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Discipulado começa com a contemplação | 1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

PARTE 1: COMEÇA COM A CONTEMPLAÇÃO

CAPÍTULO 1: O discipulado começa com a contemplação


CAPÍTULO 2: O padrão apostólico
CAPÍTULO 3: O aviso do Sinai
CAPÍTULO 4: O discipulado deve começar com Deus
CAPÍTULO 5: O campo de batalha da beleza
CAPÍTULO 6: O comando para se deleitar

PARTE 2: UM POVO QUE CONTEMPLA

CAPÍTULO 7: O projeto Divino


CAPÍTULO 8: A aflição de um rei
CAPÍTULO 9: Contemplando alimentado pela dor e desejo
CAPÍTULO 10: Uma reunião de adoração que lançou um movimento
missionário
CAPÍTULO 11: O fogo está de volta
CAPÍTULO 12: Gentios que contemplam a beleza de Deus
CAPÍTULO 13: Um povo que canta no fim dos tempos
CAPÍTULO 14: Finalizando a tarefa
PARTE 3: COMO CONTEMPLAR

CAPÍTULO 15: Uma vida de contemplação


CAPÍTULO 16: Contemplamos a Deus na pessoa de Jesus
CAPÍTULO 17: Contemplamos a Deus pelo Espírito
CAPÍTULO 18: Contemplamos a Deus em Sua palavra
CAPÍTULO 19: Somos discipulados cantando
CAPÍTULO 20: Contemplamos a beleza de Deus em Seu povo
CAPÍTULO 21: Contemplamos a Deus em oração
CAPÍTULO 22: Contemplamos a Deus em jejum
CAPÍTULO 23: Sala de aula imersiva
CAPÍTULO 24: Transformado pela contemplação
CAPÍTULO 25: Comunidades que contemplam
CAPÍTULO 26: Contemple a Jesus e se torne como Ele
INTRODUÇÃO

Nossa principal tarefa nessa era é discipular pessoas:

E Jesus veio e disse-lhes: “Foi-me dada toda a autoridade nos


céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”.
Mateus 28: 18-19

É fácil ser pego em atividades “cristãs” que têm pouco impacto


porque, em última análise, não desempenham um papel no disci-
pulado de um povo, e há muitas atividades que têm pouco impacto.
Precisamos enfrentar o fato de que uma boa parte do nosso ministé-
rio moderno é, nas palavras de Shakespeare:

Cheio de som e fúria, nada significando.

Todo crente precisa fazer duas perguntas básicas:


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1. Seu ministério faz discípulos? Pode criar muita atividade, mas


se não contribuir para fazer discípulos, precisa ser realinha-
do. Alguns reduzem a tarefa das missões ao evangelismo,
mas esse é um pequeno componente das missões. Você não
pode terminar a tarefa missionária evangelizando. A tarefa
missionária é a tarefa do discipulado.
2. Você sabe o que é discipulado bíblico? Tragicamente, a defi-
nição bíblica de discipulado é frequentemente reduzida a
informação ou certo comportamento, mas o discipulado é
um processo que produz um povo corporativo que é como
Deus.

O discipulado é a tarefa principal da igreja, então devemos saber


o que é e biblicamente como fazê-lo.
Você não pode construir uma casa se não souber que tipo de
casa precisa construir, e não pode discipular corretamente se não
entender o que Deus quer dessa época e como Ele quer produzi-la.
O propósito de Deus para essa era pode ser resumido por dois temas
principais:

• Deus planejou essa era para se revelar na pessoa de Jesus.


• Deus designou essa era para formar um povo que se tornará
Seu companheiro.

Se não entendermos esses dois temas e o firme compromisso


de Deus em produzir uma igreja madura, não podemos discipular
corretamente. Esses dois temas levantam uma questão importante:
como fazemos isso? Este livro aborda o fundamento bíblico que deve
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embasar todos os nossos métodos de discipulado para que produza-


mos o que Deus deseja.
Se implementarmos as ferramentas de discipulado sem
compreender o propósito fundamental dessas ferramentas, não as
adaptaremos e não as usaremos de maneira adequada. Por exemplo,
os construtores costumam usar martelos para cravar pregos. No
entanto, imagine um menino que deseja se tornar um construtor
observando os construtores martelando. No desejo de construir,
aquele menino pega um martelo e começa a martelar nas coisas,
imaginando que está construindo quando na verdade está apenas
fazendo barulho. Ele está usando a ferramenta, mas não tem
clareza sobre a finalidade precisa da ferramenta, então está ocupado
martelando, mas não construindo nada.
O discipulado pode facilmente terminar assim. Podemos acabar
usando as ferramentas, mas perdendo de vista a razão das ferramentas.
Se estamos “martelando” em nossas igrejas, mas não construindo o
que devemos construir ou consultando os “projetos” bíblicos que
nos foram dados, então não estamos usando nossas ferramentas
apropriadamente. Muitas pessoas começam o discipulado com
informações, hábitos e disciplinas.
Todas essas são “ferramentas” importantes, mas se elas se
tornarem o centro do discipulado em vez das ferramentas que
contribuem para o nosso discipulado, sairemos do caminho
rapidamente. Existem muitos livros valiosos sobre ferramentas
para o discipulado, e este livro não é um livro exaustivo sobre o
assunto. Este livro enfoca o fundamento que deve sustentar todo
discipulado, mas é frequentemente negligenciado. Este fundamento
nos dá uma estrutura para o discipulado que define um contexto de
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como usamos as ferramentas do discipulado.

TUDO COMEÇA COM A CONTEMPLAÇÃO


O discipulado deve começar com o conhecimento de Deus e a revelação
de Sua beleza na pessoa de Jesus.
Se o discipulado começar em qualquer outro lugar, pode realizar
algumas coisas valiosas, mas perdeu de vista a estrutura bíblica para
o discipulado. Resumimos o propósito de Deus para essa era com
dois temas principais: (1) a revelação de Deus e (2) a formação de
um povo.
Ambos os temas requerem que um povo contemple a beleza de Deus.
Se não focalizarmos nossas vidas na revelação de Deus, estaremos
fora de sincronia com o propósito principal de Deus para essa era
inteira. Além disso, se não contemplarmos a Deus, não conhecere-
mos a imagem que devemos nos tornar. Não somos chamados para
ser apenas um povo “moral”. Não somos chamados a nos comportar
como Deus; somos chamados a ser semelhantes a Deus.
Agora, para evitar a heresia, devemos estabelecer duas convicções
firmes no início: Nunca nos tornaremos divinos e nunca seremos
adorados. Com isso em mente, o Novo Testamento é muito claro
que Deus deseja que os humanos se tornem semelhantes a Ele, mui-
to mais do que muitos crentes imaginam. Temos uma visão muito
baixa da vida cristã. Jesus realmente é o primogênito de muitos ir-
mãos que serão como ele.
Como podemos nos tornar semelhantes a Deus que mal conhe-
cemos?
Como veremos, os humanos são projetados para se tornarem o
que vêem. Os dons ministeriais que Deus deu à igreja foram dados
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para que possamos contemplar a Deus e nos tornar como Ele. Aqui
está o que as pessoas precisam de cada dom do ministério:

• Pastores - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo.


Deixe-nos vê-lo.
• Líderes de adoração - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo.
Deixe-nos vê-lo.
• Professores - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo. Deixe-nos
vê-lo.
• Pais - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo.
Deixe-nos vê-lo.
• Ministros - dê-nos Deus. Vamos contemplá-lo. Deixe-nos
vê-lo.

Se não dermos Deus ao povo, nosso discipulado está fora do


caminho - está fora do fundamento bíblico. Vamos ver como
mantê-lo sob controle. Começaremos explicando por que o
discipulado deve começar com a contemplação e terminar com
algumas maneiras bíblicas de contemplá-Lo.
CAPÍTULO 1

O DISCIPULADO COMEÇA
COM A CONTEMPLAÇÃO
A segunda carta de Paulo aos Coríntios resume a abordagem do
Novo Testamento ao discipulado:

E todos nós, com rosto descoberto, contemplando a glória do


Senhor, estamos sendo transformados na mesma imagem de
um grau de glória para outro. Pois isso vem do Senhor que é
o Espírito.

2 Coríntios 3:18

O discipulado começa com o povo de Deus contemplando corporati-


vamente a glória de Deus na face de Jesus.
Este modelo de discipulado foi o método de Deus desde o iní-
cio, e se negligenciarmos essa contemplação corporativa, ignoramos
o modelo bíblico. Como resultado, precisamos perguntar se nossos
métodos de discipulado estão seguindo esse modelo.
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Não devemos reduzir o discipulado à aquisição de informações.


Aprender algumas informações novas não é “discipulado”; é apren-
der. Aprender é uma parte valiosa do processo de discipulado, mas
não é discipulado, a menos que a nova informação nos permita con-
templar o Senhor e ser transformados à Sua imagem. Infelizmente,
muitos programas de “discipulado” são, na verdade, aulas destinadas
a comunicar informações. Por isso, principalmente em culturas que
valorizam o conhecimento, imaginamos que temos uma maturida-
de que não temos. Simplesmente aprendemos muitas informações.
O discipulado também não deve ser reduzido à modificação de
comportamento. O comportamento é importante e, com o tempo,
pode ser um teste decisivo de nossa resposta ao Senhor, mas existem
muitas maneiras diferentes de alterar o comportamento. É muito
possível viver uma vida disciplinada e adotar um comportamento
moral sem contemplar a Deus ou conhecê-Lo. Somos chamados a
nos tornar como Jesus, não apenas agir como ele.
Se enfatizarmos o comportamento sobre o conhecimento de Deus,
corremos o risco de formar “discípulos” que ouvirão o Senhor dizer: “Eu
não te conhecia”, porque é possível se comportar corretamente e até mes-
mo operar com poder espiritual e não se tornar como Jesus.
O objetivo do discipulado é a exibição de Deus em um povo
assim como Ele se exibiu em Jesus. Enquanto Jesus sozinho é a reve-
lação completa, Deus quer um povo como ele. Se a sua abordagem
de discipulado visa qualquer outra coisa, está fora de sincronia. Não
é suficiente aprender o comportamento cristão (o que é útil), de-
vemos nos tornar como ele. O propósito de nossas vidas nessa era
é nos tornarmos como Jesus, mas não podemos nos tornar como
alguém que não conhecemos.
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Segunda Coríntios 3:18 resume a abordagem de Paulo ao disci-


pulado, e foi transmitida a nós como o paradigma do discipulado
para nossas próprias comunidades de igreja locais. Antes de exa-
minarmos esse paradigma em profundidade, precisamos considerar
algumas implicações do paradigma.

O DISCIPULADO DEVE ALIMENTAR A FASCINAÇÃO


Ver a beleza produz fascinação, e a fascinação é a melhor maneira de
transformar uma pessoa.
Considere um jovem apaixonado. Pais, professores, mentores e
amigos podem implorar a um jovem que mude certos hábitos e
adote certas disciplinas por anos, sem grande efeito. No entanto,
quando um jovem é capturado pela beleza de uma jovem, de repente
tudo muda. Ele se concentra em seu futuro. Ele abraça ansiosamente
certas disciplinas. Seu estilo de vida muda radicalmente. Toda a sua
vida assume uma nova intencionalidade. Em um momento, ele faz
mudanças que seus pais e mentores pediram que ele fizesse durante
anos.
A fascinação produz transformação.
A fascinação também produz imitação. Um jovem apaixonado
repentinamente se interessa por coisas que nunca considerou an-
tes. Ele começa a frequentar novos eventos e ter novas conversas. A
fascinação por uma mulher produz nele imitação, porque parte de
amar uma pessoa é desfrutar do que a pessoa gosta. Seu prazer por
ela muda seu apetite e seu estilo de vida. Se o amor continuar, ele
fará de bom grado e com alegria o maior sacrifício do casamento.
O casamento exigirá que ele elimine muitas opções, corte certos
relacionamentos e reoriente todo o seu estilo de vida. Ele não terá
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o tempo livre de antes. Ele provavelmente perderá vários amigos.


Ele assumirá novas responsabilidades e perderá sua liberdade. Por
que um jovem abriria mão de boa e boa vontade de sua liberdade
e assumiria uma vida restrita de compromissos que exigirá perma-
nentemente sua agenda, seu dinheiro e suas forças? Uma palavra
descreve isso: fascinação.
A fascinação é a chave para o sacrifício voluntário e duradouro,
e isso não se limita ao romance. Quando as pessoas iniciam um
novo hobby ou atividade, elas respondem de maneira semelhante.
Eles gastam dinheiro intencionalmente. Eles encontram amigos que
compartilham seus interesses. Eles passam horas investindo em seu
novo passatempo. Outros acham sua fascinação estranho, mas eles
não se importam porque seu coração está cativado. A mesma coisa
acontece quando alguém está envolvido com esportes ou qualquer
outra coisa.
É assim que o coração humano é feito e é o modelo para o disci-
pulado bíblico. Nós “vemos” Alguém que é bonito. Ficamos fascinados
por ele. E então, com alegria e alegria, reorientamos nossas vidas para
contemplar mais daquela Pessoa e desejar fazer parte de Seu povo.
Os casamentos morrem quando não há prazer ou fascinação na
outra pessoa e o mesmo é verdade para as igrejas. Não queremos
igrejas cheias de pessoas que fazem a coisa certa e frequentam as
funções da igreja, mas não têm prazer em Deus.
Se as pessoas abraçam certos ritmos e se engajam em certas discipli-
nas, mas não ficam fascinadas, então não são discipuladas.
Considere as pessoas que amam correr. Eles vão se reunir natu-
ralmente. Eles vão discutir a corrida. Eles comprarão tênis novos e
compartilharão informações sobre corrida. Mas, acima de tudo, eles
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serão executados regularmente. Alguns correrão mais do que outros,


mas encontrarão um elo comum em sua prática de corrida.
Se temos pessoas que gostam de aprender sobre Deus, mas na
verdade não gostam de contemplá-Lo e perseguir o que Ele valoriza,
então eles ainda não foram discipulados. Eles são como corredores
que leem sobre novos equipamentos de corrida e discutem a corri-
da, mas nunca realmente correram. Se uma pessoa está lendo sobre
corrida, mas não corre, ela precisa ser ensinada por outro corredor
e levada a experimentar as delícias da corrida. Uma pessoa que não
conhece a corrida terá de reorientar o corpo. Eles precisam trabalhar
novos músculos e superar a dor inicial que surge quando alguém que
não correu começa a correr. Eles terão que desenvolver a capacidade
de correr longas distâncias. Eles provavelmente enfrentarão desâni-
mo. Da mesma forma, o discipulado é um processo. A capacidade
e o apetite de uma pessoa devem ser remodelados. Eles podem ficar
desanimados. Tudo bem - o discipulado é um processo e devemos
nos comprometer com ele.
Novos crentes precisam de crentes maduros que contemplem
a beleza de Jesus e possam levá-los a crescer em contemplação e
fascínio. Mas, se os “maduros” em nossas igrejas não são fascinados,
como podem discipular outros? E eles são realmente “maduros”?
Acostumamo-nos à ideia de que o amor romântico fica obsoleto
e menos apaixonado à medida que os parceiros envelhecem. No
entanto, esse é o efeito do pecado. Não é o estado ideal. Os crentes
maduros devem ser mais íntimos do Espírito Santo do que os novos
crentes, e o fruto da intimidade com o Espírito é o fascínio por
Jesus.
Talvez devêssemos medir a maturidade na igreja pelo fascínio e um
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desejo crescente e hábito de contemplar a beleza de Deus na pessoa de


Jesus.
Quando uma pessoa vem pela primeira vez a Jesus, ela é tão cati-
vada por Jesus que sua vida começa a mudar. Seus relacionamentos,
hábitos, gastos, entretenimento e a maneira como gastam seu tempo
começam a mudar. Eles normalmente estão famintos para aprender
tudo o que puderem sobre Jesus porque seus olhos foram repentina-
mente abertos para Sua beleza. Alimentamos esse anseio por Jesus
ou os satisfazemos com outras coisas? Nossos métodos de discipula-
do alimentam o desejo pelo conhecimento de Jesus ou satisfazemos
seu desejo com novos hábitos?
Temporadas de dificuldade, sofrimento, desafios, solidão e até
mesmo desânimo podem surgir na vida cristã. Haverá momentos
em que será difícil contemplar a beleza de Jesus. No entanto, com
o passar dos anos e décadas, nossas vidas devem ser uma descoberta
contínua da beleza da pessoa de Jesus. Não devemos “amadurecer”
além do desejo que um novo crente tem de ver mais do Humano
Divino.
Devemos chamar as pessoas para profunda dedicação, devoção
e sacrifício. No entanto, deve ser no contexto da beleza e do fascí-
nio. Pessoas que são fascinadas por Jesus sacrificam voluntariamente
muito mais do que pessoas que são devotadas, mas não fascinadas.
Se treinarmos as pessoas para serem devotadas quando não são cap-
turadas pela beleza de Jesus, elas se tornarão religiosas em seus hábi-
tos, mas isso não é discipulado. É uma forma de hipocrisia.
A lógica não é suficiente para produzir um povo maduro. O pe-
cado é muito enganoso e o coração humano não é um robô. O cora-
ção humano não é basicamente racional e lógico. Anseia por beleza.
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CONTEMPLAR É CORPORATIVO
Somos transformados enquanto todos nós contemplamos o Se-
nhor. É importante contemplar o Senhor pessoalmente, mas
também devemos contemplá-Lo juntos. As igrejas devem consi-
derar como criar um ritmo contínuo e sustentável de observação
corporativa. A igreja deve se reunir regularmente para contemplar
a beleza de Jesus e responder a essa beleza de forma corporativa.
Na verdade, todo ministério corporativo deve levar à contempla-
ção.
Isso é fundamental para o discipulado porque a vida cristã é
uma experiência corporativa que deve ser vivida em comunidade.
Os cristãos não podem atingir a maturidade plena vivendo vidas
isoladas e individualistas. Como um amigo disse certa vez, Jesus não
é polígamo. Ele não está procurando por milhões de “noivas” que
O amam individualmente. Ele está procurando uma noiva solteira
corporativa, um povo que foi formado em conjunto para ser Seu
companheiro.
Porque Jesus está procurando um povo, e não apenas indivíduos,
o discipulado deve ser um processo corporativo onde amadurece-
mos juntos. Deus não dá tudo de Si mesmo a uma pessoa. Existem
aspectos de quem Ele é que você só encontrará por meio de outra
pessoa no corpo. Existem coisas que o Senhor só falará com você
por meio de outra pessoa no corpo. Não podemos ser completos
em Jesus por nós mesmos. Existem alguns aspectos do discipulado
que apenas venha quando O contemplarmos juntos e então come-
çarmos a viver juntos à imagem do que temos visto. A sua igreja ou
pequeno grupo se reúne para contemplá-lo corporativamente?
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A TRANSFORMAÇÃO DEVE SER O OBJETIVO


Deus não se tornou homem para melhorar sua vida - Ele veio para
torná-lo semelhante a ele.
Qualquer abordagem ao discipulado que falhe em se tornar se-
melhante a Deus não é um discipulado bíblico verdadeiro. Porque a
transformação à semelhança de Deus é o objetivo, a igreja perde seu
caminho quando ela consiste em pessoas talentosas e dedicadas que
não são fascinadas pela beleza de Deus e não buscam a transforma-
ção à Sua imagem. O discipulado bem-sucedido produz pessoas que
estão se tornando semelhantes a Deus. Quaisquer outras realizações
têm um benefício marginal, na melhor das hipóteses.
Muitas vezes tentamos convencer as pessoas a serem como Deus,
quando elas não O viram. Se olharmos juntos para a beleza de Deus e
O virmos como Ele é, isso confrontará nosso comportamento e nos levará
a ser como Ele.
Se você não contemplar a Deus, no final das contas medirá o
sucesso com base no que você contempla. Como resultado, muitas
igrejas definem “sucesso” da mesma forma que a cultura circundan-
te, talvez com um pouco de moralidade adicional. Se sua definição
de sucesso for idêntica à da cultura ao seu redor, então não é uma
definição bíblica de sucesso. Em vez disso, é uma evidência de que
você ainda está olhando para o mundo e mais capturado por seu
fascínio do que a pessoa de Jesus.
Quando contemplamos Jesus, transformação em vez de sucesso
torna-se nosso objetivo, porque reconhecemos que a Bíblia nunca
nos prometeu sucesso nessa era, e Deus tem uma definição de su-
cesso radicalmente diferente da que o mundo tem. Na verdade, às
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vezes Deus projeta situações que parecem muito “mal sucedidas”


para produzir o que Ele deseja em Seu povo. Há momentos em que
Deus orquestrará as circunstâncias em sua vida para capacitá-lo a
vivenciar Sua própria dor ou a produzir algo que não pode ser pro-
duzido de outra maneira.
Deus vai usar tudo em nossas vidas para produzir transforma-
ção - até mesmo nossos maiores fracassos. Pedro é um dos maiores
exemplos. Pedro foi chamado para pastor, mas ele era impetuoso,
orgulhoso e forte. Então, quando Jesus foi traído, Pedro negou pu-
blicamente a Jesus três vezes porque uma serva o desafiou. Foi um
fracasso público humilhante para um homem que prometeu que
morreria com Jesus.
Jesus perseguiu Pedro após seu fracasso. Ele perguntou a Pedro:
“Você me ama?” três vezes para curar o aguilhão de três negações.
Cada vez que Pedro disse “sim”, Jesus respondeu: “Então apascen-
tem minhas ovelhas.”
O fracasso de Pedro deveria tê-lo desqualificado para a liderança,
mas da perspectiva de Jesus o fracasso de Pedro o preparou para lide-
rar. Pedro agora podia pastorear outros com graça e longanimidade.
Seu orgulho havia sido quebrado e ele pastorearia de maneira muito
diferente daquele momento em diante. Seu maior fracasso o impul-
sionou para frente porque ele cooperou com Jesus.
Você vê os desafios em sua vida - mesmo que sejam produto de suas
próprias falhas - como oportunidades de ser transformado à imagem
de Jesus?
Muitas pessoas estão satisfeitas com o sucesso em vez da transfor-
mação. Quando as pessoas buscam o “sucesso”, algumas constroem
negócios impressionantes e grandes ministérios, mas o sucesso não
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é tão importante quanto imaginam. Outros se sentem fracassados​​


porque não são bem-sucedidos pela definição do mundo, quando
podem ser muito mais bem-sucedidos do que pensam da perspec-
tiva de Jesus.
Se nos concentrarmos no sucesso em vez da transformação, se-
remos enganados ou desanimados ao avaliar nossas vidas de acordo
com definições antibíblicas de sucesso. Por outro lado, se abraçar-
mos a transformação, podemos encontrar dignidade em tudo o que
acontece em nossas vidas. Não seremos seduzidos se parecermos
“bem-sucedidos” ou “influentes” e não seremos desencorajados por
nossos fracassos ou pela “pequenez” de nossas vidas. Deus pode pe-
gar tudo, incluindo sua fidelidade, fracassos, perdas, vitórias, trai-
ções, sofrimentos e alegrias e usá-los para o seu bem e sua transfor-
mação.

O QUE VOCÊ CONTEMPLAR, VOCÊ SE TORNARÁ


A revelação de Jesus como a plenitude de Deus, tornada conhecida por
meio de um homem, deve ser o centro de todo o nosso ensino e ministério
porque, se não o contemplarmos, não nos tornaremos como ele.
Pais, vocês ensinam a seus filhos o conhecimento de Deus ou o
bom comportamento? Professores da Bíblia, quanto do seu ensino
é focado no conhecimento de Deus na pessoa de Jesus? Líderes de
adoração e cantores, vocês levam o povo a contemplar Jesus? Líde-
res, seu ministério reflete sua vida interior. Se você está frustrado
com o discipulado de seu povo, isso poderia ser um reflexo de seu
próprio discipulado? Se você não pode levar as pessoas a contem-
plar Jesus, então você precisa reexaminar seu próprio discipulado
primeiro. Comece aí antes de fazer alterações em seus programas.
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Se o seu ministério não leva as pessoas a contemplarem Jesus, você


não pode esperar que elas se tornem como Ele.
O princípio de que os humanos se tornam o que vêem é fun-
damental para a experiência humana. Cada ser humano é moldado
pela cultura e pelo contexto em que foi criado. Eles aprendem o
idioma, a cultura e alores observando os outros. Você não precisa
ensinar cultura. As crianças imitam naturalmente aqueles ao seu re-
dor. Eles veem e imitam o que veem até se tornarem o que veem.
Considere tentar ensinar a uma pessoa a cultura de outra nação
apenas por meio da informação. Eles podem aprender informações,
idioma e informações culturais, mas não expressarão adequadamen-
te a outra cultura. Se você quer que alguém aprenda outra cultura,
você deve imergi-lo nessa cultura. Eles precisam viver nele para que
comecem a imitar naturalmente o que vêem. Com o tempo, eles
não apenas aprendem a linguagem e as informações, mas também
imitam aspectos sutis da cultura e refletem verdadeiramente a cul-
tura.
Da mesma forma, as crianças não aprendem sua cultura nativa.
Os pais não trazem livros e dão aulas sobre como se tornar parte
de um grupo de pessoas. As crianças veem, observam e estão imer-
sas em uma cultura até que a imitem naturalmente e se tornem
parte dela. Eles compartilham os maneirismos que observaram e se
comportam de maneira muito semelhante. Um milhão de pequenas
coisas se tornam muito naturais para eles. Na verdade, ele se torna
parte deles.
O pessoal de marketing sabe disso e gasta bilhões de dólares com
isso em mente. Eles sabem que tudo o que você contemplar e consi-
derar valioso, procurará imitar. Eles usam celebridades para endos-
2 2 | Discipulado começa com a contemplação

sar produtos porque sabem que o coração humano naturalmente


deseja imitar aqueles que consideramos belos. As pessoas gastam
bilhões de dólares para comprar sapatos, roupas e equipamentos
que os atletas profissionais endossam. Na verdade, esse equipamen-
to não vai transformar as pessoas em atletas, mas existe o desejo de
imitar aqueles a quem idolatramos.
Na realidade, uma celebridade não está qualificada para saber
quais produtos são os melhores, mas o pessoal de marketing sabe
que as pessoas querem imitar, então usam as pessoas que você deseja
imitar. Embora as celebridades não sejam qualificadas para avaliar
as coisas que endossam, e as roupas esportivas não farão das pesso-
as atletas melhores, desejamos ser como aqueles que consideramos
belos. As empresas manipulam isso porque está profundamente en-
raizado na psique humana e devemos entender que é a base de todo
discipulado.
O que você vê? Seja o que for, você será moldado nessa imagem.
CAPÍTULO 2

O PADRÃO APOSTÓLICO
Paulo resumiu o coração do discipulado como transformação
através da contemplação corporativa porque sua própria transfor-
mação começou com a contemplação.
O Novo Testamento destaca de maneira única a vida e o pensa-
mento do apóstolo Paulo, mas se lermos o Novo Testamento princi-
palmente como um registro histórico de Paulo e da igreja primitiva,
perderemos a mensagem principal. O registro do Novo Testamento
da vida e do pensamento de Paulo não nos foi simplesmente dado
como registro histórico. Foi-nos dado para que possamos imitar a
sua resposta dele a Jesus.
Paulo é mais do que uma figura antiga. Ele é um protótipo, e de-
vemos modelar nossa busca por Jesus após sua busca por ele. Paulo
é o apóstolo mais proeminente do Novo Testamento, e isso permite
que ele sirva de protótipo por várias razões:

• Paulo resistiu ao evangelho inicialmente. Ele era um


inimigo da igreja primitiva.
• Paulo nunca viu ou conheceu Jesus até onde sabemos.
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• Paulo não era um dos doze discípulos de Jesus.


• Paulo trabalhou fora de Israel em terras gentias.

Se compararmos a vida de Paulo com a vida de Pedro ou João, é


genuinamente estranho que o Novo Testamento cubra tanto da vida
de Paulo. A maioria de nós teria destacado a vida de um dos discípu-
los, mas o Espírito destacou a vida de Paulo porque se parece muito
mais com a maioria de nossas vidas do que com a vida daqueles que
andaram com Jesus pessoalmente. É difícil identificar-se com os dis-
cípulos, mas muito mais fácil identificar-se com Paulo e, portanto,
ele é um protótipo apresentado para nossa imitação.
A vida de Paulo é simultaneamente um registro histórico de
como a igreja começou, um padrão para a vida na igreja agora e um
prenúncio dos mensageiros que surgirão para levar a igreja à matu-
ridade no final dos tempos. Na realidade, todo o livro de Atos é um
protótipo, um prenúncio da igreja vitoriosa no fim dos tempos. É
uma imagem da igreja no passado e uma imagem de onde a igreja
está indo.
Certamente há mais no discipulado do que contemplar a beleza
do Senhor, mas contemplar era central para o padrão apostólico de
discipulado. Se somos chamados a imitar Paulo, precisamos enten-
der o papel do contemplar em sua vida e missão, e isso começou
com sua conversão.

O ENCONTRO DE PAULO
Paulo era um zeloso inimigo do evangelho, mas foi subitamente
transformado ao contemplar a glória de Deus na face de Jesus:
Discipulado começa com a contemplação | 2 5

Mas Saulo, ainda respirando ameaças e assassinato contra os


discípulos do Senhor, foi ao sumo sacerdote... Agora, enquanto
seguia seu caminho, aproximou-se de Damasco e, de repente,
uma luz do céu brilhou ao seu redor. E, caindo por terra, ouviu
uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E
ele disse: “Quem és tu, Senhor?” E ele disse: “Eu sou Jesus, a
quem você está perseguindo. Mas levante-se e entre na cidade,
e você será informado do que deve fazer”.
Atos 9:1, 3-6

Paulo era um homem brilhante que conhecia muito bem as Es-


crituras e estava imerso em teologia. Ele até mantinha “valores ju-
daico-cristãos” e compartilhava muito em comum com os cristãos
que perseguia. Com isso em mente, a primeira resposta de Paulo à
beleza de Jesus é bastante reveladora:

E ele disse: “Quem és tu, Senhor?” E ele disse: “Eu sou Jesus, a
quem você persegue”.
Atos 9:5

Paulo sabia muitas informações sobre Deus. Ele era brilhante e


tinha uma capacidade intelectual incrível. Além disso, ele havia sido
treinado por um dos melhores teólogos de sua época e conhecia sua
Bíblia muito melhor do que a maioria dos cristãos.
Este extraordinário teólogo poderia facilmente ter dado um se-
minário de uma semana sobre o assunto de Deus, e ainda assim,
quando ele viu Deus na face de Jesus, ele só tinha uma pergunta:
Quem é você? Paulo descobriu que contemplar a Deus é completa-
2 6 | Discipulado começa com a contemplação

mente diferente de saber informações sobre Ele. A informação que


Paulo conhecia não o levou à conversão, mas um momento de reve-
lação permanente e imediatamente alterou sua vida.
O discipulado pessoal de Paulo começou com a contemplação.
Paulo era brilhante, educado e conhecedor, mas nunca havia
contemplado a beleza de Deus na face de Jesus. Em um momento,
esse mestre teólogo não foi salvo por um argumento melhor; ele foi
subitamente transformado quando viu Deus na pessoa de Jesus.
Quantas pessoas em nossas igrejas aprenderam informações so-
bre Deus, mas se elas realmente contemplaram a pessoa de Jesus,
elas também podem gritar: “Quem é você?”
O encontro com Jesus surpreendeu Paulo, ele caiu no chão, e
Jesus revelou outro aspecto de Sua beleza a Paulo:

E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Sau-
lo, por que me persegues?
Atos 9:4

A primeira coisa que Paulo descobriu foi a profunda identifi-


cação de Jesus com Seu povo; Paulo perseguiu o próprio Jesus per-
seguindo Seu povo. A mensagem era clara: se você toca o povo de
Jesus, você o toca. A dor da igreja era a dor de Jesus, e a glória de
Jesus era a glória da igreja. Portanto, o encontro de Paulo com Jesus
foi também um encontro com a glória da igreja.
A resposta de Paulo: “Quem é você?” não era apenas uma per-
gunta sobre Jesus, era também uma pergunta sobre a natureza da
igreja.
Discipulado começa com a contemplação | 2 7

TRANSFORMADO POR DUAS REVELAÇÕES


Paulo tinha ouvido todos os argumentos teológicos antes, mas
quando ele viu a beleza de Jesus, ele foi subitamente transforma-
do. O homem que havia sido um instrumento de sofrimento para
aqueles que amavam a Jesus, de repente se dispôs a suportar um
tremendo sofrimento por causa de Jesus e de Seu povo. O encontro
de Paulo foi o início de uma busca ao longo da vida pelo conheci-
mento de Jesus.
A beleza de Jesus é infinita, e nosso discipulado nunca acaba.
Nunca superamos a necessidade de contemplar a beleza de Deus na
pessoa de Jesus.
Paulo também recebeu uma revelação da beleza do povo de Je-
sus. Ao longo de suas cartas, Paulo escreveu repetidamente sobre a
glória e majestade presente e futura da igreja. Ele foi tão capturado
pela glória da igreja que ficou sem palavras para descrever o que será
revelado através do povo de Deus. Paulo tinha uma visão muito
mais elevada da glória da igreja do que a maioria dos cristãos, e tudo
começou com seu encontro em Atos 9. A glória de Jesus e Seu povo
forçou Paulo a cair no chão e o transformou completamente.
Paulo gostaria que lessemos Atos 9 e nos impressionássemos com
a beleza de Jesus e a beleza de Seu povo. Devemos ter um profundo
apreço por ambos. Se tivermos um sem o outro, teremos uma reve-
lação incompleta do evangelho.
Paulo foi transformado ao contemplar a glória do Senhor na face de
Jesus, então ele entendeu que era o ponto de partida para o discipulado.
A conversão de Paulo veio por revelação, e revela algo importan-
te: o trabalho da apologética, que é defender o cristianismo expli-
2 8 | Discipulado começa com a contemplação

cando-o e apresentando argumentos razoáveis ​​para ele, tem valor,


mas não é a base da nossa fé. A base da nossa fé não é a razão, mas
a revelação. Devemos conversar com os outros e estar prontos para
explicar a verdade do evangelho, mas a conversão real requer revela-
ção. Não é tipicamente tão dramática quanto a conversão de Paulo,
mas o coração humano deve contemplar Jesus pelo Espírito para ser
transformado.
A contemplação não foi apenas a base da conversão de Paulo,
foi também a base de seu ministério. Quando reconhecemos o pa-
pel que a contemplação desempenhou na vida de Paulo, podemos
entender melhor sua exortação aos coríntios de que a transformação
começa com a contemplação corporativa:

E todos nós, com rosto descoberto, contemplando a glória do


Senhor, somos transformados na mesma imagem de um grau
de glória para outro. Pois isso vem do Senhor que é o Espírito.

2 Coríntios 3:18

Na próxima seção, veremos que o conceito de transforma-


ção pela contemplação não começou com a conversão de Paulo.
A transformação através da contemplação corporativa tem sido o
método de discipulado de Deus desde o início. É um padrão antigo
tão antigo quanto o Jardim do Éden. Os apóstolos entenderam o
padrão e construíram igrejas de acordo com esse padrão. Precisamos
redescobrir esse padrão e examinar se nos afastamos do paradigma
da contemplação.
CAPÍTULO 3

O AVISO DO SINAI
Após sua dramática conversão, Paulo acabou indo para a Arábia.
Não sabemos exatamente para onde Paulo foi, mas sabemos que o
Senhor revelou o evangelho a Paulo após sua conversão durante esse
período. Quando tudo é considerado, é muito possível que Paulo
tenha ido ao Monte Sinai para buscar o Senhor, assim como Elias
havia feito.
Por que Paulo iria ao Monte Sinai? A razão é simples - o Monte
Sinai foi o local do momento mais dramático de observação corpo-
rativa da história. Muitas vezes somos culpados de minimizar o que
aconteceu no Monte Sinai. A presença de Deus era gloriosa. Você
ficaria apavorado se estivesse lá. Foi incrível de se ver. As pessoas
experimentaram um incêndio violento, uma fumaça incrível, uma
nuvem enorme, relâmpagos, trovões e um terremoto combinados.
Quando Deus apareceu no Monte Sinai, Ele veio para o bem de
Israel, mas Ele veio como Deus, e Sua aparição foi espetacular:

Agora o monte Sinai estava envolto em fumaça porque o


Senhor havia descido sobre ele em fogo. A fumaça dele subiu
3 0 | Discipulado começa com a contemplação

como a fumaça de um forno, e toda a montanha tremeu muito.


E à medida que o som da trombeta ficava cada vez mais alto,
Moisés falou, e Deus lhe respondeu no trovão. O SENHOR
desceu sobre o monte Sinai, no cume do monte. E o Senhor
chamou Moisés ao cume do monte, e Moisés subiu. E o Senhor
disse a Moisés: “Desça e avise o povo, para que não cheguem ao
Senhor para olhar e muitos deles pereçam”.

Êxodo 19:18-21

Quando todo o povo viu os trovões e os relâmpagos e o som


da trombeta e o monte fumegando, o povo ficou com medo e
estremeceu, e parou de longe e disse a Moisés: “Fala-nos tu, e
nós ouço; mas não deixe Deus falar conosco, para que não mor-
ramos”. Moisés disse ao povo: “Não temais, porque Deus veio
para vos provar, para que o temor dele esteja diante de vós,
para que não pequeis”. O povo ficou longe, enquanto Moisés se
aproximava da densa escuridão onde Deus estava.

Êxodo 20:18-21

O medo tomou conta do povo, mas Moisés tentou acalmá-los


com uma simples exortação: Deus havia revelado Sua glória para
que o povo não pecasse.
Deus aterrorizou o povo com Sua majestade para que eles se
afastassem do pecado e O imitassem. Deus convidou toda a na-
ção a contemplá-Lo para ser transformado. Ele queria que eles O
contemplassem e se tornassem como Ele. O encontro no Monte
Sinai pretendia discipular um povo. Deus se revelou para produzir
Discipulado começa com a contemplação | 3 1

um povo que se tornaria como Ele. Ele falou audivelmente e os


aterrorizou para compeli-los a abraçar um processo de discipulado
como um povo corporativo. Este processo deveria começar no Sinai
e continuar à medida que o povo se aproximasse de Sua presença no
tabernáculo.
Deus queria que o povo de Israel olhasse para Ele e ouvisse Sua
voz para que abraçassem Seus mandamentos e abandonassem o pe-
cado. Ele queria discipliná-los com Sua presença.
Alguns cristãos acreditam erroneamente que a lei do Antigo Tes-
tamento era um caminho para a salvação antes da vinda de Jesus,
mas a lei nunca foi o meio de salvação. A história do êxodo foi o re-
sultado das ações de Deus em favor de Seu povo, não uma resposta
à perfeita observância da lei.
A lei era um conjunto de diretrizes dadas depois que Deus salvou
Israel. Era um conjunto de instruções e um modo de vida destinado
a manter as pessoas longe dos pecados das nações para que pudes-
sem hospedar a presença de Deus em seu meio e aproximar-se de
Sua presença. Não era legalista e previa que as pessoas pecariam ao
definir um sistema de sacrifícios com instruções para arrependimen-
to quando as pessoas pecassem.
A lei mosaica estabeleceu um contexto para Israel ser discipulado
ao contemplar a presença de Deus no meio de Israel.

A CRISE NO SINAI
O Monte Sinai foi glorioso, mas também trágico. O povo foi cha-
mado a contemplar e ser transformado, mas em vez disso acabou na
idolatria e no pecado. O encontro no Sinai apresenta um aviso de
que a transformação (discipulado) através da contemplação não é
3 2 | Discipulado começa com a contemplação

automática. É possível contemplar a Deus, mas não ser discipulado.


É até possível contemplá-lo e ainda assim terminar em apostasia.
Porque há muito em jogo em contemplar, Paulo deu aos corín-
tios um sério aviso ao comparar o que Deus fez em Jesus com o que
aconteceu no Sinai:

Ora, se o ministério da morte, esculpido com letras em pedra,


veio com tal glória que os israelitas não puderam contemplar
o rosto de Moisés por causa da sua glória, que estava chegando
ao fim, não terá o ministério do Espírito ainda mais glória?
Pois se houve glória no ministério da condenação, o ministério
da justiça deve superá-lo em glória. De fato, neste caso, o que
uma vez teve glória, passou a não ter glória alguma, por causa
da glória que a ultrapassa. Pois, se o que estava acabando veio
com glória, muito mais o que é permanente terá glória. Já que
temos essa esperança, somos muito ousados, não como Moisés,
que colocava um véu sobre o rosto para que os israelitas não
olhassem para o resultado do que estava chegando ao fim. Mas
suas mentes estavam endurecidas. Pois até hoje, quando eles
lêem a antiga aliança, esse mesmo véu permanece não levan-
tado, porque somente por meio de Cristo é removido... Mas
quando alguém se volta para o Senhor, o véu é removido...
E todos nós, com rosto descoberto, contemplando a glória do
Senhor, somos transformados na mesma imagem de um grau
de glória para outro. Pois isso vem do Senhor que é o Espírito.

2 Coríntios 3:7–14, 16, 18


Discipulado começa com a contemplação | 3 3

Paulo exortou os coríntios a contemplar Jesus e serem transfor-


mados comparando o que Deus fez em Jesus com a história de Israel
no Monte Sinai. A experiência de Israel no Monte Sinai não foi
repetida e continua sendo o ato de Deus mais visivelmente dramá-
tico para um povo corporativo na história. Os israelitas viram Deus
aparecer como fogo e fumaça no topo de uma montanha e o ouvi-
ram falar audivelmente. Eles ouviram trovões e experimentaram um
terremoto quando Ele se aproximou.
Quando Deus apareceu a Israel, Ele era majestoso e aterrorizan-
te, e ainda assim Paulo diz que através da habitação do Espírito você
tem acesso para contemplar a Deus em maior glória. Acreditamos
que temos acesso a uma revelação maior da glória de Deus do que a
que os israelitas experimentaram no Sinai?
Muitos cristãos minimizam a glória que acompanhou o Monte
Sinai, e isso minimiza o que Paulo escreveu. Considere os trovões,
terremotos, relâmpagos, vozes e terror do Monte Sinai. E então ma-
ravilhe-se por ter acesso a uma revelação maior de Deus ao contem-
plar Jesus através do ministério do Espírito.
Deixe isso acontecer por alguns momentos antes de continu-
armos: os israelitas não podiam olhar para Moisés, e podemos ver
muito mais na face de Jesus através do Espírito que habita nele. Se
a beleza de Deus está disponível para nós em uma medida muito
maior do que o encontro espetacular que Israel teve com Deus no
Monte Sinai, por que estamos tão distraídos com coisas menores?
Paulo comparou a nova aliança ao Monte Sinai porque essa foi
a última vez que Deus desceu à vista de Seu povo para fazer uma
aliança com eles. Paulo queria que os coríntios comparassem sua
situação com a do Sinai:
3 4 | Discipulado começa com a contemplação

• Deus desceu no êxodo para libertar Israel da escravidão.


Ele se revelou a Israel e deu a Israel um novo modo de
vida que os capacitaria a contemplá-Lo e, no processo,
deixar o pecado e ser transformado à Sua imagem.
• A lei mosaica era um tipo e uma sombra do que estava por
vir. Quando olhamos para o encontro de Israel no Sinai,
descobrimos os fundamentos de nossa fé. O que começou
no Sinai deve ter maior expressão em nosso tempo.
• Deus desceu na pessoa de Jesus para libertar nossos cora-
ções do poder do pecado. Ele se revelou a Israel novamen-
te e nos deu um novo modo de vida através do novo nas-
cimento e do Espírito que nos capacita a contemplá-Lo,
afastar-nos do pecado e ser transformados à Sua imagem.

