que antecede o texto, explica que se coloca o nome para que
fique bem claro quem foi o autor dele, já que alguns o haviam atribuído
erroneamente a outras pessoas.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 323

De qualquer forma, a paternidade do livro esteve bem clara desde


o início, ao ser apresentado à aprovação pela primeira vez e quando foi
concedida a licença de sua impressão. Mas, como La Salle, por humildade,
não estampou seu nome nas edições que se fizeram durante sua vida,
houve quem o atribuísse a outro autor que, ao mandá-lo imprimir, pôs uma
dedicatória ao “Chantre” de Paris.
Também o Irmão Agathon, Superior Geral, para a edição de 1783,
fez algumas modificações, segundo ele próprio explica, suprimindo coisas
que tinham mudado nos costumes, acrescentando outras, etc. Felizmente,
muitas das edições posteriores voltaram a privilegiar o primeiro texto.
Essa obra conheceu êxito retumbante, sobretudo no século XIX.
Hoje, existem exemplares controlados de 171 edições, 92 das quais
na Biblioteca Nacional de Paris e 60 nos Arquivos da Casa Generalícia
Lassalista, em Roma. Em 1825, chegou a haver seis edições em seis
tipografias diferentes (Cf. Gallego, 1986, v. II, p. 836-839).
Houve edições do livro fora da França: em Montréal (1829),
Bruxelas (1830 e 1845), Namur (1856) e em Dublin (1851) numa tradução
simplificada, mas fiel ao texto original. Tão garantida era a venda destas
Regras que delas houve, inclusive, edições “piratas”.
O Irmão Albert-Valentin publicou, em 1956, a edição crítica, ba-
seando-se num exemplar de 1715, pois, então, desconhecia-se outra mais
antiga.
Em 1964, no Cahier Lasallien n. 19, o Ir. Maurice-Auguste reproduziu
a edição princeps de 1703, pondo nas páginas da esquerda o texto original
com caracteres góticos, em reprodução fotostática e, nas páginas da
direita, a transcrição literal, com letra normal, linha por linha, o que facilita
imensamente a consulta do livro.

4. Valor educativo da obra

Com certeza, São João Batista de La Salle utilizou várias fontes para
compor sua obra. No Cahier Lasallien n. 58, o Irmão Jean Pungier começa
uma análise riquíssima e muito bem documentada dessas fontes. Mas o que
importa na obra de La Salle é o cunho particular que imprimiu à matéria.
Antes de mais nada, a profunda inspiração cristã do que é o decoro e
a urbanidade, como um aspecto da virtude da caridade. Mas também a
constante preocupação de educar e formar o menino, ou o leitor em geral:
324 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

o desejo de que seus alunos não fossem estranhos ao mundo, por meio
de refinada educação no decoro e urbanidade; e o repetido cuidado por
recomendar aos pais a formação de seus filhos em determinados aspectos.
Dois são os pontos fundamentalmente desenvolvidos no livro: a
postura do corpo e o cuidado a ter com suas diversas partes; e o modo
de proceder educadamente em variadas circunstâncias da vida, par-
ticularmente como haver-se nos relacionamentos com os outros.
Esta obra é, realmente, verdadeiro tesouro pedagógico, sempre que
situada em sua época e em seu meio. Com efeito, muitas coisas que nela
constam estão hoje totalmente ultrapassadas. Mas há nela práticas que
continuam atuais e princípios de valor perene, como o que afirma que
“o respeito para com o próximo deve estar sempre presente em nosso
proceder” (111,1,109).
Já o biógrafo (Blain, 1961, v. II, p. 457) testemunhava: “Opina-se que
de todos os autores que escreveram sobre este tema o Sr. de La Salle é o
que mais êxito teve”. Gallego (1986, v. II, p. 836) observa que, “ao longo
do século XVIII, os franceses aprenderam cortesia neste livro lassaliano”.
Conforme Chartier (1987, p. 64), trata-se de um “texto essencial na
trajetória do conceito de civilidade”. E Garnot (1991, p. 149) diz que, com
ele, La Salle contribuiu para a construção da “civilização dos costumes”
estudada por Norbert Elias1.

5. A presente edição

Esta obra nunca foi vertida ao português. Para a presente edição


das Obras Completas de São João Batista de La Salle, foi feita uma
tradução direta e completa da edição princeps de 1703, tal como consta
no Cahier Lasallien n. 19. As Obras Completas, editadas em francês em
1993, reproduzem também esta edição, com as correções de alguns erros
evidentes no texto original. Foi feita a divisão numerada de 1 a 644 dos
parágrafos, para facilitar as citações.

1
Aliás, é de chamar a atenção a quantidade de vezes que Norbert Elias cita a La
Salle e as RU em seu Processo civilizador. Vol. I: Uma história dos Costumes.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 325

RU REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS

Prefácio

RU 0,0,1 É surpreendente que a maioria dos cristãos considere o


decoro e a urbanidade apenas como qualidades puramente
humanas e mundanas2 e, ao não pensarem em elevar mais alto
seu espírito, não as considerem como virtudes relacionadas
com Deus, com o próximo e consigo mesmo. Isso manifesta
claramente o pouco sentido cristão que há no mundo e quão
poucas pessoas há que nele vivem e se guiam pelo espírito de
Jesus Cristo3.
RU 0,0,2 Contudo, é somente este espírito que deve animar todas as
nossas ações para torná-las santas e agradáveis a Deus. Ela
também é uma obrigação sobre que São Paulo nos alerta,
ao nos dizer, na pessoa dos primeiros cristãos que, assim
como devemos viver pelo espírito de Jesus Cristo4, devemos
também orientar-nos em todas as coisas por tal espírito.
RU 0,0,3 Como – de acordo com o mesmo Apóstolo – não há nenhuma
de vossas ações que não deva ser santa, da mesma forma não
há nenhuma que não deva ser feita por motivos puramente
cristãos. E, assim, todas as nossas ações exteriores, que são as
únicas que podem ser reguladas pela cortesia, devem sempre
ter e estar marcadas por um caráter de virtude.
RU 0,0,4 É o que os pais e as mães estão obrigados a tomar em
consideração na educação dos filhos, e é ao que os mestres
e mestras, encarregados da instrução das crianças, devem
prestar atenção especial.
RU 0,0,5 Ao lhes transmitirem regras de cortesia, é preciso que nun-
ca esqueçam de lhes ensinar que se deve praticá-las só por

2
Afirmação que é uma reação a uma abordagem mundana como a das Práticas
familiares da urbanidade, uma das fontes das RU.
3
Gl 5,20.
4
Gl 5,5.
326 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

motivos puramente cristãos e concernentes à glória de Deus e


à salvação. Não deverão dizer às crianças que dirigem que, se
não fizerem determinada coisa, serão repreendidas, que não
se vai gostar, ou que se vai zombar delas – modalidades todas
que apenas servem para inspirar-lhes o espírito do mundo e
afastá-las do espírito do Evangelho. Muito pelo contrário,
quando quiserem levá-las a práticas exteriores que se referem
à atitude do corpo e à simples circunspecção,
RU 0,0,6 cuidarão de motivá-las a isso por causa da presença de
Deus. Foi o que fez São Paulo para o mesmo fim, ao lembrar
aos fiéis de seu tempo que sua modéstia devia ser percebida
por todos os homens, porque o Senhor estava perto deles, isto
é, por respeito à presença de Deus diante do qual estavam. Se
eles – pais e mestres – lhes ensinam e os levam a observar
práticas de boas maneiras com relação aos outros, deverão
estimulá-los a que lhes deem tais demonstrações de bem-
querer, deferência e respeito somente como a membros de
Jesus Cristo e a templos vivos do Espírito Santo e animados
por Ele.
RU 0,0,7 É assim que São Pedro exorta os primeiros fiéis, aos quais
escreve que amem seus irmãos e deem a cada um a honra
que lhe é devida, para se mostrarem verdadeiros servidores
de Deus, manifestando que é a Ele que honram na pessoa do
próximo.
RU 0,0,8 Se todos os cristãos assumem a atitude de somente mani-
festar bem-querer, estima e respeito com essa intenção e por
motivos dessa natureza, santificarão, por esse meio, todas
as suas ações, e permitirão distinguir – como se deve efe-
tivamente fazer – o decoro e a urbanidade cristãos daqueles
que são puramente mundanos e quase pagãos. Vivendo, dessa
maneira, como verdadeiros cristãos, que têm modos exteriores
como os de Jesus Cristo e conformes à fé cristã que profes-
sam, eles se distinguirão dos infiéis e dos cristãos de nome. É
o que ocorria com os cristãos do tempo de Tertuliano, os quais
– conforme afirma este – eram reconhecidos e diferenciados
por seu exterior e sua modéstia.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 327

RU 0,0,9 A urbanidade cristã é, pois, um comportamento polido e


ordenado, manifestado em palavras e atos exteriores marcados
por atitude de modéstia, ou de respeito, ou de união e caridade
para com o próximo, com atenção ao tempo, aos lugares e às
pessoas com quem se convive. E essa cortesia que se refere ao
próximo é o que se chama propriamente urbanidade.
RU 0,0,10 Nas práticas do decoro e da urbanidade, deve-se ter presente
o tempo, pois há diversas que eram comuns nos séculos
precedentes, ou em anos passados, e que estão fora de uso
hoje. Quem quisesse continuar a segui-las passaria por pes-
soa extravagante, bem longe de ser considerada como alguém
educado e distinto.
RU 0,0,11 No que se refere à cortesia, também é preciso adequar-se ao
que se pratica nos lugares onde se mora ou onde se está, porque
cada lugar tem suas formas próprias de decoro e urbanidade,
o que faz com que muitas vezes o que assenta mal em um
lugar é considerado de bom tom e polido em outro.
RU 0,0,12 Há mesmo coisas que a cortesia exige em determinados
lugares especiais e que são inteiramente proibidas em outros
lugares, pois o que se deve fazer na residência do rei ou mesmo
em seus aposentos não deve ser feito em outro lugar, porque
o respeito que é preciso mostrar pela pessoa do monarca
exige que, onde ele reside, se tenham certas deferências não
necessárias na casa de um particular.
RU 0,0,13 Da mesma forma, em sua própria casa é preciso comportar-
se de maneira diferente que numa casa alheia, e na casa de
pessoas que se conhecem de modo distinto que na daquelas
que se desconhecem.
A cortesia exige que se tenha e se manifeste respeito particular
para com algumas pessoas. Tal respeito não é necessário
tê-lo com outras, e manifestá-lo a estas seria mesmo uma
descortesia. Por isso, ao encontrar-se com alguém ou falar
com ele, deve-se prestar atenção à sua condição, para tratá-lo
e agir com ele segundo exige essa condição.
RU 0,0,14 É preciso, igualmente, considerar-se a si mesmo e aquilo que
se é, pois quem é inferior a outros está obrigado a submeter-
328 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

se aos que lhe são superiores, quer pelo nascimento, quer


pelo emprego, quer pela condição social, e a testemunhar-
lhes muito mais respeito do que a alguém outro que lhe
fosse inteiramente igual. Um camponês, por exemplo, deve
manifestar exteriormente mais respeito a seu senhor do
que um artesão que não dependesse dele; e tal artesão deve
demonstrar muito mais respeito a este senhor, do que um
outro nobre que o fosse visitar.
RU 0,0,15 O decoro e a urbanidade, portanto, consistem propriamente
em práticas de modéstia e de respeito para com o próximo.
E, como a modéstia se revela de maneira particular na pos-
tura física, e o respeito para com o próximo, presentes nas
ações ordinárias praticadas quase sempre diante dos outros,
decidiu-se tratar neste livro dessas duas coisas em separado:
1. Da modéstia que deve aparecer no porte e no cuidado com
as diferentes partes do corpo. 2. Dos sinais exteriores de
respeito ou de estima especial que se devem dar nas diferentes
atividades da vida a todas as pessoas em presença das quais se
realizam e com que se possa manter relacionamento.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 329

RU 101,1,16 PRIMEIRA PARTE


Da modéstia que se deve manifestar no porte e na
compostura das diferentes partes do corpo

Capítulo 1º
Do porte e da compostura de todo o corpo
O que mais contribui para destacar a aparência exterior de
uma pessoa e torná-la digna de consideração por sua modéstia,
como alguém cordato e bem regrado é quando mantém todas
as partes do corpo na posição que a natureza ou o costume lhe
prescreveu.
RU 101,1,17 Para isso, devem-se evitar várias faltas no posicionamento
das partes do corpo. A primeira delas é a afetação e a posição
forçada, que torna uma pessoa tensa em seu exterior, o que
é completamente contra a cortesia e contra as regras da
modéstia.
Também é preciso evitar certa negligência, que deixa trans-
parecer desleixo e indolência no proceder e que deslustra
uma pessoa diante dos outros, porque esse defeito manifesta
certa vulgaridade de espírito tanto de nascimento quanto de
educação.
RU 101,1,18 Deve-se, igualmente, prestar atenção toda especial para não
manifestar nada de leviano na própria compostura, o que é
efeito de espírito estabanado.
Os que são de espírito naturalmente leviano e estouvado,
se não querem cair nesse defeito ou corrigir-se dele, devem
cuidar de não mover um só membro do corpo sem controle, e
fazê-lo somente com muita discrição.
Os que por temperamento são ativos e irrequietos devem
esforçar-se muito para atuar sempre com grande moderação,
pensar antes de agir, e manter o corpo, o mais possível, em
posição estável.
RU 101,1,19 Embora não se deva fazer aparecer nada de rebuscado na
aparência, é preciso saber ordenar todos os movimentos e
regular bem a postura de todas as partes do corpo.
330 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

É o que se deve ensinar às crianças com muito cuidado, e a


que se devem aplicar, de modo particular, aqueles cujos pais,
por grande negligência, não os educaram desde pequenos, até
que estejam acostumados a isso e tais hábitos se lhes tenham
tornado fáceis e como naturais.
RU 101,1,20 É necessário que no porte de uma pessoa sempre haja algo de
ponderado e nobre: mas ela deve evitar cuidadosamente tudo
o que denote orgulho e arrogância, porque isso desagrada
extremamente a todos. O que deve produzir essa ponderação
é unicamente a modéstia e a cordura que o cristão tem que
manifestar em todo o seu comportamento.
RU 101,1,21 Como ele é de nobre nascimento, por pertencer a Jesus Cristo
e ser filho de Deus, que é o Ser supremo, não deve ter nem
manifestar nada de vulgar em seu exterior, e tudo nele há de
transpirar certo ar de dignidade e grandeza, que lembre, de
alguma forma, o poder e a majestade do Deus a quem serve e
que lhe deu o ser, mas que não provenha da autovaloração e
do preferir-se aos demais. E isso porque todo cristão, devendo
guiar-se pelas normas do Evangelho, há de honrar e respeitar
a todos os outros, vendo-os como filhos de Deus e irmãos
de Jesus Cristo. Considerando-se a si mesmo como homem
carregado de pecados, deve humilhar-se continuamente e
situar-se abaixo de todos.
RU 101,1,22 Ao estar em pé, deve-se manter o corpo aprumado, sem
incliná-lo para um nem para outro lado, e não se curvar para
frente como um ancião que já não consegue manter-se ereto.
Também é muito oposto às boas maneiras empertigar-se
afetadamente, apoiar-se contra uma parede ou contra qual-
quer outra coisa, contorcer o corpo e espreguiçar-se de modo
inconveniente.
RU 101,1,23 Quando se está sentado, não é permitido estender-se pregui-
çosamente, nem apoiar-se excessivamente contra o encosto
da cadeira. Não é indicado sentar-se baixo ou alto demais,
a menos que não se possa fazer de outra maneira; mas, em
geral, é melhor estar sentado muito alto do que demasiado
baixo; mas, quando em companhia, sempre se deve oferecer
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 331

aos demais, principalmente às mulheres, os assentos mais


baixos e mais cômodos.
RU 101,1,24 Nem o frio, nem qualquer outra dor ou incômodo devem nos
fazer tomar postura inadequada, e é contra a cortesia manifes-
tar com atitudes que se está passando por algum desconforto,
a não ser que não se possa fazer de outra maneira.
Não poder suportar nada sem externá-lo é, igualmente, sinal
de exagerada sensibilidade e susceptibilidade.

RU 102,1,25 Capítulo 2º
Da cabeça e das orelhas
Para posicionar a cabeça corretamente, é preciso mantê-la
ereta, sem incliná-la para a direita ou para a esquerda. Deve-
se evitar cuidadosamente encolhê-la ou como que afundá-la
entre os dois ombros. Voltá-la para todos os lados é próprio
de espírito leviano, e revirá-la muitas vezes é sinal de pessoa
intranquila e preocupada. Além disso, é dar mostra de arro-
gância levantar exageradamente a cabeça.
É totalmente contra o respeito que se deve a uma pessoa er-
guer a cabeça, sacudi-la ou balançá-la quando ela nos fala.
Isto mostra que não se lhe tem o devido apreço e que não se
está disposto a crer e a fazer o que ela nos diz.
RU 102,1,26 Apoiar a cabeça com a mão, como se não se pudesse mantê-la
ereta, é liberdade que nunca se pode permitir.
Coçar a cabeça ao falar, ou quando em companhia de outros,
mesmo sem falar, é muito indecoroso e indigno de pessoa de
boa índole. Isso também é indício de grande negligência e falta
de higiene, pois provém ordinariamente do fato de não se ter
suficiente cuidado para se pentear e manter a cabeça asseada.
Alguém que não usa peruca precisa tomar cuidado para não
deixar sujeira nem caspa na cabeça, porque somente pessoas
mal-educadas incorrem em semelhante descuido. Deve-se
considerar a higiene do corpo, especialmente da cabeça, como
sinal exterior e sensível da pureza da alma.
RU 102,1,27 A modéstia e distinção exigem que não se deixe ajuntar mui-
ta sujidade nos ouvidos. Por isso, é preciso, de tempos em
332 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

tempos, limpá-los com um instrumento feito expressamente


para isso e que se chama limpa-ouvidos. É muito descortês
servir-se para isso dos dedos ou de um alfinete. Fazê-lo na
presença de pessoas em cuja companhia se está, ou em lugares
santos, é faltar-lhes ao respeito devido.
RU 102,1,28 Não assenta bem levar na orelha uma pena ou usar nela flores,
ter as orelhas furadas e nelas pendurar anéis. Isso não cai bem
num homem, pois é sinal exterior de escravidão que não lhe
convém.
RU 102,1,29 O mais belo enfeite das orelhas é tê-las sem ornamento nenhum
e bem asseadas. Os homens devem, ordinariamente, cobri-las
com os cabelos; as mulheres as mantêm mais descobertas.
Às vezes, é costume, sobretudo entre as mulheres de condição
elevada, trazer pendentes das orelhas pérolas, diamantes ou
pedras preciosas; contudo, é mais decoroso e mais cristão não
levar qualquer enfeite nas orelhas, porque é por elas que a
Palavra de Deus entra no espírito e no coração, e o respeito
que é necessário ter por essa divina Palavra deve impedir que
nada com ar de vaidade apareça nelas.
RU 102,1,30 O mais lindo enfeite para os ouvidos de um cristão é que este-
jam bem dispostos e sempre prontos a escutar com atenção e
acolher com submissão as instruções referentes à religião e às
máximas do santo Evangelho.
Para esse fim é que os santos cânones prescreveram que todos
os eclesiásticos tivessem as orelhas totalmente descobertas:
para dar-lhes a entender que sempre devem estar atentos à lei
de Deus, à doutrina da verdade e à ciência da salvação, de que
são os depositários e despenseiros.

RU 103,1,31 Capítulo 3º
Dos cabelos
Não há ninguém que não deva tomar como regra e prática
pentear-se todos os dias, e nunca se deve aparecer diante de
quem quer que seja com os cabelos em desalinho e mal assea-
dos.Tenha-se, sobretudo, cuidado de que não tenham nem
piolhos, nem lêndeas. Essa precaução e cuidado são muito
importantes ao se tratar de crianças.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 333

RU 103,1,32 Se bem que não se deva colocar a toda hora e sem motivo
pó nos cabelos, e que isso denote um homem efeminado, é
preciso estar atento a não ter os cabelos gordurosos. Por isso,
se eles o são naturalmente, pode-se desengordurá-los com
sêmea, ou colocar pó no pente para secá-los e, se possível,
retirar-lhes a umidade que poderia estragar tanto a roupa
sobre o corpo como a externa.
RU 103,1,33 É muito descortês pentear-se em sociedade; mas é falta into-
lerável fazê-lo na igreja. Este é um lugar em que se deve estar
muito asseado, pelo respeito que se tem a Deus; contudo, o
mesmo respeito exige entrar nela só de modo conveniente.
Se São Pedro e São Paulo5 proíbem às mulheres encrespar
os cabelos, condenam com razão mais forte ainda tal tipo de
adereços nos homens6, os quais, estando, por natureza, muito
menos inclinados a esta espécie de vaidades do que as se-
nhoras, devem, consequentemente, rejeitá-las muito mais e
estar muito menos sujeitos a submeter-se a elas.
RU 103,1,34 Como não é conveniente ter os cabelos curtos demais, porque
isso desfiguraria a pessoa, deve-se também tomar cuidado
para que não sejam demasiado longos e, particularmente, não
caiam sobre os olhos. Por isso, é bom cortá-los adequadamente
de tempos em tempos.
RU 103,1,35 Há pessoas que, para estarem mais à vontade, ao sentirem
calor ou terem algo a fazer, colocam os cabelos atrás das
orelhas ou debaixo do chapéu. Isto assenta muito mal, e
sempre é conveniente deixar cair os cabelos naturalmente.
Também é sinal de compostura e de urbanidade não os tocar
sem necessidade, e o respeito que se deve aos outros exige
que não se coloquem as mãos sob o cabelo na presença deles.
RU 103,1,36 Evite-se cuidadosamente passar várias vezes a palma da mão
sobre a cabeça comprimindo os cabelos, para puxá-los ou
encaracolá-los de cada lado com os dedos, passar os dedos
através deles como para penteá-los, ou sacudi-los de modo
inconveniente, meneando a cabeça.

5
1Pd 3,3; 1Tm 2,8-10.
6
1Cor 11,14-15.
334 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Todos estes são modos que a comodidade ou a indelicadeza


levaram a inventar e que a urbanidade, a compostura e o
respeito para com o próximo não podem tolerar.
RU 103,1,37 Andar com a peruca mal penteada é ainda mais incivilizado
que ter o cabelo mal penteado. Por isso, os que a usam devem
ter cuidado todo particular em mantê-la limpa, pois os cabelos
de que é feita, já não tendo a consistência originária, para
serem conservados em boas condições precisam ser penteados
e ajustados com muito mais esmero do que os naturais.
RU 103,1,38 A peruca é muito mais adequada à pessoa quando corresponde
à cor de seu cabelo do que se é mais castanha ou mais loira do
que este. Contudo, há quem a use tão encrespada e de um loiro
tão desbotado que mais parece coisa de mulher que de homem.
Se bem que não se deva negligenciar muito esta espécie de
adereços, quando em uso, é contrário à cortesia e à sensatez
alguém empregar muito tempo com eles e preocupar-se muito
para fazer que estejam asseados e arrumados.

RU 104,1,39 Capítulo 4º
Do rosto
O Sábio diz que pela aparência do rosto se conhece um
homem sensato7. Por isso, cada qual deve imprimir ao sem-
blante expressão tal que seu exterior o torne, ao mesmo
tempo, amável e edificante para o próximo.
RU 104,1,40 Querendo alguém ser agradável aos outros, não deve expres-
sar na fisionomia nada de severo, nem de repulsivo. Também
nada deve transparecer nele de atemorizador, nem de brabeza.
Tampouco em nada deve revelar leviandade ou dar ares de
escolar8; tudo nele deve transpirar gravidade e cordura.
Também não é cortês apresentar rosto triste e amuado. Nunca

7
Eclo 19,26. Em todas as RU, tanto a localização como a formulação dos textos
do Eclesiástico provêm da Vulgata.
8
Escolares. “Também se diz dos que saem do colégio conservando-lhe os modos
e le mauvais air” (Dictionnaire de Trévoux).
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 335

deve aparecer nele nada que aparente emoção descontrolada


ou alguma afeição desregrada.
RU 104,1,41 O rosto deve ser alegre, sem ar debochado, nem dissipado;
sereno, sem cair na despreocupação; aberto, sem demonstrar
excessiva familiaridade; gentil, sem afetação e sem deixar
transparecer nada que denote vulgaridade. Deve manifestar a
todos ou respeito, ou, pelo menos, apreço e benevolência.
RU 104,1,42 Entretanto, é conveniente manter o rosto de acordo com os
diferentes assuntos tratados e as circunstâncias do momento.
Pois, como se deve compartilhar o sentir alheio e externar, pela
expressão do semblante, que se é solidário com o que o afe-
ta, não se deve ter rosto alegre e jovial quando alguém co-
munica uma notícia triste, ou quando ocorreu um incidente
desagradável com alguém; da mesma forma, não se deve ficar
de rosto tristonho ao ouvir algo agradável e que deve causar
alegria.
RU 104,1,43 No que diz respeito a questões pessoais, o homem bem edu-
cado deveria procurar sempre ser equânime e manter rosto
sempre igual, pois, assim como a adversidade não deve abatê-
lo, a prosperidade não deve alegrá-lo em excesso. Deve estar
de fisionomia sempre tranquila, sem mudá-la facilmente de
aparência e humor conforme o que lhe acontece de agradável
ou desagradável.
RU 104,1,44 Pessoas cuja fisionomia se altera a cada nova circunstância
que ocorre são muito molestas e não é fácil suportá-las:
ora, se apresentam com face risonha, ora com semblante e
ar melancólicos; às vezes, seu rosto demonstra inquietação,
outras, impaciência. Tudo isso revela pessoa sem virtude, que
não se empenha em dominar as próprias inclinações, e cujas
maneiras de agir são absolutamente humanas e naturais, e de
modo algum conformes ao espírito do cristianismo.
RU 104,1,45 Tampouco se deve ter rosto alegre e familiar diante de todo
tipo de pessoas.
É cortês manifestar, pelo rosto, muita reserva ao estar com
pessoas a quem se deve grande respeito, e é de boa educação
guardar sempre ar sério e grave em sua presença.
336 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Também é indicado não ter rosto demasiado comunicativo


com os inferiores, especialmente os domésticos; e se há
obrigação de tratá-los com bondade e condescendência,
também é importante não se familiarizar com eles.
RU 104,1,46 Quanto às pessoas com as quais se tem mais liberdade e se
convive habitualmente, convém ter semblante mais risonho
com elas, a fim de possibilitar que, dessa forma, o convívio se
torne mais fácil e agradável.
RU 104,1,47 Faz parte da higiene limpar todas as manhãs o rosto com
um pano asseado para eliminar a oleosidade. Não é tão
conveniente lavar o rosto com água, pois isso torna-o mais
susceptível ao frio no inverno e à ação do vento e do sol no
verão.
É falta de boa educação esfregar e tocar com as mãos nuas
qualquer parte do rosto, principalmente sem necessidade.
Mesmo se isso for preciso, para, por exemplo, retirar alguma
sujidade, deve-se fazê-lo delicadamente com a ponta do dedo;
e quando se está obrigado a enxugar o rosto ao fazer calor,
deve-se, para isso, usar o lenço, e não se esfregar com força
nem com as duas mãos.
RU 104,1,48 Não é polido deixar sujeiras ou detritos no rosto; contudo,
não se deve nunca limpá-los na presença de outrem; no caso
de se dar conta deles ao estar em companhia de outros, deve-
se, para retirá-los, cobrir o rosto com o chapéu.
Algo muito inconveniente, evidência de muita vaidade e que
não convém aos cristãos, é usar pintas no rosto, arrebicá-lo
com o uso de maquiagem branca ou vermelha.

RU 105,1,49 Capítulo 5º
Da testa, das sobrancelhas e das faces
É muito descortês estar com a testa enrugada. Isso é, ordina-
riamente, sinal de espírito perturbado e melancólico. Deve-se
tomar cuidado para que nela nada transpareça de aspereza,
mas apresente aspecto de cordura, bondade e bem-querença.
O respeito devido aos outros não permite, ao se falar de
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 337

alguém, golpear com a ponta do dedo na própria testa, para


dizer que é pessoa aferrada a sua opinião e juízo, ou então
bater com o dedo recurvado sobre a testa do outro, quando se
quer dizer que se tem esta opinião dele.
RU 105,1,50 Familiaridade descortês consiste em duas pessoas esfregarem
ou baterem a testa uma contra a outra, mesmo por brincadeira;
isso absolutamente não assenta bem em pessoas sensatas.
É descortês franzir as sobrancelhas; é sinal de altivez, e deve-
se mantê-las sempre distendidas. Levantá-las é sinal de des-
prezo e baixá-las sobre os olhos denota melancolia.
Não é conveniente cortá-las curto demais, porque é próprio da
urbanidade que encubram toda a pele e sejam suficientemente
percebidas.
RU 105,1,51 O mais belo ornamento das faces é o pudor, que as deve fazer
ruborizar em pessoa de boa índole quando se profere, em sua
presença, alguma palavra indecorosa, mentira ou maledicência.
Efetivamente, só os insolentes e os despudorados são capazes
de mentir descaradamente ou dizer ou fazer alguma coisa
indecente sem enrubecer.
É pouco educado mover demais as bochechas ou tê-las caídas
e, muito pior ainda, inflá-las, o que é efeito ou de arrogância,
ou de algum assomo de cólera muito violenta.
RU 105,1,52 Ao comer, deve-se fazê-lo de tal maneira que as bochechas
não estejam muito salientes, e é muito descortês, durante
a comida, enchê-las demais; fazê-lo é sinal de que se está
comendo com demasiada avidez, o que só pode ser efeito de
gula absolutamente descomedida.
Nunca se deve tocar as próprias bochechas, nem as de outro,
como para acariciá-lo. Deve-se evitar cuidadosamente belis-
car a face de quem quer que seja, mesmo de uma criança; isto
é de muito mau gosto.
RU 105,1,53 Tampouco se deve tomar a liberdade de tocar na bochecha de
outro, mesmo que seja para rir e por brincadeira; todos esses
modos de agir são familiaridades nunca permitidas.
RU 105,1,54 Esbofetear um homem na face é fazer-lhe grande injúria; no
mundo, isto é considerado afronta intolerável. O Evange-
338 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

lho aconselha suportá-lo e quer que os cristãos, que procu-


ram imitar Jesus Cristo em sua paciência, estejam dispostos
e, mesmo, prontos, depois de haver recebido uma bofetada,
a apresentar a outra face, para receber uma segunda; mas
proíbe aplicá-la. Somente cólera muito grande ou sentimento
de vingança são capazes de levar a fazê-lo.
Homem sensato não deve jamais levantar a mão para bater
na face. A cortesia e a educação nunca permitem fazê-lo nem
sequer com um doméstico.

RU 106,1,55 Capítulo 6º
Dos olhos e da vista
O Sábio diz: Muitas vezes, por aquilo que transparece nos
olhos9 se conhece o que uma pessoa tem no fundo da alma,
e se ela está inclinada ao bem ou ao mal. Embora não se
possa ter plena certeza, isso, bastantes vezes, não deixa de
ser verdadeiro. Por isso, um dos primeiros cuidados a ter no
referente ao exterior é manter convenientemente os olhos e
controlar devidamente o modo de olhar.
RU 106,1,56 Pessoa que deseja praticar a humildade e a modéstia e man-
ter aparência correta e comedida deve procurar ter os olhos
afáveis, serenos e recatados.
Quem não foi favorecido com isso pela natureza e que não
tem esse atrativo, deve procurar compensar essa ausência
com semblante alegre e tranquilo, e cuidar para não tornar os
olhos mais desagradáveis ainda por sua negligência.
Algumas pessoas têm olhar de espanto, expressão de alguém
encolerizado ou violento; e outros há, com os olhos sempre
exageradamente abertos e que os fixam com altivez. Isso
identifica ordinariamente espíritos insolentes, sem respeito
por ninguém.
RU 106,1,57 Outros, ainda, têm os olhos irrequietos, não os fixando em
nada; olham ora para um lado, ora para outro. Isso caracteriza
cabeça leviana.

9
Eclo 19,26.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 339

Existem igualmente os que mantêm o olhar tão preso a um


objeto que parecem querer devorá-lo com a vista. No entanto,
muitas vezes não prestam a mínima atenção ao objeto que
têm diante de si. São habitualmente pessoas que pensam
concentradamente em algo que é muito importante para
elas, ou que têm espírito erradio, que não detêm em nada
determinado.
RU 106,1,58 Encontram-se, ainda, aqueles que olham fixamente para o
chão e, algumas vezes, de um lado para o outro, como quem
procura com os olhos alguma coisa que tivesse perdido. São
espíritos agitados e perturbados, que não sabem o que fazer
para sair do desassossego.
Todos esses modos de olhar e manter os olhos fixos são to-
talmente contrários à cortesia e à boa educação, e só se po-
dem corrigir mantendo o corpo e a cabeça eretos e os olhos
moderadamente abaixados e procurando ter exterior natural
e acolhedor.
RU 106,1,59 Para as pessoas que vivem no mundo, assim como não lhes
cai bem manterem os olhos muito levantados, também não
lhes convém mantê-los abaixados demais, porque isso dá
mais aspecto de religioso do que de secular.
Os eclesiásticos, contudo, e os que pretendem sê-lo, devem
todos apresentar olhar e exterior muito recolhidos. Pois é de
boa educação para os que se comprometeram ou que aspi-
ram comprometer-se neste estado de vida, se acostumarem à
mortificação dos sentidos e a mostrarem, pela modéstia, que,
sendo consagrados a Deus ou querendo consagrar-se a Ele,
têm o espírito ocupado com Deus e com o que a Ele se refere.
RU 106,1,60 A regra que se pode adotar no referente aos olhos é mantê-
los medianamente abertos, na proporção da altura do próprio
corpo, de modo que se possa ver distinta e facilmente todas
as pessoas com quem se está. Contudo, não se deve olhar
fixamente seja quem for, especialmente pessoas de sexo
diferente ou de categoria superior, e se convém olhar alguém,
deve ser de maneira natural, bondosa e educada, e sem que se
note nos olhares nenhum sentimento nem afeição desregrada.
340 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 106,1,61 É muito incivil olhar de soslaio, pois isto é sinal de desdém,


que se podem permitir, no máximo, os amos com seus
domésticos para os repreender de alguma indelicadeza em
que tivessem incorrido. Também é de mau gosto mover os
olhos constantemente, pestanejar sem parar, porque isso é
próprio de pessoa de baixo nível.
RU 106,1,62 Não é menos contrário tanto à cortesia quanto à piedade olhar
leviana e curiosamente tudo o que se apresenta. E deve-se
procurar não olhar demasiado longe e olhar apenas à sua
frente, sem mover nem a cabeça nem os olhos de um lado
para outro.
Mas, como o espírito humano é naturalmente levado a olhar
e a querer saber tudo, deve-se vigiar cuidadosamente sobre si
para evitá-lo, e dirigir muitas vezes a Deus estas palavras do
Profeta-Rei: Meu Deus, desviai meus olhos e não permitais
que se fixem em coisas inúteis10.
RU 106,1,63 É grande descortesia, voltando a cabeça, olhar por cima dos
ombros; fazê-lo é desconsiderar as pessoas com quem se está.
Outra grande indelicadeza é olhar de trás, por cima dos
ombros de uma pessoa que está lendo ou segurando alguma
coisa, para ver o que está lendo ou segurando.
RU 106,1,64 Há algumas práticas defeituosas referentes aos olhos tão pró-
ximas da vulgaridade ou da leviandade que, de ordinário,
só crianças ou escolares são capazes de cair nelas. Por mais
deselegantes que sejam, ninguém deve surpreender-se de que
se fale delas aqui, e isso para que as crianças tomem cuidado
com essas práticas e se possa vigiá-las a fim de impedir que
se permitam tais coisas.
RU 106,1,65 Alguns, por vezes, fazem trejeitos com os olhos para espan-
tar; outros, arremedam os que têm olhar convergente ou diver-
gente para fazer rir. Há os que esbugalham os olhos com os
dedos; e também os que olham com um dos olhos fechado,
como os atiradores de balestra quando visam ao alvo.
Todas essas maneiras de olhar são completamente descorteses

10
Sl 119(118),37.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 341

e impróprias. Não há pessoa sensata, nem crianças de boa


índole que não considerem todas esses trejeitos como coisas
indignas de homem distinto.

RU 107,1,66 Capítulo 7º
Do nariz e da maneira de se assoar e espirrar
É impolido franzir o nariz; quem o faz geralmente são os
zombadores. Também é inconveniente e descortês remexê-lo.
Não se deve mesmo tocar nele com a mão nem com os dedos
descobertos.
A boa educação requer se mantenha o nariz bem limpo, e é
sumamente grosseiro deixar que se encha de mucosidade.
Portanto, é preciso limpá-lo muitas vezes para mantê-lo
asseado, porque o nariz é o ornamento e a beleza do rosto, e é
a parte que mais se evidencia em nós.
RU 107,1,67 É muito mal-educado esgaravatar incessantemente nas na-
rinas com o dedo. E mais intolerável ainda é levar à boca o
que se tirou das narinas ou, mesmo, o dedo que se acaba de
introduzir nelas. Isto é capaz de produzir náuseas nos que o
veem.
RU 107,1,68 É abjeto assoar-se com a mão nua passando-a por baixo do
nariz, ou fazê-lo com a manga ou a roupa. E é muito oposto
à cortesia assoar-se com dois dedos e depois jogar o muco no
chão, enxugando os dedos, em seguida, na roupa, pois é bem
sabido como assenta mal ver tais sujeiras na vestimenta, a
qual, por mais pobre que seja, deve sempre estar muito limpa,
porque é o adorno de um servo de Deus e de um membro de
Jesus Cristo.
RU 107,1,69 Há pessoas que apertam um dedo contra o nariz e depois,
soprando por ele, lançam ao chão a sujeira que havia dentro.
Os que o fazem são pessoas que não sabem o que é urbanidade.
Para assoar-se, é preciso usar sempre o lenço e nunca outra
coisa; e, ao fazê-lo, deve-se cobrir ordinariamente o rosto
com o chapéu ou, pelo menos, ao se estar com poucas pessoas
e se poder facilmente desviar o rosto da vista delas, deve-se
fazê-lo, e não assoar-se face ao grupo.
342 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Ao assoar-se, deve-se evitar o ruído com o nariz, soprar forte


demais com as narinas e fungar11, pois isto é de muito mau
gosto.
RU 107,1,70 Estando à mesa, convém usar o guardanapo para ocultar o
rosto, tanto quanto possível, uma vez que não é cortês assoar-
se sem cobrir o nariz.
É descortês, antes de assoar-se, demorar muito para tirar o
lenço, e é falta de consideração com as pessoas presentes
desdobrá-lo por inteiro para ver qual é o lado que se vai usar.
Deve-se puxar o lenço do bolso e assoar-se rapidamente, de
modo quase imperceptível aos demais.
RU 107,1,71 Depois de assoar-se, é preciso ter muito cuidado de não olhar
o lenço; mas convém dobrá-lo imediatamente e recolocá-lo
no bolso.
Não é de bom tom ficar com o lenço na mão, nem oferecê-lo
a alguém, seja para o que for, mesmo se perfeitamente limpo.
Contudo, se alguma pessoa o pede e insiste, pode-se fazê-lo.
RU 107 1,72 Quando alguém sente que vai espirrar, não deve impedi-lo;
mas é indicado desviar um pouco o rosto para o lado e cobri-
lo com o lenço e depois espirrar com a maior delicadeza e o
menor ruído possíveis. Em seguida, a pessoa deve agradecer
gentilmente, por meio de uma reverência, aos presentes que a
saudaram12.
RU 107,1,73 Quando alguém espirra, não se deve dizer em voz alta: “Deus
te abençoe ou Deus te assista”. Tão somente, e sem dizer
palavra, cabe descobrir-se e fazer a reverência, e fazê-la pro-
funda, curvando-se bem, caso se trate de pessoa a quem é
devida muita deferência.
RU 107,1,74 É prática bastante em voga inalar tabaco em forma de rapé;
mas é muito melhor não fazê-lo, especialmente quando em
companhia; e é preciso evitá-lo sempre ao estar com pessoas
a quem se deve acatamento. E é muito descortês mascá-

11
No original aparece, erroneamente, roncar. A edição de 1729 corrige para
fungar.
12
... da forma indicada no parágrafo seguinte.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 343

lo ou introduzir folhas nas narinas. Não é menos inconve-


niente fumar cachimbo; fazê-lo na presença de mulheres é
intolerável.
RU 107,1,75 Se pessoa socialmente qualificada toma rapé diante das que
estão com ela e lhes oferece, o respeito que lhe devem as
impede de o recusar; caso sentirem alguma repugnância para
inalá-lo, basta que façam de conta que o tomam.
O costume de tomar rapé, se pode ser permitido aos homens,
por ser tão tolerado pelo uso, não pode ocorrer entre mulheres,
e é absolutamente contra a cortesia que elas o façam.
RU 107,1,76 Também é contra o decoro que os que o tomam tenham
sempre um lenço na mão e que este seja visto manchado de
fumo, o que, no entanto, não pode deixar de acontecer aos que
tomam muitas vezes rapé pelo nariz.
Tomar rapé em sociedade deve ser algo raro; é preciso evitar
estar sempre com a tabaqueira nas mãos, e estas manchadas
de fumo. É igualmente necessário cuidar para que algum rapé
não caia sobre a roupa, por ser descortês que isso aconteça. E,
para que tal não ocorra, deve-se tomar só um pouco por vez.

RU 108,1,77 Capítulo 8º
Da boca, dos lábios, dos dentes e da língua
A boca não deve estar nem aberta nem fechada demais. E
quando se come, nunca se deve tê-la cheia, mas comer com
tal moderação que, apresentando-se a ocasião de falar, se
possa fazê-lo facilmente e ser claramente ouvido.
As boas maneiras pedem que a boca sempre esteja limpa e,
para isso, convém lavá-la todas as manhãs. Mas não é de boa
educação fazê-lo à mesa, nem em presença de outros.
RU 108,1,78 A cortesia não permite ter na boca seja o que for, e não tolera
que se tenha algo entre os lábios, ou entre os dentes. Por isso,
não se deve colocar entre eles pena, ao escrever, nem flores
em qualquer circunstância.
É de mau gosto apertar demais os lábios, ou até mordê-los,
e nunca se deve mantê-los entreabertos. Mas é intolerável
344 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

fazer beicinho e caretas. O indicado é mantê-los sempre natu-


ralmente unidos e sem forçá-los.
RU 108,1,79 Não é cortês remexer os lábios ao falar, nem em qualquer
outra ocasião. É preciso mantê-los sempre fechados e não os
mover ordinariamente a não ser para comer ou falar.
Algumas pessoas levantam o lábio superior e abaixam o
inferior de tal modo que os dentes, às vezes, aparecem mes-
mo por inteiro. Isto é totalmente contra a cortesia, que jamais
permite se vejam os dentes descobertos, visto que, se a
natureza os cobriu com os lábios, foi só para ocultá-los.
RU 108,1,80 Deve-se ter o cuidado de manter os dentes sempre bem
limpos, porque é muito indelicado que apareçam preteados
ou cheios de sujidade. Por isso, convém limpá-los de tempos
em tempos, especialmente de manhã depois de haver comi-
do; contudo, não se deve fazê-lo à mesa diante das pessoas,
o que seria faltar ao mesmo tempo contra a boa educação e o
respeito.
RU 108,1,81 É preciso tomar muito cuidado para não utilizar as unhas, os
dedos ou a faca para limpar os dentes. O decoro requer que
isto seja feito com objeto fabricado expressamente para este
propósito, chamado palito, ou a ponta de pena talhada para
esse fim, ou então um pano grosso.
Ranger ou bater os dentes é não saber o que significa urba-
nidade. Tampouco se deve fechá-los demasiado ao falar, nem
falar entre os dentes. É esse um defeito que é preciso esforçar-
se muito por corrigir, abrindo a boca ao falar com alguém.
RU 108,1,82 É grandíssima falta de civilidade bater num dente com a
unha do polegar para expressar desdém ou desprezo por
alguma pessoa ou coisa. E pior ainda, ao fazê-lo, é dizer:
“Isso não me importa mais que isto aqui!”
RU 108,1,83 Vergonhoso e indigno de pessoa de boa índole é mostrar
a língua por desprezo ou para recusar o que é pedido por
alguém; e é impolido estirá-la sobre os lábios e movê-la de
um lado a outro. Não é menos incivil colocar a língua ou o
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 345

lábio inferior sobre o superior para dali retirar o líquido ou o


muco saído do nariz e levá-lo, depois, à boca.
Para os que são tão mal educados a ponto de caírem nesta es-
pécie de faltas seria bom que, para se corrigirem, se olhassem
no espelho porque, sem dúvida alguma, não aguentariam
ver-se fazer coisas tão indecorosas sem as reprovar.
RU 108,1,84 É, portanto, de boa educação que a língua esteja sempre
recluída entre os dentes e dali nunca saia, pois este é o único
recinto que a natureza lhe assinalou.

RU 109,1,85 Capítulo 9º
Do falar e da pronúncia13
Como no falar intervém a boca, os lábios, os dentes e a língua,
parece que este é o lugar para se discorrer sobre este assunto.
Para falar adequadamente e fazer-se entender pelos outros, é
preciso abrir bem a boca, tomar cuidado de não se precipitar,
e não dizer uma palavra sequer estouvada e levianamente.
Isso impede a correta elocução, principalmente nos de tem-
peramento ativo.
RU 109,1,86 Ao falar, deve-se tomar o cuidado de usar tom de voz
moderado, pausado e suficientemente alto para ser ouvido,
porque para isso é que se fala. Contudo, é contra a civilidade
falar gritando, elevar tanto a voz como quem fala a surdos.
Independente com quem se fale, algo de que se deve cuidar
muito é que, na voz, não se note nada de aspereza, de azedume,
nem de altivez. Sempre se deve falar de modo cortês e cordial.
RU 109,1,87 É ridículo falar pelo nariz; e, para que o mau estado deste
não seja a causa disso, é preciso estar atento para que ele não
esteja entupido e que sempre esteja bem asseado e limpo.
Os que têm a língua pesada e querem corrigir esse defeito
devem procurar reforçar a voz, recalcando as letras ou as
sílabas que têm dificuldade de pronunciar bem. Isso pelo
menos lhes tornará a pronúncia mais fácil.

13
O Guia das Escolas (3,6,7; 3,8,7) alude a um Tratado da pronúncia, mas não
fornece detalhes sobre ele.
346 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 109,1,88 É importante esforçar-se para corrigir esses defeitos quando


pequeno, pois, mais tarde, é quase impossível uma pessoa
desfazer-se de certo modo habitual de falar por ela contraído
e, embora se dê conta, em idade mais avançada, de que isso é
descortês e desagradável, lhe é, contudo, impossível deixá-lo
e adotar outro.
RU 109,1,89 Assenta mal falar sozinho; é mesmo algo que não se deve
fazer ordinariamente e que só é próprio de pessoa apaixo-
nada ou sem bom senso, ou de alguém que, concentrado,
reflete sobre alguma coisa e elabora projetos de seu interesse
e medidas para realizá-los.
RU 109,1,90 Uma das coisas mais importantes ao falar é fazer soar bem
todas as letras e todas as sílabas e pronunciar todas as pala-
vras separadamente umas das outras.
Também não se deve deixar de pronunciar a consoante final
de uma palavra, quando esta é seguida de outra iniciada por
vogal. E, ao contrário, não se deve pronunciar a consoante
final quando a primeira letra da palavra seguinte igualmente é
consoante.
RU 109,1,91 Há dois tipos de defeitos a evitar na pronúncia: uns, referentes
à pronúncia em si; outros, à maneira de pronunciar.
RU 109,1,92 Quanto à enunciação na fala comum, é preciso que seja está-
vel e uniforme, e não se mude a cada instante o tom, como
faria um pregador. Também é necessário manter constante a
intensidade, de forma a não diminuí-la ao final das palavras;
pelo contrário, é necessário esforçar-se para pronunciar mais
intensamente o final das palavras e dos períodos do que o
começo, para ser sempre bem ouvido. Também é preciso
que a enunciação seja completa, isto é, que se pronuncie
perfeitamente toda letra e toda sílaba. Por fim, deve ser tão
exata que nunca se troque uma letra por outra.
RU 109,1,93 Há diversas maneiras de enunciar que soam muito mal. Há
os que pronunciam com frouxidão, lentidão e até languidez.
Quem o faz torna-se muito tedioso e parece que, ao falar, está
sempre se queixando. Esta pronúncia denota em tais pessoas
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 347

muito desleixo e indolência no proceder. Esse defeito é mais


frequente e também mais tolerável nas mulheres do que nos
homens; contudo, não há ninguém que não se deva esforçar
para corrigir-se dele.
RU 109,1,94 Outros há cuja pronúncia é carregada e tosca, o que é típico
de pessoas do interior. Somente poderão corrigir esse defeito
abrandando o tom da voz e não fazendo soar tão alto as pala-
vras e as sílabas.
Existem alguns cuja maneira de pronunciar é dura e áspera,
modo de falar que é muito desagradável. Para emendar esse
defeito, é preciso falar sempre afavelmente, com atenção a si
mesmo, e mostrando amabilidade com os outros.
RU 109,1,95 Algumas outras pessoas têm pronúncia estridente e apres-
sada. O meio de que se podem servir para mudá-la é empregar
sempre um tom de voz firme e procurar pronunciar todas as
sílabas distinta e cuidadosamente.
A pronúncia francesa deve ser, ao mesmo tempo, firme,
suave e agradável. Para aprender a pronunciar bem deve-se
começar falando pouco, dizer todas as palavras umas depois
das outras com moderação, pronunciar distintamente todas as
sílabas e todas as palavras. Principalmente, deve-se, de ordi-
nário, conversar só com pessoas que falam claramente e têm
boa pronúncia.

RU 110,1,96 Capítulo 10º


Do bocejar, do cuspir e do tossir
As boas maneiras requerem não bocejar quando se está em
público, principalmente com pessoas a que se deve respeito.
Isso porque fazê-lo denota que se está aborrecido, seja com a
companhia, seja com a conversa dos presentes, ou demonstra
pouco interesse.
Contudo, quando é impossível evitá-lo, deve-se interromper
completamente a fala, pôr a mão ou o lenço diante da boca
e voltar-se um pouco de lado, para não ser percebido pelos
presentes, ao fazê-lo.
348 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Principalmente, deve-se tomar cuidado, ao bocejar, de não


fazer algo inconveniente. Não se deve bocejar em excesso.
Assenta muito mal fazê-lo ruidosamente e, mais ainda,
espichando-se e estendendo os braços.
RU 110,1,97 Ninguém deve deixar de cuspir, e é muito grosseiro engolir o
que deve ser cuspido. Isso é capaz de fazer mal ao estômago.
Importa, todavia, não se habituar a cuspir com demasiada
frequência e sem necessidade, o que não somente seria
incivil, mas repugnante e molesto para todos. Deve-se
procurar que tal necessidade seja rara quando se está em
sociedade, principalmente com pessoas que merecem especial
consideração.
RU 110,1,98 Ao estar na companhia de pessoas importantes ou em lugar
mantido limpo, convém cuspir no lenço, voltando-se um
pouco para o lado.
Também seria educado acostumar-se a cuspir no lenço ao
encontrar-se na casa das pessoas de condição elevada, e em
todos os lugares encerados ou com parquê.
Muito mais necessário ainda é acostumar-se a fazê-lo estando
na igreja. O respeito que merecem os lugares consagrados a
Deus e destinados a prestar o culto a Ele devido, exige que
sejam mantidos muito limpos e que, neles, se honre até o
assoalho em que se pisa. Contudo, acontece, muitas vezes,
que o piso de uma cozinha ou mesmo de uma cocheira esteja
menos sujo que o da igreja, embora esta seja a morada e a
casa de Deus na terra.
RU 110,1,99 Depois de haver cuspido no lenço, deve-se dobrá-lo imedia-
tamente, sem o ficar olhando, e recolocá-lo no bolso.
É muito impolido cuspir pela janela ou no fogo, ou sobre as
brasas, ou contra a chaminé, ou mesmo contra a parede ou em
qualquer outro lugar em que não se possa pisar sobre o cuspo.
Também é contra a boa educação cuspir diante de si na
presença dos outros, ou fazê-lo muito longe, de maneira que
se tenha que ir procurar o cuspo para pisar sobre ele14.

