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Grupo iPED – Curso de Sexualidade e a Educação

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Sumário

Introdução ............................................................................................................ Pág. 6


Panorama geral .................................................................................................... Pág. 7
Contextualização .................................................................................................. Pág. 7
A sexualidade e a orientação sexual no Brasil ..................................................... Pág. 9
Sexualidade, política e educação ........................................................................ Pág. 13
Sexualidade na escola ......................................................................................... Pág. 20
Pedagogia de gêneros ......................................................................................... Pág. 21
Orientações ao educador ..................................................................................... Pág. 24
O papel da escola ................................................................................................ Pág. 34
O papel da família ................................................................................................ Pág. 41
Quebrando os dogmas ........................................................................................ Pág. 44
Vamos falar sobre sexo?...................................................................................... Pág. 44
A homossexualidade ............................................................................................ Pág. 47
Gravidez na adolescência e o aborto ................................................................... Pág. 52
Drogas.................................................................................................................. Pág. 56
DSTs .................................................................................................................... Pág. 58
Orientação sexual ................................................................................................ Pág. 63
Orientação sexual X Educação sexual ................................................................. Pág. 63
Construção da identidade sexual ......................................................................... Pág. 65
Primeiras experiências ......................................................................................... Pág. 68
Sexualidade na infância ....................................................................................... Pág. 70
Sexo na adolescência .......................................................................................... Pág. 77
Dúvidas frequentes dos pais em relação aos filhos ............................................. Pág. 79
Encerramento....................................................................................................... Pág. 84
Bibliografia ........................................................................................................... Pág. 85

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Institucional

O iPED, Instituto Politécnico de Ensino a Distância, é um centro de


educação on-line que oferece informação, conhecimento e treinamento para
profissionais, educadores e qualquer um que queira evoluir
profissionalmente e culturalmente.

Nosso objetivo é torná-lo uma base forte de conhecimento e expandir cada


vez mais o seu nível intelectual e cultural.

Oferecemos uma quantidade enorme de informação, além de diversos


cursos on-line, onde você se mantém atualizado em qualquer lugar e a
qualquer hora.

Educação à Distância

Aulas online ou a prática de aprendizagem à distância, através de ambientes


virtuais e redes de computadores interligadas para fins educacionais e
culturais, nada mais é do que o meio mais prático e inteligente de
proliferação de conhecimento.

Através de ambientes virtuais e sistemas inteligentes, é possível adquirir


conhecimento de forma total ou gradativa.

Esse é nosso conceito de educação, em tempo real, total ou gradativo,


quando quiser e onde quiser e acima de tudo, da forma que quiser!

Nossa Missão

O Grupo iPED foi lançado com o intuito de aprimorar e disseminar o conceito


de ensino a distância.

Com a implantação do ensino a distância, pesquisas recentes registram que


as pessoas alavancam os resultados dos módulos de treinamento em até
70%, eliminando as distâncias geográficas e proporcionando a melhoria da
gestão do conhecimento e dos recursos humanos por competências.

Pensando nisso o iPED presta esse serviço a todos, para que a exclusão
digital seja cada vez menor e com o passar do tempo ela desapareça
completamente.

Esse é nosso objetivo, essa é nossa missão, e esteja certo que vamos
conseguir!

Fabio Neves de Sousa


Diretor Geral - Grupo iPED

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Certificação

O conceito de reconhecimento virtual é concedido através de avaliação feita


pelo sistema inteligente, que do inicio até o fim do curso está avaliando cada
aluno em suas atitudes individuais e em comparação as atitudes do coletivo.
Ao termino do conteúdo avaliado o aluno é submetido a uma avaliação final
que nada mais serve do que comprovar a avaliação do desempenho dele ao
longo de toda a trajetória do curso.

 Nosso sistema garante 100% de segurança.


 Empresas poderão confirmar a autenticidade do certificado, pois
temos o que existe de melhor em tecnologia disponível no mercado.
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Introdução

Olá.

Neste curso traremos relevantes informações sobre o tema


sexualidade relacionando-o à educação, aliás, este tema ainda tão recente
nas discussões pedagógicas, traz importantes reflexões para a
compreensão do universo infantojuvenil.

Abordaremos a sexualidade sob uma perspectiva social e política no


Brasil. Discutiremos o papel do educador, da escola e da família a respeito
deste tema tão complexo.

Não deixando de lado as sugestões dos Parâmetros Nacionais


Curriculares (PCNs), veremos o que diz a respeito dos temas transversais
como saúde e drogas. Também abordaremos um tema muito complicado: a
gravidez na adolescência.

Falaremos, sobretudo, dos dogmas que a sociedade criou a respeito


do tema sexo, homossexualidade e DSTs.

Por fim, trataremos da orientação sexual, envolvendo aspectos como


a construção da identidade sexual, das primeiras experiências do jovem, da
questão do sexo na adolescência, bem como algumas dúvidas recorrentes
sobre este tema.

Bom curso.

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Unidade 1 - Panorama geral

Olá,

Nesta unidade abordaremos o contexto social em que se estabelece


essa discussão. Estabeleceremos um panorama geral acerca do tema no
Brasil.

Discutiremos a sexualidade dentro da educação, também em que


modelo de escola este tema está inserido. Trataremos da orientação sexual
de maneira particular e subjetiva.

Em suma, traremos à tona esta discussão, refletiremos sobre quão


importante é a liberdade sexual e como este assunto deve ser tratado tanto
na escola como na sociedade.

Bom estudo.

1.1 - Contextualização

A sexualidade humana tem sido ao longo dos tempos, objeto de


estudo em várias pesquisas. Neste contexto, a orientação sexual aparece
com relevante significado, isso em virtude da sua relação com a própria
condição humana.

Acredita-se que a sexualidade está arraigada na existência humana


do nascimento à morte, permeando todas as manifestações do indivíduo.

Na literatura existente a respeito do tema, percebe-se um número


considerável de estudos que subsidiam os educadores em sala de aula.

Contudo, as poucas instituições que incluem em suas práticas


pedagógicas um tema tão importante, por vezes tratam o assunto com
palestras ministradas por psicólogos ou médicos, como se isso apenas fosse
suficiente para esclarecer todas as dúvidas acerca do tema.

Talvez por equivoco, associa-se o tema sexualidade apenas à fase da


adolescência, deixando a infância e a pré-adolescência à mercê de
informações vindas de fontes não tão confiáveis como televisão e internet.

Para alguns educadores do Ensino Fundamental (1º e 2º ciclos), a


orientação sexual neste período não oferece benefícios à formação da
criança, posto que estimula precocemente a sua sexualidade.

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Estudos científicos realizados nesta área apontam para o contrário, o


estudo demonstra que o trabalho de orientação sexual não estimula a
atividade sexual prematuramente e não antecipa a idade do primeiro contato
sexual.

Muito menos aumenta a incidência de gravidez ou aborto na


adolescência. O estudo aponta que as crianças que tiveram tal orientação,
se mostraram mais responsáveis e conscientes de seus atos.

É notória a importância de se discutir a sexualidade na escola, uma


vez que cresce a cada dia o número de abuso sexual, gravidez precoce,
contaminação através de DST/AIDS, principalmente entre os adolescentes,
dentre outros temas fundamentais para essa discussão, que se faz
necessária e inadiável.

De modo geral, podemos observar que a orientação sexual na escola


pública brasileira tem recebido pouca atenção das políticas públicas e
educacionais.

Apesar da LDB – Lei de Diretrizes e Bases, regulamentar que é dever


da família, sobretudo, do Estado, zelar pela formação de todo cidadão. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs contemplam a orientação sexual
nos temas transversais. Os PCNs são diretrizes estipuladas pelo ministério
da Educação regulamentando a grade curricular em todas as instituições de
ensino.

Entretanto é necessário ir além do caráter informativo como sugere os


PCNs. é preciso botar em prática, trazer para rodas de discussão, debates e
trabalhos.

A importância de se discutir um assunto tão complexo, está


justamente na necessidade que temos de preparar o jovem, em todos os
aspectos para suas experiências futuras.

A sexualidade vai mais além do que a busca de prazer, passa pela


constituição do indivíduo, até a questão da cidadania.

Embora alguns estudiosos e educadores não considerem positivo


este assunto ser tratado em sala de aula, a grande maioria considera que
abordar este tema é de grande relevância na formação pessoal do indivíduo.

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Em síntese, trata-se de unificar as diferenças de gênero, de maneira


que seja natural, a relação do indivíduo com seu corpo, ou com sua
orientação sexual.

1.2 - A sexualidade e a orientação sexual no Brasil

Antes de tratarmos do tema educação sexual no Brasil, nos


remeteremos a algumas datas e eventos importantes, para melhor
compreendermos sua história.

Não se sabe ao certo quando ocorreu à entrada da questão da


sexualidade nas escolas, contudo alguns estudiosos advogam que o tema
surgiu na França, a partir da segunda metade do século XVIII.

Segundo os estudiosos, somente a partir deste período é que os


educadores começaram a se preocupar com a educação sexual na
instituição escolar.

Essa educação tinha como objetivo maior, combater a masturbação


entre os jovens colegiais, para isso se apropriava das ideias de Rousseau,
onde a ignorância era a melhor maneira de manter a pureza infantil.

Um século depois, as discussões a respeito da educação sexual


voltam à tona, só que desta vez, esta abordagem preocupava-se em
prevenir doenças venéreas, a degenerescência das raças e o aumento do
aborto clandestino.

No século XX voltou à tona a questão da educação sexual, voltada ao


esclarecimento das questões de reprodução e continuidade da espécie e
também, a relação entre instintos sexuais e reprodução humana.

Apesar das discussões e reflexões sobre a educação sexual terem


sido iniciadas na França, foi na Suécia onde essa abordagem foi
sistematizada e organizada nas instituições de ensino. Foi lá, onde
ocorreram às primeiras conferências públicas sobre as funções sexuais,
também as primeiras reivindicações sobre o livre acesso aos métodos
contraceptivos.

Consta que lá também ocorreu pela primeira vez, a recomendação de


um governo, a educação sexual na escola em 1942, declarada obrigatória
em 1956.

Entretanto, verificou-se que os preceitos da educação sexual já


estavam presentes desde o início do século, quando Freud inovou as
ciências humanas com suas teorias sobre a sexualidade e suas implicações
no comportamento humano.

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No Brasil temos os primeiros registros de discussões sobre educação


sexual em 1920. É nesta época que as primeiras reflexões e as primeiras
ideias são ouvidas.

Influenciado pelas correntes médicas e higienistas francesas, com o


objetivo geral de combater a masturbação, as doenças venéreas, e preparar
a mulher para exercer seu papel de dona do lar. Visava-se sempre a saúde
pública e a moral sadia.

De 1935 até 1950, não se tem registros de qualquer tipo de iniciativa


ligada à sexualidade. O que resultou num tremendo retrocesso no caminho
da educação sexual no Brasil.

Ainda na década de 1950, a igreja católica que dominava o sistema


educacional para a elite brasileira, manteve um olhar de reprovação sobre a
educação sexual. Neste período surgem alguns estudos mais aprofundados
sobre a sexualidade na educação.

A década de 1960 foi um período muito complicado no Brasil.


Passávamos pela repressão, estabelecia-se o regime de exceção.
Mudanças políticas radicais foram estabelecidas após o golpe de 1964.

Na educação, há registros de tentativas de implantação da educação


sexual para alunos das escolas públicas e particulares. Algumas foram
pioneiras no trato deste assunto em sala de aula.

Entretanto, devido à reprovação dos pais, esta abordagem não


sobreviveu por muito tempo. Essas escolas tinham uma orientação mais
progressista, muito à frente do contexto social retrógrado da época.

Em 1968, a deputada Julia Steimbruck, do Rio de Janeiro, apresenta


o primeiro projeto de lei propondo a implantação obrigatória da educação
sexual em todas as escolas do país, em todos os níveis.

Após três anos, isto é, em 1970, especificamente em novembro, o


projeto ainda estava em tramitação. O projeto recebeu grande apoio da
maioria dos educadores, estudiosos e intelectuais, entretanto a burocracia
engessava esta proposta.

Ainda durante a década de 1970, precisamente entre 1974 e 1975, a


escola Preparatória de Cadetes do Exército, organizou uma série de
conferências sobre orientação sexual para alunos do 2º grau da escola
militar.

Em 1978 foi realizado por iniciativas particulares o 1º Congresso


Nacional sobre Educação Sexual nas escolas, em São Paulo, que teve como
objetivo debater a dimensão pública da educação sexual. Nesse congresso
registrou-se um grande interesse dos educadores para com o tema,
reunindo cerca de duas mil pessoas.

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A década de 1980 foi um tempo próspero referente à questão da


educação sexual. Foi um período de abertura política e retorno de grandes
pensadores e intelectuais das mais diversas áreas.

Enquanto o povo gritava nas ruas por “diretas já!”, eram publicadas as
primeiras revistas exibindo corpos nus, coisa que antes não ocorria.

Estava também ocorrendo uma grande revolução sexual nas mídias


de massa, a televisão, o cinema, e a mídia impressa, passava a publicar
conteúdos que até então, eram proibidos.

Nessa década a sexóloga Marta Suplicy fez um quadro no programa


TV Mulher, tratando justamente do tema sexo. Grande foi a repercussão
deste quadro nas mais diversas camadas da sociedade, fazendo ressurgir o
interesse pelo tema.

Em 1983 foi realizado o primeiro encontro para uma reflexão mais


robusta acerca da sexualidade na escola. Esta discussão se deu, sobretudo,
pelo crescimento acentuado nos índices de gravidez na adolescência e o
crescimento da AIDS entre os jovens.

Em 1989 a secretaria municipal da educação de São Paulo, sob


orientação de Paulo Freire, decidiu implantar a educação sexual na escola.
Primeiro nas escolas de 1º grau, estendendo para os outros níveis
paulatinamente.

O modelo foi tão bem elaborado, que foi copiado por outras capitais
brasileiras como Porto Alegre, Belo Horizonte, Florianópolis, entre outras.

O objetivo inicial era capacitar o educador para a abordagem deste


tema tão complexo, além de produzir material sobre o tema para que os
educadores estivessem aptos a trabalhar a orientação sexual e a prevenção
das DSTs.

Nos anos 1990 se intensificaram ainda mais as iniciativas de


promover a orientação sexual, uma vez que havia aumentado virtuosamente
o índice de gravidez na adolescência.

No final dos anos 1990 várias organizações não governamentais,


sobretudo a mídia buscava incentivar o debate sobre o tema de maneira
mais aberta. Em suma, foi somente na última década do século que
começamos a pensar e refletir sobre a importância da orientação sexual,
muito embora, como vimos estudos, já eram realizados há tempos.

Dos anos 1990 até hoje, muito se tem estudado e discutido a respeito
do tema. Os educadores têm sido subsidiados de informação. Contudo, as
redes privadas e públicas de ensino, não tem tido eficácia, por motivos de
tabu, pois discutir um tema complicado abertamente, não é tarefa fácil.

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Dentro do contexto atual, a orientação sexual nas escolas se faz cada


vez mais necessária, entretanto precisa ser discutida de forma clara e coesa,
de maneira que chegue à raiz do problema, isto é, informe e conscientize.

A dúvida maior é se os professores estão preparados para ministrar


aulas de orientação sexual, um campo complexo e cheio de
questionamentos e incertezas, uma vez que os educadores de hoje, foram
os educandos de ontem e sofreram a repressão sexual daquele tempo que
certamente deixaram marcas profundas no comportamento e no modo de
pensar de cada um.

Em pleno século XXI, nota-se a crescente necessidade de informação


dos jovens seja sobre literatura, cinema, e é claro sexo. Cada vez mais os
filhos vão buscar a conversa com os pais.

Observe na imagem abaixo a charge de Mauricio de Sousa.

Sexo é uma coisa natural? Qual o papel da psicanálise na compreensão


do tema?

Segundo um grande estudioso da psicanálise, Sigmund Freud, a


sexualidade está intrinsecamente relacionada ao homem, é condição para
nossa existência. A psicanálise, de modo geral, fez da sexualidade um
conceito fundamental dentro de sua teoria.

A principal obra de Freud que trata da sexualidade intitula-se: “Três


ensaios sobre a sexualidade”, escrito em 1905, trata-se de um livro
relativamente pequeno. Nele Freud desconstrói a concepção de instinto
sexual em voga na época.

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Logo no começo do livro, nos primeiros parágrafos Freud resume de


maneira magistral a concepção tradicional de sexualidade, contra o qual
alinhará seus argumentos críticos.

“A opinião popular tem ideias muito precisas à respeito da natureza e


das características do instinto sexual. A concepção geral é que está ausente
na infância, que se manifesta por ocasião da puberdade em relação ao
processo de chegada da maturidade, e se revela nas manifestações de uma
atração irresistível exercida por um sexo sobre o outro; quanto ao seu
objetivo, presume-se que seja a união sexual, ou pelo menos atos que
conduzam nessa direção”. (1977, p.135)

Certamente foi com muita ironia que Freud escreveu tais linhas, pois
sua teoria foi muito mais além de considerar a sexualidade um evento da
puberdade, inerte na fase da infância, e incontrolável na maturidade. Sua
obra na verdade foi uma crítica radical ao que a comunidade médica do
século XVIII e, por que não dizer ao que pensam muitas pessoas nos dias
de hoje, sobre a sexualidade.

Mas o que realmente tem Freud e a psicanálise a dizer sobre a


sexualidade?

Em síntese, a sexualidade nasce paralelamente a uma atividade vital


como se fosse um benefício de prazer marginal obtido graças a essa mesma
satisfação. A sexualidade nasce, portanto, apoiada numa função biológica,
isto é, faz parte de nós. Como Freud faz supor é que a sexualidade é uma
atividade que se prolonga para além da necessidade vital.

1.3 – Sexualidade, política e educação

Escolhemos estes três aspectos para figurarem neste tópico. Cada


um deles visa enfatizar um olhar, um viés da questão da sexualidade dentro
de um contexto sócio-histórico.

O termo política foi intencionalmente colocado entre a sexualidade e a


educação. É justamente para que possamos refletir na regulamentação da
vida sexual. Entretanto, as mudanças de comportamento podem influenciar
nas políticas adotadas pelo governo.

No decorrer da história vemos que independente do tipo de


sociedade, sempre ocorreu alguma forma de controle sobre a sexualidade
dos indivíduos que a compõe.

Seja através da religião, ou dos tabus, a sociedade exerce alguma


forma de pressão sobre o indivíduo. Basta pensarmos que há pouco tempo,
refletir sobre orientação sexual era quase um crime.

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Pessoas sofreram e outras ainda sofrem, pelo fato de terem uma


orientação sexual diferente. Isso é o resultado de séculos de omissão do
governo, aliado à hipocrisia da sociedade.

O papel da política é justamente integrar a sexualidade à educação,


uma sociedade informada é uma sociedade mais tolerante, consciente e,
sobretudo, saudável.

Antes de nos aprofundarmos neste tema, aliás, nestas três vertentes


de um mesmo tema, é importante nos perguntarmos, o que é sexualidade?
Você sabe?

A sexualidade de um indivíduo define-se como sendo as suas


preferências, predisposições ou experiências sexuais, na experimentação e
descoberta da sua identidade e atividade sexual, num determinado período
da sua existência.

Abaixo temos um interessante texto sobre sexualidade, de Marina


S.R. Almeida, consultora em educação inclusiva, além de psicóloga e
pedagoga do Instituto Inclusão Brasil.

O que é sexualidade?

“A sexualidade faz parte de nossa conduta. Ela faz parte da liberdade


em nosso usufruto deste mundo.”
(Michel Foucault)

A Sexualidade é parte integrante de todo ser humano, está relacionada à


intimidade, a afetividade, ao carinho, a ternura, a uma forma de expressão
de sentir e expressar o amor humano através das relações afetivo-sexuais.