Paulo fez referência ao encontro no Sinai para fazer uma decla-


ração: Deus desceu novamente. Podemos olhar para Ele novamente no
rosto de Jesus e ouvir Sua voz nas palavras de Jesus.
A comparação de Paulo com o Sinai, no entanto, também trouxe
uma advertência crítica, e há uma lição que ele queria que os corín-
tios aprendessem com o encontro de Israel na montanha.
Um grave aviso Quando Paulo se referiu ao Monte Sinai, ele es-
perava que os coríntios recordassem toda a história no Monte Sinai.
Essa história é gloriosa, mas também traz um grave aviso. Quando
o povo encontrou Deus no Sinai, eles ficaram tão aterrorizados que
ficaram à distância e pediram a Moisés que se aproximasse de Deus
por eles e falasse com eles em nome de Deus:
Discipulado começa com a contemplação | 3 5

Quando todo o povo viu os trovões e os relâmpagos e o som


da trombeta e o monte fumegando, o povo ficou com medo e
estremeceu, e parou de longe e disse a Moisés: “Fala-nos tu,
e nós ouço; mas não deixe Deus falar conosco, para que não
morramos”.
Êxodo 20:18-19

Como vimos, Moisés implorou a eles que não recuassem de


medo, mas permitissem que a revelação de Deus os afastasse do
pecado:

Moisés disse ao povo: “Não temais, porque Deus veio para vos
provar, para que o temor dele esteja diante de vós, para que
não pequeis”.
Êxodo 20:20

Deus queria que a nação O contemplasse e se aproximasse, mas


a nação estava aterrorizada com Sua presença, então eles olharam
para Moisés e disseram: “Vá falar com Ele”. Por causa da majestade
da presença de Deus, as pessoas não abraçaram o processo de disci-
pulado pela contemplação, e os efeitos foram horríveis.
Porque o povo não se aproximou para contemplar a Deus e ser
transformado pelo que viu e ouviu, acabou na idolatria.
Moisés se aproximou da presença do Senhor, mas a nação não.
Ele foi transformado, mas eles não. À medida que Moisés conti-
nuou a contemplar a Deus, a própria glória de Deus transformou o
corpo físico de Moisés. Moisés foi tão transformado pela glória de
Deus, seu rosto estava radiante, e os israelitas acabaram cobrindo o
3 6 | Discipulado começa com a contemplação

rosto de Moisés. Eles não podiam suportar quem Moisés se tornou


ao contemplar a Deus, mas Deus queria que toda a nação carregasse
Sua glória. Moisés foi transformado (discipulado) ao contemplar a
glória de Deus diante da cruz é uma imagem vívida do poder de
contemplar a Deus para nos transformar.

ENVIANDO OS PROFISSIONAIS PARA OLHAR


Porque Israel enviou Moisés para contemplar o Senhor para eles, ele
foi transformado, mas eles acabaram adorando um bezerro de ouro.
Em vez de levar a glória de Deus, os israelitas pareciam um ídolo.
G. K. Beale comenta essa tragédia indescritível:

Em contraste com Moisés, o Salmo 106:20 afirma que os


idólatras do bezerro de ouro “trocaram” a glória de Deus
que deveriam ter refletido pela semelhança inglória do
ídolo do bezerro. De fato, que a glória refletida no ros-
to de Moisés representava o que todos os israelitas fiéis
deveriam ter refletido é apontado por outros textos do
Antigo Testamento, que parecem ver a proximidade de
uma pessoa fiel com Deus resultando em refletir sua luz:
“O Senhor faça o Seu rosto resplandeça sobre você” (Nm
6:25); “olharam para Ele [o Senhor] e ficaram radiantes”
(Sl 34:5); assim também Isaías 60:1-5 (por exemplo, “mas
o Senhor se levantará sobre você e a Sua glória aparecerá
sobre você”).

Em vez de serem transformados à imagem de Deus ao


contemplá-Lo, os israelitas fizeram um deus de acordo com seus
Discipulado começa com a contemplação | 3 7

próprios desejos e o chamaram de YHWH. Da mesma forma, se


não contemplarmos a Deus e buscarmos ser transformados à Sua
imagem – especialmente quando isso nos deixa desconfortáveis –​​
acabaremos criando nossos próprios “deuses” e nos tornando como
eles.
Estar perto da glória de Deus não é suficiente. Um líder que con-
templa Deus não é suficiente. Devemos contemplá-Lo como uma
comunidade. Devemos enfrentar o temor de Deus e devemos ser
transformados.
A idolatria dos israelitas no Monte Sinai nos obriga a fazer algu-
mas perguntas desconfortáveis: Enviamos nossos pastores para olhar
para Deus e ouvi-lo por nós da maneira como os israelitas trataram
Moisés? Ou procuramos olhar e ouvir a Deus nós mesmos? Se você
é pastor: você prioriza olhar para Deus? Ou você gasta mais energia
olhando para outras coisas que parecem bem-sucedidas?
Deus estabelece líderes para servir ao Seu corpo e levá-lo à ma-
turidade, mas “todos nós” devemos contemplá-Lo. Precisamos de
líderes piedosos, mas Deus colocou Moisés no lugar para facilitar
um encontro corporativo. Devemos olhar para Deus juntos, não
apenas enviar um “Moisés” para fazer isso por nós.
A igreja sofre tremendamente quando enviamos os “profis-
sionais” (pastores, professores, líderes de louvor, etc.) Os cristãos
protestantes muitas vezes criticam a Igreja Católica por ter padres
profissionais, apontando que todos os crentes são chamados a ser
padres. Na prática, porém, mesmo os cristãos protestantes costu-
mam tratar os ministros vocacionais como “sacerdotes” que buscam
a Deus em seu favor.
3 8 | Discipulado começa com a contemplação

CONTEMPLAR É ALGO SÉRIO


Embora possamos não encontrar Deus da maneira que os israelitas
encontraram, Deus ainda habita no meio de Seu povo, independen-
temente do que possamos pensar de nossa congregação local. Deus
convidou o povo a se aproximar Dele, mas também os advertiu a
respeitar o encontro.

E o Senhor disse a Moisés: “Desça e avise o povo, para que não


cheguem ao Senhor para olhar e muitos deles pereçam. Tam-
bém os sacerdotes que se aproximam do Senhor se santifiquem,
para que o Senhor não os ataque”.
Êxodo 19:21-22

O Senhor quer que Seu povo veja, mas Ele advertiu os israelitas
a não se aproximarem do monte santo por curiosidade. Essa é uma
advertência contra uma abordagem casual da igreja que se aproxi-
ma de Deus para nossa própria diversão e entretenimento, mas não
busca a transformação à Sua imagem. Quando Deus se revela para
que um povo possa contemplá-lo, é uma coisa séria.
Deus se revela ao Seu povo no contexto da aliança, e Ele espera
que respondamos a Ele de maneira pactual.
Somos, de longe, a geração mais educada da história. Temos
muito mais acesso à Bíblia e à teologia do que qualquer outra gera-
ção. Nenhum dos autores bíblicos teve acesso a nada perto do que o
cristão médio tem no bolso em seu smartphone.
Também temos muito mais música de adoração do que qualquer
geração para despertar nossas afeições para a beleza e majestade de
Deus. No entanto, se estamos buscando uma “experiência de adora-
Discipulado começa com a contemplação | 3 9

ção”, mas não estamos sendo transformados à imagem de Jesus por


meio de nossa adoração, nossa “adoração” é perigosa. Está servindo
como um placebo, uma imitação emocional do que Deus quer.
Líderes de louvor, cantores e músicos, vocês devem levar seu
dom muito a sério. Você pode ser um presente incrível para a igreja
se nos levar a contemplar a Deus. No entanto, se você apenas nos
dá “experiências” emocionais, você está nos confortando em nossa
imaturidade e nos levando à idolatria, dando-nos uma espécie de
encontro com Deus que nos afirma, mas não nos transforma.
Contemplar a Deus não é apenas uma experiência melhor da
presença de Deus em uma reunião de adoração. Trata-se da transfor-
mação que deve resultar da revelação da pessoa de Deus.
Somos de longe a geração mais informada da história, mas será
que somos a geração mais transformada?
Receio que tenhamos nos tornado muito familiarizados com in-
formações sobre Deus e até mesmo a presença de Deus, mas, como
os israelitas, enviamos nossos líderes para falar com Deus e trazer in-
formações de volta para nós. Mas Deus quer que nos aproximemos
dEle como uma comunidade e suportemos as consequências do que
vemos. Você procura contemplar a Deus para sua própria curiosida-
de? Para um pouco de emoção? Ou porque você quer conhecê-lo e
anseia por transformação?
Os israelitas estavam aterrorizados por Deus, e Paulo chamou
seu encontro de uma glória menor do que a que está disponível
através do Espírito que habita:

Ora, se o ministério da morte, esculpido com letras em pedra,


veio com tal glória que os israelitas não puderam contemplar
4 0 | Discipulado começa com a contemplação

o rosto de Moisés por causa da sua glória, que estava chegando


ao fim, não terá o ministério do Espírito ainda mais glória?
Pois se houve glória no ministério da condenação, o ministério
da justiça deve superá-lo em glória. De fato, neste caso, o que
uma vez teve glória, passou a não ter glória alguma, por causa
da glória que a ultrapassa. Pois, se o que estava acabando veio
com glória, muito mais o que é permanente terá glória.

2 Coríntios 3:7-11

Nossa experiência de Deus nem sempre será dramática, mas exi-


girá algo de nós. Sua natureza e caráter nos confrontarão e nos dei-
xarão desconfortáveis. Ele irá expor a grande diferença entre quem
somos e quem Ele é. Nesse momento, podemos recuar, ou podemos
nos aproximar confiantes de que Deus gosta de mostrar misericór-
dia e nos transformar pela obra de Seu Espírito. Deus é muito gra-
cioso conosco, e Ele trabalhará com a lacuna entre nós e Ele, mas
Ele não se tornará como nós. Ele nos fará semelhantes a Ele.
Se você nunca se assustou com o que sente quando contempla
Deus, ainda não desfrutou de todos os benefícios da nova aliança.
Por meio da habitação do Espírito, você pode suportar uma reve-
lação de Deus que os israelitas não podiam suportar. Você deve se
aproximar com total confiança no sangue de Jesus e na ajuda do
Espírito Santo para ver Deus como Ele é.
Não precisamos ficar à distância. Podemos subir ao “monte san-
to” e contemplá-Lo juntos com absoluta confiança por causa do
sangue de Jesus. Se o fizermos, Ele nos transformará à Sua imagem.
A glória de Deus foi velada no Monte Sinai, mas totalmente re-
Discipulado começa com a contemplação | 4 1

velada na pessoa de Jesus. O encontro dos israelitas com a glória


“velada” de Deus no Sinai é um testemunho incrível do que está
disponível para nós pelo Espírito.
Você pode imaginar estar no Monte Sinai e se recusar a olhar
para a montanha e ouvir a voz audível do Senhor? Você pode ima-
ginar colocar fones de ouvido e desfrutar de entretenimento em vez
de olhar para o Deus vivo em chamas na montanha e ouvir Sua voz
estrondosa? Mas não é isso que fazemos quando priorizamos entre-
tenimento, mídia e diversões em vez de buscar comunhão com o
Espírito e pedir a Ele que nos revele Deus?
Além disso, você poderia imaginar o povo de Israel decidindo se
reunir e falar uns com os outros, mas nunca olhar corporativamente
para o fogo, a fumaça e o trovão da montanha? Mas, novamente,
não é isso que fazemos quando nos reunimos semana após semana,
mas nunca contemplamos corporativamente a glória de Deus?
Considerando o que está disponível pela habitação do Espírito, é
trágico que gastemos mais tempo em entretenimento do que contem-
plando Deus. Somos como os israelitas no pé de uma montanha em
chamas, nunca se preocupando em olhar para a montanha.
Se recebemos acesso do Espírito para contemplar a glória de
Deus em uma medida além do que Israel experimentou no Sinai,
como achamos a Netflix mais atraente? Como é que nos reunimos
como um povo, mas não nos reunimos para contemplar a Deus
corporativamente pelo Espírito? E será que nossa falta de visão está
mais ligada à nossa falta de transformação do que percebemos?
A transformação não é automática. Este é o aviso do Monte Sinai.
Devemos responder.
Israel acabou na idolatria porque a nação não se esforçou para
4 2 | Discipulado começa com a contemplação

contemplar a glória de Deus e enfrentar as implicações de Sua gló-


ria. Da mesma forma, se não priorizarmos a contemplação de Deus
quando nos reunimos, aos poucos acabaremos na idolatria. Forma-
remos um “Jesus” feito por nós mesmos. Vamos chamá-lo de “Jesus”
e nos reunir em torno desse “deus”, mas não será o Deus aterrori-
zante e incriado. Será simplesmente um bezerro de nossa própria
criação, moldado à nossa própria imagem.
Na medida em que criamos um deus à nossa imagem e segundo
nossos gostos, é a medida em que seguimos outro deus.
Contemplar é coisa séria. Tudo está em jogo.
CAPÍTULO 4

O DISCIPULADO DEVE
COMEÇAR COM DEUS
Antes de olharmos para o padrão bíblico de contemplação, pre-
cisamos considerar por que o discipulado deve começar com a con-
templação.
O discipulado é um processo de construção – está construindo
pessoas. Sempre que você constrói algo, você precisa saber como é
o produto final. Por exemplo, arquitetos e engenheiros produzem
plantas do produto acabado para que os trabalhadores saibam o que
estão fazendo e como fazê-lo. Sem projetos, você não sabe o que está
construindo.
Deus quer formar pessoas que se tornem como Ele, e Deus na
pessoa de Jesus é o projeto – o produto final do discipulado.
O discipulado deve começar com a contemplação porque o dis-
cipulado deve começar com Deus – se você não contemplar Jesus
consistente e intencionalmente, você não sabe como Deus quer que
o homem se torne. E se você não sabe qual é o produto do discipu-
lado, então você não pode discipular corretamente.
4 4 | Discipulado começa com a contemplação

Quando fazemos discipulado principalmente sobre uma versão


melhor de nós mesmos, perdemos o foco. Deus não está tentando
produzir humanos melhores. Ele está produzindo um povo como
Ele. Muitas vezes pensamos nessa era como o desdobramento de
nossos próprios destinos, mas essa era foi formada para revelar quem
é Deus e desvendar o que Ele quer. Somos convidados a entrar em
Sua história para que possamos ser formados à Sua imagem. Ele não
existe para nós, e Ele não é à nossa imagem.
O discipulado deve ser centrado em Deus e não centrado no
homem. Esta era não foi projetada para nós; ela foi projetada para
Deus. Esta era não é toda sobre nossa história; trata-se de nos colo-
car na história de Deus e nos tornar semelhantes a Ele.
Nós tendemos a gastar muito esforço para descobrir como pode-
mos obter a ajuda de Deus para desfrutar de nossos próprios “des-
tinos”. Nós tratamos Deus como um bem para garantir nosso pró-
prio fim, e isso está totalmente exposto em inúmeros livros cristãos.
Todos os anos há novos livros e inúmeros vídeos sobre as fórmulas
secretas que darão poder às nossas orações e nos permitirão obter o
favor de Deus. No final, trata-se de manipular Deus para conseguir
o que queremos, e é uma evidência de que não fomos discipulados
biblicamente. Na verdade, está mais próximo da feitiçaria do que
do cristianismo.

DEUS NÃO É FEITO À NOSSA IMAGEM


Se o discipulado não se basear na contemplação, nos tornaremos
como os fariseus, um povo que conhece informações sobre Deus
e adota um estilo de vida religioso, mas não conhece realmente a
Deus.
Discipulado começa com a contemplação | 4 5

Deus não é feito à nossa imagem. Somos feitos à Sua, e a ma-


turidade cristã é medida pelo grau em que você se assemelha à Sua
imagem. Nosso maior problema é que não conhecemos a Deus, e
não podemos discipular as pessoas à imagem de um Deus que não
conhecemos.
A Bíblia promete que nos tornaremos como Deus de maneiras
que não podemos imaginar:

Pois se fomos unidos a ele em uma morte como a dele, certa-


mente seremos unidos a ele em uma ressurreição como a dele.
Romanos 6:5

E se filhos, então herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros


de Cristo, contanto que soframos com ele para que também
sejamos glorificados com ele. Pois considero que as aflições deste
tempo presente não podem ser comparadas com a glória que
há de ser revelada em nós. Pois a criação aguarda com ânsia
a revelação dos filhos de Deus. . . . Para aqueles que de ante-
mão conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos.
Romanos 8:17–19, 29

O primeiro homem era da terra, um homem de pó; o segundo


homem é do céu. Como foi o homem do pó, assim também são
os que são do pó, e como é o homem do céu, assim também são
os que são do céu. Assim como trouxemos a imagem do homem
do pó, também traremos a imagem do homem do céu.
1 Coríntios 15:47–49
4 6 | Discipulado começa com a contemplação

Mas a nossa cidadania está nos céus, e de lá esperamos um


Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso corpo
abatido para ser semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder
que o capacita até mesmo a sujeitar todas as coisas a si mesmo.
Filipenses 3:20-21

Para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para que alcanceis
a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
2 Tessalonicenses 2:14

Amados, somos filhos de Deus agora, e o que seremos ainda


não apareceu; mas sabemos que, quando ele aparecer, seremos
semelhantes a ele, porque o veremos como ele é.
1 João 3:2

O Novo Testamento descreve a igreja como um povo que será


completamente transformado à imagem de Deus. Nos tornaremos
como Ele de maneiras que não podemos prever. Até mesmo nossos
corpos se tornarão como o Dele. Deus está atrás de muito mais do
que uma moralidade melhor.
Discipulado não é preparar as pessoas para irem para o céu. Tra-
ta-se de transformar as pessoas à imagem de Deus.
Não somos chamados a abraçar atributos divinos nessa era para
ganhar uma aposentadoria celestial. Quando apresentamos o disci-
pulado dessa maneira, as pessoas escolhem ser generosas, abnega-
das, humildes, mansas, perdoadoras e longânimes, esperando uma
recompensa. Embora Deus nos recompense, esse não é todo o pro-
pósito de Deus. Deus está produzindo um companheiro para Si
Discipulado começa com a contemplação | 4 7

mesmo - um povo que é como Ele. Ele quer um povo que goste de
viver do jeito que Ele vive, não um povo que suporta certas discipli-
nas para ganhar um prêmio.
Muito mais está em jogo no discipulado do que chegar ao céu.
A questão central do discipulado é: você se tornará como Ele? Você
assumirá a Sua imagem? Quando ensinamos as pessoas a obedecer a
certas regras para escapar do inferno, não as estamos disciplinando.
Estamos enganando-os, convencendo-os de que ganharão a apro-
vação de Deus vivendo de uma certa maneira quando não estão
realmente alinhados com a agenda de Deus.
Se as pessoas não querem se tornar como Deus, não importa
quão “moral” sejam suas vidas e quão saudáveis ​​sejam suas famílias.
Eles não são discipulados, e Deus não está interessado em suas rea-
lizações. O discipulado não é a personificação de Deus; é o processo
de tornar-se como Deus. Um papagaio pode se passar por você, mas
um papagaio não pode se tornar você.
Deus é incrivelmente longânimo. A Bíblia revela que Ele pode
suportar todo tipo de fracasso, pecado e imaturidade em uma pessoa
que realmente deseja se tornar como Ele. Ele não é irracional - Ele é
generoso. Deus também é muito paciente conosco e nos conduzirá
por um processo. Ele conhece nossa fraqueza, e isso não O desen-
coraja, mas Ele quer tudo, e não devemos dar outra impressão às
pessoas.

VENDENDO TUDO COM ALEGRIA


Se Deus está exigindo – e Ele está – como levar as pessoas a dar tudo
a Ele e permitir que Ele transforme sua pessoa inteira à Sua imagem?
A resposta é o amor simples que flui do fascínio. Eles precisam con-
4 8 | Discipulado começa com a contemplação

templar algo que torne valioso o doloroso, difícil e longo processo


de transformação. Quando alguém contempla algo belo – seja outra
pessoa ou uma joia preciosa – dará tudo para obter este tesouro:

“O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num


campo, que um homem achou e escondeu. Então, em sua ale-
gria, ele vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo”.

Mateus 13:44

Eles não apenas “venderão tudo”, eles o venderão com alegria.


Não podemos chamar as pessoas ao discipulado profundo quan-
do elas não veem Jesus como o tesouro superior a todos os outros
tesouros. Não podemos discipular adequadamente as pessoas com
base na culpa e compulsão. Deus não quer um povo que segue Seu
Filho porque se sente culpado e obrigado. Ele está formando um
povo que ama Seu Filho mais profundamente e O considera um
tesouro maior do que qualquer outro tesouro.
Jesus esperou milhares de anos por uma noiva, e o Pai vai dar a
Ele uma noiva digna de Sua espera – uma companheira que O ama
e O desfruta plenamente. Nenhum noivo quer ir a um casamento
e encontrar uma noiva que esteja lá por obrigação, esperando que
o casamento traga alguns benefícios pessoais. Um noivo anseia por
uma noiva que é cativada pelo amor (e uma noiva anseia pela mes-
ma coisa) com um desejo genuíno por ele - pelo homem a quem ela
está entregando sua vida. Jesus não é diferente. Ele não quer unir-se
a pessoas que não o acham desejável, agradável, agradável e belo.
Jesus estabeleceu um padrão muito alto para o discipulado. Ele
Discipulado começa com a contemplação | 4 9

nos chamou para negar a nós mesmos e abraçar nossa própria execu-
ção para segui-lo. Ele exigia a primeira prioridade em todas as áreas.
Seus requisitos para o discipulado eram incrivelmente altos, e Ele
disse às pessoas que calculassem cuidadosamente o custo de segui-lo
antes de segui-lo. Jesus tinha requisitos muito mais elevados para o
discipulado do que muitos de nós. A verdade é que muitos de nós
achamos os requisitos de Jesus muito exigentes e constantemente
procuramos reduzi-los.
É fácil ler os requisitos de Jesus e se perguntar como Ele esperava
que alguém O seguisse, mas Jesus nunca forçou as pessoas a segui-
-Lo. Na verdade, Ele voluntariamente deixou as pessoas irem. Jesus
nunca esperou que todos O seguissem. Ele procura aqueles que en-
contram alegria nEle. Ele é muito paciente conosco em nossas falhas
e falhas, mas Ele não quer que as pessoas O sigam por dever. Ele
quer ser objeto de deleite de Sua Noiva, como qualquer outro noivo
que se prepara para um casamento.
Jesus seguiu a ordem do Pai de ir para a Sua própria morte por
causa da alegria, e Ele está formando um povo que O seguirá por
causa da alegria e deleite.
Se as pessoas não virem Jesus como um belo tesouro – muito
mais desejável do que qualquer outro tesouro – elas não suportarão
o processo de discipulado. E certamente não venderão tudo com
alegria para obtê-Lo e tornar-se como Ele. É uma perda de tem-
po tentar continuamente discipular pessoas que não acham Jesus
bonito, mas tragicamente há muitos em nossas igrejas que ainda
não viram Jesus como verdadeiramente belo. Como resultado, eles
tentam servi-Lo, mas não vendem tudo com alegria.
5 0 | Discipulado começa com a contemplação

O OBJETIVO É DEUS
Quando pensamos no discipulado principalmente como um cami-
nho para as recompensas celestiais por meio da obediência (o que
não é totalmente errado), podemos facilmente sair do caminho. O
objetivo do discipulado não é o céu; é Deus.
Por exemplo, Paulo nunca desejou o céu. Ele ansiava por estar
com Deus:

Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Se devo


viver na carne, isso significa trabalho frutífero para mim.
No entanto, qual escolherei, não posso dizer. Estou duramente
pressionado entre os dois. Meu desejo é partir e estar com Cris-
to, pois isso é muito melhor.
Filipenses 1:21-23

Mas qualquer ganho que eu tivesse, eu contava como perda


por causa de Cristo. Na verdade, considero tudo como perda
por causa do valor supremo de conhecer a Cristo Jesus, meu
Senhor. Por causa dele, perdi todas as coisas e as considero como
lixo, para ganhar a Cristo.
Filipenses 3:7-8

O desejo de Paulo era Deus na pessoa de Jesus, não a aposen-


tadoria no céu. De fato, o Novo Testamento nunca faz do “céu”
o objetivo de nosso discipulado. Quando Paulo falou sobre nossa
cidadania nos céus, o foco não era o “céu”, mas Jesus. Olhamos para
o céu porque Jesus está lá e ansiamos que Ele esteja conosco nova-
mente e nos transforme à Sua imagem:
Discipulado começa com a contemplação | 5 1

Mas a nossa cidadania está nos céus, e de lá esperamos um


Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso corpo
abatido para ser semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder
que o capacita até mesmo a sujeitar todas as coisas a si mesmo.
Filipenses 3:20-21

Primeira Coríntios 15 poderia ser a passagem onde Paulo mais


falou sobre o céu e o crente, mas mesmo nessa passagem o alvo não
é o céu. O objetivo é tornar-se como o homem que vem do céu:

O primeiro homem era da terra, um homem de pó; o segundo


homem é do céu. Como foi o homem do pó, assim também são
os que são do pó, e como é o homem do céu, assim também são
os que são do céu. Assim como trouxemos a imagem do homem
do pó, também traremos a imagem do homem do céu.
1 Coríntios 15:47–49

Paulo descreve a glória de Jesus como o Homem do céu, mas


quando ele fala da esperança do crente, a esperança nunca é o céu.
A esperança é a ressurreição e tornar-se como o Homem Divino.
Assim, o discipulado deve começar com a contemplação da beleza
de Deus na pessoa de Jesus.
Se você acredita que Ele é lindo, então você será atraído por Ele
e abraçará o processo de discipulado. Se você não o vê como bonito,
então você abandonará o caminho do discipulado quando se tornar
difícil, ou você se tornará um legalista que mantém certas regras por
causa da culpa ou na esperança do céu. Não é útil colocar a esperan-
5 2 | Discipulado começa com a contemplação

ça das pessoas no céu. É uma esperança vaga e indefinida, e não é a


esperança do Novo Testamento.
O objetivo do Novo Testamento é claro: torne-se como Jesus para
que você possa se unir a Ele e participar de Sua restauração da criação.
O discipulado começa com a contemplação, mas nada acontece
quando contemplamos alguém ou algo que não achamos bonito.
Portanto, o discipulado é uma luta que se trava no campo de batalha
da beleza. E é aí que precisamos voltar nossa atenção a seguir.
CAPÍTULO 5

O CAMPO DE BATALHA
DA BELEZA
A sede por beleza é uma das coisas que fazem os humanos se-
rem unicos. Nenhuma outra criatura é atraída por beleza como os
humanos são, o que indica que o desejo por beleza é o resultado de
ser feito à imagem de Deus. Nosso desejo por beleza reflete o Seu
desejo.
Um cachorro se contenta em viver em uma favela ou em uma
cobertura. Realmente não se importa. No entanto, os humanos an-
seiam por beleza em todas as áreas de nossas vidas. Quando algo
não é bonito, ou nos afastamos dele ou tentamos remodelá-lo para
torná-lo mais bonito. Somos atraídos por pessoas bonitas, lugares
bonitos e coisas bonitas. Qualquer coisa em nossas vidas que consi-
deramos valiosa, também queremos ser bonitas.
O coração humano anseia pela beleza e a procura. Nascemos
com “olhos gananciosos” que anseiam olhar para coisas que acha-
5 4 | Discipulado começa com a contemplação

mos prazerosas e fascinantes. E quando descobrimos a beleza, ansia-


mos por imitar o que vemos. Portanto, a maneira como satisfazemos
nosso apetite pela beleza determinará o que nos tornaremos.
A igreja repreende as pessoas por seu consumo excessivo de fal-
sa beleza, mas esta é uma resposta incompleta ao dilema humano.
Devemos chamar as pessoas para apetites redirecionados, não apenas
apetites proibidos. Considere Isaías 55:

“Vem, todo aquele que tem sede, venha para as águas; e


quem não tem dinheiro, venha, compre e coma! Venha,
compre vinho e leite sem dinheiro e sem preço. Por que
você gasta seu dinheiro com o que não é pão e seu tra-
balho com o que não satisfaz? Ouçam-me com atenção,
comam o que é bom e deliciem-se com comida farta”.
(vers. 1–2)

Deus não nos repreende por fome e sede. Em vez disso, Ele nos
ordena a comer e beber. Deus não nos repreende por termos apeti-
tes. Ele nos repreende por consumir coisas que não satisfazem. Por
exemplo, se você está destruindo seu corpo comendo comida barata
e não saudável, você não deve parar de comer. Se você fizer isso, você
pode morrer. A resposta não é a abstinência total de alimentos; a
resposta é mudar o que você come — pare de comer comida ruim.
Seu apetite não é problema seu. Eles não precisam ser destruídos; eles
precisam ser redirecionados.
Deus ficou estarrecido que Seu povo não O desfrutasse e bebesse
profundamente do prazer de conhecê-Lo. Ele não conseguia enten-
der por que Seu povo não satisfaria seu apetite por prazer nEle:
Discipulado começa com a contemplação | 5 5

“Fique horrorizado, ó céus, com isso; Fiquem chocados,


fiquem totalmente desolados, diz o Senhor, porque o meu
povo cometeu dois males: eles me abandonaram, a mim, a
fonte de águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas
rotas que não retêm as águas”.
Jeremias 2:12-13

Se ensinarmos as pessoas a negarem seus apetites, mas não as


levarmos a satisfazer seus anseios pela beleza em Deus, elas irão para
a ruína. Eles se tornarão hipócritas religiosos que seguem regras mo-
rais, mas não conhecem a Deus, ou acabarão por se livrar de todas
as restrições e talvez acabarão ainda mais licenciosos do que antes.
Os apetites do coração humano são simplesmente fortes demais para
serem negados porque fomos feitos para desejar a beleza de Deus.
Devemos estar satisfeitos em Deus, ou nos fartaremos de imi-
tações ou prejudicaremos nossas próprias almas em uma tentativa
orgulhosa de matar o desejo de prazer em nossas próprias almas.
Não encontramos vida na abstinência do prazer, mas na mudança
de prazeres falsificados para prazeres divinos.
O discipulado não pode se limitar a dizer às pessoas o que não “co-
mer”; em vez disso, deve direcioná-los a “comer” outra coisa.
O autor C. S. Lewis assim se expressou:

Se considerarmos as promessas descoradas de recom-


pensa e a natureza surpreendente das recompensas pro-
metidas nos Evangelhos, parece que Nosso Senhor acha
nossos desejos não muito fortes, mas muito fracos. Somos
criaturas sem coração, brincando com bebida, sexo e am-
5 6 | Discipulado começa com a contemplação

bição quando nos é oferecida uma alegria infinita, como


uma criança ignorante que quer continuar fazendo tortas
de barro em uma favela porque não pode imaginar o que
significa a oferta de férias no mar. Estamos muito facil-
mente satisfeitos.

A guerra pela beleza e fascínio explica os relacionamentos de ou-


tra forma desconcertantes de Deus com os humanos na Bíblia. Em
toda a Bíblia, Deus forja relacionamentos profundos com indivídu-
os extremamente falhos. Davi é um dos melhores exemplos. Davi
cometeu pecados extremamente sérios, e mesmo assim Deus não
rompeu o relacionamento com Davi. O relacionamento de Deus
com Davi era muito controverso, mas, em última análise, era basea-
do em um fundamento simples: Davi estava extremamente quebrado,
mas ele era fascinado por Deus e capturado pela beleza de Deus:

Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que eu possa


morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu
templo.
Salmo 27:4

Porque Davi achou Deus lindo, Deus pôde trabalhar com Ele
e moldá-Lo à Sua própria imagem. E, embora pareça escandaloso,
Deus poderia chamar Davi de homem “segundo Seu próprio co-
ração”. Deus não se envergonhou de Seu compromisso com Davi
porque Davi era um homem fascinado. Davi era muito falho, mas
foi capturado pela beleza de Deus e queria se tornar como Deus.
Discipulado começa com a contemplação | 5 7

Compare o relacionamento de Deus com Davi com o relacio-


namento conturbado de Jesus com os fariseus. Muitos dos fariseus
tinham uma moral externa muito melhor do que Davi, mas quando
Deus estava diante deles, eles não O achavam bonito e não ficavam
fascinados por Ele. Esses fariseus abraçaram a moralidade, mas não
queriam se tornar como Deus. Como resultado, Jesus teve um con-
flito contínuo com eles e muitos dos líderes religiosos.
Nossas ações são muito importantes, e Davi e sua família so-
freram tremendamente por seu pecado. No entanto, precisamos
considerar se criticamos demais a fraqueza de algumas pessoas e ce-
lebramos demais o cumprimento das regras de outras. Para dizer de
outra forma, discipulamos com base no fascínio ou na modificação
do comportamento?

ESTUDANTES DA BELEZA DIVINA


O discipulado bíblico produzirá um povo que se tornará estudante da
beleza de Jesus.
As pessoas devidamente discipuladas serão cativadas pela beleza
de Jesus e estruturarão suas vidas para que possam aproveitar todas
as oportunidades para contemplar Sua beleza, porque as pessoas or-
questram suas vidas para que possam contemplar o que acham mais
bonito. E, como todo ser humano, eles procurarão maneiras de se
tornarem como Aquele que acham mais bonito. Assim como as pes-
soas se vestem para se parecerem com os modelos que acham mais
atraentes, também as pessoas que são capturadas pela beleza de Jesus
procurarão se parecer com Ele.
O desejo humano pela beleza pode levar os humanos a fazer
todo tipo de coisas que não fariam de outra forma. É por isso que
5 8 | Discipulado começa com a contemplação

bons pais protegem as crianças da beleza falsificada e por que os


governos têm que censurar materiais. O desejo humano por coisas
que são percebidas como belas é mais forte do que qualquer outro
desejo. Não é razoável.
A beleza de Jesus deve ser fundamental em nossas igrejas - deve ser
o apelo principal. Quando acharmos Jesus belo, faremos qualquer coisa
por Ele — não seremos restringidos pela razão, recursos ou reprovação.
Tragicamente, muitas vezes tentamos atrair pessoas para a igreja
usando uma infinidade de métodos, em vez de lidar com a raiz do
problema: estamos entediados com a Pessoa mais bonita do cosmos. Se
não enfrentarmos essa questão central, tentaremos atrair as pessoas
para a igreja usando várias atrações, que é como as igrejas rapida-
mente saem do caminho.
A verdade incômoda é que muitas vezes tentamos atrair pessoas
para a igreja por meio de muitas outras coisas além de Deus. Ten-
tamos reunir as pessoas apelando para as definições humanas de
beleza em vez de estabelecer um contexto para que contemplem
Sua beleza. Nós até criamos programas e atividades para manter as
pessoas que estão entediadas com Deus na igreja.
Estamos dispostos a correr o risco de fazer de Deus a atração princi-
pal em nossas igrejas?
A triste verdade é que, se você fizer de Deus a atração principal
em sua igreja local, poderá perder pessoas que atualmente frequen-
tam. No entanto, se a igreja é um povo reunido em torno da pessoa
de Deus, realmente vale a pena todo o esforço que despendemos
para manter pessoas envolvidas que não são fascinadas por Deus e
não querem realmente orientar suas vidas para contemplar Sua be-
leza? É possível que estejamos realmente impedindo o crescimento
Discipulado começa com a contemplação | 5 9

de nossas igrejas locais por não estarmos dispostos a nos separar das
pessoas que não veem Deus como a atração principal?

UM POVO CAPTURADO PELA BELEZA


A revelação da beleza de Jesus ao coração humano tem o poder
de cativar a mente, a vontade e as emoções e produzir um povo
que suportará sacrifícios incríveis por causa do Seu nome e da Sua
glória. Muitas vezes tentamos motivar as pessoas usando todos os
tipos de métodos: esperança, medo, ameaças, vergonha, avisos e
recompensas. Parte disso tem valor, mas levanta uma questão: Nós
já experimentamos a beleza?
Nossas livrarias estão repletas de livros que oferecem um
caminho para alcançar nossas esperanças, nossos sonhos e nossos
destinos. Até os cristãos realizam conferências e seminários sobre
como viver próspero, realizado e satisfeito. Por um lado, isso não faz
sentido, considerando que há repetidas previsões sobre o sofrimento
no Novo Testamento e nem uma única garantia de “sucesso” nessa
época. No entanto, tudo isso expõe uma questão mais profunda:
Somos mais capturados pela nossa própria beleza do que pela beleza de
Jesus.
Considere o marketing de uma igreja local típica no mundo rico.
Qual é o apelo real? É a pessoa de Deus, ou é o que Deus pode fazer
por você? É a beleza de Deus ou os benefícios de Deus que são mais
proeminentes? Deus gosta de compartilhar Seus benefícios e quer
que os celebremos, mas somente se realmente O desfrutarmos.
Em um casamento saudável, o cônjuge gosta de cuidar do outro
cônjuge e servi-lo de maneiras diferentes. No entanto, imagine um
jovem escolhendo uma mulher para se casar e dizendo: “Na verda-
6 0 | Discipulado começa com a contemplação

de, não acho você bonita e não estou particularmente interessado


em você, mas gostaria de desfrutar de certos benefícios que você
pode oferecer”. Que mulher iria querer esse tipo de pedido de casa-
mento? E, no entanto, tentamos interessar as pessoas nos benefícios
de Deus quando elas não o acham realmente atraente.
Quando tentamos atrair pessoas para a igreja com base nos be-
nefícios de Deus e não em Sua beleza, isso expõe o fato de que
não achamos Deus verdadeiramente belo. Isso levanta uma questão
séria: se não desfrutamos verdadeiramente de Deus, por que outras
pessoas deveriam ser atraídas para nossas igrejas? Por que eles deve-
riam entregar suas vidas a um Deus que não achamos particular-
mente interessante?
A verdade é que estamos apaixonados por nosso próprio “cha-
mado”, “destino” e senso de realização porque simplesmente não
achamos Deus bonito. Como resultado, dificilmente consideramos
o fato de que Jesus tem esperado milhares de anos por Sua herança.
Ele sofreu mais do que qualquer homem e ainda não recebeu Sua
recompensa, mas isso não parece incomodar milhões de cristãos.
A ideia de que devemos perseguir nossos destinos enquanto o Filho de
Deus ainda não tem Sua recompensa é pura loucura.
É hora de uma geração priorizar o chamado de Jesus sobre o
seu próprio. Esta é a única resposta razoável à Sua beleza. Precisa-
mos encontrar nossa satisfação primária em Jesus recebendo Sua
recompensa e Sua herança. Jesus é exaltado porque deu Sua vida
para garantir nosso futuro, e o Pai está procurando por pessoas que
pensem da mesma maneira. Estamos contentes em deixá-lo esperar?
Ou faremos nossa parte para vê-Lo receber Sua recompensa?
É hora de dar nossas vidas para garantir a recompensa de Jesus.
Discipulado começa com a contemplação | 6 1

Sua beleza deve capturar nossos corações de tal maneira que encon-
tremos nossa satisfação primária nEle recebendo Suas promessas e
Suas recompensas, não em nós cumprindo nossos próprios propósi-
tos. Eu garanto, se você der sua vida para Jesus receber Sua recom-
pensa, Ele cuidará do seu chamado.
Quando um povo discipulado contempla a beleza de Jesus, ele se
liberta da tirania de seu próprio chamado e dá a vida com alegria para
ver Jesus receber Sua plena recompensa.

DESCOBRINDO A VERDADEIRA BELEZA


A beleza de Jesus é uma beleza diferente de todas as outras belezas
humanas, e precisamos de revelação para ver e valorizar Sua beleza.
Devemos ter nossos olhos renovados ao contemplar Jesus com a
ajuda do Espírito. À medida que o Espírito nos mostra a verdadeira
beleza de Jesus, nossos apetites mudarão e Ele nos libertará de nosso
vício da beleza distorcida desta era. Quando isso acontecer, as coi-
sas que antes achávamos bonitas de repente se tornarão grotescas.
Como Paulo, diremos:

Mas longe de mim gloriar-me senão na cruz de nosso


Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado
para mim e eu para o mundo.
Gálatas 6:14

Quando contemplarmos Jesus, a beleza desta época se tornará


horrível para nós, como um homem brutalmente executado. No
entanto, se não contemplarmos Jesus, acabaremos imitando as de-
finições de beleza do mundo e colocaremos o nome de Jesus nela.
6 2 | Discipulado começa com a contemplação

Quando isso acontece, não fazemos discípulos; moldamos pessoas


religiosas que ainda amam o mundo.
Às vezes o discipulado é difícil porque tentamos fazer com que as
pessoas obedeçam a Jesus quando elas não O acham belo.
Muitas pessoas acham nobre o que Jesus fez na cruz, mas não
acham bonito o Filho de Deus crucificado. Todo o céu, ao contrá-
rio, é cativado por um Cordeiro Morto. Seu sofrimento O marcou
para sempre e tornou-se parte de Sua beleza. A crucificação é a re-
velação mais profunda da natureza de Deus nessa era, e se você não
vê Deus tão belo em Seu sofrimento, você não o acha belo. Se você
não vê Deus como belo, você não vai querer se tornar como Ele. Se
você não quer se tornar como Ele, então você não deve esperar fazer
parte do Seu povo na era vindoura.
Quando você olha para a cruz, você vê algo nobre ou vê Alguém
bonito?
O discipulado começa com a contemplação, mas devemos ser captu-
rados pela beleza daquele que contemplamos.

MORRENDO DE FOME ENQUANTO SUPERALIMENTADO


Estamos sob um ataque sem precedentes na questão da beleza. O
assalto em si não é novo, mas agora vivemos em um mundo satura-
do de mídia, constantemente cercado por imagens, sons e sensações
destinadas a capturar nosso olhar. A beleza e o fascínio são o campo
de batalha do discipulado porque o que achamos belo e fascinante
acabará por determinar o que nos tornamos.
O coração humano não é estático; é dinâmico. Quando con-
templamos Jesus por meio da atividade do Espírito, Ele transforma
nossos corações e nossos apetites. Se não contemplarmos Deus, po-
Discipulado começa com a contemplação | 6 3

rém, sucumbiremos à influência esmagadora de falsas definições de


beleza que nos confrontam todos os dias.
Através da realidade virtual e da imagem digital, toda imagina-
ção pode agora se tornar visível, e agora estamos imersos em beleza
falsificada e fontes destrutivas de fascínio. Além disso, o inimigo
superestimula intencionalmente nossos apetites para criar um am-
biente supersaturado para que nunca tenhamos fome o suficiente
para ansiar pela verdadeira beleza.
Nós nos empanturramos do buffet de falsa beleza do inimigo e, como
resultado, estamos espiritualmente famintos porque estamos superali-
mentados.
O jejum faz parte da vida cristã. Inclui jejum alimentar e outras
formas de contenção. Você não jejua para “ganhar” algo de Deus;
você jejua para encontrar a fome e quebrar as garras da falsa fasci-
nação em sua vida. As pessoas que estão superalimentadas não têm
fome de mais nada, mas se você começar a recusar a beleza falsifica-
da, logo desenvolverá uma fome pela verdadeira beleza.
Precisamos desenvolver um “estilo de vida em jejum” e inten-
cionalmente evitar comer demais no falso buffet de beleza para que
possamos encontrar o que é real e o que é verdade. Se abraçarmos
a restrição intencional, isso abrirá uma porta para o prazer que
aqueles que são superalimentados não podem imaginar. Se não nos
afastarmos da falsa bofetada da beleza, nunca desenvolveremos um
apetite pela beleza divina.
A grande necessidade de nossa época é um povo que contemple a
beleza de Deus pelo Espírito e esteja satisfeito com Ele.
CAPÍTULO 6

A ORDEM PARA SE DELEITAR


Quando encontrarmos Jesus belo, teremos profundo prazer
Nele. Conhecendo o poder da beleza e do prazer, Deus nos deu a
ordem de nos deleitarmos nEle:

Deleite-se no senhor...
Salmo 37:4

A Bíblia repetidamente nos ordena a ter prazer em Deus, então o


deleite não é opcional, mas pode ser um dos mandamentos mais ne-
gligenciados. A ironia desse comando é que não podemos cumpri-
-lo fazendo coisas. Só podemos cumprir este mandamento quando
desfrutamos profundamente de Deus. Deus não quer simplesmente
que nos submetamos a Ele; Ele quer que nós O desfrutemos.
Não podemos agradar a Deus se não O desfrutarmos.
Existem várias razões pelas quais as pessoas tentam obedecer a
Deus ou buscá-Lo, mas Deus está procurando por pessoas que O
6 6 | Discipulado começa com a contemplação

desfrutem. Ele quer pessoas que encontrem prazer nEle, assim como
Ele encontra intenso prazer em Seu povo.
O discipulado deve produzir deleite.
Muitas pessoas são gratas a Deus pelo que Ele fez por elas, mas
não se deleitam nEle. Sou extremamente grato às pessoas que levam
meu lixo todas as semanas. No entanto, não me deleito com eles. Na
verdade, eu nem os conheço. Minha gratidão pelo povo lixo é muito
real e sincera, mas não é deleite.
Nós projetamos a igreja para que ela leve as pessoas a encontrarem
prazer em Deus? Ajudamos as pessoas a se deleitarem no Senhor ou
apenas servimos a Ele?

DELEITE SEM CONDENAÇÃO


Não devemos permitir que o mandamento de deleitar-se em Deus
alimente a condenação. A condenação pode produzir obediência,
mas não pode produzir deleite genuíno. Se você luta para desfrutar
de Deus, não deve ler este mandamento e pensar: “Bem, não apenas
não obedeço a Deus perfeitamente, agora também tenho que me
deleitar nEle ou Ele não se agrada de mim”. Se você nasceu de novo,
Deus tem prazer em você por causa do que Jesus fez, não por causa
do que você fez.
No comando para deleitar, você deve ouvir o anseio de Deus
por um relacionamento real onde você realmente O desfrute. Prazer
genuíno não é algo que você se força a fazer. É profundamente pra-
zeroso. É satisfatório. É emocionante. É agradável. A única maneira
de cumprir este mandamento é chegar a um lugar onde desfrutamos
profundamente de Deus, então este mandamento é para nosso pra-
zer e nossa alegria.
Discipulado começa com a contemplação | 6 7

A ordem para desfrutar de Deus é a ordem mais repetida na Bíblia.


