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INTERVENÇÃO PSICOMOTORA

EM IDOSOS

1. INTRODUÇÃO

O envelhecimento é definido como o conjunto de modificações morfológicas, psicológicas,


funcionais e bioquímicas causadas pela passagem do tempo nos seres vivos (Bravo, 1998). Como
afirma Ribera (1995), o envelhecimento é um processo dinâmico que se inicia no momento do
nascimento e continua ao longo da vida. O momento em que se atinge a velhice é pouco definido e
tem variado de acordo com os tempos e lugares. As pessoas não experimentam mudanças repentinas
que as levem a se reconhecer como diferentes, a menos que ocorram eventos súbitos e importantes
em suas vidas. Pereira (1995) indica que as diferentes fases da velhice devem ter como referência os
conceitos de idade cronológica (anos vividos), idade social (capacidade funcional para contribuir
com o trabalho), idade biológica (alterações físicas e fisiológicas) e idade psicológica (sua
competência comportamental e adaptação).
O envelhecimento implica uma série de mudanças inevitáveis e que ocorrem como consequência da
passagem do tempo. No entanto, não afeta todas as pessoas igualmente e da mesma forma, mas
existem diferentes fatores que modulam o processo de envelhecimento: doenças, fatores de risco e
ambientais a que foram submetidos, estilo de vida, prática de exercício físico etc. Segundo
Montorio e Izal (1999), uma das características que melhor definem esta faixa etária é a sua
variabilidade interindividual e intraindividual.
A variabilidade interindividual refere-se ao fato de que, à medida que a idade avança, as pessoas
tendem a ser mais heterogêneas no funcionamento psicológico, fisiológico e social. Algumas
pessoas mais velhas podem apresentar um funcionamento idêntico ao dos grupos etários mais
jovens, mesmo que o funcionamento médio de seu grupo etário seja inferior ao do grupo etário mais
jovem.
A variabilidade intra-individual refere-se ao fato de que as mudanças que ocorrem ao longo do
tempo em um determinado comportamento, capacidade, habilidade psicológica ou fisiológica não
predizem necessariamente alterações em outras características psicológicas ou sistemas fisiológicos.
Uma pessoa pode perder a capacidade motora e manter as habilidades cognitivas intactas. Por
outras palavras, existem inúmeras variações nas alterações associadas à idade, quer a comparação se
estabeleça entre diferentes indivíduos, quer entre os diferentes sistemas ou funções de um mesmo
indivíduo.

1.1. Mudanças físicas


Com a idade, o corpo passa por uma série de modificações decorrentes do processo natural de
envelhecimento, mudanças que levam a mudanças na aparência física (García Arroyo, 1995):
— O cabelo perde sua pigmentação natural e cai facilmente, o que pode levar à calvície.
— A pele perde elasticidade e surgem rugas; Além disso, altera a aparência e a estrutura do rosto.
— Há uma redistribuição do tecido adiposo, que tende a se localizar na região abdominal.
— Na estrutura do corpo, a altura diminui e aparecem deformações nas articulações, nas mãos e nos
pés.

1.2. Alterações fisiológicas


Relativamente ao aparelho locomotor, ao nível ósseo aumenta o número de fracturas e o processo
de descalcificação, uma vez que o tecido ósseo do esqueleto tem dificuldade em fixar o cálcio e o
osso torna-se esponjoso e frágil; assim, é frequente encontrarmos acometimentos de osteoporose e
osteomalacia. Ao nível articular, o envelhecimento pode manifestar-se por: diminuição da
mobilidade articular, rigidez de tendões e ligamentos, aumento de deformidades, perda de eficiência
no movimento e modificação da massa óssea devido à imobilização ou perda de movimento. A nível
muscular, verifica-se uma diminuição do tónus muscular e da capacidade elástica, a massa muscular
é substituída por tecido adiposo e ocorre uma perda lenta da força muscular.
Modificações também ocorrem no sistema cardiovascular. O coração perde a contratilidade
muscular e a elasticidade dos vasos sanguíneos diminui. Aumenta a frequência cardíaca, a pressão
arterial sistólica e o consumo de oxigênio. Arteriosclerose, varizes e edemas nos pés e tornozelos
são frequentes, que aumentam com o passar do dia.
No sistema respiratório, surge um processo de atrofia que afeta o nariz, a faringe e a laringe. A
elasticidade da membrana pulmonar diminui e há maior dificuldade no fornecimento de oxigênio e
na eliminação do gás carbônico pelo pulmão, de forma que a capacidade vital no processo
respiratório é reduzida.
O sistema vestibular que ajuda a manter a postura e o equilíbrio muitas vezes se deteriora, causando
tonturas e quedas.

