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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FINANCEIRA COM NEUROCIÊNCIAS PARA DOCENTES

DISCIPLINA: NEUROCIÊNCIAS APLICADA A CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS

DOCENTE: VANESSA GOULART SANT’ANA SCARAUSI – NEUROPSICÓLOGA, PSICOPEDAGOGA,


PSICÓLOGA E PEDAGOGA.

Objetivos da disciplina:

1. Entender o conceito da neurociência relacionado ao desenvolvimento do cérebro como uma


ferramenta para educar financeiramente as crianças, jovens e adultos

2. Conhecer e aplicar os aspectos anátomo-fisiológicos e as bases neuropsicológicas de percepção,


movimentação, atenção, memória, fala e pensamento dentro de uma visão do desenvolvimento do
ser humano

3. Reflexão sobre a Neurociência aplicada a crianças, Jovens e Adultos, na prática pedagógica, sob a
perspectiva sócio-psico-antropológico-cultural para a mudança de hábitos e atitudes em relação ao
dinheiro, bem como adaptação e inclusão do aluno/pessoa que apresenta alterações em sua
aprendizagem

LEV VYGOTSKY

Lev Vygotsky nasceu em 17 de novembro de 1896 na cidade de Orsha, Bielorússia. Durante a infância,
Vygotsky foi instruído por tutores particulares, vindo a ingressar numa instituição de ensino aos 15 anos de
idade.
Em 1913 ingressa no curso de Direito da Universidade de Moscou e em 1914 passa a frequentar a
Universidade Popular de Shanyavskii devido a seu interesse pelas disciplinas de filosofia e história.
A Rússia – que há alguns anos já carregava uma história de insatisfação popular a respeito do regime
político vigente – passa, então, por um momento de grande mudança em 1917: a Revolução Russa. Este fato
histórico foi de grande interesse de Vygostky, que estudou as peculiaridades da população e o impacto disso na
revolução.
De 1917 a 1923 vive em Gomel lecionando literatura e psicologia ao mesmo tempo em que abre uma
pequena editora de obras de literatura. É neste período que toma conhecimento de que está tuberculoso.
De volta à Moscou, em 1934 Vygotsky é convidado para Trabalhar no Instituto de Psicologia de
Moscou e, logo em seguida, organiza o Laboratório de Psicologia para Crianças Deficientes.
Os trabalhos de Vygotsky se tornam presentes em publicações do mundo ocidental no período de 1925
a 1939, mas o autor vem a falecer de tuberculose em 11 de junho de 1934, aos 37 anos.
As obras de Vygotsky deixaram de ser publicadas na URSS por motivos políticos de 1936 a 1956,
período mais violento do regime stalinista. No Brasil, a publicação da coletânea Formação Social da Mente se
dá em 1984.
A Teoria Sócio-Histórico-Cultural de Vygotsky

O desenvolvimento da teoria de Vygotsky se deu, especialmente, pela observação do momento


histórico da sociedade Russa da época.
Vygotskty centrou-se na ideia da emergência de “novas formas” de funcionamento psicológico que são
temporariamente estáveis, mas que logo se desintegram e se reorganizam sob determinada orientação social.
Neste modelo explicativo, Vygotsky une tanto os mecanismos cerebrais subjacentes ao funcionamento
psicológico como o desenvolvimento do indivíduo e da espécie humana, ao longo do processo histórico.
É nesta linha de raciocínio que são propostos os três pilares de sua teoria:
- As funções psicológicas* têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral;
- O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o meio exterior, as quais
se desenvolvem num processo histórico;
- A relação homem X mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.

* Função Psicológica (FP) e Funções Nervosas Superiores (FNS) são sinonímias utilizadas em sua teoria.