Ao longo da Bíblia, Deus repetidamente e apaixonadamente des-
creve Sua dor sobre as pessoas que O servem, mas nunca entram na
alegria:

Eles serão um sinal e um prodígio contra você e sua


descendência para sempre. Porque não serviste ao Senhor
teu Deus com alegria e alegria de coração...

Deuteronômio 28:46–47

“Vem, quem tem sede, vem às águas; e quem não tem


dinheiro, venha, compre e coma! Venha, compre vinho e
leite sem dinheiro e sem preço. Por que você gasta seu di-
nheiro com o que não é pão e seu trabalho com o que não
satisfaz? Ouçam-me com atenção, comam o que é bom e
deliciem-se com comida farta”.
Isaías 55:1–2

Fique chocado, ó céus, com isso; Fique chocado, fique


totalmente desolado, diz o Senhor, porque o meu povo
cometeu duas maldades: eles me abandonaram, a fonte de
águas vivas, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas que
não retêm as águas.
Jeremias 2:12-13

Você pode servir a Deus e obedecê-lo, mas Ele não está contente
até que você realmente O desfrute porque Ele quer que o desejo de
prazer que Ele lhe deu seja plenamente satisfeito no único lugar que
6 8 | Discipulado começa com a contemplação

pode ser: Nele. Se você ainda não O desfruta, não tema e não fique
desanimado. Nascemos em um mundo caído onde naturalmente
não nos deleitamos nEle, mas Ele nos perseguiu com alegria. O
relacionamento de Deus com você é baseado em Seu desejo, não em
seu desempenho, e é garantido pelo sangue de Seu Filho, não por
sua bondade intrínseca. Se você não se deleita em Deus, não desista.
Abrace o processo de discipulado. À medida que você se envolve
ativamente no discipulado, Deus o transformará e remodelará seus
apetites para que você se deleite nEle.
A ordem de Deus para se deleitar nEle não é outra ordem destinada
a expor como você fica aquém dos requisitos de Deus. É um convite para
uma vida de discipulado para que você comece a experimentar o prazer
inigualável de conhecer a Deus.

DELEITE NA DISCIPLINA
Há momentos em que devemos abraçar a disciplina mesmo quando
não sentimos prazer, mas a beleza de Deus e nosso deleite que o
acompanha em Sua beleza nos dá combustível para as disciplinas
espirituais, porque as disciplinas espirituais são práticas que melhor
nos posicionam para contemplar a Deus, deleitar-se nEle. , e tor-
nar-se como Ele.
Se o desejo de deleitar-se na beleza de Deus não for o combustível
de nossas disciplinas espirituais, elas acabarão falhando ou se tornarão
hábitos vazios.
Vivemos em uma época de “movimentos”, e dois dos maiores
movimentos de nosso tempo são o “movimento de oração” e o “mo-
vimento de adoração”. Se esses movimentos vão produzir o que
Deus quer, eles devem ser construídos sobre o conceito de deleite
Discipulado começa com a contemplação | 6 9

na beleza de Deus.
Há um mistério na oração. É um trabalho árduo, e muitas vezes
as respostas parecem atrasadas ou chegam de maneiras que não es-
peramos. Como resultado, muitas vezes as pessoas podem ficar de-
sanimadas e abandonar lentamente seu ritmo de oração se a oração
for reduzida a petições.
A disciplina da oração é valiosa, mas não é suficiente para alimentar
um movimento de oração.
A oração é muito mais do que promover a atividade do reino de
Deus. Deus nos deu a oração como um presente porque Ele quer
se relacionar conosco. A oração é um contexto de conversa que nos
leva a encontrar Sua beleza. Associamos oração com petições, mas
elas são um pequeno aspecto da oração. A oração é uma oportuni-
dade de buscar a beleza do Senhor e, como resultado, a oração existe
por causa da oração.
Também temos mais acesso ao culto musical do que qualquer
geração na história, e este é um dom profundo se nos leva a delei-
tar-nos em Deus. Quando a adoração se torna uma experiência para
medicar nossas emoções, aliviar nossas ansiedades e nos fazer sentir
melhor sobre nós mesmos, não é mais adoração. É terapia musical.
A adoração deve nos levar a nos deleitar em Deus, não em nós
mesmos, e a abordar nossos problemas mais profundos olhando
para a beleza de Deus. A adoração deve levar ao deleite em Deus,
não à felicidade em um momento. A felicidade é uma emoção pas-
sageira que muitas vezes é muito egocêntrica. Deleite é a experiência
de profundo prazer em uma Pessoa. A adoração deve produzir de-
leite em nossas almas.
7 0 | Discipulado começa com a contemplação

EXPRESSÕES MODERNAS DE UMA IDOLATRIA ANTIGA


Porque os humanos são projetados para adorar, eles vão adorar algo
ou alguém. Quando não discipulamos as pessoas para contemplar a
beleza de Jesus, involuntariamente levamos as pessoas ao pecado da
idolatria. Enquanto tendemos a pensar na idolatria principalmente
como a adoração de imagens, a maior idolatria de todas é a idolatria
do eu. Quando o evangelho se torna mais focado em nós do que em
Jesus, isso nos leva a uma forma de idolatria que é chocantemente
aceitável em nossos dias. Considere a advertência de um teólogo
sobre o cristianismo autocentrado:

Grande parte da Igreja hoje, especialmente aquela parte


dela que é evangélica, está cativa dessa idolatria do eu.
Esta é uma forma de corrupção muito mais profunda
do que a lista de infrações que normalmente surgem
em nossas mentes quando ouvimos a palavra “pecado”.
Estamos tentando manter afastados os mosquitos dos
pequenos pecados enquanto engolimos o camelo do
ego. É uma idolatria tão difundida e espiritualmente
debilitante quanto muitos dos envolvimentos com
religiões pagãs relatados para nós no Antigo Testamento.
Que essa devoção ao eu não pareça ser como aquela
antiga devoção a um deus pagão cega a Igreja para sua
própria infidelidade. O resultado final, porém, não é
menos devastador, porque o eu não é menos exigente.
É um centro organizador tão poderoso quanto qualquer
deus ou deusa no mercado. A Igreja contemporânea está
se prostituindo após esse deus tão assiduamente quanto
Discipulado começa com a contemplação | 7 1

os israelitas em seus dias mais sombrios. É batizar como


fé o orgulho que nos leva a pensar muito em nós mesmos
e muito em nós mesmos.

Considere o aviso de outro pastor:

Percebemos como quase exatamente a cultura Baal de


Canaã é reproduzida na cultura da igreja americana? A
religião Baal é sobre o que faz você se sentir bem. A ado-
ração a Baal é uma imersão total no que posso tirar dela.
E, claro, foi incrivelmente bem-sucedido... Uma maneira
de definir a vida espiritual é ficar tão cansado e farto de
si mesmo que você passa para algo melhor, que é seguir
a Jesus. Mas no minuto em que começamos a anunciar a
fé em termos de benefícios, estamos apenas exacerbando
o problema do eu. “Com Cristo, você é melhor, mais for-
te, mais agradável, você desfruta de um pouco de êxtase.”
Mas é apenas mais auto. Em vez disso, queremos deixar
as pessoas entediadas consigo mesmas para que possam
começar a olhar para Jesus.

Esta questão não se limita à cultura da igreja americana. A ido-


latria do eu é uma tendência natural. Essa idolatria pode até parecer
muito “espiritual”:

Todos nós conhecemos um certo tipo de pessoa espiritu-


al. Ela é uma pessoa maravilhosa. Ela ama o Senhor. Ela
ora e lê a Bíblia o tempo todo. Mas tudo o que ela pensa é
em si mesma. Ela não é uma pessoa egoísta. Mas ela está
7 2 | Discipulado começa com a contemplação

sempre no centro de tudo o que está fazendo. “Como pos-


so testemunhar melhor? Como posso fazer isso melhor?
Como posso cuidar melhor do problema dessa pessoa?”
Sou eu, eu, eu disfarçado de um jeito difícil de ver porque
sua fala espiritual nos desarma.

Como evitamos essa idolatria? A resposta é simples: discipular as


pessoas para contemplar Sua beleza. Uma vez que as pessoas sejam
cativadas pela beleza divina e percebam o valor indescritível do con-
vite para participar da história de Jesus, elas serão liberadas de seu
foco em si mesmas.

QUAL IMAGEM?
Os seres humanos foram criados para ser a imagem de Deus, então
naturalmente refletimos tudo o que contemplamos e adoramos. Se
não O contemplarmos, inevitavelmente refletiremos outra imagem,
mas através da obra do Espírito Santo podemos cumprir nosso cha-
mado para sermos transformados à imagem de Deus:

Ser “transformado [metamorphoō] pela renovação de sua


mente” em Romanos 12:2 é o equivalente virtual a “tor-
nar-se conforme [symmorphos] à imagem do filho [de
Deus]” em Romanos 8:29. Tal equivalência é apontada
além da observação da combinação de “renovação” e “ima-
gem” em Colossenses 3:10: dele”... Da mesma forma, 2
Coríntios 3:18 afirma que aqueles que querem estar perto
do Senhor tomarão sua semelhança: eles “contemplarão
como um espelho a glória do Senhor” e serão “transfor-
Discipulado começa com a contemplação | 7 3

mados [metamorphoō] na mesma imagem da glória para a


glória, como da parte do Senhor, o Espírito”. Vale ressal-
tar que, entre os oito usos de “imagem” (eikōn) em Paulo,
apenas dois aparecem em Romanos, em 1:23 e 8:29. Isso
sugere que a imagem do Filho de Deus à qual os cris-
tãos estão se conformando em Romanos 8 é a antítese da
“imagem” que a humanidade incrédula trocou no lugar da
glória de Deus em Romanos 1. escravidão à corrupção na
liberdade da glória dos filhos de Deus” implica novamen-
te a “corrupção” que os humanos experimentaram quando
“trocaram a glória” de Deus em Romanos 1:23 e sua futu-
ra recuperação dessa glória refletida... Essas combinações
únicas de “imagem” e “glória” em Romanos 1 e Romanos
8 mostram que o último está desenvolvendo a antítese
do primeiro como um trampolim para Romanos 12:2. A
dedução que pode ser feita disso é que, se alguém não
está “amando a Deus” (Rm 8:28) e, consequentemente,
não está sendo “conforme à imagem do Filho de Deus”,
então está “amando” algum outro objeto terreno de adora-
ção e, conseqüentemente, ser conformado a esta imagem
terrena.

A RESPOSTA À BELEZA DIVINA


Porque os humanos buscam a beleza e imitam o que os fascina, a
adoração é fruto do deleite e do discipulado:

Missões não é o objetivo final da Igreja. A adoração é.


As missões existem porque a adoração não. A adoração
é definitiva, não missões, porque Deus é supremo, não
7 4 | Discipulado começa com a contemplação

o homem. Quando esta era terminar, e os incontáveis ​​


milhões de redimidos caírem sobre seus rostos diante
do trono de Deus, as missões não existirão mais. É uma
necessidade temporária. Mas a adoração permanece para
sempre.

A crise desta era é uma crise de adoração e, portanto, o pecado


humano fundamental na Bíblia é a idolatria. A idolatria é mais do
que adorar objetos físicos; é adorar qualquer coisa que não deve ser
adorada. A turbulência que experimentamos nessa era é o efeito
contínuo da adoração mal direcionada.
Os humanos foram feitos para adorar, e irão adorar todo tipo
de coisa, mesmo que não reconheçam isso como adoração. Por
exemplo, a obsessão por celebridades e outras pessoas poderosas ou
talentosas é um tipo de adoração. A idolatria de atletas talentosos
e a extrema devoção ao esporte também são adoração. Quando as
pessoas não estão fascinadas com Deus, elas adoram todos os tipos
de coisas. Existem diferentes graus e expressões de adoração, mas a
afeição, devoção e alegria associadas a pessoas, equipes, eventos e
movimentos são de fato adoração.
Em toda a Bíblia, Deus ordena a adoração, o que leva alguns a
acusar Deus de ser arrogante e egoísta. Aqueles que acusam Deus
de arrogância e arrogância por causa de Seus comandos repetidos,
no entanto, não entendem quem Ele é ou como funciona o coração
humano.

A ORDEM MAIS GENTIL


Deus é frequentemente criticado por exigir adoração, mas na realidade
Discipulado começa com a contemplação | 7 5

a ordem de Deus para adorar é a ordem mais gentil que Ele pode dar.
Existem várias razões pelas quais o mandamento de adorar de-
monstra a afeição de Deus por nós. Primeiro, o que quer que ado-
remos, nos tornaremos semelhantes. A adoração leva à imitação, e os
profissionais de marketing sabem disso talvez melhor do que nin-
guém. Como resultado, eles constantemente fazem com que cele-
bridades e atletas endossem produtos, sabendo que compraremos
produtos porque as celebridades os usam. Podemos não precisar dos
produtos e as celebridades podem não estar qualificadas para ava-
liar os produtos, mas isso é irrelevante porque queremos nos tornar
como objetos de nossa adoração.
Por exemplo, as empresas de calçados pagarão milhões de dólares
para que uma pessoa use seus sapatos porque milhões de pessoas
comprarão esses sapatos se um atleta que eles idolatram os usar. Es-
ses sapatos realmente não farão nada para as pessoas que os compra-
rem, e os compradores não se tornarão subitamente melhores nos
esportes porque usam o mesmo sapato que uma estrela do esporte.
No entanto, os profissionais de marketing sabem que a adoração de
estrelas do esporte alimenta a imitação e as pessoas comprarão sapa-
tos para imitar um atleta, mesmo que esses sapatos não produzam
nenhuma transformação real.
Nas sociedades afluentes, o consumismo é uma religião e uma
forma de culto. À medida que entramos nas lojas (ou compramos
online), encontramos imagens de celebridades e modelos que nos
são apresentadas como semideuses, pois são imagens quase perfei-
tas. Essas imagens são lindas e, como resultado, desejamos imitar
esses indivíduos e somos convidados a imitá-los através da compra.
O ato de comprar torna-se um ato de adoração porque contempla-
7 6 | Discipulado começa com a contemplação

mos objetos de beleza (celebridades ou modelos) e procuramos imi-


tá-los comprando suas roupas, sapatos ou acessórios. Mais uma vez,
damos um poder incrível ao objeto de nossa adoração e entregamos
milhões de dólares todos os anos na tentativa de imitar as pessoas
que achamos bonitas.
Se não podemos reconhecer lojas físicas, lojas online e estádios
esportivos como arenas de adoração, não entendemos a verdadeira
natureza da adoração. A adoração produz imitação, e aqueles que
adoram pagarão um preço para imitar aqueles que adoram.
Quando Deus nos ordena a adorar, Ele nos convida a nos tor-
narmos como Ele. Além disso, Ele é o único objeto de adoração que
não procura tirar proveito de nossa devoção. Portanto, o culto é um
privilégio profundo que não nos desvaloriza; isso nos eleva.
Segundo, quando adoramos, damos ao objeto de adoração poder e
influência sobre nossas vidas. Mais uma vez, considere a incrível in-
fluência que as celebridades e outras pessoas exercem sobre nossas
vidas. Nas democracias liberais, quando as eleições são realizadas, os
candidatos normalmente recebem pessoas conhecidas e poderosas
para endossá-los. Por exemplo, eles normalmente buscam o endosso
de atletas, atores e artistas. Do ponto de vista lógico, esses endossos
fazem pouco sentido. Por exemplo, um ator é habilidoso em imitar
outra pessoa, e um artista sabe fazer música. Esses talentos são com-
pletamente diferentes das habilidades necessárias para liderar um
governo. Um líder de governo deve ser hábil na solução de proble-
mas complexos, deve ter uma excelente compreensão do orçamento,
deve saber como lidar com grandes organizações e deve gerenciar a
burocracia. Em suma, os líderes do governo devem ser excelentes
administradores que entendem de contabilidade, que envolve habi-
Discipulado começa com a contemplação | 7 7

lidades normalmente não associadas a uma celebridade.


Embora as celebridades não sejam qualificadas para avaliar can-
didatos do governo, seus endossos são valiosos porque nossa ado-
ração a eles lhes dá uma influência incrível sobre nossas vidas. Essa
influência é constantemente manipulada por empresas e campanhas
políticas que alavancam nossa adoração para garantir os fins dese-
jados.
Deus nos ordena a adorar, sabendo que isso lhe dará profunda
influência sobre nossas vidas. Quando os humanos ordenam a ado-
ração, é incrivelmente egoísta, mas Deus é completamente diferente
de nós. Ele é a única pessoa no cosmos que naturalmente busca o
bem dos outros, mesmo ao custo de sua própria vida. Ele é a única
Pessoa a quem devemos nos render porque Ele sempre usará Seu
poder sobre nós para nosso benefício. Aqueles que criticam Deus
por isso ignoram o fato de que Deus é o único objeto seguro de
adoração no cosmos.
Terceiro, a adoração é intensamente prazerosa. A verdadeira adora-
ção é voluntária e prazerosa. As pessoas não são obrigadas a adorar
celebridades. Eles naturalmente os acham bonitos e gostam de pes-
quisar suas vidas e tentar imitá-las. Você não precisa coagir os fãs a
adorar em um estádio esportivo. Eles se reúnem para contemplar
a beleza dos atletas e vivenciar o prazer do jogo. Ninguém instrui
os torcedores a soltar seus gritos de elogio quando seu time marca.
Eles naturalmente explodem em elogios como um transbordamento
emocional de seu deleite pelo que viram. Ninguém precisa implorar
para que as pessoas se reúnam para cumprimentar uma bela celebri-
dade. As pessoas têm prazer em contemplar um objeto de adoração
verdadeira.
7 8 | Discipulado começa com a contemplação

Os humanos foram feitos com desejos sem fim. Tudo o que sa-
tisfaz dura apenas um momento e nunca nos deixa completamente
satisfeitos. Os desejos humanos mais básicos, como interações so-
ciais, descanso, comida ou sexo, podem ser satisfatórios em um mo-
mento, mas não satisfatórios em última instância. O desejo sempre
retornará para mais.
Não fomos feitos para experimentar algo e ficar satisfeitos por-
que nossa capacidade de prazer é infinita. Não somos máquinas que
precisam de manutenção periódica. Somos criaturas emocionais
com uma profunda capacidade de prazer contínuo, impelidos a
buscar e desfrutar continuamente de dimensões mais profundas de
prazer. Na verdade, as pessoas correrão riscos incríveis na vida para
buscar o prazer. Eles arriscarão tudo pela promessa de satisfação. O
desejo de prazer é uma expressão de um desejo projetado para ser
realizado em Deus.
Fomos feitos com desejo infinito, e somente um ser infinito pode
satisfazer o desejo infinito.
A adoração é uma jornada interminável de descoberta porque a
beleza de Deus é inesgotável. A ordem para adorar é um convite ao
prazer. Deus o fez para desfrutar de um prazer intenso, e a adoração
é o ponto de entrada para o prazer mais profundo que o coração
humano pode experimentar.

DELEITE EM UM HOMEM DIVINO


O coração humano anseia por algo maior do que ele mesmo. A
história mostra isso claramente porque os humanos farão sacrifí-
cios incríveis por uma grande causa e um grande sonho. Milhões de
pessoas morreram voluntariamente - até mesmo ansiosamente - nos
Discipulado começa com a contemplação | 7 9

campos de batalha, na esperança de garantir um sonho que é muito


maior do que suas próprias vidas.
Em um esforço para encher as igrejas, é comum que as igrejas
se concentrem quase inteiramente em “nós”, enfatizando nosso su-
cesso, nossos chamados, nossos desejos e nossa felicidade. Jesus é
muitas vezes feito um meio para o nosso sucesso e nosso futuro. Este
foco centrado no homem em nossas igrejas é projetado para atrair
pessoas para a igreja, mas na realidade está impedindo as pessoas de
encontrarem o verdadeiro prazer. Milhões de pessoas estão entedia-
das nas igrejas porque tudo o que ouvem é focado nelas, e seus cora-
ções realmente anseiam por algo muito maior do que elas mesmas.
A adoração bíblica é uma prática espiritual que foca o coração
humano na Pessoa mais bela e chama a atenção para o Único que
pode preencher o coração humano com prazer supremo. A beleza
de Deus e o prazer que acompanha Sua beleza produzem amor ver-
dadeiro e são a motivação bíblica para abraçar a disciplina, a obedi-
ência, as missões e a abnegação.
O amor permite que o coração humano abrace os níveis mais pro-
fundos de sacrifício, mas frequentemente tentamos convencer os fre-
quentadores da igreja a servir Alguém que eles ainda não amam.
Deus poderia ter feito o mundo da maneira que quisesse, e Ele
fez com que quase todos os aspectos de nossas vidas — mesmo as
coisas mais normais — tivessem a capacidade de serem agradáveis.
Nossos prazeres diários, pequenos e grandes, são reflexos de Sua per-
sonalidade; eles são migalhas de pão destinadas a nos levar ao funda-
mento do desejo. Deus desfruta de Seu povo e encontra um prazer
incrível neles, e fomos feitos para encontrar prazer correspondente
nEle.
8 0 | Discipulado começa com a contemplação

As pessoas normalmente pensam que o sacrifício é a maior


expressão de amor, mas não é. As pessoas podem se sacrificar por
coisas que acreditam serem certas, mas não amam essas coisas. A
maior expressão do amor é o deleite. Se Deus é Aquele a quem mais
amamos e se Ele é a Pessoa mais bela, devemos nos perguntar: nos
deleitamos nEle? Deleite é a mais alta expressão de afeição por Deus,
e o discipulado bíblico deve levar uma pessoa a se deleitar em Deus.
Se estamos levando as pessoas à obediência, mas não ao deleite,
estamos equivocados. Claro, se levarmos as pessoas ao deleite sem
obediência, isso é irresponsável, mas entre os cristãos que amam a
Bíblia e procuram obedecê-la, obedecer à Bíblia sem se deleitar em
Deus é provavelmente um problema muito mais comum.

DISCIPULADO POR ADORAÇÃO PARA ADORAÇÃO


A verdadeira adoração é uma expressão de beleza, desejo e prazer. Esses
são desejos humanos básicos, e Deus nos ordena a satisfazer plenamen-
te esses desejos adorando o Único que pode realmente satisfazer nossos
desejos.
Para resumir, a adoração é fruto do discipulado porque:

1. Leva-nos a ser como Deus, que é o objetivo final do disci-


pulado.
2. Dá a Deus profunda influência sobre nossas vidas, e o dis-
cipulado produz um povo que obedece a tudo o que Deus
ordena.
3. Dirige-nos ao prazer infinito de descobrir quem é Deus. O
prazer de contemplar a Deus produzirá naturalmente imita-
ção e obediência.
Discipulado começa com a contemplação | 8 1

Devemos perceber que a adoração musical desempenha um pa-


pel profundo no discipulado. Ela mexe com nossas emoções; nos
instrui em teologia; nos dá uma imagem de Deus; e nos move a
responder a Deus. Embora o ensino seja importante, a música nor-
malmente nos afeta mais do que o ensino. Se nossa adoração cor-
porativa não estiver alinhada com esses três objetivos, então não é
adoração verdadeira, e precisamos fazer os ajustes necessários.
Cantores, músicos e compositores devem abordar seu ofício como um
meio de discipulado, não um meio de entretenimento religioso.
Vimos que contemplar Alguém belo e ter profundo deleite nEle
são a base do discipulado, o que levanta uma questão-chave: Como
O contemplamos? Deus desceu visivelmente no Monte Sinai, e Paulo
viu Jesus na estrada para Damasco. No entanto, esses foram eventos
muito incomuns. O Senhor ainda se revela de maneira dramática,
mas obviamente somos chamados a contemplar como um modo de
vida.
Vamos descobrir como a Bíblia nos diz para contemplar a
glória de Deus, mas primeiro precisamos estabelecer mais um
fundamento. Precisamos ver que contemplar não se limita à
experiência individual e a momentos únicos na história redentora.
Desde o início, contemplar tem sido o modelo bíblico para uma
comunidade corporativa, e é isso que precisamos descobrir a seguir.
CAPÍTULO 7

O PROJETO DIVINO
Deus projetou a história redentora para formar um povo que
contemple a Sua beleza juntos e seja subsequentemente transforma-
do à Sua imagem.
Deus está liderando a história para produzir uma noiva gloriosa
para Seu Filho. Esta noiva é um povo corporativo que será com-
patível com Jesus porque eles foram moldados e formados para se
tornarem como Ele. Jesus esperou milhares de anos por este povo,
e o Pai está ardendo de desejo de dar a Seu Filho esta magnífica
recompensa.
Com isso em mente, precisamos fazer uma pergunta-chave:
como podemos viver juntos para nos tornarmos as pessoas que Deus
quer que sejamos?
Conforme discutimos, a conversão de Paulo o levou a entender
que o discipulado começa com a contemplação. Após sua conver-
são, Paulo estabeleceu novas comunidades eclesiásticas sobre o mes-
mo fundamento da visão corporativa, mas esse padrão não foi uma
8 4 | Discipulado começa com a contemplação

inovação do Novo Testamento. A contemplação corporativa tem es-


tado no centro do projeto de Deus para o Seu povo desde o início, e
esse projeto deve moldar as práticas da igreja local para que seja uma
comunidade que produza as pessoas que Deus deseja.
Agora precisamos ver como Paulo e os outros apóstolos enten-
deram o plano de Deus para Seu povo e como isso influenciou sua
visão da igreja local.

COMEÇA EM UM TEMPLO DO JARDIM


Tudo começou antes da queda quando Deus colocou a humanidade
em um jardim no Éden. Quando Gênesis 1–3 é lido em um con-
texto antigo, é muito mais do que um jardim cultivado. O “jardim”
é uma espécie de complexo de templos onde Deus habita em Sua
criação. Desde o início, a Bíblia apresenta a humanidade como uma
criatura sacerdotal que vive em um jardim e tem acesso único à
presença de Deus.
Deus também criou a humanidade para ser Sua “imagem”, o que
significa que a humanidade foi feita para ser uma representação de
Deus na criação. Para usar uma analogia, o homem era o “ídolo” de
Deus. Como qualquer outro ídolo, a humanidade não era uma ma-
nifestação completa de Deus, mas a humanidade foi projetada para
ser uma representação autêntica de Deus em quem a criação podia
ver, experimentar e interagir com a natureza de Deus.
Quando olhamos para o jardim, vemos várias coisas:

• Vemos o primeiro templo porque o jardim era a habitação


de Deus. De fato, o tabernáculo e o templo que vieram de-
pois tinham imagens e objetos que eram lembranças visuais
Discipulado começa com a contemplação | 8 5

do jardim.
• Vemos os primeiros sacerdotes porque Adão e Eva recebe-
ram uma designação sacerdotal. Eles tinham acesso à pre-
sença de Deus, ministravam a Ele e deveriam representá-Lo
para o resto do reino criado.
• Vemos os primeiros líderes de adoração porque Adão e Eva
foram comissionados para conduzir a criação à adoração.
• Vemos os primeiros missionários porque Adão e Eva foram
ordenados a expandir os limites do jardim para que o mun-
do fora do jardim pudesse se tornar parte do santuário do
templo.

Para funcionar plenamente como a imagem de Deus no reino


criado, a humanidade teve que contemplar a Deus e ser transforma-
da para que refletisse o que encontrou para o resto da criação. Sem
contemplar, a humanidade não saberia quem eles deveriam ser, e
sem transformação, eles não se tornariam a imagem que eles foram
feitos para ser.
Quando a humanidade caiu e foi expulsa do jardim, a humani-
dade não funcionava mais adequadamente como imagem de Deus
porque não tinha mais acesso imediato para contemplar a Deus ou
a capacidade de representá-lo adequadamente. Os efeitos do pecado
no coração humano impediram a humanidade de ser transformada
à imagem de Deus. Caos e devastação imediatamente se seguiram,
e o livro de Gênesis relata os trágicos resultados da queda da huma-
nidade.
Embora a queda tenha criado um trauma incrível, não interrom-
peu o compromisso de Deus de habitar entre um povo que O con-
8 6 | Discipulado começa com a contemplação

templa. Por exemplo, a vida dos patriarcas era marcada pela prática
de construir altares em lugares sagrados onde encontravam a pre-
sença de Deus. Quando essas histórias são lidas na narrativa bíblica
mais ampla, elas apontam para um próximo santuário de adoração
e enfatizam o desejo de Deus de habitar entre Seu povo. G.K. Beale
sugere que isso indica que a missão de Deus é a expansão de Seu
tabernáculo por toda a terra.
Deus escolheu Abraão e os patriarcas subsequentes para serem
um meio de bênção para as nações, e não é por acaso que suas vidas
são marcadas por encontros com Deus em locais onde eles constro-
em altares. Os altares que construíram e a presença que experimen-
taram foram uma amostra do que Deus tinha em mente. Embora
o pecado tenha criado um grande problema, ele não interrompeu a
intenção de Deus. A missão que Ele começou no Éden continuaria.
Após a queda, Deus colocou em ação um plano para redimir o
homem e produzir a imagem humana que Ele já tinha em mente.
Esse plano nos leva a um evento espetacular em uma montanha.
Já consideramos brevemente esse evento, mas precisamos analisá-lo
novamente.

DEUS DESCEU E FORMOU UM POVO


Deus começou Seu plano de formar um povo corporativo com a
família de Abraão. Por meio dessa família, Deus lançou as bases
para um povo ao longo dos séculos, e então Ele repentina e drama-
ticamente formou um povo corporativo no evento que chamamos
de êxodo. Deus milagrosamente e poderosamente libertou um povo
para ser Sua compaixão íntima, herança pessoal e possessão preciosa.
Quando Deus formou um povo no êxodo, Ele não estabeleceu a
Discipulado começa com a contemplação | 8 7

nação da maneira típica. Ele não deu imediatamente um rei a Israel,


nem os levou para a terra dela. Deus formou a nação trazendo Seu
povo para o deserto e reunindo-os ao redor do Monte Sinai. Então,
à vista de uma nação inteira, Deus desceu visivelmente e falou au-
divelmente.
Como já vimos, a descrição desse evento é de tirar o fôlego e
aterrorizante:

Na manhã do terceiro dia houve trovões e relâmpagos e


uma espessa nuvem sobre o monte e um toque de trom-
beta muito forte, de modo que todo o povo no acampa-
mento estremeceu. Então Moisés tirou o povo do acam-
pamento ao encontro de Deus, e eles se posicionaram ao
pé da montanha. Agora o monte Sinai estava envolto em
fumaça porque o Senhor havia descido sobre ele em fogo.
A fumaça dele subiu como a fumaça de um forno, e toda a
montanha tremeu muito. E à medida que o som da trom-
beta ficava cada vez mais alto, Moisés falou, e Deus lhe
respondeu no trovão.
Êxodo 19:16-19

Quando todo o povo viu os trovões e os relâmpagos e o som da


trombeta e o monte fumegando, o povo ficou com medo e estreme-
ceu, e parou de longe e disse a Moisés: “Fala-nos tu, e nós ouvir; mas
não deixe Deus falar conosco, para que não morramos”. (20:18-19)
Pela primeira vez na história, todo um povo corporativo con-
templou Deus junto. Ao contemplar a Deus, eles entraram em uma
profunda aliança com Deus que Deus descreveu como um casa-
8 8 | Discipulado começa com a contemplação

mento. Cada tribo em Israel foi organizada especificamente ao redor


da montanha, literalmente colocando a presença de Deus no centro
da nação. Israel não estava reunido em torno de um rei humano.
Eles foram reunidos para contemplar a pessoa de Deus em seu meio,
e isso foi projetado para produzir um povo que se tornaria como
Deus e O representaria para as nações:

“E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma


nação santa’. Estas são as palavras que dirás ao povo de
Israel.”
Êxodo 19:6

Deus estabeleceu Israel primeiro como um povo reunido ao re-


dor de Sua presença para acessar Sua glória e depois refletir essa
glória para as nações.
A tarefa definidora de Israel era contemplar a beleza de Deus a
ser transformada em Sua imagem para representá-Lo com precisão
entre as nações.
O Sinai foi um evento único, mas também foi o início da for-
mação de um povo corporativo que poderia contemplar a Deus
e se tornar como Ele. Quando Israel deixou o Monte Sinai, Ele
continuaria a habitar entre Seu povo em um santuário de adoração
conhecido como tabernáculo. O encontro no Sinai foi mais do que
um evento único - foi o início de Deus habitando entre um povo
corporativo:

O governo do Senhor sobre Israel é expresso pela asso-


Discipulado começa com a contemplação | 8 9

ciação entre o tabernáculo e o Sinai, uma associação que


sugere que o tabernáculo continua a função do Sinai na
vida de Israel.

O tabernáculo foi feito à imagem do santuário celestial de Deus


porque foi feito para ser uma manifestação limitada do céu na ter-
ra - um lugar onde Deus habitou entre Seu povo como Ele faz no
santuário celestial. O tabernáculo também estava cheio de imagens
e ilustrações do céu e do jardim porque eram para ser um sinal de
uma nova criação onde Deus habitaria entre o Seu povo - uma ima-
gem profética de que um novo santuário do jardim estava chegando.
Quando as pessoas se aproximaram do tabernáculo para encontrar
a presença de Deus, chegaram a um santuário que tinha imagens
vívidas, tornando-o um símbolo de um cosmos em miniatura - um
símbolo de um novo mundo onde Deus habitaria entre Seu povo.
Deus deu à nação um sistema de sacerdotes vocacionais que se
dedicaram em tempo integral à tarefa de manter este santuário de
adoração. Embora os sacerdotes tivessem privilégios especiais, sua
função principal era servir ao povo para que toda a nação pudesse
ser sacerdotal e ter acesso à presença de Deus.
O chamado sacerdotal de Israel era um chamado corporativo. Israel
não foi formado para ser uma nação que tinha sacerdotes; toda a nação
foi chamada para ser um reino sacerdotal e um povo santo.
O pequeno número de pessoas designadas para serem sacerdotes
vocacionais foi colocada em prática para servir ao chamado de toda
a nação. O mesmo padrão existe hoje. As pessoas no ministério cris-
tão vocacional assumem papéis vocacionais para servir ao chamado
sacerdotal e às atribuições ministeriais de todo o corpo. Os minis-
9 0 | Discipulado começa com a contemplação

tros e líderes vocacionais não são os únicos chamados a contemplar


a Deus. Eles são chamados para ministrar ao corpo e chamar todos
na comunidade para seu chamado para contemplar a Deus e se tor-
nar como Ele. Sempre que fazemos de certas pessoas o povo “sacer-
dotal”, rapidamente nos desviamos dos propósitos de Deus.
Frequentemente pensamos no tabernáculo como um lugar para
sacrifícios, mas o tabernáculo não era apenas um local para sacrifícios;
era um santuário de adoração onde as pessoas podiam se aproximar
de Deus. O sistema de sacrifícios não existia simplesmente para que
os pecados fossem perdoados; existia para santificar o tabernáculo
para que Deus pudesse habitar entre Seu povo e eles pudessem
se aproximar Dele. O tabernáculo (e o templo posterior) não era
primariamente um lugar de sacrifício; era um lugar onde a presença
de Deus habitava.
Todo o sistema sacerdotal foi projetado para permitir que uma na-
ção hospedasse a presença de Deus em seu meio e se aproximasse para
contemplar o Deus belo. O sistema sacerdotal foi a primeira coisa que
Deus estabeleceu quando formou um povo corporativo para Si mesmo.

O SÍMBOLO HUMANO DE UM POVO CORPORATIVO


Embora Israel eventualmente tivesse reis, o sacerdote principal, co-
nhecido como o “sumo sacerdote”, foi estabelecido primeiro como
o líder da nação. O sumo sacerdote era o líder mais importante em
Israel porque a nação era definida por sua identidade sacerdotal e
pelo privilégio de hospedar a presença de Deus.
Israel não estava reunido em torno de um rei ou mesmo de sua
terra. O povo de Israel foi unificado em torno de um santuário de
adoração e a presença de Deus naquele santuário. As diferentes
Discipulado começa com a contemplação | 9 1

tribos foram reunidas em torno deste santuário para se tornar um


povo, e a presença de Deus no meio deles fez Israel diferente de
todas as outras nações.
Israel não foi definido por sua política, seu exército ou sua proemi-
nência, mas por seu chamado sacerdotal, o papel de rei foi designado
para ser submisso ao sumo sacerdote.
O sumo sacerdote usava roupas muito simbólicas. Por exemplo,
ele carregava os nomes das tribos de Israel em Seu peito:

“Assim Arão levará os nomes dos filhos de Israel no


peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no
Lugar Santo, para os trazer regularmente à memória
perante o Senhor”.
Êxodo 28:29

Quando o sumo sacerdote estava no lugar santo diante do Se-


nhor, os nomes de todas as tribos de Israel estavam em seu peito
porque ele representava toda a nação. Ele simbolizou o que Deus
queria – uma nação inteira que estava em Sua presença.
O sumo sacerdote também tinha o nome de Deus na cabeça:

“Farás uma lâmina de ouro puro e nela gravarás, como


a gravura de um sinete: ‘Santidade ao Senhor’... E você
deve prendê-lo no turbante... Deve estar na frente do tur-
bante. Estará na testa de Arão”.
Êxodo 28:36–38

Esse sacerdote era um símbolo humano de toda a nação, então,


9 2 | Discipulado começa com a contemplação

quando uma pessoa se tornava sumo sacerdote, ela se identificava


mais com o papel nacional de sumo sacerdote do que com as identi-
dades individuais do povo. Como resultado, você raramente encon-
tra os nomes de quaisquer sumos sacerdotes na Bíblia.
O sumo sacerdote era o símbolo perpétuo da nação, um símbolo
encarnado de um povo corporativo cujo ministério tinha um signi-
ficado profundo:

As doze pedras indicam que o sumo sacerdote representa


toda a nação diante de Yahweh. O medalhão em sua testa
indica que ele é o representante autorizado de Yahweh
para a nação. Agora pense na dramática declaração de
Êxodo 19, quando Israel chegou pela primeira vez ao
Monte Sinai. Ali Deus concedeu títulos ao seu povo
como possessão preciosa, reino dos sacerdotes, nação
santa. Como seu bem precioso, a vocação de Israel - o
que eles nasceram para fazer - é representar seu Deus
para o resto da humanidade. Eles funcionam de maneira
sacerdotal, mediando entre Yahweh e todos os outros.
Eles são separados para o serviço dele.
Podemos ver como isso se conecta ao sumo sacerdote. Ele
é um modelo visual da vocação de toda a nação. Assim
como o sumo sacerdote representa Yahweh para eles, eles
representam Yahweh para as nações. Ao olhar para Arão,
todo israelita é lembrado de seu chamado como nação.
Assim como ele é separado para o serviço (“santo”), eles
também são (“uma nação santa”). No Sinai, Yahweh
reivindica esta nação como sua e a libera para viver seu
chamado. Esse chamado é levar o nome de Yahweh entre
Discipulado começa com a contemplação | 9 3

as nações, isto é, representá-lo bem.

As implicações são óbvias:

Israel foi chamado para viver no meio das nações como o


povo que levava o nome de Yahweh e O tornava “visível”
no mundo, andando em seus caminhos e refletindo seu
caráter. Levar o nome do Senhor não era meramente
um privilégio e uma bênção inestimável, mas uma
responsabilidade ética e missional desafiadora. E seus
paralelos no Novo Testamento são óbvios... A missão
de Deus para Israel era simplesmente que eles vivessem
como o povo de Yahweh no meio das nações, levando seu
nome em sua adoração, oração e vida diária.

Na Bíblia, os nomes são muitas vezes expressões do caráter


de uma pessoa, então quando Deus colocou Seu nome no sumo
sacerdote, foi uma declaração de que o sumo sacerdote deveria
representá-Lo e demonstrar Seu caráter ao povo. Quando as pessoas
olhavam para o sumo sacerdote, deveriam ver um homem à imagem
de Deus. Essa era a designação original do homem e continua sendo
nossa designação. Também somos chamados a levar o nome de
Deus diante das nações. Isso significa que devemos ser a “imagem”
de Deus - um povo que é como Ele e o apresenta bem.
O sumo sacerdote constantemente lembrava a Israel de seu cha-
mado.
Este chamado foi um chamado muito alto. Como um povo
poderia representar Deus com precisão para as nações? Como eles
9 4 | Discipulado começa com a contemplação

poderiam ser “discipulados” para cumprir essa designação? Como


símbolo da nação, o sumo sacerdote demonstrou como a nação de-
veria cumprir seu chamado e as pessoas deveriam viver suas vidas
segundo o padrão do sumo sacerdote.
O sumo sacerdote estava na presença do Senhor. Ele ministrou
ao Senhor em um santuário de adoração corporativa. Ele meditou
cuidadosamente na Palavra de Deus. Ele serviu outras pessoas para
que pudessem adorar. A vida de ministério do sumo sacerdote a
Deus e a devoção à Sua Palavra e ao Seu povo eram um padrão para
toda a nação. Eles eram um reino de sacerdotes. Nem todo israeli-
ta expressaria esse modo de vida da mesma maneira. Alguns eram
fazendeiros. Outros fizeram coisas. Outras eram mães em tempo
integral.
Israel tinha muitas vocações diferentes, mas todo israelita deveria
modelar sua vida segundo o sumo sacerdote.
Os israelitas deveriam ministrar ao Senhor e priorizar Sua Pala-
vra e Sua presença no contexto de suas vidas individuais. E todos na
nação deveriam se reunir e participar de um santuário de adoração
corporativa onde eles contemplavam a presença do Senhor juntos.
Se a nação fizesse isso, eles seriam transformados em uma imagem
do próprio YHWH e O representariam para as nações.
A metodologia de Deus era simples: ao se engajar no sistema
de adoração corporativa e contemplar (aproximar-se) de Sua pre-
sença no meio deles, Israel seria transformado à Sua imagem e O
representaria para as nações. Israel se tornaria um “sumo sacerdote
corporativo” entre as nações e se tornaria uma nação missionária
entre as nações. O santuário de adoração de Israel era tanto parte do
chamado de Israel quanto o meio para o chamado de Israel.
Discipulado começa com a contemplação | 9 5

Deus colocou um santuário de adoração no centro de Israel para


que a nação pudesse cumprir seu chamado e, como veremos, a igreja do
Novo Testamento estende esse mesmo modelo.

CONSTRUINDO SOBRE UM FUNDAMENTO DIVINO


Quando Deus primeiro criou um povo corporativo, Ele literalmen-
te os organizou em torno da centralidade de contemplá-Lo, colo-
cando um santuário de adoração no centro da nação. Este santuário
de adoração era a característica definidora de Israel. Havia muitas
outras nações que também tinham tribos, terras e reis, mas somente
Israel tinha a presença de Deus habitando em seu meio, e somente
Israel podia ver Deus como um povo se aproximando de Sua mo-
rada.
Aquele santuário de adoração estava repleto de imagens extraídas
do Éden como um indicador de que este era o início da restauração
do chamado do homem e parte do processo de formação de uma
“nova criação” onde Deus habitaria novamente com o homem na
terra. Os símbolos do Éden também estabeleceram o Éden como o
santuário original e o tabernáculo como uma continuação do plano
de Deus de habitar entre Seu povo:

O desejo de que o Senhor habite entre seu povo nos leva a


outra importante conexão entre o tabernáculo e a criação.
Wenham observou paralelos notáveis entre
​​ o tabernáculo
e o Jardim do Éden. Por exemplo, a entrada do Éden esta-
va voltada para o leste, guardada por querubins, enquanto
as entradas do tabernáculo também estavam voltadas para
o leste, o Santo dos Santos simbolicamente guardado pe-
9 6 | Discipulado começa com a contemplação

los querubins tecidos no véu do pārōket. Ouro e pedras


preciosas, especificamente mencionados no Éden, apare-
cem ambos no Santo dos Santos. De particular interesse
é a pedra šōham (esv ‘ônix’). Aparecendo especificamente
no Éden (Gn 2:12), todas as outras aparições da pedra
šōham, com uma exceção, estão ligadas ao Éden ou ao
tabernáculo. Além disso, Wenham observa que o andar
de Deus ‘para lá e para cá’ no Éden (Gn 3:8, hithpael de
halak), aparece novamente quando Deus anda ‘para lá e
para cá’ no tabernáculo (Lv 26:12; Deut. 23: 15; 2 Sam.
7:6-7; todos hithpael de halak). Ele também vê um papel
sacerdotal para Adão no jardim, notando que os mesmos
verbos ‘lavrar e guardar’ usados para
​​ o encargo de Adão
no jardim são usados ​​novamente (somente) em referên-
cia aos levitas no santuário (Nm 3: 7–8; 8:26; 18:5–6).
A implicação do exposto é que o Jardim do Éden é um
santuário arquetípico.

