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 A bordo do Beagle: Uma aventura
pela APA Costa dos Corais

Josival Francisco Araújo

Roteiro

Bennê Oliveira
Arte

Clemente Coelho Junior

Finalizações e orientação

Fábio José de Araújo Pedrosa

Finalizações e orientação

Organização: Realização: Apoio:

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 Ficha Técnica
INSTITUTO BIOMA BRASIL
Clemente Coelho Junior
Diretor
PROJETO A BORDO DO BEAGLE
Josival Francisco Araújo e Bennê Oliveira
Fundadores

Bennê Arte, Estúdio Oba

Capa, Projeto gráfico e diagramação
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

A bordo do Beagle : uma aventura pela APA Costa

dos Corais [livro eletrônico] / Josival
Francisco Araújo ... [et al.]. -- 1. ed. --
Recife, PE : Instituto BiomaBrasil, 2021.
PDF

Outros autores : Bennê Oliveira, Clemente Coelho

Filho, Fábio José de Araújo Pedroso.
ISBN 978-65-996101-0-3

1. Corais - Brasil 2. Costa - Proteção 3.

Histórias em quadrinhos 4. Meio ambiente I. Oliveira,
Bennê.
II. Coelho Filho. III. Pedrosa, Fábio José de Araújo.

21-82874 CDD-741.5
Índices para catálogo sistemático:

1. Histórias em quadrinhos 741.5

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

1. História em quadrinhos 2. Divulgação Científica 3. Unidade de Conservação

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 Índice

Apresentação_________________________________________________6
Uma História sobre o “A Bordo do Beagle”____________________7
Quadrinhos____________________________________________________9
CHEGADA NA APA COSTA DOS CORAIS________________________10

GEOLOGIA DA APA COSTA DOS CORAIS________________________12

BRANQUEAMENTO DE CORAIS_______________________________14

OS PEIXES DA APACC_______________________________________16

O BANCO DE GRAMAS MARINHAS____________________________18

A MANCHA________________________________________________19

O PEIXE-BOI_______________________________________________25

OS CARANGUEJOS DO MANGUEZAL_________________________26

IMPACTOS AMBIENTAIS_____________________________________28

OS GUARDIÕES DO MANGUEZAL_____________________________29

AVANTE TRIPULAÇÃO!______________________________________30

Infográficos___________________________________________________31
Textos complementares_____________________________________38
Com carinho, Josi e Bennê___________________________________48
Autores_______________________________________________________49
Naturalistas___________________________________________________51
Referências___________________________________________________52

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 Prezados educadores e demais leitores,

É com muito prazer que o Instituto BiomaBrasil apresenta a História em

Quadrinhos (HQ) “A bordo do Beagle: uma aventura pela APA Costa dos Corais”.
Material didático organizado pelos jovens naturalistas Josival e Bennê, a convite
dos professores Clemente Coelho Junior e Fábio Pedrosa.

A HQ foi produzida durante a pandemia da COVID-19 em 2020, num mo-

mento bem conturbado na vida de todo mundo. Porém, foi produzida com muitas
troca de conhecimento e muita criatividade, exigindo dos autores e tutores dedica-
ção de estudos sobre a região, suas riquezas e seus costumes.

A Área de Proteção Ambiental APA Costa dos Corais localiza-se entre

Tamandaré (PE) e Maceió (AL), sendo considerada a maior área costeiro-marinha
protegida do Brasil.

Este material de apoio didático é dividido em três partes: Quadrinhos, in-

fográficos e conteúdo complementar, abordando temas relacionados a ecologia,
questões socioambientais e desafios desta importante Unidade de Conservação.

Este singelo projeto teve apoio da Fundação Toyota do Brasil e Fundação

SOS Mata Atlântica. Que todos e todas façam bom uso em sala de aula e em ativi-
dades lúdicas nos projetos de Educação Ambiental.

Boa leitura!
Instituto BiomaBrasil

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 Uma história sobre o “A Bordo do Beagle”

O projeto “A Bordo do Beagle” surgiu da parceria entre dois alunos de biologia da

Universidade de Pernambuco (UPE), e para contar essa história é necessário entender como
tudo começou. Tanto Josival quanto Bennê sempre tiveram o desejo de divulgar ciências
e juntos montaram uma exposição de ilustração científica de besouros rola-bosta. Depois
dessa exposição tiveram a oportunidade de realizar um estágio no Museu Espaço Ciência,
em Olinda, e lá desenvolveram um infográfico intitulado “Rolando a Bosta pela Mata Atlânti-
ca” orientado pela Coordenadora de Meio Ambiente do museu, Fabiana Carmo. Esse infográ-
fico trata sobre os besouros rola-bosta da Mata Atlântica e está disponível no site do Portal
de Zoologia de Pernambuco (http://www.portal.zoo.bio.br/media457).

