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GUIA DE AVALIAÇÃO E
INTERVENÇÃO
INTRODUÇÃO GERAL
PARA PSICOMOTRICIDADE
CAPÍTULO 1
A palavra «psicomotricidade» inclui a pessoa como um todo, nas seus aspectos motores e mentais. O principal
objetivo da psicomotricidade é a desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivo e socioafetivo.
Dupré foi o primeiro autor a usar o termo “psicomotricidade”. Em seus primórdios, a psicomotricidade esteve
ligada à contribuições de vários autores psicologia do desenvolvimento (como Wallon e Piaget) e a influência
de psiquiatria infantil.
— Aos poucos, a psicomotricidade foi buscando uma identidade própria, com a publicação da primeira Carta de
Reeducação da Psicomotricidade, a criação do primeiro certificado universitário de reeducação da
psicomotricidade, o surgimento de várias correntes e a publicação da revista Rééducation Psychomotorice.
— Por outro lado, as concepções anglo-saxônica e russa (Cratty, Bernstein, Luria, Guilford ou Fleishman)
focado mais na importância do plano científico.
— Na década de 70 do século passado, iniciou-se uma aproximação à psicanálise com as obras de Lapierre e
Aucouturier e surge uma psicomotricidade baseada na atividade motora espontânea.
— Na França há duas correntes: uma oficial, no campo da saúde, e outra educativa, que é a que se estendeu a
outros países europeus e latino-americanos.
— Na Alemanha não existe psicomotricidade com esse nome, mas foi desenvolvida uma disciplina científica
chamada “motologia”.
— O estado das habilidades psicomotoras em outros países europeus é muito desigual. Na Espanha, os estudos
de psicomotricidade não são oficialmente reconhecidos, embora seja possível realizar treinamento de pós-
graduação dentro certas profissões.
— Atualmente, coexistem duas correntes o Modelos de intervenção em psicomotricidade: psicomotricidade
dirigida e psicomotricidade vivida, embora existatentativa de aproximação entre as duas abordagens, como
evidenciado pela criação da Federação das Associações de Psicomotricistas do Estado Espanhol, o Fórum
Europeu ou a Rede Fortaleza de Psicomotricidade na América Latina.
— A psicomotricidade dirigida tem se concentrado mais nos aspectos motores e cognitivos, trabalhando
principalmente três áreas ou conteúdos psicomotores: o esquema corporal, esquema espacial e o esquema de
tempo.
— A psicomotricidade experiente colocou maior ênfase nos aspectos socioafetivos, trabalhando diferentes
parâmetros que dizem respeito à pessoa com seu corpo, com o espaço, com os objetos, com os outros e com a
linguagem.
— Na tentativa de se aproximar dos dois abordagens propõe-se trabalhar em um faz um paralelo com o
conteúdo psicomotor de as áreas motora, cognitiva e socioafetiva através de sessões guiadas e vivenciadas.
Mais sobre o texto original É necessário fornecer o texto original para ver mais
A psicomotricidade vivenciada, apesar tentar promover o desenvolvimento global da pessoa, coloca maior
ênfase em aspectos sócio-afetivo, trabalhando em diferentes parâmetros que relacionam a pessoa com seu
corpo, com espaço, com objetos, com outros e linguagem.
Na relação com o corpo, os aspectos relacionados ao conhecimento da imagem corporal, controle postural,
tônus muscular e outros elementos não verbais da comunicação (olhar, comunicação facial e corporal).
Na relação com o espaço, aborda-se a forma como o indivíduo utiliza o espaço, sem incluir o conhecimento das
noções espaciais. A relação com o tempo inclui a como você distribui dentro da sessão bem como o respeito aos
diferentes horários estabelecidos na rotina da sessão, sem pagar atenção ao conhecimento das noções temporais.
A relação com os objetos inclui a manipulação, exploração e uso que faz deles a relação com os outros abrange,
por um lado parte, a relação que estabelece com o resto os participantes da sessão e, por outro, os que
estabelece com o especialista psicomotor, que, como figura de autoridade, na sala representa a ordem e a lei.
Também é dada atenção aos idiomas usados em sua expressão, compreensão e comunicação com os outros.
Conteúdo Objetivos gerais
Percepção corporal
Coordenação dinâmica geral e equilíbrio
ESQUEMA CORPORAL Tom e relaxamento
Coordenação olho-motora
Lateralmente
Dissociação de movimentos
Esquema espacial
A Tabela resume os principais conteúdos psicomotores incluídos nas habilidades psicomotoras experimentadas.
A área motora inclui aqueles aspectos mais relacionados ao movimento como: tônus muscular(tanto no plano
do controle postural como no domínio do relaxamento), coordenação dinâmica geral, equilíbrio, coordenação
óculo-motora, lateralidade e dissociação de movimentos.
A área cognitiva inclui os conceitos relacionadas com: a percepção do corpo, a espaço e objetos, tempo e
capacidade de representação.
TABELA1.3
Proposta de conteúdos psicomotores.
A SESSÃO PSICOMOTORA
2. A SALA PSICOMOTORA
A sala psicomotora é o local onde as sessões serão realizadas, sendo recomendável que seja sempre a mesma.
2.2. Materiais
O material utilizado durante as sessões é muito diverso
Tapetes e colchonetes
Os tapetes e colchonetes de espuma, forrados a tecido lavável, favorecem a realização
de atividades sensório-motoras no solo (arrasta, quadropedia, cambalhotas, voltas, quedas seguras, etc.),
atividades de relaxamentoe, em menor grau, atividades simbólicas
que evocam contato corporal (esconder, cobrir o corpo do outro esmagando-o e sentindo-o através do objeto).
Em lojas especializadas em equipamentos psicomotores, pode encontrar tapeçarias e colchões de várias
espessuras, materiais e texturas consoante a utilização que lhes pretende dar.
Bolas e bolas
É conveniente usar bolas de diferentes pesos, texturas, tamanhos e cores. No nível sensório-motor, facilitam o
desenvolvimento da coordenação dinâmica geral, segmentar e, principalmente, visuomotora. Além disso, as
bolas tamanho grande permite balanços de prática e servem como assentos elásticos nos quais é bom para pular
em cadência, sozinho ou com outras pessoas. As bolas também são usadas para trabalhar conceitos básicos
relacionados a tamanho, forma, cor e textura, e outros mais complexos, como noções espaciais e temporais. No
relacionamento com o outro pode ser usado para bater ou atacar o adulto quando ele ainda não ousa corporal.
Às vezes eles também podem ser usados como objetos substitutos ou intermediários em contato corporal (por
exemplo, quando dar uma mensagem).
Aros
Os anéis de diferentes tamanhos e cores favorecem principalmente as atividades sensório-motoras (rolar, girar,
entrar e sair deles e pular) e cognitivo (trabalhar conceitos espacial como dentro-fora, direita-esquerda, frente-
trás). Eles também permitem que algumas atividades simbólicas relacionadas à dominação e dependência,
como caçar o outro. O aro também pode significar compartilhar o espaço ou entrar no espaço dos outros.
Cordas
Cordas de diversos tamanhos, cores e as texturas são usadas principalmente para promover atividades sensório-
motoras, como pular, escalar ou pendurar. Eles também permitem trabalhar em diferentes conceitos básicos,
como cores, texturas ou comprimento. No jogo simbólico pode despertar desejos agressivos de dominação (para
amarrar ou imobilizar o outro) ou servir de meio de união, de mediador à distância, puxando os demais para que
deslizem pelo chão, o que por sua vez permite medir suas forças e se agrupam para puxar a outra ponta.
Marcações no chão marcações de piso podem ser encontradas em uma infinidade de formas: redondo,
triangular, elementos retangulares, retos, em ângulo reto, curvos, mãos, pés, etc., e normalmente
eles são feitos de borracha flexível e antiderrapante. No nível sensório-motor, eles servem para
delimitar as áreas ou percursos onde se desenvolvem as atividades relacionadas com a coordenação e equilíbrio
dinâmico geral. Além do mais, permitem que você trabalhe em diferentes conceitos básicos, como formas,
cores e tamanhos, e conceitos mais complexos relacionados a orientação espacial, quando localizado em relação
as marcações no solo ou seguir certas rotas. Em um nível simbólico, pode servir para a construção de espaços e
palcos do jogo simbólico, que pode ser fechado ou aberta, individual ou compartilhada.
Tecidos
Tecidos de diferentes tamanhos, cores e texturas podem ter diferentes usos na atividade sensório -motora e
simbólica. Na atividade sensório-motora permitem arrastar e ser arrastado pelo chão, balançar e ser equilibrados
e favorecem alguns jogos sensório-motores de regras como o lenço ou o lustre do cego. No nível simbólico,
eles permitem brincadeiras de aparecimento e desaparecimento, atividades maternais (deitar, aconchegar, dar
comer) e a possibilidade de vestir-se e assumir diferentes papéis.
Brinquedos
O uso de brinquedos adequados ao a idade da criança é especialmente indicada no caso sejam pequenos ou
tenham pouco nível de desenvolvimento. Eles servem para desenvolver certas habilidades motoras e
cognitivas(coordenação óculo-manual, conceitos espaciais e temporais); no jogo simbólico servem de passo
prévio à utilização de materiais menos estruturados que permitem a
desenvolvimento da criatividade.
Instrumentos musicais
Instrumentos musicais como maracas, sinos, címbalos, caixa de porcelana, pandeiro, tambor, triângulo,
metalofone, etc., pode servem para promover a coordenação mão-olho, destreza manual, bem como para
trabalham com diferentes noções de tempo.
3. ESTRUTURA DA SESSÃO
De acordo com o tipo de sessão em questão (dirigida ou vivenciada), esta estrutura-se de acordo com
diferentemente, embora em qualquer caso a sessão comece com algum tipo de ritual no
que dá as boas vindas aos participantes e termina comentando sobre as experiências que tiveram durante a
sessão.
Abaixo está a estrutura da sessão dirigida e vivenciada.
Roda de entrada
A sessão começa com uma roda de entrada. Os participantes tiram os sapatos e sentam-se em torno de um
círculo ou roda, o psicomotricista os recebe e conta o que vai fazer durante a sessão.
Preparação
Alguns psicomotores, após realizarem esta roda de entrada, use um tempo de preparação no qual os objetivos e
as atividades sensório-motoras de uma sessão anterior são lembrados para enlaçar ao conteúdo daquele que vai
desenvolver a continuação. Este momento pode ser usado para aquecer os músculos, se assim for exigem que as
atividades sejam realizadas durante a sessão. Em outras ocasiões, é necessário realizar algum tipo de
relaxamento se os participantes vierem muito animados e você quiser focar sua atenção. Tempo de preparação
geralmente leva cerca de dez minutos.
Conteúdo principal
No conteúdo principal da sessão aborda o objetivo nele proposto por meio de situações educativas. As
atividades que o psicomotricista prepara podem ser muito variada: vários tipos de jogos, alguma dança,
expressões plásticas, linguagem corporal, técnicas de relaxamento, etc. você é frequentemente as atividades
geralmente são acompanhadas por música apropriado para o propósito para o qual é trabalhado. O tipo de a
atividade escolhida depende de muitos fatores, mas fundamentalmente da idade dos participantes, do tipo de
patologia e das competências e/ou formação do especialista psicomotor. Eu sei iniciar com atividades do tipo
sensório-motoras para seguir em frente sempre que possível, a atividades simbólicas ou regulamentadas. Esta
parte da sessão geralmente leva de trinta a quarenta minutos, dependendo se o tempo de preparação.
De volta à calma
Finalmente ele deixa um momento de volta para a calma em que geralmente se realiza um relaxamento ou
algum tipo de expressão plástica. Está parte da sessão leva cerca de dez a quinze minutos.
Roda de saída
Para encerrar a sessão, é realizada uma rodada na saída os participantes sentam-se novamente em torno de um
círculo ou roda, assim como o início, e comentam sobre as experiências que tiveram teve durante a sessão. A
Tabela 2.1 mostra uma sessão de exemplo dirigido.
Ritual de entrada
A sessão começa com um ritual de entrada: Os participantes tiram os sapatos e sentam-se ao redor de um
círculo ou roda. É um momento acolhimento em que o psicomotricista recebe os participantes. É o momento
em que você pode ver como a sala foi colocada e as possibilidades que ela oferece. é hora também em que as
normas que vão estabelecer os limites são marcadas para poder garantir uma convivência e trabalho adequados.
No caso de crianças, repita com elas as regras que serão seguidas durante a sessão (“Nesta sala estamos
aprendendo a não nos machucar e a não destruir o que os outros constroem. Quando eles tocarem palmas, deixe
o material e retorne à roda”). No caso de crianças maiores, adolescentes ou jovens, diz-se que no quarto
estamos aprendendo a nos respeitar e conversamos o que respeito significa para eles. No caso dos adultos, se as
regras de convivência já estiverem internalizadas, pode-se iniciar comentando diretamente sobre a atividade vai
realizar.
Tempo de trabalho
O tempo de trabalho ou o tempo de jogo é um tempo para atividade motora espontânea que ocupará a maior
parte da sessão. A sala está dividida em três espaços, em cada um dos quais materiais são arranjados para
promover certos tipos de atividades.
b) Espaço simbólico
O espaço simbólico é o lugar onde o jogo simbólico acontece e a expressão e a criatividade são promovidas.
Dependendo da idade da criança, ou seu nível de desenvolvimento, os materiais podem
ser mais ou menos estruturados. No princípio aparecem os jogos pré-simbólicos, como destruir-construir,
equilibrar-desequilíbrio, aparecer-desaparecer, preencher-vazio, espalhar-reunir e, em seguida, passar para o
jogo simbólico, no qual ele representa diferentes personagens e situações da vida cotidiana. É o local onde é
realizado o tratamento das produções. agressivas, inibições e fantasmáticas (Fernández, 2002). Neste espaço
estão os módulos de espuma de borracha, tecidos ou outros materiais que favoreçam o jogo simbólico.
Espaço simbólico
— Decorrido um tempo suficiente, se o jogo simbólico
não tiver surgido, o especialista psicomotor faz
sugestões verbais e/ou não verbais, oferecendo, por
exemplo, certos materiais, tecidos, tintas para o rosto
etc
De volta à calma
— O psicomotricista sugere aos participantes que
procurem um espaço para descansar. Conta uma
história relacionada com o jogo simbólico que estão a
jogar e as experiências que tiveram. tinha sobre ele.
Roda de saída
A sessão termina com uma rodada inicial em que os diferentes participantes comentam sobre as experiências
que tiveram durante a sessão. A Tabela 2.2 mostra um exemplo de uma sessão vivenciada ou experiente.
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
A avaliação psicomotora serve para especificar as dificuldades e recursos de cada pessoa. Com base nela é
desenhado o plano de intervenção, se for caso disso, estabelecendo uma hierarquia terapia e julgar a evolução
ao longo do tratamento. Portanto, é essencial realizar uma avaliação prévia para poder planejar a intervenção, e
uma avaliação ao final do tratamento para avaliar se os objetivos propostos foram alcançados. É assim mesmo
É aconselhável realizar avaliações durante o processo para julgar a evolução. Entre os anos cinquenta e setenta
do séc. passado, a partir do modelo de psicomotricidade foram utilizados testes dirigidos e padronizados, que
possibilitaram comparar o desenvolvimento psicomotor da pessoa com respeito às normas estatísticas que
estabelecem a curva normal de desenvolvimento. No entanto, a partir da década de 1970, questione esse tipo de
avaliação e utilizar as técnicas de observação do comportamento em atividade livre. O modelo de avaliação
aqui proposto parte do ponto de vista de que ambas as abordagens não são incompatíveis. A observação de
comportamento em atividade livre permitirá avaliar comportamentos em um meio (a sala da psicomotricidade)
que, embora não seja habitual, procura reproduzir os diferentes elementos da expressividade psicomotora,
observando a pessoa como um todo: como ela se move, como ele distribui seu tempo, como ele se relaciona
com o espaço, com os objetos e com os outros. Por outro lado, não se limita a descrever comportamentos, mas
também atende aos estímulos que causam esses comportamentos e quais são consequências. No entanto, com
base nas dificuldades apontadas nessa observação, pode-se optar por fazer uma avaliação mais precisa,
dependendo da norma, por meio instrumentos padronizados. A avaliação geralmente começa com uma
entrevista em que os principais problemas para prosseguir realizar uma observação psicomotora que permita
avaliá-los em seu contexto e utilizar os testes padronizados que são mais convenientes em cada caso. finalmente
integrar os dados das avaliações qualitativas e quantitativas, tornando o relatório psicomotor.
2. A ENTREVISTA
A avaliação psicomotora geralmente começa com entrevista com os pais, no caso de filhos, ou com o próprio
indivíduo, no caso do adulto. É essencial criar um clima de confiança em que podem expressar suas demandas.
Esta primeira entrevista serve fundamentalmente para ouvir e acolher. Os dados mais significativos são
coletados: dados motivos da consulta, principais marcos no desenvolvimento motor, desenvolvimento da
linguagem, comportamentos emocionais, relações interpessoais, história familiar, doenças, etc. Em caso de
qualquer problema, especialmente em comportamentos emocionais, uma descrição detalhada terá que ser feita
comportamento, analisando estímulos antecedentes e consequências que os fazem acentuar. A Tabela 3.1
contém um esboço da entrevista que Geralmente é feito para os pais.
TABELA 3.1
Entrevista com os pais
Dados pessoais
Nomes e sobrenomes________________________________________________________________
Idade_____________ data de nascimento_______________________________________________
Endereço________________________________________________________________________
telefone_________________________________________________________________________
faculdade/curso___________________________________________________________________
Nome do pai_____________________________________________________________________
Profissão_______________________________________________
Mãe____________________________________________________________________________
Idade____________________
Número de irmãos, idade, posição___________________________________________________
Outros membros da família que vivem em casa_________________________________________
Razão para consulta________________________________________________________________
Problema________________________________________________________________________
Quando eles começaram a perceber?
_________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Você foi a um especialista?_________________________
Ele já esteve em tratamento anteriormente?____________________________________________
Expectativas_______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
Desenvolvimento motor
Controle de cabeça_____________________________________
Posição sentada________________________________________
Arrastar_______________________________________________
Posição de pé__________________________________________
Marchar______________________________________________
Desenvolvimento da linguagem
Primeiras palavras_____________________________
primeiras frases_________________________________
Problemas no desenvolvimento da linguagem_____________________________
Comportamentos emocionais
Ele parece inquieto?________________________________________
Ele se diverte sozinho ou precisa de alguém para estar com ele?