O cérebro é entendido como “um sistema de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de
funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual”. (OLIVEIRA,
2001) Essa plasticidade é essencial e supõe a presença de uma estrutura básica e flexível estabelecida ao longo
da evolução da espécie que permite ao cérebro servir a novas funções sem que sejam necessárias
transformações do órgão físico.
Vygotsky deu ênfase consistente aos processos de desenvolvimento do psiquismo humano, dividindo as
funções cerebrais em Funções Nervosas Elementares (FNE) e Funções Nervosas Superiores. As Funções
Nervosas Elementares se referem às reações automáticas, às ações reflexas e associações simples de origem
biológica, como por exemplo, a preensão, o choro e o sugar. Já as Funções Nervosas Superiores dizem respeito
às funções tipicamente humanas, a saber, as ações conscientemente controladas, o planejamento, a linguagem, a
memória, a atenção voluntária e a concentração, entre outras.
Para Vygotsky, a compreensão das formas superiores de comportamento devem ser buscadas nas
condições sociais de vida historicamente formadas.
Deste modo, Vygotsky ressalta os conceitos de filogênese e ontogênese. A filogênese é o estudo de
determinado grupo (ex. espécie, população), de sua história e evolução. Um exemplo que ilustra o termo é
nossa constituição bípede que, diferente de outros animais, nos permite, além de caminhar em pé, o uso das
mãos para outras finalidades. Da mesma maneira, o movimento de pinça nos dá a possibilidade de coordenação
fina e uma forma bastante específica de movimento das mãos. Em contrapartida, a ontogênese é a história do
indivíduo da espécie. Assim, refere-se ao desenvolvimento e à vivência particular do ser.
De acordo com o pensamento difundido por Vygotsky, as Funções Psicológicas, apesar de contarem
com um suporte biológico, fundamentam-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo. Assim, a cultura
apresenta-se como parte essencial do processo pelo qual passa o ser humano para a constituição de sua
natureza, transformando-se em um ser sócio-histórico.
As Funções Psicológicas são postuladas em sua teoria como o produto de relações contingentes que
foram mediadas por sistemas simbólicos. Tais sistemas simbólicos proporcionam ao indivíduo a compreensão
do mundo que o cerca, bem como a compreensão de si como parte de um corpo social.
A mediação simbólica

Marta Kohl (2001, p.26) sintetiza as ideias de Vygotsky explicando a mediação como o “processo de
intervenção de um elemento intermediário numa relação”. Deste modo, Vygotsky trabalha com a premissa de
que a relação do homem com o mundo não é direta, mas sim mediada por determinado elemento que serve
como ferramenta auxiliar da atividade humana.
Os elementos mediadores são classificados em dois grupos: (1) instrumentos e (2) signos.
(1) Instrumento – É um objeto social que carrega consigo a função para a qual foi criado e o modo de
utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. Ex: A confecção do machado e do
serrote como instrumentos de corte para peças de madeira.
(2) Signos – São as representações mentais que substituem os objetos do mundo real. Também são
chamados de “instrumentos psicológicos” e têm a mesma ação que os instrumentos no trabalho. A
diferença reside na concepção de que os signos são orientados para dentro do próprio sujeito e são
aplicados no controle das ações psicológicas. Ex: A utilização das varetas para contar o gado permite o
armazenamento de um número que representa uma quantidade e, consequentemente, possibilita o
armazenamento das informações (memória).

É a partir do momento em que o indivíduo desenvolve a representação mental que ele passa de um ser
biológico para um ser sócio-histórico.
Para Vygotsky, o processo de mediação é essencial para tornar possíveis as atividades psicológicas
voluntárias, intencionais e controladas pelo próprio indivíduo (FNS). Neste sentido, ela diferencia o homem dos
animais.

O processo de internalização

É a partir da relação homem X mundo que as marcas externas vão se transformando em processos de
internalizados. Assim, é na relação com o mundo que aprendemos e, consequentemente, nos desenvolvemos
num movimento “de fora para dentro”; passando, então, da relação interpsicológica (nível social) para a relação
intrapsicológica (nível individual).
Cada vez menos o indivíduo vai precisando fazer uso de marcas externas, passando a utilizar
representações mentais que substituem os objetos do mundo real – signos internos. Ex: (1) O uso de material
concreto é substituído pela representação interna de números que, por sua vez, representam conceitos referentes
à quantidade. (2) Se alguém fala a palavra “elefante” temos a possibilidade de criarmos na mente a ideia, a
imagem e o conceito de “elefante”.
A capacidade de fazer representações mentais possibilita ao homem processos mentais (análise,
raciocínio, planejamento) na ausência do próprio objeto.
Vale ressaltar que, para Vygotsky, o desenvolvimento nunca é estático, ele ocorre num processo
dialético.

