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19 DE MAIO DE 2016 MÁRIO MATUNDULO HISTORIA DE AFRICA

A NOVA HISTÓRIA AFRICANA

A partir de meados do século XX foram criadas universidades, tendo novo impulso a História Africana,
surgia uma História de África comparável a qualquer outra parte do mundo.

O início do estudo da Historia Africana noutros continentes constitui, igualmente, um fator importante
para a restauração da História da África.

As independências dos países Africanos a partir da década de 1960 criaram um renovável interesse por
África e uma considerável curiosidade popular. Por tanto, a partir do século XIX, a História de África
seguiu três correntes principais:

O Eurocentrismo;

O Afrocentrismo;

E ainda uma corrente intermedia a progressista, que visava estabelecer um certo equilíbrio entre as
duas primeiras claramente radicais em defesa dos objectivos que perseguem.

Principais correntes da Historiografia Africana

Corrente Eurocentrista

Esta é uma corrente marcadamente racista, por defender a superioridade da raça branca sobre a negra.
Sustenta que os Africanos não tinham História antes de estabelecer contatos com os Europeus.
Considera que a única parte do continente que possui História é o Norte da África (África branca) e,
como tal, faz parte da Europa e da Ásia. Nega a existência da História da África subsaariana (África
negra) antes da presença da Europa.

Defende que África não é uma parte da História do Mundo, não tem movimentos nem progressos
próprios a mostrar e assim nega a possibilidade dos Africanos terem contribuído para o
desenvolvimento da História Universal.

O Eurocentrismo estabelece estreita ligação com o colonialismo, assumindo que a invasão e ocupação
da África foi feita sem resistência e com a colaboração dos chefes dos povos Africanos.

Os invasores Europeus são vistos como heróis, enquanto os resistentes Africanos são vistos como gente
sanguinária, sedenta de sangue, pois alegram-se com guerras entre tribos. Para os Eurocentristas, os
Africanos não possuíam nenhuma organização política e social centralizada.

Os Eurocentristas defendem que somente as fontes escritas são fidedignas, negligenciando a Historia
feita com fontes orais. Assim, a história de algumas cidades como Cartago (actual Tumes), Darfur,
Songhai, Ghana, e Oriba entre outras.

Durante a idade média e nos períodos anteriores não foram objecto de estudo alegadamente pela falta
de fontes escritas.

A principal figura da corrente Eurocentrista foi Hegel, destacando-se também em A. P. Newton, Neutel
de Abreu e Massamo de Amorim.

Corrente Afrocentrista

Esta corrente Afrocêntrica surgiu em reação a corrente Eurocentrista, critica radicalmente a colonização
afirmando que esta influenciou negativamente a evolução histórica da África. Está ligada ao
protonacionalismo Africano, no início do século XX, sobre tudo após a primeira guerra mundial.
Valoriza excessivamente as realizações dos povos Africanos, por isso é conhecida como a corrente que
representa a linha radical dos historiadores em defesa de África. Pelo seu radicalismo, ocupa o extremo
oposto ao do Eurocentrismo, ao recusar a influência que outros povos exerceram sobre a História da
África.

A corrente Afrocentrista sustenta que as três formações que marcaram as diversas fases da evolução
dos Povos Africanos não resultam das consequências dos outros povos; ela considera que a história da
África é o que é graças ao esforço exclusivo dos Africanos, sem concorrência de nenhum fator positivo
externo.

Alguns defensores da corrente Afrocentrista

Joseph Kizerbo;

Elikia M’bokolo;

Teofilo Obenca;

Albert Adu Boahen;

Jan Vansina;

Walter Rodney;

Terence Ranger;

Philip Curtin;

Bethwell Ogot;

A corrente Progressista

Esta corrente apresenta o passado Africano como tendo sido dinâmico, recorrendo para isso a todas
fontes. É uma corrente que reconhece o valor das fontes escritas, mas recusa aceitar que a história seja
feita apenas com documentos escritos, negando redondamente a corrente Eurocentrista.
Em contrapartida, admite provas de valor irrefutável que os Africanos entraram numa interação entre se
é com outros povos que influenciaram a história. Contrariamente ao Eurocentrismo e ao Afrocentrismo,
não espelha complexos de superioridade nem de inferioridade.

