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Apresentação
1
O grande desafio para quem pretende discutir a articulação
entre os conceitos de história e de psicologia, visando refletir sobre a
história da psicologia, se relaciona à configuração atual da sociedade
que, em virtude de um determinado desenvolvimento histórico, nega
sua própria história. Atualmente, em relação a grande parte da vida
social, predominam duas formas de relação com o passado que são
complementares: de um lado há uma brutal desconsideração por ele,
cuja conseqüência mais imediata é o adiamento das possibilidades
de desenvolvimento futuro de uma humanidade emancipada e
autoconsciente; este desprezo pela história acaba por culminar num
desenvolvimento histórico inconsciente de si mesmo, como o que,
paradoxalmente, o passado é reproduzido como ofuscamento, como
mito. De outro lado, um recorte sobre o passado é reiteradamente
proposto como ideologia, isto é, se busca em eventos passados
justificativas para a ordem social existente.
Historiadores e filósofos discutem se há algum sentido para a
história, se estamos ainda na modernidade ou na pós-modernidade,
enquanto ideólogos conservadores afirmam seu fim. Entrementes,
na experiência cotidiana dos sujeitos, se vive num presente imediato
sem sentido, ou seja, o tempo vazio e homogêneo de que falava W.
Benjamin tornou-se onipresente2. A bússola do tempo alienado aponta
sempre para o futuro, para onde a tempestade do progresso irrefreável
impulsiona o homem, por bem e por mal. A história ensinada e
1
Doutor em Psicologia pela USP/SP; Mestre em Psicologia Social pela PUC/SP. Professor do Departamento
de Psicologia da UNESP/Bauru, nas disciplinas Constituição Histórica da Psicologia e Ética Profissional.
2
Segundo Benjamin (1994): “A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo vazio e
homogêneo, mas um tempo saturado de ‘agoras’” (p. 229). O tempo vazio e homogêneo é o tempo dos
relógios, em que cada minuto é exatamente igual aos demais, tal como uma unidade monetária é equivalente
a outra. A base dessa concepção de tempo é a ubiqüidade do fetiche das mercadorias. Mais do que nunca,
“tempo é dinheiro!”.
8
3
Relativa a Sto Agostinho (354-430), uma das principais fontes do pensamento cristão no ocidente.
11
4
Em itálico no texto de Adorno.
5
Segundo Adorno (1991), no livro “A Teoria do Romance” (Lukács, 2000) é que este filósofo desenvolve
essa concepção.
16
6
Este procedimento proposto por Benjamin tem analogias interessantes com o ‘paradigma indiciário’
proposto por C. Ginsburg (1989) . Neste caso, sua função é descobrir a conexão profunda que permite
compreender os fenômenos superficiais numa sociedade que se tornou opaca no capitalismo atual.
7
A alegoria é de Debord (1997).
17
8
Tradução de Ari F.Maia
19
9
Itálicos do autor.
22
indivíduos.
Os vários projetos de psicologia se organizam a partir de
demandas orientadas por tais contradições: de um lado, os indivíduos
reduzidos à subjetividade privatizada eram perigosos porque,
desobrigados de seguir tradições, atentos a seus interesses e aptos a
se organizarem, ameaçavam constantemente a ordem estabelecida,
demandando conhecimentos sobre a subjetividade que produzissem
uma ‘ortopedia mental’ mais eficaz, uma educação moral adequada à
ordem estabelecida e um conjunto de parâmetros de normalidade que
excluíssem ações ou mesmo pensamentos que fossem ameaçadores,
reproduzindo a lógica e a prática social alienadas no campo do
conhecimento sobre a psique10. De outro, o sofrimento dos indivíduos
nessas condições era constantemente intensificado, demandando
tentativas de ‘curar’ por meio de técnicas que permitissem adaptar
os desadaptados e calar até mesmo o protesto. Como é evidente, em
todos os sentidos apontados, a psicologia servia à manutenção ou,
ao menos, à justificação da ordem burguesa, se configurando como
ideologia.
