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Instituto HeSed
Av. Dionísio Leonel Alencar, 1443
60873-073 - Fortaleza - CE
(85) 3274-5767
http://www.institutohesed.org.br
Vendas: Livraria Imaculada
R. Major Facundo, 371 - Centro
60021-100 - Fortaleza (CE)
(85) 3252-4473
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Instituto Hesed

DOIS INSTITUTOS, UMA ÚNICA FAMÍLIA RELIGIOSA,


tendo a mesma Regra, Carisma e patrimônio espiritual.

Instituto HeSed dos Irmãos da Santa Instituto HeSed das Irmãs da Santa
Cruz e da Bem-Aventurada Virgem Cruz e da Bem-Aventurada Virgem
Maria do Monte Carmelo Maria do Monte Carmelo

Ser somente de Deus é uma alegria infinita,


na certeza de sermos por ELE amados, especialmente
se vivemos com a Virgem Maria, causa de nossa alegria.

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Quem somos?

“Eu te desposarei a mim para sempre”


Os 2,21

S
omos um instituto
religioso de espiri-
tualidade carmelita
e a Nossa Mãe Santíssima do
Carmo é a nossa Rainha,
Modelo e Mestra da vida
interior, alma enamorada
que nos conduz à intimidade
com DEUS e à vida de oração.

Fundado por Ir. Jane Madeleine


e Ir. Kelly Patrícia.

Temos mosteiros em Fortaleza,


em outros estados do Brasil e em
Portugal.

Da irradiação do nosso carisma


fazem parte grupos de leigos
( adultos, jovens e crianças ) que
vivem no mundo.

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Vida Fraterna e Trabalho

“Quem ama, faz sempre comunidade;


não fica nunca sozinho.”
Santa Teresa de Jesus

C
elebramos a vida fraterna em momentos de feliz
recreação para continuarmos depois com mais zelo
e fervor as obras do Senhor. Executamos também
trabalhos simples e humildes que se transformam
numa poderosa intercessão em favor da Santa Igreja, que
agradam a DEUS como Lhe agradou todo o trabalho feito
por Maria e José na casa de Nazaré, onde encontramos o
Menino Jesus, por quem temos um especial amor.

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Obras de Evangelização

“Uma única missão não seria o bastante,


quisera percorrer a terra, pregar Teu nome e levar a Tua cruz.”
Santa Teresinha do Menino de Jesus

T
emos um grande trabalho de evangelização pela
música, realizado com as obras musicais compostas
a partir dos escritos dos Santos e da Sagrada Escri-
tura, interpretadas pela nossa Madre Fundadora, a Ir.
Kelly Patrícia, e os irmãos e irmãs do ministério de música
do Instituto.

Também divulgamos a espiritualidade que vivemos por


meio de eventos, palestras, shows, condução de adoração
ao Santíssimo Sacramento, cenáculos, grupos de oração,
dança, teatro e livrarias. Na prática das obras de miseri-
córdia auxiliamos a comunidade de irmãos pobres de
nossa vizinhança.

Contatos para show:


ir.teresamaria@hotmail.com
(85) 3274–4513
(85) 9.9992–4703 | 9.9956–2156

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Carisma e Espiritualidade

“Nem mais tenho outro ofício,


que só amar é já meu exercício.”
Santa Teresa de Jesus

Com a adoração perpétua e o


culto ao Sangue de Cristo, o
instituto tem como carisma:
experimentar, viver e cantar as
Misericórdias de DEUS numa vida
de oração, adoração, contempla-
ção, celebração, ação de graças, issão, e expiação pelos
sacerdotes, jovens, e defesa da alma da criança.

Queremos despertar nos corações e no


mundo a busca de uma vida de paz e
conversão, como pede Nossa Senhora
em Mediugórie. Seguindo o Divino
Infante, queremos viver a Pequena Via
ensinada por Santa Teresinha.

Para melhor vivermos nossa espiritualidade, elegemos


Doze baluartes. Os protetores do Menino Jesus: a Santís-
sima Virgem Maria, São José e os Santos Anjos. Os santos
carmelitas: Santa Teresa D'Ávila, São João da Cruz, Santa
Teresinha. Além deles, Santa Faustina, São Luís de Monfort,
São Frei Pio de Pietrelcina, São João Evangelista, Santa
Maria Madalena e São Gaspar del Búfalo.
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Jesus e Maria te chamam,


entre em contato conosco!

Instituto Hesed
Av. Dionísio Leonel Alencar, 1443
Fortaleza ( CE ) – Brasil
CEP 60873-073
Tel.: 55.85.3274.4513
Vocacional Feminino Visite nosso site
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Vocacional Masculino Redes sociais:


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Sumário
1º Domingo do Advento 15
Segunda-feira da 1ª Semana do Advento 19
Terça-feira da 1ª Semana do Advento 23
Quarta-feira da 1ª Semana do Advento 28
Quinta-feira da 1ª Semana do Advento 32
Sexta-feira da 1ª Semana do Advento 36
Sábado da 1ª Semana do Advento 39

2º Domingo do Advento 44
Segunda-feira da 2ª Semana do Advento 48
Terça-feira da 2ª Semana do Advento 52
Quarta-feira da 2ª Semana do Advento 57
Quinta-feira da 2ª Semana do Advento 61
Sexta-feira da 2ª Semana do Advento 65
Sábado da 2ª Semana do Advento 59

3º Domingo do Advento 74
Segunda-feira da 3ª Semana do Advento 79
Terça-feira da 3ª Semana do Advento 83
Quarta-feira da 3ª Semana do Advento 87
Quinta-feira da 3ª Semana do Advento 91
Sexta-feira da 3ª Semana do Advento 94
Sábado da 3ª Semana do Advento 98

4º Domingo do Advento 104


Segunda-feira da 4ª Semana do Advento 108
Terça-feira da 4ª Semana do Advento 112
Quarta-feira da 4ª Semana do Advento 115
Quinta-feira da 4ª Semana do Advento 119
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Nascimento de nosso senhor jesus cristo 125


Festa de Santo Estêvão, protomártir 131
Sagrada Família de Nazaré 137
Festa dos Santos Inocentes 141
Oitava do Natal 144
Novena de Natal 155
Orações para todos os dias156
Oração preparatória156
Coroa157
Oferecimento157
1º dia – 16 dezembro 158
2º dia – 17 de dezembro 161
3º dia – 18 de dezembro 164
4º dia – 19 de dezembro 167
5º dia – 20 de dezembro 170
6º dia – 21 de dezembro 173
7º dia – 22 de dezembro 176
8º dia – 23 de dezembro 179
9º dia – 24 de dezembro 182

Índice bibliográfico 186


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Almas devotas,
contemplai naquela manjedoura, sobre aquela pobre palha
o tenro Menino que está a chorar.
Vede como é formoso; mirai a luz que irradia,
e o amor que respira;
esses olhos atiram setas aos corações que o desejam,
esses vagidos são chamas abrasadoras para os que o amam.
No dizer de São Bernardo, a própria gruta e as próprias palhas chamam
e vos dizem que ameis aquele que vos ama,
que ameis um Deus que é digno de amor infinito,
baixou do céu, se fez menino e menino pobre
para manifestar o amor que vos tem e para cativar
por seus sofrimentos o vosso amor.

Santo Afonso Maria de Ligório


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1º DOMINGO DO ADVENTO

O santo tempo em que entramos, é consagrado, segundo os


desígnios da Igreja, a fazer-nos meditar as três grandes vindas
do Salvador à terra:
1.ª Na humildade do presépio, para nos salvar;
2.ª No esplendor da glória, no último dia, para nos julgar;
3.ª Ao íntimo dos nossos corações pela Sua graça, para nos santificar.

MEDITAÇÕES PARA O DIA

Adoremos o Espírito de Deus inspirando à Igreja a instituição do


Advento para nos preparar para a festa do Natal, de que todo este
tempo é como que a vigília, diz São Carlos; vigília, observa este
santo cardeal, que não deve parecer muito longa a quem aprecia
a excelência da festa para que nos prepara 1. É com este intuito
que a Santa Igreja invoca o céu, dizendo: “Enviai, Senhor, a vossa
graça a fim de dispor os nossos corações”; e que nos diz na epistola
deste dia: “É já a hora de vos levantardes do sono porque está perto o
nascimento do Salvador” (  Rm 13, 11  ). É com este mesmo intuito que
ela substitui as vestiduras de festa pelas de penitência, as suas
orações ordinárias por orações especiais e mais longas. Entremos
de todo o nosso coração no espírito da Igreja durante este santo
tempo.

PRIMEIRO PONTO

Para que meditar de um modo especial,


durante o Advento, o mistério de um Deus Encarnado?

É da parte da Igreja uma profunda sabedoria não nos conduzir

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meditações para o tempo do advento

de repente ao presépio de Belém, mas no-lo mostrar de alguma


sorte com o dedo um mês antes, para nos dizer: “Preparai-vos a
sairdes ao encontro do divino Menino” (  Is 40, 3  ).
Reflete seriamente neste grande mistério que, depois de
ter estado oculto nove meses no seio de Maria, vai oferecer-Se
à devoção do mundo no dia de Natal. Preparai-Lhe no vosso
coração, pela meditação, uma fé mais viva nas Suas perfeições,
uma profunda devoção para com a Sua majestade abatida,
um amor reconhecido para com a Sua caridade de tão alto
descida tão baixo, uma verdadeira humildade para louvar as
Suas humilhações, uma brandura de caráter e de palavras em
relação com a Sua incomparável benignidade, um espírito
de penitência e de contemplação, que não contraste com a
austeridade do presépio e com as santas ocupações do divino
Menino. Se não preparardes assim os vossos corações por uma
séria meditação do mistério do Verbo Encarnado, perdereis
as graças anexas a esta solenidade. Evitemos semelhante
desgraça, começando desde hoje a ocupar-nos deste mistério
e entrando em nova vida.

SEGUNDO PONTO

Para que meditar de um modo especial,


durante o Advento, a vinda do Senhor para nos julgar?

Sem dúvida, devemos lembrar-nos todos os dias da nossa vida deste


grande juízo que há de terminar o mundo, e dizer conosco a cada
ação: “Depois disto o juízo” ( Hb 9, 27 ). Todavia a Igreja, julgando este
pensamento eminentemente útil para nos incutir os sentimentos
de fervor próprios do santo tempo do Advento, convida-nos a
meditar nele com a narração do juízo final, que nos faz ler hoje

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1º domingo do advento

no Evangelho. É dever nosso conformar-nos com a sua intenção,


crer com viva fé neste grande dia, tão consolador para os bons, que
nele receberão a recompensa das suas virtudes, tão terrível para
os pecadores, que nele receberão o castigo dos seus erros; e ouvir,
como São Jerônimo, a voz da trombeta que a ele nos chamará. Oxalá
que esta voz retumbe no fundo do nosso coração durante todo este
santo tempo para nos fazer tremer diante só da aparência do mal,
e nos ensinar a praticar tudo o que é bem.

TERCEIRO PONTO

Porque meditar de um modo especial, durante o tempo do


Advento, a vinda do Salvador aos nossos corações pela Sua graça?

É porque esta vinda é o meio especial, pelo qual se comunicam


à alma as graças do mistério do Natal. Jesus Cristo, nesta grande
festa, não nasce corporalmente como em Belém, mas nasce
espiritualmente pela Sua graça nas almas bem dispostas. Vive
nelas pelo Seu espírito, e pelos sentimentos que nos inspira,
pela Sua humildade, Sua mansidão, Sua caridade, e por todas
as virtudes que nos comunica. Ó vida de Jesus em nós, quão
necessária nos sois! Só Vós, ó meu Deus, podeis restituir à nossa
alma desfigurada pelo pecado a Sua primeira beleza 2; só Vós
sois a nossa salvação, a nossa força, a nossa consolação; sem
Vós, a nossa pobre alma perece como a erva sem água 3. Nós
somos enfermos que não podemos ser curados senão por Vós;
homens caídos que não podemos ser levantados senão por Vós.
Mostrai-nos os Vossos divinos atrativos, que enlevam as almas;
e cativados dos Vossos encantos, recobraremos a flor perdida
da nossa inocência 4. Obtemos este nascimento e esta vida da
graça em nós:

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meditações para o tempo do advento

1º. À força de orações fervorosas, inspiradas pelo sentimento da


necessidade que dela temos;
2º. À força de vigilância para ouvir a graça que não pede senão
para falar-nos;
3º. À força de generosidade para lhe obedecer, e de abandono
simples e cheio de amor ao seu procedimento.
São estas as nossas disposições?

Depois destas três considerações tomaremos a resolução:


1º. De entrar em uma nova vida de contemplação e de oração,
própria do tempo do Advento;
2º. De ter um especial cuidado na perfeição de cada uma das
nossas ações ordinárias; o que será o melhor modo de santificar
este santo tempo.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:


“Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação” ( II Cor 6, 2 )

Referências:
( 1 ) Quod longius videri non debet, attenta festi illius excellentia – Lit. S.
Carl., de Adventus.
( 2 ) Tu, Christe, tu solus tuo delapsus e throno, Deus, imagini potes tuae
formam decusque reddere ( Hymn, Laudum et Vesper., Brev. Paris ).
( 3 ) Tu nostra, tu, Jesu, salus, tu robur et solatiam; arens est herba, te sine,
moratle tabescit genus ( Ibidem ).
( 4 ) AEgris salutarem manum extende, prostratos leva; ostende vultum, jam
suus mundo reflrescet decor ( Hymn. Laudam et Vesper., Brev. Paris )

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SEGUNDA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

MEIOS DE SANTIFICAR O ADVENTO

Meditaremos em três meios de santificar o tempo do Advento,


a saber:
1º. O Espírito de Penitência e de Reforma;
2º. Os Santos Desejos do Nascimento de Jesus Cristo em nós;
3º. Uma Devoção Especial ao Mistério da Encarnação.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos com um grande sentimento de amor e de reconhe-


cimento, o Verbo Encarnado residindo durante nove meses no
seio de Maria, donde há de sair na bem-aventurada noite do
Natal, para se manifestar ao mundo. Ele dá-nos o santo tempo
do Advento para dispor-nos a receber todas as graças anexas à
celebração do Seu nascimento. Agradeçamos-Lhe esta bondade,
e proponhamo-nos aproveitar-nos dela.

PRIMEIRO PONTO

O Espírito de Penitência e de Reforma:


1ª Disposição para passar santamente o Advento.

O tempo do Advento é, como já o meditamos, uma série de dias


santos e abençoados, destinados a preparar-nos para a festa
do Natal com uma vida melhor e mais perfeita. Seria, pois, de
alguma sorte profaná-lo, passá-lo como um tempo ordinário.
Antigamente a Igreja santificava o Advento com a abstinência,
o jejum, e mais longas orações. Se não temos esta coragem, ao

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meditações para o tempo do advento

menos devemos santificar-nos com sérias considerações acerca


do objeto dos nossos exercícios espirituais, acerca do emprego
do nosso tempo, acerca das nossas leituras e conversações,
acerca dos defeitos do nosso caráter, acerca da nossa vontade e
do nosso amor-próprio. Devemos examinar todas estas coisas
em face do presépio, tomando por Juiz o Menino-Deus. Este sério
exame fará nascer em nós grandes sentimentos de penitência
quanto ao passado, fortes resoluções quanto ao futuro, e uma
firme vontade de entrar em uma vida nova. Não há que deferir.
Estamos em um tempo santo. Convém pôr mão à obra de todo o
coração, e começar desde já, fixando alguns defeitos particulares
para corrigir até ao Natal.

SEGUNDO PONTO

Os Santos Desejos do Nascimento de Jesus Cristo em nós:


2ª disposição para passar santamente o Advento.

Quanto os patriarcas, e profetas desejavam a vinda do Messias,


tanto devemos desejar o Seu nascimento nos nossos corações
pela Sua graça. Porque, de que nos serviria a vinda do Messias
à terra se não viesse nascer e viver em nós, isto é, se não viesse
infundir-nos o Seu espírito e a Sua graça, penetrar-nos de Seus
sentimentos 1, visto que ninguém é cristão e pode salvar-se
senão com, esta condição? 2 Ora Jesus Cristo não vem à nossa
alma senão tanto quanto O desejamos e na proporção em que
O desejamos. Quem não O deseja, não O aprecia, e torna-se por
isso só indigno de recebê-lO. Devemos por conseguinte, durante
este santo tempo, ser homens de desejos 3; suspirar, como anti-
gamente os patriarcas, pela vinda da Messias, e como os santos
da lei nova, pelo reino de Jesus Cristo em seu coração, repetindo

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SEGUNDA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

muitas vezes com eles: Destilai sobre nós, ó céus, o vosso orvalho;
e as nuvens enviem-nos o Justo por excelência, princípio de toda
a justiça; abra-se a terra do nosso coração, e brote o Salvador 4. Ó
Salvador, rompei os céus, e descei de lá 5. Vinde sem demora, ó
Adonai, ó Emanuel, o Deus conosco, ó Rei dos povos, Santo dos
santos, esperança das nações, desejado das colinas eternas, sol
de justiça, esplendor da glória! Vinde, Senhor, vinde 6.
E estes santos desejos devem ser ao mesmo tempo ardentes e
generosos; ardentes, para estar em harmonia com a excelência
do dom que pedimos; generosos, para sacrificar tudo o que
desagrada ao Divino Hóspede, que chamamos a nós. O que Lhe
desagrada, não podemos ignorá-lo, é o amor das comodidades e
do bem-estar; é o orgulho: É tudo o que contrasta com a humil-
dade, o sofrimento e a pobreza do presépio.

TERCEIRO PONTO

Uma Devoção Especial ao Mistério da Encarnação:


3ª disposição para passar santamente o Advento

Esta devoção deve ser em todos os tempos eminentemente


prezada à alma cristã; mas, tendo a Igreja instituído o Advento
precisamente para nos obrigar a honrar e a meditar este misté-
rio, é do nosso dever ocupar-nos especialmente em estudar o
amor infinito, que uniu a sublime natureza de Deus à pobre
natureza humana, em agradecer, amar, louvar este grande
mistério; e para reparar o passado, não viver durante o Advento
senão no amor e na imitação do Verbo Encarnado, que Se dignou
fazer-Se o modelo vida cristã. Feliz do que compreender estas
verdades, e que durante todo este santo tempo se aplicar a pô-las
em prática, isto é, a amar e a imitar o Verbo Encarnado! Consiste

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meditações para o tempo do advento

nisto todo o cristianismo. Jesus Cristo não veio do céu à terra


senão para nela acender em todos os corações o sagrado fogo
do Seu amor, e nada fez que não fosse para mostrar-nos com o
Seu exemplo a norma de conduta que temos a seguir durante o
nosso trânsito na terra. Agradeçamos-Lhe este dúplice benefício,
e prometamos-Lhe aproveitar-nos dele.

Tomemos a resolução:
1º. De nos excitarmos, todos os dias deste santo tempo, a uma
vida melhor, e de pedi-la a Deus por fervorosos desejos;
2º. De pensar muitas vezes com amor no mistério da Encarnação,
principalmente recitando o Angelus.

O nosso ramalhete espiritual será a oração que a Igreja tomou


do profeta para recordar o reino de Jesus Cristo em nós:
“Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam
chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo
faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso.” ( Is 45, 8 )

Referências:
( 1 ) Hoc sentite in vobis quod et in Christo Jesu ( Fl 2, 5 )
( 2 ) Si quis spiritum Christi non habet, hic non est ejus ( Rm 8, 9 )
( 3 ) Vir desideriorum ( Dn 9, 23 )
( 4 ) Rorate coeli, desuper et nubes pluante Justum; aperiatur terra, et
germinet Salvatorem ( Is 45, 8 )
( 5 ) Utinam dirumpere coelos et descenderes ( Is 64, 1 )
( 6 ) Veni et jam noli tardare, o Adonai, o Emmanuel, o Rex gentium, Sancte
sanctorum, expectatio populorum, desiderium collium aeternorum,
sol justitiae, splendor luminis aeterni. Veni, Domine Jesu, veni ( Antif.
do Advento )

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TERÇA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

PRELÚDIOS DO JUÍZO FINAL

Meditaremos hoje e nos dias seguintes a segunda vinda do


Salvador para julgar o mundo no fim dos tempos, como no-lo
anuncia o Evangelho do domingo passado. Com relação a hoje,
nos limitaremos a considerar os três prelúdios do juízo, a saber:
1º. A Ressurreição geral;
2º. A Separação dos Bons e dos Maus;
3º. A Descida do Supremo Juiz precedido da Sua Cruz.

MEDITAÇÃO DO DIA

Adoremos Jesus Cristo, supremo Juiz dos bons e dos maus; dos
bons para os recompensar; dos maus para os castigar. Esperemos
na Sua bondade, dizendo com Santa Tereza: « Que consolação para
mim ter por Juiz o meu melhor amigo! »
Mas temamos também a Sua justiça, dizendo com São Paulo:
“Depois de cada ação, virá o juízo, que discernira o bem do mal” ( Hb 9, 27 )

PRIMEIRO PONTO

A Ressurreição Geral

Deus fará preceder este grande ato pela conflagração do


universo, que será reduzido a cinzas 1. Um montão de cinzas,
eis o que restará de todo este mundo, em que o gênero humano
se agita com tanto ruído, e a que se prende por tantos laços! Ó
filhos dos homens, conclui daí São Pedro, que mais é necessário
para vos decidirdes a ser santos, desinteressados, irrepreensíveis

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meditações para o tempo do advento

em todas as vossas ações? 2 — Assim preparado o teatro do juízo,


a voz do anjo fará ressoar nos quatro ventos dos céus a poderosa
palavra, que assustava São Jerônimo no deserto: Levantai-vos,
mortos, vinde a juízo 3. Todos os corpos e todas as almas obede-
cerão imediatamente. A alma dos justos se reunirá com alegria
ao corpo que ela animou, que participou em outro tempo dos
seus sofrimentos, e que agora vai participar da sua recompensa;
que até mesmo já dela participa: porque é glorioso, impassível,
imortal, ágil como os espíritos, brilhante como o sol. Oh! Como
então nos alegraremos de ter crucificado a nossa carne, votado
o nosso corpo à fadiga, ao trabalho, feito de todos os nossos
sentidos uma hóstia pura ao Senhor! Ao contrário, a alma dos
condenados se horrorizarão com a aproximação desse corpo,
que a perdeu: quereria fugir-lhe, separar-se dele para sempre;
mas uma mão invisível a ele o reúne. Ó maldito corpo, que me
condenaste, quão louco fui em lisonjear-te, poupar-te, animar-te!
Porque te não entreguei eu aos golpes da penitência! E dizendo
estas coisas, a pobre alma sente cruelmente a resposta que lhe
daria o corpo, se pudesse falar. Só tu é que tens a culpa. Deverias
guiar-me, dirigir-me; e fizeste-te meu escravo; lançaste-me na
lama, sabendo que dali cairia nas chamas.
— Entremos aqui em nós mesmos. Que será para nós esta
ressurreição? Será a ressurreição tão aprazível dos justos, ou a
ressurreição tão terrível dos pecadores?

SEGUNDO PONTO

A Separarão dos Bons e dos Maus

Ressuscitado assim o gênero humano, ouve-se uma voz: “Reuni


os meus fiéis, que selaram comigo aliança pelo sacrifício.” ( Sl 49, 5 )

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TERÇA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

Imediatamente os anjos se espalham pela assembleia dos


povos, ajuntam os escolhidos, coloca-os à direita, e expulsam
os maus para a esquerda 4. Que alegria para os bons ver-se final-
mente separados dos inimigos de Deus, reunidos a tudo o que
o céu tem de mais venerável, aos patriarcas e aos profetas, aos
Apóstolos e aos mártires, aos mesmos anjos e aos príncipes da
corte celestial! Oh! Que deliciosa companhia! Quão bem se acha
ali o coração, e que felicidade gozá-la para sempre! Ao contrário,
os condenados se enraivecerão, vendo-se repelidos para o meio
de tudo o que a terra produziu de mais vil, a corrupção de mais
infame, a perversidade de mais hediondo, para o meio de todos
os demônios! Oh! Que horrível companhia! Que desesperação
nunca poder separar-se dela! Oh! Quanto nos enganamos! 5
Exclamam esses desgraçados. Eis ali aqueles, cujo procedimento
regrado, cuja modéstia e piedade metíamos a ridículo, ei-los
resplandecentes de glória; e nós, eis-nos cobertos de opróbrio! 6
Ei-los colocados entre os filhos de Deus, os príncipes do céu 7;
e nós, que parecíamos espezinhá-los, eis-nos humilhados,
confundidos e condenados a eternos suplícios!
Ó alma minha, evitemos tão grandes desgraças com uma séria
reforma de nossa vida!

TERCEIRO PONTO

A Descida do Supremo Juiz precedido da Sua Cruz

Então, diz o Evangelho, aparecerá no ar o estandarte do supremo


Juiz, a cruz, como sinal precursor de sua próxima vinda 8.
Vendo-a, os justos soltarão um grito de alegria. A cruz fez as
suas delícias na terra; foi à sua sombra que ocultaram os seus
méritos, a seus pés que puseram as suas tribulações, nos seus

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meditações para o tempo do advento

braços que se lançaram pela mortificação e penitência. É por esta


razão que, vendo-a, exultarão tanto. Mas quão diferentemente
sucederá com os que não amaram a cruz! Tremerão vendo-a,
porque fará a sua condenação. Ela não prega senão privações, e
eles não quiseram senão gozos; não ensina senão a humildade,
a pobreza, e eles não buscaram senão glória e riquezas. Que será
para nós a cruz nesse grande dia? Pertence-nos decidir. — Entre-
tanto, atrás da cruz virá o supremo Juiz; aparecerá trazido sobre
os querubins, cercado de milhares de anjos, que formam a sua
corte. A este espetáculo, os justos se encherão de alegria. Oh!
Quanta razão tivemos para adorá-lO, amá-lO e temê-lO! Porque,
quão grande, amável e terrível é! Ao contrário, os condenados
se encherão de medo: pedirão aos montes que caiam sobre eles;
desejarão morrer, e a morte fugirá deles 9. Que matéria para sérias
reflexões!

— Tomemos a resolução:
1º. De conservar puros os nossos, corpos, para que ressuscitem
gloriosos;
2º. De seguir, em tudo, o exemplo dos santos, para não sermos
separados deles no último dia e expulsos para entre os maus;
3º. De amar Jesus e a Sua cruz, que farão a nossa alegria nesse
grande dia, se os tivermos amado durante a vida.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:


“Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada
um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito”
( 2 Cor 5, 10 )

Rezar o oferecimento na página 147

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TERÇA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

Referências:
( 1 ) Terra et qaue in ipsa sunt opera exurentur ( II Pd 3, 10 )
( 2 ) Cum igitur haec omnia dissolvenda sint, quales oportet vos esse in
sanctis conversationibus… exspectantes et properants in Adventum
Domini ( II Pd 3, 11-12 )
( 3 ) Surgite, mortui, ad judicium
( 4 ) Exibunt angeli et separabunt ( Mt 13, 49 )
( 5 ) Ergo erravimus ( Sb 5, 6 )
( 6 ) Hi sunt quos habuimus aliquando in derisum ( Ibidem )
( 7 ) Ecce quomodo computati sunt inter filios Dei ( Ibidem )
( 8 ) Mt 24, 30
( 9 ) Desiderabunt mori, et fugiet mors ab eis ( Ap 9, 6 )

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QUARTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

Exame das consciências

Meditaremos hoje sobre o juízo final e veremos:


1º. O rigoroso exame que nele se fará de todas as consciências;
2º. A glória que disso resultará aos bons;
3º. A confusão que disso provirá aos maus.

MEDITAÇÃO DO DIA

Representemo-nos, o supremo Juiz sentado no seu trono. Todos


os povos estão presentes; os acusados estão citados: suponhamos
que somos nós mesmos. Humilhemo-nos e tremamos.

PRIMEIRO PONTO

Exame das Consciências no Último Dia

Comparecerei pois diante desse tremendo tribunal, onde a


minha causa será instruída, toda a minha vida revelada, o mal
cometido, o bem omitido, o bem mal feito, as graças recebidas
sem fruto, o tempo perdido ou mal empregado, cada ação, cada
palavra, o principio que terá induzido a obrar ou a falar, cada
pensamento e segunda intenção, as confissões sem emenda, as
comunhões sem amor, as orações sem atenção 1. Eras homem,
eras cristão; tinhas de cumprir os deveres de teu estado, me dirá
o supremo Juiz; dá-me conta de todos estes títulos e ações. Como
homem, fiz-te à Minha semelhança: Onde estão esses traços
divinos, que gravei na tua alma dando-te a vida, essa igualdade,
essa integridade, essa moderação, essa perfeita decência, que

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QUARTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

faz o homem bom à Minha imagem? Como cristão, que confor-


midade há entre a tua vida e o Evangelho, essa lei tão casta, tão
severa, tão inflexível, em que nem um til há, que não devas
cumprir? Como colocado em um estado que obriga para com
a Igreja, a sociedade, a família, de que modo preencheste todos
os teus deveres? Não os desprezaste para não te incomodares
e constrangeres? Não antepuseste o prazer ao dever, o gozo à
consciência? Que imenso objeto de exame! Examinemo-nos a
nós mesmos, para não sermos julgados então 2.

SEGUNDO PONTO

Glória que provirá aos bons do


Exame de sua Consciência

Nesse dia Deus dará a cada um a glória que lhe for devida 3:
Revelará à admiração dos povos todos os méritos da alma
justa, a sua virtude tão pura, as suas intenções tão retas, os
seus sentimentos tão elevados e generosos, a sua constante
mansidão, a sua paciência tão perseverante, as suas orações
tão fervorosas, até os seus menores pensamentos, até as suas
menores ações ou palavras de caridade 4. Todos os povos aplau-
dirão ouvindo tão edificante relação; todos os que houverem
presenciado tão bela vida referirão também tudo quanto
tiverem notado de piedoso, de benigno e amável. Toda a
assembleia dos povos proclamará os seus louvores e celebrará
a sua glória. Oh! Que belo dia de triunfo para o justo! Quanta
razão tinha São Paulo para dizer, no meio das tribulações e
provações: Sofro, mas não sou confundido! Depositei todas as
minhas dores nas mãos do meu Juiz, e delas me recompensará
no grande dia de suas justiças ( II Tim 4, 8 )

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meditações para o tempo do advento

Quão próprio não é este pensamento para nos consolar nas


nossas aflições, para nos animar nos nossos infortúnios!

TERCEIRO PONTO

Confusão que provirá aos


condenados do Exame de sua Consciência

Este exame os encherá de indizível confusão.