Pensamento e Linguagem

A linguagem é entendida como um sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, sendo ela
fundamental para a comunicação entre as pessoas e, também, no estabelecimento de significados
compartilhados. Tais significados se referem à possibilidade de interpretar os objetos, eventos e situações do
mundo real.
O intercâmbio social e o pensamento generalizante são papéis críticos atribuídos por Vygotsky à
linguagem. Primeiramente, a função da linguagem reside no desenvolvimento cognitivo (1) ao servir como
veículo primário pelo qual os adultos transmitem modelos culturalmente valorizados a suas crianças e
eventualmente se tornar uma das “ferramentas” (2) mais poderosas de adaptação intelectual em si mesma.
A necessidade de comunicação é o fator que impulsiona, inicialmente, o desenvolvimento da
linguagem. Portanto, a linguagem é, antes de tudo, social. Essa função comunicativa está estreitamente
combinada com o pensamento ao proporcionar a expressão e a compreensão do que se pensa.
A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao mesmo tempo,
organiza o pensamento. Esta organização do pensamento ocorre subordinada à construção de conceitos que
organizam o real e mediam a relação do sujeito com o objeto do conhecimento.
Vygotsky propõe três fases de aquisição da linguagem. A primeira surgir é a linguagem social que,
como seu próprio nome indica, tem por função comunicar e denominar. Em seguida, temos a linguagem
egocêntrica e a linguagem interior, intimamente ligada ao pensamento.
A progressão da fala social para a fala interna, entendida como o processamento de perguntas e
respostas dentro de nós mesmos, representa a transição da função intelectual. É nesta transição que surge o
fenômeno descrito por Vygotsky como a “fala egocêntrica”. Trata-se de uma fala emitida pela criança enquanto
está concentrada em alguma atividade na ausência de um interlocutor. Este monólogo geralmente acompanha a
atividade infantil e é um instrumento para pensar – isto é, apoiar o planejamento de sequências e a solução de
problemas. É como se a criança precisasse falar para resolver um problema que, nós adultos, resolveríamos
apenas no plano do pensamento.
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir o intelecto e os pensamentos começam a
oralizar-se – a fase da fala egocêntrica – é marcado pela curiosidade da criança pelas palavras, por perguntas
acerca de todas as coisas novas (“o que é isso?”) e pelo enriquecimento do vocabulário. Neste momento, a
criança faz a maior descoberta de sua vida: todas as coisas têm um nome.
Se, durante a fase da fala egocêntrica houver alguma deficiência de elementos e processos de interação
social, qualquer fator que aumente o isolamento da criança, iremos perceber que seu discurso egocêntrico
aumentará subitamente. Isso é importante para o cotidiano dos educadores, em que eles podem detectar
possíveis deficiências no processo de socialização da criança.
A progressão da abstração dos sons representa a capacidade de “pensar as palavras” sem precisar dizê-
las e marca, então, o declínio da vocalização egocêntrica. É aqui que se dá início à fase do discurso interior.
Trata-se do “pensamento em palavras”, ou melhor, é quando as palavras passam a ser pensadas, sem que
necessariamente sejam faladas. Já o pensamento é um plano mais profundo do discurso interior, que tem por
função criar conexões e resolver problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É algo feito de
ideias, que muitas vezes nem conseguimos verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as palavras
certas para exprimir um pensamento.
Portanto, podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra; realiza-se nela, ao passo em
que é a linguagem que permite a transmissão do seu pensamento para outra pessoa.
Por fim, vale ressaltar que o pensamento não é o último plano analisável da linguagem. Podemos
encontrar um último plano inferior: a motivação do pensamento, a esfera motivacional de nossa consciência,
que abrange nossas inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, nossos afetos e emoções. Tudo
isso vai refletir imensamente na nossa fala e no nosso pensamento.

