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Abstract: Starting from the scientific category of the evolution, Teilhard of Chardin built
a philosophical and anthropological thought that deserves prominence in the current
days. That thinker built a solid thought on the man and it was guided by the notion that
the evolutionary process possesses a sense. That sense will culminate in the point
“Ômega”, moment in that the whole nature will come back to God and everybody men,
while people, will promote the union in the “hiperpessoal” by means of the energy of the
love. This work intends to indicate like Teilhard of Chardin he worked the evolution no-
tion, it solved the apparent paradox: creation-evolution and it built, starting from all this,
the notion of personal life, that possesses as culminating moment the point that he calls
“Ômega” conventionally.
1. Introdução
H
á pouco mais de cem anos traditava a idéia de criação proposta
teólogos e cientistas trava- pelo texto bíblico do Gênesis. Natu-
ram discussões em torno da ralmente, muitos cristãos mostraram,
origem do Cosmo: criação ou evolu-
ção? O evolucionismo, defendido 1809 e morreu em Buckenham no dia 19 de
pelo círculo dos cientistas, ganhou abril de 1882. Estudou medicina, mas não
impulso com a publicação dos livros concluiu o curso, por isso o pai o encaminhou
A origem das espécies (1859) e A para a carreira eclesiástica. Ele a abandonou
para estudar Botânica. Fez várias viagens
descendência do homem (1871) por
pelo mundo, ordenando o material que colhia
Charles Darwin1, nos quais ele con- para escrever A origem das espécies (1859)
1 sua obra mais importante. Publicou posteri-
Charles Darwin, naturalista inglês, nasceu
ormente A descendência do homem (1871).
em Shrewsbury em 12 de fevereiro do ano de
está o fundamento da lei da comple- todo o resto deste ensaio não será
mais, em suma, do que a história da
xidade-consciência que veremos
luta travada, no universo, entre o Múl-
adiante. Quais são as energias que tiplo unificado e a Multidão inorgani-
agem sobre a matéria e o que elas zada, aplicação de ponta a ponta, da
representam? Teilhard nos responde grande ‘lei da complexidade e da
dizendo que na matéria a consciência’, lei esta que implica ‘uma
estrutura, uma curvatura, psiquica-
mente convergentes do mundo’ (Tei-
energia fundamental divide-se em du-
lhard de Chardin, 1965. p.42).
as componentes distintas: uma ener-
gia tangencial, que torna o elemento
solidário de todos os elementos da V) A evolução é um processo contí-
mesma ordem (...); e uma energia ra- nuo que atinge, em certo momento, o
dial, que o atrai na direção de um es- espírito humano. Conforme explica-
tado cada vez mais complexo e cen-
trado, para frente (Chardin, 1965.
nos Teilhard de Chardin a não-vida
p.46). gerou a vida. Da matéria anorgânica
surgiu uma nova ordem, conforme
indicamos, a Biosfera. No entanto, o
Com base nesta afirmação de Char- processo não terminou por aí. A
din, podemos dizer que a ação des- auto-realização do homem que ocor-
tas duas energias é fundamental reu graças ao lampejo da consciên-
para a consolidação do processo de cia auto-reflexiva, é uma prova de
evolução. A energia tangencial de que a lei da paralelidade complexi-
que nos fala o cientista, favorece a dade-consciência, que fundamenta o
complexificação interna que aconte- processo evolutivo, desemboca no
ce graças aos agrupamentos de par- infinito, ou seja, a lição que apren-
tículas de uma mesma ordem. Ora, demos com Teilhard mantém a sua
quanto maior o grau de complexida- fórmula: a evolução continua.