2. ALTERAÇÕES PSICOMOTORAS

2.1. Alterações motoras As modificações se expressam como um processo de retrogênese (Justo,


2000). Fonseca (1988) chama de "retrogênese psicomotora" o processo pelo qual a organização
psicomotora que se desenvolveu desde o recém-nascido até a puberdade em uma ontogênese
sistêmica que evolui da tonicidade para a praxia fina e que se torna mais complexa na idade adulta.
entre a idade adulta e a velhice, uma degeneração sistêmica da praxia fina à tonicidade. Da mesma
forma, devido às alterações fisiológicas, o idoso apresentará:
— Menos segurança na marcha e nos deslocamentos, bem como no equilíbrio estático.
— Diminuição do tônus muscular e dificuldade de relaxamento voluntário.
Além disso, Martínez (2003) aponta que haverá uma involução das qualidades físicas de:
— Coordenação: há uma diminuição progressiva da capacidade de cerca de 30 por cento até a
idade de 70 anos, embora nas mulheres seja um pouco mais atrasada.
— Flexibilidade: a partir dos 30 anos inicia-se um declínio, provocado pela diminuição das células
e fibras elásticas dos tendões, ligamentos, etc.
— Força: diminui de 25 a 30 por 100 até os 70 anos, dependendo do uso dos músculos na vida
diária.
— Velocidade: a sua diminuição, primeiro lenta e depois mais acentuada, observa-se a partir dos 30,
ou 40-45 anos nos casos de treino regular. A principal causa é a diminuição da força e elasticidade
do aparelho locomotor e a involução dos processos neurofisiológicos.
— Resistência: a resistência anaeróbica depende da força e da resistência física, e sua diminuição
se manifesta de forma semelhante a essas duas. O aeróbico e dinâmico, a partir dos 30 anos, reduz-
se nos homens em 25-30 por 100, e nas mulheres, entre 20-25 por 100, até aos 60 anos. A causa da
diminuição deve ser buscada nos campos cardiocirculatório, pulmonar e muscular.

2.2. Alterações cognitivas


Camino (1995) sintetiza algumas das principais alterações que ocorrem no idoso:
— Nas funções intelectuais, a inteligência fluida diminui com a idade, ou seja, a capacidade de
evoluir e adaptar-se rápida e eficientemente a novas situações; porém, aumenta a inteligência
cristalizada que está ligada ao acúmulo de experiência. O conhecimento individual e social
enriquece a inteligência e pode compensar o declínio da inteligência fluida associado à idade.
— Há uma diminuição sensorial, que varia de indivíduo para indivíduo, principalmente da visão e
da audição, essenciais para a recepção das informações.
— Na atenção, os canais de entrada de informações serão afetados pelo envelhecimento, mas a
motivação e o interesse que os idosos têm em atender são essenciais para fixar os estímulos que vão
chegando.
— O comprometimento da memória é maior na memória de curto prazo do que na memória de
longo prazo, embora não se manifeste igualmente em todos os indivíduos.
— Aumenta o tempo de reação, pois há uma desaceleração da atividade mental que pode estar
relacionada à perda neuronal e transmissões neuronais mais lentas.
— Aparecimento de sintomas de desestruturação do esquema corporal e dificuldade em reconhecer
o próprio corpo.
— Dificuldades no esquema espacial e temporal, para manter uma correta orientação e organização
do espaço e do tempo, o que condiciona a sua relação com o meio.