________________________________________________________________________________
Quando ele vai para a cama, temos que acompanhá-lo e estar com ele?
________________________________________________________________________________
Precisa levar algo para a cama? Existe algum outro ritual?
________________________________________________________________________________
acorda com pesadelos?_________________________________________________________
Tem medos?__________________________________________________________________
3. OBSERVAÇÃO PSICOMOTORA
A metodologia observacional é a única que pode avaliar e explicar, e não apenas descrever, o fluxo complexo
da atividade psicomotora (Herrán, 2007). Para isso, trata-se de observar a pessoa na sala psicomotora em sessão
normal junto com outras pessoas. Trata-se de compreender a pessoa, analisando a atividade motora espontânea
tomando como referência padrões organizados. A observação é realizada em várias sessões, cerca de três, de
forma a que, por um lado, não se estabeleçam conclusões gerais que respondam a circunstâncias particulares
ocorridas num dado momento, e por outro, permita realizar algumas hipóteses que pode ser verificado em
sessões sucessivas Sempre que possível, é conveniente o uso de dois observadores para aumentar a
confiabilidade das observações, ou pelo registrar a sessão em vídeo. Durante a sessão é realizado um registo
narrativo e uma vez terminada uma análise de parâmetros e sequências.
A ação
Constitui o próprio ato pelo qual a pessoa entra em relação com o outro, com o objeto ou com o ambiente. A
dimensão e o caráter da ação correspondem ao tipo de estímulo que a desperta:
— Quando o estímulo é provocado por tentação ou intimidação, geram-se respostas, uma reação, e o objetivo se
reduz à realização de algo externo. A ação é executada para alcançar ou evitar algo desejado ou temido. O
importante é a conquista do objetivo e não a ação em si.
— Quando o estímulo é induzido por provocação ou sedução, a resposta não é determinada, implica uma
escolha. O indivíduo realiza a ação porque quer, o objetivo é inerente à ação. A ação faz sentido por si só.
4. TÉCNICAS QUANTITATIVAS
As técnicas quantitativas são testes de natureza geralmente psicométrica que permitem explorar funções e
factores psicomotores, estabelecendo o nível de maturação com base nos comportamentos que devem ser
adquiridos na sua idade. As técnicas mais utilizadas nas décadas de 1950 a 1970 foram instrumentos
padronizados, baseados em testes situacionais por meio dos quais se extraíam observações precisas e que,
comparadas com critérios normativos, permitiam estabelecer um quociente de desenvolvimento global. Por um
lado, existem alguns instrumentos tradicionais cujo objetivo é obter uma medida global do desenvolvimento e,
por outro lado, alguns procedimentos para avaliar áreas específicas de desenvolvimento (Márquez, 1992).
Avaliação Psicomotora de Vayer (1985) Picq e Vayer (1977) adotaram e adaptaram uma série de testes para
realizar um exame psicomotor que incluía, além de testes motores essenciais, testes neuromotores, perceptivo-
motores e de lateralidade que permitiam estabelecer uma avaliação psicomotora perfil da criança. Esse teste foi
refinado alguns anos depois por Vayer (1985), incluindo um novo elemento e eliminando alguns dos anteriores
que não ofereciam muita informação ou eram excessivamente complicados. Assim, o exame psicomotor foi
constituído por nove testes: seis inseridos num perfil psicomotor e três complementares.
Este teste se destina à avaliação psicomotora de crianças dos seis aos onze anos, embora esteja disponível um
Teste de Primeira Infância para crianças dos dois aos cinco anos, descrito nos primeiros três testes (coordenação
dinâmica de as mãos, coordenação dinâmica geral e controle postural) são retirados dos testes de Ozeretski
revisados por Guilmain (1948) e permitem a observação de comportamentos motores básicos. As provas são
escalonadas de ano para ano, sendo atribuída a idade correspondente à última prova bem resolvida.
O teste de controle segmentar é original e ainda não foi incluído no teste psicomotor de Picq e Vayer. Permite
mostrar a independência dos braços em relação ao tronco, o controle dos diferentes segmentos e o controle
emocional. Representa também um meio de observar a imagem do corpo. Os testes são escalonados de ano para
ano, sendo atribuída a idade do último teste bem resolvido.
O teste de organização espacial é uma adaptação da bateria Piaget (direita-esquerda) e Head (mão-olho-orelha),
descrita por Galifret-Granjón (Zazzo et al., 1960). As provas são escalonadas ano a ano, e para ser considerada
uma prova bem resolvida é preciso atingir os critérios estabelecidos. O teste de estruturação espaço-temporal é
inspirado no teste de reprodução da estrutura rítmica de Mira Stamback (Zazzo et al., 1960). Constitui-se por
sua vez de três provas: reprodução por meio de golpes de estruturas temporárias, simbolização de estruturas
espaciais e simbolização de estruturas temporárias. A criança tem de reproduzir ou transcrever as estruturas
indicadas, atribuindo um ponto por cada exercício bem resolvido. Com todos os pontos obtidos neste teste,
obtém-se uma correspondência em idade.
O Teste de Observação de Lateralidade é uma adaptação do Teste de Dominância Lateral de Harris. Consiste
em dez ações que a criança deve imitar para estabelecer o domínio das mãos, três ações para o domínio dos
olhos e três para o domínio dos pés. Registra-se a mão, olho ou pé utilizados em cada ação, obtendo-se ao final
uma fórmula de lateralidade de acordo com o número de vezes que um ou outro lado do corpo foi utilizado. O
teste de velocidade (teste de pontos de Stamback) avalia a eficiência motora e revela precisão, regularidade,
incoordenação, impulsividade, conscienciosidade e ansiedade. Da mesma forma, permite completar a
observação da lateralidade quando realizada sucessivamente com ambas as mãos. Para estabelecer a
correspondência em idade, toma-se a melhor nota das duas obtidas.
O teste do comportamento respiratório avalia a possibilidade de domínio da expiração. É feito com o respirador
Plent, um dispositivo que permite regular a resistência à expiração fixando o tubo mais ou menos
profundamente; se não estiver disponível, pode ser substituído por uma jarra ou garrafa de vidro cheia de água
através da qual é inserido um tubo equipado com um bocal projetado para produzir bolhas. São realizadas duas
tentativas e cada expiração é cronometrada, anotando-se o número de segundos. No final, faz-se uma média das
duas tentativas e estabelece-se uma correspondência de idade. Os resultados dos seis primeiros testes são
utilizados na construção de um gráfico: o perfil psicomotor. Os resultados dos exames complementares estão
dispostos em uma tabela abaixo do perfil.
TABELA 3.6
Instrumentos específicos
É uma bateria de observação destinada a avaliar o grau de maturação psicomotora da criança. É composto por
sete fatores psicomotores:
— Tônus: inclui o estudo do tônus de suporte e do tônus de ação. O tom de suporte compreende os subfatores
de extensibilidade, passividade e para tonicidade. O tônus de ação compreende os subfatores diadococinesias e
sincinesias.
— Equilíbrio: reúne um conjunto de habilidades estáticas e dinâmicas que englobam o controle postural e o
desenvolvimento das aquisições de locomoção. Inclui o estudo dos subfatores de imobilidade, equilíbrio
estático e equilíbrio dinâmico.
— Lateralidade: visa determinar a consistência da preferência dos tele receptores (visão e audição) e dos
próprios efetores (mão e pé).
— Noção do corpo: inclui a recepção, análise e armazenamento da informação que vem do corpo. Os
subfatores são analisados: senso cinestésico, reconhecimento direita-esquerda, autoimagem, imitação de gestos
e desenho do corpo.
— Estruturação espaço-temporal: envolve a integração cortical de dados espaciais referenciados com o
sistema visual e dados temporais referenciados com o sistema auditivo. Inclui os subfatores: organização,
estruturação dinâmica, representação topográfica e estruturação rítmica.
— Praxia global: inclui atividades motoras sequenciais globais. É composto pelos seguintes subfatores:
coordenação óculo-manual, coordenação óculo-pedal, dismetria e dissociação.
— Praxia fina: estuda a capacidade construtiva manual e a capacidade de destreza bimanual. É composto pelos
subfatores: coordenação dinâmica manual, percussão e precisão de velocidade. Em todos os fatores e
subfatores, o nível de desempenho é medido numericamente da seguinte forma:
— Pontuação de 1 ponto (apraxia): sem resposta, desempenho imperfeito, incompleto, inadequado e
descoordenado.
— Pontuação de 2 pontos (dispraxia): execução fraca com dificuldade de controle e sinais desviados.
— Anotação 3 pontos (eupraxia): desempenho completo adequado e controlado.
— Anotação 4 pontos (hiperpraxia): desempenho perfeito, preciso, econômico e com facilidade de controle.
Cada subfator é pontuado de acordo com esse critério, sendo a pontuação média arredondada e posteriormente
transferida para o perfil encontrado na primeira página da ficha de cadastro do BPM. A pontuação máxima do
teste é de 28 pontos (4 × 7 fatores), a mínima é de 7 pontos (1 × 7 fatores) e a média é de 14 pontos. O BPM
pode levar de 30 a 40 minutos para ser aplicado por um observador experiente e treinado. O observador deve
seguir as instruções de cada teste de acordo com as condições que definem cada tarefa.
Esta bateria foi concebida com o objetivo de avaliar o desenvolvimento psicomotor no contexto de várias
situações de jogo através de uma metodologia observacional (observação sistemática) com a qual são registados
indicadores de desempenho (comportamentos, produtos comportamentais, tempos de execução, etc.) segundo
os quais se realiza a avaliação psicomotora de cada criança.
Avalia 19 funções psicomotoras em crianças de oito anos. Especificamente, exploram-se várias variáveis
psicomotoras relacionadas com:
a) Coordenação e controlo motor (coordenação dinâmica global, equilíbrio, respiração, coordenação óculo-
manual ou visuomotora, coordenação óculo-motora, velocidade ou rapidez de movimentos, controlo motor,
pontaria). precisão e tonicidade ou força muscular).
b) Fatores neuromotores (lateralidade).
c) Estruturação perceptiva (percepção visual, orientação espacial, relações espaciais entre objectos, percepção
auditiva, ritmo, orientação temporal, percepção táctil, organização perceptiva).
d) A estruturação do esquema corporal. Está estruturado em oito sessões de avaliação, nas quais são registados
os desempenhos de todos os componentes de um grupo, que permitem verificar as capacidades psicomotoras de
cada criança. Permite detetar a existência de alguma dificuldade na área do desenvolvimento psicomotor antes
do início do segundo ciclo de escola primária, na qual a aprendizagem posterior será em grande parte baseada
na evolução adequada dessas funções psicomotoras.
Durante as oito sessões de avaliação, 39 jogos psicomotores são administrados ao grupo. Enquanto os jogos
decorrem, dois supervisores registam vários indicadores de observação (tempos de execução, acertos, erros,
qualidade das execuções de arrancada, corrida, equilíbrio, etc.), determinados e definidos para cada jogo. Da
mesma forma, os desempenhos de cada criança nas várias situações lúdicas são filmados e posteriormente
codificados novamente por dois observadores diferentes de forma a aumentar a fiabilidade da recolha de dados.
5. O RELATÓRIO PSICOMOTOR
O relatório psicomotor é a comunicação dos resultados da avaliação psicomotora por um especialista
psicomotor ao seu cliente, representante legal ou autoridade judiciária competente.
5.1. Recomendações
Nos últimos anos foram publicados códigos éticos e deontológicos, manuais de estilo e leis que afetam
diretamente a elaboração de relatórios. Assim, Pérez, Muñoz e Ausín (2003) oferecem uma série de
recomendações na elaboração dos relatórios, algumas das quais são aplicáveis à elaboração do relatório
psicomotor:
1. Possuir a qualificação adequada: a elaboração do relatório psicomotor deve ser realizada por pessoa com
formação adequada em psicomotricidade.
2. Respeitar a liberdade, dignidade, autonomia e privacidade do avaliado: este conjunto de obrigações deve ser
levado em consideração na hora de decidir quais informações podem ser solicitadas e que tipo de informação
pessoal pode ou deve ser revelada na denúncia. Ao recolher informação para a elaboração de um relatório, o
avaliador obriga-se a respeitar escrupulosamente a privacidade do cliente, solicitando apenas a informação
necessária à realização do trabalho para o qual foi solicitada. Da mesma forma, o relatório coletará apenas
informações pertinentes, e um cuidado especial será tomado ao colocar por escrito questões da vida privada do
avaliado.
3. Respeitar e cumprir o direito e dever de informar: existe a obrigação formal e legal de elaborar relatórios que
incluam as intervenções clínicas e completar os outros pertinentes e relacionados com os processos assistenciais
em que intervém. O cliente tem direito a informações de saúde e acesso a registros médicos. Da mesma forma,
o cliente tem direito a receber um relatório de alta e certificados que comprovem seu estado de saúde.
4. Organizar o conteúdo do relatório: deve ser estruturado de forma lógica e adequada, incluindo o motivo da
avaliação, antecedentes, procedimentos e instrumentos utilizados na avaliação, um resumo das conclusões mais
importantes e uma série de recomendações adequadas .
5. Cuide do estilo: use frases curtas, independente do uso de jargões, prolixidade e redundância, usar um estilo
preciso e claro, evitar interpretações errôneas, rótulos e ambiguidades em relação à identidade sexual e étnica,
bem como todo tipo de termos negativos ou estigmatizantes.
6. Manter a confidencialidade e o sigilo profissional: ninguém poderá acessar os dados da avaliação sem o
consentimento expresso do avaliado ou de seu representante legal ou por solicitação judicial. 7. Solicitar
consentimento informado: o cliente deve consentir com a elaboração do relatório e também aceitar as
informações nele contidas. Para que este consentimento seja considerado informado, o cliente deve receber
informações suficientes sobre a necessidade e possíveis usos do relatório e dos dados e documentação nele
incluídos. Esta regra tem exceções quando o cliente é incapaz, menor de idade ou tem representantes legais
nomeados para o desempenho de suas funções.
8. Proteger documentos: nos últimos anos, o quadro legal que afeta a proteção de dados e documentos clínicos
mudou substancialmente. As obrigações dos profissionais e centros de saúde nesta matéria foram explicitadas e
as garantias de confidencialidade e custódia de dados foram significativamente aumentadas. Além disso,
passam a considerar os requisitos relacionados às novas tecnologias e, de forma especial, à informática e à
Internet. Existe a obrigação de conservar a documentação clínica durante, pelo menos, cinco anos a contar da
data de alta.
TABELA 3.7
Funções e jogos psicomotores da Bateria de Avaliação do Desenvolvimento Psicomotor
através da Observação Sistemática de Situações de Jogo (Garaigordobil, 1999).
TABELA 3.8
O relatório psicomotor
Dados de identificação
Autor do relatório
Pessoa avaliada
(Representantes legais)
Motivo da avaliação
Quem requer o relatório
Se você for indicado por outro profissional
Problema para o qual o relatório é necessário
Antecedentes
Dados biográficos, situação familiar e/ou social
Antecedentes familiares
doenças
Desenvolvimento evolutivo
Testes aplicados
Descrição do processo de avaliação
Instrumentos aplicados e resultados
Técnicas qualitativas
Técnicas quantitativas
Conclusões
Área de condução
Área cognitiva
Área socioafetiva e comunicativa
Diagnóstico
Recomendações
Orientações
Objetivos da intervenção
Anexos
RESUMO
— A avaliação psicomotora serve para especificar as dificuldades e recursos de cada pessoa. A partir dele é
desenhado o plano de intervenção, estabelecendo uma hierarquia terapêutica e julgando a sua evolução ao longo
do tratamento.
— Inicia-se com uma entrevista em que são recolhidos os dados mais significativos: dados pessoais, motivo da
consulta, principais marcos do desenvolvimento motor, desenvolvimento da linguagem, comportamentos
emocionais, relações interpessoais, antecedentes familiares, doenças, etc.
— A observação psicomotora permite uma avaliação individualizada da atividade motora espontânea em uma
sessão normal com outras pessoas. Durante a sessão, os comportamentos que ocorrem na sala são registados
para posteriormente avaliar uma série de parâmetros psicomotores e analisar as sequências de comportamentos.
— As técnicas quantitativas são testes de natureza geralmente psicométrica que permitem explorar funções e
fatores psicomotores, estabelecendo o nível de maturação com base nos comportamentos que devem ser
adquiridos na sua idade. Existem:
• Instrumentos gerais que permitem fazer uma avaliação global, tais como: a Escala Brunet-Lezine de
Desenvolvimento Psicomotor na Primeira Infância, as Escalas Bayley de Desenvolvimento Infantil, a Escala
McCarthy de Aptidões e Habilidades Psicomotoras para Crianças ou o Inventário de Desenvolvimento Batelle.
• Instrumentos específicos para avaliação das funções psicomotoras, como a Evolução Psicomotora de Vayer ou
a Bateria Psicomotora de Da Fonseca.
— A informação recolhida durante o processo de avaliação é integrada e recolhida no relatório psicomotor, que
permite a comunicação oral ou escrita do resultado da avaliação psicomotora. O relatório psicomotor apresenta
a informação de forma organizada e compreensível, obedecendo a princípios éticos e deontológicos.
TABELA 4.1 Síntese dos objetivos de intervenção por área
TABELA 4.3
Resumo do desenvolvimento psicomotor de 12 meses a 5 anoss
Estágio holofrástico: As crianças passam por um estágio holofrástico no início da vida, durante o qual são
capazes de comunicar ideias complexas usando apenas palavras únicas e expressões fixas simples. Como
exemplo, a palavra "comida" pode ser usada para significar "Dê-me comida" e a palavra "para cima" pode
transmitir "Me pegue".
Combinada com linguagem corporal, contexto e tom de voz, a holófrase geralmente é suficiente para expressar
as necessidades de uma criança. De fato, baseia-se quase inteiramente no contexto.
Uma característica interessante da holófrase é sua economia e sua ênfase na certeza, e não na totalidade
conceitual. Ao expressar uma ideia complexa, a criança geralmente omite os conceitos mais familiares e usa
apenas a palavra aprendida mais recentemente. Por exemplo, ao solicitar uma bola, é muito mais provável que
uma criança especifique "bola" do que "deseja".
Embora a holófrase não seja gramatical, ela forma a base do vocabulário de uma criança.
