Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Daniel S. Lopes
Débora Moraes
João Paulo Racy
Renata de Mello
(Organizadores)
1ª edição
Rio de Janeiro
DECULT | UERJ
2019
2
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO | UERJ
Reitor
Ruy Garcia Marques
Vice-Reitora
Maria Georgina Muniz Washington
Sub-Reitora de Graduação
Tania Maria de Carvalho Netto
3
Comissão Organizadora 7º Seminário de pesquisadores do PPGArtes Uerj
Adalgiso Pereira de Souza Junior
Bruno Reis
Daniel S. Lopes
Débora Marques Moraes
Gabriela Tarouco
Hernani Guimarães
Ítala Isis
Maria Izabel Barreto
Joana Traub Cseko
João Paulo Alvaro Racy
Mariana Scarambone
Monique das Neves Silva
Nathan Braga Motta de Paula
Renata de Mello Cerqueira Pereira
4
MODOS DE FAZER
7º seminário de pesquisadores do PPGArtes Uerj
Daniel S. Lopes
Débora Moraes
João Paulo Racy
Renata de Mello
(Organizadores)
1ª edição
Rio de Janeiro
DECULT | UERJ
2019
5
Grafia revisada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 2016.
CATALOGAÇÃO NA FONTE
______________________________________________________________________
ISBN 978-85-85954-93-2
CDU 7:37
______________________________________________________________________
6
Sumário
08 Apresentação
181 Fotos
Julia Bezerra Cruz
Agradecemos à Sheila Cabo, Alexandre Sá, Aldo Victorio, Denise Espírito Santo,
Ana Valéria e Isabel Carneiro que, de diferentes maneiras, contribuíram
significativamente para essa empreitada.
Nosso evento começa semana que vem. Continuamos contando com esta rede
de afetos e lutas que, no final das contas, é o que define historicamente a UERJ.
8
Agradecemos a todes que foram fundamentais na construção do 7º Seminário
de pesquisadores do PPGArtes Uerj, às parcerias que fizemos durante o
processo de criação e produção do evento, suas experiências, redes, desejos,
gentilezas y trabalho:
Sheila Cabo Geraldo, Cristina Salgado, Denise Espírito Santo, Eloisa Brantes,
Ana Valéria, Alexandre Sá, Isabel Carneiro e todas e todos docentes que
contriburiam de alguma forma para realização do Modos de Fazer, Jorge
Galdino, Gustavo, João e os demais técnicos administrativos do iArt, o Bel e os
funcionário da Gráfica da Uerj, a Comuns Uerj, Diretório Central dos Estudantes
da Uerj - DCE, Egberto Gaspar e toda equipe da Sub-Reitoria de Pós-
Graduação - SR2, Lincoln Tavares e todos os funcionários do Centro de
Educação e Humanidades que foram maravilhosos, Marcelo Campos e o
Departamento Cultural, Márcia Carvalho diretora do Departamento financeiro,
Rodrigo Torres do Nascimento presidente da Associação de estudantes de pós-
graduação da Uerj – APG y todo pessoal que curtiu, compartilhou e participou
do seminário.
Saravá!
#ModosDefazerArte
#UerjViva
#ArteYPolítica
#VidaComoObraDeArte
#ParaDarFimNoJuizoDeDeus
#Evoé
9
Modos de descolonizar o saber e de habitar o mundo.
1
Como escreve Foucault: [...] a escrita aparece regularmente associada à “meditação”, a esse
exercício do pensamento sobre si mesmo que reativa o que ele sabe, se faz presente um princípio,
uma regra ou um exemplo, reflete sobre eles, os assimila, e se prepara assim para enfrentar o real.
Foucault, Michel. escrita de si. In: O que é um autor? Lisboa: Passagens. 1992. p.130.
10
presença cabocla na pele morena que herdei da minha avó Hortência - lindo
nome de flor - se confunde com a da pesquisa em arte e história da arte? Posso
iniciar pela opção por estudar história da arte, uma especialidade naquela época
mais frequente entre a população social e economicamente privilegiada, que
frequentava os melhores colégios da cidade. Essa foi uma opção marcada por
um intenso e doloroso processo de aculturação, culpado pela absorção de um
saber exterior ao mundo do trabalho e da cultura do subúrbio, cultura de festas
e música popular, que eram referências infantis e que aos poucos foram não só
transfiguradas em cultura midiática robotizante, mas, sobretudo, rejeitadas.
2
McLuhan, Marshall; Fiori, Quentin. O meio é a Massagem: um Inventário de Efeitos. São Paulo:
Ubu Editora, 2018.
3
Marcuse, Herbert. O homem unidimensional. São Paulo: Edipro, 2015.
11
ou seja, negros de periferia, mulheres negras, negros trans, mulheres periféricas,
indígenas urbanos, suburbanos de trabalho precário, homens pobres, mulheres
solteiras pobres, etc. Fundamental é perceber, também, de que maneira a
produção de arte, a pesquisa em arte e sobre arte passaram a ser pautadas por
essas turbulentas e complexas existências ativas, onde estão saberes até então
considerados “primitivos”, nada bem-vindos ao meio acadêmico e artístico. É
daí que se pode vislumbrar a iminência de uma “revolução molecular”, como
teorizou Felix Guattari4.
4
Guattari, Felix. Revolução molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo: Ed. Brasiliense,
1981.
5
Rolnik, Suely. Esferas da insurreição. São Paulo: N-1, 2018.
12
para descolonizar os modos de fazer pesquisa em arte e os modos de escrever
a história da arte.
6
Huyssen, Andreas. Culturas do passado-presente: modernismo, artes visuais, políticas da
memória. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
7
É o que Huyssen identifica no trabalho de Doris Salcedo, que apresenta as lembranças
traumáticas em texturas de palimpsestos e elos, fazendo emergir daí uma “nova política cultural
da memória transnacional, translinguística e abrangente” . Huyssen, A. Op. cit. p 180.
13
No Brasil, como na América Latina de hoje – e com maior intensidade nos
últimos anos –, ressoam ecos da permanência colonialista, na sua face
neocolonial, que se apresenta por meio da violência. Assim é que artistas
sublevam-se em obras que questionam o neocolonialismo sob a forma de um
pensamento politico intercultural e “decolonial”, 8 analisando criticamente a
matriz do poder colonial, que no capitalismo global persiste sob a forma de
conhecimento totalizante, reafirmando o binômio dominador-dominado.
8
Cf. Mignolo, W. entrevista . Cf. http://www.ihu.unisinos.br/170-noticias/noticias-2014/533148-o-
controle-dos-corpos-e-dos-saberes-entrevista-com-walter-mignolo. Acessada em 01/12/2019
9
Mbembe, Achille. Crítica da Razão Negra. São Paulo: n-1 edições, 2018.
14
Como pesquisar arte em tempos de crise?
Alexandre Sá
Diretor do IART - UERJ
Por outro lado, é possível defender que não são poucos os exemplos de textos
escritos/impressos que foram resultados de uma comunicação oral e dessa
forma, tal preocupação minha seria ingênua o suficiente para que pudesse ser
desconsiderada. Sim. É verdade. No meio acadêmico, é um prática natural. Mas
nesse caso, o aviso se faz importante pois algumas especificidades merecem ser
consideradas: trata-se de uma fala que deveria vir a ser de abertura de um
evento, para um grupo de alunxs que respeito muitíssimo e que, mesmo que eu
desacredite e desconstrua a todo o tempo, os regimes discursivos que erigem
o pressuposto poder da universidade, ainda assim, estava ali, como ainda estou,
na posição de diretor do Instituto de Artes da UERJ.
A angústia inicial me foi provocada pelo título proposto: como pesquisar arte
em tempos de crise? Não unicamente por sua consideração política mais direta.
Mas por saber que existe uma quantidade infinita de crises necessárias à
pesquisa e mais ainda, ao processo de pesquisa em arte. Acredito também que
15
jaz aqui, inicialmente, um nó recôndito, provavelmente em vias de solução nos
diversos programas de pós-graduação e graduação dentro e fora do Brasil, que
é a relação entre teoria e prática. Mas mesmo que saibamos que tal nó sempre
está em vias de, em um processo infinito e utópico de busca e encontro de um
resultado fantasmático, esta relação merece atenção pois há ainda, uma disputa
de forças que, auxiliada pelas diversas estruturas que paradoxalmente a
alimentam, tendem sempre a priorizar um eixo ou outro.
16
plausível então compreender a arte contemporânea como uma produção de
presença feita contra aquilo que nós éramos. Ou se mantivermos a indicação de
que gegenwart é traduzido como presente, todo o presente seria então a
negação do que fôramos. Eis mais uma crise inevitável e não necessariamente
trágica que se descortina, pois, é lógico escorrer ainda uma nova pergunta: o
quê éramos [ húmus ]? Ou mais, como ser contra aquilo que talvez tenhamos
sido?
Importante destacar que todo esse movimento introdutório do texto não esteve
na fala original. Talvez por alguma sagacidade, tenha percebido que tantos
meandros de pensamento em crise como esses seriam ineficazes e
extremamente prolixos para uma pequena fala de abertura. O fato é que fomos
convidados para uma mesa em um dia específico, que, em virtude de um jogo
de futebol no Estádio do Maracanã, vizinho da UERJ, precisou ser remanejada
para uma sexta-feira, agora no Lanchonete-lanchonete, espaço alternativo de
ensino e arte na Gamboa-RJ que tem desenvolvido um trabalho ímpar de
formação, informação, deformação e ampliação de falas e escutas.
II
Após a nossa fala, de Luizan Pinheiro (UFPA), Sheila Cabo Geraldo (UERJ),
Rodrigo Nascimento (APG/UERJ) e eu, uma outra participante propôs uma
ação//fala//performativa. Voraz. Linda e verdadeira. Urgente. A partir de suas
experiências vividas e que obviamente, eu seria incapaz de reproduzir ou
questionar tamanha força e potência. Havia algo ali que precisava ser dito,
colocado, explicitado, posto em cena. Contudo, lembro que o início se erigiu
17
aos meus ouvidos de forma muito retumbante: “- Vamos calar a boca agora para
ouvirmos a travesti.”
Lembro que a sensação que tive naquele momento, não por aquilo que me
tornei, inclusive porque isso não representa absolutamente nada para além de
mim, foi de um certo desconforto, já que era nutrido por alguma violência que
sim, é obviamente explícita e necessária. Por outro lado, talvez ali, naquele
momento e na situação específica, tal dito tenha se colocado como um extrato
curioso de algumas situações que venho vivendo ao longo de alguns anos de
universidade e de gestão acadêmica, que refletem a inabilidade atual de
localizarmos o inimigo e a ingenuidade de desconsiderarmos que o inimigo
primevo, por mais clichê que pareça, está sempre dentro de nós mesmos.
Sua fala de fato foi emocionante e repleta de mérito e dor. Isso é inquestionável.
Intransponível. E real, compreendido aqui como aquilo que não é passível de
simbolização. Ou de outra forma, como aquilo que sempre estabelecerá uma
relação imperfeita, torpe e injusta com a linguagem. Porém lembro que terminei
me sentindo extremamente incomodado por uma dura crítica feita ao referencial
teórico utilizado nas falas anteriores. Por certo, todo e qualquer incômodo é
fundamental, mas aqui, ou ali, eu me perguntava em que medida uma fala
impositiva sobre a descolonização discursiva não terminava por elimi/ni/nar a
frutificação da pluralidade; elemento esse imprescindível para toda e qualquer
relação humana.
( a ser lida em voz alta, por uma quantidade qualquer de pessoas interessadas –
muda-se o tom; há algo de cena, mas paradoxalmente nenhuma luz no palco)
Mas quando falo de futebol, termino inevitavelmente lembrando que essa mesa
iria acontecer na última quarta-feira e que após uma nota emitida por volta das
11h da manhã, nossas atividades, do mesmo dia, tiveram que ser canceladas.
19
A realidade é que falar hoje aqui, para vocês, é quase paralelo ao fato de não
esquecer de lembrar da comoção que o futebol provoca tanto aqui como em
qualquer lugar do mundo. A indústria-futebol. E de sua especificidade no
Brasil. E no Rio de Janeiro.