Revendica uma investigação histórica seria, tendo como chave de várias metodologias e fontes. Esta
corrente defende q importância das fontes orais para todo o conhecimento ao argumentar que tudo
que é escrito é pensado e falado.

A corrente progressista difundiu-se a partir dos meados do século XX, com a participação de notáveis
histórias como: Roland Oliver; John Donald Fagl; Basil Davison; Albert Adu Boahen; Elikia M’bokolo;
Teofilo Obenga.

A tese geral defendida por estes historiadores é a de que, a partida, sempre existe uma história original
de cada povo, pois não existe nenhuma civilização que tenha ficado imóvel no espaço e no tempo; A
mobilidade social e política é uma caraterística de todos os povos.

Problemas da historiografia Africana

Escassez principalmente de documentos escritos;

Prevalência de mitos;

Dificuldades e deficiência na elaboração de uma cronologia.

O estudo da história da África pode ser feito com o recurso as fontes arqueológicas como a tradução
oral, a linguística, a antropologia. Foi através da combinação dessas fontes que foram encontrados os
restos ósseos da espécie humana mais antiga do planeta. Concluindo-se deste modo que a “África é o
berço da humanidade”.

AS FONTES DA HISTÓRIA DE ÁFRICA

No que diz respeito a África, faz-se necessário reconhecer que o manejo das fontes é particularmente
trabalhoso, por quanto são escassos e frágeis os dados utilizados. Tradicionalmente tem se utilizado as
fontes escritas que quando não são raras, encontra-se mal distribuída no tempo e no espaço. A
arqueologia e a tradução oral, analisados pela antropologia e pela linguística permitem substancializar a
interpretação.

Analisando as fontes especificas da história da África, OBENGA observa que quanto mais fundamentos a
história africana, se fazem conhecidos mais esta história se diversifica e se constroem de múltiplas
formas.

Para KIZERBO (1980), 4 grandes princípios deveriam nortear a pesquisa historiográfica:

A interdisciplinadade;

A reintegração do fluxo do processo histórico no contexto do tempo africano;

A visão histórica a partir do povo africano e não por padrão de valor estrangeiro;

O retorno das fontes africanas.

Fontes escritas

Os períodos mais obscuros da história de África são precisamente aqueles que não experimentaram as
informações que emanam dos relatos escritos; por exemplo, os séculos anterior e posterior a
nascimento de Cristo a porção norte do continente é uma exceção. Entretanto, mesmo quando esse
relato existe, sua intenção provoca frequentemente dificuldades e ambiguidades. No âmbito
quantitativo, um número considerável de materiais escritos de caractere narrativo ou arquivisticco
continuam ainda inexplorados, como atestam os inventários parciais dos inéditos manuscritos que
dizem respeito a história da África subsaariana da biblioteca do Marrocos e da Alegria.

Foi estabelecido pela UNESCO o Centro alimed Baba, em Tombuctri, para fomentar a coleta desses
documentos. Um dinâmico trabalho de resgate dessa fonte vem sendo realizado com sucesso pelos
institutos de estudos africanos e centro de pesquisas históricas na cultura islâmica.

Por outro lado, tão importante quanto a grande quantidade de inéditos documentos será a atitude dos
pesquisadores ao examiná-los. Assim posto, uma enorme quantidade de textos explorados desde o
século XIX ou mesmo posteriormente, mais ainda no período colonial, reclamam uma nova leitura livre
do preconceito anacrônico e marcada por um olhar endógeno.
Fontes arqueológicas

A história na sua forma tradicional, dedicava-se a memorizar os monumentos do passado, a transforma-


las em documentos em fazer falar os traços que, por si próprios muitas vezes são absolutamente
verbais, ou dizem em silêncio outra coisa diferindo do que dizem (MICHEL FOUCAULT, arqueologia do
saber 1969). A arqueologia, por suas descobertas tem dado uma importante contribuição à história de
África, principalmente quando não existe relatos escritos ou orais disponíveis, como o caso de milhares
de anos da história da formação subsaariana do continente.