Sua presença está em todos os aspectos da vida humana desde a


concepção até a morte, manifestando-se em todas as fases da vida,
infância, adolescência, fase adulta, terceira idade; sem distinção de raça,
cor, sexo, deficiência, etc.; além de que não está apenas nos aspectos
genitais, mas sendo considerada como uma das suas formas de expressão,
porém nunca como forma isolada, como um fim em si mesma.

Podemos definir sexualidade como um conjunto colorido que contém


contato, relação corpórea, psíquica, sentimental, desejo voltado a pessoas e
objetos; sonhos e delírios; prazer, gozo e dor; perda, sofrimento e frustração;
crescimento e futuro; consciência, plenitude do presente e memória do
passado; processos estes que vão sendo elaborados e dando espaço para
novas conquistas.

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Sentimentos esses que se alternam, cruzam-se de modo imprevisível,


exigindo uma progressiva capacidade do ser humano em ir dando
compreensão e aceitação às mudanças. Tudo sempre vinculado a intensas
sensações corpóreas, pensamentos constantes, parecem estarem no ar,
uma sensação de apaixonamento constante, que pode ser pelo próprio
corpo ou pelo desejo do corpo do outro, mas desejos, afetos e emoções que
precisam ser resignificadas em cada um nós.

Isto tudo encontraremos em cada um de nós, porque muitos já passaram por


isto, chama-se processo de adolescer. As pessoas negam as
transformações, outros passaram, outros se rebelaram, sofreram, outros
curtiram, viveram, outros não podem nem se lembrar, outros foram quase
que impedidos de viver esta experiência.

Acreditamos ser a última possibilidade a mais preocupante e paralisante,


porque impede de viver um amor verdadeiro.

A questão circunscrever-se em como as pessoas com síndrome de Down e


Autismo vivem a intensidade destas mudanças, deste novo conflito do
desenvolvimento humano, inerentes a todas as pessoas, e ainda quando
são impedidos de viverem seu processo de adolescência de maneira
saudável.

Portanto, a sexualidade não é exclusivamente física e das pessoas com


deficiência, acabam tendo grandes dificuldades na esfera sexual. Visto que,
é entendida apenas por sua concretude da sexualidade, sendo reduzida a
apenas ao sexo genital, masturbação, namoro preocupante, gravidez,
relações sexuais, homossexualidade, abuso sexual, doenças sexualmente
transmissíveis...

O desejo sexual aparece com a adolescência, denuncia que o corpo está se


modificando que cresceu e exige adaptações, mudanças de relações,
independência dos pais.

Portanto, queremos dizer que os deficientes intelectuais e autistas não só


querem se masturbar, querem ter relações sexuais, exibir os órgãos genitais
que se tornaram maduros, querem muitas vezes tirar a roupa revelando seu
corpo modificado, vivem tudo isto como uma vazão saudável, impulsiva é o
que assusta a todos. Querem a possibilidade de escolher seus parceiros, de
namorar e casar. Como qualquer pessoa precisa aprender a aguentar as
relações afetivas, o vínculo e reconhecimento do outro, a necessidade do
outro para se revelarem, dentro de um sistema familiar, de
responsabilidades, limites e adequação social.

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E isso não pode ser mais considerado como patológico ou como um


distúrbio de conduta. Encontramos casos que possam ter fatores assim, mas
em nossa experiência a maioria das situações estava infelizmente
relacionada ao manejo inadequado dos envolvidos com os portadores de
necessidades especiais, portanto de entenderem e serem continentes a
estas expressões humanas.

Como conduzir estas emoções e comportamentos que transbordam em


nós, nas pessoas, em nossos filhos, em nossos alunos?

Este é o grande impasse, origem talvez de muitos conflitos dos pais, na


família, na escola, entre profissionais ligados ao atendimento dos deficientes
mentais e autistas.

As famílias, sobretudo os pais, são as pessoas indicadas para atender essas


necessidades no curso desse momento evolutivo. Eles conhecem o filho há
mais tempo e podem proporcionar uma sensação de continuidade pessoal
quando ele sente as ameaças externas. Deram-lhe o aparato necessário e
os cuidados durante a infância, determinaram as regras, de modo que serão
as pessoas indicadas para ajudá-lo em mais esse desafio.

As crises ocorrem com o desenvolvimento normal dos adolescentes,


independente de serem ou não portadores de necessidades especiais,
trazendo à tona conflitos não resolvidos pelos pais, situações pensadas
como resolvidas ou até mesmo esquecidas. A vivência de velhos problemas
aparece para os pais em função dos filhos, aumentam a tensão em ambos
os lados. É preciso educar-se para poder educar. É a oportunidade de
aprender com as experiências dos filhos e resolver situações não vividas
anteriormente. Embora os pais possam ser mantidos num estado contínuo
de trocas de papéis, os filhos adolescentes conservam-se por um grande
período ainda como crianças e dependentes, principalmente quando estão
diante dos pais.

É difícil compreender essa dualidade. O período inclui transformações e


adaptações frequentes para o sistema dos pais e dos filhos. Os pais
precisam aprender a desenvolver um relacionamento mais adulto com seus
filhos, colaborando no processo de crescimento, dentro das condições
impostas por esse mesmo processo.

O adolescente experimenta uma contínua necessidade de sentir-se


protegido enquanto vai ensaiando sua independência, se rebelando,
procurando suas escolhas, indo contra aos hábitos dos pais, etc. O ideal
seria que os pais estivessem presentes quando necessário, sem interferir
muito, transmitindo uma sensação de firmeza para proporcionar o
estabelecimento dos novos comportamentos que estão conquistando.

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Os pais podem sentir-se preocupados ao enviar seus filhos para um mundo


que eles sabem ser complexo; providos apenas da simbólica preparação
que lhes deram em casa. Essa é, no entanto, a vivência do citado ciclo da
vida. Faz parte do processo de deixá-los crescer, que deve ocorrer entre
pais e filhos para vivenciar a maturidade das experiências.

Em todas as sociedades a adolescência constitui uma época de enormes


transformações e de transições. Em nossa sociedade, ela é também um
período de grande tensão, conflito, experiência e rebeldia.

O adolescente passa muitas vezes por uma crise de identidade, quando está
se preparando para assumir uma liberdade maior e as responsabilidades da
vida adulta. Cabe aos pais a difícil tarefa de controlar o comportamento
agressivo do adolescente, ajudando-o a aplainar o caminho para a
maturidade.

O adolescente é frequentemente absorvido pelo seu próprio grupo social,


dotado de uma subcultura e de normas sexuais "particulares".

Os anos adolescentes são difíceis para todos os jovens e são


particularmente confusos e frustrantes para o deficiente intelectual. Nesse
período a socialização atinge o seu momento de maior importância. Não é
raro que o deficiente intelectual apresente vários problemas graves de
adaptação nesta fase, por suas próprias dificuldades de interação com os
indivíduos de sua idade e de um modo por vezes inaceitável. As habilidades
de socialização são limitadas e restritas.

Durante a puberdade, o aumento dos impulsos sexuais e o desenvolvimento


de características sexuais secundárias apresentam problemas para o
deficiente intelectual. As mudanças fisiológicas ocasionam problemas
psicológicos para as pessoas na puberdade. No entanto, o indivíduo
portador de deficiência intelectual terá menos oportunidade de compreender
esses fenômenos.

Muitas vezes, também, não tem acesso à educação sexual que poderia
colaborar nesta compreensão.

Com a chegada da adolescência, muitos pais passam a preocupar-se com o


comportamento sexual dos filhos. O adolescente portador de um ligeiro
atraso comumente não se diferenciará quanto ao desenvolvimento e às
inclinações sexuais de outros jovens de sua idade. Devido às suas
limitações intelectuais, alguns deles se tornam impulsivos e podem
apresentar pouco discernimento em seus relacionamentos interpessoais,
mas nada que uma boa conversa não resolva.

As famílias necessitam de um espaço para explorar seus temores e


ansiedades relacionadas à sexualidade do adolescente e precisam de
orientação específica para traçar planos educacionais, junto com sua
participação na escola.

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A sexualidade é de grande importância no processo de desenvolvimento e


educação do ser humano e, como tal, deve ser abordada também em
relação à pessoa portadora de necessidades especiais.

A educação sexual deve fazer parte da construção gradativa do ser humano,


favorecendo uma personalidade psicologicamente sadia e socialmente
adequada.

As pessoas com deficiência desejam:

• Como qualquer adolescente, eles gostam de ouvir música, dançar, ver


televisão, produzir-se, passear, conversar, ficar juntos, falar alto, dar
risadas, ter segredinhos, telefonar para a (o) amiga (o), querem
comprar coisas da moda.

• Como qualquer adolescente, eles percebem despertar dentro de si


novos sentimentos, emoções, desejos, questionamentos.

• Como qualquer adolescente, eles têm necessidade de compreender e


viver esses sentimentos.

• Como qualquer adolescente, também vão se descobrir tendo suas


singularidades e necessidades diferentes.

Quando eles percebem a deficiência, começam a questionar o que têm de


diferente!

Isto implica que estão em crescimento, o adolescente está se situando no


mundo, conquistando sua identidade e espaço, quer saber por que está
naquela escola ou classe, diferente de seu amigo ou seu irmão, se estivesse
na escola normal em que série estaria, porque nasceu assim e outras
coisas, dependendo do seu nível de compreensão e permissão para seus
questionamentos.

Sentem-se os “donos do mundo”, como qualquer adolescente, eles se


acham capazes de fazer qualquer coisa, começam a descobrir o
pensamento, a capacidade de pensar, tem despertado sua sexualidade, da
mesma forma que outros jovens nessa fase. A diferença está na colocação
dos limites necessários, na disponibilidade dos pais, educadores,
profissionais envolvidos, que irão permitir que este crescimento tome forma.
Fonte: http://inclusaobrasil.blogspot.com/2010/07/o-que-e-sexualidade.html

Como vimos, a sexualidade envolve muitos outros fatores, não


podemos encará-la apenas como uma faceta que constitui nossa formação,
ela faz parte e ao mesmo tempo é imprescindível em todos os níveis de
relações interpessoais.

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Muito têm sido feito para ampliar as reflexões acerca das questões da
sexualidade na educação nos mais diversos níveis. Entretanto o assunto
ainda é visto com certo receio.

Há três abordagens sobre o tema educação, ou orientação sexual. A


primeira é a abordagem pedagógica, cujo intuito volta-se mais diretamente
ao processo ensino-aprendizado de sexualidade.

Valoriza também o aspecto informativo desse processo, podendo


também focar no aspecto formativo, onde se promova discussões e
reflexões sobre valores, atitudes, preconceitos, sentimentos e emoções.

Em síntese, direciona o pensamento para a reformulação de valores,


atitudes e preconceitos, na formação do indivíduo.

Na segunda abordagem, temos a tradicional abordagem religiosa,


em que é relacionada à vivência da sexualidade ao amor de Deus e à
submissão às normas religiosas oficiais.

Nesta abordagem, a meta é a preservação dos valores morais


cristãos e o desenvolvimento da vida espiritual. Vincula obrigatoriamente o
sexo ao amor pelo parceiro, ao casamento e especificamente à procriação.

Encara-se o casamento e a virgindade como os dois únicos modos de


viver em aliança com Deus, valoriza-se, sobretudo, a informação de
conteúdos específicos da sexualidade, muitas vezes está comprometido com
uma educação para o pudor.

Por fim, temos a abordagem política, e por isto a importância desta


na relação entre a sexualidade e a educação. Ela possui as seguintes
características:

Orienta para o resgate do gênero e do prazer na vida das pessoas.


Também alerta para uma reflexão da importância de compreender as
normas sexuais construídas socialmente.

Propicia questionamentos filosóficos e ideológicos, ou pelo menos


tenta mostrar a importância destes questionamentos. Encara a questão
sexual como algo ligado diretamente ao contexto social, que influencia e é
influenciado por este.

Enfatiza a participação em lutas coletivas para transformações


sociais, o maior exemplo disto é a parada gay, que começou a pouco mais
de uma década e hoje mobiliza milhões de entusiastas e homossexuais para
a questão da intolerância sexual.

Sob esta última abordagem, baseia-se a atual concepção de


sexualidade, envolvendo aspectos que vão desde o bem estar à saúde
propriamente dita.

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Como sugerem os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, o “...


tema orientação sexual deve abordar e considerar a sexualidade como algo
inerente à vida e à saúde, que se expressa no ser humano, do nascimento
até a morte.”.

Relaciona-se com o direito ao prazer e ao exercício da sexualidade


com responsabilidade. Englobam as relações de gênero, o respeito a si
mesmo e ao outro.

Inclui a importância de prevenção das doenças sexualmente


transmissíveis, entre outras questões polêmicas.

A orientação sexual na escola pretende contribuir para a superação


de tabus e preconceitos ainda arraigados no contexto sociocultural brasileiro.

Entretanto, é preciso que essas ideias além de figurar em qualquer


projeto de lei, promovam a reflexão e discussão nos mais diversos âmbitos
de atuação, seja no universo acadêmico, com professores e educadores, ou
mesmo na família, por meio das trocas de ideias entre pais e filhos.

Unidade 2 – Sexualidade na escola

Olá,

Nesta unidade trataremos da sexualidade dentro da escola e dentro


da sala de aula. Abordaremos algumas sugestões dos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs, no que tange à postura do educador diante
deste tema.

Também falaremos do papel da escola tanto na educação preventiva,


quanto à formação do indivíduo. A homossexualidade também estará
presente nesta discussão. Traremos alguns tabus que teimam em resistir em
pleno século XXI.

Por fim, exporemos os prós e os contras da educação sexual na


escola, além de trazer à tona o papel da família em discussões desta
natureza.

Bom estudo.

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2.1 - Pedagogia de gêneros

O conceito de gênero surgiu entre as estudiosas feministas para se


contrapor à ideia de essência, recusando assim, qualquer explicação
pautada no determinismo biológico, que pudesse explicar os
comportamentos de homens e mulheres.

Tal determinismo serviu apenas para justificar as desigualdades entre


ambos os sexos, a partir de suas diferenças físicas. O importante quando
pensamos em relações de gênero é discutir os processos de formação
histórica, linguística e social, instituídas na formação de mulheres e homens,
meninas e meninos.

A pedagogia de gêneros basicamente discute o gênero como


constituição social que determinada cultura estabelece em relação a homens
e mulheres, no que se refere à raça, idade, classe social, etc.

Gênero aqui é entendido como as diferenças entre homens e


mulheres dentro de um contexto socio-histórico e cultural, isto é, trata-se de
um elemento constitutivo das relações sociais, fundamentadas nas
diferenças de maneira que possamos compreender as complexas formas de
interação humana.

Como a ideia de gênero esta fundamentalmente ligada às diferenças


biológicas e comportamentais entre os sexos, ela aponta para um caráter
interacional entre homens e mulheres.

Assim, a pedagogia de gênero leva em conta o outro sexo, na sua


presença ou ausência. Além disso, esta pedagogia relaciona-se com outros
aspectos do ser humano, não somente o fator biológico e cultural, mas
também idade, classe social, etnia, etc.

Esta forma de distinguir os opostos, não é uma exclusividade do


universo adulto. As próprias crianças constroem os gêneros a partir da
diferença, a fim de reforçar seu senso de identidade feminina ou masculina.

Veja na charge abaixo, uma síntese do pensamento exposto acima,


em que crianças estabelecem sua identidade sexual a partir das diferenças
em relação ao outro.

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Construindo identidades.

Quando nascemos logo nos primeiros anos aprendemos como falar,


andar, quem é a mãe, etc. Quando tomamos ciência de que somos um
indivíduo, isto é, quando nos reconhecemos enquanto sujeito é que
começamos a construir nossas identidades de gênero e sexual.

A maioria dos estudiosos acredita que não há uma identidade inata,


trata-se de um processo em que a criança se desenvolve. Tais processos
são influenciados por diversos fatores que constituem o próprio ser humano.
A classe social, a etnia, a religião, o gênero, etc.

Por estar em constante formação, à identidade caracteriza-se pela


incompletude. Entretanto, mesmo ela estando em constante
desenvolvimento e formação, nós só conseguimos visualizá-la como
acabada, bem resolvida, como fosse uma unidade de valor.

Portanto, podemos entender que a identidade de gênero e a


identidade sexual são plurais e em constantes transformações. Tais
entidades embora pareçam à mesma coisa, são assuntos totalmente
distintos.

Enquanto a identidade de gênero liga-se à identificação histórica e


social dos sujeitos, e que se reconhecem como masculino ou feminino, a
identidade sexual está relacionada à opção que cada indivíduo tem de
experimentar estas relações, ou seja, trata-se da maneira com que os
indivíduos vivenciam seus desejos corporais, das mais diversas formas,
sozinhos ou com parceiros, do mesmo sexo ou não.

Em suma, identidade de gênero está relacionado apenas ao seu sexo,


isto é, a que categoria pertence o indivíduo, homem ou mulher. E a
identidade sexual é a orientação sexual que determinado indivíduo escolheu
para si, isto é, se é homossexual, heterossexual ou mesmo bissexual.

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As identidades sexuais não são fixas e muito menos acabadas, ou


seja, pessoas que nunca se relacionaram com pessoas do mesmo sexo
podem vir a se relacionar em qualquer momento de suas vidas.

A sexualidade tem sido colocada como tema central nas rodas


pedagógicas de discussão, sobretudo ela é colocada como central a nossa
própria existência, o governo acredita que a discussão deste tema nas
escolas, “tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das
pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutora, relaciona-
se com o prazer, necessidade fundamental dos seres humanos” (Brasil.
1998:17).

Apesar de algo natural, inato a cada um de nós, a sexualidade é vista


ainda como algo a ser podado das mentes impuras. Família, escola, entre
outras instituições querem de uma forma ou de outra, ter controle sobre ela.

Sobretudo, os aparatos culturais, como livros didáticos e paradidáticos


exercem também alguma espécie de controle sobre a questão da
sexualidade, como nos mostra o exemplo a seguir.

Quando observamos o papel do Estado, em relação a esta questão,


vemos que esteve ausente durante muito tempo. Hoje através de algumas
políticas públicas de orientação sexual desenvolvidas em algumas escolas
percebe-se a tênue movimentação do governo em educar sexualmente seus
cidadãos.

Vejamos:

“... Meninos de pré-escola que apresentam comportamento feminino, ou que


só gostam de brincar com as meninas, devem ser incentivados de maneira
gentil, mas firme a participar das atividades tipicamente masculinas... Os
meninos que apresentam trejeitos femininos muito acentuados, além das
atitudes tomadas pela escola, devem ser encaminhados para tratamento
psicológico (Suplicy, 1990:77).”

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É possível perceber que, apesar do discurso de valorização das


diferenças, e de uma proposta de reflexão acerca da sexualidade promovida
nas últimas décadas, este tema mais do que nunca vem sendo, no mínimo,
vigiado.

De contrapartida, educadores têm tomado para si a responsabilidade


de moldar a sexualidade dos alunos, impondo o que considera apropriado às
meninas e meninos.

2.2 - Orientações ao educador

Dentro de um contexto sociocultural, vemos que o professor é uma


espécie de intermediador. Cabe a ele, a responsabilidade pela formação do
aluno.

A linguagem de abordagem também é de suma importância, é preciso


analisar para que desta forma possa incluir ou excluir significados. A
linguagem é o que aproxima o educador do educando.

É preciso também considerar que estas questões vêm sendo pouco,


ou quase nada, discutidas em salas de aulas, mesmo em cursos superiores
de pedagogia. Ou mesmo abordada em uma conversa em família.

Percebe-se ainda a necessidade de que pais e professores,


psicólogos infantis e toda a diversidade de profissionais voltados à educação
e ao cuidado de crianças, tenham uma visão de infância que dê conta de
suprir as necessidades impostas pelo tema sexualidade.

Em um mundo marcado cada vez mais pela diversidade, é


fundamental que tenhamos a ideia de que diferenças sejam sinônimos de
desigualdade.