[ silêncio ]
Mas por que o Maracanã, nosso vizinho, nas ruas, seria uma fantasia no sentido
menos psicanalítico? Porque provavelmente uma parcela considerável daquelas
pessoas não teria tempo suficiente para se preocupar com o que está
acontecendo hoje no país. E porque obviamente são interesses e energias
distintas. Não sejamos ingênuos.
Então, talvez eu ache que a pergunta que nos move aqui é como pesquisar
arte em tempos de horror.
20
Suely Rolnik em Esferas da Ressureição cita Caminhando de Lygia Clark para
pensarmos que para além de duas superfícies entrelaçadas, teríamos dois
agentes que se inter-relacionam: o sujeito e o fora-do-sujeito, considerando-os
como duas faces de uma mesma moeda. Ou seja, o sujeito é efeito do seu fora
da mesma forma que é capaz de provocar algum destino no espaço que lhe é
exterior ad infinitum. Os encontros entre o sujeito e espaço de seu fora (já
dentro) se nutrem por uma porosidade plausível. E nesse sentido, é importante
explicitar que não se trata de um enfrentamento concreto de duas forças
opostas, mas de um rebatimento, um espelhamento e um trabalho de
negociação de vetores plurais em conjunto.
A questão seria a necessidade do corte dessa superfície que nos conjuga. E além
disso, a atenção necessária para que o corte jamais se dê no mesmo ponto em
que já ocorreu. O corte entre o amálgama do sujeito e seu espaço-tempo-
invólucro é também um exercício e uma prática de atenção e reinvenção
progressiva do desejo, esse sim, devidamente descolonizado. Mas o que seria
o corte? O corte é o ponto de abertura para essa negociação que se
(re)estrutura, se alimenta e precisa da angústia que vibra nas arestas da fita de
Moebius para erigir o caminhar.
21
Mesmo que tal movimento traga em si, a já gozosa conjunção, entre pulsão de
morte e pulsão de vida, a coragem da quase novidade se dá sempre na
possibilidade de viver a familiaridade do corte a ser feito em locais distintos da
relação que se coloca saturada entre a subjetividade e o mundo exterior, bem
como suportar a angústia outra que não cessa de não se inscrever e que como
se sabe, precisará acreditar fielmente que demorará ainda muito tempo para
poder se libertar da clausura//corrente//torrente que a erigiu.
Para terminar, sem de fato nunca ter começado, gostaria de citar um trecho de
Nadya Tolokonnikova, artista e ativista russa, integrante do Pussy Riot que ao
listar algumas regras para o real enfrentamento cotidiano, diz:
“Regra 3
Recupere a alegria
Sorria como um ato de resistência.
Sorria e diga foda-se.
Ria na cara dos seus carcereiros.
Convença seu carrasco a acreditar no que você acredita.
Faça amizade com os funcionários da prisão.
Conquiste o coração de quem apoia os vilões.
Convença os policiais de que eles deveriam estar do seu lado
Quando o exército se recusa a atirar na multidão, a revolução vence.”
(TOLOKONNIKOVA, 2019, p. 52)
Referências
ROLNIK, Suely. Esferas da insurreição. Notas para uma vida não cafetinada. SP:
N-1 edições, 2018.
TOLOKONNIKOVA, Nadya. Um guia Pussy Riot para o ativismo. SP: Ubu
editora, 2019.
22
Educação, Ciência, Cultura e Arte em tempos de crise
Pensar nos campos da Educação, Ciência, Cultura e arte hoje nos coloca em um
grande desafio. Percebo como ao longo do tempo fomos quase que jogados
em uma armadilha por alguns campos políticos/sociais/econômicos que de certa
maneira são os maiores responsáveis pelo período tenebroso que passa não só
o Brasil, mas muitos países que percebem uma guinada reacionária na Arte, na
Ciência, na Educação e na Cultura. Nomeio os quatro campos por querer de
alguma forma reforçar a importância impar de cada um deles, não só enquanto
políticas públicas, mas também como necessários ao exercício de uma cidadania
que embora não plena se colocou em um período recente em grande força e
impacto na vida das pessoas.
A arte é coloca hoje quase que como inimiga número 1 do governo federal do
Brasil que a partir disso acaba levando também um grande número de pessoas
a vê-la como um mau a ser extirpado da sociedade ou, nas palavras do ex-
secretário da Cultura, renascida, como se toda a produção artística e cultural do
país não servisse mais e devesse ser recriada a partir do que o próprio governo
entende como melhor a ser caracterizada como arte e cultura. Na administração
do ainda Ministério da Cultura de Gilberto Gil e Juca Ferreira, se percebeu uma
clara intenção governamental em democratizar o acesso as mais diversas
possibilidades de manifestações de arte e cultura, dando assim um claro sinal a
quem de certa maneira já se viu na margem da políticas públicas e foi incluída
no orçamento federal.
24
ações que vão da educação básica à pesquisa. Não bastasse o escárnio dos
cortes no Ministério da Educação, os cortes no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) provocaram a suspensão de
4.500 bolsas para estudantes de graduação e pós-graduação. Criado em 1951,
o CNPq tem papel fundamental para o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia, em inúmeras projetos que melhoram a qualidade de vida dos
brasileiros, como também esteve na descoberta e exploração do Pré-sal. Esta
mera ameaça significa uma situação de enorme insegurança para estudantes
desde a iniciação científica à pós-graduação, no país e no exterior.
25
proposta assinado por representantes de universidades com prestígio mundial,
como Harvard, Yale, MIT, Oxford, Cambridge, Sorbonne, Columbia e Berkeley.
É nítida a orientação de órgãos do governo contra, em especial, as ciências
humanas por entender os pesquisadores nessa área como inimigos e que na
condição de governo podem então atuar para o esvaziamento de seus
investimentos públicos. O presidente chegou a alegar que iria concentrar os
recursos em áreas que "dão retorno rápido ao contribuinte" querendo assim
disputar a narrativa que existam áreas mais importantes e que as ciências
humanas podem sofrer com cortes por não darem um retorno a sociedade. Esse
entendimento além de errôneo já que os estudos relativos as humanidades
contribuem assim como as demais áreas a todas as ciências, é uma tentativa de
descredibilizar profissionais altamente comprometidos, que são críticos sim a
maneira como o governo vem atuando, mas pelo seu papel monocrático e
desrespeitoso perante a democracia e a ciência.
26
Estudantes que já haviam se organizado para começar a receber as bolsas
ficaram sem perspectivas de continuar suas pesquisas.
Não obstante o CNPq, como já citado, quase não conseguiu pagar as bolsas de
estudos oferecidas pela agência durante o ano e vem sofrendo a possibilidade
de fusão com a CAPES, o que daria fim as atividades da agência que é um
importante mecanismo de incentivo a pesquisa científica no país, fundado em
1951 tendo a missão de fomentar a Ciência, Tecnologia e Inovação e atuar na
formulação de suas políticas, contribuindo para o avanço das fronteiras do
conhecimento, o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional, porém,
essas não parecem ser as mesmas intenções do atual governo federal brasileiro
mais preocupado, citando o próprio presidente, em desconstruir o Estado
brasileiro. Posto e reiterado, lembro ser inaceitável a extinção do CNPq, como
27
sinaliza o movimento de estrangulamento orçamentário, que representa uma
política sem compromisso com o desenvolvimento científico, tecnológico e
econômico para com a soberania nacional.
28
pessoas que não são pesquisadores da área já que não compreendem a
complexidade que existe dentro dos cotidianos escolares Brasil afora.
Referências
BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2011.
STROPASOLAS, Pedro. Como os cortes de bolsas afetam a vida de milhares
de cientistas no Brasil. Brasil de Fato, São Paulo, 17, setembro e 2019.
Educação. Disponível em: <brasildefato.com.br/2019/09/17/como-os-cortes-
de-bolsas-afetam-a-vida-de-milhares-de-cientistas-no-brasil/>. Acesso em: 20,
dezembro de 2019.
TAYLOR, Roger L.. Arte inimiga do povo. São Paulo, SP: Conrad, 2006.
29
Cidades, corpos e outras territorialidades
Renata de Mello
Coordenadora do Grupo de Trabalho
No segundo dia, a partir da fricção entre temas que dialogaram sobre artes,
religiosidade, carnaval, perspectiva pós-colonial da cultura e memórias afetivas
de crítica à ditadura, reflexões importantes acerca dos conflitos e crises voltaram
a surgir por um viés distinto. Surge a proposta de repensar os temas, visto que
por serem diversos e representativos, trazem reflexões intensas que
ressignificam e buscam brechas para construção/descoberta de saberes outros,
procedentes de quebras de paradigmas epistemológicos e culturais.
Resumo
Este trabalho, que faz parte do meu projeto de Mestrado, surge a partir do
encontro entre: 1) uma indignação - às desigualdades sociais, raciais e espaciais
da minha cidade natal, o Rio de Janeiro: 2) as leituras sobre performances
urbanas e 3) o encontro com os encontros de Eleonora Fabião, na ação Linha
(FABIÃO, 2016). Com objetivos teórico-práticos, propus uma prática em que eu
me encontro com uma pessoa estranha, a partir da indicação de um amigo ou
conhecido. O objetivo é encontrar, em seus lugares ou bairros, pessoas
desconhecidas das quatro zonas da cidade do Rio de Janeiro (oeste, norte, sul
e central) e também propor deslocamentos a essas pessoas, até o meu bairro
(Laranjeiras, zona sul), buscando furar muros invisíveis que separam essas zonas.
Como crítica de minha própria prática e de outros artistas, me colocar em ação
tem sido importante para pensar o papel do artista contemporâneo – limites e
possibilidades das performances consideradas do campo da Estética Relacional.
A criação de um corpo performativo na relação com esses encontros, com outras
realidades, tem colocado em questão o programa performativo criado,
suscitado novos temas e demandado novas bibliografias, impensados antes
desses deslocamentos e encontros.
Referências
FABIÃO, Eleonora. Una acción llamada Línea: encuentros con el encuentro. In:
ROYO, Victoria Pérez & AGULLÓ, Diego (Org.) Danza y pensamento. Componer
el plural: Enscena, cuerpo, política. Barcelona: 2016, p.289-318.
RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala: Feminismos Plurais. Belo Horizonte:
Letramento, 2017.
32
Performance e cidade: urbanismos do chão
Trabalho Teórico
Resumo
33
Deleuze (2002 e 1996), teorizando o urbano: pensar uma cidade-plano-de-
consistência – imanente e sempre em composição.
34
Palavras-chave: Cidade; Performance; Urbanismo; Programa Performativo;
Chão.
Referências
DELEUZE, Gilles. Espinosa: Filosofia Prática. Tradução de Daniel Lins e Fabien
Pascal Lins. 1ª Edição, São Paulo: Editora Escuta, 2002.
DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. 28 de novembro de 1947 - Como Criar Para
Si Um Corpo Sem Órgãos. In: DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil Platôs:
Capitalismo e Esquizofrenia. Vol.3. Tradução de Aurélio Guerra Neto et alii, 5ª
Edição, Rio de Janeiro: Editora 34 Letras, 1996, p. 9-29.
FABIÃO, Eleonora. Programa Performativo: o corpo-em-experiência. In: ILINX,
Revista do LUME, Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da UNICAMP -
n.4. 2013.
LEPECKI, André. Coreopolítica e Coreopolícia. In: Ilha. vol.13 n.1, Santa
Catarina: UDESC, 2012, p. 41-60.
35
Cartografias afetivas: Suzana Queiroga e Rafael Amorim
Trabalho Teórico
Resumo
36
Referências
SENNETT, Richard. Carne e Pedra: Corpo e cidade na civilização ocidental.
Tradução: Marcos Aarão Reis. Rio de Janeiro: BestBolso 2008.
BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna. In: BAUDELAIRE,
Charles. Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, p. 851-881.
37
Terreiro afetivo
Trabalho Prático
Resumo
38
Terreiro Afetivo, como aula performativa na Mostra de Artes em Cena da
Universidade Federal da Paraíba, julho, 2019.