Desenvolvimento e Aprendizado: A Zona de Desenvolvimento Proximal

Em termos de desenvolvimento humano e aprendizagem, Vygotsky não formulou uma teoria


estruturada em termos de estágios ou fases que explicassem o percurso da construção psicológica. Contudo,
Vygotsky oferece reflexões em que o aprendizado é compreendido como fator que possibilita o despertar de
processos internos de desenvolvimento.
O papel do outro social no desenvolvimento dos indivíduos é demonstrado num conceito específico
formulado por Vygotsky. Trata-se do conceito de zona de desenvolvimento proximal ou zona do próximo
desenvolvimento, em que a relação entre desenvolvimento e aprendizagem é facilmente demonstrada.
De modo geral, quando nos referimos ao desenvolvimento de uma criança, descrevemos o que ela já
sabe fazer sem apoio de terceiros. A estas aquisições consolidadas Vygotsky dá o nome de desenvolvimento
real.
Porém, Vygotsky chama a atenção para a necessidade de conhecermos as possibilidades de
aprendizagem da criança em curto e médio prazo, pois a atuação dos profissionais não se dá sobre aquilo que a
criança sabe, mas sim sobre o que ela ainda não sabe. A este espaço entre o não saber ou o saber mais ou menos
e o desenvolvimento é que Vygotsky chama de zona de desenvolvimento proximal (ZDP). Refere-se à
capacidade de desempenhar tarefas com o apoio de pessoas mais capazes, adultos ou pares.
A zona de desenvolvimento proximal diz respeito às funções que não amadureceram, mas que se
encontram num processo embrionário de maturação. É a partir da estimulação e do contato social que esta
maturação irá se formalizar.
Vale ressaltar que não é qualquer tarefa que pode ser realizada com a ajuda do outro, já que o benefício
da colaboração do outro vai ocorrer num certo nível de desenvolvimento, mas não antes. Isto demonstra que
Vygostky entende o desenvolvimento como fruto da aprendizagem que ocorre numa interação dialética entre o
meio externo e interno do ser.
Assim, é justamente nesta zona de desenvolvimento proximal que a aprendizagem irá ocorrer,
despertando o desenvolvimento de estruturas psicológicas que futuramente se consolidarão como
desenvolvimento real e, consequentemente, darão espaço a novas possibilidades de desenvolvimento (ZDP).

A evolução da escrita na criança

Vygotsky descreve a aquisição da escrita como um processo importante na compreensão da escrita em


si e a aborda sob o título de Pré História da Linguagem Escrita.
Inicia seus estudos afirmando que, como condição principal de desenvolvimento da escrita, a criança
deve entender que a escrita é um sistema de signos que não tem significado em si, mas que apresenta função
instrumental, além de funcionar como suporte à memória e transmitir ideias e conceitos.
A partir de suas pesquisas com Luria, Vygotsky delineou o percurso da pré história da escrita, dividida
em: rabiscos mecânicos, marcas topográficas e representações pictográficas.
Os rabiscos mecânicos se dão por produções da criança em que há a tentativa de imitar o formato da
escrita do adulto, baseando-se no que vê. No passo subsequente a criança passa a compreender a natureza
instrumental da escrita. Por isso, a criança obedece ao ritmo da fala, fazendo marcas pequenas para representar
sons pequenos e marcas grandes representando frases com som longo. Além disso, a criança também fará uma
espécie de mapeamento do material a ser lembrado, ou seja, a posição de cada rabisco no papel dará a pista
necessária para que a criança se lembre de qual palavra foi escrita cumprindo, então, a função de suporte à
memória. A esta fase Vygotsky nomeia de marcas topográficas.
Na próxima fase a criança fará uso de desenhos estilizados como fora de escrita, chamada de
representações topográficas. Aqui os signos servirão como mediadores que representam conteúdos
determinados. E, por fim, da representação pictográfica a criança passa à escrita simbólica, assimilando os
mecanismos da escrita disponíveis em determinada cultura.
A seguir, serão apresentadas algumas das pricipais Funções Nervosas Superiores. Cabe lembrar que,
dependendo dos autores estudados, poderão ser designadas outras funções em complemento às relatadas.

