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D A N Ç A E N T O
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MM O V M
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X A U L Í T I C A
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P E R F O R M A N C E
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Gilberto Icle, Jos
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radução
Pablo Assumpção Barros Costa
E D
P
Projeto, Produção e Capa
Coletivo Gráfico Annablume
Annablume Editora
Conselho Editorial
Eugênio rivinho
Gabriele Cornelli
Gustavo Bernardo Krause
Iram Jácome Rodrigues
Pedro Paulo Funari
Pedro Roberto Jacobi
A
AGGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
A
A
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I
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II – UMA “ “ONTOLOGIA MAIS LENTA ” DA COREOGRAFIA :
A CRÍTICA DA REPRESENTAÇÃO EM JÉRÔME BEL 91
III – DESABAR A
A DANÇA : A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO
EM TRISHA B
BROWN E L A R
R IBOT
IBOT 125
IV – TROPEÇAR A
A DANÇA : AS RASTEJADAS
DE W ILLIAM
ILLIAM POPE.L 159
VE–RA
A M
V ERA
MMELANCÓLICA DANÇA DO ESPECTRAL PÓS-COLONIAL :
ANTERO CONVOCA J
JOSEPHINE B AKER 191
C
–
221
B 237
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C G
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INTRODUÇÃO
A O N T O L O G I A P O L Í T I C A
DO MOVIMENTO
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2. O autor recupera aqui a expressão “down time ”,”, utilizada por Anna Kisselgoff no título
da resenha mencionada no primeiro parágrafo. A expressão “down time” refere-se
refere-se ao tem-
po de espera ou inatividade de um sistema enquanto ele encontra-se em manutenção ou
fora do ar, implicando portanto a expectativa de um recomeço. No caso da resenha citada,
“down time ” (que traduzimos como “modo de espera”) seria justo o tempo no qual os
dançarinos permanecem parados em cena, no qual (supostamente) a “dança” é suspensa,
para depois (supostamente)
(supostam ente) recomeçar (N.
( N. .).
.).
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3. Uma das outras razões para a superioridade da marionete é sua falta de vida interior,
interior,
psicológica, a qual previne o boneco deslocar seus “centros naturais de gravidade” para
outras partes do corpo, garantindo assim a pura expressão de movimentos graciosos. O
texto de Kleist foi objeto de numerosas leituras e análises críticas. A mais influente, sem
dúvida, é a de Paul de Man em Te Rhetoric of Romanticism (1984). Resumidamente, de
Man compreende
é entendida como umo texto
testedeinacabável
Kleist como
parauma parábque
parábola
o leitor, ola sobre
sempreo ato de ler,as no
perderá qual da
marcas a leitura
escri-
ta. Sem negar a leitura proposta por de Man, eu diria que “On the Puppet Teatre” requer
uma expansão de sua interpretação como um comentário unicamente sobre a leitura, se
levarmos em conta os três argumentos ontocinético-teológicos que ele propõe entre o
movimento humano, o movimento animal e o movimento da marionete em suas relações
com a expressividade, a verdade, Deus e o ser. Devemos notar também que a evocação
feita por Kleist dos elfos nessa citação é historicamente sugestiva, e que sua descrição das
dançantes marionetes como resistentes à gravidade poderiam muito bem se encaixar nas
performances de “técnicas do voo” encenadas por Charles Didelot – máquinas teatrais que
criaram, no final do século XVIII, a ilusão de voar em cena.
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9. Jameson exagera levemente sua argumentação quando identifica Deleuze como “um
modernista quintessencial” (2002: 4).
