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1a Edição
S. J. Campos, SP
2020
Editora DO M A
Avenida Nove de Julho, 765 • Sala 31 • Jardim Apollo
12243-000 • São José dos Campos, SP
telefone: (12) 3600-5980
e-mail: contato@editoradoma.com • www.editoradoma.com
ISBN 978-65-86994-04-9
CDD 232
Façamos o homem.
Gênesis 1.26
Isaías 6.8
Mark Shubert
13
Prefácio
ESTE É AQUELE, ISTO
É AQUILO: NÃO É UMA
INTRODUÇÃO
Apocalipse 14.6
nesta leitura.
Primeiro, reconheçamos: nem a mente mais
criativa poderia ter inventado esse conceito. Segundo,
há uma maré contrária, chamada de antitrinitarianis-
mo, defendida até por outros polos monoteístas, tanto
o Islamismo quanto linhas do próprio Cristianismo.
Longe de querer esgotar um assunto tão pro-
fundo, quero apenas apontar biblicamente e histori-
camente algumas das referências à Trindade, a co-
meçar pela Confissão de Fé de Westminster. O texto
foi constituído no século 17, após extensos debates
sobre uma necessária reforma doutrinária na Igreja
da Inglaterra. Observe este trecho, extraído do capí-
tulo “De Deus e da Santíssima Trindade”:
Gênesis 2.24
E o Senhor disse:
— Eis que o povo é um, e todos têm a mesma língua. Isto
é apenas o começo; agora não haverá restrição para
tudo o que planejam fazer.
Gênesis 11.6
O Pai
Deus Pai é preexistente e criador de todas as
coisas, o qual era, é e sempre será. Ele não se tornou,
porque sempre foi. Figura mais aceita da Trindade,
Dança da Trindade
O Filho
A contestação da divindade de Jesus é com-
posta por um rio de heresias. Em minha opinião, o
apóstolo João é quem melhor eleva e explica a dei-
dade do Filho – aliás, parece ser um de seus temas
Jesus, um Pai de família
O Espírito Santo
Jesus, um Pai de família
O anjo respondeu:
— O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Al-
tíssimo a envolverá com a sua sombra; por isso, tam-
bém o ente santo que há de nascer será chamado
Filho de Deus.
Lucas 1.35
Família eterna
No início, Deus cria o homem e o chama à comu-
nhão. A primeira menção bíblica de “chamar” está
em Gênesis e refere-se a relacionamento. Segundo
a Lei da Primeira Menção, o primeiro registro bíbli-
co de um conceito merece destaque na construção
do entendimento do próprio conceito. Se queremos
entender chamado, portanto, devemos partir disto:
E o Senhor Deus chamou o homem e lhe perguntou:
— Onde você está?
Gênesis 3.9
E Deus disse:
— Façamos o ser humano à nossa imagem, conforme a
36 nossa semelhança.
Gênesis 1.26
Convidados a dançar
Gregorio de Nazianzo, patriarca de Constanti-
39 nopla e teólogo do século 4, foi um grande defensor
da doutrina da Trindade. Nos escritos de Gregorio,
foi encontrado o termo grego perichoresis, ou, na
adaptação ao português, pericorese, para definir o
dinamismo da relação entre Pai, Filho e Espírito San-
to. A palavra é formada por peri, que quer dizer “mo-
vimento circular”, corea, que significa “dança” e esis,
sufixo comum para expressar ação, processo.
Em um de seus principais usos práticos, pe-
ricorese definia uma dança de roda. Mais especi-
Dança da Trindade
Família de mortos
Vamos seguir a uma seção muito prática e im-
portante, pontuando detalhes do funcionamento de
uma família espiritual – liderança plural, discipula-
do no modelo de Cristo, cura de feridas estando no
corpo, amor fraternal, hospitalidade. Contudo, não
há como seguir sem falar mais de cruz, porque, para
ser Igreja, é necessário entender esse lugar de onde
Jesus formou uma família a partir de um discípulo e
Sua própria mãe.
Muita gente fugiu da cena da crucificação, mas
não João, Maria e talvez Maria Madalena. O primei-
ro acerto ao estabelecer uma Igreja ou ministério é
ensinar a não fugir da cruz.
Jesus dizia a todos:
— Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, dia
a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser sal-
var a sua vida a perderá; e quem perder a vida por mi-
nha causa, esse a salvará. De que adianta uma pessoa
ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou causar
dano a si mesma? Pois quem se envergonhar de mim e
das minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do
Homem, quando vier na sua glória e na glória do Pai e
dos santos anjos.