de interna, maior é a força de atua-
ção da energia radial que impulsiona
a matéria para um grau cada vez Considerando que o homem repre-
maior de evolução. senta a própria evolução em marcha,
podemos concluir que tal evolução
converge e se direciona para um
IV) Uma das lições que podemos sentido? Observando a proposta
retirar de Chardin é: a evolução teilhardiana de evolução parece que
constitui um processo contínuo. Tal sim. Nela temos a definição de três
processo depende imediatamente da momentos na história de nosso pla-
lei da paralelidade “complexidade- neta. Num primeiro momento, ocorre
consciência”. Conforme veremos a “cosmogênese”; no segundo, da
mais detalhadamente a seguir, é no não-vida surge a vida, que a partir da
homem que esta lei assume um re- lei da complexidade e da consciência
vestimento manifestadamente per- e do desenvolvimento de variadas
ceptível. Tamanha é a importância formas de vida, dá origem aos reinos
desta lei, que Teilhard de Chardin vegetal e animal: é a “biogênese”; o
assim se refere a ela no livro O fe- momento em que a citada lei, que
nômeno humano: constitui a base do processo evoluti-
vo, se manifestou no despertar da
auto-reflexão do homem, unindo cor-
da matéria não seria possível sem extensiva, mas muito mais coerente
mundo. Por isso, se diz que o ho- ainda, como veremos, do que todas
as camadas precedentes, que, após
mem está intimamente ligado ao ter germinado no Terciário declinante,
mundo. O fenômeno humano é histó- se expande desde então por cima do
rico e temporal. A maturação biológi- mundo das Plantas e dos Animais:
ca e cósmica que obedeceram a lei fora e acima da Biosfera, uma Noosfe-
ra (idem. p. 191-92).
da complexidade e da consciência se
fizeram agir no homem que, situado
A desproporção que se mostra entre
no espaço e no tempo, está implica-
o homem e o restante da natureza é
do na história do universo inteiro.
gigantesca.
Portanto, apesar de situado em um
microcosmo, o homem se encontra Para dar ao Homem o seu verdadeiro
em conjunção com a totalidade do lugar na Natureza, não basta abrir nos
macrocosmo. O próprio processo de quadros da Sistemática uma secção
evolução revela esse dado. Da tota- suplementar, mesmo uma Ordem,
mesmo um Ramo mais. Pela homini-
lidade do processo evolutivo surgiu o zação, apesar das insignificâncias do
homem. Há no homem a convergên- salto anatômico, uma nova Idade co-
cia de todo o processo. Vejamos o meça. A Terra ‘muda de pele’. Melhor
que explica Chardin: ainda, encontra sua alma (idem. p.
192).
o que pode haver de mais revelador
para a nossa Ciência Moderna é per- Tudo o que foi exposto se deve basi-
ceber que todo o precioso, todo o ati- camente ao lampejo da consciência
vo, todo o progressivo originariamente que aconteceu no homem. A mani-
contidos no retalho cósmico donde
festação do pensamento só se mos-
saiu o nosso mundo, se acha agora
concentrado na ‘coroa’ de uma Noos- trou como “comparável, em ordem de
fera (idem. p.192). grandeza, à condensação do qui-
mismo terrestre ou o próprio apare-
O papel da reflexão como base da cimento da vida” (idem). Além de
estrutura psíquica do homem é de considerar que o advento da consci-
grande importância para a própria ência constitui um salto qualitativo
transcendência humana de que fa- jamais visto no processo evolutivo,
lamos acima. A reflexão é um ato Chardin aponta para a idéia de que a
peculiar do homem que ultrapassa o própria consciência manifestada
limite da animalidade. O fenômeno possui um dinamismo evolutivo inte-
humano, conforme já mencionamos, rior que a levou a se constituir como
representa não só um novo momento dotada de uma tríplice propriedade:
na história de nossa evolução mas o
advento de uma nova era, o surgi- 1) de ‘tudo’ centrar parcialmente à sua
volta; 2) de poder centrar-se cada vez
mento de uma esfera ou um estágio ‘mais’ sobre si mesma; 3) de ser leva-
superior manifestado pelo nous. A da, por esta própria supercentração, ‘a
importância deste novo passo da reunir-se a todos os outros centros’
evolução é apontado por Chardin. que a rodeiam (idem. p.284).
