Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e, por outro lado (em escala mais alta), como veículo de símbolos,
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
um, dois, três e quatro e o dez; a relação entre a teoria dos quatro
nos ensinar.
BONS ESTUDOS!
INTRODUÇÃO
Vamos dar início à segunda aula do nosso curso. Na aula anterior, fiz
ou seja, aposteriorística.
papel apriorístico, conforme veremos. Platão, Filósofo (427 a.C. - 495 a.C.)
3
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
O Astrônomo (1668), Johannes Vermeer
mente porque há, é claro, algumas exceções. Isso é um detalhe até que
está por trás disso. A obra nos revela muita coisa. O Vermeer é um artista
4
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
refratada, que vem de fora recortando os objetos e as personagens. É uma
Essa é uma luz que ilumina aquilo que interessa. Portanto, trata-se de uma
mesa. Então, o homem toca dois planos. A Terra faz parte da matéria, mas
pela terra, começando pela grama, começando das coisas mais materiais.
2. A HARMONIA
Abaixo, é o teto da Galeria de Apolo, presente no Museu do Louvre. Há
vários pintores que trabalharam nessa galeria, mas nesta imagem está em
do Degas, que era Neoclássico. Parece que havia uma rivalidade entre eles.
5
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Lógico que “romantismo” e “neoclássico” não passam de um rótulo
que damos. Esses rótulos surgiram a partir do Iluminismo. Por isso, nessa
Arte, mas, nessa época, já estava muito claro que cada artista tinha uma
uma curiosidade.
grande livro e que vale muito a pena. Ele é dividido em dois volumes: “Con-
vite à Estética”, escrito por ele, Mário Ferreira, e “Convite à Dança”, de Nádia
Nunes, se não me engano, uma aluna dele, que já trata de questões mais
específicas da dança.
6
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
a beleza através da arte. É uma beleza secundária, de segunda mão,
Eu fiz questão de anotar uma frase para lê-la exatamente como foi
fala que é um ajuste entre dois seres. Se é um ajuste entre dois seres,
uras diferentes, o artista também trabalha com cores diferentes. Essas cores
bem elaborado. O artista tem isso em sua mente quando faz a distribuição
desses corpos.
é sim uma aglomeração, mas é tudo muito bem pensado pelo artista.
7
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Percebam, então, que a harmonia tende a preservar uma estrutura. O
tensão, uma tensão necessária, razoável, que nos coloca em uma sen-
essa nova estrutura que é formada é formada através de uma tensão. For-
do Pontilhismo, de Paul Seurat, de pes- Oliveiras com Céu Amarelo e Sol (1889),
Vincent van Gogh
soas próximas dele, e desenvolveu sua
técnica, maravilhosa.
apenas através das obras, mas através dessa relação do artista com a
contém uma coleção de Cartas que van Gogh escreveu para seu irmão,
escrever e, com certeza - é só ver a obra dele -, ao pintar. Que ele tinha prob-
óbvio, até pela biografia que temos dele. Mas, ao mesmo tempo, van Gogh
trouxe na sua proposta de uma obra uma força, uma potência de alma, que
8
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
fez dele um artista extremamente perspicaz e ousado. Ousadia é a palavra
Por quê? Vejam, na tela acima, “Oliveiras com Céu Amarelo e Sol”,
van Gogh demonstra o calor do sol trabalhando com cores opacas. Não
das luzes, aqui é um trabalho diferente. É mesmo muito ousado pensar que
daria certo trabalhar com tons opacos e contrastantes, porque Van Gogh
embaixo. O ocre faz o papel de aquecer também a obra. Mas, vejam com
que ele intercala esses azuis tão brilhantemente. Azuis também opacos,
que eram chamados de cores sujas. Percebam como as cores sujas, opacas,
temos azul e amarelo intercalados. Todos opacos, sujos, mas brilham, movi-
9
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
questão formal, cromática, compositiva, no posicionamento das figuras.
do mesmo tamanho, não são simétricas. O sol, por sua vez, está bem cen-
toda essa região, como se fosse um fotógrafo que caiu para tirar a foto. Ele
desceu, tirou e apertou o flash. Mas ali tem harmonia também. Então vejam
que os diferentes se ajustam para gerar uma nova tensão. Essa é uma
10
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
harmonia nesta batalha, nesta confusão?