55 Lucas 9.23-26
da família.
Não se engane, porque o Jardim não é exclusivo
aos melhores – Judas estava lá. O primeiro versículo
de João 18 diz enfaticamente que o traidor conhe-
cia aquele lugar e que Jesus costumava levar todos
os discípulos para lá. Há traidores na mesma mesa
na qual comem os filhinhos. O quarto de oração da
família terá discípulos de todo tipo, e não apenas os
de “alto nível”. Não devemos valorizar potencial, mas
sim pessoas!
Que Cristo seja formado em nós e sejamos pa-
recidos com Ele! Porque o nosso Jesus não priva da
comunhão nem aqueles que Ele já sabe que não per-
manecerão. O convite ao lugar secreto compartilha-
do pela família de Jesus é aberto, e não um processo
seletivo. Então não tenha medo de levar traidores ao
seu lugar secreto! Não tenha medo de ter à mesa o
traidor, nem de dar-lhe voz como foi dada a Judas.
Não calemos pessoas nem as poupemos do di-
reito de falar. Enquanto o traidor fala, Jesus molda
a fidelidade dos verdadeiros discípulos. Por favor,
não estamos falando de conceder títulos e posi-
ções ministeriais a ninguém, apenas dê ouvidos e
seu tempo! Judas tinha voz na mesa, porém Pedro
e João conquistaram poder de fala. Uma família
62 não deve ser desorganizada, mas sempre partir da
premissa relacional.
É claro que o tempo – e o próprio Cristo – pro-
vará o interior de cada um, a questão é que essa não
deve ser a preocupação da família. Aliás, não é fun-
ção da Igreja decretar sentença contra um ou outro,
porque só há um Juiz. O propósito da Igreja é a co-
munhão, com Jesus e entre Seus filhinhos, para ma-
nifestar ao mundo quem é Jesus: “a fim de que todos
sejam um (...) para que o mundo creia” (Jo 17.21).
Jesus, um Pai de família
ne à margem:
do “Ide”.
Aquele discípulo, encarregado de uma função
importante – tesouraria –, viveu uma vida de família.
Foi cuidado pelo Pai daquela família, que era Jesus.
Dividiu tudo com seus irmãos, os outros discípulos.
Não apenas ouviu explicações exclusivas do Mestre,
mas presenciou uma vida santa ao olhar o Santo
nas atividades diárias. O mesmo pão e o mesmo vi-
nho que alimentaram os outros 11 também alimen-
taram Judas.
Mesmo assim, sendo um assíduo frequentador
do Jardim e um membro daquela família em for-
mação, Judas se vendeu. Entenda: Judas não ven-
deu Jesus por 30 moedas de prata, mas vendeu a
si mesmo. Trocou o relacionamento com Jesus e
a família por trocos, que satisfazem necessidades
apenas terrenas.
Lembre que Judas conhecia o Jardim e, no pior
momento da traição, foi ao Jardim buscar Jesus. O
discurso do traidor não é igual ao de Satanás: “eu
odeio o Senhor”. Quem odeia o Senhor nem vai até o
Jardim. O discurso do que abandona também é: “eu
te busco, Jesus”.
O problema está na raiz da busca. Judas Isca-
riotes não buscou Jesus por quem Ele é, nem para
tornar-se como Ele – o objetivo era satisfazer a si pró-
71 prio, aos seus desejos, ao que achava que precisava,
ao que julgava ser necessário. Quando achou que
precisava de 30 moedas, negociou o relacionamento.
Que grande erro é comparar a presença de
Jesus conosco a qualquer outra coisa! Não há nada
neste mundo mais valioso que estar com Ele. Neces-
sidades momentâneas e pratos de lentilha nunca po-
dem falar mais alto em nossos corações do que os
desejos eternos. Lembre-se da parábola em que um
homem acha uma pérola de grande valor e vende
Não me defenda, apascente!
Ele respondeu:
— Sim, o Senhor sabe que eu o amo.
Jesus lhe disse:
— Apascente os meus cordeiros.
Jesus perguntou pela segunda vez:
— Simão, filho de João, você me ama?
Ele respondeu:
— Sim, o Senhor sabe que eu o amo.
Jesus lhe disse:
— Pastoreie as minhas ovelhas.
Pela terceira vez Jesus lhe perguntou:
— Simão, filho de João, você me ama?