Na ocasião, realizamos um ritual de queima e plantamos feijão nos arredores da
Universidade.
Resumo
40
Corpo/Cidade: campos de batalha enquanto campos de diálogo
Trabalho Teórico
Resumo
Referências
BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins fontes, 2009.
CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo:
Editora G. Gili, 2013.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. São Paulo: VOZES, 2000.
JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Vitruvius, [S.L.], fev. 2008.
Disponível em: <vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165>.
Acesso em: out. 2019.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Ed. Documentos Ltda., 1969.
PALLAMIN, Vera (org.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana.
São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
42
Paisagens do sul: mostras e bienais de arte contemporânea na perspectiva
pós-colonial da cultura
Trabalho Teórico
RESUMO:
43
As vertentes preconizadas partem do sentido da Mostra de Arte
Contemporânea Documenta, em Kassel, Alemanha , que é realizada desde 1955
e teve desde este período um papel cultural de “antídoto”; buscando
representar a abertura, a liberdade da arte, o experimento, a vanguarda e a
busca de perspectivas em tempos de crises sociais, políticas- humanitárias no
Pós-Segunda Guerra Mundial.
Referências
Farango, Jason. The Venice Biennale Plays It Safe, and Gets Lost in Fog, In: The
New York Times. Nova York: NYT, p. 9, 25 maio 2019. Disponível em:
<https://www.nytimes.com/2019/05/20/arts/design/2019-venice-biennale-
review.html>. Acesso em 25 maio 2019.
44
Uma ação por memórias veladas
Trabalho Prático
Resumo
Em 19 de agosto desse ano, a partir desse ensaio, realizei uma ação por
imagens veladas que constava em demarcar certos lugares (o antigo Tribuna da
Imprensa, o local de linchamento do jornalista Apulchro de Castro e o DOPS) e
ativar a memória do acontecido com jornalistas nesses pontos da cidade
descrevendo o que havia acontecido anos antes, evocando sua presença, e
delimitando com o fio vermelho um trajeto de barbárie da esquina da Rua do
Senado com a Lavradio até o prédio da antiga Polícia Central (que na primeira
data da ação não existia ainda, e anos depois se tornou o DOPS).
45
Palavras-chave: Ação estético-política; Fotografia; Memória; Cidade; Instalação.
46
A sacralidade do lugar: as imagens como objeto na construção do espaço
mistagógico da Basílica de Aparecida
Trabalho Teórico
Richard Gomes
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Desse modo, o recorte grifa aspectos pertinentes à imagem cristã medieval, afim
de compreender os reflexos existentes na obra do artista contemporâneo
tomando, como ponto de partida, o conceito de lieu d’images (lugar de
imagens), desenvolvida por Jérôme Baschet, pelo qual a Igreja cristã
consubstancia-se em “um objeto total, complexo, no qual as imagens se ligam
entre si, se fundem com o lugar, participam em sua função que é celebrar o culto
de Deus (...)” (QUÍRICO, 2014, p.139).
Referências
QUÍRICO, Tamara. Inferno e Paradiso – As representações do Juízo final na
pintura toscana do século XIV. Campinas, São Paulo: Editora Unicamp, 2014.
TOMMASO, Wilma Steagall de. O Cristo Pantocrator – Da origem às igrejas no
Brasil, na obra de Cláudio Pastro. São Paulo: Paulus, 2017.
48
Corpos em atravessamento: gênero e política
Esse corpo que desenvolve potência na re-existência muito nos tem a ensinar
nos tempos de crise. O corpo da contemporaneidade em sua produção
subjetiva mais ampliada, se articula com questões como: decolonialidade,
gênero, política, subjetividade e proposições colaborativas; aventando
caminhos, atalhos, novas trilhas a serem percorridas como frestas que renovam
nosso olhar adiante. Pensar e fazer coletivamente em tempos de dissenso, além
de alento/acolhimento passa a ser uma ferramenta que reinventa as narrativas.
E traz nosso corpo-subjetivação para uma ação conjunta que se torna a mesma,
uma prática de reflexão sobre si, sobre o outro e sobre o mundo que possa
contar mais uma história, mais um trabalho. São modos de adiar o fim, tomar a
crise como bifurcação, duplicação de caminhos de possível. Segundo (KRENAK,
2019), os povos originários do Brasil se entendem como “pessoas coletivas”,
não indivíduos. “Células que conseguem transmitir através do tempo suas visões
sobre o mundo.” Constituem-se uns aos outros.
Mais que nunca precisamos ouvir. Ouvir essas vozes há muito caladas. É
fundamental descolonizar os desejos, as relações e as práticas. Descolonizar a
subjetividade, escapar dos padrões históricos, buscando não produzir novos
modos da mesma barbárie. Diante desse corpo encruzilhada de tempos e
práticas, refletimos gênero e política. Não para separar esses aspectos, mas para
compreendermos o quanto estão associados.
O gênero não é efeito de um sistema fechado de poder nem uma ideia que
recai sobre a matéria passiva, mas o nome do conjunto de dispositivos
49
sexopolíticos (da medicina à representação pornográfica, passando pelas
instituições familiares) que serão objeto de uma reapropriação pelas minorias
sexuais. (PAUL B. PRECIADO, 2019, p. 424)
Leonardo Antan, Indira Brígido, Sílivia Schiavone, Sara York e Lucas Lopes
abordam em suas pesquisas questões onde o gênero atravessa a corporeidade
rompendo com leituras fixas sobre os códigos identitários. Podemos entender
o corpo que opera diferença como potência política e não simplesmente como
efeito dos discursos sobre o sexo. A sexualidade como regime político que
através do corpo apresenta questões que transgridem as representações
dominantes de sujeito. Ingrid lemos e Ribamar Arruda acionam uma ativação
através de suas práticas que convocam a presença do corpo em sua potência
criativa, um corpo-território que aponta para as brechas como mapas de ação e
produção subjetiva. Um corpo político que afirma seu pertencimento enquanto
questiona os acontecimentos em movimento à sua volta. Sua relação com o
espaço propõe construção de novas ações, novos laços, novas experiências de
existência. “Fio Virtual” de Ingrid lemos um jogo performático que convida aos
envolvidos ao movimento numa brincadeira através do fio/objeto relacional. Em
“Desarquive o arquivo do arquivo” de Ribamar Arruda, os elementos cênicos
nos provocam desejos de romper silêncios. A ausência de movimento trazida
pelo seu gesto fixo, nos mobiliza afetivamente fazendo com que o dispositivo
performático se modifique diante da participação do espectador/ator. A frase
imperativa projetada na parede “Desarquive o arquivo do arquivo” ao mesmo
tempo nos ordena e liberta, assim como seu gesto de defesa nos ataca.
Referências:
PRECIADO, Paul B. Multidões Queer: notas para uma política dos “anormais”.
In: HOLLANDA, Heloisa Buarque. Pensamento Feminista. Rio de Janeiro: Bazar
do Tempo, 2019.
SIMAS, Luiz Antônio, RUFINO, Luiz. Fogo no mato: A ciência encantada das
macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.
50
Desorientação do corpo em fechamento: experimentações do corpo em
abertura
Trabalho Teórico
Indira Brígido
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
Referências
BUTLER, Judith. A vida psíquica do poder: Teorias da sujeição. Tradução de
Rogério Bettoni. 1º Ed., Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017, p. 10.
DERRIDA, Jacques. Demorar: Maurice Blanchot. Tradução de Flavia Trocoli e
Carla Rodrigues. 1º Ed., Florianópolis: Editora UFSC, 2015, p. 62.
__________. Pensar em não ver: escritos sobre as artes do visível. Tradução de
Marcelo Jacques de Morais. 1º Ed., Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2012, p. 70.
DESPENTES, Virginie. Teoria King Kong. Tradução de Márcia Bechara. 1º Ed.,
São Paulo: n-1 edições, 2016, p. 93.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: A vontade de saber. Tradução
de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 2 º ed.,
São Paulo: Paz e Terra, 2015, p. 100.
PRIMO, Rosa. Dança: porosidade e resistência. Tempos de memória: vestígios,
ressonâncias e mutações. Porto Alegre, VII Congresso da Abrace, vol. 5, p. 1-4,
outubro, 2012. Disponível em:
<http://www.portalabrace.org/viicongresso/completos/pesquisadanca/Rosa_Pr
imo_-_dan__a_porosidade_e_resist__ncia.pdf>. Acesso em: 01/04/2019.
MARGEL, Serge. Os arquivos, no limite entre escrita e saber. In: PENNA, João
Camillo (Org.). Arqueologias do Fantasma: Técnica, Cinema, Etnografia.
Tradução de Maurício Chamarelli e Anne Dias, 1 º ed., Belo Horizonte: Relicário
Edições, 2017, p. 111-170.
ROLNIK, Suely. "Fale com ele" ou como tratar o corpo vibrátil em coma.
Conferência proferida nos simpósios: Corpo, Arte e Clínica (UFRGS, Instituto
de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional
– Mestrado. Porto Alegre, 11/04/03); A vida nos tempos de cólera (ONG Atua,
Rede de Acompanhamento Terapêutico. Itaú Cultural, São Paulo, 17/05/03) e
A clínica em questão: conversações sobre clínica, política e criação (DA de
Psicologia UFF e Universidade Nômade, Niterói, 05/12/03). Disponível em:
<https://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/falecomele.pdf>.
Acesso em: 13/03/2019.
53
Devir oceânico - do corpo
Trabalho Teórico
Ingrid Lemos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Então conclui-se que cada sujeito que cria uma relação com o objeto evoca uma
experiência singular e isso só se faz possível porque o próprio corpo se encontra
em um processo constante do Devir. O Devir, entretanto, se dá a partir do
encontro do corpo com o outro, se presenciando na zona intrínseca deste
encontro onde não se distingue o corpo do mundo.
54
Fio-virtual
Trabalho Prático
Ingrid Lemos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Não existe uma maneira técnica ou uma verdade absoluta sobre abrir esta
consciência do corpo, um lugar de estado mental. Ela nos define a importância
da qualidade de corporalizar os conceitos. O presente trabalho “Fio-virtual” vem
a ser então o desdobramento da minha performance “Questão Embrionária:
Jogos de Circulação” para expandir a proposição da ação adentro: jogos de
circulação. Eu proponho a alguns observadores a se amarrar um fio vermelho,
objeto relacional condutor. O exercício tem como objetivo criar estado de
tensão entre os corpos e convidar o participante a vivenciar de forma mais
empírica o sistema de transporte de fluidos.
55
Foto-performance com Fio-Virtual (2017). Fotografia: De Caio, Castro.
Referências:
COHEN, Bonnie Brainbridge. Sentir, Perceber e Agir: Educação somática pelo
método Body Mind Centering. Edições Sesc São Paulo, 2015.
56
LAROYÊ XICA DA SILVA!
A incorporação da personagem brasileira na encruzilhada do desfile do GRES
Acadêmicos do Salgueiro em 1963
Trabalho Teórico
Leonardo Antan
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
58
Futanarihira: ambiguidade de gênero e permanência na arte japonesa
Trabalho Teórico
.
Lucas d’Avila
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Referências
HACHIMONJIYA, Jishō. The Actors’ Analects. Tradução de Charles J. Dunn e
Bunzō Torigoe. Nova Iorque, Columbia University Press: 1969.
SAIKAKU, Ihara. The Great Mirror of Male Love. Tradução de Paul Gordon
Schalow. Califórnia, Stanford University Press: 1990.
60
Ensaios sobre o corpo em transe: pequenas frestas entre o terreiro de
candomblé, o espaço cênico e a escrita
Trabalho Teórico
Renata Borges
Pontifícia Universidade Católica
Resumo
61
Arquivo vivo
Trabalho Prático
Ribamar Ribeiro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
62
políticos no período da ditadura e os livros Brasil Nunca Mais, Exílio e Tortura e
depoimentos do grupo tortura nunca mais.