Neste momento, os dois entenderam que poderiam divulgar ciência por meio dos
infográficos, quadrinhos e ilustrações. E logo depois de divulgar o trabalho nas redes, uma
nova parceria foi construída nos corredores do Instituto de Ciências Biológicas da UPE. O
professor Clemente Coelho Jr, cofundador do Instituto BiomaBrasil, os convidou para produ-
zir uma temporada de quadrinhos sobre a APA Costa dos Corais. Esse material seria divulga-
do no Instagram.

Mas afinal como seria chamado? Uma coisa era fato, eles queriam tratar sobre tudo:
animais, plantas, geologia, sociedade, impactos ambientais e até mesmo cultura. Foi aí que
Bennê sugeriu o nome “A bordo do Beagle”, fazendo referência ao naturalista Charles Darwin,
que deu a volta ao mundo a bordo do navio HMS Beagle no século XIX. Assim, surgiu o nosso
Beagle, que navega pelo conhecimento e leva a todos e todas a observar a natureza com os
olhos de André. Chamamos nossa equipe de “tripulação” e os nossos seguidores de “natu-
ralistas”. Chegou o momento dessa aventura, coloquem o chapéu e peguem seu caderno de
anotações. São nossos convidados a bordo do beagle pela APA Costa dos Corais. Boa leitura,
espero que curtam.