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As
queduas versões
pensar, de teoria
sobretudo, nascrítica
escolasaté agora conhecidas
marxista (há
e de Frankfurt)
ainda permanecem sem sentido, porque ou não apreendem
o seu objeto – a realidade cinética da Modernidade enquanto
mobilização – ou não podem apresentar uma diferença crí-
tica em relação a esta, já que elas próprias são, pelo seu efei-
to, mobilizadoras. (Sloterdijk, 2002: 27, grifo no original)
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I
MASCULINIDADE,
SOLIPSISMO, COREO GRAFIA
BRUCE NAUMAN, JUAN DOMINGUEZ,
XAVIER
XA VIER LE ROY
17. Em inglês: haunting , verbo que denota as ações de um fantasma no mundo dos vivos
(perseguir, assombrar, possuir, obsidiar etc.). O uso do conceito de “ haunting ” na teo-
ria crítica anglo-saxã é muito difundido e sua força é particularmente importante neste
livro. Mas trata-se de um uso (e de um termo) particularmente difícil de traduzir. Jac-
ques Derrida (1994), em Espectros de Marx , inventa o conceito de hauntology [ [hantologie ],],
um neologismo unindo “haunting ” e “ontology ”, ”, que se refere à indecidibilidade do ser
como uma disjunção temporal, histórica e ontológica na qual a presença é continuamente
continuament e
substituída por sua não-origem ausente; de fato, o ser como um fantasma: nem presente
nem ausente, nem corpo nem alma, nem dentro nem fora, nem presente nem passado,
justo à heterogeneidade
múltiplas temporalidades,dauma
presença
ideia efundamental
do presente,paraambos habitados eo assombrados
assimilarmos modo como por Le-
pecki conceitua “coreografia” aqui, bem como sua compreensão do próprio “dançarino”,
sempre possuído e animado por espectros de dançarinos ausentes. A traduçãotraduçã o de haunting
na edição brasileira de Espectros de Marx é é “obsessão” na forma substantiva e “obsidiar”
na forma verbal. Em Exaurir a Dança , entretanto, decidimos usar “assombração” e “as-
sombrar”, que além de traduzirem o verbo hanter (francês)
(francês) e haunt (inglês),
(inglês), acreditamos
evocar a performatividade e o afeto
afet o do espectral de modo mais objetivo
ob jetivo do que “obsessão”
ou “obsidiar”. (N..)
18. Filme, 16 mm, preto e branco, silencioso, 400 pés, pés, aproximadamente
aproximadamente 10 minutos.
19. Filme, 16 mm, preto e branco, som, 400 pés, aproximadamente 10 minutos.
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22. fizeram
Membros do Judson
aula com Judson Dance
Halprin Teatre,
em seu bem como
workshop de Sãoartistas próximos
próximos
Francisco ao movimento,
incluem que
Yvonne Rainer,
Ruth Emerson, Simone Forti, Robert Morris, risha Brown e La Monte Young. Mais
tarde, Meredith Monk também fez aulas com Halprin (ver Banes, 1993: 141-2; Banes,
1995: passim). Janice Ross escreve: “Para Halprin, era da dança moderna institucionaliza-
da e de todas as suas leis de representação, teatralidade e ilusão” que ela queria fugir (In:
Banes e Baryshnikov, 2003: 29). A rejeição de Halprin da teatralidade e das sufocantes
regras da representação antecipam o posterior alinhamento de Rainer com co m o minimalismo
e a rejeição explícita da ilusão e da representação conforme registrada famosamente em
seu “NO Manifesto”.
23. Meu agradecimento a Jenn Joy por sua ótima pesquisa sobre esse assunto.
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24. Em 1969, Nauman fez uma versão a três do seu filme de ateliê Bouncing in the corner
corner,,
No. 1 (1968) com sua mulher à época, Judy Nauman, e Meredith Monk, na exposi-
ção Anti-Ilusions: Procedures/Materials
Procedures/Materials (1969)
(1969) no Whitney Museum of American Art, em
Nova York.
57
dos anos 1960. Será que o problema aqui não surge de um uso
acrítico da palavra “dança”?