Trazer esta discussão à tona com o texto a Corrente de Eléia, escrito por Ribamar
Ribeiro, que conta a história de Eléia que foi torturada e em dado momento da
dramaturgia tem a possibilidade de reencontrar seu torturador faz com que
reduplique novamente todas as emoções e sensações daqueles momentos.
63
Ribamar Ribeiro na Performance Arquivo Vivo. Foto: Igor Mattos
Resumo:
65
Coletivo hécate - prática artística, feminismo e território
Trabalho Prático
Resumo
66
estereótipos pode gerar discriminação e moldar a forma como enxergamos o
outro. É preciso romper com o sistema vigente que reproduz um discurso
dominante acerca das representações identitárias, ressignificando a cultura
visual sob o mote da diversidade, repensando nossa relação com o outro através
dos nossos repertórios visuais. Promover a diversidade cultural não é invisibilizar
as práticas que aqui existem, mas valorizá-las e reconhecê-las como parte
imprescindível e significativa do universo artístico contemporâneo.
67
Experiências performativas: Afetos e cuidados
Pensar o cuidado como um estado afetivo vital pode se tornar uma obrigação
ética e um trabalho prático artístico tanto na ciência quanto na teoria política. A
ação propositora que convoca o outro a pensar em sua própria capacidade
dentro de um campo subjetivo, possibilita uma constituição de novos modos de
vida, o improviso abre um espaço para experimentação de outras formas de se
acontecer a vida, esses efeitos como excessos, não saber o que você ocupa,
com o que se ocupa, a experiência do que nos ocorre que tem a ver com o
perigo por não controlar a reação do outro, atividade e passividade feito tramas,
trazem a análise de uma experiência vivida e tecida de pura espontaneidade. O
cuidado de si, referindo-se a ocupar-se consigo mesmo seria uma forma de
privilégio e poder, visto de civilizações mais remotas já partiam de técnicas e
tecnologias de exercícios que perdura até hoje. No período pré socrático-
platônico essa aplicação concreta com regras vinculadas assumia papéis de
despertar ao outro a terem cuidados consigo mesmos. Nesse sentido ocupando
se si mesmo e em relação “singular, transcendente, do sujeito em relação ao
que o rodeia, aos objetos que dispõe, como também aos outros com quem se
relaciona, ao seu próprio corpo, enfim, a ele mesmo” (FOUCAULT, 2010, p.50).
O sujeito é o processo da relação com a perspectiva privilegiada do poder sobre
nós mesmos do que vemos e fazemos, agindo sobre nossos corpos, inclusive
através de sua distribuição de espaço e seu controle do tempo, determinando
o que ou quem deve ser esse sujeito pelas condições em que se submete, seu
status, sua posição real ou imaginária diante desse ou daquele tipo de
conhecimento, acontecimento, sua constituição histórica, os valores das
instituições sociais, a liberdade de pensamento e por aí à fora com os modos de
ser “em si” ou “para si”. Sem a consciência daquilo que se é e que vai de
encontro com o próprio ser, o próprio ser em si é seu mundo, de seu corpo e
das coisas a sua volta que representam um contexto natural social-histórico,
onde na performance é projetado por uma ação motora que se desencadeia a
experiência do corpo próprio além da representatividade criadora identificada
como o próprio ser onde assenta seu corpo sensível. (MERLEAU-PONTY, 1994).
“Tocar e ser tocado, sentir que se toca e sentir que se é tocado, eis duas
espécies de fenômenos que se tenta em vão reunir sob o nome de ‘dupla
sensação’. De fato, eles são radicalmente distintos e existem sobre dois planos
68
incomunicáveis” (SARTRE, 1976). É justo dizer que o cuidado tem sido e
continua a ser um aspecto essencial do caráter transformador do ser humano,
sua definição e suas possibilidades de configuração de mundo, nas relações com
os outros e as coisas. A vulnerabilidade nos põe em situações extremas onde o
outro afetado pelo que presencia acaba acolhendo aquela imagem de
experiência por vezes de estranhamento, outras de cuidado e afeto. A arte de
viver é uma estética de existência que consiste em tomar sua própria vida
materializando e problematizando as subjetividades humanas enquanto maneira
de constituir-se olhando para si tendo como objeto de disputa a distinção de
condutas para com os outros e para consigo. Quase que uma função terapêutica
e curativa o autocuidado é eticamente a primeira medida em subordinação ao
autoconhecimento como o não se cuidar é uma forma de agressão sutil. O
elemento primordial da performance é o tempo e os elementos estéticos o
artista, a obra, o público, o espaço, a efemeridade, registros, onde o hibridismo
e o imprevisível coloca o corpo no centro da arte. Elementos ligados a religião
e mitologias com tons metafísicos e espirituais fazem uso do corpo sutil com
oposições de razão, intuições, frio, calor, objetos invisíveis que tornam o
cuidado de si importantes para além da materialidade.
Referências:
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Carlos
Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1994. Original publicado
em 1945.
FOUCAULT, Michel. Uma estética da existência. In: MOTTA, Manoel Barros da
(Org.). Ditos e escritos. v. V. Tradução de Elisa Monteiro e Inês Autran Dourado
Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. d. p. 288-293. Original
publicado em 1984.
SARTRE, Jean Paul. L’être et le néant. Paris: Gallimard, 1976. Original publicado
em 1940.
70
Arte e filosofia na obra “portal de dentro” do artista |BANTUMARÚ.|
Resumo
O PORTAL DENTRO
A FILOSOFIA
Retorne ao seu centro e encontre o que está escondido em seu interior (e a todo
restante) olhe pra dentro e busque sua própria sombra, leve luz a ela e achará
uma sombra mais profunda e assim sucessivamente, pois dentro que está seu
princípio único e ao mesmo tempo comum entre você e tudo que existe, a idéia
de que mesmo sendo diferentes, somos iguais e tudo está conectado, acima do
71
egocentrismo de superioridade, pois agora podemos estar em cima e depois
estaremos em baixo, podemos estar no lado branco da vida e depois viver o
lado negro, o conflito dos opostos será eterno até que o verdadeiro equilíbrio
seja encontrado e os distintos sejam novamente atraídos.
72
Os prazeres da dissertação: um artigo em três momentos
Trabalho Teórico
Resumo
Resumo
Referências
BONDÍA, Jorge Larossa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência.
Rev. Bras. Educ. [online]. 2002, n.19, pp.20-28. ISSN 1413-2478. Disponível
em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003 Acesso em:
10/09/2019.
DAMÁSIO, António. A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos
sentimentos e da cultura. Tradução: Laura Teixeira Motta. 1ª edição. São
Paulo:Companhia das Letras, 2018
FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo.
Sala Preta, 8, 197-210. 2008. Disponível em:
<https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v8i0p197-210> Acesso em:
10/09/2019.
76
Não ceder ao medo
Trabalho Prático
Elisa Castro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
O projeto Não Ceder ao Medo foi criado a partir da realidade vivida na Escola
Municipal Prof. Horácio Pacheco, onde lecionei artes para crianças de cinco à
doze anos durante dois anos. A comunidade na qual estava inserida era afetada
por intervenções policiais a todo tempo, o que gerava uma atmosfera de medo
constante tanto entre os professores quanto entre as crianças. O temor era
naturalizado e silenciado de forma inconsciente pelos adultos, porém as crianças
através de suas brincadeiras e fala espontânea sinalizavam a todo tempo um
desejo em comunicar o terror vivido. Inserida neste contexto como professora e
artista me senti convocada a criar mecanismos para trazer a tona a problemática
da conexão com outro gerada pelo entorno violento.
Marcus Groza
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Raquel Gaio
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
Mapa erosivo é uma ação que articula a elaboração material – por meio de
elementos performativos, visuais e poéticossonoros – na tentativa de mobilizar
obliquamente a precipitação de forças invisíveis, tangenciando
ritualidades/religiosidades em uma chave insubmissa, como modo de
cartografar a separação e recompor territórios imaginários em perpétua
migração, re(li)giões ainda por vir.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.
DIDI-HUBERMAN, George. A Pintura Encarnada. São Paulo: Escuta, 2012.
GAIO, Raquel. Manchar a memória do fogo. Bragança Paulista: Editora Urutau,
2019.
GROZA, Marcus. E a lua como órgão principal. São Paulo: Editora Primata, 2017.
80
Ética e técnicas de teatro de improvisação
Trabalho Teórico
Tomaz Pereira
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Referências:
DESMONTS, A. Le thêatre d’improvisacion: Un pratique artistique autonome
em voie d’institutinnalisation qui dépasse le cadre du spetacle. Dissertação de
Mestrado em Política e Gestão da Cultura apresentada ao Instituto de Estudos
Políticos da Universidade de Estrasburgo, França, 2010.
MUNIZ, Mariana. Improvisação como espetáculo: Processos de criação e
metodologias de treinamento do ator improvisador. 1ª Edição. Belo Horizonte:
UFMG, 2015.
82
Insurgências antirracistas e de(s)colonialidade
84
Fronteiras, arte contemporânea e historiografia: entre a crise e a
reconfiguração
Trabalho Teórico
Aldones Nino
Universidade de Granada
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
85
A reivindicação de direitos epistêmicos tem um potencial decolonial, por mudar
os termos do próprio debate, e não apenas os temas, assim superando uma
visão ideal que busca a dominação de todas as realidades. Abordaremos
trabalhos artísticos que ressignificam momentos específicos da narrativa
hegemônica, fomentando a imaginação política e a elaboração de críticas ao
nosso presente, tensionando porosidades entre formas de vida e criações
teóricas e artísticas.
86
Palavras-chave: historiografia da arte; decolonial; arte contemporânea;
imaginação política.
Referências
ESCOBAR, Arturo. Mundos y conocimientos de otro modo. Revista de
Humanidades. Colômbia: UCMC, n°4, p. 50-86, jan - dez, 2003. Disponível em:
< http://www.revistatabularasa.org/numero-1/escobar.pdf >. Acesso
em:09/10/2019.
NINO, Aldones. Dobras no tempo e historiografia da arte: aproximações entre
pensamento decolonial e arte contemporânea. Monografia (Bacharelado em
História da Arte) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro, p.105. 2019.
87
O humano e a natureza: alegorias aos cinco continentes do Museu Da
República e possíveis diálogos com Joseph Beuys
Trabalho Teórico
Resumo
89
O mar guarda a história da violência: ditadura, memória e representações
desde o sul
Trabalho Teórico
Resumo
Esse trabalho surge enquanto uma inquietação por busca de referências desde
o Sul para os estudos de memória, como uma espécie de reação ao apelo de
Walter Mignolo (2008) à desobediência epistêmica e em consonância ao que
Boaventura de Sousa Santos (2010) chama de epistemologias do Sul.
Esse trabalho não procura dar respostas ao que aqui começamos a nos
questionar, mas sim dar indícios de uma possível construção de resposta. O que
nos questionamos aqui é: é possível uma epistemologia que trate da
representação de eventos traumáticos desde o Sul? É possível pensar a
representação do trauma e da dor das ditaduras latino-americanas para além da
referência do holocausto judeu? É possível pensar nas ditaduras militares latino-
americanas como nosso maior trauma do século XX sem perder de vista o
trauma e todas as cicatrizes deixadas pela colonialidade? Essas são algumas de
nossas questões, e suas possíveis respostas são o que poderíamos aqui chamar
de nosso sul.
Referências:
GUZMÁN, Patricio. El botón de nácar. Chile, 2015.
MIGNOLO, Walter. Desobediencia epistémica: Retórica de la modernidade,
lógica de la colonialidade y gramática de la descolonialidad. Ediciones del
Signo, Buenos Aires, Argentina, 2010.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas
globais a uma ecologia de saberes. In: Boaventura de Sousa Santos e Maria
Paula Meneses (organizadores). Epistemologias do Sul. São Paulo: Editora
Cortez, 2010.
91
#002 - INTERVENÇÃO - REVOLTA
Trabalho Prático
Resumo
92
#002 - APOLÔNIO M. - FOTOGRAFIA DURANTE O ENCONTRO LAVRA DE
PERFORMANCE 2019 - PRAÇA TIRADENTES/RJ.