A cada dia percebemos a necessidade de capacitação do corpo


docente em diferentes esferas da educação, inclusive a da sexualidade.
Também a necessidade de avaliar nossos educadores, além de dar-lhes
treinamento na área da orientação sexual.

A sexualidade sempre foi um assunto de difícil discussão dada suas


particularidades, por que cada um se relaciona de um jeito com sua
sexualidade. Para crianças e adolescentes o contato com este assunto é
ainda mais complexo.

As descobertas, as curiosidades a respeito do próprio corpo, as


caricias e, é claro o sexo, fizeram do assunto um grande tabu, pouco
discutido e conversado, na escola e na família. Contribuindo ainda mais para
uma espécie de ansiedade por informações, por parte das crianças e
adolescentes.

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Por tudo isso, é necessário discutir o tema em sala de aula, e nas


reuniões pedagógicas, para que a escola tenha não somente, alunos
informados, como também educadores capacitados e preparados para
esclarecer suas dúvidas.

É importante que o professor mostre que as manifestações da


sexualidade são prazerosas e fazem parte do desenvolvimento de todos,
desta forma o educador estará contribuindo para o autoconhecimento do
aluno.

Este autoconhecimento está ligado ao aprendizado tanto das regras


sociais de convivência, quanto ao reconhecimento dos desejos e das
necessidades de cada um.

O objetivo da educação sexual na escola consiste em colocar


professores com um preparo adequado e desempenhar de forma
significativa seu papel, ajudando os alunos a superarem suas dúvidas,
ansiedades, angústias, pois “A criança chega na escola com todo tipo de
falta de informação e geralmente com uma atitude negativa em relação ao
sexo. As dúvidas, as crendices e posições negativas serão transmitidas aos
colegas” (SUPLICY, 1983).

Uma das grandes pensadoras a discutir a sexualidade foi Marta


Suplicy. Desde o início da década de 1980 ela desenvolve estudos e traz o
tema para a reflexão.

Ela corroborou, de certa forma, para que hoje em dia, tivéssemos a


ideia de que educação sexual não significa apenas transmitir informações
sobre sexo. Mas também significa relação interpessoal, valores, atitudes,
comportamento.

É necessário observar se os educadores, de maneira geral, estão


preparados para falar de sexo. A maioria não faz nenhum tipo de curso, o
que trazem é o conhecimento prévio e em muitos casos deturpado sobre o
assunto.

Muitas vezes, suas experiências se deram apenas pela leitura de


revistas que só leva em consideração o caráter biológico, desconsiderando
os sentimentos e emoções, ou por vezes pela tímida troca de informação
com colegas educadores.

Muitos professores não possuem a própria sexualidade bem


resolvida, tendo problemas no casamento ou consigo mesmo em relação a
sexo. Em suas aulas certamente este educador transmitirá suas frustrações
e inquietações.

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O professor deve também evitar emitir valores de juízo, ou uma


opinião particular sobre este ou aquele assunto. Sabemos que é impossível
sermos, de tal modo, isentos de qualquer valor, no entanto, é preciso
atentar-se a este aspecto.

Esclarecer os limites também é dever do professor, este deve dizer


algumas coisas importantes a respeito do que se pode e do que não se pode
fazer em locais públicos e privados.

Em suma, deve trazer a ideia de individualidade, coletividade,


intimidade e privacidade, isto cabe, sobretudo, às crianças que ainda não
possuem esta noção.

Na charge acima se pode observar como o autor faz uma crítica ao


despreparo e à descontextualização do professor. Apesar do humor, trata-se
da realidade em muitas escolas do Brasil.

É extremamente necessário, olharmos com mais atenção para este


tema, que deve ser discutido intensamente nas escolas, desde que com o
devido preparo do educador.

PCNs – Parâmetros Nacionais Curriculares

Primeiramente devemos saber do que trata os PCNs e quais seus


objetos. Em síntese, são referências de qualidade para o ensino
fundamental e médio.

Foram elaborados por estudiosos da área pedagógica e têm o intuito


de garantir a todas as crianças e jovens, o conjunto de conhecimentos
necessários para exercitar sua cidadania.

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Os PCNs não têm caráter obrigatório, trata-se de um conjunto de


sugestões que servem como ferramentas para que o educador possa
ensinar de maneira significativa.

Atualmente a sexualidade é vista como um problema de saúde


pública, e a escola é o ambiente onde se deve começar a tratar desse
assunto, através de informações.

Desta forma, ela foi constituída nos PCNs – Parâmetros Nacionais


Curriculares, contemplado nos temas transversais a fim de promovê-la em
todo campo pedagógico.

Tema transversal diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na


prática educacional, uma inclusão entre estudar conhecimentos
teoricamente sistematizados.

Esse tema age em conjunto com várias matérias, cabe ao educador


ter orientação e discernimento para ministrá-los de forma coerente,
mostrando aos jovens a importância de conhecer seus próprios limites.

O tema sexualidade está na “ordem do dia” da escola. Presente em


diversos espaços escolares ultrapassa as fronteiras disciplinares e de
gênero, permeia as conversas de meninos e meninas e é assunto para ser
tratado em sala de aula.

No jornal Folha de S. Paulo, figura o seguinte texto: “o melhor método


anticoncepcional para as adolescentes é a escola: quanto maior a
escolaridade, menor a fecundidade e maior a proteção contra doenças
sexualmente transmissíveis”. A escola é apontada como um grande aliado
na veiculação de informações sobre formas de evitar gravidez e de se
proteger de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz entre julho de


1999 e fevereiro de 2001 mostra que 32,5% das mães que engravidaram na
adolescência estudaram no máximo até a quarta série do ensino
fundamental. Certamente a falta de instrução e escolaridade contribui para
estes índices.

A criação do tema transversal “Orientação sexual nos PCNs” é um


indício da inserção deste assunto no âmbito pedagógico. O interesse do
estado pela sexualidade da população tornou-se evidente depois desta
proposta.

Para termos uma ideia, vinte anos após o primeiro relato público de
caso de AIDS, estima-se que as mortes causadas pela doença já chegam a
22 milhões.

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A incidência de adolescentes entre 10 e 14 anos grávidas no Brasil


aumentou 7,1% entre 1980 e 1995. Por isso, atribui-se à escola a função de
contribuir na prevenção dessa doença e dos casos de gravidez.

É dever da escola, e não somente da família, desenvolver uma ação


crítica, reflexiva e educativa que promova a saúde das crianças e dos
adolescentes. Neste sentido, a educação física é apontada pelos PCNs
como um espaço privilegiado para a orientação sexual.

Resumindo, os PCNs são um conjunto de sugestões elaboradas por


estudiosos do Ministério da Educação, para auxiliar o professor na
abordagem de determinados assuntos em sala de aula.

Por que a sexualidade tornou-se um problema bastante discutido


em todo campo pedagógico, transpassando por diversas disciplinas?

A sexualidade é o que há de mais íntimo na constituição do indivíduo,


é também o que o caracteriza como humano. É um tema de interesse
público, uma vez que a conduta sexual da população relaciona-se à saúde
pública, aos índices de natalidade, à vitalidade das descendências, logo está
relacionada também à produção de riqueza. Basta pensarmos que uma
população saudável produz mais.

A escola é uma das diversas instâncias sociais onde se exercita uma


pedagogia da sexualidade e do gênero. Esses processos se completam
através de uma espécie de autodisciplinamento e autogoverno sobre si
mesmo.

Portanto, a escola, além de construir e transmitir um saber de mundo,


isto é uma experiência objetiva do mundo exterior, constrói e transmiti
também a experiência que os indivíduos têm de si mesmos. Desta forma, os
dispositivos pedagógicos podem ser concebidos como agentes constitutivos
de subjetividades.

A sexualidade das crianças e adolescentes já é, como dissemos, um


problema escolar desde o século XVIII, justamente quando esta questão
tornou-se uma preocupação pública.

Como se percebe, a educação sexual não surge na escola a partir


dos PCNs. Como vimos, a inserção da orientação sexual na escola parece
estar associada a uma questão epidêmica. Além de mudanças significativas
no comportamento sexual da sociedade.

Os PCNs são, antes de tudo, um referencial fomentador da reflexão


sobre os currículos escolares, uma proposta aberta e flexível, que pode ou
não ser utilizadas na elaboração do currículo escolar.

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Pesquisas demonstram que este documento vem sendo utilizado com


regularidade nas escolas, pelos educadores. Outra evidência da inserção
dos PCNs na rotina escolar é a grande produção de livros voltados à
orientação dos professores do ensino médio, sobretudo àqueles que tratam
dos temas transversais.

Além dos livros, são oferecidos cursos de reciclagem de educadores e


palestras que trazem como tema a sexualidade. Diante desse quadro,
análises sobre o que dizem os PCNs a respeito do tema orientação sexual é
de fundamental importância para a área de educação.

A fim de atingir os objetivos propostos pelos PCNs, o tema orientação


sexual deve impregnar toda a área da educação e ser tratado por diversas
áreas do conhecimento.

Deste modo, o trabalho de orientação sexual deve ocorrer da seguinte


forma, dentro da programação, através dos conteúdos transversais nas
diferentes áreas do currículo escolar.

Os programas de orientação sexual devem ser organizados em três


eixos: O corpo matriz da sexualidade, relações de gênero e prevenção de
doenças sexualmente transmissíveis.

Trouxemos algumas concepções de sexualidade nos PCNs, a


orientação é entendida como sendo de caráter informativo. A sexualidade é
concebida como um dado da natureza, como algo inerente, necessário e
fonte de prazer na vida.

Fala-se muito em potencialidade erótica do corpo, necessidade


básica, em impulsos de desejos vividos no corpo. Para termos uma ideia
mais ampla seguem algumas citações de grandes pensadores e estudiosos
da sexualidade, cujos conceitos, de certa forma, figuram nos Parâmetros
Curriculares Nacionais.

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SEXUALIDADE NA SOCIEDADE

Nos três últimos séculos, levando em conta as distinções históricas,


segundo Foucault (1997a, p. 21) houve uma explosão discursiva “em
torno e a propósito do sexo”.

Para o autor, houve um refinamento do vocabulário autorizado, um


controle das enunciações, isto é, definiu-se quem fala, para quem fala,
onde se fala e como se fala. A sexualidade vem sendo tratada em
distintas instâncias sociais – na família, na Igreja, na escola, entre
outras – e por diferentes campos – o da medicina, da psicologia, da
biologia, da pedagogia – que em geral instigam a falar para escutar,
e/ou registrar e redistribuir o que dela se diz (RIBEIRO, 2007).

A sexualidade humana é resultante de um complexo processo


envolvendo a sociedade e a cultura, que interagem influenciando o
comportamento sexual. Ao longo da vida o indivíduo sofre a todo o
momento influências da família, dos meios de comunicação, da
religião ou da escola que o pressionam e moldam aos padrões de
comportamento impostos pela sociedade (AQUINO, 1997). Até mesmo
quando tratamos de analisar o tema é possível que as afirmações e
conclusões feitas acerca de certas particularidades estejam contidas
na própria cultura em que estamos inseridos.

As transformações sociais, que foram observadas nas últimas décadas


e que constituem a cultura de um modo geral, influem de maneira
peculiar na "cultura da sexualidade", visto que exerce um importante
papel frente aos diversos comportamentos diante do tema. Por outro
lado, cada indivíduo interage de maneira própria e única com o seu
meio, e é nessa particularidade do comportamento que se estabelece
aquilo que se costuma chamar de "livre-arbítrio" (AQUINO, 1997).

Se no âmbito social a sexualidade sempre foi um tema polêmico, no


âmbito educativo, é assunto delicado, pois gera alguns "dilemas
pedagógicos" do tipo: o quê?, para quê?, quem?, e como orientar a
sexualidade dos alunos?

A sexualidade determinada biologicamente como um atributo biológico


deve ser questionada, pois ela tem sentido muito mais amplo quando
passamos a entendê-la como uma construção histórica e cultural.

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A SEXUALIDADE E O DISCURSO BIOLÓGICO

Se, por um lado, o professor de ciências ou de biologia está


capacitado a ensinar sobre a anatomia e a fisiologia dos aparelhos
reprodutores masculino e feminino, por outro, deve estar
comprometido com uma postura pedagógica que possibilite considerar
os aspectos emocionais, culturais e éticos que envolvem os temas
abordados, a formação dos professores deve compreender também
um perfil de educador da sexualidade, no sentido de esclarecer,
orientar e informar (RIBEIRO, 2007).

A escola é um bom lugar para essas reflexões e discussões, mas para


tal é necessário um comprometimento, pesquisa sobre o assunto, e
coragem de muitos professores, pois às vezes sem perceber, já ficam
incomodados em transmitir esse tipo de conteúdo. Mas por que tal
dificuldade? Começa pelas reações dos alunos: sorrisinhos maliciosos,
piadinhas, burburinho geral, e, claro, as perguntas indiscretas que
ultrapassam o saber da biologia (AQUINO, 1997).

Na escola, o discurso biológico tem ocupado um espaço privilegiado


em relação aos outros, visto que existem muitos programas de
educação sexual, como livros, manuais, mas a sexualidade está
principalmente vinculada com o conhecimento anátomo-fisiológico dos
sistemas reprodutores, ao uso de métodos anticoncepcionais, aos
mecanismos de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e
da AIDS (RIBEIRO, 2007). Esta intenção é evidenciada na justificativa
de implementação dos PCNs.

Nesse âmbito a sexualidade tem ficado ligada somente a aquisição de


conhecimentos científicos dos sistemas reprodutores e á genitalidade
– atributo de natureza biológica compartilhado por todos,
independentemente de sua história e cultura.

Discutir a sexualidade de outra forma implica algumas mudanças, o


que não é tarefa fácil nem trivial, pois a sexualidade é uma experiência
histórica e pessoal. Discutir com os alunos a sexualidade não a partir
dos sistemas reprodutores, mas a partir de questões éticas, sociais e
históricas, as quais possibilitariam aos jovens pensarem nos seus
relacionamentos, no prazer, na responsabilidade, na liberdade de
escolha, na virgindade, nas drogas, nos arranjos familiares, nas
relações entre homens e mulheres, etc., seria uma forma de abordar
de maneira mais ampla o “conteúdo da sexualidade”
Fonte: http://www6.ufrgs.br/psicoeduc/wiki/index.php/EDUCA%C3%87%C3%83O:_SEXUALIDADE _E_
RESPONSABILIDADE

Os PCNs tratam basicamente de como educar o corpo, que é a matriz


da sexualidade. Isto deve ocorrer primeiramente no âmbito discursivo na
escola, isto é, através do diálogo, da troca de ideias e experiências.

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Através desta troca de ideias, desta explosão discursiva sobre a


sexualidade é que se constrói um “saber”. Este saber é que proporcionará
ao indivíduo um autoconhecimento.

Assim, por meio da colocação do sexo na pauta da discussão nas


instituições de ensino, há uma espécie de controle exercido sobre os
indivíduos, este se exerce não por punições, proibições, mas através de
mecanismos positivos de poder que objetivam produzir sujeitos
autodisciplinados no que tange à forma de vivenciar sua sexualidade.

Os PCNs sugerem que ao tratar sobre doenças sexualmente


transmissíveis, os educadores, de maneira geral, não devem relacionar de
maneira parcial a sexualidade, às doenças e à morte.

Mas sim, oferecendo informações relevantes sobre as doenças, tendo


como objetivo a promoção da saúde e de condutas preventivas. Em suma, a
mensagem que se deve transmitir aos jovens, não deve ser “AIDS mata”, e
sim “AIDS pode ser prevenida”.

Os conteúdos desenvolvidos nas instituições de ensino devem


destacar a importância da saúde sexual e reprodutiva, bem como os
cuidados necessários para promovê-la.

O papel da escola neste sentido, juntamente com os serviços públicos


de saúde, é de conscientizar para a importância de ações não só curativas,
mas também preventivas, atitudes denominadas de “autocuidado”.

A escola deve ressaltar que o bem estar e a saúde dependem de


como você se relaciona com sua sexualidade. Deve transmitir a ideia de que
sim, o sexo é prazeroso, e pode também ser seguro.

Nos PCNs, há uma grande intenção de estruturar as ações dos


alunos e alunas de modo que eles absorvam a mentalidade preventiva e
pratique-a sempre, incondicionalmente.

O professor e a diversidade.

A sexualidade sempre foi um tema complicado de ser abordado,


sobretudo nas instituições de ensino. Era pouco discutido entre os
profissionais da educação.

É extremamente necessária, a capacitação dos professores sobre a


sexualidade para que eles possam também orientar e informar os
educandos. Algumas medidas vêm sendo tomadas no intuito de subsidiar o
profissional da educação de informações sobre o tema.

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Isso porque, cada vez mais os jovens querem falar sobre sexo,
crianças e adolescentes estão descobrindo a sexualidade e os limites do
próprio corpo. Nessa medida, o professor deve saber como direcionar uma
conversa.

O papel do professor é tão importante, que dependendo de sua


postura pode interromper todo um processo de autoconhecimento,
colocando dúvidas e mitos no imaginário dos alunos.

Numa situação rotineira, podemos perceber o quão o professor é


importante e contribui na formação do indivíduo. Abaixo um pequeno trecho
reproduzido da internet, que ilustra uma situação que vem se tornando bem
comum nas salas de aula pelo Brasil afora.

A pergunta, feita por uma aluna de 8 anos para a orientadora


educacional Dilma Lucy de Freitas durante uma aula para a 3ª série de
uma escola particular de Florianópolis, poderia provocar diversas
reações na professora. Se ela mostrasse espanto e indignação, por
exemplo, as crianças deduziriam que sentir essas coisas deve ser
anormal. Se fingisse não ter escutado, os pequenos achariam que é
melhor não falar sobre o corpo (e, mais tarde, sobre a sexualidade).

Dilma respondeu que o corpo recebe estímulos: um cheiro gostoso de


comida faz a gente sentir vontade de comer e um vento frio faz a pele
se arrepiar. Do mesmo modo, algumas imagens (como o casal que se
beija) estimulam os órgãos sexuais e por isso a vagina se contrai
("pisca"). A aluna, satisfeita com a informação, foi brincar.

Desde bebês, sentimos prazer em tocar o próprio corpo e descobrir as


diferentes sensações que ele nos proporciona. Fingir que as crianças
não passam por esse processo é negar a realidade. O sexo é parte da
vida das pessoas (aliás, uma parte importante e muito boa) e é por
essa razão que a escola e a família devem ajudar a construir nos
pequenos uma visão sem mitos nem preconceitos. "Esse é um tema
que envolve sentimentos e desejos e, portanto, não pode ser abordado
só com explicações sobre o funcionamento do aparelho reprodutor e
palestras médicas. A orientação sexual deve ser feita com afeto",
afirma Antonio Carlos Egypto, psicólogo e coordenador do Grupo de
Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS), em São Paulo.

O constrangimento dos pais em tratar do assunto aumenta a falta de


informação dos jovens e faz com que a escola se torne o principal
espaço de educação sexual (vale lembrar que a orientação sexual é
um dos temas transversais previstos nos Parâmetros Curriculares
Nacionais – PCN).
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-dolescente/comportamento/eles-querem-falar-sexo-
431419.shtml

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Situações iguais a essa ocorrem diariamente em milhares de


instituições de ensino. Imaginem se em todas as escolas tivéssemos
professores bem informados e preparados.

Aqui vão algumas dicas, sugeridas por especialistas e estudiosos do


tema, de como deve ser a postura do professor diante da diversidade dos
gêneros e da sexualidade.

Devido à importância das aulas sobre sexualidade para os jovens, em


que aprendem a conhecer e a lidar com seus próprios desejos,
necessidades e emoções.

- O professor deve sempre encarar a dúvida de seu aluno como


relevante por mais simples que pareça.

- É importante também que o professor promova debates e rodas de


discussão em sala de aula, sobretudo que esteja disposto a ouvir sempre.

