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UNIDADE MISSIONÁRIA CRISTÃ

JUNDIAÍ – SP

Transcrições e Edições da Ministrações em 2017


Organização: Luiz Roberto Cascaldi (lrcascaldi@gmail.com)

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SUMÁRIO
PÁG. TÍTULO PRELETOR DATA
03 O ALINHAMENTO ENTRE IGREJA E ISRAEL ASHER INTRATER 03/01
10 O PECADO DO ORGULHO JONATAS ROCHA 08/01
15 OS PERIGOS DOS ÚLTIMOS DIAS HAROLD 15/01
21 MISERICÓRDIA E PERDÃO FRANCISCO 22/01
29 2017 – UM ANO PROFÉTICO MARION 29/01
38 O PRINCÍPIO ATIVO DA VIDA DA IGREJA P. MANZINI 05/02
43 PERSEVERANDO NO PARTIR DO PÃO JAMÊ 12/02
51 PERSEVERANDO NAS ORAÇÕES ABNÉRIO 19/02
56 PREPARANDO PARA AVIVAMENTO HAROLD 12/03
62 REPARTIR O PÃO / MUTUALIDADE P. MANZINI, FRANCISCO 19/03
69 UMA QUESTÃO DE AMIZADE JAMÊ 26/03
78 RELACIONANDO COM JESUS PELA GRAÇA MARION 02/04
87 O QUE É SEGUIR JESUS TONY 09/04
95 QUAL É A COISA MAIS IMPORTANTE DA VIDA CRISTÃ HAROLD 16/04
102 A INTERCESSÃO DO MESSIAS MIKE SHEA 23/04
113 CHAMADOS PARA O SACERDÓCIO ABNÉRIO 30/04
118 QUAL É A SUA EXPECTATIVA? CLÉSIO 07/05
122 FAMÍLIAS, PERSEVEREM! TONY 14/05
129 DEUS QUER ORDENAR NOSSAS VIDAS MAURÍCIO 21/05
132 É NECESSÁRIO ARREPENDERMO-NOS ABNÉRIO 28/05
136 É TEMPO DE PREPARAR O CAMINHO DO SENHOR FRANCISCO 04/06
142 DUAS CONVERSÕES NECESSÁRIAS PARA QUE VENHA O AVIVAMENTO TONY 25/06
149 AS SETE LÂMPADAS E O ESPÍRITO DE ORAÇÃO ABNÉRIO 09, 16/07
158 A IDENTIDADE DO CRISTÃO P. MANZINI 30/07
165 ABRIGO E ALIMENTO NA MORADA DE DEUS TONY 06/08
173 TEMPO – A MOEDA DO CÉU HAROLD 13/08
180 ARRUME A TUA CASA – UMA GRANDE TEMPESTADE ESTÁ CHEGANDO MARION 20/08
192 FAMÍLIA, UMA FONTE DE BENÇÃOS ABNÉRIO 27/08
198 FAMÍLIA, UMA ESTRATÉGIA DE DEUS TONY 03/09
206 O ALTO PADRÃO DE DEUS PARA NÓS TONY 10/09
214 DEUS QUER NOSSO CORAÇÃO HAROLD 17/09
222 UNIDADE NO ESPÍRITO MARION 24/09
230 UMA IGREJA UMA E SANTA J. HIMITIAN 01/10
238 PILARES DA VIDA DA IGREJA JAMÊ 08/10
259 A CENTRALIDADE DE JESUS NA FAMÍLIA CLÉSIO 15/10
264 UNIDADE, A ETERNA VONTADE DO CORAÇÃO DO PAI A. STOLDONY 22/10
268 NISTO NÃO VOS LOUVO JAMÊ 05/11
277 ORGULHO – NOSSO MAIOR INIMIGO HAROLD 12/11
284 HONRA NA TERRA, COMO NO CÉU TONY 19, 26/11
295 A HONRA DO RECONHECIMENTO JAMÊ 03/12
300 A BÍBLIA – O LIVRO SOBRENATURAL DE DEUS P. MANZINI 10/12
307 A FÉ DOS PAIS CLÓVIS PONTES 17/12
317 A GRANDE E PODEROSA MENSAGEM DO NATAL P. MANZINI 24/12
323 UM SÓ CORAÇÃO, UMA SÓ MENTE, UM SÓ PROPÓSITO JAMÊ 31/12
327 UMA PALAVRA PARA O ANO DE 2018 JAMÊ 31/12

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O ALINHAMENTO ENTRE IGREJA E ISRAEL COMO
UM SINAL DO FIM DOS TEMPOS
Asher Intrater

Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência
nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. (1 Co 10.11)

P aulo, obviamente, se referia ao Velho Testamento, pois o Novo ainda estava sendo
escrito. Ele diz que aqueles fatos foram escritos como exemplo para eles, mas, na
verdade, servem mais para nós hoje do que para a igreja de Atos, pois somos nós “sobre
quem os fins dos séculos têm chegado”. Mas o que Paulo quis dizer com isso? Penso que
ele estava se referindo aos anos 30 a 70 depois de Cristo – desde que Jesus começou seu
ministério até o tempo da destruição de Jerusalém. Nesse período todo o N.T. foi escrito,
com exceção dos escritos de João. Todos os eventos do N.T. aconteceram naqueles
poucos anos. Houve o derramamento do Espírito Santo e um avivamento que se espalhou
pelo mundo todo e Paulo enxergava isso como “o fim dos séculos”.
Na mente judaica daquela época a destruição de Jerusalém era o fim de tudo. Paulo
escreveu sua parte do N.T. e entendia que havia espalhado o evangelho ao mundo inteiro
e que, após sua morte, tudo seria destruído. Para o povo judeu ocorreu o seguinte: o
Messias veio, foi crucificado, ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, derramou o Espírito
Santo, a comunidade de fé foi estabelecida em Jerusalém, o evangelho se espalhou pelo
mundo, todas as igrejas se iniciaram, todo o N.T. foi escrito, as nações da Terra atacaram
e destruíram Jerusalém e espalharam o povo judeu pelo mundo. Ou seja, do ponto de vista
deles era o fim de uma era e o início de outra. Por dois mil anos Israel esteve no exílio. O
evangelho rodou o mundo e as igrejas começaram. Hoje vivemos uma era totalmente
diferente, mas Paulo viveu em uma época muito curta e intensa de aproximadamente 40
anos. Tudo o que aconteceu e que mudou o mundo foi naquele curto período de tempo.
O que eu desejo dizer é que algo paralelo a isso está começando a acontecer agora,
nesse nosso tempo. Estamos entrando em um período ainda mais importante, pois o fim
dos séculos está verdadeiramente chegando. Eu creio que tudo o que a Bíblia falou a esse
respeito vai acontecer em nossos dias em um período também curto de tempo (talvez 30
ou 40 anos) e está começando agora. Estamos entrando em uma época onde tudo vai
acelerar. Tudo o que foi escrito na Bíblia foi para nós, sobre quem é chegado o fim dos
tempos. O que aconteceu com Paulo foi um pequeno exemplo do fim, mas o que vai
acontecer conosco é maior. Então, assim como houve esse período de 30 a 70 d.C.,
também haverá agora um período paralelo em torno de 30 a 40 anos.
Estamos no ano 2017. Há exatamente 500 anos dois eventos gigantescos
ocorreram: o começo da Reforma Protestante (1517) e a conquista pelo império Otomano
(muçulmano) de todo o Oriente Médio, inclusive Israel. Esse domínio durou exatamente
400 anos, ou seja, apenas 100 anos atrás os ingleses entraram no Oriente Médio e o
conquistaram. Também, há exatamente 50 anos (1967) os judeus reconquistaram
Jerusalém. Esses são eventos muito grandes historicamente falando.

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Eu creio que Deus está nos dando uma visão muito clara dos tempos do fim, pois o
que aconteceu com a geração de Paulo foi apenas metade do fim dos séculos, mas o que
vai acontecer conosco é a plenitude desse fim, algo muitíssimo maior do que vemos
relatado no livro de Atos. Por exemplo, de poucos anos para cá mais chineses têm se
convertido (100 milhões) do que todos os cristãos que já existiram na história. Também há
milhares de muçulmanos se convertendo a Cristo.
Logo depois que Jesus subiu aos céus o Espírito Santo foi derramado e quase todos
os eventos que lemos no N.T. aconteceram. Então, quão maiores serão esses eventos nos
poucos anos antes da volta de Jesus? Quão maior derramamento do Espírito vai
acontecer? Esse milagre no livro de Atos foi pequeno em relação ao que irá acontecer
agora! Pedro profetizou isso ao dizer:
E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre
toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões,
e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas
derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em
cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se
converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia
do Senhor. (At 2.17-20)
Tudo isso irá suceder nos dias que antecedem a volta de Cristo, em 30 ou 40 anos.
Não aconteceu por 2000 anos, mas acontecerá agora, em nossa geração. O derramar do
Espírito Santo antes da segunda vinda de Jesus será muito maior do que aquele ocorrido
antes dele subir aos céus. Todos os eventos do N.T., a não ser os escritos de João, foram
escritos depois que Jesus ressuscitou até a destruição de Jerusalém. Ele profetizou essa
destruição por quatro vezes nos evangelhos. Foi sua profecia histórica número “um”, pois,
na cosmovisão judaica, a destruição de Jerusalém representava o fim do reino de Israel e
o início da era da igreja na Terra.
Entenda algo importante! Tudo isso ocorreu naqueles poucos anos em que houve
uma SOBREPOSIÇÃO, um ALINHAMENTO entre Israel e a igreja. Antes daquela época
era só Israel; depois, só igreja. Mas houve esse período de aproximadamente 40 anos onde
igreja e Israel estavam alinhados e, nessa sobreposição, tudo aconteceu. Eu creio que
todos os eventos profetizados nas Escrituras sobre os últimos dias irão acontecer de forma
mil vezes maior em nossos dias, mas precisa ocorrer essa mesma sobreposição entre igreja
e Israel, essa conexão entre o céu e a Terra. Eles devem estar interligados para que o
Espírito Santo seja derramado e haja um avivamento mundial.
Explicando de outra forma: eu creio que haverá um TEMPO PARALELO, como foi
em Atos, que ocorrerá logo antes da volta de Cristo – o tempo que está começando agora!
Tudo o que foi profetizado irá acontecer, pois estamos voltando para um alinhamento entre
Israel e igreja onde a autoridade apostólica e a unção profética serão restauradas. Estamos
voltando para uma pequena janela de tempo semelhante à que ocorreu em Atos, para uma
pequena época paralela onde os milagres ocorreram. Só que, agora, infinitamente maiores.
Tudo o que escrito e profetizado nos evangelhos, em Atos e nas epístolas foi para nós,
“sobre quem o fim dos tempos é chegado”.
Não há mais tempo! Não creio que passará de 40 anos para Jesus voltar. Essa janela
de tempo já começou e sabemos disso porque Israel e igreja estão se alinhando
novamente. Precisamos conhecer os sinais dos tempos. Quando Jesus disse que não
sabemos o dia e a hora não significa que não devemos entender a época. Há dois sinais

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que revelam claramente que estamos no tempo do fim. Primeiro, uma onda de evangelismo
no mundo muçulmano. Nos últimos dois anos, dez milhões de muçulmanos têm fugido do
Islã e estão prontos para receber o evangelho. Segundo, a igreja no mundo todo está
começando a se alinhar com Israel e as nações contra ela. O fato das Nações Unidas
estarem rejeitando Israel é um sinal de que Deus a está aceitando cada vez mais. Então
vamos nos preparar, pois agora é a hora! A era de Atos dos apóstolos está voltando ao
mundo, mas agora mil vezes maior.
Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que
restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou
épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém
como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1.6-8)
Quando os judeus começaram a voltar para Israel o fizeram com uma visão de que
Deus iria restaurar lá o livro de Atos: o povo judeu começaria a crer em Jesus, o evangelho
se expandiria, congregações judaico-messiânicas seriam construídas, milhares falariam em
línguas do Espírito, profetas e apóstolos se levantariam. Hoje existem mais de 100
congregações messiânicas em Israel, judeus convertidos, batizados no Espírito e falando
em línguas. Jovens estão sendo treinados para profetizar e a autoridade apostólica está
sendo restaurada.
Quando começamos nossa primeira equipe, no início dos anos 2000, tomamos o
capítulo primeiro de Atos como nosso guia. Assim como Jesus escolheu doze jovens
israelenses, formou sua equipe e daquele pequeno grupo tudo aconteceu, também
juntamos um grupo de jovens israelenses e decidimos fazer como ele fez – a mesma visão,
o mesmo trabalho de equipe, o mesmo padrão e crendo para os mesmos resultados. Isso
já está acontecendo há mais de 10 anos. Temos adoração profética todas as manhãs,
muitos jovens estão profetizando, saindo, compartilhando o evangelho, plantando
congregações e levantando novas lideranças. Ainda não somos grandes o suficiente, pois
estamos apenas iniciando. Temos muitos fracassos, perseguições e ataques, mas estamos
lá, está acontecendo, estamos crescendo.
Depois de alguns anos de trabalho, lemos que a equipe de Atos 1 começou uma
congregação em Jerusalém (Atos 2). Então, sentimos que era hora de fazermos o mesmo.
Chamamos nossa equipe “Aviva Israel” e começamos a congregação chamada Ahavat
Yeshua, que é “o amor de Jesus”. Queríamos que fosse como em Atos 2. Pensávamos o
seguinte: o que foi escrito em Atos era um modelo para nós, sobre quem veio o fim dos
séculos. Foi muito mais difícil do que imaginávamos, mas aconteceu. Hoje temos uma
congregação maravilhosa, cheia do Espírito Santo no centro de Jerusalém e, a partir dela,
começamos a nos espalhar por toda Samaria, Galileia e outras partes de Israel.
Mais alguns anos e assumimos uma congregação em Tel Aviv, chamada Tiferet
Yeshua, e as coisas lá também estão começando a acontecer. Há um grupo de jovens que
saem às ruas todos os dias, parando pessoas enfermas e pedindo para orar por elas. Isso
nunca havia acontecido antes. Eu creio que a era dos apóstolos está voltando em
Jerusalém, Judéia, Samaria e em todo a Terra.
Um dado interessante sobre o Brasil: a região metropolitana de São Paulo é a maior
do Brasil, com cerca de 21,2 milhões de habitantes. É uma das dez regiões metropolitanas
mais populosas do mundo. Por isso tem que ter um avivamento nessa região e se espalhar
para todo o Brasil e América do Sul. Infelizmente as igrejas brasileiras ainda são pobres

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financeiramente. Precisamos espalhar o evangelho, mas para isso precisamos de muito
dinheiro e devemos orar por isso. Não estou falando de conforto ou luxo pessoal, mas de
provisão sobrenatural para levarmos a visão do Reino e o avivamento para toda a nação.
Em Atos 4.34,35 lemos que “os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os
valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos”. Isaías 60.5 diz que “a
abundância do mar se tornará a ti, e as riquezas das nações virão a ter contigo.”
Um dos significados da palavra “unção” em hebraico é “sucesso, prosperidade”.
José, quando foi vendido para o Egito e jogado na cadeia foi bem-sucedido porque tinha a
unção do Espírito Santo sobre ele. Somos cristãos, temos essa mesma unção, temos direito
às promessas da Palavra e, por isso, podemos orar para que o Senhor nos envie recursos
para espalharmos o evangelho para toda a nação; orar para que os laços da pobreza e do
fracasso sejam quebrados; orar para que a igreja seja próspera, bem-sucedida e tenha
recursos em abundância para realizar a obra para a qual foi chamada.
O que aconteceu em Atos foi um modelo para nós hoje. Tudo foi maravilhoso,
aprendemos lições preciosas com eles, são um padrão para seguirmos. Tudo foi escrito
para nós, sobre quem “os fins dos tempos é chegado”. Eles viram a destruição de
Jerusalém no ano 70 d.C. que espalhou o evangelho pelo mundo conhecido na época, mas
nós veremos hoje todo o Globo Terrestre ser alcançado pelo evangelho. As nações,
lideradas pela ONU e pela jihad islâmica, vão atacar Jerusalém e, quando o fizerem, será
o fim dessa nossa era. Os céus se abrirão, Jesus descerá, destruirá as nações contrárias
a Israel e estabelecerá o seu Reino sobre a Terra. Esse é um evento infinitamente maior
do que o ocorrido nos anos 30 a 70 e, por isso, o avivamento que o acompanhará será
muito maior.
Jesus vai voltar, abrir os céus, levantar os mortos e estabelecer o seu reino.
Devemos nos alegrar por isso, mas o problema é que isso também será o fim de todas as
coisas; não haverá mais tempo para nada. Por isso, o que deve nos animar é o que vai
acontecer de hoje até esse grande dia. É agora que experimentaremos o maior avivamento
da história do mundo, é agora que haverá uma colheita de almas maior do que todo o
número de pessoas que se converteram em toda a história da humanidade. Estaremos
alinhados – igreja e Israel – para a volta de Jesus e a implantação do Reino de Deus na
Terra. Haverá uma restauração dos sinais, milagres e autoridade dos apóstolos.
Há três aspectos muito importantes sobre autoridade apostólica no N.T.:
Primeiro. Todas as igrejas e grupos caseiros em todas as nações do mundo se
submetiam à autoridade apostólica. Não existia no N.T. igrejas lideradas por pastores sem
cobertura apostólica. Não importa o que a teologia disse e fez depois disso, mas naquela
época era assim. Então, se naquela época essa era a prática, isso deve acontecer
novamente hoje. Ora, como é que Deus vai restaurar os milagres do livro de Atos sem
restaurar a autoridade dos apóstolos do livro de Atos? É impossível acontecer um sem o
outro.
Segundo. Todas as igrejas do N.T. estavam interligadas através dos apóstolos com
a nação de Israel. Não havia uma igreja sequer que não estivesse ligada espiritualmente
com o povo, a terra e o remanescente messiânico judaico. As igrejas receberam o
evangelho de Pedro, Paulo, João, Tiago etc. que eram judeus. Jamais entraria na cabeça
deles a ideia de que poderiam ter uma igreja independente de Israel. Afinal, foi lá que Jesus
viveu, nasceu e irá voltar. No entanto, a grande maioria das igrejas hoje não é assim,
justamente porque até pouco tempo não existia Israel. Mas agora precisa voltar a ser, pois

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Israel já existe de fato. Agora é o tempo das igrejas ao redor do mundo voltarem ao mesmo
padrão do livro de Atos onde as comunidades de crentes judeus e gentios viviam ligados
espiritualmente servindo a Jesus em Israel. Isso não poderia ter acontecido antes, mas
agora pode e nós temos a grande oportunidade de restaurar isso. Essa ligação faz parte
da restauração que irá liberar o derramamento do Espírito Santo, os sinais e milagres, o
evangelismo mundial e a unidade da igreja nos últimos dias. O derramamento do Espírito
Santo é para trazer Jesus de volta, e ele voltará para Israel. Se a igreja não estiver ligada
com Israel como haverá esse derramamento do Espírito? Como haverá milagres? Como
haverá evangelismo mundial? Como haverá unidade? Tudo isso é justamente para
preparar a segunda vinda de Cristo! Por isso temos de estar alinhados nessa direção para
que o poder seja liberado.
Terceiro. Jesus via a autoridade apostólica como as primícias do governo do seu
reino para quando ele voltasse. Ele disse: “Vocês, meus doze discípulos, quando eu voltar
se sentarão em doze tronos e governarão a casa de Israel”. No entanto, haverá muito mais
posições de autoridade do que apenas doze. A autoridade espiritual dentro da igreja muda
no momento em que Jesus volta e se torna reino e governo também fora da igreja. O que
era espiritual antes se torna governamental depois. Não existe salvação sem submissão ao
senhorio de Jesus e, quando nos submetemos ao seu senhorio, automaticamente nos
submetemos ao seu reino, à sua autoridade. Essa autoridade foi primeiramente repartida
com os apóstolos em Jerusalém. Não houve ninguém no primeiro século que recebeu o
evangelho da salvação e não fosse submisso à autoridade espiritual que estava sobre os
apóstolos e sobre a igreja.
A submissão à autoridade apostólica é o que libera a unção profética. São coisas
similares, mas não iguais. Pode ser que 90% da autoridade apostólica que existe hoje seja
falsa, mas isso não quer dizer que Deus não queira o genuíno. Pode ser que 90% das
profecias atuais sejam falsas, mas também não quer dizer que Deus não queira o genuíno.
Por isso oramos para que Ele restaure a verdadeira unção profética e autoridade apostólica
em nossos dias.
Assim que Pedro creu, Jesus lhe deu as chaves do céu. Com elas Pedro poderia
abrir os céus. Em Isaías, lemos que Davi recebeu uma chave, mas Pedro recebeu várias.
Não recebemos somente a chave da casa de Davi, que é a cidade de Jerusalém, mas
também as chaves de cada cidade do Brasil e do mundo. Essas chaves são para abrirmos
os céus e liberarmos o amor, a santidade, a unidade, a revelação, as curas, as profecias, o
evangelismo, os milagres, a autoridade, o estabelecimento do Reino de Deus. Por isso
devemos estar alinhados e submissos à autoridade apostólica que desce dos céus, passa
por Jerusalém e abre as portas dos céus para as nações. Mas, para isso, precisamos ter
nossos corações abertos, ligados, alinhados e submissos à autoridade apostólica.
Talvez não tenhamos enxergado essas coisas nos últimos dois mil anos, talvez não
fosse tão importante, mas agora temos de nos preparar porque Jesus está voltando e ele
quer estabelecer o seu governo na Terra. Mas como ele vai fazer isso se não estivermos
prontos para reinar com ele? A autoridade espiritual existe para nos formar, educar, treinar,
equipar para governarmos o mundo quando Jesus voltar. Quando o recebemos como
SENHOR entramos debaixo da visão, prática e autoridade do seu Reino.
Outro fato muito importante: a última profecia do V.T. tornou-se a primeira profecia
do N.T.:

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Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do
SENHOR; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus
pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição. (Ml 4.5,6)
E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos
pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o
Senhor um povo preparado. (Lc 1.17)
Lucas diz que João Batista foi o cumprimento da profecia de Malaquias. Ele diz que
Deus enviaria João Batista “no espírito e poder de Elias”. Elias não irá voltar nos últimos
dias; ele já cumpriu seu papel na história. Deus quer levantar hoje uma geração com o
mesmo “espírito e poder de Elias” que prepare o mundo para a vinda de Jesus, assim como
João Batista fez. Infelizmente, porém, a maioria dos cristãos não entende isso. Eles vivem
confortavelmente e desleixadamente esperando que Elias volte e profetize. Não! Deus quer
que nós nos levantemos e profetizemos com o mesmo poder e autoridade de Elias e
preparemos o caminho para a volta de Jesus. Elias já teve sua vez, mas agora é a nossa
vez e não podemos perder essa oportunidade. Esperar é muito cômodo. Não podemos
esperar outros fazerem, mas nos levantarmos e fazer. Agora é a nossa vez! Vamos tomar
a autoridade e a unção que nos foi dada, profetizar à nossa geração e prepará-la para a
volta de Jesus.
Precisamos olhar para os profetas do V.T., não para esperar que eles voltem, mas
para pegarmos suas palavras, entendê-las, crer nelas, recebermos o mesmo espírito e
poder que eles tinham e pregarmos para nossa geração. João teve a oportunidade de
profetizar a primeira vinda de Jesus e nós temos a oportunidade de profetizar a sua
segunda vinda. Agora temos uma unção maior, dobrada. A unção para preparar o mundo
para a primeira vinda foi apenas metade da unção que haverá para prepará-lo para a
segunda vinda.
...converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais. Isso é
algo muito forte, importante e necessário em nossa geração. O mundo todo está sofrendo
com a falta de relacionamentos entre pais e filhos. Deus nos chamou para restaurar
gerações e isso começa com os pais, com os mais velhos.
...para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à
prudência dos justos. É interessante que Lucas não diz “coração dos filhos aos pais”, mas
usa a palavra “desobedientes” ou “rebeldes”. A nossa atual geração é verdadeiramente
rebelde. Quando Paulo fala em Efésios 4 sobre o chamamento de alguns para os cinco
ministérios ele cita, no verso 8, o Salmo 68:18 que usa a mesma palavra “rebelde”:
“...recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes...”. Alguns, quando jovens, são
muito rebeldes, mas depois se tornam fortes apóstolos e profetas.
...e habilitar para o Senhor um povo preparado. Deus quer preparar cada um de nós,
pois Jesus em breve voltará. Não há mais tempo; temos de estar prontos hoje, agora! A
igreja precisa estar preparada para os eventos que precederão sua volta. É a unção de
Elias, a unção de João Batista, a unção apostólica e profética que nos prepara para
estarmos em pé nesses tempos difíceis e trazermos o avivamento e a volta de Jesus. Não
é uma unção para nos levar embora desse mundo e, sim, para nos preparar para
permanecermos em pé diante das tribulações que virão. Essa unção nos prepara para
resistir e crer em meio aos acontecimentos finais.
Infelizmente, existe uma teologia errônea que diz que não estaremos aqui nos

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últimos dias. Isso vem do diabo, pois o que Deus quer é nos preparar, fortalecer, selar,
proteger para trazermos o avivamento, os sinais e milagres, o alinhamento com Israel, a
unidade da igreja. Ele quer que estejamos aqui para amarrar o diabo, jogá-lo no abismo e
reinar com Cristo na Terra, e não para irmos embora daqui.
Eu creio no arrebatamento, mas a questão é QUANDO ele acontecerá. O
arrebatamento só acontecerá NA VOLTA DE JESUS, e não antes. O tempo do fim é a
melhor e maior época da história – um grande e poderoso avivamento mundial, milhões de
pessoas se convertendo, sinais e prodígios em abundância, unidade do Corpo, restauração
da autoridade apostólica, unção profética, o reino sendo restaurado em Israel etc. Por que
estaremos aqui? Por medo da tribulação? Ora, será que existe algum texto na Bíblia
dizendo que nunca passaremos dificuldades? Definitivamente não!
Há somente sete passagens no N.T. que falam sobre o arrebatamento: Mateus 24
(duas vezes), Marcos 13, Lucas 17, 1 Coríntios 15, 1 Tessalonicenses 4 e 2
Tessalonicenses 2. Todas elas falam QUANDO isso vai acontecer: DEPOIS DA
TRIBULAÇÃO, DEPOIS QUE O ANTICRISTO FOR REVELADO, DEPOIS DA
RESSURREIÇÃO DOS MORTOS! Não há nenhum versículo que diz que será antes! Mas
muitos ensinam o contrário, dizendo que o arrebatamento acontecerá “entre” alguns
versículos, ou seja, “inventam” textos.
Estamos começando a vivenciar a grande e última guerra mundial e podemos vencê-
la se nos prepararmos. Porém, se não estivermos preparados a perderemos. Por isso
temos de estar prontos, cheios de autoridade, unção, poder e santidade para entrarmos
nesses tempos do fim e vencermos essa maior e última batalha. Agora é a nossa hora!
Deus está nos preparando para a volta de Jesus, para enfrentarmos as lutas que virão. Por
isso é covardia pensar que seremos arrebatados antes!
Quero convidá-lo a fazer parte desse tempo de preparação! Vamos orar para que a
mesma unção de Elias e João Batista venha sobre nós hoje e nos prepare para o grande
avivamento dos últimos dias. Também quero convidá-los como igreja, grupo ou indivíduos
a entrar em um alinhamento com Israel.
Não estou dizendo essas coisas como orgulho sobre nós. Somos muito pequenos,
apenas um ponto simbólico de referência. O importante é nos alinharmos com Jesus – sua
volta, seu reino, sua autoridade. Mas Deus está restaurando comunidades de fé, unção
profética e autoridade apostólica em Israel e, por isso, a importância desse alinhamento,
dessa sobreposição, dessa janela de oportunidade entre igreja e Israel. Isso fará com que
o Senhor libere o poder, os milagres, o avivamento mundial e a volta de Jesus.

*Asher Intrater é o fundador e líder apostólico do Ministério Revive Israel e supervisiona a


Congregação Ahavat Yeshua em Jerusalém, e a Congregação Tiferet Yeshua em Tel Aviv. Ele foi
um dos fundadores de Tikkun International juntamente com Dan Juster e Eitan Shiskoff, e é membro
do conselho da Aliança Messiânica de Israel e de Aglow International.

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O PECADO DO ORGULHO
Jônatas Rocha

Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o


cultivar e o guardar. E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim
comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (...) Vendo a mulher que
a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.
(Gn 2.15-17; 3.6)

U ma das coisas que corrompeu o homem devido à sua desobediência foi a confiança
em Deus. Mesmo antes da queda percebemos esse fato quando, ao invés de
conversar com o Senhor sobre o fruto da árvore proibida, ele optou por comê-la.
Entendemos, assim, que a independência de Deus está na base do orgulho humano: a
confiança em si mesmo, no que sabe e faz. Com a queda todos nós herdamos essa
natureza pecaminosa e nos distanciamos de Deus.
Pensando sobre isso, um texto que fala bem forte ao meu coração é Romanos 8.1:
Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque
a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
O que Jesus fez é muito poderoso e nos livra desse conflito que o pecado trouxe.
Quando temos muito conhecimento natural argumentamos, questionamos, desconfiamos,
arrumamos desculpas e vivemos em conflitos mentais, pois o conhecimento nos deixa
orgulhosos, independentes do Senhor e confiantes em nós mesmos.
Vemos, principalmente nos livros de Isaías e Ezequiel, uma ira muito grande do
Senhor contra o orgulho, a soberba, a altivez do povo de Israel. O terrível pecado da
Babilônia era querer ser igual a Deus. No entanto, o eterno desejo Senhor é reinar em nós
e através de nós.
Temos visto muitas coisas acontecendo em nosso meio em termos de serviço,
adoração, comunhão, oração. Isso prova que um grande avivamento está vindo novamente
sobre a igreja. No século passado a igreja experimentou esse avivamento, mas,
infelizmente, muitos líderes caíram por causa de dinheiro, poder e arrogância. Homens que
antes humildes, depois de receberem muito de Deus não suportaram e caíram. Por isso, o
alerta do Senhor para nós hoje é que fiquemos precavidos e atentos para esse pecado do
orgulho, pois estamos novamente experimentando os milagres de Deus e não há nada que
não seja corrompível, principalmente os dons que Ele nos dá.
É muito explícito o pecado do orgulho agindo nas nações – os sistemas políticos,
econômicos e de comércio agindo nas mãos de poucas pessoas arrogantes que utilizam
dessas riquezas e poder para se corromper. Mas a Palavra diz que o Senhor vai trazer
justiça sobre essas coisas. Seu nome será santificado e glorificado nas nações, Seu juízo
virá e já está começando.

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Minha preocupação é que essa situação muitas vezes passa despercebida aos
nossos olhos e corações devido ao nosso orgulho religioso. Eu creio que da mesma forma
que o Senhor está nos dando muitas coisas também podemos nos prevenir de cair nesse
pecado.
Há várias formas desse orgulho se manifestar. Por exemplo, alguém que cai em
pecado e se entristece, chora e não aceita ser confortado. Não há louvor algum em ficar se
autocondenando (pelo contrário, é orgulho), pois a misericórdia de Deus é maior que os
nossos pecados. Os méritos de Cristo anulam tudo o que fizemos e fazemos de errado. A
autocondenação é uma atitude de orgulho pois revela arrogância e autossuficiência, o
pensamento de que a mudança só depende do nosso esforço pessoal. Mas isso apenas
nos cansa, enfraquece e desanima, pois percebemos que não conseguimos mudar pelos
nossos próprios méritos e esforços. Não é uma atitude que agrada a Deus pois não há nada
que possamos fazer que fará o Senhor nos amar mais ou menos. É por isso que Paulo diz:
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.
É um engano pensar que as nossas lágrimas nos purificam mais do que o sangue
de Jesus. Para Deus esse sangue derramado foi preciosíssimo, pois nos purificou e
perdoou de todos os pecados que motivam e impulsionam nossas vidas. Pelo sangue
tivemos acesso à graça do Senhor, fomos justificados e por meio dele permaneceremos
em pé até que Cristo volte. Portanto, não é a nossa tristeza ou as nossas lágrimas que nos
farão ter méritos com o Senhor.
No livro de Hebreus lemos que o Senhor não se agradou de sacrifícios e por isso
enviou Seu filho Jesus, que em seu corpo cumpriu toda a vontade do Pai:
Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para
fazer, ó Deus, a tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não
quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste
(coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para
fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa
vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo,
uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o
serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais
podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único
sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante,
até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma
única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. (Hb 10.7-
14)
A vontade de Jesus inserida em nós é o que nos dará força e capacidade para
realizar toda a vontade do Pai. Não precisamos mais nos esforçar. Creio que chegará um
dia em que a vontade Dele estará tão plena em nós que será bom, agradável e fácil
obedecê-Lo. Mas, enquanto isso não acontece, Ele usa alguns meios para aprendermos
que depender Dele é melhor – e um desses meios é a obediência. Quando obedecemos,
percebemos que o que sacrificamos em prol da vontade de Deus é gostoso, prazeroso,
agradável. E, à medida em que obedecemos, recebemos ainda mais graça e capacidade
para fazê-lo, pois a obediência elimina o sentimento de orgulho e independência pessoal.
É como termos uma despensa vazia e, cada vez que quisermos algo, recorrermos à
despensa Dele.

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Passei vários anos fazendo alguns cursos bíblicos. Aprendi e cresci bastante, mas
percebi algo muito triste que aconteceu comigo depois. Comecei a ter um sentimento de
que precisava ajudar os irmãos a despertar, pois os via governados pelo sistema do mundo.
No entanto, entendi que todo esse desejo estava muito carregado de orgulho. É como se
eu fosse o único capaz de fazer os irmãos se levantar e perceber as coisas do Senhor. Eu
estava muito animado, mas aquele conhecimento adquirido estava apenas me distanciando
da simplicidade de Cristo e tornando-me arrogante. “Eu não sou um cristão perfeito”,
pensava, “mas estou bem melhor do que eles. Leio a Bíblia e oro todos os dias.” Estava
confiando demais nas coisas que eu podia e sabia fazer. Era eu que “abriria os olhos das
pessoas” e não o Senhor. Foi uma luta interior muito grande quando discerni essas atitudes
em mim.
Temos recebido muito do Senhor nesses dias. O perigo é que tudo isso fica
guardado na mente e não desce ao coração. Então, a pergunta é: O que fizemos com tudo
o que já ouvimos e recebemos, com tudo o que Senhor já nos deu e falou? O que estamos
praticando hoje? Somos muito privilegiados por isso, mas essas palavras têm frutificado ou
permanecidas apenas na mente, no esquecimento? Têm sido apenas para aumentar nosso
conhecimento?
Deus tem falado muito conosco sobre a importância da renovação da mente. Às
vezes ficamos muito presos no conhecimento natural e determinismo humano. Achamos
que os milagres são difíceis ou até impossíveis de acontecer e nos acostumamos a pensar
de maneira natural, a viver pelas coisas determinadas pela lógica humana. Mas precisamos
entender que as coisas naturais não têm o poder de impedir as ações e milagres do Senhor.
O que Deus espera de nós não é um esforço demasiado, uma autoconfiança nas
capacidades e experiências pessoais, mas que confiemos e dependamos inteiramente
Dele. Uma confiança que “não desconfia”, que não questiona, que não gera argumentos ou
resistências. Então, à medida em que obedecemos, aprendemos a confiar e depender cada
vez mais do Senhor.
Jesus estava na glória, tinha tudo, era perfeito e completo. No entanto, ele abriu mão
de tudo isso e veio à Terra “em semelhança de carne pecaminosa” (Rm 8.3). Ele,
“subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens;
e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à
morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8). Enquanto o homem, as nações e Satanás querem o
poder, o controle, o domínio sobre todas as coisas, Jesus fez o caminho inverso – ele
desceu, se humilhou, se esvaziou de tudo – e é para esse caminho, para essa vida que
Deus nos chama.
Ninguém nasce humilde; essa não é uma virtude da carne. A humildade é produzida
pelo Espírito Santo em nós e o caminho para isso é o quebrantamento, é sermos
coparticipantes dos sofrimentos de Cristo (1 Pd 4.13). Por isso, precisamos reconhecer que
somos cheios de orgulho e muito vulneráveis ao mesmo. Qual a nossa real motivação
quando nos incomodamos demais em não orar o suficiente, em não conhecer todos os
assuntos da Bíblia, em não fazer tudo o que achamos que precisamos fazer? O que
estamos querendo conseguir com isso? Será que não é fruto de orgulho? Um exemplo:
alguém participa todos os dias de uma reunião de oração e, notando que muitos não o
fazem, começa a criticá-los por isso: “Será que não podem se esforçar um pouco?” Isso
revela um sentimento arrogante, de soberba espiritual, talvez um desejo de

12
reconhecimento.
Há muitos meios que Deus usa para nos ajudar a discernirmos essa atitude e uma
delas é ter amigos. Não precisamos apenas de conhecidos, colegas, pessoas que vemos
apenas nos cultos aos domingos. Amigo é aquele que conhece as nossas fraquezas, os
nossos pecados, pessoas com quem abrimos o coração e confessamos tudo aquilo que
fazemos que não agrada a Deus. Confessar pecados a Deus é muito bom e necessário,
mas fazê-lo para alguém é tremendamente maior. E não é confessar cada vez para uma
pessoa diferente, mas sempre para a mesma pessoa, pois só assim ele poderá nos ajudar.
Isso nos previne e livra de continuar no círculo vicioso do pecado produzido pela falta de
arrependimento verdadeiro que, por sua vez, tem como causa o orgulho: “Ah, mas uma
hora eu vou conseguir me livrar disso!” Assim, ter um amigo e aprender a abrir o coração
com ele é fundamental para nossa libertação e crescimento.
Deus vai santificar o nome Dele nesses dias. O mundo vai conhecer quem é o
verdadeiro Senhor. Ele vai reinar sobre as nações e mostrar que essas não são nada.
Somos uma geração que experimentará muita graça, unção e poder de Deus. A história e
as profecias mostram que falta muito pouco tempo para a volta de Jesus. Homens piedosos
que estão conectados com o Senhor estão proclamando isso. Então, não é tempo de
cometermos os mesmos erros que nossos irmãos do passado cometeram, de receber muito
e reter a glória para si.
Lemos em Apocalipse 11 que Deus levantará duas testemunhas na Terra para
profetizar, fazer milagres e trazer o céu para a Terra quantas vezes quiserem. Não é para
os anjos, mas para nós, homens, que o Senhor dará esse poder. Somos nós que
receberemos poder para movimentar as coisas naturais, terrenas e mostrar ao mundo que
só há um Senhor – o grande EU SOU. Mas, o que nos chama a atenção é para as vestes
dessas duas testemunhas: panos de saco (v.3). Ou seja, são desprovidas totalmente de si
mesmas, sem qualquer tipo de vontade própria, isentas de orgulho ou arrogância, pessoas
nas quais o Senhor deposita total confiança. Com elas Deus mostra que a confiança cega,
total foi instaurada. Jesus veio, morreu e venceu para que isso aconteça. Ele disse:
Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de
coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o
meu fardo é leve. (Mt 11.28-30)
Se estamos lutando para alcançar as coisas, vivendo para nós mesmos, achando
que precisamos ter méritos próprios, nada conseguiremos. Devemos parar, confiar e
descansar só em Jesus. Caso contrário será apenas orgulho, arrogância, soberba,
independência de Deus, falta de confiança na misericórdia eterna, firme e duradoura que
excede todo o nosso entendimento. “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de
coração”. Esse é o chamado do Senhor.
Antes disso, Jesus havia dito: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque
ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (v.25). Quem
é a pessoa mais importante para a criança? Seu pai! Com certeza o nosso Pai nos dará
muitas coisas nesses últimos tempos. Ele irá derramar todo Seu poder e unção, mas, qual
é a melhor coisa que Ele pode e quer dar aos Seus filhos? Ele mesmo, Sua presença!
Podemos fazer muitas coisas, como diz 1 Coríntios 13.1-3:

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Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como
o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de
profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha
fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu
distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio
corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
No entanto, se não tivermos amor nada disso terá valor. Conhecimento, profecias,
dons, fé, esperança etc. irão acabar, mas o amor é eterno. Que o Senhor multiplique a
revelação da Sua Palavra, multiplique o trabalho ministerial, multiplique o tempo de oração
nas igrejas, estreite os nossos laços de comunhão e amizade, mas que tudo isso seja
consequência do nosso amor a Ele. O conhecimento ensoberbece, mas “o amor é de Deus;
e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1 Jo 4.7). Muitos homens e
mulheres não conhecem profundamente a Palavra, mas suas vidas demonstram os frutos
do amor do Senhor.
Que essa palavra seja um alerta para nós hoje. Deus vai nos dar muitas coisas nos
próximos dias e, se estivermos disponíveis a ouvir e receber, a se humilhar e abandonar
todo orgulho e soberba, com certeza vamos usufruir dessa abundância de graça e amor
que Ele está derramando. Que sejamos atraídos não pelas coisas que Ele nos está dando,
mas, sim a Ele mesmo. Amém!

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OS PERIGOS DOS ÚLTIMOS DIAS
Harold Walker

E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; e sobre a terra haverá angústia das
nações em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas. Os homens desfalecerão
de terror, e pela expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto os
poderes do céu serão abalados. (Lc 21.25,26)
ue cenário! Eu o chamo de “meteorologia espiritual”. A previsão do tempo dos últimos
Q dias aproxima-se da Terra. Tudo já começou a oscilar, porém, essa agitação é apenas
um prenúncio do que ainda está por vir. Filmes são produzidos em Hollywood mostrando
nas telas a destruição da Terra e os sobreviventes dela. Hollywood parece estar mais
avançada profeticamente do que a igreja, pois esta supõe que tudo continuará igual.
Hollywood grita: “Não! Não continuará tudo igual. Haverá, sim, destruição e catástrofes.”
Essa previsão confere com o que a Bíblia diz: “Sinais no sol, na lua e nas estrelas; e sobre
a terra haverá angústia das nações...”.
Então verão vir o Filho do homem em uma nuvem, com poder e grande glória. (Lc
21.27)
A previsão do tempo é clara e terminará com a volta de Jesus. Mas vamos nos deter
aos nossos dias, trinta ou quarenta anos antes dessas coisas acontecerem. Como devemos
reagir enquanto as nações estão desmaiando de terror, a Bolsa de Valores caindo e o
desemprego em alta? Qual deve ser a nossa postura diante das lutas, anarquias, guerras,
tremores de terra, enchentes, secas, carestia, mundo atribulado, sinais no céu, sinais na
terra, problemas e perseguições?
Ora, quando essas coisas começarem a acontecer, exultai e levantai as vossas
cabeças, porque a vossa redenção se aproxima. (Lc 21.28)
Dependendo da sua mentalidade, você ficará alegre ou triste. Ficará alegre porque
essas coisas anunciam que Jesus está voltando, você está selado pelo Espírito e sabe que
ele protege e cuida dos seus. Mas esse sistema podre, caótico, perverso, injusto, mau e
sem-vergonha cairá e o Rei da justiça reinará. Os que estão firmes nele sabem que quanto
mais esse sistema se racha e dá sinais de queda melhor é, porque está evidenciando a
chegada do Rei dos reis. A Terra treme e se abala por causa disso e o Diabo, por sua vez,
sabe que o tempo que ele tem está se findando.
Jesus exorta você a se alegrar com a sua volta, mas também que tenha cuidado. Ter
cuidado com o quê? Com você mesmo! Ser selado por Deus não é algo automático. Ele só
o fará se a sua mente estiver correta e isso é com você, e não com Ele. Quem muda a sua
mente é você mesmo. É por isso que Jesus avisa:
Olhai por vós mesmos; não aconteça que os vossos corações se carreguem de
glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e aquele dia vos sobrevenha de
improviso como um laço. Porque há de vir sobre todos os que habitam na face da
terra. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que possais escapar de todas estas
coisas que hão de acontecer, e estar em pé na presença do Filho do homem. (Lc

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21.34-36)
Jesus não diz para tomarmos cuidado com o pecado, pois desde o início temos
mesmo de fazer isso. O pecado, na verdade, não é o problema dos últimos dias. O problema
dos últimos dias é você mesmo!
Pois como foi dito nos dias de Noé assim será também a vinda do Filho do homem.
Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e
davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam,
até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do
homem. (Mt 24.37-39)
Todos viviam uma vida normal. Não tem como viver sem comer, sem beber e sem
se preocupar em pagar as contas. O perigo dos últimos dias é a distração, é não ter foco,
é a mente ficar ocupada com coisas materiais, cheia de preocupações com o que vai comer
e beber, com os prejuízos que tomou, com o emprego que perdeu, com a promoção que
ganhou, com o ter vendido algo bem ou mal. Vamos ilustrar essa situação com a parábola
do homem rico que Jesus contou aos seus discípulos:
O campo de um homem rico produzira com abundância; e ele arrazoava consigo,
dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos. Disse então: Farei
isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os
meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos
bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe disse:
Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus. (Lc 12.16-
21).
Quantos de nós agimos da mesma forma? Quantos cristãos usam sua mente e
coração, que foram feitos para refletir Jesus, amar a Deus e tocar as pessoas, para se
preocupar com os cuidados desta vida? Ricos e pobres estão mergulhados no mesmo
problema: se preocupam por terem muito dinheiro ou por não terem nada. Mas Jesus exorta
a todos: “Cuidado para que o vosso coração e mente não se ocupem dessas coisas”.
Quando o Anjo passar para selar você ele saberá o que ocupa sua mente.
Marta era boa pessoa, estava fazendo um almoço para Jesus, porém ele lhe disse:
“Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; entretanto poucas são
necessárias...” (Lc 10.41,42). Passar sem almoço um dia não seria o fim do mundo, mas
passar sem ouvir a palavra do Filho de Deus na terra é, de fato, o fim do mundo.
Muitos de nós temos orado por coisas específicas em nossas vidas, mas, quando
Deus está para nos responder, simplesmente saímos da sua presença sem escutá-lo e nos
distraímos com outras coisas. O maior perigo dos últimos dias é a sua distração; é você
não zelar da sua mente e coração. Ter ou não ter não é o problema, porque Deus supre; o
problema é você se preocupar, se ocupar, se envolver, se agarrar às coisas deste mundo.
A mulher de Ló saiu fisicamente de Sodoma, mas o seu coração ficou lá e, por isso, ela
olhou para trás e morreu. Onde está a sua mente e o seu coração?
Jesus, em Mateus 24, exorta muitas vezes para vigiarmos e tomar cuidado. Com o
quê? Com o engano. Outras passagens bíblicas dizem que nos últimos dias a operação do
erro será feita por Satanás de uma forma tão forte que se você não estiver firme e com
alguma defesa será facilmente enganado. Todas as nações já estão sendo enganadas.
Muitas nações criminalizaram Israel por uma coisa enquanto genocídios estão acontecendo

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em muitos outros lugares; milhares de pessoas estão sendo mortas nos países
muçulmanos; mas ninguém fala nada sobre essas coisas. Pessoas inteligentes e sábias
estão sendo enganadas pelo espírito de engano que tem infestado a mídia ao redor do
mundo e muitos cristãos estão indo junto.
Jesus chega ao rio Jordão para ser batizado por João Batista. Deus havia dito a João
que quem fosse batizado e o Espírito descesse sobre ele, esse seria o Seu Filho. João
Batista batizou milhares de pessoas e certamente ficou atento para ver qual delas seria ele.
João viera ao mundo para anunciar o Filho de Deus, mas o Filho veio disfarçado, incógnito
e ninguém podia reconhecê-lo. Veio tão disfarçado que Judas precisou beijá-lo para
identificá-lo aos seus algozes.
João Batista viu Jesus se aproximando e falou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo. Este é aquele de quem eu disse: (...) para que ele fosse manifestado a
Israel, é que vim batizando em água” (Jo 1.29-31). João disse a Jesus: “Eu é que preciso
ser batizado por ti, e tu vens a mim? Jesus, porém, lhe respondeu: Consente agora; porque
assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele consentiu” (Mt 3.14,15). Ao sair da
água, o Espírito desceu visivelmente como uma pomba sobre Jesus e ouviu-se uma voz:
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 4.17). Foi como se Deus dissesse:
“De todos os homens que já viveram, este é o único que eu assino embaixo. Moisés chegou
perto de ser 100%, mas errou na última hora e foi eliminado! Mas com esse eu me identifico
e estou com ele em toda e qualquer situação. Este é o meu Filho amado em quem eu tenho
prazer.”
Quem pensa que depois do batismo Jesus experimentou apenas bênçãos, está
muito enganado. O Espírito Santo não nos isenta de problemas, de passar pela patrola, de
ir para o deserto não há nada para comer e beber, mas apenas areia. Se você é abençoado
pelo Espírito Santo, prepara-se para as provas!
Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. (Mt
4.1)
Jesus ficou no deserto por quarenta dias e quarenta noites e depois teve fome.
Jesus, o Filho de Deus, com um corpo igual ao nosso, teve fome. Nossa luta começa com
a carne. Jesus estava no deserto sem nada da presença de Deus! Apenas areia e pedras.
Ele, que acabara de receber o Espírito e de ouvir a voz de Deus chamando-o de Filho
amado, estava agora no deserto sem água, sem comida e com o Diabo. O Diabo não
apareceu logo no início pois deixou a carne operar primeiro para depois vir ajudá-la. Jesus
estava prestes a ser enganado por ele. Dissemos anteriormente que o maior perigo dos
últimos dias é ser enganado. Nenhum de nós quer ser enganado, mas Deus não nos
protegerá do engano. Ele nos protegerá de tudo o mais, menos de sermos enganados,
porque ele já avisou que a cabeça é nossa; portanto, cuidemos dela. Ele só nos selará se
zelarmos de nossas mentes.
A primeira coisa que o Diabo diz para Jesus é: “Se tu és Filho de Deus” (v.3).
Basicamente ele estava dizendo: “O Filho de Deus, o Rei do universo sentado no meio da
areia e morrendo de fome. Mas ali tem uma pedrinha que parece um pão. Você pode
transformá-la em um pão de verdade e matar a sua fome. Será que você é mesmo o Filho
de Deus?”. O Diabo não estava desmentindo a Deus, mas duvidando dele, colocando
dúvida na mente de Jesus. E aparentemente ele estava com a razão, pois como Deus podia
ser tão rico, tão bom e deixar o seu Filho numa situação daquelas? Assim foi também com
os amigos de Jó: “Como um homem bom pode sofrer assim como você? Você deve ter feito

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alguma coisa errada.” O Diabo sempre chega quando você está em apuros. Ele disse a
Jesus:
Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães. (Mt 4.3)
O ‘bom’ vendedor, como diz Paulo Manzini, vende geladeiras para esquimós. Ele lhe
vende algo que não presta e só depois você percebe ter caído na sua lábia. Pois saiba que
o Diabo é muito mais esperto que o vendedor e você não tem vez com ele. Jesus não ousou
dizer uma única palavra de sua própria boca contra o Diabo, mas o combateu três vezes
com a palavra: “Está escrito!” Ele usou a Bíblia! Mas como, se ele não tinha nenhuma Bíblia
consigo? Jesus conhecia as Escrituras, fez o seu dever de casa, encheu sua mente com
elas; ele a tinha na sua mente. Então, quando ouviu a palavra “pão” já tinha a resposta:
Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. (Mt
4.4)
Jesus ganhou a primeira questão porque combateu o Diabo com a Palavra de Deus
que havia armazenado em sua mente.
Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-
lhe: Se tu és Filho de Deus... (Mt 4.5,6)
O Diabo viu que Jesus conhecia a Bíblia, mas ele também a conhecia. Os falsos
obreiros, as seitas conhecem a Bíblia e o anticristo a citará. A Bíblia não o protegerá se
você não a conhecer. Sendo assim, certamente você será um candidato a ser enganado.
O Diabo colocou Jesus no pináculo do Templo e lhe disse:
Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos
dará ordens a teu respeito; e: eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces
em alguma pedra. (Mt 4.6).
Veja que o Diabo citou um versículo inteiro dos Salmos (Sl 91.11,12). “Pula porque
os anjos vão te proteger; isso está escrito na Bíblia.” Logicamente Jesus não o obedeceu,
porque ele não conhecia apenas uma parte da Bíblia, mas a conhecia toda.
Uma das lições mais preciosas que meu pai me ensinou foi: “Leia a Bíblia toda,
sempre. Não leia apenas a parte que você gosta; leia tudo, sempre, do início ao fim e depois
comece de novo”. É difícil para você entrar no seu quarto, com o ar condicionado ligado,
abrir a Bíblia e ler? Você não precisa sentir nada; Deus não manda você sentir, ele manda
você ler! Leia a Bíblia durante um mês, todos os dias, e você sentirá alguma coisa, porque
Deus falou e a palavra dele fala aos nossos corações. Você não precisa ser um erudito e
ter uma enciclopédia inteira em sua mente. A própria Bíblia diz que o Espírito Santo trará à
sua memória os versículos que você precisa. Se não ler, como ele fará isso? Se você não
coloca nada em sua mente, o Espírito Santo não tem de onde tirar algo para trazer-lhe à
memória. Você coloca e ele aplica!
Quando o Diabo falou para Jesus pular do pináculo do templo, ele achou outro
versículo para confrontá-lo:
Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. (Mt 4.7)
Ou seja, Deus o sustentaria se ele fosse empurrado. Deus lhe sustenta se você cair
sem querer, mas se você pular ele não o sustentará. É preciso entender como a Bíblia
funciona. Não adianta se apegar apenas a uma parte dela. É preciso conhecer toda a
Palavra de Deus. Pular confiando apenas na parte da Bíblia que o diabo citou não funciona,

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pois há outra parte que diz para não tentar a Deus.
Depois o Diabo lhe mostrou todos os reinos do mundo e disse:
Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. (Mt 4.9)
Mais uma vez Jesus o confrontou com a Palavra:
Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele
servirás. (Mt 4.10)
Jesus sabia que na hora certa herdaria todos os reinos deste mundo.
Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se
detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores;
antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite (Sl 1.1,2)
Os versículos acima citam três coisas que o homem não deve fazer: não andar
segundo o conselho dos ímpios, não se deter no caminho dos pecadores e não se assentar
na roda dos escarnecedores. “Bem-aventurado” é consequência de não fazer essas coisas,
isto é, o homem que não as fizer será abençoado, prosperará e será bem-sucedido. Uma
coisa só ele precisa fazer: ter o seu prazer na lei do Senhor (na Bíblia) e nela meditar de
dia e de noite. Qual será o resultado disso?
Será como árvore plantada junto às correntes de águas. (Sl 1.3)
A seca pode vir, mas mesmo assim a árvore florescerá e ficará verde porque ela não
depende da água superficial, antes, tem suas raízes profundas nas correntes de águas.
Nós podemos estar em cadeias ou em qualquer outra situação que nos impeça de ter uma
Bíblia, mas se a Bíblia estiver dentro de nós seremos como uma árvore plantada junto ao
rio; nossas folhas serão verdes e nunca deixaremos de frutificar. Pode vir um vendaval que
não cairemos, porque nossa raiz é profunda; a Palavra de Deus nos segura firme.
Sinto ser urgente que a igreja leia a Bíblia toda, sempre. Não terceirize essa
responsabilidade. O meu conhecimento da Bíblia não o salvará. Você precisa fazer um
depósito da Palavra de Deus em sua mente e, para isso, você a precisa ler. Deus não pede
que você tenha grandes revelações; aliás, ele não pede nada, só pede que você leia a
Palavra dele. E, se por acaso você sentir alguma coisa enquanto lê, anote o que sentiu, dê
valor, porque isso mudará a sua vida.
A leitura da Palavra, a oração e a operação do Espírito são como o batismo: devemos
estar imersos nessas coisas. Isso é o mais importante a fazer. Se der tempo, trate das
coisas materiais, resolva o que precisa ser resolvido, pague suas contas, vá atrás de
comida e bebida. Mas você descobrirá que quem dá prioridade ao Reino de Deus, quem
dá o melhor do seu dia para ler a Bíblia e orar, será bem-sucedido em seus negócios,
ganhará dinheiro e terá o suficiente para ajudar outras pessoas; usará sabedoria humana,
mas Deus dirigirá os seus caminhos e será abençoado!
Enquanto Asher Intrater orava por esta igreja, veio-lhe a palavra: “Existe um espírito
de miséria no Brasil. Os crentes brasileiros pensam que para ser espiritual tem de ser
pobre.” Ele nos exortou a que quebrássemos o espírito de miséria. Disse que o filho de
Deus deve ser bem-sucedido, ganhar dinheiro e avançar. Mas não para si! Jesus ensinou
o negar a si mesmo, não desperdiçar nada e cuidar dos pobres. Ele não disse que não
íamos ganhar dinheiro, mas disse que quem é rico “seja rico em dar”. Como a igreja
brasileira abençoará as pessoas se não tiver recursos? Neste ano de 2017 podemos, sim,

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pedir bênção material, mas apenas se obedecermos a Palavra de Deus.
O fundador da ADHONEP (Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno),
um fazendeiro norte-americano, era dono de muitas vacas leiteiras. Certa vez, ele foi a um
leilão para comprar um touro para que suas vacas reproduzissem com qualidade e dessem
muito leite. Se comprasse o touro errado, a produção certamente cairia. Seus concorrentes
gastavam horas na escolha dos seus touros, mas ele em quinze minutos já havia escolhido
o seu. Isso porque o Espírito Santo mostrava a ele qual touro deveria comprar. Ele
comprava e descobria depois que o touro era um ganhador de prêmios.
Se nós sentirmos a presença do Senhor conosco e a sua voz atrás de nós dizendo
o que devemos fazer ou qual direção devemos seguir, a paz de Cristo será o árbitro em
nossos corações. Isso é maravilhoso! Isso é a nossa herança! Aleluia!

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MISERICÓRDIA E PERDÃO
Francisco Vanderlinde

N o final de 2016, Paulo Manzini disse desejar que 2017 fosse uma espécie de Ano do
Jubileu – perdoar tudo, apagar tudo, começar tudo de novo. Sim! Que seja um ano de
perdão e reconciliação. Que predomine em nosso meio uma atitude reconciliadora,
conciliadora e perdoadora, pois essa é uma das melhores maneiras de se parecer com
Jesus. Nem todos têm o dom para pregar a Palavra, mas todos podem ser um perdoador
que manifesta Jesus em suas atitudes.
Testemunhar de Jesus é um grande e maravilhoso privilégio. Imagine alguém olhar
para você e imediatamente se lembrar de Jesus! A inscrição “eu perdoo” em sua testa o
denunciou. A pessoa o procura para acertar uma situação já sabendo que você o perdoará.
Será que nós podemos ir para esse nível?
E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não
desanimarmos. (Gl 6:9).
Vale a pena servir ao Senhor! Vale a pena perseverar em perseguir algo melhor e
maior nesse ano de 2017. Mas se alguém, por acaso, se cansar veja o que diz Isaías:
Mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam alto como
águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam. (Is 40:31)
Deus tem nos chamado para ocuparmos um nível mais alto e, com certeza, também
nessa atitude perdoadora.

Não seja um crítico; seja um encorajador!


Li num pequeno devocional a seguinte frase: “Não seja um crítico; seja um
encorajador!” Essa é uma boa atitude para cultivarmos nesse ano. O que você ganhou com
as críticas que fez até hoje? O que o reino de Deus tem ganho com as suas palavras ácidas
e amargas? Nem você e nem o reino de Deus ganham, antes perdem com a sua atitude
crítica que julga e condena as pessoas. Mude sua maneira de ser, seja um encorajador!
Também li que deveríamos, ao nos relacionar com as pessoas, aplicar a regra “dez
por um”. Ou seja: para cada crítica, dez elogios. Convido você a colocar isso em prática.
Encoraje a pessoa e procure nela as suas boas qualidades. Afinal, todos nós as temos,
porque somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Somos únicos! Cada um de nós
tem dons e talentos que outros não têm. Seja um encorajador desses dons peculiares que
você vê no outro.

“Quero misericórdia e não sacrifício!”


Certa vez li sobre as cinco maneiras de você demonstrar amor e uma delas é “Não
reter o perdão”. Então me veio muito forte ao coração o seguinte versículo:

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Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifícios. Porque
eu não vim chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. (Mt 9:13)
Outros versículos sobre isso:
Se vocês soubessem o que significam estas palavras: Desejo misericórdia, e não
sacrifícios, não teriam condenado inocentes. (Mt 12:7)
Pois desejo misericórdia, não sacrifícios, e conhecimento de Deus em vez de
holocaustos. (Os 6:6)
Misericórdia, e paz, e amor vos sejam multiplicados. (Jd 1:2)
As duas palavras que ficaram ecoando em meu coração foram “quero misericórdia”.
Deus quer misericórdia! Ele é misericordioso e deseja que também sejamos
misericordiosos.
A palavra hèsed (no hebraico) significa misericórdia. Alguém disse que essa palavra
aparece 365 vezes na Bíblia, uma vez para cada dia do ano; outros dizem que ela aparece
muitas outras vezes, de acordo com a conotação dessa palavra. Mas o importante é saber
que misericórdia está muito presente na Bíblia e reflete o coração do próprio Deus.
Uma das passagens mais tremendas da Bíblia está em Êxodo 34, quando Deus
prepara Moisés para se encontrar com Ele no cume do monte Sinai:
Então o Senhor desceu na nuvem, permaneceu ali com ele e proclamou o seu nome:
o Senhor. E passou diante de Moisés, proclamando: ‘Senhor, Senhor, Deus
compassivo e misericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém
o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado. Contudo, não
deixa de punir o culpado; castiga os filhos e os netos pelo pecado de seus pais, até
a terceira e a quarta gerações.” (Êx 34:5-7)
Eis a essência da identidade de Deus! Quando Jesus fala “misericórdia quero”, está
expressando isso. Que fique registrado em nossos corações: Deus quer que nós sejamos
misericordiosos!
Jesus fala nos Evangelhos:
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. (Mt 5:7)
Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. (Lc 6:36)
Em Efésios diz:
Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos
amou. (Ef 2:4)
Mas Tiago diz:
Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a
misericórdia triunfa do juízo. (Tg 2:13)
Por isso, pare de julgar, seja misericordioso, encorajador e perdoador.

Pedir perdão e perdoar vêm antes de ofertar e orar.


Pois eu lhes digo, se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e
mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus. Vocês ouviram o que

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foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a
julgamento’. Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará
sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser ao seu irmão: ‘Raca’, será levado
ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco’, corre o risco de ir para o fogo do inferno.
Portanto, se você estiver apresentando a sua oferta diante do altar e ali se lembrar
de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá
primeiro reconciliar-se com o seu irmão; depois volte e apresente a sua oferta. Entre
em acordo depressa com seu adversário que pretende levá-lo ao tribunal. Faça isso
enquanto ainda estiver com ele a caminho, pois, caso contrário, ele poderá entregá-
lo ao juiz, e o juiz ao guarda, e você poderá ser julgado na prisão. Eu lhe garanto
que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo. (Mt 5:20-26)
Marcos acrescenta:
E, quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no,
para que também o Pai celestial perdoe os seus pecados. (Mr 11:25)
Na passagem de Mateus, Deus exorta para que, se nos lembrarmos de alguém que
tem algo contra nós, devemos ir primeiro reconciliar com ele e só depois deixar nossa oferta
no altar. Se não agirmos dessa forma, Deus não aceitará nada de nós e ainda interromperá
nossa comunhão com Ele. Se a pessoa está chateada e ferida por algo que você fez, Deus
não aceitará a sua oferta. Devemos consertar a situação, sabendo que Deus é
misericordioso para também restaurar nossa comunhão com Ele. A propósito, um dos
nossos cânticos diz: “Quem já entrou no Santo dos Santos, não sabe viver em outro lugar.”
Mas o Santo dos Santos exige conserto de nossa parte para com o próximo.

Amargura e falta de perdão


Amargura e falta de perdão não combinam com a presença de Deus. Se você já
experimentou a presença de Deus, mas hoje não a experimenta, peça ao Espírito Santo
que sonde o seu coração. Quem sabe você precisa perdoar alguém ou pedir perdão? Se
esse é o seu caso conserte isso de coração, sem exigências ou justificativas, pois essas
duas atitudes machucam muito mais. Ao pedir perdão dirija-se à pessoa como quem
depende realmente da sua misericórdia e bondade para perdoá-lo. A sensibilidade, a
mansidão e a humildade cabem muito bem nessa hora de conserto e ajudam a não
aumentar a ferida.
As maiores feridas, ou pelo menos parte delas, acontecem no lar, no relacionamento
familiar, pois, quanto mais a proximidade, maior a probabilidade de ferir. Por isso, o lar é o
lugar por excelência para aprendermos a exercer o perdão. Os pais precisam ensinar aos
filhos a pedir perdão e a perdoar. A prática dos pais é, certamente, a principal lição para os
filhos. Infelizmente, muitas vezes os filhos presenciam a desonra em vez da honra dos seus
pais um para com o outro. Se isso acontecer, o melhor a ser feito é pedir perdão um cônjuge
para o outro na frente dos filhos. Assim eles aprenderão o maravilhoso caminho do perdão
e da reconciliação. É bom lembrar que pais machucam filhos, mas filhos também
machucam pais.

Consequências da amargura
Perdemos muitas coisas por deixar a amargura alojada em nosso coração, inclusive

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as bênçãos materiais. O irmão Cláudio Duarte citou um exemplo fortíssimo que ilustrará
bem esta questão:
Marcos, capítulo 6, registra o episódio que envolveu Herodias, a esposa de Herodes.
Por ocasião do aniversário do marido, a filha dela o agradou com uma dança especial. Por
causa disso, o rei jurou à moça que lhe daria o que ela pedisse, até mesmo a metade do
seu reino. Então, a moça perguntou à sua mãe o que deveria pedir. Herodias orientou a
filha para que pedisse a cabeça de João Batista. Sim! Ela jogou a metade do reino fora por
causa da amargura que cultivava no coração contra João Batista. E o que ela fez depois
com a sua cabeça? O que ela ganhou com isso? Nada! Esse é um exemplo de como nós,
estando amargurados, com raiva e com falta de perdão perdemos muitas coisas e inclusive,
como no caso de Herodias, coisas materiais. Ela poderia ter se apossado da metade do
reino, mas não quis porque deu espaço para a amargura.

Outras perdas, decorrentes da amargura:


1. Entristecemos o Espírito Santo.
Não entristeçais o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o
dia da redenção. Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia,
bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os
outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo. (Ef
4:30-32)
A amargura entristece o Espírito Santo e, pior, O espanta e expulsa do nosso
coração. Nós nos colocamos numa posição muito arrogante quando queremos que a
pessoa a quem deveríamos perdoar sofra por aquilo que nos fez.
2. Colocamo-nos no lugar de Deus
Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito:
‘Minha é a vingança; eu retribuirei’, diz o Senhor. (Rm 12:19)
A amargura e a falta de perdão nos colocam no lugar de Deus, pois queremos justiça!
Nossas desculpas são: “Crente não quer vingança, ele quer justiça”. “Crente não odeia, ele
só fica chateado, amargurado e ferido”.

Nossas más intenções


Jesus nos ensinou que o problema não são tanto os nossos atos, mas as nossas
intenções. Então, deixe a hipocrisia de achar que você não é tão pecador como outras
pessoas. O que você já desejou fazer, só Deus e você sabem – seus maus desejos e suas
más intenções. Mas é maravilhoso saber que Deus nos perdoa também dessas coisas e
não Se lembrará mais delas.
Nós somos indesculpáveis e entramos em pecado quando não queremos perdoar.
Não perdoar, reter o perdão é pecado, é ir contra Deus, porque Ele já perdoou a pessoa
em questão. É injustiça da nossa parte não perdoar. Quando queremos justiça, estamos
nos colocando no lugar de Deus. É uma grande pretensão, pois não somos Deus! Se Deus
fizesse justiça conosco, onde estaríamos agora? Então, sejamos misericordiosos!

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As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim. (Lm 3:22)

Não perdoar dá lugar ao diabo


Se vocês perdoam a alguém, eu também perdoo; e aquilo que perdoei, se é que
havia alguma coisa para perdoar, perdoei na presença de Cristo, por amor a vocês,
a fim de que Satanás não tivesse vantagem sobre nós; pois não ignoramos as suas
intenções. (2 Co 2:10,11)
Não perdoar dá lugar ao Diabo e a Palavra diz que ele vem para matar, roubar e
destruir. Quando não perdoamos, perdemos a comunhão com Deus e as nossas bênçãos
aqui na Terra. Como já falei anteriormente, não há como conciliar a falta de perdão com a
presença de Deus.
Moisés teve grandes revelações de Deus e a Bíblia diz que ele era o homem mais
manso que havia na terra. Ele intercedeu por aquele povo rebelde, desobediente e ainda
disse a Deus: “Eu te rogo, perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me do teu livro que
escreveste” (Ex 32:32). Foi a esse homem, com esse coração, que Deus Se revelou. Arão
e Miriã, seus irmãos, se rebelaram contra ele, mas ele ficou quieto, não revidou. Esse era
Moisés, um exemplo a ser seguido por nós.

O perdão liberta
Mágoa, ressentimento e falta de perdão aprisionam, mas o perdão liberta. No texto
de Mateus 5:20-26, Jesus fala sobre a prisão e o que se deve fazer para não ser preso.
Mas, em Mateus 18, capítulo em que Jesus fala sobre perdoar setenta vezes sete, ele
também diz que uma pessoa foi presa, entregue aos verdugos e atormentadores por não
perdoar. E termina dizendo: “Assim vos fará vosso Pai, se não perdoar de coração”.
Certa vez ouvi o testemunho de um rapaz que fora abusado quando ainda
adolescente. Depois de muitos anos, já convertido, ele procurou ajuda porque a lembrança
daquilo o atormentava. Na verdade, ele estava preso e sendo atormentado por aquele
pecado que ele não havia perdoado. Mas, no dia em que pediu ajuda, ele perdoou seu
ofensor e a paz voltou ao seu coração. Às vezes falamos em tom de brincadeira, mas é a
pura verdade, que a pessoa que você não perdoa te acompanha em todo tempo e lugar.
Isso é um tormento e também uma prisão. Se você tem isso em sua vida não demore em
perdoar. Em Mateus 5 Jesus exorta que o faça logo, que resolva logo a questão. Não deixe
o tempo passar, pois ele não apagará a mágoa e o ressentimento.
Ao perdoar uma pessoa olhe nos olhos dela admitindo que, de fato, foi uma coisa
errada, ruim e injusta. Diga a você mesmo: “Eu assumo isso e perdoo, porque também fui
perdoado de uma dívida muito maior. Eu posso perdoar porque Deus me dá graça para
fazê-lo”. O perdão lava o passado e nos faz renascer. Perdoar não é fácil, mas não temos
escolha. O Senhor nos ordena perdoar:
Tomem cuidado. Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-
lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser:
‘Estou arrependido’, perdoe-lhe. (Lc 17:3,4)

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Ame a Deus e ao próximo
Às vezes o perdoar não é instantâneo, mas começa na mente. Você precisa se
convencer de que todo pecado e toda ofensa pode e deve ser perdoada. O sacrifício de
Jesus foi perfeito e completo porque nos trouxe o perdão de todos os pecados. Nosso
relacionamento com Deus e com o próximo é inseparável. O maior mandamento, na
verdade, são dois: Ame a Deus e ao próximo. Não dá para separar o perdão de Deus para
mim e o meu perdão para o próximo. Se eu fui perdoado eu posso perdoar. Essa é uma
questão matemática, uma equação perfeita e que funciona.
Não busque desculpas para não perdoar. Você não precisa “sentir” nada. Tão
somente coloque-se do outro lado, porque se você fosse a pessoa a ser perdoada
certamente gostaria de receber perdão. Jesus nos ensinou uma regra áurea: “faça e
proceda com os outros da mesma maneira como gostaria que fizessem e procedessem
com você”. Você é um pecador perdoado. Glória a Deus! Mas lembre-se! Você está
rodeado de pecadores perdoados que precisam de perdão tanto quanto você. Somos todos
falhos e necessitamos de perdão. É impossível não acontecer feridas entre as pessoas e,
por isso, sem o perdão é impossível termos relacionamentos saudáveis. O perdão deve
permear nossos relacionamentos o tempo todo. Veja o que Jesus fala em Lucas:
Tomem cuidado. Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-
lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser:
‘Estou arrependido’, perdoe-lhe. (Lc 17:3,4)
Dificilmente sentiremos vontade de perdoar. O que sentimos, na verdade, é desejo
de vingança. Como dizem erradamente, “crente não tem desejo de vingança, ele tem desejo
de justiça”. Porém, a razão deve prevalecer, e não o sentimento. Perdoamos, acima de
tudo, para agradar ao Senhor. Nosso coração é enganoso e, às vezes, não queremos
perdoar simplesmente por orgulho, por nos acharmos melhores do que os outros.
Mas, se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não perdoará as ofensas de
vocês. (Mt 6:15)
Baseado no versículo acima, o não perdoar traz consequências tanto para esta vida
terrena como para a eternidade. Mas nem precisamos ir tão longe, pois o melhor a fazer é
crer e obedecer aqui e agora, lembrando-nos sempre de que se eu preciso de misericórdia
eu também devo ser misericordioso.
Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda
compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. (Cl 3:12)

O não perdoar nos adoece


Até no meio secular sabe-se que não perdoar nos traz doenças. Devemos ser
perdoadores para sermos saudáveis. Se isso funciona para as pessoas do mundo, quanto
mais para nós, cuja motivação é muito mais elevada!
Nelson Mandela foi um dos maiores exemplos de perdão, e as consequências da
sua atitude perdoadora ninguém pode calcular. Ele foi preso injustamente por vinte e oito
anos, mas, mesmo assim, optou pelo perdão. Sua opção evitou um banho de sangue na
África do Sul. Ele disse: “O ressentimento só fere a nós mesmos. Ao odiar, você entrega o
seu coração e a sua mente. Não faça isso. Quando você odeia, entrega a sua mente e
perde a razão”. Mandela não teve uma motivação bíblica, cristã, mas não podemos negar

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que foi uma ótima motivação e ele colheu os frutos disso. A África do Sul é o país mais
desenvolvido da África e Mandela fez a transição para a democracia sem banho de sangue
e sem morte porque ele escolheu perdoar. Seu exemplo influenciou a todos os que
conviviam com ele.

Desafio prático
Nós temos distribuído botons 70 x 7 que se referem a Mateus 18:21, que diz:
Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes deverei
perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?’.
Eu gostaria de fazer um desafio prático: que você usasse um desses botons e
pedisse a Deus uma oportunidade de entregá-lo para outra pessoa. Ao entregar o boton,
use a “jogadinha” de Mateus 18:21 para que ela decore a passagem bíblica e seu
significado. Pergunte-lhe: “Você tem Bíblia em casa? Então, eu vou lhe dizer onde isso está
escrito na Bíblia. Quanto é a maioridade hoje? 18 anos. E quanto era a maioridade anos
atrás? 21. Então: isso está escrito em Mateus 18:21!”
Recentemente, minha esposa e eu entramos em uma loja e fizemos uma compra.
No final perguntei à moça que nos atendia: “Você não nos deu um brinde pela compra, mas
eu vou lhe dar um presente”. E dei a ela o boton. Ela não sabia de Mateus 18:21, aliás, a
maioria das pessoas não sabe. Falamos animadamente sobre o assunto e a moça por
pouco não chorou. Ela disse: “Ontem eu tive um problema com uma pessoa que já me
machucou muitas vezes e eu estava pensando quantas vezes ainda teria de perdoá-la”. Foi
uma experiência maravilhosa, como muitas outras que já tive.
Mas, o mais importante é que você seja convencido a perdoar e a pedir perdão. Deus
nos perdoou antes mesmo que pedíssemos perdão. Jesus disse na cruz: “Pai, perdoa-os,
porque não sabem o que fazem”. Talvez muitos dos que estavam presentes naquela hora
se converteram depois, quando desceu o Espírito Santo, porque Jesus já havia intercedido
por eles na cruz. Jesus os perdoou e pediu ao Pai que os perdoasse. Estêvão também
intercedeu pelos seus algozes e Paulo se converteu depois. Grave em seu coração essas
palavras: “Eu não tenho o direito de reter o perdão, porque Deus me perdoou em Cristo
Jesus”.

Não devemos nos acostumar com a cruz


Aprendi de um pregador indiano que nós não podemos nos acostumar com o
sacrifício de Jesus na cruz, com o perdão de Deus, com aquele momento em que Jesus
derramou o seu sangue. Isso precisa sempre nos impressionar, precisa ser novo todos os
dias. O Espírito Santo pode fazer isso em nós. Se você está com dificuldades para perdoar
é provável que tenha se acostumado demais com o perdão de Deus. Portanto, você precisa
renovar em seu coração o “choque” de que o único homem inocente que pisou na terra deu
sua vida por uma pessoa tão terrível como você.
Em Apocalipse 5, a multidão cantava um cântico novo dizendo: “O Cordeiro que foi
morto”. Isso tem de ser sempre novo em nossos corações. É preciso ser renovado a cada
dia, assim como as misericórdias de Deus se renovam a cada manhã. É preciso sempre
dizer ao acordar: “Senhor, obrigado porque o senhor me chamou. Obrigado porque o
senhor deu a Sua vida e derramou o Seu sangue por mim. Como posso agradecer tão

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grande bênção, tão grande salvação? Eu estava condenado e o Senhor me perdoou e
salvou”.
Renove sempre essa gratidão em seu coração! Assim como nos alegramos com o
perdão de Deus, que possamos conceder alegria e perdão a quem precisa. Assim como o
Senhor nos lavou, renovou, recebeu, pôs um anel em nosso dedo, nos vestiu com novas
roupas, nos chamou para comermos junto e nos reconciliou pelo sangue precioso, assim
também possamos ser instrumentos de reconciliação com outros e para outros.

Perdão a si mesmo
O não perdoar a si mesmo chama-se idolatria. Deus o perdoou! Assim, quando você
não se perdoa está se colocando no lugar de Deus, e qualquer coisa que toma o lugar Dele
é idolatria. Se perdoe! Davi pecou horrivelmente, mas quando foi restaurado ele disse:
“Senhor lava-me, purifica-me e, então, eu vou ensinar aos pecadores”. Você não perde a
dignidade, porque foi perdoado e restaurado e, agora, pode seguir em frente de cabeça
erguida, sem nenhum pesar.
Pedro negou a Jesus mas foi restaurado e, depois disso, se tornou o primeiro
evangelista e recebeu as chaves do reino de Deus. Paulo foi responsável pela morte de
alguns dos primeiros cristãos, mas, mais tarde, ele disse: “Eu deixo para trás...” Deixe para
trás, deixe toda falta de perdão na cruz. Como diz o cântico de Kleber Lucas, “Vou deixar
na cruz tudo o que passou; tudo o que ficou para trás vou deixar ali”. Deixe ali você também,
em nome de Jesus!

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2017 – UM ANO PROFÉTICO
José Carlos Marion

Jerusalém, a capital eterna!


Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. Reine paz dentro de
teus muros e prosperidade nos teus palácios. Por amor dos meus irmãos e amigos,
eu peço: haja paz em ti! (Sl 122.6-9)

utra versão para esse versículo diz: “Ore pela paz de Jerusalém, que a sua vida vai
O ser próspera”. Há promessas na Bíblia que vão se cumprir em nossas vidas porque
são a Palavra de Deus para nós. Mas eu tenho orado especificamente por esse versículo
e entendi que a relação de certas prosperidades que eu tenho na minha vida tem muito a
ver com isso. A verdade é que Jerusalém ficou desabitada e sem dono durante mil e
novecentos anos e, talvez, isso tenha tirado de nós a euforia de orarmos por ela. Porém,
se você quiser experimentar prosperidade em sua vida faça o teste, ore por Jerusalém!
No quadro ilustrativo acima vemos um período de 500 anos divididos em 10 anos de
Jubileus. Segundo Levítico 25, um ano de Jubileu tem 50 anos. Na parte superior do quadro
estão destacados os fatos que se referem ao mundo em geral e na parte inferior os que se
referem a Jerusalém.

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Uma profecia sobre Jerusalém
O rabino judeu-alemão Judá Ben Samuel, de Regensburg (1140 – 1217), antes de
sua morte profetizou sobre Israel. Isso não significa que daremos crédito a ela na mesma
proporção que damos à Palavra de Deus, pois anos se passaram e essa profecia pode ter
sido adulterada. Porém, muitos fatos comprovam a mesma, o que veremos a seguir.
Ele profetizou que haveria um tempo em que os inimigos tomariam Jerusalém por
oito Jubileus, ou seja, por quatrocentos anos. Depois disso, Jerusalém ficaria um Jubileu
(cinquenta anos) como uma terra de ninguém. No décimo Jubileu, porém, Jerusalém
retornaria para os judeus e, ao final do mesmo, começaria o reinado messiânico.

Analisando algumas datas


É importante entendermos que o relógio de Deus é Israel, é Jerusalém, e continua
sendo até hoje.
1517 (1) – Jerusalém é tomada pelo Império Otomano turco que a domina por quatrocentos
anos (oito Jubileus). A profecia se torna realidade. Esse império é de origem islâmica, não
como o Estado Islâmico atual, pois, ao contrário deste, contribuiu com o progresso mundial.
Vemos, por exemplo, muitas construções de origem otomana na Europa.
1517 (2) – Simultaneamente à tomada de Jerusalém pelos otomanos, acontece a Reforma
Protestante por Lutero. Nós, em 2017, estamos há 500 anos dela e somos gratos a Deus
pelo entendimento da justificação da humanidade somente pela graça.
1900 (1) – Marca o período em que os judeus começam a falar hebraico na comunidade
que estava sendo formada em Jerusalém. Aliás, desde 1881 alguns judeus já começam a
voltar para Jerusalém. A terra ainda não lhes pertencia e frequentemente se viam
ameaçados, mas a primeira coisa que fizeram quando regressaram foi recuperar a língua
hebraica. Eles entenderam que a diáspora (dispersão do povo judeu pelo mundo) fez com
que a perdessem e, por isso, levantaram escolas e treinaram seus filhos para falarem a
língua mãe.
1900 (2) – Enquanto se começou a falar hebraico em Jerusalém, aconteceu o
derramamento do Espírito Santo nos EUA. Desde que o Espírito Santo fora derramado
sobre a Igreja Primitiva, não houve derramamento como esse dos EUA. Charles Parham
(pastor metodista) começou a orar por isso e em 1º de janeiro de 1900 veio o dom de
línguas sobre a igreja (em Topeka) (uma coisa que já não existia mais). Nessa época, uma
garotinha foi batizada pelo Espírito Santo e falou em línguas por três dias seguidos. O
movimento de Charles Parham deu origem ao movimento em Azusa, onde houve um
grande derramamento do Espírito a partir de 1906.
1917 – Os ingleses invadem Jerusalém e derrubam o Império Otomano. A partir daquele
momento ainda não tinha sido destruído no mundo o Império Otomano, mas em Jerusalém
eles não mandavam mais. Agora os ingleses passaram a mandar em Jerusalém. Na
verdade, ela ficou como uma terra de ninguém, pois não tinha nenhuma gerência ou
governo sobre si. Cumpre-se, então, a profecia? Afinal, de 1517 a 1917 são oito Jubileus!
1947/48 (1) – A ONU foi favorável à constituição do Estado de Israel. Seus membros
estavam consternados, porque na 2ª Guerra Mundial Hitler executara seis milhões de
judeus. Em 1948, nasce oficialmente uma nação em apenas um dia, cumprindo assim
Isaías 66:8, que diz: “Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisa semelhante? Pode,

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acaso, nascer uma terra num só dia? Ou nasce uma nação de uma só vez?” Mesmo depois
da criação do Estado de Israel, Jerusalém fica dividida por uma faixa que corta o coração
da cidade, separando o domínio da Jordânia (ao leste) do domínio israelense (a oeste).
Isso mudou somente após a Guerra dos Seis Dias (1967).
1947/48 (2) – Deus derrama o dom de cura, principalmente sobre os EUA. Muitos homens
de Deus se levantaram e um deles, chamado Oral Roberts (hoje, uma Universidade),
viajava por todos os EUA levando sua tenda. Ele chegava a uma cidade qualquer e dizia
para as pessoas: “Se vocês entrarem nesta tenda, participarem de um culto e não saírem
dela curados, podem chamar-me de mentiroso e dizerem que Deus não existe”. Todos
saíam de lá curados.
1964 – Houve o Concílio Vaticano II, o qual foi influenciado por David du Plessis (ministro
pentecostal sul-africano) em duas coisas: leitura da Bíblia (aos católicos leigos a leitura da
Bíblia era proibida) e a presença do Espírito Santo. Aonde fosse du Plessis, o Espírito Santo
se manifestava. Por causa disso ele ficou conhecido como o “Sr. Pentecoste”. Assim, a
Igreja Católica começou a se abrir para a possibilidade de receber os carismas (dons) do
Espírito Santo.
1967 (1) – A profecia dizia que no fim do 9º Jubileu, Jerusalém estaria de volta para os
judeus. Em 1967 todos os países árabes se levantaram contra Israel. Jerusalém ainda era
metade de Israel e metade da Jordânia (árabes); a parte histórica não havia sido dada aos
judeus e, por isso, os árabes entenderam que Jerusalém os pertencia. Aconteceu, então, a
Guerra dos Seis Dias, na qual os judeus controlaram novamente Jerusalém e a declararam
como sua capital eterna e indivisível. Foram dezenas de milhares de árabes mortos e
apenas algumas centenas de judeus. Exatamente no 7º dia depois da guerra, no sábado,
os judeus celebraram o Shabat da vitória. A partir daí, começaram a surgir e crescer grupos
judeus messiânicos (cristãos) que, atualmente, têm sido fundamentais no processo da
Unidade da Igreja com os “judeus remanescentes” (Romanos 11).
1967 (2) – Na década de 60, o Espírito Santo começou a se derramar sobre as igrejas
históricas tradicionais (Presbiteriana, Metodista, Batista etc.). Elas ainda não haviam tido a
visitação do Espírito Santo como acontecera em Azusa. Porém, faltava uma a ser visitada:
a Igreja Católica. Mas no dia 20 de janeiro de 1967 (cinquenta anos atrás), alguns católicos
e também alguns protestantes que estavam na Universidade de Duquesne (Pittsburgh,
Pensylvania, EUA), orando insistentemente, lendo Atos 2 e o livro “A Cruz e o Punhal” de
David Wilkerson, receberam o derramar do Espírito Santo. Nasceu, então, a Renovação
Carismática Católica, ou Pentecostalismo Católico, como foi inicialmente conhecida. O
derramar do Espírito sobre todas as denominações teve um significado muito importante: a
unidade da igreja. Contrariamente à Torre de Babel, quando as pessoas não se entendiam,
na igreja primitiva, em Jerusalém, o Espírito Santo foi derramado trazendo o dom de línguas
para que até os estrangeiros visitantes entendessem a mensagem (cada um a ouvia na sua
própria língua). Naquele momento, em Jerusalém, o Espírito Santo falava com o mundo
todo completando assim a obra e o propósito de Deus.
1977 – Houve em Kansas City (EUA) a maior conferência de Unidade onde, por três dias,
se reuniram líderes de muitas confissões religiosas (luteranos, presbiterianos, católicos,
anglicanos, pentecostais etc.). As mais de 50 mil pessoas presentes puderam ver
manifestações do Espírito Santo agindo em favor da Unidade do Corpo de Cristo. Devido a
barreiras humanas, não houve mais reuniões como essa nesses 40 anos. Porém, há um
grupo trabalhando para que ela retorne em outubro de 2017.

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2007 – Ano em que se iniciou o Encristus (Encontro de Cristãos na Busca de Unidade e
Santidade). Esse é um mover do Espírito Santo no Brasil a partir da comunhão de alguns
irmãos evangélicos e católicos a serviço da reconciliação dos filhos de Deus.
Concluímos, então, que o Espírito Santo foi derramado no Século XX para a Unidade
da Igreja. Veja como podemos fazer uma associação de todas essas coisas. Não dá para
entender o fim dos tempos sem essas associações. Na profecia, o rabino, que obviamente
não citou o ano em que estamos, disse que no 10º Jubileu Jerusalém estaria no controle
de Israel e, quando isso ocorresse, viria o reinado do Messias. O que é o reinado do
Messias? Não sabemos nem entendemos bem sobre ele, mas uma coisa é certa: nesse
ano em que estamos acontecerão muitas coisas. É o ano em que comemoramos:
1) 500 anos da Reforma Protestante
2) 100 anos que Jerusalém foi desocupada pelo império Otomano
3) 70 anos da criação do Estado de Israel
4) 50 anos da Guerra dos Seis Dias
5) 50 anos da Renovação Carismática Católica
6) 40 anos da maior reunião da Unidade do Corpo de Cristo (Kansas City)
7) 10 anos do ENCRISTUS
(Nota explicativa: De acordo com a profecia, o décimo Jubileu se iniciou em 1967 e
terminará em 2017 - fonte da internet).

As três árvores na Bíblia


Segundo o judeu messiânico Asher Intrater, há três árvores na Bíblia (Jz 9:8-13) com
importantes significados:
1) Videira – Representa Jesus, que dá frutos para Deus. Ele mesmo disse: “Eu sou
a videira verdadeira...” (Jo 15:1).
2) Oliveira – Representa Israel messiânico, espiritual, que vem desde Abraão,
Moisés e Davi. É a união, pela fé, dos remanescentes de Israel com as nações gentias.
3) Figueira – Representa o Estado de Israel, o Israel nacional, natural.
Um dos argumentos de que a figueira representa Israel natural é que Jesus seca a
figueira por não ter frutos (só folhas) (Mr 11:12-20; Mt 21:29); depois, ele manda arrancar
após três anos (tempo do seu ministério) uma figueira que não dava frutos (Lc 13:6-9).
Aprendei, pois, a parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e
brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas
estas coisas, sabei que está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não
passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam. (Mt 24:32-34)
Muitos pregadores dizem que a figueira é uma ilustração de Israel e do judaísmo.
Dizem, também, que Israel voltou a brotar e renovar suas folhas quando voltou a ser
novamente uma nação em 14 de maio de 1948. Em conexão a isso, surgiram diversas
interpretações de que a “geração” que viu Israel se tornar nação novamente não passaria
sem ver a volta de Jesus. Considerando que uma geração tenha 70 anos (Sl 90:10), isso
coincidiria com os anos de 2017/2018. Mas essa é uma interpretação simplista e superficial,

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pois, em função da parábola acima, entende-se que Jesus não voltará em 2017, mas que
esse ano é, na verdade, um ano profético.
Ainda lhes propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores.
Quando começam a brotar, vendo-o, sabeis, por vós mesmos, que o verão está
próximo. Assim também, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que está
próximo o reino de Deus. Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem
que tudo isto aconteça. (Lc 21:29-32)
Jesus fala nesta parábola sobre TODAS as árvores. Todas as árvores significam as
demais nações. Mateus referiu-se à figueira como sendo Israel; Lucas referiu-se a ela como
sendo Israel e todas as árvores como sendo as nações.
Concluímos então que não é só Israel, mas existem alguns sinais que nos provam
isso em outras nações. Por exemplo: li a notícia de que na Itália aconteceram 45.000
terremotos entre agosto do ano passado a janeiro deste ano. A maioria deles, claro, é
insignificante, mas são 45.000 em seis meses! Jesus disse que no final dos tempos haveria
terremotos em larga escala. Então, é preciso atentar também sobre o que Deus está falando
a cada nação!
Sobre quando Jesus voltará, temos um dado relevante na parábola acima: Jesus diz
“esta geração”, que significa algo próximo, que iria acontecer na sua própria geração, sendo
que o correto, se ele se referisse aos dias atuais, seria usar “essa geração”, que se referiria
a algo mais distante em relação ao momento que ele profetizou. Assim, ficamos em dúvida
se realmente Jesus está voltando agora. Não sabemos a hora, mas temos de ter pelo
menos alguns sinais da sua proximidade, pois somos filhos de Deus e Ele não quer que
sejamos pegos despercebidos.

Israel e Jerusalém em foco


Donald Trump, o novo presidente dos EUA, é totalmente controvertido, mas ele está
dizendo que passará a embaixada dos EUA, que está em Tel Aviv, para Jerusalém. Caso
faça isso mesmo, as nações vão se rebelar contra ele porque odeiam Israel.
Do dia 15 a 17 de janeiro de 2017, setenta nações se reuniram em Paris para mais
uma vez tratarem do destino de Israel. Tirar Jerusalém do controle de Israel foi o tema
principal desse ajuntamento. Eles não entendem que roubar de Israel a sua capital é como
tirar o seu coração. Uma resolução como essa, segundo alguns judeus messiânicos,
também afeta diretamente os cristãos, pois cada nação receberá o mesmo tratamento que
se dá a Israel. Confira o que está escrito em Joel:
Eis que, naqueles dias e naquele tempo, em que mudarei a sorte de Judá e de
Jerusalém, congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali
entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a
quem elas espalharam por entre os povos, repartindo a minha terra entre si. (Jl 3:1,2)
Mas por que o mundo odeia Israel? E por que Satanás odeia Jerusalém? No livro “O
Mistério da Oliveira”, de Johannes Fichtenbauer, lemos que uma senhora teve uma visão
(1920) do diabo conversando com um homem e dizendo que lhe daria o mundo se ele lhe
entregasse todos os judeus. Nessa época, Adolf Hitler ainda não havia se levantado como
o Führer na Alemanha nazista. Por que Satanás quer que a raça judaica desapareça?
Porque Jerusalém é o local aonde Jesus pisará na sua segunda vinda e será recebido por

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uma imensa multidão.
Encontramos no livro de Zacarias várias revelações proféticas. Veja o título do
capítulo 14: “O juízo sobre Jerusalém e seus opressores”.
Eis que vem o Dia do Senhor... (Zc 14:1)
O que é o Dia do Senhor? É a volta de Cristo à Terra!
Então, sairá o Senhor e pelejará contra essas nações, como pelejou no dia da
batalha. Naquele dia, estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está
defronte de Jerusalém para o oriente; o monte das Oliveiras será fendido pelo meio,
para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; metade do monte
se apartará para o norte, e a outra metade, para o sul. (Zc 1:3,4)
Quando Jesus subiu ao céu, ele subiu de onde? Do Monte das Oliveiras. Os
discípulos viram Jesus subindo aos céus e desaparecendo nas nuvens. Ficaram olhando
aquela cena, pasmos. E aí um anjo se manifestou e disse: “Varões, não fiquem olhando
para o céu, porque da mesma maneira que ele subiu ele vai voltar” (At 1.11). Em Jerusalém
nós temos muitas dúvidas sobre onde fica a tumba de Jesus e tantas outras coisas. Porém,
sobre o monte das Oliveiras não há dúvida: é sobre ele que Jesus voltará e pisará
exatamente no local em que antes subiu aos céus.
E mais: Jesus voltará e terá o direito de governar por mil anos na terra. É assim que
está escrito na Palavra de Deus. Ele poderia governar de tantos outros lugares, mais
exuberantes e sofisticados, mas não: ele governará de Jerusalém.
Todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém subirão de
ano em ano para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, e para celebrar a Festa dos
Tabernáculos. (Zc 14:16).
Jesus reinará em Jerusalém. Que coisa maravilhosa! Se Satanás odeia tanto
Jerusalém é porque algo muito forte acontecerá ali. A igreja, por sua vez, está distraída em
relação a Israel. Ela tem perdido o vínculo com essa cidade e com esse povo. A Palavra de
Deus diz que se alguém se rebela contra Jerusalém, está se rebelando contra a figueira,
contra Israel natural. Jesus chorou diante de Jerusalém e disse que ela seria dispersa (se
referindo ao povo de Israel). Ele disse também que só voltaria quando seu povo
confessasse: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” Aleluia! Isso é o que nós e muitos
outros cristãos estamos fazendo hoje no Brasil e em várias nações do mundo. E é também
o que muitos judeus messiânicos estão fazendo em Israel.
Quando Jesus entrou em Jerusalém (Mt 21) montado em um jumentinho as pessoas
aclamaram: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” A propósito, o texto bíblico que cita
esse episódio tem como título “A entrada triunfal em Jerusalém”. Ora, Jesus estava para
morrer numa cruz! Então, a verdadeira entrada triunfal se dará na sua segunda vinda! Mas
as pessoas gritavam: “Hosana! Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” E
forravam o caminho com suas vestes, ramos e folhas de árvores para ele poder passar.
Fizeram uma festa para o Rei que vinha montado em um jumentinho. Como será, então,
na sua segunda entrada? Num jumentinho? Não! Ele virá com poder e glória e os céus vão
se abrir! Aleluia!
Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro
e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo (...). Está vestido com
um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no

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os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos (...). Tem no seu manto e na
sua coxa um nome inscrito: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. (Ap 19:11-16)
Os cristãos e os judeus messiânicos dizem que Jesus é o cabeça da Igreja, mas ele
também é o Rei de Israel e estará voltando para ocupar o trono de Davi. Foi prometido a
Davi que do seu trono sairia um Rei eterno, que seria o cetro não apenas de Israel, mas do
mundo. É uma promessa de Deus! Então, Jesus vai voltar sobre Jerusalém! É importante
lembrarmos que, na sua segunda vinda, o primeiro lugar em que Jesus colocará os seus
pés será o Monte das Oliveiras, em Jerusalém, como nos afirmam os textos abaixo:
...foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos.
E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões
vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por
que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu
virá do modo como o vistes subir. (At 1:19-11)
Então, sairá o Senhor e pelejará contra essas nações, como pelejou no dia da
batalha. Naquele dia, estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está
defronte de Jerusalém para o oriente... (Zc 14:3,4)
Assim, o capítulo 14 de Zacarias trata especificamente da volta de Jesus e declara
que Jerusalém será o centro da adoração a ele no seu reinado de mil anos na terra.

Dois grandes sinais que faltam para a volta de Jesus


1º – O evangelho ser pregado a toda criatura na Terra.
E será pregado este evangelho do reino por todo mundo, para testemunho a todas
as nações. Então virá o fim. (Mt 24:14)
Embora hoje, através da mídia, dos missionários, da expansão da igreja, da
distribuição de Bíblias, das obras sociais pelo mundo e do evangelho estar rompendo limites
como nunca, as estatísticas mostram que mais de 5 bilhões de pessoas no planeta não
conhecem Jesus. Como isso será resolvido? Quando nós formos UM:
...a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também
sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho
transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu
neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo
conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. (Jo 17:21-
23)
Essa missão que Deus nos deu terá significado quando o Espírito Santo fizer essa
obra de unidade em nosso meio. Não uma unidade física, mas de coração, de amor. Então,
o mundo crerá que Jesus foi enviado pelo Pai para salvá-lo. Precisamos orar e pedir que
Deus nos perdoe por todo pecado de divisão que temos cometido. Nesses quinhentos anos
houve muito derramamento de sangue e milhares de divisões! Não apenas entre católicos
e evangélicos, mas também entre evangélicos e evangélicos. Lutero, por exemplo, se
rebelou contra os anabatistas que criam no batismo de adultos e houve derramamento de
sangue por causa disso. Se nós sabemos hoje mais sobre o batismo, foi a preço de muito
sangue vertido.

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Eu sinto que hoje é o momento de pedirmos perdão. A nossa geração deve orar:
“Deus, quinhentos anos de tanto derramamento de sangue, de tanto ódio. Óh, Senhor,
perdoa-nos para que a Tua igreja seja uma, para que a Tua igreja se ame, para que a Tua
igreja não tenha mais ódio um do outro, que não se faça mais críticas, que não haja mais
divisões! Isso eles fizeram desde o começo.” Isso é importantíssimo para nós hoje!
2º - Judeus messiânicos, em massa, clamando pela segunda vinda de Jesus.
Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que venhais a dizer:
Bendito o que vem em nome do Senhor! (Mt 23:39)
Os judeus messiânicos (hoje, mais de 15 mil) costumam falar isso em hebraico:
“Baruch haba b’shem Adonai!” Precisamos, como igreja, nos unir aos nossos irmãos
messiânicos e dizer: “Deus, que o Messias volte para Israel”. Porque quando ele voltar,
voltará para todos nós, judeus e gentios. Esse é o segundo acontecimento que falta para a
volta de Jesus.

2017 é um ano profético para a volta de Jesus?


Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, senão o Pai. (Mt 24:36)
Ninguém sabe quando Jesus voltará a não ser o Pai. Todavia, devemos estar atentos
aos sinais e, com diligência, vigiar e fazer a nossa parte. A profecia do rabino Judá Ben
Samuel nos inspira a pensar 2017 como um ano de Jubileu. Diante de tantas evidências
que o dia do Senhor está chegando, por que não nos dispormos a ter um ano de
restauração, de reconciliação, de devolução e compensação a quem é devido? Isso está
de acordo com o que Jesus ensina: “A quem perdoardes será perdoado; a quem o reter,
será retido” (Jo 20.23). Ao reter o perdão nós só perdemos.
O ano de Jubileu é um ano de libertar os escravos e devolver a terra ao seu primeiro
dono. Essa era uma maneira de afirmar que Deus era o dono da terra e Senhor dos
israelitas. No Velho Testamento eles tinham certas atitudes que nós precisamos ter em
nossos dias. É preciso pensar em algo mais concreto, mais forte, como, por exemplo, nos
reconciliarmos com os irmãos de outras denominações. É tempo de retribuirmos honra ao
irmão que se afastou porque nós o machucamos. No ano de Jubileu não se diz “isso é
meu”, mas “isso é nosso”. Precisamos ir atrás das pessoas! Afinal, o objetivo do Espírito
Santo continua sendo a unidade da igreja. Deus quer curar não apenas as dissensões
recentes causadas por razões pessoais ou secundárias, mas também as cisões profundas
e milenares que separam os cristãos verdadeiros.
Esse ano de 2017 não seria um bom tempo para buscar a unidade da igreja com os
judeus messiânicos? Orar intensamente pela paz de Jerusalém (Sl 122:6) e declarar todos
os dias: “Bendito o que vem em nome do Senhor”? Há cristãos que não gostam dos judeus,
mas eles se esquecem que Jesus era judeu, sua mãe era judia, os apóstolos eram judeus;
esquecem que nós, cristãos, recebemos tudo deles. Eles nos outorgaram a Palavra de
Deus, tanto o Velho como o Novo Testamento (com exceção de Lucas, todos os escritores
do Novo Testamento são judeus). Que nesse ano possamos aprender a ser solidários e a
devolver a dignidade para o outro! Que possamos ter essas reconquistas como povo de
Deus porque, ao voltar, Jesus reivindicará de nós esse espírito.

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Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das
sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos. Então, no mês sétimo, aos
dez do mês, farás passar a trombeta vibrante; no Dia da Expiação, fareis passar a
trombeta por toda a vossa terra. (Lv 25:8,9)
No ano de Jubileu se tocava a trombeta, passando por todo Israel, como que
clamando: “Apressa-te Israel, pois esse é o ano de Jubileu; ano diferente dos outros anos,
pois é o ano transformador para as nossas vidas”.

Uma palavra para a nossa Congregação em Jundiaí:


Em oração me veio uma palavra: tocar sete vezes o shofar. Esse será o nosso sinal;
vamos tocá-lo sete vezes. Na minha oração veio-me forte ao coração que ao tocá-lo pela
sétima vez as muralhas cairão. Toda pendência, toda dificuldade e todo problema cairá.
Então não se distraia! Pense em Israel e naqueles homens tocando a trombeta para avisar
sobre o ano de Jubileu. Tome posse desse ano de 2017, o nosso ano de Jubileu. Louve e
adore ao Senhor nesse ano! Aleluia! Amém!

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O PRINCÍPIO ATIVO DA VIDA DA IGREJA
Paulo Manzini

P rincípio ativo é o elemento que, misturado ao excipiente de um medicamento, faz com


que o mesmo produza o efeito desejado. É o verdadeiro remédio, aquilo que realmente
age na enfermidade. O princípio ativo da vida da igreja é a comunhão no Espírito Santo.
Quando dizemos que vamos “dar glória a Deus” precisamos entender João 17, onde
Jesus diz que a verdadeira glória de Deus é conseguir com que o Espírito Santo nos torne
abertos e sensíveis a Ele. Em outras palavras, nada pode ser “inventado” na igreja: não
podemos ter comunhão inventada, adoração inventada etc. Tudo o que acontece na igreja
só pode acontecer pelo Espírito Santo, e Esse nos foi dado para realizar as coisas que
Deus quer realizar em nosso meio.
Quando recebemos o Senhor Jesus, recebemos o “pacote apostólico” completo: o
arrependimento, a fé e o Espírito Santo (que já estava trabalhando fora de nós, nos
impulsionando a sentirmos a necessidade de Jesus), para que as coisas aconteçam em
nós de dentro para fora. Assim, temos o Espírito não apenas por dentro, mas também por
fora, como uma roupa que nos veste, e a igreja depende Dele para realizar todas as suas
obras na Terra.
A nossa alma é riquíssima em inventar coisas parecidas com as do Espírito Santo.
Mas o fato é que Deus quer nos levar nesses dias a agir somente pelo Espírito que nos foi
dado. Todos quantos recebemos a Cristo somos individualmente templos do Espírito e é
por meio Dele que a verdadeira vida de Deus nasce em nós e nos torna dinâmicos no
sentido de nos movermos individualmente. Só que esse mesmo Espírito nos torna
“permeáveis”, “misturáveis”, “esponjosos”, porque quando encontramos outra pessoa que
também O recebeu, tornamo-nos atraídos por ela independentemente de qualquer coisa,
pois é o mesmo Espírito que habita nela e em nós.
O homem natural (que não tem o Espírito) pode ter amizades, mas não é permeável,
misturável e, sim, isolado ou trancado em si mesmo. Isso é o início do inferno: não termos
a comunicação que fomos criados para ter, a comunicação no Espírito. O homem natural
pode fazer caridade, pode demonstrar afetos, pode se apaixonar, mas no fundo é egoísta
até o limite máximo da sua possibilidade. Porém, quando ele recebe o Espírito Santo quer
se misturar, pois Ele é o Espírito da comunhão e Jesus diz que essa comunhão é glória
para o Pai:
E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, aquele que tu enviaste. Eu te glorifiquei na terra, completando a obra
que me deste para fazer. (Jo 17.3,4)
Jesus glorificou o Pai fazendo a vontade Dele. Assim, nossas glórias ao Pai também
devem ter como fundamento o espírito de obediência, de fazer a vontade de Deus.
Agora, pois, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha
contigo antes que o mundo existisse. (Jo 17.5)

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A glória que Jesus tinha com o Pai antes que o mundo existisse era a “perfeita
unidade”. Isso é melhor explicado por ele logo adiante:
E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão
de crer em mim; (Jo 17.20)
Jesus estava orando por aqueles que estavam ao seu redor naquele exato momento
do tempo, mas também por todos aqueles que o conheceriam a partir de então, ou seja,
por nós hoje, para que tivéssemos a mesma glória que ele tinha da parte do Pai.
...para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que
também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. (Jo
17.21)
Pessoas impermeáveis, que não têm o Espírito Santo, nunca serão “um”. Serão
apenas um amontado de gente: clubes, grupos etc., mas nunca conseguirão se tornar “um”.
Isso só é possível quando temos o mesmo Espírito Santo. Deus, quando nos enche do Seu
Espírito, nos mistura, nos torna “um”, algo que era algo impossível antes de conhecê-Lo.
Tornamo-nos, então, pessoas misturáveis, permeáveis, esponjas uns dos outros,
desejosos de viver ligados.
Jesus pede para que “eles sejam um em nós”. Isso é muito forte! Ele poderia pedir
apenas que fossemos um entre nós, mas nessa oração ele nos chama para dentro da
Trindade. Quando cremos somos incluídos nessa Trindade, “misturados” com Deus, Jesus
e o Espírito Santo.
E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um;
eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o
mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste
a mim. (Jo 17.22,23)
Durante séculos essa palavra não pareceu ser muito prática, mas agora chegou o
tempo dela se revelar e se tornar prática no meio da igreja. Homens e mulheres
transformados pela fé em Jesus Cristo, cheios do Espírito Santo, ligados uns aos outros da
mesma forma que Deus é ligado a Jesus, misturados entre si, com Deus e com Jesus no
ambiente do Espírito. Esse ambiente está se tornando cada vez mais intenso, então, não
fique assustado se você começar a sentir seu amor pelos irmãos intensificar, se sentir o
desejo de se misturar a eles de forma plena, se alianças começarem a surgir na sua vida.
Nossa preocupação deve ser que a Palavra de Deus se torne vida em nós e entre
nós. O plano do Senhor não é que Seus filhos apenas falem coisas bonitas. A “estética” do
conhecimento é algo fascinante para mente humana racional. As palavras bíblicas são
maravilhosas, mas elas não são apenas para serem esteticamente confortáveis ou
inspiradoras. Essas palavras sobre sermos um, sermos permeáveis, termos ligações
profundas, laços de comunhão com Deus e uns com os outros devem se tornar práticas em
nossas vidas.
Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa
que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois onde se
acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. (Mt 18.19,20)
Essa palavra é prática! Ela encarna a oração de Jesus em João 17. Duas ou três
pessoas reunidas em nome de Jesus, cheias do Espírito Santo, ligadas à eternidade,
firmadas na Palavra, concordando umas com as outras poderão pedir qualquer coisa e

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Jesus fará. Muitos já têm experimentado isso na prática. Às vezes, em família ou em um
grupo de irmãos, quando há concordância as coisas começam a acontecer. Mas é preciso
entender que só conseguiremos concordar de verdade se for em um ambiente permeado
pelo Espírito Santo. É Ele que nos mistura e nos faz ter o mesmo pensamento e sentimento.
Isso é um milagre, e Deus quer que esse milagre aconteça todos os dias e todas as horas
em nossas vidas e na vida da igreja.
Recentemente concordamos em levantar uma oferta para uma pequena reforma em
nosso salão de reuniões. Eu não tenho dúvida alguma que já conseguimos, pois falamos
“sim” juntos; o Espírito Santo nos moveu unanimemente a isso para nos treinar nessa
prática. O dinheiro em si não é nada, mas isso é um treino para aquilo que Deus quer que
façamos, para a missão que Ele tem nos chamado. Deus não quer apenas que tenhamos
prosperidade, pois isso Ele vai nos dar, mas o que Ele quer é que aprendamos a nos
misturar, a concordar uns com os outros – algo precioso, poderoso e raro em nossos dias.
A nossa alma, no entanto, tende a pensar da seguinte forma: “Eu vou me reunir com
alguns irmãos, vamos concordar em algumas coisas e Deus será obrigado a nos atender!”
Não! As coisas só podem acontecer se começarem no Espírito e pelo Espírito. Tenho uma
alegoria sobre isso: se você pegar um violão afinado com um piano, colocá-lo em cima do
mesmo e teclar o “mi” no piano, o som começará a reverberar e fazer a corda do violão,
que nem foi tocada, fazer som – isso se chama reverberação. Então, se dois ou três irmãos
estiverem em comunhão com Deus, concordando entre si, e um deles falar algo pelo
Espírito, os corações dos demais começarão a reverberar, a vibrar na mesma frequência
da dele. E, na medida em que essa frequência toma conta de todos, tudo o que conversam
acontece no céu e desce para a Terra.
O que Deus tem para nós são coisas poderosas! Não são teorias ou palavras
esteticamente bonitas que apenas agradam a alma, mas são coisas práticas. Até uma
criança, se falar algo pelo Espírito, isso irá repercutir, reverberar no coração de outros e
Deus vai realizar, pois todos estarão no mesmo “som”, na mesma frequência, trazendo paz
e confirmação do Espírito.
Durante muito tempo tivemos em nossa casa uma mesa onde a família se reunia e
conversávamos muitas coisas. Ali Deus falou muitas vezes conosco – coisas sérias,
mudanças graves, difíceis de serem feitas. Quando sentimos paz juntos nem precisamos
orar, pois Deus já está fazendo e as coisas estão chegando do céu para a terra. Há muitas
coisas boas que Deus já preparou nos céus para que andássemos nelas aqui na terra (Ef
2.10). Ou seja, há coisas no céu que apenas estão esperando que concordemos com
alguém na Terra para que possam acontecer.
A igreja é o céu na terra, é a porta do céu! Quando concordamos com a Palavra,
quando sentimos e concordamos unanimemente com as coisas que Deus está falando
conosco, isso já está acontecendo, ou seja, o “sim” coletivo traz à realidade aquilo que era
apenas teoria. Alguns pensam que precisam fazer “força” para Deus operar mudanças, mas
não é assim; basta conversarmos com aqueles que nos são próximos, concordarmos juntos
no Espírito e a reverberação do Espírito tomará conta dos nossos corações, a alegria do
céu nos encherá e o que pedimos acontecerá.
Concordar é algo que está previsto por Deus:
Portanto, se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se
alguma comunhão do Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões,

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completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo
amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa. (Fp 2.1,2)
Isso é a vida do Espírito se movendo em nosso meio! Nesses dias veremos um novo
afeto nascendo em nossos corações e aumentando a compaixão. Todas as pessoas salvas
por Jesus, transformadas por Deus, cheias do Espírito Santo têm a possibilidade de ter o
mesmo amor, o mesmo ânimo, pensar as mesmas coisas, ter ressonância entre elas.
Quando pensamos as mesmas coisas já está acontecendo um milagre.
Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no
falar, e que não haja dissensões entre vós; antes sejais unidos no mesmo
pensamento e no mesmo parecer. (1 Co 1.10)
A Bíblia é repleta de recomendações e exortações para que tenhamos uma
repercussão horizontal daquilo que Deus fez em nós de maneira individual. Quando nós
entramos pela porta, que é Jesus, entramos sozinhos e “empurrados” pelo Espírito Santo,
mas, depois, fomos mergulhados no Corpo onde a comunhão do Espírito permeia.
Quero fazer uma exortação: precisamos desenvolver em família um exercício de
concordar. Quando um homem e uma mulher se casam eles recebem uma missão de Deus.
Essa família tem um caminho a ser trilhado, uma obra de Deus a ser estabelecida. No
entanto, ficamos pensando em coisas muito espirituais e Deus quer mostrar a Sua glória
em nós à medida que exercitamos a comunhão do Espírito em torno da mesa: Onde vamos
morar? Onde vamos trabalhar? Com que irmãos nos reuniremos? Quais profissões nossos
filhos devem escolher? Quais viagens faremos? Como usaremos as próximas férias? Como
usaremos determinado dinheiro?
Todas essas coisas só serão respondidas na comunhão uns com os outros na
família. São coisas aparentemente naturais, mas Deus quer que as tenhamos em
abundância, sem miséria. Nós não temos a prática do evangelho da prosperidade – dar
para ficar rico – mas caímos para o outro extremo: não falar sobre esse assunto! Mas o fato
é que Deus tem e quer nos dar muitas coisas. Deve haver, em primeiro lugar, comunhão
em casa: marido e esposa, pais e filhos. Se não estamos tendo comunhão, sonhando
juntos, conversando coisas para o futuro, então há algo enroscado. Existe a necessidade
de deixarmos que o Espírito nos torne permeáveis em casa.
Abra o seu coração, tenha dúvidas, fique inseguro. Às vezes o marido tem certeza
total do que deve ser feito e a esposa não tem nenhum espaço para interferir; ele é alguém
impermeável, que não precisa da esposa e do Espírito Santo. Os homens têm essa
tendência a ser impermeáveis. Ouvimos recentemente uma palestra de um psicólogo
dizendo que os homens falam: “Eu sei, eu posso, eu consigo, não preciso de ninguém”.
Ora, quem já sabe tudo e não tem dúvida alguma já está pronto para morrer! Maridos
precisam ter dúvidas, precisam perguntar coisas para suas esposas e filhos.
Lembro-me que, certa vez, Deus me inquietou para mudar de profissão. Estava com
meus filhos adolescentes e sentindo um impulso para ir para outra profissão da qual não
sabia nada. Então reuni minha família, abri o coração e disse: “Estou inseguro, estou com
medo dessa mudança e preciso ouvir suas opiniões!” Eles me disseram: “Vá! Nós estamos
com você aonde quiser ir!” E Deus nos abençoou poderosamente naquela decisão. Foi algo
divino e os milagres aconteceram porque tivemos comunhão. Deus falou e os céus se
abriram. Da mesma forma, Ele quer que todos nós experimentemos essas coisas, primeiro
em casa e depois com o Seu Corpo.

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Por fim, Deus nos tem dado companheiros de jornada. É impossível ter
relacionamentos intensos e genuínos com muita gente, mas é possível e necessário tê-los
com alguns poucos com quem nos misturamos de verdade, com quem sejamos
genuinamente transparentes e permeáveis. Talvez sejam apenas dois ou três, mas estes
serão indispensáveis em nossas vidas.
Deus quer que sejamos sensíveis às alianças que Ele tem nos dado na Terra, de
forma que gozemos aqui de maneira prática e palpável da mesma comunhão que existe no
céu entre Ele, o Filho e o Espírito. Mas, para isso, precisamos ter um coração de aliança.
Às vezes, por qualquer discordância, rompemos relacionamentos. A Bíblia diz que nos
últimos dias os homens serão amantes de si mesmos e infiéis às suas alianças (2 Tm 3.1-
5; Rm 1.31). No entanto, eu quero declarar que a igreja está caminhando na contramão do
mundo! Os cristãos estão aprendendo pelo Espírito a reconhecerem aqueles que Deus lhes
deu para andar juntos, ter comunhão e aliança. Deus nos deu algumas pessoas, mas, em
contrapartida, Ele também NOS deu a elas. São presentes que Ele nos concedeu aqui na
Terra e, por isso, devemos nos tornar hábeis para identificá-las.
Assim, nesse ambiente de comunhão iremos discernir o Corpo – entender que
somos ligados a algumas pessoas da mesma forma que o braço é ligado à mão e, então,
teremos zelo e temor com as nossas ligações ou alianças. Iremos aproveitar esse recurso
(o mesmo que Jesus utilizou com o Pai) para termos glória, para recebermos da graça do
Pai e do Filho na nossa comunhão e, em nome Dele, trazermos as coisas do céu para a
Terra. São essas coisas que farão o mundo enxergar que a nossa vida não é simplesmente
uma doutrina, mas uma prática que transforma pessoas e ambientes. São os
relacionamentos que trazem as coisas do céu por meio da comunhão do “dois ou três”.
Quando tomarmos a Ceia, a primeira coisa que devemos fazer é discernir o Corpo
de Cristo (1 Co 11.29), é entender que Deus nos deu pessoas para vivermos em comunhão.
Se você está isolado ou sozinho, se tem certeza de tudo, arrependa-se dessa atitude! Peça
para o Senhor lhe tirar essa certeza, pois, quando você tem dúvidas, outros irmãos terão
espaço em sua vida. Se você já tem todas as certezas não precisa de ninguém! Por isso
precisamos ter incertezas, inseguranças e necessidade dos demais. Isso é discernir o
Corpo. Temos muitas falhas, mas também temos quem nos supre, ajude, corrija e complete,
pois são irmãos diferentes de nós.
A unidade na diversidade é o milagre que Deus está querendo realizar na igreja
nesses dias. Unidade no Espírito, unidade de pensamento, unidade de sentimento: falar a
mesma coisa, pensar a mesma coisa, ter o mesmo ânimo, ter o mesmo amor para que o
Espírito possa, enfim, varrer a Terra com as coisas do céu. Amém!

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PERSEVERANDO NO PARTIR DO PÃO
Jamê Nobre

D eus está nos chamando para algo muito grande. Não me refiro somente ao
crescimento numérico da congregação, mas em conhecermos mais ao Senhor, sermos
mais obedientes a Ele, mais comprometidos com a Sua Palavra e Pessoa. Eu quero fazer
parte desses que, como arautos, estão anunciando esse caminho para a nossa
congregação.
No mês de dezembro, o irmão Abnério trouxe-nos uma palavra citando o texto de
Atos 2.42 e chamando os quatro pontos ali descritos de “pilares” da nossa congregação:
“...e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações”. Então, nos dispusemos a ouvir a Deus e falar da parte Dele para a igreja sobre
esse tema.
Tivemos muitos antepassados que nos legaram um caminho e uma palavra e, por
causa desse legado, também precisamos ser fiéis para passar adiante aquilo que Deus tem
nos dado, como diz o Salmos 78:
Escutai o meu ensino, povo meu; inclinai os vossos ouvidos às palavras da minha
boca. Abrirei a minha boca numa parábola; proporei enigmas da antiguidade, coisas
que temos ouvido e sabido, e que nossos pais nos têm contado. Não os
encobriremos aos seus filhos, cantaremos às gerações vindouras os louvores do
Senhor, assim como a sua força e as maravilhas que tem feito. Porque ele
estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, as quais coisas
ordenou aos nossos pais que as ensinassem a seus filhos; para que as soubesse a
geração vindoura, os filhos que houvesse de nascer, os quais se levantassem e as
contassem a seus filhos, a fim de que pusessem em Deus a sua esperança, e não
se esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos; e que
não fossem como seus pais, geração contumaz e rebelde, geração de coração
instável, cujo espírito não foi fiel para com Deus. (vs. 1-8)
Tanto Moisés quanto Paulo, ao iniciar seus ministérios, fizeram perguntas ao
Senhor. Essas perguntas tinham a mesma essência e diziam respeito a quem Deus era:
“Quem foi que me enviou?” e “Quem és Tu, Senhor?”. Nas duas vezes o Senhor responde
falando do Seu caráter e da Sua natureza.
Para Moisés, Deus lhe dá uma resposta aparentemente simples e superficial: “EU
SOU me enviou a vós” (Ex 3.14). Assim, ele segue o seu ministério em cima de uma
identidade do Deus que É DEUS, do Deus Todo-Poderoso. Para Paulo, Deus lhe responde:
“Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (At 9.5). Baseados nessas duas respostas, que na
verdade são uma só, eles partem para fazer a obra de Deus, para realizar o ministério para
o qual Ele os havia chamado.
Meu propósito nessa palavra é tentar colocar uma base, uma identidade, um rumo
ou caminhada para as nossas vidas bem dentro do que Jeremias fala:

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Põe-te marcos, faze postes que te guiem; dirige a tua atenção à estrada, ao caminho
pelo qual foste; regressa, ó virgem de Israel, regressa a estas tuas cidades. (Jr 31.21)
Ou seja, o Senhor nos manda fincar postes e colocar marcos nas nossas vidas. São
marcos laterais, que não nos deixam desviar, mas também marcos de distâncias que dizem
o quanto já caminhamos e quanto falta para chegar, para que em tempo algum andemos à
deriva, pois precisamos de rumos.
O texto que temos tomado por base, Atos 2.42, coloca quatro pilares sobre os quais
devemos embasar nossas vidas: (1) a doutrina dos apóstolos, (2) a comunhão, (3) o partir
do pão e (4) as orações. Mas eu chamo a atenção para a palavra “perseverar”, que deve
ser uma característica de todo aquele que segue a Deus. No entanto, não é uma
perseverança qualquer, pois, estudando as Escrituras, vemos que muitos foram
perseverantes em fazer o mal; o fizeram com “capricho”, como se fosse seu ministério, seu
chamado. Assim, não basta perseverar, mas temos de saber “em que” e “onde” perseverar.
Sabemos que a segunda carta de Lucas a Teófilo (o livro de Atos) não é uma carta
doutrinária, mas ela nos dá dicas de como devemos andar tendo por modelo os apóstolos
e discípulos de Jesus – como eles se comportavam, agiam, caminhavam. Assim, os
acontecimentos do livro de Atos são postes e marcos que podemos colocar em nossas
vidas. Portanto, podemos usar esse texto para servir de postes e marcos para nós hoje.
O que significa a palavra “perseverar”? O Salmos 78.8, acima, fala de uma geração
de coração inconstante. É fato que somos um povo de muitas iniciativas: com boas
intenções estabelecemos alvos e projetos, prometemos fazer muitas coisas, mas,
infelizmente, poucos conseguem terminar o que começam. Recentemente começamos um
projeto de leitura da Bíblia em 10 meses. Você pode ler a Bíblia como quiser, mas a ler com
disciplina é bom para o seu caráter.
Ouvi recentemente uma professora dizer que para acontecer uma mudança de
hábitos é necessário fazer o que determinamos por, no mínimo, 21 dias. Disse que esse
tempo é um marco que faz com que a nossa memória e coração vejam isso como algo
necessário e, quando não o fizermos, sentiremos falta. São 21 dias lendo a Bíblia ou
fazendo qualquer outra coisa a que nos dispomos para poder tirar um hábito velho e criar
um novo.
Tiago diz que se alguém pede algo a Deus, mas supõe que não irá receber, tem um
ânimo dobre e é inconstante em seus caminhos (1.6-8). No capítulo 5.10,11 ele diz:
“Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram
em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes
ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é
cheio de terna misericórdia e compassivo.”
Uma das características do perseverante é a paciência. No entanto, vivemos no
século da impaciência. Achamos que as coisas com Deus são na base do “pedir e já
receber”, mas não é assim. Deus trabalha com o nosso caráter aparentemente ‘atrasando’
a resposta de algumas orações, mas Ele não atrasa. Embora parece tardio, Ele responde
depressa. A única coisa que nos ensina a sermos pacientes é a tribulação, então, se
estamos orando por paciência vamos acolher as tribulações, pois elas são as respostas de
Deus.
Quando Davi recebeu de Deus as promessas sobre seu filho Salomão, o Senhor lhe

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disse:
Estabelecerei o seu reino para sempre, se perseverar ele em cumprir os meus
mandamentos e os meus juízos, como até ao dia de hoje. (1 Cr 28.7)
O perseverar sempre está conectado a alguma coisa e, no caso acima, perseverar
nos mandamentos e nos juízos do Senhor.
Sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até
ao fim, esse será salvo. (Mt 10.22)
Nesse caso é perseverar nos caminhos e na Palavra do Senhor Jesus.
Despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos piedosos seguiram Paulo
e Barnabé, e estes, falando-lhes, os persuadiam a perseverar na graça de Deus. (At
13.43)
Perseverar significa insistir, permanecer, manter-se com fidelidade, ser constante,
ser diligente em tudo o que aprende, ter um alvo e nele fixar os olhos. Os discípulos
“insistiam” na doutrina dos apóstolos, ou seja, eles não queriam uma outra doutrina, não
desejavam outro ensinamento senão aquele que os apóstolos ensinavam.
Eles também “insistiam” na comunhão. Eu estava em uma cidade e, conversando
com um dos líderes da igreja, ele contou-me que tinha uma rixa com outro líder. Sugeri que
ele fosse visitar aquele irmão. Quando lá voltei, perguntei-lhe se ele havia feito isso, ao que
me respondeu: “Eu fui, mas ele não me recebeu. Agora é com Deus!” Ora, será que isso é
insistir na comunhão? Com certeza não!
E se, ao invés de “insistir”, usarmos a frase “manter fiel”? Manter-se fiel na doutrina
dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações! Eu entendo que perseverança
e fidelidade são extremamente próximas. Quando Samuel estava falando com o povo sobre
o erro que haviam cometido ao escolher Saul como rei, o Senhor lhes disse:
Tão-somente, pois, temei ao Senhor e servi-o fielmente de todo o vosso coração;
pois vede quão grandiosas coisas vos fez. Se, porém, perseverardes em fazer o mal,
perecereis, tanto vós como o vosso rei. (1 Sm 12.24,25)
Quanto tempo durou a perseverança de Noé? Aproximadamente 100 anos! Ora,
construir uma Arca durante 100 anos em cima de uma palavra de Deus a respeito de
alguma coisa que ele não conhecia (chuva) parece loucura! Normalmente queremos ser
perseverantes apenas em cima de coisas que vemos, mas o chamado das Escrituras é
para perseverarmos nas coisas que não vemos, pois a “fé é a certeza de coisas que se
esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11.1). Precisamos ser fiéis e
perseverantes em cima de algo que Deus falou, ainda que não a vejamos.
O capítulo 11 aos Hebreus fala sobre isso: pessoas que perseveraram, que viram
uma cidade, uma nova terra pela fé. O verso 13 diz: “Todos estes morreram na fé, sem ter
obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra.” O capítulo também cita Noé: um homem que via
toda uma geração morrendo ao seu lado mas permanecia fiel. Quanto tempo dura a nossa
perseverança? O que precisamos para ser perseverantes? O que é que mata a nossa
perseverança? “Ah, eu orei 2 semanas e não aconteceu, então acho que não é de Deus”.
Nós espiritualizamos a preguiça e a impaciência!

