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 Dezembro 9, 2020

A INTERFERÊNCIA DAS
EMOÇÕES NO
PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
Curso de Pós-Graduação em Neuroaprendizagem, EAD, Universidade
do Norte do Paraná – UNOPAR, Polo Araranguá, Sc.

RESUMO
O presente artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que tem
como objetivo principal identificar a influência das emoções sobre o
processo de aprendizagem. Buscou-se investigar de que forma as
emoções influenciam na aprendizagem, identificar quais as bases
neurológicas envolvidas no sistema de emoções e no processo de
aprendizagem, assim como relacioná-las destacando a formam como
essas bases se interligam. Assim, propor uma reflexão sobre a relação
entre emoção e aprendizagem. Concluiu-se que as emoções
apresentam influencia sobre o processo de aprendizagem e que as
mesmas integram os processos de raciocínio. Desta forma esse artigo
veio a contribuir para o melhor entendimento e aplicabilidade dos
conhecimentos relacionados à neuroaprendizagem no contexto
escolar.

Palavras-chave: Emoções. Aprendizagem. Neuroaprendizagem.


Afetividade.

 INTRODUÇÃO
              Existem muitas maneiras de aprender. Sabemos também que
há muitos tipos de inteligência. E por muito tempo nas escolas, foi
usado um único método pedagógico. E era estimulado basicamente
um único tipo de inteligência, e as crianças e adolescentes que não se
enquadravam a esse método pedagógico tinham dificuldades para
aprender, ou precisavam de esforço para conseguir dominar o
conteúdo.  Para isso, a ciência vem contribuindo para que essas
metodologias de ensino venham se aprimorando, e desde então,
muitas coisas mudaram. Diante disso, podemos pensar sobre os
elementos e condições que interferem no processo de aprendizagem
de uma criança e/ou adolescente. Durante muito tempo focou-se nos
aspectos socioeconômicos e pedagógicos como principais elementos
influenciadores na aprendizagem. Há pouco, vem se considerando as
emoções como elementos importantes no processo de aprendizagem.
Apesar de ser algo inato e, de saber que as emoções fazem parte da
vida de todo ser humano, dentro das escolas, dos projetos
pedagógicos e entre os educadores pouco se considerou as emoções
como parte influenciadora no processo de aprendizagem.

Durante muito tempo os educadores ignoraram os suspiros, o


balançar de ombros, os pescoços vermelhos, os tremores, a
necessidade de falar muito, os silêncios, dentre outros indicadores da
presença de emoção. Acreditávamos que o aluno, ao entrar na sala de
aula, deveria acionar o seu “equipamento cognitivo” e que o resto do
sujeito, o corpo, seus desejos e seus sentimentos, deveriam ser
aguardados fora da sala de aula. Só as inteligências eram
contempladas em sala de aula.

(PAROLIN, 2007, p. 4272)


Hoje sabemos que as emoções são parte importante no processo de
aprendizagem, e por isso esse artigo foi pensado como forma de
contribuir para essa discussão.  Como forma de identificar a maneira
como as emoções influenciam a aprendizagem, identificar as
estruturas cerebrais envolvidas nas emoções e na aprendizagem. As
emoções são parte integrante da nossa subjetividade e estão
interligados às nossas cognições, aos nossos comportamentos e
nossas reações corporais. Partindo desse ponto, essa pesquisa
buscou entender como a emoção interfere no processo de
aprendizagem?

A neuroaprendizagem vem contribuindo muito para avanços nessas


discussões, pois nos proporciona o entendimento de como as redes
neurais são estabelecidas no momento da aprendizagem, bem como
de que maneira os estímulos chegam ao cérebro, da forma como as
memórias se consolidam, e de como temos acesso a essas
informações armazenadas. A neurociência vem nos desvendar o que
antes desconhecíamos sobre o momento da aprendizagem. Essas
descobertas colaboram muito no meio educacional para que os
educadores possam pensar novos manejos com os alunos, e assim,
conseguir estimular o aprendizado de muitas maneiras.

