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Entrando em contato com o

momento presente

“Nosso verdadeiro lar está no momento presente.”


Thich Nhat Hanh

rincipais objetivos para entrar em contato com o momento presente:

Ajudar os clientes a descobrir que a vida está acontecendo no aqui e agora e ajudá-los
a retornardo passado ou do futuro conceitua l
para o agora. =
Ajudar os clientes a fazer contato com a vida enquanto ela está acontecendo no mo-
mento, seja ela cheia de tristeza ou alegria.
Ajudar os clientes a desenvolver a capacidade de atender à sua expetiéncia de manci-
ta mais flexivel, fluida e voluntaria.
Ajude os clientes a perceber o que está acontecendo em seus relacionamentos no
momento.

A vida é sempre vivida aqui e agora. Não há nada que possa ser experienciado dirctamente a
não ser o momento presente. Todo o resto é uma representagao conceitual — um esbogo, um
Ppensamento, um plano, uma memória, uma imagem desenhada. E mesmo que tudo isso se re-
fira a futuros ou passados imaginados, eles só podem ser‘expetienciados no momento preseate.
A capacidade de considerar o passado e planejar o futuro é essencial para os seres humanos e é
F—_—

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útil na maior parte do tempo. No entanto, surgem problemas porque as pessoas tendem a ficar
excessiva ¢ rigidamente absorvidas no futuro ou no passado e perdem contato com o presente,
Quando sob o domfnio da fusão cognitiva, as pessoas tendem a interagir com esses futuros e
passados conceitualizados como se estivessem realmente acontecendo e como resultado po-
dem acabar gastando pouco tempo no aqui e agora. A ACT sugere que o problema não é que
precisamos eliminar o pensamento sobre o futuro ou o passado, mas que as pessoas precisam
ser flexiveis: estar no presente quando um foco presente funciona melhor, pensar no futuro
quando o planejamento tem mais funcionalidade e no passado, quando a lembranga é a melhor
opção. No entanto, ajudar os clientes a estar no aqui e agora é particularmente importante, por-
que é onde que novos aprendizados ocorrem. É onde as oportunidades oferecidas pelo meio
ambiente podem ser descobertas.
Um dos principais alvos da ACT é ajudar os clientes a abandonar a luta com sua histéria
pessoal, bem como sentimentos, pensamentos e sensacdes indesejados, para que possam ir em
frente e se envolver no processo continuo da vida que ocorre momento a momento. O contato
com o momento presente refere-se, portanto, ao processo de ajudar os clientes a sair rotineira-
mente do mundo, estruturado por seus pensamentos. Nesse processo, o cliente vai entrar em
contato mais direto, pleno e consciente com o aqui e o agora, incluindo contato sensorial com
o mundo externo e com os processos continuos de pensat, sentir, perceber e lembrar.

O que é contato com o momento presente?


Compatecer no momento presente envolve trazer consciéncia para as experiéncias internas e
externas 2 medida que ocorrem no aqui e agora. Esse tipo de foco € criado pela observagio ou
percepção do que surge dentro da consciéncia, momento a momento. Por exemplo, ao prestar
atenção A sua experiéncia externa e interna, vocé pode primeiro ouvir o som de um péssaro,
seguido pela visão de uma cor amarela na pétala de uma flor, e entio pela sensação de seu pé
tocando o chio e, subsequentemente, de um pensamento (iso é bom), seguido pela sensação
de coceira e assim por diante. Cada uma dessas experiéncias é percebida 4 medida que ocorre.
Nesse processo sem esforco, caracterizado pelo desapego, as experiéncias surgem e depois
desaparecem.
Entrar em contato com o momento presente é fácil e dificil ao mesmo tempo. É ficil vol-
tar a atenção para uma experiéncia, mas ¢ dificil manté-la na experiéncia continuamente. Nossas
mentes são rapidamente sugadas para longe daquele momento enquanto somos atraidos repe-
tidamente para um mundo virtual estruturado por pensamentos. Como isso acontece rapida-
mente, é preciso pratica para permanecer presente. Na ACT, os clientes são solicitados a praticar
numerosos exercicios de desfusio, aceitação e mindfulness para ajudar a aumentar sua capacidade
de permanecer presente. Note-se que nem mesmo aqueles que praticam intensamente podem
permanecer presentes o tempo todo. De fato, o processo de percepgio do momento presente en-
volve o desenvolvimento da capacidade e habilidade de observar quando a mente vagou e depois
retornar 20 momento presente, além de reconhecer que é quase impossivel permanecer presente
o tempo todo. Observe também que os terapeutas da ACT ajudam os clientes a desenvolver ha-
bilidade de se focarem no presente nao porque eles devem estar sempre no momento presente,
mas para que eles possam fazer isso quando for útil (p. ex., na presenga de uma experiéncia avet-
siva que restringe comportamento de maneiras impraticiveis). Perceber o momento presente é
recomendado n2o apenas porque é onde a vida é realmente vivida, mas também porque promove
uma vida baseada em valores devido a aumentar a flexibilidade psicologica.
Aprendendo ACT 149

Um dos objetivos importantes de trabalhar com a consciência do momento presente é


ajudar os clientes a desenvolver a capacidade de desenvolver a sua experiência de maneira mais
exivel, fluida e voluntária. Por exemplo, às vezes é necessária atenção focada em um estimulo
específico (como na leitura de um livro didático), mas às vezes também é necessária uma am-
itude de atenção, em que a conscientização é expandida para incluir estimulos diferentes do
foco presente (como observar que a aula começou e voltar a atenção para o professor). Assim
como em todos os processos de flexibilidade, um dos principais objetivos de trabalhar com a
— atenção no momento presente é aumentar a flexibilidade dos clientes de maneira a levar a um
comportamento efetivo no contexto.

Por que entrar em contato com o momento presente?


Conforme observado no Capítulo 3, uma grande quantidade de sofrimento pode resultar da
fusão com os pensamentos ou de se envolver com o pensamento de alguém. Quando os pen-
samentos são vistos como negativos, geralmente são avaliados como prejudiciais, levando as
' pessoas a se envolverem em esforços para eliminar ou reduzir essas experiências indesejadas.
vezes, é como se pensamentos ¢ experiências deixassem de fluir, já que quase nos torna-
mos essas experiências e somos fantoches para suas demandas. Tornamo-nos tão fortemente
investidos na compreensão de um “problema” e na busca da solução que começamos a nos
perder no passado e em nossas crenças, em um esforço para descobrir tudo. Também podemos
gastar grandes quantidades de tempo no futuro, pensando ou nos preocupando com o que
pode acontecer a seguir. Quando somos pegos nesses mundos conceitualizados, tendemos a
perder as oportunidades que estão presentes no aqui e agora. Voltando ao momento presente,
observando e descrevendo nossa experiência atual de maneira consciente e sem julgamentos,
nos coloca de volta em contato com nosso contexto e nos ajuda a estar presentes, criando as
condições necessárias para agirmos de acordo com nossos valores.
d O contato com o aqui e agora também enfraquece a evitação e a luta. Se estivermos
conectados ao momento presente, geralmente não temos com o que lutar. Muito do que está
presente é, por si só, não ameaçador. Sentimentos, pensamentos, sensações, impulsos, etc. são
simplesmente experiências a serem observadas. Quando perdemos o contato com o presen-
te, podemos perder a consciência e acabar enredados na mente, excessivamente absorvidos
em avaliações, julgamentos e avaliações sobre nossos sentimentos, pensamentos e sensações,
criando softimento desnecessário. Portanto, o contato com o momento presente enfraquece a
fusão, incluindo o apego a um eu conceitualizado.
Estabelecer a capacidade de conscientização flexivel e fluida da expetiéncia contínua é
essencial para responder efetivamente aos desafios da vida. Não há regra específica sobre como
vViver efetivamente em todas as situações. Os indivíduos precisam encontrar seu próprio cami-
nho para viver uma vida que funcione para eles. Dessa forma, para responder com flexibilidade
aos desafios da vida, é importante que as pessoas saibam algo sobre seus padrões idiossincra-
ticos de comportamento, inclinações, respostas emocionais e vulnerabilidades. É a consciência
do momento presente (geralmente no contexto de outras pessoas que nos respondem) que nos
permite conhecer a nós mesmos. De fato, abrir espaço e abraçar emoções difíceis nos permi-
te aprender com o que eles têm a nos dizer. Por exemplo, a consciência da tristeza profunda
pode apontar para algo que perdemos (p. ex., um amigo importante se afastou) e indicar o que
é importante (que valorizamos relacionamentos intimos). Assim, a percepção do momento
presente envolve curiosidade e aprendizado com nossas emoções e outros comportamentos.
R ee ) » GS “

150 Entrando em contato com o momento presente

Por outro lado, ignorar ou suprimir nossas emoções geralmente leva falta de autoconsciéncia
e à incapacidade de responder a nós mesmos de maneira cuidadosa, gentil e sensivel as nossas
próprias dificuldades e vulnerabilidades.
Estar presente tem uma qualidade vital, criativa e conectada. Se estivermos no momento,
e não no passado ou no futuro, nossa capacidade de receber ou absorver o que ocorre na vida,
enquanto deixamos de lado o desejo de fazé-lo it ou vir, é ampliada. Quando estamos presen-
tes, aprendemos com a experiência que emoções dificeis podem ser sentidas e que não sio
destrutivas. É quando lutamos contra pensamentos ou sentimentos, desejando que eles sejam
de outra forma, que o dano ocorre. Em um extremo, essa batalha destrutiva pode assumir a
forma de comportamento suicida, estimulada pela fusio com um futuro aparentemente som-
brio e sem esperanca. No outro extremo do espectro, ele pode assumir formas sutis, como se
afastar silenciosamente de um relacionamento para evitar dor. Ao experimentar pensamentos e
emogdes do ponto de vista de “Estou tendo essa experiéncia agora”, somos libertados de ser-
mos controlados por nossa dor e histéria. Dessa posição, a necessidade de entender, resolver e
eliminar experiéncias internas dificeis diminui ou se dissolve. Podemos escolher com base em
nossos valores, e não na noção de que algo deve primeiro ser diferente em nossas vidas antes
que possamos escolher.
Assim, “h4 tanto no viver em um momento de dor quanto em um momento de alegtia”
(Strosahl et al., 2004, p. 43). No entanto, os clientes geralmente assumem a posicio de que
suas vidas só podem comegar quando finalmente se sentirem melhores — um formato que
falha em reconhecer que a vida está ocorrendo no agora. Cada momento estd aqui para ser
vivido. Quaisquer que tenham sido os eventos histéricos que aconteceram, aconteceram. Não
há como voltar atris e desfazer esses eventos. A história é unidirecional, passando de um mo-
mento para o outro. As pessoas não podem voltar e ter outra histéria. Do ponto de vista da
ACT, argumentarfamos que o tempo é gasto melhor no momento presente e é a partir dessa
perspectiva que vocé pode ajudar seus clientes a dar vida a seus valores.
Deixar o passado para tris é tão importante quanto deixar o futuro conceitual ir embora.
Quaisquer eventos que possam acontecer no futuro ainda nio aconteceram. Além disso, nin-
guém pode prever com precisão o que vira, e as pessoas costumam se surpreender com o que
o futuro traz. Muitas vezes, não ¢ o que desejivamos ou esperávamos. No entanto, podemos
tomar ações especificas para criar uma vida mais completa, profunda e rica. No momento,
podemos optar por participar de ações consistentes com valores, trazendo significado pessoal
a cada momento. Isso não significa que as coisas vão sair exatamente como pretendemos ou
imaginamos. No entanto, isso não torna o esforço menos valioso. Suponha que vocé possa
optar por passar um ano vivendo alinhado com seus valores, mesmo com dor, ou passar esse
ano lutando contra a dor. Qual vocé escolheria? Geralmente, é ficil responder a essa pergunta,
inclusive para clientes. Se as pessoas gastam seu tempo tentando nio sentir ou pensar em algo,
então estão essencialmente tentando ser algo diferente do que são. No entanto, se eles dedi-
carem seu tempo a viver com consciéncia e com intengdes de realizar ações guiadas por seus
valores, sua vida serd imbuida de significado e propésito.
Além disso, é no momento presente que as pessoas desenvolvem autoconhecimento
flexivel e fluido (Hayes et al., 2012). Como grande parte das experiéncias ptivadas pode ser do-
lorosa, as pessoas frequentemente evitam perceber seus préprios pensamentos, sentimentos €
tespostas. Isso tem custos significativos em termos de viver bem e responder com flexibilidade.
Ao assistir a0 presente, as pessoas aprendem mais sobre simesmas, quais são suas reagoes €
como responder e regular seu comportamento de maneira hábil.
Aprendendo ACT 151