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Muitos anos atrás eu cheguei em Belém (PA) e meu pai me havia pedido que eu
visitasse uma pessoa que era seu amigo de juventude. Ao encontrá-lo, disse: “Meu pai
pediu que eu lhe agradecesse pelo tanto que o senhor orou por ele!” Ele respondeu: “Eu
orei 18 anos pela conversão do seu pai!” Isso é uma perseverança baseada no amor – foi
o amor que o levou a perseverar nessa oração por meu pai. É por isso que a perseverança
não caminha sozinha, mas está sempre conectada a alguma coisa.
Calebe é outro modelo de perseverança. Aos 40 anos ele ouviu uma promessa de
Deus pela boca de Moisés. Continuou caminhando e lutando por mais 45 anos e, aos 85,
chegou para Josué e repetiu-lhe palavra por palavra aquilo que havia ouvido naquela
ocasião:
Chegaram os filhos de Judá a Josué em Gilgal; e Calebe, filho de Jefoné, o
quenezeu, lhe disse: Tu sabes o que o SENHOR falou a Moisés, homem de Deus,
em Cades-Barnéia, a respeito de mim e de ti. Tinha eu quarenta anos quando
Moisés, servo do SENHOR, me enviou de Cades-Barnéia para espiar a terra; e eu
lhe relatei como sentia no coração. Mas meus irmãos que subiram comigo
desesperaram o povo; eu, porém, perseverei em seguir o SENHOR, meu Deus.
Então, Moisés, naquele dia, jurou, dizendo: Certamente, a terra em que puseste o
pé será tua e de teus filhos, em herança perpetuamente, pois perseveraste em seguir
o SENHOR, meu Deus. Eis, agora, o SENHOR me conservou em vida, como
prometeu; quarenta e cinco anos há desde que o SENHOR falou esta palavra a
Moisés, andando Israel ainda no deserto; e, já agora, sou de oitenta e cinco anos.
Estou forte ainda hoje como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força
naquele dia, tal ainda agora para o combate, tanto para sair a ele como para voltar.
Agora, pois, dá-me este monte de que o SENHOR falou naquele dia, pois, naquele
dia, ouviste que lá estavam os anaquins e grandes e fortes cidades; o SENHOR,
porventura, será comigo, para os desapossar, como prometeu. Josué o abençoou e
deu a Calebe, filho de Jefoné, Hebrom em herança. (Js 14.6-13)
Jesus disse que “é na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma” (Lc 21.19).
Ora, aos 85 anos, ao invés de estar pensando em sua morte, Calebe estava recomeçando
sua vida com disposição de derrotar os inimigos e tomar posse da terra que Deus lhe havia
prometido.
Anos atrás eu encontrei um “Calebe”. Eu estava em uma cidade nos Andes, a 3.800
metros de altitude, e lá havia um missionário sueco de 82 anos. Ele estava preparando um
acampamento muito precário, mas fazendo paredes, bancos, camas etc. Era viúvo e havia
se casado há pouco tempo com uma mulher de aproximadamente 50 anos, tendo dirigido
por quase 1000 quilômetros ao norte do Peru em lua de mel. O nome que eu dei a ele foi
Calebe!
Abraão é outro exemplo de perseverança. Um fato que me chama a atenção está
em Gênesis 15, quando Deus começa a conversar com ele sobre seu futuro e
descendência, sendo que ele ainda não tinha filhos. Mas a Palavra diz que “ele creu no
Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (v.6). Como forma de aliança com Deus, ele
matou alguns animais para oferecer em sacrifício ao Senhor e, durante todo o dia, aves de
rapina desciam para comer os cadáveres, mas ele com seu cajado as espantava (vs.9-11).
Quando fazemos promessas ao Senhor as aves de rapina tentam comê-las – aves de
incredulidade, aves que dizem que devemos ver para crer. Por isso precisamos ter um
cajado, que é a palavra da fé, para espantá-las. Nós cremos e por isso veremos! Isso é

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perseverança!
Ninguém, em todas as áreas das atividades humanas, venceu sem perseverança.
Os cientistas, nas descobertas da área da saúde, lutaram e foram perseverantes. Os
grandes inventores e descobridores também. A história de Cristóvão Colombo é diferente
da que comumente ouvimos. Ele era um homem cheio do Espírito Santo e Deus lhe revelou
que havia um povo do outro lado do mar para quem ele deveria pregar o evangelho; então
ele foi. Ainda que todas as coisas lhe fossem contrárias ele permaneceu firme. Chegou um
determinado momento em que os marinheiros queriam matá-lo, jogá-lo no mar. Então ele
orou ao Senhor e pediu a eles que lhe dessem mais três dias. Ora, não havia satélite, GPS,
referência humana alguma que justificasse esses dias de prazo. Mas ao terceiro dia ele viu
a terra! Assim, em todas as áreas precisamos de perseverança!
Mas perseverar em que, de acordo com o texto que estamos vendo? Primeiro, na
doutrina dos apóstolos! O que é essa doutrina? Não pense em um grande compêndio
teológico, pois é algo muito mais simples do que isso. João descreveu o que é essa
doutrina:
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos
próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao
Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos
testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi
manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para
que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com
o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. (1 Jo 1.1-3)
Ou seja, a doutrina dos apóstolos está relacionada tão somente à pessoa do Senhor
Jesus Cristo. Eles não anunciavam uma doutrina, mas uma pessoa: Jesus! Se analisarmos
os sermões do livro de Atos veremos como eles colocavam o Senhor Jesus como o ponto
de referência. Doutrinas e teologias apenas nos dividem, mas Jesus nos junta. É ele quem
devemos anunciar.
Devemos também perseverar na comunhão. Comunhão é a capacidade de tornar
comum a outros um bem que é meu, é tomar a dor dos outros e fazê-la comum em minha
vida. Ter comunhão na dor, na aflição, na luta, nas privações, nas provações e também na
alegria e no gozo. Devemos insistir nessas coisas!
Terceiro, perseverar no partir do pão. O texto não diz que eles perseveravam em
“comer o pão”, mas em “partir o pão”. A perseverança deles não estava no receber, mas
no dar, no repartir. Eles se doavam e insistiam nisso todos os dias. O que o mundo ensina
é que temos de cuidar de nós mesmos e, SE der tempo, pensar nos outros. Mas onde fica
o mandamento do Senhor de “chorar com os que choram e alegrar com os que se alegram”
(Rm 12.15)?
Vivemos em um século onde a saudação aos outros ficou extremamente curta:
“Como está?”, com a esperança de que a pessoa não responda, pois, se o fizer, ficaremos
comprometidos com ela. Então é melhor dizer “oi”, “tchau”, virar as costas e ir embora. Será
que não deveríamos aprender a dizer: “Meu irmão, está tudo bem com você?”. Precisamos
aprender a ouvir nossos irmãos, fazer deles nossos ouvidos e corações. Comunhão não é
participar de uma reunião, mas participar da vida das pessoas; insistir na comunhão, no
partir do pão, no dar o que temos e até o que não temos.

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Em Mateus 14, quando Jesus estava com uma grande multidão, os discípulos lhe
disseram: “O lugar é deserto, e vai adiantada a hora; despede, pois, as multidões para que,
indo pelas aldeias, comprem para si o que comer” (v.15). Eu entendo essa sugestão como
uma forma deles se descartarem de uma responsabilidade. A primeira observação que
fazem é que o lugar era deserto. Ora, se era deserto, com certeza não havia possibilidade
de se comprar qualquer coisa. Mas a “brilhante” ideia dos discípulos é que Jesus
despedisse a multidão para ir comprar comida. No entanto, Jesus lhes respondeu: “Não
precisam retirar-se; dai-lhes, vós mesmos, de comer” (v.16).
Será que o fato de não gostarmos de saber notícias dos irmãos é apenas porque
não queremos ajudá-los? Será que estamos dispostos a pegar o telefone, ligar para um
irmão e, com toda a pureza de coração, com toda boa vontade perguntar-lhe: “Como você
está? Eu quero lhe ouvir!” Mas não pense em você como aquele que precisa ser ouvido e,
sim, como aquele que precisa ouvir. Nossa tendência é sempre pensar como vítimas: “Eu
sou o necessitado! Ninguém me liga, visita, atende, compreende!” Há uma oração de
Francisco de Assis que diz: “...fazei que eu procure mais consolar que ser consolado;
compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado”.
Partir o pão significa repartir o que temos e, mais do que isso, repartir o que somos;
colocar a nós mesmos à disposição dos irmãos. É verdade que a Ceia é uma aplicação
prática desse ato. A igreja partia o pão, em termos de celebração da Ceia, nas casas dos
irmãos. No entanto, ela aponta para um repartir maior. Jesus, na cruz, repartiu sua vida
conosco. O que mais lembra a Ceia, senão a morte de Cristo na cruz? O que mais lembra
o partir do pão natural, senão Jesus se dando como o pão da vida?
A celebração da Ceia é um símbolo de ciclos que se repetem em nossas vidas. Ali
proclamamos o término de um ciclo e o começo de um novo. Ela renova nossa esperança
e nossa visão em Deus, revela a identidade do Senhor e a nossa identidade com ele. Foi
durante a Ceia que, após receber o pão de Jesus, Judas foi tomado pelo Diabo (Jo
13.26,27). A Ceia revela quem somos, nossas mais ocultas intenções, a verdade do nosso
coração. Por isso ela não é um mero ritual, mas a manifestação da vida de Deus e
deveríamos tê-la como o momento mais sublime da vida da congregação.
Em Lucas 24, quando alguns discípulos desciam de Jerusalém para Emaús, Jesus
se aproximou deles perguntando: “Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à
medida que caminhais?” (v.17). Eles responderam: “És o único, porventura, que, tendo
estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias?” (v.18). Então, eles
tentaram relatar para Jesus o que havia acontecido com o próprio Jesus (vs.19-24). A
princípio ele os repreendeu, mas depois passou a explicar-lhes o que verdadeiramente
havia acontecido (vs.25-27).
Quando chegaram à cidade, Jesus fez menção de ir embora, mas ansioso por ser
convidado para comer com eles (vs.28,29). Ele tinha ansiedade por comunhão! O mesmo
que disse que não devemos andar ansiosos por coisa alguma também disse que ansiou
por comer a páscoa com seus discípulos (Mt 6.31; Lc 22.15). A única ansiedade que pode
haver no coração do cristão é a ansiedade pela comunhão com os irmãos. Aqueles
discípulos o convidaram a entrar e, quando ele partiu o pão, seus olhos se abriram
(vs.30,31).
A Ceia é momento de revelação da pessoa de Jesus Cristo. Portanto, quando você
participar dela o faça com a expectativa de ver Jesus. Eu não me refiro a uma “aparição”
de olhos, mas de coração – ver Jesus na vida dos irmãos!

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A Ceia mostra Cristo, revela nosso coração, mas também fala da nossa identidade
nacional. Na primeira páscoa (Ex 12), o sangue do cordeiro revelava quem era quem: a
casa que tinha o sangue em sua porta pertencia a Deus, mas a casa que não tinha o sangue
não fazia parte do povo de Deus. Então, o que nos identifica como povo de Deus é o sangue
de Jesus Cristo. A Ceia é a possibilidade de nos aproximarmos uns dos outros pelo sangue,
mas também a possibilidade de sermos UM pela carne partida de Jesus. No evangelho de
João, capítulo 6, Jesus nos dá muitas promessas e revela o que iria acontecer conosco
quando comêssemos da sua carne e bebêssemos do seu sangue.
A Ceia nos faz tirar os olhos das nossas próprias necessidades e focar nas
necessidades dos irmãos. Eu lhe garanto que quando você começar a cuidar mais das
pessoas o Senhor vai cuidar mais de você, pois esse é o caráter Dele. Paulo disse que
Jesus falou que é dando que se recebe (At 20.35). É entregando que recebemos de volta:
“dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos
darão” (Lc 6.38). Você dá pouco e Deus lhe dá muito!
Diz a Palavra que, enquanto Jesus tomava a Ceia com os discípulos, “ele levantou-
se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois,
deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha
com que estava cingido” (Jo 13.4,5). Não estou dizendo que devemos instituir o lava-pés
em nossa congregação, pois eu creio que isso é algo muito maior do que água, sabão e
toalha. Creio que o lava-pés fala de cuidarmos da caminhada dos nossos irmãos, estarmos
atentos a como eles estão andando. Isso foge completamente ao espírito desse século,
quando deixamos de nos interessar pelos outros e nos interessamos apenas pelas coisas
que nos dizem respeito.
Lava-pés fala de um profundo comprometimento com as pessoas e também de uma
atitude de profunda humildade, de considerar os outros superiores a nós mesmos. É saber
como o está o irmão, ir atrás dele e cuidar de seus pés. Muitos estão cansados da sua
caminhada, estão com seus pés feridos de tantas lutas e dores que têm passado. Não seria
justo, guiados pelo Espírito Santo, procurarmos esses irmãos mesmo que não os
conheçamos? Eu lhe garanto que se você começar a olhar com atenção para as pessoas,
Deus vai lhe revelar aqueles que necessitam da sua ajuda. Seja discreto, mas seja atento
aos aflitos em nosso meio. Alguns têm passado tantas lutas que estão sendo tentados a
parar, voltar atrás, desistir de tudo e Deus conta comigo e com você para animar essas
pessoas, para estar com elas. Isso é insistir no partir do pão: nos aproximarmos, nos
fazermos companheiros das pessoas.
Em Lucas 10, Jesus conta a parábola do homem que foi assaltado, machucado e
jogado à beira do caminho. Passaram por ele três pessoas: um sacerdote, um levita e um
samaritano. Jesus poderia ter usado outra figura, mas usou justamente um samaritano,
povo que os judeus rejeitavam. Esse samaritano fez algo muito maior e melhor do que os
judeus. O sacerdote representava a religiosidade e o levita, a estrutura religiosa, mas
nenhum deles conseguiu resolver o problema daquele homem, assim como também não
conseguem resolver os problemas das pessoas hoje. Apenas homens e mulheres com um
coração igual ao de Jesus podem fazê-lo.
A discussão era sobre quem seria “o próximo” (v.29). Jesus, então, lhes ensinou que
o próximo não tem a ver com geografia ou distância, mas com o coração. Ele nos manda
aproximarmo-nos dos que estão aflitos, lastimados, machucados, roubados, assaltados
pela vida; dos que estão perdendo a fé, a esperança, a confiança no Senhor. Assim,

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deixemos de ser religiosos, ritualísticos e sejamos próximos das pessoas.
Levante seus olhos e deixe Deus lhe mostrar pessoas nas situações acima, irmãos
que estão em nosso próprio meio, que chegam às nossas reuniões ‘arrastados’ apenas
pelo dever de ir às mesmas ou, então, pela esperança de um milagre do Senhor, pelo
sentimento de já ter tentado tudo, mas ainda pela esperança de tocar nas vestes de Jesus.
Só que essas vestes estão em cada um de nós.
Você já pensou como foi a dinâmica da multiplicação dos pães (Mt 14.13-21)? Eles
tinham apenas 5 pães e 2 peixes. Jesus não pegou os pães e simplesmente multiplicou-os
diante de todos, mas ele foi partindo-os, entregando-os nas mãos das pessoas e, na medida
em que eles repartiam, os pães se multiplicavam. Essa é a nossa experiência: quanto mais
damos, mais Deus nos dá. Quando damos, nada nos irá faltar.
Querido irmão(ã): você nasceu para ser como Jesus e como aqueles discípulos que
insistiam em repartir o pão, em se doar, se entregar, em cuidar. Se você ainda não tem um
coração dadivoso peça ao Senhor para sentir conforme o coração Dele e, com certeza, Ele
lhe concederá! Amém!

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PERSEVERANDO NAS ORAÇÕES
Abnério Cabral

emos trabalhado o tema “perseverar”, baseados em Atos 2.42: “...e perseveravam na


T doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” Essas são 4
colunas da vida da igreja, nas quais temos buscado fundamentar nossa liderança e
congregação. Cremos que Deus está nos mostrando uma nova maneira de trabalharmos
juntos com Ele na edificação da Sua igreja.
A doutrina apostólica é a Palavra de Deus. Não é um conjunto de regras, mas é o
próprio Senhor Jesus Cristo. João disse que “O que era desde o princípio, o que ouvimos,
o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, a
respeito do Verbo da vida...” (1 Jo 1.1). Então, o Verbo (Jesus) ou a Palavra é audível,
visível e palpável.
Se pensarmos nesses pontos como um “sanduíche”, a Palavra é uma face do pão,
a Oração é a outra face e a Comunhão e o Partir do Pão são o “recheio”. Sem a Palavra e
a oração, a comunhão e o serviço (partir do pão) não acontecem.
Às vezes não entendemos o real valor da oração, mas ela está relacionada com o
Espírito Santo. Então, podemos dizer que eles perseveravam na Palavra, na comunhão, no
serviço e no Espírito, pois quem move a oração é o próprio Espírito. Eu não tenho
simplesmente um desejo ou vontade de orar; é o Espírito que move em mim esse desejo,
essa necessidade. Ele é o Espírito de oração! Não estou colocando “graus” de importância
entre esses quatro aspectos, mas o fato é que na obra de Deus a Palavra e o Espírito
sempre andam juntos, gerando a comunhão e o serviço entre os membros do Corpo.
Deus sempre trabalhou na história da igreja com base nesses quatro princípios.
Sempre houve movimentos que deram ênfase em apenas um ou dois desses aspectos.
Alguns grupos enfatizam somente a Palavra e não o Espírito e, como consequência,
tornam-se dogmáticos, rígidos, inflexíveis, insensíveis; não conseguem expressar o amor
e a doçura do evangelho. Outros grupos enfatizam somente o Espírito – as orações, os
dons, o poder – e, como consequência, há muita abertura para pecados, libertinagem,
desvios doutrinários.
Não podemos mexer com o sobrenatural sem a doutrina – os dois devem andar
juntos, na medida certa. Dessa forma, a comunhão e o partir do pão encontram seu devido
espaço de atuação. Não somente comemos o pão juntos, mas nos comprometemos uns
com os outros em amor e no serviço.
Quando o Espírito Santo foi derramado em Pentecostes, houve conversão na
“língua” e no “bolso”. Houve uma restauração no linguajar ou modo de falar das pessoas,
pois “em toda alma havia temor”. Mas também houve uma conversão financeira, uma
abertura para doações.
Quando Deus Pai e Deus Filho resolveram trabalhar juntos na criação da
humanidade, o Espírito Santo começou a Se mover sobre a face das águas, sobre o
abismo, sobre o “nada”. Ele começou a “chocar”, a aquecer, a pairar sobre a Terra para

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que a Palavra, o Verbo de Deus viesse. Assim, para que Deus liberasse Sua palavra foi
preciso que o Espírito Se movesse, fosse à frente, preparasse o caminho, o cenário para
essa palavra. Ele aqueceu o abismo, o “nada” e, então, Deus disse: “Haja luz!” Jesus era a
palavra viva, ativa e criativa do Pai e, então, os milagres da criação começaram a acontecer.
Esse foi o movimento da criação.
Outro movimento da mesma importância foi a recriação. Através do sangue do
Cordeiro, Deus começou uma nova geração de pessoas salvas, redimidas e lavadas pelo
sangue de Jesus. Pedro disse: “...tendo renascido, não de semente corruptível, mas de
incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece” (1 Pd 1.23). Isso é o novo
nascimento, a recriação do homem!
Esse novo movimento teve como precursor João Batista, que apareceu no deserto
pregando a palavra de arrependimento, a necessidade de uma conversão a Deus. Em
seguida, o próprio Jesus continuou pregando essa mesma palavra – o arrependimento e
as boas-novas de salvação e amor de Deus. João preparou o caminho para Jesus e esse
preparou o caminho para o Espírito Santo.
A Velha Aliança começou com o Espírito e fechou com a Palavra. A Nova Aliança
começou com a Palavra e fechou com o derramar do Espírito! Nós nascemos de novo
porque recebemos a Palavra e, conjuntamente, o Espírito Santo regenerou nossa alma.
Assim, a Palavra e a Oração (Espírito) sempre andam juntas. Precisamos de ambas para
podermos aprender e praticar a comunhão e o serviço, pois esses provêm da fé, e “a fé
vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).
Precisamos compreender, então, que a oração é uma necessidade do homem de
corresponder à voz do Espírito Santo em sua vida. Quando alguém ouve essa voz,
automaticamente é conduzido à uma vida de oração. E da mesma forma é a igreja, o Corpo
de Cristo.
Alguns usam um “jargão” mentiroso: “Eu sou uma pessoa prática, da palavra, e não
sou dado à oração”. Mas isso não existe! A obra de Deus, sem oração, é esforço humano.
Qualquer obra, sem oração, não prevalecerá e acabará em si mesma. É impossível ser um
obreiro, um líder de grupo caseiro se não for dedicado à oração, acostumado a ouvir a voz
de Deus, pois é o Espírito quem o conduz e dirige.
Lendo a história bíblica no Velho Testamento, vemos que a ação do Espírito no meio
do povo sempre foi precedida pela oração, pelo ouvir a voz e a direção de Deus. Por
exemplo, o que moveu o Senhor a tirar Seu povo do Egito foi o clamor, as orações
incessantes desse povo: “...tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores” (Ex
3.7). Assim, a obra do Espírito sempre nos conduzirá à oração e, quanto mais orarmos,
mais seremos impulsionados ou atraídos a orar.
Nesses últimos anos não temos falado simplesmente de reuniões de oração, mas
temos enfatizado a prática da oração; temos tido a visão da necessidade de
estabelecermos uma cultura de oração em nosso meio. Em algumas religiões, essa cultura
é enfatizada e praticada através de imposições, medo e falsas promessas. Mas, no reino
de Deus, essa cultura é movida e dirigida pelo Espírito Santo. Assim, a vontade de Deus
vem pelo Espírito. Não é somente uma “inspiração” que depende do dia ou do momento,
mas é um ardor, um desejo contínuo do Espírito em nosso coração que independe de dias,
situações, estado emocional ou circunstâncias.

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Quando aprendemos a corresponder à voz do Espírito não perdemos o timing, o
passo Dele. Quem não participa das reuniões ou atividades de oração corre o risco de
perder esse passo do Espírito. Vivemos em dias onde muitas coisas estão acontecendo e
participar desse ambiente é muito diferente do que apenas ouvir depois. O ambiente tem
uma unção maior, diferente, produz uma outra edificação. Temos sido movidos por Deus a
andar nessa direção, a tomar algumas atitudes e, se não participarmos, se não nos
envolvermos perderemos o passo, o momento.
Dias atrás, o presbitério estava reunido em um momento de jejum e oração e Jamê
fez um comentário muito importante sobre Simeão e Ana. Ana ficou viúva sete anos após
se casar e dedicou o resto da sua vida à oração e jejum. Simeão era um profeta que também
se dedicou à oração (Lc 2.25-38). Ambos, diz a Escritura, se dedicavam dia e noite à
oração. Isso significa que eles não perderam o timing do Espírito. Quando nós estamos
conectados à ação do Espírito também não perdemos o passo Dele.
Jesus foi circuncidado ao oitavo dia, depois foi purificado e, em seguida, levado ao
Templo. Simeão não estava lá, mas foi movido pelo Espírito para lá se dirigir:
Assim pelo Espírito foi ao templo; e quando os pais trouxeram o menino Jesus, para
fazerem por ele segundo o costume da lei, Simeão o tomou em seus braços, e louvou
a Deus, e disse: Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua
palavra; pois os meus olhos já viram a tua salvação, a qual tu preparaste ante a face
de todos os povos; luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo Israel.
(Lc 2.27-32)
Ana, da mesma forma, foi movida pelo Espírito a ir para lá naquele exato momento:
Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era já avançada
em idade, tendo vivido com o marido sete anos desde a sua virgindade; e era viúva,
de quase oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e
dia em jejuns e orações. Chegando ela na mesma hora, deu graças a Deus, e falou
a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. (Lc 2.36-
38)
Ambos estavam no passo do Espírito, ligados com o mover sobrenatural. Eram um
homem e uma mulher conectados com Deus, esperando e orando pelo Salvador de Israel.
Eles conheciam e tinham convicção da promessa; estavam ligados no Espírito e sabiam
que naqueles dias a promessa se cumpriria. Eles não estavam no Templo naquele exato
momento, mas o Espírito moveu seus corações para lá se dirigirem.
Da mesma forma, hoje, precisamos estar conectados à voz, à ação do Espírito,
porque estamos vivendo os últimos dias e Jesus está prestes a voltar. No tempo do fim
seremos espalhados. Haverá um grupo que vai ministrar profeticamente; outro grupo
permanecerá no meio da multidão e vai pagar com seu próprio sangue; outro, ainda, será
levado para o deserto, desligado de tudo e sustentado milagrosamente pelo Senhor. Esse
foi o diálogo entre João e um dos Anciões de dias:
E um dos anciãos me perguntou: Estes que trajam as compridas vestes brancas,
quem são eles e donde vieram? Respondi-lhe: Meu Senhor, tu sabes. Disse-me ele:
Estes são os que vêm da grande tribulação, e levaram as suas vestes e as
branquearam no sangue do Cordeiro. (Ap 7.13,14)

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Nós estamos caminhando e nos preparando para o fim e precisamos assimilar essa
cultura da oração, pois o momento de treinar é hoje, agora, e não no fim. Muitos serão
salvos, mas não reinarão com Jesus no Milênio pois não vão entender e acompanhar os
passos do Espírito. Não estão se preparando, treinando, se desligando de tudo para buscar
a direção do Espírito em oração.
Os irmãos em Jerusalém não sentiram dores por perder tudo o que tinham quando
veio a perseguição nos anos 70 d.C. porque, muito tempo antes, quando foram cheios do
Espírito Santo, venderam tudo o que tinham e depositaram os valores aos pés dos
apóstolos. Assim, quando chegou a perseguição eles já estavam livres, nada os prendia, a
nada estavam apegados. Estavam, sim, ligados ao mover, à ação, ao passo do Espírito
Santo em suas vidas.
Quando falamos em oração não estamos nos referindo apenas a reuniões
específicas para isso, mas a uma cultura, uma prática contínua e interiorizada em nossas
vidas. Isso implica em não conseguir viver sem invocar pessoalmente e juntamente com
outros irmãos o nome do Senhor. É viver continuamente adorando, clamando, jejuando,
chorando a Deus e ouvindo os irmãos. E somos tremendamente abençoados com isso!
Dias atrás eu estava orando junto com alguns irmãos, um mover muito gostoso e
poderoso de Deus. Quando cheguei em casa, senti de chamar minha esposa para orarmos
e, quando começamos, Deus falou muito comigo sobre os assuntos dessa palavra – isso
porque eu havia estado naquela onda de oração. Peguei minha agenda, comecei a anotar
tudo e em dois minutos Deus me deu palavras para várias semanas. Quando Asher Intrater
veio a Jundiaí em fevereiro, enquanto orávamos na sala de orações, Deus o visitou e deu-
lhe palavras tremendas que serviram de base para suas pregações dentro e fora do Brasil.
Outro dia estávamos orando junto com os irmãos do ministério Impacto e o Senhor
começou a dar muitas ideias a um irmão sobre um livro que ele estava escrevendo. Assim,
sempre que estivermos em um ambiente impregnado de oração a Palavra de Deus se
tornará palpável, audível, visível.
É para essa direção que o Senhor está nos conduzindo hoje. Ele está nos
aproximando cada vez mais Dele e uns dos outros em oração. Orar não é simplesmente
ficar falando das nossas necessidades. Isso é importante, mas, quando Ele chega
percebemos Sua presença e tudo muda, o foco se torna apenas Ele.
Portanto, quero exortar, animar os irmãos a ouvir a voz do Espírito Santo. Eu não
tenho dúvidas de que o Espírito está falando com você hoje! Paulo disse: “Não entristeçais
o Espírito Santo de Deus” (Ef 4.30) e “Não extingais (abafeis) o Espírito” (1 Ts 5.19).
Entristecemos o Espírito quando O resistimos e O abafamos quando não Lhe damos
ouvidos, não atentamos ao que Ele nos fala. Assim, vamos permitir que o Espírito nos fale
e nos conduza, vamos ouvi-Lo e obedecê-Lo.
Se o Espírito colocou em seu coração para orar uma vez por semana com outros
irmãos, seja fiel a isso. Se for 15 minutos, meia hora, uma hora ou mais, seja fiel a isso.
Deus está trabalhando na Terra e essa cultura de oração está sendo estabelecida em todos
os lugares. Ele resolveu nos visitar, nos chamar para fazer parte disso. Assim, não fique de
fora desse mover. Se envolva, siga os passos do Espírito, diga “sim” a Ele. “E o Espírito e
a noiva dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem.” (Ap 22.17).
Não basta estarmos no meio da multidão, não basta frequentarmos reuniões
públicas. Precisamos nos envolver, nos conectarmos ao Espírito e aos irmãos em oração

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para chegarmos juntos naquele dia e dizer: “Ora vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).
Esse é o momento que estamos vivendo hoje, momento de nos prepararmos para
esse grande Dia. O mundo não vai ficar melhor, mas a nossa esperança está no Senhor.
Assim como Ele guardou Seu povo no deserto também nos guardará nesse tempo do fim.
Diga “sim” ao Senhor, pois Ele está falando, confirmando essas palavras hoje em seu
coração! Amém!

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PREPARANDO PARA AVIVAMENTO
Harold Walker

A vivamento é o derramamento do Espírito Santo em abundância. É uma manifestação


da presença de Deus que faz com que as pessoas não consigam continuar vivendo
normalmente. Se tivermos um avivamento em nosso meio, ninguém conseguirá fazer mais
nada e os cultos ficarão incontroláveis – pessoas chorando, se convertendo, sendo
curadas, indo para as ruas evangelizar, reuniões noite e dia sem parar etc. Foi assim em
todos os avivamentos que ocorreram na história. É algo fantástico. Todos se prostram e
Deus assume o controle da igreja!
Nós temos orado por isso há muitos anos e sentimos que os primeiros “pingos” desse
avivamento já estão chegando. Coisas inéditas, que não eram possíveis antes, estão
acontecendo em nosso meio. Mas ainda são apenas os primórdios – alguns pingos, alguns
trovões, chove um pouco, para de novo etc. A Bíblia diz que antes da volta de Jesus haverá
o maior avivamento da história da humanidade:
E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre
toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões,
e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas
derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. (At 2.17,18)
Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas
cobrem o mar. (Hb 2.14)
Isso é promessa de Deus, é algo que está sendo pregado e orado no mundo inteiro.
Inúmeras pessoas estão pregando, orando e escrevendo livros e artigos sobre essa
“cultura” de avivamento, sobre um bilhão de almas que se converterão. Haverá um mover
do Espírito Santo na Terra como nunca visto, antes da volta de Cristo. No entanto, se
estamos crendo e orando por isso, precisamos também nos preparar, pois, depois que vier,
não dará mais tempo.
Deus falou com Noé: “Vou mandar um dilúvio sobre a Terra” e, nos 100 anos
seguintes, ele preparou a Arca. “A chuva vem, então vou preparar a Arca!” Passou 50 anos
e a chuva não veio. “Ótimo”, pensou Noé, “porque eu ainda não terminei a Arca!” Assim, se
cremos para esse avivamento temos de nos preparar para ele. Se Deus ainda não o
mandou é porque não estamos preparados. Então, enquanto oramos por isso, vamos
também nos preparar rapidamente.
Se vamos construir um prédio muito alto, a primeira coisa que temos de fazer é cavar
um buraco muito fundo. Se queremos ir para cima, primeiro temos de ir para baixo! Quanto
mais alto o prédio, mais profundo deve ser o alicerce. Então, se Deus vai mandar um grande
avivamento como nunca antes houve, o alicerce desse avivamento também deve ser mais
profundo do que qualquer outro antes – e esse alicerce chama-se ARREPENDIMENTO,
CONFISSÃO DE PECADOS, PURIFICAÇÃO DAS MOTIVAÇÕES, ORAÇÃO.
Enquanto Deus não nos usa, não ficamos orgulhosos. Mas, quando Ele começa a
colocar poder em nossas mãos, tudo de ruim que existe dentro de nós se manifesta. Há um

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ditado que diz: “O poder corrompe. Muito poder corrompe muito. Poder absoluto corrompe
absolutamente.” Imagine, então, quando Deus começar a derramar esse imenso poder que
Ele tem prometido para os últimos dias! Se nós não estivermos santificados, arrependidos
e purificados será algo terrível! “Grande é o Dia do Senhor e mui terrível! Quem o poderá
suportar?” (Jl 2.11).
Quando Deus visitou o povo de Israel no deserto fazendo descer Sua glória sobre o
Tabernáculo, que foi feito com tanto esmero e cuidado, com materiais, medidas e segundo
o modelo perfeito que Ele havia mandado, havia muita glória, fogo e poder. No entanto,
algo terrível aconteceu: aquele fogo de glória e benção se tornou um fogo assassino:
Ora, Nadabe, e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário e, pondo
neles fogo e sobre ele deitando incenso, ofereceram fogo estranho perante o Senhor,
o que ele não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor, e os devorou; e
morreram perante o Senhor. (Lv 10.1,2)
Da mesma forma, após o Espírito Santo ter sido derramado poderosamente sobre a
igreja em Pentecostes, algo terrível aconteceu: Ananias e Safira caíram mortos diante de
todos (At 5.1-11). Avivamento não é para matar, mas mata! Hoje, não corremos perigo de
ir às reuniões porque Deus não está “muito” presente. Mas, quando Ele estiver plenamente
presente, ou as pessoas saem correndo, ou morrem, ou se prostram e são totalmente
santificadas e transformadas. Alguma coisa vai acontecer! Isso chama-se TEMOR DO
SENHOR. Esse temor nos santifica, queima toda hipocrisia, toda máscara, falsidade,
pecado, motivação errada.
Devemos, então, orar para que esse avivamento futuro seja bom e não ruim, que
traga benção e não maldição, vida e não morte. Mas sabemos que quando Deus Se
aproxima Ele é “perigoso”! Não porque Ele seja mal, mas porque Ele é tão bom que mata!
Ele é tão santo que qualquer coisa errada que se aproxima Dele queima na hora, mesmo
sem Ele querer. A energia elétrica não é má, mas se não cuidar ela mata.
Lemos nos livros de Êxodo e Levítico como Deus coloca várias “camadas de
segurança” para o povo de Israel: primeiro Moisés e Arão, depois os demais sacerdotes,
depois os levitas e, finalmente, o povo. Ou seja, todos devem tomar muito cuidado, ninguém
pode invadir o lugar do outro pois Deus é Santo! É bem melhor que Deus chegue rápido
entre nós por meio de um avivamento do que vivermos aqui enganados, chegarmos no céu,
vermos o Senhor face a face e constatarmos que estava tudo errado conosco. É melhor
descobrir aqui, pois assim dá tempo de consertar.
A primeira coisa que acontece quando o avivamento vem é entusiasmo, euforia,
sensacionalismo. O avivamento que virá em breve fará com que cegos vejam, paralíticos
andem, cancerosos desenganados sejam curados, surdos ouçam. Mas haverá também
pragas, secas, pestes, catástrofes naturais, líderes e governantes iníquos caindo mortos
etc. Imagine um cego enxergando ou um paralítico de nascença andando! Será um
sensacionalismo imenso, pois Deus estará fazendo milagres! Imagine, também, um poder
disponível para efetuar juízos e castigos, assim como Pedro, Paulo e os outros discípulos
faziam no início da igreja.
O poder é perigoso e, por isso, Deus não o dá para qualquer um, mas Ele prometeu
dar para a igreja nos últimos dias. Nós vamos andar na face da Terra como Deus quer. Ele
nos dará o poder para fazer cumprir a Sua Palavra. Mas a primeira coisa que acontece com
isso é entusiasmo, euforia, leviandade, orgulho, soberba: “Nós somos os bons! Deus nos

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usa! Nós fazemos milagres!” Foi isso que matou Nadabe e Abiú: “Ah, somos filhos do sumo
sacerdote! Podemos acender fogo estranho e nada nos acontecerá!”
Portanto, o primeiro alerta é: quando Deus começar a mover em nosso meio, não
ouse fazer coisas da sua própria cabeça. Obedeça ao Espírito Santo, tenha temor de Deus,
não fique exaltando, idolatrando pessoas. Pessoas não são nada! Deus é tudo! Precisamos
ter isso gravado em nossos corações: nenhum homem, mulher, jovem, criança, idoso é
algo sem Deus! Precisamos aprender a proteger quem está começando a ter os dons, pois
Deus irá distribuí-los entre todos e será algo fantástico, grandioso, maravilhoso. Haverá
dons de curas, sinais, milagres, libertações, fé etc., mas não devemos dar lugar à euforia,
ao sensacionalismo, ao orgulho, à exaltação própria, à soberba.
Jesus falava àqueles que ele curava: “Não conte para ninguém. Procure o sacerdote
para confirmar sua cura!”. Devemos ficar sóbrios, sérios, não entusiasmados. Devemos
dizer: “Obrigado, Senhor, manda mais! Mas nós não somos nada e iremos ficar com nossos
rostos no pó enquanto o Senhor faz a Sua obra!”
Quando aconteceu aquela situação com os dois filhos de Arão, o próprio Moisés
estava presente. Ora, será que ele não poderia tê-los impedido? Não, porque quando Deus
chega ninguém consegue impedi-Lo! No avivamento da Rua Azuza, o pastor principal
ficava com sua cabeça dentro de uma caixa de sapatos orando, chorando. Chegavam
pessoas que queriam mandar na reunião e ele não falava nada, não fazia nada, não os
impedia. E ninguém fazia nada. Mas havia tanta presença e poder de Deus que essas
pessoas, quando começavam a falar, gaguejavam, caiam, se arrependiam, saiam de lá e
levavam aquele fogo a outros lugares e países. Então, quando Deus entra em um lugar o
fogo, a glória, o poder, a santidade são tremendos, poderosos, terríveis, perigosos. Por
isso, tome cuidado! Obedeça ao Espírito Santo, faça o que Ele mandar, não tema os
homens, mas também não os exalte. Não aja pela sua própria cabeça, tenha temor de
Deus!
A segunda coisa que acontece quando o avivamento vem é que o pecado escondido
em nossas vidas, que escondemos há muito tempo, se manifesta, vem à luz. Sem a
presença de Deus achamos que é algo normal, mas quando a presença de Deus se
manifesta caímos em si: “Que coisa terrível!” Isaías, quando Deus Se manifestou a ele,
disse: “Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no
meio dum povo de impuros lábios” (Is 6.5). Ele se lembrou de tudo de errado que havia
falado naqueles dias. Quando Deus chega, a santidade Dele começa a realçar os nossos
pecados; o que achávamos normal passamos a achar terrível. Isso nos traz um peso tão
grande que queremos desabafar logo. Quando João Batista pregava, as pessoas
confessavam seus pecados em público. Em todos os avivamentos houve confissões de
pecados.
Nos livros de Levíticos e Números, percebemos que o pecado não era brincadeira.
Por exemplo: o sacerdote que levava o bode expiatório ao deserto para levar embora os
pecados do povo, estava apenas obedecendo a Deus, servindo o povo; não estava fazendo
nada de errado (Lv 16). No entanto, quando ele voltava não podia entrar no arraial. Deveria
se lavar, se purificar para só depois entrar (v.26). Ele mesmo não havia pecado, mas
apenas tocado no animal que carregava o pecado do povo. O outro, que havia queimado o
novilho e o bode e que também não havia pecado, deveria fazer a mesma coisa (vs.27,28).
Em Números 19, o sacerdote que tivesse tocado e queimado a ovelha vermelha, apesar de
não ter pecado, também deveria se lavar e ficaria imundo até a tarde.

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Preste muita atenção! Eu acredito que para Deus mover em nosso meio há muitos
pecados em nós que devem ser tratados. Ainda não somos canais limpos para o Espírito
Santo agir por nosso intermédio; há motivações erradas, coisas escondidas que às vezes
nem sabemos. Essas coisas precisam vir à tona e ser confessadas, mas precisamos saber
COMO confessar pecados, pois, se confessarmos de maneira errada, “suja mais do que
melhora”, contamina pessoas que não têm nada a ver com o pecado, pessoas que não
devem ser contaminadas.
O pecado deve ser tratado da mesma forma que um vírus. Ele é perigosíssimo e
contaminante! Quem não tem, passa a ter se não se cuidar. A Bíblia diz que o sacerdote
carregava a iniquidade do povo. Eu já vi pastores ficarem doentes de tanto ouvir e carregar
pecados de membros das suas congregações. O pecado é perigoso, é do inferno e, se não
tratado, causa estragos a muita gente.
Alguns crentes têm tanta vontade ou necessidade de descarregar o peso dos seus
pecados que se abrem para qualquer pessoa e em qualquer ambiente. Isso é egoísmo
espiritual, pois eles não se preocupam com os outros; querem apenas se aliviar do que
estão sentindo e não pensam no mal que isso pode produzir nos que lhe ouvem.
Precisamos, sim, confessar nossos pecados, pois isso é o início de um avivamento. Não
uma confissão induzida, forçada, mas voluntária, produzida pelo Espírito Santo. A Bíblia diz
que “se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7). Portanto, não tem coisa
melhor do que confessar pecados, mas precisamos tomar cuidado em COMO fazê-lo. Zelar
não somente por nós, que ficaremos aliviados, mas também pelas pessoas que nos
ouvirão, para que não sejam contaminadas por esses pecados.
Algumas orientações sobre a confissão de pecados:
a) Quando você for confessar algo em público, nunca confesse o pecado de outra
pessoa, mas apenas o seu. Exemplo: “Irmãos, eu fiquei com muita raiva de fulano porque
ele fez isso e aquilo comigo! Então, eu peço perdão por ter ficado com raiva dele!” Na
verdade, você confessou mais os pecados dele do que o seu. Isso não é confissão, é fofoca!
Confessar pecado é revelar somente o que você fez ou sentiu, e não o que os outros fizeram
para você. É não envolver outras pessoas na sua confissão.
b) Se você quer realmente consertar algo errado com outra pessoa, não faça isso
em público, pois será apenas um “show”, uma demonstração de “espiritualidade ou
humildade” pessoal. Faça o que Jesus diz: “Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o
entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão” (Mt 18.15). Se ele não quiser lhe perdoar,
terá liberdade de dizer-lhe; no entanto, se ele estiver no meio da congregação, com todo
mundo olhando, com certeza dirá que “sim” para não passar vergonha. Ele não lhe perdoará
de coração, mas, sim, porque têm pessoas observando.
c) Se você tem um pecado que precisa ser confessado, trazido à luz, não procure
alguém menos maduro ou capacitado do que você para se abrir, pois a mente dele ficará
suja, carregada e ele não conseguirá suportar esse peso. Procure alguém mais maduro e,
então, confesse, ore, fique perdoado e vá embora em paz.
d) Não confesse apenas para uma pessoa, para que não fique uma espécie de
“conluio” entre ambos. Isso não purifica, mas se torna uma conivência, uma espécie de
cumplicidade. Confessar pecado não é uma “camaradagem” entre duas pessoas, mas um

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ato santo, sagrado que traz purificação e perdão. Daí a importância de mais pessoas que
lhe ouçam. E, depois disso, nunca mais o assunto deverá ser comentado por ninguém e
com ninguém.
e) Não confesse para estranhos, mesmo que seja um líder “famoso” ou alguém que
está apenas visitando a igreja. Confesse para pessoas que conheçam sua vida, que lhe
acompanharão e darão continuidade ou sequência ao processo de libertação.
f) Quem ouve a confissão nunca deve contar para ninguém. É algo sagrado, na
presença de Deus, pelo sangue de Jesus. E ponto final!
Se você começar a sentir essa necessidade de confissão, que é o primeiro sinal de
avivamento em sua vida, tenha certeza de que isso vem do Senhor, de é um sinal de que
Ele está trabalhando em você.
No ano de 1978 eu escrevi um livreto chamado “Arrependimento”. Lendo
recentemente, fui muito impactado, pois reli coisas tremendas sobre esse assunto, tive
muita percepção do que a falta de arrependimento causa em nossas vidas. Li que o poder
de Deus, para usar alguém em profecias, curas, milagres, pregações etc., necessita
encontrar nessa pessoa um vaso puro, santo, arrependido, cujas motivações, histórias do
passado, pecados e brechas foram tratadas. Quando terminei esse primeiro livreto, que
fazia parte de uma série para treinamento de obreiros, fiquei muito feliz e pensei: “Qual será
o assunto do próximo livreto?” Foi de novo sobre arrependimento! Prédio alto, alicerce
profundo! Deus quer cavar em nossas vidas!
Que Deus nos ajude a termos uma viva esperança desse avivamento que está
chegando e que nos preparemos para que, quando começar a acontecer, não sejamos
levianos, sensacionalistas, soberbos, mas sóbrios e vigilantes, protegendo, exortando e
ajudando uns aos outros, perseverando em oração, humildade, confissão e santidade.
Também, que saibamos tratar de forma sábia toda imundície que vier à tona em nossas
vidas. De igual modo, amos tomar cuidado com comentários acerca de pessoas que não
estão presentes em nossas conversas. Falar de pecados alheios é maledicência, uma coisa
terrível e demoníaca.
Portanto, irmãos, oremos para que o Senhor nos prepare para o avivamento. Que
os nossos lábios e pensamentos sejam purificados pela brasa viva do altar pois Deus
deseja um povo puro. Ele não quer “astros” ou “super-homens”, mas uma igreja santa.
Na igreja de Atos havia duas coisas. Primeiro, uma abundante graça – um ambiente
onde a presença do Espírito Santo transbordava e os irmãos viviam em alegria e amor, sem
religiosidades ou julgamentos. Segundo, havia um profundo temor de Deus.
Deus está começando a derramar Sua graça sobre a igreja, mas Ele também vai
derramar temor. Devemos orar para que essa graça e temor não nos abandonem, mas que
só aumentem a cada dia em nossas vidas e em nosso meio. Que o Senhor nos ajude a
tratarmos de maneira correta com todo pecado que porventura esteja em nós para não
causar mais estragos e, sim, trazer as bênçãos Dele em nossas vidas e em nosso meio.

Oração
“Senhor, somos falhos, errados, pecadores, mas o Senhor quer nos usar. Tu queres
usar pessoas fracas, defeituosas, mas purificadas com Teu fogo santo. Purifica os
nossos corações de toda intenção errada, de toda crítica aos irmãos, de toda falta

60
de perdão, de toda amargura, de toda ambição. Tire de nós essas coisas para que
Tu possas derramar um poder tremendo em nosso meio. Senhor, queremos ser uma
benção nessa cidade. Não queremos ser orgulhosos, vaidosos, melhores do que
outros, mas quebrantados, santos, humildes. Tem misericórdia de nós e nos prepare
para essa chuva, para esse fogo que está chegando. Nos ajude a não sermos
obstáculos, pedras de tropeço ao Teu mover, mas pessoas que vão conduzir Tua
graça a outras pessoas. Trate com o nosso interior, com as nossas motivações
erradas, com as coisas pecaminosas que nem sabemos que existem. Queremos o
Teu fogo santo queimando em nossas vidas. Não queremos aparecer, ser famosos,
contaminar a Tua glória, mas queremos que o Senhor aja em nós e através de nós
com toda liberdade, unção e santidade. Te suplicamos isso e Te agradecemos. Em
nome de Jesus, amém!”

61
REPARTIR O PÃO
Paulo Manzini

V amos continuar falando sobre a palavra que Deus tem estabelecido e direcionado para
tratarmos com a igreja, que são as 4 colunas citadas em Atos 2.42: “E perseveravam
na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Recentemente,
Jamê Nobre disse que para que haja pão é necessário que o trigo seja moído, e nós
estamos nesse processo. O objetivo é que realmente sejamos uma massa bem misturada,
bem cheia de nutrientes, para que não só a igreja alimente a si mesma, mas que o mundo
também se alimente dela.
A ordem de Deus para o Seu povo é que cada um seja devidamente alimentado pela
vida de Jesus Cristo. Tudo o que nós fazemos – louvor, adoração, oração, jejum, reuniões
em grupos grandes ou pequenos etc. – só tem um objetivo: fazer com que a vida de Jesus
Cristo encha a igreja e, fazendo isso, Ele seja glorificado e o mundo veja Jesus em nós. É
algo muito simples de entender: fomos chamados por Deus para sermos ‘alimento’ para o
mundo.
Estamos saindo de um tempo onde a igreja se vangloriava pelos grandes ministérios
que ela tinha, mas isso mudou. Essa época de “homens especiais” que trazem a presença
de Deus e alimentam a igreja está acabando. Esses ministérios que Deus levantou na igreja
continuarão existindo porque são importantes como referências, guias, condutores de
processos e mudanças etc., mas o propósito e vontade de Deus para Sua igreja inclui
VOCÊ, e não apenas homens e mulheres “especiais”.
Há muitos anos Deus nos deu uma palavra: “Chegou o tempo dos ninguéns!” Ou
seja, não precisa ser uma pessoa famosa, influente, erudita, profunda conhecedora da
Palavra; só precisa ser alguém que conheça a Jesus, conheça a Palavra e tenha o Espírito
Santo. Essa pessoa será poderosamente usada pelo Senhor. Deus quer que cada membro
do Corpo cumpra a sua função, nem mais e nem menos!
Atualmente eu tenho visto que Deus tem distribuído dons especiais sobre muitas
pessoas. Percebemos que alguns irmãos, quando se levantam, têm um manto sobre eles.
Cada um de nós está incumbido por Deus dos carismas que Ele nos dá. Não podemos ir
além desses carismas, mas também não podemos ficar aquém, pois isso é relaxo, pecado:
“Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!” (Jr 48.10). Fazer a obra do
Senhor relaxadamente é não cumprir com o propósito Dele, não exercer os dons que Ele
nos dá; é tornar vil aquilo que é santo.
Em Gênesis 4, lemos que Caim matou seu irmão Abel por inveja. Então o Senhor
lhe perguntou: “Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de
meu irmão?” (v.10). Não está escrito, mas com certeza a resposta de Deus foi “SIM!” Nós
somos parte do Corpo e, consequentemente, somos guardadores dos nossos irmãos. Eu
não sei quem está incumbido de me guardar, mas eu sei a quem estou incumbido de
guardar! E você, sabe? De repente, Deus pode chegar a você e perguntar: “Onde está
aquele seu irmão?” Será que a sua resposta será a mesma de Caim? Entenda isso: quando
deixamos de cuidar uns dos outros é porque a nossa comunhão com Deus está fraca, é

62
porque existe alguma coisa errada no nosso relacionamento com o Pai.
Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas
obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos
admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. (Hb 10.24,25)
Temos proclamado unanimemente que a volta do Senhor está próxima. Já entramos
no período em que os dias estão sendo contados regressivamente de forma muito rápida e
insistente. Haverá muitas lutas, gigantes ressuscitando para nos destruir. Passaremos por
momentos em que não enxergaremos corretamente, mas a Palavra nos estimula a
“considerarmos uns aos outros”. A igreja é o lugar onde nos alimentamos de Jesus através
dos irmãos, dos relacionamentos.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior
destes é o amor. (1 Co 13.13)
Nós temos fé na obra de Jesus Cristo – essa é a nossa luz, a nossa âncora, a nossa
segurança. Também temos esperança na sua breve volta. No entanto, o texto diz que o
maior destes é o amor, pois, através do amor, do interesse, das ligações, dos afetos a igreja
é edificada. O amor que está em nós é a coisa mais importante que existe na igreja, pois é
por ele que alimentamos e suprimos uns aos outros. O amor é a seiva, o sangue de Jesus
fluindo – e isso fala de comunhão.
Um fato muito interessante é que as células do nosso corpo natural se alimentam
por “diferença de densidade”. Quando o sangue passa e encontra uma célula que não tem
determinado nutriente, por essa diferença de densidade o nutriente presente no sangue
entra naquela célula e a supre. Alguns irmãos têm determinados “nutrientes” que eu não
tenho e, quando eles encostam em mim, me suprem com os mesmos. Isso se dá por meio
dos relacionamentos, da comunhão, dos encontros e conversas pessoais, das ligações. As
porções da multiforme graça do Senhor que estão em mim e em você são assimiladas em
nossas relações. Isso é uma imensa responsabilidade, pois têm coisas no irmão que eu
não tenho, e vice-versa.
Quando nascemos de novo recebemos um chamado, uma vocação comum: sermos
discípulos de Jesus. Nesse ponto não existe alguém maior, menor, sábio, ignorante, novo,
velho etc. Mas por que ou para que somos discípulos? Para sermos iguais ao nosso
discipulador: Jesus. Esse é o novo principal chamado, desafio, vocação: nos tornarmos
cada vez mais parecidos com o Senhor Jesus.
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do
Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como
pelo Senhor, o Espírito. (2 Co 3.18)
Quando contemplamos o Senhor, o Espírito Santo nos transforma à imagem de
Jesus. Assim, todo aquele que se converte recebe logo de início um chamado (ser
discípulo) e dois dons. O primeiro é o dom de evangelista, para fazermos outros discípulos:
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Isso não implica em conhecimento da Palavra,
oratória, sabedoria, mas em testemunhar, contar a outros o que Jesus fez em nossas vidas.
O segundo é o dom pastoral, para cuidar daqueles que Deus coloca à nossa volta: “Exortai-
vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente” (1 Ts 5.11).
Acabou o tempo em que falávamos ao nosso vizinho: “Vamos à igreja para meu

63
pastor orar por você!” Hoje todos nós temos a graça e o chamado de podermos contar a
eles o que Deus fez em nossas vidas, e também podemos exortar e edificar uns aos outros.
Você é o evangelista e o pastor daqueles que estão à sua volta!
O que é exortar? É profetizar, falar algo para alguém pelo Espírito de Deus. Todos
podemos, devemos e somos autorizados por Deus para fazer isso. Exortar não é dar
conselhos “melosos” aos outros: “Tenha fé”; “Deus vai te abençoar”; “Confie”. Isso é bom,
mas exortar é muito mais. Exortar é uma profecia com fundamento na Palavra, na
comunicação entre Deus e os homens.
Deus explicou a Moisés como seria Sua comunicação com o povo de Israel:
Porás o propiciatório em cima da arca; e dentro dela porás o Testemunho, que eu te
darei. Ali, virei a ti e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão
sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para
os filhos de Israel. (Êx 25.21,22)
A Arca, para nós, simboliza a Palavra. Quando estamos lendo e orando, o Espírito
Santo (simbolizado pelos querubins) fala conosco. Mas Ele também pode falar ou profetizar
para nós sobre outros irmãos por quem estamos orando e, quando entregamos a eles essa
palavra, estamos dando-lhes uma exortação. Não o fazemos por mensagem eletrônica, por
whatsapp, mas pessoalmente! Isso é pastorear um ao outro, é dar de comer ao faminto. Há
muitos irmãos em nosso meio precisando ser libertos, curados, supridos – e somos nós
quem o fazemos, por meio de uma palavra do Senhor.
Harold Walker disse que, muitas vezes, nossa mente fica presa, amarrada a muitas
coisas. Mas, quando a Palavra de Deus vem, a mente se liberta e passamos a adorar e
reconhecer o Senhor em meio ao caos, à bagunça – Ele muda toda a situação. Da mesma
forma, quando exortamos um irmão com a palavra que veio a nós da parte do Senhor, essa
exortação é uma profecia que irá libertá-lo. Isso é pastoreamento.
Todos recebemos a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (Ef 6.17). Essa
Palavra não é apenas uma arma de ataque, mas também uma arma que corta os espinhos
que prendem, que amarram os nossos irmãos.
Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não
deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou? E, se
porventura a encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por causa
desta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Assim, pois, não é da
vontade de vosso Pai Celeste que pereça um só destes pequeninos. Se teu irmão
pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão.
(Mt 18.12-15)
Jesus fala aqui de um homem que deixa o seu rebanho e sai em busca de uma única
ovelha que estava perdida ou enredada. Interessante é que, na sequência da parábola, ele
fala: “Se teu irmão pecar contra ti”. Não é só o Senhor quem sai em busca da ovelha. Todos
nós, com a espada do Espírito, a Palavra de Deus, devemos procurar os irmãos que estão
“enroscados”, extraviados e falar-lhes com exortação, com amor para salvá-lo daquela
situação. Aquele irmão que Deus colocou sobre sua responsabilidade é a ovelha que está
enroscada em meio aos espinhos e você, que está ouvindo de Deus, com a espada do
Espírito, irá desenroscá-lo e trazê-lo de volta ao Senhor.

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Deus nos deu essa maravilhosa e poderosa incumbência: salvar uns aos outros dos
espinhos da vida, das confusões mentais, das situações más e difíceis. Podemos e
devemos, com a espada do Espírito, cortar tudo o que prende ou enrosca as mentes dos
irmãos e levar a eles a solução de Deus.
Paulo disse sua epístola que “o que profetiza, fala aos homens, edificando,
exortando e consolando.” (1 Co 14.3). Cada um de nós, que nascemos de novo, somos
profetas e pastores de Deus para nossos irmãos. Cada um de nós é um defensor de Deus
para eles, munidos com a espada do Espírito que corta seus espinhos e os liberta. Não é
somente um grupo especial de homens que faz isso. Esses estão tão ocupados com tantas
coisas que as ovelhas que deles dependem estão morrendo presas nos espinhos,
devoradas pelos lobos. Somos nós quem devemos procurá-las e libertá-las, pois Deus nos
chamou para sermos evangelistas e pastores na Sua Casa! Amém!

MUTUALIDADE
Francisco Vanderlinde

E xortar não é somente corrigir, admoestar, aconselhar, mas também é encorajar,


estimular os irmãos. A Bíblia Versão Amplificada diz: “Devemos ter um cuidado
atencioso, contínuo, de uns para com os outros, procurando maneiras de estimular ao amor
e às boas obras” (Hb 10.24).
A palavra “mutualidade” significa dar e receber. O amor, por exemplo, exige
mutualidade, pois ele não existe somente em uma direção – é uma via de mão dupla. O
Corpo de Cristo só é edificado nessa base de dar e receber. Eu preciso daquilo que existe
nos irmãos que estão ao meu redor, mas eles também precisam daquilo que existe em
mim. Então, não existe membro desnecessário ou sem função no Corpo; ninguém é
dispensável.
Às vezes, alguém pensa que por ser “apenas um dedinho” não é útil ou necessário:
“Ah, hoje eu não vou à reunião porque não farei falta”. Mas isso não é verdade, porque
todos são importantes. Todos nós somos pastores no sentido de cuidar uns dos outros.
A Palavra diz também que somos servos uns dos outros (Gl 5.13). Essa palavra, no
original grego, é traduzida por “escravo” (doulos). Embora tenham o mesmo significado, a
palavra “servo” adquiriu com o tempo uma conotação mais elevada, bonita. Mas Paulo
sempre se referia a si mesmo como “escravo do Senhor Jesus”. Então eu pergunto: o
escravo tem vontade própria? Até tem, mas não é o nosso caso como servos de Cristo
Jesus. Maria disse ao Senhor: “Aqui está a serva (escrava) do Senhor; que se cumpra em
mim conforme a tua palavra” (Lc 1.38). Um servo não discute com o seu senhor, mas está
sempre pronto para ouvir e obedecer suas ordens.
No livro de Deuteronômio, por diversas vezes Moisés repete ao povo os
mandamentos que o Senhor tinha dado, reforçando a questão da obediência para o seu

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próprio bem. Esse é o lado bom: somos servos, escravos, mas temos um Senhor bom! Ele
só nos pede coisas boas, só nos dá boas ordens, ordens que apenas farão bem a nós e
aos que estão ao nosso redor. Alguns dizem: “É muito difícil ser cristão”. Mas isso não é
verdade, pois é maravilhoso sermos servos de Jesus. Coisa ruim é ser servo de Satanás –
e só temos essas duas possibilidades. Fomos chamados pelo Senhor, Ele nos incumbiu de
fazermos muitas coisas e, portanto, devemos obedecê-Lo.
Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o senhor encarregou dos outros servos
para lhes dar o alimento no tempo certo? Bem-aventurado o servo a quem seu
senhor, quando vier, encontrar agindo assim. Em verdade vos digo que o
encarregará de todos os seus bens. Mas se aquele outro, o mau servo, disser no
coração: Meu senhor demora a voltar, e começar a espancar seus conservos e a
comer e beber com os bêbados, o senhor daquele servo virá num dia em que ele
não o espera e numa hora que não sabe; e lhe infligirá castigo e lhe dará o destino
dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes. (Mt 24.45-51)

Jesus está dizendo que o servo fiel e prudente ficou encarregado de alimentar os
outros servos. Essa é a nossa missão: temos o encargo de ajudar a alimentar os nossos
conservos. Estamos vivendo os tempos que precedem a volta do Senhor. Muitas coisas
ruins e difíceis já estão acontecendo e alguns ficam muito preocupados com isso. Mas a
nossa preocupação deve ser em servir os irmãos, pois Jesus diz que “bem-aventurado o
servo a quem seu senhor, quando vier, encontrar agindo assim”.
Há pelo menos 15 coisas que podemos fazer uns aos outros (mandamentos
mútuos):
1. Confessar as nossas culpas ou pecados (Tg 5.16). Quando confessamos a Deus
recebemos o perdão, mas quando confessamos aos outros (no Corpo) somos
curados.
2. Edificar (1 Ts 5.11; Rm 14.19).
3. Levar as cargas (Gl 6.2).
4. Orar (Tg 5.16).
5. Ser benevolente (Ef 4.32).
6. Sujeitar em amor (Ef. 5.21). Isso é ouvir, atender, obedecer.
7. Ser hospitaleiro (1 Pd 4.9).
8. Servir (Gl 5.13; 1 Pd 4.10).
9. Consolar (1 Ts 4.18).
10. Corrigir (Gl 6.1).
11. Admoestar (Rm 15.14).
12. Instruir (Cl 3.16).
13. Exortar (Hb 3.13; 10.25).
14. Perdoar (Cl 3.13).
15. Amar (Jo 13.34).

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Essa é uma lista interminável, mas são coisas muito práticas que podemos exercitar.
Não basta frequentarmos reuniões, termos contatos esporádicos com alguns irmãos, orar
e cantar juntos etc. Precisamos também relacionarmo-nos uns com os outros todos os dias.
Temos os pequenos grupos, as igrejas nas casas e inúmeras outras opções para
praticarmos essa mutualidade. Nesses grupos podemos ser cuidados e cuidar dos irmãos,
exercitando os mandamentos de Jesus.
É verdade que sempre teremos problemas, mas é assim que aprendemos o perdão,
o amor, a paciência. Alguém brincou dizendo que “onde estiverem duas ou três pessoas
reunidas, ali haverá um conflito em potencial”. Mas os conflitos sempre nos ajudam a
crescer no Senhor – tudo é benção! Paulo diz isso: “Sabemos que Deus faz com que todas
as coisas concorram para o bem daqueles que o amam, dos que são chamados segundo
o seu propósito” (Rm 8.28).
Estamos vivendo um tempo novo no Senhor. Muitos irmãos tiveram experiências
ruins de mutualidade no passado, mas tudo isso já acabou. Agora é tempo de esquecermos
o que já passou e vivermos esse novo tempo. Precisamos nos aproximar mais dos irmãos
e permitir que eles se aproximem de nós, e isso de todas as formas possíveis, em qualquer
tipo de reunião ou comunhão. Devemos nos dar essa oportunidade de estreitarmos nossos
relacionamentos e praticarmos os mandamentos de mutualidade.
Harold Walker disse em uma reunião de homens que “ser homem é fazer aquilo que
você não gosta e não fazer aquilo que você gosta”. Pois eu quero usar essa mesma frase
para todos nós hoje: Ser discípulo de Jesus é fazer coisas que não gostamos para dar
espaço às coisas que o Senhor quer que façamos, porque aquilo que Ele quer é o melhor
para nós! Amém!

SOMOS GUARDADORES DOS NOSSOS


IRMÃOS
Harold Walker

T emos reunido o grupo do presbitério toda quarta-feira de manhã para buscar a palavra
do Senhor para a igreja, e tem sido um tempo muito caro e precioso. Temos ouvido a
voz de Deus juntos e a palavra que sai para a igreja vem desse tempo. Na última reunião,
o Senhor nos disse que deseja que sejamos uma igreja que pastoreia. Que quando alguém
entrar em uma de nossas reuniões sinta “calor” em nosso meio, um calor de amor, de graça,
de cuidado uns pelos outros. Que nenhuma pessoa fique descuidada, porque todos devem
ser guardadores dos seus irmãos.
Temos sentido essa diferença, essa mudança de “clima” em nosso meio com o
passar do tempo. Têm muitas coisas acontecendo que nem sabemos, inclusive coisas fora
das reuniões. Reuniões são apenas oportunidades, encontros coletivos. Mas quando
alguém sabe de um irmão que está com problemas e o visita, conversa e ora com ele, com

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certeza o ajuda e resolve muitas coisas – emaranhados, espinhos etc. são desfeitos. E não
são apenas os líderes, mas todos devemos fazer isso. A espada de dois gumes está nas
mãos de todos os irmãos; ela não vem de nós, mas de Deus! Portanto, não vamos ficar de
fora do que Deus está fazendo. Somos, sim, guardadores dos nossos irmãos, responsáveis
por eles no Senhor.
Vamos sonhar juntos, como igreja, que daqui a poucos meses esse lugar será cheio
do amor de Deus! É bom ter oração, palavra, reuniões, mas muito melhor é ter um ambiente
acolhedor onde as pessoas desejam voltar e ficar. Um lugar onde as pessoas amam e se
preocupam umas com as outras.
Eu já estive em muitas igrejas e logo que chego sinto essa “temperatura”. Alguns
lugares têm muitos problemas, mas têm um amor, um acolhimento muito profundo. Não
seremos uma igreja perfeita, sem problemas, mas podemos ser uma igreja cheia de amor,
onde qualquer um que entre necessitado saia diferente do modo como entrou. Isso não é
algo que podemos organizar, mas podemos permitir que o Espírito Santo faça isso! Que
Ele faça de cada um de nós verdadeiros pastores! Que Ele crie esse ambiente em nosso
meio!
A igreja tem poder porque o Espírito Santo está em seu meio! Podemos, então, crer
que em poucos meses seremos uma igreja diferente, dinâmica, acolhedora, poderosa,
cheia do Espírito! Em nome de Jesus! Amém!

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UMA QUESTÃO DE AMIZADE
Jamê Nobre

...louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso,


acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos. (At 2.47)

E sse texto nos mostra dois resultados: primeiro, os discípulos louvavam a Deus e caiam
na graça de todo o povo; segundo, o Senhor acrescentava à igreja o número de salvos.
São esses mesmos resultados que nós também queremos hoje. Queremos nossos vizinhos
e amigos nos procurando e perguntando como fazer para se converter, nossos colegas de
escola ou trabalho desejando se entregar a Jesus etc. Porém, isso é resultado das ações
relatadas nos versículos anteriores.
Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio
dos apóstolos. (At 2.43)
Aqui fala da qualidade de vida que eles tinham: na alma de cada um havia temor e,
por isso, muitos prodígios e sinais aconteciam. Havia um estado e um resultado.
Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas
propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha
necessidade. (At 2.44,45)
Eles estavam juntos todos os dias. Se quisermos os resultados do verso 47
precisamos ter as mesmas práticas ou estilo de vida dos versos 43 a 45. Albert Einstein
disse algo interessante: “Loucura é querer resultados diferentes repetindo as mesmas
coisas todos os dias”.
Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e
tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração. (At 2.46)
Assim, para chegarmos ao verso 47 precisamos pedir graça ao Senhor para
vivermos o que está relatado nos versos 43 ao 46. O problema é que somos cristãos muito
“românticos”, que “basta estar escrito e acontece”. Mas não é assim! A Palavra precisa
primeiro se encarnar em nós e, então, as coisas acontecem. É por isso que temos insistido
em pregar o verso 42:
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações.
Esses quatro pontos são o que chamamos de “pilares” da vida da igreja. Quero
aprofundar um pouco mais sobre o assunto “comunhão”.
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso
Senhor. (1 Co 1.9)
A comunhão com o Senhor Jesus é o mais importante e profundo chamamento que
um cristão pode ter. Não existe nada maior ou prioritário do que isso. É a fonte de todas as
demais coisas da vida, o primeiro chamado do cristão. Após esse, outros chamados virão:
à santidade, ao ministério, a amar e servir as pessoas etc. Mas esse é a base de tudo!

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A palavra grega usada para “comunhão” é koinonia, que significa: “fraternidade,
associação, comunidade, comunhão, participação conjunta, relação; a parte que alguém
tem em algo; participação; relação; comunhão; intimidade; oferta dada por todos; coleta;
contribuição; que demonstra compromisso e prova de comunhão”.
Andar em comunhão expressa a capacidade de tornar comum o bem de cada um –
as virtudes, as posses, as alegrias, as tristezas, as dores – em demonstração prática de
afetos do coração. É um amor ardente e intenso, assim como no caso dos Filipenses, que
se associaram com Paulo: “Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação” (Fp
4.14). Ou seja, ele “compraram ações na tribulação de Paulo”.
Precisamos ter uma atitude de insistir na comunhão, apesar das dificuldades.
Comunhão aponta para a vida de partilha e comunicação da igreja; é fazer de todos os
problemas de cada um; tornar comum as vitórias, conquistas e alegrias (chorar com os que
choram e alegrar com os que se alegram); ter um estilo de vida intenso, ao ponto de
ninguém se sentir sozinho no nosso meio e, quando um solitário se aproximar de nós, que
seja atraído pelo amor de Jesus manifestado em nossas relações.
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos
próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao
Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos
testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi
manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para
que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com
o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a
nossa alegria seja completa. (1 Jo 1.1-4)

Os dois aspectos da morte de Jesus


O primeiro aspecto é o que podemos chamar de “questão jurídica”. Todo homem que
peca assume uma dívida impagável com Deus e a justiça divina exige que ele seja morto
(Ez 18.20; Rm 3.23), pois o salário ou pagamento do pecado é a morte (Rm 6.23). Deus
não pode nos receber Nele na condição de pecadores. Por isso, sendo tão justo e
misericordioso (aliás, no hebraico, essas duas palavras têm o mesmo significado), Ele
matou Jesus por nossos pecados.
O segundo aspecto da morte de Jesus, que depende do primeiro, é que ele morreu
para restaurar o nosso relacionamento com Deus. Primeiro ele paga nossa dívida; segundo,
ele nos leva junto ao Pai para vivermos em comunhão com Ele. Deus mandou Jesus para
restaurar o relacionamento que havia sido quebrado lá no Éden pelo pecado. Assim, o
aspecto jurídico existe, é verdadeiro, mas depois disso o véu se rasga e nós entramos na
presença de Deus para nos relacionarmos com Ele sem qualquer impedimento.
O grande opositor da comunhão é o pecado, mais precisamente o egoísmo ou
egocentrismo, porque ele nos separa de Deus. E, se estou separado de Deus,
automaticamente estou separado dos meus irmãos. Imaginemos um ponto de encontro, um
vértice, que é o Senhor Jesus. Se temos duas linhas que saem de pontos diferentes e
focam esse vértice, fatalmente elas se encontrarão lá. O que eu quero dizer com isso? Se
você e eu somos pessoas de comunhão com Deus, com certeza iremos nos encontrar Nele.
Isso significa que é impossível ter comunhão com Deus e não ter comunhão com os irmãos.
Aquela história de que “eu sou cristão, mas não gosto de crente, não gosto de igreja” é

70
incompatível com essa verdade. Se, por exemplo, você diz: “Hoje eu não quero ver nenhum
crente na minha frente”, é porque você está com problema; “Ah, mas na igreja só tem gente
falsa, não dá para ter comunhão com ninguém!”, você está com problema; “Ninguém ama
a Deus como eu!”, você está com problema!
Ora, se o Senhor chamou a você e a mim para termos comunhão com Ele,
fatalmente iremos nos encontrar em Jesus Cristo, pois é impossível ter comunhão com Ele
sem ter comunhão com o irmão e isso precisa estar bem definido em nossa mente e
coração. Se eu sentir qualquer rejeição contra qualquer pessoa preciso entender que eu, e
não ela, está com problema.
Se você pertence a uma família de muitos irmãos, com certeza já teve conflitos e em
algum momento disse a um deles: “Você não é mais meu irmão!” Será que isso muda
alguma coisa? Quem lhe fez irmão dele foram seu pais, e não você. Da mesma forma,
quem nos fez irmãos uns dos outros foi o Senhor, por uma operação soberana, autônoma
e sobrenatural da parte Dele. Assim, nada do que eu possa fazer pode mudar a verdade
de que somos irmãos em Cristo. Resumindo, o nosso chamado é para andarmos em
comunhão com o Senhor e, automaticamente, teremos comunhão uns com os outros.
E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua granjeai amigos; para que,
quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos.
(Lc 16.9)

Granjear amigos
Granjear é conquistar, trazer para perto. Essa palavra está no modo imperativo, é
uma ordem. O nosso grande problema como cristãos é querer administrar as ordens de
Deus: “Ah, Deus falou isso, mas não foi bem isso que Ele quis dizer!” Jesus nos ordenou a
granjear amigos com as riquezas da injustiça. As riquezas atuais que chegam às nossas
mãos são extremamente injustas por causa da má distribuição, das origens duvidosas, das
contaminações havidas no seu trajeto; enfim, precisam ser santificadas ao chegar às
nossas mãos pois são de origem injusta. Devemos consagrá-las ao Senhor pelos dízimos
e pelas ofertas.
Entendemos pelo texto que todas as riquezas que chegam às nossas mãos devem
ser usadas para juntarmos amigos, pois, quando as mesmas acabarem (e vão acabar, pois
no céu não precisaremos delas), nos encontraremos com os amigos que juntamos por meio
delas. Use sua casa, seu carro, seu trabalho, seu dinheiro, seus negócios para fazer
amigos. Missões, por exemplo, é o envio de amigos para granjear novos amigos. Se
ajuntamos apenas coisas materiais, não teremos a possibilidade de receber os frutos disso
na eternidade, mas, se usarmos as coisas dessa vida para levar amigos para o Reino de
Deus, eles nos receberão na eternidade futura.
Assim, o ensino de Jesus é que as riquezas não podem ser usadas para o nosso
próprio benefício, mas para conduzirmos pessoas para o Reino de Deus, para o suprimento
de outros e para a alegria dos nossos próximos (Ef 4:28; Ec 4:8). As parábolas relatadas
em Lucas 15 mostram isso:
E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos
comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. (...) E achando-a, convoca as
amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.

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(...) E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos... (Lc
15.6,9,23)
O grande alvo de Deus é nos fazer amigos Dele. Por isso, devemos nos envolver
nessa mesma tarefa e propósito. Um pensador disse que precisamos ser mais ansiosos
em cuidar do nosso futuro no céu do que o homem da parábola acima estava ansioso
quanto ao seu futuro na terra. Esse homem tinha uma grande dívida com o seu senhor
porque usava seu dinheiro erradamente. Quando o senhor dele assumiu a administração,
esse homem correu e fez um acordo com os devedores, pois ficou muito preocupado com
o seu futuro. Ora, se nós nos preocupamos com o nosso futuro, então devemos juntar
coisas para esse futuro (que é celestial, e não terreno). As riquezas naturais – casas,
móveis, roupas etc. – não nos receberão nos céus, mas os nossos amigos sim.

Comunhão é manifestação de amizade


A igreja é caracterizada pelo relacionamento entre seus membros. Isso reflete o
caráter do Seu fundador, o Senhor, que é um caráter de relacionamento, de amizade. No
princípio, todos os dias Ele vinha conversar com Adão e Eva. Deus quis andar em amizade
com o homem, mas o pecado cortou essa amizade, lançando a inimizade entre o homem
e Deus e entre o homem e seu semelhante.
No decorrer da história, Ele achou algumas pessoas com quem podia conversar
abertamente: Enoque, Abraão, Moisés etc. Mas, não satisfeito com isso e como uma atitude
radical, desceu dos céus para morar entre nós e diminuir essa distância. Ainda não
satisfeito, enviou o Espírito Santo para habitar dentro de nós, porque “do lado”, para Ele,
ainda é muito longe.
Assim, esse Deus de relacionamento, quando entra em nossas vidas, começa a
estabelecer relacionamentos entre nós e os outros filhos Dele. Quando Jesus Cristo morreu
na cruz ele desfez as inimizades e Paulo explica isso:
Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e
pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
(Ef 2.15,16)
Uma outra versão diz “matou a inimizade”. Ora, ninguém pode usar uma coisa que
foi morta, desfeita, que não existe mais. Quando algo morre perde o seu poder, a sua ação.
Então é ridículo quando um cristão fica em inimizade com seu irmão, pois está abrigando
em seu coração um “cadáver”. É totalmente ilógico ter em seu coração qualquer semente
ou raiz de inimizade!
Inimizade não é uma “briga grande”, mas simplesmente a falta de amizade. Como é
que um cristão que tem o Espírito Santo, o Deus da comunhão dentro de si, consegue ter
qualquer barreira com outros cristãos? Eu não estou falando sobre “profundidade” de
relacionamento ou amizade, pois ninguém consegue ter o mesmo grau de afinidade com
todos da congregação. No entanto, não posso ter nenhum sinal de rejeição ou inimizade
contra qualquer pessoa.
É verdade que existem situações onde olhamos para alguém e pensamos: “Eu não
vou com a cara dele!” Há muitos anos, fui trabalhar com uma tribo indígena e eu e um índio
tivemos inimizade ao primeiro olhar. Não “íamos com a cara um do outro” e descansamos

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nisso. Nas reuniões da aldeia ficávamos bem distantes. Mas Deus fez um milagre e eu
passei a ser o melhor amigo dele. Acabou, morreu aquela inimizade. Assim, é impossível
que um cristão cheio do Espírito Santo seja indiferente aos seus irmãos. A indiferença, eu
creio, é uma das armas mais ferinas e diabólicas que existe.

A igreja é um lugar de amizades sólidas


É o lugar onde Deus nos coloca para aprendermos a andar em amizades sólidas e
leais, treinando-nos para a eternidade. Então, se vamos conviver com os nossos irmãos na
eternidade, devemos começar a treinar isso hoje, pois as amizades são ferramentas de
Deus para nos aperfeiçoar.
Como o ferro com ferro se aguça, assim o homem afia o rosto do seu amigo. (Pv
27.17)
É impossível nos aperfeiçoarmos sem a ajuda da igreja, sem viver na comunhão dos
santos. Se nos lembrarmos que a inimizade foi morta conseguiremos agir diferente. Certa
vez ouvi uma pregação de um pastor indiano falando acerca das cinco pedras que Davi
pegou no ribeiro (1 Sm 17.40). O texto fala de cinco “seixos”, pedras bem lisas e redondas.
Mas, como elas se tornaram assim? Justamente por rolarem dentro do rio, batendo umas
nas outras – e o nome desse rio é IGREJA!
Alguns dizem: “Estou tendo muito choques, muitos atritos com os irmãos!” Isso não
significa que eles são ruins, mas que todos ainda temos muitas arestas. E o processo para
nos tornarmos “lisos e redondos” continuará até que todas as arestas acabem. Eu sei que
a igreja tem problemas, pois é constituída de pessoas como eu e você. Não é saindo da
igreja ou do rio que resolveremos nossos problemas, porque as arestas continuarão. Então
é melhor ficar, mesmo com problemas, pois sabemos que no final o Senhor vai nos
aperfeiçoar na comunhão dos santos. Portanto, seja bem-vindo à igreja, ao rio de Deus que
vai nos fazer chocar uns com os outros até que todos sejamos aperfeiçoados na comunhão!
Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas
pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos. (...) O óleo e o perfume
alegram o coração; assim o faz a doçura do amigo pelo conselho cordial. (...) Como
o ferro com ferro se aguça, assim o homem afia o rosto do seu amigo. (Pv
27.5,6,9,17)
O que você escolhe, beijos do inimigo ou feridas do amigo? O primeiro é enganador,
mas o segundo pode nos curar, pois somos curados, limpos e aperfeiçoados na comunhão
dos santos. O conselho cordial do amigo é doçura, mas, infelizmente, temos sido ensinados
nos últimos milênios que não devemos receber conselho de ninguém, que cada um sabe o
que deve fazer, que não precisamos uns dos outros. Essa mensagem tem uma só origem:
o inferno!
Podemos ter relacionamentos com qualquer pessoa, mas comunhão só com aqueles
que temem o nome do Senhor. Jesus se relacionava com gentios, publicanos, pecadores;
no entanto, sua comunhão era apenas com seus amigos. Por isso não podemos ter
amizades indistintamente. Se ao aprofundarmos uma amizade o Senhor Jesus não for a
terceira dobra do cordão (Ec 4.12), a tendência dessa relação será abaixar o nível moral.
Passamos a ser permissivos, condescendentes com o pecado, a corromper e ser
corrompidos. No começo das amizades geralmente nos tratamos formalmente, mas, à

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medida em que ela se aprofunda, passamos a ser mais informais. Isso é bom, mas não
podemos permitir que a informalidade nos leve para a imoralidade, para aquilo que não
presta, que não é do Senhor. Por isso é preciso ter muito cuidado! Nossas amizades não
podem ser a qualquer preço, mas devem ter Jesus como base e elemento de ligação,
controle, fiscalização entre nós.
Isso serve para qualquer área de relacionamento. No casamento, se for o Senhor
quem une o casal essa relação será santa. Mas, se ele não estiver no meio, a relação será
perniciosa. É por isso que a Palavra diz: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio,
bem como o leito sem mácula...” (Hb 13.4), porque pode haver prostituição e perda de
santidade e moralidade se Jesus não for o elemento que liga o casal.

A amizade não é a qualquer preço


Ela precisa nascer no coração de Deus. Por isso é santa. Se ela não se situar ao
redor de Jesus não vale a pena ser mantida, pois somente a amizade produzida pelo
Espírito Santo é eterna e abençoadora. Quando Moisés desceu do monte com as tábuas
da Lei e encontrou o povo em idolatria, o Senhor lhe deu a seguinte ordem:
E disse-lhes: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre
a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu
irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho. (Ex 32.27)
Quando te incitar teu irmão, filho da tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher
do teu seio, ou teu amigo, que te é como a tua alma, dizendo-te em segredo: Vamos,
e sirvamos a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais; dentre os
deuses dos povos que estão em redor de vós, perto ou longe de ti, desde uma
extremidade da terra até à outra extremidade; não consentirás com ele, nem o
ouvirás; nem o teu olho o poupará, nem terás piedade dele, nem o esconderás; mas
certamente o matarás; a tua mão será a primeira contra ele, para o matar; e depois
a mão de todo o povo. E o apedrejarás, até que morra, pois te procurou apartar do
Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão... (Dt 13.6-10)
A ordem foi para que irmão matasse irmão, amigo matasse amigo. A amizade não
pode ser sem santidade. Claro que o nosso Senhor não nos permitirá tirar a vida de
ninguém. Só Ele tem esse poder, mas o que podemos aprender com esses textos é que
Deus deve ser o eixo dos nossos relacionamentos, que tem de ser santos como Ele é santo.
Infelizmente, a tendência dos relacionamentos, quando perdem a referência do
Senhor e Sua santidade, é perder o nível de respeito, de honra e de pureza. A princípios
somos respeitáveis e respeitadores, mas depois nos tornamos permissivos, corrompemos
e somos corrompidos.
A nossa amizade tem de produzir bênção para os outros. Não pode se tornar uma
panela fechada onde outros não podem entrar, mas uma relação inclusiva que traz graça
ao seu redor. As nossas amizades têm de produzir frutos eternos para nós e para outros.
Quando se perde a santidade, o relacionamento deixa de ser de comunhão e passa a ser
um “campo missionário”, ou seja, a pessoa deixa de ser meu irmão e passa a ser alvo do
meu evangelismo.
Eu conheci um tenente da Aeronáutica que era ordenança de um coronel e, quando
juntavam os oficiais no gabinete desse coronel, contavam-se casos e piadas obscenas,

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imorais. Mas, quando o tenente chegava, aquele coronel dizia: “Vamos parar de contar
esses casos, porque ele não gosta”. Assim, precisamos estabelecer regras em nossos
relacionamentos.
Quando eu era mais novo, trabalhava em uma grande fábrica em São Paulo e na
hora do almoço juntava moços e moças para contar piadas sujas. Eles sabiam que eu era
pastor e contavam aquelas coisas para mexer comigo, mas eu continuava estudando e
trabalhando. Certo dia, um deles me perguntou: “Você não se importa que fiquemos perto
de você contando essas piadas?” Respondi: “Não, porque cada um tem a sua voz. O
cachorro late, o gato mia e vocês contam essas coisas. Eu nunca briguei com um cachorro
porque ele latiu ou com um gato porque ele miou; por que brigaria com vocês por isso que
falam?” E eles nunca mais fizeram aquilo perto de mim! Amizade tem critérios, padrões – e
esses são impostos pelo Senhor. O que eu preciso é influenciar, e não ser influenciado.
Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for
devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o
tal nem ainda comais. (1 Co 5.11)
Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus
sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais seus companheiros. (Ef 5.6,7)
Uma vez eu me dispus a conquistar um irmão que estava afastado do Senhor.
Procurei saber as coisas que ele gostava e uma delas era mecânica. Gastei bastante tempo
com ele mexendo em carros. Não avancei muito, mas então descobri que ele também
gostava de pescar. Viajamos juntos por 25 horas até um rio em Mato Grosso. Chovia muito,
o rio estava cheio e não pescamos praticamente nada. Mesmo com tudo isso não consegui
conquistá-lo. Então parei. Eu não posso ser indiferente, preciso fazer o movimento de
aproximação, mas tudo com critérios, padrões, objetivos.
Quem não vai querer fica em uma congregação onde as pessoas são amigas?
Quem, ao ser bem recebido, bem tratado, bem honrado não vai querer voltar? Quem não
vai querer conviver ao lado de pessoas bondosas, compassivas, amorosas? Precisamos
mudar os nossos enfoques e sermos pessoas de comunhão, relacionamentos, amizades.
É na igreja que conhecemos a provisão de Deus, que recebemos a saúde do Corpo de
Cristo, que conhecemos os Natãs que, com coragem e amor, apontam os nossos erros,
nossos pecados e nos dão a chance de consertar e arrepender.
A igreja não é um espaço onde recebemos sem dar. Não é um lugar no qual somos
supridos em nossa necessidade teológica ou intelectual. A igreja é a família de Deus e isso
quer dizer que a alma é uma só, que o coração é um só e que a vida do Espírito Santo flui
nos relacionamentos, permitindo que Cristo toque em cada um e o mundo reconheça que
ele foi mandado por Deus. Quantas pessoas já se perderam por falta de amigos?

Não devemos esperar amizade sem decepções ou desilusões


Enquanto formos amigos de pessoas iguais a nós, débeis e inconstantes, vamos
estar sujeitos a traumas produzidos por incidentes nos relacionamentos.
Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão,
levantou contra mim o seu calcanhar. (Sl 41.9)
E se alguém lhe disser: Que feridas são estas nas tuas mãos? Dirá ele: São feridas
com que fui ferido em casa dos meus amigos. (Zc 13.6)

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Eu descobri que existe uma vacina contra a decepção: não esperar nada. Somente
assim nunca seremos decepcionados. Eu sempre espero a obra de Deus nas pessoas,
mas não algo delas mesmas. Todo bom ato, todo dom perfeito, tudo de reto e santo em
minha vida vem de Deus; então, não posso cobrar nada de ninguém, exigir ou colocar
cargas sobre meus amigos, porque quando eu entro em uma amizade apenas para ganhar,
jogo sobre a pessoa uma carga que ela não pode carregar. Ela fica devedora de cumprir
as minhas expectativas, e isso não pode acontecer. Deus estava tão certo em não esperar
nada de nós que mandou Seu Espírito habitar em nosso interior para realizar o que Ele
deseja.
Também pode suceder de termos “amigos” somente nas horas que podemos dar
alguma coisa. Depois disso eles nos deixam, como na hora em que Jesus multiplicou os
pães. De qualquer maneira, precisamos estar cientes de que as amizades são provadas
pelas circunstâncias e pelos acontecimentos. Nenhuma amizade fica sem prova:
Muitos se deixam acomodar pelos favores do príncipe, e cada um é amigo daquele
que dá presentes. (Pv 19.6)
Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão. (Pv 17.17)
Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para
morrermos com ele. (Jo 11.16)
Em Belo Horizonte havia uma empresa de cobranças, onde os cobradores usavam
um paletó vermelho com letras brancas e garrafais nas costas escrito: “cobrador”. Quando
batiam à porta de alguém toda a vizinhança ficava sabendo que aquela pessoa tinha uma
dívida não paga. Nós não temos esse paletó, esse mandato, esse ministério! Por isso, não
vamos cobrar nada! Faça sua vida e dos irmãos ser mais tranquila, mais leve. Espere, sim,
de você mesmo – seja amigo!
Outra coisa: dê às pessoas o direito de não serem suas amigas, mas não exija esse
mesmo direito delas. Eu tiro essas palavras da relação de Jesus com Judas. Judas não era
amigo de Jesus, mas Jesus era amigo dele e amou-o até o fim (Jo 13.1). Na última Ceia,
Jesus fez o ato de maior demonstração de carinho possível: ele molhou o bocado de pão e
colocou na boca de Judas, um gesto de altíssimo valor, dizendo-lhe: “Amigo, o que tens de
fazer, faze-o depressa” (Jo 13.27). Mais tarde, no Getsêmani, quando Judas chegou com
os soldados e beijou Jesus, esse lhe disse: “Amigo, para que vieste?” (Mt 26.50). Jesus
não usava de força de expressão – quando ele o chamou de amigo é porque realmente o
considerava amigo. Eu digo que Jesus sempre falou o que quis falar e sempre quis falar o
que falou. E ele nos chamou de amigos (Jo 15.13-15), pois é para esse nível que ele quer
nos levar.

A amizade revela os corações.


Os amigos são abertos entre si. Falam de suas aspirações, seus medos, seus planos
e, por isso, a amizade provê ajuda e proteção. A transparência revela a amizade que existe:
quanto maior a amizade, maior a transparência.
Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas
tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito
conhecer. (Jo 15.15)

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E falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo; depois
tornava-se ao arraial; mas o seu servidor, o jovem Josué, filho de Num, nunca se
apartava do meio da tenda. (Ex 33.11)
Um cuidado: não entre em autocomiseração dizendo que não tem amigos. Não
busque amigos verdadeiros, mas seja você um amigo verdadeiro. Tome sobre sua vida
essa responsabilidade. Dê uma olhada na congregação, veja quem está sem amigos e seja
amigo delas. Entre em comunhão para ajudá-las, exortá-las, animá-las. A coisa mais
lucrativa, de maior futuro para nós, é fazer amigos. Tudo o que temos deve ser investido
no empreendimento de granjear e manter amigos, de fazer amizades.
Podemos ter uma doutrina absolutamente correta sem termos amigos, mas a visão
não substitui os relacionamentos. A doutrina não é maior do que a amizade. Refiro-me a
amizades que glorificam ao Senhor, que visam, em última instância, a glória de Deus. Se
não temos e mantemos as amizades, somos meros empresários de um negócio religioso a
que chamamos indevidamente de “igreja”, pois a verdadeira igreja é um lugar onde estão
os verdadeiros amigos.
Precisamos de amizades sólidas e profundas às quais podemos recorrer nos
momentos de aflição e que nos alegram nos momentos de descontração. Precisamos de
amigos que, em cuja ausência, sentimos saudades; amigos que nos atraem para mais perto
do Senhor e que nos desafiam a sermos santos. Essa é a igreja que o Senhor deseja!

“Senhor, eu quero ser amigo. Tira-me do meu casulo, do meu ostracismo, do meu
isolacionismo, de mim mesmo. Eu quero ser amigo com a Tua graça, com o Teu
poder, com a Tua força. Tu sabes que de mim mesmo não tenho condições, mas o
Senhor é o Amigo por excelência que vive em mim. Assim, no Teu poder, na Tua
força eu posso e quero ser amigo dos que não têm amigos. Senhor, faz a Tua obra
através de mim, alcançando pessoas solitárias, pessoas sedentas de amizade.
Senhor, nesse mundo tão competitivo, pessoas prejudicando e ferindo umas às
outras todos os dias, eu quero fazer a diferença. Queremos ser um povo de
comunhão, um povo que vive na amizade do Senhor. Em nome de Jesus Te
pedimos. Amém!”

“Irmãos e Irmãs” – de Asaph Borba


Eu não sei o que seria de minha vida sem irmãos e irmãs.
Sem amigos que com o amor de Jesus mudaram meu coração.
Quando sem destino algum eu caminhava para o fim.
Eles estenderam suas mãos pra mim!
Eu não sei o que seria de minha vida, sem irmãos e irmãs.
Sem a igreja de Cristo que está presente e viva ao meu redor.
A comunhão, a oração, que nos unem ao Senhor.
Trazem-me alegria e mais vontade de viver.
E se a cada dia neste amor nos unirmos mais e mais.
Nós podemos nosso mundo transformar!
E que muitos como eu, assim possam cantar:
"Eu não sei o que seria sem irmãos e irmãs!"

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RELACIONANDO COM JESUS PELA GRAÇA
José Carlos Marion

Q uanto mais nos aproximamos do final dos tempos, mais necessidade e desejo eu tenho
sentido de experimentar da presença de Jesus, mais sede e fome tenho tido de tocar
nas vestes dele, assim como aquela mulher com fluxo de sangue. Mas eu tenho me
perguntado: como posso experimentar essa presença de forma mais profunda, além da
forma tradicional a que estou acostumado? Entendo que a única maneira é me relacionando
com Ele exclusivamente pela Graça.
Um dos temas mais importantes nas Escrituras é a Graça. Geralmente a definimos
como “favor imerecido”, uma dádiva ou presente de Deus para podermos ser salvos e
conduzirmos nossa vida cristã, pois, sem a mesma, seria impossível permanecermos firmes
nessa caminhada. O apóstolo Paulo nos ensinou isso:
...e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, –
pela graça sois salvos (...) Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não
vem de vós; é dom de Deus. (Ef 2.5,8)
A salvação pela graça vem 100% de Deus. Nem mesmo a fé que declaramos em
Jesus quando nele cremos veio de nós, mas, sim, do próprio Senhor. Isso porque Ele não
quer que haja nenhuma obra humana nesse processo, que não tenhamos uma mínima
parte sequer de glória pessoal, de que fizemos alguma coisa para conquistar a nossa
salvação.
Houve uma linha divisória muito importante para as nossas vidas quando Jesus veio
ao mundo: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por
meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). A rigidez, a falta de misericórdia da Lei foi substituída
plenamente pelo perdão amoroso da graça de Jesus Cristo.
Encontramos um exemplo poderoso dessa graça na história da mulher pecadora que
ungiu os pés de Jesus:
Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa
do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo
que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento;
e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os
enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento.
Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora profeta,
bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. Dirigiu-se
Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-
a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o
outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos.
Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a
quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse
a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés;
esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos.

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Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os
pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus
pés. Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito
amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Então, disse à mulher:
Perdoados são os teus pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a
dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? Mas Jesus disse à mulher: A
tua fé te salvou; vai-te em paz. (Lc 7.36-50)
Existe outra história semelhante a essa em Mateus 26, Marcos 14 e João 12, só que
com a pessoa de Maria, irmã de Lázaro, que teve a mesma atitude dessa mulher pecadora
acima. Portanto, esse é um texto ímpar da Palavra de Deus.
O verso 38 diz que a mulher veio por detrás de Jesus e derramou nos pés dele seu
preciosíssimo perfume, enxugando-os depois com seus cabelos. Imaginamos, conforme a
cultura da época, que havia uma mesa muito baixa e todos se inclinavam em frente à
mesma, apoiando seus corpos com um braço e se alimentando com o outro. Então, quando
essa mulher entrou de forma desapercebida, Jesus não a viu, senão apenas quando ele
sentiu que ela derramara o unguento sobre seus pés.
Nos versos 44 a 46, Jesus recrimina esse Simão fariseu pela sua atitude crítica em
relação à mulher, dizendo-lhe que ele não fez as coisas que ela fez: “...não me deste água
para os pés ...não me deste ósculo ...não me ungiste a cabeça com óleo...”. Esse homem,
no entanto, tinha várias virtudes. Ele era fariseu e, portanto, deve ter enfrentado muitas
resistências e críticas da parte dos demais fariseus e sacerdotes por ter se aproximado de
Jesus. Outra coisa é que ele convidou ou até mesmo implorou que Jesus fosse à sua casa
para comer, preparou-lhe um banquete e Jesus aceitou, entrando em sua casa. Penso que
isso se assemelha muito aos nossos comportamentos. Nós fazemos muitas coisas boas e
certas, mas, às vezes, cometemos falhas, como esse homem cometeu. Talvez podemos
dizer que ele era um “crente fraco”, com atitudes cristãs sem relevância se comparadas à
atitude dessa mulher pecadora.
Temos, então, três personagens nessa história: Jesus, Simão e a mulher pecadora.
Qual a diferença entre eles? Simão entendia que a sua dívida para com Jesus era pequena,
algo que, com um pouco de esforço, ele conseguiria pagar. Esse era o entendimento
farisaico da Lei, não obstante ela afirmar: “Nenhum deles de modo algum pode remir a seu
irmão, ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e cessará
para sempre)” (Sl 49.7,8). Então, Simão não conhecia, não sabia, não havia experimentado
o que era a Graça. Por isso, apesar dele ter alguns procedimentos cristãos aprováveis, ele
amava pouco a Jesus.
Paulo, na sua carta aos Romanos, relata nossa condição antes de experimentarmos
a graça de Deus que nos foi concedida por meio de Cristo Jesus:
Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus;
todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há
nem um sequer (...) pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo
justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus. (Rm 3.10-12,23,24)
Todos estamos debaixo da mesma condenação, não há um justo sequer, só que
cada um tem formas diferentes de entender qual o tamanho da sua dívida. Simão devia
pensar que para ele era mais fácil receber o perdão, afinal, aquela mulher era uma

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prostituta, repudiada na cidade por todas as outras mulheres. Já a mulher, entendia que
sua dívida era imensa, praticamente impagável. No entanto, ela sabia que o Messias
haveria de vir, teve uma convicção muito grande que este era Jesus e, então, teve essa
forte atitude de reconhecimento e arrependimento dos seus pecados diante dele.
Colocando em termos financeiros a título de ilustração, provavelmente Simão
acreditava ter uma dívida de R$ 50,00 junto a Deus, e esta mulher, de R$ 500,00. De quanto
você acredita ser sua dívida junto ao Senhor? Isso é algo que cada um tem de sentir dentro
de si.
Há muitos anos eu assisti um programa de TV do famoso pregador norte-americano,
Rex Humbard (1919-2007). Nesse programa, sua filha Elizabeth estava dando um
testemunho, dizendo algo semelhante a isso: “Graças a Deus, porque desde pequena eu
conheci o Senhor e não fiz o que as outras adolescentes da minha idade fizeram. Eu não
entrei por esse mundo de pecados, de imoralidades e, por isso, hoje me considero limpa,
santa.” Ora, isso é maravilhoso e nosso desejo é que todos sejamos assim. Mas, qual era
o tamanho da dívida dessa mulher? 50 ou 500? Com certeza de 50, porque ela não
experimentou a enorme medida da Graça do Pai (pelo menos por aquele testemunho; pode
ter havido outras realidades em sua vida que a tenham levado a experimentar a Graça).
Uma das maiores dificuldades que temos na vida é entender o tamanho da nossa
dívida, entender a realidade do céu e do inferno. A mulher pecadora do texto de Lucas 7
reconhecia que era uma grande pecadora, que tinha uma dívida impagável e que não havia
saída para ela. Era uma mulher sem identidade, endereço, futuro e, ainda por cima, vivia a
pior condição que uma mulher poderia viver: era uma prostituta. No entanto, ela teve uma
atitude inusitada, quebrou um “protocolo” muito grande: ela entrou em um ambiente
exclusivo para homens, quebrou as normas sociais e religiosas vigentes e tocou em Jesus.
Sua atitude foi de não se conter, de se rebelar contra os ritos, cerimônias e tradições para
poder afirmar sua imensa dívida de gratidão e amor a Jesus. Ela compreendia o tamanho
da sua dívida e rompeu com todas as barreiras e preconceitos para alcançar seu perdão.
Ela se deixou ser alcançada pela poderosa e maravilhosa Graça de Jesus!
Acredito que, após as palavras de Jesus: “Perdoados são os teus pecados”, ela não
sentiu mais nenhuma condenação sobre sua vida. Agora ela estava perdoada, limpa, santa,
pura, restaurada pela graça; não precisava mais pensar e se preocupar com sua vida
pecaminosa; entendeu a grandeza do perdão. O Messias havia chegado e, com ele, o fim
da vergonha dela.
Muitos homens e mulheres de Deus no Antigo Testamento experimentaram essa
“graça antecipada”. Um deles foi Davi. Ele tocou na Graça, embora não a tivesse
experimentado na mesma proporção que nós a experimentamos por meio de Jesus, porque
o Espírito Santo ainda não havia sido derramado.
Em 2 Samuel 6, Davi levou a Arca de volta a Jerusalém e o texto diz que ele “dançava
com todas as suas forças diante do Senhor; e estava cingido de uma estola sacerdotal de
linho. Assim, Davi, com todo o Israel, fez subir a arca do Senhor, com júbilo e ao som de
trombetas.” (v. 14,15). Ele se despiu das suas vestes reais, rompeu com todas as tradições,
desnudou-se diante de todos, sendo, inclusive, repreendido por sua esposa por isso (v. 16).
Sua atitude era ridícula aos olhos humanos. Imagine o próprio rei entrando na cidade
vestido apenas de uma túnica, gritando, saltando e cantando diante de todos!

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Sabemos que aquela Arca simbolizava a presença de Deus, mas em nada se
compara à presença ressurreta, viva e gloriosa de Jesus que podemos desfrutar e adorar
hoje. Ora, se Davi estivesse em nosso meio hoje, qual não seria sua expressão de louvor
e adoração, qual não seria sua alegria e exaltação a Deus (talvez muitas vezes superior à
nossa)?
Quando entendemos a Graça perdemos os “protocolos” em nosso relacionamento
com Jesus. As normas e tradições acabam, as prioridades naturais desaparecem, nos
soltamos totalmente nos braços dele. Às vezes somos tão presos porque ainda não
experimentamos a real dimensão dessa Graça. Talvez, em nosso coração, nossa dívida
seja apenas de 50 e não de 500. Se compreendêssemos isso nossa vida seria muito
diferente. Davi disse:
Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do
SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e
meditar no seu templo. (Sl 27.4)
Ele já tinha a revelação de Jesus assentado à direita do Pai e, por isso, desejava
morar na Casa de Deus para contemplar por toda a eternidade a beleza, a formosura do
Senhor Jesus. Davi entendeu a Graça!
Em Mateus 26, lemos a história de Maria, irmã de Lázaro, que também ungiu a
Jesus:
Ora, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele
uma mulher, trazendo um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo, que lhe
derramou sobre a cabeça, estando ele à mesa. Vendo isto, indignaram-se os
discípulos e disseram: Para que este desperdício? Pois este perfume podia ser
vendido por muito dinheiro e dar-se aos pobres. Mas Jesus, sabendo disto, disse-
lhes: Por que molestais esta mulher? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os
pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes; pois,
derramando este perfume sobre o meu corpo, ela o fez para o meu sepultamento.
Em verdade vos digo: Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será
também contado o que ela fez, para memória sua. (Mt 26.6-13)
Esse perfume era uma essência caríssima, um “bálsamo precioso” como diz o texto.
Era uma espécie de poupança que as mulheres faziam para o caso de necessidades
futuras. Quando Maria quebrou o vaso e derramou a essência na cabeça de Jesus, os
discípulos julgaram como um grande desperdício essa atitude, pois ela poderia ter vendido
por 300 moedas de prata (Jo 12.5), algo equivalente a quase um ano de trabalho. Judas
vendeu Jesus por 30 moedas, ou seja, o que ela fez foi dez vezes mais.
Maria tinha uma vida aparentemente limpa, honesta, santa. No entanto, ela tinha
uma revelação do tamanho da sua pecaminosidade e da graça de Jesus. Ela fez um ato
profético: o preparou para o sepultamento. Horas depois, ao ser crucificado, essa essência
ainda permanecia no corpo de Jesus. Ele ficou das 9h da manhã às 3h da tarde debaixo
de um sol escaldante, suando, sangrando... mas, à medida em que ele transpirava, aquele
perfume exalava do seu corpo alcançando as pessoas ao redor. Isso é amor, gratidão,
graça!
Jesus disse algo muito forte sobre essa atitude de Maria: “Onde for pregado em todo
o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua”. O que
ela fez contou para sua memória. Hoje nós também estamos aqui para a memória de Jesus.

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Vivemos para compreender a grandeza do seu perdão, da sua graça. Tudo é dele e
para ele, nada é ou provém de nós mesmos. Jesus, porém, abriu uma exceção ao dividir
parte da sua glória com essa mulher, dizendo que em todo o mundo seria proclamado o
que ela havia feito.
Maria entendia perfeitamente o que estava fazendo, pois já havia experimentado da
graça de Jesus:
Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta,
hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se
assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um
lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse:
Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir
sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta!
Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é
necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não
lhe será tirada. (Lc 10.38-42) (grifos nosso)
Esta também é a nossa melhor parte, a única coisa realmente valiosa que nos basta:
Jesus!
Um relacionamento pela graça com Jesus envolve duas coisas: 1) Quebrar
protocolos; 2) Desperdício. Tudo o que a mulher pecadora e Maria tinham, elas derramaram
sobre Jesus. Desperdício significa “esbanjamento, gasto exagerado, extravagância, perda”.
Apenas pessoas verdadeiramente apaixonadas por Jesus conseguem quebrar protocolos,
desperdiçar o que são, gastar o que têm, fazer extravagâncias por ele; pessoas que
reconheceram que suas vidas não seriam nada sem a graça, glória, perdão, misericórdia,
amor, presença de Jesus.
Às vezes eu pergunto ao Senhor durante minhas orações às madrugadas: “Jesus,
qual extravagância eu estou fazendo para Ti? Que protocolos tenho quebrado, que
desperdícios tenho feito para o Senhor?” Normalmente somos muito presos, como aqueles
discípulos que repreenderam a atitude de Maria, e não nos soltamos, não quebramos
protocolos, não fazemos extravagâncias para Jesus. Por isso, precisamos analisar nosso
coração para ver se estamos entendendo o que é a Graça, o que é o inferno ou lago de
fogo, pois a Palavra diz que Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para
o reino do Filho do Seu amor” (Cl 1.13). Isso significa que já estávamos no lago de fogo –
apenas não o tínhamos ainda experimentado na prática – mas Jesus nos arrancou de lá!
Muitas vezes somos semelhantes aos irmãos da igreja de Éfeso, que João fala em
Apocalipse 2:
Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes
suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram
apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste
provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra
ti que abandonaste o teu primeiro amor. (vs. 2-4)
Eles fizeram muitas coisas boas e agradáveis a Deus, mas se esqueceram da
principal: abandonaram o primeiro amor – Jesus, o centro de suas vidas. Às vezes fazemos
obras com ótimas intenções, servimos a igreja com nossos dons e ministérios. No entanto,
Jesus os advertiu dizendo: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática
das primeiras obras” (v.5). Essas primeiras obras são aquelas que experimentamos na

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nossa conversão, a admiração, a paixão por Jesus. Passávamos o dia inteiro orando,
meditando, contemplando, adorando o Senhor, buscando Sua presença, lendo Sua
Palavra, agradecendo pela libertação do inferno e pela graça redentora e transformadora
que havia nos alcançado.
Precisamos, sim, fazer boas obras, mas se Jesus não for o centro, o Senhor de
nossas vidas, de nada elas servirão. Ele disse: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse
dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Se não estivermos presos na
Videira verdadeira, recebendo a seiva diária de Jesus, nossas obras serão nulas.
Normalmente imaginamos que as obras são esforços pessoais e nos preocupamos
em saber como vamos conseguir produzi-las. Mas “obras” significa estar ligado na Videira,
receber da vida de Jesus e, então, produzir frutos. Frutos são automáticos, não requerem
esforço, vêm da própria seiva da Videira. Quando estamos ligados a Jesus nossas obras
são frutíferas e espontâneas, não requerem sacrifício próprio, assim como a árvore não se
esforça para produzir seus frutos. Temos, no entanto, uma facilidade enorme de querer
fazer coisas com nossos próprios esforços, mas isso não é viver pela Graça.
Precisamos tirar da nossa mente a ideia de que somos “bonzinhos”. Penso que esse
é um dos maiores problemas dos cristãos. Paulo disse que “onde abundou o pecado,
superabundou a graça” (Rm 5.20). Ora, se nos julgarmos bons, qual a finalidade da Graça
em nossas vidas?
Observo, em muitas reuniões de orações, que passamos horas orando e quase
ninguém perde perdão pelos seus pecados. Mas se o próprio Jesus nos ensinou na oração
do Pai Nosso que devemos pedir perdão pelas nossas dívidas (e isso diariamente), se
passarmos um dia sem fazê-lo é porque alguma coisa está errada. Será que somos tão
“bonzinhos” a ponto de não termos pecados para serem perdoados? Não são muitos os
que se ajoelham, choram, clamam, confessam seus pecados e pedem perdão ao Senhor.
O apóstolo João disse em sua epístola:
Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a
verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não
temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (1
Jo 1.8-10)
Tempos atrás eu estava muito arrasado, quebrado com algumas atitudes que eu
tinha tido. Caminhando, comecei a falar com o Senhor: “Jesus, você me abandonou! Não
é possível que eu, um servo teu, um pastor, possa ter esse tipo de atitude!” Então eu senti
ele me dizendo: “Que bom que você se acha assim, porque só desta maneira eu posso agir
na sua vida, só assim a minha graça pode agir na sua vida!” É claro que eu não quero
pecar, luto diariamente contra o pecado, mas ele não me assusta mais, porque Jesus
resolveu o problema do pecado lá na cruz por mim. Então, eu tenho convicção de que estou
firme nele, preso à Videira. No entanto, se alguma coisa está acontecendo comigo é porque
ele quer tratar comigo, é porque eu preciso aprender alguma coisa. Não estou estimulando
ninguém a pecar, mas João disse: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”
(1 Jo 2.1).
Algo que às vezes nos deixa confusos é uma expressão do apóstolo Paulo: “Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15).
Outra versão bíblica diz “dos quais eu sou o pior”. Diante dessa frase, temos três

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alternativas: a) Será que ele usou de falsa humildade? Porque às vezes nos colocamos
nessa posição de dizer que somos maus no intuito de tentar demonstrar humildade; b) Será
que ele realmente era o pior dos pecadores? c) Será que ele se realmente se sentia assim?
Afinal, ele perseguiu e matou muitos cristãos e, de repente, encontrou a Graça e percebeu
o estado de miséria que vivia. Creio que essa é a alternativa correta, essa era a realidade
da sua vida. Ele disse “eu sou” – e isso não se referia ao passado, mas ao presente.
Creio que Paulo aprendeu a conviver de tal modo com a santidade, grandeza, graça
de Deus que, a cada revelação que ele tinha, mais se sentia pecador e distante da realidade
de um verdadeiro seguidor de Cristo. Portanto, ele se sentia o pior dos pecadores. Faço,
então, a seguinte pergunta: será que eu e você nos sentimos assim também? Se não nos
sentimos pelo menos próximos disso, a nossa dívida é só de 50! Não estamos percebendo
a beleza, a grandeza, a majestade da obra de Cristo, o valor do sangue dele derramado
em nosso favor! Precisamos aprender a viver pela Graça!
Um exemplo de viver pela graça é da mulher Sulamita, do livro de Cantares de
Salomão, que buscava ansiosamente pelo seu noivo. A igreja, como noiva de Jesus, deve
buscar viver esse mesmo tipo de relação com ele. Muitas mulheres na Bíblia foram
elogiadas por Deus devido a esse tipo de busca, de comportamento, de relação para com
Ele, justamente porque elas aprenderam a ser e agir como noivas. Ora, se não tivermos
essa mesma atitude, como seremos a noiva de Jesus?
Ouço a voz do meu amado; ei-lo aí galgando os montes, pulando sobre os outeiros.
O meu amado é semelhante ao gamo ou ao filho da gazela; eis que está detrás da
nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades. O meu amado fala
e me diz: Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem. (...) O meu amado é
meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. (...) O seu falar é
muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal, o meu
esposo, ó filhas de Jerusalém. (...) Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu;
ele pastoreia entre os lírios. (...) Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim.
(Ct 2.8-10,16; 5.16; 6.3; 7.10)
Devemos, como noiva, declarar o mesmo a Jesus: “Tu és o meu amado! Eu sou teu
e tu és meu!” Diz ainda o texto, que ela saiu à noite procurando seu amado. Os guardas a
encontraram, bateram nela, questionaram a quem ela buscava e ela descreveu-lhes como
ele era:
Abri ao meu amado, mas já ele se retirara e tinha ido embora; a minha alma se
derreteu quando, antes, ele me falou; busquei-o e não o achei; chamei-o, e não me
respondeu. Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-
me e feriram-me; tiraram-me o manto os guardas dos muros. (...) O meu amado é
alvo e rosado, o mais distinguido entre dez mil. A sua cabeça é como o ouro mais
apurado, os seus cabelos, cachos de palmeira, são pretos como o corvo. Os seus
olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, lavados em leite,
postos em engaste. As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como colinas
de ervas aromáticas; os seus lábios são lírios que gotejam mirra preciosa; as suas
mãos, cilindros de ouro, embutidos de jacintos; o seu ventre, como alvo marfim,
coberto de safiras. As suas pernas, colunas de mármore, assentadas em bases de
ouro puro; o seu aspecto, como o Líbano, esbelto como os cedros. O seu falar é
muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal, o meu
esposo, ó filhas de Jerusalém. (Ct 5.6,7,10-16)

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Ela disse às filhas de Jerusalém: “Se encontrardes o meu amado, que lhe direis?
Que desfaleço de amor.” (5.8). Relacionamento com Jesus é estar apaixonado, enfermo,
desfalecendo de amor por ele! Ora, se apenas pedimos coisas a ele, alguma coisa está
errada em nosso coração. Se pensamos em Jesus somente quando precisamos resolver
nossos problemas, não estamos tendo um noivado verdadeiro com ele. Não estamos
demonstrando ser uma noiva apaixonada, quebrando protocolos, desperdiçando tudo o que
somos e temos por causa dele.
Essa semana eu assisti uma reportagem na TV sobre uma mulher que teve seu
coração transplantado. O repórter lhe perguntou: “Como a senhora está se sentindo
agora?” Ela respondeu: “Eu estou feliz, pois estou viva, mas também estou muito triste,
porque alguém teve de morrer por isso. Mas, enquanto esse coração pulsar, tiver vida, eu
vou me lembrar que custou uma vida para que eu tivesse vida. Cada batida que esse
coração der, me lembrarei que custou o preço de uma pessoa!” Essa é a verdadeira
pregação do Evangelho!
Cantamos uma música que diz que Deus nos deu um novo coração, “um coração
regenerado pelo Pai”. A cada batida desse novo coração devemos nos lembrar que custou
a vida de Jesus, que há uma nova vida em nós, que o inferno não nos ameaça mais, que
há redenção, salvação, perdão, justificação, vida eterna para nós! A cada segundo
devemos agradecer, buscar e amar Jesus. Devemos procurá-lo ao amanhecer, ao
entardecer, ao anoitecer, na madrugada, nas esquinas, nas ruas, em casa, no trabalho, nos
afazeres – e não somente nos cultos, na igreja. Temos de sentir saudades e desejo de
Jesus em cada momento do nosso dia a dia.
Quero terminar com um exemplo. Minha sogra, D. Ondina, faz 96 anos no dia
07/04/17. Ela é uma mulher que aprendeu a viver pela Graça e tem ensinado muito a mim
e à minha família. Ela sempre orou que não queria sofrer em sua velhice, que não queria ir
para hospitais e dar trabalho à família. E Deus tem honrado sua vida nesse sentido. Eu a
conheço há 46 anos e uma única vez ela precisou ir a um Hospital. Ela não precisa tomar
remédios e dificilmente vai a médicos. Às vezes, ela tem umas dores na coluna e toma
remédio por apenas 3 dias. Mora em uma chácara, anda todos os dias, contempla a
natureza, louva a Deus, tem sua devocional diária, tem sua listinha de orações.
Quando a conheci, ela dizia que estava tendo algumas visões noturnas de monstros,
mas orava: “Jesus, eu não quero ver monstros, eu quero ver o Senhor, o Seu rosto”. Então,
uma noite, seu quarto ficou iluminado, ela viu Jesus entrando e a partir de então sua vida
mudou completamente. Houve duas ocasiões em que ela estava andando em São Paulo e
escorregou, como se alguém lhe desse uma "rasteira”. Em um desses tombos, um homem
se aproximou, estendeu-lhe a mão, levantou-a, acarinhou-a e disse: “Irmã, é o inimigo quem
está fazendo isso, mas você está bem!” Em seguida ele desapareceu. Ela começou a
procurá-lo, perguntar por ele e as pessoas diziam: “Ninguém lhe ajudou, você se levantou
sozinha”. Isso é viver pela Graça, experimentar Jesus diariamente, reconhecer sua imensa
dívida e gratidão a Ele. Ela não precisa de nada, a não ser de Jesus!
Esses dias ela começou a cantar a música que diz: “Glórias pra sempre, ao Cordeiro
de Deus...”. É interessante que Jesus é chamado de Cordeiro por 28 vezes no livro de
Apocalipse, aquele que “como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda
perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53.7), mas que venceu e vive
eternamente:

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Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos
anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares,
proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder,
e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda
criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que
neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o
louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro
seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram-se e adoraram.
(Ap 5.11-14)
Aleluias! Glórias ao Senhor! Que possamos, nesses dias que antecedem a gloriosa
volta de Jesus, aprendermos a nos relacionar com ele exclusivamente e totalmente pela
Graça! Amém!

Oração:
“Ó Senhor, ensina-nos a sermos apaixonados por Ti. Ensina-nos que a nossa dívida
era de 500 e que a Tua Palavra diz que quem muito é perdoado, muito ama. Ensina-
nos a entender a grandeza do Teu perdão para que O amemos muito, para que
oremos muito. Senhor, nos carecemos de Ti, carecemos de tocar na Graça e
sabemos que a Graça é a pessoa de Jesus. Sem isso estamos perdidos e não
podemos viver, pois não somos nada sem Ti. Ensina-nos a experimentar Tua
presença, a ouvir a Tua doce voz, a sentir o Teu maravilhoso perfume. Ensina-nos
a nos curvar diante da Tua majestade, pois a Tua Palavra diz que todo joelho se
dobrará e toda língua confessará que Tu és o Senhor, mas temos feito essas coisas
apenas de aparência. Por isso, Senhor, ensina-nos a reconhecer nossa fraqueza, a
reconhecer nossos pecados, a conhecer a dimensão da Tua poderosa Graça.
Ensina-nos que somos pecadores, tira de nós qualquer presunção de que não
somos tão maus, de que não precisamos diariamente dessa Graça, da Tua
presença. Queremos entender que muito fomos perdoados e, por isso, muito vamos
Te amar. Em nome de Jesus Te pedimos e Te agradecemos. Amém!”