Mas esse não é o destino irremediável dessa ciência, uma
vez que há também a produção de saberes que, explicitamente, se
opõem à lógica e à prática burguesas, configurando teorias, técnicas
e práticas psicológicas emancipatórias. O desejo de praticar a
psicologia em favor da emancipação poderia ser traduzido na seguinte
questão: em que medida a psicologia pode ser útil à história? Se,
efetivamente, nas condições atuais, a economia têm preeminência
nas explicações sobre a conduta dos sujeitos, qual poderia ser sua
contribuição específica? Parece ser possível percorrer duas vertentes
nesse sentido: primeiramente, a psicologia pode contribuir apontando
aquilo que ainda escapa à lógica instrumental nos sujeitos: seus
impulsos, aspirações, habilidades, etc, que contenham um impulso
emancipatório. Ao lado dessa possibilidade, outra seria denunciar os
mecanismos psicológicos de adaptação a este mundo, o sofrimento
que os acompanha e a irracionalidade das ações do sujeito que, por
10
Tais parâmetros culminaram na nosografia psiquiátrica, na elaboração do conceito de raça, na identificação
entre ele e determinada conduta moral e na elaboração de movimentos conservadores que se utilizavam de
saberes supostamente científicos para justificar a dominação. O movimento higienista é um exemplo dessa
tendência.
25
Proposta de Atividades.
Referências Bibliográficas.
1997.
Gagnebin, Jeanne Marie. História e Narração em Walter Benjamin.
São Paulo, Perspectiva, 2ª ed., 1999.
Ginsburg, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história.
Tradução de Federico Carotti. São Paulo, Cia das Letras, 1989.
Hobsbawn, Eric. Sobre História.Tradução: Cid Knipel Moreira. São
Paulo, Cia das Letras, 1998.
Horkheimer, Max; Adorno, Theodor Wiesengrund. Dialética do
Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antônio
de Almeida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed, 1985.
Lampedusa, Giuseppe Tomasi. O Gattopardo. Tradução de Marina
Colasanti. Rio de Janeiro, Ed. Record, 2000.
Lukács, Georg. A Teoria do Romance. Tradução de José Marcos
Mariani de Macedo. São Paulo, Livraria Duas Cidades e Editora 34,
2000.
Marcuse, Herbert. A Ideologia da Sociedade Industrial: o homem
unidimensional. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1968.
Marx, Karl. Manuscritos Económico-filosóficos. Tradução de Jesus
Ranieri. São Paulo, Boitempo Ed. 2004.
Marx, Karl. Engels, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista.
Tradução de Marco Aurélio Nogueira e Leandro Konder. Petrópolis,
Vozes, 4ª ed. 1993.
Rosa, João Guimarães. Tutaméia (terceiras histórias). Rio de Janeiro,
Nova Fronteira, 2001.
27
Principiando a conversa...
1
Doutora em Educação, professora do curso de Graduação em Psicologia, Departamento de Psicologia da
Faculdade de Ciências, UNESP/ Bauru e do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, Faculdade de
Ciências e Letras, UNESP/Araraquara. Integrante do Grupo de Pesquisa “Estudos Marxistas em Educação”.
28
2
Todas as citações em língua espanhola foram traduzidas pela autora.
30
3
L.S. Vigotski nasceu em 1896 e faleceu em 1934.
33
1 Materialismo Histórico...
4
Para a correta interpretação desta tese é necessária uma brevíssima consideração sobre a posição filosófica
idealista, à qual Marx e Engels se contrapõem. Para o idealismo a consciência é o a priori da existência e
a realidade, a encarnação das idéias. Assim, apenas a consciência existe realmente e tudo o mais é por ela
condicionado.
37
interdependências que entre eles existem e por isso prima por ser um
método de compreensão do real como totalidade.
Mas para a efetiva compreensão desta assertiva torna-se
necessária uma breve digressão acerca da relação sujeito-objeto na
construção do conhecimento. Conforme expusemos em outro texto
(Abrantes e Martins, 2007) a referida relação sintetiza as formas
pelas quais o homem se relaciona com os fenômenos da realidade
construindo os conhecimentos imprescindíveis a essa relação. O
sujeito cognoscitivo é o ser humano, entendido como ser social e
histórico, o objeto a ser conhecido é a realidade, entendida como
produto da ação humana. Ocorre porém, que inexiste sujeito sem
apropriação do real, da mesma forma que inexiste realidade humana
independente das objetivações dos sujeitos. Portanto:
como tal sob qualquer circunstância. De acordo com esta lei, nada
pode ser e não ser ao mesmo tempo, isto é, ser a si mesmo e a algo
distinto concomitantemente. Suas mais significativas expressões na
construção do conhecimento residem na classificação e identificação
dos fenômenos. Graças ao princípio da identidade os dados podem
ser agrupados, categorizados e classificados mediante a identificação,
por comparação, de suas semelhanças e diferenças.