Quais sinais de que devemos trabalhar com esse processo?


Os terapeutas da ACT gastam uma quantidade significativa de tempo ajudando os clientes a
desenvolver uma habilidade mais forte de retornar ao momento presente por meio de exer-
cícios estruturados, como meditação mindfulness e trabalhando com o momento presente na
sessão. É provável que o foco na conscientização do momento presente seja especialmente
útil quando os clientes exibem os seguintes comportamentos:

* Eles parecem desconectados de seus sentimentos ou perdidos em pensamentos.


* Eles não conseguem descrever sua própria experiéncia, indicando evitação ou fusão
crônica.
* "Tornam-se intelectuais demais na terapia, desejando entender mentalmente e não por
meio da experiência.
* Eles falham em responder 20 que estd acontecendo no relacionamento com o tera-
peuta.
* Falar do passado ou do futuro produz confusio com preocupagdes, ruminacdes ou
previsdes ansiosas sobre o futuro.
* Eles não percebem oportunidades de vida baseada em valores e escolhas em seus
contextos atuais.
* Eles culpam os outros, em vez de perceberem seu préprio comportamento e seus
efeitos.
Os terapeutas também podem usar suas préprias reagdes na sessio como indicadores de
que um foco no momento presente pode ser justificado. Um indicador possivel é quando a
atenção do clinico está divagando, o que pode ser devido ao cliente estar distante, à sensação
da sessão ser previsivel ou prolixa ou cheia de papo furado, sem nada a acrescentar. As reações
do clinico, como atencio flutuante ou tédio, também podem surgir de aspectos idiossincriticos
da propria histéria ou contexto de vida do terapeuta (p. ex., algo acontecendo na vida pessoal),
não necessariamente algo relacionado ao cliente. No entanto, as reagdes do clinico podem in-
dicar algo sobre o cliente, portanto, é aconselhdvel usar-se como um parimetro para conceituar
0 caso ¢ ajudar a orientar o tratamento.
As habilidades de consciéncia do momento presente são desenvolvidas para aju-
dar os clientes a entrar em contato rotinciramente com o aqui e agora. No entanto, não
é esperado que eles entrem em contato com estimulos literais no momento presente o
tempo todo (p. ex., ouvir sons como sons, ver pensamentos COMO pensamentos, sentir
sensagdes como sensagdes). Na verdade, é util poder considerar o futuro ou pensar no
passado. O objetivo é ser capaz de fazé-lo de maneira flexivel — sem ficar preso à rumi-
nação ou preocupagio, e quando retornar ao presente, que isso ajude a apoiar objetivos
baseados em valores.
A decisio de focar na consciéncia do momento presente na sessio é influenciada
pela conceitualizagio do terapeuta em relagiio aos comportamentos do cliente na sessio
em virios niveis (para mais informações, consulte o Capitulo 8, sobre conceitualizagio
de caso). Para esclarecer isso, vamos ver um exemplo. Imagine uma cliente que acabou de
comegar a falar sobre como está frustrada com o filho. Tsso pode ser visto simplesmente
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como um relatório do que está acontecendo na vida dela e usado


apenas para fins informa-
tivos. Como alternativa, isto pode ser visto como uma amostr
a do comportamento social
da cliente, indicando que ela tende a se envolvet em coment
ários ruins e criticos sobre
outras pessoas, o que prejudica suas relações sociais. Ou, se
o comportamento de falar so-
bre sua frustração com o filho imediatamente seguisse pistas
que poderiam ter provocado
emoções difíceis, ele poderia ser visto funcionalmente como
um comportamento de evita-
ção. E, também, pode ser um comentário sutil sobre
o relacionamento terapêutico, com o
cliente implicando que o terapeuta não está sendo útil ou que
a terapia não está atendendo
às suas preocupações. Dependendo do nível escolhido pelo
terapeuta, mover o foco tera-
pêutico para a consciência do momento presente pode ser
mais ou menos relevante. Por
exemplo, se o terapeuta vê isso principalmente como um exemp
lo de evitação experiencial,
ele pode interromper gentilmente o cliente e Perguntar:
“O que aconteceu antes de você
começar a falar sobre seu filho?”. Para trazer o cliente de volta
aos processos do momento
presente que ocorrem na sala.

Qual é o método?
Talvez o método com o qual a maioria dos terapeutas esteja
familiarizada para formar a
consciência do momento presente seja por meio de prátic
as formais, como várias técnicas
de meditação da atenção plena. Embora a ACT inclua esses
tipos de exercícios estrutura-
dos e os terapeutas geralmente incentivem os clientes a desen
volver uma prática formal
de mindfulness, se estiverem interessados em fazê-lo, a ACT
também fornece orientação
sobre outras maneiras de aumentar a consciência do momen
to presente. À seguir, explo-
ramos três contextos projetados para apoiar a conscientização
do aqui e agora: fazendo
exercicios estruturados, entrando em contato com o
momento presente durante o fluxo
contínuo da terapia e entrando em contato com o mome
nto Ppresente no contexto da re-
lação terapêutica.
No entanto, antes de iniciar essas abordagens, muitas vezes
é necessário apresentar aos
clientes o processo e a importância da consciência do momen
to presente. Aqui está uma ma-
neira de fazer isso (inspirado em Wilson, 2008).

Terapeuta: Parte do que acontece quando estamos com dificuldades


é que interagimos com nossa vida
interna como se fôssemos um problema de matemática
a ser resolvido. No entanto, nem
sempre é útil tratar tudo na vida como se fosse um probl
ema de matemática. Muitas coisas
são mais como o pôr do sol. Não dá certo tratar o Por do sol
como problema de matemática.
Fazendo isso, o que acontece? Pode Parecer uma conver
sa de comadre na nossa cabeça que
Jica mais ou menos assim: “Hmm, esse vermelho não
é tão bom quanto o vermelho que vi no
outro dia naquela pintura. Seria bom se 'fosse um pouco
mais claro. E se essa nuvem pudesse
ser um pouco mais em cima, seria melhor. E se desse
pra mudar essa tonalidade púrpura
mais para ld, gostaria ainda mais desse Por do sol”.
Vocé pode ver como essa maneira de
se relacionar com um pér do sol não funciona muito bem?
Parece que o que o por do sol
precisa é que simplesmente apare¢amos, estejam presen
tes e testemunhemos. E se muitas
das coisas com as quais vocé luta no seu mundo interno
ndo precisam da sua atengdo como.
um problema de matematica? E se eles simplesmente precis
assem que vocé aparecesse como
Jaria com um pôr do sol? Se for esse o caso, entdo parte
do que queremos fazer na terapia é
diminu ir o ritmo... Olhar... Sentir... Perceber o que realmente aparec
e em sua experiéncia e
aprender com isso, em vez de simplesmente operar
na vida com base no que sua mente tem
a dizer.
Aprendendo ACT 153

— Usando exercícios estruturados para desenvolver a consciência


do momento presente
Normalmente, os clientes têm dificuldade de se conectar com um senso de eu que não se foca
nas avaliações ou qualidades do eu (p. ex., “Estou triste”, “Sou Rafa”, “Sou alto”). À onipresen-
çaea persistência dos comentários verbais privados dos seres humanos obscurecem a distin-
ção entre o eu como conhecedort e o eu como conhecido. O contato com o momento presente
ajuda os clientes a desenvolverem uma conexão com o senso de eu que está sempre mudando,
fluindo e, portanto, flexível, ou eu como processo, isso quer dizer, de forma não julgadora, pre-
sente, que descreve os pensamentos enquanto surgem, sentimentos e outros eventos privados
(Hayes et al., 2001).
Uma das manciras mais fáceis de ajudar os clientes a entrar em contato com o eu
— como processo é por meio de exercícios estruturados de atenção plena, nos quais o cliente
deve observar gentilmente, sem julgamento, um evento específico ou um conjunto contínuo
de eventos que ocorrem sob sua pele ou no ambiente. O mindfulness do pensamento é
frequentemente o objetivo. Para esse fim, um exercício útil que pode ser usado de
— olhos fechados é o Folhas flutuantes no rio (Hayes & Smith, 2021; visite http://www.
newharbinger.com/39492 para obter uma gravação em áudio para download deste exercício
[em inglés]). Nesse exercício, pede-se aos clientes que se imaginem sentados ao lado de um
rio ou riacho. Eles são convidados a imaginar folhas flutuando na água. À medida que essas
folhas passam, os clientes são convidados a colocar cada pensamento que tiverem em uma
- delas e depois observá-la passar. Se os clientes perceberem que estão sendo fisgados por um
ensamento (enredados ou presos nele) e levados com eles de forma que não estejam mais
observando seus pensamentos, eles são convidados a reconhecer o que ocorreu e, então,
gentilmente voltar a colocar pensamentos nas folhas e as observar passar. Em momentos
com um ritmo que combina com o fluxo do exetcicio, o terapeuta pode oferecer orientação
a esse respeito, dizendo algo como “Observe se sua mente se desviou para outras coisas.
Observe se foi pego por um pensamento. Nesse caso, traga-o de volta gentilmente, coloque
o pensamento que o prendeu em uma folha e deixe fluir pela corrente também”.
Esse tipo de exercício pode ser feito usando uma variedade de imagens, incluindo
pensamentos ligados a veículos que passam na estrada ou exibidos em placas carregadas
Por pessoas que marcham em um desfile. Se os clientes criarem suas próprias imagens,
sá-las poderá funcionar bem. Por exemplo, um cliente imaginou uma cidade futurista
om veículos movidos a eletricidade em estradas que flutuavam no céu e corriam por todo
o lugar.
Outra imagem comum são as nuvens flutuando no céu, conforme ilustrado no exemplo

