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Francesco Bamonte

A Virgem Maria
e o Diabo nos exorcismos

3.ª edição
1.ª edição: Abril 2011
2.ª edição: Junho 2016
3.ª edição: Abril 2017

Titulo original: La Vergine Maria e il Diavolo negli esorcismi


© 2010, Figlie di San Paolo - Milão
Tradução: António Maia da Rocha
Capa: Departamento Gráfico Paulinas Editora
Foto da capa: Cario Maratta (1625-1713), Nossa Senhora em glória entre São Francisco
de Sales e São Tomás de Vilanova , Igreja de Santo Agostinho, _1ena
© 2010. Foto Scala, Florença
Pré-impressão: Paulinas Editora - Prior Velho
Impresscto e acabamentos: Artipol - Artes Tipográficas, Lda. - Águeda
Depósito legal n .º 424 826/17
lSBN 978-989-673-159-5
(edição original 978-88-315-3834-3)

© Abril 2017 , lnst. Miss. Filhas de São Paulo


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Prefácio à edição portuguesa

O momento histórico que vivemos é, do ponto de vista teoló-


gico , caracterizado por uma pluralidade de interpretações da
Palavra de Deus, muitas delas inconciliáveis entre si. Tal fenó-
meno não é novo nem necessariamente negativo , se tivermos
presente que muitos elementos na Revelação divina são de difícil
interpretação e que cada teólogo tem a sua própria abordagem,
mesmo respeitando os elementos irrenunciáveis do método teo-
lógico . O que surpreende, porém, nos nossos dias , é um certo
ceticismo com raízes filosóficas, e que leva a considerar, em ma-
téria teológica, que tudo é opinável, minando os próprios funda-
mentos da fé apostólica. Longe estamos dos tempos em que a
regula fideí vivificava e orientava o debate teológico. Hoje, depa-
ramo-nos, com alguma frequência , com a ditadura do «cá p'ra
mim» , certamente menos fecunda .
Em âmbito católico , estas reflexões adquirem ainda uma
maior pertinência, pois, acreditamos que o Senhor Jesus infun-
diu nos seus Apóstolos, e nos Bispos seus sucessores, um carisma
certo da verdade 1 para que possam realizar fielmente a missão
que lhes foi confiada de pregar a «Palavra da verdade» (Ef 1,13;
Cl 1,5; 2Tm 2 ,15; Tg 1,18) 2, que conduz, pela fé , à salvação
eterna. Este carisma do Espírito Santo habilita o colégio epis-
copal, juntamente com o Papa, sua cabeça, a interpretar autenti-

1
Cf. SANTO IRENEU DE LIAo, Ad haereses, Ib. IV, e. 40 n . 2.
2
Na sua oração sacerdotal, Jesus pede ao Pai: «Consagra-os na verdade . A tua Pa-
lavra é a verdade » üo 17,17).

3
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

camente - isto é sem erro em matéria de fé e de costumes - a


'
divina Revelação 3 •
«A existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sa-
grada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de
fé » 4 e, portanto, não se encontra no âmbito das hipóteses ou opi-
niões teológicas. Alguns desses anjos , criados bons por Deus,
liderados por Satanás, também chamado Diabo, «radical e irre-
vogavelmente recusaram Deus e o seu Reino» 5 e, portanto, deve-
-se afirmar que, «de facto, o Diabo e os outros demónios foram
por Deus criados naturalmente bons; mas eles, por si próprios, é
que se fizeram maus>>º. Os demónios «esforçam-se por associar o
homem à sua rebelião contra Deus» 7 , por induzir o homem ao
pecado mortal, o qual «tem como consequência a perda da cari-
dade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de
graça. E se não for resgatado pelo arrependimento e pelo perdão
de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna
no Inferno» ª. Como se tal não bastasse, há que ter presente que
« [a] maléfica e adversa ação do Diabo e dos demónios afeta pes-
soas, coisas e lugares, manifestando-se de diversos modos» 9 .
Facto este que os sacerdotes exorcistas, infelizmente, constatam
com frequência . Na realidade, « [u]m duro combate contra os
poderes das trevas atravessa, com efeito, toda a história humana;
começou no princípio do mundo e, segundo a palavra do Senhor
(cf. Mt 24,13; 13,24-30.36-43), durará até ao último d ia» hl _
Aconselho vivamente a leitura do presente livro - A Virgem
Maria e o Diabo nos exorcismos - do padre Francesco Bamonte,
exorcista, por três motivos principais.

3
Cf. CONCILIO DO VATICANO II , Con st. d ogm . Dei Verbum , n . 10.
• Catecismo da Igreja Católica, n. 328.
~ Jbid. , n. 39 1.
6
CONCILIO DE LATRAO IV, cap. 1, De fide catholica: DH 800.
1
Ritual Romano. Rito dos exorcismos, Proémio .
8
Catecismo da Igreja Católica, n . 1861 .
9
Ritual Romano. Rito dos exorcismos, Proémio .
i,, CONCILIO DO VATICANO II, Gaudium et spes, n . 37.

4
Prefácio à edição portuguesa

Em primeiro lugar, é uma profunda catequese acerca da


Virgem Maria e do seu papel singular na história da salvação.
Maria ocupa um lugar único , como o demonstra com clareza o
autor, baseando-se na Sagrada Escritura, no Magistério da Igreja,
na experiência dos santos, nas reflexões dos teólogos e concorde,
também, com algumas palavras e reações dos demónios durante
os exorcismos. À medida que progredimos na leitura destas pági-
nas , vamo-nos dando conta de quanto é real a presença da
Virgem Santa Maria nas nossas vidas. Maria acompanha-nos nos
combates desta vida. Nos exorcismos «tocamos» a sua presença
materna ao nosso lado e fazemos experiência da eficácia da sua
intercessão .
Os relatos, aqui reportados, de algumas reações diabólicas
podem suscitar em alguns leitores uma certa perplexidade. Mas a
realidade é de facto esta. Posso afirmá-lo não só pelo facto de
considerar o autor um testemunho credível, mas também porque
tive a graça de o comprovar em primeira pessoa, ao longo dos
dez anos em que pude acompanhar o padre Gabriele Amorth nos
seus exorcismos e, depois, no ministério de exorcista que me foi
confiado pela Igreja. Satanás e os seus anjos odeiam a Deus e não
suportam a sua santidade. Maria Santíssima, pela sua humildade,
fé e caridade, transborda desta santidade divina, é a «cheia de
graça» (Lc 1,28), resplandecente de luz (cf. Ap 12,1), que conti-
nuamente intercede junto de Deus pelos seus filhos (cf. Jo
19,27) , e daí esta forte inimizade entre Satanás e a Imaculada.
Em segundo lugar, parece-me que estas páginas nos estimu-
lam bastante, seja a crescer na nossa devoção a Maria Santíssima,
seja a compreender melhor a natureza desta devoção e a sua
grande importância no atual momento histórico que vivemos .
Concretamente, ajudam-nos a penetrar melhor no papel único
que foi confiado por Deus a Maria na história da salvação. Maria
está implicada nas duas missões divinas. Foi, de facto , por Maria
que o Verbo e, de alguma maneira , o Espírito Santo vieram até
nós para nos salvar. Não é, pois, de estranhar que a Maria Santís-
sima caiba uma missão especial de pôr-nos em contacto e relação

5
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

com estas duas Pessoas divinas , e isto realiza-se sem que a sua
mediação ofusque em nada a mediação única e universal de
Cristo . Antes bem pelo contrário, a vocação e missão de Maria
exaltam, confirmam e apontam para o único mediador entre
Deus e os homens: Jesus Cristo (cf. 1Tm 2,5) .
Finalmente, estou convencido de que esta obra nos ajuda a
valorizar melhor a eficácia de alguns meios de santificação. Por
exemplo , da Eucaristia, do Terço, da Consagração ao Coração
Imaculado de Maria. E assim, uma vez que vemos melhor a sua
força espiritual, acaba por nos estimular a usá-los com maior
diligência e devoção. Sobre este ponto, parece-me oportuno par-
tilhar aqui, que, uma vez , depois de terminado um exorcismo,
estava a impor o escapulário de Nossa Senhora do Carmo a uma
jovem que era atormentada pelo demónio, e, no momento em
que lhe introduzia o escapulário pela cabeça, o demónio reagiu
urrando com alguma violência. No final do exorcismo, tenho por
hábito rezar a Salve Rainha com os presentes e convido a pessoa
atormentada pelo demónio a rezar connosco. Nos casos em que
o domínio diabólico é maior, constato que a pessoa não conse-
gue rezar e que o demónio reage com as habituais blasfémias, pa-
lavrões, etc., mas à medida que tal domínio se vai enfraque-
cendo , a pessoa começa progressivamente a conseguir rezar cada
vez melhor esta bonita oração mariana.
Estou certo que a leitura deste livro nos ajudará a todos a
crescer na fé , esperança e caridade, e a dar abundantes frutos de
santidade para glória de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Lamego, 19 de março de 2011


Solenidade de São José, Esposo da Virgem Santa Maria

PE . DUARTE SOUSA LARA *

* Presbítero da Diocese de Lamego. Doutorou-se em Teologia junto da Pontifícia


Universidade da Santa Cruz, onde colabora como docente desde 2005 . Actualmeme
é pároco da Paróquia de Folgosa do Douro (Armamar), professor no Instituto Supe-
rior de Teologia Beiras e Douro (Viseu), capelão do Mosteiro de Nossa Senhora da Eu-
caristia (Lamego) e exorcista.

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Prefácio

Mais do que fazer uma apresentação conceptual e uma ava-


liação do que está escrito neste livro interessante, preferi seguir o
caminho do coração para descrever os sentimentos, as impres-
sões, as reflexões e os efeitos benéficos que brotaram da leitura
do texto, que o padre Francesco Bamonte gentilmente me sub-
meteu para uma prévia e cautelosa avaliação. Posteriormente, o
leitor poderá avaliar diretamente o seu alcance e apreciar os múl-
tiplos aspetos nele encerrados.
São quatro os pontos de vista de que pude extrair elementos
de meditação intensa e de comprazimento interior, à medida que
eu avançava na leitura.

1. Em primeiro lugar, brotaram alguns sentimentos que muito


me comoveram, beneficamente: pude contemplar a grandeza e a
beleza de Maria, de maneira tão luminosa e incisiva, como nunca
me tinha acontecido. É claro que se trata de coisas já conhecidas ,
mas são descritas com uma vivacidade e expressividade que ilu-
minam o ânimo e a mente, suscitando profundas emoções de
admiração e de amor para com a Santíssima Virgem.
Paradoxalmente, verifica-se este fenómeno estranho: dos rela-
tos turbulentos dos exorcismos emerge, em toda a sua elevação e
magnificência, a figura puríssima e esplêndida da Mãe de Deus,
diante de quem todos ficam deslumbrados e fascinados . Poder-
-se-ia dizer que, perante as tenebrosas manifestações satânicas,
aparece ainda com maior fulgor aquela que foi escolhida, com a

7
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

força da sua santidade, para envergonhar e desmascarar a feal-


dade e a mesquinhez de Satanás.
Por isso, nasce destes relatos uma terrível representação do
Maligno, que se mostra repelente e miserável , débil e derrotado ,
mesmo na ferocidade e na fealdade da sua raiva e do seu ódio
implacável e blasfemo. De facto , Satanás revela-se nestes relatos
ainda mais abrutalhado e asqueroso, provocando reações de re-
pulsa e de desgosto. Deste modo, o leitor é estimulado na luta e
desaprovação contra o diabo e todas as suas manobras, de modo
que nunca se deixe seduzir nem enganar. Os seus olhos abrem-se
à clara visão de uma realidade monstruosa e negativa, de que é
preciso desconfiar e não se deixar, de modo nenhum, iludir.
De onde deriva um convite urgente e sereno a amar com todo
o coração a Virgem Maria e, através dela, o seu dileto Filho, Jesus
Cristo . Por isso, o leitor encontra dentro de si muitos movi-
mentos que o impelem eficazmente à oração e a uma entrega
confiante, cada vez mais total e íntima , a Maria Santíssima , para
permanecer ligado ao seu socorro materno e repelir todas as se-
duções diabólicas. Trata-se de estabelecer um caminho autenti-
camente cristão em plena fidelidade a Cristo e ao seu amor, na
obediência e docilidade à sua Palavra e à vontade do Pai, na con-
fiança filial à sua Mãe.

2. Os sentimentos são acompanhados por algumas considera-


ções teológicas de grande relevo sobre argumentos tão delicados e
complexos como a mariologia e a demonologia. No ta-se com
uma precisão clara a dimensão mariológica da economia salví-
fica, já que o livro mostra a presença e a ação de Maria ao longo
de todo o percurso da história da salvação: das origens da criação
à plenitude dos tempos da encarnação do Verbo, da obra de re-
denção com a morte e a ressurreição , através do caminho da
Igreja , até à parusia final. Não se poderá compreender plena-
mente o projeto divino de amor para salvar a hun1anidade , se
não se considerar devidamente a realidade de Maria que perma-
nece subordinada à ação principal do Verbo encarnado, embora

8
Prefácio

estivesse plenamente envolvida com ela de maneira tão íntima e


vital, que não se poderá esquecer ou marginalizar.
Consegue a sua cooperação insubstituível no evento redentor
e no seu desapego eficaz ao longo de um percurso histórico. Ela
presta-se, generosa e totalmente, a esta tarefa altíssima; nunca se
separa dela nem se mostra reticente. Ao contrário, aparece com
evidência a sua disponibilidade e submissão à vontade de Deus ,
que a leva a desenvolver todas as suas forças na assistência ma-
ternamente cuidadosa com os filhos redimidos pelo seu Filho .
Para o cristão, isto constitui um grande conforto e uma confiança
serena.
Por causa desta presença mariana na economia salvífica, é
muito mais forte e cruel a luta de Satanás contra aqueles que são
protegidos e assistidos por Maria. Uma luta frenética e ines-
gotável, insidiosa e prepotente até à possessão diabólica com
manifestações de extrema desordem e perturbação. E o diabo
vai-se embora derrotado e miseravelmente desbaratado. A vitó-
ria pertence a Cristo e à Mãe, não ao Maligno.
Trata-se de um dado de facto incontrolável, que suscita ma-
ravilha e uma alegria surpreendente. O cristão não pode deixar-
-se subjugar pelas forças adversas, porque com ele também Maria
combate· e a Maria está unida a comunidade dos crentes, tendo
'
por base o poder da redenção realizada por Cristo. São estas as
possibilidades que brotam dessas experiências exorcísticas. O
bem prevalece sobre o mal, a verdade sobre a mentira, o amor
sobre o ódio, a humildade sobre o orgulho. Surge espontânea a
oração de louvor e de agradecimento ao Senhor omnipotente e o
vitorioso, nosso Salvador, que «nos deu e pôs ao nosso lado a sua
Mãe amorosa» .

3. Sublinhe-se uma maravilhosa correspondência entre tudo o


que é descrito no livro e os dados da revelação cristã. Nos Evan-
gelhos, vemos muitas vezes que Satanás reconhece a divindade
de Cristo e manifesta-a com perturbação e temor, tal como é nar-
rado nos relatos de exorcismos (cf. Me 1,24[; 3,11 ; 5,6]) ; por

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A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

outro lado, Jesus reconhece-o e ameaça-o, ordenando-lhe que


saia do homem e que nunca mais volte a ele (cf. Me 1,25; 3,12;
5,8). O seu saber não é contradito por Jesus, mas validamente
reconhecido (cf. Me 1,34) e confirmado por outras passagens em
que se usam os mesmos termos (cf. Me 1,11 ; 9, 7; 15 ,39). Por-
tanto o conhecimento dos demónios refere-se ao aspeto decisivo
'
da pessoa de Jesus, à sua relação filial com Deus. Contudo, Jesus
proíbe-lhes que falem disso (cf. Me 1,34 ; 3, 12).
Essa proibição não se refere ao conteúdo das afirmações dos
demónios, mas ao modo de manifestá-lo , porque o verdadeiro
conhecimento de Jesus também comporta o seu seguimento, a
aceitação da sua presença e da sua obra salvífica. Precisamente
neste ponto, os diabos permanecem do lado de fora da autêntica
relação com Cristo e, por isso, podem ser instrumentos válidos
para um testemunho verdadeiro sobre ele mesmo. Isto é, eles
conhecem jesus, mas não o aceitam nem, muit? menos, o amam,
pelo contrário, desdenham e detestam-no. Daí a sua condenação.
E eles agem do mesmo modo com Maria. Revelam os seus
dotes e a sua graça, a santidade e a humildade, as suas prerro-
gativas únicas - como a Imaculada Conceição , a Materni-
dade Virginal, a sua cooperação na redenção-, mas alimentam
contra ela um ódio irreprimível e venenoso. Se pudessem , ani-
quilá-la-iam. Por isso , opõem-se à sua ação e consideram-na
a mulher destruidora do seu império. Daqui resulta uma perene
conflituosidade entre eles e ela . Este livro confirma-o clara e
surpreendentemente.
Também nos Padres da Igreja se afirmam as mesmas coisas.
Basta apenas a citação de Agostinho . Ele precisa que os de-
mónios, antes da sua culpa, possuíam sabedoria, embora não se
saiba em que medida, se igual ou inferior aos anjos bons. Ao
afastar-se da luz, os demónios recusaram a bem-aventurança,
embora conservando a vida racional, mas de modo incipiente.
De facto , possuem a ciência sem caridade; mas a ciência sem ca-
ridade, não vale de nada, antes se torna uma atitude de' soberba
repleta de um vaz io balofo (cf. De Civilate Dei, 9 ,20), que os
10
Prefácio

entenebrece e fecha à verdade. Eles conhecem Deus, Cristo e a


Virgem: mas odeiam-nos e combatem-nos ferozmente . Daqui a
sua estultícia e dureza de coração.
No Magistério da Igreja, em particular no Concílio Vaticano II
'
fala-se várias vezes do diabo; realça-se a relação entre ele e Maria,
tendo por referência a ligação que existe entre a serpente e a
mulher do Génesis . À luz da revelação de Cristo, «ela [Maria]
aparece , a esta luz, profeticamente figurada, na promessa de vitó-
ria sobre a serpente, feita aos primeiros antepassados, caídos no
pecado» (LG 55). Além disso , o paralelo, entre Maria e Eva, quer
ilustrar a cooperação de Maria no evento da salvação com a sua
fé na palavra de Deus, em contraste com Eva que colaborou na
queda original com a sua adesão à serpente (LG 63). Aqui, trata-
-se da fé incondicional da Virgem, início da vitória sobre a ser-
pente sedutora, que nela não encontrou a debilidade de Eva e,
por isso, não pôde arranhar minimamente a sua confiança em
Deus e a [sua] firme adesão ao projeto divino.
Estas breves notas mostram a perfeita sintonia do livro com
os documentos da doutrina da Igreja e da sua tradição , até aos
textos evangélicos. Nada a objetar, mesmo que se descubra uma
válida confirmação , porque o testemunho provém de sujeitos
declaradamente inimigos da verdade revelada, da qual se tornam
defensores sinceramente convencidos, embora forçadamente
mensageiros.

4 . Os aspetos até aqui enumerados não sobrecarregam, antes


animam as páginas do texto, porque os relatos dos exorcismos são
descritos de um modo muito concreto e vivo. Dentro dessas des-
crições encontram-se e revelam-se os elementos significativos e
basilares de que se falou . Daqui brota uma leitura absorvente e
estimulante, sempre rica de conteúdos e de verdades doutrinais.
Descobrem-se sempre os valores cristãos com clareza e lucidez.
Além de oferecer uma leitura agradável, o livro suscita um im-
pulso contínuo à conversão e à santidade . Isto acontece devido
ao amor intenso e filial a Maria, solicitando uma plena confiança

11
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

nela, de onde brota uma serenidade interior do coração . Por


outro lado, assiste-se a um apelo contínuo à vigilância e à oração,
para enfrentar e superar os ataques do maligno. Extrai-se daqui
um bom material para sugestões espirituais e de edificação da
consciência, de modo a iluminá-la para seguir o caminho do se-
guimento de Cristo e evitar entregar-se às seduções satânicas.
Isto constitui uma verdadeira vantagem para os cristãos, que
sentirão uma alegria envolvente por permanecerem unidos a
Cristo e à Igreja, sob a proteção materna de Maria. Assim coura-
çados, poderão caminhar na peregrinação terrena, embora atra-
vessando momentos de cansaço e dificuldade, com a certeza de
superar tudo, face à conquista do Reino dos Céus.
Resta-nos, enfim, fazer-lhe um caloroso convite para que leia
e medite este livro do padre Francesco, de modo a extrair dele os
mais úteis proveitos espirituais.

Roma, 25 de março de 2010


Solenidade da Anunciação do Senhor

PE . RE NZO lAVATOR! *

* Docente de Teologia Dogmática em Roma, na Pontifícia Universidade Urba-


niana, no ISSR da Pontifícia Universidade da Santa Cruz e na Ecclesia Mater da
Pontiflcia Universidade Lateranense. Entre as suas obras, há trts grandes volumes
dedicados à demonologia.

12
Introdução

Este livro, ainda que se tenha inspirado nos fundamentos


bíblicos e no ensino da Igreja sobre Nossa Senhora, não é a
apresentação de um estudo exegético ou uma discussão de
questões e disputas doutrinais sobre a Virgem Maria. Trata-se,
sobretudo, de um testemunho da amorosa e especial solicitude
que Maria Santíssima mostra a favor dos seus filhos que
sofrem, durante o delicado ministério dos exorcismos, e do
poder que um autêntico culto a Nossa Senhora exerce sobre o
mundo demoníaco.
É motivo de grande alegria para nós, sacerdotes, também
investidos com o delicado ministério do exorcismo, constatar
no trabalho pastoral com as pessoas possessas a incessante e
quase palpável presença e proteção de Nossa Senhora, prova e
confirmação ulterior do insanável conflito entre ela e as forças
do mal. O que acontece durante os exorcismos testemunha o
papel importantíssimo da Virgem na luta contra Satanás e na
libertação daqueles que estão possuídos. Na caminhada de
libertação, o exorcista e a pessoa possuída fazem uma expe-
riência viva da presença e do amor incomensurável da Virgem
que, com imensa ternura de Mãe , intervém ao lado dos seus
filhos, lutando por eles e com eles contra Satanás. De facto , ao
observar as atitudes e as reações dos demónios, e ao assistir às
suas consecutivas derrotas - que com grande desilusão e raiva
vão recebendo por intervenção da Virgem Maria - , veem-se
confirmadas as palavras que Deus dirigiu a Satanás: «Porei

13
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

inimizade entre ti e a mulher» (Gn 3,15) . Maria é a «Mulher»


que, do Génesis ao Apocalipse 1 , segundo o desígnio de Deus
Pai, está sempre ligada ao Filho, «encostada ao seu amado»
(Ct 8 ,5) , a Ele inseparavelmente unida, na luta contra o ini-
migo infernal e na realização da sua própria missão salvífica:
reconduzir o género humano ao seio do Pai. Nenhum homem
redimido é capaz de dar a Cristo um contributo ao desenvol-
vimento da obra salvífica igual ao que a Virgem Maria, sua
Mãe , lhe oferece.
Neste texto, que me foi pedido insistentemente por diver-
sos setores, pretendo testemunhar esta grande e consoladora
verdade que a Sagrada Escritura nos revela; isto é, Deus quis
livremente, não apenas que Maria esteja presente na execução
da obra salvífica de Cristo, mas também os efeitos decisivos
que um autêntico culto à Senhora produz na luta contra Sata-
nás, um culto que atinge a sua plenitude na consagração e en-
trega ao Coração Imaculado de Maria. Além disso, tenciono
testemunhar que os demónios que nós - os exorcistas - en-
frentamos , intimamente unidos à Virgem Maria, são obrigados
a testemunhar a dignidade extraordinária que ela detém acima
de todas as criaturas humanas e angélicas, e a confessar toda a
verdade acerca dela e a total impotência deles no seu con-
fronto com ela. De facto , no decorrer dos exorcismos. veri-
fica-se uma singular alternância de expressoes depreciati\·as e

1
«O "sinal grandioso" que o Apóstolo S. João viu no Céu: "uma Mulher rewsuda
de sol" (d. Ap 12,1), não sem fundamento o interpreta a Sagrada Liturgia como refe-
rindo-se à Santíssima Virgem Maria, Mãe de todos os h omens pela graça de Cristo R ·
dentor» (PAULO VI , Exortação Apostólica Signum magnum, Introdução, 1967). «Lemos
no trecho do Apocalipse , h oje prop osto à nossa meditação: "Apareceu n o céu um
grande sinal: uma Mu lher vestida de sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma
coroa de doze est relas na cabeça" (1 2 , 1). Nesta mulher resplandecente de luz, os
Pad res da Igreja reconheceram Maria. No seu triunfo , o povo cristão peregrino na his-
tória entrevê o cumprimento das próprias expectativas e o sinal seguro da sua espe·
rança» ( BENTO XVI , Angelus na Solenidade da Assunção , 15 de agosto de 2006).

14
Introdução

vulgares, e de «catequeses» involuntárias e louvores afectuo-


síssimos à Mãe de Deus , que - como descreverei - os demó-
nios, malgrado seu, são obrigados a pronunciar com grandís-
simo desagrado.
A certeza de que o conhecimento dessas experiências
poderá servir de edificação espiritual dos fiéis e, consequente-
mente, motivo de futura glória da Virgem Imaculada, induziu-
-me a publicá-las.
Com este livro, pretendo também unir-me ao cortejo das
almas de todos os tempos apaixonadas pela Virgem Maria e
instar a todos que recorram com grande confiança à sua inter-
cessão materna, em particular mediante o conhecimento e a
experiência de consagração e de entrega ao seu Coração Ima-
culado, a fim de cooperarem o mais eficazmente possível com
ela na luta contra Satanás e os anjos rebeldes, pelo triunfo do
Reino de Deus. Além disso, desejo contribuir para promover
nos crentes uma cada vez mais viva devoção mariana , ani-
mada pela consciência do vínculo incindível entre Cristo e a
sua Mãe Santíssima na obra da Redenção: Ela continua a coo-
perar com o Filho na sua missão salvífica, a nosso favor. Por
fim , espero que possa fazer com que tenhamos uma experiên-
cia cada vez mais viva da maternidade de Maria e contribuir
para que o amor a Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, cresça
nos nossos corações, para que possa animar «todos aqueles
que colaboram na missão apostólica da Igreja para a regene-
ração dos homens» 2 .

Roma, 13 de maio de 2010


Memóri? de Nossa Senhora de Fátima

2
Lumen gentium 65.

15
-

O papel de Nossa Senhora


na história da Salvação

Embora o assunto principal deste texto seja a luta entre


Maria e Satanás, tal como se manifesta durante os exorcismos,
é preciso conhecer, antes de mais , mesmo que somente nas
suas grandes linhas , de que modo essa luta é revelada por
Deus no âmbito do cumprimento da obra salvífica de Cristo.
«[A Sagrada Escritura] apresenta a Virgem Maria intimamente
unida ao seu Filho divino e sempre solidária com Ele. Mãe e
Filho aparecem estreitamente associados na luta contra o ini-
migo infernal até a plena vitória sobre ele» 3 • Do primeiro ao
último livro da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse, Nossa Se-
nhora está sempre ligada - segundo o desígnio do Pai Celeste
- ao Filho redentor e a Ele inseparavelmente unida para
arrancar os homens ao poder de Satanás. «Depois do pecado
original, Deus volta-se para a serpente, que representa Sata-
nás, amaldiçoa-a e acrescenta uma promessa: "Farei reinar a
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a
dela: ela esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calca-
nhar" (Gn 3 ,15). É o anúncio de uma vitória: nos primórdios
da criação, Satanás parece ter levado a melhor, mas virá um

i BE ·rn XVl , Angelus de 15 de agosto de 2007.

17
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

filho de mulher que lhe esmagará a cabeça. Assim, o próprio


Deus vencerá , mediante a descendência da mulher. Aquela
mulher é a Virgem Maria , da qual nasceu Jesus Cristo que ,
com o seu sacrifício, derrotou de uma vez para sempre o an-
tigo Tentador. Por isso , em muitos quadros ou imagens da
Imaculada, ela é representada no ato de esmagar uma serpente
sob os seus pés» 4 •
A Sagrada Escritura revela-nos que Cristo Senhor é o único
Redentor, o único Mediador junto do Pai, o único Salvador e
Libertador da humanidade do poder de Satanás. Contudo, não
está sozinho na sua batalha contra Satanás, mas com Maria, os
anjos bons e os santos. Entre eles, no entanto, sua Mãe tem um
papel singular e especial porque, precisamente porque é mãe ,
coopera, como nenhuma outra criatura, com o Filho redentor
no mistério da Redenção da humanidade. Embora Maria seja
uma criatura redimida (a primeira dos redimidos e da maneira
mais sublime), coopera com Cristo de modo único e irrepetí-
vel. A cooperação dos cristãos tem lugar depois do próprio
evento da Redenção, cuj os frutos eles se empenham em difun-
dir mediante a oração e a união da oferta de si com Cristo ao
Pai. A cooperação de Maria, porém, realizou-se já durante o
próprio evento da Redenção, isto é, ao longo da vida terrena
do Filho, tendo inclusivamente sido necessário o livre consen-
timento da futura mãe para que a Redenção se iniciasse.
Se não tivesse dado o consentimento à Encarnação do
Filho, Ele não teria podido tomar dela o corpo que ofereceu
em sacrifício na Cruz. Além disso, Cristo não subiu ao Calvá-
rio para oferecer-se como vítima por nós, sem a livre vontade
de Maria. De facto, ela consentiu na paixão do Filho porque,
embora não tivesse podido negar o seu consentimento, pois já
estava incluído no que fora dado na Anunciação, pôde con-

• BENTO XVI , Angelus de 8 de dezembro de 2009.

18
O papel de Nossa Senhora na história da Salvação

firmá-lo aos pés da Cruz. Esse consentimento «dado à imola-


ção de Jesus não constituiu uma aceitação passiva, mas foi um
ato autêntico de amor, com que ela ofereceu o seu Filho como
5
vítima de expiação pelos pecados da humanidade inteira» ,
para, deste modo, arrancar os homens ao poder de Satanás.
Aos pés da Cruz, Maria «sofreu profundamente com o seu
Filho unigénito e associou-se, de coração maternal, ao seu sa-
crifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima
que havia gerado» 6 • Com a paixão e morte de Jesus e com a
com-paixão de Maria, em cujo coração se reverberou tudo isto
que Jesus padeceu na alma e no corpo, Satanás foi derrotado.
O seu poder e o dos outros anjos rebeldes, de que ele é o chefe
e que, com ele e sob ele, formam um reino (cf. Mt 12,16),
foi destruído. Embora continue ativo no mundo - e, por
vezes, nas várias épocas históricas, também de maneira muito
intensa e evidente-, deixa de ser invencível, enquanto a graça
da Redenção, na medida em que é acolhida por nós, nos torna
capazes de destruir as obras do diabo.
Essa graça é particularmente reforçada pelo nosso recurso
confiante à intercessão especial da Virgem Maria. De facto,
pela sua Imaculada Conceição, ela está, no ser e no agir, clara
e absolutamente em oposição ao ser e ao agir de Satanás e dos
outros anjos rebeldes, totalmente voltada - como nenhum
outro ser humano ou angélico - para a neutralização dos ata-
ques demoníacos e para a expansão do Reino do Filho, que é
justiça, paz e alegria no Espírito Santo 7 . Ela «participa mater-

5
Cf. ]OÃO PAULO II, Audiência geral de 3 de abril de 1997.
6
Lumen gentium 58.
7
«Maria, ícone perfeito da Igreja, foi resgatada, preservada do pecado, cheia de
graça, isto é, tornada capaz, como e ainda mais do que qualquer outro homem redi-
mido , de oferecer um contributo ao desenvolvimento da obra salvífica.» S. M.
PERRELLA, «La verità dell'lmmacolata Concezione di Maria e il "depositum fidei". Dalla
~lneffabilis Deus'· alle catechesi mariane di Giovanni Paolo II» , in AAVV, «Signum
magnum apparuit in crelo». IJmmacolata, segno della bellezza e dell'amore di Dia, Cidade
do Vaticano , PAMI, 2005 , pp. 204-205.

19
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

nalmente naquele "duro combate contra os poderes das tre-


vas ... , que se desenvolve durante toda a história humana"» 8 ,
9
«colocada no próprio centro daquela inimizade» relativa-
mente à «serpente» , figura de Satanás e dos espíritos do mal
de que ele é príncipe, e que será vencido por Jesus Cristo pre-
cisamente com a cooperação especial da Mãe .
Nas palavras dirigidas à serpente: «farei reinar a inimizade
entre ti e a mulher» (Gn 3,15) , Deus revelou que a mulher,
cujo filho haveria de debelar Satanás, haveria de ser junta-
mente com ele a antagonista do chefe dos demónios e do
mundo diabólico. A mulher «que, embora tenha precedido o
homem ao ceder à tentação da serpente, torna-se , depois, em
virtude do plano divino , a primeira aliada de Deus. Eva tinha
sido a aliada da serpente ao arrastar o homem para o pecado.
Deus anuncia que , subvertendo esta situação, fará da mulher
a inimiga da serpente ... Quem é esta mulher? O texto bíblico
não refere o seu nome pessoal, mas deixa entrever uma mu-
lher nova, querida por Deus para reparar a queda de Eva; de
facto , ela é chamada a restaurar o papel e a dignidade da
mulher e a contribuir para a mudança do destino da humani-
dade, colaborando mediante a sua missão materna para a vitó-
ria divina sobre Satanás. À luz do Novo Testamento e da Tra-
dição da Igreja, sabemos que a mulher nova anunciada pelo
Protoevangelho 10 é Maria e, na sua estirpe, reconhecem os o
Filho, Jesus, triunfador no mistério da Páscoa sobre o poder
de Satanás. Observamos também que a inimizade, posta por

8
J OÃOPAULO II , Encíclica Redempto1is Mater 4 7.
9
Ibidem 11 .
_ iv_«Protoevangelho» quer dizer «primeira boa-nova» e refere-se ao primeiro
anuncio que encontramos na Biblia: o da vitória definitiva do Messias e da Mulher
(Maria) sobre Satanás e sobre as forças do mal [cf. Gn 3,15] . Portanto, é um anúncio
que abre para a esperança de salvação a humanidade caída sob o poder de Satanás
depois do pecado.

20
O papel de Nossa Senhora na história da Salvação

Deus entre Satanás e a mulher do Génesis, realiza-se dupla-


mente em Maria. Aliada perfeita de Deus e inimiga do diabo,
ela foi subtraída completamente ao domínio de Satanás na sua
conceção imaculada, quando foi plasmada na graça do
Espírito Santo e preservada de toda a mancha de pecado.
Além disso, associada à obra salvífica do Filho, Maria foi ple-
namente envolvida na luta contra o espirita do mal. Assim, os
títulos «Imaculada Conceição» e «Cooperadora do Redentor» ,
atribuídos a Maria pela fé e pela Igreja para proclamar a sua
beleza espiritual e a sua íntima participação na obra admirável
da Redenção, manifestam a oposição irredutível entre a ser-
pente e a nova Eva» 11 .
A antiga versão latina do Protoevangelho - que diz: «Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a
dela. Ela esmagar-te-á a cabeça» (Gn 3,15) 12 - «inspirou
muitas representações da Imaculada que esmaga a serpente
debaixo dos seus pés. No texto hebraico, não é a mulher, mas
a sua estirpe, o seu descendente quem calca a cabeça da ser-
pente. Portanto , esse texto atribui não a Maria, mas ao seu
Filho a vitória sobre Satanás. Todavia, como a conceção bí-
blica estabelece uma profunda solidariedade entre o progeni-

11
II, Audiência geral de 25 de janeiro de 1996.
J OÃO PAU LO
12
Ao comentar esta passagem, que na versão grega dos Setenta aparece no mas-
culino: «Ele esmagar-te-á a cabeça~ , Santo Afonso Maria de Ligório escreve: «Seja
como for, é certo que Lúcifer foi derrotado pelo Filho por meio da Mãe ou pela Mãe
por virtude do Filho. Diz São Bernardo: "Esmagado e calcado aos pés de Maria, sobre
uma aviltante escravidão ." Por isso, o Maligno é sempre obrigado a obedecer às
ordens da Rainha como alguém que perdeu a guerra e foi tornado escravo. São Bruno
afirma que Eva, ao ser vencida pela serpente, trouxe consigo a morte e as trevas; mas
a Bem-aventurada Virgem, ao vencer o demónio, deu-nos a vida e a luz. Portanto,
ossa Senhora ligou o inimigo de tal maneira que não pôde mover-se para causar o
mais pequeno dano aos seus devotos» (in Le glorie di Maria, 2.ª edição, Milão, Edi-
trice Ancilla, 1994, parte I, cap. IV, parágrafo 2, p . 157). O texto original de Santo
Afonso Maria de Ligório está em Opere Spirituali, Serie B, Trattati speciali: Gesi.t
Cnsto, Maria SS. e i Santi , vol. V, Le glorie di Maria, c. IV, par. I, Roma-Pagani, Edizio-
ne PP Redentoristi, 1954, pp. 205-206.

21
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

tor e a sua descendência, é coerente com o sentido original da


passagem a representação da Imaculada que esmaga a cabeça, não
por virtude própria, mas pela graça do Filho. Além disso , no
mesmo texto bíblico é proclamada a inimizade entre a mulher
e a sua descendência, por um lado, e a serpente e a sua estir-
pe , por outro. Trata-se de uma hostilidade expressamente es-
tabelecida por Deus, que assume um relevo singular se consi-
derarmos o problema da santidade pessoal da Virgem . Por ser
a inconciliável inimiga da serpente e da sua estirpe, Maria
devia estar isenta de todo o domínio do pecado, desde o pri-
meiro momento da sua existência. A propósito, a Encíclica
Fulgens carona, publicada pelo papa Pio XII em 1953 para
comemorar o centenário a definição do dogma da Imaculada
Conceição, argumenta assim: "Se, num determinado momen-
to , a Bem-aventurada Virgem Maria ficasse privada da graça
divina, porque contaminada na sua conceção pela mancha
hereditária do pecado, entre ela e a serpente nunca teria exis-
tido - pelo menos durante este período de tempo, mesmo que
fosse breve - aquela inimizade de que a tradição primitiva fala
até a definição solene da Imaculada Conceição, mas sobretudo
uma certa sujeição" (MS 45 [1953], 579). Portanto, a hostili-
dade absoluta estabelecida por Deus entre a mulher e o demó-
nio exige em Maria a Imaculada Conceição, isto é, uma ausên-
cia total de pecado, desde o início da vida. O filho de Marb
obteve a vitória definitiva sobre Satanás e fez com que dela be-
neficiasse antecipadamente a Mãe, preservando-a do pecado.
Consequentemente, o Filho concedeu-lhe o poder de resistir
ao demónio, realizando assim no mistério da Imaculada Con-
ceição o mais notável efeito da sua obra redentora » 13 .

Portanto, na história da salvação há três grandes protago-


nistas: Cristo redentor, Maria cooperadora de Cristo e Satanás,

J) JoAo PAULO II , Audiência geral de 29 de maio de 1996 (o itálico é nosso).

22
O papel de Nossa Senhora na história da Salvação

seu opositor, que - como já se disse repetidamente -, na


Bíblia, é representado pela imagem de uma serpente, mas no
curso da história da humanidade, por causa da sua crescente
obra maléfica entre os homens, é figurado por um dragão ver-
melho e sanguinário, para fazer ressaltar a sua ferocidade e
crueldade desmesurada em contraposição ao sinal que apa-
rece no céu, da «Mulher vestida de sol» do capítulo 12 do
Apocalipse, que também figura a Virgem Maria. Não nos es-
queçamos de que, frequentemente, na Bíblia uma mesma
figura pode ter diversos significados. Para os exegetas, «Mu-
lher vestida de sol» representa o povo hebraico e/ou a Igreja
e/ou Maria. Mas é precisamente este último significado que
prevalece, já que o Filho desta mulher é jesus. «Ela [a Mulher]
dará à luz um filho varão Uesus Cristo, o Messias], com odes-
tino de governar todas as nações com cetro de ferro» (Ap
12,5). E a sua Mãe, a «Mulher» do Apocalipse, aparece em
luta contra Satanás, como Deus já tinha declarado no Génesis.
«Caracterizada pela sua maternidade, a mulher "está grávida
e grita com as dores e o trabalho de parto". Esta observação
remete-nos para a Mãe de Jesus junto da Cruz (cf. Jo 19 ,25),
onde ela participa com a alma trespassada pela espada (cf. Lc
2,35), no trabalho de parto da comunidade dos discípulos
[isto é, a Igreja]. Apesar dos seus sofrimentos, está "vestida de
sol" - isto é, tem o reflexo do esplendor divino - e aparece
como sinal grandioso da relação esponsal de Deus com o seu
povo . Embora não indiquem diretamente o privilégio da
Imaculada Conceição, estas imagens podem ser interpretadas
como expressão do cuidado amoroso do Pai que envolve
Maria com a graça de Cristo e o esplendor do Espírito. Final-
mente, o Apocalipse convida a que se reconheça mais parti-
cularmente a dimensão eclesial da personalidade de Maria: a
mulher vestida de sol representa a santidade da Igreja que se

23
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

realiza plenamente na Santíssima Virgem , por virtude de uma


graça singular» 14 •
À luz de quanto dissemos até agora, compreende-se que os
evangelizadores, os pregadores e os catequistas não podem
calar-se acerca da «serpente» e do «dragão» : «A evocação da
luta contra Satanás deve entrar na dinâmica dos diversos ser-
viços da Palavra; por isso, dever-se-á evitar silenciá-la, talvez,
pelo desejo de falar só da Mulher: pôr entre parênteses a fi-
gura do Dragão resolver-se-ia num empobrecimento da figura
e da missão da Mulher» 15 .

1
• Ibidem .
i~ M . G. MASCIARELu , Pio IX e l'Immacolata, Cidade do Vaticano, LEV, 2000, p. 73.