2.3. Mudanças socioafetivas


A velhice é caracterizada pela mudança de papéis e pela perda de alguns deles (Montorio e Izal,
1999). Na esfera afetiva, sofre perdas: sua aparência muda, é afastado de sua profissão, recebe
menos compensações financeiras, sofre a perda de entes queridos, diminui suas capacidades físicas,
torna-se cada vez mais dependente, etc.
A aposentadoria implica, além do abandono do papel profissional, diminuição do rendimento
econômico, perda das oportunidades de convívio social decorrentes do trabalho, que devem ser
substituídas por outras, e maior tempo livre. Além disso, na velhice ocorrem mudanças na estrutura
familiar: os filhos já são adultos, saem da casa dos pais e demandam outro tipo de atenção e apoio,
como o cuidado dos netos, colaboração econômica e/ou doméstica, etc. .
Por outro lado, a doença ou morte do casal pode forçar uma reestruturação dos padrões de
funcionamento diário. As redes sociais tendem a ser menores e a frequência de contatos sociais
diminui. Em geral, o comportamento do idoso será caracterizado pelos seguintes traços:
— Evitação de novas situações pelo esforço e recursos que elas envolvem.
— Tendência à rotina, a situações que domina e nas quais suas dificuldades são menos aparentes. —
Estado de ânimo deprimido, gerado pela sucessão de perdas que vem sofrendo.
— Labilidade emocional, ansiedade e uma certa irritabilidade-agressividade em momentos
específicos.
— Tendência à solidão e introversão, maior isolamento social e sedentarismo, com diminuição das
suas interações interpessoais-sociais.

3. AVALIAÇÃO PSICOMOTORA

Defontaine (1981) adverte que para realizar a avaliação psicomotora do idoso é necessário: seu
consentimento, motivação e participação. Antes de iniciar a avaliação, é importante conversar com
eles para que ganhem confiança, pois normalmente sofrem de solidão, retraimento e desconfiança.
Sugere uma primeira parte da apresentação em que são recolhidos alguns dados pessoais e
observado o seu grau de mobilidade.
Da mesma forma, é necessário realizar um exame clínico para verificar possíveis dificuldades
respiratórias e cardíacas, apraxia, afasia, agnosia ou um estudo mais aprofundado do sistema
nervoso se houver suspeita de que possa haver um problema neurológico.
Como medida de competências psicomotoras, o instrumento que tem sido mais utilizado é a Bateria
Psicomotora de V. da Fonseca (1998), já descrita no Capítulo 3.
A BPM é uma bateria de observação que embora tenha sido concebida para identificar o grau da
maturação psicomotora da criança, apresenta condições para avaliar as habilidades psicomotoras do
idoso. Concretamente, foi aplicado na sua totalidade a idosos (Fonseca, María, Henriques,
Passarinho, Mourão & Alfonso, 1987) e provou a sua utilidade como ferramenta de deteção de
sinais disfuncionais. Observa-se nos idosos uma deterioração que segue o processo inverso da
evolução. A involução ocorre do córtex à medula, do mais complexo ao mais simples e do mais
voluntário ao mais involuntário.
Para analisar os resultados, dividiram a amostra por idade em quatro grupos:
— Grupo 1, de 60 a 69 anos: obteve os melhores resultados em noção corporal, enquanto a
tonicidade apresentou o pior equilíbrio. Este grupo apresentou os melhores resultados de toda a
amostra em todos os testes, com exceção de tonicidade.
— Grupo 2, de 70 a 79 anos: a consciência corporal foi a mais pontuada, e o equilíbrio obteve o
pior resultado. Obteve resultados inferiores ao grupo 1 em todos os testes e superiores aos grupos 3
e 4 em todos os testes, com exceção da tonicidade.
— Grupo 3, de 80 a 85 anos: o teste mais pontuado foi o de noção corporal, e o de estruturação
espaço-temporal o que obteve pior resultado. A soma das médias foi inferior às médias dos grupos 1
e 2, mas superior à do grupo 4.
— Grupo 4, 86 anos ou mais: o melhor teste desse grupo foi consciência corporal e o pior, praxia
fina. Todos os valores obtidos foram inferiores aos dos grupos 1 e 2; Em comparação com o grupo
3, foram obtidos valores mais baixos em todos os testes, exceto naqueles que mediram a
estruturação espaço-temporal.
Em geral, observou-se uma diminuição dos valores do grupo 1 para o grupo 4. Os testes de
tonicidade, consciência corporal e praxia global foram os menos discriminativos por idade,
enquanto os mais discriminativos foram praxia fina, estruturação espaço-temporal e equilíbrio.
Fonseca e cols. (1987) afirmam que no idoso há uma desorganização vertical descendente da praxia
fina em direção à tonicidade, verificando-se a perda progressiva primeiro das aquisições
exteroceptivas, depois das proprioceptivas e por último das interoceptivas. Sugerem que a
tonicidade, como primeiro fator de organização psicomotora, também demora mais para se
desintegrar como último fator psicomotor de desorganização involutiva, embora reconheçam que
nela se registram alterações, principalmente em relação ao enfraquecimento da extensibilidade,
rigidez apendicular paratônica e os mecanismos de aferência e vigilância afetiva.