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O QUE É SEGUIR JESUS?
Tony Felício

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais
andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade
do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também
todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a
vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como
também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande
amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida
juntamente com Cristo, – pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos
ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar,
nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco,
em Cristo Jesus. (Ef 2.1-7)

H avia um hábito, uma possibilidade muito interessante na cultura judaica: uma criança
poderia ser escolhida por um mestre ou rabi para segui-lo, mas ela precisaria cumprir
alguns pré-requisitos. Numa determinada idade, ou ela se tornava seguidora desse mestre
ou, então, seguia a profissão de seu pai, o caminho normal da sua família. Havia então nas
crianças uma grande expectativa de que, em determinada idade, fossem escolhidas por um
mestre.
Imagine Pedro, por exemplo: já pescador, já tendo seguido essa segunda alternativa,
recebe a visita de Jesus que, na condição de mestre, convida Pedro para segui-lo. Este,
talvez já sem nenhuma expectativa ou esperança de seguir alguém, de repente recebe o
convite de alguém tão especial, um mestre judaico, o próprio Senhor Jesus, o Messias de
Israel.
Essa situação reflete perfeitamente a nossa história. Todos nós tínhamos um curso
normal ou comum de vida. Talvez iríamos seguir a cultura ou forma de ser que os nossos
pais nos legaram. Mas um dia o Mestre dos mestres, o Senhor dos senhores chegou diante
de nós e disse: “Venha após mim!”, e tudo aquilo que tínhamos antes perdeu o sentido,
porque, agora, a única coisa que nos interessava e fazia sentido era olhar para o Mestre
que estava à nossa frente e, assim, conhecermos uma nova vida e a nossa real identidade.
Deixamos ser pessoas “normais” para sermos seguidores do nosso Senhor e Mestre Jesus
Cristo!
Cada um de nós andava segundo o nosso curso natural de vida e seríamos, no
máximo, iguais aos nossos pais ou algum modelo que elegemos para seguir; alguém com
muita força de influência em nossas vidas. Porém, um dia, o nosso modelo máximo e
supremo nos alcançou.
Ele nos chamou para sermos seus seguidores com o propósito de conhecermos
nossa verdadeira identidade, porque ela está completamente relacionada à identidade do
próprio Cristo. A dúvida sobre quem são tem levado muitas pessoas a buscar a resposta
em si mesmas, fazendo coisas que glorificam ou chamam a atenção para si. No entanto, a
resposta a essa pergunta não está naquilo que podemos conquistar, mas, sim, no fato de

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que fomos conquistados por Cristo – aquele que nos fez, aquele que nos desenhou ou
projetou, aquele que escreveu no seu livro todos os nossos dias. Ele nos conquistou! Então,
o que nos importa não é ter a resposta a “quem sou eu”. O que realmente nos importa é
buscar a resposta de quem ELE É e contentar-nos com o fato de que pertencemos a ele!
Houve um momento muito interessante na história da igreja, onde “os discípulos
foram, pela primeira vez, chamados cristãos” (At 11.26). Isso aconteceu em Antioquia, uma
igreja que nasceu a partir da dispersão provocada pela perseguição que sobreveio à igreja
de Jerusalém após a morte de Estevão. Quando as pessoas chamaram aqueles nossos
irmãos de cristãos eles ainda não tinham a referência de “cristão” que nós temos. Hoje,
quando as pessoas falam esta palavra, elas associam o termo à uma religião, a um conjunto
de práticas, de ritos ou, até, a usos e costumes que muitos têm. Mas quando aquelas
pessoas em Antioquia identificaram os discípulos como cristãos, eles não tinham essas
referências culturais atuais e, sim, apenas a referência de um homem que havia passado
pela Terra cujos ensinamentos, práticas e estilo de vida eram seguidos de forma idêntica
por aqueles homens. Assim, quando chamavam alguém de cristão estavam dizendo: “Eis
aí um pequeno Cristo”, uma miniatura de Jesus, alguém parecido com ele, alguém que fala,
anda, prega, faz, pensa, vive como ele. Aquelas pessoas usaram a identidade de Cristo
para explicar a identidade dos seguidores de Cristo – e essa é a nossa identidade!
Não podemos ser reconhecidos hoje apenas como membros de uma igreja ou
religião! As religiões perderam a credibilidade, não salvam as pessoas, não as transformam,
não as levam para onde Deus quer que elas estejam. Jesus, no entanto, faz tudo isso que
a religião não faz. Então, é um privilégio quando alguém nos pergunta quem nós somos e
respondemos: “Eu sou um seguidor, um discípulo do meu mestre Jesus!”
Havia um ditado que dizia mais ou menos assim: “O discípulo segue o mestre na
expectativa de que a poeira da capa dele alcance a sua própria capa”. Assim, havia uma
expectativa naqueles homens de que, andando atrás de seus mestres, o vento trouxesse
aquela poeira e repousasse sobre eles. Não havia nada mais importante para um discípulo
do que receber aquilo que seu mestre tinha, do que ser da forma que seu mestre era. E
assim somos nós! Nós somos seguidores do Mestre! Essa é a nossa identidade!
Seguir a Cristo é ser tão parecido com ele a ponto de, quando olharem para nós,
nos identificarão como sendo ele próprio.
Seguir a Cristo é receber o que ele é, do que ele é, do que ele tem. Isso é um
maravilhoso e tremendo privilégio!
Seguir a Cristo significa ir em todos os lugares onde ele foi, onde ele está indo e
onde ele deseja ir, porque ser seguidor pressupõe que há alguém diante de nós e há um
caminho para percorrermos atrás dele.
Seguir a Cristo é, quando alguém nos ver, não nos identificar sem antes ver Cristo
em nós, pois, na prática, estamos colocando Jesus à nossa frente. Significa deixar que
apenas ele seja visto, conhecido, percebido em nós e não fazer de outra coisa algo tão
importante quanto isso.
Quando eu estava na fase chamada de “adolescência” comecei a me perguntar:
“Quem sou eu?” E tem sido impressionante até hoje como Deus não gasta tempo
conversando comigo sobre mim! Muitos problemas emocionais ou psicológicos são
provocados pelo fato das pessoas ficarem muito centradas em si mesmas: “O meu
problema; a minha luta; a minha dificuldade; a minha história; o meu passado; o meu pai; a

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minha mãe; o meu cônjuge; o meu filho”. Mas Deus não “gasta” tempo conversando sobre
essas coisas.
Uma situação escandalosa para mim foi a morte dos meus pais. Eles faleceram em
um acidente voltando de um Retiro que eu mesmo havia pedido que eles fossem. Ora, o
que você acha que eu falei para Deus em seguida? O que você falaria? “A culpa foi minha!”
Mas eu lembro Dele falando quase audivelmente comigo: “Obrigado, Tony, pois você me
deu dois presentes.” Ele não discutiu comigo, porque aquele pensamento focado em mim
mesmo não me traria nenhuma saúde. Mas pensar em Cristo e deixar que ele crescesse
em mim me daria saúde.
Por isso eu digo especificamente a você que enfrenta situações parecidas: volte a
sua atenção para Cristo, trabalhe para exaltá-lo, para fazer dele alguém mais visto do que
você é visto, mais importante do que você se acha importante ou do que as pessoas lhe
achem importante, “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele,
pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36).
Quero lembrar alguns momentos da vida de Jesus e de como é importante para nós
aprender a segui-lo em nossos próprios momentos de vida.
Uma das cenas mais lindas e apaixonantes das Escrituras foi a visita do Anjo a
Maria. Uma mulher jovem, linda, noiva recebe uma visita altamente especial, dizendo:
“Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra;
por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.” (Lc 1.35).
Maria recebeu a visita do Espírito Santo que gerou nela o Filho de Deus – algo
absolutamente fantástico, divino, maravilhoso. Uma responsabilidade única de Deus de Se
transformar em um embrião e entrar no ventre de uma simples mulher. Não havia nada de
especial ou divino em Maria para receber Jesus, mas ela recebeu essa graça porque aquilo
era uma obra do próprio Deus. O Espírito a envolveu, a cobriu e Deus fez nascer dentro
dela o Seu Filho.
Outra cena foi quando Nicodemos, um mestre da Lei, procurou Jesus:
Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da
parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não
estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe
Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar
ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em
verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de
Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.
Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. (Jo 3.2-7)
Jesus estava dizendo que assim como ele havia sido concebido pelo Espírito, de
uma certa forma todos nós, para nascermos de novo, precisamos entrar no “útero” de Deus,
precisamos entrar Nele e deixar que Ele nos regenere, nos faça de novo. A velha vida não
tem mais condições de permanecer pois Deus não faz “reformas”. Não tem como ser cristão
apenas adotando um conjunto de novas práticas e permanecendo com as antigas. Não tem
como ser cristão se não for como Cristo e, se não for como ele, é anticristo! Por mais que
alguém tenha conhecimentos bíblicos, práticas religiosas e vestimentas diferenciadas não
são essas coisas que o tornam um cristão, mas, sim, que o Espírito Santo pairou sobre ele,
o cobriu com Sua sombra, colocou Jesus dentro dele e ele dentro de Jesus, ou seja, passou

89
por um novo nascimento.
Você se lembra do dia em que nasceu de novo, do dia em que Deus fez de você
uma nova criatura por uma obra completa e exclusiva Dele? Por algo absolutamente divino,
sem participação nenhuma sua? Alguns ainda acham que isso aconteceu porque eram
“bonzinhos” e merecedores, mas sabemos que não é assim.
Aos oito anos de idade, em uma manhã de domingo, na Escola Dominical da igreja,
embaixo de uma árvore, o Espírito me visitou e eu tive certeza de que precisava que alguém
me libertasse de mim mesmo, certeza de que precisava de um Salvador, certeza de que
Ele precisava me pegar e me levar para um lugar onde eu pudesse passar por uma
regeneração; não por uma reforma, mas por um novo nascimento.
O mesmo Espírito que colocou Jesus dentro de Maria é o que nos coloca dentro de
Jesus! Está escrito na descrição do batismo:
Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi
ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em
novidade de vida. (Rm 6.4)
Diante disso, eu pergunto: Onde está o “útero” de Deus? Onde fomos inseridos para
o Espírito nos regenerar? Esse útero se chama Jesus Cristo crucificado, uma rocha fendida,
um útero aberto. É Deus dizendo: “Vem para cá! Onde você está não tem jeito!” Ele, que
não conseguia ter nenhuma intimidade com o pecado, que permanecia distante do pecado,
encarnou Jesus e o deixou na cruz para que esse útero, Jesus, pudesse ser aberto e nos
fizesse entrar nele. E, quando entramos nele, ele morreu. Morreu porque o pecado e os
pecadores estavam dentro dele. Isso se chama GRAÇA!

Alguns aspectos do que é seguir Jesus:

1) Seguir Jesus significa ser capaz de contar a história passada de uma pessoa
chamada na Bíblia de “velho homem”.
Não é cristão quem permanece com duas vidas – isso é “esquizofrenia espiritual”.
Não é cristão quem apenas fala de Cristo, mas não vive Cristo. Claro que essa mudança
não acontece de uma hora para outra, mas é um processo de SEGUIR. Não importa agora
o quanto eu já sou parecido com Jesus, mas importa que eu prossiga para o alvo – quem
não é o céu, mas uma pessoa, o próprio Cristo.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) E o
Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua
glória, glória como do unigênito do Pai. (Jo 1.1,14)
Jesus era cheio de graça, de favor, de amor, de verdade. Não dá para separar o que
ele falava do que ele vivia, pois sua identidade era a sua palavra. Ou seja, ele era (e é) o
que ele falava (e fala)! Quando Deus quis falar sobre graça, sobre misericórdia, sobre amor,
sobre santidade, sobre verdade Ele encarnou Jesus: “E vimos a sua glória”. Era algo real:
o que ele falava ele vivia e o que ele vivia estava em suas palavras. Portanto, ser um
seguidor de Cristo é viver assim: o que a gente fala é o que a gente vive e o que a gente
vive é o que a gente fala. Isso se chama INTEGRIDADE.

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2) Seguir Jesus não é falar dele e fazer diferente dele; não é usar as palavras dele e
dizer: “Ele é Jesus, ele é Deus, mas eu sou humano, sou falho!” Não!
Ser cristão é ter a coragem de dizer: “É verdade, eu não presto, mas Cristo vive em
mim e eu quero que a palavra dele seja o que eu vivo e o que eu vivo seja a minha palavra!”
Infelizmente isso é algo muito frequente no mundo. Muita gente se identifica como
cristão, mas não deveria. Estamos próximos dos dias do fim e uma das características que
Jesus diz desses dias é que ele irá separar as ovelhas dos bodes (Mt 25.32,33), ou seja,
vai deixar bem evidente quem é e quem não é cristão. Mas eu creio e declaro que nós
estaremos do lado das ovelhas porque fomos seguidores de Jesus de verdade, porque
andamos no caminho, porque nunca julgamos ter alcançado, mas jamais deixamos de
segui-lo. Aleluia!
Ser cristão é ter a vida igual a palavra e ter a palavra igual a vida: “Falai de tal
maneira e de tal maneira procedei...” (Tg 2.12a). Isso é COERÊNCIA. Pedro disse:
...antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre
preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há
em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo
que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam
o vosso bom procedimento em Cristo... (1 Pd 3.15,16)
Precisamos ter claro em nossa consciência de que não existe nada que nos
desabone, coisas mal resolvidas e incoerentes. E, se alguém falar mal de nós não tem
problema, pois temos a consciência pura de que estamos vivendo de maneira coerente
com o que falamos.

3) Seguir Jesus é cumprir a perfeita e completa vontade do Pai.


Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me
enviou e realizar a sua obra” (Jo 4.34)
Às vezes dizemos: “Tenho de obedecer, de fazer a vontade de Deus... fazer o que
né? Se eu não fizer, já era!” Encaramos a vontade de Deus como se ela fosse diferente do
próprio Deus, mas Paulo diz que essa vontade tem três características: ela é boa, perfeita
e agradável (Rm 12.2). E Deus é bom, é perfeito e é agradável. Não estou dizendo que a
nossa carne ache isso, mas que o homem regenerado em Cristo sabe que é assim!
Então não é uma obrigação fazermos a vontade do Pai, mas é algo bom, gostoso,
agradável – é a nossa comida, como disse Jesus. Biologicamente falando, nós somos o
que comemos. As proteínas que formam os nossos músculos são constituídas por aquilo
que comemos. Jesus estava dizendo que ele era formado da vontade de Deus, que a sua
estrutura era composta pela vontade do Pai. Ele disse:
Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão
somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também
semelhantemente o faz. (Jo 5.19)
Em outras palavras, ele também era um discípulo do Pai. Deus fazia as coisas,
mostrava a Jesus e ele O imitava. O nosso chamado é o mesmo: fazer a vontade do nosso
Pai:

91
Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem
de mim se alimenta por mim viverá. (Jo 6.57)
O Filho se alimentava da vontade do Pai e nós, discípulos de Jesus, nos
alimentamos daquilo que alimenta Jesus, daquilo que é o próprio Jesus, pois ele é a
vontade do Pai. Então, quando olhamos para o Filho sabemos o que fazer e como fazer.
Se algum dia você estiver em dúvida do que fazer a dica é muito simples: pense no que
Jesus faria, pergunte ao Espírito Santo como Jesus agiria nessa situação.
Profeticamente falando, chegou a hora de sermos um povo que não reclama da
vontade de Deus mas que dela se alimenta, que a ama e que põe essa vontade na sua
mesa de manhã, ao meio-dia e à noite, pelo menos. E, quando descobre a verdade de Deus
que está na mesa, a escolhe fazer com prazer. Seguir Jesus é negar a nossa própria
vontade quando ela discorda da vontade de Deus, é ter a mesma vontade dele de obedecer
o Pai.
No Jardim do Getsêmani, naquela hora tão difícil em que o tentador estava
pressionando Jesus, mesmo tendo percebido em si uma vontade diferente do Pai, sua
escolha foi coerente com sua estrutura: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!
Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres.” (Mt 26.39). Ele comeu novamente
o que Deus lhe apresentou!
Quando pensarmos em Jesus fazendo a vontade de Deus, vamos nos lembrar que
o Getsêmani e a cruz foram apenas parte dessa vontade, mas não toda ela! Jesus vir em
carne, andar com as pessoas, curar e libertar pessoas, ressuscitar mortos, andar sobre as
águas e etc. também foi a vontade de Deus. Então, fazer a vontade de Deus é andar
continuamente no sopro do Espírito Santo, é ir além daquilo que é o nosso óbvio, o nosso
natural; é ver agora o que Deus está vendo para ver depois o que Ele está vendo – isso é
FÉ. É andar de acordo com outro prisma, com outro parâmetro.
Fazer a vontade de Deus é viver guiado por aquilo que talvez a gente não saiba
ainda. Nós gostamos muito das coisas mensuráveis e por isso nos privamos, não
experimentamos da vontade Dele muitas vezes.
Certa vez, fizemos uma campanha evangelística no sul do país. Tínhamos de
evangelizar, fazer teatros etc. e, então, começou a chover. E eu disse: “Deus, precisamos
conversar!” Para mim era óbvio que, chovendo, não daria para evangelizar, pois o faríamos
em praça pública e as pessoas não iriam. E era óbvio para mim que Deus queria que o
fizéssemos. Então comecei a orar e a chuva parou. Mas logo voltou a chover. E orei de
novo, mas Deus falou comigo: “Tony, o que é mais poderoso para você? Eu fazer a chuva
parar para as pessoas virem ou Eu trazer as pessoas mesmo debaixo de chuva?”
Conclusão: as pessoas encheram a praça mesmo debaixo da chuva! Evangelizamos,
muitos foram alcançados por Jesus e até hoje existe uma igreja naquele bairro. Isso por
causa de um dia em que as pessoas foram debaixo de chuva, apesar da minha
incredulidade.
Fazer a vontade de Deus é ter a possibilidade do novo, do eterno, do sobrenatural.
Jesus andava assim. A cada dia ele perguntava: “Pai, qual é a comida de hoje?” Da mesma
forma, devemos perguntar diariamente ao Pai: “Jesus, o que vamos comer hoje? O que
faremos juntos hoje?” Isso é viver pela vontade de Deus!

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4) Seguir a Jesus é viver para os outros até a morte.
E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas
para aquele que por eles morreu e ressuscitou. (2 Co 5.15)
Viver para Jesus, que não necessita de nada, é viver com foco Naquele que foi o
foco dele. Na cruz ele recebeu sua última tentação:
De igual modo, os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos, escarnecendo,
diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. É rei de Israel! Desça da
cruz, e creremos nele. Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe
quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus. (Mt 26.41-43)
Ele não desceu da cruz porque ele não veio, não viveu e não morreu para si mesmo.
Seguir Jesus é voltar os olhos para os outros e não para si mesmo. Quando você dá, recebe
vida e saúde; quando você retém, recebe fraqueza, doença e morte. A “matemática” de
Deus é o contrário: “Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por
minha causa, esse a salvará.” (Lc 9.24).
Imagine o dia a dia dos discípulos: eles nunca viam Jesus fazendo algo para si
mesmo. Nem mesmo se defendia quando era acusado. A rotina que viam de Jesus era ele
curando um, pregando a outro, recebendo uma criança aqui, ressuscitando um morto lá,
aconselhando um aqui, curando um leproso lá etc. Era sempre Jesus “com” alguém e “para”
alguém. Será que em nossa vida cristã diária os nossos filhos naturais e espirituais nos
veem focando nos outros? Ou nos veem focando somente em nós mesmos? Que eles
possam nos ver como os discípulos de Jesus o viam: ocupado com os outros! Por isso
somos igreja. O cerne, o sentido da igreja é: “uns aos outros”.
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele,
subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes,
a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-
se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou
sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua
confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. (Fp 2.5-11)
Jesus teve uma vida focada no Pai, naquilo que o Pai queria fazer, para que um dia
recebesse o foco do Pai sobre si e receber um nome acima de todo nome!

5) Seguir Jesus é viver aqui na Terra todos os dias para fazer a vontade dele, centrado
no caráter e poder dele, focado nos outros para, um dia, receber o foco Dele.
O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei
o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu
Pai e diante dos seus anjos. (Ap 3.5)
Quem está dizendo isso? O próprio Jesus! Ele está dizendo: “Meus discípulos,
vençam! Permaneçam comigo me seguindo até o último dia, porque eu tenho algo
reservado para vocês naquele dia! Eu vou me levantar, vou pegá-los pela mão e vou
confessar seus nomes diante do meu Pai e dos anjos!”
Pergunto: Será que vale a pena eu viver buscando qual é o meu próprio nome? Ou

93
é melhor eu viver buscando qual é o nome dele para que, naquele dia, ele finalmente poder
dizer qual é o meu nome e confessá-lo diante dos meus irmãos e do meu Pai?
Falei no início que a igreja em Antioquia, onde os irmãos foram identificados como
cristãos pela primeira vez, nasceu da perseguição em Jerusalém iniciada pela morte de
Estevão. Esse homem foi um seguidor, um discípulo de Jesus. Ele tinha fé, boa reputação
e poder como Jesus tinha. Ele estava lá para proclamar a verdade e fez isso igual a Jesus,
como também foi perseguido e injustiçado igual a Jesus (At 7). Quando ele estava sendo
morto, assim como Jesus, orou a Deus dizendo: “Senhor, não lhes imputes este pecado!”
(v.60). Ao invés de se defender, de pedir ao Senhor que fizesse vingança contra aqueles
que o apedrejavam, perdoou-os e orou por eles, assim como fez Jesus.
Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e
Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do
Homem, em pé à destra de Deus. (At 7.55,56)
Na sua visão ele viu o Filho do Homem em pé! Aquiete seu coração hoje e permita
que essa imagem o seduza! Viva nessa Terra o tempo todo com Jesus, na expectativa de
que naquele dia o Cordeiro de Deus se levante do trono e lhe receba na glória.
Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de
meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-
vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim
mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. (Jo 14.1-3)
Seguir Jesus é ir para onde ele foi, é trilhar um caminho após ele até chegarmos em
casa. Ele estará lá para nos abrir a porta e nos apresentar diante do Pai. Esse é o último
lugar que chegaremos e o início de uma nova realidade! Decida-se a ser um discípulo, um
seguidor de Jesus, a viver para ele e em função de outros. Essa é a sua escolha e decisão
hoje! Amém!

94
QUAL A COISA MAIS IMPORTANTE NA VIDA
CRISTÃ?
Harold Walker

O que você acha ser a coisa mais importante na nossa vida cristã? O que você acha
que devemos fazer de maior importância para agradarmos a Deus? Podemos dar
inúmeras respostas: orar, ler a Bíblia, frequentar as reuniões, dar o dízimo, louvar,
evangelizar, ajudar o próximo, não pecar, não fazer uma série de coisas etc.
Realmente é algo bastante complicado essa questão de agradar a Deus! Às vezes,
no final do dia, dizemos: “Hoje eu agradei a Deus” e, outro dia, “Hoje eu não agradei a
Deus”. Normalmente, identificamos alguma coisa que fizemos ou não fizemos para dar essa
resposta: “Hoje eu li a Bíblia, evangelizei, orei, perdoei, ajudei alguém etc.” Ou, ao contrário,
“Hoje eu assisti um filme terrível, sujei minha mente, fiz uma coisa errada com uma pessoa,
estou com raiva de alguém.”. Dessa forma, medimos a maneira de agradar a Deus pelo
que fazemos ou deixamos de fazer. Mas não é assim! A coisa mais importante na vida
cristã não é fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Há algo que vem antes, que é mais
importante do que tudo.
Há muitos crentes que sabem que pecam, que fazem coisas erradas. Podemos
comparar essas coisas com um limão: “se chupar, faz careta!” Coisas ruins como orgulho,
egoísmo, maldade etc., quando vemos, fazemos careta! São coisas facilmente percebidas
e as julgamos como um limão, terríveis. Então, como o crente “tem de agradar a Deus”, ele
acha que é só pegar um tesourão e cortar todos os limões do pé, deixando o mesmo sem
limão algum. Aí ele diz: “Agora, até que enfim, estou agradando a Deus!” Mas depois chega
alguém e lhe diz: “Você tem que produzir frutos!”
Jesus não veio nos ensinar a ficar cortando limões. Como disse recentemente o
irmão Esdras, “a cruz não é para fazer você sofrer, mas para lhe matar!” Cortar limão não
resolve, porque o pé continua produzindo; tem de cortar o próprio pé de limão!
Em Rubiataba-GO, tínhamos uma chácara com muitos pés de laranja, de ponkan
etc. Era muito gostoso arrancar do pé e comer na hora, um sabor diferente do que comprar
no mercado e comer depois. Tínhamos também laranja baiana, que não tem semente. Você
já parou para pensar como alguém planta essa laranja se ela não tem semente? Porque
toda fruta, toda coisa viva começa com uma semente. A questão é essa laranja é plantada
por enxerto, controlada geneticamente pelo homem. Ela é enxertada em um pé de limão,
pois esse dá em qualquer lugar, é mais forte do que qualquer outro pois tem um sistema
muito forte de raízes. Então, enxerta-se um galho de laranja baiana em um toco de pé de
limão. Haverá, então, raiz de limão e fruto de laranja. Ele será forte e resistente.
Isso é uma figura de quem nós somos. Esse pé se parece conosco, mas não vai dar
limão, porque em nós foi enxertada a vida de Cristo. Parece ser eu, mas não é, porque
Cristo está em mim! A raiz é limão, mas o fruto é laranja baiana! De vez em quando aparecia
um brotinho no meio do limão, saindo da raiz. O agricultar, então, tinha de cortar o broto,
mas não o limão. Ficava só o toco e crescia, árvore grande com muitos frutos, mas todos

95
laranja baiana, sem nada a ver com limão.
Assim, somos tanto pé de limão quanto laranja baiana – somos pecadores, mas
morremos na cruz e em nós foi enxertada a nova vida de Cristo. Como disse Marion, “não
fazemos força para dar frutos” – é algo natural, vem da vida, não é obra ou esforço humano,
mas resultado da vida de Cristo em nós.
O que é, então, a coisa mais importante que devemos fazer para agradar a Deus?
Alguns textos bíblicos nos ajudam facilmente a descobrir isso:
Olhai para ele, e sede iluminados; e os vossos rostos jamais serão confundidos. (Sl
34.5)
Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou Deus,
e não há outro. (Is 45.22)
Portanto, nós também, pois estamos rodeados de tão grande nuvem de
testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e
corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em
Jesus, autor e consumador da nossa fé, o qual, pelo gozo que lhe está proposto,
suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à direita do trono de
Deus. (Hb 12.1,2)
Concluímos que a coisa mais importante na vida cristã é OLHAR, CONTEMPLAR
JESUS. Contemplar é olhar com atenção, com prazer. Essa é a ordem de Deus para nós.
Não é difícil fazer isso – basta olhar. No entanto, muito estão mais preocupados em “fazer”
e não olham!
Em Números 21, quando o povo de Israel estava sendo dizimado por serpentes,
Deus mandou Moisés fazer uma serpente de bronze e colocá-la numa haste para que todo
aquele que olhasse para ela fosse curado. Bastava olhar! Mas alguns nem isso faziam e
morriam. E Jesus disse:
E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem
seja levantado; para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. (Jo 3.14,15)
O pecado tem consequências, não é algo que pode ser “varrido para debaixo do
tapete”, é algo muito sério, tem de ser pago. E Jesus o pagou na cruz! Aquela serpente
simbolizava Jesus, porque na cruz ele assumiu os nossos pecados e se sujeitou à ira de
Deus. Assim, todo aquele que olha para ele é curado, é salvo. Não diz que temos de ser
bons, fazer força, fazer alguma coisa para agradar a Deus, mas apenas OLHAR para ele!
No entanto, olhar não é fácil.
Há um livro chamado “Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes” (Stephen
R. Covey). Nele o autor cita algumas frases que não são inspiradas por Deus, mas
concordam muito com a Bíblia. Diz: “Nós somos o que nós vemos. Dependendo da maneira
como vemos o mundo, é como somos. O problema é o modo como vemos o problema”.
Olhar é o pé, fazer é o limão ou a laranja baiana. Então podemos cortar à vontade, mas
não vai resolver se não mudarmos o nosso olhar. O problema é que nós não vemos o que
não queremos ver, o que não concorda com a nossa visão interior. Tudo o que é contrário
ao que cremos, dizemos: “Eu não quero ouvir, eu não quero ver! Isso contradiz o que eu
penso, então, não posso ver e ouvir!” Assim nos tornamos cegos: não vemos o que não
queremos e só vemos o que queremos. Logo, ver não é fácil!

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Para agradar a Deus e produzir frutos temos de ver Jesus! A nossa mente é
contaminada, porque tudo o que vemos ao nosso redor é cheio de maldade. Vemos tantas
coisas más e achamos que tudo é assim. Nossos “óculos” ficam escuros. Até quando lemos
a Bíblia nos indignamos: “Como é que Deus fez isso? Por que Ele permitiu aquilo?” Não
conseguimos ler a Bíblia como ela é porque a nossa lente está suja. Mas não é só o de
fora, porque o de fora vem de dentro! A maldade não está apenas no mundo lá fora, mas
está dentro de cada um de nós também. Assim, quando alguém está fazendo algo inocente
nós julgamos o seu motivo: “Por que ela está fazendo isso?” Pensamos dessa forma porque
nós também faríamos aquilo! Ou seja, atribuímos ao outro a nossa própria maldade.
Então, estamos cercados, envolvidos, imersos em um mundo de maldade por fora e
por dentro e isso contamina o nosso olhar a Jesus, ao próximo e a nós mesmos. Mas o que
você acha que sabe não é a verdade! É apenas a verdade vista com esse filtro terrível!
Existe, sim, muita maldade, corrupção, mentira, egoísmo, soberba, fofoca, crítica, dúvida,
medo, pavor, insegurança, incredulidade etc. Mas tudo isso está dentro de nós, na nossa
mente. Deus pode fazer muitas coisas boas em nossas vidas, nos dar curas, nos ressuscitar
dos mortos, fazer milagres e mesmo assim não daremos valor, porque as nossas lentes
não enxergam essas coisas, estão escurecidas.
“Eu tenho de me virar, dar meus pulos, fazer as coisas, porque senão corro perigo,
Deus não vai me proteger, o Diabo vai me pegar, o mundo é mal etc.” Ou seja, vemos um
monte de coisas que a nossa vida passada com Deus não justifica, que não é verdade. No
entanto, pensamos dessa forma, e a única coisa que pode nos livrar é VER JESUS, OLHAR
PARA JESUS! Nós precisamos, mais do que fazer algumas coisas e deixar de fazer outras,
voltar nossa atenção para Jesus. Então, olhe para Jesus! Ele é diferente! Ele é a
manifestação de Deus! Deus é como Jesus e Jesus manifesta Deus!
Como Jesus agiu com a mulher adúltera? Será que ele disse: “Está escrito nas
Escrituras que ela tem de ser morta! Pecou, morre! Deus é irado, justo! Quem não anda
certinho, não está certo com Ele!” Não! Foi assim que ele fez? Não! É assim o Deus que
Jesus manifestou na Terra? Não! E quanto à mulher samaritana? “Não posso conversar
com essa mulher! Seu povo é abominável, não posso nem tocar nela!” Também não foi
assim! E com Zaqueu, aquele “traidor, inescrupuloso, ladrão, que deveria ser preso”! Como
ele agiu? “Vou almoçar na sua casa! Todo mundo lhe abomina, todos os religiosos acham
que você é mal, mas eu, o Deus em carne, vou almoçar na sua casa! Você me permite?” E
quando chegou lá, o que ele disse? “Uau, que almoço gostoso! Quem fez?” Ele não falou:
“Que vergonha! Um cobrador de impostos! Tem de se arrepender, senão vai para o inferno!”
Não! Essa bondade de Jesus desmontou Zaqueu. E ele disse: “Senhor, eis que eu dou aos
pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo
quadruplicado” (Lc 19.8). E Jesus respondeu: “Hoje veio a salvação a esta casa, pois
também este é filho de Abraão” (v.9).
Fico pensando que lemos a Bíblia há muitos anos, mas não a lemos direito, porque
não estamos enxergando Jesus na Bíblia. Precisamos ver como ele age, o que ele faz,
porque ele é Deus! Quando ele encontrava pessoas destruídas, acabadas, que fizeram
tudo errado na vida, sua reação sempre era a mesma, porque sua natureza era a mesma
de Deus e ele nunca mudou essa natureza. Por isso nós precisamos contemplar Jesus!
Devemos entender três coisas que todo mundo sabe, ou deveria saber, mas que,
para muitos, têm sido apenas teoria. Dizem: “Tudo isso está certo, está na Bíblia, eu penso
que é verdade.” Mas na vida diária isso não é válido ou importante – o importante é pagar

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a conta que vai vencer, fazer as coisas, estudar, trabalhar etc. No entanto, essas coisas,
se praticadas, podem mudar as nossas vidas.
Essa semana, na oração pela manhã, comecei a sentir um peso muito grande de
orar pela igreja, para que sejamos livres de sermos uma igreja “domingueira”, baseada
apenas em reuniões dominicais. Sim, é uma reunião importante porque todos se juntam,
mas não é resumo da vida cristã. O Senhor é o Deus de todos os dias, de todas as horas,
de todos os momentos. Depois fiquei sabendo que houve uma palavra profética exatamente
sobre isso. Ou seja, Deus está falando conosco que a vida cristã não é para ficar numa
gaveta durante uma hora, mas para invadir nossas vidas durante a semana em tudo o que
somos e fazemos, em nossos frutos. E esses frutos devem ser algo que vem de uma vida,
e essa vida vem de contemplar Jesus.

Primeiro: Deus é Todo-Poderoso.


Será que ele pode fazer crescer um braço em alguém que não tem? Sim! Ou fazer
um cego de nascença enxergar? Sim! Mesmo que ele tivesse um olho perfeito,
naturalmente falando gastaria anos para criar nervos, ligar com o cérebro, trazer as
mensagens etc. Mas ele nunca enxergou e, de uma hora para outra, começou a ver, porque
Deus pode fazer isso! Por que? Porque Ele está em todo lugar, na mínima molécula ou
célula. Ele manda no universo material. Se Ele criou, então Ele governa. Ele tem todo o
poder. Ele reverte doenças, acaba com coisas que naturalmente não tem solução. E Ele
vai recriar os céus e a Terra.
Mas eu lhe pergunto: É esse Deus que você adora? Um Deus Todo-Poderoso que
pode todas coisas, que está em todos os lugares, que sabe todas as coisas? Ouça! Seu
Deus não é fraco! Ele tem todo o poder no céu e na Terra, no visível e no invisível! Esse é
o seu Deus! Ou será que têm coisas em sua vida que nem Ele consegue fazer? Não! Ele é
Todo-Poderoso! Não sobra nada que Ele não possa! Esse é o nosso Deus! Ele está no
trono, manda no Universo, nas mínimas coisas que existem – vivas ou mortas, grandes ou
pequenas! Basta uma palavra Dele e tudo muda, pois Ele é o Rei do Universo, pode todas
as coisas – e isso precisa entrar no seu coração! Para Deus não há impossíveis. Nós
existimos porque Ele quis. Quando Ele não quiser que continuemos existindo aqui Ele nos
levará. Nossos dias estão nas mãos Dele, nós não temos esse controle.

Segundo: Deus tem um plano.


A Bíblia diz que Ele faz tudo de acordo com o Seu plano. Se Ele não interfere é
porque Ele acha que aquilo não vai atrapalhar Seu plano. Mas, se algo ou alguém começa
a atrapalhar Seu plano Ele intervém, retira aquela coisa ou pessoa.
Podemos pensar: “Mas o próprio Filho de Deus veio ao mundo e o conseguiram
matar injustamente!” Mas Jesus morreu pela ordem pré-ordenada do Pai. Ele já sabia! Nada
acontece fora da vontade Dele! Tudo o que acontece está debaixo do Seu controle e do
Seu plano! A Bíblia diz que tudo acontece “conforme o propósito daquele que faz todas as
coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1:11). Ou seja, Ele não é um Deus
“caótico”, alguém que diz: “Vão em frente! Quero ver se vocês vão conseguir! Se virem!”
Não! Ele tem um plano, um propósito e está trabalhando nesse plano há milhares de anos,
desde a criação do mundo! Tudo existe e acontece de acordo com a Sua vontade!

98
Às vezes, Ele permite acontecer algumas coisas, mas que não atrapalham Seu
plano. No entanto, se essas coisas ameaçam o plano, então Ele intervém. Ele dá liberdade
para algumas coisas e pessoas contanto que essas não atrapalhem Seu plano. Caso
contrário, Ele interfere! Prova disso é a nação de Israel hoje. Dois mil anos depois estão
falando uma língua que não existia. Nunca aconteceu isso! Todas as tentativas de aniquilar
o povo judeu foram malsucedidas. Tentaram, mas não conseguiram. Sempre ficou um
remanescente.
Li recentemente sobre um fato ocorrido na Áustria, no mesmo lugar em que Hitler
fez suas primeiras palestras, em uma grande praça em Viena. Depois dele nunca mais
deixaram ninguém falar naquele lugar. No entanto, passados 50 anos daquelas palestras,
chamaram um judeu sobrevivente do Holocausto para falar naquele lugar. Ou seja, um
representante do povo que Hitler jurou destruir, mas não conseguiu! Pelo contrário, surgiu
uma nação forte e poderosa, porque Deus tem um propósito e nada e ninguém pode impedir
isso!
Assim, temos um Deus Todo-Poderoso que tem um plano, que trabalha nele desde
o início e que vai cumpri-lo até o fim. Mas surgem as dúvidas: qual é esse propósito e será
que estamos incluídos nele? Por isso o terceiro ponto é fundamental:

Terceiro: Deus nos ama e nós amamos a Jesus.


Os muçulmanos chamam Deus de Alá, mas creem que Ele é um único Deus. Eles
não creem que Jesus é o Filho, mas um profeta semelhante a Maomé. No entanto, eles
creem nas duas coisas acima – que Ele é Todo-Poderoso, que tem um propósito e vai
cumpri-lo. Se nós também crermos nisso já será uma grande coisa, porém, isso não nos
torna cristãos de verdade que contemplam Jesus. Os muçulmanos permitem que essa fé
invada todos os dias e horas das suas vidas, que essa fé e expectativa mudem suas
atitudes, decisões e práticas. Eles creem tanto que a praticam! Os cristãos, no entanto, vão
aos cultos dominicais e no restante da semana vivem igual a todos os outros que não
creem. Por isso esse terceiro ponto é muito importante!
Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem
penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.
(1 Co 2.9)
Você ama a Deus de verdade? Você pode ser bom, ser ruim, ser o que for, mas o
texto não questiona isso e, sim, se você ama a Deus. E qual o plano Dele para aqueles que
O amam? “As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o
coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.” Mas como podemos
descobrir que coisas são essas? Como podemos saber, já que os nossos olhos não viram
e os nossos ouvidos não ouviram? O que, afinal, Ele preparou para nós? A resposta está
no verso seguinte:
Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as
coisas, mesmos as profundezas de Deus. (v.10)
Se escutarmos o Espírito Santo teremos uma noção daquilo que Deus nos preparou!
Se acreditássemos nisso de verdade não conseguiríamos ficar parados em nossos lugares.
Se cremos de verdade que temos um Deus que tudo pode, que tudo planeja e que tudo
cumpre, nossas vidas seriam radicalmente diferentes. E tem mais: Ele é um Deus bom e

99
tem planos para nós que nem imaginamos! Em breve teremos um corpo poderoso,
incorruptível, glorioso e, mais do que isso, iremos ver Jesus na sua glória! Veremos essa
bondade de tal forma que nos sentiremos eternamente agradecidos, porque Deus nos ama
tanto que nos tirou do império das trevas e nos transportou para o reino do Seu Filho amado
(Cl 1.13). Ou seja, nada nos céus ou na Terra pode impedir o nosso Deus de cumprir o que
planejou para nós!
Mas como sabemos que estamos incluídos nesse plano? Porque amamos a Jesus!
Não precisa mais nada! Não há nada que possamos fazer ou deixar de fazer que vai mudar
isso. A única coisa que pode mexer com isso e se estamos em Jesus ou não, porque ele é
a única pessoa que Deus aceita. Então, somente a pessoa que está em Jesus pode ser
aceita por Deus. E, se amamos a Deus, Ele nos dá o Seu Espírito que nos revela as coisas
que o Pai já nos deu gratuitamente.
Pense um pouco: se o mundo fosse igual em tudo, se as doenças, bactérias, vírus,
acidentes, mortes etc. continuassem acontecendo normalmente, mas, no entanto, não
existisse maldade no coração do homem, todas as pessoas amassem umas às outras,
quisessem o bem dos outros, fossem todos bons, não existisse o mal, não existissem
ladrões, policiais, julgamentos, prisões, armas etc. – se tirasse apenas a maldade do
coração do homem, o mundo não seria quase um paraíso? Mas foi isso que Jesus fez! Ele
já venceu o pecado, já deu o golpe fatal no pecado do coração, nessa coisa que estragou
toda a raça humana no mundo! Ele só está esperando que o fruto disso apareça em nós,
que o resultado disso apareça, que acreditemos nisso para que a luz da sua glória se
manifeste a todos!
Mas todos nós, com o rosto descoberto, contemplando como por espelho a glória do
Senhor, somos transformados, de glória em glória, na mesma imagem, como pelo
Espírito do Senhor. (2 Co 3.18)
Qual é a chave para sermos transformados de glória em glória na mesma imagem
de Jesus? Como podemos ser iguais a Jesus nesse mundo, transmitindo essa mesma
bondade, esse mesmo amor, essa mesma atitude e alegria de Deus se vivemos com
dúvidas, com medo, desconfiados de Deus, de nós mesmos e dos outros? Mas o evangelho
diz que Deus controla tudo, que Ele tem um plano, que Seu plano é bom e vai se cumprir!
Ou seja, nós só temos a ganhar! É como assistir um filme já sabendo o final. Vemos muitas
coisas ruins acontecerem mas sabemos que tudo acabará bem. A nossa vida também é
assim – um filme que já sabemos o final. Então por que deprimir, desanimar, desistir se
sabemos que no final ganharemos?
Repetindo: Deus pode todas as coisas! Deus tem um propósito e vai cumpri-lo! Deus
nos ama e vai fazer coisas tremendas por nós! Nós amamos a Jesus! Nós vamos vencer!
O Diabo já perdeu! Aleluia! Glória a Deus!
A Bíblia diz que o Diabo vai descer com grande ira nos últimos dias sabendo que o
seu fim está próximo (Ap 12.12). Ele sabe que já perdeu e nós devemos saber que já
ganhamos! Mas podemos pensar: “Sim, mas o meu dia a dia não é assim!” Exatamente!
Nossa vida é “de glória em glória”, de fé em fé, de degrau em degrau – é fruto, e fruto não
dá de uma só vez. Ele demora, mas aparece.
Nossa parte é não ficar preocupados se estamos ou não dando frutos, mas OLHAR
PARA JESUS, fitar os olhos no “autor e consumador da nossa fé” (Hb 12.2). Ele é o nosso
grande Herói, aquele que tem o nome sobre todo nome, que tem as marcas nas mãos e

100
nos pés. Ninguém é bom, mas ele é bom! Nossas vidas estão amarradas nele – tudo o que
acontece com ele acontece conosco. Ele já ressuscitou, está sentado à direita do Pai,
exaltado nos lugares celestiais e nós estamos juntos com ele (Ef 2.6)! Estamos em Cristo
Jesus! Ele reina, ele é vivo, ele é real e nada pode nos atingir! Se atingir é porque Deus
permitiu, mas nada vai impedir que herdamos tudo o que Ele planejou para nós. Tudo o
que Ele pensou a nosso respeito está seguro, firme, indestrutível. Só precisamos crer, nos
alegrar e fitar os olhos nele! Tudo o acontecer para nos fazer tirar os olhos dele devemos
rejeitar, expulsar; e tudo o que nos fizer olhar, pensar e crer nele devemos reter, agarrar,
segurar firme!
Concluindo: ler a Bíblia, orar, frequentar reuniões, cantar, doar etc., tudo isso é UM
MEIO para enxergar Jesus! Deus não “fica feliz” de você ler a Bíblia, mas é você que tem
de ficar feliz em ler. Os pensamentos de Deus não são os nossos, então, quando lemos a
Bíblia os pensamentos Dele entram em nossa mente e passamos a pensar Nele, ao invés
de pensarmos nas coisas desse mundo. Portanto, inunde sua mente com a Palavra de
Deus todos os dias, todas as horas e não somente aos domingos. Inunde sua mente na
oração, não para apenas pedir coisas, mas para receber as revelações do Espírito Santo.
Talvez você não sinta ou perceba na hora, mas depois vai sentir, perceber, entender.
Peça a Jesus: “EU QUERO TE VER!” Jó disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas
agora os meus olhos te contemplam. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na
cinza” (Jó 42.5,6). Ou seja, meus argumentos, minhas perguntas, minhas dúvidas eu jogo
no lixo, eu diminuo para que Cristo cresça. Declare: “Eu expulso da minha mente esses
óculos escuros, essa visão de medo, de dúvida, de depressão, de raiva, de orgulho, de
egoísmo, de tudo o que é mal e ruim! Eu quero me encher de Cristo Jesus! Eu quero que
a minha mente seja cheia de Cristo! Eu quero ver Jesus!”
Eu sinto de verdade que estamos chegando em um nível, como igreja, onde Deus
quer Se revelar a nós. Talvez seja numa reunião de oração da igreja, talvez seja orando
em nossa própria casa, talvez seja durante a leitura da Bíblia ou, então, em algum momento
em que não estamos pensando em nada. Mas Deus quer e vai Se revelar a nós – e isso é
de fé em fé, de glória em glória! Por isso nós, “com o rosto descoberto, contemplando como
por espelho a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na mesma
imagem, como pelo Espírito do Senhor!”
Zaqueu precisou subir em uma árvore para ver Jesus porque ele era baixinho. Qual
é a árvore que você tem de subir para isso? Ele achava que Jesus não se importava com
ele, mas mesmo assim ele queria ver Jesus e foi salvo por isso.
Você quer ver Jesus? Frequente as reuniões de oração e, mesmo que não sinta
nada, continue indo, continue perseverando, continue dizendo: “Jesus, eu quero te ver!
Mostre se há algo na minha vida que me atrapalha e eu vou parar! Mas eu quero te ver! E,
quanto mais eu vê-lo, mas semelhante a ti eu serei!” Não é preciso fazer força. Essa graça
do Senhor vai crescer em nós à medida que contemplamos a pessoa de Jesus.
Que possamos olhar firmemente para Jesus a fim de que ele cresça e nós
diminuamos cada dia mais. Que ele possa abrir os nossos olhos e tirar toda essa cegueira
e condicionamentos, e que sejamos pessoas alegres, santas, humildes, bondosas, cheios
da graça de Deus. O fruto do Espírito “é o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a
benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio” (Gl 5.22,23). Se
contemplarmos Jesus seremos cheios desses frutos. Não teremos mais dúvidas, medos,
esforços próprios, pois estaremos cheios do fruto do Espírito Santo! Amém!

101
A INTERCESSÃO DO MESSIAS
Mike Shea

P enso que a coisa mais importante que precisamos entender é que somos sacerdotes
do Cordeiro! Quando Jesus nos salvou ele nos fez sacerdotes e a nossa adoração e
intercessão move o céu. Ou seja, se adorarmos em espírito e em verdade, se procedermos
conforme ele nos ensina o céu vai se mover para a Terra. A grande questão do nosso
sacerdócio é se cumprimos ou não o que Deus quer de nós. Às vezes queremos uma vida
tranquila, uma vida melhor em relação à família, ao trabalho etc. e não entendemos que o
propósito ou objetivo da nossa salvação não é isso, mas, sim, de sermos sacerdotes.
Vemos esse plano divino por todas as Escrituras. Deus falou isso com Moisés no
V.T. e Pedro e João repetiram no N.T.:
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança,
então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a
terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. (Êx 19.5,6)
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz. (1 Pd 2.9)
...e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio
pelos séculos dos séculos. Amém! (Ap 1.6)
...e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos,
porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de
toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e
sacerdotes; e reinarão sobre a terra. (Ap 5.9,10)
Assim, o cumprimento do nosso sacerdócio é essencial para a vinda do Reino! Quero
falar algo que pode parecer estranho, mas submeto isso a vocês. Se você soubesse como
Jesus orou por avivamento será que você faria essa mesma oração? Se houvesse uma
oração que fosse “a mais estratégica do universo”, que pudesse fazer com que Deus
mandasse o avivamento, você a faria? Se pudéssemos orar do mesmo jeito que Jesus
orava estaríamos dispostos a fazê-lo? Pois eu lhes digo que ele nos ensinou a orar por
todos os avivamentos que já aconteceram e pelo próximo que virá!
De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus
discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos
seus discípulos. Então, ele os ensinou: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja
o teu nome; venha o teu reino; o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia; perdoa-
nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve; e não
nos deixes cair em tentação. (Lc 11.1-4)
O texto menciona que João Batista tinha discípulos e os ensinou a orar. Eu não tenho
como afirmar categoricamente, mas parece-me que João os ensinou a fazer uma
determinada oração que, pelo jeito deles falarem, devia ser muito importante.

102
Antes de Jesus entrar em cena, João e seus discípulos pregavam em cima de uma
única agenda: “Arrependei-vos, pois é chegado o reino dos céus” (Mt 3.2). As pessoas se
deslocavam de suas casas e cidades até os lugares desertos apenas para ouvi-los pregar
essa única mensagem: “Arrependei-vos!” E o que precedeu o maior derramar de milagres
da história foi esse tempo de confissão pública de pecados, de quebrantamento e
arrependimento das pessoas, movidas pela pregação de João e seus discípulos:
Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de
arrependimento para remissão de pecados, conforme está escrito no livro das
palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do
Senhor, endireitai as suas veredas. (Lc 3.3,4)
Parece estranho, mas entenda o que eu vou falar: se você quer avivamento não
precisa adorar e nem interceder. Vá para casa, chame sua família e confesse os seus
pecados. Depois vá para a igreja e confesse seus pecados para os irmãos. Em Israel, o
jeito que Deus usou para preparar o caminho para o Messias foi o arrependimento e
confissão dos pecados. Então, se entendermos que estamos nos dias de preparar o
caminho da volta do Senhor, já sabemos o segredo: produzir arrependimento e seus frutos
– confissão, reconciliação, restituição! Aliás, restituir deve fazer parte do processo. Se
alguém diz: “Ah, eu lhe roubei, mas você tem que me perdoar!” e não restituir, não resolve!
Quando Jesus entrou na casa de Zaqueu, este lhe disse:
Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho
defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve
salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. (Lc 19.8,9)
Devido à esta atitude de restituição no coração de Zaqueu, Jesus disse a todos ali
presentes que a salvação havia chegado àquela casa. Ou seja, antes disso não havia
chegado! Foi a disposição de produzir frutos de arrependimento, de restituição, que trouxe
salvação à casa de Zaqueu.
E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da
graça e de súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como
quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente
pelo primogênito. (Zc 12.10)
Isso está falando da ação do Espírito Santo em quebrantar o coração do ser humano.
Sem essa operação ninguém se arrepende, ninguém se transforma, ninguém é salvo. Será
apenas uma “tristeza segundo o mundo”, como diz Paulo (2 Co 7.10).
Há dois tipos de tristeza. Uma, segundo a carne ou o mundo: “Ah, me flagraram!”
Outra, segundo Deus, que opera arrependimento para salvação – uma tristeza que vem do
coração de Deus, plantada no coração humano pelo Espírito Santo. É cair em si e voltar
atrás. É estar pronto a fazer o que for necessário para acertar: confessar, reconciliar,
restituir e até renunciar os próprios direitos. Esses são os verdadeiros frutos do
arrependimento e eu creio que João ensinou seus discípulos a orar segundo essa palavra
de Deus: “Eu vou derramar o Espírito de graça e súplicas!”
João sabia que um dia o seu primo iria entrar em cena. Ainda no ventre de Isabel ele
“deu um pulo” quando sua mãe encontrou-se com Maria, grávida de Jesus. Ele tinha a
revelação de que Jesus era o Messias, sabia que ele era o “Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo” (Jo 1.29). Portanto, a palavra de Zacarias 12.10 fez todo o sentido para
ele: “Olharão para aquele a quem traspassaram!” Ele também sabia a palavra de Isaías 53

103
sobre como o Messias iria morrer. Portanto, em cima dessas revelações ele ensinou seus
discípulos a orar pela obra do Espírito Santo naquela nação.
Em todo o Israel, enquanto eles oravam por isso, as multidões saiam de suas casas
e iam ao encontro deles se quebrantando, confessando publicamente os seus pecados e
se submetendo a um novo batismo – agora no deserto, ao ar livre, ao invés de no Templo
ou na Sinagoga –, deixando todo mundo vê-los e ouvir suas confissões. No dia seguinte ao
batismo de Jesus aconteceu o seguinte:
No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de dois dos seus discípulos e,
vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Os dois discípulos, ouvindo-o
dizer isto, seguiram Jesus. (Jo 1.35-37)
André e um outro que não sabemos o nome passaram a seguir Jesus. O texto não
diz que eles já se tornaram seus discípulos naquele momento, mas que o seguiram. No
livro de Marcos, capítulo 3, lemos que Jesus, após ter passado praticamente uma noite toda
em oração diante do Pai, começou a chamar discípulos. Ora, de onde ele os chamou? Será
que ele procurou um a um sem conhecê-los? Não! Ele foi prestando atenção em quem o
seguia! Era comum em Israel (assim como também é hoje em dia) que as pessoas
procurassem escolas rabínicas para aprenderem com eles. Jesus, como mestre rabino,
começou a ensinar, a pregar, a ministrar milagres sozinho. Esse era o cenário quando ele
voltou para Nazaré, entrou na sinagoga e falou a todos os que ali estavam presentes:
Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde
estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o
ano aceitável do Senhor. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-
se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. Então, passou Jesus a dizer-lhes:
Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir. Todos lhe davam testemunho, e
se maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e perguntavam:
Não é este o filho de José? (Lc 4.17-22)
Nesse momento ele assumiu publicamente que era o Messias: “Hoje se cumpriu a
palavra que vocês acabaram de ouvir. Eu sou o Messias. As coisas que eu estou fazendo
são as coisas que o Messias faz. Eu sou o cumprimento da palavra de Isaías 61: O Espírito
do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos
quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração...”. Quem quebrantou os
corações das pessoas foi o Espírito Santo; Ele veio como o “espírito de graça e súplicas”.
Em seguida, Jesus chamou mais 10 discípulos além dos dois que vieram de João.
Na agenda de João só havia uma mensagem: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino
dos céus!” A agenda de Jesus começou com essa mesma mensagem, ele andou sobre a
mesma estrada que João preparou, foi uma continuação. Mas ele acrescentou: “Curai os
enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios...” (Mt 10.8). Ou
seja, sua agenda foi além. Todas essas coisas estavam dentro de Isaías 61. O
quebrantamento do coração era justamente para o “arrependei-vos” e todas as outras
coisas também estavam lá: “...evangelizar os pobres ...proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos ...pôr em liberdade os oprimidos ...apregoar o ano aceitável
do Senhor.”

104
Sabemos que o evangelho de Lucas foi escrito de forma cronológica. Ele colocou as
coisas em ordem e pesquisou muito para isso. No capítulo 9, quando Jesus chamou os
doze, ficamos sabendo que João havia confrontado o governante Herodes e, por isso, foi
morto por ele (Mt 14.1-12). Ou seja, João andou no mesmo manto de Elias, que confrontou
Acabe e Jezabel (1 Re 18-19).
Outra situação que lemos no mesmo capítulo foi a de um pai desesperado que
procurou a ajuda de Jesus em favor de seu filho:
E eis que, dentre a multidão, surgiu um homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-
te que vejas meu filho, porque é o único; um espírito se apodera dele, e, de repente,
o menino grita, e o espírito o atira por terra, convulsiona-o até espumar; e dificilmente
o deixa, depois de o ter quebrantado. Roguei aos teus discípulos que o expelissem,
mas eles não puderam. Respondeu Jesus: Ó geração incrédula e perversa! Até
quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze o teu filho. Quando se ia
aproximando, o demônio o atirou no chão e o convulsionou; mas Jesus repreendeu
o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai. (Lc 9.38-42)
Jesus ministrava cura e libertação pessoalmente, mas em muitas ocasiões ele
mandava seus discípulos fazerem isso. Mas, para isso, ele teve de ensiná-los como fazer,
como orar. Ele não os mandou a qualquer escola, mas foi tudo na prática.
Um adendo: a última grande referência de avivamento que temos na história
moderna da igreja foi o movimento da Rua Azuza (Los Angeles, Califórnia, USA). Lá,
quando uma pessoa queria aprender a ministrar cura e libertação espiritual às pessoas,
observava alguém que estava fazendo isso e então repetia as mesmas coisas. Não havia
uma “oração especial”, era tudo muito simples. Alguém olhava o outro fazendo e o copiava;
ouvia e repetia. Uma vez que a multidão via que o poder estava também em outros,
deixavam de “fazer fila” somente diante dos líderes.
Voltando ao cenário de Lucas 9, Jesus e seus discípulos estavam ministrando à
multidão, mas aquele homem chegou e disse-lhe que seus discípulos não haviam
conseguido curar seu filho. Qual foi a resposta de Jesus? “Ó geração incrédula e perversa!
Até quando estarei convosco e vos sofrerei?” Ou seja, ele deu uma forte bronca em seus
discípulos porque isso denunciou que eles não estavam cumprindo o que ele queria, a
agenda que ele lhes havia ordenado. Afinal era uma ordem, e não um pedido ou sugestão!
“Vocês estão comigo, estão na minha escola, são meus discípulos e devem fazer
exatamente o que eu lhes mandar fazer, porque eu lhes dou autoridade para isso!” Essa
história é importante porque estava em um contexto de preparação para tudo o que ainda
iria acontecer.
Chegando ao capítulo 10, lemos que Jesus acrescentou outros 70 discípulos
àqueles que já estavam andando com ele:
Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para
que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. (Lc 10.1)
Eu creio que muitos desses 70 eram discípulos de João Batista que passaram a
seguir Jesus. Esses homens foram enviados para preceder Jesus aonde ele estava para ir,
ou seja, estavam assumindo a unção de João de preparar o caminho do Messias. Eu creio
que a partir desse momento os discípulos de Jesus assumiram o papel de preparar o
caminho para a volta de Jesus em todas as nações! Só que nós não estamos mais na
agenda de João e, sim, na agenda de Jesus: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino

105
dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os
demônios...”.
Durante muitos anos eu ensinei o discipulado somente na questão do “ser” e quase
nada na questão do “fazer”. E o “fazer” era mais na área social: dar, atender, contribuir,
ajudar pessoas e instituições. Mas eu não me envolvia com essa parte do sobrenatural. No
entanto, a verdade da Palavra é que se fomos comprados com o sangue do Cordeiro, se
entendemos que somos discípulos de Jesus, a nossa agenda ou escola deve ser a mesma
dele. E ele nos deu o seu Espírito para cumprirmos essa agenda! Inclusive, a continuação
disso se deu em Pentecostes, quando o Espírito do Senhor que estava sobre o primeiro
corpo de Cristo (Jesus) passou a habitar no segundo corpo de Cristo (igreja) para dar
continuidade à agenda de Jesus, preparando o caminho para a sua volta.
Aqueles discípulos, divididos em 41 pares, saíram e foram para várias cidades
preparando o caminho de Jesus. Agora pense comigo: Qual seria a pregação deles? O
arrependimento? Sim, afinal eles tinham aprendido essa mensagem com João. Mas e os
discípulos de Jesus, qual mensagem tinham aprendido com ele? O sermão do Monte
(Mateus 5-7)! Nós entendemos que essa foi a pregação básica de Jesus em todos os
lugares aonde ele ia, porque ele estava levando, como Messias, a proposta do Reino de
Deus!
O ser humano estava vivendo naquele momento no auge do pecado. Mas, “onde o
pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5.20). Jesus veio quando o pecado estava
no seu ponto máximo em Israel. Roma estava lá presente com todas as suas perversões,
mas entendemos que essa situação só chegou nesse ponto devido ao pecado e iniquidade
da própria nação de Israel. Observamos todos os traços de Sodoma e Gomorra naqueles
dias em Israel. Jesus levantou essa questão quando disse:
Digo-vos que, naquele dia, haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela
cidade. Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom, se
tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam
arrependido, assentadas em pano de saco e cinza. Contudo, no Juízo, haverá menos
rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras. (Lc 10.12-14)
Todas as vezes que ouvimos uma menção bíblica sobre Sodoma e Gomorra depois
de Gênesis, devemos ouvir como um alarme do Espírito Santo soando: “ACORDA! JÁ
PASSOU DOS LIMITES!” E Jesus fez menção disso. Ele disse que se tivesse feito em Tiro
e Sidom (que eram Sodoma e Gomorra) os mesmos milagres que havia feito em Corazim
e Betsaida, duas cidades onde ele tinha ministrado o reino de Deus, aquelas teriam se
arrependido há muito tempo! Sabe o que isso revela? Que toda vez que Deus faz um
milagre Ele está fazendo um chamado, está dando uma oportunidade ao arrependimento.
Se Deus efetuou algum milagre e nós não correspondemos nos nossos corações com um
arrependimento profundo é porque não entendemos a mensagem!
É por isso que eu creio que essa palavra está nos preparando para um derramar do
Espírito Santo que está chegando! Ele está próximo! Quando os milagres começam a
acontecer precisamos ter na ponta da língua: “Arrependei-vos, pois é chegado o reino do
céu!” Essa é a hora, porque se Deus opera um milagre é porque existe uma unção no ar!
O Espírito Santo, que operou o milagre com poder, está pairando como “espírito de graça
e súplicas”, como Aquele que gera o arrependimento. Ele vai fazer as pessoas olharem
para Jesus e se quebrantarem.

106
Muitos podem ser curados, mas não ser salvos, por isso é necessário que a
mensagem da cura seja precedida pela mensagem do arrependimento. Não vamos
simplesmente pular, cantar, dançar, celebrar cada milagre, mas dizer: “Esse é o momento
de eu me arrepender!” O céu vai celebrar conosco não tanto pelas curas, mas por todos os
que se arrependerem. Você pode ser tocado, curado, liberto, ressuscitado e não ser salvo.
Por isso precisa se arrepender. Para entrar no reino tem que haver arrependimento!
Os discípulos saíram de dois em dois para muitas cidades e voltaram dizendo:
Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios
demônios se nos submetem pelo teu nome! (Lc 10.17)
Eles estavam muito alegres e celebrando. Antes, eles não tinham conseguido (o
exemplo do pai com seu filho), mas agora eles estavam crescendo e conseguindo. Jesus,
em sua sabedoria, os exortou dizendo:
Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque
o vosso nome está arrolado nos céus. (Lc 10.20)
No entanto, ele não os repreendeu por essa atitude, e sabemos disso porque logo
em seguida ele orou ao Pai:
Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai,
Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as
revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. (Lc 10.21)
Jesus ficou muito feliz, mas queria que os discípulos mantivessem seu equilíbrio
porque eles ainda estavam em fase de crescimento espiritual, ainda estavam aprendendo.
Com isso, chegamos ao entendimento de Lucas 11. Jesus estava orando em certo
lugar e seus discípulos observando-o. Como de costume, ele passava longos períodos
ministrando e depois se retirava para orar. Se fosse nós, após uma grande conferência de
curas e milagres, certamente nos reuniríamos para discutir sobre tudo o que havia
acontecido, mas, após todos aqueles milagres, diz o texto que Jesus se retirou para orar.
No entanto, havia uma discussão entre os discípulos sobre a oração que João havia
ensinado.
Eu quero submeter a vocês um conceito: creio que essa discussão foi gerada porque
eles ainda não estavam conseguindo fazer igual a Jesus. Haviam melhorado, mas ainda
não era igual. Portanto, a conversa era: “João nos ensinou a orar e Jesus está orando ali.
Será que ele não tem algo ‘forte’ que ainda não nos ensinou? Uma oração ‘poderosa’?
Porque o que João nos ensinou, funcionou! Nós vimos os mais duros de coração se
quebrantarem! Saíram das suas casas, se arrependeram e confessaram seus pecados na
frente de todo mundo! E sabemos que isso aconteceu por causa daquela oração que João
nos ensinou!” Então eles começaram a pensar: “Vamos pedir para ele nos ensinar essa
oração ‘forte’ dele!” Então, na minha tradução particular eu penso que eles disseram o
seguinte: “Jesus, nos ensine a orar como o Senhor estava orando ali!”
Penso que todo aquele cenário, desde que João reconheceu Jesus como o Cordeiro
até aquele momento, foi montado por Deus para que os discípulos entendessem que aquela
oração que Jesus estava fazendo era a mesma que eles deveriam aprender e repetir. E
eles foram lhe pedir isso:
De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus
discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos

107
seus discípulos. (Lc 11.1)
O que foi que Jesus lhes respondeu?
Então, ele os ensinou: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha
o teu reino; o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia; perdoa-nos os nossos
pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve; e não nos deixes cair
em tentação. (Lc 11.2-4)
Ou, conforme Mateus 6.9-13:
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu
nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão
nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas
livra-nos do mal, pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!
Se você entende que o sermão do monte foi a pregação básica de Jesus, que ele a
pregava de cidade em cidade, deve lembrar que essa oração do Pai Nosso está inserida
no meio do sermão. É como se Jesus dissesse: “Você quer o meu Reino para sua vida, sua
casa, seu trabalho, sua cidade, sua nação? Então orarei assim...”. É tão simples que ofende
o humanismo atual. Eu lhe desafio, quando for evangelizar, a fazer essa oração com fé e
com entendimento e o Espírito Santo virá sobre as pessoas e as atrairá para Jesus.
Paulo disse que “o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e
alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Então, ao pedir o reino, estamos pedindo por toda a
obra do Espírito Santo. Ele é Aquele que produz graça e súplicas, que traz os dons, que
revela o que Deus quer fazer, que transforma um filho do Diabo em um filho de Deus.
Estamos pedindo por essa obra do Espírito Santo ao dizer: “Venha o Teu reino!” A vontade
do Senhor é que todos se arrependam (1 Tm 2.4), então: “Que seja feita a Tua vontade!”
Eu creio que o sermão que os discípulos pregavam quando iam de cidade em cidade
para preparar o caminho do Senhor era o sermão do monte. Ora, nós somos discípulos e
reproduzimos o que aprendemos com os nossos mestres, então, os discípulos ensinaram
de cidade em cidade o que haviam aprendido de Jesus. Por que eles iriam ensinar algo
diferente? Assim, todos os que saíram para pregar o fizeram usando o mesmo ensino e
oração que Jesus lhes havia ensinado. Em todos os lugares por onde iam, oravam dizendo:
“Pai nosso, que estás nos céus...”. Por muito tempo eu não dei valor à esta oração porque
não percebia que o próprio Jesus orava assim, que essa oração era a base da sua vida de
intercessão diante do Pai.
O contexto de Lucas 11 é diferente de Mateus 6. Em Mateus, ele estava ensinando
a multidão. Podemos até tentar explicar que essa era apenas uma “oração modelo”; mas,
em Lucas, era a oração que ele mesmo estava fazendo como Messias diante do Pai e,
depois, a ensinou aos seus discípulos. Quando entendi isso me arrependi muito, pois a
julgava uma oração infantil, decorada, rezada. Mas, então, o Senhor me levou a entender
que essa era a oração que o próprio Messias fazia. Uma oração que revela o coração, os
mistérios, as profundezas, a missão de Jesus. Por isso, hoje eu afirmo que todo o
evangelho se encontra dentro dessa oração de Jesus. Não é qualquer pessoa que está
fazendo essa oração, não é qualquer pessoa que a está ensinando, mas é o próprio Filho
de Deus e ele foi instruído pelo Espírito Santo como nenhum outro homem!

108
Israel não era uma nação que tinha inúmeras orações. Alguns dizem que Jesus foi
influenciado pelo “Amidah” e “Avinu, Malkeinu” (Pai nosso, Rei nosso). Talvez elas até
possam tê-lo inspirado de algum modo e durante um certo tempo. Mas o que temos nesses
momentos de Mateus e de Lucas é o que foi destilado dentro de Jesus, o Messias que foi
instruído pelo Espírito Santo e que estava para entregar sua vida por nós.
E por que eu chamo de “intercessão”? Porque ele diz “Pai nosso” e, quando fala
assim é porque “abraçou” a todos nós. Por muitos anos eu ouvi teólogos afirmarem que
Jesus não fazia essa oração porque ele “não precisava pedir perdão por pecados”. Se
pensarmos que essa era apenas uma oração pessoal de Jesus essa crítica procede. Mas
devemos entender que essa era a sua intercessão junto ao Pai nos “abraçando”, assumindo
os nossos pecados como se fosse os dele e, então, procede o que ele pede: “Pai, perdoa
os nossos pecados”.
Eu também creio que ele não assumiu nossos pecados apenas no momento da cruz
e, sim, na hora do seu batismo, porque este era pelo arrependimento de pecados. Mas
Jesus não tinha pecados! E até João estranhou isso: “Eu é que preciso ser batizado por ti,
e tu vens a mim?” (Mt 3.14). Mas justamente porque seu batismo foi pelos NOSSOS
pecados! No momento em que estávamos condenados à morte eterna, Jesus tomou sobre
si os nossos pecados e iniquidades e nos resgatou do inferno (Is 53). Foi por isso que após
o batismo ele foi impelido pelo Espírito ao deserto para encarar o Diabo (o pecado abriu a
porta de acesso do Diabo às nossas vidas). Ou seja, a primeira coisa que Jesus fez após
se identificar conosco foi enfrentar Satanás por nós!
Voltando ao que eu disse no início, o que essa oração tem a ver com avivamento?
Eu explico! Logo em seguida, no mesmo momento do seu ensino sobre como orar, Jesus
disse:
Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à
meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um meu amigo,
chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer. E o outro lhe
responda lá de dentro, dizendo: Não me importunes; a porta já está fechada, e os
meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar;
digo-vos que, se não se levantar para dar-lhos por ser seu amigo, todavia, o fará por
causa da importunação e lhe dará tudo o de que tiver necessidade. Por isso, vos
digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que
pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. (Lc 11.5-10)
Jesus conta essa parábola relacionando-a com a oração do Pai nosso. Ele está
dizendo que, com essa oração, devemos IMPORTUNAR O PAI até que Ele nos dê tudo o
que precisamos! “Não importa a hora, não importa o que você está fazendo: importune o
Pai com essa oração!” É A MESMA ORAÇÃO, está ligada à parábola! Porém, muitos a
consideram uma oração apenas Católica, dizem que é uma “vã repetição” e a cortam de
suas vidas. Isso aconteceu comigo, até que o Senhor me revelou a importância dela.
Lembramos que pouco tempo antes Jesus havia repreendido os discípulos por não
praticarem o que ele lhes tinha ensinado desde o início, mas que eles ainda não haviam
entendido. Agora, no entanto, ele lhes explicou claramente: “Eu importuno o meu Pai com
essa oração! Eu estou insistindo com Ele!” É minha convicção pessoal que Jesus, uma vez
que soube que era o Messias por revelação do Espírito Santo (penso ter sido entre seus
15 a 18 anos), foi instruído pelo próprio Espírito a interceder por Israel e pelo mundo dessa
maneira. E, quando começou o seu ministério, revelou às pessoas (Mateus 6) e depois aos

109
seus discípulos (Lucas 11). Ou seja, era apenas algo que ele já fazia há muito tempo.
Penso, inclusive, que foi por causa dessa sua oração que veio a revelação para João
Batista, porque para receber tamanha revelação das Escrituras era necessário que João
tivesse o Espírito operando em sua vida. Então Jesus pegou uma profecia do V.T. (Zc
12.10), entendeu que era a hora dela se cumprir e começou a interceder por isso. No
secreto com o Pai, já sabendo que era o Messias e que em breve iria se manifestar ao
mundo, começou a suplicar ao Pai. Ou seja, sua vida de intercessão particular começou
muito antes da sua vida ministerial pública.
É por isso que eu digo que não existe separação de tempo entre os versos 4 e 5 de
Lucas 11, mas é uma continuação:
- Por isso, vos digo: Pedi... Pai nosso, que estais nos céus... e dar-se-vos-á!
- Buscai... Pai nosso, que estais nos céus... e achareis!
- Batei... Pai nosso, que estais nos céus... e abrir-se-vos-á!
- Pois todo o que pede recebe... Pai nosso, que estais nos céus...
- O que busca encontra... Pai nosso, que estais nos céus...
- E a quem bate, abrir-se-lhe-á... Pai nosso, que estais nos céus...
Estou ligando o texto ao contexto. Jesus está explicando como deveriam orar,
porque eles mesmos perguntaram isso a ele, queriam saber. Então Jesus está revelando a
importância de perseverar nessa oração. E ele continua:
Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se
pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe
dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos
filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
(Lc 11.11-13)
Essa foi a oração que Jesus fez diante do Pai! Ele disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele
vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco” (Jo 14.16). Ele
vincula a oração que ele ensinou (o Pai nosso) com a oração que ele faria em breve diante
do Pai e Este, então, enviaria o Espírito Santo. Isso está muito claro nesse texto de João.
Por que Jesus orou e ensinou seus discípulos a orar assim? Para que viesse o reino,
para que eles pudessem cumprir a agenda de Jesus, para que viesse sobre eles o mesmo
Espírito que estava sobre ele! Diante disso, eu entendo que quando Jesus subiu aos céus
ele ficou diante do Pai nos representando e dizendo: “Pai nosso, que estais nos céus...” Só
que agora ele não estava orando da Terra para o céu, mas nos representando diante do
Pai. Ele foi até lá por nós!
“Santificado seja o Teu nome” ou “faz o que for necessário para que o Teu nome
seja santificado na Terra”. Eu entendo que a coisa mais importante para Jesus não foi
apenas a questão da cruz e do perdão, mas ele fez tudo isso para que o Espírito que estava
sobre ele pudesse habitar em nós, a fim de que déssemos continuidade ao seu ministério,
à sua agenda.
Se no seu coração você tiver fé e entendimento e se levantar toda manhã, chegar
ao lugar em que você trabalha, começar a orar o Pai nosso, começar a agir como Jesus,
abraçando as pessoas com quem trabalha, abraçando aqueles que irá atender, inclui-los

110
nessa oração que Jesus ensinou, o Espírito de adoção, de graça e de súplicas vai começar
a operar na vida dessas pessoas. “Pai nosso, seja santificado o Teu nome na vida das
pessoas desse lugar!” Eu tenho certeza que Jesus estaria intercedendo assim se ele
estivesse presente em carne na Terra!
Hoje, em qualquer lugar, entro no lugar secreto, eu e o Pai, e intercedo: “Pai nosso,
que estais nos céus...”. Essa é uma afirmação que o Senhor está aqui presente conosco e
não apenas distante, lá no céu. Portanto, “santificado seja o Teu nome”. Eu oro: “Pai, assim
como o Senhor fez nos dias de Moisés, de Elias, de Jesus, faz o Teu nome santo aqui!
Venha o Teu reino, envia os Teus anjos, traz a obra do Teu Espírito sobre todos nós para
que o Teu nome seja santificado! Seja feita a Tua vontade e não a minha, Senhor!” Desta
forma, estamos cobrindo literalmente um espaço temporal e geográfico como se Jesus
estivesse presente (e de fato está). Nisso estamos exercendo nosso sacerdócio! Imagine o
que aconteceria se todos os discípulos de Jesus nessa nação começassem a orar com
essa fé, com esse entendimento de que estão aqui para continuar a vida intercessória de
Jesus?
Deus tem colocado isso como uma missão no meu coração por uma razão: nós
passamos os últimos 30 anos aprendendo sobre adoração e intercessão. Deus levantou
muitos ministros de oração e ministérios de intercessão e, de repente, criou-se “os
adoradores”, “os místicos”, “aqueles que têm revelações”! Assim, as coisas básicas do
sacerdócio de todos os discípulos de Jesus se tornaram um “mistério” para nós. Não estou
dizendo que Deus não faz mistérios, mas Ele fez tudo o que fez para edificar todo mundo
no Seu sacerdócio. Então, ao invés de começar por algo que está tão distante de mim,
quero começar por onde Jesus começou: “Pai nosso, que estais nos céus...”.
Precisamos nos tornar “doutores” na intercessão de Jesus pois, assim, o avivamento
virá! Ele disse: “Se você orar como eu oro, eu vou para o Pai e vou rogar a Ele por vocês.
E se vocês que são maus sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto mais o meu Pai
celestial, quando Eu lhe pedir, dará o Espírito Santo a todos que Lhe pedirem!” Assim, eu
submeto aos irmãos que essa oração é a oração de Jesus por um avivamento; que a
resposta dessa oração que Jesus fez diante do Pai foi o derramamento do Espírito no dia
de Pentecostes.
Eu tenho uma forte imagem na minha mente: em todas as cidades, em todos os dias,
os discípulos de Jesus, com fé e entendimento, em suas casas, reunidos em família, de
forma simples, sem complicações, orando: “Senhor, venha o Teu reino, traz o Teu governo
sobre fulano, sobre ciclano, sobre essa e aquela situação, sobre essa cidade, sobre a nossa
nação...”. Foi isso que Jesus ensinou seus discípulos fazerem!
No meu caso, eu precisava de uma orientação: “Como eu devo orar? Como devo
interceder?” Isso porque eu não me via como um intercessor nos moldes que a igreja
ensinava. O que eu tenho observado agora com essa prática é que o Espírito Santo Se
envolve comigo e, quando chega em algo especial, Ele traz peso ao meu coração, traz
choro, traz uma situação específica e acaba sendo Aquele que me ajuda a interceder
(Romanos 8).
Eu creio que a intenção do Senhor nesses dias é de avivar a intercessão de Jesus
em nossos corações. Além disso, de nos capacitar como intercessores da forma mais
simples e clara, como ele fez com seus discípulos. É para isso ele está nos chamando, mas
é uma decisão que nós mesmos temos de tomar!

111
“Discípulos meus: Quem irá como intercessor para fazer essa oração como se fosse
eu mesmo? Quem intercederá assim em sua casa, no prédio onde mora, nas ruas
de sua cidade, pelas pessoas do seu trabalho e escola, pelas famílias do seu
convívio? Quem vai orar assim, esperando por um derramar do Espírito? Porque eu
disse que quem orar dessa forma o Pai enviará o Seu Espírito, não O reterá e dará
tudo o que precisam! Quem irá? Quem se dispõe? Quem está ouvindo a voz do
Espírito Santo?”
Não sou eu quem está perguntando isso, quem está nos chamando a isso, mas o
próprio Jesus! Ele nos chama pelo Espírito para continuar o seu ministério, a sua agenda
aqui na Terra. Portanto, vamos fazer essa aliança com ele hoje, vamos corresponder ao
seu chamado!
Para Deus, cidades são como pessoas, elas têm uma voz. Então, quando o povo de
Deus em uma cidade ou nação levanta sua voz como sacerdote é como se fosse a própria
cidade ou nação clamando a Ele. Quando eu oro pela minha cidade o Senhor ouve a minha
voz como se fosse a voz da cidade toda. Ele me dá, como sacerdote do Cordeiro, uma
jurisdição municipal para orar.
A oração do Pai nosso tem tudo a ver com as situações que estamos vivendo hoje
como nação. Eu vejo a urgência com que o Espírito está falando conosco para que, como
igreja no Brasil, levantemos nossa voz acreditando que, como sacerdotes do Cordeiro,
como habitantes desta Terra, nossa voz subirá ao Santo dos Santos e entrará no mesmo
lugar em que Jesus entrou e aonde ele agora também está orando assim. Portanto, há
concordância no céu e na Terra quando oramos junto com ele.
Assim, todos os dias, em nossas casas, com nossos familiares, nos lugares em que
trabalhamos e estudamos, nos ambientes que frequentamos, com fé, humildade e
entendimento, em correspondência e obediência ao nosso sacerdócio, crendo no
avivamento do Espírito, na implantação do reino de Deus, na volta do Messias, oramos:
Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja
feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá
hoje; perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos
nossos devedores; e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal.
Porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.

112
CHAMADOS PARA O SACERDÓCIO
Abnério Cabral

O maior chamado ou comissionamento que um cristão tem em sua vida é o sacerdócio.


Esse é um ministério que nunca irá acabar, que continuará pela eternidade. O
sacerdócio começou já no Éden, pois Deus descia, falava com Adão e este falava com
Deus. Adão se acostumou a ouvir a voz do Senhor, a escutar os Seus passos no Jardim.
Muitas tribos e nações tinham seus próprios sacerdotes. Quando Moisés tirou o povo
de Israel do Egito havia diversas manifestações de serviço ao Senhor, mas chegou um
momento em que Deus declarou o real desejo do Seu coração:
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança,
então, sereis a minha propriedade exclusiva dentre todos os povos; porque toda a
terra é minha; mas vós sereis para mim reino de sacerdotes e nação santa. São
estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. (Ex 19.5,6)
Moisés expressou a todos os israelitas o desejo do coração de Deus: se eles
ouvissem Sua voz e guardassem a Sua aliança, Ele os faria Sua propriedade particular e
seriam um reino de sacerdotes. Então a condição fundamental para ser um sacerdote era
ouvir a voz de Deus (Adão fazia isso). O anseio do coração do Senhor era ter uma nação
ou um reino onde todos ouvissem a Sua voz e prestassem atenção à Sua presença.
Veio Moisés, chamou os anciãos do povo e expôs diante deles todas estas palavras
que o SENHOR lhe havia ordenado. Então, o povo respondeu à uma: Tudo o que o
SENHOR falou faremos. E Moisés relatou ao SENHOR as palavras do povo. Disse
o SENHOR a Moisés: Eis que virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça
quando eu falar contigo e para que também creiam sempre em ti. Porque Moisés
tinha anunciado as palavras do seu povo ao SENHOR. (Ex 19.7-9)
Deus desejava que o povo O conhecesse mais e tivesse a experiência de ouvi-Lo,
assim como Moisés Lhe conhecia e ouvia. Certamente o Senhor aguardava ansiosamente
por aquele momento em que Ele desceria no monte e Se encontraria com Seu povo:
Disse também o SENHOR a Moisés: Vai ao povo e purifica-o hoje e amanhã. Lavem
eles as suas vestes e estejam prontos para o terceiro dia; porque no terceiro dia o
SENHOR, à vista de todo o povo, descerá sobre o monte Sinai. Marcarás em redor
limites ao povo, dizendo: Guardai-vos de subir ao monte, nem toqueis o seu limite;
todo aquele que tocar o monte será morto. Mão nenhuma tocará neste, mas será
apedrejado ou flechado; quer seja animal, quer seja homem, não viverá. Quando
soar longamente a buzina, então, subirão ao monte. (Ex 19.10-13)
No entanto, diante dessas orientações, o povo ficou apavorado com aquele
encontro: “Mas que Deus é esse que quer Se encontrar conosco e, se tocarmos em algo,
nos matará?”
E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do
monte. Todo o monte Sinai fumegava, porque o SENHOR descera sobre ele em

113
fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia
grandemente. E o clangor da trombeta ia aumentando cada vez mais; Moisés falava,
e Deus lhe respondia no trovão. Descendo o SENHOR para o cimo do monte Sinai,
chamou o SENHOR a Moisés para o cimo do monte. Moisés subiu, e o SENHOR
disse a Moisés: Desce, adverte ao povo que não traspasse o limite até ao SENHOR
para vê-lo, a fim de muitos deles não perecerem. Também os sacerdotes, que se
chegam ao SENHOR, se hão de consagrar, para que o SENHOR não os fira. Então,
disse Moisés ao SENHOR: O povo não poderá subir ao monte Sinai, porque tu nos
advertiste, dizendo: Marca limites ao redor do monte e consagra-o. Replicou-lhe o
SENHOR: Vai, desce; depois, subirás tu, e Arão contigo; os sacerdotes, porém, e o
povo não traspassem o limite para subir ao SENHOR, para que não os fira. Desceu,
pois, Moisés ao povo e lhe disse tudo isso. (Ex 19.17-25)
Todo o povo presenciou os trovões, e os relâmpagos, e o clangor da trombeta, e o
monte fumegante; e o povo, observando, se estremeceu e ficou de longe. Disseram
a Moisés: Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não
morramos. Respondeu Moisés ao povo: Não temais; Deus veio para vos provar e
para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis. (Ex 20.18-20)
O povo ficou com muito medo do Senhor e, por isso, pediu que Moisés ouvisse a Ele
e lhes transmitisse Suas palavras. Mas o desejo de Deus era um reino de sacerdotes que
entrasse em Sua presença, que ouvisse Sua voz e caminhasse de acordo com o que ouvia.
No entanto, o nosso Deus, o Deus de Israel não é como os deuses das outras nações que
“têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não veem. Têm ouvidos, mas não ouvem;
narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam;
nem som algum sai da sua garganta” (Sl 115.5-7). O nosso Deus tem regras, princípios,
limites, orientações para que o povo se aproxime Dele.
Anteriormente havia muitas pessoas que serviam ao Senhor, alguns que até eram
chamadas de ‘sacerdotes’, mas chegou o momento em que Deus disse: “Chega”, pois Ele
queria algo mais sério, mais contínuo, mais íntimo.
O sacerdote é aquele que ouve de Deus. Mas, o que é exatamente “ouvir Deus”? É
um ofício, um serviço, um ministério, um trabalho! Requer comprometimento, pois, se Deus
falou, vai acontecer.
E chamarás dentre os israelitas teu irmão Arão, e seus filhos Nadabe e Abiú, Eleazar
e Itamar, para me servirem como sacerdotes. (...) Estas são as vestes que farão: um
peitoral, um colete sacerdotal, um manto, uma túnica bordada, uma mitra e um cinto.
Farão as vestes sagradas para Arão, teu irmão, e para seus filhos, para que me
sirvam como sacerdotes. (Ex 28.1,4)
Eles precisavam se vestir, se preparar de forma adequada, ter uma roupa
diferenciada para servirem como sacerdotes. Isso porque eles tinham uma vida, um
comportamento diferente; eles não faziam as mesmas coisas que os levitas ou as demais
tribos faziam. Eles tinham uma conduta, uma postura, uma responsabilidade diferente.
Havia todo um cerimonial para vestir essas roupas; nada era feito de qualquer maneira,
porque eles se apresentariam diante de Deus.
Assim, o sacerdote tinha uma tarefa muito importante de ministrar ao povo e a Deus.
Eles ouviam a Deus e falavam ao povo. Essa foi a forma que o Senhor achou para continuar
tendo contato com o Seu povo – pelo menos por meio dos sacerdotes. Por muitos anos na

114
história de Israel foi assim que Deus lhes falou.
E os profetas? Esses entravam em cena quando os sacerdotes falhavam, quando
não cumpriam seu papel. Existiram muitos profetas sem linhagem, porque isso não era
importante. Mas o sacerdote tinha de fazer parte da família de Arão. O profeta era qualquer
um que tivesse o coração voltado para Deus. Então, quando os sacerdotes não cumpriam
seu papel, Deus levantava os profetas que conclamavam o povo para voltar ao Senhor.
Uma história muito conhecida nesse aspecto é a de Samuel e Eli. Deus precisou
levantar Samuel porque Eli estava falhando. E isso aconteceu muitas vezes na história
bíblica. No entanto, o desejo do coração de Deus não era ter uma nação cheia de profetas,
mas um reino de sacerdotes; pessoas inclinadas a ouvir Sua voz, desejosas de se encontrar
com Ele, com um coração disposto a caminhar de acordo com o que Ele falasse. Era uma
proposta tremenda, maravilhosa!
A história transcorreu, o tempo passou e, a partir de 1948, temos novamente o
Estado de Israel oficializado. Eles estão lá – nação escolhida de Deus que está começando
a se inclinar para Jesus. Hoje já milhares de judeus confessando Jesus como Senhor. Deus
não desistiu do Seu plano, do Seu propósito.
Ele me mostrou o sumo sacerdote Josué diante do anjo do SENHOR, e Satanás
estava ao seu lado direito, para se opor a ele. Mas o anjo do SENHOR disse a
Satanás: Que o SENHOR te repreenda, Satanás! Que o SENHOR, que escolheu
Jerusalém, te repreenda! Este homem não é um tição tirado do fogo? (Zc 3.1,2)
Assim como Josué, nós também somos tições tirados do fogo do inferno pelo sangue
de Jesus, para a glória de Deus. O sacrifício de Jesus não foi simplesmente para nos livrar
do caminho do inferno, mas para nos arrancar de lá. Porém, com qual propósito?
Ele nos tirou do domínio das trevas (do inferno) e nos transportou para o reino do
seu Filho amado em quem temos a redenção, isto é, o perdão dos pecados. (Cl
1.13,14)
Mas vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das
trevas para sua maravilhosa luz. (1 Pd 2.9)
Àquele que nos ama e nos libertou dos nossos pecados pelo seu sangue, e nos
constituiu reino e sacerdotes para Deus, seu Pai; a ele sejam glória e domínio pelos
séculos dos séculos. (...) E cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de
tomar o livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com o teu sangue compraste
para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação; e os constituíste reino e
sacerdotes para nosso Deus; e assim reinarão sobre a terra. (Ap 1.5,6; 5.9,10)
Fomos arrancados do inferno e transportados para o reino de Jesus com o propósito
de servirmos como sacerdotes nesse reino. Por meio de Jesus fomos santificados,
separados, comissionados. Antes estávamos separados, longe de Deus, mas Jesus nos
resgatou, nos chamou, nos santificou nele mesmo, nos aproximou do Pai e nos
comissionou para sermos um reino de sacerdotes.
Voltando ao livro de Êxodo:
E ordenarás aos israelitas que te tragam azeite puro de oliva, batido, para a
iluminação, para manter uma lâmpada continuamente acesa. Arão e seus filhos a
manterão acesa diante do SENHOR na tenda da revelação, do lado de fora do véu

115
que está diante do testemunho, desde a tarde até a manhã. Este será um estatuto
perpétuo para os israelitas através de suas gerações. (Ex 27.20,21)
Os israelitas tinham de trazer azeite puro e entregar para os sacerdotes. Estes
tomariam o azeite e acenderiam as lâmpadas, que estariam diante do Senhor. Aquele
candelabro estava diante do véu e deveria estar continuamente aceso para iluminar o altar
de incenso quando o mesmo fosse utilizado para oferecer adoração a Deus. Hoje somos
nós que temos de apresentar esse azeite puro diante de Deus e manter as lâmpadas
acesas, pois somos os Seus sacerdotes.
Arão queimará o incenso das especiarias sobre ele; ele o queimará todas as manhãs,
quando puser em ordem as lâmpadas. Também o queimará quando acender as
lâmpadas à tarde. O incenso será queimado perpetuamente diante do SENHOR,
através de vossas gerações. (Ex 30.7,8)
Vemos que o incenso era oferecido todas as manhãs e tardes. Mas o candeeiro era
aceso à tarde e assim permanecia a noite toda. Pela manhã, os sacerdotes colocavam as
lâmpadas em ordem e verificavam se havia azeite suficiente para queimar até o momento
do oferecimento da oferta de incenso ao Senhor. Enquanto houvesse incenso sendo
oferecido, as lâmpadas precisavam permanecer acesas, e isso era tarefa dos sacerdotes.
Essa também é a nossa tarefa: alinhar as lâmpadas e mantê-las acesas. Ora, se
vamos adorar a Deus precisamos estar alinhados entre nós, igreja. Todos somos
sacerdotes e devemos cumprir com esse chamado ou comissionamento. Os líderes e os
músicos não podem nos substituir nesse papel, pois eles não estão para nos servir e, sim,
ao Senhor. O tempo de louvor e adoração que temos em nossas congregações é ao
Senhor, e não ao povo. Os músicos são instruídos a observar a correspondência da
congregação, mas seu papel não é nos fazer entrar na presença de Deus. Eles são tão
servos e sacerdotes quanto nós. Quando eles e nós estivermos todos juntos adorando ao
Senhor, as lâmpadas estarão acesas e alinhadas. E apenas quando as lâmpadas estiverem
em ordem o incenso será aceso e chegará à presença do Senhor.
Tudo o que estava fora do Tabernáculo, todos os objetos que representavam a
Trindade agora estão dentro de nós. O Espírito foi derramado e agora habita dentro de nós.
Nós somos as lâmpadas que devem permanecer acesas e queimando diante de Deus. Por
isso precisamos nos alinhar – com a família, com os irmãos, com o Senhor. O lugar onde
adoraremos ao Senhor juntos não importa; o alinhamento, sim. O que importa é que as
nossas lâmpadas estejam alinhadas, acertadas, acesas, pois vamos juntos ministrar a
Deus.
Isso serve não apenas para a nossa congregação. Se quisermos ser usados pelo
Senhor para abençoar as cidades, as nações, precisamos alinhar nossas lâmpadas com o
que Ele está fazendo em todos os lugares. Israel tem o seu papel e nós, igreja internacional,
também temos o nosso. Todos recebemos um comissionamento, um chamado para o
sacerdócio e, por isso, devemos estar alinhados para prestarmos culto ao Senhor.
Quando lemos o livro de Malaquias, constatamos que o assunto principal do mesmo
é o culto ao Senhor. Ele fala da aliança que temos uns com os outros como igreja; fala da
aliança entre pais e filhos; fala sobre como nos achegarmos diante de Deus; fala da
importância da restauração do culto ao Senhor.
Por que, em nossas reuniões, temos um momento para ofertar? Porque é um culto
ao nosso Deus! Estamos devolvendo, colocando diante Dele parte do que Ele tem nos

116
dado. Assim, quando trazemos nossos dízimos e ofertas estamos reconhecendo quem é a
fonte, de onde vêm as nossas bênçãos. Ou seja, reconhecer é adorar e adorar é
reconhecer!
Nós somos sacerdotes do Senhor e, quando nos reunimos, prestamos a Ele um
serviço. Assim, devemos cuidar para não deixarmos as lâmpadas se apagarem;
precisamos estar sempre alinhados uns com os outros para oferecermos adoração
contínua no altar de incenso. Sem alinhamento, ou se houver alguma lâmpada apagada,
isso não vai acontecer.
Arão ia sempre no mesmo horário para ver se as lâmpadas estavam todas acesas,
se os pavios estavam corretamente inseridos no azeite, se havia azeite suficiente para
poder queimar as lâmpadas enquanto a adoração estava sendo oferecida ao Senhor.
O azeite batido, extra puro é muito caro. Ele é cheio de nutrientes, muito forte. No
passado, inclusive, era usado como remédio por várias culturas. É esse azeite, o melhor, o
mais caro que Deus quer. Custa caro levantar cedo e ir à reunião, custa caro participar das
chamadas de oração, mas é para Deus que o fazemos. É em nome de Jesus – e não da
liderança ou dos músicos – que nós nos reunimos. É para adorar ao nosso Rei, ao nosso
Deus e Senhor!
Quando nos alinhamos começamos a ouvir a voz de Deus. É um engano pensar que
sem alinhamento ouviremos Sua voz. Há um espírito de engano na Terra que está
crescendo cada vez mais para nos afastar desse propósito. Assim, é muito importante
compreendermos o nosso papel, o nosso chamado, a nossa função no Corpo de Cristo.
Somos sacerdotes do Senhor! Amém!

117
QUAL É A SUA EXPECTATIVA?
Clésio Pena

Q ual a sua expectativa em Deus? Você ainda espera ver no Reino de Deus? Ou está
apenas esperando ir embora para o céu? Está com expectativa daquilo que Deus fará
nesses dias? Ou a sua esperança é apenas ter uma vida boa nas ruas de ouro do céu? O
que você anseia? O que ainda espera ver? A sua vida cristã está sendo vivida em
plenitude? Ou será que Deus não quer Se dar mais a você? E se tem mais, quando isso irá
acontecer? É no futuro? Mas quando é o futuro? Perguntas difíceis, não é mesmo?
Eu quero dizer a vocês que Deus tem muito mais para nós, Deus quer Se mostrar
através de sinais e maravilhas. Na verdade, este não é um assunto para falar, mas para
ver. É um assunto que precisamos perceber, sermos testemunhas disso. Eu tenho uma
expectativa de que Deus quer Se derramar, de que Ele quer Se mostrar muito mais do que
já tem feito nesses dias.
No livro de Êxodo, por algumas vezes, Deus fala: “Eu virei a ti”, “Eu te visitarei”, “Ali
falarei contigo”. Desculpe a expressão, mas Deus “está sendo oferecido, Ele não foi
convidado”. Ele disse: “Vou tirar vocês daqui, vou levá-los a outro lugar e estarei em seu
meio. Eu quero e vou estar sempre junto com vocês! Existe um reino celestial, existem leis
celestiais e Eu quero que este domínio passe para a Terra como uma força avassaladora.
Isso não acontecerá por meio de anjos, mas por meio de um povo escolhido e separado.
Eu quero estar no meio de vocês para que a Terra veja que existem leis celestiais que
interferem, que irão penetrar neste mundo terreno”. Deus poderia fazer isso com força, com
brutalidade, mas não! Ele decidiu fazer através de pessoas, de um povo, e por isso Ele
insistiu em estar sempre junto conosco.
Existe um reino terreno, que é este que vemos e vivemos. Se jogarmos uma semente
na terra ela irá nascer, pois é uma lei física, lei do nosso planeta. Mas também existe um
reino celestial, com leis celestiais. Ora, se existe esse reino, então existe um Rei e Suas
ordens ou leis. Nós vivemos no reino terreno, mas Deus criou leis aqui e leis no céu. Por
que Ele não dita algumas ordens de vez em quando, envia Seus anjos para corrigir o que
estamos fazendo, nos conserta conforme Suas ordens? Ele poderia muito bem ter criado o
planeta e depois Se ausentado, deixando apenas as leis naturais governando. Mas Ele quis
fazer com que as leis do céu interfiram na Terra por meio de pessoas.
Ora, quando João no cárcere ouviu falar das obras do Cristo, mandou pelos seus
discípulos perguntar-lhe: És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar
outro? (Mt 11:2-3)
João batizou Jesus e disse: “Este é o Cordeiro!”, mas agora ele manda perguntar se
havia outro???
Respondeu-lhes Jesus: Ide contar a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos
veem, e os coxos andam; os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos
são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. (Mt 11:4-5)

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Jesus não deu uma resposta teológica, não disse: “Fale para João que sou eu
mesmo. Cite esta e esta passagem bíblica e ele saberá que sou Deus”. Jesus poderia fazer
uma carta teológica e enviar para João. Ele leria e entenderia que Jesus era mesmo o
Messias. Mas não! Qual foi sua resposta? “O céu desceu sobre a Terra: os surdos estão
ouvindo, os cegos estão enxergando e os leprosos estão sendo purificados. O Reino lá de
cima está invadindo com força o reino aqui de baixo e mudando tudo. O Reino de Deus
está chegando. Não há teologia, não há conversa, não há seminário teológico. Há apenas
o Reino dos Céus invadindo o reino da Terra!” Foi isso que Jesus veio fazer.
Ao enviar os discípulos ele não disse: “Vão e façam vários cursos teológicos. Montem
seminários de cidade em cidade. Decorem todo o Velho Testamento!”. Não! Ele disse: “Vão
e curem os enfermos, ressuscitem os mortos”. Isso é uma ordem ou ele estava apenas
brincando? Será que ele falava mesmo sério? Se sim, a minha vida está muito errada, pois
eu não levantei nenhum defunto ainda. Mas eu não quero focar a mensagem no erro e, sim,
a crença, a fé de que isso vai acontecer. E não é somente lá no futuro, porque o futuro já
chegou, já está entre nós, é hoje, é agora.
Existe um poder que desce dos céus, mas eu estou vivendo um Cristianismo sem
acreditar neste poder! Eu sei muitas coisas certas sobre Jesus, aliás, tudo o que eu creio
sobre ele está certo. Eu falo certo sobre Jesus, tenho uma mensagem certa sobre Jesus,
chego para o meu vizinho e digo coisas boas e corretas a ele. Mas ele sai mancando com
uma dor e eu digo: “Deus o abençoe”. Ora, existe um poder do céu que eu não estou
usufruindo.
Se o mundo perguntar: “É a sua igreja que trará o Reino de Deus?”, o que você
responderá? “Sim, nós temos a teologia correta!”. Mas com isso o mundo continua do jeito
que está. Não há estudo algum, mas apenas “Vá e cure o enfermo, liberte o oprimido,
ressuscite o defunto! Vá e faça coisas maiores do que eu fiz!” Pedro orou e o coxo se
levantou na porta do Templo. O povo quis exaltar a Pedro, mas ele disse: “Por que vocês
estão olhando como se de nós tivesse saído poder? Não foi de nós!” Então ele explicou de
onde saiu o poder. Aí sim ele entrou com o estudo, com a letra, mas ele também mostrou
a prova, o fato, o cumprimento da letra. Ele explicou que Jesus estava vivo e mostrou o
homem andando. Acabou a discussão se existe ou não Deus, se Ele é ou não amoroso.
Você está com esta expectativa? “És tu ou virá algum outro?” Diga ao Senhor o que está
acontecendo com você e ele entenderá.
O que está acontecendo hoje? Transformações! As leis do céu não estão
respeitando as leis da Terra! Qual é a lei daqui? Você vai ao médico e ele diz que você tem
um mês de vida, pois o câncer tomou cérebro, fígado e rins. Mas a lei de cima não obedece
às leis da medicina, da patologia! Então ela vem e transforma tudo para o bem, muda tudo
pois ela tem um poder avassalador. A Lei Celestial, a Lei do Reino de Deus quer inundar
avassaladoramente este mundo e mudar todas as nossas práticas de vida. Nós, como
cristãos, devemos trazer leis superiores para esta Terra, leis que irão transformar e reger a
nossa vida terrena.
Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus
sinais e as minhas maravilhas. (Ex 7:3)
Deus diz que o coração de Faraó ficaria endurecido, mas Ele multiplicaria no Egito
as Suas maravilhas. Todos veriam, tanto os egípcios quanto os hebreus. Imagine três dias
de densas trevas do lado dos egípcios e claridade do lado dos hebreus. Eles começaram
a perceber que existe um Deus, que há algo superior, algo maior.

119
Será que Jesus me resgatou apenas para esta vida terrena? Ou será que o sangue
dele me perdoou apenas para eu viver no céu? Existe uma vida superior, palpável e para
hoje! É necessário ter fé para hoje! Pedro não deixou para curar o coxo depois, não fez
campanha de 40 dias de oração por ele. Não! Existem outras leis, leis celestiais, e Pedro
entendeu isso.
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos
apóstolos. (At 2:42)
Por que eu devo perseverar? Será que esse “perseverar” é uma prisão? Será que é
para eu passar o resto da minha vida pobre e sem poder? Não! O Reino de Deus já chegou!
Devemos sim perseverar, mas para um propósito – o fim não são sinais, mas os sinais são
para um fim.
A Bíblia fala sobre prodígios. Não sei bem o que significa esta palavra, mas me
parece que não é algo normal, me parece uma coisa louca. O coxo estava pedindo esmola
há muitos anos, então vem um “louco” e diz para ele se levantar e ir embora. Isto é prodígio!
Não é normal uma vida cristã sem o anseio pelo impossível. É uma vida doentia. Quem não
quer mais é porque está doente. A criança sempre quer mais. Ela não bebe só uma gotinha
de leite, mas quer mais porque quer crescer e viver. Quando estou doente, debilitado,
quando não aguento mais este corpo, então eu quero morrer, cansei de viver. Quem não
quer mais é porque está morrendo. Você quer mais de Deus ou está bom desse jeito que
está vivendo?
Penso que Deus está nos dizendo: “Eu quero multiplicar os meus sinais e maravilhas
em sua cidade. Deixe-me habitar com vocês, deixe-me ficar entre vocês”. Deus quer mudar
as leis tradicionais que nós temos. Existe um poder sobrenatural e o Dono deste poder não
é mesquinho e nem egoísta. O poder é todo Dele, mas Ele diz que podemos usar à vontade
para mostrar ao mundo que Ele existe.
Deus fez Adão e disse: “Encha, multiplica, domine. Nós mostraremos ao planeta que
existe um Deus, e isso será através de você”. Adão pecou, mas então Jesus veio, morreu,
ressuscitou e resgatou a autoridade do céu, ou seja, o diabo não governa mais aqui!
Acabou! Agora existe outra autoridade: nós estamos Nele e Ele está reinando em nós e
através de nós!
A estes doze enviou Jesus, e ordenou-lhes, dizendo: Não ireis aos gentios, nem
entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de
Israel; e indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. (Mt 10:5-7)
Essa é a questão: não é pregar “a minha igreja” ou “a minha teologia”. É pregar o
Reino dos céus! Existe um Reino e um Rei que deseja dominar aqui. Ele quer coabitar,
tabernacular, morar junto conosco e, através de nós, esparramar o Reino dos céus sobre o
reino da Terra.
Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios;
de graça recebestes, de graça dai. (Mt 10:8)
Arrumaremos “brigas” com os médicos, donos de farmácias, donos de funerárias,
pois eles vivem baseados nas regras daqui e nós estamos trazendo outra lei. Vamos pensar
em prodígios! Jesus disse que faremos coisas maiores! Não sei se estou certo, mas parece-
me que todos os milagres que Jesus fez foram coisas que melhoraram a natureza. Se a

120
pessoa estava doente, então a natureza dentro dela se renovava e ela ficava curada.
Imagine que caia uma faixa de 3 km do meio da ponte Rio-Niterói. Vai virar um caos!
Mas, então, dez cristãos chegam lá, levantam as mãos, oram para que Deus faça crescer
a ponte e ela cresce. Isso será um prodígio! Os repórteres filmando ao vivo e exibindo em
todos os canais de televisão. Vão querer exaltar essas dez pessoas! Mas não foram eles!
Existem leis superiores e essas invadiram a Terra. Quem é maior do que o nosso Deus?
Eu estou sonhando com essas coisas acontecendo. A minha vida atual ainda não
condiz com este tipo de vida. O meu estilo de vida hoje é natural, é “2 + 2 = 4”. Se estou
com fome, como; se furou o pneu do carro, troco. Mas será que eu fui chamado apenas
para ter uma vida natural? Não! Afinal, eu sou um discípulo ou um simpatizante de Jesus?
Porque o discípulo deve sair curando os enfermos, ressuscitando os mortos e purificando
os leprosos. Há algo errado com o meu Cristianismo, pois a lei do céu não muda, Jesus
não mudou, ele é e sempre será o mesmo!
Sempre que Jesus falava do Reino dos céus ele operava curas e maravilhas. Isso
torna tudo muito claro: a nossa missão como cristãos não tem a ver com o que nós podemos
fazer para Deus, mas com o que Deus fez e fará por nós e através de nós.
Eles, pois, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Senhor, e
confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam. (Mr 16:20)
Será que isso está traduzido certo? Jesus agora é cooperador, ajudante? A Bíblia
está cheia disso, mas a minha vida ainda não. Ora, se eu me arrependi o suficiente para
ser salvo, por que não me arrependi o suficiente para ver milagres? Eu quero ver sinais,
prodígios, maravilhas! Eu quero ver Jesus operando hoje, aqui e agora!
E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios;
falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera,
não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão
curados. (Mr 16:17-18)
Se Deus é assim, se essa é a natureza de Deus, se existe esse poder, essas leis
que querem vir e modificar as nossas vidas, mas ainda aceitamos o Cristianismo “pela
metade”, ou seja, apenas que somos salvos e vamos morar no céu com Jesus, então
alguma coisa está errada! E hoje? Qual a minha postura de vida hoje? Qual é o anseio do
meu coração espiritualmente falando? É muito melhor que eu comece a viver, a
experimentar hoje o Cristianismo como ele verdadeiramente é.
A Bíblia diz: “Para isso se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do
diabo” (1 Jo 3.8). Deus quer nos usar! Lembre-se sempre dessa frase: “Deus te usar não
significa que Ele está te aprovando”. Eu sou prova real disso. Às vezes tenho atitudes
erradas, em momentos errados e Deus me usa logo em seguida. Ele não me usa porque
eu sou santo, mas porque Ele quer Se mostrar ao mundo através de mim, mostrar o Seu
Reino, o Seu poder. Ele não me usa baseado na minha santidade. Se você levantar um
defunto não invente uma teologia nova, não diga que você é “o cara”, mas diga como Pedro:
“Não olhe para mim, olhe para Ele!” Eu não posso dizer que sou santo, mas posso dizer
que Ele é tão poderoso que me usa. Amém!

121
FAMÍLIAS, PERSEVEREM!
Tony Felício

A palavra desta ministração é simples e específica e me foi entregue pelo Senhor em


sonho. Ele me disse também: “Diga aos irmãos que Eu estou empenhado em cumprir
todas as promessas que dei às suas famílias.” A palavra falava especificamente de família
e de como o nosso Deus está empenhado em fazer cumprir aquilo que é história Dele para
nós e nossas casas.
Eu imagino que muitos de nós não temos experimentado ainda tudo o que
gostaríamos (e que vamos) experimentar em nossas casas, ou seja, tudo o que é vontade
de Deus. Mas naquela manhã eu ouvi Deus dizer-me para lembrar aos irmãos de que Ele
está empenhado em fazer isso. Às vezes, nós ouvimos bastante e, talvez, a nossa própria
consciência nos diz aquilo que temos de fazer. Mas somos muito centrados nas coisas ruins
que estão acontecendo, nos problemas que temos passado dentro e fora de casa. No
entanto, hoje quero lembrar os irmãos o que o nosso Deus é capaz de fazer!
Antes de falar especificamente da família, quero falar sobre três aspectos do caráter
de Deus.

O primeiro aspecto é que o nosso Deus é fiel. Isso significa que Ele sempre
cumpre o que diz. Deus nunca mente, nunca atrasa e nunca abandona um projeto Seu. Ele
é fiel para cumprir aquilo que quer fazer, até o fim.
Pois a palavra do Senhor é verdadeira; ele é fiel em tudo o que faz. (Sl 33.4)
Duas coisas estão relacionadas nesse versículo: a palavra de Deus e o caráter de
Deus. Na primeira parte diz que “a Palavra do Senhor é verdadeira” e, na segunda, que
“Ele é fiel em tudo o que faz”. Isto significa que Deus é igual à Sua Palavra. Assim como
Ele não mente, Sua palavra não mente e vice-versa. Não podemos separar aquilo que Deus
é daquilo que Deus diz. Isso está no Seu caráter. Deus é tão fiel quanto a Sua palavra é
verdadeira.
Por isso, quando ouvir Deus falar com você e passar por circunstâncias que parecem
anunciar que Ele não falou, lembre-se de quem Ele é. Às vezes os nossos sentimentos
colocam em dúvida a palavra que ouvimos, mas se estamos alinhados com Deus, em
relacionamento com Ele, vamos confiar. Dessa forma, os nossos sentimentos não
conseguirão nos controlar ou conduzir na situação que estamos enfrentando, porque o que
Deus fala é igual a quem Ele é.
Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que
prometeu é fiel. (Hb 10.23)
Se Ele é fiel nós precisamos nos apegar com firmeza à esperança de que a
promessa feita se cumprirá. É verdade que Deus tem uma vontade e, segundo Romanos
12.2, ela é boa, perfeita e agradável. E essa vontade de Deus é igual a Deus. Se cremos
que Deus é assim, então, vamos encher de esperança o nosso coração enquanto

122
aguardamos e trabalhamos para que a Sua promessa se cumpra.
É impressionante ler no Antigo Testamento que alguns reis começam bem e
terminam mal. Por exemplo: Saul começou bem. Ele foi escolhido para ser rei porque era
imponente, belo, alto, forte, porém, ele teve um fim terrível dizendo: “Eu não quero morrer
pelas mãos dos meus inimigos, então vou me matar.” Isso foi uma insanidade! Mas, como
termina Davi? Ele morreu em ditosa velhice. Há, então, uma diferença maravilhosa entre
esses dois reis: um se apegou ao fato de ser rei, o outro se apegou ao fato de ser servo do
Senhor dos Exércitos. Saul queria o reinado, Davi queria o Rei. Davi foi glorioso nas
batalhas porque não se colocava no centro das coisas, mas era apegado ao Rei. Ele
escreveu muitos Salmos e, enquanto levava as ovelhas ao rio, ele via o rio “batendo
palmas”, porque tudo em sua frente era motivo para se lembrar do seu Deus. Davi tinha o
coração apegado ao Senhor.
Queridos, nós precisamos ser mais apegados ao Senhor do que somos apegados
às coisas que queremos que Ele faça. Como eu disse anteriormente, o Senhor é igual às
Suas promessas, mas às vezes nós fixamos tanto os olhos na promessa que, quando ela
demora a se cumprir, nossa tendência é duvidar do caráter de Deus. Por isso, precisamos
ver quem Ele é – Ele é fiel.
Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. (2 Tm
2.13)
Deus permanece fiel porque não Se move de acordo com as circunstâncias ou com
a nossa resposta, mas de acordo com o Seu caráter, com Sua fidelidade. Mesmo se somos
infiéis, Ele permanece fiel. Por quê? Porque Ele não pode negar-Se a Si mesmo! Deus é
fiel porque se apega a quem Ele é e não ao que está diante dEle. Insisto em dizer: Deus é
conforme a Sua Palavra e, por isso, não Se nega a cumprir aquilo que diz. Não há outro
Deus tão grande e maravilhoso assim! Aleluia!

O segundo aspecto do caráter de Deus é que Ele é bom. Em Êxodo 33, Moisés
diz a Deus que quer ver a Sua glória e conhecê-Lo. Deus, então, promete que fará Moisés
conhecê-Lo e explica como:
Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do
Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me
compadecerei de quem eu me compadecer. (Ex 33.19)
Ao passar a Sua bondade diante de Moisés, Deus está dizendo quem Ele é. Ele é
bom! Concluímos, então, que a bondade não é somente uma característica de Deus, mas
ela é o próprio Deus. Por isso, ao pensarmos em alguma coisa boa, obrigatoriamente temos
de pensar Nele! Aliás, Tiago 1.17 diz: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto,
descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Ao dizer
que proclamará o nome do Senhor, após passar a Sua bondade diante de Moisés, Deus
confirma qual é o Seu nome: “Bondade”.
Algum dia você já duvidou da bondade de Deus? Confesso que eu já tive momentos
de crise nesse sentido. Há coisas ruins e horríveis que acontecem que eu não entendo.
Mas Deus tem me ajudado a permanecer firme na revelação, na fé de que Ele é bom. E
nenhuma circunstância me diz mais sobre Deus do que o que Ele fez, em Cristo, na cruz
por mim. Deus é bom porque escolheu ser, Ele mesmo, a solução de todos os males

123
causados pelas maldades dos homens. Ninguém tem tanta bondade assim. Nosso
esquema é pensar que quem fez mal merece justiça e deve pagar por isso, mas Deus não
fez assim. Por quê? Ele se fez justiça. Ele é bom!
Vamos analisar esse texto em Mateus:
E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei
para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há
bom senão um só, que é Deus... (Mt 19.16,17)
Jesus estava dizendo que ele não é bom? Não! O que ele estava querendo era
provocar uma reflexão mais profunda naquele jovem que ainda o conhecia apenas como
um mestre ou profeta. Quando é chamado de “bom mestre” Jesus argumenta: “Você sabe
que bom só tem UM que é Deus; então, se você está me chamando de bom, está dizendo
que eu sou Deus?” Sim! Se você achar alguma bondade chame-a de Deus, e se achar a
Deus você encontrou a bondade. Mas se você achar maldade, Deus não está nela, porque
Ele não pode negar a Si mesmo. Se Ele é bom, tudo o que faz é bom!
“Ah, mas a humanidade tem muita maldade!” Sim! As pessoas se afastaram Daquele
que é o único bom e isso produz maldade nas pessoas. Essa maldade é resultado do
afastamento de Deus. Mas Ele é tão bom que, inclusive, intervém nas nossas maldades. E
quando nos arrependemos Ele é capaz de fazer toda maldade cooperar para o bem
daqueles que O amam. Que fantástico é o nosso Deus!

O terceiro aspecto do caráter de Deus é que Ele trabalha por nós.


Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com
olhos se viu Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera. (Is 64.4)
Toda a história fala de deuses que obrigam seus servos a fazer coisas; eles são
hostis, maldosos e opressores. Mas o nosso Deus é diferente e essa diferença está
destacada no texto de Isaías: Ele trabalha por nós! Isso de novo expressa a Sua fidelidade
e bondade. Deus tem uma vontade para nós e uma realidade que Ele quer que alcancemos
e, por isso, nos convida a construirmos junto com Ele essa realidade. Lembre-se, o nosso
Deus trabalha! Isso significa que Ele está agindo em nosso favor para que cumpramos
aquela que é a Sua perfeita, boa e agradável vontade. Se entrarmos em qualquer situação
complicada, a lembrança desse aspecto do Seu caráter nos levará a não desistir no meio
do caminho. Deus está trabalhando e nos convida a trabalhar com Ele.
A partir desse entendimento, quero falar sobre a família. Suponhamos que você
esteja enfrentando uma situação complicada em sua casa, seja enfermidade, área
financeira ou a não conversão de um dos membros, e você tem orado e buscado solução
em Deus para essas coisas. É da vontade de Deus que todos sejam salvos e tenham
saúde? Sim! É da vontade de Deus que os relacionamentos na família sejam harmônicos
e reflitam a própria Trindade na Terra? Sim! Mas, então, vemos as nossas limitações e as
daqueles que estão à nossa volta e elas parecem atrapalhar a vontade de Deus e, por isso,
esmorecemos no meio do caminho. Porém, precisamos lembrar que apesar das nossas
dificuldades, limitações e fragilidades o nosso Deus trabalha por nós. Esse entendimento
nos tira de uma posição de murmuração e nos leva a escolher ser cooperadores do nosso
Deus.

124
Nós somos peregrinos nessa Terra e Deus está trabalhando para nos tornar à
imagem do Seu Filho, pois o Seu grande projeto é ter uma família de filhos semelhantes a
Jesus Cristo. Então, todas as circunstâncias, ainda que não provocadas por Deus, Ele as
toma para Si quando eu ou você esperamos Nele. Ou seja, Deus vai orquestrar todas as
circunstâncias para que cheguemos aonde Ele quer, e nisso reside o Seu poder e a Sua
graça! Então, não se desespere com qualquer situação, porque antes dela Deus está vendo
o todo. Antes da trajetória Ele já está vendo o final do caminho. E, lá no final, eu e você
estamos juntos com uma imensa multidão vestida de linho finíssimo. Ele é o meu Deus e
eu sou parte do Seu povo. Lá no final venceu o nosso Deus, e não o pecado. Lá no final
venceu o Deus que é fiel, bom, trabalhador e empenhado em cumprir a Sua vontade.
Aleluia!
Todas as vezes que Deus tem uma vontade Ele nos inclui na realização dela. E aqui
precisamos mudar de paradigma, pois, às vezes, queremos que Deus faça as coisas sem
nós, mas Ele escolheu não fazer assim. Não que Ele precise de nós, mas Ele sabe que nós
precisamos Dele. Portanto, Ele usa as circunstâncias e o processo de cumprimento da Sua
vontade para nos manter por perto. Por exemplo: Deus quer que todo filho seja convertido,
então Ele chega para mim e diz: “Tony, ensine o seu filho no caminho que ele deve andar.
Admoeste, discipline, corrija!” O que, na verdade, Deus está dizendo? “Eu sou fiel, Eu sou
bom e Eu trabalho. Ande comigo e faça a sua parte em ensinar, admoestar e disciplinar o
seu filho.”
Deus é igual ao que Ele diz. Isso significa que as Suas obras e mandamentos são
pesados para nós? Que aquilo que Ele nos manda fazer é um grande problema para nós?
Não! Por quê? Porque seus mandamentos e Suas obras são boas, perfeitas e agradáveis
como Ele é. Frequentemente falamos com alegria sobre as promessas de Deus, mas por
que não falar com alegria também das Suas ordens? A minha carne nunca acha que as
ordens de Deus são boas, perfeitas e agradáveis, mas ainda bem que não é minha carne
quem dita o que é verdade. É a Bíblia que diz o que é verdade, e a verdade é que as ordens
de Deus são iguais a Ele. Como vemos em 1 João 5.3, os mandamentos de Deus estão
vinculados ao Seu amor e não são penosos.
Quando eu dizia ao meu filho para não pôr a mão na tomada, eu o dizia porque eu
não era bom? Não! A minha intenção com ele era boa, pois não queria que ele tomasse um
choque. Mas o meu filho pensava: “Ah, o meu pai está exagerando, não é bem assim”.
Assim somos nós em relação a Deus quando questionamos as Suas ordens. E, quando o
fazemos, estamos, em última instância, questionando o caráter Dele. Agindo assim
começamos a nos afastar de Deus. Foi assim que Saul perdeu o reinado, pois ele não
acatou a simples ordem de esperar. Saul não teve paciência de esperar a chegada do
sacerdote, achou que estava demorando muito e resolveu fazer as coisas do seu jeito. Ele
desonrou àquele que o instruíra e achou que a ordem de Deus podia ser ignorada. Mas
assim como Deus não pode ser ignorado a Sua ordem também não pode ser ignorada.
Queridos, Deus nos convida hoje a participarmos das Suas promessas dando-nos ordens
de como procedermos até que elas se cumpram.
Há duas situações bíblicas interessantes e emblemáticas sobre isso: Noé e Abraão.
Em ambas houve um grande começo em que, de fato, havia uma promessa na qual Deus
estava inserido e envolvido. Ele queria recomeçar tudo e, para tanto, sempre começa a
partir de famílias. Foi assim com Adão, Noé, Abraão e com o próprio Jesus, que nasceu em
uma família. Família é parte da natureza de Deus porque ela é o reflexo da Trindade.

125
Deus disse a Noé: “Eu vou destruir e acabar com tudo e começar novamente com
você e sua família.” Essa era a promessa de Deus para Noé: “Vou salvar você, sua esposa,
seus filhos e as esposas deles e nós vamos começar tudo de novo.” Que insistência de
Deus em envolver alguém em Seu plano! Mas Ele é assim. No entanto, para a promessa
se cumprir, Deus impôs uma condição, uma ordem para Noé: construir uma arca. Construí-
la não era algo fácil, primeiro porque nunca havia chovido, a água brotava de baixo para
cima. Além disso, a construção da arca não tinha precedentes. Podemos admitir que não
seria fácil entender e crer numa promessa que implicaria em tanta fé, trabalho e
perseverança.
Mas é impressionante como Noé tomou a promessa e fez dela a razão da sua
obediência. Ele começou a construção da arca e foi ridicularizado e pressionado por causa
disso. Eu não duvido que em alguns momentos Noé tenha ficado zangado, chateado e
desanimado com tantas pressões contrárias. Mas ele obedeceu! Fez a arca, colocou os
animais dentro dela e a chuva veio. Depois disso, mais um desafio: esperar as águas
baixarem. Isso foi complicado, porque se passou muito tempo: anos para construir a arca
e um tempão para as águas baixarem para eles poderem recomeçar.
Enfim Noé, sua família e todos os animais desceram da arca. Interessante observar
que Noé, ao descer da arca, não o fez reclamando ou dizendo que “não aguentaria mais
um dia sequer naquela situação”. Antes, ele desceu com um espírito grato e a primeira
coisa que fez em terra seca foi oferecer um culto ao Senhor em atitude de adoração. Lá
estavam eles, Noé e sua família, cumprindo a vontade de Deus para a sua casa. Noé
concluiu e cumpriu o que Deus lhe dissera. Isso tudo porque, como Ele conhecia a Deus,
fez da promessa a razão de sua obediência.
Analisemos agora Abraão:
Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai
e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e
te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! (Gn 12.1,2)
Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim
de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o
Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito. (Gn 18.19)
Em Gênesis 12 temos a promessa: “Eu farei de você uma grande nação e abençoarei
todas as famílias da terra através da sua.” Em Gênesis 18 temos a condição para que a
promessa fosse cumprida: “Ordene aos seus filhos.” Então, para que Deus cumprisse Sua
promessa a Abraão, este teria de ter filhos e ensinar a eles o que Deus o estava ensinando.
E assim sucedeu na história de Isaque e também de Jacó. Abraão tinha uma
responsabilidade específica: ensinar, ordenar, pôr seus filhos na mesma direção em que
ele próprio estava.
Quantos de nós temos promessas para os nossos filhos? Falamos com alegria e
“orgulho santo”: “Eu tenho promessas de Deus para os meus filhos!” Sim! Deus é bom, fiel,
trabalha em nosso favor, mas Ele me diz para ordenar meus filhos e isso dá trabalho. Deus
trabalhando e nós trabalhando com Ele, oferecemos juntos o ambiente para a realização
do propósito eterno de Deus. Mas é verdade que somos frágeis. Deus viu que todos nós
teríamos muita dificuldade em cumprir os nossos papéis; Ele sabia de nossas debilidades,
nossos altos e baixos, nossas inconstâncias e, por isso, providenciou para Si um motivo de
não desistir: Ele mesmo em Cristo.