TABELA 4.4
Resumo desenvolvimento psicomotor
6 anos a 12 anos
2. ÁREA MOTORA
O recém-nascido vem ao mundo com uma série de reflexos arcaicos que servirão para se adaptar ao meio e que
vão se desvanecendo progressivamente para dar lugar a comportamentos voluntários. O desenvolvimento motor
segue duas grandes leis: a lei cefalocaudal e a lei proximal-distal.
De acordo com a lei cefalocaudal, as partes do corpo que estão mais próximas da cabeça são controladas
primeiro, depois o controle é estendido para baixo: o controle da cabeça é estabelecido primeiro, seguido pelo
controle do tronco, ficando em pé e andando da mesma maneira o controle dos braços é anterior ao das pernas.
A lei proximal-distal afirma que as áreas mais próximas do eixo do corpo são controladas antes das mais
distantes; por esse motivo, o domínio das habilidades motoras finas é posterior ao das habilidades motoras
grossas.
Além disso, deve-se levar em conta que todas as crianças passam por uma sequência idêntica, por uma série de
padrões posturais, e cada uma delas a ajudará a alcançar a seguinte, embora cada criança siga seu próprio ritmo.
Portanto, vamos falar sobre idades normativas para atingir determinadas habilidades motoras, mas sempre
devem ser consideradas as idades aproximadas. A partir da posição supina, ele desenvolverá sua pegada,
coordenação olho-mão e comunicação; e da posição prona, desenvolverá a marcha.
2.1. Tônus muscular O tônus muscular é o ponto de partida da estruturação psicomotora; por isso, muitas das
alterações ou dificuldades que aparecem no desenvolvimento infantil podem ser atribuídas a uma deficiência
tônica. A função tônica medeia o desenvolvimento motor, pois organiza o tônus corporal, o equilíbrio, a posição
e a postura (Berruezo, 2000b).
Controle Postural
O Tônus é definido como o grau de tensão ou relaxamento dos músculos do corpo. No recém-nascido,
observar-se-á hipertonia nos membros (mãos e pernas erguidas) e hipotonia na cabeça e no tronco (de modo que
não consegue nem sustentar a cabeça). No entanto, você será capaz de virar a cabeça de um lado para o outro
nas posições supina e propensa, pois pode levantá-la momentaneamente do plano de apoio para girá-la. Aos três
meses começa a adquirir um certo tônusnas costas, de modo que consegue manter a cabeça erguida, consegue
permanecer sentado com a ajuda de outra pessoa e da posição supina apoia-se nos antebraços. Aos seis meses
tenta sentar e consegue com ajuda, sendo que na posição supina apoia-se nas mãos e coxas. Aos nove meses ele
atinge o bipedalismo e fica em pé segurando um objeto. Na intervenção psicomotora, paralelamente à
percepção global do corpo, são trabalhadas as diferentes posições (deitado, sentado, em pé e posições
intermédias).
Relaxamento
O relaxamento é definido como o relaxamento voluntário do tônus muscular acompanhado por uma sensação
de descanso. O relaxamento permite melhorar a postura ao suprimir a tensão muscular supérflua, ao mesmo
tempo que contribui para o desenvolvimento da imagem corporal (Bucher, 1976). Segundo Lagrange (1976),
diferentes objetivos são propostos de acordo com a idade, estado de maturidade e patologia:
a) Relaxamento global: implica o relaxamento do corpo como um todo. As atividades que envolvem
relaxamento global podem ser iniciadas a partir dos quatro anos de idade, realizando exercícios de tensão-
relaxamento para todo o corpo como um todo ou apenas relaxamento, como uma visualização ou simplesmente
pedir ao sujeito que se deite e finja que está dormindo.
b) Relaxamento segmentar: consiste no relaxamento das diferentes partes do corpo por segmentos. As
atividades que envolvem relaxamento segmentar podem ser iniciadas a partir dos seis anos de idade, realizando
exercícios de tensão-relaxamento de diferentes partes do corpo ou grupos musculares, também pode ser
realizado um passeio mental por essas partes sem que seja necessário tensionar a área.
c) Relaxamento diferencial: consiste na execução de um movimento segmentar e na manutenção simultânea do
relaxamento no resto do corpo. Eles vinculam o trabalho mínimo de contração dos músculos envolvidos na
realização de um movimento a um trabalho de relaxamento daqueles cuja atividade não é essencial para essa
execução. As atividades que envolvem relaxamento diferencial podem ser iniciadas a partir dos dez anos e são
realizadas em diferentes posições: deitado, sentado, em pé e em movimento.
2. 3. Equilibrio
Coste (1979) afirma que o equilíbrio é um estado particular pelo qual um sujeito pode, ao mesmo tempo,
manter uma atividade ou um gesto, permanecer imóvel ou lançar seu corpo no espaço usando a gravidade ou,
ao contrário, resistindo a ela. . O equilíbrio baseia-se na proprioceptivo, função vestibular e visão, sendo o
cerebelo o principal coordenador desta informação.
Além disso, o equilíbrio está intimamente ligado ao controle postural, e será a base de toda coordenação
dinâmica; Se o equilíbrio é defeituoso, além de cuidar da coordenação dos movimentos, o corpo tem que gastar
energia numa luta constante contra o desequilíbrio e a queda (Berruezo, 2000b). A Tabela 4.5 lista os principais
marcos no desenvolvimento do controle postural e da coordenação dinâmica geral. Por volta do primeiro ano a
criança é capaz de ficar de pé, por volta dos dois anos a possibilidade de ficar brevemente em um suporte
aumenta progressivamente e aos três anos de idade ela pode permanecer em um pé por três a quatro segundos e
andar em linha reta linha marcada no pé.
Por volta dos cinco anos, o equilíbrio estático e dinâmico atingem uma grande maturidade, mas não será até os
sete anos quando se completa a completa maturação do sistema de equilíbrio, que permitirá caminhar em linha
reta com os olhos fechados.
Equilíbrio no solo
Entre cinco e sete anos o equilíbrio estático atinge a sua maturidade. A partir dessas idades, são realizadas
atividades nas quais a pessoa tenta manter o equilíbrio, primeiro apoiada e depois sem apoio, adotando
diferentes posturas, modificando a postura geral do corpo, agachada e em uma perna.
Alto equilíbrio
As atividades de caminhada, corrida, salto e equilíbrio são realizadas em superfícies mais altas, como bancos
suecos ou módulos de espuma de borracha.
TABELA 4.5
Desenvolvimento do controle postural, equilíbrio e coordenação dinâmica geral
2.5. Lateralidade
É a tendência natural de usar um lado do corpo (ou parte desse lado: olho, mão, pé) com preferência sobre o
outro em todas as tarefas que requerem ação unilateral (Defontaine, 1982). A lateralidade é, por um lado,
determinada geneticamente e, por outro, é uma dominância adquirida.
Aos quatro meses já se pode apreciar uma certa predominância no uso das mãos. Aos sete meses, uma mão
costuma ser mais habilidosa que a outra, de modo que há uma tendência a usá-la preferencialmente naquelas
tarefas que exigem ação unilateral. A tendência para usar a mão direita torna-se estável ao longo do ano, mas a
tendência para usar a esquerda é menos estável, com o número de destros a aumentar com a idade. Por volta dos
dois anos, a criança tende a experimentar com as duas mãos, e entre os dois e os cinco anos usa as duas partes
do corpo de forma mais diferenciada.
Dos cinco aos sete a afirmação definitiva da lateralidade ocorre com a aquisição e domínio das noções de
direita e esquerda. De sete a doze há uma independência da direita da esquerda. Nesse processo evolutivo, é
frequente o aparecimento de períodos de instabilidade na dominância, principalmente entre os dois e três anos e
entre os seis e oito anos.
Os problemas psicomotores decorrem da lateralidade com fórmula heterogênea (lateralidade cruzada e
lateralidade mal definida), pois não há referências em relação a um lado dominante.
Uma pessoa tem lateralidade cruzada quando, naquelas tarefas que exigem uma ação unilateral, utiliza um
elemento do lado direito e outro do lado esquerdo, e sempre o faz. Por exemplo, use sempre a mão direita (para
escrever, comer, cortar, etc.) e sempre o pé esquerdo (para chutar a bola, pular, etc.).
Uma pessoa tem lateralidade mal definida quando há falta de dominância lateral, quando há alternância na
atividade dos segmentos corporais.
A lateralidade pode estar mal definida em todos ou em alguns dos elementos; por exemplo: na mão (escreve
com a direita, come com a esquerda, etc.), no olho (olha pelo telescópio com o olho direito, olha por um buraco
feito em um pedaço de papel com o olho esquerdo) e /ou no pé (chuta com o pé esquerdo, pula com o pé
direito).
Na recuperação, a idade deve ser levada em consideração, pois a aplicação de um tratamento em uma criança
com mais de oito ou nove anos pode causar mais mal do que bem, porque geralmente já possui uma série de
aprendizados escolares e diários difíceis de extinguir. Em geral, a idade ideal para iniciar a reeducação é de seis
ou sete anos, quando a criança já confirmou a lateralidade de um hemissomo e adquiriu as noções de direita e
esquerda em seu corpo.
A reeducação consistirá fundamentalmente em enriquecer o ambiente da criança, de modo que lhe seja
oferecida a oportunidade de manipular objetos e realizar diferentes atividades com o corpo sem obrigá-la a usar
um determinado lado e seguindo as indicações e as informações extraídas do diagnóstico anterior.
3. ÁREA COGNITIVA
Noções espaciais
Devemos fundamentalmente a Piaget (1975) o estudo da evolução do espaço na criança. Nos primeiros meses
de vida fica reduzido ao campo visual e às possibilidades motoras. Alcançar a marcha representa um grande
avanço na aquisição de espaço, pois permitirá a orientação do corpo no mesmo. O período sensório-motor é um
espaço de ação que Piaget chama de “espaço topológico”, com predominância de formas e dimensões. No
período pré-operatório, a criança acessa o espaço euclidiano, no qual predominam as noções de orientação,
situação, tamanho e direção. A lateralidade se desenvolve na criança durante este período, e o conhecimento dos
lados direito e esquerdo de seu próprio corpo lhe permite orientá-lo no espaço ambiente. Por meio dele, ele
tende a orientar objetos e outras pessoas em relação ao seu próprio corpo, mas falha em sua tentativa de projetar
a esquerda e a direita em uma pessoa à sua frente. As referências em sua orientação espacial são as de seu
próprio corpo. Finalmente, no período das operações concretas, o descentramento do pensamento faz com que
ele compreenda que os objetos estão localizados de acordo com as relações objetivas, de modo que, aos oito
anos de idade, ele é capaz de distinguir a direita e a esquerda em uma pessoa que está localizada diante de si.
ele. a ele, e entre as idades de dez e doze ele pode distinguir direita e esquerda em relação a objetos, alcançando
TABELA 4.7
Desenvolvimento de noções espaciais
3.3. O tempo
A permanência e a distribuição do tempo Trata-se de poder organizar a sua atividade de acordo com o tempo
que tem. Assim, durante a sessão psicomotora trata-se de:
— Adquirir a capacidade de esperar, conseguir sentar-se e aguardar o início do jogo.
— Distribua seu tempo adequadamente.
— Termine as atividades iniciadas.
Noções temporais
As dificuldades em relação ao tempo são determinadas pelo fato de que ele não pode ser percebido diretamente
como tal. Para construir a noção de tempo, a criança se valerá de sua atividade corporal e, principalmente, das
noções espaciais. Além disso, deve-se levar em conta que, do ponto de vista matemático, o tempo não pode
passar em maior ou menor velocidade, mas no dia a dia a percepção do tempo costuma ser relativa. Assim,
podem-se distinguir dois tipos de tempo: o tempo objetivo, que seria o tempo matemático, e o tempo subjetivo,
que é criado por nossas próprias impressões.
O esquema temporal é a coordenação do tempo psíquico do sujeito e dos outros; através da evolução, a criança
sabe que os eventos se desenrolam em um tempo objetivo, rígido e homogêneo que marca a relação com os
outros e com as situações (Tasset, 1980).
No pré-operatório, ele compreende as noções de sucessão e ordenação, mas a sucessão temporal se confunde
com o percurso espacial, e as durações, com as distâncias dos deslocamentos. Na segunda parte deste período
(entre os cinco e os seis ou sete anos) a ordem temporal começa a dissociar-se da espacial, conhece o conceito
de tempo, compreende o ontem e o amanhã, e maneja bem as palavras sobre o tempo.
No período das operações concretas (sete ou oito anos a doze) o tempo racional é alcançado como um esquema
geral de pensamento caracterizado por: homogeneidade, continuidade e uniformidade. Picq e Vayer (1977) e
Vayer (1985) distinguem três estágios sucessivos na organização progressiva das relações no tempo:
1. Noções temporais básicas: como velocidade, duração, continuidade e irreversibilidade. As noções de
velocidade e duração são trabalhadas em conjunto com as atividades de coordenação dinâmica geral. As noções
de continuidade e irreversibilidade são trabalhadas em conjunto com atividades comportamentais respiratórias.
2. Consciência das relações ao longo do tempo, com diferentes fases:
a) Consciência da simultaneidade e sucessão através de atividades cujos participantes, localizados em linhas ou
colunas, as realizam todas ao mesmo tempo ou uma após a outra.
b) Tomar consciência dos diferentes momentos do tempo, primeiro do presente, do momento, com atividades
em que devem indicar o momento exato em que algo determinado acontece, para depois trabalhar os conceitos
de antes e depois.
c) Conscientização da sucessão com atividades adequadas; Por exemplo, o psicomotorista organiza uma série
simples de cubos grandes e pequenos e a criança tem que bater palmas (forte ou fraco) antes de cada cubo. Em
seguida, seguirão para atividades de ditado, nas quais deverão ouvir a sucessão de palmas dadas pelo
psicomotorista e traduzi-las por meio de cubos.
3. Coordenação dos vários elementos: o nível simbólico atinge-se com a separação do espaço, aplicação à
aprendizagem, associação à coordenação. Também é abordado em diferentes etapas:
a) Conscientização da sucessão regular: em primeiro lugar, atividades nas quais você deve perceber uma
cadência regular marcada por um metrônomo ou instrumento musical e seguir o ritmo mesmo quando ele para.
Em segundo lugar, atividades nas quais você deve acentuar regularmente uma cadência; por exemplo, você bate
uma cadência com um metrônomo ou instrumento musical e tem que bater palmas, chutar, pular, etc., em uma
determinada batida, por exemplo, na quarta batida. Você pode variar a cadência e o tempo em que é marcado.
b) Percepção de estruturas temporais: as estruturas espaciais são associadas às temporais por meio de atividades
que envolvem leitura ou ditado. Nas atividades de leitura, o especialista psicomotor ou outro colega de classe
organiza os cubos em grupos sucessivos e a pessoa deve bater palmas em cada cubo, marcando um tempo de
pausa entre cada agrupamento. Nas atividades de ditado, a pessoa traduz as estruturas batidas pelo especialista
psicomotor ou outro parceiro com cubos. Começa com estruturas simples (dois grupos separados por um
intervalo) para ir para estruturas complexas (três agrupamentos separados por dois intervalos). Os cubos podem
ser dispostos na sala psicomotora ou desenhados na lousa ou no papel, podendo também ser modificados os
símbolos utilizados na transcrição. As palmas podem ser substituídas por chutes ou exercícios de coordenação.
4. ÁREA SOCIOAFETIVA
Esta área tem sido frequentemente negligenciada pela corrente tradicional; no entanto, os laços afetivos vão ter
uma grande importância no desenvolvimento infantil, pelo que não devem ser esquecidos em nenhum programa
de intervenção educativa, reeducativa ou terapêutica.
4.6. Linguagem
A linguagem, biologicamente, é um comportamento inato e exclusivo da espécie humana, que necessita de um
ambiente humano para seu desenvolvimento; Além disso, é um instrumento social. Podemos distinguir
diferentes fases na aquisição da linguagem:
— Fase pré-balbuciar (zero-seis meses): no primeiro mês a criança já utiliza o grito e o choro com intenção
comunicativa de expressar uma necessidade, o seu estado de desconforto ou inquietação. Durante o segundo
mês, aumentam as emissões não chorosas e não chorosas (ex. chilrear e arrulhar), que serão a principal fonte da
fala subsequente, dependem da frequência respiratória e aparecem na presença da mãe e em estados agradáveis.
Entre os três e os seis meses os sons tornam-se independentes do ritmo respiratório, com duração e tonalidade
marcadas, há menos choro e a criança responde à voz humana de forma mais definida (por exemplo, deixa de
chorar se lhe falam).
— Estágio de balbucio reduplicativo (6-9 meses): mostra fala copiosa e enérgica, sem ordem ou regras.
Aparecem frases de uma sílaba e sílabas repetidas que variam no tempo e que lhe dão satisfação ao percebê-la,
e ele explora suas possibilidades fonológicas. É uma linguagem incipiente, uma atividade lúdica através da qual
ele treina suas faculdades e que lhe permite uma integração social.
— Fase de balbucio não reduplicativo (9-10 meses): vocaliza mais nos intervalos deixados livres pelos adultos;
Está espaçando e encurtando suas vocalizações. Ele pronuncia sua primeira palavra, que é uma sílaba repetida
carregada de afeto (por exemplo, papai, mamãe) e que ele emite com intenção.
— Estágio holofrástico (10-18 meses): repete palavras em relação a um contexto ou situação, e as frases são de
uma única palavra ou elemento. São imperativos, emocionais e denominativos; o significado é dado pelo
contexto e pela intencionalidade; e uma única palavra significa várias coisas.
— Enunciados de duas palavras (dezoito e vinte e quatro meses): usar frases de dois elementos sem prosódia e
com pausa. Uma frase pode significar coisas diferentes dependendo do seu contexto. Aparecem o plural e as
frases negativas e interrogativas.
— Fase telegráfica (vinte e quatro a trinta e seis meses): produz e imita frases em que omite palavras que não as
distorcem, sua ordem estrutural é semelhante à do adulto. Para começar a desenvolver a linguagem é preciso
partir de uma postura confortável e de uma posição adequada; além disso, tem que haver um bom controle do
corpo. Geralmente dá bons resultados começar a desenvolvê-lo primeiro na sala psicomotora e depois passar
para a sala de linguagem.
Na sala de psicomotricidade trabalha-se fundamentalmente a expressão, a compreensão e a sua intenção
comunicativa. A Tabela 4.8 resume os principais objetivos da reeducação psicomotora. retirado de Andrés e
García Arroyo (1993). Na expressão, mais do que tratar dos aspectos formais da linguagem (dificuldades
articulatórias, de estruturação e de tonalidade), que são abordados pelo fonoaudiólogo, trata-se da criança fazer
um uso adequado da linguagem para as atividades (perguntar, perguntar, narrar , diálogo, etc.), respeitando o
outro (sem insultos, xingamentos, etc.) e de acordo com sua idade, acompanhado de um gesto correspondente.