14
Cf. logo adiante (110,1,101).
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 349

RU 110,1,100 Deve-se tomar muito cuidado de nunca cuspir sobre a pró-


pria roupa e a dos outros. Fazer isto seria ser muito pouco
asseado ou muito descuidado.
Há outra falta de cortesia não menos considerável e com
a qual é preciso tomar muito cuidado: ao falar, espirrar
saliva no rosto do interlocutor. Isso é muito indecoroso e
absolutamente desagradável.
RU 110,1,101 Quando se vê no chão algum escarro considerável, deve-se
imediatamente e com jeito pisar sobre ele. Caso um cuspo
for percebido sobre a roupa de alguém, não é educado dar-
lho a conhecer; mas deve-se avisar a um doméstico para que
o retire e, na ausência deste, deve-se pessoalmente removê-
lo sem que alguém o perceba, pois a cortesia requer que a
ninguém se manifeste nada que lhe possa causar mal-estar
ou vergonha. Se alguém teve a gentileza de nos prestar este
serviço, é preciso expressar-lhe reconhecimento todo especial.
RU 110,1,102 Com relação ao cuspir, existem algumas faltas a que é
preciso estar muito atento para não cair nelas: Algumas
pessoas fazem muito ruído e ruído mesmo muito desa-
gradável, expelindo à força o muco e o escarro do peito;
isso ocorre mais ordinariamente com os idosos. Essa
maneira de cuspir é muito descortês. Ao cuspir, deve-se ter
o cuidado de não incomodar os outros, de não fazer ruído
ou fazer muito pouco.
RU 110,1,103 Outros seguram o escarro por muito tempo na boca, coisa
totalmente contrário à cortesia, a qual requer se cuspa assim
que o muco chegue à língua.
Alguns, às vezes, empurram, com a língua, o escarro e a sali-
va até a borda dos lábios (o que ordinariamente só acontece
com crianças). Há pessoas que cospem deliberadamente
sobre os demais e outras que o fazem no assoalho ou no ar.
Esses tipos de sandices e extravagâncias constituem inci-
vilidades inimagináveis em pessoa bem educada.
RU 110,1,104 Tanto quanto possível, é preciso evitar o tossir. Sobretudo,
deve-se cuidar de não fazê-lo à mesa, ao falar com alguém
ou ao escutá-lo.
350 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Tal respeito é preciso tê-lo particularmente para escutar a


Palavra de Deus, e também para não impedir que os outros
a escutem com facilidade. Mas não há ninguém que, ao
precisar tossir em sociedade, não deva procurar fazê-lo
raramente e sem muito ruído.

RU 111,1,105 Capítulo 11
Do dorso, dos ombros, dos braços e do cotovelo
É muito deselegante curvar o dorso como quem carrega
fardo pesado nos ombros. Ao contrário, é preciso desen-
volver o costume de se manter sempre ereto, e fazer com
que as crianças se habituem a isso.
Também se deve evitar cuidadosamente erguer os ombros e
andar empertigado; e estar atento a não andar com os ombros
oblíquos ou com um mais baixo que o outro.
RU 111,1,106 A boa educação não permite que, ao caminhar, se balancem
os ombros de um lado a outro, como pêndulo de relógio,
nem que se adiante um ao outro. Isso manifesta espírito
soberbo e revela pessoa demasiadamente presumida.
Tampouco se deve voltar as costas e nem minimamente os
ombros ao falar a alguém ou ao escutá-lo. É grande inci-
vilidade espreguiçar os braços, torcê-los de um lado e do
outro, mantê-los atrás das costas, ou colocá-los nos quadris,
como fazem algumas vezes mulheres quando, com raiva,
injuriam a outrem.
Também não se deve balançar os braços ao caminhar,
mesmo sob pretexto de, assim, andar mais depressa e chegar
mais longe.
RU 111,1,107 Não se deve, igualmente, manter os braços cruzados; esta é
postura própria de religiosos e não adequada aos seculares.
A postura indicada para estes é a de conservá-los na frente,
levemente encostados no corpo, mantendo as duas mãos
uma na outra.
RU 111,1,108 É totalmente contra as boas maneiras apoiar-se sobre os
cotovelos ao escutar alguém que nos fala; ainda pior é fazê-
lo à mesa; e é grande falta de respeito para com Deus manter
essa posição enquanto se reza.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 351

RU 111,1,109 Evite-se com muito cuidado bater em alguém ou empurrá-lo


com o cotovelo, mesmo por familiaridade ou brincadeira;
nunca se deve fazê-lo quando se quer falar a alguém, nem
mesmo colocar a mão sobre seu braço.
É modo muito grosseiro de agir o repelir alguém que vem
a nós para nos falar, erguendo o braço como para bater nele
e para o afastar de nós, ou empurrando-o rudemente com o
cotovelo. A mansidão, a humildade e o respeito para com o
próximo sempre devem estar presentes em nosso proceder.

RU 112,1,110 Capítulo 12
Das mãos, dos dedos e das unhas
É cortês ter e manter sempre as mãos limpas e é vergonhoso
aparecer com elas encarvoadas e sebentas. Tais coisas são
toleráveis somente em trabalhadores manuais e agricultores.
Para ter as mãos limpas e asseadas, deve-se lavá-las cada
manhã, fazer o mesmo cuidadosamente antes das refeições
e todas as vezes que, durante o dia, fiquem sujas, ao se fazer
algum trabalho.
RU 112,1,111 Não é indicado, depois de sujar ou lavar as mãos, enxugá-
las na própria roupa ou na dos outros, numa parede ou em
qualquer lugar que possa manchar alguém.
Esfregar as mãos em presença de pessoas às quais se deve
respeito, quer por causa do frio, quer por sentimento de
alegria, ou por qualquer outra razão, é tomar muita liber-
dade. Isso não se deve fazer nem sequer entre os amigos
mais chegados.
RU 112,1,112 Nas pessoas do mundo, assenta mal ocultar as mãos debaixo
da roupa ou mantê-las cruzadas ao falar com alguém. Essas
atitudes caracterizam mais os religiosos do que os seculares.
Inclusive, em pessoa alguma cai bem enfiar ambas as
mãos nos bolsos, e colocá-las ou conservá-las nas costas,
indelicadeza própria de carregador de fardos.
Não é cortês bater com as mãos ao divertir-se com alguém, o
que é próprio de escolar, e feito somente por criança leviana
e travessa.
352 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 112,1,113 Ao tomar a palavra, na conversação, não se deve bater com


as mãos, nem fazer gesto algum; e importa evitar cuidado-
samente tocar as mãos daqueles com quem se fala. Isto seria
sinal de muito pouca educação e de falta de respeito para
com eles. Muito menos cortês ainda seria puxar os botões,
as borlas, a gravata, ou o manto de alguém ou, mesmo, tocar
neles com as mãos.
RU 112,1,114 Dar a mão a alguém por civilidade é manifestar-lhe amizade
e união particular. Por essa razão, ordinariamente tal gesto
deve ser feito só com pessoas da mesma posição, pois a
amizade pode existir apenas entre iguais.
RU 112,1,115 Quem deve consideração a outra pessoa nunca pode dar
a mão a esta como sinal de estima ou afeição. Fazê-lo seria
não ter o respeito devido a ela e tratá-la com demasiada
familiaridade. Contudo, se pessoa de condição ou posição
superior der a mão a outra de condição ou posição inferior,
esta deve sentir-se honrada, dar a mão imediatamente e
aceitar esse favor como testemunho singular de bondade e
benevolência.
RU 112,1,116 Ao dar a mão a alguém, como sinal de amizade, sempre se
deve apresentá-la descoberta, sendo contra as boas maneiras
não tirar, então, a luva. Mas quando se dá a mão a alguém
para ampará-lo num passo em falso, ou mesmo para conduzir
uma dama, deve-se, por cortesia, usar as luvas.
RU 112,1,117 Apontar com o dedo um lugar ou uma pessoa da qual se
fala ou alguma outra que esteja longe é não saber o que é
cortesia. Puxar os dedos para os alongar ou fazê-los estalar é
liberdade que alguém bem educado não se deve permitir.
Igualmente tamborilar com os dedos é algo ridículo; lembra
pessoa desatenta. Também cuspir nos dedos é uma grosseria.
RU 112,1,118 Pessoa distinta nunca deve golpear com os dedos e nem
com a mão, e esses golpes com os dedos dobrados, chama-
dos piparotes, devem ser-lhe completamente estranhos.
É muito conveniente não deixar crescer as unhas e não tê-
las sujas. Por isso, é bom tomar como prática cortá-las uma
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 353

vez por semana, e limpá-las todos os dias da sujeira nelas


acumulada.
RU 112,1,119 É descortês cortá-las na presença de outras pessoas, espe-
cialmente de alguma a que se deva consideração. É inade-
quado cortá-las com faca ou roê-las com os dentes; para
apará-las corretamente, deve-se usar tesoura e fazê-lo em
particular ou, estando com pessoas da convivência ordinária,
afastar-se delas ao cortá-las.
RU 112,1,120 Raspar a parede com as unhas, mesmo com o fim de tirar
uma espécie de areia para secar a escrita15; arranhar os livros
ou qualquer outra coisa que se tem nas mãos; fazer riscos
com a unha sobre algum cartão ou papel; enfiar a unha numa
fruta ou em qualquer outra coisa; coçar o próprio corpo ou
cabeça – todas essas incivilidades são faltas tão grosseiras
que só um espírito vulgar pode cometê-las e nelas somente
se deve pensar para criar-lhes aversão.

RU 113,1,121 Capítulo 13
Das partes do corpo que se devem ocultar e das neces-
sidades naturais
A cortesia e o pudor exigem que se cubram todas as partes
do corpo, exceto a cabeça e as mãos. É, portanto, indecoroso
estar com o peito descoberto, com os braços nus, as pernas
sem meias e os pés descalços. É, inclusive, contrário à lei
de Deus descobrir certas partes do corpo que tanto o pudor
como a natureza obrigam a manter sempre cobertas.
RU 113,1,122 Deve-se evitar com cuidado e, tanto quanto possível, colo-
car a mão desnuda sobre as partes do corpo ordinariamente
cobertas e, caso houver necessidade de tocá-las, que seja
com precaução.
Devemos considerar nossos corpos como templos vivos
em que Deus quer ser adorado em espírito e em verdade,
e tabernáculos que Jesus Cristo escolheu para sua morada.
Em consideração a esses belos predicados que possuem,

15
...na falta de mata-borrão (GE 4,2,33).
354 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

precisamos, também, ter muito respeito por eles. E essa


consideração é que nos deve levar especialmente a não tocá-
los e mesmo a não os olhar sem necessidade indispensável.
RU 113,1,123 É bom acostumar-se a suportar vários pequenos incômo-
dos, sem se voltar, esfregar, ou coçar, sem remexer-se ou
tomar qualquer outra atitude não adequada, pois todos esses
tipos de gestos e posturas inconvenientes são totalmente
contrários ao pudor e ao recato.
Muito mais oposto ainda à cortesia e ao decoro é tocar ou
olhar em outra pessoa, especialmente de sexo diferente, o
que Deus proíbe ver em si mesmo. Daí resulta que é muito
indecoroso olhar o seio de uma mulher, e, mais ainda, tocá-
lo, e a ela nem sequer é permitido olhá-la fixamente no rosto.
RU 113,1,124 As mulheres devem também tomar muito cuidado para
cobrir decentemente todo o corpo e resguardar o rosto com
o véu, de acordo com o conselho de São Paulo16, visto que
não é permitido deixar ver em si o que não é permitido nem
decente ser visto pelos outros.
Ao estar deitado, deve-se procurar manter postura tão decente
e recatada que a forma do corpo não possa ser vista por quem
se aproximar da cama; também se deve ter cuidado de não se
descobrir de tal maneira que alguma parte desnuda do corpo
fique à vista e não esteja muito decentemente coberta.
RU 113,1,125 Quando se tem necessidade de urinar, é necessário sempre
ir a lugar retirado. Da mesma forma, para satisfazer outra
necessidade natural, a boa educação sempre exige, mesmo
das crianças, fazê-la em locais em que não se possa ser visto.
Ao estar com outros, é muito incivil soltar gases do corpo,
seja por diante, seja por trás, mesmo sem ruído nenhum. É
vergonhoso e chulo fazê-lo de maneira a ser ouvido pelos
outros.
RU 113,1,126 Nunca é cortês falar das partes do corpo que devem estar
sempre cobertas, nem de certas necessidades a que a natureza
sujeitou os homens, nem sequer nomeá-las. E se alguma vez

16
1Cor 11,13.15.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 355

não se pode evitá-lo com relação a um doente ou pessoa


indisposta, deve-se fazê-lo de maneira tão delicada que os
termos usados não possam ferir em nada a boa educação.

RU 114,1,127 Capítulo 14
Dos joelhos, das pernas e dos pés
A cortesia exige que, ao estar sentado, se mantenham os
joelhos em sua posição natural; não é de bom tom juntá-
los ou afastá-los demais; mas, sobretudo, é muito impolido
cruzar um sobre o outro, principalmente quando em presença
de mulheres.
RU 114,1,128 Remexer as pernas ao estar sentado assenta muito mal, e
balanceá-las é intolerável. Isso é tão oposto às boas manei-
ras, que nunca se deve permitir que nem as crianças o façam.
Colocar as pernas uma sobre a outra é de muito mau gosto.
Nunca se deve fazê-lo, nem sequer diante dos domésticos.
Deve-se tomar cuidado para que os pés não estejam suados
e não exalem mau odor, especialmente no verão, porque isto
é, por vezes, muito desagradável aos outros. Para que esse
mal não ocorra, deve-se tratar de mantê-los sempre muito
limpos.
RU 114,1,129 Ao estar em pé, é cortês manter a ponta dos pés um tanto
para fora e os calcanhares afastados uns quatro dedos um
do outro. É descortês remexer seguidamente os pés, e mais
ainda bater com eles contra o chão, como fazem os cavalos.
Os espíritos por natureza desatentos ou levianos devem
prestar muita atenção sobre si mesmos para não caírem nesta
espécie de defeitos.
RU 114,1,130 Manter os pés estendidos para frente, ou apoiar-se, ora sobre
um ora sobre outro, é atitude que denota displicência.
Encontrando-se com outras pessoas, sobretudo se forem
superiores, por sua condição ou dignidade, não se deve ma-
nifestar que se está cansado de ficar de pé, como se pode dar
a entender por esse tipo de atitudes.
RU 114,1,131 Quando se está sentado, o que deve merecer particular
atenção, no que se refere ao controle dos pés, é não batê-
356 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

los compassadamente no solo, um depois do outro, como


se a gente estivesse tocando tambor, não balançá-los e
movimentá-los como a brincar: isso é infantil, e não pode ser
tolerado nem sequer nas crianças. Tampouco se pode cru-
zá-los um sobre o outro, girá-los, apoiando a parte posterior
do calcanhar ou os artelhos no chão, ou erguer a ponta dos
pés; ao contrário, deve-se pousá-los ambos completamente
no chão e mantê-los totalmente quietos.
RU 114,1,132 Também se deve ter o cuidado de não afastar os calcanhares
e não colocar a parte anterior e a ponta dos pés uma contra a
outra.
Podem-se cometer faltas consideráveis contra a cortesia
com relação aos pés enquanto se caminha, pois é muito
pouco educado, então, arrastá-los ou andar obliquamente.
É preciso, igualmente, cuidar muito para não direcioná-los
demais para dentro ou para fora. Não assenta bem cami-
nhar na ponta dos pés; tampouco caminhar saltitando,
como se a pessoa estivesse a dançar; ou esfregando os cal-
canhares um contra o outro. É inteiramente contrário aos
bons modos e contra a gravidade bater fortemente com os
pés no chão, no pavimento ou no assoalho.
RU 114,1,133 Quando se está de joelhos, deve-se ter muito cuidado para
não cruzar os pés. Da mesma forma, não aproximá-los, nem
afastá-los demais. É vergonhoso sentar, então, sobre os
calcanhares. Isso é sinal de alma débil e vulgar, e só pode
ser efeito de grande desleixo e de indolência sumamente
sensual.
RU 114,1,134 É muito descortês e até vergonhoso dar pontapés nas
pessoas, em qualquer parte do corpo que seja. Isso não é
permitido a ninguém, nem sequer a um pai de família com
seus domésticos.
Esse tipo de castigo é próprio de homem violento e
descontrolado e não de cristão, que só deve ter e manifestar
bondade, moderação e prudência em todo o seu proceder.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 357

RU 201,1,135 REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS

SEGUNDA PARTE
Da cortesia nas ações comuns e ordinárias

Capítulo 1º
Do levantar e do deitar
Embora a boa educação não estabeleça nada no referente ao
tempo em que se deve estar deitado e à hora do levantar, é
conveniente levantar-se assim que amanhecer, porque, além
de o dormir demais ser um defeito, é coisa vergonhosa e
intolerável, diz Santo Ambrósio17, que o levantar do sol nos
encontre na cama.
RU 201,1,136 Também é mudar e inverter a ordem da natureza fazer do
dia noite e da noite dia, como é costume de alguns. Quem
leva a agir assim é o demônio: como ele sabe que as trevas
oportunizam o pecado, sente-se muito satisfeito por fazermos
nossas ações durante a noite.
Sigamos antes o conselho de São Paulo18. Deixemos – diz
ele – as obras das trevas e caminhemos, isto é, trabalhemos
dignamente, como se deve fazer durante o dia. Para isto,
sirvamo-nos das armas da luz; demos a noite ao sono; e
empreguemos o dia para realizar todas as nossas ações. Cer-
tamente nos sentiríamos envergonhados e confusos fazendo
à luz do sol obras das trevas, e mesclando nossas ações com
algo desregrado, quando podemos ser vistos.
RU 201,1,137 Portanto, é completamente contrário à boa educação, con-
forme São Paulo nos insinua, deitar-se, como fazem algu-
mas pessoas, no surgir da manhã e levantar-se pelo meio-
dia. É muito conveniente, tanto para a saúde como para o
bem da alma, não se deitar depois das dez, nem se levantar
após as seis da manhã.
Deve-se, então, dizer a si mesmo e lembrar àqueles aos
quais a preguiça retém na cama estas palavras de São Paulo:

17
Sermão 19 sobre o salmo 119(118).
18
Rm 13,12-13.
358 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Chegou a hora de despertar do sono; a noite passou, e o dia


está adiantado19, a fim de poder, em seguida, dirigir a Deus
estas palavras do Profeta-Rei: Meu Deus, meu Deus, desde o
amanhecer estou velando por ti20.
RU 201,1,138 Não assenta bem numa pessoa educada fazer-se chamar
várias vezes para se levantar, ou hesitar durante muito tempo
para fazê-lo. Portanto, ao ser despertado, é preciso levantar-
se imediatamente, etc.
Também é muito pouco correto e adequado divertir-se
conversando, brincando ou jogando na cama, porque esta
foi feita exclusivamente para descansar o corpo fatigado dos
trabalhos e das ocupações do dia. Deve ser usada somente
para o repouso, razão pela qual não se deve ficar nela quando
já não se precisa de descanso.
RU 201,1,139 Também não convém que um cristão se deixe levar a
esse tipo de divertimentos e brincadeiras que afastariam
facilmente as boas ideias que se pudesse ter.
Portanto, ao despertar, é preciso levantar-se prontamente
e fazê-lo com tanto cuidado que nenhuma parte do corpo
apareça nua mesmo que se estivesse sozinho no quarto.
RU 201,1,140 O amor que se deve ter à pureza, bem como a urbanidade,
devem levar os solteiros a não permitir que alguma pessoa
de sexo diferente entre no quarto em que dormem antes de
estarem completamente vestidos e de haverem arrumado
o leito. Por isso, convém, da parte deles, fechar a porta
enquanto estão dentro.
RU 201,1,141 Ao sair da cama, não se deve deixá-la descoberta, nem
colocar a touca de dormir sobre uma cadeira ou em qualquer
outro lugar em que possa ser vista.
A cortesia exige que se arrume a cama antes de sair do
quarto, ou, se ela é arrumada por outra pessoa, que ao menos
fique coberta convenientemente e de tal maneira que pareça
arrumada, porque é muito desagradável ver uma cama
descoberta e mal arrumada.

19
Rm 13, 11-12.
20
Sl 63(62),2.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 359

RU 201,1,142 Deve-se também estar atento para esvaziar ou fazer esva-


ziar o urinol depois de haver levantado, e evitar cuidado-
samente fazê-lo pela janela ou na rua. Isso é totalmente
contrário à boa educação. Deve-se também procurar man-
tê-lo limpo, impedindo que em seu fundo se acumule sujeira
e que exale mau cheiro; por isso, deve-se lavá-lo e enxa-
guá-lo todos os dias.
RU 201,1,143 É muito descortês fazer que o penico seja visto com urina
ou enquanto está sendo esvaziado. Por isso, para fazê-lo,
convém usar o momento apropriado para não ser visto nem
percebido por ninguém.
Deve-se ter horário determinado tanto para o levantar quanto
para o deitar; não é menos importante guardar regularidade
para esta última ação do dia do que para a primeira.
A boa educação requer deitar-se, ordinariamente, o mais
tardar, umas duas horas depois de haver jantado.
RU 201,1,144 As crianças não devem ir dormir sem ter primeiro sauda-
do o pai e a mãe e lhes ter desejado boa-noite. Trata-se de
dever e deferência que elas devem aos pais, por exigência
da natureza.
Assim como importa levantar-se com muita recato e, ao
fazê-lo, dar sinais de piedade, deve-se, também, para deitar-
se de maneira cristã, fazê-lo só com toda discrição possível
e depois de haver rezado.
Para isso, é preciso procurar não se despir nem deitar-se
à vista de alguém. Acima de tudo, a menos que se esteja
casado, não se deve ir para a cama na presença de alguma
pessoa de outro sexo, porque isso é completamente contra o
pudor e o decoro.
RU 201,1,145 Ainda muito menos permitido a pessoas de sexo diferente
é deitarem na mesma cama, a não ser que se trate de crian-
ças muito pequenas. Também é próprio da cortesia que
pessoas de mesmo sexo não durmam juntas. É o que São
Francisco de Sales recomendava a Madame de Chantal a
respeito dos filhos dela, quando ela ainda estava no mundo,
como algo muito importante e considerado por ele tanto
360 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

como prática de boa educação como princípio de moral e


de piedade cristã.
RU 201,1,146 A boa educação requer também que, ao deitar-se, se oculte a
si mesmo o próprio corpo e se evite o mínimo olhar. Os pais
e as mães devem incutir isso muito nos filhos, para ajudar-
lhes a que preservem o tesouro da pureza, a qual lhes deve
ser muito cara, e para que, ao mesmo tempo, conservem a
verdadeira honra que é serem membros de Jesus Cristo e
consagrados a seu serviço.
RU 201,1,147 Apenas deitado, é preciso cobrir todo o corpo, fora o rosto,
que sempre deve ficar descoberto. Tampouco se deve tomar
postura alguma inconveniente, com a desculpa de maior
comodidade, nem permitir que o pretexto de dormir melhor
se sobreponha ao decoro.
Não é cortês dobrar as pernas, mas deve-se estendê-las, e
convém deitar-se ora de um, ora de outro lado, pois não é
apropriado dormir deitado de bruços.
RU 201,1,148 Quando, por necessidade absoluta, se está obrigado, em
viagem, a dormir com alguma pessoa do mesmo sexo, não
é de boa educação aproximar-se tanto que se chegue, não
só a incomodar-se mutuamente, mas até a se tocar. Menos
educado ainda é colocar as pernas entre as da pessoa com
quem se está deitado.
RU 201,1,149 A cama foi feita só para repousar. Por isso, ao estar deita-
do nela, não se deve falar, mas dispor-se imediatamente a
dormir.
Ao dormir, é necessário procurar evitar qualquer ruído e não
roncar. Na cama, é preciso, igualmente, evitar de virar-se a
toda hora de um para outro lado, como se a gente estivesse
intranquilo e não se soubesse de que lado deitar-se.

RU 202,1,150 Capítulo 2º
Da maneira de se vestir e desvestir
O pecado foi que nos colocou na necessidade de nos vestir e
cobrir nosso corpo com roupa. Por isso é que, como sempre
levamos conosco a condição de pecadores, nunca devemos
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 361

aparecer, não somente sem roupa, mas até sem estar mesmo
inteiramente vestidos. É o que exige tanto o pudor quanto a
lei de Deus.
RU 202,1,151 Muitas pessoas tomam a liberdade de andar, com frequên-
cia, apenas de chambre e, por vezes, mesmo de pantufas.
E, desde que não se saia de casa, parece permitido fazer
as coisas trajado dessa forma. Mas permanecer por muito
tempo assim revela exterior muito descuidado.
RU 202,1,152 Parece ser contra os bons modos voltar a vestir o chambre
por comodidade assim que se volta para casa e de aparecer
vestido assim. Isso pode ser permitido somente aos idosos
e às pessoas adoentadas. Seria, inclusive, faltar de respeito
receber neste estado a visita de alguém que não seja inferior.
RU 202,1,153 Muito mais inconveniente ainda é não usar meias na pre-
sença de alguém ou estar somente de camisola ou simples
gibão. Não se pode tolerar andar de touca de dormir quando
se está fora da cama, exceto quando se está adoentado,
porque ela é feita só para ser usada durante o repouso.
É muito conveniente acostumar-se a nunca falar a alguém, a
não ser com os domésticos, sem estar vestido com todas as
roupas ordinárias. Isso é próprio de homem distinto e bem
ordenado em sua conduta.
RU 202,1,154 A cortesia requer também vestir-se prontamente e começar
vestindo a roupa que mais cubra o corpo, para ocultar o que
a natureza não quer que apareça. Isso deve ser feito sempre
por respeito à majestade de Deus a ter continuamente diante
dos olhos.
RU 202,1,155 Há mulheres que precisam de duas a três horas e algumas
mesmo de manhãs inteiras para se vestirem. Delas se poderia
dizer, com acerto, que seu corpo é seu deus e que o tempo
que empregam para enfeitá-lo elas o usurpam àquele que é
seu único Deus vivo e verdadeiro e ao cuidado que lhes cabe
tomar da família e dos filhos, que sempre devem considerar
como dever de que não se podem dispensar em seu estado.
Sem dúvida, não podem agir dessa forma sem se oporem à
lei de Deus.
362 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 202,1,156 Descortês e indecoroso é desvestir-se na presença de outras


pessoas, e tirar o calçado para esquentar os pés desnudos.
Não é mesmo de bom tom tirar os sapatos ou levantar os
pés para se esquentar mais facilmente, quando se está em
companhia. Isso algumas vezes ocorre com pessoas que
procuram seu conforto, mas não pode ser admitido de forma
alguma pela urbanidade.
RU 202,1,157 Ainda muito mais descortês, ao se descalçar, é fazer saltar
sujeira sobre as pessoas presentes; e é uma vergonha olhar
para dentro das meias, virá-las às avessas, sacudi-las, retirar-
lhes a sujeira e raspá-las na presença ou à vista de qualquer
outra pessoa fora o pessoal de serviço doméstico; mas algo
muito mais insuportável ainda é, ao se descalçar, jogar a
sujeira no rosto de alguém.
RU 202,1,158 Como a cortesia exige que, ao se vestir, é preciso colocar
primeiro as roupas que mais cobrem o corpo, também é cor-
tês, ao se desvestir, tirar essas mesmas roupas por último, a
fim de não ser visto sem estar vestido de maneira decorosa.
RU 202,1,159 Ao despir-se, deve-se ter o cuidado de colocar a roupa cui-
dadosamente, quer sobre uma cadeira, quer em outro lugar
adequado e onde possa ser facilmente reencontrada no dia
seguinte, sem que seja necessário procurá-la.
Durante o inverno, se poderia colocar a roupa sobre a cama,
caso não se tivesse outra coisa para cobrir-se; mas, nesse
caso, deve-se ter o cuidado de colocá-la às avessas para não
a sujar. Contudo, é mais conveniente não se cobrir com ela.

RU 203,1,160 Capítulo 3º
Do vestuário

Artigo 1º
Da adequação da roupa e da moda
A adequação na roupa é uma das coisas que mais tem a ver
com a cortesia. Serve, inclusive, muito para dar a conhecer
a índole e o proceder de uma pessoa. Muitas vezes – e não
sem fundamento – ela também dá boa ideia de sua virtude.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 363

Para que a roupa seja adequada, é necessário que assente na


pessoa que a veste e seja proporcional a seu tamanho, idade
e condição.
RU 203,1,161 Nada é menos apropriado do que uma roupa que não se
ajuste ao tamanho de quem a usa. Isso deforma totalmente
uma pessoa, especialmente quando a roupa é grande demais,
tendo largura ou comprimento maior do que a conveniente
para quem a usa. Ordinariamente, é preferível que a roupa
seja mais curta e justa que o requerido, do que demasiado
larga e longa.
RU 203,1,162 Para que uma roupa seja adequada, é necessário também
tomar em conta a idade da pessoa para a qual é feita, porque
não assenta bem que uma criança vista como um jovem,
nem que a roupa de um jovem não seja mais vistosa do que
a de um ancião.
Por exemplo, seria contra a cortesia um rapaz de quinze
anos trajar de preto, exceto se for eclesiástico ou estiver se
preparando para sê-lo em breve. Pareceria ridículo um jovem
que pensa em casamento usar roupa tão simples e despojada
como a de um idoso de setenta anos. O que convém a um,
seguramente não assenta em outro.
RU 203,1,163 Não é menos importante que a pessoa que manda confec-
cionar uma roupa tenha presente sua condição. Pois não
assentaria bem um pobre vestir como um rico e que um
plebeu quisesse trajar como pessoa nobre.
Há certas roupas, tais como as vestes sem ornamento, de
tecido não muito delicado, que são de uso corrente e que
podem ser vestidas por quase todas as pessoas, exceto os
pobres, embora pareça mais de boa educação que os arte-
sãos deixem as roupas mais finas às pessoas de condição
acima deles.
RU 203,1,164 Roupas com algum enfeite somente convêm a pessoas de
condição elevada.
Roupa com galões de ouro ou de tecido precioso assenta
bem unicamente em pessoas da nobreza; plebeu que preten-
desse usar algo desse tipo se tornaria objeto de zombaria;
364 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

além de fazer um gasto que certamente desagradaria a Deus,


por estar acima do que requer sua condição e do que suas
posses lhe podem permitir.
Também seria muito descortês um comerciante usar chapéu
com penacho e espada no flanco.
RU 203,1,165 Da mesma forma, devem as mulheres vestir-se de acordo
com sua condição; e, se é tolerável que senhora da nobreza
use saia com bordados de ouro, isso não assenta nada
bem numa cristã, e seria excêntrico numa burguesa. Esta
tampouco poderia usar colar de pérolas finas ou diamante
chamativo sem sobrepor-se à sua condição.
RU 203,1,166 No vestir, não se há de evitar menos a demasiada preocu-
pação que o exagerado descuido. Esses dois extremos são
igualmente censuráveis. O demasiado requinte é contrário à
lei de Deus, que condena o luxo e a vaidade no vestir e em
todos os adereços exteriores.
A negligência no vestir é sinal de que não se presta atenção à
presença de Deus, ou que não se tem suficiente respeito por
Ele. Ela manifesta igualmente que não se tem consideração
ao próprio corpo, o qual, porém, deve ser honrado como
templo animado do Espírito Santo e tabernáculo em que Jesus
Cristo tem a bondade de querer repousar com frequência.
RU 203,1,167 Se alguém, portanto, quiser vestir de forma adequada, deve
seguir o costume local e trajar mais ou menos como as
pessoas de sua condição e idade. Contudo, é importante estar
atento para evitar tanto o luxo como a superfluidade no vestir,
e eliminar toda ostentação e quanto ressinta mundanismo.
RU 203,1,168 O que melhor pode regular a adequação no vestir é a moda.
É imperioso segui-la, pois, como o espírito humano é muito
sujeito à mudança, e o que lhe agradava ontem, já não lhe
agrada hoje, inventaram-se e ainda se inventam todos os
dias diferentes maneiras de se vestir, para satisfazer essa
tendência à variação; e quem quisesse vestir-se hoje como
se costumava trinta anos atrás, passaria por ridículo e por
singular. Entretanto, a conduta de homem sensato é nunca se
distinguir em nada.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 365

RU 203,1,169 Moda é o nome que se dá à maneira de confeccionar o que


se veste na época em que se vive. É preciso conformar-se
a ela tanto no que se refere ao chapéu e à roupa de baixo,
como no que diz respeito ao vestuário em geral. Seria contra
a boa educação que um homem usasse chapéu de copa alta
ou aba larga quando todos usam chapéu baixo e aba estreita.
RU 203,1,170 Contudo, não se deve aderir, desde o primeiro momento, a
todas as modas: algumas há que são fantasiosas e extrava-
gantes, como há outras razoáveis e adequadas. Assim como
não se deve fazer oposição a estas, não se deve tampouco
adotar indiscriminadamente as outras que, ordinariamente,
são apenas seguidas por reduzido número de pessoas, e não
persistem por longo tempo.
A regra mais segura e razoável, tocante à moda, é não ser
o inventor dela, não estar entre os primeiros a usá-la, e não
esperar que já ninguém a siga para abandoná-la.
RU 203,1,171 Quanto aos eclesiásticos, sua moda deve consistir em con-
formar-se, na aparência e no trajar, com os colegas mais
piedosos e edificantes no proceder, seguindo nisso o conse-
lho dado por São Paulo de não se acomodar ao mundo21.

RU 203,2,172 Artigo 2º
Da simplicidade e da limpeza do vestuário
O meio de manter nos limites a moda no tocante ao vestuário
e de impedir que se excedam os que a seguem é submetê-la
e conformá-la à simplicidade que deve ser a norma de com-
portamento do cristão em tudo o que se refere ao exterior.
Para a roupa ser simples é preciso que nela não haja qual-
quer aparência de luxo, nem vaidade.
RU 203,2,173 Apegar-se a roupas e andar à procura das que são chamati-
vas e suntuosas é sinal de espírito vulgar. Os que o fazem
tornam-se alvo do menosprezo de todas as pessoas de bom
senso. Porém, o mais importante de tudo é que renunciam

21
Rm 12,2 .
366 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

publicamente às promessas assumidas no Batismo e ao


espírito do cristianismo.
Os que, pelo contrário, desprezam tal tipo de vaidades ma-
nifestam boa vontade e grande nobreza de espírito. Com
efeito, estas pessoas revelam-se mais interessadas em
adornar-se com virtudes do que satisfazer o corpo; e dão
a conhecer, pela simplicidade do vestuário, a sensatez e
singeleza de sua alma.
RU 203,2,174 Como as mulheres são naturalmente menos capazes de gran-
des coisas do que os homens, também estão mais expostas a
procurar a vaidade e o luxo no vestuário do que eles. Por isso
é que São Paulo22, após haver buscado exortar os homens a
evitarem certos vícios em que eles caem mais facilmente que
as mulheres, recomenda em seguida a estas que se vistam
com simplicidade, se adornem de pudor e castidade, não se
enfeitem de ouro, nem de pérolas, nem de roupa suntuosa,
mas se vistam como devem fazê-lo mulheres que revelam,
por suas boas obras, que fazem profissão de virtude.
RU 203,2,175 Depois dessa regra do grande Apóstolo, não há mais nada a
prescrever aos cristãos a não ser que a sigam e imitem nisso
os cristãos dos primeiros séculos, que edificavam a todos
com o recato e a simplicidade no trajar.
É vergonhoso que homens, como ocorre algumas vezes,
sejam efeminados a ponto de se vangloriarem de suas rou-
pas muito ricas e quererem granjear consideração por isso.
Deveriam elevar muito mais alto o espírito, pensando ser a
roupa sinal vergonhoso do pecado; e considerando-se, por
outra parte, nascidos para o céu, deveriam centrar o cuidado
em tornar a alma bela e agradável a Deus.
RU 203,2,176 Este é também o conselho que São Pedro23 dá às mulheres,
dizendo-lhes até que desprezem o que aparece no exterior
e não se enfeitem de forma alguma com vestidos suntuo-
sos, mas adornem por dentro o coração, pela pureza incor-

22
1Tm 2,10.
23
1Pd 3,3-4.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 367

ruptível de um espírito tranquilo e circunspecto, riquíssimo


diante de Deus.
RU 203,2,177 Deve-se ter especial cuidado em manter a roupa sempre
muito limpa. O decoro e a cortesia não podem tolerar nada
de sujo e negligente. Assim, os que deixam a roupa, o chapéu
ou os sapatos cobertos de poeira faltam contra o decoro, bem
como os que, fora de casa, aparecem com roupa enlameada.
Isto denota sempre grande negligência.
RU 203,2,178 Também assenta muito mal tolerar gorduras ou manchas na
roupa e tê-la suja e rasgada; isto é sinal de pessoa de pouca
educação e proceder descuidado.
A camisa não deve ser menos bem arrumada e asseada do
que a roupa a ela sobreposta. Para isso, deve-se tomar cui-
dado de não deixar cair tinta sobre ela ao escrever e não a
sujar por negligência, seja comendo, seja fazendo qualquer
outra coisa.
Também se deve trocá-la seguidamente, pelo menos cada
oito dias, e procurar que esteja sempre limpa.

RU 203,3,179 Artigo 3º
Do chapéu e da maneira de usá-lo
O chapéu serve para adornar a cabeça do homem, além de
protegê-lo contra vários incômodos. Puxá-lo até as orelhas,
ou muito para frente como para esconder o rosto, ou para
trás, de maneira a cair sobre os ombros, são todas maneiras
ridículas e inconvenientes; mas dobrar-lhe a aba da frente
tão alto como a copa é um gesto de altivez intolerável.
RU 203,3,180 Ao saudar alguém, deve-se tomar o chapéu com a mão
direita, tirá-lo inteiramente da cabeça e de maneira cortês,
estendendo o braço até embaixo e segurando o chapéu pela
aba com o lado que deve cobrir a cabeça voltado para fora.
Se alguém tira o chapéu na rua, ou passa diante de alguma
pessoa para saudá-la, deve fazê-lo um pouco antes de estar
perto dela, e só voltar a cobrir-se um pouco distante dela.
368 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 203,3,181 Ao se dirigir ao encontro de alguma pessoa para saudá-


la, deve-se tirar o chapéu uns cinco a seis passos antes de
chegar a ela.
Ao entrar num local em que se encontra pessoa de condição
nobre, ou à qual se deve muito respeito, é preciso tirar
sempre o chapéu antes de ingressar. Se os presentes estão de
pé e descobertos, deve-se fazer como eles.
Após haver tirado o chapéu muito educadamente, deve-se
voltar a parte interna contra si mesmo, e colocá-lo sob o
braço esquerdo, ou diante de si, à altura da parte esquerda
do estômago.
Quando sentado, deve-se estar sem o chapéu posto; e é,
então, cortês mantê-lo sobre os joelhos, a parte interna vol-
tada para si e a mão esquerda em cima, ou embaixo dele.
RU 203,1,182 Estando-se a falar com alguém, é grande falta de cortesia
girar o chapéu, arranhá-lo com os dedos, tamborilar sobre
ele, mexer com a correia ou o cordão, olhá-lo dentro ou por
todos os lados, colocá-lo diante do rosto ou sobre a boca,
de maneira que não se possa ser entendido ao falar. Muito
mais grosseiro ainda é morder-lhe a aba ao segurá-lo diante
da boca.
RU 203,3,183 As ocasiões em que é preciso descobrir-se tirando o chapéu
são: 1. ao estar em local em que há pessoas de importância;
2. ao saudar alguém; 3. ao dar ou receber alguma coisa; 4.
ao sentar à mesa; 5. ao ouvir pronunciar o santo nome de
Jesus e de Maria, exceto quando à mesa, pois então deve-se
apenas inclinar a cabeça; 6. ao estar diante de pessoas às
quais se deve muita consideração, como são eclesiásticos,
magistrados e outras pessoas respeitáveis.
RU 203,3,184 Na presença dessas pessoas, deve-se começar descobrin-
do-se; mas não é necessário permanecer descoberto, a
menos que se seja de condição muito inferior. Igualmente,
é preciso descobrir-se perante todas as pessoas que são
hierarquicamente superiores, e só voltar a se cobrir por
indicação delas. Depois de se haver posto o chapéu, não se
deve tirá-lo a cada palavra que se diz ou a cada passo que
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 369

se dá. Isto seria importuno e incômodo tanto para as pessoas


a quem se fala, como para quem fala.
É contra a boa educação tirar o chapéu à mesa, a não ser que
apareça pessoa merecedora de muita consideração.
RU 203,3,185 Contudo, se alguma pessoa de elevada condição brinda à
saúde de alguém ou lhe apresenta alguma coisa, aquele a
quem ela se dirige deve descobrir-se. Se uma pessoa de
elevada condição, por comodidade, estiver à mesa sem usar
chapéu, deve-se permanecer sempre de cabeça coberta, pois
imitá-la seria exagerada familiaridade.
Quando alguém fala de cabeça descoberta, ordinariamente
deve-se dizer-lhe que se cubra quando se lhe é superior.
Pode-se então dizer: “Cubra-se, meu senhor”. Essa maneira
de falar, contudo, somente é permitida com pessoas que são
muito inferiores à condição de quem faz esse convite.
RU 203,3,186 Pedir que pessoa acima da própria condição se cubra é gran-
de falta de cortesia. Isso pode ser feito sem inconveniente
com pessoas familiares e de condição igual, desde que não
seja em forma de ordem, nem com palavras que equiva-
lham a uma ordem. Deve-se fazê-lo ou apenas por um
gesto, cobrindo-se ao mesmo tempo; ou por algum rodeio
de palavras, dizendo, por exemplo: “O senhor talvez sinta
desconforto com a cabeça descoberta”; ou, estando com
algum amigo, usar expressões familiares, como estas: “Não
gostaria, por acaso, que nos cobríssemos?”

RU 203,4,187 Artigo 4º
Do manto, das luvas, das meias e dos sapatos, da camisa
e da gravata
A cortesia exige que se vista o manto sobre os dois ombros,
que penda para a frente e sem estar arregaçado no alto dos
braços. Ainda mais descortês é dobrá-lo abaixo do cotovelo.
E os bons modos pedem que seja usado à mesa.
Não se deve entrar enrolado no manto nalgum lugar em
que estejam reunidas pessoas importantes. Se fosse em casa
de príncipe, correr-se-ia o perigo de ser repreendido ou até
expulso.
370 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 203,4,188 É falta de educação puxar pelo manto ou a roupa uma pessoa


a quem se quer falar, especialmente se for de condição ou
hierarquia superior.
Sinal de boa educação é ter as luvas postas ao andar pela
rua, ao estar em companhia, e quando se vai de viagem. E é
impróprio segurá-las na mão, remexer e brincar com elas, e
servir-se delas a fim de bater em alguém. Isso é próprio de
escolar.
RU 203,4,189 Deve-se tirar as luvas ao entrar na igreja, antes de tomar
água benta, ao rezar e antes de sentar-se à mesa.
Para saudar alguém e lhe fazer profunda reverência, como
para beijar a mão, deve-se ter a mão descoberta, bastando,
para isso, retirar a luva da direita. O mesmo requer a boa
educação quando se dá ou se recebe alguma coisa.
RU 203,4,190 É incivil tirar e recolocar constantemente as luvas quando
se está em companhia de outros. Igualmente é descortês
levá-las à boca para as mordiscar ou chupar, colocá-las sob
o braço esquerdo, pôr somente a luva da mão esquerda,
segurar com essa mão a luva da direita, ou guardá-las no
bolso quando se deveria estar com as mãos dentro delas.
RU 203,4,191 É muito grosseiro deixar cair as meias sobre os calca-nhares
por não as prender (com as ligas). Deve-se ter o cuidado de
as esticar bem para que não formem dobras sobre a perna.
E nunca se deve tolerar que apareçam rasgadas, por mínimo
que seja, ou que haja alguma parte que saia fora do sapato,
nem que sejam tão apertadas que se possa ver a perna através
delas.
RU 203,4,192 A respeito dos sapatos, deve-se tomar cuidado para que
estejam devidamente fechados com fivela ou amarrados por
cordão.
É falta de cortesia usar os sapatos como pantufas24, tanto
em casa como fora dela. A educação pede mantê-los sempre
limpos.

24
Isto é, com a parte posterior dos sapatos dobrada debaixo do calcanhar.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 371

RU 203,4,193 Sempre se deve manter as peças de roupa fechadas na


frente, especialmente sobre o peito, de tal forma que a camisa
não apareça. Seria negligência imperdoável deixar cair as
mangas da camisa sobre o punho, por não prendê-las, ou
deixar aparecer os cordões da ceroula. E seria constrangedor
deixar aparecer a camisa em algum ponto.
A boa educação não admite que se esteja com o pescoço
nu e descoberto, mas quer que sempre se use uma gravata25
ao redor dele quando se sai. Quando em casa, estando de
roupão ou adoentado, se use um cachecol adequado para o
proteger.

RU 203,5,194 Artigo 5º
Da espada, da vareta, da bengala e do bastão
Assenta muito mal e é completamente contra a organização
social bem regulada que um burguês ande de espada, a
menos que esteja em viagem ou na guerra. Contudo, um
menino pode carregá-la se for de classe nobre.
É falta de cortesia girar o talabarte de modo que a espada
penda na frente do corpo. Falta maior ainda é colocar a
espada entre as pernas.
RU 203,5,195 Não se deve conservar a mão sobre o copo da espada en-
quanto se fala a alguém ou quando em passeio; é suficiente
colocá-la ali ao estar obrigado a puxar a espada.
Por mais corajoso que possa parecer quem está sempre
pronto para desembainhar a espada quando se lhe diz uma
palavra atravessada ou se lhe quer fazer um insulto, deve
convencer-se de que isso não é nem civilizado nem cristão:
Somente a paixão e o amor à honra vã e ilusória o fazem
agir assim. Portanto, é contra a boa educação ser tão rápido
para se defender de alguma injúria ou ultraje; e as normas do
Evangelho querem que se sofram as injúrias com paciência.

25
Gravata era peça usada ao redor do pescoço, como um lenço de seda, e não sob
o colarinho da camisa.
372 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 203,5,196 Jesus Cristo26 ordenou inclusive que São Pedro guardasse a


espada na bainha quando quis servir-se dela para defendê-lo.
Ao estar sentado, deve-se colocar a espada a seu lado,
puxando o talabarte ou o cinturão o mais possível para trás
de si. O mesmo deve-se fazer ao sentar à mesa, tomando
cuidado para que a espada esteja atrás de si ou entre as
cadeiras, de tal modo que não incomode ninguém. Não é
conveniente tirá-la nesta ocasião.
RU 203,5,197 Quando é preciso tirar a espada, não se deve fazê-lo sem
as luvas, nem colocá-la sobre a cama com as luvas; isto
seria grande falta de cortesia. Deve-se guardá-la em lugar
apropriado, fora da vista das pessoas presentes ou das que
possam entrar no quarto.
No caso de pessoa de elevada condição entrar no recinto de
alguém que tem o direito de levar espada, o visitado deve
recebê-la com as luvas na mão e a espada à ilharga. Os que
não levam espada, devem ter as luvas postas e o manto sobre
os dois ombros.
RU 203,5,198 A boa educação requer algumas vezes que se use uma ben-
gala, mas só a necessidade pode permitir andar de bastão
na mão.
RU 203,5,199 Assenta mal levar vareta ou bengala pequena em casa de
pessoas de condição elevada. Mas pode-se usar, nela, ben-
gala grande em caso de enfermidade ou de necessidade para
manter-se de pé ou para caminhar com mais facilidade.
É também muito descortês ficar brincando com a vareta ou
bengala e usá-las para golpear o chão, ou os cascalhos, ou
para fazer saltar pedrinhas. Totalmente mal educado é erguê-
la como querendo bater em alguém.
E nunca é permitido usar dela para tocar em alguma pessoa,
ainda que por brincadeira.
RU 203,5,200 Ao estar em pé, a pessoa não se deve apoiar inconvenien-
temente sobre a bengala nem sobre a vareta, como fazem,
por vezes, os camponeses. Tampouco se deve apoiá-la firme

26
Mt 26,52.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 373

contra o solo, como a segurar um bastão, o que denotaria


certa importância ou autoridade na pessoa.
Mas convém mantê-la erguida no ar, de maneira educada e
discreta, ou deixá-la tocar no chão sem nela se apoiar.
RU 203,5,201 Ao caminhar, é contra a boa educação estar com uma bengala
ou vareta debaixo do braço. Não é menos descortês arrastá-
la negligentemente no chão sujo, e é ridículo apoiar-se nela
de forma que ressinta orgulho ou vã ostentação; e quando
se faz gestos ou alguma outra coisa, é muito incivil segurar
uma bengala ou vareta na mão direita.
RU 203,5,202 Quando se está sentado, não se deve usar vareta ou bengala
para escrever na terra ou desenhar nela figuras. Isso mani-
festa que se é alguém desatento ou mal educado. Também
não é de bom tom colocar a bengala sobre a cadeira, mas
deve-se mantê-la diante de si de maneira adequada.
Antes de sentar à mesa, nunca se pode colocar a vareta ou
bengala sobre a cama – o que é falta de cortesia – mas deve-
se deixá-la em lugar fora do alcance da vista das pessoas.
No caso de se estar usando um bastão, pode-se encostá-lo na
parede.
Sempre se deve largar a vareta ou bengala quando se depõe
a espada e se tiram as luvas.

RU 204,0,203 Capítulo 4º
Da alimentação
É inclinação tão natural do homem procurar o prazer no
beber e no comer, que são Paulo, ao exortar os cristãos a
fazerem todas as suas ações por amor e para a glória de
Deus, sentiu-se na obrigação de referir-se particularmente
ao beber e ao comer27, porque é muito difícil comer sem
ofender a Deus e porque a maioria dos homens só come
como os animais e para a própria satisfação.
RU 204,0,204 Contudo, não é menos contrário à boa educação que às
regras do Evangelho mostrar apego ao beber e ao comer.