— 1.° Confusão: De ver em um prato da balança do supremo Juiz
todas as graças recebidas: graças exteriores pelos sacramentos,
pelos ensinos e bons exemplos; graças interiores pelos bons
pensamentos e piedosos afetos; e no outro prato, onde seria
necessário tanta santidade para fazer equilíbrio, nada ou quase
nada, nenhuma virtude sólida; muito menos do que nada,
muitos pecados.
— 2.° Confusão: De ver a sua consciência patenteada a todos os
povos, que ali terão tantos pecados ocultos, tantos pensamentos
e desejos ilícitos, tanto amor-próprio e tantas pretensões orgu-
lhosas, tantos mistérios de iniquidade talvez.
— 3.° Confusão: De ouvir os gritos de indignação de tantas almas
que, sem mais meios já de salvação, se elevaram a uma alta virtude;
de tantas outras que em posição menos favorável, se conservaram
puras no meio do contágio do século, recolhidas entre a distração
dos negócios, humildes e desinteressadas no meio das grandezas
e riquezas. “É réu de morte eterna” ( Mt 26, 66 ) gritarão elas; e a estes
gritos de reprovação se juntarão os dos povos infiéis anatemati-
zando o contemptor das graças, os dos demônios reclamando-o
como sua presa, os principalmente de sua própria consciência que
o encherá de remorsos e o forçará a dizer consigo: “Agora vejo todos
os males que fiz, e reconheço que por isso é que eles veem sobre mim”.

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QUARTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

— Ó meu Deus, preservai-me de tão horrível confusão! Traspassai


as minhas carnes com o temor de vossos juízos 5. Para me subtrair
a isso, estou pronto para tudo, converto-me.

— Tomemos a resolução:
1º. De nos citarmos a nós mesmos todas as tardes para o tribunal
de Jesus Cristo, e de perguntarmos a nós mesmos o que dirá
deste dia o supremo Juiz: que dirá ele do uso que dele fiz, das
palavras que nele proferi, dos pensamentos a que me entreguei?
2º. De lembrarmo-nos, a cada hora do dia, das palavras de São
Paulo:
“Depois disto o juízo” ( Hb 9, 27 )
Estas palavras nos servirão de ramalhete espiritual.

Referências:
( 1 ) Nihil est opertum quod non revelabitur, et occultum quod non scietur
( Mt 10, 26 )
( 2 ) Quod si nosxnetipsos dijudicaremus, non utique judicaremur ( 1 Cor.
9, 31 )
( 3 ) Tunc laus erit unicuique a Deo ( 1 Cor 4, 5 )
( 4 ) Educet quasi lumen justitiam tuam, et judicium taum tamquam
merediem ( Sl 36, 6 )
( 5 ) Confige timore tuo carnes meas ( Sl 128, 120 )

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QUINTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

Sentença do Supremo Juiz

Meditaremos hoje:
1º. A sentença do supremo juiz a favor dos bons;
2º. A sua sentença contra os maus;
3º. As consequências desta dúplice sentença.

MEDITAÇÃO DO DIA

Transportemo-nos pelo pensamento ao juízo final, a essa cena


tão consoladora para os escolhidos, como tremenda para os
condenados. Vejamos o justo Juiz sentado no seu tribunal;
prostremo-nos a Seus pés e rendamos-Lhe a nossa adoração,
vassalagem e submissão; ouçamo-Lo com respeito proferindo
a Sua sentença definitiva.

PRIMEIRO PONTO

Sentença a favor dos Escolhidos

Nós conhecemos esta sentença: Vinde, benditos de meu Pai,


vinde tomar posse do reino que vos está preparado desde o
princípio do mundo ( Mt 25, 34 )
Vinde! Consoladora palavra para a alma justa! Vinde do traba-
lho para o descanso, das perseguições para a recompensa, das
misérias da terra para as delícias do céu. Vinde a mim, a quem
seguistes, desejastes e amastes; a mim, o vosso Deus, o vosso
último fim, o vosso supremo bem. Fostes por causa de mim,
e como eu odiado, perseguidos, amaldiçoados dos homens;

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QUINTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

sereis agora os benditos de Deus. Meu Pai abençoa-vos, o céu


abençoa-vos, sois abençoados para sempre, e esta benção vos
assegura a felicidade eterna. Tomar posse do reino que vos está
preparado desde o princípio. Um reino preparado por um Deus!
Isto é, a soberania, a glória, a riqueza, os prazeres, porque um rei
tem tudo isto; um reino preparado desde o princípio!
Isto é, ó meu Deus, que desde toda a eternidade pensastes
em mim, desde toda a eternidade me amastes; reservastes-me
os mais magníficos destinos, e me será concedido nesse dia
subir a um trono para dali julgar as nações. Por conseguinte, ó
alma minha, serão exaltados os que agora são humildes; serão
glorificados os que tiverem anteposto o dever aos discursos
e às opiniões dos homens; e como o ouro puro nunca é mais
brilhante do que quando se tira do centro da terra, onde estava
encerrado, eles aparecerão com Jesus Cristo na glória 1. Oh! Quão
próprios são estes pensamentos para eletrizar os ânimos, e fazer
amar a humildade, a pobreza, a simplicidade, a obediência!

SEGUNDO PONTO

Sentença contra os condenados

Depois da sentença a favor dos escolhidos, o supremo Juiz, voltan-


do-se para a esquerda, lançará aos condenados uma dessas terríveis
vistas, de que Davi pôde dizer: A terra tremeu; os seus fundamentos
foram abalados; porque o Senhor olhou para ela. Retirai-vos de
mim, malditos! Lhes dirá. Ai! Meu Deus, onde irão eles longe de
Vós? Que será deles sem Vós? Que será deles amaldiçoados por
Vós, amaldiçoados no seu corpo, amaldiçoados na sua alma e
em todas as suas faculdades? Ide para o fogo. Oh meu Deus, que
suplício! Para o fogo eterno. Oh meu Deus, que desespero! E esta

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meditações para o tempo do advento

tremenda sentença é sem apelação; já não há recurso para estes


desgraçados; a sua sorte está fixada definitivamente… Ah! Se os
homens nisto pensassem! 2 Aquele a quem não acorda este trovão,
não dorme, diz Santo Agostinho, está morto 3.

TERCEIRO PONTO

Execução da Dúplice Sentença

O supremo Juiz, levantando a sessão, sobe aos céus. Todos os seus


santos o seguem e lhe formam um glorioso cortejo. Elevam-se
radiantes, triunfantes, e fazem ressoar nos ares os cânticos da
vitória e da felicidade ( 1 Ts 4, 16 ). Testemunhas deste magnifico
espetáculo, os condenados ficam consternados. Oh! Quanto
desejariam seguir tantos conhecidos, parentes, amigos! Mas, ó
cruel separação! É necessário deixá-los… deixai-os para sempre…
dizer-lhes um último e pungente adeus. Adeus, pais cristãos,
amigos religiosos, cujos conselhos e exemplos eu não quis seguir;
adeus, mãe extremosa, cuja companhia era tão doce, cujo coração
era tão terno; adeus, santos anjos; adeus, todos os santos; adeus
Maria, que me haviam tanto recomendado que amasse e honrasse;
adeus, Jesus, que tanto fizestes para me salvar, adeus, formoso céu,
paraíso de delícias, que me estáveis destinado, e do qual me tornei
indigno; adeus, Trindade Santíssima, o meu princípio e o meu
fim! 4. Ai! EIe não pode já continuar estas lamentáveis despedidas:
A terra falta-lhe debaixo dos pés, o inferno abre-se, cai nele, e o
abismo fecha-se. O tempo terminou, a eternidade começa… Assim
passará o último dos dias; assim acabará o mundo. Ó meu Deus,
qual será a minha sorte nesse grande dia? Em que pensarei, se nisto
não pensar? E onde está a minha fé, a minha razão, se nisto penso, e
não tremer, não me emendar, não me tornar um santo?

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QUINTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

— Tomemos a resolução:
1º. De viver tão santamente que mereçamos ser admitidos entre
os escolhidos.
2º. De vigiar com este intuito as nossas ações, palavras e inten-
ções, perguntando a nós mesmos muitas vezes: É desta maneira
que obrariam, que pensariam, que falariam os santos?

Conservaremos como ramalhete espiritual a oração da Igreja:


“Lembrai-vos, ó bom Jesus, que foi por mim que viestes a este mundo:
Não me condeneis no dia de vossas justiças”.

Referências:
( 1 ) Cum Christus apparuerit, vita vestra, tunc et vos apparebitis cum ipso
in gloria ( Cl 3, 4 )
( 2 ) Utinam saparent, et intelligerent, ac novissima providerent ( Dt 32, 29 )
( 3 ) Non dormit, sed mortuus est
( 4 ) Vale, o paradise voluptatis! Vale, cruz pretiosa! Vale, Jesu! Vale, Maria!
Valete, omnes angeli! Valete, omnes sancti! ( Santo Efrém, Serm. de Jud. )

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SEXTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

Reino de Jesus Cristo em nós

Depois de ter meditado a vinda do Salvador no fim dos séculos,


meditaremos hoje a sua vinda e o seu reino nos nossos corações
pela Sua graça; e veremos:
1º. Que este reino é cheio de doçura e de alegria;
2º. Que todos os prazeres do mundo lhe não são comparáveis.

MEDITAÇÃO DO DIA

Adoremos Jesus Cristo vindo trazer o verdadeiro prazer ao


mundo no Seu nascimento. “Eis-aqui vos anuncio um grande
gozo” ( Lc 2, 10 ), diz o anjo aos pastores. Antes da Sua vinda,
os homens punham o prazer nos falsos bens da terra; não
buscavam satisfazer-se senão nas criaturas, nos prazeres da
vida, e as maiores abominações eram tidas como divertimento
ou brinco ( Ex 32, 6 );  mas depois da Sua vinda, aprenderam a
alegrar-se em Deus e a pôr a sua felicidade na posse de Deus.
Agradeçamos ao Verbo Encarnado esta mudança, que a Sua
vinda trouxe ao mundo.

PRIMEIRO PONTO

O reino de Jesus Cristo em nós é cheio de doçura e alegria

O que o profeta dizia da vinda do Messias à terra, pode muito bem


dizer-se da vinda de Jesus Cristo à alma cristã: Consolai-vos, meu
povo, diz Deus em Isaías, consolai-vos ( Is 40, 1 ); rompei em alegres
cânticos, porque o Senhor vem consolar o seu povo ( Sl 52, 9 ). Com

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SEXTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

efeito, bem-aventurada a alma em que Jesus Cristo vier nascer


espiritualmente, nestes dias abençoados, para nela viver e reinar
para sempre! Apreciará quão doce é o Senhor, quão deliciosos são
os prazeres inseparáveis da Sua presença no meio de um coração.
Estes gozos enchem a alma toda e nenhum vácuo, nenhum lugar
nela deixam para a aflição, turbação e inquietação. É porque só em
Deus se encontra a felicidade que pode satisfazer-nos plenamente;
e é, diz Santo Agostinho, como um antegosto do paraíso, de sorte
que ninguém pode alegrar-se na criatura, e que tudo o que não é
Deus ou para Deus. Uma só gota desta doçura, continua o mesmo
santo, desgosta de todo o resto.
Assim também vós: sem dúvida, agora estais tristes, mas hei
de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém
vos tirará a vossa alegria. ( Jo 16, 22 ). Todos os outros prazeres
são passageiros, e o medo de os perder envenena muitas vezes
a sua posse. Mas os gozos, que sentimos em Deus, nada pode
tirar-no-los. Ninguém pode tirar-me Jesus Cristo, dizia um antigo
religioso aos que lhe perguntavam a razão de seu contínuo
prazer. São prazeres que dão a tranquilidade durante a vida, a paz
na morte, o paraíso na eternidade. Ó Jesus, ó Rei cheio de doçura,
vinde, pois, nascer, viver e reinar em mim com a Vossa formosura,
a Vossa doçura, que enche o coração de consolação ( Sl 46, 3 )

SEGUNDO PONTO

Todos os gozos do mundo não são comparáveis


com os que acompanham o reino de Jesus Cristo em nós

Não há no mundo prazeres que satisfaçam completamente o


coração. Salomão, que os havia desfrutado todos, declara não
ter achado neles senão vaidade e aflição de espírito ( Ecl 1, 2-14 )

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meditações para o tempo do advento

Fui tudo o que se pode ser, dizia um imperador romano, e isto


de nada me serviu. Estes falsos prazeres param à superfície da
alma, não afetam senão a carne e os sentidos; por conseguinte
nunca satisfazem. Quantos mais se tem, tantos mais se quer
ter ( Pr 30, 15ss ); e ainda quando os possuíssemos todos, não
ficaríamos satisfeitos; porque nos fizestes para Vós, ó meu
Deus, e o coração fora de Vós está sempre inquieto, como nos
diz Santo Agostinho.
O olho não se farta de ver, nem o ouvido de escutar ( Ecl 1, 8 )
Finalmente os prazeres do mundo tem alguma coisa de pior ainda:
Distraem e enervam o coração a ponto de o tornar incapaz de toda
a virtude sólida; submerge-o nos sentidos corrompendo-o com
a sua falsa doçura; desgosta-o de Deus e das coisas espirituais; e
em última análise, causam-lhe amargos dissabores, profunda
tristeza durante a vida, desesperação na hora da morte, raiva na
eternidade 1. Aprendamos daqui a não buscar mais a felicidade na
terra, mas sim a buscá-la unicamente em Deus: Porque é somente
em Deus que ela se acha. São estas as nossas disposições?

— Tomemos a resolução:
1º. De pôr a nossa alegria em Deus só, e toda a nossa complacên-
cia na Sua vontade;
2º. De conservar, pelo hábito da contemplação, o reino de Jesus
Cristo em nós; e Lhe rogaremos com frequentes aspirações que
viva para sempre nos nossos corações.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Santo Agostinho:


“Tudo me seja amargo para que só Vós sejais doce à minha alma”.

Referências:
( 1 ) Amata inquinat, possessa onerant, amissa cruciant ( São Bernardo )

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SÁBADO DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

Primeira preparação para o Natal

Para dispor a nossa alma para o nascimento do Salvador, consi-


deraremos, na nossa próxima oração, que a preparação mais
urgente é:
1º. Renunciar ao pecado;
2º. Expiar o pecado pela penitência.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos Jesus Cristo advertindo-nos pela Sua santa Igreja, que


preparemos na nossa alma o caminho para a Sua próxima vinda 1.
Agradeçamos-lhe tão útil advertência, e prometamos-lhe pô-la
em prática durante todo o santo tempo do Advento.

PRIMEIRO PONTO

É preciso renunciar a todo o pecado: 1ª Disposição para a festa


do Natal
Quando um soberano ou algum grande personagem deve
vir habitar em alguma parte, o primeiro cuidado das pessoas
chamadas à honra de recebê-lo, é limpar o aposento que lhe
reservam, e tirar dele toda a mancha, que poderia ferir-lhe a vista.
Jesus Cristo deve, no Natal, vir nascer e reinar em nós, dirigindo
Ele mesmo os nossos sentimentos e procedimento. Toca-nos,
portanto, expulsar do nosso coração, não só todo o pecado,
mas todo o apego ao pecado, principalmente a certos pecados
preferidos, em que caímos tantas vezes, e que temos descul-
pado sempre a nós mesmos, apesar das reclamações da nossa

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meditações para o tempo do advento

consciência. Toca-nos não só chorar as nossas distrações volun-


tárias em si mesmas ou em suas causas, as nossas palavras pouco
caridosas, as nossas mentiras, a nossa sensualidade; mas também
extinguir a má disposição que gera essas culpas, a indevoção que
causa estas distrações, a secreta aversão de que procedem tantos
pecados contra a caridade, o espírito de orgulho, que nos induz a
dizer tantas mentiras para nos termos em grande conta, o amor
desordenado de nós mesmos, que produz a nossa sensualidade.
Cegos que somos, agarramo-nos aos ramos, e deixamos o tronco
e as raízes, que produzem novos ramos. Toca-nos separar-nos de
todas as ocasiões de queda, tais como certas companhias que nos
corrompem, certas ligações que nos arrastam, certas relações
que nos perdem. Examinemos aqui a nossa consciência.

SEGUNDO PONTO

É preciso expiar o pecado: 2ª Disposição para a festa do Natal


São necessárias duas coisas para expiar o pecado: o espírito de
penitência e as obras de penitência.

1.° O Espírito de Penitência


Como viria Nosso Senhor a nós, se não visse em nós um
verdadeiro arrependimento de O ter ofendido, se os gemidos
do nosso coração cheio de pesar e de dor lhe não dissessem
que O amamos, que deploramos o nosso triste passado, e que
queremos para o futuro melhor servi-lO? São estas as nossas
disposições? É verdade que os nossos pecados nos afligem, que
temos deles uma extrema dor, isto é, maior que de todos os
males que possam sobrevir-nos; uma dor sobrenatural, produ-
zida pelo Espírito Santo e fundada nos motivos da fé, uma dor
universal, que abranja todas as nossas culpas sem exceção? Não

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SÁBADO DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

nos deixam os nossos pecados as mais das vezes tão tranquilos,


tão indiferentes como se fôssemos inocentes? De onde provém
isto senão de que esse pesar não pode ser produzido senão pela
graça, a graça senão pela oração, e de que não rezamos ou reza-
mos mal; senão ainda de que não meditamos bastantemente o
horror que merece o pecado, as dores que causou a Jesus Cristo
na Sua santa Paixão, e o mal que faz a nós mesmos? Se, quando
pecamos, soubéssemos que perderíamos um dos nossos olhos
ou incorreríamos no desagrado de um dos nossos superiores,
detestaríamos essa culpa e a lastimaríamos amargamente depois
de a ter cometido.
Ó Jesus, quão pouca fé temos! Perder a nossa alma, incorrer
no Vosso ódio, desagradar-Vos, ó meu Deus, como o fazemos
pecando, não é este um mal maior do que todos os males imagi-
náveis? Senhor, movei o meu coração; sinta eu a desgraça de Vos
ofender ou desagradar, e chore as minhas culpas, principalmente
durante este santo tempo.

2.° As Obras de Penitência


Se o espírito de penitência é verdadeiro em nós, ele nos inspi-
rará ainda as obras de penitência; porque todo o pecado, até
perdoado, deve ser punido neste mundo ou no outro. Ora, a peni-
tência neste mundo é muito mais suave e meritória do que as
penas da outra vida. Basta para isto aceitar voluntariamente, por
espírito de expiação, todas as tribulações que nos sobrevierem,
e fazer da necessidade virtude; basta mortificar a nossa vontade,
os nossos desejos, os nossos gostos, o nosso gênio, privar-nos de
alguns pequenos gozos, que importam muito pouco à saúde,
não recusar à graça nenhum dos sacrifícios que nos pede; e estas
obras de penitência, longe de ser penosas, enchem a alma de
consolação. Encontra-se nelas incomparavelmente mais doçura

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meditações para o tempo do advento

do que amargura. Examinemos aqui diante de Deus, que vê o


íntimo dos corações, se temos o espírito de penitência, e se
fazemos obras de penitência.

— Tomemos a resolução:
1º. De vigiar sobre nós para evitar o pecado;
2º. De aceitar, por espírito de penitência, todos os trabalhos e
incômodos que possam sobrevir-nos.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Isaías:


“Preparai o caminho do Senhor” ( Is 40, 3 )

Referências:
( 1 ) Parate viam Domine ( Is 40, 3 )

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SÁBADO DA 1ª SEMANA DO ADVENTO

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meditações para o tempo do advento

2º DOMINGO DO ADVENTO

Segunda preparação para o Natal

Vimos na primeira preparação para o Natal, que consiste em


purificar a alma para a tornar própria para receber o Verbo
Encarnado. Meditaremos hoje como, depois de a ter purificado,
é preciso adorná-la e embelezá-la; e veremos que este adorno
se compõe:
1º. De santos afetos para com o mistério da Encarnação;
2º. Dos atos da vida cristã especialmente próprios do santo
tempo do Advento.

MEDITAÇÕES PARA O DIA

Tributemos os nossos respeitos ao Verbo Encarnado no seio de


Maria; adoremo-lO como O desejado das nações; admiremo-lO
como O supremo Senhor, que o amor reduziu a uma espécie
de aniquilamento 1; agradeçamos-Lhe ter Encarnado para nos
salvar. E para suprir a nossa impossibilidade de lhe agradecer
como merece, ofereçamos-Lhe os respeitos de Maria, dos anjos
e de todos os santos do céu e da terra 2.

PRIMEIRO PONTO

Dos tantos afetos para com o mistério da Encarnação

Os santos afetos são o alimento e a vida da piedade. São o incenso


lançado no fogo; conservam-lhe a chama. São o maná do deserto:
adaptam-se a todos os gostos, isto é, a todas as necessidades da
alma. São como o sabor de todos os mistérios: Exprimem o seu

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2º DOMINGO DO ADVENTO

suco e a sua graça, e os fazem correr como que espontaneamente


na alma, que reflete. Por exemplo, como contemplar o Verbo
Encarnado no seio de Maria sem dele falar às três pessoas divinas,
e dizer a cada uma delas a nossa admiração e o nosso louvor pela
parte que tomaram nesse grande mistério?
Como não dizer ao Pai: « Ó Pai Santíssimo, quanto Vos felicito
por este primeiro templo cristão, que construístes para Vós no seio de
Maria, e onde recebestes a primeira adoração digna de Vós! Quanto Vos
agradeço ter-nos dado o Vosso único Filho e ter sacrificado o inocente
para salvar o homem culpado! »
Como não dizer ao Verbo Encarnado: « Ó Filho Eterno de Deus,
com que delícias Vos contemplo nesse tabernáculo vivo, em que vindes
receber os nossos respeitos, nesse trono, em que Vos comprazeis de ser
adorado e bendito, nesse leito de justiça, em que gostais de perdoar,
nesse leito de repouso, em que quereis ser felicitado, nesse paraíso
terrestre, em que quereis ser amado! Ah! Diante desse santuário do
amor, eu só posso falar-Vos de amor. Eu dou-me a Vós para sempre.
Entrego-Vos tudo o que sou, para que façais de mim tudo o que Vos
aprouver. Chamo a mim o Vosso Espírito para me dirigir, o Vosso
Coração para me animar, a Vossa Santa Vida para ser a minha vida.
Eu amo-Vos, mas fazei que Vos ame sempre mais; ainda mais amor,
Senhor, sempre mais; porque Vos devo tudo; sem Vós estava perdido;
por Vós serei salvo, se eu quiser »
E como não dizer ao Espírito Santo: « Ó Espirito Divino, que
formastes este corpo tão puro, que lhe juntastes uma alma tão bela e
os unistes ambos ao Verbo em unidade de pessoa, glorificado, louvado,
amado sejais por causa deste mistério, que é obra Vossa! »
Como finalmente não dizer a Maria: « Ó Mãe de Deus, quão
sublime, quão admirável sois! Em vós estão concentrados todos os
esplendores dos santos, todas as perfeições dos anjos; participais
de toda a santidade de vosso Filho, que vive em vós, e em quem vós

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meditações para o tempo do advento

viveis. Admiro em vós a sua humildade, a sua obediência, a sua oração


contínua. Vós nada fazeis senão em Jesus e por Jesus. Ó minha Mãe,
quão feliz sou por contemplar, louvar, e bendizer a vossa santidade! »
É com estes afetos e outros semelhantes, que a alma se prepara
dignamente para a grande festa do Natal. Proponhamo-nos
preparar-nos do mesmo modo.

SEGUNDO PONTO

Atos da vida cristã próprios do santo tempo do Advento

Para conformar a nossa vida com um tempo tão santo, deve-


mos cuidar em aperfeiçoar as nossas ações usuais, em ser mais
vigilantes nas nossas palavras, mais atentos às nossas orações,
e principalmente aos atos das virtudes que o profeta Isaías
indica como meios de preparar o caminho do Messias, que está
próximo a vir. “Endireitai as vossas veredas”, diz ele ( Is 40, 3 ); isto
é, ide para Deus com uma reta intenção, não buscando senão
Deus, não tendo em vista senão agradar a Deus. “Que todo vale
seja aterrado, que toda montanha e colina sejam abaixadas: que os
cimos sejam aplainados” ( Is 40, 4 );  isto é, exercitai-vos na humil-
dade, na simplicidade, na moderação. Os caminhos tortos se
tornem estrada direita; isto é, deixai os caminhos do mundo,
que não são senão falsidade e mentiras, para seguir somente
os de Deus, que são verdade e justiça. “Os caminhos escabrosos se
aplanem” ( Is 40, 4 ); isto é, corrigi a rispidez do vosso gênio, para
ser mansos e benévolos para com todos 3.
A reta intenção e a simplicidade, a humildade e, a mansidão,
são, portanto, as virtudes pelas quais devemos preparar o
caminho de Jesus Cristo, se quisermos que venha aos nossos
corações. Esta preparação nos custará sacrifícios; mas Jesus

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2º DOMINGO DO ADVENTO

caminha na nossa frente, e foi o primeiro a fazer muito mais do


que nos pede; mas o caminho não é penoso senão à covardia,
que hesita; é suave para quem o trilha resolutamente. A alegria
da boa consciência faz que nem sequer se sinta que ele é penoso.
Acreditemos nos santos, que o experimentaram.

— Tomemos a resolução:
1º. De nos conservar-nos nesse espírito habitual de contempla-
ção, que facilita os piedosos afetos para com Deus;
2º. De praticar os atos de virtude que nos sugerir o Espírito de Deus.

O nosso ramalhete espiritual será hoje, como ontem, a


palavra de Isaías:
“Preparai o caminho do Senhor”( Is 40, 3 )

Referências:
( 1 ) Semetipsum exinanivit, formam servi accipiens ( Fl 2, 7 )
( 2 )  Amemus, redamemos
( 3 )  Omnem ostendentes mansuetudinem ad mones ( Tt 3 ,2 )

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meditações para o tempo do advento

SEGUNDA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

Decreto eterno quanto à Encarnação

Para melhor apreciar o mistério da Encarnação, objeto da


devoção deste santo tempo, meditaremos hoje quanto amor e
quanta bondade encerra o eterno decreto:
1º. De remir o homem depois do seu pecado;
2º. De remi-lo pela Encarnação.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Elevemos o nosso espírito até às mais intimas profundezas da


Santíssima Trindade; assistamos pelo pensamento ao conselho
destas três pessoas adoráveis, decretando entre Si o que vão fazer
do homem depois do seu pecado. Prostremo-nos humildemente
diante desse augusto conselho; adoremos, amemos, e louvemos
os Seus decretos tão cheios de amor e de bondade.

PRIMEIRO PONTO

Bondade de Deus decretando desde toda a


eternidade salvar o homem depois do seu pecado

Há neste decreto de Deus um insondável abismo de amor. Os


anjos tinham pecado antes do homem; ficaram sem redenção,
condenados para sempre ao inferno. O homem peca, e é remido.
Porque é esta diferença? O homem era indigno disto por todos os
títulos; porque é de uma natureza muito inferior aos anjos. Estes
são os primogênitos da criação; a sua natureza é nobre, excelente,
incomparavelmente superior à nossa; e nós não somos senão

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SEGUNDA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

bichos da terra, um pouco de lodo transformado em homem. Os


anjos não eram culpados senão de um pensamento de soberba; e
nós, enriquecidos dos mais belos dons de Deus, apesar do nosso
aviltamento, rebelamo-nos contra o nosso benfeitor; e isto em
uma circunstância, em que a obediência era tão fácil, em que
o preceito era intimado com tão terríveis ameaças. Porque é
esta preferência do homem ao anjo? Ó mistério de amor! E a
única resposta que se possa dar. O homem, pelos seus numerosos
pecados claramente previstos, não aparecia aos olhos de Deus
senão como um ser privado da graça e da justiça original, um
objeto de horror para a justiça divina, um expulso do paraíso
terrestre, um condenado à morte neste mundo e à morte eterna
na vida futura, se não fosse remido; e Deus redime semelhante
criatura com preferência aos anjos! Porque? Ó mistério de amor!
( Jo 3, 16 ) É toda a resposta. Esse homem, que Deus favorece com
tão admirável predileção, não lhe será reconhecido; Deus bem
o sabe: Será um coração duro, insensível a tanto amor, um
pérfido que recomeçará as suas ofensas e as repetirá mais vezes
do que tem de cabelos na cabeça; a maior parte dos homens
até recusarão aceitar a redenção e quererão condenar-se; não
haverá senão o pequeno número, que se aproveite deste bene-
fício; e apesar disto, Deus decreta a redenção do homem com
preferência aos anjos! Oh! Ainda uma vez, mistério de amor, a
que somente se pode responder; Deus amou assim o mundo,
porque quis! Pertence-nos adorá-lO, admirá-lO, agradecer-Lhe,
amá-lO e louvá-lO.

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meditações para o tempo do advento

SEGUNDO PONTO

Bondade de Deus decretando desde toda


a eternidade salvar o homem pela Encarnação

Deus tinha dois meios de salvar o homem: O primeiro, perdoar-


-lhe gratuitamente e sem redenção; o segundo, subministrar-lhe
com que pagar toda a sua dívida e oferecer à majestade divina
ofendida uma reparação igual à ofensa. Deus não quis o primeiro
meio, porque, se este meio fazia sobressair a sua misericórdia,
não fazia sobressair nem a sua santidade, nem a sua justiça, nem
a enormidade do pecado. Escolheu por conseguinte o segundo;
mas, sendo infinita a gravidade da culpa, visto que a gravidade de
uma injúria aumenta em proporção da superioridade da pessoa
ofendida sobre a que ofende, era preciso uma reparação de um
preço infinito; e onde achar uma tal reparação? Não era em Vós,
ó meu Deus! Pois que não podeis humilhar-Vos nem sofrer, duas
condições necessárias à expiação do pecado; não era qualquer
criatura, pois que se ela pode humilhar-se e sofrer, não pode
dar às suas humilhações e aos seus sofrimentos senão um preço
infinitamente limitado, o preço de um culto diminuindo em
proporção da superioridade daquele que o recebe sobre o que
o rende. Não podia por conseguinte ser senão na hipótese da
união hipostática das duas naturezas, realizada a qual, a natu-
reza humana poderia humilhar-se e sofrer, e a natureza divina
comunicar a estas humilhações e a estes sofrimentos um preço
infinito. Deus adota este plano admirável, único possível; e o
decreto da Encarnação lavra-se.
Ó Trindade Santíssima, eu Vos agradeço mil vezes! O Vosso
decreto enleva-me. É o triunfo da justiça, que é plenamente
satisfeito, o triunfo da bondade que se sacrifica, o triunfo da

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SEGUNDA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

sabedoria, que concilia o que parecia inconciliável, o triunfo


do poder, que une em uma só pessoa a extrema majestade e
a extrema humildade, o triunfo da prudência que mostrando
aos homens o que custa a um Deus para expiar o pecado, lhes
ensina por isso mesmo a evitá-lo. Não podendo reconhecer tão
grande benefício, ofereço-Vos, ó adorável Trindade, os louvores
de todas as criaturas do céu e da terra, rogando-lhes que Vos
bendigam e exaltem em todos os séculos. Ofereço-Vos a ação de
graças que Vos ofereceu em nosso nome o Homem-Deus desde
o primeiro momento de sua Encarnação; e conjuro-vos por Ele,
que nos perdoeis a nossa insensibilidade e ingratidão para com
tão augusto mistério de amor. Ofereço-Vos toda a minha vida, e
em particular este dia, que quero empregar em amar-Vos.