Além disso, notem que o vermelho está presente na figura que está caindo
dos vermelhos, sem contar todo o resto que também poderia comentar:
os azuis, esse ocre. O ocre do chão faz uma ressonância com o ocre do
belo. Mas, como Mário Ferreira dos Santos diz é o feio, é uma situação a-es-
guerra pode ser bela, não a guerra em si. Não há problema nenhum de o
da situação. E ele tem que trazer aquilo para nós de forma bela, de forma
Aluno: as cores são opostas também né? No céu e nos cavalos na terra.
Isso. Nós temos o quente e o frio trabalhando lado a lado. Os tons terra
Se vocês repararem, há até cavalos azuis aí, brilhando. O cavalo branco brilha
11
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
e reflete o azul do céu.
pesar, de uma certa forma, ele é salvo pela figura mais clara embaixo. Se esta
não existisse, haveria um breu ali nesse canto e, assim sim, a composição
Eu vou contar uma historinha para vocês. Pode ser que muitos já há
icano William Henry Rinehart. Parece que ele foi um dos últimos artistas,
não é tão desconhecido assim, porque tem grandes peças, belíssimas. Ele
12
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Nesta figura, vocês veem Leto, mãe de Apolo
Hera descobre que Leto, que é uma ninfa, está grávida de Zeus.
Deus do Sol.
13
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
os três. No entanto, Zeus fica sabendo dos nascimentos, alegra-se com as
crianças e presenteia-as com vários objetos. Dentre estes, está um arco para
cada um deles. Esse arco, feito por Hefesto, é muito forte. No momento em
que recebe esse arco, Ártemis acaba sendo predestinada a ser a Deusa da
Caça, uma caçadora noturna. Apolo, por outro lado, só pensa em vingar a
O que acontece então? Eles saem dessa ilha e chegam ao monte Par-
naso, uma montanha em cuja base está instalada a serpente. É uma mon-
tanha muito linda, alta. A serpente, portanto, está próxima, nas redondezas.
serpente parte furiosa atrás deles, mas Apolo aparece no meio do caminho
fica, tudo estraga, tudo apodrece, tudo morre. Então, estava instalada em
um covil, num lugar podre. Quando a serpente se depara com Apolo, este
dela o atacar. Uma acerta o olho esquerdo, outra, o peito e a terceira, a boca.
Aqui é o enquadramento da
14
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Nessa reprodução
apoiando-o.
15
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Íris, que vem de arco-íris, seria a Deusa mensageira do Céu. Aqui,
nesse momento, com seu pano, ela consegue limpar esse céu poluído pelo
mal da serpente.
As figuras de Afrodite e
da Sabedoria, da Inteligência
da Inteligência Comercial,
Prática, do Cotidiano.
16
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Afrodite e Minerva ajudam a aniquilar os outros seres que fazem con-
seria mais ou menos parecido com esse esboço. Mas veja, tudo que acon-
têm ressonância com muitas coisas que foram criadas pelos artistas mais
como diria o Degas, pelo livro do Paul Valéry, “Degas Dança Desenho”, o
3. OS SÍMBOLOS
que a harmonia garante a beleza por meio da ordem, por meio da esta-
bilidade, da tensão, causando então uma nova estrutura dos seres ali
arranjados, escolhidos pelo artista. Neste sentido, visto por este lado, é
18
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
O símbolo sempre esteve com o homem. O símbolo é a substituição de
um dado pelo outro. Quando você mostra um símbolo, você está reme-
bólica” (1956), em que aborda muito bem esse tema. O Mário Ferreira foi
do nosso inconsciente.
sempre com um propósito claro, mas nós não percebemos isso. Nós só con-
fazemos ideia do que significa tudo isso. E é isso que eu venho apresentar a
vocês.
19
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
A pintura abaixo é também do Peter Paul Rubens, esse artista do Barroco.
Nesta obra, temos uma questão particular, pois esta faz parte de uma
é apenas um trecho, é apenas uma das pinturas que o pintor fez para Maria
20
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Houve ali uma desavença e esse é o sinal da concórdia. Vejam que
interessante. A figura do Senhor com uma asa, que levanta a outra figura
verdade.
21
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Então a verdade vem com o tempo. E o tempo arrastou-a, como se
fosse um cachorrinho, pela pele, e a levou até os dois - Maria de Médici e seu
filho - para que se reconciliassem. Por isso disse que era uma situação em
Houve uma pergunta ontem neste sentido e eu aproveito para dizer que
isso tem muita relação com o nosso convívio com a obra de arte. À primeira
que trata cada figura, passa a ser muito mais natural que você mesmo
22
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
numérico das personagens. Na extrema esquerda, temos um recorte de
temporâneo a Delacroix.
um. Se fôssemos tentar entender a questão dos números, eu diria que o um,
meio, temos uma tríade geracional, onde o três seria a existência ocorrendo
de maneira equilibrada.
23
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
A quarta figura é Ártemis, a quinta é Apolo e a sexta é a serpente.
Rafael Sanzio, que está na Stanza della Segnatura. Ártemis nasceu primeiro
e somente depois nasceu Apolo. Há uma sequência nos gêmeos, eles não
nascem simultaneamente. Então, a primeira, que seria mais velha por uma
Apolo é a luz, veio depois. Numa segunda tríade, podemos dizer que Ártemis
é o número um, Apolo o número dois e, em terceiro lugar, está Píton, que
trabalham juntos. Existem várias histórias dos dois. Ártemis e Apolo sempre
juntos. Eles se ajudam entre si. O que eles devem realmente vencer é a
24
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
3.3. O SIMBOLISMO DOS NÚMEROS
número conforme tratada por Mário Ferreira dos Santos, para que vocês
entendam isso de fato, para que não fique muito distante. Eu apliquei ao
mito para que isso ficasse um pouco mais ilustrado para vocês.
Eu vou falar a respeito de cada um desses números, para que vocês com-
preendam a utilidade qualitativa deles. Mário Ferreira dos Santos afirma que,
que não se move, que nada afeta, só que ele já prevê, dentro dele mesmo,
amor é entendido dessa maneira não por Pitágoras, mas sim pela tradição
25
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
O Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam justa-
do círculo. Mais para frente, eu mostrarei para vocês que o círculo está para
bolizado pelo círculo. Eu estou tentando abrir o horizonte de vocês para que
26
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Percebam que, na estru-
Iremos para o número dois, através dessa pintura do Michael Pacher cujo
de Ratisbona e o Diabo
o homem representado
27
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
O dois, que seria a Dyada Pitagórica, representa a emanação, o
hipóstase. Foi a primeira vez que tive notícia sobre esse termo. A hipóstase
chamar para fazer uma pequena brincadeira com a teoria do Big Bang. Mas
nada né?
mente aspectos ruins e bons. Eles são, inclusive - e é aí que partimos para
Vocês vão perceber que o três não é um número de alguma coisa, tal
28
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Aqui está o três. O três é rep-
nessa composição?
fizer um traçado...
ajudando.
Então, faz uma ponte entre o dois e o quatro. Não é necessariamente entre
oposição. Quando você tem oposição, você tem o ativo e o passivo, o pos-
29
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
intermédio e atinge o número quatro, que é o número da manifestação.
30
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
está posicionada assimetricamente no canto esquerdo inferior para tentar
difícil.
uma planilha, um tabelinha disso e vocês vão entender o que estou quer-
enorme nessa figura, só que é um pouco menos evidente. Onde ele está?
aberto, que vai coincidir pontos. Se fôssemos fazer uma projeção, estaria
31
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
mais ou menos acima da cabeça de Cristo, que está no centro da com-
sendo puxada por um adulto. Há outro para cá… Como sempre, o artista
A soma dos números um, dois, três, quatro equivale a dez, que é
Tetra vem de quatro, porque é a soma dos quatro primeiros números que se
desdobra no dez. Por ser uma soma dos quatro números fundamentais,
Eu não sei vocês já leram “Divina Comédia”. Essa obra é inteira pau-
32
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
O número um é representado pelo ponto. O indivíduo, o ser, a estab-
várias partes. Então a unidade nos revela o todo e organiza isso para nós.
O número dois pode ser representado pela linha, pois esta é o des-
não são oposições que se anulam na presença uma da outra, mas se com-
quanto pelo quadrado. Neste caso, está sendo representado pelo quadrado
dade, seria o aspecto maior, mais elevado da tríade. Portanto, o três seria o
número do plano.