EMOÇÃO
As emoções dentro dos estudos das ciências ficaram por muito tempo
sob o olhar da psicologia e da psiquiatria. Há algum tempo a
neurologia, a neuropsicologia também veem se dedicando ao estudo
das emoções.  Um dos grandes estudiosos atuais que vem
contribuindo para progressos nesse tema é o neurologista e
neurocientista António Damásio.  A emoção durante muito tempo não
foi considerada como objeto de estudo, com o argumento de que era
algo muito subjetivo. E compreendido como o oposto da razão, essa
sim, sendo o objeto de estudo da ciência por muitos anos e
considerado uma das capacidades mais importantes do ser humano.
Porém, atualmente a emoção tem ganhado seu espaço no campo da
ciência, e muitas pesquisas vem sendo realizadas, e a importância da
emoção e sua influência sobre a razão vem sendo reconhecida.

Emoções bem direcionadas e bem situadas parecem constituir um


sistema de apoio sem o qual o edifício da razão não pode operar a
contento. Esses resultados e sua interpretação puseram em xeque a
ideia que descarta a emoção como se fosse um luxo, um estorvo ou
um mero vestígio evolutivo. Também possibilitaram que se visse a
emoção como a concretização da lógica da sobrevivência.

(DAMÁSIO, 2000, p. 85)


As emoções apresentam uma função social, pois é através delas que
conseguimos interagir socialmente, compreendendo mensagens não-
verbais,  e proporcionando o sentimento de empatia nas relações,
assim como nos ajuda a entender e responder adequadamente aos
estímulos do meio externo, como por exemplo, quando em uma
situação de perigo nosso cérebro opta por uma resposta de luta ou
fuga, ajudando em nossa preservação. “As emoções e sentimentos
constituem aspectos centrais na regulação biológica e estabelecem
uma ponte entre os processos racionais e os não racionais.”
(SANTOS, 2007, p. 181).

Sabemos que as emoções apresentam grande influência sobre aquilo


que pensamos e como interpretamos o mundo. É através das
emoções que conseguimos identificar o nosso estado interno na
relação com o ambiente externo, muitas vezes conseguindo identificar
as experiências vividas como positivas ou negativas, de bem-estar ou
mal-estar, prazer ou dor. Influenciando nossos pensamentos e
comportamentos, assim como nossa inteligência.

As emoções são adaptações que integram os mecanismos pelos


quais os organismos regulam a vida, quer numa reação específica a
uma situação quer na regulação do estado interno do indivíduo.
Emoções são conjuntos complexos de reações químicas e neurais,
formando um padrão; todas as emoções têm algum tipo de papel
regulador a desempenhar, levando, de um modo ou de outro, à
criação de circunstâncias vantajosas para o organismo em que o
fenômeno se manifesta; as emoções estão ligadas à vida de um
organismo, ao seu corpo, para ser exato, e seu papel é auxiliar o
organismo a conservar a vida.

(DAMÁSIO, 2000, p. 74-75).


 Diante disso, podemos entender a emoção como um fenômeno
psíquico, social e neuroquímico. A neurociência diz que emoção  é um
movimento de dentro para fora, e que geralmente é acompanhada por
respostas autonômicas, endócrinas e motoras esqueléticas. Foi no
final do século XX que avanços nos estudos sobre emoção ganharam
força. A partir da neuroimagem e da neurofisiologia, quando foram
descobertas novas conexões do Sistema Límbico e gerando maiores
conhecimentos sobre as bases neurais dos processos emotivos.

Segundo Costa (2011) atualmente várias regiões cerebrais estão


identificadas como envolvidas ou desencadeadoras de emoção, como
a amígdala, situada no lobo temporal, uma parte do lobo frontal
nominada córtex pré-frontal ventromedial e uma região frontal no
córtex do cíngulo. Estas regiões entram em ação em consequência de
sinais naturais ou com estímulos artificiais como corrente elétrica
aplicada ao tecido celular.