27
1Cor 10,31.
374 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Fazê-lo seria, segundo a expressão de São Paulo28, pôr sua


glória no que nos deveria causar vergonha.
Por isso, é próprio de pessoa sensata falar pouco desta ação
e do que a ela se refere. E quando se é obrigado a referir-se
a ela, deve-se fazê-lo sobriamente e com circunspeção, de
maneira a manifestar que não se lhe tem apego algum e que,
de forma nenhuma, se anda atrás dos bons pratos.
Não é conveniente nem bem educado tecer elogios rasga-
dos a um banquete ou refeição de que se participou, nem
daqueles aos quais se é convidado, e de comprazer-se em
relatar o que se comeu ou se vai comer.
RU 204,0,205 Uma das maiores e mais injuriosas censuras que os judeus,
embora injustamente, fizeram a Nosso Senhor foi que ele
gostava do vinho e da boa comida29. Esta é também uma das
críticas mais dolorosas a uma pessoa honrada, e com razão,
porque nada revela mais a torpeza de espírito. E o primeiro
efeito dos excessos da boca, conforme a Palavra de Jesus
Cristo30, é entorpecer o coração, e a consequência funesta
do exagero no uso de vinho, segundo São Paulo31, é levar à
impureza.
RU 204,0,206 Nada há mais contrário à boa educação do que estar com a
mesa sempre posta, porque isso manifesta que nada mais se
aprecia e se procura tanto como encher o ventre e fazer dele
o seu deus, como diz São Paulo32.
Com efeito, essa mesa sempre preparada é como um altar
permanentemente munido para lhe oferecer alimentos que
são as vítimas que lhe são sacrificadas.
RU 204,0,207 Não menos oposto à polidez é comer e beber a toda hora e
estar sempre pronto a fazê-lo; isso é coisa de comilão e de
bêbado.

28
Fl 3,19.
29
Mt 11,19.
30
Lc 21,34.
31
Ef 5,18.
32
Fl 3,19.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 375

Ao contrário, próprio do homem moderado e cortês é fixar


de tal modo a hora e o número das refeições, que só algo
urgente e extraordinário, ou a obrigação de fazer companhia
a alguma pessoa não esperada, o façam comer fora de hora.
RU 204,0,208 Como há pessoas que todos os dias ou, pelo menos, com
frequência, se encontram com seus amigos para comer
ou merendar juntos, e que nessas oportunidades comem e
bebem em excesso, é dever do cristão que deseja levar vida
regular desligar-se de tais companhias.
RU 204,0,209 A prática mais ordinária das pessoas bem educadas, ao
tomarem o desjejum, é comer um pedaço de pão e beber
um copo ou dois; fora disso, é preciso contentar-se com o
almoço e a janta, como costumam fazer as pessoas sóbrias e
metódicas, que julgam serem essas duas refeições suficientes
para satisfazer as necessidades da natureza.
RU 204,0,210 É contra a civilidade, e denota rusticidade, oferecer bebida
aos visitantes e insistir em que a tomem, excetuado quando
alguém, ao chegar, calorento, de viagem, precisa desse
alívio. No caso de alguém nos apresentar bebida fora dessa
necessidade, não devemos aceitá-la e desculpar-nos o mais
delicadamente possível.
RU 204,0,211 No que se refere aos banquetes, às vezes é de educação
oferecê-los e participar deles. Mas isso deve ocorrer só rara-
mente e quando exigido por alguma espécie de obrigação.
É o que São Paulo33 nos quer fazer entender ao dizer-nos
que não vivamos em banquetes: quer também que estes não
sejam suntuosos nem abusivos, isto é, que, neles, não haja
demasiada abundância e diversidade de alimentos, nem se
cometam excessos.
Nisso as regras da cortesia coincidem com as da moral
cristã, da qual nunca é permitido afastar-nos, nem sequer
para agradar e condescender com o próximo, pois fazê-lo
seria caridade mal ordenada e puro respeito humano.

33
Rm 13,13.
376 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 204,1,212 Artigo 1º
Do que se deve fazer antes de comer: do lavar as mãos;
da bênção da mesa e da maneira de sentar-se à mesa
Um pouco antes de comer e tomar a refeição, exige a boa
educação lavar as mãos, abençoar os alimentos e sentar-se
à mesa. Ela prescreve, igualmente, formas de fazer corre-
tamente essas coisas.
RU 204,1,213 Embora, como diz Nosso Senhor no Evangelho34, comer
sem ter lavado as mãos não seja algo que suja o homem,
é de boa educação nunca deixar de fazê-lo antes de tomar a
refeição. Essa é, inclusive, uma prática que sempre esteve
em uso. Se Nosso Senhor a censurou aos judeus35, foi
somente por se apegarem tão escrupulosamente a ela que
acreditavam cometer falta grave não lavando as mãos antes
de comer; e as lavavam até várias vezes, por temor de se
mancharem ao tocar certos alimentos com as mãos, mesmo
que apenas um pouco sujas, enquanto não temiam macular-
se com os numerosos pecados que cometiam. Jesus Cristo,
portanto, de modo algum, recriminou essa prática; o que fez
foi apenas condenar o excesso.
RU 204,1,214 A ordem a ser observada para lavar as mãos é determinada
pela posição que as pessoas ocupam na família; e, em
sociedade, pela posição dos convidados.
Quando se está com pessoas de condição relativamente igual,
o que de ordinário se costuma é fazer-se reciprocamente
alguma reverência antes de lavar as mãos, mas sem fazer
grandes cerimônias, e lavá-las quase todos ao mesmo tempo.
RU 204,1,215 Havendo no grupo uma ou várias pessoas de condição
elevada, não se deve, de forma alguma, ir lavar as mãos antes
que elas tenham lavado as suas. Entretanto, se uma pessoa
de posição superior nos toma da mão e nos pede lavarmos as
mãos com ela, seria falta de cortesia não atendê-la.

34
Mt 15,20.
35
Mc 7,3.4.6.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 377

Ao lavar as mãos, convém abaixar-se um pouco para não


molhar a roupa e tomar cuidado para não respingar água
sobre alguém.
RU 204,1,216 É falta de cortesia fazer muito ruído com as mãos, esfregando-
as fortemente, sobretudo ao lavá-las estando com outras
pessoas.
E se as mãos estivessem muito sujas, seria conveniente
tomar a precaução de lavá-las em particular nalgum outro
lugar antes de fazê-lo em companhia dos demais.
Se a pessoa que apresenta a água merece respeito, deve-se
fazer algum sinal de deferência ao apresentar as mãos para
serem lavadas. E não se deve esquecer de fazer também
algum sinal depois da ablução a fim de indicar que a água já
é suficiente.
RU 204,1,217 Quando não há ninguém para oferecer a toalha, é de boa
educação apanhá-la imediatamente depois de se haver
lavado as mãos. Antes de secá-las, é de boa educação
apresentar a toalha aos que se lavaram antes de nós ou
conosco, antecipando-se nisso a eles.
Nunca se deve deixar a toalha entre as mãos de pessoa de
qualidade mais elevada ou hierarquicamente superior, mas
segurá-la pela ponta até que ela tenha terminado.
RU 204,1,218 Ao enxugar as mãos, é preciso tomar cuidado para não
molestar alguém e não molhar a toalha tanto que os outros já
não encontrem parte alguma seca para enxugarem as suas.
Por isso, é conveniente enxugar as mãos num só ponto da
toalha ou do enxuga-mãos usado para esse fim.
RU 204,1,219 Depois de terem lavado as mãos, todos devem colocar-se
em torno da mesa e permanecer de pé, descobertos e muito
recolhidos, até se haver dado a bênção à comida.
Assenta mal a cristãos sentar-se à mesa para tomar a refei-
ção antes de os alimentos terem sido abençoados por algum
dos presentes.
Jesus Cristo, que deve ser nosso modelo em tudo, costumava,
nas refeições, abençoar o alimento preparado para Ele e seus
378 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

acompanhantes, conforme narra o santo Evangelho36. Fazer


diferente é portar-se como os irracionais.
RU 204,1,220 Havendo um eclesiástico entre os presentes, é dever dele
dar a bênção antes da refeição; e seria desrespeitoso a seu
caráter sacerdotal um leigo, independente de sua condição
social, adiantar-se ousando benzer a mesa em sua presença;
seria até transgredir os antigos cânones que proibiam mesmo
a um diácono e, com muito mais razão, a um leigo, dar a
bênção na presença de um sacerdote.
RU 204,1,221 Se não houver eclesiástico entre os convidados, essa bên-
ção deve ser dada pelo chefe de família ou por quem faz as
honras da casa, ou pela pessoa de categoria algo mais elevada
que as demais. Contudo, seria muito descortês uma mulher
abençoar os alimentos na presença de um ou vários homens.
Quando há alguma criança presente, acontece com frequência
que se lhe confia a tarefa de realizar esse ato. Alguma vez,
inclusive, não havendo ninguém que se disponha a benzer a
mesa em voz alta, cada um dos convidados o faz em particular,
silenciosamente; mas isso nunca deveria acontecer.
RU 204,1,222 Terminada a bênção da mesa, a cortesia requer que se ob-
serve o que Nosso Senhor ordena no Evangelho37, a saber,
colocar-se no último e menos honroso lugar da mesa ou
esperar que nos indiquem um lugar; e é muito incivil que
pessoas de condição comum sejam as primeiras a sentar ou
tomem os primeiros lugares.
Quanto às crianças, não devem sentar-se antes que os demais
tenham ocupado seus lugares.
Ao sentar-se, deve-se permanecer de cabeça descoberta
e colocar o chapéu só depois de estar acomodado e de as
pessoas mais importantes se terem coberto.
RU 204,1,223 Uma vez à mesa, a cortesia pede que a pessoa se mantenha
ereta sobre a cadeira e tome cuidado para não se curvar sobre
a mesa e não se apoiar inconvenientemente nela.

36
Mt 14,19. Mc 6,41.
37
Lc 14,8-10.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 379

Não é educado afastar-se tanto da mesa que não se possa


alcançá-la, ou aproximar-se tanto que se chegue a tocá-la.
Principalmente, nunca se deve apoiar os cotovelos sobre
a mesa, mas posicionar-se de forma a avançar sobre ela
somente até os punhos.
RU 204,1,224 Um dos principais cuidados que se deve ter à mesa é não
molestar ninguém, nem com os braços, nem com os pés. Por
isso, não se deve espichar, nem abrir quer os braços quer as
pernas ou atingir os vizinhos com os cotovelos.
E, se acontecer de se estar muito apertado, convém retro-
ceder um pouco para ficar mais à vontade; e é mesmo indi-
cado encolher-se e tolerar o desconforto para que os outros
se sintam cômodos.

RU 204,2,225 Artigo 2º
Das coisas a serem usadas à mesa
À mesa, é necessário usar um guardanapo, um prato, uma
faca, uma colher e um garfo. Seria inteiramente contra a boa
educação não utilizar alguma dessas coisas ao comer.
RU 204,2,226 A pessoa mais qualificada do grupo deve ser a primeira
a desdobrar o guardanapo; às demais cabe aguardar que
a primeira tenha aberto o seu, para fazer o mesmo. Se as
pessoas são mais ou menos de igual condição, todos o
desdobrarão ao mesmo tempo e sem cerimônias.
Aberto o guardanapo, é preciso estendê-lo inteiramente
sobre a roupa, a fim de não manchá-la ao comer, e convém
que ele cubra a roupa até o peito.
RU 204,2,227 É descortês utilizar o guardanapo para enxugar o rosto;
mais incivil ainda é esfregar com ele os dentes; e uma das
faltas mais grosseiras contra a boa educação seria usá-lo
para assoar-se. Também é inconveniente limpar os pratos e
as travessas com o guardanapo.
O guardanapo pode e deve ser usado, quando se está à mesa,
para limpar a boca, os lábios, e os dedos,
RU 204,2,228 bem como para desengraxar a faca, antes de cortar o pão, e
para limpar a colher e o garfo depois de servir-se deles.
380 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Se os dedos estiverem muito graxentos, convém desengraxá-


los primeiro com um pedacinho de pão – que deve ser
em seguida deixado no prato – antes de enxugá-los no
guardanapo, para não deixá-lo muito graxento e sujo.
RU 204,2,229 Quando a colher, o garfo ou a faca estão usados ou gordu-
rosos, é muito descortês lambê-los, e não cai bem, de forma
alguma, enxugar na toalha os talheres ou qualquer outra
coisa. Nesse caso e em outros semelhantes, deve-se utilizar
o guardanapo.
E no que se refere à toalha, deve-se procurar mantê-la
sempre muito limpa, e não deixar cair nela nem água, nem
vinho, nem molho, nem comida, nem qualquer coisa que a
possa manchar.
Depois de haver desdobrado o guardanapo, deve-se cuidar
que o prato esteja diante de si, e a faca, o garfo e a colher
do lado direito, para que se possa apanhá-los fácil e como-
damente.
RU 204,2,230 Depois de usado, deve-se evitar cuidadosamente limpar o
prato raspando-o com a colher ou o garfo. E, muito mais
ainda, é preciso evitar limpar com os dedos o prato ou um
fundo de travessa. Isso é muito vulgar. Deve-se, ou não tocar
no prato, ou, se for possível trocá-lo, fazer com que seja
retirado e substituído por outro.
Quando se trocam ou se retiram os pratos, deve-se deixar que
a pessoa encarregada faça seu trabalho, sem discutir com ela
e sem remetê-la a pessoa mais qualificada: sempre se deve
permitir, sem nada dizer, que se retire o prato e receber o que
for apresentado.
RU 204,2,231 Contudo, se, numa troca de pratos, alguém for servido antes
de uma pessoa que lhe é superior, ou se não se der a tempo
um prato a essa pessoa, deve-se apresentar-lhe o próprio
e passá-lo a ela, contanto que a gente não se tenha ainda
servido dele.
RU 204,2,232 Ao estar à mesa, não se deve ficar todo o tempo com a faca
na mão; basta tomá-la no momento de servir-se dela.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 381

Também é muito descortês levar um pedaço de pão à boca


segurando a faca na mão; pior ainda é usar a ponta da faca
para isso. O mesmo se deve observar ao comer maçãs, peras
ou qualquer outra fruta.
RU 204,2,233 É contrário à boa educação agarrar o garfo ou a colher com
toda a mão, como a segurar um bastão; mas deve-se segurá-
los sempre entre o polegar e o indicador.
Da mesma forma, jamais se deve segurá-los com a mão
esquerda ao levá-los à boca.
Nunca é permitido lambê-los após haver comido o que
estava sobre ou dentro deles, mas tomar cuidadosamente o
que contêm e deixar neles o menos possível.
RU 204,2,234 Tomando o cozido ou outra coisa com a colher, não se deve
enchê-la demais, com receio de que algo caia sobre a roupa
ou a toalha. Fazê-lo é próprio de glutão. Ao retirá-la da
tigela ou do prato, deve-se deslizá-la de leve sobre a borda
dos mesmos, para fazer cair as gotas de caldo que poderiam
sobrar debaixo dela.
RU 204,2,235 Não se deve usar o garfo para levar à boca alimentos líquidos
e que se poderiam derramar; para tomá-los, existe a colher.
A cortesia requer que sempre se utilize o garfo para levar
a carne à boca, pois a boa educação não permite tocar com
os dedos algo gorduroso, algum molho ou melado; e, se
alguém o fizesse, não poderia deixar de cometer, depois,
várias outras faltas de cortesia, como enxugar muitas vezes
os dedos no guardanapo, o que o deixaria muito manchado e
sujo, ou secá-los no pão, ação muita indecorosa, ou lambê-
los, algo não permitido a pessoa bem nascida e educada.
RU 204,2,236 Querendo devolver colher, garfo ou faca a quem os empres-
tou por alguma necessidade, é de bom tom limpá-los bem
com o guardanapo, a menos que sejam dados a um domés-
tico para que os lave no bufê38; depois, deve-se colocá-los

38
Não só mesa para colocar o necessário para a refeição, mas também armário
(aparador). Ter presente que para lavar os objetos ainda não havia torneira.
382 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

cuidadosamente num prato limpo, para os restituir à pessoa


da qual foram recebidos.

RU 204,3,237 Artigo 3º
Da maneira de convidar, pedir, receber ou servir-se à
mesa
Não é oportuno que, estando à mesa, qualquer um tome a
iniciativa de convidar os demais a se servirem. Quem deve
fazê-lo é o dono ou a dona da casa; afora eles, ninguém deve
tomar essa liberdade. Isso pode ser feito de duas maneiras:
1. Com palavras, e muito gentilmente. 2. Apresentando os
pratos que se sabe serem ou poderem ser mais apreciados
pelas pessoas às quais se serve.
RU 204,3,238 Ao oferecer uma refeição a algumas pessoas, deve-se ter o
cuidado de convidá-las e animá-las, de tempos em tempos,
a servir-se à vontade, o que há de ser feito com semblante
e expressão alegres, que transmitam aos convidados a
certeza de que são servidos de todo coração. Isso, contudo,
sem demasiada frequência, nem de modo excessivamente
insistente, para não ser muito inoportuno e incômodo aos
demais.
RU 204,3,239 Também se pode convidar os demais a beberem, contanto
que seja educada e moderadamente e sem insistência.
É necessário estar muito atento, diz o Sábio39, para não
estimular a isso os que gostam de vinho, que arruinou a
muitos. E ter presente que é, ao mesmo tempo, coisa lasti-
mável e vergonhosa uma pessoa deixar-se levar à intem-
perança e aos excessos dessa bebida.
RU 204,3,240 Parece que seria melhor e mais de acordo com a urbani-
dade cristã não insistir junto à pessoa para que coma, mas
simplesmente servir-lhe os alimentos no prato, e não esti-
mular ninguém à bebida, mas somente tomar o cuidado de
que, de tempo em tempo, seja servida aos comensais, no
caso de estes não a pedirem.

39
Eclo 31,30.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 383

RU 204,3,241 Pedir algo de que mais se gosta, quando se está à mesa, é


sinal de que se é guloso; mas uma das mais grosseiras faltas
de educação é pedir a melhor porção.
RU 204,3,242 Se, quem serve os alimentos, perguntar o que se deseja,
responde-se ordinariamente: “O que lhe aprouver”, e nunca
se pede nada em particular. Contudo, é permitido solicitar
uma iguaria de preferência a outra, contanto que não seja
prato raro ou extraordinário, ou alguma guloseima. Muito
melhor, porém, é não pedir absolutamente nada, quer ser-
vindo-se a si mesmo, quer aguardando ser servido.
RU 204,3,243 Se alguém oferece algum prato, e não se quer mais comer,
deve-se agradecer-lhe gentilmente, dizendo-lhe que já não
se precisa de nada.
RU 204,3,244 Assim como é descortês pedir alguma coisa à mesa, também
é de bom tom aceitar tudo o que é servido, mesmo não se
gostando de comê-lo. Igualmente, nunca se deve manifestar
que se tem dificuldade para comer algo que está na mesa, e
é completamente contra a boa educação dizê-lo.
Esse tipo de dificuldade, muitas vezes, é apenas imaginário.
Não seria difícil corrigi-lo, desde que se quisesse fazer
algum esforço, especialmente enquanto se é jovem. E um
meio, sem dúvida, muito fácil para isso seria passar fome
por alguns dias, porque, quando faminta, uma pessoa acha
tudo bom e, com frequência, lhe parecem muito deliciosas
coisas que não consegue comer quando está sem fome.
RU 204,3,245 Também se deve tomar muito cuidado para não selecionar
muito a comida, mas, na medida do possível, acostumar-se
a comer de tudo e, para isso, pedir muitas vezes alimentos
de que não se gosta, especialmente depois de haver passado
algum tempo sem comer. Quem não toma tais precauções,
ao estar à mesa, expõe-se a ser muito molesto aos demais,
principalmente aos que servem.
RU 204,3,246 Se a repugnância ao que se serve é tão grande que não se
consegue vencê-la, nem por isso se deve recusar o que é
oferecido, mas, depois de tê-lo aceito gentilmente, sem nada
384 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

manifestar, deve-se deixá-lo no prato e, sem que ninguém o


perceba, pedir que o retirem.
Se o que é servido à mesa for algo pastoso ou gordurento,
não se deve recebê-lo com a mão, mas é de boa educação
apresentar o prato, segurando-o com a mão esquerda, e
tendo a faca ou o garfo na direita para, se necessário, firmar
o que é servido: neste caso, deve-se receber com gratidão
o que é oferecido, aproximando o prato em direção à boca,
como se fosse para beijá-lo, e fazendo, ao mesmo tempo,
gentil inclinação.
RU 204,3,247 Quando alguém serve alimento cortado, é falta de educação
apressar-se em apresentar o prato, para ser servido por
primeiro. Isso é sinal e efeito de muita gulodice. Deve-se
aguardar que o que serve o ofereça e só então apresentar o
prato para receber o que apresenta.
Se, no entanto, quem serve saltar a vez de alguém que nos é
superior, é conveniente escusar-nos de receber o oferecido.
Mas, no caso de ser instado a aceitá-lo, deve-se apresentá-
lo imediatamente à pessoa não servida em seu turno ou à
mais qualificada, desde que não seja ela mesma que o tenha
oferecido.
RU 204,3,248 Se a pessoa que oferece é superior ou mais qualificada, é
necessário descobrir-se somente na primeira vez que ela o
faz, sem repeti-lo depois.
Pão, frutas, amêndoas açucaradas, ovos frescos e ostras em
casca podem ser apanhados com a mão e, nesse caso, somente
se deve pegar essas coisas beijando a mão e estendo-a, para
facilitar a ação da pessoa que serve.

RU 204,4,249 Artigo 4º
Da maneira de cortar e servir as carnes, e de servir a si
mesmo
Embora se saiba fazê-lo perfeitamente, é muito descortês
tomar a si a tarefa de cortar a carne e servi-la quando se está
à mesa de pessoa de categoria superior, a não ser que ela o
peça. Essa incumbência cabe ao dono ou à dona da casa, ou
a quem eles pedem a prestação deste serviço.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 385

RU 204,4,250 Se alguém que não saiba cortar a carne é solicitado a fazê-


lo, não deve ficar envergonhado nem preocupado em se
escusar; mas, tratando-se de alguém que o saiba, depois de
o haver feito, deixará a carne no prato para que cada um se
sirva, ou poderá servi-la, se o dono lho pedir. Ou, então,
colocará o prato diante do dono ou da dona da casa para que
a distribua como lhe aprouver.
RU 204,4,251 Contudo, se a mesa é muito grande e é difícil a uma só
pessoa atender a todos os convidados, pode-se servir apenas
os que estão perto de si.
Os jovens e os de condição mais comum não devem tomar a
si servir os outros, mas somente servir-se do que está diante
deles, ou aceitar o que se lhes apresenta, com bons modos e
reconhecimento.
RU 204,4,252 Quando se serve os outros à mesa, é cortês dar-lhes tudo o
que possam precisar, mesmo os pratos que estão perto deles.
Também se deve dar-lhes sempre as melhores porções – que
nunca é permitido tomar para si – e preferir as pessoas mais
qualificadas às que o são menos, servindo-as por primeiro,
e dando-lhes do melhor, sem tocar em nada a não ser com o
garfo. Se alguém pede comida que está frente a outra pessoa,
esta deve agir da mesma forma.
RU 204,4,253 Para evitar tomar para si as melhores partes – o que poderia
algumas vezes acontecer por engano ou desconhecimento
– e para que se saiba a quem elas devem ser servidas, achou-
se conveniente dar aqui as devidas informações a fim de
possibilitar que não haja equívocos neste ponto.
Quando se trata de cozido, o peito do galo ou galinha é
considerado a melhor porção, e as coxas tidas como melhores
que as asas; num pedaço de carne de rês, o que não é nem
muito gordo nem muito magro, é sempre o melhor.
RU 204,4,254 As pombas assadas são servidas inteiras ou cortadas pelo
meio. Em todas as aves que esgravatam a terra com as patas,
as asas são mais deliciosas; mas nas que voam, o mais
apreciado são as coxas. Nos perus, gansos e patos, o que é
386 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

melhor é a parte superior do peito, que é cortada no sentido


do comprimento. No leitão, o que é mais apetecido são a
pele e as orelhas; nas lebres, nos lebrões e nos coelhos, o que
mais se procura é o lombo, as coxas e a carne localizada do
lado da cauda e atrás dos quartos dianteiros.
RU 204,4,255 No lombo de vitela, a parte melhor é a mais carnuda, mas o
rim é o que há de mais excelente.
O mais valorizado nos peixes é a cabeça e o que se situa mais
perto dela. No que se refere aos peixes que só apresentam
uma espinha ao longo do corpo, como o peixe-aranha e o
linguado, o filé é incontestavelmente o melhor.
RU 204,4,256 Quando se oferece algo a ser comido com a colher, é muito
descortês fazê-lo com a própria já usada; mas se esta ainda
estiver limpa, deve-se utilizá-la para oferecer o que se deseja,
depois colocá-la no prato daquele a quem se serviu algo, e
pedir outra para si.
RU 204,4,257 Se a pessoa que pediu para nos servir, ao nos oferecer e
passar seu prato, tiver colocado nele sua colher, é preciso
servir-se desta, e não da própria.
Quando alguém afastado solicita algo, deve-se apresentar-
lhe o que pede, num prato limpo, e nunca apenas com a faca,
o garfo ou a colher.
RU 204,4,258 Quando se oferece algo em que há cinza, não se deve soprar
para tirá-la, mas convém limpá-lo com a faca antes de o
servir, porque soprando pode-se molestar as pessoas, e fazê-
lo é expor-se a jogar cinza na toalha ou no prato.
RU 204,4,259 Quando alguém é convidado por outra pessoa, não é correto
servir-se a si mesmo, a menos que a pessoa que preside o
banquete lhe peça ficar à vontade, ou que lhe seja muito
íntimo e familiar.
Quando alguém se serve, é muito descortês fazer ruído com
a faca, a colher ou o garfo, ao tomar algo da bandeja; mas
deve-se fazê-lo com tanta discrição e educação, que não seja
quase percebido e, menos ainda, ouvido pelos demais.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 387

RU 204,4,260 Sempre deve utilizar-se a faca para cortar a carne e, ao fazê-


lo, segurá-la com o garfo, o qual também há de ser usado
para colocar a porção cortada no prato. É preciso tomar
muito cuidado para evitar pegar a carne com a mão, e para
não tomar um pedaço grande demais cada vez.
RU 204,4,261 A boa educação não permite remexer na travessa, revirando
os pedaços de que mais se gosta; tampouco é tolerado tomar
os melhores, nem os que estão mais longe, mas ela exige
que se tome o que está diante de si, pois é de muito mau
gosto girar a travessa para servir-se do que se quer. Isto só
é permitido a quem serve os outros, que deve fazê-lo só
raramente e de maneira muito discreta.
RU 204,4,262 Também é grande falta de civilidade estender o braço por
cima da salva que está diante de si, para alcançar outra; o que
se deve fazer é pedi-la; mas muito melhor ainda é aguardar
que dela nos sirvam.
Deve-se tomar de uma vez só o que se deseja comer; e
é muito descortês levar a mão duas vezes em seguida à
travessa; e, muito mais ainda, levá-la a ela para tomar pe-
daço a pedaço, ou romper a carne por tiras com o garfo.
RU 204,4,263 Querendo tomar algo da travessa com a colher ou o garfo já
usados, deve-se primeiro limpá-los.
É muito descortês e, inclusive, muito vergonhoso limpar os
pratos com o pão ou torná-los tão limpos, seja com a colher,
seja com qualquer outra coisa, que já não fique neles vestígio
algum de condimento ou comida.
Não é menos descortês embeber o pão no molho ou tomar o
resto deste com a colher. E é muito vulgar servir-se dele com
os dedos.
RU 204,4,264 Se todos se servem na travessa, é preciso evitar
cuidadosamente levar a ela a mão antes que as pessoas mais
importantes presentes o tenham feito, ou tirar a comida de
outra parte da travessa que não a que está diante de si.
Assenta mal tocar no peixe com a faca, a menos que ele
esteja em pasta; ordinariamente é tomado com o garfo e
servido numa terrina.
388 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 204,4,265 As azeitonas tomam-se com a colher e não com o garfo.


Todo tipo de tortas, doces e bolos, depois de cortados na
bandeja ou travessa em que são servidos, tomam-se com
a lâmina da faca introduzida por debaixo e depois são
oferecidos num prato.
As metades das nozes de cor verde se tomam do prato com
a mão, assim como as frutas naturais e os doces secos. É
de bom tom descascar quase todas as frutas naturais antes
de as servir e, em seguida, oferecê-las elegantemente re-
cobertas de sua casca; contudo, podem ser servidas sem as
descascar.
RU 204,4,266 Limões e laranjas são cortados em sentido transversal;
maçãs e peras, em sentido longitudinal.
À mesa, não se deve falar muito da qualidade das iguarias, se
são gostosas ou não, nem opinar facilmente sobre temperos
e molhos, porque isso manifestaria comprazer-se muito com
a boa mesa e gostar de ser bem atendido, o que é sinal de
alma escrava dos sentidos e de pouca educação.
RU 204,4,267 Entretanto, é cortês sempre mostrar-se muito contente e
satisfeito com o que é oferecido e manifestar que se acha que
está bom; e, se a pessoa que preside o banquete perguntar
a opinião de alguém sobre os pratos servidos, deve-se res-
ponder sempre o mais educada e elogiosamente possível,
para não desgostá-lo, como ocorreria no caso de se dizer que
a comida não foi de seu agrado ou que estava mal preparada.
RU 204,4,268 É deselegante queixar-se de que a comida não é boa ou de
que está mal condimentada, como, por exemplo, que é muito
salgada ou apimentada, quente ou fria demais.
Tais palavras só podem penalizar a pessoa que oferece a
refeição, a qual, geralmente, não é a responsável por tais
ocorrências desagradáveis e, algumas vezes, nem sequer as
percebe.
Não menos descortês é exceder-se em louvores sobre os
pratos e tudo o que é servido, demonstrando, com isso, que
se aprecia a boa mesa e que se é conhecedor das melhores
iguarias, o que revela que se é glutão e escravo do ventre.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 389

RU 204,5,269 Artigo 5º
Da maneira de comer educadamente
O Sábio40 dá diversas recomendações importantes referen-
tes ao modo de portar-se à mesa, a fim de se comer com
decoro e cortesia: [1] Aconselha41 que, sentado à mesa,
importa não se deixar levar à intemperança da boca, fixando
com avidez42 as iguarias, como se fosse necessário comer
tudo o que nela se encontra, sem deixar nada para os outros.
RU 204,5,270 2. Diz que não se deve ser o primeiro a levar as mãos43
às iguarias. Tal honra e sinal de preeminência devem ser
deixadas à mais qualificada das pessoas presentes.
RU 204,5,271 3. Proíbe apressar-se para começar a comer44. Também é
muito descortês comer precipitadamente, o que é próprio de
glutão.
RU 204,5,272 4. Quer que cada um se sirva, como pessoa comedida, do que
é oferecido45, comendo com muito controle e moderação,
embora se possa tomar tanto quanto se precisa.
[5.] Exorta instantemente a dar preferência aos outros quando
se está à mesa, e a não servir-se ao mesmo tempo que eles46.
O mesmo exigem as boas maneiras.
[6.] Ordena ser, por educação, o primeiro a deixar de comer47.
Assim é que se deve comportar uma pessoa sóbria, que faz
profissão de seguir, durante a comida, as regras da tempe-
rança. E a razão que o Sábio aduz para isso é que ninguém
deve exceder-se no comer, por medo de pecar.
RU 204,5,273 [7.] Para induzir a todas essas práticas de educação e so-
briedade, ele acrescenta48 que quem come pouco terá sono

40
Eclo 31.
41
Eclo 31,2.12.
42
Eclo 31,13-14.
43
Eclo 31,16.
44
Eclo 31,17.
45
Eclo 31,19.
46
Eclo 31,21.
47
Eclo 31,20.
48
Eclo 31.23-24.
390 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

saudável e, que, ao contrário, a insônia, dores estomacais e


intestinais são o quinhão do homem imoderado no comer.
A cortesia não nos prescreve nada de mais preciso no tocante
à maneira de comer do que essas regras que o Sábio nos dá
com o fim de nos portar de forma educada nesta ação que,
para ser feita adequadamente, nos exige, de fato, tantas e tão
grandes precauções.
RU 204,5,274 A cortesia não permite que, ao comer, se ponha na boca
um pedaço antes de haver engolido o precedente; não quer,
tampouco, que a pessoa se precipite de tal maneira que
engula as porções sem ter quase tempo de mastigá-las. Pres-
creve comer sempre com muita moderação, sem pressa, e
não autoriza comer até a vinda do soluço, porque este é sinal
de notória intemperança.
RU 204,5,275 Ela dá como norma não ser o primeiro a começar a comer
nem o primeiro a comer de alguma iguaria nova ou nova-
mente servida, a não ser que a pessoa que o faz seja a de
mais destaque entre os comensais; e não tolera que alguém
seja o último a retirar-se da mesa, quando nela se encon-
tram pessoas às quais se deve respeito.
Com efeito, é grande falta de educação continuar a comer
depois que estas já terminaram; e nada é mais descortês do
que comer sozinho, fazendo os demais esperar para levantar
da mesa.
RU 204,5,276 As crianças, principalmente, devem tomar por regra come-
çar a comer por último e serem as primeiras a terminar.
Há algumas outras práticas de civilidade referentes ao
modo de comer que se deve ter o cuidado de observar exa-
tamente.
RU 204,5,277 Por exemplo, é cortês não se curvar demais sobre o prato
enquanto se come; sempre se deve juntar os lábios quando
se come para não sorver com a língua como os suínos; não
se tolera comer com as duas mãos, mas deve-se levar o
alimento à boca somente com a mão direita e usar a colher
ou o garfo para levar a ela tudo o que é gelado, gorduroso ou
líquido ou que pode sujar as mãos. Totalmente contra a boa
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 391

educação é tocar unicamente com os dedos a comida e, mais


ainda, o cozido.
RU 204,5,278 Ao comer, deve-se evitar muito olhar os que se sentam
perto, para observar o que comem ou se a eles são oferecidas
porções melhores e mais de nosso gosto do que os servidos
a nós.
RU 204,5,279 É muita falta de educação cheirar, à mesa, os alimentos ou
apresentá-los aos outros para que os cheirem; e, caso se
perceba algo mal cheiroso na comida, nunca é permitido
dizê-lo aos demais. Falta de educação ainda maior seria
devolver à travessa comida que se levou ao nariz para
cheirar.
RU 204,5,280 Se acontecer de encontrar-se algo repulsivo na comida,
como cabelo, carvão ou outra coisa, não se deve mostrá-
lo aos outros, mas retirá-lo com tal jeito que ninguém o
perceba.
RU 204,5,281 Quando, por descuido, se levou à boca alguma coisa quente
demais ou capaz de fazer mal, deve-se procurar engoli-la,
sem nada manifestar, se possível, do incômodo causado
por isso. Na impossibilidade absoluta de retê-la na boca e
de engoli-la, deve-se prontamente, e sem que os outros o
percebam, tomar o prato com uma das mãos e aproximá-
lo da boca, voltando-se um pouco de lado e, cobrindo-se
com a outra mão, recolocar no prato o que se tem na boca
e, em seguida, entregar o prato a alguém por trás, ou levá-lo
pessoalmente para fora (uma vez que a cortesia não permite
jogar nada no chão).
Tudo o que não se comeu, como ossos, cascas de ovos e de
frutas, caroços, etc., sempre deve ser colocado na beirada do
prato.
RU 204,5,282 É absolutamente contrário à educação tirar da boca com
dois dedos o que não se pode engolir, como ossos, caroços,
espinhas, etc. Mais descortês ainda é deixá-los cair da boca
no chão ou no prato, como estando a vomitar. É também
falta de educação cuspi-los no prato ou na mão; mas deve-se
392 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

recolhê-los educadamente na mão esquerda mantida semi-


fechada e colocá-los no prato, sem ser notado.

RU 204,6,283 Artigo 6º
Da maneira de tomar o cozido
O cozido serve-se de duas maneiras diferentes: oferecido
em comum, é colocado em sopeira rasa; servido a uma
pessoa em particular, é oferecido em tigela. Esta segunda
maneira também é usada em família, especialmente com
crianças e pessoas adoentadas.
RU 204,6,284 Seria uma grosseria servir o cozido em tigelas quando se
oferece refeição algo melhor. Neste caso, deve-se pô-lo
numa sopeira rasa acompanhada de várias colheres, de
acordo com o número de convidados, os quais devem
servir-se delas para tirar o cozido da sopeira e levá-lo em
seguida ao prato.
RU 204,6,285 É falta de educação pegar o cozido diretamente da sopeira
com a própria colher para comê-lo e voltar a fazê-lo cada
vez que se quiser levar a comida à boca; mas a pessoa deve
servir-se do cozido com uma das colheres que estão na
sopeira, colocá-lo depois no próprio prato e repor a colher na
sopeira sem levá-la à boca; em seguida, deve usar da própria
colher para tomar o que tem no seu prato.
Se não houver colher na sopeira, deve-se utilizar a própria
para tirar o cozido, após havê-la enxugado bem.
RU 204,6,286 Quanto à maneira de tomar o cozido numa tigela, é descortês
sorvê-lo como faria um doente, mas é necessário tomá-lo
pouco a pouco, com a colher.
Igualmente, é grande incivilidade pegar a tigela por uma das
alças e derramar na colher a sobra do caldo, depois de ter
tomado o cozido.
Da mesma forma, é grave falta de educação segurar a tigela
pela alça com a mão esquerda, como por medo de que
alguém a pegue.
RU 204,6,287 A cortesia requer também que não se faça ruído com a tigela
e a colher ao tomar o cozido, e não se raspe com força de um
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 393

a outro lado para juntar o resto de pão grudado no fundo da


tigela.
RU 204,6,288 Embora não seja de bom tom limpar a tigela tão bem que
não fique mais nada dentro dela, é de educação não deixar
nela cozido. Deve-se comer tudo o que ela contém e tudo o
que se colocou no prato. O mesmo não deve ser feito com
a sopeira: seria falta de educação esvaziá-la inteiramente; e
não se deve tomar o resto do cozido quando apenas sobrar
um pouco.
RU 204,6,289 Depois de tomar tudo o que há na tigela, deve-se devolvê-la
ao encarregado de a recolher ou colocá-la em algum lugar
da mesa em que não possa estorvar ninguém. Mas nunca é
permitido deixá-la no assoalho.
Ao tomar o cozido, é necessário segurar adequadamente o
garfo com a mão esquerda e usá-lo para ajeitar na colher o
que houver de sólido para que não caia ao levá-lo à boca.
RU 204,6,290 É grande falta de educação fazer ruído com os lábios,
aspirando o cozido ao colocar a colher na boca, ou com
a garganta, ao engoli-lo. Deve-se pôr o cozido na boca e
engoli-lo tão discretamente que não se ouça o menor ruído.
RU 204,6,291 O cozido deve ser tomado bem calmamente, de modo a não
revelar nenhuma avidez nem pressa, porque, fazê-lo denota,
o mais das vezes, que se está esfaimado ou com muito
apetite. Numa palavra, seria sinal evidente de gula.
É muito descortês tomar em duas vezes o que está na colher,
deixando alguma coisa nela ao retirá-la da boca. Mais
descortês ainda é pegar mais cozido do prato ou da tigela
enquanto na colher ainda houver algo da colherada anterior.
O que está nela e é levado à boca deve ser comido de uma só
vez, e não em repetidas vezes.
RU 204,6,292 O meio para agir assim é não encher demais a colher ao
tomar o cozido. Fazer o contrário ao comer constitui falta
considerável de educação. Isso porque encher demais a
colher obrigaria a cometer duas graves faltas de educação:
uma, abrir muito a boca para fazer a colher entrar nela; a
394 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

outra, tomar em várias vezes o que deve ser tomado de uma


só vez, além de expor-se ao perigo de deixar cair alguma
coisa sobre a toalha, no guardanapo, ou mesmo sobre a
roupa, ao levar a colher à boca, o que seria muito ruim.
RU 204,6,293 A compostura a guardar à mesa não permite inclinar exces-
sivamente o corpo sobre a colher ao levar o cozido à boca;
e tolera ainda muito menos esticar muito a língua ao apro-
ximar a colher da boca. Contudo, é permitido inclinar-se
levemente para não deixar cair alguma coisa da colher e não
sujar a roupa; mas deve-se tomar o cuidado de se curvar
somente um pouco.
RU 204,6,294 Quando o cozido ou o que se está comendo é quente demais,
deve-se evitar cuidadosamente de soprar, quer sobre o prato,
quer sobre a tigela, quer sobre a colher ao levá-la à boca.
Isto é absolutamente contrário à boa educação. É preferível
aguardar que resfrie um pouco; pode-se, contudo, remexê-lo
pausada e delicadamente com a colher.

RU 204,7,295 Artigo 7º
Da forma de servir-se do pão e do sal e de tomá-los e
consumi-los
O lugar onde se deve colocar o pedaço de pão que se tem
para comer é no lado esquerdo, junto ao prato, ou sobre o
guardanapo. É descortês colocá-lo à direita, na frente do
prato ou atrás dele e, pior ainda, perto do pão de outrem.
RU 204,7,296 Ao se cortar o pão, podem-se cometer várias faltas de cor-
tesia, e que as crianças devem especialmente evitar. Por
exemplo, é muito mal educado escavar o pão tirando apenas
o miolo; ou, cortando-o longitudinalmente, separar as duas
côdeas; ou descascá-lo, por assim dizer, retirando toda a
crosta ao redor; ou rompê-lo todo em pedaços pequenos,
como se prepara o pão bento, e deixá-lo assim sobre a mesa;
ou, ao parti-lo, deixar cair muitas migalhas sobre a toalha.
Não menos deseducado é envolvê-lo com a mão ou apoiá-
lo sobre o peito para o cortar; ou cortar seu pedaço de pão
apoiando-o na toalha ou no próprio prato.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 395

Ainda mais incivil é rompê-lo com as mãos porque, para


cortar o pão, deve-se usar sempre a faca.
RU 204,7,297 Todas essas maneiras de cortar o pão são tão desproposita-
das que somente as pessoas malcriadas e de pouca educação
são capazes de empregá-las.
Quando se quer apresentar o pão a alguém, o correto não é
fazê-lo com a mão, mas sobre um prato limpo ou um guarda-
napo, e deve-se recebê-lo com a mão como que beijando-a.
RU 204,7,298 Quando se quer cortar um pedaço de um pão que seja
ordinário49, deve-se antes limpar a faca, e não cortar um pedaço
grande demais de cada vez. Importa evitar cuidadosamente
cortar apenas a crosta em determinado ponto, mas sempre se
deve cortar reto no sentido longitudinal, até pela metade do
pão, sem tomar mais de um lado de uma crosta do que do
outro, porque não pode ser educado nem correto selecionar
a parte que se quer pegar: isto seria deixar para os outros o
resto, e o de que não se gosta, e evidenciar abertamente o
próprio apego aos prazeres dos sentidos.
RU 204,7,299 Se alguém tiver dentes tão ruins que não possa comer a
crosta do pão, é muito melhor que a tire por pedacinhos, à
medida que vai comendo, do que tirá-la toda de uma vez,
pois não é educado colocar sobre a mesa pedaço grande só
de miolo de pão.
RU 204,7,300 Ao comer o pão, assentaria muito mal pegar na mão um
pedaço muito grande. Ordinariamente, deve-se deixá-lo
sobre a mesa e cortar, com a faca, cada vez a parcela que se
quer levar à boca.
A educação requer também que essas parcelas sejam pe-
quenas e levadas à boca só com a mão, segurando-as com o
polegar e o indicador.
RU 204,7,301 Ovos cozidos “à la coque”50 comem-se de ordinário umede-
cendo neles o pão. Por isso, quando se deseja comer ovos

49
Ordinário: não como um pão bento.
50
Ovos de galinha, com casca, cozidos por alguns minutos em água fervente.
396 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

desta forma, antes de romper-lhes a casca, deve-se preparar


o pão necessário para comê-los.
Todavia, nunca é permitido colocar o pão no vinho como
para fazer sopa. Isso é difícil de tolerar mesmo em pessoas
enfermas, que não o devem fazer, a não ser quando houver
necessidade evidente e lhes for prescrito como verdadeiro e
quase único remédio.
RU 204,7,302 O sal, diz o Evangelho51, é o condimento da comida. Nunca
se deve tomá-lo da saleira com os dedos, mas com a ponta
da faca, e colocá-lo, em seguida, no próprio prato.
Antes de levar a faca à saleira para pegar sal, deve-se ter o
cuidado de limpá-la no guardanapo, porque é muito descor-
tês servir-se dele usando faca gordurosa ou suja. Ademais,
deve-se tomar somente a quantidade necessária.
RU 204,7,303 Nunca se deve introduzir, na saleira, porções de alimento
que se vai comer, mas condimentá-las com o sal colocado
no prato.
Ninguém deve deixar-se levar, preconcebidamente, pela
ideia tola de certas pessoas que têm escrúpulo de servir o sal
aos outros52; e quando se quer oferecê-lo aos que estão mais
afastados, deve-se, ou colocar um pouco num prato para
apresentá-lo em seguida aos que dele necessitam, ou então,
se possível, disponibilizar-lhes a saleira, para que se sirvam
dela pessoalmente.
Também com relação à mostarda usada à mesa deve-se pro-
ceder mais ou menos da mesma forma como se faz com o sal.

RU 204,8,304 Artigo 8º
Como se comportar com os ossos, o molho e as frutas
É muito descortês apanhar os ossos com a mão inteira como
se pega um bastão; é, inclusive, bem educado tocá-los o
menos possível; e, sendo isso necessário, deve-se fazê-lo
com o polegar e o indicador e segurá-los num ponto que não
deixe os dedos engordurados.

51
Mc 9,49-50.
52
Ideia tola de que servir sal a alguém é dar-lhe azar...
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 397

RU 204,8,305 Muito mais vulgar ainda é roê-los com os dentes e segurá-


los com ambas as mãos, como fazem os cães com as patas.
Também é muito descortês chupá-los ruidosamente, de
maneira a ser ouvido pelos demais.
Nem se deve levá-los à boca; é preciso contentar-se com
tirar deles, o mais delicada e cuidadosamente possível, a
carne com a faca e deixá-los, depois, no prato, sem os jogar
no assoalho, o que seria grande indelicadeza.
RU 204,8,306 Sinal de sensualidade nunca permitida consiste em que-
brar os ossos com a faca ou alguma outra coisa, ou bater
com eles na mesa ou no prato, ou sacudi-los para retirar-
lhes o tutano. Sendo fácil, convém retirá-lo com o garfo, a
ponta da faca ou o cabo da colher; do contrário, não se deve
nem tentar fazê-lo.
Muito melhor, no entanto, e bem mais educado é não se
preocupar de modo nenhum com retirar o tutano dos ossos.
RU 204,8,307 É bem mais indicado não tomar o molho diretamente da
travessa – o que denota sempre algo de sujeição aos sentidos
em quem o faz. Mas, ao servir-se dele, deve-se fazê-lo com
a colher, após havê-la enxugado no guardanapo, e vertê-lo,
em seguida, no próprio prato.
RU 204,8,308 É muito descortês espalhar molho sobre cada pedaço de carne
do prato, à medida que se vai comendo. Pior ainda é embeber
o pão no molho. E é muito vulgar embeber nele o pão ou a
carne que já se mordeu, depois de os ter levado à boca.
Com relação às frutas, doces ou outras coisas servidas como
sobremesa, a educação exige ser muito controlado para ser-
vir-se deles, e comê-los sempre com moderação. Proceder
de outra maneira seria evidenciar apego a essas guloseimas.
RU 204,8,309 Especialmente as crianças devem evitar cuidadosamente
fazer, com os olhos ou os ombros, algum sinal para indicar
que as desejam; devem aguardar que lhes sejam servidas.
Algo nunca permitido, principalmente à mesa de pessoa a
que se deve respeito, é guardar no bolso ou no guardanapo,
frutas, como uma pera, maçã, laranja, etc., para levá-las
consigo.
398 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 204,8,310 Estando nalgum jardim, exceto que este pertença a amigo


íntimo, também não é permitido, de modo nenhum, colher
frutas ou flores ou pedir algumas para levar. A educação
requer que, então, nunca se toque em nada.
RU 204,8,311 Constitui grande falta de cortesia oferecer a alguém frutas
ou outra coisa da qual já se tenha comido parte. Outrossim,
é descortês engolir os caroços ou quebrá-los com os dentes
ou com outra coisa para retirar-lhes a amêndoa.
Tampouco assenta bem cuspi-los no prato, jogá-los no
chão ou no fogo. O que se deve fazer é pegá-los com a mão
esquerda semi-aberta e colocá-los delicadamente no prato.

