Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
UMUARAMA
2008
2
INTRODUÇÃO
“teoria histórico-cultural” - uma vez que as correntes da época não davam conta de
explicar os comportamentos humanos e as necessidades práticas da sociedade
vigente.
cultura. Vigotski via a nova Psicologia sob a perspectiva desta, poder embasar a
pedagogia e o trabalho docente entendido como um processo de ensino-
aprendizagem, preocupado com a formação social do ser humano.
Segundo Vigotski apud Barroco (2007, p. 230-231) “A luta pela vida leva à criação e
ao emprego de ferramentas, que transformam externamente a natureza, e de
instrumentos, que servem para operações mentais, bem como leva à constituição da
linguagem”. O autor russo destaca o conceito de mediação como ponto central,
significando a intervenção de um elemento numa relação, que deixa de ser direta e
passa a ser mediada com o uso de instrumentos técnicos e psicológicos. “Os
instrumentos técnicos têm a função de regular as ações sobre os objetos e os
instrumentos psicológicos regulam as ações sobre o psiquismo das pessoas, por
exemplo: a linguagem, diferentes formas de cálculo e numeração, os mapas, os
desenhos e todos os tipos de signos” (FACCI, 2004, p.154).
6
1. A PERCEPÇÃO
Percebendo, o ser humano não só vê, como também observa; não só ouve,
como também escuta e, por vezes, não olha simplesmente para alguma
coisa, mas observa-a pormenorizadamente; não só sabe escutar, como
presta atenção (p. 134, grifos do autor).
Esta aptidão não se forma de uma só vez. Na criança, é adquirida por meio de uma
atividade lúdica, no adulto, trata-se de uma atividade laboral. Interpretar um quadro,
por exemplo, irá depender se a análise visa determinar o método de trabalho do
pintor ou se a tarefa é determinar a que tempo pertence o quadro. Se for esta, irá
destacar as maneiras do desenho, as roupas dos personagens ou a forma
arquitetônica dos edifícios. Nesse sentido, para Luria (1991): “Os dados assim
obtidos mostram que o sujeito, ao examinar um quadro complexo, não só destaca
neste os detalhes essenciais, como também muda o sentido do seu exame e a
discriminação de detalhes particulares, dependendo da tarefa que lhe foi proposta”.
(p.67).
Segundo Luria (1991, p.38, grifos do autor), o mundo não é feito de pontos
de luz e cores, mas de coisas concretas, com imagens inteiras. A percepção “baseia-
se no trabalho conjunto dos órgãos dos sentidos, na síntese de sensações isoladas
e nos complexos sistemas conjuntos”. Transformamos sensações isoladas numa
percepção integral.
Quando vemos um par de óculos, não vemos dois círculos ligados por
duas hastes, que é a nossa percepção internalizada – mas um par de óculos – ou
seja, nossa “relação perceptual com o mundo não se dá em termos de atributos
1
Na realidade,
Enquanto que a visão humana está organizada para perceber luz, revelar
pontos, linhas, cores, movimentos e profundidade, possibilitando por meio da
percepção visual a discriminação dos detalhes como a cor, o tamanho, a forma,
informações imprescindíveis e necessárias para análise do objeto - o tato é uma
forma de sensibilidade, que compreende tanto componentes elementares, quanto
complexos. Entre os elementares situam-se a sensação de frio e calor e a sensação
de dor, situando-se entre os complexos, as sensações táteis (contatos e pressões) e
os tipos de sensibilidade profunda e sinestésica que fazem parte da composição das
sensações proprioceptivas: sensação de calor e frio – pequenos ‘bulbos’ espalhados
na pele de maneira desigual; dor – filamentos nervosos finos; contato e pressão -
formações nervosas; sensibilidade profunda – (propioceptivas) aparelhos situados
na superfície das articulações, nos ligamentos e músculos (LURIA, 1991, p.45).
de avaliar o tamanho real desses dois estímulos, pois na minha experiência anterior
conheço o que é uma mosca e o que é um avião.
A forma dos objetos é um dos fatores principais para distinção dos objetos.