Atenção:
Trata-se de uma função que prepara o homem para a percepção ou atividade, interferindo na realização prática
de toda e qualquer tarefa. A atenção permite que a percepção seja reconstruída continuamente que a pessoa se
liberte da percepção mais imediata.
A tarefa mais importante da atenção é proporcionar a distinção de estímulos importantes de estímulos
acessórios, assim o ser humano se foca nos dados mais importantes de um exercício, por exemplo.
Em nossa vida, inicialmente temos a atenção mais elementar, é a atenção que é atraída pelo chacoalhar de
objetos, por exemplo. Assim, ela ocorre de modo não intencional e não volitivo (sem o componente da
vontade). Podemos chamá-la de atenção basal, instinto-reflexiva ou atenção involuntária: qualquer estímulo
forte e repentino atrai imediatamente a atenção da criança e reconstrói seu comportamento.
Já a atenção como FNS tem caráter volitivo e se desenvolve no meio histórico-social. Ela é diretiva e seletiva,
corresponde às nossas intenções, interesses e focada na resolução de uma determinada tarefa. A irregularidade
de neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) pode interferir bastante na atenção, levando a pessoa a não
separar estímulos importantes dos acessórios, bem como a não identificação do que é figura e o que é fundo.
Entre 2 e 3 anos de idade há mudança qualitativa da atenção: observa-se que diante da intervenção verbal do
adulto há desenvolvimento, organização e direcionalidade, ou seja, há constituição do processo atencional.
Para se ter ideia da importância da atenção, podemos citar ela em relação à outras funções. Em trabalho ativo
com a linguagem, por exemplo, a atenção permite compreender não apenas as palavras, mas o pensamento do
outro. Trabalhando em conjunto com a memória, a atenção direcionada (focada) facilita à pessoa guardar

informações.
Khomskaya (2003) enfatiza diversos tipos de atenção: Atenção sensorial, Atenção motora, Atenção emocional,
Atenção intelectual.
Também podemos separar a atenção em: Atenção concentrada / sustentada e Atenção dividida.
Um transtono comum que afeta a atenção é o Transtorno de Déficit de Atenção, que pode ou não vir
acompanhado de Hiperatividade. Acometimentos na área frontal também poderão atrapalhar a pessoa no
processo de estar atento voluntariamente a um esímulo.

Percepção:
A percepção é uma atividade psicológica que envolve informações das várias modalidades sensoriais e
possibilita a construção de cenas e situações presentes, passadas e futuras.
A percepção, assim como as demais funções cerebrais, ocorre nos três blocos funcionais, sendo que o primeiro
bloco se subordina ao segundo e este, ao terceiro bloco:
1º bloco funcional: nível adequado de atividade cerebral
2ª bloco: processamento da informação visual, analisando-a em comparação com demais aprendizagens
3º bloco: intenção de olhar, mobilização do corpo (especialmente dos olhos) para que a percepção plena
aconteça
Quando olhamos para um quadro, por exemplo, percebemos diversos componentes que formam a imagem
apresentada, dentre eles:
Tamanho: Mantém-se mesmo com maior ou menor distância
Forma: Mantém-se independentemente do ângulo
Cor: Ignora-se a luminosidade e mantém-se o conhecimento cromático já internalizado.
Ao nascer, a percepção não está presente e o mundo é indiferenciado de nosso corpo. Aos 1 mês ½ há início da
coordenação de olhos, aos 2 meses ocorre a adaptação a estímulos do meio, aos 2 meses ½ se dá o
reconhecimento de rostos e aos 4 ou 5 meses a criança reage ativamente aos estímulos, dando início à
percepção mais elaborada.
Alterações da percepção se observam nos lobos sensitivos, causando diversos problemas como: agnosia (perda
da habilidade de reconhecer um objeto), cegueira, hemianopsia, quadrantanopsia, etc.