24
11

A possessão diabólica

No livro Possessioni diaboliche ed esorcismo 16 [Possessões


diabólicas e exorcismo] , descrevi longa e pormenorizadamen-
te os critérios de discernimento para distinguir uma possessão
diabólica real de doenças psíquicas ou manifestações de
origem natural. Portanto, convido a que se consulte aquele
texto para uma informação pormenorizada sobre esta mani-
festação da ação extraordinária do demónio. A experiência
mariana que desejo tratar situa-se explicitamente no contexto
do ministério dos exorcismos e do caminho de libertação dos
nossos irmãos e irmãs que, ajudados pelo exorcista, devem
enfrentar a luta dramática e pessoal da possessão diabólica.
Aqui, limito-me a sintetizar o que afirmei naquele livro, para
ajudar o leitor a compreender melhor o contexto em que se
insere a obra de Nossa Senhora.
A possessão diabólica não é um desdobramento da perso-
nalidade , como acontece no caso da doença psíquica. É, ao
contrário, uma espécie de «substituição temporária» da pes-
soa, durante a qual se estabelece o domínio despótico, brutal
e violento de um espírito demoníaco (ou, ainda, mais do que
um), que opera através da pessoa, fazendo com que ela fale e

16
F BAMONTE , Possessioni diaboliche ed esorcismo. Come riconoscere l'astuto inganna-
tore, Milão, Paoline, 2006.

25
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

aja como ele quer, sem que ela possa resistir. Em geral, nos
casos de possessão diabólica, a pessoa entra em transe, o rosto
deforma-se, frequentemente as pupilas deslocam-se comple-
tamente ou quase para baixo ou para cima no globo ocular, e
os olhos aparecem total ou parcialmente brancos; mais rara-
mente, acontece que as pupilas, embora não desapareçam ,
rodam velozmente ou permanecem imóveis ou , até, tornam-
-se semelhantes às da serpente, enquanto a cavidade orbital
assume uma cor vermelho-fogo. Ao mesmo tempo, frequente-
mente, a pessoa fica bloqueada, porque o demónio reage vio-
lentamente através dela , gritando cheio de raiva e de ódio
frases deste género: «Nunca sairei daqui!» ou «É minha! (É
meu!) Deram-ma (deram-mo), e tu nunca ma (mo) tirarás!»
Outras vezes, diz: «Tu não podes fazer nada contra mim!» e
ainda: «Maldito, descobriste-me; mas vais pagá-las!» Quando
o demónio é obrigado a manifestar-se abertamente - nem
sempre acontece imediatamente -, por vezes, aparecem os
sinais que o ritual dos exorcismos, o Rítuale Romanum 17 , e
também o novo ritual ts enumeram nas indicações sobre o dis-
cernimento. Isto é: falar correntemente línguas desconhecidas ou
compreender quem as fala ; conhecer factos distantes ou desconhe-
cidos; mostrar forças superiores à idade e à condição natural da
pessoa. No n.º 3 das normas, o Rituale Romanum elenca estes
sinais, introduzindo-os com as palavras seguintes: «Podem ser
sinais da presença do demónio» , sublinhando que , embora
podendo não ter necessariamente origem diabólica numa pre-

11
Rituale Roma~um. Ticulus XII: De exorcizandis obsessis a dremonio. Caput /.
Norma: observanda, orca exorcizandos a dremonio, Editio typica, 1952 [Vaticano. LE\~
2008]
. . (Este ntual litúrgico , cu·Ja gran de er·1các1
·a Já
· f01· testada pelos sacerdotes exor-
cistas na luta contra Satanás , pode contmuar· a ser usado por eles, de maneira perma·
neme. com a aprovar~o
. "" da Co ngregaç à o para o Cu1to Divino . ~
e a Disciplina dos :,a-
cra~~ntos, ~ p~d1~0 do Ordmário [bispo] do lugar a que pertença.)
LEV 20D0e4ex[Ror~1sm1s et supplicationibus quibusdam, Editio typica ernendata Vaticanv.
, e1mpresso, 2005] . '

26
A possessão diabólica

sença demoníaca, contudo manifestam-se frequentemente nos


casos de possessão.
O Rituale Romanum, que se inspirou numa experiência
secular, depois de ter enumerado os três sinais anteriores,
acrescenta: «e outros fenómenos deste género que quanto
mais numerosos forem tanto mais indicativos serão», dei-
xando campo aberto às possibilidades de muitas outras mani-
festações da ação extraordinária do demónio, além dos três
fenómenos apresentados. Entre todos, o primeiro sinal é uma
aversão violenta ao sagrado que o Rituale Romanum não men-
ciona expressamente, considerando-o provavelmente óbvio;
em vez dele, o novo ritual dos exorcismos apresenta-o explici-
tamente no n.º 16 das Considerações Gerais do modo seguinte:
«Por isso, é também necessário estar atento a outros sinais, so-
bretudo de ordem moral e espiritual, que revelam, de forma
diferente, a intervenção diabólica. Podem ser: uma forte aver-
são a Deus, à Santíssima Pessoa de Jesus, à Bem-aventurada
Virgem Maria, aos Santos, à Igreja, à Palavra de Deus, às reali-
dades sagradas, sobretudo aos sacramentos e às imagens
sagradas.»

Todavia, perante certas manifestações, o exorcista não


deve, de modo nenhum, avaliar os sinais com superficiali-
dade, mas sempre com extrema cautela e prudência. Quando
estas manifestações se associam a fenómenos ou comporta-
mentos que não podem ser atribuídos à capacidade da pessoa,
não sendo expressões da sua personalidade , então a ação do
demónio pode tornar-se uma certeza moral. Por isso, para
chegarem a um discernimento mais profundo, muitos exorcis-
tas adotam o critério de verificar se à manifestação de aversão
ao sagrado, de força incrível ou de línguas desconhecidas, se
associa também o fenómeno do conhecimento de coisas com-
pletamente ignoradas pela pessoa. Por exemplo: a reação a

27
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

relíquias ou a objetos benzidos; mostrar que compreende ou


até fala línguas que a pessoa não conhece; a reação violenta ao
exorcismo feito em silêncio e, em particular, às ordens impe-
rativas dadas mentalmente, etc. Em geral, estes sinais estão
sempre ligados a outras manifestações do demónio através da
pessoa possuída: umas vezes, um timbre de voz mais grave,
tenebroso, rouco ou, então, baritonante; outras vezes , estri-
dente ou metálico. Nalguns, o demónio gane como um cão ou
ruge como um leão; noutros, sibila como uma serpente, che-
gando a assumir os seus movimentos coleantes. Às vezes, mas
raramente, também se verifica o fenómeno da levitação que
tanto pode acontecer durante um exorcismo como durante
uma manifestação de possessão fora do exorcismo.
Outra manifestação típica do demónio nas pessoas posses-
sas é a mudança imediata de expressãÓ, passando repentina-
mente de uma atitude impávida e provocadora, arrogante, sar-
cástica e de palavras cheias de insultos e ameaças, a uma
atitude suplicante e retraída, precisamente de quem se sente
intimidada e dominada por uma Autoridade Suprema; ou.
então, passa de sorrisinhos brejeiros e risadas irónicas e pérfi-
das a tremores e espanto. Além disso, os demónios, através da
pessoa possessa, insultam e tentam agredir os presentes, so-
bretudo o exorcista; outras vezes, tentam fugir dele, cospem,
injuriam, ameaçam e amaldiçoam, dizendo palavras blasfemas
e grosseiras. Por vezes, todas estas manifestações são acompa-
nhadas por arrancos de vómito ou espuma lançada pela boca
da pessoa atormentada.
Por fim , outro fenómeno que também pode acontecer du-
rante o exorcismo: o da materialização de objetos. A experiên-
cia comum de vários exorcistas testemunha que , no corpo da
pessoa ou perto dela, podem aparecer objetos como pedaços
de correntes, pedras, caracóis de cabelos, vidros, pedaços de
tecid o, carne, flore s, cordas, anéis, brincos e outras coisas,

28
A possessão diabólica

entre as mais variadas, que a pessoa pode, até, vomitar. Estes


objetos são os que serviram para a confeção do malefício.
Ordinariamente saem pela boca, mas nem sempre provêm do
estômago da pessoa ; isto explica o porquê de o possesso
nunca sofrer danos físicos, mesmo quando, por exemplo ,
saem grandes pedaços de vidro; de facto, no instante em que
sai pela boca, acontece uma ação de «transfert» do objeto
sobre o qual se operou um rito oculto; em geral , este fenó-
meno é sinal da libertação progressiva da pessoa. No entanto,
a libertação não está necessária e exclusivamente ligada a estas
manifestações.
Sobre as causas que podem estar na origem da possessão
diabólica e sobre os remédios sugeridos, o leitor pode consul-
tar o texto que atrás mencionei.

29
111

O poder da invocação
do nome de Maria

Sobre a ação da Virgem Maria contra Satanás durante os


exorcismos e na caminhada de libertação, o célebre exorcista
padre Cândido Amantini - que exercia o seu ministério na
Basílica da Scala Santa [Escadaria Santa], em Roma, onde fale-
ceu em odor de santidade em 1992 - escrevia assim no único
livro que publicou em vida , com o título II mistero di Maria:
«Assim como, através dos possessos, Satanás é obrigado a
reconhecer abertamente o poder de Jesus Cristo contra ele,
assim também é obrigado a confessar a força do pé imaculado
de Maria, que lhe espezinha continuamente a cabeça. A pro-
pósito, temos numerosos testemunhos de santos e de muitos
sacerdotes que tiveram de lutar diretamente com Satanás por
meio dos exorcismos.
O Ritual Romano dos exorcismos estabelece, numa nota,
que o sacerdote exorcista investigue cuidadosamente os efei-
tos e os sentimentos que poderão observar-se nos endemoni-
nhados, depois das invocações e louvores dirigidos a Deus e
aos santos, e também depois das ordens imperativas dadas aos
demónios , de modo a poderem conduzir-se adequadamente
no decorrer dos exorcismos. Na verdade, a ação de Satanás
desencadeia tais resultados psicológicos nas suas vítimas, para

31
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

quem , como por uma indução imediata, as pessoas manifes-


tam as suas próprias reações. Ora, das experiências feitas re-
sulta exatamente isto: quase nenhuma outra coisa provoca ta-
manho tormento a Satanás quanto a invocação do nome de
Maria. Ordinariamente [nda: durante o fenómeno da posses-
são, as pessoas} não conseguem sequer pronunciar livremente
o seu nome , por mais que se esforcem. Depois, há devoções
marianas que os demónios não suportam, já que os possessos
só a muitíssimo custo as podem praticar. Entre elas, está a
Ave-maria, o tributo diário de São Boaventura e o Rosário.
Com igual evidência se mostra o poder da Virgem ao es-
magar os demónios dos corpos dos possessos, pelos resulta-
dos que se obtêm com uma constante devoção mariana. De
facto, através dela , eles (os possessos) chegam a melhorar
muito. Mesmo aqueles demónios particularmente duros e
obstinados que , como diz o Evangelho (cf. Me 9,28) , não
cedem a não ser a meios extremos, as suas forças enfraquecem
rapidamente quando têm de enfrentar uma proteção especial
da Virgem. A experiência ensina que todos os que recorreram
a ela nessas circunstâncias com grande devoção filial , mais
cedo ou mais tarde acabam por sair delas» 19 •

O popular exorcista italiano Gabriele Amorth, no seu livro


Nuovi racconti di un esorcista, descreve pormenorizadamente a
ação de Maria no exorcismo e na caminhada de libertação, re-
ferida pelo padre Cândido, de quem ele foi discípulo: «Palpa-
mos a verdade de que Maria é realmente medianeira de grk
ças, porque é sempre ela que obtém do Filho a libertação de
alguém das garras do demónio . Quando se começa a exorcizar
um endemoninhado, un1 daqueles de quem o diabo se apossa
realmente por dentro, somos insultados e gozados: "Eu estoll
aqui muito bem ... Nunca sairei daqui. .. Tu não podes nada

19
C. AMANTINI , nmistcro J, Mana, Frigento (AV), Casa Mariana, 1987. p. 329.
32
O poder da invocação do nome de Maria

contra mim ... És muito fraco e estás a perder o teu tempo ... "
Mas, pouco a pouco, Maria vai entrando em campo e a mú-
sica começa a mudar: "É ela quem quer... Contra ela não pos-
so nada ... Diz-lhe que deixe de interceder por esta pessoa ...
Ela ama muito esta criatura ... Bem, para mim acabou ... " Tam-
bém me aconteceu muitas vezes ser-me logo atirada à cara a
intervenção de Nossa Senhora, desde o início do exorcismo:
"Eu estava aqui tão bem, mas foi ela quem te mandou .. . Sei
porque é que vieste, porque foi ela que quis .. . Se ela não ti-
vesse intervindo, eu nunca te teria encontrado ... "» 20 •
No mesmo volume, o padre Gabriele Amorth aconselha
quem estiver em dificuldade ou desesperado que diga a bela
jaculatória de São Bernardo: «Maria é toda a razão da minha es-
perança.» Estas palavras impressionaram-no muito desde a
sua juventude; de facto, à primeira vista, parecem apenas de-
vocionais; mas, na realidade, exprimem a grande verdade da
mediação materna de Maria, em Cristo. Todas as graças, todos
os dons de Deus, chegam até nós com tanto maior abundân-
cia quanto mais autenticamente devotos formos de Maria,
acolhendo com amor a sua ação materna e confiando-nos to-
talmente a ela. Por isso, Gabriele Amorth termina o seu livro,
dizendo: «São Bernardo não hesita em exprimir estes concei-
tos com uma afirmação corajosa que marca o ponto mais alto
do seu discurso e que inspirou a Dante aquela famosa oração
à Virgem: "Veneremos Maria com todo o ímpeto do nosso
coração, dos nossos afetos e dos nossos desejos. Assim quer
Aquele que estabeleceu que recebêssemos tudo por int'ermé-
dio de Maria." É esta a experiência que, concretamente, todos
os exorcistas experimentam sempre» 21•

z.; G AMORTH , Nuovi racconti di un esorcista, Roma, Edizioni Dehoniane, 1992.


PP 220-221 [trad . port.: Novos relatos de um exorcista, Paulus, 2004).
21
Ibidem, pp. 22 1-222. Sobre este tema, veja-se também o aprofundamento que
faço no capitulo 5, no parágrafo 7, «A intercessão-mediação de Mariai..

33
IV

O demónio obrigado
a confessar a sua vergonha:
a sua completa impotência
diante da Virgem Maria

As considerações dos dois célebres exorcistas italianos, os


padres Gabriele Amorth e Cândido Amantini, relativamente à
presença e à ação de Maria durante os exorcismos, permitem-
-nos enfrentar melhor o problema, investigando sobre os efei-
tos determinantes que a verdadeira devoção a Nossa Senhora
produz no âmbito da luta contra Satanás.
Os demónios sabem muitíssimo bem que , quando Deus
disse a Satanás: «Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela: ela esmagar-te-á a cabeça e
tu tentarás mordê-la no calcanhar» (Gn 3,15), Ele estabelecera
associar a si, na Redenção da humanidade, uma mulher, como
adversária invencível do Mal. Desde o início, na sua infinita
sabedoria, Deus opôs a Satanás e aos demónios - que tinham
arrastado a humanidade para a ruína, com a colaboração de
uma mulher, Eva - uma nova mulher: a Virgem Maria. Assim
como uma mulher tinha conduzido a humanidade ao poder
de Satanás, assim também, agora, o Redentor, com maior hu-
milhação de Satanás, haveria de libertá-la com a cooperação

35
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

de outra mulher. É este um dos motivos por que, durante os


exorcismos, os demónios ficam mais indignados e furiosos
com Maria do que com o próprio Deus.

A cooperação de Maria na vitória de Deus sobre eles humi-


lha-os mais do que se Deus os vencesse sozinho. Serem derro-
tados por Deus mediante a cooperação de uma criatura
humana, inferior a eles por natureza e, além disso, Imaculada,
a única sen1 aquele pecado com o qual eles tinham submetido
ao seu poder todo o género humano, humilha sobremaneira
o seu orgulho desmesurado. O facto de Maria ser a Imaculada,
a Sempre Virgem, a humilíssima Mãe de Deus, associada
como nenhuma outra criatura a Jesus Cristo na obra da Re-
denção, a Assumpta ao céu em corpo e alma e a Rainha do
universo, ao lado do seu Filho, irrita-os, enfurece-os mais e
torna-os mais blasfemos contra ela do que contra o próprio
Cristo. É este o motivo pelo qual, durante os exorcismos. os
demónios se dirigem a Ela, urrando, com um ódio inaudito.
mas sem ousar pronunciar o seu nome, a não ser raríssimas
vezes, apostrofando a Virgem Maria num tom depreciativo.
dizendo «ela» e acrescentando blasfémias e palavras sum,t-
mente grosseiras, e injúrias contra a sua pessoa. Mas a santi-
dade e o esplendor de Maria põem-na tão alto entre todas a~
criaturas humanas e angélicas que, frequentemente, os demó-
nios são obrigados a elogiá-la pela sua grandeza, poder e
fulgor divino que resplandece nela.
Estes momentos são extraordinariamente impressionant s,
porque os demónios, ao ficarem cegos c01n tamanho esplen-
dor - que lhes é dolorosíssimo-, são obrigados a testemunhar
a dignidade extraordinária da Mãe de Deus entre as criaturas
humanas e angélicas, e a afirmar toda a verdade sobre a \'ir-
tude dela e a admitir a sua absoluta impotência diante da von-
tade daquela que Deus, omnipotente por natureza, ao pro-
36
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha ...

clamá-la rainha do universo, tornou «omnipotente por


graça». Como já antecipei na Introdução, acontece então uma
curiosa alternância de expressões depreciativas e grosseiras,
por um lado, e de catequese e louvores amabilíssimos, por
outro, que, mesmo contra a sua vontade, os demónio são
obrigados a pronunciar sobre a Virgem Maria, o que os des-
gosta imensamente.
Sobre estes excecionais testemunhos que os demónios
fazem durante os exorcismos, o padre Cândido Amantini es-
creve assim , no seu livro já citado: «Umas vezes, porém, o
Maligno foi obrigado a confessar a sua vergonha pela boca dos
possessos, a sua completa impotência diante das vontades da
Soberana do céu e da terra. Outras vezes, teve até de transfor-
mar-se, apesar da sua imensa repugnância, em «panegirista»
de Maria. A propósito, é-nos caro recordar o caso de um rapa-
zinho de onze anos possesso que, por ordem de dois exorcis-
tas dominicanos, ditou de improviso este soneto, ainda antes
de ter sido definido o dogma da Imaculada Conceição» 22 •
O episódio é relatado pelo padre Cândido e também no
livro já citado do padre Gabriele Amorth 23 , mas sem nenhuma
indicação das fontes. Também encontrei o mesmo soneto
noutros textos e, até, no primeiro volume do Epistolário do
Padre Pio, mas sempre sem a referência às fontes 24 . Por isso,

22
C. AMANTJNI , nmistero di Maria, pp. 329-330. Ver soneto infra.
23
G. AMORTH, Nuovi racconti di un esorcista, p. 219.
2
• O padre Agostino de San Marco in lamis, que foi um dos principais diretores
espirituais do Padre Pio, escreveu-lhe numa carta de 22 de janeiro de 1913: «Agora,
para que possa alegrar-te e para vergonha dos nossos inimigos infernais, envio-te uma
composição em verso que encontrei em italiano e que traduzo para francês.» Depois,
o padre Agostino transcreve imediatamente o poema em italiano e, depois, em fran-
cts, introduzindo-o com estas palavras: «Soneto feito por um possesso de onze anos,
em Ariano di Puglia, em louvor da Imaculada Conceição, com as rimas obrigatórias
de Madre e Figlio.» o fim do soneto, o padre Agostino revela que não conhece a
fonte deste episódio porque, acrescenta: «Não sei se este poema foi composto verda-
deiramente por um endemoninhado. Creio que sim. Todavia, é muito belo e acolhê-

37
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

encetei pesquisas aprofundadas para remontar até às fontes e,


para minha grande alegria, precisamente quando já quase não
esperava encontrá-las, descobri que esta composição lírica
tinha sido citada pelo cardeal Francesco Salesio della Volpe no
processo ordinário romano, que se realizou entre 1907 e
1928, para a beatificação e canonização do Servo de Deus, 0
papa Pio IX. O cardeal era um dos membros ligados ao ser-
viço pessoal do Papa, com o título - então em uso - de «ca-
mareiro secreto participante». Um padre dominicano, que foi
meu professor durante os estudos de Teologia e que trabalha
na Congregação para as Causas dos Santos, a meu pedido, fez-
-me chegar uma fotocópia do documento que reproduz numa
página o testemunho do Cardeal que apresentou o texto da
composição, de que ele próprio possuía uma cópia. Ficou re-
portado na «Positio: Romana. Beatifícationis et canonizationis
Servi Dei Pii IX, Su m m i Pontificis, Positio super virtutibus,
vol. 1: Summarium, p. 70 .»
O facto aconteceu em 1823 , numa cidade da Itália meri-
dional , hoje na província de Avellino , e que, então, se cha-
mava Ariano di Puglia. Depois, em 1930, começando a fazer
parte da região da Campânia, aquela terra tomou o nome de
Ariano Irpino. Naquele período , discutia-se muito entre os
teólogos acerca da verdade da Imaculada Conceição que,
trinta e um anos mais tarde, em 1854, foi proclamada dogma
de fé . Dois insignes pregadores dominicanos, o padre Cassetti
e o padre Pignatura, durante uma missão paroquial, participa-
ram nos exorcismos de um rapaz analfabeto de on ze anos.
Eles impuseram ao demónio, em nome de Jesus, que mos-
trasse que Maria era Imaculada e mandaram-lhe que o fizesse

-lo-eis com agrado.» Na carta de resposta, de 1 de fevereiro de 19 13 , o Padre Pio dir3


ao padre Agostino, agradecendo-lhe: «Deste-me um grande prazer com a transcrição
e a tradução daquele soneto» (Epistola rio, I , Corrispondenza con i diretton spmtu::ih
[1910-1922], 4 ª edição, San Giovanni Rotondo (FG), Edizioni Padre Pio da Pietrel-
cma , 2002, pp 332-333; 336.

38
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha .. .

numa composição poética de catorze versos hendecassílabos,


com rima obrigatória, em duas quadras e dois tercetos (um
soneto). Então, o demónio , através do rapaz, compôs um
texto poeticamente genial e, ao mesmo tempo, teologicamente
exato sobre a verdade da Imaculada Conceição.
Eis o texto:
Vera Madre son io d'un Dio ch'e Figlio
e son Figlia di Lui benché sua Madre.
Ab ceterno nacqu'Egli, ed e mio Figlio.
Nel tempo io nacqui e pur gli son Madre.

Egli emio Creator ed e mio Figlio,


son io sua creatura e gli son Madre,
Fu prodígio divin l'esser mio Figlio
un Dia eterno e me aver per Madre.

r esser quasi ecomun tra Madre e Figlio


perché l'esser dal Figlio ebbe la Madre
e l'esser dalla Madre ebbe anche il Figlio,

Or, se l'esser dal Figlio ebbe la Madre


o s'ha da dir che fu macchiato il Figlio
o senza macchia s'ha da dir la Madre.

[Verdadeira Mãe sou eu de um Deus que é Filho


e sou Filha dele, embora sua Mãe.
Ab c:eterno nasceu Ele, e é meu Filho.
No tempo eu nasci e, contudo, sou d'Ele Mãe.

Ele é meu Criador e é meu Filho,


sou eu sua criatura e lhe sou Mãe.
Foi prodígio divino ser meu Filho
um Deus eterno e me ter por Mãe.

39
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

o ser quase é comum entre Mãe e Filho


porque o ser do Filho teve a Mãe
e o ser da Mãe teve também o Filho.

Ora, se o ser do Filho teve a Mãe


ou se há de dizer que foi manchado o Filho
ou sem mancha se há de dizer a Mãe.]

Era impossível que um rapaz analfabeto pudesse fazer tal


composição. Portanto, trinta anos depois, no mesmo ano da
proclamação do dogma da Imaculada Conceição (1854),
aquele texto foi apresentado ao papa Pio IX. O Pontífice, logo
que ouviu aqueles versos - belíssimos e tão dogmática e teolo-
gicamente exatos, embora obra daquele singular cantor da
Imaculada-, de rosto resplandecente, comoveu-se profunda-
mente, desatando repentinamente num pranto de ternura.

Mais adiante descreverei uma série de expressões e de


panegíricos dirigidos a Nossa Senhora pelos demónios, reco-
lhidos da minha experiência pessoal e da de outros exorcistas.
Contudo, é absolutamente necessária uma precisão, sem a
qual arriscar-nos-emos não só a não compreender, mas até a
desprezar as que claramente não são iniciativa do demónio.
mas do próprio Deus que o obriga. Durante os exorcismos, o
demónio é, por vezes, obrigado, contra a sua vontade, a teste-
munhar o que não quereria. Quando, por exemplo, no decur-
so do exorcismo, o fiel possuído é aspergido com água benta,
usada - como se lê no Missal Romano 25 - para o perdão dos
nossos pecados (veniais), para nos defender das insídias do
~~ligno e como dom de proteção divina. Quando reage com
irntação à presença de uma relíquia e mostra que também

25
O
É livro que contém as orações litúrgicas para a celebração da Santa Missa

40
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha ...

sabe a que santo pertence, é obrigado a tornar-se testemunha


da santidade daquela pessoa e da origem divina da própria
santidade.
Quando fala uma língua que só o exorcista conhece, mas
não a pessoa possessa, ele testemunha a sua identidade dife-
rente da do possesso.
Quando, durante um exorcismo, o sacerdote recita apenas
mentalmente algum trecho evangélico ou o Credo e o demó-
nio freme de raiva e reage furiosamente, é obrigado a testemu-
nhar a luz e a força salvífica que, para nós, brotam da Palavra
de Deus e da Profissão de Fé.
Poder-se-ia relatar outros numerosos exemplos que podem
ser referidos por quem exerce este ministério; mas, antes de
tudo, desejo esclarecer o leitor - para ajudá-lo a compreender
o que seguidamente apresentarei - que durante os exorcismos
há diversos momentos em que o demónio, mesmo contra a sua
vontade, é indubitavelmente obrigado, no seu confronto com a
presença divina que o domina, a confirmar com gestos, rea-
ções e palavras a verdade da nossa fé . Naturalmente, isto não
acrescenta nada ao que já sabemos e em que acreditamos; no
entanto, é-nos extremamente consolador e edificante verificar
de modo tão evidente a validade e a força das verdades da
nossa fé. Além disso, esses exemplos acabam por confirmar a
capacidade da providencial Sabedoria divina e transformar
continuamente o mal em bem.
E assim, também e sobretudo a propósito da Virgem
11aria, da sua santidade e dos dogmas que se lhe referem, os
demónios fornece m-nos confirmações involuntárias. São
expressões que eles proferem, umas vezes espontaneamente,
outras, durante uma oração feita pelo exorcista e pelos presen-
tes a Tossa Senhora; ou, então, por uma ordem explícita,
como no caso do rapazinho de Ariano Irpino de que já falá-
mos. Mas essas ordens não são conversas com o demónio,

41
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

embora possam implicar por assim dizer uma espécie de «per-


gunta e resposta» entre o exorcista e o demónio, como neste
último caso. Trata-se, pelo contrário, precisamente como con-
vida a fazer o Rituale Romanum, de se servir da sua própria
experiência 26 . E diversos exorcistas verificaram que, nas suas
experiências, o demónio fica particularmente atormentado
pelas ordens que lhe impõem louvar a Virgem Maria. O Ri-
tuale Romanum diz: «E quando se aperceber de que o demó-
nio fica mais atormentado, insista e persiga ainda mais» 27 .
Poderiam ser numerosos os exemplos tirados da hagiogra-
fia cristã, com os quais se demonstra que o demónio, mesmo
fora do contexto do ministério dos exorcismos, por vezes é
obrigado a dizer ou fazer o que nunca quereria dizer ou fazer,
n1as não é este o objetivo deste volume. Que Deus, dentro dos
exorcismos, queira e possa operar da maneira que estou ades-
crever, pode-se facilmente justificar teologicamente. Para fazê-
-lo remeto-me para tudo o que já foi dito acerca da capaci-
dade de Deus de transformar o mal em bem. O grande teó-
logo São Tomás de Aquino escreve: «O mal é , por si mesmo,
ordenado ao be1n ....Ele não contribui para a perfeição e para
a beleza do universo a não ser acidentalmente» (Suma Teo-
lógica l , q. 19, a. 9). Portanto, só em razão do bem a que está
ligado ou que suscita, se pode dizer que, para Deus, o mal
serve para alguma coisa ou que, de algum modo, é um bem.

26
Rituale Romanum. Titulus XII: De exorcizandis obsessis a d~monio. Capui I;
Normre observand~ circa exorcizandos a d~monio, p. 847, Prrenotanda, n.º 2: «Por isso.
lo exorcista] para desempenhar retamente o seu oficio , esforce-se por conhecer
muitos outros documentos úteis à sua tarefa, escritos por autores aprovados e que
aqui, por brevidade , não indicamos e sirva-se da experiência; além disso, deve obser·
var ~?u~as normas, particularmente necessárias» (tradução do latim pelo autor) .
. Ibidem, Prrenotanda , 16, p. 850: «Os exorcismos devem ser proferidos ou lidos com
auto nd~de, com grande fé, humildade e fervor; e quando se aperceber de que o dernonio
fica mais atormentado, então insista-se e persiga-se cada vez mais,. (tradução do latim
pelo autor).

42
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha ...

São Tomás prossegue, citando Santo Agostinho: «Do conjunto


das coisas se depreende a beleza admirável do universo, no
qual aquilo a que se chama "mal", quando está bem ordenado
e colocado no seu lugar, faz melhor ressaltar o bem: deste
modo, o bem em confronto com o mal, agrada mais e é digno
de todo o louvor» (Suma Teológica I, q. 19, a. 9).
É, precisamente, esta situação que, durante os exorcismos,
se verifica no confronto entre a presença da Virgem Maria e os
demónios, como emerge com evidência das reações e afirma-
ções dos próprios demónios. Deste modo e sem querer, eles
fazem com que ressalte e emirja ainda mais aquele bem que
especificamente, neste caso, consiste precisamente na inter-
venção materna e amorosa de Nossa Senhora a favor de nós,
seus filhos . Portanto, experimenta-se de maneira palpável o
que também escreve Santo Agostinho: «E, como Deus, ao
criar Satanás, não ignorava com certeza a sua futura maldade
e previa o bem que daí haveria de tirar, fez com que o salmista
escrevesse: "O dragão que Tu criaste para que fosse es-
carnecido" 28 (SI 104(103),26), para fazer compreender que,
enquanto por sua vontade o criou bom, na sua presciência
tinha já prospetado como também haveria de servir-se dele
quando se tornasse mau» (De Genesí ad litteram XI,l 7). Tam-
bém o Evangelho confirma essa verdade. Os demónios, diante
de Jesus, subjugados pelo seu poder, «confessam» a sua natu-
reza divina. Jesus veio ao mundo para destruir as obras do
diabo (cf. ljo 3,8): na sua presença, os demónios manifestam
terror, caem prostrados por terra, urram raivosamente, pe-
dindo para não ser mandados embora, declarando que conhe-
cem a dignidade sobrenatural do próprio Jesus (cf. Mt 8,29;

,;, amo Agostinho esclareceu, um pouco ames no texto, que estas palavras não
devem ser entendidas no sentido de que Deus tenha criado já mau o dragão, isto é, o
diabo. para ser desprezado pelos anjos - Deus criou todas as criaturas boas - 4<IDas que
lo dragão] foi destinado a esta pena, depois do pecado» (De Genesi ad litteram XI, 15).

43
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Me 1,2 4~5, 7; Lc 4 ,34; 8,28). É verdade que estas atitudes dos


demónios não são ficções , como não o são, nesta situação, as
suas afirmações. De facto e diferentemente da maior parte dos
seus contemporâneos, nós sabemos quem é Jesus, compreen-
demos claramente que, quando os demónios gritavam: «Tu és
o Filho do Deus altíssimo!» (Me 1,24), afirmavam a verdade· )

como também quando exclamavam: «Vieste para nos arrui-


nar!» (Me 1,24).
O silêncio que Jesus lhes impunha, nalguns exorcismos,
não se referia ao facto de que naquele momento dissessem
coisas falsas: de facto , estavam a dizer a verdade. Jesus preten-
dia impedir que antecipassem aquela revelação sobre a sua
identidade, que Ele próprio queria manifestar, um pouco de
cada vez, de modo que não se comprometesse o êxito da sua
missão (o chamado «segredo messiânico») . Contudo, isto não
significa de modo nenhum que possamos atingir a nossa ins-
trução religiosa também pelo demónio. Seria errado pensar
assim. Se, por obrigação divina, as verdades da nossa fé tam-
bém podem, por vezes , ser afirmadas pelos demónios, isso
não significa que devamos aprender deles: a verdade só pode
ser procurada em Cristo. A intenção com que apresento o que
alguns deles, certamente obrigados por Deus, exprimiram acerca
da Virgem Maria, não é o de fazer do demónio um «teólogo» ou
um «Doutor da Igreja», de quem podemos escutar e aprender ensi-
namentos sobre a Virgem Maria; nem muito menos, o de comparar
essas afirmações com revelações privadas, no modo tradicional-
mente entendido pela doutrina da Igreja. Não está bem que seja o
demónio a instruir-nos, mas o ensino da Sagrada Escritura, que é
a fonte da Revelação divina de que haurimos as verdades necessá-
rias para conhecer e amar a Deus e, depois, à luz desta fonte, a
Tradição, o Magistério da Igreja, o exemplo de vida e das palavras
dos Santos.
· Por isso, o exorcismo pode tornar-se uma confirmação da
44
O demónio obrigado a confessar a sua vergonha ...

Sagrada Escritura: isto acontece frequentemente . Mas, se o


confronto com o demónio devesse contradizer a revelação di-
vina, então o exorcista compreenderia imediatamente que o
demónio está a tentar enganá-lo. Este discernimento pressu-
põe a plena consciência da sã doutrina que cada sacerdote e
cada cristão dever ter. Por isso, não entendo substituir, de ma-
neira nenhuma, os ensinamentos da Sagrada Escritura e da
Igreja, fundamentais para cada católico; do mesmo modo,
quero demonstrar que o confronto com o demónio não faça
senão que confirmá-los. De facto, como veremos, neste minis-
tério ressalta fortemente, na luta do bem contra o mal, que o
Pai, juntamente com a presença viva de Cristo no meio de
nós, deu-nos também a de Maria Virgem. Ela é a Mãe conti-
nuamente presente ao lado dos seus filhos, que faz tudo ao
seu alcance para acompanhá-los, sustentá-los e guardá-los
maternamente no caminho para o Paraíso, do qual o Maligno
gostaria de desviá-los.
Ao mesmo tempo, estas experiências são publicadas para
inspirar os corações a elevar um hino de louvor e de agradeci-
mento a Deus por ter-nos dado, na Imaculada Conceição de
Maria, a adversária por excelência do Maligno, a fim de cele-
brarem as glórias e as gestas maravilhosas desta Mãe, sempre
pronta para acorrer em socorro dos seus filhos. Além disso,
querem ser uma ação de graças filial a Nossa Senhora por
tudo o que faz por nós. E, finalmente, representam um vivo
incitamento a cada crente a dar-se e confiar-se a ela, para «tê-
-la» no seu próprio coração, a «ser e a viver» - ao mesmo
tempo - no seu Coração Imaculado. E nele, templo, taberná-
culo e ostensório vivo de Deus, unir-se a ela na adoração e ser-
viço da Santíssima Trindade, com a certeza que neste Coração,
como na torre de David, estamos numa fortaleza invencível,
contra a qual todos os assaltos do Inferno esbarram e aquele

45
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

que, desde as origens, tem sido inimigo de Deus e inimigo do


homem será definitivamente derrotado.

Um possível equívoco, do qual quero exonerar o leitor,


acerca das vicissitudes que estou a descrever, poderia ser o de
pensar que os exorcismos se façam com o objetivo de escutar
o demónio, em vez de expulsá-lo. Não! Os exorcismos fazem-
-se com o único objetivo de expulsá-lo o mais depressa possí-
vel, a fim de que se abrevie o mais possível o tempo de so-
frimento daqueles irmãos e irmãs por ele possuídos/as e
atormentados/as~Os factos que irei descrever não foram pro-
curados ou queridos: podem ve rificar-se como «reflexo» ,
como reação às orações ou aos exorcismos e, portanto, às
ordens imperativas pronunciadas. O fim do exorcista não é
suscitar estas reações ou estas expressões mas, embora sa-
bendo que elas se podem verificar e, de facto, se verificam, é o
de chegar à libertação daquele que o demónio mantém como
escravo.

Depois de ter apresentado estes episódios - alguns dos


quais já aludi nos meus dois anteriores livros Possessões diabó-
licas e exorcísmos e Os anjos rebeldes* -, para demonstrar que
eles não são da minha experiência exclusiva, darei espaço
também às intervenções dos padres Domenico Mondrone,
Gabriele Amorth , Cipriano De Meo, Mons. Ferruccío Sutto,
Carmine De Fílippis e Tarcísio Zullo De Meo .

* fRANccsc o Bo\MONTE Os · b ld .
.. . , · · · an;os re e cs. O mistério do mal na experiência de um
exorcista, Pnor \-elho , Paulinas Editora, 2010.

46
V

A minha experiência mariana nos


exorcismos e nos outros momentos
do confronto com os demónios

Introdução

Estes testemunhos são tomados dos meus últimos dez


anos de exorcismos, selecionados entre aqueles casos em que ,
pelos sinais e fenómenos preternaturais que se verificaram, eu
estava e continuo moralmente certo de que me encontro
diante de autênticas possessões diabólicas. Quem quisesse
perceber o rigor com que procedi no discernimento, antes de
afirmar que me encontro diante de uma possessão diabólica
real, poderá ler em particular o que descrevi no livro já citado:
Possessões diabólicas e exorcismos.
As experiências que relato acerca das reações dos demónios
em relação à Virgem Maria e, quando, por vezes, obrigados por
Deus, se exprimiram acerca dela , foram extraídas não só de
momentos em que eu exercia o ministério do exorcismo - du-
rante o qual é necessário ater-se fielmente ao texto do ritual-,
mas também de momentos em que, sempre na presença do
irmão ou da irmã possuídos, prosseguia o confronto com o ini-
migo, orando e convidando os presentes a rezar o Rosário e as
ladainhas de Nossa Senhora ou, então, preferia orações espon-
tâneas de libertação . De facto, nada impede que, fora da ação

47
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

litúrgica, 0 exorcista, quando o considerar oportuno, possa


livremente rezar na presença da pessoa possuída e, sobretudo
quando não se verifica uma particular eficácia, as orações d;
piedade cristã, que são precisamente: o Santo Rosário, as
Ladainhas da Bem-aventurada Virgem Maria, mas também a
Via-Sacra, a Coroinha da Divina Misericórdia, as Ladainhas do
Sagrado Coração, invocações ao Espírito Santo ou, ainda, ora-
ções espontâneas de intercessão ou de libertação.
Farei preceder as narrações de cada um dos episódios de
uma catequese, na qual apresentarei o ensinamento da Sagrada
Escritura ou dos Padres da Igreja ou do Magistério, ou tam-
bém exemplos e palavras de Santos. Como já disse muitas
vezes, são estas as referências para a nossa vida cristã. Os «tes-
temunhos» involuntários dos demónios sobre a Virgem Maria
podem também ser de nossa edificação, quando conseguir-
mos interpretá-los na sua correta aceção. De facto , são sim-
plesmente reações consequentes ao confronto que os demó-
nios sustentam com a presença desta Mãe na nossa vida; com
a sua intercessão materna para connosco e com o poder de
Cristo. Ele, para glória de sua Mãe , de que não é ciumento,
obriga-os a testemunhar a dignidade extraordinária que ela
reveste entre todas as criaturas humanas e angélicas , obri-
gando-os a confessar toda a verdade sobre ela e a sua com-
pleta impotência em relação a ela. Estes testemunhos do mun-
do demoníaco serão apresentados em cada parágrafo, ao
termo das catequeses que as precederam, que indicarei com 0
título «Exemplos extraídos dos exorcismos».
Além disso , é muito importante que o leitor saiba que
esses testemunhos que, à primeira vista, poderiam parecer fre-
quentíssimos , não o são assim tanto. As mais das vezes, os
demónios só exprimem injúrias e ofensas em relação à Virgem
Maria. Os exemplos que referirei poderiam parecer numero-
sos , mas não são se considerarmos que foram recolhidos
durante dez anos.

48
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

As palavras que reporto são expressa e exatam


, . ente as pro-
feridas pelos demon1os no decurso dos exorcismos.