— Tomemos a resolução:
1º. De evitar com grande cuidado todo o pecado, ainda que
venial, que não pode ser expiado senão pela Encarnação;
2º. De não desprezar qualquer meio de salvação, por mais
penoso que possa ser, pois que para a salvação um Deus se fez
homem.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Evangelho:


“Amou tanto o mundo, que lhe deu o seu Filho unigênito para o salvar”
( Jo 3, 16 )

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meditações para o tempo do advento

TERÇA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

Decreto eterno quanto ao modo da Encarnação

Era já em Deus uma bondade infinita ter, desde toda a eterni-


dade, decretado salvar-nos, e salvar-nos pela Encarnação; mas
eis que agora se oferece às nossas meditações outro prodígio.
Porque meio salvará o Verbo Encarnado o homem? A Santíssima
Trindade decide em seus conselhos, que será:
1º. Pela humilhação;
2º. Pelo sofrimento;
3º. Pela morte.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos a Santíssima Trindade decretando em Sua sabedoria,


que o Verbo Encarnado teria na terra uma vida de humilhações
e sofrimentos, que terminaria pela morte da cruz. Louvemos a
Deus por semelhante desígnio: o mundo estava cheio de orgu-
lho; era preciso opor-lhe a humilhação de um Deus; perdia-se
pelo amor do prazer, era preciso opor-lhe os sofrimentos de um
Deus; estava apegado à vida, era preciso a morte de um Deus
para o despegar dela. Abençoado sejais, Senhor, por causa desta
sabedoria infinita, que assim ensina ao homem a humilhar-se,
sofrer e morrer; sede amado por causa desta bondade inefável
que, em vez da glória e dos resplendores que vos pertenciam,
abraça, para nosso bem, a humilhação, o sofrimento e a morte.

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TERÇA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

PRIMEIRO PONTO

Do decreto eterno, determinando que o


Verbo Encarnado salvaria o mundo pela humilhação

Teria sido já para o Verbo eterno uma incompreensível humilha-


ção, tão infinita era a distância, descer das alturas em que habita
até aos coros dos anjos; teria sido humilhar-Se ainda mais descer
até nós, ainda tomando o mais alto ponto a que possa elevar-se a
humanidade, e abismar deste modo uma natureza infinitamente
rica em uma natureza infinitamente pobre, esconder o Criador
na sua criatura, o ser em o nada, a divindade no lodo da nossa
carne. Porém, ó Trindade Santíssima, Vós vistes no meu coração
orgulhoso uma repugnância tão profunda para a humilhação,
que me é todavia devida por tantos títulos, que decidistes em
Vossa sabedoria que era preciso descer até ao último degrau
da nossa pobre natureza, e escolhestes para Vosso Verbo tudo
quanto há de mais humilde na condição humana, um canto
obscuro do mundo, uma pobre cabana; e nesta cabana, em vez
de aparecer de repente homem feito, nove meses de vida oculta
no seio de uma mulher de humilde condição; e ao cabo destes
nove meses, um presépio; a fraqueza de um menino; e ao sair da
infância, a condição de um pobre carpinteiro; e ao deixar esta
condição, três anos de um laborioso apostolado, perseguido
pela calúnia, pelo desprezo, pelo ódio, a ponto de ser chamado
um possesso do demônio, um agente de Belzebu, a ponto de ser
reputado pior do que Barrabás, ladrão e assassino, a ponto de
ser crucificado entre dois ladrões como o maior de entre eles;
e depois de uma tal morte, as irreverências, as profanações, as
humilhações infinitas e contínuas da Eucaristia! Ó meu Deus,
quão incompreensíveis são os Vossos decretos! Adoro-os e

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meditações para o tempo do advento

amo-os, porque têm por fim corrigir o meu orgulho, a minha


ambição e susceptibilidade. Não permitais que eu resista a tão
forte lição.

SEGUNDO PONTO

Do decreto eterno determinando que o


Verbo Encarnado salvaria o mundo pelo sofrimento

Se tivéssemos sido admitidos aos conselhos de Deus, teríamos


pensado, sem dúvida, que o Verbo, tomando um corpo seme-
lhante ao nosso, devia eximi-lo do sofrimento e inundá-lo
de gozo, e felicidade. A Santíssima Trindade decidiu de outra
maneira; decretou que o Verbo sofreria, e sofreria mais do que
todos os mártires juntos, que toda a Sua vida seria um contínuo
martírio, e mereceria, pelos seus sofrimentos, ser chamado o
rei dos mártires. Ó Pai Celestial, permiti-me, que Vos pergunte,
porque é um decreto tão rigoroso, e isto com relação a Vosso
Filho amado? Ah! Eu adivinho a Vossa resposta: É, me dizeis Vós,
porque quero ensinar ao mundo que o sofrimento é o castigo do
pecado, cuja expiação meu Filho aceitou; que o sofrimento é o
caminho da glória, o penhor e a medida da felicidade eterna para
os que sofrem como convém; é porque quem consolar os aflitos
de todos os séculos, mostrando-lhes que o sofrimento é um bem
e uma prova do amor que tenho às almas; é, finalmente, porque
quero oferecer a todos os homens, em meu próprio Filho, um
modelo de paciência e resignação no meio das provações. Ó
meu Deus, quão bom sois! Mil vezes obrigado por estas úteis
lições, que custam tão caro ao vosso Adorável Filho! Como me
aproveitei eu delas até agora? Amei eu o sofrimento e a cruz?
Perdão, meu Deus! A mim mesmo causo vergonha.

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TERÇA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

TERCEIRO PONTO

Do decreto eterno determinando que o Verbo Encarnado


salvaria o mundo pela morte da cruz

Não era necessário que o Verbo Encarnado morresse para nos


remir: Uma só gota do Seu sangue teria podido expiar os pecados
de milhares de mundos; mas a Santíssima Trindade escolheu
a morte como o sacrifício mais próprio para reparar a ofensa
feita a Deus pelo pecado, como o maior penhor da caridade
divina para conosco, finalmente como o exemplo mais capaz
de animar os mártires em seus sofrimentos e de ensinar a todos
os cristãos que a morte, transito do desterro para a pátria, é mais
para desejar do que para temer.
Entre todos os gêneros de morte, a Trindade escolheu a
morte da cruz, porque sendo ao mesmo tempo a mais igno-
miniosa e a mais cruel, ensina-nos melhor o preço da nossa
alma, a importância da nossa salvação, o horror ao pecado;
é mais própria para reavivar as nossas esperanças, reanimar
a nossa coragem entre os obstáculos; finalmente para nos
fazer trilhar  intrepidamente o caminho do céu. Ó meu Deus,
repito, quão bom sois! Como nada Vos custa quando se trata
do meu bem! Do alto da Vossa cruz, atrai-me a Vós, a fim de
que eu só viva por amor de Vós. Tornai-me a morte amável,
pois que primeiro a provastes.

— Depois de ter meditado estes profundos mistérios, tome-


mos a resolução:
1º. De aceitar de bom grado todas as humilhações e frustradas
esperanças do amor próprio, que nos sobrevierem;
2º. De submetermo-nos a todas as cruzes e provas da Providência;

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meditações para o tempo do advento

3º. De oferecermo-nos a Deus como vítimas dignas da morte em


virtude do pecado ( Rm 6, 23 ).

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:


“Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho” ( Rm 5, 10 )

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QUARTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

QUARTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

Glória de Deus pela Encarnação

Meditaremos hoje a glória que traz a Deus o mistério da Encar-


nação. A glória de Deus consiste na manifestação exterior das
suas infinitas perfeições: ora nós veremos que a Encarnação faz
sobressair admiravelmente:
1º. O poder de Deus, unido a uma justiça e bondade infinitas;
2º. A misericórdia de Deus, unida a uma justiça e santidade
infinitas.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos a Deus enviando os Seus anjos a anunciar ao mundo


a Encarnação do Verbo com estas belas palavras: Glória a Deus
no mais alto dos céus! Repitamos estas palavras com convicção
e amor; porque em nenhuma parte as perfeições divinas sobres-
saem mais do que neste mistério.

PRIMEIRO PONTO

Como é que a Encarnação faz sobressair em


Deus união do poder, da sabedoria e da bondade

Com efeito, que inefável poder não foi necessário a Deus para
unir na unidade de pessoa a Sua suprema majestade e a nossa
humildade, a soberana independência e a nossa escravidão, a
força que tudo pode e a fraqueza que nada pode! Que poder não
foi necessário para consumar esta união, como a fé no-la mostra,
identificar no Verbo a nossa natureza sem alterar a sua, e a forma

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meditações para o tempo do advento

de escravo sem diminuir a de Deus, para abaixar a majestade do


ser divino até nós, sem que seja menos elevado, despojá-lo sem
o empobrecer, abatê-lo sem o fazer decair, e tornar a divindade
visível sem a tornar menos adorável!
É esta na verdade, Senhor, a obra prima da Vossa Onipo-
tência, ou antes é a Vossa obra por excelência, diante da qual
nada são todas as Vossas obras 1. E, coisa não menos admirável,
ao poder, junta-se aqui uma sabedoria infinita que, para nos
perdoar, concilia ao mesmo tempo os direitos aparentemente
incompatíveis da justiça e da misericórdia: E que, para nos
curar, opõe aos nossos males os remédios mais convenientes:
À nossa soberba, a humildade de um Deus; à nossa sensuali-
dade, os sofrimentos de um Deus; ao nosso horror da morte,
a morte de um Deus. Ó Divina Sabedoria, quanto vos venero
neste mistério! 2 — E todavia, a bondade de Deus nele sobressai
ainda melhor. É possível uma bondade mais admirável do que
a que faz descer um Deus até à nossa baixeza? É o monarca
que vem misturar-se com os seus súditos para se fazer mais
amar por eles; é o bom pai, que desce até balbuciar com os
seus filhinhos para os instruir na vida do homem perfeito;
é o bom pastor, que se cobre com a lã das suas ovelhas para
as atrair a si. Ó Verbo Encarnado, Vós vindes fazer-Vos um de
nós, habitar e conversar conosco, viver a nossa vida, abatendo
a Vossa majestade para a tornar mais familiar, restringindo
a Vossa imensidade para no-la comunicar mais. Ó Bondade
Divina! Ó Bondade Infinita! Que outra cousa se pode dizer? 3
Ah! Senhor, eu deveria morrer de amor à vista de tanto amor.

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QUARTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

SEGUNDO PONTO

Como a Encarnação faz sobressair em


Deus a Santidade, a Justiça e a Misericórdia

Que é a santidade senão o extremo ódio ao pecador? Ora, Deus


em nenhuma parte mostra melhor do que neste mistério quanto
detesta o pecado. Persegue até a sombra dele em seu próprio
Filho, e isto com rigor sem igual. Cobre de chagas, de dores, de
ignomínias esse Filho amado; tira-lhe todo o sangue das veias,
e fá-lo morrer; não vê nele senão um anátema, um objeto de
maldição, só porque se responsabilizou pelos nossos pecados;
e fere-o sem misericórdia.
Ó meu Deus, quão santo Sois! Quanto detestais o pecado e
quanto não devo eu mesmo detestá-lo! Porque, se assim tratastes
o vosso Filho, como me tratareis a mim, pecador por natureza
e por malícia? 4. Ó Santidade de Deus, eu tremo diante de Vós.
— Não tremeria menos diante da Vossa justiça, Senhor, se pela
Vossa Encarnação não tivésseis tomado a minha dívida a Vosso
cargo: Porque, obrigado pelos mais pecados a uma reparação
infinita, eu era evidentemente um devedor insolvente. Mas eis
que encarnando pagastes superabundantemente o preço da
minha redenção; e o Vosso Pai, exigindo-o, mostrou ao céu e à
terra que é infinita a Vossa justiça, pois que não quis perdoar-me
menos de uma satisfação igual à ofensa. Ó justiça mais alta do
que os montes, mais profunda do que os abismos! O sangue de
Jesus Cristo satisfez-Vos plenamente: Nada mais tendes a exigir;
e o inferno mesmo seria uma satisfação infinitamente menor. É
esta a obra da Vossa misericórdia, ó meu Deus: Éreis o ofendido,
e sois Vós que reparais a ofensa; fazeis-Vos vítima em meu lugar,
e sofreis o castigo que me era devido. Ó misericórdia, ó justiça,

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meditações para o tempo do advento

Vós dais uma à outra o ósculo de paz; formais ambas uma aliança
inefável, que obrigará todos os séculos a dizer em um êxtases
de fé e de amor: Sim, na verdade, Deus é infinitamente justo,
infinitamente Misericordioso! Porque pois, ó meu coração, ficas
tu insensível diante de tão grande mistério? Porque adorar tão
pouco esta justiça, porque amar tão pouco esta misericórdia?

— Tomemos a resolução:
1º. De pedir muitas vezes a Deus um conhecimento sempre
maior das Suas perfeições, para O amar sempre mais;
2º. De honrar as perfeições divinas com frequentes atos de amor
acompanhados de uma profunda devoção, principalmente no
lugar santo e na oração.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São João:


“O verbo se fez carne … e nós vimos a sua glória” ( Jo 1, 14 )

Referências:
( 1 ) Domine, opus tuum ( Habac., cant. 2 )
( 2 ) Sapientiam in mysterio quae est abscondita ( 1 Cor 2, 7 )
( 3 ) Sic Deus dilexit mundum! ( Jo 3, 16 )
( 4 ) Si in viridi ligno haec faciunt, in arido quid fiet? ( Lc 23, 31 )
 

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QUINTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

QUINTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

Glória de Deus pela Encarnação – Continuação

Continuaremos a meditar a glória que traz a Deus a Encarnação


do Verbo; e para bem o compreender, consideraremos:
1º. Que, sem a Encarnação, o mundo nenhuma glória daria a
Deus digna dEle;
2º. Que, pela Encarnação, o mundo dá a Deus uma glória infinita.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado como centro do mundo, que se


refere todo a ele, como alma e vida de toda a criatura, como
mediador essencial entre o céu e a terra. Tudo fez o Senhor
para seu fim ( Pr 16, 4 ); mas esta glória é o Verbo Eterno que
lh’a alcança até um grau infinito em todas as partes da criação,
na terra como no céu, entre os homens como entre os anjos.
Tributemos-Lhe, com este intuito, louvores e ações de graças.

PRIMEIRO PONTO

Sem a Encarnação o mundo


nenhuma glória daria a Deus digna dEle

O mundo material é evidentemente incapaz por si mesmo de


honrar a Deus; não pode mostrar-se senão ao homem para lhe
dizer a seu modo: « Admirai quão grande é aquele que nos criou,
quão bom é o que tudo fez para vós. Honrai-o em nosso e vosso
nome ». De seu lado, o homem, cujos atos não podem ter senão
um preço extremamente limitado, pois que nem sequer pode

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meditações para o tempo do advento

por si mesmo formar um pensamento meritório, é incapaz de


cumprir esta grande missão. Que viria pois a ser, ó meu Deus,
do desígnio que Vos tínheis proposto criando, que era alcançar
uma glória infinita, a única digna de Vós? Evidentemente o Vosso
desígnio ia ficar frustrado e a Vossa obra mutilada, se não désseis
à criação um instrumento mais elevado do que o homem, um
instrumento que Vos adora e ama tanto quanto mereceis, isto
é, se o Vosso Verbo não encarnasse; pois que, sem isto, a criação
não teria tido senão dois resultados: Um, um culto imperfeito,
por conseguinte indigno de Vós; outro, a eterna reprovação de
todo o gênero humano, as suas ações sem mérito, as suas orações
sem virtude, a sua existência sem alvo. Tudo na terra teria sido
triste sem consolação, humilhante sem nada do que reanima.
Não teria restado aos homens senão o desespero; e teríeis podido
repetir com mais justiça a vossa palavra das primeiras épocas:
Pesa-me de ter criado o homem ( Gn 6, 7 )
Ó Verbo Encarnado, quão necessário, pois, éreis à glória de
Deus! Sede sempre conosco, pois sem Vós nenhuma glória
podemos dar a Deus Vosso Pai, que seja digna dEle.

SEGUNDO PONTO

Pela Encarnação, podemos dar a Deus uma glória infinita

O Verbo Encarnado, colocado essencialmente pela Sua digni-


dade à frente da criação, ali se torna o centro e instrumento,
a vida, a religião do céu e da terra, o ponto de junção de todas
as criaturas que por Ele oferecem culto a Deus, e dirigem ao
Pai Celestial orações de um preço infinito. Oh! Quão sublime,
quão belo, quão divino é o mundo unido assim ao Verbo, sua
cabeça! Os seres materiais adoram pelo homem; o homem

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QUINTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

adora por Jesus Cristo que, único digno adorador, recebe no


Seu coração o culto de todas as criaturas, as diviniza na Sua
pessoa cobrindo-as com os Seus méritos; e daqui resulta um
magnífico concerto de adorações, de ações de graças, de amor,
de louvores e orações, o qual, partindo ao mesmo tempo de
todos os pontos do globo terrestre, forma ante o trono de Deus
como um hino universal e nunca interrompido, tão glorioso
à majestade divina como proveitoso ao homem. Portanto um
só ato de adoração do Verbo Encarnado, alcança mais gloria ao
Criador do que o culto de milhares de mundos prolongados
durante toda a eternidade, ainda que se supusesse esses mundos
povoados de anjos, ocupados unicamente em glorificar a Deus.
Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo,
não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em
nossos lábios a mensagem da reconciliação. ( 2 Cor 5, 19 ); obtêm
à terra todas as graças e bênçãos ( Ef 1, 3 ) Eis aqui porque a Igreja
do céu não adora a Deus senão pelo Amém eterno, que une as
suas adorações às do Verbo; e a Igreja, seguindo o seu exemplo,
oferece o seu culto e as suas orações a Deus por Jesus Cristo.
Que consolação para nós poder assim render culto a Deus, e
dirigir-lhe orações de um preço infinito, e por conseguinte,
onipotentes sobre o Seu coração! Se tivéssemos uma viva fé nesta
verdade, conseguiríamos milagres ( Jo 16, 23 ). Mas ao mesmo
tempo, que dever nos é por isto mesmo imposto, de viver e obrar
sempre em união com Jesus Cristo, em um completo desapego
das criaturas e do amor-próprio, para não formar senão um com
Ele! É desta forma que agimos?

— Tomemos a resolução:
1º. De nos conservarmos unidos a Jesus Cristo pela confiança,
pelo amor, e por frequentes elevações de coração;

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meditações para o tempo do advento

2º. De fazer todas as nossas orações e ações em união com Ele.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do cânon da missa:


Tudo por Jesus Cristo, tudo com Jesus Cristo, tudo em união
com Jesus Cristo.

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SEXTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

SEXTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

Glória do homem pela Encarnação

Meditaremos a glória que provém ao homem da Encarnação do


Verbo, e veremos:
1º. Que ela eleva o homem em Jesus Cristo ao ápice da grandeza;
2º. Que o coloca, sob vários aspectos, em um estado melhor do
que antes da queda de Adão.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos, amemos e louvemos a infinita bondade de Deus, que


se compraz em fazer bem aos homens, até mesmo depois que
O ofenderam. O homem tinha-se degradado pelo seu pecado; o
Verbo Encarnado eleva até ao apogeu da grandeza a sua natu-
reza decaída. O homem tinha se privado dos dons da graça e
tornado inferior aos demônios; Deus engrandece-o e coloca-o
em um estado melhor, sob certos aspectos, de que o seu estado
primitivo. Manifestemos na Sua presença todos os sentimentos
do nosso reconhecimento e amor.

PRIMEIRO PONTO

Deus elevou em Jesus Cristo a


natureza humana ao apogeu da grandeza

Oferece-se aqui às nossas meditações um prodígio, que fará a


admiração eterna do céu. O verbo de Deus, unindo a Si a natureza
humana em unidade de pessoa, tornou-a por isto mesmo não
só superior a todos os anjos, mas também igual a Deus mesmo;

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meditações para o tempo do advento

porque em virtude da união hipostática, dir-se-á eternamente


com verdade, que em Jesus Cristo o homem é Deus, e que este
Homem-Deus tem direito ao mesmo culto que Deus. Desde a
sua entrada no mundo os anjos recebem a ordem de adorá-lO 1.
No deserto, os anjos veem servi-lO 2. No dia da Ascensão, Deus
Pai fá-lO sentar-se à Sua direita, como seu igual 3. Dir-se-á eter-
namente com verdade, falando de Jesus Cristo: A alma deste
homem é a alma de um Deus, as Suas mãos são as mãos de
um Deus; o Seu corpo é o corpo de um Deus; o Seu coração é o
coração de um Deus; e este Corpo será adorado por toda a terra
e no céu; esse Coração será o objeto do culto de toda a criatura
do tempo e na eternidade. Que inefável transformação da nossa
natureza, de tão baixo elevada tão alto! Mas se Deus no seu Verbo
honrou tanto a natureza humana, aprendamos daí a honrá-la em
nós, conservando-a sempre pura, sempre casta e santa, sempre
afastada de tudo o que mancha e degrada, sempre adornada de
tudo o que é bom, edificante, amável e honroso 4.

SEGUNDO PONTO

Deus, pela Encarnação, colocou-nos, sob vários aspectos,


em um estado melhor do que o estado antes da queda de Adão

Com efeito Deus, por Jesus Cristo, não se contentou de nos


tirar do abismo infernal a que estávamos condenados, de nos
livrar da escravidão do demônio, e de nos alcançar a remissão
das nossas culpas 5;  reintegra-nos também no Seu agrado e
nos nossos direitos ao céu, não só uma vez, mas todas as vezes
que os perdemos pelo pecado, por mais enormes, por mais
numerosas que sejam as nossas culpas, com a única condição
de aí confessar e nos arrependermos delas; de sorte que, graças

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SEXTA-FEIRA DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

à Encarnação, salva-se quem quer; não se condenam senão os


que querem condenar-se. Não é tudo: A Encarnação, com o
auxílio dos Sacramentos, faz-nos filhos de Deus, irmãos de um
Deus, membros de Jesus Cristo e um mesmo corpo com Ele;
faz-nos participar com Ele do reino dos céus e do Seu próprio
trono 6; transforma-nos em templos do Espírito Santo 7, que
habita em nós, em santuários vivos da divina Eucaristia, pela
qual Jesus Cristo se anexa ao nosso corpo e faz do nosso coração
um paraíso na terra; finalmente, torna-nos irmãos e coerdeiros
dos santos, com quem devemos reinar eternamente na glória.
Ó meu Deus, quão verdadeiramente se pode dizer, que a Vossa
santa Encarnação nos colocou em um estado melhor do que
o estado antes do pecado original; e quanta razão tem a Vossa
Igreja para exclamar, falando da queda de Adão: Feliz culpa, que
nos mereceu ter um tal Redentor! Mas como apreciamos nós
uma tal graça? Louvamos a Deus todos os dias? Amamo-lO mais?
Servimo-lO com mais zelo?

— Tomemos a resolução:
1º. De respeitar e conservar sempre puro o nosso corpo, já que
o Verbo Encarnado tanto o honrou;
2º. De crescer todos os dias no amor de Nosso Senhor, que tanto
nos amou, e de multiplicar os nossos atos de amor de dia e de
noite.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Igreja:


Ó feliz culpa, que nos mereceu ter um tal Redentor!

Referências:
( 1 )  Cum introducit Primogenitum in orbem terrae, dicit: Et adorent eum
omnes angeli Dei ( Hb 1, 6 )

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meditações para o tempo do advento

( 2 ) Angeli… ministrabant ei ( Mt, 4, 11 )


( 3 ) Dixit Dominus Domino meo: bede a dextris meis ( Sl 109, 1 ). Qui consedit
in dextera sedis magnitudinis in caelis ( Hb 8, 1 )
( 4 ) Quaecumque sunt vera, quaecumque pudica, quaecumque justa, quae-
cumque sancta, quaecumque amabilia, quaecumque bonae famae, si
qua virtus, si qua laus disciplinae, haec cogitate ( Fl 6, 8 )
( 5 ) In quo habemus redemptionem per sanguinem ejus, remissionem
peccatorum ( Cl 1, 14 )
( 6 ) Dabo ei sedere mecum in throno meo… ( Ap 3, 21 ). Consedere fecit in
caelestibus in Christo Jesu ( Ef 2, 6 )
( 7 ) Membra vestra templum sunt Spiritus sancti qui in vobis est ( 1 Cor 6, 19 )

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SÁBADO DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

SÁBADO DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

Felicidade do homem pela Encarnação

Meditaremos os grandes bens que nos provêm da Encarnação


do Verbo, e consideraremos o Verbo Encarnado:
1º. Como consolador das nossas aflições;
2º. Como médico caridoso que cura todas as nossas misérias.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Eterno atraído à terra pela Sua extrema


caridade, para ser nela o consolador dos aflitos, o amparo dos
que sofrem, a força dos fracos, o recurso do gênero humano. Oh!
Quão bem merece, por todos estes títulos, o nosso culto e amor!

PRIMEIRO PONTO

O Verbo Encarnado é o consolador de nossas aflições

Consideremos com um profundo sentimento de devoção,


o Verbo Encarnado apropriando-se aqui na terra de todas as
misérias da humanidade, à exceção do pecado, a fim de poder
deste modo mais facilmente consolar-nos e compadecer-se das
nossas enfermidades 1. Se houvesse vivido na terra no gozo e
prazer, não se teria dignado enxugar as lágrimas dos que sofrem
e choram. Do meio da opulência, a Sua palavra dificilmente teria
sido saboreada pelo pobre e indigente. Cercado de glória e de
honras, como teria Ele persuadido o amor da obscuridade e da
humilhação? Mas se, ao contrário, Ele pode dizer-nos:
« Vós sofreis, e eu também sofri, e sofri mais do que vós. Estais privados

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meditações para o tempo do advento

de muitas coisas, e eu também estive no seio de minha mãe nu e privado


de tudo, e depois do meu nascimento não tive toda a minha vida senão
o alimento, a habitação e o vestido dos pobres. A obscuridade e a humi-
lhação indignam-vos; e eu ocultei todas as minhas grandezas, e passei
na terra por um homem de nenhuma importância, por um ignorante,
um louco, um possesso do demônio, um criminoso! »
Então compreendemos quanto sem razão temos para queixar-
-nos; quanto Jesus Cristo, deificando na Sua pessoa a humildade,
a pobreza, a dor, as tornou dignas de toda a nossa estimação, de
todo o nosso amor; e consolamo-nos. Nós vimos dizer os nossos
males aquele que primeiro os sofreu, dirigir os nossos suspiros
e confiar as nossas lágrimas Àquele que chorou antes de nós
e por nós. Oh! Quão realmente era este O consolador que nos
convinha, um Homem-Deus experimentado nos trabalhos 2, um
Homem-Deus pobre e humilde! 3. Agradeçamos, amemos ao
Verbo Encarnado, e recorramos a Ele nas nossas aflições.

SEGUNDO PONTO

O Verbo Encarnado é o médico caridoso


que cura todas as nossas misérias

As nossas primeiras misérias são os nossos pecados, que nos


ferem pelo remorso, nos tiram a paz, algumas vezes até a
esperança, e arriscam a nossa salvação. O Verbo Encarnado
oferece-nos o remédio a este primeiro mal: Prepara-nos com o
Seu próprio Sangue um banho salutar, em que nos purifica de
todas as nossas maculas 4. Se caímos, levanta-nos e perdoa-nos,
contanto que voltemos para Ele; se recaímos, perdoa-nos ainda;
se recaímos sempre, perdoa-nos sempre, com a única condição
do arrependimento e propósito firme de emenda 5.

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SÁBADO DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

Depois do pecado, as nossas paixões são as nossas segundas


misérias; tiranizam-nos e impelem-nos sempre para a reinci-
dência. Ainda aqui, se recorremos ao Verbo Encarnado, se lhe
dizemos com confiança: Aquele que amais está enfermo 6; sarai
a minha alma, que pecou 7; Ele nos responderá: Recebei os meus
Sacramentos, meditai a minha doutrina, penetrai-vos dos meus
exemplos, e triunfareis das vossas paixões.
Finalmente, a nossa terceira miséria, que gera todas as outras,
é o deplorável erro que nos induz a crer que a felicidade consiste
no gozo dos bens exteriores, das honras, das riquezas, dos praze-
res; falsos bens que podem a todo o momento ser-nos tirados
pelos caprichos dos homens ou dos elementos. O Verbo Encar-
nado opõe a este grande mal o exemplo da Sua própria pessoa,
privada de todo o aparato exterior. Em redor dEle, não há senão
pobreza, humildade, padecimento, e dali diz eloquentemente
a quem quer ouvi-lO, que existe uma grandeza maior que a que
fere os sentidos, uma glória maior que a da fama, uma felicidade
maior que a dos prazeres; que toda a grandeza e felicidade do
homem não lhe vem senão de dentro, da paz da consciência,
da pureza do coração, e que tudo o que está fora de nós, como
não nos pertence, não podem tornar-nos melhores nem mais
honrosos 8. Temos nós até agora compreendido esta divina
linguagem? O que somos na opinião não nos move muito mais
do que o que somos perante Deus? Contentes de ser tomados
pelo que somos, não nos comprazemos nós nos louvores, que
bem sabemos que não merecemos? Acusados injustamente, não
nos deixamos nós abater, como se o desprezo público causasse
a menor mudança no que realmente somos?

— Tomemos a resolução:
1º. De recorrer em todas as nossas aflições a Jesus Cristo como

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meditações para o tempo do advento

único e verdadeiro consolador;


2º. De não nos afeiçoarmos aos falsos bens da terra, mas a Jesus
Cristo só.

O nosso ramalhe espiritual será a palavra do Salvador:


“Vinde a mim todos os que andais em trabalho, e vos achais carregados,
e eu vos aliviarei” ( Mt 11, 28 )

Referências:
( 1 ) Non habemus pontificem qui non possit compati infirmitatibus nostris,
tentatum autem per omnia pro similitudine absque peccato ( Hb 4, 15 )
( 2 ) Scientem infirmitatem ( Is 53, 3 )
( 3 ) Unde debuit per omnia fratribus similari, ut misecors fieret ( Hb 2, 17 )
( 4 ) Lavit nos a peccatis nostris in sanguine suo ( Ap 1, 5 )
( 5 ) Confide, fili, remittuntur tibi peccata tua ( Mt 9, 2 )
( 6 ) Ecce quem amas infirmatur ( Jo 11, 3 )
( 7 ) Sana animam meam, quia peccavi tibi ( Sl 11, 4 )
( 8 ) Omnis gloria… ab intus ( Sl 44, 14 )

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SÁBADO DA 2ª SEMANA DO ADVENTO

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3º DOMINGO DO ADVENTO

Estudar o Verbo Encarnado

Depois de ter considerado a excelência da Encarnação nos seus


efeitos, que são a glória de Deus, a glória do homem, a consolação
das nossas aflições e o remédio para os nossos males, meditare-
mos agora os nossos deveres para com este mistério. Deter-nos-
-emos hoje com o primeiro destes deveres, que é estudá-lO e
conhecê-lO a fundo; e veremos:
1º. Que não há estudo mais belo e mais digno do homem;
2º. Nenhum há mais útil.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Unamo-nos ao Apóstolo São Paulo ajoelhado diante de Deus Pai,


para solicitar a favor dos fiéis de Éfeso um conhecimento cada
vez mais profundo de Jesus Cristo e do Seu amor, conhecimento
que ultrapassa todo o entendimento 1. Aspiremos por possuir
este divino conhecimento, e chamemo-lo para a nossa alma com
todo o ardor do nosso coração. Senhor, conheça-Vos eu, para
que Vos ame.