- A opinião do educador não tem relevância, o importante é a


discussão entre os alunos.

- Informações comprovadas cientificamente têm muito valor em sala


de aula, dão aos alunos mais legitimidade.

- É interessante levantar dúvidas sem personalizar, a última coisa que


se quer é expor o aluno.

- As discussões devem ter caráter generalizador, perguntas de


natureza pessoal constrangem qualquer pessoa, portanto, mantenha a
discussão “sem dar nomes aos bois”. E o mais importante, não se intrometa
na intimidade do aluno.

- Trazer os mais tímidos para a discussão através de jogos e


dinâmicas em grupo é importante.

- Por fim, deve haver uma espécie de acordo entre o educador e os


jovens, em que garanti o sigilo do que foi discutido em sala de aula, para que
não ocorram zombarias e comentários maldosos dos colegas. O respeito é à
base de qualquer tipo de relação humana, este caso, não é exceção.

2.3 - O papel da escola

Tendo em vista que a sexualidade é um aspecto inerente aos seres


humanos, que também influencia o pensamento, sentimentos e emoções,
além de estar diretamente ligado ao bem estar físico e psicológico do
indivíduo, podemos refletir sobre o papel das instituições de ensino ao tratar
da sexualidade.

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A escola tem como responsabilidade prezar pela saúde e bem estar,


dos seus alunos, sobretudo proporcioná-los uma formação acadêmica que
garanta cidadania, respeito e consciência.

A educação, ou orientação sexual, no ambiente escolar tem


fundamental importância na constituição desses cidadãos, além de servir
como uma medida preventiva. Também serve como destruidor de tabus e
preconceitos, valorizando o respeito às diferenças.

Visando uma educação voltada à cidadania e à autonomia do aluno,


os PCNs propõem em forma de temas transversais a inclusão da orientação
sexual no currículo escolar.

A proposta de orientação sexual nos PCNs é justamente trabalhar o


esclarecimento e a problematização, com o intuito de promover a reflexão e
a reformulação das informações.

Lá é ressaltada, a importância de se abordar a sexualidade não


somente do ponto de vista biológico, mas também em relação aos aspectos
sociais, políticos e culturais.

Segundo os Parâmetros Nacionais Curriculares a orientação sexual


deve fazer parte do plano político pedagógico da escola, sendo desenvolvida
de forma continuada e paralela a todas as disciplinas.

Deve, de maneira geral, contribuir para a construção de seres livres e


autônomos, capazes de desenvolver e exercer sua sexualidade de maneira
prazerosa e responsável.

Entretanto, não é o que apontam as pesquisas. Elas revelam que esta


não é a realidade nas escolas de todo o Brasil. Apesar da evidente
necessidade de abordar o tema da sexualidade, percebe-se certa inércia das
instituições de ensino.

As escolas e os profissionais da educação não se mostram


comprometidos, não se importam, ou no mínimo, não se sentem à vontade
para tratar do tema com seus alunos.

Desde 1997 o tema da sexualidade é tratado nas instituições de


ensino e trabalhado com alunos a partir de sete anos, ou ao menos deveria
ser. Entretanto atualmente, não se tem ideia de quantas escolas aderiram à
proposta dos PCNs.

É justamente neste ambiente escolar, que ocorre o primeiro beijo, o


primeiro namoro, isto é, é lá onde ocorrem as primeiras experiências do
jovem com a sexualidade.

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A escola para o aluno significa muito mais do que um lugar para


adquirir conteúdo acadêmico. Lá ocorrem vivências, e experiências,
independentemente da idade do educando.

O estudante simultaneamente ao aprendizado tradicional, também


adquire valores, constrói relações e desenvolve sua sexualidade.
Despertando interesse e curiosidade em meninos e meninas. Desde a
infância, a questão da sexualidade faz-se presente em todas as séries.

A sexualidade é uma forma de expressão de nosso modo de pensar,


sentir, comunicar e agir. Portanto, ela está presente em toda nossa vida,
desde os primeiros anos até os últimos.

Investir no crescimento sexual é favorecer também o crescimento


pessoal. Certamente, aprende-se muito sobre si mesmo quando se aprende
sobre sexualidade.

Sendo assim, a educação sexual não está restrita ao universo


adolescente, justamente por não ser mais um método contraceptivo ou de
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Abaixo uma síntese de algumas iniciativas que o educador pode


utilizar, tratam-se de dicas de atividades, projetos, oficinas, em suma, um
modelo de orientação sexual.

Síntese de Modelo de Orientação Sexual nas Escolas

a) preparo e capacitação dos professores e funcionários sobre as


questões de sexualidade, drogas e violência. Informações e oficinas
para sensibilização e trabalho dos aspectos psicológicos. Esse é o
alicerce do trabalho, pois são as pessoas que estão no dia-a-dia da
escola e em contato diretíssimo com os alunos.

b) apresentação do projeto para os pais, com os parâmetros morais


nítidos (não vamos condenar isso ou aquilo, nem estimular isso ou
aquilo, vamos fazer tais e tais trabalhos...)

c) oficinas com alunos: o que eles querem e precisam discutir? Caixa


com dúvidas anônimas, espaços para discussão com suporte de um
psicólogo, espaço para mobilização de sentimentos relacionados às
opiniões e atitudes diante da vida.

d) trabalho junto à direção e coordenação, para garantia de sigilo e


autonomia da equipe, definição dos objetivos e apoio logístico.
Fonte: Helena Lima. Bióloga e Psicóloga, Diretora da Unidade Perdizes do Colégio Pentágono

Site: http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3746&ReturnCatID=1802

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Educar para sexualidade é educar para a cidadania, autonomia, em


suma, educar para a sexualidade é educar para a vida, e para isso não há
idade ideal e é tarefa de todos educadores.

Educação preventiva

Colocada de forma polêmica na mídia, a disciplina de orientação


sexual ainda causa estranhamento em jovens e crianças na escola. Por não
ser tão abordada, gera uma série de problemas associados à droga, sexo
irresponsável, família desestruturada, entre muitos outros.

Quando se trabalha a educação preventiva com crianças, algumas


questões devem ser refletidas e postas em prática.

Em primeiro lugar, a educação preventiva objetiva estabelecer valores


de forma consciente e planejada. Este é um desafio contemporâneo que
precisa ser assumido por pais e professores.

A orientação sexual corrobora com valores que podem levar crianças


e jovens a adquirir noções significativas como justiça, responsabilidade,
autonomia, respeito por si e pelos outros, influenciando diretamente na
construção de uma sociedade melhor.

É extremamente importante pais e professores estarem atentos aos


valores que são transmitidos, seja através de atos ou palavras. Algumas
questões não só podem como devem ser abordadas pelos educadores
juntamente com pais e alunos.

Sexo tratado com naturalidade em sala de aula

Em sala de aula o tema sexualidade deve ser tratado como outra


disciplina. Deve haver um envolvimento incondicional por parte dos
professores e pais.

É preciso desenvolver nos alunos o respeito pelo próprio corpo e pelo


próximo. É fundamental desenvolver atividades que promovam a reflexão
sobre as diferenças de gênero e relacionamento.

Dar informações sobre gravidez, métodos anticoncepcionais e,


sobretudo, informar sobre o perigo das doenças sexualmente transmissíveis.

Em suma, a orientação deve objetivar a conscientização sobre a


importância de uma vida sexual responsável, deve mostrar que o sexo, pode
ser prazeroso, mas além de tudo, seguro e responsável.

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Outro fator de extrema importância é a capacitação da equipe,


professores e funcionários devem estar preparados para lidar com
manifestações da sexualidade das crianças e jovens.

É necessário o educador participar de cursos de capacitação sobre


temas como falar e agir com crianças e adolescentes, prazer e limites,
gravidez e aborto, DSTs, etc.

Na pré-escola, devem-se priorizar as diferenças de gênero. Nesta


idade a criança ainda esta se descobrindo, baixar e levantar as calças são
sinais de curiosidade. Aqui é sugerido que o educador promova um debate
sobre o que é ser menino e o que é ser menina.

É normal que os pequenos toquem os genitais para ter prazer e para


conhecer o próprio corpo. É de suma importância propor a descoberta de
outras formas de satisfação na escola, como brincar na areia e na terra ou
na água.

Deixar a criança explorar esses elementos é extremamente positivo. É


preciso incentivá-los a falar sobre o que sentiram e sobre as partes do corpo
que dão prazer, inclusive pênis e vagina.

Pode-se sem dúvida, dizer a eles que é normal tocar os órgãos


genitais, entretanto, por se tratarem de partes íntimas do corpo, não se deve
manipular em locais públicos.

É muito comum crianças nesta idade flagrarem os pais tendo relações


sexuais, ou mesmo imagens obscenas na televisão. Neste momento é
necessário levantar questões como: Todos sabem como nasceram?

Levantar as dúvidas e reiterar que sexo é coisa de adultos é


extremamente positivo apresentar bonecos com pênis e vagina para que
eles mesmos explorem as diferenças entre ambos.

Gravidez é outro tema que suscita a curiosidade das crianças, o


interessante é abordar o tema de maneira natural, sugere-se a produção de
cartazes informativos para o esclarecimento de dúvidas em sala de aula.

Já do 1º ao 5º ano, começa-se a descobrir o vocabulário da


sexualidade. Nesta etapa as crianças começam a descobrir os palavrões,
que são usados para fazer graça ou para agredir.

Mas eles perdem o sentido quando colocados na lousa. Explique o


significado de cada um deles, deixe claro que todos podem ser ofensivos,
portanto não devem ser usados, sobretudo em público.

Caso os palavrões façam menção aos órgãos sexuais, levante com


eles, outros palavrões que a turma conheça para pênis e vagina. É
importante botar tudo em discussão, isto é, em debate.

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Os padrões de beleza também devem ser discutidos. Ao perceber que


alunos debocham da aparência de um colega, o educador deve seguir o
bom caminho, propondo uma discussão sobre os padrões de beleza.

Para alunos desta faixa etária, um bom recurso é o filme Shrek, que
aborda justamente este tema. E por meio do filme faça questionamentos,
sobre o que é realmente bonito?

Uma boa atividade é propor aos alunos que descrevam as qualidades


ou algo que ache bonito no colega. Isso estimulará os alunos a perceberem
que os padrões de beleza são efêmeros e sem importância.

Do 6º ao 9º ano, é a fase da puberdade, neste momento sugere-se ao


educador que exponha no quadro, desenhos de corpos femininos e
masculinos em diferentes fases do crescimento.

Perguntar aos alunos o que eles entendem como puberdade também


é positivo. Posteriormente, sugere-se que se explique as transformações
físicas e psicológicas e por que elas ocorrem. Esta atividade pode ser
realizada por escrito (se não quiser expor o aluno) ou oralmente.

Para discutir maternidade e paternidade pode-se utilizar a leitura de


um poema de Vinicius de Moraes chamado “Enjoadinho” para iniciar a
discussão. Elaborar perguntas sobre as necessidades de um bebê durante o
período de gestação é uma boa forma de começar.

“Filhos...Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como o queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filho? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia

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Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!”

Posteriormente é recomendado que o educador fale também sobre a


necessidade dos pais, quanto de dinheiro seria necessário para criar um
bebê. Neste momento é interessante questioná-los se é possível um
adolescente ser pai e mãe e prover tudo o que o bebê precisa.
É possível ir além e continuar a discussão perguntando-lhes se
ocorresse uma gravidez indesejada, o que teriam que abdicar para criar o
filho, quais as vantagens de adiar a gravidez.

Por fim é sugerido que o professor solicite uma produção textual, isto
é, uma redação sobre o que espera do futuro, quais seus desejos e sonhos
para vida, e como seria se tivessem filhos.

Outro tema recorrente entre os alunos desta faixa etária são os


métodos anticoncepcionais. É interessante levar para a sala de aula
carteiras de pílulas, camisinhas masculinas e femininas, tabelinha, e outros
métodos.

Desta forma, os alunos podem ter contato com este tipo de


informação. Em sala de aula é necessário fazer circular entre todos, dando
explicações sobre cada tipo.

As atividades em grupo são muito positivas, sendo assim, dividir a


sala em dois grupos e realizar demonstrações de uso da camisinha em
bananas e cenouras, possibilita ao aluno um contato prévio com o
preservativo.

É de suma importância ressaltar aos alunos que a camisinha feminina


e masculina é o único método anticoncepcional que previne a AIDS entre
outras DSTs – Doenças Sexualmente Transmissíveis.

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O aborto é outro tema relevante para figurar numa discussão em


grupo em sala de aula. No Brasil a interrupção intencional da gravidez é
crime, exceto quando a mãe é vitima de estupro, ou corre risco de morte.

Antes de realizar o debate o educador pode oferecer textos sobre o


tema. Dividir a classe em dois grupos para discussão é uma ótima ideia,
enquanto o primeiro deve argumentar a favor do aborto, o segundo será
contra. Posteriormente inverta os papéis.

Para falar de DSTs é interessante trazer alguns exemplos, como


exemplo, para ouvir a Via láctea, de Renato Russo, e Ideologia, de Cazuza,
ambos mortos em decorrência da AIDS.

Questione se os alunos sabem o significado da sigla. Posteriormente


selecione o trecho “... Essa febre não passa”, “... meu prazer agora é risco
de vida” e discuta o seu significado.

Levante juntamente com os alunos, os dados sobre os índices de


incidência da síndrome na população, a análise mostrará que não existe
grupo de risco, mas sim atitudes de risco. É recomendado conversar sobre
outros tipos de DSTs e seus meios de prevenção.

Outro tema interessante para se abordar em sala de aula é a questão


do homem e da mulher, o que é ser homem e mulher. Questione-os por que
é tão estranho um menino dizer que quer ser bailarino, ou uma menina que
sonha ser jogadora de futebol.

A homossexualidade e a bissexualidade são assuntos complexos. Ao


tratar deste assunto é preciso ser ameno, no entanto com naturalidade.
Assistir um filme que trate do tema pode auxiliar o trabalho.

Pergunte-os se só existe amor entre homens e mulheres, ouça as


opiniões, posteriormente reflita com os alunos sobre as diferentes formas de
amar. Tudo isso sem esquecer-se de reiterar que o respeito à orientação
sexual também deve ser primordial.

2.4 - O papel da família

A família tem papel fundamental no processo de construção da


sexualidade. Sabemos que a falta de informação, o preconceito, a imagem
negativa do sexo e os conceitos distorcidos acerca da sexualidade, por
fazerem parte da cultura, nos atinge diretamente.

Sendo assim, a educação sexual recebida na família, é permeada de


preconceitos, de geração em geração, isso influencia e traz sérias
consequências à vida sexual de seus membros.

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Por exemplo, em uma família de pensamento tradicional é muito difícil


conversar abertamente sobre sexo, homossexualidade, etc.

A família que ama, acolhe e dá carinho é a mesma que pune, reprime


e ameaça. É bem comum famílias com este perfil retalhar manifestações da
sexualidade.

Em casos assim, esta mesma família encara o sexo como algo sujo,
impuro, ameaçador e proibido. Estas são regras e conceitos transmitidos,
muitas vezes, por pessoas que tem grande significado em nossas vidas, isso
certamente ocasionará um trauma.

O papel da família, em síntese, na orientação sexual é o de nortear


valores e critérios morais. Critérios estes, muitas vezes, concebidos pela
condição social, religião, entre outros fatores.

É importante que a família tenha clareza do que sente e do que


espera de seus membros. Entretanto, é bem complicado estabelecer uma
noção de certo e errado.

Abaixo um interessante texto sobre a sexualidade. Trata-se de uma


situação rotineira, em que a criança faz perguntas “cabeludas” à mãe.
Também há algumas dicas de como lidar em situações como esta.

Apesar da importância da escola nesse processo, os pais


permanecem com um papel fundamental.

A sexualidade faz parte de todos os seres humanos, e lidar com elas é


um desafio para todos. Porém, quando se trata das crianças, como
educá-las sexualmente? E como a escola pode ajudar na hora de falar
sobre esse tema tão delicado?

A jornalista Clara* está enfrentando essa questão com sua filha de sete
anos. Ela pretende ter mais um filho e "ela vive dizendo que quer ver
quando o maninho for feito", conta. "Ela conta para todo mundo, me
deixa numa saia justa", completa. A resposta de Clara costuma ser que
essa é uma situação que não tem como ver, que não se enxerga isso
acontecendo. Porém, a mãe tem muitas dúvidas sobre como falar sobre
o assunto.

Para a pedagoga e sexóloga Ariana Magalhães, a educação sexual não


deve ser vinculada apenas a aspectos corporais, mas principalmente
com o desejo, o sentimento e como nos sentimos sendo homens ou
mulheres. "Deve proporcionar uma integração entre características
físicas, emocionais, intelectuais, sociais, históricas e culturais", afirma.

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Por ser um local em que crianças e adolescentes passam grande parte


de suas vidas, a escola é um lugar privilegiado para aprendizagem,
construção de valores e formação de consciência humana. "O papel do
colégio deve ser o de priorizar os questionamentos dos pais e dos
estudantes, informando, conscientizando e desmistificando crenças e
tabus", diz Ariana.

Clara acredita que a escola deve ser um apoio, que complementa a


educação que se dá em casa. Porém, uma mãozinha não seria de se
jogar fora quando o assunto é sexo. Neste caso, sinceramente, acho que
seria mais fácil se a escola ajudasse, porque é um assunto delicado.
Acho que a mensagem precisa ser passada corretamente, e a didática
pra isso é muito importante, argumenta.

Ariana acredita que há uma falha na formação acadêmica dos


professores, que não tiveram a oportunidade de conhecer e discutir
sobre sexualidade. "É preciso um investimento maior nessa área, para
que possibilite nossos educadores um conhecimento aprofundado sobre
o assunto, gerando mais tranquilidade e confiança para abordar o
assunto", opina.

O trabalho deve ser realizado desde a educação infantil, para ajudar


mães como Clara a sanarem as dúvidas dos seus pequenos. Aliás,
nessa idade, as crianças já têm até manifestações sexuais, como o ato
de chupar o dedo, o controle do esfíncter e a masturbação. "Elas são
naturais e devem ser vividas para que a criança possa desenvolver a sua
maturidade sexual, sem traumas nem tabus", alerta.

Apesar da importância da escola nesse processo, os pais permanecem


com um papel fundamental. É no núcleo familiar que as crianças
aprendem os primeiros conceitos sobre o seu corpo, sua identidade e
sobre o que é permitido ou desaconselhável na sociedade em que vive.
A pedagoga lembra que a atitude dos pais em relação à sexualidade é a
principal influência na educação sexual dos filhos. Quando há perguntas
esclarecidas e demonstrações de afeto, a criança assimila a capacidade
de amar e erotizar-se.

*O nome foi trocado a pedido da entrevistada

Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI4900881-EI8266,00-Falar+de+sexo+com+as
+criancas+e+papel+da+escola+e+dos+pais.html

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Como vimos à família tanto pode ser um elemento agregador na


construção da sexualidade, como também pode ser seu algoz, é importante
ter em mente que o apoio e a compreensão da família é fundamental.

Unidade 3 – Quebrando os dogmas

Olá.

Nesta unidade trataremos das questões referentes aos mitos,


preconceitos e dogmas adquiridos de geração em geração. Falaremos do
sexo em diferentes estágios do desenvolvimento.

A homossexualidade é abordada de maneira superficial, pontuando


algumas questões comportamentais e de relacionamento. A gravidez
também será abordada, bem como a polêmica que envolve o tema “aborto”.

As drogas, e seus malefícios, também serão contemplados nesta


unidade, bem como as consequências de seu uso.

Por fim, trataremos das questões relacionadas às doenças


sexualmente transmissíveis – DSTs, obviamente, sem nos esquecer dos
métodos preventivos e sua importância.

Bom estudo.

3.1 – Vamos falar sobre sexo?

Quando se fala sobre sexo é possível imaginar os risos


envergonhados e marotos, gozações ou mesmo broncas dependendo do
contexto. Ainda hoje, em pleno século XXI, não é um assunto abertamente
discutido.