Boa viagem!
Josival e Bennê

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 Apresentando a APA Costa dos Corais
As Unidades de Conserva-
ção (UCs) são áreas que salvaguar-
dam a biodiversidade e os serviços
ecossistêmicos prestados à socie-
dade. A gestão se faz junto com a
comunidade local e os usuários
desses serviços, influenciando di-
retamente a qualidade de vida das
pessoas. Dentre os serviços funda-
mentais estão a purificação do ar e
da água, beleza cênica promovendo
o turismo e o lazer, abrigo de espé-
cies da fauna e da flora ameaçadas,
dentre tantos outros. As UCs são
divididas em duas categorias: de
proteção integral (visa exclusiva-
mente a preservação das espécies
e dos ecossistemas) e de uso sus-
tentável (utilização controlada dos
recursos naturais).
A APA Costa dos Corais
(APACC) é uma Área de Proteção
Ambiental que fica entre Taman- reduzindo o aporte de sedimentos
daré, no estado de Pernambuco, e que contribuem para a turbidez
Maceió, no estado de Alagoas. Des- das águas costeiras. Além disso, a
cobrimos que a diversidade de vida corrente Sul Equatorial traz águas
nos recifes de corais na APACC é quentes e límpidas para o nordeste
favorecida por fatores naturais. O brasileiro, favorecendo o ótimo de-
primeiro é a história geológica da senvolvimento dos corais e outros
região no período Cretáceo (145 a organismos construtores. Então, a
65 milhões de anos atrás), um dos APA Costa dos Corais está no lugar
últimos trechos da América do Sul certo e no tempo certo para a evo-
a se separar da África. Variações lução dessa barreira de corais, uma
do nível do mar ao longo do período condição rara.
Quaternário (2,6 milhões de anos
até o presente) também contribu-
íram para a formação de uma to-
pografia submarina que favoreceu
o desenvolvimento dessa grande
barreira de corais na região, onde
hoje é a APACC.
Outro fator importante
é a ausência de grandes rios de-
sembocando no litoral da APACC,
39
 Os recifes de corais da APACC
Os recifes de corais são
chamados assim devido ao papel
desses animais na formação dos
recifes, mas os corais não são os
únicos construtores. As algas cal-
cárias, assim como os moluscos
e outros invertebrados, tem uma
relevância igual ou maior que os
corais construtores. Os corais são
animais que possuem um esquele-
to de carbonato de cálcio e depois
que morrem formam substrato
para novas colônias, originando,
então, os chamados recifes de co-
rais. Portanto, os recifes formados
por corais construtores e algas
calcárias são depósitos de animais
mortos que funcionam como tijo-
los (corais) e cimento (algas calcá-
rias) para a construção dessa es-
trutura rígida. São os engenheiros
naturais deste ambiente tão rico.
Os corais fazem simbiose
com microalgas chamadas zoo-
xantelas e essa associação é im-
portante para sua sobrevivência
40
em águas rasas. Os corais forne-
cem às microalgas, gás carbônico
(CO2) e nutrientes que normalmen-
te são excretados por esses ani-
mais. Já as zooxantelas fornecem
aos corais os alimentos resultan-
tes da fotossíntese.
No entanto, quando ocor-
re um estresse ambiental inten-
so, os corais acabam expulsando
as zooxantelas dos seus tecidos,
prejudicando esses animais, pois
além do alimento, as microalgas
são responsáveis pela coloração
dos corais. Eles então ficam trans-
parentes, deixando a coloração do
esqueleto visível, que é o branco
do calcário. Esse processo é co-
nhecido como branqueamento de
corais.
Vários fatores podem pro-
vocar esse estresse ambiental. Em
nível local, pode ser o aumento da
quantidade de sedimentos trazi-
dos das regiões costeiras para o
mar, a diminuição da salinidade
ou o aumento da poluição, com
excesso de nutrientes. E, em ní-
vel global, a elevação da tempera-
tura dos oceanos e o aumento da
irradiação solar são os principais
problemas.
Entretanto, os corais
branqueados não estão mortos,
conseguem ainda se alimentar
caçando pequenas larvas de or-
ganismos que nadam ao seu re-
dor. Se as condições ambientais
normalizarem rapidamente, os
corais podem recuperar suas mi-
croalgas. É importante monitorar
a saúde dos corais.
 Os peixes dos recifes de corais
Mergulhando água abai-
xo neste ambiente, vocês encon-
trarão uma diversidade de peixes
com hábitos e formas peculiares,
como o Saberê (ou Sargentinho,
Abudefduf saxatilis) que acompa-
nham os turistas, acostumados
com a oferta de ração. Atenção:
não se deve alimentar os peixes,
isso pode causar um grande dese-
quilíbrio ecológico. Há ainda peixes
que vivem em tocas e cavernas no
interior dos recifes, como as Mo-
reias (Muraena pavonina) e Mutu-
tucas (Myrichthys ocellatus).
Alguns peixes chamam a
atenção por serem limpadores de
outros peixes, como o Neon Goby
(Elacantinus figaro) que se encon-
tra ameaçado e só ocorre no Brasil ou passam em algum momento da
(endêmico). O Bico-Verde ou Bu- vida neste santuário ecológico. No
dião-azul (Scarus trispinosus) tam- entanto, esse ambiente encontra-
bém está ameaçado, por conta da -se ameaçado, e dentre os animais
sobrepesca nos últimos 15 anos. recifais, os peixes estão entre os
Ele é considerado o jardineiro dos mais prejudicados com a pesca
recifes por se alimentar de algas, predatória, poluição e destruição
e suas fezes fertilizam a água e o do ecossistema.
fundo do mar. O Linguado (Bothus
lunatus) vive no fundo arenoso e
têm os dois olhos no mesmo lado
da cabeça. No Nordeste Brasileiro
tem uma espécie de raia (Dasyatis
marianae) que só ocorre em am-
bientes recifais rasos do Maranhão
ao sul da Bahia. É um peixe cartila-
ginoso.
O ecossistema recifal abri-
ga uma riqueza de peixes que vivem
41
 O banco de gramas marinhas
Algumas espécies de
plantas marinhas podem formar
um incrível ecossistema, cha-
mado de pradarias submersas.
Podem ser encontradas nas re-
giões costeiras de todo o mun-
do, em águas rasas próximo ao
manguezal e/ou recifes de corais,
conectando esses ambientes.
Na maré alta esses bancos de
plantas ficam submersos, mas na
maré baixa podemos observá-los
expostos ao ar. Consistem em
extensos bancos de uma planta
marinha mais parecida com as
plantas terrestres do que algas,
porque produzem flores, frutos
e sementes. As flores não são
polinizadas por abelhas, mas por
pequenos crustáceos e outros
invertebrados que vivem neste
ambiente. Essas plantas podem
crescer tanto em ambiente ma-
rinho quando em água salobra e
42
para sobreviverem num ambien-
te dinâmico possuem adapta-
ções importantes.
Na APA Costa dos Corais
encontramos extensos bancos
de capim agulha, assim chamado
por sua aparência e também por
que o peixe agulha (a agulhinha,
usada como petisco na gastrono-
mia praiana) deposita seus ovos
em suas folhas. São importantes
por filtrarem partículas da água,
segurarem o sedimento e elimi-
nar patógenos que transmitem
doenças para os corais e seres
humanos. Além disso, tais plan-
tas sequestram carbono, sendo
prioritária sua conservação para
atenuar os efeitos das mudan-
ças climáticas.
Esse ambiente serve de
berçário e alimentação para vá-
rias espécies. O peixe-boi e as
tartarugas marinhas o visitam
para a alimentação. Além deles, o
cavalo-marinho, mariscos, crus-
táceos e vários peixes estuarinos
ou recifais são registrados nes-
te santuário, onde reproduzem
e encontram alimento. Apesar
de importantes, sendo um dos
ambientes mais produtivos do
mundo, as pradarias submer-
sas são pouco conhecidas pelo
ser humano e vêm desapare-
cendo rapidamente.