PRIMEIRO PONTO

Não há estudo mais belo e mais digno do


homem do que o estudo do mistério da Encarnação

Com efeito encontram-se neste mistério unidas todas as perfei-


ções de Deus e todas as perfeições da criatura, pois que consubs-
tancial a seu Pai, o Verbo Encarnado é como Ele infinitamente

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3º DOMINGO DO ADVENTO

perfeito; e consubstancial a nós, possui todas as perfeições com


que Deus pode enriquecer uma criatura. A mesma Santíssima
Trindade nisso põe toda a Sua complacência 2; nisso acha para Ele
uma glória infinita; o céu nisso acha a Sua alegria, o Seu tesouro,
o objeto dos Seus mais belos cânticos, e exclama: Glória a Deus
no mais alto dos céus! 3. Haverá coisa mais digna dos estudos da
inteligência humana? Nós gostamos de conhecer os homens
ilustres, e nos envergonhamos de ignorar a sua origem, a sua
história, as suas proezas; e estudamos tão pouco o Verbo Encar-
nado, a glória e a honra da nossa natureza, que Ele une a si em
unidade de pessoa o nosso redentor e salvador, o nosso Rei e
Senhor, e ao mesmo tempo o nosso irmão, o nosso coerdeiro
e co-autor do reino dos céus! Conhecemo-lO tão mal! E mere-
cemos tanto a censura, que São João fazia aos judeus: Ele está
no meio de vós, e não o conheceis 4. Se Moisés dizia a si mesmo,
falando da sarça ardente: Irei e verei esta grande maravilha 5,
como não diremos nós conosco: Quero estudar e conhecer cada
vez mais a maravilha superior a todas as maravilhas, a maravilha
de Deus imutável por essência, começando a ser o que não era;
a maravilha do Deus permanecendo Deus sem nenhum detri-
mento de Sua majestade e glória, posto que fazendo-Se homem
e apropriando-Se as Suas fraquezas e misérias; a maravilha do
supremo culto reservado até então a Deus só, e agora tributado
a um homem Deus, não somente pelos homens, mas também
pelos mesmos anjos, que nele adoram a fraqueza onipotente,
o Eterno nascido no tempo, o infinito limitado a um pequeno
espaço, o autor do mundo descido à classe das Suas obras e
Ele mesmo tornado uma tão pequena parte do mundo. Quero
contemplar e estudar o Criador na Sua criatura, o céu na terra,
a suprema glória na baixeza, a infinita riqueza na pobreza, a
imortalidade na morte, e ainda melhor do que tudo isto, a vida

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meditações para o tempo do advento

divina na humanidade, as perfeições do céu tornadas visíveis na


terra, a mais profunda humildade na mais sublime elevação, a
abnegação na divindade, o sacrifício incomparável naquele a
quem é devido todo o sacrifício.
Como é que não imitamos São Paulo, que fazia de Jesus Cristo
o seu contínuo estudo e a sua única ciência? Não conhecer
coisa alguma senão Jesus Cristo, era toda a sua ambição 5; e em
comparação desta divina ciência tudo o mais lhe parecia antes
perda do que lucro 6. É deste modo que estimamos o estudo e o
conhecimento de Jesus Cristo?

SEGUNDO PONTO

Não há estudo mais útil do que o


estudo do mistério da Encarnação

Deus deu-nos todas as coisas com Jesus Cristo 7; este mistério é


um tesouro inesgotável de riquezas e de bens espirituais. Mas
um tesouro só é útil enquanto não se esgota; e não se esgota o
mistério da Encarnação senão estudando-o. Neste estudo, apren-
de-se a amar a Deus Pai, que nos deu o seu Filho, a Deus Filho, que
se entregou a nós, a Deus Espírito Santo, que obrou este mistério
no seio de Maria, e à própria Maria, que para isso tão divina-
mente cooperou. Quanto mais se estuda este grande assunto,
tanto mais o coração se abrasa em amor; e já se não quer viver
senão de amor pelo Deus que tanto nos amou. Estudando este
mistério, aprendemos a ajuizar sensatamente de tudo, porque
conhecemos os juízos e as apreciações de Jesus Cristo, regras
infalíveis da verdade; aprendemos a fazer santamente todas as
coisas, porque pomos diante dos olhos os exemplos do Homem-
-Deus, adorável modelo de tudo o que é bem. Se queremos adorar

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3º DOMINGO DO ADVENTO

a Deus, adoramo-lO perfeitissimamente unindo o nosso culto


ao do Verbo Encarnado, que o diviniza, apresentando-o a seu
Pai, coberto de toda a dignidade da Sua pessoa. Se queremos
solicitar graças, depositamos a nossa oração no coração do Verbo
Encarnado, que lhe comunica a onipotência da Sua intervenção
sobre o coração de Deus. Finalmente, estudando este mistério,
a virtude nele aparece tão bela, tão encantadora, que o coração
se lhe afeiçoa com delícias e acha a sua prática tão suave como
fácil. Porque dizemos conosco: O meu Deus nada me pede que
não haja feito primeiro; poderia eu queixar-me, e achar que
pede demasiado? Tais são as precisas vantagens que oferece o
estudo do mistério da Encarnação. Temo-nos aproveitado dele
até agora? Estudamo-lo com amor no Evangelho, nos escritos de
São Paulo e dos Apóstolos, nas obras piedosas, que descrevem a
sua beleza e majestade?

— Tomemos a resolução:
1º. De refletir muitas vezes acerca deste mistério, principalmente
quando ouvirmos o toque do Angelus;
2º. De repetir muitas vezes com amor a oração de Santo Agostinho:
Senhor, conheça-Vos eu para que Vos ame.
E estas palavras nos servirão de ramalhete espiritual.

Referências:
( 1 ) Flecto genua mea ad Patrem…, ut det vobis… seire supereminemtem
scientiae caritatem Christi, ut impleamini in omnem plenitudinem
Dei ( Ef 3, 14. 16. 19 )
( 2 ) In te complacui ( Mc 1, 11 )
( 3 ) Gloria in altissimis Deo ( Lc 2, 14 )
( 4 ) Medius autem vestrum stetit, quem vos nescitis ( Jo 1, 26 )
( 5 ) Vadam, et videbo visionem hanc magnam ( Ex 3, 3 )

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meditações para o tempo do advento

( 6 ) Non judicavi me scire aliquid… nisi Jesum Christum ( 1 Cor 2, 2 )


( 7 ) Existimo omnia detrimentum esse propter eminem tem scientiam Jesu
Christi ( Fl 3, 8 )
( 8 ) Cum illo omnia nobis donavit ( Rm 8, 32 )

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SEGUNDA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Amar o Verbo Encarnado

Meditaremos o nosso segundo dever para com o Verbo Encar-


nado, que é amá-lO; e veremos:
1º. Qual é o amor do Verto Encarnado para conosco;
2º. Qual deve ser o nosso amor para com o Verbo Encarnado.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Divino residindo desde toda a eternidade


nos esplendores dos santos; e do meio de tanta glória, aceitando
com amor infinito a missão que lhe dá seu Pai de vir fazer-Se
carne neste mundo para nos salvar. Quando São Francisco de
Sales meditava este mistério, caia em profundo pasmo, e daí
em êxtases de reconhecimento e de amor. Imitemos este grande
santo, e digamos com todo o céu: “Digno é o Cordeiro de receber a
virtude, a divindade, a honra, a glória e o louvor” ( Ap 5, 12 )

PRIMEIRO PONTO

Qual é o amor do Verbo Encarnado para conosco

Quatro considerações fazem sobressair o amor de um benfeitor:


A excelência do dom que concede, o modo como o concede, a
indignidade da pessoa a quem o concede, e a razão por que o
concede. Apliquemos aqui estas quatro considerações:
1º. Qual é a excelência do dom que nos é concedido pela Encar-
nação? É infinitamente mais do que se Deus nos concedesse
todas as riquezas do céu e da terra, do que se nos concedesse

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meditações para o tempo do advento

até mesmo os nove coros dos anjos para nos servir, pois que é
o Seu próprio Filho, o Verbo, por quem tudo foi feito, e que é
Deus como Ele, que Ele nos concede 1. Pesemos em silêncio a
excelência deste dom: nenhuma palavra poderia dizê-la.
2º. Consideremos o modo como este dom nos foi concedido. O
Verbo Eterno entregou-Se a nós tornando tudo o que há de mais
vil em nós 2. Para criar o mundo, bastou-Lhe uma palavra; para
o salvar, desce em pessoa do Seu trono, e abaixa-Se até à mais
ínfima condição. Ó amor, quão inefável Sois! E que é o homem,
ó meu Deus, para que o ameis com tanto excesso?
3º. O homem não é senão uma pequena e fraca criatura. Por
sua culpa decaída da dignidade primitiva; é um bicho da terra
revoltado, um pecador a que não eram devidos senão castigos; e
Vós, meu Deus, substituí-lo para sofrer a pena que lhe era devida!
E Deus Pai aceita esta substituição, entrega-Vos à morte, a Vós,
o Seu Filho inocente, para salvar o homem culpado! Ó amor,
quão inefável sois!
4º. Em outro tempo os judeus perguntavam ao Salvador por que
razão Ele, que era homem, se fazia Deus 3. Ah! Porque não lho
perguntavam antes por que razão Ele, que era Deus, se tinha
feito homem? Teria podido responder-lhes: É porque vos amei
e quis obrigar-vos a amar-me. Amei-vos com um amor gratuito,
sem que o tenhais merecido; com um amor superior a todas as
ingratidões e ofensas. Eu bem previ que somente um pequeno
número saberia apreciar o meu amor, e que a maior parte o
desprezaria; todavia, amei-vos, e vim 4. Ó mistério de amor!
Como agradecer-Vos o bastante?

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SEGUNDA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

SEGUNDO PONTO

Qual deve ser o nosso amor para com o Verbo Encarnado

Ah! Talvez até agora o hábito de falar e de ouvir falar deste grande
mistério sem nele refletir maduramente nos tenha tornado como
que insensíveis a ele. Todos os dias dizemos estas palavras, que
deveriam de cada vez fazer derreter-se em amor os nossos cora-
ções: “O Verbo se fez carne” ( Jo 1, 14 ) e dizendo-as, o nosso coração tem
a frieza do mármore, a dureza da pedra. É preciso que no futuro não
seja assim; é preciso amar esse Deus tão bom, amá-lO com um amor
decidido, que diga com São João: Portanto, amemos a Deus, porque
nos amou primeiro. Amá-lO com um amor generoso, que diga com
São Bernardo: “A medida do amor divino é amar sem medida”. Amá-lO
com um amor forte, que abrace de boa vontade todos os sacrifícios,
quer os que a Providência nos oferece, quer os que a maldade dos
homens nos impõe. Amá-lO, finalmente, com um amor prático,
que em todas as palavras, intenções e ações somente se propõe
agradar-Lhe, e as observa com cuidado para evitar até as menores
coisas que possam desagradar-Lhe. Oh! Quão longe estamos de ter
amado assim! Humilhemo-nos, e emendemo-nos.

— Tomemos a resolução:
1º. De repetir muitas vezes com admiração e amor a palavra do
Evangelho: “O Verbo se fez carne” ( Jo 1, 14 ). Ó mistério de inefável
amor!
2º. De praticar todas as nossas obras por amor para com o Verbo
Encarnado, tendo em vista conseguir amá-lO sempre mais.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São João:


“Portanto, amemos a Deus, porque nos amou primeiro” ( 1 Jo 4, 19 )

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meditações para o tempo do advento

Referências:
( 1 ) Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret ( Jo 3, 16 )
( 2 ) Verbum caro factum est ( Jo 1, 15 )
( 3 ) Quia tu, homo cum sis, facis te ipsum Deum ( Jo 10, 33 )
( 4 ) Deus, qui dives est in misericordia, propter nimiam caritatem suam quae
dilexit nos, et cum essemus mortui peccatis, convivificavit nos in Christo
( cujus gratia estis salvati )( Ef 2, 4 ).

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TERÇA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Imitar o Verbo Encarnado

Meditaremos o nosso terceiro dever para com o Verbo Encar-


nado, que consiste em imitá-Lo; e veremos:
1º. Que o desígnio de Deus, decretando a Encarnação, foi dar-nos
o Verbo Encarnado por modelo;
2º. Que a excelência deste modelo nos convida a imitá-Lo.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Filho de Deus descido do céu à terra não só para


nos remir, mas também para nos ensinar, com o Seu exemplo,
a vida cristã. Antes de pregar a Sua doutrina, Ele começou por
praticá-la ( At 1, 1 ). Cumpre os seus conselhos e preceitos antes
de no-los dar, para que nenhum pretexto tenhamos para não
os observar. Agradeçamos-Lhe tão tocante condescendência, e
excitemo-nos a imitá-Lo.

PRIMEIRO PONTO

O desígnio de Deus, decretando a Encarnação,


foi dar-nos o Verbo Encarnado por modelo

Quando Deus, em Seus eternos decretos, decidiu a Encarnação


do Verbo, propôs-se patentear aos homens o modelo da nova
vida que devia salvá-los. Como homem, o Verbo Encarnado lhes
mostraria o caminho; como Deus, lhes garantiria a perfeição
do modelo. As Suas virtudes seriam imitáveis, porque seriam
praticadas por um homem; e seriam uma norma segura, porque

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meditações para o tempo do advento

seriam praticados por um Deus. Se, pois, diz São Boaventura,


este Verbo adorável se tornou visível na terra, se conversou
familiarmente com os homens, se Se sujeitou às ações até mais
comuns, não foi senão para nos dar o exemplo em tudo 1.
Dei-vos o exemplo, diz ele mesmo, para que como eu
fiz, assim façais vós também. ( Jo 13, 15 ) Eu sou o caminho, a
verdade e a vida. O caminho, que deveis seguir, a verdade, que
deveis ouvir, a vida, que deveis viver ( Jo 14, 6 ). Finalmente,
o Pai Eterno declara-nos, por Seu lado, que a predestinação
de todos os escolhidos é com a condição de ser conformes à
imagem de Jesus Cristo 2. É esta a razão porque São Basílio nos
diz que o cristianismo não é senão a imitação de Jesus Cristo 3.
São Gregório de Nissa: Que não merece a denominação de
cristão senão aquele que exprime em sua vida a vida de Jesus
Cristo 4; Santo Agostinho: Que Jesus Cristo veio à terra para ser
o exemplo da vida perfeita 5; São Lourenço Justiniano: Que a
vida de Jesus é o verdadeiro modelo da perfeição, o tipo da boa
vida, o ensino da religião, e a expressão de todas as virtudes 6.
Temos nós até agora bem compreendido esta verdade funda-
mental, e diligenciado regular a nossa vida pela de Jesus Cristo?

SEGUNDO PONTO

A excelência do modelo que nos é oferecido


em Jesus Cristo convida-nos a imitá-lO

1º. É o modelo mais glorioso: Que mais honroso, mais próprio


para lisonjear um coração do que ser chamado a imitar um Deus,
como diz São Paulo!
2º. É o modelo mais irrecusável:  Quem poderia achar
muito penoso aquilo a que um Deus se sujeitou primeiro,

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TERÇA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

prometendo-nos a Sua graça para elevar a nossa fraqueza à Sua


altura?
3º. É o modelo mais amável: Porque se nós buscamos asseme-
lhar-nos às pessoas que amamos, se esta semelhança faz que
elas nos amem, à imitação de Jesus Cristo, é pois não só um ato
de amor para com Ele, mas também um meio de conseguir que
nos ame mais.
4º. É o modelo mais ao nosso alcance: A Sua vida não é austera
como a de São João Batista, que teria assustado a nossa fraqueza.
Teve uma vida simples e comum; comeu, dormiu, trabalhou
como nós; padeceu, chorou, passou por todas as privações; para
nos servir em tudo de exemplo. Compreendemos nós que felizes
somos por ter ante os olhos um modelo tão admirável? Preten-
demos copiá-lO e dizermos conosco: É assim que Jesus Cristo
obraria, falaria, pensaria? É esta a Sua religião, a Sua caridade, a
Sua mansidão, a Sua modéstia, a Sua abnegação, o Seu espírito
de sacrifício?
É o que conviria dizer conosco todos os dias e a todos os
instantes, se fosse possível.

— Tomemos a resolução:
1º. De comparar muitas vezes os sentimentos de Jesus Cristo
com os nossos, particularmente com relação ao amor da cruz,
da pobreza, da preeminência;
2º. De entrar dentro em nós antes de cada ação ou de cada deter-
minação, para fazer esta pergunta a nós mesmos: Que faria ou
que pensaria Jesus Cristo? 

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salvador:


“Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também
vós” ( Jo 13, 15 )

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meditações para o tempo do advento

Referências:
( 1 ) Ad hoc nobis de caelo missus est Filius Dei, ut aperiret nobis vias
virtutum, ut sicut ad imaginem ejus naturaliter creati sumus, ita ad
morum ejus similitudinem per imitationem virtutis reformemur ( De
Inst. novit., XXXII, 1 )
( 2 ) Quos praeseivit et praedestinavit conformes fieri imaginis Filii sui ( Rm
8, 29 )
( 3 ) Definito christianismi est imitatio Christi ( Reg. fus exp., 43 )
( 4 ) Veram Chrsiti appellationem habemus, si Christum vita nostra expres-
serimus ( De perf. christ. )
( 5 ) Venit Christus ut exemplar verum, perfectionem speci men, forma recte
vidende, religionis magisterium, cunctarumque norma virtutum.

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QUARTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Vida de Escondimento, de Solidão e


de Silêncio do Verbo Encarnado

Para bem cumprir o tríplice dever de estudar, de amar, e de


imitar o Verbo Encarnado, começaremos por meditar a vida
que teve durante nove meses no seio de Maria; e veremos que
foi uma vida de escondimento, de solidão e de silêncio.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos Jesus ainda criança no seio de Maria, onde quis residir


durante nove meses. Não quis aparecer de repente homem
feito aos olhos do mundo; preferiu seguir a condição comum,
e começar no seio de uma mulher a Sua vida de Verbo Encarnado.
Admiremos, louvemos este desígnio de Sua Eterna Sabedoria; e
supliquemos-Lhe que no-la faça compreender e imitar.

PRIMEIRO PONTO

A vida do Verbo Encarnado no seio de Maria


foi uma vida de escondimento

Coisa admirável! É ali no escondimento que quis residir, durante


nove meses, Aquele que habita os esplendores dos santos. É ali,
que encerrando no mais pequeno espaço a Sua humanidade,
escondendo na fraqueza a Sua onipotência e na simplicidade
de uma criança a Sua infinita sabedoria, este amável cativo se
enclausurou por causa dos nossos crimes, a fim de nos evitar os
cárceres do inferno; por causa das nossas dívidas, porque éramos

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meditações para o tempo do advento

devedores falidos; e não quis sair desta clausura senão no dia e


na hora designados por seu Pai. Ainda mais: Não foi senão para
vir ter neste mundo uma vida de tormento e martírio, sofrer uma
cruel morte, e enclausurara-Se depois, até ao fim dos séculos, no
Santíssimo Sacramento. Ó admirável e mil vezes amável cativo,
tornai-me cativo do Vosso amor, prendendo-me ao Vosso serviço
por laços de afeição que nada possa quebrar!

SEGUNDO PONTO

A vida do Verbo Encarnado em Maria


foi uma vida de solidão

Jesus reside voluntariamente nesta solidão tão desconhecido,


que ninguém, senão Maria, sabe que Ele ali está. E para que é
isto senão para nos ensinar que não devemos diligenciar ver
nem ser vistos; que todo o mundo, ainda quando o víssemos
em seu conjunto e em suas partes, não nos ofereceria senão
um vão espetáculo; que é melhor conservarmo-nos ocultos,
cuidando da nossa alma, do que atrair as vistas com milagres,
descuidando-nos de nós mesmos; que há mais proveito em ter
trato com Deus do que com as criaturas; que Deus se compraz
na solidão do coração, longe do tumulto; que quanto mais
nos separarmos do mundo e das suas conversações frívolas,
tanto mais Deus se aproximará de nós, nos falará ao coração,
nos fará gozar as delícias da Sua presença, a doçura das Suas
consolações; tanto mais fácil nos será também conservar-nos
puros e ter com o céu um santo trato? Ó vida de retiro, quão
preciosa sois! Quão bom é fechar as portas do nosso coração
às criaturas e nele conversar com Jesus! Em nenhuma parte, se
encontra um tal sossego; em nenhuma parte se é mais senhor

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QUARTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

de si e se pertence mais a Deus. É este o apreço que fazemos da


vida de retiro e de solidão?

TERCEIRO PONTO

A vida do Verbo Encarnado no seio de Maria


foi uma vida de silêncio

O Verbo Encarnado, ama tanto o silêncio que, durante nove


meses, não diz uma palavra, e, para o Seu nascimento, escolhe
o tempo da noite, em que todas as criaturas estão caladas 1.
Desde o Seu nascimento até ao momento em que geralmente
as crianças começam a falar, cala-se, e desde este momento até
ao Seu trigésimo ano, não pronuncia senão as palavras que
exigia a necessidade ou o decoro. Durante os três anos de Sua
missão, fala, porque é preciso; mas desde a Sua morte até ao
fim dos séculos cala-Se ainda na Eucaristia. Ó admirável silên-
cio, que nos ensina que o silêncio é a escola da sabedoria; que
é nele que nos instruímos na grande arte de falar e de obrar
a propósito, por espírito de reflexão, de fé, de recolhimento
e de oração; que há no coração do homem, que se cala, um
tesouro melhor do que nos lábios do sábio que fala 2 ; que a
devoção, que não é defendida pelo silêncio, dura pouco 3; que
o muito falar distrai 4, e faz cair em inúmeros pecados 5; que,
finalmente, a religião, que não refreia a língua, é uma religião
vã 6. Quanto mais silêncio há, tanto mais inocência há; se o
falar causa distração, o silêncio extingue-a. Antes de falar, o
homem prudente examina se o que vai dizer vale mais que o
silêncio. É assim que o fazemos? Pomos nós a nossa felicidade
no silêncio, e preferimos deixar falar os outros a falarmos nós
mesmos?

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meditações para o tempo do advento

— Tomemos a resolução:
1º. De não buscar o trato do mundo sem necessidade;
2º. De amar o retiro e o silêncio, como mais favoráveis à inocên-
cia da vida e ao recolhimento da oração.

O nosso ramalhete espiritual será a máxima da Imitação:


É no sossego e no silêncio que a alma faz progresso ( I Imitação
de Cristo 20, 6 )

Referências:
( 1 ) Cum quietum silentium contineret omnia, et nox insuo curso medium
iter haberet, omnipotens sermo tuus a regalibus sedibus… praesili-
vit ( Sb 18, 14-15 )
( 2 ) Magnus thesaurus in ore sapientis, sed non minor in corde tacen-
tis ( Tomás de Kempis, Vallis liliorum )
( 3 ) Perit devotio, quae non custoditur sub silenti fraeno ( Tomás de Kempis,
Vallis liliorum )
( 4 ) Vanis verbis fit animus vagus, vix valens ad interiora redire ( Tomás de
Kempis, Vallis liliorum )
( 5 ) In multiloquio non deerit peccatum ( Pr 10, 19 )
( 6 ) Si quis putat se religiosum esse non refraenes linguam suam… hujos
vana est religio( Zc 1, 26 )

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QUINTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Sua vida humilde e pobre no seio de sua Mãe

Continuaremos a meditar a vida de Jesus em Maria; e veremos


que é:
1º. A vida mais humilde;
2º. A vida mais pobre.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado reduzido no seio de Maria ao


estado mais humilde e mais pobre. Agradeçamos-Lhe ter-se
assim abatido para expiar a nossa soberba, assim empobre-
cido para corrigir o nosso amor das riquezas; e de nos ter por
isto ensinado à Sua humildade e a pobreza, duas virtudes tão
gratas ao Seu coração, tão penosas ao nosso.

PRIMEIRO PONTO

O Verbo Encarnado no seio de Maria tem a vida mais humilde

Ele que tem o Seu trono no mais alto dos céus, abaixa-Se e
restringe-Se a mais extrema pequenez do corpo duma criança
no seio de sua mãe. Ao menos, no presépio, estará patente aos
olhos humanos, os anjos cantarão a Sua glória, os pastores O
adorarão, e os magos se prostrarão diante dEle; mas aqui tudo é
oculto: É o aniquilamento 1. Daí este grito de espanto, que solta a
Santa Igreja: Vós não tivestes horror ao seio da Virgem 2. Dignas
primícias de Sua vida inteira, que não será senão uma série de
humilhações, de desprezos e de opróbrios, e não deixará ver

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meditações para o tempo do advento

na Sua pessoa, ainda que Rei dos reis, senão o último e o mais
humilde dos homens. Que lição para o nosso amor-próprio! Nós
somos tão sensíveis quando nos desprezam, quando não pensam
em nós e quando parecem abandonar-nos! A obscuridade e a
vida oculta indignam tanto a nossa soberba! A estimação e o
louvor deliciam tanto o nosso coração! Façam-nos, finalmente,
as humilhações do Verbo Encarnado envergonhar-nos de tais
sentimentos. Quando Aquele, que é tão grande, se faz tão
pequeno, fica mal a quem é tão humílimo querer fazer-se grande.

SEGUNDO PONTO

O Verbo Encarnado no seio de Maria tem a vida mais pobre

Aquele que tão magnificas riquezas confiou ao céu e á terra,


podia muito bem possuí-las, mas não as quis. Privou-Se de tudo
se encarnando, e fez-Se pobre por amor de nós 3. Ganhou afeição
à pobreza, e não a achando no seio de seu Pai, veio buscá-la no
seio de Sua Mãe. Ali Ele está inteiramente nu, sem até mesmo
esses pobres panos em que O envolveram no presépio. Ali
exulta com o pensamento de que nascerá pobre, viverá pobre,
morrerá pobre, e que, ao sair do seio de Sua Mãe, não poderá,
sem o auxílio de Sua criatura, nem alimentar-se, nem vestir-se,
nem prover a nenhuma das necessidades da vida. Comparemos
este estado do Verbo Encarnado com as nossas disposições.
Jesus ama tanto a pobreza, e nós tememo-la ; buscá-la, e nós
fugimos dela. Tudo falta a Jesus, e nós nada queremos que nos
falte; delicados e sensíveis às menores privações, diligenciamos
evitá-las, e afligimo-nos ao menor incômodo, que nos sobrevêm.
O mesmo necessário não nos basta; nos é preciso, além disto, o
precioso, o luxo e a vaidade.

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QUINTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Ó Jesus, que consagrastes a pobreza 4, que a honrastes com à


Vossa escolha, e a divinizastes na Vossa pessoa, ensinai-me a pôr
em Vós só toda a minha riqueza. Fazei-me compreender que um
homem é rico quando Vos possui; que, para adquirir tão grande
bem, deve renunciar a tudo e a si próprio; que, ao contrário, ele
é pobríssimo, quando não Vos possui, ainda que tivesse todos
os bens do universo 5.

— Tomemos a resolução:
1º. De não buscar distinguir-nos e fazer-nos conhecer, e de nunca
dizer nada em nosso proveito;
2º. De amar a pobreza e de empregar o nosso supérfluo em boas
obras.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Imitação:


“É uma grande glória servir-Vos, ó meu Deus, e desprezar todas as
coisas por amor de Vós” ( III Imitação de Cristo, 10, 50 )

Referências:
( 1 ) Seme ipsum exinanivit, formam servi accipiens ( Fl 2, 7 )
( 2 ) Tu… non horruisti virginis uterum ( Hino Te Deum )
( 3 ) Propter vos egenus factus est, cum esset dives, ut fillius inopia divites
essetis ( 2 Cor 8, 9 )
( 4 ) Beati pauperes ( Mt 5, 3 )
( 5 ) Pauperrimus est qui vivit sine Jesu, et ditissimus qui bene est cum
Jesu ( II Imitação de Cristo, 8, 2 )

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SEXTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Sua vida mortificada no seio de sua Mãe

Meditaremos a vida mortificada que teve o Verbo Encarnado, no


seio de Sua Mãe; e admiraremos como neste estado mortificou:
1º. Os seus sentidos;
2º. A sua vontade;
3º. A sua liberdade.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado no seio de Maria, sujeitando-Se


nele, durante nove meses, a uma mortificação universal, e
começando a vida de martírio e de sacrifício, que deve conti-
nuar durante todo o tempo do seu trânsito na terra. Tudo nEle
é mortificado: Os sentidos, a vontade, a liberdade. Abençoemos
este grande exemplo, que Ele nos dá, e supliquemos-Lhe a graça
de nos aproveitarmos dele.

PRIMEIRO PONTO

O Verbo Encarnado no seio de Maria


mortifica os Seus sentidos

Com efeito, nem os Seus olhos gozam da luz nem a Sua língua do
uso da palavra, nem os Seus membros da faculdade de se mover.
Passa nove meses na mais profunda obscuridade, molestado em
todo o Seu corpo. As outras crianças, então privadas de razão,
não sentem o incômodo desta posição; mas com uma razão
perfeitamente desenvolvida, ver-se na clausura, no cativeiro e

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SEXTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

nas trevas, que cruel mortificação! Que privação universal! A


estes sofrimentos dos sentidos exteriores acresciam os dos senti-
dos interiores, do espírito e da imaginação, que conservavam
incessantemente presentes ao Seu pensamento a Sua morte tão
ignominiosa como dolorosa, a perdição eterna de tantas almas
que recusariam aceitar a salvação que vinha trazer-lhes, as dores
futuras de Sua Mãe, os tormentos dos mártires, e as lágrimas e
perseguições de todos os santos. Todas estas dores carregavam a
Sua alma dum peso imenso, que Ele suportava com resignação.
Que grande coração nesse pequeno corpo! Que excesso de
caridade em um Deus para com a Sua criatura! Mas também
que exemplo para nós! Jesus não está um instante sem padecer
por nosso amor, e nós nada queremos padecer pelo Seu serviço.
Mortifica a Sua vista, e nós queremos conceder tudo à nossa;
crucifica os Seus sentidos, e nós queremos lisonjeá-los; sofre
extremas amarguras interiores, e nós indignamo-nos contra as
nossas. Envergonhemo-nos da nossa covardia, que nada quer
padecer por um Deus que tanto padeceu por nós.