Deus nunca fez nada parecido com o que fez no Sinai, e foi o
início de Seu plano para um povo corporativo. As fundações lança-
das no Sinai não são relíquias a serem descartadas; eles são uma base
a ser construída. Enquanto a nova aliança torna obsoletos certos
aspectos da aliança mosaica e não devemos nos aproximar de Deus
com base na aliança mosaica, a nova aliança foi dada para expandir
o que aconteceu ao redor do Monte Sinai e permitir que ele tenha
uma expressão muito maior do que tinha no o início.

Israel como nação, como símbolo do governo divino ma-


nifestado dentro de uma estrutura política, pretendia ser
Discipulado começa com a contemplação | 9 7

uma imagem da forma do governo mundial final, um


símbolo apontando além de si mesmo para a realidade
ainda por vir.

O evento no Monte Sinai e o tabernáculo (templo) resultante


apontavam para algo que deve ter um cumprimento maior no Novo
Testamento. Deus estabeleceu as bases do que Ele queria: um povo
corporativo que contemplasse Sua presença, se tornasse como Ele
e se tornasse Sua imagem para as nações. Deus habitou entre Seu
povo no jardim, no tabernáculo e no templo, e Ele continua a habi-
tar entre Seu povo no que chamamos de igreja. É uma história que
se desdobra em direção a um dia em que Deus habitará na terra de
uma maneira que não podemos prever agora.
O discipulado deve ser informado por esse padrão - devemos reco-
nhecer o que Deus quer de nós e como Ele pretende obter o que quer.

UM POVO MISSIONÁRIO
Muitas pessoas assumem que as “missões” começaram no Novo Tes-
tamento, mas o êxodo foi o início de um povo missionário. Deus
não libertou os israelitas apenas por causa deles; Ele trouxe o êxodo
para que Ele pudesse ser conhecido. Deus habitando entre um povo
que O contempla é o início das missões, e devemos ler a história
do êxodo como uma história missionária para lê-la corretamente.
Como escreve o estudioso W. Ross Blackburn, Deus formou Israel
com um propósito específico em mente:

O compromisso do Senhor de ser conhecido como Deus


em toda a terra é a motivação que impulsiona tudo o que
9 8 | Discipulado começa com a contemplação

ele faz em Êxodo, desde a maneira como ele liberta Israel


do Egito até a razão pela qual ele dá a lei a Israel, até a
maneira como ele responde à idolatria de Israel. Assim, o
“coração” missionário de Êxodo fala tanto do compromis-
so governante do Senhor de ser conhecido como Deus
em todo o mundo... O Senhor sempre teve um coração
pelo mundo, incluindo um meio muito particular pelo
qual Ele procurou alcançá-lo.

A Grande Comissão não é uma ideia nova, e se não reconhe-


cermos as raízes da Grande Comissão no Antigo Testamento, não
entenderemos completamente a tarefa que nos foi dada:

A questão do que significa seguir a Grande Comissão de


Jesus não é apenas uma questão do Novo Testamento, ou
mesmo principalmente... entender a missão da perspec-
tiva do Êxodo pode ajudar a igreja a dar testemunho fiel
do Senhor.

Se não lermos o êxodo como uma história missionária, não entende-


remos completamente a história nem nosso lugar nessa história.
Deus deu a Israel um modo de vida estruturado para que Ele
pudesse habitar no meio dela e ser revelado às nações. Ele pretendia
que essa revelação provocasse as nações a se unirem voluntariamente
ao Seu povo e se tornarem parte de uma nação sacerdotal. Como ve-
remos, o padrão e a missão estabelecidos no êxodo continuam. Por
meio de Jesus, qualquer pessoa pode se tornar parte do povo sacer-
dotal, e Deus não habita mais exclusivamente em um tabernáculo.
Discipulado começa com a contemplação | 9 9

O tabernáculo se tornou viral, e Deus quer santuários construídos


em todos os lugares para convidar pessoas de todos os povos a se
juntarem à Sua nação.
A missiologia de Deus começou com Sua presença habitando
entre um povo que é transformado à Sua imagem e, no processo,
O torna conhecido e expande o povo de Deus. Deus formou Israel
para iniciar a causa das missões mundiais, e Ele ainda habita entre
Seu povo para promover Sua missão.
CAPÍTULO 8

A AFLIÇÃO DE UM REI
O encontro no Monte Sinai estabeleceu um povo corporativo, e
o próximo grande desenvolvimento ocorreu cerca de quatrocentos
anos depois. O rei Davi alterou profundamente a expressão de ado-
ração corporativa e o modo de vida de Israel. No processo, ele deu à
luz um incrível prenúncio de onde Deus está conduzindo a história
e preparou o cenário para o que veio no Novo Testamento. Não foi
uma aberração na história — é um fundamento crítico.
Para entender o que Davi fez, temos que começar com sua dor.
Davi era rei e líder do exército, mas vivia como um homem sa-
cerdotal:

Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que eu possa


morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu
templo.
Salmo 27:4
1 0 2 | Discipulado começa com a contemplação

A vida de Davi foi um retrato do chamado de Israel para viver


como um povo sacerdotal. Davi não estava qualificado para ser sa-
cerdote e não era um sacerdote vocacional. No entanto, ele viveu
sua vida como um homem sacerdotal. Ele é um exemplo proemi-
nente de que nosso sacerdócio não está ligado à nossa vocação. Nem
nosso chamado sacerdotal é algo que ganhamos. Davi teve falhas
muito sérias, e sofreu por essas falhas, mas era um homem “segundo
o coração de Deus” porque perseguiu uma vida sacerdotal em meio
a todas as responsabilidades de liderar um reino e não desistiu mes-
mo quando ele pecou horrivelmente.
O rei Davi vivia com uma dor profunda em sua alma. Sua dor
acabou produzindo um vislumbre profético de onde o padrão que
Deus estabeleceu no Monte Sinai acabaria por levar. Como vere-
mos, a aflição de Davi influenciou profundamente os apóstolos do
Novo Testamento, e o padrão da igreja do Novo Testamento reflete
a aflição de Davi.

NÃO DAREI SONO AOS MEUS OLHOS


O autor do Salmo 132 resumiu a dor de Davi:

Lembra-te, ó Senhor, em favor de Davi, de todas as di-


ficuldades que ele suportou, como jurou ao Senhor e fez
um voto ao Poderoso de Jacó: “Não entrarei em minha
casa nem me deitarei na minha cama, não darei sono ao
meus olhos ou sono para as minhas pálpebras, até que
eu encontre um lugar para o Senhor, uma morada para o
Poderoso de Jacó”. (v. 1-5)
Discipulado começa com a contemplação | 1 0 3

Já vimos que Davi foi capturado pela beleza de Deus. Seu anseio
por mais da beleza de Deus produziu um desejo em Seu coração.
Esse desejo nascido de contemplar a beleza de Deus levou Davi a su-
portar dificuldades incríveis, buscando satisfazer esse desejo de que
Deus habitasse entre Seu povo. Davi também queria que seu povo
contemplasse a beleza divina que havia conquistado seu coração.
Davi olhou para o tabernáculo e não ficou satisfeito. Ele sabia
que era o começo do que Deus queria, mas não o fim. Como resul-
tado, Davi viveu com dor e desejo. Essa dor era tão profunda e tão
dolorosa que Davi jurou que não poderia descansar até que Deus
tivesse uma morada entre Seu povo. Ele entendeu que o tabernáculo
era uma morada para Deus, mas não a morada que Deus desejava.
A presença de Deus estava no tabernáculo, e Israel podia se apro-
ximar da presença de Deus, mas Davi sabia que Deus tinha algo
muito maior em mente. Deus queria uma morada entre o Seu povo
para que Ele pudesse desfrutar plenamente do Seu povo e eles pu-
dessem contemplá-Lo. Davi entendeu o desejo de Deus, e o desejo
de Deus se tornou seu desejo. Davi não podia descansar até que
Deus tivesse o que Ele queria.
Quase 3.000 anos depois, o desejo de Deus continua insatisfeito. Ele
ainda não tem a morada que Ele quer. Estamos em contato com o desejo
de Deus? Compartilhamos a aflição de Davi?
Davi não viu o desejo de Deus realizado, e ele viveu com dor e
desejo durante toda a sua vida porque Davi havia determinado que
ele não seria realizado e descansaria até que Deus estivesse. A dor de
Davi não era apenas uma emoção passageira. Ele construiu sua vida
em torno de sua dor e morreu incerto porque Deus ainda não estava
em repouso entre Seu povo.
1 0 4 | Discipulado começa com a contemplação

Um dos maiores problemas da igreja é que continuamos a buscar


nosso descanso e nossa satisfação enquanto Deus não tem o Dele.
Uma das maiores ameaças à igreja é a nossa própria satisfação.
Deus ainda não está satisfeito, mas temos pouco desejo de que
Deus volte, habite entre Seu povo e receba Sua herança. Precisamos
desesperadamente ansiar pelo retorno de Jesus e receber a plenitude
de Sua herança. Jesus sofreu mais do que qualquer homem e
voluntariamente escolheu uma morte horrível para receber uma
herança, e Ele estava esperando quase 2.000 anos por essa herança.
Isso te move mesmo? Ou sua satisfação e senso de sucesso nessa
idade são suficientes para você?
Davi viveu com anseio antes que Deus viesse e sofresse por nossa
causa. Quanto mais devemos viver com saudade?
A triste verdade é que a maioria da igreja não sente falta de Je-
sus. Estamos bastante satisfeitos que as coisas permaneçam como
estão enquanto pudermos viver vidas relativamente imperturbáveis.
Dizemos que acreditamos na volta de Jesus, mas mostramos pouco
desejo por ela. Nossa doutrina pode estar correta, mas nossas emo-
ções nos traem. Não vivemos com a dor de Davi.
Esta época precisa desesperadamente do testemunho de uma
igreja que é uma demonstração de anseio e insatisfação em uma
época tão satisfeita com outras coisas. Se considerarmos cuidadosa-
mente o estilo de vida de muitos crentes e as mensagens de muitos
na igreja, parece que muitos de nós estão contentes com a ausência
de Jesus.
Se Jesus é realmente o desejo mais profundo de nossos corações, por
que estamos tão contentes com Sua ausência?
Nossos desejos e nosso estilo de vida diário devem demonstrar
Discipulado começa com a contemplação | 1 0 5

um anseio por Jesus e provocar as pessoas a sentir sua falta. Se não


vivemos com a dor de Davi, precisamos perguntar com sobriedade
e seriedade o quanto realmente amamos a Jesus? Davi viveu antes da
encarnação e sofrimento de Deus, e foi compelido por seu anseio.
Quanto mais devemos ansiar por Deus para receber Sua herança?
A dor de Davi era a dor de Deus. Ainda não foi cumprido, mas
a Bíblia nos diz que a era terminará quando o desejo de Deus for
cumprido:

E ouvi uma grande voz vinda do trono, que dizia: “Eis que
a morada de Deus está com o homem. Ele habitará com
eles, e eles serão seu povo, e o próprio Deus estará com
eles como seu Deus”.
Apocalipse 21:3

A igreja é um povo corporativo chamado para viver com a dor de


Davi e abraçar um modo de vida que dá ao mundo um vislumbre de
como o mundo será quando a dor de Deus for satisfeita. Vamos ver
o que a dor de Davi produziu porque sua dor deveria ter um efeito
semelhante em nós.
CAPÍTULO 9

CONTEMPLANDO ALIMENTADO
PELA DOR E DESEJO
A dor de Davi cruzou com seu desejo:

Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que eu possa


morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu
templo.
Salmo 27:4

Davi havia dedicado sua vida a um desejo: contemplar a beleza


do Senhor e inquirir em Seu templo. O desejo de Davi revela sua
compreensão do discipulado:

1. Davi queria contemplar a beleza de Deus.


2. Davi queria aprender a sabedoria e o conhecimento de
Deus, o que implica que ele queria viver de acordo com isso.
1 0 8 | Discipulado começa com a contemplação

Um estudioso descreve o desejo de Davi desta forma:

contemplar e indagar; uma preocupação com a Pessoa de


Deus e sua vontade. É a essência da adoração; realmente
do discipulado.

O desejo de Davi o levou a estabelecer um santuário de adoração


que ficou conhecido como “tabernáculo de Davi”. Foi construído
no padrão do tabernáculo de Moisés, mas era muito mais radical do
que parece à primeira vista. O tabernáculo de Davi foi uma previsão
profética de como Deus quer habitar entre Seu povo.

A DOR DO REI E SEU SANTUÁRIO DE ADORAÇÃO


Quando Davi se tornou rei e estabeleceu Jerusalém como sua capi-
tal, ele foi buscar a arca da aliança e trazê-la para Jerusalém. A arca
não era apenas um símbolo religioso. A presença de Deus morava
acima da arca, e Davi queria construir seu reino ao redor da presen-
ça de Deus. Enquanto pensamos em Davi como o rei da nação, ele
queria estabelecer Deus como o Rei da nação. Ele queria construir
uma nação segundo o padrão visto no Monte Sinai. Ele queria um
povo reunido ao redor da Presença Divina.
Em seu zelo, Davi formou uma elaborada procissão de adoração
com cantores e músicos e construiu uma carroça especial para car-
regar a arca. No entanto, Davi havia desconsiderado as instruções
estritas de Deus sobre como mover a arca. No processo da mudança,
um homem tocou na arca e Deus matou o homem por violar Seus
mandamentos.
Davi ficou furioso com o Senhor quando o homem morreu, mas
Discipulado começa com a contemplação | 1 0 9

também ficou apavorado porque percebeu que a presença de Deus


era algo sério. Davi ficou tão assustado que não quis trazer a arca
para Jerusalém, temendo que algo pior pudesse acontecer à cidade.
Como resultado, a arca foi deixada aos cuidados de um gentio cha-
mado Obede-Edom, e Davi voltou a Jerusalém temeroso da presen-
ça do Senhor.
Então algo surpreendente aconteceu. Obede-Edom e sua família
começaram a receber bênçãos incomuns da presença da arca. Davi
ouviu sobre isso, e isso o provocou ciúmes. Isso despertou seu sonho
de hospedar a arca em Jerusalém, e Davi decidiu recuperar a arca.
Desta vez, Davi examinou cuidadosamente as Escrituras e mo-
veu a arca de acordo com os mandamentos estritos de Deus. O
movimento foi acompanhado por um tremendo canto, música alta
e gritos de louvor. Davi usava um éfode de linho que era uma vesti-
menta sacerdotal e dançava diante da arca com todas as suas forças
quando a arca entrava na cidade.
A resposta de Davi foi significativa porque ele celebrou a chega-
da da arca como sacerdote e não como rei. A resposta de Davi à arca
deixou claro que Deus estava sendo recebido em Jerusalém como o
verdadeiro Rei. Davi funcionou como um líder humano, mas cons-
truiu o reino na convicção de que Deus era o verdadeiro Rei em
Jerusalém. A presença de Deus estava agora em Jerusalém como o
legítimo Rei de Israel, que é o que Deus sempre quis. Deus amou
Davi porque Davi entendeu o que Deus queria e Davi se alegrou em
Deus tomar Seu lugar como Rei. Foi um cumprimento do desejo
de Deus e uma imagem profética de um dia em que Deus habitará
novamente em Jerusalém como Rei.
Quando Davi era rei, a pessoa mais majestosa em Jerusalém não era
1 1 0 | Discipulado começa com a contemplação

Davi. Era a Pessoa Divina que habitava na cidade acima da arca. Ele
era o verdadeiro Rei de Israel.
Davi então fez algo absolutamente chocante. Davi colocou a
arca em uma tenda aberta onde pudesse ser vista. Então ele finan-
ciou centenas de cantores e músicos para ficarem diante da arca e
cantarem noite e dia (possivelmente 24 horas por dia, 7 dias por
semana) sobre a beleza de Deus. Finalmente, ele até permitiu que
pelo menos um gentio, Obede-Edom, também viesse e ministrasse
à arca.
A maior conquista do maior rei de Israel não foi seu exército ou sua
capacidade administrativa. Era um santuário de adoração que incluía
cantar noite e dia a beleza de Deus.
Davi deixou o resto do tabernáculo em Gibeão, onde os sacer-
dotes continuaram a realizar o ministério sacrificial, embora não
tivessem mais a arca da presença de Deus. Foi um desenvolvimen-
to impressionante - o sistema mosaico de adoração estava em an-
damento, mas Deus estava agora abertamente visível no centro da
nação, e o rei e outros contemplaram a glória de Deus e lançaram
canções sobre Sua beleza e Seus propósitos. A presença de Deus não
estava mais restrito ao sumo sacerdote - por meio da liderança de
Davi, a nação estava se tornando um povo sacerdotal corporativo.
Para entender completamente o significado do que Davi fez,
considere o seguinte: Quando Davi moveu a arca sem obedecer aos
comandos precisos de Deus, Deus matou um homem, embora Davi
tenha movido a arca com grande celebração e honra. No entanto,
Davi então pegou a arca e a colocou em Jerusalém e a colocou em
um contexto que violou os mandamentos de Moisés sobre como a
arca deveria ser tratada, e Deus abençoou Davi e o chamou de homem
Discipulado começa com a contemplação | 1 1 1

segundo Seu coração.


Deus não permitiu que Davi tratasse a arca casualmente, indi-
cando que o tabernáculo de Davi era algo que havia sido revelado a
Davi por Deus. Em algum momento, Davi recebeu uma visão pro-
fética incrível e sabia que Deus queria Sua presença em um templo
aberto, onde cantores, músicos e até gentios pudessem se aproximar
Dele.
Era um protótipo profético de algo que estava por vir. Este san-
tuário de adoração estava milhares de anos à frente de seu tempo
porque Deus estava habitando como Rei em Jerusalém. Sua pre-
sença era abertamente visível e cercada por cânticos dia e noite en-
quanto os gentios se juntavam aos israelitas em torno da presença de
Deus. Foi uma prévia da nova aliança.
O tabernáculo de Davi foi um momento em que Deus deu ao
mundo uma prévia do que está por vir, algo que não se cumpriu até
hoje.
Ainda está chegando o dia em que a presença de Deus será aber-
tamente visível em Jerusalém, e Ele governará como Rei cercado por
adoração incessante e por pessoas reunidas das nações. O tabernácu-
lo de Davi foi uma prévia e, como veremos, a igreja é chamada para
ser uma prévia semelhante do que está por vir.

A DOR DE DAVI PRODUZIU ADORAÇÃO DIA E NOITE


A dor de Davi não apenas o levou a mover a arca para Jerusalém,
mas também o compeliu a cercá-la com cânticos dia e noite. Israel
sempre foi um povo cantante, mas Davi pessoalmente investiu uma
quantidade incrível de sua riqueza para financiar um santuário de
adoração em Jerusalém e apoiar cantores e músicos.
1 1 2 | Discipulado começa com a contemplação

Alguns estimam que Davi gastou mais de um bilhão de dólares


em dinheiro de hoje para um santuário de adoração, onde cantores
e músicos podiam contemplar a beleza de Deus e responder com
cânticos. O dinheiro é um indicador primordial do que é realmente
mais importante para nós, e Davi valorizava contemplar a beleza
de Deus e responder a ela com música mais do que qualquer outra
coisa em seu reino.
Davi alterou permanentemente a adoração de Israel, e 288 can-
tores e 4.000 músicos tornaram-se parte do complexo do templo de
Israel. Todo avivamento em Israel depois de Davi envolvia colocar
os cantores e músicos de volta em seus lugares como Davi havia
ordenado:

• A reforma de Josafá (cerca de 870 AC) incluiu o estabeleci-


mento de cantores e músicos (2 Cr. 20:19-28).
• Joiada restaurou a adoração no templo na ordem de Davi
(cerca de 835 AC) com cantores, etc. (2 Cr. 23:18).
• O avivamento de Ezequias (cerca de 725 AC) incluiu levitas
com instrumentos e cantos (2 Cr. 29:25-27).
• O avivamento de Josias (cerca de 625 AC) restaurou can-
tores e músicos em tempo integral como Davi ordenou (2
Cr. 35:15).
• Zorobabel (cerca de 536 AC) estabeleceu cantores e músicos
em tempo integral conforme ordenado por Davi (Es. 3:10-
11).
• Esdras e Neemias (445 AC) estabeleceram cantores e músi-
cos em tempo integral como Davi ordenou (Ne.12:24, 45).
Discipulado começa com a contemplação | 1 1 3

A dor de Davi fez com que o canto extravagante se tornasse um


componente-chave do ministério do templo de Israel.
Davi escolheu cantar porque Deus o ama. Deus está cercado de
música nos céus, então Sua presença na terra deve ser acompanhada
por canções também. Cantar é uma expressão de afeto que des-
perta afeto. O tipo mais comum de canção humana é uma canção
de amor. Cantamos naturalmente sobre o que amamos e, quando
cantamos, nossas músicas carregam o poder de despertar afeto em
outras pessoas que ouvem essas músicas. Um pregador pode pregar
uma mensagem difícil, e as pessoas irão considerá-la seriamente an-
tes de responder. Um líder de louvor pode cantar uma mensagem
difícil, e as pessoas responderão imediatamente e farão profundos
compromissos de sacrifício por meio da música. Há algo único so-
bre o poder da música no coração humano.
Os cânticos de Davi tornaram-se uma ferramenta para discipu-
lar a nação enquanto cantores e músicos contemplavam a glória de
Deus e respondiam com cânticos. Essas canções foram então es-
critas e cantadas por toda a nação. Essas canções se tornaram uma
ferramenta que toda a nação poderia usar para contemplar a beleza
de Deus, mesmo que não estivessem em Jerusalém. Enquanto can-
tavam, suas afeições eram tocadas, e enquanto cantavam sobre a
beleza de Deus, eles podiam abraçar o chamado para se tornarem
como Deus e serem Sua imagem entre as nações.
Mais tarde, quando o templo foi construído, um sistema de pe-
regrinações anuais começou para que toda a nação periodicamente
visse o lugar da presença do Senhor e ouvisse pessoalmente os can-
tores e músicos enquanto cantavam sobre a beleza do Senhor. Até
hoje, os cânticos que vinham do santuário de adoração de Davi
1 1 4 | Discipulado começa com a contemplação

afetam poderosamente as pessoas e as ensinam, descrevendo a beleza


de Deus e chamando-as para celebrar essa beleza.

PROVOCADO POR DAVI


A dor de Davi não morreu com Davi. A história do que Davi fez
foi registrada para nos provocar também a viver com a dor de Davi.
Quando lemos que o maior rei de Israel viveu insatisfeito e incapaz
de descansar em suas realizações antes de Deus morrer na cruz, isso
desafia nossa própria satisfação e anseio por conforto.
Quando lemos a história de Davi e descobrimos que ele foi ca-
paz de buscar a Deus de todo o coração como um homem sacer-
dotal, embora também cometesse pecados espetaculares e custosos,
devemos nos dar coragem de que, não importa quem somos ou o
que fizemos, há um convite pelo sangue de Jesus para viver como
sacerdotes.
Por meio de Jesus, fomos trazidos para a história de Israel, e a vida
de Davi e o sofrimento de Jesus devem nos provocar a assumir a dor de
Davi em nossa geração.
Acredito que Davi aponta para uma geração de gentios que vi-
verá com a mesma dor que o compeliu. Davi não nasceu para ser
sacerdote, mas era um homem sacerdotal. Aqueles de nós que são
gentios não nasceram no ministério sacerdotal de Israel, mas através
do sangue de Jesus, fomos trazidos para a história de Israel. Como
veremos, há evidências claras de que Paulo viveu com a dor de Davi
e viu seu ministério como uma expansão do tabernáculo de Davi
para as nações.
Se Jesus era digno de cantar noite e dia diante da cruz, quanto mais
Ele merece agora?
Discipulado começa com a contemplação | 1 1 5

O canto extravagante é um testemunho do valor de Jesus porque


cantamos sobre o que amamos e o que nos fascina. Se O amamos
e somos cativados por Ele, cantaremos. Além disso, se cantarmos,
cantaremos corporativamente. Cantar não é uma forma individual
de adoração. Até quando cantores talentosos lideram, todos canta-
mos juntos corporativamente. Cantar é uma expressão corporativa
do desejo e uma resposta corporativa à beleza. Oh, que a dor de
Davi produzisse noite e dia cantando nas cidades da terra! Oh, que
uma geração de gentios que foram capturados por Jesus aceitasse o
desejo de Davi e enchesse nossas cidades com reações extravagantes
à beleza de Jesus! Que declaração seria do valor de Jesus. Alguns po-
dem dizer que isso soa extravagante, mas o que Davi diria? Davi não
teve a revelação completa do sofrimento de Deus. Se Davi pudesse
falar conosco, ele teria apenas um pergunta para nós: Quem mandou
você parar de cantar noite e dia?
A questão crítica não é que estilo de canto devemos empregar, ou
que modelo devemos seguir, ou quantas horas por semana são sufi-
cientes. A questão é: nós realmente vimos a beleza de Jesus? Nós O
amamos acima de todos os outros amores? A dor de Davi influencia
nossa vida corporativa juntos? Podemos descansar quando Jesus não
tem Seu lugar de descanso na terra?
A questão-chave é: vivemos com a dor de Davi? Ele nos provocou?
Davi tinha recursos significativos, e a grande maioria das igrejas
não pode cantar juntos 24 horas por dia, 7 dias por semana, então
não devemos medir nossa resposta por medidas arbitrárias, mas de-
vemos nos perguntar o seguinte: a dor de Davi influenciou o ritmo
semanal de nossa igreja como comunidade?
1 1 6 | Discipulado começa com a contemplação

PROVOCADO PELOS GENTIOS


A era termina com cânticos extravagantes nas nações, indicando que
os gentios serão provocados a assumir a missão de Davi, mas a Bí-
blia também sugere que a história de Davi e Obede-Edom é uma
imagem profética do plano surpreendente de Deus. Deus revelou
Seu desejo de habitar entre Seu povo a Davi, mas curiosamente,
Davi foi provocado por um gentio a cumprir a tarefa. Além disso,
ele provavelmente foi provocado por um gentio que aparentemente
se converteu para seguir o Deus de Israel. Com isso em mente, é
importante olhar para o simbolismo dessa história. Isso mostra que
a história de Davi está apontando para algo mais significativo.
Davi tropeçou quando não seguiu a Palavra de Deus e, no pro-
cesso, a presença de Deus acabou na casa de um gentio em vez de
em Jerusalém. Quando olhamos para a Bíblia, podemos ver que
Israel tropeçou e esse tropeço levou à presença de Deus habitando
entre os gentios. (Estamos falando aqui em termos muito simbóli-
cos da dramática expansão do evangelho nas nações. Claro, sempre
houve um remanescente judaico vibrante.)
Quando Davi saiu da arca, Obede-Edom teve que trazer a arca
para sua casa e cuidar dela. Quando o fez, a presença de Deus trouxe
uma tremenda bênção para este gentio cuja família provavelmente
descendia dos inimigos de Israel. Da mesma forma, os gentios ti-
veram que receber e honrar o Deus de Israel e ministrar a Ele. Ao
honrarmos a presença de Deus, isso trouxe uma tremenda bênção
para aqueles de nós que não nasceram originalmente em Israel.
A bênção que Obede-Edom experimentou fez com que Davi
recuperasse a arca e a trouxesse de volta a Jerusalém. Desta vez Davi
Discipulado começa com a contemplação | 1 1 7

obedeceu cuidadosamente às Escrituras e veio buscar o que lhe per-


tencia de Obede-Edom. Da mesma forma, a presença do Deus de
Israel entre os gentios através da obra de Jesus acabará por provocar
Israel a reclamar o que lhe pertence. Israel examinará cuidadosa-
mente as Escrituras e então recuperará o que era originalmente dela.
Davi veio com grande festa para recuperar a presença de Deus,
e está chegando o dia em que Israel recuperará a presença de Deus.
Como Davi, provavelmente envolverá ela indo para as nações e se
envolvendo com os gentios que valorizam e administram a presença
do Deus de Israel.
Davi levou a arca para Jerusalém com grande alegria, cantando,
dançando e gritando. Foi uma celebração apaixonada e simbolizou
Deus entrando na cidade de Jerusalém como Rei cercado pelos
aplausos e canções de Israel. Da mesma forma, chegará o dia em que
Israel reivindicará a presença de Deus com grande entusiasmo. Jesus
falou daquele dia – o dia em que Israel canta o Salmo 118 para Ele.
Davi trouxe a presença de Deus para a cidade e a colocou em um
tabernáculo aberto onde o povo de Deus poderia se aproximar de
Sua presença e cantar em resposta à beleza de Deus. Ele formou um
sistema de governo em Jerusalém que estabeleceu Deus como Rei e
começou contemplando a beleza de Deus e ministrando a Ele. Da
mesma forma, a Bíblia prediz um dia em que Deus habitará na terra
entre Seu povo em Jerusalém. Seu povo contemplará Sua beleza e
ministrará a Ele, e será o centro de um governo fundado na adora-
ção e composto por um “reino de sacerdotes”.
Finalmente, Davi convidou os gentios a Jerusalém para ficarem
na presença de Deus e contemplar Sua beleza. Da mesma forma,
Deus estabelecerá Seu trono em Jerusalém e convidará judeus e gen-
1 1 8 | Discipulado começa com a contemplação

tios a se aproximarem e encontrarem Sua presença. “Um novo ho-


mem” irá adorá-Lo quando Ele estabelecer seu trono em Jerusalém.
Davi convidou Obede-Edom para ficar diante da arca. Esta era uma
imagem da reconciliação de todas as pessoas no local de culto.
Davi, descendente de Jacó, e Obede-Edom, um giteu de uma
cidade filistéia, estavam juntos diante da arca. Os filisteus eram um
dos inimigos históricos de Israel, mas Davi e Obede-Edom perma-
neceram juntos diante da presença do Senhor em um santuário de
adoração. Foi uma declaração incrível de reconciliação na presença
de Deus. O tabernáculo de Davi era um vislumbre de um novo
homem, mas Davi nunca imaginou o que Deus tinha em mente.
Davi deve nos provocar a aceitar sua dor e, quando respondermos,
desempenharemos um papel no plano de Deus de provocar a família de
Davi a retornar à sua dor.

ELE É DIGNO?
Como vimos quando Deus formou um povo pela primeira vez, Ele
os reuniu ao redor de Sua presença e lhes deu um santuário de ado-
ração chamado tabernáculo. Quando o maior rei de Israel assumiu
o trono, ele forneceu o próximo vislumbre do que Deus tinha em
mente. Ele mudou profundamente a compreensão de Israel sobre o
templo, e as gerações subsequentes consideraram seus mandamen-
tos uma parte obrigatória da adoração no templo.
Como Moisés, o maior rei de Israel organizou a nação em torno
de um santuário de adoração, mas desta vez a presença de Deus era
visível na cidade, além dos sacrifícios contínuos. Davi até permitiu
que os gentios se aproximassem. A mensagem era clara: o sumo sa-
cerdote era mais do que um símbolo da nação; ele era um protótipo
Discipulado começa com a contemplação | 1 1 9

profético de um povo corporativo. Deus queria mais do que sacer-


dotes vocacionais; Ele queria um povo sacerdotal que contemplasse
a beleza de Deus, cantasse Sua majestade e se tornasse Sua imagem
para as nações. A maioria, como Davi, não seria sacerdote vocacio-
nal, mas seria sacerdotal mesmo assim. Davi e seu santuário eram
um vislumbre do que o sumo sacerdote representava.
O que Deus começou no Monte Sinai assumiu uma expressão
muito maior sob o governo de Davi, e isso preparou o terreno para
uma expansão ainda maior. Como veremos, Paulo também foi do-
minado pela dor de Davi e foi muito além de Davi. Ele expandiu
o santuário de adoração para as nações e chamou os gentios para
assumir a designação de Israel com o remanescente messiânico.
O Novo Testamento não substitui o que Deus começou no An-
tigo Testamento; é uma expansão radical dela. O que Moisés e Davi
fizeram deve ter uma expressão muito maior na era do Novo Testa-
mento. E é aqui que precisamos ir a seguir.
CAPÍTULO 10

UMA REUNIÃO DE ADORAÇÃO


QUE INICIOU UM MOVIMENTO
MISSIONÁRIO
Uma das partes mais interessantes da jornada de Paulo é que
levou quase quinze anos para Paulo começar sua tarefa missionária
entre os gentios. O Novo Testamento não apresenta este tempo de
preparação como um atraso ou ato de desobediência por parte de
Paulo. Quase quatorze anos após sua conversão, Paulo estava traba-
lhando em sua cidade natal, Tarso, quando Barnabé o encontrou e o
levou à igreja em Antioquia. Paulo tornou-se parte integrante desta
igreja emergente, usando seus dons para ensinar e pastorear lá.
Em Atos 13, Lucas descreveu um momento de mudança na his-
tória desta igreja:

Ora, havia na igreja de Antioquia profetas e mestres, Bar-


nabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaen,
1 2 2 | Discipulado começa com a contemplação

amigo de toda a vida de Herodes, o tetrarca, e Saulo. En-


quanto eles adoravam ao Senhor e jejuavam, o Espírito
Santo disse: “Separa-me Barnabé e Saulo para a obra a
que os tenho chamado”. Então, depois de jejuar e orar,
impuseram as mãos sobre eles e os despediram. (v. 13:1-3)

A igreja em Antioquia é muito significativa porque foi a primeira


igreja com influência regional fora de Jerusalém e provavelmente o
modelo mais influente para a igreja entre os gentios. Foi o protótipo
da igreja entre os gentios - o primeiro exemplo proeminente de
como o povo de Deus se parecia fora de Jerusalém em uma cidade
sem o templo. Além disso, foi a igreja da qual o Espírito Santo
enviou Paulo e Barnabé para expandir rapidamente a missão aos
gentios. Paulo e Barnabé foram moldados e formados por esta igreja
e, quando foram lançados de Antioquia, saíram para replicar An-
tioquia.
O evento descrito em Atos 13 mudou literalmente a história do
mundo. Lucas descreveu uma reunião de cinco homens que vie-
ram de origens muito diferentes e estavam todos reunidos como um
“adorar ao Senhor e jejuar”. A palavra adorar (λειτουργέω) também
pode ser traduzida como ministrar, e é uma palavra que foi usada
para descrever o ministério dos sacerdotes no templo. Muitas pes-
soas supõem que Paulo e Barnabé foram enviados de uma reunião
de oração, mas Lucas disse eles estavam adorando e ministrando ao
Senhor juntos como um grupo de sacerdotes.
As implicações disso são muito significativas. Primeiro, Lucas
considerou esses cinco homens de origens muito diferentes como
sacerdotes, indicando que o sacerdócio foi expandido. Agora incluía
Discipulado começa com a contemplação | 1 2 3

todas as raças e todas as origens. Em Antioquia, Paulo experimentou


uma expressão de “um novo homem” em uma comunidade multir-
racial de homens sacerdotais, e essa experiência o moldou profun-
damente. Ele até desafiou um dos discípulos favoritos de Jesus a
preservar o testemunho da igreja em Antioquia.
Segundo, quando Lucas descreveu os líderes em Antioquia como
sacerdotes ministrando ao Senhor, ele fez uma declaração profunda:
A igreja é um templo. O templo não estava mais limitado a Jerusa-
lém. Onde quer que a igreja se reúna, é um templo, e aqueles que
se reúnem em Jesus são sacerdotes. A igreja em Antioquia foi um
instantâneo de como é o “templo” nas nações.
As implicações de Atos 13:2 são óbvias, mas significativas: o templo
se tornou viral.

RECONSTRUINDO O GOVERNO DE DAVI


A rápida expansão do evangelho entre os gentios foi um dos desen-
volvimentos mais chocantes do Novo Testamento. À medida que os
gentios começaram a vir à fé, criou-se uma crise: como os judeus
e os gentios deveriam se relacionar como um povo e uma família,
dadas suas
diferenças de longa data e séculos de conflito? Além disso, como
os gentios devem se relacionar com o chamado único de Israel?
Uma reunião foi convocada em Jerusalém para resolver e emitir.
Os líderes da igreja se reuniram e sua conclusão foi clara: Deus havia
dado gratuitamente o Espírito Santo aos gentios, indicando que Ele
estava trazendo os gentios para Israel por meio de sua fé em Jesus.
Tiago foi provavelmente o líder mais proeminente na reunião e
resumiu a conclusão:
1 2 4 | Discipulado começa com a contemplação

E toda a assembléia ficou em silêncio, e eles ouviram Bar-


nabé e Paulo enquanto eles relatavam os sinais e maravi-
lhas que Deus havia feito por meio deles entre os gentios.
Depois que eles terminaram de falar, Tiago respondeu:
“Irmãos, ouçam-me. Simeão relatou como Deus primeiro
visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu
nome. E com isso concordam as palavras dos profetas,
como está escrito: ‘Depois disso voltarei, e reconstruirei
a tenda de Davi que caiu; Reconstruirei as suas ruínas e
a restaurarei, para que o restante da humanidade busque
ao Senhor, e todos os gentios que se chamam pelo meu
nome, diz o Senhor, que desde a antiguidade faz saber
estas coisas’”
Atos 15:12-18

Existem muitos versículos no Antigo Testamento que predizem


que os gentios adorarão o Deus de Israel, então Tiago poderia ter
citado muitas passagens, mas ele escolheu citar Amós 9 e conectar a
salvação dos gentios à restauração da “tenda” de Davi. A restauração
do governo de Davi inclui mais do que seu santuário de adoração,
mas o santuário de adoração de Davi definiu seu governo e fez dele
o maior rei de Israel. Por exemplo, Salomão tinha maior riqueza e
um reino mais expansivo, mas nenhum outro rei fez algo como o
tabernáculo de Davi. O santuário de adoração de Davi era a coisa
mais singular em seu governo.
Como vimos, o tratamento da arca por Davi fez uma declaração
ousada: “Eu não sou o verdadeiro rei; Deus é.” Portanto, durante o
governo de Davi, havia dois tronos em Jerusalém. Davi foi entroni-
Discipulado começa com a contemplação | 1 2 5

zado em um trono como o rei humano de Israel, mas a arca na tenda


de Davi era o trono real, o lugar onde Deus foi entronizado na terra.
Deus havia escolhido Davi como rei, mas Davi não podia compar-
tilhar o trono de Deus. O trono de Davi era separado e submisso ao
trono de Deus. Essa separação entre o trono de Deus e o trono de
Israel era um indicador de que Davi era um protótipo de algo que
ainda não havia chegado.
Davi era um protótipo do Messias, e o santuário de adoração de
Davi era profético, mas ele não podia compartilhar o trono de Deus
e governar como homem e como Deus.
Os profetas repetidamente predisseram que Deus governa-
ria como Rei em Jerusalém. Eles descreveram um dia em que um
homem compartilhará o trono de Deus e governará a terra como
Deus. A maioria dessas profecias veio após o governo de Davi, então
a mensagem não pode ser perdida: Davi foi um protótipo e uma
prévia do futuro quando Deus governará fisicamente no meio de
Seu povo. Ele será um rei humano e se sentará entronizado em um
santuário de adoração como Deus. Quando as pessoas vierem ver
este Rei, elas verão Deus.
Várias vezes, Isaías descreveu o governo de um rei messiânico
que também era Deus, e em uma profecia ele predisse que o vindou-
ro Rei Divino faria o que Davi nunca poderia fazer:

“Então um trono será estabelecido em amor constante, e


nele se assentará com fidelidade na tenda de Davi, aquele
que julga e busca a justiça e se apressa em praticar a jus-
tiça.”
Isaías 16:5
1 2 6 | Discipulado começa com a contemplação

Davi nunca ousou sentar-se entronizado em seu santuário de


adoração porque entendia que era o trono de Deus, mas Isaías pre-
viu um governante que se sentaria entronizado “na tenda de Davi”.
Esta é uma profecia fenomenal que descreve um rei que está vindo
para governar e sentar-se entronizado em um santuário de adoração
como o de Davi.
A previsão de Isaías é direta: quando a tenda e o governo de Davi
forem reconstruídos, o Rei se sentará no trono no santuário de ado-
ração. No tempo de Davi, havia dois tronos, mas quando o governo
de Davi for restaurado, haverá apenas um trono em Jerusalém. Um
homem governará como Deus e compartilhará o trono de Deus.
Isso será muito diferente da autoridade delegada que Davi tinha.
Jesus é o Rei que pode governar como um Davi maior e sentar-
se entronizado como Deus no santuário de adoração para o qual a
tenda de Davi apontava.
Com tudo isso em mente, a declaração de Tiago em Atos 15 fica
mais clara. Jesus é o Davi maior, e Ele restaurará o trono de Davi.
Ele é o Humano Divino que se sentará entronizado, mas Jesus deve
se sentar entronizado em um santuário de adoração cercado por Seu
povo que encontra Sua beleza e canta em resposta. Davi permitiu
que um gentio viesse à tenda, mas isso era apenas uma pequena
imagem do que Deus quer.
Jesus está destinado a governar em um trono na terra no meio
de um santuário de adoração, onde pessoas de todos os grupos de
pessoas podem encontrar a beleza de Deus, serem transformadas e
então declarar Sua beleza. O próximo santuário será diferente de
tudo que já vimos. O tabernáculo e o templo eram apenas protóti-
pos. Este santuário será o céu na terra, o que significa que a presença
Discipulado começa com a contemplação | 1 2 7

manifesta de Deus habitará entre o Seu povo. Eles poderão habitar


com Ele e vê-Lo em Sua beleza sem serem destruídos.
(Curiosamente, o profeta Daniel previu que o homem que nor-
malmente chamamos de anticristo irá “armar suas tendas palacia-
nas entre o mar e o glorioso monte santo”. Se o anticristo exigir
adoração, parece muito provável que o anticristo tentará governar
como um homem e um falso deus exigindo adoração enquanto está
sentado em uma tenda palaciana que é uma caricatura pervertida do
tabernáculo de Davi. santuário de adoração de Davi, isso enfatiza
ainda mais o significado do tabernáculo de Davi.)
A expansão do evangelho para os gentios faz parte do plano de
Deus para preparar um santuário de adoração para Jesus. Davi co-
locou 288 cantores no lugar com 4.000 músicos que eram quase
todos israelitas, mas isso era apenas um prenúncio. Deus vai formar
uma multidão que nenhum homem pode numerar108 de todos os
povos para ficar diante do Homem Divino, desfrutar de Sua pre-
sença e cantar de Sua beleza. Tiago entendeu que Deus estava tra-
zendo os gentios para a identidade sacerdotal de Israel, como havia
sido definida sob o governo de Davi. (Um dos grandes choques do
Novo Testamento foi que Deus começou a convidar os gentios para
a identidade sacerdotal de Israel antes que todo Israel fosse restaura-
do à sua identidade sacerdotal.)
Davi investiu uma quantia significativa de dinheiro em seu san-
tuário de adoração e incluiu um número incrível de pessoas nele.
Se o tabernáculo de Davi foi o protótipo, isso significa que o cum-
primento deve ir muito além de qualquer coisa que Davi tenha
imaginado. Enquanto Davi criou um santuário para Israel cantar a
presença de Deus sobre a arca, Deus está preparando um santuário
1 2 8 | Discipulado começa com a contemplação

para que toda a terra cante a Deus enquanto Ele habita pessoalmen-
te no santuário na terra. Isso vai ser extravagante além de qualquer
coisa que possamos imaginar, e a missão da igreja é fazer parceria
com Deus para proclamar a beleza de Deus em todos os lugares e ver
um povo enorme formado para permanecer no santuário vindouro.

ENCHENDO AS NAÇÕES COM PROTÓTIPOS


Nossa parte é responder ao Senhor como Davi respondeu.
Somente Deus determinará quando Jesus retornará a Jerusalém,
e somente Ele poderá estabelecer a morada de Jesus em Jerusalém.
Nós, por outro lado, recebemos o mesmo encargo que Davi rece-
beu. A presença de Deus está tangivelmente no meio da igreja assim
como estava sobre a arca, e nossas igrejas devem ser santuários de
adoração onde contemplamos Sua beleza e cantamos em resposta.
Como o tabernáculo de Davi, a igreja é uma comunidade que
vive como uma demonstração presente de uma realidade futura.
O tabernáculo de Davi apontava para o futuro — um dia em
que Deus habitaria em Jerusalém como um rei divino e humano. A
igreja aponta para esse mesmo futuro e, portanto, deve seguir um
padrão semelhante. Davi colocou uma tenda em Jerusalém, mas
Deus quer encher a terra com “tendas” – comunidades reunidas em
torno da presença de Deus em seu meio. Esses santuários de adora-
ção apontam para o dia em que Deus retornará para se sentar como
homem em um santuário de adoração maior.
Deus fará a Sua parte, mas devemos fazer a nossa parte. Davi
construiu uma tenda em Jerusalém, e agora é nossa vez de construir
“tendas” em todos os lugares.
Além disso, se fomos comissionados para construir comunida-
Discipulado começa com a contemplação | 1 2 9

des que contemplem o Senhor e apontem para a grandeza de Sua


habitação na terra, então isso deve afetar a maneira como discipu-
larmos e vivermos juntos como povo.
Sua comunidade local é um prenúncio do próximo santuário
de adoração? Você está discipulando pessoas para serem sacerdotes
na igreja local agora e no santuário de adoração que está chegando?