Memória:
Trata-se da habilidade de armazenar informações no cérebro, bem como evocá-las.
A memória como função elementar é involuntária, de curtíssimo tempo, fragmentada e não integrada. Deste
modo, observa-se que um objeto que é retirado da frente do bebê logo é esquecido.
Com o passar do tempo, a rotina e a repetição irão favorecer o desenvolvimento da memória como FNS,
assumindo a capacidade de guardar muitas informações que serão relevantes em outro momento da vida. Uma
vez consolidada, raramente uma memória é esquecida, mas pode sofrer alterações qualitativas.
De modo geral, podemos separar a memória em três tipos:
Memória Instantânea
Impressão curta de vestígios e sinais, com alguns segundos de duração.
Memória Operacional
Processos de fixação duram alguns minutos.
Memória de Longo Prazo
Caracteriza-se pelo armazenamento prolongado de informações, que pode durar uma vida inteira.
O que na infância era recordado pela simples lembrança, quando adulto a recordação se dá por processos
lógicos de análise de uma situação, por exemplo.
A memória é difusa, demandando trabalho em conjunto de diversas áreas cerebrais, especialmente das áreas
sensoriais. Sabe-se que o hipocampo está presente neste processo de lembrança.
Alterações da memória podem ser observadas como segue:
Hipomnésia:
Enfraquecimento da memória. Ex: Alzheimer, outras doenças cerebrais como a esclerose vascular cerebral.
Paramnésia:
Déjà vu – sensação de reconhecimento de objetos ou situações nunca vistos (enganos da memória).
Hipermnésia:
Aumento do volume de memorização.
Amnésia:
Incapacidade de lembrar.

Orientação:
Trata-se da habilidade de conhecer a si, o espaço e o tempo, organizando-se a partir disto.
A capacidade de orientação permite a localização de si no espaço, bem como a compreensão de conceitos como
o de profundidade e perspectiva, formando imagens em 3D e nos organizando no meio. Além disso, permite
ideias como noção de tempo (que horas são), conceito de presente, passado e futuro, ordem sequencial, entre
outros.
Alterações da orientação são percebidas em distúrbios metabólicos ou tóxicos que afetam o cérebro, lesões em
regiões parietais inferiores e parieto-occipitais, desorientação demencial e labirintite, por exemplo.
Funções motoras:
É o conjunto de movimentos espontâneos que progride a partir de dois sistemas: cefalocaudal e próximo-distal.
Isto significa que a função motora elementar se modifica e evolui em função motora superior sempre partindo
do amadurecimento de estruturas próximas ao Sistema Nervoso Central em direção às extremidades.
Em termos cerebrais, as funções motoras compreendem:
• Áreas basais: tono e força muscular
• Divisão occipito-parietal: coordenação visuo-espacial
• Áreas pré-frontal: definição da ação
• Áreas pré-motoras: organização dinâmica
• Área motora: praxia
• Cerebelo: regulação da praxia
O amadurecimento das estruturas nervosas permite que a criança, aos 3 anos, possa realizar a cópia de traços, o
empilhamento de objetos e desenvolva o equilíbrio.
Ao 5 ou 6 anos, notamos:
 Dominância lateral de olhos, mão e pés.
 Capacidade de equilíbrio estático e dinâmico.
 Verificação da necessidade ou não de uso de apoios.
 Subir e descer escadas com exatidão.
 Andar na ponta dos pés, apoiar-se num pé só.
 Realizar saltos e ultrapassar obstáculos.
Alterações nas funções motoras podem ser observadas em distúrbios decorrentes de alterações genéticas,
congênitas ou adquiridas. Ex. Falha na integração inter-hemisférica, encurtamento muscular, ataxia cerebelar,
AVC nas regiões motoras.

Pensamento:
Processo mental que permite a reflexão e a modelagem do comportamento, levando em consideração regras
sociais, criatividade e interesses, entre outros.
Para um bebê, o mundo se restringe ao seu próprio corpo e a tudo que lhe proporcione conforto. A atividade
primitiva de imaginação e de suas vivências são confundidas com a realidade. Assim, a linguagem dará base
para o pensamento: generalização e abstração.
Observamos uma fase pré-verbal do pensamento em que há uma inteligência primária: lógica primitiva,
sem confrontos suficientemente sérios com a realidade. Aqui a criança consegue resolver problemas
simples, como dar a volta na mesa para retirar um brinquedo que ficou obstruído. Neste momento em que a
linguagem não existe, são observadas manifestações verbais - choro e riso como alívio emocional, contato
social e comunicação.
No pensamento da criança ainda há dissociação do mundo e concentração em seus próprios interesses e
prazeres. Seus pensamentos são egocêntricos e ilusórios, assim como o pensamento é um reflexo imediato
do mundo ingenuamente percebido.
Já no caso do adulto, o pensamento se constitui como função superior regido por leis de associação
complexas que dependem da acumulação de experiências e de inferências a partir da generalização. Assim,
o pensamento passa pelo crivo da contradição.
O pensamento como FNS é composto de:
 Necessidade de solução a uma determinada tarefa.
 Refreamento de respostas impulsivas.
 Investigação e análise de seus componentes.
 Seleção de alternativa dentre várias e criação de plano geral para a execução da tarefa.
 Comparação de resultados obtidos.
Alterações no pensamento ocorrem quando há algum acometimento nas áreas:
Segundo bloco funcional:
Responsável pelas condições operantes para a atividade intelectual.
Terceiro bloco funcional:
Aparelho essencial para a organização da atividade intelectual como um todo.
Inclui a programação do ato intelectual e a verificação da execução.

Linguagem:
É definidade como um processo de comunicação, ou seja, uma troca de ideias e informações num ambiente
contingente. Trata-se de uma função especificamente humana.
Tipos:
• Expressiva: fala verbal e escrita
• Impressiva: compreensão oral e escrita
A linguagem verbal se dá, principalmente, na comunicação entre as áreas de Wernicke e Broca, sendo o
giro temporal esquerdo responsável pela compreensão da linguagem (área de Wernicke) e a fala controlada
por uma área específica do lobo frontal esquerdo (área de broca). Embora a análise da linguagem ocorra de
modo lógico no hemisfério esquerdo, a linguagem também é composta de componentes como a tonalidade
e outros indícios que são verificados pelo hemisfério direito. Assim, os dois hemisférios trabalhando em
harmonia dão o tom da comunicação como um sistema completo.
A linguagem tem relação estreita com o pensamento: um possibilita a expressão do outro.
A linguagem tem como funções básicas:
1) Intercâmbio social: comunicação com seus semelhantes.
2) Pensamento generalizante: formação de conceitos (palavra “cachorro” usada para determinar um objeto
e colocá-lo numa determinada categoria).
Um fator riquíssimo da linguagem é o processo de retroalimentação: quanto mais eu falo, mais me aproprio
deste pensamento. Assim, quando explicamos o conteúdo de uma disciplina ao nosso colega, notamos o
quanto nos desenvolvemos e compreendemos ainda melhor aquele conteúdo, como se fosse nossa
produção.
Temos basicamente três tipos de linguagem:
• Linguagem social: Tem a função de comunicar algo, ex: A criança diz: “Papá!”
• Linguagem egocêntrica: Tem a função oralizar os pensamentos, ou seja, colocar o pensamento em
palavras. Ex: A criança diz: “Eu quero isso!”
• Linguagem interior: Tem a função de discurso individual, “pensando em palavras”. Ex: A criança
pensa: “Eu quero comer algo”
As alterações da linguagem são diversas, que abrangem tanto a compreensão, como a expressão de si.
Temos como exemplos:
• Disartria
• Dislalia
• Disfemia
• Disfonia
• Alalia
• Mutismo
• Afasias
• Dislexia
• Anomia
• Disgrafia
• Disortografia
Bibliografia:
DOMINGOS, Reinaldo. Como falar de dinheiro com seus filhos. São Paulo: DSOP educação Financeira,
2013. Coleção dinheiro sem segredo, v. 11.

DOMINGOS, Reinaldo. Mesada não é só dinheiro: conheça os 8 tipos e construa um novo futuro. São
Paulo: Editora DSOP, 2015.

DRUCKERMAN, Pamela. Crianças francesas não fazem manha: Os segredos parisienses para educar os
filhos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. p.23.

KHOMSKAYA, E. D. Neuropsicologia. Moscou: Editiora Zao Piter, 2003.

LURIA, Aleksandr Romanivich. Fundamentos de Neuropsicologia. Trad. Juarez Aranha Ricardo. São Paulo:
Ed. Da Universidade de São Paulo, 1981.

MARANGONI, Simone; RAMIRO, Vanda Cianga. Fundamentos da Neuropsicologia Sòcio-Histórica: a


compreensão do desenvolvimento cognitivo e sócio emocional do humano. São Paulo: IPAF Editora, 2012.

STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2015.

WADSWORTH, Barry J. Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget. São Paulo: Pioneira,
1997.

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