126
Ora, se Deus ficasse olhando para mim o tempo inteiro com meus altos e baixos,
certamente Ele já teria desistido de mim. Mas Ele não Se cansa de nós. Que alívio! Porque,
com frequência, eu próprio me canso de mim, não me aguento. Além disso, às vezes nos
deparamos com irmãos que por mais misericordiosos que sejam, podem se cansar de nós.
Deus, entanto, nunca se cansa! Aleluia!
Qual é a estratégia de Deus para nunca Se cansar de nós? Ele colocou Jesus como
a razão de tudo o que Ele faz. Essa é a palavra profética que eu anuncio a você hoje. Eu
não sei como está o seu casamento, como está a sua vida como pai, marido, mãe e esposa,
como você que é solteiro está em relação a casar ou não casar, como você está em relação
a honrar seu pai e sua mãe. Mas eu vou lhe mostrar pelas Escrituras que temos uma grande
razão para continuarmos a obedecer, e essa razão é imutável.
Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja... (Ef 5.25a)
Maridos (...) vivei a vida comum do lar (...) para que não se interrompam as vossas
orações. (1 Pd 3.7)
Como vimos, as promessas têm condições que são mandamentos para nós. Mas
nos textos sobre família da carta aos Efésios a palavra-chave é Cristo, o Senhor. Ele, como
a razão de sermos como devemos ser e fazermos o que devemos fazer, torna tudo possível.
Sendo assim, a força e o motivo para eu amar a minha esposa não se vem dela, mas do
Senhor. Isso porque Dele, por meio Dele e para Ele são todas as coisas! Então, ame a sua
esposa, se entregue a Deus por ela, não a despreze, nem a abandone, cuide, coopere.
Ame-a como ela deve ser amada, isto é, como Jesus amou a igreja. Deus quer que o seu
casamento seja para a glória Dele até o último dia. É por isso que Ele lhe envolve num
processo e diz para que ame sua esposa como o Senhor ama a igreja. Qual deve ser,
então, a imagem que precisa estar diante do marido? A esposa? Não! Deve ser a imagem
de Jesus se entregando a Deus em favor da Sua Noiva. Essa é a nossa realidade
motivadora, e não as situações difíceis ou as crises. O que deve nos motivar é a imagem
de Cristo tornando possível que a promessa de Deus se cumpra!
As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor. (Ef 5.22)
“Como ao Senhor”, ou seja, a atitude da esposa diante do Senhor deve ser
reproduzida diante do seu marido. Mulheres, façam disso a sua motivação, inspiração e
razão para honrar ao seu esposo. Essa perspectiva torna possível qualquer mulher honrar
qualquer marido, porque a imagem que tem diante de si não é a dele, mas a de Jesus. Se
você, mulher, está passando dificuldades com seu esposo, dobre os seus joelhos e lembre-
se: “Como ao Senhor!” Coloque essa motivação diante dele e faça-o agradável a você, no
Amado (como Deus fez em relação a todos nós).
Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor... Honra a teu pai e a tua mãe. (Ef 6.1,2)
Às vezes a honra implica em termos uma atitude até incoerente com a nossa
escolha. Por exemplo: Se o seu pai falar para você pecar, você vai pecar? Não!
Simplesmente porque o que ele está lhe pedindo contraria ao que Deus fala com você. Mas
você precisa desonrar seu pai por causa disso? Não! Você pode dizer a ele: “Meu pai
querido, eu te amo, mas não posso lhe obedecer nesse quesito, porque Alguém maior do
que você está me dizendo ‘não’.”
No caso de Noé, quando ele ficou bêbado o filho o expôs. E quem Deus corrigiu? O
filho! A razão disso foi porque ele não honrou seu pai, mas manchou sua imagem diante de

127
outras pessoas.
E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor. (Ef 6.4)
Pais, não deixem seus filhos em condição complicada para honrá-los. Muito lindo
isso! Deus manda o filho honrar o pai, mas também diz para o pai e a mãe facilitarem essa
honra. Pais, facilitem a honra! Não suscitem a ira, não levantem a indignação de seus filhos
para que eles não sejam estimulados ou constrangidos a ter uma atitude ruim. Antes,
ensine-os, admoeste-os e discipline-os no Senhor! Cada uma de nossas casas é um projeto
que Deus está trabalhando, e Ele é fiel e bom. Mas Ele nos convida a participar ativamente
dessa obra, nos dá mandamentos para obedecer e usa essa mesma obra para trabalhar
em nós.
Eu tinha pouco mais de oito anos e lembro que meus pais discutiam muito e todos
os vizinhos ouviam. Aquilo me envergonhava muito e, por isso, eu orava para que Deus
restaurasse o casamento deles. Numa noite eu fechei a porta do quarto, quando a
discussão estava acirrada, e chorei muito. Falei para o Senhor: “Deus, onde Você está que
não muda isso?” Naquele dia eu vivi uma experiência que marcaria a minha vida para
sempre. Tive uma clara impressão de Jesus sentado à minha frente na cama, cabeça e
olhos baixos e lágrimas caindo. Ele olhava para mim e dizia: “Meu filho, eu ainda não posso
mudar a vida deles porque eles não deixam, mas eu tenho uma promessa para você: a sua
família vai ser diferente.” Naquele dia um profundo perdão entrou em meu coração. Eu já
não me ofendia mais com os meus pais, mas os amava e esperava o dia em que Deus
restauraria o casamento deles, e Ele o fez para contar a história. Mas não só isso, Deus
cumpriu a outra promessa. Quando Ele me disse: “A sua família vai ser diferente”, Ele
também começou a me ensinar a ser um marido diferente. Fiz da promessa de um Deus
fiel a razão para eu ser fiel à minha esposa. É uma parceria! E hoje eu comprovo que a
minha família é diferente.
Gostaria de dar uma palavra para as mães. A minha mãe tinha as mesmas
dificuldades que todas as mães têm, mas uma coisa que ela fazia e que me inspira até hoje
é que todos os dias ela se ajoelhava aos pés da cama para orar por seus três filhos, e eu
ouvia. E, normalmente, suas orações eram com choro. Imagino que Deus tenha dado
promessas a ela a nosso respeito (os três filhos). Eu me recordo dela me contando: eu tinha
três anos, ela foi entregar a sua vida a Jesus e Deus lhe falou: “Leve-o com você.” E ela
me levou à frente e me entregou ao Senhor. Minha decisão foi depois, mas a dela foi antes,
e a do meu pai também! Deus fez promessas a ela, mas disse-lhe para clamar por mim
todos os dias. Então ela orava, e se eu estou aqui hoje devo à ela. Por isso eu sempre a
honrarei – uma mulher que, apesar de todas as suas fragilidades, obedeceu à uma ordem
de Deus: “Clame pelos seus filhos!”
Deus é fiel, Deus é bom, Deus trabalha por nós! Por isso eu digo: mães, insistam;
pais, insistam; famílias, perseverem! Eu creio que todos nós podemos ou poderemos dizer:
“Eu e a minha casa serviremos ao Senhor”. Amém!

128
DEUS QUER ORDENAR NOSSAS VIDAS!
Maurício Barbosa

Q uero compartilhar que tem sido muito precioso para nós esse tempo de leitura bíblica
diária que estamos desenvolvendo juntos como igreja. Às vezes, nas reuniões,
começamos a compartilhar uma palavra e, vemos que é a mesma que Deus está falando
por meio da leitura da semana. Entre os pastores, temos uma reunião semanal onde
oramos e compartilhamos a Palavra e, invariavelmente, o assunto é o mesmo que Deus
tem falado conosco pela leitura bíblica.
Assim, estimulo a todos a fazê-lo, pois, quando lemos todos juntos, é como se Deus
trouxesse a palavra da leitura para esse exato momento em que estamos vivendo tornando-
a viva para nós. Se eu fosse fazer um resumo do que tenho lido até hoje diria que DEUS
QUER HABITAR EM NÓS, quer tabernacular conosco. Esse é o forte desejo que está no
coração Dele.
Lendo os livros de Reis e de Crônicas, constatamos que muitos reis não fizeram o
que era reto diante do Senhor e sempre ficamos na expectativa de que surgirá um que
finalmente obedecerá e agradará a Deus. Essa era a mesma expectativa de Deus, pois
quando algum rei se levantava e dizia “eu vou fazer o que Deus quer”, era a atitude que
faltava para Ele agir. Então Ele vinha, abençoava, libertava, prosperava o povo de Israel.
Assim, Deus tem nos mostrado que Ele tem um desejo de que nos quebrantemos, O
busquemos de todo o nosso coração e Lhe digamos: “Eu quero, Senhor!”
Em 2 Crônicas, dos capítulos 29 a 32 e em 2 Reis, dos capítulos 18 a 20, lemos
sobre o rei Ezequias. Ele foi o 13º rei de Judá e reinou por 29 anos. Temos também
referências a ele em Isaías 37 a 39. Os versos que resumem a sua vida e reinado são:
Fez ele o que era reto perante o SENHOR, segundo tudo quanto fizera Davi, seu
pai. (...) Assim fez Ezequias em todo o Judá; fez o que era bom, reto e verdadeiro
perante o SENHOR, seu Deus. (2 Cr 29.2; 31.20)
Dentre seus inúmeros atos, Ezequias tentou acabar com a idolatria no meio do povo,
reparou o Templo, reintegrou os levitas e sacerdotes aos seus ofícios e celebrou novamente
a Páscoa. Um ato em especial me chamou a atenção:
No primeiro ano do seu reinado, no primeiro mês, abriu as portas da Casa do
SENHOR e as reparou. (2 Cr 29.3)
A palavra “reparar” no original hebraico significa “fortalecer, tornar firme”. Então, ele
trouxe novamente os sacerdotes para purificar, fortalecer, colocar em ordem o Templo:
Trouxe os sacerdotes e os levitas, ajuntou-os na praça oriental e lhes disse: Ouvi-
me, ó levitas! Santificai-vos, agora, e santificai a Casa do SENHOR, Deus de vossos
pais; tirai do santuário a imundícia. (2 Cr 29.4,5).
Temos ouvido muito sobre esse assunto ultimamente. É Deus quem tem enfatizado
a importância e a necessidade do nosso sacerdócio. Quem são os levitas e sacerdotes
hoje? Nós, igreja! Essa revelação, essa consciência, essa certeza precisa ser reparada em

129
nossos corações.
Ezequias estava totalmente envolvido em restaurar, em fortalecer o Templo – e esse
templo ou habitação do Espírito Santo somos nós! Deus quer reparar, fortalecer, alinhar,
colocar em ordem todas as coisas em nossas vidas. Este é o anseio do Seu coração: habitar
em nós. Mas será que este também é o nosso anseio? Será que temos orado e buscado
ao Senhor nesse sentido, nessa direção? Será que o desejo do nosso coração está
alinhado ao desejo do coração do Pai? Isso é algo que devemos refletir e orar.
Durante esta semana, pensando nesta palavra, o Espírito Santo me moveu a orar
de uma forma diferente. É muito bom e necessário ouvirmos a voz do Senhor, pedirmos
que Ele fale conosco. Mas o Espírito me levou a fazer uma outra oração: “Glorifica e
santifica o Meu Nome!” Ora, será que não é isso que Ele quer fazer em nosso meio? Se
santificar e mostrar a Sua glória em nossas vidas? Se Deus fizer isso todas as coisas
mudam, pois “Cristo em vós, esperança da Glória” (Cl 1.27).
Deus quer habitar em nossas vidas, em nosso meio, mas às vezes têm coisas que
estão fora de ordem, que nos atrapalham, prendem, embaraçam e começam a competir
com Deus. Vimos, em Êxodo, como os israelitas rapidamente construíram um bezerro de
ouro para adorar no lugar de Deus, entrando a idolatria. Por vezes as situações ou
circunstâncias de tornam nossos ídolos, mas Deus quer ordenar as nossas vidas. Devemos
ser como Ezequias que ouviu a Deus e desejou em seu coração se alinhar com a vontade
do Pai, e isso era tudo o que Deus queria e precisava para manifestar a Sua glória no meio
do povo.
O texto de Crônicas nos mostra que após eles oferecerem sacrifícios e adorarem ao
Senhor houve uma grande alegria. Deus Se manifestou e o povo se alegrou, algo que não
acontecia desde a época do rei Salomão:
Alegraram-se toda a congregação de Judá, os sacerdotes, os levitas e toda a
congregação de todos os que vieram de Israel, como também os estrangeiros que
vieram da terra de Israel e os que habitavam em Judá. Houve grande alegria em
Jerusalém; porque desde os dias de Salomão, filho de Davi, rei de Israel, não houve
coisa semelhante em Jerusalém. Então, os sacerdotes e os levitas se levantaram
para abençoar o povo; a sua voz foi ouvida, e a sua oração chegou até à santa
habitação de Deus, até aos céus. (2 Cr 30.25-27)
Amados, Deus quer colocar todas as coisas em ordem nas nossas vidas.
Precisamos entender que cada um de nós é um sacerdote que precisa se alinhar com Ele.
Quando acontece esse alinhamento, quando Deus começa a colocar todas as coisas em
seus devidos lugares em nossas vidas pessoalmente, o próximo passo é o alinhamento
entre todos nós, irmãos, igreja. E sabe o que vai acontecer nesse momento? PODER DE
DEUS! Todos nós, juntos, alinhados com o Espírito Santo, fará produzir o poder, a glória,
os milagres, os sinais e prodígios do Senhor em nosso meio! Isso não será algo que
precisaremos fazer força para acontecer, porque estaremos alinhados com a vontade do
Pai e com os demais sacerdotes, todos oferecendo nosso culto a Ele.
Você quer ver essas coisas acontecendo? Essa não tem sido a nossa oração, que
o Senhor manifeste mais os Seus sinais, curas, milagres, maravilhas em nosso meio?
Temos visto inúmeros pedidos de oração pelas mais diversas situações possíveis e cremos
que haveremos de ouvir, ver e comprovar os testemunhos dos milagres de Deus em
resposta às nossas orações. Isso é algo urgente, para hoje! Deus quer habitar em nosso

130
meio, reparar o Seu Templo, alinhar-nos com Ele e uns com os outros, colocar todas as
coisas em ordem!
Peça para que o Espírito Santo revele ao seu coração as coisas que lhe tem
atrapalhado, competido com Ele, impedido de reparar o seu templo pessoal. Talvez você
tenha deixado de acreditar que é um sacerdote, mas lembre-se do que Pedro disse:
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz... (1 Pd 2.9)
Essa é a nossa identidade, realidade, vocação, chamado! Existem coisas em sua
vida que ainda estão competindo com isso, querendo tomar o lugar que pertence ao
Senhor, a vocação que Ele lhe deu? Será que seus sonhos desfaleceram? Será que você
tem acreditado na mentira de que Deus não fala mais com você, não deseja mais lhe usar,
que você não é mais um sacerdote para Ele, que na sua casa não existe mais um altar?
Tudo isso é mentira! Deus só precisa e deseja que o seu coração esteja aberto a Ele e Lhe
diga: “Eu quero, eu aceito, eu anseio por Tua presença em minha vida, Senhor!” Faça essa
oração, tome uma posição diante de Deus, busque a Ele para que esse realinhamento
aconteça em sua vida e em sua casa!
Essa noite minha esposa acordou dizendo que estava com muito frio nos pés.
Levantei-me, peguei uma meia e coloquei em seus pés. Então o Espírito Santo me disse:
“Eu quero cuidar dos pés da minha noiva, quero santificar os seus caminhos porque Eu
estou voltando.” São coisas simples, mas ao mesmo tempo profundas, que o Espírito tem
falado revelando o amor que Ele tem por nós. Portanto, diga “sim” ao Senhor, reconheça e
aceite que você é um sacerdote diante Dele! Amém!

131
É NECESSÁRIO ARREPENDERMO-NOS
Abnério Cabral

H á algo que está enchendo e pesando de verdade os nossos corações como liderança
dessa igreja. Estamos muito preocupados com a situação do nosso país. Nós, como
povo de Deus, fomos retirados do império das trevas para “o reino do Filho do Seu amor”
(Cl 1.13). Pertencemos a outro reino, somos cidadãos celestiais e parte do Corpo de Cristo
nesta cidade. Vivemos aqui, mas sob outra jurisdição, sob outra autoridade. O nosso
comprometimento é com o Reino de Deus e Ele nos colocou nesta cidade e nação para
fazermos a diferença.
Há coisas que são de nossa responsabilidade, que fazem parte do nosso chamado
como povo de Deus, como embaixadores de Cristo nesta Terra, como representantes dos
céus. Sendo assim, devemos corresponder ao nosso chamado e responsabilidade. Não
fomos chamados para governar a cidade ou o Brasil, mas, sim, para demandar sobre a
cidade e o país onde estamos. Podemos afetar as regiões espirituais de duas maneiras:
com as nossas orações e com os nossos comportamentos. A nossa vida, as nossas
atitudes vão afetar o mundo espiritual sobre nós e, consequentemente, a sociedade
secular.
Em 1991 eu era professor na Escola Cristã e recebi a tarefa de ler em pouco tempo
40 livros paradidáticos sobre a História do Brasil, livros até então proibidos pela ditadura
militar. Naquele período, muito do que se ensinava nas escolas era totalmente diferente da
realidade. Assim, ouvimos falar de heróis que não foram verdadeiramente heróis, vitórias
em guerras que não deveríamos ter entrado, histórias totalmente diferentes dos reais
acontecimentos. Mas o fato é que a descoberta do Brasil foi “oficializada” no ano de 1500
por um rei chamado D. Manoel, que enviou para cá um homem chamado Pedro Álvares
Cabral. Junto com sua caravana, através do Rio Tejo, entrou no mar e chegou até aqui
guiado por outro homem que deixou essa caravana e retornou para o exílio. Assim que aqui
chegaram, foi oficializada a descoberta do Brasil.
O primeiro símbolo religioso trazido para cá foi uma cruz. Esta foi erguida e, então,
foi rezada uma missa. Após isso, o padre trocou suas roupas, sentou-se em uma cadeira e
pregou o evangelho aos muitos índios que lá estavam. Pero Vaz de Caminha, muito
impressionado, relatou por escrito com precisão tudo que estava vendo e ouvindo. Foi
pregado o evangelho – nascimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo – a todos os que
faziam parte da comitiva e aos índios e, ao final, todos foram convidados ao
arrependimento.
A partir desse ato, desse momento, esperava-se que o Brasil caminhasse dentro de
uma devoção ou reverência a Deus, reconhecendo que aquela caravana havia chegado
debaixo de uma autoridade constituída pelo rei de Portugal, mas também da autoridade
superior representada pela cruz – o Senhor Jesus. Isso é algo maravilhoso, poderoso, que
nunca poderia ter sido abandonado e deixado de falar nas escolas. Mas, infelizmente, isso
se perdeu e passamos então a viver uma história de extrativismo, de exploração, de um
país onde se produzia riquezas, onde qualquer um poderia vir e se tornar rico, dono de

132
terras, com muitas oportunidades.
Infelizmente a nossa história foi marcada por usurpação, tirania, abuso de
autoridade, corrupção. Fomos o primeiro país na história da humanidade a estabelecer a
cultura da escravidão e o último a libertar os escravos, isso por imposição da coroa da
Inglaterra e não por livre e espontânea vontade. Essa é a nossa verdadeira história,
marcada vergonhosamente por situações que envergonham o próprio Deus.
Com isso, foi-se dando lugar a um povo que cresceu e se formou com a ideia de que
tirar para si valeria a pena, independentemente do custo de vidas de pessoas. O Brasil se
desenvolveu com essa mentalidade de que era importante ter, possuir, conquistar a que
preço fosse, formando duas classes de pessoas: os opressores e os oprimidos.
No decorrer dos anos o evangelho foi pregado de norte a sul e de leste a oeste por
padres, jesuítas e missionários protestantes. Muitos vieram de fora e aqui deixaram seu
sangue. A igreja foi crescendo e se fortalecendo, mas, infelizmente, quando olhamos a
igreja hoje vemos um povo que se chama pelo nome de Deus cheio de corrupção, de
mentira, de falcatruas. E eu não estou falando dos governantes, mas da igreja, de nós! Não
me refiro a partidos ou denominações, mas aos resultados, como a história do Brasil
influenciou a Igreja de forma negativa delineando seu comportamento.
Deus tem trabalhado por muitos anos na visão de santificar essa Igreja, de purificar
o Seu povo. Precisamos, como Igreja, compreender que temos uma responsabilidade para
com Deus e para com a nossa nação. Devemos responder ao Senhor e também ao povo
brasileiro.
Nosso povo é levado por vários ventos, conduzido por oportunidades, levado pelas
massas e nós, povo do Senhor, devemos aprender a sermos conduzidos exclusivamente
pela Palavra de Deus. Assim deve viver a igreja nesta nação! Precisamos conhecer a
história do Brasil, como ele foi fundado, de onde procedem seus costumes, pensamentos
e ideias para entender como podemos impactar, como podemos fazer diferença.
No ano 2000, segundo o IBGE, éramos em 22 milhões de evangélicos. Hoje
acreditamos que somos em 40 milhões. Somado aos católicos, devemos estar em torno de
100 milhões de cristãos. Portanto, como igreja do Senhor nesta nação precisamos
compreender a nossa responsabilidade.
Neemias foi comissionado ou desafiado pelo Senhor para voltar a Jerusalém e
reconstruir seus muros que estavam derrubados. Esdras e Neemias foram os últimos livros
escritos do V.T., apesar de não estarem colocados nesta ordem na Bíblia. Ou seja, seus
relatos são os últimos momentos da história do povo de Deus antes do N.T. É muito
importante que estudemos e entendamos o que Deus falou e fala através da história.
Nos capítulos 1 e 9 de Neemias encontramos duas orações muito fortes e proféticas
feitas por ele ao Senhor. Neemias estava lá como um restaurador, um homem levantado
por Deus, um copeiro importante do rei e, ouvindo as notícias do que estava acontecendo
em Jerusalém, perdeu as suas forças, sentou-se, chorou, lamentou, clamou, orou e jejuou
diante de Deus por vários dias.
Palavras de Neemias, filho de Hacalias: No mês de quisleu, no vigésimo ano, quando
eu estava na cidade de Susã, Hanani, um de meus irmãos, veio de Judá com mais
alguns homens. Perguntei-lhes pelos judeus que voltaram, os que sobreviveram ao
cativeiro, e a respeito de Jerusalém. Eles me responderam: Os que sobreviveram ao

133
cativeiro estão passando grande aflição e vergonha lá na província. Os muros de
Jerusalém foram derrubados, e as portas da cidade, queimadas. Depois de ouvir
essas palavras, sentei-me e chorei. Lamentei por alguns dias; e continuei a jejuar e
orar perante o Deus do céu. Eu disse: Ó SENHOR, Deus do céu, Deus grande e
temível, que cumpres a tua aliança e usas de misericórdia para com aqueles que te
amam e obedecem aos teus mandamentos. (Ne 1.1-5)
Com quem Deus vai usar de misericórdia no Brasil? Com aqueles que amam e
guardam a Sua Palavra! São essas pessoas que podem fazer a diferença no mundo
espiritual desta nação. Não é o presidente, não são os ministros, deputados, senadores,
juízes, governadores ou prefeitos – somos NÓS, a Igreja!
Os teus olhos estejam abertos e os teus ouvidos atentos para ouvires a oração do
teu servo, que faço diante de ti, dia e noite, pelos israelitas, teus servos. Confesso
os pecados que nós, os israelitas, temos cometido contra ti; sim, eu e a minha família
pecamos. Temos agido de forma perversa contra ti, e não temos obedecido aos teus
mandamentos, nem aos estatutos e às leis que ordenaste a teu servo Moisés. Temos
agido de forma perversa contra ti, e não temos obedecido aos teus mandamentos,
nem aos estatutos e às leis que ordenaste a teu servo Moisés. Lembra-te agora do
que disseste a teu servo Moisés: Se fordes infiéis, eu vos espalharei entre os outros
povos. Mas, se voltardes para mim, e obedecerdes aos meus mandamentos e os
praticardes, ainda que os vossos exilados estejam dispersos pelos lugares mais
distantes debaixo do céu, de lá os ajuntarei e os trarei para o lugar que escolhi para
estabelecer o meu nome. Eles são os teus servos e o teu povo, que resgataste com
o teu grande poder e com o teu braço forte. (Ne 1.6-10)
Neemias orou tomando sobre si os pecados de toda a nação, colocando-se entre
Deus e o povo. Ele invocou diante de Deus uma promessa que Ele havia feito para Moisés,
mas seu entendimento é que ele e sua família estavam em pecado. Ele não disse: “Perdoa
o pecado desse povo” e, sim, “perdoa os NOSSOS pecados”.
Como povo de Deus precisamos compreender a maneira como devemos orar para
tocar o coração do Senhor. Quando Jesus nos ensina a orar (Mateus 6.9-13) ele mostra o
aspecto coletivo da oração (“nosso”, “nós”, “nos”). Portanto, devemos aprender a buscar a
Deus no coletivo, como Igreja, e compreender a necessidade de nos arrependermos
coletivamente.
Eu não tenho dúvidas de que Deus está falando com toda a Igreja no Brasil hoje, de
que Ele está ministrando essa mesma palavra da necessidade de arrependimento a todas
as cidades e estados da nação! Essa é uma palavra para o povo de Deus! Há uma extrema
necessidade hoje de que, como povo de Deus, compreendamos o nosso pecado, o espírito
de corrupção que opera em nosso meio e nos arrependamos!
No V.T., quando Deus mandava Seu povo exterminar todas as nações idólatras e
rebeldes é porque não havia outra maneira de Ele preservar a nação de Israel. Mas então
Jesus veio, morreu em nosso lugar, deu o seu sangue para que não sejamos mortos ou
consumidos da mesma maneira que aqueles povos. Para que Deus não venha e fira a Terra
com maldição é necessário que nos arrependamos!
...e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e buscar a
minha presença, e se desviar dos seus maus caminhos, então ouvirei dos céus,
perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. (2 Cr 7.14)

134
Esta palavra foi proferida para os judeus e refere-se à terra de Canaã, mas nós
somos a Igreja do Senhor que carrega sobre si essas mesmas responsabilidades e
promessas. Fomos chamados para nos envolver com os céus e, conforme Paulo diz em
Romanos 11.14, despertar ciúmes no povo judeu. Mas, para isso, precisamos ser um povo
puro, limpo, irrepreensível e “se desviar dos seus maus caminhos”.
Davi orou: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os
meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”
(Sl 139.23,24). Sondar é esquadrinhar, é ir no mais profundo do coração.
Nós, Igreja, precisamos nos arrepender da corrupção dentro de nossas próprias
casas quando adulteramos a Palavra de Deus, dando um “jeitinho” nas Escrituras quanto à
maneira como tratamos nossos filhos, vendo-os pecar e “fazendo de conta” que não
estamos vendo nada. Precisamos nos arrepender da maledicência, de falar mal uns dos
outros (família e irmãos). Empresários, sejam honestos com seus funcionários!
Funcionários, sejam honestos com seus patrões!
Precisamos nos arrepender de toda corrupção no meio da Igreja, de toda mentira
que deturpa as Escrituras, de tudo que nos impede de obedecer cabalmente a Palavra não
observando o que ela diz, não amando a Deus “de todo o coração, de toda a alma, de todo
o entendimento e de todas as forças” (Mr 12.30).
Precisamos nos arrepender de não dar ao Senhor aquilo que pertence a Ele, nos
arrepender de toda pornografia, idolatria, imoralidade que há em nosso meio. Esse
arrependimento não começa com os políticos, mas conosco, povo de Deus, aqueles que
foram lavados pelo sangue do Cordeiro! Não são os outros, mas “eu e a minha casa”!
Devemos rogar a Deus que sonde os nossos corações e nos livre de toda avareza,
arrogância, indiferença, mentira, vício, maledicência, maus tratos, corrupção. Precisamos
permitir que o Espírito Santo nos revele os nossos pecados!
Não serão os políticos, não serão novos Partidos, não será um novo Presidente que
trará um refrigério a esta nação, mas, sim, a Igreja do Senhor clamando ao Deus dos céus!
Somente a Igreja poderá fazer diferença no mundo espiritual e afetar o mundo natural. Não
é pedir para que outros se arrependam, mas nós mesmos começarmos a nos arrepender
em nossos corações e dentro de nossas casas.
Há muitos homens precisando pedir perdão às suas esposas; há muitas esposas
precisando pedir perdão aos seus maridos; há muitos pais precisando pedir perdão aos
seus filhos; há muitos filhos precisando pedir perdão aos seus pais. Devemos começar a
nos arrepender diante de Deus e clamar a Ele para nos tornarmos “o povo que se chama
pelo Seu Nome”, nos tornarmos exatamente aquilo que Ele projetou que fossemos! Amém!

135
É TEMPO DE PREPARAR O CAMINHO DO SENHOR
Francisco Vanderlinde

O Senhor Jesus está voltando e é tempo de prepararmos o caminho para ele. A igreja
tem essa função e precisa estar acordada, preparada. A voz profética está saindo e
se fazendo ouvir. João Batista fez isso para antecipar a primeira vinda do Messias: “Voz do
que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mr 1:3).
Uma das coisas de fundamental importância nessa preparação é o que temos ouvido
e falado há várias semanas: a necessidade de ARREPENDIMENTO. Encontramos mais de
70 referências na Bíblia sobre essa palavra, mas existem outras semelhantes como: “voltai,
volta, prepare-se” etc. O sentido dessa palavra nas Escrituras não é somente de lamentar
por algumas coisas erradas que fizemos, mas sua principal definição provém do grego
“methanoia” que é “mudança de mente”, mudança na maneira como vemos as coisas.
A salvação só acontece quando há ocorre esse arrependimento ou mudança de
mente. No dia de Pentecostes, em Atos 2, vários elementos estavam presentes: um vento
impetuoso (a vinda do Espírito Santo sobre as mais de 120 pessoas reunidas), o falar em
novas línguas, a curiosidade das pessoas, a pregação do apóstolo Pedro e, por fim, um
momento de arrependimento, de mudança de mente, de conversão e batismo de milhares
de pessoas:
Ao ouvirem isso, eles ficaram com o coração pesaroso e perguntaram a Pedro e aos
demais apóstolos: Irmãos, que faremos? Pedro então lhes respondeu: Arrependei-
vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão de
vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa é para
vós, para vossos filhos e para todos os que estão longe, a quantos o Senhor nosso
Deus chamar. E os aconselhava e exortava com muitas outras palavras, dizendo:
Salvai-vos desta geração perversa. Desse modo, os que acolheram a sua palavra
foram batizados; e naquele dia juntaram-se a eles quase três mil pessoas. (At 2.37-
41)
O Espírito Santo produziu uma grande comoção ou arrependimento naquelas
pessoas. Seus corações ficaram “compungidos”, “doloridos”, “machucados”. Eles ficaram
assustados, sem saber o que fazer, pois haviam matado o Messias que tanto esperavam:
“E agora, o que faremos?” E Pedro respondeu: “Arrependam-se! Mudem suas mentes e
corações! Olhem agora para Jesus como o Messias, creiam nele!” Foi essa mudança
interior seguida de várias outras atitudes que trouxe salvação para aquelas pessoas. E essa
é a mesma pregação necessária para os nossos dias!
Dias atrás eu estava lendo um comentário de Asher Intrater, judeu-messiânico que
reside em Israel, que dizia que dá para resumir as mensagens dos profetas em uma só
palavra: Arrependimento:
O ímpio deve deixar o seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos; volte-
se para o SENHOR, que se compadecerá dele; volte-se para o nosso Deus, porque
é rico em perdoar. (Is 55.7)

136
Mas agora, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o coração, com jejuns, com
choro e com pranto. Rasgai o coração e não as vestes; convertei-vos ao SENHOR,
vosso Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em
amor; arrepende-se da desgraça que enviaria. (Jl 2.12,13)
Vemos em todo o Velho Testamento essa chamada ao arrependimento, à conversão
da mente e coração. Paulo, quando pregava aos atenienses, encerrou seu discurso com
as seguintes palavras:
Deus não levou em conta os tempos da ignorância, mas agora ordena que todos os
homens, em todos os lugares, se arrependam... (At 17.30)
Será que alguém, em alguma época ou lugar, não precisa de arrependimento?? Com
certeza todos precisam!! Os primeiros discípulos sempre pregaram essa mensagem:
Princípio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Conforme está escrito no
profeta Isaías: Estou enviando à tua frente meu mensageiro, que preparará teu
caminho; voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai
suas veredas. Assim apareceu João Batista no deserto, pregando batismo de
arrependimento para perdão dos pecados. Todos os da terra da Judeia e todos os
moradores de Jerusalém dirigiam-se a ele, e eram batizados por ele no rio Jordão,
confessando seus pecados. (...) Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia,
pregando o evangelho de Deus e dizendo: Completou-se o tempo, e o reino de Deus
está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho. (Mr 1.1-5,14,15)
João Batista preparou o caminho para Jesus, que continuou a mesma pregação de
João. Assim, o maior evento espiritual até hoje foi a primeira vinda de Jesus, com tudo o
que a envolveu: seu nascimento, vida, obra, morte, ressurreição, ascensão. Mas agora
estamos próximos de um acontecimento muito maior, que é a sua segunda vinda. Ora, se
a palavra para a preparação naquele tempo foi “arrependimento”, agora não será diferente!
Assim como muitos não se arrependeram naquela época e perderam aquele momento,
aquela oportunidade, o mesmo acontecerá conosco se não nos dispormos a passar por
uma mudança radical (metamorfose) de mente e produzir frutos de vida que comprovem
essa mudança.
Arrependimento não é apenas uma atitude de lamentação por fazer algo errado:
“Sinto muito! Desculpe! Errei! Foi sem querer!” Mas, logo em seguida, repetir o ato por não
ter havido um arrependimento verdadeiro produzido pela ação do Espírito Santo em
cooperação com a vontade humana. Se isso não fosse necessário não haveria tantas
exortações na Bíblia chamando-nos ao arrependimento. O Espírito Santo usa palavras,
pessoas, situações, mas precisa também da nossa resposta, aceitação, concordância.
Portanto, HOJE é o tempo de prepararmos o caminho para a volta do Senhor e isso começa
com QUEBRANTAMENTO e ARREPENDIMENTO!
Algo muito importante e maravilhoso sobre o arrependimento é que se ele for de fato
produzido pelo Espírito Santo trará salvação, vida eterna. Ou seja, sempre será para o
nosso bem!
Pois a tristeza segundo a vontade de Deus produz o arrependimento que conduz à
salvação, o qual não traz remorso; mas a tristeza do mundo traz a morte. Pois vede
o que essa tristeza segundo a vontade de Deus produziu em vós: que dedicação,
mas também que defesa própria, que indignação, que temor, que saudade, que
preocupação, que punição! Em tudo provastes estar inocentes nesse assunto. (2 Co

137
7.11,12)
Paulo estava exortando os irmãos da igreja de Corinto por diversas situações lá
ocorridas, inclusive por um grave caso de incesto – um homem havia tido relações com sua
madrasta no contexto da igreja. Isso produziu uma atitude ou resposta naqueles irmãos e
Paulo explicou-lhes a diferença entre o verdadeiro e o falso arrependimento. A tristeza
segundo o mundo é o remorso, o sentimento de erro sem esperança de restauração e que,
por isso, traz morte. No entanto, a tristeza segundo Deus, que é o arrependimento, produz
esperança, perdão e vida eterna. Ele sempre vem com o intuito de nos fazer o bem, produzir
frutos bons (“Pois vede o que essa tristeza segundo a vontade de Deus produziu em vós...”).
Esses frutos de arrependimento, portanto, são a forma como o coração de um
cristão deve reagir ao perceber que pecou contra um Deus que Santo e Todo-Poderoso.
Ele se enche de energia, de motivação, de fé para se consertar e restaurar novamente sua
vida diante do Pai. Isso produz uma mudança moral intensa tanto nas atitudes quanto nas
ações. Esse fruto de arrependimento estabelece a base para recebermos a graça e a
salvação de Deus, como também o enchimento do Espírito Santo. Sem isso a nossa vida
espiritual se torna vazia e hipócrita.
Cremos que esse novo derramamento que antecederá a volta de Jesus será
infinitamente maior e numa escala mundial e, portanto, devemos continuar insistindo em
nossas práticas de oração e confissão individuais e coletivas. É tempo de uma grande
colheita! No dia de Pentecostes houve apenas uma primícia disso. No início quase 3 mil
convertidos; logo em seguida, quase 5 mil; e continuou crescendo. Mas essas palavras
sempre andavam juntas: arrependimento, salvação, frutos, enchimento do Espírito.
Como dissemos, o arrependimento inclui mudança de atitude e não apenas deixar
de fazer algumas coisas erradas. Um ponto muito importante nesse processo é
abandonarmos a DISTRAÇÃO. Ora, como iremos ouvir a voz de Deus com tantas
distrações, acontecimentos e pressões que nos cercam diariamente? Só esta semana
houve atentados terroristas em diversos locais e nações. São dias muito difíceis, mas
também gloriosos, quando muitas maravilhas acontecerão. No entanto, precisamos estar
ATENTOS!
A tecnologia das comunicações rouba demais a nossa atenção, nos entretêm com
inúmeras coisas. É uma benção, uma facilidade, mas se torna um problema por nos distrair
do que é realmente importante. Assim, precisamos rever tudo isso se quisermos ser
participantes desse movimento que o Espírito Santo está operando em todo o mundo. Têm-
se falado muito em “cultura de adoração”, “cultura de oração”, “cultura de honra”, “cultura
de avivamento” e eu devo dizer que devemos acrescentar CULTURA DE
ARREPENDIMENTO, de QUEBRANTAMENTO.
Ninguém gosta de ser confrontado, corrigido, mas a Bíblia diz: “Ouve o conselho, e
recebe a correção, para que no fim sejas sábio.” (Pv 19:20). O sábio ama a confissão e a
correção. Você tem confessado a Deus os seus pecados? Tem confessado para algum(a)
irmão(ã)? Isso faz parte da cultura de arrependimento: disposição para ser corrigido, para
mudar, para rever a vida em todas as áreas.
Encontramos nas Escrituras uma parábola sobre um cristão religioso e um político
corrupto (o fariseu e o publicano):
Contou também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, achando-se
justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar: um era

138
fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, de pé, orava consigo mesmo: Ó Deus, graças
te dou porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem
mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo
quanto ganho. Mas o publicano, em pé e de longe, nem mesmo levantava os olhos
ao céu, mas lamentava-se profundamente, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de
mim, um pecador! Digo-vos que este desceu justificado para casa, e não o outro;
pois todo o que se exaltar será humilhado; mas o que se humilhar será exaltado. (Lc
18.9-14)
Eles estavam juntos no Templo para orar, porém, suas atitudes e ações eram
opostas. Você se considera parecido com o fariseu? Se você se julga diferente dele,
lamento dizer que você também é igual a ele! Isso porque ele “se compara” ao outro e toda
forma de comparação é pecado. Precisamos nos arrepender profundamente de criticar ou
julgar os pecados alheios como se nós mesmos não tivéssemos a mesma natureza. Quanto
aos governantes, a Bíblia nos orienta a orar por eles (1 Tm 2.1-4) e não ficar criticando-os.
Portanto, deixemos de hipocrisias, nos arrependamos das nossas próprias ações e atitudes
e Deus se encarregará de cuidar das outras pessoas. Aliás, semear contendas entre irmãos
é a coisa que o Senhor mais abomina:
Seis coisas o SENHOR detesta, sim, sete ele abomina: olhos arrogantes, língua
mentirosa e mãos que derramam sangue inocente; coração que faz planos
perversos, pés que se apressam a praticar o mal; testemunha falsa que profere
mentiras e o que semeia inimizade entre irmãos. (Pv 6.16-19).
Vamos analisar o que o apóstolo Paulo fala sobre o arrependimento na carta de
Apocalipse. No capítulo 1, versos 5 a 8, João apresenta Jesus como aquele que nos salvou,
libertou e voltará gloriosamente segunda vez. Mas, logo em seguida, começa uma série de
reprovações e chamadas ao arrependimento para sete igrejas na Ásia. Essas exortações
têm um aspecto profético e não quero entrar nesse ponto, mas vemos que duas delas não
foram repreendidas pelo Senhor: a) Esmirna (2.8-11), que era uma igreja perseguida, que
vivia debaixo de imensa pressão. Assim, ela já estava sendo tratada e purificada por essa
causa; b) Filadélfia (3.7-13). Todas as outras receberam uma exortação ao arrependimento.
A Éfeso o Senhor disse:
Tens perseverado e sofreste por causa do meu nome; e não te desanimaste. Tenho
contra ti, porém, o fato de que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde
caíste, arrepende-te e volta às obras que praticavas no princípio. Se não te
arrependeres, logo virei contra ti e tirarei o teu candelabro do seu lugar. (2.3-5).
A Laudiceia ele disse:
Conheço tuas obras, sei que não és frio nem quente. Antes fosses frio ou quente!
Assim, porque tu és morno, e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te
da minha boca. Porque tu dizes: Sou rico, tenho prosperado e nada me falta, mas
não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Eu te aconselho que compres
de mim ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; roupas brancas, para que te
cubras e a vergonha da tua nudez não seja mostrada; e colírio, para que o apliques
sobre teus olhos e enxergues. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê, pois,
zeloso e arrepende-te. (3.15-19)
Essas duas igrejas se assemelham muito à época em que vivemos. Filadélfia é a
igreja avivada, gloriosa, cheia da presença de Deus. Laudicéia, por sua vez, é a igreja

139
morna, desatenta, que está a ponto de ser “vomitada” da boca de Deus. Essa postura não
serve para o Senhor: ou somos quentes ou somos frios (penso que Ele prefere que sejamos
“quentes”). Alguém disse que o morno é alguém que já foi quente e esfriou e, portanto,
precisa ser aquecido novamente – e o caminho para isso é o arrependimento!
Você crê que o Senhor lhe ama? E o que Ele faz para lhe provar isso? O castiga, o
repreende! Em Salmos e Provérbios encontramos muitos textos dizendo que o pai que ama
seu filho o castiga, o corrige. Não com maldade ou espancamento, mas por amor, querendo
o bem do filho. O escritor de Hebreus nos mostra isso com muita clareza:
Já vos esquecestes do ânimo de que ele vos fala como a filhos: Filho meu, não
desprezes a disciplina do Senhor, nem fiques desanimado quando por ele és
repreendido. Pois o Senhor disciplina a quem ama e pune a todo que recebe como
filho. É visando à disciplina que perseverais. Deus vos trata como filhos. Pois qual é
o filho a quem o pai não disciplina? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se
têm tornado participantes, então, não sois filhos, mas filhos ilegítimos. Além disso,
tínhamos nossos pais humanos para nos disciplinar, e nós os respeitávamos. Logo,
não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, e assim viveremos? Pois eles
nos disciplinaram durante pouco tempo, como bem lhes parecia, mas Deus nos
disciplina para o nosso bem, para sermos participantes da sua santidade. Nenhuma
disciplina parece no momento motivo de alegria, mas de tristeza. Depois, porém,
produz um fruto pacífico de justiça nos que por ela têm sido exercitados. (Hb 12.5-
11)
Paulo diz em sua epístola aos Romanos:
Ou desprezas as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, ignorando que a
graça de Deus te conduz ao arrependimento? Mas, segundo tua teimosia e teu
coração que não se arrepende, acumulas ira sobre ti no dia da ira e da revelação do
justo julgamento de Deus, que retribuirá a cada um segundo suas obras. (Rm 2.4-6)
Dias atrás eu fiquei feliz ao ouvir um irmão dizer: “Eu estou sentindo que preciso me
arrepender! Eu preciso colocar para fora várias coisas da minha vida!” Se você está
sentindo o mesmo é porque Deus está agindo na sua vida!
Estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua
casa e cearei com ele e ele comigo. (Ap 3.20)
Que convite maravilhoso! Logo após Jesus corrigir, repreender, exortar e até
castigar, agora ele faz esse convite! Às vezes ele permite que passemos por situações
críticas para nos corrigir, nos ensinar, tratar conosco como um pai ao seu filho. Lembre-se
disso: sempre é para o nosso bem!
Paulo reafirma essa verdade:
Sabemos que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles
que o amam, dos que são chamados segundo o seu propósito. (Rm 8.28)
Concluindo, talvez o que mais precisamos hoje em relação ao arrependimento é
esse toque de Jesus em nossos corações e ouvirmos sua voz suave dizendo: “Posso
entrar? Posso verdadeiramente fazer parte da sua vida, de cada minuto do seu dia? Vamos
cear juntos? Vamos ter intimidade?” Isso está diretamente ligado ao arrependimento,
porque temos colocado muitas outras coisas no lugar do Senhor em nossos corações.
Precisamos, então, voltar a cultivar essa intimidade com Ele. Estar, como Maria, “aos pés

140
do Senhor” (Lc 10.39). Arrumamos tempo para muitas coisas, mas não para o que
realmente importa, que é estar com aquele que de fato nos ama e que hoje nos chama.
Quando nos casamos, não o fizemos simplesmente para estarmos juntos de vez em
quando. Muitos pensam que sua aliança, amizade, amor, relacionamento com Deus se
limita a algumas reuniões. É por isso que eu digo que o nosso maior arrependimento deve
ser do pecado de não dedicarmos mais tempo a Deus. Esse é o maior pecado pois fere o
maior dos mandamentos:
Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus,
de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e de todas as forças. (Mr
12.29,30).
Assim, por não praticar esse mandamento de colocar o Senhor em primeiro lugar,
precisamos nos arrepender. Essa é a melhor preparação que podemos fazer para a volta
de Jesus. Andar, caminhar, comungar, cear com Ele, ter amizade com o nosso Deus. E é
isso o que Ele mais deseja!
Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que o seu senhor faz; mas eu vos
chamo amigos, pois vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai. (Jo 15.15)
Jesus quer ser nosso amigo! Ele está à porta do nosso coração e bate. Se alguém
ouvir e abrir ele entrará, pois essa porta só se abre pelo lado de dentro. Portanto, vamos
nos arrepender da falta de intimidade com Deus, da falta de correspondência ao grande
amor daquele que se humilhou e se entregou à morte para que fossemos salvos e
perdoados. Vamos nos arrepender de estar deixando-o continuamente do lado de fora do
nosso coração! Amém!

141
AS DUAS CONVERSÕES NECESSÁRIAS PARA QUE
VENHA O AVIVAMENTO
Tony Felício

1. Voltarmo-nos uns para os outros.


O livro de Neemias mostra a restauração dos muros de Jerusalém num momento
em que a cidade tinha perdido a sua característica de cidade de Deus por estar destruída,
envergonhada. Quando Neemias soube dessa situação, Deus moveu fortemente o seu
coração e ele passou a ter uma paixão pela cidade que o levou a mobilizar uma multidão
de pessoas para junto com ele reconstruírem seus muros.
Então se levantou Eliasibe, o sumo sacerdote, juntamente com os seus irmãos, os
sacerdotes, e edificaram a porta das ovelhas, a qual consagraram, e lhe assentaram
os batentes. Consagraram-na até a torre dos cem, até a torre de Henanel. E junto a
ele edificaram os homens de Jericó; também ao lado destes edificou Zacur, o filho
de Inri. (Ne 3.1,2)
Quero chamar a atenção para as expressões “junto a ele” e “ao lado destes”. Vemos
estas expressões se repetirem muitas vezes neste livro. Somente no capítulo 3 as
encontramos 26 vezes. Quando eles foram reconstruir os muros havia uma estratégia: cada
grupo de pessoas era responsável por uma parte do muro. Um grupo deveria reconstruir
até um determinado ponto, que era marcado pela identificação de outro grupo que estava
reconstruindo outro pedaço. Por isso essas expressões são tão importantes.
Cada um de nós tem uma responsabilidade em um projeto que é maior do que
qualquer projeto particular nosso, que é a edificação da Igreja do Senhor para a preparação
da volta de Jesus. Este projeto tem movido eternamente o coração de Deus – o moveu à
criação da Terra, à criação do homem, a todas as Suas ações no Antigo Testamento, a
enviar Jesus, a todas as Suas ações na Nova Aliança e até hoje. Deus quer uma família
para Si e ser o Pai desta família; Ele quer um povo para Si e reinar no meio deste povo e
Ele está totalmente empenhado em realizar este projeto!
A restauração dos muros de Jerusalém é uma figura da restauração da cidade ou
projeto de Deus (a Igreja) na Terra. É muito comum cada um de nós buscarmos ao Senhor
para que Ele realize os nossos próprios projetos. Traçamos planos, temos ideias e
vontades, gostamos muito deles, pedimos sempre para que Deus os realize, enchemos o
cálice Dele de orações que se referem a esses projetos. Não estou dizendo que isso é
pecado, mas que é comum. Mas eu creio que o que precisa se tornar o nosso normal é que
enchamos o cálice do Senhor com uma oração que se refere ao que está no coração Dele.
É impressionante como Neemias, ao ouvir os relatos do que havia acontecido com
a cidade e do estado em que ela se encontrava, se esqueceu de tudo o que lhe era
particular. Ele estava no palácio do rei, tinha uma ótima condição social, poderia ter sonhos
e projetos pessoais e ficar tranquilo na vida que estava levando. No entanto, ele se
entristeceu ao ouvir o relato de como estava a cidade de Deus. Essa tristeza foi tão evidente

142
que até o rei percebeu e lhe perguntou: “Por que está triste o teu rosto, visto que não estás
doente? Não é isto senão tristeza de coração” (2.2). Neemias lhe respondeu: “Como não
há de estar triste o meu rosto, estando na cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais,
assolada, e tendo sido consumidas as suas portas pelo fogo?” (2.3). Ora, esse projeto de
ter uma cidade na Terra não era de Neemias, mas de Deus. Então ele chora, clama, se
arrepende por si e pelo povo, lamenta a condição da cidade e se move para fazer algo por
isso (1.4-11; 2.5). Mas ele não se move para construir uma casa própria, para comprar algo
novo para si ou para sua família e, sim, para algo que movia seu coração e que estava
“fazendo Deus sofrer”.
Assim, cada um de nós é responsável por restaurar um pedaço, uma parte da Igreja
do Senhor para que ela fique como Ele quer. Mas compreenda que eu não estou me
referindo apenas à nossa congregação, ao nosso ambiente, apesar de gostarmos muito
disso tudo.
Tempos atrás eu estava ministrando em uma cidade e falei sobre Jesus Cristo. Ao
final, uma irmã me disse: “Tony, eu tenho 40 anos de igreja e nunca ouvi uma palavra
dessa!” Ora, eu não falei nada “mirabolante”, mas algo óbvio: Jesus e sua Igreja.
Infelizmente essa é uma realidade em muitos lugares. A Igreja precisa urgentemente voltar
aos fundamentos, àquilo que a identifica, e todos nós somos chamados por Deus para fazer
isso. Não é uma responsabilidade apenas dos presbíteros, dos que estão na “linha de
frente”. Neemias convocou a todos – sacerdotes, famílias – e os colocou em lugares
estratégicos para que cada um assumisse sua responsabilidade em reedificar os muros e,
mesmo com muitos problemas e resistências, este foi reconstruído em apenas 52 dias
(6.15), ou seja, eles deram conta!
Querido (a), você já se deu conta que foi chamado (a) para um projeto maior do que
os seus projetos? Nós fomos chamados para “ser” Igreja e ao mesmo tempo “edificar” a
Igreja. O mais interessante neste chamado é que cada um tem a sua parte, mas edifica
apenas até um determinado ponto: o do outro irmão; edifica “ao lado de”, “junto de”. Assim,
eu não apenas tenho de prestar atenção àquilo que me cabe na edificação da Igreja, mas
também nos vínculos, nas juntas, nos relacionamentos, pois aquilo que me cabe afeta e
abençoa diretamente o meu irmão. Se ele reconstrói a parte dele e eu não reconstruo a
minha, o muro continua com brechas e todos perdem. Isso porque se um inimigo entrar em
nosso meio achando brechas ele conseguirá nos derrubar.
Eu creio que chegará o dia em que não teremos mais inimigos “entre” nós. Não
teremos, assim como na construção do muro, inimigos que se levantaram “do meio deles”,
que se apunhalavam, mas que na verdade não tinham parte entre eles (2.20). Chegará um
tempo em que nossos inimigos estarão apenas do lado de fora. Não teremos mais brigas
entre nós porque todos, como um só homem, estaremos diante do Senhor e enfrentaremos
juntos os inimigos que estão lá fora até que o nosso General desça!
Esse tempo vai chegar, eu creio nisso. Então, vamos trabalhar para acabar com as
brigas entre nós. Não pode acontecer de eu não enxergar aquele que está ao meu lado que
também foi chamado para reconstruir. Não pode acontecer de eu o conceber como meu
inimigo ou ser alguém que o atrapalhe. Ao contrário, preciso ter foco no trabalho que Deus
me confiou e na pessoa que Ele colocou ao meu lado para edificar (“junto”, “ao lado”).
No entanto, uma coisa é estarmos apenas juntos, encostados um no outro e outra
coisa é estarmos “colados”, amarrados, de braços dados. Eu tentei emendar uma parede
em minha casa e não deu certo, porque os blocos foram colocados apenas encostados uns

143
nos outros e a parede continuou rachada. Imaginem, então, que o muro de Jerusalém era
cada parte construída ao lado da outra por muitos grupos de pessoas. Duas partes
próximas poderiam estar bonitas, bem-feitas, mas se a junção entre elas não fosse bem-
feita haveria uma rachadura permanente e os inimigos poderiam se aproveitar daquela
brecha e entrar. A melhor – e única – maneira de resolver isso é o entrelaçamento. A
maneira é cada um pegar uma parte de si e a tornar-se parte do outro (e vice-versa). A
maneira é entendermos que individualmente não somos coisa alguma, mas só somos um
corpo quando discernimos que individualmente somos partes uns dos outros (Rm 12.5).
Nossas mãos por exemplo, quando apenas encostamos uma na outra se soltam
facilmente. No entanto, quando entrelaçamos os dedos elas dificilmente se soltam. Isso
significa eu deixar que você entre na minha vida; significa você ter liberdade dada por mim
de chegar mais perto, de frequentar minha casa, de andar junto a mim para que me ajude
a tratar as minhas mazelas e para que eu não ofereça risco ao projeto de Deus. Estou
afirmando que sozinho não tenho condições de garantir que serei uma benção para você e
que por isso precisamos nos entrelaçar como engrenagens de uma máquina, “entrar” um
no outro como os dentes de uma correia.
Mas, importante: eu preciso deixar que você faça isso, pois, caso contrário, você
pensará que está invadindo a minha vida. Ou seja, essa liberdade não se faz por imposição
e sim por liberdade no Espírito. Posso dizer com alegria que graças a Deus eu tenho
pessoas que sabem que têm liberdade de entrar e, minha vida e me guardar, mas isso
porque eu dei essa liberdade a elas.
Na figura à esquerda, onde faltam alguns blocos, se o pedreiro
colocar o bloco que tem em mãos na fileira superior, ficará um
espaço vazio entre este e o bloco da carreira inferior – e é
justamente aí que o outro pedaço do muro se encaixa. Assim não
haverá rachaduras porque ficará um muro só, delimitando uma
cidade só, como na figura à direita.
Muro fala de identidade. Uma cidade com muros, principalmente naquela época, era
uma cidade bem definida. O que delimita a cidade e deixa muito definido o que está dentro
e o que está fora dela é justamente o muro. Quando não existem muros não sabemos o
que é de dentro e o que é de fora – fica tudo misturado.
Quando temos uma identidade definida, quando sabemos quem realmente somos
temos um destino seguro. Mas, quando não sabemos quem somos, podemos nos tornar
qualquer coisa. O poder da identidade é muito forte! Jesus venceu a Satanás no deserto
porque tinha plena clareza de quem ele era, mesmo sendo atacado nos pontos em que
estava momentaneamente fragilizado: “Se tu és o filho de Deus...” (Mt 4.3). Ora, Deus não
está sujeito a nenhuma dúvida dos homens porque ELE É DEUS! E, se nós também
compreendermos quem somos, também não estaremos sujeitos a qualquer tipo de dúvida
dos homens. SOMOS NAÇÃO DE DEUS! Sabemos o que não pode entrar em nós,
sabemos o que é mundo e o que é Reino, o que é de Cristo e o que não é dele. Assim,
quando cada um cuida da sua parte pensando no outro nós garantimos que não
perderemos a nossa identidade.
Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por
todos, logo todos morreram; e ele morreu por todos, para que os que vivem não
vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. (2 Co
5.14,15)

144
Paulo fala que devemos viver “por Jesus Cristo” e “para Jesus Cristo”, ou seja, o
projeto que importa agora é o dele. Se eu faço ou deixo de fazer alguma coisa que possa
prejudicar o projeto Dele, eu mudo. E por que eu mudo? Porque Jesus morreu e ressuscitou
para tirar de mim o costume de achar que viver para mim mesmo é vida. Isso só me estraga,
só produz depressão e inúmeros problemas físicos e emocionais. Porém, viver para ele é
vida e nos leva em direção aos outros.
Por isso daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que
tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos
desse modo. Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas
já passaram; eis que tudo se fez novo. Mas todas as coisas provêm de Deus, que
nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da
reconciliação; pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da
reconciliação. (2 Co 5.16-19)
O apóstolo está dizendo que quando eu foco em Jesus ele me leva para os outros,
ou, quando eu foco nos outros eu encontro Jesus. Não sei qual vem primeiro, mas sei que
as duas coisas estão interligadas. Quando eu penso em Jesus preciso pensar no meu irmão
e quando penso no meu irmão preciso pensar em Jesus. Não estamos falando de duas
coisas distintas ou indivisíveis.
Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros
têm a mesma função, assim nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e
individualmente uns dos outros. (Rm 12.4,5)
Pergunta: eu sou membro de Cristo ou membro da Igreja? Resposta: de ambos! Não
há como separar estas duas coisas. Se eu estou em Cristo, estou na Igreja e vice-versa.
Assim, quando estou entrelaçado com os irmãos estou envolvido no projeto maior e, se
estou no projeto maior, preciso me entrelaçar com os irmãos, sabendo que aquele que está
do meu lado é parte de mim. Aliás, eu cheguei à conclusão de que “a melhor parte de mim
nunca está em mim”. A Bíblia diz que eu e minha esposa somos uma só carne e eu tenho
certeza que Deus tirou de mim a melhor parte e colocou nela! E assim também é na Igreja.
Há muita coisa que não está em mim, mas nos meus irmãos e, portanto, eu necessito
receber deles. E também, com certeza, há algo em mim que é bom para eles e que também
necessitam receber. Somos parte uns dos outros, membros do mesmo Corpo,
entrelaçados!
...cada um considere os outros superiores a si mesmo; não olhe cada um somente
para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. (Fp 2.3,4)
Paulo explica que eu devo me importar com aquilo que é a minha parte no muro,
mas que eu também preciso me importar com a parte que é do meu irmão, porque há uma
parte do muro dele que entra no meu muro e vice-versa. Essa ideia de que eu posso ter
algo meu “que não tem a ver com você”, e que você pode ter algo somente seu “que não
tem nada a ver comigo” não é bíblica. Então pense muito bem quando for fazer alguma
coisa ou tomar uma decisão. Nunca diga: “Você não tem nada a ver com isso!”, porque
Deus já nos reconciliou com Ele e nos colocou juntos aqui na Terra.
Isso fica muito claro na família nuclear, porque se, por exemplo, eu assisto um filme
que não tem nada a ver com meus filhos e nem os deixo assistir, mas absorvo a coisa ruim
que há no filme e passo a viver aquilo, isso os afeta diretamente. “Por que meu pai fica

145
diante da TV, mas não fica diante do Senhor? Se o meu pai não fica diante do Senhor eu
também não ficarei!” Ou seja, tudo o que eu faço afeta os meus filhos. As nossas escolhas
sempre afetam outras pessoas!
Lembro-me de quando eu estava relacionando com Neiilsa para casar tínhamos
muitas chances para pecar. Naquelas horas Deus sempre me trazia à mente os rostos dos
jovens que nós cuidávamos. Eu pensava na reação deles se nós pecássemos e, então,
escolhíamos não pecar. Jesus disse isso em João 17.19: “É por eles que eu me santifico,
para que também eles sejam santificados na verdade”. Jesus tinha consciência de que tudo
que ele como Cabeça fizesse afetaria todo o seu Corpo. E nós, como parte desse Corpo,
temos de ter a mesma consciência. Por isso hoje eu estou hoje conclamando a todos para
esse novo arrependimento! Voltemos uns para os outros, prestemos atenção na vida dos
nossos irmãos para abençoá-los, para fazer o bem a eles!
Mas há também uma segunda conversão necessária para que venha o avivamento
ou um segundo aspecto do arrependimento:

2. Voltarmo-nos para o Senhor Jesus Cristo.


Penso que os nossos problemas de relacionamentos e o estado atual da Igreja hoje
tem a ver com um detalhe que não é somente um detalhe. Parece que somos uma cabeça
confusa tentando governar a nós mesmos. Mas o fato é que Deus não nos deu como
identidade sermos a cabeça e, sim, o Corpo.
Então se levantou Eliasibe, o sumo sacerdote, juntamente com os seus irmãos, os
sacerdotes, e edificaram a porta das ovelhas, a qual consagraram, e lhe assentaram
os batentes. Consagraram-na até a torre dos cem, até a torre de Henanel. E junto a
ele edificaram os homens de Jericó; também ao lado destes edificou Zacur, o filho
de Inri. (Ne 3.1,2)
Eliasibe não começou a reconstrução pelo muro, mas por uma porta – a porta das
ovelhas. Por essa porta entravam os animais para o sacrifício. Jesus disse em João 17.7:
“Eu sou a porta das ovelhas”. Esta porta fala de Cristo e do seu sacrifício. Ele é o sacrifício
agradável e definitivo ao Pai. Precisamos nos voltar uns para os outros, termos revelação
de quem nós somos, mas definitivamente não conseguiremos ver uns aos outros como
devemos se não devolvermos a Jesus o lugar que pertence exclusivamente a ele!
Fico impressionado em ver, quando viajo para pregar a Palavra, como falta Jesus
nas igrejas. Parece que falar de Jesus é falar de algo comum, banal – mas não é! Vivemos
como uma cabeça confusa tentando ajeitar as coisas, mas, na verdade, Deus,
reconhecendo nossa dificuldade em nos ajuntarmos por nós mesmos, fez uma coisa
maravilhosa: exaltou soberanamente a Jesus e lhe deu um nome acima de todo nome, a
primazia sobre tudo e todos. Essas coisas estão intimamente ligadas. Não dá para separar
Cristo do seu Corpo, pois uma restauração leva à outra.
...que operou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à
sua direita nos céus, muito acima de todo principado, e autoridade, e poder, e
domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no
vindouro; (Ef 1.20,21)
Podemos pensar nos poderes e falsas doutrinas que se levantam contra nós, nos
nossos inimigos externos e internos (pensamentos, sentimentos, lutas, barreiras,

146
incompreensões, divisões, falta de revelações, conflitos etc.) e vemos que Deus está dando
a solução para arrumar este muro: edificar a porta das ovelhas antes! A solução de Deus
para fazer a Igreja ser como ela dever ser foi exaltar a Jesus de um jeito tão grande e tão
alto que todos nós, quando olhamos para ele, dizemos: “UAU!” E, quando somos atraídos
por ele, ele olha para nós e diz quem nós somos:
...e sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser cabeça sobre todas as
coisas o deu à igreja, que é o seu corpo, o complemento daquele que cumpre tudo
em todas as coisas. (Ef 1.22,23)
Deixe esta palavra entrar no seu coração! Pergunte a Jesus o que esta palavra tem
a ver com você pessoalmente! Deus exaltou Jesus acima de todo poder, principado e
domínio. Ele já está exaltado, mas nós veremos o resultado disso na sua segunda vinda
quando ele voltar em plenitude, reinar e colocar todas as coisas em ordem. No entanto, há
uma coisa que já está acontecendo: Jesus é rei de uma nação, ele já é exaltado por um
povo na Terra, ele já é a Cabeça de um Corpo, ele já governa um povo! O que precisa
acontecer na prática é que voltemos nossas atenções para ele, o exaltemos como Rei e
deixemos que ele nos governe. Isso tudo se retroalimenta: saímos de nós mesmos para
perceber Cristo e percebermos ele uns nos outros; saímos de nós mesmos e vemos Jesus
nos levar aos outros e à plenitude.
Esta nação, a Igreja, vai se completar na Terra antes que Jesus volte. Algo poderoso
vai acontecer, pois este povo está infiltrado em todas as nações. Jesus tem sua gente neste
mundo e ele está restaurando a identidade desta gente, que está ligada justamente a quem
ele é.
Quando ele perguntou aos seus discípulos: “Quem diz a multidão que eu sou?”, eles
responderam várias coisas. Então novamente lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu
sou?”, ao que Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Disse então Jesus:
“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.13-18). Jesus restaura a nossa
identidade, revela quem verdadeiramente somos!
Quando o povo se ajuntou como um só homem eles pediram a Esdras que lesse a
Palavra do Senhor, que era o retrato da identidade da nação santa de Deus (Ne 8.1-8). O
povo chorava muito, mas Esdras e Neemias disseram: “Não chorem, mas vamos repartir o
que temos com muito júbilo e alegria!” (vs. 9-12). O avivamento chega quando Jesus está
no meio de uma Igreja que é uma só! A Igreja, consciente de quem ela é, promove um
ambiente de festa!

Três forças que operam no mundo


Quero concluir dizendo que há três grandes forças que operam hoje no mundo, três
inimigos de fora tentando achar brechas para penetrar dentro da Igreja.

a) O Humanismo
Este exalta o homem, diz que o homem é o centro de tudo, que a sua vontade deve
sempre ser satisfeita, que a solução para ele está no conhecimento humano. Ao
Humanismo nós respondemos que a solução para o homem é Cristo! “Seja todo homem
mentiroso e Deus verdadeiro” (Rm 3.4). Então, quando você sentir aquele espírito de “eu

147
sou demais, sou brilhante”, repreenda a Satanás assim como Jesus fez com Pedro quando
este tentou poupar-lhe a vida: “Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te
acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que
me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as
que são dos homens” (Mt 16.22,23).
Nós não somos humanistas e o não deixaremos entrar em nossas vidas e em nosso
meio. Nós somos cristocêntricos e exaltamos a Jesus Cristo “porque dele, e por ele, e para
ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente” (Rm 11.36). A minha mente e o
meu sentimento não me transformam, os pensamentos, sentimentos e filosofias de homem
nenhum me transformam, porque “nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo,
e este crucificado” (1 Co 2.2) e “não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus
para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Esta é a verdade! Nós somos o povo de
Deus, a nação de Cristo vivendo na Terra. Vamos às faculdades, às ruas, às empresas, à
mídia para dizer que Jesus é o centro de tudo, que Deus o exaltou e nós concordamos com
Ele!

b) O Hedonismo
Este prega que a felicidade está no prazer. Há três coisas que costumam dar prazer
aos humanistas e hedonistas: sexo, fome e sono. No entanto, eu nunca vi um pervertido
sexual pleno e satisfeito, um glutão que parou de comer e um preguiçoso que desistiu de
dormir. Isso apenas prova que o prazer não é a resposta. Prazer, para nós, não é uma
sensação, mas uma pessoa: Jesus!
Um dia, o Pai olhou para o Filho e disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo” (Mt 3.17). Qual é a nossa identidade a esse respeito? Nós somos o povo que
não faz questão de sensações e prazeres, pois o nosso prazer é igual ao de Deus: Jesus
Cristo! Ainda não aconteceu, mas eu digo profeticamente que vamos voltar, como diz Davi
no Salmos 1.2, a ter prazer na Lei do Senhor e na pessoa de Jesus. Voltaremos, como
Igreja, a ter a expectativa do Noivo e essa irá apagar todas as outras expectativas; ele
voltará para uma noiva pronta, apaixonada, cheia de azeite em suas lâmpadas.

c) O Relativismo
Este prega que a verdade é relativa à cultura, ao tempo, ao lugar, à pessoa.
Concordo que cada pessoa tem seus próprios gostos e opiniões, mas isso não tem nada a
ver quando nos referimos ao cerne moral da humanidade, ao centro da justiça, da perfeição
e da verdade: Jesus. Existe uma verdade absoluta que não é um conjunto de ideias que
possa ser discutido, mas, sim, uma pessoa: Jesus Cristo. Ele é a verdade única e suprema,
ele é o centro de tudo e de todos, ele é o nosso prazer e o nosso tudo. Ele é aquele que
experimentamos, vivemos, pregamos e proclamamos! Bendito seja o nome do Senhor!
Igreja de Jesus, vamos nos arrepender de não dar a Jesus o lugar que Deus lhe deu
(a primazia sobre todas as coisas) e também de não dar aos nossos irmãos o lugar que
Jesus deu a eles! Amém!

148
AS SETE LÂMPADAS E O ESPÍRITO DE ORAÇÃO
Abnério Cabral

Mas vós, amados, não ignoreis uma coisa: um dia para o Senhor é como mil anos,
e mil anos, como um dia. O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a
considerem demorada. Mas ele é paciente convosco e não quer que ninguém
pereça, mas que todos venham a se arrepender. Contudo, o dia do Senhor virá como
ladrão, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, queimando,
se dissolverão, e a terra e as obras que nela há serão descobertas. Se todas essas
coisas serão assim destruídas, que tipo de pessoa deveis ser? Pessoas que vivem
em santidade e piedade, aguardando e esperando ansiosamente a vinda do dia de
Deus; por causa desse dia, os céus se dissolverão pelo fogo, e os elementos,
ardendo, derreterão. Nós, porém, segundo sua promessa, aguardamos novos céus
e nova terra, nos quais habita a justiça. (2 Pd 3.8-13)

Perseverar em Oração
Pedro estava nos mostrando um cenário do que iria acontecer nos tempos do fim,
no dia do Senhor. Lemos que Deus pode fazer em apenas um dia coisas que o homem
levaria mil anos para fazer. O dia do Senhor virá como um ladrão, mas não para aqueles
que aguardam ansiosamente esse dia; quem espera não será surpreendido, quem está na
luz não será pego de surpresa, pois sabe que esse dia está para chegar. No entanto, os
que não se preparam e não esperam dirão: “Ah! Era verdade mesmo?! Eu não esperava,
não acreditava!! E agora?? Não vou realizar meus planos, vou perder tudo o que acumulei
nessa vida!!” Os da luz, porém, dirão: “Aleluia!! Ele veio!! Eu sabia!! Eu esperava por esse
dia!!”
Joel disse: “...porque o dia do Senhor é grande e mui terrível, e quem o poderá
suportar?" (Jl 2:11). Esse dia será glorioso, majestoso, maravilhoso e de muita alegria para
quem o espera! Mas, para quem não estiver esperando será um dia terrível, de grande
tristeza e destruição, pois não estará preparado.
Temos sido muito exortados nos últimos tempos com palavras sobre “perseverar” e,
dentro da nossa perseverança, não podemos nos esquecer que estamos caminhando para
nos encontrar com o nosso Senhor que em breve virá. Ele prometeu e vai cumprir! Os sinais
da sua vinda já estão se cumprindo e em todas as partes do mundo vemos e ouvimos
depoimentos sobre esses sinais. Portanto, diante desse maravilhoso quadro precisamos
nos lembrar de que somos sacerdotes do Senhor e temos uma imensa responsabilidade
sobre coisas que precisamos fazer, coisas que são práticas de vida de um sacerdote.
Deus instituiu os sacerdotes no V.T. para que a ministração ou adoração a Ele não
parasse um minuto sequer e Ele fosse lembrado por meio dos sacrifícios que lhe eram
entregues dia e noite:
E ordenarás aos israelitas que te tragam azeite puro de oliva, batido, para a
iluminação, para manter uma lâmpada continuamente acesa. Arão e seus filhos a

149
manterão acesa diante do SENHOR na tenda da revelação, do lado de fora do véu
que está diante do testemunho, desde a tarde até a manhã. Este será um estatuto
perpétuo para os israelitas através de suas gerações. (Ex 27.20,21)
O povo trazia o azeite batido, puro. Os sacerdotes o usavam para colocar nas sete
lâmpadas do candeeiro ou candelabro para mantê-lo continuamente aceso. Azeite batido é
aquele da primeira prensa, o de melhor qualidade, o de menor acidez. Esse azeite era
usado para acender a lâmpada do candeeiro que estava diante do altar de incenso, pois,
para oferecer incenso, era necessário acender o fogo e queimar as lâmpadas. Não se podia
fazer ofertas de adoração ao Senhor sem que as lâmpadas fossem acesas e queimadas.
Sabemos que esse azeite representa o Espírito de Deus. É por isso que temos falado
sobre o “Espírito da Oração”, pois, estudando sobre o assunto, constatamos que algumas
lâmpadas citadas no Novo Testamento dizem respeito à nossa vida cristã, ao nosso dia a
dia, à nossa prática, ao que estamos fazendo, a que tipo de pessoas devemos ser nos dias
de hoje, pois estamos caminhando para nos encontrarmos com o Noivo, para o grande Dia
do Senhor.
Alguns dizem: “Ah, mas eu já me encontrei com Jesus; o Espírito Santo está em
mim!” Isso é ótimo e necessário, porém, não é o suficiente. Vida com Deus vai além de
palavras, vai além de ir em reuniões. Frequentar é mais do que ir; é participar, fazer parte,
estar ativo, se envolver, ter compromisso, relacionamento. Essas são coisas de que Deus
não abre mão.
Quando estivemos em Israel e visitamos a réplica do Tabernáculo de Moisés o nosso
guia nos mostrou onde ficava o candelabro, a mesa dos pães da preposição e a arca do
incenso, bem de frente ao véu do Santo dos Santos. Por que essa mesa dos pães estava
ali? Porque Deus quer comer, assentar-Se à mesa com o Seu povo. Preste atenção
quantas vezes a palavra “mesa” aparece na Bíblia, quantas vezes Deus diz que vai nos
preparar uma mesa para comermos com Ele, alimentar aquele que abrir a porta da sua
casa para recebê-Lo. Ele bate à porta dos corações daqueles que se arrependem, daqueles
que O desejam como seu Senhor e Salvador (Ap 3.3.). Ele quer cear com quem tem aliança
com Ele; não vai fazer isso com quem não quer compromisso com Ele.

As sete luzes ou lâmpadas que precisamos vigiar, guardar.


Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.
E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de
entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de
temor do Senhor. (Is 11.1,2).
Vemos que sete espíritos do Senhor estariam sobre Jesus, o Messias de Israel. Hoje
precisamos ser cheios do Espírito do Senhor sete vezes mais – tomados, cheios,
revestidos, imersos do Espírito Santo. Não apenas Ele habitando em nós, mas derramado,
conduzindo, dirigindo, movendo todos os nossos atos, palavras e ações. Gosto de lembrar
que o livro de Atos dos Apóstolos deveria se chamar “Atos do Espírito Santo”, pois era Ele
quem agia, operava, fazia todas as coisas e os apóstolos apenas cooperavam com Ele.
Hoje temos o Espírito derramado sobre a Terra e precisamos aprender a cooperar com Ele.
Em Gênesis 1, o Espírito pairava, chocava a Terra preparando-a porque Deus iria começar
a falar. Agora Ele está falando, trabalhando, preparando a Noiva do Senhor para a volta de
Jesus.

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1ª) A lâmpada do engano (aquela que vem do mundo).
Então, Judas trouxe consigo um destacamento de soldados e alguns guardas da
parte dos principais sacerdotes e fariseus; e chegou ali com tochas, lanternas e
armas. (Jo 18.3)
Existe uma lâmpada ou uma luz de engano que está vindo sobre a Terra e que não
traz nenhum tipo de revelação para nós no espírito, mas que mostra uma interrogação do
mundo para saber o que ou quem é a verdade. Aqueles guardas levaram tochas
(“lâmpadas”, no grego) para revelar, mostrar, identificar quem era Jesus. Judas andou com
Jesus, mas não o entendeu, não o discerniu. Ele foi enganado e usado pelo Diabo para que
Jesus fosse preso.
Será que a luz que há no mundo está revelando que é você? Existe uma luz, um
desejo, um anseio que vem do mundo para saber quem nós somos. Quando um cristão faz
qualquer coisa errada essa luz aparece. As pessoas nos veem em todos os momentos;
existe uma luz que continuamente revela quem somos. As próprias trevas revelam a luz
que há em nós. Jesus alertou seus discípulos dizendo: “Vê, pois, que a luz que em ti há
não sejam trevas.” (Lc 11:35). Isso é muito sério, porque se as trevas chegarem e não
encontrarem nenhuma luz é porque há algo errado.
Contudo, o mandamento que vos escrevo é novo, verdadeiro em Cristo e em vós,
pois as trevas vão passando e já brilha a verdadeira luz. (1 Jo 2.8)
As trevas estão chegando, mas a luz já começou a brilhar! Existe uma luz que está
se levantando hoje para revelar o erro e o pecado, para dizer: “Não queremos isso! Não
concordamos com aquilo!” O mundo está caminhando para um afunilamento: “Ou você crê
nisso ou crê naquilo! Se não crê assim, será preso!” Mas a luz está começando a brilhar.
Todas as vezes que nós, como cristãos, nos omitirmos de dizer e viver o que cremos
estaremos impedindo a luz de Jesus brilhar.
Uma outra tradução do texto acima diz: “Todavia, vos escrevo um novo
mandamento, aquilo que é verdadeiro nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando
e a verdadeira luz já brilha.” Então, nós recebemos uma luz, nós temos uma luz e o mundo
quer saber o que ou quem é essa luz. O mundo não a quer, porque ela vem do Senhor e
revela quem é Jesus.

2ª) A lâmpada do juízo de Deus (que descerá dos céus).


O terceiro anjo tocou sua trombeta, e uma grande estrela, queimando como se fosse
uma tocha, caiu do céu sobre um terço dos rios e sobre as fontes das águas. O nome
da estrela era Absinto. Um terço das águas tornou-se em absinto, e muitos homens
morreram por causa das águas, pois haviam se tornado amargas. (Ap 8.10,11)
O juízo começa pelas nossas casas, pela Igreja e, depois, sobre a Terra. Nós temos
a oração como um instrumento de Deus para clamar a Ele. Clamamos por cura, por
libertação e salvação de vidas, por livramentos de situações difíceis, por provisão de
necessidades – e Ele tem nos respondido. A oração é um instrumento que nós, como
cristãos, usamos para trazer juízo sobre a Terra. No entanto, Deus trata primeiro com Seu
povo e depois o usa para tratar com as nações. Vemos isso nos quarenta anos que Israel
peregrinou no deserto antes de entrar em Canaã, pois precisavam desse tempo para
aprender a obediência ao Senhor.

151
Lemos no texto acima que uma grande estrela, “como se fosse uma tocha” (lâmpada)
irá cair do céu trazendo juízo sobre a Terra, ou seja, Deus irá usar a Igreja para fazer isso.
Por que as nações estão contrárias a Israel? Justamente porque Israel professa fé em um
único Deus. Há muitos pecados e desobediências em Israel (assim como em todos os
lugares), mas aquela nação tem um remanescente que está se levantando, crescendo e
proclamando que “só o Senhor é Deus”! Israel é uma luz no mundo. O que mais as nações
desejam é se apropriar do monte das Oliveiras, lugar onde a Bíblia diz que Jesus irá voltar
e instituir seu reino. Por isso todos querem dominar e destruir esse lugar. Antes disso,
porém, haverá juízo sobre a Terra. Descerá um anjo como uma tocha, como um fogo aceso
e isso será liberado pela Igreja.
...para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que
também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. (Jo 17.21)
O Espírito Santo, a lâmpada do Senhor, está trabalhando na unidade da Igreja em
toda a Terra. Nós, este pequeno povo que se reúne neste lugar, somos uma pequena
amostra do que Deus já está fazendo nesta e em muitas outras cidades no Brasil e no
mundo. Éramos quatro congregações divididas, separadas, longe uma das outras e o
Senhor nos uniu. Temos caminhado em unidade com as lideranças cristãs desta cidade,
temos convidado e aceitado convites para estar com irmãos de outras comunidades e
cidades porque temos um alvo maior, grandioso, que é a nossa unidade com Deus e Jesus
Cristo. Porém, para estarmos unidos a Deus e a Jesus, precisamos nos tornar “um” entre
nós. Não haverá muitas lâmpadas, muitas luzes, mas apenas uma luz, uma voz sobre a
Terra manifestada de diversas formas.
A luz ou o brilho alcança muitos lugares, mas sai de apenas uma lâmpada: a Igreja.
Nós estamos caminhando como igreja nesta cidade, neste país, no mundo todo para nos
tornarmos um só Corpo. Iremos nos reunir em vários endereços, em vários lugares
separados, mas todos no mesmo Espírito e ligados pela mesma fé. Deus mesmo fará isso
e, quando nos tornarmos um, traremos juízo sobre a Terra. Ainda não temos esta posição,
mas estamos caminhando para isso. A nossa unidade tem mais poder do que sabemos e
imaginamos. É por isso que o Diabo está trabalhando para que não nos tornemos um, pois,
quando isso acontecer, ele perderá a guerra!
Os discípulos foram impedidos pelos moradores de Samaria de entrar na cidade.
Então, eles olharam para Jesus e perguntaram: “Senhor, queres que mandemos descer
fogo do céu para os consumir?” Jesus, porém, “voltando-se, repreendeu-os: Vós não sabeis
de que espírito sois.” (Lc 9.54,55). Parecia até uma petulância ou exagero da parte deles,
mas isso um dia se tornará realidade, pois Deus em breve usará a Igreja para trazer juízo
sobre as nações. Porém, para isso precisamos ter um espírito correto, um espírito de
unidade.
A Bíblia diz que “Elias era humano e frágil como nós; ele orou com insistência para
que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. Ele orou outra
vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu seu fruto.” (Tg 5.17,18). Isso porque ele tinha um
espírito alinhado com Deus e por isso pode mandar descer fogo do céu (2 Re 1).
O Senhor disse a Jó: “Por acaso entraste nos tesouros da neve e viste os tesouros
do granizo, que eu tenho reservado para o tempo da angústia, para o dia da batalha e da
guerra?” (Jó 38.22,23). Deus tem um reservatório de juízos para derramar sobre a Terra na
devida hora e a Igreja será usada por Ele para fazer isso. No entanto, esta precisa se alinhar
com o que Ele está fazendo e falando hoje.

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Assim, como diz Pedro, “Se todas essas coisas serão assim destruídas, que tipo de
pessoa deveis ser? Pessoas que vivem em santidade e piedade, aguardando e esperando
ansiosamente a vinda do dia de Deus; por causa desse dia, os céus se dissolverão pelo
fogo, e os elementos, ardendo, derreterão.” Não devemos ser pessoas portadoras de um
espírito de vingança, de maldade, mas de um espírito justo, manso, santo, piedoso, cheio
de temor a Deus e com desejo de justiça e unidade. Aliás, um dos sete espíritos do Senhor
que estaria sobre o Seu ungido era o espírito de temor (Is 11.2).

3ª) A lâmpada do alinhamento com o Senhor.


Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões; diante do trono estavam acesas sete
lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus. (Ap 4.5)
Deus não faz as coisas de qualquer jeito, mas sempre através de alinhamentos. O
sacerdote acendia a primeira lâmpada com uma espécie de pavio e, com o fogo da primeira,
acendia as demais. Todas deviam estar alinhadas e queimar igualmente. Deus não vai
fazer nada na Terra sem alinhamento e, por isso, devemos estar alinhados com Ele e como
Igreja. Este candelabro apontava para os sete espíritos de Deus, que refletem as
características do Senhor Jesus.
Diante do Senhor há uma lâmpada que queima continuamente, um candelabro que
arde e não se apaga. Lemos em Gênesis 1.2 que “A terra era sem forma e vazia; e havia
trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.”
No original hebraico a palavra “pairava” é “chocava, aquecia, ardia”. Ou seja, o Espírito
estava trabalhando em todas as moléculas, aquecendo ou “chocando” o que Deus iria
começar a falar e criar.
Hoje, Deus já está falando e o Espírito já está agindo – Ele está nos chamando ao
arrependimento e à unidade! Essa é a Sua vontade soberana e não devemos resistir a isso.
Somos chamados a nos unirmos à Ele, mas para isso, como diz em João 17, precisamos
ser “um entre nós”. Não podemos andar ou viver de qualquer maneira, mas corresponder
àquilo que é a vontade de Deus para nosso tempo.
O espírito de oração nos move a buscar a vontade de Deus, a trazer o céu para a
Terra: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10).
No céu não existe procrastinação, demora, burocracia, diversidade de vontades e opiniões,
divisões, desobediência. Lá a vontade do Pai é feita cem por cento e é essa vontade que
devemos trazer para a Terra. Somente assim haverá justiça, paz e alegria para quem
receber este reino, para quem receber a vontade de Deus. A nossa lâmpada não pode
contrariar este alinhamento, pois é isso que Deus está falando e fazendo.

4ª) A lâmpada cheia de azeite.


Alguns textos nos evangelhos se referem a lâmpadas que iluminam o interior dos
ambientes e outros textos se referem a lâmpadas que iluminam os ambientes externos.
Todas iluminam, mas cada uma tem uma função, característica e intensidade diferente. Em
Mateus 25, a palavra “lâmpada” aparece 5 vezes. Lemos sobre “dez virgens”, sendo cinco
“prudentes” e cinco “insensatas” ou “loucas”. Isso significa que dez virgens se guardaram,
procuraram viver uma vida separada. No entanto, cinco delas eram “loucas”, desajuizadas,
porque mesmo sabendo que estavam prestes a se encontrar com o noivo (Jesus) não

153
levaram azeite. Tinham lâmpada, tinham pavio, mas não tinham azeite, que servia
justamente para queimar o pavio e produzir luz. Assim, quando o noivo chegasse, todas as
que estivessem iluminadas por essa luz entrariam pela porta com ele.
Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as
insensatas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas
lâmpadas estão se apagando. Mas as prudentes responderam: não; pois de certo
não chegaria para nós e para vós; ide antes aos que o vendem, e comprai-o para
vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o noivo; e as que estavam preparadas
entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. Depois vieram também as
outras virgens, e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. Ele, porém,
respondeu: Em verdade vos digo, não vos conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis
nem o dia nem a hora. (Mt 6.7-13)
Já era tarde da noite e essas virgens insensatas não tiveram mais tempo para
comprar o azeite e voltar, para acender as suas lâmpadas, pois o noivo voltou. Esse azeite
tinha de ser batido, de altíssima qualidade e não era em qualquer hora e lugar que poderia
ser encontrado. A pessoa que vende este azeite é o mesmo que vende ouro refinado – o
Senhor:
Aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças, e
vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e
colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas. (Ap 3.18).
Como se poderia comprar ouro refinado e azeite batido? Lembremo-nos que o
candelabro era aceso para que a oferta de adoração fosse oferecida diante do Senhor, para
que não houvesse oferta sem luz, sem azeite queimando. O pavio era apenas um pequeno
trapo embebido em azeite para poder queimar – e assim somos nós: um trapinho que
precisa do azeite para poder queimar e iluminar a nossa oferta diante de Deus.
As virgens prudentes entraram com o noivo. As loucas, no entanto, não entraram
porque a porta se fechou. O noivo não as reconheceu porque eles não tinham azeite para
queimar, mas apenas lâmpadas. Então, é necessário comprarmos azeite do Senhor – e
fazemos isso gastando tempo, gastando a vida diante Dele em oração, adoração, leitura
da Palavra. O tempo gasto nos cultos e reuniões ajuda, mas é insuficiente. Precisamos ir
além, noite e dia queimando e gastando nossa vida e nosso tempo diante do Senhor.

5ª) A lâmpada da coletividade


Há lâmpadas que precisam estar juntas com outras para permanecerem acesas. O
fogo da primeira passa para a segunda e assim por diante. A Palavra diz que eram sete
lâmpadas acesas e alinhadas. Jesus disse: “Pois onde se acham dois ou três reunidos em
meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18.20). Não há nada errado em orar sozinho,
mas o poder é maior quando oramos juntos com outros irmãos, quando acendemos as
lâmpadas alinhados uns com os outros.
Não podemos parar um só minuto de comprar ouro e azeite! Esta é a hora para isso
pois a volta do noivo é iminente. Não devemos esperar para comprar azeite somente
quando ele voltar porque então será tarde demais. Hoje é a hora de queimar tempo
adorando, orando, lendo a Palavra, se enchendo do Espírito. Não deixarmos para o último
dia, pois poderá ser tarde demais!

154
Eu tenho fé no meu coração de que iremos orar até Jesus voltar. Mesmo que
morramos antes, Deus vai fazer isso com a Sua Igreja. Ele vai levantar pessoas que irão
queimar até Jesus voltar. Nós estamos voltando para nos encontrarmos novamente com o
Senhor. Já andamos muito pela terra, já ficamos muito tempo espalhados, separados,
divididos. Já vivemos em famílias das mais diversas histórias, mas Deus pela Sua
misericórdia nos alcançou para manifestarmos à esse mundo o poder do mundo vindouro.
Mas, para isso, precisamos de azeite, precisamos brilhar, queimar.
Ora, havia muitas luzes no cenáculo onde estávamos reunidos. (At 20.8)
Havia muita gente, muitas luzes ou lâmpadas reunidas naquele ambiente de oração.
O povo de Deus precisa aproveitar as oportunidades de se ajuntar para orar juntos, para
perceber o que o Espírito Santo está falando e fazendo na vida de outros irmãos.
A Bíblia fala muito sobre “torres”. A torre era uma edificação alta com uma porta em
sua base e um cômodo em sua parte superior. Era construída normalmente em terrenos
onde as ovelhas pastavam. Quando elas precisavam dormir, o pastor subia na torre e lá de
cima as vigiava. Quando ele via algum predador se aproximando, chamava as ovelhas e
as colocava dentro da torre, fechando a porta e esperando até que o animal fosse embora.
Assim, as ovelhas ficavam protegidas dentro daquela torre. Enquanto estamos gastando
nosso tempo buscando ao Senhor estamos sendo protegidos por Ele. Por isso devemos
tomar cuidado para não ficarmos afastados da torre, mas ligados, próximos à ela,
ambientados com ela. A torre é um lugar de vigiar, mas também de produzir, pois quando
nos ocupamos das coisas do Senhor Ele se ocupa das nossas coisas.
Assim, precisamos aprender a orar, a andar, a comer, a vivermos juntos, pois na
coletividade nós ganhamos, somos protegidos, guardados. É muito importante
entendermos que Deus não vai salvar ninguém fora do Corpo, mas “no Corpo”!

6ª) A lâmpada que arde por dentro e por fora.


Ele era a lâmpada que ardia e alumiava; e vós quisestes alegrar-vos por um pouco
de tempo com a sua luz. (Jo 5.35)
João Batista era uma lâmpada que queimava e iluminava os lugares por onde
andava e pregava. Ele era um homem que ardia por dentro e por fora. As pessoas iam para
o deserto ver um homem incendiado, um homem que iluminava. Suas palavras levavam
luz, entendimento.
Alguém perguntou a John Wesley: “Como é que você faz para atrair tantas
pessoas?” Ele respondeu: “Eu ateio o fogo e deixo queimar!” Precisamos entender que
Deus nos chamou para arder por dentro e por fora. Vemos hoje que a moral, a ética e a
verdade não fazem mais sentido para a sociedade e a igreja foi chamada por Deus,
colocada na Terra para ser e fazer a diferença, para brilhar, iluminar, aquecer a Terra.

7ª) A lâmpada da revelação e do entendimento.


A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo
teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso.
Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas! (Mt 6.22,23)

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A única maneira do nosso corpo não ser mal é comprar o azeite do Senhor. Nosso
corpo foi comprado por Cristo na cruz e precisa servir somente a ele. Precisamos investir
nosso tempo em comprar e acumular azeite, em buscar ao Senhor. É muito bom que tantos
irmãos estejam lendo diariamente a Bíblia e orando, pois é isso que Deus quer que nós
façamos para que nosso corpo seja iluminado e tenha entendimento.
Existe um grande engano operando na Terra. Anos atrás os textos, livros e filmes
tinham início, meio e fim. Hoje eles só têm meio: o fim somos nós quem decidimos. Isso
porque não é mais considerado importante de onde viemos e para onde vamos, mas como
vivemos. Isso é uma mensagem enganosa pois defende uma ideologia: não somos o que
nascemos, mas o que escolhemos ser, o que decidimos viver – uma ideologia humanista e
diabólica. “Não importa como você irá terminar; viva hoje intensamente o que você quer!”
Infelizmente há inúmeros autores e educadores importantes em todas as esferas da
sociedade que apregoam isso.
João Batista confrontou o mundo religioso da época: as pessoas cobravam umas
das outras, mas não cumpriam o que falavam. Ele pregou a verdade, mostrou os princípios
morais do reino de Deus que haviam sido perdidos.
Jesus disse: se os teus olhos estiverem sendo iluminados por uma luz enganosa,
todo o seu corpo estará em trevas. Por isso devemos tomar cuidado com aquilo que tem
nos alimentado. Precisamos comprar azeite do Senhor, sermos cheios do Espírito Santo
sete vezes mais, queimando por dentro e por fora.
...para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito
de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele; sendo iluminados os olhos
do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais
as riquezas da glória da sua herança nos santos. (Ef 1.17,18)
Essa é a lâmpada que vem do Senhor para iluminar a nossa alma trazendo
revelação, sabedoria e conhecimento. Não é só conhecimento, mas também revelação de
quem é Jesus, onde ele está, o que ele está falando e fazendo hoje, no que ele está
interessado.
Nós, como povo de Deus, como Igreja, precisamos estar envolvidos com a vontade
e com os planos do Pai, cheios do Espírito, dando cada vez mais lugar à Ele. Precisamos
nos arrepender de tantas coisas erradas e falhas que temos feito, tais como abandonar a
leitura e a oração, deixar de congregar-nos e buscarmos juntos ao Senhor.

O chamado do Senhor
Jesus disse aos seus discípulos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz, e siga-me; pois, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas
quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” (Mt 16.24,25). Jesus já se negou
totalmente, já morreu na cruz por nós. Agora somos nós que devemos fazer isso. Ele nos
chama para sentarmo-nos à mesa com ele: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir
a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” (Ap
3.20). Deus está nos dando a oportunidade de participarmos de algo maravilhoso que Ele
está fazendo na Terra. Portanto, dê lugar ao Espírito Santo, deixe o Senhor falar ao seu
coração, alinhe a sua lâmpada ou vida com Ele, pois essa é uma decisão unicamente
pessoal.

156
Preste atenção na quantidade de azeite que há em sua lâmpada. Precisamos arder
igual a João Batista, por dentro e por fora. O Senhor precisa olhar e reconhecer que em
nós existe o mesmo Espírito que habita em Jesus, na mesma proporção. A nossa lâmpada
precisa estar continuamente acesa e queimando e só existe um lugar onde isso é possível:
diante de Deus! Portanto, gaste tempo buscando a Ele, sozinho e com outros irmãos, pois
isto irá levá-lo a acumular azeite e prepará-lo a se encontrar com o Noivo que está voltando.
Amém!

157
A IDENTIDADE DO CRISTÃO
Paulo Manzini

S abemos que a Igreja vem passando através dos séculos por uma grande e profunda
escuridão, porém, o dia já vem raiando e a volta de Jesus se aproxima. Apesar desta
longa noite, sempre tivemos durante a história pequenos lampejos de avivamento devido a
irmãos que se levantaram, e por causa dos quais estamos aqui hoje. Esta escuridão está
terminando, mas há uma pergunta muito importante para esta geração: é possível viver
plenamente a vida de Cristo neste mundo em trevas?
Falando recentemente para um grupo de jovens, vejo que a pressão do mal sobre
esta nova geração é descomunal: sofismas, mentiras virando verdades e verdades virando
mentiras. Estamos realmente vivendo um tempo tenebroso, apesar de sabermos no espírito
que o dia já vem raiando. Mas podemos e devemos declarar com fé todos os dias: “Senhor,
assim como a manhã raiou neste dia, o Teu dia também já se aproxima!” Isto é um fato,
Jesus está voltando.
Por outro lado, há um fato que necessariamente também precisa acontecer: a Igreja
se levantar em santidade, em poder e pregar um evangelho que não seja somente um
discurso, uma teoria distante, mas uma prática que literalmente transforma as pessoas,
arranque-as das trevas e as façam capazes de viver e transmitir uma vida transformada ao
mundo.
Isso já está acontecendo. Milhares de irmãos em todas as partes do mundo estão
entregando suas vidas por amor a Cristo. Dias atrás eu estava em uma reunião de jovens
e eles estavam adorando ao Senhor em um nível altíssimo e, então, Deus falou claramente
comigo: “Alguns aqui verão Jesus voltar, mas outros sacrificarão suas vidas por amor a
ele”. Hoje, no nosso cotidiano, nos esquecemos do verdadeiro padrão do Evangelho que
Jesus nos ensinou. Então, a resposta à pergunta: “É possível vivermos plenamente a vida
cristã neste mundo de trevas”, é que não somente é possível, mas, para o discípulo de
Jesus Cristo, não existe alternativa.
Conversando recentemente no presbitério, concordamos que a linha divisória entre
os que são e os que não são do Senhor está se fazendo cada vez mais visível. Estamos
em um momento profético onde as palavras de João em Apocalipse 22.11 estão se
tornando uma realidade: “Quem é injusto, faça injustiça ainda: e quem está sujo, suje-se
ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, santifique-se ainda.” Que nós
sejamos daqueles que se preservam para a volta do Senhor!
Outra pergunta: “Por que o padrão que a Bíblia apresenta é tão elevado, tão sublime,
mas a nossa prática diária nos dá a impressão de que esse padrão não nos alcança ou não
se aplica a nós?” Não sei se todos estamos lendo a Bíblia da forma e com a intensidade
que devemos ler, mas milhões de irmãos nos países onde a Igreja é perseguida, tendo
somente poucas páginas da Bíblia, leem e depois trocam as mesmas entre si.
Nós, certamente por uma proteção especial do Senhor, ainda estamos debaixo de
uma redoma que nos protege deste nível de perseguição. Apesar de ainda não

158
enfrentarmos hostilidades severas a ponto de sermos presos, torturados e mortos por causa
do evangelho, sofremos uma perseguição que nos hostilizada, rejeita, contradiz com
sofismas, mentiras etc. O Brasil, assim como muitos outros países, está sendo envolvido
poderosamente por Satanás com estas coisas. Todos os dias lemos notícias e dizemos:
“Isso é mentira”, mas infelizmente vemos um processo que enreda e prende a todos,
sociedade e mídia.
Paulo, quando expunha seus ensinamentos, estava constantemente tomado pelo
êxtase do Espírito independentemente das situações de privações, perseguições e aflições
que passava. E Deus quer ver este mesmo espírito em nós, pois neste tempo do fim Ele
fará com que até o mais novo entre nós profetize com muita graça, fé e unção as grandezas
Dele em todos os lugares.
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com
todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos
elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
diante dele em amor; (Ef 4.3,4).
Este é um padrão de vida muito alto. Deus está em Cristo nos abençoando e já nos
deu a herança, já nos outorgou o direito de todas as bênçãos espirituais que nós
necessitamos para transmitir a vida de Cristo ao mundo, para vivermos a autêntica vida de
discípulo que ele nos comissionou. Assim, a pergunta é: “Você é um discípulo de Jesus?
Vive diariamente na prática desta vida? Já se apropriou dos direitos que ele lhe deu? Vive
todos os dias olhando para essa benção, para este maravilhoso propósito de Deus em
Cristo para você?” Este é o nível que Deus nos concedeu para vivermos!
Por toda a Bíblia vemos que o padrão de Deus para aqueles que Nele creem é
altíssimo. Então, quando dizemos que estamos prontos para a vinda de Cristo estamos
declarando uma verdade, pois já recebemos o penhor desta herança. Portanto, não
podemos desanimar e negar isso em momento algum, mesmo que passemos por grandes
dificuldades e situações de muito desânimo e cansaço. Não podemos negar o fato de que
já temos o penhor da herança, das bênçãos espirituais que nos foram dadas.
...não cesso de dar graças por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações, para
que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê o espírito de
sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele; sendo iluminados os olhos
do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais
as riquezas da glória da sua herança nos santos, e qual a suprema grandeza do seu
poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder. (Ef
4.16-19)
Essas palavras são para nós hoje! São as coisas que Deus pensa a nosso respeito
agora! Watchman Nee dizia que as coisas que estão escritas na Bíblia são a mais pura
verdade e tudo o mais é mentira. Se o Diabo diz: “Você não é um cristão adequado, você
não anda direito”, é mentira! Deus não fala dessa forma com você. No dia em que Ele lhe
convencer do pecado, chegará tão mansamente até você, olhará com tanto amor em seus
olhos que literalmente você irá se derreter em arrependimento. Não por condenação, mas
porque Ele nos ama individual, pessoal e coletivamente.
Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de
cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de
cima, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida

159
com Cristo em Deus. (Cl 3.1-3)
Isso que Paulo diz é a mais pura expressão da verdade e deve trazer fogo, alegria
ao nosso coração. Deus precisa acender em nós essas verdades, essas palavras para que
não nos demovamos um milímetro sequer diante dos ataques malignos, mas que os
enfrentemos com a santa, poderosa e verdadeira Palavra de Deus de tal forma que o Diabo
fuja de nós.
Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo,
por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos
firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus. (Rm 5.1,2)
Estando ou não estando cheios do Espírito Santo, com certeza podemos dizer como
Paulo: “Eu me glorio na esperança da glória de Deus”. Vivemos cheios de situações de
desânimo na Igreja porque nem sempre a nossa vida de discípulos de Cristo condiz com
esse “título” que ele nos deu, pois nos esquecemos dessas palavras de Paulo. Ou será que
essas maravilhas que lemos acima se parecem com a nossa “segunda-feira”? Ou quando
estamos com nosso saldo bancário “estourado”? Ou quando as pessoas da empresa onde
trabalhamos estão sendo demitidas? Ou quando passamos por situações de doenças em
casa? Ou, ainda, quando nosso filho(a) não está andando segundo a Palavra? Será que
nesses momentos as verdades bíblicas continuam valendo para nós?
Preste atenção: as coisas que acontecem ao nosso redor não são mais verdadeiras
do que a Palavra! Somente ela é a verdade suprema! Essa verdade rechaça o mal, nos dá
convicção e firmeza e nos deixa inabaláveis e irremovíveis diante das circunstâncias. Isso
vale para qualquer dia, momento ou situação que passamos, sejam boas ou ruins. Essa
exortação de Paulo para nós não muda, não se move, é sempre a mesma. Devemos ficar
firmes nas verdades supremas e maravilhosas do propósito de Deus para nós, que
pertencemos à Ele. Eu tenho certeza de que o Diabo tem enredado a mente de muitos
irmãos fazendo com que não consigam se desprender das suas mentiras. Normalmente,
reagimos mais diante das mentiras de Satanás do que das verdades de Deus.
Há muito tempo eu ministrei uma palavra sobre “O Andar de Cima e o Andar de
Baixo”. Infelizmente temos essa divisão em nós. Temos um “andar de baixo” que é a nossa
vida diária, as realidades, dificuldades, fragilidades, instabilidades do dia a dia, a nossa falta
de fé. Ainda não entendemos, ou aceitamos, ou acreditamos que todo o nosso desânimo é
devido às mentiras de Satanás. É por isso que o nosso “andar de baixo” vive bagunçado.
Somos atribulados, perseguidos por muitas dificuldades (às vezes criadas por nós
mesmos), enredados por decisões erradas e precipitadas, discussões, contendas, pecados
etc.
No entanto, existe também o “andar de cima”. Existe uma escada que nos leva do
cômodo de baixo para o de cima e existe uma porta aberta para este lugar onde tudo
funciona perfeitamente e a glória do Senhor está presente. Neste tempo de tribulação que
a Igreja vive e de tantos distúrbios e divisões que estão acontecendo dentro do próprio
Corpo de Cristo, mesmo não sabendo como Deus irá resolver tudo isso (e até nos
desanimando com toda essa situação), precisamos olhar para a Palavra e crer que Deus
vai fazer todas as coisas a que Se propôs. O que vale é sabermos que existe esse andar,
essa escada, essa porta!
Tempos atrás, eu fui ao Pantanal para pescar. Era uma época de cheia dos rios e,
quando chegamos à uma Pousada, o rio a havia inundado. Chegamos com o barco na

160
porta da frente, acima do jardim da casa, pois o andar de baixo estava completamente
tomado de água. No entanto, o proprietário havia preparado um acesso para o andar de
cima e lá tinha cama, comida, abrigo e tudo o que precisávamos. Quando saímos do barco
e lá entramos, parecia que estávamos em casa; nem lembramos que estávamos cercados
de água por todos os lados. Tinha um barco e o conforto do andar de cima. A vida cristã é
exatamente assim: as muitas águas estão nos cercando, mas temos a presença do cômodo
superior, da presença de Deus. Experimentar, tocar, entrar neste ambiente é o que muda
por completo as nossas vidas!
Muitos irmãos vivem lutando contra o pecado, fazendo decisões diárias, articulando
estratégias para evitar ou fugir do pecado. Não penso que isso seja errado em si, mas não
é o caminho. Se queremos escapar do pecado, da tristeza, do desânimo é preciso correr
para o andar de cima, encontrar-nos com Deus e tudo será resolvido. Não existe outro lugar
no mundo onde as coisas se decidem a não ser na presença do Pai e Jesus é a escada e
a porta para este lugar. O Espírito Santo não apenas nos apresenta Jesus, como também
nos ajuda a subir pela escada e abrir a porta.
Eu creio que nesse tempo do fim precisamos descobrir os recursos que Deus nos
tem dado para que possamos não só entrar, mas viver no andar de cima e de lá vencer
Satanás, o mundo e a carne, crendo na obra completa que Jesus está fazendo e ainda irá
fazer em nós e por nós.
Eu e a minha esposa temos a experiência de fazer muitas mudanças. Já fizemos
grandes reformas em nossa casa e, certa vez, não havia um só lugar que não estava sendo
reformado. Mas Rosane, com seu dom especial, arrumou um cantinho todo limpo,
arrumado. Passávamos o dia inteiro por todo aquele entulho e sujeira dos demais cômodos,
mas, quando entrávamos naquele quarto e fechávamos a porta, tudo estava resolvido. Da
mesma forma deve ser a nossa vida com o Senhor. Vamos passar por inúmeras tribulações,
mas existe um cômodo com a porta aberta (que é Jesus) onde podemos entrar e descansar
em meio ao caos em derredor. Precisamos achar este lugar!
Dias atrás, um irmão testemunhou que estava buscando a Deus em meio às suas
rotinas diárias e, num certo momento, ele se viu em um lugar onde queria ficar para sempre,
jamais sair, pois lá estava o Senhor. Ali ele se sentia livre de todo o peso, sentia que tudo
poderia ser resolvido. Muitas vezes nós também entramos nesse lugar e ali todos os nossos
problemas são resolvidos; nada ali é suficientemente grande para nos desanimar e derrotar.
Parece que Paulo vivia neste cômodo maravilhoso, celestial, pois ele sempre falava
e via as coisas deste ponto de vista. Ele escrevia suas cartas estando muitas vezes preso
ou em sofrimentos, mas sempre com êxtase, alegria e fé. Quando ele e Silas estavam na
prisão, a Bíblia diz que “oravam e cantavam hinos a Deus” (At 16.25), ou seja, estavam
presos no andar de baixo, mas livres no andar de cima. Neste andar nós cantamos,
louvamos, cremos, somos livres, curados e libertos; neste andar nós pregamos o
evangelho, saramos os feridos, libertamos os cativos. Já no andar de baixo, ficamos
desanimados e incrédulos conosco, com tudo e com todos. Por isso precisamos aprender
a entrar e viver neste lugar, pois ele nos cura, santifica, enche de fé e esperança.
Existem, sim, recursos na Igreja para que sejamos santificados, libertos do medo, da
insegurança, da incredulidade, da desesperança e do desânimo com que Satanás nos
ataca inúmeras vezes. Aliás, ele ama crentes que vivem no andar de baixo, pois esses são
fáceis de serem atribulados e derrubados. E é por isso que Deus deseja que subamos para
o andar de cima. Ele não nos quer vivendo no nível inferior e, por isso, vai nos levar e nos

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fazer permanecer no nível superior. Tudo vem de fora, de Deus, para dentro de nós. É Ele
quem opera ou realiza todas as Suas obras em nossas vidas e Ele está Se preparando
para invadir a Terra.
Satanás consegue influenciar, atribular, aprisionar pessoas que nunca
experimentaram que o Senhor é bom de verdade. Creram em Jesus, receberam o selo do
Espírito, mas ainda não experimentaram verdadeiramente a bondade do Senhor. Eu vejo
em muitas igrejas pessoas “travadas” que não percebem o mover de Deus. Se você é
assim, procure ajude para quebrar essa indignidade que julga ter. Faça como Davi – dance
quase nu na presença da Arca, ao ponto de ser execrado pela própria mulher. Ele nem quis
saber se era rei, mas tirou suas roupas e dançou completamente liberto na presença de
Deus.
Experimente a bondade do Senhor em sua vida e seja liberto. Livre-se dessa capa
de seriedade, quebre essa “dignidade” que você construiu em torno do seu ser.
Experimente que o Senhor é bom, jogue fora sua capa e dance na presença Dele. Deseje,
como Pedro disse, “...o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação, se
é que já provastes que o Senhor é bom” (1 Pd 2.2,3). Assim, você irá crescer, sair da inércia,
da “casca” que construiu e experimentar que o Senhor é bom!
Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer- se das nossas
fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos
misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno.
(Hb 4.15,16)
Este sumo-sacerdote, que é Jesus, conhece muito bem o andar de baixo. Ele sabe
o que nós passamos porque ele também viveu aqui. Por isso podemos entrar na sua
presença, pois ele não vai nos afastar e, sim, nos aceitar. Temos um sumo-sacerdote
supremo que é a nossa semelhança, capaz de se compadecer de todas as nossas
fraquezas. Foi tentado de todas as formas, mas sem pecado algum. Portanto, podemos
nos achegar com toda a confiança ao andar de cima para recebermos misericórdia e
encontrarmos a graça e o poder que nos socorrem no momento da necessidade.
O escritor está dizendo que o cômodo de cima, o Trono da graça está aberto.
Podemos entrar, mas precisamos aprender a entrar. O problema não é que não queiramos,
mas que não temos o lastro da Palavra ou a fé suficiente para entrar neste cômodo de cima.
Porém, existem alguns meios que nos fazem achar essa porta e entrar:
Primeiro, a própria Bíblia. Conhecer a Palavra de Deus é o principal orientador para
nos levar diante do Trono. Não é somente a leitura diária, mas ter alguns textos preferidos
que estamos sempre relendo, afirmando, declarando. Quando eu leio o livro de Apocalipse
fico cheio de alegria, lembrando textos como: “E um dos anciãos me perguntou: Estes que
trajam as compridas vestes brancas, quem são eles e donde vieram? Respondi-lhe: Meu
Senhor, tu sabes. Disse-me ele: Estes são os que vêm da grande tribulação, e levaram as
suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” (7.13,14). Quando leio isso me
sinto lá no meio, adorando o Cordeiro sentado no Trono.
Outro texto maravilhoso que mexe muito comigo é o de Apocalipse 19.11-16:
E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele chama-se
Fiel e Verdadeiro; e julga a peleja com justiça. Os seus olhos eram como chama de
fogo; sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que

162
ninguém sabia, senão ele mesmo. Estava vestido de um manto salpicado de sangue;
e o nome pelo qual se chama é o Verbo de Deus. Seguiam-no os exércitos que estão
no céu, em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. Da sua boca
saía uma espada afiada, para ferir com ela as nações; ele as regerá com vara de
ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-
Poderoso. No manto, sobre a sua coxa tem escrito o nome: Rei dos reis e Senhor
dos senhores.
Esse não é aquele Jesus “fraquinho” que as pessoas julgam, mas um Rei poderoso
que está voltando para se vingar dos ímpios que lutaram contra ele. Isso nos enche de fé
e alegria, pois sabemos que estamos do lado do vencedor. Precisamos ler a Bíblia e
entender que estamos do lado dos que venceram. Não é preciso reclamar, desanimar,
acuar, mas enfrentar Satanás com a espada do Espírito, a Palavra de Deus.
E fui ter com o anjo e lhe pedi que me desse o livrinho. Disse-me ele: Toma-o, e
come-o; ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. Tomei
o livrinho da mão do anjo, e o comi; e na minha boca era doce como mel; mas depois
que o comi, o meu ventre ficou amargo. (Ap 10.9,10)
“Coma o livrinho”, pois este é o melhor caminho para você achar o andar de cima.
Na minha infância nós éramos incentivados a decorar versículos da Bíblia, algo que sinto
falta em nossos dias na Igreja. Mães, avós, contem histórias bíblicas para seus filhos e
netos, porque isso marca suas vidas e lhes dá um caminho seguro para enfrentarem as
dificuldades da vida.
Segundo, a nossa comunhão pessoal com Deus em oração. Isso é uma luta, algo
realmente muito difícil de praticar: separar tempo para um período particular de oração. Eu
entendo que orar sozinho é um tanto desanimador às vezes, parece que é “quebrar pedras”.
Mas são justamente esses momentos que nos preparam para os tempos coletivos de
oração. Deus quer que aprendamos na comunhão solitária a subir e entrar no cômodo de
cima.
Terceiro, a oração e a adoração coletiva da igreja. Eu sinto uma queda em nossas
práticas de oração coletiva quando chegam os meses de férias, pois parece que nosso
“GPS” espiritual fica um tanto desnorteado! Mas Deus quer que todos nós sejamos atalaias
Dele, orando e adorando coletivamente e perseverantemente.
Dias atrás, em um workshop sobre adoração, o Espírito Santo falou fortemente
comigo: “Eu estou fazendo uma coisa que você não entende! Estou entregando a minha
obra na mão dessa nova geração e eles vão fazer coisas que você não compreende agora!
Pare de querer que tudo seja do seu jeito. Fique humilde e com o bastão na mão para
repassar logo.” Fiquei muito animado, pois vi que Deus está levantando uma nova geração
desejosa, disposta, que irá fazer coisas grandes, fortes e maravilhosas que ainda não
entendemos. Portanto, prepare-se, pois Deus está virando essa página da história da Igreja
(que já está cheirando à mofo) e fazendo algo novo. Ore para que essa nova geração tenha
coragem e se levante para trazer a presença de Deus do jeito certo e de forma abundante.
Quando o Senhor chega na coletividade, nossas vidas são santificadas em áreas
que nunca havíamos vencido, e isso sem precisar lutar muito. Deus quer nos levar para o
andar de cima PELA GRAÇA DA PRESENÇA DELE somente, sem esforço ou suor
pessoal. Ele está levantando um poderoso exército. Sim, haverá luta, mas essa será
diferente. A luta para entrar na presença de Deus não é necessária, pois a porta já está

163
aberta. Não é preciso mérito para entrar, pois este é totalmente DELE.
O Senhor disse pela boca de Davi: “Quanto aos santos que estão na Terra, eles são
os ilustres nos quais está todo o meu prazer” (Sl 16.3). A simples convivência com os santos
que estão na Terra nos santifica. Nós somos esses santos e quando estamos próximos uns
dos outros nos santificamos, comunicamos a graça de Deus e nos elevamos mutuamente
ao andar de cima.
Concluo com a letra da maravilhosa canção composta por Heloísa Rosa, que
expressa esse lugar, esse andar de cima que devemos entrar e viver.
Há um lugar de descanso em Ti
Há um lugar de refrigério em Ti
Há um lugar onde a verdade reina
Esse lugar é no Senhor
Há um lugar onde as pessoas não me influenciam
Há um lugar onde eu ouço teu Espírito
Há um lugar de vitória em meio à guerra
Esse lugar é no Senhor
Há um lugar onde a inconstância não me domina
Há um lugar onde minha fé é fortalecida
Há um lugar onde a paz é quem governa
Esse lugar é no Senhor
Há um lugar onde os sonhos não se abortam
Há um lugar onde os seus medos não te dominam
Há um lugar que quando se perde é que se ganha
Esse lugar é no Senhor

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ABRIGO E ALIMENTO NA MORADA DE DEUS
Tony Felício

Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de


mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo; o qual é realmente a
menor de todas as sementes; mas, depois de ter crescido, é a maior das hortaliças,
e faz-se árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos.
(Mt 5.31,32)

J esus está dizendo que o Reino de Deus é semelhante a uma semente bem pequena,
mas que quando é plantada germina, cresce e se torna uma grande árvore. Mas eu não
quero falar sobre a árvore e, sim, o que ela se torna para as aves – um ninho!
Ninho é a extensão do ventre da mãe-pássaro, o lugar onde se termina a gestação.
As aves põem seus ovos nos ninhos, os chocam e terminam de gerar os filhotes após um
determinado período. Geralmente ele fica localizado em um lugar alto, distante dos
predadores, bem protegido.
No ninho são feitas duas coisas: Primeiro, ele hospeda os nenês enquanto terminam
de ser gerados deixando-os bem guardados e protegidos, pois os inimigos não podem
encontrá-los. Ele deve ficar em uma posição de não cair, pois os filhotes sairão dos ovos
ainda meio tontos, sem saber exatamente o que devem fazer. Por isso ele tem um formato
cônico, com uma certa profundidade e paredes em volta para que os filhotes não caiam ou
sejam facilmente vistos pelos predadores quando saírem dos ovos. Segundo, nele as aves
alimentam os seus filhotes. Então, o ninho é ao mesmo tempo um lugar de abrigo e um
lugar de ser alimentado.
É maravilhosa a maneira como a mamãe ave os alimenta: primeiro ela coloca o
alimento no seu próprio bico e, se não lhe fizer mal, prepara um pouquinho e dá na boca
do filhote que, por sua vez, está sempre com a boca aberta esperando ser alimentado.
Outro fato maravilhoso que acontece no ninho é que quando o filhote está pronto ele voa!
O reino de Deus é como uma árvore muito grande, bonita. Uma característica da
árvore da mostarda é que o seu tronco se ramifica e os galhos ficam entrelaçados uns aos
outros, formando excelentes suportes para ninhos. É por isso que são árvores muito
procuradas pelas aves, pois elas têm suportes adequados para os ninhos. Elas são
comparadas ao reino de Deus porque são lugares que formam uma estrutura para abrigar
e alimentar pessoas.
Este reino citado por Jesus se refere ao seu governo (naquele momento estava em
uma única nação) que irá chegar para reinar sobre todas as nações. Seu reino, através da
presença, do governo, da mensagem do Rei forma uma estrutura maravilhosamente forte,
alta e protegida para que todo desabrigado encontre abrigo, todo solitário encontre família,
todas as pessoas encontrem aconchego e sejam alimentadas, guardadas, protegidas,
porque o grande projeto de Deus é que todos nós sejamos livres e aprendamos a voar.
Quando Deus pensou na Igreja, Ele pensou no aconchego do céu, no aconchego
que a Trindade possui. O Senhor é um grande abrigo, alimento e também alimentador.

165
Deus é Pai – essa é a Sua identidade – e um Pai que gera e que gesta filhos.
Um homem chamado Nicodemos chegou para Jesus e disse: “Rabi, sabemos que
és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não
estiver com ele” (Jo 3.2). Jesus, como que não continuando o assunto, lhe respondeu: “Em
verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus” (v. 3). Nicodemos, confuso com isso, perguntou-lhe: “Como pode um homem nascer,
sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” (v. 4).
Eu gosto sempre de lembrar que se isso fosse possível (voltar para a barriga da
mãe), de nada adiantaria nascer de novo, pois voltaríamos do mesmo jeito. Mas Jesus se
referiu a um outro útero, a uma outra gestação: “Em verdade, em verdade te digo que se
alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é
nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” (vs. 5,6).
Quando Deus disse a Moisés que iria passar diante dele, e que ele deveria ficar
diante de uma rocha fendida para vê-Lo, essa cena nos remete a Cristo e tem a ver com o
“útero” de Deus, pois Deus é um Pai que gera. Ele é o primeiro hospitaleiro do Universo,
pois providenciou um lugar para colocar-nos dentro Dele, para que nesse lugar
pudéssemos ser transformados, libertados, abrigados e protegidos.
Em Romanos 6, quando Paulo fala sobre o batismo, ele começa dizendo que fomos
“batizados em Cristo” (v. 3), o que significa que fomos colocados dentro de um ambiente
aquoso, dentro do “ventre” de Deus que é Jesus Cristo na cruz.
Jesus disse que quando ele fosse levantado da terra atrairia todos a ele (Jo 12.32).
Ou seja, fomos “puxados” pela força de um Pai extravagantemente amoroso, que puxa
pessoas em pecado, em estado abortivo, que têm muito mais propensão para não dar certo
do que para dar certo. Ele nos pegou quando ainda estávamos mortos em nossos delitos e
pecados, em estado abortivo, sem condições de ser gerados e de sobreviver e nos colocou
dentro de Jesus na cruz.
Você consegue imaginar esse Pai gerador, hospitaleiro, gestador, que nos abrigou
dentro do Seu próprio Filho? Pois foi assim que aconteceu! Ele nos pegou como bebês “que
não deram certo” e nos colocou em Cristo!
O efeito disso foi, entretanto, algo terrível. Quando Deus nos colocou dentro de Cristo
o nosso estado de morte, de pecaminosidade matou Jesus! É muito comum, quando uma
mãe aborta e o bebê não sai, que essa criança cause infecções na mãe, pois são corpos
estranhos que pode levá-la à morte e, por isso, deve ser tirado. Deus, porém, fez o trabalho
contrário. Ele pegou os abortados e os inseriu em Seu Filho. Mesmo tendo rejeitado nosso
lugar no ventre de Deus devido ao pecado, fomos puxados e inseridos por Ele nesse ventre.
Jesus, com cordas eternas de amor, nos levou para dentro dele sem que tivéssemos
capacidade, força ou condição de esboçar qualquer movimento próprio – isso é GRAÇA.
Ele nos colocou dentro dele mesmo sabendo o efeito mortífero que nele produziríamos. Foi
colocando eu, você e cada pessoa da Terra dentro de si próprio e, com isso, morrendo aos
poucos, pois fomos promovendo nele uma hemorragia fatal; todo o seu sangue foi sendo
vertido até que ele não suportou mais. No seu último grito, como de uma grávida que está
para dar à luz, bradou em alta voz dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E,
havendo dito isto, expirou” (Lc 23:46).