De agosto de 2019 a ja-
neiro de 2020, um total de 11 es-
tados costeiros (9 no Nordeste e
2 no Sudeste), 130 municípios e
1.009 localidades, foram atingi-
dos por toneladas de óleo cru.
As manchas órfãs de
óleo vieram pela Corrente Sul
Equatorial, derivando para o norte
e para o sul do Brasil, conforme
as condições oceanográficas lo-
cais, atingindo áreas muito sensí-
veis às perturbações antrópicas,
como recifes de corais e man-
guezais, além de bancos de gra-
mas marinhas e praias. O petró-
leo é um composto muito tóxico
para os organismos e para o ser
humano. Centenas de animais fo-
ram oleados, alguns chegando a
A mancha
óbito. Cientistas buscam evidên- apontaram como causa da tragé-
cias do potencial impacto à biodi- dia, um incidente com navio pe-
versidade e a saúde humana. troleiro que ocorreu em alto-mar,
possivelmente a centenas de
Aproximadamente 870 quilômetros da costa brasileira. O
mil pessoas empregadas na pes- governo iniciou investigação para
ca artesanal e no turismo local descobrir o responsável, mas até
foram prejudicadas pelo desas- hoje não apresentou respostas.
tre. Sem assistência do governo
federal, ficaram sem a renda para
alimentar as suas famílias. Na
APA Costa dos Corais foram 20
mil pescadores prejudicados, de
40 comunidades.
O governo brasileiro de-
veria ter acionado o Plano Na-
cional de Contingência para Inci-
dentes de Poluição por Óleo em
Águas sub Jurisdição Nacional
(PNC, 2013). Diversos estudos
43
 Os maravilhosos manguezais da APACC
Vocês conhecem o
manguezal? É um ecossistema
costeiro com vegetação típica
denominada mangue, adaptada
às inundações pelas marés e a
presença de sal no solo. Algumas
espécies de árvores de mangues
para sobreviverem no ambiente
salobro liberam sais pelas suas
folhas, chegando a cristalizar. Ou-
tras filtram o sal nas raízes. Para
um solo pouco consolidado, en-
charcado e lodoso, projeções dos
troncos sustentam a Rhizopho-
ra mangle, como raízes escora,
também chamado localmente de
mangue-gaitero.
O manguezal possui
uma fauna associada muito in-
teressante. Animais como ca-
44
ranguejos, ostras, peixes, aves e
mamíferos são bem conhecidos.
Podemos encontrar neste am-
biente animais de vida livre (in-
setos, aves), animais sésseis que
vivem fixos em troncos (ostras e
cracas), animais arborícolas que
vivem nas árvores (macacos e
caranguejos), animais rastejado-
res (caramujos) e escavadores
(caranguejos). Este santuário
também é um importante ber-
çário para alguns peixes recifais
e para o peixe-boi-marinho, que
o utiliza para o desenvolvimento
dos seus filhotes e cuidados pa-
rentais.
Esse ecossistema pres-
ta diversos serviços ecossistê-
micos à sociedade. Para as co-
munidades de pescadores, os
pescados são as suas únicas
fontes de alimentação e susten-
to. Estudos indicam que cerca de
70% dos pescados capturados
no litoral brasileiro tem parte do
seu ciclo de vida nos manguezais.
Os bosques são eficientes na
proteção da zona costeira contra
a erosão marinha e no sequestro
e aprisionamento de carbono da
atmosfera, sendo um importante
aliado contra as mudanças cli-
máticas.
 Os caranguejos da APA Costa dos Corais
Assim que chegamos no
manguezal um dos primeiros ani-
mais que encontramos são os ca-
ranguejos, que estão na lama, no
tronco das árvores de mangue e na
água. Mas, vocês os conhecem?
Já viu algum? Sabe diferenciá-los?
Sabe por que alguns caranguejos
vivem na lama, outros nos troncos
e por que siris nadam? E quais são
as ameaças às espécies? Estas
são questões que chamam a aten-
ção de todos os naturalistas curio-
sos que visitam o manguezal.
Os caranguejos são crus-
táceos, mesmo grupo das lagostas
e dos camarões. Um deles, o Aratu
(Goniopsis cruentata), é uma espé-
cie semiterrestre e bastante ágil,
capaz de se deslocar muito rápido
entre raízes e troncos de mangue.
É um grande predador de outros
caranguejos, mas come de tudo
um pouco.
O caranguejo Uçá (Ucides
cordatus) é bastante conhecido.
É o maior dentre as espécies, faz
toca na lama e carrega folhas e
propágulos de mangue, que ser-
vem de alimento, para dentro das
galerias. A manutenção das ga-
lerias beneficia a oxigenação do
solo e disponibiliza nutrientes para
o ambiente. Podem ser considera-
dos engenheiros desse ecossiste-
ma.
Os caranguejos Chié (Uca
spp) são bastante diversos e vivem
na borda do manguezal, também
fazem tocas e são ligeiros. Assim
como o Uçá, estes caranguejos
realizam um processo chamado de
bioturbação, que causa o revolvi-
mento da lama, bem como de seus
nutrientes, que são a fonte de vida
e subsistência do ecossistema
manguezal.
Alguns crustáceos pos-
suem pernas adaptadas para na-
dar, e são conhecidos como Siris
(Calinectes spp). Eles apresentam
a última perna achatada, em forma
de remo. Sabiam que existem vá-
rias espécies de siris?
Por serem fonte de pro-
teína para as comunidades tradi-
cionais e apreciados como iguaria,
Uçás, Aratus e Siris estão amea-
çados pela sobrepesca, principal-
mente no período reprodutivo.
As ameaças passam
tam­ bém pela destruição do seu
am­ biente natural. Em seu lugar
constroem-se residências, ocorre
extração de madeira, plantações,
tanques de camarão, marinas, por-
tos, dentre outros. A poluição dos
rios e estuários também afeta dire-
tamente as espécies.
45