Então, como reformular esse problema? A despeito de
quem
Manningprocriou quem (umadescarta
acertadamente questãocomo
que a insuportavelmente
historiadora Susan
edipiana, de tão persistente e obsessiva que é na historiografia
da dança [2004: 13]), o fato é que ao romper o inverno de
1967/1968, Nauman começou a trabalhar numa série de fil-
mes e vídeos aonde ele aparece executando movimentos muito
precisos em seu ateliê vazio. A qualidade hiperbólica da pre-
sença solitária de Nauman é extraordinária em si mesma, e ela
só aumenta na medida em que assistimos sucessivamente os
mais de vinte filmes e vídeos criados durante os anos 1967-
1969. O que é verdadeiramente notável nos filmes de ateliê de
Nauman é a inquietante, embora explícita, emergência não ne-
cessariamente da dança,metódica
pela execução rigorosa, mas sim edomonomaníaca
coreográfico de
– sinalizada
Nauman
de uma série de passos previamente estabelecidos. omemos,
por exemplo, Walking in an Exaggerated Manner Around the
Perimeter of a Square (preto
(preto e branco, filme em 16mm, 1967-
8). Anotemos seus movimentos. Coreografemo-los.
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40. Eu assisti AGSAMA em Berlim, durante sua estreia mundial no festival anz in August ,
em 2003. A peça não foi apresentada em um teatro convencional ou em um auditório,
mas em uma grande sala branca e retangular, com janelas verticais em uma de suas pare-
des. Na parede oposta, duas portas de tamanho padrão permitiam a entrada e saída do pú-
blico e do performer. O fato da plateia sentar em arquibancadas não diminuiu o impacto
visual e espacial do fato de estarmos todos numa sala e não em um teatro.
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X5: Não
nossos sei. Mas
corpos frequentemente
deveriam terminar namepele
pergunto por que
ou no máximo
incluir outros seres, organismos ou objetos encapsulados
pela pele?
Y5: Eu não sei também, mas você pode falar sobre o fato
de que a imagem do corpo é extremamente uida e di -
nâmica. Que suas bordas, fronteiras ou contornos são
“osmóticas” e que elas têm o poder extraordinário de in-
corporar e expelir o dentro e o fora numa troca contínua?
X6: Sim. Como você diz, as imagens do corpo são capazes
de acomodar e incorporar uma gama extremamente am-
pla de objetos e discursos. Qualquer coisa que entre em
contato com as superfícies do corpo e permaneça ali tem-
po o suciente será incorporada à imagem do corpo [...]
Y6: Então, em outras palavras, você está dizendo que a
imagem do corpo é uma função tanto da psicologia e con-
texto sócio-histórico do sujeito quando de sua anatomia.
E que há várias inuências não humanas
h umanas tecidas em nós.
X7: Exatamente. Então deve haver outra alternativa para
a imagem do corpo que a anatômica.
X8: Por exemplo: Eu penso que o corpo poderia ser per-
cebido como espaço e tempo para a troca, o tráco e o
intercâmbio...
X9:... seguindo essa ideia, isso signicaria que cada indi -
víduo seria percebido como uma innidade de partes ex-
tensivas. Em outros termos, só existiriam indivíduos com-
postos. Um indivíduo seria uma noção completamente
desprovida de sentido. (Le Roy, 2002: 45-6)
Self Unfinished de
de Le Roy propõe um entendimento do cor-
po que desafia o confinamento do corpo trazido pela moder-
nidade. O corpo individual, o corpo monádico, não tem mais
vez. Se, como nos relembra Harvie Ferguson, “o
“o traço distintivo
43. Eu discuto a noção de “corpo-imagem
“corpo-imagem”” de Paul Schilder no próximo capítulo.
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II
UMA “ONTOLOGIA MAIS LENTA”
DA COREOGRAFIA A CRÍTI CA DA
REPRESENTAÇÃO EM JÉRÔME BEL
Antes de escre
Antes escrever
ver sobre o traba
trabalho
lho do core
coreógrafo
ógrafo franc
francês
ês
Jérôme
Jérôme Bel, é import
importante
ante cont
contextua
extualizar
lizar breve
brevement
mentee o movi
movi--
mento particular na recente dança europeia do qual ele emerge.