4. INTERVENÇÃO PSICOMOTORA

É necessário estabelecer programas e recursos preventivos que busquem um maior bem-estar físico,
mental e social. O objetivo é preparar as pessoas para enfrentar a velhice com a melhor idade
funcional possível, aprendendo estratégias e habilidades que lhes permitam continuar cumprindo
uma importante tarefa na sociedade.
Dentre essas habilidades, as psicomotoras ocupam lugar de destaque, pois a retrogênese
psicomotora pode produzir modificações importantes na organização psicomotora e interferir nos
comportamentos cognitivos e socioafetivos (Justo, 2000). A reeducação psicomotora em idosos
pode ser um procedimento eficaz para combater os problemas derivados da retrogênese
psicomotora, sendo especialmente necessários programas gerontopsicomotores em idosos
institucionalizados (Benavente, 1995; Díez Manglano, Vela, Sanz, Bardina, Tricas e Callau, 1991;
Parreño, 1983; García Arroyo, 1995; García Nuñez e Morales, 1995; Linares, 1999b). Lorente
(2003) recomenda a abordagem de três níveis de prevenção da psicologia comunitária.
A abordagem de prevenção primária estaria associada à intervenção com idosos saudáveis para
evitar que os déficits associados à idade aumentassem ou se tornassem patológicos; Desta forma,
intervinha o psicomotricista do centro de dia ou centro de convivência da terceira idade. No
momento em que a pessoa começa a queixar-se de uma determinada deficiência ou apresenta um
défice ou deterioração cognitiva, é necessário um treino mais exaustivo, próximo da reeducação
psicomotora, que seria uma prevenção secundária, destacando as dimensões cognitiva e motora. Se
a pessoa já tem um diagnóstico, como a doença de Alzheimer, seria a prevenção terciária, e a
intervenção psicomotora se concentraria na melhoria da qualidade de vida, no gerenciamento dos
déficits e no prazer do movimento e do trabalho corporal.

4.1. Objetivos da intervenção


A Tabela 11.1 resume os principais objetivos da intervenção.

4.1.1. Área motora


1. Tônus e relaxamento: percebe e controla as variações tônicas (incluindo relaxamento global,
segmentar e diferencial) e a respiração.
2. Coordenação dinâmica geral: fortalecer os movimentos, e suas variações, necessários para sua
independência na vida diária (principalmente a marcha).
3. Equilíbrio: fortalecer o equilíbrio dinâmico e estático.
4. Dissociação de movimentos: possibilidade de realizar efetivamente movimentos em que
diferentes segmentos corporais estão envolvidos.
5. Coordenação mão-olho: reforça o manuseio e as habilidades motoras finas.