166
Ali estava o nosso Pai gestador com seu “útero” aberto para receber os filhos
abortivos, dizendo: Eu darei vida a vocês! E conosco ele morreu. Paulo disse: “Fomos, pois,
sepultados com ele pelo batismo na morte...” (Rm 6.4). Ou seja, fomos imersos, inseridos
nele na sua morte e sepultados com ele. Ele ficou morto por três dias e nós continuando a
infectar seu corpo.
No entanto, nossa infecção não foi páreo para sua quantidade de vida. Essa vida
que levantou Jesus dentre os mortos fez o mesmo conosco: “Nele estava a vida, e a vida
era a luz dos homens” (Jo 1.4). Essa vida, que era a luz dos homens, nos tirou das trevas,
do inferno, do pecado. Nós estávamos dentro dele quando o Espírito Santo entrou no
sepulcro e começou a soprar vida nele e em nós, arrancando-nos dentre os mortos: “E, se
o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos
mortos ressuscitou a Cristo Jesus há de vivificar também os vossos corpos mortais, pelo
seu Espírito que em vós habita.” (Rm 8.11)
Assim, eu lhe pergunto: você se sente abrigado por um Deus Pai? Você sabe o
quanto foi gerado e cuidado mesmo tendo rejeitado o Pai? Já percebeu que no Reino de
Deus não há, portanto, espaço para traumas, para rejeições, para negar aos outros, porque
todos nós fomos unidos, colocados mortos no mesmo ventre e somos irmãos uns dos
outros de uma maneira avassaladora e poderosa?
O mesmo lugar que deu vida a mim e a você é capaz de dar vida a todos quantos
vierem a ele! É por isso que Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Ele não fundou uma religião, mas estabeleceu um
lugar de gestação na Terra, um lugar de regeneração, de novo nascimento, de não ser mais
filho por rejeição, mas por adoção.
Entenda isso: o nosso Deus nos gerou como um pai e sentiu dores, teve hemorragia,
mas fez uma coisa que muitas mães e muitos pais não conseguem fazer – não abriu mão
de nós! Ele nos fez permanecer dentro Dele, em Cristo, e foi até as últimas consequências.
Hoje existem muitas pessoas sem abrigo, sem proteção, sem ninho, rejeitadas e
rejeitando Aquele que deveriam amar para serem por Ele acolhidas. Mas esse Jesus, que
é a manifestação do reino de Deus na Terra, disse em Jo 6.35: “Eu sou o pão da vida;
aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede”. Quem dele
come terá vida eternamente, pois ele é o nosso alimento. Suas palavras, obras, experiência,
exemplo geram vida em nós.
Comer de Jesus significa trazê-lo para dentro de nós, assim como ele primeiramente
nos levou para dentro dele. Agora é a nossa vez de transformá-lo naquilo que realmente
constitui o nosso ser, pois não somos formados apenas de carne. Em Cristo fomos
formados de outra substância – uma substância santa, poderosa, vivificadora. Não somos
mais formados da semente de Adão, mas da semente divina. Comemos essa semente, ela
cresceu e continua crescendo cada dia mais, enquanto que nós vamos diminuindo cada
vez mais. Assim, o nosso Deus é ao mesmo tempo abrigo e alimento. Alimentando-nos
Dele e abrigando-nos Nele não passamos fome e nem perigo e o grande prazer do Pai será
dizer: “Você está livre para voar!” Estamos livres para nascer, para sermos concebidos,
para vivermos nossa experiência com Ele por opção própria e não mais apenas pela
vontade Dele!
Assim como no ninho, Deus tem uma mão poderosa que nos abriga, que nos
alimenta e Seu grande prazer é dizer: “Vai filho, vai filho!” Ele nos envia, assim como enviou

167
seus discípulos que voltaram pasmados dizendo: “Senhor, pelo teu nome, até os demônios
se nos sujeitam” (Lc 10.17). Eles estavam voando, mas não com asas de rebelião para
longe de Deus e, sim, com o sopro do Espírito para fazerem as obras de Deus, usando a
liberdade para voltar para casa. Esses são os filhos que Deus quer: filhos libertos, não
escravos, mas que sempre voltam para casa, pois não querem ir embora. Filhos que usam
a liberdade para permanecer junto ao Pai.
O ninho é uma extensão de um lugar que gera e nós fomos gerados outra vez em
Cristo. Mas Deus tem um outro ninho na Terra – a Igreja! O Salmos 68.5 diz: “Pai de órfãos
e juiz de viúvas é Deus na sua santa morada.” Deus tem uma morada, uma casa nesta
Terra e nós fazemos parte dela, somos um dos seus cômodos e Ele usa esta casa para dar
abrigo e alimento às pessoas. Então, ao mesmo tempo que vamos para Cristo e somos
gestados nele, alimentados por ele, também somos Corpo de Cristo, a parte que gesta e
alimenta as pessoas na Terra.
Assim como o ninho é a extensão do ventre das aves nós somos a extensão do
ventre de Deus e Ele espera que quem chegue até nós encontre duas coisas poderosas:
hospitalidade e boa comida! Quem chegar e encontrar essas duas coisas encontrará o
próprio Senhor e será transformado por Ele. Deus ainda está preparando a segunda vinda
de Seu Filho, mas Ele já tem uma morada nesta Terra para preparar tudo e receber todas
as pessoas que o aceitarem até o dia da sua volta.
Pense na sua identidade como igreja de Cristo. Se eu ainda estou com sentimento
de rejeição também rejeitarei as pessoas. Se eu não entender que Deus me abrigou no
meu estado fétido, abortivo, de pecado terei problemas para receber pessoas em minha
casa. Mas se eu entender o que Deus fez comigo irei hospedar, irei receber pessoas no
meu coração. De qual tipo? Do mínimo do meu tipo: fedorento, sujo, pecador, próprio para
ser abortado. Daí para a frente será uma beleza, pois não vou dar comida de qualquer jeito.
A palavra que eu irei repartir será viva, pois é a Palavra de Deus. Então amarei a Palavra,
me alimentarei dela e qualquer pessoa que se aproximar de mim será curada e alimentada
por essa mesma Palavra.
Deus tem uma morada na Terra e essa morada é a extensão do Seu ventre, é o Seu
ninho. O reino de Deus, quando chegou em nós, quando alcançou a Igreja, formou a
estrutura desse ninho e agora temos a propriedade de poder abrigar e alimentar pessoas.
Assim, eu lhe pergunto: Como está a sua capacidade de fazer isso? Eu sinto Deus nos
chamando para as duas coisas: experimentar abrigo e alimento e oferecer abrigo e
alimento. As duas coisas estão interligadas.
A hospitalidade, na Bíblia, é algo muito real, vivo e ensinado:
O estrangeiro residente que viver com vocês será tratado como o natural da terra.
Amem-no como a si mesmos, pois vocês foram estrangeiros no Egito. Eu sou o
Senhor, o Deus de vocês. (Lv 19.34)
Deus está mandando o povo chamar o estrangeiro de “natural da terra”, chamar
aquele que não é como se fosse, porque a Sua expectativa é que todos se tornem parte
Dele, que todos sejam abrigados Nele, mas às vezes reagimos contra ou não percebemos
o estrangeiro, aquele que se aproxima. Isso pode acontecer nas reuniões, em nossas casas
com as pessoas que nos visitam, com as pessoas que visitamos ou em qualquer lugar.
Talvez estejamos tão despreparados, sem esta revelação do abrigo que a Igreja é que não
percebemos a proximidade das pessoas que nos procuram sedentas para serem acolhidas

168
pelo nosso Deus e por nós.
O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do
jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida
com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não
recusar ajuda ao próximo? (Is 58.6,7)
Imagino, lendo esse texto, que a oferta que Deus quer é aquela que oferecemos uns
aos outros, a oferta a que a Ceia nos remete ao repartir o pão. Deus espera que abriguemos
uns aos outros, que nossos relacionamentos funcionem como ‘aconchegos’ dos braços,
que nossas conversas não nos afastem uns dos outros, mas que nos aproximem, porque
somos o corpo de Cristo na Terra.
É preciso, porém, que ele seja hospitaleiro, amigo do bem, sensato, justo,
consagrado, tenha domínio próprio. (Tt 1.8)
Veja que esse é um requisito para ordenação de obreiros – ser hospitaleiro, alguém
capaz de receber – porque a questão aqui agora não é simplesmente uma obra social, mas
é colocar as pessoas dentro de nós para a transformação necessária acontecer. E a Igreja
é o único lugar na Terra propícia para fazer isso acontecer. Jesus é o lugar onde fomos
transformados e ele e a Igreja formam um só ser na Terra.
Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber alguns
acolheram anjos. (Hb 13.2)
Foi isso o que aconteceu com Jacó, por exemplo. Quero contar um testemunho
recente. Nós passamos duas semanas trabalhando muito em Moçambique, vários
compromissos por dia. Nos últimos dias fomos recebidos na casa de um irmão na África do
Sul. Eu não sei descrever o que foi aquela experiência! Ele saiu de um evento que
participava na África do Sul e foi nos buscar em Maputo, Moçambique, uma viagem de
aproximadamente 8 horas de carro. Sua esposa pegou um avião e foi até onde nós
estávamos para passar um dia conosco e levaram-nos para uma pousada, pois queriam
que conhecêssemos um determinado parque.
Eu estava em crise, porque o meu orgulho estava muito à flor da pele, e dizia a ele:
“Você não pode fazer isso!” Eu queria pagar algo e ele não deixava; e a cada novo dia ele
tinha um programa diferente para fazermos. A hospitalidade tem esses dois aspectos: a
questão de quem recebe e a questão de quem é recebido. Eu gosto muito de receber;
minha casa foi planejada para isso, minha mesa foi desenhada para isso. Mas eu confesso
que senti muita dificuldade de ser recebido lá. Aquele casal maravilhoso de pastores nos
acolheu, nos recebeu e a cada dia e lugar que íamos ficávamos mais constrangidos – e
tudo aquilo era uma grande parábola de Deus para nós, ensinando-nos como devemos
receber as pessoas.
Ao final da viagem fomos roubados, levaram minha mochila com o computador,
documentos e outras coisas de valor. Ele ficou mais abatido do que eu! No último dia, antes
de sairmos, a esposa dele percebeu durante a semana as coisas que nossa família mais
gostava de comer e preparou uma mesa com todas essas coisas. Na manhã daquele
mesmo dia, quando fui orar por aquela família, Deus me deu essa palavra de que as
famílias da Igreja são como ninhos que recebem pessoas para alimentá-las, cuidar delas e
ensiná-las a voar.

169
Sentados diante daquela mesa farta e maravilhosa, à noite, além do casal e de um
filho, havia uma senhora missionária que havia perdido seu marido pouco tempo antes e
eles resolveram dar uma parte da sua casa para ela morar, pois ela não tinha para onde ir.
Eu pensei que naquela manhã tinha dado uma palavra de Deus para eles (essa que
compartilho agora), mas, na verdade, aquela palavra foi para mim mesmo!
Terminado o jantar, aquela esposa se levanta e me entrega uma caixa, dizendo:
“Quando o Diabo leva alguma coisa, Deus nos algo melhor!” Quando abro a caixa encontro
um computador novo! Eu não aguentei aquilo! Você não calcula o sentimento de dívida que
estou em meu coração. Fico pensando o que vou precisar fazer para retribuir àquela família.
Agora eu entendo Pedro, quando Jesus quis lavar seus pés, disse: “Não lave os meus pés!”
É muito difícil receber!
Que parábola, que cenário Deus me deu naquele dia com aqueles dois anjos que
nos hospedaram! Será que nós podemos ser assim aqui? Será que podemos nos tornar
uma igreja mais hospitaleira, uma congregação que recebe mais, que ama mais, que
aconchega mais? Não uma congregação que calcula os gastos do hóspede? O cálculo
deve ser: “Quanto nós vamos dar? Quanto nós vamos repartir?” Pois a Palavra nos ensina
a entender as necessidades dos outros e repartirmos o que temos para atendê-los!
Eu não sei como é a sua prática de hospitalidade no seu coração, na sua casa ou
na sua agenda, mas eu quero lhe pedir, em nome do Senhor Jesus Cristo, que aprenda
com as Escrituras, com o que Jesus nos ensinou. Vamos oferecer nossas vidas e nossas
casas como úteros onde pessoas abortadas possam se recebidas, acolhidas, alimentadas
e regeneradas.
Em Moçambique, antes da situação naquela casa, nós vivemos outras situações
muito fortes com algumas mesas. Cada vez que eu participava de uma delas ficava
maravilhado. Paulo, referindo-se à Santa Ceia, fez uma reclamação à igreja de Corinto:
“Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, porque cada um come sua
própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se
embriaga.” (1 Co 11.20,21). Esta expressão “mesa do Senhor” ressaltou em minha mente
e coração que a mesa tem apenas um dono: o Senhor Jesus! Ali ele reparte dele mesmo,
porque ele deseja se repartir. Então, cada vez que sentamos à mesa deveríamos perceber
que ela é do Senhor e dar tudo o que se encontra nela para aqueles que nós convidamos
para assentar-se conosco.
A mesa do Senhor fala de ajuntar para repartir o que você recebeu, de não usar para
si mesmo aquilo que Ele lhe deu, porque isso não lhe será de nada valioso. Jesus é o dono
da mesa, das cadeiras e de tudo o que se coloca sobre ela. Aliás, ele é o próprio alimento
que está na mesa e também é o dono da casa onde tem a mesa. Tudo é ele e tudo é dele!
Então, a minha mentalidade deve ser a partir da mente dele, que não viveu para si mesmo
e nos deixou o exemplo para não vivermos para nós mesmos.
A primeira mesa que eu vive naquele lugar foi na casa de um irmão chamado Antônio
Makina. Era uma ilha sem nada, condições extremamente precárias, uma casa feita toda
de barro, chão de barro. Sentamo-nos à mesa e tinha um pão enorme no centro dela.
Quando olhei aquela cena já comecei a chorar. Para ‘piorar’ a situação, chega a esposa
daquele irmão com uma jarra e uma bacia para lavar nossas mãos, dizendo que isso era
uma cultura naquele lugar. Ora, minha cabeça não estava na cultura, mas na mesa do
Senhor! E ali começaram meus imensos constrangimentos. Eu lhe disse: “Não, irmã, deixe
que eu lave as suas mãos!”, mas ela respondeu: “Não! Sou eu que vou lavar as suas mãos!”

170
E ela começou a fazer isso enquanto eu olhava para eles, para a casa, para a mesa, para
o pão e me constrangia e me emocionava cada vez mais. Nossa identidade estava ali
exposta!
Uma casa, para ser um abrigo, não precisa de uma boa decoração ou várias
riquezas, mas de um grande pão sobre a mesa. Precisa ser uma casa centrada em Cristo
onde ele é o centro, o assunto, a comida que se reparte. Aquela casa não tinha luxo algum,
mas a sua grande marca para mim foi aquele imenso pão sobre a mesa. Chame seus
amigos, seus vizinhos, seus irmãos; mesmo que sua casa não tenha quarto de hóspedes,
mesmo que a decoração não seja do jeito que você gostaria, mesmo que a toalha da mesa
esteja rasgada. Coloque o grande pão sobre a mesa, fale de Jesus, reparta Jesus e permita
que muita gente encontre ali abrigo, pouso, alimento, crescimento.
Em seguida fomos para a casa de Paulo e Suzana que nos hospedaram por 11 dias.
Eles têm uma mesa que deve caber umas 20 pessoas. Todos os dias ela fazia uma massa
diferente para o café da manhã. O que eu aprendi ali é que cabe muita gente na mesa do
Senhor; não precisamos guardá-la para apenas alguns poucos. Tem um grande pão, tem
uma grande mesa e muitos podem ser alimentados.
Outra casa, de Deydson e Isabella, era muito apertada. A cozinha e a sala deles é
um corredor. Não dava para ficarmos muito confortáveis na mesa, mas o que me chamou
a atenção é que não tínhamos vontade de ir embora. Comíamos bem ‘apertados’, alguns
nas poucas cadeiras, outros no chão, outros no sofá feito de palete, mas ninguém queria ir
embora porque aquela mesa atraiu a presença de Deus. Jesus é um dos que se sentam à
mesa, pois esta fala da presença de Deus compartilhada com muita gente.
Fomos para outra casa, de Pio e Zura, casal de pastores moçambicanos. Ela ainda
está em construção e não tem reboco ou piso, mas tem uma mesa no centro da sala.
Fizeram enormes caldeirões de arroz, de feijão e de frango. Na cultura deles isso é um
verdadeiro banquete, os alimentos mais caros para se comer. E, detalhe, também tinha
Coca-Cola, que é outro item caro e que só tem em festas importantes. Então se sentaram
eles, seus dois filhos e ficaram esperando. De repente, vem novamente a bacia de lavar as
mãos. Eu queria me levantar, mas não podia, pois tinha de ter as minhas mãos lavadas por
eles. E eles não comiam até nós comermos. Na simplicidade daquela mesa eu aprendi que
é muito poderoso esperarmos uns pelos outros! Aliás, essa foi a grande queixa de Paulo
aos Coríntios: “Vocês não comem a mesa do Senhor porque comem para si mesmos; e os
que trouxeram comida comem antes, para que os pobres, que não têm condições de trazer,
não peguem o que vocês consideram seus!”
Quando preparamos algo por mais simples que seja para levar para os irmãos
comerem antes da nossa Ceia mensal isso é algo poderoso, porque enquanto estamos
preparando um bolo ou um pão estamos lembrando dos nossos irmãos e da morte do
Senhor, que nos tornou corpo vivo dele na Terra. A Ceia é para se estender em nosso
cotidiano e, quando nos ajuntamos para comê-la, estamos oferecendo-a a Deus.
A última mesa foi numa casa com telhado de palha, num lugar que não tinha paredes.
Essa mesa nos foi preparada por toda a equipe de pastores e missionários que nos
receberam naquele lugar. Havia muita fartura e o que me chamou a atenção, diferente das
outras mesas, é que não havia um cardápio de um prato único, mas muitos pratos diversos
porque cada família trouxe uma coisa.

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Isso me ensina que na mesa do Senhor eu só sou pleno se você trouxer a sua parte
para mim, e você só é pleno se eu levar a minha parte para você. Não tem como, no reino
de Deus, sermos plenos sozinhos. Cada vez que eu nego receber um irmão no meu
coração estou promovendo a minha própria escassez, mas cada vez que eu recebo ou
acolho um irmão no meu coração, na minha vida ou na minha casa estou promovendo a
minha abundância. A mesa do Senhor é uma mesa de diversidade. É simples, mas quando
cada um traz o seu pouquinho e todos colocam juntos sobre ela, torna-se uma mesa farta
e próspera.
Vamos deixar que as nossas casas e as nossas vidas sejam como ninhos para
acolher e alimentar as pessoas. Deus é o nosso abrigo e alimento; fomos colocados dentro
de Cristo e foi esta revelação do que ele fez conosco que produziu a revelação do que
devemos fazer com os outros! Amém!

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TEMPO: A MOEDA DO CÉU
Harold Walker

A igreja de Laodiceia era semelhante à igreja com a qual estamos convivendo hoje.
Todas as igrejas na face da Terra vivem uma cultura parecida com a dela. Qual foi o
parecer de Deus sobre Laudiceia?
Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e
verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio
nem quente; oxalá foras frio ou quente! (Ap 3.14,15).
Quer dizer que Deus quer uma igreja fria? Não! Mas frio é melhor do que morno,
pois, o frio, podemos colocar fogo e ele esquenta. O morno, porém, podemos achar que
está quente e deixar como está. Já pensou alguém lhe oferecendo café ou chá morno? É
terrível! O problema de Laodiceia, de acordo com Deus, é que ela é ‘morna’. Não deixou
de ser crente, vai para a igreja, mas não tem fogo; é morna, evangélica e cristã. Por isso,
Deus diz: “Oxalá foras frio ou quente!”
Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca. (Ap
3.16).
Que palavreado de Jesus! Ele está sendo passional sobre a situação daquela igreja.
Muitos anos atrás, recebemos em Rubiataba um irmão de Curitiba. Numa visita a um irmão
da roça deram-lhe café. Ele era muito educado e ao tomar um gole ficou constrangido
porque não podia ser faltoso na educação. Como Deus, ele não aguentava o morno e, por
isso, foi à janela e jogou fora o café. Não lembro se fez isso despercebidamente ou não,
mas o fato é que aquela cena me lembra desta de Laodiceia. Deus também é
supereducado, mas morno Ele não aguenta e vai vomitar da Sua boca.
Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes
que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu. (Ap 3.17).
Deus olha para nós e não tem uma boa estimativa. Ele diz: “Você não sabe que é
um coitado, miserável, pobre, cego e nu.” Não sobrou nada! Isso significa que Ele não gosta
de gente com essas características? Não! Não é isso que ele fala! Ele gosta e ama gente
assim. Ele só não gosta de pessoas com estas características e que acham que são ricas
e têm tudo. O pobre, cego e nu Ele gosta porque pode resolver o seu problema
rapidamente.
Imagine-se sentado no esgoto ao lado da rua. Você é um coitado, miserável, pobre,
cego e nu. “Que situação, e esse sou eu” – você pensa. De repente chega o rei no seu
esplendor e diz: “Eu tenho um conselho para você que resolverá esses e uma série de
outros problemas que nem sabe que você tem.” Qual é o conselho?
Aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e
vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e
colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos
quantos amo... (Ap 3.18,19a).

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Sim! Deus me ama, mas eu sou um coitado, miserável, pobre, cego e nu. Ele me
ama mesmo eu sendo tudo isso, mas deu-me a solução: “Compra! Compra de mim ouro
refinado no fogo, vestes brancas e colírio. Isso resolverá tudo!”
Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso, e arrepende-te. (Ap
3.19).
Comprar! A coisa mais importante nesses últimos dias é comprar, porque não
podemos enfrentar o Noivo sendo pobre, cego e nu. Precisamos de solução e ele chegou
com um bom conselho: COMPRE. Para comprar é preciso dinheiro e se eu estou pobre,
cego e nu, logicamente, eu não o tenho! Por outro lado, eu devo ter dinheiro, porque digo
que sou rico, abastado e não preciso de nada! Acontece que esse dinheiro não serve para
comprar, então, eu preciso saber o que é necessário para comprar.
O texto de Mateus 25.1-13 fala sobre as dez virgens. Cinco eram prudentes e cinco
eram néscias (tolas, bobas, idiotas). Qual é o problema das néscias? Afinal, elas são
virgens, têm lâmpadas, estão esperando o Noivo, são crentes, vão à igreja, são batizadas
no Espírito Santo, são salvas etc. As prudentes são iguais a elas, mas tinham azeite de
reserva, porque podia ser que o Noivo se atrasasse ou que as trevas fossem intensas; não
podiam ser encontradas sem azeite nem suas lâmpadas podiam se apagar. As néscias
ficaram desesperadas! Mas atenção! Ficaram desesperadas na hora errada! A hora de ficar
desesperado não é quando vê sua lâmpada se apagando e, sim, quando ela está com sua
luz viva. Você está no culto de domingo adorando a Deus, sentindo o Espírito Santo e a
presença de Deus; essa é a hora de ficar desesperado e dizer: “Eu preciso de mais azeite
porque a escuridão pode se prolongar e minha lâmpada se apagar.”
Você quer ficar desesperado HOJE? Bem-aventurados os que têm fome e sede;
bem-aventurados os incomodados, os que não são conformados; bem-aventurados os que
não aceitam que o seu nível espiritual está ‘bom’ e não se contentam com a situação da
igreja; bem-aventurados os que não compactuam com aqueles que dizem “estamos bem”;
bem-aventurados os que dizem “eu preciso mais” e se desesperam por mais de Deus.
As néscias, no seu desespero, pediram que as sábias lhes dessem azeite, mas
essas lhes disseram: “Não podemos, pois o nosso azeite não servirá para vocês, porque
ele acabará tanto para nós quanto para vocês.” O azeite é pessoal e intransferível. As
sábias aconselharam: “Vão e comprem azeite para vocês.” Bem, dinheiro, certamente, não
era problema, então elas foram comprar. Mas o Noivo chegou para as néscias e disse: “Não
as conheço, vão embora.” Então, comprar azeite na hora errada é um problema, o Noivo
chega e não tem mais jeito.
Dinheiro não é problema nessa compra tão importante e necessária para os últimos
dias. Vejamos o que diz Isaías a esse respeito:
Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro,
vinde, comprai sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastai o dinheiro
naquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho naquilo que não pode
satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e deleitai-vos com a gordura.
(Is 55.1,2).
O problema dos últimos dias é COMPRAR, mas para esse tipo de comprar não
precisa de dinheiro, pois Ele diz “comprai sem dinheiro e sem preço”. Ótimo, dinheiro não
é problema! Deus não dá dinheiro para todo mundo de forma igual; Ele esparrama da
maneira como quer porque sabe o que faz; Ele não é igualitário ou democrático sobre

174
dinheiro. O que Ele quer é que o rico dê para o pobre e que nós nos ajudemos uns aos
outros. É por isso que o dinheiro que nós conhecemos como dinheiro não compra essas
coisas. O que as compra é a moeda do céu (o tempo) e cada um de nós ganha vinte e
quatro moedas por dia. Igualitário! Ninguém ganha mais e ninguém ganha menos.
Você não ganhará o azeite, o colírio, a roupa branca e o ouro a menos que exerça a
sua vontade e o seu hábito para tirar tempo das moedas que ganhou e COMPRAR do
Senhor sem dinheiro e sem preço! Não se iluda, Ele não derramará essas coisas sobre
você: é preciso ir e comprar! Mas atenção! Não vá comprar na hora errada, pois Ele pode
chegar e você perderá esse momento. Nós precisamos comprar AGORA sem dinheiro e
sem preço, mas com a moeda do céu que são as vinte e quatro moedas que recebemos a
cada dia.
Por que você gasta o seu tempo naquilo que não tem valor? Por que você enche a
sua mente daquilo que não vai durar? Por que você investe as suas horas preciosas vendo
bobagens na internet e televisão? Pode fazer essas coisas se você quiser, não é pecado,
mas pense: “Estou usando direito essa moeda preciosa, ou não?”
Algumas observações importantes:

1) A igreja pode ser uma pedra de tropeço, uma muleta ou um obstáculo que nos
impede alcançar o melhor de Deus.
Você pode achar tal afirmação escandalosa, mas é verdade. Há pessoas que vão às
reuniões todos os domingos, dão o dízimo, vão às reuniões de grupos nas casas, mas não
fecham a porta do seu quarto e conversam em secreto com Pai. Não reúnem a família para
falar de Deus e orar para descobrir a vontade do Pai para ela; antes, ficam por vinte anos
assistindo reuniões e sendo crentes domingueiros. Pensam que ir à igreja resolve e salva.
Não! No juízo elas argumentarão: “Mas Deus, eu não ia à tua igreja todo domingo?” E ouvirá
do Senhor: “Eu não o conheço. Você pensou que podia terceirizar a sua responsabilidade?
Achou que a igreja salva, que resolve tudo e que você não precisa me conhecer
pessoalmente? Você acha que a igreja é mediadora? Que enquanto algumas têm santos
outras têm reunião, pastor, líder de grupo e pai?”
Entenda! A comunhão com Deus é pessoal e intransferível. Deus precisa conhecer
você pelo nome. Ele disse e foi categórico: “Você quer falar comigo? Entre no seu quarto e
feche a porta para não ouvir os outros, para os outros não te ouvirem e para ninguém saber
que você está orando. Feche a porta e ora ao teu Pai que está em secreto, e o Pai que está
em secreto vai te recompensar.”
Então, qual é a coisa mais importante para o cristão? Conhecer Deus pessoalmente,
ter história com Ele, abrir o jogo e até brigar com Ele, chorar as “pitangas” com Ele, “falar
mal da sogra” com Ele e, depois, se arrepender e falar bem dela de novo e assim por diante.
Mas fale com Deus sozinho, sem ninguém ver, sem ninguém ouvir, só você e Ele! Se você
não tem esse hábito e pensa que a igreja resolve tudo você está enganado e entendendo
errado”.

2) A igreja é indispensável e necessária.


Ninguém vai conseguir perseverar nos últimos dias sozinho. Ele precisa dos irmãos
e da comunhão de cada dia, precisa sair do seu egoísmo espiritual e ouvir os outros, sentar-

175
se e dar da sua vida a outros. Ele precisa de “dois ou três”. Há coisas que ele precisa e
deve orar sozinho, mas junto com outros ele ora pelos pesos e desejos de Deus. A igreja é
fundamental!
A Palavra diz: “Reuni cada vez mais quando vê que o dia se aproxima.” Precisamos
reunir mais e mais porque necessitamos dos irmãos. A igreja só é uma muleta ou um
atrapalho se você não entender que ela não é uma substituta, uma mediadora. A igreja
existe para incentivar você a conhecer Deus, a ouvi-lo e a produzir sua vida com Ele. Sem
a igreja nós não conseguimos exercer nossos dons e chegar à plenitude de conhecer Jesus.
Precisamos, sim, de “dois ou três”, da igreja e da comunhão. Mas você passou anos indo
às reuniões e não fechou a porta do seu quarto para ter comunhão pessoal com Deus; você
não conduziu a sua família, pelo menos uma vez por semana, a reunir para conversar e
entender juntos sobre a vontade de Deus para ela. A igreja existe não para substituir, mas
para ajudá-lo a fazer essas coisas. Ela é uma ferramenta e não uma muleta; um instrumento
que nos ajuda a ter comunhão pessoal com Deus.

3) Muitos sabem que devem ler a Bíblia e orar todos os dias, que devem reunir a
família e ter o culto doméstico, mas não fazem nada dessas coisas ou, então, fazem
uma ou duas vezes e desanimam.
Deixe-me explicar uma coisa: mesmo que você decida fazer essas coisas por
apenas quinze minutos, o Diabo lutará com todas as suas forças para que você não seja
fiel a essa decisão. Nesses quinze minutos ele acionará alguém para te ligar, ou uma dor
de cabeça para fazê-lo retroceder e, então, todos os dias você terá uma desculpa para não
fazer o que se determinou fazer. Você tem vinte e quatro horas e só dá quinze minutos para
Deus, mas o Diabo não gosta que você seja fiel e cumpra o que prometeu, ou que você
seja metódico e tenha hábitos.
Ter comunhão com Deus regularmente, sozinho e com a família, uma ou duas vezes
por semana, é um hábito. Não é fácil conquistar isso, é muito difícil. Eu dei aulas de inglês
por muitos anos, mas desisti porque fiquei desanimado; uma porque meus ouvidos doíam
e outra porque os alunos querem falar inglês amanhã, mas não querem pagar o preço hoje.
A aprendizagem é sempre difícil; é como subir um morro escorregando de vez em quando
e tendo de começar a subir novamente. Assim é com todo aprendizado, pode ser uma
língua ou um instrumento. Eu, por exemplo, não toco nenhum instrumento, não porque não
consigo, mas, como os alunos de inglês, eu também penso que seria bom se numa manhã
eu acordasse sabendo tocar. Mas não vai amanhecer assim, pois antes a pessoa vai ter de
sofrer e, por vezes, fazer outros sofrerem. Meu irmão me fazia sofrer com as suas muitas
tentativas para aprender a tocar violão. Isso durou meses, mas a sua perseverança o
ajudou a aprender e até a compor suas músicas. Subir o morro é difícil, mas quando se
chega ao topo você pega o embalo e vai. Perseverança é tudo o que você precisa para
chegar lá. E assim é também com Deus.
Quero que fique claro que não estou querendo colocar ninguém debaixo de jugo ou
culpa, nem chamá-lo de hipócrita por não ler a Bíblia ou orar sozinho. Não! Se você não faz
essas coisas, Deus o ama e o salvou do mesmo jeito. Tudo é pela graça! Não fazendo
essas coisas quem sai perdendo é você e não Deus. Não é para nos sentirmos justos, mas
é para comprar sem dinheiro e sem preço o recurso espiritual para sobrevivermos nos dias
que se aproximam sobre o mundo. Você não deve ler a Bíblia e orar por obrigação ou dever,
mas porque essas atividades ajudam o seu interior se calar e, quando o silêncio é

176
perceptível, o EU SOU pode falar.
Deus quer falar conosco e nos levar para o “andar de cima”. Quando Deus fala nós
veremos mudanças na nossa vida material, no nosso emprego e nas nossas famílias. Você
crê nisso? Deus fala enquanto você lê a sua Palavra. Ele colocará em sua mente
pensamentos, ideias, sonhos, soluções e arrependimento. Às vezes você nem percebe qual
palavra lhe tocou mais, mas é levado a dizer: “Deus, os Teus caminhos são muito mais
altos do que os meus. Sinto a minha mente refrescada e aliviada. Como a Tua Palavra me
edifica! Não sei como me expressar em palavras, mas eu sinto que o Senhor é diferente de
mim e os Teus caminhos me elevam.” É esse ELEVAR que muda a nossa vida, é esse
ELEVAR que é o azeite e o colírio de que precisamos.
Você precisa LER, mas saiba que isso não acontece de graça. Use as suas vinte e
quatro horas! Não precisa usar todas, use a metade de uma hora, que isso já vai fazer uma
diferença tremenda em sua vida. Deus quer falar com você, mudar a sua mente e colocá-
lo no “andar de cima” para fazê-lo andar nessa Terra com o poder do Céu.
Quero dar um testemunho. Eu voltei para Jundiaí em 2009. Antes disso, em Monte
Mor e em outros lugares, tínhamos o costume de orar de madrugada com outros irmãos.
Mas, com a mudança e tantas outras coisas, eu não estava orando. Passados alguns dias,
comecei a sentir-me um ‘peixe fora d’água’; faltava-me o oxigênio, apesar de estar lendo a
Bíblia e orando sozinho. Aprendi de meu pai que estas são coisas básicas e essenciais na
vida cristã e que eu nunca deveria desistir de fazê-las. Mas eu sabia, também, que só isso
não resolveria, que precisava orar com outras pessoas senão morreria espiritualmente.
Pensei: “Quem está orando nesse lugar? Preciso achar alguém que esteja orando.”
Procurei, perguntei e achei dois irmãos que estavam orando um dia por semana (quarta-
feira), das 05h30 às 07h00; horário muito ruim, mas já fazia anos que estavam orando.
Juntei-me a eles e achei que um dia só por semana era pouco e sugeri que orássemos
também na segunda-feira. Depois achamos que ainda era pouco e decidimos orar de
segunda a sexta-feira. Não é fácil acordar as 05h nem orar por uma hora e meia. Mas o
primeiro sinal de que está adiantando é você começar a sentir falta desse tempo. Essa é a
melhor moeda que gasto do meu dia, é a melhor hora. Mas eu tenho certeza que, quando
chegar ao fim, vou me arrepender por não tê-lo feito mais.
Pode fazer, o tempo é seu! Cada um recebe vinte e quatro moedas por dia! Use as
suas como quiser, mas quanto mais você lê e ora, maiores serão os efeitos sobre a sua
vida. Você quer mais de Deus? Este é o caminho. É difícil no início, mas depois não será
mais difícil. Persevere nesse hábito e exorte outros para que persevere também. Seja um
“ninho” que ajuda as pessoas a desenvolver músculos para conseguir fazer isso. Depois
de um tempo verá que subir o morro deixa de ser difícil porque conseguiu chegar ao topo.
Aí é só prazer e alegria na descida.
Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de
cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de
cima, e não nas que são da terra. (Cl 3.1,2).
“Pensai”, no inglês, é “set your mind” que significa “coloque a sua mente”. Colocar a
sua mente implica uma decisão: você decide colocar a sua mente em algo. Você é
responsável pelo que se passa em sua cabeça. Pode virá-la para qualquer lado, pode
enchê-la de bobagens ou com a Palavra, pode edificá-la ou não, pode colocar nela coisas
que não são pecados, mas que também não têm nenhum valor ou substância. Por isso,
você precisa zelar da sua mente. A Palavra diz que nós morremos “juntamente com Cristo”.

177
Tudo o que você fez e lhe preocupou aqui nesta Terra vai morrer, vai passar e queimar,
mas Jesus permanecerá eternamente. Então, coloque sua mente nele, coloque-a no Alto,
no “andar de cima”. Isso é uma decisão!
Essa mesma palavra no grego é usada em Romanos:
Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne... (Rm 8.5).
“Inclinam-se” é o mesmo que “coloque a sua mente” e “pensai”. Então, vamos ler
novamente o versículo:
Pois os que são segundo a carne colocam as suas mentes nas coisas da carne; mas
os que são segundo o Espírito colocam as suas mentes nas coisas do Espírito. (Rm
8.5).
Mas você fala: “De dia eu trabalho e de noite estudo! Como vou colocar a minha
mente?” Colocar a sua mente não significa fechar os olhos quando está dirigindo, pois
certamente baterá seu carro e não haverá anjo que lhe segure; não significa não prestar
atenção nas aulas ou nas necessidades do seu trabalho. Mas significa que o seu amor,
afeto e preocupação não estão nessas coisas. Se Deus o chamar para largar tudo você
larga, mas enquanto está aqui faz o que tem de fazer, porém, o seu coração, seu afeto, seu
primor não está nessas coisas.

Duas coisas importantes:


1ª – Quem quer revelação de Deus, saber mais Dele e conhecer os Seus caminhos?
Deus só vai Se revelar para aqueles que usam as ferramentas que Ele deu – a Palavra e a
oração. Se você não usá-las Ele vai tirar o que você tem. Use-as, se quer mais revelação
de Deus.
2ª – Meu pai nos ensinou que a vida natural é espiritual. Portanto, se a sua família
não é uma república ou uma cooperativa, mas é uma família, algum dia da semana precisa
se reunir ao redor da mesa para fazer três coisas:
1) Ler a Palavra – Leia não muito, porque muito a gente lê sozinho. Não pode cansar
os meninos pequenos nem gastar muito tempo; tem de ser de dez a quinze minutos.
2) Compartilhar – Converse sobre as coisas que a família está enfrentando. Coisas
boas? Louve. Coisas difíceis? Ore. Converse sobre decisões a serem tomadas.
3) Orar – E agora falo com os pais. Eles, muitas vezes, têm dificuldade de abrir o
coração com a esposa e muito mais dificuldade com os filhos. Mas se você, pai, quer um
filho que te dê prazer, precisa introduzi-lo no seu processo decisório para que ele entenda
como você chega às conclusões. Seu filho não pode viver no seu mundinho, tem de
participar das lutas e das alegrias da família. Em alguma medida ele precisa entrar nisso.
Meu pai sempre agia assim, desde que éramos bem pequenos. “Nós vamos para o Brasil,
mas não temos dinheiro, como vamos fazer?” Às vezes ele traduzia a Bíblia de forma
diferente para que pudéssemos entender. Se a Bíblia dizia: “Eu te levo para uma terra que
mana leite e mel”, ele dizia: “Nós vamos para uma terra que mana laranja e banana.” Era o
Brasil. Ele acrescentava: “Lá tem bananeiras e laranjeiras.” E a família ficava alegre e os
meninos salivando. Mas depois ele dizia: “Mas não tem jeito, não temos dinheiro. Vamos
orar e clamar.” Desde o pequenininho até o maior participava dessa oração e clamor.

178
Ler, orar e compartilhar! Se você tem meia hora, tome dez minutos para cada uma
dessas atividades. Faça isso uma ou duas vezes por semana se puder. Meu pai fazia todos
os dias, mas se você não tem tempo faça pelo menos uma vez por semana. Assim você
verá seus filhos e esposa crescendo e sendo uma verdadeira família. Não adiantará
participar de encontros e tantas outras coisas se você não faz o básico. Encontros, cursos,
igreja, reuniões, pastores, líderes de grupo são apenas para ajudá-lo a fazer essas coisas.
E fazendo você é capacitado para ajudar outros e, então, será um rio de vida se alastrando
pela Terra.

179
ARRUME A TUA CASA, POIS UMA GRANDE
TEMPESTADE ESTÁ CHEGANDO
José Carlos Marion

E m sua mensagem anterior, Harold Walker, inspirado na passagem bíblica das dez
virgens (Mt 25), insistiu para que, urgentemente, compremos sem dinheiro azeite,
colírio para os olhos, ouro refinado e vestes brancas. No entanto, ele disse que não
podemos comprar na hora errada, quando for tarde demais. Outros irmãos têm ministrado
que precisamos estar conectados com Jesus, em comunhão, e isso em três dimensões: no
secreto do nosso quarto, junto com os irmãos (onde estiverem dois ou três) e,
principalmente, junto com a família. A palavra sobre o “ninho” de Deus, a Igreja, que foi
ministrada por Tony Felício com muita sabedoria também foi muito importante. Temos
ouvido muito que é tempo de vigiar, é tempo de colocar a nossa mente nas coisas do alto.
Ouvindo essas mensagens e outras diversas, tenho um sentimento muito forte no
meu coração. Algumas pessoas têm me trazido palavras que o Senhor lhes tem falado e
eu quero compartilhar um pouco sobre isso, baseado numa profecia que o profeta Isaías
trouxe para o rei Ezequias, em 2 Reis 20: “Arruma a tua casa”. Essa é a palavra! “Arruma
a tua casa, pois uma grande tempestade está chegando!” Estou me referindo ao grande
período de tribulação que a Bíblia se refere e que já está começando a acontecer. Há muitas
passagens que falam sobre isso. Primeiro quero falar sobre a tribulação e, depois, sobre o
que é “arrumar a casa”, acrescentando a tudo aquilo que já temos ouvido e aprendido com
as últimas ministrações.
Segundo o irmão Christian Chen, o escritor cristão Wachtman Nee dizia que existem
120 interpretações do livro de Apocalipse. Isso, creio eu, apenas daquelas consideradas
“oficiais”, porque este não é um livro com uma certa lógica e sistematização que nós
podemos explicar facilmente. Nee escreveu um livro chamado “O Homem Espiritual” que,
segundo ele, foi um “tratado completo de uma verdade”. Mas, segundo ele mesmo, aí
residiu sua maior fraqueza, pois “o livro ficou bom demais”! Ou seja, o próprio autor
reconheceu que a fraqueza deste seu livro está no fato dele ser bom demais. Disse ele:
Alguns anos atrás eu estava bem doente, e os médicos me disseram que eu viveria
apenas alguns meses. Diante disso, senti o peso de registrar em forma de livro o que
o Senhor me mostrara do assunto ‘homem espiritual’ e, assim, compartilhar com
outros a luz que me fora dada. Fiz isso e foi publicado, e a edição está agora
esgotada. Eu não mandarei reimprimir. Não que o que escrevi esteja errado, pois,
lendo hoje, continuo endossando-o totalmente. Foi um tratado completo de uma
verdade. Mas justamente aí está sua fraqueza. É bom demais, e é a ilusão da
perfeição à respeito dele que me incomoda. Os títulos, a sequência, a metodologia
pela qual o assunto é abordado, a lógica da argumentação – tudo é perfeito demais
para ser espiritual. Ele leva o leitor muito facilmente a uma mera compreensão
mental. Quando uma pessoa lê esse livro não fica com nenhuma pergunta; elas são
todas respondidas!

180
Mas Deus – eu descobri – não faz as coisas desse jeito, e muito menos permite-nos
fazê-lo. Nós humanos não temos de produzir livros ‘perfeitos’. O perigo de tal
perfeição é que uma pessoa pode entender as coisas sem a ajuda do Espírito Santo.
Se Deus nos dá livros, eles serão sempre fragmentos quebrados, nem sempre
claros, consistentes ou lógicos. Serão falhos nas conclusões, ainda assim trazendo
vida e ministrando vida a nós. Não podemos dissecar fatos divinos, esboçá-los e
sistematizá-los. Somente cristãos imaturos exigem sempre conclusões
intelectualmente satisfatórias. A própria Palavra de Deus tem esse caráter
fundamental, ou seja, que sempre – e essencialmente – fala ao nosso espírito e à
nossa vida.
Ler isso me fez muito bem quando eu estava preparando esta mensagem, porque
se vamos falar sobre um texto de Apocalipse, da mesma forma nenhuma mensagem pode
ser perfeita, porque isto seria como se tirássemos a ação do Espírito Santo e fôssemos
capazes de preparar e entregar uma mensagem perfeita. Ora, o Espírito Santo é nosso
parceiro insubstituível neste processo. Sem ele tudo fica vazio, sem vida – como temos
visto em muitos lugares, inúmeros ensinamentos profundos mas sem vida (evidentemente,
estou dizendo fora da igreja). Então precisamos entender que tudo o que dissermos aqui
exige a ação do Espírito Santo. Só Ele pode mostrar a verdade de forma eficaz e conforme
as nossas necessidades. É Ele a Pessoa mais importante em nosso meio.
Apocalipse fala de um livro selado com sete selos que contém o plano de Deus para
a humanidade. Nos textos a seguir, o apóstolo João fala sobre esses selos. Eu creio que
esses fatos acontecerão antes da volta de Cristo, pois apenas no sétimo selo ele se refere
à esta volta.

1º Selo
Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes
dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! Vi, então, e eis um cavalo branco e o
seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para
vencer. (Ap 6.1,2)
A versão bíblica King James Atualizada diz: “Olhei, e diante de mim estava um cavalo
branco, e seu cavaleiro empunhava um arco, e foi-lhe outorgada uma coroa; e ele
cavalgava altaneiramente, como vencedor, determinado a vencer.” (v.2). O que é
“altaneiramente”? Significa “arrogante”, que expressa orgulho. Essa é a característica
desse cavalo e seu cavaleiro.

2º Selo
Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo: Vem! E saiu outro
cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os
homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada. (Ap
6.3,4)
Este selo se refere ao cavalo vermelho, que vem para tirar a paz da Terra e fazer
com que os homens se matem uns aos outros.

181
3º Selo
Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo: Vem! Então, vi, e
eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi uma como
que voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um
denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.
(Ap 6.5,6)
O terceiro selo é sobre uma grande escassez e fome na Terra.

4º Selo
Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo:
Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte;
e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da
terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da
terra. (Ap 6.7,8)
Este quarto cavalo, o amarelo, é o pior de todos.
Só uma pessoa tinha o direito de abrir esse livro (capítulo 5) – o Senhor Jesus. Só
ele, que foi sacrificado pela humanidade, tem o direito de falar sobre o plano de Deus, sobre
como será o final dos tempos. Vamos analisar mais detalhadamente cada cavalo e seu
cavaleiro.

1) O cavalo branco
O livro é um rolo “escrito por dentro e por fora, selado com sete selos” e que vai
quebrando cada selo conforme é aberto. O primeiro selo é o cavalo branco e seu cavaleiro.
Fiz questão de falar sobre a característica de seu cavaleiro porque já ouvi muitas
interpretações de que este, pelo fato de estar num cavalo branco, seria Jesus. Mas eu
entendo que em hipótese alguma pode ser Jesus. Por quê? Primeiro, perceba que os quatro
seres viventes dão ordens. Ora, será que eles poderiam dar ordens para Jesus?
Segundo, ele diz que está vindo determinado a vencer (e virá de uma maneira
orgulhosa, altaneira). Mas nós sabemos que Jesus já é o vencedor, que já foi dado a ele
todo o poder no céu e na Terra. Terceiro, o texto diz que foi dada a esse cavaleiro uma
coroa, mas Jesus já recebeu a coroa da glória, ele já está ao lado do Pai e é o Senhor da
vida.
Existe realmente um momento, em Apocalipse 19.11-13, em que Jesus virá em um
cavalo branco:
Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro
e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há
muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo.
Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de
Deus.
Aleluia! Esse é Jesus! Esse é o Senhor, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores. Esse
é Jesus, e não aquele que está no capítulo 6.

182
Alguns entendem que o cavalo branco poderia ser o evangelho do final dos tempos
que será pregado em preparação à volta de Jesus. Mas eu também não compactuo dessa
ideia, porque podemos observar que os mesmos quatro cavaleiros também estão nos livros
de Ezequiel e de Jeremias, no Velho Testamento. Então, entendemos que são quatro
guerreiros do mal que virão para produzir destruição. Os selos simbolizam o tempo de
tribulação e perseguição, então, o branco também é do mal.
Mas foi exatamente por isso que eu li o texto de W. Nee, pois precisamos que o
Espírito Santo nos dê graça, sabedoria e revelação. Não tenho o menor interesse de
convencer ninguém; a minha colocação é meramente o que eu tenho sentido no Senhor
em minhas orações. Também não fui buscar interpretação de ninguém.
O que é, então, esse cavalo branco, no meu ponto de vista? É o espírito de religião
que vem para enganar as pessoas! Isso está muito claro em Mateus 24, quando Jesus diz
que no final dos tempos haverá muito engano religioso. A Bíblia diz que o Diabo se disfarça
de anjo de luz. Sabemos, por 2 Tessalonicenses 2, que Deus manda a operação do erro
para as pessoas darem crédito à mentira. Ou seja, o próprio Deus permite confusão para
aqueles que não são firmes e que não creem no Senhor Jesus Cristo.
Assim como Asher Intrater, um irmão judeu-messiânico tem nos trazido mensagens
sobre o final dos tempos e conhece muito a cultura escatológica, Benjamin Bergman, em
seu livro “A Igreja, Lugar de Gentios e Judeus” fala sobre o cavalo branco:
Além da coroa, um arco em suas mãos. Sem pretensão de ter a interpretação final,
eu penso que esse poder do mal que abre a porta para todos os outros seres do mal,
representa o Islamismo. Há, portanto, uma ligação com Ismael de quem os árabes
em sua maioria islâmicos, descendem. Quando se refere a Ismael (filho de Abraão
com Hagar), o livro de Gênesis diz: ‘Ele será entre os homens como um jumento
selvagem; a sua mão será contra todos’ (Gn 16.12). Em outra menção, vemos que
ele se tornou um flecheiro (Gn 21.20). Os acontecimentos contemporâneos mostram
que o Islamismo tem crescido e se infiltrado em toda a Europa. As pessoas ficam
acuadas e com medo de se pronunciarem contra o Islã e serem tidas como
intolerantes. Porém, quando alguém lê um pouco do Alcorão, descobre que os seus
seguidores pretendem conquistar a Terra e não terão escrúpulo algum em matar e
destruir todos os infiéis que se opuserem ao seu objetivo.
O surgimento desse primeiro cavaleiro abre a porta para a vinda dos demais, todos
eles trazendo pragas consigo. Deus permite a atuação dessas forças do mal como
instrumento de juízo sobre a Terra. Então, se entendermos que essa interpretação é
correta, podemos concordar que o cavalo branco é o Islamismo. E ele já está galopando e
vai intensificar suas ações cada dia mais. Não estou incentivando uma cultura de
intolerância aos muçulmanos, mas estou me referindo, principalmente, aos agressores
cruéis do Estado Islâmico (isso para não termos qualquer confusão nesse aspecto).

2) O cavalo vermelho
Quando o segundo selo foi aberto saiu um cavalo vermelho, e ao seu cavaleiro foi
dada a missão de tirar a paz da Terra fazendo com que os homens se matem uns aos
outros.
“Tirar a paz” eu vejo que é um fato muito real que vivemos hoje. Fico, às vezes,

183
vendo jornais na TV e penso que o grande problema que o planeta Terra enfrenta hoje é
justamente a falta de paz. Vemos, por exemplo, a briga da Coreia do Norte com os EUA.
Donald Trump parece um louco, mas não sei se ele é. Se Deus está querendo usá-lo desse
jeito, eu também não posso julgá-lo. Mas um pequenino problema que houver entre esses
dois países fará com que a China entre no conflito, pois ela protege a Coreia do Norte. Isso
significa 1 bilhão e 400 milhões de pessoas, significa o exército mais numeroso do mundo.
Essas coisas nos estremecem e não podemos ver essas notícias simplesmente
como curiosidades, pois todos nós estamos tremendamente envolvidos e correndo risco
nisso tudo. Também não precisamos ir tão longe, pois vemos ao nosso lado a população
do Rio de Janeiro sofrendo uma violência e uma crise terrível. Um dia desses, eu estava
vendo um comentário de alguém dizendo que parece que no Rio de Janeiro tem mais
“bandido do que mocinho”. Quem de nós tem coragem hoje de andar por lá com liberdade?
Mas tudo isso está acontecendo porque é o momento de tirar a paz.
Hoje as famílias vivem aflitas com drogas, adultérios, divórcios, criminalidades,
insegurança, desemprego. Nós sabemos que isso não é só aqui, que são inúmeros países
do mundo vivendo debaixo do medo. Será que esse cavalo vermelho já veio? Será que ele
já está agindo? Na minha concepção, sim. Mas eu não posso afirmar isso, porque pode ser
que ele seja muito pior do que já estamos vendo e vivendo.

3) O cavalo preto
O cavalo preto é a ira de Deus que se manifesta sobre a Terra trazendo fome. Eu
creio que este cavalo também já está galopando sobre Terra, tirando a provisão e
produzindo a escassez.
A Organização Mundial da Saúde tem uma estatística estarrecedora: um terço da
população da Terra é bem alimentada, um terço é mal alimentada e um terço passa fome.
Dá para imaginar o que é um terço? Às vezes olhamos para a África e vemos aquelas
crianças raquíticas, aqueles idosos morrendo, só pele e osso e ficamos impressionados
com tudo isso. A Índia tem 1 bilhão de habitantes e existe muita fome. Existem muitas
situações que desconhecemos. Então eu fico imaginando um terço. Ora, dois terços do
planeta é água e o mar está carregado de alimentos. Se nós tirarmos dele alimento,
alimento, alimento... mais eles vão se reproduzir, nunca vai faltar alimento! Então, como é
que podemos viver uma situação de tanta escassez? Será que isso já não é a ira de Deus?
Será que já não são as pragas do cavalo preto? Será que esse tempo já não está chegando
(ou já chegou)? Será que esse já não é o tempo dessa grande tempestade, dessa grande
tribulação?

4) O cavalo amarelo
O último cavaleiro, do cavalo amarelo, é o pior de todos, porque ele traz a doença.
Mas ele também acumula o que os outros três cavalos anteriores trouxeram.
Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo:
Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte
e o Inferno o estava seguindo, e foi lhes dada autoridade sobre a quarta parte da
terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da
terra. (vs.7,8)

184
O que significa “a quarta parte” que vai morrer quando vier esse cavalo? Significa
25% da população da Terra! Isso dá quase 2 bilhões de pessoas. Então, quando esse
cavalo vier, 2 bilhões de pessoas vão morrer, mas vão para o inferno porque o inferno está
de portas abertas. A morte pega e joga para o inferno – é assim que funciona.
O que podemos dizer sobre esse cavalo amarelo? Poderíamos pensar em
epidemias, cada vez mais intensas. Eu vejo que a principal doença ou epidemia que temos
hoje no mundo são as drogas. A questão do crack e o tráfico de drogas não tem solução.
O governo e a população não têm força para reagir contra isso. Existem pessoas totalmente
viciadas no alcoolismo, nos ansiolíticos, em medicamentos para superar depressões. O
número de drogarias que existe hoje é algo impressionante. Quando eu era criança, até
jovem, nós tínhamos uma farmácia de referência. Hoje temos todas as redes disponíveis
ocupando os melhores prédios, os melhores pontos, gerando fortunas. Você entra numa
farmácia e precisa pegar uma senha para ser atendido. Como pode uma situação dessas?
Alguma coisa está errada! Esse é o indicador que nos mostra que alguma coisa muito ruim
e diferente está acontecendo, pois é anormal! E são situações que vivemos, inclusive,
dentro da Igreja, apesar nas inúmeras libertações que o Senhor nos tem dado.
O que eu quero chamar a atenção, concluindo esta primeira parte, é o aspecto
cumulativo desse cavalo amarelo, ou seja, ele acumula as ações dos três cavalos
anteriores.
Quando se fala em matar à espada refere-se ao cavalo vermelho; são guerras,
guerrilhas, conflitos. É interessante que Jesus fala “nações contra nações, reinos contra
reinos” (Mt 24.7). Não é uma guerra de um país contra o outro, mas são irmãos se matando
mutuamente. Vemos isso na África, mas também em muitos outros lugares, inclusive no
Brasil. Jovens sem perspectiva de trabalho são facilmente atraídos para a criminalidade e
matam com naturalidade, porque aprendem com “irmãos matando irmãos”. As invasões de
Escolas nos EUA e tudo o que estamos vendo na Europa são “irmãos matando irmãos”.
Quando fala de matar pela fome refere-se ao cavalo preto. O cavalo preto já veio,
mas nos dias desse cavalo amarelo haverá mais fome ainda. Então, para morrer um quarto
de pessoas da Terra, um terço terá de ser pela fome.
Quando se fala de mortandade por meio das feras da Terra, podemos pensar no
cavalo branco. Por quê? Porque o Estado Islâmico está crescendo no mundo todo. O que
aconteceu em Barcelona e vários outros lugares da Europa é uma “propaganda”. Eles
fazem essas coisas com um objetivo definido de atrair muito mais pessoas para seu meio.
O cavalo amarelo também se refere à matança por bestas feras, mas Benjamim
Berger lembra que os descendentes de Ismael são “como um jumento selvagem, como
flecheiros”. Não estou fazendo acusações, mas tentando ligar fatos bíblicos para que
possamos estar atentos. Dias atrás eu vi uma notícia de muitas igrejas evangélicas que
saíram às ruas no Rio de Janeiro com placas de acusações contra o Islamismo. Isso não é
mostrado na TV porque é politicamente incorreto. Irmãos nossos fazendo isso! Isso é
intolerância e Jesus não nos ensina a agir desse modo! Mas nós estamos vivendo na era
da intolerância. Recentemente, nos EUA, vimos a supremacia branca apoiando atitudes
racistas, coisas que já haviam sido superadas. De repente está voltando tudo de novo. Veja
só que momento estamos vivendo! Podemos entender que é o tempo de uma tribulação,
de uma tempestade chegando. É a manifestação do cavalo amarelo na sua plenitude.
Então, precisamos estar atentos a tudo isso!

185
Quando comecei a estudar a Bíblia eu pensava que a Igreja não ia passar pela
grande tribulação – e pregava isso. Até que um dia Deus me deu um sonho muito real, em
que eu e minha esposa estávamos passando pela grande tribulação. A gente fugia, Deus
nos guardava, mas nós estávamos dentro desta tribulação. Existem aqueles que pensam
diferente e os respeitamos, então, cabe a cada um, à luz do Espírito Santo, interpretar estas
coisas. Inclusive, nós temos opiniões diferentes justamente porque a Bíblia dá margem para
as duas situações – passar ou não pela tribulação. Mas o que realmente importa? Seja
como for que aconteça, a pergunta é: estamos preparados enfrentar essa realidade? Será
que temos brechas pecaminosas em nossas vidas? Será que existem situações que o
inimigo pode se aproveitar de nós? Ou será que estamos munidos e protegidos de uma
intimidade com Jesus? Temos orado, lido a Bíblia, nos fortalecido através de uma vida
intensa com Deus? Como vamos estar quando tudo isso definitivamente acontecer?

Arruma a tua casa!


É isso que Deus tem falado fortemente ao meu coração. A princípio, pensei que era
algo só para mim, porque tive de arrumar muitas coisas nesses últimos tempos, mas
recentemente eu sinto o Senhor falando isso para toda a Igreja e confirmando a mesma
palavra por meio de outras pessoas.
A primeira vez que eu ouvi essa palavra já faz algum tempo, foi num casamento. Um
casal já vivia junto não sendo casados. Depois de conhecerem ao Senhor resolveram
acertar o relacionamento e receber a bênção da igreja. Mandaram fazer as alianças, como
diz a Palavra. Fui celebrar esse casamento, orei ao Senhor sobre o que deveria falar e a
palavra que me veio foi essa: “Arruma a tua casa”. Pensei: “Como é que vou pregar num
casamento ‘arruma a tua casa porque o fim está chegando’? Porque num casamento se
fala de amor!” Vejam que eu estava querendo ensinar a Deus! “Ora, eu tenho de falar coisas
gostosas, que animam o casal. Como é que eu vou falar sobre isso?” Relutei muito com
essa situação, mas, orando, entendi o Espírito Santo me esclarecendo: “É para você falar
para as pessoas que estarão presentes!” Então fiquei mais à vontade, abri em 2 Reis 20 e
preguei sobre isso. Mas avisei ao casal antes para não ficar uma situação constrangedora.
Conversando recentemente com esse homem, ele me disse que estava há 26 anos rompido
com o pai e, no ano passado, foi para a Bahia, onde seu pai reside, e se reconciliou com
ele. Aleluia!
Assim, a mensagem “arruma a tua casa” tem um significado especial para nós e
deve nos fazer meditar. Vamos começar a ver coisas que, talvez, ainda não víamos
claramente. Dias atrás eu fui visitar uma família. A irmã tinha um carro bem simples e ele
foi apreendido, porque fazia quatro anos que ela não pagava as taxas e impostos do
mesmo. Eu disse a ela: “Sinto muito pelo que aconteceu com você”. Ela disse: “Não se
sinta triste, irmão, sinta-se alegre. Sabe o que Deus falou comigo? Arruma a tua casa”. Veja
como Deus está se importando com as nossas vidas! É importante estarmos atentos a
essas coisas, porque aquilo que está em desordem em nós abre brechas para o inimigo
agir.
A experiência mais impactante que eu tive nesse sentido foi há quatro ou cinco anos.
Deus mostrou como um filme na minha mente quatro pessoas com quem eu tinha de me
reconciliar. Falei: “Espere aí Senhor, alguma coisa está errada nisso! A Tua Palavra não
diz que se nós confessarmos os nossos pecados, o Senhor é fiel e justo para perdoar os
nossos pecados e nos purificar de toda a injustiça? Eu já confessei isso para o Senhor!”

186
Ele me disse: “Não! Você confessou, mas existe uma inimizade que foi produzida, e isso
tem de ser acertado. Houve prejuízo, houve perda e isso precisa ser reparado.” Então eu
me apressei em procurar aquelas quatro pessoas. A uma delas eu fiz mal na minha pré-
adolescência. Era criança ainda, mas lhe prejudiquei. Outra foi quando eu era jovem. Outra
pessoa, já quando eu estava trabalhando, foi muito injusta numa situação comigo. Nesses
três casos eu não era convertido ainda, então seria lógico o Senhor me perdoar. Mas Ele
disse: “Não. Você fez o estrago, tem de arrumar.”
No início desse ano, na primeira mensagem à igreja, nós pregamos que esse é um
ano de jubileu e que deveríamos restituir, restaurar todas as coisas. Eu consegui localizar
duas dessas pessoas pesquisando pela internet e com informações de terceiros. Achei-as,
me reconciliei com elas, pedi-lhes perdão e foi uma das experiências mais felizes que eu já
tive, porque eu nunca testemunhei de Jesus como naqueles momentos. Percebe? Você
chega para uma pessoa que prejudicou e lhe diz: “Agora eu sou outra pessoa, Jesus mudou
a minha vida. Eu entendi que o que fiz com você é errado. Então, eu quero o seu perdão,
eu quero acertar com você.”
No entanto, com as outras duas pessoas eu não consegui consertar. Algum tempo
atrás, participando de um curso para homens em nossa igreja, tive a oportunidade de
confessar essas duas situações para alguns irmãos. Eram homens para quem eu podia
abrir o coração. Eles choraram e se arrependeram comigo. Senti que naquele momento já
estava perdoado e liberado. Sempre alguma coisa precisa ser feita, pois não é algo tão
simples como pensamos.
Colocar a casa em ordem é uma coisa muito séria diante de Deus, e agora quero
falar especificamente sobre o perdão. Há três textos que eu chamo de tripé da prática do
perdão. São três ensinamentos bombásticos de Jesus, sem misericórdia e sem meias
palavras. O livro de Mateus, especificamente, é o que fala mais forte sobre esse assunto.

1º pé do tripé
Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem
alguma coisa contra ti. (Mt 5.23)
Você cultua a Deus quando leva uma oferta ao altar. Porém, se lembrar que alguém
tem alguma coisa contra você, é melhor interromper esse culto, pois o texto seguinte diz:
Deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então,
voltando, faze a tua oferta. (Mt 5.24)
Depois disso você está livre para continuar sua oferta, seu culto.
O salmista diz: “Quem poderá entrar no Santuário? Quem tem as mãos limpas e um
coração puro” (Sl 14.15). Nós fomos purificados com o sangue de Jesus, estamos limpos,
mas ainda deve haver coisas que precisamos acertar. Temos vestes brancas, mas muitas
vestes brancas têm manchinhas. É preciso tirar essas manchinhas que são máculas, pois
Deus está preparando a Sua Noiva.
Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a
caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça,
e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não
pagares o último centavo. (Mt 5.25,26)

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Jesus disse isso porque, quem tem alguma coisa contra você se torna seu inimigo.
Enquanto você está nessa caminhada, antes da morte, antes da grande tribulação,
aproveite para consertar. Não espere chegar no final, mas conserte a caminho, pois hoje é
o tempo oportuno. O que significa o adversário entregar ao juiz? Significa que se temos
brechas ele pode nos acusar. E quem vai nos defender se isso é uma mancha diante de
Deus?

2º pé do tripé
...e perdoa as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos
devedores. (Mt 6.12)
Isso é uma oração diária. O verso 11 diz: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.”
Veja que o perdão é condicional: “assim como”. Ou seja, se o Senhor perdoa as nossas
dívidas, nós também devemos perdoar os nossos devedores.
Veja que interessante! Primeiro nós vimos que quem não está em paz com o irmão
não pode estar em paz com Deus. Agora vemos que se recebemos o perdão de Deus
devemos passar este perdão adiante. São duas coisas que caminham sempre juntas: o
perdão que eu recebo e o perdão que eu dou, que eu libero. Mas isso poderia gerar alguma
dúvida, então Jesus explica:
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celeste vos
perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco
vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas. (Mt 6.14)
O perdão de Deus é condicional, mas não é automático. É lógico que está disponível
a todos, pois custou um preço muito alto, o sangue de Jesus. Mas, se não liberarmos esse
perdão a outros, corremos o sério perigo de termos o nosso próprio perdão retido.

3º pé do tripé
Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela
dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu
conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o
entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai
celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão. (Mt 18.32-35)
Esse 3º ponto é o mais forte de todos, pois é a nossa própria história de perdão
realizada por Jesus na Cruz. Um rei perdoou um homem de uma grande dívida e esse
homem, por sua vez, não perdoou outro homem de uma pequena dívida. O que Deus está
dizendo? “Eu dou perdão, mas Eu também retiro perdão!” Isso é muito sério, muito forte!
Liberar perdão é arrumar a casa!
Eu poderia falar sobre muitos outros aspectos do ‘arrumar a casa’, mas, no meu
ponto de vista, o perdão é o mais importante. O amor, em meu entendimento, vem em
segundo lugar na “lista de prioridades no Novo Testamento”; o amor ágape, de dar a própria
vida pelo irmão. Eu raciocino da seguinte forma: nós temos duas pernas, em equilíbrio.
Uma é o perdão e a outra é o amor. Eu perdoo, eu amo; eu amo, eu perdoo. Esta é a nossa
caminhada prática e diária perante Deus. No perdão nós recebemos de Cristo; e, então,
nos oferecemos em amor.

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João define o amor da melhor forma que existe: “Conhecemos o amor nisto: que ele
deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos.” (1 Jo 3.16). Ou seja, o
amor é a mesma coisa que o perdão! No verso 14 ele diz: “Sabemos que passamos da
morte para a vida porque amamos os irmãos. Quem não ama o seu irmão permanece na
morte.” Todos nós, quando recebemos a Jesus, recebemos o amor do Pai que foi
derramado pelo Espírito Santo em nossos corações (Rm 5.5). O problema é que não damos
vazão ou não praticamos este amor.
Há muito tempo, eu ouvi um testemunho que marcou a minha vida. Foi o da D. Rute,
mãe do Harold Walker, uma mulher que amei muito. Ela contou que a sua conversão
aconteceu numa casa, num grupo pequeno, e não numa igreja. Quando ela entrou naquele
lugar, viu ali uma pessoa de quem ela não gostava, criando, assim, uma certa reação. Mas
a Palavra foi ministrada, ela fez a opção por Jesus e Cristo entrou em seu coração. Então,
ela olhou para aquele homem que ela não gostava e o amou. Aleluia! Isso é vida de Deus,
é passar da morte para a vida!
Também quero contar um “tristemunho” que aconteceu esta semana. Uma jovem
senhora chegou até mim e contou-me sua crise com o marido, que tem tido um
comportamento muito estranho. Ela disse que ele entra no quarto todas as noites, fecha a
porta e ninguém entra ou sai. Perguntei-lhe se poderia ser pornografia e ela disse que não,
pois já havia pesquisado o computador dele e não achou nada disso. Para ela era
envolvimento com drogas, pois ele fica arisco e causa muitos conflitos. Essa mulher, então,
se revoltou contra Deus: “Eu não vou mais à igreja, pois Deus destruiu os meus sonhos,
acabou com a minha vida!” Então eu disse a ela: “Irmã, desculpe, mas nesse momento
Deus não está nem um pouco interessado nos seus sonhos. Ele está interessado no sonho
de Jesus, nas propostas de Jesus, nos mandamentos de Jesus, e Ele quer que você
obedeça a Palavra Dele. Qual é o principal mandamento que você aprendeu de Jesus?
‘Novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos tenho
amado. Nisso vocês vão ser conhecidos como os meus discípulos’. É nisso que Deus está
interessado. Além do mais, qual promessa você fez no altar quando casou? ‘Eu vou amar
na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na fartura e na escassez’. Sabe que você
está quebrando uma aliança e Deus odeia isso? Você acha que Deus está disposto a lhe
ajudar nessa situação? Paulo diz que ‘o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta’. O amor significa sofrimento. Esse amor ágape não existe se não for por
sofrimento!”
João disse que assim como Cristo deu sua vida por nós, nós também devemos dar
a vida pelos nossos irmãos. O verdadeiro amor não procura os seus próprios interesses!
Mas nós sempre queremos contrapartidas, porque confundimos o amor ágape, o amor de
Deus, com o amor ‘eros’ – queremos benefícios, retorno. Realmente, é muito gostoso ter
retorno. É gostoso amar o filhinho ou o netinho, dar-lhe um beijo e receber um beijo molhado
dele! Nós gostamos do amor que dá retorno, mas não é desse tipo amor que Jesus fala.
Partindo do pressuposto de que a nossa natureza é egoísta, egocêntrica, que desejamos
tudo de bom e de melhor para nós mesmos, isso faz sentido, porque nós aprendemos
desde criança a buscar benefícios próprios. Porém, o amor não é um sentimento, mas uma
decisão. E cada decisão que tomamos custa, dói. Madre Teresa de Calcutá dizia que “amar
é dar até doer”. Se não doer não é amor – pelo menos não é o amor ágape –, pois este
sempre custa muito, sempre envolve alguma situação que nos traz desperdício, perda,
prejuízo. Esse é o amor de Cristo!

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Agora, é importante entendermos que quando Cristo fala “amai-vos como eu vos
amei”, ele não está se referindo à quantidade de amor, porque seria impossível comparar
o nosso amor à intensidade e tamanho do amor dele por nós. Quando ele diz isso, está se
referindo à mesma qualidade, ao mesmo modelo ou formato desse amor – o dar a própria
vida!
Uma das passagens que mais me impressiona na Bíblia é Isaías 53, a visão profética
que Isaías deve da crucificação de Cristo. Ele diz que Jesus estava desfigurado como
nunca se viu igual. As pessoas não conseguiam olhar para ele, pois era uma coisa meio
monstruosa de tão deformada. Aí eu fico imaginando: que amor é esse? Nós cantamos que
Jesus é formoso, que ele é o mais belo do universo, que ele é lindo. Imagine, então, essa
terrível metamorfose que ele passou por amor a nós!
Outra coisa que me impacta muito no amor de Cristo é quando ele diz que foi
desamparado pelo Pai: “Pai, porque me desamparaste?” (Mt 27.46). Que amor é esse??
Moisés orou: “Senhor, se Tu não salvar o Teu povo, tira o meu nome do livro da vida” (Ex
32.32). Paulo também orou que preferia perder a salvação para que todos os de sua nação
fossem salvos (Rm 9.3). Mas aconteceu isso com ele? Não! Mas com Jesus aconteceu,
porque por alguns momentos ele ficou separado do Pai. E ele sabia que isso ia acontecer.
Ele ficou separado como homem, porque a Trindade não pode se separar. Mas, em sua
natureza humana, ele experimentou a ausência de Deus, que é o inferno. Inferno não
precisa ser fogo, embora a Bíblia diga que é um lago de fogo e enxofre, mas é a ausência
de Deus. Sem Deus ninguém vai suportar! A Palavra diz que “Deus faz que o seu sol se
levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5:45), mas no
inferno não haverá nada disso.
Quando Jesus disse: “Pai, se possível, passa de mim esse cálice” (Mt 26.39), ele
não estava se referindo ao sofrimento físico, porque ele não tinha medo desse tipo de
sofrimento. Quando lhe deram fel e vinagre para beber (um anestésico), ele não bebeu.
Mas ele sentia a imensa dor de, por algumas horas, estar separado de Deus. Ele pagou
esse preço! Esse é o modelo de amor que Jesus nos deu e quer que também damos uns
pelos outros. Ele foi humilhado, trocou uma coroa de glória por uma coroa de espinhos;
nunca foi soberbo, nem orgulhoso; esvaziou-se de si próprio; não buscou seu próprio
proveito ou interesse; foi obediente até a morte.
É isso que o amor ágape nos ensina: que sempre custa algo amar desta forma.
Nunca ache que o amor será algo simples e fácil. É por isso que envolve uma decisão
pessoal. Mas, se não tivermos esse amor hoje, na última hora será difícil. As virgens
néscias da parábola de Mateus 25 tinham dinheiro para comprar o azeite mas não
conseguiram, pois não dava mais tempo – o noivo já estava voltando. Hoje nós conhecemos
a Palavra, conhecemos a vontade de Jesus para nós e, portanto, estaremos descobertos
se não a obedecermos.

A ira de Deus descerá sobre a Terra


Concluindo, saiba que a ira de Deus será derramada sobre a Terra e, nessa ira,
cristãos também vão morrer. O selo de número 5 fala de mártires (Ap 5.9-11). Quem ama
de verdade não temerá a morte nesse tempo, pois Deus lhes dará Sua graça.
Sei que é uma maneira um tanto triste de terminar uma mensagem, mas acione as
duas pernas na sua vida! Pense nisso todos os dias, com a certeza de que essas coisas

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irão acontecer, pois já aconteceram no passado. Em todos os momentos das nossas vidas
nós estamos sendo provados, prejudicados em algo. Portanto, o perdão é uma atitude
necessária e o amor, mais necessário ainda. Acionar as duas pernas não é uma tarefa fácil.
Talvez tenhamos tentado muitas vezes, tivemos frustrações e decepções, mas Jesus disse
que não devemos confiar em nós mesmos. Antes, deixou-nos um poderoso e lindo convite:
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu
fardo é leve. (Mt 11.28-30)

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FAMÍLIA, UMA FONTE DE BENÇÃOS
Abnério Cabral

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança


(...). E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos,
e enchei a terra, e sujeitai-a... (Gn 1.26-28)
Portanto, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão
uma só carne. (Gn 2.24)

D eus plantou um jardim no Éden e colocou nele o homem que havia criado (Gn 2.8).
Mas o que significa “jardim” na mente de Deus? Certamente não é o mesmo que
pensamos quando vemos o jardim florido em frente às nossas casas. Jardim, na mente de
Deus, é lavoura, é lugar onde se desenvolve trabalho (Gn 2.15). Adão e Eva foram
colocados no jardim a fim de trabalharem e, também, serem trabalhados.
Deus deu a Adão e Eva a capacidade de frutificarem e essa capacidade é estendida
a todo homem e mulher na face da Terra. Frutificar é a capacidade de produzir frutos. Mas
Deus não deu apenas essa ordem, como também que eles deveriam se multiplicar.
Multiplicar é reproduzir na mesma espécie. Você multiplica aquilo que recebe como
encargo, aquilo que está em suas mãos e na sua casa. Aquilo que a sua casa, a sua família
está vivendo precisa ser multiplicado. Porém, multiplicar envolve mais do que apenas ter
filhos; envolve a imagem e semelhança de Deus.
Quando Deus criou o homem e a mulher Ele os abençoou. Ao abençoá-los, Deus
usou a palavra, no hebraico, “barak” que quer dizer “abençoou”. Então, Deus “barak” o
homem e a mulher, isto é, Ele os liberou para que prosperassem na Terra. Mas, para
prosperar, eles precisariam multiplicar. Por ser importante multiplicar e crescer, Deus deu
a todo casal a capacidade de reproduzir. Por que Deus agiu dessa forma? Vejamos o que
diz o salmista:
Os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre é a sua recompensa. Como
flecha na mão de um guerreiro, assim são os filhos da mocidade. Bem-aventurado o
homem que com eles enche a sua aljava; quando enfrentarem os inimigos numa
disputa, não serão envergonhados. (Sl 127.3-5).
Os filhos são herança do Senhor e este é o único momento que nos é dada a certeza
de que a herança será antecipada. Herança, geralmente, é algo que experimentamos após
a morte dos nossos pais ou tutores – só tomamos posse dela depois. Mas o salmista está
dizendo que os filhos são herança do Senhor. Todo filho pode dizer hoje: “Pai, mãe, eu sou
a sua herança”. Ter filhos é uma bênção e algo maravilhoso, pois eles são herança do
Senhor para os pais.
Sempre digo que quando Keila e eu estávamos sozinhos em casa a nossa situação
financeira era uma e com a chegada de nossas filhas ela mudou, mudou para melhor. Isso
porque filhos são bênçãos do Senhor e eles vêm para acrescentar e não subtrair. Quanto
mais filhos, mais bênçãos e mais dessa herança prometida na Palavra de Deus nós

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teremos. Sem medo de errar, eu poderia perguntar a vários homens se a sua vida financeira
mudou depois dos seus filhos. Certamente eles responderão que sim, porque filhos são
bênçãos do Senhor. Eles nos levam a prosperar, a crescer, a amadurecer e a revelar quem
é Deus. De acordo com Jamê Nobre, em Moçambique não é costume perguntar quantos
filhos você tem, mas quantas bênçãos você tem. Que maravilha: filhos são bênçãos!
Deus colocou o homem e a mulher no Jardim a fim de abençoá-los, a fim de levá-los
a crescer e a multiplicar. Quando um casal se casa é natural que tenham filhos. Você nunca
deve se privar de ter filhos por causa da situação financeira; não caia nesse engano. O
casal que se priva de ter filhos está se privando de ser abençoado por Deus, de
experimentar o sobrenatural de Deus. Filhos são bênçãos e Deus, nosso Pai, projetou nos
abençoar. Filhos não vêm para nos provar, mas para nos abençoar. Satanás é enganador,
mentiroso, astuto e tenta nos fazer pensar diferente, mas o princípio sempre foi esse: filhos
vêm para nos abençoar. Então, quando Deus formou a família Ele a formou com a intenção
de que ela pudesse levar adiante essa bênção.
E o Senhor disse a Abrão: Sai da tua terra, do meio dos teus parentes e da casa de
teu pai, para a terra que eu te mostrarei. (Gn 12.1).
A mesma ordem que Deus deu a Adão, Ele a deu para Abraão. Para Adão Ele disse:
“Deixará o homem pai e mãe e unir-se-á à sua mulher”. E, para Abraão: “E farei de ti uma
grande nação, te abençoarei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.” (Gn
12.2).
A palavra “bênção” nesse versículo é diferente da usada em Gênesis 1. Em Gênesis
1 é “Barak” e em Gênesis 12 é “Baraká”. Deus diz que faria de Abraão uma bênção. Por
isso, Ele lhe deu uma visão (uma promessa), uma terra e uma bênção. Tudo o que havia
projetado fazer através de Adão, Deus retoma em Abraão. A promessa era que todas as
famílias da Terra seriam abençoadas através dele. A palavra “Baraká” significa “fonte de
bênção”, então, a família foi criada por Deus para se tornar uma “fonte de bênção”. O que
é uma fonte? Fonte tem recursos e, por isso, ela provê, libera e faz jorrar esses recursos.
A família foi criada por Deus para jorrar bênçãos. Todos os filhos, dentro de uma família,
foram constituídos por Deus para se tornarem uma fonte de bênção na Terra, no mundo.
Foi para isso que Deus nos criou, nos formou, nos chamou e criou a família.
Tudo o que Deus tem no céu é perfeito e nada falta. O céu é completo e Deus
resolveu estender essa completude a nós, na Terra. Ele não fez isso por estar carente, em
hipótese alguma, mas o fez para mostrar a outros a Sua bondade, a Sua alegria, o Seu
poder, a Sua santidade, a Sua beleza, alegria e formosura. Ao trazer a visão da família para
a Terra, o pensamento de Deus é que a nossa casa seja uma fonte de bênção onde quer
que estejamos. Não importa onde você mora (num condomínio, numa rua particular ou
comum), a sua casa foi colocada ali por Deus para se tornar uma fonte de bênção. Esse é
o nosso chamado!
Os filhos nascem, crescem, ficam um tempo conosco e, depois, vão embora. É assim
que acontece. Em nossa casa, Keila e eu já estamos já preparando o nosso coração para
isso, com o “vai e volta” de nossas filhas. Moram fora e depois voltam, mas chegará o
momento em que elas irão embora mesmo. Para quê? Para continuarem o plano de Deus
de se tornarem uma fonte de bênçãos ao formarem uma nova família. Esse desligamento
e rompimento são necessários. Quando o filho sai da barriga da mãe corta-se o cordão
umbilical, pois ele não precisa mais dessa ligação (e ela nunca mais vai existir). Depois, à
medida em que o filho vai crescendo, esse distanciamento, em certo sentido, vai

193
aumentando. Mas o salmista diz: “Bem-aventurado o guerreiro que enche a sua mão ou
sua aljava de flechas.” Para que servem essas flechas? Para serem lançadas. Flechas são
filhos e eles não ficarão para sempre conosco, antes serão lançados de nós.
Quando trabalhamos em nós e em nossas famílias esse conceito, nossos filhos
serão lançados carregando consigo uma visão e jamais nos envergonharão. Por quê?
Porque eles estão crescendo com o entendimento de que foram colocados por Deus em
nossa família com a intenção de se tornarem uma bênção para as nações, para a sua
vizinhança, em seu trabalho e na sua escola. O desejo de Deus, o tempo todo, é abençoar
o homem. Deus escolheu as famílias para que a bênção fosse liberada sobre a Terra.
O pecado veio deturpar e roubar essa visão. Quando Deus colocou o homem e a
mulher no Jardim Ele deixou bem claro que eles deveriam dominar sobre toda a Terra,
sobre todos os animais, sobre todos os outros serres vivos, mas não sobre o homem.
Porém, o pecado trouxe uma deturpação dessa autoridade e o homem passou a dominar
sobre ele. Deus não projetou nem planejou isso, mas o pecado foi quem “entortou” e deixou
muita coisa nebulosa.
Em Efésios 5, Paulo continua um pensamento que havia começado em Efésios 3
quando fala sobre o poder do Espírito Santo que vem para fortalecer o nosso homem
interior. Uma vez fortalecido, ele pode manifestar as virtudes e o poder do reino vindouro.
Paulo fala para não nos embriagarmos com o vinho, no qual há dissolução e divisão, mas
para nos enchermos do Espírito Santo. Só assim nós vamos aprender como falar e nos
comportar uns com os outros. Isso se aplica tanto no contexto de família quanto no contexto
de igreja, onde somos exortados a falar com salmos, hinos e cânticos espirituais. Paulo
mostra que quando somos cheios do Espírito Santo nós aprenderemos a andar em sujeição
uns aos outros. Pelo poder, direção e ação do Espírito Santo eu não serei autônomo (fazer
primeiro e depois avisar), mas andarei em comunhão, aliança e relacionamento com as
pessoas que me cercam. Por isso, a ordem apostólica é que sejamos cheios do Espírito.
Em seguida, Paulo fala sobre as consequências de uma vida cheia do Espírito Santo:
“Mulheres, cada uma de vós seja submissa ao marido, assim como ao Senhor” (Ef 5.22).
Submissão é algo muito discutido e bastante questionável, mas eu gostaria de dizer às
mulheres que a submissão a seus maridos não depende de quem eles são ou dos seus
desempenhos. A submissão a eles depende do tipo de relacionamento que elas têm com
Deus. A submissão, como diz a Palavra de Deus, é como ao Senhor. É o seu
relacionamento com o Senhor que vai contar, e você precisa entender que prestará contas
não para seu marido, seu pastor ou líder de grupo, mas para Deus.
“Maridos, cada um de vós ame a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e a
si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Nenhum marido conseguirá amar a sua esposa,
como Cristo amou a igreja, entregando-se a ela e não a ele. Jesus não se entregou “a” nós,
mas se entregou “por” nós. Por isso, eu digo: Homens, vocês não têm de se entregarem às
suas mulheres, mas devem se entregar a Deus. Porque se nós, homens, nos entregarmos
a Deus e aprendermos a amar a Ele sobre todas as coisas, as nossas mulheres serão
amadas como verdadeiramente elas precisam e necessitam. O homem que se entrega à
mulher é um homem que não decide, não sabe o que fazer, não sabe ouvir e nem consegue
avançar. Por isso, homem, você precisa se entregar a Deus!
Mulheres, quando seu marido se entrega a você para fazer as suas vontades você
se torna uma mulher infeliz, insaciável, desagradável e de difícil relacionamento. Mas, se
ele se entregar a Deus em contato vivo com Ele, você terá tudo o que precisa e necessita.

194
O que seu marido trouxer para você virá de Deus e não do coração dele ou por indução de
suas emoções. É por isso que nós precisamos ser cheios do Espírito Santo e compreender
a grandeza de uma família. Ela tem a incumbência de manifestar a glória de Deus, mas
para isso precisa estar alinhada com o que Deus projetou.
Existem implicações quando nós rogamos que o céu desça e que o reino de Deus
venha. Precisamos saber que esse nosso clamor tem um destino, uma iniciativa e aspectos
que implicam a vinda do Rei. Esse clamor tem a ver com o nosso comportamento e nossa
contribuição para que Jesus volte. Ele não sabe o dia nem a hora da sua volta porque isso
depende de nós, do nosso andar e do nosso comportamento.
Veja o que Paulo diz aos filhos: “Filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor,
pois isso é justo. Honra teu pai e tua mãe; este é o primeiro mandamento com promessa.”
(Ef 6.1).
Honrar independe de quem são os nossos pais ou daquilo que eles fazem. Eu honro
porque eles são meus pais, não porque eles desempenham bem esse papel ou porque eles
não erram. Eu honro porque Deus os colocou como meus pais.
Eu fui criado pela minha mãe. Não tive a oportunidade de ser criado pelo meu pai
porque ele morreu quando eu tinha apenas dois anos de idade. Não tenho lembrança
nenhuma do que ele fez de bem ou de mal. Mas o que ele fez de mal nunca me atingiu,
porque minha mãe me levou a olhar para Deus o tempo inteiro. Isso foi fundamental na
minha criação. Não carrego mágoa das coisas erradas que meu pai fez porque entendi que
Deus é o meu Pai e meu Senhor. Acima de tudo, eu entendi que nunca responderei para
minha mãe ou para meu pai, mas, sim, para Deus.
Quando um filho encontra com Deus ele precisa entender que o que o pai ou a mãe
fizeram ou deixaram de fazer não terá mais tanto significado ou importância, pois ele se
encontrou com Deus e é a Ele que responderá. É preciso compreender que o nosso Pai, o
nosso Deus, o Criador de todas as coisas, quer um relacionamento íntimo e pessoal
conosco. Porém, eu preciso, sim, honrar os meus pais, porque isso é fruto de uma vida
cheia do Espírito Santo de Deus.
Temos falado nesses dias sobre a família e sobre a importância, a grandeza do plano
e projeto de Deus a ser desenvolvido através da nossa casa. Juntos nós temos um poder
muito maior do que sozinhos. Por isso, é importante que todas as mulheres em nosso meio
que não têm o marido ao seu lado encontrem abrigo e lugar em todas as famílias desta
congregação. É importante que ninguém se sinta fora do “ninho”, mas se ache abraçado,
querido, amado, encorajado e guardado por nós como família. Temos conosco mulheres
solteiras, separadas e viúvas que precisam do nosso apoio, do nosso abraço, da nossa
consideração, do nosso amor e respeito. Isso é fundamental!
O pecado trouxe para o homem um conhecimento elementar que não lhe
acrescentou nada. Trouxe o entendimento de que o homem estava nu e fez com que ele
desobedecesse a Deus. Que conhecimento tosco e bobo! O pecado fez com que o homem
olhasse seu próprio corpo de uma forma errada e, com isso, plantou confusão entre o
homem e a mulher, plantou descontinuidade e desajuste entre os casais. Ele ofuscou o
relacionamento e fez com que o homem deixasse de ser transparente, comunicativo e
demorasse mais a tomar atitudes. Sim, a falta de iniciativa de um homem é consequência
do pecado, assim como a comunicação dele com a mulher, fazendo-o fechar-se para ela.
O pecado entrou trazendo dificuldades para o homem.

195
A primeira coisa que Adão falou para Deus foi: “Ah Senhor, a mulher que tu me
deste...”. Na hora de pecar ele se entregou para Eva, mas na hora de prestar contas a Deus
ele a acusou para Deus. Quando Adão viu que o que recebeu foi nada, o que ele recebeu
foi menos um, ele disse a Deus que tudo tinha sido culpa da mulher que Ele havia lhe dado,
ou seja, o Senhor também era culpado. O pecado, então, trouxe uma zona de nebulosidade
entre o homem e a mulher, um afastamento entre eles.
Adão, na hora “H”, falou: “Deus, o senhor me deu e olha o que ela fez!” Mas, quando
José (marido de Maria e pai de Jesus) se viu numa situação semelhante e pensou em correr
para fugir, o coração dele começa a clamar por Deus. Então, o anjo veio à noite e lhe disse:
“José, não tenha medo de receber Maria como tua mulher, porque o que nela há vem do
Espírito Santo. Virá através dela o Salvador e você vai poder recebê-lo e cuidar dele. José,
eu estarei com você, fica firme!” José não esperou nem amanhecer, chamou Maria, a
recebeu como sua esposa e a cobriu, porque ouviu de Deus.
A família é o lugar onde nós aprendemos a ouvir a voz de Deus. No Jardim Adão
costumava ouvir a voz de Deus, mas o pecado fez com que ele perdesse o rumo. Mas
quando Jesus veio ele encontrou um homem ao lado de Maria disposto a obedecer tudo o
que Deus falasse com ele. E, José, a partir de então, passou a liderar Maria nas suas
incursões: saindo de Belém, indo para o Egito, voltando do Egito, voltando para Belém e
indo de Belém para Nazaré. Tudo porque ele ouviu a voz de Deus em todos os seus atos.
A família é um lugar tremendo, maravilhoso e de trabalho, assim como era no Jardim.
Adão e Eva sabiam que Deus se aproximava porque escutavam os Seus passos no meio
do Jardim. Eles escutavam e diziam: “Ah ele está chegando!”. Sim, Deus estava chegando
em direção deles. Nós precisamos escutar os passos de Deus em nossa direção, dentro
da nossa casa. É necessário que aprendamos a discernir os passos de Deus em nossa
família, junto com os outros membros dela. Que possamos abrir nossos corações para essa
experiência, pois isso é tão maravilhoso que Deus decidiu estabelecer a família na Terra.
Como famílias, nós recebemos uma incumbência de Deus de refletir na Terra o que
há no céu. Lá é tudo perfeito e não é lugar de trabalho. Lugar de trabalho é na Terra; no
céu é adoração e contemplação, é ouvir Deus e olhar para Ele. Mas Deus nos colocou na
Terra para que possamos conhecê-Lo e aprender a adorá-Lo em meio às tribulações,
aflições e a tudo aquilo que o pecado nos impôs.
Gostaria de exortar e animar você a crer que a sua família, aos olhos de Deus, é
uma bênção para a Terra. Sim, porque Ele não errou em Seu projeto. Filhos, às vezes,
desobedecem; pais, às vezes, “pisam na bola”, mas isso não muda quem Deus é. Isso não
muda a Sua intenção e Seu projeto inicial. Creia! Sua casa aos olhos de Deus é uma
bênção.
Filhos, aos olhos de Deus vocês são uma bênção dentro da sua casa. Por mais que
o seu pai nunca tenha dito isso a você, saiba que a Palavra de Deus o diz. É muito
importante que saiba, também, que você é uma bênção na vida dos seus pais,
independentemente da idade deles. Não importa com quantos anos você saiu de casa para
se casar e constituir uma família, pois você, ainda, é uma bênção na vida deles. Isso não
mudou, é contínuo e permanente.
Quero deixar com vocês essa palavra de exortação: Que vocês se animem com sua
família, que se envolvam com esse projeto a fim de podermos, juntos, ouvir mais, praticar
mais entre nossas famílias o que Deus quer de nós. Quero animar os solteiros a terem um

196
propósito de estabelecer uma família na Terra para ter comunhão com Deus e manifestar
a Sua glória. Quero animar os casais sem filhos a pensarem fortemente sobre isso, porque
os filhos são bênçãos de Deus. Quero animar os pais, que estão tendo lutas com os seus
filhos, a crerem que eles são bênçãos de Deus. Filhos são bênçãos e, por isso, são
chamados de herança. Receber herança é uma bênção, uma dádiva. Usufruir de uma
herança material é uma coisa muito boa. E você, quando recebeu filhos em sua casa,
recebeu uma preciosa e eterna herança de Deus. Amém!

197
FAMÍLIA, UMA ESTRATÉGIA DE DEUS
Tony Felício

Q ual é mais importante: a igreja ou a família? Essa pergunta reflete dois momentos na
história da igreja. Um momento foi quando se teve a ideia de que a igreja era mais
importante do que a família. Isso produziu o pensamento de que pode-se viver de formas
diferentes em ambas: uma forma de viver em casa e outra forma na “igreja” Para os adeptos
dessa ideia a família ficava desprezada. Uma lástima! Mas, infelizmente, isso aconteceu.
O outro momento foi quando se teve a ideia de que a família é mais importante que a igreja.
Essa ideia, também, produziu um problema: famílias ensimesmadas, voltadas para si
mesmas. Esse tipo de família tentava viver a realidade do reino de Deus em sua casa como
se ela, sozinha, pudesse se suprir com as graças de toda a igreja.
A conclusão, então, é que a pergunta inicial – qual é mais importante, a igreja ou a
família? – é uma pergunta equivocada e não cabe uma resposta. É como se eu
perguntasse: Qual é mais importante, minhas células ou o meu corpo? Obviamente não há
resposta a essa pergunta, pois estamos falando de estruturas diferentes, contudo,
componentes do mesmo organismo, ou seja, são dimensões diferentes da mesma coisa.
Em se tratando de igreja e família, não se pode pender nem para um lado nem para o outro.
No entanto, é necessário entender que quando Deus, na eternidade, planejava a criação e
o homem, Ele tinha em mente uma família, a família Dele.
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de
antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Rm 8.28,29).
Deus tinha em mente ser Ele o Pai, Jesus o primogênito e todos nós juntamente com
Jesus a multidão de Seus filhos, ou seja, a família Dele. Então, se eu acho que a minha
família é mais importante que a família de Deus, isso é um equívoco enorme.
Para que tivesse a Sua grande família, em que Ele é o Pai de todos, Deus criou uma
estratégia, uma maneira de agir. A estratégia foi criar o homem e a mulher, casá-los, fazer
com que tivessem filhos, se multiplicassem e enchessem a Terra de muitas famílias. Mas
todas essas famílias, pensadas por Deus, partiram de um grande projeto original, a Sua
própria família. Portanto, quando cuido da minha família, na verdade, eu estou cuidando da
família de Deus. Não posso restringir esse cuidado somente à minha casa porque não sou
parte apenas dela, mas, também, da casa de Deus. Cada um de nós, que está em Cristo
Jesus, é parte da casa de Deus. Por isso, nós precisamos de esclarecimentos para
compreender e viver essa realidade de duas dimensões que se completam.
É importante lembrarmos também, que toda vez que Deus fez um grande começo
Ele o fez a partir de uma família. Vejamos:

198
1. O começo de tudo
Deus criou Adão e Eva e mandou que eles tivessem filhos.

2. O recomeço de tudo
Na geração de Noé o pecado tinha tomado conta da humanidade. Então, a única
solução foi Deus recomeçar tudo e Ele fez isso a partir de uma família – a família de Noé
(esposa, filhos e as esposas de seus filhos).
Veja que Deus não mudou a Sua estratégia. Quero que isso fique marcado em seu
coração. Por que Ele não mudou de estratégia quando percebeu que o pecado havia se
alastrado e era necessário recomeçar? Porque o problema não estava na estratégia, na
ideia de família. O problema estava no coração do homem. O problema está no coração
pecaminoso das pessoas, do ser humano que acaba fazendo as coisas de forma
independente de Deus, de maneira diferente da maneira como Deus estabeleceu.
A ideia de uma família baseada no que o próprio Deus “é” não tem um problema,
ainda que estamos vivendo dias em que a família é muito combatida e muito criticada na
maneira como Deus a concebeu. Ou seja: marido homem, esposa mulher e filhos homens
e mulheres. Isso é definido desde a concepção, desde o nascimento. É verdade que a
família é uma maravilhosa e excelente ideia, porque ela partiu de Deus e Deus é bom.
Terrível é viver solitário e sozinho; terrível é não ter com quem repartir, com quem regular
o meu temperamento, a minha vida e minha história. Mas achar um lugar onde podemos
ser nós mesmos, ser amados e amar outros, isso sim é uma ótima ideia, uma ideia de Deus.

3. Montar uma nação


Vimos que Deus refez a humanidade a partir da família de Noé, mas, agora, Ele tem
outro momento na realização do Seu projeto eterno: montar uma nação para Si separada
de todas as outras nações da Terra. De novo Deus não escolhe uma maneira diferente de
fazer as coisas. Ele começa a Sua nação com Abraão, Sara e “dois problemas”. Às vezes
falo brincando, que se eu fosse Deus escolheria alguém mais preparado. Não escolheria
Abraão, pois ele tinha dois problemas: era filho de um fazedor de ídolos e tinha uma mulher
estéril. Ora, para ter a Sua nação, Deus teria que começar com uma família, mas Deus
tinha esses problemas para resolver. E Ele resolveu, não mudou Sua estratégia, porque o
problema não era a estratégia ou a maneira de fazer. O problema número um estava no
risco que o ambiente de Abraão lhe oferecia. Isso acabou não sendo um problema porque
Abraão creu no único e verdadeiro Deus apesar do contato de seu pai com tantos ídolos.
Restava o segundo problema: a esterilidade de Sara. Mas isso não era um problema para
Deus.
Quero que isso fique marcado em seu coração: Deus muda as circunstâncias, mas
Ele não muda os Seus princípios. Se alguém acha que Deus vai concordar com as famílias
do jeito que os homens estão fazendo, está errado. Ele não vai concordar, porque a Sua
ideia continua sendo a melhor e o Seu jeito de fazer as coisas é infinitamente melhor do
que o jeito dos homens. Deus é bom e o jeito Dele é bom. Mas lá está Abraão com Sara
estéril. Deus, então, resolve o problema da esterilidade de Sara e dá um filho a eles e,
assim, Deus começa a Sua nação.

199
Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu
pai, e vai para a terra que te mostrarei. De ti farei uma grande nação, e te abençoarei
e te engrandecerei o nome; sê tu uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem, e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
(Gn 12.1-3).
Você percebe que nesse texto tem a família de Abraão, a família de Deus e nós?
Deus disse: “Eu vou pegar você e, a partir de você, vou fazer uma grande nação e abençoar
todas as famílias da terra.” Esta é a vocação de cada uma de nossas famílias: ser parte da
família de Deus e, como parte dela, abençoar as outras famílias da Terra!
Mas no capítulo 18 tem uma expressão muito interessante e esclarecedora. Família
não é mais importante que igreja e igreja não é mais importante que família. Isso porque as
duas falam da mesma coisa. Porém, existe uma relação de prioridade que lemos no texto
a seguir:
Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim
de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o
Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito. (Gn 18.19)
Deus estabelece uma condição para cumprir as promessas sobre Abraão: “Abraão,
ordene seus filhos”. Como disse Paulo sobre ordenação de presbíteros: “Como alguém
pode governar a igreja de Deus, se não governar bem a sua própria casa?” É essa relação
que aparece nessa situação de Abraão.
Existe uma condição para se edificar a casa de Deus e ela começa em nossa casa.
Os meus filhos são minhas primeiras ovelhas, depois da minha esposa. Sim, a minha
esposa é minha prioridade. Se eu não cuido bem dela, não será saudável para ninguém
que eu cuide de qualquer outra pessoa. Se eu não consigo amar, cuidar, zelar, alimentar,
acolher; dar segurança e provisão à minha esposa, como posso fazer essas coisas com
outras pessoas? A ideia de que é possível ser uma coisa em casa e outra coisa fora dela é
uma religião desprovida de vida e coerência. Isso não condiz com a verdade. A minha
esposa é prioridade na minha vida, no meu tempo, nos meus recursos e no meu amor. Só
depois a minha prioridade se dirige aos meus filhos, e eles sabem disso. Se não cuido bem
dos meus filhos, como cuidarei bem dos filhos dos outros?
É verdade que a minha casa é o primeiro ambiente onde experimento igreja, onde
faço a igreja acontecer e onde eu escolho ser igreja. Isso está na mente de Deus. Quando
planejou e criou a família, Ele não partiu de uma estrutura humana, mas da própria
Trindade. Façamos uma comparação para ver como isso é verdade: O que tem na
Trindade? Pai, Filho e Espírito Santo. O Espírito Santo na Bíblia é chamado de
Consolador/Ajudador. O que tem numa família? Pai, filho e a esposa, que é chamada na
Bíblia de “ajudadora”. Quem tem a graça de consolo na casa? A esposa. Então, Deus partiu
da Sua própria identidade para criar a família. Aliás, eu penso que é por isso que Satanás
odeia tanto a família, pois, ao olhar para ela como Deus a planejou, ele vê a perfeição, o
reflexo e a sombra da Trindade.
Clamo para que você, pai, volte a ser o que deve ser, pois o Pai conta com a sua
paternidade diante de outras pessoas. Mães, o consolador quer ser conhecido, quer
consolar e ajudar. O pai tem a palavra e a direção de Deus e, por isso, ele é o gerador e
provedor dos recursos. A mãe, a mulher, inspirada pela presença do Espírito, usa esses
recursos e os administra fazendo as coisas acontecerem, para que os filhos vejam e andem

200
na ordem que o pai estabeleceu.
Quem são os filhos nessa ideia da família? Eles são os primeiros executores da
vontade dos pais, são os primeiros a viverem o que os pais ensinam e pregam. São como
Jesus disse: “Eu não faço nada a menos que eu veja o meu Pai fazer.” Que ideia
maravilhosa! Meu desejo é que todos creiam nessa ideia. Não estou falando da situação
em si, mas da revelação que Deus quer nos dar para mudar as situações reinantes.
Deus projetou-se na Terra quando disse: “Adão, eu quero que você seja pai. Eva, eu
quero que você seja mãe, e eu quero que vocês tenham filhos”. Os ataques que vêm sobre
nós, na verdade, não são contra nós, mas contra a identidade do nosso Deus. Pais, sejam
pais; mães, sejam mães; filhos, sejam filhos e, em unidade, representem a ideia, a natureza
e o amor do nosso Deus. Aleluia! Que seja assim, pois Ele é digno.
Eu fico muito assombrado atendendo jovens e adolescentes fora da igreja. Certa vez
um menino estava escolhendo ser homossexual aos doze anos. Conversando com a mãe,
ela me disse: “Eu sou cristã como você e quero que meu filho seja feliz escolhendo o que
ele quiser ser”. Como assim? Confusão! Eu quase tive um colapso na minha inteligência.
Ser cristão não se relaciona com você ser feliz com qualquer “nojeira” que lhe apresentam.
Ser cristão significa seguir a Cristo, e Cristo não planejou alguém nascer com órgãos
masculinos e não poder ser um homem. Se fosse assim, Deus teria cometido um grande
equívoco. No entanto, o homem, na sua soberba, chega a dizer que Deus errou. E assim,
muitos meninos e meninas, homens e mulheres, não estão descobrindo quem realmente
são em Deus. Isso porque lhes disseram que da vontade pecaminosa deles poderia surgir
uma opção. Não, não surge uma opção! A boa ideia sempre vem de Deus. Seja todo
homem mentiroso e Deus verdadeiro (Rm 3.4)! Que possamos “igrejar” aos domingos, mas
que possamos também “igrejar” todos os dias em nossas casas.

4. A Nova Aliança
Só para concluir os grandes começos, lá estava Deus começando a Nova Aliança.
Para isso Ele escolhe um profeta (o último da Velha Aliança e o primeiro da Nova), João
Batista. Esse profeta nasce na linda família de Zacarias e Isabel. Vemos em Lucas 1 a
descrição maravilhosa de como era a casa deles; eles eram irrepreensíveis diante do
Senhor. E foi nessa casa que Deus escolhe um menino para preparar o caminho do Senhor.
E o que dizer de Jesus? Ele podia ter nascido já adulto e começado seu trabalho?
Claro que podia! Afinal, Deus é Deus e portanto, sempre pode agir do jeito que quiser. Mas,
como já dissemos, Deus não muda e nem mudou Sua estratégia, também no caso de
Jesus. A estratégia de Deus era família. Por isso, Ele teve todo o trabalho de encontrar uma
moça, noiva de um homem, para que o Espírito Santo viesse sobre ela e Jesus pudesse
ter uma família.
O tempo inteiro os grandes começos de Deus são a partir de uma família e isso não
muda. Gostaria muito que você, ao ouvir essas coisas, perguntasse: “Senhor, qual vai ser
o grande começo a partir da minha casa? O que o Senhor vai fazer nela comigo, conosco
e através de nós?” No grande começo, o “grande” é muito relativo, porque grande é o que
Deus preparou para cada um de nós!

201
Aspectos da identidade da igreja que podemos viver em família
Já entendemos que igreja e família são estruturas do mesmo organismo e que
precisamos crescer nisso e começar em nossa própria casa, para que a igreja viva uma
realidade de família. Aliás, tenho repetido muito que a família precisa viver como igreja e a
igreja precisa viver como família.
A partir disso, quero mostrar alguns aspectos da identidade da igreja que, também,
são aspectos da identidade de uma família no Reino de Deus. Paulo foi um dos que mais
explicou e defendeu a igreja e esses pontos a seguir são baseados em suas palavras:

1º aspecto: UNS AOS OUTROS


Em Efésios, Paulo diz que igreja é a família de Deus e isso fala dos relacionamentos
da igreja. Assim como na Trindade, a família tem pai, filho e esposa, a qual é inspirada no
Espírito Santo. Na igreja não é diferente. Como na casa temos quem cuida de nós e nos
cuidamos mutuamente, assim é na igreja. O normal não é que cada pessoa da igreja fique
isolada, vivendo sua vidinha na sua casinha ou no seu bairrinho. O normal e ideal é que
assim como na sua casa os relacionamentos aconteçam também na igreja (a família maior),
e que todos tenham pessoas para cuidar uns dos outros, isto é, que nos cuidemos
mutuamente.
Nessa situação, podemos aplicar todos os mandamentos chamados “recíprocos”, ou
seja: “Sujeitai-vos uns aos outros; amai-vos uns aos outros; admoestai-vos uns aos outros”
etc. Se eu tento viver isso sozinho em minha casa os recursos se esgotam. Por exemplo:
Se você tentou resolver sozinho um problema no seu casamento e não conseguiu, a
solução foi chamar alguém de fora para ajudá-lo. Graças a Deus você não precisou gastar
com psicólogos porque encontrou um pai-irmão ou um irmão-pai que foi até à sua casa e o
ajudou. Eu já passei por isso e, muitas vezes, bastou uma conversa ou um simples
pastoreamento de um irmão querido para que tudo se resolvesse.
Em casa, quando meus filhos querem ouvir falar de Deus, eles não procuram ajuda
fora, mas primeiramente vêm a mim. Eles sabem dessa prioridade, apesar de saberem que
eles têm, também, os irmãos preciosos da igreja. Nós somos a família de Deus, então, tudo
o que acontece na família deve acontecer também na igreja, e o que acontece na igreja
deve ser, também, uma realidade que nós vivemos em nossas casas. É por isso que muitas
vezes insistimos com os irmãos sobre o culto doméstico, sobre a leitura bíblica e o jejuar
juntos em nossas casas.
Lembro-me de momentos inesquecíveis em relação ao que estou falando. Certa vez,
estava sentado à mesa com minha esposa e filhos e começamos a orar. Peguei o violão e
adoramos ao Senhor. Eu havia ensinado para as crianças o que é salmodiar, então, em
certo momento dessa reunião familiar, meu filho Davidson começou a salmodiar, cantando,
a história da vida da sua irmã, Jennifer. Não foi uma brincadeira, mas uma profecia dele
para a irmã. Isso foi inesquecível para mim. Sei que é uma delícia me reunir com os irmãos
da igreja para louvar e adorar ao Senhor, mas que delícia é poder fazer isso todos os dias
em minha casa e, também, quando visitamos uns aos outros. Isso porque nós somos família
e igreja, igreja e família.

202
2º aspecto: UM AMBIENTE PARA A PRESENÇA
O apóstolo Paulo traz outro aspecto da identidade da igreja. Nós somos pedras vivas
que formam um edifício, uma casa para Deus; somos santuário do Deus vivo. A casa de
Deus não é o prédio em que nos reunimos ou qualquer outro edifício, pois, como diz a
Palavra, Deus não habita em templos feitos por mãos humanas, mas, sim, em pessoas
cheias do Espírito Santo que formam essa casa para Ele. “Porque, onde estiverem dois ou
três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20). Qual o lugar que nasce
de duas ou três pessoas? A família! Casei-me com minha mulher, duas pessoas; tivemos
um filho, três pessoas (ou mais). Deus habita em nossa casa e a Sua presença pode
aparecer, manifestar e fazer coisas acontecerem.
Encontramos alguns exemplos na Bíblia: Pedro viu sua sogra sendo curada em sua
casa. Jesus foi à casa de Pedro e não precisou de um templo ou um lugar suntuoso para
operar seu milagre na vida daquela mulher, pois o que importa é a presença de Deus. Em
Atos 2, os irmãos foram cheios do Espírito Santo em uma casa. Cornélio e toda a sua família
foi cheio do Espírito Santo quando Pedro entrou em sua casa. Um paralítico trazido por
seus amigos e introduzido pelo telhado da casa (porque o lugar estava cheio demais) foi
curado por Jesus que ali estava.
Casa, família, não é um ambiente para desperdiçarmos. Deus habita em nós e, onde
nos juntarmos em duas, três ou mil pessoas em Seu nome, Ele faz questão de estar entre
nós. Então, faça de sua casa um lugar de milagres. Aliás, qualquer lugar pode ser uma
casa (trabalho, escola, empresa etc.) se duas ou três pessoas estiverem reunidas ali em
nome do Senhor. Mas eu estou falando de família, da nossa casa, do lugar onde moramos
(pais, mãe e filhos) e convivemos com outras pessoas. A igreja é a casa de Deus, então, a
casa de quem é igreja também é casa de Deus.
Quando eu estava preparando essa mensagem, Deus falou comigo: “Tony, Eu tenho
muita vontade que você diga às pessoas que estão Me procurando: Vamos lá em casa!”
Mas nós, às vezes, gostamos demais de proteger nossa casa como se ela fosse realmente
nossa. A minha casa não é minha e a sua casa não é sua, é de Deus. No Salmo 68 está
escrito que Deus faz o solitário habitar em família. Por que Deus disse isso? Porque Ele
tem uma casa e acredita que Seus filhos vão trazer outros para dentro dela.
No mundo há pessoas rejeitadas e abusadas pelos próprios pais que deveriam ser
referências de Deus para elas; pessoas abandonadas por suas mães que deveriam
aconchegá-las e consolá-las; mulheres abandonadas por aqueles que deveriam dar-lhes
segurança; homens abandonados por aquelas que deveriam lhes ajudar. A situação do
mundo está caótica e as pessoas, com certeza, estão clamando, mesmo que
silenciosamente: “Por favor, alguém pode dizer-me onde está o Deus que transforma as
coisas?” E Deus olha para cada um de nós e diz: “Por favor, avise para ele ir para sua
casa”. Sim, quando Deus quiser que alguém O conheça e saiba onde Ele está, que
possamos dizer a essa pessoa: “Vamos lá para casa”.
Quando eu ainda era solteiro, talvez com 20 anos, encontrei um menino que dormia
debaixo dos bancos do nosso salão de reuniões em Salvador. Deus falou-me para levá-lo
para casa, então, liguei para minha mãe avisando que iria levar uma pessoa. Ela já estava
acostumada com isso, mas sempre eram irmãos da igreja. Ela levou um susto tremendo
quando entrei em casa com um menino mendigo! Ele tinha mais ou mesmo 10 anos de
idade, vestia camiseta e short rasgado e tinha uma ferida enorme na cabeça. Essa foi a
primeira vez que Deus me ensinou sobre essas coisas que estou falando. O menino estava

203
dormindo, sozinho, sob os bancos do nosso salão, mas a Palavra diz que Deus faz o
solitário habitar em família. Em minha casa ele comeu, tomou banho e dormiu. Enquanto
isso, fui tentar achar a família dele.
Outro caso foi o de um pai muito mau, que agiu violentamente contra seu filho,
resultando em uma deficiência motora e mental. Porém, um casal da nossa congregação
resolveu adotar aquele menino deficiente. Esse é um casal que, certamente, terá uma coroa
pesadíssima no céu! Ninguém o queria, mas eles o adotaram porque ouviram que Deus faz
o solitário habitar em família. O menino não foi mandado para uma instituição porque Deus
não tem instituições, Deus tem uma família. Deixe Deus olhar para a sua casa e dizer: “Eu
posso mostrar para as pessoas que moro na sua casa?”
E como não contar outra história que marcou minha vida para sempre? Essa é a
história do Sr. Francisco, um mendigo encontrado bebendo álcool combustível, porque
outras bebidas já não faziam mais efeito. Mas uma família desta congregação o adotou.
Sim, adotaram um homem de 50 anos e, inclusive, tiveram por muitas vezes o trabalho de
lavar o banheiro porque ele não conseguia usá-lo da maneira certa. Eles o tiraram das ruas
e hoje ele é um homem de Deus que serve numa casa de recuperação, em São Paulo. São
muitas histórias e eu louvo a Deus pela igreja, onde Ele habita e tem casas para muitos o
encontrarem.

3º aspecto: UM LUGAR PARA A VERDADE


...para que você saiba como proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo,
coluna e baluarte da verdade. (1 Tim 3.15).
A casa de Deus é a estrutura que guarda a verdade, assim como nossas casas,
também devem guardar a verdade. Coluna e baluarte são duas expressões que falam do
que sustenta uma casa. Se nós pensarmos no templo como casa de Deus e a igreja como
sendo esse templo vivo de Deus, podemos dizer que ela é: os pilares, o alicerce e a
fortaleza onde Deus coloca a Sua verdade para que seja preservada e mostrada.
Hoje, a verdade tem sido muito combatida e questionada. Muitos estão tentando
dizer que ela é particular de um tempo, de uma pessoa ou de uma cultura. Mas, em nome
de Jesus eu digo: A Verdade existe! Essa Verdade é absoluta e não depende da cultura,
do tempo ou das pessoas. Ela atravessa a história ilesa e com a mesma firmeza de quando
foi pronunciada na eternidade, desde antes da fundação do mundo. E nós, como igreja,
famílias da família de Deus, somos o lugar que a preserva e defende. Sim, eu estou falando
das Escrituras, daquilo que Deus escreveu a partir de Seus servos, daquilo que é verdade
inquestionável e que não se negocia. Mas, também, estou falando de um momento
especialíssimo em que a verdade deixou de ser apenas escrita para ser visível, palpável e
audível.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). “O que era desde o princípio, o que
ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos
apalparam a respeito da Palavra da Vida. A Vida se manifestou, nós a vimos e dela
testemunhamos, e vos anunciamos a Vida eterna que estava com o Pai e a nós foi
revelada. Sim, o que vimos e ouvimos, isso vos proclamamos, para que também
tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo. (1 Jo 1.1-3)

204
Que tal se nós disséssemos hoje: “Jesus encarna lá em casa. A verdade dele não é
uma das nossas opções, mas é a identidade da nossa casa!”? Que Jesus Cristo seja notado
quando alguém nos ouve ou nos vê, mesmo quando nem o percebamos. Que os vizinhos
escutem a verdade quando percebem o silêncio em nossa casa, porque nela nós não
gritamos nem envergonhamos o nome do Senhor. Que assim seja na minha casa, pois
estou orando para que isso aconteça. Não estou dizendo que já é assim, mas estou
querendo muito que seja assim e não vou desistir disso.
Que a verdade seja a identidade da sua casa! Você (filho, mãe e pai) pode trazer a
verdade para a sua casa. Há famílias destituídas de pai ou de mãe, mas Jesus quer ser
encarnado na sua casa. Que a verdade transforme a sua casa e conserte o que está errado.
Aos homens eu tenho uma palavra específica e direta: Homem de Deus, você é
responsável por fazer Jesus ser encarnado na sua casa para que ela seja coluna e baluarte
da verdade! Portanto, homem, não minta nem negocie com a verdade; não traga para sua
casa pensamentos que ouviu no filme e na televisão, mas são incoerentes com o que Deus
pensa. Quando seu filho lhe fizer uma pergunta, aprenda a dizer: “Filho, Jesus disse
assim...”. Quando seu filho contar-lhe que uma colega de escola odeia seu pai por ter sido
maltratada por ele e que, por isso, ele dá razão a ela, pergunte-lhe: “Filho, veja o que Jesus
disse sobre isso: ‘Se alguém te bater numa face, dê-lhe a outra; honra teu pai e tua mãe;
quem te pedir para andar uma milha, ande duas; se alguém te pedir a capa, dê-lhe também
a túnica’. Talvez você pense que explicar a maneira bíblica é muito complicado, mas deixe-
me dizer-lhe uma coisa: ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Em outras
palavras, o que salvará aquela menina não é ter ódio do pai, mas perdoá-lo, para que Jesus
entre nela e ela possa viver e pregar a verdade. Quem sabe, assim, até o seu pai se
converta?”
A verdade precisa ser o alimento da mesa de nossas casas, e Jesus Cristo é a
verdade. Uma prática muito simples e direta para que a sua casa se torne coluna e baluarte
da verdade é fazer três perguntas sobre qualquer ideia, opinião ou tema. A resposta
determinará o efeito: 1) Isso vem de Jesus? 2) Jesus sustenta isso? 3) Isso honra e glorifica
Jesus? Se seu filho questionar uma ideia do seu professor e o abordar sobre isso, use as
três perguntas: “Filho, o que o professor disse foi Jesus que disse? Se foi Jesus que disse
é verdade, mas se não foi é mentira, e o que o seu professor disse é um absurdo e não
honra nem glorifica Jesus.”
Eu sou biólogo, trabalhei com Ciências por cinco anos, escrevi artigos científicos,
trabalhei em um laboratório que fazia ciência e sei como ela funciona. O cientista tem uma
ideia, uma teoria a qual ele quer provar ser verdadeira. Então, monta um experimento, uma
situação e faz tudo acontecer para obter a sua prova. Sim, ele prova sua ideia até que o
próximo cientista faça, também, a sua prova e o conteste. Assim, a verdade científica não
pode ser “A” verdade. A verdade e o que Jesus diz ser A verdade? Fale e ensine isso ao
seu filho. Pergunte-lhe: “Filho, o que o seu professor falou, Jesus pode sustentar? É Jesus
que está mantendo isso vivo ou é o sistema do mundo? Filho, essa ideia do seu professor
exalta Jesus e o coloca no topo? Ela honra a ideia de que Jesus tem um nome acima de
todo nome? Ela leva as pessoas para ele?”
Use essas três perguntas que são muito simples e baseadas em Romanos 11.36:
“Porque dele, por meio dele e para ele são todas as coisas”. Escolha viver igreja em sua
casa e fazer da igreja uma família através do seu papel e função nela. Amém!

205
O ALTO PADRÃO DE DEUS PARA NÓS
Tony Felício

D eus tem um padrão alto para as nossas vidas e famílias, pois nos criou para sermos
conforme a imagem do Seu Filho. Jesus é maravilhoso e, indescritivelmente, o ideal
perfeito e Deus quer que sejamos semelhantes a ele. Nós não entramos na vida cristã para
fazer parte de uma religião, mas para alcançar a Cristo. Como diz o apóstolo Paulo, em
Filipenses 3, para ganhar a Cristo e ser achado nele. Nosso alvo é Cristo e o seu padrão é
altíssimo. Saber disso pode, às vezes, nos trazer um sentimento de dúvida: Será que vou
conseguir alcançar esse alvo? Será que serei, por exemplo, o marido que a Bíblia diz que
eu devo ser?
Certa vez, quando ainda era um jovenzinho, conversando com meu pastor eu lhe
disse: “Eu acho muito bonito como você ama a sua esposa”. Ele me respondeu: “Sim, mas
eu não, pois ainda não amo minha esposa como Jesus amou a igreja”. Confesso a você
que eu, Tony, ainda estou buscando amar a minha esposa como Jesus amou a igreja. Mas
eu a amo e sei que vou chegar lá!
Ao olharmos a realidade que Deus nos apresenta e compará-la com a situação em
que nos encontramos, vemos que o alvo é muito grande e alto. Essa constatação pode nos
levar a duas reações:
1ª – “O alvo é grande demais, por isso, vou me contentar com a situação em que me
encontro, pois ela é o máximo que eu posso alcançar. Ficarei na zona da mornidão, do
mais ou menos, ou do quase lá”.
Essa não é uma reação correta, mas ela existe e é sempre uma possibilidade.
2ª – “Meu Deus, que alvo fantástico e que pensamentos altos o Senhor tem a meu
respeito! Eu não consigo chegar lá, mas Você me leva?”
O próprio Deus avaliou Seus pensamentos e chegou à conclusão de que eles são
maravilhosos e mais altos que os nossos (Is 55.8,9). Deus não pensa pequeno ou de forma
medíocre quando olha para nós. Ele pensa grande, assim como qualquer pai terreno pensa
a respeito do seu filho pequeno. Nenhum pai deseja ou projeta que seu filho seja um
simples varredor de rua (não que tal profissão não tenha o seu valor). Portanto, planeje a
vida que seu filho terá com Deus, mas planeje alto! “Eu quero que esse menino seja um
profeta do Altíssimo, um pastor, e que vá para as nações”. Depois planeje a sua profissão,
desejando que ele seja uma pessoa íntegra naquilo que fizer. Ora, se nós, pais terrenos,
queremos o melhor para os nossos filhos, imagine Deus, o nosso grande Deus! É óbvio
que os pensamentos Dele a nosso respeito são maravilhosos. Ele mesmo diz: “Eu é que
sei que pensamentos tenho a vosso respeito; pensamentos de paz e não de mal, para vos
dar o fim que desejais” (Jr 29.11). Deus olha para nós e vê o nosso futuro.
O problema, quando decidimos pela primeira reação, é que olhamos para o nosso
passado e concluímos: “É, carregando o que eu carrego, não vai dar para ir muito longe”.
Ao pensarmos e agirmos assim, estamos desprezando o que aconteceu na cruz de Cristo;
nós a desprezamos apesar de nela estar as nossas histórias passadas, com suas tragédias

206
e mazelas. Deus não considera o nosso passado como modelo para imaginar o nosso
futuro. Nós devíamos celebrar isso! A sua vida não nasce de suas histórias passadas, mas
da história de Jesus Cristo na cruz.
Onde nasceu a sua história e de onde Deus começou com você? Na cruz de Jesus
Cristo! Então alegre-se, pois ele nos colocou nela para morrer, nascer de novo e começar
uma nova história! Eu quero lhe animar a olhar o que Deus planejou com excelência para
você e admitir: “Senhor, eu não consigo, mas Você me leva?” Quando Deus nos leva, Ele
o faz nas asas da graça e da capacidade que tem de realizar o impossível, apesar de nós.
Aleluia!
A seguir veremos dois momentos na Palavra nos quais a capacidade de Deus de
nos tirar da miséria, do caos e nos levar para a excelência, aparecem. Anime-se, com isso,
a perseguir o alvo maravilhoso que Deus tem para sua vida.

1º momento: 2 Samuel 9.1-13.


