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“fantasiosas” desse povo foi, certamente, uma das principais proezas do eurocentrismo.
Observamos, ainda nos dias de hoje, a autoestima da população africana muito frágil, em
razão da partilha do continente e do processo de descolonização. Pesquisadores europeus
reproduziram para o resto do mundo que o povo africano não cooperou de forma alguma para
a composição do saber universal. O Continente Africano é visto a todo o momento como um
lugar aonde o civilizado ainda não chegou, cujos moradores, em geral, apresentam-se como
seres selvagens, repugnantes, debilitados, imorais e, por isso, incapacitados de edificar ou
propagar qualquer tipo de conhecimento válido.
Muitos não sabem que a África é um continente antigo e muito menos o quanto é bem
localizado geograficamente e que a população que ali vivia, e vive, tem história. Grandes
reinos africanos ali imperavam com um senso de comando e organização notável; baseando-se
em uma ordem de clãs, de linhagem, por classificação de idade e ainda por unidades políticas,
sob várias formas. Algumas grandes chefias, consideradas Estados tradicionais, são conhecidas
desde o século IV, como o Império do Gana e depois o Império do Mali; Império Ioruba;
Império do Benin; Império Songai; Império Kanem-Bornu.
Observamos na escrita da história que a maioria dos pesquisadores sobre o tema “África”
ainda persistem no modelo da história oficial. O africano é o diferente, e lidar com isso é muito
dificil para quem acredita que a cor da pele é o que prevalece em termos de sabedoria, ou
melhor, de tudo. A visão do outro, é um fator muito significativo em termos de dominação, ela
cria estratégias para tal através do preconceito e da crença de que a brancura é sinal de
aptidão e inteligência.
África Pré-colonial
A África Pré-colonial virou alvo dos europeus devido a sua pluralidade cultural e recursos
naturais que garantiam acúmulo de riquezas. A África Pré-colonial é muito rica, as primeiras
evidências da existência do ser humano foram encontradas no continente. Considerada uma
sociedade organizada e curiosa, que construiu cidades desenvolvidas e economia sustentável,
a África Pré-colonial já fluía muito bem e ordenada antes da colonização dos europeus.
Inicialmente, o comércio era feito entre a África do Norte e a África Subsaariana. A
comercialização do minério que era um dos pilares da economia, acontecia por intermédio das
caravanas criadas pelo povo que habitava o Sul do Deserto do Saara. Por volta do século XIV,
os europeus invadiram o continente e passaram a promover as caravanas, escravizando
pessoas e levando matérias primas para Europa.
Império Cartaginês
Império de Gana
Maior característica desse reino era a forte comercialização de ouro, por isso a região de Gana
era conhecida como terra do ouro. O material era utilizado em algumas transações comerciais
como dinheiro. Por ser a base da pirâmide econômica, o comércio do ouro chegou ao fim por
causa do esgotamento das minas.
Império do Mali
Esse império é considerado o mais rico no período que compreende a África Pré-colonial. Uma
grande potência detentora de muitas pedras preciosas e ouro. O comércio que esse reino
promoveu e movimentou também era muito forte. Durante todo o ano, centenas de caravanas
atravessava o Saara Ocidental para comercializar seus produtos.
Império da Etiópia
Estudos apontam que esse é o reinado mais antigo do mundo. Inclusive, alguns pesquisadores
afirmam que a espécie Homo Sapiens teria começado a existir na região da Etiópia. O reinado
é marcado por seus fortes guerreiros que resistiram aos invasores árabes, além do interesse de
dominar a região e também os turcos. Não só isso, foi o único que resistiu a colonização
europeia.
Reino do Congo
Os portugueses tinham alianças com dirigentes desse reinado. O comércio era baseado no sal,
metal, tecidos e produtos de origem animal. Era muito comum o escambo entre tribos (troca
de mercadorias). Essas alianças abriram espaço também para um esquema de tráfico de
escravos entre continentes diferentes. As pessoas que trabalhavam na exploração aurífera no
século XVII, eram escravos originados do Congo e da Angola.
Sultanato de Kiwa
Essa região foi dominada por muçulmanos que passaram a povoar as principais cidades. Entre
elas, Mogadiscio, Mombassa, e as ilhas de Pemba e Zamzibar.
Eurocentrismo
Eurocentrismo corresponde a uma expressão que emite a idéia no mundo como um todo de
que a Europa e seus elementos culturais são referência no contexto de composição de toda
sociedade moderna. De acordo com diversos estudiosos e analistas essa perspectiva se mostra
como uma doutrina que toma a cultura européia como a pioneira da história, dessa forma se
enquadra como uma referência mundial para todas as nações, como se apenas a cultura
Européia fosse útil e verdadeira.
Essa ideologia de centralidade cultural européia ganhou uma proporção tão grande que dentro
e fora da Europa existe a visão de que essa representa toda a cultura ocidental no mundo. No
entanto, esse fechamento cultural é negativo uma vez que não leva em consideração as
inúmeras culturas de civilizações que contribuem para a diversidade sociocultural do mundo,
principalmente daquelas nações que foram colonizadas pelos europeus a partir do século XV.