Penso aqui nas propostas criadas a partir de meados da década
90 por coreógrafos como La Ribot, Jonathan Burrows, Boris
Charmatz, Xavier Le Roy, Mårten Spångberg, Vera Mantero,
Tomas Lehmen, Meg Stuart, Juan Dominguez, para nomear
apenas alguns dos mais reconhecidos.44 Este movimento ganha
forma, força e visibilidade a partir da metade da década de 90,
mas não é sob qualquer45 aspecto um movimento organizado
ou com nome próprio. Apesar das múltiplas diferenças nos
44. Para uma discussão do trabalho de La Ribot, ver Capítulo 4; sobre o trabalho de Juan
Dominguez, ver Capítulo 2; sobre o trabalho de Vera Mantero, ver Capítulo 6. Mais sobre
esse movimento recente na dança europeia, ver Lepecki (2000, 2004), Ploebst (2001),
Burt (2004) e Siegmund (2004).
45. Críticos de dança costumam referir-se a este movimento como “dança conceitual”.
Muitos coreógrafos envolvidos não aceitam essa definição. Ver,
Ver, por exemplo, a declaração
Eu considero, entretanto, que o termo “dança conceitual” pelo menos situa historicamente
este movimento
visuais no séculodaXX,
dança europeia dentro
ao referenciar a artedeconceitual
uma genealogia
do finaldadaperformance e das eartes
década de 1960 co-
meço dos 1970, a qual partilha de uma série de características análogas, como a crítica
da representação, a insistência na política, a fusão do visual com o linguístico, a pulsão
pela dissolução dos gêneros artísticos, a crítica da autoria, a dispersão da obra de arte, o
privilégio do evento, a crítica das instituições e a ênfase estética no minimalismo – todos
traços recorrentes em muitos dos trabalhos coreográficos realizados na Europa dos quais
Jérôme Bel é um
u m dos iniciadores. O termo “dança conceitual” no mínimo m ínimo previne uma
pretensão de originalidade histórica absoluta ao movimento, o que acredito ser desejável
aos participantes, já que todos mantém um diálogo franco e aberto com a história da arte
de performance e da dança pós-moderna.
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Assim, como explica Deleuze, Foucault não reinsere uma noção transcendental
tran scendental “do sujeito”
de volta em sua teoria, mas
m as entende o “sujeito” como função do poder: “É idiota
idiot a dizer que
Foucault descobre ou reintroduz um sujeito oculto depois de o ter negado. Não há sujeito,
mas uma produção de subjetividade: a subjetividade deve ser produzida, quando chega o
momento, justamente porque não há sujeito” (Deleuze, 1992: 141).
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jetividade dentro da
da nervosa cinética moderna do “ser-para-o-
-movimento”” (Sloterdijk, 2002: 33).48
-movimento
Refletindo assim sobre a ontologia política da coreografia
em
Bel relação
propõe àasrepresentação e à subjetividade,
seguintes questões: de que modoso trabalho de
a coreogra-
fia ocidental faz parte de uma economia geral da mimesis 49
que molda e aprisiona a subjetividade? Como, ao explorar as
condições que possibilitam a coreografia, podemos revelar sua
participação na produção da subjetividade no espaço da repre-
sentação? Que mecanismos permitem ao dançarino tornar-se
um representante do coreógrafo? Que força estranha é essa
no cerne do coreográfico que subjuga o dançarino a seguir
rigorosamente uma série de passos predeterminados, mesmo
na ausência do coreógrafo? Como o pacto da coreografia com
o imperativo do movimento abastece, reproduz e captura a
subjetividade
Em termosna economia geral
dramatúrgicos, do representacional?