A lei da inadmissibilidade da contradição afirma a absoluta
distinção entre identidade e diferença, operando como corolário
da lei da identidade. Se A é igual a A (princípio da identidade),
não pode ser Não A, ou seja, nega-se a diferença na essência das
coisas. Este princípio, possibilitando o discernimento da diferença,
subsidia a análise, auxiliando a parcialização (ou “recorte”) dos
distintos aspectos de um fenômeno apreendendo-se cada um deles
em sua essencialidade particular. Conforme esta lei, se A é um juízo
(proposição do pensamento) verdadeiro, no mesmo sistema dedutivo
não pode ser verdadeiro o juízo contrário a A, ou seja, nesta forma de
raciocínio subtrai-se um entre vários juízos preterindo-se os outros
que o contrariam.
A lei do terceiro excluído postula que se dois juízos que se
contrariam não podem ser verdadeiros e falsos ao mesmo tempo
(inadmissibilidade da contradição), se um deles é verdadeiro o outro
é falso e vice-versa. Assim, um juízo é e só pode ser ele mesmo,
isto é, não pode ser parte de duas classes opostas ao mesmo tempo.
Quando duas proposições opostas se confrontam, ambas não podem
ser verdadeiras e falsas concomitantemente.
Os princípios da lógica formal como recursos metodológicos
para a construção do conhecimento alcançam seu apogeu a partir
do século XVII pelas mãos de Francis Bacon (1561-1626) e Renée
Descartes, ou, Renato Cartesius, como ele assinava em latim (1596-
1650) que elegeram a veracidade do conhecimento como objeto de
suas reflexões filosóficas. Ao primeiro deve-se a proposição pioneira
da experimentação como critério de cientificidade e ao segundo, a
ênfase na razão e a afirmação do universo constituído por apenas duas
substâncias, mente e matéria, a partir da qual instalam-se os inúmeros
dualismos característicos do pensamento científico, isto é, a ciência
cartesiana.
50
Finalizando...
Referências Bibliográficas:
INTRODUÇÃO
1
Docente do Depto de Psicologia da UNESP/Bauru nas disciplinas de Saúde Pública e Saúde Mental,
Psicologia e Comunidade, Saúde e Trabalho, Políticas Públicas, Instituições e Saúde. Mestre em Educação
– IESAE-FGV/RJ e Doutor em Educação -FFC-UNESP/Marilia.
58
trabalho, pela qual realizam ações cujos fins não são por eles mesmos
definidos.
As conseqüências deste processo mostram as origens
estruturais da exclusão social, pois a princípio, as oportunidades
estavam garantidas para todos, mas isto nunca ocorreu na realidade
pois a essência do modo de produção capitalista é a exploração do
homem pelo homem, a mais valia e a propriedade privada. Ao não se
realizarem de forma igualitária, possibilitam a atribuição ao indivíduo
da responsabilidade pelo seu fracasso e naturalizam-se as relações de
desigualdade, mascarando esta situação. Diante dessa contradição, já
no séc. XVIII, os arautos da modernidade, alicerçados no discurso
médico cientificista, criaram as instituições de correção e ajuste moral.
Desta forma, todas as alterações, individuais e sociais produzidas pela
nova forma de organização da sociedade, são passíveis de tratamento
e cura (ALBUQUERQUE, 1978 e RESENDE, 1987).
A partir daí, todas as intervenções serão dirigidas ao indivíduo
que não se ajusta à nova lógica produtiva, abafando-se as contradições
sociais e tornando a desigualdade social e a exclusão em uma realidade
sofrida e parte da natureza do homem. Estes indivíduos serão os
loucos, os deficientes, os idosos, os mendigos e todos os deserdados
do capital.