Afrocentrismo
Basicamente, os afrocentristas discordam das teorias que relegam os africanos para a margem
do pensamento e do conhecimento da Humanidade. Neste sentido, o afrocentrismo defende
que se deve interpretar e estudar as culturas não europeias, nomeadamente a africana, e os
seus povos do ponto de vista de sujeitos ou agentes e não como objetos ou destinatários.
Segundo os afrocentristas, a noção ocidental ou europeia do conhecimento baseado no
modelo grego não é tão antiga como os europeus creem ser, tendo sido adotada apenas a
partir do período da Renascença na Europa.
Afrocentrismo não defende que o mundo seja interpretado sob uma única perspetiva cultural,
como foi o caso do eurocentrismo, mas que seja reconhecida a existência de uma cultura e a
sua avaliação em termos de pensamento e conhecimento através da sua própria perspetiva,
neste caso, e mais concretamente, que a cultura africana seja analisada, de per si, enquanto
sujeito e não através de modelos culturais que por vezes não só não a entendem como a
desprezam e desvalorizam.
A tradição oral sempre teve um importante papel na cultura africana. A maioria das
informações culturais, sociais e ancestrais eram transmitidas oralmente, de uma geração em
geração. Os griôs e os mais velhos eram, e em alguns lugares continuam, sendo os
responsáveis por essas transmissões. A tradição oral na África conta com quatro principais
canais de veiculação e perpetuação das informações, que são a música, a história, os contos e
os provérbios.
A música
Desde a antiguidade, grandes fatos históricos e grandes nomes de heróis eram imortalizados
pela música. Todo povo tinha seus griôs que conheciam sua história de cor e a passavam para
seus filhos, visto que em geral, ser griô era uma função hereditária. Até hoje, nos países do Sul
do Saara, é comum encontrar um jovem griô de vinte anos que consiga contar a história de
uma família por sete gerações através de uma canção enquanto dedilha sua Kora. Além de ser
o jornal da comunidade, a música na África também sempre carregou lições de moral, já que
ela é destinada a todos. Por isso que muitas músicas tradicionais eram até histórias do dia a dia
(storytelling) que findavam com um ensinamento.
A história
Outro veículo da tradição oral africana era histórias de fatos contada oralmente. Na sociedade
africana, sempre se falou da importância de uma pessoa saber quem ela é. Não há como saber
de sua identidade sem conhecer sua história. Por isso, os jovens africanos eram instruídos
desde cedo sobre a história de sua tribo, de seu povo, sobre a sociedade, seus fundamentos, e
os nomes importantes do povo. Aqui o termo ‘história’, não se refere a algo fictício. Mas dos
fatos reais. O lado fictício era desenvolvido nos contos.
Os contos
Antes de La Fontaine escrever seu livro, as mães e os velhos africanos já contavam fábulas para
seus filhos. E até hoje os contos continuam sendo importantes veículos de sabedoria. As
fábulas eram mais curtas e os contos mais compridos. Os dois gêneros tinham em comum a
personificação dos animais e sua interação com os humanos. Às vezes, eram usados para
explicar de forma lúdica alguns fatos naturais, como por exemplo o porquê do tigre ter listras
na pele, ou porque o sol todo dia se põe no oeste, claro explicações bem criativas não muito
próximas de tudo que hoje se sabe graças aos telescópios.
Os provérbios
Os provérbios são frases curtas que possuem uma lição de moral. A maturidade do homem na
África era perceptível pelo uso frequente que ele fazia dos provérbios. Quando uma pessoa diz
por exemplo: “A mão que comeu a carne é a mesma que come ovo”, ela quer dizer que a vida
tem momentos diversos, altos e baixos. Isso denota o entendimento dele da vida e suas
estações. Quanto mais velha a pessoa na África, mais provérbios ela fala. Por isso as vezes para
um jovem, é algo complexo conversar com um mais velho porque a cada cinco frases, três são
um provérbio e para quem não foi treinado a entender as coisas tão metaforicamente, ou
pensar um pouco mais profundamente, leva tempo para entender.
Durante o processo de colonização do Brasil, notamos que a utilização dos africanos como mão
de obra escrava estabeleceu um amplo leque de novidades em nosso cenário religioso. Ao
chegarem aqui, os escravos de várias regiões da África traziam consigo várias crenças que se
modificaram no espaço colonial. De forma geral, o contato entre nações africanas diferentes
empreendeu a troca e a difusão de um grande número de divindades. Mediante essa situação,
a Igreja Católica se colocava em um delicado dilema ao representar a religião oficial do espaço
colonial. Em algumas situações, os clérigos tentavam reprimir as manifestações religiosas dos
escravos e lhes impor o paradigma cristão. Em outras situações, preferiam fazer vista grossa
aos cantos, batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas. Diversas vezes, os negros
organizavam propositalmente suas manifestações em dias-santos ou durante outras
festividades católicas.