Para Barreto e Silva (2010) está se aprendendo que as emoções são


resultados de múltiplos sistemas do cérebro e do corpo que estão
distribuídos pela pessoa toda. Sabemos da importância das emoções
para a nossa sobrevivência como resposta ao meio. Nosso intuito aqui
é também analisar a importância das emoções nos processos de
aprendizagem.

APRENDIZAGEM
Podemos dizer que o ato de aprender compreende muitos fatores. E
que nascemos potencialmente inclinados a aprender. Já que isso faz
parte de nossa existência. Aprendemos que chorando recebemos
alimento de nossa mãe. Aprendemos depois de alguns meses de vida
que podemos nos apoiar em nossas pernas para caminhar, e assim,
vamos aprendendo  até adquirir aprendizagens mais complexas como
ler e escrever. Sabemos que a aprendizagem é  influenciada por
fatores internos (biológicos e psicológicos) e externos (sociais e
ambientais), e através de estímulos internos e externos o aprendizado
ocorre. Um dos conceitos de aprendizagem, e o que iremos utilizar
nesse artigo, é o conceito de aprendizagem para a neurociência.

O Sistema Nervoso é formado por células nervosas, os chamados


neurônios, que se interconectam (realizam sinapses) de forma
específica e precisa, formando os circuitos neurais. Através desses
circuitos, o organismo é capaz de produzir respostas que constituem
os comportamentos fixos invariantes (os reflexos), ou então, produzir
comportamentos variáveis em maior ou menor grau. […] O ato de
aprender é uma ação neurológica, pois significa realizar sinapses e
isso fortalece as sinapses.

(SOARES, 2012, p. 11-12)


Aprender é a capacidade de aumento de sinapses, ou seja, o aumento
de comunicação (através de neurotransmissores e impulsos nervosos)
entre os neurônios. Aprender é um processo de aquisição de
conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, possibilitado através
de estudo, ensino e/ou da experiência, que acaba por gerar mudanças
relativamente estáveis do comportamento.

O homem é dotado de um sistema nervoso capaz de modificar o


comportamento em função de experiências passadas. Essa
modificação no comportamento denomina-se aprendizado. […] As
funções de coordenar e controlar todas as atividades do organismo,
desde a contração dos músculos,  todo o funcionamento dos órgão
internos até a secreção das glândulas endócrinas, explica como o
sistema nervoso é integrador das sensações e ideias, operando os
fenômenos de consciência e de realidade.

(SOARES, 2012, p.11)


O Sistema nervoso é responsável em captar as informações do meio
externo, interpretar, assimilar e produzir uma resposta.  Essa interação
entre os neurônios, produzem redes neurais que constituem o sistema
de comunicação entre corpo-cérebro-corpo. Essa grande rede
proporciona uma fabulosa capacidade de processamento e
armazenamento de informação. Sabemos que para aprender o nosso
cérebro funciona como uma orquestra, necessitando de muitas áreas
distintas e também muitas funções como memória, atenção,
percepção, linguagem, emoções. E assim podemos aprender de
diversas formas. Não há uma única maneira de aprender, mas muitas.

As principais regiões encefálicas envolvidas com a aprendizagem são:


tálamo, córtex cerebral, funções corticais, amigdala, hipocampo,
hipotálomo e muitos outros ainda não identificados.

RELAÇÃO ENTRE EMOÇÃO E APRENDIZAGEM


         No âmbito da psicologia, um dos primeiros estudiosos a
considerar a emoção como parte do processo de aprendizagem foi
Henri Wallon[2]. Wallon considerou as emoções e a afetividade como
parte fundamental do desenvolvimento humano. Outros estudiosos
como Vygotsky, Paulo Freire também destacaram em suas obras a
importância das emoções e afetividade para a aprendizagem. A
neurociência também tem constatado que neurologicamente há uma
relação entre emoção e a forma como aprendemos. E esse dado nos
fornecesse muitas informações importantes e muitas possibilidades de
pensar nossos atuais métodos de ensino escolar. Em uma de suas
pesquisas Damásio nos pontua.