Desta forma, constrói-se o espaço social necessário para
as práticas assistencialistas e filantrópicas enquanto contribuição
daqueles que se compadecem dos infortúnios vividos por sujeitos
que, de uma forma ou de outra, não conseguiram a sua ascensão
social. Estas práticas não são exclusivamente voltadas para as
classes populares. Elas emergem em função de que o Estado tem que
garantir a produção e reprodução do capital e necessita, para isso,
não só os sujeitos produtivos em si, mas garantir ideologicamente a
inserção desses sujeitos no processo produtivo e as condições de vida
minimamente adequadas para tal. O homem livre das Declarações de
Direitos já inexiste enquanto possibilidade no séc. XIX, pois “... essa
mesma sociedade, ao subsumir o indivíduo sob sua classe, ao submetê-
los às leis econômicas com se fossem naturais (...) fez dos indivíduos
livres nada mais que escravos da alienação...”(HELLER,1970, p. 75).
Assim, começam a se desenvolver não só os movimentos operários,
mas também a adesão dos intelectuais a esses movimentos. Esses
movimentos vão se confrontar com a burguesia e com o Estado,
60
O ESTADO E AS INSTITUIÇÕES
ANÁLISE INSTITUCIONAL
POLÍTICAS PÚBLICAS
ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
CONSIDERAÇÕES GERAIS
ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a realidade.
É evidente que somente pelo fato de nos referirmos à realidade
ela já se tornou realidade no pensamento, mas somente para iniciar
o raciocínio consideremos que atualmente algumas dimensões da
realidade não foram reproduzidas no pensamento e mesmo assim se
realizam e, ainda, que existiu realidade sem ser pensada, ou para dizer
de outra forma, houve um tempo em que o pensamento ainda não se
tinha feito realidade para o ser humano.
Deste modo podemos considerar que quando mencionamos a
realidade não estamos de forma alguma nos referindo à algo estático,
pois a realidade vem sofrendo processos de transformações constantes
mesmo antes do surgimento do ser humano. No entanto, como nossa
reflexão tem como tema a relação sujeito – objeto, ela somente pode
fazer sentido na medida em que na realidade exista ser humano, o que
pressupõe um ser em relação com o real.
Considerando o processo real de constituição da realidade,
incluindo aí a realidade humana, tomamos como relação inicial
básica ser humano – natureza, observando que o ser humano é aqui
entendido como ser social - humanidade. A questão se vincula a um
processo em que inicialmente o ser humano não existe como realidade
consciente1.
Podemos afirmar a relação ser humano – natureza e
problematizá-la já devido à um processo de transformação por que
passou a realidade, pois inicialmente não existia uma diferenciação do
ser humano com a natureza. Ele existia apenas como um ser natural,
integrante da natureza e submetido a leis biológicas. Há inicialmente
a identidade original entre ser humano – natureza e um processo de
desenvolvimento do homem biológico – o processo de hominização.
Ser humano é apenas um ser natural e, como os demais
organismos vivos, necessita da natureza para manter-se vivo, exerce
uma atividade vital que possibilita que as riquezas naturais supram
suas necessidades de subsistência. Mesmo que atualmente o ser
humano permaneça como organismo vivo, sujeito às determinações da
1
Mesmo considerando que o ser humano passou por um processo de transformação radical – de ser
biológico para ser social e histórico – manteremos a nomenclatura ser humano para os momentos de
transição no qual o humano como ser racional era apenas possibilidade.
90
constitui. Isto significa que ela se realiza como luta que se objetiva
no presente e, sendo assim, é portadora de possibilidades futuras de
realização.
O sujeito nessa relação perde a nitidez visto que a realização do
real se movimenta a partir de classes sociais em luta, o que significa
que o próprio pensar sobre a realidade, mesmo que indiretamente,
está determinado por esta contradição.
No entanto, conhecê-la tornou-se uma possibilidade humana,
visto que na sua história vem se objetivando um processo ininterrupto
de conhecimento e reconhecimento da realidade, no qual o pensamento
orientado por conteúdos acumulados ganha relativa autonomia em
relação ao real se realizando.