Pedro ficou triste por Jesus ter perguntado pela tercei-
ra vez: “Você me ama?” E respondeu:
— O Senhor sabe todas as coisas; sabe que eu o amo.
Jesus lhe disse:
— Apascente as minhas ovelhas. Em verdade, em ver-
dade lhe digo que, quando era mais moço, você se cin-
gia e andava por onde queria. Mas, quando você for
velho, estenderá as mãos, e outro o cingirá e o levará
para onde você não quer ir.
Jesus disse isso para significar com que tipo de morte
Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de falar assim,
Jesus acrescentou:
— Siga-me.
João 21.15-19
81
A primeira pergunta é capciosa, porque estabe-
lece uma comparação: “mais que os outros”. Pedro
realmente se via assim, acima dos outros discípu-
los – no próprio amor por Jesus. Há quem professe
amor por Jesus, mas considerando todos abaixo de
si e da sua vida espiritual santíssima. Jesus respon-
de como? “Apascente os meus cordeiros”.
Vamos pensar um pouco nisso. Antes, já vimos
Pedro sendo corrigido, não de leve, para que guar-
Não me defenda, apascente!
Liderança plural
Aos presbíteros que há entre vocês, eu, presbítero como
eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e, ainda,
coparticipante da glória que há de ser revelada, peço
que pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês,
não por obrigação, mas espontaneamente, como Deus
quer; não por ganância, mas de boa vontade; não como
dominadores dos que lhes foram confiados, mas sendo
exemplos para o rebanho. E, quando o Supremo Pastor
se manifestar, vocês receberão a coroa da glória, que
nunca perde o seu brilho.
1Pedro 5.1-4
to eu vivo”.
A maioria dos sermões que Cristo pregava era
voltada a multidões. Os mais chegados, contudo,
eram alunos do cotidiano, aprendiam vendo Jesus
viver. Obviamente, viam que, aquilo que Ele pregava,
Ele também vivia.
Pronto a um pequeno confronto? Líder, o que
seu discípulo aprenderia se você o trouxesse para
tão perto quanto Jesus trazia os Seus? Seu discípulo
perceberia que, na prática, você vive o que prega, ou
enxergaria duas posturas diferentes, uma no púlpito
e uma em casa?
O discipulado de Jesus sempre foi baseado em
relacionamento. Repetirei, sem medo de ser feliz:
é quem Jesus é, eternamente três, em uma dança
perfeita de três Seres vivendo um relacionamento
eterno e imparável. Cristo é formado em nós quando
nos relacionamos, sendo Sua família espiritual – e o
discipulado é parte fundamental. Praticar o discipu-
lado de Jesus é viver relacionamento com pessoas,
convidando-as a ser parte de nossa vida.
Se formamos apenas uma amizade com o discí-
pulo, não nos diferenciamos de qualquer outro ami-
go. Se somos apenas mestres das Escrituras para
alguém, não haverá diferença entre nós e os profes-
sores de um seminário. Nossa função, enquanto dis-
119 cipuladores, é unir as duas coisas: amizade e ensino.
Contudo, se não houver vida, se o discípulo não
puder imitar a vida de seu discipulador – seja porque
o líder não se parece com Cristo seja porque não foi
gerada uma abertura para relacionamento –, esta-
mos falhando em fazer discipulado. Se alguém imi-
tar a Cristo, ficará parecido com o Pai. E se imitar
você, ficará parecido com Cristo? Se sua vida não
confirma sua unção, não precisamos de sua unção,
meu amigo.
Família que discipula
Transparente e vulnerável
A comunhão é, em si mesma, uma chave de
125 transformação, uma ferramenta que molda o ho-
mem ao formato de Cristo. É necessário, entretan-
to, destrinchar o significado de comunhão, para
compreender como ela deve ser mantida, segundo
as Escrituras.
Fira-me o justo
Você deseja, de todo o coração, ser discípulo de
Jesus? Então precisa estar disposto a ser cuidado
por outras pessoas, na família chamada Igreja. Você
precisa estar disposto a expor a si mesmo às neces-
sárias correções.
Siga o raciocínio: você não se torna discípulo
tocando apenas a cabeça, que é Cristo, mas tam-
bém a extensão da cabeça, que é Seu Corpo. Em
Sua soberania, o Criador decidiu criar seres que
se tornam semelhantes a Ele não apenas mediante
relacionamento com Ele próprio, mas também por
meio da comunhão com outros homens. Dessa luz
que emana da comunhão, nascem os filhos de Je-
sus, parecidos com Ele, um com o Pai, mas também
um com os irmãos.