Por exemplo, estudos em meu laboratório mostraram que a emoção


integra os processos de raciocínio e decisão, seja isso bom ou mau. A
princípio, isso pode parecer contrário à intuição, mas há indícios em
favor dessa tese. As descobertas provêm do estudo de vários
indivíduos que eram inteiramente racionais no modo como conduziam
suas vidas até o momento em que, em conseqüência de uma lesão
neurológica em locais específicos do cérebro, perderam determinada
classe de emoções e, em um desdobramento paralelo
importantíssimo, perderam a capacidade para tomar decisões
racionais.

(DAMÁSIO, 2000, p.83)


Pesquisas como essa podem colaborar de maneira muito clara, com a
forma como entendemos a aprendizagem. Nosso organismo funciona
de maneira integrada, e por isso ainda há necessidade de aprofundar
os estudos, pois muitas áreas e suas relações ainda não foram
descobertas. Mas a cada nova descoberta, podemos entender que, o
ser humano é um ser complexo e que nenhuma dimensão ou
condição humana deve ser ignorada, pois pode contribuir no
entendimento do que somos e porque somos.

A neurociência fala do cérebro afetivo-emocional, onde as emoções


são organizadas, em regiões interconectadas, dando equilíbrio ao
comportamento humano. Elas ajudam ao aprendente na
concentração, no fluxo de atenção, no registro, na lembrança e,
fundamentalmente, no prazer de aprender […].

(CUNHA, 2010, p. 37)


Nós seres humanos precisamos de motivação para que possamos nos
empenhar em algo que queremos fazer. Não é atoa que as palestras e
livros motivacionais ganharam o mundo. Isso porque, precisamos nos
sentir entusiasmados e felizes com aquilo que nos propomos a fazer,
porque caso contrário, não o faremos bem ou até não o faremos. E
assim, também ocorre com a aprendizagem. Aprendemos mais
facilmente aquilo que nos gera motivação, interesse e curiosidade. E
tudo isso, está relacionado com o estado emocional de quem aprende.
Biologicamente isso pode ser explicado, e podemos entender esse
envolvimento das emoções, não só  como um evento psicológico, mas
também neurobiológico.

A memorização é facilitada quando há envolvimentos emocionais, pois


ativará o sistema límbico (estrutura cerebral que atua nos estados
emocionais) que fará com que haja a liberação de
neurotransmissores, fazendo com que os circuitos cerebrais fiquem
mais rápidos, facilitando a armazenagem de informações e o resgate
das que estão guardadas. Quando o sistema límbico (emocional) fica
excitado ou muito mais estimulado em relação a um fato ou evento,
isso induz uma maior produção de catecolamina, um neurotransmissor
excitador. O mesmo acontece com o neurotransmissor noradrenalina
que fortalecerá as memórias no cérebro.

(SOARES, 2012, 23-24)


As emoções influenciam tanto a fixação de novas informações como
também a evocação, pois quando revivemos algo que nos mobiliza
emocionalmente, nosso cérebro é capaz de relacionar, de forma
quase que automática, outros eventos ou situações que nos trouxeram
as mesmas emoções.  “Somos tão incapazes de impedir uma emoção
quanto de impedir um espirro.” (DAMÁSIO, 2000, p.99).

Sabe-se atualmente, que pessoas que apresentam um transtorno de


humor, como por exemplo, a depressão, tem um rebaixamento das
funções cerebrais. “Quimicamente, a depressão é causada por um
defeito nos neurotransmissores responsáveis pela produção de
hormônios como a serotonina e endorfina, que dão a sensação de
conforto, prazer e bem estar.” (ANDRADE et al, 2003, p.4). Claro que
aqui estamos falando de um transtorno, mas também de emoções.
Quando ficamos tristes as nossas sinapses e os neurotransmissores
agem de maneira diferentes de quando estamos alegres, por exemplo.
E no caso de uma pessoa com depressão, sua capacidade de
aprender também diminui, assim como sua motivação, sua vontade,
seu interesse sobre as coisas. Diante disso, como não considerar a
emoção parte influenciadora nesse processo de aprendizagem?