Convido você a respirar fundo e, ao expirar, permita que seus olhos se fechem. Respire
JSundo mais algumas vezes e, em seguida, volte a respirar normalmente e apenas relaxe por
um momento. [Espera.] Agora, convido vocé a imaginar que esta deitado em um vale — um
vale da sua escolha. Pode ser um com grama ou flores. Simplesmente imagine-se deitado
e imagine que pode ver o céu azul acima de vocé. Neste céu, nuvens de varias formas e ta-
manhos flutuam suavemente. [Permita alguns momentos para o cliente criar e conectar-se a
essas imagens.]
154 Entrando em contato com o momento presente

Agora eu o convido a imaginar que todos os pensamentos que você tem estão magi-
camente ligados a uma nuvem. Pode descansar na nuvem como uma palavra ou
imagem,
ou a própria nuvem pode assumir a imagem do seu pensamento. A chave aqui é pegar
cada
pensamento à medida que ele ocorre e anexá-lo a uma nuvem e permitir que ele siga seu ca-
minho enquanto flutue suavemente. Se você perder a imagem ou sua atenção se voltar para
outra coisa, tudo bem. Quando você perceber que isso aconteceu, então, sem Jjulgamen
to,
gentilmente volte a ficar deitado de costas, observando cada nuvem passar, e anexe
o pen-
samento que o levou a uma das nuvens e deixe-a flutuar também. Ficarei quieto por
alguns
minutos e deixarei vocé praticar isso, apenas observando cada pensamento que
surgir e
colocando-o0 em uma nuvem flutuante ou sobre ela. [Aguarde por alguns minutos.]
Lembre-se, se vocé se perder nos seus pensamentos e não está mais visualizan
-
do-os, volte gentilmente e continue a colocar seus pensamentos nas nuvens e vé-los passar.
[Aguarde por mais alguns minutos.]
Agora, gostaria que vocé deixasse gentilmente esse campo em que estd deitado
e, no
seu iempo, volte para a sala.

Depois de realizar esse tipo de exercicio, reserve um tempo para relatos, conversando
com o cliente sobre a natureza continua do pensamento e apontando como os pensame
ntos
mudam e parecem estar em movimento — indo e vindo, às vezes cadticos e em todo
o lugar,
as vezes mais lineares, às vezes aparecendo como imagens e outtas vezes
dificeis de visualizar,
Você também pode discutir a experiéncia do cliente no que diz respeito a passar de olhar os
pensamentos para passar a olhar para eles (estar fusionado ou perdido nos pensamentos).
Um tipo diferente de exercicio de atencio plena expande a consciéncia da experién
que está acontecendo além do fluxo de pensamentos para incluir o fluxo de todas as experién-
cias. Neste exercicio, semelhante à pritica tradicional de mindfulness da consciéncia sem escolha,
o cliente é solicitado a prestar atenção 2 experiéncia momento a momento.

Terapeuta: Vamos fazer um exercicio que direciona o senso do eu como uma experiéncia
continua.
Primeiramente, convido vocé a se sentir confortével em sua cadeira e, quando
estiver pron-
to, feche os olhos. Quando seus olhos se fecham, observe que seus ouvidos tendem
a ficar
agugados. Use esse momento e ouga o que escuta. [Aguarde por cerca de dez
segundos.]
Agora, gentilmente, volte sua atenção para a respiragdo e siga-a simplesmente
en-
quanto inspira e expira. Permita-se sentir o ar entrando e saindo por apenas alguns
mo-
mentos. [Aguarde por cerca de dez segundos.]
Agora eu gostaria que vocé seguisse — assim como seguiu sua respiração
— qualquer
sensagdo, pensamento ou emoção que surgirem. Esteja ciente de cada nova
sensagdo, pen-
samento ou emogdo, simplesmente observando cada uma delas conforme ela
vai e vem.
Por exemplo, em um momento vocé pode sentir coceira, depois um sentimento de
ansiedade,
depois um pensamento, depois uma dor ou desconforto muscular, depois um som e assim
por diante. Seu trabalho neste exercicio é simplesmente observar cada nova experiéncia
à
medida que ela surgir e entrar em sua consciéncia. [Aguarde.]
Agora eu te convido a perceber vocé mesmo, que é um ser de experiéncias con-
tinuas — que sente, tem sensagdes e pensa de maneira continua. Apenas deixe que
cac
nova experiéncia esteja lá enquanto vocé a observa e simplesmente descanse
na
periéncia da consciéncia. [Aguarde por cerca de cinco minutos.]
Agora eu o convido a retornar gentilmente à sua respiragdo, passando os proxir
momentos focando na entrada e saida de ar de seus pulmées. [Pausas.]
E agora abra seus olhos e retorne sua atenção para a sala.
Aprendendo ACT 155

A chave aqui é ajudar os clientes a manter um padrão de atenção contínua ou consciência


de sua experiência imediata, em andamento e mutável, sem precisar se afastar ou ser atraído
para ela. Os clientes também podem praticar essa habilidade por meio do conhecimento cons-
ciente de atividades diárias simples, como comer, lavar louça, dirigir e esperar na fila. Como
atividade em sessão, você pode pedir aos clientes que pratiquem comer uva-passa conscien-
temente (Kabat-Zinn, 1991, pp. 27-29). Isso ajuda os clientes a desenvolver uma consciência
contínua das sensações e, à medida que o exercício continua, eles também podem perceber
como a experiência permanece ocorrendo, mesmo quando o conteúdo dela muda com o tem-
po. Por exemplo, no início o cliente não tem uva-passa, depois ele a tem, ela é então degustada,
mastigada, engolida e finalmente, o cliente não a tem mais. O tempo passa ¢ a cada novo mo-
mento surge uma nova consciência.
Práticas de mindfulness formais e informais fora da sessão podem ajudar os clientes a cultivar
a consciência do momento presente na vida cotidiana. Para clientes receptivos ao desenvolvimen-
to de uma prática formal de atenção plena, uma grande base de evidências sugere que a medita-
— ção pode ajudar a aliviar uma ampla variedade de dificuldades e condições do cliente (Hofmann,
Sawyer, Witt, & Oh, 2010; Keng, Smoski, & Robins, 2011). Muitos recursos excelentes estão
disponíveis para orientar e apoiar os clientes em sua prática: aplicativos para smartphones, sifes,
cursos on-hine, CDs e outras gravações de áudio, encontros de mindfulness e muito mais. No en-
tanto, é importante visualizar esses recursos antes de recomendá-los para garantir que eles sejam
consistentes com a ACT. Às vezes, os exercícios de atenção plena são estruturados em termos de
livrar-se de pensamentos dificeis ou alcançar a felicidade como um sentimento, em vez de sim-
plesmente observar e aceitar a experiência própria. Os exercicios informais também podem ser
úteis, como concentrar-se na respiração, andar com atenção plena, realizar conscientemente uma
atividade diária, abordagens baseadas em movimentos como ioga ou tai chi, registrar reações a
— eventos diários ou prestar atenção especial a sentimentos, sensações e pensamentos.
Os clientes podem se beneficiar iniciando com exercícios básicos de conscientização e
meditação e progredindo para exercicios mais semelhantes à exposição, nos quais eles são con-
lados a chamar e estarem cientes de conteúdos angustiantes (p. ex., pensamentos ansiosos).
No entanto, existem algumas considerações sobre trabalhar com consciência em sessão e re-
comendar que os clientes a pratiquem de maneira mais formal. Por exemplo, ao trabalhar com
individuos com histérico de trauma, vocé pode ter que considerar praticas de os olhos abertos,
Pois eles podem ficar presos às imagens do trauma quando fecham os olhos. Use seu bom
senso sobre isso ou converse com o cliente sobre o processo. Por fim, recomenda-se que qual-
quer terapeuta que use extensivamente a meditagio da atenção plena com um cliente também
se envolva em alguma forma de pritica ele préprio. Compreender a atengio plena de dentro
para fora faz parte de fazer esse tipo de trabalho com fidelidade, competéncia e compreensio.
ornecemos uma lista de recursos para o desenvolvimento de uma pratica de meditagao de
dfulness no final deste Capitulo.)
Talvez a definigio mais amplamente citada de atenção plena seja “prestar atenção de
a maneira particular: intencionalmente, no momento presente e sem julgamento™ (Kabat-
Zinn, 1994, p- 4). Com base nessa definição, pode-se argumentar que a atenção plena inclui
040 apenas a consciéncia do momento presente, mas também a desfusio e a aceitacdo. Na
meditação da atenção plena, os praticantes não tetornam apenas a0 momento presente. Eles
também abrem espago para experiéncias 2 medida que vão e vém (ou seja, aceitação) e per-
bem ruminagdes, preocupagdes, imagens, julgamentos e avaliagoes à medida que surgem,
Sem emaranhamento (ou seja, desfusio). Os profissionais também experienciam que a pratica
156 Entrando em contato com o momento presente

da atenção plena envolve conscientemente assumir uma postura de observação (ou scja, eu-
-como-contexto). Portanto, a meditação mindfulness incorpora todos os quatro processos de fle-
xibilidade no lado esquerdo do modelo do hexágono (aceitação, desfusão, eu-como-contexto
e consciência do momento presente). E, de fato, como você aprendeu no Capitulo 1, na ACT,
esses quatro processos sio chamados de processos de mindfulness e aceitagio.
Dito isto, um dos beneficios da ACT ¢ que ela fornece uma vatiedade de métodos para
formar a atengio plena, além da pritica formal e informal. Tsso pode ser uma vantagem ao
trabalhar com pessoas que não estão dispostas ou são capazes de se envolver em uma prática
formal de meditação mindfulness. Portanto, embora a meditagio formal seja uma maneira de
desenvolver uma atenção fluida, flexivel e voluntitia envolvida em questdes do momento pre-
sente, a ACT oferece outras alternativas para o deseavolvimento dessa capacidade.