O TABERNÁCULO EM ANTIOQUIA
A igreja em Antioquia era um templo, mas era algo mais específico
do que isso: a igreja em Antioquia era uma expressão do tabernáculo
de Davi.
Davi estabeleceu o canto como parte central do ministério do
templo, e isso permaneceu até o tempo dos apóstolos. De fato, todo
avivamento depois de Davi restaurou o lugar dos cantores e músicos
no templo. Se a igreja em Antioquia foi modelada a partir de um
templo e os líderes eram sacerdotes, é provável que eles estivessem
cantando sobre a beleza de Jesus em Atos 13:2.
Davi construiu seu tabernáculo sobre dois fundamentos:

• Seu desejo pela beleza de Deus.

Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que eu possa


morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para contemplar a formosura do Senhor e inquirir no seu
templo.
Salmo 27:4
1 3 0 | Discipulado começa com a contemplação

• Seu desejo de que Deus tenha uma morada na terra.

Lembra-te, ó Senhor, em favor de Davi, de todas as


dificuldades que ele suportou, como jurou ao Senhor e
fez um voto ao Poderoso de Jacó: “Não entrarei em minha
casa nem me deitarei na minha cama, não darei sono ao
meu olhos ou sono para as minhas pálpebras, até que eu
encontre um lugar para o Senhor, uma morada para o
Poderoso de Jacó”.
Salmo 132:1-5

A descrição de Lucas da igreja em Antioquia como um templo


mostra que também se baseava nestes dois fundamentos:

Enquanto eles estavam adorando ao Senhor e jejuando.


Atos 13:2

Eles estavam adorando ao Senhor. Eles não estavam apenas oran-


do; eles estavam contemplando corporativamente a beleza do Se-
nhor. Para usar a linguagem de Davi, eles estavam contemplando
a beleza de Deus juntos, buscando uma revelação de Sua pessoa e
Seus caminhos. Sem dúvida, eles também perguntaram ao Senhor
porque, quando você encontra a beleza do Senhor, naturalmente
quer viver com sabedoria e imitá-lo.
Eles também estavam em jejum. Muitas vezes pensamos no je-
jum como uma medida extrema para garantir uma resposta a um
pedido urgente, mas essa não é a definição de jejum do Novo Tes-
tamento. Jesus resumiu o jejum do Novo Testamento em Mateus 9:
Discipulado começa com a contemplação | 1 3 1

E Jesus lhes disse: “Os convidados do casamento podem


chorar enquanto o noivo estiver com eles? Dias virão em
que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão”. (v. 15)

Jesus foi criticado porque seus discípulos não estavam jejuando,


e a resposta de Jesus foi simples: “As pessoas choram nos casamentos
quando os noivos se reúnem? Como, então, meus discípulos podem
jejuar quando estou com eles?” Jesus predisse que Seu povo jejuaria
quando Ele fosse tirado deles, indicando que o jejum do Novo Testa-
mento é uma expressão de luto e saudade.
Quando jejuamos, nos abstemos das coisas boas que Deus nos
deu para nosso benefício. Não jejuamos essas coisas porque são
ruins; jejuamos como uma declaração de que não podemos desfru-
tar plenamente de nossas bênçãos porque Jesus não está conosco. O
jejum do Novo Testamento é uma expressão de luto pela ausência
de Jesus. Fazemos uma declaração por não estarmos totalmente sa-
tisfeitos com o que Deus nos deu enquanto o próprio Deus não está
aqui conosco.
O jejum do Novo Testamento é uma expressão da dor de Davi.
Davi não pôde descansar completamente porque Deus não ti-
nha um lugar de descanso na terra, e nós não podemos descansar até
que Jesus volte e tenha Seu lugar de descanso. Os líderes em Antio-
quia estavam jejuando por desejo. Eles ansiavam que Jesus voltasse
e habitasse no meio de Seu povo na terra.
O desejo de Davi de ver a beleza de Deus produziu em seu cora-
ção uma dor pela ausência física de Deus, e Jesus predisse que Seu
povo também viveria de luto por sentir sua falta. Por que parecemos
tão contentes com a ausência de Jesus? Conheço um homem que
1 3 2 | Discipulado começa com a contemplação

foi para o seminário e depois se afastou da fé por causa da apatia


que encontrou em relação ao retorno de Jesus. Ele assumiu que, se
os teólogos não ansiavam pelo retorno de Jesus, então talvez Jesus
não fosse real.
O luto pela ausência de Jesus é um dos assuntos mais negligen-
ciados na igreja, mas é um resultado natural do discipulado bíbli-
co. Quando os apóstolos se reuniram para contemplar a Deus, eles
lamentaram, e devemos fazer o mesmo. Se não estamos de luto, é
um indicador de que não seguimos o padrão estabelecido para nós.
O discipulado deve produzir contemplação, jejum e luto. Se isso não
acontecer, o processo de discipulado está incompleto.
A igreja em Antioquia fez várias coisas. Havia ensino e minis-
tério pastoral. Eles eram uma comunidade multirracial que viviam
juntos como “um novo homem” e cuidavam uns dos outros e davam
aos pobres. Eles tinham todas as atividades que associamos a uma
comunidade eclesiástica vibrante, mas Lucas descreveu a essência
da igreja em Antioquia de uma maneira muito específica: Era uma
igreja onde os líderes corporativamente contemplavam a beleza do
Senhor e ansiavam por Seu retorno à habitar no meio dela. A igreja
em Antioquia fez todas as coisas que normalmente associamos a uma
família da igreja local, mas a contemplação corporativa era o DNA
central da igreja.
Lucas não nos contou como a igreja ordenava seus cultos e quais
modelos ela usava para contemplar o Senhor. Nem nos disse quan-
tas horas por semana a igreja se reunia com essa postura. Tudo isso
foi muito intencional da parte de Lucas. Ele teve o cuidado de não
nos dizer como a igreja contemplava a beleza de Deus porque o
valor é mais crítico do que a expressão. As igrejas podem adotar
Discipulado começa com a contemplação | 1 3 3

modelos diferentes, e algumas podem reunir mais do que outras,


mas esse não é o ponto principal.
O ponto principal é simples: nossa abordagem da igreja é baseada
nos valores de Antioquia – valores que vieram do tabernáculo de Davi?
Começamos com a contemplação corporativa como o fundamento
da igreja?
O tabernáculo de Davi era extravagante, e se a igreja do Novo
Testamento é construída sobre esse fundamento, então nosso com-
promisso de contemplar a beleza do Senhor também deve ser extra-
vagante. De fato, quão mais extravagante deve ser agora que temos
o dom do Espírito Santo e a revelação de Deus na pessoa de Jesus
e Seu sofrimento? A contemplação corporativa não é apenas um
programa ou um evento. Se seguirmos o exemplo de Davi, isso deve
afetar nossas agendas, agitar nossas emoções e até incluir contribui-
ções financeiras significativas.
Lucas conectou essa descrição da igreja em Antioquia à decisão
do Espírito Santo de enviar Paulo e Barnabé para que fizéssemos
uma conexão crítica: Paulo e Barnabé foram enviados para reprodu-
zir Antioquia. Eles foram lançados para estabelecer novos “templos”
em todos os lugares onde as comunidades pudessem se reunir para
contemplar a beleza de Deus juntas, tornar-se como Ele e lamentar
sua ausência.
Paulo e Barnabé foram enviados de um santuário de adoração para
plantar santuários de adoração.
Davi não era a escolha mais provável para construir um santuá-
rio de adoração. De fato, quando Samuel veio ungir um dos filhos
de Jessé para ser rei, Jessé reuniu todos os seus filhos, exceto Davi.
Davi era uma espécie de pária em sua própria família, e ninguém
1 3 4 | Discipulado começa com a contemplação

esperava que ele fosse o rei escolhido. Além disso, Davi era um ho-
mem extremamente falho, com pecados graves e alguns grandes
fracassos. Mas Deus amou Davi e foi capaz de usá-lo por causa de
seu desejo e sua dor. De maneira semelhante, Paulo é o apóstolo
mais conhecido do Novo Testamento e não foi a escolha óbvia para
trabalhar entre os gentios. Ele havia perseguido a igreja primitiva e
era um judeu devoto.
Como Davi, os gentios foram por muito tempo considerados
párias e, como Davi, os gentios vieram de todos os tipos de origens
e se envolveram em todos os tipos de pecados. No entanto, como
Davi, Deus quer trazer gentios para sua família, e Ele está procuran-
do por gentios que tenham o desejo e a dor de Davi.
CAPÍTULO 11

O FOGO ESTÁ DE VOLTA


Quando Deus formou um povo corporativo, Ele desceu em um
fogo no meio deles. Aquele fogo era uma expressão da presença de
Deus no meio do Seu povo. Quando Salomão dedicou o templo, o
fogo caiu novamente, indicando que o templo era o lugar da pre-
sença de Deus entre Seu povo. Tragicamente, Israel se desviou, e
quando Babilônia destruiu o templo, Ezequiel viu o fogo de Deus
deixar a cidade de Jerusalém.
Muitas décadas depois, exilados judeus retornaram a Jerusalém e
reconstruíram o templo como um ato de obediência. Eles estavam
certos em fazê-lo, mas o fogo nunca caiu no segundo templo. A falta
de fogo era um indicador de que o templo era temporário – não era
uma habitação permanente de Deus. Quando Jesus veio, Israel ain-
da estava esperando que o fogo – a manifestação visível da presença
de Deus – voltasse e habitasse no meio dela.
Então, no dia de Pentecostes, o fogo voltou de repente.
Quando o fogo caiu no dia de Pentecostes, foi uma declaração
1 3 6 | Discipulado começa com a contemplação

vívida e pública: O templo está de volta. Deus habita entre Seu povo
novamente. O Espírito foi derramado perto do templo, mas o fogo
caiu sobre um povo corporativo e não sobre um edifício. Deus agora
podia habitar plenamente entre Seu povo sem a separação que existia
no tabernáculo e no templo.
Quando o fogo caiu, as pessoas de repente começaram a falar o
evangelho em muitas línguas gentias que não conheciam. O templo
não era mais um edifício; agora era uma comunidade corporativa,
e os diferentes idiomas indicavam que estava se tornando viral nas
nações. (No entanto, a mensagem foi dada primeiro a Israel e falada
por mensageiros judeus, mostrando que os “ramos naturais” conti-
nuam sendo uma prioridade.)
O tabernáculo e o templo subsequente criaram um contexto
para que doze tribos fossem unificadas em torno da presença de
Deus. Este templo vivo é um contexto para que todas as tribos da
terra se unam em torno da presença de Deus, tornem-se uma ima-
gem de “um novo homem” e vivam como um povo sob um Rei.
Como as doze tribos de Israel, nossas “tribos” têm distinções, mas
somos unificados em um único povo através da presença de Deus
em Seu santuário de adoração.
O conceito de igreja do Novo Testamento foi construído em
torno da ideia de que o templo se tornou viral nas nações. O templo
não estava mais limitado a Jerusalém, e o povo de Jesus tem uma
nova comissão: Vá construir templos em todos os lugares entre os gentios.

TEMPLOS, NÃO SINAGOGAS


Quando Babilônia destruiu o templo e Israel foi para o exílio, Is-
rael formou sinagogas para não perder sua identidade. A sinagoga
Discipulado começa com a contemplação | 1 3 7

era um lugar de oração, de ensino das Escrituras e de comunidade.


Era uma estrutura projetada para preservar um povo e ensinar as
gerações subsequentes como seguir o Deus de Israel. O modelo da
sinagoga serviu a um propósito importante, mas a proeminência da
sinagoga era um lembrete visual de que o templo havia sido perdi-
do. Era um sinal de julgamento.
Quando o fogo (presença) retornou no Pentecostes, a igreja pri-
mitiva entendeu que a igreja era um templo, não uma sinagoga. Com
o tempo, a igreja tornou-se mais parecida com a sinagoga do que
com o templo. A igreja agora é geralmente considerada um lugar
de ensino, onde as pessoas se reúnem para aprender sobre Deus e
funcionar como uma comunidade. Em outras palavras, uma sina-
goga. Tudo isso é valioso, mas também é trágico. A igreja deve ser
conhecida como o lugar onde as pessoas se reúnem para contemplar
a glória de Deus em seu meio e ministrar a Ele. Em outras palavras,
um templo. O modelo do templo inclui funções de ensino e da co-
munidade, mas em um templo, as pessoas não são organizadas em
torno de funções de ensino e da comunidade. Eles estão reunidos
em torno da glória de Deus que habita no meio deles.
Na realidade, a igreja é um templo, um lugar onde uma comunida-
de se reúne para contemplar a beleza de Deus juntos. Esse é o ministério
central da igreja, e tudo flui disso.
Por causa da habitação do Espírito, devemos funcionar como
um templo corporativo onde quer que a igreja exista. Em Antio-
quia, Paulo e Barnabé faziam parte de um povo que ministrava ao
Senhor em um “templo” como sacerdotes em uma cidade gentia.
Este era o entendimento neotestamentário da igreja. Por exemplo,
Paulo lembrou aos coríntios que eles eram um templo vivo em sua
1 3 8 | Discipulado começa com a contemplação

cidade e os advertiu a tratar a igreja como a morada de Deus:

Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espí-


rito de Deus habita em vocês? Se alguém destruir o san-
tuário de Deus, Deus o destruirá. Porque o santuário de
Deus, que são vocês, é sagrado.
1 Coríntios 3:16-17

O “você” nesta passagem é plural e não singular. O povo cor-


porativo de Deus reunido é o templo ao qual Paulo se refere aqui
porque o fogo da presença de Deus caiu no Pentecostes sobre todos
os reunidos para formar um povo corporativo. Não recaiu sobre
indivíduos isolados.
O templo do Novo Testamento é um povo corporativo reunido com
o Espírito de Deus habitando em seu meio.
Como vimos, Deus primeiro reuniu um povo corporativo em
torno de Sua presença no Monte Sinai. Naquela reunião, Deus de-
clarou Sua intenção para Seu povo:

Habitarei no meio do povo de Israel e serei o seu Deus.

Êxodo 29:45

E andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o


meu povo.
Levítico 26:12
Discipulado começa com a contemplação | 1 3 9

Em 2 Coríntios, Paulo aplicou essas declarações aos “templos”


do Novo Testamento, mostrando que as igrejas nas nações são tem-
plos ligados ao que começou no Sinai:

Pois nós somos o templo do Deus vivo; como Deus disse:


“Farei a minha morada no meio deles e andarei no meio
deles, e serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.

2 Coríntios 6:16

A igreja do Novo Testamento não substitui o que aconteceu no Si-


nai; é uma expansão do que começou no Monte Sinai.
Deus quer habitar em nosso meio e ser nosso Deus, e Ele quer
que nos tornemos Seu povo. Estamos acostumados a desconsiderar
quase tudo no Antigo Testamento, mas a igreja deve olhar para o
Sinai para descobrir o desígnio de Deus para Seu povo. Cada comu-
nidade da igreja deve ser uma expressão do que começou no Sinai. Toda
igreja deve ser um contexto onde as pessoas possam contemplar a
glória de Deus, aprender Seus caminhos e ser transformadas à Sua
imagem. Por meio do dom do Espírito, todos podemos ser transfor-
mados e nos tornar um sacerdócio corporativo.
A adoração de Israel nem sempre foi tão dramática quanto o
que aconteceu no Monte Sinai, mas a presença de Deus ainda habi-
tou entre os israelitas nas gerações subsequentes. Da mesma forma,
cada reunião corporativa não será tão surpreendente quanto o dia de
Pentecostes, mas o fogo de Deus ainda habita no meio de Seu povo,
mesmo quando não parece espetacular.
Todas as nossas atividades – incluindo ensino, pastoreio, reuniões
1 4 0 | Discipulado começa com a contemplação

em casa, cuidar dos pobres e servir uns aos outros – devem fluir de um
contexto onde corporativamente encontramos a glória do Senhor juntos.
Ainda percebemos que somos um templo, ou nos desviamos
para um modelo de sinagoga? A sinagoga tornou-se uma forma vá-
lida de manter a identidade quando o templo foi perdido. Era bom,
mas também era um sinal de julgamento, um indicador de que algo
havia se perdido.
A percepção de que a igreja é um templo nos leva a reorientar
o propósito de nossas reuniões. A igreja não existe apenas para o
povo de Deus; a igreja existe para Deus. Nós nos reunimos para
ministrar a Ele, e então para ministrar uns aos outros. As igrejas são
rápidas em considerar como as pessoas desfrutam de seus cultos e
atividades, mas com que frequência os líderes da igreja se reúnem e
perguntam: Deus gosta de nossas reuniões? Ele gostou da adoração? Ele
se deleitou na Palavra?
Devemos considerar maneiras de tornar a igreja acessível às pes-
soas, mas essa é uma consideração importante e secundária. A igreja
é um templo e existe principalmente para Deus e secundariamente
para nós.
O tabernáculo foi construído para que Deus pudesse habitar en-
tre Seu povo, e a igreja é a expressão atual do mesmo desejo. Deus
diz a mesma coisa para cada igreja que Ele disse aos israelitas:

E que eles me façam um santuário, para que eu habite no


meio deles.
Êxodo 25:8
Discipulado começa com a contemplação | 1 4 1

ENVIANDO TRABALHADORES QUE CONTEMPLAM


Como vimos, a Bíblia descreve o Jardim do Éden como uma espécie
de templo. Adão e Eva eram sacerdotes no jardim e tinham acesso
à presença de Deus. Eles tiveram acesso para contemplá-Lo e se
tornar como Ele. Eles eram Sua imagem e Sua possessão premiada.
Deus lhes deu uma comissão muito específica: Expandir o jardim.
Não era suficiente cultivar a morada de Deus no jardim.
Deus queria que os primeiros humanos saíssem do jardim e cul-
tivassem o resto da terra para que se tornasse um templo como o
jardim. Adão e Eva foram os primeiros líderes de adoração e os pri-
meiros missionários. Antes da queda, Adão e Eva receberam uma
designação missionária, então missões são uma parte central da de-
signação humana nessa era.
Desde o início, Deus queria que o templo se tornasse viral e enchesse
a terra. Contemplar a beleza de Deus sempre foi a base e o impulso da
missão.
O jardim nos ensina que a adoração nunca teve a intenção de
ficar estagnada. A adoração não é algo a ser mantido; ela deve ser
expandida em novas músicas, novas expressões e novos lugares. Essa
estrutura deve influenciar nossa visão de adoração e a tarefa de li-
derar a adoração. Ainda somos ordenados a “expandir o templo do
jardim” vendo novos “templos” formados e comunidades existentes
fortalecidas até a maturidade.
Deus então formou Israel para ser um missionário corporativo.
Ele queria que Israel O contemplasse e vivesse de acordo para que
as nações descobrissem quem Ele era e viessem adorar e, finalmente,
o santuário de adoração fosse expandido para cobrir toda a terra. O
1 4 2 | Discipulado começa com a contemplação

tabernáculo de Davi foi o próximo passo da tarefa missionária de


adoração. Davi colocou a arca em sua tenda aberta e permitiu que os
gentios se aproximassem. Ele fez do canto uma expressão central da
adoração no templo, e seus cantores e músicos compuseram canções
que continuam a declarar a beleza de Deus.
Adão e Eva foram comissionados como missionários em um
contexto de templo, e Israel foi chamado para manter um santuário
de adoração para se tornar um povo missionário. O plano de Deus
aumenta e se expande ao longo da história, então se Ele começou
missões a partir de um santuário de adoração, quanto mais a igreja
do Novo Testamento deveria expressar esse mesmo padrão?
Ao longo de grande parte do Antigo Testamento, a missão de
Deus se desenrolou quando as pessoas foram ao templo em Jeru-
salém, mas no Novo Testamento, o modelo mudou radicalmente.
Agora o templo é levado às nações para que todas as pessoas possam
encontrar a presença de Deus em seu meio através dos “templos”
(igrejas). Isso reorienta radicalmente a maneira como pensamos a
adoração. A adoração não é simplesmente um atrativo, significando
uma ferramenta para reunir pessoas; é também missional, ou seja,
deve ser levado ao povo. Santuários de adoração devem existir entre
as nações.

Missões não é o objetivo final da Igreja. A adoração é.


As missões existem porque a adoração não. A adoração
é definitiva, não missões, porque Deus é supremo, não
o homem. Quando esta era terminar, e os incontáveis ​​
milhões de redimidos caírem sobre seus rostos diante
do trono de Deus, as missões não existirão mais. É uma
Discipulado começa com a contemplação | 1 4 3

necessidade temporária. Mas a adoração permanece para


sempre.

As missões existem para produzir adoração porque o santuário de


adoração deve ser expandido. Isso deve influenciar nossa missiologia,
incluindo a maneira como fazemos missões e o tipo de pessoas que
enviamos. Os líderes de louvor não são simplesmente indivíduos
talentosos que preparam as pessoas para ouvir um sermão. Eles
devem ser missionários que fazem parte da expansão do santuário de
adoração em todos os lugares.
Atos 13 demonstra que a contemplação corporativa é uma platafor-
ma de lançamento para missões porque a contemplação corporativa é a
base do discipulado e o discipulado é a tarefa central das missões.
Se queremos mensageiros apostólicos como Paulo e Barnabé,
devemos enviar homens e mulheres que foram formados pela con-
templação da beleza de Jesus. Não devemos enviar pessoas que não
sabem contemplá-Lo porque não poderão discipular as pessoas de
acordo com o padrão bíblico.
Uma das razões pelas quais Paulo foi tão eficaz é que ele foi mol-
dado pela contemplação de Jesus e o evangelho foi revelado a ele.
Muitos de nosso povo aprenderam as informações do evangelho,
mas quantos de nossos obreiros podem dizer que o evangelho lhes
foi revelado pelo Espírito ao contemplarem Jesus?
A contemplação bíblica é necessária para as missões do Novo Testa-
mento.
1 4 4 | Discipulado começa com a contemplação

COMUNIDADES QUE PREPARAM TRABALHADORES


O missionário mais proeminente no Novo Testamento foi formado
e enviado de uma igreja local em uma cidade gentia, mostrando
que a igreja local é o contexto bíblico primário para discipulado,
adoração, formação e envio de missões. Paulo foi moldado pesso-
almente pelo Senhor, mas também foi moldado pela contemplação
corporativa do Senhor com uma comunidade. Acostumamo-nos a
procurar associações, comitês e outras estruturas para formar e en-
viar missionários. Todas essas coisas podem ser úteis, mas o modelo
do Novo Testamento é centrado na igreja.
A cultura de uma igreja local é determinada em grande parte
pelos cânticos que eles cantam, e os cânticos cantados em uma con-
gregação são uma expressão da vida devocional do líder de louvor e
dos outros líderes da congregação. Se os líderes viverem missiona-
riamente, eles produzirão adoração que carrega esse mesmo espírito.
A cultura de adoração em sua igreja conduz a um momento de Atos
13?
Além disso, uma cultura de adoração coloca nosso foco na pes-
soa de Deus e nos leva a criar espaço para Sua liderança. A adoração
A orientação em Antioquia criou espaço para o Espírito Santo li-
derar ativamente, e o Espírito Santo anseia por liderar dessa manei-
ra. Não veremos mensageiros como Paulo e Barnabé produzirem o
tipo de resultado que produziram, a menos que o deixemos liderar.
Uma pequena reunião no padrão do tabernáculo de Davi mudou a
história do mundo e colocou em movimento um movimento missionário
para os gentios. Deus fará o mesmo em nossos dias se seguirmos o padrão.
Discipulado começa com a contemplação | 1 4 5

MENSAGEIROS ORIENTADOS A DEUS


Paulo tinha uma designação muito específica para os gentios, mas a
missão para os gentios não foi lançada a partir da fixação de Paulo
em sua designação. (Na verdade, houve um período de quinze anos
entre a conversão de Paulo e seu envio de Antioquia.) A missão de
Paulo foi lançada a partir de uma comunidade de adoração focada
na beleza de Deus. Além disso, Paulo não foi lançado em sua desig-
nação por tentar cumprir sua designação. Ele foi impelido ao Seu
destino ao contemplar a beleza do Senhor e criar espaço para que o
Espírito Santo conduzisse sua vida.
É fácil se desviar concentrando-se em “seu chamado”.
Devemos ser fiéis para obedecer às instruções que Deus nos dá,
mas a tarefa missionária não pode estar centrada em nossos cha-
mados e nossos sonhos. Se ficarmos fixados em “nosso chamado”
e “nosso destino”, nos tornaremos um obstáculo aos propósitos de
Deus. Se nos envolvermos em missões principalmente para cumprir
nosso senso de “chamado”, plantaremos igrejas que refletem esse
desejo e estão mais centradas em nosso próprio desejo de realiza-
ção do que no desejo de Deus. Tragicamente, mesmo tarefas nobres
como missões podem acabar centradas no homem. No entanto, a
igreja existe para Deus, não para o homem, e Deus está procurando
por obreiros que tenham contemplado Sua glória mais do que seus
próprios destinos e plantem igrejas com o mesmo DNA.
O ministério apostólico deve vir de uma igreja orientada para Deus,
não orientada para o homem, porque os apóstolos devem ser enviados
para plantar igrejas (templos) orientadas para Deus, não comunidades
formadas para cumprir destinos pessoais.
CAPÍTULO 12

GENTIOS QUE CONTEMPLAM


A BELEZA DE DEUS
Nós já aprendemos várias coisas:

• Deus colocou Adão e Eva em um jardim para contemplá-Lo,


e Ele os comissionou a expandir o jardim para as nações.
• Quando Deus formou pela primeira vez um povo corpora-
tivo no Monte Sinai, Ele reuniu um povo ao redor de Sua
presença. Ele os comissionou para serem um povo sacerdotal
que O representasse para as nações.
• O tabernáculo de Davi foi uma previsão profética significa-
tiva do que viria. A presença de Deus habitou em Jerusalém
em um santuário de adoração como Rei. Davi instituiu o
canto extravagante e mostrou o chamado de Israel para ser
uma nação sacerdotal.
• Os apóstolos entendiam as igrejas do Novo Testamento
1 4 8 | Discipulado começa com a contemplação

como “templos” que expressavam o padrão do tabernáculo


de Davi por todas as nações da terra. O templo se tornou
viral. As comunidades da igreja são templos, lugares de con-
templação corporativa onde o povo de Deus contempla a
beleza de Deus e expressa sua dor para que Ele volte e habite
na terra.
• A igreja não é uma substituição do que veio antes; é uma ex-
pansão radical do desejo de Deus de habitar entre Seu povo.
• Deus habita entre Seu povo para que eles possam contem-
plar Sua beleza, serem transformados à Sua imagem e repre-
sentá-Lo ao mundo ao seu redor. Portanto, os modelos de
igreja devem facilitar que a comunidade contemple a beleza
de Deus em conjunto.
• A contemplação corporativa é a base do discipulado. O dis-
cipulado deve começar com a contemplação.
• A contemplação corporativa é a plataforma de lançamento
para missões porque as missões existem para formar novas
comunidades que serão discipuladas pela contemplação. Es-
sas comunidades só podem ser estabelecidas por trabalhado-
res que foram moldados pela contemplação.
Vimos a descrição de Lucas da igreja em Antioquia, o momento
em que Paulo e Barnabé foram enviados e a reunião dos apóstolos
em Jerusalém. Agora precisamos examinar o resumo de sua missio-
logia de Paulo em sua carta aos Romanos.

UM POVO QUE CANTA NAS NAÇÕES


Em Romanos 15, Paulo descreveu sua missão e escreveu que Jesus
veio para que os gentios cantassem:
Discipulado começa com a contemplação | 1 4 9

Pois eu vos digo que Cristo se tornou servo dos circunci-


dados para mostrar a veracidade de Deus, a fim de confir-
mar as promessas dadas aos patriarcas, e para que os gen-
tios glorifiquem a Deus por sua misericórdia. Como está
escrito: “Por isso te louvarei entre os gentios e cantarei o
teu nome”. E novamente é dito: “Alegrai-vos, ó gentios,
com o seu povo”. E novamente: “Louvai ao Senhor, todos
os gentios, e que todos os povos o exaltem”. E novamente
Isaías diz: “A raiz de Jessé virá, aquele que se levantar para
governar os gentios; nele os gentios esperarão”. (15:8-12)

Quantos de nós resumiríamos a missão de Jesus dessa maneira?


Se Jesus morreu para os gentios cantarem e Paulo deu sua vida para
os gentios cantarem, isso significa que cantar (adorar) é um objetivo
missionário.
Paulo era um mestre do Antigo Testamento e citou várias passa-
gens do Antigo Testamento para explicar o propósito de Deus para
os gentios. No versículo 9, ele citou um trecho de um cântico de
Davi registrado em 2 Samuel 22:50. Então, no versículo 10, ele
citou um cântico de Moisés de Deuteronômio 32:43. Ele seguiu
com uma citação do Salmo 117 no versículo 11 e depois Isaías 11
no versículo 12.
Paulo frequentemente fazia referência a passagens do Antigo
Testamento em suas cartas. Ele assumiu que seus leitores entendiam
suas referências porque o Antigo Testamento era a única Bíblia es-
crita que a igreja primitiva tinha. Ele também assumiu que seus lei-
tores usariam o contexto dessas citações para interpretar sua escrita.
As citações de Paulo ajudam os leitores a entender seu fluxo de
1 5 0 | Discipulado começa com a contemplação

pensamento:

• Paulo pegou as Escrituras que originalmente se aplicavam a


Israel e as aplicou aos gentios, mostrando que Jesus veio para
trazer os gentios ao chamado sacerdotal de Israel.
• Jesus trouxe os gentios para Israel para que eles cantassem.
Paulo destacou o canto como uma expressão visível do cha-
mado sacerdotal de Israel.
• Paulo citou uma música de Davi primeiro porque Davi fez
do canto uma expressão proeminente do ministério sacer-
dotal e a igreja é uma expansão do ministério de adoração
de Davi.
• Paulo citou um cântico de Moisés para mostrar que as igre-
jas gentias são parte do plano que Deus colocou em ação
quando formou um povo no Sinai.
• Paulo citou o Salmo 117, que é um salmo que convida as
nações a se unirem a Israel e cantarem sobre a fidelidade da
aliança de Deus. Este salmo resumia a missão de Paulo de
convidar os gentios a se unirem a Israel e cantar.
• Finalmente, Paulo citou Isaías como um lembrete de que
Deus sempre pretendia trazer os gentios para o chamado
sacerdotal de Israel.

Paulo entendeu que, por meio de Jesus, os gentios estavam sendo


incluídos no chamado sacerdotal de Israel para cantar.
O canto extravagante de Israel foi uma resposta à presença de
Deus habitando em seu meio, então as conexões de Paulo com
as atribuições de Israel assumem que a igreja é uma expansão do
Discipulado começa com a contemplação | 1 5 1

chamado original de Israel modelado nos mesmos fundamentos. A


passagem implica que, por meio de Jesus, os gentios podem agora
contemplar a beleza de Deus como Israel fez e responder com cân-
ticos de louvor.
Paulo passou a descrever seu ministério em um contexto sacer-
dotal, que é o resultado lógico dos versículos 8-12:

Mas em alguns pontos vos escrevi com muita ousadia,


como lembrete, por causa da graça que Deus me deu para
ser ministro de Cristo Jesus entre os gentios no serviço
sacerdotal do evangelho de Deus, para que a oferta do Os
gentios podem ser aceitáveis, santificados pelo Espírito
Santo.
Romanos 15:15-16

Paulo não nasceu em uma linha sacerdotal, mas através de Jesus,


ele entrou em um chamado sacerdotal e se tornou um homem sacer-
dotal. A obra de Paulo entre os gentios foi um “serviço sacerdotal”
para trazer os gentios ao chamado sacerdotal de Israel e tornar os
gentios sacerdotes “aceitáveis”. Davi fez do canto extravagante uma
expressão central do sacerdócio, então Paulo descreveu seu minis-
tério entre os gentios como um ministério sacerdotal que leva os
gentios a contemplar e cantar.

LEVANDO O NOME DO SENHOR


A expressão sacerdotal de Paulo era muito diferente da do sumo
sacerdote de Israel, mas estava diretamente ligada a esse fundamento
porque Paulo foi comissionado para levar o nome do Senhor:
1 5 2 | Discipulado começa com a contemplação

Mas o Senhor lhe disse: “Vá, pois ele é um instrumento


meu escolhido para levar meu nome diante dos gentios,
reis e filhos de Israel”.
Atos 9:15

Como vimos, a designação de “carregar meu nome” ou “levar


meu nome” (NASB) foi a designação dada ao sumo sacerdote. O
sumo sacerdote “levaria o nome de Deus” diante de Israel e, da mes-
ma forma, Paulo estava comprometido a “levar o nome de Deus”
diante dos gentios. Essa frase resumiu a designação de Paulo. Ele foi
transformado à imagem de Deus pelo Espírito para ser um repre-
sentante de Deus entre as nações. Quando os gentios encontraram
Paulo, eles encontraram a imagem do Deus de Israel. Isso lhe deu
a coragem de chamar as pessoas para imitá-lo enquanto seguia a
Cristo. Paulo foi enviado como sacerdote para representar Deus aos
gentios e chamar os gentios para o sacerdócio. Com base na história
de Israel, Paulo destacou o canto como o ministério sacerdotal mais
visível desses novos sacerdotes.
O ministério sacerdotal de Paulo parecia muito diferente do
sumo sacerdote, mas fazia parte da mesma história que se desen-
rolava. Em Atos 9, Paulo foi chamado para ser sacerdote. Em Atos
13, Paulo estava vivendo como sacerdote na igreja em Antioquia, e
em Romanos 15, Paulo resumiu seu ministério como um ministério
sacerdotal chamando os gentios ao sacerdócio.
Vivemos como Paulo? Vivemos como sacerdotes nas nações,
convidando as pessoas com quem vivemos para o sacerdócio? E per-
cebemos que o canto deve ser uma expressão proeminente de nosso
chamado sacerdotal?
Discipulado começa com a contemplação | 1 5 3

Missões é muitas vezes reduzida a evangelismo, mas Paulo não


descreveu sua missão dessa maneira. O evangelismo é um primeiro
passo importante em missões, mas é apenas uma tarefa em missões.
Paulo estava trabalhando para que os gentios se tornassem sacer-
dotes e formassem templos vivos para que pudessem contemplar
a beleza de Deus juntos e então cantar sobre essa beleza. À medida
que esses gentios se reunissem como um templo vivo, eles seriam
transformados à imagem de Deus e se tornariam uma expansão do
chamado de Israel por todas as nações. Este é o objetivo das missões.
O missionário mais proeminente do Novo Testamento se via
como um sacerdote ampliando o sacerdócio ao incitar novos tem-
plos nas nações. Esta é a tarefa das missões e o chamado de um
missionário. Sua missiologia é projetada para acender templos e
produzir um povo cantante nas nações?
A compreensão de Paulo do desejo de Deus de sacerdotes can-
tores em todas as nações produziu uma grande ambição no coração
de Paulo:

E assim eu faço minha ambição de pregar o evangelho,


não onde Cristo já foi nomeado, para que eu não edifique
sobre o fundamento de outra pessoa, mas como está escri-
to: “Aqueles que nunca ouviram falar dele verão, e aqueles
que nunca ouvi vai entender.”
Romanos 15:20-21

Compartilhamos a ambição de Paulo?


1 5 4 | Discipulado começa com a contemplação

A MISSIOLOGIA SACERDOTAL DE PAULO


A missiologia de Paulo era direta: Ele estava trazendo os gentios para
a tarefa dada a Israel para contemplar corporativamente a beleza de
Deus e cantar.
Israel foi formado em torno do Monte Sinai como uma nação
sacerdotal. Para facilitar o chamado sacerdotal da nação, Deus lhes
deu sacerdotes com o sumo sacerdote sendo o representante proe-
minente do chamado de Israel. De maneira semelhante, Deus co-
missionou Paulo como um tipo de sumo sacerdote para servir ao
chamado sacerdotal dos gentios.
Quatrocentos anos depois do Sinai, Davi separou o ministério
de adoração dos sacerdotes do ministério de sacrifício e acrescentou
cantores e músicos como um vislumbre profético do que viria. O
sistema de cantores e músicos de Davi tornou-se uma parte central
da adoração de Israel após o tempo de Davi. Por exemplo, Neemias
menciona cantores e músicos dezesseis vezes. O modo de vida de
Israel (discipulado) foi moldado por uma cultura de contemplar a
presença de Deus e cantar, e isso agora se tornou viral.
A vida de Davi foi moldada por seu desejo de beleza e seu desejo
de que Deus habitasse na terra. Paulo estava formando comunidades
entre os gentios que viveriam da mesma maneira. Paul deu sua vida
para que nós vivêssemos com a dor de David, e é hora de terminar a
tarefa de Paul. É hora de um remanescente de todos os povos gentios
cantar ao Deus de Israel.

VIVENDO COMO SACERDOTES


O antigo Israel é o fundamento da igreja, e os padrões do antigo
Israel devem ter uma expressão maior à medida que a história se de-
Discipulado começa com a contemplação | 1 5 5

senrola. Infelizmente, a maioria das pessoas se esforça mais em suas


designações temporárias nessa era do que em seu chamado eterno
como sacerdotes. Se você seguir seu chamado eterno, cumprirá sua
designação nessa era, mas se você se fixar em sua designação nessa
era em detrimento de seu chamado eterno, sofrerá perdas.
Uma das maiores ameaças que a igreja enfrenta são os crentes que
priorizam sua designação atual sobre sua ocupação eterna. Isso afeta os
crentes em muitas vocações, incluindo pastoreio, missões, negócios,
educação e até pais que ficam em casa. A fixação com atribuições
temporárias nos leva a orientar nossas vidas em torno de tarefas que
podem ser nobres, mas não pretendem dominar nossas vidas.
Quando damos atribuições temporárias, por mais importantes
que sejam, precedência sobre nosso chamado eterno, acabamos
negligenciando coisas fundamentais como a glória de Deus, a co-
munhão com Ele e a transformação à Sua imagem. No processo,
faremos das pessoas, e até mesmo de Deus, nossos “servos” à me-
dida que perseguimos nosso “chamado” em vez de viver o primeiro
e o segundo mandamento ao nos engajarmos fielmente em nossas
atuais designações. Quando isso acontece, até mesmo os ministros
vocacionais podem ironicamente sacrificar a comunhão com Deus
e ferir profundamente outras pessoas em busca de uma tarefa “im-
portante”.
Na maioria dos casos, estamos mais distraídos com nossas designa-
ções temporárias nessa era do que focados em nosso chamado eterno.
Para evitar esse erro, devemos priorizar nossa designação eterna,
que é o sacerdócio. O padrão do antigo Israel nos mostra que o
sacerdócio envolve três atribuições principais:
1 5 6 | Discipulado começa com a contemplação

1. Acesso à glória (beleza) de Deus.


2. Falar (ensinar) sobre a glória de Deus.
3. Criar um contexto para que outros experimentem a glória.

Essas três designações resumem nosso chamado eterno, e deve-


mos viver à luz desse chamado.

ACESSO À GLÓRIA DE DEUS


Israel era uma nação sacerdotal porque tinha acesso à glória de
Deus habitando em seu meio. Os sacerdotes vocacionais em Israel
tinham acesso direto à glória de Deus no tabernáculo, e esse acesso
os tornava sacerdotes. Eles orientaram toda a sua vida em torno do
privilégio de acessar a presença de Deus. Eles tinham que viver de
maneira sacerdotal para desfrutar de seu acesso. Nosso acesso à bele-
za de Deus é a base do nosso discipulado porque alimenta o fascínio
e a adoração.
Um sacerdote é definido por seu acesso à presença de Deus.
Somos sacerdotes porque temos acesso à glória e beleza de Deus
por meio de Jesus pelo ministério do Espírito Santo. Como os sa-
cerdotes de Israel, devemos viver com cuidado para desfrutar plena-
mente do acesso que nos foi concedido e, como sacerdotes, devemos
orientar nosso ritmo diário em torno do acesso à presença.

FALE SOBRE A GLÓRIA DE DEUS


No antigo Israel, os sacerdotes faziam parte da tribo de Levi, e os
levitas receberam a tarefa de ensinar as Escrituras às pessoas para que
todo o Israel estivesse familiarizado com o conhecimento de Deus.
O ministério sacerdotal estava ligado a ensinar ao povo o conheci-
Discipulado começa com a contemplação | 1 5 7

mento de Deus. Da mesma forma, nos foi dado acesso à glória de


Deus na pessoa de Jesus, e devemos falar sobre Ele para que outros
possam descobrir o conhecimento de Deus. De fato, descobriremos
novos aspectos da beleza de Deus e falaremos sobre o que aprende-
mos para sempre.
Existem diferentes graus de dons de ensino, mas cada um de nós
é chamado a falar sobre a glória de Deus. Alguns vão ensinar publi-
camente. A maioria liderará pequenos grupos, falará com amigos e
discipulará suas famílias. O contexto varia, mas todos somos cha-
mados a falar sobre Deus como parte de nosso chamado sacerdotal.

CRIE UM CONTEXTO PARA QUE OUTROS


EXPERIMENTEM A GLÓRIA
Os sacerdotes vocacionais de Israel eram responsáveis pela
​​ ope-
ração diária do tabernáculo e do sistema de sacrifício. Esse trabalho
diário permitiu que o resto da nação se aproximasse da presença
de Deus. Da mesma forma, a igreja existe como um lugar onde as
pessoas podem experimentar a glória de Deus, e a igreja local é um
“templo” onde as pessoas podem experimentar a presença de Deus
entre Seu povo. Fomos comissionados para servir aos outros man-
tendo igrejas locais onde nossos vizinhos possam vir e contemplar
Deus. O antigo Israel tinha um único tabernáculo, mas fomos co-
missionados para construir igrejas em todos os lugares.
Quando você considera esses três aspectos do sacerdócio, fica
óbvio que os humanos são naturalmente projetados para serem
sacerdotes. Funcionamos de maneira sacerdotal por natureza. Por
exemplo:
1 5 8 | Discipulado começa com a contemplação

1. Desejamos contemplar coisas majestosas e belas. Encontra-


mos profundo deleite em contemplar a beleza e buscar a
majestade.
2. Sempre que encontramos algo bonito, automaticamente o
compartilhamos com outras pessoas. Você não precisa pedir
para as pessoas falarem sobre o que elas acham fascinante.
As pessoas respondem imediatamente à beleza falando com
os outros sobre isso. A resposta é instintiva.
3. Quando descobrimos algo que consideramos belo,
imediatamente convidamos as pessoas a apreciá-lo conosco.
Nós naturalmente criamos um contexto para que os outros
experimentem o que nós experimentamos.