Ele explicou que
As considerações sobre o homem
é verdadeiramente uma camada nova, apresentadas acima revelam que
a ‘camada pensante’, exatamente tão Chardin compreende o homem como
centrando o mundo à sua volta nas construir o hiperpessoal por meio dos
representações e experiências, que prolongamentos de nosso ser e da
se entrelaçam de modo singular em Noosfera. Aí encontra-se, finalmente,
cada indivíduo, se torna uma mani- a base da terceira propriedade da
festação particular, um grão de pen- consciência. “A Noosfera, e mais
samento autônomo, subsistente e geralmente o mundo, representam
individual. Aí, já ocorre uma mani- um conjunto, não apenas fechado,
festação elementar da ‘pessoa’. No mas centrado” (idem. p. 284). Cada
entanto, a evolução não pode parar centro individual deve se unir a ou-
por aí. É necessário que o universo tros constituindo uma supercentra-
pessoal seja universalizado. O passo ção que ocasionará uma síntese es-
posterior da evolução se encontra no piritual. Longe de ocorrer uma dis-
hiperpessoal. solução dos centros individuais, tal
união acentuará a “profundidade e a
Teilhard de Chardin explicou que incomunicabilidade de seu ego”
temos impressões erradas sobre o (idem. p. 288). Por isso, ao invés de
problema da afirmação da pessoa e dissolução da vida pessoal no Todo,
a constituição da totalidade. A idéia o movimento é inverso: “quanto mais
de que estar centrado sobre si mes- se tornam, todos juntos o Outro,
mo reflete o contrário do Todo e de mais se acham ‘eles mesmos’”
que o Todo absorve o que é singular (idem). A maneira desses centros
anulando-o é falsa, conforme indicou dissolverem-se é supercentrarem-se.
o cientista. Ele explicou que a evolu-
ção retrata uma ascensão constante A hiperpersonalização será realizada
da consciência. Por isso, gradual- e efetivada pela união dos homens.
mente, as consciências particulares Tal união reflete o itinerário do ho-
irão “culminar, para frente, em algu- mem a Deus, conforme nos explicou
ma Consciência suprema” (idem. p. Chardin. O homem deve ser enten-
283). O pensador jesuíta informou dido como o resultado de todo o pro-
ainda que cesso evolutivo, conforme já menci-
onamos. Portanto, a complexificação
é unicamente na direção de uma hi- da Noosfera dada pela superperso-
per-reflexão, quer dizer, na direção de
nalização reflete todo o universo em
uma hiperpersonalização, que o pen-
samento pode extrapolar-se. De outra busca de Deus:
maneira, como poderia ele armazenar
as nossas conquistas que se realizam, Cristo, reveste-se organicamente da
todas elas, no Reflexivo? (idem. p. própria majestade de sua criação. E
283-84). por isso mesmo é, sem metáfora,
através de toda extensão, de toda es-
pessura e de toda profundidade de
Essa afirmação explica o erro de que Mundo em movimento que o homem
falamos acima e que Teilhard de se vê capaz de experimentar e desco-
Chardin nos indicou. Não se trata de brir o seu Deus (idem. p. 329).
descobrir e de edificar um Todo im-
pessoal oposto à pessoa ou uma Chardin diz que o homem ama Deus
pessoa individualizada que se opõe não só com o seu corpo, sua alma e
ao Todo. Trata-se, na verdade, de seu coração mas “com todo o Uni-
Deus, esse Deus se revela como o criação se converge para Cristo” (Zi-
fundamento da moral. Assim, a no- lles, 1995. p. 31). Portanto, a evolu-
ção de que o homem transcende ção que irá desembocar em Deus
todo o determinismo indica que é ou noPonto “Ômega” encontra seu
nele que todo aprimoramento moral sentido no desenvolvimento da vida
e toda continuidade da evolução pessoal que se extrapola na hiper-
deve se apoiar. Pode-se afirmar com pessoalidade.
isso, que o homem é “eixo e flecha
da evolução. Nele e através dele a
Referências Bibliografias
CHARDIN, Pierre Teilhard de. O fenômeno humano. São Paulo : Herder, 1965.
ZILLES, Urbano. Teilhard de Chardin: criação e evolução. Rio de Janeiro : Revista Ca-
tólica de Cultura, Vozes, v. 60, n. 10, out. 1966. p. 803-17.