Sobre o três, temos uma frase do Krishna no Bhagavad Gita, uma lei-
tura indiana hinduísta. Nesta obra, Krishna chega a Arjuna e diz: “Eleve-se
acima dos pares de contrários”. O que seria se elevar acima dos pares de
33
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
contrários? Seria alcançar o número três, porque o homem colocado na
luz nenhuma, temos o breu, a escuridão. Apenas com esse exemplo, já não
mundo.
animal e humano. Ou, então, os elementos: Terra, Água, Fogo e Ar. Em todo
Da mesma forma que fui ousado em ter feito a conexão entre as dis-
ciplinas constantes na pintura do teto da Stanza della Segnatura e a teoria
Olavo ali embaixo também. Por quê? Os discursos que Olavo reconheceu
como o retórico poderia estar para a Justiça, que é sempre uma sentença,
ou seja, uma busca por uma posição, por um posicionamento. Essa busca só
34
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
resolvemos isso dialeticamente. E dialeticamente é o quê? É a mediação
Hoje, percebemos - ou pelo menos estamos tentando sair desse lodo - que
barroco, muito individual. Vermeer nunca foi ligado aos artistas contem-
35
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Mulher Segurando uma Balança (1665), Johannes Vermeer
ela pesa ali são pérolas. Conseguimos descobrir isso pelas pérolas jogadas
Quando o artista põe uma luz que entra pela janela, podemos dizer que
entrando, está participando e dando luz ali. Ah, na verdade, eu vou acabar
36
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Se vocês repararem, nós
Final ao fundo.
longas, esguias.
rarem, há a tetra-manifestação
37
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Primeiro, o indivíduo, número um. Segundo, a oposição. O que é a
pérolas, cada uma de um lado. Então ele confronta essas oposições. Além
disso, podemos colocar que a linha que promove essa mesa é um elemento
isso, mas, por que não? Por que Vermeer colocaria então o Juízo Final em
uma pintura em que existe uma figura na frente que está tentando manter
Deus vai julgar e colocar cada um do seu lado. A pérola tem um significado
38
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
amos assim, o conhecimento do homem. Como vimos, o homem olha para
compreender tudo aquilo. Quando faz isso, age pela abstração. A abstração
ao lógico.
símbolo nos cativa e nos faz entender as coisas de modo muito mais efe-
nós, porque o homem antigo tinha esse itinerário dos números, o itinerário
dica para nós de que sim, o símbolo tem um papel dialético. E a dialética é
do Barroco. Rembrandt tem uma série de trabalhos que não são tão con-
39
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
recorrente. Durante toda vida, Rembrandt fez pinturas suas tanto menino
quanto mais velho. Essa obra à direita, de Aristóteles com o busto de Homero,
40
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
Perceba que o sábio está med-
interior.
41
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
É interessante saber por que Rembrandt reforça essa escada, não
interior é a mente desse sábio, desse filósofo. E ele faz esse trajeto de subir
essa escada. É um trajeto árduo, que vai espiralando, que você vai subindo
dando voltas, mas você sobe, principalmente quando fecha os olhos e deixa
que o íntimo da escuridão... e por isso aquela frase do São João da Cruz,
muitas vezes.
42
Aristóteles Ecom
- B OoOBusto
K B P de Homero
ARTE, O(1653),
RDEM Rembrandt
E S Í M B OHarmenszoon
LO
Há algo que é até novo para mim. Dizem que Homero, que foi o
seia”, era, na verdade, cego. René Huyghe levanta a possibilidade dele nem
o ser humano. Quando vemos o Mário Ferreira dos Santos, que escreveu
trocando em miúdos, não vou entrar nesse mérito, Homero era um poeta
sentidos, repousa e olha para Homero. Para mim, nada me tira que, sim,
Tanto ele sabe que, lógico, escreveu a “Poética”. No entanto, aqui é uma
tem que largar o osso e ver que não necessariamente é a razão que vai nos
colocar diante das verdades, mas, às vezes, até a via mais intuitiva, a via da
Por que digo tudo isso e ressaltei esses elementos? Ora, a poética
através dos símbolos, não há nada mais representativo do símbolo que não
nós. Eu diria que é uma tese que tento defender, de que a arte é um con-
já falaram, tal como Hegel. Hegel disse que uma hora a arte iria morrer,
sonalidade dos artistas, como fiz a reflexão sobre van Gogh, não se limita
43
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
sico, no qual o Delacroix, que pintou “A Liberdade Guiando o Povo”, enfim…
Deus, que é a primeira Criação. Então, sim, Platão tinha toda razão. O pintor,
o artista, o escritor não pode ficar no sensível, tem que fazer esse caminho