Essa é a natureza humana, e vemos isso todos os dias. Para usar


um exemplo, os fãs de esportes desejam ver um atleta talentoso jo-
gar seu jogo favorito. Eles vão assistir por horas. Quando o atleta
pontua, ele imediatamente responde falando sobre isso. Se eles as-
sistem ao jogo com outros, eles falam com eles. Dias depois, eles
vão até falar com estranhos sobre isso. Finalmente, eles convidarão
seus amigos para irem ao jogo com eles para contemplar a beleza
do jogo.
Uma pessoa apaixonada pelo esporte não percebe isso, mas está
expressando seu chamado sacerdotal para se fascinar, falar e criar
um contexto para os outros se fascinarem. Esse comportamento é
humano e é sacerdotal. É parte de nossa natureza e é a maneira como
a igreja foi projetada para funcionar e crescer.
CAPÍTULO 13

UM POVO QUE CANTA


NO FIM DOS TEMPOS
Quantos de nós, como Paulo, diríamos que Jesus veio para que as
nações cantassem?
Paulo sabia que Deus usou o antigo templo e o tabernáculo de
Davi para colocar em movimento algo que teria uma expressão mui-
to maior antes do fim dos tempos. Essa compreensão dos propósitos
de Deus fez com que Paulo gastasse sua vida e suas forças para que
os gentios começassem a cantar. Os profetas predisseram repetida-
mente que haverá cânticos extravagantes nas nações quando Jesus
retornar. Eles não apenas previram esse canto, mas também nos ins-
truíram a cantar para desempenhar um papel no cumprimento de
suas profecias.
Deus vai trazer a igreja à maturidade. A igreja do fim dos tempos
será impressionante e espetacular, andando em santidade e revestida
de boas obras. Não podemos antecipar totalmente a glória da igreja
de Deus no retorno de Jesus. Surpreendentemente, somos infor-
mados muito pouco sobre a pregação da igreja do fim dos tempos
1 6 0 | Discipulado começa com a contemplação

- embora seja poderosa - indicando que as descrições da Bíblia do


canto da igreja do fim dos tempos são muito intencionais.
O fato de que Deus repetidamente descreveu o canto de Seu
povo e nos ordena a cantar nos diz bastante sobre a natureza da
igreja do fim dos tempos:

• As canções do fim é uma resposta à beleza: os cânticos do fim


dos tempos na Bíblia são uma resposta apaixonada à beleza,
majestade e glória de Deus. Essas canções indicam que a
igreja do fim dos tempos estará focada em contemplar a
beleza de Deus.
• As canções do fim enfoca a pessoa de Deus: A igreja do tempo
do fim será estudante da pessoa de Deus. Suas canções
implicam que seu ensino, estudo e foco giram em torno do
conhecimento de Deus.
• As canções do fim são emocionais: a igreja do fim dos tempos
amará a Deus profundamente. As canções do fim dos tempos
serão apaixonadas e expressivas, mostrando profundo desejo
por Deus e emoções profundas em relação a Ele.
• As canções do fim são marcadas por alegria e louvor: A
igreja do fim dos tempos anseia pela volta de Jesus, e cada
indicação de que Seu retorno está se aproximando fará com
que irrompam em celebração. Essas músicas serão cantadas
na hora mais difícil da história, mostrando que a igreja do
fim dos tempos anseia mais pelo retorno de Jesus do que
por seu próprio conforto. O problema do fim dos tempos
não desencorajará a igreja do fim dos tempos; inflamará
suas afeições por Jesus e Seu retorno. Além disso, a igreja
Discipulado começa com a contemplação | 1 6 1

do fim dos tempos estará em profundo acordo com Deus


porque ela responderá a todos os Seus atos, até mesmo Seus
julgamentos, com cânticos de celebração.
• As canções do fim são corporativas: os profetas não
descreveram algumas pessoas talentosas, ungidas e fiéis. Eles
repetidamente descrevem um povo sem nome e sem rosto
que é considerável em tamanho e canta a uma só voz. O
Senhor vai trazer um povo corporativo à maturidade.

Paulo conhecia muito bem essas previsões. Ele leu os profetas e


entendeu que a adoração era um objetivo missionário, então traba-
lhou incansavelmente entre os gentios para ver as profecias se cum-
prirem. Ele sabia que as profecias são mais do que previsões; são
também convites. Somente Deus pode cumprir a profecia, mas Ele
nos diz o que Ele vai fazer e o que Ele quer para que possamos fazer
parceria com Ele para ver isso acontecer.
Por exemplo, a Bíblia nos diz que Deus quer um povo de todos
os povos e prediz que Ele terá um povo de todos os povos. Como
resultado, a igreja se concentrou em levar o evangelho onde as pes-
soas ainda não o ouviram, para que essas profecias possam ser cum-
pridas. Somente Deus pode realmente cumpri-los, mas entendemos
que a igreja desempenha um papel respondendo a essas profecias.
A profecia deve influenciar a missiologia.
Devemos aprender a ler todas as profecias dessa maneira e, ao
fazê-lo, descobriremos que muitas profecias bíblicas contêm co-
mandos específicos para desempenhar um papel no cumprimento
da profecia. Obviamente, não podemos cumprir essas profecias por
meio de nossos próprios esforços, mas desempenhamos um papel
1 6 2 | Discipulado começa com a contemplação

significativo no plano de Deus e devemos levar isso a sério.

CANTANDO ALEGREMENTE SOBRE O REI VINDOURO


A Bíblia repetidamente instrui todos os grupos de pessoas a cantar
alegremente sobre Jesus vindo para julgar e libertar:

Oh, cante ao Senhor um novo cântico; cantem ao Senhor,


toda a terra! Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome; falar
de sua salvação dia a dia. Declare sua glória entre as na-
ções, suas obras maravilhosas entre todos os povos! Por-
que grande é o Senhor, e mui digno de louvor; ele deve
ser temido acima de todos os deuses. Pois todos os deuses
dos povos são ídolos inúteis, mas o Senhor fez os céus.
Esplendor e majestade estão diante dele; força e beleza
estão em seu santuário. Atribuí ao SENHOR, ó famílias
dos povos, atribuí ao SENHOR glória e força!
Salmo 96:1-7

Diga entre as nações: “O Senhor reina! Sim, o mundo


está estabelecido; nunca será movido; ele julgará os povos
com equidade”. . . . deixe o campo exultar, e tudo nele!
Então todas as árvores do bosque cantarão de júbilo pe-
rante o Senhor, porque ele vem, porque vem julgar a terra.
Ele julgará o mundo com justiça, e os povos com sua fi-
delidade. (vv. 10, 12-13)

Oh, cante um novo cântico ao Senhor, pois ele fez coisas


maravilhosas! Sua mão direita e seu braço santo operaram
a salvação para ele. O Senhor deu a conhecer a sua salva-
Discipulado começa com a contemplação | 1 6 3

ção; ele revelou a sua justiça à vista das nações. Ele se lem-
brou de seu amor e fidelidade à casa de Israel. Todos os
confins da terra viram a salvação do nosso Deus. Celebrai
com júbilo ao Senhor, toda a terra; irrompe em alegres
cânticos e canta louvores! Cantem louvores ao Senhor
com a lira, com a lira e o som da melodia! Com trombetas
e o som da buzina, faça um barulho de alegria diante do
Rei, o Senhor! Deixe o mar rugir e tudo o que o enche; o
mundo e os que nele habitam! Que os rios batam palmas;
cantem de júbilo os montes diante do Senhor, porque ele
vem julgar a terra. Ele julgará o mundo com justiça e os
povos com eqüidade.
Salmo 98

Quando lemos Romanos 15 com essas passagens em mente, des-


cobrimos que o fardo de Paulo por cantar estava ligado ao grande
plano de Deus de preparar a Terra para o retorno de Jesus.
Paulo reconheceu que Jesus retornará a uma igreja que canta.

A ORDEM DE ISAÍAS PARA CANTAR DESDE OS CONFINS DA TERRA


Dois capítulos de Isaías nos dão um excelente resumo de como Pau-
lo entendia a missão da igreja de contemplar a glória de Deus e
cantar. A primeira é Isaías 24. Isaías 24 é uma passagem do fim
dos tempos que prediz os imensos desafios dos momentos finais da
história nesta era:

A terra chora e murcha; o mundo definha e murcha; as


pessoas mais altas da terra definham. A terra está con-
taminada sob seus habitantes; pois transgrediram as leis,
1 6 4 | Discipulado começa com a contemplação

violaram os estatutos, violaram a aliança eterna. Por isso


uma maldição devora a terra, e seus habitantes sofrem por
sua culpa; por isso os habitantes da terra são queimados, e
poucos homens são deixados. O vinho lamenta, a videira
definha, todos os alegres suspiram. Acalmou-se a alegria
dos pandeiros, cessou o ruído do júbilo, acalmou-se a ale-
gria da lira... A cidade devastada está destruída; todas as
casas estão fechadas para que ninguém possa entrar.

Isaías 24:4–8, 10

No meio desta dramática profecia, Isaías de repente previu que


haverá um povo que canta a majestade do Senhor:

Eles levantam suas vozes, cantam de alegria; sobre a


majestade do Senhor eles gritam do oeste. Portanto, no
oriente dai glória ao Senhor; nas costas do mar, dai glória
ao nome do Senhor, o Deus de Israel. Dos confins da ter-
ra ouvimos cânticos de louvor, de glória ao Justo... Mas eu
digo: “Eu defino, eu defino. Ai de mim! Pois os traidores
traíram, com traição os traidores traíram.” (vv. 14-16)

Isaías previu que haveria um povo que cantaria quando todas


as outras canções falharam. Eles cantarão a majestade do Senhor e
cantarão por causa da alegria. Essas canções serão canções de lou-
vor, não canções de lamento. Eles virão dos confins da terra, o que
indica que haverá uma igreja madura, vibrante e global nas nações
durante a hora mais difícil da história humana. Quando você consi-
dera todo o contexto do capítulo, descobre que essas canções serão
Discipulado começa com a contemplação | 1 6 5

usadas para lembrar Israel da glória de YHWH quando parecer que


toda a esperança está perdida. Além disso, Isaías não apenas prediz
essas canções, Ele nos ordena a cantá-las (versículo 16).
Isaías indica que o canto será a provisão de Deus para os próxi-
mos problemas do fim dos tempos e a principal maneira pela qual
a igreja libera um testemunho de Jesus em meio a problemas sem
precedentes. Isso levanta uma questão: estamos escrevendo e can-
tando esse tipo de música? Estamos discipulando as pessoas de tal
maneira que elas cantem esse tipo de música? Ou estamos contentes
com canções menores que não podem suportar uma crise do fim
dos tempos e não declaram verdadeiramente a majestade de Deus
com alegria? Não podemos esperar que os compositores declarem a
beleza de Deus se não os discipularmos a fazê-lo.
Se a igreja do fim dos tempos vai cantar por causa da majestade,
isso levanta várias questões:

• Meditamos na majestade do Senhor, ou outras coisas domi-


nam nossos pensamentos mais profundos?
• Cantamos sobre Deus por alegria ou obrigação?
• Nosso discipulado produzirá um povo que pode cantar du-
rante a hora mais sombria da história humana?
• Como discipular um povo para que cante a majestade de
Deus no momento mais sombrio de toda a história?

Este som de canto não é o som de alguns ministérios de adoração


ungidos - este é o clamor da igreja madura.
A predição de Isaías no capítulo 24 não foi única. Ele deu uma
ordem semelhante para cantar em Isaías 42. O capítulo 42 de Isaías
1 6 6 | Discipulado começa com a contemplação

é uma profecia focada na pessoa de Jesus, que é referido como o


“Servo” do Senhor na profecia. A profecia pode ser resumida em
três partes:

Parte 1: O Servo em Sua Primeira Vinda (Isaías 42:1–9)


Parte 2: A Resposta da Igreja ao Servo (Isaías 42:10–12)
Parte 3: O Servo em Sua Segunda Vinda (Isaías 42:13–25)

A segunda parte da profecia deve influenciar nosso discipulado


porque nos diz como responder à primeira vinda de Jesus e como
nos preparar para Sua segunda vinda. Esta parte da profecia é nota-
velmente semelhante a Isaías 24:

Cantai ao Senhor um novo cântico, o seu louvor desde


os confins da terra, vós que desceis ao mar e tudo o que
o enche, os litorais e os seus habitantes. Que o deserto e
suas cidades levantem sua voz, as aldeias que Kedar habi-
ta; cantem de alegria os habitantes de Sela, gritem do alto
das montanhas. Dêem glória ao Senhor, e anunciem o seu
louvor nos litorais.
Isaías 42:10–12

Mais uma vez, Isaías ordena que o povo de Deus cante desde os
confins da terra e em todos os lugares. Isaías conecta essas canções
diretamente ao retorno de Jesus nos seguintes versículos:

O Senhor sai como valente, como homem de guerra


desperta o seu zelo; ele grita, ele grita alto, ele se mostra
Discipulado começa com a contemplação | 1 6 7

poderoso contra seus inimigos. Por muito tempo manti-


ve minha paz; Fiquei quieto e me contive; agora gritarei
como uma mulher em trabalho de parto; Eu vou suspirar
e ofegar. (vv. 13-14)

Há uma conexão poética nesses versículos porque o Senhor “des-


perta seu zelo”, “clama” e “grita” depois que Seu povo canta desde os
confins da terra. A mensagem subentindida é que o Senhor perma-
necerá “quieto” enquanto Seu povo permanecer quieto. No entanto,
quando uma canção irrompe dos confins da terra, ela estará ligada
ao retorno do Senhor em glória.
Isso não significa que devemos tentar identificar uma certa
quantidade de cânticos necessários para trazer Jesus de volta ou que
somos nós que podemos determinar quando Jesus voltará, mas a
mensagem é clara: se você quer Jesus de volta, cante sua beleza em cada
lugar na terra. Para obedecer às profecias de Isaías, devemos discipu-
lar um povo para contemplar a beleza de Jesus até que esses tipos de
canções emerjam dos confins da terra.
Isaías não apenas previu o canto, ele ordenou o canto, então,
se quisermos obedecer às Escrituras, precisamos estudar cuidado-
samente passagens como essas e permitir que elas moldem nossa
missiologia e discipulado. Nós nos acostumamos a estudar cuidado-
samente certas passagens dessa maneira, como Mateus 24:14, Atos
1:6-8, Apocalipse 5:9, Apocalipse 7:9, a Grande Comissão e as car-
tas de Paulo, mas essa abordagem é incompleta.
A Grande Comissão nos ordena a obedecer a tudo o que Jesus
ordenou e, como Ele é Deus, isso inclui todos os mandamentos de
Deus em toda a Escritura:
1 6 8 | Discipulado começa com a contemplação

Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizan-


do-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei.
Mateus 28:19-20

A igreja que cantava no final dos tempos era tão importante para
Deus que Ele permitiu que Isaías ouvisse suas canções pelo menos
2.500 anos antes de serem cantadas. Paulo tinha zelo para ver as
profecias de Isaías se cumprirem, então ele deu sua força para lançar
as bases para um povo que canta entre os gentios.
Já se passaram 2.000 anos desde que Paulo entregou sua vida
para cumprir Isaías 24. Vivemos com o mesmo zelo?

CANTORES DO FIM
O homem mais perverso de toda a história não será capaz de que-
brar os cânticos da igreja. Mesmo que muitos sofram e suportem o
martírio, eles lançarão cânticos da grandeza de Deus. O terror desta
besta não obscurecerá sua revelação da beleza de Deus:

Então vi outro sinal no céu, grande e espantoso, sete an-


jos com sete pragas, que são as últimas, porque com eles
acabou a ira de Deus. E vi o que parecia ser um mar de vi-
dro misturado com fogo - e também aqueles que haviam
vencido a besta e sua imagem e o número de seu nome,
de pé ao lado do mar de vidro com harpas de Deus em
suas mãos. E cantam o cântico de Moisés, servo de Deus,
e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis ​​
são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso! Jus-
Discipulado começa com a contemplação | 1 6 9

tos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações!


Quem não temerá, ó Senhor, e glorificará o teu nome?
Pois só você é santo. Todas as nações virão e te adorarão,
pois os teus atos de justiça foram revelados”.

Apocalipse 15:1–4

Seu modelo de discipulado produz esse tipo de crente? Observe a


fonte de sua vitória: “‘Grandes e admiráveis ​​são as tuas ações, ó Senhor
Deus Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei
das nações! Quem não temerá, ó Senhor, e glorificará o teu nome? Pois
somente você é santo.’” O canto deles é uma resposta à majestade que
eles contemplaram.
A maior ferramenta de superação é a capacidade de contemplar
Deus. Os cânticos da igreja do fim dos tempos são todos uma res-
posta à beleza do Senhor, mostrando que contemplar é fundamental
para a maturidade da igreja. A chave para vencer o pecado, o sofri-
mento e o medo é a visão de um grande e majestoso Deus revelado
mais profundamente na pessoa de Jesus.

VIVEMOS NOS DIAS PELOS QUAIS OS PROFETAS ANSIAVAM


Não devemos ignorar a tremenda natureza dos dias em que vivemos.
Os profetas ordenaram que canções fossem cantadas há milhares de
anos, e agora vivemos na primeira geração da história quando essas
canções estão começando a surgir.
Vivemos um momento único. Pela primeira vez na história:

• O evangelho pode potencialmente alcançar todas as pessoas


1 7 0 | Discipulado começa com a contemplação

dentro de uma geração se a igreja se comprometer totalmen-


te com essa tarefa. Algumas décadas atrás, nem sabíamos
onde todas as pessoas viviam.
• Há uma controvérsia global sobre a cidade de Jerusalém e
o futuro do povo de Israel. A cidade de Jerusalém nunca
foi um foco global. Mesmo nos dias da Bíblia, Israel afetou
apenas uma pequena região.

Nada disso era verdade quando os Salmos foram compostos ou


quando Isaías profetizou. Imagine o que os autores bíblicos nos
diriam hoje. Ó, como eles nos suplicariam que levássemos suas
profecias a sério e concluíssemos a tarefa que Paulo começou –
assumir a missão de Israel de contemplar a beleza de Deus e liberar
uma resposta melódica à Sua beleza.
Paulo e muitos outros lançaram as bases para que as previsões bíbli-
cas de um povo cantante nas nações fossem cumpridas, e agora é nossa
vez de assumir essa tarefa.
CAPÍTULO 14

FINALIZANDO A TAREFA
O movimento missionário foi lançado pela dor de Davi e deve ter-
minar assim.
A era terminará com uma multidão de pequenas comunidades
eclesiásticas, como a igreja em Antioquia, que estão adorando e je-
juando. Eles serão capturados pela beleza de Deus, e isso produzirá
uma dor – um profundo desejo – de que Deus esteja novamente na
terra, habitando entre Seu povo como Ele prometeu que fará. As
missões existem para produzir adoração, mas nesta era as missões
também existem para produzir a dor de Davi. Existe para produzir
um povo entre cada grupo de pessoas que, nas palavras de Jesus,
jejuará e chorará até que Ele volte.
Podemos agora resumir alguns pontos básicos que dão precisão
às missões e plantação de igrejas:

• O discipulado começa com a contemplação de Deus, espe-


cificamente contemplando Deus na pessoa de Jesus.
• Ao contemplarmos Deus, somos transformados à Sua ima-
1 7 2 | Discipulado começa com a contemplação

gem. Portanto, o ministério deve levar as pessoas a contem-


plar e, em seguida, engajá-las intencionalmente para servir
ao processo de transformação. O bezerro de ouro no Monte
Sinai nos adverte do desastre se contemplarmos, mas não
abraçarmos a obra de transformação.
• O discipulado é a tarefa central das missões, e contemplar é
fundamental para o discipulado; portanto, as missões devem
produzir comunidades que contemplem a beleza de Jesus.
• Através do derramamento do Espírito Santo, o templo se
tornou viral. As igrejas do Novo Testamento são “templos”
que expressam os valores do tabernáculo de Davi.

O livro de Atos é frequentemente tratado como a “idade de


ouro” da igreja, mas a Bíblia aponta para o retorno de Jesus como o
melhor momento da igreja:

• No final dos tempos, a igreja será vibrante e forte — uma


“grande multidão que nenhum homem pode contar” de to-
dos os grupos de pessoas.
• A igreja do fim dos tempos vencerá o homem mais perverso
de toda a história durante o período mais difícil de toda a
história humana.
• O livro de Atos descreve o nascimento da igreja, mas o livro
de Apocalipse descreve o momento em que a igreja é uma
“noiva” madura e bela que agora está pronta para se unir a
Jesus.

A Bíblia prediz que esta era está chegando a um grande clímax


Discipulado começa com a contemplação | 1 7 3

que ainda não aconteceu, e isso deve moldar a forma como vemos
as missões e o futuro da igreja. O movimento de missões apostóli-
cas descrito no livro de Atos foi apenas o começo. O movimento
missionário mais espetacular de toda a história ocorrerá no final dos
tempos, quando Deus terminar o que começou e levar a igreja à
maturidade e liberar uma glória sem precedentes.
O que vemos na vida de Paulo, Barnabé, Silas, Apolo, Timóteo,
Lucas, Priscila, Áquila e outros terá uma expressão ainda maior no
final dos tempos. O livro de Atos apresenta a igreja primitiva como
um protótipo de igreja que avança e vence em meio a um ambiente
hostil para nos dar uma imagem da igreja do fim dos tempos que
vencerá no momento mais difícil da história humana.

DISCIPULANDO MISSIONÁRIOS
Os missionários não levam apenas uma mensagem; eles são a mensagem.
Missionários são enviados para que as pessoas possam experi-
mentar uma demonstração em carne e osso da pessoa de Jesus. Não
é suficiente ensinar aos missionários a “mensagem” do evangelho;
eles devem ser discipulados para se tornarem demonstrações vivas
de Cristo. Os mensageiros devem se tornar a mensagem. Nosso trei-
namento tende a se concentrar em ensinar às pessoas o conteúdo da
mensagem, o que é bom, mas também devemos formar mensageiros
para se tornar a mensagem. Essa formação ocorre principalmente
no contexto da igreja, e é por isso que o Novo Testamento é tão
centrado na igreja. Assim, quando Paulo quis treinar jovens líderes,
ele os enviou para a igreja.
Todos os crentes, especialmente os missionários, são chamados a se
tornarem demonstrações imperfeitas, mas autênticas da pessoa de Jesus.
1 7 4 | Discipulado começa com a contemplação

Há um desejo crescente de “terminar a tarefa” de missões em


nossa geração. A tarefa continua grande porque quase dois bilhões
de pessoas ainda precisam ouvir o evangelho. Quando muitas pes-
soas pensam em missões, elas assumem que a tarefa pode ser com-
pletada através do evangelismo em massa. Isso levou a que todos os
tipos de atividades fossem definidas como “missões”, que podem ser
valiosas, mas na verdade não são missões. Também levou pessoas a
serem chamadas de “missionários” que não são missionários, embo-
ra possam ser ministros talentosos.
A evangelização em massa pode ser um método útil de comuni-
cação de informações, mas não é missões. Missões requer discipu-
lado e, portanto, os missionários devem ser mais do que comuni-
cadores que podem transmitir informações sobre o evangelho. (Na
verdade, Paulo escolheu especificamente não funcionar como um
comunicador talentoso em Corinto).
Os missionários precisam de uma teologia clara e precisam de
habilidades transculturais, mas, acima de tudo, precisam ser forja-
dos à imagem de Jesus, e isso começa ao contemplá-lo. Não deve-
mos enviar missionários que não tenham um profundo compro-
misso de contemplar Jesus e não tenham se tornado estudantes da
pessoa de Jesus.
Se enviarmos missionários que não contemplam Jesus, eles aca-
barão criando convertidos que conhecem a informação e adotam
o comportamento, mas não são demonstrações autênticas de um
Jesus vivo. Tragicamente, esses tipos de igrejas são plantadas quando
missionários são enviados que não foram devidamente discipulados
pela contemplação.
Você quer ser um missionário? Você sente uma designação para
Discipulado começa com a contemplação | 1 7 5

se tornar um ministro? Em caso afirmativo, você precisa responder a


uma pergunta: você é capturado pela beleza do Senhor? Se não estiver,
peça ao Espírito Santo que lhe mostre quais mudanças você precisa
fazer em sua vida para contemplar a beleza de Jesus. Pode ser um
pecado que você deve abandonar. Podem ser hábitos que não são
pecaminosos, mas precisam ser abandonados. Pode ser que sua vida
esteja muito cheia e você precise deixar de lado algumas coisas para
criar espaço para contemplar Jesus.
Para a maioria de nós, nosso maior problema é que continua-
mos adicionando coisas em nossas vidas, sem nunca considerar que,
quando você quer buscar um relacionamento valioso, é necessário
que você corte certas coisas. Quando um casal quer buscar o casa-
mento, eles não adicionam simplesmente um cônjuge às suas vidas.
Eles têm que cortar alguns relacionamentos, e outros relacionamen-
tos precisam mudar drasticamente. É possível que você esteja frus-
trado em seu relacionamento com Deus porque você foi tão longe
quanto pode até cortar certas coisas.
Todo ministério, especialmente missões, deve levar à contemplação
de Jesus, o que significa que deve fluir de contemplar a Ele.

ENVIANDO MENSAGEIROS QUE CONTEMPLAM


Paulo seguiu seu resumo do discipulado como contemplando em
2 Coríntios 3 com uma descrição de seu testemunho apostólico no
capítulo 4:

Portanto, tendo este ministério pela misericórdia de


Deus, não desanimamos. (v. 1)
1 7 6 | Discipulado começa com a contemplação

Pois o que proclamamos não somos nós mesmos, mas Je-


sus Cristo como Senhor, sendo nós mesmos como vossos
servos por amor de Jesus. Pois Deus, que disse: “Das tre-
vas brilhe a luz”, resplandeceu em nossos corações para
iluminar o conhecimento da glória de Deus na face de
Jesus Cristo. Mas temos este tesouro em vasos de barro,
para mostrar que o poder supremo pertence a Deus e não
a nós. (vv. 5-7)

De muitas maneiras, 2 Coríntios 3:18–4:7 resume o envio de


Paulo de Antioquia em Atos 13. Paulo e Barnabé tinham o hábito
de contemplar Jesus corporativamente, e Deus os enviou. O “minis-
tério” de Paulo era a tarefa de formar comunidades que se transfor-
mavam ao contemplar a beleza de Jesus juntas.
A “luz do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cris-
to” havia sido revelada ao coração de Paulo ao contemplar a Cristo.
Paulo disse que brilhou em seus corações porque eles viram a glória
de Jesus corporativamente. Quando Deus disse pela primeira vez:
“Deixe a luz brilhar nas trevas”, não foi um evento oculto. Quando
Deus falou, a luz de repente encheu a criação. O mesmo é verdade
quando o corpo se reúne para contemplar. Deus libera luz pública
e corporativamente nos corações de Seu povo. Paulo contemplou a
glória de Jesus e foi enviado como testemunha das coisas que tinha
visto (contemplado). A palavra testemunha (μάρτυς) era uma pala-
vra legal que geralmente significava uma testemunha ocular confi-
ável dos eventos. A palavra também é a base para a palavra inglesa
mártir, que é uma testemunha até a morte.
Os mensageiros bíblicos devem ser testemunhas do que viram.
Discipulado começa com a contemplação | 1 7 7

Uma testemunha é, por definição, alguém que testemunha o que


viu. Paulo foi enviado de Antioquia para ser testemunha do que
tinha visto. Aqueles que ministraram com Paulo também foram tes-
temunhas do que viram. Para a maioria das pessoas, esse “ver” vem
pelo Espírito. Não requer o tipo de encontro que Paulo teve, mas
devemos enviar pessoas que são testemunhas que viram a glória de
Deus na face de Jesus. (Na próxima seção, veremos as maneiras bí-
blicas de contemplar a glória de Jesus - as mesmas práticas em que
Paulo e Barnabé se engajaram.) Este é o padrão apostólico que nos
foi dado, e não devemos esperar resultados apostólicos se o fizermos.
não segue o padrão apostólico.
O método de plantação de igrejas do Novo Testamento começa
enviando mensageiros que viram. Não devemos enviar mensageiros
que só conhecem informações; devemos enviar aqueles que viram
algo e se transformaram na imagem do que viram. Os mensageiros
devem ser a evidência viva da mensagem que carregam. Portanto, a
natureza do mensageiro enviado é muito mais importante do que
sua eloquência.
A demonstração viva de Jesus em uma pessoa produzida pela
contemplação provocará outros a contemplar Jesus também e for-
mar uma comunidade que contempla e então se torna sua própria
testemunha viva de Jesus em um local. E então ele envia mensagei-
ros, e o processo continua.

NA TERRA COMO NO CÉU


Deus se tornou um homem para que possamos conhecê-lo, mas Ele
é um homem diferente de qualquer outro homem. Quando O con-
templamos, Ele nos confronta, e devemos responder de duas manei-
1 7 8 | Discipulado começa com a contemplação

ras: ou resistimos a Ele, ou somos transformados à Sua imagem. A


Bíblia é conflituosa, mas isso não significa que seja dura, crítica ou
desagradável. É conflituoso porque nos obriga a olhar para a pessoa
de Jesus e descobrir que não somos como Ele. Quando reconhece-
mos o grande abismo entre Ele e nós, é um convite à transformação.
Para o incrédulo, é um convite para descobrir Jesus. Para o crente, é
um convite a um discipulado mais profundo.
A igreja deve ser uma demonstração presente de uma realidade fu-
tura.
A igreja é uma testemunha incompleta, mas substancial e au-
têntica de como a terra será quando o céu vier à terra. A igreja é
tanto uma testemunha do que está por vir quanto um contexto para
transformar as pessoas para se tornarem parte do que está por vir.
Ele nos capacita a contemplar e ser uma testemunha de que Deus
voltará e habitará entre Seu povo em um santuário de adoração an-
tecipado pelo tabernáculo de Davi.
Jesus nos ensinou a orar para que a terra se tornasse como o céu:

Ore então assim: “Pai nosso que estás nos céus, santifi-
cado seja o teu nome. Venha o teu reino, seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu”.

Mateus 6:9–10

Apocalipse 21–22 descreve o objetivo final de Deus para esta era:

E ouvi uma grande voz vinda do trono, que dizia: “Eis que
a morada de Deus está com o homem. Ele habitará com
Discipulado começa com a contemplação | 1 7 9

eles, e eles serão seu povo, e o próprio Deus estará com


eles como seu Deus”.
Apocalipse 21:3

“Aquele que vencer terá esta herança, e eu serei seu Deus


e ele será meu filho.” (v. 7)

E não vi nenhum templo na cidade, pois o seu templo é


o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro. E a cidade
não precisa de sol nem de lua para brilhar sobre ela, por-
que a glória de Deus a ilumina, e sua lâmpada é o Cor-
deiro. À sua luz andarão as nações, e os reis da terra trarão
para ela a sua glória. (vv. 22-24)

Não haverá mais maldição, mas o trono de Deus e do


Cordeiro estará nele, e seus servos o adorarão. Eles verão
seu rosto, e seu nome estará em suas testas. E a noite não
será mais. Eles não precisarão de luz de lâmpada ou sol,
pois o Senhor Deus será sua luz, e eles reinarão para todo
o sempre. (22:3-5)

A era terminará com Deus habitando entre Seu povo. Eles O


contemplarão e serão como Ele. Esta é a linha de chegada para mis-
sões mundiais. Este é o objetivo para o qual Deus está trabalhando.
Este é o objetivo bíblico para o qual devemos preparar as pessoas.
Nossas igrejas devem ser lugares onde as pessoas possam saborear
essa realidade futura e comunidades que preparem as pessoas para
ela.
O céu está vindo para a terra, e a igreja é um prenúncio do que
1 8 0 | Discipulado começa com a contemplação

está por vir. Portanto, a igreja deve refletir o que vemos no céu, e vis-
lumbres do céu na Bíblia revelam criaturas e santos contemplando a
beleza de Deus e respondendo ao que vêem.
Este é o padrão, e nossas missões devem ser planejadas de acordo com
o padrão.
CAPÍTULO 15

UMA VIDA DE CONTEMPLAÇÃO


Vimos a primazia de contemplar a história redentora e a vida
do povo de Deus. Agora precisamos examinar como contemplamos
a beleza de Deus no ritmo diário da vida como povo. A Bíblia re-
gistra momentos dramáticos quando um povo contemplou a glória
de Deus, mas Deus pretende que O contemplemos em nossas vidas
normais. Quando Deus se tornou homem, Ele intencionalmente
escolheu passar a maior parte de Seu tempo em uma pequena vila,
vivendo uma vida muito comum.
Deus está muito presente em nossa vida cotidiana, e Ele gosta de nos
encontrar em nossos ritmos diários.
Deus nos deu muitos “meios de graça” que nos permitem des-
cobrir e contemplar Sua beleza, mas podemos facilmente ignorar o
poder dessas práticas porque elas podem parecer “comuns demais”.
Deus ocasionalmente se revela de maneira dramática como fez com
o apóstolo Paulo, e há algumas ocasiões em toda a história da reden-
ção em que Deus desce de maneira espetacular. No entanto, não é
1 8 2 | Discipulado começa com a contemplação

assim que a maioria das pessoas vê Deus.


Porque somos atraídos pelo espetacular, o caminho para con-
templar a beleza de Deus está efetivamente “escondido à vista de
todos”, e há muitas razões pelas quais podemos facilmente negligen-
ciar as disciplinas que nos levam a contemplar a Deus:

• Eles levam tempo – Quando pensamos em contemplar a


Deus, normalmente pensamos em um momento único e
avassalador como o que Paulo experimentou quando viu Je-
sus em Atos 9. Isso aconteceu apenas uma vez com Paulo,
no entanto. Contemplar a Deus nem sempre é uma coisa
imediata. Muitas vezes temos vislumbres Dele que se desdo-
bram ao longo do tempo.
• Eles parecem muito simples — Frequentemente assumimos
que o conhecimento de Deus é misterioso e muito com-
plexo, então esperamos que o caminho para conhecer Deus
também seja misterioso e complexo. Como resultado, as fer-
ramentas que Deus nos deu podem parecer muito simples.
• Eles parecem muito comuns – Quando pensamos em Deus,
naturalmente pensamos no espetacular e muitas vezes ig-
noramos as coisas que parecem comuns. Esquecemos fa-
cilmente que quando Deus se tornou homem, Ele passou
alegremente 90% de Sua vida em uma pequena e obscura
vila fazendo trabalho diário. Desvalorizamos o ordinário
quando, na verdade, Deus usa o ordinário e o mundano
como contexto primordial para nossa formação.
• Eles exigem atividade intencional – Sua vida em Deus requer
ação intencional. Muitos cristãos oram e esperam que Deus
Discipulado começa com a contemplação | 1 8 3

aja, mas normalmente não funciona dessa maneira. Você


não pode ser passivo em seu relacionamento com Deus e
esperar que um relacionamento profundo resulte.
• Eles exigem prioridade – Devemos priorizar as disciplinas que
as Escrituras nos dão se quisermos conhecer a Deus. Muitas
pessoas estão tentando adicionar Deus às suas vidas já ocu-
padas, mas os humanos têm capacidade limitada. Se você
deseja contemplar a Deus mais do que deseja agora, prova-
velmente precisará fazer mudanças e deixar algumas coisas
de lado. Quando queremos um relacionamento profundo
com outra pessoa, isso exige que deixemos outros relacio-
namentos e outras atividades para que possamos priorizar
a pessoa com quem queremos um relacionamento. Deus é
do mesmo jeito. As sociedades afluentes mentem para nós e
dizem que podemos “ter tudo”, mas isso simplesmente não
é verdade. Você tem que decidir o que quer e se contentar
em deixar o resto ir.
• Contemplar a Deus requer engajamento corporativo — Dis-
cipulado e crescimento no conhecimento de Deus não são
simplesmente atividades individuais. Deus nos fez parte de
um povo corporativo, e há aspectos de quem Deus é que só
encontramos quando participamos de Seu corpo corporati-
vo. Nossa busca por Deus deve ser individual e corporativa.
Precisamos de uma vida em conjunto com uma corporação.

A lista de disciplinas nos capítulos seguintes não é uma lista


abrangente, é uma lista de disciplinas que são destacadas nas Es-
crituras e devem fazer parte do ritmo pessoal e corporativo de cada
1 8 4 | Discipulado começa com a contemplação

crente. Certamente existem outros hábitos e disciplinas que tam-


bém podem levá-lo a contemplar a Deus. Uma vez que você des-
cubra o desejo de Deus de se revelar e a maneira como Ele se revela
em seu ritmo diário de vida, você começará a ver Deus de inúmeras
maneiras.
Muitas pessoas reclamam que Deus é difícil de encontrar, mas elas
não têm buscado um ritmo de vida ao longo do tempo que lhes permita
contemplá-Lo da maneira como Ele é conhecido.
A maioria das pessoas assume que contemplar a Deus requer
encontros dramáticos com Deus semelhantes à experiência de Israel
no Monte Sinai, o encontro de Paulo com Jesus na estrada para
Damasco, ou o encontro de João com Jesus na ilha de Patmos. Essas
experiências foram dramáticas e alteraram a vida, mas esses tipos de
encontros são muito raros.
Deus pode lhe dar um encontro com Sua presença que é muito
dramático. Muito provavelmente você terá alguns momentos em
sua vida em que encontrará a presença de Deus de uma maneira
dramática que altera significativamente sua vida. Esses encontros
são importantes, mas Deus não quer que você viva de encontro em
encontro. Deus quer que você O descubra no ritmo mundano e or-
dinário da vida. Ele quer que você descubra a comunhão com o Seu
Espírito de uma maneira que provavelmente parecerá mais comum
do que você imagina.
A maioria dos santos na Bíblia que tiveram encontros extrema-
mente dramáticos com Deus tiveram muito poucos encontros desse
tipo por um longo período de tempo. Por exemplo, Daniel registrou
alguns encontros vívidos, mas ele teve apenas alguns encontros dra-
máticos ao longo de uma vida muito longa. Isso é importante por-
Discipulado começa com a contemplação | 1 8 5

que precisamos ter expectativas razoáveis. Deus se revelará a você.


Será real, tangível e transformacional, mas pode não vir do jeito que
você espera. A maioria das pessoas na Bíblia não teve esse tipo de
encontro.
Encontros muito dramáticos geralmente estão ligados a tarefas
caras. Deus dá esse tipo de encontro para dar às pessoas coragem
para assumir uma tarefa. Assim, esses encontros não são necessaria-
mente indicações de Sua afeição. Paul teve alguns encontros dramá-
ticos porque tinha uma missão muito pesada e precisava que esses
encontros fossem fiéis à sua missão.
Além disso, encontros dramáticos estão frequentemente ligados
a longos períodos de fidelidade no mundano. Muitas pessoas são
passivas em suas vidas espirituais, esperando por um grande en-
contro, quando uma vida consistente em Deus as posicionará para
encontrar muito mais de Deus. A maioria das pessoas espera uma
transformação instantânea, mas não é assim que Deus trabalha.
Deus vem a nós dramaticamente em momentos, mas Ele também
opera em nós por longos períodos de fidelidade em momentos apa-
rentemente comuns. O crescimento na vida espiritual é uma com-
binação de crescimento gradual ao longo do tempo e a dramática
atividade de Deus em um momento. Devemos valorizar ambos, e
devemos responder a ambos.
Nosso desejo pelo dramático e espetacular pode facilmente nos impe-
dir de encontrar Deus onde Ele quer nos encontrar.
Não devemos desprezar ou desvalorizar o que Deus pode fazer
em um único e dramático encontro, mas contemplar a Deus não se
limita a esses tipos de momentos. De fato, quando você considera
tudo nas Escrituras, contemplar a Deus está mais ligado aos nossos
1 8 6 | Discipulado começa com a contemplação

ritmos diários do que a momentos espetaculares. Você não pode fa-


zer com que momentos dramáticos aconteçam, mas pode responder
a Deus com fidelidade, engajando-se nas disciplinas que Ele nos
deu. Eu garanto que, se você fizer isso consistentemente ao longo
do tempo, verá muito mais de Deus do que faria de outra forma.
Agora vamos examinar o caminho que Deus traçou para nos
permitir contemplá-Lo.
CAPÍTULO 16

CONTEMPLAMOS A DEUS
NA PESSOA DE JESUS
O discipulado começa com a contemplação, e Deus nos é reve-
lado mais completamente na pessoa de Jesus:

No caso deles, o deus deste mundo cegou o entendimento


dos incrédulos, para impedi-los de ver a luz do evangelho
da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.

2 Coríntios 4:4

Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda


a criação.
Colossenses 1:15

Há muito tempo, muitas vezes e de muitas maneiras, Deus


falou a nossos pais pelos profetas, mas nestes últimos dias
1 8 8 | Discipulado começa com a contemplação

ele nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de


todas as coisas, por quem também criou o mundo . Ele é
o resplendor da glória de Deus e a impressão exata de sua
natureza, e sustenta o universo pela palavra de seu poder.
Depois de fazer a purificação dos pecados, sentou-se à
direita da Majestade nas alturas.
Hebreus 1:1-3

Se queremos contemplar a Deus, precisamos nos tornar estudantes


da beleza de Jesus.
Paulo não apenas ensinou os coríntios a contemplar o Senhor,
mas também os lembrou de uma decisão que tomou e que definiu
sua vida:

Pois eu decidi nada saber entre vocês, exceto Jesus Cristo


e este crucificado.
1 Coríntios 2:2

Se quisermos seguir o exemplo de Paulo (e devemos seguir), precisa-


mos tomar uma decisão semelhante.
A abordagem de Paulo à vida não era passiva. Ele decidiu conhe-
cer qualquer coisa, exceto Jesus e Ele crucificado. Deus se revelou
mais completamente na pessoa de Jesus e no ato da crucificação. É
fundamental, quando consideramos a crucificação, a vemos acima
de tudo como uma revelação de Deus e não apenas como um ato
de expiação. Jesus foi crucificado como um homem nu porque foi
o primeiro momento em todos os tempos em que Deus foi total-
mente exposto para que pudéssemos ver como Deus realmente é
Discipulado começa com a contemplação | 1 8 9

no âmago de Seu ser. Quando você olha para a cruz, você vê Deus
como Ele realmente é o tempo todo – você vê o que estava escondido
nas eras passadas. Antes da cruz, aspectos da natureza de Deus esta-
vam ocultos por Sua glória. Na cruz, Ele foi totalmente exposto pela
primeira vez na eternidade.
Paulo intencionalmente fixou sua atenção neste único assunto, e esse
foco produziu a vida que ele levou.
Paulo descobriu quem era Deus e como ele deveria viver fixando
sua vida na pessoa de Jesus. Se você se sente distante de Deus, a
primeira pergunta a fazer é esta: você fez da pessoa de Jesus seu foco
principal em sua busca por Deus?
Paulo certamente não era perfeito, mas sua vida nos foi dada
como um padrão para nossas próprias vidas em Deus, e seu foco
levanta uma série de questões:

• Nossos programas de discipulado se concentram na pessoa


de Jesus?
• Nós projetamos intencionalmente todo o nosso ministério
e todo o nosso discipulado para produzir um povo que está
determinado a não saber nada, exceto Jesus e Ele crucifica-
do?
• Se não levarmos as pessoas a uma descoberta vitalícia de
quem é Jesus, como podemos esperar que sejam discipula-
dos à Sua imagem?
• Estamos tomando decisões intencionais como Paulo sobre
nosso foco?
1 9 0 | Discipulado começa com a contemplação

Em muitos casos, esperamos que as pessoas se tornem como Je-


sus quando Ele não é seu foco central, mas isso nunca funcionará.
Essa abordagem pode produzir pessoas que guardam algumas regras
e se comportam bem, mas não podem ser discipulados à imagem de
Deus a menos que contemplem Deus na pessoa de Jesus. Devemos
treinar as pessoas para se tornarem estudantes da beleza de Jesus por
todos os meios disponíveis.
Todo o nosso ministério – ensino, pregação, canto, aconselhamento,
pastoreio, atendimento das necessidades dos pobres – deve levar as pesso-
as a contemplar a pessoa de Jesus.