§ 1 - A recusa, da parte do demónio,


do projeto da Encarnação do Filho de Deus
e de Maria Rainha dos Anjos e dos homens

Catequese

O homem foi criado por Deus à sua imagem e semelhança,


isto é, segundo a imagem do Filho que o Pai Eterno tinha na
sua mente, quando, chegada a plenitude dos tempos, haveria
de enviá-lo ao mundo para fazer-se homem e redimir a huma-
nidade. O homem é, portanto, «figura daquele que haveria de
vir» (Rm 5,14), Cristo Jesus. Por isso, esteve presente na
mente de Deus, desde a eternidade, antes de qualquer outra
criatura , e também a figura daquela em quem a Encarnação
do Filho haveria de realizar-se: Maria Imaculada. Diz o Con-
cílio Vaticano II: «A santíssima Virgem [foi] predestinada
desde toda a eternidade, no desígnio da Encarnação do Verbo
divino , para [ser] Mãe de Deus» 29 • A natureza humana de
Cristo e de Maria é o vértice da obra da criação. Embora, cro-
nologicamente , Cristo e Maria aparecessem no mundo muitos
séculos depois da criação de todas as coisas , a Santíssima
Trindade tinha em mente desde a eternidade esta obra-prima
insuperável, relativamente a qualquer obra criada por Deus:
«Uma Mulher imaculada que fosse Mãe do Filho, dando-lhe a
carne humana do seu seio por obra do Espírito Santo.»
Nesta perspetiva, a Virgem Maria pode ser definida como
«primogénita» do Pai, porque nos seus decretos divinos Ele a
predestinou juntamente com o Filho Jesus Cristo, antes de

29 Gaud.zum et spes 61 .

49
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

todas as criaturas Jo _ Cristo e Maria foram pensados, queridos


e amados pelo Pai Eterno, pelo seu Verbo e pelo_Espírito
Santo, antes de toda a criação, e, a eles, todas as c01sas estão
subordinadas e se ordenam necessariamente. Todo o universo
material e espiritual foi criado intimamente unido ao homem,
de que Cristo e Maria são o vértice, e só por meio do homem
todas as coisas podem atingir o fim para que foram criadas.
Portanto, a criação dos anjos, feita por Deus, esteve ligada à
sua decisão de unir-se ao homem mediante a Encarnação: isto
é entrar no mundo da matéria, do espaço e do tempo. Por-
'
tanto, a criação dos anjos foi orientada, desde o início, para a
síntese admirável da criação, que é o homem, cujo represen-
tante máximo é o Verbo de Deus que se torna carne por meio
de Maria e se faz homem. A criação do homem - e, em parti-
cular, a natureza humana do Verbo - dá consistência e signifi-
cado a todo o universo, incluindo também os anjos.
É claro que, neste projeto de Deus, a Virgem Maria, em-
bora constituída, como cada criatura humana, de espírito e de
matéria (alma e corpo), é elevada acima dos anjos que são es-
píritos puros. Pela sua natureza angélica mais semelhante à de
Deus, espírito puríssimo, Satanás pretendia que lhe competi-
ria a proeminência sobre toda a criação, que Deus conferiu à
Virgem Maria. Consequentemente, esta atitude implicava uma

Por predestinação não se entende algo de já estabelecido, independentemente


l()

da livre decisão da vontade do homem. Aliás, pode-se dizer que Deus já conhece o que
irão fazer os seus filhos que, no entanto, são sempre livres de decidir em plena liber-
dade. Isto é, Deus predestina que sejam conformes com o seu Filho Jesus aqueles que
o escolhem como Pai: «Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, da-
queles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. Porque àqueles que Ele de
antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu
Filh?» (Rrn 8,28-29) Trata-se sempre de urna escolha livre. Por isso, embora seja pre-
desunada a ser Mãe do Filho de Deus feito homem, Maria aderiu a Ele livremente.
°
Também Filho de Deus. mesmo que predestinado a encarnar através de Maria, es-
colheu livremente realizar este projeto de amor do Pai, para que os homens fossem
conformes. à sua. imagem· Na earta aos Hebreus, Cnsto- diz: «Eis que venho - como
eStá escmo no hvro ª meu respeito - para fazer, ó Deus, a tua vontade» (Heb 10.7)-

50
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

contestação decisiva quer da Encarnação do Verbo de Deus _


que haveria de assumir a natureza humana, inferior à angélica
_ quer da presença daquela Mulher, da qual , encarnando 0
Filho de Deus haveria de nascer no tempo . Ela, posta à s~a
direita, como Rainha dos homens e dos anjos, havia de facto
sido eleita não só acima das criaturas humanas, mas também
das angélicas. O facto de Satanás rejeitar Maria foi uma conse-
quência lógica da rejeição da Encarnação.
No momento em que a Santíssima Trindade criou os anjos,
já sabia que alguns deles haveriam de usar o dom da liberdade
para recusar o seu projeto de amor sobre toda a criatura:
voltar-se-iam contra Deus, seu Criador, operando pela des-
truição da sua criação, que era inteiramente boa, e haveriam
de introduzir nela o mal, o sofrimento e a morte. Por isso ,
desde o princípio da Criação, Deus estabeleceu que a Encar-
nação do Verbo também haveria de ser redentora , a fim de
salvar as criaturas que haveriam de continuar fiéis a eles. Por
isso , enquanto criava, Deus pensava no seu Filho feito homem
- isto é, Jesus Cristo - como Redentor, e em sua Mãe, coope-
radora com o Filho redentor.
O teólogo jesuíta espanhol Francisco Suárez 3 1, que apre-
senta a síntese provavelmente mais completa de angelologia e
demonologia da Idade Moderna, retomando a opinião do
Padre das Igreja, Lactâncio (cerca de 260-330) - segundo o
qual o pecado do anjo foi o de inveja, não em relação ao ho-
mem , mas em relação ao Filho de Deus feito homem (o
32
Logos)-, explica que, depois, por esse motivo, Lúcifer have-
ria de enganar O homem por inveja (Divin~ Institutiones) .
Suárez afirma que a revolta de Lúcifer e dos outros anjos

31
Nasceu em Granada em 1548 e faleceu em 1617.
32
É o nome que Satanás tinha antes do seu pecado. Deriva do latim e significa
«portador de luz». Para ulteriores aprofundamentos, cf. F. BAMONT_E, Os anjos rebeldes.
º º·
O míSlério do mal na experiência de um exorcista, Prior Velho, Paulmas Editora, 2 1
pp. 21-22.

51
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

rebeldes consistiu em não ter aceitado o plano que Deus lhes


tinha preanunciado, relativo à futura Encarna~ão do Verbo.
Esta hipótese teológica fundamenta-se nas segu1n~es palavras
da Carta aos Hebreus (1,6) : «Quando [Deus] introduz 0
Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de
Deus.» De algum modo, Deus haveria de mostrar a todos os
anjos a futura imagem do Filho , Deus feito homem, Jesus
Cristo, convidando-os a reconhecer nele, desde então, o seu
chefe, o autor da sua salvação e o seu legislador.
Lúcifer e uma parte dos anjos recusaram-se a adorar um
homem inferior a eles por natureza, embora ao mesmo tempo
superior, sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, en-
carnada. Eles consideraram o projeto divino da Encarnação
como uma ofensa inaudita à sua dignidade angélica e à sua
grandeza na hierarquia dos seres; por isso, rejeitaram-no des-
denhosamente 33 . Por isso, tratou-se de um pecado de soberba
que brota, no entanto (e de acordo com o Beato Duns Escoto),
do amor desordenado a si mesmo: amor de concupiscência e,
simultaneamente, amor da sua própria excelência. De facto,
cego pelo amor desordenado de si mesmo e da sua excelência,
Lúcifer pretendeu que a união hi postática do Verbo 34 não se
fizesse com uma natureza humana, mas sim, necessária e ex-
clusivamente, com a sua natureza angélica.
Por isso, quando os anjos foram convidados a reconhe er
Cristo feito homem como seu chefe e seu salvador e a adorá-
'
-lo como Deus, Lúcifer opôs-se, presumindo que essa honra
deveria ser dada exclusivamente a ele. Na sua rebelião, arras-
tou os outros anjos, persuadindo-os de que só a ele conviria a

33
Aceitando-se a tese de que o pecado dos anjos se realiza na rejeição de adorar
0 ~erbo encarnado, talvez compreendamos melhor o contínuo serviço dos própnt' 5
anJOS na obra da Encarnação e na assistência prestada a Jesus Cristo. Ao mesmo
tempo. intuímos o motivo mais radical da luta do demónio contra Ele.
,. Po'. <<união hipo5tãt1ca» entende-se a união da natureza divina com uma natu·
reza alheia, I to é, com uma natureza que o próprio Deus criou.

52
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

dignidade da união hipostática (isto é: segundo Lúcifer, a natu-


reza divina deveria unir-se à sua natureza angélica e não à
humana, como aconteceu em Cristo Senhor). Contra o plano
de Deus, ele desejou a união hipostática do Verbo de Deus com
a sua própria natureza angélica, porque essa união adquiriria
uma proeminência; de facto, considerava que a união hipostá-
tica lhe era devida a ele e não ao homem, dado que a natureza
angélica é superior à humana 35 . Por isso, trata-se de um pe-
cado de soberba e de desobediência, a que se seguiu a inveja
em relação a Cristo, associada à cólera e ao ódio contra Ele e
contra o género humano, e muitos outros pecados.
Por conseguinte, a rejeição de Lúcifer não se manifestou so-
mente em relação à Encarnação do Filho de Deus, mas tam-
bém em relação à Virgem Maria, através de quem a Encarna-
ção haveria de realizar-se. A mística mariana espanhola, a
venerável Maria de Jesus d'Agreda (1602-1665), na sua famosa
obra La mística ciudad de Dias, afirma que Lúcifer, por ser a
criatura mais luminosa da criação, pensava que estava destina-
do a ser ele o chefe dos anjos e da humanidade. No entanto,
quando compreendeu que não iria ser ele mas outro - isto é,
que o Filho de Deus se faria homem - , não só se recusou ado-
rá-lo e reconhecê-lo como chefe dos anjos e dos homens,
como também rejeitou a decisão que Deus lhe havia notifi-
cado: com a Encarnação do Verbo, os anjos «deviam considerar
igualmente superior a mulher através da qual o Verbo haveria de
fazer-se carne. Essa mulher, embora f asse uma criatura humana, e,
portanto, de natureza inferior à sua, haveria de ser não só sua Rai-
nha, a quem teriam de obedecer, mas também a Senhora de todas
as criaturas, superando nos dons de graça e de glória todas as cria-
turas angélicas e humanas. Ao obedecerem a este preceito do Se-

35
Um dos teólogos do séc. XII , Honório d'Autun, afirmou que o Verbo não podia
assumir a natureza angélica, porque nesse caso salvaria unicamente um anjo (já que
cada um deles é uma ~espécie~, o que o toma diferente de todos os outros, enquanto
os homens penencem todos à mesma espécie).

53
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

nhor, os anjos bons aumenta,iam a sua humildade, pela qual não só


o acolheram, mas também louvaram o poder e os mistérios do Al-
tíssimo. Mas não {fizeram] assim Lúcifer e os seus companheiros:
por causa deste preceito e mistério, elevaram-se de tal maneira ern
soberba e em vaidade ainda maiores que, desordenadamente furioso
ele reclamou para si próprio o privilégio de ser chefe de toda a es-'
tirpe humana e de todas as ordens angélicas; e, se isto haveria de
acontecer através da união hipostátíca, que ela se realizasse nele>> 36_

Exemplos extraídos dos exorcismos


Tudo o que foi exposto na catequese atrás, é comprovado
de maneira clara e repetida no confronto com os demónios,
durante o ministério dos exorcismos.

Um dia, ouvi-os gritar: «Eu sou Lúcifer, o mais luminoso


de todos os anjos do céu; rebelei-me contra a vontade de
Deus, porque não quis sujeitar-me à majestade do Nazareno;
"ficava-me muito bem" estar sob o poder de Deus, mas não
queria estar abaixo do Nazareno, que havia de nascer de uma
Mulher; então, eu disse: "Ou me fazes como Tu ou eu comba-
terei contra ti, porque nunca me baixarei, nunca, a um Deus
que se torna carne humana e que assume traços humanos e
corpo humano! "»

Outra vez , enquanto eu lhe intimava : «Adora-o , é o teu


Deus, foi Ele quem te criou , adora-o!» , protestou: «Foi encar-
nar em vós , o que de mais asqueroso e humilhante poderia
fazer. Só nós sabemos a repugnância que sentimos quando Ele
en trou naquelas carnes!»

3
~ M ARIA DE ) E us o'A GREDA, La mistica città di Dia, vol. I, Assis, Pontifícia Acca·
demia Mariana lnternaz1onale, Ed izioni Porziuncola, 2000, Primeira pane, li\·ro L
cap. 7, p 85.

54
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos Outros momentos ...

Noutro dia, enquanto eu orava a Nossa Senhora, ouvi-o


protestar:
«Eu sou espírito puro : porque não eu, porque não um
espírito puro? Eu, espírito puro: porque não eu, em vez
daquela, sim? Porquê? Heim, heim, heim? Porquê ela, sim?»
e, pouco depois, acrescentou: «Ela é que é uma criatura, não
eu, eu sou "deus" e ela foi colocada acima de mim. Porque
reria de ser assim? E eu não quis, não quis; nunca me dobra-
rei à criatura, àquela [que foi] criada para estar abaixo; eu,
espírito puro, "diante" 37 de Deus: deviam adorar-me porque
eles são menos que eu (referia-se evidentemente à natureza
humana de Cristo e à de Maria Santíssima).»

Noutra ocasião, ouvi estas frases :


«Não suporto que ela esteja ao lado dele, acima de mim.
Eu era o anjo mais belo, belo, belo; o maior, maior, maior; eu
era Lúcifer, o anjo por excelência. Que afronta! Que afronta!
Conceber sem pecado um de vós! Que afronta! A Imaculada é
a maior afronta que o teu Deus nos poderia fazer. Fazer com
que um de vós conceba sem aquele pecado que nós tínhamos
criado é uma afronta insuportável. Tínhamos marcado todos,
tínhamos marcado todos com o nosso selo, todos menos ela!
Não podia ter-nos feito isto! Um de vós sem pecado! E,
depois , Ele que encarna no vosso corpo repugnante feito de
vermes (aqui, penso que se referia à decomposição do nosso corpo
depois da morte). Porque o fez? Para arruinar-nos? Porque nos
humilhou assim tanto? Porque nos humilhou assim tanto?»
Outras vezes, em tom depreciativo, manifestou a sua re-
cusa de aceitar que a Virgem Maria tivesse sido colocada
acima dele, com estas expressões:

3
. 'Não cenamente no sentido de que teria gozado antecipadamente a vi~ o beatí-
fica (recusou-a), mas no sentido de que , na escola dos seres, ele era o mais seme-
lhante a Deus, que é puríssimo espirita.

55
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

«Ela é só carne, eu sou espírito puro, eu sou espírito PUro1


Não ' ela não! Ela mais alta do que eu? Não! Eu sou espíritoi. >>·

Noutra ocasião, repetindo em parte palavras já expressas


anteriormente, afirmou:
«Eu recusei Aquele (Deus ) porque a fez a ela. Eu não
suportava que ela estivesse ao lado dele. Não suportava que
uma criatura humana estivesse acima de mim, porque eu era
o anjo mais belo, belo, belo, o maior; eu era Lúcifer, o anjo
por Excelência.»

§ 2 -A Imaculada Conceição, a santidade sublime


e a beleza incomparável de Maria

Catequese
Em Maria, contempla-se a participação máxima da beleza
de Deus, nunca manifestada numa criatura humana. Ela <<traz
em si, como nenhum outro dos seres humanos, aquela glória
da graça que o Pai nos deu no seu Filho dileto, e esta graça deter-
mina a extraordinária grandeza e beleza de todo o seu ser»38 .
Maria , filha do Pai , mãe do Filho e esposa do Espírito
Santo, possui tanta beleza que, quem tivesse a graça especial
de vê-la já nesta terra, vive com a ansiedade saudosa de voltar
a vê-la. Um dia, Bernadette respondeu assim a quem lhe per-
guntava se Nossa Senhora era bela: «É de tal modo bela que,
vista uma vez, querer-se-ia morrer para se poder voltar a vê-
-la.» Um dia, enquanto Nossa Senhora aparecia ao Padre Pio
da Pietrelcina, o seu diretor espiritual, que estava presente o
padre Agostino de San Marco in Lamis, ouviu o Padre Pio a

·- ]Or.O PAULO II Cana Encíclica Rcdcmptoris Mater 11 .

56
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

dizer: «Jesus tinha razão ... sim, és bela ... se não houvesse a fé .
Os homens dir-te-iam deusa ... os teus olhos são mais esplen-
dorosos que o Sol ... és bela, Mãezinha, glorio-me com isso
amo-te.» A Irmã Lúcia de Fátima, nas suas memórias, des~
creve Nossa Senhora, que lhe apareceu e aos seus primos
Jacinta e Francisco, como uma «Senhora toda vestida de
branco», que emanava um esplendor mais belo que a luz do
Sol, mas que não impedia de olhar para o seu rosto, de beleza
indescritível. Por isso , depois da aparição, Jacinta repetia
durante muito tempo: «Que Senhora tão bonita, que Senhora
tão bonita! » E Francisco dirá: «Era mais bonita que qualquer
pessoa que eu já vi.» Recuando no tempo, poderíamos encon-
trar muitos outros episódios semelhantes, como o de Santo
Ubaldo que, um dia, enquanto estava no campo a cantar as la-
dainhas de Nossa Senhora, entrou em êxtase, elevou-se alguns
metros acima da terra e, contemplando a Senhora que lhe
tinha aparecido, disse: «Como és bela, ó minha Mãe! Como és
bela! » São José de Cupertino, o «santo dos voos»... estava de
tal maneira enamorado de Nossa Senhora e da sua beleza que,
frequentemente , voava - enquanto repetia: «Maria é bela ,
Maria é bela!» - para beijar as suas imagens que, naqueles
tempos, a arquitetura dos lugares sagrados colocava no alto.
Por vezes, durante o êxtase, também transportava consigo os
seus confrades, enquanto voava. Chamavam-lhe «boca aber-
ta» porque, ao ficar muitas vezes em êxtase, caíam-lhe coisas
das mãos que, obviamente, se quebravam.

Nenhuma criatura humana foi e é tão bela como Maria. O


que a tornou tão bela? A condição inicial de graça da sua
Imaculada Conceição 39 e a sua cooperação livre e jubilosa

9
i '/\o dia 8 de dezembro de 1854, Pio IX promulgou solenemente, na basílica de
São Pedro, o dogma da Imaculada Conceição. Ele, já de idade muito avançada e com
ª saúde bastante enfraquecida, encontrava-se no presbitério e falava com voz fraca.

57
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

no seu proieto de amor a favor de toda a humani-


com Deus, J 1 1 ·
dade, que a fez crescer continua~e~te naque_ ª_ p enuude de
• • · 1, que na Assunção atingiu a perfeiçao
graça inicia . sobrenatu-
ral. Todos os videntes de Nossa Senhora, extasiados com a sua
beleza, lhe perguntam: «Porque é tão bela?» E ela [responde]:
«Porque amo!»
Maria «é O ideal supremo da perfeição; é "a Mulher vestida
de sol" (Ap 12,1), na qual os raios puríssimos da beleza hu-
mana se encontram com os supremos, mas acessíveis pela be-
leza sobrenatural» 40 . E assim nos é apresentada pela Sagrada
Escritura, pelos Padres da Igreja, pelo Magistério, pelos do-
cumentos Conciliares, pelos Místicos, pelos Santos e pela
Liturgia.

Naquela época, ainda não se tinha inventado os microfones, os altifalantes nem os


amplificadores de som; mas, no momento de ler a fórmula da definição dogmática, a
sua voz tornou-se sonora e potente, enquanto, no mesmo momento, um raio de sol,
atravessando as nuvens, passou através de um vitral da basílica de São Pedro, envol-
vendo a sua pessoa. Aqueles acontecimentos externos, que todos observaram, foram
interpretados como o sinal do agrado de Deus e da Bem-aventurada Virgem Maria.
Ele mesmo narrou: «O que experimentei, o que senti ao definir o dogma da Ima-
culada Conceição é uma coisa que a linguagem humana não conseguiria exprimir.
Enquanto Deus pronunciava as palavras do dogma, pela boca do seu Vigário, fez
entrar no meu espírito uma luz tão clara e tão intensa sobre a incomparável pureza da
Santíssima Virgem que, mergulhada profundamente no abismo deste conhecimento.
a minha alma sentiu-se inundada de delicias inenarráveis, de delicias que não são ter-
restres e que só no Céu se podem experimentar.» Um biógrafo de Pio IX escreve:
«Não receio afirmar que, então, o Papa recebeu uma graça especial para não morrer
de alegria por causa da impressão do conhecimento e do sentimento da beleza inco-
mensurável de Maria Imaculada.» Foram estas as palavras com que O Papa definiu o
dogma da I~~cu~ada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, a que aquela pro-
funda expenencta mística esteve ligada: «Com a autoridade de Nosso Senhor ]eSus
~risto, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e com a Nossa, declaramos, pronun·
ciamos
.
e definimos·
:J ' ·
"A dou tnna
· que sustenta que a Beatíssima Virgem Maria, no pnmeiro
· ·
1
~Slante da ~ua Conceçdo, por graça singular e privilégio de Deus omnipotente, tendo em
vista os méntos de]esus cns·to, 5alvador do género humano Joi preservada imune de toda
a mancha de pecado.original
. ,, , é revelada por Deus e assim deve
' ser crida firme e invw
· 1a,c
, 1-
ment! por todos osfiéis » (Pio IX, Bula lneffabilis Deus).
PAULO VI , Discurso para 0 • - · do
XIV e . encerramento do VI Congresso Mariológico e o inicio
ongresso Manano, Roma, 16 de maio de 1975.

58
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

Nenhuma criatura, nem sequer Maria, é bela por natureza:


só Deus é o autor da beleza (Sb 13,3) , aquele que cria a
«beleza das criaturas» (Sb 13,5). Deus, o Santo e o Vivente, é
a Beleza suprema e as suas obras são belas-boas (cf. Gn
l ,9.12.25.31): entre elas destaca-se Maria, a quem o Filho -
imagina, na fé , o Beato Amadeu de Lausana - se dirige em
louvor: «Tu és bela, diz-lhe : bela nos pensamentos, bela nas
palavras, bela nas ações, bela desde o nascimento até à morte,
bela na conceção virginal, bela no parto divino, bela na púr-
pura da minha Paixão, bela, sobretudo, no esplendor da
· - 41
minha ressurre1çao» .

Como já vimos, um dos motivos da grande raiva do demó-


nio contra Deus é o de ter criado Maria sem pecado, desde o
primeiro instante da sua existência. De facto , o demónio con-
siderava direito seu que todas as criaturas humanas, depois da
culpa original, tivessem de ser concebidas contaminadas com
o pecado 42•
Em relação a Nossa Senhora, pelo contrário, o facto de não
ter cometido nenhum pecado é para o demónio motivo de
raiva, ainda mais do que o privilégio da Imaculada Conceição,
recebido por puro dom gratuito de Deus. Embora seja Ima-
culada, Maria continuava livre e, portanto , também podia
pecar. O demónio odeia tremendamente Nossa Senhora por-
que, embora tendo tentado de todas as maneiras fazê-la cair,
durante a sua vida terrestre, nunca conseguiu fazer com que
ela cometesse um pecado pessoal e, portanto, não pôde de

1
• M.G. MA.sCIARELLI , Pio IX e l'lmmacolata, Cidade do Vaticano, LEV, 2000, p. 90.
12
O pecado do primeiro casal humano foi , exceto a Maria, «transmitido por pro-
pa~aÇão a toda a humanidade, quer dizer, pela transmissão duma natureza humana
~nvada da santidade e justiça originais. E é por isso que o pecado original se chama
pecado" por analogia: é um pecado "contraído" e não "cometido", é um estado e não
um ato» (CIC 404).

59
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

modo nenhum manchar e deformar a beleza de Deus nela.


Por isso, ela não possui nada que lhe pertença: Satanás não
pôde orgulhar-se de nada sobre ela e, por isso, Maria é a única
criatura em condições de vencê-lo completamente. Por esse
motivo, ele odeia e teme Nossa Senhora quase mais do que 0
próprio Deus e encolerizou-se mais contra ela do que com
Jesus Cristo: porque este é Filho de Deus feito homem, en-
quanto Maria é uma criatura e a única criatura que lhe esca-
pou completamente~ a única sobre quem nunca pôde exercer
o seu direito de conquista~a única que o venceu totalmente,
quer no momento da sua conceção, quer durante toda a sua
vida terrena.
Pode-se dizer que Maria é a Virgem poderosa contra o Mal,
porque é a única criatura humana totalmente vitoriosa sobre
Satanás e sobre todo o seu exército. Por isso, não existe nela
nenhum mal, o que a torna inteiramente bela. Também é este o
motivo pelo qual, vários autores cristãos, inspirando-se nas
palavras da Sagrada Escritura «Quem é esta que surge como a
aurora, bela como a Lua, refulgente como o Sol, terrível como
um estandarte de guerra?» (Ct 6,10) 43 , representaram Maria
como a Mulher belíssima que aparece a Satanás, como a
comandante indómita de um exército postado em ordem de
batalha. Além disso, parece-me que também podemos entre-
ver nesta passagem bíblica a representação da força especial
que - única entre todas as criaturas - Maria recebe de Deus
para lutar contra Satanás.
Eis como diversos autores cristãos comentam a expressão
«terrível como um estandarte de guerra» , referido a Maria.
Pascásio Radberto (t 865) prega assim na homilia sobre a
Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria: «Por isso [Maria]
é chamada: terrível como um exército alinhado em ordem de ba-

4) Veja-se também Ct 6,4.

60
. h xperiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...
A rntn a e

talha. De facto , Ela tornout\ t~rível pelas suas virtudes;


rnou-se como um exercito a m a o em ordem de batalha, por-
toue está rodeada pelos chefes dos santos anjos» 44 . Nos seus
q -es Martinho de Leão (Espanha, t 1203) diz: «Depois,
serm0 ,
[Maria] foi apresentada como terrível, à maneira de um exér-
cito alinhado, porque na sua ascensão [síc no original, nt] era
rodeada por todos os lados por coros angélicos e acompa-
45
nhada pelas almas dos eleitos» •
Adão de Perseigne (t 1221) escreve: «Quando foste
assumpta deste mundo malvado à glória do céu, tornaste-te,
para rodas as potências do mal , tão terrível como exércitos
com estandartes desfraldados .. . Enquanto os céus estreme-
ciam de alegria, os anjos te tributavam honras, os santos exulta-
vam e as insígnias das virtudes cintilavam, apareceste verdadei-
ramente aterradora aos demónios» 46 • Inocêncio III (t 1216) diz
num dos seus sermões: «Quem se sentir atacado pelos inimi-
gos ou pelo mundo ou pela carne ou pelo demónio, olhe para
este exército alinhado para a batalha, implore a Maria para
que ela, por intermédio do seu Filho , "do santuário, Ele te
envie o socorro e te assista de Sião" (Sl 19[20] ,3)» 47 •
Santo Afonso Maria de Ligório escreve: «Maria é chamada
terrível contra os poderes do Inferno, como um exército bem
ordenado: Terribilís ut castrorum acíes ordinata (Ct 6,4). Acíes
ordinata, porque ela sabe muito bem como ordenar o seu
poder, a sua misericórdia e as suas orações para confundir os
~nimigos e em benefício dos seus servos, que nas tentações
invocam o seu poderosíssimo socorro» 48 •

... ln Padres Latinos (PL) 30 122-142.


•) Ibidem, 209, 23-24. '
46
Ibidem, 211.
., Ibidem, 217, 584-586.
48 I
vo[ n Opere ~pirituali, Serie B, Trattati speciali: Gesu Cristo, Maria SS. e i Santi,
· V, Le glone d1 Maria, e. I, III, Roma-Paganí, Edízione PP. Redentoristí, 1954, p. 208.

61
. o Diabo nos exorcismos
A Virgem Mana e
. palavras «refulgente como o Sol» , que rel"h
Por fim, nas . llle~
sagem do livro do Apoca1ipse: «Apareceu
tem para uma pas .d d no
sinal: uma Mulher vesti a e Sol» (Ap 12 l)
céu um grande . d b , ,
se poderá ver a imagem a eleza da graç
parece-me qUe . . a
.. m Maria fulgura no maior esplendor atingido po
divina que e r
uma criatura humana e que se opõe a fealdade do pecado, por
meio do qual Satanás procura arrancar os homens a Deus. 0
próprio Satanás espelha em si o máximo da fealdade, a que a
criatura nunca chegou, por se ter separado do Criador com a
rebelião e o pecado.

Exemplos extraídos dos exorcismos


Eis o que, em diferentes ocasiões, o demónio foi obrigado
por Deus a dizer sobre a santidade e sobre a ausência total de
pecado em Maria.

Um dia, enquanto eu fazia o exorcismo, dirigi-me ao de-


mónio e disse-lhe: «Olha para o rosto belíssimo de Nossa
Senhora.» Ele respondeu: «Não o vejo, está escuro, está es-
curo, está escuro para mim. Não quero e não posso olhar. É a
minha ruína, é a minha ruína, é a minha ruína desde sempre,
desde sempre. Odeio-a, odeio-a, odeio-a!»

Noutros exorcismos, proferiu as seguintes expressões:


«Não posso olhar para aqueles olhos, não posso olhar, não
posso ... não se descrevem, aquela beleza não se descreve.»
«Ela é cheia de graça, ela é Santa, é Santa, aquela é Santa,
aquela é Santa. Ela tira-me as almas (e começa a chorar).»
. «Olhai, olhai, olhai para a luminosidade do olhar de urna
cnança_e vereis a pureza de Maria, a pureza, a pureza e o amor
d; Mana (estafoi uma das raríssimas vezes que, por entrecantor·
ç es ternveis, pronunciou o nome de Maria).»

62
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

Outra vez, com uma linguagem evidentemente metafórica


(porque ele não tem nem pele nem cérebro porque é espírito
imaterial), disse: «Sempre que desce a esta terra (referia-se a
Nossa Senhora) , nós mergulhamos ainda mais para baixo .
Cada uma das suas lágrimas é um buraco na nossa "pele";
cada um dos seus olhares é um rasgão no nosso "cérebro";
cada um dos seus passos é o nosso fim. Estamos a procurar
travá-la, mas não conseguimos porque ela é mais poderosa do
que nós. O mal não tem nenhum poder sobre ela.»

§ 3 - Também Nossa Senhora foi redimida por Jesus

Catequese
Todos os homens vêm ao mundo com o pecado original e,
para se salvarem da perdição eterna precisam da Redenção de
Cristo. Também Maria, porque é da estirpe humana, deveria
ter contraído o pecado original e, como todos os outros seres
humanos, entrar neste mundo privada dos dons sobrenaturais
e da graça de Deus. Mas não foi assim. Como ia ser a Mãe de
Jesus, antecipando nela os méritos do Filho redentor, desde o
primeiro instante da sua conceção, por singular privilégio que
lhe foi concedido, a Santíssima Trindade preservou-a da culpa
original. De facto , eleita para ser a Mãe de Cristo redentor, ela
devia necessariamente precedê-lo. Na ordem temporal, vem
primeiro a mãe e depois o filho . Consequentemente, para que
fosse Imaculada, era necessário que Maria fosse redimida por
Cristo, antes de Ele ter nascido e morrido na Cruz, realizando
a Redenção. Portanto, a Redenção foi aplicada a Maria «pre-
ventivamente» , isto é , antes de Cristo a ter realizado. Santo
Ambrósio escreve: «Quando o Senhor se dispôs a redimir o
mundo, começou por Maria, para que precisamente Ela, por
cuja mediação foi preparada a Redenção para todos, fosse a
63
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

primeira a fruir do fruto da salvação pela mão do seu Filho>>


(In Lucam, 2,17).
Maria foi Imaculada, desde o primeiro instante da sua exis-
tência, sem ter feito nada para merecer tamanho privilégio,
exclusivamente por bondade e misericórdia de Deus. É urn
favor divino absolutamente gratuito que Maria obteve desde 0
primeiro momento da sua existência. Ela não foi libertada do
pecado original, mas foi dele preservada em virtude dos méri-
tos do seu Filho, previstos por Deus. Por isso, Maria é , como
nós, redimida por Cristo: a primeira dos redimidos, mas tam-
bém ela redimida. Tudo isto é para nós motivo de grande con-
solação e alegria, porque faz-nos sentir que Maria está muito
próxima de nós, embora a percebamos tão excelsa e sublime
na sua dignidade de Mãe de Deus e nos seus singularíssimos
privilégios de graça. Também ela é uma criatura redimida,
salva, exatamente como nós; ela sabe que o é e connosco agra-
dece continuamente ao Senhor pela sua Redenção! É este o
significado das palavras do seu cântico de louvor e ação de
graças: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito
exulta em Deus meu Salvador» (Lc 1,4 7).

Exemplos extraídos dos exorcismos


Uma vez, o demónio exprimiu assim a contínua gratidão
de Maria a Deus:
«Ela canta sempre os louvores daquele, como então fazia,
mas só poucos na terra estão em condições de ouvi-la quando
canta.»
Provavelmente, aqui, o Maligno referia-se à nossa incapaci-
dade de compreender profundamente a grandeza daquele
Coração que louva eternamente Deus e está reconhecido pelas
graças que recebeu, não só para benefício próprio, mas tam-
bém dos seus filhos.

64
A ,ninha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos...

§ 4 _ Maria foi re?imida como todos os homens,


rnas de modo mais elevado e sublime

Catequese
pelo Batismo, cada um de nós é libertado do pecado origi-
nal. Maria, ao contrário, foi dele preservada 49 , desde a conce-
ção. Assim como, no plano natural, quem nos preserva ou
poupa a um golpe mortal é considerado nosso salvador, mais
do que se nos curasse da ferida produzida por aquele golpe,
assim também na ordem sobrenatural, Maria, ao ser poupada
à infeção do pecado original, foi redimida «de um modo mais
elevado e sublime» (Pio IX, Bula Ineffabilis Deus), isto é, de
modo perfeitíssimo. Precisamente por isso, o Filho sofreu
mais pela redenção da Mãe do que pela de todos os outros ho-
mens juntos. De facto, a Redenção realizou, em relação a
Maria, uma tarefa maior do que em relação a todos os outros
homens. Maria não foi somente redimida pelo Filho, mas é a
primeira de todos os redimidos e nela a graça salvífica atuou
de tal modo profundamente que não permitiu que o pecado
ganhasse raízes nela. Jesus, Salvador do mundo, conseguiu a
sua mais bela vitória sobre o pecado e sobre o demónio, de-
vastadores do género humano, com a Imaculada Conceição
de Maria, que é o seu mais excelso troféu de vitória, o sentido
mais precioso do seu triunfo. O Concílio Vaticano II procla-

9
• Maria é nova criação e nova criatura desde o primeiro instante da sua Ima-
culada Conceição. Maria nunca foi velha criatura, mas nova criatura no sentido radi-
cal da palavra. Por isso, só a Ela se pode aplicar a expressão «Imaculada Conceição».
De facto , nela não houve uma precedente conceção no pecado, como aconteceu com
todos os outros homens. Para nós, houve a velha criação, a velha criatura. Não temos
uma Conceição Imaculada como Maria, mas somos criaturas saradas do pecado no
Batismo, por graça, e renascidas sem mácula. Por isso. o termo Imaculada Conceição
só se aplica a Maria. Como renascimento batismal, passámos da velha à nova criatura
e, por isso, não se pode dizer que no Batismo nos tomámos como a Imaculada Conceição.
De facto, nós fomos concebidos no pecado original. Maria, pelo contrário, nunca teve uma
conceção que não fosse imaculada.

65
. Diabo nos exorcismos
A Virgem Mana e o
. dmira e exalta [em Maria] o fruto mais e
ue a Igreja «a I 10 ) X-
mou q - (Sacrosanctum Conci ium 3.
celso da Redençao »

Exemplos extraídos dos exorcismos


. repetidamente, o demónio exprimiu outras
Eis como , . . .
desilusão relativamente ao pnv1légio que
vezes to da a Sua . _
. teve de ser a Imaculada Conce1çao.
Mana d _ . E
Um dia , enquanto eu dizia ao emon10 : « m nome da
nossa Mãe Imaculada, sai deste corpo!» , ele gritou: «É a pala-
vra que odeio mais!» E eu rebati: «Imaculada?» E ele: «Sim!»

Uma vez, durante a novena da Imaculada , começou a


gritar: «Manda-a embora, manda-a embora, manda-a embora!
Nestes dias, todos a nomeiam, todos a invocam, todos dizem
o seu nome. Luz de mais, luz de mais, luz de mais!»

Outra vez exclamou: «A Imaculada é o meu contrário. »

Noutro exorcismo, enquanto repetíamos algumas vezes a


oração: «Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que
recorremos a vós», o demónio disse: «Para com isso! Esta ja-
culatória é [demasiado] poderosa contra mim!»

§ 5 - A virgindade perpétua de Maria

Catequese

Como ª Igreja sempre acreditou e professou Nossa Se-


nhora
. foi virge mantes d o nascimento
. '
de Jesus, permanece u
~rgem no momento em que o deu à luz e conservou a sua vir-
gindade
. durante O resto da sua vida. Maria não concebeu co rn
intervenção hu n-
ce - d mana, mas por obra do Espírito Santo. A co
çao e Crist0 , no seio da Mãe , foi um evento miraculoso,
66
A ,ninha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

obrenatural, uma obra divina que ultrapassa toda a com-


5 reensão e possibilidade humanas .
p Numa catequese durante a audiência gera], o papa João
Paulo II disse: «A Igreja sempre considerou a virgindade de
Maria uma verdade de fé, recolhendo e aprofundando o teste-
munho dos Evangelhos de Lucas, de Mateus e, provavel-
mente, também de João. No episódio da Anunciação, o evan-
gelista Lucas chama "virgem" a Maria, referindo não só a sua
intenção de perseverar na virgindade, mas também o desígnio
divino que concilia esse propósito com a sua maternidade
prodigiosa ... A estrutura do texto lucano (cf. Lc 1,26-38;
2,19.51) resiste a todas as interpretações redutoras. A sua coe-
rência não permite que se defendam validamente mutilações
dos termos ou das expressões que afirmam a conceção virginal
operada pelo Espírito Santo. O evangelista Mateus, ao referir o
anúncio do anjo aJosé, afirma com Lucas a conceção operada
pelo Espírito Santo (Mt 1,20), com exclusão de relações con-
jugais. Além disso, a geração virginal de Jesus é comunicada a
José num segundo momento : para ele , não se trata de um
convite a que se deve dar um assentimento prévio à conceção
do Filho de Maria, fruto da intervenção sobrenatural do Espírito
Santo e unicamente da cooperação da mãe. Ele só é chamado
para aceitar livremente o seu papel de esposo da Virgem e a
missão paterna relativamente ao menino. Mateus apresenta a
origem virginal de Jesus como cumprimento da profecia de
Isaías: "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e
hão de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco"
(Mt 1,23; cf. Is 7,14). Desse modo, Mateus leva-nos a concluir
que a conceção virginal foi objeto de reflexão na primeira
comunidade cristã, que compreendeu a sua conformidade
com o desígnio divino de salvação e o nexo com a identidade
de Jesus, "Deus connosco"» 50 .

,o Audifncia geral, 11 de julho de 1996.

67
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Assim como foi miraculosa a conceção, assim também 0


parto de Maria Santíssima. Ela, por intervenção sobrenatural,
deu à luz o Filho de Deus, permanecendo virgem. Segundo
Santo Ambrósio, a Sagrada Escritura revela que não só uma
virgem devia conceber, mas também que uma virgem devia dar
à luz. «O papa Hormisdas precisa que o Filho de Deus se
tornou Filho do homem, nascido no tempo à maneira de um
homem, abrindo ao nascimento o seio da mãe [cf. Lc 2,23] e,
pelo poder de Deus, não quebrando a virgindade da mãe (DS
368). A doutrina é confirmada pelo Concílio Vaticano II, no
qual se afirma que o Filho primogénito de Maria "não dimi-
nuiu, antes consagrou, a sua integridade virginal" (LG 57)» 51 •
Para muitos Padres da Igreja, como a conceção foi divina,
também o parto foi sem dores. Eles afirmam que, não tendo
experimentado o prazer sensual na conceção de Jesus, Nossa
Senhora também não teria sofrido as dores do trabalho de
parto. Entre os Padres que ensinaram explicitamente o «parto
indolor» da Virgem recordemos: Santo Efrém o Sírio, São
Zenão de Verona, São Máximo de Turim, Santo Agostinho,
São Proclo de Constantinopla, Antípatro de Bostra, Procópio
de Gaza, Venâncio Fortunato, São Germano de Constanti-
nopla, Santo André de Creta, São Gregório de Nissa, São João
Damasceno. Não se trata de alguns escritores cristãos antigos
mas das autoridades máximas da mariologia patrística do
Oriente e do Ocidente.
São Gregório de Nissa, ao fazer uma analogia entre Eva e
Maria, diz que Eva, que introduziu o pecado no mundo , foi
condenada a dar à luz com dores e incómodos~ portanto, seria
conveniente que a Mãe da Vida, Maria Santíssima, concebesse
com alegria e com alegria desse à luz: «A sua conceção não
aconteceu mediante o comércio carnal .. .0 seu nascimento não

1
' Auditncia geral, 29 de agosto de 1996.

68
. ha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...
A rnm

conheceu a dor; o seu tálamo foi o p~de~ do Altíssimo, [poder] que


cobn·u quase como uma nuvem_ . a propna viroindade·
o· , cham a nup-
cial era o esplendor do Espinto Santo .. .» 52_ Assim também Santo
Efrém , nos Hinos sobre a Bem-aventurada Virgem , diz que
Maria deu à luz permanecendo virgem e sem sofrimentos.
Para São João Damasceno não só a conceção, mas também 0
nascimento foi indolor: «Porque assim como o prazer não apre-
cedeu, assim também a dor não a seguiu» 53.
Entre os mariólogos modernos, bastará citar o célebre René
Laurentin que, já em 1968 escrevia: «Quanto ao parto indolor,
que a Tradição afirma sem contestação desde o séc. IV, é bas-
tante paradoxal que se tenha começado a contestá-lo precisa-
mente quando o progresso científico instaurava o "parto sem
dor" para todas as mulheres. É mirabolante que certos teólogos
e pregadores tenham começado a celebrar os sofrimentos "cru-
cificantes" de Maria no nascimento do Salvador no momento
em que as clínicas obstétricas se aplicam a denunciar as dores
do parto como um mito alienante e desumanizante» 54 .
Maria permaneceu virgem também durante todo o resto da
sua vida. Consagrou-se totalmente à missão redentora de
Cristo. Nunca alterou a sua vontade de permanecer virgem,
manifestada no momento da Anunciação (Lc 1,34) 55 • Além

' SAo GREGÓRIO DE NISSA, ln Cantica canticorum, Sermo 13, in PG 44,1053. Veja-
2

-se também IDEM, ln Christi resurrectionem, Oratio I, in PG 46,604.


B São João Damasceno, De fide orthodoxa, livro 4, cap. 14, in EM 1920. Isto cer-

tamente não significa que a dor do parto deva considerar-se como uma consequência
do prazer ligado ao uso correto da sexualidade.
~ R. lAURENTIN, La Vergine Maria, Roma, Edizioni Paoline, 1984, p. 301.
'' «Portanto, deve considerar-se que Maria foi guiada para o ideal da virgindade
por uma inspiração especial daquele mesmo Espírito Santo que, ao longo da história
da Igreja, conduzirá muitas mulheres pelo caminho da consagração virginal. A presença
singular da graça na vida de Maria leva-nos a concluir que houve um empenhamento
da jovem na virgindade. Cumulada de dons excecionais do Senhor no início da sua
existência, ela é orientada para uma dedicação de toda a sua pessoa - alma e corpo - ª
Deus na oferta virginal» QoAo PAULO 11, Audiência geral, 25 de julho de 1996).

69
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

disso o sentido imediato das palavras: «Mulher ei·s


, . - , o teu
filho ... eis a tua mae» Qo 19 ,26), que Jesus, pregado na cru
dirigiu a Maria e ao discípulo predileto, indica claram z,
. ente
uma situação que exclui a presença de outros filhos nascido
de Maria. O termo «primogénito», dado a Jesus no Evangelh:
(Lc 2,7), não indica que Maria tenha gerado outros filhos
depois de Jesus, mas «significa literalmente "criança não pre-
cedida de outra" e, de per si, prescinde da existência de outros
filhos» 56 .

Exemplos extraídos dos exorcismos


Relativamente à conceção virginal de Cristo, precisamente
no dia da celebração da solenidade da Anunciação, o demó-
nio, enquanto era exorcizado, exclamava furiosamente: «Pou-
sou sobre ela ... precisamente uma sombra e não como um
modo de dizer, uma verdadeira sombra, uma sombra que o
homem não pode ver, não para realizar um ato sexual, não,
mas para cumprir a transposição do Filho para o seu ventre.
Depois do seu sim, aconteceu realmente que a "sombra" do
Altíssimo pousou. Foi assim que entrou no seu ventre o Filho
do Deus vivo» 57 •
· · -se
Faltavam poucos dias para o Natal de 2006 e d1scuna
muito - ainda na onda de um filme projetado nas salas de
cinema naquela altura 58 - sobre a atitude de alguns teólogos
que, em aberta dissonância com o ensino consolidado e u~a-
. . . . d d de Mana.
nimemente acene pela Igreja, negavam a virg1n a e . h ,.,.,
. . - d r·
O utros, embora seJa uma questão ainda nao e 1n 1 ' .da nn a11•
. t o parto.
a firmado que Nossa Senhora teria sofrido duran e r-
p · ezar O te
recisamente nessa época, enquanto estávamos a r

~ Audiência geral, 29 de agosto de 1996. •rito san·


~7 e . . . . . «O Espl 3' )
orno nos mforma Lucas no Evangelho , o anJO disse a Mana. (LC 1, ,
to <lese á b ·
er so re tl e o poder do Altissimo cobrir-te-á com a sua sombra» osA 2006)-
ON ·
'.,jj . N · ·ty Sto,Y,
aseimento de Cnsto (o titulo original do filme é The auvi

70
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos...

ceiro mistério gozoso em que se contempla o Nascimento de


Nosso Senhor, repentinamente o demónio exclamou: «Quan-
do Aquele nasceu daquela, houve uma luz como quando res-
suscitou. A mesma maldita luz, tão forte, tão forte que não
posso vê-la, não posso vê-la ... passou pelo seio daquela, como
passou pelo ventre do sepulcro, quando ressuscitou.»