93
A arte produzida em capas de disco no Brasil e a Ditadura Militar
Trabalho Teórico
Resumo
A censura quase sempre tinha seus artistas “preferidos”, ou seja, que eram mais
perseguidos pela ditadura. Um dos critérios utilizado era a classe social que o
artista atingia com sua música. Por exemplo, artistas de samba ou da música
conhecida como brega na época, que por sua vez atingiam uma classe social
economicamente humilde, quase não eram vetados pela ditadura. Isso denota
o preconceito por parte do regime militar em acreditar que as pessoas mais
humildes economicamente não eram capazes de pensar e consequentemente
atrapalhar seus ideais de controle. Por outro lado, artistas que tinham como
público alvo pessoas de classe econômica elevada ou média, eram muito mais
perseguidos pela ditadura. Essa é uma das questões levantadas nesta pesquisa
e demostrada através de exemplos de capas censuradas ou não, com seus
respectivos gêneros musicais.
Por fim, é significativo frisar a relação direta desta pesquisa com o atual cenário
político no Brasil, guardada as devidas proporções. Contudo, não é segredo
para ninguém que o atual governo exalta o período do regime militar com
94
saudosismo. O conservadorismo crescente, que caminha com a intolerância,
censuras e preconceitos traz, por fim, um retrocesso em grande escala. É
importante debater tal panorama, sendo que a produção artística é um
importante meio de resistência, seja através da música, capas de disco, teatro,
cinema, etc.
Referências
BARCINSKI, André – Pavões misteriosos: 1974-1983: a explosão musical pop
no Brasil / André Barcinski. – São Paulo: Três Estrelas, 2014.
MELO, Chico Homem de – O design gráfico brasileiro: anos 60; Chico Homem
de Melo (org.) – São Paulo: Cosac Naify, 2006. 304 pp., 514 ils
Arte e política no Brasil: modernidades/organização: André Egg, Arthur Freitas,
Rosane Kaminski. – 1ed. – São Paulo: Perspectiva, 2014.
MELENDI, Maria Angélica – Estratégias da arte em uma era de catástrofes – 1
ed. – Rio de Janeiro: Cobodó, 2017.
95
A gestão de Oswaldo Teixeira e a imagem do negro no acervo do MNBA
Trabalho Teórico
Resumo
Uma das linhas de pesquisa, ainda que em processo embrionário, faz referência
às políticas de aquisição adotadas pelo Museu desde sua criação em 1937.
Através de uma revisão bibliográfica, a literatura foi dividida em 3 vertentes:
Antropológica, que analisa a partir de um contexto histórico, desde a abolição
da escravatura, as políticas de branqueamento e a campanha por uma
identidade nacional, que valorizavam a figura do mestiço; Social, que se refere
a políticas de inclusão, além dos atuais debates na área, por reconhecimento e
igualdade de direitos; e, por último, uma visão Patrimonial, que frisa a atuação
da instituição dentre do âmbito cultural, suas políticas de aquisição e práticas
expositivas no decorrer de sua história, e a responsabilidade de projetar e
salvaguardar o ideal de uma arte nacional.
97
29.4.2019
Trabalho Teórico
Jandir Jr.
Universidade Federal Fluminense
Resumo
No dia 29 de abril de 2019, enviei um e-mail para Millena Lízia, amiga, artista,
educadora, intelectual, para conversar sobre um texto que eu havia escrito.
Nele, escrevi sem voltar atrás ou corrigir qualquer erro de digitação ou ideia
pouco elaborada. Escrevi esse texto também num só parágrafo, imenso, que
ocupava páginas e páginas. Seu tamanho também se tornou maior pelo tanto
de notas de rodapé que anexei a ele: tantas que, por vezes, elas tomavam mais
da página do que o próprio texto em sua escritura. Era um texto que desabafava,
enfim, sobre a própria leitura e escrita; sobre o mal-estar com relação à
colonialidade no nosso idioma oficial e seus usos idiomáticos tidos por corretos.
Ainda que apontasse para nossas subversões linguísticas e para a própria
natureza contrahegemônica do português brasileiro, não sem dores o fazia,
ciente da ambivalência irresolvível dessa equação que subtrai de pessoas
racializadas, isto é, das que fazem usos dissidentes da língua, sua autoestima.
Mas ela, Millena, me disse uma coisa. Dentre muitas coisas, Millena me disse e
ainda me diz que sabemos das gentes negras cindidas, sabemos de suas dores,
dos instrumentos de suplício da escravização. Mas resta nesta constatação a
curiosidade perpétua em saber como, em que pessoas negras poderiam viver
em plenitude, saudáveis e felizes. E, nesse caso do meu texto, em como
poderíamos escrever como uma afirmação de saúde, e não de uma doença
contraída como uma dessas pestilentas que desembarcaram das caravelas junto
com os colonizadores. Meu texto comunica nossa fragmentação como escritoras
cindidas em sua confiança porque tenho nisso, na verdade, a vontade de
procurar nossa plenitude. Foi o que pensei depois do que ela disse. E pela
vontade enorme de oferecer ainda mais saúde, apesar dos cortes poucos
cicatrizados em minha própria psiquê, decidi não mais distribuir o texto. Decidi
não mais imprimi-lo e doa-lo em portas de universidades, como quis
anteriormente. Decidi não mais fazer dele uma publicação em formato jornal,
com letras de manchete enormes. O quero mostrar, lê-lo, publica-lo aqui, é
verdade. Mas desde que venha acompanhado desse preâmbulo que agora e
aqui escrevo. Para que não mais esse texto seja um grito de dor somente, ou
98
uma análise cheia de dúvidas. Que suas palavras e as notas que as acompanham
sejam guias, para mim e para nós. Mas que nos guiem, enfim, à nossa própria
saúde. Que empunhemos canetas, lápis e teclados para nos vermos como tais,
e não como menos do que verdadeiramente somos.
99
Dramaturgias cênicas do corpo negrx
Trabalho Teórico
Kleber Lourenço
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
A pesquisa que será apresentada busca refletir sobre um recorte recente da
produção no teatro e na dança negra contemporânea do Brasil. O estudo
acontece partindo de um recorte temporal (2007 a 2019) que deflagra uma
produção cênica (em teatro e dança) realizada por uma geração de artistas
negrxs em dois territórios distintos: as cidades de São Paulo e Recife. A escolha
destas cidades se dá por estes territórios estarem interligados pela minha
trajetória como artista e pesquisador. Percebo que, nestes lugares dentro dos
doze anos citados, surgem experiências dramatúrgicas estruturantes na
formulação de Poéticas Negrxs para as artes da cena e que, revelam muito do
momento em que estamos vivendo com suas discussões de identidades.
Diferentes grupos artísticos foram formados com algumas características que se
assemelham: nos processos de criação - a escolha de temas que abordam
gênero, sexualidade e identidade negra, a investigação pela estrutura narrativa
em forma de depoimentos, a formulação de procedimentos criativos que partem
das vivências e memórias pessoais, a linguagem documental ou autobiográfica
como estrutura formal e estética - são dramaturgias do corpo e da cena que
evidenciam diferenças de corporeidades e ressignificações da cultura africana.
Nos modos de produção - a quebra de estruturas colonizadoras e verticalizadas
de trabalho com a formação de coletivos independentes e trabalhos autorais, o
engajamento em ações políticas para arte negra (fóruns, seminários, etc.)
fazendo pontes com as pesquisas de criação, a produção artística através de
diferentes formas de financiamento, o interesse pelo reconhecimento e pela
visibilidade de novas epistemologias para formação dos artistas brasileiros.
Estas são algumas características que vêm estruturando dramaturgias de
urgência que objetivam visibilizar a fala do sujeitx negrx e suas formas de
existência (diásporas, cosmogonias). Partindo da percepção destas
características e querendo descobrir outras, sobretudo as que diferenciam e
afirmam suas singularidades, venho estudando obras e a prática de criação de
alguns artistas negrxs deste panorama citado acima e que serão apresentados
como comunicação oral deste seminário.
“Por afeto compreendo as afecções do corpo pelas quais sua potência de agir
é aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada, e, ao mesmo tempo, as
ideias dessas afecções”. (SPINOZA, 2009, p. 163).
O corpo quanto mais se deixa afetar mais ampliado se torna o seu campo de
conhecimento sobre o ser e agir, portanto, menor sua possibilidade de padecer
em afetos tristes, nas palavras de Spinoza: “quem tem um corpo apto a fazer
muitas coisas, é menos tomado pelos afetos que são maus, isto é, pelos afetos
que são contrários a sua natureza” (Ibidem, p.405). À vista disso, propostas
artísticas e pedagógicas relacionais expandem as possibilidades de encontro,
proporcionando maiores conexões e afecções entre corpos - desse modo,
saberes sobre nossas potências de relação são articulados. Segundo Spinoza,
tornamo-nos livres a medida que mais conhecemos os agenciamento da nossa
natureza e de todas as coisas que existem. São essas ideias que perpassam os
trabalhos apresentados no presente grupo de trabalho, em que as noções de
afeto, tempo e corpo foram articuladas.
101
duram enquanto faz o corpo agir, se o corpo é finito, suas paixões estão
inseridas em seu tempo e, desta feita, são finitas. Se para Spinoza nada é
contingente na natureza e faz parte de uma mesma essência criadora, podemos
dizer que tudo em que nela está encontra-se em relação, “pois tudo o que
existe, existe como modo, e está em relação com outros modos. Não existe ser
que não se relacione, que não seja afetado ou afete outro ser. Tudo o que existe
deve ser pensado em termos de agenciamentos” (ibidem, 2009, p.173).
O desejo precisa ser cerceado por uma ideia para se transformar num projeto,
para tanto, no capítulo que segue, o leitor encontrará projetos em artes visuais
e cênicas em que tempo e afeto tornam-se matéria para pensar os fluxos do
desejo dos sujeitos em relação. As conexões entre os trabalhos nos
proporcionam criar uma cartografia de pedagogias possíveis em arte, uma vez
que temos Bruna Felix do Nascimento que desenvolve a pesquisa “A intuição
como bússola para o bom encontro”, em que compartilha seu processo de
criação em artes cênicas e nos dá pistas sobre uma dramaturgia do ator. Ao estar
aberta ao imponderável coloca sua intuição em expansão, dando caminho para
que o gesto resultante de seus afetos surja como potência cênica. Desse modo,
cria-se uma poética para criação gestual da atriz. Clarice Rito Plotkowski nos
apresenta seu varal de afetos com o trabalho “Vide o verso - yin side”, em que
as marcas do tempo no corpo do sujeito surgem como marcas no corpo da
matéria - expondo sua vulnerabilidade como poética material. Davi… Felipe
Coutinho apresenta-nos o trabalho gráfico em história em quadrinho “Tempo
Acúmulo”, em sua narrativa Felipe nos exemplifica outras trabalhos em que
utiliza do formato das histórias em quadrinhos para desenvolver atividades
didáticas na educação básica. Em sua fala, assim como da de Lisa e Thamires,
percebemos as potencialidades pedagógicas em produção no curso de
licenciatura em artes visuais. Lisa Miranda desenvolve um trabalho de contação
de histórias com a temática de heroínas mulheres que não estudamos
curricularmente na educação básica, o nome de seu trabalho é “Contando
mulheres: tramando ações políricas na escola”, há uma narrativa performativa e
uma produção de saber em artes visual, após as histórias os alunos são
convidados a desenvolver trabalhos a partir do que ouviu, como bonecas
abayomi. O trabalho de Lisa propõe uma pedagogia não terapêutica, mas que
tem um acolhimento do aluno: o afeto como potência. Marcelo Marques
Teixeira nos apresenta uma questão “É possível o ator desenvolver uma poiesis
dos seus próprios desvios corporais?”, seu trabalho consiste em pensar um
corpo cênico construído a partir de afetos grotescos, aqueles que fogem da
102
normatividade, encontrando o que não sabia e resgatando o desconhecido de
si mesmo. Mariana Nunes apresentou o trabalho “Espera”, que deflagra
questões em torno da angústia da espera, sobre depressão e como a arte acolhe
o eu. Mariana constrói um trabalho de arte a partir de seus afetos tristes e dele
faz algo que os potencializa, desse modo, cria formas de ação para fora deles e
de encontro às suas próprias potencialidades frente a vida. Paula Regina Santos
criou uma casa de João-de-barro em tamanho dimensionado o título de sua
comunicação e “ Um teto todo seu sobre sua cabeça: quando a obra de arte
trai”, sendo tal traição proporcionada pelas adversidades que o projeto
arquitetônico passou e questões que surgiram ao longo de sua execução -
imprevistas e frutos do acaso e das subjetividades daqueles que a
acompanharam no processo. Sua fala nos proporcionou compreender o seu
processo de criação; um trabalho também pedagógico de compreensão dos
agenciamentos feitos pela artista em seus momentos de criação, possível como
material de estudos à artistas em formação. Quezia Maria com o filme “Lia”, um
filme dentro do filme que narra o gesto de uma mulher. Thamires Burlandy
apresentou o ‘Projeto Casa Ateliê: arte no Hospital Pedro Ernesto”, em que no
espaço da sala de espera de um hospital jovens têm a possibilidade de um
momento criativo através da arte visual, tal projeto proporciona pensar
metodologias de ensino em arte em espaços fora da sala de aula tradicional e,
desse modo, quais agenciamentos de desejo tais encontros proporciona. Por se
tratar de um trabalho que ocorre uma única vez com aquele grupo específico,
nos faz perguntar: como elaborar e resolver questões pedagógicos em um
tempo finito de um único encontro fruto do inesperado?