 Muitas crianças quando estão com problemas em casa, um conflito,


casos de violência, separação, etc. Geralmente, manifestam
dificuldades de aprendizagem, já que ela emocionalmente não está
diante de uma situação de bem-estar, mas de conflito. Seu cérebro
acaba por rebaixar seu funcionamento, interferindo em funções como
atenção, concentração, memória e planejamento.

Outro exemplo, de como as emoções interferem sobre nossa


capacidade cognitiva e de aprendizagem é: Imagine uma pessoa que
tenha muito medo de altura, e ela em um impulso de coragem aceita
fazer um passeio de teleférico, e ao entrar no teleférico o nível de
noradrenalina aumenta, a pressão sanguínea também, e a pessoa
começa a ficar em alerta com medo que o teleférico caia. Nesse
momento, encontra-se no teleférico um monitor, responsável por
passar informações sobre o lugar, a construção, os objetivos e vários
outros dados, para conhecimento das pessoas que ali se encontram.
Possivelmente, devido à emoção de medo, essa pessoa ao terminar o
passeio, não se lembrará de muita coisa que foi dita pelo monitor.
Possivelmente, porque suas funções executivas sofreram interferência
de seu estado emocional. Sua atenção e todas as outras funções de
seu corpo estavam voltadas para a sua preservação e proteção, já
que seu organismo identificou o teleférico como uma ameaça a sua
vida. Não somos capazes de nos concentrar em situações de medo
intenso. O cérebro não consegue processar todas as informações
sensoriais que chegam do ambiente simultaneamente. A atividade
cerebral será modulada quando a atenção é dirigida para um estímulo
específico, nesse caso, o sistema nervoso acaba por optar entre lutar
ou fugir de uma ameaça ou perigo, ou prestar atenção a algumas
informações. “O foco que concentramos nas nossas emoções,
positivas ou negativas, interfere no cognitivo. O desequilíbrio
emocional influencia o gerenciamento dos pensamentos”. (CUNHA,
2010, p.39)

              Para Damásio (2000) embora as reações emocionais sejam


moldadas em cada indivíduo de forma distinta pelo meio. Há indícios
que, as maiorias das reações emocionais passaram por minuciosos
ajustes evolutivos. E como forma de sobrevivência durante a evolução
humana as emoções funcionam como mecanismos biorreguladores
com os quais nascemos.
Para aprender nosso cérebro utiliza-se de várias funções executivas
como atenção, memória, consciência, planejamento. O hipocampo é
uma estrutura particularmente, envolvida com os fenômenos de
memória, função importantíssima para a aprendizagem.  A amígdala é
uma estrutura situada dentro da região do lobo temporal que se
interconecta com o hipocampo os núcleos septais, a área pré-frontal e
o tálamo. Sabe-se  que a amígdala é a estrutura responsável pela
sensação de perigo, medo e ansiedade. A memória sofre fortes
interferências emocionais, e como não podemos falar de
aprendizagem sem falar em memória, uma função diretamente ligada,
já que aprender envolve também armazenar informações e
experiências, assim como evocar e recordar.  Sarmiento  et  al (2007) 
explica  que  fatores  emocionais  estão  intimamente  relacionados 
com memória  de  longo  prazo  e  consequentemente,  com  a 
aprendizagem.  O atrelamento das emoções com a fixação das
memórias é tido porque as áreas cerebrais envolvidas na memória
também fazem parte do sistema límbico, que está diretamente
relacionado com nossas emoções.

Muitos autores relatam que as memórias relacionadas a fatos


marcantes tem relação com a ativação da amígdala. A amígdala faz
parte do sistema límbico e é importante para a integração dos
processos das emoções no cérebro. E ela interage com o hipocampo
influenciando a consolidação das memórias.

Embora a amígdala não estabeleça conexão direta com o córtex


lateral pré-frontal, ela se comunica com o córtex cingulado anterior e o
córtex orbital, os quais estão envolvidos nos circuitos da memória,
tornando possível a justificativa de alguns autores de que a amígdala
participa na modulação da memória e na integração de informações
emocionais e cognitivas, possivelmente atribuindo-lhes carga
emocional, possibilitando a transformação de experiências subjetivas
em experiências emocionais.