A BELEZA DE JESUS NÃO É BONITA


Isaías fez uma declaração impressionante sobre a beleza de Jesus:

Porque ele cresceu diante dele como um renovo, e como


uma raiz de terra seca; ele não tinha forma ou majestade
para que o olhássemos, nem beleza para que o desejásse-
mos.
Isaías 53:2

Nossos corações anseiam por beleza, mas o coração humano ca-


ído não acha Jesus naturalmente bonito.
A beleza de Jesus flui de Sua divindade – Jesus não é belo porque
é um ser humano impressionante. Ele é belo porque é Deus em
forma humana. Embora Ele seja Deus e a pessoa mais majestosa,
nossos corações pecaminosos são muitas vezes cativados por outras
falsas imagens de beleza, por isso é preciso um processo de transfor-
mação para descobrir a verdadeira beleza de Jesus.
Discipulado começa com a contemplação | 1 9 1

Deus quer nos fazer como Jesus, mas essa é uma imagem que a maio-
ria dos humanos não acha bonita.
Requer a obra do Espírito Santo no coração humano para des-
cobrir a beleza de Deus através da pessoa de Jesus. Jesus é a pessoa
mais bonita, mas Sua beleza não é bela para os padrões desta época,
e se olharmos para Jesus de acordo com as definições humanas de
beleza, não o acharemos bonito. Quando contemplamos Jesus, isso
transforma nossa definição de beleza. Ao contemplá-Lo, isso renova
nossa mente e transforma nosso coração.
Precisamos perguntar seriamente quanto da cultura em nossas
igrejas reflete a beleza de Jesus e quanto da cultura em nossas igrejas
continua a refletir as definições humanas de beleza e sucesso. Muitas
vezes apresentamos Jesus como uma maneira de nos tornarmos um
ser humano mais “belo” ou “bem-sucedido”, e isso é um indicador
de que não contemplamos Sua beleza juntos porque é totalmente
diferente do que os homens celebram naturalmente.
Quando não contemplamos a beleza de Jesus, fazemos Jesus à
nossa própria imagem de acordo com nossos próprios padrões de
beleza, e nossas igrejas se tornam comunidades que podem adotar
uma certa moralidade, mas, em última análise, seguem os mesmos
valores da cultura. Nossas definições de sucesso e beleza parecem as
mesmas da cultura quando não olhamos verdadeiramente para Jesus
e para Ele crucificado. Não apenas refazemos Jesus à nossa própria
imagem, mas o usamos para tentar nos tornar mais bem-sucedidos,
mais prósperos e mais “bonitos” de acordo com as definições erra-
das.
Quando definimos Jesus de acordo com a perspectiva errada de
beleza, então desenvolvemos as expectativas erradas de como deve
1 9 2 | Discipulado começa com a contemplação

ser a vida seguindo Jesus. Desenvolvemos expectativas que Jesus


nunca nos deu, como expectativas de prosperidade e sucesso. Len-
tamente, esse “Jesus” começa a parecer um guru de auto-ajuda que
existe principalmente para nossa própria auto-realização, porque
não O vimos verdadeiramente como Ele é.
A evidência disso está em nossas imagens de Jesus. Por exemplo,
no mundo ocidental, as imagens de Jesus não se parecem em nada
com um judeu do Oriente Médio do primeiro século com “nenhu-
ma beleza para que possamos desejá-lo”. Em vez disso, retratamos
Jesus como um homem alto e branco com olhos azuis e fortes traços
ocidentais. Esta imagem é literalmente um Jesus à nossa própria
imagem com base zero na realidade histórica ou bíblica. Não é nada
mais do que um reflexo do que naturalmente achamos bonito.
A beleza de Jesus é expressa em todos os aspectos de Sua pessoa.
Normalmente nos concentramos na misericórdia de Jesus e no dom
gratuito da salvação, mas estes são apenas uma parte da beleza de
Jesus. Jesus também é um grande rei e um juiz terrível. Muitas das
mais poderosas descrições bíblicas de Jesus o revelam como o Juiz
Divino. Os julgamentos de Jesus são uma parte central de Sua beleza,
e não ousamos tirá-los Dele. Devemos nos tornar estudantes de cada
parte de Jesus, mesmo as partes que achamos misteriosas ou difíceis
de receber.
Por exemplo, normalmente proclamamos Jesus como Salvador,
mas Pedro disse que Jesus ordenou aos discípulos que O declaras-
sem como o Juiz:
Discipulado começa com a contemplação | 1 9 3

E ele nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é o


designado por Deus para ser juiz dos vivos e dos mortos.
Atos 10:42

Paulo também declarou Jesus como Juiz e Rei quando falou em


Tessalônica e Atenas:

...arrastou Jasom e alguns dos irmãos perante as


autoridades da cidade, gritando: “Esses homens que
viraram o mundo de cabeça para baixo também vieram
aqui... dizendo que há outro rei, Jesus”.
Atos 17:6-7

“Deus ignorou os tempos de ignorância, mas agora ele


ordena que todas as pessoas em todos os lugares se arre-
pendam, porque ele fixou um dia em que julgará o mundo
com justiça por meio de um homem a quem designou; e
disso ele deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os
mortos”. (vv. 30-31)

Se examinarmos a pregação dos apóstolos, descobriremos que


eles pregaram Jesus de maneira diferente da nossa. Em muitos casos,
o que dizemos sobre Jesus não está errado, mas está incompleto. De-
vemos estudar, ensinar e proclamar cuidadosamente uma imagem
completa de quem Jesus é se quisermos contemplar a Deus. Até que
conheçamos todos os aspectos da pessoa de Jesus, não podemos ser
totalmente discipulados.
Sem contemplar Jesus como Deus, não sabemos como devemos nos
1 9 4 | Discipulado começa com a contemplação

tornar e, portanto, não podemos nos envolver totalmente no processo de


discipulado.

UM POVO CAPTURADO PELA BELEZA DIVINA


Devemos ser um povo cativado pela beleza do Divino Humano.
Precisamos desesperadamente de pais, mães, líderes de pequenos
grupos, professores, pregadores e cantores que possam transmitir a
beleza de Jesus. Este é o fundamento do discipulado, e é por onde
devemos começar.
Não devemos nos contentar com uma compreensão básica da
vida de Jesus e Seus ensinamentos primários nos Evangelhos. Deve-
mos contemplar intencionalmente cada aspecto de Sua beleza. Aqui
estão alguns aspectos que merecem um estudo focado:

• Contemple a divindade de Jesus — Deus é mais revelado na


pessoa de Jesus. Devemos conhecer Jesus como Deus e não
apenas como homem ou salvador.
• Contemple a humanidade de Jesus — Jesus é o Humano Su-
premo e a imagem perfeita de Deus. Estude Sua humanida-
de para contemplar o que Deus sempre quis que a humani-
dade fosse.
• Contemple Jesus em Seu sofrimento — A cruz de Jesus é a mais
alta revelação de quem Deus é. Nesse caso, Deus é totalmen-
te revelado como Ele realmente é. O sofrimento de Jesus é
tão central para Sua identidade que Ele fica marcado para
sempre e governa no céu como o Cordeiro imolado.
• Contemplar Jesus, o Noivo — Toda vez que Deus vem nessa
era e aparece publicamente a um povo corporativo, Ele vem
Discipulado começa com a contemplação | 1 9 5

como um noivo. Deus é o Noivo em primeiro lugar nos


eventos do Monte Sinai, a primeira vinda e a segunda vinda.
Isso indica que Jesus se relaciona principalmente com Seu
povo como o Noivo, e isso nos dá uma visão de quem Ele
realmente é.
• Contemplar Jesus, o Salvador — O nome Jesus significa “sal-
vação”. Ele voluntariamente deu Sua própria vida para libe-
rar a salvação, proteger um povo e redimir a criação. Deve-
mos conhecê-Lo como Salvador.
• Contemplar Jesus, o Rei — Jesus morreu sob um sinal que O
proclamava “Rei dos Judeus” em três idiomas. Jesus é um
grande e majestoso rei. Em Jesus, Deus se tornará o Rei da
terra.
• Contemplar Jesus, o Juiz — Jesus repetidamente se identifi-
cou como o Juiz Divino e ensinou os discípulos a proclamá-
-Lo como Juiz. Para conhecer verdadeiramente Jesus, deve-
mos conhecê-Lo como Juiz.
• Contemplar Jesus em Sua Segunda Vinda — João resumiu o
retorno de Jesus como a “revelação” de Jesus porque há as-
pectos de Jesus que só vemos em Sua segunda vinda. A pala-
vra apocalipse significa “revelação” em grego, não “desastre”,
porque Deus vai revelar Seu Filho e Seu plano.
• Contemple Jesus na história de Israel — Jesus é o israelita
perfeito que viveu perfeitamente a história de Israel. Para
compreender plenamente a história de Jesus, você precisa
conhecer a história de Israel. Além disso, a identidade de
Jesus é inseparável de Israel. Ele é o Noivo, Salvador, Rei e
Juiz de Israel.
1 9 6 | Discipulado começa com a contemplação

Comprometa-se como Paulo a se tornar um estudante da beleza de


Jesus. O discipulado começa com a contemplação, e a contemplação
começa com Jesus.
CAPÍTULO 17

CONTEMPLAMOS A DEUS
PELO ESPÍRITO
Quando nascemos de novo, recebemos o dom imensurável do
próprio Espírito de Deus. O Espírito que habita nos transforma em
uma “nova criação”, que é mais literalmente uma “nova espécie” ou
um “novo tipo de humano”. Por vivermos em corpos caídos e co-
nhecermos nossas fraquezas, facilmente ignoramos e minimizamos
o dom do Espírito. Ainda não experimentamos a plena realidade
do que nos foi dado, mas isso não muda o fato de que recebemos o
dom de Deus e que nos transformou no âmago do nosso ser.
Fé e confiança no poder do novo nascimento e na habitação do Es-
pírito são vitais para contemplar Jesus.
Se você é um cristão, Deus agora habita em você tão profun-
damente que você não pode mais separar quais partes de você são
humanas e quais são Deus. Você não se tornou Deus, mas você se
tornou um humano como Jesus. O processo contínuo de discipula-
1 9 8 | Discipulado começa com a contemplação

do é um processo pelo qual descobrimos o que nos foi dado e cresce-


mos em nossa experiência do que já é nosso através do que Jesus fez.
É muito fácil ter inveja dos discípulos e ansiar pelas experiên-
cias que tiveram com Jesus ao longo de três anos. Eles receberam
um privilégio sem paralelo de contemplar Deus em carne de perto
e pessoalmente. Eles viram coisas que ninguém mais viu e, como
resultado, tendemos a supor que eles tinham um conhecimento de
Jesus que é muito superior a qualquer coisa disponível para nós.
Mas não foi isso que Jesus disse.
Uma das coisas mais estranhas que Jesus já disse é encontrada
em João 16:

No entanto, digo-lhe a verdade: é para sua vantagem que


eu vá embora, pois se eu não for, o Auxiliar não virá até
você. Mas se eu for, vou mandá-lo para você. (v. 7)

Jesus fez essa promessa na noite anterior à sua execução, saben-


do que estava prestes a partir. Jesus nos deu essa declaração para
que todos os que viessem depois dos discípulos não vivessem como
cidadãos de segunda classe no reino. Jesus disse que era vantajoso
para nós que Ele partisse para que pudéssemos receber o dom do
Espírito. Em outras palavras, a vida com a habitação do Espírito
é superior à vida íntima que os discípulos tiveram com Jesus. A
verdade é que Jesus tem mais confiança no ministério do Espírito
Santo do que nós.
Você recebeu o dom de Deus habitando em seu homem interior. Este
dom de Deus permite que você contemple Deus. Ele habita em você
como um indivíduo, e Ele habita no meio da comunidade.
Discipulado começa com a contemplação | 1 9 9

O ESPÍRITO FOI NOS DADO PARA QUE POSSAMOS CONTEMPLAR


Jesus prometeu especificamente que o Espírito Santo nos capacitaria
a contemplá-lo:

Quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará em toda


a verdade, pois não falará por sua própria autoridade, mas
tudo o que ouvir falará, e anunciará a vocês as coisas que
estão por vir. Ele me glorificará, pois tomará o que é meu
e o declarará a você. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso
eu disse que ele tomará o que é meu e o declarará a você.
João 16:13-15

Jesus prometeu que o Espírito falaria as coisas que Ele ouve para
nós. Por meio do Espírito Santo, temos acesso direto à conversa
do Pai e do Filho para que possamos saber o que estão pensando
e sentindo. Jesus também prometeu duas vezes que o Espírito iria
glorificá-lo, fazendo-nos conhecer as coisas que pertencem a ele.
Na noite anterior à Sua morte, Jesus fez uma promessa de que o
Espírito nos capacitaria a contemplá-Lo e ter acesso à revelação divina.
Assim, Paulo enfatizou que nossa transformação e nossa visão
corporativa vêm do Espírito:

E todos nós, com rosto descoberto, contemplando a gló-


ria do Senhor, somos transformados na mesma imagem
de um grau de glória para outro. Pois isso vem do Senhor
que é o Espírito.
2 Coríntios 3:18
2 0 0 | Discipulado começa com a contemplação

O Espírito Santo gosta de fazer Deus conhecido para nós. Ele


fala conosco de muitas maneiras. Ele fala principalmente através
das Escrituras, mas às vezes Ele nos fala frases diretas. Ele também
fala poeticamente através de sonhos e visões. Ele muitas vezes fala
através de outros crentes por meio de um ensinamento, uma música
ou uma palavra de encorajamento. Ele fala no contexto da oração.
Há muitas maneiras pelas quais o Espírito fala, e se pedirmos que
Ele fale, Ele começará a falar conosco. Muitas vezes, perdemos Sua
voz porque temos uma noção preconcebida de como Ele fala ou
uma expectativa de que Ele falará de uma maneira específica. Por
exemplo, você pode pedir ao Espírito que lhe dê uma visão sobre
um assunto e, em um mês, você descobre idéias invisíveis em uma
passagem das Escrituras. Isso é o Espírito falando.
Se tomarmos tempo para pedir ao Espírito Santo que nos revele
Deus, Ele o fará porque Jesus prometeu que o faria.
A oração não é uma fórmula, mas quanto mais pedimos a Deus
para fazer, mais Ele faz. Se você quer contemplar Deus, peça ao
Espírito Santo que revele Deus a você. Ele adora fazer isso, e quanto
mais você pedir a Ele para fazer isso, mais Ele fará. Ele provavelmente
fará isso da maneira esperada, mas Ele o fará. Contemplar a Deus
é tão simples quanto ter uma conversa contínua com o Espírito,
pedindo-Lhe que faça o que Jesus prometeu que faria.
Isso pode parecer simples, mas você tem feito isso de forma
consistente por um longo período de tempo? Se você fizer isso,
o Espírito revelará Jesus a você de maneiras inesperadas, mas
significativas.
Se Jesus nos deu o Espírito para que pudéssemos conhecê-lo e Ele
prometeu que o dom do Espírito é superior ao acesso que os discípulos
Discipulado começa com a contemplação | 2 0 1

tiveram, então podemos ter certeza de que o Espírito nos levará a con-
templar Deus.

A NECESSIDADE DE CONFIANÇA
A habitação do Espírito nos foi dada para que possamos contemplar
a Deus e nos tornar como Ele. Portanto, se negligenciarmos a obra
do Espírito, não poderemos contemplar Jesus ou ser transformados
da maneira que Deus deseja. Muitas pessoas pensam que cooperar
com o Espírito acontece na maior parte no contexto de uma expe-
riência mística ou um encontro emocional, mas há muito mais na
vida no Espírito.
A principal maneira pela qual a maioria das pessoas negligencia a
obra do Espírito é não colocar sua confiança no que a Palavra de Deus
diz.
A confiança na habitação do Espírito e no sangue de Jesus são
a chave para contemplar Deus. Não contemplamos Deus com base
em quem somos em nós mesmos ou no que fizemos. Somos capazes
de contemplar Deus por causa do que Jesus fez e pelo dom do Es-
pírito, e devemos ter absoluta confiança no sangue de Jesus. Se você
tem o Espírito que habita em você, Jesus quer que você saiba que o
Pai o ama tanto quanto Ele ama a Jesus Se você quer conhecer esse
amor, deve confiar no que Jesus fez e permitir que o Espírito revele
o amor de Jesus. para você.
A habitação do Espírito nos foi dada para que possamos
contemplar a Deus e nos tornar como Ele. Portanto, se não
acreditarmos em tudo que a Bíblia diz sobre Sua presença interior,
não poderemos contemplar Jesus, nem seremos transformados.
Muitos de nós duvidamos do que a Escritura diz porque estamos
2 0 2 | Discipulado começa com a contemplação

muito familiarizados com nosso homem interior e nossas falhas,


mas se você nasceu de novo, Deus colocou Sua própria vida em
você.
Se Deus lhe deu livremente Seu Filho e Seu Espírito, Ele lhe dará
tudo o que você precisa:

Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entre-


gou por todos nós, como não nos dará também com ele
todas as coisas?
Romanos 8:32

À medida que você ganha confiança na habitação do Espírito e


no sangue de Jesus, você começará a contemplar Deus. Se você não
depositar sua confiança na Palavra, você se voltará para sua própria
percepção de si mesmo e dos outros. Isso naturalmente o levará ao
desânimo e à vergonha.
Devemos descobrir mais confiança na Palavra de Deus e no que
Jesus fez do que pensamos, vemos ou percebemos sobre nós mesmos.
O título principal do inimigo é o de “acusador”, porque ele não
quer que você confie no sangue de Jesus e no dom do Espírito Santo.
Nós o vencemos através do sangue de Jesus e nosso próprio acordo
com o que Jesus fez. Independentemente de como você se sente no
momento, Deus lhe deu Seu próprio Espírito. Fale com ele. Tenha
confiança em Sua obra. Se o fizer, verá Jesus e será transformado.
Se você quer contemplar Jesus, você precisa confiar em Sua Palavra.
CAPÍTULO 18

CONTEMPLAMOS A DEUS
EM SUA PALAVRA
Deus se revelou em Sua Palavra para que possamos saber quem
Ele é:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus.
João 1:1

E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua


glória, glória como do Filho unigênito do Pai, cheio de
graça e verdade.
João 1:14

“E o próprio Pai que me enviou deu testemunho de mim.


Sua voz você nunca ouviu, sua forma você nunca viu, e
você não tem sua palavra permanecendo em você, pois
você não acredita naquele que ele enviou. Você examina
2 0 4 | Discipulado começa com a contemplação

as Escrituras porque pensa que nelas você tem a vida eter-


na; e são eles que dão testemunho de mim.”
João 5:37-39

Deus começou a criação falando, e Ele está profundamente co-


nectado às palavras que Ele falou. As palavras de Deus são tão cen-
trais para sua revelação de Si mesmo que João o descreveu como “o
Verbo”. Suas palavras carregam Sua vida e revelam Sua natureza,
então Ele nos deu Sua Palavra e a preservou para que possamos
contemplá-Lo através dela.
Você acredita, realmente acredita, que sua Bíblia contém as pala-
vras reais do Deus vivo, incriado e eterno?
Deus preservou cuidadosa e milagrosamente Suas palavras para
nós, e devemos valorizar Suas palavras estudando-as cuidadosamen-
te e meditando nelas. Muitas pessoas procuram na Palavra de Deus
frases inspiradoras ou insights sobre um assunto. Isso é útil, mas de-
vemos ir mais fundo. Devemos meditar cuidadosamente na Palavra
para descobrir
a Pessoa que falou aquelas Palavras. Se não descobrirmos Deus
em Sua Palavra, perdemos o propósito final de Sua Palavra.
As histórias da Bíblia não foram registradas principalmente para
nos dar uma lição de história; eles foram gravados para que possa-
mos descobrir quem é Deus. Ele não muda, então o registro bíblico
de Sua atividade passada nos ajuda a descobrir quem Ele é e apren-
der a nos relacionar com Ele. A Bíblia foi escrita para que possamos
contemplar Deus e aprender Seus caminhos. A Bíblia consiste prin-
cipalmente em histórias porque Deus é profundamente relacional e
Ele é revelado mais intimamente no contexto do relacionamento.
Discipulado começa com a contemplação | 2 0 5

Suas interações passadas com Seu povo e Seus inimigos nos levam a
descobrir como Ele quer se relacionar conosco.
A Bíblia não foi escrita para dar ao mundo um registro histórico.
É um registro das palavras e ações do Deus vivo compilado para que
você possa descobrir quem Ele é, como Ele quer se relacionar com
você, como você deve se relacionar com Ele, o que Ele gosta, o que
Ele odeia, o que Ele fez, o que Ele está fazendo e o que Ele fará.
Se você ama profundamente alguém e está separado dele, as
mensagens que você tem dessa pessoa se tornam incrivelmente
preciosas. Cartas e e-mails são lidos repetidamente porque são
ferramentas escritas para olhar para a pessoa que escreveu essas
palavras. Esses registros escritos podem ser compartilhados com
amigos para que eles possam conhecer a pessoa também através das
palavras. A Bíblia é muito semelhante; é uma rampa escrita para
contemplar Deus. Através das palavras de Deus, podemos encontrá-
lo.
João foi informado que o coração da profecia bíblica foi dado
como um testemunho de Jesus.

Pois o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.


Apocalipse 19:10

Quando lemos profecias, não estamos estudando principalmente


eventos, estamos estudando uma Pessoa revelada através do que Ele
disse que faria. As descrições proféticas da atividade futura de Deus,
particularmente Sua atividade no fim dos tempos, revelam Jesus
para nós. Isso não se limita ao assunto da profecia. Toda a criação,
e portanto toda a Escritura, existe para nos dar um testemunho de
2 0 6 | Discipulado começa com a contemplação

Jesus.
Deus nos deixou um registro escrito de Seus pensamentos,
emoções, ações e planos para que pudéssemos descobrir quem Ele é.

MAIS ACESSO QUE QUALQUER OUTRA GERAÇÃO


Temos mais acesso à Palavra de Deus do que qualquer geração na histó-
ria – a questão é se valorizamos o que temos acesso?
Houve um aumento dramático no acesso a manuscritos bíblicos,
estudos bíblicos e recursos bíblicos no século passado. Temos acesso
muito mais acessível à Bíblia, recursos sobre a Bíblia e traduções
da Bíblia do que qualquer outra geração. Por causa da revolução
digital na última década, o acesso à Bíblia cresceu muito além do
que qualquer um na história poderia ter imaginado.
O mundo nunca esteve tão imerso nas Escrituras, e continua a
crescer. Percebemos o que Deus está fazendo em nosso tempo?
A maioria dos crentes ao longo da história teve acesso limitado
à Bíblia. Muitas vezes havia apenas uma cópia completa em uma
igreja ou sinagoga local. Nos últimos séculos, alguns tiveram acesso
a um exemplar da Bíblia em casa. Os santos do passado ficariam
chocados com o acesso que temos à Bíblia. Eles ficariam surpresos
ao saber que podemos ler ou ouvir a Bíblia com muito pouco esforço
a qualquer hora e em qualquer lugar, e eles ficariam igualmente
surpresos com o número de recursos bíblicos aos quais temos acesso.
Temos acesso quase ilimitado à Bíblia em uma infinidade de
traduções, juntamente com inúmeros recursos. Os profetas não
tinham o que nós temos. Os discípulos não tinham o que nós temos.
Os reformadores não tinham o que nós temos. Você pode imaginar
como o apóstolo Paulo ficaria animado se tivesse as ferramentas que
Discipulado começa com a contemplação | 2 0 7

temos?
Não compreendemos totalmente as riquezas que nos foram entregues
gratuitamente. Agora mesmo Deus está inundando a terra com a
Palavra de Deus, e isso é totalmente sem precedentes.
A revolução digital produziu coisas boas e ruins, mas não há
dúvida de que Deus a está usando para saturar o mundo com Sua
Palavra. Poucos anos atrás, as Bíblias tiveram que ser impressas e
transportadas por todo o mundo. Agora, as Bíblias estão disponíveis
gratuitamente e instantaneamente em quase todos os lugares do
mundo em dispositivos que estão no bolso de todos. A revolução
digital é tão difundida que é fácil perder de vista como nosso mundo
mudou drasticamente em poucos anos.
A revolução digital não é sobre Netflix, Facebook e YouTube – é
sobre acesso gratuito à Palavra de Deus.
O desafio de nosso acesso inigualável à Bíblia é que as pessoas
tendem a não valorizar as coisas que são gratuitas e facilmente
disponíveis. Para usar uma expressão idiomática, “familiaridade
gera desprezo”. Por exemplo, um casal que está namorando valoriza
profundamente cada momento que podem ficar juntos porque
o tempo juntos é precioso e limitado. Quando eles são casados​​
e têm acesso constante um ao outro, porém, eles começam a se
desvalorizar ao longo do tempo. Você pode dizer honestamente que
valoriza a Bíblia em seu smartphone tanto quanto valoriza a Palavra
se houvesse apenas uma única cópia compartilhada em toda a sua
igreja?
Temos uma oportunidade sem precedentes de meditar profundamente
na Palavra de Deus, e devemos aproveitar a oportunidade.
Deus lidera a história, e Ele está inundando o mundo com a
2 0 8 | Discipulado começa com a contemplação

Bíblia porque Ele tem um propósito muito específico em mente.


O Senhor quer que esta geração O contemple em Sua Palavra de
uma maneira que nenhuma geração anterior conseguiu. Muitos não
reconhecem o valor do que nos foi dado, mas é hora de um povo
reconhecer o que nos foi dado e tirar o máximo proveito disso.
É hora de aproveitar esta oportunidade extraordinária para
devorar a Palavra de Deus e mergulhar nela. A Palavra precisa se
tornar como alimento para nós, e precisamos “comer o rolo” como
os profetas antigos. dia.
Enquanto alguns podem ignorar o tesouro que nos foi dado,
outros vão reconhecer as riquezas que temos em nossas mãos, e
surgirá um povo que está mais embebido nas Escrituras do que
qualquer geração na história. O Espírito Santo ama a Palavra de
Deus, e toda vez que um povo se entrega à Palavra de Deus, Ele
começará a falar através dessa Palavra e revelar Deus.
Quando pensamos em contemplar Deus, muitas vezes esperamos que
o Espírito Santo nos dê uma nova visão ou revelação por meio de algum
tipo de encontro surpreendente. Mas não podemos esperar que Deus nos
fale coisas novas quando não valorizamos o que Ele já falou.
Devemos procurar fazer da Palavra de Deus, não apenas uma
questão de disciplina, mas uma fonte de entretenimento. Devemos
ler a Palavra, cantar a Palavra, meditar na Palavra e falar uns com
os outros. Devemos também pegar a Palavra e transformá-la em
oração porque ela nos foi dada como material de conversação. Amar
a Palavra não significa ler o máximo possível o mais rápido possível;
significa amar a meditação na Palavra e permitir que essa Palavra
afete nossos espíritos e traga a transformação que Deus deseja.
O Espírito Santo ama quando transformamos as Escrituras em
Discipulado começa com a contemplação | 2 0 9

conversação e, se nos envolvermos consistentemente nessa prática,


veremos Deus de maneiras novas e inesperadas. Ao ler a Palavra de
Deus, faça uma pausa e transforme-a em conversa:

• Agradeça a Deus pelo que Ele tem feito.


• Peça a Deus poder para obedecer ao que Ele ordena.
• Peça a Deus para dar discernimento e revelação de frases em
Sua Palavra.
• Peça a Deus para transformar seu pensamento para
concordar plenamente com Ele.

Se você fizer isso consistentemente ao longo do tempo, você


começará a contemplar Deus. Se você se aproximar da Palavra dessa
maneira junto com os outros, verá ainda mais.
CAPÍTULO 19

SOMOS DISCIPULADOS CANTANDO


Cantar é uma das principais ferramentas que recebemos para con-
templar a Deus. O poder da música e do canto é óbvio, mas rara-
mente consideramos o papel que o canto deve desempenhar em
nosso discipulado, quando cantamos em particular e com outras
pessoas. Os humanos são projetados exclusivamente para responder
à música e ao canto. Uma simples melodia ou progressão de acordes
pode imediatamente despertar a emoção e transmitir uma sensação
de majestade, alegria, celebração, luta, tristeza ou medo. Quando as
palavras se unem à música, o efeito é ainda mais profundo.
O canto desempenha um papel importante no desenvolvimen-
to do povo de Deus em toda a Bíblia. Israel sempre foi um povo
que cantava, e o tabernáculo de Davi instituiu formalmente o canto
como um componente central do ritmo de vida e forma de disci-
pulado de Israel. Esses fundamentos do Antigo Testamento prepa-
raram o terreno para uma expressão muito maior do canto no Novo
Testamento. Na verdade, é provável que o Cristianismo dê mais
2 1 2 | Discipulado começa com a contemplação

ênfase ao canto do que qualquer outra religião no mundo.


Por meio do canto individual e corporativo, contemplamos Deus de
uma maneira única.
Líderes de adoração, cantores, músicos e compositores são teó-
logos musicais. Alguns podem recuar porque têm uma noção pre-
concebida de um teólogo como alguém que está constantemente
imerso em livros, muito inteligente, difícil de entender e focado no
estudo acadêmico.
No entanto, essas caricaturas do que significa ser um “teólogo”
não são precisas. Aqueles que lideram o culto musical não precisam
tentar se conformar com alguma definição artificial de um “teólo-
go”, mas devem reconhecer seu papel como teólogos musicais na
igreja. Aqueles que lideram a adoração musical muitas vezes têm um
efeito muito maior na concepção de Deus das pessoas do que aque-
les que ensinam e pregam, indicando que a música desempenha um
papel profundo no discipulado da maioria das pessoas. Liderar o
canto de uma congregação é uma responsabilidade séria e deve ser
feito com sobriedade.
A Bíblia está repleta de canções e comandos para cantar,
reconhecendo o papel crítico do canto no discipulado de uma
comunidade. A maioria dessas canções são canções sobre Deus
e nosso relacionamento com ele. Eles foram gravados para
adoração corporativa para que pudéssemos contemplar a Deus
juntos, declarando sua natureza musicalmente. A combinação de
letras majestosas e música é uma das maneiras mais poderosas de
contemplarmos Deus, e os tipos de canções que cantamos revelam
o que pensamos sobre Deus.
Cantar era uma parte central da vida devocional pessoal de Pau-
Discipulado começa com a contemplação | 2 1 3

lo e aparentemente tão importante quanto a oração em seu ritmo


diário. Paulo também cantou no Espírito, indicando que cantar é
tão importante que o Espírito nos ajuda a cantar e canta conosco:

Eu orarei com meu espírito, mas orarei com minha mente


também; Cantarei louvores com meu espírito, mas também
cantarei com minha mente.
1 Coríntios 14:15

Deus adora cantar conosco e, no processo, descobrimos quem Ele é.


Quando Paulo e Silas foram espancados e presos em Filipos, eles
oravam e cantavam durante seu sofrimento. Essa resposta ao sofri-
mento deles mostra que a oração e o canto eram dois dos principais
meios que usavam para contemplar a Deus no sofrimento:

Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam orando e can-


tando hinos a Deus, e os prisioneiros os ouviam.

Atos 16:25

Cantar também era uma parte importante dos métodos de disci-


pulado de Paulo. Ele disse aos efésios para andarem com sabedoria
e fazerem o melhor uso do seu tempo cantando uns para os outros:

Observe com atenção então como você anda, não como insen-
sato, mas como sábio, aproveitando o tempo da melhor ma-
neira, porque os dias são maus... dirigindo-se uns aos outros
em salmos e hinos e cânticos espirituais, cantando e entoando
2 1 4 | Discipulado começa com a contemplação

melodias ao Senhor com o coração, dando graças sempre e por


tudo a Deus Pai em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sub-
metendo-se uns aos outros em reverência a Cristo.

Efésios 5: 15–16, 19–21

Paulo instruiu os efésios a cantar uns para os outros. Cantar


não é apenas um exercício pessoal. Nós também devemos cantar
um para o outro. Conseqüentemente, nessa passagem, o “você” a
quem Paulo falou era um você no plural e não um você no singular,
portanto, essas instruções são destinadas ao discipulado corporativo.
Este capítulo em Efésios começa com o mandamento de sermos
“imitadores de Deus”, então cantar é uma das ferramentas que nos
permite contemplar a Deus e então nos tornar semelhantes a Ele.
Paulo exortou os colossenses a deixar a Palavra habitar neles, en-
sinando e instruindo uns aos outros por meio do canto:

Deixem a palavra de Cristo habitar em vocês ricamente, en-


sinando e admoestando uns aos outros com toda a sabedoria,
cantando salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão em
seus corações a Deus.
Colossenses 3:16

Mais uma vez, o “você” nessa passagem está no plural, mostran-


do que esse comando é para a comunidade corporativa, não apenas
para indivíduos. Esta seção de Colossenses começa com a ordem de
se tornar como Jesus:
Discipulado começa com a contemplação | 2 1 5

Se então você foi ressuscitado com Cristo, busque as coisas que


estão acima, onde Cristo está sentado à destra de Deus. Con-
centre-se nas coisas que estão acima, não nas coisas que estão
na terra. Pois você morreu, e sua vida está oculta com Cris-
to em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, aparecer, você
também aparecerá com ele na glória.
Colossenses 3:1–4

Devemos buscar as “coisas de cima”, o que significa enfocar a


pessoa de Jesus e as implicações de Sua exaltação aos céus. Devemos
ver o mundo de sua perspectiva para que possamos descobrir quem
somos Nele e viver com a compreensão de que apareceremos com
Ele na glória quando Ele voltar. Paulo incluiu o canto como uma
das disciplinas corporativas que nos permitem contemplar Jesus e
Sua exaltação para que possamos nos tornar como Ele.
Paulo discipulou pessoas por meio do canto, e esse é um padrão que
devemos seguir, porque o canto nos permite contemplar a Deus de uma
maneira única.

POR QUE CANTAR?


O canto é tão comum na Bíblia que levanta a questão: por que can-
tar? Embora não possamos dar uma resposta completa a isso em um
pequeno espaço, há vários motivos pelos quais o canto é tão comum
nas Escrituras.
Cantar move nossas emoções de uma maneira que falar raramente o
faz. Ouvir uma mensagem pode nos comover profundamente, mas
cantar tem muito mais probabilidade de mover nossas emoções e,
em geral, nos afeta de forma mais profunda e rápida do que ouvir
2 1 6 | Discipulado começa com a contemplação

algo falado. A música tem um grande efeito em nossas emoções, e


Deus deseja que nossas emoções estejam conectadas ao Seu plano.
Cantar ultrapassa nossa resistência natural. Cantar tem a capaci-
dade única de contornar nossa resistência a uma ideia ou conceito,
e isso lhe confere um poder incrível para o bem ou para o mal.
Por exemplo, é fácil encontrar-se em um shopping ou outro espaço
público cantando junto com uma música inadequada. O poder da
música pode facilmente induzi-lo a repetir coisas que você não diria
e que você avaliaria criticamente se uma pessoa lhe pedisse para
repetir. Aliás, essa habilidade da música a torna inestimável para
comunicar o evangelho.
Pessoas que hesitariam em responder a um sermão desafiador
não hesitariam em cantar letras como:

“Então, coloque-me em qualquer lugar, apenas colo-


que Sua glória em mim, eu servirei em qualquer lugar,
apenas deixe-me ver Sua beleza.”

“Leve-me através do fogo, leve-me através da chuva,


leve-me através do teste, eu farei qualquer coisa.”

“Eu quero ser provado pelo fogo, purificado, Você leva


tudo o que Você deseja, Senhor, aqui está a minha vida.”

Essas letras são incrivelmente exigentes, mas mesmo assim as


pessoas as cantam devocionalmente facilmente quando são tocadas.
A música ajuda as pessoas a aceitar o difícil chamado ao discipulado,
e os líderes de louvor devem abordar seu dom com isso em mente.
Discipulado começa com a contemplação | 2 1 7

• Cantar é uma experiência corporativa. Quando alguém en-


sina ou prega, o público fica em silêncio. Por outro lado,
quando uma pessoa talentosa começa a liderar uma mú-
sica, todos se juntam ao canto. Nem todo mundo tem
o dom de liderar musicalmente, mas toda a congregação
participa do canto. É uma maneira pela qual podemos
contemplar a Deus e declarar Sua beleza juntos.
• Nós memorizamos canções naturalmente. Quando
cantamos, isso se torna parte de nós, e a música pode ser
o dispositivo de memória mais poderoso. Se você pedir às
pessoas para repetir o sermão da semana passada, elas só
serão capazes de apresentar alguns pontos principais da
mensagem. No entanto, sem nenhum esforço, as pessoas
memorizam facilmente as canções que cantam todas as
semanas. Há algo na música que guarda uma mensagem
profundamente em nós. Como exemplo, o movimento
metodista foi um dos movimentos cristãos de maior
impacto no mundo ocidental sob a liderança de John
Wesley. Até hoje, as pessoas estão cientes de John Wesley,
mas muito poucas pessoas poderiam sequer citar um de
seus sermões. Charles, irmão de John, codificou a teologia
do movimento em seus hinos, e até hoje suas canções são
amplamente cantadas. Não conhecemos os sermões de
João, mas ainda cantamos as canções de seu irmão.
• As músicas criam memórias profundas e marcam movimen-
tos redentores na história. Ao longo da Bíblia, canções são
cantadas para marcar grandes eventos na história. Cantos
2 1 8 | Discipulado começa com a contemplação

de lamento em meio às crises e cantos de festa nas grandes


vitórias. Essas músicas se tornam uma maneira poderosa
de recontar a história da atividade de Deus na história.
Do êxodo ao fim dos tempos, vemos os santos cantando a
obra de Deus no passado, presente e futuro.
• Cantar está conectado com a atividade do Espírito. Eliseu
pediu um músico quando buscou ao Senhor por uma pa-
lavra, e a música de Davi libertou Saul da opressão dos
espíritos malignos. Paulo também associou o canto à ati-
vidade do Espírito porque o canto bíblico e centrado em
Deus cria um contexto para o Atividade do Espírito.
• Deus ama cantar. Talvez o principal motivo pelo qual
cantar seja tão importante seja porque Deus ama cantar.
Sofonias diz que Deus expressa Seu deleite em Seu povo
com “cânticos altos”. Quando Davi trouxe a arca para Je-
rusalém, ele cercou a presença de Deus com cânticos, e
quando temos vislumbres da sala do trono de Deus, Ele
está rodeado de música e cantos. É óbvio que Deus ama
cantar, e nós amamos música e cantar porque fomos feitos
à Sua imagem. Nosso deleite pela música é Seu deleite, e
o poder que a música tem sobre nós origina-se do amor
de Deus pela música.

Deus claramente discipula Seu povo através do canto, e este é


um dos os aspectos mais negligenciados do discipulado. Nós na-
turalmente cantamos sobre as coisas que amamos e vemos o que
achamos belo na música. A grande maioria das canções humanas
são canções de amor, e quando ouvimos a canção de amor de uma
Discipulado começa com a contemplação | 2 1 9

pessoa, isso nos permite contemplar a beleza da pessoa que con-


quistou o afeto do cantor. Quando cantamos canções centradas no
homem na igreja, isso mostra que ainda somos capturados por nossa
própria beleza, mas as canções bíblicas nos permitem contemplar a
beleza de Deus e proclamá-la aos outros.
CAPÍTULO 20

CONTEMPLAMOS A DEUS
EM SEU POVO
Somos transformados ao contemplarmos Jesus juntos corpora-
tivamente, mas também somos transformados ao contemplarmos
Jesus na assembléia corporativa. Quando Paulo encontrou Jesus em
Atos 9, ele ficou completamente atordoado e teve apenas uma res-
posta para a majestade que encontrou: Quem és tu?

Agora, enquanto seguia seu caminho, aproximou-se de


Damasco e, de repente, uma luz do céu brilhou ao seu
redor. E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia:
Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: “Quem
és tu, Senhor?” E ele disse: “Eu sou Jesus, a quem você
persegue”.
Atos 9:3-5

Até onde sabemos, Paulo nunca tinha visto Jesus pessoalmente,


2 2 2 | Discipulado começa com a contemplação

mas Jesus acusou Paulo de persegui-lo porque Paulo estava oprimin-


do Seu povo. Portanto, o encontro de Paulo com a glória de Jesus
em Atos 9 foi também um encontro com a glória do povo de Jesus.
O encontro de Paulo revela que Jesus se identifica profundamente
com Seu povo, e quando encontramos Seu povo, nós o encontra-
mos.
As pessoas que pertencem a Jesus são uma testemunha incompleta,
mas autêntica, de quem Ele é. Quando participamos do corpo, começa-
mos a contemplar aspectos de quem Jesus é por meio de Seu povo.
Na noite anterior à Sua execução, Jesus orou para que Seu povo
se tornasse a principal testemunha de que Ele existe:

Não peço somente estes, mas também aqueles que cre-


rão em mim pela palavra deles, para que todos sejam um,
assim como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti, para que
também eles estejam em nós. , para que o mundo creia
que me enviaste. A glória que me deste, eu dei a eles, para
que sejam um, assim como nós somos um, eu neles e você
em mim, para que eles se tornem perfeitamente um, para
que o mundo saiba que você me enviou e os amava assim
como você me amava.
João 17:20–23

O Pai responde a cada oração que Jesus faz, o que significa que a
igreja deve se tornar tão parecida com Jesus que ela é uma testemu-
nha inegável de que Ele existe e que Ele é o Humano Divino que
desceu, ascendeu e descerá novamente. Se Jesus quer que o mundo
O veja em Seu povo, então Ele também espera que possamos con-
Discipulado começa com a contemplação | 2 2 3

templá-Lo em Seu povo.

O CABEÇA DE UM CORPO
Em todo o Novo Testamento, a igreja é referida como o “corpo” de
Jesus e esta analogia tem implicações significativas:

E ele é a cabeça do corpo, a igreja. Ele é o princípio, o


primogênito dentre os mortos, para que em tudo seja pre-
eminente.
Colossenses 1:18

E pôs todas as coisas debaixo de seus pés e o deu como


cabeça sobre todas as coisas à igreja, que é o seu corpo, a
plenitude daquele que cumpre tudo em todos.
Efésios 1:22-23

Antes, falando a verdade em amor, cresçamos em tudo


naquele que é a cabeça, em Cristo, de quem todo o corpo,
bem ajustado e unido por todas as juntas de que é equipa-
do, quando cada parte está operando corretamente, faz o
corpo crescer para que se construa no amor.
Efésios 4:15-16

Pois o marido é a cabeça da esposa, assim como Cristo é


a cabeça da igreja, seu corpo, e ele mesmo é seu Salvador.
Efésios 5:23

Deus criou tudo na criação para se dar a conhecer, mas Ele for-
mou a igreja para uma função única, e a revelação da glória de Jesus
2 2 4 | Discipulado começa com a contemplação

está inseparavelmente ligada ao Seu povo. Jesus uniu-se inseparavel-


mente ao cosmos tornando-se parte da criação, e está inseparavel-
mente unido ao Seu povo. Uma cabeça não pode existir separada de
um corpo, e o mesmo acontece com Jesus.
Toda a criação é um palco para revelar a pessoa de Deus, e a nova
humanidade também é um “palco” para revelar Deus.
Deus escolheu se revelar em um homem (Jesus) e um povo
unido a esse homem. Ambas as revelações são necessárias para que
Deus seja conhecido, e ambas o tornam conhecido da maneira que
Ele quer ser conhecido. A cabeça de um corpo é a parte mais alta
e proeminente de uma pessoa. É onde a natureza, a inteligência, as
emoções e a identidade de uma pessoa são encontradas. A cabeça
lidera o corpo, e o corpo não pode funcionar sem a cabeça. No en-
tanto, se você vê apenas a cabeça de uma pessoa, você realmente não
vê a pessoa porque a cabeça é apenas uma pequena parte de uma
pessoa. Além disso, uma cabeça não ligada a um corpo é terrível.
As implicações são surpreendentes: a revelação de Jesus é incompleta
sem o Seu povo.
Muitas vezes negligenciamos a revelação de Jesus em Seu povo
porque nos conhecemos bem e estamos familiarizados com as falhas
e deficiências uns dos outros. Deus, ao contrário, mostra Sua glória
poderosamente em Seu povo, e podemos contemplar a face de Jesus
na igreja local. É uma imagem imperfeita de Jesus, e é por isso que
muitas vezes a desvalorizamos, mas é uma imagem autêntica de Je-
sus, no entanto.
Assim como você precisa ver o corpo de uma pessoa e não apenas sua
cabeça para descobrir quem ela é, há aspectos da beleza de Jesus que só
encontramos no corpo.
Discipulado começa com a contemplação | 2 2 5

Muitos cristãos esperam tornar-se maduros e completos como


indivíduos, mas isso não é bíblico. Deus não está formando indi-
víduos auto-suficientes e completos. Ele está formando um povo
corporativo. Jesus não é um polígamo à procura de muitas “noivas”.
Ele é o cabeça de uma noiva solteira – um povo corporativo que será
uma demonstração Dele corporativamente.
Individualmente, nunca refletiremos a plenitude de Jesus, mas
juntos podemos ser uma representação corporativa de Jesus. Assim,
o Espírito distribui Seus dons por todo o corpo. Ele não dá tudo a
uma única pessoa. Há coisas sobre as quais Deus nunca falará com
você e dons que Ele nunca lhe dará porque Ele quer que você ouça
Sua voz e O encontre em Seu corpo.

A SABEDORIA DE DEUS SERÁ CONHECIDA POR MEIO DE UM POVO


Deus vai instruir os governantes e autoridades e ensinar-lhes Sua
“sabedoria múltipla” através da igreja.

Para que, por meio da igreja, a multiforme sabedoria de


Deus seja agora conhecida aos governantes e autoridades
nos lugares celestiais.
Efésios 3:10

Se os poderes do mal vão contemplar a sabedoria de Deus através


da igreja, então quanto mais devemos contemplar a pessoa de Deus
entre Seu povo?
Esta é talvez a maneira mais negligenciada de contemplar a bele-
za de Jesus, mas a igreja chegará à maturidade. A igreja vai se tornar
um “homem maduro”, chegando à estatura da “plenitude de Cris-
2 2 6 | Discipulado começa com a contemplação

to”. a beleza de Jesus em Seu povo à medida que Ele os transforma


e opera Sua vida através deles.
CAPÍTULO 21

CONTEMPLAMOS A DEUS
EM ORAÇÃO
Se você quer conhecer alguém, você tem que falar com eles. Você
não pode esperar conhecer alguém profundamente se você apenas
ler sobre eles ou confiar em terceiros para descrevê-los para você.
Deus nos deu Sua Palavra como material de conversa com Ele. Falar
a Palavra de Deus de volta para Ele é uma das melhores maneiras de
se envolver em oração. Quando você dedica tempo à oração, pode
ou não sentir a presença de Deus de maneira forte, mas sabemos
que Deus nos deu Seu próprio Espírito, o que significa que Ele está
presente conosco mesmo quando não o sentimos.
Em muitos casos, estamos perdendo a visão de Deus porque não
reservamos consistentemente tempo para falar com Ele e nos relacionar
com Ele como pessoa.
Muitas pessoas pensam que você contempla Deus em oração pe-
dindo a Ele que se revele e depois esperando que algo espetacular
2 2 8 | Discipulado começa com a contemplação

aconteça, mas é muito mais comum Deus responder suas orações ao


longo do tempo e de forma diferente do que você espera. Deus lhe
dará momentos preciosos com Ele quando Sua presença for tangível
de uma maneira incomum, mas este é apenas um aspecto de con-
templá-Lo através da oração. A oração produz mais frutos quando
continuamente separamos um tempo regular para falar com Deus
ao longo do tempo.
Alguns abordam a oração como uma forma de fazer as coisas,
mas a oração não é funcional; é relacional. A oração é uma das ferra-
mentas que Deus usa para forjar um relacionamento conosco. Deus
quer que conversemos com Ele e, ao falarmos com Ele, Ele trará
uma transformação substancial ao longo do tempo.
Talvez o maior desafio que temos na oração seja a nossa capa-
cidade limitada de atenção. Nos acostumamos com interrupções e
distrações quase constantes, e há pouca resistência a essas intrusões.
Podemos estar em uma conversa íntima com um amigo e, em um
segundo, estar lendo e respondendo a um alerta sobre um tema
completamente diferente.
Essa incapacidade de se concentrar especificamente em uma
coisa tem repercussões acentuadas em várias áreas e definitivamen-
te afeta a oração. Quando muitos de nós oramos, nossas mentes e
pensamentos ficam lotados e não sabemos como fixar nossa atenção
no Senhor por um período de tempo. Achamos que a oração é o
problema, ou que Deus é difícil de encontrar, mas a realidade é que
não cultivamos a capacidade de focalizar e tratar Deus como uma
pessoa intensamente relacional.
Às vezes, tratamos Deus pior do que tratamos outro ser humano.
Podemos estar no meio de uma oração e, de repente, respondemos a
Discipulado começa com a contemplação | 2 2 9

um alerta do nosso telefone sem qualquer hesitação, demonstrando


que não vimos nossa conversa com Deus como uma conversa real.
Deus é muito bondoso, mas esses hábitos nos roubam a verdadeira
comunhão na oração. Ele é uma pessoa intensamente relacional. Ele
irá persegui-lo, mas também quer um relacionamento real e subs-
tancial com você.

A PRIMAZIA DA ORAÇÃO CORPORATIVA


A oração não é apenas uma questão individual, é também uma ex-
periência corporativa. Quando a maioria das pessoas pensa em ora-
ção, pensa em um “quarto de oração” oculto e privado. No entanto,
quase todas as menções à oração no livro de Atos descrevem a oração
corporativa, e há muito poucas referências à oração privada. Além
disso, muitas (talvez a maioria) das referências de Paulo à oração são
claramente corporativas ou assumem uma aplicação corporativa.
A oração do Novo Testamento não pode ser apenas uma disciplina
privada; deve ser uma parte fundamental de nossa vida corporativa em
conjunto.
Existem exemplos incríveis de intercessores ao longo da história
que tiveram vidas de oração poderosas, mas se seguirmos as Escri-
turas como nosso único guia, encontraremos mais ênfase na oração
coletiva do que na oração individual. Isso não significa que devemos
negligenciar a oração individual, mas significa que precisamos de
um maior compromisso com a oração corporativa como uma das
principais maneiras de vivermos juntos como povo.
Precisamos de ritmos consistentes e frequentes de oração corporativa
em nossas comunidades espirituais. Ao nos reunirmos e falarmos com
Deus como um povo, Ele se revelará a nós.
2 3 0 | Discipulado começa com a contemplação

A TRANSFORMAÇÃO É REPENTINA E GRADUAL


A transformação na vida cristã é uma combinação de momentos
repentinos em que Deus faz algo que somente Ele pode fazer e lon-
gos períodos de tempo em que Deus nos transforma por meio de
nossa própria participação com Seu poder. Por exemplo, nascemos
de novo em um momento em que Deus nos dá Seu Espírito. A obra
de Deus naquele momento produz uma transformação radical, mas
também põe em movimento um processo de crescimento e transfor-
mação que requer a participação humana e se desenvolve ao longo
do tempo.
O nascimento natural fornece a melhor analogia de como Deus
desenvolve Seu povo. Para que uma pessoa nasça, deve haver um
súbito momento de concepção, quando a pessoa que não existia
anteriormente está agora viva. Esse momento é seguido por décadas
de crescimento e desenvolvimento à medida que a pessoa se torna o
que foi feita para ser.
Alguns cristãos esperam que toda transformação aconteça através
da obra repentina de Deus, e outros apenas se concentram na trans-
formação gradual ao longo do tempo. Mas ambos são necessários
para a transformação bíblica. Precisamos que Deus aja de repente
em momentos e faça o que só Ele pode fazer, e quando Ele faz isso,
coloca em movimento um processo de crescimento e desenvolvi-
mento que requer nossa participação. A oração é um contexto para
a atividade repentina de Deus e transformação por longos períodos
de tempo. Ambos são aspectos da oração, e ambos permitirão que
você contemple Deus.
A oração pode ser uma experiência mística, mas deve ser aborda-
Discipulado começa com a contemplação | 2 3 1

da praticamente como um ritmo diário. À medida que você cresce


em oração, parecerá mais normal porque você não precisa ir até
o céu para orar com sucesso. Deus habita em nós pelo Espírito, e
quando oramos, comungamos com Ele – de espírito para Espírito.
Não precisamos conhecer “palavras secretas” que mudarão repenti-
namente nossa vida de oração. Se não soubermos orar, podemos ter
certeza de que o Espírito está nos ajudando a orar e compensando o
que nos falta. O Espírito também nos dá o dom de orar no Espírito
que pode incluir orar em silêncio com Sua ajuda, orando palavras
simples capacitadas por Sua força, e orando em línguas que não
conhecemos como Ele nos capacita.
Há vários passos que podemos dar que nos ajudarão a contem-
plar Deus em oração ao longo do tempo:

• Aborde a oração como uma conversa e não apenas uma lista


de petições.
• Ore a Bíblia e transforme-a em conversa.
• Reserve um tempo em oração para ouvir. Deus muitas vezes
dará impressões.
• Estabeleça um ritmo diário de oração que inclua um horário
e local definidos.
• Ao longo do dia, reserve momentos de oração e aproveite os
breves momentos ao longo do dia, aproveitando a oportuni-
dade para falar com o Senhor.
• Ore com outras pessoas em pequenos grupos.
• Combine oração e canto (adoração). Por exemplo, a maioria
dos Salmos são canções e orações.
2 3 2 | Discipulado começa com a contemplação

Se você desenvolver um hábito consistente de oração, verá Deus


cada vez mais com o tempo.
CAPÍTULO 22

CONTEMPLAMOS A DEUS
EM JEJUM
As pessoas normalmente recorrem ao jejum em situações extre-
mas, como quando precisam de uma resposta imediata ou liberta-
ção de uma situação grave. O jejum pode ser apropriado nessas situ-
ações, mas, como vimos, Jesus enfatizou outro motivo para o jejum:

E Jesus lhes disse: “Os convidados do casamento podem


chorar enquanto o noivo estiver com eles? Dias virão em
que o esposo lhes será tirado, e então jejuarão”.

Mateus 9:15

Há duas declarações aqui que precisamos observar. Primeiro,


Jesus predisse que Seu povo jejuaria. O jejum deve fazer parte do
nosso ritmo espiritual. Segundo, Jesus conectou o jejum ao luto por
Sua ausência. O jejum do Novo Testamento não é principalmente
2 3 4 | Discipulado começa com a contemplação

para garantir uma resposta em uma emergência; expressa nosso luto


pela ausência de Jesus.
Infelizmente, em nosso tempo, temos pouco jejum e pouco luto.
Quando as pessoas querem ficar em forma, muitas vezes ado-
tam “dietas radicais” e de repente pulam refeições e mudam tudo o
que comem na esperança de perder peso rapidamente. Embora isso
possa produzir perda de peso rápida, raramente produz sucesso a
longo prazo. As pessoas geralmente são mais bem-sucedidas quando
mudam seus hábitos alimentares e desenvolvem um novo ritmo de
alimentação e exercícios. Esse processo de perda de peso leva mais
tempo, mas desenvolve um novo modo de vida mais saudável que
produz sucesso a longo prazo.
O jejum é muitas vezes tratado como uma “dieta radical” e um
último esforço para chamar a atenção de Deus quando deveria se tornar
parte de um ritmo regular de busca ao Senhor.
Evitar maus hábitos não é jejuar; é uma boa autodisciplina. O
jejum é um tempo de abstinência intencional de coisas que são boas
bênçãos de Deus. O jejum normalmente envolve comida e pode
envolver outras coisas também,188 mas a comida não é ruim. A
comida é um bom presente de Deus. Não nos abstemos de comida
porque é ruim; nos abstemos de comida temporariamente como
uma declaração de luto.
Quando jejuamos, fazemos uma declaração de que as coisas não
estão bem e, por causa disso, não podemos desfrutar plenamente das
bênçãos que Deus providenciou para nós até que Deus volte a habitar
conosco.
Por exemplo, quando uma pessoa morre, as pessoas se abstêm de
comer regularmente e de outros ritmos de vida. Sua dor e luto os
Discipulado começa com a contemplação | 2 3 5

impedem de se envolver em atividades normais, e esse é o conceito


por trás do jejum do Novo Testamento.
Não jejuamos para impressionar a Deus ou provar nossa espiri-
tualidade. Não jejuamos para convencer Deus a fazer coisas que Ele
não está disposto a fazer. Jejuamos como uma expressão de luto –
uma declaração de desejo – por Jesus. O jejum não é uma questão
de negação; trata-se de negação com um propósito. Por exemplo, se
evitarmos apenas comida, isso não é jejum. Isso é fazer dieta. Jejuar
é evitar comida para que possamos dar tempo para colocar nosso
foco no Senhor.
Como o jejum é uma expressão de luto pela ausência de Jesus, natu-
ralmente chama nossa atenção para Ele e nos leva a contemplá-lo.
Você pode não sentir vontade de jejuar e pode se sentir fraco ao
jejuar. Não fique surpreso ou desencorajado pela fraqueza, porque
o jejum é um abraço intencional da fraqueza. Você vai sentir fome.
Será desconfortável porque a fraqueza é desconfortável para nós,
mas em nossa fraqueza, o Senhor traz transformação. O jejum nem
sempre traz revelação imediata em nossa vida espiritual; no entanto,
o jejum ao longo do tempo produzirá transformação e descobrire-
mos a revelação de Jesus de novas maneiras.
Nossa era constantemente nos diz para festejar, e uma compre-
ensão errada da graça nos diz que não há necessidade do ritmo do
jejum. No entanto, Jesus previu que jejuariamos como parte de nos-
so luto por Sua ausência. Não espere até sentir luto para jejuar. Se
você abraçar o ritmo do jejum, isso o levará ao luto se você o usar
como uma ocasião para colocar seu foco no Senhor. O jejum pode
ser a maneira mais negligenciada de contemplar a beleza de Jesus, e
nos levará a contemplá-lo se o abraçarmos.
2 3 6 | Discipulado começa com a contemplação

ESTILOS DE VIDA EM JEJUM


Precisamos de ritmos de jejum, mas também precisamos de um es-
tilo de vida jejuado. Somos a geração mais distraída da história.
Se você mora em um país rico, está constantemente cercado pela
mídia e continuamente interrompido por dispositivos digitais. Você
também fica impressionado com um bufê de entretenimento sem
fim. A cultura nos diz para adicionar mais às nossas vidas e nos
adverte que estamos perdendo. Por causa das mídias sociais, uma
geração inteira está vivendo agora com FOMO (Fear Of Missing
Out - Medo de perder).
Muitos cristãos não podem “encontrar” Deus porque suas vidas
já estão muito cheias. Quando um jovem decide que quer se casar
com uma jovem, ele não pode adicionar um casamento ao seu estilo
de vida existente. Ele tem que ajustar radicalmente seu estilo de
vida. Existem relacionamentos e atividades que ele precisa aban-
donar se quiser os benefícios de um relacionamento profundo com
outra pessoa.
Muitos de nós estão no mesmo lugar. Temos tanto de Deus
quanto podemos ter até cortarmos algumas coisas. Nossas vidas es-
tão muito cheias para contemplá-Lo, e Ele não é outra atividade
para acrescentar aos nossos entretenimentos. Ele é uma Pessoa real
— uma Pessoa Divina — e conhecê-Lo requer as mesmas mudanças
exigentes que um casamento exige.
Considere uma garotinha que desenha cuidadosamente uma
foto e a leva para o pai enquanto ele está imerso em um jogo de
esportes. Ela quer sua atenção e quer mostrar a ele o que ela fez,
mas ele está muito distraído com o jogo. As imagens cativantes em
Discipulado começa com a contemplação | 2 3 7

uma tela o impedem de ver algo bonito e envolvente na vida real.


Muitos de nós estamos vivendo como um homem cativado por um
jogo. Deus quer que contemplemos Sua beleza, mas estamos mais
interessados ​​em nossas atividades e entretenimentos.
Muitos de nós estamos vivendo com um “medo de perder” sub-
consciente, mas é hora de descobrir um novo tipo de FOMO, o
medo de perder
na revelação de Deus porque nossas vidas já estão muito cheias.
Se realmente queremos contemplar Deus, precisamos abrir espaço
para isso. Precisamos abrir espaço em nossas agendas, que provavel-
mente estão muito cheias. Tudo pode parecer importante, mas isso
não significa que seja. Precisamos abrir espaço em nossas mentes.
Em muitos casos, estamos constantemente pensando em um mi-
lhão de coisas porque estamos distraídos, tentando realizar várias
tarefas ao mesmo tempo e processando muitas entradas.
Se você comer constantemente, nunca desfrutará da comida.
Você tem que ter períodos entre as refeições quando seu corpo dige-
re sua comida e começa um novo ciclo de fome. Quando esse ciclo
acontece corretamente, comer é imensamente satisfatório. Se você
tentar abreviar o processo de digestão e fome, a comida se torna
monótona e sem graça. Precisamos criar espaço para que a fome
real cresça em nossas almas. Precisamos de espaço real em nossas
agendas, nossas mentes e nossas emoções para que Deus se revele.
Só porque temos acesso a algo não significa que devemos nos entregar
a isso.
A maioria dos cristãos reconhece que não deve se envolver em
certos tipos de entretenimento e atividades, mas atividades nefastas
não são nossa maior ameaça. Nosso maior desafio é atividade e en-
2 3 8 | Discipulado começa com a contemplação

tretenimento sem fim. Muitas coisas que são “boas” ou “bem” estão
espremendo nossas vidas em Deus.
Há uma razão pela qual monges e outros ao longo da história
se retiraram da sociedade para descobrir Deus. Não precisamos nos
tornar eremitas, mas precisamos nos afastar de muitas coisas que
consideramos essenciais se quisermos descobrir o conhecimento de
Deus. Durante anos, temos dito aos crentes que eles podem “ter
tudo”, mas é simplesmente uma mentira. É hora de expor o engano
da vida “plena” e buscar a vida de jejum.
É hora de uma geração inteira abraçar um estilo de vida de jejum
para contemplar Deus.
CAPÍTULO 23

SALA DE AULA IMERSIVA


A criação é uma sala de aula imersiva que nos leva a descobrir
Deus:

Pois seus atributos invisíveis, a saber, seu poder eterno e


natureza divina, foram claramente percebidos, desde a
criação do mundo, nas coisas que foram feitas.
Romanos 1:20

Todas as coisas foram feitas para Jesus para que o Deus invisível
pudesse ser conhecido:

Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda


a criação. Pois nele foram criadas todas as coisas nos céus
e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam do-
minações, sejam principados, sejam potestades; todas as
coisas foram criadas por ele e para ele.
Colossenses 1:15-16
2 4 0 | Discipulado começa com a contemplação

Claramente, muitas coisas que Ele fez atualmente resistem a Ele,


mas o desejo de Deus de ser conhecido é tão forte que até mesmo os
inimigos de Deus acabam servindo ao Seu objetivo de se revelar. O
exemplo máximo disso é a crucificação de Jesus. Sua morte injusta
foi um mal terrível, mas mesmo esse ato maligno nos revelou Deus
de uma maneira sem precedentes.
Se Deus pode se revelar em Seu próprio sofrimento injusto, então Ele
pode se revelar de maneiras chocantes e inesperadas.
Listamos vários “meios de graça” que nos levam a contemplar
Jesus. Se você abraçar cada uma dessas práticas em comunidade com
outros crentes, você verá Deus e será transformado em Sua imagem
ao longo do tempo. A lista de disciplinas que examinamos não é
exaustiva, e você descobrirá outros ritmos de vida e práticas que
também lhe permitem contemplar Deus.
Ao buscar a Deus intencionalmente, você descobrirá que pra-
ticamente todos os aspectos da vida podem se tornar uma sala de
aula onde você descobre aspectos de quem Deus é. Deus formou a
criação para revelar a Si mesmo, e Seu desejo de ser conhecido é tão
forte que Ele usará quase tudo em sua vida para Se revelar e moldá-
-lo à Sua imagem se você O buscar.
Pensamos em contemplar Deus como algo espetacular, como o
encontro de Paulo na estrada para Damasco, mas o desejo de Deus
de se revelar vai muito além desses tipos de eventos raros. Contem-
plar não precisa ser dramático. Deus é muito mais natural do que
imaginamos, e Ele gosta de se revelar no ordinário e no mundano.
As multidões viram Jesus publicamente por cerca de três anos, mas a
família de Jesus o contemplou por trinta anos na monotonia da vida
comum em uma pequena aldeia em Israel.
Discipulado começa com a contemplação | 2 4 1

Quando Deus se tornou homem, Ele poderia ter vivido em


qualquer contexto que quisesse, mas escolheu viver uma vida co-
mum, mundana e escondida entre um povo ocupado em um local
pequeno. Deus escolheu isso porque Ele gostou. Ele encontra pra-
zer nos pequenos lugares que negligenciamos e desprezamos. Jesus
demonstrou o desejo de Deus de se revelar nos ritmos comuns e
aparentemente pequenos da vida diária.
Quando Deus veio como homem, noventa por cento do Seu tempo,
as pessoas viram Deus no ordinário e mundano.
Somos atraídos pelo dramático e radical, mas Deus desfruta de
todos os aspectos da vida. À medida que você busca a Deus e se
envolve nos ritmos da graça que identificamos, você começará a ver
Deus em praticamente todos os aspectos de sua vida. Mesmo a dor
em nossas vidas pode se tornar oportunidades para descobrir Deus.
Por exemplo, quando você está intensamente frustrado com as fa-
lhas de outra pessoa, é um momento para perceber o quão paciente
Deus tem sido com suas próprias falhas. Quando somos feridos por
outras pessoas, é uma chance de considerar a profunda dor de Deus
porque Ele é a pessoa mais abusada no cosmos.
Tudo em sua vida pode se tornar parte da sala de aula de Deus.
Deus projetou intencionalmente esta era para revelar a Si mes-
mo e moldar você à Sua imagem. À medida que você O busca, Ele
abrirá seus olhos e permitirá que você O veja em todos os luga-
res. Você descobrirá que Ele não é tão difícil de encontrar quanto
você pensa. Nossos sentidos foram entorpecidos pelo pecado, então
achamos difícil vê-Lo. No entanto, por meio da obra do Espírito,
nossos sentidos podem ser transformados e veremos que Deus nos
cerca e permeia nossas vidas.
2 4 2 | Discipulado começa com a contemplação

Deus enche Sua criação, e Ele encherá sua vida. Ele o levará a
contemplá-Lo enquanto você se envolve com Ele e se afasta das
coisas que capturam sua atenção. Ele quer ser conhecido e quer ser
visto, mesmo nas menores áreas de sua vida.
CAPÍTULO 24

TRANSFORMADO PELA
CONTEMPLAÇÃO
À medida que nos engajamos nos “meios de graça” que Deus nos
deu, nós O contemplaremos. É fácil ser atraído por experiências in-
tensas – e Deus provavelmente lhe dará um punhado de momentos
dramáticos em sua vida, mas momentos dramáticos não são o ob-
jetivo do discipulado. Encontramos sucesso na transformação, não
em reuniões mais emocionantes.
O objetivo de contemplar Deus como um povo corporativo não é ter
experiências mais emocionantes, mas tornar-se como Deus.
Os humanos foram feitos para carregar a imagem de Deus, o que
significa que somos criaturas que refletem Sua natureza, Seu caráter
e Sua beleza. Jesus é o único Humano que é uma imagem perfeita e
completa de Deus:

Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda


a criação.
Colossenses 1:15
2 4 4 | Discipulado começa com a contemplação

Ele é o resplendor da glória de Deus e a impressão exata


de sua natureza.
Hebreus 1:3

Se quisermos cumprir nosso propósito e levar a imagem de


Deus, devemos nos tornar como Jesus, que é a imagem humana
suprema de Deus. Se focarmos nossas vidas em contemplá-Lo, nos
tornaremos como Ele porque, se nascemos de novo pelo Espírito,
contemplar Jesus está ligado à transformação à Sua imagem:

Por enquanto vemos em um espelho vagamente, mas


depois vemos face a face. Agora eu sei em parte; então
conhecerei plenamente, assim como fui plenamente co-
nhecido.
1 Coríntios 13:12

Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do


alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Fixe
sua mente nas coisas que são de cima, não nas coisas que
estão na terra. Pois você morreu, e sua vida está escon-
dida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua
vida, aparecer, então você também aparecerá com ele na
glória... e se revestiu do novo homem, que está sendo re-
novado para o conhecimento, segundo a imagem de seu
criador.
Colossenses 3:1–4, 10

Amados, somos filhos de Deus agora, e o que seremos


ainda não apareceu; mas sabemos que, quando ele apa-
Discipulado começa com a contemplação | 2 4 5

recer, seremos semelhantes a ele, porque o veremos como


ele é.
1 João 3:2

Eles verão seu rosto, e seu nome estará em suas testas.

Apocalipse 22:4

Alguns versículos depois que Paulo exortou os coríntios a serem


transformados ao contemplar Jesus juntos, ele os advertiu que o ini-
migo mantém as pessoas em cativeiro, impedindo-as de contemplar
Deus na pessoa de Jesus:

E mesmo que nosso evangelho esteja velado, está velado


para aqueles que estão perecendo. No caso deles, o deus
deste mundo cegou o entendimento dos incrédulos, para
impedi-los de ver a luz do evangelho da glória de Cristo,
que é a imagem de Deus. Pois o que proclamamos não
somos nós mesmos, mas Jesus Cristo como Senhor, sendo
nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus. Pois
Deus, que disse: “Das trevas brilhe a luz”, resplandeceu
em nossos corações para iluminar o conhecimento da
glória de Deus na face de Jesus Cristo.
2 Coríntios 4:3-6

Todo ser humano se tornará o que contempla. A restauração


do chamado do homem está ligada a contemplar Jesus e tornar-se
como o que vemos.
Se você fizer o seguinte de forma consistente ao longo do tempo
2 4 6 | Discipulado começa com a contemplação

individual e corporativamente em comunidade com o compromisso


de ser transformado, você verá Jesus e se tornará como Ele:

• Torne-se um estudante da beleza de Jesus.


• Peça ao Espírito Santo para revelar Jesus.
• Medite na Palavra de Deus, buscando o conhecimento de
Deus.
• Cante a Palavra de Deus.
• Valorize o povo de Deus e viva em comunidade com outros
crentes.
• Mantenha um ritmo regular de oração.
• Busque um estilo de vida de jejum e um ritmo de jejum.

Essas práticas são ferramentas para iniciar uma jornada de con-


templação. O Novo Testamento não nos diz precisamente como a
igreja primitiva via, mas enfatiza o valor da contemplação, então
esse valor é crítico. Ao implementar esse valor, você provavelmente
adotará novas práticas corporativas e as adaptará. Existem modelos
úteis que podemos usar, mas os modelos são simplesmente ferra-
mentas. Eles não são críticos. A única coisa crítica é que O contem-
plemos juntos e sejamos transformados à Sua imagem.
Não devemos minimizar o poder de contemplar a beleza de Jesus
e, em vez disso, lembrar as palavras de um pai da igreja:

A glória de Deus é o homem plenamente vivo. Se a


revelação de Deus através da criação já traz vida a todos
os seres vivos da terra, quanto mais a manifestação do Pai
pela Palavra trará vida àqueles que vêem a Deus.
CAPÍTULO 25

UMA COMUNIDADE
QUE CONTEMPLA
A igreja local foi projetada por Deus para ser uma comunidade que
contempla Deus junto.
Os seres humanos são feitos para viver em comunidade porque
o próprio Deus vive em comunidade, mas a comunidade nunca foi
feita para se tornar um objetivo em si mesma. Quando a comunida-
de se torna nosso objetivo, nos tornamos egocêntricos e a satisfação
se torna ilusória. Quando fazemos da comunidade o objetivo final,
podemos ter uma agenda social muito cheia, mas ser incrivelmente
solitários e insatisfeitos.
As pessoas encontram a experiência mais profunda de comu-
nidade quando se reúnem em torno de algo maior que elas mes-
mas. Quando as pessoas dedicam totalmente suas vidas a uma causa
maior do que elas mesmas, descobrem uma intimidade única entre
si e escolhem voluntariamente fazer sacrifícios significativos. Por
exemplo, as pessoas que defendem seu país juntas em uma guer-
2 4 8 | Discipulado começa com a contemplação

ra experimentam uma profunda comunidade e intimidade em sua


unidade que não é replicada por sua experiência posterior em “tem-
po de paz”. A experiência de estar unidos em uma causa maior do
que eles mesmos com um compromisso absoluto (até a morte) cria
a experiência mais profunda de comunidade.
A comunidade centrada na comunidade nunca produzirá intimi-
dade verdadeira, amor profundo, sacrifício incomum e um senso de
propósito, então contemplar deve estar no centro de nossas igrejas.
Muitas igrejas estão internamente focadas na comunidade e
tentam perseguir um objetivo ilusório de comunhão e significado
por meio de caminhos egocêntricos. A resposta é abandonar nosso
foco egocêntrico e reorientar nossas congregações para contemplar
Alguém maior. Quando fizermos isso, desbloquearemos uma
experiência de comunidade que muitos nunca experimentaram.

IMITAÇÃO
A aprendizagem e o desenvolvimento humano baseiam-se na imi-
tação. O exemplo mais óbvio disso é a maneira como as crianças
imitam seus pais, mas as pessoas em qualquer ambiente social imi-
tam umas às outras. Enquanto pensamos na educação como um
processo intencional, a grande maioria da aprendizagem humana
vem através da imitação. Estamos programados para aprender por
imitação em todas as áreas da vida, por isso somos transformados
principalmente ao contemplar a pessoa de Jesus e imitá-lo.
A aprendizagem não é apenas imitativa, é relacional. Ao con-
templarmos Jesus, também O experimentamos através do Espírito
e dos outros meios de graça que identificamos. Com o tempo, não
apenas descobrimos quem é Jesus, mas desenvolvemos um relacio-
Discipulado começa com a contemplação | 2 4 9

namento com Ele. As maiores transformações humanas vêm através


do relacionamento, e o discipulado deve ser o mesmo. Devemos
ter relacionamento com Jesus pelo Espírito e relacionamento uns
com os outros. Ambos são capacitados pelo Espírito, e quando nos
envolvemos em ambos, contemplamos Jesus juntos, e nosso pensa-
mento é transformado.
A primazia da imitação no aprendizado humano também deve
guiar nossa compreensão da liderança na igreja. Como observa um
estudioso paulino:

Aprendemos a ser como nossos líderes... à medida que os


copiamos. A aprendizagem é imitativa. Colocando este
ponto um pouco mais tecnicamente, poderíamos dizer que
o coração da comunidade apropriada é mimēsis, o termo
grego para cópia ou imitação. Aprender a se relacionar
bem com líderes que seguem Jesus assiduamente é ser
mais parecido com eles, e a maneira mais rápida e fácil
de fazer isso não é tanto ler um livro sobre eles ou por
eles ou receber um conjunto de instruções formais. deles
- embora estes possam ajudar em uma pitada - como
copiá-los direta e pessoalmente. A aprendizagem eficaz é
basicamente sentar-se aos pés daqueles que se relacionam
melhor do que nós, e aprender com esses sábios como
fazer isso por meio da imitação... Aprendemos seguindo
os passos de nossos professores enquanto eles caminham
à nossa frente. E isso não é ciência de foguetes. Qualquer
pai de adolescente já sabe que os adolescentes não fazem
o que você diz; eles fazem o que você faz. E Paulo também
sabia.
2 5 0 | Discipulado começa com a contemplação

Paulo afirma explicitamente em várias ocasiões, e então


em todos os lugares, que seus convertidos devem copiar
seus líderes. Somos chamados a imitar. Na verdade,
imitamos uns aos outros o tempo todo. Mas é claro que
Paulo está especialmente preocupado em fazer com que
as pessoas o imitem! Exortações para imitá-lo e a seus
seguidores de confiança enfeitam suas cartas.

Aprendemos por imitação ainda mais do que pela transmissão


de informações:

A aprendizagem imitativa está profundamente enraizada


na história humana, mesmo quando seus processos mal
são compreendidos. Ele está conectado ao nosso desen-
volvimento e seus poderosos efeitos contínuos podem ser
vistos ao nosso redor todos os dias. Assim, Paulo afirma
intuitivamente nossa constituição radicalmente relacional
e a importância do processo de aprendizagem imitativo
resultante.

Esses conceitos aparecem em todas as cartas de Paulo. Paulo


aprendeu a imitar Jesus e chamou seus discípulos para imitá-lo:

Pois embora você tenha inúmeros guias em Cristo, você


não tem muitos pais. Pois eu me tornei seu pai em Cris-
to Jesus pelo evangelho. Peço-vos, então, que sejam meus
imitadores.
1 Coríntios 4:15–16
Discipulado começa com a contemplação | 2 5 1

Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo.


1 Coríntios 11:1

Paulo pediu a seus seguidores que o imitassem de uma manei-


ra específica: ele pediu que o imitassem enquanto seguia a Cristo.
A liderança bíblica está enraizada na imitação de Jesus. Paulo não
queria que seus discípulos imitassem sua habilidade humana ou seus
dons humanos — ele queria que eles imitassem Jesus. Paulo não
estava apenas transmitindo informações; ele estava demonstrando
um modo de vida para que aqueles que o seguissem pudessem con-
templar Jesus.
A questão não é se uma pessoa é naturalmente dotada ou possui
atributos humanos dignos de imitação; a pergunta que um líder
deve responder é: você segue a Jesus de uma maneira digna de imi-
tação? Jesus expressa Sua vida através de você de uma forma digna
de imitação? Paulo não disse “aprende de mim”. Ele disse siga-me.
Os líderes ficarão aquém de muitas maneiras, por isso não deve-
mos mantê-los em padrões irracionais. Mas se alguém quer liderar,
deve haver uma expressão da vida de Jesus fluindo através deles que
seja digna de imitação. Se estabelecermos líderes em qualquer outra
base, estaremos seguindo o conceito mundial de liderança humana,
e esse paradigma não pode produzir a vida de Deus em uma comu-
nidade local.
Paulo chamou as congregações para imitar outros que andavam
como ele, demonstrando que a liderança não é exclusiva da situação
de Paulo:
2 5 2 | Discipulado começa com a contemplação

E vocês se tornaram nossos imitadores e do Senhor...


1 Tessalonicenses 1:6

Os líderes não são apenas preparados para dar informações, mas


devem ser capazes de ensinar. A comunidade da igreja deve aprender
Jesus com seus líderes. Os líderes devem representar Jesus para a
congregação e não apenas ensinar conceitos. A influência e o minis-
tério de um líder devem levar a congregação a contemplar Jesus no
líder e então contemplar Jesus mais plenamente pelo Espírito. Se a
congregação vai contemplar Jesus em seus líderes, isso significa que
os líderes devem ser pessoas comprometidas em contemplar Jesus e
permitir que Ele os transforme à Sua imagem.
O paradigma da imitação ilustra por que a liderança na igreja é
uma coisa muito mais séria do que imaginamos. Se você é líder, você
foi colocado no lugar para que as pessoas possam ver Jesus em você,
e seu ministério deve levá-los a contemplá-Lo mais plenamente.
Porque as congregações aprendem por imitação e Deus quer que
as pessoas se tornem como Seu Filho, os líderes devem abraçar seu
próprio caminho de discipulado e devem permitir que o Espírito
os faça como Jesus. Os líderes devem ser demonstrações de carne
e osso de Jesus porque Deus quer que Seu povo encontre Seu Fi-
lho nos líderes de Sua igreja. Os líderes não precisam ser perfeitos
ou totalmente maduros, mas precisam permitir conscientemente e
ativamente que o Espírito transformá-los em objetos de imitação.
Serão exemplos imperfeitos de Jesus, mas devem ser genuínos e dig-
nos de imitação.
Antes de assumir ansiosamente uma posição de liderança, res-
ponda à seguinte pergunta: Você está disposto a que o Espírito o trans-
Discipulado começa com a contemplação | 2 5 3

forme à semelhança de Jesus? Você quer amar como Ele amou? Você
está disposto a ser incompreendido do jeito que Ele foi? Você quer
ser paciente com seus inimigos e seus seguidores que são imaturos?
Você está disposto a abraçar o sofrimento? Você quer se tornar uma
manifestação de Jesus para um povo ou apenas ensinar princípios
sobre Jesus?
Jesus não é uma inspiração moral para nós; Ele é um padrão a ser
duplicado em nossos próprios corpos.
Simplesmente dar mensagens inspiradoras que apontam para
Jesus não é suficiente para a liderança bíblica. Saber muito sobre
Jesus também é insuficiente. A igreja não pode chegar à maturidade
usando os paradigmas de liderança do mundo porque uma corpo-
ração e uma igreja não são a mesma coisa. O cristianismo do Novo
Testamento requer um paradigma de liderança baseado na imitação
de Jesus.
As comunidades da igreja são transformadas pela imitação, e essa
imitação deve começar pela contemplação de Jesus. Paulo chamou
seus discípulos para imitá-lo para que aprendessem a Jesus. Se as
pessoas o imitassem, elas aprenderiam Jesus ou apenas aprenderiam
você? As pessoas podem imitá-lo ou apenas aprender com seus ensi-
namentos? As pessoas aprendem principalmente por imitação, por
isso não é suficiente para um líder ser bem educado. Esse líder deve
ser capaz de comunicar Jesus.
Quando procuramos líderes, normalmente procuramos os mais in-
formados e talentosos, mas precisamos de líderes que possamos imitar
com confiança à medida que seguem a Jesus.
2 5 4 | Discipulado começa com a contemplação

DISCIPULADO BÍBLICO
Contemplar a Deus deve ser o foco central do discipulado. Você
provavelmente adotará ritmos, hábitos ou disciplinas específicos
como auxílio ao discipulado, mas o que quer que você adote, deve
ser projetado para permitir que você e seus discípulos contemplem
Deus. Como uma comunidade da igreja, você deve desenvolver cui-
dadosamente seu ritmo de vida juntos para que leve à contempla-
ção. Cada aspecto do ministério na igreja deve fluir da contempla-
ção e deve levar as pessoas a contemplar.
A expressão da vida juntos como igreja pode variar bastante.
Serviços e reuniões podem ser estruturados de forma diferente em
diferentes contextos. Contemplar não é um modelo; é um valor. O
Novo Testamento nos dá muita liberdade na forma como estrutu-
ramos nossas reuniões e encontros, mas nossas atividades devem ser
projetadas para permitir a contemplação. As estruturas podem ser
úteis, mas não podem se tornar o objetivo. O objetivo é olhar para
o Humano Divino.
Israel recebeu uma estrutura ordenada por Deus para adoração,
mas tragicamente se desviou do valor da contemplação. A adoração
deles tornou-se uma tentativa tímida de garantir a bênção de Deus,
e essa abordagem era tão repulsiva para Deus que Ele desafiou Israel
a encerrar o ritmo de adoração que Ele havia ordenado. As estruturas
são úteis, mas os valores são a chave.
Comportamento e autodisciplina são muito importantes, mas
não são a medida do sucesso. O discipulado é bem sucedido quan-
do nos tornamos como Deus. Não podemos ficar satisfeitos com o
comportamento moral. O discipulado é um processo, e o Senhor
Discipulado começa com a contemplação | 2 5 5

é incrivelmente paciente, mesmo quando nosso progresso parece


muito lento. Ele não condena e não desanima, mas não devemos
nos contentar com nada além da transformação das pessoas à ima-
gem de Deus. Os humanos nessa época refletirão a imagem de Deus
de maneira limitada e incompleta, e devemos ter paciência com isso,
mas eles podem se tornar autenticamente como Deus.
Em muitas comunidades da igreja, o discipulado foi reduzido
à educação. As pessoas fazem estudos bíblicos e consideram esse
discipulado, mas não é. É informação e educação. Aprender a Bí-
blia é valioso, mas só é eficaz se levar à transformação. As pessoas
não são discipuladas porque sabem o que é o cristianismo. Eles são
discipulados quando estão se tornando como Deus. Não podemos
diminuir a definição de discipulado, ou privamos Deus do que Ele
quer – uma comunidade de pessoas engajadas em um processo de
transformação para se tornarem como Ele. A igreja não é uma reu-
nião de pessoas que conhecem informações sobre Deus – ela é um
povo sendo formado à Sua imagem.
O caráter de Deus é revelado principalmente pelo que Ele faz e
como Ele interage com Sua criação. Da mesma forma, nosso caráter
é formado e revelado principalmente pela forma como vivemos jun-
tos. Não devemos nos tornar críticos porque o processo de transfor-
mação leva tempo e Deus nos desfruta plenamente durante todo o
processo, mas devemos pressionar pela transformação.
A expressão é tão importante que Paulo foi o mensageiro mais
conhecido do Novo Testamento, mas aparentemente não o melhor
pregador. Houve até momentos em que Paulo decidiu evitar o dis-
curso poderoso para que o poder de Deus pudesse ser revelado por
meio de sua pessoa.
2 5 6 | Discipulado começa com a contemplação

UM RITMO DE VIDA
Precisamos examinar cuidadosamente nossos ritmos de vida como
indivíduos, famílias e comunidades da igreja e nos perguntar: Meu
modo de vida maximiza minhas oportunidades de contemplar Jesus e
me leva a me tornar como Ele?
As pessoas são mais transformadas pelo seu ritmo de vida e pela
sua comunidade. Por exemplo, uma criança aprende a se tornar
uma pessoa experimentando sua comunidade e imitando-a. Ao
contemplarem, eles são transformados. Este é o método humano
fundamental de desenvolvimento, e também se estende à vida
espiritual.
As pessoas não aprendem cultura; eles aprendem ao serem imersos
nele. Se você cresce em uma determinada cultura, você reflete essa
cultura em todas as áreas de sua vida. Você vai achar certas coisas
engraçadas, adotar certos maneirismos e formar certos valores, não
porque você foi ensinado, mas porque você esteve imerso em uma
cultura. Se você aprender informações sobre uma nova cultura, mas
não estiver imerso nessa cultura, quando tentar imitá-la, será muito
estranho. Se você quer que as pessoas aprendam uma nova cultura,
elas precisam estar imersas nela ao longo do tempo. Eles não vão
mudar de repente, mas com o tempo eles vão subconscientemente
assumir uma nova cultura, e seu comportamento e valores serão
transformados.
A informação não é suficiente para transformar as pessoas. A trans-
formação requer um contexto. Esse contexto é a igreja. É o lugar onde a
cultura bíblica é demonstrada. Quando estamos imersos nessa cultura,
somos transformados e, portanto, o discipulado bíblico deve ocorrer em
Discipulado começa com a contemplação | 2 5 7

uma comunidade.
Em muitos casos, nosso cristianismo é estranho porque
aprendemos informações, mas não as vivemos juntos em
comunidade. Sabemos o que a Bíblia diz, mas não deixamos a
Bíblia moldar nossas vidas de forma abrangente, e estamos tentando
viver os mandamentos da Bíblia sem o contexto que molda essa
obediência. Devemos adotar a cultura bíblica como nossa cultura
nativa. À medida que remodelamos nosso ritmo de vida juntos,
descobriremos que a cultura resultante acelera nossa transformação
e torna possível nos tornarmos mais semelhantes a Jesus.
Muitos aspectos de sua vida atual são reflexos dos contextos nos
quais você está imerso. Existem aspectos de sua vida que você não
pode escolher, mas se você quer ser transformado, você deve tomar
decisões com os aspectos de sua vida que você pode controlar. Seu
ritmo de vida agora determinará quem você será daqui a dez anos. Se
você moldar intencionalmente seu ritmo de vida individualmente e
em comunidade, será mais parecido com Deus em dez anos do que
é hoje e O conhecerá mais intimamente do que agora.
A coisa mais poderosa sobre ter um ritmo de vida é fazê-lo juntos
como uma comunidade:

1. Quando uma comunidade vive com um certo ritmo de vida,


esse ritmo a transforma e cria uma cultura.
2. Quando uma comunidade vive com certo ritmo de vida,
torna-se testemunha e evidência da realidade das coisas pelas
quais vive.
3. Quando uma comunidade vive com um certo ritmo de
vida, cria um contexto para a atividade do Espírito Santo, e
2 5 8 | Discipulado começa com a contemplação

a comunidade se torna algo maior do que qualquer pessoa.

Os ritmos de uma comunidade não são uma lista de tarefas que


usamos para avaliar quem é santo e quem não é. Eles são um modo
de vida que molda nossa cultura. Uma pessoa deve estar imersa em
uma cultura para ser transformada por ela; portanto, nossas igrejas
devem ser ambientes acolhedores que esperam que as pessoas cres-
çam em um processo. Nossos ritmos de vida devem ser acolhedores
para buscadores, novos crentes e crentes maduros. Não considera-
mos as crianças fracassadas porque elas ainda não imitam todos os
aspectos de nossa cultura. Nós os incluímos com alegria em nossas
famílias, sabendo que eles precisam estar imersos em nossa cultura
para serem moldados por ela.
Nossos ritmos também devem nos dar espaço para explorar um
compromisso cada vez mais radical e profundidades mais profundas
de devoção. Nossos ritmos de vida comunitária devem ser flexíveis o
suficiente para que um novo crente se sinta bem-vindo, uma mãe de
crianças pequenas sinta-se alegremente aceita dentro dos limites de
sua agenda, e outro crente com mais tempo possa se dedicar a Jesus
de maneira radical e ainda assim nunca se sentir eles chegaram.”
CAPÍTULO 26

CONTEMPLE JESUS
E SE TORNE COMO ELE
Contemplar afeta todas as áreas de sua vida:

• Devemos ensinar as pessoas a contemplar Jesus.


• Devemos cantar para que as pessoas contemplem Jesus.
• Devemos orar de um lugar onde contemplamos Jesus.
• Devemos liderar pequenos grupos para que contemplem
Jesus.
• Devemos evangelizar para que as pessoas vejam Jesus.
• Devemos aconselhar e pastorear as pessoas para que
encontrem sua solução na pessoa de Jesus.
• Devemos ser pais dos filhos para que aprendam a contemplar
Jesus. Devemos nos relacionar com os outros para que eles
vejam Jesus em nós. Devemos nos tornar manifestações
vivas de Jesus.
2 6 0 | Discipulado começa com a contemplação

Sua metodologia de discipulado leva as pessoas a contemplar Jesus?


Os dons do ministério em sua igreja levam as pessoas a contemplar?
Estamos acostumados a ensinar as pessoas a se comportarem, mas
devemos ensiná-las a ver.
Sua igreja tem um ritmo de contemplação corporativa de Jesus?
O discipulado requer compromisso individual, mas não é uma
disciplina individual ou privada. Discipulado é uma experiência
corporativa em uma comunidade. Contemplar Jesus deve ser
feito corporativamente e não em particular. Há muitas maneiras
de contemplar Jesus, então isso não requer uma certa estrutura de
serviço, mas contemplar Jesus deve ser o objetivo em nossas reuniões
corporativas. Quer cantemos, pregar ou testemunhar o que Deus
está fazendo na comunidade, tudo isso pode levar à contemplação.
Sua metodologia de discipulado ensina as pessoas a se tornarem como
Jesus? Uma coisa é ensinar as pessoas a se comportarem como Jesus,
mas isso não é o evangelho. É possível viver uma vida moral e não
ser como Jesus. O evangelho não é um chamado para se comportar
como Deus, mas para se tornar como Deus.
A mudança para a contemplação é uma mudança nos valores,
não necessariamente nas atividades. Muitas pessoas buscam uma
nova metodologia que mude tudo, mas novos modelos por si só
trazem mudanças superficiais. Novas estruturas e métodos podem
ser ferramentas úteis, mas não são a resposta. Precisamos examinar
tudo o que fazemos e reorientar nossos valores. Algumas atividades mu-
darão, outras não, e a igreja crescerá em profundidade à medida que
reorientamos tudo para contemplar Jesus e nos tornarmos como o
que vemos.
Discipulado começa com a contemplação | 2 6 1

Meu amigo Andrew Tam diz melhor:

Pare de me dizer como melhorar a mim mesmo. Fale


comigo sobre a beleza de Jesus. Estou disposto a fazer
qualquer coisa por amor se estiver suficientemente apai-
xonado.

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