SEGUNDO PONTO

O Verbo Encarnado no seio de Maria mortifica a Sua vontade

Jesus reside nove meses no seio de Maria por obediência a Seu


Pai; não mede o tempo segundo os Seus desejos, mas conforma
os Seus desejos com os mandatos de Seu Pai, com escrupulosa
exatidão. Sabedoria encarnada, Ele tinha direito de dirigir
e regular por Si mesmo as Suas ações; mas renuncia ao uso
deste direito, e deixa a Sua vontade à disposição da obediência.
Obedece não só aos mandatos de Seu Pai, mas aos de Maria, que
O leva onde quer; aos do imperador romano, de São José, de

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meditações para o tempo do advento

todos aqueles a que Maria estava sujeita. E o que faz no princípio


de Sua vida, o fará até ao fim 1; e depois de ter tido uma vida toda
de obediência, morrerá por obediência 2.
Aprendamos daqui a nunca tomar a nossa vontade por norma
do nosso procedimento e de nossas determinações; mas, a não
querer, como Jesus Cristo, senão o que Deus quer 3, e a querê-lo
fortemente e do fundo do coração, inteiramente e sem reserva.
Aprendamos daqui a regular o emprego do nosso tempo,
segundo o beneplácito de Deus, a fazer cada coisa oportuna-
mente, não dando aos negócios o tempo da oração, às diversões
o tempo do trabalho, à conversação o tempo de nos calarmos.
Ó Senhor, Vós que sois Deus, renunciais a Vossa vontade, e eu,
bicho da terra, quero fazer a minha? O Vosso prazer é obedecer,
e eu desejo mandar? Que cegueira é a minha!

TERCEIRO PONTO

O Verbo Encarnado no seio de Maria mortifica a Sua liberdade

O Verbo Encarnado não só renuncia a Sua própria vontade,


mas também privando-Se até do poder, toma todas as fraquezas
da infância e sofre por escolha todas as enfermidades que as
crianças sofrem por necessidade. Ele que com uma só palavra
criou tudo o que existe, torna-Se mudo sem poder pronunciar
uma palavra para nos ensinar a calar-nos, a não murmurar nem
queixar-nos nos incômodos; a não disputar com os outros, como
se quiséssemos sempre prevalecer a ceder modestamente, como
se nada tivéssemos que replicar; a refrear a nossa língua, quando
a paixão está excitada como se dela tivéssemos perdido o uso.
Ele que move tudo, não pode fazer outro movimento senão o das
crianças no seio de sua mãe, para nos ensinar a conservar-nos na

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SEXTA-FEIRA DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

inação, quando as enfermidades corporais a ela nos reduzem,


a reprimir os movimentos da natureza corrompida, para não
obrar senão segundo os impulsos da obediência e da graça.
Finalmente, Ele que, no seio de Seu Pai, é soberanamente inde-
pendente, depende de Maria, pelo que respeita à sua vida, ao
seu alimento, à sua conservação; não tem o ser e a vida humana
senão por dependência de Maria; não tem outro alimento senão
o sangue de seu coração, até que chupe o leite de seus seios;
e a sua conservação depende unicamente dela; ele não pôde
defender por si mesmo o seu corpinho tão fraco, tão delicado;
a menor imprudência de sua Mãe pode matá-lO.
Ó Deus, tão sujeito, tão falto de forças, tão dependente, ensi-
nai-me a reprimir este espírito de independência, filho de minha
soberba, esse mau uso da língua, que não sabe calar-se quando
convêm, e esse desejo de fazer o que me apraz!

— Tomemos a resolução:
1º. De mortificar os nossos sentidos, principalmente os olhos e
a língua, até mesmo nas coisas permitidas, a fim de nos acostu-
marmos a mortificá-los nas coisas proibidas;
2º. De viver com regra e na obediência, sem jamais ceder ao
capricho.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:


Jesus Cristo nunca buscou a sua própria satisfação ( Rm 15, 3 )

Referências:
( 1 ) Quae placita sunt ei, facio semper ( Jo 8, 29 )
( 2 ) Factus obediens usque ad mortem ( Fl 2, 8 )
( 3 ) Non mea volutnas, sed tua fiat ( Lc 21, 24 )

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SÁBADO DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Sua vida recolhida no seio de sua Mãe

Meditaremos as ocupações interiores do Verbo Encarnado


durante a Sua estada no seio de Sua Mãe. A primeira destas ocupa-
ções era prestar continuamente a Deus quatro grandes ofícios:
1º. A adoração;
2º. O amor;
3º. A ação de graças;
4º. O louvor.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado, formando no seio de Maria um


verdadeiro paraíso, onde presta a Deus Seu Pai o mais perfeito
culto que possa ser-Lhe prestado. Quanto mais Ele se compraz
em prestar-lhe, tanto mais Deus se compraz em recebê-lO.
Alegremo-nos de ver Deus tão perfeitamente honrado, e bendi-
gamos o Verbo Encarnado, que lhe alcança semelhante glória.

PRIMEIRO PONTO

Adoração que o Verbo Encarnado


presta a Deus no seio de Maria

A adoração procede do conhecimento de Deus e de nós mesmos


– Quem és Tu, Senhor? Quem sou eu? Quanto mais conhece-
mos a excelência e as perfeições do Ser Divino, tanto mais nos
enchemos de respeito, nos humilhamos, nos aniquilamos na
Sua presença; quanto mais também nos conhecemos a nós

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SÁBADO DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

mesmos, tanto mais nos sentimos pequenos diante de Deus


e nos abatemos até ao nada. Ó Pai Santíssimo, o mundo não
Vos conhece 1, e ele não se conhece a si mesmo: Daí provém que
Vos adora tão pouco e tão mal. Ah! Se os homens soubessem o
que Sois e o que lhes sereis na eternidade, quão respeitosos e
humilhados se conservariam diante de Vós na Igreja, na oração,
em toda a parte e sempre! Quanto profundariam o abismo do
seu nada e dos seus pecados diante do Vosso Divino Ser, abismo
de todo o bem!
Era o que excelentemente fazia o Verbo Encarnado. Conhe-
cendo perfeitissimamente a imensa distância que separa o
Criador da criatura, entregava-se na presença de seu Pai aos
mais profundos respeitos, à mais humilde adoração, e glorificava
com todas as suas forças a infinita majestade de Deus. Então
viu-se o que nunca se tinha visto, um Deus adorado e um Deus
adorando, um Deus prestando a Deus respeitos, que O honram
tanto quanto o merecem as Suas perfeições infinitas; todo o céu
extasiado diante desta maravilha, dizendo Amém a esta sublime
adoração, e cantando à porfia:
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos. Benção, honra,
glória, e poder ao nosso Deus por séculos dos séculos ( Ap 5, 13 )
É deste modo que adoramos a Deus? Ah! Quão pouco sabemos
encher-nos de respeito diante das Suas perfeições e envergonhar-
-nos da nossa miséria diante da Sua santa majestade!

SEGUNDO PONTO

Amor que o Verbo Encarnado presta a Deus no seio de Maria

A alma de Jesus, entrada no estado de bem-aventurança desde


o primeiro momento de Sua existência, goza desde então da

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meditações para o tempo do advento

clara vista de Deus patenteando-se pela primeira vez a olhos


mortais. Esta vista abrasa-O no mais perfeito amor beatífico; Ele
submerge-se extasiado neste oceano de todo o bem; possui-o,
goza-o, ama-o com transporte. A Sua união pessoal com o
Verbo, dando-Lhe uma vista superior em claridade a toda a
luz dos anjos, dá-lhe por isto mesmo um amor, que sobrepuja
infinitamente o dos serafins e o de todos os coros angélicos ao
mesmo tempo. Amar a Deus, é o Seu constante desejo, é a Sua
vida, a Sua incessante ocupação. Exultemos por haver no mundo
um coração que ama a Deus tão perfeitamente, e repara todas as
ofensas que Lhe são feitas. Mas, ao mesmo tempo, aprendamos
daí que só Deus é tudo para o coração do homem, que tudo o
que não é Deus é nada e não pode dar-nos a felicidade. Ó Senhor,
quanto morro por ver-Vos e amar-Vos! ( Santo Agostinho )
Amo-Vos tão pouco durante esta triste vida! Ao menos hoje
lutarei, por amar-Vos melhor; multiplicarei os meus atos de
amor o mais que puder.

TERCEIRO PONTO

Ações de graças que o Verbo Encarnado


presta a Deus no seio de Maria

Jesus, vendo todos os bens que Deus lhe deu e os que Ele deu
e dará para sempre a todas as criaturas, de quem Ele, Verbo
Encarnado, é a cabeça e o representante, dilata todas as potências
de Sua alma para agradecer dignamente ao Senhor 2. Ele admira
quão magníficos, multiplicados, contínuos, e ao mesmo tempo
gratuitos, desmerecidos, sem interesse como sem reserva, são
esses benefícios. Estas considerações inspiram-lhe inefáveis e
incessantes ações de graças.

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SÁBADO DA 3ª SEMANA DO ADVENTO

Ó Deus, eu me uno a essas divinas ações de graças por todos os


bens que tenho recebido de Vós; e digo-Vos do fundo do coração:
Eu Vos agradeço, ó Senhor nosso! E me comprazerei em vô-lO
repetir muitas vezes de dia e de noite.

QUARTO PONTO

Louvores que o Verbo Encarnado presta


a Deus no seio de Maria

A alma do Verbo Encarnado não só considera Deus em Seus


benefícios; mas também e ainda mais o considera nEle mesmo,
como centro de toda a beleza, de toda a perfeição, como um
oceano imenso de onde emana a cada instante todo o bem que
há no céu e na terra. Vendo isto, ressoa no íntimo de seu peito um
canto de louvores, que alegra infinitamente o coração de Deus,
e que nada pode interromper. Unamo-nos a este divino cântico,
dizendo com o Salmista: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e
tudo o que existe em mim bendiga o seu santo nome ( Sl 102,
1 ) Ou com Santo Tomás: Louva a Deus quanto puderes, alma
minha, porque é tão superior a todo o louvor, que nunca pode
ser louvado o bastante.
O dever da criatura é entregar-se toda ao louvor do seu Criador,
de quem recebeu tudo o que tem e para quem só existe. Como
cumprimos nós este dever? comprazemo-nos nas perfeições
de Deus, e gostamos de louvá-las, admirá-las, bendizê-las? Não
somos nós do número dos que nisto pouco ou nada pensam?

— Depois de ter meditado estes diversos ofícios, tomaremos


a resolução:
1º. De fazer muitas vezes, pela salutar prática das orações

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meditações para o tempo do advento

jaculatórias, atos de adoração e amor, de reconhecimento e


louvor;
2º. De oferecer as nossas obras a Deus com algum destes diferentes
intuitos, e de animar-nos por isto a fazê-las perfeitissimamente.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:


O Senhor é grande e digno de todos os louvores ( Sl 47,2; 95, 4; 144, 3 )

Referências:
( 1 ) Pater juste, mundus te non cognovit ( Jo 17, 25 )
( 2 ) Pater, gratias ago tibi… Mea omnia tua sunt ( Jo 11, 41; 17, 10 )

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4º DOMINGO DO ADVENTO

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meditações para o tempo do advento

4º DOMINGO DO ADVENTO

Preparação próxima ao Natal

Nos preparemos, que está próximo a nascer o Senhor nos nossos


corações:
1º. A obrigação de nos prepararmos mais cedo para a festa do
Natal;
2º. A maneira de fazer bem esta preparação.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado no seio de Maria, suspirando pelo


momento de Sua aparição na terra para nos salvar 1. Admiremos
este grande mistério de amor e de bondade, com que Deus se
manifestou em carne para expiar os nossos pecados: Mistério
que o Espírito Santo justificou com tantos milagres; mistério
que foi visto dos anjos, tem sido pregado aos gentios, crido no
mundo, recebido na glória 2. Não é muito justo que nos prepa-
remos mais cedo para celebrar um tal mistério na proximidade
de sua solenidade?

PRIMEIRO PONTO

Obrigação de nos prepararmos mais


cedo para a festa do Natal

Assim como em outro tempo Deus encarregou os Seus anjos de


anunciar aos pastores o nascimento do Salvador, assim também
encarregou a Igreja, desde o princípio do Advento, de dizer-nos:
Preparai-vos para receber o Senhor, que há de vir. Hoje a Igreja

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4º DOMINGO DO ADVENTO

renova as suas instâncias: Estamos próximos do momento


solene, nos clama ela, preparai-vos melhor ainda.
Com efeito, como honraremos nós dignamente o Menino
Jesus, se não nos recolhermos em nós mesmos à medida que
se aproxima a festa? Os sentidos não distinguirão no presépio
senão a fraqueza e pobreza, nada ali verão que mova. É preciso
para isto uma provisão recente, se assim posso dizer, de fé e de
amor, que saiba descobrir, nesse Menino, o Filho eterno de Deus,
gerado antes da aurora nos esplendores dos santos, Aquele que
está sentado à direita do Pai, Aquele que os anjos adoram, que os
profetas denominam Emanuel, o Deus conosco, que os Apóstolos
chamam o Verbo por quem tudo foi feito, Aquele que sustenta
tudo pela virtude de Sua palavra e que é o resplendor da glória.
O Menino Jesus, que vem nascer para nós, tem grande desejo
de nascer em nós; mas não o fará senão segundo a medida de
nossa preparação durante estes abençoados dias. Aos corações
bem preparados dará com abundância a paz prometida aos
homens de boa vontade: Paz com Deus, paz com o próximo, paz
conosco e com a nossa consciência; dará o seu espírito de humil-
dade e de mansidão de pobreza e de simplicidade, de obediência
e de abnegação; graças preciosas próprias do mistério do Natal.

SEGUNDO PONTO

Maneira de nos prepararmos mais cedo para a festa do Natal

Há para isto três meios: O recolhimento de espírito, a santidade


da vida e o frequente uso das orações jaculatórias.

1.° O Recolhimento de Espírito


Nada afasta Deus de um coração como a distração, que submerge

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meditações para o tempo do advento

a alma em uma multidão de pensamentos e de fantasias, e por isto


mesmo a perturba e a agita 3. À medida que se avizinha o grande
dia, é preciso preservar mais o nosso coração de tudo o que distrai,
pensar mais vezes no mistério do Natal, no amor do Deus do presé-
pio, nos piedosos sentimentos e bons propósitos que deveremos
oferecer-Lhe em reconhecimento de Seu amor e bondade.

2.° Santidade da Vida


Precisamos, durante estes dias, de vigiar mais sobre nós para
evitar todo o pecado, consagrar todas as nossas ações ao amor do
Menino Jesus, e praticá-las com este intuito o mais perfeitamente
possível. Precisamos de oferecer-Lhe cada dia alguns sacrifícios,
por exemplo, o sacrifício de um desejo, de uma repugnância, de
uma palavra de amor-próprio ou de mau humor, e fazer de todos
estes sacrifícios como que um ramalhete de mirra para oferecer
ao Menino Deus; precisamos, principalmente, de pedir ao Espí-
rito Santo que forme em nós essa terna e fervorosa piedade que
atraiu ao presépio Maria e José, os pastores e os magos, e que ali
tem atraído e atrai ainda hoje tantas almas santas.

3.° O uso das Orações Jaculatórias


Isto é, dos santos desejos que chamam para a alma o Deus
salvador, completará a nossa preparação. A Igreja no-los exprime
pelos suspiros que ela toma dos patriarcas e profetas:
• O céus, derramem o vosso orvalho desde essas alturas, e
chovam as nuvens ao Justo ( Is 45, 8 )
• Ó Salvador tanto desejado, oxalá rompais os céus e desçais
até nós ( Is 64, 1 )
• Rogo-vos, Senhor, que envieis à minha alma o seu Salvador
( Ex 4, 13 )

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4º DOMINGO DO ADVENTO

• Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia, é dai-nos aquele


que há de salvar-nos ( Sl 84, 7 )
• Assinalai as vossas misericórdias, vós, que salvais aos que
esperam em vós ( Sl 16, 7 )

As belas antífonas do Advento nos subministram ainda outros


suspiros semelhantes. Repitamo-los muitas vezes, e juntemos-
-lhe o suspiro de São João em seu Apocalipse: Vinde, Senhor
Jesus, vinde ( Ap 22, 20 ) Temos nós uma firme vontade de nos
prepararmos para a festa que se aproxima, pelos três meios que
acabamos de meditar?

— Tomemos a resolução:
1º. De passar os dias, que nos separam do Natal, em uma mais
perfeita contemplação e com uma mais firme atenção em
praticar bem as nossas ações ordinárias;
2º. De fazer voluntariamente a Deus todos os sacrifícios que a
Sua graça nos inspirar, e de formar, à maneira de orações jacu-
latórias, frequentes desejos da vida de Nosso Senhor em nós.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Evangelho:


Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas ( Lc 7, 4 )

Referências:
( 1 ) Qui propter nos homines et propter nostram salutem descendit de
caelis ( Símbolo niceno-constantinopolitano )
( 2 ) Manifeste magnum est pietatis sacramentum, quod manifestatum est
in carne, justificatum est in spiritu, apparuit angelis, praedicatum est
gentibus, creditum est in mundo, assumptum est in gloria ( 1Tm 3, 16 )
( 3 ) Non in commotione Dominus ( 1 Re 19,11 )

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meditações para o tempo do advento

SEGUNDA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

Sua vida de oração

Meditaremos:
1º. A vida de oração, que teve, como nosso sumo sacerdote, o
Verbo Encarnado no seio de Maria;
2º. A suave obrigação, que a todos assiste, de ter igualmente uma
vida de oração.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos Jesus em contínua oração, como nosso sumo sacer-


dote, no seio de Maria. É esta, com os respeitos que presta a Deus,
a Sua ocupação de todos os momentos. Oh! Que bela e fervorosa
oração a Sua! Como ela glorifica a Deus! Como atrai as graças
sobre todos os séculos vindouros, que abrange em Suas súplicas
este grande pontífice da lei nova! Oh! Quão bem merece este
Divino suplicante todos os nossos agradecimentos, todos os
nossos louvores, e todo o nosso amor!

PRIMEIRO PONTO

A vida do Verbo Encarnado no seio de Maria


foi uma vida de oração

Assim que a alma de Jesus Cristo foi formada, logo, olhando para
Deus, viu nEle o oceano de todo o bem, fora do qual nenhum
bem existe 1, e do qual, por conseguinte, emana todo o dom
perfeito 2. Encantado deste espetáculo, e sabendo, por um lado,
que ordinariamente as graças não se concedem senão com a

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SEGUNDA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

condição de ser pedidas; por outro, que a missão do sacerdote


é dirigir ao céu esta petição, Ele começa a orar por Si e por
todo o mundo desde o primeiro momento de Sua existência.
E quem poderia dizer quão perfeita foi esta oração! Ela foi
fervorosa, porque as graças, que pedia, sendo de um preço
infinito, mereciam ser infinitamente desejadas; foi contínua
e perseverante, porque a todo o instante a criatura precisa do
socorro de seu Criador; foi humilde, porque a sua Santíssima
alma sentia profundamente que a criatura nada é, e que Deus
só é tudo; foi cheia de confiança, porque o Verbo, que falava por
esta oração, a divinizava, e um Deus pedindo a um Deus não
pode ser desatendido.

Entremos aqui em nós mesmos. Oramos nós:


1º. Com a alegria de honrar a Deus com a nossa oração;
2º. Com o duplo sentimento da necessidade que temos de Seu
socorro e de o pedir;
3º. Com um grande apreço dos bens eternos que pedimos e um
veemente desejo de os obter;
4º. Com perseverança, sem nos desanimarmos, se não formos
logo aprovados;
5º. Com humildade, conservando-nos diante de Deus muito
humilhados pela consideração de Suas perfeições e de nossa
miséria;
6º. Com confiança, apoiados na palavra de Nosso Senhor:
Em verdade vos digo, que tudo o que pedirdes a meu Pai
em meu nome, vos será concedido? ( Jo 14, 13-14; 16, 23 ) Ah! Nós
oramos, e não obtemos, porque oramos mal ( Tg 4, 3 )

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meditações para o tempo do advento

SEGUNDO PONTO

A Vida de Oração é para todo o Cristão um dever


e o segredo da Felicidade

1º. É um dever. Porque todos os exemplos de Jesus Cristo são


preceitos para nós. Ora Jesus, nosso modelo, teve uma vida de
oração; logo devemos viver a vida de oração. Depois, as nossas
necessidades são tão grandes, tão numerosas, tão contínuas,
que não podemos deixar de orar, assim, como o pobre não pode
deixar de pedir a esmola, sem a qual morrerá. Finalmente, se
não tivermos uma vida habitual de oração, faremos mal as
nossas orações obrigatórias, que não serão senão uma contí-
nua distração, uma incessante preocupação de novidades, de
negócios, de acontecimentos ditosos ou desgraçados, de ideias
e pensamentos inúteis.
A vida de oração é o segredo da felicidade. Há coisa mais
aprazível do que viver em companhia das três Pessoas Divinas,
de derramar o nosso coração no coração do Pai que nos criou;
do Filho, que nos remiu, que ora incessantemente por nós no
tabernáculo como no céu; e do Espírito Santo, que nos persegue
com o Seu amor e com as Suas santas inspirações? Há para a
alma ocupação mais nobre, mais deliciosa do que conversar
com seu Pai? Sejam quais forem as nossas aflições, venhamos as
dizer, e seremos consolados. Sejam, quais forem os embaraços
que se encontrarem no nosso caminho, venhamos implorar a
Sua assistência e seremos socorridos. A vida de oração fará do
nosso desterro um paraíso; será para nós o começo do céu. Acre-
ditemos na experiência. As pessoas que não oram, são cheias de
tristeza; e as que oram, trazem nas feições de seu rosto uma doce
e amável serenidade, que é o reflexo de sua felicidade interior.

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SEGUNDA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

Referências:
( 1 ) Ego ostendam omne bonum tibi ( Ex 28, 19 )
( 2 ) A quo descendit omne domun perfectum ( Tg 1, 17 )

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meditações para o tempo do advento

TERÇA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

Sua vida de vítima

Consideraremos que o seio de Maria não é somente um templo,


em que o Verbo Encarnado mostra o Seu zelo e expande a Sua
oração. É também um altar, em que se sacrifica. Por conseguinte,
meditaremos:
1º. A vida de vítima, que tem Jesus no seio de Sua Mãe;
2º. A vida de vítima, que nós mesmos devemos ter.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado oferecendo-Se a Deus seu Pai,


no seio de Maria, como a vítima sobre o altar do sacrifício. Oh!
Quão adorável e amável é esta vítima! O Pai nela põe toda a Sua
complacência ( Mc 1, 11 ); a terra nela acha a sua salvação e os
anjos o objeto de um grande gozo. Tributemos todos os nossos
respeitos a esta augusta vítima.

PRIMEIRO PONTO

Vida de vítima que tem o Verbo Encarnado no seio de Maria

Segundo o testemunho de São Paulo ( Hb 10, 5 ), Jesus Cristo,


desde a Sua entrada no mundo, diz a Deus seu Pai: «   Vós tivestes
por agradáveis os sacrifícios de animais, que vos ofereciam segundo
a lei; mas formastes-me um corpo, que eu vos ofereço para substituir
os antigos sacrifícios ».
Consideramos com respeito esta Adorável Vítima no seio de
Maria, que foi o Seu primeiro altar. Quão voluntariamente se

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TERÇA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

oferece a seu Pai para ser a nossa salvação e o preço da nossa reden-
ção! Toma sobre Si o peso de nossas culpas, de nossas ingratidões e
fraquezas; e para as expiar, priva-Se de todo o gozo, sujeita-Se a nove
meses de clausura e incômodo, de humilhação, de pobreza e de
padecimento. Ó Admirável Vítima dos pecados do mundo, como
louvar-Vos e agradecer-Vos o bastante! O meu coração derrete-se
em amor vendo-Vos, nesse estado, trabalhar na minha salvação:
1º. Com tanta prontidão: Nenhum instante de demora ou de
dúvida; pondes mãos à obra desde o primeiro momento de Vossa
existência;
2º. Com tanto fervor: Empregais nisso toda a Vossa alma, todo o
Vosso corpo, todas as Vossas forças Se dais a cada um de Vossos
atos toda a perfeição possível;
3º. Com tanta constância: Nem um momento de afrouxamento
e de diminuição no Vosso zelo. Tal é o começo de Vossa vida, tal
será o Seu regresso, tal será o Seu termo.
Oh! Quanta razão tem São Paulo para dizer: Não temos um
pontífice, que não possa compadecer-se de nossas enfermidades
( Hb 4, 15 ) Jesus compadece-se delas tanto que, para nos salvar, dá
tudo o que tem; entrega-Se inteiramente e não vive senão para
ser nossa vítima. Ó amor, quão admirável e amável sois! Como
Vos amei eu tão pouco!

SEGUNDO PONTO

Todos os cristãos são chamados à vida de vítima

Somos chamados a esta vida:


1º. Porque devemos todos imitar Jesus Cristo: Ele é o nosso
modelo; devemos ser a sua fiel cópia; não se é cristão senão com
esta condição;

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meditações para o tempo do advento

2º. Porque temos muitos pecados a expiar e uma grande


penitência a fazer. Ó dias mal empregados! Ó anos perdidos,
quanto vos lastimo! Ó pecados cometidos, quanto vos deploro
e detesto! É já tempo de começar seriamente a fazer penitência,
oferecendo-nos como vítima ao Senhor;
3º. Porque se não temos ânimo para sacrificar a Deus o nosso
gênio com os seus arrebatamentos, a nossa vontade com os
seus caprichos, o amor de nosso bem-estar com essa moleza,
que nos leva a buscar em tudo o nosso prazer, recataremos
infalivelmente. O menor obstáculo nos deterá; o menor desgosto
nos perturbará, o menor prazer nos arrastará; a inconstância e
leviandade inutilizarão as nossas resoluções e esterilizarão as
graças de Deus. Não há salvação para nós senão com a condição
de ter uma vida de vítima, isto é, de abnegação, para não seguir
senão o caminho do dever e o que julgarmos mais agradável a
Deus. Obremos assim, e seremos consolados e felizes no tempo
e na eternidade.

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quarta-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

quarta-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

Sua vida de méritos

Concluiremos as nossas meditações a respeito da vida do Verbo


Encarnado no seio de Maria, considerando:
1º. Os merecimentos que Ele adquiriu durante nove meses;
2º. A parte que se digna conceder-nos nos Seus merecimentos.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado no seio de Maria, acumulando


merecimentos, na Sua qualidade de Sacerdote e de Vítima, e
fazendo de todas estas riquezas espirituais imenso tesouro, a que
recorrerão todas as gerações até ao fim dos séculos: Ele imita o
bom pai de família, que junta muitos bens para os seus queridos
filhos. Glorifiquemo-lO por tantas riquezas; louvemo-lO por se
dignar fazer-nos participantes delas, e convidemos os anjos e os
santos a agradecer-Lhe conosco 1.

PRIMEIRO PONTO

Merecimentos imensos, que acumula, durante nove meses,


o Verbo Encarnado no seio de Maria

Tudo concorria para aumentar infinitamente os merecimentos


do Menino Deus no seio de sua Mãe: De um lado, o Seu espírito
era esclarecido pelas mais puras luzes, e a Sua vontade tendia
para o bem com toda a Sua energia; de outro lado, a Sua humil-
dade, elevada pela graça à mais sublime santidade, era unida
hipostaticamente à santidade incriada; e a Sua alma; ainda que

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meditações para o tempo do advento

no estado glorioso, era capaz de sofrer em um corpo passível e


mortal. Com tanta aptidão para alcançar merecimentos, e em
condições tão favoráveis, o Verbo Encarnado não perde um só
instante; começa a ter merecimentos, logo que começa a viver;
continua com incessante ardor a tê-los sempre mais; e assim
como de todas as Suas obras nenhuma havia que não fosse infi-
nitamente santa, assim também nenhuma havia que não fosse
meritória. Adquire merecimentos na Sua oração, no Seu repouso,
e até no Seu sono; adquire-os por cada bom pensamento, cada
piedoso sentimento ou bom desejo; e esta vida de merecimento
não foi mais do que o preludio dos merecimentos que conti-
nuou a acumular desde o Seu nascimento até à Sua morte, e
em todos os momentos de Sua existência, alcançando por tudo
isto a salvação para o mundo, o céu para os escolhidos, a graça
para todos. Na presença de tantos méritos, lastimemos tantas
ocasiões de os adquirir que temos deixado escapar, tantos atos
que temos praticado sem reflexão ou com intuitos puramente
naturais, tanto tempo perdido, tantas graças deixadas sem fruto;
e proponhamo-nos reparar todas estas perdas:

1º. Aproveitando de agora em diante todas as ocasiões de adqui-


rir merecimento, e não recusando a Deus qualquer sacrifício
pequeno ou grande, que a Sua graça nos pedir;
2º. Praticando todas as nossas obras por amor;
3º. Sofrendo voluntariamente todas as tribulações;
4º. Não esperdiçando nunca o tempo.

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quarta-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

SEGUNDO PONTO

Parte que Jesus Cristo nos concede


em todos os Seus merecimentos

Todos os merecimentos acumulados por Jesus Cristo nos perten-


cem; transmite-os como uma herança ou um patrimônio. Porque
os bens do Pai de família são o patrimônio dos filhos, e diz-nos
a todos o que dizia a seu Pai: Todas as minhas coisas são vossas,
e todas as vossas coisas são minhas ( Jo 17, 10 ). Em verdade vos
digo: Se vós pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome,
isto é, em nome dos meus merecimentos, vo-la dará ( Jo 16, 23 )
É pela virtude destes merecimentos previstos, que a Santís-
sima Virgem foi preservada do pecado original e concebida sem
mácula; que os santos do Antigo Testamento receberam todas
as suas graças; é pela virtude destes merecimentos adquiridos
que os santos da Nova Aliança foram e são ainda todos os dias
santificados, que a Igreja triunfa de tantas provações, e que toda
a sociedade recebe tantas graças. Podemos recorrer, quando
nos aprouver, a esse tesouro inexaurível. A oração é a chave
que o abre a todos; os sacramentos são o canal pelo qual este
oceano imenso derrama nas almas as suas riquezas espirituais. Se
confiamos em nós, que nada valemos e podemos, continuare-
mos na nossa pobreza e miséria; mas se confiarmos em Jesus
Cristo, e Lhe dissermos com humildade: « Senhor, eu não Vos peço
senão uma gota do Vosso sangue, uma lágrima dos Vossos olhos, um
suspiro do Vosso coração; serei rico, se Vos dignardes aplicar-me o Seu
merecimento » A nossa confiança não será frustrada nem na vida
nem na morte, e seremos salvos.