Disse Davi: Resta ainda, porventura, alguém da casa de Saul, para que use eu de
bondade para com ele, por amor de Jônatas? Havia um servo na casa de Saul cujo
nome era Ziba; chamaram-no que viesse a Davi. Perguntou-lhe o rei: És tu Ziba?
Respondeu: Eu mesmo, teu servo. Disse-lhe o rei: Não há ainda alguém da casa de
Saul para que use eu da bondade de Deus para com ele? Então, Ziba respondeu ao
rei: Ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés. E onde está? Perguntou-
lhe o rei. Ziba lhe respondeu: Está na casa de Maquir, filho de Amiel, em Lo-Debar.
Então, mandou o rei Davi trazê-lo de Lo-Debar, da casa de Maqui, filho de Amiel.
Vindo Mefibosete, filho de Jônatas, filho de Saul, a Davi, inclinou-se, prostrando-se
com o rosto em terra. Disse-lhe Davi: Mefibosete! Ele disse: Eis aqui teu servo!
Então, lhe disse Davi: Não temas, porque usarei de bondade para contigo, por amor
de Jônatas, teu pai, e te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu comerás pão
sempre à minha mesa. Então, se inclinou e disse: Quem é teu servo, para teres
olhado para um cão morto tal como eu? Chamou Davi a Ziba, servo de Saul, e lhe
disse: Tudo o que pertencia a Saul e toda a sua casa dei ao filho de teu senhor.
Trabalhar-lhe-ás, pois, a terra, tu, e teus filhos, e teus servos, e recolherás os frutos,
para que a casa de teu senhor tenha pão que coma; porém Mefibosete, filho de teu
senhor, comerá pão sempre à minha mesa. Tinha Ziba quinze filhos e vinte servos.
Disse Ziba ao rei: Segundo tudo quanto meu senhor, o rei, manda a seu servo, assim
o fará. Comeu, pois, Mefibosete à mesa de Davi, como um dos filhos do rei. Tinha
Mefibosete um filho pequeno, cujo nome era Mica. Todos quantos moravam em casa
de Ziba eram servos de Mefibosete. Morava Mefibosete em Jerusalém, porquanto
comia sempre à mesa do rei. Ele era coxo de ambos os pés.
Mefibosete é uma figura muito interessante e emblemática neste nosso assunto. Ele
era neto de Saul e filho de Jônatas, com quem Davi tinha uma aliança. Por causa da
rebelião de Saul, muitos da sua casa morreram e Davi, querendo honrar sua lealdade e
aliança, perguntou se ainda restava alguém da casa de Jônatas para que ele pudesse
honrar.
O único que tinha restado não era como Saul e Jônatas, de belo porte, forte e capaz.
Eis alguns dados sobre Mefibosete: Ele era filho de uma concubina de Jônatas e quando
tinha cinco anos de idade seu pai e avô foram mortos. O menino, nessa época, sofreu um

207
acidente e ficou aleijado dos pés. Depois disso foi para um lugar chamado Lo-Debar que
significa “casa do esquecimento” ou “casa de coisa alguma”. Eu descreveria Mefibosete
como um politraumatizado, pois foi traumatizado emocionalmente com a morte do pai e
avô, traumatizado por ter perdido os seus pés e, também, por ter sido enviado para uma
cidade na qual ele ficava distante de tudo e de todos. Simbolicamente, o nome da cidade
transmitia-lhe essa mensagem de rejeição o tempo todo – lugar de esquecimento.
Um dia, porém, Davi perguntou a Ziba (servo da casa de Saul) se havia restado
alguém da casa de Jônatas. Ziba respondeu que restava um – ele era aleijado dos pés e
morava em Lo-Debar. Davi, então, mandou que o trouxessem, dizendo que ele e a sua
casa não teriam mais fome, pois todas as posses de Saul seriam dadas a ele por herança.
Mas há, ainda, algo especial sobre Mefibosete: ele não comeria em sua própria casa, mas
na casa do rei Davi, à sua mesa, para sempre.
O que a história de Mefibosete fala com você? De alguma maneira todos nós somos
aleijados dos pés e não conseguimos andar como deveríamos. Nas nossas histórias
também há traumas, tragédias e coisas que não conseguimos fazer. Às vezes, nós
lembramos que foi da nossa história passada que veio o nosso futuro e, por isso, ficamos
desanimados. Afinal, fizemos coisas erradas e pessoas fizeram coisas erradas contra nós.
Deixa-me dizer-lhe a minha percepção sobre esse texto: Deus tem uma aliança com
Seu Filho para honrar a sua cruz. Há uma aliança entre o Pai e o Filho! O Filho se
comprometeu a morrer por causa do projeto do Pai e o Pai se comprometeu em trazer à
Sua mesa aqueles que creem no sacrifício do Filho. Quando Deus olha para nós, Ele não
vê o nosso estado, mas o estado de Jesus naquela cruz e, então, diz: “Vou trazer essa
pessoa para a minha mesa por causa da minha aliança com meu Filho”. Nessa história,
não vejo apenas a aliança de Davi e Jônatas, mas a aliança do Pai com o Filho, a aliança
entre Deus Pai e Deus Filho. Essa é uma amizade eterna e inquestionável, capaz de fazer
Deus se mover por causa dessa aliança.
Efésios 1.6 diz que Deus nos fez agradáveis a Si no Amado. Nós deveríamos
celebrar essa verdade, porque ela quer dizer que Deus não procura em nós algo que vai
Lhe agradar, pois a Sua sede de perfeição já foi atendida pelo Filho. Aleluia! Diga-me se
não saiu uma tonelada de cima de suas costas? A sede de perfeição de Deus, que é
perfeito, já foi resolvida por Seu Filho. Deus olha para nós agora, com nossas pernas coxas
e pés amputados, e nos vê andando, correndo e voando mesmo enquanto nos arrastamos.
Você já se sentiu arrastando na vida cristã? Então essa palavra é para você. Deixe-
me explicar: Não é se arrastando em direção ao pecado, mas em direção à mesa do
Senhor; não crente da sua impossibilidade, mas crente do milagre que Ele pode produzir.
Ele é o Rei que nos chama para sentar à Sua mesa. Nós nos arrastamos sem conseguir
chegar, mas, também, sem perder o alvo, sem abrir mão do Seu padrão e vontade. De
repente, nos vimos sentados à mesa do Rei, pois Ele nos pegou com as garras da graça e
nos pôs assentados ali para usufruirmos da Sua comida. Somos ainda desajeitados, afinal,
nunca tínhamos comido na mesa de um Rei. É preciso esperar um pouco até que
aprendamos. A mesa, entretanto, é poderosa. Ela nos dá dignidade e a comida que nela
está posta nos dá vida e nos transforma. A mesa para nós é a mesa de Cristo, a mesa do
Senhor que fala de seu sangue e de sua carne. Do quanto somos perdoados e do quanto
podemos ter a vida de Cristo em nós. Ainda que as vezes vamos nos arrastando,
precisamos ir, sem desistir, sem parar, porque uma vez na mesa, a obra é do próprio Deus.

208
Deixa-me falar especificamente: Se você tem um filho ou uma filha que não está
como Deus quer, isso só mostra que o seu trabalho ainda não terminou; se o seu
casamento não está como Deus quer, é porque o trabalho não acabou. Isso significa que é
preciso continuar indo à mesa do Rei, porque é a comida Dele que fará as coisas
acontecerem. Não é a nossa performance, nossa história nem nossa capacidade, mas é a
graça, disponível para nós, que nos mudará. Todos nós temos jeito, toda situação pode ser
mudada, toda realidade pode ser transformada, porque estamos falando de um Deus que
é Rei, Soberano, Amoroso e Poderoso para transformar realidades. Você crê nisso? Então
deixe essa palavra entrar em seu coração.
Lá estava Mefibosete, politraumatizado, sentado à mesa do rei. Não sou contra a
psicologia, mas contra a “psicologização” do evangelho. Sabe o que é isso? É chegar diante
do Senhor e dizer, como Moisés: “Senhor, Tu mandou-me falar isso, mas eu não sei falar”;
ou: “Senhor, eu sou apenas uma criança”. Em linguagem de hoje: “Senhor, eu nem
amadureci tudo ainda, Papai”. Esses são os adolescentes de quarenta e cinco anos. Deus,
então, olha para essas pessoas e diz: “Não digas: ‘Não passo de uma criança’, porque se
Eu o mandar, você falará sim!’”.
Veja que Deus não é nada “psicológico”, mas pega a pessoa que dizia não saber
falar e a torna Sua porta-voz para milhares de outras pessoas. Loucura? Não! Milagre?
Sim! O problema é que queremos que a razão esteja em nós, mas ela não está e nunca
estará em nós. A razão está Nele. A razão de nos usar, de pensar em nós e sonhar conosco,
do desejo maravilhoso que tem a nosso respeito, está Nele. E Ele se basta com o que está
Nele!

2º momento: 1 Samuel 22.


Davi estava fugindo porque Saul o estava perseguindo. Por isso, ele procurou um
lugar para se esconder e encontrou uma caverna, a caverna de Adulão. Ele se sentia
acuado, sem saber o que fazer porque Deus lhe tinha dado a unção de ser rei, mas ainda
não havia tirado Saul do trono; era um momento de transição entre um e outro.
Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de Adulão; quando ouviram isso seus
irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-se a ele
todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os
de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos
homens. (1 Sm 22.1,2).
Você diz: “Ah, vou ficar assim mesmo!” Pelo amor de Deus, eu lhe digo, não
despreze a cruz de Cristo! Aos olhos naturais, os homens que estavam com Davi naquela
caverna não dariam nada de bom, pois estavam apertados, endividados e tinham seus
espíritos desgostosos. Isso, no mínimo, produzia neles desânimo e, no máximo, depressão.
Mas assim mesmo Davi se fez capitão deles. Quem de nós se atreveria a ser o capitão
daquele grupo? Eram em torno de quatrocentos homens, todos problemáticos. No entanto,
a gente diz: “Eu vou me preparar para servir ao Senhor”. Não estou desprezando o que
ainda precisa ser feito em nós, mas chamo a sua atenção para o fato que é Deus, e não
nós, que faremos.
Quero que você enxergue em Davi a figura do nosso General e Rei que olha para
nós, um bando de problemáticos, e diz: “Ei, meu exército, vamos trabalhar?” Aleluia! Você
conhece o final dessa história? Foi a partir desses homens que se formou o maravilhoso

209
exército de Davi e os principais dos seus homens eram chamados de “os valentes de Davi”.
Sim, eles saíram da caverna de Adulão, lugar de refúgio e aconchego, na qual não era
preciso nenhum requisito para entrar, entrava quem quisesse e se tornaram grandes
valentes de guerra.
Você quer se juntar ao Rei Jesus nessa “caverna”? Saiba que ele não olha os seus
muitos problemas, mas olha o seu coração. Quando você se vir numa situação em que
percebe não ter saída, olhe para onde vem a solução. Deixe que Ele seja a sua força e a
razão das decisões que você precisa tomar. Se eu olho para o Tony, não tenho muita fé,
mas se eu olho para Jesus, eu tenho fé. Ele disse: “No mundo tereis aflições, mas tende
bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33).
Você nunca achou estranho Jesus não ter falado como um psicólogo? “No mundo
tereis aflições, mas tende bom ânimo, você vai vencer”. As livrarias estão cheias de livros
de autoajuda, mas é na Bíblia que você descobre a verdadeira vitória que Jesus está
falando. A vitória é dele! Se eu tiver expectativa na minha vitória, pode não dar certo. Mas
se eu tiver expectativa na vitória de Jesus, é verdade que dará certo, que já deu certo! Isso
é maravilhosamente louco! Ele nos anima ao dizer: “Tenham bom ânimo, eu venci o
mundo.”
Nosso chamado é para estar nele, confiar nele e olhar para ele. Então, vamos a ele
– todos os apertados, endividados e de espírito angustiado – porque um exército está sendo
preparado e o General é poderoso; Ele consegue treinar gente assim. Aleluia! Ele quebra
e despedaça todo jugo de sobre nós. Ele mesmo diz em João 15.1-5:
Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em
mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais
fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em
mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo,
se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes
em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele,
esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
Quem éramos nós à luz dessa ilustração usada por Jesus? Um graveto seco sem
nenhuma vida ou condição.
Eu, Tony, sou filho de um pai que foi militar e que se separou de minha mãe quando
eu tinha seis anos de idade. Aquele ano, para mim, foi completamente escuro. Certo dia,
meu pai chegou à cozinha de nossa casa e, após sentar à mesa e expor suas razões,
concluiu: “A partir de hoje eu estou me separando de sua mãe”. Eu só tinha seis anos de
idade e a partir daquele dia cada filho foi morar na casa de uma pessoa. Nós nos separamos
uns dos outros porque, ligada à situação da separação, tinha a doença de minha mãe, que
precisou fazer tratamento fora. Foi tudo no mesmo ano: primeiro a doença, depois a
separação deles e, finalmente, a dos filhos.
No dia em que meu pai anunciou a separação, minha mãe se desesperou e começou
a chorar. Houve não pequena contenda na casa e muitos gritos. Não sei como a porta do
apartamento se abriu e a vizinhança foi entrando. Lembro-me da cena: minha mãe
ajoelhada em frente ao meu pai, implorando para que ele não se separasse dela; meu pai
não querendo abrir a porta da cozinha e a vizinhança entrando pela porta da sala. Lembro-
me disso como se fosse hoje. Todas as minhas esperanças se acabaram naquele dia.

210
Um ano morando fora, cada filho numa casa. De repente, meus pais voltaram. Não
sei bem como aconteceu, só sei que eles conversaram com alguém. Uma mulher de Deus,
alguns pastores e outras pessoas se juntaram para promoverem a reconciliação deles e,
então, voltaram para casa. Voltaram, mas a guerra entre eles continuou. Eu fui crescendo
ouvindo constantemente as ameaças de separação e divórcio.
Nas terças-feiras, era o dia do nosso culto doméstico, mas, frequentemente, minha
mãe saía chorando emburrada e meu pai, com o rosto bem triste, tocava em seu violão
uma música em tom menor. Outras vezes, minha mãe orava e cantava enviando
mensagens para meu pai e vice-versa. Lembro-me da música predileta dela, que cantava
chorando: “Senhor, se existe em mim algo mal que me afaste de Ti, quebranta-me”. E meu
pai, por sua vez, cantava em tom menor: “Caminhei pela estrada da vida, sem Deus e sem
direção”. E eu ali, com minhas irmãs, naquele ambiente esquisito. Mas meus pais oravam
porque queriam Deus; tinham de orar para ver se Deus fazia alguma coisa.
Numa terça-feira, naquele ambiente esquisito, o Espírito Santo resolveu entrar em
casa e não ficou tímido diante do caos. Eu estava lá, ajoelhado, querendo muito ser
batizado no Espírito, pois minhas irmãs já tinham sido e eu estava com um leve desconforto
(ou inveja santa) sobre isso. Eu orava naquele clima em que meu pai tocava e minha mãe
se cantava. E então aconteceu! Eu fui batizado no Espírito Santo naquele dia de culto
doméstico na minha casa, onde as coisas não eram perfeitas. Por mais incrível que possa
ser, meu pai foi o homem que mais marcou a minha vida em relação a ser fiel, minha mãe
foi a mulher que mais me aproximou do sobrenatural de Deus.
Apesar de eu ser um menino pobre e traumatizado em potencial, um dia Deus me
apareceu e fez uma proposta. Lembro-me que nessa época eu tinha em torno de onze anos
de idade, meus pais estavam brigando muito e eu falei: “Deus, onde Você está que não
muda isso?” Eu chorava muito quando vi Jesus. Eu sentado no chão e ele na minha cama.
Eu podia ver suas lágrimas caindo enquanto levantava seu rosto para mim, dizendo: “Tony,
eu ainda não posso mudar a vida deles porque eles não deixam. Mas, prometo, na sua vida
será diferente”. Depois ele falou para eu cuidar dos meus pais.
Posteriormente, eles passaram a frequentar o grupo caseiro que eu liderava. Meu
pai, que era líder de congregação na época, precisou se afastar para cuidar do casamento
e da família. Ambos, então, se tornaram minhas ovelhas e, agora, podíamos conversar.
Meu pai, com quem eu não tinha nenhuma amizade antes, agora era meu amigo e
podíamos compartilhar a Palavra. Minha mãe pedia-me para ler a Bíblia com ela porque,
dizia ela, “você é o único pastor que eu entendo!”
Então, eu me lembro, aconteceu a gota d’água, a cereja que faltava no bolo! Era final
de junho de 2000 e ia ter um encontro que falaria de perdão e cura. Aproveitei que eles me
consideravam como pastor e os incentivei a ir, dizendo que seria muito bom para eles. Eles
me ouviram e foram. No domingo, no final do encontro, minha mãe me ligou, dizendo: “Filho,
muito obrigada por ter falado para eu vir para cá; eu sou outra mulher, você vai ver”. Ela,
que sempre foi muito comedida, fez um grande estardalhaço pelo telefone. Na segunda-
feira, às duas horas da tarde, eu recebi a visita de dois dos meus pastores. Eles me
perguntaram o que eu estava fazendo e lhes disse que estava à espera de “painho” e
“mainha”. Então, eles falaram: “Pois é, mas eles não vão chegar.” Eles tinham acabado de
falecer num acidente de carro, na volta do encontro que eu mesmo havia pedido que
fossem.

211
Primeiro, vamos falar na ótica da psicologia. Você deve estar pensando que eu me
sentia culpado. Sim! Foi isso mesmo que aconteceu! Eu gritei muito naquele dia, gritei como
nunca havia gritado em toda a minha vida. Era um misto de pânico, raiva e indignação:
“Deus, não foi esse o combinado!”. Era mais ou menos essa a minha conversa com Ele.
Dias depois, nós fomos orar com alguns irmãos que estiveram naquele encontro e
eu falei: “Deus, a minha mãe estava lá porque eu tinha falado para ela ir.” Falo sério, eu era
um forte candidato à terapia. “Deus, é verdade que se eu não os tivesse mandado ir, eles
não teriam morrido?” Deus, que tem um jeito bem peculiar de lidar comigo, respondeu: “É,
foi assim mesmo. Obrigado! Você me deu dois presentes!” Você entendeu o que Deus falou
comigo? “Você fez exatamente o que Eu queria que fizesse”. Não precisei de uma consulta
com o terapeuta, pois fui curado instantaneamente da possibilidade de ficar traumatizado.
Deus pegou os meus pais e os colocou num lugar alto e lhes disse: “Venham para cá”.
Não tenho minha origem em uma família perfeita, como você mesmo pode constatar,
e corro o risco de você não querer mais ouvir as minhas pregações quando eu disser que
a minha família atual não é perfeita, pois tem muita coisa que eu ainda não alcancei. Mas
tem muita coisa que Deus já me fez alcançar. Sabe quem eu era? Um menino igualzinho
uma vara seca, só que o Agricultor me achou. Ele pegou a vara seca e a enxertou na Videira
Verdadeira. De repente, a vara seca começou a receber de uma seiva que ela nunca tinha
visto antes, de uma substância que ela nunca tinha experimentado. Logo a vara seca não
produziu mais os frutos que produzia quando estava na outra árvore, mas, depois de ter
sido enxertada na videira, ela passou a produzir outro tipo de fruto. E agora, quando você
olha para mim, não vê mais uma vara seca e, sim, uma vara enxertada na videira.
Sabe o que Deus quer de nós? “Permaneça em mim, não vá embora, porque a cada
nova estação um novo fruto vai surgir. Fica comigo e me escute. Eu estou falando à sua
alma, ao seu espírito, ao seu corpo, à sua mente, ao seu coração: fica comigo, permaneça
em mim”.
Deixe a seiva, a substância de Deus, fluir. A substância da Palavra junto com o
Espírito, o material sólido junto com o material aquoso formam a seiva; o sólido e o aquoso,
que é o lavar pelo Espírito. Deixe a Palavra e o Espírito continuarem trabalhando. Cada vez
que você ouvir uma palavra que apresenta um alto padrão, diga ao Senhor: “Eu não
consigo, mas Você me leva?” Persiga isso, insistentemente, porque nós não somos
perfeitos, mas fomos desenhados para alcançar a perfeição. Aleluia! É por isso que temos
uma certa insatisfação constante. Nós fomos desenhados para o eterno, mas ainda não
somos eternos. Mas ele nos diz: “Permaneça em mim, fique aqui! Continue, persevere,
insista, não abra mão disso”.
Se seu filho tem dez anos e você ainda não conseguiu alcançá-lo, ande mais dez
anos com ele. Se ele já casou e ainda está longe de Deus, continue ainda mais. Insista,
persista, continue, porque Deus não vai parar e, se Ele não vai parar, nós também não
podemos parar. “Mas Tony, eu fiz coisas muito erradas, coisas que não deram certo.” Não
importa, continue, porque Deus fez uma coisa que deu certo e essa coisa é o alicerce para
tudo em nossa vida, para tudo o que vai ser reconstruído, restaurado e recomeçado: Jesus
morreu, ressuscitou e tem um nome acima de todo nome. Aleluia!
Eu te convido, em nome do Senhor Jesus Cristo, a encher-se de ânimo e de
esperança na capacidade que um Deus gracioso tem para mudar as suas histórias, as suas
realidades e te levar a outros patamares. Nós temos degraus a subir, mas somos pequenos
demais para eles e não sabemos o que fazer. Porém, o mesmo Rei que nos faz assentar à

212
Sua mesa é o Rei que nos carrega e nos coloca no degrau adiante, pois Ele está
interessado nisso. Ele está interessado no Seu exército, na Sua casa. Ele anseia para que
aqueles que Ele enxertou na videira produzam frutos com a “cara” da videira, e não com a
“cara” da antiga vara. Há outro Deus tão bom assim? Você conhece? Não!
Quem escreveu o texto abaixo foi um homem que matou pessoas, ou no mínimo se
envolveu em suas mortes por causa de sua religião, até que, um dia, Jesus apareceu-lhe.
Foi o apóstolo Paulo:
Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode
confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel,
da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo,
perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para
mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero
tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para
ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei,
senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na
fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus
sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar
a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido
a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado
por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa
faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante
de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus
em Cristo Jesus. (Fp 3.4-14).

213
DEUS QUER NOSSO CORAÇÃO
Harold Walker

F ui muito tocado ao ler, recentemente, o livro de Oséias. É um livro bastante


“escandaloso”, porque Deus mandou que ele se casasse com uma mulher infiel. Ora,
a primeira coisa que nós falamos no casamento é que seremos fiéis, e Deus o manda casar
com uma mulher infiel? Mas isso tem um propósito muito profundo e eu senti, no profundo
do meu ser, como é o clamor do coração de Deus sobre mim, sobre nós.
Os primeiros capítulos falam sobre a relação de Oséias com aquela mulher. Depois
disso, ele precisou comprá-la de volta. Alguns pensam que essa era outra mulher, mas
traduções judaicas dão a entender que era a mesma. Ele teve de comprá-la de volta porque
ela havia ido para a prostituição, para a escravidão. Então, sendo a mesma mulher, o texto
se torna ainda mais dramático ao falar da palavra de Deus sobre isso.
Eu gostaria que você sentisse um pouco o coração de Deus por nós. Ele não é um
Deus mecânico ou um carrasco segurando uma prancheta e anotando nela se estamos
fazendo tudo certinho, como Ele ordenou. Os judeus conseguiram destilar da Bíblia 631
mandamentos! Meu Deus! Se você for um judeu ortodoxo que tem de obedecer a todos
eles, certamente ficará louco. Se com 10 mandamentos a gente não consegue, imagine
com 631! Os judeus começaram a ter uma visão deturpada de Deus. Essa não foi a visão
que Ele havia dado a eles, pois Ele não é assim.
Em todo o livro de Levítico, Deus dá diversas orientações de como eles deveriam
fazer os sacrifícios e quem os deveria fazer. O livro explica detalhadamente como Deus é
sistemático sobre sacrifícios. Mas depois, em outras passagens, Ele diz: “Eu não quero
sacrifício e também não gosto das suas festas. Oxalá que se fechasse a porta para que
não acendesse o fogo do meu altar. Eu odeio seus sacrifícios, eu quero é justiça!” “Deus”
– nós diríamos – “resolve o que o Senhor quer! Primeiro o Senhor orienta no livro inteiro
como fazer os sacrifícios e depois diz que não gosta deles?” Mas precisamos entender o
coração de Deus. Ele quer sacrifício sim, mas quer uma coisa muito além disso. Quando
colocamos os detalhes de “como fazer sacrifícios” no lugar daquilo que Ele quer muito mais,
Ele fica com raiva!
Podemos comparar essa reação de Deus com a situação de uma mulher que ouve
seu marido dizer: “Eu gosto de boa comida, casa limpa, mas não gosto disso, daquilo etc.”
Ela, então, retruca e eles brigam. Depois ela começa a fazer tudo o que ele gosta, mas sem
amor. O marido chega e tudo na casa está muito limpo, sem poeira, porque a mulher
cumpriu todas as suas exigências. Mas ela não tem amor, paixão e nem alegria. Então ele
fala bravo: “Eu quero é a casa suja mesmo, mas tem que ter, pelo menos, um abraço
quando eu chego”. A mulher argumenta: “Mas você não brigou tanto porque queria a casa
toda limpa?” Ele responde: “É, eu gosto de casa limpa, mas muito mais do que limpeza, eu
quero uma pessoa que me ama de verdade”.
Sim, Deus gosta de sacrifícios, de coisas certas e em ordem, mas, muito mais do
que isso, Ele quer o nosso coração. Eu sinto Deus falando não só com vocês, mas comigo,
que eu preciso de um coração que seja totalmente para Ele. Meu coração quer Deus, mas

214
de vez em quando quer outras coisas também e isso O entristece e O faz ficar aborrecido.
Deus falou para Oséias tomar uma mulher que gostasse dele, mas que também
gostasse de outro. Ele queria que Oséias sentisse o que Ele próprio estava sentindo: “Eu a
amo de paixão, mas ela não me ama de paixão. Às vezes, ela me ama quando ganha algo
de mim, mas depois ela se esquece e vai atrás de outros. Eu fico com raiva, com ciúmes,
mando-lhe pragas, fecho as portas com espinhos, tiro o ouro, o azeite, o vinho, tiro tudo!
Então, ela se desespera e diz: ‘Acho que era melhor o meu primeiro marido. Eu vou voltar
para ele’.” Ela volta, mas não por causa dele; volta porque está na pior.
Tem pessoas que ficam fervorosas nas reuniões, gritam, clamam, choram e pedem
a Deus, porque estão em crises financeiras ou morrendo de alguma doença. Infelizmente,
muitos são assim! Se você vê alguém zeloso, vindo às reuniões de oração pela manhã,
jejuando, orando, sendo pontual nas reuniões, pode ser que ele esteja fazendo tudo isso
porque está na pior. Mas Deus o ama assim mesmo. Essa é a lição de Oséias – Deus ama
assim mesmo! Ele tem raiva da infidelidade e “explode”, mas não deixa de amar. Às vezes
Ele fala que vai ser como um leão e, outras vezes, Ele fala que vai ser como o orvalho. Ele
age assim porque quando está com raiva vai ser como leão e, quando está querendo
abençoar, vai ser como o orvalho. Mas Ele é o mesmo Deus! É o Deus da ira, do ciúme, da
justiça, do certo e, também, é o Deus da paixão, do amor, do perdão e que está sempre
correndo atrás de nós, infiéis e pecadores. Esse é o nosso Deus e nós precisamos traduzi-
lo em nossas vidas e atitudes diárias.
Disse-me o Senhor: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e
adúltera, como o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles se desviem para outros
deuses, e amem passas de uvas. Assim eu comprei para mim tal mulher por quinze
peças de prata, e um hômer e meio de cevada; e lhe disse: Por muitos dias tu ficarás
esperando por mim; não te prostituirás, nem serás mulher de outro homem; assim
também eu esperarei por ti. Pois os filhos de Israel ficarão por muitos dias sem rei,
sem príncipe, sem sacrifício, sem coluna, e sem éfode ou terafins. Depois tornarão
os filhos de Israel, e buscarão ao Senhor, seu Deus, e a Davi, seu rei; e com temor
chegarão nos últimos dias ao Senhor, e à sua bondade. (Os 3.1-5)
Oséias diz à mulher: “Eu a comprei e você não será de nenhum outro e também não
será minha, porque não tenho interesse em alguém como você. Nós vamos esperar até
que você seja santa de verdade. Eu também vou esperar, não serei de outra. Vamos ficar
muito tempo assim até que essa infidelidade saia do seu coração.”
Já vimos homens e mulheres que traem e depois voltam para o casamento, mas não
estão lá. Voltam porque sabem que não é certo ficar fora, mas não voltam de todo o
coração. Coisas lá de fora ainda os agarram e tentam levá-los de volta. É uma situação
muito difícil. Imagine, então, Deus conosco! Nós estamos com Deus, choramos, amamos,
cantamos, mas depois, durante a semana, nosso coração vai para o outro lado. E assim
acontece sucessivamente: ficamos aqui, ficamos lá! O coração não está necessariamente
em pecado, mas não está totalmente voltado para Deus, não está apaixonado por Ele.
Nosso coração está com Ele apenas por conveniência. Mas Deus deseja um povo que
tenha seu coração totalmente voltado para Ele.
Deus não quer nada do que você faz; Ele só quer o seu coração por inteiro. Ele quer
que você O ame para valer, a ponto de não querer mais nada além Dele. Assim, se você
não obedecer a todos os 631 mandamentos, Ele não se importa; se você deixar a “poeira
acumular”, também não tem problema, porque Ele não está interessado nesses detalhes.

215
Deus gosta das coisas certas, limpas, arrumadas, mas isso não é o centro da Sua atenção.
O que Ele mais anseia é que você O ame de paixão e que nenhuma outra coisa ou pessoa
ocupe o lugar Dele no seu coração.
O nome disso é arrependimento! Mas o arrependimento que experimentamos ainda
é parcial, não é completo, porque somos iguais àquela mulher que voltou para casa, mas
seu coração e seu olhar não estavam lá. Por isso, Oseias falou para eles ficarem um tempo
esperando, até que ela se tornasse totalmente purificada e tivesse um olhar e coração
apenas para ele: “Só então eu vou te receber e nós seremos unidos num casamento
verdadeiro, eterno, que nunca vai acabar.” Isso é maravilhoso! Deus poderia nos dispensar,
nos mandar embora e Se casar com outra que fosse boa. Mas não! Ele pega a infiel e diz:
“Você ainda vai ser fiel. Eu te amo mesmo na sua infidelidade e você será totalmente
minha”. É isso que nós precisamos entender sobre o nosso Deus!
É importante entendermos que Deus Se importa com a justiça, com a obediência e
com a santidade. Mas, muito mais importante que essas coisas, é o coração totalmente
voltado para Ele. Deus não quer que você fique sempre olhando uma lista de regras para
ver se você “pisou na bola” com Ele ou não. Ele quer que você tenha uma paixão tal por
Ele que, voluntariamente, faça até mais do que lhe é pedido para fazer. Mesmo que você
falhe em alguma área, Ele saberá que não foi de coração, mas por relapso, ou
simplesmente porque aconteceu. Ele não está interessado na perfeição ou nos detalhes,
mas no coração voltado para Ele. Veja o que Ele diz em Isaías e em Mateus:
Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca
e com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração,
e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de
cor. (Is 29.13)
Hipócritas! bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com
os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram,
ensinando doutrinas que são preceitos de homem. (Mt 15.7-9)
Deus está Se referindo a pessoas religiosas, que vão à igreja, que dão o dízimo,
cantam, oram e leem a Bíblia. Tudo certinho e bonito, mas seus corações não são
totalmente Dele. Uma parte do coração é, mas falta muito ainda, porque estão mais
interessados no que os outros pensam a respeito deles do que o próprio Deus pensa. E
esse é o grande drama e problema de Deus!
No início do livro de Zacarias, há um versículo muito precioso e forte sobre
arrependimento. Será que arrependimento é apenas ir à frente chorando e pedindo a Deus
que o perdoe por ter feito o que não devia ter feito? Não! Arrependimento significa “virar”!
Só isso. Claro que você pode chorar enquanto vira. Deus acha bom que você esteja tão
compenetrado sobre o que fez de errado, sentindo a dor que causou Nele e, por isso, chora
e vai à frente. Isso é maravilhoso! Mas tem gente que faz essas coisas e não vira! O
importante é virar, não importa como! Pode virar calado, emburrado, de qualquer jeito, mas
tem de virar! Isso é o mais importante para Deus.
As palavras “converter” e “arrepender” não existem no Velho Testamento. O que
existe é “virar”, que tem o mesmo significado de converter-se e arrepender-se. Aliás, essa
palavra “virar” é usada pelos judeus no dia da Festa das Trombetas (quando se inicia o
novo ano judaico, em 20 de setembro). Essa Festa começa com dez “dias terríveis”, dias
de arrependimento, dias de virar para Deus. Eles chamam esses dias de Tisha B’Av (virar,

216
voltar). Veja o versículo de Zacarias:
Assim diz o Senhor dos exércitos: Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos exércitos,
e eu me tornarei para vós, diz o Senhor dos exércitos. (Zc 1.3)
“Tornai-vos para mim” é o mesmo que “voltai-vos para mim e Eu me tornarei para
vós”; é a mesma palavra. Deus não Se arrepende de pecados porque Ele não tem pecado,
mas Ele Se arrepende, em termos, porque “Ele vira”. Nós nos viramos do pecado e de
outros deuses para Deus, mas Ele vira da Sua raiva para Seu amor para conosco. Então,
os dois viram! Deus fica de costas porque você está de costas para Ele, mas, se você vira,
Ele também vira para você. É algo muito simples! Só que nós temos uma doença: viramos
sem virar! Voltamos para casa, saímos da prostituição, da infidelidade, mas não estamos
verdadeiramente em casa. Isso acontece porque ficamos pensando no que deixamos lá
fora e isso entristece Deus. Ele diz: “Você não sabe que Eu te amo? Não sabe que Eu sou
melhor? Ainda me compara com esses outros?” Esse é o dilema e “bronca” de Deus
conosco e é por isso que Ele vira de costas para nós. E, quando Ele está de costas, o que
você planta não cresce, o que faz não dá certo, vêm doenças e problemas, porque Deus
está com raiva. Então, ao ver que tudo vai mal, você vira para Deus e, nessa hora, Ele vira
para você. Mas tem de virar para valer, para nunca mais desvirar! Então, arrepender é virar.
Zacarias 7.5 me tocou profundamente. O povo perguntava ao profeta: “Será que
devemos continuar jejuando? Por setenta anos, desde que o templo foi queimado e fomos
levados cativos para a Babilônia, temos jejuado. Agora estamos de volta, mas não tem sido
bom também. Será que devemos continuar jejuando?” Zacarias não soube o que falar e
esperou que a palavra de Deus viesse a ele. E ela veio:
Então a palavra do Senhor dos exércitos veio a mim, dizendo: Fala a todo o povo
desta terra, e aos sacerdotes, dizendo: Quando jejuastes, e pranteastes, no quinto e
no sétimo mês, durante estes setenta anos, acaso foi mesmo para mim que
jejuastes? (Zc 7.4,5)
Você é capaz de sentir a dor do coração de Deus ao ler essas palavras? Setenta
anos, duas vezes por ano, o povo jejuava. Mas Deus disse: “Foi para mim mesmo que
vocês jejuaram?” Em nossa Bíblia essa pergunta é registrada uma vez, mas no original ela
se repete por duas vezes: “Foi para mim? Foi para mim?” É como a esposa que arruma a
casa e faz uma comida diferente porque vai chegar visita, e o marido pergunta: “Foi para
mim que você fez tudo isso? Foi para mim?” Ou, então, quando o marido compra algo
somente para agradar a esposa e ela diz: “Não foi para mim que você comprou isso! Não
foi para mim!” Ela quer que ele lhe dê uma coisa, mas de coração. Mas isso de “fazer de
coração” é uma coisa que os homens, normalmente, têm dificuldade. A mulher o desafia
para que seja de coração, mas ele gosta mais de raciocínio, pensamentos, planos.
No texto de Zacarias Deus fala como uma mulher. Aliás, Deus é homem e também
mulher. Deus é os dois, porque os fez à Sua imagem. O homem, sozinho, não é imagem
de Deus. Por isso a família é a imagem de Deus: o homem, a mulher e os filhos. Ele tem o
lado feminino tanto quanto o lado masculino – é a mesma coisa, a mesma força.
O fato de Deus perguntar se foi para Ele, me tocou profundamente: “Foi para mim?
Foi para mim?” Que Deus fale sobre isso a cada um de nós! Ele olha para você e pergunta:
“Você está orando, mas é para mim? Você está cantando, mas é para mim? Você está
doando, mas é para mim?” Ele está nos perguntando: “Foi mesmo para mim? Você tem
certeza que foi para mim?” É isso o que Deus procura: que seja para Ele de coração! Ele

217
quer isso muito mais do que coisas, atitudes, ações, detalhes. Ele quer pessoas que O
amem de paixão, de todo o coração. Que Deus nos ajude a termos um arrependimento
total para que não sejamos ‘meio coração’ com Ele e, sim, de TODO O CORAÇÃO.
Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus requer de ti, senão que temas o
Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma. (Dt 10.12)
Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor requer de ti, senão
que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu
Deus? (Mq 6.8)
Veja que até na Lei encontramos esse desejo de Deus de que O amemos de todo o
coração. Amar a Deus é a melhor coisa que pode acontecer na vida de uma pessoa. Mas
nós ainda estamos meio encantados com coisas que não são Deus; coisas visíveis,
palpáveis e que nos satisfazem, ao invés de satisfazer a Ele. Deus quer que nos voltemos
totalmente para Ele e promete que fará isso conosco por meio do Espírito Santo. Nós não
conseguimos sozinhos! Devemos reconhecer isso e pedir a Deus para nos dar esse
coração totalmente voltado para Ele.
Quando você estiver fazendo algo e ouvi-lo perguntar: “É para mim?”, diga-lhe:
“Deus, eu não quero que seja por outro motivo, mas que seja para Ti. Purifica o meu
coração para que tudo o que eu faça não seja por outro motivo, a não ser por paixão pelo
Senhor. Mesmo que o Senhor tire todos os estímulos, mesmo que ninguém esteja vendo,
mesmo que eu não venha a ter nenhuma vantagem com isso, que eu continue fazendo
mesmo assim, porque é para Ti.” Pessoas que têm essa atitude são as que estão
preparadas para os últimos dias, para a perseguição e tribulação que virão.

Alguns aspectos práticos para a época em que estamos vivendo:


Temos sentido muita graça de Deus nas quartas-feiras pela manhã, reunindo o
presbitério e conversando. Creio que os irmãos estão sentindo que, independentemente de
quem prega no domingo, a palavra é a mesma. Ela é uma palavra direcionada porque não
é da pessoa, mas do presbitério que está esperando em Deus. Isso é glorioso! Nós não
dependemos de uma pessoa, mas dependemos de Deus. A igreja é de Deus, o presbitério
está buscando a Deus e, consequentemente, Deus está dando a palavra para a igreja.
Não sei quantos estão atentos ao que tem acontecido em nossa cidade e no Brasil
inteiro. Mas, especificamente em Jundiaí aconteceu um fato. Na semana passada era para
ser apresentada uma peça teatral diabólica. Se a peça fosse apresentada num país
muçulmano e ela contrariasse um de seus valores, certamente haveria muitas mortes. É
por isso que todo mundo tem medo de mexer com o alcorão ou com Maomé. No entanto,
quando se trata de esconjurar Cristo e expô-lo a vitupério, o cristão, geralmente, não faz
nada. Mas isso está começando a mudar. Aleluia!
Paulo Manzini, em nossa última reunião, referindo-se ao que Tony Felício
compartilhou durante a Semana da Família, disse que daqui a alguns anos, quando ele
falar em público a palavra de Deus a respeito de ideologia de gênero, homossexualismo,
lesbianismo, será levado direto para a cadeia, porque será contra a lei falar sobre essas
coisas. E isso vai acontecer, não nos dias dos nossos filhos e netos, mas em nossos dias.
Falar contra essas coisas nos levará presos e, se vamos ser presos, então que seja pelo

218
motivo certo. Hoje ainda temos liberdade, temos a democracia a nosso favor. Podemos
falar e, se não falarmos ou nos calarmos, o ditado “Quem cala consente” será verdadeiro.
Por isso, quero alertar à igreja de que não temos o “luxo” de ficar calados, mas precisamos
fazer nossa voz ser ouvida.
Obviamente nosso líder, Jesus, não concorda com a violência. Maomé, sim, incitou
a violência e seus seguidores são fiéis ao que ele falou. Mas nosso líder disse: “Ao que te
ferir numa face, oferece-lhe também a outra...” (Lc 6.29a). Ele disse para não usarmos de
violência, mas, infelizmente, os cristãos, durante os anos, têm usado de violência para
defender o evangelho. Mas que evangelho é esse que usa de violência? “Não pode! É
proibido! É contra a lei de Cristo!”. Mas numa democracia nós temos liberdade de
expressão, de votar, de não nos calarmos. Então, não precisamos fugir e ficar como
avestruzes, com a cabeça enterrada na areia esperando que tudo passe. Precisamos, sim,
manifestar nossa indignação e começar a falar sobre essas coisas. Precisamos defender a
família e os valores dela diante da sociedade e diante de Deus. Sejamos “barulhentos”
sobre essas coisas, usemos as redes sociais, não para falar “bobagens”, mas para falar
algo que valha a pena.
Quanto à peça diabólica que seria apresentada em Jundiaí, um vereador da cidade
foi ao prefeito para reclamar dela. O prefeito negou estar de acordo com tal evento e ainda
publicou que não deu um centavo sequer para que ela fosse apresentada. Por causa disso
ele está sendo muito criticado, porque o movimento LGBT é minoria, mas é “barulhento”.
“Por que não pode?” – dizem eles. Uma repórter que não é ligada a nenhuma igreja, disse:
“Por que a cidade tem de gastar dinheiro federal para hétero ou para homo? O prefeito está
certo. Ele sofrerá críticas, mas está certo nesse caso”. Assim, parece (e eu digo “parece”,
porque não posso colocar minha mão no fogo por ninguém) que o prefeito tem essa posição
de defender os valores da família.
Há duas peças envolvidas. Uma é esta que falei, em que a costureira e a princesa
se apaixonam uma pela outra (uma versão da história infantil da princesa com o príncipe
encantado). A história é mudada para tentar educar as crianças no sentido de que a
costureira pode muito bem se apaixonar pela princesa. A outra peça é sobre Jesus. Nesta,
alguém corajosamente entrou no meio conseguindo eliminá-la e, depois, impediu a
manifestação. Por isso, eu digo que nós precisamos assediar a Prefeitura, o prefeito, a
justiça e fazer o barulho que for necessário. Recentemente, a revista Veja colocou em sua
capa a frase “Era das Trevas”, porque uma exposição do Banco Santander foi proibida em
Porto Alegre. Para os editores, “Era das Trevas” é proibir uma coisa absurda e bestial como
essa exposição, inclusive com a entrada de crianças nela. E ainda chamam isso de justiça?
Não pense que os valores de Deus vão prevalecer na sociedade atual, no Brasil e
no mundo. A Bíblia diz que tudo ficará cada vez pior, o mundo será contra nós por
defendermos esses valores divinos. Mas, enquanto tivermos liberdade, tempo e jeito, não
devemos nos calar. Devemos falar nas redes sociais, pressionar os políticos e votar em
quem não está sujo com toda essa corrupção. É difícil, mas devemos orar para que Deus
faça aparecer pessoas idôneas.
Por outro lado, há muitos cristãos e pastores famosos na televisão e nas redes
sociais que têm uma atitude errada. Ao se comunicarem, eles esbravejam espumando suas
bocas, falam mal e esconjuram quem é homossexual e quem crê nessas coisas. Há os da
direita que falam mal dos da esquerda, e vice-versa. Porém, o povo de Deus precisa ser
liberto de todo partidarismo. A Bíblia nos exorta a não ter partidos dentro da igreja e nem

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fora dela. Você pode ser um torcedor de um time de futebol, não tem problema, futebol não
vai afetar ninguém. Mas na política não seja torcedor, porque é muito mais sério. Há
pessoas que, ao saber que a outra é de um determinado partido político, não lê o que ela
escreve e nem ouve o que ela fala pois acha que é tudo mentira. Porém, se você não prestar
atenção em quem pensa diferente, você já é o enganado. Obviamente, você não precisa e
nem deve mudar suas convicções, mas deve ouvir a pessoa que pensa diferente, porque
sempre vai encontrar alguma coisa certa em seus pensamentos que pode levá-lo a um
equilíbrio.
Sobre a ideologia de gênero, tentaram várias vezes inclui-la no ensino por todo o
país, tanto em nível federal como municipal. Não deu certo, mas agora já estão novamente
tentando inserir nas escolas. Mas até mesmo uma das associações médicas de pediatria
mais influentes dos EUA, declarou-se formalmente contra essa ideologia. Eles dizem que
ela faz mal para a cabeça dos jovens e que causará danos terríveis no futuro. Essa
ideologia não é uma coisa que todos os incrédulos, ateus e cientistas concordam. Além
disso, ela vai totalmente contra a Palavra de Deus e contra a família. Por isso não podemos
ser passivos e calados, mas fortes sobre essa questão. Tanto o homossexualismo como o
lesbianismo são pecados, pois são contra a natureza, contra a família e abominações para
Deus. Não podemos ter “papas na língua” para falar contra, sem rodeios, porque nós
sabemos o que está escrito em Romanos 1 e também no Velho Testamento a este respeito.
Sobre a questão de tatuagens, a Bíblia diz que o nosso corpo é santuário do Espírito
Santo e que nós não pertencemos a nós mesmos, mas a Deus. Então você não tem o
direito de colocar marcas em seu corpo. No Velho Testamento, lemos claramente que Deus
abomina quem faz esse tipo de coisa. Tatuagem não é de Deus! Seu corpo vai ser
ressuscitado, purificado e você não tem direito de deixar nele uma marca permanente.
Angelina Jolie (atriz, cineasta e ativista humanitária famosa) teve profundo arrependimento
por ter feito tatuagens em seu corpo. Fez o possível, através de tratamentos horríveis, para
eliminá-las, mas sem ter total sucesso. Ela se arrependeu, não por causa de Deus, mas
por causa da sua “burrice” de deixar fazê-las em seu corpo. Os jovens, por um tempo, até
podem achar “chique” e bonito ter tatuagens, mas no futuro se arrependem e encontram
dificuldades até para conseguir empregos. Resumindo: Além de ser uma coisa que Deus
não gosta, é uma coisa “burra” de fazer. Será que eu consegui te escandalizar?
Estão surgindo modalidades de pornografia que nem podemos imaginar ou
mencionar. Algumas práticas vão começar a invadir a sociedade e serão muito piores do
que aquilo que já vimos ou imaginamos, por causa do recurso de 3D, a realidade virtual.
Uma série de coisas que têm vindo sobre o mundo não está na Bíblia, pois ainda não tinham
sido inventadas. Elas vão destruir a família, a santidade do sexo e se tornarão uma
anomalia horrível e, então, viveremos num mar de lama. Nós precisamos nos preparar e
nos armar para não cedermos a essas coisas.
Mas, apesar de todas essas coisas, Deus ama o homossexual, a lésbica e o tatuado.
Ele odeia que rejeitemos nossos irmãos que têm tatuagem. Isso é ser fariseu! Ora, se o
próprio Deus recebe a pessoa, por que nós a rejeitamos? Nós odiamos o homossexualismo,
mas amamos os homossexuais, porque Jesus os ama. Ele os recebe e não diz que o seu
pecado é pior do que os outros. Jesus nunca excluía ou rejeitava as pessoas do seu
convívio. A pessoa é infiel e fez coisas erradas, mas mesmo assim Jesus a recebe. Assim
é o nosso Deus!
De duas uma: Ou nós somos meio “moles” sobre a santidade, ou somos muito

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fariseus, críticos e julgadores. Mas Deus não gosta nem de um nem de outro. Precisamos
falar sem rodeios do pecado, mas, por outro lado, precisamos ser pessoas amorosas,
acolhedoras, cheias de perdão e graça para com todos. Assim é o nosso Deus, assim é
Jesus.
Eu gostaria que a nossa igreja estivesse cheia de tatuados, vindos lá de fora. Se
alguém me pergunta se deve fazer tatuagem, eu digo: “De jeito nenhum, meu irmão”. Mas,
se ele já fez, não tem problema, porque Deus o recebe e, por isso, eu também devo recebê-
lo sem nenhum problema. Deus quer que o ambiente da nossa igreja seja acolhedor, que
as pessoas entrem e não se sintam julgadas, discriminadas ou rejeitadas. Que todos se
sintam acolhidos num ambiente de amor, de perdão e alegria. Eu penso que o filho pródigo
não era tatuado porque não existia tatuagem na época, mas se tivesse ele certamente seria.
Mas o seu pai o receberia do mesmo jeito. Angelina Jolie não conseguiu tirar suas
tatuagens, mas Deus consegue. No corpo glorificado ele dará um jeito, sem problema. Não
existe mancha que Deus não tire ou coisa que Ele não resolva.
Penso que as pessoas terão dificuldade de nos receber porque nós amamos os
homossexuais, mas falamos mal do homossexualismo. Sim, nós vamos falar mal do
pecado, dar nome a ele, mas vamos amar as pessoas, porque é assim que Jesus foi e é
assim que ele nos ensina a ser. Que Deus nos ajude, como igreja, a cultivar a santidade e
a bondade de Deus. Que Ele nos ajude a sermos pessoas que chamam o pecado pelo
nome, que o esconjura e não lhe dá nenhuma trégua. Por outro lado, nós amamos as
pessoas e sabemos que, se arrependidas, Deus as recebe, ama e abençoa.
Que Deus nos livre do pecado do farisaísmo e da religiosidade; que Ele nos dê um
coração quebrantado e contrito, que diz: “Deus me recebe, pecador do jeito que eu sou”.
Ele recebe qualquer pessoa em qualquer estado e, pela graça de Cristo, de um dia para o
outro, Ele o transforma de pecador em santo. Isso é possível por causa do sangue do
Cordeiro. Ninguém é melhor do que ninguém, todos nós somos miseráveis, infiéis e
dependentes da graça de Deus. E o ambiente da nossa igreja deve irradiar essa verdade.
Não devemos ter medo ou vergonha de pessoas “diferentes” que chegam a nós
sobrecarregadas com seus males. Devemos recebê-las, abraçá-las e não ter nenhuma
atitude de discriminação. Assim é Jesus! Ele não tinha problema com a mulher samaritana
ou com a mulher pecadora que lavou os seus pés. Ser santo não é esconjurar quem está
com problemas, mas é recebê-lo trazendo-lhe graça e vida!
Senhor Jesus, clamamos a ti para que trabalhe em nossos corações. Transforma-
nos em uma igreja cheia de amor e de perdão. Transforma-nos numa igreja santa e
tire de nós a vergonha e a covardia. Tire de nós a falta de coragem de falar o que
devemos falar. Dá-nos a coragem de abraçar a prostituta, o homossexual e a lésbica,
sem nenhum problema. Dá-nos amor, perdão e graça do Alto. Tire de nós a atitude
de superioridade que nos faz pensar que somos melhores. Faz-nos quebrantados
de coração. Deus, acima de tudo, faz voltar o nosso coração inteiramente para Ti.
Perdoa-nos por ter um coração dividido e que ainda não é fiel a Ti, que ainda é
atraído por outras coisas. Senhor, nos liberta do coração dividido. Pergunte para nós
o dia todo: “Foi para mim?” Ajuda-nos a voltar o nosso coração para Ti para que o
Senhor possa se voltar para nós e, assim, haja cura, autoridade e poder na igreja.
Ajude-nos a sermos uma igreja santa, amorosa, cheia do fogo e da santidade, mas
também cheia do perdão, do amor e da graça do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém!

221
UNIDADE NO ESPÍRITO
José Carlos Marion

Q uero fazer uma pergunta muito forte para iniciarmos esta reflexão: Qual é o maior
pecado da igreja evangélica hoje? Não temos dúvida alguma na resposta; há
unanimidade em afirmarmos que é a DIVISÃO, pois está tem sangrado, ferido, dividido
terrivelmente o Corpo de Cristo.
Watchman Nee disse que a Igreja se tornou uma ‘máquina’ de produzir divisões em
série numa velocidade cada vez maior. Em 2011, uma pesquisa constatou que existiam 35
mil denominações evangélicas diferentes. Hoje fala-se em mais de 50 mil. Será que isso é
bom? Será que o céu se alegra com isso? Cada divisão, com certeza, foi produzida (e
continua sendo) por problemas não resolvidos (diferenças doutrinárias, de opiniões
pessoais, de autoritarismo, de falta de amor e perdão etc.). E isso nos tem trazido um peso
muito grande. Quando eu ouço alguém dizer que se saiu ou se separou de uma
congregação e começou uma nova eu choro, porque isso me dói no coração e, certamente,
dói muito mais no coração de Deus, pois é o corpo do Filho Dele que está sendo novamente
partido, afligido, machucado.
Jorge Himitian, em uma pregação realizada em 2005, disse: “O corpo é um
organismo vivo em que todos os membros estão ligados entre si; é uma unidade orgânica
e funcional; é a figura mais referida no Novo Testamento para representar a Igreja. Hoje, a
Igreja evangélica está dividida em milhares de ‘corpinhos’. Temos conseguido o absurdo
de dividir o indivisível; temos despedaçado o Corpo de Cristo. O pecado da Igreja Católica
é a sua mariolatria e culto às imagens e santos; o pecado da Igreja evangélica é a sua
terrível divisão. Qual desses pecados é o pior?” (Ora, é fácil deduzirmos isso, pois Jesus
disse que é fácil ver o cisco no olho do irmão, mas não repararmos na trave que está em
nosso próprio olho, Mt 7.3-5). “Quem somos nós para fazermos qualquer tipo de crítica?
Talvez o nosso pecado seja maior do que o deles!”
Alguns apóstolos falaram duramente acerca dessa questão:
Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa
de vós. (Rm 2.24)
Isso foi escrito para os judeus, mas também se aplica à Igreja. As pessoas que não
são cristãs podem blasfemar a Deus por nossa causa, devido às nossas posições e
atitudes, pelo mal testemunho que estamos dando.
Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro
começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de
Deus? (1 Pd 4.10)
Às vezes vemos tantas coisas más e erradas acontecendo e dizemos: “Imagine
quando Deus for julgar tudo isso!” Mas essas coisas estão em segundo plano para Ele, pois
em primeiro estamos nós; o julgamento do Senhor começa conosco, pela Casa de Deus e
teremos de prestar contas dos nossos atos, até mesmo de coisas que julgamos irrelevantes
ou que tratamos levianamente.

222
Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu
irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei,
mas juiz. Há só um legislador que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que
julgas a outrem? (Tg 4.11,12)
Tiago está dizendo que quem fala mal do irmão está julgando a própria lei de Deus,
passou a ser juiz da mesma e não mais apenas um observador.
Quero explanar quatro motivos da divisão ser pecado, para nos posicionarmos
contra essa situação e, então, glorificarmos a Deus por estarmos encontrando esse novo
caminho de unidade que está preparando a Igreja para a volta de Jesus.

1. Impedimos que o mundo conheça a Jesus.


Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles
sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. (Jo 17.21)
Ou seja, enquanto nós não formos UM, o mundo não crerá que Jesus foi enviado
por Deus. Sabemos que é o Espírito Santo quem vai cumprir plenamente essa oração de
Jesus, pois de nós mesmos não somos capazes, a não ser nos oferecermos
voluntariamente para participar desse processo. No entanto, podemos agir de forma
contrária à essa oração, impedindo a ação do Espírito Santo para que a unidade aconteça
(“estorvando” a vontade do Pai).
Por exemplo, quando Jesus anunciou que ele ia para a cruz, Pedro “o chamou de
lado” e tentou demovê-lo dessa decisão (Mt 16.21-23). A resposta de Jesus a ele foi
extremamente dura e firme: “Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo;
porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”
(v.23).
Pedro estava cogitando coisas dos homens e, por isso, foi usado por Satanás
naquele momento. Da mesma forma, nós, quando impedimos um propósito de Deus,
mesmo que involuntariamente, agimos a serviço do Diabo. Não estou dizendo que todas
as pessoas que dividem estão endemoninhadas, mas Satanás está “terceirizando” a elas
um serviço dele. E isso é muito forte!

2. Vamos contra a cruz de Cristo (vulgarizamos seu sacrifício).


Ora, ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano,
profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas
também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos. (Jo
11.51,52)
Jesus morreu para nos ligar a Deus e também uns aos outros, para sermos uma só
família com um único Pai. Quando nos dividimos, vamos contra essa obra de Cristo.

3. Ressuscitamos inimizades e reconstruímos muros.


Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede
de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos

223
mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um
novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo,
matando com ela as inimizades. (Ef 2.14-16).
Paulo chamou de “inimizade” o muro que nos separa. Na sua carne, Jesus juntou ou
reconciliou todos em um só corpo (judeus, gentios, católicos, evangélicos etc.), destruindo
a inimizade que havia entre estes povos, estes irmãos. Porém, quando nos dividimos, nós
reconstruímos esse muro, anulando ou desprezando o que Jesus fez; ao invés de sermos
construtores da unidade passamos a vulgarizar o sangue de Jesus que foi derramado para
essa finalidade.
Desta forma, precisamos odiar, sentir nojo do pecado da divisão, para que não
sejamos motivados a reconstruir o que Jesus já derrubou, a dividir o que ele já uniu
motivados por soberba, orgulho, ira, contenda etc. (carnalidades):
Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões,
não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo
um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? (1 Co 3.3,4)
Essas práticas são chamadas de “iniquidade” por Paulo em Romanos 1.29 e Jesus
ressalta que, nos últimos tempos, “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará”
(Mt 24.12). Ou seja, o amor da Igreja está se esfriando cada vez mais por causa das
divisões, pois isso é iniquidade, é falta de amor, de perdão. Muitos, ao lerem esse texto,
pensam que Jesus está se referindo ao mundo, mas, na verdade, ele está falando de uma
situação que ocorreria (e já está ocorrendo) na sua Igreja. No entanto, ele completa com
uma palavra de ânimo: “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (v.13). Por isso,
devemos perseverar contra o pecado da divisão, que é iniquidade ou abominação para
Deus, é algo que Ele odeia.

4. Quebramos alianças.
No Velho Testamento, uma aliança era feita cortando um animal ao meio e passando
entre as suas partes no chão. Isso simbolizava que se alguém descumprisse a aliança
deveria ser cortado ao meio como aquele animal. Para entendermos melhor, quero falar
sobre dois tipos de alianças.
Quando se casam, Deus disse que homem e mulher se tornam uma só carne (Mt
19.5,6; Ef 5.31) – uma unidade, algo íntegro, inteiro, completo – e não podem ser divididos
até que a morte os separe. Um divórcio, independentemente da situação que o provocou,
sempre machuca, dói muito para ambos e para suas famílias; sempre sangra, traz
sofrimentos e deixa muitas marcas, pois é o rompimento, a quebra de uma aliança, de uma
só carne, de uma unidade.
No entanto, algo que precisamos entender é que, quando se casam, nenhum dos
dois perde sua identidade masculina e feminina. Ambos têm suas características próprias
(masculinidade e feminilidade) que continuam mantendo após o casamento, pois não é
para terem unanimidade nos dons e habilidades que Deus deu a cada um. A mulher, por
exemplo, tem o dom da maternidade, tem a necessidade de segurança etc. Esse mesmo
princípio ou raciocínio devemos aplicar ao Corpo de Cristo, a Igreja. Quando nos
convertemos, fomos inseridos por Cristo no seu Corpo, tornando-nos UM com o Pai (Rm
12.5; 1 Co 10.17; Ef 4.4). Fazemos, agora, parte de um único Corpo, cuja Cabeça é Cristo

224
(Ef 1.22; 5.23; Cl 1.18).
Paulo disse: “Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo...” (1 Co
10:17). E também: “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas
individualmente somos membros uns dos outros” (Rm 12:5). Então, da mesma forma que
Deus vê o homem e a mulher no casamento como uma só carne, Ele nos vê como um só
Corpo, sem perdermos, contudo, a nossa individualidade. Quando acontece uma divisão é
como se tivéssemos cortando um membro do nosso corpo – vai doer, machucar, ferir,
deixar marcas permanentes – porque o corpo é um organismo vivo.
Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho
da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo
da promessa. (Ef 1.13)
Neste texto, Paulo nos revela a porta de entrada neste Corpo. No momento em que
temos a revelação da cruz e cremos em Jesus, somos selados com o Espírito Santo. Mas
essa palavra é verdadeira para todos: evangélicos, católicos, ortodoxos, pentecostais, não
pentecostais, judeus etc. O Espírito Santo não é privilégio ou “monopólio” de alguns poucos,
mas um patrimônio de todos os cristãos, de todos os que creem em Jesus Cristo. Às vezes
sofremos da chamada “síndrome de Elias” (1 Re 19.10): “Senhor, só eu fiquei, estou
sozinho, só eu sei das coisas...”. Essa doença nos faz pensar que estamos sempre certos
e os demais, errados. A Igreja, então, é a casa ou habitação do Espírito Santo: “No qual
também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito” (Ef 2.22).
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis como é digno da vocação
com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade,
suportando-vos uns aos outros em amor, procurando diligentemente guardar a
unidade do Espírito no vínculo da paz. (Ef 4.1-3).
Paulo está rogando (suplicando) aos irmãos para que andem na vocação a que
foram chamados (predestinados, vocacionados) e a cumpram: a) com humildade
(rebaixamento); b) com mansidão (doçura); c) com longanimidade (sofrimento longo); d)
suportando uns aos outros em amor (apoio, patrocínio); e) com esforço diligente para
guardar (preservar) a unidade do Espírito no vínculo da paz. Ele está dizendo que esta
unidade já existe, que ela é real. Quando cremos em Jesus, fomos selados com o Espírito
Santo e introduzidos no Corpo de Cristo, a Igreja. O que precisamos, agora, é lutar por ela,
a preservarmos para que ela nunca se quebre – e isso exige perseverança! Assim, não
vamos criar esta unidade, pois ela já existe (no vínculo da paz). Nossa vocação ou missão
é perseverar em guardar, proteger, preservar a mesma.
Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros do
corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Pois em um só
Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer
escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito. (1 Co 12.12,13).
Esta é uma unidade que já existe, que foi criada e selada pelo próprio Espírito – é
Ele quem nos une! Esta unidade é o desejo eterno do coração de Deus – Ele fez isso por
nós e para nós! Imagine, então, o que significa para Deus nós a quebrarmos ou rompermos.
É um pecado gravíssimo! Cometemos um erro quando julgamos que somos nós quem
devemos criar esta unidade. Quando a rompemos, então, quebramos uma aliança feita pelo
próprio Senhor. Quando temos a unidade do Espírito, sentamo-nos à mesa juntos e
confirmamos a nossa aliança. Quando a quebramos, sangramos o Corpo de Cristo. Este

225
Corpo, infelizmente, está partido, machucado e fomos nós mesmos quem produzimos isso
por meio de nossas divisões ou quebras de alianças.
A divisão traz escândalo ao mundo e tira o crédito do Evangelho. Como é que um
descrente, ao nos ouvir falar de Jesus, poderá crer? Ele nos dirá: “Mas vocês são mais de
50 mil denominações hoje! Qual é a certa? Qual é a melhor para mim?” Perceba que isso
é algo muito sério e difícil!
Então surge a pergunta: Por que nos dividimos tanto? Há uma razão para isso.
Existem dois tipos de unidade: a unidade no Espírito e a unidade da Fé.
...até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de
Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef
4.13).
A unidade do Espírito já existe, mas a unidade da Fé é um processo, e estamos
amadurecendo para alcançá-la. O presbitério da nossa congregação, por exemplo,
começou com a unidade do Espírito através de tempo, comunhão e oração juntos. Hoje,
nós perseveramos em guardar essa unidade e estamos crescendo para alcançarmos a
unidade da Fé. Esta unidade significa um amadurecimento espiritual que a Igreja
possivelmente alcançará antes da volta de Jesus e que só o Espírito Santo poderá produzir.
Em Ezequiel, capítulo 37, Deus pergunta ao profeta: “Porventura Eu posso fazer
esses ossos reviverem?”. Provavelmente, ele pensou: “Claro que não, isso é impossível.”
No entanto, sua resposta foi: “Senhor, Tu o sabes” (v.3). Eu imagino, então, que o mesmo
processo que Deus usou na situação de Ezequiel para fazer aqueles ossos reviverem, se
unirem uns aos outros, voltarem a ter carne, músculos, sangue, pele e, finalmente, o espírito
ou sopro de vida, será o mesmo que Deus vai usar para criar a unidade da Fé em Sua
Igreja. Deus mandou Ezequiel profetizar para que aquela ressurreição maravilhosa
acontecesse (vs. 4-10). Da mesma forma nós, hoje, devemos profetizar para que essa
unidade aconteça. Esta é a nossa proposta, pois, se não crermos nisso, Jesus não volta!
Ora, será que a unidade da Fé só acontecerá no céu? É claro que não, pois lá não
existirá mais a necessidade de fé. Paulo disse que agora permanecem “a fé, a esperança
e o amor; essas três; mas o maior destes é o amor” (1 Co 13.13). Ou seja, a única coisa
que irá para o céu é o amor. Se eu estiver lá, vendo Jesus, contemplando face a face a
Trindade, para que precisarei de fé ou de esperança? A unidade da Fé tem de acontecer
agora e devemos crer que o Espírito Santo fará isso. Porém, as divisões existem porque
insistimos em ter este tipo de unidade agora, e isso é impossível, pois é uma obra do próprio
Deus.
Um pastor, conhecido meu, disse certa vez ao seu grupo: “Aqui todos devem ler pela
a minha cartilha!” Ou seja, se alguém não pensa igual a ele, está fora. Isso é o que divide
as igrejas. Algumas pessoas discordam do líder, acabam saindo e constituindo seus
próprios grupos. Quando queremos começar pela unidade da Fé geramos divisões, pois
não é possível que nós mesmos a produzamos.
Por exemplo, eu tenho uma unidade de fé com minha esposa, mas temos várias
divergências. Deus diz acerca do casamento que nós somos uma só carne e, portanto,
temos uma unidade. No entanto, cada um dos cônjuges continua com suas peculiaridades.
Isso é o mesmo que acontece na Igreja. Cada um de nós temos dons, talentos, habilidades,
ministérios diferentes, mas o Espírito é um só. As formas de manifestarmos estas coisas
são diferentes, mas o Espírito é o mesmo (1 Co 12.4-6). Isso significa que no Corpo de

226
Cristo as pessoas são diferentes umas das outras e não cabe a nós julgarmos, pois, nesse
caso, faremos o papel de Deus, de juiz. O que importa e o que une, é termos Jesus Cristo
como Rei, Salvador e Senhor absoluto:
Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele
eternamente. Amém. (Rm 11.36)
Paulo termina o capítulo desta forma após dissertar sobre a unidade dos judeus com
os gentios. Ele diz que a unidade só é possível em Jesus - e isso basta. Podemos ser (e
somos) diferentes.
O que nos divide chama-se “doutrina”. Queremos que as pessoas pensem igual a
nós. Existem igrejas evangélicas muito grandes, fortes e boas que creem no Batismo por
imersão. Outras, da mesma forma, que creem no Batismo por aspersão. Algumas batizam
crianças; outras batizam apenas adultos. Há igrejas (evangélicas) que creem na Trindade
(Pai, Filho, Espírito Santo); outras preferem crer somente em Jesus (unicismo). Quanto à
forma de celebrar a Ceia, então, existem inúmeras diferenças.
Em nosso livro “Um só Corpo, Um só Espírito, Um só Senhor”, citamos a pesquisa
de um acadêmico mostrando que a igreja cristã toma vários tipos diferentes de Ceia: a
transubstanciação (Igreja Católica), a consubstanciação (Igrejas Ortodoxa, Anglicana,
Luterana, Calvinista), a simbologia (maioria das denominações). Essas coisas são
doutrinas. Podemos, à luz do que entendemos, tomar da forma como compreendemos.
Porém, não podemos criticar os irmãos que tomam de forma diferente da nossa.
É justamente a mesa, a Ceia, o que mais nos divide hoje como igreja cristã. Não
conseguimos nos sentar juntos à mesa para cumprir uma ordenação de Jesus! Quantas
vezes saímos de nossa igreja para participar da Ceia com irmãos de outras congregações?
Raríssimas vezes, ou nunca! Mas esse é o ponto de honra de Deus. Ele nos deixou duas
ordenanças: o Batismo e a Ceia. Mas as denominações criaram inúmeras doutrinas em
cima disso e se dividiram. No entanto, se um irmão ou igreja pensa e celebra de maneira
diferente da nossa, quem somos nós para julgar? Somos juízes ou irmãos em Cristo?
O nosso ponto em comum deve ser Jesus! Temos diversidades doutrinárias, mas
podemos ser UM no Senhor, pois é impossível termos unidade na Fé enquanto o Espírito
Santo não realizar essa obra. Isso é difícil até mesmo entre irmãos de uma mesma
congregação – e não tem problema algum. A Bíblia diz que neste tipo de unidade nós ainda
vamos amadurecer, mas que na outra, a do Espírito, devemos nos esforçar para preservá-
la. Entendo que estamos aprendendo e caminhando nestas duas formas de unidades – e
já alcançamos grandes progressos.
Em nosso livro recém-lançado em comemoração aos dez anos de existência do
ENCRISTUS no Brasil, “Dá-me um pouco da tua água”, escrevemos o seguinte:
Em 10 anos do “Encristus” (Encontro de Cristãos em Busca de Unidade e Santidade),
irmãos católicos e evangélicos puderam conviver em momentos muito ricos de
comunhão, oração, partilhas, estudos bíblicos, louvor, adoração, liberação de
perdão, lavar os pés e eventos, dentre outros. Temos aprendido muitas coisas e sido
edificados com riquezas teológicas e práticas que cada uma das partes tem
compartilhado. A divisão trouxe-nos muito prejuízos. Ainda que a Reforma fosse
necessária, importante naquele momento, o Cristianismo, a partir daí, passou a se
dividir cada vez mais, produzindo um enorme abismo entre evangélicos e católicos.
Práticas de brigas, maledicência, rivalidade e divisões não são compatíveis com os

227
ensinamentos de Cristo. Cristãos odiarem cristãos (e até se matarem) é abominação
ao Evangelho, é ir no lado oposto da cruz. No momento que entendermos: que pelo
sangue de Cristo fomos aproximados; que ele é a nossa paz; que ele derrubou a
parede que nos separava; que na sua carne ele desfez a nossa inimizade; que pela
cruz ele reconciliou-nos (católicos e evangélicos, entre outros) em um só Corpo,
matando as inimizades; que ele evangelizou a paz; que por ele ambos temos acesso
ao Pai em um mesmo Espírito; que ele nos fez um; que ele nos fez concidadãos dos
santos e da família de Deus, entenderemos que somos todos um novo homem, que
podemos e devemos viver na paz Ef 2.13-19). A aproximação entre um grupo de
católicos e evangélicos no Encristus mostrou-nos que é possível viver em paz,
embora tenhamos diferenças. É possível beber um pouco da água do outro e, com
isto, o Corpo de Cristo ser edificado.
Será que há algum erro em fazermos tudo isto juntos? Em perdoar, conviver, lavar
os pés, orar, ter comunhão uns com os outros? Quem consegue fazer essas coisas se não
tiver o Espírito Santo, ou se Jesus não for o Senhor de sua vida? Isso não significa que
concordamos em nossas doutrinas (não temos a unidade da Fé), mas que estamos lutando
para preservar a unidade do Espírito, cumprindo com ministério que o Senhor nos confiou:
“Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e
nos confiou o ministério da reconciliação” (2 Co 5.18).
Neste ano de 2017 completamos 500 anos da Reforma Protestante (Luterana).
Entendemos que esta Reforma foi necessária, mas as divisões ao longo da história foram
diabólicas. Em toda divisão sempre tem um ‘dedinho’ do Diabo. Os próprios reformadores
tiveram muita dificuldade em se entender e perdoar e, como resultado, se dividiram, se
agrediram e até se mataram mutuamente. Sempre, nos momentos em que o maligno entra
e provoca as divisões, os homens passam a fazer coisas absurdas. A história comprova
isso pela quantidade de batalhas e de sangue cristão derramado. Por exemplo, “O
massacre da noite de São Bartolomeu” foi um episódio da história da França na repressão
ao protestantismo, engendrado pelos reis franceses, que eram católicos. Esses
assassinatos aconteceram em 23 e 24 de agosto de 1572, em Paris, e calcula-se que de
11 mil a 70 mil cristãos tenham sido mortos.
Precisamos, como cristãos, abominar todas estas coisas, nos arrependermos das
nossas iniquidades e carnalidades (divisões), perseverarmos em orar e em preservar a
unidade do Espírito que já existe, crendo e aguardando que Deus produza a unidade da Fé
antes da volta de Seu Filho Jesus Cristo à Terra. Não vamos mais aceitar e praticar
acusações e julgamentos. Nossa missão é mantermos unidade com todos no Espírito, com
todos que têm Jesus, que são nascidos de novo. O que passar disso é inteiramente obra
do Espírito Santo e não nossa. Somos ossos secos, cada um separado do outro, mas o
Senhor vai unir-nos no tempo e no modo Dele.
A Bíblia diz que fomos salvos para a prática de boas obras (Ef 2.10). Eu entendo,
então, que Deus tem um propósito para todas as nossas obras. Você já se perguntou por
que nasceu nesta geração, neste país, nesta cidade? Eu sempre me pergunto por que
estamos vivenciando esse tempo juntos e, com certeza, é porque Deus tem um propósito
muito específico para nós.
Jesus disse: “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me
desta hora; mas para isto vim a esta hora” (Jo 12.27). Jesus fez muitas coisas: curou,
pregou, libertou, salvou, ensinou etc., mas ele veio para uma coisa específica. Se ele não

228
fizesse nada disso, mas apenas aquilo a que ele veio fazer, já teria sido o suficiente: ir à
cruz, ser sacrificado e punido em nosso lugar, ser o nosso substituto. Assim, cada um de
nós tem uma obra específica para fazer. E por que, repito, Deus nos fez estarmos aqui
neste momento da história? Justamente para cooperarmos com o trabalho de
conscientização, preservação e concretização da unidade do Espírito na Igreja,
preparando-a para a volta de Jesus! Amém!

229
UMA IGREJA UNA E SANTA
Jorge Himitian

F ui convidado para ministrar uma palavra sobre a Unidade, com o fim de anunciar,
confirmar e também direcionar o que Deus está fazendo nesta congregação, nesta
cidade, neste processo maravilhoso de unidade. De início, temos de estar bem cientes de
algumas verdades.
Primeiro, a Igreja nasceu em Unidade. O Espírito Santo foi derramado em
Pentecostes sobre aqueles que, poucas semanas antes, estavam brigando para saber
quem seria o maior entre eles depois da morte de Jesus. Quando o Espírito desceu, um
milagre aconteceu e toda briga, divisão, ciúme, ambição pessoal desapareceu e a igreja se
tornou UMA. Não somente os 120 que estavam naquela ocasião, mas também os 3.000 e
depois os 5.000 que se batizaram. Atos 5.32 diz: “Da multidão dos que criam, era um só o
coração e uma só a alma”. Em cada cidade, os crentes ou convertidos ou discípulos de
Jesus formavam uma só comunidade ou Igreja naquela cidade.
Em Jerusalém eram todos judeus, mas depois, quando o Evangelho chegou em
Antioquia, se converteram muitos gentios. Foi algo maravilhoso, pois, pela primeira vez,
judeus e gentios se tornaram UM em Jesus, e a Bíblia diz “a igreja que estava em Antioquia”
(At 13.1). Era a primeira Igreja multicultural e multirracial da história; havia brancos, negros
e pessoas de todos os níveis sociais e econômicos.
Segundo, hoje vivemos um momento diferente. A Igreja nasceu em Unidade e se
desenvolveu em Unidade, mas, logo no primeiro século, já apareceram ameaças de
divisões – Corinto, Éfeso, Gálatas etc. No entanto, os apóstolos, com a autoridade do
Senhor, corrigiram qualquer tentativa de divisão para manter aquilo que era indiscutível,
inegociável: a Unidade da Igreja, do Corpo de Cristo, e a manifestação prática desta
Unidade em cada cidade. Foi assim que toda tentativa de divisão, de qualquer motivo, foi
anulada pela palavra apostólica. Quando a Bíblia é concluída, no livro de Apocalipse, já no
final do século 1, após 60 anos aproximadamente depois da Igreja de Jerusalém, João
escreveu: “À Igreja que está em Éfeso... em Sardes... em Filipos... Laudiceia...” etc. Ou
seja, sempre uma Igreja em cada cidade. Aquelas tentativas de divisões foram anuladas.
Então, a Igreja nasceu em Unidade, houve tentativas de divisões, essas foram
corrigidas e a Igreja, em geral, manteve sua Unidade ao longo dos séculos. Só por volta do
ano 1.000 é que apareceu, na Igreja oficial, a primeira divisão – o grande cisma das Igrejas
do Oriente com as Igrejas do Ocidente, onde mutuamente se excomungaram. Mas esta
divisão, no entanto, foi apenas na cúpula da Igreja em nível internacional, porque dentro de
cada cidade e nação ela continuava mantendo a sua Unidade.
Terceiro, a divisão atual da Igreja tem apenas 500 anos, com seu início em Lutero.
No entanto, ele e outros reformadores não tinham a intenção de dividir a Igreja, pois eles
sabiam muito bem que a Unidade não era um valor negociável. Mas, infelizmente, naquele
momento ele e outros reformadores foram excomungados e esse fato começou a gerar
inúmeras divisões.

230
Quarto, hoje temos uma Igreja evangélica ou protestante imensamente dividida,
fragmentada. Mas Deus não acabou Sua obra. A oração de Jesus em João 17: “Pai, que
todos sejam UM”, continua vigente. Ele continua orando para que todos sejam UM – a
história não acabou ainda!
Temos, atualmente, milhares de denominações e divisões, mas esta nossa geração
é privilegiada, pois aquelas linhas divergentes que se iniciaram há 5 séculos, e que
teoricamente deveriam se afastar cada vez mais umas das outras, em nossa geração
sofreram o que chamamos de “ponto de inflexão”, ou seja, as linhas divergentes se
quebraram e se tornaram linhas convergentes. Glórias a Deus por isso! É necessário,
então, paciência e tempo.
Um processo de Unidade não se realiza de um dia para outro, principalmente depois
de 5 ou 10 séculos de divisões. Deus não terminou ainda a Sua obra e, em nossa geração,
neste século privilegiado, uma coisa aconteceu: o derramamento do Espírito Santo no início
do século 20. Surgiu, daí, o movimento pentecostal. No entanto, os pentecostais
reafirmaram e potencializaram as divisões. Mantiveram as que já existiam e criaram muitas
outras. Mas, na década de 60, quando Deus derramou novamente Seu Espírito, Ele trouxe
novamente a palavra de que a Igreja, segundo a Bíblia, é UMA; que toda divisão está fora
da Palavra, fora da vontade e projeto eterno de Deus; que todas as divisões da Igreja são
anormalidades que Ele quer e vai curar!
Hoje somos diferentes da Igreja do primeiro século. Lá a Igreja nasceu em Unidade,
houve tentativas e ameaças de divisões e foram corrigidas, mas, infelizmente, ao longo da
história, ela se dividiu. Hoje, a partir das divisões, estamos caminhando novamente em
direção à Unidade. Neste processo, a igreja em Jundiaí é privilegiada, porque está sendo
pioneira na concretização de um mover do Espírito na restauração desta Unidade.
...esforçando-vos diligentemente para preservar a unidade do Espírito no vínculo da
paz. (Ef 4.3)
Como a Igreja era UMA, a palavra para eles era “esforçando-vos diligentemente para
preservar a unidade”. Se Paulo escrevesse hoje à uma igreja qualquer no mundo, ele diria
“Esforçando-vos diligentemente para recuperar a unidade”! Assim, estamos em um outro
momento da história.
Esta Unidade, porém, tem que ter fundamentos sólidos na Palavra de Deus, na
palavra revelada aos apóstolos e profetas, e estudaremos alguns destes pontos.
Por esta razão eu, Paulo, o prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vós gentios… Se
é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi
dada; como pela revelação me foi manifestado o mistério, conforme acima em
poucas palavras vos escrevi, pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha
compreensão do mistério de Cristo, o qual em outras gerações não foi manifestado
aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito aos seus santos apóstolos
e profetas, a saber, que os gentios são coerdeiros e membros do mesmo corpo e
coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; do qual fui
feito ministro, segundo o dom da graça de Deus, que me foi dada conforme a
operação do seu poder. A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça
de anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo... (Ef 3.1-8)
Paulo escreve esta carta a partir da sua prisão, em Roma. Ele estava preso por
pregar o Evangelho aos gentios. Gentios eram todos os que pertenciam às demais nações

231
(etnias, raças), excetuando Israel, que haviam se convertido a Cristo. Na cidade de Éfeso,
ele evangelizou, fez discípulos, teve muita oposição, investiu três anos de seu ministério e
ali edificou uma Igreja. Muitos dos primeiros convertidos eram judeus, porque,
primeiramente, ele pregava nas sinagogas. Porém, após três meses, o expulsaram de lá e,
levando os seus discípulos judeus, continuou pregando em outros lugares. Aquela Igreja
cresceu, houve milhares de convertidos e uma grande revolução na cidade. A economia,
que estava baseada na idolatria, tremeu e, por isso, Paulo foi perseguido e preso.
Com o passar dos anos, aquela grande Igreja, que era UMA, começou a
experimentar ou sofrer uma tentativa de divisão. Esta divisão foi motivada pelo fato de que
os judeus cristãos se consideravam cidadãos do Reino de Deus de “primeira categoria” e
desprezavam os gentios. Essa era uma herança cultural de sua nação, sempre
menosprezando as demais nações. Aquilo entrou também no ambiente da Igreja e, além
disso, os judeus queriam obrigar os gentios a obedecerem às ordenanças, leis e
mandamentos que eles praticavam, criando, assim, uma enorme dificuldade dentro da
Igreja.
Eu imagino que alguém teve uma “ideia brilhante” naquele tempo: “Irmãos, Deus é
um Deus de paz. Para acabar com estes conflitos, porque não formamos na cidade de
Éfeso DUAS Igrejas? Uma dos gentios cristãos e outra dos judeus cristãos? Desta forma,
ambos ficarão em paz, pois todos cremos no mesmo Cristo e um dia, no céu, todos seremos
UM! Mas, enquanto isso, por que não formamos duas Igrejas na mesma cidade?” Isso não
está escrito, mas eu imagino que deve ter ocorrido, baseado no que Paulo respondeu a
eles.
Quando Paulo, na prisão, ficou sabendo dessas coisas, ele não repreendeu os
efésios como repreendeu os coríntios. Isso porque a divisão dos coríntios estava baseada
na carnalidade – ambições, preferências, ciúmes, egoísmos etc. Mas, aos efésios, ele
disse: “Escrevo-lhes para comunicar a revelação que recebi de Deus, a mesma que todos
os apóstolos e profetas também receberam”. Qual revelação era essa?
Voltemos, então, a Efésios 3. Neste texto há 4 palavras-chaves:
1) MISTÉRIO. “Me foi dado conhecer o mistério”. Essa palavra vem do grego
mistérion, um segredo que ninguém pode saber, a não ser que o dono do mesmo decida
comunicar. E qual é esse mistério? Aquilo que Deus comunicou aos profetas e apóstolos
do primeiro século! Daí vem a segunda palavra-chave:
2) REVELAÇÃO. A raiz dessa palavra é “véu”. Revelar significa tirar o véu. Havia um
véu, um mistério, um segredo escondido por séculos em Deus, mas agora, diz Paulo, “como
pela revelação me foi manifestado o mistério”. É como uma tela onde será projetado um
filme. Ninguém sabe o que acontecerá, o que será projetado. Qualquer coisa pode ser
possível e imaginada. Enquanto o projetor está desligado, nada aparece na tela; todos
podem se esforçar para imaginar o que vai aparecer, mas é em vão. Porém, quando se liga
o projetor, todos passam a saber o que é.
Qual foi o mistério revelado que estava escondido há séculos em Deus e que agora
veio a se manifestar com o rompimento deste véu? O “...mistério de Cristo, o qual em outras
gerações não foi manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito
aos seus santos apóstolos e profetas, a saber, que os gentios são coerdeiros e membros
do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho”.

232
Durante séculos, no Antigo Testamento, houve muitas promessas de Deus somente
para Israel. Por exemplo, Jeremias 31.33 (“Mas este é o pacto que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei
no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”). Foram centenas de
promessas para a casa de Israel. Mas AGORA, diz Paulo, Deus revelou aos apóstolos e
profetas o que já havia sido insinuado no A.T., mas com uma imensa clareza, pois o véu foi
rasgado de ponta a ponta e agora todos podiam ver o projeto de Deus para todas as nações,
aquilo que foi revelado a Abrão:
Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu,
sê uma bênção. Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te
amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias (nações) da terra. (Gn 1.1,2)
Deus escolheu um homem, uma família, para abençoar TODAS as famílias e nações
da Terra. Ele não faz acepção de pessoas, famílias ou nações. Ele é Deus de todas as
nações, mas queria começar com uma família para abençoar todas as outras. Mas atenção!
A história do povo de Deus não se inicia em Gênesis 12 com Abrão, e nem mesmo em
Gênesis 3 com Adão. Antes,
(Deus) ...nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção
por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o
louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado (Ef 1.4-6).
O mistério foi revelado! A benção não é só para os judeus, pois na Igreja não existem
cristãos “de primeira” ou de “segunda categoria”; na Igreja há uma só categoria, a mais alta
que existe: filho de Deus em Jesus Cristo. Não há nada maior do que isso! Os gentios são
coerdeiros (herdeiros conjuntamente) com o povo de Israel, membros do mesmo Corpo (a
Igreja) e coparticipantes da promessa de Cristo Jesus por meio do Evangelho. Amém!
3. CONHECIMENTO. “...como pela revelação me foi manifestado o mistério”. O
conhecimento do mistério veio pela revelação do mesmo.
4. ANÚNCIO. “A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de
anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo”. Todo aquele que ouve e recebe
revelação, agora tem conhecimento e é responsável por anunciar, pregar, comunicar a
todos este Evangelho com esta boa notícia: SOMOS UM SÓ CORPO, UMA SÓ FAMÍLIA!
Paulo, no Capítulo 1 de sua carta aos efésios, explica esse mistério com outras
palavras:
...fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade (tirando o véu), segundo o seu
beneplácito, que nele propôs para a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer
convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão
na Terra... (Ef 1.9,10).
A palavra-chave desta revelação é “convergir”. Em grego, é uma palavra composta
por três outras (ana, cefa, unir) e traz o sentido de “unir novamente debaixo de uma cabeça”
tudo o que está no céu e o que está na Terra. Esta cabeça é CRISTO!
No início tudo estava unido, porém, algo aconteceu e esta unidade foi quebrada. Isto
aconteceu em Gênesis, na criação. A palavra “universo” tem sua raiz na palavra “uno, um”.
A criação era UMA. Todos eram unidos a Deus. O homem estava em comunhão com Deus,
era UM com Ele, era UM com sua esposa, era UMA só carne com ela. E, assim, a Unidade

233
era o projeto original de Deus. Porém, o homem pecou e a Unidade foi quebrada. Ele se
separou de Deus por causa do pecado e começaram os conflitos (Adão com Eva, Caim
com Abel etc.). Daí para a frente, a história da humanidade é baseada em lutas, guerras,
conflitos, separações, assassinatos, sangue derramado, rivalidade, adultério, racismo,
escravidão etc. Tudo foi estragado por causa do pecado. Porém, Deus, em Sua presciência,
sabendo o que aconteceria, providenciou antecipadamente um resgate através de Seu
Filho Jesus Cristo. A Unidade foi quebrada – apareceram as guerras, conflitos, divisões,
egoísmo, injustiça etc., mas Deus determinou “unir tudo novamente debaixo de uma cabeça
(Cristo)”! Este é o mistério da Sua vontade!
O que é a Igreja? Nesta sociedade, onde há tanta injustiça e dissensões, tanto
egoísmo e materialismo, a Igreja é aquela parte da humanidade que agora reconhece a
Cristo como cabeça e, por meio dele, foi reconciliada com Deus e com seus irmãos. Jesus
“é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um (judeus e gentios); e, derrubando a parede
de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade” (Ef 2.14). Jesus matou
“a lei dos mandamentos contidos em ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois um
novo homem, assim fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um só
corpo, tendo por ela matado a inimizade” (Ef 2.15,16).
A Igreja é, então, um povo reconciliado; a família una de Deus; o lugar onde existe
comunhão fraternal, o pão dividido, o ósculo santo, a comunhão de bens, a vida em
comunidade, o perdão, o serviço, a reconciliação, o amor. A Igreja é o lugar onde cada um
ama e honra seu irmão mais do que a si mesmo, “preferindo-vos em honra uns aos outros”
(Rm 12:10). A Igreja é o SHALOM (a paz) de Deus entre os homens!
Você pode imaginar o que significa para Deus a divisão da Igreja? A Igreja é aquela
família, aquela nação que Deus quer mostrar às nações, dizendo: “É assim que Eu quero
que todos sejam! Meus filhos, reconciliados Comigo e com seu próximo!” Que maravilha!
Mas, infelizmente, a Igreja, por motivos diferentes, foi dividida, dividida e dividida... Mas
Deus não abandonou Seu projeto original. Ele está determinado a mudar esta situação!
Deus é Todo-Poderoso, têm todos os recursos e vai responder plenamente a oração de
Seu Filho em João 17:21:
Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles
sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
Eu creio que essa oração será totalmente respondida e o mundo vai crer. Haverá
um movimento, um avivamento extraordinário nestes últimos dias. Conforme a Igreja vai
recuperando gradativamente esta Unidade veremos muitos crendo, se convertendo ao
Senhor. Aleluia!
Na Argentina, quando começamos a pregar essas coisas, as denominações nos
atacaram, perseguiram, disseram que pregávamos heresias, que queríamos formar uma
“super igreja”. Ora, onde, na Bíblia, encontramos igrejas Batista, Presbiteriana, Metodista,
Assembleia, Pentecostal, Comunidade etc.? Não existe nenhum nome! A Igreja tem um só
nome, que é o nome de JESUS, o único dono e cabeça deste Corpo chamado IGREJA!
Louvado seja o Senhor!
Eu sei que existem muitas perguntas, mas Deus vai respondendo-as
gradativamente. Alguns dizem: “Mas como será essa Unidade?” Eu não sei como será, mas
vai acontecer e temos algumas indicações na Palavra que nos ajudam a ter clareza e
tranquilidade de que a Unidade não é uma “confusão” de costumes, tradições, doutrinas

234
etc. Não! Há uma ordem no trabalho de Deus e Ele vai, gradativamente, levar Sua igreja
por esse caminho.
Em Efésios 4, encontramos três níveis progressivos de Unidade.
1) UNIDADE DO ESPÍRITO. “...procurando diligentemente guardar a unidade do
Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).
2) UNIDADE DA FÉ. “...até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da
plenitude de Cristo” (Ef 4.13).
3) UNIDADE DO CORPO (ORGÂNICA, FUNCIONAL). “...do qual o corpo inteiro bem
ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte,
efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor” (Ef 4.16).
A Igreja precisa caminhar para alcançar essa Unidade funcional, orgânica. Assim
como eu, Jorge, tenho uma cabeça e um corpo, e nesse corpo tenho muitos membros, e
todos eles estão unidos por meio das articulações, da mesma forma é o Corpo de Cristo.
Ele é o cabeça e todos nós, um dia, estaremos unidos em um só Corpo, funcionando como
uma só Igreja em cada cidade, nação e no mundo. Porém, para chegar a este último nível,
que é o alvo, temos de passar pelos outros dois níveis ou degraus. Assim era no início –
uma só Igreja em cada cidade – e nós vamos chegar lá, porque está escrito na Palavra de
Deus.
Uma só Igreja não significa “um só edifício”! Nenhum prédio poderia comportar todos
os filhos de Deus de uma cidade. Não significa, também, que são muitos corpos, mas que
é um só organismo – todos os filhos de Deus unidos através de seus presbíteros, pastores,
diferentes ministérios – formando um só Corpo.
Então, para alcançarmos este nível, primeiramente precisamos da Unidade do
Espírito. O que significa isso? Um pastor, na Argentina, me perguntou: “Os católicos são
nossos irmãos?” Eu respondi: “Se são nascidos de novo, sim!” No entanto, ele não me fez
a segunda pergunta: “Os evangélicos são nossos irmãos?” Eu insisti e ele perguntou, ao
que lhe respondi: “Se são nascidos de novo, sim!” Há muitos católicos e evangélicos que
ainda não nasceram de novo. Mas não vamos condená-los, julgá-los e, sim, sermos amigos
deles.
Eu nasci em um lar evangélico, mas não era convertido. Fui ensinado na Bíblia, não
faltava em reuniões e Escola Dominical porque meus pais me obrigavam a ir, mas eu
pensava: “Que ótimo será quando eu completar 18 anos. Serei livre da igreja!” Mas Deus
teve misericórdia e com 15 anos eu nasci de novo. Então, ser evangélico ou católico não
significa nada! Mas, se nasceu de novo, se nasceu do Espírito, então podemos ter Unidade
do Espírito com ele.
“Ah, mas os católicos têm muitos erros!” Sim, concordo, mas os evangélicos também
não têm? Todos temos erros, mas temos que ter paciência, porque algo novo está
acontecendo. Quando eu era adolescente e me converti, eu brigava com os católicos, com
os padres, e pregava contra eles, e eles contra nós. Mas, um dia, comecei a conversar com
um padre e ele me falava com paz, com amor e não discutia comigo. Nos tornamos amigos
– era um padre “convertido”. Nós éramos um grupo de 15 jovens evangélicos e ele nos
apresentou outros 15 católicos (grupo dos focolares) convertidos, nascidos de novo, cada
um dando seu testemunho e desejando que todos os católicos se convertessem. Podemos,

235
sim, ter Unidade no Espírito com todos aqueles que são nascidos de novo. E, se alguém
não nasceu de novo, não somos seus inimigos. Temos de tentar nos aproximar deles, pois
poderão nascer de novo. Isso se não os agredirmos, criticarmos ou ficarmos discutindo com
eles.
E a Unidade da Fé? Se desenvolvemos a Unidade do Espírito com amor, paciência,
perdão, suportando uns aos outros, vamos crescendo na comunhão até que, um dia,
alcancemos a Unidade da Fé. Por exemplo, temos unidade com os católicos em muitas
coisas, mas não em todas. Mas o mesmo acontece com os evangélicos; a proporção é
muito variada. Um católico se coloca de joelhos diante de uma imagem de Maria e reza a
ela. Eu não posso fazer isso, porém, se ele nasceu de novo, tenho de ter paciência com
ele, porque está lendo a Bíblia, tem uma experiência com o Espírito Santo, mas ainda
continua pedindo a Maria. Com ele eu ainda não tenho Unidade na Fé, mas vamos
caminhar para isso. Um dos dois (ele ou eu) está errado. Ou eu preciso rezar a Maria ou
ele tem que deixar de fazer isso para que um dia cheguemos à Unidade da Fé. E podemos
trazer muitos exemplos nesse aspecto, tanto com católicos quanto com evangélicos.
Para funcionarmos como um só Corpo, uma só Igreja, a condição indispensável é a
Unidade da Fé. Por enquanto, paciência! Deixar Deus operar! Não brigar, não discutir!
Quando for o momento certo, podemos falar, mas de forma respeitosa e amorosa.
Paulo diz: “até que TODOS cheguemos à Unidade da Fé”. Pergunto: Vamos chegar
lá? Com toda certeza! Por que podemos ter essa convicção? Porque está escrito que isso
vai acontecer: “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus”! Aleluia!
Assim, deixemos Deus operar, deixemos Ele fazer Sua obra. Deus prometeu e está
derramando Seu Espírito sobre TODA a carne, e a Sua obra, a Palavra da verdade nos
dirigirá gradativamente. Com aqueles com os quais já temos Unidade na Fé (como
aconteceu em Jundiaí, com as quatro congregações), já podemos funcionar como uma só
igreja (organismo).
Voltando para a carta de Paulo aos efésios, suas preocupações ao escrevê-la eram
duas: a) ameaça de divisão, que foi respondida com uma revelação tremenda da Unidade
da Igreja; e b) muitos gentios convertidos continuavam praticando seus costumes
pecaminosos, já sendo batizados. Portanto, sua segunda preocupação era a santidade.
Unidade sem santidade não faz sentido; as duas sempre precisam andar juntas.
Deus não quer somente uma Unidade sem santidade. Jesus, em João 17, não pediu
apenas por uma excetuando a outra: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes
do Maligno” (v.15). “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (v.15). Então, há
duas petições: pela Unidade e pela santidade. Paulo também teve essas duas
preocupações em sua epístola aos efésios: a divisão e o pecado dentro da igreja.
Hoje temos muitas igrejas que estão aceitando os pecados e os costumes do mundo.
Há muitos cristãos, católicos e evangélicos, que se tornaram permissivos para com o
pecado. Um pastor evangélico em Buenos Aires me disse: “Jorge, metade da mocidade da
minha igreja pratica sexo antes do casamento, seja com quem estão namorando, ou com
qualquer outra pessoa!” Eu fiquei horrorizado com isso e perguntei-lhes: “E você não diz
nada?” Ele respondeu: “Bem, eu prefiro tê-los ‘dentro’ e não ‘fora’.” Fiquei mais horrorizado
ainda! Ora, dentro de que? Eles já estão fora! Dentro do salão, do templo, do edifício que
chamam de igreja? Dentro do que?

236
Em Éfeso, haviam muitos costumes pecaminosos que os gentios traziam de sua vida
anterior e, por isso, no capítulo 4, Paulo fala claramente:
...despojar-vos, quanto ao procedimento anterior, do velho homem, que se corrompe
pelas concupiscências do engano; a vos renovar no espírito da vossa mente; e a vos
revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e
santidade. (vs. 22-24).
Em seguida, ele passa aos assuntos práticos do dia a dia da vida do cristão:
Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos
membros uns dos outros. (v.25)
Você tem costume de mentir? Muitas vezes? Poucas vezes?
Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira; nem deis lugar ao
Diabo. (vs.26,27)
Você se ira? Guarda mágoas no seu coração? Deita-se à noite sem perdoar seu
cônjuge, seu filho, seu pai, sua mãe, seu irmão?
Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é
bom, para que tenha o que repartir com o que tem necessidade. (v.28)
Você furta algo do seu trabalho? Leva embora lápis, caneta ou papéis? Você se
esforça no seu trabalho, sem furtar o tempo do seu chefe? Com o dinheiro que ganha, ajuda
aos carentes?
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que seja boa para a
necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem. (v.29)
Você faz uso de palavrões, xingamentos etc.? Não importa se é católico ou
evangélico! Eu conheço pastores e padres que usam palavrões e piadas indecentes.
Conheço pais católicos e evangélicos que falam com ira, raiva e palavrões com seus filhos
pequenos.
Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas dentre vós,
bem como toda a malícia. Antes sede bondosos uns para com os outros,
compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em
Cristo. (vs.31,32)
Ora, Deus não é evangélico ou católico! Ele é SANTO e quer uma IGREJA SANTA!
Nos capítulos 5 e 6, Paulo continua falando de uma série de outras práticas pecaminosas:
avareza, prostituição, impureza etc. Entenda: o sexo não é pecado, pois foi criado por Deus.
Ele é santo, puro, agradável, mas Deus o reservou unicamente ao casamento. Se você é
solteiro(a), viúvo(a), separado(a) não pode ter sexo com ninguém! E ele continua, ao longo
do texto, falando sobre a conduta do marido, da mulher, dos filhos, dos pais, do trabalhador,
do patrão etc.
Concluindo, Deus quer uma Igreja UNA e SANTA e Ele vai conseguir! Creia nisso,
ore e trabalhe por isso! Glória a Deus! Amém!
Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-
a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo
(UMA) igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas
SANTA e irrepreensível. (Ef 5.25,26)

237
PILARES DA VIDA DA IGREJA
Jamê Nobre

Os quatro pontos ou marcos da nossa caminhada


...e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações. (At 2:42)
O livro de Atos não é uma base doutrinária, mas mostra como o Senhor, Seus
apóstolos e discípulos trabalhavam. A Palavra nos diz que devemos imitar a fé dos que
vieram antes de nós e, então, chegamos à conclusão de que o texto de Atos 2:42 nos dá
uma dica de quais eram as bases da vida da Igreja. Chamamos esses quatro pontos de
“pilares da vida da igreja”. Creio que esses pontos nos servem como marcos no que diz
respeito à nossa caminhada passada, onde nós estamos agora e para onde estamos nos
dirigindo. Além disso, eles traçam limites para o nosso caminhar, isto é, dizem para onde
nós não devemos ir e de onde não devemos nos desviar.

1º Ponto: Perseverar na Doutrina dos Apóstolos


Quero chamar a atenção para o que a Bíblia nos ensina sobre a palavra “perseverar”.
Escutai povo meu, a minha lei; prestai ouvidos às palavras da minha boca. Abrirei os
lábios em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos. O que ouvimos e
aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos;
contaremos à vindoura geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as
maravilhas que fez. Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em
Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a
nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por
sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua
confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os
mandamentos; e que não fossem, como seus pais, geração obstinada e rebelde,
geração de coração inconstante, e cujo espírito não foi fiel a Deus. (Sl 78:1-8)
Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda
do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do
Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus
caminhos. (Tg 1:6)
Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram
em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes
ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é
cheio de terna misericórdia e compassivo. (Tg 5:10)
E me disse: Teu filho Salomão, é quem edificará a minha casa e os meus átrios;
porque o escolhi para filho, e eu lhe serei por pai. Estabelecerei o seu reino para
sempre, se perseverar em cumprir os meus mandamentos e os meus juízos, como
até ao dia de hoje. (1 Cr 28:6,7)

238
Um irmão entregará à morte outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se
levantarão contra os progenitores e os matarão. (...) Sereis odiados de todos por
causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo. (Mt
10:2,22).
Despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos piedosos seguiram Paulo
e Barnabé, e estes, falando-lhes, os persuadiam a perseverar na graça de Deus. (At
13:43).
Perseverar! Essa é a palavra que o Senhor tem falado conosco e quer que
coloquemos em nossa testa e diante de nossos olhos. Perseverar fala de insistir, de
permanecer, de manter-se com fidelidade, de ser constante, de ser diligente em relação ao
que aprendeu, de ter um alvo, de colocar ou fixar os olhos em alguma coisa ou em alguém.
E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o
Reino de Deus. (Lc 9:62).
O que põe a mão no arado não pode olhar para trás. Quem conhece sobre lavoura,
sabe que a pessoa que maneja o arado tem à sua frente um marco para o qual deve sempre
olhar. Ela vai guiando o boi para ele e, absolutamente, não pode olhar para os lados; se o
fizer ela perderá a linha. Isso é um alerta para a necessidade de termos um foco e caminhar
em direção a ele.
Perseverança está ligada à fidelidade, que é característica daquele que tem fé:
Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de
longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a
terra. (Hb 11:13).
No texto abaixo vemos uma advertência do Senhor sobre perseverar no erro (palavra
de Samuel depois que o povo escolheu Saul para ser seu rei):
Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração;
pois vede quão grandiosas coisas vos fez. Se, porém, perseverardes em fazer o mal,
perecereis, tanto vós como o vosso rei. (1 Sm 12:24,25).
Quero citar três personagens bíblicos que aprenderam a perseverar até o fim.
1) Noé.
Noé perseverou quase cem anos na construção da arca. Seria muito natural para
nós hoje ver um homem perseverando em fazer um barco por causa da chuva que está
vindo. Porém, não era nada natural um homem fazer um barco baseado em uma palavra
sobre algo (chuva) que não existia, que nunca havia visto. Mas Deus disse: “Vai chover!”
Essa palavra de Deus fez Noé trabalhar por aproximadamente cem anos,
ininterruptamente.
2) Calebe.
Certamente, os varões que subiram do Egito, de vinte anos para cima, não verão a
terra que prometi com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó, porquanto não
perseveraram em seguir-me, exceto Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, e Josué,
filho de Num, porque perseveraram em seguir ao SENHOR. (Nm 32:11,12).
Aos quarenta anos, Calebe escuta uma promessa de Deus e, após isto, ele passa
por muitas aflições e sofrimentos no deserto. Aos oitenta e cinco anos, depois de ajudar a

239
introduzir o povo na terra prometida, ele repete literalmente a promessa que havia escutado.
Isso significa quarenta e cinco anos de perseverança.
Muitos de vocês ainda não têm quarenta e cinco anos, mas quero dizer-lhes que os
próximos anos de suas vidas precisam ser anos de perseverança, porque é isso que
edificará a Igreja de Deus. Se nós estamos aqui hoje foi porque alguns homens do passado
perseveraram e pagaram o preço. Louvemos a Deus pela vida deles e de tantos outros que
nem sabemos o nome.
3) Abraão.
Aves de rapina desciam sobre os cadáveres, porém Abrão as enxotava. (Gn 15:11).
O versículo acima antecedeu a revelação da vontade de Deus para a vida e
ministério de Abraão. O Senhor o chama a confiar Nele, que seria o seu escudo e galardão,
e a crer que teria uma descendência incontável. Ele crê, e isso lhe é imputado por justiça.
Após ouvir a palavra de Deus, ele faz um altar colocando sobre ele os animais. Então, as
aves de rapina vêm para tentar comer o que ele havia sacrificado. E desde a manhã até à
tarde Abraão as enxota. Isso é perseverar!
Sabemos que ninguém teve sucesso sem perseverar, sem insistir e sem
permanecer. As invenções, as descobertas de novas terras e as missões são prova disso.
Porém, hoje, tudo o que acontece em nossas vidas e em nossa história é contra o
perseverar e o insistir. Somos um povo naturalmente não perseverante, pois nosso estilo
de vida não exige isso. Temos fácil à mão o cartão de crédito e remédios cada vez mais
potentes contra a dor. Não somos criados e formados para perseverar – inclusive,
“espiritualizamos” a pressa e o imediatismo.
Por exemplo, se oramos por duas semanas a respeito de algo e não obtemos
resposta imediata, logo deduzimos que “aquilo não era de Deus”. Criamos uma “doutrina”
em cima do caixa eletrônico onde passamos o cartão, digitamos nossa senha e
imediatamente o dinheiro está em nossas mãos. Só que com Deus não funciona assim.
Deus é eterno, o Seu caráter e pensamentos são eternos e não estão debaixo de um
relógio. Por isso, precisamos sair desse sistema imediatista para podermos entender a
mente de Deus.
Somos um povo de muitos livros, muita literatura, muitas apostilas e quando
pensamos em doutrina dos apóstolos, nossa tendência é fazer uma lista de ensinamentos
que possivelmente os apóstolos pregavam. Mas, à medida em que eu me aprofundo no
estudo deste tema (buscando de Deus e nas Escrituras), percebo que a doutrina dos
apóstolos não é um compêndio nem uma série de estudos, mas é uma Pessoa – Jesus
Cristo. É muito importante que fixemos isso em nossa mente e coração. A doutrina dos
apóstolos não são doutrinas a respeito de Cristo ou de suas características, mas é a própria
apresentação do Senhor Jesus, e este vivo e atuante em nossas vidas. Em outras palavras,
é a apresentação de quem Jesus Cristo é.
De acordo com Efésios 2:21, Jesus Cristo é o Senhor, a pedra fundamental e
ninguém pode lançar outro fundamento. Ele é o fundamento da Igreja! “Porque ninguém
pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios
3:11).
Vamos analisar a passagem abaixo lembrando essa verdade:

240
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos
próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao
Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós temos visto, e dela damos testemunho.
E vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada),
o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós,
igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora. A nossa comunhão é com o Pai e
com seu Filho, Jesus Cristo. Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa
alegria seja completa. (1 Jo 1:1-4).
a) “O que era desde o princípio...” – Perceba que ele está se referindo a uma Pessoa,
Jesus Cristo.
b) “... o que temos ouvido...” – Isso nos remete a João sentado ao lado de Jesus,
ouvindo-o falar. Ele gostava tanto de ouvi-lo que reclinou sua cabeça em seu peito. Quando
vai ao sepulcro com Pedro, ele se refere a si mesmo como “aquele discípulo, a quem Jesus
amava”.
c) “... o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos...” – Ele
fala sobre duas coisas: “o que os nossos olhos viram” e “o que contemplamos”. Contemplar
é mais que ver; é analisar ou observar com atenção aquilo que se vê. Fico imaginando João
se afastando um pouco de Jesus a fim de olhá-lo melhor. Chegará a nossa vez! Não terá
relógio, diabo nem pecado e, então, poderemos nos sentar diante dele e ficar olhando,
olhando e olhando.
d) “... o que nossas mãos apalparam...” – Veja que ele não está falando de uma
doutrina ou de um estudo bíblico, mas de uma pessoa, de alguém.
e) “... a respeito do Verbo da vida” – E a vida se manifestou e a Palavra se fez visível.
Foi tirado o véu e Aquele que esteve oculto dos profetas, dos nossos pais, se revelou
nesses dias. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” Não sei se há nas Escrituras
versículo mais profundo que este. Como pode um Deus tão grande descer em nosso meio?
Gosto de pensar que Deus tinha saudade de nós e, por isso, veio para cá. Deus fez o
homem não porque estava carente, mas porque tinha muito amor para dar e prazer em
conversar com ele todos os dias.
Na sua procura de alguém para conversar, Deus encontrou Enoque. Meu pai na fé
contava a história de Enoque assim: “Todos os dias, Deus vinha encontrar Enoque e eles
iam pelo caminho conversando e trocando pensamentos. Um dia se distraíram e foram
muito longe da casa de Enoque. Então Deus disse: Vamos hoje para a minha casa,
Enoque? E os dois subiram.”
Esse é o caráter de Deus, um Deus de relacionamento. E Ele veio para morar
conosco! Mas João diz ainda que “Aquele que habita convosco estará em vós.” Deus achou
que habitar com era muito longe e que ficar do lado era muito distante, então, passou a
morar dentro. Como pode um Deus tão grande morar dentro de mim? Mas foi isso o que
aconteceu!
...mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os
gentios. (1 Co 1:23).
O que nós precisamos falar é o mesmo que os apóstolos falavam. Eles falavam de
uma Pessoa e o primeiro capítulo de 1 Coríntios é muito forte sobre isso. Nele, Paulo reduz
toda a doutrina à pessoa de Jesus Cristo e mostra que a revelação de Deus é o próprio

241
Cristo. Ele é o fundamento e a revelação de Deus. Cristo era o centro da pregação de
Paulo:
Porque eu decidi não saber nada entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.
(1 Co 2:2)
Parafraseando: “Eu me determinei não cultivar nenhum outro conhecimento, senão
Cristo, e este crucificado.” Essa foi a decisão de Paulo, um homem que cresceu aos pés
do sábio Gamaliel, que conhecia as Escrituras e que foi treinado nelas desde a sua
meninice. O judeu, normalmente, aos quinze anos de idade já havia decorado todo o Antigo
Testamento. Mas esse homem de nome Paulo disse: “Eu decidi não saber nada, senão a
Jesus Cristo!”
Assim, o ensino dos apóstolos compreendia a vida de Jesus, sua vontade, sua
divindade, sua encarnação, sua morte, sua ressurreição e seu senhorio.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava
no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele,
nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. (Jo
1:1-4).
A primeira base do ensino apostólico é que Jesus Cristo é Deus, e a segunda é que
Deus se fez carne. A única possibilidade de sermos salvos do pecado e do inferno é Deus
descendo entre nós. Nenhum outro deus fez isso, somente o nosso Deus Yahweh. A
Palavra diz que quando entrou no mundo Ele recebeu um corpo. Há duas interpretações
verdadeiras sobre isso: 1ª – Ele recebeu um corpo físico no ventre de Maria; 2ª – Ele
recebeu um corpo espiritual, que somos nós.
De acordo com Augusto Cury, Jesus Cristo viveu na Terra desde criança e resgatou
todas as fases da vida do homem (infância, adolescência, juventude e idade adulta), sendo
perfeito e sem pecado em todas elas. Ele resgatou toda a história do homem, tomando-o
sobre si; pregou a história e a vida do homem na cruz; matou-o e levou-o para a sepultura.
Mas, quando ressuscitou, ele o levou de novo para Deus fazendo dele uma nova criação
Nele.
É preciso pregar sobre a encarnação e morte de Jesus. Ele morreu por mim e todos
os pecados contra mim foram pagos. Por isso a Escritura diz que já não há mais nenhum
pecado, até mesmo os cometidos na infância, na juventude ou no dia de ontem. Todo
pecado que vez ou outra me incomoda não pode mais me perturbar, pois Jesus pagou cada
um deles. Ele pagou todos os nossos pecados de hoje e todos os que ainda vamos cometer.
Não há mais nenhuma condenação. Por isso a morte de Jesus precisa ser anunciada. Ele
nos perdoou os pecados e nos ressuscitou para vivermos em novidade de vida com ele,
sem nenhuma dívida. Hoje nós podemos entrar diante do Senhor olhando para Ele com o
rosto descoberto porque já não há mais nenhuma condenação. Se a consciência nos acusa,
Paulo diz: “Maior é Deus que a minha consciência; não há mais nada que me envergonhe
diante do meu Senhor.”
Em Efésios 1, Paulo fala algo que foi de tremenda libertação para mim. Ele disse que
Deus me fez agradável a Ele no Amado. Não preciso fazer absolutamente nada para
agradá-Lo, pois eu já sou agradável a Ele. E, porque sou agradável, eu procurarei fazer
coisas agradáveis. Ele não me libertou para fazer minha própria vontade, mas para recebê-
Lo como meu Senhor. Ele agora é o dono da minha vida.

242
No Antigo Testamento lemos que o escravo, quando era liberto, mas amava seu
Senhor e não o queria deixar, era levado diante do juiz e sua orelha era furada. Todos que
o vissem com a orelha furada sabiam que ele era um escravo de amor. Nós somos esse
povo, pois Deus nos libertou e, livres, decidimos servi-Lo. Eu o sirvo não por medo do
inferno, mas porque amo o meu libertador e resgatador. O ano do Jubileu só é possível
porque temos um resgatador!
Pedro, em sua primeira pregação, fala da divindade e encarnação do Senhor:
Varões irmãos, seja-me lícito dizer-lhes livremente acerca do patriarca Davi, que ele
morreu e foi sepultado, e está até hoje entre nós a sua sepultura. Sendo ele, pois,
profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto dos
seus lombos, segundo a carne, ele levantaria o Cristo para sentar no trono. Nesta
previsão disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no hades,
nem a sua carne viu corrupção. Deus ressuscitou a esse Jesus, do que todos nós
somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, tendo recebido do
Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que agora vedes e ouvis. Porque
Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor:
Assenta-te á minha direita, até que ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés.
Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que esse Jesus, a quem vós
crucificastes Deus o fez Senhor e Cristo. (At 2:29-36).
Os anúncios (ingredientes) do evangelho contidos no texto acima são:
* Jesus é Deus (v. 34 – Jo 1:1);
* Jesus é Deus encarnado (v. 30 – Jo 1:14);
* Jesus Cristo morto (v. 31 – aponta para a ressurreição que implicou em morte);
* Jesus Cristo ressuscitado (v. 32);
* Jesus Cristo é Senhor (vv. 30,36 – Deus o fez Senhor e Cristo).
Essa é a doutrina dos apóstolos! Foi sobre isso que eles pregaram.
Algumas referências complementares:
- Mateus 16:21; Marcos 8:31; Lucas 9:22 – morto e ressuscitado;
- Atos 2:21,23,24,29,32,33,36; 4:33 – ressurreição;
- Atos 10:33,36,39-46 – morto, ressuscitado e juiz;
- Apocalipse 1:18 – esteve morto, mas está vivo;
- Apocalipse 2:8 – esteve morto e tornou a viver;
- Apocalipse 5:3-14 – o Cordeiro como tendo sido morto, assentado no trono;
- Apocalipse 13:8 – o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo
- Apocalipse 5:4-8,12,13.
Esse é o nosso Jesus e tudo converge para ele! Os versículos de Apocalipse dão
ênfase extremamente forte na figura do Cordeiro, mas fala também da Raiz de Jessé e do
Leão. João não vê o Leão no trono, mas o Cordeiro. É verdade que o Cordeiro tem força
de Leão, mas João foca o Cordeiro, porque o Cordeiro fala do nosso resgate eterno que
está diante de Deus pelos séculos dos séculos. É o nosso resgate de uma vez por todas e

243
por toda a eternidade.
A história de Adão nunca mais se repetirá, pois o reino, o domínio, a glória, a
santidade Dele e a nossa é definitiva. Acabou a história! Agora somos livres do pecado, do
poder do pecado, da presença do pecado e daquele que nos tenta a pecar, porque esse
será amarrado e jogado no lago de fogo. O Cordeiro estará eternamente no Trono, e é por
isso que Apocalipse enfatiza tanto isso.
Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez:
Eu lhe serei Pai e ele me será Filho? E, novamente, ao introduzir o Primogênito no
mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele
que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo; mas acerca do
Filho: O teu trono, ó Deus é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do
seu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te
ungiu com óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros. Ainda: No
princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obra das suas
mãos; eles perecerão; tu, porém, permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual
veste; também, qual manto, os enrolarás, e, como vestes, serão igualmente
mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão fim. Ora, a qual dos
anjos jamais disse: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos
por estrado dos teus pés? (Hb 1:5-13).
Antes que os montes nascessem e se formasse a terra e o mundo, de eternidade a
eternidade tu és Deus. (Sl 90:2).
Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir,
o Todo-Poderoso.” (Ap 1:8).
Resumindo, JESUS É A DOUTRINA DOS APÓSTOLOS.

2º PONTO: PERSEVERAR NA COMUNHÃO


Nós somos chamados à comunhão, apesar das dificuldades que possam surgir e,
também, a um estilo de vida intenso, ao ponto de ninguém se sentir sozinho no nosso meio
e, quando um solitário se aproximar de nós, que seja atraído pelo amor de Jesus
manifestado em nossas relações.
Uma das coisas que o pecado estraga, de acordo com nosso irmão Tony, é a
comunhão. A Palavra diz que os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus.
Perceba a ordem dos pronomes: entre nós e Deus, e não entre Deus e nós. Deus nunca
se move do lugar Dele, quem se move somos nós. Quando pecamos nos afastamos do
Senhor e, automaticamente, uns dos outros.
Quando criticamos a congregação ou os nossos irmãos, algo errado está
acontecendo em nossas vidas. Somos parte do Corpo de Cristo, então, ao criticarmos o
Corpo estamos criticando a nós mesmos. Falar mal da igreja é falar mal de si mesmo. O
único lugar no qual é permitido falar mal da igreja é diante do espelho. Ali você pode falar
o que quiser da igreja e aproveitar, inclusive, para orar pela pessoa incrédula que você vê
na imagem. Em nenhum outro lugar lhe é permitido fazer isso. Tudo de mau que você vê
na igreja faz parte de sua pessoa, porque você e a igreja são indivisíveis. Há duas coisas
impossíveis de se fazer sozinho: casar e ser cristão. Essas coisas, portanto, nos remetem
à comunhão.

244
“Porque nós, conquanto muitos, nós somos um só pão... (1 Co 10:17).
Esse texto fala do corpo, mas nesse versículo em especial fala de pão. Nós somos
UM pão. Quais as implicações disso? A primeira coisa para fazer um pão é triturar o grão
de trigo, o qual desaparece em seguida. É ir para o moinho e acabar com o individualismo.
Não é “acabar com a individualidade”, pois individualidade é a nossa personalidade e
características pessoais, que são imutáveis. Individualismo é tirar proveito da
individualidade para si mesmo e a Bíblia nos ensina a fugir dele, ou seja, do egoísmo ou
egocentrismo. Quando encontramos com o Senhor Jesus, encontramos uma pedra de
moinho pesada.
Depois que o trigo é moído e triturado, ele é misturado e não se pode mais restaurar
os seus grãos. Isso acontece conosco! Quando chegamos à igreja de Deus nós
desaparecemos com relação ao nosso individualismo, porque nos misturamos no Corpo de
Cristo. Após esses dois processos (trituração e mistura) a massa é sovada e alguns pães
ainda podem passar pelo cilindro. A última coisa é ir para o forno para assar (queimar).
Se quisermos alimentar as nações precisamos nos conformar com o processo de
Deus em nossas vidas. É preciso aceitar e conformar-se com o moinho de Deus, porque é
nele que todo individualismo e egoísmo caem por terra. Deus quer nos dar às nações, por
isso, não estranhemos o fogo que vem sobre nós, pois é ele que acaba com tudo o que não
presta, com tudo o que nos amarra. Para nós, muitas vezes, o fogo significa um culto
abençoado, mas para Deus é fogo de purificação; Ele queima e destrói tudo aquilo que não
é Dele em nós.
Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com
os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1 Jo 1:7).
Ser um só pão fala também de andar na luz, de confissão de pecados. Não é andar
em qualquer luz, mas na luz de Deus, na luz da Sua Palavra, na luz daquilo que Ele fala a
nós. É quando percebemos um pecado em nossa vida e o trazemos à tona para tratar com
ele. É ser guiado pela Palavra de Deus, pois ela é luz e lâmpada para os nossos caminhos.
Quando andamos na luz há uma consequência imediata: o sangue de Jesus Cristo,
o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado (ou “de cada pecado”). Outra consequência
imediata é que temos comunhão uns com os outros. Não existem pecados particulares!
Fazer coisas erradas (pecados) no particular, afeta a vida da igreja em geral. Sendo assim,
eu deixo de ser um ajudante e passo a ser um peso para a igreja. Alguns exemplos bíblicos
a este respeito:
Israel vinha numa constância de vitórias sobre seus oponentes e adversários. Estava
mesmo invicto! Mas quando deviam atacar a pequena e despreparada cidade de Ai, Josué
não achou necessário que todo o exército fosse para a batalha. No entanto, no confronto,
a cidade de Ai se levantou com seu fraco exército e venceu o exército de Deus. Josué,
então, orou ao Senhor e Deus lhe disse que a derrota de Israel aconteceu porque havia
pecado entre o povo. Lançaram a sorte para encontrar o culpado e essa caiu sobre Acã.
Ele havia trazido consigo despojos de Jericó, sendo que Deus mandara destruir tudo. Nada
de Jericó poderia ser tomado para Israel. O pecado de Acã trouxe maldição para Israel – o
particular afetando o coletivo (Josué 7).
Outro exemplo foi Saul, rei de Israel. Samuel havia ordenado atacar, matar e destruir
tudo dos amalequitas, mas Saul poupou “o melhor das ovelhas e dos bois, os bezerros
gordos e os cordeiros” (1 Samuel 15:9). Quando Samuel chegou e ouviu o barulho do gado

245
mugindo, interrogou a Saul e este disse que “pegou o melhor do maldito” para oferecer ao
Senhor. Mas o melhor do maldito também é maldito! O pecado de Saul foi a causa de Deus
ter se arrependido de tê-lo feito rei de Israel. Seu pecado afetou a todo povo e a si próprio.
Assim, não existe pecado particular! Você não está sozinho no seu pecado porque
nós somos um só corpo e tudo o que você fizer afetará a igreja como um todo. Não somos
desligados uns dos outros! Eu preciso ser santo, primeiro por causa de Deus, e segundo
por causa do povo de Deus.
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão do seu Filho Jesus Cristo nosso
Senhor. (1 Co 1:9).
Esse é um dos primeiros chamados que recebemos: ter comunhão com Jesus Cristo!
Não podemos nos descuidar disso, pois o pecado em nós pode impedir esse chamado.
O que temos visto, ouvido e anunciamos também a vós outros, é para que também
vós mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu
Filho Jesus Cristo. (1 Jo 1:3).
Nesse texto percebemos que há uma comunhão horizontal e uma comunhão
vertical. Elas estão intimamente ligadas entre si. Que Deus nos livre de pecar e perder esta
comunhão!
Filhinhos, eu vos escrevo para que não pequeis e aquele que está no Senhor não
peca. (1 Jo 2:1).
Em outra versão diz: “aquele que está no Senhor não vive pecando”. Quando Deus
nos desenhou, antes do primeiro Adão, Ele não nos fez para pecar, mas para andar num
ambiente maravilhoso de flores, de frutos e com a própria presença Dele. Porém, veio o
pecado e nos afastou desse ambiente. Quando Jesus veio, ele restaurou esse “desenho” e
disse: “Eu vim para libertá-lo do pecado, do poder do pecado e da presença do pecado.” A
partir daí o nosso “desenho” continua sendo o mesmo de antes.
Não fomos feitos para pecar, mas João diz: “mas se pecardes...”. A ideia nessa
expressão é: “se por acidente pecardes”. Quem trabalha com empresas sabe que acidentes
não acontecem, mas são provocados. Não adianta clamar a Deus por proteção se você
entrar numa rodovia a 140 km/h com pneus lisos no seu carro, freios que não funcionam
adequadamente e com farol queimado. Certamente os anjos do Senhor não estarão ao seu
redor! Pecado é uma conjunção de fatores. Tiago diz que a cobiça do coração vai
aumentando até levar à prática do pecado”. Na verdade, nós “provocamos” o pecado!
Se eu tivesse de colocar um título em Provérbios 7 e Jó 32, seria: “Passos para o
Pecado”. Salomão disse ter visto por entre as grades um homem néscio. Por que ele
chegou à conclusão de que aquele homem era néscio? Porque o texto diz:
Ele passava na porta da prostituta, era tarde, tardezinha, noite escura e densas
trevas. (Pv 7:7-9).
Quantas vezes ele passou pela porta da prostituta? Quatro vezes! Então não pode
dizer que “pecou sem querer”, mas provocou o pecado. Se pecado fosse “sem querer” não
seria necessário o arrependimento e a confissão. Precisamos de arrependimento porque
cultivamos, provocamos o pecado. Mas, se por acidente pecarmos, temos um Advogado
diante de Deus – Jesus! Por meio dele podemos no achegar diante de Deus e confessar
nosso pecado. Tiago completa, dizendo:

246
...confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para
que possais ser sarados. (Tg 5:16).
O nosso grande opositor à comunhão é o pecado, portanto, não permita que ele
entre em sua vida! Às vezes dizemos que é difícil ter comunhão com determinado irmão,
mas quem sabe esse também é você? É por isso que a Palavra fala de perseverar. Se
fosse fácil não precisaria perseverar!