Na compreensão, trata-se de prestar atenção quando outra pessoa está falando, favorecendo a compreensão de
ordens simples ou complexas, bem como as instruções dadas.
Na comunicação com os outros, incentiva-se a expressão das suas necessidades e desejos, a realização de
intervenções espontâneas adequadas (para contar ou narrar acontecimentos reais ou imaginários) e o
estabelecimento de diálogos ou conversas com os outros.
TABELA 4.8
Objetivos na reeducação linguística
RESUMO
— Com base na informação obtida no processo de avaliação psicomotora, são definidos os objetivos da
intervenção, tendo em conta todas as áreas afetadas ou cujo desenvolvimento necessita de ser favorecido.
Seguindo o esquema proposto, no relatório psicomotor as áreas de intervenção são classificadas em: motora,
cognitiva, socioafetiva e comunicativa.
— Os objetivos são programados ao longo do tempo para que as diferentes áreas sejam trabalhadas e que as
dificuldades aumentem progressivamente.
— Para estabelecer os objetivos da intervenção é fundamental ter em conta como se dá o desenvolvimento
psicomotor da criança e quais são as aquisições que se vão fazendo nas diferentes idades em cada área,
considerando que são idades normativas mas que cada criança pode continuar um ritmo diferente.
— A área motora inclui: tônus muscular (controle postural e relaxamento), coordenação dinâmica geral,
equilíbrio, coordenação óculo-motora, lateralidade e dissociação de movimentos.
— A área cognitiva inclui: a percepção do corpo, do espaço e dos objetos, do tempo e da capacidade de
representação.
— A área socioafetiva e comunicativa inclui: a relação de vinculação e segurança, a relação entre iguais, o
autoconceito e a autoestima, a expressão e o reconhecimento das emoções, a aceitação e o respeito das normas e
da linguagem.
O PSICOMOTRICISTA
3. COMPETÊNCIAS A DESENVOLVER
Sánchez e Llorca (2001) destacam as seguintes dimensões do perfil profissional psicomotor:
— Capacidade de observar e ouvir.
— Expressividade psicomotora.
— Capacidade de utilizar diferentes estratégias de envolvimento.
— Competências para elaborar de forma criativa e ajustada diferentes cenários.
— Capacidade de comunicação com a família e outros profissionais.
— Capacidade de olhar para si mesmo. Todas elas são dimensões que irá adquirir durante a sua fase de
formação pessoal e que implicam uma formação contínua ao longo da sua vida profissional.
a) Capacidade de observação e escuta Implica dois processos complexos e conjuntos, pois há escuta quando há
observação, e ambos supõem uma compreensão do que a pessoa expressa em cada sessão psicomotora. Para
que ocorra a observação, é necessário parar na ação; Se o psicomotorista estiver continuamente imerso na
atividade, será difícil para ele observar os participantes.
Nessa observação é fundamental que haja escuta, entendendo assim a capacidade de descentralização do
psicomotricista para poder se colocar no lugar do outro, para poder entender como cada um está se sentindo,
qual pode ser o significado de sua expressão e oferecê-lo de Há uma resposta que o ajudará a evoluir. Você tem
que aceitar cada pessoa como ela é e não como você gostaria que ela fosse. Convém refletir sobre por que ele se
aproxima de certas pessoas enquanto quase ignora outras; provavelmente neste último caso é devido a suas
próprias dificuldades e deve ser abordado em seu treinamento pessoal.
b) Expressividade psicomotora Os principais mediadores que o especialista psicomotor tem para se relacionar
com a pessoa são: o gesto, a mímica, a voz e o olhar.
— O gesto que acompanha, prolonga ou completa o do outro (Lapierre, 1990).
Em relação ao gesto, Montagner (1995) faz referência ao papel da imitação no comportamento espontâneo das
crianças umas com as outras; imitar o gesto do outro é entrar em acordo corporal com ele e supõe uma primeira
comunicação de aceitação ou identificação. O psicomotricista aprende a desacelerar seus gestos, a convertê-los
em uma linguagem que acolha suas produções, servindo de espelho diante de sua agressividade, de sua alegria,
de seu medo etc.
— Mimetismo, rosto e corpo.
— A voz é o mediador mais arcaico, e é percebida pela criança a partir do quinto mês de vida intrauterina.
Através da voz, dos sons, a atividade pode ser enquadrada e acompanhada. Entretanto, é importante que a
expressividade do psicomotricista não seja diminuída por sua preponderância para a linguagem oral; pode
acompanhar ou enriquecer certos jogos, mas não deve invadir a atividade. Também é necessário refletir sobre o
tom e o volume da nossa voz; às vezes o excesso de palavras e tom revela a ansiedade e as dificuldades do
psicomotorista. Outras vezes é necessária uma mudança na tonalidade da voz para conseguir uma maior
empatia e motivação.
— O olhar, considerando que é uma forma de comunicação. A dimensão do olhar articula-se em três eixos: ver,
ser visto e ver-se (Boscaini, 1994). Veja o espaço, os objetos, os outros; ser visto, observado, onde o olhar é
vivenciado como crítico, tolerante, acomodado, etc., e ver-se no espelho, no outro, dentro de si. Dependendo
das emoções, sentimentos e intenções, a pessoa parece diferente. Através das diferentes modalidades do olhar, o
psicomotor faz com que a pessoa sinta a sua disponibilidade e escuta.
c) Capacidade de usar diferentes estratégias de engajamento Algumas delas são mais gerais e podem ser usadas
a qualquer momento durante a sessão; outras são mais específicas e respondem a diferentes momentos e
brincadeiras que se desenvolvem na prática psicomotora. O psicomotricista intervém fundamentalmente através
da provocação e da sedução.
d) Competências para criar de forma criativa e ajustada diferentes cenários de intervenção psicomotora
Desenvolver a sua criatividade de forma a ser capaz de inventar atividades e organizar a sala de forma a que
representem um desafio, uma descoberta para a pessoa. A vontade de brincar é despertada através da
apresentação de espaços e materiais. A disposição que o especialista psicomotor utiliza, os espaços, materiais e
atividades que propõe, serão condicionados pelos objetivos. É interessante refletir sobre o que queremos
promover antes de montar a sala, que não deve se tornar um espaço estruturado fixo, pois a novidade
desencadeia novas emoções e experiências. Convém alternar um espaço de trabalho multissensorial, repleto de
estímulos para a atividade psicomotora, com um espaço determinado pela utilização de um único material. Esta
última disposição exige da pessoa um maior envolvimento no jogo, criatividade e uma relação com os restantes
participantes.
e) Capacidade de comunicação com a família e outros profissionais O especialista psicomotor, na sua relação
com a pessoa ou grupo, descobre e mantém vínculos que não podem ser estabelecidos em nenhum outro lugar.
Da mesma forma, essas informações sobre a expressividade psicomotora podem ser enriquecidas, ampliadas ou
modificadas por informações sobre como a pessoa está em outros espaços. Para conseguir falar sobre o que
fazem na sala, sobre o que sentem, é preciso transformar essa fala em uma linguagem útil que permita a
comunicação com outros profissionais e com a família. Esta comunicação, que se inicia já durante o processo
de avaliação, deve continuar ao longo da intervenção.
f) Capacidade de olhar para si próprio A profissão de especialista psicomotor exige uma formação contínua
baseada na reflexão sobre a ação. O olhar do psicomotricista deve estar direcionado para o que o outro está
fazendo e para si mesmo. A partir desse olhar para os dois lados, você pode ajustar suas respostas, desenvolver
sua escuta, trabalhar suas dificuldades e realizar novos projetos de sessão. Ser psicomotricista é um processo de
autoconhecimento e conhecimento do outro que nunca acaba, pois como pessoa você muda e se reconhece ao
longo da vida. O psicomotricista é, portanto, uma pessoa aberta e respeitosa, que procura compreender o outro,
que escuta e comunica com o outro, aberta a novas experiências e conhecimentos que possam enriquecer a sua
prática profissional.
a) Ouvir: não só o que se diz, mas o que se faz, como os outros são, como a menor variação tônica. Há escuta
quando há observação (Llorca, 2002); para isso é necessário (Aucouturier, Darrault e Empinet, 1985):
— Posicionar-se na sala de forma a poder observar todos.
— Colocar-se no lugar do outro, ser sensível à emoção sem se deixar invadir por ela. — Analisar o significado
do comportamento e desenvolver um projeto terapêutico.
— Observe o que está sendo exigido e intervenha de acordo.
b) Ser um símbolo da lei de segurança: o psicomotor da sala simboliza a ordem e representa a lei. Não se trata
de impor rigidamente regras arbitrárias, mas de fazê-las compreender progressivamente a sua necessidade. A lei
anda de mãos dadas com a segurança. Há muitas coisas que são permitidas na sala, mas dentro de uma ordem
segura. A ausência de ordem pode criar um clima angustiante.
c) Ser um parceiro simbólico: o especialista psicomotor participa em algumas ocasiões da atividade, mas não é
outro parceiro no jogo. Ele responde às demandas, mas não se deixa prender em nenhuma delas, mas tenta fazer
evoluir as situações.
Sánchez e Llorca (2001) propõem diferentes estratégias gerais, para serem utilizadas em qualquer momento da
sessão, e específicas, para alguns momentos ou situações específicas.
1. Estratégias gerais:
— Colaboração e concordância: o especialista psicomotor pode criar um espaço com os participantes,
desempenhar um papel, recolher e organizar o material, etc. Dessa forma, trabalha-se a capacidade de colaborar
e estabelecer acordos.
— Surpresa: você pode mostrar sua surpresa com seus olhos, gestos, voz, etc. A surpresa significa descobrir
algo que não se sabia (uma habilidade motora, um espaço, uma relação, um tipo de jogo, etc.), e provoca em
nós um sentimento que geralmente reforça ou inibe a vontade de agir da pessoa. — A afirmação: pode ser
verbal, gestual ou mesmo com o olhar. Às vezes vale um aceno de cabeça, um gesto ou uma palavra para
reforçar comportamentos que você acha adequados. Por meio dessa atitude, devolve uma imagem de
competência em oposição a uma imagem de deficiência, que às vezes é suficiente para mudar formas de agir,
pensar e sentir.
— Oferecer ajuda corporal ou verbal para que realizem determinadas ações, como completar uma frase, ajudar
a subir em treliças, terminar uma sequência simbólica de jogo, etc.
— O convite, com o olhar, com o gesto, com a linguagem, implica permissão para intervir na atividade.
— A provocação é também uma forma de convite, uma forma de aproximar um participante do psicomotricista,
do espaço ou dos outros. A provocação também pode ser usada para provocar uma resposta agressiva do outro,
que em alguns casos se torna necessária como meio de aproximação, alívio de tensões, afirmação, elaboração
de conflitos, etc.
— Contenção, quando é necessário impor limites ao comportamento da criança. Ter uma pessoa que a segura,
que tem força para pará-los, para mantê-los aquecidos, sem perdê-los, pode ser uma referência de segurança
para muitas crianças que as ajuda a crescer.
— A frustração, como a contenção, pode fornecer segurança. Para crescer, para se autorregular, a criança
precisa aprender que há limites para seus desejos. Assim, por exemplo, pode eliminar certos materiais da sala,
impor limites aos seus jogos, nem sempre corresponder aos seus desejos, etc.
— Imitação: ver-se imitado pelo psicomotor significa a possibilidade de ser identificado, de tomar consciência
de si mesmo e de se considerar alguém importante e digno de ser imitado por outro.
— A afetividade é a base de todas as relações que se mantêm na sala. Quando o psicomotor coloca limites,
frustra, sorri ou abraça, estabelece uma relação afetiva com a pessoa, e sua qualidade e ajustamento favorecem
a evolução da criança.
— Promover a autonomia da pessoa é um dos objetivos da intervenção psicomotora. Em sua intervenção, o
psicomotricista busca fazer com que a pessoa seja dona de seus atos, resolva seus conflitos, suas necessidades e
pense por si mesma.
— A relação com o grupo: o especialista psicomotor desenvolve estratégias que facilitam o encontro entre
iguais e a partilha do espaço, do material e da atividade.
— Manter a segurança do grupo durante toda a sessão. O psicomotricista da sala representa a lei, uma lei que
garante a liberdade e a convivência. As regras da sala são dadas a conhecer de forma firme e progressiva,
fazendo-os compreender a necessidade de respeitar o espaço e os materiais e não prejudicar os colegas. Em
algumas ocasiões, a transgressão da lei pode ter um significado comunicativo para o especialista psicomotor,
que pode ver se é uma chamada de atenção, um ato impulsivo ou um desejo de afirmação e responder
adequadamente a cada caso. Dentro das medidas tomadas para fazer cumprir as regras da sala, convém que o
especialista psicomotor seja discreto e aborde a pessoa de forma a não despertar a atenção do grupo, por vezes
um gesto ou um olhar à distância pode valer a pena. Também é interessante que o especialista psicomotor
busque estratégias de autorregulação do grupo para que eles resolvam seus próprios conflitos.
6. Participação no ritual de saída: Perguntas e falas podem ser utilizadas para que cada um expresse o que
mais gostou e o que menos gostou da sessão. Essa estratégia também facilita o desenvolvimento de processos
cognitivos como atenção e memória.
RESUMO
— O status profissional das habilidades psicomotoras não é o mesmo em diferentes países. Há países onde é
reconhecida pelo Estado e a profissão é regulamentada, enquanto em outros os estudos psicomotores nem
sequer são oficialmente reconhecidos. Isto deu origem ao fato de que atualmente na Europa existem diferentes
níveis de treinamento em habilidades psicomotoras.
— A formação de um especialista psicomotor é complexa, e requer:
(1) formação teórica, que inclui os conteúdos específicos de habilidades psicomotoras e assuntos relacionados;
(2) um treino prático, em que são aplicados os conteúdos teóricos, e (3) um treino pessoal, que lhes permite
conhecer o seu corpo, as suas possibilidades e limitações e, sobretudo, desenvolver uma grande capacidade de
observação e escuta .
— Para realizar a intervenção psicomotora, o especialista psicomotor deve desenvolver diferentes
competências, que incluem: a capacidade de observar e ouvir, desenvolver a sua expressividade psicomotora, a
capacidade de utilizar diferentes estratégias de envolvimento, desenvolver de forma criativa e adequada
diferentes cenários para a intervenção, a capacidade de comunicação e capacidade de olhar para o outro.
— O especialista psicomotor ouve a pessoa com as suas necessidades e exigências, ajuda a estabelecer e
respeitar regras, garante a segurança dos participantes e acompanha cada pessoa na sua evolução. — Para fazer
evoluir as situações, utilize diferentes estratégias, algumas de tipo mais geral, que podem ser utilizadas em
qualquer momento da sessão, e outras mais específicas para alguns momentos ou situações específicas.
— O âmbito de atuação é amplo e abrange diferentes níveis: educação, reeducação e terapia; em todas as fases
do desenvolvimento humano, desde crianças até idosos. Seus objetivos e possibilidades abrangem um leque que
inclui educação, saúde, assistência social e prevenção.
TÉCNICAS DE INTERVENÇÃO
1. INTRODUÇÃO
As técnicas de intervenção utilizadas na sessão psicomotora são muito variadas e dependem das características
dos participantes (idade, nível de maturidade, patologia, preferências), do tipo de sessão (dirigida ou
vivenciada), do momento específico e do própria formação do psicomotricista. Neste capítulo são descritas as
principais técnicas de intervenção, começando pelo jogo, uma vez que é uma das técnicas mais utilizadas,
sobretudo quando se trabalha com crianças, para depois passar a uma aplicação particular do mesmo, a história
vivida, que tem ganho especial validade nos últimos anos. As principais técnicas de relaxamento utilizadas nas
habilidades psicomotoras são descritas a seguir: relaxamento progressivo de Jacobson, treinamento autogênico
de Schultz e relaxamento terapêutico de Berges e Bounes. A eutonia de Gerda Alexander é tratada de forma
independente, pois, embora muitos manuais a coloquem dentro dos métodos de relaxamento, a autora sempre
quis estabelecer diferenças com eles. Por fim, é abordada a utilização da dança e da expressão plástica nas
sessões de psicomotricidade, que embora tenham sido menos utilizadas, têm a vantagem de poder ser utilizadas
em todas as idades.
2. O JOGO
O jogo é uma atividade que tem por objeto o prazer que nela se sente. Estudos em psicologia comportamental e
etologia levaram pesquisadores a confirmar a importância da brincadeira no desenvolvimento de pequenos
animais e crianças. O jogo permitirá que o indivíduo use suas possibilidades motoras e psicomotoras à medida
que atinge a maturidade (Masson, 1987). Para Wallon, o jogo tem um valor de antecipação, de preparação. As
brincadeiras poderão ser a prefiguração e aprendizagem das atividades que serão impostas posteriormente. A
criança trabalha com suas funções e antecipa seu futuro (Defives, 1987). Seguindo Garaigordobil (2002), o jogo
auxilia o desenvolvimento global da pessoa contribuindo significativamente para o desenvolvimento
psicomotor sob diferentes pontos de vista:
— Biológico, como agente de crescimento do cérebro, pois promove a evolução do sistema nervoso.
— Motor, potenciando o desenvolvimento do corpo e dos sentidos.
— Cognitivo ou intelectual, estimulando o desenvolvimento do raciocínio e da criatividade das crianças.
— Afetiva, proporcionando prazer e permitindo que as emoções sejam expressas e liberadas livremente.
— Social, favorecendo a adaptação social, pois estimular a comunicação e a cooperação com os iguais permite
descobrir o mundo social e favorece o desenvolvimento moral.
TABELA 6.1
Tipos de jogos a utilizar em sessões direcionadas de acordo com a idade/nível de maturidade
e tempo de sessão.
Individual ou em paralelo
Simbólico De dois a quatro anos — Segunda parte do
conteúdo principal
Em grupo A partir de quatro anos
c) O resultado tentará:
— Evitar, na medida do possível, ter vencedores ou perdedores.
TABELA 6.2
Exemplos de jogos de regras
O jogo simbólico costuma aparecer em um segundo momento da sessão. Pode ser uma encenação, em que os
participantes representam diferentes personagens da realidade ou da ficção e mostram sua representação da
realidade ou de seus desejos, ou jogos de construção com módulos de espuma de borracha em que geralmente
se desenvolvem e acontecem.