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meditações para o tempo do advento

— Tomemos a resolução:
1º. De santificar, o dia com diferentes atos de amor para com
Jesus, nossa vítima no seio de Maria;
2º. De trabalhar na nossa emenda espiritual com o sacrifício de
nossos gostos e desejos.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:


Jesus Cristo amou-nos e se entregou a si mesmo por nós, como
oferenda e hóstia a Deus ( Ef 5, 2 )

— Tomemos a resolução:
1º. De pôr a nossa confiança nos merecimentos de Jesus Cristo,
e de combater, por esta consideração, qualquer pensamento de
desanimação e de desconfiança;
2º. De tornar as nossas obras meritórias, oferecendo-as a Deus e
unindo-as às obras semelhantes de Jesus Cristo.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmo: Em vós,
Senhor, é que esperei: não permitais que jamais seja eu confun-
dido ( Sl 30, 1 )

Referências:
( 1 ) Gratias Deo super inenarrabili dono ejus ( 2 Cor 9, 15 )

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QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

Vida de Maria unida a Jesus

Depois de ter meditado a vida de Jesus em Maria, meditaremos


a vida de Maria unida à de Jesus; e veremos que foi uma vida:
1º. Toda interior;
2º. Toda de amor;
3º. Toda de imitação.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Verbo Encarnado residindo em Maria como em


Seu tabernáculo. Unamo-nos aos anjos, que ali O adoram;
unamo-nos ainda mais a Maria que, melhor do que todos os
anjos, lhe oferece os seus louvores com o seu amor, e O honra
com a vida mais santa que tenha jamais tido e que jamais terá
uma pura criatura.

PRIMEIRO PONTO

A vida de Maria unida a Jesus foi uma vida toda interior

O homem, sobre a terra, tem a escolher entre duas vidas: A vida


exterior e a vida interior. A primeira passa-se toda fora, em uma
perpétua distração, que alimentam ora a seriedade dos negó-
cios, a gravidade dos interesses, o curso dos acontecimentos,
ora a curiosidade das novidades, as conversações frívolas, as
vãs diversões, as leituras inúteis. A segunda, concentrada na
alma, ocupa-se na sua santificação, na perfeição das suas obras
ordinárias, aprecia mais um ato de amor de Deus do que todas

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meditações para o tempo do advento

as riquezas da terra. A Santíssima Virgem, possuindo o Verbo


Encarnado em seu seio, não hesitou entre estas duas vidas. Que
lhe importava o mundo com todas as suas distrações, todos
os seus loucos prazeres, todas as suas preocupações das coisas
perecedoras? Deus, que ela trazia em si, era tudo para a sua alma;
e tudo o mais nada era para ela 1. Se é verdade que o coração do
homem está onde está o seu tesouro, o coração de Maria não
podia estar senão em Jesus, pois que Jesus era verdadeiramente o
seu tesouro, a sua riqueza, a sua alegria, o seu tudo 2. Fazia consis-
tir a sua felicidade em pensar em Jesus, amar a Jesus, agradar a
Jesus, e vivia mais neste querido Filho do que em si mesma. Oh!
Como o mundo lhe parecia desprezível, miserável, indigno de
ocupar um espírito imortal, de atrair um coração feito para o
infinito, e que nada pode saciar senão o bem infinito!
E a mim, o que sucede a respeito desta vida contemplativa?
Deus está comigo pela Sua imensidade; que enche tudo, pela Sua
providência; que governa tudo, pelo Seu amor; que me persegue
em toda a parte; e eu estou tão raras vezes com Ele, esqueço-me
tanto dAquele que nunca de mim se esquece! Ponho a minha
alegria em pensar em qualquer outra coisa, como nas ninharias
da terra, muitas vezes até em quimeras; o recolhimento de
espírito parece-me um exercício penoso e sem atrativo, e não
gosto de fazer companhia no íntimo do meu coração ao Deus,
que é as delícias do paraíso! Oh! Quando é que Deus será tudo
para o meu coração, e que, contente com Ele só, serei todo dEle,
unicamente dEle?

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QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

SEGUNDO PONTO

A vida de Maria em Jesus foi uma vida toda de amor

A vida interior de Maria abrangia eminentemente a prática


de todas as virtudes no mais perfeito grau; todavia o amor era
nela o sentimento dominante. Se nada se pode comparar ao
amor de uma mãe para com seu filho, quem pode imaginar até
onde chegava em Maria o amor maternal para com um Filho
tão amável, o mais belo dos filhos dos homens 3, para com um
Filho em quem se achavam reunidas todas as perfeições que
pôde comportar a natureza humana, e as perfeições infinitas
da divindade, que conservam no céu os anjos em um contínuo
êxtase? Era um amor sempre novo, produzido pela admiração
sempre nova, que lhe inspirava o contraste de tanta grandeza, de
tanta elevação rebaixada, de tanta imensidade restringida por
um prodígio de caridade, cujo teatro era o seu coração. Era um
amor recebendo sua chama do mesmo fogo do Amor Divino,
que tinha feito descer dos esplendores dos santos à sua pobre
alma o Verbo Encarnado, e que, por conseguinte, excedia incom-
paravelmente qualquer outro amor, ainda mesmo que fosse o
amor dos mais puros Serafins e dos mais fervorosos Querubins.
Era um amor prático, que entregava toda a sua pessoa e todas
as suas faculdades intelectuais à direção do seu amado Filho,
a ponto de deixar dirigir por Ele todos os seus atos, todas as
suas palavras, todos os seus pensamentos e sentimentos. Jesus
falava-lhe ao coração, inspirava-lhe todos os Seus desígnios; e
Maria, atenta a ouvi-lO, não era menos pronta em obedecer,
generosa em executar.
Ó vida santa, vida perfeita, vida do completo influxo do Amor
Divino em uma alma! Quão longe estou desta vida de amor! Já

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meditações para o tempo do advento

é tempo de nela entrar verdadeiramente e de a imitar ao menos


o mais possível.

TERCEIRO PONTO

A vida de Maria em Jesus foi uma vida toda de imitação

Entre às perfeições que Maria contemplava no Verbo Encarnado,


estudava especialmente as que podia imitar; porque sabia, que
um dos principais fins da descida do Verbo divino à terra era
oferecer aos homens o modelo da vida perfeita, e que Jesus
nada ama tanto como ver-Se reviver nos Seus escolhidos. Por
conseguinte, assemelhar-se a Jesus era toda a sua ambição:
Ser humilde como Ele, pobre e mortificada como Ele, amável
e terna como Ele, era o objeto das suas contínuas aspirações.
Consultava-O interiormente, perguntava-Lhe o que Ele faria,
o que diria, o que pensaria nas diversas circunstâncias em que
ela se achava; e o Divino Menino lhe fazia ouvir a resposta no
fundo do seu coração, e ela aplicava-se a obrar, a falar, a pensar
como esse adorável modelo de todos os predestinados. Assim
fazia Maria, assim devemos fazer. Fazemo-lo?

— Tomemos a resolução:
1º. De vigiar a nossa alma para não a deixar ocupar-se no que
a distrai, como as novidades, as conversações frívolas, os vãos
divertimentos, os pensamentos inúteis;
2º. De nos unirmos muitas vezes a Deus por atos de amor e pela
aplicação em imitar Jesus Cristo.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Maria:


O meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador ( Lc 1, 47 )

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QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA DO ADVENTO

Referências:
( 1 ) Quidquid Deus non est nihil est, et pro nihilo computari debet
( 2 ) Deus meus et omnia
( 3 ) Speciosus forma prae filiia hominum ( Sl 44, 3 )

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meditações para o tempo do advento

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NASCIMENTO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Natal de Nosso Senhor

Meditaremos o mistério do dia, e consideraremos Jesus Cristo


no presépio:
1º. Como nosso Salvador;
2º. Como nosso mestre;
3º. Como o enlevo do nosso coração.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Transportemo-nos pelo pensamento a Belém, na companhia


de Maria, que busca uma pousada onde dê à luz o Verbo Encar-
nado, e só acha um presépio 1. Compadeçamo-nos da sua dor e
peçamos perdão deste desamparo ao divino Menino. Entremos
no presépio, ajoelhemos e participemos com Maria e José da
santa oração, durante a qual o Verbo Encarnado passou mila-
grosamente do seio de Maria para o presépio; como o raio do
sol penetra o cristal, ou como mais tarde sairá do sepulcro com
a tampa fechada. Ó inefável mistério, em que Jesus se montra
nosso Salvador, nosso Mestre, a delícia do nosso, coração!

PRIMEIRO PONTO

Jesus nascendo mostra-se nosso Salvador

Havia quatro mil anos que o mundo esperava um Salvador; os


patriarcas e os profetas chamavam-O com os seus suspiros e as
suas lágrimas: Porque, se não viesse, estávamos todos perdidos.
Ele desce finalmente ao presépio, onde o seu primeiro cuidado

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meditações para o tempo do advento

é salvar-nos satisfazendo pelos nossos pecados 2. Se do Seu berço


eleva as Suas mãozinhas ao céu, é para aplacar a justiça de seu
Pai; se verte lágrimas, é para lavar as nossas máculas e extinguir
o fogo da ira celeste; se solta vagidos, é para chamar sobre nós a
misericórdia divina. A Sua voz é ouvida. Ó espetáculo admirável!
Jesus está no presépio satisfazendo por nós; e Deus está em
Jesus aceitando esta satisfação. Jesus está no presépio, pobre e
humilhado; e Deus está em Jesus aceitando essas humilhações
e pobreza em expiação da nossa soberba e do nosso amor das
riquezas. Jesus está no presépio, padecente, manso, obediente, e
Deus está em Jesus aceitando esse padecimento, essa mansidão,
essa obediência, em expiação dos nossos prazeres, das nossas
impaciências e das nossas revoltas 3. É assim que, desde a Sua
entrada no mundo, o Homem-Deus se apressa em sofrer e fazer
penitência em nosso lugar. Ó primeiras, lágrimas que o meu
Salvador derramou sobre os meus pecados, eu adoro-Vos e
venero-Vos; primeiros gritos que Ele fez ouvir por mim a seu Pai,
como preludio desse grande grito, pelo qual devia, ao morrer,
consumar o Seu sacrifício e a nossa redenção, oxalá retumbeis
até ao fundo do meu coração, o enterneçais, comovais, e me
façais tomar a minha salvação mais a peito!

SEGUNDO PONTO

Jesus nascendo mostra-se nosso mestre 4

Os mais sábios filósofos de Atenas e de Roma não fazem mais do


que gaguejar ao pé desse Divino Menino, e as suas mais doutas
lições empalidecem na presença do presépio. Ali Jesus prega a
sabedoria não com palavras, mas com fatos 5. Ele que podia obter
todos os gozos da vida, alimenta-Se das Suas lágrimas, dorme

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NASCIMENTO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

no chão, treme com frio, e entrega aos rigores da estação o Seu


corpo delicado, tão sensível às impressões da dor, principal-
mente nesta idade. É assim que nos ensina a não lisonjearmos
os nossos sentidos, a não buscar as nossas comodidades, a nossa
sensualidade, os nossos gostos, e a não ser faltos de paciência
nos incômodos. Ele que, Senhor do céu e da terra, podia nascer
no seio da opulência, nasce na extrema pobreza, nos embaraços
de uma jornada, em que os mais precatados carecem de muitas
coisas, no meio da noite, em um presépio abandonado. É assim
que Ele nos ensina a não ser tão ávidos das riquezas, a arrancar
do nosso coração a paixão de acumular. É assim que Ele, o Rei
da glória, baixa ao mais ínfimo grau da humilhação, parece ter
dificuldade em achar um lugar bastantemente desprezível para
fazer a Sua entrada no mundo: Desce a uma estrebaria meio
arruinada, que encontra no Seu caminho. É assim que Ele nos
ensina a não ceder à paixão da honra e da estimação, ao desejo
de nos fazermos conhecer, e a aceitar o abandono e o desprezo,
quando se apresentarem. Ó Jesus, quão admiráveis são as Vossas
lições! Quem poderia, à vista de Vosso presépio, desejar ainda
prazeres, riquezas e glória!

TERCEIRO PONTO

Jesus nascendo mostra-se o enlevo do nosso coração 6

Quando contemplo, dizia São Bernardo, o Filho de Deus no seio


de seu Pai, sinto-me penetrado de respeito, e tremo de assombro
diante da Sua incomparável majestade; mas quando O vejo no
presépio, não posso já temê-lO: não posso senão amá-lO 7. Amo-O
ocultando essa majestade, que assombra, encobrindo essa glória,
que surpreende, abaixando essa elevação, que espanta, para não

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meditações para o tempo do advento

descobrir senão o amor e a bondade, que atraem. É um menino


recém-nascido; quem o temeria? 8. Basta que nos aproximemos
dEle para O amarmos, para nos enternecermos 9. Se as lágrimas
dum menino abandonado, ainda que fosse para nós um estra-
nho, um desconhecido, nos comoveriam; quanto mais não
devemos comover-nos, vendo este Menino Deus, terna vítima,
que padece e chora em nosso lugar, que estende amorosamente
para nós as Suas mãozinhas a fim de nos pedir o nosso coração e
nos dizer com a Sua vista, na falta da palavra: Meu filho, dá-me
o teu coração ( 10 ). Quem ousaria, com a sua covardia e tibieza,
entristecer este Divino Menino, e arrancar dos Seus inocentes
olhos novas lágrimas? Ah! Vamos antes ao altar recebê-lO com
grande amor, apertá-lO ao nosso peito, pedir-Lhe que venha
nascer em nós e fazer do nosso coração o Seu berço. Do altar
como do presépio pode-se dizer: Em sua pequenez, quanto é
amável! ( 11 ). E, todavia, como O temos nós amado até agora?
Como O amamos ainda? Ó meu coração, ama, pois, finalmente,
um Deus tão amável; não respires já senão amor para com o Deus
do presépio; e inaugure para ti a grande festa do Natal uma vida
toda de amor.

— Tomemos depois a resolução:


1º. De nos conservarmos pelo pensamento, durante este santo
dia, de joelhos diante do presépio, entre Maria e José, como entre
dois Querubins, para aí prestar os nossos respeitos ao Menino
recém-nascido, e nos dedicarmos para sempre ao Seu serviço;
2º. De honrarmos os Seus sofrimentos, suportando alegres os
incômodos da estação, a Sua nudez, amando a pobreza, as Suas
humilhações, buscando com atenção nada fazer com intuitos
de amor-próprio.

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NASCIMENTO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Bernardo:


“Quanto mais se abaixa por mim, tanto mais O amo”

Referências:
( 1 ) In propria venit, et sui eum non receperunt ( Jo 1, 11 )
( 2 ) Natus est vobis hodie Salvator ( Lc 2, 11 )
( 3 ) Deus erat in Christo mundum reconcilians sibi ( 2 Cor 4, 19 )
( 4 ) Apparuit gratia Dei… erudiens nos ( Tt 2, 11.12 )
( 5 ) Ipsa infatilia memtra clamant ( São Bernardo, De Nativ. )
( 6 ) Benignitas et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei ( Tt 3, 4 )
( 7 ) Magnus Dominus et laudabilis nimis; parvulus Dominus et amabilis
nimis ( São Bernardo, De Nativ. )
( 8 ) Nolite timere ( Lc 2, 10 )
( 9 ) Parvulus Dominus et amabilis nimis ( São Bernardo, De Nativ. )
( 10 ) Praebe filii mi, cor tuum mihi ( Pr 23, 26 )
( 11 ) Parvulus Dominus et amabilis nimis

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meditações para o tempo do advento

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FESTA DE SANTO ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR

FESTA DE SANTO ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR

Santo Estevão

Honremos neste dia Santo Estevão que nos ensina:


1º. O amor do próximo;
2º. O zelo da salvação das almas, que é o amor do próximo no
sentido mais lato;
3º. A fortaleza cristã apoiada na esperança.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos o Filho de Deus em dois estados muito diferentes:


Infinitamente humilhado no presépio, onde toda esta oitava
no-lo apresenta, e infinitamente exaltado nos céus, onde a viu
Santo Estêvão, cuja festa hoje celebramos. Estes dois estados
lembram-nos a ordem de coisas que Deus estabeleceu, a saber,
que é preciso padecer na terra com Jesus Cristo para gozar
no céu com Ele; combater e humilhar-nos neste mundo para
sermos exaltados no outro. Agradeçamos ao Verbo Encarnado
esta admirável economia da Sua providência, e roguemos-Lhe
que nos penetre bem nela.

PRIMEIRO PONTO

Santo Estêvão ensina-nos a Amar ao Próximo

Admiremos o grande coração de Santo Estêvão, amando terna-


mente todos os homens, e principalmente os de quem mais
tinha que queixar-se, os que o perseguiam e haviam jurado a
sua morte. Longe de lhes querer mal, longe de se encolerizar

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meditações para o tempo do advento

contra eles ou de se vingar, ama-os de toda a sua alma; e se os


repreende, não é senão para os tornar melhores. Se por única
resposta às suas palavras o apedrejam, continua a amá-los; ora
por aqueles que o fazem morrer, ora de joelhos, pedindo perdão,
graça e misericórdia para eles: “Senhor Jesus, não lhes imputeis este
pecado”  1; e pelo fervor da sua oração obtêm a conversão de Saulo,
e merece que o seu perseguidor na terra seja o seu companheiro
de glória no céu. É assim que opõe o benefício à injúria, a cari-
dade ao ódio, a paciência à ira, a bondade à malícia, e que põe
em prática a máxima do Divino Mestre: “Amai vossos inimigos,
fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem” ( Mt 5, 44 )
Quão admiravelmente nos ensina este exemplo, não só a
nunca nos entregarmos ao ódio, à ira, ao descontentamento,
mas também a perdoar todas as injúrias, a suportar todos os
defeitos, a retribuir o mal com o bem, e a mostrarmo-nos sempre
afáveis e amáveis para com todos sem exceção.

SEGUNDO PONTO

Santo Estêvão ensina-nos o Zelo da Salvação das Almas

Não é bastante para Santo Estêvão amar os seus inimigos; tem


sede da sua salvação, quer a todo o custo ganhá-los para Jesus
Cristo, e salvá-los. Para isto, prega-lhes, com toda a veemência
do zelo e autoridade dos milagres, a divindade de Jesus, que
eles crucificaram 2. Se não cedem à sua palavra, não desanima,
e confunde os seus adversários, que não podem resistir à sabe-
doria e ao Espírito que nele fala 3. Se falsos zeladores da lei, de
acordo com os doutores e príncipes da nação, rebelam o povo
contra ele, o levam como blasfemo ao supremo conselho dos
judeus, soltando gritos de raiva e de morte, e produzem falsas

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FESTA DE SANTO ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR

testemunhas, que depõem que ele pregava contra o templo e


contra a lei de Moisés. Estêvão, contente de achar uma ocasião
tão favorável para anunciar Jesus Cristo, apresenta-se aos seus
juízes com um rosto, que mais parecia o de um anjo do que o de
um homem 4; depois, começando a falar, e esquecendo a sua proi-
bição, estabelece pelas santas Escrituras a divindade do Salvador
Jesus. Por única resposta não obtêm dos seus juízes senão a raiva
do amor-próprio confundido 5; eles levantam grande grito, não
querem mais ouvi-lo 6; arremetem a ele, levam-no para fora da
cidade para o apedrejar; e o santo diácono não cessa de pregar
senão quando cessa de viver. Pode haver um zelo da salvação
das almas mais admirável, mais intrépido, mais generoso? Ah!
Que relação há entre nós e este santo pregador? Nós vemos as
almas perder-se, e comovermo-nos tão pouco, e fazemos tão
pouco para as salvar! Despertemos finalmente em nós o sagrado
fogo do zelo.

TERCEIRO PONTO

Santo Estêvão ensina-nos a Fortaleza Cristã


apoiada na Esperança

A vida presente não é mais do que um martírio contínuo: Martírio do


corpo pelas enfermidades; martírio da alma pelas ilusões do amor-
-próprio, pelos danos e revezes, pela maledicência e aversão, pelos
desgostos. Posto isto, aprendamos do nosso santo diácono a fortaleza
cristã que, apoiada na esperança, é superior a todas as provações.
Santo Estêvão, apedrejado pelos seus inimigos, olha para o céu, e
vendo a glória de Deus, em que vai entrar, a glória de Jesus Cristo, que
vai coroá-lo, exulta. “Eis estou eu vendo, diz ele. os céus abertos e o Filho do
Homem, que está em pé á mão direita de Deus” ( At 7, 56 )

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meditações para o tempo do advento

A este espetáculo a morte parece-lhe uma felicidade. Alque-


brado e quase a expirar, entrega com delícias a sua alma nas mãos
de Jesus Cristo, que a introduz no paraíso 7. Assim se cumpre o
oráculo do Espírito Santo, tão próprio para nos amparar nas
provações. Alguma paciência e depois a alegria 8. Onde está a
nossa fortaleza cristã apoiada na esperança? Somos fracos na
provação; a menor dor nos desanima e abate. Olhemos cheios
de fé para o céu, e nos tomaremos fortes e invencíveis.

— Tomemos a resolução:
1º. De perdoar ao próximo todas as suas injúrias, e de retribuir
sempre o mal com o bem;
2º. De trabalhar com todas as nossas forças na salvação dos
nossos irmãos;
3º. De animarmo-nos muitas vezes nas provações com a espe-
rança do céu.

O nosso ramalhete espiritual será, a palavra de Santo Estêvão:


“Vejo os céus abertos, e o Filho do Homem que está em pé á mão direita
de seu Pai” ( At 7, 55 )

Referências:
( 1 ) Domine Jesu, ne statuas illis hoc peccatum ( At 7, 59 )
( 2 ) Stephanus, plenus gratia et fortitudine, faciebat prodigia et signa magna
in populo( At 6, 8 )
( 3 ) Et non poterant resistere sapientiae et Spiritui qui loquebatur ( At 6, 10 )
( 4 ) Intuentes eum omnes qui sedebant in concilio, viderunt faciem ejus
tanquam faciem angeli ( At 6, 15 )
( 5 ) Audientes haec, dissecabantur cordibus suis et stridebant dentibus in
eum ( At 7, 54 )
( 6 ) Exclamantes voce magna, continuerunt aures suas ( At 7, 56 )

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FESTA DE SANTO ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR

( 7 ) Lapidabant Stephanum invocatem et dicentem: Domine Jesu, suscipe


spiritum meum ( At 7, 58 )
( 8 ) Usque in tempus sustinebit patiens, et postea redditio jucunditatis ( Ecl
1, 29 )

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meditações para o tempo do advento

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SAGRADA FAMILIA DE NAZARÉ

A vida oculta da Sagrada Família em Nazaré

Meditaremos a vida oculta da Sagrada Família que:


1º. Vive na pobreza;
2º. Na obscuridade;
3º. Na prática da caridade.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

A fim de nos sugerir o amor à solidão e ao silêncio, quis Jesus


nascer fora da cidade e numa gruta solitária. Felizes de nós se,
à imitação de José e Maria, nos entretivermos com ele nessa
santa solidão. Aí o divino Menino nos falará, não ao ouvido,
mas ao coração. Vendo a sua pobreza, ouvindo os seus vagidos,
considerando que um Deus se reduziu a tal estado pelo nosso
amor, ser-nos-emos atraídos suavemente a ele, e não podere-
mos deixar de o amar de todo o nosso coração, copiando em
nós as suas virtudes.

PRIMEIRO PONTO

Vive na pobreza

Consideremos a Sagrada Família, composta de Jesus, de Maria


e de José. Esta Santíssima Família tinha só a Deus por seu único
bem, vivia na obscuridade, nos trabalhos, talvez em desprezo,
e sem dúvida na pobreza. Mas quanto não era rica em graças e
virtudes! Nunca houve família mais santa, mais respeitável, mais
feliz nem mais digna da vassalagem dos anjos e dos homens.

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meditações para o tempo do advento

Não são os bens e as honras deste mundo, o que faz a verdadeira


felicidade, mas sim a graça de Deus; a virtude e a santidade. Oh!
Quanto é rico e ditoso aquele que ama a Deus, e só a Ele possui!

SEGUNDO PONTO

Na obscuridade

Jesus podia logo desde menino fazer milagres, pregar, fazer-Se


admirar de todo o mundo, mas para nossa instrução foge do
esplendor e das honras, e escolhe passar uma vida oculta,
obscura e desconhecida aos homens. Que faz Ele neste retiro?
Obedece com exatidão a Maria e a José, participa de seus traba-
lhos, alivia-os em suas penas e desempenha todos os deveres do
amor filial. Oh! Quais não seriam os sentimentos da humilde
Maria, vendo submisso à sua vontade o Soberano Senhor do céu!
Admiremos com ela a prodigiosa e, incompreensível obediência
do Homem-Deus; e, depois de considerarmos quem é Aquele que
obedece e a quem obedece, tiraremos desta consideração duas
consequências: primeira, que devemos obedecer aos que Deus
pôs em Seu lugar para nos dirigirem; segunda, que devemos
honrar com profundíssimo respeito aquela Virgem, a quem o
Salvador quis viver submisso.

TERCEIRO PONTO

Na prática da caridade

Admiremos a paz, a união e a devoção que reinavam na sagrada


família; era uma verdadeira imagem do céu. É mais fácil
imaginar, do que dizer, todas as coisas maravilhosas, inefáveis

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SAGRADA FAMILIA DE NAZARÉ

e misteriosas, que nela se passaram durante os trinta anos, que


o Salvador viveu na solidão. Que caridade, que atenções, que
mútuos respeitos, já da parte da mais santa, da mais terna, da
mais desvelada de todas as mães, já da parte do mais amável e
respeitoso de todos os filhos! Procedamos de tal sorte, que estas
virtudes reinem em nós, em qualquer parte que nos achemos.
Tenhamos cuidado de conservar sempre a paz e a concórdia
com o próximo, pela nossa doçura e atenções. Evitemos, as
dissenções, as invejas, as palavras ásperas, e tudo o que poderia
ofender a caridade.

— Tomemos a resolução:
1º. Fazer por Nosso Senhor o que tantos outros fazem unica-
mente pelo mundo ou por algum interesse temporal. Ocupar-se
no que pede o vosso estado, mas fazendo com intenção cristã;
isto será trabalhar ao mesmo tempo para a vida presente e para
a vida eterna;
2º. De amar ao próximo com esse amor generoso, amável e
respeitoso que viveu a Sagrada Família.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Santo Afonso


de Ligória:
Imitemos Maria e José, que, abrasados em amor, se detêm na
contemplação do grande Filho de Deus, feito homem e sujeito
às misérias terrestres.

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meditações para o tempo do advento

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FESTA DOS SANTOS INOCENTES

FESTA DOS SANTOS INOCENTES

Santos Inocentes

Consideraremos na nossa oração:


1º. Que felicidade foi para os santos Inocentes morrer por Jesus
Cristo;
2º. Que felicidade é para todo o cristão padecer, ainda que
inocente.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos Jesus Cristo vindo ao mundo para o salvar, e perse-


guido pelo mundo, que quer matá-lO. Que contraste de bondade
e de malícia! Louvemo-lO por esta bondade; roguemos-Lhe
que perdoe esta malícia, e digamos com um coração terno e
humilhado: Quão bom é Deus, e quão pouco vale o homem.

PRIMEIRO PONTO

Que felicidade foi para os Santos Inocentes


morrer por Jesus Cristo

1º. Morrer em lugar de Jesus Cristo, derramar o próprio sangue


para poupar o dEle. Quem não sente quanta glória ha nisto para
os Santos Inocentes, e com que honra os terão acolhido todos os
justos da antiga lei, aos que foram anunciar a vinda do Messias
tão esperado?
2º. Dar testemunho a Jesus Cristo, não com a palavra, mas com o
sangue, como o canta a Igreja 1; principalmente ser os primeiros
a dar-lhe este testemunho, os primeiros no caminho do martírio,

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meditações para o tempo do advento

às primeiras vítimas imoladas como tenros cordeiros para cele-


brar o nascimento do Cordeiro imaculado, que vinha apagar os
pecados do mundo, as primeiras flores dessa messe de mártires,
os primogênitos da Igreja, que o Salvador vinha fundar: Quem
compreenderá tanta felicidade?
3º. Triunfar do mundo antes de O conhecer, não ter recebido a
vida senão para a sacrificar e conquistar, tão pouco tempo depois
do nascimento, uma eterna bem-aventurança; não é isto também
uma grande felicidade? Se estes Santos Inocentes tivessem vivido
mais tempo, talvez, em lugar de serem do número dos bem-a-
venturados, tivessem sido do número dos que crucificaram a
Nosso Senhor, e que foram depois eternamente condenados. As
suas mães, que não conheciam este mistério da graça, choraram
inconsoláveis. Assim fazemos nós também em certos acidentes,
que todavia não são senão os efeitos da Misericórdia Divina.
Aprendamos daqui a entregar-nos com confiança e amor nas
mãos da Providência que, sabendo melhor do que nós o que nos
convém, sabe tirar o bem do que nos parece mal, e dispõe tudo
para maior bem dos seus escolhidos.

SEGUNDO PONTO

Que felicidade é o padecimento na inocência

Quando, com uma vida irrepreensível, padecemos com


resignação, participamos da felicidade dos Santos Inocentes.
Justificamos não somente a nossa fé em Jesus Cristo, cabeça e
modelo das almas pacientes, mas também o poder da Sua graça,
que sustem sob o peso da cruz a fraqueza humana; a excelência
da religião, que por si só forma as fortes e grandes almas; a
magnificência das nossas esperanças além túmulo; finalmente

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FESTA DOS SANTOS INOCENTES

a verdade dessas doutrinas evangélicas, em que repugna tanto


ao mundo crer: “Bem-aventurados os que padecem, bem-aventura-
dos os que choram” ( Mt 5, 10. 5 ) “Folgai de serdes participantes das
penalidades de Jesus Cristo…” ( 1Pd 4, 13 ) “O que há de honra, de glória
e de fortaleza, repousa sobre vós” ( 1Pd 4, 13 )
É padecendo inocentemente, que estes Santos Inocentes alcan-
çaram a felicidade eterna, e nenhum cristão a pode alcançar de
outro modo. Estar inocente e padecer, é o carácter do predestinado;
é a graça do amor de Deus no Paraíso; é o rasgo de semelhança mais
perfeita com Jesus Cristo, e a mais segura garantia do céu. Oh!
Quanto, pois, se enganam os que odeiam ou evitam o padecimento,
os que o olham como um abandono de Deus, ou somente o supor-
tam com uma má vontade, que lhes faz perder todo o seu mérito!
Não estamos nós neste caso, e não caímos muitas vezes neste erro?

— Tomemos a resolução:
1º. De reputar os dissabores da vida presente como penhores da
felicidade futura, e de aceitar de boa vontade as adversidades
que Deus nos enviar;
2º. De nos lembrarmos muitas vezes das palavras do Apóstolo: “A
nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um
peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas
que se veem, mas sim as que não se veem. Pois as coisas que se veem
são temporais e as que não se veem são eternas.” ( 2 Cor 4, 17 )

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Pedro:


“Bem-aventurados os que padecem pela justiça” ( 1Pd 3, 14 )

Referências:
( 1 ) Deus, cujus praeconlum Innocentes martyres non loquendo, sed
moriendo confessi sunt.