símbolo, faz o caminho de cima para baixo, então o artista está sim
desenhar, tive facilidade para isso, e é engraçado que fui almejando isso e,
muito legal ver aquele cara que mete o pau, ou, até, começamos por outros
piores. O Nietzsche ainda está muito bom, porque, por mais que fosse prob-
aquele homem que mete o pau em tudo. O jovem quer isso. Eu comecei
tal forma que me trouxe respostas filosóficas teológicas. Não à toa, após o
muito e é isso que gostaria de ter preparado para vocês. Eu espero que
algo criado pelo homem, ao qual este acaba atribuindo este significado
porque foi o símbolo que utilizei, a simbólica que utilizei… por esse trajeto,
menção a uma coisa ausente. E nós participamos de uma coisa maior, que
E sim, o símbolo, querendo ou não, pode ser muito bem, quem sabe, uma
pista que Deus nos deu, porque Deus age, como falam os teólogos, e nos
fala através de coisas e palavras. Palavras e coisas. Ele nos fala quando quer
nos falar. Ele traz um Anjo e o Anjo vem aqui e fala. Ele aparece ao apóstolo
Paulo quando cai do cavalo e fala: “Por que tu me persegues?”. Na hora que
quer falar, ele fala. Ele é o onipotente. E no momento em que quer mostrar
através das coisas e que, na verdade, é o tempo todo, somos nós que não
estamos muitas vezes muito atentos, porque Deus está nos provando da
45
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
existe de uma maneira abstratizante, assim como muitas coisas. Os con-
mesma maneira, se comporta o símbolo. Ele é. Ele é alguma coisa. Ele nos
Aluno: ele provoca também, né? Começou a falar sobre símbolo, nessa
parte mais teológica, eu lembrei daquela ave que não se consome com a
chama.
Foi ótimo você ter mencionado isso, porque eu tinha até esquecido
estra dele. Frye fala sobre uma coisa fundamental, pilar: que os grandes
temas até hoje são pautados ou no mito, nos mitos nórdicos, gregos, seja lá
o que for, mas um mito, ou nas parábolas do Evangelho. Por quê? Todos eles
que se apresenta e que quer dizer outra. Por que existe aquela questão
Paulo tem um trabalho danado para falar com esses caras. Porque o far-
iseu é preso à palavra, ao que está escrito e não consegue ler o que está
começarmos a pensar.
Também. Quando você faz uma leitura como Eric Voegelin fez da
História, aí sim você tem uma leitura simbólica da História, porque a História
recente. É um livro fantástico em que fala sobre uma crise na História. Existe
46
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
da História, se fizermos uma leitura vertical dela. Não é porque a História
ceram, porque, se não for assim, não teremos como saber de mais nada, não
uma seleção. Assim como o livro de História da Arte é uma seleção dos fatos
que haver, por trás, uma figura que fizesse uma leitura e fosse apanhando
de lado, mas estes são menos importantes porque realmente não foram
criar uma nova estrutura tensional tão bem sustentada quanto os grandes
artistas o fizeram.
Por que é uma obra de arte? Por que é uma obra-prima? Por que esse
sobre aquilo, mas sim como fez tudo isso. E é como conseguiu sintetizar
tudo isso de maneira espetacular, em que você não mudaria nem uma
palha. Há artistas menores que fazem trabalhos bonitos, bacanas, tem tal-
ento, mas achamos que uma coisa ou outra poderia ser modificada.
47
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
até porque, na secularização, a língua se tornou a novilíngua, então as
Dostoiévski que diz que a beleza salvará o mundo, acho que o significado
dela é que, mesmo que o mundo inteiro comece a relativizar as coisas, rel-
Com certeza, porque a arte é uma via muito mais agradável de ser
Isso. Ela condensa. E por agradar, pela beleza, nos capta, nos pesca. Ela
nos fisga e, por conta da beleza, consegue reproduzir coisas muito maiores.
Quando Tolstói faz uma crítica em que os gregos confundiam a beleza com
a verdade e com o bem, com o valor moral, eu tenho uma reserva, porque
eles não estão falando da beleza sensível, das aparências. Eles estavam
bonita. E quantas vezes não conhecemos uma pessoa bonita, mas ordinária.
um escorregão, pois, por trás dele, tem um lobo? Sim, a beleza pode, por um
lado, nos confundir. Por isso, Platão fez a recomendação de que o artista, se
fosse só olhar para essa beleza sensível, estivesse fora de uma “República”
perfeita, que seria uma situação em que você pudesse viver com grande
48
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO
6. BIBLIOGRAFIA
SANTOS, Mário Ferreira. Convite à Estética. Editora Logos, São Paulo/SP, 1966
TOLSTÓI, Leon. O que é arte?. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro/RJ, 2016
49
E-BOOK BP ARTE, ORDEM E SÍMBOLO