RU 204,9,312 Artigo 9º
Da maneira de pedir e receber a bebida e de beber,
estando à mesa53
É absolutamente oposto à boa educação ser o primeiro a
pedir a bebida, a não ser que a pessoa que o faz seja o mais
importante dos comensais; não o sendo, deve-se aguardar
que os de condição superior tenham bebido primeiro.
RU 204,9,313 Igualmente é falta de respeito aos presentes solicitar bebida
em voz alta: sempre se deve pedi-la discretamente; e, melhor
ainda, por sinais.
RU 204,9,314 Outra falta de respeito é pedir para beber quando algum
dos convidados está sendo servido. Havendo somente uma
pessoa que atende, não se deve solicitar bebida até achar
que ninguém mais vai pedi-la e todos tenham terminado
de beber; melhor ainda, se possível, é aguardar a sua vez, a
menos que o dono da casa mande servi-la.
É falta de cortesia aceitar bebida ou pedi-la do lado de pessoa
que se deve honrar; neste caso, o correto é segurar o cálice e
se deixar servir do lado oposto.
RU 204,9,315 Quando alguém é servido de bebida, deve enxugar os dedos
com o guardanapo e, depois, tomar o copo pela base e não

53
O cerimonial usado supõe que os convivas, depois das pessoas mais honoráveis,
bebam todo o conteúdo do copo, e pouco após terem sido servidos.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 399

na altura do meio; deve igualmente tomar cuidado para que


não lhe seja dado mais do que pode beber de uma vez, e que
o cálice não fique tão cheio que haja perigo de que algo da
bebida se derrame sobre a toalha ou a roupa.
RU 204,9,316 Antes de beber, é preciso enxugar a boca com o guardanapo
e nunca se deve beber antes de haver tomado o cozido;
muito menos permitido é fazê-lo enquanto este é tomado;
inclusive, não é de bom tom beber logo depois de o tomar;
deve-se aguardar haver comido algo de outros pratos.
RU 204,9,317 A boa educação requer que a boca seja bem enxugada com
o guardanapo e completamente esvaziada antes de se beber,
para não se engordurar o copo, o que seria muito desasseado.
Da mesma forma, é muito descortês beber de boca cheia, ou
antes de terminar o que se está comendo.
Deve-se, igualmente, evitar falar por longo tempo de copo
na mão; é preferível não falar desde que se encheu o copo
até que se tenha bebido. Não é menor falta de educação ficar
examinando com atenção o que se vai beber, e, pior ainda,
experimentar o vinho antes de bebê-lo e tratar de dar sua
opinião sobre o mesmo.
RU 204,9,318 É muito melhor beber simplesmente, sem cerimônia, pois
não é de boa educação aparentar que se é entendido em
vinhos.
Ao beber, pode-se inclinar um tanto a cabeça, para não
derramar nada sobre si mesmo, voltando, porém, a erguê-
la em seguida. O melhor, contudo, é mantê-la sempre ereta
enquanto se consome a bebida.
RU 204,9,319 Não se deve beber nem lentamente demais, como quem está
sorvendo, ou saboreando com prazer o que está engolindo,
nem com exagerada pressa, como fazem os escravos dos
sentidos. Ao contrário, é preciso beber lenta e tranquilamente,
embora de uma só tragada, sem reiniciar a respiração, e não
em várias vezes.
Ao beber, deve-se fixar o olhar no copo e sempre tomar tudo
o que está nele sem deixar nada.
400 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 204,9,320 A cortesia não permite beber de cabeça descoberta; ao fazê-


lo, deve-se estar sempre coberto. A boa educação tampouco
tolera que, durante esse tempo, se divague com os olhos,
e se fique olhando de um lado para o outro. Não se deve
tirar o olhar do copo, nem fazer ruído com a garganta, possi-
bilitando, assim, a contagem dos goles tomados.
RU 204,9,321 Depois de haver bebido, é descortês soltar grande suspiro
para retomar a respiração. Ao terminar de beber, é necessário
evitar qualquer ruído, mesmo com os lábios. E, assim que se
terminou, deve-se enxugar a boca, como se deve ter feito
antes de beber.
É muito descortês fazer escorrer até as últimas gotas da jarra
e sorver o restinho do copo. Importa, outrossim, cuidar de
não beber demais vezes e de não tomar vinho puro. A boa
educação requer que sempre se misture boa quantidade de
água com o vinho.
RU 204,9,322 Não é educado beber enquanto alguém, a nosso lado, o está
fazendo e, muito menos, enquanto a pessoa mais importante
do grupo tem o copo na mão; deve-se aguardar que eles
terminem de beber.
RU 204,9,323 Se, no momento em que se deveria responder a um superior,
este leva o copo à boca, deve-se aguardar que tenha bebido
para continuar a falar. O mesmo cumpre observar quando
uma pessoa, seja quem for, está bebendo, e nunca se lhe
deve falar então.
RU 204,9,324 Oferecer a alguém um copo com vinho que já se provou é
algo muito indelicado.
Brindar a uns e a outros para obrigá-los a beber mais é prática
que cheira a taberna e que, de forma nenhuma, é praxe
entre pessoas bem educadas. Aliás, nem se deveria beber
facilmente à saúde uns de outros, a menos que se esteja com
os amigos mais próximos e se brinde para expressar amizade
ou reconciliação. As crianças, principalmente, não devem
brindar a ninguém, a menos que sejam convidadas a fazê-lo.
RU 204,9,325 Ninguém, seja quem for, deve brindar a pessoa de posição
muito superior à sua; e, se algumas vezes isso é permitido,
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 401

o correto não é dirigir-se diretamente à pessoa a quem se


brinda, dizendo, por exemplo, “Senhor..., à sua saúde”, mas
a uma outra, dizendo: “Senhor, brindamos à saúde de F…”
Muito mais descortês ainda é acrescentar o sobrenome da
pessoa importante, ou o título correspondente a sua condição,
dizendo, ao falar a ela mesma, ou ao beber à saúde de sua
mulher ou de alguém de seus parentes: “Senhor, à saúde da
Senhora, sua esposa, sua irmã, do Senhor seu irmão”. Deve-
se nomear a mulher por sua posição ou pelo sobrenome do
marido e os outros, quer pelo sobrenome, ou por algum
cargo, se o tiverem, dizendo, por exemplo: “À saúde da
Senhora Louvier, do Senhor Presidente, ou Conselheiro”.
RU 204,9,326 Quem bebe à saúde de outra pessoa presente deve inclinar-
se muito educadamente para ela. Quem é homenageado com
o brinde deve agradecer a quem brindou inclinando-se mais
ou menos conforme requer a posição daquele que lhe faz
essa deferência, e beber, em seguida, à saúde daquele que
brindou à sua, inclinando-se um pouco, sem descobrir-se.
RU 204,9,327 Se pessoa de alto nível social brinda à saúde de outra de
condição inferior, esta deve ficar descoberta, inclinar-se um
pouco sobre a mesa até que a primeira tenha acabado de
beber e, de modo algum, responder-lhe bebendo à sua saúde,
a menos que lho dê a entender. Isso, porém, deve ser feito
tão-somente se a pessoa que brinda não for muito superior
em dignidade à outra.

RU 204,10,328 Artigo 10º


Do levantar-se da mesa, e do modo de a servir e limpar
Não se deve esperar até se ter o estômago repleto para parar
de comer; e, como a civilidade pede que se coma com mode-
ração, também requer não se coma até ficar totalmente farto.
As crianças sempre devem sair da mesa por primeiro,
descobrindo-se e fazendo uma inclinação.
RU 204,10,329 Quando se é obrigado a levantar da mesa e a sair antes dos
outros, somente se deve fazê-lo de cabeça descoberta; e,
caso se for dependente ou doméstico, não se deve sair sem
402 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

recolher pessoalmente ou sem que alguém outro recolha seu


prato, de aspecto não conveniente.
RU 204,10,330 Se acontecer que, terminada a refeição, alguma pessoa à
qual se deve consideração continuar à mesa, comendo,
quem estiver sozinho com ela e for o único com quem ela
possa conversar – sobretudo se não for seu dependente ou
doméstico – deve, por cortesia e respeito, permanecer à
mesa, para fazer-lhe companhia até que ela se levante.
RU 204,10,331 Os que servem à mesa devem ter as mãos muito limpas e a
cabeça sempre descoberta. A primeira coisa que lhes cabe
fazer é estender corretamente a toalha sobre a mesa, colocar
em cima dela a saleira e, depois, os pratos e, sobre eles, o
pão, cobrindo-o cuidadosamente com guardanapo. Isso a
não ser que se usem tigelas para o cozido, pois, neste caso,
deve-se colocar as tigelas nos pratos, e a faca, a colher e o
garfo à direita destes, embaixo do pão, e o guardanapo por
cima dele.
RU 204,10,332 Depois se deve lavar os copos e colocá-los sobre o bufê ou
mesinha coberta com um pano limpo, de tal maneira que não
possam ser dispostos facilmente de outra maneira. Quando
for a hora de servir, sempre se deve ter cuidado para que
todo o necessário, como sal, pão e pratos para servir o pão,
esteja bem limpo e bem arrumado sobre a mesa ou o bufê.
RU 204,10,333 Em seguida, trata-se de oferecer o necessário para lavar as
mãos, levantando leve e obsequiosamente o jarro, com a
toalha dobrada no sentido longitudinal sobre o ombro es-
querdo e segurando a bacia por debaixo, com o braço e a
mão esquerdos, exceto se ela já estiver sobre algum outro
suporte.
Derrama-se a água, primeiro, sobre as mãos da pessoa mais
importante presente; depois, sobre as dos outros, de acordo
com a categoria e a condição de cada uma; e, algumas
vezes, sem ordem nem distinção entre elas. Isso deve ser
feito sempre que se tratar de pessoas de condição não muito
diferente.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 403

RU 204,10,334 Um dos primeiros cuidados a ter ao pôr a mesa é enxugar bem


a parte debaixo das travessas, particularmente a do cozido,
para que não sujem a toalha, e colocá-las de forma tal que
cada pessoa, quando precisar, possa facilmente alcançá-las
com a colher ou o garfo.
O pão tem que ser oferecido sempre num prato ou, se não
houver prato limpo, no bufê, sobre um guardanapo; e nunca
se deve fazê-lo com a mão, nem servi-lo do lado da pessoa
mais importante.
RU 204,10,335 Os que servem devem estar sempre prontos para alcançar o
que for pedido e, para isso, é necessário que estejam todo o
tempo atentos à mesa e não se afastem dela.
RU 204,10,336 Para servir, especialmente a bebida, deve-se estar descoberto.
E, ao fazê-lo, segura-se o copo pela parte inferior com a mão
esquerda, ou a xícara, pela alça, e não com toda a mão, ou
tocando a borda com os dedos.
Igualmente se deve sempre colocar vinho no copo antes
de oferecê-lo, e depois, fazendo como se o beijasse, verter
cuidadosamente água com o jarro ou pote, segurando-o com
a mão direita, e parando de derramá-la só quando a pessoa
que a quer beber levante o copo, dando a entender que já é
suficiente.
RU 204,10,337 A cortesia requer servir bebida só depois de o cozido ter
sido retirado e as pessoas haverem comido algo dos demais
pratos por algum tempo. Quer também que, invariavelmente,
se comece oferecendo a bebida à pessoa mais importante
entre os presentes.
A polidez exige, outrossim, apresentar a bebida sempre do
lado da pessoa a que se atende; se, contudo, houver várias
pessoas à mesa, não se deve servir nada ao lado da mais
graduada, exceto se for absolutamente impossível proceder
de modo diferente.
RU 204,10,338 Quando, ao servir vinho, se verteu demais no copo, o corre-
to não é recolocá-lo no pote ou na garrafa e, sim, em outro
copo. Se, pelo contrário, não se tiver vertido suficiente,
deve-se acrescentar tanto quanto a pessoa servida desejar.
404 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 204,10,339 Ao servir bebida a alguém fora das refeições, depois de lhe


haver entregue o copo, deve-se segurar debaixo deste um
guardanapo ou um prato, para impedir que alguma gota lhe
caia na roupa.
Depois que a pessoa tiver bebido, deve-se receber dela o
copo, como que beijando-o e, ao mesmo tempo, apresentar-
lhe um guardanapo dobrado para enxugar a boca. Coloca-se
também um prato limpo sob o copo quando as pessoas de
alta categoria bebem durante as refeições.
RU 204,10,340 As pessoas que desejam comer conforme a prática correta
trocam de prato ao menos duas vezes – uma, depois de
tomado o cozido, e outra, para a sobremesa – e, na janta,
somente para a sobremesa.
Nas casas de pessoas de elevada condição e nos banquetes,
ordinariamente trocam-se todos os pratos em cada serviço, e
sempre há pratos limpos no bufê para substituir o de pessoas
que o possam necessitar. Também é bom trocar o prato
quando nele há demasiados restos.
RU 204,10,341 Os que servem e trocam os pratos devem começar pela
pessoa mais qualificada presente e prosseguir fazendo-o
com todas as demais, entregando a cada uma prato limpo à
medida que vão retirando os outros da mesa.
RU 204,10,342 Estando à mesa, importa guardar grande reserva e não
olhar fixamente nem os que estão comendo, nem os ali-
mentos. Deve-se, igualmente, cuidar que nunca falte nada
aos que estão à mesa, e estes não se vejam obrigados a
solicitar repetidas vezes bebida. Por isso, quem serve há
de estar muito atento, observando se nada lhes falta e ser
rápido em atendê-los.
RU 204,10,343 É contrário à boa educação tirar os pratos enquanto alguém
ainda está comendo. É necessário aguardar que se faça sinal
de retirá-los, quer afastando-os, quer de outra maneira.
Outrossim, não se pode retirar prato algum sem substituí-lo
por outro, pois não assenta bem que a mesa fique vazia, a
não ser no fim da refeição.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 405

RU 204,10,344 Não se deve empilhar os pratos para recolhê-los mais facil-


mente, sobretudo quando neles ainda há comida e não estão
completamente vazios.
Tampouco se deve juntar num só o que possa ter sobrado
em vários, a fim de poder levá-los todos de uma vez. O certo
é retirá-los todos um depois do outro, de maneira a não se
carregar mais que dois por vez.
RU 204,10,345 Ao retirar as travessas da mesa, sempre se há de começar
com as que estão diante da pessoa que ocupa o primeiro
lugar entre os comensais e iniciar também por ela a recolher
os pratos, que devem ser trocados assim que as travessas
tiverem sido levadas.
RU 204,10,346 Deve-se limpar completamente a mesa somente depois de
se haver dado graças a Deus. Ao fazê-lo, é indicado colocar
numa cestinha facas, garfos e colheres, bem como os pedaços
de pão que tenham sobrado.
É algo vergonhoso esconder então carne, vinho ou outra
coisa para comê-los ou bebê-los às ocultas.
A última coisa a retirar é o sal, e depois de haver recolhido
a toalha, deve-se cobrir com outra a mesa, a não ser que esta
deva ser também retirada.
RU 204,10,347 Depois que se tiver recolhido tudo, ter-se-á o cuidado de
varrer cuidadosamente as migalhas e outras coisas que tive-
rem caído da mesa. Em seguida, deve-se ajeitar a lareira, se
for inverno, e retirar-se com uma reverência.
Se alguém está encarregado de acompanhar os comensais
com a vela, a levará posta no candelabro, que segurará com
a mão direita, tendo o chapéu na esquerda e iluminando as
pessoas enquanto caminha à frente delas.
RU 204,10,348 É grande falta de educação apagar a vela na presença dos
convidados. A cortesia requer que isso nunca seja na pre-
sença e à vista dos outros. Deve-se cuidar, igualmente, que o
círio não fumegue.
Mais descortês ainda é espevitar a vela com os dedos; sem-
pre se deve fazê-lo com a espevitadeira, retirando a vela de
cima da mesa.
406 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 205,0,349 Capítulo 5º
Das diversões
As diversões são exercícios aos quais se pode consagrar
algum tempo do dia, para descansar a mente das ocupações
sérias e o corpo, dos trabalhos fatigantes que a uma e a outro
são entregues durante o dia.
RU 205,0,350 É muito justo tomar algumas vezes um descanso: o corpo
e o espírito necessitam dele. Deus nos deu exemplo disso
já no começo do mundo, quando, segundo a expressão
da Escritura, descansou54 todo um dia depois de haver
trabalhado, sem parar, seis dias inteiros na grande obra da
criação do mundo. Também Nosso Senhor convidou os
Apóstolos a descansarem com Ele, depois de retornarem
dos lugares a que os havia enviado para pregarem neles o
Evangelho55.
RU 205,0,351 Ocorre, com frequência, que as pessoas se entregam a
diversões ou ferindo a própria consciência, ou em detrimento
dos outros, ou violando em algum ponto as regras da civi-
lidade, quer divertindo-se com modalidades não permitidas
pela boa educação, quer entregando-se a elas de maneira
pouco honesta, ou mesclando-as com algo descortês ou
inconveniente. Por essa razão, parece necessário expor aqui
os diferentes tipos de diversões de que se pode usufruir e
informar, depois, sobre o modo como se pode, com elas,
ocupar educadamente o tempo.
Os lazeres possíveis são: recreação, jogo, canto e passeio.
Aqui se tratará dessas quatro coisas, uma depois da outra, e
da maneira de as fazer bem.

RU 205,1,352 Artigo 1º
Da recreação e do riso
A boa educação e a conveniência pedem recrear-se todos os
dias um pouco, após as refeições, com as pessoas com que

54
Gn 2,2 e 3.
55
Mc 6,31.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 407

se vive e se come, não sendo cortês retirar-se logo depois de


levantar da mesa.
RU 205,1,353 A recreação se passa ordinariamente em conversa amena
e em fazer relatos bem-humorados e agradáveis, que pro-
vocam o riso e divertem os presentes. Contudo, deve-se
tomar muito cuidado para que esse tipo de conversa não
tenha nada de vulgar e não denote má educação, mas seja
realçado por modo de expressão que imprima brilho, beleza
e agrado à sua simplicidade.
RU 205,1,354 O Sábio diz que há um tempo para rir56, que é precisamente
o tempo que segue a refeição, pois, além de não ser bom
ocupar-se com atividades sérias imediatamente após a
comida, ficar alegre e desocupado logo depois dela é algo
que ajuda muito a digestão.
Nunca é permitido rir à custa dos outros: o respeito devido
ao próximo exige que jamais alguém se divirta com algo que
possa magoar seja a quem for.
RU 205,1,355 Há, principalmente, três coisas das quais nunca se deve rir:
as referentes à religião, as palavras ou ações desonestas, as
deficiências dos outros ou algum infortúnio que lhes tenha
acontecido.
RU 205,1,356 Quanto às coisas atinentes à religião, fazer delas objeto de
riso e diversão constituiria libertinagem e impiedade. Um
cristão deve, em toda oportunidade, manifestar estima e
veneração por tudo o que se relaciona ao culto de Deus. Por
isso, deve-se evitar cuidadosamente fazer das palavras da
Sagrada Escritura objeto de riso, como fazem alguns.
Nunca se deve ter essas Palavras na boca a não ser por espírito
cristão e para se animar à prática do bem e da virtude.
RU 205,1,357 A boa educação requer que se tenha grande horror a tudo
o que, por mínimo que seja, lembre a impureza; longe de
permitir que as pessoas riam e se divirtam com esse assunto,

56
Ecl 3,4.
408 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ela nem sequer permite que se manifeste agrado com qual-


quer coisa referente a ela.
Os que riem de coisas dessa natureza manifestam que vivem
mais conforme o corpo que segundo o espírito, e que têm
coração completamente corrompido.
RU 205,1,358 No que se refere às deficiências alheias, estas são, ou natu-
rais, ou contraídas. Se naturais, é indigno de um homem de
bom senso e boa educação rir delas e com elas se divertir
porque, aquele que as tem, não as causou, nem depende dele
não tê-las, e porque a qualquer pessoa poderia ter acontecido
ter uma delas.
Se as deficiências forem adquiridas, seria completamente
contra a caridade e o espírito cristão tomá-las como objeto
de diversão, uma vez que tal caridade e espírito, antes que
levar a divertir-se com elas, levam a ter compaixão delas e a
ajudar seus portadores a corrigi-las.
RU 205,1,359 Não é menos contra a boa educação rir e divertir-se com
algo desagradável ocorrido a alguém, pois, com isso, se
manifestaria claramente sentir prazer com o acontecido,
quando tanto a caridade quanto a cortesia devem mover
partilhar tanto o que pode penalizar os outros como o que
lhes é agradável.
RU 205,1,360 É falta de cortesia rir depois de haver dito um gracejo e ficar
observando os demais para ver se riem do que se disse, pois
isso indica que se acredita ter falado maravilhas. Tampouco
se deve rir quando alguém diz alguma coisa inconveniente
ou fora de propósito. Rir de tudo o que se vê e se ouve é
assemelhar-se aos néscios.
RU 205,1,361 Não se deve tomar a liberdade de rir em qualquer momento e
oportunidade. Por exemplo, não se deve rir enquanto se fala,
ou quando há motivo de sentir dó. Outrossim, a civilidade o
proíbe em certas ocasiões em que ao menos se deve parecer
sério, como no falecimento de algum parente do qual se é
herdeiro, porque poderia parecer que se está alegre com o
fato de ele ter morrido.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 409

RU 205,1,362 A cortesia não quer, portanto, que se ria sem motivo razoá-
vel para fazê-lo. Estabelece igualmente regras acerca do
modo de rir e nunca permite que se ria muito ruidosamente
e, menos ainda, que se ria de maneira tão descontrolada e
mal educada que se perca a respiração, e se chegue a fazer
gestos inconvenientes. Somente pessoas de reduzido bom
senso e de pouca educação são capazes disso: porque é
próprio do néscio, diz o Eclesiástico, levantar a voz ao rir,
enquanto o sábio apenas sorri57.

RU 205,2,363 Artigo 2º
Do passeio
O passeio é prática aprovada pelos usos, que muito contribui
para a saúde do corpo e que torna a mente mais disposta às
suas atividades específicas. Torna-se diversão quando asso-
ciado a conversas aprazíveis.
Ordinariamente, durante o passeio, observa-se alguma for-
malidade quanto ao lugar a ocupar, sendo que o de honra é
devido à pessoa mais qualificada do grupo.
RU 205,2,364 Contudo, aquele a quem se faz a honra de oferecê-lo, não
deve aceitá-lo a não ser que sua condição seja muito superior
à dos outros, e só deve fazê-lo depois de haver saudado o
grupo, como para agradecer a deferência que lhe foi feita.
RU 205,2,365 É muito descortês alguém ocupar, por iniciativa própria,
o lugar de honra, a não ser que sua condição seja muito
superior à dos demais. Quando os que passeiam juntos
são pessoas de nível social mais ou menos igual, devem,
ordinariamente, tomar lugar indistintamente, à medida que
se vão encontrando.
RU 205,2,366 Quando são três ou mais os que passeiam, o lugar que se
deve dar à pessoa mais importante é o do meio; o da direita
é o segundo e o da esquerda, o terceiro. E se forem de con-
dição igual, podem alternar de lugar a cada trecho do pas-

57
Eclo 21,23.
410 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

seio: quem estava no centro passa para o lado, deixando que


um dos acompanhantes tome seu lugar.
RU 205,2,367 Num jardim e outros locais, com relação aos quais não há
nada determinado pelo costume, o segundo lugar é o da
direita da pessoa à qual se honra. Se alguém está só com
outra pessoa, coloca-se à sua esquerda, tomando o cuidado
de permanecer neste lado cada vez que se der a volta, sem,
todavia, aparentar afetação.
RU 205,2,368 Dentro do quarto, o lugar de honra é aquele em que está a
cama, se a disposição do local o permitir; do contrário, o
critério de posicionamento é a porta, que corresponde ao de
menor nível.
Na rua, o lugar de honra é o lado da parede. Mas se as pes-
soas forem três, o primeiro lugar é o do meio; o da parede, o
segundo, e o outro lado, o terceiro.
RU 205,2,369 Os que passeiam devem sempre caminhar devagar, um ao
lado do outro, especialmente se forem em pequeno número
e sua qualidade mais ou menos do mesmo nível; porque,
se entre os que passeiam, uma das pessoas for muito mais
importante que as demais, a cortesia requer que se caminhe
um pouco atrás dela, como sinal de deferência, mas de tal
forma que se possa ouvi-la e falar-lhe facilmente.
RU 205,2,370 Ao passear com alguém, não é cortês aproximar-se tanto
a ponto de tocá-lo; e é ainda muito mais descortês dar-lhe
cotoveladas. Tampouco se deve ficar tão face a face com
seu interlocutor, que se lhe impeça o caminhar, ou que se
moleste aos demais.
RU 205,2,371 No fim de cada ida do passeio, a pessoa mais importante
deve iniciar a volta em primeiro lugar, sempre com o rosto
voltado para a mais grada depois dela, ou para quem está
falando ou, alternadamente, ora para a direita, ora para a
esquerda. De acordo com a cortesia, é correto que ela pro-
ceda assim caso as pessoas a seu lado sejam de condição
mais ou menos igual; todos os demais devem voltar-se pelo
lado daquele que está no meio.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 411

RU 205,2,372 Se as pessoas que passeiam forem apenas duas, cada uma


deve voltar-se para dentro, do lado do companheiro e nunca
para fora, porque não o poderia fazer sem dar-lhe as costas,
o que seria totalmente contra a educação.
RU 205,2,373 Se duas pessoas de qualidade muito superior colocarem no
meio delas outra que lhes é inferior, para poderem ouvir
mais facilmente algo que esta lhes tenha a dizer, em cada
inversão do movimento da caminhada, a pessoa inferior terá
o cuidado de voltar-se pelo lado da mais qualificada entre as
duas; e se ambas forem mais ou menos de mesma condição,
tomará cuidado de voltar-se, em cada inversão, ora do lado
de uma, ora do lado de outra. Assim que tiver terminado o
que tinha a falar, deixará o meio e se colocará ao lado, e um
pouco atrás.
RU 205,2,374 Se um lugar exige que se passe um em um, cada qual deve
seguir conforme o lugar que ocupa no grupo, fazendo-se
todos gestos recíprocos de cumprimento; mas, se as pessoas
não se distinguirem por sua condição diferente, caminharão
uma após outra, conforme se encontrem no momento.
RU 205,2,375 Contudo, se o lugar for difícil ou perigoso, alguém dos
menos qualificados pode caminhar à frente para mostrar o
caminho ou testá-lo, sem ferir, com isso as regras da boa
educação.
RU 205,2,376 Ao encontrar outro grupo a passeio, é grande falta de edu-
cação abandonar o seu, porque isso revela ter-se pouquíssi-
ma consideração pelas pessoas com as quais se está e que se
faz muito pouco caso delas.
Ao passear com pessoa de destaque, ou mesmo com outra de
condição igual, ordinariamente não é cortês parar, porque,
além de denotar ares de superioridade, isso, por vezes,
molesta os demais. Contudo, se a pessoa com a qual se pas-
seia para, deve-se parar com ela, tendo o cuidado de não
prosseguir enquanto essa pessoa não o fizer.
412 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 205,3,377 Artigo 3º
Do jogo
O jogo é diversão algumas vezes permitida, mas não se deve
praticá-lo a não ser com muita cautela: é ocupação em que
se pode empregar algum tempo, mas que também deve ser
controlado. É necessária muita precaução para não se deixar
levar nele por alguma paixão desregrada: deve-se manter
a moderação para não se entregar a ele por completo, nem
dedicar-lhe demasiado tempo.
RU 205,3,378 Como é impossível portar-se nele com boa educação sem
essas duas condições, nunca se deve jogar sem elas.
No jogo, é necessário cuidar especialmente para não se
deixar levar por duas paixões: a primeira é a avareza, causa
ordinária da segunda, que é a impaciência e o descontrole.
RU 205,3,379 Os que jogam devem tomar muito cuidado para não fazê-lo
por cupidez, visto que o jogo não foi inventado para ganhar
dinheiro, mas somente para relaxar um pouco o espírito e o
corpo após o trabalho.
RU 205,3,380 Daí resulta não ser de boa educação jogar somas vultosas,
mas quantia pequena, que não enriqueça a quem ganha,
nem empobreça a quem perde, mas sirva para manter a
continuidade do jogo e aumentar a vontade de ganhar, o que
contribui muito para o prazer do jogo.
Grande falta de cortesia é impacientar-se quando, no jogo,
as coisas não saem como se gostaria; mas é vergonhoso
descontrolar-se e, pior ainda, praguejar. É preciso comportar-
se de modo auto-controlado e tranquilo, para não perturbar a
diversão.
RU 205,3,381 Trapacear no jogo é completamente contrário à boa educa-
ção; é, inclusive, um furto. Ganhando, então, é-se obrigado
a restituir, mesmo no caso de ter sido em parte devido à
própria habilidade.
O dinheiro ganho não deve ser reclamado com precipitação:
se alguém não depositou o apostado e perdeu, somente se
lhe deve pedir ou convidá-lo a que deposite o que deve, e
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 413

isso de maneira educada, lembrando-lhe apenas que não o


fez, dessa forma:
RU 205,3,382 “Parece que você esqueceu de depositar o apostado”. Ou, se
o outro perdeu e o jogo continua: “Por favor, queira depositar
duas vezes o apostado”, ou: “Falta tal quantia, que você não
depositou na vez anterior”. Nessas ocasiões, é preciso ter
muito cuidado para não usar formas de falar, como: “Pague,
deposite o apostado!”
RU 205,3,383 Embora se deva manifestar muita alegria, no jogo, já que
não se joga a não ser para divertir-se, é contra a cortesia
manifestar alegria excessiva quando se ganha, assim como
também o é ficar perturbado, amargurado, ou chatear-se
quando se perde. Isto seria sinal de que se joga unicamente
para ganhar dinheiro.
Um dos melhores meios que pode ser utilizado para não
incorrer em algum desses exageros é só jogar tão pouco
dinheiro que nem o ganhar, nem o perder seja capaz de
despertar qualquer emoção intensa nos que jogam.
RU 205,3,384 Igualmente é falta de cortesia cantar ou assobiar durante o
jogo, ainda que sumidamente e entre os dentes. Pior ainda
é tamborilar com os dedos ou os pés, o que, no entanto
acontece, por vezes, aos muito concentrados no jogo.
RU 205,3,385 Surgindo algum desentendimento no jogo, é preciso ter
muito cuidado para não gritar, discutir ou teimar. Se houver
necessidade de firmar o pé com relação a uma jogada,
deve-se usar de muita moderação e cortesia, mostrando
simplesmente, e em poucas palavras, o direito que se pensa
ter, sem sequer mudar nem elevar o tom da voz, por mínimo
que seja.
Quando se perde, é de boa educação fazer o pagamento sem-
pre antes de este ser pedido, porque pagar o que se deve no
jogo sem mostrar mágoa alguma é sinal de espírito generoso
e de pessoa de boa índole.
RU 205,3,386 Nunca se deve participar de jogo com pessoa de condição
muito superior a não ser que esta o ordene. Mas quando
414 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

pessoa de alto posição social obriga alguém de posição


muito inferior à sua a jogar com ela, é preciso que esta
esteja muito atenta para não manifestar nem excitação, nem
vontade de ganhar, porque isto é sinal de mesquinhez de
espírito e de baixo nível.
RU 205,3,387 Mesmo sabendo que à pessoa com que se joga e a quem se
deve respeito lhe custa perder, não se deve abandonar o jogo
ao ganhar, a menos que seja por iniciativa dela ou que ela
tenha recuperado o que havia perdido. Mas ao ser derrotado,
a educação permite desistir do jogo, o que sempre é possível,
independente da pessoa com que se joga.
É cortês manifestar muita satisfação no caso de uma pes-
soa a quem se deve respeito ganhar no jogo, especialmente
quando não se joga pessoalmente, mas apenas se assiste
ao jogo.
RU 205,3,388 É importante abster-se totalmente de jogar quando não se
está disposto a fazê-lo, porque poderiam sobrevir muitas
ocorrências desagradáveis que se devem evitar.
Mas se a pessoa de mau-humor é aquela com a qual se joga,
não se deve externar desagrado nem com palavras, nem com
o modo de agir. Menos ainda, preocupar-se com sua irrita-
ção: o que se deve fazer é tratar de prosseguir tranquilamente
o jogo, como se nada houvesse. A própria prudência e o
bom senso pedem que se leve tudo na esportiva e que nunca
se perca o respeito devido a essa pessoa, nem a calma de
espírito, que é preciso sempre conservar.
RU 205,3,389 É muito descortês rir da falta de habilidade de alguém no
jogo. Se, enquanto se joga, aparecem pessoas de condição
mais elevada que desejem jogar, a boa educação pede que se
lhes ceda o lugar. Jogando-se, em duplas, com uma pessoa de
qualidade superior e esta ganhar a partida, seu companheiro
deve ser muito cuidadoso para não dizer: “Nós ganhamos”,
e sim: “Ganhou, cavalheiro”, ou: “O Senhor ganhou”.
RU 205,3,390 É absolutamente contrário aos bons modos encolerizar-se
durante o jogo. Mas tampouco se pode ser displicente, nem
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 415

deixar-se ganhar por complacência, a fim de não dar à pessoa


com quem se joga a impressão de se estar pouco empenhado
em contribuir a sua diversão.
Podem-se praticar vários tipos de jogos, alguns dos quais
exercitam mais o espírito, e outros, mais particularmente o
corpo.
RU 205,3,391 Os jogos que exercitam o corpo, como pela, jogo da choca,
bola, bolão, peteca, são preferíveis aos demais, inclusive aos
que ativam e ocupam muito o espírito, tais como xadrez e
damas.
Ao praticar jogos que põem em ação o corpo, deve-se
cuidar muito para não fazer contorções físicas ridículas ou
inconvenientes. É preciso, igualmente, estar atento para não
esquentar-se demais e desabotoar ou tirar a roupa ou mesmo
o chapéu, coisas todas não permitidas pela cortesia.
RU 205,3,392 Ao jogar xadrez ou damas, é de bom tom oferecer à pessoa
com que se joga as figuras ou as pedras brancas, ou colocá-
las diante dela ou, pelo menos, ajudá-la nisso ou dispor-se a
fazê-lo, e não aceitar que ela nos dê as figuras ou as pedras
dessa cor, nem que as coloque à nossa frente.
RU 205,3,393 Existem alguns jogos de cartas que, por vezes, é permitido
jogar, como o cento, porque supõem certa habilidade e não
são puramente de azar. Mas há outros, como o breslau, o
lansquiné, o jogo de dados e semelhantes, que são a tal ponto
de azar, que são proibidos não somente pela lei de Deus,
mas também pelas regras de civilidade. Consequentemente,
devem ser considerados como indignos de pessoa educada.
RU 205,3,394 A cortesia também exige que o tempo dedicado ao jogo seja
controlado e que, longe de entregar-se a ele a toda hora, como
fazem alguns, não se jogue nem com demasiada frequên-
cia, nem horas seguidas; porque isso seria transformar em
ocupação algo que, por sua natureza, não passa de cessação
ou interrupção passageira do trabalho, o que não se coaduna
com a sensatez de pessoa comedida.
416 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 205,4,395 Artigo 4º
Do canto
O canto é lazer não somente permitido, mas, até, muito
apropriado, podendo contribuir grandemente a recrear o
espírito de maneira muito agradável e inofensiva, ao mes-
mo tempo.
RU 205,4,396 Contudo, tanto a boa educação como a religião exigem que o
cristão não se permita cantar todo tipo de canções e que tome
especialmente cuidado para não cantar canções indecentes,
nem alguma com letra livre demais ou ambígua.
Numa palavra, é muito indecoroso um cristão cantar melo-
dias que levam à impiedade ou em que se exalta a comida
farta, ou cujas expressões e termos denotam estar-se ufano e
ter-se prazer nos excessos de vinho. Porque, além de o uso
de tais palavras ser de acentuado mau gosto, elas poderiam
contribuir muito para inclinar a tais tipos de desregramentos
– mesmo que ainda não se esteja caindo neles – visto que
as canções fixam o seu conteúdo no espírito muito mais
facilmente que meras palavras.
RU 205,4,397 São Paulo nos indica claramente, em dois textos diferentes
de suas cartas58, que aquilo que os cristãos devem cantar são
salmos, hinos e cânticos espirituais, e que lhes cabe entoá-
los do fundo de seus corações e com fervor, porque encerram
os louvores de Deus.
Estas, com efeito, são as únicas melodias que se deveriam
ouvir nas casas dos cristãos, nas quais o vício e tudo o que
leva a ele não é menos contrário à boa educação do que às
regras do Evangelho, e em que não se deve ouvir qualquer
canção que não leve a louvar a Deus e a praticar o bem e a
virtude.
RU 205,4,398 Esta também era a prática dos antigos patriarcas que não
compunham cânticos a não ser para louvar a Deus ou para
agradecer-lhe algum benefício recebido. Davi, que é autor
de grande número deles, os compôs todos em louvor a Deus.

58
Ef 5,19; Cl 3,16.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 417

A Igreja – que se apropriou deles, que os canta cotidiana-


mente e os põe na boca dos cristãos nos dias em que se
reúnem solenemente para cultuar a Deus – parece convidá-
los a que os cantem também e os repitam em particular, e
aos pais e às mães, que os ensinem aos filhos.
RU 205,4,399 Como estes santos cânticos59 foram traduzidos para o
vernáculo e musicados, qualquer pessoa tem a oportunidade
e a facilidade de poder cantá-los, bem como de os ouvir e
encher o espírito e o coração com os santos sentimentos de
que estão repletos. Bendizer e louvar muitas vezes o Deus de
seu coração também deveria ser grande prazer e deleite para
os cristãos.
RU 205,4,400 O que a cortesia pede dos que sabem cantar ou tocar
algum instrumento é que nunca o deem a conhecer, não
demonstrem sabê-lo e nunca falem disso para angariar-
se, assim, reputação. Mas, se isso vier a ser conhecido e
se, nesta oportunidade, pessoa a que se deve respeito ou
deferência pedir que se toque ou cante uma melodia – quer
para mostrar o que se sabe, quer para recrear os presentes
– pode-se gentilmente escusar-se de atendê-la e, em geral,
assim convém fazer. Se essa pessoa, contudo, persiste e
insta, continuar hesitando em cantar ou em tocar o instru-
mento conforme se pede não seria saber viver e portar-se
no mundo. Pois, se acontecer não se cantar perfeitamente
bem ou não se ter habilidade em tocar o instrumento, os
presentes teriam razão de dizer que não valeu a pena fazer-
se de rogado60; em vez disso, aquiescer de modo educado e
sem muitas delongas, deixa a salvo de todas as censuras ou,
pelo menos, não dá motivos para elas.

59
Aqui, trata-se de cânticos bíblicos (salmos). Aliás, sempre postos em destaque
também em outros textos lassalianos (DC1: 405,2,7. DC 3: 10,3,1. DC3:
41,1,3). Os utilizados no catecismo e na saída da escola são cânticos espirituais
(GE 14,1,9. RC 20,41).
60
Em outros termos: “Por que não disse logo que não era bom no canto” ou “hábil
para tocar”.
418 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 205,4,401 Quando alguém, dessa maneira, se vê obrigado a cantar num


grupo, deve evitar o tossir e cuspir, assim como louvar-se a si
mesmo, dizendo, por exemplo: “Esta é uma bela passagem;
esta outra, mais bonita ainda; prestem atenção a este final,
etc.” Isso deixa transparecer demais a vaidade e valoração
próprias, e é sinal de querer passar por entendido. Tampouco
é cortês fazer certos gestos que denotam autocomplacência;
os mesmos não devem também ser feitos ao se tocar um
instrumento.
RU 205,4,402 Quando se é convidado, assim, a cantar ou a tocar algum
instrumento, não se deve fazer nem uma nem outra coisa por
longo tempo, por que é preciso evitar tornar-se enfadonho;
é preferível terminar mais cedo, para não dar a ninguém
motivo de dizer ou de pensar que já basta.
RU 205,4,403 Seria incivil dizer isso, caso a pessoa que canta merece
alguma consideração. Outrossim, é grande falta de educação
interromper a pessoa que está cantando
RU 205,4,404 Importa tomar muito cuidado para jamais cantarolar para si
e entre os dentes. Isto é muito descortês, seja em que ocasião
for. Não o é menos arremedar uma pessoa que se ouviu
cantar, quer por cantar nasalado, quer por fazer inflexões
de voz ou ter gestos inconvenientes e desengonçados; isto é
jeito de bufão e farsante.
Também assenta muito mal ter maneiras de cantar vulga-
res, afetadas ou exóticas.
A forma de cantar bem e agradavelmente é fazê-lo de modo
absolutamente natural.

RU 205,5,405 Artigo 5º
Das diversões não permitidas
Há outras diversões das quais não se vai tratar aqui longa-
mente, porque de modo algum são permitidas a um cristão,
nem pelas leis da religião, nem pelas regras de civilidade.
RU 205,5,406 Algumas delas são, em geral, próprias dos ricos: bailes,
danças e comédias. Outras são mais comuns aos artesãos
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 419

e pobres, tais como os espetáculos de charlatães, palhaços,


equilibristas, e marionetes, etc.
RU 205,5,407 Com relação aos bailes, basta dizer que são reuniões nas
quais o proceder não é nem cristão nem bem educado.
Realizam-se de noite, porque parece que se tem a intenção
de ocultar a si mesmo o que ocorre de inconveniente nessas
reuniões, e que se quer passá-las no escuro para ter nelas
mais liberdade para fazer o mal.
Os donos dos locais onde eles se realizam têm a obrigação
inescusável de abrir a porta sem distinção a todas as pessoas,
o que faz com que tais lugares se tornem como ambientes de
má reputação e públicos, onde pais e mães expõem as próprias
filhas a todo tipo de jovens, que entram à vontade nessas
reuniões, ao mesmo tempo que se permitem observar todas
as pessoas que os frequentam, aproximar-se daquelas que
mais lhes agradam, conversar com elas, tirá-las para dançar,
seduzi-las com belas palavras e ter com elas intimidades que
os progenitores teriam vergonha de tolerar em seus lares.
RU 205,5,408 E as jovens, com o luxo e a vaidade que ostentam nos ade-
reços, com o pouco recato nos olhares, nos gestos e em toda
a pessoa, se expõem aos olhos e aos desejos de todos os
que entram nesses bailes, e suscitam nos mais refreados sen-
timentos muito diferentes daqueles que o pudor e o decoro
cristãos deveriam inspirar-lhes.
RU 205,5,409 No referente às danças promovidas em casas particulares
e com menores excessos, elas não são menos contra a boa
educação do que as executadas com mais ostentação nos
bailes; porque, se um antigo pagão disse que ninguém dança
quando está sóbrio, a não ser que tenha perdido o juízo,
que apreciação, então, pode o espírito cristão fazer acerca
desse divertimento que, no dizer de Santo Ambrósio61 serve
unicamente para excitar as paixões vergonhosas e em que
o pudor perde todo o brilho em meio ao ruído que se faz
dançando e entregando-se ao desregramento.

61
Santo Ambrósio, De Virginitate, Lib. 3.
420 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 205,5,410 Este santo Padre diz que as mães que deixam as filhas
dançar são as impudicas e adúlteras e não as castas e fiéis ao
marido. Elas devem ensinar as filhas a amar a virtude e não
a dança, na qual, diz são Crisóstomo62, o corpo é desonrado
por movimentos vergonhosos e indecentes, e a alma muito
mais ainda, porque as danças são o jogo dos demônios, e os
que com elas se divertem e deleitam são ministros e escravos
dos demônios e se comportam mais como irracionais do
que como pessoas, porque nelas se entregam a prazeres dos
brutos.
RU 205,5,411 Embora as comédias sejam consideradas no mundo como
divertimento decoroso, elas não deixam de ser vergonha e
vexame do cristianismo. Com efeito, não têm má reputação
pública os que se entregam a essa ocupação e dela fazem
sua profissão? Pode-se gostar de uma profissão que cobre
de vergonha os que a exercem? Não é ignóbil e desonrosa
essa arte, em que toda habilidade dos comediantes consiste
em excitar em si mesmos e nos demais paixões vergonhosas,
das quais uma pessoa educada só pode ter horror? Quando
nas comédias se canta, o único que se ouve são melodias
próprias a alimentar essas paixões.
RU 205,5,412 Acaso há decência e decoro nos adereços, na nudez e nas
liberdades que se permitem os e as comediantes? Acaso
existe em seus gestos, palavras e atitudes algo que não seja
impróprio não somente para um cristão fazer, mas, inclusive
para ver? Portanto, é inteiramente contra a boa educação
fazer deles seu prazer e diversão.
RU 205,5,413 Os palcos dos charlatães e palhaços, geralmente montados
em praças públicas, são considerados indecentes por todas as
pessoas educadas; de ordinário, somente os artesãos e pobres
se detêm na proximidade deles. Até parece que foi para eles
que o diabo os montou para que, como não possuem recursos
para provarem o veneno que, com o fim de perder as almas,

62
São Crisóstomo, Sermão n. 48, sobre Mateus.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 421

ele oferece nas comédias, possam facilmente saciar-se dele


junto a esses tablados públicos. Para esse fim é que põe a
trabalhar neles palhaços, os treina, os forma e, conforme a
expressão de São Crisóstomo63, serve-se deles como de uma
peste com a qual infeta todas as cidades por que passam.
RU 205,5,414 Assim que esses palhaços ridículos, diz este santo Padre,
proferiram alguma blasfêmia ou palavras desonestas, veem-
se os mais loucos explodirem em risadas, e aplaudi-los por
coisas pelas quais os deveriam lapidar.
RU 205,5,415 Portanto, segundo a expressão desse Padre, é muito ver-
gonhosa a diversão e detestável o prazer sentido em tal
tipo de espetáculos, e os que a eles assistem revelam muita
torpeza de coração e de espírito e pouquíssimo cristia-
nismo.
RU 205,5,416 Num cristão não assenta menos mal assistir a representa-
ções de marionetes, nas quais nada haveria de interessante
e divertido se nelas não se mesclassem palavras tolas ou
desonestas com gestos e movimentos de todo inconve-
nientes. Por isso, pessoa correta só pode considerar esse
tipo de espetáculos com menosprezo, e pais e mães jamais
devem permitir que seus filhos assistam a eles, e devem
persuadi-los a ter-lhes grande horror, por serem contrários
ao que a boa educação e o modo de viver como cristãos
deles exigem.
RU 205,5,417 A cortesia tampouco permite assistir a espetáculos de
funâmbulos que, expondo diariamente tanto a vida como
a alma para divertir os outros, não podem ser admirados
nem mesmo vistos por pessoa razoável, uma vez que fazem
o que deve ser condenado por todos, à luz simplesmente
da razão.

63
São Crisóstomo, Homilia 6ª, sobre Mateus.
422 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 206,1,418 Capítulo 6º
Das visitas

Artigo 1º
Da obrigação que a cortesia impõe de fazer visitas e das
disposições que se deve ter ao fazê-las
Para quem vive no mundo, não é possível deixar de fazer
ou receber visitas, de vez em quando. Trata-se de obrigação
imposta pela cortesia a todos os leigos.
Inclusive a Santa Virgem, embora vivendo recolhida, fez
uma a sua prima Isabel64, e parece que o Evangelho só a
narra pormenorizadamente para que possa servir de mo-
delo às nossas. Também Jesus Cristo, ainda que sem estar
obrigado, fez visitas, em diversas oportunidades, movido
simplesmente pela caridade.
RU 206,1,419 Para saber claramente e discernir em que ocasiões se devem
fazer visitas, é preciso persuadir-se de que, neste assunto,
somente a justiça e a caridade devem orientar a cortesia cristã.
Esta só pode pedir que se façam visitas por necessidade, por
deferência, ou para alimentar a união e a caridade.
Uma ocasião em que a cortesia, fundada sobre a justiça,
requer que se faça uma visita é, por exemplo, quando um
pai tem um filho doente ou um filho está com o pai enfermo.
Neste caso, um e outro são obrigados a visitar aquele que se
encontra doente, tanto para lhe prestar os deveres da piedade
e da justiça cristãs, como para cumprir a exigência da boa
educação.
RU 206,1,420 Quando alguém tem ódio e aversão a outrem, ambos são
obrigados, de acordo com as normas do Evangelho, a se
visitar, para se reconciliarem e passarem a viver em per-
feita paz.
RU 206,1,421 A cortesia cristã se orienta pela caridade nas visitas que se
fazem, quer para contribuir à salvação do próximo, seja de
que modo for, quer para prestar-lhe algum serviço material,

64
Lc 1,39-56.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 423

quer para lhe manifestar deferência, no caso de lhe ser


inferior, quer para alimentar união perfeitamente cristã
com ele.
RU 206,1,422 Nas visitas que fez, Jesus Cristo Nosso Senhor sempre se
orientou por alguma dessas intenções e desses motivos.
Com efeito, ele as realizou ou para converter as almas
a Deus, como na visita a Zaqueu65; ou para ressuscitar os
mortos, como quando foi ter com Santa Marta, depois da
morte de Lázaro66, e à casa do chefe da sinagoga67; ou para
curar um doente, como quando foi à casa de São Pedro68, e
do centurião69, embora fizesse todos esses milagres somente
para conquistar os corações para Deus; ou para manifestar
amizade e bem-querer, como em sua última visita às Santas
Marta e Maria Madalena70.
RU 206,1,423 Portanto, não é permitido a pessoa sensata e ordenada fazer
continuamente visitas, ora a uns ora a outros; pois, o Sábio71
diz que infeliz é a vida de quem vai, assim, de casa em casa
e realiza grande número de visitas inúteis, como fazem
alguns. É perder tempo muito precioso, que Deus nos dá
somente para que o usemos em vista do céu.
Deve-se cuidar para que as visitas feitas não sejam longas
demais, o que é, muitas vezes, enfadonho ou molesto para
os outros.
RU 206,1,424 A respeito das pessoas que se visitam, deve-se ter cuidado
que não vivam no desregramento ou na libertinagem, e que,
ao falar, não manifestem nada que denote impiedade ou falta
de religião. A cortesia não pode tolerar que se mantenha
relacionamento com esse tipo de pessoas.

65
Lc 19,1-10.
66
Jo 11,1-16.
67
Mt 9,23-26.
68
Lc 4,38-39.
69
Lc 7,1-10.
70
Jo 12,1-9.
71
Eclo 29,31.
424 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Ao visitar pessoa a que se deve consideração e deferência, é


preciso tomar o cuidado de colocar roupa limpa e adequada,
por ser isto sinal de respeito. É preciso, igualmente, pensar
antecipadamente no que se lhe vai dizer.
RU 206,1,425 Quem recebe o encargo de transmitir um recado à pessoa
que vai visitar, há de prestar atenção especial ao que lhe
é dito; e, se não o ouvir ou não o compreender bem, deve
dizê-lo gentilmente, pedindo escusas, para que o recado seja
repetido ou fique mais claro. Contudo, a cortesia pede que
se faça o possível para nunca obrigar uma pessoa a repetir o
que disse.

RU 206,2,426 Artigo 2º
Da maneira de entrar na casa da pessoa que se visita
Se, ao visitar alguém, se encontrar a porta fechada, é muito
descortês golpear com força e dar mais de uma batida72.
Deve-se bater levemente e aguardar com paciência que a
porta seja aberta.
RU 206,2,427 Bater à porta de um aposento seria não saber viver e haver-
se no mundo; o correto é fazer nela um pouco de ruído com
as unhas. Se a pessoa não aparecer, é preciso afastar-se, para
não ser apanhado como quem está escutando e espiando, o
que seria muito desagradável e de acentuado mau gosto.
Se ao ser aberta a porta, quem a abre pergunta pelo nome,
deve-se dizê-lo, sem nunca atribuir-se o título de senhor.
RU 206,2,428 Caso a pessoa que se vai visitar é de condição muito superior
e não se encontra na residência, é cortês não declinar o
próprio nome, e dizer que se voltará outro dia.
Se o visitante é totalmente desconhecido da casa a que vai,
é insolência entrar por conta própria, sem ser introduzido
nela; deve-se esperar o convite para entrar, mesmo que a
porta esteja aberta.
Se não houver alguém para fazê-lo, e existindo razões para
crer que se possa tomar a liberdade de entrar, isso deve

72
...com a aldrava, ainda presente em algumas casas antigas.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 425

ser feito sem ruído e sem empurrar a porta com muita


força. Quando se abre ou se fecha uma porta e quando se
caminha, também é preciso ter a precaução de fazê-lo muito
delicadamente e sem ruído.
RU 206,2,429 Depois de abrir a porta, é muito descortês deixá-la aberta;
deve-se ter o cuidado de fechá-la, se não houver ninguém
para fazê-lo.
Enquanto se espera na sala ou na ante-sala, não é cortês
andar caminhando. Em casa de príncipes, isso é, inclusive,
proibido. Pior ainda seria cantar ou assobiar.
RU 206,2,430 A boa educação requer se permaneça de cabeça descoberta
nas salas e ante-salas, mesmo se nelas não houver ninguém.
Em casa de pessoa de condição eminente, deve ter-se o
cuidado de permanecer descoberto e de não sentar-se de
costas para o retrato dela ou de outra pessoa a quem se deva
acatamento.
Seria impolido entrar de cabeça coberta em lugares onde
se encontram pessoas meritórias e dignas de consideração:
sempre se deve tirar o chapéu antes de entrar neles.
RU 206,2,431 Se a pessoa que se visita está escrevendo ou faz alguma
outra coisa, não é cortês interrompê-la, mas é necessário
aguardar que ela mesma suspenda a ocupação. Tampouco
é educado entrar precipitadamente em lugar onde há
várias pessoas reunidas, a não ser que assunto urgente ou
importante obrigue a isso, ou que se possa fazê-lo des-
percebidamente.
RU 206,2,432 Ao entrar no aposento73 de uma pessoa e ela não estiver, não
se deve andar de um lado a outro, nem examinar o que há
nele, mas é preciso sair imediatamente e aguardar na ante-
sala. Se na mesa do aposento houver papéis, escritos, cartas,
ou outras coisas semelhantes, é falta de civilidade curiosear

73
No francês original: chambre, que Littré descreve como “peça da casa,
especialmente destinada ao uso particular de uma pessoa, para nela dormir ou
trabalhar”.
426 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

para ver de que se trata. Deve-se, pelo contrário, desviar o


olhar e afastar-se.