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meditações para o tempo do advento

OITAVA DO NATAL

Os Anjos no Presépio

Meditaremos sobre os Anjos no presépio, e consideraremos:


1º. As honras que prestam ao Menino Deus;
2º. O seu zelo em Lhe atrair adoradores;
3º. O cântico que eles entoam em Seu louvor.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Transportemo-nos pelo pensamento ao pobre presépio de


Belém, que encerra o tesouro do céu, a redenção do mundo,
a alegria dos homens e dos anjos. Prostrados humildemente
aos pés do Amável Menino, adoremo-lO como nosso Deus;
ofereçamos-Lhe tudo o que possuímos e tudo o que somos;
entreguemo-nos inteiramente a Ele, e expressemos na Sua
presença todo o amor de que o nosso coração é capaz. Enver-
gonhados de Lhe oferecer tão pouco, alegremo-nos com as
honras que Lhe prestam os anjos.

PRIMEIRO PONTO

Honras que prestam os Anjos ao Menino Deus

Quão belo foi o presépio de Belém no momento em que nele


nasceu o Menino Jesus! Apresentou um esplendor mais belo
do que todos os palácios; tornou- se um paraíso. Obedecendo
à ordem, que lhes deu o Pai celestial 1, os anjos lá desceram
imediatamente a fim de adorar o seu Senhor e Rei, debaixo da
forma de um Menino. Qual não foi o seu assombro, o seu respeito

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OITAVA DO NATAL

e amor! Quanto mais humilhado veem o seu grande Deus, tanto


mais O adoram e reconhecem a Sua infinita majestade debaixo
do véu de tanta humilhação e confessam, que em comparação
das suas perfeições, a luz deles não é senão trevas, a sua força
senão fraqueza, a sua virtude senão defeitos, e que ainda todo
o bem da natureza, da graça e da glória, que há neles, vem da
sua munificência: É um bem de que lhe são devedores. Agrade-
cem-lhO cheios de gratidão, e proclamam que a Ele só pertence
toda a honra e glória, todo o louvor e benção no tempo e na
eternidade. Alegremo-nos por estas honras prestadas ao Menino
Deus; desejemos ter o coração dos Serafins para O honrar da
mesma sorte; e sejam os anjos no presépio o modelo das nossas
orações na Igreja, na oração, em toda a parte.

SEGUNDO PONTO

Zelo dos Anjos em atrair adoradores a Jesus Cristo

Os espíritos celestes não se limitam a amar ao Menino recém-


-nascido, anseiam fazê-lO amar. Não lhes basta gozar o mistério
do presépio, querem que os homens o gozem; e por conseguinte,
voam para junto dos pastores que, a meia légua de Belém, guar-
davam o seu rebanho. Um dos Anjos, que se crê ter sido o Arcanjo
Gabriel, aparecendo nos ares em forma humana, no meio de
uma refulgente luz, que os penetrou de temor, lhes disse:
« Não temais; porque eis aqui vos venho anunciar um grande gozo, que
o será para todo o povo; e é, que hoje vos nasceu na cidade de Davi o
Salvador… E este é o sinal que vo-lo fará conhecer: Achareis um Menino
envolto em panos, e posto em uma manjadoura » ( Lc 11, 10-12 )
Logo que o mensageiro celeste acabou de falar, se juntou a ele
uma numerosa multidão de Anjos, que fizeram retumbar os ares

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meditações para o tempo do advento

com os louvores do Menino Deus. É deste modo que, quando se


ama a Deus, se tem a peito fazê-lO amar. Onde não há zelo, não
há amor; onde há grande amor, há grande zelo. Examinemo-nos
a nós mesmos segundo estas regras.

TERCEIRO PONTO

Cântico dos Anjos no nascimento do Salvador

« Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens
de boa vontade ». Assim cantaram os Anjos; meditemos o seu
cântico. Glória a Deus, isto é: Deus seja glorificado dos Anjos nos
céus, pela Encarnação do seu Verbo, que lhe adquire uma glória
infinita. Deus seja glorificado dos homens na terra, pelas humi-
lhações desse mesmo Verbo, que não se abaixa senão para exaltar
a Deus e buscar a Sua glória salvando os homens. Deus seja glori-
ficado em todos os nossos atos, em todos os nossos projetos, em
todas as nossas intenções; e nunca tenhamos outra mira. Deus
seja glorificado, à custa de todas as tribulações e privações. Paz
aos homens de boa vontade, acrescentam os anjos, isto é, paz
com Deus, em virtude dos merecimentos de Jesus Cristo: porque,
ainda que o tratado de paz deva, mais tarde, ser assinado com
o Seu sangue e selado com a Sua cruz, é aceite desde hoje; paz
para com o próximo, pelo espírito de caridade e de mansidão que
prega o presépio; paz para cada um consigo mesmo, pela pureza
de consciência e tranquilidade de um coração irrepreensível,
frutos do nascimento do Salvador; tríplice paz, mas somente
para os homens de boa vontade, isto é, para os que, amando a
Deus sinceramente, estão dispostos a fazer-Lhe todos os sacrifí-
cios, que o dever ordena. Examinemos se somos deste número.

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OITAVA DO NATAL

— Tomemos a resolução:
1º. De louvar muitas vezes no dia, em união com os anjos, ao
Menino Deus, ao Pai celestial que no-lo deu, e ao Espírito Santo
que O formou, repetindo com amor: “Glória a Deus no mais alto
dos céus” ( Lc 2, 14 )
2º. De tomar a peito amar e fazer amar um Deus tão terno, tão
amável, e de tudo praticar com o intuito de Lhe agradar.

O nosso ramalhete espiritual será o cântico dos Anjos:


“Glória a Deus no mais alto dos céus”

Referências:
( 1 ) Et cum introducit primogenitum in orbem terrae, dicit. Et adorent
eum omnes angeli Dei ( Hb 1, 6 )

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meditações para o tempo do advento

OITAVA DO NATAL

Os Pastores no Presépio

Meditaremos sobre os pastores no presépio, e veremos:


1º. Porque e como Jesus Cristo os chamou ao Seu presépio;
2º. A maneira como eles responderam a este chamamento.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos Jesus Cristo no presépio, cercado dos pastores que,


prostrados a Seus pés, Lhe oferecem os seus mais fervorosos
respeitos. Unamos os nossos corações aos seus; e expressemos
diante deste Deus Encarnado todos os sentimentos de reconhe-
cimento e de amor de que somos capazes.

PRIMEIRO PONTO

Porque e como Jesus Cristo chamou os


Pastores ao seu Presépio

Oferecem-se aqui duas questões às nossas meditações: Porque


e como Jesus Cristo os chamou?

1.ª Questão: Porque? 


1º. Porque esses pastores são pobres: Nosso Senhor quer mostrar
quão pouco preza as riquezas e as grandezas, que não são muitas
vezes senão o preço das injustiças e das baixezas, o alimento
da ambição, o parto da cobiça, o triunfo da soberba; e quanto
lhes prefere a pobreza, como mais favorável à humildade, à
moderação dos desejos, à mansidão, à todas as virtudes;

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OITAVA DO NATAL

2º. Porque são almas simples e retas: Tais almas lhe são preza-
das ( Pv 3, 32 ).
3º. Porque são homens laboriosos que, não contentes com a
lida do dia, vigiam ainda durante a noite, tempo destinado ao
descanso: Deus abomina os ociosos que desperdiçam o tempo;
4º. Porque são homens aplicados aos deveres do seu ditado: Deus
quer que cada um na terra cumpra a missão que lhe coube por sorte.
Examinemos se possuímos em nós estes quatro caracteres,
que alcançaram aos pastores tanta felicidade: Somos nós pobres
de coração, completamente desapegados dos bens da terra?
Somos simples e retos, sem outra pretensão neste mundo senão
a de agradar a Deus? Cuidamos dos deveres do nosso cargo, e
vigiamos noite e dia sobre os que Deus nos confiou?

2.ª Questão: Como chamou Jesus Cristo os pastores? 


Cerca-os de uma refulgente luz, que lhes incute um religioso
temor, porque um profundo respeito, que penetra a alma de
temor diante da Majestade Divina, é sempre o começo das
operações de Deus em uma alma. Ao temor faz suceder a alegria:
“Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para
todo o povo: 11 hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é
o Cristo Senhor.” ( Lc 2, 10-11 )
Qualquer outra alegria não seria senão vaidade; mas a vinda
de um Salvador tão bom é um objeto de santa alegria. Temos nós
este respeito de Deus e esta alegria em Deus? 1

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meditações para o tempo do advento

SEGUNDO PONTO

Maneira como os Pastores responderam


ao chamamento do Salvador

1º. Respondem-lhe de pronto. Apenas o Anjo lhes anunciou à


boa nova, clamam:
“Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos
manifestou.” ( Lc 2, 15 ) E deixando o seu rebanho, partem imedia-
tamente, não obstante a noite. Oh! Porque não somos nós tão
prontos em seguir as inspirações da graça, as quais, como outros
tantos mensageiros celestes, nos chamam para Jesus Cristo! Não
deixamos nós resfriar essas inspirações divinas com as nossas
dilações, depois do que elas se extinguem e ficam sem efeito?
Ó divinas inspirações, retornai a mim, não vos serei já infiel; a
minha alma suspira por vós; abri-vos o meu coração, totalmente
disposta a receber-vos com respeito e amor.
2º. Os pastores, logo que chegam a Belém, entram no presépio,
e quem poderia dizer com que fé, com que devoção? Neste
Menino tão abatido, adoram o grande Deus da eternidade; na
Sua pequenez veneram a Sua humildade, nas Suas faixas a Sua
pobreza, na dureza da Sua cama a Sua mortificação; e estas três
virtudes parecem-lhes belas e gloriosas como as virtudes do Rei
dos reis. Admiram nesse Divino Menino a verdadeira riqueza do
céu; ousam fazer-Lhe pequenas ofertas, conformes à sua humilde
condição; e o seu coração manifesta todos os sentimentos do
reconhecimento e amor.
3º. Depois de prestados estes respeitos, os pastores retiraram-se
cheios de uma santa alegria, glorificando e louvando a Deus por
tudo o que viram e ouviram 2. Assim devemos nós fazer ao sair
das nossas orações e comunhões, das nossas visitas ao Santíssimo

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OITAVA DO NATAL

Sacramento, das nossas leituras espirituais, dos sermões e


das práticas. De cada um destes exercícios cumpre-nos levar
conosco um ardente desejo de ser melhores, um fervoroso zelo
de glorificar a Deus e de publicar os seus louvores, tal como o que
tinha São Francisco Xavier, quando exclamava: “Quem me dera a
felicidade, ó meu Deus, de morrer por Vós, e de poder fazer-Vos
conhecer e amar em todas as partes do universo!

—Tomemos a resolução:
1º. De prezar, mais do que temos feito até ao presente, a pobreza,
a simplicidade e todos os deveres do nosso estado;
2º. De prestar à oração mais respeito e amor;
3º. De obedecer de pronto às inspirações da graça.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra dos pastores:


“Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos
manifestou.” ( Lc 2, 15 )

Referências:
( 1 ) Timete Dominum; gaudete in Domino ( Fl 4, 4 )
( 2 ) Et reversi sunt pastores, glorificantes et laudantes Deum in omnibus
quae audierant et viderant ( Lc 2, 20 )

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meditações para o tempo do advento

OITAVA DO NATAL

Motivos e meios de passar Santamente o Ano

Para nos excitarmos a ter uma vida melhor durante o novo ano,
em que vamos entrar, veremos:
1º. Os motivos;
2º. Os meios de passar santamente este ano.

MEDITAÇÃO PARA O DIA

Adoremos Jesus Cristo dignando-se dar-nos um novo ano, para


trabalhar na nossa santificação e merecer um lugar no seu
paraíso. Agradeçamos-Lhe este favor, e roguemos-Lhe que nos
permita utilizar-nos dele.

PRIMEIRO PONTO

Motivos de passar santamente o ano

1º. Temos um triste passado a reparar. Deus havia-nos conce-


dido o ano que termina para o empregar na nossa santificação.
Que uso fizemos dele? Havia-nos dado toda a sorte de bens na
ordem de natureza e na ordem da graça. Que fruto tiramos
deles? Tornamo-nos melhores? Ah! Quanto mal cometido!
Quanto bem omitido ou mal feito! Quantos abusos de graças!
Grande Deus! Quando a Vossa justiça puser em um prato
da balança o mal que fiz contra Vós, como o pouco bem que
pratiquei, receio que me digais como a esse rei de Babilônia:
Foste pesado na balança 1, e o peso da minha glória sobrepujou
o peso dos vossos merecimentos. O único recurso que me resta,

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OITAVA DO NATAL

é acumular durante o novo ano uma superabundância de bem,


que compense a superabundância de mal.
2º. Temos o presente a santificar. Ser-nos-á preciso dar a Deus
uma rigorosa conta de todos os momentos do presente ano.
Cada momento mal empregado ou somente inútil se voltará
contra nós. Oh! Se reconhecêssemos o valor do dom de Deus! 2
3º. Temos o futuro a prever. E que mais incerto que este futuro?
Morrem na terra pessoas a cada minuto; a cada hora; a cada dia;
milhões cada ano. Não serei eu deste número durante o ano que
começa? Se o soubesse, quão bem viveria! Quanto me absteria
de todo o pecado! Quão santamente faria até as minhas menores
obras! Quão pura conservaria sempre a minha alma! A minha
morte poderia ser repentina, sem inconveniente, porque não
seria imprevista. Por isso Santo Antão dizia aos seus discípu-
los: Vivei cada dia, como se fosse o último da vossa vida; e São
Bernardo recomendava aos seus, que fizessem cada coisa, como
se devessem morrer logo depois 3.

SEGUNDO PONTO

Meios de passar Santamente este ano

1º. Devemos aplicar-nos a fazer bem as nossas obras ordinárias,


até as mais comuns, que nada parecem aos olhos do mundo,
isto é, a fazê-las no tempo e da maneira que convém, a fazê-las
para Deus, com veemente desejo de Lhe agradar. A santidade
consiste mais nisto do que nessas obras extraordinárias, que
por isso mesmo que são extraordinárias, são raras.
2º. Devemos tender sempre para viver melhor no momento
presente do que no instante que precedeu. Se erramos, é preciso,
sem nenhuma desanimação, reparar o mal passado fazendo bem

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meditações para o tempo do advento

o presente. Se se obrou bem, é preciso forcejar por obrar ainda


melhor. A verdadeira virtude nunca diz: Basta. Nesta matéria,
não avançar, é recuar. Sempre para diante, tal é a senha; sempre
subir, tal é a regra do justo 4.
3º. Devemos estudar o nosso vício dominante, e depois de
o termos bem conhecido fazer-lhe todo o ano uma guerra
mortal, à força de vigilância, de exames de consciência, de boas
confissões e de fervorosas orações. Se cada ano, diz o autor da
Imitação, extirpássemos um vício, depressa seríamos perfeitos 5.
Penetremo-nos bem destes três meios de passar santamente o
ano, e decidamo-nos a isto fortemente.

— Tomemos a resolução:
1º. De empregar maior fervor na perfeição das nossas obras
habituais;
2º. De nos aplicarmos a reparar o mal passado com o bem
presente, e principalmente de fazer cada dia uma guerra mortal
à nossa paixão dominante.

O nosso ramalhete espiritual será a recomendação de São Paulo:


“Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens”
( Gl 6, 10 )

Referências:
( 1 ) Appensus es in statera, et inventus es minus habens ( Dn 5, 27 )
( 2 ) Si scires donum Dei! ( Jo 4, 10 )
( 3 ) Si modo moriturus esses, an hoc vei illud faceres?
( 4 ) Ascensiones in corde suo disposuit ( Sl 83, 6 )
( 5 ) Si, omni anno, unum vitium extirparemus, cito vere perfecti efficeremur
( I Imitação, 11, 5 )

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OITAVA DO NATAL

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NOVENA DE NATAL

Orações para todos os dias

† Pelo sinal da Santa Cruz, † livra-nos Deus, Nosso Senhor, † dos


nossos inimigos.
† Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e, acen-


dei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai, Senhor o Vosso Santo
Espírito, e tudo será criado, e renovareis a face da Terra.

OREMOS: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com


a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas
as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de suas
consolações. Por Cristo nosso Senhor. Amém

ORAÇÃO PREPARATÓRIA

DEUS de infinita bondade e sabedoria, que, sendo eterno e infinito,


quisestes que por oculta ciência vossa fazer-vos temporal e limi-
tado, que sendo senhor supremo, a quem adoram as majestades
do mundo, e todos os serafins do céu, quisestes tomar a forma de
servo; e sendo finalmente DEUS, vos fizestes homem, nascendo
menino para o nosso remédio, e ensinando-nos que só pela
humildade se caminha com segurança para a glória, para onde
nos criastes; fazei meu Menino, meu DEUS e meu Salvador, que
eu de vós aprenda a ciência da humildade, dando-me um perfeito
conhecimento do nada que sou, valho e peço, para que com esse
conhecimento, desprezando-me a mim e ao mundo, me entregue
todo em vos amar, DEUS meu, e única esperança minha. Amém.

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NOVENA DE NATAL

COROA
Vinde já, ó Deus Menino,
Vinde alegrar os mortais,
Para todos entoarmos:
Bendito, ó Jesus sejais.
Ó Infante suavíssimo,
Sem Vós não posso viver:
Aqui tendes o meu peito
Nele vinde já nascer.

OFERECIMENTO
Ouvi Jesus piedoso,
As minhas deprecações,
E vindo com Vosso exemplo,
dirigir minhas ações.
Apartai, Senhor, de mim,
O que ofensa Vossa for,
Que minha alma não deseja,
Ser ingrata a tanto amor.
Para que vivendo sempre,
conforme Vossa vontade,
Possa ir seguramente,
Gozar-Vos na eternidade. Amém!

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1º DIA – 16 DEZEMBRO

Muitos cristãos costumam neste tempo armar um presépio


como representação do Nascimento de Jesus Cristo. Mas, bem
poucos lembram de preparar, com atos de amor, o seu coração
a fim de que o Divino Menino nele possa repousar. Do número
destes, também nós queremos ser. Por isso, a fim de excitar-nos,
desde o primeiro dia da Novena, a pagar com nosso amor o
amor de Jesus Cristo, consideremos o amor que nos mostrou,
incumbindo-se, desde o primeiro instante da sua conceição, de
satisfazer por nós a Divina Justiça.

Orações para todos os dias página 146

JESUS MENINO CONSENTE EM SER NOSSO REDENTOR

“Eu te estabeleci para luz das gentes, a fim de levares a minha


salvação até à última extremidade da terra.” ( Is 49, 6 )

Considera como o Pai Eterno disse a Jesus Menino, no instante


da sua Encarnação, estas palavras: “Eu te estabeleci para luz das
gentes, a fim de salvá-las”. ( Is 49, 6 ) Meu Filho, eu te dei ao mundo
como luz e vida das nações, a fim de que lhes alcances a salvação,
que eu estimo tanto como se fosse a minha própria. Necessário
é, pois, que te consumas todo inteiro, para o bem dos homens.
Necessário é que desde o nascer sofras extrema pobreza, a fim
de que o homem se faça rico; Necessário é que sejas vendido
como um escravo, para impetrares ao homem a sua liberdade;
que, como um escravo, sejas açoitado e crucificado, a fim de
pagares à minha justiça o que o homem lhe deve; Necessário
é que dês o Teu Sangue e a Tua Vida, a fim de livrares o homem

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NOVENA DE NATAL

da morte eterna. Em uma palavra, sabe que não te pertences


mais a ti mesmo, senão aos homens. Assim, meu Dileto Filho, o
homem render-se-á ao meu amor; será todo meu, vendo que eu
lhe dei o meu Unigênito, sem reserva alguma, e que nada mais
me resta para lhe dar. Ó amor infinito, digno unicamente de
um Deus infinito!” Á semelhante proposta Jesus Menino não se
entristece; antes, nela se compraz, aceita-a com amor e exulta.
Desde o primeiro instante da sua Encarnação, Jesus se dá todo
ao homem, e abraça com alegria todas as dores e ignomínias
que na terra teria de sofrer por amor dos homens.
Reflitamos aqui como Pai celestial, mandando seu Filho para
ser nosso Redentor e medianeiro entre Deus e os homens, se
obrigou, por assim dizer, a perdoar-nos e a amar-nos, visto que
prometeu receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satis-
fizesse por nós a Justiça Divina. Por outra parte, o Verbo Divino,
tendo aceitado a incumbência do Pai, que no-Lo deu enviando-o
para nossa redenção, obrigou-se também a amar-nos, não em
vista de nossos merecimentos, mas para obedecer à vontade
misericordiosa do Pai.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO

Meu Amado Jesus, se é verdade, conforme reza a lei, que a doação


faz adquirir o domínio, Vós sois meu, visto que Vosso Pai Vos
deu a mim; por mim é que nascestes, a mim é que fostes dado.
Posso dizer, pois, com verdade: – Meu Jesus e meu tudo! Já que
sois meu, é meu também tudo quanto é Vosso. Assim me garante
o vosso Apóstolo: Como não nos deu também com ele todas as
coisas? ( Rm 8, 32 )

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meditações para o tempo do advento

É meu o Vosso sangue, são meus os Vossos merecimentos,


são minhas as Vossas graças, é meu o Vosso paraíso. Se sois meu,
quem jamais poderá separar-me de Vós? Assim dizia jubiloso
Santo Antão Abade. Assim também quero dizer para o futuro.
Somente por culpa minha posso perder-Vos e separar-me de
Vós. Mas, ó meu Jesus, se antigamente Vos deixei e perdi, agora
pesa-me de toda a minha alma e estou resolvido a antes perder
a vida e tudo, do que a perder-Vos, ó Bem infinito e único Amor
da minha alma.
Graças Vos dou, Pai Eterno, por me terdes dado Vosso Filho,
dou-me todo a Vós. Por amor desse mesmo Filho, aceitai-me e
prendei-me com laços de amor ao meu Redentor, mas pren-
dei-me de tal maneira que eu também possa dizer: Quem me
separará do amor de Cristo? ( Rm 8, 35 ) Que bem terrestre será
ainda capaz de separar-me do meu Jesus? E Vós, meu Salvador, se
sois todo meu, sabei que eu também sou todo Vosso. Disponde
de mim, e de tudo o que é meu, como quiserdes. Será possível
que eu recuse alguma coisa a um Deus que não me recusou seu
sangue e sua vida?
Maria, minha Mãe, guardai-me debaixo da vossa proteção.
Não quero mais ser meu, quero ser todo do meu Senhor. Cuidai
em fazer-me fiel; em Vós confio.

Rezar o oferecimento na página 147

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2º DIA – 17 DE DEZEMBRO

Tudo quanto Jesus Cristo padeceu no correr da Sua vida foi-lhe


posto diante dos olhos quando ainda se achava no seio de sua
Mãe. E Jesus aceitou tudo por nosso amor. Porém, naquela acei-
tação e na repressão da repugnância natural, ó Deus, que aflição
devia experimentar o seu Coração! Se Jesus, embora inocente,
desde o princípio da vida começou a sofrer por nós, não é justo
que nós, que somos pecadores, padeçamos alguma coisa por
seu amor e em desconto dos nossos pecados?

Orações para todos os dias página 146

TRISTEZA DO CORAÇÃO DE JESUS NO


SEIO DA VIRGEM MARIA

“Não quiseste hóstia nem oblação, porém me formaste um corpo”.


( Hb 10,5 )

Considera a grande amargura de que o coração de Jesus Menino


devia sentir-se atormentado e oprimido no seio de Maria, quando
no primeiro instante da encarnação o Pai Eterno lhe mostrou
toda a série de desprezos, de dores e de angústias que no correr da
sua vida deveria sofrer, a fim de livrar os homens do seu estado de
miséria. Eis o que ele falou pela boca do profeta Isaías: Pela manhã
( o Senhor ) levanta-me o ouvido. Isto é, no primeiro instante da
minha encarnação, meu Pai me fez conhecer a sua vontade, que eu
levasse uma vida de sofrimentos para ser finalmente sacrificado na
cruz. Eu não contradigo; entreguei o meu corpo aos que me feriam.
( Is 50, 4-6 ) Ó almas, aceitei tudo pela vossa salvação e, desde então,
entreguei o meu corpo para receber os açoites, os pregos e a morte.

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meditações para o tempo do advento

Pondera que tudo o que Jesus Cristo sofreu no correr da sua


vida e em sua Paixão foi-lhe posto diante dos olhos quando ainda
se achava no seio de sua Mãe. Jesus aceitou tudo com amor. Mas
naquela aceitação, e na repressão de sua repugnância natural,
ó Deus, que angústias e que aflição não devia experimentar o
Coração inocente de Jesus! Desde então compreenderia bem
quanto teria de sofrer, primeiro nascendo numa gruta fria,
estábulo de animais; em seguida, tendo de morar trinta anos
desconhecido na casa de uma simples oficina. Já então viu que os
homens haviam de tratá-Lo de ignorante, de escravo, de sedutor,
de réu de morte, digno da mais infamante e dolorosa morte
destinada aos condenados. Tudo isso o nosso amante Redentor
aceitou a cada instante, mas cada vez que renovava a aceitação,
tornava a sofrer juntas todas as penas e todas as humilhações que
depois deveria sofrer até a morte. E para que? Para salvar-nos da
morte eterna, a nós, miseráveis pecadores.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO
Amado Redentor, e quanto Vos custou, desde a vossa primeira
entrada neste mundo, tirar-me da miséria que tinha atraído
sobre mim pelos meus pecados! Para me livrardes da escravidão
do demônio, a quem de livre vontade me tinha vendido, Vós
sujeitastes a ser tratado como o mais vil de todos os escravos. E
eu, sabedor disso, tive ânimo de amargurar tantas vezes o vosso
Amabilíssimo Coração, que tanto me amou! Mas, já que Vós,
que sois inocente e sois o meu Deus, aceitastes por meu amor
uma vida e uma morte tão penosas, aceito, por Vosso amor, ó
Jesus meu, toda a pena que me vier das Vossas mãos. Aceito-a e
abraço-a por vir daquelas mãos que um dia foram transpassadas,

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NOVENA DE NATAL

a fim de livrar-me do inferno tantas vezes merecido pelos meus


pecados. Ó meu Redentor, o amor que mostrastes em oferecer-
-Vos a sofrer tanto por mim, constrange-me demais a aceitar, por
Vosso amor, toda a pena, todo o desprezo. Ó meu Senhor, pelos
Vossos merecimentos, dai-me o Vosso Santo Amor; este tornar-
-me-á suaves e amáveis todas as dores e todas as ignomínias.
Amo-Vos sobre todas as coisas, amo-Vos de todo o meu coração,
amo-Vos mais que a mim mesmo.
Durante toda a Vossa vida me tendes dado provas demasia-
damente grandes do Vosso afeto para comigo. Eu, ingrato, já
tenho vivido tantos anos nesta terra e quais são as provas de
amor que Vos mostrei? Fazei, ó meu Deus, que, ao menos nos
anos de vida que me restam, Vos dê alguma prova de meu amor.
Não tenho coragem de comparecer na Vossa presença, quando
vierdes a julgar-me, tão pobre como agora me acho, sem ter feito
alguma coisa por Vosso amor. Mas, que posso fazer sem a Vossa
graça? Nada senão pedir-Vos que me socorrais, e este mesmo
pedido ainda é uma graça da Vossa parte. Jesus meu, socorrei-me
pelos merecimentos de Vossas penas e do sangue que por mim
derramastes.
Maria Santíssima, recomendai-me a Vosso Filho, peço-vos pelo
amor que lhe tendes. Lembrai-vos que sou uma daquelas ovelhas
pelas quais Vosso Filho morreu.

Rezar o oferecimento na página 147

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3º Dia – 18 DE DEZEMBRO

Foi tão grande o desejo de Maria de ver em breve nascido seu


Divino Filho, que em comparação com ele os suspiros mais
ardentes dos Patriarcas e dos Profetas pareciam frios. Todavia
Jesus não quis antecipar seu nascimento, quis ser semelhante
aos outros e ficar oculto no seio materno, em recolhimento e
em preparação de sua entrada no mundo. Oh! Que bela lição
para nós, se a soubermos aproveitar.

Orações para todos os dias página 146

JESUS FAZ-SE MENINO PARA CONQUISTAR NOSSO AMOR

“Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado”. ( Is 9,6 )

Consideremos como depois de tantos séculos, depois de tantas


orações e pedidos, veio, nasceu e se deu todo a nós o Messias,
que não foram dignos de ver os santos patriarcas e os profetas,
o desejado pelos gentios, o desejado pelas colinas eternas, nosso
Salvador. “Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado” ( Is 9, 6 ).
O Filho de Deus se fez pequeno para fazer-nos grandes; deu-se
a nós para que nos déssemos a Ele; veio mostrar-nos seu amor,
para que lhe déssemos o nosso. Recebamo-Lo, pois com afeto,
amemo-Lo e recorramos a Ele em todas as nossas necessidades.
As crianças, diz São Bernardo, facilmente concedem o que se
lhes pede. Jesus veio como criança, para mostrar-nos que está
disposto a dar-nos todos os seus bens. “No qual se acham todos os
tesouros” ( Col 2, 3 ). “O Pai...entregou tudo em suas mãos” ( Jo 3, 35 ). Se
queremos luz, Ele veio para nos iluminar; se queremos força para
resistir aos inimigos, Ele veio para nos fortalecer; se queremos

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NOVENA DE NATAL

o perdão e a salvação, Ele veio precisamente para nos perdoar


e nos salvar; se queremos, em uma palavra, o supremo dom do
Amor Divino, Ele veio para nos abrasar; e, para isto, sobretudo,
se fez menino e quis apresentar-se a nós pobre e humilde, para
parecer mais amável, para tirar-nos todo o temor e conquistar
nosso afeto: “Assim devia vir quem quis desterrar o temor e buscar a
caridade”, diz São Pedro Crisólogo.
Além disso, Jesus Cristo quis vir criança, para que o amásse-
mos não só com amor apreciativo, mas com amor terno. Todas as
crianças sabem conquistar para si afetuoso carinho daqueles que
a rodeiam e, quem não amará com ternura seu Deus, vendo-o
criancinha, com frio, pobre, humilhado e abandonado, que
chora sobre as palhas de um presépio? Vinde amar Deus feito
menino e feito pobre, e que é tão amável que desceu do céu para
entregar-se por completo a nós.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO
Amável Jesus, tão desprezado por nós! Descestes do céu para
resgatar-nos do inferno e dar-Vos por completo a nós, como
pudemos tantas vezes, voltar-vos as costas, ó Deus! Os homens
são tão gratos às criaturas que se alguém lhes dá um presente,
se lhes envia um cumprimento, se lhes dá qualquer prova de
afeto, não se esquecem e se sentem forçados a corresponder. E,
pelo contrário, são tão ingratos Convosco, que sois seu Deus, e
tão amável que, por seu amor, não recusastes dar o sangue e a
vida. Mas, ai de nós, fomos ainda piores que os outros, porque
fomos mais amados e somos ingratos. Ah! Se as graças que nos
destes, as tivesses dado a um herege, a um idólatra, talvez se
tivessem santificado, e nós Vos ofendemos. Por favor, não Vos

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meditações para o tempo do advento

lembreis, Senhor, das injúrias que Vos fizemos. Dissestes que,


quando um pecador se arrepende, esquecei-Vos de todos os
pecados cometidos: “Nenhum dos pecados que cometeu lhe será
recordado” ( Ez 18, 22 ). Se no passado não Vos amamos, no futuro
não queremos senão Vos amar.
Já que Vos destes completamente a nós, damo-Vos em troca
toda a nossa vontade; com ela Vos amamos e, que Vos amamos,
queremos repetir para sempre. Queremos viver repetindo-o
e repetindo-o morrer, para começarmos desde o instante que
entramos na eternidade a amar-Vos com um amor contínuo
que durará eternamente. Entretanto, Senhor, nosso único bem
e único amor, propomo-nos a antepor Vossa vontade a todos
os nossos prazeres. Por nada queremos deixar de amar a quem
nos amou tanto; não queremos mais desgostar a quem devemos
amor infinito.
Rainha nossa, Maria, reconhecemos que todas as graças
recebidas de Deus são devidas à vossa intercessão; continuai a
interceder por nós, alcançai-nos a perseverança, vós que sois a
Mãe de todas as graças.