Referências:
SPINOZA, Baruch. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
SCHÖPKE, Regina. Matéria em movimento: a ilusão do tempo e o eterno
retorno. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
103
A intuição como bússola para o bom encontro
Trabalho Teórico
Resumo
Em tempos de crise como farejar Bons encontros? Como evitar as misturas que
contagiam com o afeto da Tristeza e diminuem a potência para agir e ser?
Encontros com a espiritualidade através do canto, com mestres que iniciam em
técnicas artísticas, com outros artistas buscadores/pesquisadores. Bom encontro
à maneira de Spinoza, como aumento das potências de agir e da força de existir
dos envolvidos, encontro que tem a marca da Alegria (Spinoza, 2012, p.99-163).
Alegria como resistência contra a tristeza instaurada pelos (podres) poderes. Um
trabalho na trilha de Jerzy Grotowski que pesquisou sobre o que faria um
verdadeiro encontro. Combater uma diminuição das potências através dos
encontros micropolíticos. Um grupo (grupelho?) (Guatarri, 1985, p.16) como
reserva ecológica que preserva a riqueza das diferenças. Uma pesquisa sobre o
território do corpo pelo “trabalho do ator sobre si mesmo” proposto por
Constantin Stanislavski que foi expandido pela pesquisa de Jerzy Grotowski
sobre o “comportamento humano em situações metacotidianas” (Grotowski
[1997] in Sodré, 2014, p.20) na luz do conceito de bom encontro e a ciência da
intuição de Baruch Spinoza. Para Spinoza, criação e liberdade estão ligadas ao
que ele chama de ciência da intuição. Esse gênero de conhecimento seria o
espaço para criar sua forma de existir de acordo com suas forças interiores, não
subjugadas as forças e poderes exteriores (Ulpiano, 2013). Levantam-se
aproximações entre saberes sobre a palavra intuição: na neurociência, no estudo
de António Damásio (Damásio, 2012, p.13) e nas linhagens do yoga que
influenciaram Stanislavski e Grotowski. Através do bom encontro com uma
mestria (através de um artesão, um ritual, uma canção, uma história antiga...) o/a
performer pode ir além da existência de comportamentos automáticos, criar
resistência. Esses territórios de contato conferem poder de ação e alegria aos
corpos nos quais ela se manifesta. A pesquisa evoca a figura de mestria como a
que Grotowski descreve em 'o Performer' (Grotowski [1986] in Celina, 2014,
p.54): aquela que auxilia o aprendiz a acordar seu mestre interior e, desse modo,
agir conscientemente. A figura do (a) diretor(a) teatral pedagogo(a) pode ser
considerada análoga à do mestre/mestra espiritual ou de artesanias pois ambas
104
ajudam a despertar as forças interiores, intuitivas, para que o/a performer possa
criar seus modos de existir na vida e/ou na arte. Diferente de um mestre que
dita leis para serem obedecidas.
Referências
DAMÁSIO, António. O erro de Descartes:emoção, razão e o cérebro humano.
Tradução de Dora Vicente. 3ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2012,
p.13.
GUATARRI, Felix. Revolução Molecular. Tradução de Suely Rolnik, 2a edição,
São Paulo: Editora Brasiliense, 1985, p.16.
SODRÉ, Celina Maria Fonseca. Jerzy Grotowski: artesão dos comportamentos
humanos metacotidianos. Tese (Doutorado em Artes Cênicas). Centro de
Letras e Artes – CLA, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro –
UNIRIO. Rio de Janeiro, 2014, p.20.
SPINOZA, Baruch de. Ética. Tradução de Tomaz Tadeu, 2a edição, Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2008, p.99, p.163.
Documentos eletrônicos
GROTOWSKI, Jerzy. “o Performer”. eRevista Performatus, Inhumas: jul. 2015,
ano 3, n. 14. Disponível em:< https://performatus.net/traducoes/performer/>.
Acessado em 05/10/2019
ULPIANO, Cláudio. Pensamento e liberdade em Spinoza. Acervo Claudio
Ulpiano. Disponível em:
<https://acervoclaudioulpiano.com/2017/09/03/pensamento-e-liberdade-em-
espinosa/>. Acessado em 05/10/2019.
105
Vide o verso - yin side
Trabalho Prático
Clarice Rito
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
106
“Dobra” (da série “Vide o verso – yin side”)
Técnica mista
21x29cm
2019
Lisa Miranda
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Referências
BARREIRO, Alex. MARTINS, Fernando Henrique. Bases e fundamentos legais
para a discussão de gênero e sexualidade em sala de aula. Leitura: Teoria &
Prática, Campinas, São Paulo, v.34, n.68, p.93-106, 2016
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes,
1987.
MIGNOLO, Walter. Des-colonialidad del ser y del saber. (Videos indígenas y los
limites coloniales de la izquierda) em Bolivia. 1. ed. – Buenos Aires: Del signo,
2006.
110
É possível o ator desenvolver uma poiésis
A partir das suas próprias patologias?
Trabalho Teórico
Resumo
Esta pesquisa, de uma maneira geral, sugere como argumento de tese, uma
possível autopoiesis do ator a partir dos suas próprias patologias corporais,
tentando, para isto, distancia-lo dos padrões normativos que o aprisiona. Para
desenvolver essa discussão contamos inicialmente com a interlocução medica-
filosófica de Canguilhen (2009) e os seus modelos da explicação biológica, assim
como o binômio normal/patológico. Para o pensador, a patologia é a soma de
diferentes estados sintomáticos que derivam de um organismo saudável, de
modo que toda doença tem uma função normal correspondente da qual ela é
apensa a versão excitada, diminuída ou aumentada. Esse processo que leva um
corpo da saúde a doença, segundo Canguilhen, é homogêneo, ou seja, mesmo
sendo diferente do normal fisiológico, o patológico faz parte do estado vital.
Dito isto, buscamos nesta pesquisa, enaltecer as pequenas derivações
patológicas que há na normatividade fisiológica do ator e, por conseguinte,
utilizar estes aspectos psicofísicos como estímulos de criação sobre si mesmo.
Logo, não buscamos uma mera teatralização dessas patologias, mas sim,
desenvolver o que venho chamando de “Terceiro Corpo” – ideia/conceito
iniciado nas pesquisas de mestrado. Trata-se de um estado de presença
efêmero que é atualizado constantemente (BERGSON, 1990), afastando-se,
portanto, da noção de mímesis (ARISTÓTELES, 1987), visto que o único aspecto
que pode talvez chegar a ser mimetizado é o potencial de vida daquilo que afeta
a ator - que no nosso caso são as derivações patológicas do estado normal.
Sendo assim, a fisicidade “resultante” (Terceiro Corpo) nunca poderá ser uma
cópia da realidade ou um simulacro (PLATÃO, 2001), porque essa presença
cênica está justamente no “entre”, no encontro, tratando-se, portanto, de uma
espécie de “si-outro”, de “não-eu”. Do ponto de vista metodológico o aporte
tem sido feito pelo Método do Corpo Sensível, desenvolvido e sistematizado
pelo A.P.A (Ateliê de Pesquisa do Ator - projeto do qual faço parte desde de
2016, promovido pelo Centro Cultural Sesc/Paraty e fundado em março de
2014) e que em muito tem auxiliado no sentido de novas trajetórias corporais
111
para as experimentações nesta seara. Os resultados dos estudos deste trabalho
de tese ainda são (in)conclusivos, visto que estamos no primeiro semestre de
seu caminhar, porém fase de leituras e levantamento bibliográfico, somada à de
curso das disciplinas, tem se revelado muito agregadora no enriquecimento do
levantar de novos olhares para essa problemática. O desejo é que esta pesquisa,
através do teatro, especialmente no contexto histórico pelo qual o país passa,
contribua para problematizar, fazer refletir, quanto aos padrões, normatizações
e fazeres, tanto sociais e culturais como teatrais.
112
Palavras – Chaves: Autopoiesis; Patologia; Método do Corpo Sensível;
Referencias:
ARISTÓTELES. Poética. (tradução Eudoro de Souza). São Paulo: Nova Cultural,
1987. (Coleção Os Pensadores).
BERGSON, Henri. Matéria e memória: Ensaio sobre a relação do corpo com o
espírito. (tradução Paulo Neves). São Paulo: Martins Fontes, 1990.
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Tradução de Mana Thereza
Redig de Carvalho Barrocas; revisão técnica Manoel Barros da Motta; tradução
do posfácio de Piare Macherey e da apresentação de Louis Althusser, Luiz
Otávio Ferreira Barreto Leite. - 6.ed. rev. - Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2009.
FOUCAULT, Michel. Os anormais: Curso no Collège de France (1974-1975).
(tradução: Eduardo Brandão). São Paulo: Martins Fontes, 2001. 479 p.
PLATÃO, República. Tradução Maria Helena da Rocha Pereira. 9. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbbenkian, 2001.
113
Espera
Trabalho Prático
Resumo
114
Lilith me envolve em sua áurea, um lembrete para não nos deixarmos adoecer,
nem sucumbir às opressões.
Registro “Espera”
115
Um teto todo seu sobre sua cabeça:
Quando a obra de arte trai
Trabalho Teórico
Paula R. S. Santos
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
117
Palavras-chave: monumento; criação; experiência; traição; nomadismo;
Referências
BACHERLLARD, G. A poética do espaço. In: Os pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1978. p.181-354
DELEUZE, G; PARNET, C. Diálogos. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo:
Escuta, 1998.
WOOLF, V. Um teto todo seu. Trad. Bia Nunes de Souza. São Paulo:
Tordesilhas, 2014.
118
Lia
Trabalho Prático
Resumo
119
Este curta metragem, portanto, nasce do desejo de construção de uma
atmosfera existencial, poética, que pretende despertar no público
questionamentos sobre a própria vida, sobre a condição feminina, a dor, o luto,
a perda, o vazio, os sonhos, as memórias. O filme, contudo, não pretende definir
fronteiras entre esses elementos existenciais, e sim esmaecê-las. Não se deseja
utilizar recursos narrativos que indiquem o que é onírico, memória ou realidade,
porque tudo ali é, ao mesmo tempo, ficção, imaginação e realidade, sendo
impossível definir em que medida é uma coisa ou outra.
Cândida Bessa
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Referências
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Constituição da Organização
Mundial da Saúde (OMS/WHO) – 1946. Biblioteca Virtual dos Direitos
Humanos. São Paulo: Comissão de Direitos Humanos da USP. Disponível em:
<http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-
Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-
organizacao-mundial-da-saude-omswho.html>. Acesso em: 03/10/2019.