Tratando-se de sexo, mais importante que conversar, é a maneira


como se conversa. O primeiro passo para desmitificar a sexualidade é falar
sobre ela numa boa.

As atitudes negativas frente ao sexo são muito mais maléficas que a


ignorância. Tanto é verdade, que pessoas mal informadas sobre sexo, do
índio ao caipira, podem ter uma vivência sexual plena e sadia com pouca
informação.

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O trabalho do adulto seria apenas preservar esta sexualidade


nascente, que esta em processo de construção. Entretanto, o que ocorre é
exatamente o contrário, a postura metódica e retrógrada é dirigida a estragar
e a oprimir tudo isso.

Só informar não basta, para desenvolver uma atitude positiva em


relação ao sexo é fundamental encorajar e expressão da sexualidade desde
a infância. Esta postura é que determinará a relação do indivíduo com sua
própria sexualidade.

Vivemos em uma época de transição, que se arrasta desde a década


de 1980. A visão da sexualidade mudou muito rapidamente desde então,
esta mudança deixou os pais sem norte. Isto é, perdidos sem informação e
sem capacidade de discutir o tema. Isso porque eles são de uma geração
em que tudo era proibido, agora se deparam com a liberdade e não
entendem, sentem medo e insegurança.

Tratando-se de Brasil, ainda é possível ver o preconceito e a


intolerância a respeito de diversos assuntos. Por exemplo, em algumas
regiões do país podemos observar certa repreensão sobre as mulheres que
não casam virgem, ou mulheres separadas.

Antigamente os pais não tinham muito problema em definir o que é


certo e errado. Os valores eram absolutos e imutáveis. Hoje é difícil haver
um consenso sobre um sistema de valores sexuais.

Basta observar que dentro de uma mesma família, pode haver


diversas opiniões acerca de sexo. Isso não significa que não há valores para
serem transmitidos e ensinados.

Pais e educadores devem defender e desenvolver na educação


sexual alguns princípios fundamentais:

1 - O respeito por si próprio e pela sua dignidade como pessoa;

2 - O respeito ao outro. A ninguém é permitido ver o outro como um


simples objeto de prazer, para fazer suas necessidades;

3 - O acesso à informação. Responder o que a criança quer saber de


maneira honesta e não preconceituosa;

4 - Ajudar a criança a desenvolver o espírito de crítica. Através da não


supressão da curiosidade e do estímulo ao questionamento. A criança
desenvolve a capacidade de raciocínio, adquirindo condições para refletir
sobre o que a cerca e escolher o que lhe convém.

As primeiras manifestações da sexualidade da criança geram, em


tempos atuais, uma preocupação: “devo fazer algo?” E a pergunta: “ o que?”
“como?”. E outras tantas perguntas cabeludas.

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Sendo assim, como conversar de sexo com os filhos e filhas?

Primeiramente é necessário um ambiente aberto e acolhedor, onde a


criança se sinta a vontade para falar sobre este assunto. É necessário que a
criança sinta que este assunto não é proibido.

Deve ser um ambiente onde as respostas sejam mais do que: “fale


com sua mãe”, “Quando você crescer eu respondo”. É preciso ter em mente
que sempre que a criança apresentar uma dúvida é necessário uma
resposta. Mesmo que ela não compreenda toda a resposta.

Quando você responde uma pergunta sobre sexo a uma criança, o


mais importante é o modo como se fala (voz, postura), e não o que se fala.

Não existe uma idade “certa” para perguntar. Uma criança falante e
curiosa pode apresentar interesse por sexo aos 2-3 anos, mesmo sem o uso
da palavra. Na maioria, ocorre entre 3-4 anos de idade.

Se a criança não perguntar nada sobre sexo até os 6 anos seria


interessante o adulto começar a falar. E nunca crie uma situação formal, por
exemplo, “agora vamos falar de sexo”.

O assunto tem que ser abordado naturalmente, aproveite as


oportunidades como gravidez da tia, um beijo na televisão, cachorros
cruzando na rua.

Perceba que coisas comuns são ótimas oportunidades de iniciar uma


conversa tranquila e natural sobre sexo. O adulto, neste sentido, deve ter
uma boa base informativa.

As primeiras perguntas de uma criança sobre sexo é uma constatação


do que se observa. “Por que o seu é grande e o meu pequeno?”, “onde está
o pipi de Alice?”, “por que o papai tem pelos?”.

O menino percebe que o pênis do pai é maior que o dele. “Por que é
assim?”, “será que o meu vai ficar assim um dia?”. É a preocupação que a
pergunta esconde.

O menino também repara que sua irmã. Alice, não tem pênis. Ele não
imagina que o órgão genital feminino não é aparente. Logo, o menino
fantasia que algo nela está faltando ou fora cortado. E teme pela integridade
do seu.

Essas perguntas simples devem ser respondidas da mesma forma,


isto é, naturalmente. No exemplo anterior: “o seu é pequeno porque você é
pequeno; quando você crescer o seu será igual ao do papai”. Ou no
segundo caso: “a abertura por onde Alice faz xixi é difícil de ver”.

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Na medida em que a criança cresce as perguntas ficam mais


complexas. Por volta dos 4-5 anos a criança já quer saber como o bebê sai
da barriga da mãe, e também como entrou.

Essas perguntas devem ser respondidas de maneira simples para que


a criança entenda. Muitas vezes os pais temem que os filhos possam se
chocar ouvindo palavras como pênis e vagina. Essas palavras terão a
conotação que os pais derem a elas.

Como é que o bebê sai da barriga da mãe? Sai pela vagina (se tiver
um desenho mostre a ele), que é a abertura por onde a mulher faz xixi. Na
hora que o bebê nascer ela aumenta a largura.

Como entra? Quando o papai e a mamãe fazem amor. Do pênis saem


espermatozoides que entram na vagina da mamãe e quando encontram um
óvulo dentro da mamãe, formam um começo de neném. Aí demora um
tempão até crescer. Quando o bebê está pronto ele nasce.

As respostas acima não devem ser encaradas como modelos a


seguir. O importante é transmitir uma mensagem de prazer, amor e
responsabilidade. Se a criança mostrar interesse em participar de algo que
parece tão bom, seja firme, e mostre que o sexo é privado e íntimo, quando
chegar o momento certo, na idade certa, poderá fazer o mesmo.

3.2 - A homossexualidade

O sexo de uma pessoa é determinado bem antes desta nascer, por


meio de uma definição biológica.

Já o papel sexual é determinado por leis sociais e convenções que


indicam como o sexo deve se portar, são leis sociais, não biológicas. O
indivíduo desenvolve dois esquemas de identidade sexual no cérebro.

Um é o esquema de identidade de si mesmo, e o outro é o do sexo


oposto. A identidade sexual é a percepção de ser homem ou mulher que
cada indivíduo tem a seu respeito.

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Ao contrário do que se acreditava a identidade sexual é determinada


logo nos primeiros anos de idade, provavelmente até aos 2 anos de idade.

A orientação sexual significa a expressão sexual de cada indivíduo


por um membro de outro sexo, do mesmo sexo ou ambos os sexos. Não se
sabe se a orientação sexual é determinada pelo social, por fatores biológicos
ou ambos.

Homossexualidade tem a ver com orientação sexual e não identidade


sexual. O homossexual é o indivíduo, seja homem ou mulher, com atração
por pessoas do mesmo sexo.

Ele é frequentemente estereotipado, tanto social quanto


cientificamente. Como se os homossexuais fossem uniformes, isto é, todos
fossem iguais, tivessem o mesmo emprego e as mesmas preferências.

O estudo de diversas culturas, em livros ou através de sua arte fez


com que os estudiosos chegassem à conclusão de que a atividade
homossexual é conhecida por quase todas as sociedades.

As atitudes, em relação a tal prática, são as mais diversas. Um estudo


que contemplou 76 sociedades diferentes da nossa, mostrou que em 64%
destas culturas o comportamento homossexual era condenado ou proibido,
existindo evidência de sua prática secreta.

Nossa cultura desencoraja a prática homossexual e tentar entender o


motivo que leva um indivíduo a se tornar homossexual e enfrentar todo o
preconceito que circunda o tema não é tarefa fácil.

Nenhuma explicação e nenhuma “causa” até hoje foi considerada


determinante no comportamento homossexual. Entende-se ao menos, que a
homossexualidade tem várias raízes, não sendo determinada por um único
fator.

O tema homossexualidade ainda é bem controverso. Falamos cada


vez mais sobre a sexualidade, no entanto pesquisas recentes mostram que
a homofobia está presente nas escolas de todo o Brasil.

A escola convive diariamente com situações que colocam a


orientação sexual dos alunos em discussão. Os jovens heterossexuais que
apresentam o comportamento padrão não preocupam.

Não preocupam, pois meninos se comportam dentro das regras para


o gênero masculino e as meninas seguem o perfil predefinido das garotas.

Surgiu um novo termo para designar este comportamento padrão e


uniforme. Trata-se da heteronormatividade, que em síntese, é o conjunto de
atitudes preconceituosas e compulsórias.

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O conceito traz à tona a ideia de que a heterossexualidade é a


sexualidade natural da humanidade, sendo a outra uma anomalia, isto é, a
homossexualidade e a bissexualidade são consideradas desvio da norma.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo mostra que,


quando perguntados sobre as pessoas que menos gostam de encontrar, os
homossexuais são classificados em 4° lugar. Foram deixados pra traz
apenas dos usuários de drogas, os ateus e os ex-presidiários.

Quando o olhar se volta à instituição de ensino não é diferente, outra


pesquisa divulgada em 2004 pela ONU indica que 40% dos entrevistados
não gostariam de ter homossexuais como colegas, e mais de 35% dos pais
não gostariam de tê-los como amigos dos filhos.

Perceba como o olhar preconceituoso está ainda fortemente


camuflado na escola, sob um discurso hipócrita do politicamente correto.
Nos dados acima podemos constatar uma realidade que se arrasta há
décadas.

Primeiramente é necessário ter em mente que ninguém escolhe ser


gay. Essa orientação tem relação direta com o desejo, a atração física por
alguém do mesmo sexo. Não é algo premeditado, mas sim espontâneo.

Quando o estudante é o protagonista desta prática, deve-se ser


tratado com respeito e naturalidade. O professor tem de entender que não
vai mudar a orientação sexual do aluno, no entanto, pode despertar na turma
o respeito pela diversidade sexual.

O educador pode debater com base nas histórias de homossexuais


que desempenham funções de destaque ou mesmo promover um debate
sobre a família, e como este é tratado por ela.

Há momentos em que o estudante reforça sua orientação sexual.


Uma das situações mais desagradáveis é a manifestação exagerada da
homossexualidade.

Assumir uma postura de enfrentamento é uma tática de reação muito


comum do jovem, que pode se dar por meio de atitudes como afinar a voz e
rebolar, no caso dos meninos e engrossar a fala, adquirir trejeitos de homem
no caso das meninas.

Esta é uma atitude de autoafirmação, em que o jovem defende o seu


jeito de ser, independentemente da aceitação dos outros. Em síntese,
podemos dizer que é o mesmo sentimento de um adolescente com
engajamento político de esquerda que vai vestido à aula com sua camiseta
vermelha do Che Guevara.

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Já o contrário também pode ocorrer, o estudante tenta esconder sua


orientação sexual, e reprimir seus sentimentos. Alguns se reprimem e ficam
demasiadamente quietos, estes sofrem mais que os outros.

Os introspectivos desenvolvem depressão e, não raro, abandonam a


escola. O educador deve estar atento aos alunos muito tímidos, que pouco
brincam ou conversam em sala de aula. Nesta hora o melhor é chamá-lo(a)
para uma conversa franca sem um olhar repressor.

É muito complicado lidar com um(a) aluno(a) gay assumido(a), ao


iniciar qualquer diálogo, o educador deve aceitar a autodefinição do próprio
aluno sem censura.

O estudante tem o direito de proteção às reações hostis. Outros


estudantes poderão reagir negativamente à presença de um gay na sala de
aula. Mas lembre-se que eles estão preocupados em tentar construir a
própria sexualidade e a própria identidade.

Grande parte dos homossexuais descobre seu desejo sexual na idade


escolar, como também acontece com os heterossexuais. Durante a
adolescência, jovens podem ter experiências com colegas do mesmo sexo.

O que não significa que sua orientação sexual seja esta. Pode ser um
meio de buscar conhecer certas formas de satisfação. Mas também pode ser
um momento de descoberta, caso o jovem se sinta confortável com a
experiência.

O problema não é o aluno ser declaradamente gay, mas como


podemos aprender e ensinar que são várias formas de vivenciar os afetos e
a sexualidade.

A educação, em suma, deve desmontar estereótipos, veicular


conhecimentos objetivos e fomentar nos jovens, a capacidade de defender a
si próprio de forma não violenta.

Há também outra situação, que é quando os pais são homossexuais.


Neste caso, há muito mais dificuldade, no entanto, é como todos os
exemplos anteriormente citados, se houver o devido esclarecimento acerca
das questões que envolvem a sexualidade, certamente não haverá
dificuldades na relação dos pais com o ambiente escolar e o convívio social.

Quando o professor, por sua vez é homossexual é necessário clareza


e entendimento, no entanto, nem sempre é recomendável assumir uma
postura homossexual.

Há casos, dependendo do contexto, que o melhor a se fazer é


manter-se discreto sobre a sua homossexualidade, isso o poupa de grandes
transtornos e possíveis aborrecimentos com brincadeiras maledicentes dos
alunos.

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Nem todos os alunos têm maturidade o suficiente para compreender e


relacionar-se socialmente com a diversidade, de forma sadia. Os jovens
podem de alguma forma, se afastar do professor e consequentemente do
conteúdo por ele apresentado.

Levar uma vida de fingimento, não é saudável, e pode ser


extremamente cansativo. O professor nestes casos dissimula praticamente
quase todo o tempo, na sala de professores, reuniões, conversas com
alunos, etc.

Primeiramente o professor não deve se considerar especial em razão


de sua orientação sexual. Além disso, é importante buscar apoio junto à
direção, pois o trabalho isolado pode ser mal entendido, e até confundido
com apologia.

O comportamento que o professor deve adotar neste caso é bem


subjetivo, pois que ninguém pode dizer como é que o indivíduo deve se
expressar.

Entretanto, é necessário que o educador esteja atento ao contexto, às


vezes assumir a homossexualidade pode acarretar consequências
colaterais, isto é, pode haver perseguição, preconceito aberto e outros tipos
de violência.

Devemos perceber a sexualidade como a unidade de significado mais


íntima do indivíduo, há horas que assumir a sexualidade é satisfatório, em
outras nem tanto. Por isso adequar-se ao contexto em que se está inserido é
fundamental.

Muito embora os discursos sejam o da inclusão e o da valorização


das diferenças, a sociedade de maneira geral, ainda guarda algum resquício
de preconceito, disfarçados na mídia, nos comerciais e novelas, etc.

Como se observa em uma campanha publicitária de prevenção à


AIDS, vetada pelo governo por ser muito agressiva aos olhos do público
heterossexual. O trecho a seguir foi reproduzido da internet e traz a
reportagem na integra.

Ministério veta vídeo de homens gays na campanha do Carnaval

Agência O Globo

O Ministério da Saúde determinou ao Programa de AIDS, da própria


pasta, que retirasse da internet o vídeo institucional com filme com cenas
de uma relação homossexual entre dois homens, que seria exibida para
a campanha do Carnaval. Nas imagens, dois rapazes são apresentados
numa boate, trocam carícias e são alertados por uma fada a usarem
preservativo.

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O filme, segundo material de divulgação do Programa de AIDS do


Ministério da Saúde, deveria ser exibido em TV e na internet. Estava
disponível no site do programa desde sexta-feira, mas foi retirado do ar.
O ministério informou na quarta-feira que o vídeo não deveria ter sido
divulgado na internet e que será exibido apenas em espaços fechados
frequentados por homossexuais. O vídeo oficial, com logotipo do
Ministério da Saúde, está sendo distribuído nas redes sociais. Entidades
e movimentos questionam a não exibição do filme na TV aberta.

Trecho do release do programa de AIDS sobre a exibição deste filme, de


outros, em TV:

"Os filmes a serem transmitidos pela TV e internet apresentam situações


em que os públicos-alvo da campanha – homens gays jovens e um casal
heterossexual – encontram-se prestes a ter relações sexuais sem
camisinha. Em ambos os filmes, surgem personagens fantasiosos – uma
fadinha, no caso do filme do casal gay, e um siri, no do casal
heterossexual – com uma camisinha."
Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=86075

3.3 - Gravidez na adolescência e o aborto

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A adolescência sem dúvida é uma fase conturbada da vida, nela


ocorrem transformações profundas em relação à sexualidade. Alias, é na
adolescência que se descobre os segredos da intimidade, referentes ao
corpo, às emoções, etc.

É uma fase do desenvolvimento humano que se encontra entre a


infância e a fase adulta, por isso os constantes conflitos aos quais estão
expostos os jovens. Adolescência e gravidez quando caminham juntas
culminam em sérias consequências como aborto, doenças sexualmente
transmissíveis, etc.

A desinformação e a fragilidade da educação sexual são sem dúvidas


questões extremamente problemáticas. As escolas e os sistemas de
educação estão muito mais preocupados em dar conta das matérias que
posteriormente serão cobradas no vestibular, do que tratar de questões
como a sexualidade.

Desta forma, temas como o sexo, drogas, entre outros, ficam apenas
na conversa superficial ao invés de uma profunda reflexão, sendo abordados
apenas em épocas esporádicas, como semanas temáticas, feira de ciências,
e alguns projetos isolados. Estas campanhas não visam à conscientização,
mas sim a informação não significativa acerca dos métodos contraceptivos.
Diante deste quadro crescem a cada dia o número de adolescentes
gestantes no Brasil.

Este não é o único problema oriundo da falta de discussão sobre o


tema em sala de aula, além da gravidez precoce, temos ainda as DSTs e os
abortos, que causam muitas mortes em clínicas clandestinas. O aborto
provocado pode trazer algumas infecções, hemorragias e até mesmo a
esterilidade. Depois de um aborto, a jovem pode ter dificuldade para
engravidar novamente, isso sem mencionar, o sentimento de culpa, isto é, o
trauma que fica e leva-se para o resto da vida.

Por tudo isso, podemos crer que a adolescência não é o melhor


momento para a maternidade, neste período a jovem tem que experimentar
vivências, adquirir maturidade para encarar os desafios que virão.

Como se percebe, são inúmeras as consequências de não se tratar a


orientação sexual nas escolas, a ignorância aliada ao despreparados
financeiro e emocional do jovem resultam em um maior número de gravidez
precoce, sobretudo abortos intencionais.

Estudos demonstram que cada vez mais os adolescentes tomam


atitudes precipitadas em relação à gravidez e acabam se esquecendo dos
riscos que acarreta um aborto ilegal.

Os estudos ainda apontam que de cada 100 casos de gravidez na


adolescência entre mulheres de 15 a 19 anos, 60 deles terminam em aborto
provocado.

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O aborto na adolescência cresce no mesmo ritmo que os casos de


gravidez, e em sua grande maioria, são realizados por meninas de classe
média. As pesquisas afirmam que essas meninas têm mais facilidade para
obter recursos para abortar do que uma adolescente de menor poder
aquisitivo.

Nas classes menos favorecidas, 80% das meninas levam a gravidez


até o final, enquanto na classe média ocorre o contrário, isto é, 80%
abortam. Em ambos os casos o aborto é feito na clandestinidade.

Quanto menor o poder aquisitivo da jovem, mais precária é a


condição da cirurgia de aborto. O preço do aborto é, em geral, mais cara
para adolescentes do que para mulheres adultas.