O manguezal está no
litoral brasileiro, ambiente com
muitas cidades crescendo sem
planejamento. O resultado é o
baixo índice de saneamento bási-
co, que acaba por transformar os
rios e córregos em canais aber-
tos de esgoto, devido a descarga
de efluentes lançados nesses
rios pelas casas e indústrias. Um
dos maiores problemas para os
manguezais é o lixo. Microplásti-
Os guardiões do manguezal
Há no manguezal diver-
sas atividades socioeconômicas
que se desenvolvem graças aos
recursos e serviços gerados pelo
ecossistema. Cerca de 90% da
pesca mundial ocorre na zona
costeira, 70% dos organismos
pescados provêm de estuários
e ecossistemas associados. São
os ecossistemas costeiros que
garantem há mais de 2 mil anos
a prática de pesca e produção ar-
tesanal de sal pelas comunidades
ribeirinhas.
Nos rios da APA Costa
dos Corais é possível encontrar
vastos manguezais por onde os
46
Impactos ambientais
cos, invisíveis aos nossos olhos,
garrafas pet, garrafas de vidro, bi-
tucas de cigarro, até mesmo tvs e
sofás, podem ocasionalmente ser
encontrados nos manguezais
Além disso, algumas
áreas de manguezais podem ser
aterradas para construções de
tanques de camarão, que alte-
ram o fluxo das marés e dos rios,
levando à morte das árvores de
pescadores e pescadoras retiram
sustento para suas famílias. Boa
parte da proteína da dieta das co-
munidades vem dos manguezais.
Durante a maré baixa, mulheres
e crianças podem ser encontra-
das catando mariscos que vi-
vem enterrados na lama e ostras
que ficam fixadas nas raízes dos
mangues. Os homens aproveitam
a maré baixa para apanhar caran-
guejos no manguezal. Já na maré
alta, pescam nas águas calmas
dos estuários.
As comunidades pes-
queiras têm uma relação muito
antiga e íntima com o manguezal.
mangues e da fauna associada.
Além desses impactos,
outros devem ser comentados
aqui, como o derramamento de
petróleo, que foi contado na nos-
sa série “A Mancha”. A pesca pre-
datória descontrolada, desmata-
mento, ocupações clandestinas
e o aquecimento global são as
maiores ameaças ao ecossiste-
ma.
Em algumas regiões do Nordeste,
essa relação é tão intensa que
são conhecidos como “civilização
do mangue”, nome dado as popu-
lações tradicionais que vivem em
contato íntimo com o manguezal.
Todo o conhecimento utilizado
pelos mais velhos é repassado
de geração para geração e aper-
feiçoado pelos membros das co-
munidades ao longo do tempo. A
destruição do manguezal afeta a
todos: animais, plantas e pesca-
dores. Pois os verdadeiros guardi-
ões desse santuário estão conec-
tados com a natureza.
 Conecta APA Costa dos Corais
Vocês sabiam que reci-
fes de corais, bancos de gramas
marinhas e manguezais são pro-
tetores da região costeira, além
de essenciais para produção do
pescado? O que poucos sabem é
que esses ambientes estão imen-
samente conectados e aumen-
tam a produtividade marinha.
Estudos recentes de-
monstram que recifes de corais
próximos de manguezais pos-
suem muito mais peixes de inte-
resse comercial. Além disso, os
manguezais são responsáveis
por filtrarem e reterem os sedi-
mentos para que eles não che-
guem aos recifes de corais, pois
isso poderia ser prejudicial aos
recifes.
Os manguezais são im-
portantes berçários para mui-
tas espécies de peixes, algumas
ameaçadas de extinção. Em algu-
ma fase das suas vidas buscam o
manguezal como abrigo e local de
alimentação durante seu desen-
volvimento.
Portanto, não existem
ecossistemas isolados, todos
eles estão conectados. Mas há
muito o que fazer para protegê-
-los. Quando o lixo é lançado pela
janela de um ônibus acaba sendo
levado para os rios pelas águas
das chuvas, chegam até os man-
guezais e os recifes de corais.
Nós precisamos que as pessoas
se conscientizem e que respei-
tem a vida, para enfim podermos
conservar todos esses ambien-
tes em conjunto para o futuro.
47
 Queridos leitores,
Nem toda viagem é planejada, algumas apenas acontecem. Não há tempo de fazer
as malas, pensar em cada detalhe, seguir um caminho esperado. Quando a aventura chama
é muito difícil negar esse chamado. Algumas aventuras são como a natureza, simplesmente
acontecem, são incontroláveis. Talvez essa seja justamente a melhor parte de se viver uma
aventura, e sem dúvida essa é a definição mais clara do que o Beagle foi para nós no ano de
2020.