122
Novas epistemologias do corpo na arte
Referencias:
SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES Maria Paula (Orgs.). Epistemologias
do Sul. Coimbra: Almedina, 2009.
FOUCAULT, Michel. Os anormais. São Paulo, Martins Fontes, 2001.
124
Prescrição poética
Trabalho Teórico
Adeilma C. da Costa
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
126
Conferência coreográfica: mover-se em direção ao fim
Trabalho Prático
Davi Pontes
Universidade Federal Fluminense
Resumo
Referências
LEPECKI, André. Exaurir a Dança: Performance e a Política do Movimento.
Annablume Editora. Brasil, 2017
FERREIRA, Denise. O Evento Racial. Casa do Povo. São Paulo , SP, 2016.
Disponível em: https://vimeo.com/172921494 Acesso em: 05 Out. 2019.
127
Monumento
Trabalho Prático
Eleonora Artysenk
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
128
Palavras-chave: contemporaneidades; ações estético políticas; necropolítica;
Referências
LOUPPE, Laurence. Poética da Dança Contemporânea. Ed. Orfeu Negro. 2012.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. N-1 Edições. 2018.
129
Trabalho de cabeça
Trabalho Prático
Fábio Bof
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
131
Trabalho de Cabeça, 2019
Linoleogravura sobre papel
30 x 20 cm
Rayssa Veríssimo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
133
Páginas da obra Dissolução
Rayssa Veríssimo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
135
Livro de filosofia cortado durante a performance Estorvo
137
dramaturgia do corpo, observando a percussão corporal como parte de um
sistema artístico complexo, onde as vivências produzem uma apropriação
singular de técnicas e métodos, gerando diferentes formas de sapatear. A
pesquisa de Rafaeli põe em evidência o próprio fazer poético e seus registros,
enquanto processo de investigação.
138
de como criar mundos; Nena apresentou diferentes trabalhos de criação de
repertório dos alunos, relacionando aos aspectos invisíveis que surgem do
crescimento do trabalho com a aquisição de habilidades técnicas, recursos
culturais e sociais.
A mestranda em artes da cena pelo PPGAC UFRJ, Ana Kemper apresentou seu
vídeo “Como era o pensamento antes de existir a palavra”, dissertando sobre
o processo de criação, uma metalinguagem que surge da observação de que,
seu processo de tracejar durante as aulas, funcionava como um processo
‘meditativo’, que gerava nela um estado de deriva criativa; e da experiência de
deriva, ao levar esses desenhos para o espaço físico em uma performance
registrada em vídeo, que devido a problemas técnicos somente um ano depois
foi repensado numa relação de movimentos entre dentro-fora, corpo e
paisagem, pensamento e palavra, memória e ficção, e através da montagem, se
torna obra. Logo após, Ana Kemper em parceria com o cineasta, produtor,
videasta e roteirista indígena formado em Comunicação Social pela UFRJ,
Nathanael Sampaio, organizaram no chão vários carretéis de linhas, dois
espelhos pequenos de obra, e uma caixa de som portátil reproduzindo um áudio
de falas de ambos, e realizaram a performance: “Litania para um filme que não
sai do papel”; o trabalho surgiu da busca de afinidades e semelhanças, em
pensamentos e processos, unindo os corpos com muitos fios; a performance
com arte sonora e instalação como um quase-cinema: ‘um filme que não sai do
papel, nem acontece nas telas’. O mestrando em teoria literária da UFRJ, Sergio
Alexandre Novo Silva apresentou “A linguagem das flores e dos documentos
segundo Georges Bataille” uma análise do pensamento desenvolvido por
139
Bataille a partir de uma seleção de fotografias de flores feitas por Karl Blossfeldt,
que ele publica na revista de arte Documents,que mistura as disciplinas de
Arqueologia, Belas Artes e Etnografia. Para Bataille, compreender “a linguagem
das flores e das coisas mudas” era também questionar os ‘bons costumes’ e sua
relação com o seu uso humano.
Referência
FOUCAULT, M.O que são as luzes?In: Ditos e Escritos, v. II Trad. Elisa Monteiro.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000, p341.
GUATTARI, F. Micropolítica - Cartografias do Desejo. Subjetividade e História.
Petrópolis: Vozes, 1996. 327 p.
140
Desenho: fazer, descobrir, pensar. Uma experiência em estamparia artesanal
Trabalho Teórico
Resumo
141
consonância com a função primeira do ensino público compreendido como
politica social geradora de cidadãos plenos de seus direitos e capazes de
transformar suas realidades.
Referências:
BOURGEOIS, Louise. Apud Edith Derdyk in Disegno, Desenho, Desígnio. São
Paulo: Ed. SENAC. 2007. p.36
DERDYK, Edith.(org.) Disegno, Desenho, Desígnio. São Paulo: Ed. SENAC.
2007. p.7
LICHTENSTEIN, Jacqueline (org.). A pintura – Vol.1: O mito da pintura. São
Paulo: Ed. 34, 2007.
RANCIERE, Jacques. A Partilha do Sensível. São Paulo. Editora 34. 2005 p.2.
TORNAGHI, Maria. Palestra. A aprendizagem da arte. Projeto EAV/SESC. 2008,
p 4. Texto não publicado.
Documentos eletrônicos:
MARQUEZ, Renata. Mapa como Relato. Disponível em
https://revistas.ufpr.br/raega/article/view/36082/22262 . 2014, p.43. Acesso em
em 1/09/2019
MOTTA, Flávio L. Desenho e Emancipação. Em Sobre Desenho. Centro de
Estudos Brasileiros FAU-USP,1975. Disponível em
http://winstonsmith.free.fr/textos/desenhoE-FLM.html. Acesso em 14/09/2019
ARTIGAS, João Batista Vilanova. O Desenho. Em Sobre Desenho. Centro de
Estudos Brasileiros FAU-USP,1975. Disponível em :
https://www.archdaily.com.br/br/790124/o-desenho-vilanova-artigas. Acesso
em: 11/09/2019
142
Como era o pensamento antes de existir a palavra
Trabalho Prático
Ana Kemper
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo:
Referências
PELBART, Peter Pál. O avesso do Niilismo: cartografias do esgotamento. São
Paulo: N-1 edições, 2016, p. 391-419.
ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do
desejo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2011.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O Brasil é grande mas o mundo é pequeno.
Disponível em < http://www.socioamIbiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/o-
brasil-e-grande-mas-o-mundo-e-pequeno. Acessado em 7/10.2019>
144
Litania para um filme que não sai do papel
Trabalho Prático
Ana Kemper
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Nathanael Sampaio
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
"Litania para um filme que não sai do papel" é uma performance idealizada em
2019, em conjunto por uma artista visual e pesquisadora e por um artista visual
e cineasta indígena, para a disciplina de mestrado ministrada pela professora,
escritora e performer Eleonora Fabião no Programa de Pós-Graduação em Artes
da Cena (PPGAC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para
responder ao exercício proposto, a dupla foi sorteada e tinham um limite de
tempo (8 minutos) e a regra de não danificar o espaço do Centro Municipal de
Arte Hélio Oiticica (CMAHO) (onde a disciplina era ministrada). Decidimos
investigar conjuntamente os materiais que tínhamos em comum e para isso,
iniciamos uma conversa por e-mail que depois foram aprofundadas pelo
aplicativo de mensagens Whatsapp, onde a escrita e mensagens sonoras já
aparecem como primeiro material, revelando os outros no decorrer desta troca:
nossos corpos desviantes (uma mulher branca bissexual e um homem indígena
bissexual e interessado em androginia), nossos corpos deslocados (um indígena
brasileiro da etnia Tapeba socializado na cidade e uma brasileira branca
descendente de um pai nascido na Alemanha nazista), nossas cicatrizes, a
pergunta "há um comum possível?", o gosto por cinema, vídeo, performance,
som, edição/montagem, tecnologia, passagens, costura e linhas. A ação foi se
desenhando com esta troca: decidimos alinhavar nossos corpos pelas mãos
mutuamente (usando linha de costura comum, sem agulhas), na duração de um
áudio gravado resultante da mixagem destas conversas entre nós dois, nossas
impressões sobre a convivência entre corpos dissidentes e normativos na
cidade, sampleadas com ideias de pensadores decoloniais e efeitos de áudio. É
um trabalho-passante entre o cinema (um filme que não sai do papel nem
acontece nas telas), com a performance, o uso dos corpos e, principalmente,
das mãos; da arte sonora e a instalação (ao final da ação performativa sobra um
145
resíduo que poderá ficar instalado no espaço da mostra com outros trabalhos
fixos).
Referências:
BENJAMIN, Walter. Passagens. Tradução do alemão Irene Aron; tradução do
francês Cleonice Paes Barreto Mourão; revisão técnica Patrícia de Freitas
Camargo; posfácio Willi Bolle e Olgária Chain Féres Matos – Belo Horizonte:
Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
FLORENCIO, Thiago. "Nativo ausente e escrita-despacho" Vazantes v.2
n.1 (Fortaleza: PPGARTES UFC, 2018), p. 61-70.
http://www.periodicos.ufc.br/vazantes/article/view/32919
MBEMBE, Achille. "O Fardo da Raça" entrevista com Achille Mbembe realizada
porCatherine Portevin in: Pandemia (São Paulo: n-1 edições, 2011/18), p.14-30.
146
Coleção semióforos e ícones da cultura de massa nos carnavais De Paulo
Barros.
Trabalho Teórico
André Dias
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
Referências:
CHAUÍ, Marilena S. Nação como semióforo. In: Mito fundador e sociedade
autoritária. São Paulo: Fund. Perseu Abramo, 2001.
DANTO, Arthur C. A transfiguração do lugar-comum: uma filosofia da arte/
Arthur C Danto. Trad: Vera Pereira, São Paulo, Cosac Naify, 2010.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo/ Guy Debord; Tradução: Estela dos
Santos Abreu, Rio de Janeiro: Contraponto,1997.
DOHMANN, Marcus. O Objeto e a experiência material. Arte & Ensaio (UFRJ),
2010. v.20, p.70-77.
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos/ Norbert Elias. Org. Michael
Schroter; trad: Vera Ribeiro, revisão técnica e notas, Renato Janine Ribeiro – Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1994.
MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX: espírito do tempo 1: neurose/
Edgar Morin; Trad. de: Moura Ribeiro Sardinha – 10ªed – Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2011.
148
Pavimento 8
Trabalho Prático
Resumo
149
Cartaz do filme
Resumo
151
Sua fase inicial da experimentação se deu em 2009, no projeto do Centro Laban
do Rio de Janeiro, dirigido por Regina Miranda, no Ateliê Coreográfico, onde
foi levantado o primeiro material de movimento e som com as sandálias de dedo
e apresentado na mostra Café com Dança, realizada pela mesma instituição. As
disciplinas do programa de mestrado auxiliaram na percepção de que a relação
do sapateado com a visualidade, por meio do cinema, sempre existiu e possui
influência direta na construção estética deste fazer artístico. A partir de então se
abriu um novo viés de reflexão para o solo, a visualidade, a construção de
imagens, os ícones e como esse jogo/lógica poderia ser invertido na
experimentação cênica.
152
Linguagens das flores e dos documentos segundo Georges Bataille
Trabalho Teórico
Resumo
154
O meio sem fim
Trabalho Teórico
Tania Queiroz
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
155
questão? Como, em algumas vezes, pode ela - a mediação - tornar-se a própria
obra?
Referências:
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado/Jacques Rancière - São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2012, p.17.
156
Práticas estético-políticas
Ítala Isis
Coordenadora do Grupo de Trabalho
157
Populares assembleias
Trabalho Prático
Carlos Contente
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
158
Populares assembleias
159
Referências:
ÁLVARES, Lucas Parreira . Mapeamentos das Assembleias Populares do Brasil
no ano de 2013 a partir da perspectiva de "Infiltrações Modernas". In:
Andityas Soares de Moura Costa Matos. (Org.). Copa do Mundo e Estado de
Exceção: desvio autoritário e resistências populares na pátria das chuteiras.