RU 206,3,433 Artigo 3º
Da maneira de saudar as pessoas visitadas
A primeira coisa a fazer ao entrar no aposento de uma pessoa
para a visitar é saudá-la, e fazer-lhe uma reverência. Essa foi
também a primeira coisa feita pela Santa Virgem na visita a
Santa Isabel74, segundo assinala o Evangelho.
RU 206,3,434 Pode-se saudar uma pessoa de três maneiras diferentes. Uma
delas, muito comum, é a que se faz, primeiro, descobrindo-
se com a mão direita, baixando o chapéu com o braço
inteiramente estendido e apoiando-o, voltado para fora,
sobre a coxa direita, enquanto se deixa a mão esquerda
livre; segundo, olhando afável e educadamente para a
pessoa que se saúda; terceiro, baixando o olhar e inclinando
o corpo; quarto, estendendo o pé, quando se quer avançar,
e deslizando-o para frente; ao querer recuar, estendendo o
pé esquerdo para trás; quando se passa ao lado, correndo
o pé para frente, do lado da pessoa que se quer saudar, e
curvando-se e saudando-a alguns passos antes de estar frente
a frente com ela.
RU 206,3,435 Quando se saúda um grupo todo, deve-se adiantar o pé
direito, para saudar a pessoa de mais consideração, e deslizar
o pé esquerdo para trás, para saudar de um e de outro lado os
do grupo todo.
Nunca se deve entrar em lugar algum sem saudar os que nele
estão; e a quem entra compete saudar, por primeiro, os que
estão presentes.
RU 206,3,436 Isto é o que também há de observar quem faz uma visita,
mesmo se a pessoa visitada for de condição inferior: é o que
fez a Santa Virgem com relação a Santa Isabel.
Também quem recebe a visita deve procurar tomar a dianteira
e chegar antes para ser o primeiro a saudar.

74
Lc 1,39-56.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 427

Inclusive se a pessoa que faz a visita é de condição elevada


ou se lhe deve muito respeito, é de boa educação ir recebê-la
à porta ou, no caso de ter sido avisado de antemão sobre sua
vinda, acolhê-la mesmo antes, para testemunhar o respeito
muito grande que se lhe devota. É o que – segundo relata o
Evangelho75 – fizeram as Santas Marta e Maria Madalena
quando Jesus Cristo as visitou para ressuscitar a Lázaro.
Essa foi também a deferência que teve com Ele o centurião,
quando se dirigiu à casa deste para curar-lhe o servo doente.
RU 206,3,437 A segunda maneira de saudar é fazê-lo na conversa. É o
que se chama, ordinariamente, de reverência. É feita sim-
plesmente descobrindo-se e inclinando-se um pouco e des-
lizando o pé (esquerdo) quase imperceptivelmente (para
trás), quando se está de pé.
RU 206,3,438 A terceira maneira de saudar, que é mais rara, se faz quando
alguém vem de longe ou na despedida de alguém que sai de
viagem. Esta saudação se faz como a primeira; mas deve-
se tirar a luva da mão direita, curvar-se respeitosamente e,
após haver baixado a mão até o chão, levá-la delicadamente
quase até à boca como para beijá-la; em seguida, erguer-
se devagar, para não se expor a bater com a cabeça contra
a pessoa que se saúda no caso de esta vir a inclinar-se ou
mesmo a abraçar, por boa educação.
RU 206,3,439 Quem faz esta saudação deve inclinar-se tanto mais pro-
fundamente quanto mais qualificada é a pessoa a que saúda.
Modalidade diferente, não comum, de saudar consiste em
abraçar a outra pessoa, o que se faz levando a mão direita por
cima e a esquerda por baixo do ombro da pessoa saudada,
e ambas as pessoas aproximando-se reciprocamente a face
esquerda, sem a tocar nem beijar.
RU 206,3,440 Outra forma, ainda, de saudar é o beijo que, de ordinário,
somente ocorre com pessoas que têm algum vínculo entre
si ou alguma amizade particular. Era praxe muito frequente
entre os fiéis da primitiva Igreja, para os quais servia de

75
Jo 11,17-21.
428 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

sinal sensível de união muito íntima e de caridade perfeita.


Esta é a forma de saudação recomendada por São Paulo aos
romanos76 e aos demais a quem escreve77.
RU 206,3,441 A reverência que se faz ao saudar alguém não há de ser
demasiado rápida, mas profunda e respeitosa. Será, igual-
mente, feita sem afetação e sem atitude inadequada, como
seria voltar a cabeça contrariado, fazer contorções desa-
jeitadas com o corpo, baixar-se desmesuradamente ou ficar
muito ereto. É fora de propósito fazer uma reverência a cada
palavra que se diz.
RU 206,3,442 É contra a boa educação perguntar a pessoas de condição
superior e indiscriminadamente a qualquer tipo de pessoa,
ao saudá-la: Como vai de saúde? Porque tal pergunta só é
permitida fazer a amigos e a pessoas da mesma condição, a
menos que a pessoa saudada esteja doente.
RU 206,3,443 Entretanto, pessoa de condição superior pode fazê-la a outra
de categoria menos elevada, ou que é seu inferior.
É muito descortês que mulheres e moças saúdem alguém
com a anteface no rosto: sempre devem tirá-la.
Também é grande falta de educação entrar no aposento
de alguém a que se deve consideração, com o vestido
arregaçado, a anteface no rosto ou a touca na cabeça, a não
ser que esta seja transparente.

RU 206,4,444 Artigo 4º
Da maneira de se chegar a uma pessoa que se visita, de
sentar-se e se levantar
Ao entrar no aposento de alguém, e outros estiverem
falando com ele, não se deve chegar perto, mas permanecer
junto à porta até que a conversa tenha terminado, ou que a
pessoa com quem se quer tratar se adiante ou faça sinal de
acercar-se.

76
Rm 16,16.
77
1Cor 16,20. 2Cor 13,12. 1Ts 5,26.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 429

Ao aproximar-se de uma pessoa, seja numa visita, seja num


encontro, é falta de educação gritar-lhe em voz muito alta,
como fazem alguns: “Bom dia, Senhor! Às suas ordens!”
Para falar-lhe, deve-se esperar chegar perto dela e fazê-lo
em tom moderado.
RU 206,4,445 Assim que se entrou, é preciso fazer os cumprimentos
de pé, permanecendo nessa posição até que as pessoas
de condição superior à sua estejam sentadas, porque não
é de bom tom sentar-se ou permanecer sentado enquanto
pessoas a quem se deve respeito estão de pé. Tampouco
é cortês sentar-se antes que a pessoa visitada convide ou
faça sinal para isso.
RU 206,4,446 Se a pessoa visitada for de qualidade eminente ou merecer
muita consideração e respeito, não se deve pôr o chapéu nem
sentar-se sem que ela o diga expressamente. Contudo, nesse
caso, é preciso fazê-lo, manifestando, ao mesmo tempo, por
algum sinal exterior, que se lhe obedece unicamente por
causa da submissão que lhe é devida.
E, ao sentar-se, é necessário ter o cuidado de se colocar em
posição inferior a essa pessoa, ocupando assento de menos
qualidade que o dela, e não tomar lugar nem a seu lado, nem
muito perto dela, mas em outro espaço não tão preeminente,
desde que não face a face, mas um pouco de lado, por ser
isso mais respeitoso. Tampouco se deve olhá-la fixamente
nem aproximar-se demasiado dela, para não expor-se a
tocá-la, ou fazer-lhe sentir o próprio hálito, ou molestá-la de
qualquer outra maneira.
RU 206,4,447 Para que se saiba distinguir e escolher os assentos, é con-
veniente dizer aqui que o móvel mais distinto para sentar
é a poltrona e, entre estas, a preferível é a mais cômoda.
Depois da poltrona, vem a cadeira de encosto e, depois
desta, a reclinável.
Na própria casa, deve-se deixar o primeiro lugar aos iguais;
e fora dela, aceitá-lo somente depois de ser oferecido duas
ou três vezes.
430 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 206,4,448 Ao estar sentado perto do fogo para se aquecer, ou num


banco de jardim, o primeiro lugar é o do meio; o da direita,
o segundo; e o da esquerda, o terceiro.
Numa sala, o lugar mais distinto para se sentar é ordi-
nariamente o do lado da janela, e o menos honroso, o do
lado da porta.
RU 206,4,449 Ao estar num quarto, é muito descortês sentar-se sobre a
cama, especialmente sendo esta de mulher; e em qualquer
ocasião é muito indecoroso e familiaridade intolerável
deitar-se na cama e conversar nesta posição.
Nas visitas e nas conversas, é exigência da cortesia adequar-
se a quem se visita, sem assumir comportamento singular.
E seria completamente contra o respeito devido às pessoas
com quem se está, sentar-se quando elas estão de pé; andar,
quando param; ler e, pior ainda, dormir, enquanto conversam.
RU 206,4,450 Também é sinal de boa educação condescender e acomodar-
se aos demais em tudo o que é permitido conforme a lei de
Deus; porque nunca se pode tolerar que esta seja transgredida
por complacência com quem quer que seja, nem aprovar o
mal que se vê os libertinos praticarem.
Nessas ocasiões, deve-se ou deixar o grupo, ou manifestar,
pela compostura e seriedade do rosto, o desagrado que se
experimenta.

RU 206,5,451 Artigo 5º
Da maneira de se despedir e terminar as visitas
Quando se visita alguém de condição superior ou se percebe
que a pessoa visitada tem alguma coisa a fazer, não se deve
ficar tanto tempo que esta se veja obrigada a pedir que a visita
se retire. Sempre é melhor fazê-lo por iniciativa própria, e
convém sair sem tardar quando a pessoa com que se está fica
em silêncio, chama alguém ou dá algum outro sinal de que
tem algo a fazer alhures.
RU 206,5,452 Não se deve sair sem saudar e sem despedir-se dos presentes.
Contudo, estando-se na casa de pessoa de posição eminente,
e um outro fala a esta logo depois de nós ou ela se ocupa
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 431

com outra coisa imediatamente após haver falado conosco,


convém sair sem nada dizer, e, inclusive, sem ser notado. E,
saindo sozinho, deve-se abrir e fechar a porta delicadamente
sem fazer qualquer ruído, e só cobrir-se depois de a ter
fechado.
RU 206,5,453 Ao sair da casa de uma pessoa que se acaba de visitar, deve-
se procurar que ela não se dê ao trabalho de nos acompanhar.
Entretanto, não se deve recusar com demasiada insistência
essa honra e, caso a pessoa no-la quiser dar, deve-se, durante
esse tempo, permanecer descoberto e depois manifestar-lhe
o reconhecimento, fazendo-lhe profunda reverência.
RU 206,5,454 Se quem faz esta honra é pessoa de condição muito superior,
não se deve impedi-la, pois isso mostraria não se estar muito
persuadido de ela saber o que está fazendo, e alguma vez
poderia acontecer opor-se indevidamente a algo que essa
pessoa normalmente não faria. Deve-se deixá-la ir até onde
lhe aprouver e, ao retirar-se, agradecer-lhe gentilmente,
fazendo-lhe profunda reverência.
RU 206,5,455 Nessa oportunidade, pode-se, contudo, dar a entender, por
algum sinal, de que, se é a nós que se presta esta homenagem,
não pensamos que o seja. E isto se pode fazer prosseguindo
o caminho, sem olhar para trás, ou mesmo voltando-se ou
ficando parado, como para deixar passar a pessoa que nos
acompanha e mostrar, com isso, que se acredita ter ela algo
a fazer em outro lugar.
Se, porém, é evidente que é a nós que essa pessoa faz a
gentileza de nos acompanhar e nos conduzir, então é preciso
simplesmente deter-se, afastar-se para o lado e não sair do
lugar até que ela tenha voltado para seu aposento.
RU 206,5,456 Quando a pessoa visitada leva o visitante até a porta da
rua, este não deve montar o cavalo nem subir na carruagem
enquanto ela estiver presente, mas, antes de fazê-lo, pedir-
lhe que entre na casa. Se ela, no entanto, quiser permanecer,
deve-se ir embora a pé e deixar que a carruagem venha atrás
ou, estando-se a cavalo, conduzi-lo pelas rédeas até que a
pessoa tenha entrado ou desaparecido da vista.
432 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 206,6,457 Artigo 6º
Das visitas que se recebem e da maneira de comportar-se
nelas
Nunca se deve fazer esperar uma pessoa que vem fazer visita,
a não ser que se esteja ocupado com pessoas de posição mais
alta que a do visitante, ou se esteja envolvido em assunto de
interesse público.
É completamente contra a educação deixar esperar alguém
à porta, no pátio, na cozinha, ou num corredor. Caso se
esteja obrigado a fazer esperar por algum tempo, que seja
num lugar adequado, em que a visita tenha possibilidade de
sentar-se, se quiser. Faz parte da boa educação providenciar
para que, se possível, uma pessoa distinta lhe vá fazer sala
durante o tempo em que tem que aguardar.
RU 206,6,458 Deve-se largar tudo para receber a visita. Se esta for pessoa
de condição mais elevada ou com quem não se tem nenhuma
familiaridade, deve-se tirar o chambre, a touca, interromper
a refeição e, caso se use espada, portá-la de lado, ou levar a
capa sobre os ombros.
RU 206,6,459 Assim que se for avisado de que alguma pessoa a quem se
deve muito respeito vem de visita, deve-se ir até a porta, ou,
se ela já entrou, o mais longe que se puder para recebê-la. É
preciso ser o mais deferente possível com ela, introduzi-la
e fazê-la sentar-se no aposento mais bonito e em toda parte
deixá-la ir na frente e ceder-lhe o lugar mais honroso.
Este é testemunho de respeito a dar em casa não somente às
pessoas de mais alta condição, mas também a qualquer outra
que não seja doméstico ou inferior.
RU 206,6,460 Mas, quando se é visitado por pessoa de condição muito
elevada ou muito superior à própria, e esta última manifesta
o desejo de que se omita parte das deferências que se lhe
demonstra, não se há de insistir em continuar com elas. A
cortesia pede que, então, se mostre, pela inteira aquiescência
a essa pessoa, que se está totalmente às suas ordens na
própria casa.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 433

RU 206,6,461 Se alguém, que faz a visita, chega de improviso ao aposento


do dono da casa, este deve levantar-se imediatamente; se
estiver sentado, largar tudo para mostrar-lhe respeito e
abster-se de qualquer atividade até que ela tenha saído; mas,
se estiver na cama, deve ali permanecer.
Em casa, importa ceder o lugar mais honroso, mesmo aos
iguais: não se deve pressionar um inferior a ocupar lugar que
não pode aceitar sem faltar a seu dever.
RU 206,6,462 É falta de educação deixar as visitas de pé; sempre se deve
oferecer-lhes os assentos mais vistosos e cômodos; e se, entre
estes, uns forem mais vistosos e cômodos que outros, os
primeiros, a cortesia exige oferecê-los às pessoas presentes
mais qualificadas. A estas é preciso também prestar-lhes
mais honra do que às demais. É preciso tomar assento menos
honroso que o do visitante e cuidar de não sentar antes que
ele o tenha feito.
RU 206,6,463 Quando alguém chega na hora da refeição e entra na sala,
é de boa educação convidá-lo a comer; mas também é
educado, da parte do visitante, agradecer mui gentilmente,
se a pessoa visitada está à mesa. Tanto um como outro
não devem passar disso: assim como o primeiro não deve
pressionar, o segundo também não deve aceitar a oferta que
lhe é feita.
RU 206,6,464 Nas visitas e nas conversas, especialmente nas visitas rece-
bidas, nunca se deve dar a entender estar aborrecido com
a conversa, perguntando, por exemplo: “Que horas são?”
Contudo, no caso de se ter algo urgente a fazer, poder-se-ia
insinuá-lo habilmente na conversa.
RU 206,6,465 É exigência da cortesia antecipar-se às pessoas com que se
está, especialmente aos visitantes, naquilo em que se lhes
pode prestar serviço. Por exemplo: abrir-lhes as portas ao
saírem; remover o que poderia impedir-lhes a passagem;
afastar uma tapeçaria; tocar a sineta; bater à porta; juntar
algo que se tivesse deixado cair; carregar a luz. E, tratando-
se de pessoa com dificuldade de locomoção, a boa educação
quer que se lhe dê a mão para ajudá-la a caminhar.
434 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Todos devem esforçar-se por se adiantar nestas e em ou-


tras coisas semelhantes; mas a pessoa que é visitada tem
obrigação especial de fazê-lo com o visitante. Se não cum-
prisse esta obrigação, seria tida por muito descortês.
RU 206,6,466 Quando a visita sai da casa, deve-se acompanhá-la para além
da porta. Se ela precisa subir na carruagem, não se deve
deixá-la antes que o tenha feito e, se for mulher, é obrigação
ajudá-la nisso.
RU 206,6,467 Mas funcionário público, como uma autoridade do Estado,
um magistrado, um advogado, um procurador, que esteja
muito ocupado, pode dispensar-se de acompanhar o visitante.
Cabe mesmo ao tato do visitante rogar à pessoa visitada não
sair de seu aposento ou gabinete de trabalho.
RU 206,6,468 Quando se está com várias pessoas e algumas delas saem
e outras não, se quem se retira é mais importante do que
as que permanecem, deve-se acompanhá-lo na saída; se
for inferior, é preciso deixá-lo partir e ficar com as demais,
mas sem deixar de pedir-lhe escusas; se for de condição
igual, convém examinar qual ou quais, tudo considerado,
têm mais direito a nossa consideração ou a quem se deve
mais obrigação e, conforme isso, acompanhar a quem sai ou
permanecer na companhia de quem fica.
RU 206,6,469 Se na casa ficar um menor de idade, especialmente se é de
noite e ele mora longe, é também de boa educação que o dono
não o deixe voltar sozinho, mas o acompanhe pessoalmente
ou o confie a pessoa idônea.

RU 206,7,470 Artigo 7º
Da maneira de se comportar quando alguém chega ao
grupo ou dele se retira
Quando se está reunido com pessoas e chega outra à qual se
deve consideração, sendo esta pessoa de nível social superior
ao daquelas com que se está, deve-se pedir humildemente
autorização ao grupo para ir cumprimentá-la e, depois,
deixar a companhia para ir recebê-la.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 435

RU 206,7,471 Se essa pessoa é de condição inferior, não se deve sair do


grupo, mas contentar-se com se levantar quando ela entra no
lugar onde se está e fazer a reverência ou algum outro sinal
que manifeste nossa boa educação.
Se a pessoa que chega nesta oportunidade merece alguma
deferência, sempre deve interromper-se a conversa, o jogo
ou qualquer outra coisa, e todos têm obrigação de se levantar,
fazer-lhe reverência e permanecer de pé e descobertos até
que essa pessoa se tenha sentado.
A civilidade também exige que se lhe ofereça o lugar de-
vido a sua categoria social, e que se lhe diga, em poucas
palavras, do que se estava falando e o que se fazia antes de
ela chegar. Isso deve fazê-lo o dono da casa ou aquele que
tinha começado o assunto de conversa.
RU 206,7,472 Se a referida pessoa veio para falar com alguém, pode-se
fazê-la entrar; e aquele a quem ela quer falar deve levantar-
se e recebê-la de pé e descoberto, ainda que o recém-vindo
seja um serviçal que deseje falar da parte de uma pessoa à
qual se deve acatamento.
RU 206,7,473 Quando uma pessoa se retira, deixando o grupo, todos
devem levantar-se e abrir-lhe espaço. E depois de o grupo
havê-la cumprimentado de acordo com as exigências de sua
condição, o dono da casa deve pedir aos presentes licença
para acompanhá-la, se ela for de condição superior à das
pessoas que permanecem; caso contrário, somente deve
escusar-se com aquele que sai, sem deixar o grupo. Nem
sempre a boa educação exige fazer companhia a quem se
retira de preferência aos que permanecem.
RU 206,7,474 Ao entrar numa reunião de pessoas ou ao sair dela, não
se deve passar pelo meio do grupo e diante dos que o
compõem, mas, depois de saudar a todos, ir por trás deles, se
possível; mas se isso não for fácil, deve-se cruzar pelo meio,
pedindo desculpas e inclinando-se um pouco para saudar os
presentes.
RU 206,7,475 Quando alguém entra num local em que se encontra um
grupo de pessoas, se estas se levantam e o cumprimentam,
436 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

seu dever é saudá-las e não ocupar o lugar de honra nem o


assento de outrem. Tampouco deve permitir que alguém do
grupo lhe traga uma cadeira; mas deve tomar o último lugar
e, se possível, escolher assento inferior aos ocupados pelos
demais.
Contudo, se obrigado a tomar lugar mais honroso, não deve
recusá-lo obstinadamente, sobretudo se, no grupo, não há
pessoa de condição muito superior à dele.
RU 206,7,476 Quando alguém se retira de um grupo, deve fazê-lo de
maneira muito educada, sem permitir que se interrompa nem
a conversação, nem o que se está fazendo, nem que os outros
se levantem, nem que o dono da casa deixe seu lugar para
acompanhá-lo, exceto quando, cortês e absolutamente, não
o puder impedir.

RU 207,0,477 Capítulo 7º
Da fala e da conversa
Como as pessoas que vivem em sociedade sempre têm
algo a tratar, se veem na obrigação de conversar e falar
muitas vezes umas com as outras. Por isso, a conversa é
uma das coisas sobre as quais a cortesia maior número de
normas prescreve. Ela requer que os cristãos nela sejam
extremamente circunspetos nas palavras;
RU 207,0,478 é o conselho que lhes dá São Tiago em sua carta78. O pró-
prio Sábio quer que essa circunspeção seja tão grande que,
embora saiba o apreço que o mundo tem pelo ouro e a prata,
quer que se prefira o cuidado com as palavras à preocupação
natural dos homens pela preservação de seu ouro e prata,
dizendo que se deve fundir esses metais e fazer deles balança
para pesar as próprias palavras79. E isso, certamente com
razão, pois se, conforme diz o mesmo Apóstolo São Tiago80,
se pode afirmar que um homem é perfeito quando não

78
Tg 3.
79
Eclo 28,29.
80
Tg 3,2.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 437

comete pecado ao falar, também é necessário crer que, se


alguém em suas palavras não comete faltas contra a cortesia,
sabe perfeitamente bem como é preciso viver no mundo e
tem proceder exterior muito sensato e ordenado.
RU 207,0,479 Essa circunspeção a ter nas palavras exige que estas venham
acompanhadas de algumas condições, das quais se vai tratar
no artigo seguinte.

RU 207,1,480 Artigo 1º
Das condições que, segundo a cortesia, devem acompa-
nhar as palavras
A civilidade exige que o cristão nunca profira palavra
alguma que seja contrária à verdade ou à sinceridade,
desrespeitosa com Deus e não caridosa com o próximo,
desnecessária ou inútil, ou dita sem prudência e discrição.
Estas são as condições que a boa educação requer acom-
panhem todas as nossas palavras.

RU 207,1,481 Seção 1ª
(Nas outras divisões deste artigo, o original usa § em vez de
seção)
Da verdade e da sinceridade exigidas pela cortesia nas
palavras
A civilidade não pode tolerar que, em momento algum, se
diga alguma falsidade; requer, pelo contrário que, seguindo
a recomendação de São Paulo81, cada qual diga a verdade
ao falar com o próximo. E, na linha do que pensa o Sábio82,
ela faz com que a mentira seja considerada, no homem,
mancha humilhante, e a vida do mentiroso desonrosa e
sempre acompanhada de vexame83. E, com o mesmo Sábio,
ela requer também que a mentira em que se tenha incorrido
por fraqueza ou ignorância, não deixe de causar vergonha84.

81
Ef 4,25.
82
Eclo 20,26.
83
Eclo 20,28.
84
Eclo 4,30.
438 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 207,1,482 Isso faz com que o Profeta-Rei85, tão bem instruído tanto
nas regras da civilidade quanto na verdadeira piedade, diga
que, se alguém quiser que seus dias sejam felizes, deve
evitar que sua boca profira mentiras. E o Sábio86 quer que
consideremos a mentira como coisa tão detestável, a ponto
de dizer que um ladrão é preferível a um homem que mente
a toda hora, porque a mentira se encontra continuamente
na boca das pessoas desregradas. Pode-se, inclusive, dizer
que basta entregar-se à mentira, mesmo não se tendo outro
vício para, em breve, tornar-se pessoa desregrada, e a razão
disso é a que Jesus Cristo dá quando, com o fim de inspirar
maior horror à mentira, diz que o diabo é o inventor e pai da
mentira87.
RU 207,1,483 Sendo a mentira algo tão vergonhoso, tudo o que a ela se
assemelha, por mínimo que seja, é contrário à boa educação.
Assim, quando alguém nos pergunta ou falamos com
alguém, não é educado dirigir-lhe palavras equívocas e de
duplo sentido. Ordinariamente, nessas ocasiões – quando
parece não se poder falar simplesmente a verdade ou dizer o
que se pensa – é mais cortês desculpar-se delicadamente por
não responder do que ser dúbio nas palavras. Isso porque a
língua ambígua, no dizer do Sábio88, causa grande vexame.
Também é o que são Paulo condena como algo intolerável
nos sacerdotes89.
RU 207,1,484 A circunspeção nas palavras é particularmente necessária
quando alguém nos confiou um segredo. Seria grande
imprudência revelá-lo, mesmo se recomendássemos, a quem
o confiamos, não transmiti-lo a ninguém e se a pessoa que
no-lo contou não nos tivesse proibido comunicá-lo a outros.
Pois, como diz muito bem o Sábio90, quem revela os segredos
do amigo perde toda a confiança e se coloca em situação de
não mais encontrar amigos segundo seu coração.

85
Sl 34(33),13-14.
86
Eclo 20,26-27.
87
Jo 8,44.
88
Eclo 5,17.
89
1 Tm 3,8.
90
Eclo 27,17.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 439

RU 207,1,485 Ele chega a considerar essa falta como muito maior do que
injuriar o amigo, dizendo91 que, depois de uma injúria,
ainda há possibilidade de reconciliação, mas quando uma
pessoa é tão miserável que chega a revelar os segredos do
amigo, já não há esperança alguma de retorno, e seria vã
toda tentativa de reconquistá-la.
RU 207,1,486 Igualmente é grande falta de cortesia usar de fingimento
com pessoa a que se deve respeito. Com um amigo, ser dis-
simulado é sinal de pouca confiança e consideração. E não
é de nenhuma forma cortês usar de falsidade seja com quem
for, servindo-se, para isso, de algum modo de falar ou de
algum termo não compreensíveis sem uma explicação.
RU 207,1,487 Quando em companhia de outros, é de muito mau gosto
falar a uma pessoa em particular e servir-se de expressões
não entendidas pelos demais. O que se diz deve ser sempre
partilhado com todos os membros do grupo. No caso de se
ter algo secreto a dizer a alguém, deve aguardar-se até estar
afastado dos outros ou, se for urgente, retirar-se à parte para
dizê-lo, depois de haver pedido licença ao grupo.
RU 207,1,488 Como acontece amiúde contarem-se novidades falsas, é
preciso tomar extremo cuidado para não espalhar notícias
facilmente, a menos que se saiba serem de fonte segura ou
se tenha muita certeza de que são realmente verdadeiras.
Tampouco nunca se deve dizer de quem se soube as novas,
caso se creia que isso não agradará a quem as contou.
RU 207,1,489 É necessário zelar por tornar-se tão sincero nas palavras,
que se adquira a reputação de pessoa leal e de palavra, com
a qual se pode estar tranquilo e em quem se pode confiar.
Também o Sábio recomenda e considera importante cum-
prir a palavra e ser leal com o próximo92. E nada de mais
honroso para uma pessoa do que a sinceridade e a fidelidade
às promessas, assim como nada a torna mais desprezível do
que faltar à palavra.

91
Eclo 22,27.
92
Eclo 29,3.
440 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 207,1,490 Como é próprio da civilidade ser fiel à palavra dada, é,


igualmente, grande imprudência empenhá-la levianamente
e sem haver bem ponderado previamente se é possível
cumpri-la sem maior dificuldade. Por isso, nunca se deve
fazer promessa sem haver ponderado devidamente suas
consequências e examinado com seriedade se não há razões
para arrependimento posterior.
RU 207,1,491 Se acontecer que os outros não quiserem acreditar no que
se diz, deve-se evitar cuidadosamente ficar pesaroso por
isso e, muito pior ainda, deixar-se levar a impaciência tão
desmesurada, a ponto de dizer palavras ofensivas e fazer
recriminações: porque os que não se persuadem por razões,
muito menos se convencerão pelo arrebatamento.
RU 207,1,492 É vergonhoso para um homem usar de fraudes e trapaças nas
palavras. Os que o fazem expõem-se ao risco de perderem
todo crédito diante das pessoas, e incorrem numa espécie de
infâmia por serem tidos por velhacos.
Como os sonhos, na opinião do Sábio93, não passam de
produção da imaginação, nunca é educado narrá-los, por
bonitos e santos que possam ser. Contá-los é, ademais, sinal
de estreiteza de espírito.

RU 207,1,493 Seção 2ª
Das transgressões que se podem cometer contra a cortesia
ao falar mal da lei de Deus
Pessoas há que se vangloriam de manifestar irreligiosidade
em suas conversas, quer mesclando palavras da Sagrada
Escritura com coisas profanas, quer rindo e divertindo-se
com coisas sagradas e práticas de religião, quer jactando-
se de algum pecado e, por vezes, inclusive, de ações
ignominiosas por eles cometidas. É precisamente deles que
o Sábio94 diz que suas palavras são intoleráveis, por fa-
zerem do próprio pecado objeto de brincadeira e diversão.

93
Eclo 34,1-8.
94
Eclo 27,14.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 441

Seu comportamento também é totalmente contrário às boas


maneiras.
RU 207,1,494 As pragas e blasfêmias estão, outrossim, entre as maiores
faltas que se possam cometer contra as normas da cortesia;
por isso, nos encontros de pessoas, dá-se menos impor-
tância ao praguejador do que a um carroceiro. Ele inspira
tanto horror que o Eclesiástico95 – que expõe, de maneira
admirável, o que se coaduna com as regras da civilidade –
diz que as palavras de quem pragueja muitas vezes fazem
eriçar os cabelos na cabeça e que, a tais palavras horríveis,
é preciso tapar os ouvidos. Para estimular os que praguejam
a abandonarem esse hábito, acrescenta, inclusive, que a
praga não sairá de sua casa, mas que esta sempre estará
cheia do sofrimento que ela lhes há de causar96.
RU 207,1,495 Portanto, em obediência ao conselho do mesmo Sábio97, é
preciso tomar cuidado para não ter constantemente o nome
de Deus nos lábios e não misturar, na conversação, o nome
dos santos, mesmo que seja apenas por pronunciá-lo e sem
má intenção, mas somente por costume; pois, não se deve
pronunciar os nomes de Deus e dos santos com irreverência
e sem motivo justo. E nunca é de bom tom intercalar, na
conversa ordinária, expressões como: Jesus Maria! Ai meu
Deus! Nem sequer são de bom tom certas pragas que não
significam nada, como: “Pardi, Mordi, Morbleu, Jarni”,
etc…98
RU 207,1,496 Tal tipo de palavras nunca há de estar na boca de pessoa de
boa índole; e quando se profere alguma desta natureza na
presença de pessoas a que se deve consideração, perde-se o
respeito que lhes é preciso ter. De acordo com o parecer do
Sábio, não há como justificar-se por praguejar sem causar

95
Eclo 27,15.
96
Eclo23,12-14.
97
Eclo 23,10.
98
Pardi: forma reduzida de Par Dieu (Por Deus). Mordi: forma reduzida de dizer:
Mort Dieu (Morte de Deus). Morbleu: Eufemismo de Mord Dieu – Jasni: Modo
reduzido de Je renie (Dieu): Renego (Deus).
442 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

dano a ninguém, pois – diz ele99 – essa não é escusa que


justifique a praga diante de Deus.
RU 207,1,497 Portanto, conforme recomendação de Jesus Cristo no
Evangelho100, é preciso contentar-se com dizer: Assim é,
ou, assim não é. E quando se quer afirmar alguma coisa,
basta falar: “Com toda certeza, meu senhor, assim é”, sem
acrescentar nada mais.
RU 207,1,498 Não se deve ter menos horror às palavras obscenas do que
ao praguejar. Também elas não são menos contrárias à
civilidade e, muitas vezes, até mais perigosas. São Paulo,
que deseja que os cristãos de seu tempo se comportem
em toda oportunidade educadamente, os alerta, em várias
passagens de suas cartas101, para cuidarem, especialmente,
que de suas bocas nunca saia palavra desonesta, e ordena-
lhes expressamente que a fornicação102 nem sequer seja
nomeada entre eles.
RU 207,1,499 Também é falta de respeito proferir palavras que sejam
contra a pureza, e nunca se deve dizer nenhuma algo livre
a respeito, mesmo que fosse a pretexto de alegrar e divertir
os presentes. Isso porque, no dizer de São Paulo se, ao
falar, quisermos tornar-nos agradáveis aos que nos escutam,
devemos dizer algo edificante103. Nessa matéria, nem a
dubiedade é permitida: ela fere tanto a civilidade como o
pudor. O mesmo se diga de todas as palavras que despertam
ou podem despertar a menor ideia ou imagem indecente.
RU 207,1,500 Portanto, quando há pessoas, num grupo, que proferem
palavras um tanto livres e que ferem o pudor, por mínimo
que seja, é preciso muito evitar de rir; se possível, dar a
impressão de não ter ouvido nada e, ao mesmo tempo,
levar a mudar de conversa. Se isto é impossível, deve-se

99
Eclo 23,14.
100
Mt 5,37.
101
Ef 4,29. Tg 3,10-12.
102
Ef 5,3.
103
Ef 4,29.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 443

expressar, por atitude séria e profundo silêncio, que tal tipo


de conversa desagrada muito.
RU 207,1,501 Pode-se igualmente dizer que uma pessoa, por esse tipo de
conversa, revela o que é, pois a boca, diz Jesus Cristo, fala
da abundância do coração104. E, portanto, proferir palavras
indecentes e que ofendem a honestidade é querer passar por
impudico e libertino.

RU 207,1,502 Seção 3ª
Das transgressões que se podem cometer contra a civili-
dade faltando, por palavras, contra a caridade devida ao
próximo
A civilidade é tão cuidadosa no que se refere ao próximo,
que não permite ofendê-lo no mínimo que seja. Por isso,
nunca tolera que se fale mal de alguém.
RU 207,1,503 Também São Tiago105 alerta os primeiros cristãos de que isso
é contra a lei de Deus, ao dizer que falar mal de seu irmão é
falar mal da lei. Portanto, é muito descortês encontrar todo
dia algo a censurar na conduta dos outros. Se não se quer
falar bem deles, deve-se calar. O Sábio106 ordena que, quando
alguém fala mal de outra pessoa, se tapem os ouvidos com
espinhos: quer mesmo tal distanciamento da maledicência
que não se escute uma língua maldosa.
RU 207,1,504 Não quer se conte a alguém o que outro disse dele107: e
chama a atenção para que se tome muito cuidado de não
ter essa reputação108, pois, diz ele, o semeador de mexericos
será odiado por todo o mundo109. Portanto, conforme
o conselho do mesmo Sábio, para agir como pessoa bem
educada, quando se ouve uma palavra contra o próximo,
deve-se guardá-la consigo110.

104
Mt 12,34.
105
Tg 4,11.
106
Eclo 28,28.
107
Eclo 19,7.
108
Eclo 28,30.
109
Eclo 21,31.
110
Eclo 19,10.
444 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 207,1,505 Ao ouvir falar mal de alguém, a civilidade requer que se


escusem seus defeitos, se procure dizer algo de bom dele, se
interprete positivamente o que dele se diz e que se valorize
alguma ação que tiver feito. Esse é o meio de se atrair a
estima dos outros e de agradar a todos.
RU 207,1,506 É muito descortês falar em detrimento de alguma pessoa
ausente diante de outra com os mesmos defeitos dela. Por
exemplo, dizer que alguém tem cabeça pequena111 diante
de pessoa com cabeça pequena, ou que alguém é capenga
diante de pessoa que manca. Palavras desse tipo ofendem
tanto os presentes como os ausentes. Muito mais desedu-
cado ainda é depreciar alguém por uma deficiência natural:
isso é próprio de espírito vil e mal educado.
RU 207,1,507 Também é muito descortês usar a pessoa com quem se fala
como termo de comparação para referir-se a algum defeito
ou algum infortúnio ocorrido a outra, como, por exemplo,
dizer: “Este homem está tão bêbado como você estava
naquele dia”. “Fulano apanhou um soco ou tabefe tão forte
como o que você levou faz algum tempo”. “Beltrano caiu
numa poça de água como você outro dia”. “O cabelo de
sicrano é ruivo que nem o seu”. Falar assim é ofender muito
a pessoa a quem se fala. Tampouco se deve falar das im-
perfeições visíveis, como as que aparecem no rosto; e não
se deve perguntar de onde elas vêm.
RU 207,1,508 É mesmo ofensivo atribuir inconsideradamente uma ação
fora de propósito, inconveniente ou descortês à pessoa a
quem se fala. Não se deve aludir a ela, como, por exemplo
dizendo: “Se você falar alguma coisa deselegante, vão dar-lhe
uma palmada”, em vez de expressar-se assim: “Há pessoas
que, quando se lhes diz alguma coisa deselegante, dão uma
palmada”.
RU 207,1,509 Também é grave descortesia, bem como falta de caridade
com o próximo, recordar a alguém certas situações desa-

111
“Petite tête” (cabeça pequena), significando também, em francês, “curto de
ideias”.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 445

bonadoras, ou dizer coisas que podem causar mal-estar


ou constrangimento na pessoa a quem se fala, como dizer
cruamente a alguém: “Faz algum tempo, você caiu numa
sórdida pocilga”. “Há alguns dias você foi gravemente
ofendido”. Ou, ao falar a pessoa que faz questão de parecer
jovem, dizer que ela é conhecida de há muito; ou a uma
mulher, que está pálida112.
RU 207,1,510 Uma das coisas que mais fere, tanto a boa educação quanto
a caridade, são as injúrias. É também o que Nosso Senhor
condena muito expressamente no Evangelho113; elas não
devem, portanto, encontrar-se jamais na boca de um cristão,
por serem consideradas muito descorteses inclusive por
pessoa de mínima educação. Tampouco é permitido fazer
afronta a quem quer que seja: e não se deve nem dizer, nem
fazer nada que possa provocá-la.
RU 207,1,511 Outro defeito, não menos contrário à civilidade e ao res-
peito devido ao próximo é a zombaria, que consiste em
ridicularizar alguém por algum vício ou defeito, ou reme-
dando-o por gestos: pois não há muita diferença entre
zombar desta maneira e proferir injúrias, a não ser que pela
injúria se ataca uma pessoa grosseiramente e sem rodeios.
RU 207,1,512 Tal tipo de zombaria é absolutamente indigna de pessoa de
boa índole: ela fere a cortesia e ofende o próximo. Por isso,
nunca é permitido fazer zombarias que atinjam pessoas tanto
vivas quanto falecidas
RU 207,1,513 Se não é permitido zombar de uma pessoa por algum vício
ou defeito, muito menos se pode fazê-lo por deficiências
naturais ou involuntárias, por exemplo, por alguém ser
vesgo, coxo ou corcunda. Fazê-lo é uma vergonha e vileza
de espírito. Isso porque o portador de deficiência natural não
é causador dela. É totalmente descortês caçoar de alguém por
alguma desgraça ou infortúnio que lhe ocorreu; ousar agredi-
lo dessa forma em sua desdita é feri-lo profundamente.

112
Qu´elle a un mauvais visage. O que também pode ser traduzido por: que tem
aparência doentia.
113
Mt 5,22.
446 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 207,1,514 Contudo, se alguém for objeto de gracejo por seus de-


feitos, deve levá-lo na esportiva e procurar não expressar
exteriormente que isso o faz sofrer; porque é regra de corte-
sia e sinal de religiosidade a pessoa não ficar aborrecida
com nada do que se lhe diz, por mais desagradável, ofensivo
ou injurioso que possa ser.
RU 207,1,515 Há outro tipo de gracejo, que é permitido e que, muito longe
de ser contrário às regras da conveniência e boa educação,
torna muito agradável a conversa e honra a pessoa que o
usa. Tal recurso consiste em palavras alegres e espirituosas,
que expressam algo aprazível, sem ferir pessoa alguma, nem
a boa educação. Essa jocosidade é muito inofensiva e pode
contribuir grandemente para tornar a conversa agradável.
Deve-se, porém, tomar cuidado para que não seja frequente
demais e se saiba usá-la adequadamente. Por isso, quem não
tiver espírito natural de humor deve evitá-la completamente
porque, do contrário, daria azo a ser ridicularizado, e este
gracejar tão insípido, ordinário e mal acolhido não realizaria
o fim a que se destina, isto é, divertir os outros e fazer que
acolham melhor o que se diz com a intenção de alegrá-los.
RU 207,1,516 Para fazer convenientemente tais gracejos não se deve ser
zombeteiro, nem rir de tudo sem motivo, nem dizer tiradas
insulsas, vulgares e ordinárias; mas é preciso que o que se
diz tenha algo de espirituoso e digno e que seja apropriado à
condição das pessoas que falam e escutam, e dito de forma
adequada.

RU 207,1,517 Seção 4ª
Das transgressões contra a civilidade pela fala inconsi-
derada, leviana ou inútil
Falar inconsideradamente é fazê-lo sem discrição, sem
prudência e sem prestar atenção ao que se tem a dizer. Para
não cair nesse defeito, o Sábio114 nos adverte estarmos muito

114
Eclo 19,4-5.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 447

atentos a nossas palavras, por receio, diz ele, de aviltarmos


nossa alma.
RU 207,1,518 Com efeito, não se estima a pessoa que fala impensada-
mente. Por isso, devemos tomar muito cuidado, conforme o
conselho do mesmo Sábio115, para não sermos precipitados
no falar, pois o motivo pelo qual muitas vezes se fala fora
de propósito e imprudentemente é que se dizem as coisas
sem haver pensado seriamente nelas. Isso faz que o mesmo
Sábio116, conhecendo bem as más consequências desse de-
feito, dirige-se a Deus para (pedir-lhe) que não o abandone
à leviandade imprudente da língua, e lho pede com muita
insistência, em nome do poder e da bondade que Deus tem
com ele como seu pai e senhor de sua vida.
RU 207,1,519 Portanto, para falar com discrição e prudência, nunca se
deve fazê-lo sem haver ponderado cuidadosamente o que se
tem a dizer. Não se deve dizer tudo o que se pensa, mas, de
acordo com o conselho do Sábio117, em muitas coisas, fazer-
se de ignorante. No caso de se entender de alguma coisa de
que se queira falar ou da qual alguém fale, pode-se, diz ainda
o Sábio118, falar ou responder oportunamente; do contrário,
deve-se colocar a mão sobre a boca. O que significa que é
preciso calar-se, com receio de ser surpreendido em palavra
inconveniente ou de se complicar.
RU 207,1,520 Para falar com prudência, deve-se também observar o
momento adequado para fazê-lo ou para manter-se em
silêncio; porque, segundo o Sábio119, é ser muito impru-
dente e leviano não observar o momento propício e falar
simplesmente porque se sente vontade. De acordo com
são Paulo120, todas as palavras ditas devem igualmente ser

115
Eclo 4,34.
116
Eclo 23,1ss.
117
Eclo 32,12.
118
Eclo 5,14.
119
Eclo 11,7-8.
120
Cl 4,6.
448 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

acompanhadas de graça e temperadas de sal, de tal maneira


que não se diga nenhuma sem saber por que e como é dita.
RU 207,1,521 Por fim, segundo o conselho do Sábio121, é necessário in-
formar-se antes de falar e, dessa forma, nunca discorrer
sobre algo que não se conheça bem, e dizer o que se tem
a dizer com tanta sensatez e civilidade que se agrade pelas
palavras.
RU 207,1,522 Quando alguém, inadvertidamente, diz ou faz alguma coi-
sa fora de propósito, e sente-se embaraçado ao refletir
sobre si e sobre o que falou, quem o percebeu não deve dar
mostras disso; e, se quem o disse ou fez pede desculpas,
é prudente e caridoso interpretar favoravelmente o dito ou
feito – bem longe de zombar de quem afirmou alguma coisa
que parece pouco razoável e, menos ainda, tratá-lo com
desprezo. Também pode ter acontecido que não se captou
bem o pensamento da pessoa. Por fim, nunca é permitido a
uma pessoa educada constranger a quem quer que seja.
RU 207,1,523 Outrossim, quando alguém profere injúrias, é prudente não
responder e não sentir-se obrigado a defender-se. É de longe
preferível levar tudo na esportiva. E se outra pessoa nos quer
defender, devemos manifestar que de forma alguma nos
sentimos ofendidos pelo que se disse. Com efeito, sempre é
próprio de pessoa sensata não se abalar com nada.
RU 207,1,524 Para nos dar a entender, em poucas palavras, quais são os
que falam com sabedoria e prudência e quais os que o fazem
imprudentemente, o Sábio122 diz de modo admirável que o
coração dos insensatos está na boca e a boca dos sábios
no coração. Com isso, quer dizer que os não ajuizados dão
a conhecer a todo o mundo, pela quantidade e leviandade
das palavras, tudo o que têm no coração; mas os sensatos e
prudentes são tão contidos e reservados, que só dizem o que
realmente querem dizer e o que convém seja conhecido.

121
Eclo 18,19.
122
Eclo 21,29.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 449

RU 207,1,525 Se alguém está com pessoas mais idosas que ele ou de idade
muito avançada, a cortesia requer que fale pouco e escute
muito. O mesmo proceder deve ser seguido quando se está
com pessoas importantes; é o conselho muito pertinente dado
pelo Sábio123. É também de boa educação que uma criança,
quando em companhia de pessoas a que deve respeito, fale
somente quando perguntada.
RU 207,1,526 É preciso evitar cuidadosamente comunicar a todo o mundo
os próprios segredos. Esta é outra recomendação dada pelo
Sábio124, e fazê-lo seria grande imprudência. Mas, antes
de confiar um segredo a alguém, é preciso conhecer bem a
pessoa a quem se quer confiá-lo, e estar bem seguro de que
ela é capaz de o guardar e que será fiel em fazê-lo.
RU 207,1,527 Os que somente têm boatos, bagatelas e tolices para contar,
os que enrolam e os incapazes de ceder aos outros espaço
para falar, fariam melhor de se calar; pois é muito melhor ser
tido por silencioso do que entreter um grupo com asneiras e
ninharias ou ter sempre alguma coisa a dizer.

RU 207,2,528 Artigo 2º
De como falar das pessoas e coisas
É muito mal educado falar incessantemente de si mesmo,
comparar a conduta pessoal com a dos outros: Dizer, por
exemplo: “Quanto a mim, eu não procedo assim; eu não faço
isso; pessoa de minha condição”, etc. Essa maneira de falar
é importuna e inconveniente, porque nunca assenta bem
fazer comparações entre si e os outros, e dos outros entre si;
tais comparações sempre são antipáticas.
RU 207,2,529 Há pessoas tão cheias de si mesmas que sempre entretêm
seus interlocutores falando sobre o que fizeram e fazem, e
que esperam se dê muito valor a todas as suas palavras e
ações. Esse comportamento nas conversas é muito molesto
e enfadonho para os demais.

123
Eclo 32,13.
124
Eclo 8,22.
450 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Vangloriar-se e falar lisonjeiramente de si é completamente


contrário à cortesia, ao mesmo tempo que sinal de estreiteza
de espírito. Característica de homem educado é nunca falar
do que lhe diz respeito, a não ser para responder ao que se
lhe pergunta. Outrossim, deve fazê-lo com muita moderação,
modéstia e reserva.
RU 207,2,530 Ao relatar algo que se fez ou que ocorreu ao se estar na
companhia de pessoa de condição muito superior à própria,
é de muito mau gosto falar no plural e dizer, por exemplo:
“Nós fomos”, ou, “nós fizemos tal coisa”. Neste caso, não se
deve nem elogiar a si mesmo, nem sequer falar de si; mas é
cortês falar do assunto como se não se tivesse participado, e
dizer: “O senhor Fulano fez tal coisa, o senhor Sicrano foi a
tal lugar”.
RU 207,2,531 Quando um inferior fala de ação feita por pessoa à qual
deve respeito, tampouco é educado dizer cruamente: “O
senhor Fulano me disse; o senhor Sicrano veio me visitar”.
Em lugar disto, deve-se usar os seguintes termos ou outros
semelhantes para se expressar: “O senhor Fulano me deu
a honra de me dizer isto; o senhor Sicrano me deu a honra
de vir me visitar”. Ou então, dirigindo-se a essa pessoa: “O
senhor teve a gentileza, o senhor me fez o favor de usar de
seu crédito em meu benefício”, etc.
RU 207,2,532 A boa educação requer que, ao referir-se aos outros, sempre
se fale de maneira positiva. Por isso, nunca se deve falar
de quem quer que seja quando não se tem algo de bom
a dizer dele. Não há ninguém, por pior que seja, do qual
não se possa dizer alguma coisa boa. Contudo, não seria
indicado falar bem de pessoa que tivesse cometido algum
delito público ou infâmia. Nestes casos, é preferível guar-
dar silêncio; e, se outros falam a respeito dela, mostrar que
se lhe tem compaixão.
RU 207,2,533 Na conversação, deve-se, igualmente, evidenciar que se tem
estima pelos outros. Por isso, não se pode ficar satisfeito com
apenas falar bem deles; é necessário também tomar cuidado
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 451

de não fazê-lo de maneira fria, ou, ao dizer algo que venha


em seu louvor, não acrescentar um “mas”, que acaba com
todo apreço que as palavras ditas possam ter suscitado.
RU 207,2,534 Sempre é necessário referir-se às pessoas de que se fala de
maneira respeitosa e com termos que manifestem muita
deferência com elas, a menos que se trate de inferiores; e
mesmo neste caso, é preciso servir-se de expressões edu-
cadas, que demonstrem a consideração que se tem por elas.
RU 207,2,535 Ao querer chamar alguém, a boa educação não permite fazê-
lo em voz muito forte, nem do alto de uma escada, ou de uma
janela. Tomar tal liberdade seria também faltar ao respeito
devido às pessoas com que se está. Deve-se, neste caso, ou
enviar alguém ao encontro da pessoa de que se necessita ou
ir pessoalmente até ela, para fazê-la vir.
RU 207,2,536 Se alguém estiver na companhia de pessoa a quem deve
respeito e esta necessitar de alguém, não se deveria permitir
que ela fosse em sua busca; mas seria educado prestar-lhe
prontamente este serviço.
É falta de educação, ao saudar pessoa de condição superior,
perguntar-lhe como está de saúde, a não ser que ela esteja
doente ou indisposta. Tal pergunta somente é permitido
fazer a pessoas de condição igual ou inferior.
RU 207,2,537 Caso se queira manifestar a uma pessoa a quem se deve
muita consideração a alegria de vê-la de boa saúde, convém,
antes de lhe falar, informar-se junto a um doméstico sobre
seu estado, e dizer-lhe depois educadamente: “Estou muito
satisfeito, senhor, por vê-lo em perfeita saúde”.
Quando alguém é perguntado sobre como está de saúde,
deve responder: “Estou muito bem, graças a Deus, disposto
a lhe fazer uma visita”, ou utilizar expressão semelhante
que a mente lhe possa sugerir.
RU 207,2,538 Ao encontrar-se em companhia com outros, a cortesia não
permite queixar-se de estar sofrendo de alguma dor ou
indisposição. Isso é fastidioso aos demais e, às vezes, deixa a
impressão de que fazê-lo é forma mais fácil de sentir-se bem.
452 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 207,2,539 Há pessoas que, ao estarem acompanhadas de outras, só


falam de coisas em que se comprazem e a que estão, por
vezes, singularmente afeiçoadas: se gostam de um cachorro,
de um gato, de um passarinho ou de qualquer outro animal,
farão disso assunto permanente da conversa. De vez em
quando, inclusive falarão a seu bichinho, em presença de
outros, chegando, para isso, a interromper a conversa. Isso
até as impede, muitas vezes, de prestar atenção ao que os
outros dizem.
RU 207,2,540 Todas essas maneiras de agir manifestam pobreza e vul-
garidade de espírito, e são muito opostas às regras de civi-
lidade e ao respeito que se deve às pessoas com as quais se
está conversando, e são intoleráveis numa pessoa de bom
nível porque, sendo tais apegos coisa tão vulgar, é muito
descortês manifestar, por causa deles, tanta alegria e dar-
lhes tamanha importância.
RU 207,2,541 Outros há que, após haverem feito uma viagem ou negócio,
ou lhes ter acontecido algo agradável ou funesto, não param
de falar do que lhes ocorreu ou do que viram, ouviram, ou
fizeram. Parecem pensar que, se tal tipo de relatos é do gosto
deles, também o deve ser de seus ouvintes. Isso é sinal do
amor que têm a si mesmos e da auto-complacência que
sentem com tudo o que realizam ou que lhes acontece.