Religiões Africanas
É impossível falar em religião na África sem primeiro abordar a variedade étnica do continente
e a história de colonização e diáspora. Atualmente, predominam no território africano as
religiões abraâmicas: Cristianismo, Islamismo e Judaísmo são as crenças de mais de 91% da
população, já as religiões tradicionais são praticadas por 8% da população.
Mitologias Bantus
É o sistema de crenças e mitos dos povos Bantu, um dos maiores grupos etnolinguísticos da
África. Espalha-se em subgrupos por praticamente toda a África Subsaariana. As diversas
mitologias Bantu acreditam em um Deus supremo que vive próximo dos céus, separado dos
homens, que vivem na terra. Não há um mito de criação, já que o universo e os animais são
eternos. Há também a crença de que os espíritos dos mortos têm influência sobre os vivos, e
que sua existência depende do quanto as pessoas se lembram deles.
Vodum
A religião Vodum ainda é praticada em países da África Ocidental como Benin, Togo, Gana e
Nigéria. Para seus seguidores, os voduns são espíritos que governam a Terra obedecendo a
uma hierarquia. A divindade suprema, criadora de tudo, é Mawu, uma figura feminina que
representa a lua. Sua contraparte é Lisa, o sol. Mawu é mãe de subdivindades que
representam elementos e fenômenos da natureza ou da cultura humana, como os trovões, o
oceano, a guerra e a justiça.
Religião Iorubá
A religião Iorubá é o sistema de crenças da etnia de mesmo nome que habita atualmente a
África Ocidental, principalmente a Nigéria. É baseada na ideia de que o criador supremo é
Olorum, que reina acima das divindades conhecidas como Orixás. Do Iorubá derivam-se muitas
religiões brasileiras de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda.
Waaqeffanna
Os oromos são o grupo étnico mais numeroso da Etiópia, representando 35% da população.
Embora majoritariamente cristãos ou muçulmanos, muitos também seguem a religião que
adora o deus Waaq, conhecido como “o Deus do céu” e único criador do universo. Ele se
manifesta por meio dos Ayaana, espíritos que podem possuir homens e mulheres e falar em
seu nome. Os seguidores de Waaq creem que quando alguém morre, reúne-se com seus
familiares e amigos em Iddoo Dhugaa, que pode ser traduzido como “lugar da verdade”.
Religião Sã
Os sãs, conhecidos como bushmen (povo dos arbustos), são um conjunto de grupos de
caçadores-coletores da África Meridional. Trata-se de uma das etnias mais antigas do mundo,
pertencente à população ancestral a que todos os humanos modernos descendem.
Kiusam
No que depender de Kiusam de Oliveira, escritora e educadora eleita como uma das dez mais
importantes para formação infantil segundo a ONU, os livros que esta e as próximas gerações
vão devorar serão recheados de protagonistas questionadores, prontos para combater o
machismo e o racismo, propondo identidades menos tóxicas. Bom exemplo disso é O Black
Power de Akin (Editora de Cultura, R$ 46), seu quarto título infanto-juvenil, que chega esse
mês às prateleiras com prefácio do rapper Emicida. O fio condutor da narrativa lúdica é o
resgate da autoestima de um menino negro por meio da aceitação de seu cabelo naturalmente
crespo.
Kiusam é uma personalidade com mil e uma vertentes, que consegue impressionar o público
em todas elas. Embora sejam voltados para crianças, os livros da autora contam com temáticas
atuais que conseguem conduzir amplos debates sobre racismo na sociedade. Por qual motivo
uma criança ainda hoje pode ser ofendida por ter um Black Power e onde estão históricas
africanas no currículo educacional, são apenas algumas das indagações que podem ser feitas
após as leituras das obras.
A motivação da autora para mudar estruturas sociais por meio da sala de aula veio a partir de
um trauma pessoal da própria infância. Aos 6 anos, Kiusam estudava em uma escola de freiras
e foi impedida de ir sair da sala de aula para ir ao banheiro, até que urinou em si mesma e foi
levada à força para o vestiário, onde foi despida completamente. “Comecei a berrar o mais
alto que podia. Tinha a ideia de que minha mãe iria me ouvir de casa e me tiraria dali o mais
rápido possível. Nunca vou esquecer da água do chuveiro e do sangue que saía da minha
gengiva”, conta. “Logo depois, a professora voltou com meus colegas de classe e todos riram
de mim. ‘A macaca está pelada’, diziam, enquanto eu tentava esconder o meu corpo”,
continua. “Foi então que a tal freira disse as seguintes palavras: ‘Olhem bem para o que vocês
estão vendo. É assim que todo preto deve ser tratado”’. O episódio revoltante foi um dos
gatilhos para que, anos depois, ela decidisse trilhar seu caminho na educação. “Tive um
rompimento naquela época e escrevo para dar respostas para a minha criança interior. Por
muito tempo não soube responder às violências que sofri. Quero dar essa chance para outras
pessoas”, explica ela.