(ESPERIDIÃO-ANTONIO et al., 2008, p. 64)


Segundo Esperidião-Antonio et al. O Sistema das emoções seria
composto pelo: Giro do Cíngulo (relacionado a depressão, ansiedade
e agressividade. Auxiliam na determinação dos conteúdos da
memória);  Giro para-hipocampal (armazenamento da memória);
Hipotálamo ( Estrutura relacionando áreas límbicas e encefálicas.
Importante papel sobre o comportamento e emoções); Tálamo ( As
funções mais conhecidas relacionam-se com sensibilidade,
motricidade, comportamento emocional e ativação do córtex cerebral);
Hipocampo (importantes funções relacionadas ao comportamento e à
memória.);   Amígdala ( É ativada em situações com marcante
significado emocional, também relacionada aos aprendizados
emocionais e ao armazenamento de memórias afetivas. Ademais, a
amígdala é responsável pela formação da associação entre estímulos
e recompensas); Septo (O septo relaciona-se à raiva, ao prazer e ao
controle neurovegetativo); Área pré-frontal (Estrutura relacionada a
tomada de decisões, estratégias comportamentais, controle do
comportamento emocional); Cerebelo (poderoso coordenador, capaz
de contribuir tanto para as habilidades motoras, quanto sensoriais e
cognitivas).

Essas áreas citadas estão relacionadas ao sistema de emoções. No


entanto, sabemos que muitas áreas dessas, estão relacionadas com
outras funções cerebrais. E é nesse aspecto que é importante
ressaltar, que neurologicamente as nossas funções cerebrais estão
interligadas e assim como a memória, a emoção e aprendizagem. 
Sabemos que o nosso sistema nervoso apresenta um funcionar
complexo e, que ainda não foi descrito completamente. Mas baseado
nas pesquisas, é visível a relação entre emoções e aprendizado. No
aspecto psicológico entende-se que a emoção é fundamental nesse
processo e que a muito vem se falando sobre isso, a forma que a
pessoa sente-se ou experiência determinada situação pode influenciar
na forma como assimila e acomoda a experiência.  Sabendo da
interferência das emoções no processo de aprendizagem de uma
criança e/ou adolescente, pode-se repensar a forma como o professor
em sala de aula lida com as emoções e sentimentos de seus alunos,
não ignorando, mas entendendo e podendo lidar de forma mais
humanizada com elas. Percebendo como parte do processo. E assim,
possa usar isso ao favor do ensino.  Com aulas de despertem no
aluno alguns sentimentos e emoções, curiosidades, interesse e
motivação. Aulas que desafiem seus alunos a pensarem por si
mesmos e entrar em contato com aquilo que são, para assim poder
entender o que está fora deles. Essa forma de educação significativa
também é defendida por Paulo Freire. Que aqui não iremos abordar
por não ser o foco de nossa pesquisa, mas que, sua teoria de ensino
tem um olhar humano e respeitoso com aquilo que o aluno é e sente,
ensinando algo que faça sentindo. Uma das frases mais famosas de
Paulo Freire é “Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada
instante.”. E penso que aprender seja também isso, dar sentido aquilo
que fazemos, vimos, ouvimos e sentimos na relação com mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicologia vem durante muito tempo, falando das emoções como
parte influenciadora da aprendizagem e, das demais condições
humanas. Percebe-se que as emoções conseguem sair de um
contexto que antes pertencia somente a psicologia, e consegue ser
vista também como parte influenciadora da aprendizagem, também
em uma questão neurobiológica. As emoções são condições inatas ao
ser humano, e diante disso, pode-se dizer que faz parte do processo
de desenvolvimento. Conclui-se que as emoções apresentam grande
importância no processo de aprendizagem, tendo elas, uma função
propulsora ou inibidora dessa aprendizagem. Pode-se perceber que
as emoções interferem na forma como pensamos e percebemos o
meio em que vivemos, e    que assim como Damásio nos traz  em
suas pesquisas, a emoção integra o processo de raciocínio e de
tomada de decisão. A emoção faz parte do nosso processo de razão,
do pensar.