RU 207,3,542 Artigo 3º
Das diferentes maneiras de falar
Há muitas maneiras distintas de falar, que externam em nós
diferentes sentimentos e disposições. Essas maneiras são:
louvar, lisonjear, perguntar, responder, contradizer, opinar,
discutir, interromper e repreender.

RU 207,3,543 Parágrafo 1º
(Os outros parágrafos anunciados se tornam Artigo IV e V)
Do que a civilidade prescreve acerca do louvor e da lisonja
Em qualquer circunstância, cai muito mal alguém louvar a
si mesmo e gabar-se. Isso não assenta bem num cristão, que
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 453

só deve dar-se a conhecer por sua conduta. Por conseguinte,


somente os atos devem nele falar; mas no que se refere
à língua, esta nunca deve referir-se a ele positiva ou
negativamente.
RU 207,3,544 Ao ser louvado, não se deve manifestar contentamento, o que
seria sinal de que se gosta de ser lisonjeado; mas é preciso
desculpar-se educadamente, dizendo, por exemplo: “Você
me confunde; estou apenas fazendo meu dever”, etc. Ainda
melhor e mais educado seria não dizer nada e interromper a
fala, o que não seria falta de cortesia.
Tratando-se de pessoa de condição muito superior que elogia,
deve-se fazer inclinação educada, como para lhe agradecer,
e manter-se modesto, sem responder, pois a resposta seria
falta de respeito.
RU 207,3,545 Quando se ouve alguém ser elogiado, a cortesia pede que
se complemente, ou, pelo menos, se aprove o que é dito.
Importa, então, não fazer comparação entre essa pessoa e
outra.
Nunca se deve enaltecer alguém de forma desmedida, mas
é educado fazê-lo sempre sem exageros e sem qualquer
comparação. Deve-se igualmente ter a precaução de não
elogiar alguém na presença de seus desafetos.
RU 207,3,546 Se, ao estar com outras pessoas, se tem oportunidade de falar
bem dos próprios parentes, pode-se fazê-lo, contanto que seja
sóbria e moderadamente. Quando algum deles é louvado
em nossa presença, não se deve aplaudir demasiadamente
os elogios feitos, mas é educado manifestar gratidão a quem
fez o louvor.
RU 207,3,547 Quando se faz um obséquio a alguém, é contra a cortesia
tecer grandes encômios ao presente, como para mover a
pessoa à qual ele é dado a ser mais agradecida por ele.
Contudo, se outros o elogiam, deve-se manifestar que se
desejaria que fosse ainda mais bonito e mais digno do mérito
da pessoa presenteada; mas é absolutamente incivil lembrar
alguém de um mimo que se lhe fez, pois com isso parece que
se quer censurá-lo por mal-agradecido.
454 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 207,3,548 Pelo contrário, é cortês valorizar um brinde recebido e


não assenta bem guardá-lo em seguida. É grande falta de
educação fazer reparos a ele, especialmente diante de quem
o deu. Pessoa que procedesse assim, mereceria nunca mais
receber presente algum.
RU 207,3,549 Quando se mostra a uma ou várias pessoas algo digno de
apreço, não é educado soltar grandes exclamações e tecer-
lhe elogios exagerados, como fazem alguns. Isto seria
manifestar que se tem o desejo de adular a pessoa a quem o
objeto pertence, ou que nunca se viu nada, ou que não se está
a par do valor das coisas.
RU 207,3,550 Contudo não se deve ficar completamente indiferente
quando a coisa é de muito valor, porque nisso se deve ao
mesmo tempo ser comedido e justo. Ao mostrar algo a um
grupo, não convém apressar-se para ser o primeiro a elogiar,
mas é bom aguardar que a pessoa mais qualificada entre
os presentes tenha feito sua apreciação e, então, apoiá-
la gentil e deferentemente, a menos que ela peça que nós
demos primeiro o nosso parecer, porque, neste caso, é cortês
externá-lo simples e comedidamente.
RU 207,3,551 O mesmo se há de fazer em todas as oportunidades em que
se tem obrigação de aquilatar alguma coisa ou ação, mas
sem recorrer, para isso, a grandes expressões admirativas,
exclamando para tudo o que se vê: “Que beleza! Que ma-
ravilha!” – especialmente quando se está na presença de
pessoa a que se deve muito respeito e antes que esta tenha
feito sua avaliação; isto seria presumir muito de si e faltar de
respeito.
RU 207,3,552 Bajular é elogiar alguém quando não há razão para tal, ou
dizer muito mais que o merecido, só para agradar ou por
interesse próprio. Agir assim é uma vileza e sempre vem em
detrimento do adulado que o permite, pois este manifesta ter
pouco bom senso e muita presunção ao tolerar que os outros
o louvem por coisas que ele, como cristão e como pessoa
razoável, não pode atribuir-se.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 455

RU 207,4,553 Artigo 4º
Da maneira de perguntar, de se informar, de responder e
de opinar
É grande falta de civilidade interrogar e questionar uma
pessoa a que se deve consideração e, mesmo, qualquer outra,
a menos que seja de condição muito inferior à nossa e que
dependa de nós, ou que sejamos obrigados a fazê-la falar.
Nesse caso, deve-se formular as perguntas de modo muito
educado e com muita circunspecção.
RU 207,4,554 Quando se quer saber alguma coisa de pessoa a que se
deve respeito, é cortês falar-lhe de maneira que ela se
sinta comprometida a responder ao que se lhe pede, sem,
contudo, interrogá-la. Se, por exemplo, se quer saber se
uma pessoa vai de viagem ou a algum lugar, seria muito
incivil e desrespeitoso dizer-lhe: “O senhor vai viajar?” Isto
é indelicado e familiar demais. Seria preciso usar um modo
de falar como este: “O senhor certamente está saindo de
viagem, ou indo para tal lugar?” Esse torneio de frase não
tem nada de inconveniente além da curiosidade, escusável
quando respeitosa.
RU 207,4,555 Também é falta de educação dizer a uma pessoa com quem
se fala: “Você me entende. Entendeu? Não sei, se me estou
explicando bem”, etc. Deve-se prosseguir na conversa, sem
usar todas essas maneiras de falar.
RU 207,4,556 Ao chegar a uma roda de amigos, é muito descortês
informar-se do que está sendo conversado. Tais inquirições
são familiares demais e próprias de pessoa que desconhece
as praxes sociais125: é preciso limitar-se, uma vez sentado, a
escutar a quem fala e entrar oportunamente na conversa.
RU 207,4,557 Outrossim, ao conversar com uma pessoa, por mais edu-
cadamente que se pergunte, não se deve pedir informações
ou querer saber onde ela esteve, donde vem, o que fez

125
Como já dito anteriormente (206,7,471), ao dono da casa ou àquele que iniciou
o tema da conversa é que cabe resumi-la a quem chega.
456 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ou pretende fazer. Formular perguntas desse tipo é tomar


demasiada liberdade e nunca é permitido.
Ordinariamente não se deve pedir informações referentes
aos outros, exceto quando se tem particular obrigação de
fazê-lo para saber algo do interesse da pessoa que se informa
ou que se refere a ela.
RU 207,4,558 É descortesia imprudente adiantar-se a responder a uma
pessoa que faz uma pergunta antes de ela ter acabado de
formulá-la, embora se pense saber bem o que ela vai dizer.
Também é falta de educação ser o primeiro a responder a uma
pessoa a que se deve respeito, quando ela pergunta algo em
presença de outras pessoas de posição social mais elevada
que a nossa, mesmo tratando-se apenas de coisas comuns e
ordinárias. Por exemplo, se ela pergunta pelas horas. Deve-
se deixar que as pessoas mais importantes do grupo deem a
informação, exceto se quem pergunta se dirige a alguém em
particular, o qual, então, seria obrigado a responder.
RU 207,4,559 É muito descortês e pouco respeitoso responder a alguém,
seja aos próprios pais, seja a outras pessoas, dizendo sim-
plesmente “sim” ou “não”. Sempre se deve acrescentar algum
termo respeitoso, e dizer, por exemplo: “Sim, papai; sim,
senhor”. Contudo é preciso tomar cuidado para não repetir
com demasiada frequência essas palavras na conversa, o
que seria molesto e enfadonho a todos.
RU 207,4,560 Quando, ao responder, se está obrigado a contradizer uma
pessoa à qual se deve consideração, não é educado fazê-lo
de forma direta. Neste caso deve-se recorrer a circunlóquios,
dizendo: “Desculpe, senhor”, ou: “Perdoe-me, senhor, se
ouso dizer que”, etc.
Estando-se numa roda em que se trata de uma questão,
especialmente se nela há pessoas de condição superior, é
falta de educação externar seu ponto de vista sobre a mesma,
exceto se este for solicitado.
RU 207,4,561 Ao estar num círculo de pessoas em que se deva expressar
a opinião sobre uma questão, é necessário aguardar sua vez
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 457

para falar; tirar então o chapéu, saudando a quem preside e


aos demais e, depois, dizer simplesmente o que se pensa.
RU 207,4,562 Ao expressar a própria opinião, é preciso tomar muito
cuidado para não sustentá-la com teimosia, porque não
se deve julgá-la tão superior a ponto de a considerar
incontestável. Também seria muito mal educado discutir
para impô-la, porque não se deve ficar aferrado a ela de tal
modo que não se queira confrontá-la com a dos outros.
Portanto, é preciso evitar com muito cuidado exaltar-
se ou se encolerizar para obrigar os demais a seguirem o
próprio parecer: a emoção descontrolada não é recurso nem
adequado, nem sensato a ser utilizado por alguém para fazer
crer que sua opinião é acertada.
Igualmente, não se deve nunca censurar os outros, nem
menosprezar o que disseram. Pelo contrário, é próprio
de pessoa prudente valorizar e elogiar a opinião alheia e
manifestar a própria unicamente quando solicitada.

RU 207,5,563 Artigo 5º
O que a civilidade permite ou não permite com relação
ao discutir, interromper e replicar
São Paulo adverte seu discípulo Timóteo que não se detenha
em discussões126. Além disso, nada é mais contrário às
regras da civilidade. Deve-se, por isso, segundo a opinião do
mesmo Apóstolo, evitar todas as discussões tolas e inúteis,
sabendo que geram contendas127. Com efeito, quando se
quer evitar alguma coisa, é preciso suprimir as ocasiões que
a causam; e a razão disso, segundo São Paulo, é que a um
servidor de Deus não convém viver altercando128.
RU 207,5,564 Portanto, ao estar em companhia, é preciso tomar muito
cuidado para não se opor à opinião dos outros e nada propor
que seja capaz de suscitar querelas e polêmicas. Mas, se os

126
2Tm 2,14.
127
2Tm 2,23.
128
2Tm 2,24.
458 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

outros afirmam algo não verdadeiro ou que pareça incon-


veniente, pode-se manifestar simplesmente a própria ideia,
e isso com tanta deferência que os de opinião contrária não
se melindrem.
RU 207,5,565 Se alguém contradiz nossa opinião, devemos manifestar
de bom grado que submetemos a nossa à dele, a não ser
que esta seja claramente contra os princípios cristãos e as
normas do Evangelho. Neste caso, seria necessário susten-
tar o afirmado, mas isso de maneira tão humilde e respei-
tosa, que a pessoa contradita, muito longe de se ofender com
isso, escute de bom grado nossas razões e se renda a elas,
a menos que seja extremamente birrenta e não razoável;
porque a palavra amável, na opinião do Sábio, multiplica os
amigos e abranda os inimigos129.
RU 207,5,566 Encontrando-se alguém com pessoa propensa a contradizer
o que é dito, a educação pede que não externe facilmente a
própria opinião sobre alguma coisa, pois, como diz muito
bem o Sábio, a tendência a discutir atiça o fogo da cólera130.
E, como os grandes palradores estão mais sujeitos a susten-
tar teimosamente a própria opinião, é preciso, conforme o
conselho do mesmo Sábio131, não litigar com um deles, para
não jogar mais lenha em sua fogueira.
Acima de tudo, é preciso tomar cuidado – de acordo ainda
com seu conselho – para jamais contradizer, de forma algu-
ma, a palavra verdadeira132. Por isso, quando não se está
bem a par de alguma coisa, sempre se deve optar por calar-
se e escutar os demais.
RU 207,5,567 Quando se está num círculo em que se disputa, como ordi-
nariamente se costuma nas escolas133, é preciso escutar com
atenção o que os outros dizem; e se, então, alguém for con-

129
Eclo 6,5.
130
Eclo 28,13.
131
Eclo 8,4.
132
Eclo 4,30.
133
Trata-se das disputas eruditas nas Universidades.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 459

vidado ou obrigado a falar, pode externar sua opinião sobre


o tema objeto de disputa; contudo, se não entende dele, não
deve ter constrangimento em escusar-se de falar.
RU 207,5,568 No caso de se acreditar ser verdadeira a própria opinião
exposta, deve-se mantê-la, mas com moderação tal que a
pessoa com que se debate ceda sem dificuldade. Se as ra-
zões alegadas pelos outros mostram que se está errado, não
se deve sustentar obstinadamente uma causa equivocada,
mas é preciso, de boa mente, ser o primeiro a corrigir o
próprio erro. Esta é a maneira de sair-se airosamente.
RU 207,5,569 Ao estar envolvido em tal debate, não se deve querer sair
vitorioso; basta expor seu ponto de vista e fundamentá-
lo em bons argumentos, e condescender com os demais,
seguindo seu parecer quando são maioria134.
RU 207,5,570 Não é educado contradizer alguém, a não ser que a pessoa
que avança coisas fora de propósito seja de condição muito
inferior e que, devido às consequências de sua afirmação,
se deva asseverar o contrário do que ela disse. Mesmo
assim, seria preciso fazê-lo com tanta mansidão e polidez
que a pessoa a que se fez reparos não tenha outra saída que
mostrar-se grata.
É muito incivil interromper a pessoa que está falando,
perguntando, por exemplo: “Quem é este?” “Quem diz ou
faz isso?” Tal interrupção é ainda muito mais descortês
quando quem pergunta utiliza termos não claros.
RU 207,5,571 Também é falta de cortesia muito desagradável interrom-
per a quem está contando alguma coisa para fazê-lo melhor.
Não é descortesia menor, quando um outro começou a narrar
uma historia, dizer que ela já é bem conhecida, que já se
sabe o que ele vai contar. Se o narrador não a conta bem,
zomba-se dele e se lhe dá motivo de ficar muito sentido, ao
se sorrir para dar a entender que o que ele diz não é assim. É

134
Suposto que se esteja discutindo algo não importante, “de conséquence”
(207,5,574).
460 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

vergonhoso dizer: “Aposto que isso não é assim”. Tal modo


de falar é absolutamente grosseiro e descortês e só pode
provir de pessoa mal educada.
RU 207,5,572 Se, durante a conversa, alguém se engana, a ninguém é
permitido manifestar-lho. Se, por exemplo, toma um homem
ou cidade por outro ou outra, deve-se aguardar que se corrija
a si mesmo ou que propicie oportunidade para se falar sobre
esse tema. É preciso então tirá-lo do erro, mas discretamente,
por receio de magoá-lo.
RU 207,5,573 Contudo, tratando-se de fato que se está obrigado a escla-
recer no interesse de alguém, pode-se dizer o que é correto,
desde que seja de maneira sempre educada e com muita
circunspecção.
É preciso estar muito atento ao que diz o interlocutor, para
não lhe causar o incômodo de ter que repetir duas vezes a
mesma coisa. Seria, por exemplo, grande falta de educação
dizer: “Que é que o senhor falou? Não entendi”. Ou algo
semelhante.
RU 207,5,574 Quando alguém, ao falar, tem dificuldade para encontrar
a palavra e hesita, é totalmente contrário à boa educação
fazer-lhe sugestões ou corrigir-lhe os termos não ditos cor-
retamente; deve-se aguardar que ele pergunte.
Ninguém deve tratar de corrigir alguém, exceto se obrigado
a isso ou que o assunto em questão for de importância.
RU 207,5,575 Constitui grande defeito erigir-se em crítico e censor público:
deve-se pensar bem de todos e não se preocupar com o que
os outros fazem, a menos que se esteja encarregado de os
dirigir e se tenha obrigação de instruí-los e levá-los ao bem.
Entretanto, ao receber uma advertência ou repreensão da
parte de alguém, é cortês acolhê-la bem e manifestar muita
gratidão por ela; quanto mais reconhecimento se manifestar,
tanto mais cristão e mais estimado se há de ser.
RU 207,5,576 Se acontece que se é injuriado por alguém, é próprio de
pessoa madura não ficar magoado; muito longe de se de-
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 461

fender, melhor é não responder absolutamente nada. Não


aguentar injúria é sinal de mente vulgar e débil. Uma alma
cristã tem o dever de não demonstrar ressentimento nenhum
e de, efetivamente, não tê-lo.
O conselho do Sábio é esquecer todas as injúrias recebidas
do próximo135. E Jesus Cristo quer que não somente perdoe-
mos aos inimigos, mas lhes façamos o bem136, por maior
dano ou desprazer que nos possam haver causado. Se alguém
quiser sair em nossa defesa, devemos manifestar-lhe que de
nenhuma forma estamos ofendidos.

RU 207,6,577 Artigo 6º
Dos cumprimentos137 e das maneiras erradas de falar
Há duas maneiras de cumprimentar. Na primeira, expres-
samos algum sentimento, quer de felicitação, para manifes-
tar a alegria por algo venturoso acontecido à pessoa que
encontramos ou vamos visitar; quer de condolência, pela
qual expressamos à pessoa a quem ocorreu algum infor-
túnio, o pesar que sentimos por isso; quer de agradecimento,
manifestando nosso reconhecimento pelos favores recebi-
dos de alguém, e a obrigação que lhe devemos por eles, asse-
gurando-lhe nosso apreço e nosso compromisso de estar às
suas ordens;
RU 207,6,578 ou, então, pode ser afirmação que fazemos a alguém de
nossa submissão e fidelidade a seu serviço; algumas vezes,
também é queixa, manifestação de mágoa por algum mal
que nos foi causado.
Essas maneiras de cumprimentar devem ser feitas com
naturalidade, sem afetação e sem parecerem calculadas.
Pois, então, a boca, falando da abundância do coração, per-
suade muito mais do que tudo o que se poderia dizer com

135
Eclo 10,6.
136
Lc 6,27.35.
137
No sentido de expressões, fórmulas de cortesia em geral.
462 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

formalismo e que, por ser menos natural, nunca será tão bem
acolhido.
RU 207,6,579 Outro tipo de cumprimento é o elogio. Para convencer de
que se fala a verdade, este requer muito mais circunspe-
ção e habilidade que o primeiro. Para torná-lo agradável, é
preciso que a pessoa que louvamos tenha a certeza de que
estamos persuadidos de seus méritos, caso em que nosso
cumprimento será sincero e obsequioso.
Nesse tipo de cumprimento, também é preciso tomar cui-
dado para não enaltecer as pessoas elogiadas muito acima
do que são e não fazer grandes exageros, os quais se auto-
destroem. Para a adequação desse tipo de cumprimento, é
preciso que seja autêntico e verdadeiro, de maneira que,
graças à retidão, sensatez e moderação que sempre devem
acompanhá-lo, não se fira a modéstia nem daquele que faz o
cumprimento, nem daquele que o recebe.
RU 207,6,580 Por isso, quem o faz há de lembrar-se de que, embora se
esteja obrigado a estimar muito os outros, deve-se louvá-los
pouco e com muita precaução e sobriedade, em obediência
ao conselho do Sábio, que nos diz, com razão, que não se
deve louvar ninguém antes da morte138, porque, nos elogios,
há sempre o perigo da falta de sinceridade da parte de quem
os faz e de envaidecimento da parte de quem os recebe.
Por essa razão, tal modo de cumprimentar tem que ser raro e
feito somente com muita prudência e moderação.
RU 207,6,581 Para serem bons, os cumprimentos devem ser feitos sem
afetação; e os gestos de deferência, para agradarem, não
podem perder a naturalidade; outrossim, hão de ser curtos.
Se feitos a pessoa a quem é devido respeito, é preferível
recorrer a mesuras que a longos discursos.
RU 207,6,582 Ao responder a cumprimentos, importa observar as mesmas
regras. Se feitos a propósito de favores prestados, deve-
se minimizá-los, mas não a tal ponto que pareçam sem

138
Eclo 11,30.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 463

importância, pois isso daria a impressão de se desconsiderar


o apreço que deles tem aquele que os recebeu.
Tampouco se deve dizer que se faria o mesmo favor e se
prestaria o mesmo serviço a qualquer pessoa, porque isto
seria manifestar a quem se prestou o favor que não se lhe
tem muita consideração, uma vez que não se faz por ela mais
que se faria por qualquer outro.
RU 207,6,583 Ao falar, sempre se devem utilizar palavras corteses, cor-
rentes, inteligíveis e apropriadas ao tema em pauta, e não
termos singulares e rebuscados.
Deve-se particularmente evitar expressões inadequadas,
não vernáculas e que ferem a pureza da língua. Embora não
seja de bom tom empregar termos e expressões demasiado
estudados, é preciso evitar certo linguajar vicioso, que não
poucas pessoas usam, com frequência, por não prestarem
suficiente atenção a sua maneira de falar. Por exemplo, seria
muito errado dizer: “Saia esse cavalo da cocheira. Deve-se
dizer: Faça sair esse cavalo da cocheira”.
RU 207,6,584 Ao contar alguma história, ou prestar contas de uma incum-
bência, é preciso evitar certos termos ridículos e totalmente
inúteis, como seria dizer: “Ele (ou ela) disse o seguinte”.
Ou: “Ele me disse assim”, etc.
Falta de educação e até chocante é dizer a alguém: “Você me
faltou à palavra; você me enganou”. Convém expressar-se de
outro modo, mais polido, dizendo, por exemplo: “Pelo jeito,
ou, sem dúvida, o senhor não se lembrou bem que...” Ou:
“Talvez o senhor não pôde fazer aquilo que eu esperava”.
RU 207,6,585 Também é grande falta de cortesia dizer, depois que uma
pessoa falou: “Se é verdade o que o senhor diz, então estamos
mal”. Ou: “Se o que o senhor diz é verdade, não temos mais
motivo de nos espantar com”, etc.
Isso é autêntico desmentido. Nunca se deve manifestar que
se duvida do que diz uma pessoa honrada. A cortesia requer
que se diga: “Pelo que o senhor diz, estamos mal”. Ou: “O
que o senhor diz revela que”, etc.
464 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 207,6,586 Outro modo muito inconveniente de falar é dizer: “Você está


zombando ao dizer isso”. Também não é melhor dizer, como
fazem alguns, molesta e descortesmente: “Você está fazendo
troça ao me tratar assim”. Este modo de falar é ofensivo,
porque nunca se deve imputar a uma pessoa honrada o estar
caçoando de nós: é preciso dar outro giro à frase, da seguinte
maneira: “Dizer”, etc., seria fazer troça.
RU 207,6,587 Jamais é permitido falar a alguém de maneira impositiva,
a não ser que se trate de pessoa de condição muito inferior.
Esse modo de falar, que denota autoritarismo, é inadmis-
sível e nunca pode ser empregado por pessoa que tenha um
mínimo de educação.
Por isso, em vez de usar formas de expressar-se que carac-
terizam uma ordem, como: “Vai! Vem! Faze isto!” – é indi-
cado usar circunlóquios, dizendo, por exemplo: “O senhor
não estaria disposto a ir?” “Parece-lhe oportuno dizer?”
“Não sei se lhe parece bem”. “Será que lhe posso pedir,
senhor? Será que posso esperar de você este favor?” etc.
Com pessoas de condição muito inferior, pode-se dizer
sem faltar à educação: “Quer prestar-me este serviço?”
“Quer fazer-me este obséquio? “Lhe ficaria muito obrigado
caso se desse ao trabalho de”, etc. Todas estas são maneiras
de falar exigidas pela civilidade com aqueles de cujos
serviços se possa vir a precisar.

RU 208,1,588 Capítulo 8º
Da maneira de dar e receber, e de portar-se ao encontrar
alguém e ao se aquentar
Antes de receber alguma coisa, fora da mesa, deve-se fazer
uma reverência, retirar as luvas, beijar a mão e, depois,
recebê-la, levando-a educada e lentamente à boca, como
para beijá-la, sem, no entanto, aproximá-la demasiado dos
lábios, só fazendo menção de beijá-la.
RU 208,1,589 Quando se quer dar ou devolver alguma coisa a outrem,
deve-se apresentar-lha sem demora, para que não tenha que
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 465

esperar e, depois, entregá-la, fazendo como se a beijasse; e,


após havê-la entregue, beijar a mão e fazer uma reverência.
O mesmo cumpre fazer cada vez que seja apresentada
alguma coisa, quer seja ela pedida, quer não.
RU 208,1,590 Ao querer dar ou tomar alguma coisa, é descortês esten-
der a mão na frente de alguém, especialmente tratando-se
de pessoa à qual se deve consideração e respeito: tanto o
dar como o pegar qualquer coisa deve ser feito sempre por
detrás, seja à mesa, seja em outros lugares, a menos que
não se possa fazê-lo sem molestar alguém.
E quando se está obrigado a dar ou receber alguma coisa na
frente de alguém, a civilidade requer que se peçam descul-
pas à pessoa diante da qual ela é dada ou recebida, e se
solicite permissão, com algum gesto e palavra educadas,
dizendo, por exemplo: “Senhor, com licença, por favor”;
“Senhor, queira desculpar”, etc.
RU 208,1,591 Quando se dá algo, é educado oferecê-lo de maneira que
possa ser tomado facilmente pela parte destinada a isso.
Assim, ao entregar a alguém uma faca ou colher, deve-se
apresentar o cabo do lado de quem as deve receber.
RU 208,1,592 Se alguém do grupo deixa cair alguma coisa, a boa educa-
ção pede apressar-se e ajuntá-la antes dele e devolver-lha
cortesmente. Se a gente mesmo deixa cair algo, deve-se
apanhá-lo prontamente, sem permitir que outra pessoa se dê
ao trabalho de fazê-lo. E, se alguém foi mais rápido do que a
gente e o devolve, deve-se ou agradecer-lhe educadamente,
ou pedir-lhe escusas pelo incômodo causado.
RU 208,1,593 Encontrando-se, no caminho, alguma pessoa respeitável por
sua função ou condição social, é cortês saudá-la com muita
gentileza, sem aproximar-se muito dela, a menos que seja
especialmente conhecida.
Em Paris, saúdam-se ordinariamente só as pessoas conhe-
cidas ou de condição social elevada e muito acima do co-
mum do povo, como são príncipes e bispos. Contudo, é de
boa educação cumprimentar eclesiásticos e religiosos.
466 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 208,1,594 É incivil e até ridículo observar as pessoas que passam


para ver se cumprimentam. É preciso sempre antecipar-se
aos demais nisso, como também em todas as outras coisas,
conforme o conselho de São Paulo139. Respeitar os outros é
atrair respeito para si.
Quando, na rua, se topa frente a frente com pessoa de con-
dição ou posição superior, é bom desviar-se um pouco e
passar para a parte mais baixa, isto é, o da valeta140.
RU 208,1,595 Não havendo parte mais alta e mais baixa, mas caminho
plano, deve-se passar à esquerda da pessoa que se encon-
tra, deixando-lhe livre a direita. Quando tal pessoa passa,
é preciso parar e saudá-la com respeito, com profundo
respeito mesmo, caso sua condição o exija.
No caso de se encontrar a pessoa numa porta ou lugar es-
treito, o correto é imediatamente parar, se possível, a fim de
deixá-la passar; e, se for preciso, abrir uma porta, correr uma
cortina, arredar algo que impede a passagem livre, a cortesia
pede que, para fazer essas coisas, se passe à frente da pessoa
e, ao passar, se lhe faça uma leve inclinação.
RU 208,1,596 No caso de encontrar, na rua, alguém não familiar, perguntar-
lhe de onde vem ou para onde vai é tomar-se liberdade
demasiada e nada polida.
RU 208,1,597 Ao estar obrigado a ir e vir, a passar e voltar a passar diante
de uma pessoa a que se deve deferência, a civilidade requer
se procure circular por trás dela; contudo, se não for possível,
é bem educado inclinar-se gentilmente cada vez que se passa
em sua frente.
RU 208,1,598 Ao estar junto à lareira, a cortesia não pode tolerar que a
pessoa ponha as mãos sobre as brasas, as passe pela chama
ou as coloque em cima dela; muito mais inconveniente ainda

139
Rm 12,10.
140
As ruas não tinham calçada. Eram cortadas longitudinalmente no meio por uma
valeta, que fazia as vezes das nossas sarjetas.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 467

seria pôr ali os pés. Também grande falta de cortesia é virar-


se de costas para o fogo e, se alguém se toma essa liberdade,
é preciso cuidar muito para não imitá-lo.
RU 208,1,599 Ao estar sentado junto ao fogo, tampouco se pode levantar da
cadeira para ficar de pé, a menos que pessoa de consideração
o faça, caso em que é preciso erguer-se ao mesmo tempo que
ela. Seria muito descortês ficar acocorado ou sentar no chão
e achegar-se ao fogo mais que os outros.
Denota espírito vulgar passar o tempo brincando com as
pinças ou atiçar o fogo; nem sequer se deve colocar lenha
nele: a polidez exige que se deixe tal cuidado ao dono da
casa ou ao encarregado do fogo.
RU 208,1,600 Ao preparar o fogo, é conveniente dispô-lo de maneira
que todos os que estão junto dele possam aquentar-se
facilmente. Querer, depois, mudá-lo de posição sem evi-
dente necessidade, revela espírito irrequieto, incapaz de
permanecer tranquilo.
Contudo, estando-se junto ao fogo em companhia de pessoa
a que se deve muita consideração e ela se dá ao trabalho
de querer ajeitar o fogo, convém tomar imediatamente as
pinças, a menos que ela queira, de qualquer forma, realizar
esse trabalho como distração.
RU 208,1,601 Totalmente contra a boa educação é chegar-se tão perto do
fogo que se queimem as pernas, assim como tirar os pés do
calçado e aquentar-se assim em presença dos outros. Muito
pior ainda é meninas e mulheres levantarem demais a saia
quando sentadas ao fogo, como, aliás, em qualquer outra
ocasião.
RU 208,1,602 A caridade e a polidez pedem sacrificar-se para dar lugar a
outros junto ao fogo, e ficar mesmo atrás deles, a fim de que
possam aquentar-se os que mais necessitam.
Se alguém joga no fogo cartas, papel ou outras coisas seme-
lhantes, é de muito mau gosto retirá-los, por qualquer motivo
que seja.
468 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

208,1,603 Quando se distribuem guarda-fogos na própria casa, não se


deve permitir que um doméstico ofereça um deles à pessoa
com a qual se está junto ao fogo; a educação requer que o
próprio dono da casa o ofereça.
Estando-se junto ao fogo em casa alheia, e nela houver só um
guarda-fogo e a pessoa com quem se está instar em oferecê-
lo, depois de manifestar a pena que dá aceitá-lo, não se deve
recusá-lo. Mas é conveniente deixá-lo imediatamente depois,
colocá-lo delicadamente a seu lado, sem que ninguém o
perceba, e não servir-se dele.
Deve-se também aceitar afavelmente aquele que é apre-
sentado; e quando alguém for preterido, não seria correto
pedir que se lhe dê aquele que nos é oferecido.

RU 209,1,604 Capítulo 9º
Da maneira de portar-se ao andar pelas ruas e nas
viagens de carruagem e a cavalo
Ao andar pelas ruas, é preciso estar atento para não caminhar
nem muito depressa nem muito devagar. A lentidão no andar
é sinal de moleza ou negligência; pior, contudo, é andar
demasiado rápido, coisa que fere muito mais a gravidade.
Não é conveniente ficar parado nas ruas, mesmo para falar
com alguém, a não ser em caso de alguma necessidade e,
mesmo então, deve-se fazê-lo com brevidade.
RU 209,1,605 Viajando-se com uma pessoa a quem se deve respeito, a
cortesia requer acomodar-se a tudo, achar tudo bom, não
sentir-se molesto com nada, nunca fazer-se esperar, estar
sempre pronto a prestar serviço a todos os outros. Há pessoas
que, em viagem, são muito incômodas, para as quais nunca
são bons nem os quartos nem as camas e que acham tudo
ruim e mal feito.
Ocorrendo que, em viagem, alguém se veja obrigado a
dormir no quarto de pessoa a quem é devida consideração,
a civilidade requer deixá-la trocar de roupa e deitar-se
primeiro; em seguida, à parte e perto da cama a ser ocupada,
trocar de roupa; depois, deitar cuidadosamente e não fazer
nenhum ruído durante a noite.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 469

RU 209,1,606 A civilidade exige também que se levante primeiro quem se


deitou por último, porque não é delicado que pessoa a quem
se deve honra nos veja desvestido, nem alguma de nossas
peças de roupa fora de lugar.
Ao chegar ao local de hospedagem, assenta muito mal correr
para escolher o melhor dos quartos e das camas. Mesmo
uma pessoa de condição muito superior à das demais agiria
muito mal se tomasse para si o que há de bom e cômodo num
alojamento ruim, sem se preocupar que os outros tenham o
mínimo conforto.
RU 209,1,607 Ao subir numa carruagem, a obrigação é sempre ocupar o
último lugar quando se é de condição inferior aos demais
viajantes.
Numa carruagem, normalmente há dois assentos atrás e
dois na frente. O mais importante de trás, é o da direita; o
segundo, o da esquerda e, no caso de haver três, o do meio é
o terceiro. Havendo duas portinholas, a mais importante é a
da direita; a segunda é a da esquerda; e os assentos do fundo
são os principais.
RU 209,1,608 Ao subir numa carruagem com pessoa de posição social
superior ou a qual se deve honra, o acatamento que lhe é
devido exige deixá-la subir primeiro, e entrar depois. Con-
tudo, se a pessoa ordenar que se suba em sua carruagem
antes dela, embora somente se deva fazê-lo após muita in-
sistência, é preciso aceder a seu desejo, depois de haver
manifestado, por algum sinal de urbanidade, que se obedece
constrangido; em seguida, sentar-se no último lugar, só ocu-
pando outro mais importante como que forçado.
RU 209,1,609 É possível e, mesmo, obrigatório assentar-se na parte de
trás da carruagem, se a pessoa de alta posição com a qual
se está o mandar, e perto dela, se ela assim o deseja; porque
isso não é permitido fazer sem ordem expressa. Tampouco
é polido tomar o assento dianteiro, ficando frente a frente a
ela, mas o correto é situar-se à sua esquerda, de modo, no
entanto, a estar voltado em direção a ela, e só se cobrindo
depois de ela haver insistido.
470 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 209,1,610 Ao andar de carruagem, é muito descortês encarar fixa-


mente quem quer que seja dos presentes, apoiar-se contra
o encosto e escorar o cotovelo em qualquer lugar. Deve-se
manter o corpo ereto e firme e os pés o mais possível juntos;
não cruzar as pernas e não colocá-las perto demais das dos
outros, a não ser que se esteja em espaço muito apertado e
não se possa fazer de outra maneira.
RU 209,1,611 Também é muito grosseiro e totalmente contrário à boa edu-
cação cuspir na carruagem; se necessário, deve-se fazê-lo no
lenço. No caso de cuspir pela portinhola – o que de forma
alguma é cortês, exceto quando não se está sentado – deve-
se levar a mão à bochecha para cobri-la.
RU 209,1,612 Ao sair de uma carruagem, a civilidade exige que se desça
por primeiro, sem esperar que isto seja dito, a fim de oferecer
a mão para ajudar a descer a pessoa de qualidade, seja esta
homem ou mulher. Também deve-se descer sempre pela
portinhola mais próxima, se isso não for inconveniente.
Caso não houver ninguém para abri-la, convém apressar-se
para fazê-lo.
Quando pessoa de qualidade, ao descer da carruagem, manda
permanecer nela para aguardá-la, é de boa educação descer
com ela, tanto por respeito, quanto para auxiliá-la, e voltar a
subir em seguida. Deve-se descer também quando ela quiser
voltar à carruagem, e só entrar depois dela.
RU 209,1,613 Quando, andando de carruagem, se chega a lugar por onde
passa o Santíssimo Sacramento, deve-se descer e pôr-se
de joelhos. Se o que se encontra é uma procissão ou um
cortejo fúnebre ou, então, o rei, a rainha, os príncipes mais
próximos do sangue real, ou pessoas de autoridade ou dig-
nidade eminentes, é dever e faz parte do respeito parar a
carruagem até que eles tenham passado, permanecendo os
homens descobertos e as mulheres de anteface levantada.
RU 209,1,614 Não é educado subir na carruagem ou montar a cavalo na
presença de pessoa à qual se deve alguma consideração. Se
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 471

não se consegue educadamente que ela se retire antes de se


montar ou subir, convém adiantar a carruagem ou o cavalo
até perdê-la de vista e, então, subir ou montar.
RU 209,1,615 Quando se monta a cavalo em companhia de pessoa que
se deve honrar, a urbanidade requer deixá-la montar por
primeiro, ajudá-la a fazê-lo e segurar o estribo. Assim como
ao andar a pé, é preciso ceder-lhe o lugar da frente e seguir
um pouco atrás dela, ajustando o próprio ritmo ao dela.
Quando, contudo, se andar a favor do vento, e esse lançar
poeira sobre a pessoa, se deveria mudar de lugar.
RU 209,1,616 Ao encontrar um riacho, vau ou lamaçal a atravessar, é prá-
tica social e é razoável passar em primeiro lugar. Estando-se
atrás e devendo-se passar depois da pessoa a quem se deve
respeito, é preciso distanciar-se suficientemente dela, para
que o cavalo não lhe jogue nem água nem lama.
Se a pessoa galopar, deve-se cuidar para não andar mais
depressa do que ela e não querer mostrar as belas qualidades
do próprio cavalo, a não ser que a pessoa o ordene
expressamente.

RU 210,1,617 Capítulo 10º


Das cartas
Assim como o cristão deve tratar de não fazer visitas inú-
teis, a cortesia pede igualmente que procure não escrever
cartas a não ser que pareçam necessárias.
RU 210,1,618 Há três espécies de cartas em relação às pessoas, porque
se escreve ou a superiores, ou a iguais, ou a inferiores. Há
também três tipos quanto ao que se escreve: ou cartas de
negócios, ou familiares, ou de cumprimentos. Cada uma
dessas modalidades de carta exige estilo e forma específicas.
RU 210,1,619 As dirigidas aos superiores hão de ser muito respeitosas;
as endereçadas aos iguais devem ser polidas e dar sempre
alguma mostra de consideração e respeito; as escritas aos
inferiores externarão afeto e bem-querer.
472 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

RU 210,1,620 Ao redigir carta de negócios, é preciso entrar imediata-


mente no assunto, usar termos adequados àquilo de que se
fala, e explicar-se claramente e sem deixar lugar a dúvidas.
No caso de se abordar mais de um assunto, convém escrever
por artigos, para tornar mais claro o que se tem a dizer e
mais transparente o estilo. As cartas familiares devem ter o
mesmo estilo usado na conversa, desde que seja correto, e
nelas é preciso fazer-se entender como se a gente estivesse
falando.
RU 210,1,621 As cartas de cumprimentos devem ser corteses, obsequio-
sas, e não mais longas do que os cumprimentos que se tem
obrigação de apresentar.
Quando se escreve a pessoa de posição superior, é mais
respeitoso usar papel grande; independente da pessoa a quem
se escreve, a folha deve sempre ser dupla. Para escrever
bilhetes, pode-se usar papel pequeno; mas a folha sempre
tem que ser dupla.
RU 210,1,622 Começam-se todas as cartas com a palavra: Senhor ou Meu
Senhor; e ao escrever a uma mulher ou a uma moça, por
estas: Senhora, ou Senhorita. Dirigindo-se ao próprio pai,
usam-se os seguintes termos: Senhor, meu estimado Pai. As
palavras: Senhor ou Senhora, etc. devem ser escritas por
extenso, sem abreviações, ao longo de toda a carta, pois
redigi-las de outra forma seria completo desrespeito.
RU 210,1,623 A palavra Senhor é escrita, sozinha, no alto da carta e do
lado esquerdo. Entre essa palavra Senhor e o início da carta
deve-se deixar o espaço de várias linhas em branco, maior ou
menor – antes maior que menor – de acordo com a condição
da pessoa à qual se escreve. Sobretudo, é preciso tomar
cuidado que a primeira palavra do corpo da carta não possa
fazer ligação com a palavra Senhor e de forma a constituir
período com ela, como ocorreria se, depois dessa palavra
Senhor se iniciasse a carta pela expressão: Vosso lacaio veio
me dizer... A isso é necessário estar atento no texto.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 473

RU 210,1,624 Seria muito a desejar que os cristãos começassem suas


cartas por estas palavras de que ordinariamente São Paulo141
se serve nas que escreve: A graça de Nosso Senhor Jesus
Cristo esteja convosco, ou conosco. As pessoas de condição
superior devem escrever convosco e as iguais, conosco.
Quanto às pessoas de condição inferior, a cortesia requer
que, ao escreverem a pessoas que lhes são superiores,
comecem pedindo-lhes a bênção e lhes manifestando inteira
e sincera submissão.
RU 210,1,625 Quando se escreve a pessoas de posição social eminente, não
assenta bem utilizar o termo vós, mas, ao dirigir-se a elas,
deve-se normalmente empregar o vocábulo que exprime
o título correspondente à sua condição. Assim, em vez
de dizer vós, deve-se dizer ao príncipe: Vossa Alteza; aos
bispos, aos duques e pares e aos ministros de Estado: Vossa
Excelência; aos religiosos exercendo função importante:
Vossa Reverência; às pessoas a quem se deve respeito,
convém repetir, de tempos em tempos, no corpo da carta:
Senhor, ou Senhora.
RU 210,1,626 Contudo, é preciso tomar cuidado para não usá-los duas
vezes no mesmo período e não colocá-los depois da palavra
eu ou de pessoa inferior; em geral, deve-se colocar a palavra
meu Senhor antes do título honorífico, e a palavra Senhor
depois de vós, da seguinte maneira: É de vós, Senhor, que
recebi este favor.
RU 210,1,627 No corpo da carta, deve-se empregar o termo que expressa o
título honorífico, cada vez que isso for possível de maneira
natural, sem forçar; do contrário, deve-se usar o termo vós.
Ao usar título honorífico, é preciso colocar a frase na terceira
pessoa, dizendo, por exemplo: Vossa Alteza, meu Senhor,
me permitirá dizer-lhe; bem sabe Vossa Excelência o que
passou, etc. Esse termo que designa condição social deve

141
Rm 16,20. 1Cor 16,23. 2Cor 13,13. Gl 6,18. 1Ts 5,28. 2Ts 3,18, Flm 25.
474 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ser escrito por extenso, pelo menos na primeira vez em que


se emprega em cada página e, quando abreviado, para Vossa
Majestade, usar V. M.; para Vossa Alteza, V. A., e assim para
os demais casos.
RU 210,1,628 O termo Senhor, ou Meu Senhor é colocado também ao final
da carta, segundo a condição da pessoa a quem se escreve. E
essa palavra Senhor deve estar no meio da parte em branco
do papel que sobra entre o fim da carta e as palavras: Vosso
muito humilde e muito obediente servo. O termo Meu
Senhor é colocado o mais embaixo possível. E se, no corpo
da carta, se deu ao destinatário título honorífico, no fim da
mesma, depois do termo Meu Senhor, deve-se escrever, em
seguida, mas um pouco mais abaixo, assim: Meu Senhor, de
vossa Alteza, de Vossa Excelência, ou de Vossa Eminência,
o muito humilde, etc.
RU 210,1,629 Para observar as regras da civilidade, deve-se, ao escre-
ver, tomar cuidado de utilizar termos educados e corteses
obrigatórios na conversação. Não é permitido empregar
linguagem usada com domésticos e amigos quando se trata
de pessoas de condição superior ou que merecem consi-
deração e respeito. Somente é lícito usá-la com pessoas pelo
menos um pouco inferiores. Por exemplo, não se pode dizer:
Vós me fizestes este favor, etc., mas: Vós, Senhor, tivestes a
bondade de fazer-me este favor.
RU 210,1,630 É necessário que o estilo da carta seja adequado ao assunto
tratado. Se, por exemplo, se fala de negócio sério, é preciso
que o estilo seja sério, evitando-se alguma expressão familiar
e, mais ainda, termos para fazer rir.
Igualmente, importa fazer com que o estilo seja claro e
conciso, pois convém, nas cartas, esmerar-se por expressar
os assuntos em poucas palavras. Essa é a maneira de escrever
mais elegante e que mais agrada.
Se uma carta é resposta a outra recebida, deve-se, primeiro,
indicar a data desta e responder artigo por artigo a todos os
pontos em questão e, depois, acrescentar o que se tem de
novo a dizer.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 475

RU 210,1,631 Quando se tem ainda muita coisa a escrever e se nota que não
vai haver suficiente espaço para colocar a palavra Senhor no
seu devido lugar, convém ajeitar a escrita de tal forma que
possam ficar pelo menos duas linhas para a página seguinte,
porque nunca deve haver menos de duas linhas numa página.
No término da carta, como sinal de respeitosa deferência
para com a pessoa a quem se escreve, após as palavras: Sou,
ou outras semelhantes, escrevem-se as palavras seguintes:
Vosso muito humilde e muito obediente servidor.
RU 210,1,632 E elas são colocadas em duas linhas, no fim e no canto direito
do papel. É sempre com esses termos que se termina uma
carta, porque não temos outras formas para expressar nosso
respeito. Um filho que se dirige ao pai, escreve: Vosso muito
humilde e muito obediente filho. Um súdito a seu rei, usa
os termos seguintes: Senhor, de Vossa Majestade o muito
humilde, muito obediente e muito fiel súdito.
RU 210,1,633 Quando alguém escreve a igual ou a pessoa de condição
inferior a ele, sempre deve utilizar termos que manifestam
respeito, tratando a quem se dirige como se fosse simples-
mente superior a ele, nunca usando termo algum indicativo
de amizade ou familiaridade.
Escrevendo-se a pessoa de condição muito inferior à própria,
como um artesão ou agricultor, ordinariamente se evita
chamá-lo Senhor e, ao final, diretamente, se coloca: Com
estima, a seu dispor.
RU 210,1,634 Para terminar, devem-se colocar sempre os termos: Vosso
muito humilde, etc., no nominativo ou acusativo e nunca
no genitivo ou dativo. Por exemplo: Sou vosso, etc. E não:
Mandai a vosso, ou: Recebei de vosso, etc.
RU 210,1,635 A cortesia requer sempre que, ao escrever, se coloquem o dia
do mês e o ano em que se escreve, e não o dia da semana;
e, para maior respeito, deve-se pôr a data bem no fim da
página em que a carta termina, do lado esquerdo, por baixo
da palavra Senhor.
476 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Entretanto, nas cartas de negócios é mais indicado colocar a


data no começo, bem no alto, à direita, porque convém que o
destinatário saiba a data antes de ler a carta. O mesmo pode-
se também fazer ao escrever a um familiar ou inferior.
RU 210,1,636 Ao escrever a pessoa de condição superior, é totalmente
contra o respeito mandar, no fim da correspondência, sau-
dações a outros; e não o é menos enviar saudações ou reco-
mendações a terceiros muito acima da condição pessoal,
ou dar-lhes, por carta, incumbência semelhante. Isto só é
permitido entre amigos e pessoas iguais ou familiares.
RU 210,1,637 Esta forma de saudações, no fim das missivas, se formula
ordinariamente assim: Permita-me, Senhor, por obséquio,
assegurar ao Senhor N. ou à Senhora N. meus humildes
préstimos e cumprimentos. Ou: Peço-lhe humildemente
assegurar, etc. Permiti, por favor, Senhor, que eu envie, por
esta, minhas muito humildes saudações ao Senhor N., à
Senhora N.
Se a carta preenche todas as páginas, até embaixo, não é
educado colocá-la assim no envelope, mas convém cobrir a
última página com folha de papel em branco e prendê-la à
carta escrita, por uma pequena margem142.
RU 210,1,638 Ao escrever a pessoa à qual é devido muito respeito, a
cortesia requer que se insira a carta num envelope, de papel
branco e bem limpo, e se escreva o endereço nele e não sobre
a carta.
O endereço de uma carta se inicia pelos termos: Para o
Senhor, Senhor. Para, se coloca no alto da carta, no início da
linha, no lado esquerdo; e a palavra Senhor, ou então: Para
o Senhor, tudo seguido, se escreve no fim da mesma linha,
ao lado direito; na parte de baixo do envelope ou no verso
da carta repete-se: Para o Senhor; em seguida põe-se o nome
da pessoa à qual se escreve, sua condição e seu endereço, da
seguinte maneira:

142
... dobrada.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 477

RU 210,1,639 Senhor N., Conselheiro do Rei…, rua…… e, bem embaixo,


no canto da carta, lado direito, o nome da cidade em que a
pessoa mora, Paris, por exemplo, se é ali que ela mora.
É muito descortês, da parte de quem escreve, colocar a tarifa
postal da carta (por exemplo, por três soldos).
Ao escrever a pessoa de condição social muito superior à
do remetente, ordinariamente se coloca no alto da carta,
no meio da linha: Para; pelo meio do papel, o restante do
endereço de forma seguida; e, bem embaixo, no canto, o
nome da cidade em que reside o destinatário.
Para pessoa de mesma condição social, ou familiar, ou
inferior pode-se escrever em forma de bilhete. O mesmo
pode também ser feito com pessoas de condição superior às
quais se escreve com frequência. No bilhete, o endereço se
redige como nas cartas.
RU 210,1,640 Quando algum amigo nos pede, ou alguma pessoa digna
de nosso respeito nos ordena abreviar as formalidades em-
pregadas na redação de cartas e escrever na modalidade
de bilhete, isto é, de forma seguida, sem usar Senhor no
cabeçalho e sem deixar espaços em branco, deve-se fazê-lo
para não se tornar incômodo e por respeito a quem o ordena.
RU 210,1,641 Quando se redige um bilhete, deve-se empregar Senhor no
corpo do escrito, depois das primeiras palavras, da seguinte
maneira: Sabeis, Senhor, que, etc., e escrevê-lo e repeti-lo
como numa carta. E, no fim, se escreve, sem interrupção:
Sou inteiramente, Senhor, vosso muito humilde e muito
obediente servidor.
Nunca se deve ler carta, bilhete, papel ou livros estando com
outros, a menos que haja tanta urgência que seja impossível
evitá-lo. Nem sequer é permitido fazê-lo na presença de
outra pessoa, exceto quando se é de posição social muito
superior à dela.
RU 210,1,642 No caso de ver-se obrigado a ler uma carta na presença de
alguém, deve-se apresentar-lhe escusas e solicitar-lhe não
leve a mal que se responda à pessoa que a trouxe. Em se-
478 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

guida, caso se estiver sentado, é preciso levantar-se e retirar-


se à parte para ler a carta silenciosamente.
RU 210,1,643 Depois de se haver começado a ler uma carta ou qualquer
outra coisa em voz alta, para fazê-las conhecidas por outras
pessoas, é completamente descortês baixar a voz ou ler entre
os dentes alguma passagem que se lhe queira esconder.
E quando se leu uma carta à parte, é bom e delicado, ao
voltar ao grupo, dizer a este o que se pode comunicar,
principalmente em se tratando de alguma notícia, para não
dar a impressão de fazer mistério de seus assuntos.
Quando alguém de posição superior entrega uma carta
tratando de assuntos referentes à pessoa que a recebe – o
que esta pode facilmente perceber – ela não a deve abrir nem
ler em presença de quem a entregou.
RU 210,1,644 Se a carta diz respeito a interesses da pessoa que a traz, convém
abri-la em sua presença, após havê-la cumprimentado.
Quando se percebe que uma pessoa quer ler uma carta em
segredo, não é permitido aproximar-se dela, a não ser que
ela mesma o peça.
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 479

ÍNDICE

Apresentação ................................................................................................ 321


Prefácio ........................................................................................................ 325

PRIMEIRA PARTE
Da modéstia que se deve manifestar no porte
e na compostura das diferentes partes do corpo

Capítulo 1º Do porte e da compostura de todo o corpo ............................ 329


Capítulo 2º Da cabeça e das orelhas ......................................................... 331
Capítulo 3º Dos cabelos ........................................................................... 332
Capítulo 4º Do rosto ................................................................................. 334
Capítulo 5º Da testa, das sobrancelhas e das faces ................................... 336
Capítulo 6º Dos olhos e da vista ............................................................... 338
Capítulo 7º Do nariz e da maneira de se assoar e espirrar ....................... 341
Capítulo 8º Da boca, dos lábios, dos dentes e da língua ........................... 343
Capítulo 9º Do falar e da pronúncia .......................................................... 345
Capítulo 10ºDo bocejar, do cuspir e do tossir ............................................ 347
Capítulo 11 Do dorso, dos ombros, dos braços e do cotovelo .................. 350
Capítulo 12 Das mãos, dos dedos e das unhas ........................................... 351
Capítulo 13 Das partes do corpo que se devem ocultar
e das necessidades naturais .................................................... 353
Capítulo 14 Dos joelhos, das pernas e dos pés .......................................... 355

SEGUNDA PARTE
Da cortesia nas ações comuns e ordinárias

Capítulo 1º Do levantar e do deitar ........................................................... 357


Capítulo 2º Da maneira de se vestir e desvestir ........................................ 360
Capítulo 3º Do vestuário ........................................................................... 362
Artigo 1º Da adequação da roupa e da moda ......................................... 362
Artigo 2º Da simplicidade e da limpeza do vestuário .......................... 365
Artigo 3º Do chapéu e da maneira de usá-lo ......................................... 367
Artigo 4º Do manto, das luvas, das meias e dos sapatos, da camisa
e da gravata ............................................................................ 369
Artigo 5º Da espada, da vareta, da bengala e do bastão ......................... 371
Capítulo 4º Da alimentação ...................................................................... 373
Artigo 1º Do que se deve fazer antes de comer: do lavar as mãos;
da bênção da mesa e da maneira de sentar-se à mesa .......... 376
480 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Artigo 2º Das coisas a serem usadas à mesa ........................................ 379


Artigo 3º Da maneira de convidar, pedir, receber
ou servir-se à mesa ................................................................. 382
Artigo 4º Da maneira de cortar e servir as carnes, e de servir
a si mesmo ............................................................................. 384
Artigo 5º Da maneira de comer educadamente ................................... 389
Artigo 6º Da maneira de tomar o cozido .............................................. 392
Artigo 7º Da forma de servir-se do pão e do sal e de tomá-los
e consumi-los ......................................................................... 394
Artigo 8º Como se comportar com os ossos, o molho e as frutas ....... 396
Artigo 9º Da maneira de pedir e receber a bebida e de beber,
estando à mesa ..................................................................... 398
Artigo 10ºDo levantar-se da mesa, e do modo de a servir e limpar .... 401
Capítulo 5º Das diversões ....................................................................... 406
Artigo 1º Da recreação e do riso .......................................................... 406
Artigo 2º Do passeio ............................................................................ 409
Artigo 3º Do jogo .................................................................................. 412
Artigo 4º Do canto ................................................................................. 416
Artigo 5º Das diversões não permitidas ................................................. 418
Capítulo 6º Das visitas ............................................................................ 422
Artigo 1º Da obrigação que a cortesia impõe de fazer visitas
e das disposições que se deve ter ao fazê-las ......................... 422
Artigo 2º Da maneira de entrar na casa da pessoa que se visita .......... 424
Artigo 3º Da maneira de saudar as pessoas visitadas ........................ 426
Artigo 4º Da maneira de se chegar a uma pessoa que se visita,
de sentar-se e se levantar ....................................................... 428
Artigo 5º Da maneira de se despedir e terminar as visitas .................... 430
Artigo 6º Das visitas que se recebem e da maneira
de comportar-se nelas ............................................................ 432
Artigo 7º Da maneira de se comportar quando alguém chega
ao grupo ou dele se retira ....................................................... 434
Capítulo 7º Da fala e da conversa ........................................................... 436
Artigo 1º Das condições que, segundo a cortesia,
devem acompanhar as palavras ............................................ 437
Seção 1ª Da verdade e da sinceridade exigidas
pela cortesia nas palavras ...................................................... 437
Seção 2ª Das transgressões que se podem cometer contra
a cortesia ao falar mal da lei de Deus .................................... 440
REGRAS DO DECORO E DA URBANIDADE CRISTÃOS 481

Seção 3ª Das transgressões que se podem cometer contra


a civilidade faltando, por palavras, contra a caridade
devida ao próximo ................................................................. 443
Seção 4ª Das transgressões contra a civilidade pela fala
inconsiderada, leviana ou inútil ............................................. 446
Artigo 2º De como falar das pessoas e coisas ....................................... 449
Artigo 3º Das diferentes maneiras de falar ............................................ 452
Parágrafo 1º Do que a civilidade prescreve acerca do louvor
e da lisonja ............................................................................ 452
Artigo 4º Da maneira de perguntar, de se informar, de responder
e de opinar .............................................................................. 455
Artigo 5º O que a civilidade permite ou não permite com relação
ao discutir, interromper e replicar ....................................... 457
Artigo 6º Dos cumprimentos e das maneira erradas de falar ............... 461
Capítulo 8º Da maneira de dar e receber, e de portar-se
ao encontrar alguém e ao se aquentar ................................. 464
Capítulo 9º Da maneira de portar-se ao andar pelas ruas e nas viagens
de carruagem e a cavalo ....................................................... 468
Capítulo 10º Das Cartas ............................................................................. 471
3

EXERCÍCIOS DE PIEDADE

FEITOS AO LONGO DO DIA

NAS ESCOLAS CRISTÃS

EP
Página de rosto dos Exercícios de Piedade feitos ao longo
do dia nas Escolas Cristãs, da edição de 1740.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 485

APRESENTAÇÃO

Deste opúsculo, dispomos de muito poucos exemplares das diversas


edições, e de algumas nem sequer nos chegou um único.
Consta que, na vida de São João Batista de La Salle, houve, pelo
menos, uma edição entre 21 de março de 1696 e 2 de novembro de
1705. A esta edição fazia-se referência quando La Salle enviou um lote
de livros para exames antes de imprimi-los, a 2 de novembro de 1702.
Consta como segundo título na série de livros apresentados e se informa
ter sido impresso por Langlois, com autorização do Chanceler e aprovação
do Senhor de Précelles, dada a 21 de março de 1692. Constava de oitenta
e oito páginas, formato pequeno.
A 13 de abril de1705, La Salle obtinha nova autorização, registrada
no dia 23 do mesmo mês, para imprimir suas obras escolares, entre as quais
estão citados os Exercícios de Piedade. A 6 de agosto de 1706, o opúsculo
figura entre as obras entregues, para aprovação, no Gabinete Real.
Na correspondência de La Salle com o Irmão Gabriel Drolin, resi-
dente em Roma, alude ele, várias vezes, a este livrinho. Na carta de 28
de outubro de 1705, lhe diz que vai enviar a Avinhão exemplares das
orações da escola que foram mandadas imprimir. Há, igualmente, alusões
ao opúsculo nas correspondências de 27 de abril, 28 de agosto e 4 de
setembro do mesmo ano.
Na de 28 de agosto, diz-lhe que, talvez, os livros poderiam ser
impressos em Avinhão, onde foram aprovados. E, cinco anos mais tarde, a
12 de maio de 1710, alude novamente ao livro de orações, dizendo que lhe
vai fazer chegar dois exemplares, e que o Irmão Pôncio, de Avinhão, poderá
remetê-los. Tratava-se, por ventura, de nova edição saída em Avinhão?
Em 19 de dezembro de 1711, La Salle obteve nova autorização para
imprimir suas obras escolares. Nas Cartas Reais consta esse título, mas
não se sabe se o santo utilizou tal licença, válida por cinco anos, fazendo
imprimir de novo o livro dos Exercícios de Piedade.
O Cahier Lasallien n. 18 reproduz fotostaticamente o texto da
edição de 1760, feita por Dumesnil. Este texto é o que foi incluído na
edição francesa das Obras Completas de São João Batista de La Salle e o
que serviu para as Obras Completas em português.
486 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

No mesmo Cahier Lasallien, o Irmão Maurice-Auguste indica outras


edições, das quais se conserva algum exemplar.
Os Exercícios de Piedade, por sua natureza, poderiam ser incluí-
dos no volume dos escritos ascéticos e espirituais. Preferiu-se colocás-los
entre os pedagógicos. Isso porque, para La Salle, aprender e realizar os
“exercícios de piedade” constitui parte do programa das Escolas Cristãs
e integra, inclusive, sua primeira finalidade e preocupação: “As aulas (da
manhã) começarão às oito horas e terminarão às onze, estando incluído,
neste período, o tempo da santa Missa e da oração” (RC 27,17). Nas
Escolas Cristãs, os mestres “ensinarão aos alunos a ler, primeiro francês,
segundo latim, terceiro manuscritos, e a escrever. Ensinar-lhes-ão tam-
bém ortografia e aritmética [...]. Porão, contudo, seu principal cuidado em
ensinar-lhes as orações da manhã e da tarde, o Pater, a Ave, o Credo, o
Confiteor, e as mesmas orações em francês; os mandamentos de Deus e
da Igreja; as respostas da santa Missa, o catecismo, os deveres do cristão e
as máximas e práticas que Nosso Senhor nos deixou no santo Evangelho”
(RC 7,4-5).
Neste opúsculo, constam fundamentalmente as orações, em fran-
cês e/ou latim, que eram feitas nas escolas dos Irmãos, orações que
ritmavam toda a sequência das atividades nelas desenvolvidas ao longo
da jornada.
Mas, além das orações, integram também os “exercícios de piedade”
práticas, como as reflexões feitas e resoluções tomadas ao final das aulas
da manhã (2,7-2,8), o exame de consciência realizado no encerramento
das atividades escolares do dia (9,0,1-9,4,5), o aprendizado da função de
coroinha (11,1-12,5) e a assimilação dos “dez artigos de fé que o cristão
está obrigado a crer e saber” (13,1-13,11).
De notar a frequência com que se repete, ao longo do dia: “Lem-
bremo-nos de que estamos na santa presença de Deus...”. É a prática
conhecida como o exercício da presença de Deus, prática que até hoje se
perpetua no mundo lassalista.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 487

EP EXERCÍCIOS DE PIEDADE FEITOS AO LONGO DO


DIA NAS ESCOLAS CRISTÃS

EP 1 Orações rezadas na escola em diversos momentos pela


manhão, al comienzo de
EP 1,1 Às oito, quando iniciam as aulas.
† In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen.
EP 1,2 Lembremo-nos de que estamos na santa presença de Deus e
digamos: Veni Sancte Spiritus, reple tuorum corda fidelium,
et tui amoris in eis ignem accende.
V. Emitte Spiritum tuum et creabuntur.
R. Et renovabis faciem terræ.
Oremus.
Deus qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuisti:
da nobis in eodem Spiritu recta sapere, et de ejus semper
consolatione gaudere. Per Christum Dominum nostrum. R.
Amen.
EP 1,3 Eu vos adoro, meu Salvador Jesus, e vos reconheço como
meu Mestre. Peço-vos que me ensineis a vos conhecer, amar e
servir. É para aprendê-lo que venho à escola e, com o auxílio
de vossa santa graça, tomo a resolução de reter bem e praticar
as santas instruções que me haveis de dar.
EP 1,4,1 V. Angelus Domini, nuntiavit Mariæ.
R. Et concepit de Spiritu Sancto.
Ave Maria, etc. Sancta Maria, etc.
V. Ecce ancilla Domini.
R. Fiat mihi secundum verbum tuum.
Ave Maria, etc. Sancta Maria, etc.
V. Et Verbum caro factum est.
R. Et habitavit in nobis.
Ave Maria, etc. Sancta Maria, etc.
V. Ora pro nobis sancta Dei Genitrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.
EP 1,4,2 Oremus.
Gratiam tuam quæsumus, Domine, mentibus nostris infunde,
488 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

ut qui ângelo nuntiante Christi filii tui incarnationem cog-


novimus, per passionem ejus et crucem ad resurrectionis
gloriam perducamur. Per eumdem Christum Dominum nos-
trum. Amen.
EP 1,4,3 Esta oração, o Ângelus, até o final da coleta Gratiam, deve
ser rezada três vezes ao dia: pela manhã, ao meio-dia e à
tarde, ao toque do sino, chamado Ângelus. Caso não se ouvir
tocá-lo, convém que seja rezado após a oração da manhã,
após a ação de graças do desjejum e após a ação de graças
da merenda.
EP 1,5,1 Em seguida, faz-se um dos atos de fé indicados mais adiante,
segundo a sequência semanal. Após o que, se reza a bênção
do desjejum, da seguinte forma:
EP 1,5,2 Benedicite. R. Dominus, nos et ea quæ sumus sumpturi
benedicat dextera Christi.
† In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. R. Amen.

EP 1,6 Às oito e meia, faz-se a ação de graças, do modo a seguir:


† In nomine Patris, etc.
Lembremo-nos de que estamos, etc.
Agimus tibi gratias rex omnipotens Deus, pro universis
beneficiis tuis, qui vivis et regnas in sæcula sæculorum. R.
Amen.
V. Beata viscera Mariæ Virginis quæ portaverunt æterni Patris
Filium. R. Amen.
V. Divinum auxilium maneat semper nobiscum. R. Amen.
V. Benedicamus Domino. R. Deo gratias.
V. Fidelium animæ per misericordiam Dei requiescant in
pace. R. Amen.
Pater noster, etc.
V. Et ne nos inducas in tentationem.
R. Sed libera nos a malo.
V. Deus det nobis suam pacem.
R. Et vitam æternam. Amen.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 489

EP 1,7 Laudate Dominum omnes gentes, laudate eum omnes populi.


Quoniam confirmata est super nos misericordia ejus, et veritas
Domini manet in æternum.
Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.
Sicut erat in principio et nunc et semper, et in sæcula sæcu-
lorum. Amen.
EP 1,8 Meu Deus, vou fazer esta ação por amor vosso. Permiti-me
que vo-la ofereça em honra e em união às ações realizadas
por vosso Filho Jesus Cristo quando esteve nesta terra. Con-
cedei-me a graça de fazê-la bem feita, e que ela vos possa ser
agradável. Continuarei, meu Deus, fazendo todas as minhas
ações por amor vosso. Em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo. Amém.
EP 1,9 Todas as orações feitas durante o tempo das aulas terminam
com este ato precedente: Continuarei, etc.
Convém fazer esse ato de oferecimento ao início de todas as
ações.
P 1,10 Cada uma das lições particulares é sempre começada pela
oração seguinte, sendo que um aluno da lição a reza em voz
alta, e os demais a rezam com ele em tom mais sumido.
Meu Deus, vou ler minha lição por amor vosso. Dai-me, por
favor, a vossa bênção.
Continuarei, etc.
EP 1,11 Terminada a leitura, se diz: Bendito seja Deus.
O último a ler em cada lição, ao concluir a leitura, diz:
Bendito seja Deus para sempre.

EP 1,12 Às nove e às dez, se fazem as orações seguintes:


† In nomine Patris, etc.
Lembremo-nos de que estamos, etc.
Benditos sejam o dia e a hora do Nascimiento, da Morte e da
Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meu Deus, eu vos entrego o meu coração. Dai-me a graça de
passar esta hora e o resto do dia em vosso santo amor e sem
vos ofender.
Ave, Maria, etc. Santa Maria, etc.
490 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 1,13 Em seguida, se faz um dos atos de fé indicados mais adiante,


segundo a sequência da semana.

EP 2 Orações rezadas ao final das aulas da manhã


EP 2,1 A oração seguinte é rezada sempre ao final das aulas da
manhã e da tarde.
Meu Deus, eu vos agradeço todas as instruções que me destes
hoje na escola. Dai-me a graça de tirar proveito delas e de ser
fiel em praticá-las.
EP 2,2 Lembremo-nos de que estamos, etc.
Meu Deus, eu creio firmemente que estais em toda parte, e
que estais presente aqui; que me vedes e me ouvis. Creio que
nada está escondido para vós, e que conheceis todos os meus
pensamentos e o íntimo de meu coração.
EP 2,3 Peçamos a ajuda do Espírito Santo para fazer bem nossa
oração.
Espírito Santo, vinde a mim. Enchei meu coração de vosso
santo amor e, com o auxílio de vossa graça, dai-me verdadeira
devoção e atenção em minhas orações.
EP 2,4 Adoremos a Santíssima Trindade.
Santíssima Trindade, um só Deus em três pessoas, Pai, Filho
e Espírito Santo, eu vos adoro com profundíssimo respeito,
e vos amo de todo o meu coração, como a meu Deus e meu
soberano Senhor. Reconheço que fostes vós que criastes todas
as coisas, e que eu sou criatura vossa, que não tenho nada por
mim mesmo, e que de nada sou capaz a não ser de pecar. Por
isso, meu Deus, submeto-me inteiramente a vós. Disponde de
mim como vos aprouver.
EP 2,5 Agradeçamos a Deus as graças e benefícios que dele
recebemos.
Meu Deus, eu vos agradeço ter-me dado a vida e de me havê-
la conservado até agora; de haverdes criado minha alma para
vos conhecer, amar e servir neste mundo e por a terdes criado
imortal para gozar, depois desta vida, de felicidade eterna.
Agradeço-vos haver-me feito cristão, livrado e preservado de
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 491

numerosos pecados e favorecido com todas as graças que de


vós recebi.
EP 2,6 Tributemos nossas homenagens a Jesus Cristo Nosso Senhor.
Eu vos adoro, meu Salvador Jesus, Filho único e eterno de
Deus, que vos fizestes homem, fostes concebido pelo Espírito
Santo e nascestes da Santíssima Virgem. Obrigado pela bon-
dade que tivestes de morrer numa cruz para satisfazr a Deus
por meus pecados, livrar-me das penas do inferno e merecer-
me a vida eterna. Entrego-me inteiramente a vós, a fim de só
viver para vos amar. Reinai, pois, em meu coração, todos os
dias de minha vida, por vosso santo amor, e fazei que, depois
de minha morte, eu reine convosco no céu. Amém.
EP 2,7 O aluno que preside a oração lê todos os dias os cinco pontos
seguintes de reflexão e, depois de os haver lido, repete aqueles
que o mestre deve explicar no dia. Quando há cinco dias de
aula na semana, no primeiro dia repete o primeiro ponto;
no segundo dia, o segundo, e assim por diante. Quando há
somente quatro dias de aula, começa por repetir o segundo
ponto. E quando só há três dias de aula na semana, não
repete os dois primeiros, mas começa repetindo o terceiro.
EP 2,8 Para dispor-se a não cair hoje em pecado, é necessário fazer
algumas reflexões e tomar algumas boas resoluções.
1. É preciso pensar que este dia nos foi concedido unicamente
para trabalhar em nossa salvação.
2. É preciso ter presente que este dia será, talvez, o último de
nossa vida.
3. É preciso tomar o firme propósito de empregar todo este
dia em servir bem a Deus, para ganhar a vida eterna.
4. É preciso dispor-se a hoje morrer antes que ofender a Deus.
5. É preciso pensar nas faltas em que caímos com mais
frequência, prever as ocasiões que nos levam a cair nelas, e
buscar os meios para evitá-las.
EP 2,9 Ofereçamo-nos a Deus com as boas resoluções que tomamos.
Fostes vós, meu Deus, que me inspirastes as boas resoluções
que acabo de tomar. Eu vo-las ofereço todas. Abençoai-as,
por favor, e fazei que eu as cumpra, para vossa glória e minha
492 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

salvação. Ofereço-vos todos os meus pensamentos, palavras


e ações, em união aos de Jesus Cristo Nosso Senhor e, com
o auxílio de vossa santa graça, me proponho não dizer nem
fazer hoje nada que não seja para vosso serviço.
EP 2,10 Peçamos a Deus a graça de viver bem e de não ofendê-lo
durante este dia.
Meu Deus, que me concedestes mais este dia para vos ser-
vir, acompanhai-me com vosssa graça para conhecer vossa
santa vontade e cumpri-la em tudo. Não permitais que eu
hoje seja tão infeliz de vos ofender, pois prefiro morrer a
cometer um só pecado, e vos suplico me perdoeis todos os
que cometi até hoje.
EP 2,11 Tenhamos a confiança de alcançar o que pedimos a Deus,
dirigindo-lhe a oração ensinada por Nosso Senhor e que
contém sete pedidos.
Pater noster qui es in coelis, sanctificetur nomen tuum.
Adveniat regnum tuum. Fiat voluntas tua, sicut in coelo et in
terra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie. Et dimitte
nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus debitoribus
nostris. Et ne nos inducas in tentationem. Sed libera nos a
malo. Amen.
EP 2,12 Saudemos a Santíssima Virgem e peçamos que ela interceda
por nós.
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum, benedicta tu in
mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Jesus.
Sancta Maria mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et
in hora mortis nostræ. Amen.
EP 2,13 Façamos um ato de fé nos principais mistérios de nossa santa
religião, rezando o Símbolo composto pelos Apóstolos, e que
está dividido em doze artigos.
Credo in Deum, Patrem omnipotentem creatorem coeli et
terræ. Et in Jesum Christum Filium ejus unicum Dominum
nostrum. Qui conceptus est de Spiritu Sancto, natus ex
Maria Virgine. Passus sub Pontio Pilato. Crucifixus, mortuus
et sepultus. Descendit ad inferos, tertia die, resurrexit a
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 493

mortuis. Ascendit ad coelos, sedet ad dexteram Dei Patris


omnipotentis. Inde venturus est judicare vivos et mortuos.
Credo in Spiritum Sanctum. Sanctam ecclesiam catholicam.
Sanctorum communionem. Remissionem peccatorum. Carnis
resurrectionem. Vitam æternam. Amen.
EP 2,14 Confessemos humildemente a Deus os nossos pecados.
Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini,
beato Michaeli archangelo, beato Joanni-Baptistæ, sanctis
apostolis Petro et Paulo, omnibu sanctis, et tibi pater, quia
peccavi nimis cogitatione, verbo et opere, mea culpa, mea
culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam
semper Virginem, beatum Michaelem archangelum, beatum
Joannem-Baptistam, sanctos apostolos Petrum et Paulum,
omnes sanctos, et te pater orare pro me ad Dominum Deum
nostrum.
EP 2,15 Invoquemos a nosso santo anjo da guarda e a todos os nossos
santos padroeiros e protetores.
Santo anjo da guarda, eu vos rogo que continueis com o
cuidado que tendes com minha salvação. Dai-me a conhecer
a vontade de Deus em tudo o que devo fazer hoje, e conduzi-
me pelo caminho do céu.
EP 2,16 (Na oração seguinte, deve-se dizer o nome do padroeiro da
paróquia).
São José, N., São Nicolau, meu santo padroeiro e vós, todos
os santos e santas que sois felizes com Deus, alcançai-me,
com vossas preces, a graça de viver bem, imitando-vos, e de
bem morrer. Assim seja.
EP 2,17 Peçamos a Deus pelas almas do purgatório.
Meu Deus, fazei, por favor, que as almas dos falecidos em
vosso serviço e que padecem no purgatório, repousem em paz
no céu. Amém.
EP 2,18 Peçamos a Deus a sua santa bênção.
Meu Deus, dai-me a graça de passar todo este dia em vosso
santo amor e sem vos ofender. E para isso, concedei-me vossa
santa bênção, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.
494 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 2,19 A seguinte oração é rezada imediatamente antes de sair


da escola para ouvir a santa Missa. Quando se vai ouvi-la
durante o tempo das aulas, faz-se o sinal da santa cruz antes
de iniciar esta oração; mas indo ouvi-la ao final das aulas,
depois do último ato da oração da manhã, se começa sem
fazer o sinal da cruz e estando todos os alunos de joelhos.

EP 2,20 Antes de ir à santa Missa


Meu Salvador Jesus, eu quero ouvir a santa Missa para vos
honrar e agradecer todos os vossos benefícios, particular-
mente por haverdes morrido por mim. Faço-o também para
pedir-vos as graças de que necessito e o perdão de meus
pecados. Fazei-me o favor de que, durante todo o tempo deste
santo sacrifício, meu espírito, unido às intenções da Igreja e do
sacerdote, se concentre unicamente em vós, que meu coração
sinta desejo ardente de vos receber, e que eu não deixe de me
lembrar daquilo que sofrestes por mim no Calvário.
Continuarei, meu Deus, etc.

EP 2,21 De regresso da santa Missa


Tendo todos os alunos voltado à escola, e estando cada um
ajoelhado em seu lugar, depois de feito o sinal da cruz, reza-
se o ato seguinte:
Meu Salvador Jesus, obrigado pela graça que me concedestes
hoje de assistir à santa Missa, e por todas aquelas que nela
recebi. Peço-vos perdão das faltas que nela cometi e vos rogo
me concedais, pelo poder deste santo sacrifício, toda ajuda de
que necessito para não vos ofender durante este dia, e para
vos servir fielmente pelo resto de minha vida.
Continuarei, meu Deus, etc.

EP 3 Na saída da escola
Orações rezadas após a oração da manhã e da tarde,
enquanto os alunos vão saindo da escola
EP 3,1 Aquele que preside diz, em voz alta e clara:
Rezemos por nossos professores, por nossos pais e por todos
os nossos benfeitores vivos, para que Deus os conserve na
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 495

fé da Igreja Católica, Apostólica e Romana, e em seu santo


amor, e digamos: Pater noster, etc., Ave Maria, etc., Credo,
etc., assim como acima, na oração da manhã.
EP 3,2 Os demais alunos continuam rezando com ele em voz mais
sumida, até o fim do Símbolo.
EP 3,3 Terminada a oração do Símbolo, quem preside as orações diz:
Roguemos a Deus por nossos professores, nossos pais e nossos
benfeitores falecidos, e oremos pelo repouso de suas almas:
De profundis clamavi ad te Domine; Domine exaudi vocem
meam.
Fiant aures tuæ intendentes: in vocem deprecationis meæ.
Si iniquitates observaveris Domine; Domine quis sustinebit?
Quia apud te propitiatio est: et propter legem tuam sustinui te
Domine,
Sustinuit anima mea in verbo ejus: speravit anima mea in
Domino.
A custodia matutina usque ad noctem: speret Israel in Domino.
Quia apud Dominum misericordia et copiosa apud eum
redemptio.
Et ipse redimet Israel: ex omnibus iniquitatibus ejus.
V. Requiem æternam dona eis Domine.
R. Et lux perpetua luceat eis.
V. A porta inferi.
R. Erue Domine animas eorum.
V. Requiescant in pace. R. Amen.
V. Domine exaudi orationem meam.
R. Et clamor meus ad te veniat.
EP 3,4 Todas as orações são rezadas alternadamente na forma acos-
tumada nas escolas, o que preside a oração rezando um ver-
sículo e os alunos o seguinte. Depois, aquele que preside diz:
Oremus.
Fidelium Deus, omnium conditor et redemptor animabus
famulorum famularumque tuarum, remissionem cunctorum,
tribue peccatorum, ut indulgentiam quam semper optaverunt,
piis supplicationibus consequantur. Qui vivis et regnas in
sæcula sæculorum.
Todos os alunos respondem: Amen.
496 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 3,5 Concluídas as orações, quem as preside continua, em voz alta:


Peçamos a Deus perdão das faltas que cometemos no dia de
hoje na escola e, com essa intenção, digamos:
EP 3,5,1 Miserere mei Deus: secundum magnam misericordiam tuam.
Et secundum multitudinem miserationum tuarum: dele iniqui-
tatem meam.
Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo
munda me.
Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum
meum contra me est semper.
Tibi soli peccavi, et malum coram te feci: ut justificeris in
sermonibus tuis et vincas cum judicaris.
Ecce enim in iniquitatibus conceptus sum: et in peccatis
concepit me mater mea.
Ecce enim veritatem dilexisti: incerta et occulta sapientiæ tuæ
manifestasti mihi.
EP 3,5,2 Asperges me hyssopo, et mundabor: lavabis me, et super
nivem dealbabor.
Auditui meo dabis gaudium et lætitiam: et exultabunt ossa
humiliata.
Averte faciem tuam a peccatis meis: et omnes iniquitates
meas dele.
Cor mundum crea in me Deus: et spiritum rectum innova in
visceribus meis.
Ne projicias me a facie tua: et spiritum sanctum tuum ne
auferas a me.
Redde mihi lætitiam salutaris tui: et spiritu principali
confirma me.
Docebo iniquos vias tuas: et impii ad te convertentur.
Libera me de sanguinibus Deus Deus salutis meæ: et exaltabit
lingua mea justitiam tuam.
EP 3,5,3 Domine labia mea aperies: et os meum annuntiabit laudem
tuam.
Quoniam si voluisses sacrificium, dedissem utique: holocaustis
non delectaberis.
Sacrificium Deo spiritus contribulatus: cor contritum, et
humiliatum Deus non despicies.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 497

Benigne fac Domine, in bona voluntate tua Sion: ut ædificentur


muri Jerusalem.
Tunc acceptabis sacrificium justitiæ, oblationes et holocausta:
tunc imponent super altare tuum vitulos.
Gloria Patri, et Filio, etc.
EP 3,5,4 Este salmo é rezado alternadamente, assim como o salmo De
profundis.
Concluído o salmo Miserere, quem preside começa a antífona
Ne reminiscaris, e os demais a rezam com ele.
Ne reminiscaris Domine, delicta nostra, vel parentum
nostrorum, neque vindictam sumas de peccatis nostris: parce
Domine, parce servis tuis, quo pretioso sanguine tuo redemisti,
ne in æternum irascaris nobis.
EP 3,6 Depois, quem preside as orações diz os versículos seguintes,
e os alunos as respostas.
V. Delicta juventutis meæ.
R. Et ignorantias meas ne memineris Domine.
V. Domine exaudi orationem meam.
R. Et clamor meus ad te veniat.
Depois, aquele que preside diz: Oremus. Deus, cui proprium
est misereri semper et parcere, suscipe deprecationem
nostram, ut nos et omnes famulos tuos, quos delictorum
catena constringit, miseratio tuæ pietatis clementer absolvat.
Per Christum Dominum nostrum.
Os demais alunos respondem: Amém.
EP 3,7 Depois disso, aquele que preside diz:
V. Exaudiat nos Jesus Christus Dominus noster.
Ao que os demais respondem:
R. Nunc et semper et in sæcula sæculorum. Amen.

EP 4 Orações acrescidas à oração da manhã e da tarde quando


da morte de algum professor ou aluno
EP 4,1 Quando, em alguma cidade, falecer um dos professores,
nos três primeiros dias subsequentes a seu falecimento,
se rezará o salmo De profundis ao final da oração pelas
almas do purgatório, e antes da bênção, se rezará o salmo
498 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

De profundis, aquele que preside as orações rezando um


versículo, e os demais o seguinte, como indicado antes, até
a coleta Fidelium exclusivamente, em lugar da qual o que
preside as orações rezará a seguinte, dessa forma:
Oremus.
Inclina, Domine, aurem tuam ad preces nostras, quibus
misericordiam tuam supplices deprecamur, ut animam
famuli tui, quam de hoc sæculo migrare jussisti, in pacis ac
lucis regione constituas, et sanctorum tuorum jubeas esse
consortem. Per Christum Dominum nostrum.
Os outros todos respondem: Amém.
EP 4,2 Quando falecer um aluno de uma das classes de alguma escola,
em todas as classes, apenas desta escola, se rezará o salmo
De profundis, e o restante como se indicou anteriormente,
com a coleta Inclina Domine, etc., no primeiro dia após seu
falecimento, ao final da oração da tarde, desde que o aluno
tenha tido ao menos sete anos de idade1.
Actos de fe que se dicen cada día de la semana
EP 5 Atos de fé rezados cada dia da semana

EP 5,1 No domingo
Façamos um até de fé em geral.
Meu Deus, creio firmemente tudo o que a Igreja crê e me
ordena crer, porque vós lho haveis revelado. Nessa crença,
vos adoro e vos amo de todo o meu coração. Continuarei,
meu Deus, fazendo todas as minhas ações por amor vosso.
† In nomine Patris, etc.

EP 5,2 Na segunda-feira
Façamos um ato de fé no mistério da Santíssima Trindade.
Meu Deus, creio firmemente que sois um só Deus em três
pessoas, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, porque vós o
dissestes. Nessa crença, vos adoro e vos amo de todo o meu
coração. Continuarei, meu Deus, fazendo todas as minhas

1
Porque sete anos é a idade da razão (DC1: 303,1,8; 308,2,2), antes da qual o
aluno não pode cometer pecado pessoal.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 499

ações por amor vosso.


† In nomine Patris, etc.

EP 5,3 Na terça-feira
Façamos um ato de fé na imortalidade de nossas almas.
Meu Deus, creio firmemente que me destes uma alma imortal,
para vos conhecer, amar e servir neste mundo e para gozar de
vós eternamente no céu. Nessa crença, vos adoro e vos amo
de todo o meu coração. Continuarei, etc.

EP 5,4 Na quarta-feira
Façamos um ato de fé no mistério da Encarnação.
Meu Salvador Jesus Cristo, creio firmemente que sois o Filho
único de Deus Pai; que vos fizestes homem por amor de nós;
e que tomastes corpo e alma semelhantes aos nossos no seio
da Santíssima Virgem Maria, vossa mãe. Nessa crença, vos
adoro e vos amo de todo o meu coração. Continuarei, etc.

EP 5,5 Na quinta-feira
Façamos um ato de fé no mistério da Sagrada Eucaristia.
Meu Salvador Jesus Cristo, creio firmemente que estais no
Santíssimo Sacramento do Altar sob as aparências do pão
e do vinho, e que vosso corpo, vosso sangue, vossa alma e
vossa divindade se encontram nele tão realmente como estão
no céu. Nessa crença, vos adoro e vos amo de todo o meu
coração. Continuarei, etc.

EP 5,6 Na sexta-feira
Façamos um ato de fé no mistério da Redenção.
Meu Salvador Jesus Cristo, creio firmemente que sofrestes e
morrestes numa cruz para me livrar de meus pecados e das
penas do inferno, e para me salvar. Nessa crença, vos adoro e
vos amo de todo o meu coração. Continuarei, etc.

EP 5,7 No sábado
Façamos um ato de fé no mistério da Ressurreição.
Meu Salvador Jesus Cristo, creio firmemente que ressusci-
tastes por vosso poder, no terceiro dia após vossa morte.
500 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Creio que também eu ressuscitarei no fim do mundo para


comparecer diante de vós no juízo final. Nessa crença, vos
adoro e vos amo de todo o meu coração. Continuarei, etc.

EP 6 Orações rezadas na escola depois do meio-dia


EP 6,1 A uma hora e meia, no início das aulas.
† Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Lembremo-nos de que estamos na santa presença de Deus.
EP 6,1,1 Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e
acendei neles o fogo de vosso amor.
V. Enviai, Senhor, o vosso Santo Espírito para dar-nos vida
nova.
R. E renovareis a face da terra.
EP 6,1,2 Oremos.
Meu Deus, que iluminastes vossos fiéis com as luzes do
Espírito Santo, difundidas por vós em seus corações, con-
cedei-nos, pelo mesmo Espírito, apreciar os verdadeiros
bens e gozar sempre de sua consolação. É o que vos pedimos
por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém. Eu vos adoro, meu
Salvador Jesus, e vos reconheço por meu Mestre. Peço-vos
me ensineis a vos conhecer, amar e servir. É para aprendê-lo
que venho à escola. Com o auxílio de vossa santa graça, tomo
a resolução de reter bem e praticar as santas instruções que
nela me dareis.
Ave, Maria, etc. Santa Maria, etc.
EP 6,2 Em seguida, se faz um dos atos de fé indicados anteriormente,
depois do que não se diz: Continuarei, etc., mas se acrescenta
o ato seguinte:
Meu Deus, vou fazer esta ação por amor vosso. Permiti que
vo-la ofereça em união com as ações que Jesus Cristo, vosso
Filho, realizou quando esteve na terra, e concedei-me a graça
de fazê-la bem, para que ela vos possa ser agradável.
EP 6,3 Às duas e às três horas.
† Em nome do Pai, etc.
Lembremo-nos de que estamos, etc.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 501

Benditos sejam o dia e a hora do Nascimento, Morte e


Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo .
Meu Deus, entrego-vos o meu coração. Dai-me a graça de
passar esta hora e o restante do dia em vosso santo amor e
sem vos ofender.
Ave, Maria, etc. Santa Maria, etc.
Faz-se um dos atos anteriormente indicados. Continuarei,
etc.
EP 6,4 Às três e meia, faz-se o ato da bênção da seguinte maneira:
† Em nome do Pai, etc.
Lembremo-nos de que estamos, etc.
Meu Deus, dignai-vos abençoar o alimento que vou tomar.
Não permitais que ele me seja ocasião de vos ofender, mas
fazei, vos suplico, que sirva unicamente para conservar-
me a vida para vosso serviço. Por vosso amor, renuncio a
toda tentação de sofreguidão e prazer sensual que possa
experiementar ao comer. Peço-vos a graça de não sucumbir
a ela, e de comer com a sobriedade e a moderação que Jesus
Cristo, vosso Filho, demonstrou nesta ação, e com as mesmas
intenções que Ele tinha ao fazê-la, que são as que o cristão
deve ter sempre em suas refeições. Continuarei, etc.
EP 6,5 Às quatro horas, faz-se a ação de graças depois da merenda,
da seguinte maneira:
† Em nome do Pai, etc.
Lembremo-nos de que estamos, etc.
Meu Deus, eu vos agradeço o alimento que acabais de me
conceder. Já que é a vós que o devo, peço-vos que me conce-
dais a graça de empregar as forças que ele me dá unicamente
para vos servir melhor. Fazei também, meu Deus, que esta ação
de comer, que torna os homens semelhantes aos irracionais,
não me impeça ser semelhante aos anjos, bendizendo-vos
sem cessar na terra enquanto eles vos adoram no céu, e
louvando-vos eternamente com eles e com os espíritos bem-
aventurados, depois desta vida. Continuarei, etc.
Oraciones que se dicen antes y después del catecismo
502 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 7 Orações rezadas antes e depois do catecismo.


EP 7,1 Antes de começar o catecismo, canta-se um cântico para
dispor-se a escutá-lo e tirar proveito dele, depois de se haver
rezado a oração seguinte:
Meu Deus, vou escutar atentamente o catecismo por vosso
amor. Concedei-me a graça de aprender, nele, a vos conhecer,
amar e servir, e de praticar fielmente o que tiver aprendido.
Continuarei, etc.
EP 7,2 Práticas particulares relativas ao catecismo e às orações
rezadas antes e depois dele.
EP 7,2,1 Todos os dias se dá, pela tarde, catecismo de meia hora, das
quatro horas até as quatro e meia.
EP 7,2,2 Nos dias em que há recesso unicamente pela tarde, o catecismo
é dado, durante meia hora, ao final das aulas da manhã. Nas
vésperas dos dias inteiros sem aula, o catecismo é explicado
sobre os principais mistérios, das três horas e meia às quatro
e, depois, sobre a lição da semana, das quatro às quatro
horas e meia. Nos domingos e festas, é dado durante meia
hora sobre os principais mistérios e uma hora sobre a lição
da semana; leva-se os alunos às Vésperas, e se começa tudo
pontualmente a uma hora.
EP 7,2,3 Nas vésperas dos dias feriados, ao final da bênção da
merenda, não se diz: Continuarei, etc., mas se canta o cântico
de invocação ao Espírito Santo2 e, depois, se reza a oração
antes do catecismo: Meu Deus, vou escutar, etc.
Neste dia, às quatro horas, se reza apenas o ato de ação de
graças após a merenda: Meu Deus, eu vos, etc.
EP 7,2,4 Desde 1º de novembro até o último dia de janeiro inclusive,
os alunos não tomarão merenda, mas se inicia o catecismo às
três e meia, com as oraçãos seguintes: Em nome do Pai, etc.
Lembremo-nos de que estamos, etc.
Canta-se em seguida o cântico de invocação ao Espírito
Santo e, em seguida, se reza: Meu Deus, vou escutar, etc.

2
Há um cântico para cada dia da semana (CE 1).
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 503

EP 7,2,5 Nos domingos e festas e nos dias em que se dá o catecismo


da uma e meia às três horas, e que são a Quarta-feira Santa
e a véspera da festa de Natal, se inicia o catecismo pelos
principais mistérios; rezam-se as mesmas orações que em
todos os demais dias no começo das aulas da tarde.
EP 7,2,6 Antes de iniciar o catecismo longo, recitam-se as orações
rezadas às duas e três horas da tarde nos dias de aula, após
as quais se canta, por inteiro, o cântico que se veio cantando
durante a semana e, em seguida, se reza: Meu Deus, vou
escutar, etc.
Ao término do catecismo, se recita o ato que se costuma rezar
no final das aulas: Meu Deus, eu vos agradeço, etc.

EP 8 Orações rezadas ao final das aulas da tarde


EP 8,1 † Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Meu Deus, eu vos agradeço todas as instruções que me destes
hoje na escola. Dai-me a graça de tirar proveito delas e de ser
fiel em praticá-las.
EP 8,2 Lembremo-nos de que estamos na santa presença de Deus, e
digamos:
Meu Deus, creio firmemente que estais em toda parte, e que
estais presente aqui; que me vedes e me ouvis. Creio que
nada está escondido para vós, e que conheceis todos os meus
pensamentos e o íntimo de meu coração.
EP 8,3 Imploremos a assistência do Santo Espírito para fazer bem
nossa oração.
Santo Espírito, vinde a mim. Enchei meu coração com vosso
santo amor e, com o auxílio de vossa graça, dai-me verdadeira
devoção e atenção em minhas orações.
EP 8,4 Adoremos a Santíssima Trinidade.
Santíssima Trinidade, um só Deus em três pessoas, Pai, Filho
e Espírito Santo, eu vos adoro com profundíssimo respeito,
e vos amo de todo o meu coração, como a meu Deus e meu
soberano Senhor. Reconheço que fostes vós que criastes todas
as coisas, e que eu sou criatura vossa, que não tenho nada por
504 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

mim mesmo, e que de nada sou capaz a não ser de pecar. Por
isso, meu Deus, submeto-me inteiramente a vós. Disponde de
mim como vos aprouver.
EP 8,5 Agradeçamos a Deus as graças e benefícios que dele
recebemos.
Meu Deus, eu vos agradeço ter-me dado a vida, e me havê-la
conservado até agora; por haverdes criado minha alma para
vos conhecer, amar e servir neste mundo, e por a terdes criado
imortal para gozar, depois desta vida, de felicidade eterna.
Agradeço-vos haver-me feito cristão, livrado e preservado de
numerosos pecados e favorecido com todas as graças que de
vós recebi.
EP 8,6 Tributemos nossas homenagens a Jesus Cristo Nosso Senhor.
Eu vos adoro, meu Salvador Jesus, Filho único e eterno de
Deus, que vos fizestes homem, fostes concebido pelo Espírito
Santo e nascestes da Santíssima Virgem. Obrigado pela
bondade que tivestes de morrer numa cruz para satisfazer
a Deus por meus pecados, livrar-me das penas do inferno e
merecer-me a vida eterna. Entrego-me inteiramente a vós, a
fim de só viver para vos amar.Reinai, pois, em meu coração,
todos os dias de minha vida por vosso santo amor, e fazei que,
depois de minha morte, eu reine convosco no céu. Amém.
EP 8,7 Como pecadores, apresentemo-nos confusos ante Deus, e
peçamos-lhe conhecer todos os nossos pecados.
Vós sabeis, ó meu Deus, que eu vivo em profunda cegueira
e que a maior parte de meus pecados me são desconhecidos.
Iluminai meu espírito com vossa luz para conhecê-los todos e
infundi em meu coração dor sincera que me leve a odiá-los e
detestá-los por amor vosso.
EP 8,8 Confessemos humildemente a Deus nossos pecados.
Confesso-me a Deus todo-poderoso, à bem-aventurada sem-
pre Virgem Maria, a São Miguel Arcanjo, a São João Batista,
aos apóstolos São Pedro e São Paulo, e a todos os santos, por-
que pequei muitas vezes, por pensamentos, palavras e ações,
por minha culpa, minha grande culpa, por minha máxima
culpa. Por isso, rogo à bem-aventurada Maria sempre virgem,
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 505

a São Miguel Arcanjo, a São João Batista, aos apóstolos São


Pedro e São Paulo, e a todos os santos, que roguem a Nosso
Senhor e nosso Deus que tenha misericórdia de nós.
EP 8,9 Somente nos domingos e nas festas que ocorrem nas quar-
tas-feiras, em lugar do exame, se recitam os mandamentos de
Deus e da Igreja e os sete pecados capitais.
Recitemos os mandamentos de Deus e da Igreja e os sete
pecados capitais, para examinar-nos mais facilmente sobre
os pecados que cometemos.
EP 8,9,1 1. A um só Deus adorarás e amarás perfeitamente.
2. Em vão a Deus não jurarás, nem a outra coisa semelhan-
temente.
3. Os domingos guardarás, servindo a Deus devotamente.
4. Teu pai e tua mãe honrarás, para que vivas longamente.
5. Homicídio não cometerás, nem por desejo, nem efeti-
vamente.
6. Impureza não cometerás, nem física nem mentalmente.
7. Os bens alheios não tomarás, nem guardarás consciente-
mente.
8. Falso testemunho não darás, nem mentirás absolutamente.
9. Relações carnais desejarás no matrimônio tão-somente.
10. Os bens alheios não cobiçarás para tê-los injustamente.

EP 8,9,2 Os mandamentos da Igreja


1. Nos domingos e festas de preceito, a Missa ouvirás intei-
ramente.
2. Todos os pecados confessarás ao menos anualmente.
3. Teu Criador receberás ao menos na Páscoa humildemente.
4. As festas prescritas santificarás obrigatoriamente.
5. Nas Quatro Têmporas, nas vigílias jejuarás, e na Quaresma
inteiramente.
6. Na sexta carne não comerás e no sábado igualmente.

EP 8,9,3 Os mesmos mandamentos de Deus na forma como estão


expressos na Sagrada Escritura
1. Eu sou o Senhor teu Deus que deves adorar e amar de todo
o teu coração. Não terás outro Deus fora de mim.
506 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

2. Não tomarás, isto é, não jurarás, o nome do Senhor teu


Deus em vão.
3. Lembra-te de santificar o dia de descanso, que é o santo
domingo.
4. Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longamente sobre
a terra.
5. Não matarás.
6. Não cometerás impureza.
7. Não roubarás.
8. Não mentirás, nem levantarás falso testemunho contra teu
próximo.
9. Não desejarás a mulher de teu próximo.
10. Não desejarás nem sua casa, nem seu servo, nem sua
serva, nem seu boi, nem seu asno, nem nada que lhe pertença.

EP 8,9,4 Os mandamentos da Igreja


1. Santificarás as festas prescritas pela Igreja, e nesses dias
não trabalharás.
2. Assistirás à santa Missa nos domingos e festas.
3. Confessarás todos os teus pecados, ao menos uma vez ao ano.
4. Receberás o Santísimo Sacramento em estado de graça, ao
menos no tempo da Páscoa.
5. Jejuarás durante a Quaresma, nas Quatro Têmporas e nas
vigílias das festas, quando a Igreja o prescreve.
6. Não comerás carne na sexta-feira, nem no sábado.

EP 8,9,5 Os sete vícios que constituem a causa ordinária de todos os


pecados.
A soberba, a avareza, a inveja, a luxúria, a gula, a ira e a
preguiça.

EP 9 Exame
EP 9,0,1 Os quatro artigos de exame que seguem são para uso durante
quatro semanas consecutivas. Aquele que preside a oração
lê, cada semana, apenas um artigo e, depois dessa leitura,
repete o ponto a ser explicado.
Os mestres explicam, cada dia da semana, um dos cinco
pontos que foram lidos um após outro, e uma vez lido e
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 507

explicado o último dos artigos, se começa com o primeiro na


semana seguinte.
EP 9,0,2 Examinemos nossa consciência. Cada qual se interrogue em
particular.

EP 9,1 Artigo 1º

EP 9,1,1 Primeiro ponto


Hoje, ao levantar, tive logo o cuidado de fazer o sinal da
santa cruz, de adorar a Deus, de lhe entregar meu coração, de
oferecer-lhe todos os meus pensamentos, palavras e ações?

EP 9,1,2 Segundo ponto


Não fui preguiçoso para me levantar e vagaroso em me vestir?
Não me deixei ver por alguém antes de estar convenientemente
vestido?Punto tercero

EP 9,1,3 Terceiro ponto


Antes de deitar, e logo depois de me levantar e vestir, colo-
quei-me de joelhos para rezar a Deus? Rezei a Deus com
atenção, recolhimento e devoção?Punto cuarto?

EP 9,1,4 Quarto ponto


Durante o dia, pensei em Deus, de tempo em tempo? Ofe-
reci a Deus meu trabalho e todas as minhas ações antes de
começá-las?Punto quinto

EP 9,1,5 Quinto ponto


Não jurei, talvez mesmo contra a verdade, pelo santo nome
de Deus? Enfim, não cometi algum outro pecado, por pen-
samento, palavra, ação ou omissão?

EP 9,2 Artigo 2º
Examinemos nossa consciência, etc. Punto primero

EP 9,2,1 Primero ponto


Em que empreguei os domingos e festas? Assisti, na paró-
quia, à Missa cantada, aos Ofícios e instruções nela dadas?
508 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Não passei estes santos dias jogando, passeando ou me


divertindo? P
unto segundo
EP 9,2,2 Segundo ponto
Ouvi Missa inteira nos domingos e festas? Não deixei de
ouvi-la nos demais dias? Dediquei a este santo sacrifício a
atenção, piedade e veneração que lhe são devidas? Rezei a
Deus durante todo o tempo da santa Missa? Não conversei,
ou brinquei nela? mi
Punto tercero
EP 9,2,3 Terceiro ponto
Não faltei de respeito na igreja? Não andei nela correndo
ou caminhando muito depressa? Não tive nela postura
inconveniente? Não andei virando a cabeça e olhando de um
lado para outro?