composicionais e coreográficos,
Bel responde a estas questões destilando drasticamente a core-
ografia aos seus elementos mais básicos. Historicamente, estes
elementos da coreografia (e eu gostaria de insistir nas parti-
cularidades invocadas por esta palavra) têm sido: um espaço
fechado com um piso plano e liso; pelo menos um corpo, ade-
quadamente disciplinado; um voluntarismo deste corpo em
submeter-se ao comando para mover-se; um tornar-se visível
sob as condições do que é teatral (perspectiva, distância, ilu-
são); e a crença numa unidade estável entre a visibilidade do
corpo, sua presença e sua subjetividade. Bel trata de cada um
destes elementos em destruindo-os,
-os, subvertendo-os, seus trabalhos: complicando-os.
expondo-os, exagerando-
48. Para uma discussão detalhada deste conceito, ver Introdução e Capítulo 2.
49. Derrida chamou a fusão da economia geral e da economia restrita com a lógica do
mimético (da representação) “economimesis ” – um termo que enfatiza como a lei ( nomos )
da representação é o abrigo ( oikos ) onde repousam a metafísica e a estética ocidentais
(Derrida, 1981).
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Husserl, e a complicando,
Sallis chamou de “decisivoMartin Heidegger foi
[...] deslocamento daum dos que Sallis
presença”. executaram
explicouo que
queJohn
para
Heideggerr “não há presença pura; pois seja lá o que se apresente, já existe aí em jogo a
Heidegge
operação da significação” (Sallis, 1984: 598). Para mais discussão sobre o deslocamento
da presença efetuado por Heidegger e suas implicações para os estudos da performance
e da dança, ver Capítulo 4. Outra importante contribuição para este deslocamento,
embora advinda de outra tradição filosófica e direcionada a outros objetivos e preo-
cupações, vem de Henri Bergson, cuja teoria da memória (particularmente conforme
articulada em Matéria e Memória ) o permitiu mostrar como a metafísica ocidental havia
sempre “confundido Ser com estar-presente” (Deleuze, 1988: 55). Eu discuto a teoria
da memória e da temporalidade de Bergson na Conclusão.
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54. “Uma multiplicidade se define, não pelos elementos que a compõem em extensão,
nem pelas características que a compõem em compreensão, mas pelas linhas e dimensões
que ela comporta em ‘intensão’” (Deleuze e Guattari, 2007: 27). A “intensão” do autor
ou autora (e não sua “intenção”) é a ativação de seu afeto por “linhas e dimensões” que
“constituem a matilha em tal momento” (idem).
55. Em inglês, “ pack ”,”, traduzido do francês “meute ”:
”: bando de lobos. Em português o
termo correto seria, portanto, “alcateia”. Mas na edição de Mil Platôs consultada
consultada por nós
(São Paulo: Editora 34, 2007), o termo utilizado é “matilha”, bando de cachorros. Para
não confundir o leitor brasileiro, mantivemos, com esta ressalva, o levemente inexato
termo “matilha” ao longo deste livro. (N..)
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56. A crítica à singularidade do autor atinge seu auge no final da década de 1960, particular-
mente com o ensaio “A Morte do Autor” (1968) de Barthes, o ensaio “La différance” (1968)
102
de Derrida e “O que é um autor?” (1969) de Foucault. Para uma consideração mais recente
do impacto dessa problemática na teoria da performance, ver Schneider (2005).
57. Às vezes Claire Haenni substitui Jérôme Bel e Jean orrent substitui Frédéric
Frédéric Seguette.
Numa troca de e-mails com Jérôme Bel durante a escrita deste capítulo, ele contou-me
que embora Claire Haenni o havia substituído algumas vezes, não é o que ele próprio pre-
fere, pois isto cria a possibilidade de uma leitura rasa da obra como peça sobre as relações
heterossexuais de casal, o que não seria “nem um pouco interessante”, em sua opinião.
Portanto Claire Haenni é solicitada a atuar em Nom Donné par l”Auteur apenas
apenas quando
Jérôme Bel está, por alguma razão, indisponível.