3º PONTO: PERSEVERAR NO PARTIR DO PÃO


O terceiro ponto é o partir do pão e podemos analisá-lo a partir da Ceia do Senhor,
que aponta para a centralidade do sacrifício de Jesus na vida da igreja. A Ceia é o dia em
que proclamamos a nova Páscoa que o Senhor celebrou conosco. No partir do pão e no
repartir do cálice celebramos a vida do nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, é o momento
mais solene e importante da vida da igreja.
Deus e Jesus a consideram assim, então nós também precisamos considerá-la
assim. Cada celebração deve ser um recomeço e uma renovação de aliança com Deus e
com os irmãos e, também, uma fonte de renovação de alvos e de esperança. A Ceia
proclama a nossa vitória através da morte e ressurreição de Cristo e, ao mesmo tempo,
anuncia a sua volta. Ela é o momento da revelação de quem Jesus é:
E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-
o partido, lhes deus; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele
desapareceu da presença deles. (Lc 24:30,31).
Precisamos buscar ao Senhor e praticar a Ceia de forma que a realidade do corpo
partido de Cristo não seja algo simbólico, mas real. Devemos tornar a mesa da Ceia o
centro dos nossos encontros e relacionamentos, lembrando que o relacionamento de Deus
conosco passa pelo sacrifício de Cristo. Sem isso é impossível Ele se relacionar conosco,
pois o pecado causa separação entre nós e Deus.
O partir do pão traz revelação e também definição para as nossas vidas, como foi o
triste caso de Judas Iscariotes:
Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de
passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-
os até ao fim. Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes,
filho de Simão, que traísse a Jesus. (Jo 13:1,2).
Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois,
um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E,
após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que
pretendes fazer, faze-o depressa. (Jo 13:26,27).
Perceba que tudo aconteceu durante a ceia. No primeiro momento, o diabo colocou
no coração de Judas e o inspirou que traísse Jesus e, no segundo momento, ele tomou
posse da situação e Judas, finalmente, colocou o plano em ação.
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice;
pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão
por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos os que dormem. (1 Co
11:28-30).

247
Discernir fala de entender o que é o Corpo de Cristo. Esse Corpo é formado pela
Cabeça (ele próprio) e por todos os que foram batizados em Cristo. De acordo com Paulo,
por todos aqueles que foram aproximados pelo seu sangue e feitos UM pela sua carne
partida. Participar da Ceia é algo tão sério que o Senhor disse que se alguém tomá-la
indignamente, sem discernimento, trará para si doença, fraqueza e letargia (apagamento
espiritual). Tomá-la dignamente e discernindo o Corpo restaura nossa saúde, nossa força
e seremos despertados da letargia.
A Ceia traz revelação para nós. Ela revela quem somos e nos dá consciência de que
somos uma nação. Quando o povo de Deus no Egito marcou com sangue as suas portas,
na verdade estava proclamando: “Eu sou da nação de Deus, eu sou do povo que
atravessou o rio!” “Hebreu” significa aquele que atravessou ou passou o rio. Os que não
marcaram suas portas com sangue estavam dizendo: “Eu sou egípcio.” Assim, a Ceia nos
dá identidade nacional.
A celebração da Ceia é a possibilidade de nos aproximarmos uns dos outros, o
milagre de nos tonarmos UM por meio da carne de Jesus partida na cruz. A Ceia é a
celebração da vida de Deus no meio da igreja. Por isso, faltar a ela é considerá-la algo
comum. Números 9 diz que o único motivo pelo qual somos desculpados em não participar
da Ceia é se estivermos viajando. Esse texto é muito enfático nesse ponto: “Se não estando
de viagem e estando limpa, não participar, essa alma será eliminada do meio do meu povo.”
Que Deus nos ajude a entender a importância da Ceia e valorizá-la com o mesmo valor que
Ele dá a ela.
O texto abaixo fala de dois momentos da nossa história. Nele há duas palavras
destacadas por Paulo: “outrora” (ou antes) e “agora” (ou hoje):
Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão
por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele
tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às
alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em
Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de
Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a
parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei
dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo,
um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus,
por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a
vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por
ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e
peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre
o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuários dedicado ao
Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de
Deus no Espírito. (Ef 2:11-22).
Com quem Paulo está falando? Comigo! Ele está dizendo que eu preciso lembrar-
me de quem eu era! Nós precisamos, em muitos momentos de nossas vidas, “sentir o fogo
do inferno em nosso calcanhar” para sabermos de onde fomos tirados e dizermos: “Quão
grande salvação Deus me deu, que imenso privilégio Ele me concedeu! Eu sou salvo.” Nós
precisamos valorizar isso, sabendo que estamos onde estamos unicamente pela graça e
bondade do Senhor Jesus. Lembrando sempre disso, nossas orações serão mais intensas

248
e nossos corações mais gratos. E, quanto mais gratos, mais louvaremos a Deus e mais
amaremos a congregação.
Nós estávamos perdidos e mortos, mas tudo mudou em Cristo Jesus. A Ceia celebra
essa verdade e, assim, podemos declarar: “Eu sou de uma nova família, eu sou do povo
de Deus. Outrora eu estava perdido e sem Deus no mundo, mas agora sou do povo de
Deus, do povo que foi comprado e da Nova Aliança.”
Existem dez coisas que Jesus fez quando seu corpo foi moído, de acordo com
Efésios 2:11-22:
1. Ele morreu por nós. Na Ceia somos “nós”, mas na cruz sou “eu” (Ef 2:13);
2. Ele tornou-se a nossa paz (Ef 2:14);
3. Ele fez de judeus e gentios um só povo formando um novo homem. Um homem
coletivo, que é a igreja, o Corpo de Cristo no qual ele é a Cabeça. Paulo exorta a
que nos revistamos do novo homem, ou seja, da igreja. A igreja é a nossa cobertura,
nossa nova vestimenta (Ef 2:14-16 e 4:24);
4. Ele derrubou a parede de separação entre judeus e gentios, tornando-se a nossa
paz. Essa paz não é um sentimento, mas uma Pessoa. Se você tem Cristo, você tem
paz. Se você não tem Cristo, você tem apenas um sentimento, porque a paz
verdadeira é ele (Ef 2:14-16);
5. Ele aboliu a lei dos mandamentos. Não é que ele jogou fora os mandamentos,
mas aboliu o peso e a carga da lei sobre nós. Hoje nós não cumprimos a lei porque
temos medo do pecado, mas a cumprimos porque essa lei se deslocou da pedra
para o coração. Essa é a grande diferença entre o Antigo e Novo Testamento.
Obedecemos ao Senhor e as Suas leis porque são boas, santas e perfeitas. Elas
iluminam os olhos, são desejáveis e doces ao coração. Não temos mais medo delas,
pois agora elas são boas e nós as amamos. Por isso, meditamos nelas dia e noite
(Ef 2:15);
6. Ele fez a paz entre judeus e gentios (Ef 2:15,16);
7. Ele reconciliou o homem com Deus (Ef 2:16);
8. Ele matou a inimizade. As ações de Deus são muito fortes e, na cruz de Cristo,
Ele fez uma coisa extremamente definitiva: matou o pecado e o pecador. Se Ele
tivesse matado apenas o pecado, certamente continuaríamos fazendo outras coisas
erradas. Então Ele nos matou também. Essa é a nossa vitória sobre o pecado:
estamos mortos em Cristo Jesus! Morremos com Cristo, mas também fomos
ressuscitados com ele para vivermos em novidade de vida! Ele matou a inimizade
que havia entre nós e Ele e entre nós e os nossos irmãos. Deus quer que tenhamos
amizade com todo o Seu povo; claro que não é no mesmo nível, mas não pode haver
entre nós nenhuma frieza ou indiferença. Não existe nenhum mandamento na
Escritura que diz “gostai uns dos outros”, mas, sim, “amai-vos uns aos outros”. Não
importa o que a pessoa faça de errado, o amor cobre multidão de pecados. Assim,
você sai do nível do gostar e entra no nível do amar – isso é a morte da inimizade
(Ef 2:15,16);
9. Ele trouxe a pregação da paz para todo homem em todas as nações, judeus ou
gentios. O evangelho da paz precisa ser anunciado a todo homem: Jesus Cristo se
fez paz entre Deus e nós (Ef 2:17);

249
10. Ele abriu o acesso ao Pai para todo homem. Havia um véu que nos separava,
mas quando Jesus morreu na cruz esse véu foi rasgado. Não de baixo para cima,
mas de cima para baixo, mostrando com isso que a iniciativa não foi nossa, mas
Dele. O véu foi rasgado de alto a baixo, portanto, hoje temos acesso diante do Pai
(Ef 2:18).
A Ceia é o momento de revelação de quem nós somos e de quem Deus é. Na
primeira Ceia (a última Páscoa) aconteceu um fato muito interessante. Jesus se levantou
da mesa, cingiu-se com uma toalha e, pegando água, lavou os pés dos irmãos. O que
significa isso? Serviço, cuidado! Mas eu penso que também é cuidar do caminho do irmão.
Cuidar do irmão, proteger os seus pés e observar como ele anda – não para condená-lo,
mas para limpá-lo. É por isso que quando Jesus quis lavar os pés de Pedro, este propôs
um banho completo, mas Jesus disse: “Não! Você já está limpo pela Palavra que eu tenho
dito; você só precisa lavar os pés.” São os pés que tocam os caminhos dessa vida, desse
mundo; por isso, precisamos estar atentos aos pés dos nossos irmãos. Você é responsável
pelo seu irmão, por guardá-lo e protegê-lo. Quando tomamos da Ceia com o coração
correto e num ambiente correto, ganhamos essa condição e consciência de que somos
guardadores dos nossos irmãos e, por isso, devemos protegê-los.
Nós vivemos em um século de isolamentos. Basta ver as nossas ruas, nossos altos
muros dentro dos quais erguemos nossas casas. Ninguém conhece ninguém. Fui à
pequena cidade de Rubiataba, em Goiás, e vi como são diferentes os irmãos de lá. Eles
têm muita facilidade de entrar na vida uns dos outros. Mas nós não! Somos muito educados,
mas é uma educação que não vem de Deus. Precisamos nos reeducar em participar da
vida dos irmãos e nos responsabilizar por eles.
Amai-vos cordialmente uns aos outros, preferindo-vos em honra uns aos outros; no
zelo não seja remisso, cuide do seu irmão; não seja vagaroso, mas seja fervoroso
no espírito, sempre fervente servindo ao Senhor; regozijai-vos na esperança, sede
pacientes na tribulação e na oração perseverantes; compartilhai as necessidades
dos santos... (Rm 12:10-13).
Ser cordial é amar de coração. Quem ama de coração, às vezes, não vê defeitos.
Mas, mesmo que veja, não coloca o defeito como mais importante que a pessoa amada.
Muitas vezes somos levados a nos afastar de alguém por causa do que ele fez de errado.
No entanto, o Senhor se aproximou de nós pelo que somos e tratou com o que fizemos.
...praticai a hospitalidade; abençoai aos que vos perseguem; abençoai, e não
amaldiçoeis; alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram; tende
o mesmo sentimento uns para com os outros em lugar de serdes orgulhosos,
condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos.
(Rm 12:13).
O que é a palavra “praticar”? Ela é muito interessante, porque se fosse traduzida ao
pé da letra seria: “persiga a ocasião de hospedar o estrangeiro”. A palavra “praticar” é tão
forte que fala de cansaço, no sentido de perseguir até se cansar, ou seja, buscar de
qualquer forma a ocasião de hospedar. Hospedar não fala tanto da casa, mas do coração.
Já me hospedei nas mais diversas casas possíveis, desde as muito luxuosas até as mais
simples. Mas isso não importa, porque eu me senti bem naquelas onde as pessoas me
receberam no coração. Hospedar, portanto, fala de uma atitude de coração. Se você acha
que não tem o que oferecer, ofereça o que você tem de melhor – o seu coração – e não
mais do que isso. Hospedar fala de “abrigar” e é uma das características da igreja.

250
Quero comentar Hebreus 13:2-6 de trás para frente, para mostrar como é que Deus
vê a hospitalidade:
V. 6 – “O Senhor é o meu auxílio e não temerei; o que me poderá fazer o homem?”
– isso fala de uma afirmação confiante. Nós precisamos dessa afirmação confiada, afirmar
ou declarar isso no nosso dia a dia.
V. 5 – “Contentai-vos com as coisas que tendes...” – Você é contente ou resignado?
Ao sentar-se à mesa para comer uma refeição muito simples você dá graças, mesmo
insatisfeito com ela? Isso é resignação. Você agradece a Deus com alegria por Ele ter
suprido a sua mesa? Isso é contentamento. Você é contente com o que tem? Se reclama
do que tem, isso é murmuração e lamentação. Isso é pecado e fere o coração de Deus.
“Seja vossa vida sem avareza” – não se apegue ao que você tem, porque a avareza é
idolatria e idolatria é pecado;
V. 4 – Fala do casamento, do leito do casal que não pode ter mácula ou pecado,
mas que deve ser leito puro e santo.
V. 3 – “Lembrai-vos dos encarcerados” – temos de nos lembrar das pessoas em
prisão, seja ela em cadeias literais ou em pecados.
V. 2 – “Não negligencieis a hospitalidade.”
O Senhor coloca a hospitalidade em primeiro lugar; por isso, ela não é opcional.
No ano de 1978 eu era pastor de uma congregação em Jundiaí que experimentava,
em suas reuniões, muita manifestação do poder de Deus. O fogo, a graça e a unção se
manifestavam de forma muito forte. As notícias sobre essas reuniões se espalharam e
pessoas de outras cidades vinham para participar. Ao final das reuniões íamos embora para
nossas casas e os visitantes permaneciam parados na calçada em frente ao templo. Mas
onde eles comeriam? Ninguém se preocupava com isso, porque a questão da hospitalidade
ainda não era algo claro para nós. Mas Deus foi dando graça e trabalhando conosco nesse
sentido. Ele fez uma obra na vida daquela congregação ao ponto de, quando fizemos um
Encontro de Músicos, hospedarmos todos os que vieram de fora em nossas casas. Em um
dos últimos eventos chegamos a hospedar cento e dez pessoas. Eu creio que essa é uma
das características (ou marcas) da igreja em Jundiaí – a hospitalidade. Porém, ela precisa
vir à tona. Eu preciso abrir a minha casa e hospedar as pessoas que necessitam. Antes de
“coisas”, preciso dar o meu coração.
Paulo, em Romanos 16, cita um homem de nome Gaio que hospedou e abriu as
portas da sua casa para a igreja. Já pensou se cada uma de nossas famílias hospedasse
uma congregação, assim como Gaio? Quantos seríamos em nossa região? Pratique a
hospitalidade e não se preocupe com seus tapetes e sofás, pois, qual é mais importante:
os seus pertences ou a comunhão e a hospitalidade?
Essa é uma matéria de juízo. Lembra o que o Senhor diz em Mateus 25? Ele colocará
os cabritos à sua esquerda e as ovelhas à sua direita. Ele diz: “Vinde benditos do meu Pai,
porque me vistes nu, me vistes com fome, me vistes encarcerado...” Alguém diz: “Mas
Senhor, quando te vimos nessa situação?” E Ele responde: “Todas as vezes que fizerdes
isto com os meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”
Obras não salvam, mas a falta delas nos leva para o inferno! O Senhor nos exortou
que, se não praticarmos isso, não entraremos no reino dos céus. A generosidade e o
coração dadivoso são características do próprio Deus. Por isso Ele foi capaz de mandar

251
Seu único Filho para nos resgatar. O nome dessa ação de Deus é hospitalidade,
generosidade, cuidado!
Em Neemias 8, quando os muros foram restaurados, todo o povo foi convocado para
escutar a Palavra e eles (homens, mulheres e crianças) a ouviram de pé desde a alva
(madrugada) até o meio-dia. Escutando, eles a foram entendendo à medida em que ela
chegava aos seus corações e, então, começaram a chorar impactados pela mesma. Então
Neemias disse: “Não chorem, porque a alegria do Senhor é a vossa força. Hoje não é tempo
de chorar, mas é tempo de enviar porções gordas aos que não têm” (v. 10).
Interessante notar o que aconteceu nesse capítulo: primeiro, a revelação da Palavra;
segundo, o arrependimento; terceiro, o coração desejoso de repartir e enviar porções
gordas aos que não tinham. Porção gorda fala de generosidade. Quando você der oferta
dê uma porção gorda, porque Deus é generoso para com você. Ele tem um compromisso
conosco (Mateus 6:33), ou seja, Ele suprirá todas as nossas necessidades: comer, beber
e vestir. Deus sempre nos dá com abundância, porque esse é o Seu coração. E, se nós
temos o mesmo coração de Deus, a nossa entrega também ser com generosidade.
Partir o pão fala também de atender às necessidades de outras localidades. A igreja
de Antioquia praticava o partir do pão enviando a sua porção gorda, seus melhores obreiros,
e não obreiros problemáticos. Ela enviou Paulo e Barnabé porque era uma igreja generosa.
Ela sentiria a falta deles, mas agiu assim em obediência a uma ordem de Deus para que
os enviasse. Deus gosta da porção gorda. Ao sacerdote não era permitido comê-la, e nós
também não a podemos comer. Precisamos, sim, enviá-la, porque ela é a porção gorda de
Deus.

4º PONTO: PERSEVERAR NAS ORAÇÕES


Eu comparo a oração à respiração. A coisa mais básica da vida humana é a
respiração, porque basta que deixemos de respirar por três minutos para que a vida não
esteja mais em nós. A partir da respiração você faz todas as demais coisas. E assim
também é a oração. Não podemos parar de orar, porque ela tem para o nosso espírito o
mesmo efeito que a respiração tem para o corpo humano. Nós devemos orar não porque a
Bíblia nos manda, mas porque nós necessitamos orar.
A oração é a declaração da minha incapacidade, incompetência e dependência de
Deus. Quanto mais sou dependente de Deus, mais eu oro; quanto menos dependo Dele,
menos eu oro. Se eu sei fazer determinada coisa não peço conselho, mas se eu não sei o
peço. Jesus disse, em João 15.5, que “sem mim nada podeis fazer”. Precisamos ter uma
revelação dessa verdade porque nós somos relativos em nossos conceitos. Costumamos
dizer, por exemplo, que “todo mundo foi à reunião”. Ora, isso quer dizer que mais de sete
bilhões de pessoas estavam na reunião? Ou, então, dizemos: “Eu nunca fiz isso, só naquele
dia e no outro”. Ou, ainda: “Você sempre faz isso”. Quando, na verdade, a pessoa fez uma
vez ou outra. Isso acontece porque relativizamos os termos absolutos. Quando o Senhor
fala “sem mim nada podeis fazer”, o que nós entendemos? Que “quase nada” nós podemos
fazer sem ele. Ele diz “nada” e nós entendemos “quase nada”. Deus fala que você não pode
e você diz: “Eu consigo”. Mas “nada”, significa “nada” mesmo.
Onde nós manifestamos a nossa dependência em Deus? Na oração. É por meio
dela que colocamos diante Dele toda a nossa incapacidade. A oração não é para “torcer” o
braço de Deus para que seja convencido a fazer a minha vontade, mas é a forma que temos

252
para sincronizar o nosso entendimento com o entendimento do Senhor. Ela é a sintonia
aonde você busca e encontra o canal de Deus. Pedimos muita coisa a Ele quando oramos,
mas, como não sabemos orar como convém, pedimos o que não devemos. Mas Deus é tão
misericordioso que não responde a essas orações indevidas; Ele espera você refinar a sua
oração.
O cego Bartimeu, em Marcos 10.46-52, fez um pedido a Jesus, em voz alta: “Jesus
filho de Davi, tem compaixão de mim”. Esse texto é muito forte, porque ninguém podia
atribuir a uma pessoa comum o título de “filho de Davi”. O único a ter esse direito seria o
Messias, o qual se assentaria no trono de Israel e reinaria para sempre. Mas aquele cego,
sem ver, teve uma revelação de quem estava passando por ali. Sim, o cego viu antes de
ver e pediu a compaixão de Jesus sobre si. E o texto diz algo que gosto muito: “Jesus
parou”. Não obstante o clamor e a contrariedade dos seus discípulos, ele parou, se voltou
para aquele homem e fez uma pergunta aparentemente tola: “Que queres que eu te faça?”
Ele fez essa pergunta, porque havia um leque de possibilidades na cabeça de Bartimeu
(um lugar no templo para pedir esmolas, um cão-guia, uma nova bengala, uma nova capa).
Ele poderia pedir muitas coisas, mas Jesus queria saber o que ele pensava que precisava.
O que Deus poderia fazer em sua vida que causaria uma mudança radical? Mas não era
nada dessas coisas que ele queria, por isso respondeu: “Mestre, que eu torne a ver.” Jesus,
então, disse: “A tua fé te salvou.” E imediatamente ele tornou a ver e começou a seguir
Jesus.
Às vezes nós pedimos coisas que não precisamos e, por isso, aparentemente, Deus
demora a responder. Mas é porque Ele quer que refinemos as nossas orações. Lemos que
Daniel, desde o primeiro dia em que se dispôs no coração a buscar a Deus, Ele deu
orientação aos anjos para levar-lhe a resposta. Mas Ele não podia enviá-la se Daniel não
pedisse. Deus quer responder depressa as nossas orações, como está escrito em Lucas,
“embora pareça tardio”. Os anjos estão apenas esperando que você peça de acordo com
o que Deus quer lhe dar. A oração vai purificando a nossa vontade até que peçamos
exatamente o que precisamos. Deus prova a nossa oração deixando-nos amadurecer até
que cheguemos à Sua perfeita vontade para nós.
Em Atos, o Espírito Santo veio num ambiente de expectativa e concordância. A
Palavra diz que eles estavam unânimes naquele ambiente e oravam em concordância. “Se
dois ou três pedirem qualquer coisa ao meu Pai, Ele o concederá”, porque há unidade na
oração. O povo daquela época se reunia nas casas tanto no partir do pão quanto nas
orações. A oração era um hábito, porque eles haviam descoberto que nada podiam fazer
sem Deus. Foi isso que provocou neles uma vida de oração. Eles oravam a Deus segundo
os acontecimentos. Quando os apóstolos eram presos e açoitados, eles voltavam para
junto da igreja e oravam unanimemente para que o Senhor confirmasse com sinais quando
saíssem novamente para pregar. A oração deles era extremamente prática, em cima de
uma situação e em unanimidade.
A oração nos faz descobrir a vontade de Deus, descobrir o que Ele quer fazer. Tenho
ouvido dizer que a Terra move os céus, mas eu acho que é o contrário, pelo que vejo nas
Escrituras. A ideia de que a Terra move os céus pode nos levar a pensar que a nossa
oração muda a vontade de Deus. Porém, a vontade de Deus é imutável. A oração faz a
nossa vontade se afinar com a vontade de Deus e, assim, podermos cooperar com Ele.
Mas se você crê diferente disso, não tem problema.

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A igreja de Atos tinha consciência que a sua oração era um serviço ao Senhor. Ela
servia a Deus em oração e jejum (At 13). E oração é um dos trabalhos mais árduos que
existe. Ela é um verdadeiro trabalho de parto, porque muitas vezes você não vê um
resultado imediato e, por isso, precisa continuar orando. Por isso nós precisamos ser
insistentes na oração.
Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante
de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. (Fp
4.6)
“Coisa alguma” significa “nenhuma coisa”. Vamos nos habituar a pensar na forma
absoluta que Deus fala. Deus sempre fala o que Ele quis dizer e sempre quis dizer o que
Ele fala. Não existe força de expressão no que Deus fala. Quando diz “não andeis
ansiosos”, Ele quis dizer “não ande ansioso”.
Podemos perguntar: “Mas como fica a questão da ansiedade?” A ansiedade é o
desejo de controlar o que nós não podemos controlar; o desejo de poder de controlar as
pessoas, o tempo e os acontecimentos. Ansiedade é a causa e depressão é o efeito da
ansiedade, assim como outras coisas que vêm são “filhos” dela (síndrome do pânico e
outras coisas mais). Nos dias de hoje não há profissional que trabalha mais do que um
psicólogo ou um psiquiatra. Sempre haverá emprego para eles, porque vivemos no século
da ansiedade.
Numa conversa, um irmão disse algo que eu acredito: “Não existe o ontem nem o
amanhã, só existe o hoje, filosoficamente falando”. A única coisa que você pode controlar
é o agora. Você não pode controlar o passado nem o futuro, por isso, acostume-se a viver
plenamente o agora. “Não tente passar sobre a ponte antes de chegar nela”. Preocupar é
uma das palavras mais elucidativas que existe. Preocupar é ocupar-se antecipadamente.
Quem se preocupa se cansa, no mínimo, duas vezes porque faz antes de fazer.
“Distração” significa “estar debaixo de duas trações”. Todos nós estamos debaixo de
duas trações. Por exemplo: Eu posso estar aqui, mas pensando em minha esposa e filho
que ficaram em casa e no que faremos juntos quando eu chegar lá. Obviamente, não posso
estar nos dois lugares ao mesmo tempo, porque não sou onipresente nem tenho o dom da
ambiguidade. O que devo fazer, então? Viver 100% o momento que estou vivendo, isto é,
viver tudo o que Deus tem para mim AGORA. Daqui a pouco é futuro! Em relação à igreja,
devo sentar-me durante uma reunião e experimentar tudo o que Deus tem para mim
naquele momento e não me preocupar, porque a preocupação gera ansiedade. Esse é o
significado do mandamento “não andeis ansiosos”. Veja que é um mandamento e não uma
sugestão.
Eu descobri que há uma ansiedade santa. Jesus a teve! Ele disse aos seus
discípulos: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa...” (Lc 22.15). Ou
seja, você pode ter anseio por estar em comunhão com os irmãos. Essa é uma ansiedade
lícita. “Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus” (Sl
42.1). Esse anseio é permitido. Fora isso, “não andeis ansiosos por coisa alguma.”
Certa vez, comecei a sentir algumas dores diferentes e fiz uma consulta para ver do
que se tratava. A médica diagnosticou-me com estresse por causa do trabalho. Quando li
a bula do remédio (tarja preta) que me fora receitado, eu fiquei pior. Resolvi pesquisar, ler
e me informar a respeito de depressão, pois eu estava no começo de uma. Descobri várias
coisas, inclusive que para verificar a depressão de uma pessoa é preciso analisar, pelo

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menos, seus três últimos anos de vida. Vamos supor que temos uma tomada em nossa
casa de apenas 150 V, mas você a usa com um secador de cabelos de 2000 V. Os fios da
tomada esquentam e a capa deles se torna frágil, porém, não queimam naquela hora. Você,
então, usa aquela tomada para ligar outros aparelhos e, passado um tempo, usa novamente
o secador. Resultado: fragilizou ainda mais a capa dos fios, mas ainda não queimou a
tomada. Depois, você a utiliza para ligar um pequeno ventilador e ocorre uma explosão.
Você culpa o ventilador, mas a culpa é da sobrecarga no decorrer dos anos que foi
enfraquecendo e fragilizando a capa dos fios. Essa é uma ilustração para mostrar o que
acontece conosco.
O Conselho de Psiquiatria tem uma tabela de tensão. Não sei se os números são
exatamente esses, mas dizem que a perda do emprego gera um pico de 60 pontos, a morte
do cônjuge 80 pontos, o divórcio 100 pontos. Ao passar por esses picos a pessoa vai se
tornando enfraquecida até que, um dia, por causa de uma coisa boba que acontece ela
entra em depressão.
Há também a depressão por cansaço e aqui podemos dar como exemplo o caso de
Elias. Ele havia acabado de matar oitocentos e cinquenta profetas e, certamente, isso o
cansou muitíssimo. Quando fica sabendo que Jezabel estava no seu encalce para matá-lo,
ele correu para o deserto e deitou-se debaixo de uma árvore, dizendo: “É melhor morrer,
eu não devia estar vivo”. Elias estava deprimido por causa de uma mulher. Ela não era
poderosa, mas ele estava muito cansado. Deus enviou um anjo que lhe deu pão e água e
o mandou dormir. Ele acordou ainda deprimido e o anjo o mandou dormir mais um pouco.
Depois disso, ele levantou curado da depressão. No auge da depressão Elias falou o que
não devia, porque a depressão faz com que não vejamos o que Deus está vendo.
Hagar, serva de Sara, também entrou num estado de estresse, porque sua senhora
a tinha mandado embora com seu filho. Os dois já estavam sem água para beber e, então,
ela deixou a criança em determinado lugar e se afastou para não vê-lo morrer. Porém, um
anjo apareceu e lhe disse: “Deus ouviu o choro da criança”. Então, Deus abriu os seus
olhos e ela viu um poço com água. A depressão não permite que vejamos os escapes que
estão diante dos nossos olhos.
E a ansiedade? Certa vez, em viagem para o Canadá, quando cheguei ao Aeroporto,
comecei a sentir uma tristeza que eu nunca tinha sentido antes. Pensei que fosse por estar
deixando minha família por um longo período, mas eu já tinha viajado tanto e porque essa
tristeza agora? Fiz uma oração e pedi a Deus que tirasse aquilo de mim e me fizesse dormir
durante a viagem. Eu sempre tive problemas para dormir no avião, mas naquela viagem eu
dormi e só acordei quando chegávamos a Toronto. Pensei que a minha oração tinha sido
poderosa, mas, ao desembarcar, aquela tristeza veio pior do que antes. Inquiri de Deus
sobre o que estava acontecendo e Ele falou: “Estou deixando você sentir o que o povo
desse país sente”. Nunca vi gente tão deprimida! Em todas as igrejas que visitei eu orei por
pessoas deprimidas.
Na última igreja, uma senhora chegou até mim e disse: “Jamê, é pecado tomar
remédio para depressão?” Eu falei: “Não minha irmã, mas você tem de cuidar da causa
para não precisar tomar remédio.” Ela disse: “Eu não sei o porquê disso, pois tenho uma
vida muito boa, ganho muito bem, meu marido ganha mais do que eu, meus filhos são
excelentes e nós não precisamos de nada.” Deus, então, me falou: “Aí está a causa: ela
não tem motivo para lutar”. Você já viu um homem da roça, trabalhando com a enxada,
deprimido? Ele não tem tempo para isso. Nosso problema é que temos muito tempo e,

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então, começamos a pensar em nós mesmos como vítimas. Então, pare com isso e vá
cuidar das pessoas!
Não estou dizendo que todo depressivo tem essa mesma causa. Existe depressão
que é causada por desequilíbrios químicos no organismo da pessoa. Tivemos um caso
desses em Jundiaí. Depois de muito orar por essa pessoa sem sucesso, um irmão teve
uma visão. Ele viu no cérebro dela uma veia entupida. Levamos a irmã num psiquiatra
cristão e ele detectou o problema através de um exame. Ele a medicou com pequenos
comprimidos e ela ficou totalmente curada.
Existem, sim, depressões por razões de desequilíbrio químico, mas a depressão da
qual estou falando é causada por ansiedade. Jesus disse para não andarmos ansiosos, e
eu fico procurando aquela “tomadinha” para desligar a ansiedade. Então, fico ansioso
porque não a encontro e apelo para os ansiolíticos, mas eles apenas mascaram o meu
problema, não o resolve. Mas, graças a Deus, aquele que falou para não ficarmos ansiosos
deu também a solução:
Voltando ao texto de Filipenses 4.6, veja que Jesus nos dá o remédio que não
mascara, mas que resolve. Resolve quando faço conhecido diante de Deus o que me causa
ansiedade. O interessante é que ele não diz “para fazer Deus conhecer”, mas “para que
seja conhecida diante de Deus.” Quem vai conhecer? Não é Deus, porque Ele conhece
tudo. Ao trazer o problema diante de Deus, Ele traz luz sobre o mesmo e eu o enxergo na
sua dimensão correta. Assim, preciso fazer conhecido diante de Deus o que está me
perturbando. E como faço isso? Pela oração, pela súplica e com ações de graça.
Oração e súplica, como muitos imaginam, não é a mesma coisa. Quando a Palavra
diz que devemos orar sem cessar, isso não significa que devemos falar em voz alta em
todo lugar em que nos encontramos. Oração é mais do que fala, ela é uma atitude de
expectativa em Deus que você deve ter em todos os lugares. A figura que uso para explicar
isso é a do filhote de passarinho no ninho. Quando a mãe chega ele abre o bico. Essa é a
atitude de oração. Muitas vezes a sua oração é sem palavras. Ela pode ser apenas um
gemido ou clamor diante do Senhor, ou uma alegria no seu coração diante Dele. Isso é
oração! A súplica é quando você coloca em palavras o que está lhe incomodando. Ações
de graças são atitudes de gratidão diante de Deus, sabendo que Ele ouviu o que você
colocou diante Dele.
Certa vez, eu estava ensinando a nossa filha mais nova sobre os valores em casa:
o valor da conta de luz, da água, do mercado. Aconteceram algumas coisas em cima disso.
Uma foi quando recebemos um visitante em casa e ele deixou a luz do quarto, acesa. Ela
disse a ele: “Tio, pode apagar a luz? Meu pai paga caro.” A segunda coisa foi quando falei
para ela que no dia seguinte seria seu aniversário e que eu a levaria à loja de brinquedos
e ela poderia escolher o presente que quisesse. Não seria arriscado fazer isso? Sim, mas
eu tinha que provar a minha doutrina de que a havia ensinado bem. Se ela escolhesse um
presente caro eu estaria com um problema. No caminho para a loja ela me abraçou por trás
e disse: “Pai, muito obrigada pelo presente.” Eu lhe disse: “Mas eu ainda não te dei.” Ela
respondeu: “Mas você falou que daria; muito obrigada!” Isso é ação de graça! É a atitude
de confiança de que Deus ouviu e vai responder.
Deus ouve as nossas orações, em primeiro lugar, porque Ele é misericordioso, e,
em segundo lugar, porque nós somos filhos e Jesus é o nosso intercessor que nos conduz
diante do Pai. É a certeza absoluta de que Deus ouve as nossas orações. Não estou
dizendo que Ele vai responder conforme o que nós pedimos, mas que Ele escutou a nossa

256
oração. Por isso, temos uma atitude de gratidão. Você pode abraçar Deus por trás e dizer:
“Deus, muito obrigado, porque eu pedi e o Senhor me ouviu!”
Então, a chave para resolver a questão da ansiedade é a oração, é falar com Deus
sobre o que está lhe incomodando. Assim, você lança sobre Ele toda a carga que está
sobre sua vida. Precisamos aprender isso, principalmente se cuidamos de vidas. Os
pastores precisam aprender a colocar diante de Deus as suas cargas, pois nenhum de nós
é capaz de tratar com o próprio pecado e muito menos com o pecado dos outros. Não
fomos criados para isso. Nós estamos numa profissão contingencial, numa profissão que
não foi o plano de Deus para nós. Ele nos criou para o paraíso onde há frutas, grama, não
tem baratas, formigas ou espinhos. Mas o homem pecou e fomos viver entre os espinhos.
No entanto, Ele chama o pecador para cuidar de pecadores. Nenhum homem suporta isso!
Pastores, muitas vezes, sofrem doenças (AVC, derrame, infarto etc.) porque não aguentam
a carga que carregam. Precisamos aprender a ouvir os problemas das pessoas e ser
somente um canal de passagem. Precisamos colocar diante de Deus os problemas das
pessoas e esperar que Ele nos diga o que fazer e falar a elas. Sendo assim, saímos livres
e não sucumbimos junto.
Deus nos manda ter compaixão e sentir a dor da pessoa, mas não nos manda ficar
com a dor. Não precisamos ficar com ela porque Jesus já fez isso; ele levou sobre si todas
as nossas dores. Que possamos aprender a transferir os nossos pesos para Aquele que
pode todas as coisas. E qual é a consequência de agirmos assim?
A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a
vossa mente em Cristo Jesus. (Fp 4.7)
Interessante é que o versículo não fala que vai mudar o nosso sentimento, mas vai
guardá-lo. O sentimento é como um cão bravo que precisa ficar na jaula para não nos
machucar. Depois de algum tempo, ele deixa de ser um cão bravo e se torna um indefeso
coelhinho. O sentimento é assim: uma hora você sente aquele “vulcão” e outa hora você
não sente nada. Então, não se preocupe com os sentimentos, pois Deus os guardará para
que eles não determinem as suas atitudes. Deus não quer que percamos nossos
sentimentos, mas quer que eles não ditem os rumos da nossa vida. Ele os guardará dentro
de Cristo – e não há melhor lugar para que fiquem guardados.
Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é
justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma
virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. (Fp
4.8).
Esse texto nos livra da ansiedade. Quando você pensar alguma coisa, pare e
pergunte: “Isso que eu estou pensando é honesto, puro, amável, justo, de boa fama e trás
algum louvor ao Senhor?” Se alguma dessas perguntas tiver como resposta o “não”, jogue
fora o que estiver pensando.
Nunca trabalhe em cima de impressões. Se uma pessoa o olha diferente, você fica
com a impressão de que ela não gosta de você. Se isso acontecer, o melhor que tem a
fazer é procurar a pessoa e perguntar se ela tem algo contra você. Se ela disser que não,
creia e fique livre. Nunca interprete que “ele falou isso, mas queria falar aquilo”. Você não
é Deus para discernir os pensamentos do coração de alguém. O que a pessoa falou é o
que ela falou, e pronto.

257
A nossa vida precisa ser mais simples, porque senão nós não vamos evangelizar,
não vamos cuidar das pessoas e morreremos antes da hora. Eu creio que Deus está nos
chamando para a simplicidade da vida de Cristo, uma vida mais simples de comunhão,
aceitação, amor e cuidado uns para com os outros.

258
A CENTRALIDADE DE JESUS NA FAMÍLIA
Clésio Pena

N ós ficamos muito tranquilos quando vivemos em uma comunidade, em uma igreja, com
a consciência de que as coisas vão ficar tudo bem, de que “uma hora tudo dá certo”.
Isso pode acontecer, mas precisamos nos despertar para ter uma INTENÇÃO de trabalhar
para que isto aconteça, trabalhar para que a nossa família tenha uma CENTRALIDADE em
Jesus.
Precisamos parar de divulgar vídeos, áudios e mensagens que são maus e
degradantes e sermos divulgadores de boas notícias; pessoas que criam as conversas, que
geram bons assuntos, que abençoem e edifiquem os lares com conversas positivas que
ardem em nosso coração. Vemos, no evangelho de João, que por várias vezes ele tenta
falar de algum outro assunto, mas não consegue; então ele volta a falar de Jesus, pois não
tem outra paixão maior que o Senhor. Se ele vivesse hoje em nosso meio seria um “chato”,
pois lhe diríamos: “João, você viu aquele filme?” “Não vi, mas fiquei sabendo que Jesus
curou aquele irmão!” Isso porque tudo no coração dele ardia por Jesus.
Assim, precisamos tirar o foco dessas mazelas, maldades e coisas negativas que
rodeiam nossas conversas e contatos, porque certamente o mundo não colabora com o
Reino de Deus. A política, a economia, as leis, tudo daqui para frente será contra a família
e tentando prejudicar o Reino. Isso não é novidade, pois a Igreja sempre esteve em guerra
com o mundo. Mas a pergunta é: De que lado você está? Você vai divulgar notícias de
quem? Vai levantar qual bandeira? Vai focar e priorizar o que? Infelizmente, estamos
constantemente, mesmo sem perceber, divulgando o mal.
Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa
para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.
(Ef 4.29)
Nenhuma geração antes da nossa teve tanto acesso a tantos recursos. Quando eu
era criança, passou um vendedor de livros em minha rua e eu torci muito para meu pai
comprar. Pensei: “Puxa, dá para ler muito com essa coleção; dá para aprender coisas
novas; vou ficar muito inteligente com tudo isso!”. Mas ele não comprou. Não o culpo, pois
a dificuldade naquela época era grande. Quando eu fiz faculdade, acho que não comprei
nenhum livro, pois não tinha dinheiro. Como não havia internet, eu precisava ir à Biblioteca,
mas trabalhava o dia todo e era uma grande dificuldade. Quando meus pais me educaram,
eles nunca leram um livro na vida. Mas hoje temos acesso ilimitado a muitas coisas (boas
e ruins) e a nossa geração será mais cobrada do que todas as outras anteriores a nós.
Hoje temos a Bíblia (impressa e online) e milhões de excelentes livros bíblicos em
todas as línguas. Recentemente, um pastor comentou que a Reforma Protestante tinha que
ter acontecido exatamente naquele ano (1517), pois a sua propagação só foi possível
porque havia a Bíblia impressa. Naquele ano foram impressas tantas Bíblias que, se isso
não acontecesse, demoraria quase 300 anos para divulgá-la ao mundo (mas isto foi feito
em um ano). Tudo o que você quiser estudar e conhecer da Bíblia, há vários cursos
gratuitos na internet. Assim, comparando com poucos anos atrás, hoje temos acesso a uma

259
abundância de ótimos conteúdos para lermos e aprendermos. Sendo assim, é nosso dever
e obrigação gerar famílias melhores do que das gerações anteriores.
Certa vez, minha mãe me disse: “Curso para educar filhos? Não preciso disso.
Nunca fiz cursos e eduquei seis!” Está certo, mas hoje nós temos recursos para nos ajudar
melhor! Mesmo que você seja pastoreado por alguém, mesmo que frequente regularmente
as reuniões, mesmo que pastoreie alguns grupos, faça os cursos que temos disponíveis
para aprender melhor, para crescer mais. Ninguém nunca se arrependeu de ter feito
qualquer um dos nossos cursos; ninguém concluiu que perdeu seu tempo fazendo-os.
Todos que os fizeram comentaram: “Que bom que eu fiz, pois aprendi muita coisa que não
sabia!” Nós temos excelentes líderes em nossas comunidades, mas eles não são completos
em si. Em nossa congregação, por exemplo, temos 12 presbíteros, mas nenhum deles é
completo. Cada um tem uma ênfase melhor em alguma área e todos se completam. Então,
estes cursos são ferramentas que Deus nos dispõem para crescermos mais e conduzirmos
nossas famílias para o centro do coração de Deus.
Coisas ruins acontecerão no futuro. Não sei se um dia poderemos nos reunir em
congregações grandes, mas em famílias será difícil alguém impedir. É verdade que estão
tentando destrui-las, mas mantenha a sua e faça com ela tenha a centralidade de Jesus.
Paternidade não é apenas para restringir o mal, apenas para gerar boas pessoas
moralmente falando. Isso muita gente não cristã faz. Eu tinha vizinhos em Araras que eu
admirava muito: vida excelente, filhos excelentes – só faltava Jesus! Ora, se a nossa
paternidade serve apenas para restringir o mal (“não faça isso”, “não ande com fulano”,
“não pratique aquilo”), viveremos semelhantes à uma “tesoura”, podando tudo o que não
pode, e a criança ficará sem saber o que fazer da vida. Então, a paternidade serve para
injetar coisas positivas no coração de nossos filhos, entre elas – e a principal – a paixão
por Jesus. É assim que deve funcionar nossas casas.
Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus
filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-
te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal
entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. (Dt 6.6-
9)
O texto nos fala de situações e momentos diversos onde podemos e devemos
ensinar a Palavra de Deus aos nossos filhos. Na verdade, são contextos infinitos que temos
para fazê-lo, durante todo o tempo. Desta forma, vivemos em família com o propósito
principal de praticar a centralidade de Jesus em nossos corações.
Você pode ter ótimas intenções, mas só intenção não muda nada. Pregando em um
Encontro de Homens, eu disse a um irmão: “Você não pode sair daqui somente bem-
intencionado. A mudança só acontece quando realmente você muda. Você está disposto a
mudar o que?” Nós nos acostumamos a um Cristianismo onde Jesus é o Salvador e pronto!
“Levantei minha mão no culto, estou salvo e já está bom!” Não! Precisamos buscar
diariamente crescimento e qualidade de vida em Deus, pois a cada dia Ele tem novas e
ótimas surpresas para nós.
Abrindo um parêntese, em nossa última reunião de presbitério falamos sobre a
necessidade dos discípulos de Jesus estar operando maravilhas nos dias atuais (Lucas 9).
Assim como Jesus ordenou, devemos falar do Reino e curar os enfermos. Nosso discurso
sobre falar do Reino está bonito, mas ainda estão faltando as curas, os sinais e os milagres.

260
Cremos que isso virá em breve, em grande escala; não através de alguns homens apenas,
mas de forma geral e rotineira no meio da igreja.
Retomando o assunto, mudança só é mudança se a pessoa mudar. Intenção apenas
não resolve. Que mudança você quer fazer na sua família hoje? Se você tem 12 anos, qual
pode ser sua contribuição para que Jesus tome a centralidade da sua casa? Se você é
esposa, qual pode ser sua contribuição para isso? Se você é marido, qual será sua
decisão?
Há muitos anos eu fui até Rubiataba-GO conversar com o Sr. John Walker.
Perguntei-lhe: “O sr. morava nos EUA. O que fez seu coração mudar para sair de lá e vir
para cá?” Ele respondeu: “Duas coisas: eu queria criar a minha família longe do
consumismo e capitalismo americano, e queria criar os meus filhos apaixonados por Jesus”.
Eu ainda era solteiro e pensei: “É isso mesmo!” Eu conheço os seis filhos dele e todos são
muito apaixonados por Jesus. Com certeza, se quisessem, seriam bem-sucedidos em
qualquer outra área que empreendessem. Mas eu sei que não existe a mínima chance de
trocarem sua paixão por Jesus por qualquer outra coisa desse mundo. E eles aprenderam
isso na casa de seus pais, que tinham a intenção e a decisão de que seus filhos fossem
apaixonados por Jesus.
Temos muitas pessoas em nosso meio que estão conseguindo milagres em suas
casas e, por isso, precisam ser ‘filmadas’, estudadas e copiadas. São pessoas que podem
nos ensinar muito com seus exemplos. Então eu pergunto: Você quer que tipo de família?
Apenas bem-sucedida secularmente? Seus filhos dirigindo grandes empresas? Ou filhos
completamente apaixonados por Jesus? Talvez dê para conciliar as duas coisas, apesar
que eu acho difícil, porque só temos um coração e somos movidos por uma paixão central
– as outras são secundárias.
Há alguns anos eu trabalhava em uma empresa, um bom trabalho, boas chances de
ganhar dinheiro. Mas isso me tirava muito de casa. Paramos o culto doméstico, viajava
muito, estava muito difícil. Então comecei a pensar e orar que teria de sair de lá. Um dia, o
patrão me chamou e disse: “Estamos gostando do seu trabalho, mas queremos que você
também cuide do Paraná e de Santa Catarina!” Foi o que eu precisava ouvir para tomar
minha decisão. Disse-lhe: “Você precisa de uma pessoa mais comprometida do que eu,
pois eu não posso trocar a minha família por um bom salário; trocar o cuidado da minha
casa por religião; deixar a minha família à mercê do mundo simplesmente porque eu
frequento uma igreja!” E saí de lá.
Eu sempre digo que José, do Egito, nunca foi de uma “igreja”, mas ele tinha uma
conduta firme e estabelecida: honrar a Deus em todas as suas decisões. Quando a esposa
de Potifar veio tentá-lo, ele disse a ela: “Como, pois, faria eu tamanha maldade, e pecaria
contra Deus?” (Gn 39.9). Então, eu tenho de criar filhos que vão honrar a Deus em todas
as decisões e situações. Não é porque o pastor da igreja está vigiando, não é porque o pai
vai ficar bravo, não é porque a religião não permite! A questão é: eu honro a Deus com o
que estou fazendo ou falando? Que semente tenho plantado? Resumindo, eu preciso ter a
intenção de ter uma família apaixonada por Jesus!
Mas atenção: não se sinta condenado com essas coisas! Pode ser que seus filhos
já tenham saído de casa; ou que tenha algum filho fora dos caminhos do Senhor; ou que
esteja vivendo um relacionamento ruim com seu cônjuge. Não é para se condenar e, sim,
para orar, refletir e crer que ainda dá tempo para mudar essa situação. A mulher que estava
para ser apedrejada (João 8) tinha poucos minutos de vida, mas ela ouviu apenas uma

261
frase de Jesus e sua vida foi poupada e completamente transformada: “Nem eu também te
condeno; vai-te, e não peques mais” (v.11). Assim, se você está maltratando sua esposa,
não maltrate mais; se está desobedecendo seu pai, não desobedeça mais; se não está
pagando as contas em dia, conserte o quanto antes. Que tipo de família você quer ter hoje
para Jesus na Terra? Sua família não precisa ser mais bonita do que as outras para
competir ou para se exibir, mas ela precisa ser uma representação da presença de Deus
na Terra e devemos trabalhar nesse sentido.
É isso que eu chamo de INTENCIONALIDADE. É o exemplo que dei acima, do sr.
John Walker. Ele teve uma intenção clara, definida, objetiva em Deus. Precisamos ter essa
intenção com nossa família. Não preciso criar filhos perfeitos, mas preciso ter essa intenção
com eles. Eles vão bagunçar, fazer muitas coisas erradas, mas eu preciso buscar a
excelência na criação deles. Excelência não é apenas para algumas coisas ou situações,
mas para tudo e em todos os momentos.
Um dos meus filhos, quando pequeno, só tirava notas máximas nas matérias,
mesmo sem estudar. Eu pensei: “Isso está errado!” Então eu o chamei no canto e disse:
“Não me interessa suas notas. Quero ver sua disciplina, seu esforço em estudar. Prefiro
que tire 8 estudando do que 10 sem estudar.”. Ou seja, precisamos aprender a criar
disciplina, a querer sempre o melhor, a ter Jesus como o centro da nossa família.
Infelizmente, muitas vezes, paramos de perseverar e deixamos o carro da vida andar em
“ponto morto”.
Outra questão: Qual é a intenção de Jesus com a minha família? Ela existe para
que? Só para subsistirmos, nos alimentarmos, estudarmos e acabou? Não! É para
representar Jesus sobre a Terra. Essa é a expectativa Dele. Então vamos trabalhar com
essa intenção, com essa expectativa do que Deus pode e quer fazer em nossas casas. Se
cada um cuidar bem da sua família, iremos aos cultos para fazer grandes festas ao nosso
Deus. Nossas casas serão chamadas “Casa de Oração”. Entenda uma coisa: ninguém
consegue ter uma família abençoada por Jesus longe da igreja. Igreja e família não
competem uma com a outra. Esse casamento de família com igreja é necessário, porque é
o corpo de Jesus. Eu pertenço a uma família que está ligada à uma igreja, que é o corpo
de Cristo. Não temos como desconectar uma dessas pontas.
Precisamos ter essa intencionalidade de centralizar Jesus em nossas casas!
Devemos tomar cuidado com as nossas práticas familiares e buscar o fogo de Jesus em
nossos lares. E isso exige disposição, decisão, mudança.
Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo
consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com
dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que
não se interrompam as vossas orações. (1 Pd 3.7)
Maridos, precisamos viver de forma inteligente em nossas casas, tratando a esposa
com dignidade, como parte mais frágil. Como tratamos algo frágil e valioso? Deixando
exposto, de qualquer jeito, sem proteger? Ou guardamos com cuidado para que ninguém
toque, ninguém ouse falar mal? O vaso mais frágil deve ser muito bem cuidado.
O texto diz, ainda, que se não fizermos isso as nossas orações serão interrompidas.
Ora, se eu paro de orar, paro a minha vida espiritual; e se eu não trato bem a minha esposa,
bloqueio a minha vida espiritual. Se eu sou agressivo em casa com minha esposa e depois
vou ao monte orar para me encher de poder, não dará certo. Não funciona eu amarrá-la em

262
casa, ser duro, dar-lhe ordens e depois ir buscar a unção do Espírito na reunião. Minhas
orações serão interrompidas, ou seja, ou eu paro de orar ou elas simplesmente não sobem
ao céu. Maridos, se quisermos ser homens de Deus precisamos cuidar muito bem de
nossas esposas.
Quando eu era criança e morava em Goiás, certo dia estava escutando a Rádio e
um homem ligou para o pastor que estava fazendo o programa, dizendo: “Pastor, eu quero
ser missionário na África, mas meus pais brigam comigo, meus irmãos não falam comigo
há anos, eu briguei com os vizinhos... ninguém me entende! Mas eu quero ser missionário!
Como eu faço? Que seminário eu devo fazer?” O pastor respondeu: “Ora, você brigou com
sua família, brigou com todo mundo... quer ser missionário aonde? Primeiro você tem que
se consertar com todos, pois não pode querer ser missionário desse jeito!” Então, trazendo
para a família: como ouso orar para ser um homem de Deus, um homem cheio da unção
do Espírito, se não sou um bom marido, um bom pai, um bom exemplo dentro da minha
própria casa? Ou será que não tem nada a ver uma coisa com a outra?? “Ah, eu continuo
maltratando a minha esposa, agredindo-a verbalmente, emocionalmente e até fisicamente,
mas depois eu me resolvo com Deus!” Será que é assim que funciona?? Não! Ela é o vaso
mais frágil!
Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta,
hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se
assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um
lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse:
Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir
sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta!
Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é
necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não
lhe será tirada. (Lc 10.38-42)
Quem foi que hospedou Jesus na casa de Marta e Maria? Marta. Ela o hospedou,
mas foi Maria quem escolheu a melhor parte. Eu posso ser religioso e, mesmo assim,
desprezar a melhor parte. Então, decida como Maria, escolha a melhor parte: a centralidade
de Jesus na sua casa, mais do que ficar agitado com as demais coisas.
Vamos trabalhar para restaurar o valor das nossas famílias, daquilo que Jesus tem
preparado para as nossas casas. Eu não posso, não devo ser apenas um cristão e esperar
que as coisas se modifiquem por si só. “Ah, isso vai mudar com o tempo, vai se resolver de
alguma forma!” Sabemos que a misericórdia de Deus tem alcançado muitas pessoas
mesmo sem tomarem algumas iniciativas. Podemos deixar tudo como está e confiar nisso,
mas NÃO devemos fazê-lo. Quase nada acontece se não nos movermos, se não nos
posicionarmos e mudarmos. Acredito que as coisas vão piorar com o tempo para a
instituição “Igreja” e, por isso, devemos fortalecer os nossos lares.
Que Deus nos abençoe, nos dê graça, força e coragem para decidirmos ter famílias
saudáveis espiritualmente. Precisamos copiar modelos saudáveis, sermos divulgadores de
coisas positivas e termos a intencionalidade de buscar, de fazer as coisas acontecerem, de
trazer a centralidade de Cristo para os nossos lares. Amém!

263
UNIDADE: A ETERNA VONTADE DO CORAÇÃO DO
PAI
Antonio Stodolny

D eus tinha um grande plano para o homem, mas, desde o início, já havia um grande
empecilho que perdura até hoje – o Diabo e suas divisões. Na criação, em Gênesis 1,
vemos algo perfeito acontecendo. Deus criou as coisas a cada dia e, no último dia, Ele criou
o homem. A cada dia Ele dizia: “É bom!”, mas, no sexto dia, após criar o homem Ele disse:
“É muito bom!”
Deus preparou o Jardim, colocou nele o homem e disse: “Não é bom que o homem
esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.” (Gn 2.18). Havia, aparentemente,
uma criação perfeita, um homem perfeito, puro, sem pecado – mas Deus falou que não era
bom que ele estivesse só. Hoje somos conduzidos a ser libertos dos nossos pecados, a ser
pessoas puras e fervorosas na fé, mas quando Deus olha para nós Ele diz novamente:
“Não é bom que você esteja só!” Ou seja, Ele quer nos edificar como Corpo. Esse é o eterno
e profundo desejo do coração do Pai!
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!
Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos
debaixo das asas, e vós não o quisestes! (Mt 23.37)
Podemos ver nessas palavras de Jesus o coração de Deus, sempre desejoso de
reunir os Seus filhos em um só corpo debaixo Dele. Mas ele diz ainda: “e vós não o
quisestes”. Ou seja, a vontade de Deus é uma, mas a vontade do homem é outra. Que o
Senhor nos livre de irmos contra a Sua vontade! Pensando no princípio inserido em Gênesis
2.18, quando Jesus se refere ao casamento ele diz: “Portanto, o que Deus ajuntou não o
separe o homem” (Mt 19:6). Deus quer ajuntar, mas o homem quer separar. Então, que o
Senhor nos ilumine para tocar no coração Dele que é de unir, de ajuntar.
A unidade sempre foi um propósito difícil de ser alcançado, seja com Israel, no
casamento, na Igreja. Por isso, em sua oração sacerdotal, Jesus roga ao Pai:
Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim,
por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em
mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me
enviaste. (Jo 17.20,21)
Rogar é uma súplica, é um pedido com insistência. Jesus roga, suplica, insiste ao
Pai para que todos SEJAM UM – e nós estamos incluídos nesse “todos” a que ele se refere.
A questão da unidade se tornou um grande desafio para Deus. Vemos isso em
Efésios 4, por meio de um rogo do apóstolo Paulo:
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação
a que fostes chamados... (Ef 4.1).
Como é que um cristão pode viver de modo digno da vocação a que foi chamado?

264
...com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos
outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito
no vínculo da paz; (vs.2,3)
Paulo está dizendo que a unidade do Espírito requer um esforço diligente da nossa
parte para poder preservá-la. Então, viver de um modo digno é fazer um esforço consciente
e constante, sem desistir ou desanimar, de lutar pela unidade. É olhar para todos os meus
irmãos, acreditar que eles têm o mesmo Espírito Santo que habita em mim e, assim, me
esforçar para preservar a unidade com eles. Essa unidade já existe; a nossa missão é nos
esforçar para guardá-la, protegê-la.
Na sua epístola aos coríntios, vemos um outro rogo de Paulo pela unidade dos filhos
de Deus. No entanto, desta feita, ele dá alguns antídotos contra a divisão:
Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a
mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos,
na mesma disposição mental e no mesmo parecer. (1 Co 1.10)

1) O nome do nosso Senhor Jesus Cristo.


Quando estamos reunidos nesse nome nada pode nos dividir, nos separar. Jesus
até faz uma promessa sobre isso: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18:20).

2) Falarmos a mesma coisa, termos a mesma palavra.


Isso está diretamente ligado ao nome de Jesus. Na construção da Torre de Babel
vemos esse aspecto se cumprindo, porém, de forma negativa:
Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue
até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados
por toda a terra. Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre, que os filhos
dos homens edificavam; e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a
mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo
que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que
um não entenda a linguagem de outro. (Gn 11.4-7)
O objetivo daquele povo era tornar célebre o nome deles, e não o nome do Senhor.
Toda vez que focamos nesse mesmo objetivo estamos construindo uma nova Torre de
Babel. O povo era “um”, tinham todos a mesma linguagem e, portanto, não haveria restrição
para tudo o que intentavam fazer. Trazendo esta situação para o lado positivo, se formos
UM, se falarmos todos a mesma coisa, a mesma palavra, não haverá restrição para TUDO
o que intentarmos fazer.
O que está acontecendo hoje no meio da Igreja em termos de unidade é APENAS O
COMEÇO do que Deus quer fazer. Por isso precisamos lutar para preservar a unidade do
Espírito. É para isso que Jesus e Paulo rogam ou suplicam, porque isso é o mais importante
para Deus. O mundo só vai crer no Evangelho quando nós formos UM!
Quando lemos no livro de Apocalipse (capítulos 21 e 22) sobre a apresentação da
Nova Jerusalém, em 22.17 diz: “O Espírito e a noiva dizem: Vem!” Ou seja, a igreja (nós) e
o Espírito falam a mesma coisa, a mesma língua.

265
No Jardim, no início, vemos uma confusão de palavras, de linguagem. Cada um
falava uma coisa diferente: A serpente disse: “É assim que Deus disse: Não comereis de
toda árvore do jardim?” “Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis.” (Gn
3.1,4). Quando Deus questionou Adão, ele respondeu: “A mulher que me deste por esposa,
ela me deu da árvore, e eu comi.” (v.12). E, ao questionar Eva, esta respondeu: “A serpente
me enganou, e eu comi.” (v.13). Assim, o mal entrou no homem e na Terra. Mas, em
Apocalipse, Deus tira o mal da divisão, das diferenças de linguagem e cria um só falar, uma
só palavra na Terra. Portanto, se quisermos hoje tirar o mal do nosso meio precisamos falar
a mesma coisa!

3) Sermos inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.


Na igreja primitiva não havia um “manual” de como eles deveriam viver, orar, cantar,
pregar etc. Aquela igreja dependia totalmente do Espírito Santo para tudo e Este encontrava
total liberdade no meio dela.
Em Atos 2.1, lemos que “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos
reunidos no mesmo lugar”. No verso 4: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo...”. E no
verso 44: “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.” Ou seja, o
princípio da unidade sempre regeu aquela igreja. Quando somos UM, quando estamos
unidos no mesmo lugar (a Igreja), quando temos um só coração, uma só alma, uma só
disposição mental, um só parecer, seremos e permaneceremos cheios do Espírito Santo.
Este é o princípio maior da vida da Igreja. Este é o propósito e o desejo do coração do
Senhor. É bom e necessário estarmos juntos. Obviamente, isso requer esforço e súplica
perseverante, mas é o único caminho que temos pela frente.
Quando atendermos e praticarmos esse rogo de Jesus o Salmo 133 não será apenas
lido, mas irá “explodir” no meio da Igreja:
Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso
sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de
suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali,
ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre.
O coração de Deus “explode” de alegria quando vivemos unidos. Esse sempre foi
Seu propósito desde a criação do homem. O texto fala de um óleo precioso (unção) que
desce sobre todo o corpo e de um orvalho (frescor, presença do Espírito) que enche Sião
(a Igreja). E termina dizendo que “ali”, NA UNIDADE, “o Senhor ordena a Sua benção e a
vida para sempre.” Essa é uma benção completa: tudo o que você e eu precisamos se
encontra nela.
A unidade é uma benção ordenada por Deus! Ele é o “Grande EU SOU”, é Ele quem
manda no Universo e, com certeza, Ele sabe abençoar. Se proporcionarmos o ambiente
adequado, Ele diz: “Eu os abençoo! Eu lhes dou a minha benção e a vida para sempre!” Os
irmãos que hoje estão ao nosso lado viverão conosco por toda a eternidade. Portanto, se
você tem algum problema com alguém resolva o mais rápido possível, pois você irá
conviver com esse irmão para sempre.
Mas, às vezes, podemos pensar: “O Salmo 133 é uma palavra do Antigo
Testamento, algo muito distante da minha vida e da nossa realidade hoje!” Exatamente por
isso devemos dar graças a Deus pela Ceia, pela Mesa do Senhor, pois ela nos aproxima

266
desta realidade:
Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de
Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? (1 Co 10.16).
A benção do Salmo 133 está num cálice! Ele já é um cálice abençoado, mas nós
também o abençoamos. Ele é a nossa comunhão com Cristo e o pão é a nossa comunhão
uns com os outros.
Jesus disse: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão,
viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.”
(Jo 6:51). Benção no cálice, vida no pão: eis o Salmo 133 hoje!
Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos
participamos do único pão. (1 Co 10.17).
Apesar de sermos muitos, somos um só pão, porque participamos de um único pão:
Jesus, o nosso Senhor. É isso que nos leva a participar da realidade e usufruir das bênçãos
do Salmo 133. Cálice de benção e pão da vida para mim e para você! Através da Mesa do
Senhor trazemos esse Salmo para a prática da nossa vida como corpo de Cristo.
Devemos ser UM porque esta é a vontade soberana do Pai. Ele sempre quis e ainda
quer que seja assim. Se buscarmos com esforço, diligência e perseverança esta unidade
do Espírito, a benção do Senhor virá e permanecerá sobre nós.
ALELUIA PELO CORPO! ALELUIA PORQUE O SENHOR TORNOU-NOS UM!

267
“NISTO NÃO VOS LOUVO”
Jamê Nobre

F alar sobre a Ceia do Senhor é pisar em terra santa. Assim como a celebração da
Páscoa marcou o início de uma nação, eu creio que o final de todas as coisas irá
redundar em uma grande Ceia com o Senhor. Aliás, ele disse isso: “E disse-lhes: Tenho
desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos
digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.” (Lc 22.15,16).
Primeira aos Coríntios é uma carta maravilhosa, mas que nos enche de um profundo
temor ao mesmo tempo que nos enche de uma profunda alegria. A Ceia, para mim, é um
momento de grande confusão de sentimentos. Por um lado, eu olho para o Senhor Jesus
na cruz e o vejo moído, sem aparência ou formosura, sem ver nele qualquer coisa que
possa me atrair; vejo um inocente sendo triturado por amor a nós e isso constrange o meu
coração. Por outro lado, tenho um sentimento de profunda alegria, porque foi exatamente
por isso, pelo seu sacrifício e morte na cruz, que eu alcancei a minha salvação.
Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para
melhor, e sim para pior. (...) Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou
menosprezais a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi?
Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo. (1 Co 11.17;22).
Para entendermos por que Paulo disse que não louvaria aos irmãos, devemos
entender todo o contexto da carta. Ela foi escrita primordialmente por causa de uma notícia
que ele recebeu: que estava havendo preferências na igreja de Corinto. A preferência é
o primeiro passo para a divisão; o segundo é a própria divisão; o terceiro é a discriminação
e as denominações, com todas as mazelas que elas nos trazem.
Em Corinto, vemos que haviam muitas preferências:
Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu,
de Cefas, e eu, de Cristo. Acaso, Cristo está dividido? (1 Co 1.12,13a)
Pensavam alguns que, ao dizer “eu sou de Cristo”, estavam se colocando em uma
posição melhor do que aqueles que se diziam de Cefas, de Apolo ou de Paulo. Mas a meu
ver, estes eram piores, porque quem é de Cristo também é de Cefas, de Apolo e de Paulo;
quem é de Cristo é de todos; não faz discriminação ou preferência. E a maior parte da
epístola trata desta divisão.
Paulo chama os coríntios de carnais, de infantis. Não no sentido de entendimento,
como foi a proposta de Jesus de um novo nascimento, de uma conversão à infância com
sua inocência e ingenuidade (Jo 3.3), mas, vemos aqui uma palavra de repreensão e
condenação da parte de Paulo porque infantil, naquele contexto, se refere a pessoas
carnais. São as crianças que se dividem de outras simplesmente porque não gostam delas;
é característica da infância se separar de pessoas. Isso é muito diferente do que diz o
Salmo 133, que fala sobre “a barba de Arão”, a maturidade espiritual. Divisão é da infância;
unidade é da maturidade.

268
No capítulo 11, Paulo está falando sobre a ordem dentro da família e, quando chega
no verso 17, ele diz: “não vos louvo”. Ou seja, “eu não aprovo”. Você já recebeu uma palavra
de desaprovação? Eu já. Eu trabalhava na Nestlé, em Brasília, um emprego muito bom e
um belo dia o gerente me chamou e disse: “Você está demitido, porque não foi aprovado
no seu comportamento aqui dentro.” E eu fui embora. Graças a Deus por essa demissão,
porque isso me fez voltar para Belo Horizonte onde havia um grupo de igrejas orando por
mim e lá eu me converti. Então, aquela reprovação foi uma forma de Deus me trazer de
volta para a casa de meus pais, onde aconteceu minha conversão.
Alguém já lhe reprovou em alguma área? Talvez na escola, no trabalho, na família,
na busca de um emprego? É muito difícil para nós ouvirmos isso: “Você está reprovado!
Você está demitido! Você é inadequado!” Pois bem: os coríntios estavam reprovados! Bem
diferente de Apolo, que Paulo chamou de “varão aprovado”; ou de Jesus, também assim
chamado por Deus Pai. Paulo disse: “Eu não os aprovo, não os louvo por isso” devido a
alguns motivos que veremos nos versos 21 e 22. Esses motivos não são nada mais ou
nada menos do que tudo quanto ele vem dizendo desde o capítulo 1.
Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis.
Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há
quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. (1 Co 11.21,22)
Eles participavam da Ceia como se esta fosse só deles, mas essa não é a
mentalidade para a “hora da Ceia” e, sim, a mentalidade do tempo que antecede a ceia –
onde normalmente levamos uma vida particular, privada, sem nos importar com os outros;
uma vida onde não cabe os outros; onde eu me basto; onde ninguém pode me confrontar
ou repreender, porque eu tenho um alto conceito de mim mesmo, muito maior do que
aquele que Deus tem. “Nisso não vos louvo”.
Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.
(1 Co 11.33)
Preste atenção: o texto aqui não está dizendo exatamente sobre todo mundo segurar
o pão e, quando alguém “der o sinal”, todos comem ao mesmo tempo. Não! O “esperar”
aqui está falando de acolher, aguardar e receber. Não é simplesmente fazermos um
movimento sincronizado para comermos o pão, mas para esperarmos uns pelos outros. Ou
seja, aquele que se considera maior, espere por aquele que se considera menor; aquele
que julga ter sabedoria, espere por aquele que se julga sem sabedoria. Este “esperar” está
falando de acolhimento, de aguardar.
Esta palavra lembra a ideia de Jacó quando, depois de 21 anos de oração para se
encontrar com seu irmão, este o convida para voltar com ele para casa e Jacó responde:
“Eu não posso ir com você, porque tenho ovelhas que ainda mamam e não posso apressar
meu passo. Eu preciso receber, acolher, esperar por elas” (Gênesis 33). Então, esperar
uns pelos outros não é um movimento de sincronismo, mas é ter um coração paciente, um
coração que espera aquele que anda com menor velocidade. Será que se Paulo
convivesse hoje conosco ele falaria a mesma coisa: “Nisso eu não vos louvo”? Como é a
sua vida em relação aos irmãos?
A falta de esperar ou a atitude de comer antecipadamente traz algumas
consequências:
Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser
do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso

269
deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse
ouvido, onde, o olfato? (1 Co 12.15-17).
Essa atitude de não esperar, de não acolher o irmão, provoca outras diversas
atitudes e uma delas é essa: “Eu quero ser alguma coisa. Então, porque eu não sou aquilo
que quero ser, me considero à parte. Eu tenho uma expectativa a meu respeito, mas os
outros não reconhecem isso; então, eu paro a ‘brincadeira’. Eu não quero ‘brincar’ mais. Já
que eu não sou pé ou mão, estou fora!”
Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos
pés: Não preciso de vós. (1 Co 12.21)
Parece que Paulo propôs um “diálogo” entre as partes do corpo, soando até um
pouco ridículo e engraçado. No entanto, devemos lembrar que ele não está falando
exatamente de um corpo humano, mas das nossas vidas. Ora, que atitude é essa de alguns
irmãos, senão infantil, carnal? “Já que eu não sou o que gostaria de ser, então não sou!”
Outra atitude semelhante a esta é: “Eu sou grande demais para ter necessidade de
você.” Esta é uma atitude de negação da identidade. Essa pessoa (esse pé, ou essa mão)
nega sua própria identidade. Mas, ao fazer isso, ela esquece que é justamente no convívio
do corpo que os seus órgãos descobrem sua própria identidade. Ora, você acha que o
fígado tem uma identidade clara do que ele é? Ou ele apenas funciona e pronto? Ele tem
consciência do que é? Ou apenas trabalha? Você já pensou se ele entrasse em uma crise
de identidade e quisesse funcionar como pulmão? Mas, infelizmente, têm muitos crentes
assim. Tem crente que almeja ser alguma coisa e, quando não alcança, ele para e entra
num processo de autonegação.
Amados, nós precisamos perceber que a nossa identidade vem exatamente no
funcionamento, e quem diz o que eu sou são os irmãos com os quais eu convivo. É a igreja
que fornece a minha identidade, e não eu. Seria ridículo um fígado dizer: “Gente, eu mudei
de gênero: agora sou rim!” Isso é uma loucura, pois ninguém pode dizer a si mesmo o que
é. Apenas Deus, o Espírito Santo e a igreja em que eu convivo podem dizer isso. Eu preciso
olhar para os irmãos para descobrir quem eu sou; mas, mais do que olhar para eles, mais
do que compreender o que o corpo diz que eu sou, eu preciso funcionar, trabalhar.
O resultado dessa negação é o alheamento, a alienação. Fico apático, fico magoado,
me isolo, pois “ninguém me reconhece, me valoriza”. No entanto, as pessoas vão me dar
valor à medida em que eu trabalho; elas vão dizer quem eu sou pelo que veem em mim.
“Ah, nessa área eu não me encaixo! As coisas que esses irmãos dizem não batem com o
que eu penso! Está todo mundo errado! Eu não vou embora porque tenho vergonha de
fazer isso, mas também não faço nada, vou ficar quieto no meu lugar!”
Outra atitude ainda mais séria é a soberba: “Não tenho necessidade de você.
Descobri que posso viver sem você. Descobri que sou maior do que o Cordeiro, que eu
basto para o Cordeiro!” Na primeira páscoa, os israelitas tinham de tomar um cordeiro e
matá-lo. Se ele fosse mais do que o suficiente para uma família, esta deveria chamar os
vizinhos e compartilhar o cordeiro. Isso foi propósito do Senhor, que nós dependêssemos
uns dos outros, que convidássemos uns aos outros, que trouxéssemos as pessoas para o
nosso relacionamento. Mas alguns acham que se bastam para o Cordeiro, que ele está
plenamente satisfeito com essas pessoas. E Paulo diz: “Nisso não vos louvo.”
Essa atitude tem também um outro pensamento: “Ninguém me acrescenta nada. Eu
não tenho mais nada a receber de ninguém!” Ora, ninguém é tão pequeno que não possa

270
contribuir ou tão grande que não possa receber. Nós nos necessitamos! Nós precisamos
uns dos outros! Independência é morte! “O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-
se contra a verdadeira sabedoria” (Pv 18.1). Ou seja, eu preciso de você.
Há um texto nas Escrituras que fala muito ao meu coração:
Levanta do pó o necessitado e, do monte de cinzas ergue o pobre; ele os faz
sentarem-se com príncipes e lhes dá lugar de honra. (1 Sm 2:8 NVI).
Eu sei de onde saí e onde Deus me colocou: no meio dos Seus santos, no meio da
igreja, da Noiva do Cordeiro. Deus não nos trata segundo os nossos merecimentos, pois,
nesse caso, estaríamos perdidos.
Outra verdade infernal: “Eu posso seguir a Jesus sem os outros! Eu posso fazer
melhor!” Essa mensagem está se espalhando e contaminando muitos crentes. Ora, nós
somos inteiramente dependentes de Deus. Somos cegos, pobres, nus e miseráveis. Se não
fosse o Senhor o que seria de nós? “Nisso também não nos louvo”, diz Paulo. E ele
continua:
Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na
noite em que foi traído, tomou o pão; (1 Co 11.23)
É interessante como Jesus fez menção da traição. Na língua portuguesa, essa frase
“na noite em que foi traído” poderia ser tirada e não faria falta. O escritor poderia dizer: “Na
noite em que Jesus celebrou a última ceia”. Mas, porque Jesus fez menção da traição?
Penso que foi porque ele se referiu a alguém que recebeu a salvação, o chamado, a unção,
os dons, o ministério, a confiança. Judas recebeu todas essas coisas e o Senhor, em
nenhum momento da história, fez discriminação. Jesus nunca derramou Seu Espírito por
medida ou merecimento e deu a Judas exatamente o mesmo que deu a todos os outros.
Mas, entre outras coisas, Judas não concordava com o tipo de administração financeira de
Jesus.
Certa feita, Maria, irmã de Lázaro, se aproximou de Jesus com um vaso de alabastro,
algo caríssimo e o quebrou, derramando o perfume nos pés de Jesus. Judas, vendo aquilo,
disse: “Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos
pobres?” (Jo 12.5). E Jesus respondeu: “Ora, derramando ela este unguento sobre o meu
corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer
que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para
memória sua.” (Mt 26.12,13). Mas Judas não concordou com isso e, a partir deste momento,
ele tomou a decisão de trair Jesus. Ou seja, “se fosse eu faria diferente!”
“Eu não tenho necessidade. Eu faço melhor. Eu sei cuidar melhor.” Isso reflete uma
soberba fantástica. A soberba é quando eu penso de mim mais do que convém. Diz respeito
a eu olhar para mim e me ter em mais alta conta do que Deus tem. “...digo a cada um dentre
vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação,
segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Rm 12.3). Ou seja, eu não posso
pensar mais do que aquilo que Deus pensa de mim.
Jesus nunca tratou Judas de maneira diferente. Aliás, tratou sim, porque era uma
questão de honra, carinho e afeição molhar o pão no vinho e colocar na boca de alguém,
como ele fez com Judas e relatado em João 13. Ele não fez isso com nenhum outro
discípulo. Mais tarde, no Getsêmani, quando Judas chegou com os soldados para prender
Jesus, este lhe chamou de “amigo” (Mt 26.50).

271
Eu tenho uma frase que diz: “Tenho que dar liberdade às pessoas para não serem
minhas amigas, mas não tenho o direito de não ser amigo das pessoas”. Essa é a lição que
Jesus me ensina.
...e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós;
fazei isto em memória de mim. (1 Co 11.24)
O que é fazer “em memória”? É lembrar. Lembrar do que? De pelo menos quatro
coisas:
Primeiro, Cristo morreu para pagar minha dívida.
"Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de
alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz." (Cl 2:14).
Desta forma, hoje eu não tenho mais nenhuma dívida diante do meu Pai. “Agora, pois, já
nem uma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1). Quando o sangue
de Jesus foi derramado, ele pegou esse seu próprio sangue, subiu diante do Trono do Pai
e disse: “Pai, é suficiente?” E o Pai respondeu: “Sim, é suficiente! Não precisa de mais
nenhum cordeiro!” Jesus limpou-me dos meus pecados passados, presentes e daqueles
ainda por cometer. Assim, não há mais dívida minha com ele e, ao participar da Ceia, eu
tenho de lembrar disso.
Segundo, Cristo morreu para restaurar a minha comunhão com o Pai.
O aspecto anterior é o que eu chamo de “jurídico”, quando o Juiz Eterno foi
totalmente satisfeito na Sua justiça. Mas existe também esse segundo aspecto, que é o
objetivo maior da morte de Jesus – restaurar a minha relação com o Pai, pois Ele não podia
Se relacionar comigo estando eu envolvido no pecado. No entanto, Cristo lavou-me, tirou-
me dos meus pecados para apresentar-me a Deus e, assim, tenhamos uma comunhão total
e perfeita. “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas
iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados.” (Is 53.5).
Terceiro, Cristo morreu para me reconciliar com os irmãos.
Quando eu me reconcilio com Deus, todos aqueles que estão reconciliados em Deus
também estarão reconciliados comigo. É interessante que o texto de Mateus 27.51 diz que,
na morte de Jesus, “...o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo”. Mas Efésios
2.14 diz que “...tendo derribado a parede da separação que estava no meio”. Ou seja, Deus
colocou um véu para nos separar Dele, para nos proteger, porque um pecador passando o
véu e entrando diante do Senhor certamente morreria. Mas os homens, por sua vez,
levantaram muros entre si. Deus colocou um véu; o homem colocou um muro!
Você já reparou como é difícil irmãos se reconciliarem? Ao invés de fazermos
memória do Deus fez, fazemos memória do que os irmãos fizeram! E, assim, os muros se
levantam. Na Europa, as paredes dos castelos têm em torno de 2 a 3 metros de espessura
– paredes da inimizade. Deus pôs um véu e tomou a iniciativa de rasgá-lo, mas nós
tomamos a iniciativa de colocar mais pedras. Digo ao irmão que o amo, mas ainda faço
memória de algo que ele me fez há muito tempo. O véu foi definitivamente rasgado por
Cristo, portanto, não devemos construir muros no lugar do mesmo.
“...e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz,
destruindo por ela a inimizade.” (Ef 2.16). Jesus, na cruz, não apenas matou os seus
inimigos, mas matou a própria inimizade; ele derrubou o muro. Existia um muro (e ainda

272
existe, em algumas partes) em Jerusalém onde os gentios não podiam entrar, pois seriam
mortos. Paulo está dizendo justamente isso, que Jesus derrubou essa parede de
separação.
Infelizmente, algumas situações de mágoas, ressentimentos e constrangimentos
entre nós tornam-se coisas concretas. Mas a Bíblia diz que Jesus nos reconciliou consigo
mesmo e nos deu o ministério da reconciliação uns com os outros (1 Co 5.18,19). Então, o
nosso principal trabalho na igreja é levar os irmãos a se reconciliarem. Não fazer isso é
fazer o trabalho do anticristo, é entrar no time do inimigo e jogar por ele. Mas graças a Deus
o muro foi derrubado!
Quarto, Jesus morreu para juntar seus filhos que andavam dispersos.
Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os, dizendo:
Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo
povo e que não venha a perecer toda a nação. Ora, ele não disse isto de si mesmo;
mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer
pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os
filhos de Deus, que andam dispersos. (Jo 11.49-52).
Lemos, nesse texto, que havia um grupo de sacerdotes, homens que não temiam a
Deus discutindo sobre como matar Jesus. Veja como Deus é poderoso! Numa reunião
infernal, veio o espírito de profecia e tomou aquele homem iníquo para profetizar que era
necessário que alguém morresse pela nação toda para “reunir em um só corpo os filhos de
Deus que andam dispersos”.
Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este
cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes,
em memória de mim. (1 Co 11.25)
O interessante é que Deus não fez esta aliança comigo ou com você, mas Consigo
mesmo. Se Ele fizesse comigo, haveria um elo frágil e a aliança seria quebrada. Mas Deus
jurou por Si mesmo de que seria bondoso para conosco, de que faria tudo para nos salvar,
inclusive mandando o Seu único Filho. Ele não mediu esforços, forças e consequências,
mas enviou Seu Filho para morrer por nós.
Portanto, ao participarmos da Ceia, vamos fazer memória dessas coisas. Vamos nos
lembrar do perdão dos nossos pecados; vamos nos encher de expectativa pela volta de
Jesus e daquilo que ele ainda vai fazer; vamos nos lembrar que pelo seu sangue derramado
ele nos aproximou do Pai; que pela sua carne partida ele nos fez um novo homem – o corpo
coletivo de Cristo, a Igreja.
Paulo disse: “...e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus” (Ef 4.24). Nós
somos conhecidos pelas roupas que vestimos, por aquilo que nos cobre e o que cobre
nossas vidas é o corpo de Cristo. Então, quando as pessoas olham para mim veem o meu
corpo completo. Não veem apenas o fígado, a perna, a cabeça, mas veem o corpo inteiro.
Por isso, eu tenho de ser na minha vida pessoal o reflexo do que é a Igreja de Cristo. Eu
tenho de me revestir desse novo homem!
Portanto, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será
réu do corpo e do sangue do Senhor. (1 Co 11.27)
Ou seja, quem é reprovado precisa ser aprovado para participar dignamente. Nós
precisamos receber a aprovação de Deus, precisamos escutar o Senhor Jesus nos dizendo:

273
“Nisto eu vos louvo!”. Quando mudarmos a nossa atitude, não somente em relação a Deus,
mas também em relação aos irmãos, iremos ouvir essa aprovação do Senhor. Se não for
dessa forma estaremos tomando a Ceia indignamente. Lembre-se: a Ceia não pertence a
nós, mas à Ele.
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice;
pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. (1 Co
11.28,29)
Examinar o que? Examinar todo esse contexto que falamos. Não é somente
examinar o que eu fiz de errado nesta semana, mas, sim, ver como está a minha relação
com o corpo de Cristo – se eu não tenho atitudes de preferência, se eu não tenho
pensamentos de que sou melhor que os outros, de que “se eu não sou mão, eu não
pertenço”, de que eu não tenho necessidade dos irmãos.
Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.
(1 Co 11.30)
É por causa desta atitude de coração errado que Deus não nos louva, não nos
aprova. A vida cristã não é vida de reuniões, de cultos conjuntos, mas de comunhão. O
culto é consequência, é para eu manifestar a minha saudade dos irmãos; mas durante a
semana eu converso, visito, sirvo, telefono, envio mensagem etc.
É nesse espírito que devemos participar da Ceia do Senhor – não de forma
profissional ou cerimonialista, mas comer e beber com uma atitude que Deus louva. Caso
contrário, muitos de nós ficaremos fracos, doentes e adormecidos (morte).
Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando
julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o
mundo. (vs.31,32).
Julgar é diferente de condenar. Julgar é examinar, é analisar como é que eu estou
em relação aos irmãos, à igreja do Senhor.
O capítulo 12 de 1ª Coríntios tem uma verdade central, uma coisa fantástica que
mostra a operação da Trindade:
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos
serviços, mas o Senhor (Jesus) é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas
o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. (1 Co 12.4-6).
Paulo está dizendo que a vida da igreja é o lugar onde a Trindade opera, o lugar
onde Pai, Filho e Espírito Santo Se sentem bem. A palavra “dons”, no grego, é charisma
(graça). Ou seja, há diversidade de graça. Você olha para o irmão e vê que ele tem uma
graça que talvez você não tenha. Ora, será que Deus nos criou diferentes uns dos outros
somente para fazermos “documentos”? Será que no céu haverá necessidade de RG ou
CPF para comprovar quem somos? Então, por que Deus nos fez diferentes uns dos outros?
Porque Ele ama a variedade! Eu viajo muito e admiro as árvores, as plantas – não existe
uma semelhante a outra, pois Deus é extremamente criativo. A graça que você tem,
ninguém tem! Cada um é um para o benefício dos outros e quem distribui isso é o Espírito
Santo.
A palavra seguinte é “serviços” ou “ministérios” e a palavra grega é diakonias. Se
nós reconhecemos dons diferentes em cada um e nos prestamos a servir uns aos outros
acontece o verso 6, que fala das “realizações” ou “operações” de Deus (energeia). Então,

274
se você tem dons diferentes dos outros e os coloca a serviço deles, Deus começa a realizar
o que está no coração Dele no meio da igreja. Dons + Serviços = Realizações. O que está
prometido por Deus vem neste ambiente de dons + serviços uns aos outros.
Talvez, aqui, tenhamos uma resposta à famosa pergunta: “Por que não existem
tantos milagres hoje como havia antes?” A resposta é: Porque parece que nunca fomos tão
egoístas, individualistas quanto hoje!
Eu gosto da palavra “diversidade”, no entanto, ela carrega um perigo muito grande,
pois está chegando a um extremo de individualismo absoluto (assim como a palavra
“unidade” carrega um perigo que pode levar à “uniformidade”). O que Deus quer não é a
uniformidade e nem a diversidade ao extremo, porque nós temos pontos comuns e a minha
diversidade não é para eu ser eu, mas para eu completar você. Talvez você não goste de
mim, mas foi Deus quem me fez assim. Se achar que eu preciso de mudança, tenha
misericórdia e ore por mim.
A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. (1
Co 12.7)
Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as
distribui individualmente, a cada um, conforme quer. (1 Co 12.11 NVI)
Deus faz visíveis as coisas que estão no coração Dele num ambiente de dons e
serviços. Neste ambiente de amor, harmonia e serviço “o Senhor ordena a benção e a vida
para sempre” (Sl 133.3). Se você quer ver Deus agindo mais em nosso meio pratique os
dons, sirva os irmãos com a graça que você recebeu e Ele, então, irá Se manifestar muito
mais em nossos dias, em nossas reuniões.
Deus distribui esses dons, serviços e ministérios a cada conforme Ele quer, sempre
visando o que é bom e útil para todos (fim proveitoso). O Senhor não coloca em mim algo
somente para mim. Todos os dons que Ele colocou em mim são para o benefício das
pessoas ao meu redor.
O único dom que parece ter uma expressão individual é a variedade de línguas, pois
Paulo diz que “Quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que
ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” e “O que fala em outra língua a si mesmo
se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja” (1 Co 14.2,4). A palavra grega aqui traz a
ideia de “carregar a bateria”. Então, se você está se sentindo fraco, fale em línguas para se
fortalecer e, assim, poder continuar abençoando os outros. Assim, até o dom que parece
particular é para abençoar e servir as pessoas.
A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar,
profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons
de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura, são todos
apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres?
Têm todos dons de curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?
(1 Co 12.28-30)
Paulo segue falando dessa diversidade, dessa riqueza fantástica na igreja. Mas eu
quero me ater ao verso 25, que é o outro lado da moeda dos versos 17 e 21 do capítulo 11.
...para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com
igual cuidado, em favor uns dos outros. (1 Co 12.25)

275
Cuidar uns dos outros é exatamente o contrário de ‘não esperar e comer
antecipadamente’. Deus nos colocou nesta Terra e nos salvou com o propósito de
cuidarmos dos nossos irmãos. Essa é a lição e “nisso Eu vos louvo”!
Portanto (por causa de tudo isso que eu falei antes), procurai, com zelo, os melhores
dons. (1 Co 12.31)
O que significa “os melhores dons”? Será que se refere a salários? Que apóstolo
ganha mais que evangelista ou que pastor ganha mais que profeta? Que eu devo buscar
os dons que me agradam, elevam ou exaltam mais? Com certeza essas questões não
cabem dentro disso que Paulo está dizendo. Ele está se referindo a procurarmos as
melhores ferramentas de trabalho para fazermos um ótimo serviço e abençoarmos as
pessoas. Ele não está se referindo a escalas de importância dos dons, mas, sim, a
buscarmos aqueles dons que melhor edificam os irmãos. E nesse aspecto pode ser
qualquer dom, pois o que importa é a nossa atitude. Então, os melhores dons são aqueles
que abençoam e edificam o povo de Deus e não aqueles que simplesmente são melhores
para mim.
Essa lição é ensinada por Paulo no Capítulo 13, pois este nos dá a base da nossa
vida como irmãos. É porque eu amo, que eu sirvo. Ora, se eu tiver os melhores dons, mas
não tiver amor, “serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (v.1).
Infelizmente, há muitos crentes que são apenas como sinos que retinem: não produzem
nada, apenas fazem barulho.
“...ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor,
nada serei” (v.2). Ainda que eu tenha uma imensa fé, mas não saber esperar pelos outros
ou tiver essa atitude de comer antecipadamente, nada serei.
“...ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue
o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará”
(v.3). Ainda que eu oferte e ajude muita gente, mas não acolha, não suporte aos outros,
nada disso me aproveitará.
Se participarmos da Ceia do Senhor com esse exame, com essas atitudes no
coração, certamente Deus fará muitos milagres em nosso meio – muita cura no coração,
na alma, no corpo e no espírito. Portanto, incline seu coração totalmente ao Senhor “e,
assim, coma do pão e beba do cálice”! Amém!

276
ORGULHO – NOSSO MAIOR INIMIGO
Harold Walker

O nosso maior inimigo não é o diabo, o anticristo, o islã ou os muçulmanos. O nosso


maior inimigo é o orgulho! Foi por causa dele que Lúcifer, que era a estrela da manhã,
caiu. Pelo orgulho ele recebia para si todos os louvores que eram destinados a Deus. A
Bíblia chama essa atitude de vanglória (o contrário de humildade) – quando você se gloria
de algo que não é seu.
Essa é uma moléstia que adoece a humanidade e ninguém está isento dela. E o pior
de tudo: é uma doença assintomática, isto é, lhe mata sem você saber que a possui. Se
uma pessoa pensa não ser orgulhosa ela já é orgulhosa por não ser orgulhosa. Certo irmão
era tão humilde que lhe deram uma “medalha de humildade” e ele começou a usá-la em
todas as reuniões. Foi-se a humildade no mesmo instante!
Deus está preparando a volta de Jesus e, nos dias em que estamos vivendo, essa
preparação está bem adiantada. O mundo está sendo preparado para esse grande dia em
que Deus Se voltará contra todos os orgulhosos. Ele ainda se sujeita ao orgulho, que lhe
rouba a glória, porque sabe que chegará o dia do acerto de contas. Naquele dia, não olhará
se a pessoa é crente, incrédula, católica ou protestante, mas se ela tem orgulho. Por isso,
Deus, que é misericordioso, quer nos preparar como igreja para que esse maldito inimigo
seja fulminado.
Nós gostamos de exaltar ao Senhor, mas, frequentemente, somos tentados a pegar
“uma beirinha” da Sua glória. Se eu faço algo para Deus e as pessoas me elogiam, penso:
“Deus é grande, mas eu também sou”. Porém, Isaías 2 diz que SÓ o Senhor será exaltado
naquele dia:
Assim, pois, o homem é abatido, e o varão é humilhado; não lhes perdoes! Entra nas
rochas, e esconde-te no pó, de diante da espantosa presença do Senhor e da glória
da sua majestade. Os olhos altivos do homem serão abatidos, e a altivez dos varões
será humilhada, e SÓ O SENHOR SERÁ EXALTADO NAQUELE DIA. Pois o Senhor
dos exércitos tem um dia contra todo soberbo e altivo, e contra todo o que se exalta,
para que seja abatido; contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e contra
todos os carvalhos de Basã; contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros
elevados; contra toda torre alta, e contra todo muro fortificado; e contra todos os
navios de Társis, e contra toda a nau vistosa. E a altivez do homem será humilhada,
e o orgulho dos varões se abaterá, e SÓ O SENHOR SERÁ EXALTADO NAQUELE
DIA. (Is 2.9-17)
Que Deus extermine de nós tudo o que Lhe tira a glória para que não sejamos
abatidos e humilhados naquele dia, quando nenhum homem será exaltado, apenas o
Senhor. A igreja é a comunidade dos que estão “ensaiando” para aquele dia em que o
pecado original do orgulho será destruído. Esta igreja tem sido chamada para trilhar os
caminhos pioneiros do arrependimento e quebrantamento para, na prática, discernir onde
o orgulho está aparecendo e tratar com ele, a começar pela liderança e atingindo todos os
níveis das nossas vidas, para que em nenhum momento roubemos a glória que pertence a

277
Deus. Isso vai se alastrar sobre toda a Terra e, então, uma igreja gloriosa será levantada.
Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na
sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se
nisto; em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência,
juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor. (Jr 9.23)
Paulo gostava de se gloriar, mas unicamente no Senhor:
Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios;
e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; e Deus
escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para
reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.
Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e
justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: AQUELE QUE SE
GLORIA, GLORIE-SE NO SENHOR. (1 Co 1.27)
Como liderança em Jundiaí nós estamos conversando, orando, clamando e crendo
que Deus vai mandar um poderoso avivamento para esta igreja. Não só para nós nesta
cidade, mas para o Brasil e o mundo. Deus quer fazer isso e esse rio fluirá. Mas, para isso,
precisamos estabelecer as bases para que essa enchente traga vida e não danos. Isso não
apenas para a liderança, mas para todos nós juntos. É preciso que nos apeguemos à
palavra que tem sido ministrada e entendamos que essa igreja está sendo construída; que
algo sólido está se formando; que haverá uma base, um alicerce para tudo o que o Espírito
Santo deseja fazer em nosso meio.
No domingo passado (05/11/17) esta igreja celebrou a Ceia do Senhor. Jamê Nobre
ministrou sobre o Corpo de Cristo e a importância de discerni-lo para não tomarmos a Ceia
indignamente. Duas coisas me chamaram a atenção nessa ministração:
1ª – Deus deu graça, carisma, facilidade, alegria e capacidade para cada um de nós.
Ninguém tem o que é do outro, pois cada um tem uma medida da graça que Deus tem
derramado. A graça não é dada apenas para dirigentes de louvor, pregadores, pastores ou
diáconos ordenados. Não! A graça é para todos! Jamê leu em 1 Coríntios 12 que Deus
colocou cada membro no Corpo como Ele quis e lhes deu graça. Há um só Senhor em
todos e um só Espírito que age por todos. Isso é maravilhoso! Deus deu graça para todos
nós! Então, eu lhe pergunto: Qual é a sua graça, o seu dom? O que você sente alegria,
facilidade e prazer em fazer? O que você faz e os outros se sentem abençoados? Todos
têm dons e vão prestar conta deles, porque os receberam de graça.
2ª – O serviço (a diaconia) é usar a graça recebida para abençoar outras pessoas.
Nós devemos entender que não precisamos de aplausos, mas de reconhecimento!
Precisamos reconhecer a nós mesmos e, depois, agir e ver se estamos produzindo frutos
vindos do céu. Se o fruto é do céu, a graça (a diaconia) vai fluir em nosso meio e os que
nos visitam vão sentir seus efeitos. A graça vai extrapolar e sair pelas ruas da cidade
através de nossas vidas, de nosso trabalho diário. Graça é qualquer coisa que você faz a
favor de outros pela capacidade do Espírito Santo, é o amor operando em sua vida. O sinal
de que Deus está usando a sua vida para abençoar a outros é você sentir iniciativa,
vontade, sonho e fé para fazê-lo.
Nós, da liderança, estamos semanalmente orando, buscando e clamando a Deus
para Ele nos mostrar o caminho, para que o Espírito Santo seja liberado em nosso meio,
para que o poder de Deus na igreja seja manifesto até ao ponto de instantaneamente

278
curarmos os cegos, levantarmos os paralíticos, vivermos e pregarmos o evangelho,
libertarmos as pessoas das drogas e das coisas erradas. Deus tem poder para isso! Esse
poder está no Espírito Santo e Ele está na igreja. Mas, para isso acontecer, é preciso tirar
as travas que O impedem de agir e incentivar aquilo que O ajuda a atuar cada vez mais.
Essa tarefa não é só da liderança, mas de todos nós. Você também é responsável!
O que pode liberar o poder em nosso meio? Não o poder que ainda vem, mas o
poder que já está na igreja? Esse poder já existe na igreja, mas ele ainda está um pouco
preso, amarrado e precisa ser liberado. Eu anseio de todo o meu coração que, quando nos
reunirmos como igreja, possamos sentir esse poder e essa graça fluindo; que não fiquem
presos dentro de cada pessoa.
Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si
mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente,
conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um. (Rm 12.3)
De acordo com o versículo acima, você deve pensar sobre si mesmo nem acima
nem abaixo, mas na medida certa. A pessoa que, tendo talento para tocar piano, por
exemplo, se esquiva de tocá-lo quando solicitada, dizendo que não sabe e que é muito ruim
nisso, está com humildade falsa. Na verdade, ela merece uma medalha de orgulho! Ela
poderia ter dito: “Eu toco bem e vou usar essa graça para fazer uma diaconia; vou tocar
para o deleite dos que me querem ouvir”. Paulo diz que o orgulho, a falsa humildade é uma
praga. Nós devemos agir e pensar de nós mesmos sobriamente, segundo a medida da
graça que Deus nos deu. Há pessoas na igreja que vão receber o dom de cura, por
exemplo, e farão curas estrondosas; mas, ao recebê-lo, não devem dizer que não são nada,
mas dizer: “Eu tenho o dom de cura e vou exercê-lo”.
Ao falar contra o orgulho não estamos falando contra o reconhecimento e a honra,
mas contra a vanglória. Para que pensemos sobre nós mesmos na medida da fé que Deus
nos deu precisamos do parecer das pessoas que andam conosco. Só assim vamos
conseguir pensar sobriamente a nosso respeito e saber como devemos proceder.
A epístola de 2 Coríntios é uma verdadeira aula sobre como devemos nos portar em
relação à glória ou à vanglória. Nela, Paulo anda no “fio da navalha” ao dizer aos coríntios
que eles o estavam obrigando a andar na carne, uma vez que não falavam o que deviam
falar a seu respeito e, por isso, ele mesmo teria de falar. Os coríntios prezavam mais Apolo
do que Paulo, porém, ele os alertou para o fato de que não dependia financeiramente deles
e que eles não existiriam se não fosse pelo seu ministério.
Essa reação de Paulo junto aos coríntios nos traz uma grande lição: O Espírito Santo
só opera quando há honra e reconhecimento. Ao ser desprezado pelas pessoas você não
consegue agir no Espírito. Nem Jesus, o Filho de Deus, conseguiu fazer milagres em sua
cidade, onde todos o desprezavam. Para agir no Espírito é preciso ter honra das pessoas;
é preciso que elas o olhem e digam: “Deus está agindo através de você”.
Por vezes, eu fui abençoado com um sorriso, um abraço, uma oferta. Quando isso
acontece devemos honrar, agradecer e falar: “Muito obrigado, você me fortaleceu!” No jogo
de vídeo game você precisa pegar “vidas”, porque senão fica vulnerável aos ataques e, às
vezes, um simples esbarrão poderá matá-lo. Então, se você tiver muitas “vidas”, os ataques
podem vir com força e não vão derrotá-lo. Quantos irmãos na igreja levam um esbarrão e
caem porque não “pegaram vidas”?

279
O que seria “vidas”, nesse caso? É você fazer alguma coisa para Deus (limpar um
banheiro, por exemplo) sem que ninguém tenha lhe pedido. Você precisa ser elogiado por
isso, pois, se disserem que você não fez mais do que sua obrigação, certamente se sentirá
pior. Você ficará pior não porque quer, mas porque perdeu “vida”, força. A honra, o elogio,
a gratidão e o reconhecimento fazem a pessoa florescer!
Devemos nos dobrar até mesmo diante do menor, porque é Deus que o está usando.
Uma criança que profetiza deve ouvir de nós as seguintes palavras: “Deus te usou!” Assim,
ela terá ânimo para fazer novamente na próxima vez. Mas, se Deus não a usou, não fale
nada, não seja falso. Antes, seja honesto, fale a verdade!
Precisamos viver honrando e dando glória a Deus, reconhecendo-O na vida dos
irmãos. Num ambiente onde a honra flui as pessoas estão vivas, ligadas e livres para agir
no Espírito Santo. Neste ambiente, Deus nos usa para abençoar o mundo e uns aos outros.
Elogie o que as pessoas fazem de bom e lhes seja grato! Lembre-se: dos dez leprosos
curados, apenas um voltou para agradecer.
Considere o tal isto, que, quais somos no falar por cartas, estando ausentes, tais
seremos também no fazer, estando presentes, pois não ousamos contar-nos, ou
comparar-nos com alguns, que se louvam a si mesmos; mas estes, medindo-se
consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, estão sem entendimento. Nós,
porém, não nos gloriaremos além da medida, mas conforme o padrão da medida que
Deus nos designou para chegarmos mesmo até vós; porque não nos estendemos
além do que convém, como se não chegássemos a vós, pois já chegamos também
até vós no evangelho de Cristo, não nos gloriando além da medida em trabalhos
alheios; antes tendo esperança de que, à proporção que cresce a vossa fé, seremos
nós cada vez mais engrandecidos entre vós, conforme a nossa medida, para
anunciar o evangelho nos lugares que estão além de vós, e não em campo de
outrem, para não nos gloriarmos no que estava já preparado. Aquele, porém, que se
gloria, glorie-se no Senhor. (2 Co 10.11)
Trocando em miúdos o que Paulo está dizendo: “Vocês deviam me elogiar, mas,
como não o fazem, eu sou obrigado a fazê-lo.” No entanto, você pode perceber, nos
capítulos 9 a 12, que Paulo nunca disse que curou alguém, que fez milagres ou que fez
isso e aquilo. Na verdade, ele fez todas essas coisas, mas o que ele disse é que foi
apedrejado, açoitado, ficou no mar, fez jejuns etc. Já que Deus havia dito para se gloriar,
ele se gloriava em suas fraquezas e na pregação do evangelho, no caso, aos coríntios.
Paulo os exortava a que o honrassem, não para que ele ficasse inchado (orgulhoso), mas
para receber força, “vida” para pregar em outros lugares. Ele queria ser honrado para servir
mais, trabalhar mais, ter força para ir mais além, pois sem a honra ele não conseguiria fazer
essas coisas. A honra é o combustível que faz com que o Espírito Santo seja liberado para
agir em nossas vidas e nos levar além!
Apocalipse 4 é a descrição de uma cena maravilhosa:
Imediatamente fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e
um assentado sobre o trono (...). Havia também ao redor do trono vinte e quatro
tronos; e sobre os tronos vi assentados vinte e quatro anciãos, vestidos de branco,
que tinham nas suas cabeças coroas de ouro (...) e ao redor do trono, um ao meio
de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás (...); e
não têm descanso nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o
Todo-Poderoso, aquele que era, e que é, e que há de vir. E, sempre que os seres

280
viventes davam glória e honra e ações de graças ao que estava assentado sobre o
trono, ao que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos prostravam-
se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam ao que vive pelos
séculos dos séculos; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és,
Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu
criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas. (Ap 4.2-11)
Os quatro seres viventes dizem: “Santo, Santo, Santo” sem parar, porque ficam tão
admirados com a glória de Deus que não há outra coisa a fazer senão prostrar-se e adorar.
Noite e dia eles se prostram e adoram! Na mesma cena há vinte e quatro anciãos sentados
em vinte e quatro tronos com coroas de ouro sobre suas cabeças. Mas, todas as vezes que
os seres viventes dizem “Santo, Santo, Santo”, eles se levantam de seus tronos, prostram-
se diante do trono de Deus e lançam ali as suas coroas. Os tronos deles ficam vazios e
suas coroas não ficam em suas cabeças; e isso se repete vinte e quatro horas por dia. Os
tronos vazios e as coroas lançadas diante de Deus servem para dizer: “Eu não mereço! Eu
ganhei o trono e a coroa, mas não os mereço; eu ganhei, mas não quero; só o Senhor
merece toda a glória”. Isso é maravilhoso!
Eu quero trabalhar para ganhar um trono, mas não para sentar-me nele, porque o
meu prazer será dizer a Jesus: “Esse trono não é meu, ele é teu”. Essa é a diferença da
cultura de honra para o espírito de orgulho de Satanás. Por isso, quando alguém lhe elogiar,
não seja falso; receba o elogio e depois o entregue, passe-o à frente, porque ele não é seu.
Se você teve algum valor, é de Deus; se teve alguma fonte, foi por Ele. Você não é nada!
Deus sabe disso e, por isso, quer você para Ele, pois o que vale é o que Ele fará de você.
Então, toda a glória e toda a honra no universo não pertence a nenhum mortal, mas a Ele;
tudo veio Dele e volta para Ele. Não há maior prazer do que receber e repassar o que se
recebeu.
Deus quer te usar! Ele quer que as pessoas olhem para você e vejam um filho Dele
que pode dar conselho, orar e ser um instrumento de bênção na vida delas. Deus não quer
que elas olhem para o céu, mas que olhem para você e sejam curadas, abençoadas e
sintam a presença Dele através do seu ministério. Você, então, terá prazer em dizer: “Deus,
obrigado! Toda glória vai para Ti; eu não sou nada”.
Para finalizar, quero comentar um texto que escrevi em 2012, pois sinto que é algo
específico que Deus está fazendo há anos nesta igreja. Estamos começando a colher
alguns frutos e louvo ao Senhor por algo diferente e inédito que Ele está fazendo em
Jundiaí. Nós não temos glória nem mérito algum, mas com certeza Deus está fazendo algo
novo em nosso meio. Ele não quer que isso fique apenas conosco, mas que aconteça
também em outros lugares e a principal coisa que Ele está fazendo é nos rebaixar, nos
esvaziar, tirar o nosso orgulho para que sejamos humildes e quebrantados diante Dele. Isso
me anima, porque tenho visto acontecer. Cada vez que nós diminuímos, Cristo aumenta.
Mas eu quero ver isso acontecendo em todas as igrejas do Brasil. Anseio por ver uma
liderança fraca, humilde, quebrantada, sem autossuficiência, sem orgulho, sem
concorrência, sem querer nada do outro; uma liderança que entroniza Cristo e não a carne
para reinar!

281
Em busca de uma liderança fraca
Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes… para que
nenhum mortal se glorie na presença de Deus (1 Co 1.27,29).
Pelo que sinto prazer nas fraquezas… porque quando estou fraco, então é que sou
forte. (2 Co 12.10).
Recentemente me surpreendi orando para que Deus levante uma liderança fraca na
igreja dos nossos dias! Nas semanas seguintes, essa oração ficou mais forte,
repetida por outros companheiros de oração e virou tema de mensagens.
É importante ressaltarmos a natureza desta “fraqueza santa” a que me refiro.
Definitivamente não estou falando de uma liderança pusilânime, covarde e medrosa
que permite que falsos obreiros aprontem com as ovelhas sob seus cuidados.
As pessoas, às vezes, se assustam quando dizemos que queremos uma liderança
fraca, mas isso não significa uma liderança que permite falsos obreiros ou falsos profetas
entrarem e fazerem um estrago no meio do rebanho. Não é a esse tipo de liderança que
me refiro!
Estou falando da fraqueza e impotência de homens da Bíblia como Moisés e Paulo.
Você acha que Moisés e Paulo são os líderes mais fortes da Bíblia? Engano seu!
Quando Deus chamou Moisés ele se recusou a ir dizendo que não conseguiria, que o
Senhor mandasse outra pessoa em seu lugar. Ele dizia que não sabia falar, que “não estava
com nada”. Deus não tentou consolá-lo, mas disse: “Você não presta mesmo, mas eu vou
contigo”. Depois de atender ao chamado de Deus, sabe como ele e seu irmão, Arão,
lideravam? Com o rosto em terra! Você pode ver Moisés prostrado no chão, assim como
os vinte e quatro anciãos diante do trono de Deus. O incrível é que no dia em que ele se
sentiu um pouco mais forte ele pecou e não pôde entrar na terra prometida. E ele era o
homem mais manso na face da Terra! Percebe a fraqueza bendita? Vamos então orar para
Deus levantar essa liderança fraca em nossos dias?
Homens que, vistos de certo ângulo, poderiam, talvez, serem considerados os
personagens mais fortes da Bíblia. Mas, se olharmos suas vidas de perto, veremos
que, além de serem fracos, se consideravam fracos, como as citações acima
confirmam. Homens que frequentemente se encontravam prostrados diante de
Deus, confessando que não sabiam o que fazer. Homens que não abriam mão da
sua responsabilidade de liderar o povo, mesmo conscientes de sua profunda
vulnerabilidade.
A maioria dos problemas, que vivemos na igreja hoje nasce da autossuficiência
humana do poder da alma. Nossos líderes são muito fortes. Na maioria das ocasiões
não precisam do poder do Espírito Santo nem do conselho de companheiros do
ministério.
A maioria da liderança hoje não precisa do Espírito Santo, dos companheiros de
ministério; não precisa se humilhar, pedir ajuda ou conselho porque são “fortes”.
Sabem se virar sozinhos. E o pior é que o povo de Deus gosta disso. Quanto mais
força o pastor demonstra, maior o seu rebanho. Ser fraco e reconhecer isso não dá
ibope. Mas Deus está procurando homens como Jacó, que mancam
permanentemente, que sabem de suas deficiências.

282
Pense sobre qualquer ajuntamento ou reunião do povo de Deus, grande ou pequeno.
Quer seja de dois ou três para oração, quer seja uma reunião com centenas de
pessoas, o diferencial determinante se o Espírito Santo terá liberdade ou não está
no tipo de liderança presente.
Ou seja, o Espírito Santo está conseguindo mover um pouquinho mais em nossas
reuniões porque Deus está nos enfraquecendo e dando espaço para Ele. Se nós queremos
que Ele aja mais, precisamos ficar mais fracos ainda para que Deus entre mais em ação.
Alguns “movimentos” dizem que não precisam de liderança, que Jesus é o pastor
deles, que se reúnem apenas nas casas. Isso não funciona, porque quando não há
liderança alguém com alma mais forte se levanta e domina a reunião. Isso é anarquia, falta
de autoridade e confusão. Não se iluda, pois tem que ter liderança sim! Mas essa liderança,
além de ser responsável, tem que se sentir fraca, tem de precisar do Espírito Santo e uns
dos outros. Só assim o Espírito Santo encontrará espaço para fazer alguma coisa.
Se não houver liderança clara, as pessoas com temperamentos mais fortes
naturalmente assumem o palco. Se houver liderança muito forte, todos os outros se
transformam numa plateia passiva, inerte. Porém, se houver uma liderança que não
abre espaço para espíritos dominadores e ao mesmo tempo não dominam com seu
próprio ego, haverá espaço, silêncio, abertura para o Espírito Santo e coisas incríveis
começarão a acontecer. Afinal de contas, a igreja é a porta dos céus!
Para Deus reassumir o controle e direção da igreja, é necessária uma liderança
fraca. Deus abomina anarquia e rebeldia. O diabo ama esse tipo de ambiente. Então
a igreja precisa de liderança. Mas precisa ser uma liderança que depende do Espírito
e uns dos outros. Para o Espírito ter liberdade de falar, é necessário que o homem
natural se cale. Deus interrompeu Pedro no monte da transfiguração quando esse
estava falando suas bobagens sobre edificar três tabernáculos.
Deus disse: “Três tabernáculos nada, esse é meu Filho, a ele ouvi”. Então, quando
o homem fala, Deus cala; quando o homem cala, Deus fala. Nós precisamos alcançar esse
nível de quebrantamento diante de Deus para que Ele fale conosco!
As grandes coisas que a igreja fará nesses últimos dias que antecedem a volta de
Cristo serão fruto de um ambiente produzido por uma liderança plural que sabe a
hora de calar e permitir que Deus fale através de quem ele quiser.
Deus usa sacerdotes! Os sacerdotes carregam a arca nos ombros, mas não colocam
suas mãos nela. Se isso acontecer eles morrem. Deus usa e precisa de pessoas! Ele vai
levantar muitas pessoas novas nesta igreja para serem presbíteros, diáconos e para serem
ordenadas para andarem por aí. Deus fará uma coisa maravilhosa! Haverá uma mobilidade
que nós ainda não experimentamos. Porém, as bases devem ser o quebrantamento sério
do orgulho e a glória toda para Deus, a dependência uns dos outros, o reconhecimento e a
honra de uns para com os outros desde o menor até o maior para que o Espírito Santo
tenha liberdade de agir em nosso meio! Amém!

283
HONRA NA TERRA, ASSIM COMO NO CÉU
Tony Felício

Tributai ao SENHOR, filhos de Deus, tributai ao SENHOR glória e força.


Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza da
santidade.
Ouve-se a voz do SENHOR sobre as águas; troveja o Deus da glória; o SENHOR
está sobre as muitas águas.
A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade.
A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o SENHOR despedaça os cedros do
Líbano.
Ele os faz saltar como um bezerro; o Líbano e o Siriom, como bois selvagens.
A voz do SENHOR despede chamas de fogo.
A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades.
A voz do SENHOR faz dar cria às corças e desnuda os bosques; e no seu templo
tudo diz: Glória!
O SENHOR preside aos dilúvios; como rei, o SENHOR presidirá para sempre.
O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo.
(Salmos 29)

E u cito esse texto para começar porque quero honrar o Senhor antes de qualquer coisa,
pois esse assunto é sobre HONRA. Honra é uma palavra que Deus tem trazido de
maneira muito renovada ao coração dos presbíteros, não só como uma palavra, mas como
uma experiência. Temos percebido que honrar a Deus e honrarmos uns aos outros
desencadeia uma operação maravilhosa dos céus entre nós. Honra produz um ambiente
que atrai a presença de Deus.
Mas de que honra estamos falando? Nesse contexto significa “respeitar, valorizar,
reconhecer no outro o lugar que ele tem, atribuir valor àquele que é honrado”. Não somente
reconhecer seu valor, mas correspondermos de forma prática à consciência que temos
desse valor. Não é somente elogiar. Elogio é um instrumento de honra, mas não é, em si,
honra. Muitos podem elogiar da boca para fora, mas não honram verdadeiramente. Honrar
é uma atitude interior, verdadeira de reconhecer o outro no lugar que Deus o colocou.
Nós desejamos concordar com Deus com o que Ele quer fazer em nosso meio,
preparar um ambiente para tudo o que Ele anseia fazer. Não queremos resistir ou atrapalhar
ao nosso Senhor, mas facilitar o caminho para Ele. E é justamente por esse motivo e nesse
contexto que temos falado sobre honra.
Recentemente, chamamos à frente os homens que fazem parte do conselho
apostólico dessa congregação (Jamê, Marion, Paulo Manzini e Harold). Esse conselho nos
dá direção, revisa os nossos fundamentos, nos chama de volta para a Palavra e pastoreia

284
os pastores. Então, como uma demonstração de que estamos entendendo o que Deus está
falando, nós os honramos e reconhecemos diante da congregação.
Quando honramos alguém não estamos querendo promover homens, pois não
aprovamos a promoção de homens como se eles fossem especiais em relação a outros,
mas também reprovamos não considerar os outros, não discernir o que eles têm de Deus
para nós. Nós reprovamos a igualdade, que é tola, porque o nosso Deus não é um Deus
de igualdade e, sim, de diversidade. Ele distribui a Sua graça como Ele quer e, por isso,
precisamos reconhecer os dons, as graças, os ministérios que existem em nosso meio,
porque, quando o fazemos, somos abençoados. Assim, desejamos que esse ambiente de
honra se espalhe por todos os ambientes da nossa congregação, por todos os ambientes
em que nós estamos envolvidos.
Que esse ambiente esteja em nossos lares; que os maridos honrem suas esposas
e estas honrem seus maridos como devem honrar; que os pais honrem os seus filhos e
estes honrem seus pais; que cada um reconheça o outro no lugar que ele tem e está. Que
tratemos nossos chefes, nossos funcionários, nossos colegas de trabalho, nossos
professores e alunos com honra, diferente do que o mundo faz. Já pensou se conseguirmos
transmitir para o mundo que o ambiente do céu não é um lugar de crítica, de reprovação,
mas que repete o tempo todo o que as pessoas são e não aquilo que elas não são? Nesses
ambientes o Espírito Santo ficará à vontade para agir, porque não haverá soberba ou
destaque sobre alguém, pois todos têm o seu lugar, todos são reconhecidos em seu lugar.
E, quando isso acontece, ninguém individualmente aparece, mas só Jesus se sobressai. É
por isso que a honra não começa entre nós, mas começa no céu.
Há vários tipos ou valores de honra:

1) Honrar o nosso Deus acima de tudo e de todos.


Vamos entender que não precisamos atribuir nada a Ele, porque Ele é a fonte de
toda a honra. Honrar, reconhecer, valorizar, andar de acordo com quem Deus É e com
quem Ele nos faz ser. Esse tipo de honra só existe no céu – é aquela que concedemos a
quem tem valor em Si mesmo, que tem um valor intrínseco – não porque Lhe foi dada, mas
porque Ele É – faz parte da Sua natureza. Essa honra só podemos render a uma Pessoa:
o Senhor nosso Deus. Nós cantamos que só Ele é digno de toda honra, glória, adoração e
louvor. Ou seja, Ele é o único digno de tudo isso e ninguém mais.
É isso que vemos nos capítulos 4 a 7 de Apocalipse. Os céus estão cheios desta
verdade, desta realidade – Deus recebe honra porque Ele É digno de honra, porque Ele
tem em Si mesmo todos os atributos divinos – Ele é o amor, a verdade, a justiça, o poder.
Nada foi dado a Ele e, por isso, só Ele merece toda a honra. É por isso que Davi disse:
“Tributai ao Senhor a glória devida ao seu nome”, que podemos ler também como “honra”.
Ou seja, a glória está dentro do Seu nome.
O nome de Deus fala da Sua identidade, de quem Ele é. Assim, esse tipo de honra é
o que atribuímos Àquele que tem um valor em Si mesmo. Quando dizemos que Deus é
Santo, não podemos atribuir isso a qualquer um de nós, pois Deus não é Santo porque um
dia pecou, mas Ele é eternamente Santo. Deus não é poderoso porque um dia foi fraco,
mas Ele é eternamente poderoso. Ele é fiel, não porque um dia fraquejou, mas Ele é
eternamente fiel. Deus é imutável.

285
Essa adoração e honra com valor intrínseco, real são devidas apenas ao nosso Deus.
Em Isaías 6, encontramos esta adoração nos céus:
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime
trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele;
cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e
com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o
Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. (vs.1-3)
Ou seja, o céu está cheio de uma rotina maravilhosa. É um lugar onde todos dizem
“ELE É SANTO, MARAVILHOSO, PODEROSO, DIGNO DE HONRA”. Da mesma forma,
precisamos cultivar um ambiente onde dizemos a Deus quem Ele é. Isso é adoração,
louvor, exaltação, honra!
Mas não basta honrarmos a Deus somente com os lábios. Jesus disse em Mateus
15.8: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.” Honrar
a Deus não é apenas falar o que Ele é. O verdadeiro significado da palavra ‘adoração’ vem
do grego proskineo e significa “prostrar-se” – não de forma exterior, mas com uma atitude
interior de render-se, submeter-se, reconhecer e andar debaixo da grandeza de Deus,
obedecendo a Ele. É adorar ao nosso Deus não somente com os lábios, mas com o coração
rendido completamente a Ele.
Por exemplo, quando o Senhor nos dá uma palavra, honrar é obedecer esta palavra,
pois o contrário disso é desprezo, indiferença. Às vezes, não necessariamente falamos mal
de algo que Deus nos fala, mas ignoramos o que Ele nos fala não praticando, não
obedecendo, não se rendendo. Deus tinha essa queixa em relação a Israel, mas oramos
que Ele não a tenha conosco. Que sejamos um povo que honre ao Senhor com os lábios,
com o coração, com as primícias (Pv 3.9) etc. Honrar a Deus é reconhecer o valor Dele e
correspondermos à Sua vontade e palavra. Portanto, vamos corresponder a Ele seguindo-
O, rendendo-Lhe nossas vidas, obedecendo-Lhe, porque ELE É.
Isso parece óbvio, mas a nossa tendência é cultuar a Deus pensando no que
podemos ganhar ou receber. Não é errado, porque é óbvio que iremos receber. Mas a
nossa primeira intenção quando cultuamos não deve ser receber e, sim, honrar. Quando
vivemos esse ambiente em relação a Deus isso começa a se espalhar entre nós; por isso,
a vontade de trazer o avivamento deve gerar a vontade de reconhecermos uns aos outros.
A Trindade trabalha assim: Um honrando e exaltando o Outro. Paulo descreve em
Filipenses 2.5-11 o caminho da descida de Jesus, humilhando-se e tornando-se
semelhante aos homens, para que depois fosse exaltado por Deus recebendo um nome
acima de todo nome. O Filho, quando esteve na Terra, não ficou se autopromovendo, mas
honrou o Pai em tudo. Então, Deus não trabalha para fazer célebre o Seu próprio nome,
mas para fazer célebre o nome de Cristo e exaltá-lo entre nós.
A primeira pessoa que deu testemunho de Jesus não foi João Batista, mas o próprio
Deus, quando, no batismo de Jesus, disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo.” (Mt 3.17) e o Espírito Santo desceu sobre ele. Ali a Trindade estava reunida –
Pai e Espírito honrando o Filho, dizendo: “Filho, vai! Estamos contigo! É a tua hora, é a tua
vez. Vai e cumpre com o teu ministério.”
Quando Jesus completou sua obra como homem aqui na Terra ele reuniu seus
discípulos e amigos e disse-lhes: “convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador
não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei.” (Jo 16:7). Ou seja, ele se retirou para

286
que o Espírito viesse. Você consegue transferir isso para sua vida? Quando tem a alegria
de sair para que outro chegue? Isso é o céu na Terra! E Jesus continua dizendo:
...quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque
não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas
que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de
anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber
do que é meu e vo-lo há de anunciar. (vs. 13-15)
O Filho projeta o Espírito e, desde o Pentecostes, Ele está dentro de nós dando
testemunho de Cristo e preparando a Noiva para o próprio Cristo. Apocalipse 22.17 diz: “E
o Espírito e a esposa (noiva) dizem: Vem.” O Espírito está trabalhando para realizar a
vontade do Filho, para atender suas expectativas e o que ambos esperam é que o Pai seja
conhecido. Será que existe alguém que honra mais a palavra de Cristo do que o próprio
Espírito? Ele veio para dar testemunho de Cristo e sempre trabalhou e trabalha para fazê-
lo. Ele nos lembra quem é Cristo e o que ele disse, sempre nos conduzindo ao
conhecimento da verdade. O Espírito traz os dons, os ministérios e toda a revelação
necessária para que Jesus seja conhecido, honrado e a Igreja seja preparada para o próprio
Jesus.
Jesus disse: “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. ...porque não busco
a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou." (Jo 5:30). “A minha comida é fazer
a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra.” (Jo 4:34). Assim, o Pai sempre é
honrado. Jesus ficou em completa submissão demonstrando que honrava o lugar do Pai e
não fazia nada segundo sua própria vontade ou direção. Tudo o que ele fazia tinha a ver
com o “que” e com “o como” o Pai lhe mandava fazer. Jesus viveu na Terra honrando o
nome do Pai.
O movimento da Trindade é Um sempre projetando o Outro, preparando o caminho
do Outro, fazendo com que o Outro seja conhecido. Eu acho lindo essa característica da
Trindade: o Pai projeta o Filho; o Filho mostra o Pai e prepara a vinda do Espírito; o Espírito
vem e lembra o que o Filho disse, o exalta, o revela e, ao final, quem aparece é o próprio
Pai. Essa é uma característica do Céu. É por isso que lemos em Apocalipse que os anjos
adoram o tempo inteiro dizendo: “Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso,
que era, e que é, e que há de vir.” (Ap 4:8). Eles se enxergam e não conseguem parar de
falar que Ele é Santo e de reconhecer a Sua santidade. Da mesma forma o fazem os 24
anciãos, reconhecendo que só UM é digno:
Quando esses seres viventes derem glória, honra e ações de graças ao que se
encontra sentado no trono, ao que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro
anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o
que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono,
proclamando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o
poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a
existir e foram criadas. (Ap 4.9-11)
Assim, o Céu é um lugar de honra e, se a Igreja é o Céu na Terra, se é a porta do
Céu que Jacó viu, o ambiente aqui precisa ser igual ao de lá. Isso significa que nós vamos
honrar e exaltar ao nosso Deus. Nós não vamos viver para que as pessoas nos vejam e,
sim, que olhem para nós e reconheçam a glória do nosso Deus. Foi para isso que nós
nascemos: “Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado
(...) Com o fim de sermos para louvor da sua glória...” (Ef 1.6, 12). Não nascemos para

287
projetarmos a nós mesmos, para nos gloriarmos, para sermos ovacionados pelas pessoas
e gostarmos disso, fazermos disso algo que nos alimenta. Não! Nós nascemos para honrar,
glorificar, exaltar ao nosso único, Eterno, Poderoso e Soberano Senhor!
Estava lendo recentemente um livro do relato de uma muçulmana que teve um
encontro sobrenatural com Jesus depois de uma história terrível de vida. Ela conta que
Jesus a levou para visitar o Céu e disse: “Eu visitei o Céu com Jesus e lá é um lugar de
coroas despejadas diante dele!” E agora ela é uma linda adoradora de Jesus. O Céu é um
lugar de honra ao nosso Deus! “Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e
poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém.” (Ap 7:12)
Ora, se no céu é assim, na Terra também precisa ser assim! Nós não trabalhamos
para nos autopromovermos, mas para promovermos o nosso Deus, o Senhor Jesus antes
de qualquer coisa ou pessoa, pois não nascemos para a autopromoção. Geralmente os
“famosos” que adquirem um certo nível de fama morrem depressivos, angustiados,
drogados, porque ninguém foi feito para carregar fama e, sim, para atribuir glória a Deus.
A Trindade trabalha desta forma. Precisamos, então, perceber a obra de Deus pelo
prisma ou ótica da honra. Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus – isso é
honra. O Criador criou um monte de coisas de acordo com Suas ideias, desejos, habilidades
artísticas. Mas, no sexto dia, quando criou o homem, atribuiu-lhe um valor: de sermos à
Sua imagem e semelhança. Não há outra criação com este mesmo valor. Fomos criados
assim, fazemos parte da família de Deus – isso é honra!
Antes não éramos nada por causa do nosso pecado, mas Deus continuou insistindo
conosco nessa trajetória de nos atribuir um valor que não tínhamos. Todos éramos
pecadores e afastados de Deus. Nossas tendências à rebeldia e independência sempre
tentam nos afastar do Senhor, mas Ele, por causa do grande amor com que nos amou, nos
resgatou e incluiu em Sua família. Aliás, há uma relação maravilhosa entre amor e honra.
O amor não cobra nada porque se vale apenas dele mesmo para se dar. Então, amando,
conseguimos honrar até pessoas que aparentemente não vemos nenhum valor nelas. Deus
fez isso conosco. Ele olhou para Adão e Eva, olhou para cada um de nós e tomou uma
decisão: “Eu não quero que eles continuem caídos, desprezíveis. Eu quero que eles sejam
meus filhos.” No Éden, Ele fez uma roupa para o casal prefigurando Cristo, que Ele iria
oferecer em nosso favor. Será que existe uma honra maior do que esta? Que o próprio
Deus escolha entregar-Se em favor da Sua criação? Ele agiu com honra em relação a nós!
Deus falou por meio de Isaías:
Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o Senhor é quem fala: Criei filhos e os
engrandeci, mas eles estão revoltados contra mim. O boi conhece o seu possuidor,
e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu
povo não entende. (Is 1.2,3)
O povo não estava reconhecendo quem era o Senhor e, por isso, não estavam
reconhecendo quem eles próprios eram. Como estavam revoltados com Deus, como não
O honravam, então estavam piores do que bois e jumentos e não reconheciam quem eles
eram. Deus quer ser o Senhor do Seu povo, quer realizar tudo o que Ele é capaz de realizar,
mas, para isso esse povo precisa reconhecê-Lo como Deus. Ele não está com medo de
perder Sua honra, mas a está defendendo por nossa causa, a nosso favor, pois, se Ele sair
de Seu lugar, o Universo se dissolve. Todas as coisas foram criadas por Ele e Ele sustenta
todas as coisas pela palavra do Seu poder. Assim, se você usufrui da bondade de Deus,

288
reconheça o valor Dele e não tome para si este lugar, não resista, não se revolte contra
Ele.
Vemos, no entanto, Deus falando várias vezes ao Seu povo Israel: “Vocês me trocam
por outros ídolos e Eu não vou dar minha glória a ídolos; não vou aceitar que me troquem;
então, parem com isso!” Quando adoramos a ídolos temos o que eles nos dão, mas quando
adoramos a Deus temos o que Ele nos dá. Então, quando reconhecemos e valorizamos a
Deus e aos nossos irmãos, recebemos os resultados desse reconhecimento, dessa honra;
recebemos as bênçãos e os ministérios que Deus e os irmãos têm para nós.