Nos jogos de construção, os módulos de espuma têm a propriedade de se tornarem o que a pessoa quiser. Na
sala de psicomotricidade costuma-se observar que todas as crianças gostam de construir para si um espaço onde
possam entrar como uma casa. Inicialmente, a criança constrói os chamados “espaços ninho”, onde o material
fica escondido e acumulado. Ele então faz construções lineares, colocando um módulo ao lado dos outros, que
muitas vezes tendem a funcionar como uma cama. Posteriormente, surge a chamada “construção octogonal”,
que consiste em dispor os módulos como uma casa. O psicomotor tentará garantir que esses espaços sejam
abertos, para que possam ver o que se faz lá fora, e que sejam suficientemente amplos, para que possam
partilhar as suas brincadeiras com outras pessoas.
O jogo de regras costuma também aparecer num segundo momento na sessão neste tipo de jogo o psicomotor
pode favorecer a relação que a criança estabelece com os seus colegas, o respeito pelas regras e o
estabelecimento de acordos e resolução de conflitos. O jogo de regras permite interiorizar a lei e aceitar as
normas externas, partilhando com os outros o prazer e a cumplicidade de trabalhar em conjunto ou alcançar
objetivos comuns.
3. A HISTÓRIA EXPERIMENTADA(vivenciada)
As histórias, especialmente as clássicas, auxiliam o desenvolvimento integral da criança. As histórias
vivenciadas corporalmente pelas crianças, através do movimento, reforçam a percepção dos conteúdos que
queremos que elas elaborem e assimilem (Serrabona, 2002). Segundo Brasey e Debailleul (1999), essas
histórias, sob a forma de histórias infantis, são na verdade guias práticos destinados a revelar a outros seres
humanos os grandes princípios que regem suas vidas e sua evolução. Esses contos falam do destino do homem,
de seus medos e esperanças, de suas relações com os outros e com o sobrenatural. As histórias, principalmente
os contos de fadas, sempre têm pontos em comum, temas essenciais, independente de sua cultura ou época. As
principais características dos contos de fadas são:
— Têm sempre um universo bipolar, o bom e o mau, geralmente o primeiro derrota o segundo, o que dá
tranquilidade à criança, pois geralmente é o personagem com o qual ela se identifica. As tramas mostram um
sutil equilíbrio entre as forças do mal e do bem, para finalmente triunfar sobre o último.
— Incorporam os maiores medos da criança: angústia de passar fome, medo do abandono, medo de morrer.
— A história permite que você especifique seus medos, que você não consegue identificar sozinho. Medos
realizados são mais fáceis de localizar e elaborar. É preferível ter medo de um animal específico, por exemplo o
lobo, do que de algo impreciso que a criança não consiga identificar ou localizar.
— O final feliz é a representação máxima da esperança. A vida real e as situações difíceis nem sempre têm um
final feliz, mas é a esperança que nos faz continuar. A história permite vislumbrar a possibilidade de que o
conflito e a angústia acabem e assim cheguem a um estágio mais feliz. Serrabona (2002) utiliza a história vivida
com crianças de quatro e cinco anos, idade em que estes geralmente já possuem alguns requisitos básicos para
poder acompanhar uma história motora com interesse (certo controle motor, capacidade de escuta, compreensão
de conceitos básicos, certo nível de representação simbólica, noção de sequência, atenção, etc.). Também é
necessário que o psicomotricista tenha algumas qualidades básicas: capacidade expressiva, imaginação,
empatia... Como diz Bryant (1987), contar uma história é uma arte, desde que o narrador (neste caso o
psicomotricista) tenha a disposição e capacidade de envolver o receptor em um universo imaginário onde ele se
torna o protagonista. Para que uma história tenha um efeito positivo na criança, ela tem que ser vivida, tem que
se conectar com seus interesses.
A história, graças à linguagem e ao movimento, aborda e estimula todas as dimensões da criança. Em geral, a
criança escolhe espontaneamente um personagem da história como protagonista com o qual se identifica. Além
disso, estabelece-se um vínculo afetivo entre o adulto que lê a história e a criança que a ouve.
3.1. A história na sessão psicomotora
Na conferência de entrada, os participantes são recebidos e informados sobre a história que vai ser
desenvolvida, como está distribuído o espaço da sala e quais serão as regras. Você pode começar com uma
pergunta, com um personagem ou introduzindo a frase "Era uma vez..." e iniciando a história. Durante a sessão,
a história é vivida, tendo em conta que os objetivos que foram selecionados são trabalhados. Cada criança se
identificará com um personagem e o especialista psicomotor também assumirá diferentes papéis ao longo do
desenvolvimento. A história será pensada de acordo com o grupo; Não se representa toda a história, mas uma
parte dela que é uma versão gratuita na qual se trabalham os objetivos que nos interessam. Momentos de
atividade espontânea são combinados com aqueles de atividade dirigida.
O psicomotricista utiliza a pergunta para verificar se os participantes o estão acompanhando no jogo, para o
qual indaga sobre a sequência (como chegou ali, o que vai acontecer etc.). O final será claro e feliz. Ao final,
pode ser solicitada a representação da história por meio de pintura ou modelagem. Na roda de partida, os
participantes podem falar livremente e com emoção sobre a história que viveram.
4. RELAXAMENTO
Lazaro (1993) sintetiza as razões pelas quais as técnicas de relaxamento são utilizadas na reeducação
psicomotora em dois pontos:
— Em primeiro lugar, porque são métodos com mediação corporal, que relacionam o corpo do terapeuta e o
indivíduo.
— Em segundo lugar, porque atendem à totalidade do ser humano, beneficiando conjuntamente o físico e o
mental. Exercem sua ação sobre o tônus muscular, mas não se limitam a isso, mas buscam o controle da
afetividade e das emoções, além de contribuir para o desenvolvimento da imagem corporal. As origens dos
métodos de relaxamento estão na ioga e na hipnose.
O Yoga afirma que o homem é capaz de se controlar e suprimir suas tensões mentais (Masson, 1985) por meio
da respiração, das posturas e da concentração mental. a hipnose foi embora conceitos como indução e sugestão.
Os primeiros métodos de relaxamento desenvolvidos no Ocidente foram o relaxamento progressivo de
Jacobson e o treinamento autógeno de Schultz.
TABELA 6.4
Grupos musculares do procedimento de Berstein e Borkovec
5. Músculos da testa
6. Músculos das bochechas e nariz 3. Músculos da face 2. Músculos da face e
7. Músculos dos maxilares o pescoço
8. Músculos do pescoço e garganta 4. Músculos do pescoço e
a garganta
9. Músculos do peito, ombros e
parte superior 5. Músculos do peito, 3. Músculos do peito,
parte superior das costas ombros, costas e ombros, costas e abdômen
10. Músculos da região do abdômen
estômago, abdômen
e parte inferior das costas
Este método é herdeiro do trabalho de Schultz e Ajuriaguerra, é especificamente voltado para a reeducação de
crianças com dificuldades e seu desenvolvimento é exposto no livro Relaxamento terapêutico na infância
(Berges e Bounes, 1983) . A sessão de relaxamento consiste em três partes:
— Concentração e representação: o terapeuta convida a criança a fechar os olhos, imaginar uma cena, uma
lembrança ou uma pintura que sugira calma e tentar sentir o quão calma ela está naquele momento. Em três ou
quatro ocasiões as palavras "calma", "tranquilo", "imagem", "representação" são repetidas. Ele ainda é
convidado a manter os olhos fechados e é instruído a "pensar dentro" ou "olhar para dentro". Esta parte dura
aproximadamente 60 a 90 segundos.
— Distensão neuromuscular: o terapeuta indica à criança que vai continuar tocando e nomeando as diferentes
partes do corpo que vai relaxar. No caso da primeira sessão, em que o braço dominante relaxa, o terapeuta toca
e nomeia as diferentes partes do braço seguindo uma ordem topográfica (de proximal para distal): ombro,
braço, cotovelo, antebraço, punho e mão. Não se trata de pressionar ou massagear, mas simplesmente de
colocar a palma da mão em cada área para que você perceba. Ao mesmo tempo, induz-se uma ideia de
relaxamento, lassitude, leveza, com uma representação mental dessas qualidades ("estão em repouso, calmos,
como um tecido mole..."), e é reforçada por contrastes com características negativas ("não alerta, não ativo, não
contraído"). Após um breve silêncio, o terapeuta avisa que vai movimentar suavemente a parte do seu corpo que
está relaxando a seguir, para que você verifique quais áreas ainda estão tensas. O terapeuta moverá as
articulações lentamente, sem solavancos, seguindo uma ordem topográfica (de distal para proximal); Para a
sessão de relaxamento do braço, você moverá lentamente o pulso, o cotovelo e o ombro. Por fim, a sugestão de
peso; no caso da sessão de relaxamento dos braços, indicaria: «seu braço está em repouso, está ficando mais
pesado, desce até o fundo do colchonete; seu braço está calmo enquanto vai afundando placidamente».
— Retorno: primeiro abandone a atenção que estava prestando na área que estava relaxando e foque-a na área
que irá relaxar na próxima sessão e contraste as sensações; mobilize e alongue os músculos relaxados e, por
fim, respire fundo algumas vezes e abra os olhos.
A Tabela 6.5 mostra a progressão seguida no treinamento.
TABELA 6.5
Progressão no relaxamento terapêutico de Berges e Bounes
- Braço dominante
- Braço não dominante
- Ambos os braços
- perna dominante
- Perna não dominante
- Pernas e braços dominantes
- Perna não dominante
- Braços e pernas
- Nádegas
- Costas
- Pescoço e pescoço
- Generalização
- Plexo solar
- Caro
- Olhos
- Frente
A partir da sessão em que a perna esquerda relaxa, a intervenção do terapeuta começa a diminuir, por exemplo
suprimindo mobilizações ou palpação.
Quando se aborda o relaxamento das nádegas, podem surgir problemas com o vocabulário (que será adaptado
dependendo da idade e das características das crianças) e principalmente por ser uma parte do corpo que não é
diretamente visível. Sugere-se a ideia de que é uma extensão das coxas, embora a pelve também possa ser
mobilizada ou utilizado um espelho. Essa dificuldade também pode surgir nas costas, caso em que a ideia de
continuidade é enfatizada novamente (as nádegas se estendem para as costas). Essa mesma ideia de
continuidade é sugerida ao começar a trabalhar com o pescoço e a nuca.
Atribuem grande importância à generalização, que consiste em integrar cada uma das partes trabalhadas em um
todo. Sua finalidade é que a criança perceba seu corpo como um todo, como uma unidade. No final de uma
sessão em que você propôs o relaxamento do pescoço, o terapeuta recapitula o que foi abordado nas sessões
anteriores e diz: “os braços, as pernas, as nádegas, os músculos das costas, ombros e pescoço são em repouso e
calmo. Eles adquiriram peso e importância. Pouco a pouco eles se fundem em um todo calmo, de forma que
tudo que toca o tapete forma uma unidade, um todo. Você sente seu corpo completamente calmo, flexível e
pesado.
Quando se aborda a generalização, é comum a criança falar de sua respiração de forma espontânea, expressar
dificuldades como falta de ar, inicia-se então a fase respiratória de relaxamento. A terapeuta diz para ele prestar
atenção na respiração, coloca a mão no abdômen da criança para confirmar que o movimento vem de lá e pede
para ela perceber que é um ritmo, para tentar comunicar esse ritmo para todo o corpo. . É assim que se introduz
o significado global e unitário da respiração. A frequência respiratória diminuirá progressivamente, evocando a
ideia de calma: "a respiração é regular, leve, calma, cada vez mais calma...".
Uma vez generalizada e lenta, a respiração quase sempre se torna diafragmática e abdominal. Pede-se à criança
que verifique se a referida respiração se origina no abdome (plexo solar), e então começa o relaxamento dessa
área, sugerindo uma sensação de calor. Para relaxar o rosto, o terapeuta toca as diferentes partes com as duas
mãos, enquanto as nomeia: "os lábios, as bochechas, as asas do nariz, as têmporas, as sobrancelhas, relaxam,
ficam calmos, leves». Nesse caso, a palpação deve ser como uma massagem, sem tocar na testa.
Depois que as regiões nomeadas relaxam, tenta-se relaxar os olhos: "os olhos estão descansando
pacificamente". Por fim, para o relaxamento da testa é sugerida uma ideia de frescor. Este método de
relaxamento é indicado especialmente para crianças com dificuldades, embora os autores não especifiquem o
tipo de patologia. A desvantagem que apresenta é que é necessário um terapeuta para cada pessoa que vai
relaxar, embora na prática essa dificuldade possa ser superada colocando os participantes em duplas. Um dos
membros do casal atuará como “ajudante”, tocando e mobilizando as partes do corpo que o terapeuta indicar.
5. EUTONIA DE GERDA ALEXANDER (técnica corporal criada a partir de um processo de autocura. É uma
terapia holística que utiliza o movimento para afetar o equilíbrio mente-corpo e o bem-estar).
A eutonia é uma técnica baseada na procura de uma tonicidade equilibrada, em constante adaptação e ajustada
ao estado ou atividade do momento (Alexander, 1983). O seu objectivo é o domínio consciente de toda a gama
de variações tónicas (do tom pesado ao tom leve) com vista a uma adaptação adequada às circunstâncias
encontradas (Murcia, 1993). O termo "eutonia" vem do grego e significa tensão natural e harmoniosa. Trata-se
de fazer os movimentos com o mínimo de energia e o máximo de eficiência, investindo a tensão ou energia
necessária no gesto, nem mais nem menos.
É um método com técnica ativa e não diretiva, cuja responsabilidade é deixada nas mãos do indivíduo. O
terapeuta não faz sugestões para que a pessoa sinta uma ou outra sensação, mas trata-se de observar o que é
percebido em cada movimento. Desenvolve-se a capacidade de ser objeto da própria observação e de vivenciar
mudanças simultaneamente as mudanças que essa observação produz no organismo. Alexander recomenda
trabalhar em grupos de no mínimo oito participantes para que a pessoa não se sinta observada e contemple
diferentes formas de atingir o mesmo objetivo. A ação sobre o tom é obtida direcionando a atenção para certas
partes do corpo, seu volume, seu espaço interior, a pele, os tecidos, os órgãos, o esqueleto e o espaço interior
dos ossos.
Ele considera que a consciência do sistema esquelético é importante para evitar a tendência ao afrouxamento,
ao mesmo tempo em que proporciona segurança e resistência interna.
5.2. Respiração
O próximo passo é o trabalho respiratório, que é feito de forma indireta, removendo as tensões que impedem a
respiração correta. Evite falar dela, principalmente no começo, pois no momento em que ela é nomeada ela
muda. A respiração deve ser livre; o objetivo é desenvolver a capacidade de ser o próprio observador da
respiração, sem modificá-la voluntariamente (Digelmann, 1981).
5.3. Contato
Alexander diferencia entre toque e contato. Através do toque experimentamos a delimitação do nosso corpo e
obtemos informação do mundo que nos rodeia; o contato nos permite ir mais longe, ir além da periferia de
nossa pele. O contato dos pés com o solo, das mãos com um instrumento ou material de modelagem leva a uma
harmonização das tensões emocionais. Você pode realizar exercícios de contato com objetos ou com outras
pessoas.
Quando estabelecemos contato com um objeto, devemos estar abertos e receptivos e buscar entrar em equilíbrio
e harmonia com aquele objeto. São utilizados materiais de diferentes tamanhos, superfícies, constituição, etc.,
como bolas de tênis, bolas grandes de borracha, bolas médias de espuma, cordas, varas de bambu, etc.
O contato com outra pessoa não começa até que a regulação do tônus tenha atingido um estado de equilíbrio tal
que não possa prejudicar a da outra pessoa (se estou tenso, vou transmitir tensão). Nestes exercícios trata-se de
tomar consciência do organismo do outro através de um ponto do seu corpo. Também são realizados exercícios
de manipulação, nos quais o contato com as mãos ganha especial sentido. Consiste na realização de vários tipos
de auto-massagem e/ou massagens a dois.
5.4. O movimento
Finalmente trata do movimento que se caracteriza pela leveza em sua execução e pelo uso de pouca energia.
Isso pressupõe que todas as configurações de afinação foram removidas. Experiências de tom leve e movimento
são essenciais. levando conciência óssea leva a uma sensação de leveza e frequentemente desencadeia o desejo
de se mover. Também o trabalho de sensibilização da pele permite viver frequentemente esta experiência de
leveza. Os movimentos devem ser executados com a sensação das variações de contato com o solo, a
consciência do espaço interior, a respiração livre e a consciência dos ossos. Cada pessoa experimenta todas as
suas possibilidades sem nenhuma demonstração do terapeuta, sem indicação de ritmo ou forma e sem
acompanhamento musical estimulante. Uma vez desenvolvido o tema do movimento em todas as suas
possibilidades de improvisação, o indivíduo retém os motivos do movimento que lhe parecem melhores, em
uma forma fixa que permite a repetição. Durante as repetições necessárias, o movimento deve continuar a ser
vivido. O movimento é praticado primeiro individualmente, depois com um parceiro e, finalmente, em grupo.
Ele percebe as fixações e os limites de seus movimentos, e trata-se de desenvolver a expressão corporal do
indivíduo.
5.5. A eutonia na sessão de psicomotricidade (técnica corporal criada a partir de um processo de autocura. É
uma terapia holística que utiliza o movimento para afetar o equilíbrio mente-corpo e o bem-estar).
A eutonia, sendo um método ativo e não diretivo, é frequentemente utilizada nas sessões vivenciadas,
principalmente no trabalho com adultos, como técnica de mediação corporal. Permite abordar um trabalho de
escuta sobre o corpo para alcançar a regularização do tom. Segundo Alexander (1983), a eutonia permite:
— Restaurar a sensibilidade de toda a superfície corporal, melhorando assim a imagem corporal.
— Aumentar a vitalidade da pessoa.
— Regular o tônus, ajudando a eliminar estados depressivos ou eufóricos.
— Desenvolver de forma otimizada um meio de expressão (modelagem, pintura, desenho, etc.) permitindo
flexibilidade de tom. Brand (1997) adverte que a eutonia tem influência nos componentes:
— Físicos ou motores, produzindo um aumento da energia corporal.
— Cognitivo, melhorando a concentração.
— Social ou relacional, melhorando a capacidade de se relacionar com os outros.