EP 9,2,4 Quarto ponto


Respeitei e obedeci de boa mente a meus pais, a meus mestres
e mestras3, e às demais pessoas a que devo respeito e
obediência?

EP 9,2,5 Quinto ponto


Respeitei a todas as pessoas, mesmo as que me fizeram ou
me quiseram mal? Amei, em especial, a meus irmãos, minhas
irmãs, e a todos os meus colegas? Enfim, não, etc.

EP 9,3 Artigo 3º
Examinemos nossa consciência, etc.Punto primero

EP 9,3,1 Primeiro ponto


Não odiei ou tive aversão a alguém? Não insultei?

3
Nas Escolas Cristãs não havia mestras. Mas, ter presente que, na falta da edição
princeps saída em vida de La Salle, o texto dos EP reproduzido pelo Cahier
Lasallien n. 18 é o da impressão de 1760. Não é de estranhar que, 41 anos após
a morte de La Salle, se tenha ajuntado discretamente alguma menção válida
para escola de meninas, visando atingir um público mais amplo que o dos
Irmãos e, assim, reduzir o custo unitário do livreto...
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 509

EP 9,3,2 Segundo ponto


Não pratiquei ou quis praticar ações indecorosas, vergonhosas
ou contrárias à pureza? Não tive pensamentos, não disse
palavras, tive olhares, li livros, ou cantei canções desonestas?

EP 9,3,3 Tercero ponto


Não omiti a oração antes e depois das refeições? Não comi
demais, com sofreguidão e prazer sensual, ou fora das
refeições e por gula?

EP 9,3,4 Quarto ponto


Não furtei ou quis furtar de alguém? Em casa, não peguei
nada de meus pais às escondidas, ou sem a permissão deles,
ou mesmo contra a sua vontade?Punto quin

EP 9,3,5 Quinto ponto


Não falei mal de meu próximo? Não menti, seja falando
sério, seja por broma, para desculpar-me ou para comprazer a
outros? Enfim, não, etc.

EP 9,4 Artigo 4º
Examinemos nossa consciencia, etc.Punto primero

EP 9,4,1 Primeiro ponto


Não faltei à aula sem permissão, contra a vontade de meus
pais, ou por malandragem?Punto segundo

EP 9,4,2 Segundo ponto


Na escola, dediquei-me a estudar as lições? Não conversei
ou brinquei? Estive bem atento, fixei e pus em prática as
instruções que nela me foram dadas?tercero

EP 9,4,3 Terceiro ponto


Não brinquei, ou andei me divertindo antes de vir à escola?
Não brinquei perto de igrejas, ou mesmo dentro delas? Não
brinquei, alguma vez, durante as cerimônias religiosas?
510 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 9,4,4 Quarto ponto


Não perdi muito tempo jogando? Não estive muito apegado ao
jogo? Não pratiquei jogos proibidos? No jogo, não trapaceei
ou quis trapacear os outros? Punto quinto
EP 9,4,5 Quinto ponto
Não fui causa de outros jurarem, baterem, roubarem, menti-
rem, faltarem à aula ou à santa Missa, ou cometerem algum
outro pecado?
EP 9,5 Façamos um ato de contrição pedindo a Deus perdão por
nossos pecados.
Meu Deus, muito humildemente vos peço perdão de todos
os pecados que cometi em toda a minha vida e, particular-
mente, depois de minha última confissão. Sinto muito havê-
los cometido, por vós serdes infinitamente bom. Detesto-os
todos por amor vosso, porque vos desgostam. Com o auxílio
de vossa graça, estou resolvido a nunca mais recair neles e a
confessá-los o quanto antes.
EP 9,6 Ofereçamos a Deus nosso sono e peçamos-lhe as graças de
que necessitamos durante esta noite.
Meu Deus, entrego-me inteiramente a vós. Ofereço-vos
também o sono a que vou me entregar durante esta noite,
em honra do descanso tomado por Jesus Cristo, vosso Filho,
quando na terra. Peço-vos não permitais que eu caia nalgum
pecado, nem que me aconteça algo de ruim, e dai-me a
graça de sempre viver e de morrer na fé da Igreja Católica,
Apostólica e Romana, e em vosso santo amor.
EP 9,7 Tenhamos a confiança de alcançar de Deus o que pedimos,
dirigindo-lhe a oração que Nosso Senhor nos ensinou, e que
contém sete pedidos.
Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome.
Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade, assim
na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos
aos que nos têm ofendido. E não nos deixeis cair em tentação.
Mas livrai-nos do mal. Amém.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 511

EP 9,8 Saudemos a Santíssima Virgem e peçamos que ela interceda


por nós.
Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois
vós entre as mulheres, e bendito é o fruto de vosso ventre,
Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e
na hora de nossa morte. Amém.
EP 9,9 Façamos um ato de fé nos principais mistérios de nossa santa
religião, recitando o Símbolo composto pelos Apóstolos, e
que se divide em doze artigos.
Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho Nosso Senhor, que foi
concebido pelo Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pônico Pilatos, foi crucificado, morto
e sepultado, desceu à mansão dos mortos e ressuscitou ao
terceiro dia, subiu aos céus, onde está sentado à direita de
Deus Pai, e donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio
no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos
santos, na remissão dos pecados, na ressurreição dos mortos
e na vida eterna. Amém.
EP 9,10 Invoquemos a nosso santo anjo da guarda e a todos os nossos
santos padroeiros e protetores.
Santo anjo da guarda, eu vos rogo que continueis com o
cuidado que tendes com minha salvação. Afastai de mim tudo
o que me possa prejudicar durante esta noite, e conduzi-me
pelo caminho do céu.
EP 9,11 (Na oração seguinte, deve-se dizer o nome do padroeiro da
paróquia).
São José, N., São Nicolau, meu santo padroeiro e vós, todos
os santos e santas que sois felizes com Deus, alcançai-me,
com vossas preces, a graça de viver bem, imitando-vos, e de
bem morrer. Assim seja.
EP 9,12 Peçamos a Deus pelas almas do purgatório.
Meu Deus, fazei, por favor, que as almas dos fiéis falecidos
em vosso serviço e que padecem no purgatório, repousem em
paz no céu. Assim seja.
512 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 9,13 Peçamos a santa bênção de Deus.


Meu Deus, dai-me a graça de passar esta noite e o restante
deste dia em vosso santo amor e sem vos ofender. E, para
isso, concedei-me vossa santa bênção, Pai, Filho e Espírito
Santo. Amém.
EP 9,14 Assim que a oração da tarde tiver terminado completamente,
cantam-se, no máximo, seis versos de um cântico.
Dois alunos cantam cada verso, um depois do outro, e, depois,
os demais, todos juntos, o repetem.
Imediatamente depois de concluídos os cânticos, quem
preside as orações diz, sozinho, em voz alta e clara:
Rezemos a Deus por nossos professores, nossos pais e nos-
sos benfeitores vivos, para que Deus os conserve na fé da
Igreja Católica, Apostólica e Romana, e em seu santo amor,
e digamos: Pater noster, Ave Maria, Credo in Deum, De
Profundis e Miserere, como acima.

EP 10 Ladainhasor de la Santísima Virgen


EP 10,1 Em honra da Santísima Virgem,
rezadas todos os sábados e vésperas das festas da Santíssima
Virgem, ao final das aulas, imediatamente após a oração da
tarde, antes de se pedir a bênção.
EP 10,1,1 Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison.
Christe audi nos. Christe exaudi nos.
Pater de coelis Deus, miserere nobis.
Fili redemptor mundi Deus, miserere nobis.
Spiritus Sancte Deus, miserere nobis.
Sancta Trinitas unus Deus, miserere nobis.
Sancta Maria, ora pro nobis.
Sancta Dei genitrix, ora pro nobis.
Sancta Virgo Virginum, ora pro nobis.
Mater Christi, ora pro nobis.
Mater divinæ gratiæ, ora pro nobis.
Mater purissima, ora pro nobis.
Mater castissima, ora pro nobis.
Mater inviolata, ora pro nobis.
Mater intemerata, ora pro nobis.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 513

Mater amabilis, ora pro nobis.


Mater admirabilis, ora pro nobis.
Mater creatoris, ora pro nobis.
Mater salvatoris, ora pro nobis.
Virgo prudentissima, ora pro nobis.
Virgo veneranda, ora pro nobis.
Virgo prædicanda, ora pro nobis.
Virgo potens, ora pro nobis.
Virgo clemens, ora pro nobis.
Virgo fidelis, ora pro nobis.
EP 10,1,2 Speculum justitiæ, ora pro nobis.
Sedes sapientiæ, ora pro nobis.
Causa nostræ lætitiæ, ora pro nobis.
Vas spirituale, ora pro nobis.
Vas honorabile, ora pro nobis.
Vas insigne devotionis, ora pro nobis.
Rosa mystica, ora pro nobis.
Turris Davidica, ora pro nobis.
Turris eburnea, ora pro nobis.
Domus aurea, ora pro nobis.
Foederis arca, ora pro nobis.
Janua coeli, ora pro nobis.
Stella matutina, ora pro nobis.
Salus infirmorum, ora pro nobis.
Refugium peccatorum, ora pro nobis.
Consolatrix afflictorum, ora pro nobis.
Auxilium christianorum, ora pro nobis.
Regina angelorum, ora pro nobis.
Regina patriarcharum, ora pro nobis.
Regina prophetarum, ora pro nobis.
Regina apostolorum, ora pro nobis.
Regina martyrum, ora pro nobis.
Regina confessorum, ora pro nobis.
Regina virginum, ora pro nobis.
Regina sanctorum omnium, ora pro nobis.

EP 10,1,3 Agnus Dei qui tollis peccata mundi, parce nobis Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, exaudi nos Domine.
514 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis.


Christe audi nos.
Christe exaudi nos.

EP 10,1,4 Oremus.
Deus ineffabilis misericordiæ, qui non solum homo, sed
etiam filius hominis fieri dignatus es, et mulierem matrem
in terris habere voluisti, qui Deum Patrem habebas in coelis:
da nobis quæsumus ejus memoriam devote celebrare, ejus
maternitatem summe venerari, ac ejus superexcellentissimæ
dignitati, humillime subesse, quæ te de Spiritu Sancto
concepit, te Virgo peperit, et te in terris sibi subditum habuit
Dominum nostrum Jesum Christum Filium Dei unigenitum.
Qui cum eodem Deo Patre et Spiritu Sancto vivis et regnas
Deus.
Per omnia sæcula sæculorum.
R. Amen.

EP 10,2 Ladainhas em honra da Divina Infância de Jesus,


rezadas na véspera das festas do Natal, da Adoração dos
Magos e da Purificação.

EP 10,2,1 Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison.


Jesu infans, audi nos.
Jesu infans, exaudi nos.
Pater de coelis Deus, miserere nobis.
Fili redemptor mundi Deus, miserere nobis.
Spiritu Sancte Deus, miserere nobis.
Sancta Trinitas unus Deus, miserere nobis.
Infans Jesu Christe, miserere nobis.
Infans Deus vere, miserere nobis.
Infans Fili Dei vivi, miserere nobis.
Infans Fili Mariæ virginis, miserere nobis.
Infans ante luciferum genite, miserere nobis.
Infans Verbum caro factum, miserere nobis.
Infans sapientia Patris, miserere nobis.
Infans integritas matris, miserere nobis.
Infans Patris unigenite, miserere nobis.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 515

Infans matris primogenite, miserere nobis.


Infans imago Patris, miserere nobis.
Infans origo matris, miserere nobis.
Infans Patris splendor, miserere nobis.
Infans matris honor, miserere nobis.
Infans æqualis Patri, miserere nobis.
Infans subdite matri, miserere nobis.
Infans Patris delitiæ, miserere nobis.
Infans matris divitiæ, miserere nobis.
Infans donum Patris, miserere nobis.

EP 10,2,2 Infans munus matris, miserere nobis.


Infans partus Virginis, miserere nobis.
Infans creator hominis, miserere nobis.
Infans virtus Dei, miserere nobis.
Infans forma servi, miserere nobis.
Infans Deus noster, miserere nobis.
Infans frater noster, miserere nobis.
Infans viator in gloria, miserere nobis.
Infans comprehensor in via, miserere nobis.
Infans vir ab utero, miserere nobis.
Infans senex a puero, miserere nobis.
Infans Pater sæculorum, miserere nobis.
Infans aliquot dierum, miserere nobis.
Infans vita latens, miserere nobis.
Infans Verbum silens, miserere nobis.
Infans vagiens in cunis, miserere nobis.
Infans fulgurans in coelis, miserere nobis.
Infans terror inferni, miserere nobis.
Infans jubilus paradisi, miserere nobis.
Infans tirannis formidabilis, miserere nobis.
Infans magis desiderabilis, miserere nobis.

EP 10,2,3 Infans exul a populo, miserere nobis.


Infans rex in exilio, miserere nobis.
Infans idolorum eversor, miserere nobis.
Infans gloriæ Patris zelator, miserere nobis.
Infans fortis in debilitate, miserere nobis.
516 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Infans potens in exilitate, miserere nobis.


Infans thesaurus gratiæ, miserere nobis.
Infans fons amoris, miserere nobis.
Infans instaurator coelestium, miserere nobis.
Infans reparator terrestrium, miserere nobis.
Infans caput angelorum, miserere nobis.
Infans radix patriarcharum, miserere nobis.
Infans sermo prophetarum, miserere nobis.
Infans desiderium gentium, miserere nobis.
Infans gaudium pastorum, miserere nobis.
Infans lumen magorum, miserere nobis.
Infans salus infantium, miserere nobis.
Infans primitiæ sanctorum omnium, miserere nobis.
EP 10,2,4 Agnus Deis, qui tollis peccata mundi, parce nobis infans Jesu.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, exaudi nos infans Jesu.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis infans
Jesu.
Jesu infans, audi nos
Jesu infans, exaudi nos.

EP 10,2,5 Oremus.
Domine Jesu, qui sublimitatem incarnatæ divinitatis tuæ et
humanitatis tuæ divinissimæ usque ad humillimum nativitatis
et infantiæ statum pro nobis exinanire dignatus es, da nobis
ut divinam in infantiam sapientiam, in debilitate potentiam,
in exilitate majestatem agnoscentes, te parvulum adoremus
in terris, te magnum intueamur in coelis. Qui vivis et regnas
Deus. Per omnia sæcula sæculorum. Amen.
V. Exaudiat nos Dominus Jesus infans.
R. Nunc et semper, et in sæcula sæculorum. Amen.

EP 10,3 Ladainhas em honra do Santo Nome de Jesus,


rezadas na véspera da festa da Circuncisão.

EP 10,3,1 Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison.


Jesu audi nos.
Jesu exaudi nos.
Pater de coelis Deus, miserere nobis.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 517

Fili redemptor mundi Deus, miserere nobis.


Spiritus Sancte Deus, miserere nobis.
Sancta Trinitas unus Deus, miserere nobis.
Jesu fili Dei vivi, miserere nobis.
Jesu splendor Patris, miserere nobis.
Jesu candor lucis æternæ, miserere nobis.
Jesu rex gloriæ, miserere nobis.
Jesu sol justitiæ, miserere nobis.
Jesu fili Mariæ Virginis, miserere nobis.
Jesu admirabilis, miserere nobis.
Jesu Deus fortis, miserere nobis.
Jesu Pater futuri sæculi, miserere nobis.
Jesu magni consilii angele, miserere nobis.
Jesu potentissime, miserere nobis.
Jesu patientissime, miserere nobis.
Jesu obedientissime, miserere nobis.
Jesu mitis et humilis corde, miserere nobis.
Jesu amator castitatis, miserere nobis.
Jesu Deus pacis, miserere nobis.
Jesu auctor vitæ, miserere nobis.
Jesu exemplar virtutum, miserere nobis.
Jesu zelator animarum, miserere nobis.

EP 10,3,2 Jesu Deus noster, miserere nobis.


Jesu refugium nostrum, miserere nobis.
Jesu Pater pauperum, miserere nobis.
Jesu thesaurus fidelium, miserere nobis.
Jesu bone pastor, miserere nobis.
Jesu lux vera, miserere nobis.
Jesu sapientia æterna, miserere nobis.
Jesu bonitas infinita, miserere nobis.
Jesu via et vita nostra, miserere nobis.
Jesu gaudium angelorum, miserere nobis.
Jesu magister apostolorum, miserere nobis.
Jesu doctor evangelistarum, miserere nobis.
Jesu fortitudo martyrum, miserere nobis.
Jesu lumen confessorum, miserere nobis.
Jesu puritas virginum, miserere nobis.
Jesu corona sanctorum omnium, miserere nobis.
518 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 10,3,3 Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis Jesu.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, exaudi nos Jesu.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis Jesu.
Jesu audi nos.
Jesu exaudi nos.

EP 10,3,4 Oremus.
Domine Jesu Christe, qui dixisti: petite et accipietis, quærite
et invenietis, pulsate et aperietur vobis, quæsumus, da nobis
petentibus divinissimi tui amoris effectum, ut te toto corde,
ore et opere diligamus, et a tua numquam laude cessemus. Qui
vivis et regnas Deus. Per omnia sæcula sæculorum. Amen.

EP 10,4 Ladainhas em honra de São José, esposo da Santíssima


Virgem,
rezadas na véspera da festa deste grande santo.

EP 10,4,1 Kyrie eleison. Christe eleison. Kyrie eleison.


Jesu infans audi nos;
Jesu infans exaudi nos.
Pater de coelis Deus, miserere nobis.
Fili redemptor mundi Deus, miserere nobis.
Spiritus Sancte Deus, miserere nobis.
Sancta Trinitas unus Deus, miserere nobis.
Sancta Maria beati Joseph sponsa, ora pro nobis.
Sancte Joseph sponse beatæ Virginis, ora pro nobis.
Sancte Joseph qui Virginem traducere noluisti, ora pro nobis.
Sancte Joseph Christi pater vocate, ora pro nobis.
Sancte Joseph magni consilii coadjutor fidelissime, ora pro
nobis.
Sancte Joseph beatæ Virginis præsidium, ora pro nobis.
Sancte Joseph beatæ Virginis solatium, ora pro nobis.
Sancte Joseph virginitatis sponsæ testis et custos, ora pro
nobis.
Sancte Joseph sponse Virginis simillime, ora pro nobis.
Sancte Joseph pueri Jesu tutor amantissime, ora pro nobis.
Sancte Joseph familiæ Jesu provisor sedulissime, ora pro
nobis.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 519

Sancte Joseph mirabili gratia sanctificante, ora pro nobis.


Sancte Joseph in amore Dei constantissime, ora pro nobis.
Sancte Joseph vir seraphice, ora pro nobis.
Sancte Joseph patriarcharum culmen, ora pro nobis.
Sancte Joseph, qui primus post Virginem Christum jugiter
adorasti, ora pro nobis.

EP 10,4,2 Sancte Joseph qui puerum Jesum ab Herode liberasti, ora pro
nobis.
Sancte Joseph qui puerum Jesum in Ægyptum detulisti, ora
pro nobis.
Sancte Joseph qui puerum Jesum ex Ægypto in Nazareth
reduxisti, ora pronobis.
Sancte Joseph qui puerum Jesum, triduo dolens cum sponsa
Virgine quæsivisti, ora pro nobis.
Sancte Joseph qui lætus cum sponsa in templo puerum Jesum
inter doctores repulisti, ora pro nobis.
Sancte Joseph qui cum sponsa Virgine et puero Jesu per
triginta annos coelestem vitam egisti, ora pro nobis.
Sancte Joseph qui puero Jesu et matri ejus vitæ necessaria tuo
labore providisti, ora pro nobis.
Sancte Joseph qui in brachiis Christi et sponse Virginis sanctæ
obiisti, ora pronobis.
Sancte Joseph qui Christum adventum patribus in limbo
nuntiasti, ora pronobis.
Sancte Joseph qui in coelis peculiari gloria donatus es, ora
pro nobis.
Sancte Joseph patrone et defensor noster dulcissime, ora pro
nobis.
Per infantiam tuam, exaudi nos infans Jesu.
Per integritatem dilectæ matris tuæ, purifica nos infans Jesu.
Per fidelitatem sancti Joseph, protege nos infans Jesu.
V. Domine exaudi orationem meam.
R. Et clamor meus ad te veniat.

EP 10,4,3 Oremus.
Jesu mitissime omnipotens Deus qui beatum Joseph justum
beatæ Mariæ virginis matri tuæ sponsum providisti tibi
520 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

nutritium elegisti atque humano generi obedientiæ exemplar


præbuisti, da nobis ipsius intercessione ita nostræ voluntatis
pravitatem frangere et tuorum præceptorum rectitudinem
in omnibus adimplere, ut perpetuæ visionis tuæ beatitudine
perfrui mereamur. Qui vivis et regnas Deus per omnia sæcula
sæculorum.
V. Exaudiat nos Dominus Jesus infans.
R. Nunc et semper, et in sæcula sæculorum. Amen.
Letanías
EP 10,5 Ladainhas
rezadas todos os dias das Quatro Têmporas e das Rogações,
e no dia de São Marcos, logo depois da oração rezada no
começo das aulas da manhã, e na véspera da festa de Todos
os Santos, ao final da oração da tarde, antes de se pedir a
bênção.

EP 10,5,1 Kyrie eleison. Kyrie eleison.


Christe audi nos. Christe exaudi nos.
Pater de coelis Deus, miserere nobis.
Fili redemptor mundi Deus, miserere nobis.
Spiritus Sancte Deus, miserere nobis.
Sancta Trinitas unus Deus, miserere nobis.
Sancta Maria, ora pro nobis.
Sancta Dei genitrix, ora pro nobis.
Sancta Virgo virginum, ora pro nobis.
Sancte Michael, ora pro nobis.
Sancte Gabriel, ora pro nobis.
Sancte Raphael, ora pro nobis.
Omnes sancti angeli et archangeli, orate pro nobis.
Omnes sancti beatorum spiritum ordines, orate pro nobis.
Sancte Joannes Baptista, ora pro nobis.
Sancte Joseph, ora pro nobis.
Omnes sancti patriarchæ et prophetæ, orate pro nobis.

EP 10,5,2 Sancte Petre, ora pro nobis.


Sancte Paule, ora pro nobis.
Sancte Andrea, ora pro nobis.
Sancte Jacobe, ora pro nobis.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 521

Sancte Joannes, ora pro nobis.


Sancte Thoma, ora pro nobis.
Sancte Jacobe, ora pro nobis.
Sancte Philippe, ora pro nobis.
Sancte Bartholomæe, ora pro nobis.
Sancte Matthæe, ora pro nobis.
Sancte Simon, ora pro nobis.
Sancte Thadæe, ora pro nobis.
Sancte Matthia, ora pro nobis.
Sancte Barnaba, ora pro nobis.
Sancte Luca, ora pro nobis.
Sancte Marce, ora pro nobis.
Omnes sancti apostoli et evangelistæ, orate pro nobis.
Omnes sancti discipuli Domini, orate pro nobis.
Omnes sancti Innocentes, orate pro nobis.
Sancte Stephane, ora pro nobis.
Sancte Laurenti, ora pro nobis.
Sancte Vincenti, ora pro nobis.
Sancte Yone, ora pro nobis.
Sancti Fabiane et Sebastiane, orate pro nobis.
Sancti Joannes et Paule, orate pro nobis.
Sancti Cosma et Damiane, orate pro nobis.
Sancti Gervasi et Protasi, orate pro nobis.
Omnes sancti martyres, orate pro nobis.

EP 10,5,3 Sancte Silvester, ora pro nobis.


Sancte Gregori, ora pro nobis.
Sancte Ambrosi, ora pro nobis.
Sancte Augustine, ora pro nobis.
Sancte Hieronime, ora pro nobis.
Sancte Martine, ora pro nobis.
Sancte Nicolae, ora pro nobis.
Omnes sancti pontifices et confessores, orate pro nobis.
Omnes sancti doctores, orate pro nobis.
Sancte Antoni, ora pro nobis.
Sancte Benedicte, ora pro nobis.
Sancte Bernarde, ora pro nobis.
Sancte Dominice, ora pro nobis.
522 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Sancte Francisce, ora pro nobis.


Omnes sancti sacerdotes et levitæ, orate pro nobis.
Omnes sancti monachi et eremitæ, orate pro nobis.
Sancta Anna, ora pro nobis.
Sancta Maria Magdalena, ora pro nobis.
Sancta Margarita, ora pro nobis.
Sancta Lucia, ora pro nobis.
Sancta Agnes, ora pro nobis.
Sancta Cecilia, ora pro nobis.
Sancta Catharina, ora pro nobis.
Sancta Barbara, ora pro nobis.
Sancta Anastasia, ora pro nobis.
Sancta Genoveva, ora pro nobis.
Omnes sanctæ virgines et viduæ, orate pro nobis.
Omnes sancti et sanctæ Dei, intercedite pro nobis.
EP 10,5,4 Propitius esto, parce nobis Domine.
Propitius esto, exaudi nos Domine.
Ab omni malo, libera nos Domine.
Ab omni peccato, libera nos Domine.
A subitanea et improvisa morte, libera nos Domine.
A spiritu fornicationis, libera nos Domine.
A morte perpetua, libera nos Domine.
In die judicii, libera nos Domine.
Peccatores, te rogamus audi nos.
Ut nobis parcas, te rogamus audi nos.
Ut ad veram poenitentiam nos perducere digneris, te rogamus
audi nos.
Ut ecclesiam tuam sanctam regere et conservare digneris, te
rogamus audi nos.
Ut nosmetipsos in tuo sancto servitio confortare et conservare
digneris, te rogamus audi nos.
Ut mentes nostras ad coelestia desideria erigas, te rogamus
audi nos.
Ut fructus terræ dare et conservare digneris, te rogamus audi nos.
Ut omnibus fidelibus defunctis requiem æternam donare
digneris, te rogamus audi nos.
Ut nos exaudire digneris, te rogamus audi nos.
Fili Dei, te rogamus audi nos.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 523

EP 10,5,5 Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, exaudi nos Domine.
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis.
Christe audi nos.
Christe exaudi nos.
V. Domine exaudi orationem meam
R. Et clamor meus ad te veniat.

EP 10,5,6 Oremus.
Ecclesiæ tuæ quæsumus Domine, preces placatus admitte,
ut destructis adversitatibus et erroribus universis, secura tibi
serviat libertate.
Omnipotens sempiterne Deus, qui vivorum dominatis simul
et mortuorum, omniumque misereris quos tuos fide et
opere futuros esse prænoscis, te supplices exoramus, ut pro
quibus effundere preces decrevimus, quosque vel præsens
sæculorum adhuc in carne retinet vel futurum jam exutos
corpore suscepit intercedentibus omnibus sanctis tuis, pietatis
clementia, omnium delictorum suorum veniam consequantur.
Per Christum Dominum nostrum.
Amen.
V. Exaudiat nos cum omnibus sanctis suis omnipotens et
misericors Dominus.
R. Nunc et semper et in sæcula sæculorum. Amen.
EP 10,5,7 Na véspera da festa de Todos os Santos, depois de haver
rezado Omnes sancti et sanctæ Dei, etc., se omite tudo o que
segue até Agnus Dei, exclusive; e, depois de ter rezado Agnus
Dei e o que segue até a colecta Ecclesiæ tuæ quæsumus e o
restante, não se rezam as duas coletas, mas aquele que pre-
side reza a coleta da festa de Todos os Santos, desta forma:
Oremus.
Omnipotens sempiterne Deus, qui nos omnibus sanctorum
tuorum merita sub una tribuisti celebritate venerari: quæsumus
ut desideratam nobis tuæ propitiationis abundantiam multi-
plicatis intercessoribus largiaris. Per Christum Dominum
nostrum. Amen.
524 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

Depois, quem preside as orações reza:


V. Exaudiat nos cum omnibus sanctis suis omnipotens et
misericors Dominus.
R. Nunc et semper et in sæcula sæculorum. Amen.

EP 11 Principais cerimônias a serem observadas por quem ajuda


a santa Missa

EP 11,1 1. O que deve fazer até a Missa começar


EP 11,1,1 1. Pega as galhetas e as coloca ao lado do altar; toma o pano
para secar os dedos, e o coloca sobre as galhetas, e não sobre
o altar; depois, acende as velas.
EP 11,1,2 2. Ajuda o sacerdote a paramentar-se: ajeita-lhe o amito,
oferece-lhe o cíngulo e cuida para que a alba desça até uma
polegada do solo e que ela caia de modo uniforme de todos
os lados. Depois lhe oferece o manípulo e, em seguida, a
estola, estando atento a que a cruz fique no meio do pescoço
e, finalmente, lhe ajuda a colocar-se a casula.
EP 11,1,3 3. Toma o missal, segura-o por baixo com as duas mãos, com
a parte superior apoiada no peito; faz, depois, uma inclinação
juntamente com o padre, e não uma reverência jogando o pé
para trás (o que tampouco faz durante a Missa), e caminha
recolhidamente diante do padre, precedendo-o até o altar.
EP 11,1,4 4. Chegado ao altar, coloca-se à direita do sacerdote, pega-lhe
o barrete, faz uma inclinação, coloca o livro sobre a almofada,
deposita o barrete junto às galhetas e, depois, se ajoelha sobre
o pavimento, no canto do altar, do lado do Evangelho.
EP 11,1,5 5. Deve ter o cuidado de, quando o livro está num lado,
colocar-se do outro, manter as mãos sempre postas ou os
braços cruzados.

EP 11,2 2. O que deve fazer desde o início da Missa até o introito


EP 11,2,1 1. Estando o sacerdote ao pé do altar, faz o sinal da santa cruz
ao mesmo tempo que ele, e junta as mãos, o que deve fazer
toda vez que responde.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 525

EP 11,2,2 2. Quando o sacerdote diz Misereatur, volta-se e se inclina


um pouco na direção dele; ao rezar o Confiteor, inclina-se
profundamente na direção do altar até que o sacerdote tenha
dito Misereatur; às palabras et tibi pater, volta a cabeça ao
sacerdote; e ao dizer mea culpa, bate três vezes no peito com
a mão direita, enquanto coloca a esquerda abaixo do peito, o
que repete toda vez que faz o sinal da cruz e quando bate no
peito.
EP 11,2,3 3. Quando o sacerdote diz Deus tu conversus e tudo o que
segue, inclina-se ligeiramente em direção ao altar. E quando
o celebrante sobe o altar, ergue-lhe a parte inferior da alba e
depois se ajoelha sobre o primeiro degrau, ou permanece no
pavimento se não há mais que um degrau.

EP 11,3 3. O que deve fazer do introito ao ofertório


EP 11,3,1 1. Deve traçar o sinal da cruz, fazer a inclinação e bater no
peito ao mesmo tempo que o sacerdote, e como o sacerdote,
toda vez que este faz uma ou otra dessas coisas. Inclina-se
um pouco toda vez que se levanta para deixar seu lugar, e ao
passar diante do altar. Iinclina-se profundamente quando o
Santíssimo Sacramento está sobre o altar.
EP 11,3,2 2. Ao final da epístola, quando o sacerdote faz uma inflexão
de voz, ele responde: Deo gratias. Depois se aproxima do
sacerdote, toma o missal quando o sacerdote termina a leitura
e, tendo marcado a página em que está aberto, fecha-o e o
leva ao outro lado, coloca-o sobre o altar, volta-o na direção
do sacerdote, e abre o missal na mesma página em que estava
aberto.
EP 11,3,3 3. Somente durante o Evangelho permanece de pé. Quando
o sacerdote diz Sequentia, etc., faz, com o polegar da mão
direita, o sinal da cruz sobre a fronte, a boca e o peito. Em
seguida, vai colocar-se do lado da epístola, onde fica de pé. E
quando o sacerdote, ao final do Evangelho, faz uma inflexão
de voz, responde: Laus tibi Christe, colocando-se, em seguia,
de joelhos.
526 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 11,4 4. O que deve fazer desde o ofertório até o Sanctus


EP 11,4,1 1. Quando o sacerdote tira o véu do cálice, vai buscar a
galheta de vinho com a mão direita e a de água com a
esquerda, segurando-as por baixo; vai na ponta do altar, do
lado da epístola, faz ligeira inclinação à cruz e, depois, outra
ao sacerdote, assim que este se aproxima.
EP 11,4,2 2. Com a mão direita, apresenta ao sacerdote as galhetas,
com a alça voltada para a mão esquerda. Após o celebrante
tê-la benzido, oferece-lhe, primeiro a galheta do vinho e, em
seguida, a da água. Ao recebê-las de volta, beija a mão, e as
repõe em seu lugar.
EP 11,4,3 3. Toma a jarra de água com a mão direita e a bacia com a
esquerda, segurando o pano de secar entre os dedos sob a
bacia; dirige-se ao altar, saúda o sacerdote e lhe apresenta
tudo para lavar-se: beijando a jarra, derrama água na ponta
dos dedos do sacerdote, no meio da bacia. Depois, beijada a
jarra, lhe apresenta o pano para enxugar-se, recebe-o de volta,
faz uma inclinação e regressa para colocar a bacia, a jarra e
o pano no lugar onde estavam, e vai colocar-se de joelhos.
Quando o sacerote disse: Orate fratres, espera que ele se
tenha virado ao altar, para responder.

EP 11,5 5. O que deve fazer desde o Sanctus até a comunnhão


EP 11,5,1 1. Quando o sacerdote reza o Sanctus, faz leve inclinação e
toca a sineta três vezes. Quando o sacerdote estende as mãos
sobre o cálice, levanta-se, faz leve inclinação, e vai colocar-se
de joelhos atrás do sacerdote, sobre o segundo degrau.
EP 11,5,2 2. A cada elevação, toca três vezes a campainha; inclina-se
profundamente quando o sacerdote faz a genuflexão; e quando
este levanta a santa hóstia e o cálice, ergue-lhe delicadamente
a casula. Após a elevação do cálice, levanta-se, faz profunda
inclinação, e volta a seu lugar. Quando o sacerdote diz: Omnis
honor et gloria, não deve tocar a sineta, nem dizer nada.
EP 11,5,3 3. Se alguém vai comungar durante a santa Missa, no mo-
mento que o sacerdote descobre o cálice, após a comunhão
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 527

do corpo de Nosso Senhor, vai ajoelhar-se no canto do altar,


do lado da epístola, com o rosto voltado ao sacerdote, e reza
o Confiteor, como no início da Missa. Assim que o sacerdote
repôs o santo cibório, levanta-se e faz o que segue.
EP 11,5,4 4. Se ninguém vai comungar, busca as galhetas, a do vinho
com a mão direita e a da água com a esquerda; segura-as
pela alça ou por baixo; vai ao canto do altar e, assim como
no ofertório, faz as inclinações antes e depois de derramar o
vinho e a água, beijando as galhetas.
EP 11,5,5 5. Na primeira vez que o sacerdote, sem sair do lugar, lhe
apresenta o cálice, o ajudante se aproxima do altar e derrama
somente vinho. Na segunda, estando no segundo degrau,
derrama vinho e água sobre os dedos do sacerdote. E, depois
de haver recolocado as galhetas no devido lugar, leva o missal
de um lado a outro do altar.

EP 11,6 6. O que deve fazer desde a bênção até o final da Missa


EP 11,6,1 1. Põe-se de joelhos, no meio do altar, sobre o pavimento,
para receber a bênção, durante a qual fica profundamente
inclinado. Se o sacerdote deixa o missal aberto, vai buscá-lo
antes da bênção, e coloca o polegar na página em que ele está
aberto. Depois de receber a bênção, termina de levar o missal
para o lado do Evangelho. Durante o último Evangelho,
procede como no primeiro, excetuado que, ao final, diz: Deo
gratias, em vez de: Laus tibi Christe.
EP 11,6,2 2. Terminado o último Evangelho, apaga as velas, toma o
missal e o barrete do sacerdote e depois, indo à sacristia, faz
tudo como quando se dirigiu ao altar.
EP 11,6,3 3. Chegando à sacristia, faz a inclinação ao crucifixo, toma
o barrete e o coloca, com o missal, em seu lugar, e ajuda o
sacerdote a tirar os paramentos. Em seguida, antes de sair, faz
alguma oração na igreja.
528 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 12 As respostas da santa Missa


EP 12,1 Sacerdote In nomine Patris, etc.
Introibo ad altare Dei.
Ajudante Ad Deum qui lætificat juventutem meam.
Sacerdote Judica me Deus et discerne causam meam de
gente non sancta; ab homine iniquo et doloso
erue me.
Ajudante. Quia tu es Deus fortitudo mea, quare me
repulisti, et quare tristis incedo dum affligit me
inimicus?
Sacerdote Emitte lucem tuam et veritatem tuam, ipsa
me deduxerunt et aduxerunt in montem
sanctum tuum, et in tabernacula tua.
Ajudante Et introibo ad altare Dei, ad Deum qui lætificat
juventutem meam.
Sacerdote Confitebor tibi Domine in cythara Deus, Deus
meus, quare tristis es anima mea, et quare
conturbas me?
Ajudante Spera in Deo quoniam adhuc confitebor illi
salutare vultus mei, et Deus meus.
Sacerdote Gloria Patri et Filio, etc.
Ajudante Sicut erat in principio, etc.
Sacerdote Introibo ad altare Dei.
Ajudante Ad Deum qui lætificat juventutem meam.
Sacerdote Adjutorium nostrum in nomine Domini.
Ajudante Qui fecit coelum et terram.
EP 12,2 Sacerdote Confiteor Deo, etc.
Ajudante Misereatur tui omnipotens Deus: et dimissis
peccatis tuis perducat te ad vitam æternam.
Sacerdote Amen.
Ajudante Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ
semper Virgini, beato Michaeli archangelo,
beato Joanni Baptistæ, sanctis apostolis Petro
et Paulo, omnibus sanctis, et tibi pater quia
peccavi nimis cogitatione, verbo et opere, mea
culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo
precor beatam Mariam semper Virginem,
beatum Michaelem archangelum, beatum
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 529

Joannem Baptistam, sanctos apostolos Petrum


et Paulum, omnes sanctos, et te pater orare
pro me ad Dominum Deum nostrum.
Sacerdote Misereatur vestri omnipotens Deus, et dimissis
peccatis vestris, perducat vos ad vitam æternam.
Ajudante Amen.
Sacerdote Ildulgentiam, absolutionem et remissionem
omnium peccatorum nostrorum tribuat nobis
omnipotens et misericors Dominus.
Ajudante Amen.
Sacerdote Deus tu conversus vivificabis nos.
Ajudante Et plebs tua lætabitur in te.
Sacerdote Ostende nobis Domine misericordiam tuam.
Ajudante Et salutare tuum da nobis.
Sacerdote Domine exaudi orationem meam.
Ajudante Et clamor meus ad te veniat.
Sacerdote Dominus vobiscum.
Ajudante Et cum spiritu tuo.

EP 12,3 Sacerdote Kyrie eleison.


Ajudante Kyrie eleison.
Sacerdote Kyrie eleison.
Ajudante Christe eleison.
Sacerdote Christe eleison.
Ajudante Christe eleison.
Sacerdote Kyrie eleison.
Ajudante Kyrie eleison.
Sacerdote Kyrie eleison.
Sacerdote Dominus vobiscum.
Ajudante Et cum spiritu tuo.
Ao final da Epístola
Ajudante Deo gratias.
Sacerdote Dominus vobiscum.
Ajudante Et cum spiritu tuo.
Sacerdote Sequentia sancti evangelii secundum Lucam.
Ajudante Gloria tibi Domine.
Ao final do primeiro Evangelho
Ajudante Laus tibi Christe.
530 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 12,4 Sacerdote Orate fratres.


Ajudante Suscipiat Dominus sacrificium de manibus tuis;
ad laudem et gloriam nominis sui: ad utilitatem
quoque nostram totiusque ecclesiæ suæ sanctæ.
Sacerdote Per omnia sæcula sæculorum.
Ajudante Amen.
Sacerdote Dominus vobiscum.
Ajudante Et cum spiritu tuo.
Sacerdote Sursum corda.
Ajudante Habemus ad Dominum.
Sacerdote Gratias agamus Domino Deo nostro.
Ajudante Dignum et justum est.
Sacerdote Per omnia sæcula sæculorum.
Ajudante Amen.
Sacerdote Et ne nos inducas in tentationem.
Ajudante Sed libera nos a malo.
Sacerdote Per omnia, etc.
Ajudante Amen.
Sacerdote Pax Domini sit semper vobiscum.
Ajudante Et cum spiritu tuo.
Sacerdote Dominus vobiscum.
Ajudante Et cum spiritu tuo.
Sacerdote Ite Missa est, ou Benedicamus Domino.
Ayudante Deo gratias.

EP 12,5 Nas Missas de defuntos


Sacerdote Requiescant in pace.
Ajudante Amen.
Sacerdote Dominus vobiscum.
Ajudante Et cum spiritu tuo.
Sacerdote Initium sancti evangelii secundum Joannem.
Ajudante Gloria tibi Domine.
Sacerdote In principio, etc.
Ao final do último Evangelho
Ajudante Deo gratias.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 531

EP 13 Profissão dos dez artigos de fé que o cristão é obrigado a


crer e saber4
EP 13,1 1. Creio que há um só Deus e que não pode haver mais
que um.
EP 13,2 2. Creio que em Deus há três pessoas, Pai, Filho e Espírito
Santo, e que essas três pessoas são um só Deus, e não três
deuses, porque só têm uma e mesma natureza e uma e mesma
divindade.
EP 13,3 3.Creio que o Filho de Deus, segunda pessoa da Santíssima
Trindade, se fez homem por amor de nós; que morreu numa
cruz para satisfazer a Deus por nossos pecados, livrar-nos das
penas do inferno e merecer-nos a vida eterna.
EP 13,4 4.Creio que os que tiverem vivido corretamente neste mun-
do e tiverem morrido na graça de Deus serão recompensa-
dos após a morte, e que sua recompensa consistirá em serem
eternamente felizes no céu, vendo a Deus tal qual Ele é.
EP 13,5 5. Creio que os que tiverem vivido mal e morrido em pecado
mortal serão condenados, isto é, nunca verão a Deus e arderão
eternamente no inferno.
EP 13,6 6.Creio que há dez mandamentos de Deus, e que há obrigação
de observá-los todos; que há obrigação também de obedecer
à Igreja, da qual nos são propostos ordinariamente seis
mandamentos.
EP 13,7 7. Creio que, para ser condenado, basta haver cometido um só
pecado mortal e morrer neste estado.
EP 13,8 8.Creio que é preciso recorrer com frequência à oração, e que
é impossível salvar-se sem rezar.
EP 13,9 9. Creio que há sete sacramentos: Batismo, Confirmação,
Penitência, Eucaristia, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio.

4
É que há certo número de verdades “cujo conhecimento é absolutamente
necessário para salvar-se” (MR 194,3,1).
532 SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE OBRAS COMPLETAS

EP 13,10 10. Creio que o Batismo apaga o pecado original e todos os


pecados atuais, e nos torna cristãos; que a Penitência perdoa
os pecados cometidos depois de haver recebido o Batismo; e
que a Eucaristia contém realmente o corpo, o sangue, a alma
e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo sob as aparências
do pão e do vinho.
EP 13,11 É preciso fazer-se instruir sobre todas estas coisas para estar
em condições de merecer e de obter a salvação eterna.
Fim dos Exercícios de Piedade.
EXERCÍCIOS DE PIEDADE ... 533

Índice

Apresentação ................................................................................................ 485


Orações rezadas na escola em diversos momentos pela manhã .................. 487
Às oito quando iniciam as aulas............................................................. 487
Às oito e meia, faz-se ação de graças, do modo a seguir .................... 488
Às nove e às dez, se fazem as orações seguintes ….............................. 489
Orações rezadas ao final das aulas da manhã .............................................. 490
Antes de ir à santa Missa ......................................................................…... 494
De regresso da santa Missa ....................................................................….. 494
Na saída da escola ........................................................................................ 494
Orações rezadas após a oração da manhã e da tarde,
enquanto os alunos estão saindo da escola ............................................. 494
Orações acrescidas à oração da manhã e da tarde quando
da morte de algum professor ou aluno ................................................... 497
Atos de fé rezados cada dia da semana ........................................................ 498
Orações rezadas na escola depois do meio-dia ............................................. 500
Orações rezadas antes e depois do catecismo .............................................. 502
Orações rezadas ao final das aulas da tarde ................................................ 503
Exame ................................................................................................ 50 6
Artigo 1º ............................................................................................ 507
Artigo 2º ............................................................................................ 507
Artigo 3º ............................................................................................ 508
Artigo 4º .....................................................................................…... 509
Ladainhas em honra da Santíssima Virgem ................................................. 512
Ladainhas em honra da Divina Infância de Jesus ....................................... 514
Ladainhas em honra do Santo Nome de Jesus ............................................ 516
Ladainhas em honra de São José, esposo da Santíssima Virgem ................ 518
Ladainhas rezadas todos os dias das Quatro Têmporas e das Rogações ..... 520
Principais cerimônias a serem observadas por quem ajuda a santa Missa ... 524
1. O que deve fazer até a Missa começar ............................................... 524
2. O que deve fazer desde o início da Missa até o introito .................... 524
3. O que deve fazer do introito ao ofertório ........................................... 525
4. O que deve fazer desde o ofertório até o Sanctus .............................. 526
5. O que deve fazer desde o Sanctus até a comunhão ............................. 526
6. O que deve fazer desde a bênção até o final da Missa ......................... 527
As respostas da santa Missa …………………............................................. 528
Profissão dos dez artigos de fé que o cristão é obrigado a crer e saber ........ 531
Índice do Volume III

Escritos Pedagógicas
1. Guia das Escolas Cristãs – GE ............................................................... 7
2. Regras do Decoro e da Urbanidade Cristãos – RU .............................. 319
3. Exercícios de Piedade feitos ao longo do dia nas Escolas Cristãs – EP .. 483

Bibliografia do Volume III

ACADÉMIE française. Dictionnaire de l´Académie françoise. 4e ed. 2 vol. Paris:


Vve. B. Brunet, 1762.
ALBERT-VALENTIN. Édition critique des “Règles de la bienséance et de la
civilité chrétienne”. Paris: LIGEL, 1956.
ANSELME, Frère. Conduite des Écoles chrétiennes. Édition du manuscrit français
11.759 de la Bibliotèque Nationale de Paris. Introduction et notes comparatives
avec l´édition princeps de 1720. Paris: Procure générale, 1951.
BAILLY, René. Dictionnaire des synonymes de la langue française. Paris: Li-
brairie Larousse, 1946.
BATENCOUR, Jacques de. L’École paroissiale ou la manière de bien instruire les
enfants dans les petites écoles, par un prêtre d´une paroisse de Paris. Paris: Pierre
Targa Libraire, 1654.
BLAIN, Jean-Baptiste. La vie de Monsieur Jean-Baptiste de La Salle, insti-
tuteur des Frères des Écoles Chrétiennes. 2 vol. Cahiers lasalliens n. 7-8.
Rome: Maison saint Jean-Baptiste de La Salle, 1961.
CABOURDIN, Guy; VIARD, Georges. Lexique historique de la France d´Ancien
Régime. 2e ed. Paris: Armand Colin, 1981.
CHARTIER, Roger. Lectures et lecteurs dans la France d´Ancien Régime. Paris:
Seuil, 1987.
DICTIONNAIRE de Trévoux. Dictionnaire universal françois et latin, vulgai-
rement appellé Dictionnaire de Trévoux. Paris: Etienne Ganeau, 1743.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. V. I. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
FURETIÈRE, Antoine. Dictionnaire universel contenant généralement tous
les mots françois tant vieux que modernes de toutes les sciences et des arts. La
Haye et Rotterdam: Arnout et Reinier Leers, 1690.
FRÈRES DES ÉCOLES CHRÉTIENNES. Cahiers lasalliens. Rome: Maison saint
Jean-Baptiste de La Salle.
GALLEGO, Saturnino. Vida y pensamiento de San Juan Bautista de La Salle. 2
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GARNOT, Benoît. Les chemins de la connaisance: lire, écrire, savoir. In:
MUCHEMBLED, Robert (Dir.). Sociétés, cultures et genres de vie dans la France
moderne: XVIe-XVIIe siècle. Paris: Hachette, 1991.
GUIZOT, François. Nouveau Dictionnaire des Synonymes de la langue française.
[Paris], [s.n.], 1822.
HENGEMÜLE, Edgard: Educação lassaliana: que educação? Canoas: Salles,
2007.
HOURS, Bernard. L’Église et la vie religieuse dans la France moderne. XVIe-
XVIIIe siécle. Paris: PUF, 2000.
HOURY, Alain. Écrits anotés (digitalizado).
LITTRÉ, Émile. Dictionnaire de la langue française. Paris: Hachette, 1872.
NUNES, Ruy Afonso Costa. História da educação no século XVII. São Paulo:
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PETITAT, André. Produção da escola – produção da sociedade. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1994.
POUTET, Yves. Jean-Baptiste de La Salle aux prises avec son temps. Cahiers
lasalliens n. 48. Rome: Maison saint Jean-Baptiste de La Salle, 1988.
PRAIRAT, Eirick. Éduquer et punir. Nancy: Presses Universitaires de Nancy, 1994.
ROBERT, Paul. Dictionnaire historique de la langue française. Paris: Dictionnaires
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VACCA, Romano. L’Osservatorio Romano, 15 de maio de 1980, p. 10.
VINCENT, Guy. L´école primaire française. Lyon: Maison des Sciences de
l´Homme, 1980.
Siglas dos escritos de La Salle

C Cartas Volume I
C1 Compêndio Maior dos Deveres do Cristão Volume IV-B
C2 Compêndio Menor dos Deveres do Cristão Volume IV-B
CE Cânticos Espirituais Volume IV-B
CT Coleção de Vários Pequenos Tratados Volume II-A
D Diretórios Volume II-A
DC1 Deveres do Cristão I Volume IV-A
DC2 Deveres do Cristão II Volume IV-A
DC3 Deveres do Cristão III Volume IV-B
EMO Explicação do Método de Oração Mental Volume II-A
EP Exercícios de Piedade feitos ao longo
do dia nas Escolas Cristãs Volume III
FV Fórmula de Votos Volume I
GE Guia das Escolas Cristãs Volume III
I Instruções e Orações para a Santa Missa,
a confissão e a comunhão Volume IV-B
MA Meditações adicionais Volume II-B

MC Memória dos Começos Volume I


MD Meditações para todos os Domingos do Ano Volume II-B
MF Meditações sobre as principais Festas do Ano Volume II-B
MH Memória sobre o Hábito Volume I
MLF Memória em favor da Leitura em Francês Volume I
MR Meditações para o Tempo de Retiro Volume II-B
P Prefácio (a um Pequeno Tratado) Volume II-A
RC Regras Comuns dos Irmãos das Escolas Cristãs Volume II-A
RD Regra do Irmão Diretor Volume II-A
RI Regras que me impus Volume I
RU Regras do Decoro e da Urbanidade Cristãos Volume III
T Testamento Volume I
VH Voto Heroico Volume I
(51) 3227 1797 / 8409 9437

Este livro foi confeccionado especialmente


para a Editora Unilasalle, em Times New Roman, 11,5/14,5.

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