Descobrindo o momento na sessão


O objetivo dos exercicios de mindfulness não é apenas desenvolvé-la enquanto ele ocorte, mas
também desenvolver atenção que seja flexivel, fluida e voluntitia de maneira mais geral. Assim, os
terapeutas da ACT trabalham para tecer a atenção plena no tecido das sessdes de maneira continua.
Uma maneira comum de trazer mais foco no momento presente para as sessoes é inicid-las com
um breve exercicio de atenção plena. (Para um excelente exemplo, consulte Eifert & Forsyth, 2005,
pp- 125-126 ou visite http:/ /wwwnewharbinger.com/39492 para obter uma gravacio em dudio
[em inglés] para download de um exercício que vocé pode usar.) Tniciar a sessão dessa maneira, €
patticularmente apropriado para aqueles (clientes e terapeutas) que estio mais focados em suas.
mentes e pode ajudar terapeutas e clientes a se tornarem presentes, permitindo que eles apareçam
psicologicamente na sessio, prontos para trabalhar. Recomendamos fazer exercicios de mindfiulness
junto com o cliente, se possivel. Isso geralmente leva a exercicios mais fluidos e melhor crono-
metrados, ajuda o terapeuta a estar atento e presente ¢ promove a igualdade no relacionamento
terapéutico.
O contato com o momento presente também é uma habilidade essencial para promover
a aceitacio, a desfusão e os valores na sessdo. O trabalho experiencial com todos esses pro-
cessos exige que os clientes tragam suas experiéncias para a sala para trabalhar com cles. Uma
maneira de fazer isso é fazer com que os clientes parem e verifiquem sua experiéncia de aqui €
agora durante momentos em que parece que algo esti aparecendo que o cliente estd evitando
ou fundido, consciente ou inconscientemente.
Os pontos que indicam que pode ser útil fazer com que o cliente faga uma pausa e petceba
o que está vindo incluem mudangas no tom da voz ou rouquidio na voz do cliente, mudanças
repentinas na direção da conversa, tensão fisica aparente, repetitividade no pensamento ou na
fala (p. ex., preocupagio, obsessio ou ruminagio), sinais de uma potencial ruptura na alianga
terapéutica ou, mais amplamente, qualquer coisa que sugira restrigio, tensio ou inflexibilidade.
Quando vocé observa esses comportamentos, pode gentilmente pedir aos clientes que diminuam
o ritmo, sintonizem-se no momento presente e observem o que cles estão sentindo, percebendo
ou pensando. Pode ser útil durante esses momentos direcionar a atengio dos clientes para vários
aspectos da experiência deles (p. ex., emoções, pensamentos, sensações corporais, desejos de aglfl.
lembrangas) e perguntar o que eles percebem em cada dominio.
s vezes, pode ser útil que os clientes repitam lenta e cuidadosamente uma frase particu-
larmente comovente para aumentar o que estiver presente é facilitar a identificação. Aqui
um exemplo dessa abordagem.
Aprendendo ACT 157

Você tem falado muito sobre suas dificuldades no trabalho, mas não parece incomodado.
A situação deve ser frustrante. [A empatia do terapeuta pode promover o contato do
cliente com as experiéncias do momento presente.]
E frustrante. Isso me deixa muito brabo.
Parece que também pode ser doloroso. Este é o terceiro emprego que vocé teve este ano e
estd se desenrolando exatamente como os dois últimos.
[Fica vermelho.] Eles sdo tdo retardados. Quero dizer; estou fazendo o que eles me mandam
Jfazer. Se eles me deixassem em paz e me deixassem fazer o meu trabalho, as coisas seriam
melhores. [Parece estar envolvido na fusão.]
Terapeuta: Parece que vocé deseja um pouco — ser deixado em paz — e, no entanto, isso nunca parece
acontecer. [Chama a atenção para a disposição de passar o tempo envolvido na fusão com o
pensamento. ]
Cliente: [Pausa.] Ah, sim, acabei de me lembrar: Eu queria que vocé soubesse que fui ver o psiquia-
tra. Ela acha que eu deveria fazer mais alguns testes.
Terapeuta: Vocé viu o que aconteceu? Comegamos a conversar sobre dor e vocé mudou de assunto.
[Destaca a mudanca abrupta de topico.]
Cliente: Sim, eu sei... Mas ndo quero chorar. Eu parego bobo quando choro. Eu me sinto estúpido.
Terapeuta: [Faz uma pausa para desacelerar o processo.] Gostaria de saber se vocé pode perceber esses
pensamentos... Bobo, estipido... E deixe-se mostrar o que estd acontecendo com seus senti-
mentos agora. [O cliente fica choroso.] Tudo o que quero que vocé faça é apenas perceber
essa experiéncia que estd se desenrolando agora. [Pausas.] Observe o que está acontecendo.
O que vocé estd sentindo em seu corpo? Tome um momento calmamente para olhar. olhe e
veja exatamente onde vocé sente isso.
[Faz uma pausa por um bom tempo.] Sinto algo acumulando atrds dos meus olhos.
E que tipo de julgamentos e avaliacdes aparecem? Antes de responder, faca uma pausa e dé
uma olhada com cuidado, calmamente.

[Pausa.] Minha mente está dizendo que é estiipido chorar por isso. [À maneira como a clien-
te está falando sobre seus julgamentos e rotulando-os como “minha mente” sugere que algu-
ma desfusdo esta ocorrendo.]
Bom. E essa experiéncia o lembra de alguma situação do passado? [O terapeuta esta cha-
mando a atenção para diferentes áreas da experiéncia para ajudar o cliente a desenvolver sua
capacidade de perceber o que surge em cada 4rea.]
Hmm... Sim. Isso me lembra quando meu pai gritava comigo se eu ndo fizesse minhas tare-
Jas.
E quando vem tudo isso, o que vocé percebe que quer fazer?
Sinto que quero sair correndo da sala ou... Desaparecer ou algo assim.

Os terapeutas podem usar vérias outras abordagens para trabalhar com os clientes
Para ajudi-los a descobrir o momento da terapia: pedindo-lhes que simplesmente tomem
consciéncia de pensamentos, sentimentos e memérias 4 medida que surgem; pedindo que
s identifiquem quando a presenga é necessaria; instruindo-os a prestar atenção à mu-
ça entre estar presente ¢ ser atraido para o futuro ou o passado; ou fazendo um exer-
i0 experiencial no qual eles percebem as imagens, sons e sensações presentes na sala.
158 Entrando em contato com o momento presente

(Para uma lista mais completa, consulte Strosahl et al., 2004, p. 44.) Se
os clientes nio são
muito hibeis em perceber o que esti presente, é uma boa ideia comegar com
exercicios
simples e estruturados, focados nas sensações corporais. Por exemplo, vocé pode
pedir aos
clientes que descrevam em voz alta como é estar sentado na cadeira ou como
é segurar a
respiração, estender um braço ou esfregar o rosto com um pano.

Relacionando-se no momento da aliança terapêutica


Como os problemas de muitos clientes são, pelo menos em parte, devido
a dificuldades em
seus relacionamentos com outras pessoas, é particularmente importante desenvolver
suas ha-
bilidades para estarem presentes, abertos e sem julgar quando se relacionarem com os
outros.
Os seres humanos tendem a se envolver em um processo quase constante de avaliação,
clas-
sificação e comparação que é aplicado a tudo: objetos, aos outros, nós mesmos e
muito mais.
Como resultado, tendemos a interagir com as pessoas 20 nosso redor em termos
de nossas
ideias sobre elas, o que coloca uma barreira entre nós e nossa experiéncia direta
com os ou-
tros. Muitas de nossas reações aos outros sio dominadas pelas histérias que contamo
s a eles
mesmos. Em esséncia, estamos respondendo a eles como outros conceitualizados
, em vez de
a nossa experiéncia direta com eles ou nos conectando a uma consciéncia de que
eles também
têm expetiéncias no momento presente em andamento, Metaforicamente,
pode ser como se
estivéssemos interagindo com um desenho animado da Ppessoa, e não com o ser
Vivo 2 nossa
frente, que tem uma histéria rica e complexa.
Na sala de terapia, o relacionamento mais imediato do cliente é com o terapeuta. O
traba-
lho no momento presente focado nessa relagio tem o potencial de ser um contexto poderoso
.
para aumentar a capacidade dos clientes de permanecerem presentes, de estarem
mais cons-.
cientes das experiéncias continuas daqueles que os rodeiam (consulte o Capitulo 9) e de
serem
mais responsivos com outras pessoas de forma que se encaixe nos valores dos
clientes, Para
esse fim, vocé pode guiá-los para petceber e ficarem cientes de suas experiéncias internas
, mo-
mento a momento, usando vocé como parimetro. Isso é particularmente importante quando
os clientes estão envolvidos em comportamentos interpessoais que são paralelos
às interações
problematicas que ocorrem em suas vidas diárias. Esse tipo de trabalho fornece uma oportu-
nidade importante para os clientes aprenderem e praticar maneiras mais novas e flexiveis
de se
relacionar com os outros.
Uma abordagem é perguntar: “Vocé está disposto a perceber o que esti acontecendo
agora, dentro de você e entre nós?”. O foco no relacionamento no momento oferece aos clien
tes a oportunidade de experimentar conexio e presenca. Além disso, aprender a percebe
r sua
teações no momento presente quando se relacionam com os outros os ajuda a aparecer
nos
relacionamentos e também pode ser uma ação significativa baseada em valores.
No diálogo
seguit, o terapeuta adota esse tipo de abordagem, ajudando o cliente a perceber suas reações
3
terapeuta no momento presente, que são paralelas às reações dificeis que ele tem com a esposã.

Cliente: Estd sempre a espreita em segundo plano. É como se eu estivesse na ponta dos pés.

Terapeuta: Vocé estd se sentindo na defensiva?

Cliente: Sim. Minha esposa parece criticar tudo o que fago. Eu nunca consigo acertar:

Terapeuta: [Pausa.] Vocé se sente assim aqui as vezes?


Aprendendo ACT 159

Cliente: Como se eu estivesse andando na ponta dos pés?

Terapeuta: Sim.

Cliente: [Pausa e se move em sua cadeira como se estivesse desconfortável.] Eu não sei.
Terapeuta: E o que você está sentindo aqui, agora?

Cliente: Devo sentir alguma coisa?

Terapeuta: Basta olhar. Não tenha pressa.

Cliente: Para ser sincero, estou na defensiva. Não sei por quê. Eu sei que você não está fazendo
nada... Mas sinto que estou sendo criticado.

Terapeuta: Onde você sente isso? Vamos comegar com o seu corpo.

Cliente: [Permanece em silêncio por um tempo.] Sinto-me tenso no estômago... Quase como se como
se estivesse me preparando para receber um soco.

Terapeuta: Bom. Ok, outras sensações?