Quando muda o tamanho, o colorido e também algumas outras propriedades das
diferentes partes de um corpo, se mantém invariáveis as proporções geométricas
das referidas partes – e, no entanto reconhecemos a mesma figura geométrica. O
desenvolvimento da constância na criança é um processo bastante prolongado,
alcançando o seu máximo entre os dez e quatorze anos.
para indicar movimento (um pé levantado, uma mão estendida, as copas das
árvores movendo-se ao vento). A impressão de um movimento pode produzir-se em
nós também quando sabemos que não existe movimento, ou quando alguns objetos
parecem estar em movimento enquanto outros permanecem imóveis, como no
seguinte exemplo: Por que parece mover-se a lua e não as nuvens? Segundo
Duncker, “percebe-se em movimento o objeto que esteja sobreposto ao outro. Move-
se a figura e não o fundo”. Oppenheimer “demonstra que de dois objetos, regra
geral, [é o menor] que aparece em movimento”. (Rubinstein, 1973, p.174).
2. MEMÓRIA
dinâmico processo. “Não há homem nenhum cuja memória seja tão má e cujas
vinculações associativas e outras funcionem tão incorrectamente que esqueça tudo,
como também não há ser humano em que funcionem tão bem que possa tudo
recordar (p.33).” A memória tem caráter selecionador. Retém o que faz sentido,
significado, e o que é essencial para nós, e de interesse. Recordamos algumas
coisas e outras não, embora algumas recordações fiquem involuntariamente retidas
na memória, mesmo que não queiramos - em algumas condições inclina-se para a
retenção de uma recordação agradável e em outras para o desagradável,
dependendo do caráter emocional, da atitude pessoal e intelectual que orienta a
personalidade. Ou seja, esquece-se daquilo que deixa de ser essencial e importante
ou contrário ao que desejamos.
Para ilustrar, Rubinstein relata que, num dado exame psicológico, uma
estudante respondeu exatamente o que continha o texto do livro. Quando
questionada a respeito do número da página do livro que continha a referida
resposta, ela não só indicou o número da página, como também mencionou que a
resposta se encontrava no canto superior direito da página – na resposta ela
provavelmente visualizou o livro aberto á sua frente. Ao reter os acontecimentos, a
memória distingue-se ainda, por suas peculiaridades, ou seja, por sua rapidez,
persistência, quantidade ou volume daquilo que deve gravar, como também da
exatidão do que é memorizado – o que depende da memória individual e particular
do ser humano – alguns conseguem reter melhor os dados visuais, outros os
auditivos, e outros ainda, os dados motores. Ler para si o texto que deve gravar na
memória são estratégias de alguns, que na recordação reproduz-se de preferência a
imagem visual. Outros ainda são imprescindíveis as percepções auditivas e as
representações, enquanto para outros, as motoras – que fixam melhor o texto
quando buscam ajuda nos apontamentos. Observam-se geralmente tipos mistos,
sendo que na maioria das pessoas encontra-se o tipo visual na retenção de objetos
e o tipo verbal motor na retenção de material verbal.
segundo Luria, que “o homem memoriza antes de tudo aquilo que está relacionado
com o fim de sua atividade, aquilo que contribui para atingir o objetivo ou serve de
obstáculo” (p.78, grifos do autor).
[...] nos dois casos (do homem primitivo e do iletrado), que esses careciam
de um maior desenvolvimento de suas funções psicológicas superiores e,
assim sendo, para o autor russo, as ações desses homens estavam
encerradas na cotidianidade e, desta forma, eram caracterizadamente
espontâneas e imediatas, pertencentes ao reino das necessidades, estando
fortemente relacionadas às necessidades naturais (ALMEIDA, 2004, p.87).
Assim, como não podiam contar com a linguagem escrita, sua relação
com a realidade se dava pela experiência cotidiana, direta, imediata, guardada pela
grande quantidade de impressões por meio dos sentidos. Recordações estas,
emocionalmente ricas, veiculadas pela linguagem oral para passar sua cultura para
as gerações posteriores – como mitos, fantasias. Tal compreensão do psiquismo
humano sobre o estudo da memória revela que, mesmo nos estágios mais primitivos
do desenvolvimento social, o homem possuía uma memória que tinha como base
dos traços mnemônicos, a retenção das experiências reais.