Construiu-se na história atividades relacionadas ao processo de
produção de conhecimentos, nas quais os vínculos com a realidade
passam a se constituir a partir de relações que envolvem três elementos,
quais sejam, o de um sujeito como pensamento científico, portanto
como atividade orientada por um método de conhecer, o de um objeto
a ser conhecido como conhecimento acumulado, ou seja, como
relação entre o pensamento realizado e pensamento se realizando e,
por fim, a realidade como objeto exterior e anterior ao pensamento,
que passa a constituir-se como critério de validade do conhecimento
produzido, na medida em que a ação sobre ela se pauta por aquilo que
se produziu no movimento de conhecer
Não nos aprofundaremos nesta discussão, apenas sintetizamos,
a partir da posição do materialismo histórico dialético, essa forma
de conceber a produção de conhecimentos para afirmar que cada vez
mais os resultados deste processo integram os modos como o trabalho
se objetiva, e dessa maneira o saber científico passa a ser condição da
existência humana. Sua apropriação é necessidade tanto para viabilizar
a participação no processo produtivo em si, como para qualificar
a atividade social humana como práxis, ou seja, como atividade
consciente de si e de sua participação na realização humana.
Reafirmamos assim que a realidade não pode ser apreendida
imediatamente pelo ser humano, e ao mesmo tempo, que ela pode
ser conhecida a partir do pensar teórico. Como fica evidente, essa
possibilidade histórica de se relacionar com a realidade somente pode
ocorrer como conseqüência de processos educativos.
Não podemos deixar de mencionar que, se no processo
108
2
Não abordaremos neste texto detalhes de como a educação se desenvolveu de forma específica em diferentes
modos de produção até que a educação escolar se tornasse hegemônica na sociedade capitalista.
109
Considerações finais
constitui e se diferencia.
A realidade estrutura-se em suas diferentes dimensões, ou seja
como natureza, como sociedade e como pensamento. Ela se desenvolve
a partir das contradições atualizadas da sociedade, marcada pelos
antagonismos entre classes sociais, ou seja, a partir da luta de classes,
o que representa diferentes posições no modo de compreender e
existir em sociedade. A realidade é um todo que se estrutura a partir
de diferentes culturas que cada vez mais se comunicam e se articulam
como humanidade.
A realidade se produz como existência e resistência, e como
realização de uma certa hegemonia se afirma no presente. No entanto,
compreende possibilidades distintas de existir no futuro, aspecto que
torna necessário recolocar constantemente o problema filosófico de
qual realidade se tem a intenção de produzir.
Por fim, consideramos a formação dos indivíduos a partir
das relações que estabelecem com a realidade nos aspectos acima
retomados, considerando que quando a educação passa a se organizar
como trabalho educativo, ela começa a ser pautada pela antecipação
daquilo que se almeja produzir.
Novamente apontamos que as contradições da sociedade
demarcam diferentes posições quanto aos objetivos da educação,
indicando que o projeto de existir individual, em seu polo hegemonico,
vislumbra a realização de indivíduo pragmático e adaptado à realidade
estabelecida e, de outro lado, como resistência a ele luta-se pelo existir
do indivíduo contemprorâneo de seu tempo histórico e consciente
tanto da realidade que está inserido quanto daquela que mereça ser
realizada.
As Mãos
Manuel Alegre
Proposta de atividades
4- O significado de liberdade.
Referencias bibliográficas
1
Doutora em Psicologia da Educação PUC/SP, Mestre em Psicologia Social PUC/SP com especialização em
Violência Doméstica USP/SP. Professora de Psicologia Social I e II e Supervisora de Estágio em Psicologia
Social Comunitária do Departamento de Psicologia UNESP/BRU
118
11- É uma palavra com amplo significado, mas pode ser definida
como sendo uma condição da vida humana, pois proporciona as
121
18- Social tem a ver com grupal: social deve englobar aspectos
qualitativos e de relacionamento dentro de um grupo; o conjunto das
relações de um grupo com membros com características em comum...
no caso dos humanos, esse conjunto pode atingir uma complexidade
condizente com a natureza desse ser.
2
Definição mais adiante no corpo do próprio texto.
3
Se o desenvolvimento humano e social é histórico, é movimento de transformação constante, é dinâmico.