O parágrafo anterior resumiu o que falamos
neste capítulo, acerca de uma família que discipula.
O discipulado, portanto, é inegociável e possui um
papel central na comunhão planejada pelo Senhor.
Ele, em quem cremos, em quem depositamos fé e de
130 quem professamos ser filhos, é comunhão e possui
um plano eterno de estabelecer o que Ele é em uma
família hoje chamada de Igreja – e isso não se gera
apenas em cultos e conferências, mas numa cultura
de comunhão e discipulado.
Também já vimos que discipulado é relaciona-
mento, e não método. Isso significa que uma vida
tocando outra vida é mais efetivo para que Cristo
seja formado em nosso interior do que usar fórmu-
las e depender apenas de agendamentos, mesmo
Jesus, um Pai de família
por discipuladores!
Por que a Igreja permanece igual depois de cer-
tos confrontos? Porque as palavras de alinhamento
são despejadas com dedo apontado. “Se pecar, vai
para o inferno”. “Se transar antes do casamento, seu
casamento será falido, fadado ao fracasso”.
A Igreja tem trabalhado com ameaças, e o re-
sultado de ameaça é medo. Ninguém permanece fir-
me em Jesus tendo o medo como alicerce, mas sim
quando O ama de todo o coração. Por amá-Lo, deci-
de obedecer, e não por ter medo das consequências.
Não me entenda mal, todo erro traz a reboque
coisas ruins, sejam internas sejam externas. O que
está em questão aqui é o verdadeiro arrependimen-
to, que é fruto da bondade divina e da abordagem
bondosa de discipuladores, e não da ameaça de juí-
zo. As consequências, embora existam, não são o
foco, o foco é o amor a Jesus. Quem O ama mais que
tudo, mais até que a própria reputação, aceita o con-
fronto, porque quer logo consertar tudo que pode
mantê-lo afastado do Aba.
Quando o discipulado está submerso nas águas
da bondade de Deus, a ferramenta do confronto não
é o juízo – o juízo é conhecido e devidamente ensina-
do, porém nunca usado como arma, mesmo no mais
duro confronto. Sabe o que acontece quando você
133 confronta com bondade, misericórdia e amor? Você
quebranta o coração orgulhoso, ao invés de endure-
cê-lo ainda mais. Misericórdia e amor rompem ca-
deias de altivez.
Jesus retirou as pedras das mãos dos julgado-
res, demonstrou amor e, então, confrontou: “não
peques mais” (Jo 8). É assim que nasce o arrependi-
mento verdadeiro, quebrantando o orgulho do cora-
ção para gerar mudança de atitude.
Ainda será necessário, em um ambiente seguro,
Família que discipula
sólida da doutrina.
Que fique claro, então, que uma Igreja de dis-
cipulado saudável, apesar de ter foco em relacio-
namento, nunca ignora o ensino. Vamos ver como
esses dois pontos podem surgir não apenas na vida
comum, mas abrindo as portas de nossa casa.
Cultura da hospitalidade
Se somos uma família, devemos começar fa-
zendo o que uma família natural faz: gastar tempo
juntos. Há uma vida comum a ser compartilhada, e
isso não se limita ao ambiente da igreja local. Então,
à medida que crescemos na revelação do que é ser
Igreja, cresce o contato entre nossa família natural
e nossa família espiritual, consideradas as devidas
proporções e prioridades.
Por que estou falando de família natural aqui?
Porque é impossível viver discipulado fora do am-
biente de nossos lares. A hospitalidade é bíblica e ca-
paz de gerar os entranhados afetos que Paulo des-
creveu aos Filipenses.
Equilíbrio do tempo
“Alessandro, então você está falando para eu
desapegar, desencanar de vez e deixar minha casa
cheia o tempo todo?”
Ei, exagerado, calma aí. Nem oito nem oitenta.
Você deve abrir sua casa, mas não desequilibrar o
seu lar!
Você precisará conciliar família natural e famí-
lia espiritual, de forma sábia. Casamento, filhos, pro-
fissão, ministério, cada coisa em seu devido lugar de
prioridade e com a dedicação devida de tempo. Sabe
quem consegue fazer isso? O discípulo maduro, meu
amigo. Maturidade é saber decidir o que fazer e
quando fazer, considerando o que é mais importan-
te, mas sem excluir todo o resto.
Falta tempo? Não, o que falta é propósito.
João 8.31,32
Gálatas 2.19,20
176
Jesus, um Pai de família