3. ATENÇÃO
3
estímulo forte, novo ou interessante – por exemplo, quando nos deparamos com um
barulho ou batida forte, uma mudança nova e inesperada da situação e viramos
involuntariamente a cabeça para compreendermos o que está ocorrendo. Na
atenção arbitrária (voluntária), a atenção não se sujeita às leis da natureza, é própria
do homem, porque ele pode ir além dos limites das leis naturais da percepção (o que
não ocorre com os animais, que estão sujeitos à ação direta do meio), pode
discriminar e mudar o objeto de sua atenção, segundo sua vontade e as estruturas
que lhe são necessárias.
assegurada nas etapas iniciais nos casos em que coincide com a percepção
imediata da criança” (LURIA, 1991, p.31).
Entre dois anos e dois anos e meio de idade as instruções verbais mais
simples podem orientar a atenção da criança e levá-la a cumprir com precisão o ato
motor. Uma instrução mais complexa, que exige uma síntese prévia, ainda não pode
provocar a necessária influência organizadora. No terceiro ano de vida verifica-se
que a instrução verbal do adulto enriquecida com a linguagem da criança, pode
“converter-se em fator que orienta solidamente a atenção” (p.32). Mas essa
influência só ocorre com a participação da atividade da criança ao distinguir as
ordens necessárias recebidas, reforçando, assim sua ação prática. Por exemplo, um
adulto ordena: você só irá levantar-se da cadeira quando aparecer um triângulo e
não sairá da cadeira quando aparecer um círculo. A criança inicialmente poderá
cometer muitos erros. Somente depois de tomar conhecimento prático das figuras,
manipulando-as, é que a criança começará a obedecer corretamente à instrução
recebida.
Considerações Finais
Como vimos, Vigotski nos fornece pistas sobre o papel do professor como
mediador da aprendizagem do aluno, facilitando-lhe o domínio e a apropriação dos
instrumentos culturais, se realizada no plano da zona de desenvolvimento proximal,
desenvolvendo estratégias que potencialize o aluno para que no futuro possa
resolvê-las de forma independente. Percebe-se também que a Psicologia Histórico-
Cultural ao estudar sobre aprendizagem e desenvolvimento, discorre sobre como a
educação influencia a formação e o desenvolvimento psicológico do aluno,
impulsionando a formação das funções psicológicas superiores.
entre o conhecimento e o aluno, suja tarefa é ensinar aquilo que ele não é capaz de
realizar sozinho.
Vigotski (2000, p. 337), afirma que “ensinar uma criança o que ela não é
capaz de aprender é tão estéril quanto ensiná-la a fazer o que ela já faz sozinha”. Na
Escola de Vigotski é ‘tarefa do processo educativo dirigir o desenvolvimento psíquico
do indivíduo’ e o professor é compreendido ‘como mediador dos conteúdos
científicos’ devendo realizar as intervenções necessárias à formação dos processos
psicológicos superiores (FACCI, 2004, p. 194-200).
Isto é, pois, da conta dos educadores, dos psicólogos, dos políticos, enfim de
todos. As conseqüências de uma sociedade que tem produzido tanto
conhecimento, mas que, de fato, o faz circular tão pouco, pondo a grande
maioria dos indivíduos em relação apenas com informações, é uma
escolarização ruim, que permite aos mesmos apenas uma apropriação
mínima das produções humanas (p.385).
Referências:
ALBUQUERQUE, Rosana Aparecida. A. Educação e Inclusão Escolar: A prática
pedagógica da Sala de Recursos de 5ª a 8ª Séries. 144 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Estadual de Maringá – UEM, Maringá, 2008.
BLANCK, Guillermo. Vygotsky: o homem e sua causa. In: MOLL, Luis (org.)
Vygotsky e a educação: Implicações pedagógicas da psicologia sócio-histórica.
Trad. Fani A. Tesseler. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, pp. 31-55.