1ed.Belo Horizonte: Initia Via, 2016, v. 1, p. 109-122.
MEDEIROS, Carlos D. Pureza é amor. Disponível em <
https://www.facebook.com/pg/Purezaeamor/about/ > acesso em 04/10/2019
160
Qual semântica da liberdade?
Trabalho Prático
Catarina Araujo Costa de Brito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
Cada pássaro escolhido tem em seu nome um diálogo simbólico com o contexto
das afirmações.
161
neutros em nome de uma gestão ‘’eficiente’’. O fogaréu é uma realidade e a
semântica da liberdade está nas mesmas chamas que a fauna e a flora.
Referências
Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-
planalto/discursos/2019/discurso-do-presidente-da-republica-jair-bolsonaro-
no-encontro-com-comunidade-brasileira-de-raanana-tel-aviv-israel>
Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/2019/03/07/democracia-e-liberdade-so-existem-se-as-forcas-
armadas-quiserem-diz-bolsonaro-a-militares-no-rj.ghtml>
Disponível em:https://www.camara.leg.br/noticias/556622-mp-restringe-papel-
do-estado-no-controle-na-fiscalizacao-da-atividade-economica/
162
Di(stopi)ário
Trabalho Teórico
Resumo
163
Delito-delírio em desobediências performativas
Trabalho Teórico
Resumo
Enquanto a arte exposta nos museus e galerias tem sofrido com a censura
explícita de órgãos reguladores – até mesmo por pressão popular das camadas
mais retrógradas da sociedade – as ações realizadas em espaços não
convencionais, têm conseguido, muitas vezes, escapar às perseguições, não
sem provocar discussões, adesões, tentativas de proibição ou mesmo
retaliações. Nesse sentido, essas intervenções movimentam a cena da cidade,
tornando-a viva, produzindo questionamentos que incitam um posicionamento
164
do “público” compreendido como ativo, responsivo, capaz de reagir, dialogar
e se posicionar diante de uma proposição que interrompe seu caminho
cotidiano.
165
Destruindo gentes e coisas: quando a crise não é exceção
Trabalho Teórico
Daniele Machado
Universidade do Estado do Rio de Janeirol
Resumo
Há pouco mais de 20 anos foi lançado nos cinemas a história de amor que
rompeu classes sociais. O romance de Rose Dawson e Jack é até hoje uma das
maiores bilheterias mundiais, tendo como pano de fundo o naufrágio do Titanic.
Os recursos de efeitos especiais de 1997 parecem ridículos hoje e deflagram a
ficção que se torna menos envolvente. Porém, entre toda as cenas, uma pelo
menos foi bem real: o navio afundou. Chegando perto do fim do filme temos a
cena daquela grande máquina inabalável, depósito de sonhos e expectativas,
afundando de pé, lentamente. A história real ocorreu três anos antes da primeira
guerra mundial, momento em que as disputas entre humanidade europeia e
natureza assumem um novo estágio: a primeira seria, cada vez mais, tão capaz
de destruir os povos quanto a segunda. Paralelamente, antropólogos faziam a
corrida impossível atrás de salvar tudo que poderia ser perdido pela
incapacidade selvagem de preservar. Alguns dos povos primitivos como os
Batamariba na África ou os Kaxinawa na América Latina praticavam efetivamente
a destruição, mais que o inocente abandono. Graças a UNESCO, aos museus e
às universidades, eles foram salvos e suas memórias, práticas, tradições e
objetos devidamente preservados. No Brasil, as destruições de grande escala
ocorrem com certa frequência como os incêndios do Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro, o da Língua Portuguesa, o Nacional. Nenhum destes com
mortes. Por outro lado temos as remoções para as obras dos mega eventos no
Rio de Janeiro, o incêndio da ocupação Prestes Maia, o rompimento da
Barragem de Brumadinho e o incêndio da Amazônia. Parece que a distopia e a
descrença se tornaram o espírito geral: estamos aprisionados no presente, sem
expectativas sobre o futuro. Entre destruir gentes e coisas, talvez o futuro
selvagem seja mais ético. Este artigo pretende discorrer acerca das destruições
sobre coisas e gentes, sobre perspectivas de futuro, quando e onde a crise não
é exceção, mas um estágio permanente há mais de 500 anos.
166
Groove party: celebrando mundos nossos
Trabalho Teórico
Luciana Monnerat
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Luisa Marinho
New York University
Resumo
Referências
KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano.
Tradução. Jess Oliveira Edição 1, Rio de Janeiro, Cobogó, ano 2019, p 237.
MUÑOZ, José Esteban. Disidentifications: Queers of Color and Performance of
Politics. Edition 1, Mineápolis, 1999, p 87.
168
Metamorfose: estágios de uma revolução
Trabalho Prático
Julia Queiroz
Universidade Federal de Juiz de Fora
Resumo
Como fotógrafa há alguns anos, tenho navegado por alguns estilos fotográficos
e descobri me agradar muito a fotografia editorial. Assim, juntei uma pequena
equipe em Miguel Pereira, pequena cidade no interior do Rio de Janeiro, para
realizar um ensaio em forma de editorial. A princípio, não havia um conceito
muito bem definido, apenas ideias de que seria algo rústico com a paleta de
cores em tons de marrom, bege e verde escuro, e o figurino, por Bianca Lopes,
contando com peças como sobretudo, blazer, blusas de manga comprida, gola
alta, calças de alfaiataria, cachecol etc. Com a ajuda essencial de minha amiga,
Julia Queiroz, que trouxe para o projeto ideias de elementos marcantes como o
coquetel molotov, criamos o conceito: seria sobre uma revolução.
169
O projeto foi idealizado, realizado e finalizado em julho de 2019, contando com
a participação de Jade Deister como modelo, Julia Queiroz na coautoria e
direção de arte e Bianca Lopes no figurino e maquiagem.
170
Paisagens em sombras: cartografias das Corpas Paradoxais
Trabalho Teórico
Resumo
Uma cidade existe entre sombras. Essas sombras não são áreas sombreadas
debaixo das árvores ou de um guarda-sol; essas sombras são onde vivem os
fantasmas. Pouco se fala dos fantasmas de uma cidade porque não têm a mesma
funcionalidade de um homem na execução de suas tarefas diárias. Os fantasmas
são rugas no tempo, marcas de sangue, feridas que não cicatrizaram, portas
abertas que batem produzindo o arrombo do espaço privado, das histórias não
contadas, das certezas quando se quer enfrentá-las. Mas os fantasmas não são
além-homem. É com eles que temos a oportunidade de nos (des)humanizar.
Georges Didi-Huberman (2013) afirma que a história das imagens é uma história
de fantasmas para adultos. A que imagens se refere? As que produzem lacunas,
delitos na razão, a oportunidade do sensível mover e aqui a oportunidade de
fazer os fantasmas falarem, tomarem corpo e formarem paisagens quando
encontra com outras corpas, suas histórias e devires intensivos por entre
traçados desconhecidos. Se a cidade marca ao mesmo em que é marcada, o
cotidiano produz certas lógicas de convivência que tendem a reforçar aspectos
da vida, identidades e percursos. Em Rio Ostras, ao norte Fluminense, narrativas
e mapas de violência contra mulheres fazem questionar onde estão situadas as
formas de violência, quem são os desconhecidos autores de tais atos, o
desconhecido da rua, a percepção do medo que se transforma em quase
“certa” alguma ocorrência no cotidiano urbano. Tal cidade, que ganhou o título
de capital do estupro, convive com a imagem de uma paisagem pictoresca e
hospitaleira onde paira tranquilidade e beleza. Através de cartografias de um
corpo-testemunho, fotografo, performo e bordo encontros que acontecem com
outras pela rua, até o ponto de (des)refazer mapas, histórias e trajetos, na
tentativa de desterritorializar violências duramente impostas à vida e me
transformando, quem sabe, num ponto fora do mapa para que outras corpas se
conectem, através de novas territorializações, presenças estético-políticas na e
com a cidade.
171
Palavras-chave: cidade; fantasmas; mulheres; corpo-testemunho;
desterritorializar.
Referências
DIDI-HUBERMAN, G. A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos
fantasmas segundo Aby Warburg. Tradução de Vera Ribeiro, Rio de Janeiro:
Contraponto, 2013.
172
A vocação das artes na formação de uma gramática de como se vê e processa
a tipologia do mundo
Trabalho Teórico
Paula Borghi
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
As categorias são artifícios que podem dar a ilusão de definir de uma vez por
todas os conteúdos e as direções que esses devem tomar. Por isso refletir sobre
os nomes das classificações e também renomear regularmente os termos de
nossa língua de trabalho parece ser necessário, para que não se fique preso a
conceitos impostos ou que não fazem mais sentido.
173
Neste sentido, é possível perceber a contribuição da produção artística na
formação de categorias concomitantemente à atualização do pensamento
vigente, assim como observar as categorias cujas formações estão
intrinsicamente relacionadas as imagens. A criação das categorias não só
permite a identificação e afirmação de conceitos decoloniais, como também a
reinvenção e descolonização dos termos. Trata-se de não deixar-se aprisionar
por definições estanques e criar constantemente outras formas de classificação.
Referências:
MIGNOLO, Walter. COLONIALIDADE: O lado mais escuro da modernidade.
Tradução Marco Oliveira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.
32, n. 94, p. 1-18, 2017.
174
Coletivos e crítica institucional na exposição zona de poesia árida
Trabalho Teórico
Resumo
176
A arte relacional e seus espaços de ação para a criação de experiências na
contemporaneidade
Trabalho Teórico
Thatiana Napolitano
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
178
Não odeie a mídia, torne-se a mídia: ética punk, mídia tática e seus
desdobramentos nas artes visuais
Trabalho Teórico
Thiago Fernandes
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Resumo
Referência
DE CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano, 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
180
Fotos do Evento: Julia Bezerra Cruz
181
182
183
184
185
186
187
188
189
190
191
192
193
194
195
196
197
198
199
200
201
202
203
204
205
206
207
208
209
210
211
212
213
214
215
216
217
218
219
220
221
222
223
224
225
226
227
228
229
230
231
232
233
234
235
236
237
238
239
240
241
242
243
244
245
246
247
248
249
250
251
252
253
Sobre os autores
Daniel S. Lopes
Débora Moraes
Rio de Janeiro, 1981. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Artista
visual e pesquisador, graduado em fotografia e mestrando em Artes pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Participou do Programa de
Residência Artística FAAP (São Paulo, 2016) e da Residência NUVEM - Estação
254
Rural de Arte e Tecnologia (Rio de Janeiro, 2016). Foi contemplado com o
prêmio Aquisição no 44º Salão de Arte de Ribeirão Preto (2019), com o prêmio
Estímulo no 15º Salão de Artes de Jataí (2016) e com o prêmio Aquisição no 42º
Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (Santo André, 2014). Realizou as
exposições individuais “Em Torno” (Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica,
Rio de Janeiro, 201); “Devir Cidade” (Centro Cultural Justiça Federal, Rio de
Janeiro, 2017); “Impróprio” (Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Rio de
Janeiro, 2018) e “Montparnasse, Vingt Ans Après” (Galeria Ibeu, Rio de Janeiro,
2018), além das coletivas “São Paulo Não é Uma Cidade, Invenções do Centro”
(Sesc 24 de Maio, São Paulo, 2017); 2ª Bienal CAIXA de Novos Artistas (Caixa
Cultural, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Brasília, 2017-2018); Abre
Alas 14 (Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2018) e XI Diário
Contemporâneo de Fotografia (Belém, 2018), entre outras. Seu trabalho integra
o acervo do Museu de Arte Brasileira (São Paulo, SP), do Museu de Arte
Contemporânea de Jataí (Jataí, GO), do Museu de Arte de Ribeirão Preto, da
Coleção Joaquim Paiva (MAM-Rio, RJ) e o Património Artístico da cidade de
Santo André (Santo André, SP).
Renata de Mello
255
Este livro foi composto em Avenir, com miolo em papel pólen bold 90gm² e capa
em papel cartão supremo alta alvura 250gm². Tiragem de 200 exemplares.
256