EXERCICIO EXPERIENCIAL

Meditacdo de livre escolha


Este exercicio leva cerca de dez minutos. Sente-se em um lugar calmo, onde vocé não serd dis-
traido ou interrompido. Fique 4 vontade, sentado ereto, mas não rigidamente.
Quando vocé encontrar uma posicio confortavel, feche os olhos gentilmente. Observe
que seus ouvidos tendem agugar e ficar mais alertas quando vocé faz isso. Esteja ciente dos
sons por alguns momentos. Então, gentilmente, volte sua atenção para a sua respiração. Passe
alguns momentos apenas prestando atenção à sua respiracio. Vocé pode perceber a respiração
— na ponta do nariz e nas narinas ou na expansio e redução do peito.
Se vocé achar que sua mente comegou a divagar, como costuma fazer, diga gentilmente a si
mesmo: “Estou divagando” e, sem julgamento, concentre sua atenção na respiragio. Após seguir
sua respiragio por um a dois minutos, libere sua atenção suavemente da respiragdo e comece a
prestar atenção ao que surgir em sua consciéncia a seguir. Pode ser um som ou uma sensacio.
Pode ser um pensamento ou um sentimento. Seu trabalho é simplesmente percebé-lo, seja ele
qual for, e depois deixá-lo ir, passando para a experiéncia do préximo momento. Por exemplo,
vocé pode perceber o som do ar-condicionado, depois dor no pé, respiragao e depois um tremor
€ um pensamento. Não permita que nenhuma dessas experiéncias o capture; apenas observe cada
uma e deixe-as ir. Em seguida, uma sensagio, depois um som, depois um gosto, e assim por dian-
te Simplesmente observe o que vem à sua consciéncia de momento a momento, sem se apegar a
nenhuma experiéncia. Observe cuidadosamente cada um e observe como eles vém e vão.
Após cerca de seis minutos, volte sua atengio para a respiração e, como antes, siga-a por
cerca de dois minutos. Em seguida, abra suavemente os olhos, completando sua meditagio.
Lembre-se de que sua mente o prenderi repetidamente, afastando o foco de sua experiéncia
direta no momento. Quando isso acontecer, volte a simplesmente perceber. Se isso acontecer
cem vezes, volte cem vezes. Isso faz parte do processo.
160 Entrando em contato com o momento presente

Usando a consciência do momento presente para construir


0 eu-como-contexto
O contato com o momento presente está intimamente ligado ao desenvolvimento do
eu-como-contexto (ver Capítulo 5). Estar ciente do conteúdo da experiência de uma
maneita contínua enfraquece o apego a um eu estático e conceitualizado e requer um
senso de consciência mais fluido. Por esse motivo, o contato com o momento presente
pode ser estimulado, incentivando os clientes a adotar um senso consciente de auto-ob-
servação. Portanto, ao realizar exercícios de atenção plena, inclua instruções como “E ao
perceber isso, observe também que há uma parte de você percebendo todas essas coisas”
ou “Apenas por um momento, gostaria que você se conectasse com a sensação de que
está aqui agora, percebendo o que você sente em seu corpo e quais emoções você está
tendo”.
Para alguns clientes, fazer exercícios de mindfulness é desafiador, porque eles têm difi-
culdade em localizar um senso de eu-observador. Nesses casos, você pode querer trabalhar
em um senso de perspectiva de manciras menores e mais imediatas enquanto trabalha com
processos do momento presente. Por exemplo, em momentos apropriados, você pode
perguntar aos clientes: “Enquanto você fala, quem está dizendo essas palavras?” ou “En-
quanto eu falo com você, pode dizer que alguém está lá ouvindo e, em um momento, terá
a experiéncia de falar 20 responder a essa pergunta?” ou “Ao observar essa emoção, você
percebe que há uma parte de você que a observa? Você não é o mesmo que a emoção”.
Esse tipo de questionamento pode ajudar os clientes a começar a se conectar com o eu-
-como-contexto ou com o eu-observador — o eu que está encontrando experiências a cada
novo momento.
Além disso, o terapeuta pode modelar os dois processos: contato com o momento
presente e eu-como-contexto. Por exemplo, você pode dizer: “E, mesmo ao dizer isso, per-
cebo que minha frequência cardíaca aumenta um pouco e meus pensamentos se tornam
mais julgadores. Isso me dá a sensação de que, se eu estivesse no seu lugar, olhando para
esse conjunto de dificuldades, ficaria mais ansioso e inclinado a julgar”. A última parte
dessa afirmação é dêitica e, portanto, promove um senso de eu-como-contexto, algo que
discutiremos mais adiante no Capítulo 5. j

Usando o contato com o momento presente para


promover o aprendizado experiencial
Como discutido anteriormente, a ACT é uma abordagem terapêutica que enfatiza o apren
dizado por meio da experiência. No aprendizado experiencial, as discussões sobre como.
fazer as coisas, como as encontradas na instrução de habilidades ou na psicoeducação, são
enfatizadas porque dependem da linguagem literal; em vez disso, a ênfase está no contato
com as experiências e as consequências dos comportamentos. No contexto da ACT,
aprendizado experiencial é mais focado em fazer boas perguntas aos clientes do que

tiva do momento presente. Portanto, o terapeuta deve ser capaz de mudar rapidamente
para uma perspectiva do aqui e agora para realizar com'êxito o trabalho experiencial com
os clientes.
Aprendendo ACT 161

Embora os terapeutas da ACT frequentemente se envolvam em didática ou psicoeduca-


ção para estabelecer algumas bases, o aprendizado experiencial deve desempenhar um papel
importante na maioria das sessões. Ela envolve pelo menos quatro etapas: orientar ou avançar
em direção ao trabalho experiencial; realmente se engajar em trabalho experiencial; questionar
sobre o trabalho experiencial; e determinar como generalizar o aprendizado expetiencial para a
vida do cliente. Às vezes, pode ser difícil para os terapeutas manterem um foco consistente no
| aprendizado experiencial, pois geralmente contraria a abordagem mais direta e instrucional que
é tipica ao ensinar ou interagir com outras pessoas. Portanto, forneceremos algumas ditetrizes
para ajudar vocé a usar os processos de flexibilidade para levi-lo a aumentar o tempo gasto em
atividades de aprendizado experiencial.
O quadro a seguir descreve duas discriminações que podem orientar os terapeutas na
inclusão de mais trabalhos experienciais na sessão. A dimensao vertical das linhas discrimina
se o conteúdo da conversa sobre terapia estd focado em eventos que ocorrem na sessão zersus
eventos fora da sessão. A dimensão horizontal das colunas discrimina a perspectiva a partir
da qual os eventos são relatados: da perspectiva aqui-e-agora (eu-como-processo) versus uma
petspectiva li-e-depois ou falando em termos de generalidades (p. ex., descrições de clientes
de suas qualidades ou conversas intelectuais sobre si mesmos, o futuro, o mundo ou o pas-
sado). O último incluiria declarações como “Ontem fui 4 loja e tive um ataque de panico”,
“Nio tenho futuro”, “Eu me odeio” ou “Na tltima sessão, conversamos sobre como estou
entorpecida”. Isso cria quatro quadrantes nos quais o comportamento dos clientes, em ses-
são, podem ser divididos. Aqui está um diagrama basico representando esse modelo. Em
breve, forneceremos uma versão expandida que inclui indicadores sobre como passar para
cada quadrante.

Perspectiva
Falar sobre o li-e-depois ou Percebendo o aqui-e-agora
generalizagdes
(Principalmente no tempo presente)
(Tempo futuro ou passado, gene-
ralizações)

Fora da sessão Quadrante 1 Quadrante 2


Conteúdo

Na sessão Quadrante 3 Quadrante 4

Os clientes tendem a ser atraídos em direção ao Quadrante 1 e as sessões em geral


comegam aqui, 4 medida que os clientes falam sobre eventos de sua vida, geralmente em
termos gerais (p. ex., dar razões, explicar ou tentar entender as coisas). Este também é
frequentemente o quadrante em que ocorre a fusão. Em geral, este é o modo menos expe-
riencial. Para avançar em direção a um trabalho mais experiencial, nesse quadrante, pode
ser útil obter exemplos específicos do cliente ou se concentrar em eventos específicos,
afastando-se de aspectos mais gerais e conceitos. Isso pode incluir ajudar os clientes a ras-
trear o que aconteceu durante eventos específicos, realizando uma análise funcional para
que eles possam se tornar mais conscientes dos antecedentes de seu comportamento, de
€omo respondem e das consequéncias de seu comportamento. Isso é particularmente efi-
162 Entrando em contato com o momento presente

caz se você puder ajudá-los a perceber antecedentes que eles não reconheceram ou rastrear
as consequências das quais não tinham conhecimento (p. ex., os efeitos de seu comporta-
mento na vida baseada em valores em longo prazo). À maioria das pessoas é socializada
para falar amplamente em termos de lá e em outro momento. Portanto, as conversas sobre
terapia tendem a voltar a esse quadrante, a menos que o terapeuta persista em mover a
conversa para os outros quadrantes. Para deixar claro, não há nada errado em ficar um
pouco nesse quadrante. Pode ser útil fazer isso ao tentar generalizar novos aprendizados,
como planejar implementar um novo comportamento fora da sessão ou discutir como
o comportamento em sessão se relaciona com o comportamento fora da sessão. Certa-
mente, esse quadrante também é onde ocorrem formas mais didáticas de aprendizado ou
instrução de habilidades.
Mover do Quadrante 1 para o 2 exige uma mudança de falar sobre eventos que não
estão presentes para assumir a perspectiva de estar lá e em outro momento. Isso pode ser
realizado de várias maneiras: por meio de exercicios experimentais nos quais os clientes
imaginam voltar aos eventos em que estão relatando; pedindo aos clientes que imaginem
uma versdo crianca deles lutando com um evento dificil do passado ou fazendo com que
revisitem uma memoria perturbadora da perspectiva de seu eu adulto; ou por meio da
exposicio por imaginação na qual eles revisitam um evento preocupante e praticam abrir
espago para emoções dificeis e desfusionando os pensamentos que surgem quando se co-
locam nesse evento. Isso também pode envolver visitar uma cena em um futuro conceitua-
lizado, como realizar uma encenacio envolvendo conversar com um supervisor enquanto
se envolve em ações baseadas em valores ou imaginar-se encontrando um obsticulo ao.
tentar um novo comportamento. Uma vez que os clientes estdo na perspectiva de 14 e em
outro momento, qualquer um dos outros processos de flexibilidade pode ser integrado.
Por exemplo, vocé pode ajudar os clientes a abrir espago para emogdes dificeis (ou seja,
aceitagdo) ou orientd-los a refletir sobte o que eles gostariam de ter escolhido na situagi
€ a imaginar o que teria acontecido se o fizessem (ou seja, valores).
A mudanga do Quadrante 1 para o 3 envolve uma mudanga de um foco fora da ses-
sdo ou geral, para um foco especifico na sessão. Isso normalmente inclui a identificagio de
momentos em que repertérios comportamentais probleméticos aparecem na sessio, jun-
tamente com as contingéncias em torno desses eventos (que eventos na sessio acionam 2
resposta e as consequéncias da resposta na sessão). Por exemplo, se um cliente geralmente
se envolve em comportamentos que envolvem fusão com pensamentos autocriticos, vo
pode perguntar: “Sua mente já fez criticas com vocé durante as nossas sessoes?”. Ou se
um cliente evita ansiedade relacionada a situações sociais fora da sessdo, vocé pode pe
guntar: “Você já ficou ansioso aqui da mesma maneira que em situagdes sociais?”. As dis-

para identificar a fusdo e a evitagio quando clas aparecem na sessio. Então, o terapeutd
e o cliente podem trabalhar diretamente com esse comportamento passando para o Qu
drante 4.
O Quadrante 4 normalmente envolve trabalhar com comportamentos problematict
(p- ex., fusdo ou evitagio) ou apoiar melhorias na flexibilidade à medida que ocorrem né

um terapeuta pode mudar o foco para o Quadrante 4 se o cliente se engajar em evitagd!