 E neurobiologicamente, é possível ver estruturas que se interligam


nesse processo entre as emoções e a aprendizagem. Ainda há muito
que ser investigado, pois o nosso sistema nervoso é uma estrutura
complexa, e ainda há muito que entendermos. Em relação à
neuropsicologia muitas pesquisas estão sendo feitas em buscas de
respostas. Pois bem, esse trabalho veio para colaborar e para
despertar novos interesses sobre esse tema.  E através dessa revisão
bibliográfica, foi possível encontrar muitas pesquisas que relatam a
interferência da emoção no processo de aprendizagem. O que
podemos entender com isso é que através desse novo olhar sobre a
aprendizagem, podem-se pensar novas formas de educação e de
metodologias de ensino, que venham com uma nova forma de pensar
sobre o aluno, sobre a educação e sobre o processo de
aprendizagem. Nossas emoções fazem parte de nós, é uma condição
humana que não podemos ignorar.  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Rosângela Vieira de et al. Atuação dos
Neurotransmissores na Depressão. Revista Ciências
Farmacêuticas, Brasília, v. 1, n. 1, p. 1-4, jan. 2003. Disponível em:
<http://www.saudeemmovimento.com.br/revista/artigos/cienciasfarmac
euticas/v1n1a6.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2016.

BARRETO, João Erivan Façanha; SILVA, Luciane Ponte e. Sistema


límbico e as emoções– uma revisão anatômica. Rev, Neurocienc,
Fortaleza – CE. 2010;18(3): p.386-394

COSTA, Jane Maria Pancinha. Sobre sensações, emoções e


sentimentos: Uma contribuição para o embasamento teórico da
Análise Transacional. Revista Brasileira de Análise Transacional,
Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 64-82, abr. 2011. 

CUNHA, Eugênio . Afeto e aprendizagem: Relação de amorosidade


e saber na prática pedagógica. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Editora Wak,
2010. 129 p.

DAMÁSIO, Antônio. O mistério da consciência: do corpo e das


emoções ao conhecimento de si. São Paulo: Companhia das Letras,
2000. 690 p.

ESPERIDIÃO-ANTONIO, Vanderson et al. Neurobiologia das


emoções. Rev. Psiq.Clín. Rio de Janeiro, v. 2, n. 35, p. 55-65, out.
2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rpc/v35n2/a03v35n2>.
Acesso em: 11 ago. 2016.

PAROLIN, Isabel. As emoções como mediadoras da aprendizagem.


In: Congresso Nacional de Educação- EDUCARE Saberes Docentes,
6., 2007, PUCPR. Congresso Nacional de Educação- EDUCARE …
Curitiba / PR: Editora Universitária Champagnat, 2007. p. 4272-4281.
Disponível em:
<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2007/anaisEvento/arqui
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SARMIENTO, E. L. P.; GARRIDO, L. M. M.; CONDE, C.; TOMAZ, C.
Emoção e  Memória:  inter-relações  psicobiológicas.  Brasília
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SANTOS, Flávia Maria Teixeira dos. As emoções nas interações e a


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SOARES, Letícia Poletti. As bases neurobiológicas da


aprendizagem. 2012. 40f. Monografia (especialização Neurociência
pedagógica) – Faculdade Candido Mendes, Rio de Janeiro, 2012.

[1] Psicóloga graduada pela Universidade do Extremo Sul Catarinense


– UNESC. Pós-graduada em Análise Transacional pela Faculdade de
Tecnologia Juscelino Kubitschek. End.: Av. Getúlio Vargas, sala 301,
150, centro, Sombrio – SC. Tel.: 48 96197344. E-
mail: camilaemerim9@yahoo.com.br.

[2] Para maior aprofundamento: WALLON, H. A evolução


psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1994.

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