2) Honrar e reconhecer o lugar que Deus deu a Jesus entre nós.


...para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda
espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os
olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento,
qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do
seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual
exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua
direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e
domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas
também no vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça
sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que
a tudo enche em todas as coisas. (Ef 1.17-23)
De acordo com o que lemos acima e com o que temos visto e ouvido, cremos que
Deus vai fazer uma obra transformadora em toda a Terra. No entanto, Ele quis começar
essa obra por meio de um povo constituído por todos os gentios e judeus convertidos que,
juntos, formam a Sua Igreja. E Ele colocou Jesus em um lugar especial nesta Igreja: como
cabeça da mesma! Este é um lugar de comando, controle, direção, orientação. Jesus é
aquele que manda, que governa, que diz o que fazer, como fazer, para onde ir.
Se queremos um ambiente de honra entre nós precisamos reconhecer o lugar que
o Pai colocou Jesus na Igreja. Aqui, na sua Igreja, Jesus não precisa defender sua honra.
Que não seja preciso que ele chegue diante de nós como chegou diante de Jerusalém
dizendo: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são
enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos
debaixo das asas, e não quiseste?” (Lc 13:34).
Eu gostaria muito que Jesus chegasse diante de nós, como congregação nesta
cidade, e não tivesse de lamentar por não ter podido realizar em nosso meio tudo o que ele
gostaria de ter realizado. Que ele possa hoje olhar para nós e dizer: “Querido povo, queridos
filhos, que bom que vocês estão reconhecendo o que estou fazendo entre vocês. Que bom
que estão reconhecendo a visitação que estou trazendo sobre suas vidas.” Se nós
reconhecermos o que ele está fazendo ele fará mais; ele ficará à vontade para agir e para
multiplicar a sua operação entre nós. Quando a cabeça dá ordens aos membros e esses
reconhecem e obedecem, então o corpo todo trabalha e a cabeça consegue realizar tudo
o que planejou.
Essa é a Igreja do Senhor! Reconheçamos que o Senhor é o nosso Deus, o nosso
cabeça, o nosso Rei, o nosso governo. Que entre nós não haja resistência à autoridade do
nosso Senhor Jesus, ao lugar soberano que Deus colocou Jesus sobre Seu povo. É

289
verdade que haverá um dia em que todo joelho se dobrará e toda língua confessará essa
verdade (Fp 2.10,11), mas podemos proclamar que JÁ EXISTE um povo cujos joelhos se
dobram e cujas línguas confessam que Jesus Cristo é o Senhor. Este povo é a Igreja
espalhada sobre a Terra que reconhece Jesus como sua cabeça, como sua autoridade.
Eu quero proclamar que Jesus não encontrará resistência entre nós! Que possamos
exaltá-lo e honrá-lo para que ele fique à vontade em nosso meio. Que não sejamos como
o povo de Nazaré que, ao ver Jesus, não o reconheceu segundo o espírito, mas segundo
a carne:
E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam
e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o
filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José,
Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois,
tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem
honra, senão na sua terra e na sua casa. E não fez ali muitos milagres, por causa da
incredulidade deles. (Mt 13.54-58)
Como Jesus não foi reconhecido como filho de Deus entre eles, ele ficou limitado
em sua operação de milagres. Mas hoje eu quero proclamar que essa congregação não é
como Nazaré! Para nós ele não é somente um homem histórico, não é apenas o filho de
Maria e de José. Para nós ele é Jesus Cristo, o filho do Deus vivo, o Deus que “se fez carne
e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça
e de verdade.” (Jo 1:14). Reconhecemos que ele esteve entre nós, que ele morreu,
ressuscitou, está à destra do Pai, vive entre nós e voltará em glória e poder! Nós
reconhecemos e provamos isso quando obedecemos a tudo quanto ele nos manda fazer.
A nossa obediência ao cabeça é a honra mais clara e poderosa que prestamos a ele.
Portanto, não vamos lhe oferecer resistência.
Vamos fazer o oposto do povo de Nazaré, reconhecer Jesus como Deus o colocou
e não como pensamos que ele é. Deus deu a ele a primazia e devemos reconhecê-lo como
primeiro, como governante e ceder, responder ao que ele nos diz como Rei, seguir a sua
voz. Nesta congregação e em toda a Igreja do Senhor só existe um governante, uma
cabeça: Jesus Cristo!

3) Honrar ou atribuir valor, reconhecimento a alguém a quem Deus atribuiu honra.


Um exemplo bem simples: Se você olhar um porta-retratos em uma prateleira de loja
talvez ele não tenha valor algum. Mas se esse mesmo porta-retratos, com uma foto
especial, for dado à uma pessoa em uma ocasião muito especial, ela irá guardá-lo ou exibi-
lo e dar a ele um valor muito grande. Pode ser parecido com outros, pode ter custado barato,
mas o fato é que ela não conseguirá tirar da sua vista por causa do valor que ela atribuiu a
quem lhe deu o mesmo. Como esse ambiente celestial pode se transformar igualmente no
ambiente da Igreja de Deus aqui na Terra? Como foi que Deus trabalhou para isso
acontecer?
Você já percebeu que o próprio Senhor nos honra? Não que tenhamos valor em nós
mesmos, pois, quanto a nós, tudo o que temos vem Dele! Na cultura do mundo isso é um
contrassenso, mas na cultura do Reino nós nos alegramos em quem ELE É. Honrar a Ele
é o que nos abre o caminho para saber quem nós somos e, consequentemente, conhecer
e honrar os irmãos.

290
Alguns exemplos de que Deus nos honra:
Ele criou a Terra para que aqui habitássemos com Ele. Você já preparou um jantar
especial para alguém que deseja honrar? Você não procura fazer tudo do melhor para essa
pessoa? Pois Deus não nos preparou apenas um jantar, mas um planeta inteiro e o encheu
com uma criação que reflete a Sua glória para nele habitarmos. Deus nos atribuiu honra e
valor quando fez isso por nós!
Deus nos honrou quando enviou Jesus para nós. Ele nos amou de tal forma e
planejou isso para que tivéssemos um grande valor – sermos filhos Dele. Quando deixamos
de ser filhos, quando nos rebelamos contra Ele em nossa desonra intrínseca em Adão,
Deus continuou trabalhando até enviar Jesus: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna”. Ele estava dizendo com isso: “Eu amo tanto vocês que eu vou pagar um valor
infinitamente maior do que vocês valem.”
Já imaginou se nos tratarmos da mesma forma, vendo uns aos outros da forma como
Deus nos vê? Com certeza lhes diríamos: “Meu irmão, eu te amo tanto que vou atribuir
valor a você; vou reconhecer em você o que Deus lhe deu; vou te ver grande, assim como
Jesus te vê!” Eu tenho certeza de que se você analisar a si mesmo descobrirá que não é
nada. Mas, se lembrar que Jesus morreu por você, então terá mais amor e paciência
consigo mesmo e com os outros.
Deus nos honrou quando nos deu o propósito de sermos Seus filhos: “Vede que
grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de
fato, somos filhos de Deus.” (1 Jo 3.1). Depois de Jesus, Deus não tem mais uma queixa
sequer contra nós, mas, sim, um imenso apreço por nós. Agora Ele nos olha de outra forma;
nos vê de maneira profética; enxerga além daquilo que os nossos pecados provocaram em
nós; vê aquilo que a cruz de Cristo produziu em nós. E é assim que precisamos ver uns
aos outros: pelo que a cruz de Cristo produziu e é capaz de produzir.
Deus nos atribuiu valor quando Jesus disse:
Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim,
por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em
mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me
enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um,
como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na
unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também
amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo
os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me
amaste antes da fundação do mundo. (Jo 17.20-24)
Ou seja, Jesus está trabalhando para nos inserir nele mesmo. Deus está fazendo
um trabalho eterno para que nós, Seus filhos (antes somente Sua criação), possamos fazer
parte da própria Trindade. Não para sermos “deuses”, mas para estarmos Nele e com Ele.
É maravilhoso que o Senhor deseje estar conosco mesmo com as nossas histórias
complicadas e rebeliões. Isso é atribuir valor!
“E os amaste, como também amaste a mim”. Este é um dos textos que eu realmente
não entendo na Bíblia: como é que Deus pode amar a mim e a você igual Ele ama a Jesus?
Você crê realmente nisso? Então olhe para dentro de você mesmo, sozinho, antes de Cristo
e procure a razão dessa honra, desse amor! Achou? Com certeza não! A única razão para

291
Deus lhe amar igual Ele ama a Jesus é a presença de Jesus em você! “Cristo em vós,
esperança da glória” (Cl 1:27). Quando Deus não achou em nós motivo para nos honrar
Ele deu um jeito maravilhoso! Assim, vamos tornar isso realidade entre nós!
Quando você olhar para um irmão e não achar nele coisa alguma para honrá-lo,
encontre, dê um jeito, levante-o, promova-o para que ele encontre seu lugar em Deus,
porque esta é a característica do nosso Pai. Ele está trabalhando para isso e nós queremos
ser como Ele é. Vamos criar na Terra um ambiente semelhante ao Céu, um povo parecido
com a Trindade.
Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para
cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas,
e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de
Cristo; Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de
Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não
sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina,
pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes,
seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo
a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em
amor. (Ef 4.10-16)
Aqui temos as duas partes juntas: cabeça e corpo. Esta cabeça resolveu dar a cada
parte do seu corpo uma função e, para desempenhá-las, ele distribuiu dons, capacidades
para que estes dons sejam desempenhados de maneira excelente, de forma frutífera, a dar
resultados.
A razão pela qual Ele deu esses dons é para que os santos sejam equipados,
aperfeiçoados por meio do seu serviço. Então, os cinco ministérios são dados para que
todos os outros ministérios, todas as pessoas na igreja recebam o seu equipamento, seu
dom, seu ministério. Jesus é a cabeça, mas não é um controlador. Ele diz: “tudo tem de
partir de mim, começar comigo, mas eu tenho uma maneira de agir e essa maneira é
conceder dons aos homens”. Assim, se eu quiser experimentar da alegria de Cristo, posso
fazê-lo simplesmente sentando para tomar um café com algum irmão. Deus nos equipa
usando as partes do Seu corpo para nos edificar, ajudar, consolar. Cada um fazendo aquilo
para o que Deus lhe manda fazer – essa é uma igreja onde todos funcionam de maneira
orgânica, não formal, institucional, hierarquicamente – mas organicamente, uns servindo
aos outros, honrando a Deus enquanto honra o irmão. Todos funcionam, operam os seus
dons, trabalham de alguma forma.
Honra não é algo que você espera, mas algo que você oferece. Esperar por honra
adoece. Se você recebe honra de alguém, sabe que não é por sua própria causa ou
merecimento. Quem honra o irmão honra a Cristo e, quem honra a Cristo, deve honrar o
irmão. O céu é o lugar onde se diz quem Deus é; a igreja é o lugar onde dizemos ao outro
o que ele é – e isso honra a Deus.

Conhecer meus irmãos segundo o espírito, e não segundo a carne.


Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo,
todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para

292
si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim que, nós,
daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos
Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo. E, assim, se
alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se
fizeram novas. (2 Co 5.14-17)
Você se lembra como foi o encontro de Saulo com Jesus? Ele estava perseguindo
os cristãos para prendê-los e maltratá-los julgando estar fazendo uma obra para Deus.
Então, a caminho de Damasco, Jesus lhe aparece e diz: “Saulo, Saulo, por que me
persegues?” (At 9.4). Até aquele dia Saulo conhecia Jesus como um usurpador da verdade,
como aquele que tinha feito uma grande bagunça em seu tempo, em sua religião. Ele
conhecia a Jesus apenas segundo a carne e, então, aprovava a morte de Jesus e de quem
o seguia.
O que é conhecer segundo a carne? É você ouvir sobre alguém o que a sua carne
diz a respeito dele; é ouvir de alguém a carne dele dizendo a você quem ele é. São duas
carnes falando: a minha e a do outro – e isso, com certeza, dará briga! Saulo, antes de se
converter a Jesus, só brigava, perseguia, fazia intrigas e matava, porque só o conhecia pela
carne. Mas, depois que ele recebeu a revelação de quem era Jesus, depois que ele passou
pela experiência de encontrar o próprio Cristo e também a igreja que ministrou à sua vida,
depois que ele conheceu a Jesus segundo o espírito, tornou-se o apóstolo Paulo que
abençoa a Igreja até hoje.
Quando conhecemos a Cristo fomos libertos de nós mesmos, das nossas mazelas,
fraquezas, teimosias, vontades más. O ponto mais importante da conversão é que agora
não preciso seguir a mim mesmo, me sujeitar às minhas próprias vontades, pensamentos
e paixões. Da mesma forma, as coisas velhas que enxergávamos em nossos irmãos
acabou, porque Jesus também morreu por ele. Assim, tudo o que ele e eu éramos antes
da cruz de Cristo acabou. Agora somos uma nova criação – “Cristo em vós, a esperança
da glória”. O que importa agora é o que Cristo fez em nós, por nós e através de nós.
Quando Saulo conhecia a Jesus segundo a carne ele aprisionava e matava os
cristãos. Quando o conheceu segundo o espírito ele passou a libertar, dar vida às pessoas.
Da mesma forma nós, quando conhecermos os irmãos segundo a carne iremos maltratá-
los, aprisioná-los e matá-los.
É muito fácil, quando nos reunimos em uma grande congregação, conhecer meus
irmãos segundo a carne. Se eu ouvir o que a minha carne diz acerca de um irmão, se eu
ouvir o que a carne dele me diz quando ele está meio frágil, nós nos conheceremos apenas
segundo a carne. No entanto, o texto diz que “se alguém está em Cristo, é nova criatura;
as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” Desta forma, todos nós
precisamos conhecer uns aos outros a partir do que Jesus fez em nossas vidas, a partir do
dia do nosso encontro com ele.
Vamos reconhecer quem os nossos irmãos são agora em Cristo, vamos conhecê-
los segundo o que o Espírito Santo nos diz a respeito deles, pois o Espírito nos mostra o
que Jesus fez na vida deles. Isso gera honra, pois iremos perceber os dons, os ministérios,
o quanto que existe de Deus neles que ainda não existe em mim.
Honrar é reconhecer o que Deus atribuiu a cada um dos irmãos. Se olharmos apenas
para os pecados dos outros, as histórias ruins que talvez até já vivemos com eles vamos
bloquear a ação do Espírito, pois, quando olhamos para eles lembrando as coisas que a

293
carne deles produziu, estamos menosprezando o que Jesus fez em suas vidas. Eu dou
graças a Deus porque tenho uma lista grande de irmãos que olharam para mim e não me
viram segundo a carne, pois nesse caso eu não seria pastor hoje, porque eu não prestava.
Mas eu louvo ao Senhor por esses homens que me viram segundo o espírito e
reconheceram o que Deus estava atribuindo a mim.
Ora, se todos nós nos relacionarmos com sinceridade de coração, conhecendo-os
segundo o que o Espírito Santo nos diz, vamos amá-los, reconhecê-los e abençoá-los; ser
gentis, cordiais, alegres; abrir prisões em seus corações. Quando o outro chegar e dizer:
“estou tão aflito com isto!”, e você o conhecer segundo o espírito e soltar as prisões dele,
se tornará um agente de libertação enviado por Deus a ele. Assim, não sobrará ninguém
entre nós que não será livre. E pode chegar qualquer tipo de gente: um bandido, um
maltrapilho, um travesti, um homossexual, uma prostituta e, aos olhos do Espírito, eles não
serão isso, mas, sim, pessoas carentes de Deus, pessoas por quem Jesus morreu na cruz
e que precisam da nossa ajuda.
E se olharmos, por exemplo, o nosso chefe ou os nossos funcionários segundo o
Espírito? Deus pode lhe dar uma palavra profética que levará salvação a eles! Mas, se pelo
contrário, olhar apenas seus erros e defeitos, você ficará bloqueado. E se tratarmos o nosso
cônjuge, mesmo aquele não convertido, que comete muitas coisas erradas segundo o
espírito e não segundo seus defeitos e problemas? Com certeza traremos a glória da
presença de Deus para nossos ambientes, “...pois a Terra ficará cheia do conhecimento da
glória do Senhor, assim como as águas enchem o mar.” (Is 11.19).
Deixemos a cultura de honra mudar as nossas perspectivas em relação aos nossos
irmãos. Peçamos ao Senhor olhos espirituais para enxergar os irmãos segundo o espírito
e reconhecer Cristo neles; reconhecer que Jesus (e não a carne) é a nossa cabeça, a nossa
autoridade; ouvir e obedecer apenas ao que ele nos diz acerca dos outros! Amém!

294
A HONRA DO RECONHECIMENTO
Jamê Nobre

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na
noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o
meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante
modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova
aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de
mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais
a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o
cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-
se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem
come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que
há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.” (1 Co 11.23-30).

O apóstolo Paulo, no texto acima, fala sobre a prática da ceia. A ceia não é um mero
cerimonial, não é algo que apenas celebramos uma vez por mês, mas é um estilo de
vida, uma forma de viver. É quando repartimos não apenas o pão natural, mas, sim, a nossa
própria vida em favor dos irmãos.
Por esta razão, o texto diz que devemos nos examinar a nós mesmos (vs.28,29).
Porém, via de regra, quando pensamos neste autoexame, pensamos em pecados que
possamos ter cometido. No entanto, o texto todo (no caso, desde o capítulo 1 desta carta),
ensina que devemos nos examinar para ver como está a nossa vida em relação à Igreja de
Jesus Cristo e, fazendo-o, então devemos comer. Não é para examinar e deixar de comer,
mas examinar e comer, ou seja, nos entregar, nos envolver cada vez mais na vida da Igreja.
No capítulo 12, Paulo começa a falar sobre os dons espirituais. Aparentemente ele
está mudando de assunto, mas não! No capítulo 11 ele fala da ceia; no capítulo 12 ele fala
da manifestação do Espírito Santo por meio dos dons espirituais – que não é a
manifestação só do Espírito, mas da própria Trindade. A ceia celebrada no contexto e no
espírito correto, com o coração correto provoca uma mudança nas nossas vidas pela
presença e operação da Trindade Santa:
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos
serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo
Deus é quem opera tudo em todos. (1 Co 12.4-6)
Vemos, então, a Trindade operando em um contexto de dons espirituais. Se
pudéssemos estabelecer uma equação seria: Dons + Serviço = Realizações de Deus.
Quando temos e usamos os dons espirituais para servir os irmãos, isso abre uma porta
para Deus trazer as Suas realizações em nosso meio.
Às vezes perguntamos: “Por que não existem tantos dons em evidência em nosso
meio, por que não vemos tantos milagres em nosso meio?” A resposta é porque muitas
vezes falta, a partir de nós mesmos, os dons espirituais se manifestando em favor das
pessoas! Na verdade, tudo o que Deus nos dá – inclusive os dons – não são para nós, mas

295
para os outros.
Há um dom que aparentemente é para “consumo próprio”: uma das manifestações
do dom de variedade de línguas. Paulo disse que “o que fala em outra língua a si mesmo
se edifica” (1 Co 14.4a) e “quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus,
visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.” (1 Co 14.2). Aparentemente,
este dom começa e termina na própria pessoa, mas, quando eu sou edificado, estou pronto
para edificar a outros. Desta forma, nenhum dom, nenhuma graça, nenhum serviço que
Deus colocou em nossas mãos é para o nosso consumo pessoal, mas para a edificação da
Igreja.
Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser
do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso
deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse
ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no
corpo, como lhe aprouve. (1 Co 12.15-18)
Vemos neste texto uma conversa aparentemente ridícula, pois um membro está
dizendo ao outro que não precisa dele, ou seja, uma pessoa que recebeu uma graça de
Deus mas quer operar em outra graça; recebeu um ministério do Senhor mas quer atuar
em outro ministério. Então, se você foi chamado para “ser um pé”, seja o “melhor pé” que
já pisou na face da Terra até hoje! Viva, ande, opere no que Deus lhe deu; ouça de Deus o
que Ele tem para você e viva na plenitude disso.
Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos
pés: Não preciso de vós. (1 Co 12.21)
Ora, todos precisam e servem uns dos outros. Quando alguém diz: “eu não tenho
necessidade de você”, é porque entrou altivez, soberba, orgulho. Ninguém é tão grande
que não precise da parte menor da Igreja, e ninguém é tão pequeno que não possa
contribuir para a vida da Igreja. Você é do tamanho que Deus planejou para você ser! Eu
preciso de você e você precisa de mim! Cada um de nós tem uma graça específica que
Deus nos deu. Somos totalmente diferentes, porque é a diferença que nos ajuda a servir o
outro.
Temos falado e trabalhado muito em cima da cultura da honra, do reconhecimento
do que a pessoa é. Esta cultura não diz respeito a atitudes ocas ou vazias, mas, sim, a
olharmos para os irmãos com os olhos do Senhor. Não os olharmos com os nossos olhos,
porque nós, seres humanos, vemos segundo a aparência. Porém, nós não somos mais
assim, porque aqueles que estão em Cristo não enxergam mais segundo a carne, mas
segundo o Espírito. Então, à medida em que convivemos com os irmãos, Deus nos mostra
as graças que Ele concedeu a cada um.
O ministério evangelístico, por exemplo, é um dos menos compreendidos na vida da
Igreja. Via de regra, quando um evangelista se levanta em nosso meio nós o enviamos para
outros países, e a congregação fica carecendo de uma pessoa que a ajude a sair para as
ruas.
A Bíblia fala de dois evangelistas. O primeiro é Filipe, que Deus levanta como
diácono. A primeira característica de um evangelista é a capacidade de servir. Ainda que,
aparentemente, ele não estivesse exatamente no ministério evangelístico ele foi separado
para servir, pois nele foram encontradas as características estabelecidas pelos apóstolos
em Atos 6.3: “boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos

296
deste serviço, ou seja, para cuidar do povo!
Depois de um tempo, Filipe estava em Samaria, cheio do Espírito Santo e sendo
usado por Ele para fazer o ‘fogo’ descer sobre aquele povo (Atos 8). Temos, então, um
evangelista abrindo igrejas, abrindo um espaço para Deus operar e levantar pessoas novas.
Anos depois, Filipe estava em Cesareia, já estabelecido e com quatro filhas que
profetizavam (Atos 21.8,9). O evangelista também produz profecia e produz uma família
profética. No mesmo texto, vemos que Filipe também era um hospedeiro da igreja, pois
quando Paulo chegou em Cesareia ficou na casa dele. Quando Deus usou Ágabo para falar
com Paulo, o levou até a casa de Filipe (Atos 21.10,11).
Outro homem chamado de evangelista foi Timóteo. Paulo lhe disse: “sofre as
aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Tm 4.5). Timóteo estava
em uma delegação apostólica na cidade de Éfeso, implantando e fundamentando uma
igreja, estabelecendo presbíteros. O evangelista não é aquele homem que sai sozinho pelo
mundo, mas ele faz parte de equipes apostólicas para ajudar as igrejas locais. Ele,
juntamente com demais ministérios citados em Efésios 4.11, trabalha no aperfeiçoamento
dos santos para o desempenho de seus serviços exatamente como o pastor, o profeta, o
mestre e o apóstolo fazem. Só que ele o faz na graça dele!
Meu pai na fé dizia que num determinado lugar, quando se coloca um fio de 480V
nas cadeiras, o evangelista é aquele que liga a eletricidade – ele não deixa ninguém ficar
imóvel. Ele leva a paixão que tem pelos perdidos ao coração das outras pessoas, como
também ajuda a colocar os outros em seus lugares de serviço e ministério.
Cada um de nós tem um chamado pessoal e intransferível. O corpo de Cristo não é
como as pessoas que têm um quinto dedinho na mão, sem função. O corpo de Cristo é
perfeito e Deus nos colocou nele como Lhe aprouve para desempenharmos um serviço
proveitoso aos outros irmãos.
Há, porém, uma pergunta que a maioria faz: “Como posso descobrir o meu
ministério?” Eu vou lhe dar dois caminhos: a) Suba em um monte e faça um jejum de 45
dias. Após isso, deve aparecer no céu uma faixa escrita: “Meu servo, você é isso!” b) Faça
tudo o que lhe vier às mãos para fazer, e faça bem feito. Whatchman Nee diz uma coisa
muito interessante: Deus não guia uma pessoa sentada; Ele guia quem está caminhando.
Ou seja, à medida que caminhamos, Deus vai girando o nosso ombro na direção que Ele
quer. Então, sirva ao Senhor em todas as situações que lhe aparecer e o seu serviço ou
ministério lhe será conhecido.
Ouvi recentemente uma frase muito interessante de um irmão: “Se você não sabe
para onde ir, vá para onde Jesus nunca foi.” Se você não sabe exatamente o que deve
fazer, faça tudo o que puder fazer. E, na medida em que estiver fazendo, se estiver em
baixo de pastoreio, de discipulado, as pessoas que estarão cuidando de você irão lhe ajudar
a discernir o que você deve fazer. Há uma constância nas Escrituras, algo que aconteceu
muitas vezes: Deus sempre revela a quem está cuidando qual o ministério da pessoa que
está sendo cuidada. Em seguida, revela à que está sendo cuidada e, finalmente, revela ao
povo a quem essa pessoa está sendo enviada.
Deus falou primeiro com Moisés a respeito de Josué: “O Senhor teu Deus te suscitará
do meio de ti, dentre teus irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvirás” (Dt 18.15).
Esta mesma palavra, Deus fala a mim e a você hoje. Preencha, no lugar de “profeta”, o
ministério que você exerce hoje. É claro que esta palavra tem dois alcances: um, imediato,

297
que era Josué; outro, escatológico, que era o Senhor Jesus Cristo, aquele que levaria seu
povo para sua terra. Então, Moisés sabia qual era o ministério de Josué antes mesmo deste
saber e ele foi trabalhando com Josué até que o povo o reconhecesse.
Lemos também sobre Eli. Ele recebeu a incumbência de cuidar de Samuel e, antes
mesmo que este soubesse o que ele seria na obra de Deus, Eli já sabia. As Escrituras
dizem que antes que a lâmpada de Deus se apagasse, Ele levantou a Samuel (1 Sm 3.1-
4). Eli cuidou de Samuel porque sabia antes.
Mais tarde, quando Deus quis levantar Davi, Ele falou antes com Samuel. E, antes
de Salomão nascer, Ele falou com Davi sobre quem seria seu filho. Da mesma forma, Deus
falou com Elias quem seria Elizeu.
Existem muitos casos na Bíblia falando sobre essa constância do Senhor: Ele revela
primeiro para quem cuida, depois para quem é cuidado e, finalmente, revela ao povo. Isso
não é uma questão de privilégios, mas é uma questão prática, pois, quando eu cuido de
alguém, preciso saber para onde Deus quer enviar essa pessoa, no que Ele deseja usá-la,
qual é o seu ministério.
Há uma oração muito preciosa nas Escrituras, que é a de Manoá. Quando Deus lhe
disse que sua mulher, que era estéril, teria um filho, Manoá orou: “Quando se cumprirem
as tuas palavras, qual será o modo de viver do menino e o seu serviço?” (Jz 13.12). Sansão
ainda não havia nascido, mas ele queria saber para que o Senhor lhe estava dando aquele
filho, qual o serviço dele e qual seu estilo de vida. Se você cuida de pessoas, precisa orar
a Deus para que Ele lhe revele qual o ministério dessas pessoas que você está cuidando.
Assim, você irá trabalhar de forma efetiva e eficaz com elas. Os pais também precisam
rogar a Deus para Ele lhes mostrar qual é o chamado dos nossos filhos, para que possamos
prepará-los para aquilo que Deus lhes reservou.
Então, se você quiser descobrir seu ministério, faça tudo o que vier às suas mãos
para fazer. Não fique esperando Deus falar antes, mas faça, e você irá perceber que em
determinadas áreas se dará melhor, que em determinadas áreas fluirá melhor. Assim é a
nossa vida normal de igreja: um servindo ao outro para a glória do Senhor. Em suma, não
fique parado! A Igreja de Deus não é um lugar de descanso, mas um lugar de trabalho, de
servir as pessoas. Você precisa servir e, quando cansar de fazê-lo, sirva para descansar,
mas nunca deixe de servir!
A Palavra de Deus diz que precisamos olhar para o nosso Senhor Jesus e termos o
mesmo sentimento que ele teve e, quando analisamos este sentimento (ou atitude), vemos
que era sempre de servir:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele,
subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes,
a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-
se obediente até à morte e morte de cruz. (Fp 2.5-8)
Quando ordenamos um irmão ao presbitério ou diaconato, não o fazemos para ele
começar a servir, mas reconhecemos publicamente o que ele já está fazendo e o
autorizamos a continuar assim. Muitos querem receber um título para começar a
“funcionar”, mas o correto é “funcionar” primeiro, e depois, talvez, receba um “título”. Nós
estamos orando por uma igreja que funcione em plenitude, mas ela só será plena quando
cada um dos membros desse corpo for pleno em seu serviço. Se apenas um membro não

298
for pleno em seu trabalho a igreja também não o será.
Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta,
segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a
edificação de si mesmo em amor. (Ef 4.16,17.
O contexto deste texto são os versos anteriores, que falam de mansidão, humildade,
longanimidade e o suporte de uns aos outros. Em seguida, ele fala dos sete pontos da
unidade e dos ministérios que Deus concedeu à Igreja para preparar as pessoas para o
seu serviço, com o objetivo de leva-los à estatura de varões perfeitos e, então, chega-se
ao que diz o verso 16.
Perceba que o “todo” depende do “cada”, ou seja, se você não cumprir a sua parte
o “todo” será prejudicado. Então, assuma essa responsabilidade de cumprir a sua parte.
Esqueça a história de que você “não tem ministério”, pois você tem! Você foi chamado para
servir a Deus, servir a Igreja e só precisa descobrir o seu ministério, o seu lugar de trabalho
no corpo.
...o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar,
para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras. (Tt 2.14)
Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. (Mt 5.16)
Que nós sejamos um povo zeloso e de boas obras. Que as pessoas do mundo olhem
para as nossas boas obras, que Jesus chama de “luz”, e glorifiquem o nosso Pai que está
no Céu. O nosso serviço é uma luz que leva as pessoas a glorificarem a Deus!

299
A BÍBLIA – O LIVRO SOBRENATURAL DE DEUS
Paulo Manzini

Q uero falar sobre o grande drama de Deus descrito na Bíblia. Recentemente, ouvimos
uma ministração muito profunda do irmão Christopher Walker sobre esse tema,
passando um olhar pela Bíblia toda, de tal forma que sentimos muito mais o coração de
Deus. Quando começamos a ler a Palavra nossas vidas são transformadas, porque
sentimos o coração do Pai chegando até nós.
A Bíblia é um livro milagroso, escrito na eternidade para contar a história de um Pai
amoroso em uma busca desesperada para levar Seus filhos de volta para o lugar de onde
nunca deveriam ter saído, isto é, para perto de Si mesmo. Muitos e incríveis milagres foram
realizados por nosso Pai para que hoje, por meio desse livro, possamos ter a certeza de
que Ele nos ama e vai nos levar de volta para casa.
A Bíblia parece ser um livro difícil, justamente porque ela precisa ser difícil; ela não
foi feita para preguiçosos, para pessoas que querem ficar na “periferia”. Fico assustado
com as estatísticas de que mais de 50% dos cristãos hoje não leem a Bíblia, porque esta
é uma das piores armadilhas que o Diabo tem armado contra os cristãos; é fazê-los achar
que estão indo à igreja para cumprir uma espécie de obrigação para com Deus. Isso é uma
anestesia e um engano. Deus quer nos libertar desta escravidão, pois Ele não gosta desta
mornidão espiritual. Ele diz em Apocalipse 3.16: “porque és morno e nem és quente nem
frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”. Ou seja, Deus quer uma Igreja “quente”.
Então, se você está em uma situação de “periferia espiritual”, corra para o Senhor,
arrependa-se e comece novamente.
Muitos irmãos ficam desanimados porque lhes foi dito que eles estão com uma vida
toda errada e que “não adianta mais”. Isso não é verdade! Cada dia é uma nova
oportunidade que Deus nos dá para começar de novo, para retomar a nossa vida com Ele,
para fazê-la renascer brilhante, cheia de graça e de glória. E a Bíblia nos ajuda a fazer isso.
O primeiro movimento dessa intrincada trama lemos nas palavras de Deus para Satanás:
E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta
te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. (Gn 3.15)
Nesta longa luta contra o inimigo, Deus proferiu contra ele uma sentença que deu
início à grande batalha que se desenrolaria na história humana. “Tu lhe ferirás o calcanhar”
– Ele estava se referindo à aparente vitória do Diabo sobre Jesus Cristo, que morreu na
cruz. “Esta te ferirá a cabeça” – A igreja, porém, venceria esta batalha com a ressurreição
de Jesus.
Há uma pergunta que paira em nossas mentes: Como é que Deus cria o Seu ser
mais querido – o homem – e o coloca em um lugar exposto ao inimigo que foi lançado
justamente naquele lugar? Na verdade, Ele tinha um “plano secreto”, tinha em Sua mente
e coração o objetivo de destruir o mal pelo amor! Ele colocou a Sua criatura perfeita ao lado
de Seu maior inimigo, justamente para demonstrar que o amor é mais forte do que todo
plano ruim, toda maldade do mundo. O amor sempre vence o mal!

300
Um povo e uma promessa
Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu
pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-
ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te
abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas
as famílias da terra. (Gn 12:1-3)
Deus precisava de um povo para cumprir a promessa que Ele havia proferido contra
Satanás. Abraão é o pai da fé e nós somos filhos dele, incluídos e abençoados nesta
promessa. Este povo, Israel, foi escravizado no Egito e lá Deus chamou Moisés para libertá-
los. Este homem foi escolhido por Deus para traduzir em um livro o pensamento do Senhor.

Um Livro que nos conduz aos nossos destinos em segurança


Os cinco primeiros livros (Pentateuco) foram escritos por Moisés e ditados por Deus.
Pense que maravilha: nós estamos com esse “ditado” nas mãos! A Bíblia é o próprio
pensamento e coração do Senhor dados ao homem. Quando abrimos toda a Bíblia, mas
principalmente esses cinco primeiros, devemos nos lembrar de que eles nasceram no
coração do nosso Pai Eterno, Infinito, Glorioso, Amoroso, e Ele os deu a nós através de
um homem que Ele levantou para fazer isso.
Então, não ler a Bíblia é negar quem nós somos, é negar a nossa essência, porque
“Deus é o Deus do Livro!” Ele é o Deus do povo, da promessa e do livro! É por isso que,
ao lê-la, somos tocados por algo que não sabemos o que é, mas que é o próprio Espírito
de Deus ali presente.
Eu sempre fui de ler muito, inclusive a Bíblia. Cada vez que a lia, ela se tornava mais
nova para mim, penetrava em meu íntimo e me fazia ver coisas que eu nunca havia visto
antes. Quando eu fui batizado no Espírito Santo, ganhei da minha irmã um livro chamado
“A Vida Cristã Normal”, de Whatchman Nee, e descobri nesta leitura que a Bíblia não era
um amontado de informações sobre felicidade, meditações e pensamentos positivos.
Infelizmente, hoje, a Bíblia está sendo usada para reforçar promessas de prosperidade, da
fartura e abundância de Deus, daquilo que é material, terreno, carnal. Além de ser pouco
lida, também não está sendo lida e ensinada para entender o coração de Deus, mas para
satisfazer a vontade do homem de prosperar, ter paz, alegria, sucesso etc. Quando eu li
este livro, entendi alguns aspectos de como Jesus Cristo tem importância na História, no
Cosmos, na vida da Humanidade; como o sangue dele resolveu problemas insolúveis.
Assim, a Bíblia começou a ficar muito mais viva para mim, as coisas começaram a fazer
sentido, os “pontos” começaram a se ligar. Quando começamos a unir esses “pontinhos”,
quando entendemos a Bíblia até falar dela com fé, os próximos “pontinhos” irão aparecer.
É claro que ninguém aprende tudo de uma vez, mas cada dia que a ouvimos, aprendemos
um pouco mais e nos maravilhamos. Não podemos passar por cima de nada, mas aprender
o que Deus está querendo nos falar em cada ponto.
A Bíblia fala de si mesma de uma forma muito clara. Ela se autoafirma e se
autoconfirma, ela nos conduz aos nossos destinos em segurança:
Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de
noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus
caminhos prosperarão e você será bem-sucedido. (Js 1.8)

301
Deus estava falando com Josué sobre o livro da Lei, o Pentateuco, os livros que
deram a base para todo o restante das Escrituras.
Porquanto tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma
que, por meio da perseverança e do bom ânimo provenientes das Escrituras,
mantenhamos firme a nossa esperança. (Rm 15.4)
Eu penso que Paulo foi o “segundo Moisés”, que a mesma dispensação que Moisés
teve para escrever o Pentateuco, Paulo teve para escrever as bases da Nova Aliança. A
Bíblia renova o nosso ânimo, revigora a nossa fé. O amor, a perseverança, a graça, tudo
vem da Bíblia. Creio que o Senhor precisa gravar isso em nossa mente e coração de tal
forma que não nos esqueçamos um só minuto!
A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá
sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o
mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos. (...) Mais desejáveis são do que
o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos.
Também por eles é admoestado o teu servo; e em os guardar há grande
recompensa. (Sl 19.7-11)
Este texto fala da Bíblia, o livro que traz em si o próprio Deus. O Espírito Dele está
disponível a nós na Sua Palavra, neste livro. Assim, quanto mais a lemos, mais sábios,
ricos, perseverantes, cheios de fé, amor e esperança seremos.
Você se julga muito “simples”? Leia a Bíblia! Meu pai, Ângelo Manzini, com 22 anos
era analfabeto, e ele fez uma oração quando se converteu: queria aprender a ler e que
seus filhos seguissem no ministério. Então ele aprendeu a ler lendo a Bíblia. Sabia muito
das Escrituras, sobre Paulo, sobre os acontecimentos futuros. Mal escrevia, mas sabia as
coisas que Deus iria fazer e pregava isso para nós, ainda crianças. Ele tinha uma sabedoria
imensa e, por onde passou, deixou uma marca indelével, justamente por conhecer a
Palavra de Deus.
Quando se fecha o livro de Malaquias, o último profeta do Antigo Testamento, há um
período de silêncio e se completa o cânon1 do V.T. O que a igreja chama de V.T. e Jesus
chama de “a Lei e os Profetas” é aceito no mundo inteiro como uma base de verdade.
Grande parte dos países do mundo que prosperaram em suas economias, culturas e
organizações tiveram sua constituição baseada neste livro (Tanakh ou Tanach em
hebraico, o V.T.). Então, se a humanidade ainda existe, se alguns países ainda mantém a
bandeira da justiça levantada, é porque basearam suas constituições na Lei de Deus.
O Brasil precisa ser curado pela Palavra. Nosso país está jogando fora a Palavra de
Deus e, por isso, devemos orar para que os nossos governantes tenham interesse na
Bíblia, para que lhes sejam abertos os olhos e sejam tomados de um senso de justiça que
vem do Céu. Não me refiro ao fato deles serem “crentes” ou não, mas que tenham ideias
de justiça social baseadas na Bíblia.
O V.T. é a Palavra de Deus proclamando Sua busca e aceitação do homem. Imagine
um pai procurando um filho; pense no pai do filho pródigo (Lucas 15) esperando ele à porta
de sua casa. Isso é o V.T.: um Pai querendo e esperando Seus filhos de volta. Ele falou,
ficou irado, abençoou, açoitou, mandou para o cativeiro, tirou do cativeiro, restaurou a sorte,
colocou reis, tirou reis, falou pelos profetas, chorou por meio de Jeremias – tudo isso porque
estava em busca do Seu povo, o povo a quem Ele havia formado e chamado e que O
rejeitou. Mandou, até, Oséias se casar com uma prostituta para mostrar que ama até quem

302
O trai. Ele queria mostrar que, apesar de estar irado, amava aquele povo e os queria de
volta. Uma frase lapidar de Bonhoeffer: "Os judeus divinizaram a Lei e legalizaram Deus, e
esse foi a essência do seu pecado, isto é, preferiram a Lei em detrimento do relacionamento
com Deus que os buscava desesperadamente.”

Um homem – a Palavra encarnada


Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a
adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito
de seu Filho, que clama: Aba, Pai. (Gl 4.46)
Em Jesus, que chegou na plenitude dos tempos, se cumpriu a promessa de que “em
ti, serão benditas todas as famílias da Terra”. Deus preservou o Seu povo (Israel), os fez
prosperar apesar de todas as suas maldades e guardou um remanescente da linhagem de
Davi, trazendo Jesus Cristo à Terra. Agora, não era mais Deus chamando Seus filhos de
volta, mas o Pai indo ao encontro deles, aceitando suas limitações, sua incapacidade de
obedecer e entender o amor.
O próprio Deus (a Palavra) encarnou. O próprio Deus Se fez dependente de uma
menina (Maria) para gerar Seu Filho, amamentá-lo e cuidar dele. Se fez dependente de um
homem (José), que viveu fugindo para que Jesus não fosse morto. Imagine o Deus do Céu
e da Terra fugindo e sendo protegido por um jovem casal humano. Sendo UM na glória
com o Pai, o Filho deixou tudo, se afastou de Deus e, quando aqui esteve, precisou se
ajoelhar e orar, buscar o Pai para saber o que Ele estava fazendo e falando. Assim, temos
em Jesus a Palavra de Deus que se tornou carne, o Verbo de Deus:
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do
unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. (Jo 1.14)
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das
nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados. (Is 53.5)
Fomos sarados da distância que havia entre nós e o Pai, sarados da nossa
incapacidade de obedecer, sarados da nossa incapacidade de comunicar-nos com Ele,
porque agora o Espírito Santo habita em nós e podemos falar com Deus a qualquer hora e
lugar. Quando abrimos a Bíblia, o Espírito está dentro de nós e fala conosco o que Deus
está pensando e querendo. Não tem como não lermos a Bíblia, não tem como não nos
emocionarmos com ela, pois quando a lemos, sentimos o que Deus sente e pensamos o
que Deus pensa.
Para demonstrar Sua aceitação e busca apaixonada pelo homem, o próprio Deus
(pelo Filho, a própria Palavra) “se transformou em carne e habitou entre nós”. Doeu muito
para Jesus encarnar; ele sofreu muito. Nós também sofremos muito com a nossa
separação de Deus, porque fomos criados para a eternidade, criados para a glória. Mas,
enquanto estamos do “lado de cá” não enxergamos nada. Sabe aqueles dias em que
amanhecemos mal, em que a vida parece não ter sentido, parece ser demais para nós? É
porque ainda estamos longe do Pai; há uma cortina entre nós e Ele. Mas essa cortina está
sendo tirada e nós iremos voltar para Ele, iremos voltar para a casa do nosso Pai.

303
Jesus, quando veio, inaugurou uma nova época, criou um novo tratado:
Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo
testamento no meu sangue, que é derramado por vós. (Lc 22.20)
Agora não precisamos mais cumprir a Lei, nos esforçarmos, sacrificar bezerros ou
ovelhas, ir para o Templo, enviar bodes ao deserto etc. Agora Jesus já pagou o preço, já
assumiu nossos pecados, já foi para a cruz e levou tudo de ruim que estava em nós. Na
cruz, ele cravou e cancelou o escrito de dívidas que era contra nós (Cl 2.14) e colocou Sua
Lei dentro dos nossos corações (Jr 31.33).
Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus.” (Mt
22.29). Tenho visto nos últimos anos um renascimento da Teologia. Muitos teólogos estão
digladiando-se entre si, vaidosos em relação à “estética” do pensamento, compreensão e
exegese2 bíblica. No entanto, eles ainda não entenderam que não basta conhecer as
Escrituras, mas também devem compreender o poder de Deus. As Escrituras, conhecemos
lendo a Bíblia; o poder de Deus, conhecemos orando. Quando este poder nos enche, só
queremos chorar, amar, perdoar, ajudar, não apontar o erro de ninguém, não julgar
ninguém. Nos sentimos mais e mais pecadores, até clamar como Paulo: “eu sou o maior
dos pecadores” (1 Tm 1.15). Podemos nos arrepender, confessar nossos pecados,
recomeçar todos os dias as nossas vidas, porque “Suas misericórdias se renovam a cada
manhã” sobre nós (Lm 3.22,23). É um novo tratado!
Antes era preciso guardar a Lei, mas agora o Senhor a guardou em nossos corações.
Porém, se não lermos a Bíblia, se não nos aprofundarmos no seu estudo, não teremos a
Lei escrita nos nossos corações, porque ela chega ao coração por meio da mente. Assim,
a História que Deus fez chegar a nós por esse milagre chamado Bíblia precisa incendiar
nossa mente, coração e alma.
Jesus, o Filho de Deus, citou as Escrituras, a Lei e os Profetas durante seu ministério
na Terra, confirmando a validade delas para nossa segurança. Ele se encarnou, tomou a
forma de homem, se entregou por nós e declarou a Palavra o tempo todo. Ele disse
repetidas vezes ao Diabo, na tentação no deserto (Mt 4): “Está escrito!” Quando pudermos
falar a Satanás “está escrito” ele estará perdido conosco, pois estaremos libertos. Iremos
atravessar desertos sem nos incomodarmos, pois “está escrito”.
Certa época, eu estava passando por uma das maiores dificuldades da minha vida.
Estava com uma imensa dificuldade financeira, meus filhos preparando-se para entrar na
Faculdade, sem dinheiro para nada, passando por uma situação muito grave. Cheguei para
me apresentar em uma Universidade para dar aulas, sem carro, sentado na praça
esperando, e o Diabo falou aos meus ouvidos: “Você é um derrotado, um louco! Como é
que você deixa seus filhos nessa situação, como dá um passo arriscado desses? Você não
tem mesmo juízo!” Comecei a entrar numa depressão profunda e pensar: “Eu não presto
para nada!” De repente, ouvi uma voz dizendo: “Mas essa não é a voz do seu Pai!”
Realmente, pois se Ele tivesse de falar algo comigo, Sua linguagem seria outra. Então eu
disse: “Pai, fala qual é a Tua palavra para mim, pois estou literalmente morrendo! Meu
coração está destruído, minha alma está secando!” E Ele me disse apenas uma frase:
“Nunca te deixarei, jamais te abandonarei!” (Hb 13.5). Voltei de lá chorando de alegria,
falando em línguas, louvando e agradecendo a Ele. Era a própria Palavra de Deus falando.
Essa Palavra é uma espada que destrói as armas de Satanás, que vence as derrotas e
fraquezas em nossas vidas!

304
De volta para a Casa do Pai
Paulo disse que há três coisas que permanecem em nós: a fé, a esperança e o amor
(1 Co 13.13). Ele diz, em Romanos 10.17, que “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra
de Deus”, ou seja, ouvimos a Deus através da Palavra e isso produz a fé. Quando a lemos,
nossos ouvidos espirituais são lavados, abertos e a fé entra na mente e desce ao coração.
Hoje, o Diabo está entupindo nossos ouvidos com a “cera” das redes sociais, dos meios de
comunicação, dos desejos de ganhar mais, de ter mais, de problemas familiares etc. Assim,
começamos a acreditar apenas no que estamos vendo e a fé vai se enfraquecendo. Nos
esquecemos das coisas espirituais. Mas, à medida em que passamos a ler a Bíblia, essa
“cera” espiritual vai saindo e ouvimos a verdade de Deus que muda nossas vidas.
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de
glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas
nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem
são eternas. (2 Co 4.17,18)
Precisamos também alimentar a nossa esperança:
Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de
meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito “vou preparar-
vos lugar”. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para
mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. (Jo 14.1-3)
Esse é o nosso destino: de volta para a Casa do Pai, porque Ele já nos preparou
morada. Nós não somos deste mundo, mas somos “estrangeiros e peregrinos na Terra”
(Hb 11.13). Não sei o que vai acontecer em breve conosco. Muitos estão brigando sobre
Jesus voltar antes ou depois da tribulação, mas o que precisamos saber e ter confiança é
que em breve esta palavra vai se cumprir e estaremos de volta à casa do nosso Pai. E o
que vai acontecer quando lá chegarmos?
Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia
contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, de pé, diante do trono e do
Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas. Então um dos anciãos me
perguntou: "Quem são estes que estão vestidos de branco, e de onde vieram?
"Respondi: "Senhor, tu o sabes". E ele disse: "Estes são os que vieram da grande
tribulação e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por
isso, eles estão diante do trono de Deus e o servem dia e noite em seu santuário; e
aquele que está assentado no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo (casa).
Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede. Não cairá sobre eles sol, e nenhum
calor abrasador, pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; ele
os guiará às fontes de água viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima".
(Ap 7.9, 13-17)
Esse é o lugar para onde estamos voltando, esse é o lugar que nos aguarda.
Eu sou professor há muitos anos. Muitos adultos, quando chegam no primeiro dia
para estudar e dormem logo após o final da primeira aula, das quatro que terão, pois seu
cérebro não aguenta uma aula sequer. Isso porque ficaram muito tempo sem ler, sem
estudar. Então, querem desistir já na primeira semana. Dizem: “Professor, eu não aguento!
Chega no dia seguinte e nem quero acordar de tão exausto que estou! Sua aula cansa a
minha mente!” Digo-lhes sempre para aguentar mais um tempo. Nos dias seguintes, já
conseguem assistir a duas aulas sem dormir. Na semana seguinte, dormem apenas na

305
quarta aula, mas, daí em diante não dormem mais. Ao contrário, quando chegam em casa
precisam assistir TV ou tomar um calmante para dormir; seus cérebros estão ligados, pois
começaram a estudar.
Portanto, não desista, não pare quando começar a sentir sono ao ler a Bíblia.
Quando começar a ler, terá sono, cansaço. Depois de um tempo você irá se apaixonar pela
leitura, porque ela chegou ao seu coração. Quando isso acontecer, sua vida será
transformada e você não prestará para mais nada a não ser clamar a Deus pelos irmãos.
A Bíblia apela para a nossa razão! O grito de Deus deve ecoar em nossos
pensamentos, mas nós somos muito pouco pensamento e razão e, por isso, ela deve apelar
também para o nosso coração, que é a sede da emoção. Precisamos ler, exercitar a mente,
entender Teologia. Eu tinha um pouco de “bronca” com Teologia, mas hoje estou vivendo
em meio a uma geração de jovens na faixa dos 30 anos e nunca vi pessoas ensinarem a
Bíblia como eles ensinam. Eles explicam coisas complicadas de um jeito simples que todos
entendem. Precisamos de mais jovens assim, que entrem nos mistérios da Escritura para
ensinarem a Igreja.
Deus quer alcançar o nosso coração, mas Ele começa pela razão. O salmista disse:
“Guardei a Tua Palavra no meu coração, para não pecar contra Ti” (Sl 119.11). Se vivemos
pecando é porque a Palavra ainda não penetrou em nosso coração. Quando nos
apaixonarmos pelo Senhor não vamos nem pensar em trair essa confiança. “Conhecereis
a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo 8.32). A Palavra entra na mente, desce para o
coração, domina as emoções e, então, o pecado não encontra mais espaço para agir.
Acaba a prisão, a escravidão!
Concluindo, a história que Deus quis fazer chegar até nós foi esse milagre chamado
BÍBLIA. Ela precisa incendiar nossa mente, coração e alma:
Ame o Senhor, o seu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as
tuas forças e de todo o seu entendimento e Ame o seu próximo como a si mesmo.
(Lc 10.27)
O amor ao Senhor só é possível se for de todo o coração, alma e forças e não
somente na mente, no entendimento. Como consequência, amaremos o nosso próximo. É
impossível amar o próximo se não amar a Deus em primeiro lugar. Nossa sociedade é
altamente emocional e não conhece o verdadeiro amor. Por isso, precisamos ser tocados,
invadidos, contagiados, governados pelo amor de Deus para podermos amar as pessoas
e transformarmos esta sociedade! Amém!

Notas:
1
A palavra "cânon" significa régua, e em relação à Bíblia, significa a regra usada para determinar se
um certo livro podia ser medido satisfatoriamente de acordo com um padrão. O Canon das Escrituras é o
conjunto dos livros inspirados por Deus, portanto, livros sagrados; ensinos que foram transmitidos pelo
próprio Deus (por meio de inspiração, visão ou manifestação verbal audível) a homens que os registraram
por escrito, para que fossem preservados e repassados com fidelidade à humanidade, afim de, por meio
deles, as pessoas pudessem saber corretamente sobre Deus, crer e se relacionar pessoalmente com Ele
para a salvação. Para a Igreja evangélica, são os 39 livros do V.T. e os 27 livros do N.T.
2
Exegese é um comentário ou dissertação que tem por objetivo esclarecer ou interpretar
minuciosamente um texto ou uma palavra.

306
A FÉ DOS PAIS
Clóvis Pontes

E ssa é a melhor e mais impactante mensagem sobre fé que eu já preguei até hoje. Ela
tem sacudido a minha vida, a minha família e todas as pessoas que a ouvem. Afirmo,
inclusive, que nossos filhos e netos serão frutos dela, e que seremos todos impactados se
a tomarmos como vida para nós. Chamo essa mensagem de A Fé dos Pais ou A Fé
Geracional.
Talvez você possa dizer: “Mas eu não sou pai (ou mãe)”; “Eu nunca terei filhos”; “Eu
já sou avô”. Mas essa mensagem também é para você, pois todos nós somos pais
geracionais, exemplos de vida, pais espirituais para muitas pessoas próximas a nós, que
nos olham e tomam como modelos de benção para suas vidas. Se você é avô (e avó),
também precisa entender que tem muita responsabilidade pelos seus netos no quesito
espiritual.
A carta aos Hebreus, capítulo 11, versos 8 a 22 diz:
Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia
receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da
promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros
com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da
qual Deus é o arquiteto e edificador. Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder
para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que
lhe havia feito a promessa. Por isso, também de um, aliás já amortecido, saiu uma
posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a areia que
está na praia do mar. Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas;
vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e
peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar
procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram,
teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é,
celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus,
porquanto lhes preparou uma cidade. Pela fé, Abraão, quando posto à prova,
ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito, aquele que acolheu
alegremente as promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua
descendência; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo
dentre os mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou. Pela fé, igualmente
Isaque abençoou a Jacó e a Esaú, acerca de coisas que ainda estavam para vir.
Pela fé, Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e,
apoiado sobre a extremidade do seu bordão, adorou. Pela fé, José, próximo do seu
fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem como deu ordens quanto aos
seus próprios ossos.
No verso 6, lemos que “sem fé é impossível agradar a Deus”. Estou falando sobre a
fé dos pais, e tenho coragem de dizer que esta é a ferramenta que nos aproxima de Deus,

307
a ferramenta mais importante do cristão. Isso porque a fé não é apenas para ele, mas para
todas as pessoas que estão à sua volta. Na verdade, nem a salvação acontece sem a fé,
como Paulo afirmou: “Pela graça sois salvos, mediante a fé” (Ef 2.8). Por isso, precisamos
da fé para tudo na vida; até para respirar.
O amor de Deus nos aproximou, nos alcançou, porque estávamos perdidos. A fé,
porém, nos revela o próprio Deus. O Senhor disse a Abrão: “Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (Gn 12.1). Abrão não
ficou parado, esperando alguma coisa, qualquer indicação ou “GPS”, mas começou a
caminhar. Ou seja, Deus Se revela no caminhar da fé, na dependência do homem a Ele.
Deus não Se revela a um cristão parado!
Estamos terminando o ano de 2017, e muitos irmãos dizem: “Este ano não
aconteceu nada na minha vida! Do jeito que comecei, estou terminando; talvez, até pior!”
Eles não cresceram no conhecimento bíblico, no conhecimento de Deus. Mas Deus não Se
revelou a eles justamente porque ficaram parados, pois Deus ama Se revelar a crentes que
se movimentam, que andam. Ele Se revela no processo!
A fé muda, transforma o cristão. Então, precisamos viver experiências de fé
constantemente e, para isso, devemos sair da zona de conforto. Precisamos viver novos
desafios. Deus ama desafiar o crente. Ele fez isso com Abrão e tantos outros. Mas Ele só
Se revela quando saímos do lugar, quando caminhamos, quando agimos e reagimos. Esse
pensamento é para que você reflita muito sobre sua vida e não importa sua idade ou seu
tempo de fé.
Eu tenho o prazer de ter meus pais vivos. Amo muito a vida deles. Meu pai tem 85
anos, com dificuldade para andar. Minha mãe tem 81 anos, está com um tumor nos rins.
Minha mãe, mesmo com esse problema, trabalha muito na igreja, e o médico disse a ela:
“Trabalhe menos, pois não sabemos ao certo o que a senhora tem.” Íamos ter um Encontro
de liderança na igreja e ela costuma fazer o café, os lanches. Um dia antes, ela me ligou e
disse: “Filho, então você já arrumou alguém para o meu lugar na cozinha? Eu não posso ir
na cozinha??” Eu disse: “Mãe, o médico disse para a senhora ficar quieta, parada.” Disse
ela: “Mas filho, eu amo servir a Deus!” Respondi: “Mãe, a senhora vai continuar servindo a
Deus, mas vai com calma!” Ao final da conversa ela reclamou: “Mas eu posso, pelo menos,
ir para a igreja??” Ela chegou cedinho naquele dia, acompanhada pelo meu pai, e ficaram
o dia todo, servindo ao Senhor, observando e acompanhando tudo. Quando ficou sabendo
que seria internada para uma cirurgia, disse: “Mas eu não vou conseguir ir na igreja??”
Assim, não importa a idade que você tem: a sua atitude e experiências de fé com
certeza irão impactar a vida de muitas pessoas! Fé apenas para você é fé medíocre. No
exercício da fé o cristão conhece a Deus, pois Ele Se revela no processo, no caminho.
A fé dos pais é aquela que o Diabo mais luta contra. Ele luta para impedir, bloquear,
anular, esfriar esta fé; deixá-la morna, quieta, parada. Isso porque ele está interessado na
próxima geração, em destruir nossos filhos e netos. Abraão é um exemplo do que estou
dizendo.
Abraão se casou com Sara e eles tiveram um filho chamado Isaque. Este gerou Esaú
e Jacó. De Esaú saíram os edomitas, um dos maiores inimigos do povo de Israel. Dele,
também, saíram os amalequitas, outro forte inimigo de Israel (Nm 13 e 14). Todos eles eram
netos de Abraão! Isaque também teve um filho com Agar, chamado Ismael, do qual
descenderam os ismaelitas (árabes). Quando Sara morreu, Abraão se casou com Quetura

308
(Gn 25.1), que teve um filho chamado Midiã, gerando os midianitas. Na caravana que
comprou José no deserto estavam os midianitas e os ismaelitas (Gn 37). Abraão enviou
para o Oriente todos os filhos que teve com suas concubinas, separando-os de Isaque (Gn
25.6), e vemos que, na luta contra Gideão, lá estavam os midianitas e os povos do oriente
(Jz 6.3).
Ora, você já imaginou seus filhos e netos serem inimigos do Cristianismo, do povo
de Deus? Já imaginou eles não amarem a Igreja como você ama? Ou seja, é nossa
responsabilidade preservar esta fé. Os filhos e netos de Abraão se afastaram de Deus
porque ficaram distantes da experiência de fé de seus pais. Abraão representava
literalmente a manifestação de Deus para eles. Deus falava com Abraão e as coisas
aconteciam. Mas, quando ele colocou seus filhos distantes dele, consequentemente os
levou para longe do próprio Deus, longe de viverem uma experiência com o Senhor.
Existe uma pesquisa mostrando que mais de 70% do povo encarcerado tem origem
evangélica. Outra pesquisa, feita na marcha LGBT, mostrou que mais de 50% deles têm
origem cristã. Recentemente, perguntaram à uma autora de novelas da Globo: “Você não
tem medo de perder a audiência do povo evangélico com essa sua novela?” Ela respondeu:
“Não, porque eles são meus maiores fãs.” Existe algo muito errado que estamos fazendo e
que não está funcionando, que não está impactando as próximas gerações, e que precisa
ser mudado.
Estou falando sobre esse assunto, porque eu tenho convicção que as nossas
próximas gerações irão enfrentar coisas que nunca enfrentamos, que nem imaginamos.
Por isso, eles precisam viver hoje muitas e fortes experiências de fé com Deus, juntamente
conosco. Muitos filhos, até, podem estar perto de nós, mas talvez estejam muito separados.
Podem estar dentro de casa, mas não ter comunhão ou boas conversas conosco. Mas a
referência de Deus para eles somos nós!
O texto de Hebreus, lido acima, relata a história de vários “pais da fé”. Todos eles
tinham uma visão, um sonho, uma expectativa por uma “pátria superior”. Esse deve ser
também o nosso maior objetivo. Vivemos em uma época onde parece que nos esquecemos
que o Céu existe. Estamos tão preocupados com a “vidinha diária”, com as coisas que
conquistamos ou vamos conquistar, com aquilo que nossos filhos vão ter, e não nos
preocupamos com o que eles vão ser. Temos, como pais, de nos preocupar mais com o
que vamos deixar de legado para a alma deles do que com seu futuro profissional ou
financeiro. Não estou dizendo que isso é errado, pois devemos fazer tudo o que estiver ao
nosso alcance por eles. Mas a pátria superior, celestial deve ser o nosso maior desejo e
devemos passar isso a eles. Esse deve ser o maior anseio da vida deles. No entanto, eles
dependem muito da forma como tratamos isso em nossas próprias vidas, como lidamos
com as coisas que nos levam ao Céu. É isso que irá revelar aos nossos filhos a paixão que
existe em nosso coração pela pátria superior.
Como é que tratamos as coisas da Igreja? Qual é o amor, respeito, carinho que
temos ao falar da nossa igreja? De que forma tratamos a contribuição financeira? “Ah! De
novo pedindo oferta, dízimo, dinheiro? Filho, dê umas moedinhas de oferta!” E, assim, não
nos preocupamos com o impacto que isso vai causar na vida dos filhos. Mas lembre-se: as
experiências em Deus que tivemos, eles não tiveram! Eles precisam viver suas próprias
experiências de fé! Por isso, a forma como tratamos as coisas de Deus, a forma como
cultuamos ao Senhor, seja no culto, em casa ou em qualquer outro lugar reflete na vida
deles. Eles estão nos vendo e ouvindo. Sempre seremos seus exemplos. O difícil é ser

309
exemplo daquilo que não gostaríamos de ser exemplo; ou seja, ser exemplo do que não
queremos ser! Isso será ainda pior para eles. Depois, envelhecemos, temos netos e
perguntamos: “Por que meu filho, meu neto não estão na igreja?” Não vou classificar todos
os casos, mas a grande maioria é devido à forma como seus pais trataram a fé durante a
infância deles.
Não quero trazer condenação com esta mensagem. Minha intenção é fazer cada
pai/mãe passar “uma régua” no passado e construir uma nova história. E ainda há tempo
para isso, pois há poder no nome de Jesus! A Palavra diz que aquilo que é impossível para
os homens, é possível para Deus (Mt 19.26). Para Ele, nada é impossível! (Lc 1.37)
Então, se você não viveu uma história boa, ou se você veio de uma família que não
era boa, “passe a régua” e viva agora uma experiência para impactar a geração que está
ao seu lado lhe vendo, lhe assistindo dia após dia. Quando você fizer qualquer coisa, pense
nisso: “Eu quero ser exemplo para os meus filhos de maneira intencional!”
O Diabo luta para esfriar a nossa fé. Ele não está muito interessado em matar. Ele
sabe que você está acomodado na sua vida, que você está tranquilo, que você tem boas
amizades, e ele diz: “Fique em paz, não se preocupe. Se apenas esfriar a sua fé, já está
ótimo para mim!” Ele vai ficar satisfeito se apenas esfriar a sua fé, pois isso vai causar o
impacto negativo que ele deseja gerar na geração seguinte. Se há algo que o Diabo tem é
paciência para plantar sua semente e colher seu fruto. Esfriando sua fé, está bom demais
para ele; deixando você longe dos seus filhos, não tendo palavras para eles, já está ótimo.
Isso porque seus filhos e netos serão impactados rapidamente e não terão tanto interesse
nas coisas de Deus quanto você teve. Lembre-se: você foi criado de um jeito diferente, teve
experiências espirituais que eles não tiveram – e que não terão se você não mudar esse
quadro HOJE!

Abraão
Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia
receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.” (Hb 11.8)
A primeira coisa que precisa ser trabalhada em nós é a nossa fé. Deus não vai
trabalhar na fé de nossos filhos sem primeiro trabalhar em nossa própria fé. Ele trabalhou
primeiro em Abraão e, depois, em Isaque. Se você não tem experiências de fé, não
conseguirá levar seus filhos a terem experiências de fé. Se você quiser tirar as suas
próximas gerações do ponto “A” e levá-las para o ponto “B”, a única forma é você estar no
ponto “B”.
Os seus filhos e aqueles que lhe estão próximos estão ouvindo mais o que você FAZ
do que aquilo que você FALA. Eles estão mais interessados na forma como você AGE.
Você não faz ideia do impacto que as suas reações e atitudes causam neles. Por exemplo:
se um pai xingar a mãe deles, lhes causará um dano muito grande, um prejuízo de fé. Da
mesma forma, a maneira como uma mãe trata o pai de seus filhos causa neles um impacto
muito grande. Portanto, mude suas atitudes, não apenas para seu benefício próprio, mas
para o benefício dos seus filhos.
A forma como você reage diante de uma dificuldade, diante de uma crise, causa um
impacto gigantesco na vida de seus filhos – positivo ou negativo! Alguns, diante de uma
tempestade, gritam, xingam, se irritam com Deus, mas no domingo estão no culto, louvando

310
e cantando como se nada tivesse acontecido. No entanto, isso causa um terrível impacto
negativo na vida dos filhos. Se o pai ou a mãe, durante um problema, se levanta e diz: “Meu
Deus, estamos passando por uma séria dificuldade, mas o Senhor é Bom. Nós vamos
superar isso e crescer nessa tempestade; vamos ficar mais crentes, orar mais”, isso
causará um impacto de fé nos filhos. Em épocas de crises devemos nos manifestar como
crentes em Cristo Jesus. Isso não só para nós, mas para nossos filhos.
Alguém pode dizer: “Mas temos muitos problemas!” Ora, que bom! Isso significa que
Deus quer aumentar muito a sua fé, quer tirá-lo da sua zona de conforto! Ouça: crente não
cresce no mar calmo! Mar calmo é para curtir, para se tranquilizar, para respirar um pouco,
e não para crescer. Mas o crescimento, a aprendizagem acontece na tempestade. A pessoa
cria mais musculatura, aprende como manejar a vela do barco, depende de Deus, foca na
pessoa de Jesus. Muitos criticam o fato de Pedro ter afundado, mas ninguém conseguiu
andar sobre as águas como ele andou.
“Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque” (Hb 11.17). Isaque
significa “alegria”. Pense que experiência tremenda foi esta para Abraão. Ele disse aos seus
servos: “Esperai aqui, com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado,
voltaremos para junto de vós.” (Gn 22.5). Ele tinha a fé de que traria seu filho de volta,
embora soubesse que o Senhor lhe havia pedido Isaque em sacrifício. O autor da carta aos
Hebreus diz que ele “...considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os
mortos...” (Hb 11.19). Talvez Abraão não conhecesse a ideia de ressurreição, mas foi a
forma do autor da carta traduzir aquele sentimento. Abraão tinha fé de que traria seu filho
de volta com ele. Sua experiência de fé foi incrível, pois o texto diz: “Chegaram ao lugar
que Deus lhe havia designado; ali edificou Abraão um altar, sobre ele dispôs a lenha,
amarrou Isaque, seu filho, e o deitou no altar, em cima da lenha; e, estendendo a mão,
tomou o cutelo para imolar o filho.” (Gn 22.9,10).

Isaque
Quando Isaque disse a Abraão, seu pai: Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui,
meu filho! Perguntou-lhe Isaque: Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para
o holocausto? Respondeu Abraão: Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para
o holocausto; e seguiam ambos juntos.” (Gn 22.7,8).
Ele questionou o pai, ouviu sua resposta e continuou em frente, sem vacilar. Feliz o
pai ou a mãe que, quando o filho faz uma pergunta, lhe dá uma resposta espiritual. Muitos
pais simplesmente não têm respostas para dar aos seus filhos. Ou, então, apenas “afagam”
a zona de conforto deles: “Ah, meu filho, vamos orar”; “Vai falar com o pastor”; “Pergunte
ao professor da Escola Bíblica”. Assim, bem-aventurado os filhos que têm pais que dão
respostas bíblicas, espirituais, divinas, orientadoras, acalentadoras, fortalecedoras para
suas vidas!
Isaque tinha em torno de 17 anos, sabia o que estava acontecendo, mas ficou calmo,
não abriu a sua boca, porque ele conhecia seu pai. Ele sabia o relacionamento que seu pai
tinha com Deus. Ele sabia que Abraão era um homem de Deus, que ouvia Sua voz, que
orava e tinha comunhão incessante com o Senhor. Por isso, naquele momento ele podia
dizer: “Eu sei quem é meu pai, e se Deus mandou, ele vai obedecer. Eu estou nessa história
toda e quero que meu pai viva a vontade de Deus; se ele fizer isso, eu também vou viver a
vontade de Deus!” Isaque se lembrou de quando Abraão lhe contou que ele seria pai de

311
uma grande nação; que ele já tinha 100 anos, mas que teria um filho. É muito forte e
impactante quando os filhos veem as experiências que os pais vivem com Deus! Eles
sentem segurança e fé!
Tive uma experiência muito forte na minha infância. Nasci em um lar muito simples,
sem recursos. Minha mãe era zeladora de uma igreja e, um dia, ela me disse: “Vamos visitar
uma família que se converteu”. Eu nunca tinha entrado em uma favela. Naquela rua toda
esburacada, minha mãe bateu à porta de um pequeno barraco. Eu pensava comigo: “As
pessoas aqui devem ser muito tristes, muito abatidas. É muito ruim e difícil morar em um
lugar destes!” Quando abriram a porta, lembro-me da cena como se fosse hoje. Era um
chão todo torto, mas estava bem varrido. Tinha uma mesinha, um vaso com uma única flor,
panelas e canecas brilhantes de alumínio penduradas na parede. De repente, senti um
cheiro delicioso de café. Veio a nós uma mulher com um grande sorriso, os filhos e os pais
todos alegres. Eu pensei: “Mas como isso é possível?” Entenda algo: a alegria e segurança
dos seus filhos é por causa daquilo que você é, e não por causa daquilo que você tem ou
lhes dá! É que você é que ficará como legado na vida deles!
Isaque confiava em seu pai. Será que você pode dizer que seus filhos confiam em
você? Não como homem ou como provedor do lar, mas como pai de fé? Alguns dizem: “Eu
coloco tudo nesta casa!” Mas não é isso que muda a vida dos seus filhos e netos e, sim, os
exemplos de fé que você deixa para eles!

Sara
Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o
avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa.”
(Hb 11.11).
A experiência de fé nos dá poder. Talvez você precise fazer aquela oração: “Senhor,
aumente a minha fé”, pois ela está muito pequena. Por isso, eu quero lhe desafiar a sair da
sua zona de conforto e pedir a Deus que lhe dê uma experiência de fé. É verdade que vai
doer, mas Deus estará olhando para você e dizendo: “Que lindo isso. A dor lhe faz crescer!”
Imagine uma mulher com 90 anos, seus costumes de mulher já haviam acabado (Gn
18.11). Sua atitude ao saber da notícia foi: “Riu-se, pois, Sara no seu íntimo, dizendo
consigo mesma: Depois de velha, e velho também o meu senhor, terei ainda prazer?” (Gn
18.12). Seu marido, no entanto, era a voz de Deus para ela. Ela riu não por zombaria, mas
porque acreditou que iria viver uma experiência impossível. O nome “Isaque” (riso) saiu
exatamente desse riso dela: “E disse Sara: Deus me deu motivo de riso; e todo aquele que
ouvir isso vai rir-se juntamente comigo. E acrescentou: Quem teria dito a Abraão que Sara
amamentaria um filho? Pois na sua velhice lhe dei um filho.” (Gn 21.6,7).
Deus quer fazer a mesma coisa conosco hoje! Quem tem experiências de fé conta
para todo mundo; crê e proclama sua situação com riso, alegria, convicção. Sara dizia às
pessoas: “Eu vou ter um filho!”. E todos diziam: “Mas como? Você está velha!” Ela
respondia: “Eu vou ter um filho, pois Deus falou com o meu marido e falou comigo! E quando
Deus promete, Ele cumpre!” Isso porque a fé dá poder. Se estamos covardes, quietos,
encolhidos é porque ainda não tivemos experiências de fé. “De fato, sem fé é impossível
agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que
ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.” (Hb 11.6). Sem as experiências
de fé, jamais conheceremos literalmente o Deus que faz milagres em nossas vidas!

312
Creio que Sara tinha tanta convicção que ela gritava isso para todos ouvirem. Com
certeza, ela contou essa sua experiência de fé centenas de vezes para o seu filho. Às
vezes, abrimos a boca e não temos uma só experiência de fé para contarmos aos nossos
filhos. Contamos a eles um monte de problemas, de dificuldades, de reclamações, mas não
temos experiências de fé com Deus para dizer a eles – talvez uma mensagem que recebeu
em um momento de adoração, um texto bíblico que leu, uma situação de benção ocorrida.
Ora, como vamos produzir filhos espirituais desse jeito? Como vamos produzir uma nova
geração de fé se não temos experiências de fé para compartilhar com eles? Se não
compartilhamos com os nossos próprios filhos, como vamos compartilhar com os outros?
A fé sempre muda o cristão primeiramente dentro da sua própria casa! Alguns filhos
dizem: “Meu pai é tão bom na igreja... Quando ele fala com o pastor ele é tão mansinho...
Mas quando ele chega em casa é tudo no grito!”. Esses pais não têm gentileza com a
esposa e filhos, não têm tempo para eles. Ora, nós temos vidas para construir em casa!
Temos homens e mulheres de Deus para nos dar exemplos de fé e, por isso, temos de
transmitir esses exemplos aos nossos filhos para que impactemos suas vidas. A fé dá
poder!

Isaque e seus filhos


Pela fé, igualmente Isaque abençoou a Jacó e a Esaú, acerca de coisas que ainda
estavam para vir.” (Hb 11.20). Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as
promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram
estrangeiros e peregrinos sobre a terra.” (Hb 11.13).
Esses homens e mulheres viram as promessas de Deus através de seus filhos, do
impacto que causariam neles e como suas gerações seriam abençoadas.
Por que o autor desta carta diz que Abel, “mesmo depois de morto, ainda fala”? (Hb
11.4). Porque ele fala através dos filhos e netos, das gerações seguintes. Os pais viam
aquilo que estavam produzindo nos filhos e, assim, enxergavam longe, à frente. Entenda
algo: Muitas experiências de fé que Deus quer proporcionar na sua vida não são para você,
mas para seus filhos! Ele promove na sua vida para causar impacto nos seus filhos.
Portanto, não se recuse a vivê-las! Por exemplo, a forma como você trata o dinheiro causa
um grande impacto na vida deles. Às vezes, você diz que não precisa dar o dízimo; outras
vezes, até dá, mas de maneira errada. Ou seja, “faz a coisa certa, mas de maneira errada!”
A Bíblia diz: “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou
por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” (2 Co 9.7). Alguns pais, no
entanto, dão suas ofertas e dízimos de forma errada, carrancudos, chateados, sem fé e
isso causa um impacto negativo nos filhos e netos. Existem experiências de fé que não são
para nós; nós as iremos vivê-las, mas elas causarão impacto na vida dos nossos filhos e
gerações vindouras. Eu chamo isso de “fé geracional”.
Ouça: A fé que fica só em você é medíocre, egoísta! Às vezes, você faz muitas coisas
erradas dentro de casa e diz: “Mas é meu direito; eu tenho razão; eu tinha de fazer aquilo,
de reagir daquela forma, de falar isto e aquilo!”. Não! O que você precisa é viver
experiências de fé olhando para seus filhos, pois aquilo que você está vivendo está
transmitindo a eles. São ensinamentos dominantes que deixamos em suas vidas. Algumas
mães dizem: “Nenhum homem presta!”. Ela ouviu isso de sua mãe e continua afirmando a
mesma coisa para suas filhas. Assim, as filhas vão crescer e dizer: “Nenhum homem

313
presta!” Tudo o que falamos e fazemos deixam verdades (ou mentiras) dominantes nos
filhos!

Jacó
Pela fé, Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e,
apoiado sobre a extremidade do seu bordão, adorou.” (Hb 11.21).
Isso foi um legado, sua fé passou por gerações. É interessante que a Bíblia afirma
que Abraão “peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas
com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa” (Hb 11.9). Ele estava com seu
filho e com seu neto. Ou seja, a forma como agimos causa um impacto. O que devemos
deixar aos filhos não são bens, mas um legado. Devemos deixar mensagens faladas e
visíveis que transformam suas vidas. Lembre-se: Corruptos nascem dentro de casa! É
quando o pai acha “legal” beber um pouco; quando recebe um troco a mais e acha que é
“benção”; quando dá um dinheiro para o guarda de trânsito para “quebrar a multa”; quando
diz que “saiu no lucro” ao fazer um negócio errado; quando não paga o que precisa; etc.
Ou seja, corrupto nasce dentro de casa.
Há muitos anos, eu tive um Fiat 147. Era uma verdadeira encrenca de carro. Ele já
havia quebrado tanto, que eu já tinha gasto o valor de três carros tentando consertá-lo.
Quando fui transferido no meu trabalho para Jundiaí, decidi trocá-lo. No entanto, naquela
mesma semana quebrou o motor e também o câmbio, e ele foi guinchado para o mecânico.
Coloquei um anúncio no jornal dizendo: “Vende-se um Fiat 147 em ótimo estado,
conservado”. Mas ninguém me ligava. Depois de umas três semanas, começaram a me
ligar perguntando como estava o carro. Eu sempre dizia que ele estava bom, mas ninguém
se interessava.
Um dia, fui à igreja e orei sobre isso. Pedi que Deus me ajudasse a vender o carro,
e o Espírito Santo me disse: “Seja honesto!” “Mas Senhor, como vou ser honesto?”,
respondi. “Se eu falo que o carro está bom ninguém se interessa. Se eu disser que está
ruim, aí é que ninguém vai querer vê-lo!” Às vezes, queremos fazer algo errado e oramos
tentando colocar Deus no meio. Mas o Espírito Santo repetiu: “Seja honesto!” Eu pedia algo
em torno de 2.700 (não sei que moeda era). Mas, se alguém chegasse com 2.200 eu
venderia. Falei a Deus em oração que daria um desconto para quem procurasse, mas Ele
me disse pela terceira vez: “Seja honesto!” Então, finalmente concordei.
Cheguei na loja e tocou o telefone. Interessante que naquela semana eu não havia
divulgado no jornal, mas era uma pessoa interessada no carro. Ele me disse que havia visto
o anúncio da semana passada. Perguntou-me, então, como estava o carro. Engoli em seco
e disse: “O carro está ruim; está no mecânico porque deu problema no motor e no câmbio.”
Ele disse: “Gostei de você. Você é honesto. Quero ver seu carro.” “Mas eu não tenho como
ir lá”, respondi. “Eu te busco onde você está e vamos até lá”, ele disse.
Quando lá chegamos, eu disse ao mecânico: “Conte tudo a ele sobre o carro!” Eles
foram para o fundo da oficina, onde estava o carro, e o mecânico explicou todos os
problemas do mesmo para aquele homem, enquanto eu fiquei na porta clamando pela
misericórdia de Deus. Tinha de refazer uma parte do motor e todo o câmbio. Enquanto eu
orava e esperava que me pedisse um imenso desconto, ele gritou lá do fundo, dizendo: “Eu
fico com o seu carro!” Não me pediu um centavo de desconto, pagou em dinheiro e ainda
me levou até em casa para eu pegar os documentos para ele! Aleluias! A lição que eu

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aprendi foi: “Sempre faça o que é correto!” Meu pai sempre fez o que era correto e eu
aprendi isso com ele, como forma de causar um impacto na geração que está me
sucedendo.

José
Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem
como deu ordens quanto aos seus próprios ossos. (Hb 11.22)
Viu José os filhos de Efraim até à terceira geração; também os filhos de Maquir, filho
de Manassés, os quais José tomou sobre seus joelhos. Disse José a seus irmãos:
Eu morro; porém Deus certamente vos visitará e vos fará subir desta terra para a
terra que jurou dar a Abraão, a Isaque e a Jacó. José fez jurar os filhos de Israel,
dizendo: Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui.
Morreu José da idade de cento e dez anos; embalsamaram-no e o puseram num
caixão no Egito. (Gn 50.23-26)
Perceba, aqui, a visão de um homem de Deus. Ele falou sobre o futuro êxodo do
povo de Israel. Nesta época, o povo ainda não era prisioneiro, mas ele já falava da sua
volta para a pátria prometida por Deus. Outro fato interessante, é que ele foi colocado em
um caixão, algo não comum para eles.
Também levou Moisés consigo os ossos de José, pois havia este feito os filhos de
Israel jurarem solenemente, dizendo: Certamente, Deus vos visitará; daqui, pois,
levai convosco os meus ossos. (Ex 13.19)
Os ossos de José, que os filhos de Israel trouxeram do Egito, enterraram-nos em
Siquém, naquela parte do campo que Jacó comprara aos filhos de Hamor, pai de
Siquém, por cem peças de prata, e que veio a ser a herança dos filhos de José. (Js
24.32)
Desde a morte de José até seu enterro em Siquém, passou-se aproximadamente
500 anos. A mensagem de um homem de fé passou de pai para filho durante todo esse
tempo, pois ela continuava viva, clara. Moisés sabia que o povo deveria sair do Egito e ir
para a terra prometida. Jacó foi enterrado em Siquém, que era o centro de Canaã. Quem
sabe se na ressurreição de Jesus os ossos de José não saíram de lá também? Quem sabe
se ele não estava vendo aquele dia?
Assim, eu lhe pergunto: Qual é a mensagem que você está deixando aos seus filhos?
Qual é a mensagem que eles terão a paixão de carregar para o resto da vida? O que eles
dirão ao seu respeito quando você estiver em um caixão? O que eles dirão aos seus netos
sobre quem você foi? O que seus netos vão dizer do avô (avó)? Será que eles dirão: “Nós
somos frutos de um homem de fé, que plantou uma mensagem de fé que nos sacode até
hoje!”? O que vamos causar, com a nossa vida, de impacto sobre a nossa geração? Deus
está nos chamando hoje para causar impacto à essa geração, pois a que irá nos suceder
vai enfrentar um mundo que sequer imaginamos. Precisamos então ter consciência de que
a nossa vida, não importa a idade que temos, deve deixar um impacto tão grande a ponto
de transformar gerações.
Eu não sei quem você é, onde nasceu e onde viveu, mas sei que Deus está lhe
chamando para fazer algo para Ele e para sua geração! Não importa o tempo, a sua idade,
o prejuízo que você possa ter causado; importa, sim, que você está aqui agora. Há uma

315
frase que eu gosto muito: Estamos no lugar certo, na hora certa, para vivermos a
experiência que Deus está nos chamando para viver, para causar impacto na vida de
alguém! Você tem tempo, tem energia, tem vida para causar impacto na vida de alguém,
seja ele seu filho, seu neto, seu sobrinho, seu cônjuge – Deus está lhe chamando para
causar um impacto tão grande, que gerações serão impactadas por causa desta mensagem
que você vai deixar! Inclusive a sua própria vida!
O maior presente que eu já recebi na vida foi ouvir minhas filhas dizendo: “Pai, nós
não temos outra coisa a fazer senão servir ao Senhor, porque quando vemos você servindo
a Deus, temos o mesmo desejo!” Feliz o pai, feliz a mãe que ouve isso de seus filhos e
netos: “Eu quero ser igual ao meu pai, igual à minha mãe. Eles amam tanto a Jesus, o
servem com tanta paixão, com tanto amor, que eu não tenho outro desejo a não ser servir
a Jesus também!” Iremos criar pastores, profetas, profetizas que vão sacudir essa geração,
tão carente e necessitada de homens e mulheres de Deus.
Comece a viver essa experiência de fé na sua vida e toda a sua casa será
transformada! Seus filhos vão lhe perguntar: “Pai, mãe, por que vocês estão tão diferentes?”
E você responderá: “Eu quero ser diferente, porque eu amo tanto você, que quero viver
uma nova vida com Cristo em família!” Dê hoje esse passo de fé e a sua casa não será
mais a mesma. Quando você der esse passo, sua vida e sua família não serão mais as
mesmas, porque quando eu mudo, a minha casa também muda. As pessoas que estão à
nossa volta não serão mais as mesmas, porque quando nos tornamos diferentes, elas
também são transformadas.
A experiência de fé de Abraão não era só para ele, mas para seus filhos e
descendentes. Da mesma forma, as experiências de Isaque, Jacó, José etc. Por que José
disse para não enterrar seus ossos no Egito? Porque ele precisava deixar uma mensagem,
a mensagem da terra prometida. É por isso que eu comecei essa palavra falando sobre
paixão pela pátria superior. Precisamos demonstrar para os nossos filhos que a coisa mais
importante é chegar no céu, é ter Jesus como Salvador. Não olhar para os bens da terra,
mas olhar para o maior bem, o maior alvo que existe: a Eternidade!
Viva o que Deus tem para você hoje, agora! A Palavra de Deus transforma as nossas
vidas. Não há ninguém que Deus não possa transformar, não há história que Ele não possa
mudar, não há família que Ele não possa restaurar. Seus filhos e netos vão olhar para você
e, por meio da sua vida e exemplo, eles serão transformados. Toda semente lançada dá o
seu fruto, e fruto para a vida eterna.
Pais e mães: vocês são a resposta para a próxima geração! O Diabo perde quando
vocês se levantam para abençoar suas casas. Pais, vocês reclamam de tantas coisas
erradas dentro de suas casas, mas eu lhes digo que vocês são o maior problema, como
também lhes digo que a resposta de suas casas são vocês! Mude aspectos, corrija erros
de suas vidas, e suas famílias serão mudadas! Glórias a Deus! Amém!

316
A GRANDE E PODEROSA MENSAGEM DO NATAL
Paulo Manzini

xistem muitas divergências entre os cristãos sobre este tema, “Natal”. Alguns são mais
E radicais, contrários a qualquer festividade ou simples menção a essa data. Outros, mais
liberais, aproveitam a data, reúnem-se com a família, trocam presentes e, de certa forma,
o comemoram.
Não pretendo, com essa mensagem, colocar parâmetros tipo “faça” ou “não faça”,
se é certo ou errado, pecado ou não. Penso que isso é uma questão de consciência, de
maturidade, embora, em alguns momentos, tenhamos de falar e dar orientações mais
práticas a esse respeito, o que pretendo fazer com essa rápida meditação.
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus
ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem
fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante
o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos
fará isto. (Is 9.6,7)
Isaías é um livro profético, escrito aproximadamente 700 anos antes do nascimento
de Jesus Cristo. É um livro basicamente messiânico, talvez o que mais apontou para a
encarnação do Verbo (Jo 1.13). Ele foi citado dezenas de vezes no N.T., tanto por Jesus
quanto pelos apóstolos. É, portanto, um livro profético voltado para o cumprimento da
promessa de Deus de Se encarnar em forma humana.
Lemos, no texto acima, que havia uma promessa muito mais antiga do que esses
700 anos, cujo cumprimento foi descrito por Lucas:
E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a
Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens,
a quem Ele concede o Seu favor. (Lc 2.13,14)
Recentemente, ministrei o tema “A Bíblia – O Livro Sobrenatural de Deus” e falei
sobre “uma promessa, um povo, um livro e um Homem”. Esta sequência, desde o Gênesis
até o nascimento de Jesus, aponta para este dia em que os anjos vieram anunciar que a
promessa estava se cumprindo.
Vimos que, em Gênesis 3, o Senhor falou que a serpente (o Diabo) seria ferida na
cabeça e iria ferir o calcanhar da descendência da mulher. Essa palavra já apontava para
a solução que Ele havia dado desde a eternidade, ou seja, Deus não foi pego de surpresa!
João, em Apocalipse 13.8, fala do “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.”
Quando, aparentemente, o homem pecou e a serpente venceu, o Senhor já disse, naquele
dia, que Ele providenciaria “um” da semente da mulher que iria desfazer a maldição que
estava vindo sobre a raça humana a partir da queda de Adão e Eva.
Lendo com atenção, percebemos que em um certo momento, ao dar os nomes aos
filhos, ela começou a imaginar qual deles traria a solução apontada por Deus, pois ela

317
acreditava que isso ocorreria já em sua geração, que Caim ou Abel seria o cumprimento
daquela promessa.
No entanto, não foi Eva a escolhida para isso, mas uma menina chamada Maria –
uma mulher muito especial, muito abençoada pelo Senhor. Nós, evangélicos, temos um
sério problema com Maria, somos muito “travados” em relação a ela, porque nossos irmãos
católicos a elevaram a um status que nós não cremos e, para contradizê-los, a rebaixamos
a um nível que ela não merece de verdade. Ela não é a salvadora do mundo, mas é a mãe
daquele que cumpriu a promessa de Deus, que trouxe a solução para o pecado humano e
que venceu a serpente. Portanto, podemos, sim, dizer que “bendita és tu entre as mulheres,
e bendito o fruto do teu ventre.” (Lc 1:42). Não precisamos ficar com medo de dizer isso e
nem a elevar ao nível de salvadora da humanidade, pois, obviamente, ela também precisou
ser salva. Não precisamos discutir esse tipo de teologia com os irmãos católicos, mas, por
outro lado, também não podemos desvalorizá-la. Então, a encarnação de Jesus foi algo
muito especial; Maria foi o cumprimento da promessa que Eva esperava, o instrumento
usado por Deus para gerar Jesus, o Salvador do mundo; o próprio Deus encarnado no
ventre de uma jovem virgem.
Isso havia sido profetizado (com todas as letras) por Isaías 700 anos antes: “Porque
um menino nos nasceu, um filho se nos deu”. Jesus, gerado por Maria, mulher virgem,
santa, pura e devota ao Senhor de todo o seu coração:
Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou
em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde
agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me
fez grandes coisas. Santo é o seu nome. (Lc 1.46-49)
Na sequência de “um povo, uma promessa, um livro e um Homem”, chegamos,
portanto, no Homem. Jesus era Deus aceitando toda a fragilidade do homem, saindo da
Sua glória e vindo morar no ambiente do nosso pecado. Vivíamos neste mundo à sombra
de um distanciamento de Deus, mas Ele nos “libertou do império das trevas e nos
transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13).
Jesus veio quando não havia nenhuma luz, quando a escuridão era total: “O povo
que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte
resplandeceu-lhes a luz.” (Mt 4.16). Ele veio a um ambiente hostil e dependeu de um jovem
casal de judeus para nascer, ser cuidado, protegido, escondido e crescer. Imagine! O
Criador do Céu e da Terra fugindo de Herodes, um rei humano; cuidado por um jovem casal
recém-casados e assustados, que estavam com a responsabilidade de cuidar do Salvador
do mundo (e eles sabiam disso)! É algo maravilhoso e glorioso pensar que Jesus se
esvaziou da sua glória e submeteu-se a essa humilhação!
Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. Embora sendo Deus, não
considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso,
esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano.
Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de
cruz. Por isso Deus o elevou ao lugar de mais alta honra e lhe deu o nome que está
acima de todos os nomes, para que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, nos
céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua declare que Jesus Cristo é o Senhor,
para a glória de Deus, o Pai. (Fp 2.5-11, NVT)

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A encarnação fala, então, de um Deus Se tornando homem. Esta é a grande e
poderosa mensagem do Natal. Paulo diz, em Gálatas 3.4, que Jesus veio na “plenitude dos
tempos”. Deus fez uma preparação maravilhosa para isso. Ele preparou um povo (o povo
judeu) para que, através da descendência de Davi (e também de Abraão), recebesse o
Deus encarnado em forma humana.
O mundo daquela época havia sido cuidadosamente planejado pelo Senhor. Ele
usou o povo judeu, mas também usou o povo romano, que havia organizado o mundo
politicamente: havia paz na Terra (a Pax Romana), havia centenas de estradas abertas,
havia uma linguagem conhecida por todos. Deus preparou todo o cenário para que, quando
a mensagem do Evangelho chegasse ao mundo, ela pudesse se expandir por todos os
continentes conhecidos de forma livre, rápida e segura.
Mas o Senhor também preparou um outro povo, os gregos, que estavam se
perguntando: “Por que existimos? Por que estamos nesta Terra?” Platão, um filósofo grego,
já havia feito uma busca filosófica profunda (creio que inquietado pelo Espírito Santo) e
chegou à conclusão de que tinha de existir um “deus”; ou seja, era impossível,
filosoficamente falando, conceber um mundo sem “deus”. Depois ele pensou: “Mas não
pode ser um deus sozinho. Ele tem que ter alguém que o contemple, pois, se for sozinho
não será visto e, se não for visto, não será conhecido. Assim, esse ‘deus’ tem alguém que
o vê!” Quando ele chegou à conclusão que este “deus” tinha que ter um filho que fosse a
voz e o reflexo do pai, com a sua mesma natureza, sendo ‘um’ mas ‘dois’ ao mesmo tempo,
podendo contemplar um ao outro, ele descobriu que essa relação, esse relacionamento era
um ‘terceiro’ ser. Então ele disse: “Tem que existir três!” Filosoficamente, os gregos
chegaram à conclusão de que Deus era Triúno antes de qualquer outra pessoa no mundo
compreender isso. Ou seja, “as pedras estavam clamando” por Jesus; o mundo estava
pedindo Jesus!
Essas perguntas todas estavam no ar afetando, inclusive, o povo judeu. Percebemos
alguns reflexos da filosofia de Platão, por exemplo, nas cartas do apóstolo João. Quando
ele disse que “o Verbo se fez carne”, estava dizendo algo que Platão já havia dito. Então,
podemos dizer que os céus estavam “grávidos” dessa encarnação. Todo o Universo
clamava pela encarnação. Os homens que estavam pensando, procurando, descobriram
que tinha de haver uma encarnação. Quando Jesus chegou, os magos do Oriente não
tiveram dúvida de que havia acontecido algo sobrenatural: o Deus que estava no Céu veio
para a Terra!
Nós temos uma verdade extremamente consistente, e a encarnação não é
simplesmente esses festejos que temos em nossos dias, pois ela inclui renúncia, dor,
sofrimento de Deus. Aquele “menininho bonitinho” que o mundo transformou em uma fonte
de afetividade da alma humana não tem nada a ver com o sentimento que Deus tinha
quando Jesus encarnou, com o que Jesus, de fato, estava sentindo e pensando quando
veio ao mundo. Ele estava, na verdade, vivendo a maior renúncia que um ser, em todo o
universo, poderia imaginar: deixar de ser Deus Criador para Se tornar semelhante à Sua
criatura, dependente de homens, correndo riscos imensos. O Diabo sabia disso e tentou
vencer e matar Jesus, usando Herodes e outros para isso. Jesus fugiu de verdade, se
escondeu de verdade, foi protegido e livrado de verdade pelos seus pais.
Eu assisti há algum tempo pela internet, uma palestra de um jovem filósofo,
Guilherme de Carvalho, chamada “A Revolução Afetiva”. Ele mostra porque as pessoas em
nosso tempo são tão afetivas e confundem isso com o amor. É por isso que permitem

319
aberrações do tipo “o que vale é o amor; não importa o sexo”. Essa afetividade está
cobrindo toda a humanidade. Diz-se que falar a verdade, confrontar pessoas é algo rude;
que temos de ser em todo o tempo afetivos, tolerantes, “macios”. Aqueles que não são
assim, não são queridos, mas taxados de pessoas “fora de seu tempo”. No entanto, profetas
nunca são afetivos; sempre estão dando “machadadas” na raiz da árvore. Então,
precisamos despertar para o fato de que somos chamados não para sermos afetivos, mas
para entendermos que o amor dói e que aquele menino na manjedoura estava sofrendo
sua encarnação por amor. A cruz já estava presente ali, pois ele veio para morrer pela
humanidade.
Isso é encarnação, isso é Natal. Eu não sou contra festejarmos com a família,
abraçar, mandar mensagens, trocar presentes; não vamos execrar esta data, mesmo sendo
só da alma. Mas o amor que Deus quer despertar em nós é o amor daquele que dá a sua
vida pelo outro. Esse amor é sacrificial – ele entrega sua própria vida por amor a Cristo;
esse amor mata – o próprio Pai matou seu Filho. Não tem nada de afetividade falsa,
humana, da alma. Quando entendermos o tanto que Deus sofreu por amor ficaremos
prostrados e acontecerá o que disse Paulo aos filipenses: “todo joelho se dobre, nos céus,
na terra e debaixo da terra, e toda língua declare que Jesus Cristo é o Senhor”!
O Natal tem uma função que eu gosto muito: todas as pessoas, de uma certa forma,
se tornam indesculpáveis e são evangelizadas. Elas reconhecem e proclamam, com essa
comemoração, que Jesus nasceu, que Deus Se encarnou, que em um certo momento da
história Deus Se tornou homem. Não importa se Jesus nasceu em outra data; importa, sim,
que todos se lembram que ele nasceu, que ele veio à Terra.
Estamos vivendo em um mundo dominado por essa afetividade da alma que está
levando a humanidade ao engano, fazendo que ela aceite como sendo de Deus algo que é
de Satanás – porque ele sabe mentir, fingir, enganar –, assim como a nossa alma também
sabe fazer tudo isso. A única coisa que a alma (o homem natural) não aceita é morrer por
amor. Então, o homem é afetivo, principalmente nesta época natalidade, até um certo limite,
até que não firam seus próprios direitos, até que seus interesses não sejam afetados.
Podemos até ver algumas pessoas dando presentes sem receber nada em troca, mas com
certeza irão reclamar disso em algum momento, pois essa afetividade é apenas um
interesse da alma de aparecer ou ser retribuído, mas não o verdadeiro amor. É por isso que
“trocamos” presentes, e se considera até uma falta de educação não dar um presente a
quem nos deu.
Esse “fato cósmico” não entra na mente humana! O engano é tão grande em relação
a essas festividades, pois, apesar de estarmos declarando que Jesus é Deus encarnado,
temos um grande problema para compreender isso. É por isso que o Natal está disfarçado
do jeito que está – é preciso um papai Noel, árvores e bolinhas brilhantes, luzinhas,
presépios poéticos –, porque a nossa mente não aceita o fato de que Deus Se encarnou
para morrer. Porém, naquela manjedoura já havia sombra da cruz, já havia sangue, porque
Deus Pai sabia que aquela criança já tinha dado a sua vida na eternidade. Aquele não seria
um período bom, festivo, tranquilo para Deus. E o ápice do sofrimento do Pai foi o grito do
Filho na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?” (Mr 15.34). Se Jesus
sentiu isso, imagine Deus olhando a morte do Filho e já tendo a firme decisão, desde a
eternidade, de que não iria interferir, pois aquela morte interessava a toda a humanidade e
cumpria o Seu propósito eterno nos resgatar para Ele.

320
A encarnação, portanto, é um escândalo! John Walker dizia que é “um escândalo de
particularidade”, pois, como é que o Deus do Céu vem para a Terra e morre por mim? Como
é que Ele entra no meu ambiente e diz: “Já que você não consegue nada, já que você é um
imprestável, incapaz de me obedecer, de entender o que Eu escrevi no meu Livro e não
consegue cumprir nenhum dos meus mandamentos, então Eu vou mostrar que mesmo
assim Eu te aceito; vou aceitar a sua humanidade, a distância que você está de mim e vou
até você!” Mas o mundo criou um outro evangelho. Eles dizem: “Eu aceitei Jesus!”, mas
isso é uma inverdade. Foi ele quem nos aceitou antes da fundação do mundo; nós só temos
de nos entregar a ele. Jesus aceitou a minha humanidade, aceitou o meu pecado, “sugou”
sobre ele na cruz os pecados de toda a humanidade. Então, eu não preciso “aceitar Jesus”
e dizer: “Coitadinho de Jesus! Está do lado de fora batendo na porta: abra, por favor!” NÃO!
Isso é pura heresia! O que devemos fazer é RECEBER Jesus, nos ENTREGAR a ele,
RECEBER a grande dádiva de quem nos aceitou, de quem aceitou nosso pecado e
humanidade.
Há um outro aspecto que eu quero ressaltar no texto de Lucas 2.13,14. Algumas
versões dizem: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Isso
é um erro! Esse é o espírito natalino humano, afetivo, porque homem nenhum tinha boa
vontade para com Deus; todos éramos inimigos de Deus, pérfidos, perdidos, pecadores,
mentirosos, adúlteros, roubadores etc. (Rm 1.29-31; 5.10). A boa vontade foi de Deus para
com os homens, e não o contrário: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens,
a quem Ele concede o Seu favor”. Nós não somos homens e mulheres de boa vontade,
mas precisamos, sim, da boa vontade de Deus para conosco. Essa é a essência da
encarnação: a boa vontade de Deus para com a humanidade pecadora (Ef 2.3-6).
Estávamos perdidos, longe de Deus, mas Ele fez uma “passagem” pelo mundo para levar-
nos de volta à comunhão com Ele, na base da nossa morte com Jesus na cruz.
Eu não estou criticando as festas de Natal que a grande maioria faz. No entanto,
pelo fato de vivermos em uma sociedade cristianizada, se torna difícil pregar o evangelho
para aqueles que festejam a encarnação de Jesus Cristo, pois eles já conhecem e celebram
este fato. Num certo sentido, estamos vivendo em um sistema religioso errado, que
inventou histórias que não são mentiras, mas que também não são a pura verdade da
encarnação, segundo o Evangelho.
Precisamos ser firmes na nossa fé, ter consciência de que Deus, para salvar a
humanidade, precisou de toda a boa vontade existente no universo, mas só a encontrou no
Seu próprio coração – o amor. Só Ele, sendo o próprio amor, tinha boa vontade para
conosco. Nenhum homem ou mulher tinha qualquer tipo de amor ou boa vontade para com
Deus. Devemos, então, viver na Terra como quem realmente crê nessa verdade, como
quem crê que na encarnação de Jesus já havia a sombra da cruz, e que ela está no lugar
mais alto de toda a história da humanidade. Foi a cruz que dividiu o tempo que eu era
perdido do tempo que pertenço a Jesus, o Senhor da Glória que agora está assentado à
direita do Pai devido à sua vida de obediência.
Nós estamos neste mundo para seguirmos seus passos, seu exemplo (1 Pd 2.21) e
renunciarmos a nós mesmos, renunciarmos a todas as coisas da alma, inclusive essa
afetividade, esse falso amor, essa “melosidade grudenta” do coração humano que existe
na sociedade. Eu disse, em uma das minhas pregações, que Jesus não falou que nós
somos o “mel”, mas, sim, o “sal da terra”. Todo cristão, em um certo sentido, é profeta. Suas
palavras salgam, doem, pois são como um machado que corta a raiz da árvore do engano.

321
Quando nos posicionamos, estamos indo contra o conhecimento do bem e do mal e
a favor da cruz de Cristo, da “loucura” e sofrimento de Deus, que fez Jesus se encarnar por
amor à humanidade perdida para levá-la de volta à Ele. Não precisamos ficar digladiando
com as pessoas, sermos radicais, ficarmos julgando e condenando a tudo e a todos. Se
alguém nos perguntar a razão de nossa fé, evidentemente devemos explicar, dizer a
verdade, sermos firmes no que cremos.
Quem vive em uma família não cristã encontra mais dificuldade; talvez tenha de
conviver com algumas práticas que nada acrescentam, mas que também não lhe afetam
ou prejudicam. No entanto, se alguém lhe perguntar a razão da sua fé, deve ser firme e
explicar sua posição. Se Deus mandar falar, fale, pregue. Não perca a oportunidade. Diga:
“Estou festejando o Natal com vocês, mas este não é o verdadeiro sentido desta
comemoração.” Talvez eles se escandalizem com você, mas diga-lhes a verdade, explique
a razão da sua fé: “A encarnação foi dor, e não festinha. Foi amor, e não afetividade. A
afetividade passa, acaba, mas o amor é eterno. O amor de Deus matou Seu filho por amor
a nós.” Assim, se vamos conviver nesta sociedade devemos ser sábios.
Aquele, porém, que tem a felicidade de ter sua família convertida, não tente estragar
o que ela pratica. Aproveite e celebre junto com seus familiares a encarnação de Cristo,
não como o aniversário dele, mas pelo fato de Jesus ter encarnado e nos salvado. Não tem
problema separarmos um tempo em família para dizermos: “Muito obrigado, Jesus, pois o
Senhor deixou sua glória e, como homem, se esvaziou, viveu e morreu na cruz para que
vivamos neste mundo com esperança!”
Podemos falar em qualquer dia – e não só nesta data – sobre a encarnação de
Jesus. Não precisamos ser contra o Natal, mas explicar qual é o Natal de verdade: a
encarnação do Deus que Se tornou homem para nos salvar de todo engano e de toda
perdição que nos estava reservada!
Que não sejamos encontrados lutando contra pessoas, de forma infantil, mas
olhando para Aquele que nos salvou pela Sua vida e pela Sua morte. Que tenhamos essa
postura de pessoas que sabem que o amor é mais do que uma simples afetividade ou uma
festa; pessoas que conhecem as consequências do que estão celebrando. Amém!

322
UM SÓ CORAÇÃO, UMA SÓ MENTE, UM SÓ
PROPÓSITO
Jamê Nobre

E m novembro deste ano, esteve conosco um grupo de líderes da África do Sul que
produziu em nós um impacto muito grande. Aqueles irmãos trabalham com o tema “um
só coração, uma só mente, um só propósito”, e isto nos contagiou, falou muito forte aos
nossos corações, razão pela qual entendemos de Deus que, para o próximo tempo,
também devemos trabalhar sobre este mesmo tema. Não definimos, porém, que esse
assunto será a nossa meta como Congregação em Jundiaí para 2018, pois entendemos
que esta é uma meta para a vida inteira.
Deus está nos chamando para um novo nível, um novo patamar. Não é só uma
mudança de calendário, mas uma mudança completa de postura, de mentalidade, de
coração. Muitos irmãos já estão sendo tocados por este mover do Espírito Santo em suas
vidas.
Eu discerni que há, pelo menos, três razões pelas quais o Senhor está nos
chamando para este novo patamar, para termos “um só coração, uma só mente, um só
propósito”:
Primeiro, por causa da volta do Senhor Jesus para uma só Igreja. Jesus não virá
para um grupo de igrejas ou de religiões, mas para sua Noiva, sua Esposa.
Segundo, por causa do nosso testemunho às nações. O grande sinal para que as
nações creiam no Senhor Jesus é que sejamos UM. Os dons, as curas, os milagres etc.
são importantíssimos, mas o Senhor determinou a unidade da Igreja como “o” sinal para
que o mundo creia (Jo 17.21).
Terceiro, por causa do tempo de muitos ataques e tribulações que iremos viver como
Igreja. Eu não sei qual é a sua Escatologia; não sei se a Igreja será arrebatada antes,
durante ou após a tribulação. Mas, como eu vivo no meio de pessoas que creem de formas
diferentes sobre esse assunto, tenho alertado a todos que, seja quando for, devemos estar
preparados. Quem está pronto para a guerra, também estará pronto para a paz. Então, se
estivermos preparados para passar pela tribulação e Jesus voltar antes, estaremos “no
lucro”. Mas, se não estivermos preparados, vamos sofrer muito mais do que precisaríamos.

Um só coração
Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para
seu bem e bem de seus filhos. (Jr 32.39)
A palavra “caminho” neste texto, entre outras coisas, fala de “hábito” e “maneira de
viver”. O Senhor diz que Ele nos dará, como povo de Deus, uma só maneira de viver, um
só hábito ou virtudes espirituais.

323
Uma só mente
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... (Fp 2.5)
Ora, o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para
com os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordemente e a uma voz
glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. (Rm 15.5,6)
A palavra “sentir” e “sentimento” nesses textos são a mesma palavra no grego:
“atitude”. Assim, Paulo pede que o Senhor nos conceda uma mesma atitude, que façamos
um esforço pessoal para termos uma mente comum, um só pensamento, uma atitude
harmoniosa em relação às coisas.
O Salmo 133.1 diz: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” A
palavra no hebraico é “harmonia”, e isso não significa simplesmente termos uma mera
concordância, mas, apesar de nossas diferentes características, nos esforçarmos para
vivermos harmoniosamente, alegrando o coração do Senhor.
...completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo
amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. (Fp 2.2)
Devemos, como Igreja, completar o gozo do Senhor (e não somente o de Paulo),
pensando e sentindo a mesma coisa. Ou seja, Deus está nos chamando para algo que nos
compromete definitivamente. Não é apenas um assentimento mental, uma concordância
intelectual, mas uma transformação completa de vida, de mente, de comportamento. Ele
diz que devemos ter o mesmo sentimento, o mesmo amor, o mesmo ânimo.
Via de regra, as congregações têm três grupos: um que trabalha, outro que assiste
e, ainda, outro que apenas faz peso. Meu desejo é que este ano você seja do grupo dos
que trabalham; que você deixe de ser problema e passe a ser solução; que cada um de
nós seja solução para as coisas que estão vindo à nossa frente.
Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a
mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos,
na mesma disposição mental e no mesmo parecer. (1 Co 1.10)
Eu sei que isso é muito difícil; aliás, é impossível. Mas, Paulo diz que temos de falar
a mesma linguagem, termos o mesmo parecer a respeito das coisas. Por exemplo, um só
parecer em relação à política do Brasil, à identidade de gênero, ao aborto, ao divórcio etc.

Um só propósito
Em 1 Samuel 14, vemos que a nação de Israel estava acovardada, com medo de
seus inimigos. Jônatas, não se conformando com aquilo, decide tomar uma posição.
Precisamos lembrar que, naquele tempo, Israel não tinha ferreiros para amolar as espadas
e as lanças; tinham uma dependência externa completa. Mas, de alguma forma, Jônatas
guardou uma espada e disse ao seu escudeiro: “Vem, passemos à guarnição dos filisteus,
que está do outro lado.” (v.1). Ele conhecia os riscos, não estava se fazendo de tolo, sabia
que podia morrer.
Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes
incircuncisos; porventura, o SENHOR nos ajudará nisto, porque para o SENHOR
nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos. Então, o seu
escudeiro lhe disse: Faze tudo segundo inclinar o teu coração; eis-me aqui contigo,

324
a tua disposição será a minha. (1 Sm 14.6,7)
A resposta do escudeiro a Jônatas nos revela o que é ter um só propósito. Em outras
palavras, ele disse: “Não importa a consequência, eu tenho um só propósito com você!”
Em Atos 16, Paulo tem uma visão sobre ir para a Macedônia. Quem escreveu o livro
de Atos foi Lucas, e o que me chama a atenção é o pronome que ele utilizou após esse
fato:
À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e
lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão,
imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos
havia chamado para lhes anunciar o evangelho. (vs. 9,10)
Isso é ter o mesmo propósito! Quem teve a visão foi Paulo, mas Lucas entendeu que
Deus estava chamando a todos eles.
Houve um discípulo de Jesus de quem muitos, normalmente, falam mal: Tomé. No
entanto, eu posso dizer que ele foi o único realmente sincero. No capítulo 11 de João,
quando a notícia de que Lázaro estava enfermo chegou aos discípulos, Jesus afirmou:
“Lázaro morreu”. Tomé, então, disse aos demais: “Vamos também nós para morrermos
com ele” (v.16). Ele disse isso no sentido de passarem juntos por aquela situação de tristeza
profunda para Jesus. Isso também é ter o mesmo propósito!

Eu disse anteriormente que é impossível termos o mesmo coração, mente e


propósito. Só existe uma maneira disso acontecer: se o Espírito Santo escrever Suas leis
e Seus propósitos no coração de cada um de nós:
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz
o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas
inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. (Jr 31.33)
Se não for desta forma, será conchavo, ecumenismo, arranjo – e não serve para
nós. A unidade tem que ser obra do Espírito Santo imprimindo as leis de Deus em nossas
mentes e corações.
Em 1 Coríntios 14, temos outro exemplo sobre termos um só propósito:
Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente
fica infrutífera. (v.14)
O nosso grande campo de batalha contra a unidade reside em nossa mente. Se
falarmos línguas diferentes, a mente fica infrutífera. Temos tantas coisas diferentes uns dos
outros em forma de pensamentos, que a única maneira de sermos um com os irmãos é
deixarmos de lado a nossa própria mente e pensarmos com a mente de Cristo. Ou seja,
“levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co 10.5). Não existe outra
maneira, porque a minha mente sempre trará à tona coisas que são discordantes do que
os demais irmãos pensam.
Uma pergunta: você crê e pensa exatamente igual à sua esposa? Com certeza, não!
Mas o que você fez? Submeteu o que pensa à aliança do casamento. Precisou vir uma
mente externa, chamada “aliança”, para reger suas diferenças.
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... (Fp 2.5)

325
O que importa não é o que eu penso, o que eu sinto, mas o que o Senhor pensa e
sente. A unidade não está baseada naquilo que eu acho ou sinto que deve ser, mas naquilo
que o Senhor acha, diz e pensa. Quanto a nós, devemos ter a humildade suficiente para
deixar nossa mente de lado e buscar a mente de Deus nos assuntos que não pensamos
igual.
Esse é o padrão a ser seguido: termos a mesma mente, coração e propósito do
Nosso Senhor!

326
UMA PALAVRA PARA O ANO DE 2018
Jamê Nobre

Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que farei
uma coisa nova, e, agora, sairá à luz; porventura, não a sabereis? Eis que porei um
caminho no deserto e rios, no ermo. (Is 43.18,19)

N o mês março de 2010, o Senhor me deu uma palavra a respeito de um novo patamar,
para o qual Ele estava me chamando. Depois disso, o Senhor falou algumas vezes
sobre os ciclos da nossa vida.
Agora, no final do ano de 2017, olhando para as minhas viagens, minhas visitas às
congregações, nos diversos lugares onde estive, posso afirmar que percebo claramente
que o Senhor está nos chamando para subir para um novo nível com Ele.
O texto do início desta mensagem se refere a uma promessa do Senhor para o Seu
povo em um momento de grande aflição. A palavra de Deus fala de um resgate que traria
para o Seu povo e, no meio da palavra, o profeta fala de uma coisa nova que estará saindo
à luz, e também de um caminho do deserto e rios no ermo. Eu estava buscando no Senhor
uma palavra de alento, de esperança, para passar aos meus companheiros do Caminho, e
foi esse texto que Ele me falou.
As coisas à nossa volta necessitam de explicações, necessitam ser entendidas, mas
quem pode compreender esse momento no qual vivemos? São muitas variáveis, muitas
encruzilhadas, muitos acontecimentos e informações que chegam até nós, em uma
velocidade impressionante, de tal forma que não conseguimos alinhar as coisas para que
façam algum sentido.
Diante de tudo isso, me ocorreu um sentimento que tem sido recorrente em relação
aos tempos vindouros. Tenho entendido que, antes da volta do Senhor, vamos receber
Dele algumas revelações extremamente importantes para que saibamos nos posicionar em
tempos de confusão.
Uma dessas revelações diz respeito à Sua Igreja. Não podemos caminhar nem
produzir qualquer obra útil ao Senhor sem compreender quem somos e qual é o nosso
papel antes da volta no nosso Rei.
Estamos agora como em um deserto, como em terra árida. Os ventos que vem do
mundo são cada vez mais secos, cada vez mais sufocantes. Os caminhos propostos pelo
sistema humano são terríveis e tendem a nos confundir. Estamos num tempo de muitos
caminhos que, infelizmente, não levam ao Pai das Luzes. Os pensamentos humanos são
aterradores e nos assustam, tamanha falta do que é eterno, do que é bom, do que é
louvável neles.
A igreja, nesse emaranhado de coisas, de caminhos e de propostas, parece que está
se perdendo, e não tem uma profecia que indique aos homens um escape, uma solução.
Assim estamos. Ou a igreja entra em filosofias, ou entra em práticas que a afastam das
primeiras obras.

327
As filosofias estão envolvendo o povo de Deus em disputas que não passam de
sofismas, nos afastam do nosso chamado e nos confundem ainda mais. Pregadores que
antes se esmeravam pela correição das Escrituras em suas prédicas, se permitem
aventuras e elucubrações que afastam os santos da Mente de Deus. Homens que se
pautavam pela santidade, hoje se permitem práticas que desonram o nome do Santo
Senhor.
Algo que é muito forte em meu coração e mente é a palavra que o Senhor falou por
boca de Ezequiel a respeito de Sodoma:
Eis que esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e
abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca esforçou a mão do pobre
e do necessitado. (Ez 16:49)
O risco que corremos hoje é perder a nossa identidade, perder a capacidade de
discernir o que somos e entrar em uma ociosidade abundante, como aconteceu com
Sodoma e suas filhas. A ociosidade pode vir por não sabermos o que fazer, mas, antes,
vem por não sabermos quem somos.
Se não temos consciência de nossa identidade como igreja, fatalmente, vamos
entrar em abundância de ociosidade. Talvez estejamos pensando que, pelo fato de
estarmos envolvidos em muitas atividades, não estaríamos ociosos. Porém, devemos nos
lembrar do que o Senhor Jesus disse a Marta: “Estás afadigada com muitos serviços”.
Nessa fala, Jesus mostra a Marta que existem coisas que estamos fazendo que não é o
que o interessa. Na sua fala ele diz que Maria, no entanto, escolheu a boa parte.
A minha compreensão de ociosidade não é, exatamente, a inatividade. Compreendo
que, para o Senhor, ociosidade é tudo o que fazemos e que não é o que Ele está fazendo.
Se o nosso envolvimento, as nossas atividades não cooperam para aquilo que é eterno,
para aquilo que não tem raízes e objetivos eternos, então é ociosidade.
Jesus falou que uma das características do tempo do fim era a ocupação com coisas
lícitas, como casar, dar-se em casamento, plantar, edificar, comprar e vender, coisas essas
que tomam o tempo e a vida da maior parte do chamado povo de Deus.
Essas coisas não são pecado em si mesmas, mas a falta de conteúdo eterno,
quando estamos envolvidos com elas, fazem com que a nossa vida seja marcada pela
abundância de ociosidade. Ao descobrir quem somos como Igreja de Deus, descobrimos o
nosso papel, como nos ensina o nosso irmão Pedro, que fala de nossa identidade e de
nosso papel (1 Pedro 2.5-9).
Então, eu creio que o Senhor vai, nos próximos dias, criar para nós um caminho no
deserto e rios no ermo. Ele vai nos mostrar quem é a Sua Igreja. Ele vai nos dar
discernimento de quem nós somos. Daí não seremos fracos, doentes e nem vamos dormir.
O discernimento nos levará a um caminho novo, a um novo patamar com Ele e diante do
mundo. Nós veremos com mais clareza quem somos na medida que crescermos na
revelação Dele mesmo. Ele quer que O conheçamos mais e mais. Desse ponto, ou nesse
lugar, vamos nos ver como Igreja de Deus.
Precisamos subir ao alto monte, proposto em Apocalipse 21. Naquele lugar, vamos
ver a esposa do Cordeiro, a Santa cidade. Vamos compreender que a Igreja, ou seja, o
povo de Deus é aquele que tem a voz profética e que, como no tempo de João, o batista,
preparará as nações para a volta do nosso Grande Rei.

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Para isso, precisamos nos despertar para o que somos e para o que devemos fazer.
Sem uma profunda revelação da nossa identidade em Jesus é impossível que
desempenhemos o papel glorioso para o qual o Senhor nos designou nesse tempo do fim.
Essa revelação virá na mesma proporção do nosso conhecimento do Senhor Jesus.
Assim, subamos para este novo nível. Que 2018 seja um ano no qual possamos ter
maior revelação de Jesus Cristo e de sua Esposa. Amém!

329
Jundiaí-SP, 04 de janeiro de 2018

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