Assim, para apreender essa dinâmica, a lógica dialética é que vai possibilitar a apreensão histórica, uma vez
que a essência dos fenômenos históricos não é inerte nem passiva, como quer a lógica formal. Ressaltamos
que a lógica formal não é excluída pela dialética, mas incorporada à dialética, segundo a qual a contradição é
característica fundamental de tudo o que existe, de todas as coisas. Dessa forma, a contradição e sua superação
são a base do movimento de transformação constante da realidade; o movimento da realidade está expresso
nas leis da dialética: • Lei do movimento e relação universal;• Lei da unidade e luta dos contrários;• Lei da
transformação da quantidade em qualidade;• Lei da negação da negação. Nessa abordagem, os fenômenos não
pertencem à natureza humana, não são preexistentes ao homem e, sim, refletem a condição social, econômica
e cultural em que vivem os homens. Não podemos falar de subjetividade humana sem falar da objetividade
em que vivem os homens. A compreensão do “mundo interno” exige a compreensão do “mundo externo”:
são dois aspectos de um mesmo movimento, mundos estes que só existem em decorrência da atividade vital
humana – o trabalho.
125
4
Agradecimentos especiais: aos alunos do quinto termo noturno do primeiro semestre de 2008, à Profa. MS.
Eni de Fátima Martins e ao Prof. Dr. Ari Fernando Maia. Obrigado a todos pela colaboração.
126
5
O conteúdo específico sobre a categoria consciência já foi trabalhado em outra disciplina. E, na Psicologia
Social, foi discutido após esse primeiro momento.
129
condições de opressão.
Dessa forma, a atual sociedade é o produto histórico de um
longo processo de desenvolvimento de uma série de revoluções nos
modos de produção e de troca. A grande indústria criou o mercado
mundial, cujo terreno foi preparado pela descoberta da América,
trazendo desenvolvimento para o comércio, a navegação e as
comunicações. A própria burguesia se desenvolvia nesta nova etapa
com o correspondente progresso político. Com isso todas as classes do
antigo regime foram colocadas em segundo plano, facilitando assim a
conquista do estado pela burguesia, que colocou este a serviço de sua
proteção e defesa de seus interesses.
Vimos anteriormente que foram os homens em relação com
os demais, na atividade do trabalho, que criaram os instrumentos, os
usos e os costumes de determinada época, correspondendo assim a
determinado modo de consciência, ou seja; “A propriedade coletiva
colocava os homens em relações idênticas em relação aos meios
e frutos da produção, sendo estes últimos, portanto refletidos de
maneira idêntica na consciência individual e coletiva” (LEONTIEV,
1978, p.114). Conseqüentemente, pela apropriação dessas “obras
humanas”, a espécie se humanizou. No entanto, MARX E ENGELS
(1990) afirmam:
6
O conteúdo sobre a alienação foi redigido para este texto baseado na minha tese de doutorado.
133
7
Conteúdos a serem desenvolvidos no decorrer da disciplina.
137
sua alienação.
Quanto maior for a alienação produzida pela estrutura econômica
de uma dada sociedade, tanto mais a vida cotidiana irradiará sua
própria alienação para as demais esferas. Mas se a estrutura da vida
cotidiana é um terreno propício para a alienação, não é de nenhum
modo necessariamente alienada; é possível que haja uma margem
de explicitação permitindo unidade consciente do humano genérico e
do indivíduo particular, em determinadas situações.
Podemos dizer o mesmo sobre a alienação e a humanização
na relação ensino-aprendizagem e na prática educativa, que, neste
trabalho, constitui-se também como alvo de nossa preocupação. Se
colocada apenas com fundamentos pragmáticos, aumenta a alienação
na prática educativa. No entanto, propomos, por meio da didática que
adotamos e da teoria na qual nos fundamentamos, que ela seja uma
ação para gerar, intencionalmente, no educador e em cada aluno, a
humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto
dos homens, contribuindo assim para a diminuição do processo de
alienação do educador e dos futuros profissionais.
Nesta fase nos ocupamos em oferecer aos educandos os subsídios
teóricos para analisar os elementos necessários à compreensão de
como entendemos o que é social? na perspectiva sócio-histórica.