Somente objetos- testemunhos, enterrados com aqueles a quem pertenciam. Alguns deles são
especialmente significativos enquanto indicadores de processos civilizatórios: objetos de ferro, e \
tecnologia. Envolvida na sua produção, cerâmicas com suas técnicas de produção e estilos, peças de
vidros, escrituras e estilos gráficos, técnicas de navegação.

A linguagem dos achados arqueológicos possui por sua própria natureza, algo de objectivo e irrecusável.
Deste modo o estudo da tipologia das cerâmicas e dos objetos de osso e metal encontrados na região de
NIGERO-CHADIANA do Sahara demostra a relação entre os povos pré-islâmicos bacia da Chadiana e as
áreas culturais que se estendem até o Nilo e o deserto da Líbia. Assim, posto a localização, a
classificação e a proteção de sítios arqueológicos africanos se impõe como prioridade, antes que
predadores ou profanos irresponsáveis e turistas sem objectivo científicos os pilhem e desorganizem,
despojando-os, dessa maneira, de qualquer valor histórico sério

A tradição oral ou fonte oral

“Quando um homem morre, é como se uma biblioteca inteira se incendiasse”.

Proverbio africano

Ao falarmos da tradição com relação a história da África, estaremos a nos referindo a tradição oral, e
nenhuma tentativa de aprofundar-se na história e no espírito dos povos africanos terá legitimidade a
menos que se apoie nessa herança de saberes de toda natureza, serenamente difundidos ao longo do
tempo, de boca a ouvindo de mestre ao discípulo.

Simultaneamente aos documentos escritos e a arqueologia, a tradição oral surge como repositório e o
vetor cabedal de criações sócio culturais acumuladas pelos povos ditos agrafos: uma verdadeira
memória viva africana.

Entre as nações modernas onde a escrita tem primazia sobre a oralidade, onde o livro constitui o
principal veículo da herança cultural, durante muito tempo considera-se que povos sem escrita eram
povos sem cultura. No entanto, após duas grandes guerras mundiais, devido ao extraordinário trabalho
desenvolvido pelos etnólogos do mundo inteiro, essa noção equivocada tem sido descontraída.

Para alguns pesquisadores, a grande questão tem sido saber se é possível conferir a oralidade a mesma
confiança que se concede a escrita, que diz respeito a testemunhas de acontecimentos passados. Não
obstante, nada evidencia a prioridade que a escrita decorre de uma narrativa da realidade mais
autêntica do que o testemunho oral transmitido de geração em geração. Do mesmo modo, os próprios
documentos escritos nem sempre se mantiveram isentos de adulteração ou modificações, propositais
ou não a serem consecutivamente utilizadas pelos pesquisadores.

O que está por detrás do testemunho, por conseguinte é o próprio valor do homem que o faz, o valor da
linha de transmissão da qual ela participa, a fidedigna das memórias individuais e coletiva é o valor
atribuído a veracidade em uma determinada sociedade. Enfim: A relação entre o homem e a palavra.
Pois então são nas sociedades orais que não só a função da memória é mais aperfeiçoada, mas também
a ligação entre o homem e a palavra é mais intensa.

Para um tradicionalismo africano, a tradição oral é o conhecimento total. Pois aborda todo tipo de saber
e inversamente ao que possamos pensar, a tradição africana não se restringe a histórias e lendas, ou
mesmo a narrativas mitológicas ou historias e os griots não são seus únicos guardiões.

Dificuldades e a fonte a utilizar

Fonte oral
Caraterísticas: É a principal fonte para a reconstrução e reconstituição do passado da África apoiando-se
na linguística (que faz estudo comparativo das línguas) na antropologia (que faz estudo da cultura das
civilizações).

Dificuldades: Não são fiáveis, são fracos em termo cronológico, mas também abunda nesta fonte o
esquecimento. Por tanto, a morte deste possuidor de conhecimentos é uma biblioteca perdida é uma
informação difícil de recuperar.

Fonte escrita

Caraterísticas: Recorrer aos documentos escritos em Árabe encontrados no Egipto, Nubia e Etiópia.

Dificuldades: São raros, pois esses documentos estão mal distribuídos quer em regiões e épocas. A
maior parte deles estão escrito em Árabe e aparecem carregados de vários interesses políticos,
economicos, sociais, religiosos distorcendo o sentido real da história de África não é colocada numa
perspectiva científica.

Arqueologia

Caraterísticas: Recorre-se a escavações arqueológicas e o seu uso deve-se a fonte escrita. Usa-se a
técnica do carbono 14 para datar as mesmas.

Dificuldades: Sofrem mutações devido a erosão que acaba dificultando as escavações e interpretações.

OS TRADICIONALISTAS AFRICANOS

Em África, os grandes depositórios do legado oral são denominados “tradicionalistas”.


Memória viva do continente, elas são suas mais perfeitas testemunhas. Podem ser mestres iniciados e
iniciadores de uma actividade tradicional específicos, do ferreiro, do tecelão, do caçador, etc. ou possuir
o saber total da tradição em todos os seus aspectos. Protetor dos segredos da origem cômica e das
ciências da vida, o tradicionalista, comumente dotado de uma memória extraordinária, normalmente é
o arquivista acontecimentos passados transmitidos pela tradição ou de fontes contemporâneos. Uma
história que se quer fundamentalmente africano dever essencialmente deste modo, apoiar-se no
depoimento indispensável de africanos qualificados.

Os ofícios artesanais tradicionais são os grandes vectores da tradição oral. Na sociedade tradicional
africana, as actividades humanas possuíam frequentemente uma natureza sagrada ou oculta,
especialmente a actividades que consistiam em agir sobre a matéria e transforma-la, uma vez que tudo
é considerado vivo.

A tradição lhe concede um status social especial. Possuem grande liberdade de expressão. Podendo se
manifestar à vontade, até mesmo impunemente e, as vezes chegam a fazer brincadeiras de situações
mais sérias e sagradas sem que isso ocasione consequências graves.

Não possuem compromisso algum que os sujeitem a serem discretos ou conservar o respeito total para
com a verdade, visto que a sociedade africana está essencialmente baseada no diálogo entre os
indivíduos e na comunicação entre os grupos étnicos e as comunidades, os griots são agentes dinâmicos
e naturais nessas conversações. São treinados para colher e fornecer informações.

Um mestre contador de histórias africanas não se limita a narra-las, mas podia também ensinar sobre
outros inúmeros assuntos (…) porque um conhecedor nunca era especialista num sentido moderno da
palavra, mas, mais precisamente uma espécie de generalista. O conhecimento não era
compartimentado, o mesmo ancião (…) podia ter conhecimentos profundos sobre a religião ou história,
de cada um, uma espécie de “ciência da vida”; a vida considerada aqui como uma unidade em que tudo
é interligado, interdependente e interativo; em que o material e o espiritual nunca estão dissociados, e
o ensinamento nunca era sistemático, deixado ao saber das circunstâncias, segundo os momentos
favoráveis ou atenção do auditório.

Autor: Prof. Miguel Luís Mendonça

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PUBLICADO POR

Mário Matundulo

Mário Raul Matundulo, nascido ao 13 de Julho de 1993, natural da Beira, Província de Sofala,
Moçambique.  Eng. Agrónomo e Tutor académico  Licenciado pela Universidade Zambeze, Faculdade
de Engenharia Agronómica e Florestal – Mocuba.  Editor/escritor do MRM Pesquisas
(mrmpesquisas.blogspot.com) e Tempo de Estudar (www.asideiasblog.wordpress.com).

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