Em 34% dos casos de aborto, houve influência direta de amigas ou do


namorado. Por ser considerado crime, muitas jovens não consultam um
médico antes de fazer o aborto. Preferindo o conselho de pessoas
desinformadas que sugerem remédios abortivos e clínicas clandestinas.

O que elas nem imaginam é que o risco à sua saúde é infinitamente


maior que qualquer problema que possa ter em virtude da gravidez. Muitas
meninas desistem de fazer o aborto só de ver o ambiente em que as
cirurgias são realizadas.

Na última década, os pesquisadores tem se surpreendido com a


utilização de chás com princípios abortivos. Esta concepção não encontra
nenhuma evidência científica, porém o uso abusivo destes chás pode
provocar efeitos negativos tanto na mãe quanto no filho e dificilmente irá
provocar o aborto.

Outro método abortivo é a utilização do remédio CITOTEC, mesmo


sendo considerado ilegal para esses fins e sua venda sendo proibida. O
CITOTEC atua, ao que tudo indica, provocando contrações de parto e a
consequente expulsão do feto, em qualquer idade gestacional.

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O remédio foi criado para provocar contrações no útero quando era


necessário apressar um parto ou expulsar um feto já morto, mas após
alguns anos ao sair do seu estágio experimental, passou a ser
comercializado para tratamento de úlceras.

O CITOTEC é muito perigoso, nem em casos que o aborto é


autorizado os médicos utilizam esse método. O seu uso normalmente é
caseiro, e horas depois de ingerido, a mulher entra em trabalho de parto e
expulsa o feto.

As dores abdominais são intensas, muito maiores do que se fosse


um aborto natural, e a mulher pode começar a sangrar tanto e com tal
volume crescente que é quase sempre obrigada a procurar um hospital.

Em algumas mulheres sua ingestão não provoca efeito algum, nem


mesmo a expulsão do feto; em outras, provoca apenas a expulsão do feto.
Não há assessoria médica para quem queira tomar CITOTEC, e sua
utilização pode trazer muitos danos futuros, desde hemorragias a retirada do
útero. Sua venda e procura no Mercado Negro é grande, facilitando cada vez
mais o acesso para os adolescentes.

Abaixo temos um gráfico que mostra os principais motivos das


adolescentes gestantes cometerem aborto.

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A questão do aborto é sem dúvida muito importante e deve ser


discutida no ambiente escolar, como vemos a orientação sexual vem para
agir de forma preventiva, alertando os alunos quanto aos métodos
contraceptivos e as DSTs.

Infelizmente a sexualidade ainda é vista como tabu, pois para alguns


adolescentes ela vem acompanhada de dúvidas, repreensões ou traumas. E
o trabalho da orientação sexual é exatamente esse, proporcionar aos jovens
a possibilidade do exercício de sua sexualidade de forma responsável,
saudável e prazerosa.

3.4 – Drogas

Segundo a Organização Mundial da Saúde, droga é toda substância


que, introduzida em um organismo vivo, pode modificar uma ou mais de
suas funções.

Desde muito antes de Cristo, alguns povos usavam plantas como


estimulantes, alívio de sofrimento e dores, autocastigo ou como forma de
contato divino.

Houve épocas auge para cada tipo de droga. Na década de 1970


houve uma proliferação da cocaína e seus derivados, isto em plena época
dos movimentos pacíficos e musicais como o grande evento Woodstock.

O crack, derivado da cocaína é hoje um grande problema de nossa


sociedade, o consumo desta droga afeta diretamente o usuário em todos os
sentidos, tanto psicologicamente, quanto socialmente.

Os efeitos que a droga exerce sobre a sexualidade sempre gerou


curiosidade entre as pessoas. Sua influência positiva sobre o desejo, as
fantasias e as práticas sexuais povoam o imaginário humano há séculos.

A ação da droga sobre o comportamento sexual já é bem


documentado pela literatura especializada.

O consumo de drogas está diretamente relacionado à frequência de


parceiros sexuais casuais, com isto aumenta também a chance de uma
prática de risco, obviamente se não houver medidas de prevenção, como a
camisinha.

Os efeitos das drogas no organismo são relativos, pois usuários de


cocaína acreditam que a droga prolonga a ereção e retarda a chegada do
orgasmo.

No entanto, usuários de heroína relatam o efeito contrário.


Consumidores de estimulantes acreditam no aumento do desempenho
sexual, além da potencialização das libidos e das sensações de prazer.

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O ecstasy, também chamado de “droga do amor”, causa efeitos


desastrosos no organismo, porém, os usuários dessa droga sentem um
aumento no estado de alerta, aumento também do desejo sexual, além de
grande capacidade física e mental, euforia e aumento da sociabilização.

As drogas ditas, estimulantes, estão associadas ao aumento da


frequência sexual e da prática de sexo sem proteção.

Por outro lado usuários crônicos da substância apontam para a


diminuição do interesse e do desempenho sexual.

A compreensão da relação entre drogas e sexualidade é de suma


importância para o processo de tratamento. A piora do desempenho sexual
após a abstinência pode ser fator preponderante para uma recaída.

Além disso, a associação entre o orgasmo e a fissura dos usuários


pode fazer com que a prática sexual seja uma porta aberta, facilitando o
retorno ao consumo.

Existem também as drogas licitas, isto é, as legalmente


comercializadas, como cigarro, álcool, inalantes, solventes, medicamentos,
etc. Estas drogas por serem comercializadas livremente podem ser
compradas por qualquer pessoa.

As drogas depressoras deprimem as atividades cerebrais causando


certo relaxamento e provocando uma sensação de calma absoluta. Em
geral, essas drogas afastam sensações desagradáveis.

Há também as drogas perturbadoras que são aquelas que produzem


distorções da realidade no cérebro, fazendo com que este funcione
desordenadamente. As alucinações causadas por este tipo de droga
correspondem a sintomas de doenças mentais graves.

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As drogas possuem efeitos que fazem com que as pessoas se


interessem pelo seu uso cada vez mais. Entretanto, as consequências que
podem aparecer de curto e longo prazo, costumam ser desastrosas.

As pessoas podem ter certa curiosidade em relação às drogas,


experimentá-las e não reincidir no uso. Ou ao contrário, podem apresentar
alguma dependência caracterizando-se como taxicômacos.

O uso de drogas pelos adolescentes pode ser influenciado pela


família, escola, amigos, ou pela própria comunidade. As relações
estabelecidas em cada um destes ambientes e os exemplos interferem na
consciência desenvolvida que o jovem tem das drogas.

A ilegalidade tornou a distribuição das drogas uma atividade criminosa


de responsabilidade dos narcotraficantes, que possuem poder e controle em
algumas partes do Brasil, sobretudo nos morros do Rio de Janeiro.

Novas leis a respeito da descriminalização das drogas estão sendo


discutidas no congresso nacional. Cabe ao educador tratar do assunto de
maneira clara e responsável em sala de aula.

3.5 – DSTs

As DSTs – Doenças Sexualmente Transmissíveis, figuram como tema


transversal nos Parâmetros Nacionais Curriculares – PCNs.

São conhecidas como doenças venéreas e são transmitidas pelo


contato direto, isto é, através de relações sexuais, em que um dos parceiros
tenha a doença, e indireto por meio do compartilhamento de utensílios
pessoais mal higienizados, como roupa intima, ou manipulação indevida de
objetos contaminados como, lamina de barbear e seringas.

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Essas doenças acometem principalmente os jovens, por isso a


importância de se abordar o tema dentro da escola na sala de aula.
Programas educativos são agentes de conscientização e prevenção.

De maneira geral, o uso de preservativos nas relações sexuais,


juntamente com outros cuidados impedem o contágio e a possível
transmissão. É bem simples prevenir, basta ensinarmos as gerações futuras
que o sexo pode ser muito prazeroso e seguro se feito com
responsabilidade.

Segundo o Censo Escolar 2008, no Brasil, 44.7% dos estudantes tem


vida sexual ativa. E outro estudo sobre comportamento sexual, realizado
pelo Ministério da Saúde com a participação de 8.000 pessoas em 2009
mostrou que 39.4% dos brasileiros fizeram sexo antes dos 15 anos de idade.

A mesma pesquisa traz outro dado preocupante: 39% da população


entre 15 e 24 anos não usou preservativo na primeira experiência sexual.

Diante desses números, é inevitável que as DSTs acabem atingindo


os adolescentes. Daí a necessidade de debater estes assuntos em sala de
aula, de forma a orientar o aluno.

Dados recentes do Ministério da Saúde indicam que cerca de 170 mil


casos de infecção de HIV no Brasil, se referem a portadores de 13 a 19 anos
de idade. O número corresponde a 30% dos casos conhecidos de HIV no
país em todas as idades.

Por tudo isso, é necessário proporcionar ao jovem, momentos de


reflexão sobre a sua prática e seu comportamento sexual, bem como sua
própria sexualidade.

Neste sentido, não há lugar mais apropriado que a escola, uma


instituição que visa formar cidadãos, indivíduos autônomos e críticos. A
instituição de ensino deve ser o lugar onde não se aprende sobre sexo, mas
de maneira geral, sobre a vida.

Perguntas como “como será meu futuro?”, “como estará minha vida
daqui alguns anos?”, de maneira geral o questionamento, é uma ótima
maneira de orientar os adolescentes.

Isso faz com que eles reflitam e entendam a importância de prevenir


gravidez indesejada, além das doenças sexualmente transmissíveis e para
tanto basta informação.

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Alguns educadores não concordam, mas DSTs/AIDS é assunto para


crianças e jovens. A maioria dos professores e educadores acredita que
todas as informações podem e devem ser transmitidas a todas as idades,
obviamente que com maneiras diferentes de acordo com a faixa etária.

Pode-se começar este assunto em casa, partindo da família, com as


primeiras instruções, posteriormente na escola, por meio de interações e
vivências.

A escola por ser um local de aprendizado deve abordar questões


sobre a sexualidade as doenças sexualmente transmissíveis, e, sobretudo, a
informação, que é a prevenção do preconceito.

Percebe-se que em instituições que seguem os PCNs propondo


discussões dos temas transversais aos seus alunos, há um menor índice de
preconceito e intolerância.

Outro grande motivo para se abordar este assunto em sala de aula é


justamente por causa da iniciação sexual dos jovens, que ocorre cada vez
mais prematuramente.

Neste sentido, métodos de prevenção ganham ainda mais relevo, pois


constituem a única forma de combate às DSTs. A informação deve chegar
aos alunos antes mesmo da experiência, eles devem ter em mente, via de
regra, que o preservativo é uma obrigação na hora do sexo.

Abaixo um trecho de um artigo reproduzido da internet, onde um


programa do Ministério da Saúde é realizado em escolas da rede pública,
traz também relevantes informações e dados a respeito das ações tomadas
pelo governo na implantação da orientação sexual na grade curricular.

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Prevenção nas Escolas tem como estratégia a distribuição de


preservativos e a conscientização dos jovens sobre os riscos da
AIDS e DSTs

Falar ao jovem sobre a importância de usar o preservativo para evitar a


gravidez não planejada e para evitar a infecção por doenças
sexualmente transmissíveis (DSTs) e pelo HIV. Pensando em questões
como essa, o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação
desenvolvem o programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE).

O programa estimula as escolas a adotarem a educação sexual em


seus currículos e discute com pais, professores e diretores a melhor
forma de distribuir preservativos aos jovens. O SPE também é
desenvolvido em parceria com a Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef).

Segundo o Censo Escolar 2005, realizado pelos ministérios da Saúde e


da Educação, a maior parte das escolas brasileiras deixaram os tabus
de lado e incluíram a educação sexual em seus currículos. Na ocasião,
essas instituições de ensino afirmaram trabalhar algum tema
relacionado à promoção da saúde e educação preventiva. Segundo a
Pesquisa do Comportamento Sexual do Brasileiro, feita pelo Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e divulgada no ano
passado, a escola é o segundo lugar mais apontado pelos jovens para
obter informações sobre AIDS. Em primeiro vem à família e em terceiro,
a televisão.

Conforme o estudo do governo federal, a maioria das escolas tem o


professor como responsável pelas atividades relacionadas à área de
DST/AIDS. Os professores capacitados para conscientizar os jovens
correspondem a 43% do total pesquisado e os não capacitados são
35% do todo.

Profissionais de saúde de nível superior também participam das


atividades em 36% das escolas, assim como os profissionais de saúde
de nível médio (18%), membros de Organizações da Sociedade Civil
(8%) e outros profissionais (19%). "Tratar sobre sexualidade e
prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e AIDS dentro do
ambiente escolar tem contribuído para derrubar tabus e despertar a
consciência dos jovens, promovendo uma transformação social onde há
cada vez menos espaço para a discriminação", afirma a médica
pediatra e diretora do Programa Nacional de Aids, Mariângela Simão.

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Estímulo - O Saúde e Prevenção nas Escolas preocupa-se em


estimular ainda mais o ensino da educação sexual nas escolas. Para
auxiliar na divulgação do programa, foi elaborado o Guia de Formação
para Profissionais de Saúde, que auxilia na capacitação dos
profissionais de educação e saúde que trabalham junto à população.
Existe também o Guia de Formação para Jovens, com um conteúdo
mais apropriado para essa faixa etária. Além dos guias, são montadas
oficinas macrorregionais com representantes da Secretaria de Saúde,
Universidades e demais interessados no projeto. "Nas oficinas surgem
discussões de questões como sexualidade, doenças sexualmente
transmissíveis, gravidez, cidadania e planos de ação", assinala Maria
Adrião, técnica da área de prevenção do Programa Nacional de AIDS.

O programa do governo também atua na distribuição de preservativos


entre as escolas que desenvolvem o trabalho de educação sexual e que
participam do Saúde e Prevenção nas Escolas. Vale reforçar que essa
distribuição no ambiente escolar acontece mediante a discussão com
pais, professores e direção da escola.

Jovens usam cada vez mais o preservativo

O governo criou o Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) em 2003.


Além da prevenção de doenças, o programa também leva informação
ao adolescente sobre o uso da camisinha para evitar a gravidez. A
iniciativa surgiu com a proposta de trabalhar em conjunto as três
esferas (federal, estadual e municipal) do governo nas áreas de Saúde
e Educação.

Para implementar essas ações, o poder público conta com a


colaboração da Unesco e da Unicef. O Saúde e Prevenção tem como
finalidade ampliar ainda mais a disponibilização de preservativos nas
escolas. "Queremos elevar de 16,3% para 25%, ainda em 2006, o
percentual de escolas do Ensino Médio que têm disponível a camisinha
para os alunos", revela Mariângela Simão.

A Pesquisa sobre Comportamento Sexual e Percepções da População


Brasileira sobre HIV e AIDS (1998-2005), realizada pelo Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), mostra que o brasileiro
está usando cada vez mais o preservativo na sua primeira relação
sexual. Em 1998, 47,8% dos indivíduos entre 16 e 19 anos utilizaram a
camisinha na sua primeira relação. Em 2005 foi constatado que esse
numero subiu para 65,8%.

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O crescimento está relacionado com o aumento das campanhas de


divulgação sobre o uso do preservativo. Os dados também mostram
que a utilização da camisinha cresce de acordo com o grau de
instrução. Entre os homens de 16 a 19 anos, por exemplo, o índice vai
de 58,6% nos analfabetos funcionais (que sabem escrever, mas nem
sempre compreendem o que lêem) para 72,2% naqueles com segundo
grau completo. Por esse motivo, as escolas são um cenário importante
como executor das medidas de prevenção.

A secretária nacional da Pastoral da Juventude, Elen Marques Dantas,


de 24 anos, participou de uma oficina montada pelo Saúde e Prevenção
na Escola e constatou que a educação sexual é fundamental para a
sociedade. "Nós da Pastoral da Juventude sabemos que, apesar de ser
um assunto muito delicado para a Igreja Católica, a educação sexual é
importante para que o jovem ganhe informações, se conheça melhor e
saiba como se prevenir contra doenças graves", afirma.

Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24052%0D

Unidade 4 – Orientação sexual

Olá.

Nesta unidade trataremos da questão da construção da identidade


sexual, bem como a idade das primeiras experiências. Abordaremos a
sexualidade no período que compreende a infância.

Também refletiremos sobre o sexo na adolescência e seus cuidados,


além dos diversos fatores que contribuem para uma atitude de risco perante
as DSTs. Por fim, traremos ótimas dicas sobre as curiosidades dos pais e
dos jovens.

Bom estudo.

4.1 - Orientação sexual X Educação sexual

A concepção do termo Orientação Sexual, enquanto instrumento de


prevenção da AIDS, da gravidez na adolescência, do aborto e de outros
assuntos correlatos, vem passando por profundas transformações.

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O termo “Educação Sexual” está caindo em desuso, justamente por


sugerir a sexualidade como uma disciplina curricular. Especialistas se
perguntam, será possível ensinar alguém sexualmente?

Atualmente o termo aceito pelos profissionais da saúde e da


educação é “Orientação Sexual”, campo este que vem crescendo a passos
largos pela crescente demanda de informação.

Segundo especialistas, apesar da aparente proximidade, há um


grande distanciamento entre os termos. Outros acreditam que o termo
Orientação sexual é derivado do conceito pedagógico de Orientação
educacional.

O tema sexualidade gera sempre muita polêmica. Devido aos


constantes equívocos constatou-se a necessidade de homogeneizar o termo
que designa trabalhos na área: da educação, da saúde, da orientação,
informação sexual, entre outros.

Argumenta-se que a falta de padronização provoca muita confusão e


a imprecisão da terminologia compromete a qualidade da produção científica
e o avanço nesta área do conhecimento.

Entretanto, em síntese, pode-se dizer que este ou aquele termo pouco


contribuem se não forem postos em prática, ou seja, discutir o assunto e
desenvolver trabalhos é o mais importante.

É possível desenvolver ações significativas na escola, uma ação


diferente da educação sexual informal que acontece em todos os espaços
sociais. Na família, a construção da sexualidade ocorre de forma espontânea
e consciente, ou não.

Na escola através de intervenção pedagógica formal e sistematizada,


surge um espaço privilegiado para que a construção da sexualidade ocorra
como no lar, só que envolvendo outros agentes sociais, como professores,
amigos, mídia, etc.

Cabe à orientação sexual proporcionar uma visão ampla e profunda


da sexualidade humana, de maneira que favoreça a reflexão sobre a
mesma. Bem como, estimular a liberdade de expressão e escolha da
sexualidade.

A escola juntamente com a família são as instituições responsáveis


por essa orientação e educação, mas não é isso que se percebe, pois na
maioria dos casos, nossos educadores não estão preparados para uma
discussão franca e aberta.

Desta forma os educandos vão buscar essas informações, em fontes


geralmente não seguras, baseadas na experiência dos amigos e colegas e
mais recentemente na internet.

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Diante dessa realidade e dessa necessidade, a escola assume a


responsabilidade de trabalhar este projeto, envolvendo a sexualidade, as
doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez na adolescência, em
atividades direcionadas para o ensino fundamental e médio.

Em suma, o tema sexualidade, abordado em forma de orientação


sexual é ainda um tabu e um tema muito polêmico, além do despreparo do
professor temos os preconceitos e por muitas vezes, o pensamento
intolerante.

4.2- Construção da identidade sexual

A identidade sexual indica a percepção individual sobre o gênero que


uma pessoa percebe para si mesma. Assim como o termo sexo engloba
diversos significados, o termo identidade se difere totalmente de orientação
sexual.

A identidade sexual pode ser exclusivamente feminina ou masculina,


também pode se manifestar em uma mistura entre a masculinidade e a
feminilidade, admitindo varias categorias entre a homossexualidade.

A identidade sexual fundamenta-se na percepção individual sobre


sexo, masculino ou feminino percebido para si, manifestado no papel de
gênero assumido na relação sexual e a orientação sexual baseia-se na
atração sexual por outras pessoas.

Há também outro termo semelhante designado identidade de gênero,


que se difere da identidade sexual. Pois a identidade de gênero está mais
relacionada com a maneira de se vestir e se apresentar na sociedade.