Rezar o oferecimento na página 147

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4º DIA – 19 DE DEZEMBRO

Desde o instante em que foi criada e unida com Seu pequenino


corpo, a alma de Jesus Cristo viu diante de si todos os padeci-
mentos que teria de sofrer para a redenção dos homens. Por isso
Jesus começou desde o primeiro instante da sua vida, a sofrer
por nosso amor a tristeza mortal que depois padeceu no horto
do Getsêmani. E como temos nós correspondido a tão grande
amor? Talvez com frieza e ingratidão.

Orações para todos os dias página 146

A PAIXÃO DE JESUS CRISTO DUROU TODA A SUA VIDA

“A minha dor está sempre diante de mim.” ( Sl 37,18 )

Considera como, no mesmo instante em que foi criada a alma


de Jesus e unida com seu pequenino corpo no seio de Maria, o
Pai Eterno manifestou a seu Filho a sua vontade que morresse
para a redenção do mundo. No mesmo tempo, pôs-lhe diante
dos olhos a vista triste de todos os sofrimentos que deveria
sofrer até a morte, a fim de remir o gênero humano. Mostrou-
-lhe então todos os trabalhos, desprezos e pobreza que deveria
suportar em toda a sua vida, tanto em Belém como no Egito e
em Nazaré. Mostrou-lhe em seguida todas as dores e ignomínias
de sua Paixão: Os açoites, os espinhos, os cravos e a cruz; todos
os desgostos, tristezas, agonias e abandono em que havia de
terminar a sua vida no Calvário.
Quando Abraão levava seu filho à morte, não quis afligi-lo
dizendo-lhe antecipadamente que morreria, e isso no pouco
tempo que era necessário para chegar ao monte. Mas o Pai Eterno

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meditações para o tempo do advento

quis que seu Filho Encarnado, destinado a ser vítima da divina


justiça pelos nossos pecados, sofresse já então todas as penas,
às quais depois deveria submeter-se na vida e na morte. Por esta
razão, desde o instante em que baixou ao seio de sua Mãe, Jesus
sofreu sem interrupção a tristeza que O abateu no horto, e que
era suficiente para tirar-Lhe a vida, assim como Ele mesmo disse:
“A minha alma está triste até a morte”. ( Mt 26, 38 ) De sorte que,
desde então, Ele sentiu vivamente e sofreu o peso todo de todos
os tormentos e opróbrios que O esperavam.
Toda a vida, portanto, e todos os anos do Redentor foram vida
e anos de dores e de lágrimas: “A minha vida tem desfalecido com a
dor, e os meus anos com os gemidos”. ( Sl 30, 11 ) O seu Divino Coração
não teve um instante livre de padecimento. Quer vigiasse, quer
dormisse, sempre tinha diante dos olhos aquela triste repre-
sentação que lhe atormentou por todos os seus suplícios. Os
mártires padeceram, mas, ajudados com a graça, padeceram
com alegria e ardor. Jesus, ao contrário, padeceu sempre com
o Coração cheio de amargura e de tristeza, e aceitou tudo por
nosso amor.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO
Doce, Amável, ó Amante Coração de Jesus! É, pois, verdade que
desde menino estivestes repleto de amargura, e que no seio de
Maria padecestes uma agonia sem consolação, sem testemunha,
sem ter quem Vos aliviasse e de Vós se compadecesse. Tudo isso,
ó meu Jesus, sofrestes a fim de satisfazer pelas penas eternas e
pela agonia sem fim que deviam ser a minha sorte no inferno por
causa dos meus pecados. Padecestes privado de todo alívio, a fim
de me salvar a mim que tive a audácia de abandonar o meu Deus

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NOVENA DE NATAL

e de virar-Lhe as costas para satisfazer a meus miseráveis apetites.


Graças Vos dou, Coração Amante e Aflito de Nosso Senhor.
Agradeço-Vos e me compadeço de Vós ao considerar que pade-
cestes tanto pelos homens e que estes não se compadecem de
Vós. Ó amor de Deus! Ó ingratidão dos homens! Ó homens, ó
homens, vede esse Cordeirinho inocente que está em agonia por
vós, para dar à divina justiça satisfação pelas injúrias que vós Lhe
tendes feito. Vede como Ele está orando e intercedendo por vós
junto do Eterno Pai: Contemplai-O e amai-O.
Ah, meu redentor, quão poucos são os que pensam nas Vossas
dores e no Vosso amor! Ó Deus! Quão poucos são os que Vos
amam! Mas, ai de mim! Eu também tenho vivido muitos anos
esquecido de Vós! Vós tanto padecestes para ser de mim amado,
e não Vos amei. Perdoai-me, ó Jesus meu, perdoai-me; quero
emendar-me e amar-Vos. Desgraçado de mim, Senhor, se ainda
resistisse à Vossa graça, e com a minha resistência me conde-
nasse! As grandes misericórdias de que tendes usado comigo e,
especialmente a Vossa doce voz que agora me chama ao Vosso
amor seriam o meu maior castigo no inferno. Meu Amado Jesus,
tende piedade de mim, não permitais que para o futuro eu viva
ingrato ao Vosso amor. Dai-me luz e dai-me força para vencer
tudo a fim de cumprir a Vossa santa vontade. Atendei-me, Vo-lo
peço, pelos merecimentos de Vossa Paixão. É nesta que confio,
bem como na vossa intercessão, ó Maria.
Minha querida Mãe, socorrei-me! Vós me impetrastes todas
as graças que tenho recebido de Deus. Eu vo-lo agradeço, mas,
se não continuardes a socorrer-me, eu continuarei a ser infiel,
assim como o tenho sido nos anos passados.

Rezar o oferecimento na página 147

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5º DIA – 20 DE DEZEMBRO

Todos os sacrifícios oferecidos a Deus no correr dos séculos não


foram bastante eficazes para remir o homem. Por isso, o Verbo
divino, apenas feito homem, ofereceu-se a si mesmo para vítima
da divina justiça, e por nosso amor aceitou a morte com todos os
padecimentos que a deviam acompanhar. Fê-lo o divino Menino
logo na sua primeira entrada no mundo. E nós, já chegados ao
uso da razão, que temos feito por seu amor? Talvez que desde
então tenhamos começado a ofendê-Lo.

Orações para todos os dias página 146

JESUS MENINO SE OFERECE À JUSTIÇA DIVINA

“Ele foi oferecido, porque ele mesmo quis.” ( Is 53, 7 )

O Verbo Divino, no primeiro instante em que se fez homem e


criança, no seio de Maria, ofereceu-se a si mesmo, sem reserva,
aos sofrimentos e à morte, para o resgate do mundo. Sabia que
todos os sacrifícios de ovelhas e de bois, oferecidos antigamente
a Deus, não puderam resgatar as culpas dos homens. Era preciso
que uma pessoa divina pagasse em lugar dos homens o preço
do resgate. Por isso disse Ele, conforme nos ensina o Apóstolo:
“Não quiseste hóstia nem oblação, mas me formaste um corpo”. ( Hb
10, 5 ) – Meu Pai, todas as vítimas que Vos foram oferecidas até
hoje não foram suficientes, nem puderam sê-lo, para satisfazer
à Vossa justiça. Vós me preparastes este corpo passível, a fim de
que eu possa aplacar-Vos e salvar os homens com o preço do
meu sangue. Eis que venho. Eis-me aqui disposto a aceitar tudo
e a submeter-me inteiramente à Vossa vontade. Relutava a parte

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NOVENA DE NATAL

inferior da alma que naturalmente tinha horror de uma vida e


morte tão cheias de padecimentos e de opróbrios.
Mas venceu a parte racional da alma, que, inteiramente
submissa à vontade do Pai, aceitou tudo, de sorte que, desde
aquele instante, Jesus começou a padecer todas as angústias
e as dores que devia sofrer nos anos da sua vida terrestre. Mas,
ó Deus, como é que temos nos portado para com Jesus, desde
que, chegados ao uso da razão, começamos a conhecer pela luz
da fé os sagrados mistérios de nossa Redenção? Quais são os
pensamentos, os projetos, os bens que foram objeto do nosso
amor? Prazeres, passeios, desejos de grandeza, vinganças, sensua-
lidades; eis os bens que nos prenderam o afeto do coração. Mas,
se ainda temos fé, é necessário que mudemos, afinal a nossa vida
e os nossos afetos. Amemos um Deus que tanto tem padecido
por nós.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO
Meu Senhor, quereis que Vos diga como me tenho portado para
Convosco durante a minha vida? Desde o despontar da razão
comecei a desprezar a Vossa graça e o Vosso amor. Mas Vós o
sabeis melhor do que eu mesmo. Apesar disso, me suportaste,
porque ainda me quereis bem. Eu andava fugindo de Vós, e Vós
viestes à minha procura chamando-me. Foi esse mesmo amor
que Vos fez baixar do céu, a fim de buscar as ovelhas perdidas,
que Vos fez suportar-me e não me abandonar. Meu Jesus, agora
Vós me buscais e eu Vos busco. Sinto que a Vossa graça me auxilia;
auxilia-me com o arrependimento de meus pecados; auxilia-me
inspirando-me um grande desejo de Vos amar e dar-Vos gosto.
Sim, meu Senhor, quero amar-Vos e agradar-Vos quanto puder.

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meditações para o tempo do advento

Mas, o que me faz temer é a minha fraqueza e insuficiência,


consequência dos meus pecados; maior, apesar disso, é a
confiança que a Vossa graça me inspira fazendo-me colocar a
minha esperança nos Vossos merecimentos, e dizer com toda a
segurança: “Tudo posso naquele que me conforta”. ( Fl 4, 13 ) Se sou
fraco, Vós me dareis força contra os inimigos; se sou enfermo,
espero que o Vosso sangue seja o meu remédio; se sou pecador,
espero que me faças santo. Reconheço que outrora tenho
cooperado para a minha perdição, porque nos perigos deixei
de recorrer a Vós. Para o futuro, meu Jesus e minha Esperança,
quero sempre recorrer a Vós e de Vós espero todo o auxílio, todo
o bem. Amo-Vos sobre todas as coisas e não quero amar senão
a Vós. Ajudai-me, Vo-lo suplico, pelo merecimento de tantos
sofrimentos que desde menino suportastes por mim. Pai Eterno,
pelo amor de Jesus Cristo, permiti que Vos ame. Se Vos tenho
desprezado, abrandem-Vos as lágrimas de Jesus Menino que
Vos roga por mim. Eu não mereço as graças, mas merece-as esse
Filho inocente que Vos oferece uma vida de dores, a fim de que
useis de misericórdia comigo.
E vós, ó Mãe de misericórdia, Maria, não deixeis de interce-
der por mim. Sabeis quanto confio em vós, e bem sei que não
desamparais quem recorre a vós.

Rezar o oferecimento na página 147

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6º DIA – 21 DE DEZEMBRO

A ingratidão desagrada aos homens. Qual deve, pois, ter sido a


tristeza de Jesus Menino, ao prever que os seus benefícios seriam
pagos pelo mundo com injúrias, traições e tormentos! Mas ai
de nós, que porventura também até hoje temos respondido aos
benefícios do Senhor de um modo tão desumano; ou pelo menos
O temos amado tão pouco, como se nenhum bem nos tivesse
feito, nem sofrido coisa alguma por nós. Quereremos ser tão
ingratos sempre?

Orações para todos os dias página 146

DOR DE JESUS MENINO PELA


PREVISÃO DA INGRATIDÃO DOS HOMENS

“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. ( Jo 1, 11 )

Pelos dias do Santo Natal, São Francisco de Assis andava pelos


caminhos e bosques chorando e suspirando com gemidos incon-
soláveis. Perguntando pela razão de tanto sofrer respondeu:
“Como não chorar, vendo que O Amor não é amado? Vejo um Deus
como que perdido de amor pelos homens, e os homens tão ingratos para
com esse Deus!” Ora, se a ingratidão dos homens afligia tanto o
coração de São Francisco, quanto mais não terá afligido o Cora-
ção de Jesus Cristo? Apenas concebido no seio de Maria, Jesus viu
a ingratidão desapiedada que receberia da parte dos homens.
Baixara do céu para acender o fogo do divino amor. Somente este
desejo fizera-O descer sobre a terra para ali sofrer um abismo
de dores e ignomínias: “Eu vim trazer o fogo à terra”. ( Lc 12, 49 ) E
em seguida viu um abismo de pecados que os homens haviam

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meditações para o tempo do advento

de cometer, apesar de terem sido testemunhas de tantas provas


de seu amor. Esse foi, disse São Bernardino de Sena, o que lhe
fez padecer uma dor infinita. Mesmo para nós é insuportável
vermos uma pessoa tratada por outra com ingratidão e, muitas
vezes isso aflige muito mais a alma, do que qualquer dor aflige
o corpo. Qual não deve, pois, ter sido a dor que nossa ingratidão
causou a Jesus, nosso Deus, quando viu que os seus benefícios
e o seu amor Lhe seriam retribuídos por nós com desgostos e
injúrias? Parece que também hoje em dia Jesus Cristo se queixa:
“Fiquei como que um estranho a meus irmãos”. ( Sl 68, 5 ) Vê que de
muitos não é amado, nem conhecido, como se nenhum bem
lhes tivesse feito, e nada por amor deles tivesse sofrido. Ó Deus,
que caso fazem também presentemente tantos cristãos do amor
de Jesus Cristo?
Apareceu certo dia o Redentor ao Beato Henrique Suso,
sob a forma de um peregrino que andava de porta em porta, a
pedir pousada, mas todos o repeliam com injúrias e ultrajes.
Ai! Quantos homens se parecem com aqueles de que fala
Jó, dizendo: Diziam a Deus: “Retira-te de nós… sendo ele quem
cumulou de bens as suas casas”. ( Jó 22, 17 ) Em outro tempo nós
também nos temos unido àqueles ingratos; mas quereremos
continuar do mesmo modo? Não, porque não merece tal o
Menino amável que baixou do céu para padecer e morrer por
nós, e assim fazer-se amar de nós.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO
Meu Amado Jesus, será verdade que Vós baixastes do céu para
Vos fazer amar por mim, que por meu amor viestes abraçar uma
vida de trabalhos e a morte de cruz, a fim de que eu Vos faça boa

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NOVENA DE NATAL

acolhida em meu coração, eu que tive a audácia de Vos repelir


tantas vezes de mim, dizendo: Afasta-te de mim, Senhor. Não
Vos quero! Ó meu Deus, se não fosseis a bondade infinita e não
tivésseis dado a vida para me perdoardes, não me animaria a
pedir-Vos perdão. Mas ouço que Vós mesmo me ofereceis a paz:
“Convertei-vos a mim, diz o Senhor, e eu me converterei a vós”. ( Zc 1, 3 )
Vós mesmo, ó Jesus, a quem tenho ofendido, quereis ser o meu
advogado: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados”. ( Jo 2, 2 ) Não
Vos quero fazer nova injúria desconfiando da Vossa misericórdia.
Pesa-me de toda a minha alma de Vos ter desprezado, ó Bem
supremo; pelo Sangue que derramastes por mim, recebei-me
em Vossa graça.
Meu Pai e meu Redentor, não sou mais digno de ser Vosso
Filho, ( Lc 15, 21 ) depois de ter renunciado tantas vezes ao Vosso
amor, mais fazei-me digno com os Vossos merecimentos. Graças
Vos dou, meu Pai, graças Vos dou e Vos amo. Ah, só a lembrança
da paciência com que me tendes suportado tantos anos, e das
graças que me tendes dispensado, depois de tantas injúrias que
Vos causei, deveria fazer-me viver sempre abrasado em Vosso
amor. Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais expulsar-Vos,
vinde morar em meu pobre coração. Amo-Vos e quero amar-Vos
sempre. Abrasai-me sempre mais, lembrando-me o amor que
me mostrastes.
Minha Rainha e Mãe, Maria, ajudai-me, rogai a Jesus por mim;
fazei com que, no tempo de vida que ainda me resta, mostre-me
grato a Deus, que me amou tanto, ainda depois de eu O ter
ofendido tão gravemente.

Rezar o oferecimento na página 147

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7º DIA – 22 DE DEZEMBRO

Tendo Deus decretado que seu Filho nascesse do modo mais


pobre e mais penoso, numa estrebaria, dispôs que César lançasse
um decreto de recenseamento universal. Sabedor disso, pertur-
bou-se São José na dúvida se levaria, ou não, Maria consigo. A
Virgem, porém, animou-o, e com ele se pôs a caminho. Tomemos
estes santos personagens como companheiros em nossa viagem
para a eternidade.

Orações para todos os dias página 146

VIAGEM DE SÃO JOSÉ E MARIA SANTÍSSIMA A BELÉM

“Subiu também José, para se alistar com a sua esposa Maria, que
estava grávida”. ( Lc 2, 4 )

Havia Deus decretado que seu Filho nascesse, não na casa de José,
senão numa gruta que servia de estrebaria, do modo mais pobre
e mais penoso, que uma criança pode nascer. Por isso dispôs
que César lançasse um edito por meio do qual cada um deveria
alistar-se na cidade própria donde trazia a sua origem. Quando
José teve conhecimento do mandato, perturbou-se na dúvida se
deveria deixar a Virgem Maria em casa ou levá-la consigo, visto
que estava próxima a dar à luz. – “Minha esposa e senhora, disse-lhe,
por um lado não queria deixar-vos só; por outro, se vos levo, aflige-me o
triste pensamento que muito tereis de sofrer numa viagem tão longa,
por um tempo tão rigoroso”. Maria, porém, anima-o dizendo: “José
meu, não temais. Eu vos acompanharei, e o Senhor nos ajudará”.
Por inspiração divina e pelo conhecimento da profecia de
Miqueias, a Virgem sabia que o Divino Infante devia nascer em

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NOVENA DE NATAL

Belém. Toma, pois, as faixas e os pobres paninhos já preparados


e parte com José.
Consideremos aqui as devotas e santas conversações que
durante a viagem faziam entre si aqueles santos esposos acerca
da misericórdia, da bondade e do amor do Verbo Divino, que em
breve iria nascer e fazer a sua entrada no mundo, pela salvação
dos homens. Consideremos os atos de louvor, de bênção, de
agradecimento, de humildade e de amor que aqueles excelsos
viajantes praticavam no caminho. De certo, sofreu muito a Santa
Virgenzinha, próxima a dar à luz, tendo de fazer uma viagem
tão longa. Mas suportou tudo em paz e com amor. Ofereceu a
Deus todas as suas penas, unindo-as com as penas de Jesus, que
trazia no seio.
Ah! Na viagem de nossa vida unamo-nos a Maria e José e
acompanhemo-nos deles. E agora façamos com eles compa-
nhia ao Rei do céu, que vai nascer numa gruta. Roguemos aos
santos viajantes que, pelos merecimentos das penas que então
padeceram, nos acompanhem na viagem que estamos fazendo
para a eternidade.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO
Meu caro Redentor, sei que nesta viagem Vos acompanham
legiões de anjos do céu, mas quem Vos acompanha na terra?
Ninguém senão José e Maria, que Vos traz consigo. Permiti, ó
meu Jesus, que eu também Vos acompanhe. Tenho sido um
miserável ingrato, mas agora reconheço a injúria que tenho feito.
Vós baixastes do céu para fazer-Vos meu companheiro na terra, e
eu, tantas vezes ingrato afastei-me de Vós pelos meus pecados. Ó
meu Senhor, quando penso que tão repetidas vezes me apartei

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meditações para o tempo do advento

de Vós para satisfazer aos meus detestáveis apetites, renunciando


assim à Vossa amizade, quisera morrer de dor. Mas Vós viestes
para me perdoar. Perdoai-me sem demora, visto que me pesa
de toda a minha alma de Vos ter abandonado e virado as costas
tantas vezes. Proponho e espero, com a Vossa graça, nunca mais
Vos deixar e nunca mais me apartar de Vós, meu único amor.
A minha alma enamorou-se de Vós, ó meu Amável Deus-Me-
nino. Amo-Vos, meu doce Salvador, e já que viestes à terra para
me salvar e dispensar-me as Vossas graças, peço-Vos só esta graça:
Não permitais que em tempo algum me separe de Vós. Uni-me
estreitamente Convosco, prendendo-me com os doces laços de
Vosso Santo Amor. Meu Redentor e meu Deus, quem terá ânimo
para Vos deixar, e viver sem Vós, privado da Vossa santa graça?
Maria Santíssima, eis-me aqui para acompanhar-vos em vossa
viagem. E vós, ó minha Mãe, não deixeis de me proteger na minha
viagem para a eternidade. Assisti-me sempre, principalmente
quando chegar ao fim da minha vida, próximo ao momento do
qual dependerá se estarei sempre convosco amando Jesus no
paraíso, ou se estarei para sempre longe de vós, odiando Jesus
no inferno. Ó minha Rainha, salvai-me pela vossa intercessão.
Seja a minha salvação amar-vos a vós e a Jesus Cristo para sempre,
no tempo e na eternidade. Vós sois a minha esperança. De vós
espero tudo.

Rezar o oferecimento na página 147

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8º DIA – 23 DE DEZEMBRO

A cidade de Belém, que recusa dar abrigo a Jesus Menino, foi


figura daqueles muitos corações ingratos que dão acolhida a
tantas miseráveis criaturas e não, a Deus. Reflitamos, porém, no
que a Virgem Maria disse a uma alma devota: Foi uma disposição
divina que a mim e a meu Filho nos faltasse abrigo entre os
homens, a fim de que as almas, cativadas pelo amor de Jesus, se
oferecessem a si próprias para o acolherem.

Orações para todos os dias página 146

JOSÉ E MARIA PEREGRINOS SEM ABRIGO EM BELÉM

“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” ( Jo 1, 11 )

Quando um rei faz a primeira entrada numa cidade do seu reino,


que manifestações de veneração lhe preparam! Que pompas!
Quantos arcos de triunfo! Prepara-te, pois, ó Belém venturosa,
para receberes dignamente o Rei do céu. Entre todas as cidades
és tu a ditosa que Ele escolheu para nela nascer em terra, a fim
de reinar depois no coração dos homens. “De ti sairá aquele que
há de reinar em Israel”. ( Mq 5, 2 )
Eis que já entram em Belém esses dois excelsos viajantes, José e
Maria, que traz no seio o Salvador do mundo. Entram na cidade,
dirigem-se para a casa do ministro imperial, a fim de pagarem
o tributo e serem alistados nos registros dos súditos do César.
Mas quem os reconhece? Quem lhes vai ao encontro? Quem
lhes oferece agasalho? “Ele veio para o que era seu, e os seus não o
receberam”. Eles são pobres, e como pobres são desprezados, são
tratados ainda pior do que os outros pobres, são até repelidos.

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meditações para o tempo do advento

Chegando a Belém, Maria entendeu que se aproximava a hora


de seu parto. Avisou a São José, e este com todo zelo e cuidado
procurou agasalho em uma casa dos habitantes de Belém.
Ninguém quis atender-lhe o pedido, e é bem provável que da
parte de alguns fosse taxado de insensato por trazer consigo a
esposa próxima ao parto, em tempo noturno e de tanta afluência
de pessoas. Para não ficar durante a noite no meio da rua, viu-se
afinal obrigado a levar a Virgem Maria à hospedaria pública,
onde já muitos pobres se tinham alojado para a noite. Mas
como? Também dali foram repelidos e foi-lhes respondido que
não havia lugar para eles. “Não havia lugar para eles na estalagem”.
( Lc 2, 7 ) Havia ali lugar para todos, também para os mais mise-
ráveis, mas não havia para Jesus Cristo. Contemplemos quais
devem ter sido os sentimentos de São José e de Maria Santíssima,
vendo-se desprezados e repulsos por todos.
A estalagem de Belém foi figura daqueles corações ingratos
que dão acolhida a tantas criaturas e, não a Deus. Quantos há
que amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam
Jesus Cristo, e nenhum caso fazem de Sua graça e de Seu amor.
Maria Santíssima disse a uma alma devota: Foi uma disposição
divina que a mim e a meu Filho nos faltasse agasalho da parte
dos homens, a fim de que as almas cativadas pelo amor de Jesus
se oferecessem a si próprias para o acolherem e o convidassem
amorosamente a tomar morada em seus corações.

Rezar a Coroa na página 147

ORAÇÃO
Sim, meu Jesus, vinde nascer pela Vossa graça em meu pobre
coração! Eu não me animaria a pedir-Vos esta graça, se não
soubesse que Vós mesmo me inspirais o pensamento de Vo-la

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NOVENA DE NATAL

rogar. Ó Senhor, eu sou aquele que, com os meus pecados, Vos


tenho tantas vezes expulso cruelmente da minha alma. Mas já
que baixastes à terra para perdoar aos pecadores arrependidos,
perdoai-me, porque me pesa sobre todas as coisas de Vos ter
desprezado, meu Salvador e meu Deus, que sois tão bom e me
tendes tão grande amor. Nestes dias dispensais grandes graças
a tantas almas, consolai também a minha. A graça que quero, é
a de Vos amar para o futuro, de todo o meu coração; abrasai-me
todo em Vosso amor. Amo-Vos, meu Deus, feito Menino por meu
amor. Ah, não permitais que eu Vos deixe de amar.
Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo com as vossas súpli-
cas. Eis aí o que unicamente vos peço: Rogai a Jesus por mim,
e obtende-me a graça de amá-Lo com todas as minhas forças,
a fim de desagravá-Lo assim de tantas ofensas, que em outro
tempo Lhe tenho feito. Ó minha Mãe amantíssima, rogo-vos,
exatamente pela vossa maternidade divina, tomai o meu coração
e aconchegai-o ao vosso; aconchegai-o também ao de vosso
divino Filho, e fazei que seja todo consumido nas belas chamas
do amor a vós e a Jesus.

Rezar o oferecimento na página 147

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9º DIA – 24 DE DEZEMBRO

Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de


Belém, a fim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes
nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do céu prepa-
ra-se para nascer uma estrebaria fria; para cobri-Lo, uns pobres
paninhos; para cama, um pouco de palha; e para colocá-Lo uma
vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para
nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!

Orações para todos os dias página 146

A GRUTA DE BELÉM

“Ela reclinou-o em uma manjedoura; porque não havia lugar para


eles na estalagem.” ( Lc 2, 7 )

Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus


Cristo. Vendo-se expulsos de toda parte, São José e a Bem-aventu-
rada Virgem saem da cidade a fim de achar fora dela ao menos
algum abrigo. Os pobres viajantes caminham na escuridão,
errando e espreitando. Afinal, aparece-lhes ao pé dos muros de
Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de
estábulo para os animais. Disse então Maria: – José, meu Esposo,
não precisamos ir mais longe, entremos nesta gruta e deixemo-
-nos ficar aqui. – Mas como?, responde São José, não vês, minha
Esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em
toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão
uma estrebaria para animais? Como queres passar aqui a noite e
dar à luz? – Contudo é verdade, tornou Maria, que este estábulo
é o palácio real onde quer nascer na terra o Filho Eterno de Deus.

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NOVENA DE NATAL

Ah! Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela
gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos
adornados de ouro; lhes é preparado berços incrustados com
pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhe cortejo os
primeiros senhores do reino. E ao Rei do céu prepara-se uma
gruta fria e sem luz para nela nascer, uns pobres paninhos para
cobri-Lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura
para O colocar. Meu Deus, assim pergunta São Bernardo, onde
está a corte, onde está o trono real deste Rei do céu, uma vez que
não vejo senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma
manjedoura, na qual deve ser posto?
Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo Divino
nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de
receber em ti o Senhor do céu! Ó palha feliz, que serviste de leito
àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes felizes,
ó Gruta, ó presépio, ó palha. Mais felizes, porém, são os corações
que tenra e fervorosamente amam esse Amabilíssimo Senhor,
e que, abrasados em amor, O recebem na santa Comunhão. Oh,
com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo repousar no coração
que O ama!
Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo
confunde o nosso orgulho e, segundo a reflexão de São Bernardo,
já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva
voz: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Eis
porque ao contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao
ouvirmos falar em gruta, em manjedoura, em palha, em leite, em
vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como que chamas
de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos
fizessem amantes da santa humildade.

Rezar a Coroa na página 147

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meditações para o tempo do advento

ORAÇÃO

Verdade é, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor,


com o Vosso exemplo fizestes os desprezos excessivamente caros
e amáveis aos que Vos amam. Mas como então é possível que
eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber
algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão
orgulhoso, e tenha ainda chegado a ofender-Vos, ó Majestade
infinita? Pecador e orgulhoso!
Ah, Senhor, já o compreendo: Eu não soube aceitar com
paciência as humilhações e as afrontas, porque não Vos soube
amar. Se Vos tivesse amor, ter-me-iam sido doces e amáveis. Mas
visto que prometeis o perdão a quem se arrepende, de toda a
minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada,
tão diferente da Vossa. Quero emendar-me e, por isso, Vos
prometo que para o futuro aceitarei com paz todos os desprezos
que me vierem, e que os sofrerei por Vosso amor, ó Jesus meu,
que por meu amor tendes sido tão desprezado. Compreendo
que as humilhações são as minas preciosas por meio das quais
quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. Já sou digno
de outras humilhações e de outros desprezos, porque desprezei
a Vossa graça. Quero mudar de vida, não quero mais causar-Vos
desgosto. Para o futuro, não quero buscar senão a Vossa vontade,
e por isso Vos dou todo o meu coração. Possui-o, e possui-o para
sempre, a fim de que eu seja sempre Vosso e todo Vosso.

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NOVENA DE NATAL

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meditações para o tempo do advento

íNDICE BIBLIOGRáFICO

( HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos


os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis.
Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, p. 23-27 )

TEXTO DIA DA SAGRADA FAMILIA


( SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de
Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia
Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 261-275 )

NOVENA DE NATAL
( LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e
Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento
até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921 )

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