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O eurocentrismo é um fenômeno que se difere do etnocentrismo, pois abstrai

elementos comuns a muitos grupos e articula uma visão generalizada a


partir das referências históricas clássicas: grega e romana. Essa
ideologia se impôs enquanto referencial universal à humanidade, afirmando
a suposta superioridade física, econômica, religiosa e social dos grupos
étnicos europeus perante os outros grupos étnicos. A negação do passado
científico e tecnológico dos povos africanos e a exacerbação do seu
"caráter lúdico" foi uma das principais façanhas do eurocentrismo,
abalando fortemente a autoestima da população africana e da diáspora. A
contestação do passado científico e tecnológico dos povos africanos deve
tributos a cientistas e historiadores como Cheick Anta Diop, Theophile
Obenga e Ivan Van Sertima, que desafiaram acadêmicos eurocêntricos a uma
reflexão a respeito de a quem se deve realmente creditar a primazia do
nascimento da humanidade e do processo civilizatório. Esses estudos têm
tomado campo nas universidades brasileiras e têm instrumentalizado
militantes, especialmente educadores negros e negras que desenvolvem
atividades em movimentos sociais em prol da cidadania da população negra
no Brasil, como a recente aprovação da Lei 10.639, que versa sobre o
ensino da história da África nas escolas.

O eurocentrismo teve um papel central na construção da história oficial,


que foi baseada em padrões europeus, ou seja, eurocêntricos. Isso
distanciou a visão otimista sobre os povos africanos e impediu a
identificação dos traços do passado intelectual e científico desses povos
em nossa realidade. O movimento de revisão e contestação científica dessa
suposta história oficial da humanidade tem contribuído para uma maior
conscientização sobre as contribuições dos povos africanos para o
conhecimento científico e tecnológico universal.

Por exemplo, a África é um continente antigo e bem localizado


geograficamente. Grandes reinos africanos existiam ali com um senso de
comando e organização notável, baseando-se em uma ordem de clãs, de
linhagem, por classificação de idade e ainda por unidades políticas, sob
várias formas, como o Império do Gana, o Império do Mali, o Império
loruba, o Império do Benin, o Império Songai e o Império Kanem-Bornu.

No entanto, muito do conhecimento produzido pelos povos africanos foi


negado ou minimizado pela história oficial, o que contribuiu para a
desvalorização da cultura e da identidade africanas. Isso afetou
negativamente a autoestima da população africana e da diáspora, que muitas
vezes se viam representadas apenas por estereótipos pejorativos.

Felizmente, a revisão crítica dessa história oficial tem progredido,


especialmente por meio da contribuição de cientistas e historiadores
negros e negras. Isso tem permitido uma maior valorização da cultura e da
identidade africanas e uma maior conscientização sobre as contribuições
dos povos africanos para a história da humanidade. A aprovação da Lei
10.639, que versa sobre o ensino da história da África nas escolas, é um
exemplo concreto dessa mudança de perspectiva.

A história da África é rica e diversa, e os estudos recentes têm mostrado


que os povos africanos desenvolveram conhecimentos e tecnologias avançadas
em diversas áreas, como a matemática, a medicina, a arquitetura, a
engenharia, a agricultura, entre outras.
Por exemplo, a matemática egípcia antiga é uma das mais antigas do mundo,
e os egípcios desenvolveram técnicas avançadas de medição e cálculo. Eles
também usaram a geometria para construir grandes obras arquitetônicas,
como as pirâmides. Além disso, os povos africanos desenvolveram sistemas
de escrita, como o hieróglifo egípcio e o sistema de escrita núbio, que
foram usados para registrar a história, a literatura e a ciência.

Na medicina, os povos africanos desenvolveram técnicas avançadas de


cirurgia, como a trepanação craniana e a cauterização, que são técnicas
ainda usadas na medicina moderna. Eles também usavam plantas medicinais
para tratar várias doenças, e muitas dessas plantas são usadas na medicina
tradicional africana até hoje.

Na engenharia, os povos africanos construíram grandes obras, como as


pirâmides do Egito, que são consideradas uma das sete maravilhas do mundo
antigo. Eles também construíram pontes, estradas, aquedutos e sistemas de
irrigação que eram avançados para a época.

Esses exemplos são apenas algumas das muitas contribuições dos povos
africanos para a história da humanidade. A revisão crítica da história
oficial tem permitido uma maior valorização dessas contribuições e uma
maior conscientização sobre a importância da cultura e da identidade
africanas. Isso é fundamental para uma sociedade mais justa e inclusiva,
que valorize a diversidade e o conhecimento produzido por todos os povos.

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