Outros conteúdos necessários para a ampliação e aprofundamento
dessa discussão serão ministrados no decorrer do semestre. Por
enquanto, vimos que foi por meio da atividade (trabalho) mediado
pelo fabrico e uso de instrumentos, que o homem se apropriou da
natureza, transformando-a e transformando-se, garantindo para si
características essencialmente e exclusivamente do gênero humano,
ou seja, a atividade histórica. Que o trabalho, se expressa por meio
de ações coletivas e supera a atividade vital dos animais, porque
o homem a submete a si como objeto de sua vontade e a da sua
consciência. Que ao se complexificar as relações sociais, diferentes
foram os modos de produção, gerando tipos de organizações sociais
diferentes. E que, entretanto, não podemos confundir o trabalho -
atividade vital humana – com o trabalho alienado.
Dessa forma, caminhamos para o quarto passo de nossa
metodologia, que é a catarse. Se na fase anterior os processos mentais
básicos foram analisar, abstrair, agora é necessário sintetizar. Para
SAVIANI (1999) apud GASPARIN (2003), catarse é:
138
Referências Bibliográficas
1
O nome do autor sem sido escrito de diferentes modos, tais como Vygotsky, Vygotski e Vigotskii. Neste
texto usaremos a grafia Vigotski.
2
Leontiev (1903-1979) foi membro da Academia Soviética de Ciências Pedagógicas e fundou a Faculdade de
Psicologia da Universidade de Moscou. Ao longo de sua vida, desenvolveu inúmeros estudos voltados para
duas questões principais: a natureza do psiquismo humano e os princípios que regem seu desenvolvimento.
Escreveu vários artigos e livros. Suas principais obras são O desenvolvimento do psiquismo (1978) e Actividad,
conciencia y personalidad (1978.)
3
Luria (1902-1977) dedicou-se ao estudo das funções psicológicas relacionadas ao sistema nervoso central
e se tornou um dos neuropsicólogos mais conhecidos do mundo. Escreveu vários artigos e livros nos quais
apresenta seus estudos sobre sensações, percepção, atenção, memória, linguagem e pensamento. No Brasil,
temos disponíveis os quatro volumes do Curso de Psicologia Geral (1979) e a obra Estudos sobre a história
do comportamento: símios, homem primitivo e criança (1996).
4
Para compreender melhor as relações entre a produção teórica de Vigotski e o contexto histórico no qual foi
construída, uma boa sugestão de leitura é a obra Vygotski — a construção de uma Psicologia Marxista (2002),
de Silvana Calvo Tuleski.
146
5
Para mais informações sobre a trajetória pessoal e profissional de Vigotski, você pode consultar a obra
Vygotsky, aprendizado e desenvolvimento — um processo sócio-histórico (1993), de Marta Kohl de
Oliveira.
6
Josepf Stálin (1879-1953) assumiu o poder na URSS pelo Partido Comunista, mas, contrariando os ideais
socialistas da Revolução Russa de 1917, tornou-se um ditador repressor e violento.
7
Devemos destacar que os trechos cortados foram, principalmente, os que continham as reflexões de explícita
fundamentação marxista.
8
Em 2001, a Editora Martins Fontes publicou a versão integral de Pensamento e Linguagem com o título A
Construção do Pensamento e da Linguagem.
147
9
O subjetivismo considera que o mundo objetivo é uma criação dos homens. É como se os homens estivessem
“acima” do mundo, ou seja, sofressem pouca ou nenhuma influência do mundo exterior.
10
O objetivismo considera que os homens são produzidos pela sociedade. É como se o mundo estivesse
“acima” dos homens, ou seja, como se os homens apenas refletissem em seu interior as influências recebidas
do meio externo.
148
ATIVIDADE DE ESTUDO
As meninas-lobo11
11
Este é um resumo dos relatos apresentados por Reymond (1965)
150
O homem e a cultura
2. O processo de mediação
3. Pensamento e linguagem
Vigotski considerava a linguagem um signo mediador
fundamental para a constituição das funções psicológicas superiores;
essencial para o processo de transmissão às novas gerações do
conhecimento acumulado pela humanidade, bem como para a
re-elaboração da realidade e o desenvolvimento de capacidades
humanas. O autor assinalava que a linguagem tem duas funções
básicas: comunicação e generalização do pensamento.
152
4. Pensamentos e emoções
5. Aprendizagem e desenvolvimento
Na teoria de Vigotski, o desenvolvimento humano não é
tratado como fenômeno universal, já que se refere a um conjunto
de possibilidades constituídas em determinadas condições sociais
concretas.