E, alguns dias depois , durante a Oitava do Natal: «Para


maravilha de toda a criação, numa luz que iluminou e encan-
deou toda aquela gruta, nasceu um Menino que não lesou
nada do corpo santo da Mãe. Foi um parto único no mundo e
nunca mais haverá outro. E aquela Mãe, com olhar espantado
e lágrimas de alegria, acolheu-o com amor indescritível.»
E poucos dias antes do Natal de 2007: «Não imaginais o
espanto naqueles olhos com aquelas lágrimas que desciam,
porque não compreendia como era possível que tivesse aquele
Menino nos braços . Como havia acontecido? Que espanto!. ..
Que espanto! ... Que amor! (e, aqui, o Maligno chora de dor pelo
mal que a recordação da vinda de Deus à terra lhe causava) .. . E
cobria-o, cobria-o porque tinha frio, beijava-o!» Depois, para
nossa grande surpresa, acrescentou esta extraordinária decla-
ração sobre o amor que Deus nos tem ao fazer-se homem e
acabando por sofrer e morrer por nós: «Bastaria que com-
preendêsseis que o amor moveu tudo , bastaria que compreen-
dêsseis, para eu ser destruído! Bastaria que cada homem, cada
homem compreendesse um por cento do amor que moveu
Aquele a vir à terra, e eu estaria destruído porque é tão gran-
de , tão grande que nem sequer o imaginais! E eu sofro por
isso, porque Ele vos ama! O que poderia senão isto? O quê?
Se o compreendêsseis, eu estaria "morto", "morto" e "só", "só",
"só"! 59 Mas vós, .. . ahhh! (exclamação de satisfação) ninguém

59
_ _~Mon o» no sentido d e que a sua atividade no meio dos homens permaneceria
ineficaz; ~só» porque seria rejeitado pelos homens.

71
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

crê em nós , ninguém, e eu rejubilo, ahhh ahhhh ahhhhh!. ..


Veio avisar-vos, abrir-vos os olhos, dizer-vos: "Olhai que estou
aqui, estou aqui , amo-vos!" .. .e vós ~ad~ (e ri-se)! Mas nunca
vos interrogastes O que, durante dois mil anos, esta bastarda
de Igreja, como vós lhe chamais, fez para avançar? O que
fazeis, 0 que fazeis, nunca vos interrogastes? Pensais que sois
bruxos? Mas (palavrão) porque (palavrão) não acreditais?!
6()

Como estou contente, como estou contente: sois tão estúpi-


dos, estúpidos!»

§ 6 - A maternidade de Maria relativamente a nós

Catequese
A partir do momento da Encarnação, Maria tornou-se Mãe
de cada homem, quando no seu seio virginal o Verbo de Deus,
o Filho do Pai Eterno, por obra do Espírito Santo, tomou a
nossa natureza humana. Naquele momento, o Filho de Deus
«uniu, de algum modo, cada homem a si» 61 e, porque isto
acontece em Maria, ela torna-se, por meio do Filho Jesus
Cristo, também Mãe de toda a humanidade e de cada homem,
chamado por Deus a chegar a Ele em Cristo 62 • Ao encarnar, o
Filho de Deus torna-se também filho de Maria. Aqueles que
acolhem Cristo e aderem a Ele começam a fazer parte da

60
A palavra italiana, usada no texto, é «iettatori» , termo usado pelo demónio para
definir os sacerdotes. Em português significa mais exatamente «aquele que lança
mau-olhado» [nt] .
61
Com a Encarnação, o Filho de Deus uniu-se de algum modo a todos os ho-
mens (cf. Gaudium et spes 22).
62
Desde o momento da Encarnação , o Filho , o Verbo , também existe como
homem: _Jes~s Cristo é o homem perfeito, pelo que quando Deus pensa no ho~em
pensa pnmeiro em Jesus Cristo e em todos os homens nele. Por isso, temos uma liga-
ção «orgãni~a» com Jesus Cristo. Contudo , só fazem parte (verdadeiramente] do seu
Corpo Mi suco aqueles que o acolhem e aderem a Ele. Os cristãos que vivem em pe-
cado continuam a fazer pane do seu Corpo Mistico , mas como membro mortos.

72
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

Igreja, de que Crist~ é a Cabeça ~ eles os membros, que for-


mam com Ele um so Corpo. Por 1sso, a Igreja também é cha-
mada «Corpo Místico de Cristo» 63 . Por ser Mãe de Cristo
Maria é também «Mãe da Igreja» 64 • '

Por isso, a maternidade de Maria em relação a cada um de


nós é, de algum modo, a extensão da Encarnação do Filho.
Nele, Cabeça da Igreja, foi incorporado cada um de nós; por
isso, Maria, ao gerar o corpo físico do Filho, começou também
a gerar o seu [do Filho] Corpo Místico. Agora, a própria vida
divina, que está no Filho, também está necessariamente no
seu Corpo Místico de que somos membros . Consequente-
mente, ao gerar o filho, Maria gerou nele também cada um de
nós: «Por isso, todos nós que estamos unidos a Cristo e que,
como diz o Apóstolo, "somos membros do seu Corpo, da sua
carne, dos seus ossos", saímos do seio de Maria como um
corpo unido à cabeça» 65 . Ao pregar sobre o Natal, São Leão

63
O Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, é constituído por Jesus+nós. Isto é,
a nossa união vital com Jesus, de modo a formar, como nos ensina São Paulo, um só
Corpo do qual jesus é a Cabeça e nós, os membros. Por isso, compreende-se que, na
vida sobrenatural, seja essencial que cada um de nós permaneça unido ao seu princí-
pio, Jesus, e que adira cada vez mais intimamente a Ele. A grandeza incomparável de
Maria está no facto de que Ela, mesmo sendo um membro da Igreja - o primeiro e o
mais excelso, dado que é a Mãe de Cristo-, é também a única entre todas as criatu-
ras humanas a ser, ao mesmo tempo, Mãe da Igreja, precisamente porque Mãe de
Cristo. Desde o primeiro instante da Encarnação, no seio de Maria, Ele uniu a si, que
é~ Cabeça, o seu Corpo Místico, que é a Igreja. Por vontade divina, a maternidade da
Virgem estende-se ao Cristo total, Cabeça e Corpo Místico. •
64
. «Os fiéis e a Igreja costumam dirigir-se a Maria pelo nome de Mãe, de pr:feren-
c'.a ª todos os outros. Na verdade , ele pertence à substância genuína da devoçao ma-
riana, encontrando a sua justificação na própria dignidade da Mãe do Ver~o
Encarnado. De facto como a divina maternidade é o fundamento da relação especial
com Cristo e da sua 'presença na economia da salvação operada por enS · to J_esus, de
modo que ela também constitui o fundamento principal das relações de Man~ co_m .ª
lgreJ·a' sendo Mãe daquele que desde o pnme1ro
. . instante
. da Enca rnnrão
""' ' no seu seio v1rg1-
nal · ' · M ·a como Mãe
'uniu a si, como Cabeça o seu Corpo Místico que é a Igreja. Por isso, an '
de Cristo, também é Mãe 'dos fiéis e de todos os Pastores, iSto é, da Igrej~» (PAU~O '1;
Proclamação de Maria, Mãe da Igreja, Discurso de encerramento da terceira sessao
Concilio vattcano
· II , 21 de novembro de 1964).
6~ p
IO X, Ad diem illum.

73
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

Magno escrevia: «A festa de . d


hoje renova, para nós 0
. . , s sagr
dos inícios de Jesus, nascido a Virgem Mana. E en a-
- • d ' 9Uant0
celebramos em adoraçao o nascimento o nosso Salv
• - • . ador
estamos a celebrar o nosso 1n1c10: o nascimento de C . ,
. , . · - 66 nsto
marca O 1n1c10 do povo cnstao » . 5 o mos verdade iram
- · geraç~o
filhos de Maria na un1ca - d o F1'lho. D ente
. o mesmo tnodo
que somos filhos de Deus, no Filho J~sus Cnsto (cf. Rm 8,28_
-30; Ef 1,4-5; Cl 1,16; Jo 1,2-3), assim também somos filhos
de Maria, no seu Filho Jesus. Por isso, no acontecimento da
maternidade divina de Maria, Deus torna-se Pai dos homens e
os homens tornam-se seus filhos.
Embora exista uma inegável distinção entre a geração física
do Filho e a nossa, também existe ao mesmo tempo uma
identidade de geração na comunicação da vida. Para Jesus
Cristo - que trazia em si a própria vida divina do Pai, do Filho
e do Espírito Santo - houve uma geração física; mas a mesma
vida divina (a que também chamamos «graça santificante) é
comunicada a quem aderir pessoal e livremente a Jesus Cristo.
Por isso, só há uma única geração que a penas se distingue
pelo momento em que se inicia para cada um de nós. Essa ge-
ração realiza-se em cada homem no momento em que começa
a comunhão de vida (divina) com Cristo. É por isso que, com
o Beato Guerric, abade d'Igny, cada cristão pode dizer com su~
prema alegria: «Maria gerou um único Filho, único para O ~ai
no Céu, único para a Mãe na terra. A mesma e única Mãe Vi~-
gem que tem a glória de ter gerado o único Filho do Pai,
abraça O mesmo seu único Filho em todos os seus mernbr~s
. -
(1st0 Mae
e, cada um de nós [nda]) e não desdenha chamar-se
de todos aqueles em quem reconhece o seu Cristo já forrnaddo
b de e
ou que se formará» 67 • E o Bem-aventurado Aelred, ª ª

66 D . 3 5· PL 54,
213-216os Discursos de São Leão Magno, Papa. Disc. 6 para o Natal 2- , ,
67 o·
· · · PL 185'
1scursos o· • Mana.
187_1 ' iscurso I na Assunção da Bem-aventurada Virgem
89

74
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

Rievaulx, descreve assim esta admirável maternidade: «Maria


é verdadeiramente nossa mãe. De facto, por Ela nascemos não
para O mundo, mas para Deus ... .Nascemos muito melhor do
que por meio de Eva, pelo facto de Cristo ter nascido dela .
...Ela é nossa mãe, mãe da nossa vida, mãe da nossa incorrup-
ção, mãe da nossa luz ... por isso, é para nós mais mãe que a
nossa mãe segundo a carne» 68 .
João Paulo II, numa homilia em Éfeso, descreveu muito
claramente essa maravilhosa verdade com estas palavras:
«Desde o momento do fiat - observa Santo Anselmo-, Maria
começou a levar-nos todos no seu seio; por isso, o Natal da
Cabeça também é o Natal do Corpo, sentencia São Leão
Magno. Por seu lado, Santo Efrém tem uma expressão muito
bela a propósito: Maria é a terra na qual foi semeada a Igreja.
Com efeito, no momento em que a Virgem se torna Mãe do
Verbo encarnado, a Igreja constitui-se de modo secreto, mas
germinalmente perfeito, na sua essência de Corpo Místico: de
facto, estão presentes o Redentor e a primeira dos redimidos.
Doravante, a incorporação em Cristo implicará uma relação
filial não só com o Pai Celeste, mas também com Maria, a mãe
terrena do Filho de Deus» 69 .
Portanto, o fundamento do nosso autêntico culto a Maria é
este: o Filho de Deus, no momento em que se fez homem, fez-se
também Filho de Maria e, tendo-nos incorporado a Ele, também
nós nos tornamos nele filhos de Deus e filhos de Maria. «Se São
Paulo conheceu com tanta clareza este mistério da união de
Cristo com os seus membros, com que claridade devia res-
plandecer aos olhos de Maria, chamada a ocupar um lugar tão
decisivo. Ela via, e numa luz incomparavelmente mais per-
feita , que o seu Filho haveria de ser a cabeça de um corpo
imenso e que o mistério da Encarnação não se teria realizado

----
: Dos Discursos, Disc. 20, sobre a Natividade de Maria; PL 195 ,322 -324 ·
JoAo PAULO 11, Homilia em Éfeso, 30 de novembro de 1979·

75
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

num instante no seu seio , mas ter-se-ia efetuado até ao firn


dos tempos com a formação dos membros de Cristo. Ela corn-
preendia que, ao ser chamada a ser Mãe do Verbo encarnado
devia concebê-lo na sua totalidade, como , depois, haveria d~
dizer Santo Agostinho, na cabeça e nos membros, e que a sua
maternidade só conseguiria alcançar a perfeição na geração do
Cristo completo. Era para este mistério que o arcanjo Gabriel
pedia o consenso em nome de Deus, e Maria deu o seu assen-
timento a todo este mistério . Ao mesmo tempo que aceitou
ser a Mãe de Jesus, ela aceitou ser a Mãe dos membros de
Jesus: a partir deste dia, ela foi nossa Mãe» 70 .
Esta maravilhosa realidade da maternidade de Maria, rela-
tivamente a nós, foi-nos revelada por Cristo na cruz, pouco
antes de morrer, quando nos convidou, com as palavras «Eis a
tua mãe», a acolher Maria na nossa vida como verdadeira mãe
e, portanto, a comportarmo-nos como seus filhos . Não filhos
adotivos, mas filhos verdadeiramente gerados por ela, nele.
Enquanto se realizava a nossa Redenção, quando Jesus disse:
«Mulher, eis o teu filho», revelou e proclamou a todos que, a
partir daquele momento da Encarnação, Maria se tornara
«mãe» de cada um de nós. E quando, pouco depois, Jesus, di-
rigindo-se a João - que representava todos e cada homem-,
disse «Eis a tua mãe», revelou-nos aquilo em que nos tínha-
mos tornado, já a partir do momento da sua Encarnação:
filhos desta Mãe. Cristo escolheu revelar-no-lo de maneira ex-
plícita na hora da maior dor, sua e da Mãe, a fim de que com-
preendêssemos como é grande o seu amor por cada um de
nós e quanto lhes custámos. Se, para Maria, o parto do Filho
em Belém não foi doloroso, no Calvário, o seu amoroso con-
sentimento na imolação daquele Filho foi para ela como um
parto dolorosíssimo , que o «gerava» no seu estado de vítil1lª·

10 M. V• BERNARDOT OP, Mana


. nella mia vita, Roma, Edizioni Paoline, 1954, PP· 19-20-

76
. ha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos...
A mtn

Ao mesmo tempo, naquelas dores, Maria também gerou cada


um de nós, membros do Corpo Místico do Filho 1 1 _

A partir de quanto se disse até aqui, compreendemos bem


que Maria não é nossa Mãe em sentido metafórico nem jurí-
dico nem moral. Antes de tudo, Maria é nossa Mãe porque
nos gerou, comunicando-nos diretamente a vida divina e não
só porque recebeu uma tarefa materna em relação a nós.
Maria é minha Mãe, não porque «faz de minha mãe», mas
porque é verdadeiramente min~a Mãe! Uma mulher é deveras
mãe de um filho quando o concebeu, o trouxe durante nove
meses no seu seio e, depois, o deu à luz. As tarefas maternas -
0 aleitamento, a alimentação e a educação do filho - só come-
çam depois do parto; mas também podem ser omitidas ou
supridas por desleixo ou impossibilidade da mãe; mas a
mulher que supre nunca será a verdadeira mãe daquele filho,
porque não foi ela quem o gerou. Só será mãe em sentido me-
tafórico, porque desempenha as funções da verdadeira, ou em
sentido jurídico, porque o adotou, ou em sentido moral, por-
que se ocupa da sua educação. É verdadeira mãe quem gera o
filho. Maria é nossa verdadeira Mãe porque nos gerou com
Cristo e em Cristo. Somos verdadeiramente seus filhos!
Fomos gerados por ela e esta geração realiza-se no plano so-
brenatural: por isso, diz-se «maternidade espiritual» ou tam-
bém «maternidade na ordem da graça» . E sendo nós seus
filhos e ela uma mãe perfeita, tem por nós o mesmo amor e os
mesmos cuidados que teve com o Filho Jesus Cristo. De facto,

11
Diz João Paulo II: «A expressão de Jesus: "Mulher, eis o teu filho" permite que
Maria intua a nova relação materna que haveria de prolongar e ampliar a precede~te.
Por isso, o seu "sim" a esse projeto constitui um assentimento ao sacrifício de ~nsto
que ela generosamente aceita aderindo à vontade divina. Embora, no desigmo de
Deus, a maternidade de Maria, se destinasse desde o início a estender-se ª toda ª hu-
~anidade, s6 no Calvário, por virtude do sacrifício de Cristo, ela se manifeSCa na sua
dimensão universal» (Audiência geral, 24 de abril de 1997).

77
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

uma mãe não estabelece diferenças entre a cabeça e os mem-


bros do filho nem tem preferências por algum deles. No cora-
ção de Maria há um amor indescritível, inimaginável , por
cada um de nós. E, como a tarefa de uma mãe não se esgota
em gerar O filho, mas continua ao alimentá-lo, educá-lo e pro-
72
tegê-lo, assim também ela faz com cada um d~ nós .
Maria desempenhará a sua missão até ao fim dos séculos,
com a sua intercessão e mediação materna, que é a prosse-
cução conatural da nossa geração por ela em Cristo. Na pró-
xima catequese examinarei amplamente de que modo ela rea-
liza essas tarefas maternas na nossa vida. Mas, primeiro,
vejamos alguns exemplos estupendos extraídos das vidas dos
santos e, depois, os que foram tirados dos exorcismos.
Santo Afonso Maria de Ligório escreve: «Se se unisse o
amor de todas as mães pelos seus filhos, de todos os esposos
pelas suas esposas e de todos os Santos e Anjos pelos seus
devotos, não se chegaria ao amor de Maria por uma única
alma. O padre Nierembergh diz que o amor de todas as mães
aos seus filhos é uma sombra comparado com o amor de
Maria a um só de nós; e acrescenta: "Ama-nos muito mais ela
sozinha do que todos os Anjos e Santos juntos"» 73 • E São Luís
Maria Grignion de Montfort : «Reuni, se puderdes, todo o

12
Santo Agostinho vê a realização desta tarefa materna no seio de Maria até que
ela «dar-nos-á à luz» para a vida eterna no Paraíso: «Todos os predestinados, para se
tornarem conformes com a imagem do Filho de Deus, neste mundo vivem encerra-
dos no seio de Maria, onde são guardados, alimentados e criados por esta boa mãe
até ;~e ela os gere para a glória» (PL 40,399; PL 40,659-660) . .
O texto é 0rad0 de Le glorie di Maria, Parte prima, 2.ª ed ., Editrice Ancilla,
1994 , p. 63 - O texto dos Padres Redentoristas é o seguinte: «Se se unisse o amor que
todas. as mães têm pelos flh 1 os, tod os os esposos pelas suas esposas e todos os santos

e ~TlJOS pelos seus devotos, não chegaria ao amor que Maria tem ~or uma só alma.
Diz o padre Nierembergh que o amor que todas as mães têm aos seus filhos é uma
sombra em compara"~º · nos
. "" com O amor que a um só de nós tem Maria: muito mais
ama ela sozmha acrescenta d 0 · ntoS*
(O .. ' ' que nos amam os anjos e os santos todos JU
5
pered_ ~nt~ali, Serie B, Trattati speciali: Gesu Cristo Maria SS e i Santi, vol. V, L.e
1 1
g one ana, c. I, III , Roma-Pagani, Edizione PP R~dentoristi·, 1954, PP· óO-ól).

78
•nha experiência mariana nos exorcismos e nos out
A rn 1 ros momentos ...

amor natural das mães do mundo inteiro aos seus filhos no


coração de u~a só_mãe por u~ filho único. É verdade que
esta mãe amara muno este seu filho . No entanto, deve dizer-se
com verdade que Maria ama ainda mais ternamente os seus
filhos que aquela mãe amaria o seu. Ama-os não só com sim-
ples afeto, mas também com eficácia. O seu amor por eles é
74
ativo e operoso» •
Santo Afonso Rodríguez, irmão leigo da Companhia de
Jesus, numa festa da Assunção, encontrando-se «aos pés de
uma imagem de Maria e, sentindo-se arder de amor à Santa
Virgem, exclamou repentinamente: "Minha Mãe amabilíssima,
sei que me amas, mas não me amas tanto quanto eu te amo."
Então, Maria, como que ofendida no seu amor, respondeu:
"Que dizes , Afonso, que dizes? Oh! Quanto maior é o amor
que nutro por ti comparado com o teu por mim! Sabes que a
distância que existe do meu amor ao teu é muito maior que a
que existe entre o céu e a terra"» 75 . Ao amor da mãe deve cor-
responder o amor do filho. Santo Anselmo de Aosta reza
assim: «Jesus, Filho de Deus, suplico-te: pelo amor infinito
que tens a tua Mãe, concede-me que eu a ame como Tu a
amas e queres que seja amada .» E São Maximiliano Maria
Kolbe escrevia: «Não temais amar demasiado a Imaculada
porque, por maior que for o vosso amor por Ela, nunca pode-
reis igualar o amor que Jesus lhe dedicou, em cuja imitação
está toda a nossa santidade.»

Exemplos extraídos dos exorcismos


Um dia, num período em que eu meditava muito sobre a
maternidade de Maria em relação a cada homem, enquanto eu

7
i Iirattato della vera devozione a Mana, · o pere, vo1· 1, Scritti espirituali,
. 202 , m
Roma, Edizioni Monfortane, 1990, p . 483. .
1
) Citação de Santo Afonso Maria de Ligório referida em italiano corrente, m Le

glorie di Maria, pp. 72 -73; no texto dos Padres Redentoristas, citado na nota 45 , é
trans ·
cnto nas pp. 75-76.

79
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

exorcizava o demónio, ele gritou com grande raiva: «A partir


da cruz, Aquele revelou a todos que ela é chamada a Rainha e
a Mãe. Arruinou-nos! Confia .. ., confiada, foi confiada, foi con-
fiada a humanidade. Para que cada homem saiba isto, Ele
revelou-o naquele momento (diz um palavrão)! Sucedeu
naquele momento: a humanidade renasceu, mas que sabe
disso a humanidade? Renasceu no seio daquela, toda, toda
(di-lo num tom mais forte), mas não o sabe!»

Outras vezes, o demónio exprimiu-se espontaneamente


sobre a maternidade de Maria relativamente a nós. Um dia
'
enquanto rezávamos a Nossa Senhora, ele exclamou: «Vós
pensais que está lá em cima, mas ela não está lá em cima; ela
está perto~ bastardos, bastardos, que fizestes para ela estar tão
perto, eh? E quando morrerdes, ela está lá, ela está lá (repete-
-o com raiva) e espera um pensamento vosso, uma palpitação
do vosso coração para o bem, uma chamada vossa Àquele (a
Jesus) e ela está lá, ela está lá e espera por vós com o coração
aberto de mãe! Tu sabes o que é uma mãe, eh? Uma mãe olha
ternamente para todos os filhos, ensina-lhes o bem, chama-os
ao bem e chora, chora se o seu filho, o filho, o filho não a
escuta porque sabe que eu, eu tomá-lo-ei, se não a escutar, eu
tomá-lo-ei!»

Outra vez, disse: «Com as suas mãos com as suas mãos


'
acaricia cada filho, ama cada filho, sobretudo os que fazem
mal~ sobretudo os que pecam e estão comigo, ela acaricia-os e
faz-me mal, mal. Acaricia-os a todos e chora e aquelas lágri-
mas, aquelas lágrimas luminosas, estupendas, descem pelo
seu rosto e Ele (Jesus), e Ele não lhe pode dizer, não lhe pode
dizer, não pode dizer que nãããooo! (aqui, lançou um urro tre-
mendo e prolongado). »

80
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros mamenos
t ...

uma vez, exprimiu assim o amor de Nossa Senhora por


nós: «As suas mãos, as suas mãos tão meigas, tão frescas , para
nós são incandescentes. As suas mãos, sempre que tocam
num de nós, destroem um de nós. Se tu soubesses O que me
custa dizer o que digo!»

Outra vez, com um tom desdenhoso, exprimiu-se assim:


«Ela vem logo que a chamas. Que mamã não faria outro tan-
to? Como uma mãe, quando o filhinho chama, corre.»

Outra vez disse: «Aquele manto faz-me mal, aquele manto


branco e azul. Sob aquele manto ... (expressão com que indica
que lá estamos protegidos) , aquele é a minha ruína. Basta dizer-
des Ave, aquela corre.»

Era no dia da memória litúrgica do nascimento de Nossa


Senhora (8 de setembro de 2008) e, precisamente referindo-se
a Nossa Senhora, o demónio exprimiu-se do modo seguinte:
«Preparou-se lá em cima, preparou-se lá em cima, estou (pala-
vrão). Mesmo quando eu estava, ela estava a preparar-se.
Preparava-se, preparava-se, preparava-se, a Belíssima, a Lim-
pa, a Clara como uma orvalhada, a Esplêndida , Esplêndida
como a luz que passa através da água. Ela é Santa pela Con-
ceição imaculada. Porque me faz maldito? Tu não sabes o que
me espera! (aqui, o Maligno talvez exprimisse a sua desilusão e o
seu aborrecimento pelas reações dos outros demónios por causa
destes seus involuntários louvores à Virgem Santa). Ela é cheia de
luz, cega-me, cega-me. Maldita! Quando nasceu o mundo fe-
chou-se num instante. Toda a criação parou a olhar para ela,
toda a criação, toda: as estrelas, o ar, o fogo, a água, a terra,
toda a criação parou, ninguém se apercebeu a não ser eu; eu
sabia-o, eu sabia quem era e não pude fazer nada, não pude
tocar nela. Ela era pura, pura. Basta, basta, não me faças recor-
81
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

dar! Ela é como o bálsamo, suaviza as feridas, as mais profun-


das. Se ao menos soubésseis quanto Ela vos ama, viveríeis a
vossa vida, jubilosos, sem medos, sem pecado, porque pelo
seu amor vós compreenderíeis quanto mal o pecado faz ao
Filho.»
Neste ponto, o Maligno teve uma reação de rebelião
porque não queria continuar e disse alguns palavrões à'
Virgem Maria e a Jesus; depois continuou, dizendo: «Tu és seu
filho , tu és seu filho . Sabes o que é que isto quer dizer? Heim?
Sabes o que é que isto quer dizer? Que lhe foste confiado. E
sabes por quem? Heim? (palavrão)! Tu e todos os outros?!
Foste confiado por Aquele (palavrão) na Cruz (palavrão)! E,
então, ela tornou-se uma Mãe e quando és mãe!. ..»
Parou aqui, mas as últimas palavras «e quando és mãe!»
foram ditas num tom que nos faz compreender claramente o
significado da expressão , ajudados também por tudo o que
tinha dito antes: Nossa Senhora, que é a Mãe por excelência,
toma muito a sério a sua tarefa de Mãe relativamente a cada
homem, que se conseguíssemos compreender o que ela é para
nós por esta maternidade, e o que ela faz por nós, transborda-
ríamos de alegria e de gratidão filial.

§7 - A intercessão-mediação de Maria

Catequese

Maria Mãe da graça, Mãe da vida

Ao dar-nos o Filho e unir-nos a Ele Maria comunica-nos


'
cada graça do Filho. Como já vimos na catequese anterior,
Maria, depois de nos ter gerado realmente na única geraç~o
do Filho Jesus Cristo, não nos abandona, mas ocupa-se de nos
como faz toda a verdadeira mãe. Portanto, depois de nos ter

82
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros mom en t os ...

gerado, Maria contribu~ para o desenvolvimento da vida para


que fomos gerados: a vida da graça. «Por este motivo, Maria é
chamada Mãe da graça, Mãe da vida» 76 • Evidentemente, Maria
não produz a graça, não é fonte da graça. Contudo, como é
Mãe de Cristo, autor e fonte de cada graça, a graça de Cristo é-
-nos comunicada através dela, podendo, por isso, chamar-se
de pleno direito Mãe da graça. É no Pai, por meio de Cristo no
Espírito Santo, que tem origem a graça santificante, isto é, a
vida divina que chega até nós, mas esta passa através de
Maria. De facto , como Maria é a única entre todas as criaturas
da terra na qual se realizou o mistério da Encarnação, a graça
santificante continua a ser-nos comunicada pelo Pai por meio
da natureza humana de Jesus Cristo no Espírito Santo, mas é
participada antes em Maria, que no-la comunica. Com a coo-
peração do Espírito Santo, ela transmite-nos, juntamente com
a natureza humana de Cristo - e na sua dependência-, a gra-
ça santificante que ela possui em plenitude. É por vontade de
Deus que nós recebemos não só a graça santificante, mas tam-
bém as graças atuais e todos os outros dons, por meio dela.
Por isso, precisamos de pedir a intercessão de Maria, de
nos confiarmos a ela e de nos abrirmos à sua ação materna,
para que a graça de Deus possa ser abundantemente derrama-
da em nós. Embora não tenha a sua fonte em Maria, a graça
tem uma característica mariana, uma «marca» mariana con-
génita, uma espécie de fragrância virginal, um indelével per-
fume maternal, um reflexo mariano luminoso e profundo, de
que deriva aquele sentir instintivo dos fiéis, que sentem a
necessidade de voltar-se para a Virgem Maria, além de o fazer
para o Pai, para Nosso Senhor Jesus Cristo e para o Espírito
Santo.

16
]OÃO PAULO II , Audiência geral, 26 de outubro de 1995 .

83
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Maria está intimamente associada


ao mistério vital do Cristianismo
A nossa incorporação em Cristo só pode acontecer pela
ação do Espírito Santo, agente principal de toda a santificação;
mas, em Maria e por meio dela, Jesus Cristo faz-nos membros
do seu Corpo . Ele veio até nós através da cooperação de
Maria. Encarnando, Ele, Filho do Pai, fez-se também filho de
Maria; por isso, não pode haver em nós uma união à natureza
humana do Filho senão através dela. Ao declarar «Maria, Mãe
da Igreja», no encerramento [da terceira sessão] do Concílio
Vaticano 11, Paulo VI disse: «A nossa união a Cristo não pode
ser separada daquela que é a Mãe do Verbo Encarnado e que o
próprio Cristo associou intimamente a si para alcançar a nossa
salvação» 77 . E não há continuação e crescimento nesta união
senão através dela. Assim como o início da Redenção é simul-
taneamente obra do Espírito Santo e de Maria, assim também
todo o desenvolvimento da Redenção é obra sua conjunta-
mente. Cristo nasce e cresce em todos os batizados por obra
conjunta do Espírito Santo e de Maria. Juntos formaram o
corpo físico de Cristo e juntos fazem evoluir o seu Corpo Mís-
tico, conduzindo-o à consecução da plenitude da sua idade
adulta (cf. Ef 4,13) até ao fim dos tempos 78 • É este o sentido
das palavras pronunciadas por Paulo VI: «Se quisermos ser
cristãos, devemos ser marianos» 79 •
À luz de tudo o que vimos até agora, compreende-se o
porquê de a devoção a Maria - diferentemente da devoção aos

77
PAULO VI, Proclamação de Maria Mãe da Igreja, Discurso de encerramento da
terceira sessão do Concilio Vaticano II , 21 de novembro de 1964.
78
• Quando se fala de «obra conjunta de Maria e do Espírito Santo» não se excl~~
eV1dentemente, a ação do Pai e da natureza humana do Filho Jesus Cristo, que sa
sempre simultâneas, mas pretende-se sublinhar a ação principal do Espírito Santo na
santificação das almas.
79
Da Homilia no santuário de Nossa Senhora de Bonária» em Cagliari (Itália), a
24 de abril de 1970. '

84
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos O t
u ros momentos ...

outros santos - ser não só importantíssima , mas também


necessária, se quisermos beber com abundância na fonte da
vida. De facto, embora tenha permanecido virgem, a Senhora
deu a Cristo a natureza humana tornando-se deste modo ver-
dadeira Mãe do Filho de Deus feito homem, Jesus Cristo. Por
conseguinte, Ela está intimamente associada ao mistério vital
do Cristianismo. O Filho de Deus fez-se homem ao fazer-se
filho de Maria. Portanto, se quisermos tornar-nos como Ele ,
dever~mos ter em nós esta dupla qualidade: ser como Ele
filhos de Deus e filhos de Maria. A piedade de uma alma não
seria verdadeiramente cristã se não compreendesse na sua
intenção Maria, Mãe do Verbo encarnado.

Para potenciar a intercessão de Maria


na nossa vida: a consagração
Assim como Maria disse o seu «sim» aceitando-nos por
filhos, assim também nós devemos dizer o nosso «sim» , acei-
tando-a sem condições, como Mãe. Na verdade, tal como
formou Cristo na Encarnação, ela quer formá-lo também em
nós, o que só é possível na medida em que lho permitirmos,
abrindo-nos cada vez mais à sua ação materna. Os Padres do
Concílio Vaticano II recordam aos fiéis que Maria «não im-
pede minimamente a união imediata dos crentes a Cristo, mas
facilita-a»ªº. Esta atitude de abertura à ação materna de Maria
tem a sua expressão máxima na consagração ao seu Coração
Imaculado, que - como ilustrarei, se Deus quiser, mais profu-
samente no meu próximo volume - consiste no dom tota_l _de
si a Maria, para que pela ação conjunta e principal do Espinto
Santo, ela possa conformar-nos cada vez mais plenamente ª
Cristo. A partir da Encarnação, o Espírito Santo, através da es-

Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium 53 ·


80

85
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

treitíssima união que realizou com Maria - como longa e por-


menorizadamente explica São Maximiliano Kolbe -, não
opera a nossa santificação a não ser por meio de Maria: «O Es-
pírito Santo age unicamente através da Imaculada sua Esposa.
Por isso, podemos concluir que ela é mediadora de todas as
graças do Espírito Santo. E, como cada graça é dom de Deus
Pai através do Filho e do Espírito Santo, segue-se que não há
graça que não seja propriedade da Imaculada, que lhe foi
dada para que a distribua livremente» 81 .
Por isso, compreende-se que quanto mais perfeito for o
dom de nós mesmos a Maria, mais rápida, eficaz e profunda
será a ação do Espírito Santo em nós, que assim poderá unir-
-nos cada vez mais intimamente à natureza humana de Jesus
Cristo; e Ele à sua natureza divina e, por meio dela, ao Pai,
operando assim a nossa progressiva «divinização», que che-
gará ao seu pleno cumprimento no momento em que entrar-
mos no Paraíso. A autêntica devoção a Nossa Senhora, assim
entendida, não é nem mero sentimentalismo nem infanti-
lismo. Com efeito, embora se nos exija em relação a Maria a
mesma atitude de dependência e de abandono cheio de con-
fiança e de amor da criança em relação a sua mãe, ela [a devo-
ção a Maria, nt] não bloqueia o nosso crescimento espiritual,
antes o favorece. Ao cooperar com a nossa união com Cristo,
Maria continua a sua obra materna para connosco, acompa-
nhando-nos no crescimento e amadurecimento da vida divina
em nós, até que Cristo esteja plenamente formado em nós.
Por isso, a Senhora não nos faz «estar parados» , mas conduz-
-nos, passo a passo, a um cristianismo adulto e responsavel-
mente empenhado. De facto , ao pedir a nossa cooperação, ela
mobiliza-nos para todo o percurso da nossa vida terrena.

. e1 Lett~~ª.ª Fratel Salesio (de 28/07/1935) , in Scritti, II, Roma, ENMI (Editrice Na-
z1onale Milma lmmacolata), 1997, p. 378.

86
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos...

Que papel têm os santos nesta proeminência de Maria,


acerca de cada dom de Deus que nos é dado?
Em relação a Maria, os santos dão-nos uma ajuda «exter-
na» , isto é, podem obter-nos aquelas graças particulares que
só Maria pode conseguir-nos de Cristo. Escreve Santo Afonso
Maria de Ligório no seu famoso livro As Glórias de Maria:
«Deus, para honrar a sua Mãe, tendo-a constituído Rainha dos
santos e querendo que todas as graças sejam distribuídas pelas
suas mãos, também quer que os santos recorram a ela para
obter as graças para os seus devotos» 82 .
Os santos residem na glória; por isso, a sua caridade em
relação a nós não enfraquece , mas aumenta; e, como têm a
faculdade de interceder por nós, mesmo que não lho peça-
mos, por maior razão o fazem quando nos apresentamos a
Deus com eles, isto é , quando pedimos a ajuda das suas ora-
ções, apresentando a Deus os seus méritos. Mas tudo o que
eles nos obtiverem de bem será sempre um dom de Deus,
fonte de todo o bem , por eles obtido através da intercessão
materna de Maria, sem a qual, como já vimos, nenhum dom
de Deus chega até nós.

Como Maria intercede por nós


A missão materna de Maria em relação a nós «apareceu em
todo o seu valor após a Assunção e haverá de prolongar-se
pelos séculos até ao fim do mundo. Tendo entrado no reino
eterno do Pai, mais próxima do divino Filho e, portanto, de
todos nós, ela pode exercer a função de intercessão mater~a
que lhe foi confiada pela Providência divina. O Pai celeSte quis
pôr Maria próxima de Cristo e em comunhão com Ele, que
"pode salvar de um modo definitivo, os que por meio dele se

--- 8l Le

·
. . . . .. . V r 1-2.' pp. 167-194,
g1one dr Mana Parte prima Ed1tnc1 Anc1lla, cap. , pa ·
19942 N0 ' ' · p 222-273.
texto citado pelos Padres Redentoristas é transcnto nas P ·
87
. Maria e O Diabo nos exorcismos
A Virgem

. m de Deus pois Ele está vivo para sempre a fim d


aproxima ' _. _ ' e
.
1nterce der por eles" (Heb 7, 25): a .1ntercessao sacerdotal do
Redentor quis unir a materna da Virgem ... Como Mediadora
aterna Maria apresenta a Cristo os nossos desejos e as nossas
:plicas,' e transmite-nos os dons divinos, intercedendo conti~
nuamente a nosso favor» 83 . «Com o seu amor de Mãe, cuida
dos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam e se debatem
entre perigos e angústias até que sejam conduzidos à Pátria
feliz. Por isso, a santíssima Virgem é invocada na Igreja com
títulos de advogada, auxiliadora, amparo e medianeira» 84 .
o cardeal J. H. Newman escrevia assim sobre a intercessão
materna de Maria: «Por isso, considero impossível para aque-
les que creem que a Igreja é um único grande corpo no céu e
na terra, onde cada criatura santa de Deus tem o seu lugar, e
cuja oração é a vida, que não perceba, imediatamente, quando
reconhecem a santidade e dignidade da Bem-aventurada
Virgem, que o seu ofício lá em cima seja de intercessão pelos
féis militantes e que precisamente a nossa relação com ela
deva ser a de assistidos , em relação ao seu patrocínio e que,
na eterna inimizade existente entre a mulher e a serpente, en-
quanto a força da serpente é a de ser o Tentador, a arma da Se-
gunda Eva e Mãe de Deus é a oração ... Por isso, como estas
ideias da sua santidade e grandeza penetraram gradualmente
no tecido da cristandade, assim também a do seu poder de in-
tercessão a seguiu imediatamente depois e juntamente» 85 •
Alguns autores hodiernos, justamente preocupados com
salvaguardar a única e universal mediação de Cristo entre
Deus e os homens, para evitar que surjam equívocos no uso

83 JOAO
· pJ\ULO 11, Audiência geral, 24 de setembro de 1997.
84
Lumen gentium 62. Leia-se também o que diz João Paulo II na Audiencia geral de
24 de setembro de 1997, reafirmando o uso dos títulos de «advogada, auxiliadora,
amp:ro e medianeira», aplicados a Maria.
~ The Mocher 01God, edição com introdução e notas de S. L. Jaki, Pinckney (MO,
Real View Books, 2003, p. 64 _

88
. ha experiência mariana nos exorcismos e no
A,ntn s outros momentos ...
ermo «mediação», preferem falar só de . t _
do t bI· h zn ercessao de
sa Senhora. Su 1n am que, com a sua oraça~ .
N0S d. o, intercede
ernalmente para 1spor a nossa alma a acolh
rna t 1
. er a graça de
Cristo. Escreve Marce ~o Bor~o~1: «Cristo dá aos crentes a sua
graça diretamente atraves. da mzssao do seu Espírito (Lumen gen-
riurn 69). Contudo, Mana desempenha o seu papel "prototípico''
materno na Igreja, promovendo a atitude pessoal de acolhimento
do dom da salvação proveniente de Cristo» 86 . Com certeza a vida
da graça - a vida divina - é ação imediata de Deus, pdr meio
da natureza humana de Cristo sobre as nossas almas, mas
Deus estabeleceu que Maria não é estranha a tal ação. Ela in-
tercede cooperando no nascimento e no desenvolvimento dos
homens redimidos, cumprindo assim a sua função materna a1_

Nossa Senhora obtém-nos tudo o que Deus nos dá


A Virgem Maria «intercede entre o Filho e os filhos: inter-
cessão duplamente materna. E não só. Juntamente com o
Filho intercessor, intercede junto do Pai, no [seu] papel de
Mãe da sua casa e da sua família» 88 . Com a sua intercessão
materna, obtém-se tudo o que Deus nos dá. O Santo Padre
João Paulo II afirmava que esta é «uma certeza que, a partir
do Evangelho, se tem consolidado através da experiência do
povo cristão. O grande poeta Dante, na linha de São Ber-
nardo, interpreta-a estupendamente, quando canta: "Mulher,
és tão grande e tanto vales/ que, quem quiser graça e a ti não
recorre, / seu desejo quer voar sem asas"» 89 .

86
M. BORDONI , Gesu di Nazareth Signore e Cristo. Saggio di cristologia sistematica,
vol. III, Roma, Herder-Pontifícia Universidade Lateranense, 1986, p. 966.
87
Cf. PAULO VI, Exortação Apostólica Signum magnum, 13 de maio de 1967, n. 1.
Cf. também PAULO VI, Solene Profissão de Fé (Credo do Povo de Deus), 30 de junho de
1968; cf. ]OAO PAULO II, Redemptoris Mater 47. .
88
Cf. S. RAGAZZINI , Maria vita dell'anima, Frigento (AV), Ed. «Casa manana»,
1984, pp. 53-54.
89
JoAo PAULO II, Carta apostólica Rosarium Virginis Mari~ sobre o Santo Rosário,
16 de outubro de 2002, n. 16.

89
. Maria e O Diabo nos exorcismos
A v,rgem

A intercessão de Maria é mediação de Cristo


A intercessão de Maria é claramente - e não pode deixar d
ser assim_ «mediação» em Cristo. Os teólogos católicos sã:
concordes em afirmar que esta verdade está formal e implici-
tamente contida no depósito da revelação, no sentido de que
esta atividade de Maria é prolongamento e sucesso da sua coo-
peração com Cristo na terra e da sua maternidade espiritual a
favor dos homens. Maria continua, ainda hoje, a fazer tudo 0
que iniciou na terra, quando se associou à missão salvífica do
Filho, e fá-lo-á até ao fim dos tempos, em união ao Espírito
Santo, ao Filho Ressuscitado e ao Pai Eterno, favorecendo 0
nosso acolhimento da graça, do perdão e dos dons do Espírito
Santo que o Filho mereceu para nós.
João Paulo II, retomando o ensinamento do Concílio Vati-
cano II, aprofundou o tema intercessão-mediação de Maria,
esclarecendo que «a cooperação de Maria participa, no seu cará-
ter subordinado, da universalidade da mediação do Redentor, o
único mediador» (cf. RVM 40). Por isso, é mediação subordi-
nada e participada na única mediação de Cristo junto do Pai.
Em nota, reporto o parágrafo 38 da Encíclica Redemptoris
Mater, na qual o Venerável Pontífice apresenta essa doutrina 90.

90
«A Igreja sabe e ensina, com São Paulo, que um só é o nosso mediador: "Há um
só Deus, e um só é também o mediador entre Deus e os homens, o homem Crist0
Jesus, que se entregou a si mesmo como resgate por todos" (1 Tm 2,5-6). "A função
materna de Maria para com os homens de modo nenhum obscurece ou diminui esta
única mediação de Cristo, mas manifesta até a sua eficácia": é mediação em Crist0· A
Igreja sabe e ensina que "todo o influxo salutar da Bem-aventurada Virgem a favor dos
ho~ens ... se deve ao beneplácito de Deus e ... brota da superabundância dos méritosde
Cnst~, funda-se na meditação [feita sobre, nt] Ele, dependendo absolutamente dela e
~tmgmdo toda a sua eficácia; de modo que não impede minimamente o contacto
imediato dos cremes com Cristo, antes o facilita". Este salutar influxo é sustentado
pelo Espirito Santo que, assim
· como cobriu a Virgem com a sua sombra mi · ·ciando
nela a maternidad
. e d.ivma,
· assim. também sustenta continuamente aso1icitu · · de para.
com os irmãos do seu F'lh r .
i o. E1euvamente . ·
a mediação de Maria está mamam ente lt·
gada à sua maternidade, possui· um caráter 'especificamente materno, que a d·stingue
i
90
·nha experiência mariana nos exorcismos e nos
Ami outros momentos ...
A intercessão de Maria pelas almas do Purgatório
A intercessão de Nossa Senhora
_ _ continua , tambem, - pe os
1
fiéis defuntos, de quem ela e Mae. Maria não abandona os
seus .filhos nem s_e~ue~ depois do seu passamento. Ela aju-
da-os na sua punficaçao para que possam rapidamente ser
acolhidos no Paraíso. Estando aos pés da cruz e unindo-se ao
sacrifício de seu Filho, Maria adquiriu a capacidade de inter-
ceder por todos os homens de quem se tornou Mãe. Estando
permanentemente junto do coração de Cristo glorificado, ela
deseja ver as almas dos seus filhos, que ainda estão no Purgató-
rio, atingir, o mais depressa possível, a perfeita bem-aventu-
rança, em comunhão com a Santíssima Trindade, contemplada
face a face . São Bernardino de Sena afirma: «A Bem-aventu-
rada Virgem Maria tem o poder de libertar as almas do Purga-
tório com as suas orações e aplicando os seus méritos. Isto é
particularmente verdadeiro relativamente às almas que, na
terra, eram suas devotas» Qt . E acrescenta: «Na prisão do Pur-

do das outras criaturas que, de vários modos sempre subordinados, participam na


única mediação de Cristo, na qual a mediação de Maria é também participada. De
facto, embora "nunca nenhuma criatura tenha podido ser colocada a par do Verbo en-
carnado e redentor··, nem por isso "a única mediação do Redentor exclui, antes suscita
nas criaturas, uma cooperação variada, participada [e oriunda, nt] de uma única fonte";
e assim "a única bondade de Deus difunde-se realmente de vários modos nas criatu-
ras". O ensino do Concílio Vaticano II apresenta a verdade sobre a mediação de Maria
como participação nesta única fonte que é a mediação do próprio Cristo. Lemos, com
efeito: "A Igreja não duvida de reconhecer abertamente esta função subordinada de
Maria e continuamente experimenta-a e recomenda-a ao amor dos fiéis, para que, sus-
tentados por esta ajuda materna , estejam cada vez mais intimamente unidos ao
Mediador e Salvador". Essa função é, ao mesmo tempo, especial e extraordinária. Brota
da sua maternidade e só pode ser compreendida e vivida na fé tendo por base a plena
verdade desta maternidade. Como, em virtude da eleição divina, Maria é Mãe do
Filho, consubstancial ao Pai e "generosa companheira" na obra da redenção, "foi para
nós mãe na ordem da graça". Esta função constitui uma dimensão real da sua presença
no mistério salVÍfico de Cristo e da Igreja» (Redemptoris Mater 38).
91
Sermo 3, De glorioso nomine Virginis Marire, art. 2, cap. 3, in B_ERNARDl~~s
SENENSIS, Sermo pro festivitatibus Sanctissimre et Immaculatre Virginis Manre, Venems,
1745, IV, 80, col. 2.

91
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

gatório, Maria tem uma cer~a autoridade e plenitude de poder


não só para aliviar os sofnmentos das almas, mas também
92
para libertá-las das suas penas» •

A liturgia da Igreja
A liturgia da Igreja celebra a Santa Missa de «Maria Virgem
Mãe e Medianeira de Graça» . O Prefácio desta Missa descreve
0 significado de mediação aplicado a Maria. Depois de ter
imediatamente afirmado que Cristo nosso Senhor, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, é o único mediador entre o Pai e
os homens, sempre vivo a interceder a nosso favor, prossegue
assim: «No mistério da tua benevolência [Pai Santo] quiseste
que Maria, mãe e sócia do Redentor, continuasse na Igreja a
sua missão materna: de intercessão e de perdão, de proteção e
de graça, de reconciliação e de paz. Esta providência de amor
tem o seu fundamento na única mediação de Cristo, de que
tira a sua eficácia; e o povo fiel recorre com confiança à Vir-
gem Maria, nos riscos e nas ansiedades da vida, e incessante-
mente a invoca Mãe de misericórdia e despenseira de graça»93•

A experiência da intercessão de Maria


na vida terrena dos santos
Muitos santos, tendo experimentado de maneira indubitá-
vel a intercessão materna de Maria na sua vida dão testemu-
'
nho dela. Se grande parte deles afirma a mesma coisa, então
podemos considerá-la uma verdade teológico-espiritual, reve-
lada por Deus ou, de algum modo, experimentada profunda-
mente na sua vida. Alguns deles não hesitaram em afirmar

92
Ibidem.
93
. CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Messe della Beata Vergine Maria, Cidade do Va·
ucano, LEV, 1987, pp. 100-101.

92
. ha experiência mariana nos exorcismos e nos outro
A m1n s momentos...

decididamente que_ o própri~ Deus estabeleceu que nos con-


cede, Por intercessao de. Mana,
, . tudo o que Ele nos quer dar.
Eis só algumas das mu1t1s~1mas declarações de santos e de
tores cristãos que podenamos reportar. São Germano de
au N'
Constantinopla escreve: « 1nguém recebe a salvação a não ser
po r meio de Maria; ninguém . recebe
, uma graça senão através
dela.» Santo Ildefonso afirma: «O Maria, o Senhor decretou
colocar nas tuas mãos todos os bens que Ele dispôs dar aos
homens, porque entregou-te todos os tesouros e riquezas das
graças.» São Bernardo reza assim: «Sim, minha Senhora,
todos os homens chamar-te-ão bem-aventurada, porque os
teus servos , por teu intermédio, obtêm a vida da graça e a
glória eterna. Em ti, os pecadores reencontram o perdão e os
justos, a perseverança e, depois, a vida eterna.» E São Luís
Maria Grignion de Montfort: «Deus escolheu-a [Maria] como
tesoureira, administradora e despenseira de todas as graças.
Por isso, cada uma das suas graças e todos os seus dons
passam pelas mãos dela.»
Olhando a tempos mais recentes, vemos que a Irmã Lúcia
escreve nas suas Memórias que, em Fátima, Nossa Senhora
lhe disse, entre outras coisas: «O meu Coração Imaculado será
o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus.» Nestas
palavras podemos ver a referência à sua mediação materna,
estabelecendo como que um paralelo com a expressão usada
por Jesus: «Eu sou a vida ... » Qo 14,6). Esta aproximação po-
deria parecer excessiva; contudo, na realidade, só exprime a
participação de Maria na mediação única do Filho; pela sua
união ao Filho , ela é caminho para o Pai e medianeira de
graça.
Em Fátima, a Virgem também exprime a sua intercessão-
-mediação noutras ocasiões. Na terceira aparição, a 13 de
julho de 1917, disse: «Continuem a rezar o terço todos os
dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz

93
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

no mundo e O fim da guerra, porque só ela lhes poderá valer.» A


Bem-aventurada Jacinta, pouco antes de morrer, certamente
por um conhecimento infundido do Alto, co_nfirmava à prima
Lúcia a necessidade, livremente estabelecida pelo próprio
Deus, da intercessão de Maria relativamente a todos os dons
recebidos de Deus: «Já pouco me falta para ir para o Paraíso e
tu ficas cá na terra para dizer que o Senhor quer estabelecer
no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Quan-
do tiveres de falar disso, não te escondas! Diz a todos que Deus
concede as suas graças por meio do Coração Imaculado de Maria;
que lhe peçam a ela; que o Coração de Jesus quer que com 0
seu Coração também se venere o Coração Imaculado de
Maria; que peçam a paz ao Coração Imaculado de Maria, por-
que o Senhor lha confiou.»
Na aparição de 13 de maio de 1917, a Senhora perguntou
aos três pastorinhos: «Quereis oferecer-vos a Deus para supor-
tar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de
reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica
pela conversão dos pecadores?» Lúcia responde em nome dos
três: «Sim, queremos.» A Senhora prosseguiu: «Ides, pois, ter
muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.»
A Irmã Lúcia escreve: «Foi ao pronunciar estas últimas pala-
vras (a graça de Deus, etc.) que abriu pela primeira vez as
mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que refle-
xo que delas expedia, que nos penetrava no peito e no mais
íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que
era essa luz 94 , mais claramente que nós vemos no melhor dos
espelhos. Então, por um impulso íntimo também comuni-

A luz de Deus brilha em Maria como em nenhuma outra criatura e difunde-se


9-1

pelo mu nd0 - Escreve São Fulgêncio de Ruspe : «Maria tornou-se janela do céu
porque, através dela, Deus difundiu a sua verdadeira luz ao longo dos séculos. Maria
tornou-se
d escada do céu, porque através dela Deus desceu à terra, para que por meio
1
eª os ~o~ens merecessem subir ao Céu» (Sermo 36. De laudibus Marice ex partu
Salvatons, m PL 65, a99).

94
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos...

cado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: "Ó Santís-


sima Trindade, eu vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu vos
amo no Santíssimo Sacramento.» Esta passagem foi assim
comentada, num_a cateq~ese_radiofónica, pelo mariólogo
padre Angelo Mana Tenton: «E por Nossa Senhora que ((Deus
sai". É a própria Senhora que faz dom de Deus aos pastori-
nhos de Fátima, é através dela que Deus chega a eles. Deus
tornava-se-lhes percetível na forma da lua intensa que proma-
nava das mãos de Maria. Pensemos que a Senhora, através
deste gesto , quer recordar ao mundo que Deus veio a esta
terra através dela e comunica-se aos homens através e por
meio dela, e que é a sua tarefa dispor-nos e dar-nos a Ele,
fazer-nos encontrar com Ele, entrar nele, depois de lhe termos
permitido que entrasse em nós. Eis explicada plasticamente o
que é a graça e os seus efeitos, eis explicado o porquê de ela,
a Senhora, ser chamada Mãe da divina graça e, como Mãe da
divina graça, ela também é medianeira desta graça.»
Na Rue du Bac, em Paris, a 27 de novembro de 1830, en-
quanto Santa Catarina Labouré estava na casa do noviciado
para fazer a meditação da tarde, às 17:30 horas, Nossa Se-
nhora apareceu-lhe, mostrando-lhe a medalha que deveria
mandar cunhar e difundir, aquela que, depois, tomaria o
nome de «Medalha Milagrosa». A certo ponto, a noviça viu os
dedos da Senhora cobrirem-se de anéis, cada qual ornado
com pedras preciosas, cada uma mais bela que as outras, algu-
mas maiores e outras mais pequenas. Todas emanavam raios.
As pedras maiores emanavam raios maiores e as mais peque-
nas, raios menores. As mãos de Nossa Senhora, baixando-se,
irradiavam aqueles feixes de luz, que partiam das pedras pre-
ciosas e desciam até ao chão. Estes raios eram tão belos, tão
luminosos e fulgurantes que encheram toda a parte inferior da
aparição; por isso, Santa Catarina não via os pés da Senhora
nem o globo que, anteriormente, tinha visto a seus pés. Nossa
Senhora disse : «São o símbolo das graças que eu espalho
95
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

sobre as pessoas que me pedem.» Naquele momento_ diz a


Santa-, «compreendi quanto é doce rezar à Virgem Santíssi-
ma e como ela é generosa com as pessoas que lhe rezam·,
quantas graças ela concede às pessoas que a procuram e que
alegria ela sente ao concedê-las.»

Os exemplos seguintes confirmam que o demónio, en-


quanto procura fazer o mal contra nós, deve continuamente
confrontar-se com a intercessão de Maria a nosso favor.

Exemplos extraídos dos exorcismos


Um dia, depois de reações furiosas, porque não queria ser
sujeito àquilo que lhe era imposto por uma presença invisível
- depois, compreendemos que era a Virgem Santíssima-, re-
pentinamente, ele [o demónio] exprimiu-se assim: «Ela ora
sempre por todos vós, cada uma das suas orações é uma tor-
tura para nós.»

Noutro dia, o demónio, claramente enfraquecido pelos


louvores à Virgem Maria, disse com voz rouca: «Ela pede que
se reze por todos os pecadores e também por aqueles que pa-
recem sem esperança, porque ela lê os corações e justifica
diante de Deeeuuuus!»

Noutro exorcismo, já que se orgulhava dos sofrimentos


provocados a algumas pessoas inocentes, comecei a rezar com
decisão: «Senhor Jesus Cristo, quando estavas na Cruz pare-
cias derrotado e o poder das trevas parecia ter vencido para
sempre; na realidade, eras Tu que estavas a viver para
sempre.» E o demónio: «A culpa é toda dela, é tudo culpa de
sua Mãe (Nossa Senhora). Por isso, eu tinha ensinado a estª
cretina (referia-se à pessoa que atormentava) a odiá-la e ela rnm-
bém conseguiu superar isto. Ela (aqui referia-se a Nossa Se-
96
·nha experiência mariana nos exorcismo
A mt s e nos outros mo
mentos...
ora) ora sempre, não se cala um moment _
nh _ o e nos som h·
coteados pelas suas oraçoes.» os c 1-

Um episódio particularmente comovedo - .


. . r e o seguinte· u
dia dirigindo-se a uma imagem de Nossa 5 h · m
' • en ora, presente
na sala onde eu exorcizava, o demónio com .
eçou a gntar·
«Porque ofereceste tudo Àquele (e diz um palavr- ) ·
A A A A
7 lAp A . . ao . Por_
queee?! Porqueee . -:> ergunte1. «O que foi que [ela] ofere-
ceu7»
· E ele: «Aos pes da Cruz daquele ' ela sofri·a,•» Re1ena-se
r .
claramente à oferta que Nossa Senhora fez ao Pai Eterno dos
seus sofrimentos e dos de Jesus, no momento da crucifixão e
da intercessão materna que fez a nosso favor naquele momen-
to. E, então, eu comecei a dizer: «Lembra-te de que Maria, aos
pés da Cruz, ofereceu Jesus ao Pai e ofereceu-se ao Pai com
Jesus. Por nós, seus filhos , ela ofereceu este sacrifício.» Depois
destas palavras, lançou urros indescritíveis, evidentemente es-
magado pela força redentora, que brota do sacrifício de Cristo
e de Maria no Calvário , e disse: «Basta, basta, não mo faças
recordar, basta, estás a queimar-me, estás a queimar-me!»

Noutra ocasião, o demónio exprimiu o poder da interces-


são de Maria e a decisão de Deus de não conceder nenhuma
graça à humanidade a não ser mediante a intercessão do seu
Coração Imaculado 95 :
«Vós não sabeis, ou [talvez] até o saibais, mas não acredi-
tais ou não tendes fé suficiente: é o Coração Imaculado de
Ma ... ar... i. ..a (pronuncia com um esforço tremendo este nome)
96
que salvará o mundo inteiro. Só o seu Coração Imaculado» ·

95
Evidentemente também porque Deus quer que reconheçamos a tarefa materna
que Nossa Senhora tem na nossa vida e na vida da humanidade.
96 N . . novamente esta frase no parágrafo 16, «O triunfo
, 1o re1renre1
este cap1tu . do
Coração Imaculado de Maria» inserida no contexto mais amplo em que ela foi pro-
nunciada. '

97
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

A intercessão de Nossa Senhora não consiste unicamente


em orar por nós e connosco para nos obter a graça santifi.
cante, e também cada uma das graças, mas também em apre.
sentar e oferecer a Deus o que lhe damos. Uma vez, enquanto
estávamos a apresentar e a oferecer a Nossa Senhora orações,
alegrias, sofrimentos e toda a nossa vida, juntamente com os
tormentos sofridos pela pessoa possessa, o demónio, com um
tom submisso e humilhado, evidentemente porque Deus 0
obrigava, disse: «Cada alegria, cada dor, sofrimento oferecidos
àquele Coração (de Maria) são doces ternuras de profunda
caridade que ela aceita e oferece com as suas mãos e eleva à
luz daquele Criador.»

§ 8 - A Ave-Maria e o Santo Rosário

Catequese

Em 1951 , Pio XII escrevia na Encíclica Ingruentium maio-


rum: «Não hesitamos afirmar de novo , publicamente, que é
grande a esperança que pomos no Santo Rosário para sarar os
males que afligem os nossos tempos. Não com a força , não
com as armas, não com o poder humano, mas com a ajuda di-
vina obtida por meio desta oração, forte como David com a
sua funda, a Igreja poderá enfrentar impávida o inimigo infer-
nal.» E o papa João Paulo II escrevia na Carta apostólica
Rosarium Virginis Marice: «A Igreja reconheceu sempre a esta
oração uma eficácia especial, confiando-lhe, à sua reza em
comum, à sua prática constante, as causas mais difíceis. Em
momentos em que a própria cristandade era ameaçada, foi à
força desta oração que se atribuiu ter-se evitado o perigo e ª
Virgem do Rosário foi saudada como propiciadora da salva-
ção» (RVM 39). «Numerosos sinais mostram quanto a Virgem
98
A minha experiência mariana nos exorcismos e nos outros momentos ...

Santa quer, ta.~bém hoje, praticar, precisamente através desta


oração, a sohc1tude materna a que o Redentor moribundo
confiou, na pessoa do discípulo predileto, todos os filhos da
Igreja: "Mulher, eis o teu filho!" Oo 19,26). São conhecidas as
diversas circunstâncias, nos sécs. XIX e XX, nas quais a Mãe
de Cristo fez, de algum modo, sentir a sua presença e a sua
voz doce para exortar o Povo de Deus a esta forma de oração
contemplativa. Em particular, desejo recordar, pela incisiva
influência que têm na vida dos cristãos e pelo autorizado re-
conhecimento da Igreja, as aparições de Lourdes e Fátima
'
cujos respetivos santuários são meta de numerosos peregri-
nos, em busca de alívio e de esperança» (RVM 7).

Ainda na Carta apostólica Rosarium Virginis Mari~, o papa


João Paulo II alonga-se a demonstrar que o Rosário é simulta-
neamente contemplação-meditação e súplica. Podemos sinte-
tizar, assim, o aspeto contemplativo-meditativo: a contempla-
ção de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável (cf.
RVM 10). Maria vivia com os olhos em Cristo e considerava
um tesouro cada uma das suas palavras (cf. RVM 11). Rezar o
Rosário é, tão-somente , contemplar com Maria o rosto de
Cristo (cf. RVM 3). Nos mistérios do Rosário «sintonizamo-
-nos» com a recordação e com o olhar de Maria, na contem-
plação dos acontecimentos da vida do Filho (cf. RVM 11),
vistos através do seu coração (cf. RVM 12), e que ela propõe
continuamente aos crentes, para que possam libertar toda a
sua força salvífica 97 ( cf. RVM 11). Passar com Maria através

. Noutra passagem da mesma Carta apostólica, João Paulo II precisa: «Os misté-
97

nos de Cristo (isto é, os acontecimentos, os episódios da sua vida) também são, em


ceno sentido, os mistérios da Mãe, dado que ela está diretamente envolvida neles, pelo
próprio facto de que ela vive dele e para Ele. Quando, na Ave-Maria, fazemos nossas as
palavras do Anjo Gabriel e de Santa Isabel, sentimo-nos levados ª procurar sempre
novam ente em Mana, . nos seus braços e no seu coração, 0 "bendito fruto do seu
ventre" (cf. Lc 1,42)» (RVM 24).

99
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

das cenas do Rosário é como frequentar a escola de Maria para


ler Cristo, para penetrar nos seus segredos, para compreender
a sua mensagem (cf. RVM 14). No percurso espiritual do Ro-
sário, Maria coloca-nos de modo natural na vida de Cristo e
faz com que respiremos os seus sentimentos, conformando-
-nos a Ele, até que Ele esteja formado plenamente em nós.
Desse modo, 0 Rosário torna-se para nós um caminho através
do qual, se nos deixarmos educar e plasmar pela ação materna
da Virgem Santa, ela persegue o seu fim principal que é O de
gerar-nos como filhos para o Corpo místico do Filho, e incre-
mentar a sua vida divina em nós (cf. RVM 15).
O aspeto de súplica do Rosário é expresso assim: Maria
gera filhos para o Corpo Místico do Filho, mediante a inter-
cessão, implorando para eles a efusão do Espírito Santo. A
nossa súplica insistente à Mãe de Deus, através da Ave-
-Maria, apoia-se na confiança de que a sua intercessão ma-
terna pode tudo no coração do Filho. Enquanto, no Rosário,
lhe suplicamos, ela, que é santuário do Espírito Santo (cf. Lc
1,35), põe-se por nós diante do Pai que a cumulou de graça, e
do Filho que nasceu do seu ventre, orando connosco e por
nós (cf. RVM 16). É este o motivo pelo qual, mediante o Rosá-
rio, o crente recebe uma abundância de graça como se fosse
das próprias mãos da Mãe do Redentor (cf. RVM 1).

Exemplos extraídos dos exorcismos


Na minha experiência de exorcista, apercebi-me de que
nenhuma oração extralitúrgica 98 é tão odiada, temida e hosti-
lizada pelo demónio como o Santo Rosário.

98
Ü Rá· - só não se opõe à Liturgia, como lhe serve de suporte, já que in-
os no «nao .
trndu-l~ ~em e lhe serve de eco longo e repetitivo, permitindo vivê-la em plenitude
de panicipação interior, recolhendo os seus frutos na vida quotidiana» (cf. RVM 4)-
«Se a. Liturgia' ação de ensto
· e da Igrep. é ação salvifica por excelência o Rosano,
- · como
meditação sobre ens· tO com Mana,
. é contemplação
' salutar. De facto , mergu ar, de mis-
' lh

100
Am
inha experiência mariana nos exorcismos e nos
outros momentos ...
Um dia, enquanto eu pegava no terço O dem , .
, . _ ' on10 exc1a-
mou: «E uma co1s~ que nao su~orto, não suporto! Aquele
estúpido velho apelidara-a bem, tinha-lhe dado O nome certo·
chamava-lhe "arma", porque é uma verdadeira arma. Um~
99
verdadeira ar~a _contra nós» • Eu disse: «Em nome de Jesus,
quem é o estup1do velho a que te referes?» E ele: «Pio.»_
«Padre Pio da Pietrelcina?» - «Siiim!» Então, eu rebati: «Não
é um estúpido: é inteligente, sábio e devoto.» E ele: «Para nós
é um estúpido. Ainda agora, aquele estúpido trabalha ao lado
do Nazareno e daquela mulher que está lá em cima.» _
«Como se chama aquela mulher que está lá em cima?» _
«Chama-se como esta (e di1ige um palavrão à pessoa possessa).»

Um dia, ordenei ao demónio: «Descreve as maravilhas do


Rosário! » Respondeu-me: «A mim, mete-me nojo.» E eu:
«Para nós é maravilhoso. Em nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que deu a Virgem Maria por Mãe a cada um de nós,
descreve todas as coisas que te metem nojo e que, para nós,
são boas.» E o demónio: «Descreve todo o itinerário de dor
que Ele ofereceu por vós e que custou tanto sofrimento não só
a Ele, mas também à sua Mãe, para vos salvar a todos, para
vos abrir as portas do Paraíso. Ela sofreu tanto, tanto quanto o
Filho, e expiou juntamente com Ele os vossos pecados. É por
isso que cada conta (do Rosário) é uma lágrima daquela Mu-
lher que sofreu durante os três anos que Ele padeceu por vós,
evangelizou, curou e se manifestou. Tudo fez naqueles três
anos, compreendendo aquilo que realizou naquela cinquen-
tena, que o Papa mandou consagrar antes disto, compreen-

tério em mistério , na vida do Redentor, faz com que tudo o que Ele operou, e ª
Liturgia atualiza, seja profundamente assimilado e plasme a existência» (cf. RVM l3).
99
São Pio da Pietrelcina disse, um dia: «Satanás procura destruir eStª oração, ~as
nunca O conseguirá: é a oração daquela que triunfa sobre tudo e sobre todos. Foi ela
quem no-la mostrou, como Jesus nos ensinou o Pai-nosso.»

101
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

<lendo isso (refere-se evidentemente aos "mistérios da Luz" que


João Paulo II ajuntou aos mistérios do Rosário) . Quando Vós
rezais aquele terço maldito, tudo nos faz mal, porque contem-
plais tudo aquilo que ele faz contra nós. Tudo. Naqueles três
anos, Ele lutou só e exclusivamente para fazer-nos mal e afas-
tar as almas de nós, porque antes não era possível. Depois da
sua vinda e especialmente depois da sua revelação (pública),
naqueles três anos que contemplais nestes mistérios, vós
"massacrais-nos", porque nós revivemos os acontecimentos da
sua vida, especialmente se os contemplais oferecendo-os revi-
vendo (em vós) os seus sofrimentos, como esta (diz um pala-
vrão referindo-se à pessoa possessa) . Esta mulher (a possessa, que
oferece todos os seus sofrimentos a Deus) é um verdadeiro perigo,
como são outras como ela. Se , ao meditardes os mistérios
desta arma (o Rosário) , vós unis os vossos sofrimentos aos
deles (Jesus e Maria) e ao de todos os sofredores que Ele (Jesus)
escolheu , como esta mulher - porque ela não os escolheu
para si, é Ele quem a mantém neste estado-, então, sim, vós
fazeis realmente muito mal. »

Noutro exorcismo, o Maligno disse: «Quando dizeis a Ave-


-Maria é como se ela tomasse o vosso espírito e o levasse
diante do Pai. Todas as vezes. Porque ela ama-vos como nin-
guém mais vos ama, leva-vos lá acima consigo. E quando tu
recordas a vida daquele (refere-se à meditação de cada mistério
durante o Rosário), para mim é um suplício reviver todas as
vezes o que aquele estabeleceu (mais um palavrão), porque
quando tu acabas, começa outro, e [quando] este deixa, outro
inicia, e este sai, outro entra. Sempre, há sempre alguém qu:
está a rezá-lo. Não há um instante em que não seja rezado. E
uma cantilena ininterrupta, em todas as partes do mundo.
Mas, para nós, é um fundo musical mortal. Com todos aque-
102
. ha experiência mariana nos exorcismos e no
A mm s outros momentos...
outro palavrão) mistérios, lembrais-nos tod
les ( as as vezes 0
nos fez e nos faz maaaaaal !»
que

E um dia 7 de _ou~ubro, dia da memória litúrgica da Senho-


ra do Rosário. Tirei do
. bolso o terço e ele di·sse 1me• d'1ata-
rnente: «Essas contaz1nhas fazem-me mal, bastardas! E tam-
bém bastardos os que o faze~.' (talvez se referísse àqueles que
confecionam os terços do Rosano).» Ordenei-lhe: «Porque te
aborrecem tanto aquelas contazinhas?» E ele: «Porque me dais
muitos murros. Acabai com isso! Já não vos dou O suficiente?»
Então, coloquei o terço em cima daquela pessoa e O demónio
berrou: «É pesado, esmaga-me, tira-o, esmaga-me! Estás a es-
magar-me! Saem-me as "tripas", não vês!» O que é que estas
reações do demónio nos ensinam para a nossa vida diária?
Que o Rosário, bem rezado, «pesa» no demónio de tal manei-
ra que já não pode fazer-nos todo o mal que quereria, porque
a Senhora, precisamente através do Rosário, faz-nos crescer na
fé em Deus e protege-nos das insídias do inimigo.

Noutro dia, enquanto eu exorcizava, tirei novamente um


terço do bolso e imediatamente o demónio gritou: «Tira essa
corrente, tira essa corrente!» E eu: «Que corrente?» E ele:
«Essa com a cruz ao fundo. Ela chicoteia-nos com essa cor-
rente!» Trata-se, na verdade, de uma linguagem metafórica,
mas faz-nos compreender de maneira muito concreta o poder
do Rosário e quanto o demónio o teme.

Outra vez, eu tinha posto ao pescoço da pessoa possessa


um terço; o demónio gritou: «Queres matar-me? És um assas-
sino! Estas contas são pior do que os espinhos da coroa de
Cristo! São fogo vivo. Cada pérola é um coração consagrado!
Mata-nos a todos! Tira-nos a respiração! Está a sufocar-me!
Para nós é morte certa!»
103
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Outra vez, enquanto eu estava a dependurar o terço ao


pescoço de uma pessoa possessa, o demónio gritou, tentando
travar-me: «Tira essas rosas: fedem, fedem, essas rosas!» Ins.
tintivamente, eu disse: «Onde estão as rosas?» E o demónio:
«Puseste-as em cima dela (referia-se à pessoa possessa).» De.
pois do exorcismo, essa pessoa referiu-me que se recordava
apenas de que, em determinado momento, se tinha sentido
envolvida por uma coroa de rosas.

Outras expressões sobre o Rosário, em diversos outros


exorcismos:
«Cada conta desse terço, com que vós rezais, é para nós
uma chicotada, queima-nos.»
«Quando usais aquela maldita corrente, sinto-me mal,
porque invocais aquela (a Ave-Maria), recordais-me a vida
daquele (a nossa contemplação dos mistérios do Evangelho no
Rosário atormenta-o e faz-lhe perder as forças) .»
«Quem se agarra a esta (e procurou arrancar o terço que eu
tinha posto ao pescoço da pessoa possessa) , nunca se perderá.»
«Quando contemplais os mistérios daquele terço, fico
doente. São bastonadas. Arranca de mim muitas, muitas
almas. Porque é sua. Porque é daquela.»
«Odeio-o (o terço) , porque é uma coroa de amor que une
todos a Ele e a ela.»

Finalmente:
«Se vós todos soubésseis, eu seria destruído em menos de
um segundo. Se rezardes o Rosário, esta coisa aqui bastarda,
com fé! (E afastou com desprezo o terço que eu tinha nas mãos.)
Sabes o que é que ela faz quando vós rezais o terço? (diz uma
série de insultos contra mim): Ela pega na vossa mão, estica-se
para° Céu e pega na do vosso Deus, e, através desta oração,
de sta corrente de (um palavrão), aproxima as duas mãos e
104
. ha experiência mariana nos exorcismos e no
A ,ntn s outros momentos ...

oxima-as para fazer com que se toquem Q d


apr • uan o estas
d uas mãos se encontram, ela exulta, exulta, exulta . Ih
, a_Joe a-se
h
e reza. Só poucos omens alcançam _ aquela m-ao, porque
muitas vezes arrancam-~a da mao daquela, porque não que-
rem fazê-lo, graças a mim que sou o seu deus, mas os que
conseguem (e repete), mas os que conseguem, têm plena cons-
ciência disso e ~la exul~a. Ei-la que se ajoelha e beija os pés
perfurados do Filho e diz que fez a graça a este (isto é, a algu-
ma pessoa), porque tocou naquela mão e no meio daqueles (os
habitantes do Paraíso), quando acontece, todo o Paraíso, todo 0
Paraíso exulta. Que nojo, que nojo! E lágrimas de alegria saem
daqueles olhos (diz um palavrão) . Que nojo, que nojo, que
nojo, que nojo, que nojo , que nojo, que nojo!»

§ 9 -A Virgem Maria venceu Satanás


pela sua fé inabalável

Catequese

A Virgem Maria venceu Satanás com a fé e, no decurso da


sua vida terrena, repeliu todos os seus assaltos furiosos, preci-
samente, com o poder da fé . Embora seja Imaculada e cheia
de graça desde o primeiro instante da sua existência, Maria
não foi exonerada da luta e do sofrimento; aliás, nenhuma
criatura humana enfrentou provações e provas tão terríveis
como ela. Justamente porque, como já vimos mas primeiras
páginas deste texto Maria era totalmente contrária a Satanás
'
no seu ser e no seu agir, e por isso, consequentemente, em
relação a nenhuma outra criatura humana Satanás se enfure-
ceu tanto, quanto fez contra ela. Contudo, com a sua fé firme
e inabalável com uma rocha, Maria venceu sempre.
Em finais do séc. II, Santo Ireneu de Lião escreveu: «O
núcleo da desobediência de Eva teve a sua solução comª obe-
105
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

diência de Maria. O que a virgem Eva tinha ligado pela sua in-
credulidade, a Virgem Maria desatou com a sua fé» 100 _
0 primeiro motivo da grandeza de Nossa Senhora e da sua
força contra O diabo, não é tanto o facto de ser Mãe de Deus
mas a fé com a qual correspondeu ao desígnio de Deus, que~
chamava a ser sua Mãe e a cooperar com Ele na realização do
projeto divino da salvação da humanidade e na destruição das
obras do diabo 101 . Maria nunca vacilou na fé em Deus, nem
sequer um instante: nunca uma dúvida lhe tocou, nem ao de
leve. Abandonou-se sempre a Deus com uma fé inamovível,
incondicionada, sem nenhuma hesitação. Ao anjo Gabriel,
que lhe comunicava o projeto e o pedido de Deus de uma ma-
ternidade na virgindade , humanamente impossível, Maria
acreditou e assentiu. Abandonando-se àquilo que Deus lhe
pedia e tornando-se disponível sem reservas, disse: «Eis a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc
1,38)» 102 . Alguns dias depois, Maria fo i a casa da sua prima
Isabel para ajudá-la. Quando , ao entrar em casa da prima, a
saudou , João , que estava no seio da mãe, saltou de alegria,
comunicando-a a sua mãe Isabel que , repleta e iluminada pelo
Espírito Santo, disse em voz alta: «Bendita és tu entre as mu-
lheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado
que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que
chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de
alegria no meu seio» (Lc 1,42-44). E, imediatamente, procla-
mou Maria bem-aventurada pela fé : «Feliz de ti que acredi-
taste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do
Senhor» (Lc 1,45). Fora a fé de Maria que tinha enchido de

100
Adversus hcueses, 3,22,4.
1 1
º «Por isso , mamiestou-se
·r o Filho de Deus para destruir as obras d0 diabo>1
OJo 3,8).
102
O Concílio Vaticano II, no capítulo Vlll da Lumen gentium, e João Paulo II, na
Redemptoris Mate [ l d
r, a am e «obediência da fé» da parte de Maria.

106
minha experiência mariana nos exorcismos e n
A os outros momentos ...
xultação e de Espírito Santo a prima Isabel . d .
e d , in uzmdo-a a
•niciar os louvores que to as as gerações haveri d d.. .
1 am e 1ng1r à
Mãe de Deus.
Portanto, a primeira bem-aventurança do E lh r .
. . vange o 101
dirigida a Mana, porque acreditou na palavra de Deus. Maria é
bem-aventurada porque acreditou que, pelo poder do Espírito
Santo, se tornaria a mãe do Filho de Deus, segundo a revela-
ção do anjo: «Aquele que vai nascer é Santo e será chamado
Filho de Deus» (Lc 1,35). E quando, pouco mais de trinta
anos depois, enquanto pregava, Jesus ouviu aquela mulher do
povo gritar: «"Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios
que te amamentaram!", Ele retorquiu: "Felizes, antes, os que
escutam a Palavra de Deus e a põem em prática"» (Lc 11,2 7-
-28). Com esta expressão , Jesus exaltou a grandeza da Mãe
pela sua fé . «Não é, acaso, Maria a primeira dentre "aqueles
que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática"? E ponan-
to, não se referirão sobretudo a ela aquelas palavras abençoan-
tes pronunciadas por Jesus, em resposta às palavras da mulher
anónima? Maria é digna, sem dúvida alguma, de tais palavras
de bênção, pelo facto de se ter tornado Mãe de Jesus segundo
a carne ("Ditoso o ventre que te trouxe e os seios a que foste
amamentado"); mas é digna delas também e sobretudo por-
que, logo desde o momento da Anunciação, acolheu a palavra
de Deus e porque nela acreditou e sempre foi obediente a
Deus; ela, com efeito , "guardava" a palavra, meditava-a "no
seu coração" (cf. Lc 1,38-45; 2,19.51) e cumpria-a com toda a
sua vida» 103
Portanto, Jesus liga a grandeza da Mãe não só à matern~-
dade física relativamente a Ele, mas antes de tudo à sua au-
tude de fé e de plena disponibilidade à vontade de Deus. Aí~-
tima união com Deus e a adesão perfeita à Palavra divina sao

W) Cf
•JoAo PAULO II, Redemptoris Mater 20.

107
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

0
motivo mais alto da bem-aventurança de Maria. Antes de ser
física, a maternidade de Maria foi espiritual, por causa das li-
gações do espírito que se formam na escuta e na observância
da Palavra de Deus, e foi especialíssima porque só ela, entre
todas as mulheres da terra, também teve uma maternidade
1 4
física relativamente ao Filho de Deus º • Em contrapartida ,
todas as outras criaturas humanas geram Cristo em si mesmas
e nos outros por meio da escuta e do cumprimento da Palavra
e da vontade de Deus, mas espiritualmente.
A fé de Maria revela-se novamente nas bodas de Caná 0o
2,1-12), onde , confiando no poder ainda não revelado de
Jesus, provocou o seu primeiro sinal, isto é, o seu primeiro
milagre: a prodigiosa transformação da água em vinho. Tendo
alcançado este sinal prodigioso do Filho, Maria também ofere-
ceu um apoio à fé dos discípulos. E, assim como pela sua fé
tinha introduzido Jesus no mundo, no evento fundamental da
Encarnação, assim também introduziu Jesus na sua missão
pública, precedendo na fé os discípulos que , como diz o
Evangelho, depois do milagre , creram: «Assim, em Caná da
Galileia,Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos,
com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram
nele» Oo 2,11).
A maior batalha contra a fé de Maria, movida por Satanás,
desenrolou-se aos pés da cruz, onde ele pôs em ação toda a
sua força maléfica contra ela, para que ela duvidasse . Mas,
embora no coração de Maria houvesse a dor mais dilacerante,
provada por uma criatura humana - porque ela sabia quem
era Aquele que morria na cruz e o porquê de morrer daquele

1
Frequentemente, os Padres da Igreja sublinham este aspeto da conceção virgi-
(),\

nal de Jesus. Sobretudo Santo Agostinho ao comentar o Evangelho da Anunciação,


afirma·
. · «O an·JO anuncia,
· a Virgem
· escuta,' crê e concebe» (Sermo 13 in Nat. D0 m)
· ·
E
amda: «Crist0 é crido e concebido mediante a fé. Primeiro, verifica-se a vinda da fé ~o
coração da Virgem·, depo1s,· chega a fecundidade ao seio da Mãe» (Sermo 293) QoAO
PAULO II, Audiência geral, 3 de julho de 1996).

108
·nha experiência mariana nos exorcismos e n
A mi os outros momentos ...
do _ também havia um amor desmedido b
rnº ' . b 1- 1 que rotava da
fé viva e 1na a ave . Embora Satanás procu
sua , . , rasse provocar
am ais m1n1ma . fenda
_ na fe de
. Nossa Senhora . Ihe a
, suscitar-
mínima dúvida, nao conseguiu sequer arranhar a sua fé. Marta
acreditava firmemente que era precisamente aquele O modo
doloroso e aparentemente absurdo, de Jesus vencer, triunfar~
reinar, realizando a Redenção da humanidade inteira, mesmo
a sua própria [red~nção, nt] , qu~ lhe tinha sido aplicada pre-
ventivamente. Mana compreendia que através daquela morte
se realizava a profecia de grandeza que o arcanjo Gabriel lhe
tinha preanunciado: «Reinará eternamente sobre a casa de
Jacob e o seu reinado não terá fim» (Lc 1,33) . Maria acredi-
tava que era o Filho de Deus quem gritava: «Meu Deus, meu
Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27,46). Maria acreditava
que, por aquele sacrifício e por aquela morte cruel, ela, hu-
milde serva de Deus, tinha sido tornada maior que todas as
criaturas, e que todas as gerações haveriam de chamar-lhe
bem-aventurada. Mas também acreditava que, depois da
morte, o Filho haveria de ressuscitar e, depois das trevas de
Sexta-Feira Santa, esperou sem duvidar pela manhã da Res-
surreição. «Mediante a fé , ela participou na morte do Filho, na
sua morte redentora» (RVM 20) e, por aquela fé, que perma-
neceu íntegra numa provação como nunca houve nem haverá
entre as criaturas humanas, também mereceu viver uma expe-
riência de intensidade bem maior do que qualquer outra cria-
tura humana, a experiência da nova existência do Filho glori-
ficado depois da sua Ressurreição 105 •

105
Sobre este tema, cf. JOÃO PAULO II, Rosarium Virginis Marice 23. Além di~so, na
Audiência geral de 21 de maio de 1997, ele exprimia-se assim: «Como é queª Vug~m,
presente na primeira comunidade dos discípulos (cf. Act 1,14), poderiá ter sido
excluída do número daqueles com quem o seu divino Filho, ressuscitado dos morto~,
se encontrou? E- por isso legítimo pensar que veros1m1· ·1mente a Mãe teria sido a pn-
meirª pessoa a quem Jesus ressuscitado apareceu ....send imagem e modelo da
°
lgreJ·a que espera pelo Ressuscitado e que, no grupo dos d.iscíPulos ' o encontrou du-

109
'r m Maria e o Diabo nos exorcismos
A vtrge

Portanto, 0 que tornou Maria bem-aventurada e grande foi


a fé com que sempre acreditou em Deus e sempre cooperou
com Ele. Não houve maior ódio nem nenhuma outra criatura
humana foi combatida tão furiosamente pelo demónio como
0
foi Maria durante a vida terrena; mas ela nunca cedeu em
nada. Maria disse sempre um «não» seco e total ao demónio e
um «sim» decidido e pleno de amor a Deus. O cume dos ata-
ques do demónio manifestou-se aos pés da Cruz, quando 0
seu Filho foi deposto da Cruz, e nas horas seguintes à sepul-
tura. Maria ofereceu, por amor de Deus e da humanidade, so-
frimentos tão intensos que nenhuma outra criatura humana
poderá alguma vez experimentar. Durante toda a sua vida,
amando Deus acima de tudo e conformando-se, momento a
momento, à sua vontade, Maria elevou-se cada vez mais na
sua santidade inicial, já superior à de todos os Anjos e Santos
de todos os tempos , crescendo de tal maneira na sua comu-
nhão de amor com Deus que , quando foi assumpta em alma e
corpo ao Paraíso, chegou ao vértice da união com Ele, como
nenhuma outra criatura humana poderá , algum dia, igualar.
Todavia, embora nunca ninguém possa igualar Maria em
santidade, é imitável nas atitudes evangélicas. Na sua biogra-
fia, Santa Teresa do Menino Jesus exortava os pregadores e
teólogos a falarem da santidade sublime e das virtudes de
Maria, sem desencorajar aqueles que querem imitá-la. Parece
que João Paulo II , no seguimento do Concílio Vaticano II,
tinha feito sua essa exortação da Santa: «Ela é um modelo
excelentíssimo da Igreja, exemplo de perfeição a seguir e

rante as aparições pasca1s,


· parece razoavel
, pensar que Mana. teve um contacto Pes-
soal com° Filho ressuscitado, para também ela gozar a plenitude da alegria pascal.
Presente no Calvário, em Sexta-Feira Santa (cf. Jo 19,25), e no Cenáculo, no dia de
. . .(cf· Act 1,14) , a v·irgem Sanuss1ma
Pentecostes , . foi provavelmente tambem , testemu·
nha pnVIleg1ada da Ress urreiçao
· - de Cristo completando desse modo a sua paruci· ·pa·
ção em todos os . . '
momentos essenc1a1s do Mistério pascal.»