É inegável que todos, enquanto humanidade, tivemos muitos desafios, foi um ano
mentalmente devastador, absurdamente turbulento. E quando justamente necessitávamos
de experiências, de contato com a natureza, fomos pegos encarando as mesmas paredes
das nossas residências por incontáveis dias seguidos. Mas fomos muito longe, viajamos du-
rante um ano inteiro, e pegamos carona nos ombros de gente muito maior que nós mesmos,
preenchidos de experiência e visões muito claras e únicas de ecossistemas, tão distantes
de nós. Exigiu muita paciência, criatividade, dezenas de imagens de referência, correções e
mais correções de roteiro, eventuais discordâncias, muitas horas passadas sentados, uma
tendinite a vista, e por que não, duas ou três lágrimas. Mas conseguimos, velejamos ao sabor
do vento, e seguramos a mão de curiosos para que viajassem juntos, aprendessem e desco-
brissem conosco um local tão importante e tão bonito quanto a APA Costa dos Corais.

Criamos um personagem, o André, que é mais filho do que ficção, mais realidade do
que imaginação. Demos a ele nosso coração, a paixão pela natureza, o desejo de mudança,
e… nosso chapéu! Desejamos profundamente levá-lo ao futuro, para que possa aprender so-
bre diferentes locais junto à nossa tripulação. Olhando sempre para frente, cheio de esperan-
ça e otimismo, para um mundo que dá o seu melhor e não apenas se deixa habitar. E nesse
lugar melhor, nós estaremos sempre com André e com vocês. Obrigada por ter participado
dessa aventura conosco.