4.1.2. Área cognitiva


1. Percepção do corpo:
— Experiência do corpo inteiro através de diferentes posições e deslocamentos.
— Denominação e localização das diferentes partes do corpo, bem como a capacidade de as sentir e
mobilizar e as articulações do corpo.
— Reforçar o conhecimento de noções espaciais básicas em relação ao seu corpo.
2. Espaço e objetos:
— Reforçar o conhecimento das noções espaciais: orientação espacial (orientação no espaço
imediato e percursos complexos) e transposição das noções espaciais para o outro (manter as
próprias referências sem se deixar influenciar, interpretar gestos e movimentos do outro e orientar o
movimentos do outro).
— Organização e utilização dos diferentes espaços da sala.
— Uso criativo de objetos.
3. Tempo:
— Reforçar o conhecimento das noções temporais: noções básicas, consciência das relações ao
longo do tempo e coordenação dos vários elementos.
— Distribuição e planificação do tempo das sessões.
4. Processos cognitivos: fortalecem a capacidade de atenção, memória, abstração e linguagem.
4.1.3. Área socioafetiva e comunicativa
1. Manter ou melhorar, tanto quanto possível, o seu nível de autonomia.
2. Desenvolver habilidades de comunicação pessoal e de grupo.
3. Viva o seu corpo de forma saudável, aceite o seu envelhecimento e enfrente as suas limitações
corporais.

TABELA 11.1
Objetivos da intervenção

Área motora

Tônus muscular
— Relaxamento
• Global
• Segmentar
• Diferencial
— Respiração
Coordenação dinâmica geral
— Marcha Equilíbrio
— Equilíbrio dinâmico espontâneo
— Equilíbrio no solo
Coordenação viso-motora
— Habilidade manual
— Coordenação motora fina
Dissociação de movimentos
— Coordenação dinâmica de membros superiores
— Coordenação dinâmica de membros superiores e inferiores
— Coordenação dinâmica e postural
— Mobilização de outros segmentos e de todo o corpo
Área cognitiva

Percepção do corpo
— Percepção global do corpo
— Conhecimento das diferentes partes
— Consciência do espaço gestual
Espaço e objetos
— Noções espaciais
• Orientação espacial
• Transposição de noções espaciais para o outro
— Estabelecer e utilizar diferentes espaços
— Utilização criativa dos objectos
Tempo
— Noções temporais
• Noções básicas
• Relações no tempo
• Coordenação dos vários elementos
— Distribuição e planeamento do tempo
Processos cognitivos
— Atenção
— Memória
— Abstração
— Linguagem

Área socioafetiva e comunicativa

Relação de vinculação e segurança


— Autonomia
Relação com os outros
— Estabelecimento de relações com os outros
— Respeito e aceitação
— Cooperação
— Procura de ajuda
— Capacidade de iniciativa
— Aceitação de propostas
— Assertividade
Autoconceito e autoestima
— Reconhecimento de capacidades e limitações

4.2. A sessão psicomotora


Defontaine (1981) aconselha que a reeducação psicomotora com idosos tenha em conta as suas
limitações (frequências cardíacas e respiratórias, fadiga, etc.), para que não seja necessário o
esforço máximo. As sessões não devem ser longas e devem alternar exercícios ativos e passivos.
Lorente (2003) indica que, em termos de distribuição dos participantes em grupos, o tamanho
aconselhável seria de aproximadamente dez pessoas, reduzindo o número quando houver déficits
significativos. Quando há uma maioria de pacientes em um grupo com problemas comportamentais
graves ou comprometimento cognitivo grave e/ou problemas de mobilidade, o melhor é intervir em
grupos de duas ou três pessoas, ou individualmente.
O material utilizado deve ser de fácil manuseio, nem muito pesado nem muito pequeno; exige-se
também que seja próximo, conhecido e pouco sofisticado. Superfícies muito brilhantes e objetos
que possam parecer infantis devem ser evitados. São válidos materiais como lanças, bolas, tecidos,
lenços, cordas ou argolas. Você pode até trabalhar com outros inusitados, como leques, baralhos,
jornais, etc. Também é recomendável ter cartolina colorida, cartões que representem categorias
semânticas como frutas, animais, ferramentas, etc., bem como instrumentos musicais de percussão
(fáceis de usar), contas para colar, tecidos de diferentes texturas, etc.
A música facilita o trabalho na sala, seja como fundo ou como suporte para a atividade. As que mais
motivam os idosos são aquelas familiares e comuns em seu ambiente, como passo dobles, canções
de juventude, melodias regionais, ritmos latinos e peças muito famosas de música clássica ou balés.
No relaxamento, os melhores são os adágios, as melodias instrumentais populares, a música celta,
etc.
García Arroyo (1995) reflete sobre o método ou modelo de intervenção mais adequado para usar
com pessoas idosas. Ele recomenda começar com sessões guiadas, uma vez que foram educados
segundo um modelo pedagógico em que o professor é quem sabe e quem indica o que se deve fazer,
estão mais habituados a seguir as indicações e sentem-se menos inibidos. No entanto, a continuada
diretividade os impediria de realizar sua própria iniciativa na busca de possibilidades pessoais
criativas, o que não favoreceria o relacionamento grupal. Por isso, recomenda que num segundo
momento se vá a sessões experimentais.