6. A DANÇA
O poder terapêutico da música e da dança é conhecido desde as civilizações antigas. García Ruso (1997) define
a dança como uma atividade humana universal, motora, polimórfica, polivalente e complexa. Esta definição
envolve vários aspectos:
— Universal: estende-se por toda a história da humanidade, desde os tempos primitivos, em ambos os sexos
(homens e mulheres) e em todas as idades (das crianças aos idosos).
— Motor: a partir de estruturas rítmicas, utiliza o corpo através de técnicas corporais para expressar ideias,
emoções e sentimentos; portanto, seria mais apropriado dizer que é uma atividade psicomotora.
— Polimórfico: apresenta-se de diversas formas, como dança clássica, moderna, folclórica, etc.
— Multiuso: é aplicável a diferentes áreas, como arte, educação, lazer ou terapia.
— Complexa: combina e inter-relaciona vários factores (biológicos, psicológicos, sociológicos, históricos,
estéticos, morais, políticos, técnicos, geográficos), combina expressão e técnica e é simultaneamente uma
actividade individual e de grupo. A dança permite ao indivíduo exteriorizar e sentir o seu corpo, tomando
consciência da posição e tensão dos músculos. É ao mesmo tempo uma atividade psicomotora e uma arte, pois
combina harmoniosamente os movimentos ininterruptos no espaço, que a escuta musical cria e ordena. Como
aponta Gaetner (1981), é a expressão corporal mais perfeita e elaborada porque requer o acordo entre espaço e
tempo.
7. EXPRESSÃO PLÁSTICA
A expressão criativa é um meio e um instrumento. Para a pessoa, é um meio de expressão do seu estado interior
e da sua interpretação do ambiente. Para o psicomotricista é um instrumento de avaliação, prevenção,
tratamento e acompanhamento.
— É um instrumento de avaliação porque permite avaliar se o desenvolvimento está a decorrer de forma
adequada e antecipar, prevenindo, assim, dificuldades futuras.
— É uma técnica de intervenção porque através da expressão plástica podem ser trabalhados alguns dos
objetivos do tratamento.
— É um instrumento de acompanhamento porque a comparação das diferentes tarefas que o indivíduo vai
realizando ao longo do tratamento permite verificar a sua evolução. Os meios de expressão plástica que podem
ser utilizados na sessão psicomotora são múltiplos: plasticina, argila, colagens, etc., mas sem dúvida um dos
mais utilizados é o desenho.
7.1. Etapas e características do desenho infantil
Para entender e analisar o significado dos desenhos nas diferentes idades e, portanto, saber se o
desenvolvimento está ocorrendo adequadamente, é necessário conhecer as etapas e características do desenho
infantil. Luquet (1972) distingue quatro etapas no desenvolvimento do desenho infantil:
RESUMO
— As técnicas de intervenção aplicadas na sessão psicomotora são muito variadas e vão depender das
características dos participantes (idade, nível de maturidade, patologia, preferências), do tipo de sessão (dirigida
ou vivenciada), do momento específico e do próprio treino do psicomotricista.
— O brincar é a técnica mais utilizada nas sessões psicomotoras, pois tem grande importância para o
desenvolvimento da criança, sendo a infância uma das maiores áreas de aplicação da educação e reeducação
psicomotora. Os jogos sensório-motores, que são realizados nos momentos iniciais da sessão, vão permitir
vivenciar situações de prazer, tomar consciência do corpo e das suas possibilidades de movimento e adquirir
novos comportamentos ou capacidades. Os jogos simbólicos surgem num segundo momento da sessão e, tendo
em conta o nível de maturação, a sua complexidade aumentará. Os jogos de regras são também utilizados num
segundo momento da sessão, a partir dos sete anos, e permitem ainda favorecer a relação que estabelecem com
os colegas, o respeito pelas regras, ao estabelecimento de acordos e resolução de conflitos.
— As histórias vivenciadas são um recurso útil para crianças de quatro a cinco anos, pois, graças à linguagem e
ao movimento, abordam e estimulam todas as dimensões da criança. A criança identifica-se com uma
personagem e o psicomotor assume diferentes papéis ao longo dela para que sejam trabalhados os objetivos que
lhe interessam, conjugando momentos de atividade espontânea e dirigida.
— O relaxamento tem grande importância na reeducação e permite regular o tônus muscular e desenvolver a
imagem corporal. Os métodos de relaxamento mais utilizados nas sessões psicomotoras dirigidas têm sido: o
relaxamento progressivo de Jacobson (com suas adaptações posteriores), o treinamento autogênico de Schultz e
o relaxamento terapêutico de Berges e Bounes (desenhado especificamente para crianças).
— A eutonia de Gerda Alexander é utilizada principalmente com adultos nas sessões vivenciadas como uma
técnica de mediação corporal que se baseia na procura de uma tonicidade equilibrada, em constante adaptação e
ajustada ao estado ou atividade do momento. É uma técnica ativa e não diretiva que trabalha a eliminação da
tensão muscular, respiração, contato e movimento.
— A dança, embora seja uma atividade menos utilizada, tem a vantagem de ser aplicável a todas as idades. A
dança clássica proporciona o domínio de todo o corpo, a dança moderna busca maior liberdade de movimentos
e a dança folclórica permite a integração do indivíduo no grupo. A dançaterapia pode ser aplicada em
tratamentos psicomotores educativos, reeducativos e terapêuticos e é especialmente indicada para autistas,
psicóticos e surdocegos como forma de estabelecer e restabelecer a comunicação e facilitar a expressão.
— A expressão plástica é um instrumento de avaliação, prevenção, tratamento e acompanhamento. Um dos
meios de expressão plástica mais utilizados na sessão psicomotora é o desenho. No entanto, para entender e
analisar o significado dos desenhos nas diferentes idades e, portanto, saber se o desenvolvimento está ocorrendo
adequadamente, é necessário conhecer as fases e características do desenho infantil. Como técnica de
intervenção, os métodos de desenho mais utilizados na sessão psicomotora são o desenho livre e o desenho de
ilustração a partir de vivências.
PARTE TRÊS
Guia de avaliação e intervenção psicomotor na deficiência
1. INTRODUÇÃO
Dentro da intervenção psicomotora nas deficiências físicas estão as alterações que são causadas por uma lesão
evidente, localizada em determinadas áreas do cérebro ou do sistema nervoso, que afeta o desenvolvimento
motor do indivíduo, sendo talvez o distúrbio mais representativo a paralisia cerebral ( Escribá et al., 1999). 1.1.
Definição e classificação O termo "paralisia cerebral" refere-se a vários distúrbios de movimento e postura
devidos a uma anormalidade não progressiva do cérebro imaturo (Batshaw e Pret, 1986). É uma deficiência
motora estática que se origina durante o período pré-natal, perinatal ou pós-natal, com deficiências associadas
que podem incluir déficits de visão e audição, convulsões, retardo mental, dificuldades de aprendizagem e
problemas de alimentação, linguagem e comportamento (Erhardt, 1998).
A maioria das classificações de paralisia cerebral são baseadas na área do cérebro afetada e suas repercussões
no tônus muscular. Com base neste critério, Sánchez e Llorca (2004) propõem que as quatro formas clínicas
mais aceitas seriam:
— Paralisia cerebral espástica: é a mais frequente e ocorre quando a lesão está localizada no córtex cerebral
ou no subcortical intracerebral caminhos. Afeta os movimentos voluntários, a fala e a função muscular. É
caracterizada por um alto tônus muscular que causa rigidez nos movimentos e incapacidade de relaxar certos
grupos musculares.
— Paralisia cerebral discinética ou atetótica: a lesão localiza-se no circuito extrapiramidal, nos núcleos da
base. Afeta movimentos involuntários e reflexos; O paciente apresenta movimentos descontrolados que às vezes
são desencadeados por emoções, esforço intelectual excessivo ou estímulos sensoriais.
— Paralisia cerebral atáxica: a lesão está localizada no circuito cerebelar e afeta o senso de equilíbrio e o
senso de gravidade. Geralmente, as lesões cerebelares apresentam hipotonia generalizada, além de uma série de
dificuldades em ações que requerem movimentos rápidos, tarefas de precisão e coordenação geral.
— Paralisia cerebral mista: é uma combinação das anteriores, de modo que algumas alterações se sobrepõem,
afetando várias estruturas cerebrais considerando a extensão ou membros acometidos (Scherzer e Tscharnuter,
1990), fala-se em quadroplegia, quando acomete os quatro membros, com acometimento igual dos membros
superiores e inferiores; diplegia, quando acomete membros superiores e inferiores, com comprometimento leve
dos membros superiores; paraplegia, quando acomete ambos os membros inferiores; hemiplegia, quando
acomete um hemicorpo, membro superior e inferior do mesmo lado, e monoplegia, quando acomete um
membro, braço ou perna.
2. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Com base em Erhardt (1998), Llorca e Sánchez (2003) e Sánchez e Llorca (2004), são descritas as principais
características psicomotoras que as crianças com paralisia cerebral apresentam em seu desenvolvimento motor,
cognitivo e socioafetivo.
TABELA 7.1
Etapas do desenvolvimento motor da criança com paralisia cerebral
É preciso ter recursos adaptados que permitam o acesso dessas crianças ao conhecimento. Outro fator
importante está relacionado à experiência de sucesso, tanto da própria criança quanto da família e da escola.
Dependendo da sua expectativa de sucesso, você fará um esforço maior ou menor, que também será
influenciado pela motivação que o aprendizado desperta.
3. AVALIAÇÃO PSICOMOTORA
A avaliação da paralisia cerebral, como qualquer outro tipo de deficiência, requer uma equipe multidisciplinar
especializada no transtorno. O objetivo da avaliação será a determinação qualitativa e quantitativa das
dificuldades e habilidades psicomotoras, bem como suas possibilidades de desenvolvê-las.
4. INTERVENÇÃO PSICOMOTORA
A intervenção precoce é essencial para ajudar a criança a atingir o nível máximo de potencial em todas as áreas
do desenvolvimento, para alcançar a independência funcional. A psicomotricidade pode proporcionar a vivência
de situações de mobilidade e movimento guiado ou assistido. O psicomotricista provoca um aumento das
experiências sensoriais e motoras que vão levar a criança a uma melhor vivência do seu ser corporal e a uma
reativação dos seus processos de desenvolvimento a todos os níveis (Escribá et al., 1999). 4.1. Objetivos da
intervenção
TABELA 7.2
Guias para promover a integração no grupo
— Apresentar jogos para todo o grupo em que possam participar, mesmo que existam diferentes níveis de
complexidade consoante as suas possibilidades.
— Fortalecer ou estabelecer relações de apoio entre iguais.
— Atuar como mediador para que o grupo conheça o estado emocional da criança, interpretando o que ela diz
ou perguntando se ela sabe o que está pedindo.
— Peça ao resto do grupo para pedir à criança antes de manuseá-la, para levá-la em consideração, para
respeitar seus desejos.
— Procurar situações de cooperação (desenhar, modelar, etc., em que sintas que tens um papel participativo
como outro membro do grupo, embora por vezes tenhas de orientar o seu movimento).
Geralmente é aconselhável usar uma técnica de relaxamento no início da sessão para reduzir a hipertonia e
facilitar os movimentos. O relaxamento progressivo de Jacob son tem sido usado com sucesso para relaxar
pessoas com paralisia cerebral; Para isso, é necessário adequar a aplicação metodológica. Por exemplo, se você
tem paralisia em um lado do corpo, os grupos musculares da parte do corpo afetada não serão trabalhados com
esta técnica, embora devam ser usados outros métodos de ativação energética, como a massagem (Linares e
Sánchez, 1998). Chace (1985) recomenda desenvolver técnicas específicas para cada criança, evitando
atividades que sejam contraindicadas para seu distúrbio particular e trabalhando em estreita colaboração com o
fisioterapeuta.
Se a criança tiver dificuldade em aprender a tensionar um determinado membro ou área específica, diferentes
estratégias podem ser usadas:
— Faça com que ele mova o membro enquanto resiste ao movimento com a mão, mantenha a tensão enquanto a
pressão é exercida sobre ele e, finalmente, mantenha a tensão ele mesmo.
— Exercer pressão com os dedos sobre os músculos a contrair.
— Mover as articulações ou unir as partes finais dos ossos que formam a articulação.
— Use uma voz firme e poderosa. Para inibir a espasticidade e aumentar o relaxamento, deve-se levar em
consideração:
— Colocar a criança em uma posição confortável que não cause espasticidade. — Caso seja tocado, faça-o aos
poucos, com firmeza, mas com prazer.
— A estimulação externa será mínima.
— Use uma voz suave quando solicitado a relaxar.
— Se o terapeuta sacudir suavemente a parte do corpo que está relaxando, ajudará a reduzir a tensão muscular.
— Se a espasticidade ou os movimentos descontrolados impedirem o relaxamento, coloque a parte do corpo
relaxante em uma posição relaxada, segurando-a com firmeza, mas suavemente, até que ocorra o relaxamento;
quando a tensão diminuir, ela será liberada lentamente.
— O membro a ser relaxado pode ser tocado para ajudar a reduzir a tensão. Durante a sessão são utilizados
jogos sensório-motores, simbólicos e/ou de regras de acordo com a idade e/ou nível de maturidade da criança.
Linares (1996) oferece uma série de recomendações a seguir na realização das atividades: — A relação
psicomotora/criança não deve ultrapassar um/quatro.
— A experiência de sucesso é importante, e para isso é preciso simplificar a tarefa para que a criança possa
realizá-la.
— Será dada maior importância aos movimentos repetitivos lentos, favorecendo o movimento exploratório e
não dando tanta ênfase à sua perfeição.
— Serão utilizadas atividades variadas, não se limitando a uma única tarefa que os deixe cansados e entediados.
As atividades serão realizadas em um ambiente sem distrações, com um espaço relativamente amplo no qual
tenham liberdade de movimento.
— Na programação da atividade será levado em consideração o tipo de paralisia cerebral. Assim, por exemplo,
se houver espasmos(espasticidade) as atividades que exijam grande agilidade e velocidade de movimento
devem ser evitadas, enquanto se houver atetose a ênfase deve ser em criar um ambiente descontraído,
proporcionando períodos de descanso entre as atividades.
— Atividade altamente competitiva não é recomendada para pessoas com paralisia cerebral grave. O uso da
música na sessão pode proporcionar à criança uma sensação de movimento que antecede a possibilidade de
poder fazê-lo. Uma criança com paralisia cerebral pode não conseguir marchar como as outras, mas consegue
brincar e marcar o tempo para quem consegue se movimentar pela sala.
No entanto, deve-se levar em conta que em crianças espásticas e atéticas há variabilidade nas respostas
psicofísicas aos estímulos musicais. O desempenho de crianças espásticas pode se tornar mais controlado sob a
influência de música estimulante; no entanto, essa mesma música pode causar movimentos involuntários e
descontrolados em crianças atetósicas.
RESUMO
— A paralisia cerebral é talvez o distúrbio mais representativo dentro da intervenção psicomotora na deficiência
física.
— As crianças com paralisia cerebral apresentam problemas no seu desenvolvimento motor (actividade reflexa
primitiva, tónus muscular alterado e défices neurossensoriais), cognitivo (mediado pelas possibilidades de
experimentação e experiência de sucesso) e sócio-afectivo (sentimentos de frustração, medo e dependência) .
— A avaliação psicomotora tem por objetivo a determinação qualitativa e quantitativa das dificuldades e
capacidades psicomotoras, bem como das suas possibilidades de desenvolvê-las.
— A avaliação qualitativa dá especial atenção: à relação com o corpo (conhecimento do corpo, controlo
postural, tónus muscular, afetação dos membros e possibilidades de movimento, reflexos primitivos e distúrbios
associados), às limitações no uso do espaço, tempo que ele precisa para atividades, manipulação e exploração
de objetos, a relação que estabelece com os outros e como ele se comunica com eles.
— Para avaliar quantitativamente as capacidades psicomotoras, têm sido utilizados: a escala Brunet-Lezine, o
teste psicomotor da primeira infância ou o teste psicomotor Vayer; lembrando sempre que as referências à
criança normal têm um significado muito relativo.
— A intervenção psicomotora produz um aumento das experiências sensoriais e motoras que conduzirão a uma
reativação dos seus processos de desenvolvimento na área motora (controlo postural, equilíbrio, coordenação
dinâmica geral, relaxamento, coordenação óculo-motora e lateralidade), cognitiva (conhecimento da o corpo, do
espaço, dos objetos, noções espaciais e temporais) e sócio-afetivo (relação com adultos e pares, comunicação).
— As sessões dirigidas são indicadas para trabalhar a área motora e cognitiva. Música).
— As sessões experimentais são indicadas para trabalhar as áreas motora, cognitiva, socioafetiva e
comunicativa. Iniciam-se através da massagem para posteriormente possibilitar a exploração no sensório-motor,
espaço simbólico e representações.
INTERVENÇÃO PSICOMOTORA
EM TRANSTORNO MENTAL GRAVE
1. INTRODUÇÃO
Entende-se por população com doença mental crônica aquelas pessoas que sofrem de algum transtorno
psiquiátrico grave e crônico (Goldman, Gazzi e Tanbe, 1981). Para evitar as conotações negativas e
estigmatizantes do termo «crônico», o termo «transtorno mental grave» tem sido utilizado na literatura
especializada em vez de «doença mental crônica». Segundo Rodríguez e González-Cases (2002), a definição
mais representativa e com maior consenso é a do Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH, 1987),
que pressupõe a interação de três fatores:
a) Diagnóstico: refere-se a pessoas que sofrem de transtornos mentais graves, principalmente psicose, e
especialmente esquizofrenia, bem como psicoses maníaco-depressivas, transtornos depressivos graves,
transtornos delirantes e alguns transtornos graves de personalidade (embora este último caso tenha sido mais
questionado), entre outras. Os critérios diagnósticos incluem principalmente pessoas que sofrem de algum tipo
de psicose funcional (não orgânica) (OMS, 1992).
b) Incapacidade: muitas pessoas que sofrem dos transtornos acima apresentam diversas incapacidades ou
déficits expressos em dificuldades de autogestão e desenvolvimento em diferentes áreas da vida pessoal e
social.
c) Duração: transtornos e problemas de natureza crônica, de longa duração e evolução, tendo como critério um
período de dois anos de duração do tratamento. A esquizofrenia é talvez um dos transtornos mentais graves
mais representativos, e o restante do capítulo se concentrará nela, sem que isso signifique que a intervenção
aqui proposta não possa ser aplicada a outros transtornos mentais graves.