Com carinho,
Josival e Bennê

48
 Autores

Josival Francisco Araújo

Biólogo pela Universidade de Pernambuco,
mestrando em entomologia pelo Programa
de Pós-Graduação em Entomologia da Uni-
versidade Federal Rural de Pernambuco.
Produz semanalmente o roteiro das tirinhas
do @abordodobeagle.

Bennê Oliveira
Quadrinista, ilustradora e estudante de
Ciências Biológicas pelo Instituto de
Ciências Biológicas da Universidade
de Pernambuco. Produz tirinhas para o
Instagram @leve.mente.insana e ilus-
tra as tirinhas do @abordobeagle.

49
 Autores

Clemente Coelho Junior

Professor do Instituto de Ciências Biológi-
cas da Universidade de Pernambuco, bió-
logo com doutorado em Oceanografia pela
Universidade de São Paulo e co-fundador
do Instituto BiomaBrasil.

Fábio José de
Araújo Pedrosa
Professor do Instituto de Ciências Bio-
lógicas da Universidade de Pernambu-
co (UPE)  e da Universidade Católica de
Pernambuco (UNICAP), geólogo com
doutorado em Geologia Ambiental pela
UFPE, membro da Comissão Interinsti-
tucional de Educação Ambiental de Per-
nambuco (CIEA PE).

50
 Naturalistas

Nessa temporada conta- Fabiana Carmo Lilian Miranda

mos com a colaboração de diver- Bióloga, coordenadora de Meio Tecnóloga Ambiental, Analista Am-
sos naturalistas que nos ajudaram Ambiente do Museu Espaço Ciên- biental do ICMBio / APA Costa dos
imensamente para o amadureci- cia, Olinda, Pernambuco. Corais.
mento dos textos e para a revisão Colaboração: Infográfico Maravi- Colaboração: Série A Mancha.
do roteiro. A todos vocês agradece- lhoSOS Manguezais.
mos imensamente: Renato de Almeida
Gabriella Calixto Biólogo, Professor da Universidade
Ana Paula de Oliveira Santos Historiadora, Analista Ambiental do Federal do Recôncavo Baiano.
Pescadora, Cientista Social, Rede de ICMBio / APA Costa dos Corais. Colaboração: Os Caranguejos do
Mulheres Pescadoras da Costa dos Colaboração: Os Guardiões do manguezal.
Corais. manguezal.
Colaboração: Série A Mancha. Ricardo Palamar Menghini
Iran Normande Biólogo, professor da Universidade
Andrei Cardoso Biólogo, Analista Ambiental do ICM- Paulista – UNIP.
Biólogo, Analista Ambiental do ICM- Bio / RESEX Marinha da Lagoa do Colaboração: Impactos ambientais.
Bio / APA Costa dos Corais. Jequiá.
Colaboração: Série A Mancha. Colaboração: Unidades de Conser- Sidney Leite
vação. Gestor Ambiental, Instituto Meu
Bárbara Ramos Pinheiro Mundo Mais Verde.
Bióloga, Laboratório Conservação Karine Magalhães Colaboração: Série A Mancha.
no Século 21 / Universidade Federal Bióloga, Professora da Universida-
de Alagoas. de Federal Rural de Pernambuco.
Colaboração: Infográfico Corais por Colaboração: O banco de gramas
Água Abaixo e Branqueamento de marinhas.
Corais.
Laís Araújo
Cláudio Sampaio Estudante de Ciências Biológicas
Biólogo, Laboratório Ictiologia e da Universidade de Pernambuco,
Conservação da UFAL de Penedo, cofundadora do movimento Xô
Alagoas. Plástico.
Colaboração: Os peixes da APACC. Colaboração: Série A Mancha.

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 Referências

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 A bordo de um navio chamado Beagle, o jovem naturalista
André parte rumo a uma aventura nos ambientes costeiros
megadiversos da Unidade de Conservação APA Costa dos
Corais, que fica entre Pernambuco e Alagoas. Sua missão é
relatar a vida nesses ambientes, os povos que neles vivem
e os problemas ambientais que ameaçam esse santuário.

Prepare-se, pois o Beagle já zarpou para sua temporada na

APA Costa dos Corais. Além do André, muitos naturalistas
foram convidados para essa aventura e um deles é você.

Vamos zarpar?

Organização: Realização: Apoio:

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