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Enquanto a identidade sexual se relaciona diretamente com o papel


de gênero sexual, isto é, a escolha que o indivíduo faz para si a respeito de
sua própria sexualidade.

Sendo assim, identidade sexual, é o modo segundo o qual a pessoa


sente sua individualidade, enquanto homem ou mulher, inclusive sua
ambivalência na sua autopercepção.

Já o outro, está relacionado aos fatores biológico, socioculturais e


psicológicos que estão intrinsecamente arraigados na constituição do
indivíduo, seja ele homem ou mulher.

A construção da identidade é social e acontece durante toda, ou ao


menos, grande parte da vida dos indivíduos. Desde o nascimento o indivíduo
inicia a relação com o meio em que está inserido.

O ambiente social virtual como espaço de construção de uma


identidade sexual.

A identidade sexual não existe somente no plano físico, ela está


presente em todos os espaços sociais. E a internet não é diferente, lá se
constitui também a identidade sexual.

É cada vez mais comum, pessoas que manifestam suas orientações


sexuais em redes de relacionamento. Os movimentos contra a homofobia, o
preconceito com soros positivos, entre outros temas, são debatidos nas
redes sociais hoje em dia, isto é uma tendência.

É também sabido que tanto crianças quanto jovens são expostos a


uma enchente de informação, na maioria das vezes, inapropriada. Este
ambiente apesar de proporcionar maior liberdade para suas manifestações
de sexualidade, também oferece pornografia, pedofilia, entre outros.

Recentes estudos apontam que 80% das crianças com idade entre 7
e 18 anos já identificam o spam, isto é, as mensagens recebidas no correio
eletrônico, mensagem estas que vão desde pirâmides, à pornografia,
passando por ofertas e empréstimos.

A sexualidade no mundo virtual é realmente um problema com o qual


os pais têm se preocupado com frequência. Como enfrentar este empecilho
na educação dos filhos?

Para se ter uma ideia, 12% de todos os sites, na rede mundial de


computadores, são pornográficos e gera uma receita que ultrapassa a
barreira dos 97 bilhões de euros.

O Brasil ostenta o segundo lugar no ranking dos maiores produtores


de vídeos pornôs, perdendo apenas para os EUA. Estima-se que no mundo,
68 milhões de pessoas procuram pornografia pelos sites de busca.

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Por dia, 2,5 bilhões de e-mails são enviados e recebidos com


conteúdo pornográfico, 8% de todos os e-mails do planeta.

As preocupações não terminam por aqui, constam 100.000 sites que


oferecem pornografia infantil. De 100% da internet, 42,7% são
frequentadores de sites pornográficos e conteúdos relacionados.

Os downloads por mês de conteúdo pornográfico são 1.5 bilhões,


35% de todos os downloads da internet. E ainda por cima, 10% dos adultos
admitem estar viciados em pornografia na internet.

O problema maior é o acesso indiscriminado a internet, sem a


supervisão de um adulto, estima-se que pouco mais de 21% deles tem
algum tipo de controle familiar.

Como um local social livre, a internet traz um risco ainda maior, pois a
maioria dos abusos sexuais é intermediada por sites de relacionamento.

Ainda temos o problema das crianças e jovens navegarem por longos


períodos de tempo, fazendo questão de permanecerem sozinhos enquanto
acessam.

A todo instante as crianças e os jovens estão sendo bombardeados


por entrevistas, matérias, anúncios publicitários, todos, em sua maneira,
contribuindo para a proliferação do sexo, e não da sexualidade.

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Perceba na imagem acima as diversas manchetes em sites


relativamente sérios, mas que no corpus de seu conteúdo apresenta o sexo
como meio de adquirir ibope ou acessos.

A internet é realmente um ambiente inóspito, no entanto pode ser


também um lugar de descobertas e aprendizados, portanto é necessária
uma conversa franca sobre os benefícios e perigos que ela representa.

Em lares com crianças ainda bem jovens, se sugere a instalação de


bloqueadores, filtros de conteúdo e antivírus.

Outro fator que vem contribuindo para o uso demasiado e indevido da


internet são os computadores nos quartos, onde as crianças e jovens
literalmente se internam.

Na televisão não é diferente. São muitas horas voltadas para o


desrespeito ao próximo, para o incentivo de receber mais do que dar; e
poucos minutos de orientação sexual adequada, principalmente para os
adolescentes.

São comerciais de bebidas, cigarros, e outros produtos, induzindo o


expectador a consumir desregradamente, como se fosse a única maneira de
ser feliz, bonito(a) e aceito(a) em seu grupo social.

Por outro lado, na internet é possível encontrar muitos blogs de


qualidade que tem uma linha de investigação e embasamento. Ou mesmo
chats de jovens com as mesmas dúvidas que o adolescente.

Também na internet pode-se entrar em contato com as pessoas antes


de iniciar a atividade sexual. Pesquisas acadêmicas e relatos de
experiências são muito comuns em sites de busca.

Claro que é necessário um cuidado com os adolescentes quando


acessam a internet, todavia é uma ótima ferramenta de interação e
aprendizado.

A orientação sexual vem justamente se opor ao culto do corpo e da


posse. Um indivíduo bem resolvido sexualmente e crítico, certamente não se
influenciará por tão pouco conteúdo.

4.3 - Primeiras experiências

As características da sexualidade dependem da idade do indivíduo,


pois em cada estágio da vida temos diferentes experiências. As primeiras
experiências com sexualidade ocorrem ainda na infância.

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Nas crianças com idade entre 0 e 18 meses, começa o processo de


aprendizagem da identidade de gênero, isto é, homem/mulher e dos seus
respectivos papéis sexuais.

Neste período a criança começa a lidar com a representação cultural


dos gêneros, é justamente nesta fase que o bebê começa a experimentar o
próprio corpo.

Entre os 18 meses e os três anos, a criança começa a manusear o


próprio órgão genital. Depois disto, até os quatro anos, a criança já elabora
suas próprias hipóteses acerca da origem dos bebês, sendo capaz de
assimilar atitudes sexuais negativas ou positivas.

Entre cinco e seis anos a criança apresenta ideias fantásticas sobre a


própria origem, é neste período que o individuo do outro sexo começa a ser
incluído nos jogos sexuais.

A partir dos sete anos, apesar do interesse por assuntos sexuais, a


criança se retrai com os contatos mais íntimos, isto é, o próprio corpo,
começando a manipular seu órgão sexual. Podem ocorrer frequentes
brincadeiras sexuais com crianças do mesmo sexo, isto não significa que ela
se torne homossexual. Trata-se apenas da descoberta da própria
sexualidade.

As profundas transformações da puberdade se iniciam aos 10 anos,


quando a criança conhece a masturbação. A partir daí acentua-se o desejo
de relação com o outro.

Normalmente os adolescentes com 14 anos têm amigo intimo e


canalizam o erótico para as histórias, piadas e confidências juvenis. Já com
15 anos ocorre a abertura para a heterossexualidade e a adolescência,
começando a estabelecer-se a sua identidade sexual.

Dos 17 aos 23 anos, essa identidade é consolidada e o jovem passa a


ter um objeto amoroso único, com quem mantém uma espécie de
intercâmbio amoroso.

É somente a partir da adolescência que o jovem começa a se


preocupar com os riscos trazidos pela AIDS e outras DSTs. A desinformação
é, sem dúvidas, o reforço dos preconceitos.

Lembrando que trocar beijos e carícias, apertar as mãos, ter contato


com suor, lágrima ou saliva, usar os mesmos pratos, talheres, copos, não
significam riscos.

A adolescência consiste num período complicado na vida de qualquer


pessoa, são muitas inseguranças e dúvidas que circundam o pensamento
dos jovens.

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Muitas das dúvidas e anseios estão relacionadas ao modo de lidar


com as meninas e os meninos, o primeiro beijo e a primeira relação amorosa
são experiências inesquecíveis, e podem ser também traumáticas.

Virgindade

Existem muitos garotos e garotas que passaram a adolescência e


chegaram à vida adulta sem ter uma experiência sexual, muitos podem
achar que “há algo errado”. Na verdade não há necessariamente algo errado
com o indivíduo, seja homem ou mulher.

No caso dos meninos é, em geral, mais fácil arranjar uma parceira


para vivenciar esta experiência. Mas há os que se preservam até
encontrarem a pessoa certa para compartilhar este momento.

Desta forma, percebe-se que não há nada de errado, trata-se apenas


de uma questão de escolha, em que a primeira relação sexual deve ocorrer
quando sentir-se totalmente preparado e a vontade para vivenciar esta
experiência com uma pessoa que goste e confie.

Há casos em que o adolescente ou adulto, percebe que está sentindo


vontades de iniciar suas atividades sexuais, mas não consegue deixar esta
vontade se manifestar de maneira natural.

Muitas vezes, o que ocorre é uma insegurança, às vezes em relação


ao próprio corpo, seja em virtude das celulites das meninas ou ao tamanho
do pênis no caso dos meninos. Enfim, pode-se pensar em diversas coisas
referentes ao porte físico.

Insegurança em relação à dor e à habilidade na cama também podem


gerar transtornos e ansiedades. A melhor maneira de vencer estes medos e
receios é estar bem consigo mesmo, pessoas com a sexualidade bem
resolvida conseguem se relacionar melhor com as diferenças.

Daí a importância de se orientar as gerações mais jovens, para que


se tornem indivíduos autônomos e sexualmente bem resolvidos, se
relacionando com as mais diversas formas de experiências, seja hetero ou
homossexual.

4.4 - Sexualidade na infância

A sexualidade se inicia no indivíduo ainda no ventre da mãe,


acompanhando-o por toda existência. Viver uma sexualidade satisfatória e
prazerosa na idade adulta depende do quão foi desenvolvida na infância e
na adolescência.

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Neste sentido a educação sexual é de fundamental importância não


apenas no ambiente familiar, mas também na escola e em todos os espaços
sociais.

A desinformação e a repressão partida dos adultos acabam por


dificultar as expressões da sexualidade na criança. Todas as crianças,
independente da idade, têm a curiosidade sobre sexo, ou em relação à
sexualidade.

As perguntas dos filhos sobre assuntos relacionados à sexualidade


devem ser respondidas com clareza, no entanto, com palavras adequadas à
idade da criança.

Histórias fantasiosas como a da cegonha, para explicar o nascimento


não devem ser contadas, pois posteriormente estas crianças ao passo que
vão descobrindo a verdade, vão perdendo a credibilidade no adulto.

Esta confiança é importante para uma relação de equilíbrio entre pais


e filhos. Os pais devem estar atentos, pois a presença afetiva é de suma
importância para a formação de um adulto feliz nos relacionamentos e na
sexualidade.

A erotização na música influenciando a precocidade sexual nas


crianças.

É bem comum observarmos crianças cada vez mais novas dançando


ao som dos refrões cheios de erotismo e sexualidade, utilizando roupas
absolutamente impróprias para a idade.

As músicas erotizadas estão em nosso contexto desde a década de


1990, através do axé music oriundo da Bahia. O fato é que muitas crianças
dançam sem saber ao menos o que quer dizer a letra e o conteúdo impróprio
que ela carrega.

Estudos científicos revelam que as músicas de cunho apelativo


sexualmente tendem a preconizar a iniciação ao sexo entre meninos e
meninas.

Segundo os estudos, a música juntamente com as coreografias


também impregnadas de um erotismo faz com que as crianças tenham
acesso a uma informação que não é apropriada para sua idade, produzindo,
desta forma, um comportamento inadequado.

A música tem um papel social importante, que é de transmitir valores,


tendências e opiniões. Além disso, a música, bem como, a arte em geral,
serve como um instrumento de inserção e identificação cultural entre as
crianças.

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As letras e as danças erotizadas fazem com que a sexualidade,


presente em todos os estágios do desenvolvimento, seja confundida e volte-
se para o sexual e pornográfico.

E na verdade, esta sexualidade deveria ser canalizada na construção


das emoções, das relações sociais, da experimentação de papéis e do
desenvolvimento da afetividade.

O acesso precoce da criança com este tipo de produto cultural faz


com que ela se perca e deixe de vivenciar momentos importantes no
desenvolvimento da sua sexualidade, isto é, aquele momento que é próprio
da idade dela, que é brincar.

Isso gera terríveis consequências, pois a criança ainda não conhece


seu corpo e começa a lidar com a sexualização. Um dos resultados é
gravidez na adolescência.

A seguir uma interessante matéria sobre a sexualidade na infância,


reproduzido do site da conceituada revista Nova Escola. No texto
percebemos como são importantes os momentos e experiências e
questionamentos na infância.

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O despertar da sexualidade

Desde o nascimento, a criança explora o prazer, os contatos


afetivos e as relações de gênero. Saiba como responder às dúvidas
infantis sobre o tema

"A gente tá de mãos dadas, passeando com o cachorro. Eu e o Luís."


Ana Beatriz, 4 anos.

Apreciar a textura de um sorvete, relaxar numa massagem, desfrutar o


beijo da pessoa amada: tudo o que se relaciona ao prazer com o corpo
está ligado à sexualidade. Embora pelo senso comum ela se confunda
com o erotismo, a genitalidade e as relações sexuais, o fato é que esse
campo do desenvolvimento humano pode ser entendido num sentido
mais amplo e deve incluir a conscientização sobre o próprio corpo e a
forma de se relacionar amorosamente.

Ainda que esse processo se estenda pelo resto da vida, ele se inicia na
infância, desde o nascimento. "As crianças sentem prazer em explorar o
corpo, em serem tocadas, acariciadas. Elas experimentam a si próprias e
ao entorno, vivenciam limites e possibilidades", diz Cláudia Ribeiro,
professora da Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais.

De modo geral, é possível falar em três "frentes de descobrimento", que


ocorrem paralelamente: a da dinâmica das relações afetivas, a do prazer
com o corpo e a da identificação com o gênero. Tudo se inicia com a
primeira percepção de prazer: o ato de mamar, uma ação que dá alívio
ao desconforto da fome e que intensifica o vínculo afetivo, baseado na
sensação de cuidado e acolhimento. "A ligação entre mãe e bebê é um
embrião relacional que, mais adiante, será desafiado com a percepção
de que a figura materna desvia sua atenção para outras pessoas, como
o pai ou um irmão", explica Ada Morgenstern, psicanalista e professora
do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.

Ao constatar que não é o centro das atenções, a criança sente certo


abalo em seu "reinado", mas também percebe que a sensação boa de se
relacionar pode ser estendida para além da figura da mãe. Inicialmente,
ela se volta para outros membros do contexto familiar e, em seguida,
depois do primeiro ano de vida, para fora dele. "Essas relações dão uma
referência à criança sobre sua própria identidade. Interagindo com
amigos, ela percebe a si mesma", diz Maria Helena Vilela, educadora
sexual e diretora do Instituto Kaplan, em São Paulo.

Para compreender as relações entre casais, os pequenos criam


representações com faz de conta e imitação.

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O prazer do vínculo afetivo e das interações sociais se dá em paralelo


com a percepção das relações amorosas entre casais. Para
compreender essa realidade do mundo, a criança se utiliza de recursos
próprios da fase que vive: o faz de conta e a imitação. Falas como a de
Ana Beatriz, que representa no desenho um passeio de mãos dadas com
um colega – ou seja, uma situação típica de namoro – demonstra o
interesse sobre os relacionamentos.

Experiências e perguntas nas investigações sobre o prazer.

A descoberta de que o corpo é uma importante fonte de prazer costuma


vir acompanhada de perguntas sobre a sexualidade. É comum, por
exemplo, uma criança pequena perguntar a uma visita se ela tem "pinto"
ou "perereca" – causando certo constrangimento aos adultos. A questão
explicita que ela começa a identificar as diferenças entre o corpo do
homem e o da mulher e toma consciência das características do próprio
físico. Nesse contexto, além da investigação visual, experimenta as
sensações causadas pelo toque em diferentes partes do corpo (e no de
outras crianças), sejam elas do mesmo sexo ou do sexo oposto.
"Também fazem parte dessa vivência beijos e abraços entremeados por
risos e cócegas", completa Cláudia.

"O neném primeiro fica na barriga. Depois, sai pela perereca."


Maria Luísa, 5 anos.

Um dos pioneiros a estudar a exploração do prazer corporal foi o


neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), criador da
psicanálise, que chocou a sociedade de sua época ao falar da
sexualidade infantil - rompendo com a imagem da criança inocente,
assexuada. Ele mapeou o desenvolvimento nesse campo em diferentes
fases, cada uma valorizando o prazer em uma região do corpo. A
primeira delas é a fase oral, que se estende até os 2 anos e em que os
pequenos concentram na boca a maior parte das sensações de prazer -
mamar no seio ou na mamadeira, chupar chupeta etc. Em seguida,
passa-se à fase anal (em torno dos 3 e 4 anos), quando a criança ganha
controle sobre os esfíncteres e passa pelo processo de largar as fraldas.
Nesse momento, sente-se bem em eliminar ou reter urina e fezes,
fazendo do ânus uma região de prazer.

Depois os pequenos descobrem o prazer genital e investem nessa


exploração do próprio órgão sexual. Esse período ocorre entre os 3 e os
5 anos e, depois dele, instaura-se um período de latência, em que as
questões da sexualidade ficam secundárias nas inquietações infantis (até
a puberdade). Embora não tenha sido superada, essa divisão em etapas
é hoje relativizada pelos especialistas. "A separação por fases tem a
intenção de facilitar a compreensão sobre o amadurecimento da
sexualidade e não pode ser entendida como algo estanque, que ocorre
linearmente", explica Ada.

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As dúvidas sobre a concepção são frequentes e devem ser respondidas


com precisão.

É também durante a Educação Infantil que os pequenos começam a se


colocar questões sobre a origem dos bebês. Os caminhos para resolver
esse "mistério" costumam ser perguntar a um adulto ou elaborar teorias
próprias com as informações que coletam das mais variadas fontes –
conversas, filmes e livros, por exemplo. A fala de Luís Antônio, que
parece se contentar com a ideia de que os bebês vêm do hospital, é um
exemplo disso (veja o diálogo abaixo).

Luís Antônio, 4 anos: "A minha mãe tá perguntando para o meu pai se
ela pode me dar um irmãozinho. Se ele deixar, vai nascer."

Repórter: "E de onde ele vai vir?"

Luís Antônio: "Do (hospital) Samaritano."

"Nessa hora, o importante é responder exatamente o que a criança está


perguntando, sem antecipar dúvidas", diz Marcos Ribeiro, sexólogo e
coordenador geral da ONG Centro de Educação Sexual, no Rio de
Janeiro. Se uma criança indaga como os bebês nascem, dizer que eles
saem do hospital, embora não seja errado, não resolve a dúvida, pois
poderia indicar que eles são comprados ou pegos no local. Uma
possibilidade é dizer que eles vêm da barriga da mãe, sem dizer como
ele entra ou sai dela (a menos que o pequeno pergunte). "Assim, é
possível garantir que eles tenham acesso à informação à medida que as
questões façam sentido para eles ou os inquietem", diz Ribeiro.

No espaço escolar, fale sobre o que é público e o que é privado.

"Aqui é um homem porque ele é forte. Olha o muque dele."


Felipe, 4 anos

Além de explicações sobre anatomia e concepção, os pequenos vão aos


poucos construindo ideias sobre cada gênero. Por volta dos 2 anos, a
criança percebe se é do sexo feminino ou masculino e, no contato com
os adultos ao seu redor e pela mídia, aprende o que é ser menino ou
menina em sua sociedade – e, claro, tem contato com os rótulos
associados a eles. Os pequenos logo percebem que se espera que o
homem seja forte e que a mulher seja frágil e delicada (veja a fala de
Sofia abaixo)

"O meu pai às vezes me chama de Sofião... Eu não gosto dele quando
faz isso comigo." Sofia, 5 anos

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"É preciso ter atenção à rigidez dessa diferenciação e à criação de


estereótipos que não contemplem a diversidade entre as pessoas", alerta
Ribeiro. Nesse aspecto, a escola tem um papel importante. A maneira
como a instituição lida com as diferenças físicas e a igualdade de
oportunidades são maneiras de ensinar o respeito à diversidade e de não
reafirmar clichês questionáveis - como o fato de a menina ser passiva, e
o menino, destemido ou mesmo autoritário.

Da mesma forma, a equipe docente tem responsabilidade em explicitar


as regras da cultura em que os pequenos estão inseridos. É preciso ter
atenção, sobretudo, à distinção do que cabe no espaço público e no
privado. A masturbação, por exemplo, requer um espaço privado para
ser realizada, assim como urinar e defecar. "O professor deve intervir ao
ver um menino manipulando a genitália em local público, mas o foco não
deve ser a ação em si. A questão é o local apropriado", diz Maria Helena.
"O adulto não deve repreender a criança apenas porque ele mesmo está
incomodado. Se ela estiver se tocando em local privado, como a cabine
de um banheiro, não é adequado pedir para parar."

Construída no início da vida, a identificação com o gênero se vincula à


cultura em que cada criança se insere.

O desafio para o professor é enorme: ao mesmo tempo em que deve


preservar a intimidade das crianças e não culpabilizá-las por
manifestações de sexualidade, ele é responsável por um processo
educativo que aborde valores, diferenças individuais e grupais, de
costumes e de crenças. Isso é fundamental tanto na infância como na
adolescência, quando a questão ressurge a todo vapor.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/despertar-
sexualidade-infancia-freud-528841.shtml

A sexualidade infantil é bem diferente da sexualidade de um adulto,


não contém os mesmo componentes nem interesses. Muitas vezes é através
da dramatização que a criança vai construindo sua sexualidade.

É justamente nas brincadeiras de mamãe e papai, de médico, de


professora e de namorados que ocorre uma espécie de aproximação ao
mundo adulto.

Quando se pensa em educação sexual na infância, instantaneamente


pensamos também no desenvolvimento emocional, ou seja, é necessário
levar em conta o nível de maturidade e as necessidades emocionais da
criança.

Portanto, é um momento de suma importância na construção de uma


sexualidade, que orientada de maneira correta, possibilita ao indivíduo uma
formação mais autônoma e bem resolvida.

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4.5 - Sexo na adolescência

A adolescência compreende um período muito conturbado, tanto para


os jovens quanto para os pais. Trata-se de um período em que o corpo
passa por alterações de ordem hormonal e psicológica.

É necessária muita maturidade, além de informação dos pais para


lidar com esta situação. Na verdade, quanto menos preparados tiverem os
pais, mais conturbado será o processo de diálogo com o adolescente.

Nesta fase o corpo passa por inúmeras transformações. De repente o


jovem se enxerga como adulto sem ter feito uma despedida racional e
consciente do seu corpo infantil.

Sente dúvidas e questionamentos que serão proporcionalmente mais


ou menos intensos. Passa a sentir forte atração em relação à sexualidade e
teme suas próprias escolhas sexuais.

É a época de botar a sexualidade em prática, pois descobre seus


sonhos sexuais, os desejos e excitações, sem mencionar a masturbação e
as próprias relações sexuais.

Atualmente, o contexto está mudado, a quebra dos tabus


proporcionaram maior liberdade e expressão sexual. Hoje em dia, temas
como virgindade, gravidez e DSTs são discutidos em casa e na escola.

Por outro lado, começa a haver um enfoque mais abrangente também


quanto às relações homossexuais. Hoje em dia, o namoro tradicional é uma
fase remota dos relacionamentos.

Os jovens se conhecem e “ficam” na noite ou na balada. Não há mais


o compromisso, todos são livres para se relacionarem com quem queiram.
Em outras palavras, a geração atual executa e experimenta o sexo, cada vez
mais sem amor. É somente por uma questão instintiva que se envolvem.

O problema é que, sem muita informação a respeito da fisiologia da


sexualidade e da reprodução, os jovens se iniciam à atividade sexual, de
uma maneira solitária, tentando se descobrir e se arriscando a contrair
alguma doença venérea, AIDS ou mesmo a gravidez precoce.

Infelizmente, a maioria dos jovens não se sente à vontade e nem


possuem coragem de discutir estes temas com os pais e professores. Não
gostam de ser interrogados sobre suas experiências e seus comportamentos
sexuais.

O que se pode fazer nesta fase é apenas colher os frutos de uma


educação que os pais plantaram na infância dos filhos. É justamente na
infância que se começa os trabalhos para lidar com a adolescência.

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É preciso estabelecer um diálogo franco e aberto sobre o assunto,


antes que a televisão, os filmes e revistas eróticas, a internet, letras de
música o façam de maneira confusa.

Os pais e educadores não devem ter medo de falar sobre sexo nem
discutir sobre o tema. Devem orientar sobre a necessidade de estar maduro
o suficiente para encarar os desafios da vida.

Quando o jovem decidir iniciar sua vida sexual, os pais e a escola


devem conversar sobre preservativos, validar sentimentos de amizade,
amor, prazer e carinho como uma espécie de qualificação para o ato sexual.

Conversar também sobre o sexo virtual, considerado por muitos como


masturbação moderna, sobre a moda de “ficar com fulano” e os valores
como fidelidade, intimidade, envolvimento, ajudam os jovens a entenderem
que há muito mais coisas por trás do ato sexual.

Os pais e a família são os primeiros professores, portanto pais que


estejam preparados poderão orientar melhor seus filhos. A troca de ideia
será mais franca e sincera. A família será até o fim de qualquer existência,
algo fundamental para obter o autoconhecimento e a felicidade.

A população jovem é um grupo prioritário para promoção da saúde


em todas as regiões não só do Brasil, mas do mundo. Justamente pelo fato
das atividades sexuais se iniciarem neste período.

É uma questão de suma importância, pois sexo sem proteção gera


gravidez na adolescência, sem falar no risco de contrair doenças
sexualmente transmissíveis como a AIDS.

Fatores como a escola e a família têm influência acerca dos


comportamentos sexuais durante a adolescência. A escola tem forte
influência na prevenção do comportamento de risco. Já o fator religiosidade
influi na conduta do indivíduo, no entanto, pode gerar dogmas e criar tabus
acerca do tema sexo.

Portanto, frente ao fato da iniciação precoce da vida sexual, como um


fator de risco e vulnerabilidade à AIDS, se faz necessário um maior
aprofundamento destas questões na busca pela propagação da
conscientização por parte dos adolescentes, quanto à importância do uso do
preservativo, bem como os outros métodos contraceptivos.

E por fim, outro fator que é de fundamental importância, é a


participação da escola e da família na construção do perfil comportamental
dos adolescentes. O diálogo com os próprios adolescentes proporcionaria o
aprofundamento da reflexão sobre a sexualidade e seus desdobramentos.

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O maior problema, neste sentido, são os pais que tapam o sol com a
peneira, pois preferem ignorar que seus filhos são sexualmente ativos,
acreditando que eles ainda são crianças ou não estão preparados para esta
experiência.

Sexo faz parte da vida, sobretudo na adolescência, quando o efeito


dos hormônios se manifesta. Os pais, em geral, têm dificuldade para aceitar
que os filhos são indivíduos sexuados.

É claro, que dentro dos limites, os pais devem orientar seu filho desde
cedo para que ele tome atitudes responsáveis, é preciso estabelecer um
jogo de confiança, os pais devem acreditar que ele será competente para
fazer suas próprias escolhas.

4.6 - Dúvidas frequentes dos pais em relação aos filhos

Este é um tema que gera medo e muitas dúvidas nos pais. Os filhos
vão crescendo e a ansiedade de que o assunto venha à tona se torna cada
vez maior. Pois, de modo geral, a maioria dos pais não sabe como lidar nem
como responder a uma onda de perguntas cabeludas.

Vivemos em uma sociedade cada vez mais exigente


profissionalmente, justamente por isso, sobra cada vez menos tempo para
se dedicar à educação dos filhos.

No entanto, o medo e a falta de tato para lidar com assuntos


polêmicos fazem com que os pais prefiram que este papel de orientador,
seja transferido à escola ou à igreja. É preciso ter ciência de que ninguém é
mais capacitado a orientar os filhos do que seus próprios pais.

É importante que os pais não deixem de responder as perguntas dos


filhos, quando não souberem, os pais podem procurar a resposta e
posteriormente compartilhar com os filhos.

Caso contrário, ele passará a não mais questionar aos pais, e


começará a buscar essas informações na rua, e lá elas não são confiáveis.
Procure em livros, internet, em sites confiáveis ou mesmo peça orientação a
um profissional se necessário.

Outra questão que merece esclarecimento é o tabu de que meninos


só brincam com meninos e vice-versa. Lidar com as diferenças faz parte do
desenvolvimento. Aprender a diferenciar e respeitar o sexo oposto são
fatores positivos, e só é possível através da interação entre eles, isto é,
quando eles passam a conviver juntos.

É importante preparar uma criança desde cedo com relação aos


cuidados com seu corpo e com a própria sexualidade, ensinando, por
exemplo, antes de a menina menstruar, o que irá acontecer.

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Temas relacionados ao namoro também devem ser abordados antes


da menina pensar em paquerar, e esse diálogo deve conter aquilo que os
pais almejam dos filhos quando esse momento vier a acontecer.

Antecipar que o sexo virá, também funciona. Não deixe para falar em
namoro depois que o adolescente tiver dado o primeiro beijo, nem mesmo
para falar de gravidez e escolhas amorosas depois delas feitas.

Antecipar os momentos da vida adulta de forma bastante tranquila e


honesta, deixando sempre um espaço para o diálogo, é o melhor caminho
para evitar surpresas.

Abaixo, você encontrará algumas respostas para as perguntas


comuns e típicas da infância, em um texto extraído da internet, que aborda
justamente as dúvidas e questionamentos dos pais com relação à
sexualidade dos seus filhos.

1 - Minha filha nos pegou namorando. Estávamos só nos beijando e


ela gritou: "Credo, vocês não têm nojo?"

É hora de explicar a ela que o ato parece esquisito à primeira vista, mas
é uma das melhores coisas da vida. E que, se for quem a gente gosta,
nunca será nojento, e sim muito gostoso. Lembre-se de que ela pode ter
pensado em nojo, mas também pode ter apenas sentido ciúme de os
pais estarem juntos sem ela.

2 - Meu filho gosta de mexer no pênis. Faz isso em qualquer lugar,


desde que sinta vontade. Como dizer a ele que não dá para fazer
isso na frente dos outros?

Ok, a situação é constrangedora, principalmente quando acontece na


frente de pessoas não tão íntimas. Fazer alarde só incentivará o ato.
Respire fundo e explique que, sim, as pessoas gostam de se tocar nessa
parte do corpo porque dá uma sensação gostosa. Mas que se trata de
algo muito particular e existe local certo para fazer isso, sozinho, e não
na frente dos outros.

3 - De namorado, igual na novela. É assim que meu filho quer que


sejam os meus beijos!

Não. Seja direta desde sempre: esse tipo de beijo só no papai. Diga que
um dia ele terá uma namorada e vai beijá-la assim também. Dessa
forma, você impede a idealização do amor pela mãe e deixa claro quais
os papéis de pais e filhos. Cada um, cada um.

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4 - Tomar banho comigo vai fazer meu filho se interessar por sexo
mais cedo?

Crianças não funcionam assim. Tomar banho com um adulto não


desperta vontade nele de ter relações sexuais, mas aumenta a
curiosidade em relação às transformações corporais de meninas e
meninos. Aí é o momento de você explicar que algumas mudanças
hormonais vão ocorrer no corpo dele para prepará-lo para a idade adulta.
Vale usar até desenhos didáticos para isso. Além de uma conversa
divertida, o diálogo vai aplacar o interesse dele.

5 - Minha sobrinha, de 7 anos, está apaixonada pelo amiguinho de


classe. E me perguntou que gosto tem um beijo! Devo me
preocupar?

Calma. É muito comum ouvir crianças dessa idade dizendo que


namoram, mas geralmente é apenas uma paixão platônica, sem atos
concretos. Responda a verdade sobre o beijo, sem estender o assunto
ou entrar em detalhes. Não valorize sentimentos e sensações aos quais
ela não está preparada para ter. Isso pode estimular uma sexualidade
precoce.

6 - Com apenas 5 anos, minha filha tem vergonha de ficar só de


calcinha na piscina ou em casa. Isso é sinal de que a sexualidade já
aflorou?

Não é para tanto. Mas respeite os limites dela, sem impor sua vontade. A
atitude da menina pode ser sinal de que em algum momento os pais
demonstraram a ela que não era legal ficar de calcinha. Então, pense no
que já falou para ela. Por outro lado, crianças repetem nossos
comportamentos e não é comum ver adultos desfilando de calcinha por
aí, não é?

7 - Durante um capítulo da novela, a personagem disse que queria


fazer um papai-e-mamãe. Minha filha me perguntou o que era isso...

É. Essas passadas na frente da televisão na hora da novela sempre


causam rebuliço. Mas lembre-se de que, quando uma criança faz uma
pergunta relacionada à sexualidade, precisamos tentar responder dentro
do universo verbal dela, exatamente o que perguntou, sem ir além do
necessário. Se é uma criança de 5 ou 6 anos, por exemplo, diga
simplesmente que essa é uma maneira de namorar. Nessa idade, eles
não têm conceitos específicos sobre sexualidade. Com uma criança mais
velha, a resposta pode ser um pouco mais elaborada, revelando que se
trata de uma forma de transar.

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8 - Quando troco as fraldas de minha filha, de 1 ano, ela gosta de


mexer na vagina e às vezes coloca um brinquedo no meio das
pernas. Por que ela faz isso?

É muito simples. Ela faz isso porque está descobrindo que a região
pélvica traz sensações gostosas. E isso acontece sem maldade ou
malícia. É o início da descoberta de seu corpo. Essa etapa é natural. A
criança vê o toque genital como algo que traz sensações muito boas,
assim como qualquer outra região do corpo. Para ela, daria no mesmo
mexer na orelha ou no cotovelo, por exemplo.

9 - Flagrei um garoto de 3 anos mostrando o pênis à minha filha.


Fiquei estática!

Não é para menos! Ninguém imagina passar por isso na vida. É natural
eles tentarem descobrir as diferenças corporais entre meninas e
meninos. Mas crianças depois dos 5 anos merecem mais supervisão dos
pais até para não se machucarem nessa exploração. O ato não é
sinônimo de sexualidade precoce e, sim, de autoconhecimento. Agora,
se você não sabe lidar com isso, invente outra brincadeira para eles.

10 - Sempre tomei banho com a minha filha. Agora, com 6 anos,


começou a observar mais e brincar, dizendo que quer mamar no
meu peito. Não sei como agir.

Ninguém disse que iria ser fácil ter filhos, não é? É normal nessa idade
eles ficarem mais atentos e curiosos em relação às mudanças corporais.
Não corra o risco de reprimir o seu filho, trate o assunto com
naturalidade. Mostre seu corpo, deixe-a tocar e conte que quando
crescer também será assim. Mas coloque um limite, ok? Explique que ela
não é mais bebê e por isso não pode mamar no peito.

As principais dúvidas, dos pais, para falar de sexo com os filhos

Eles perguntam, mas quem tem dúvidas são vocês. Descobrimos as


principais e contamos como dialogar com as crianças sem susto

11 - Tomei bronca da professora da minha filha, de 5 anos, porque


ela levou uma camisinha que achou no meu quarto para a escola. E
ficou brincando de bexiga!

Primeiro, trate de guardar as camisinhas em um lugar mais escondido.


Assim você não gera uma curiosidade precoce. Nesse caso, parece que
sua filha nem sabia a real finalidade do preservativo nem questionou
sobre isso – quis apenas se divertir. Não se preocupe, nessa idade não
existe malícia alguma. Mas vale checar se a escola tratou o assunto da
mesma maneira como você trata.

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12 - Durante o banho, meu filho, de 6 anos, fica com o pênis ereto.


Ele quer uma explicação.

Simples: diga a ele que isso acontece algumas vezes com os meninos e
é natural. Só dê continuidade ao assunto se ele perguntar mais. A
resposta deve ter o tamanho proporcional à curiosidade dele. Quanto a
você, não se preocupe porque faz parte do autoconhecimento.

13 - Minha filha perguntou por que fecho a porta do quarto à noite.


O que respondo?

Que tal a verdade? Isso mesmo, que vocês vão ficar juntos, sozinhos. E
que casais precisam de privacidade para namorar, matar a saudade. Da
mesma forma quando ela vai para o quarto dela ouvir música ou fazer
lição de casa e prefere ficar sozinha. Acostume sua filha com a ideia de
que os pais também são gente, namoram, têm direito à privacidade, têm
uma vida só deles.

14 - No café da manhã, meu filho comentou que o primo mais velho


transou com a namorada. Será que ele tem noção do que falou?

Nem sempre a criança sabe o significado do que fala. Às vezes, está


apenas repetindo um termo que não entende. Se você nunca explicou o
que é transar para o seu filho, pergunte se ele sabe o que é – mas esteja
preparado para a resposta porque o garoto pode realmente saber a
verdade e você tomar um susto. Escute, complete informações se for
necessário ou, se notar que ele não sabe de nada, diga apenas que é
um tipo de carinho feito quando se é adulto.

15 – Não tenho a menor ideia de como chamar os órgãos genitais


do meu filho!

Cuidado, a criatividade para denominar as partes íntimas é espantosa!


Não invente muita moda. Se quiser dar algum apelido, dê. Mas fale, em
seguida, os nomes científicos para a criança saber que pênis é pênis e
vagina é vagina, e não algo como periquitinha.

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16 - Às vezes, percebo que minha filha, de 9 anos, quer privacidade,


vai para o quarto com amiguinhos e amiguinhas e acho que a
brincadeira pode resultar em algo mais apimentado. É o caso de
proibir?

A verdade – difícil de assimilar – é que esse tipo de brincadeira vai


acontecer na escola, na sua casa ou mesmo na casa da amiga. A
curiosidade existe e as crianças vão tentar descobrir o que podem. Por
outro lado, ela também tem direito à privacidade. Proibi-la de ficar
sozinha com os amigos só vai causar mais confusão. Supervisione de
longe, combinando, por exemplo, que a porta ficará entreaberta e você
entrará lá de vez em quando. Se você oferecer atividades legais quando
os amigos forem em casa, esses momentos nem vão existir.

17 - Meu filho quer tomar banho com a amiguinha depois da piscina.


Deixo?

Acredite: nada de nocivo pode acontecer entre eles. Se forem da mesma


idade, podem até matar curiosidades sobre o próprio corpo, sem malícia.
Se quiser, fique por perto. Mas tudo tem de ser natural para você. Se
acha que não consegue lidar com a situação, o melhor a fazer é não
deixar que tomem banho juntos. Proíba se as idades forem muito
diferentes.

18 - Minha filha tem 8 anos e está super-interessada em tudo que


envolve namoros. Como agir?

Fugir do assunto vai criar ainda mais expectativa na criança. Responda a


tudo com a naturalidade que você conseguir, mas diga a todo o momento
que ela ainda é muito nova para namorar.
Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI1799-15344,00.html

Encerramento

Caro aluno,

Chegamos ao fim de nosso curso com a certeza de termos


conseguido transmitir uma boa noção acerca da sexualidade na educação,
bem como seus desdobramentos.

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Reafirmamos que o objetivo desse curso não é habilitar o aluno


dentro da área pedagógica, mas oferecer uma boa base sobre o que esse
campo tem a oferecer e como deve ser tratado.

Esperamos que você tenha compreendido esclarecer sobre a


importância da orientação sexual, bem como a construção da sexualidade
nas instituições de ensino e dentro de casa, pois qualquer tipo de orientação
é primordialmente abordada em casa, somente depois, tratada nos espaços
sociais.

Boa Sorte e Sucesso!

Bibliografia

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Editora FTD, 1986.

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