4.2.1. Sessões dirigidas


As sessões dirigidas são utilizadas na primeira parte da intervenção e abordam principalmente
objetivos nas áreas motora e cognitiva.
Defontaine (1981), Masson (1987c) e Pont (1993) propõem as seguintes atividades a serem
realizadas com idosos nessas sessões:
— Ginástica suave: o objetivo é principalmente a conscientização do corpo. O seu trabalho baseia-
se na sensação e relaxamento, conduzindo à movimentação do corpo com mais eficiência e menos
esforço.
É importante levar em consideração a posição em que os exercícios são realizados; deitado ou
ajoelhado não são aconselháveis, pois o primeiro pode causar desconforto ou vertigem, e no caso do
segundo, mesmo quando a osteoartrite não se manifesta, os joelhos costumam estar doloridos e sua
pressão no solo resulta desagradável, além de esticar na posição sentada ajoelhada.
A posição em pé é a mais adequada para o trabalho muscular e respiratório, mas a correção postural
deve ser buscada começando por baixo e distribuindo o peso uniformemente nos dois pés. A posição
sentada é uma das mais bem toleradas, por isso é aconselhável alterná-la com a posição em pé.
As mobilizações devem ser sempre lentas e suaves, sendo aconselhável seguir as seguintes
recomendações:
• Não manter a posição por muito tempo.
• Não pratique exercícios com pesos adicionais.
• Não faça exercícios bruscos ou violentos.
• Não faça alongamentos exagerados ou muito longos.
• Não se exercite em um ritmo muito rápido.
— Tai chi: é um método oriental muito antigo que se baseia nos movimentos dos animais e na
contemplação da natureza. Consiste em uma série de formas de movimento que são executadas
lentamente. Constitui um procedimento de trabalho eficaz, que atua na postura, equilíbrio,
movimento, respiração, sensação e concentração. São uma série de movimentos encadeados e
estabelecidos que, executados de forma lenta e relaxada, conseguem conectar o indivíduo com seu
próprio interior através de uma concentração nas sensações e contemplação da respiração. Além de
sua capacidade de obter relaxamento, permite adquirir coordenações fundamentais.
— Ritmo e dança: pode ser espontâneo, permitindo evoluir livremente como se fosse uma festa
popular, ou pode ser feito um desenvolvimento coreográfico, marcando as figuras a seguir e as
evoluções no espaço e no tempo.
Para poderem utilizar esta atividade é necessário, por um lado, que se sintam motivados e, por
outro, que façam algumas adaptações:
• Ter espaço suficiente para poderem deslocar-se sem dificuldades.
• Escolha músicas ou músicas com ritmos fáceis e bem marcados.
• Troque figuras complexas por outras de fácil execução. • Use movimentos e figuras repetitivas.
• Dobre os tempos para que os movimentos sejam mais lentos. • Evite curvas fechadas. • Ouça com
atenção a música antes de dançar.
• Se você não pode ou não quer dançar, siga as batidas ou batidas batendo palmas ou marcando-as
com os pés. — Jogos de tabuleiro: como cartas, damas e xadrez, permitem exercitar as habilidades
manuais e fazer os dedos trabalharem, principalmente o polegar e o indicador, essenciais para o
movimento de pinça. Além disso, facilitarão o aproveitamento do espaço.
— Trabalhos manuais: também exercerão habilidades manuais. Você pode fazer carpintaria,
cerâmica, lona com grandes buracos, toalhas de mesa, etc. Todas estas atividades podem ser
expostas numa exposição onde as suas obras são valorizadas e se sentem úteis.
— Técnicas de relaxamento: procura-se controlar as próprias tensões, conseguir um equilíbrio
psicofisiológico agradável em qualquer situação.
Ao realizar o relaxamento, é importante levar em consideração as indicações da postura, portanto a
posição mais recomendada é sentada, e em pé no caso de exercícios respiratórios. Os métodos de
relaxamento mais usados são:
• Treinamento autógeno de Schultz.
• Treinamento de relaxamento progressivo de Jacobson.
• Métodos de relaxamento dinâmico em que a partir do movimento se tenta relaxar os músculos
usando o mínimo grau de contração para ser eficaz.
• Técnicas de respiração.