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58. Foi o padre jesuíta e mestre de dança Toinot Arbeau (codinome de Jehan Jehan abourot)
quem mesclou em um só nome, pela primeira vez, o cinético e o linguístico, criando
em 1589 o primeiro significante do ser-para-o-movimento da modernidade: “orcheso-
graphie ” (o graphie , escrita, da orchesis , dança). Para mais detalhes sobre esta discussão,
ver Capítulos 1 e 2.
59. Não foi por acaso que uma das maiores libertadoras da voz do dançarino, Pina Bausch,
precisou romper com a tradição da composição coreográfica e da subjetividade. Bausch
105
60. escrita
Aqui,
ema1810,
famosadelineia
parábola de Heinrich
claramente von Kleist,
que tipo “Sobre o
de subjetividade oeatro de Marionetes”,
dançarino ideal deve
ter no palco teológico. O dançarino ideal é uma marionete, esvaziado de afetação e vida
psicológica interior, mudo, com um corpo flexível, juntas soltas e receptividade infinita
para os movimentos do mestre, os quais são direta e misteriosamente transmitidos do cen-
tro de gravidade do mestre para o centro de gravidade do boneco. O fato desta parábola
invocar o “livro de Moisés”
Moisés” e a queda bíblica como motivo principal dos humanos serem
menos perfeitos como dançarinos do que as marionetes não deve ser tomado como mera
coincidência. Kleist (ironicamente) identifica o palco teológico operando a todo vapor na
dança teatral. Para uma discussão mais aprofundada da relação da coreografia com uma
força ausente, porém autoritária, ver Capítulo 2.
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62. Em correspondência
correspondência pessoal, Bel me disse que apreciava
apreciava a capacidade de Seguette
de “ficar parado” e quase “desapar
“desaparecer”
ecer” de sua própria presença em cena enquanto per-
forma esta peça.
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69. Para uma exploração desta ideia e da relação entre o advento da coreografia e a pulsão
melancólica por trás de sua percepção da ausência, ver Capítulos 2 e 7.
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ríamos eargumentar
insight e que em sua totalidade, Te Last Performance gira
dessa ambiguidade. gira em torno desse
71. A coreógrafa Susanne Linke, assim como Pina Bausch, é uma das mais importantes
inventoras do anztheater alemão.
alemão.
72. Em sua palestra sobre Te Last Performance no no anzquartier
anzquartier Wien, em março de 2004,
20 04,
Bel narra como na estreia da peça em Bruxelas alguns espectadores entraram no palco
proferindo insultos ao coreógrafo e aos dançarinos, desencadeando
desencadea ndo assim confrontos entre
o próprio público. Em Berlim, em 1999, eu testemunhei algumas vaias e exigências para
que houvesse “Dança!”. É como se o trabalho de Bel fosse capaz de ativar, com sua quieta
atmosfera, aquele papel histórico que os espectadores burgueses de dança tomaram
tomara m para si
desde Sacré du printemps de
de Nijinsky: o papel do desordeiro.
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da intratabilidade
bretudo um sintomada do
persistente
desejo dequestão de Yeats;
ver o corpo é so-
do outro
como espelho e como
como tela para o próprio corpo daquele
que olha. (Phelan, 1995: 206)
121
“de-cadência”
alemã Verfallenretém
evoca.um desejável
Mas duplonotar
é necessário sentido
quede queda e“ entanglement
a palavra degradação que
” – aequivalente
expressão
a “embaraço” em português – que Joan Stambaugh escolheu para traduzir Verfallen neste
parágrafo, expressa melhor o sentido de “movimento que não sai do lugar” que Lepecki
procura ressaltar aqui.
a qui. (N..)
(N..)