As diferentes transições que ocorrem ao longo do processo de
desenvolvimento caracterizam-se por crises e rupturas provocadas
por contradições entre o modo como a criança vive em determinado
momento e as possibilidades já existentes de superação. É desta
contradição que surge a necessidade da passagem para outro estágio
qualitativamente mais complexo (Vigotski, 1996).
ATIVIDADE DE ESTUDO
12
A expressão zona de desenvolvimento imediato foi proposta por Paulo Bezerra que realizou a tradução do
russo para o português do livro “Pensamento e Linguagem” de L.S. Vigotiski, publicado com o título “A
construção do pensamento e da Linguagem”.
157
ATIVIDADE DE ESTUDO
ATIVIDADE DE ESTUDO
13
Para maiores esclarecimentos pode-se consultar, entre outros, Duarte (1996, 2000), Facci (2003); Meira
(1998,2007), Oliveira (2000), Pino (2000), Rego (1999) e Smolka (2000). É importante destacar que nem
todos estes autores seguem a mesma linha interpretativa na análise da Psicologia Histórico-Cultural e de suas
implicações para a educação.
162
resolver¨.
Para dar conta desta tarefa de compreensão é preciso ferramentas
teórico-intelectuais. E a educação formal pode fornecê-las.
Podemos afirmar, utilizando a expressão que dá título a uma
das obras mais conhecidas de Vigotski, que a escola é de fato um
local de formação social da mente. O modo pelo qual se organiza o
processo educativo produz conseqüências importantes tanto no que se
refere ao processo de transmissão e apropriação dos conhecimentos,
quanto no que tange a formação de atitudes e valores.
Não é possível pensarmos em indivíduos plenamente
desenvolvidos, sem a apropriação do conhecimento. Assim, a educação
enquanto um processo ao mesmo tempo social e individual, genérico
e singular, é uma das condições fundamentais para que o homem se
constitua de fato como ser humano, humanizado e humanizador.
Como resultado de uma visão liberal e ideologizada de indivíduo
e educação, a Psicologia Escolar tradicional tem partido de quatro
premissas fundamentais: os problemas educacionais são problemas
dos alunos; esses problemas14 devem ser diagnosticados e tratados;
o objeto de atuação da Psicologia Escolar é o aluno e a finalidade
do psicólogo escolar é contribuir para a eliminação de problemas e
14
A psicologia tem comumente atribuído problemas de aprendizagem a dificuldades orgânicas; características
individuais de personalidade, capacidade intelectual ou habilidades perceptivo-motoras; problemas afetivos e
vivenciais; comportamentos inadequados; carências psicológicas e culturais; dificuldades de linguagem; des-
nutrição; despreparo para enfrentar as tarefas da escola; falta de apoio da família; “desagregação” familiar.
165
4.1. O maturacionismo
A teoria de Vigotski produz uma sensível transformação em
relação à compreensão da função social da prática pedagógica, e mais
especificamente, do papel do professor, e por isto pode contribuir para
o rompimento com a perspectiva maturacionista, ainda hegemônica
nos meios educacionais, que coloca a aprendizagem em uma situação
de dependência direta em relação ao desenvolvimento.
A abordagem maturacionista considera que os alunos só se
tornam capazes de aprender determinados conteúdos quando estão
“maduros” ou “prontos” para isto. Partindo deste ponto de vista,
quando um aluno apresenta dificuldades, se diz que ele ainda não
atingiu o nível de desenvolvimento psico-intelectual necessário, isto
é, não tem “prontidão” para a aprendizagem. Nas décadas de 60 e
70, surgiram vários testes com a finalidade de medir a prontidão dos
alunos para todos os tipos de aprendizagem, em especial aquelas
relacionadas com a leitura e a escrita de crianças em fase inicial de
alfabetização
Essa é uma concepção nefasta porque leva os professores
a se comportarem como expectadores passivos de algo que não diz
respeito a eles. O professor não pode ensinar porque estes alunos não
têm condições de aprender, não lhe restando outra alternativa a não
ser esperar que eles fiquem “maduros”, para só então cumprir sua
função social.
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ATIVIDADE DE ESTUDO
A natureza humana
ATIVIDADE DE ESTUDO
ATIVIDADE DE ESTUDO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS