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Material Teórico
A Emergência das Civilizações Africanas
Revisão Textual:
Profa. Ms. Rosemary Toffoli
A Emergência das Civilizações Africanas
Leia atentamente o conteúdo desta Unidade, que lhe possibilitará conhecer as atividades da agricultura
e a metalurgia do ferro na pré-história africana.
Você também encontrará nesta Unidade uma atividade composta por questões de múltipla escolha,
relacionada ao conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar conhecimentos e debater
questões no fórum de discussão.
É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em informações,
possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto.
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
Contextualização
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Origem da palavra África
Para o Historiador Joseph Ki-Zerbo (2010), a palavra África possui uma origem difícil de ser
esclarecida. Sabemos que ela foi imposta a partir do povo romano. Após ter designado o litoral
norte‑africano, a palavra África passou a aplicar‑se ao conjunto do continente, pelo menos
desde o fim do século I a. C.
d) Outra origem poderia ser a raiz fenícia faraga, que exprime a ideia de
separação, de diáspora.
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
Sub-regiões da África
África do Norte
África Ocidental
África Central
África Oriental
África do Sul
0 1000 mi
0 1000 km
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O lugar da História da África na história da humanidade
A história da África é pouco conhecida por nós. O pouco que sabemos dela vem das
imagens trazidas pelos filmes ou documentários produzidos muitas vezes por pessoas e países
não africanos. Essas imagens revelam o nosso pouco conhecimento sobre o tema e que nós
transformamos na imagem real da história da África tal como de fato ocorreu. Nesse contexto,
não é de causar surpresa o lugar pequeno e secundário que foi dedicado à história africana em
todas as histórias escritas da humanidade ou das civilizações.
A história da África, como a de toda a humanidade, é a história de uma tomada de consciência.
Nesse sentido, a história da África deve ser reescrita e isso porque ela foi, durante muito tempo,
desfigurada e mutilada. Esse continente presenciou gerações de viajantes, de traficantes de escravos,
de exploradores, de missionários, turistas e cineastas de todo tipo, que acabaram por fixar sua
imagem em dois tipos de cenários: a) miséria e barbárie em cenários do tráfico de escravos e nas
infinitas guerras entre os diversos povos; b) exuberância da natureza, com imensas florestas intocadas
e a grande diversidade animal. Essas imagens foram projetadas e extrapoladas ao longo do tempo,
passando a justificar tanto a realidade presente da África quanto o seu futuro. (KI-ZERBO: 2010).
É nesse contexto que surge a importância da obra como a História Geral da África,
publicada a partir dos anos 1980, pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura) e que constitui a principal obra de referência sobre a História
da África. Ela foi produzida ao longo de 30 anos por mais de 350 especialistas das mais variadas
áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39
intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Explore: A História Geral da África foi republicada no Brasil em 2010, pelo Ministério da
Educação, em oito volumes, em parceria com a UNESCO. Existe edição digital
fornecida gratuitamente pela UNESCO e pelo MEC.
»» http://goo.gl/fiJWzz
»» http://goo.gl/7WGlwT
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
As fontes orais: a tradição oral aparece como repositório das criações culturais e da
memória histórica acumulada pelos povos ditos sem escrita: um verdadeiro museu vivo. Seus
guardiões são os anciões de cada povo. Sem dúvida nenhuma, a tradição oral é a fonte histórica
por excelência da História da África e é o que a caracteriza. Muitos dos povos que formam hoje
a África são povos de tradição oral, ou seja, a transmissão da sua cultura se faz de forma oral.
É claro que muitos obstáculos metodológicos e conceituais com este tipo de fonte devem ser
ultrapassados para que se possam obter informações aproveitáveis do ponto de vista científico.
Etnocentrismo: é uma concepção de mundo segundo a qual nosso próprio grupo é tomado
como centro de tudo e todos os outros grupos são pensados e sentidos através dos nossos
Glossário valores, de nossos modelos e de nossas definições de vida.
É uma região geográfica que abrange diferentes países atuais (Iraque, parte
Oriente Próximo do Irã, parte da Turquia, Síria, Líbano, Israel, Egito) e onde surgiram algumas
civilizações que precederam as civilizações clássicas (Grécia e Roma).
A tendência foi a de sempre considerar o Oriente Próximo não somente como o local de
surgimento da cultura dos cereais mais importantes (trigo, cevada, etc.) e da criação de animais
(cabras, carneiros; mais tarde, bovinos), que são as bases materiais da civilização ocidental, mas
também como o núcleo de origem da própria civilização.
As pesquisas arqueológicas realizadas desde a Segunda Guerra Mundial contribuíram para
modificar em parte esse ponto de vista limitado e preconceituoso. Essas pesquisas mostram a
importância do “crescente fértil” na história da agricultura mundial, mas também revelam o
papel de outras partes do mundo nessa evolução tão importante na história da humanidade: a
produção de alimentos. (PORTERES, R.; BARRAU, J.: 2010).
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É o nome dado a uma região do Oriente Médio (atual Israel, Jordânia e
Líbano bem como partes da Síria, do Iraque, do Egito, da Turquia e do Irã),
historicamente habitada por diversos povos e civilizações desde os tempos
mais antigos. Seu nome deriva do formato dessa região, em forma de lua
Crescente Fértil crescente, e por ser propícia à agricultura. A região é frequentemente chamada
de “berço da civilização”, por ser ali o local de nascimento e desenvolvimento
de vários povos, que iniciaram o processo de desenvolvimento civilizatório
através da criação de cidades, da agricultura, da roda, da escrita, de diversas
ferramentas, além do desenvolvimento do comércio.
Desse modo, tornou‑se mais evidente o significado das invenções agrícolas e do cultivo de
vegetais na América, do sudeste asiático tropical e, finalmente, a contribuição africana para a
história dessa agricultura mundial. (PORTERES, R.; BARRAU, J.: 2010).
O surgimento de civilizações baseadas na produção em vez da simples apropriação (caça,
pesca e coleta) foi de fato uma revolução técnica, econômica e social, mesmo que ela não
aparecesse com o caráter de ruptura que a palavra sugere. Essa invenção humana permitiu pela
primeira vez a fixação do homem na terra.
O estudo destas civilizações materiais foi durante muito tempo dominado por teorias
difusionistas, de acordo com as quais a África se teria limitado a receber do exterior e adaptar aos
seus diversos territórios as inovações técnicas e materiais desta revolução. Hoje está claro que o
processo foi endógeno (a partir de dentro da África), tanto no que se refere ao aparecimento da
agricultura, como no que diz respeito à transformação dos metais (M’BOKOLO: 2009).
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
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É uma região plana cuja vegetação predominante são as gramíneas, com
árvores esparsas e arbustos isolados ou em pequenos grupos. A savana é o
Savana bioma típico das regiões de clima tropical com estação seca. Exemplos de
savanas: Parque Nacional de Serengueti na Tanzânia e o cerrado brasileiro.
Esse testemunho foi frequentemente ignorado e por muito tempo acreditou‑se que a
rizicultura na África tivesse por origem o arroz asiático. Por volta de 1914 apenas é que se
reconheceu a existência de um arroz especificamente africano.
A partir do delta central do rio Níger (atual Nigéria), as variedades cultivadas de arroz
africano se difundiram por todo o oeste da África até o litoral da Guiné. A coleta da espécie
selvagem é muito antiga. Esse cereal devia ser abundante nas regiões de coleta intensiva,
onde as condições favoreceram o início do cultivo de vegetais. Podemos, portanto, supor
que o cultivo desse arroz é, pelo menos, tão antigo quanto o dos outros cereais africanos.
(PORTERES, R.; BARRAU, J.: 2010).
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
A metalurgia do ferro
Por outro lado, a maior parte das pesquisas arqueológicas, sobretudo na África Ocidental,
foi desenvolvida de maneira a privilegiar os sítios associados a reinos ou impérios cuja
história política era mais ou menos conhecida. Ora, no início, a metalurgia do ferro foi
provavelmente obra de pequenas comunidades camponesas, muito antes da constituição
dos Estados.
Nada prova que as relações estabelecidas em épocas mais recentes entre o desenvolvimento
da metalurgia do ferro e Estados, entre ferro e comércio de longa distância, tenham existido
em épocas mais antigas. Os dados atuais permitem afirmar a endogeneidade da metalurgia do
ferro e também ajudam a esclarecer a distribuição geográfica das populações dominando esta
tecnologia (M’BOKOLO: 2009).
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Povo indo-europeu que no II milênio a. C. fundou um poderoso império na
Hititas Anatólia Central (atual Turquia), cuja queda data dos séculos XIII-XII a. C.
A partir do Egito, as novas técnicas ter-se-iam difundido para o sul do continente, primeiro
para Meroé (antiga cidade da Núbia, região onde atualmente é o Egito e o Sudão), depois de
Meroé para a África Oriental e Central.
No que se refere à África Ocidental teriam sido os fenícios que, depois de ter fundado Cartago
(atual Tunísia) por volta de 800 a. C., teriam primeiramente importado, depois trabalhado
localmente o ferro. A partir de Cartago, o ferro e sua tecnologia teriam progressivamente
alcançado a África subsaariana. (M’BOKOLO: 2009).
A civilização fenícia foi uma cultura comercial marítima que se espalhou por
Fenícios todo o mar Mediterrâneo durante o período que foi de 1500 a. C. a 300 a. C.
Os fenícios realizavam o comércio através de navios chamados de galé.
Esta espécie de regra sofre algumas exceções na África, cujos exemplos principais se encontram
na Núbia (região parte do atual Egito e parte do atual Sudão), em Akjut na Mauritânia e em Agadés
no Níger. Na Núbia, o trabalho do bronze parece ter sido mais espalhado do que o do ferro até
cerca do século IV a. C.. Na região de Akjut, no sudoeste da Mauritânia, os minerais do cobre e do
ferro locais foram explorados conjuntamente a partir do século V a. C.. Inversamente, no Níger é a
partir do começo do II milênio a. C. que se pode datar o trabalho do cobre. (M’BOKOLO: 2009).
Com o avanço das tecnologias de datações de materiais nos damos conta das fragilidades
das teses difusionistas. Hoje, o mais urgente não é a produção de novas teorias para as quais
as informações existentes ainda são insuficientes, mas a identificação de sítios arqueológicos
que permitam o estudo de contextos sociais e de trabalhos da metalurgia do ferro. Em todas as
regiões da África onde escavações sérias foram feitas dão datas cada vez mais antigas.
Na África ocidental, o sítio conhecido há mais tempo é o de Nok na Nigéria. Mas ele deixou
de aparecer como o mais velho porque datações em outras partes da África dão cronologias
muito antigas para a metalurgia do ferro: 2000 a. C. para Ténéré no Níger; século VII até IX a.
C. para Taruga na Nigéria e para os sítios ruandeses e burundeses. (M’BOKOLO: 2009).
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
A partir destes artefatos pode-se deduzir a vida nas sociedades nas quais estes objetos foram
produzidos: uma população relativamente densa; uma destruição mais ou menos rápida da
floresta, seja por desmatamento para liberar solos cultiváveis, seja por derrubada de árvores
para obter lenha para queimar; a associação de ritos de proteção e de fertilidade às atividades
agrícolas, já que alguns arqueólogos dizem que as cabeças de terra cozida teriam sido utilizadas
nesses rituais.
Relativamente mais recente (cerca de 250 a. C.), o sítio de Djenné no Mali é bem instrutivo.
A ocupação humana comprovada nesta região é a partir de 250 a. C., sendo os primeiros
habitantes a princípio principalmente pescadores e caçadores, aos quais vieram juntar
agricultores, conhecidos por ter cultivado arroz e organizado um habitat permanente feito de
terra pisada. Não se sabe se a metalurgia do ferro se desenvolveu apenas a partir de iniciativas
locais ou em consequência de relações comerciais (M’BOKOLO: 2009).
O minério de ferro e talvez a lenha para queimar vinham do planalto de Benedugu, situado
a cerca de 60 km mais a sul. Tudo parece indicar que a ocupação e o desenvolvimento do sítio
foram contínuos e que entre cerca de 300 e 800 d. C., Djenné alcançou a sua extensão máxima.
A aldeia de pescadores tinha cedido lugar a uma pequena cidade tirando vantagem da sua
posição à beira do rio Níger. (M’BOKOLO: 2009).
O local constituía um centro de trocas, vivendo do comércio local (peixe seco, óleo de
peixe) ou de longa distância (como parece testemunhar a presença de objetos de cobre e de
ouro, datados desta época) e abrigando uma classe de negociantes ou de chefes afortunados
(aos quais eram destinadas as ricas cerâmicas e os objetos funerários que foram encontrados
pelos arqueólogos).
Ainda mais tardios, os sítios de Daima (nordeste da Nigéria) e de Igbo-Ukwu (leste da
Nigéria) confirmam todas as mudanças econômicas e sociais associadas ao trabalho do ferro.
(M’BOKOLO: 2009).
Em Igbo-Ukwu, a descoberta de um túmulo datado do século IX sugere a associação da
metalurgia do ferro e de um poder político bem elaborado. Este túmulo é, de acordo com
todas as probabilidades, o de um príncipe ou de um detentor de um poder político-religioso.
(M’BOKOLO: 2009).
Um traço comum caracteriza o conjunto destes sítios oeste-africanos: a metalurgia do ferro
e todas as outras inovações que lhe estão associadas foram obra de populações locais, em
conjunto com o povoamento e com as transformações tecnológicas, econômicas e político-
espirituais de grande alcance.
A África central – onde as investigações arqueológicas estão ainda menos avançadas do que em
qualquer outra parte – e a África austral oferecem um quadro bem diferente do da África ocidental.
As datações obtidas na África central não parecem menos antigas do que as da África ocidental
e oriental. Nos Camarões, por exemplo, o sítio de Obobogo, junto de Yaundé, forneceu restos
datados do século IV a. C. e haveria até datas tão antigas como 1000 a. C. / 900 a. C. No
Gabão, é aos séculos II e I a. C. que se pode ascender neste momento. Ruanda, Burundi e
Tanzânia dão datas quase tão antigas (800 a. C. / 700 a. C.). No que se refere ao Zaire (hoje
República Democrática do Congo), é também para o século II a. C. que remetem os traços da
indústria metalúrgica assim como a cerâmica. (M’BOKOLO: 2009).
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Considerações finais
Através do desenvolvimento endógeno da agricultura e da metalurgia do ferro, demonstra-se
que a África não é inferior em termos de avanços técnicos, nem em relação ao Oriente Próximo,
nem em relação à Europa, considerados os núcleos da “civilização” humana. Essa é uma visão
distorcida da história que não possui base nas evidências de pesquisas mais recentes.
Devido à escravidão negra moderna no Ocidente, difundiu-se um estereótipo do negro
africano como um ser humano inferior e incapaz de realizar avanços na técnica material e
também de construir Estados e “grandes civilizações” como os europeus. Essa visão etnocêntrica
e racista da história aos poucos vai sendo desconstruída e sendo substituída por uma visão
crítica e mais verdadeira da história da África.
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
Material Complementar
Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, veja o seguinte vídeo no Youtube:
Vídeos:
Livros:
Leia o texto:
KI-ZERBO, Joseph (Ed.). Introdução. In: História Geral da África I: metodologia
e pré-história da África, 2. ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
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Referências
KI-ZERBO, Joseph (Ed.). Introdução. In: História Geral da África I: metodologia e pré-
história da África, 2. ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações, tomo I. Salvador: EDUFBA; São
Paulo: Casa das Áfricas, 2009.
PORTERES, R.; BARRAU, J. Origens, desenvolvimento e expansão das técnicas agrícolas, In: História
Geral da África I: metodologia e pré-história da África, 2. ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
VERCOUTTER, J. Descoberta e difusão dos metais e desenvolvimento dos sistemas sociais até
o século V antes da Era Cristã. In: História Geral da África I: metodologia e pré-história da
África, 2. ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
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Unidade: A Emergência das Civilizações Africanas
Anotações
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