74. O autor faz referência
referência a uma nota da tradutora norte-americana que não não consta na
versão brasileira, portanto deixei a referência original no corpo do texto. “ Entanglement ”
ou “ falling pray ”,
”, duas expressões utilizadas por Stambaugh na tradução de Verfallen
podem ser traduzidas como “embaraço
“embaraço”” ou “queda na rede” (e.g. numa armadilha) em
português, portanto um movimento que não leva a lugar algum (“ movement that does
not get anywhere ”).
”). (N..)
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III
DESABAR A DANÇA
A C O N S T R U Ç Ã O D O E S PA
PAÇÇO
EM TRISHA BROWN E LA RIBOT
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76. Para uma crítica aprofundada do projeto de Pollock em relação a seu enquadramento
enquadramento
filosófico, inovação estética e política de gênero, ver Amelia Jones (1998).
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78. Sobre a relação entre colonialismo, o território vazio e a representação, ver Carter (1996).
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Norisha Brown
catálogo tem tido
de uma uma longa
exposição sobrerelação com carreira
a prolífica o desenho.
de
risha Brown ( Art
Art and Dialogue 1961-2001), a teórica france-
sa da dança Laurence Louppe escreve a respeito da resiliente,
embora de certa forma secreta (pelo menos na primeira década
de seu trabalho), “artista visual em Brown” (In: eicher, 2002:
66). Algumas das peças coreográficas de Brown do começo da
década de 1970 parecem encontrar versões diretas nos seus de-
senhos do mesmo período (por exemplo, sua série de desenhos
Quadrigrams e sua coreografia Locus , 1975).79 Ao longo das
décadas de 1980 e 1990, os desenhos de Brown foram adqui-
rindo maior autonomia na exibição pública de sua arte. Nos
últimos
museus aoanos, seusdodesenhos
redor mundo,vêm sendo exibidos
incluindo o Musée em galerias e
de Marseille
(1998), o Drawing Center e o New Museum em Nova York
(2004). A questão se torna, portanto, descobrir o que justifica
o release de imprensa do FWM ter classificado como “inco-
mum”” a performance de It’s a Draw / Live Feed . Certamente, a
mum
escala monumental dos desenhos – embora não seja novidade
na pintura – é incomum. ambém o fato de Brown desenhar
em um contexto público subverte a natureza de certa forma
mais intimista do desenho – muito embora, como já notamos
acima, a presença do público é retardada devido à projeção do
vídeo ao vivo (a única plateia em frente a Brown enquanto ela
dança e desenha é a equipe de vídeo). 80 O que eu acredito ter
79. Laurence Louppe propõe uma analogia dos quadrigrams de de Brown com as caixas de
Donald Judd. Embora de fato haja semelhança na forma, a intrusão do linguístico e do
matemático na formulação do cubo como dispositivo composicional em Brown a coloca
mais próxima da questão ontológica da criação de espaço pela coreografia como uma ne-
gociação contínua entre linguagem, corpo e espaço. Ver Louppe (1994: 147).
80. Em uma ocasião, durante o Festival de Dança de Montpellier,
Montpellier, risha Brown
Brown apresen-
tou It’s a Draw / Live Feed em
em um palco teatral diante de uma plateia. Até a escrita deste
capítulo, esta foi a única
ún ica ocasião em que Brown teve o público diante de si neste trabalho.
131
132
81. Sobre a função do obtuso como aquilo que numa imagem permanece para além do
significado e da própria visibilidade, ver “Te
“ Te Tird Image” de Roland Barthes (1985).
82. “Estaremos falando de uma visão visão totalmente ‘perspe
‘perspectiva’
ctiva’ do espaço
espaço [...] apenas quan-
do a tela inteira haver sido transformada [...] numa ‘janela’, e quando se espera de nós
acreditarmos que olhamos para
par a o espaço através
atra vés dessa janela” (Panofsky,
(Panofsky, 1997: 27).
27) .
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83. Para um resumo destas críticas, ver o ensaio de Jean-Noël Laurenti, “Feuillet’
“Feuillet’ss
Tinking” (In: Louppe, 1994: 86-8).
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