4.2.2. Sessões vivenciadas


São utilizadas num segundo momento da intervenção para continuar a trabalhar os objetivos da área
motora e cognitiva com maior iniciativa e criatividade e ter um maior impacto nos objetivos da área
socioafetiva.
O psicomotricista pode começar propondo ao grupo um trabalho psicocorporal em torno de alguns
comportamentos que eles queiram trabalhar. Trata-se de criar gradativamente segurança no
participante, promovendo autonomia e criatividade, além de favorecer o trabalho em grupo e o
estabelecimento de relações interpessoais.
Na última parte do programa, o especialista psicomotor formula propostas de trabalho para que os
diferentes participantes, livre e voluntariamente, se gerenciem na busca de soluções e resolução de
problemas. São propostas várias situações com diferentes modos de expressão: oral, gestual,
corporal, plástica, gráfica e musical.

RESUMO

— O envelhecimento envolve uma série de alterações morfológicas, psicológicas, funcionais e


bioquímicas inevitáveis e que ocorrem como consequência da passagem do tempo. No entanto, não
afeta a todos igualmente, havendo grande variabilidade interindividual e intraindividual.
— No nível psicomotor, essas modificações se expressam como um processo de retrogênese que
segue um padrão inverso à evolução e vai da praxia fina à tonicidade. Além disso, os idosos
apresentam menos confiança na marcha e no equilíbrio estático, diminuição do tônus muscular e
dificuldades no relaxamento voluntário.
— A nível cognitivo, a inteligência fluida diminui, as capacidades de visão e audição podem ser
reduzidas, há comprometimento da memória de curto prazo, aumento do tempo de reação e
aparecimento de dificuldades no reconhecimento do próprio corpo e na orientação e organização do
espaço e do tempo.
— No nível socioafetivo, ele está sofrendo perdas e há uma mudança de papéis. As redes sociais são
reduzidas e os contatos sociais diminuem, o que pode levar ao mau humor e à solidão e isolamento.
— A avaliação psicomotora do idoso requer o seu consentimento, motivação e participação.
Previamente, é necessária uma entrevista com o idoso para recolher os seus dados pessoais e
observar o seu grau de mobilidade; Além disso, deve ser complementado com um exame clínico. A
Bateria Psicomotora de V. da Fonseca tem demonstrado a sua utilidade para medir as capacidades
psicomotoras em pessoas idosas.
— O objetivo da intervenção psicomotora é buscar maior bem-estar físico, mental e social; Atua
numa vertente preventiva e trabalha vários objetivos nas áreas motora, cognitiva e sócio-afetiva,
procurando prevenir o agravamento dos défices e aumentar a sua qualidade de vida.
— As sessões são geralmente em grupo, com material de fácil manipulação, evitando objetos que
possam parecer infantis, e geralmente acompanhadas de músicas familiares e comuns em seu
ambiente. A intervenção inicia-se normalmente com sessões dirigidas para passar, num segundo
momento, a sessões vivenciadas.
— As sessões guiadas permitem abordar objetivos nas áreas motora e cognitiva. As atividades
normalmente utilizadas neste tipo de sessão são: ginástica suave, tai chi, ritmo e dança, jogos de
tabuleiro, trabalhos manuais e técnicas de relaxamento e respiração.
— As sessões vivenciadas permitem-nos continuar a trabalhar os objetivos da área motora e
cognitiva com maior iniciativa e criatividade e ter maior impacto no objetivo da área socioafetiva. O
psicomotricista apresenta propostas de trabalho e promove a sua autonomia, criatividade, trabalho
em grupo e estabelecimento de relações pessoais.

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