1.1. Esquizofrenia
De acordo com o Guia de Prática Clínica (GPC) (San Emeterio et al., 2003), suas manifestações consistem em
uma série de sinais e sintomas característicos. Os sintomas afetam vários processos psicológicos, como
percepção (alucinações), ideação, teste de realidade (delírios), processos de pensamento, sentimentos,
comportamento, atenção, concentração, motivação e julgamento. Não há um único sintoma que seja por si só
patognomônico da esquizofrenia. Os sintomas característicos de a esquizofrenia foi classificada em duas
grandes categorias (sintomas positivos e negativos), às quais recentemente foi acrescentada uma terceira que
alude à desorganização. O início da esquizofrenia pode ocorrer durante a adolescência (e mesmo na infância) ou
na idade adulta. A maioria dos pacientes alterna episódios psicóticos agudos com fases estáveis de remissão
parcial ou total, com sintomas residuais frequentes entre os episódios. Pode ser descrita em três fases que se
fundem sem limites claros ou absolutos entre si:
— Fase aguda (ou crise): apresentam sintomas psicóticos graves, como delírios e/ou alucinações, e
pensamento fortemente desorganizado; eles geralmente não são capazes de cuidar de si mesmos
adequadamente. Os sintomas negativos costumam ser mais intensos.
— Fase de estabilização (ou pós-crise): a intensidade dos sintomas psicóticos agudos é reduzida. Sua duração
é geralmente de 6 meses ou mais após o início de um episódio agudo.
— Fase estável (ou de manutenção): os sintomas são relativamente estáveis e, se presentes, menos graves do
que na fase aguda. Quando os sintomas negativos e/ou positivos persistem, eles se apresentam com
manifestações não psicóticas atenuadas (delírios em vez de alucinações, ideias supervalorizadas em vez de
delírios). A Tabela 8.1 apresenta os critérios para o diagnóstico de esquizofrenia de acordo com o DSMIV-TR
(APA, 2003), que também distingue diferentes subtipos de esquizofrenia de acordo com os sintomas
predominantes no momento da avaliação.
— Tipo paranóide: a característica principal consiste na presença de ideias delirantes claras ou alucinações
auditivas, no contexto de capacidade cognitiva e afetividade relativamente preservadas. Fundamentalmente, as
ideias delirantes são de perseguição, grandeza ou ambas, mas também podem se apresentar com outro tema
(como ciúme, religiosidade ou somatização). O prognóstico geralmente é melhor do que para outros tipos de
esquizofrenia, especialmente no que diz respeito à vida profissional e à capacidade de levar uma vida
independente.
— Tipo desorganizado: as principais características são linguagem e comportamento desorganizados e afeto
embotado ou inapropriado. A desorganização comportamental pode levar a uma interrupção grave da
capacidade de realizar atividades da vida diária.
— Tipo catatônico: a característica principal é um distúrbio psicomotor acentuado que pode incluir
imobilidade, atividade motora excessiva, negativismo extremo, mutismo, peculiaridades do movimento
voluntário, ecolalia ou ecopraxia.
— Tipo indiferenciado: a característica principal é a presença de sintomas de esquizofrenia, mas os critérios
para os tipos paranóide, desorganizado ou catatônico não são preenchidos.
— Tipo residual: usado quando houve pelo menos um episódio de esquizofrenia, mas a existência de sintomas
psicóticos positivos não é evidente no quadro clínico atual. Existem manifestações contínuas do distúrbio com a
presença de sintomas negativos ou dois ou mais sintomas positivos atenuados.
TABELA 8.1
Critérios para o diagnóstico de esquizofrenia de acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2003)
A. Sintomas característicos: dois (ou mais) dos seguintes, cada um presente em parte da
Significativo durante um período de um mês (ou menos se tratado com sucesso):
1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Linguagem desorganizada (por exemplo, descarrilamento frequente ou incoerência).
4. Comportamento catatônico ou gravemente desorganizado.
5. Sintomas negativos, por exemplo embotamento afetivo, alogia ou apatia. NOTA: Um sintoma Critério A só é
necessário se os delírios forem bizarros, ou se os delírios consistirem em uma voz comentando continuamente
sobre os pensamentos ou comportamento do sujeito, ou se duas ou mais vozes estiverem conversando entre si.
B. Disfunção social/ocupacional: por uma parte significativa do tempo desde o início do distúrbio, uma ou
mais áreas principais de atividade, como trabalho, relacionamentos interpessoais ou autocuidado, estão
claramente abaixo do nível anterior no início do transtorno (ou, quando o início ocorre na infância ou
adolescência, falha em atingir o nível esperado de desempenho interpessoal, acadêmico ou ocupacional).
C. Duração: Os sinais contínuos da perturbação persistem por pelo menos seis meses. Este período de seis
meses deve incluir pelo menos um mês de sintomas que satisfaçam os critérios A (ou menos, se tratados com
sucesso) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos e residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou
residuais, os sinais da perturbação podem se manifestar apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais
sintomas da lista dos critérios A, presentes de forma atenuada (p. ex., crenças incomuns, experiências
perceptivas incomuns).
D. Exclusão de Transtornos Esquizoafetivos e do Humor: O Transtorno Esquizoafetivo e o Transtorno do
Humor com Aspectos Psicóticos foram excluídos porque:
1. Não houve nenhum Episódio Depressivo Maior, Maníaco ou Misto concomitante com os sintomas da fase
ativa.
2. Se os episódios de perturbação do humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi
curta em relação à duração dos períodos ativo e residual.
E. Exclusão de Uso de Substâncias e Condição Médica Geral: O distúrbio não se deve aos efeitos
fisiológicos diretos de qualquer substância (por exemplo, droga de abuso, medicamento) ou condição médica
geral.
F. Associação com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento: Se houver história de Transtorno Autista ou
outro Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, o diagnóstico adicional de Esquizofrenia só deve ser feito se
os delírios ou alucinações também persistirem por pelo menos 1 mês (ou menos). foram tratados com sucesso).
2. CARACTERÍSTICAS PSICOMOTORAS
3. AVALIAÇÃO PSICOMOTORA
A observação é a técnica mais utilizada no processo de avaliação psicomotora. Técnicas quantitativas têm sido
usadas com pouca frequência na avaliação psicomotoras das habilidades motoras de pessoas com transtornos
mentais graves, mas podem ser úteis como complemento para especificar as dificuldades, quantificá-las e assim
poder comparar a evolução do paciente ao longo do processo de intervenção.
TABELA 8.2
Conteúdos gerais da avaliação psicomotora (Alonso et al., 1987).
TABELA 8.3
Conteúdos gerais da avaliação
psicomotor (Cabanillas e Fernández, 2002)
- Habilidades físicas
• Postura e equilíbrio
• Mobilidade
• Força e esforço
• Energia físico-motora
- Habilidades de processamento
• Organização temporária
• Organização do espaço e objetos
• Processamento de energia
• Uso do conhecimento
• Busca por conhecimento
- Habilidades de comunicação e interação
• Domínio físico
• Intercâmbio de informações
• Relacionamentos
TABELA 8.4
Exame Psicomotor de Bucher (1976)
— As perturbações mentais graves referem-se a pessoas que sofrem de perturbações mentais graves e que
apresentam dificuldades na gestão e no desenvolvimento autónomo da sua vida quotidiana durante um período
de, pelo menos, dois anos de tratamento. O transtorno mais representativo é a esquizofrenia.
— As pessoas com esquizofrenia têm:
• A nível cognitivo, problemas no processamento da informação que resultam em dificuldades na perceção da
sua imagem corporal, na gestão do espaço, na falta de planeamento das suas tarefas, na memória autobiográfica
geralmente fragmentada e na dificuldade na compreensão das instruções e na manutenção da atenção .
• Ao nível socioafetivo e comunicativo: pobreza afetiva, apatia/apatia, anedonia e dificuldades nas relações
interpessoais que podem levar ao isolamento extremo.
• A nível motor: passividade, hipercontrolo, alterações da postura e do andar, alterações dos movimentos
intencionais e estereótipos, que podem ser agravados pelos efeitos secundários dos neurolépticos.
— A observação é a técnica mais utilizada no processo de avaliação psicomotora; Com base nos protocolos de
observação utilizados nos centros de reabilitação psicossocial, propõe-se a observação de uma série de
parâmetros psicomotores.
— A informação obtida através da observação psicomotora pode ser complementada com alguns testes
padronizados aplicados total ou parcialmente, como o equilíbrio psicomotor de Bucher (1976).
— O objetivo do programa de intervenção psicomotora é fazer com que a pessoa tenha uma melhor vivência e
conhecimento de si mesma para que através dela melhore a sua relação com o mundo que a rodeia. Para tal,
propõem-se vários objetivos nas áreas cognitiva, socioafetiva e comunicativa e motora.
— As sessões psicomotoras são realizadas em pequenos grupos, sempre no mesmo local e com as mesmas
pessoas, uma ou duas vezes por semana. Sessões dirigidas e vivenciadas podem ser combinadas para trabalhar
os diferentes objetivos de intervenção.
— Também podem ser incluídas sessões de dançaterapia, seguindo o método de Gaetner (1981), que utiliza a
imitação dos movimentos realizados pelo terapeuta em frente ao espelho com música orquestral adequada ao
objetivo a ser trabalhado.
INTERVENÇÃO PSICOMOTORA
NA SÍNDROME DE DOWN.
1. INTRODUÇÃO
A síndrome de Down, causa mais frequente de deficiência intelectual, é uma alteração cromossômica causada
pelo excesso de material genético. As conseqüências desse excesso cromossômico podem ser observadas em
diferentes sistemas biológicos; É por isso que falamos de síndrome, porque afeta diferentes funções e órgãos
nos quais está envolvido o cromossomo 21. Suas características são retardo mental junto com outras alterações
cognitivas, sensoriais, de personalidade, psicomotoras e uma aparência física específica (Madrigal, 2005).
1.2. Sintomas fisiológicos – Entre 35 e 50 por cento das pessoas com síndrome de Down têm uma doença
cardíaca congênita. Entre os problemas cardíacos, os mais frequentes são os defeitos do canal atrioventricular,
septações incompletas e válvulas defeituosas.
— As patologias mais frequentes do sistema músculo-esquelético são a subluxação atlantoaxial, a luxação da
anca (com maior incidência em adolescentes e adultos), problemas nos joelhos e pés chatos.
— Desequilíbrios hormonais e imunológicos são comuns, como os que afetam os níveis de hormônio
tireoidiano ou o aumento da vulnerabilidade a infecções.
— Outras patologias que podem estar associadas são problemas gastrointestinais.
— Há também um risco relativamente alto de desenvolver Alzheimer em idades avançadas.
2. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
3.1. Técnicas quantitativas O teste da primeira infância (Picq e Vayer, 1977) e o teste psicomotor de Picq e
Vayer (1977) são os instrumentos de avaliação mais adequados para a realização da avaliação psicomotora de
crianças com síndrome de Down.
Exame psicomotor da primeira infância
O exame psicomotor da primeira infância (Picq e Vayer, 1977; Escribá, 2002) permite avaliar crianças com
idade mental e/ou cronológica inferior a seis anos (dos dois aos cinco anos) através da observação. seguintes
comportamentos: coordenação olho-mão, coordenação dinâmica, controle postural (equilíbrio), controle do
próprio corpo, organização perceptiva e linguagem.
Os testes de coordenação óculo-manual, coordenação dinâmica e controle postural (equilíbrio) são equivalentes
aos testes de coordenação dinâmica das mãos, coordenação dinâmica geral e controle postural do teste
psicomotor de Vayer (1985), em crianças com transtorno mental idade e/ou cronológica inferior a seis anos.
O teste de controle do próprio corpo equivale ao teste de controle segmentar em crianças com idade mental e/ou
cronológica inferior a seis anos, pois o controle segmentar não começa a ser adquirido até essa idade. Este teste
é inteiramente retirado do teste de imitação de gestos de Berges e Lezine (1963). A criança deve imitar dez
gestos simples de movimento manual e dez gestos simples de movimento de braço, estabelecendo uma
correspondência de idade de acordo com seu desempenho.
Os testes de organização perceptiva e de linguagem (que avaliam a memória imediata e a pronúncia) equivalem
aos testes de organização espacial e estruturação espaço-temporal para crianças com idade mental e/ou
cronológica inferior a seis anos. Eles são escalonados de ano para ano, exceto para o teste de dois anos, no qual
é escalonado de seis a seis meses, estabelecendo uma correspondência de idade com base no cumprimento dos
critérios de cada teste. Os resultados desses testes são utilizados na construção de um gráfico: o perfil
psicomotor. O exame é completado com o teste de lateralidade, já descrito no exame psicomotor de Vayer no
capítulo 3, que permite chegar a uma fórmula de lateralidade incluída no perfil.
4. INTERVENÇÃO PSICOMOTORA
A intervenção precoce pode influenciar significativamente a evolução. 4.1. Objetivos da intervenção Com base,
em parte, em Picq e Vayer (1977) e Escribá (2002), são propostos os seguintes objetivos de intervenção, que
estão resumidos na Tabela 9.1.
1. Tónus muscular:
— Paralelamente à percepção global do corpo, trabalha-se a adopção de diferentes posturas (em pé, sentado,
deitado, quadropedia, etc.).
— Relaxamento: trabalha-se o relaxamento global e segmentar do corpo.
2. Coordenação dinâmica geral:
— Controlo e desenvolvimento dos diferentes tipos de movimento: engatinhar, quadropedia, caminhar, correr,
saltar, virar e escalar.
3. Equilíbrio:
— Desenvolvimento do equilíbrio dinâmico espontâneo em diferentes movimentos.
— Manutenção do equilíbrio no solo com diferentes apoios, em diferentes posturas, modificando a posição
geral do corpo.
— Transporte de objetos em equilíbrio.
— Desenvolvimento de alto equilíbrio dinâmico espontâneo realizando diferentes deslocamentos.
4. Coordenação óculo-motora:
— Desenvolvimento do controle óculo-manual: lançar e receber.
— Desenvolvimento do controle olho-pé: ultrapassagem e condução.
— Desenvolvimento da motricidade fina.
5. Lateralidade: definição e reforço da dominância da mão, do olho e do pé.
TABELA 9.1
Objetivos da intervenção
Área motora:
Tônus muscular
• controle postural
• posições
Relaxamento
• Global
• segmentária
Equilíbrio
• equilíbrio dinâmico espontâneo
• equilíbrio no chão
• saldo do objeto
• saldo alto
•
Coordenação olho-motora
• olho-mão
• olho-pé
lateralidade
• domínio da mão
• dominância ocular
• dominância do pé
Respiração
• Fases: inspiração-expiração
• Respiração nasal e bucal
• Respiração torácica e abdomina
Área cognitiva
Percepção corporal
Espaço e objetos
• Uso e exploração do espaço
• Uso e exploração de objetos
Noções espaciais
• Noções básicas em relação ao seu corpo
• Transposição de noções espaciais para outra
• Transposição de noções espaciais em objetos
Temporal
• Distribuição de tempo e planejamento
• noções temporais
• Noções básicas
• relacionamentos no tempo
Capacidade de representação
• o jogo simbólico
• Diferentes formas de representação
• Independência e autonomia
Autoconceito e autoestima
Línguagem
• Habilidades auditivas
• Habilidades de comunicação.
6. Controle respiratório:
— Consciência da própria respiração e das fases que a compõem.
— Controle e diferenciação da respiração bucal e nasal.
— Obtenção de uma respiração harmoniosa, rítmica, profunda e completa: respiração torácica e abdominal.
1. Percepção do corpo:
— Percepção do seu corpo como uma unidade e consciência da sua posição no espaço: as diferentes posições
corporais são trabalhadas em simultâneo (em pé, deitado, sentado, ajoelhado, quadropedia, etc.) e diferentes
movimentos (andar, correr, engatinhar, engatinhar, etc.), insistindo na mobilização do corpo como um todo, e
não na precisão na execução dos movimentos.
— Conhecimento das diferentes partes do corpo: conhecer o nome e a localização das diferentes partes do
corpo, saber localizá-las no próprio corpo e nos outros e descobrir as possibilidades motoras de cada uma delas.
— Consciência do espaço gestual: conhecimento das noções espaciais básicas em relação ao próprio corpo.
2. Espaço e objetos:
— Utilização e exploração dos diferentes espaços (sensório-motor, simbólico e de representação).
— Uso e exploração de objetos: desenvolvimento do jogo sensório-motor e simbólico.
— Noções espaciais: conhecimento das noções espaciais básicas em relação ao espaço imediato (acima/abaixo,
perto/longe, dentro/fora, acima/abaixo, atrás/à frente, de um lado/ao outro, junto/afastado, esquerda/ direita) e
realização de percursos ou itinerários simples.
3. Tempo:
— Distribuição e planificação do tempo da sessão.
— Noções temporais: conhecimento das noções temporais básicas (velocidade, duração), consciência das
relações no tempo (simultaneidade e sucessão, antes e depois, início e fim).
4. Capacidade de representação:
— Desenvolvimento do jogo simbólico: capacidade de representar diferentes situações, personagens e papéis,
dar outro significado aos objetos, criar espaços.
— Expressão do vivido através do corpo e movimento através de diferentes formas de representação.
1. INTRODUÇÃO
A cegueira costuma ser entendida como a privação da sensação visual ou do sentido da visão. No entanto,
vários níveis de cegueira podem ser diferenciados (Marcos, 1999):
— Amaurose: em oftalmologia, uma pessoa é considerada cega quando apresenta ausência total de visão,
incluindo falta de percepção luminosa.
— Cegueira legal: na prática, são consideradas cegas as pessoas que apresentam restos visuais funcionais
dentro dos limites quantificados em tabelas normativas. Inclui as pessoas que apresentam uma deficiência
visual funcional que as impeça de ter uma acuidade visual superior ao limite de 1/10 ou um campo visual
superior a 10 graus.
— Deficiência visual: inclui pessoas que sofrem de distúrbios da visão com função residual limitada, o que
causa dificuldades em tarefas que são fáceis para pessoas com visão normal. O momento do aparecimento da
deficiência visual influencia suas repercussões; quanto mais precoce, maiores as repercussões ao nível da
aptidão e menores ao nível da adaptação e social (Checa, 1999). Na cegueira congénita, a privação de
informação sensorial condiciona um desenvolvimento sensório-motor mais tardio e peculiar, bem como
dificuldades no acesso à informação escrita e no movimento. Em sua adaptação pessoal, os desajustes derivam
da consciência de ser diferente dos outros e aparecem por volta dos quatro anos, na adolescência e em algum
outro período crítico de sua vida. Quando a cegueira é adquirida após a adolescência, já existe uma boa base de
conhecimento das relações espaciais que facilita a aquisição de novos aprendizados. No entanto, a
incompatibilidade pessoal pode ser muito importante.
2. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR A evolução da criança cega está sujeita às mesmas leis que a
evolução da criança vidente. As dificuldades manifestam-se, na maioria dos casos, por um atraso na idade de
aparecimento de determinados comportamentos e não por uma total impossibilidade de aquisição (Defontaine,
1981). Essas diferenças evolutivas costumam fazer com que as crianças cegas tenham um atraso de dois a
quatro anos em relação às videntes, mas essa diferença praticamente se iguala entre os doze e os quinze anos
(Ochaíta, 1984).
A maioria das dificuldades reside na falta de imitação visual e deficiências estimulatórias. A criança cega pode
se desenvolver como qualquer criança vidente, mas segue caminhos diferentes para conquistar seu
desenvolvimento (González, 1990).
3. AVALIAÇÃO PSICOMOTORA
4. INTERVENÇÃO PSICOMOTORA
A cegueira acarreta uma série de perturbações associadas ao conhecimento e compreensão da realidade. Pessoas
com deficiência visual reduzem consideravelmente sua atividade motora, o que prejudica seu desenvolvimento
psicomotor (Escribá et al., 1999).
Martínez (2004) assegura que a prática psicomotora com estas crianças é especialmente necessária entre os
quatro e os seis anos: em primeiro lugar, porque as experiências de movimento são insubstituíveis para alcançar
o resto da aprendizagem e, em segundo lugar, porque a criança cega depende da seu próprio corpo em termos
de capacidade de orientação, agilidade, coordenação de movimentos e equilíbrio para ter autonomia própria.
Atualmente existem experiências que mostram o grande benefício da implementação de programas de
estimulação psicomotora (Arnaiz, 1994).
1. Percepção do corpo:
— Tomada de consciência do próprio corpo e dos outros: tomada de consciência das principais posturas
corporais e dos diferentes movimentos.
— Conhecer as diferentes partes do corpo próprio e dos outros: nesta fase, de natureza mais estática, primeiro o
psicomotor toca e nomeia as várias partes do corpo da criança e depois a criança faz a mesma operação num
boneca, sobre a educadora e/ou sobre outra criança.
— Tomar consciência da mobilidade das diferentes partes do corpo: nesta fase de natureza dinâmica, trata-se de
mobilizar as diferentes partes do corpo, bem como tomar consciência do espaço gestual, ou seja, do
conhecimento cinestésico do sua postura. Seu sentido tátil é usado para verificar o movimento feito por outra
criança ou pelo adulto.
— Tomar consciência das faces do corpo: as diferentes faces do corpo constituirão o ponto de referência para a
estruturação espacial. Em primeiro lugar, identificam-se as diferentes faces do corpo: em cima (parte superior
da cabeça), em baixo (sola dos pés), à frente (tórax), atrás (costas) e direita/esquerda (laterais); Através do
contato da pele com o corpo da criança, o especialista psicomotor toca as diferentes faces, para depois
relacioná-las com superfícies externas horizontais e verticais, ou com objetos.
2. Espaço e objetos:
— Utilização e exploração dos diferentes espaços da sala (sensório-motor, simbólico e para representações).
— Utilização e exploração de diferentes objetos: desenvolvimento do jogo sensório-motor e simbólico.
— Noções espaciais: organização do seu corpo no espaço imediato (tomando consciência das principais noções
espaciais no espaço imediato, tomando consciência do tamanho e da forma dos objetos e localizando-os no
espaço, bem como diferenciando e localizando sons), organização de seu corpo em um espaço maior (tomar
consciência do tamanho e da forma do espaço, realizar rotas complexas desenvolvendo mapas espaciais
mentais) e desenvolvimento de noções espaciais do ponto de vista do outro (identificar noções espaciais no
corpo do outro, tomar consciência do espaço imediato e da ação do outro). A Tabela 10.2 resume os objetivos
da reeducação das noções espaciais.
3. Tempo: são trabalhados os mesmos objetivos que com crianças videntes, levando em consideração que
haverá uma defasagem na aquisição dessas noções devido ao atraso que já ocorre no esquema espacial.
— Noções básicas de tempo: noção de velocidade, duração, continuidade e irreversibilidade. — Relações no
tempo: simultaneidade e sucessão, os diferentes momentos do tempo e consciência da sucessão.
— Coordenação dos vários elementos: consciência da sucessão regular e percepção das estruturas temporárias.
TABELA 10.1
Objetivos da intervenção
Área motora
Tônus muscular
— Controle postural
• Posições
— Relaxamento
• Global
• Segmentar
Coordenação dinâmica geral
— Gatinhar
— Aprender a cair
— Andar
— Correr
— Saltar Equilíbrio
— Equilíbrio no solo
— Reflexos de equilíbrio
— Equilíbrio dinâmico
Lateralidade
— Dominância da mão
— Dominância da mão do pé
Dissociação de movimentos
— Coordenação de membros superiores
— Coordenação de membros superiores e inferiores
Área cognitiva
Percepção do corpo
— Percepção global do corpo
— Conhecimento das diferentes partes
— Consciência da mobilidade das diferentes partes
Espaço e objetos
— Utilização e exploração do espaço
• Sensório-motora • Simbólica
• Para representações
— Utilização e exploração dos objectos
• Sensório-motora jogo
• Jogo simbólico
— Noções espaciais
• Organização no espaço imediato
• Organização no espaço alargado
• Transposição das noções espaciais para outro
Tempo
— Distribuição e planificação do tempo
— Noções temporais
• Noções básicas
• Relações no tempo
• Coordenação dos vários elementos
Capacidade de representação
— O jogo simbólico
— Diferentes formas de representação
TABELA 10.2
Objetivos no desenvolvimento de noções espaciais
RESUMO
— O tempo de aparecimento da deficiência visual influencia as suas repercussões: quanto mais precoce,
maiores as repercussões ao nível da aptidão e menores ao nível adaptativo e social.
— O desenvolvimento psicomotor da criança cega está sujeito às mesmas leis que a evolução da criança
vidente. As dificuldades se manifestam, na maioria das vezes, por uma lacuna na idade de aparecimento de
certos comportamentos que costumam causar um atraso entre dois e quatro anos, mas essa diferença é
praticamente igual entre doze e quinze anos.
— A avaliação psicomotora começa com uma observação psicomotora durante as sessões iniciais para observar
como a criança se comporta em relação ao seu corpo, espaço e objetos. Essa observação pode ser
complementada com testes padronizados, como o Early Childhood Examination ou o Vayer Psychomotor
Examination, desde que sejam feitas algumas modificações nos testes com recursos adaptados para crianças
cegas.
— Várias experiências têm evidenciado a importância da implementação de programas de estimulação
psicomotora, especialmente nas idades entre quatro e seis anos.
— As sessões guiadas permitem abordar objetivos fundamentalmente na área motora e cognitiva, propondo um
programa alargado de atividades de movimento baseadas no jogo e maximizando o descanso dos sentidos e
estimulando sobretudo as sensações cinestésicas, táteis e auditivas. As técnicas de relaxamento mais utilizadas
neste tipo de sessão têm sido o relaxamento progressivo de Jacobson e o treino autógeno de Schultz.
— Sessões vivenciadas permitem trabalhar aspectos motores, cognitivos, afetivos e comunicativos ao mesmo
tempo. Através do jogo que surge espontaneamente nos diferentes espaços da sala, pretende-se favorecer e
consolidar o desenvolvimento psicomotor que tem sido estimulado nas sessões dirigidas.
INTERVENÇÃO PSICOMOTORA
EM IDOSOS
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento é definido como o conjunto de modificações morfológicas, psicológicas, funcionais e
bioquímicas causadas pela passagem do tempo nos seres vivos (Bravo, 1998). Como afirma Ribera (1995), o
envelhecimento é um processo dinâmico que se inicia no momento do nascimento e continua ao longo da vida.
O momento em que se atinge a velhice é pouco definido e tem variado de acordo com os tempos e lugares. As
pessoas não experimentam mudanças repentinas que as levem a se reconhecer como diferentes, a menos que
ocorram eventos súbitos e importantes em suas vidas. Pereira (1995) indica que as diferentes fases da velhice
devem ter como referência os conceitos de idade cronológica (anos vividos), idade social (capacidade funcional
para contribuir com o trabalho), idade biológica (alterações físicas e fisiológicas) e idade psicológica (sua
competência comportamental e adaptação).
O envelhecimento implica uma série de mudanças inevitáveis e que ocorrem como consequência da passagem
do tempo. No entanto, não afeta todas as pessoas igualmente e da mesma forma, mas existem diferentes fatores
que modulam o processo de envelhecimento: doenças, fatores de risco e ambientais a que foram submetidos,
estilo de vida, prática de exercício físico etc. Segundo Montorio e Izal (1999), uma das características que
melhor definem esta faixa etária é a sua variabilidade interindividual e intraindividual.
A variabilidade interindividual refere-se ao fato de que, à medida que a idade avança, as pessoas tendem a ser
mais heterogêneas no funcionamento psicológico, fisiológico e social. Algumas pessoas mais velhas podem
apresentar um funcionamento idêntico ao dos grupos etários mais jovens, mesmo que o funcionamento médio
de seu grupo etário seja inferior ao do grupo etário mais jovem.
A variabilidade intra-individual refere-se ao fato de que as mudanças que ocorrem ao longo do tempo em um
determinado comportamento, capacidade, habilidade psicológica ou fisiológica não predizem necessariamente
alterações em outras características psicológicas ou sistemas fisiológicos. Uma pessoa pode perder a capacidade
motora e manter as habilidades cognitivas intactas. Por outras palavras, existem inúmeras variações nas
alterações associadas à idade, quer a comparação se estabeleça entre diferentes indivíduos, quer entre os
diferentes sistemas ou funções de um mesmo indivíduo.
2. ALTERAÇÕES PSICOMOTORAS
2.1. Alterações motoras As modificações se expressam como um processo de retrogênese (Justo, 2000).
Fonseca (1988) chama de "retrogênese psicomotora" o processo pelo qual a organização psicomotora que se
desenvolveu desde o recém-nascido até a puberdade em uma ontogênese sistêmica que evolui da tonicidade
para a praxia fina e que se torna mais complexa na idade adulta. entre a idade adulta e a velhice, uma
degeneração sistêmica da praxia fina à tonicidade. Da mesma forma, devido às alterações fisiológicas, o idoso
apresentará:
— Menos segurança na marcha e nos deslocamentos, bem como no equilíbrio estático.
— Diminuição do tônus muscular e dificuldade de relaxamento voluntário.
Além disso, Martínez (2003) aponta que haverá uma involução das qualidades físicas de:
— Coordenação: há uma diminuição progressiva da capacidade de cerca de 30 por cento até a idade de 70
anos, embora nas mulheres seja um pouco mais atrasada.
— Flexibilidade: a partir dos 30 anos inicia-se um declínio, provocado pela diminuição das células e fibras
elásticas dos tendões, ligamentos, etc.
— Força: diminui de 25 a 30 por 100 até os 70 anos, dependendo do uso dos músculos na vida diária.
— Velocidade: a sua diminuição, primeiro lenta e depois mais acentuada, observa-se a partir dos 30, ou 40-45
anos nos casos de treino regular. A principal causa é a diminuição da força e elasticidade do aparelho locomotor
e a involução dos processos neurofisiológicos.
— Resistência: a resistência anaeróbica depende da força e da resistência física, e sua diminuição se manifesta
de forma semelhante a essas duas. O aeróbico e dinâmico, a partir dos 30 anos, reduz-se nos homens em 25-30
por 100, e nas mulheres, entre 20-25 por 100, até aos 60 anos. A causa da diminuição deve ser buscada nos
campos cardiocirculatório, pulmonar e muscular.
3. AVALIAÇÃO PSICOMOTORA
Defontaine (1981) adverte que para realizar a avaliação psicomotora do idoso é necessário: seu consentimento,
motivação e participação. Antes de iniciar a avaliação, é importante conversar com eles para que ganhem
confiança, pois normalmente sofrem de solidão, retraimento e desconfiança. Sugere uma primeira parte da
apresentação em que são recolhidos alguns dados pessoais e observado o seu grau de mobilidade.
Da mesma forma, é necessário realizar um exame clínico para verificar possíveis dificuldades respiratórias e
cardíacas, apraxia, afasia, agnosia ou um estudo mais aprofundado do sistema nervoso se houver suspeita de
que possa haver um problema neurológico.
Como medida de competências psicomotoras, o instrumento que tem sido mais utilizado é a Bateria
Psicomotora de V. da Fonseca (1998), já descrita no Capítulo 3.
A BPM é uma bateria de observação que embora tenha sido concebida para identificar o grau da maturação
psicomotora da criança, apresenta condições para avaliar as habilidades psicomotoras do idoso. Concretamente,
foi aplicado na sua totalidade a idosos (Fonseca, María, Henriques, Passarinho, Mourão & Alfonso, 1987) e
provou a sua utilidade como ferramenta de deteção de sinais disfuncionais. Observa-se nos idosos uma
deterioração que segue o processo inverso da evolução. A involução ocorre do córtex à medula, do mais
complexo ao mais simples e do mais voluntário ao mais involuntário.
Para analisar os resultados, dividiram a amostra por idade em quatro grupos:
— Grupo 1, de 60 a 69 anos: obteve os melhores resultados em noção corporal, enquanto a tonicidade
apresentou o pior equilíbrio. Este grupo apresentou os melhores resultados de toda a amostra em todos os testes,
com exceção de tonicidade.
— Grupo 2, de 70 a 79 anos: a consciência corporal foi a mais pontuada, e o equilíbrio obteve o pior resultado.
Obteve resultados inferiores ao grupo 1 em todos os testes e superiores aos grupos 3 e 4 em todos os testes, com
exceção da tonicidade.
— Grupo 3, de 80 a 85 anos: o teste mais pontuado foi o de noção corporal, e o de estruturação espaço-
temporal o que obteve pior resultado. A soma das médias foi inferior às médias dos grupos 1 e 2, mas superior à
do grupo 4.
— Grupo 4, 86 anos ou mais: o melhor teste desse grupo foi consciência corporal e o pior, praxia fina. Todos os
valores obtidos foram inferiores aos dos grupos 1 e 2; Em comparação com o grupo 3, foram obtidos valores
mais baixos em todos os testes, exceto naqueles que mediram a estruturação espaço-temporal.
Em geral, observou-se uma diminuição dos valores do grupo 1 para o grupo 4. Os testes de tonicidade,
consciência corporal e praxia global foram os menos discriminativos por idade, enquanto os mais
discriminativos foram praxia fina, estruturação espaço-temporal e equilíbrio.
Fonseca e cols. (1987) afirmam que no idoso há uma desorganização vertical descendente da praxia fina em
direção à tonicidade, verificando-se a perda progressiva primeiro das aquisições exteroceptivas, depois das
proprioceptivas e por último das interoceptivas. Sugerem que a tonicidade, como primeiro fator de organização
psicomotora, também demora mais para se desintegrar como último fator psicomotor de desorganização
involutiva, embora reconheçam que nela se registram alterações, principalmente em relação ao enfraquecimento
da extensibilidade, rigidez apendicular paratônica e os mecanismos de aferência e vigilância afetiva. 4.
INTERVENÇÃO PSICOMOTORA
É necessário estabelecer programas e recursos preventivos que busquem um maior bem-estar físico, mental e
social. O objetivo é preparar as pessoas para enfrentar a velhice com a melhor idade funcional possível,
aprendendo estratégias e habilidades que lhes permitam continuar cumprindo uma importante tarefa na
sociedade.
Dentre essas habilidades, as psicomotoras ocupam lugar de destaque, pois a retrogênese psicomotora pode
produzir modificações importantes na organização psicomotora e interferir nos comportamentos cognitivos e
socioafetivos (Justo, 2000). A reeducação psicomotora em idosos pode ser um procedimento eficaz para
combater os problemas derivados da retrogênese psicomotora, sendo especialmente necessários programas
gerontopsicomotores em idosos institucionalizados (Benavente, 1995; Díez Manglano, Vela, Sanz, Bardina,
Tricas e Callau, 1991; Parreño, 1983; García Arroyo, 1995; García Nuñez e Morales, 1995; Linares, 1999b).
Lorente (2003) recomenda a abordagem de três níveis de prevenção da psicologia comunitária.
A abordagem de prevenção primária estaria associada à intervenção com idosos saudáveis para evitar que os
déficits associados à idade aumentassem ou se tornassem patológicos; Desta forma, intervinha o psicomotricista
do centro de dia ou centro de convivência da terceira idade. No momento em que a pessoa começa a queixar-se
de uma determinada deficiência ou apresenta um défice ou deterioração cognitiva, é necessário um treino mais
exaustivo, próximo da reeducação psicomotora, que seria uma prevenção secundária, destacando as dimensões
cognitiva e motora. Se a pessoa já tem um diagnóstico, como a doença de Alzheimer, seria a prevenção
terciária, e a intervenção psicomotora se concentraria na melhoria da qualidade de vida, no gerenciamento dos
déficits e no prazer do movimento e do trabalho corporal.
TABELA 11.1
Objetivos da intervenção
Área motora
Tônus muscular
— Relaxamento
• Global
• Segmentar
• Diferencial
— Respiração
Coordenação dinâmica geral
— Marcha Equilíbrio
— Equilíbrio dinâmico espontâneo
— Equilíbrio no solo
Coordenação viso-motora
— Habilidade manual
— Coordenação motora fina
Dissociação de movimentos
— Coordenação dinâmica de membros superiores
— Coordenação dinâmica de membros superiores e inferiores
— Coordenação dinâmica e postural
— Mobilização de outros segmentos e de todo o corpo
Área cognitiva
Percepção do corpo
— Percepção global do corpo
— Conhecimento das diferentes partes
— Consciência do espaço gestual
Espaço e objetos
— Noções espaciais
• Orientação espacial
• Transposição de noções espaciais para o outro
— Estabelecer e utilizar diferentes espaços
— Utilização criativa dos objectos
Tempo
— Noções temporais
• Noções básicas
• Relações no tempo
• Coordenação dos vários elementos
— Distribuição e planeamento do tempo
Processos cognitivos
— Atenção
— Memória
— Abstração
— Linguagem
Área socioafetiva e comunicativa
RESUMO