110
minha experiência mariana nos exorcismos e
A nos outros momentos ...
·rnitar. De facto, Maria é um excelentíssimo m d
1 d o e1o porqu
ua perfeição supera a e todos os outros me b ' eª
s . _. m ros da Igreja
Significauvamente, o Conc1ho acrescenta que 1 . ·
, .d d e a rea1iza essa
função na fe e na can a, .e. Sem se esquecer que Cnsto . _
e o pn-
.
rneiro modelo, o Conc1ho sugere desse modo que h, d. .
. , . d a 1spos1-
ções intenores . _
propnas o modelo realizado em M .
. ana, que
ajudam o cnstao a estabelecer uma realização autêntica com
Cristo · De facto, ao olhar para Maria ' o crente aprende a viver
.
a sua comunhão _com . Cristo de maneira mais profund a, a
aderir a Ele com fe viva, a voltar a pôr nele a sua confiança e a
sua esperança, amando-o com a totalidade do seu ser» 106_
Nossa Senhora é, para cada cristão, modelo perfeito de fé,
mas também quer tornar-nos participantes da que foi a sua fé,
durante a sua existência terrena. Ao descrever os maravilhosos
efeitos da consagração à Virgem Maria, São Luís Maria Grig-
nion de Montfort também indica a participação na fé de Maria.
Escreve: «A Virgem Santa far-te-á participante da sua fé: uma fé
que venceu, aqui na terra, a fé dos patriarcas, dos profetas, dos
apóstolos e dos santos. Agora, que reina no Céu, Maria já não
possui essa fé, porque vê claramente todas as coisas em Deus
com a luz da glória. Contudo, por beneplácito do Altíssimo,
ela não a perdeu quando entrou na glória: manteve-a para con-
servá-la na Igreja militante, a favor dos seus mais fiéis servos e
servas. Por isso, quanto mais benevolência receberes desta au-
gusta Princesa e Virgem fiel, mais a tua conduta de vida é ins-
pirada somente pela fé» 101 . «Este texto [de São Luís] parece ter
inspirado algumas afirmações de João Paulo II sobre a fé de
Maria que, embora não permaneça formalmente no Céu, é,
porém, comunicada aos fiéis: "A peregrinação da fé da Bem-
-aventurada Virgem Maria representa um constante ponto de

106
JoAo PAULO II Audiência geral 6 de agosto de 1997· .
101Ii ' . 0 1 Scritti spiritu.ah, Roma,
E . . rattato del!a vera devozione a Maria, n. 120, m pere, ,
dizioni Monfonane, 1990, p. 492.

111
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

referência da Igreja, para cada indivíduo e para as comunida-


des, para os povos e as nações e, em certo sentido, para a hu-
manidade inteira" (Redemptoris Mater 6). Tendo por base O tes-
temunho histórico da Igreja, a fé de Maria torna-se, de algum
modo, incessantemente a fé do povo de Deus a caminho: das
pessoas e das comunidades, dos ambientes e das assembleias
e, por fim, dos vários grupos existentes na Igreja» 108 •

Exemplos extraídos dos exorcismos

Sabemos que a fé de Maria não pôde deixar de traduzir-se,


desde o primeiro instante da Encarnação , em adoração do
Verbo, presente no seu ventre imaculado e em impulsos de in-
comensurável amor.
Eis como o Maligno , na solenidade da Anunciação de
2009, com profunda náusea, se exprimiu acerca da fé e do
amor de Maria por Jesus, nos nove meses em que ela o trouxe
no ventre: «Quando aquele (o arcanjo Gabriel) chegou, não
duvidou, não duvidou. Acreditou , acreditou , e chegou aquela
alma tão branca (a alma que o Pai dava a Jesus, juntamente com
o corpo e a Segunda Pessoa divina) . Ela conhecia as Escrituras,
sabia quem tinha no ventre e guardava-o. Estava sempre em
silêncio, com os olhos baixos, sorrindo levemente, mas bela.
Exultava no espírito. O seu Senhor tinha-a escolhido. Era es-
plêndida, era esplêndida, como é esplêndida agora. O seu
Senhor desceu. Ela que o ama tanto. Ela que o ama tanto. (A
partir deste ponto, com ainda maior repugnância, fala na primeira
pessoa.) Como hei de dizer a José? Ele (Deus) pensa nisso. Ele
(Deus) pensará nisso. Compreenderá. Tenho no seio o Salva-
dor do mundo. Imaginai. Não podeis imaginar que graça, que
graça, que graça, que alegria e que amor, que amor eu sentia,

108
Ibidem, p. 492, nota 3.

112
A minha experiência mariana nos exorcismos e no
s outros momentos ...
urn arnor que superava tudo, todo meu m dO (
O
e pelo que José
oderia pensar, quando se encontrasse diante do . t, .
P mis eno daquela
gravidez), um amor profundo, um amor que se p0 d
, 1 de
e papar
tão forte que e.»

Na Sexta-Feira Santa de 2009 ' durante um exorcismo · re-


pentinamente, o demónio gritou com grande raiva estas ~ala-
vras: «Quando Aquele disse: "Mulher, eis O teu filho " e ao
outro: "Eis a tua mãe", como o disse! E de que modo O disse!
Teria enchido o coração do mais bastardo deste mundo.
Disse-o (o demónio batia os dentes, como se tivesse frio) com um
amor indescritível; saiu uma luz dos seus olhos, e amor. "Eis,
este é o teu filho ." E Ela ficou com o coração cheio de alegria.
Porque te alegras? O teu filho está na Cruz, está a morrer, por-
que estás alegre? Porquê?! Se ao menos ela tivesse, tivesse du-
vidado uma \'ez! (Dizia com maior raiva ainda.) Nunca duvi-
dou, nunca! ofreu pelos sofri mentos do Filho, mas nunca
duvidou! Se vós tivésseis ao menos uma migalha daquela fé!»

No dia 15 de setembro de 2006, memória litúrgica de


Maria Dolorosa, porque o demónio invetivava grandemente a
Virgem Maria, ordenei-lhe que tecesse os louvores da Virgem
Maria . Depois de ter recusado, com desdém, obedecer à
minha ordem várias vezes repetida, disse com grande repug-
nância: «Santa e Imaculada, como o mais puro dos metais,
sem mancha sem a mínima sombra de dúvida, nem sequer
'
quando o via flagelado , pregado. Nunca duvidou das suas
palavras. Ela sempre soube que Ele tinha dito a verdade e que
tudo servia para cumprir as Escrituras, que ela conhecia tão
bem e que ensinava e que seguia e por cujo cumprimento
tanto tinha orado desde o nascimento.»

113
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

§ 1o -A Paixão de Maria unida à Paixão do Filho

Catequese
Já vimos que a Virgem Dolorosa não foi - como o resto dos
homens - subtraída à Redenção, mas beneficiou dela «do
modo mais sublime»; com a aplicação preventiva dos seus
frutos na Imaculada Conceição, tornou-se participante de ma-
neira especial da Paixão do Filho redentor. «Aos insolentes in-
sultos dirigidos ao Messias crucificado , ela, partilhando as
íntimas disposições dele, opõe a indulgência e o perdão, asso-
ciando-se à súplica ao Pai: "Perdoai-lhes, porque não sabem 0
que fazem" (Lc 23 ,34)» 109 . «Aos pés da cruz, a Mãe "sofreu
profundamente com o seu Filho único e associou-se com
ânimo materno ao sacrifício dele, assentindo amorosamente
na imolação da vítima por ela gerada" (LG 58) . Com estas
palavras, o Concílio recorda-nos a "compaixão de Maria", em
cujo coração se repercute tudo aquilo que Jesus padece na
alma e no corpo, sublinhando a vontade de participar no sa-
crifício redentor e de unir o seu sofrimento materno à oferta
sacerdotal do Filho. No texto conciliar também se põe em evi-
dência que o consentimento dela, dado à imolação de Jesus
não constitui uma aceitação passiva, mas um autêntico ato de
amor, com o qual ela oferece o seu Filho como "vítima" de
expiação pelos pecados da humanidade inteira» 110 • Sofrendo
e quase morrendo com o Filho, que sofria e morria, com razão
se pode dizer que Maria «redimiu o género humano junta-
mente com Jesus Cristo» 111 .
É ao martírio comum de Jesus e da Virgem Dolorosa que
devemos a salvação, e todos os bens. Por isso, ela, depois de

J ·0
109

110
°~ p
II, Audiência geral, 2 de abril de 1997, citação de Lumengentium 58.
J\ULO
]OAO PAULO II, Audiência geral 2 de abril de 1997
11 1 B ' ·
ento XV, Cana apostólica Inter sodalicia (22 de março de 1918).

114
A ,ninha experiência mariana nos exorcismos
e nos outros momentos...

Jesus redentor, tem direito


-
ao reconhecim d
ento e toda a hu
rn~midade que, com razao,
. _
a proclama bem
-aventurada M
-
nifestamos a nossa graudao sobretudo na ofe t . _ · a-
r a cnsta ao seu
Coração Imacu1ad o de todos os nossos sofrim r .
_. entos e 1adigas
por amor de Deus e do prox1mo.

Exemplos extraídos dos exorcismos


Ainda na Sexta-Feira ~ant~ de 2009, o demónio, como que
obrigado por uma força irresistível, continuou:
«Ela esteve todo o tempo lá, com as lágrimas que desciam
sem parança e com os olhos postos no rosto do Filho para re-
ceber cada pequenino, cada pequenino, cada pequenino sofri-
mento. Ela vivia a sua Paixão dentro do seu Coração. A espada
estava a traspassar-lhe o Coraçãããooo! O sangue saía do Filho
e do Coração da Mãe. Esteve todo o tempo lá, dilacerada pela
dor, mas belíssima na sua dor. Ahhh! Resplendia de dor e de
oração: "Faça-se a tua vontade. Faça-se a tua vontade." Nunca
baixou o olhar. Só quando Ele foi embora (foi deposto da cruz)
é que o mundo foi abalado . [Naquele momento,] Ela conti-
nuou firme , não se abalou , sabia o que estava a acontecer:
sabia que aconteceria que Deus haveria de fazer sentir a sua
dor pelo Filho. Aqueles olhos fixos nos do Filho, fixos, e olha-
va para Ele, olhava para todas as suas feridas , olhava para 0
sangue que descia da cabeça e quereria limpar aquele roStü,
acariciar aqueles cabelos, beijar as feridas , aquele nariz que-
brado, aquela face inchada, e dizia: "O que te fizeram, meu te-
souro? A ti que amas todos? Pai, faça-se a tua vontade, ª tua
vontade, Pai; mas dá-me força, Pai, dá-me força. Pai! Pai, os
pregos! Aquelas mãos belíssimas rezaram, curaram, abençoa-
ram, Pai, aquelas mãos santas! Pobres mãos! E os bra~os .. ·. Vê,
Pai, que dor! Ele que é o teu Filho, Fiiiilho.•· Pai, seJa feita _ª
tua vontade! Aqueles pés que caminharam tanto, aqueles pes
que caminharam tanto, que caminharam tanto, como eram
115
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

belos quando Ele era pequenino! Quantas vezes os beijei,


quantas vezes os beijei, deixa-me beijá~los_outra vez, cheios
de sangue, Pai! Diz-lhe que estou aqui, diz-lhe que o amo,
que O compreendo, que estou com Ele, sofro com Ele!" (Neste
ponto, 0 demónio urrou tremendamente e disse:) Vai-te embora,
vai, não me queimes!»

Na Sexta-Feira Santa de 2006, três anos antes, enquanto


eu exercia o meu ministério, lendo no Evangelho de João as
palavras que Jesus, na cruz, dirigiu a Maria: «Mulher, eis o teu
filho» e a João: «Eis a tua mãe» , o demónio , sempre com
cólera e furor, disse: «Num instante, ela amou todos os seus
filhos por todas as gerações e disse o seu segundo "sim".
Depois do "sim" dito ao Anjo, disse o seu "sim" ao seu Filho na
cruz, porque vos tornastes seus filhos.» Prossegui a leitura das
palavras do Evangelho: «E , desde aquela hora , o discípulo
acolheu-a como sua.» E o demónio, com uma repugnância tre-
menda que manifestava na voz e nas atitudes, acrescentou: «As
almas recebem a Mãe de Deus no seu coração. O vosso corpo
e o vosso espírito são a casa do Senhor e nela deveis recebê-lo.
Todos os filhos de Deus deveriam receber Maria dentro de si e
o que ela vos ensinou com a sua vida. Vós tendes um grande
meio, que é Maria, usai-o mais! Orai a ela, orai ainda mais a
ela, fazei-la vossa, ela caminha sempre ao vosso lado!»
Diante destas palavras do demónio, enquanto eu o exorci-
zava, sabendo que a Sexta-Feira Santa era um dia especial de
graça, recordei-lhe o sacrifício de Jesus na cruz por nosso
amor, as suas chagas, o seu coração, as suas dores, as suas hu-
milhações, a sua oferta ao Pai, juntamente com as lágrimas e
as dores _de Maria, ao pé da cruz, e a sua oferta juntamente
°
com Filho ao Pai, por nosso amor. E, enquanto eu dizia
todas estas coisas, o demónio continuou afirmando: «Tam-
bém nós estávam os a11,· aos pes - da cruz ' instigámos alguns
contra Ele ' incitávamo-1os a contestá-lo, a' gritar contra E1e, a
116
. ha experiência mariana nos exorcismos
A mtn e nos outros m
omentos...
fiá-lo tentávamos outros, insinuand
deSa ' o nas su
, vidas de que Ele não era verdadeir as mentes
du amente O M .
lguns estavam lá para ver algum milagre e ess1as.
A . convencer-se d
e Ele era o Messias: que estúpidos! Fizem e
qu ., _ . os com que mui-
tas pessoas, que Jª nao acreditavam, fugissem d lá· .
• e , tiveram
medo quan do o VIram morrer e, aqueles poucos
que
r·1caram
convenceram-se d
. , quan o Ele morreu de que não era verdadei-. '
ramente n1ngue~, porque se morreu, _já não havia nada a
fazer. Quando tiraram o corpo da .cruz, tentámos também
João, dissemos na sua mente : "Olha que fim teve O vosso
Messias! Olha que fim teve o teu Messias." Também tentámos
a tua Mãe. Ela tinha o coração dilacerado , mas ao mesmo
tempo havia nela uma grande paz e perdoava a todos, amava
e sofria: o seu perdão era total , o seu amor era total, a sua
oferta era total. E isto venceeeuuu-nos! Insidiámos a sua fé
inutilmente, ela continuou a orar, ela era a única que conti-
nuava a conservar a fé na Ressurreição; o seu coração já o
sabia e, na aurora do dia a seguir ao sábado, Ele apresentou-se
em primeiro lugar a ela. Não sabemos o que disseram um ao
outro, só vimos que naquele encontro circulava uma grande
paz e um infinito amor, mas não podíamos ouvir as palavras,
a sua conversa de amor estava fora do nosso alcance. Depois,
vimos a Madalena que ia ao sepulcro.»

Uma vez, o demónio exprimiu-se assim acerca do sacrifí-


cio de Cristo e de Maria no Calvário, que é representado em
cada Santa Missa que é celebrada: «Aquele Nazareno deixou-
-se pregar e sacrificar para que do seu corpo-superabundasse
0 Sangue que cobre o altar e, com isso, os vossos pecados. Ela

(Nossa Senhora) sacrifica-se juntamente com O seu Filho e


acolhe no seu seio aqueles que foram purificados com O seu
sangue. Ela está sempre lá; quem olha para ela, olha para Ele
e quem olha para Ele, olha para ela.»

117
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

§ 11 -A humildade de Maria

Catequese

Na linguagem bíblica, humilde é quem reconhece que


deve tudo a Deus e espera tudo dele. Humilde é quem se põe
numa atitude de total dependência de Deus, confia só nele e
não tem outro desejo nem encontra outro motivo de alegria
que não seja procurar incessantemente Deus e fazer a sua von-
tade, abraçada com amor e completa disponibilidade. Desde
as fibras mais profundas do seu ser, o humilde deseja e aspira
ser totalmente de Deus. A humildade coincide com a pobreza
em espírito de que Jesus fala nas bem-aventuranças: «Felizes
os pobres em espírito , porque deles é o Reino do Céu» (Mt
5,3). É a pobreza, não tanto como condição social, mas como
atitude interior de abandono confiante à omnipotência de Deus
e abertura incondicional aos seus projetos divinos. Maria viveu
a humildade tão intensamente como nenhuma outra criatura
no mundo. Ela estava pronta ao mínimo aceno da vontade de
Deus, que acolheu em toda a sua vida com o seu «sim» contí-
nuo e sem reservas, professando-se a serva do Senhor: «Eis a
serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc
1,38). Foi isto que lhe permitiu cantar com absoluta verdade e
liberdade do coração: «A minha alma glorifica o Senhor e o
meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os
olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me
chamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc 1,46-48).
Maria, humilde serva do Senhor, consagrou-se totalmente
ao serviço de Deus e à obra do Filho, pela salvação dos ho-
mens. Segundo o ensino dos Evangelhos, servir é reinar. No
co~entário do lecionário mariano da Igreja, na Santa Missa
votiva «Maria Virgem serva do Senhor», lemos: «Maria, hu-
mild~ ~erva, é elevada à dignidade real: "já que serviu Cristo"
(Prefacio), Deus Pai honrou-a muito e, porque aderiu plena-
118
. ha experiência mariana nos exorcismos e
A ,ntn nos outros m
omentos...
à sua vontade, o próprio Deus exaltou
me nte -a como " · h
riosa ao lado do trono do (seu) Filho" (Pref;' . ) . ram a
glo . . acio . Nisto está
em-aventurança de Mana, como proclama O _
ab _ versicu1o ale-
lul.ático: "Es bem-aventurada, ó Virgem Maria , que te cha-
maste serva do Senhor; agora, exaltada acima dos coros ange-
HL • _ •
,
licos, toda a IgreJa te sauda, rainha do céu"» 112.
Nunca nenhuma criatura humana igualou a humildade de
Maria. Satanás, em vez de reconhecer que é criatura, aspirou a
ser adorado como se fosse Deus e, recusando a verdade
conhecida sobre Deus, não quer reconhecê-lo como fonte da
vida e o seu bem supremo. Cego pela sua grandeza, recusou
Deus, pensando que podia diminuí-lo e propondo-se como
alternativa a Ele, à frente das outras criaturas angélicas e hu-
manas. Assim, enquanto Maria se afirmou humildemente
«serva do Senhor», Satanás, pelo contr?rio, exaltou-se, procla-
mando-se deus e refilando com a sua atitude em relação ao
verdadeiro Deus: «Não o servirei.» Como já referi anterior-
mente, parece-me que nesta atitude estão incluídas a recusa
da Encarnação do Filho de Deus e a predestinação de Maria a
ser Mãe do Filho de Deus e Rainha dos anjos e dos homens.
Portanto, enquanto Maria pode ser considerada, com
razão, rainha da humildade; Satanás é, pelo contrário e por
excelência, o rei da soberba.

Exemplos extraídos dos exorcismos


Um dia, gritando, o demónio disse: «Sabes como é que ela
me combate? Com a humildade! Ela sente-se ainda a última,
embora seja a primeira! Ela sente-se a mais inútil, embora seja
ª única útil, a única necessária a todos vós, imundos seres hu-
manos! Vós sois a abjeção e ela sente-se maior · ab.~eçao
- que

---
112 C
ONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA , Messe
lT. ·
della Beata vergme
Maria p 75.
' .
119
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

vós! Odeio a humildade e odeio todos aqueles que o são, a


começar por ela! A sua humildade humilha-me mais do que 0
poder dele [de Deus] .»

Outras vezes disse:


«A alma daquela resplende da sua humildade. Se fôsseis
humildes, também de vós emanaria luz e todos vê-la-iam; por
isso , devo convencer-vos a que sejais soberbos, de modo que
todos vejam o negro do Inferno, em vez da luz do Paraíso. »
«Sempre que ela vos convence a renunciar à soberba,
vence uma batalha.»
«Nunca ninguém como ela, nunca, nunca, nunca, teve a
atitude interior e profunda de humildade ao seu Deus. Nunca
ninguém. A quem quiser segui-la, basta isto.»
«Nem por um instante, ela deixou de ser tão estupida-
mente humilde. Não a suporto de modo nenhum! Não a su-
porto de modo nenhum! »
«Mesmo agora que foi coroada, que é Rainha e tem à sua
volta anjos, arcanjos, serafins, continua a ser a mais humilde
de todas.»

§ 12 - Os pecados dos homens e a reparação ao


Coração de Cristo e ao Coração Imaculado de Maria

Catequese

Ao longo da história da Igreja, Nosso Senhor Jesus CriStü,


ao ·r .
mani estar-se a diversas almas místicas, prediletas, pediu
frequentemente reparação e consolação pelo que sofre, atual-
ment~, _por causa dos pecados dos homens. O Homem-Deus,
na glona, pode ainda sofrer? Como Deus certamente que não.
Como Homem-D ' · da
eus, os santos e os místicos veem-no am
so frer pelos pe d d -o
ca os os homens, ouvem-no pedir reparaça
120
•nha experiência mariana nos exorcismo
Arnt s e nos outros mom
entos ...
onsolação. Sobretudo, com a revelação d
ee . . o cu1to do s d
coração, mediante as visões (reconhecidas 1 a_gra o
'd M . Al pe ª IgreJa) d
Santa Margan a ana acoque , esta realid d . e
. , . d 1 a e presencial de
Cristo na histona as a mas parece fora de d , .d
. uvi a. Mas em
que sentido devemos
. d h .
interpretar estes sofriment , N '
. os. o sen-
tido em que ain a OJe continua a sofrer Aind h . .
. . · ª OJe, Cnsto
continua a sofrer mistenosamente no seu Corpo M' .
. . . 1st1co, que
é a IgreJa; e, neste sofnmento de hoJe, pode_ actualmente _
ser consolado.
São Paulo converteu-se ao compreender os sofrimentos de
Cristo, que continuam na Igreja e no mundo. Enquanto ele se
dirigia para Damasco , para prender os cristãos daquela ci-
dade, por volta do meio-dia, repentinamente uma grande luz
vinda do céu refulgiu sobre ele. Caiu por terra e ouviu uma
voz dizer-lhe: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» E Saulo res-
pondeu: «Quem és tu, Senhor?» Aquela voz disse-lhe: «Eu sou
Jesus que tu persegues.» A perseguição de Saulo não tinha por
objeto direto o próprio Jesus, mas os seus discípulos; con-
tudo,Jesus censura-o: «Porque me persegues?» Fala como al-
guém que está a sofrer nos seus. Cristo continua a sua Paixão
nas perseguições que, ainda hoje, na pessoa dos seus discípu-
los, quando a sua Igreja é perseguida, quando é vilipendiada a
pessoa do Papa e dos legítimos Pastores. Cristo continua a sua
Paixão naqueles que sofrem .por causa da sua fé e do seu tes-
temunho acerca dele. Cristo sofre nos membros chagados do
seu corpo, que é a Igreja. E, como Maria é inseparável de
Cristo, também ela sofre juntamente com Ele. .
Cristo e Maria sofrem especialmente pelos pecados e as 1~-
fi<lelidades daqueles que se dizem cristãos. Crist º e Mana
sofrem, e muito, quando se repete a traição dejudas_n_as defe-
Ções ou na rebelião de sacerdotes, religiosos ou rehgwsas. A
Santa Marganda • Maria Alacoque, Cnsto · mos trou o seu Cora-
çao traspassado e a sangrar; portanto, Ele so fna.· Em La Sa-

121
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

lette, Nossa Senhora apareceu às crianças a chorar, dando


como motivo a recusa dos homens de se submeter a seu Filho
Jesus Cristo, a quem Deus submeteu todas as coisas. Em
Fátima, Nossa Senhora mostrou o seu Coração Imaculado cra-
vado de espinhos 113 • Além disso, Nossa Senhora, apesar de
aparecer majestosamente bela, mostrou-se triste; contudo,
também ela, como Cristo, está no Paraíso e já não pode sofrer.
Então, como podemos explicar este sofrimento que parece
atual? Na minha opinião, deste modo : «Estando agora na
glória celeste e, por isso, já não podendo sofrer, naqueles
corações sofredores de Cristo e de Maria que eles nos mos-
tram, estão representadas simultaneamente não só os sofri-
mentos que eles ofereceram por nós ao Pai durante a sua vida
terrena, mas também os nossos. Portanto, representam os seus
Sacratíssimos Corações, unidos aos corações daqueles que,
nesta terra, com amor se oferecem a Deus, como eles du-
rante a sua vida terrena se ofereceram com amor a Deus.
Depois, são também daqueles que sofrem e o oferecem sob os
Corações de Jesus e Maria. São os corações de quem se une a
Cristo pela salvação do mundo . São os corações dos filhos
prediletos que se oferecem à sua Mãe, a si mesmos e aos seus
sofrimentos, pela salvação dos outros irmãos.»

Sobre a questão de se Cristo glorioso e Maria, sua Mãe,


embora glorificados no Céu, podem ou não ainda sofrer, reuni
estas reflexões interessantes que proponho à consideração
pessoal do leitor.

113
Nossa Sen hora está inseparavelmente unida ao Filho. Ela vive dele e por Ele.
Ela,. Mãe de todos
. os homens e Ra.mha dos seres criados, junto ao seu Filho, Rei· d0
universo .' é digna de lo . amor, gratidão e serviço mas quantos e quao
uvor, respeito, -
graves
. insultos
. são causados a esta Mãe da humanidade e precisamente
' pelos pró·
pnos cnstão infiéis É · ' ·d
1
. 'd · por isso que, em Fátima Nossa Senhora se mostra dolon ª
pe ª mgrat1 ão, indiferen bl e . ' _
ção Imaculado. ça e as1ém1as dos homens, e pede reparação ao seu Cora

122
inha experiência mariana nos exorcismos e
Am nos outros mom entos ...

o padre jesuíta Luís Mendizábal escreve , por exemplo:


«Jesus ainda sofre? Certamente que não no seu
"C . . d d Corpo glo-
rificado: nsto , ressuscita o e entre os mort . , _
_ . , . os, Ja nao mor-
rerá; a morte nao tem mais dom1n10 sobre Ele" (Rm 6 9) .
. d C . ., , . HoJe, o
Corpo g1onoso
,. e nsto Jª não
, pode sofrer, a sua Alma possui. a
e:
visão bea_t1fica por ela, esta na plenitude da felicidade . Isto,
porém, ainda nao res~lve a questão. No atual estado glorioso,
Cristo não sofre; todavia, podemos admitir que sinta compaixão
na sua alma. Não é indiferente às ofensas feitas ao Pai nem ao
mal moral dos seus membros na terra nem às suas dores físicas.
É ao estado glorioso atual de Cristo que se refere a Carta aos He-
breus, quando afirma: "Temos um Sumo Sacerdote que se com-
padece das nossas enfermidades" (Heb 4,15). Por causa dos
nossos pecados, Jesus glorioso sente compaixão de nós. Esta afir-
mação não parece contrária a nenhuma definição eclesiástica;
nem parece incompatível com a felicidade atual dos bem-aven-
turados no Céu, porque, em última análise, na compaixão há
uma fruição do amor. Se, agora , Jesus Cristo não sofresse de
modo nenhum, o que significariam os espinhos que circundam
o seu Coração? Então, as palavras de São Paulo talvez fossem um
mero símbolo: "Eu sou aquele Jesus que tu persegues." Dissemos
que Jesus não sofre no seu corpo físico (embora sinta compaixão
na sua alma): no entanto, sofre no seu Corpo Místico. Os católi-
cos fazem parte do Corpo Místico na qualidade de membros;
portanto, os seus pecados, mesmo os mais escondidos, causam
uma verdadeira ferida no Corpo Místico. Por conseguinte, Jesus
Cristo continua a sofrer no seu Corpo Místico. Então, Ele sofre
atualmente, porque o Corpo Místico é uma realidade a~ual. Por
. m~
isso, os meus pecados não destroem só a graça em mim, .
também ameaçam a das outras almas que são privadas da m~nha
ajuda. Aliás, os pecados dos outros católicos não devem deixar-
-nos indiferentes.
. . São feridas no Corpo M'is t·ic 0 e nós ' como
rn embros vivos,
. .
não podemos deixar de nos ressentir com elas,
tal como acontece com os diversos memb ros do nosso corpo .
físico.
· Grandeza de uma realidade sobrenatural·· "A Paixão expia-
123
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

tória de Cristo renova-se e, de algum modo, completa-se e con-


tinua no Corpo Místico que é a Igreja" (Pio XII)» 114 .

«As nossas ações são ou uma alegria ou uma ferida no Cora-


ção de Cristo. Não só porque na sua vida mortal Ele viveu-as
todas, tendo sido causa de alegria e de dor, mas também porque
agora Jesus Cristo ressente-se delas. Agora, Jesus já não pode
sofrer no seu corpo físico; mas , ao contrário, pode rejubilar e
gozar. Cada boa ação leva-lhe prazer. Alegra-se ao ver-me entrar
numa igreja, como aconteceria com um amigo que eu visitasse.
Os nossos pecados , embora não possam causar-lhe nenhuma
dor (dado que Ele, pela sua glorificação, não pode sofrer), são,
porém, objeto da sua íntima compaixão; e são uma verdadeira
ferida e causa de sofrimento para o seu Corpo Místico. Nós, que
pertencemos à Igreja católica, somos uma só coisa, e as ações de
cada um de nós influem no Corpo Místico inteiro. Deus quis que
a salvação de muitas almas dependesse da nossa perfeição. O pe-
cador perdeu todo o direito à vida sobrenatural e não tem a
mínima possibilidade de exprimir um desejo eficaz de ser liber-
tado do pecado. De facto , esse desejo é fruto da misericórdia di-
vina; e Deus pode fazer depender a concessão desta graça das
nossas orações e boas obras. Deus não envia à sua Igreja muitas
graças , porque os nossos pecados realmente o impedem. O
Corpo Místico sofre com os pecados de cada um de nós. A apa-
rição a São Paulo , na estrada de Damasco, não era apenas um
símbolo. O Coração de Cristo ferido mostra-nos este verdadeiro
sofrimento. Não só as dores que padeceu durante a sua vida na
terra, mas também as atuais no seu Corpo Místico, e o seu senti-
mento de compaixão atual pelos pecadores. A luz deste conceito,
podemos compreender melhor qual deverá ser o nosso modo de
corresponder» 115 •

114
P Lu1s MENDizABAL r e d
M' , n°~
imep-Docete, 2009, pp . 42_45 _
. al Sacro Cuore di•Gesu,
e 1esu. La devoz10ne - M'lão
1 '

u 5 fb•d
1 em, pp. 20-21.

124
. ha experiência mariana nos exorcismo
Amtn s e nos outros m
omentos...
santa Teresa Bendita da Cruz escreve:
«O Salvador não está sozinho na cruz A
... o longo d
os cada homem que suportou com paciên . os tem-
P ' f. eia um destino d
ensando nosso nmentos do Salvador e tom b . uro,
P - . ' ou so re s1 volu -
tariamente uma vocaçao expiadora, contribuiu . n
com isso para ali-
viar a carga enorme d os pecados da humanidad . d
e e a.JU ou o Sal-
vador a levar o seu fardo. Uma vez mais Cristo C b .
' 'ª a eça, realiza
a obra redentora nos membros do Corpo Místico que se unem a
Ele de alma e corpo, para a sua obra de salvação •·· Na rea11.dade
0 sofrimento reparador voluntariamente aceito é O que mais . pro-'
fundamente une ao Senhor» . 116

O grande pensador católico Cornélia Fabro, no texto


Gemma Galgani, Testimone del soprannaturale, escreve:
«Quando os místicos e Santa Gema afirmam que veemjesus
a sofrer, com a cruz , que tem as chagas abertas de onde goteja
sangue, etc., pretendem referir-se a um [tempo, nt] presente real
e não a uma imagem ou recordação do passado (p. 61). Não é
uma imagem retrospetiva. Se assim fosse , o místico seria obriga-
do a declará-lo em primeiro lugar (p. 65). Por causa dos cons-
tantes pecados dos homens , a Paixão de Cristo continua de
algum modo (mística e realmente) em Cristo, porque os homens
continuam a pecar e a qualificar a história com o novum das suas
escolhas de rebelar-se contra Deus (p. 73). Já na promessa de
Cristo - que Ele, embora tendo subido para o Pai, permanece
sempre presente na sua Igreja (Mt 28,20) - parece implícito que,
de algum modo , Ele ainda pode sofrer pelos pecados do mundo
e sobretudo dos cristãos (p. 76). Jesus não é um espectador indi-
ferente. Goza quando o homem o ama e permanece fiel; sofre
quando o homem O ofende (p. 76). Quando os Santos florescem,
Cristo rejubila; quando infestam os pecados, Cristo sofre (p. 7s).

----
.
l lõ D

d1ta da e
. . _ , . l d Santa Teresa Ben-
0 escnto Das mystische Suhneleiden [A exp1açao mi5 uca e
.
ruz - Ednh Stein.
125
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

É uma solução muito redutora negar que Cristo, já glorioso , não


sofre como homem, porque já sofreu por todos os pecados da
história humana, que Ele tinha previsto um por um (p. 78). Não
podemos explicar como é que o Homem-Deus na glória ainda
pode sofrer na sua natureza humana, por causa dos pecados do
homem; mas é a convicção expressa na linguagem habitual da
piedade cristã e é o próprio Cristo que, continuamente, o diz aos
místicos (p . 78, nota 21), pedindo-lhes ao mesmo tempo que 0
consolem com a sua participação nas suas dores. O Homem-
-Deus na gloria ainda sofre? Como Deus, certamente não. Como
Homem-Deus, os santos e os místicos veem-no ainda sofrer
pelos pecados dos homens, ouvem-no pedir reparação e conso-
lação (p. 79). Cristo não só não é indiferente ao comportamento
da liberdade do homem, mas sente os seus contragolpes na sua
santa humanidade e sensibilidade, e, por isso, também pode
manifestar, como parece acontecer nos estados e nos fenómenos
místicos (p. 85). Cristo pede ao homem a participação nas dores
da sua Paixão, a título de compaixão com Ele e de expiação pelos
pecados que os h omens continuam a cometer. O convite de
Cristo aos seus privilegiados é feito certamente com a palavra, ou
seja, com a declaração expressa do seu sofrimento real , mas so-
bretudo mostrando-se-lhes visível, de modos variados, o seu
sofrimento atual pelos pecados atuais que , ainda hoje, os ho-
mens continuam a cometer. E isto para excitar a comoção do
místico e, portanto, a sua real participação e conformidade com
a Paixão de Cristo: para consolá-lo , para aliviar-lhe o sofrimento
(p. 86)» 11 7_

Sobre este tema, também interveio o cardeal Carlo Maria


Martini. Ao comentar o significado das lágrimas de ossa
Sen~ora no santuário de La Salette, aonde ele fora em peregri-
n~çao, por ocasião do 150. º aniversário da aparição, expri-
miu-se assim:

u, C F
. ABRO Gemma Gal · T1 . 9
' gani. est1mone dei soprannaturale, Roma, Ed. Cipi, 198 ·
126
. ha experiência mariana nos exorcismo
Amtn s e nos outros m0
mentos
«Deveríamos refletir longamente sob ·..
. ., _ re o sofri
m Mana, Jª que nao sofreu apenas du mento da Vir-
ge . rante a su . ~ .
mas também ainda sofre e continua a sofr H . ª existenc1a,
.d d er. OJe sofre
ulpas da human1 a e, tem compaixão d . ' com as
e .. as minhas fra
das minhas fragilidades e dos meus medos 1 , quezas,
, · st
· º e um mistério
rofund1ss1mo porque, de algum modo perm·t .
P , l e-nos intuir o so
frimento de Deus pelo mal que fazemos . Um m· , . -
.. . isteno que a teo-
logia d1fic1lmente consegue elaborar, já que tem d f.
. . os o so nmento
um conceito negativo, como se se tratasse de um . r . _
. , a 1mper1e1çao
que não pode ser atnbu1da nem a Deus nem a Mana. . No en-
tanto, a mensagem de La Salette convida-nos a ir além da ver-
dade de Deus perfeitíssimo, de Maria feliz na glória. A felicidade
divina, a felicidade dos santos não é tão perfeita que não pennita
envolver-se na infelicidade humana. Com palavras humanas
chamamos-lhe sofrimento , mas seria melhor dizer paixão de
amor, amor apaixonado e cheio de ternura, justamente de com-
paixão. A propósito , gostaria de citar alguns pensadores e místi-
cos: "A Senhora que chora - escreve Paul Claudel referindo-se a La
Salette - e o grito que emite: 'Desde há muito tempo, sofro con-
vosco!', indicam que no Céu se sofre. Ela segura o braço do
Filho: mas não é o Filho que é mais omnisciente e mais omnipo-
tente? São coisas que uma teologia circunspecta tenta justificar,
mas que o coração compreende ..."
E François Mauriac: "As lágrimas da Virgem levam-nos a orar
no mesmo terreno das lágrimas do Senhor. Jesus chora, Nossa
Senhora chora sobre aqueles que me conhecem e não me acolhe-
ram. Em La Salette, Maria chora sobre a rejeição daqueles que
sabem o que fazem."
As palavras talvez mais incisivas, sobre a mensagem deste san-
tuário, foram escritas por Jacques Maritain, que meditou longa-
mente sobre esta mensagem e que, precisamente aqui, se prepa-
rou com a esposa para receber, depois da conversão, o Sacramento
do Crisma: "Se a Senhora chorou, quer dizer que no complexo ~e
sinais que os homens podem compreender, nenhum outro podia
exprimir melhor a realidade inefável de tudo o que acontece no
Ceu.
- Não é por excesso, mas antes por deieito r ·
que pecam aque-
127
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

les meios de expressão que implicam alguma imperfeição ou


alguma dor real, incompatível com a bem-aventurança. As lágri-
mas da Rainha do Céu estão muito longe de mostrar-nos O sobe-
rano horror que Deus e sua Mãe sentem pelo pecado e a sua
soberana misericórdia pela miséria dos pecadores"» 118 •

Em Fátima, Nossa Senhora mostrou-se dorida pela ingrati-


dão, pela indiferença e pelas blasfémias dos seus filhos: por
isso, pediu reparação ao seu Coração Imaculado. Nos pastori-
nhos nasceu, imediatamente, o desejo de seguir o seu pedido
e consolá-la.
Na aparição de 13 de julho de 1917, Nossa Senhora ensi-
nou às crianças uma oração que associa a reparação a Jesus
com a reparação ao seu Coração Imaculado: «Sacrificai-vos
pelos pecadores e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizer-
des algum sacrifício: ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos
pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o
Imaculado Coração de Maria» 119 . Além disso, preanuncia que
irá pedir a comunhão reparadora dos primeiros sábados de
cada mês: isto realizar-se-á durante a permanência da Irmã
Lúcia no mosteiro de Pontevedra, em 1925.
Na aparição de julho, Nossa Senhora também mostrou a
visão terrível do Inferno , que justificava ainda mais o seu
pedido de sacrifício reparador e de oração pelos pecadores.
O seu Coração e o de Jesus haveriam de ser consolados na
mesma medida em que os Pastorinhos, com a sua oferta gene-
rosa, haveriam de contribuir para salvar as almas da condena-
ção eterna. Em agosto de 1917, Nossa Senhora volta a fazer o
mesmo pedido quando, com um aspeto mais triste, lhes disse:
«Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que vão

118

119
C.M. MARTIN! , Maria sofre ancora, Milão, Piero Gribaudi Editore 1997, PP· 30-32 ·
_Memónas
· d
ª Irma- Luc1a,
- · '
2006 '
11
p. vol. I, Fátima, Secretariado dos Pastorinhos,
176

128
·nha experiência mariana nos exorcismos
Arn1 e nos outros m0
mentos ...

mul·tas almas para o inferno por não haver quem se s ir:


apor elas» 120 _ O rosto triste e as palavras d v· acrI.Jique e
peÇ . . a 1rgem prod
ern neles um desejo ainda mais profundo de u-
z .. _ reparar os peca-
dos e de sacnfrcar-se pela conversao dos pecad Ch
, ores. egaram
ao ponto de amarrar uma corda a volta da cintura t d
, razen o-a
dia e noite com tão grande sofrimento que Nossa Senhora na
aparição seguinte, a 13 de setembro de 1917, disse com ser~na
bondade: «Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não
quer que durmais com a corda; trazei-a só durante O dia» 121 _ As
crianças obedeceram a esta limitação, mas perseveraram ainda
com mais fervor naquela dura penitência - porque sabiam que
agradavam a Deus e à Virgem - , trazendo a corda até na última
doença, durante a qual aparecerá manchada de sangue.
A 13 de outubro de 191 7, na última aparição, o chama-
mento à repara ão aparece na parte final da conversa com
Lúcia quando, ao pedido da menina: «Eu tinha muitas coisas
para Lhe pedir: se curava uns doentes e e convertia uns pecadores,
etc.», a Senhora responde: «Uns sim; outros não. É preciso que se
emendem, que peçam perdão dos seus pecados. E, tomando um
aspeto mais triste : Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que
Jáestá muito ofendido» 122 . Além disso , durante o prodígio do
Sol, houve outro ap elo à rep aração : a Senhora apresentou-se
na forma de Senhora d as Dores, para fazer-nos compreender
que a salvação do mundo p assa pe 1o sacn·f'100 · reparador ·
Assim· como Maria nesta terra ao participarª · · tivamente da
- d o Filho
rn1·ssao . ' - d os h ornens a verdadeira
foi para a salvaçao
rnulher das dores,' assim também os pastonn · h os - e cada um de
nó 5 - foram [somos , nt] convida d os a perc orrer o mesmo

----
120 Ibidem, p. 178
i21 Ibidem, p. 180.

122 Ibidem, p. 181:

129
--
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

caminho, abraçando cada dia com amor a nossa cruz em


expiação pelos pecados e pela salvação dos pecadores.
Depois das aparições de Fátima, o próprio Cristo manifes-
tou expressamente o desejo de que, juntamente com o seu
Coração, fosse também reparado e consolado o Coração da
Mãe. «No dia 10-12-1925 [no convento de Pontevedra, Espa-
nha], apareceu-lhe [à Irmã Lúcia, nt] a 55. Virgem e, a seu
lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS.
Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrou-lhe, ao mesmo
tempo, um coração que tinha na outra mão , cercado de espi-
nhos. Ao mesmo tempo, o Menino disse: "Tem pena do Coração
de tua 55. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos
a todos os momentos lhe cravam sem haver quem faça um ato de
reparação para os tirar." Em seguida, disse a S5. Virgem: "Olha,
minha filha, o meu Coração cercado de espinhos que os homens
ingratos a todos os momentos me cravam, com blasfémias e ingra-
tidões. Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que todos aqueles que
durante cinco meses, ao 1.º sábado, se confessarem, recebendo a
Sagrada Comunhão, e me fizerem 15 minutos de companhia, medi-
tando nos 15 mistérios do Rosário com o fim de me desagravar, eu
prometo assistir-lhes na hora da morte, com todas as graças neces-
sárias para a salvação dessas almas"» 123 .
Com esta aparição , deu-se , em certo sentido , o cumpri-
mento da «espiritualidade da reparação» em Fátima.
Nossa Senhora manifesta dor, não só pelas ofensas dirigi-
das diretamente a ela, mas também e sobretudo pelos pecados
que ofendem Deus e expõem aqueles que os cometem ao pe-
rigo de caírem no Inferno. Ela é Mãe e, embora esteja na glória
ce_leste, é impossível que seja insensível ao mal que fazemos, a
nos mesmos ou aos outros, e não se impressione com os riscos
ª que O pecado nos expõe. Apesar da sua beleza radiosa, ela
most ra-se triste. De algum modo, misterioso mas real, tam-

m Ibidem, p. 192.

130
·nha experiência mariana nos exorcismos e
A 1111 nos outros momentos ...
,rn agora sofre e pede reparação. A reparaç~ .
be b, C . ao que ela implo
_ e que taro em nsto pede em relação a M- -
ra . _ , sua ae - tem
o objetivo nao so o de consolar o seu Cora - 1
corn . çao maculado
«ar
rancando» dela os espinhos com que os peca dores '
0
Cravam a cada momento, . mas também O de obter, pe1a sua
intercessão maternal, a piedade e a misericórdia de Deus, em
benefício de tantas almas que vivem no pecado.
Diante dos pecados do mundo, que crucificam novamente
Jesus Cristo e tornam atuais os sofrimentos da Virgem, senti-
mos a necessidade de nos agarrar a ela, como fizeram São João
e a Madalena no Calvário , para consolar o seu Coração e para
nos oferecermos a Deus através das suas mãos. Antes de tudo
'
esta reparação realiza-se com o nosso empenho em observar
os Mandamentos de Deus; com os pequenos sacrifícios quoti-
dianos oferecidos ; com o nosso Terço diário; com a Santa
Confissão bem-feita e periódica; com o esforço empenhado na
conversão contínua. Tudo isto deve ser oferecido no altar, no
momento da Santa Missa e unido ao sacrifício de Cristo. Além
disso, a Senhora pediu a celebração dos Primeiros Sábados de
cada mês em reparação ao seu Coração Imaculado, com a
meditação de, pelo menos, um quarto de hora, dos mistérios
do Rosário e com a Confissão e a Sagrada Comunhão eucarís-
tica. Esta é a ajuda que se espera de nós na luta contra Sata-
nás, pelo triunfo do Reino de Deus nas almas e na sociedade.
De facto , Nossa Senhora, com esta nossa oferta reparadora,
juntamente com a de muitos outros dos seus filhos queª
amam e estão a seu lado, aproxima-se do Filho, implora
pe rdão por muitos anos afastados de Deus e suplica por elesª
graça da conversão, Deus convida-os, com amor infinito, ao
arrependimento dos seus pecados e a uma vida nova em
Crist0 · De tal modo, a Virgem Maria coopera com Crist ~ para
sanar atualmente o mal do mundo, obtendo a libertaçao da
escravatura de Satanás das almas daqueles filhos que, ren-
131
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

<lendo-se à graça, dão finalmente a sua resposta de amor ao


amor de Cristo redentor.

Exemplos extraídos dos exorcismos


Um dia, apercebo-me de que Deus humilhava o demónio,
obrigando-o a louvar a Virgem Maria com estas palavras: «Ela
é a única que está em toda a parte ; "mata-me", sempre "me
matou", vira-me tudo de pernas para o ar; o seu véu maldito
estrangula-me sempre; nenhum de nós resiste.» Então, excla-
mei: «Dou-te graças, ó Mãe! Graças ao Coração Imaculado!»
O demónio respondeu imediatamente: «Deixa estar aquele
Coração! Enfiámos-lhe uma espada e não morreu; crucificá-
mos o seu Filho e não morreu, e ganhou outros filhos!»

Noutra ocasião, enquanto eu louvava o Coração Ima-


culado de Maria, o demónio disse: «O seu Coração é a nossa
dor; por mais que tenhamos cravado o seu Coração, por mais
que o tenhamos esmagado , tanto mais ela nos esmagou;
quanto mais ela sofria tanto mais nós sofríamos. Nós quería-
mos "gozar"; ela, ao contrário, matava-nos com o seu pranto;
as suas lágrimas são fogo que nos "mata".»

Noutro dia, enquanto eu invocava a intercessão do Cora-


ção Imaculado de Maria, o demónio falou dos espinhos cra-
vados nela (que representam os pecados da humanidade) e
daqueles que reparam as ofensas contra este Coração e disse:
«Os homens aj udaram-me a cravá-la com um bilião de espi-
nhos; vós ajudastes-me a cravar-lhe todos aqueles espinhos,
fo stes vós quem me ajudou; quanto mais espinhos tanto mais
força, quanto mais dor mais glória; os vossos pecados trans-
formaram-se em glória, porque outras tantas almas se consa-
graramª expiá-los e cada alma faz com que salte um espinho
e cada espin °
· h que salta espeta uma brasa no nosso "cere
, b ro "·

132
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

que vivem no pecado. Como veremos, os próprios demónios,


malgrado seu, tiveram de confirmar tudo isto com grande
desapontamento.

Num parágrafo anterior deste capítulo, já descrevi o modo


como a intercessão da Virgem não consiste apenas em orar, por
nós e para nós, para nos obter não só a graça santificante e
cada uma das graças de que vamos precisando, mas também
em dar a Deus o que lhe oferecemos. Um dia, enquanto estáva-
mos a apresentar e a oferecer a Nossa Senhora orações, ale-
grias, sofrimentos e toda a nossa vida, juntamente com osso-
frimentos da pessoa possessa, o demónio foi obrigado a dizer:
«Cada alegria, dor, sofrimento, oferecidos àquele Coração (de
Maria) , são doces ternuras de profunda caridade que ela aceita
e oferece com as suas mãos e levanta-as à luz daquele Criador.»

Um triste acontecimento tinha provocado em mim um


grandíssimo sofrimento moral. Uma manhã, quando retomei
os exorcismos, no primeiro dia depois daquela prova dolo-
rosa, o demónio, sentindo-se irritado com o meu regresso aos
exorcismos, quis desforrar-se e, de repente, começou a descre-
ver com grande precisão , e rindo-se perfidamente e com
grande satisfação , todos os factos que me tinham causado
aquela aflição, gabando-se de ter contribuído para suscitá-los
e para fomentá-los. Também ameaçava provocar-me outros.
Então, fiz esta oração: «Senhor, pelas mãos da Mãe Celeste ofereço-
-te com todo o meu coração aqueles sofrimentos.» Ainda não tinha
acabado de dizer a palavra «sofrimentos» e já o demónio mu-
dava a «música» . Com urros que rebentavam os tímpanos,
gritou: «Não, nããoo! Foi ela que a apanhou (palavrão). Roubou-a!
Logo a levou! (referia-se à oferta do sofrimento). Levou-a Aquele,
imediatamente!!! Quase nem deu tempo de apanhá-la. Apanhou-a e
levou-lha lá acima. T:10das elas almas que me levooouu!!!»
134
. ha experiência mariana nos exorcismos
A,nrn e nos outros
momentos ...
Es tá ainda viva em mim a recordação d .
e um ep1 -d.
nteceu recentemente: durante uma co so 10 que
aco . nversa pessoal
. ha ensinado a oferta a Deus de si própri _ , eu
un 'd d o, pe1as maos de
Maria , ao .man o e uma senhora que recebi·a exorcismos.
.
Eu
ta mbém unha com posto uma oração que ele de . . .
_ _ vena 1nsenr
. ·r·
entre as suas oraçoes. ,da. manha e da noite , para VIVI Icar o
espírito desta oferta diana.
Naquele momento, a esposa não tinha qualquer possibili-
dade de saber nada do que eu_dissera ao marido, porque
vinha ao nosso encontro com a filha. Tendo chegado junto de
nós e sido iniciado o exorcismo, logo o demónio, berrando,
disse: «É inútil que ensines aquelas coisas a esse (e disse um pala-
vrão , apontando com o dedo o marido daquela mulher) e,
depois, aquele papel que escreveste (referia-se claramente à
oração que eu tinha composto), vou rasgá-lo, vou rasgá-lo!»

§ 13 -A Assunção de Maria

Catequese

Pio XII declarou e definiu «ser dogma revelado por Deus


que: a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, termi-
nado o curso da vida terrena, foi assumpta à glória celeste em
alma e corpo» 125 . A Assunção foi um evento salvífico, uma
ação realizada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, dom
de graça. A Bem-aventurada Virgem - reafirma o Vaticano II -
«terminando o curso da sua vida terrena foi levada à glória
celeste, em corpo e alma, e exaltada pelo Senhor como Rainha
do Universo, para que se parecesse mais com o seu Filho, ~e-
nhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte» (LG 5 ).

~
A .
onstitu1ção Apostólica Munificentissimus Deus (l de nove mbro. de. 1950), in
/tªApostolicre Sedis 42 (1 950), pp. 753-771. Cf. Enchiridion delle Encicliche, vo1. 6,
olonha Ect·1 . . 1
' z1oni Dehoniane, 1995, pp. 1487-152 •

135
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Exemplos extraídos dos exorcismos


Era um dia 15 de agosto, solenidade litúrgica da Assunção
de Maria Santíssima. Enquanto eu exorcizava, o demónio ex-
clamou: «Que perfume, que perfume emana! Que fedor, que
fedor!» Tendo-lhe eu ordenado em nome de Jesus que medis-
sesse a que perfume se referia, com desgosto e pronunciando
uma única vez o nome Maria (coisa raríssima, que só acontece
quando é particularmente «pressionado» pelo poder de
Deus), disse:
«Aquele perfume vem da alma e do corpo dela. A sua alma
nunca deixou o seu corpo, a vossa fá-lo-á, a sua nunca o fez.
Desde que a sua alma entrou naquele corpo nunca o deixou e
com aquele corpo foi assumpta. Ela e só ela, só ela, ela em pri-
meiro lugar, depois do seu Filho. O seu Filho morreu, mas
levou embora o corpo, tal como ela o fez. Ela, porém, não teve
sequer necessidade de morrer. Ela fechou os olhos e ouviu o
seu Filho que estava a chegar para levá-la abraçada a si, e
levou-a consigo e disse-lhe: "Assim como Tu me trouxeste a
esta terra, assim te levo para o reino do nosso Pai." Ela sorriu
com os olhos fechados e via-o mesmo com os olhos fechados
e Ele levou-a consigo , voou sem asas e chegou à presença
daquele Deus que foi para ela pai, esposo, filho e irmão. Ela
fora predestinada para isto 126 , não podia morrer, porque era o
Templo santo de Deus; ela foi criada para hospedá-lo; ela es-
tava na mente de Deus antes da criação. Ele disse-lhe: "Fecha
os olhos, Maria. Assim como o meu Espírito te levou naquele
dia, agora sou Eu próprio quem te leva. Estarás para sempre
ª.º lado do teu Filho." E ela rejuvenesceu. Naquele momento
unha
. a mesma 1·dade de quando concebeu o seu Filho umge- · ,
nito:
. catorze anos · Era um l'1no· d o campo intocad o, 1ntoc
· ado '
ninguém ha vena · de d esflorá-la; ela nunca
' haveria de ter
126 s0 bre a doutrina d d • , lo e
o Catecismo da 1 . ª pre e5unação, veja-se também a nota 30 deste capitu
greJa Católica 488-489.
136
Aminha experiência mariana nos exorcismos
e nos outros momentos ...
do· ela não conhecia o medo nem sequ
rne ' . . ' er quando am
arn O seu Filho; ela nunca tinha medo· el . eaça-
v . , a nunca tinha ran-
cor. Ela tem sempre um sornso, mesmo quand h
o c orava -ela é
0
resgate da vossa raça.» '

§14 -A caridade para com o próximo

Catequese

A plenitude da graça de Maria também implicava, necessa-


riamente , uma plenitude de amor a Deus e ao próximo.
Assim, Maria foi cumulada de amor divino que ultrapassa, em
extensão e intensidade, o amor ao Senhor de todos os homens
e de todos os anjos. Ao mesmo tempo, só podemos remota-
mente imaginar a que vértices chegou, no Coração de Maria, o
amor ao próximo , consequência lógica e necessária do seu
amor a Deus. a terra , o próximo de Maria eram todos os
homens criados por Deus; o próximo era o povo hebreu, a
que ela pertencia; o próximo eram e são todos os homens, tor-
nados seus filhos no dia da Encarnação; o próximo eram
todas as almas que o Filho vinha redimir com a sua coopera-
ção; o próximo é a Igreja de que ela é Mãe. Portanto, a devo-
ção mariana, quando é autêntica, não pode deixar de condu-
zir ao amor ao próximo, à imitação de Maria. A oração de
· 128
co1eta 127 da Santa Missa do Coração Imaculado de Mana re-
memora o amor do próximo, como consequência do amor de
Deus, fazendo voltar o nosso olhar para aquele Coração, no
qual este amor atingiu alturas vertiginosas: «Ó Senhor nosso
Deus, que no coração Imaculado de Mana · puseste a morada

- i2,
- A-- . durante a Santa M.issa,
dep . oração de coleta é a que o sacerdote pronuncia, . d mingos e nas
01s do at0 . . . d · do Glona nos o
sol . pemtencial inicial nos dias fena1s, epois
en1dad 1. . .
,2
8
es nurg1cas. . 93
CoNF
ERENZA EPISCOPAL ITALIANA,
d ll B ta Vergine Mana, P· ·
Messe e a ea
137
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

do Verbo e o tempo do Espírito Santo, dá-nos um coração


puro e dócil, para que na via dos teus mandamentos, aprenda-
mos a amar-te acima de todas as coisas, sempre atentos às ne-
cessidades dos irmãos» 129 • A Senhora, animada pelo seu amor
ao próximo, esteve sempre atenta às necessidades dos irmãos e,
agora, espera que cada um de nós, imitando-a, o seja onde se
encontra e vive diariamente, em particular ao próximo que
sofre, bem perto de nós.

Exemplos extraídos dos exorcismos


Acerca do nosso amor ao próximo, uma vez, o Maligno ex-
primiu, inesperadamente - com uma frase que só a presença
viva da Virgem Maria podia «arrancar-lhe da boca» -, a dor
que ela, de algum modo, sente pela indiferença que podemos
ter a quem sofre. Foram estas as suas palavras: «Ela quer que
se lhe obedeça e eu não a escolhi. A sua presença é mais pode-
rosa que miríades de anjos. Se ela está aqui, eu devo forçosa-
mente obedecer-lhe e ela quer que saibais que nada pode
ofendê-la mais do que a indiferença. Até ela não chegam in-
sultos, nem sequer as blasfémias, mas um olhar que anda de
um lado para o outro e não vê os sofrimentos dos irmãos des-
pedaça mais fortemente o seu Coração do que a lança que
dilacerou o seu Filho.»

§ 15 - A Senhora e a Eucaristia

Catequese
A E~caristia é o Corpo e o Sangue de Jesus, que Ele tomou
de Mana no momento em que, por obra do Espírito Santo, se

129
Esta oraçao
- de coleta é diferente
· .
da do Missal editado pela Conferência Epis-
1
copa Portuguesa [nt] .

138
. h experiência mariana nos exorcismos e
A((ltn a nos outros mom
entos
em no seu seio virginal. Portanto d
fez horu , quan o re b
Corpo, que se imola no altar, e este Sa ce emos
este , 1 - ngue, que nos
. será passive nao pensar em Maria'? Est C re-
d1rne, r . · e orpo foi for
d o nela! Este Sangue 101 e1a quem O deu ao F'lh1 o! Por seu
~
rna b r .
. rmédio o Ver o 1ez-se nosso alimento,
1nte ·
Se' portanto, Maria é a Mãe
. _
do Verbo que assu .
_ ' miu a nossa
na tu reza humana , se Mana e a Mae _ do Filho de Deus, que
dela tomou a carne e o sangue, entao Maria também é a Mãe
da Eucaristia, porque a Eucaristia é o Filho de Deus que con-
tinua a fazer-se carne sobre os nossos altares e esta Carne tam-
bém é carne de Maria. J esu s tom ou o seu Corpo e O seu San-
gue unicamente de Maria , porque foi dela concebido sem 0
concurso de um pai humano , mas pela ação do Espírito San-
to; e, portanto, também na Eucaristia, Jesus é sempre O fruto
bendito de Maria. O Santo Padre João Paulo II escrevia: «Gra-
ças a desta maternidade [de MaJia], J esus - Filho do Altíssimo
(cf. Lc 1,32) - é um verd a d ei ro f ilho do homem. É "carne",
como cada homem : é "o Verbo (que ) se fez carne" (cf. Jo
1,14). É corpo e sangue d e Maria!» 130 • «Com razão a piedade
do povo cristão semp re reco nheceu uma profunda ligação
entre a devoção à Virgem santa e o culto d a Eucaristia » 131 .

Sobre esta relação sublime entre Cristo e Maria na Euca-


ristia, um dia, San to Inácio de Loiola viveu uma experiência
mística que descreveu assim: «Sexta-feira [1 5 de fevereiro] ...
Ao preparar o altar, d ep ois d e me ter paramentado, e durante
ª Santa Missa, fortíssimas moções interiores, copiosas e inten-
síssimas lágrimas e soluços , frequente ausência da palavra. O
mesmo aconteceu depois de terminada a Missa, durante um

---

1•
]OÃO PAULO
le-se· ~e ·st0
. n é verdade, Cristo é carne: Cristo verdade n a m ente e
ne no se·10 d
e Marta» (Santo AGOSTINHO Sermo 25 [Sermon es me
· d 1't')
'
• 1· a
II, Redemptoris Mater 20. Além disso, na n ota 43 da carta ~ncic ic
d Maria Cn sto car-
1 7· PL 46 938) .
' · '
131 Ibidem 44. ,

139
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

longo momento da sua celebração, enquanto me preparava e,


depois, sentir e ver intensamente Nossa Senhora muito favo-
rável diante do Pai e ao Filho, de modo que, nas orações ao
Pai e ao Filho e na consagração eu não podia deixar de ouvi-
-la ou vê-la como quem é parte ou intermédio da graça tão
grande que eu experimentava em espírito . Na consagra-
ção Jazia-me compreender que a sua carne estava na do Filho, e
eu tinha inteligência de coisas tão altas que não se podem
[d] escrever» 132 •
Ainda a esse respeito, é conhecida a conversão do padre
Ermanno. Ao aparecer-lhe, Maria disse-lhe: «Vem comer o pão
que eu formei com o leite virginal do meu sangue de virgem; vem
beber o vinho que extraí do meu mais puro sangue. Se queres
conhecer a mãe que deves seguir preferentemente, presta atenção
ao fruto das minhas entranhas.» E mostrando-lhe o ostensório
com a Hóstia branca , disse : «Eis o fruto, a Eucaristia» 133 .
Eis então porque, já há alguns séculos, São Pedro Juliano
Eymard , o grande apóstolo da Eucaristia , afirmava que
«Maria, como despenseira universal da graça, recebeu a completa
disposição dos tesouros de graça contidos na Santíssima Eucaristia.
Por conseguinte, compete-lhe dar a conhecer e amar Jesus no San-
tíssimo Sacramento e dispor as nossas almas na Santa Comunhão.
Ela é a tesoureira de todas as graças encerradas na Santa Euca-
ristia, não só as que nos preparam a recebê-la, mas também as que
derivam deste Sacramento» 134 •
Portanto , na Eucaristia há uma doce e misteriosa presença
de Maria Santíssima, inseparável e inteiramente unida ajesus.
Todas as graças que Ele quer dar-nos por meio da Eucaristia,
dá-no-las somente por intermédio da Mãe. Ao redescobrir a

132
Do Diario spirituale di sant'Ignazio di Loyola. [Missa] di nostra Signora al Tem-
pio. Simeone 14.
m M. V BERNADOT, OP, Maria nella mia vita Roma Edizioni Paoline 1954.
134 p ' ' '
· FRANc Esco M. AVIDANO, SM , Un segretto di Jelicità, 10.ª ed., Casale Monferrato
(AL), Apostolato Mariano, 1980, p. 180.

140
A minha experiência mariana nos exorcismos
e nos outros moment
os ...
dl·mensão mariana da Eucaristia ' teremos acesso a gr .
copiosas, tanto da nossa participação na Santa M· aças mais
- , . 1ssa como da
nossa comun h ao eucanst1ca, e também d '
, . a nossa adoração
eucansuca.
A própria Virgem ensinava o padre Domen· d
. . ico e11a Madre
di Dw a receber com proveuo Jesus-Eucaristia:
«Sefiores verdadeiramente
. humilde' a humildade supnra . , tu do.
Não podendo fazer outra coisa, oferece a Deus as mi·nhas d'isposi-.
ções em conversar com Ele na terra. Imagina recebê-lo como eu 0
recebi no meu seio, na Encarnação. Ou como O acolhi nos meus
braços, quando veio à luz. Ou como o abracei no caminho do Cal-
vário e quando foi deposto da cruz, ou ainda depois da Ressur-
reição. Este pensamento também poderá sugerir-te considerações
salutares durante o dia. Seguidamente, oferecer-lhe os sentimentos
que lhe testemunham em palavras e em obras e ele aprecíá-las-á
como coisa tua» 135 .

Também os Santos Padres João Paulo II e Bento XVI exor-


taram a receber Cristo como Maria e com Maria. Dedicando o
capítulo VI da Encíclica Ecclesia de Eucharistia a Maria - «Na
Escola de Maria, Mulher "Eucarística"» - o papa João Paulo II
escrevia, entre outras coisas: «Na Eucaristia, a Igreja une-se
plenamente a Cristo e ao seu sacrifício, fazendo seu o espírito
de Maria» 136 . E o papa Bento XVI, na Exortação Apostólica
pós-sinodal Sacramentum caritatis, no parágrafo «A Eucaristic:t
e a Virgem Maria» , escreveu: «Maria de Nazaré, ícone da Igreja
nascente, é o modelo de como cada um de nós é chamado a acolher
137
0 dom que Jesus faz de si mesmo na Eucaristia» ·

Acerca da relação entre Nossa Senhora e a adoração euca-


rística, escrevia [ainda] João Paulo II: «Quando, na visitação,

ns Ibidem, p. 179.
1)6 . de Eucharistia 58.
Ecclesia
137 s
acramentum caritatis 33.
141
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

Maria transporta no seio o Verbo feito _carne, f a~-se, de algu,n


modo, "tabernáculo" - o primeiro tabernaculo da história_ onde 0
Filho de Deus, ainda invisível aos olhos dos homens, se concede à
adoração de Isabel, como que "irradiando a sua luz" através dos
138
olhos e da voz de Maria» •
São Pedro Juliano Eymard afirmava que já nesta terra
depois da Ascensão de Jesus ao Céu, Nossa Senhora vivia no~
do Santíssimo Sacramento, e por isso ele gostava de chamar-
-lhe «Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento».
Quando apareceu a Santa Catarina Labouré, na capela do
noviciado, Nossa Senhora apontou-lhe o sacrário e disse:
«Vinde aos pés deste altar; aqui, as graças serão derramadas em
abundância sobre todos os que as pedirem com confiança, sobre
grandes e pequenos.»
Nossa Senhora é a doce Mãe do Deus da Eucaristia, a Mãe
do Cristo Eucarístico, e quer que se adore o seu divino Filho
na Eucaristia.
«São Pio da Pietrelcina dizia, às vezes, aos seus filhos espi-
rituais: "Mas não vedes a Senhora sempre ao lado do sacrário?"
Maria está sempre ao lado do Tabernáculo. E como poderia
ser de outro modo, se era ela quem no Calvário «estava junto
da Cruz de Jesus» Oo 19,25)? Por isso, Santo Afonso Maria de
Ligório, a cada Visita a Jesus Eucarístico, unia sempre a Visita a
Maria Santíssima. São João Basco dizia: "Suplico-vos que re-
comendeis a todos, primeiro a adoração a Jesus Sacramentado
e, depois, o obséquio a Maria Santíssima." Também São Ma-
ximiliano M. Kolbe recomendava que, quando se fosse ter
com Jesus Eucarístico, nunca se esquecesse a recordação da
presença de Maria , chamando por ela e unindo-se a ela,
fazendo-se pelo menos atravessar a mente do seu suave nome.
N~ vida de São Jacinto, dominicano, lê-se que, uma vez, para
evitar uma profanação do Santíssimo Sacramento, o santo

138 Ecclesia de Eucharistia 55 .

142
•I"'\ • •

A minha expenenoa manana nos exorcismos


e nos outros momentos
...
rreu para o sacrário e pegou na píxide
eO com as Par 1
adas para pô-las em lugar seguro. Qua d . . _ r icu as Sa-
gr _. n o 1a Ja a f ·
Jesus Eucansnco agarrado ao peito ' ouvi·u uma voz qugir ·com h
da estátua de Maria Santíssima, ao lado do altar· "Co ue ~n a
levas Jesus sem me levar também?" o santo · mo e que
- parou espantado
compreendeu a observaçao, mas não sabia O e '
- d que 1azer para
também 1evar a estatua a Mãe Celeste· hesitant .
' e, aproximou-
-se dela para tentar pegar-lhe, mas não preci·s d r
ou e 1azer
nenhum esforço, porque a estátua tornara-se tão lev
. ·r· d d e como
uma pena. O s1gn1 1ca o o prodígio é delicadíssimo: pegar
em Maria com Jesus não pode pesar nem custar absoluta-
mente nada, porque "estão uma para o outro" de maneira di-
.
vinamente su bl1me» 139
.

Exemplos extraídos dos exorcismos


Um dia, enquanto eu orava assim: «Senhor, adoramos-te
no Santíssimo Sacramento do altar» , o demónio exclamou:
«Quando vos ajoelhais diante daquele, nós trememos.»

Uma vez, ordenei ao demónio em nome de Jesus, que dis-


sesse palavras de louvor em honra de Jesus no Santíssimo
Sacramento da Eucaristia. E ele: «Deixa-me estar. Para nós é
só um pedaço de carne que goteja sangue. Até nós não conse-
guimos saber como está em toda a parte ao mesmo tempo, em
cada pequenino pedaço de hóstia. Nem quem as consagra
acredita nisso.» E eu disse-lhe: «Todos, não!»

Outra vez disse: «Não percebem, mas Ele está ali, está ali:
Ele está ali. Isso é o maior dom que se poderá fazer: dar-se a si
mesmo pelos amigos, e Ele deu e continua a dar-se todo~ os
ct·ias, em toda a parte, continuamente. A Cruz era so- 0 sinal

-119 -
p - . . F · ento (AV)Ed
, ...
1z10m
· STEFANO MARIA MANELLI Gesu Eucanst1co Amore, ng
France · '
scanr dell'Immacolata, 1972, pp. 161-162.
143
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

mais aparatoso, porque o verdadeiro_ dom é-~ Euca_ristia. Ele


sabia que nunca haveria de abandona-los, e Jª lho tinha dito:
. ,,
"Permanecerei convosco .»

Noutro dia, enquanto orávamos invocando insistente-


mente Nossa Senhora com o título de «Mãe da Eucaristia», 0
Maligno surgiu, dizendo: «Ele e ela são inseparáveis. Não
sabeis até que ponto invocá-la significa invocá-lo; são uma só
coisa; Ele levou-a consigo durante toda a vida. No corpo e
sangue do Filho também há o corpo e sangue da Mãe. Não
podia ser de outro modo, pois formou-se nela. Conheceis a
biologia? Sabeis o que é o ADN? Eles são uma só coisa. Ele
nasceu dela e ela nasceu dele . Nunca estiveram divididos.
Sempre estiveram unidos . Antes de ela o conceber, Ele já
estava nela; antes de Ele nascer, ela já estava nele. Ela foi a pri-
meira a dar-se. Ele trazia em si o sangue e a carne daquela
Mulher maravilhosa, bastante maravilhosa para ser suportável
por nós , e não podemos nada contra ela. Quando celebrais
aquilo a que chamais Missa, ela está com Ele. » Depois, eu
disse-lhe: «Adora Jesus no SS. Sacramento. Adora o seu pre-
ciosíssimo Corpo e Sangue! » Finalmente, acrescentei: «Nós
prostramo-nos diante de jesus Sacramentado.» Ele disse pron-
tamente: «Odiamo-vos por isto, por causa disto queremos
arruinar-vos, não só porque sois seus fiiiilhos! Perdemos tudo,
perdemos tudo! Ainda podeis aproximar-vos dele e nós não
queremos, não deveis, vós não deveis ser como nós!»

§16 - O triunfo do Coração Imaculado de Maria

Catequese
Em F'atima,
· Nossa Senhora prometeu o triunfo do seu
Coração Imaculado e nós esperamo-lo e apressamo-lo, coope-
144
Aminha experiência mariana nos exorcismos
e nos outros momentos ...
rando ativamente com ela. No moment
o em que
Santo Padre Bento XVI já por três vezes eh escrevo, o
amou a aten - d
fiéis para a espera da realização desta promessa çao . os
No dia 14 de maio de 2006 antes d ·_
' a oraçao de Re .
ccrlí, ele disse estas palavras: gzna
«Um caminho seguro para manter-se unid El ,
_ . os a e e recorrer
à intercessao de Mana que, ontem 13 de maio · .
' , vimos pan1cular-
mente venerada, recordando as aparições de Fa' t' d
. ima on e em
1917, se manifestou
. . por várias vezes a três crianças , os paston-
' .
nhos Francisco, Jacinta e Lúcia. A mensagem que lhes confiou,
na continuação da de Lourdes, era um grande apelo à oração e à
conversão ; mensagem realmente profética considerando O séc.
XX, desgraçado por destruições nunca vistas, causadas por guer-
ras e regimes totalitários, e também por extensas perseguições à
Igreja. Além disso, no dia 13 de maio de 1981- há vinte e cinco
anos-, o Servo de Deus João Paulo II sentiu que tinha sido salvo
da morte por intervenção de uma "mão materna", como ele pró-
prio haveria de dizer, e todo o seu pontificado foi marcado por
aquilo que a Virgem tinha dito em Fátima. Embora não tenham
faltado preocupações e sofrimentos, se ainda permanecem motivos de
apreensão pelo futuro da humanidade, a verdade é quefoi de grande
conforto tudo quanto a "Branca Senhora" prometeu aos pastorinhos:
"Por fim, o meu Coração Imaculado triunfará."»

Durante a sua viagem à Terra Santa, no dia 13 de maio de


2009, junto do hospital Caritas Baby, em Belém, o Sumo Pon-
tífice pronunciou estas palavras:
«Nesta festa de Nossa Senhora de Fátima, goS tªria de con-
cluir invocando a intercessão de Maria, enquanto douª Bênção
Apostólica às crianças e a todos vós. d
r efúgio dos peca ores,
Oremos: Maria, saúde dos en1ermos, r
- , . ções que te chama-
mae do Redentor, unimo-nos as muitas gera .
·Ih quanto mvocamos
ram "bem-aventurada". Ouve os teus f1 os en .
~ . d F , ima: "Por fim, o meu
0 teu nome. Prometeste às tres cnanças e at

145
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

coração Imaculado triunfará.,, Que assim aco~t~ç~! Que o amor


triunfe sobre O ódio, a solidariedade sobre a d1visao e a paz sobre
toda a forma de violência! Que o amor que deste a teu Filho nos
ensine a amar a Deus com todo o nosso coração, com todas as
forças e com toda a alma. Que o omnipotente nos mostre a sua
misericórdia, nos fortifique com o seu poder e nos cumule corn
todos os bens (cf. Lc 1,46-56).»

Por ocasião da sua viagem apostólica a Portugal, no 10.º


aniversário da Beatificação dos Pastorinhos de Fátima, Jacinta
e Francisco, o papa Bento XVI concluiu assim a sua homilia
durante a Missa celebrada na Esplanada do Santuário de
Fátima, no dia 13 de maio de 2010:
«Com a família humana pronta a sacrificar os seus vínculos
mais sagrados sobre o altar de avarentos egoísmos de nação,
raça, ideologia, grupo ou indivíduo , veio do Céu a nossa Mãe
bendita, oferecendo-se para transplantar para o coração de todos
os que se lhe confiam o Amor de Deus que arde no seu. Naquele
tempo, eram só três, cujo exemplo de vida se difundiu e multi-
plicou em grupos inumeráveis por toda a superfície da Terra,
especialmente na passagem da Virgem Peregrina, os quais se de-
dicaram à causa da solidariedade fraterna . Possam estes sete anos
que nos separam do centenário das Aparições apressar o pre-
anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da
Santíssima Trindade.»

Exemplos extraídos dos exorcismos


Sobre o triunfo do Coração Imaculado, de que Nossa Se-
nhora falou em Fátima, o demónio, pronunciando com esfor-
ço tremendo o nome de Jesus, exclamou: «Vós não sabeis, ou
[talvez] até o saibais, mas não acreditais ou não tendes fé sufi-
ciente: é_0 ~oração Imaculado de Ma ... ar.. .i . .. a que salvará 0
mu n<lo inteiro. Só o seu Coração Imaculado.» (Eu já tinha
146
A minha experiência mariana nos exorcismos
e nos outros momentos ...

apresentado este mesmo exemplo no parágr ,r.O A .


. - de Mana»,
-mediaçao ·
por ser também aprop Cl.J. dO« , rntercessão-
na aquele tema.)
A 3 de junho de 2009, começou a dizer em t d .
om e satisfa-
ção: «Aquela_vem falar-vos
. _ todos
. os dias e não ac re d'1ta1s
. ne a
1
(eri-se) ou,nao ouvis.
. Nao OUVIS. Ahhhr (exclama - d
· ·~r.
çao e satzs1 a-
ção). Eu so serei esm_agado, se o~virdes O que ela diz (aqui,
começa novamente a nr-se com satisfação), mas vós não ouvis
não escutais. Obrigado! Ah, ahhh, ahhh. Valentes; ei, valen~
res! Fazei assim! Continuai assim! É simples, sabes? É simples.
Põe na televisão uma com as mam ... de fora e verás que nin-
guém te ouvirá.» Perante estas afirmações, perguntei instinti-
vamente: «Mas tens a certeza de que ninguém ouve?» E ele:
«Alguns, alguns ; mas poucos, poucos, poucos. Ela chora
sempre por causa disto. » No início da oração, o demónio
tinha-se encarniçado especialmente contra Santa Gema Gal-
gani e o Padre Pio, afirmando que tinham vindo participar no
exorcismo com a sua oração. Então, eu disse: «Diz a verdade.
Olha que o Padre Pio e Santa Gema estão aqui. Diz a verdade.
Toda a verdade. Em nome do Filho, que quer que a Mãe seja
louvada, amada, bendita e venerada. Fala, em nome de Jesus!
Ordeno-to, espírito imundo!» Mal eu disse estas palavras, de
repente, como que obrigado por alguém, exclamou berrando:
«'tá bem, 'tá bem, 'tá beeeeem! Aos poucos, aos poucos, no
fim aquele Coração triunfarááááááá! !! (esta última palavra foi
tremenda e prolongadamente gritada).» Depois, acrescentou,
berrando novamente a última palavra: «Está escrito, está
escrito, está escrito e eu não posso naaaada!! !»

No dia 20 de fevereiro celebra-se a memória litúrgica dos


Beatos Francisco e Jacinta Marta, os dois pastorinhos de
Fátima, a quem, com a prima Lúcia, apareceu Nossa Senhora
por diversas vezes em 1917. Um dia, precisamente ª 2 de fe- º
147
VI

Alguns exemplos de intercessão


da Virgem Maria
no momento da libertação

Para a libertação de uma mulher foram necessários quase


dois anos de exorcismos, ao ritmo de um por semana. Depois
da libertação, pedi-lhe que descrevesse o que tinha sentido
naqueles momentos. Eis o seu testemunho:
«O monstro - foi assim que ela definiu aquela presença ma-
léfica - agitava-se descompostamente, tinha perdido toda a sua
arrogância habitual, parecia desesperado. Tentava morder as
mãos que o seguravam, atirar para longe o crucifixo que tinham
posto no meu peito e, para minha grande dor, cuspir nele. De
repente, senti que 1ne inundava uma luz branquíssima, envol-
vente, que me dava uma sensação de paz dulcíssima, enquanto
provocava dores atrozes no monstro, o que me fazia perceber
uma sensação de sufocamento e, ao mesmo tempo, de liberta-
ção. Aquela grande luz parecia descer como uma espécie de véu,
que ia envolvendo todos os que estavam na sala, e também a
mim, e traspassava como mil espadas os olhos do monstro, que
urrava agitando-se e dizendo que o manto daquela (evidente-
mente referia-se ao manto de Nossa Senhora) estava a envolver
todos nós que estávamos presentes, e isto provocava-lhe u_m ~o-
frimento terrível, que fazia com ele se contorcesse de maneiram-
149
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

. , 1 No fi·m , lançou um berro nunca antes . ouvido, e eu


descnnve .
senu. que me retorcia toda , como se me .tivesse virado completa-
mente do avesso. Depois, fiquei repentinamente calma e em si-
lêncio, e abri os olhos, despertando sozinha do transe, e recome-
cei a rezar instintivamente a Ave-Maria, e todos os que me
rodeavam estavam a rezar.»

Isto é O que testemunhou a mulher sobre a sua libertação.


Pelo contrário, nós, os que estávamos presentes, e podíamos
ver as reações do demónio , ouvimo-lo dizer: «Manda-a
embora, manda-a embora, manda-a embora! Nestes dias
todos a nomeiam, todos a nomeiam, todos dizem o seu nome.
Luz demais, luz demais, luz demais!»
Ordenei-lhe que me dissesse o que era aquela luz e ele res-
pondeu: «Ela está aqui, sempre ela, ela é a rainha da minha
dor, ela aniquila-me continuamente. Ela não faz mais nada
que orar por vós, ao seu Filho, e em tudo é ouvida. Nenhum
humano devia ter este poder.» Alguns segundos depois, acres-
centou: «Porque nos humilhou assim tanto? Pôs-nos abaixo
de todos. O seu Filho, que devia ser só Deus, tornou-se tam-
bém homem e, para fazê -lo , escolheu uma mulher. Agora,
aquela está aqui, a humilíssima! » Instantes depois, ouvimo-lo
ainda a gritar, dizendo: «Envolve-os, mas deixa-me de fora,
Deixa-me fora deste manto, não o quero. Eles são teus filhos,
eu não. Deixa-me de fora, esse manto destrói-me, deixa-me de
fora!»
Momentos depois, ainda contorcendo-se e gritando, come-
çou a assumir as mesmas expressões de um moribundo, até
que a mulher emitiu algo que era simultaneamente um grito e
uma longa expiração, no termo da qual pareceu que vomitava
no ~hão uma coisa invisível, que lhe saía da boca. Despertou
rapidamente do transe e começou a rezar a Ave-Maria junta-
men~e connosco. Os controlos que lhe fizemos , nas semanas
seguintes, mostraram que tinha havido uma libertação verda-
150
Alguns exemplos de intercessão d 'r
a v1rgem Maria ...
deira e total. Quando demos por cena e s .
, , egura esta hbertação
aJ·oelhamo-nos e, como tambem O ritual d . '
. . os exorcismos con-
vida a fazer, cheios de alegna recitámos O M ;r·
. ' agn~ 1cat.
Outro exemplo de libertação é O seguinte A .
· pessoa 11ber-
tada declarou:
«Durante o exorcismo, pareceu-me que esta
vam connosco a
querida Santa G_ema Galgani e, um momento depois, Madre
Teresa de Calcuta, bastante pequenina, que se abraçaram quan-
do se encontraram. Santa Gema estava vestida de preto, como
costumava , e Madre Teresa com o seu típico hábito. Pouco
depois, pareceu-me ver João Paulo II, todo vestido de branco ,
como Papa, que, com uma mão e o Terço, me apertou as mãos
enquanto pousou a outra na minha cabeça, abençoando-me com
um amor indescritível. Depois, chegou a nossa querida Mãe,
Maria. Estava um pouco afastada, com um manto branco ou
dourado, mas muito luminoso, que cobria toda a sua pessoa da
cabeça aos pés. Viam-se-lhe as mãos juntas e branquíssimas,
parecia-me séria e severa, como se estivesse a orar insistente-
mente. Em determinada ocasião pareceu-me que chorava. Quan-
do vos ajoelhastes, também ela o fez. Depois, não me lembro de
mais nada. Depois, o demónio disse que aquilo era um sinal e
que amaldiçoava todos. Mas eu abençoo a todos e agradeço a
Deus por ela, padre Francesco, que tem muita paciência.»

Foi isto que a mulher testemunhou sobre a sua libertação.


Nós, que estávamos presentes e ouvíamos e víamos as reações
do demónio, tivéramos esta experiência.
No início do exorcismo, eu tinha rezado a Ladainha dos
Santos, durante a qual também invocara Santa Gema Galgani, a
Beata Madre Teresa de Calcutá e o Servo de Deus joão Paulo II.
Poucos minutos depois, o demónio disse: «Chegou a v~sti da
de negro, como tu .» (Referia-se a Santa Gema Galgam que,
muito frequentemente, intervém para ajudar os exorciS tas e as P_es-
· exclamou·· «Iambem
soas possessas que lhe rezam .) Depois,
151
. Maria e O Diabo nos exorcismos
A V,rgem

chegou a albanesa, aquela pe~uen~na! » (Referia-se a Madre


Teresa de Calcutá, cuja intercessao eu invocara nas ladainhas.) E
imediatamente depois, o demónio acrescentou: «Oh! Ved~
quem chegou! Olhai para e~as. Abraça~~se, saúdam-se aque-
las duas estúpidas. Que noJo! Que noJo.» Passaram cerca de
dez minutos, durante os quais eu continuava o exorcismo,
quando, inesperadamente , o demónio começou a gritar:
«Nããão! Chegou o Tatus Tuus . Não, vai-te embora, não me to-
ques, vai-te embora!» (Referia-se claramente aJoão Paulo II, que
eu também tinha nomeado na ladainha e a quem aquela mulher
possessa estava a orar havia algum tempo.) Então, exclamei:
«Não, ele fica , porque é bem-vindo e juntamente com ele
também nós dizemos: "Tatus tuus , Maria!" E repetimos várias
vezes: "Tatus tuus , Maria!" A certo ponto, o demónio disse:
«Também está a toda vestida de branco, que me diz que tenho
de ir-me embora, porque chegou a hora.» Disse estas palavras
com raiva e soluçando. Depois, continuou, dizendo: «Aquele
está a enxotar-me , está a enxotar-me com aquele manto. Já
não posso mais!» Passaram alguns minutos e começou a
gritar: «Não chores, não chores, não, nãão, nãããããão!» Aqui,
compreendemos que a Virgem Maria oferecia as suas lágrimas
ajesus pela libertação daquela sua filha. Continuando o exor-
cismo, ajoelhei-me, e comigo todos os presentes, e comecei a
dizer: «Pai Eterno, Tu és o nosso criador e nós adoramos-te.»
O demónio exclamou: «Não, nããão, também aqueloutros se
puseram de joelhos: o branco (referia-se a João Paulo II) , a
negra (referia-se a Santa Gema Galganí) e a branquinha (refe-
ria-se à Madre Teresa de Calcutá) e ela, ela pôs-se de joelhos
(pronunciou o pronome "ela", referindo-se a Nossa Senhora, com
um tom de voz que revelava não só medo, mas também reverência
inevitável e, simultaneamente, admirativa).» Enquanto estáva-
mos assim, todos de joelhos, ordenei várias vezes ao demónio
que repetisse: «Pai Eterno, Tu és o meu criador!» Como insisti
152
Alguns exemplos de intercessão d 'r
a virgem Maria ...
nesta ordem, respondeu-me: «Tu bem sabes é .
. d Ih que assim mas
eu não digo.» Quan ,
o e ordenei novamente
.
'
acrescentando:
«Pai Eterno, Tu es o meu cnador e eu adoro-te
. . », recusou-se
U ma vez
.
mais
.
a repetlr,
.
respondeu-me·
, ·
«Se eu qu· d.
1sesse 1zer
estas coisas, unha ficado .
la», para afirmar que se t·
. , 1vesse que-
rido adorar Deus, tena permanecido com os anjos bons. Por-
tanto, não queria de _m~d~ nenhum humilhar-se e dizer aque-
las palavras, mas eu insistia, até que, a certa altura, começou a
exclamar: «Não, não, ela (isto é, Nossa Senhora) quer que eu
diga. Não!» Depois, como que subjugado, disse duas vezes,
com uma voz horrível, como se estivesse a ser sujeito a um es-
forço tremendo e repugnante: «Pai Eterno, Tu és o meu cria-
dor e eu adoro-te»; à terceira vez juntou a palavra «devo»: «Tu
és o meu criador e devo adorar-te.» Disse a palavra «devo»
martelando-a com um tom de voz impressionante e, para nós,
comovente, porque compreendíamos claramente que tinha
sido obrigado pelo poder da oração de Nossa Senhora. Depois
de ter pronunciado esta última frase , lançou um longo, pro-
longado e tremendo urro , e deixou a pessoa que possuía, que,
passados três anos de exorcismos, obteve, finalmente, a sus-
pirada libertação.

153
VII

A experiência mariana
de outros exorcistas

Nos inícios dos anos oitenta, um exorcista jesuíta italiano,


0 padre Domenico Mondrone , publicou um texto com 0
título: A tu per tu con il maligno! 141 Ele usou um estilo narrativo
mas, estou certo, por declaração direta de testemunhos va-
riados e credíveis, que ele recolheu uma série de frases que os
demónios tinham proferido no decurso de exorcismos prati-
cados por ele próprio e por outros exorcistas. Eis uma breve
antologia de expressões relativas à Senhora.
Ele conta que, um dia, enquanto agarrava num terço que
estava num canto da escrivaninha, o demónio disse-lhe: «Se
quiseres falar comigo, atira fora essa coisa!» O exorcista res-
pondeu-lhe: «Coisa?» O demónio replicou: «Excrementos de
cabra ligados uns aos outros!» O exorcista rebateu: «Se para ti
é coisa, eu beijo-a e, mesmo que te desagrade, enrolo-a no
pulso por segurança. Vejo que deve meter-te medo, velhaco!»
EO demónio: «Para mim, é uma guilhotina!» O exorcista,
muito consolado por esta afirmação, declarou: «Tanto melhor
e obrigado por mo teres dito.»

---141 O texto que, no fim dos anos setenta foi publicado pela editora La Rocei~, hoje
tem o titulo Interviste con il maligno e pode ser pedido, por telefone ou fax, ao numero
04518201679.

155
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Outra vez, depois de o demónio ter definido Nossa Senho-


ra como «aquela», o exorcista, embora tivesse compreendido
bem a quem se referia, perguntou: «Quem é aquela?» Ele ime-
diatamente respondeu: «Nunca usarei aquele nome!» E 0
, O demon10,
exorcista: «Queima-te assim tanto.» - · mastigando
as palavras, respondeu com raiva: «Odeio-a infinitamente,
porque é a criatura mais alta e mais santa. Ele qui-la assim só
para me arreliar, para que fosse a minha mais esmagadora
humilhação!»
Outra vez, ouviu-se o demónio dizer: «Aquela mulher é
uma terrível destruidora dos meus planos. É uma devastadora
do meu reino. Não me deixa ganhar uma vitória e já me pre-
para uma derrota. Encontro-a sempre a enredar-me os pés.
Sempre atarefada em atravessar-se no meu caminho, a suscitar
fanáticos que a ajudam a arrancar-me almas. Quando e onde
as minhas conquistas são clamorosas, ela multiplica as suas
num silêncio capilar.»

Don Gabriele Amorth refere episódios semelhantes no seu


livro Um exorcista conta-nos 142 • Ele narra que soube através do
seu amigo exorcista, padre Faustino Negrini, que durante um
exorcismo, tendo perguntado ao demónio: «Porque tens tanto
medo quando nomeio a Virgem Maria?» , ouviu responder:
«Porque é a criatura mais humilde de todas e eu sou o mais
soberbo; é a mais obediente e eu sou o mais rebelde·, é a mais
pura e eu sou o mais sujo.» Um dia, Gabriele Amorth lem-
brou-se deste episódio enquanto exorcizava o demónio;
então, repetiu-lhe estas palavras e ordenou-lhe, sem fazer a
mais pálida ideia do que ele lhe responderia: «Elogiaste a
Virgem Imaculada por três virtudes. Agora, diz-me qual é a
quarta virtude, por causa da qual lhe tens tanto medo.» Ime-

1, 2 GA
· MORTH , Um exorcista conta-nos, Paulinas Editora, 2007 6.

156
A experiência ma •
nana de
outros exorcistas
diatamente ouviu a resposta: «É a únic .
. . a criatura que
vencer inteiramente, porque nunca f . me pode
01 tocada p 1 .
pequena sombra de pecado.» e a mais

O padre Cipriano De Meo O veteran 0 d .


. . . ' os exorcistas de
Itália, exerce este m1n1sténo ininterruptamente há
1 , b, d 1 58 anos -
atua mente, e tam . em e egado italiano na Associação Inter-
nacional de Exorcistas - , no livro Il divino e l' l .
. . . umano ne mw
apostolato dz esorczsta, publicado em Itália em 2007 143 , entre as
várias expressões que os demónios tinham proferido durante
os seus exorcismos, refere algumas que se referem a Nossa
Senhora.
Uma vez, tendo o exorcista nomeado Nossa Senhora ,
ouviu o demónio dizer: «Não a nomeies, ela esmaga-me;
senão, eu destruiria o mundo inteiro» (p. 350).
Outra vez, quando o exorcista recordava o dia da Assunção
de Nossa Senhora, o demónio disse: «É um dia malditíssimo»
(p. 354).
Os santos dizem que Maria é a omnipotência suplicante,
omnipotente por graça. Um dia, o exorcista disse ao demónio:
«Como ficas quando se reza a Nossa Senhora?» O demónio
respondeu : «A omnipotência daquela Mulher mete-nos
medo» (p. 357). Depois, como se quisesse remoer a palavra,
acrescentou com raiva: «Mas não devo falar.»
Uma vez, enquanto o exorcista orava pelas almas do Pur-
gatório, especialmente pelas que se arrependeram apenas ~o
último momento o demónio bufou e, depois, como nao
po'd•1a suportar a oração,
' disse: «Essas traira
- m-me no último
momento. Escaparam-me da mão, escaparam-m_e por ~ul?a
daquela (um palavrão), num instante levou-as a dizerem. pie-

O texto pode ser requisitado ao Centro Gra-rico Francescano, r ··


-1-13 - - I t av. Via Man-
fredonia, 71100 Foggia; ou, então, diretamente ao autor.
157
. Mar,·a e o Diabo nos exorcismos
A Virgem

dade, piedade, piedade, piedade. Que (palavrão) que aquela


é, mald ... ela» P· l 7S). . _ ..
cista , que unha na mao um crucifixo corn
Outra vez, O exor
, ·a do Padre Pio ouviu o demónio dizer: «Não
uma re1iqu 1 ' ... .
podia fazer-me esta afronta (palavrão d1ng1do ao e~orcista).» E
0
exorcista: «Foi Nossa Senhora quem mo sugenu.» E O de-
mónio: «Ela sugere sempre as piores coisas» (p. 187).
Noutra vez, 0 exorcista começou a orar a Nossa Senhora;
então, 0 demónio, depois de tê-la amaldiçoado, acrescentou:
«Sempre que ela ora, Ele intervém.» O exorcista continuou a
orar à Virgem Maria e o demónio disse: «Não a invoques, não
fales dela, é a minha condenação, a minha destruição; quando
a nomeias, fico besta!» (p. 199).
Noutro dia, entre uma oração e outra à Virgem Maria, o
exorcista disse : «Vês que belas orações se fazem a Nossa
Senhora?» E o demónio prontamente respondeu: «Metem-me
nojo» (p. 200) .
Uma vez, entre dois exorcismos, o padre Cipriano pergun-
tou: «O que te aborrece mais , o Evangelho ou o Rosário?» O
demónio gritou: «Mas é a mesma coisa, cretino! O Rosário é o
Evangelho em miniatura que aquela (palavrão) deu a conhe-
cer e onde colocou a invocação a si, e quer que vós, pobres
cretinos, lhe peçais a força para viver segundo o que está es-
crito naquelas porcarias (o Evangelho) .» O sacerdote acrescen-
tou: «Nós servimo-nos desta arma que ela nos deu. Mas diz-
-me que diferença há entre o Evangelho e o Rosário.» «Como
és deficiente. Ela compreendeu que nem sempre o Evangelho
é apetecível; então, dá-vo-lo às colheres e põe-se no meio para
vos dar a força de pô-lo em prática.» O exorcista acrescentou:
«Como é bela a preocupação materna de Maria por nós!» E 0
de , ·
monw , com ar de derrotado: «O seu objetivo é sempre
levar todos a cr·is t O e por em pratica as porcarias que El e
A , •

158
A experiência ma nana
.
d
e outros exorcistas
disse; por isso, deu-vos aquela arma .
r noJenta que - O
meio para 1azer o que ela fez» (p. 223 )_ e melhor
Uma vez, enquanto o exorcista ora
va pe1os sac d
especialmente por um em dificuldade 0 d _ . er otes,
. . , emon10 comp
deu e disse: «Mana (uma das raríssimas v reen-
ezes em que pronuncia
este nome) anda como um mosquito à volt d
ª os sacerdotes
nunca se cansa, e para salvá-los inventa tudo» (p. 245 ) '
Outra expressão de desagrado para com Nossa 5enh.ora é
esta: «Quanto aquela Mulher me faz vomitar, n~ao a suporto!»
(p. 251).
Finalmente: «Aquela é uma ladra» (p. 264).

Mons. Ferruccio Sutto conta que, uma vez, enquanto alter-


nava as fórmulas latinas do exorcismo com orações em ita-
liano e invocações a Nossa Senhora, o demónio reagiu, atra-
vés da mulher possuída, dizendo: «Deixa estar aquela ... que é
que ela quer? .. . não fales nela!» Sabendo que o demónio se
aborrece quando ouve falar de Nossa Senhora, o exorcista
insistiu: «Olha que aquela Senhora chama-se Maria e todos
somos chamados pelo nosso nome: se a mãe de Jesus tem o
nome de Maria , devemos chamá-la pelo seu nome . Todos
temos um nome e somos chamados por ele. Se Nossa Senhora
tem um nome, porque é que tu , quando te referes a ela, dizes:
"Aquela", em vez de nomeá-la pelo seu nome , que é Maria?
Porque não lhe chamas Maria?» Continua Mons. Sutto: «Eu
sabia que o iria enfurecer ao repetir aquele nome e, de facto, a
resposta dele foi uma explosão seca e raivosa: "Porque aque~e
nome queima-me a boca!" Ah! - digo com sarcasmo - quei-
ma-te a boca? E tens algum problema nisso? Não eS tás sem_pre
· d d eito·
no fogo do Inferno? Outra resposta funosa e e. es~ ·
"s·im, mas o seu nome queima-me muito · mais.· " Fiquei pas-.
luado, porque com a minha cultura teo1-ogi·ca nunca podena
h-,

, . do a qual, para o
Perce ber aquela finura teologica, segun
159
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

de mónio ' O nome de Maria -queima mais do que O togodo I


cerno Conhecendo a devoçao de Augusta (nome ficti' . n-
11 • • • cio dado
à mulher que recebia os exorcismos), do seu marido e d
os seus
filhos a Nossa Senhora, penso que tenha sido isto a for (·
ça isto
é O amor à Virgem [nda]) que apressou e concluiu a sua
' d r· . . d cura e
libertação que aconteceu e 1n1t1vamente urante uma
' . pere-
grinação a França, diante de Nossa Senhora de Lourdes» 144
Uma vez, o mesmo sa~erdote disse ~o demónio que pos~
suía um jovem de quase tnnta anos: «VeJo que te agitas muito
quando falo de Nossa Senhora, quando a invoco, quand~
conto a história dos seus milagres e dos seus santuários, e es-
pecialmente quando insisto em repetir o seu nome. Mas O que
te faz aquele nome? O que provoca em vós, demónios, ouvir-
des pronunciar repetida e devotamente o nome de Maria?»
Sandro (nome fictício do jovem possuído) ficou bloqueado,
arregalou os olhos e, contorcendo o rosto crispado pelo sofri-
mento, rangendo os dentes , e estirando as palavras, quase
sibilando de maneira não só despeitosa, mas também liberta-
dora daquela carga de raiva que tinha dentro de si, explodiu:
«Aquele nome faz tremer o Inferno! » 145

Mons. Sutto fala ainda de outra mulher possessa, acompa-


nhada pelo marido, com o nome fictício de Lorena, que reagia
mais que os outros ao toque das relíquias, dos terços, dos cru-
cifixos, das imagenzinhas sagradas e livros de devoção, e se
agitava mais que nunca , quando lhe pousavam a Bíblia no
peito. Ele narra: «Eu tinha recebido como presente de um
amigo, que tinha ido em peregrinação a Medjugorje, uma
lasca de rocha do monte Podbro, onde se diz que Nossa Se-
nhora terá aparecido e deu mensagens a cinco pressuposto5

144
Cf. A. R ENDA, «lo combatto il demonio», in A colloquio con l'esorcista monsignor
Ferru.ccio Sutto, Pordenone, Edizioni Biblioteca dell'Immagine, 2009, P· 122 ·
14, Ibidem, pp. 127-128.

160
A experiência m .
anana de o
utros exorcistas
videntes, com mais de 25 anos. Se se trat d
dito como o de Lourdes ou de Fátima ou dª Ge um lugar ben-
ão há nen h um · - d e finitivo da Ig .e puadalupe
JUizo . , · da
ain
n - reJa. ense1 q
fosse, a reaçao de um endemoninhado de . ue se o
, . . . vena ser a mesma
uma rehqu1a que veio de MedJugorje com 0 , a
, · . as que proveem
dos famosos santuanos mananos há pouco n d .
.~ . omea os. Quena
fazer uma expenencia. Para o encontro com L .
. orena, 1eve1-a
secretamente na pasta: .Ninguém sabia·· nem os meus coa b
1 o-
radores. O que se podia ver através do plástico transparente
era apenas papel. -~m determinado momento do exorcismo,
quando a mulher Jª estava em transe, aproximei-me dela es-
tendida no leito, e enfiei por baixo do pulôver o saquinh~ de
plástico que continha, envolta em papel, a lasca de rocha do
monte Podbro. Mas, logo que peguei na orla da camisola de
Lorena e coloquei a saqueta sobre a camisa, a mulher deu um
esticão como se quisesse libertar-se das mãos dos quatro ho-
mens que a seguravam, e gritou: "Tira isso!"» O exorcista per-
guntou porque devia tirá-la dali. O demónio, numa sequên-
cia convulsa de reações que manifestavam ao seu grande
sofrimento , exclamou por diversas vezes: «Faz-me mal!» ,
«Queima-me! », «Esmaga-me, esmaga-me!», «Tira-a! Tira-a!»
Então, o sacerdote perguntou explicitamente ao demónio o
que estava naquele saquinho, e recusou-se a tirá-lo enquanto
não lhe dissesse o que era. A determinada altura, já não po-
dendo com aquilo, o demónio deixou sair, gritando, uma pa-
lavra: «Cospa!» E Mons. Sutto conclui: «Cospa é O termo
croata que indica a bela Senhora que aparece aos pressupoStºs
videntes de Medjugorje, e que afirmam ser Nossa S~nhora,
mas ainda antes que na palavra "Cospa", a respoS tª vier~-me
das reações imediatas e violentas de Lorena, quando. unha
sid 0
m0d
tocada por aquele simples saquin °,
· h que continha a
. - » 146
esta lasca de rocha do monte das apançoes ·

-----
116 Ibidem, pp. 132-133.
161
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Agora, em relação a um testemunho, que algumas vozes


afirmam estar junto também na escrivaninha do papa João
Paulo II. É um facto acontecido no dia 17 de dezembro de
2002, durante os exorcismos do padre Carmine De Filippis.
Ele escreve:
«Com a presente, estou aqui para descrever o que aconte-
ceu na passada terça-feira, dia 17, pelas 19:00 horas, como
testemunho da Omnipotência do Céu e da sua glória. Eu
tinha quase concluído o rito exorcístico, uma vez mais cele-
brado numa pessoa, há algum tempo, possessa pelo Maligno
(uma senhora distinta de Roma, que exercia uma profissão
liberal), quando, repentinamente, com grande intensidade de
voz e ainda mais de expressão, a pessoa rezou lentamente a
Ave-Maria, mas não era a criatura humana, antes aquele espí-
rito e, depois, acrescentou: "Devo, devo proclamar a glória dela,
Maria. Sou obrigado! Nunca poderei pronunciar o seu Nome e o
que vou dizer, se não fosse obrigado. Tu, frade de Roma, di-lo, di-
-lo a todos, escreve-o, escreve-o também ao Papa, fala, fala, fala
dela, a mais poderosa, que sempre nos derrota, que sempre inter-
vém a vosso favor, sempre anula os planos de Belzebu e os nossos,
de oprimir-vos e destruir-vos. Tende-la, Maria, que corre para todo
o lado, continuamente, para socorrer-vos e ajudar-vos. Uma Ave-
-Maria dita com fé é mais eficaz que muitas das nossas tentativas
de mal, que nunca como hoje pomos em ação para levar a toda a
parte morte e perdição, sobretudo servindo-nos de magos e políti-
cos 147 . v·1-lo e escreve-o por to da a parte, que contra ela, que vos,
chamais I-ma-cu-la-da (o demónio teve enorme dificuldade e
custou-lhe muito em sibilar este título!), a minha cabeça e todo
0 Inferno não podemos nada e agora devo ir-me embora ...; e isto

porquê? Porque ela e sua mãe invocaram-na (a Maria) e amam-


na... Invocai-a, orai-lhe."

Ob .
141
v1amente ' aqui O demó mo
· -
nao pode referir-se a todos os políticos m
· d'15tl·n-
tamente, mas a alguns.

162
A experiência mariana d
e outros exorcistas
E finalmente, com maior intensidade d
' . e voz e fort •
Ç ão: "Não desespereis! Não desespereis! Na~o d . e excita-
. · esesperezsl" A ·
P essoa deu um gnto e lançou pela boca um ·. qm, ª
r , a quantidade de
espuma branca (1enomeno frequente nestes ) .
. casos e, depois
ficou como que desmaiada. Despertou e exprimi· .h '
· b a maravi1 as
Por sentir-se em, . embora cansada. . Como semp re, desconhe-
eia tudo o que unha acontecido durante O exorcism N
. ". _ ,, o. a sua
_ digamos - 1ntervençao , o demónio também revelou 0
porquê e o como daquela possessão (por vingança, mediante
um malefíc~o com um rito satânico e fazendo com que a víti-
ma inconsciente, totalmente inocente, ingerisse uma certa be-
bida). É óbvio que essa "mensagem" não é nada de novo! Mas
é uma confirmação "viva" da única Verdade e do único Amor
que liberta e salva, e da "omnipotente por graça", Maria.»

Através da voz de algumas pessoas por ele possuídas, o


demónio oferece-nos uma confirmação singular da presença e
da assistência que Nossa Senhora reserva aos sacerdotes, e da
assistência amorosa que reservava ao Padre Pio. Eis o que está
escrito na Cronistoria del convento di San Giovanni Rotando,
registado nos apontamentos do padre Tarcísio Zullo da Cervi-
nara, nos dias 19 a 21 de maio de 1955 148 . Chegam de algu-
mas cidades da Toscana quatro endemoninhados. O padre
Tarcísio faz-lhes exorcismos solenes. Iniciados os exorcismos,
os demónios enfurecem-se e atacam ferozmente os presentes
que seguram os possessos.
«"Porque não me atacastes também a mim?" - pergunta-
-lhes o padre Tarcísio. "Não podemos nada contra ti. Há aque-
loutro que te assiste." "Quem é aqueloutro?'' "Não podemos
dizer-to .. . Não queremos pronunciar o seu nome" - gritam os
possessos, dando urros e saltando para fazer barulho. Os pre-
sentes estao ~ .
_ todos em pan1co. "E s ta- aqu 1· 7· ··· Em nome de

---
148 Cronistoria dei convento, ff. 403-405.
163
. M ria e O Diabo nos exorcismos
A v,rgem ª
Deus, d1z. ei· -me como se chama e onde
_
está."
, _
"Sim ' está peno
de ti, aquele que tem os buracos, e nao esta so, com ele está 0
outro frade que está no altar onde celebra a missa de manhã
[São Francisco] 149, juntamente com aquela Mulher a quem
[ele] está sempre a orar. Agora mesmo, está a orar-lhe por ti
para que nos mandes embora." "Diz-me o nome daqueloutro_''.
"Padre Pio!!!" - grita, berrando. "Quem é o Padre Pio?" "É um
santo tão grande, contra quem não se pode fazer nada. Aper-
ceber-vos-eis de quem é quando já não o tiverdes! Mas porque
nos atormentas, obrigando-nos a dizer estas coisas?" - vocife-
ram, saltando e gritando. "Então, o Padre Pio é santo?!" Os de-
mónios não responderam. "Em nome de Deus respondei-me!
É Santo?!" "Vós não sabeis nada. O seu Patrono quer-lhe um
bem imenso. Mas quem pode tocar nele?! Está sempre com
aquela Mulher! .. ." "Está com aquela Mulher... , e que faz?"
"Reza-lhe continuamente. Não há um minuto que não esteja
absorto nela! " "Como é que está a rezar-lhe continuamente, se
há momentos estava no confessionário?" "Mesmo ali, ele não
cessa de rezar-lhe. Que embaraço! Sempre na conversa [a
chamá-la, a invocá-la] !" "Mas se aquela Senhora está sempre
no confessionário, porque é que o padre Pio repreende tanto
os penitentes e manda embora os fiéis sem absolvição?" 150 .
"Mas porquê tantas perguntas?! Porque continuas a torturar-
-me?" "Em nome de Deus, ordeno-te: Responde-me!" "Esse
homem, que te é próximo, é assistido no confessionário [por
Nossa Senhora] e [por S. Francisco] 151 • Ele não faz nada aos

149
O nome de Francisco é um acrescento do cronista do convento.
150
O cronista ~az esta precisão em nota de pé de página: «A expressão é certa-
mente exagerada. E preciso entendê-la assim: "... porque é que o Padre Pio censura
tanto al~ns penitentes e manda-os embora (sempre alguns) sem absolvição?"~ (nota
131 r~fe nda no livro do Pe. Marcellino l ASENZA NIRO, Padre Pio parla della Madonna,
San Giovanni Rotando [FG], Edizioni Padre Pio da Pietrelcina, 2006, P· 2s5).
i,1 A m . . d . d. 1vel
. atona as vezes, por desprezo e porque é para ele uma tortura Iíl LZ '
como Já pudemos ven·r·1car pe1os testemunhos até aqui relatados, o demomo
- · não pro-

164
A experiência mariana d
e outros exorcistas
eregrinos que não seja vontade de Deus e
P · onso1a, aconselha
reclama, repreend e, segundo o que aqueles que . '
- r· 1
sugerem. Como e e icaz ....
o assistem
Quantas derrotas n ·. f .
lhe
. os in nnger ,,
"Qual é a virtu de mais cultivada pelo Padre Pio 7" "O ··· ·
.d h ·1d d . passar
desperce bi o, a umi a e. Age, age, age continuamente e
nada consta para fora! Se os olhos das pessoas vissem, uh!. ..
Mas as pessoas não reparam, mal se apercebem.,,
Depois [de ter termin_ado o exorcismo] , o padre Tarcísio
pergunta ao Padre Pio: "E verdade, Padre, que no confessio-
nário, quando eu fazia os exorcismos, me encomendaste à Se-
nhora e a São Francisco?" "Sim. Uma vez lembrei-me e eles
fizeram tudo", respondia o Padre Pio, brincando. "Padre, não
mo esconda, é verdade que no confessionário é sempre assis-
tido pela Senhora e por São Francisco que lhe indicam a von-
tade de Deus no exercício do sagrado ministério!" "Se não
fossem aqueles dois, que coisa combinaria ... ", responde Padre
Pio de cabeça baixa e todo vermelho no rosto. Cada momento
arruinaria a beleza da obra divina!» 152

t ~--- Santo mas usa termos que os


ere diretamente o nome de Nossa Senhora ou de um ' •cas próprias da sua
ind· ( pio' caracter1su _
icam de maneira implicita, mas clara por exem · d 'eitamente. E este 0
es · · . · mpreen e pen
Pintuahdade ou da sua vida), e que o exorcista co F ncisco de facto , 0
in ·
otivo «por que o cronista usa os termos Nossa e
s nhora e São ra · ..
d ónio nunca d1Z1a os
Padre I arcís10,
. quando contava o ep1só . d'10 , ar·rmava
1 que . o em s usava outros ter-
nom d . · s- Francisco, ma
es a Mãe do Senhor nem do seráfico pai ao d p· parla della Madonna,
in . . to Pa re zo
os, para indicá-los» (cf. nota 132 , transcnta no tex
p, 285). 286
i,i p d ll Madonna PP· 283- .
e. M. IASENZA N1Ro, Padre Pio parla e a '
165
"
APENDICE 1

O papel de Nossa Senhora


na luta contra Satanás, desde as
aparições da Rue du Bac até hoje

Gostaria de concluir este meu trabalho, reportando uma belís-


sima homilia sobre o papel da Virgem Maria na luta contra Sa-
tanás, desde as aparições da Rue du Bac até aos nossos dias. Con-
siderei que, sendo muito afim aos assuntos propostos neste livro,
valesse a pena, no fim deste volume, oferecê-la para leitura e medi-
tação. A homilia foi pronunciada no dia 8 de dezembro de 2007,
pelo enviado pontifício, o cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congre-
gação para a Evangelização dos Povos, na presença de 150 000
fiéis que tinham acorrido a Lourdes, para a abertura do 150. º ani-
versário das Aparições. Eis a sua parte principal:

«As aparições de Lourdes devem colocar-se no contexto


mais amplo da luta, permanente e furiosa, entre as forç~s do
bem e as do mal, a partir do início da história da humanidade
no Paraíso terrestre, e que continuará até ao fim dos tempos.
Em particular, devem considerar-se entre as primeiras
· · de uma
longa cadeia de aparições, iniciadas 28 anos antes, em 1~~0,
na Rue du Bac, em Paris, que anunciavam
· · resso dec1s1vo
O ing .
da v·irgem Maria em cheio nas hostl•i·d d ntre ela e o diabo,
1 a es e

167
A Virgem Maria e O Diabo nos exorcismos

tal como está escrito no Génesis e no Apocalipse. A medalha


chamada milagrosa, que a Virgem mandou que se gravasse, )

naquela circunstância, representava-a com os braços abertos e


raios luminosos que saíam das mãos, símbolo das graças que
ela distribuía ao mundo inteiro. Os seus pés pousavam no
globo terrestre e esmagavam a cabeça da Serpente, o diabo,
para indicar a vitória da Virgem sobre o Maligno e as forças do
mal. Ao redor da imagem lia-se a inscrição: "Ó Maria conce-
bida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós." É muito
significativo que esta grande verdade da Imaculada Conceição
de Maria tenha sido afirmada precisamente aqui , vinte e
quatro anos antes de o papa Pio IX a ter definido como dogma
de fé (1854): quatro anos mais tarde, aqui em Lourdes, Nossa
Senhora quis, ela própria, revelar a Bernadette que era a Ima-
culada Conceição. Depois das aparições de Lourdes, a Santa
Virgem não deixou de manifestar as suas vivas e maternas
preocupações com a sorte da humanidade em diversas apari-
ções no mundo inteiro. Por toda a parte, pediu orações e
penitência pela conversão dos pecadores, porque previa a
ruína espiritual de certos países, os sofrimentos que o Santo
Padre haveria de sofrer, o enfraquecimento geral da fé cristã,
as dificuldades da Igreja 153 , a ascensão do anticristo e as suas
tentativas de substituir Deus por si, na vida dos homens: ten-
tativas que, malgrado os sucessos deslumbrantes, haveriam de
ficar em xeque. Aqui em Lourdes, como em toda a parte do
mundo, a Virgem Maria está a tecer uma imensa rede de seus
filhos e filhas espirituais para lançar uma forte ofensiva contra
as forças do Maligno, para aprisioná-lo e preparar assim a
vitória final do seu Divino Filho, Jesus Cristo. A Virgem Maria
convida-nos, uma vez mais, hoje, a fazer parte da sua legião

mA . 0 d .
. qm, car eal, implícita mas claramente, refere-se àquilo que Nossa Senhora
tinha preanunciado em Fátima.

168
Apêndice 1
de combatentes contras as forças d ·
o ma1 Com0 . 1
Participação na sua oferenda ' ela p ed e ·entre o sina da .nossa
conversão do coração, uma grande d ' _ , utras coisas, a
•, • evoçao a Santa E · ·
a reza diana do Rosário a oração ince ucanstia,
' ssante sem h · ..
aceitação dos sofrimentos pela salvaça~ 0 d ipocnsia, a
. o mundo p 0 d ·
parecer coisas pequenas mas são pod · enam
, . ' erosas nas mãos de
Deus, a quem nada e impossível Assim co .
. · mo o Jovem David
que, com uma pednnha e uma funda , abate u o gigante · Gohas.
armado de espada, lança e dardo ' assim tambe' m nos, - com as
pequenas contas do nosso Rosário, poderemos enfrentar he-
roicamente os assaltos do nosso adversário obstinado e vencê-
-lo. A luta entre Deus e o seu inimigo está cada vez mais
furiosa, muito mais hoje que nos tempos de Bernadette, há
150 anos, porque o mundo encontra-se terrivelmente engo-
lido no pântano de uma secularização que quer criar um
mundo sem Deus; de um relativismo que sufoca os valores
permanentes e imutáveis do Evangelho; e de uma indiferença
religiosa que permanece imperturbável diante do bem supe-
rior das coisas que dizem respeito a Deus e à Igreja. Esta bata-
lha faz numerosas vítimas nas nossas famílias , entre os nossos
jovens. Algum tempo antes de tornar-se papa, João Paulo II, o
cardeal Karol Wojtyla, dizia : "Hoje, estamos diante do maior
combate a que a humanidade já assistiu . Não penso qu~ a
comunidade cristã o tenha compreendido totalmente . HoJe,
estamos diante da luta final entre a Igreja e a Anti-igreja, entre
o Evangelho e o Antievangelho." Uma coisa, porém, é certa: ª
vitória final é de Deus e realizar-se-á graças a Maria, a mulher
,
do Genesis . . 1 combaterá à cabeça
e do Apocalipse, aque a que , .
.h s forças adversarias
do exército dos seus filhos e fil as contra a
de Satanás, e que esmagará a cabeça da Serpente.»

169
APÊNDICE 2

Referências marianas no texto


do ritual dos exorcismos

Na «Ladainha dos Santos» , que se encontra nas primeiras


páginas do ritual 154 , encontramos a invocação «Santa Maria,
Mãe de Deus, rogai por nós» que, por conseguinte, implicita-
mente, dá ao exorcista a possibilidade do uso da Ladainha de
Nossa Senhora.

Na «Profissão de fé» refere-se, como opção, o Símbolo dos


Apóstolos , em que dizemos : «nasceu da Virgem Maria» ; o
Credo Níceno-Constantínopolitano , no qual dizemos: «Por nós
homens e para nossa salvação desceu dos Céus. E encarnou
pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria» ; ou a renova-
ção das Renúncias Batismais e a Profissão de Fé [Batismal] , na
qual se pede: «Credes em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso
Senhor, que nasceu da Virgem Maria ... »

Na fórmula invocativa do primeiro exorcismo diz-se, entre


outras coisas: «Ouvi, Deus de misericórdia, as preces da Vir-
gem Santa Maria, cujo filho , ao morrer na cruz, esmagou a

154
. De ~xorcismis et supplicationibus quibusdam, LEV, Editio typica emendata, 2004,
Reimpress10 2005. Em português: CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Ritual romano.
Celebração dos exorcismos, Gráfica de Coimbra, 2000.

170
cabeça da antiga serpente e confiou à sua Mãe como filhos
rodos os homens.»

Na «Ação de Graças», prevista quando da libertação do fiel


atormentado pelo Maligno, pode-se orar o Cântico da Bem-
-aventurada Virgem Maria [Magnificat] : «A minha alma glori-
fica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu salva-
dor.. .» (Lc 1,46-55).

Na fórmula imperativa dos textos de exorcismo lê-se: «Sai


dele [dela], espírito imundo, dá lugar ao Espírito Santo. Isto
te ordena Jesus Cristo , Filho de Deus e Filho do homem, que,
nascido do Espírito e da Virgem Maria, com o seu sangue pu-
rificou o universo.»

Nos «Apêndices », na rubrica «Súplica e exorcismo .. .


[para] circunstâncias peculiares», inicia-se o exorcismo com
estas palavras : «Em nome de Jesus Cristo, nosso Deus e
Senhor, e pela intercessão da Imaculada Virgem Maria, Mãe de
Deus .. . »
Uma outra referência mariana, durante esse mesmo exor-
cismo, é a seguinte: «Ordena-te a excelsa Mãe de Deus, a Vir-
gem Maria, que, desde o primeiro instante da sua Imaculada
Conceição, esmagou a tua orgulhosa cabeça.»
No fim, canta-se ou recita-se a seguinte antífona mariana:
«À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não
desprezeis as nossas súplicas, em nossas necessidades; mas
livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.»

Nas «Súplicas que os fiéis podem utilizar privadamente no


combate contra os poderes das trevas», que vêm na parte final
do texto, encontramos invocações a Cristo Senhor, entre as
quais também está a invocação : «Jesus , Filho da Virgem

171
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

Maria, tende piedade de mim», e uma série de invocações


à Bem-aventurada Virgem Maria, nas quais, além da antífona
há pouco referida «A vossa proteção ... », encontramos as
seguintes:
Consoladora dos aflitos, rogai por nós.
Auxílio dos cristãos, rogai por nós.
Ensinai-me a louvar-vos, Virgem sagrada, dai-me força e
poder contra os meus inimigos.
Minha Mãe, minha confiança, Virgem Maria, Mãe de Deus,
rogai a jesus por mim.
Gloriosa Rainha do mundo, sempre Virgem Maria, interce-
dei pela nossa paz e salvação. Vós que destes à luz Jesus
Cristo Senhor e Salvador do mundo.
'
Maria, Mãe da divina graça, Mãe de misericórdia, defendei-
-nos do inimigo e recebei-nos na hora da morte.
Socorrei-me, ó piedosa Virgem Maria, em todas as minhas
tribulações, angústias e necessidades, e alcançai-me do vosso
amado Filho a libertação de todos os males e dos perigos da
alma e do corpo.
Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu
dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção,
implorado a vossa assistência e reclamado o vosso socorro
fosse por vós desamparado. Animado eu, pois, de igual con-
fiança , a vós, ó Virgem entre todas singular, como a mãe re-
corro, de vós me valho; e, gemendo sob o peso dos meus pe-
cados, me prostro a vossos pés. Não desprezeis as minhas
súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-vos
de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo.

Finalmente, nas preces litânicas que encerram o texto, en-


c~ntramos a invocação: «Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por
nos [por mim] .»

172
,,
lndice

Prefácio à edição portuguesa .. ...... ........................ ........... . 3


Prefácio ... ....... ... ....... ........ .. .. .. ......... .... .. .. .................. ..... 7
Introdução .. ....... . .. .. ... .... ... .... ... ... .. .. ..... ..... ...... .... ....... ..... 13

1. O papel de Nossa Senhora na história da Salvação 17

II. A possessão diabólica 25

III. O poder da invocação do nome de Maria ............ 31

IV. O demónio obrigado a confessar a sua vergonha: a


sua completa impotência diante da Virgem Maria . 35

V. A minha experiência mariana nos exorcismos e nos


outros momentos do confronto com os demónios 47
Introdução . .. . . . . . .. . . . . . .. .. .. . . .. . .. . . .. .. . . .. .. . .. ... . . .. .. .. .. . . ... . .. 47
§ 1 - A recusa, da parte do demónio, do projeto da
Encarnação do Filho de Deus e de Maria Rainha
dos Anjos e dos homens . .. . . . .. . .. . . .. . . ... .. . . .. . .. .. .. . .. .. . . 49
§ 2 - A Imaculada Conceição, a santidade sublime e a
beleza incomparável de Maria . . .. .. .. . . .. .. . . .. .. .. .. .. . ... . . 56
§ 3 - Também Nossa Senhora foi redimida por Jesus 63
§ 4 - Maria foi redimida como todos os homens, mas
de modo mais elevado e sublime .. ..... ....... .. ... ....•.. •• 65

173
A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos

§
5 _ A virgindade perpétua de Maria . . ....... .. ........... . 66
§ 6 _ A maternidade de Maria relativamente a nós ....
72
§ 7 -A intercessão-mediação de Maria .... .... .... ......... .
82
§ 8 _ A Ave-Maria e o Santo Rosário . .. .. .. .... ... ........... . 98
§ 9 _ A Virgem Maria venceu Satanás pela sua fé ina-
balável ...... .... ... ..•••••······· ·· ···· ·· ·· ·· ····· ··· ······ ······•••.. .... 105
§ 1o _A Paixão de Maria unida à Paixão do Filho ..... 11 4
§ 11 - A humildade de Maria .... .. .. .. .... . ..................... 118
§ 12 - Os pecados dos homens e a reparação ao Cora-
ção de Cristo e ao Coração Imaculado de Maria ..... 120
§ 13 - A Assunção de Maria ......... ...... .. .. .. ..... ............ 135
§ 14 - A caridade para com o próxi1110 .. ....... ........... . 137
§ 15 - A Senhora e a Eucaristia ........ ... ......... .......... .. . 138
§ 16 - O triunfo do Coração In1aculado de Maria ..... 144

VI. Alguns exemplos de intercessão da Virgem Maria


no momento da libertação .. .. ..... ..... .. .... ....... ....... ..... 149

VII. A experiência mariana de outros exorcistas .... ... 155

Apêndice 1
O papel de Nossa Senhora na luta contra Satanás, desde
as aparições da Rue du Bac até hoje .... ...... .. .... .... ...... 167

Apêndice 2
Referências marianas no texto do ritual dos exorcismos 170

174
Este livro, essencialmente inspirado nos fundamentos bíblicos e no
ensino da Igreja sobre Nossa Senhora, quer ser, antes de mais, um tes-
temunho da solicitude, amorosa e especial, que a Virgem Maria mostra
durante os exorcismos, e do poder que um culto autêntico a Nossa
Senhor exerce no mundo demoníaco.
Baseando-se em experiências pessoais, o Autor conta que, no seu tra-
balho pastoral junto das pessoas possessas, é possível constatar a pre-
sença e a proteção da Virgem que, com imensa ternura de mãe, inter-
vém ao lado dos seus filhos. De facto, Maria é a «Mulher» que, desde
o Génesis ao Apocalipse, tem um papel importantíssimo na luta contra
o inimigo infernal e na realização da própria missão salvífica do Filho:
reconduzir o género humano ao seio do Pai.

«Aconselho vivamente a leitura do presente livro [ ...1, uma profunda


catequese acerca da Virgem Maria e do seu papel singular na história
da salvação. Parece-me que estas páginas nos estimulam bastante ,
seja a crescer na nossa devoção a Maria Santíssima , seja a compreen -
der melhor a natureza desta devoção e a sua grande importância no
atual momento histórico que vivemos. ,,
Do prefácio de Pe . Duarte Sousa Lara

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