ou fusdes clinicamente relevantes enquanto informa sobré o comportamento fora da se
são. Uma mancira de passar para o Quadrante 4 é ajudar os clientes a se envolverem 0
Aprendendo ACT 163

percepção e aceitação do momento presente quando experimentam emoções dolorosas (e


geralmente evitadas) ao falar sobre algo que ocorreu fora da sessão. Como alternativa, o
terapeuta pode propositalmente evocar a fusão, a fim de dar ao cliente a chance de desfu-
sionar (p. ex., dizer uma declaração que seja evocativa, como expressar carinho em relação
a um cliente que é autocrítico). O terapeuta também pode manter a sessão mais funda-
mentada no Quadrante 4, observando e apontando oportunidades para ação valorizada à
medida que surgem no contexto do relacionamento terapêutico, por exemplo, oportuni-
dades para agir de acordo com o modo como o cliente deseja se comportar com o tera-
peuta. Outras abordagens envolvem a observação de várias formas de eu-como-contexto
conforme elas surgem na sessão e a mudança da perspectiva para o eu-como-contexto e a
realização de exercícios experienciais, como práticas de mindfulness e técnicas de desfusão.
O Quadrante 4 geralmente é o mais produtivo para o trabalho experiencial, mas também é
onde os clientes e os terapeutas correm o maior risco de se esquivar. Mesmo assim, ideal-
mente, você passaria pelo menos parte de todas as sessões nesse quadrante.
Os conceitos incorporados neste diagrama podem ser úteis para qualquer terapeuta,
mas serão especialmente úteis se você notar que suas sessões tendem a ser compostas prin-
cipalmente por abordagens mais didáticas e instrucionais, com relativamente pouco tempo
gasto em modos de aprendizado mais experienciais. Para ajudar você a colocar essas ideias
em prática, fornecemos uma versão expandida com notas sobre o que você pode dizer aos
clientes para mover a sessão para os Quadrantes 2, 3 ou 4. Como um exemplo de como
usar o gráfico, você pode revisá-lo imediatamente antes das sessões para identificar ma-
neiras de passar do Quadrante 1 para o Quadrante 4 e depois se comprometer a praticar
um ou dois deles durante a sessão. Como alternativa, após uma sessão, você pode revisar
o gráfico e refletir sobre a porcentagem de tempo que passou em cada quadrante durante
essa sessão. Você também pode fazer algumas anotações sobre como mover o foco de um
quadrante para outro quando tópicos semelhantes ou padrões de comportamento se repe-
tirem em sessões futuras com o cliente. Seja como for, o objetivo principal é promover a
dedicar mais tempo da sessão ao aprendizado experiencial.

—*
* Disponível para download em: www.sinopsyseditora.com.br/aprenactfo
AAAm? P02)]"27
‘ 164 Entrando em contato com o momento presente

COMO SER MAIS EXPERIENCIAL NA SESSAO


Perspectiva
Falar sobre o li-e-depois ou Percebendo o aqui-e-agora
generalizagdes
(Principalmente no tempo presente)
(Tempo futuro ou passado,
generalizagoes)

Quadrante 1 (ndo experiencial) Quadrante 3

Mova-se para um modo mais expe- [ * “Imagine que vocé está realmen-
riencial, provocando exemplos espe- te nessa situacao. O que vocé está
cificos, em vez de falar em aspectos vendo, sentindo, ouvindo e assim
8 erais. Por exemplo, pega
peca ao cliente po r diante? O L que vocé está fazen-
um exemplo especifico do comporta- do?”
&S m:ento ou sltum;:_ao
ituaçã: em questão
i e faça | , ãq . e que vocêgtfoi transporta-
2 uma anilise funcional. d A <L
2 lo magicamente para essa situação
S € está se olhando. O que você diria
s para a pessoa que estd lá e outro
Ê momento?”
* “Imagine olhar para trás daqui a
dez anos. O que você diria para a
pessoa que vocé é agora?”
* “Quantos anos isso tem? Imagine-
É -se como uma criança, tendo essa
& experiência, e interaja com essa
ã criança como seu eu atual.”

Quadrante 2 Quadrante 4

* “Como isso funciona aqui?” * “O que esta aparecendo para vocé


a , rasndo fidazo E
* “Você notou isso acontecendo quatids aalA
aqui?” * “Onde está isso no seu corpo?”
* “Isso acontece comigo em nossas | « “Você concorda em fazer um exer-
'ª sessões? Se sim, o que o traz à tona?” cicio agora?”. Se o cliente disser
FÁÃ " id
E * “Você estaria disposto a perceber quef:u:n, GaRtP G BE iy d‘
Z quando isso aparecer aqui?” des. são, momento presente, acek;
tação ou tomada de perspectiva.
* “Que pensamentos vocé esti ten-
do agora? Como cles se parecem?”
* “Vocé ¢ X e eu serei Y. Mostre-me |
o que vocé fez”. Em seguida, en- [
cene a situação. h

Aprendendo ACT 165

E
Esta seção tem como objetivo fornecer prática no uso de técnicas projetadas para aumentar o
contato dos clientes com o momento presente. Como nos capítulos anteriores, para cada exer-
cício, apresentamos uma descrição de uma situação clínica e um pouco de diálogo. O diálogo
termina após uma declaração do cliente. Nesse momento, você elaborará uma resposta que
reflete a competência principal em questão e, em seguida, uma explicação para sua resposta.
Após concluit cada exercício, vá para o final do capítulo para ler as respostas modelo que for-
necemos e compará-las com a sua resposta. Lembre-se de que as respostas que fornecemos
não são as únicas respostas válidas.

m—— EXERCÍCIOS DE COMPETÊNCIAS CENTRAIS ——


COMPETÊNCIA 21: O terapeuta pode desfusionar o conteúdo do cliente e direcionar a
atenção para o momento presente.

EXERCÍCIO 21
O cliente é um veterano da Guerra do Victnã, com 67 anos, que está buscando terapia para
trabalhar questões relacionadas ao TEPT. Ele está dentro e fora da terapia há cerca de 20 anos.
Ele tem queixas sobre o governo e sua resposta após a guerra e sente que sua vida foi afetada
Ppermanentemente por sua experiéncia.

Cliente: Eu tenho muito ressentimento com o governo. Quero dizer, eles deveriam ter feito algo. Já
faz quantos anos? E eu ainda tenho toda essa raiva.
Terapeuta: Parece que o passado tomou conta da sua vida.

Cliente: Verdade, todos os dias. Quero dizer, todo maldito dia isso me persegue.

Escreva aqui (ou em um caderno) qual seria sua resposta, demonstrando a Competência 21:

Em sua resposta, como você está conceitualizando o comportamento do cliente e o que espera
realizar?
166 Entrando em contato com o momento presente

COMPETÊNCIA 22: O terapeuta traz seus próprios pensamentos ou sentim


entos do mo-
mento presente para o relacionamento terapêutico.

EXERCÍCIO 22
Este diálogo continua do ponto em que o diálogo da Competênci
a 21 parou.

Terapeuta: Então, uma das coisas que poderiamos Jazer aqui é nos concen
trarmos em como o governo
errou anos atrds. Vocé acha que isso seria útil?

Cliente: Na verdade não.

Terapeuta: É possivel que esse foco seja problemdtico e o que precisamos


fazer é focar no que vocé
pode fazer agora— trabalhar para descobrir o que estd disponi
vel para vocé neste momento,
hoje?

Cliente: É que estou trabalhando nisso há tanto tempo que esqueci como
é ser normal, não ter nen-
hum problema. Eu sei que disse isso, mas tudo em que penso
é sobre o governo e como eles
me ferraram. Eles realmente me ferraram.
Terapeuta: E dificil Para mim imaginar o nivel de frustração que vocé
deve ter sentido ao longo dos
anaos.

Cliente: Você nem pode imaginar. Há uma parte gigante minha que quer
dar o troco. Esse rancor é
absurdamente grande.
Terapeuta: Realmente acabou ficando, e aqui mesmo ele está presente.
Passamos um bom tempo con-
versando sobre isso... Ele ainda tem um controle aqui
na sessdo.
Cliente: Sim ... [Suspira.]

Escreva aqui (ou em um caderno) qual setia sua resposta,


demonstrando a Competência 22:

Em sua resposta, como você está conceitualizando o compo


rtamento do cliente e o que espera
realizar?
Aprendendo ACT 167

COMPETÊNCIA 23: O terapeuta usa exercícios para aumentar o senso de experiência


do cliente como um processo contínuo (p. ex., exercicios de atenção plena ou exercícios de
imagens que ajudam o cliente a se concentrar no fluxo contínuo de experiências internas).

EXERCÍCIO 23
Este diálogo continua com o mesmo cliente do diálogo de Competência 22, mas ocorte um
pouco mais tarde na sessão.

Terapeuta: Parece que parte da luta está relacionada a quanto esse problema consumiu sua vida.

Cliente: Sim, eu odeio que seja assim. Tudo o que eu penso é sobre isso.

Escreva aqui (ou em um caderno) qual seria sua resposta, demonstrando a Competência 23:

Em sua resposta, como você está conceitualizando o comportamento do cliente e o que espera
realizar?

COMPETÊNCIA 24: O terapeuta detecta quando os clientes estão à deriva em uma orien-
tação passada ou futura e ensina como voltar ao momento presente.

EXERCÍCIO 24
Este diálogo continua com o mesmo cliente do diálogo de Competência 23, mas ocorre em
uma sessão posterior.

Terapeuta: O que você poderia fazer hoje para tomar uma ação específica em relação ao seu valor rela-
cionado a sua esposa? Existe algo que você possa fazer para que ela saiba que você a ama?
Cliente: Ela está me pedindo para consertar a maçaneta da porta do armário há meses. Eu acho que
eu poderia fazer isso.
Terapeuta: Ótimo. Eu posso ver como isso pode trazer mais apreço ao relacionamento.
168 Entrando em contato com o memento presente

Cliente: Nao sei. Ela me pede para fazer algumas coisas, e então espero tanto para fazer elas que
nem tenho certeza se ela sabe que eu as fiz. Ela não comenta... Excelo para me pedir para
Jazer coisas, alguma coisa. Acho que sou um tipo de pessoa “Me deixa em paz” por tanto
tempo que ela apenas mantém distancia. Desde que sai do servigo, as coisas tém sido dife-
rentes. Se o governo apenas tivesse reconhecido o péssimo acordo que era estar no Viem...

Escreva aqui (ou em um caderno) qual seria sua resposta, demonstrando a Competéncia 24:

Em sua resposta, como vocé está conceitualizando o comportamento do cliente e o que espera
realizar?

COMPETENCIA 25: O terapeuta conceitua o comportamento do cliente em vatios niveis


e enfatiza o momento presente quando for útil.

É necessario um pouco de experiéncia, pois essa competéncia vincula o trabalho no momento


presente à conceitualizagio de caso em andamento do terapeuta (consulte o Capitulo 8) e
4 andlise funcional do comportamento do cliente em sessão. As vezes, é útil concentrar-se
no futuro, como discutir tarefas de casa ou generalizar o aprendizado para outras situações.
As vezes, é útil se concentrar no passado, como em exercicios parecidos com exposições
relacionados a experiéncias traumiticas ou em ouvir sobre situações da semana do cliente
relacionadas a metas de tratamento. A ideia basica dessa competéncia é que existem vArios
nfveis nos quais o comportamento do cliente pode ser conceitualizado:

1. Contetido manifesto. Por exemplo, se um cliente disser que teve um ataque de pâ-
nico após a sessao anterior, isso pode ser tomado como simples informacio sobte o
que aconteceu.
2. Como um exemplo de comportamento social. Relatar um ataque de pénico pode
fazer parte de um padrio maior de reclamacdes inúteis e cronicas que interferem nos
relacionamentos do cliente.
3. Em termos da relação terapéutica. O cliente pode estar indiretamente comunican-
do que sente que a terapia não está ajudando.
Aprendendo ACT 169

4. Como um processo funcional. Relatar o ataque de pânico pode estar funcionando


como evitar a ansiedade que acabou de ocorrer na sala.

Manter a conscientizagao sobre esses diferentes niveis pode ajudi-lo a determinar se o


retorno a0 momento presente é necessario e como responder.

Agora que fornecemos esse contexto, eis os detalhes do caso para este exercicio: a cliente
é uma mulher de 33 anos e diz que quer se ferir. Ela se sente deprimida e ansiosa e chegou a
esta sessdo com raiva do namorado. Ela é extremamente evitativa emocionalmente e não mos-
tra nenhum sinal de dor emocional desde o inicio da terapia, cinco semanas antes.

Cliente: [Fala com naturalidade.] Além de todos os meus outros problemas, agora estou tendo pro-
blemas com meu namorado. Detesto dizer isso, mas ele estd me irritando. Não me interprete
mal, eu o amo. Mas cara, acho que ndo aguento mais.

EXERCICIO 25.1

Escreva aqui (ou em um caderno) qual seria sua resposta se vocé achasse que a afirmação era
um exemplo do segundo nivel de conceituacio, funcionando como parte de um padrio maior
de comportamento social, tendo em mente que o foco aqui é a Competéncia 25.

Em sua resposta, como vocé está conceitualizando o comportamento do cliente e o que espera
realizar?

EXERCICIO 25.2

Escreva aqui (ou em um caderno) qual seria sua resposta se vocé achasse que a afirmagio era
um exemplo do terceiro nivel de conceituagio, funcionando como parte de um padrão maior
de comportamento social, tendo em mente que o foco aqui é a Competéncia 25.
470 Entrando em contato com o momento presente

Em sua resposta, como você está conceitualizando o comportamento do cliente e o que espera
realizar?

EXERCÍCIO 25.3
Escreva aqui (ou em um caderno) qual seria sua resposta se você achasse que a afirmação era
um exemplo do quarto nível de conceituação, funcionando como parte de um padrão maior de
compottamento social, tendo em mente que o foco aqui é a Competéncia 25.

Em sua resposta, como você está conceitualizando o comportamento do cliente e o que espera
realizar?

COMPETENCIA 26: Os modelos e práticas do terapeuta sacm da mente e retomam o


momento presente na sessão.

EXERCÍCIO 26
Este diálogo continua com o mesmo cliente que no diálogo da Competência 25.

Cliente: Sim, eu posso perceber, mas você não sabe o quão chateado ele está me deixando. Eu real-
mente acho que vou passar dos limites se ele não parar. Só nesta semana, ele me pediu mais
de cem dólares. Eu não tenho esse tipo de dinheiro. Ele está me drenando. Eu tenho que
pagar as contas. Eu tenho que pagar meu carro. Ele simplesmente não entende. Eu acho que
vou surtar.

Escreva aqui (ou em um caderno) qual seria sua resposta, demonstrando a Competência 26:
Aprendendo ACT 171

Em sua resposta, como você está conceitualizando o comportamento do cliente e o que espera
realizar?

—— MODELOS DE RESPOSTA PARA AS COMPETÊNCIAS CENTRAIS —

COMPETÊNCIA 21
Resposta Modelo 21a

Terapeuta: A questão é tentar entender. Mas você faz isso há anos e me disse que fez pouco para levar
as coisas adiante. Quero ver se podemos nos conectar a um espaço que possa ser mais útil
em termos de avançar. Vamos sair do passado por um momento. Diga-me: do que você está
ciente agora? O que você percebe neste momento?

Explicação: Pode ser fácil para os terapeutas ficarem envolvidos no conteúdo dos clien-
tes. Muitos clientes têm histórias convincentes que podem levar o terapeuta a seguir um
caminho que acaba por auxiliar os clientes a continuar evitando. Isso não quer dizer que
os terapeutas não devam ouvir o que seus clientes tém a dizer. No entanto, a ACT não é
uma terapia na qual o terapeuta escuta de apoio a maior parte do tempo. É uma abordagem
muito ativa. Ainda mais, se o cliente se engajar com o tipo de resposta modelo presente
aqui, ele será imediatamente retirado do passado para o aqui e agora. E se o cliente puder
ficar ciente do que está sentindo no presente, o terapeuta pode apontar como o cliente não
estd no passado, mas estd aqui neste momento, sentindo suas emoções e ciente do que está
presente. Mesmo que a emoção seja raiva, o terapeuta pode trabalhar com ela, explorando
como a raiva estd afetando a vida do cliente e verificando se há algo por tris da raiva, como
a tristeza. Essas estratégias sio muito mais focadas no momento presente do que ficar na
hist6ria do cliente.

Resposta Modelo 21b

Terapeuta: Então, uma das coisas que poderiamos fazer aqui é nos concentrarmos em como o governo
errou tantos anos atras. Você acha que isso seria util?
Cliente: Na verdade não.

— Terapeuta: É possivel que esse foco seja problemdtico e o que precisamos fazer é focar no que vocé
pode fazer agora— trabalhar para descobrir o que estd disponivel para vocé neste momento,
hoje?
"
172 Entrando em contato com o momento presente

Explicagdo: Aqui, o terapeuta sugere que a estratégia de focar no passado não será útil. Embora
muitos clientes estejam cientes de que isso é verdade, ajudá-los a estar no aqui e agora e a fazer o
que pode ser feito a partir deste momento é uma etapa útil, especialmente se estiverem presos no
passado há muito tempo.

COMPETENCIA 22
Resposta Modelo 22a

Terapeuta: Entdo, estou sentindo esse sentimento de frustragio. [Pausa.] Eu realmente quero que vocé
Ppossa seguir adiante, mas continuamos aqui. Eu ndo quero que vocé me ajude. Eu só quero
compartilhar o sentimento que está vindo em mim. Néo tenho jeito. O que surge para vocé
quando digo isso?

Explicação: Esta é uma resposta honesta e no momento presente para o cliente em relação a ficar
paralisado, com o terapeuta modelando diretamente apontando para a experiéncia pessoal e disposto
a falar desta experiéncia, exatamente como estd pedindo ao cliente. É uma jogada mais arfiscada,
provavelmente apropriada apenas depois de uma sólida aliança terapéutica, mas valiosa para modelar
adisposicio de experimentar o momento, além de apontar Ppata os sentimentos de desesperanca que
surgem quando tentamos desfazer a histéria.

Resposta Modelo 22b

Terapeuta: Quando mencionei que essa histéria parece ter um impacto sobre nés aqui na
sala, senti uma
sensagdo de estar sendo esmagada, como se não houvesse espaço para explorarmos ou
traba-
lharmos em outras coisas até que esse problema seja resolvido... Já exploramos a impossibi-
lidade de resolver isso. Vocé sente uma sensação de estar sendo esmagado? Vocé
pode sentir
o aperto?

Explicagdo: O terapeuta está revelando sobre sua experiéncia no momento e abordan


do
a viabilidade de passar mais tempo dentro dessa ruminagdo. Isso faz o cliente voltar

COMPETENCIA 23
Resposta Modelo 23a

Terapeuta: . Gostaria de saber se poderiamos trabalhar para encontrar quebras nessa


ideia de que
é tudo o que vocé pensa. Hd um tempo atrás, vocé me contou algo sobre sua esposa e filhos.
Portanto, seus pensamentos, e eu suspeito que seus sentimentos também mudem
com o te!
po. É só quando você está preso neste assunto sobre o governo que parece que
nada muda.
Você estaria disposto a fazer um exercício comigo?

Cliente: Sim.
Aprendendo ACT 173

‘:' O terapeuta, em seguida, orienta o cliente por meio de um exercicio no qual o cliente tem
que desenhar uma linha no centro de uma pigina e escreve “Pensamentos” na parte superior
da coluna esquerda e “Sentimentos” na parte superior da coluna direita. O terapeuta sugere que
o cliente observe seus pensamentos e sentimentos momento a momento e registre-0s na co-
Juna apropriada. Como alternativa, qualquer outro exercicio de consciéncia do momento pre-
sente pode ser usado aqui, como o exercicio O Observador (Hayes et al., 2012, pp. 233-237).

Explicagdo: O terapeuta estd trabalhando com o cliente para ajudi-lo a ver que ele é mais
do que sua experiéncia particular com o governo. De fato, ele teve inúmeras expetiéncias
(pensamentos, emogdes, sensagdes, etc.). Só que ele ficou preso nessa tnica experiéncia e seus
esforços para corrigi-la aumentaram em vez de diminuir. Fazer um exercicio experiencial neste
momento ajuda o cliente a entrar em contato diretamente com a sensação de que continua-
mente seu eu tem experiéncias (eu-como-contexto) que possui indmeras experiéncias, não
apenas uma.

Resposta Modelo 23b

b Terapeuta: Vocé gostaria de explorar comigo a possibilidade de ser mais do que essa experiéncia... Que
isso ndo é tudo?

Cliente: Claro.

| Terapeuta: Convido você a fechar os olhos. [O cliente fecha os olhos.] Diga-me do que você se cons-
cientiza quando faz isso. Observe o que está acontecendo no momento.

- Cliente: Eu ouço o som da sua voz.

— Terapeuta: Certo. Agora concentre sua atenção. Fique no momento e me diga o que você percebe a cada
momento que passa. Vou ficar quieto pelo próximo minuto enquanto você faz isso.
_'Clieme: Eu ougo um carro lá fora... Sinto-me desconfortavel com os olhos fechados... Percebo que
minha perna estd rigida e quero esticd-la. [O cliente continua relatando; se ndo, o terapeuta
deve ser mais diretivo e perguntar repetidamente: “O que vocé percebe agora?”.]

Explicação: O terapeuta esta trabalhando com o cliente no momento para ajudi-lo a des-
cobrir que ele é um ser continuo, em evolugio e com experiéncias. Isso ajuda a afrouxar o
controle de sua hist6ria (“Sou uma pessoa raivosa e odeio o governo™), para que o cliente
Possa ver que ele tem muito mais experiéncias do que acredita. Apontar para o processo
continuo de vivenciar momento a momento pode ajudar os clientes a descobrir esse senso
maior de eu.

COMPETENCIA
Resposta Modelo 24a

Terapeuta: [Interrompe o cliente.] Observe o que aconteceu. Estávamos conversando sobre maneiras
pelas quais vocé poderia trazer seus valores vinculados ao seu relacionamento com sua
esposa hoje e vocé voltou ao passado. Vocé viu isso acontecendo? Que sentimentos podem
aparecer para vocé se voltarmos a trabalhar com seus valores?
P—-——*—

174 Entrando em contato com o momento presente

Explicação: Aqui, o terapeuta detectou a mudança do cliente de voltar


ao passado e o
informa sobre essa mudança. É útil trabalhar com os clientes para que se perceb
am es-
sas mudanças. Às vezes, acontecem com tanta rapidez e naturalidade que
os clientes mal
percebem. Depois que o terapeuta ajuda o cliente a perceber a mudanç
a, ele o guia de
volta ao presente, percebendo a experiência atual de mudar de assunt
o e depois, focando
novamente em trabalhar com os valores. O terapeuta também explora
todas as emoções
que surgem em relação a focar novamente nos valores, em parte para
em parte para deter-
minar se a mudança de assunto, voltando ao passado, funciona para
evitar a dor emocio-
nal associada a anos de não viver de maneira bascada em valores.. Isso també
m pode ser
sentido, observado e experienciado — ao mesmo tempo em que decide consert
ar a porta
do armário.

Resposta Modelo 24b

Terapeuta: VYocê reconhece para onde está indo agora?

Cliente: Sim.
Terapeuta: |[Fala com curiosidade.] Essa é uma direção que você quer ir?

Cliente: Não.

Terapeuta: Onde você gostaria de estar agora?

Cliente: Em qualquer lugar, menos lá.

Terapeuta: Pouco antes disso, estávamos conversando sobre como você


pode mostrar seu amor 'por sua
esposa. Você prefere falar sobre isso?

Explicação: Mais uma vez, o terapeuta atrai o cliente de volta para o aqui
e agora e o ajuda a
perceber o que está acontecendo, porque seria útil que ele aprendesse a percebe
r essas mud
ças no pensamento focado no passado quando elas ocorrerem. O terapeuta
reorienta o clie
para o trabalho com valores, um foco orientado para o presente.

COMPETÊNCIA 25

Resposta Modelo 25.1 (Em que a declaração da cliente é conceitualizad


a como refletin
um padrão maior de comportamento social.)

Terapeuta: No momento, estou tendo a experiência de me encontrar querendo dizer


para você seguir
Jrente e deixar isso de lado. Minha mente está realmente tentando me persuadir.
Gostaria
saber se é isso que acontece com outras pessoas em sua vida — elas dizem
para você se
em frente ou deixar de lado?

Explicação: O terapeuta telata honestamente o conteúdo de sua mente


e o faz de uma man
que modula a desfusdo usando a convenção “Estou tendo a experiéncia de...”
e referindo-se a s
mente como uma entidade separada. O relato direto do terapeuta de sua experiéncia taml
modela a percepção do momento presente e pode ajudar a elucidar possiveis conseq
uéncias
comportamento do cliente para outras pessoas importantes em sua vida.
Se eles se sentirem d
Aprendendo ACT 175

esma forma, aprender sobre isso pode ajudar a cliente a se tornar mais sensivel aos efeitos
ddn sobre 0s outros e ver como seu comportamento pode estar causando dificuldades nos
relacionamentos. Depois que o terapeuta oferecer esse Resposta Modelo, ele poderá explorar
se o que aconteceu na sala é de certa forma, semelhante a0 que acontece com outras pessoas
na vida da cliente — e se os resultados que ela esta recebendo se adéquam aos seus valores e de
como ela quer estar nos relacionamentos.

Resposta Modelo 25.2 (Em que a declaragio da cliente é conceitualizada como comunica-
ção indireta sobre o relacionamento terapéutico.)

Terapeuta: Estou ouvindo algo em sua voz, frustragéo ou talvez raiva. E tenho pensado em quanto tra-
balho fazemos aqui e nos comentdrios que vocé fez sobre a pressdo que sente as vezes. Estou
me perguntando se alguma parte do que vocé estd dizendo é realmente sobre o que estd
acontecendo entre vocé e eu. A medida que me concentro novamente e me afasto da solução
de problemas, pergunto-me se estou te irritando de alguma forma.

licagdo: O terapeuta esti acompanhando o comportamento da cliente em varios domi-


s: emocional, pensamentos e dindmica de relacionamento. Se ele detectar um distanciamen-
ou frustragio e raiva que não se encaixam perfeitamente na situacio, ou se a cliente estiver
esistindo 4 sua contribuicio de maneira que não estavam sendo úteis, o terapeuta pode ver o
“ comentário como relevante, não apenas para o relacionamento da cliente com a situagio com
o namorado, mas talvez também no relacionamento terapéutico. Se o cliente puder reconhe-
cer uma luta interpessoal com o terapeuta, o trabalho em sessão podera se concentrar no que
estiver presente (p. ex., sentimentos de pressio, coisas que não estio acontecendo conforme o
planejado, como se sente quando o terapeuta muda de assunto). Nesse caso, o foco pode ser a
exploração de maneiras de abrir o processo entre o terapeuta e a cliente a servigo da modela-
gem e estruturagdo de comportamentos mais eficazes no aqui e agora.

‘Resposta Modelo 25.3 (Em que a declaragio da cliente é conceitualizada como evitação.)

Terapeuta: É, você se sente perto de surtar; como se não houvesse outro lugar para ir... Posso fazer uma
pergunta?
Cliente: Claro.

Terapeuta: O que vocé está percebendo no seu corpo agora?

Cliente: Nada.

Terapeuta: Pegue um tempo. Diminua sua velocidade e olhe para dentro. O que está aparecendo?
Se precisar, vocé pode fechar os olhos. E, ao fazer isso, veja se consegue deixar de lado
qualquer resisténcia que sente ao deixar que essas coisas apare¢am. Veja se pode haver uma
sensagdo de algo importante em manter o que vocé sente agora. O que sua mente diz que
aconteceria se vocé simplesmente se sentasse, mantendo essas reações, sem fazer nada para
fazé-las desaparecer?

Diz que ndo vou conseguir.

OFk. E vocé pode perceber esse pensamento como um pensamento e ainda ficar aqui, per-
manecendo presente?
F—-—i

176 Entrando em contato com o momento presente

Explicagdo: O terapeura pode se eavolver com o que a cliente disse no nível do conteúdo
,
conversando com ela sobre problemas em seu relacionamento. No entanto, o terapeuta
suspei-
ta que a cliente está entrando em contato com alguns sentimentos que não está
expressando
€ usa isso como uma oportunidade para ajudar essa cliente emocionalmente distante
a entrar
em contato com uma reação em um nível diferente do que o puramente cognitivo, observan
-
do algo muito concreto — suas reações corporais. Então, quando a emoção está presente,
o
terapeuta sugere uma postura de aceitação enquanto também está consciente da mente.
Tsso é
importante, pois a mente pode levar a cliente de volta a luta.

COMPETÊNCIA 26
Resposta Modelo 26a

Terapeuta: Posso sentir a frustração e me vejo querendo me envolver na resolução


de problemas. Mas
neste momento me sinto impotente para consertar isso. Gostaria de saber
se sua mente di-
zendo que você vai surtar é relacionada ao mesmo desespero?

Cliente: Sim. Eu também sinto isso.


Terapeuta: Aproveitemos esse momento para perceber essa sensação de desamparo, mostrand
o como |
é quando parece que não há resposta. [Faz uma Pausa para permitir silêncio.
A cliente fica
muito quieta e parece prestes a chorar.] £ também observe que você não está surtando.
[Fala
gentilmente.]

Explicação: Talvez a coisa mais óbvia a ser feita nessa situagio seja ajudar a
cliente a se
na solução de problemas, o que pode incluir ensiná-la a ser assertivo. No entanto,
fazendo isso
cliente perderia uma oportunidade de experimentar o sentimento de desamparo
(ou seja, aceita
e aprender por expetiéncia que ela não vai surtar (ou seja, desfusdo). O terapeuta esti conceitu
ali-
zando que a cliente estar empacada é sendo, pelo menos parcialmente, devida a
evitar sentimente
de desamparo e fusão com pensamentos que ocorrem quando esses sentimentos
surgem. Tra
0 processo de volta 20 momento ajuda o cliente a se desfazer do conteddo de sua
mente. N
espago, o terapeuta pode ajudá-la a identificar e rastrear os custos de não querer
se sentir impotent
0 que pode incluir perdas financeiras, distincia do namorado e comportamento
passivo. Então,
foco pode se voltar para o que funcionari para o cliente, considerando seus
valores em relação a0
namorado. Isso pode incluir a solução de problemas, mas essa não seria a primeira
via.

Resposta Modelo 26b


Terapeuta: Percebo minha testa franzida... Uma tensio no pescogo... E sinto um desampar
o ao re
sobre toda a frustragdo que vocé deve estar sentindo, tanto com seu namorado quanto
ago!
comigo, por não entender. Gostaria de saber se vocé pode usar um tempo para perceb
0 que estd sentindo agora, neste momento. [O terapeuta entdo pede ao
cliente que n
quaisquer sentimentos, sensagdes e pensamentos presentes no momento,
no relacionan
terapéutico.]

Explicagdo: O terapeuta comeca modelando seu próprio processo de observa


ção de sensaçõe
e sentimentos pessoais em voz alta. Ele também reconhece a expressao de
tensão da cl:mhª
relacionamento terapêutico, refletida na declaração dela: “Você não sabe o quanto ele me deixa
f
Aprendendo ACT 177

tada”. O terapeuta então faz o cliente focar explicitamente em sua experiência no momento, saindo
do fluxo de pensamentos em que o cliente está envolvido, e passa a um modo de experimentar mais
orientado para o presente, relacional e direto.

“Para mais informações

Excelentes gravações em áudio de exercícios de imagem guiada, respiração e exame


corporal de exercício de mindfulness, narrados por Jon Kabat-Zinn, estão disponí-
veis, em inglês, em http:/ /www.mindfulnesscds.com.

Existem vários aplicativos úteis para smartphones que podem servir como lembretes e
guias na prática da tomada de consciência, mas eles estão mudando constantemente.
No momento da redação do livro original, vale a pena considerar Headspace, Insight
Timer, Buddhify, ACT Companion, and Stop, Breathe, and Think. Recomendamos
que você teste os aplicativos antes de recomenda-los aos clientes para garantir que
— eles não contradigam o trabalho que você está fazendo na sessão e nio forneca
— direta ou sutilmente mensagens defendendo o controle interno ou afirmando
que a felicidade é o objetivo ou o resultado final. A maioria dos aplicativos
inclui lembretes automatizados para a pritica formal, além de ajudar a integrar
mindfuness à vida cotidiana. Outro recurso para obter informagdes atualizadas sobre
mindfulness, incluindo aplicativos e aprender a meditar, é o Learning ACT Resource
Guide (disponivel para download , em inglés, em http:/ /wwwiearningact.com).

— Também existem 6timos cursos e recursos on-line, porém eles são muito extensos
— para serem citados aqui. Mas se vocé deseja ajudar seus clientes a praticar mindful
— ness, vale a pena fazer uma pesquisa oz-/ine e revisar alguns dos recursos disponiveis.

Finalmente, muitas comunidades tém centros de meditação locais, onde as pessoas


podem seguir um caminho tradicional para aprender a meditar, com o apoio de
— pessoas reais como parte de uma comunidade. Incentivamos vocé a se familiarizar
com esses recursos em sua área, pois pertencer a uma comunidade de apoio pode
ser uma das melhores maneiras de apoiar a pritica.

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