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Os Relacionamentos Amorosos na Adolescência

A adolescência constitui-se como um período de intensas transformações de ordem


física, psicológica e social. É uma etapa que possui uma série de características
idiossincráticas e não um “caminho” entre a infância e a fase adulta (Osorio, 1992).
Caracteriza-se por padrões de pensamento em que as necessidades imediatas apresentam
prioridade sobre as implicações a longo prazo e pela iniciação de comportamentos que
podem ser cometidos ao longo da vida (OMS, 2005).

É um período marcado pela intensificação de novas relações e experiências que irão


fazer com que o adolescente explore a sua própria identidade e identificação com os
pares (Cicognami, Zani & Albanesi, 2003). Assim sendo, o adolescente vai à procura de
uma identidade própria, não mais baseada exclusivamente nos conceitos e parâmetros
parentais, mas também nas vivências e experiências que o mesmo realiza. A identidade
é a construção “do que eu penso que sou”, “o que os outros pensam que sou” e “o que
eu penso que os outros pensam que eu sou”. (Osorio, 1992).

Sabe-se que a natureza relacional do ser humano leva-o a estabelecer laços com outros
indivíduos, ligações de afeto que completam e dão sentido à sua vida (Oliveira &
Sani, ?).

Na adolescência, deixa de existir o contacto exclusivo com o núcleo familiar para


começar a existir uma maior aproximação ao grupo de amigos, através das relações de
amizade e amorosas. Estas relações são dotadas de um significado especial e baseiam-se
na capacidade de discriminar e avaliar as situações de interação, sejam elas positivas ou
negativas (Matos, Feres-Carneiro & Jablonski, 2005). É também junto destas relações
que os adolescentes conquistam aprendizagens acerca da intimidade e sexualidade numa
relação amorosa (Furman & Buhrmester, 1992).

Os adolescentes não lidam com as suas experiências amorosas da mesma forma como
os adultos. Os relacionamentos amorosos na adolescência são como uma
preparação/ensaio para a vida adulta e as experiências vividas podem ser vistas como
formas de o jovem aprender a relacionar-se e a testar as duas capacidades para tal
(Furman, 2002; Matos, Féres-Carneiro, Jablonski, 2005). Ainda que estas possam ser de
curta duração,
Inicialmente, os jovens passam algum tempo a refletir sobre o seu possível par
romântico, à medida que vão interagindo no seu grupo de pares, formado por rapazes e
raparigas. É habitual que o namoro comece na presença e companhia dos outros
colegas. Desta forma, é possível compreender que o namoro é algo menos formal e
planeado, em comparação com o namoro adulto, permanecendo o interesse pelo lado
romântico e sexual (Connolly et al., 2004).

Namorar alguém em particular poderá melhorar o “status” do adolescente dentro do


grupo ou, pelo contrário, suscitar a reprovação por estes mesmos colegas, gerando
consequências afetivas potencialmente negativas para o próprio. Ainda assim, os
relacionamentos românticos são uma fonte de interação e afeto positiva que promovem
o desenvolvimento dos adolescentes. Esta relação será marcada por encontros e
desencontros, harmonias e conflitos, refletindo-se na sua própria construção social
(Brown, 1999; Furman & Shaffer, 2003; Gonçalves, 2001).

O namoro na adolescência caracteriza-se então pela ausência de uma relação madura e


adulta entre iguais mas a causa de ápices emotivos nesta fase. É através do
relacionamento amoroso com o outro que o jovem desenvolve perceções distintas de si
mesmo, na interação com os outros. Com o par romântico, o adolescente teria uma visão
de si mesmo como alguém capaz de ser amado, ao contrário do que acontece com
alguém que se encontre numa relação desajustada, onde permanece a falta de confiança
em satisfazer o outro (Furman & Shaffer, 2009).

Existe uma forma de relacionamento bastante comum entre os adolescentes: o chamado


“curtir”. Esta forma de relacionamento tem como característica central a ausência de
compromisso entre os mementos do casal. É, como alguns jovens referem “andar aos
beijinhos”, “é ir para a cama e nada mais”, é partilhar momentos íntimos com alguém de
forma desprendida, puramente por diversão/prazer”; é uma relação apenas física, sem
continuidade; não tem antes, nem depois, é ocasional, passa-se num momento, com
alguém que já, anteriormente, se conhecia ou não.

“Andar” é diferente e implica uma continuidade no tempo, embora não exija


compromissos para futuro; há interesse pela outra pessoa, a relação repete-se pelo
prazer que trás em si própria e, sem nada planear, vai-se vendo até onde “as coisas”
podem ir. “Andar” significa ter um amigo diferente dos outros, com quem se curte, com
quem se vive experiências de intimidade, com quem sabe bem falar, partilhar, estar.
“Andar” é também viver de forma livre, sem ter que justificar nada, embora, a natureza
desta relação implique que haja apenas uma única pessoa.

O conceito de “namorar” aplica-se quando há sentimentos e um compromisso entre duas


pessoas. É um estar comprometido que exige fidelidade e confiança entre ambos; é uma
relação estável que implica uma opção de fundo e de exclusividade. É uma relação
amorosa e afetiva mantida entre duas pessoas que se unem pelo desejo de estarem juntas
e partilharem novas experiências e cujo compromisso obriga a que entre ambos haja
respeito, lealdade, partilha.
As primeiras relações amorosas podem ser muito intensas. São experiências
inigualáveis. Aquela é a pessoa. Quando finalmente conseguiste conquistar o tal
rapaz...Chegaste à fala com aquela rapariga... a tal!!! Tiveste coragem para a convidar
para ir ao cinema, vais sair com ele no sábado à tarde. Perdeste a timidez por uns
instantes, apanhaste as amigas dela ausentes por um minuto e lanças um sorriso bonito,
carinhoso e inventas um irónico e simpático: "Olá! As tuas amigas deixaram-te... é tão
difícil falar contigo sozinha". Ou finalmente apanhaste o teu vizinho a entrar no prédio e
"Olá! Sabes que ouvimos o mesmo género de música...". E voilá!!!

Quando temos oito anos e descobrimos que alguém gosta de nós, podemos ficar um
pouco envergonhados ou não ligar nenhuma. Nessa idade o amor não ocupa a nossa
cabeça. Mas na adolescência, quando o nosso corpo começa a mudar e os nossos
pensamentos mudam também, a ideia de ter um namorado ou namorada pode ser tão
excitante que nem conseguimos pensar noutra coisa.

Muitos adolescentes acham que ter um namorado/a é grande parte de ser adolescente. E
embora seja verdade que as emoções intensas que vivemos durante a adolescência nos
possam levar a sentirmo-nos atraídos por outras pessoas e nos levem a iniciar relações
românticas, isso nem sempre acontece. Se formos um dos milhões de adolescentes que
nunca se apaixonaram ou tiveram um namorado/a não há nada de errado connosco.
Devemos ficar preocupados e arranjar rapidamente um/a namorado/a? Claro que não!

Tudo tem o seu tempo e o mais provável é que, mais tarde ou mais cedo, seja a nossa
vez de encontrar o amor.

O amor é uma emoção humana muito poderosa e têm sido muitos os especialistas que a
tentam estudar. Mas, na verdade, ninguém compreende inteiramente o que é o amor, até
porque o amor é diferente para cada um de nós. O amor tem sido associado a três
qualidades principais:

Atração. Tem a ver com o interesse físico e sexual que duas pessoas sentem uma pela
outra. A atracão é responsável pelo desejo que sentimos de beijar a outra pessoa, por
exemplo, ou pelas “borboletas no estômago” que sentimos quando ela está perto. Mas
não amamos todas as pessoas por quem nos sentimos atraídos!

Proximidade. É o laço que se desenvolve quando partilhamos com alguém sentimentos


e pensamentos que não partilhamos com mais ninguém. Quando nos sentimos próximos
do nosso namorado/a, sentimo-nos apoiados, compreendidos e aceites por sermos quem
somos. A confiança é uma grande parte da proximidade.

Compromisso. É a promessa ou a decisão de nos mantermos próximos da outra pessoa


durante as fases boas e más da relação.

Estas três qualidades podem ser combinadas de forma diferente e resultam em diferentes
tipos de relações. Por exemplo, a atracão sem a proximidade é mais uma paixão –
sentimo-nos fisicamente atraídos por alguém mas não conhecemos suficientemente bem
a pessoa para sentirmos a proximidade que advém da partilha de sentimentos e
experiências pessoais.

No amor romântico combinam-se a atracão e a proximidade. Muitas relações começam


por uma atracão inicial e depois desenvolvem a proximidade. Também é possível uma
amizade passar da proximidade à atracão, quando dois amigos percebem que se sentem
atraídos um pelo outro e que o interesse mútuo vai para lá da amizade.

Algumas pessoas apaixonam-se no secundário e mantém uma relação de compromisso


durante a idade adulta. Mas na maior parte das vezes, as relações durante a adolescência
são mais curtas. Isto acontece porque a adolescência é uma fase da nossa vida em que
queremos experimentar coisas diferentes e andamos à procura daquilo que realmente
queremos e nos faz sentir mais confortáveis. Um outro motivo é porque queremos
coisas diferentes de uma relação em fases diferentes da nossa vida. Na adolescência,
namorar é muitas vezes uma forma de nos divertirmos, de termos companhia para irmos
a vários sítios. Também pode ser uma forma de sentirmos que pertencemos ao grupo,
sobretudo se a maior parte dos nossos amigos já namoram, podemos sentir-nos
pressionados para arranjar um namorado/a. As revistas, a televisão, os filmes, também
nos fazem sentir que devíamos apaixonar-nos e namorar.

No final da adolescência, as relações já não têm tanto a ver com nos integrarmos no
grupo. A proximidade, a partilha, a confiança em alguém tornam-se mais importantes
quer para os rapazes quer para as raparigas. Quando chegam aos 20s a maior parte dos
rapazes e raparigas valorizam a proximidade, o apoio, a comunicação e a paixão numa
relação. Começam a pensar em encontrar alguém com quem se possam comprometer a
longo prazo.
1. As Relações Saudáveis

Quando nos sentimos prontos para nos aventurarmos numa relação romântica uma das
principais preocupações é como é que vamos fazer a relação funcionar. E para isso é
fundamental manter uma relação saudável com o/a nosso/a namorado/a.

Nas relações saudáveis há respeito mútuo. O respeito mútuo significa que cada um
valoriza o outro e o compreende, respeitando os limites de cada um. Por exemplo, o
nosso/a parceiro/a ouve-nos quando dizemos que não nos sentimos confortáveis com
determinada coisa e respeita isso.

Nas relações saudáveis há confiança. Ou seja, sabemos que podemos contar um com o
outro e que ambos queremos o bem-estar um do outro. É normal ter um pouco de
ciúmes, ter ciúmes é uma emoção natural. Mas o que interessa é a forma como reagimos
e lidamos com os ciúmes. Por exemplo, não é normal que o nosso/a namorado/a se
passe da cabeça porque nos vê falar com um outro/a colega da escola. Não é possível
termos uma relação saudável se não confiarmos um no outro.

Nas relações saudáveis há honestidade. A honestidade é a liberdade de sermos como


somos, sem fingir. Significa que falamos abertamente e sinceramente, partilhamos os
nossos sentimentos e opiniões. A honestidade anda de mão-dada com a confiança, não é
possível confiar em alguém que não seja honesto. Já apanhamos o nosso/a namorado/a
numa mentira? Numa relação honesta nenhum dos dois está preocupado se o outro está
a dizer a verdade, partem do pressuposto que está.

Nas relações saudáveis há apoio mútuo. E o apoio mútuo não acontece apenas nos
períodos maus, quando tudo corre mal, mas também nos períodos bons, quando tudo
corre bem. Numa relação saudável temos alguém com quem podemos chorar e alguém
com quem podemos celebrar (e somos esse alguém também!).

Nas relações saudáveis há igualdade. Dá-se e recebe-se. Umas vezes somos nós a
escolher o filme que vamos ver, noutras é o nosso/a namorado/a. Umas vezes fazemos
programas com os nossos amigos, noutras vezes com os amigos do/a nosso/a
namorado/a. Claro que não precisamos de andar a contar quantas vezes fazemos estas
coisas. A ideia é que deve ser equilibrado e justo. As relações deixam de ser saudáveis
rapidamente quando uma pessoa quer ser sempre ela a mandar, a decidir, a controlar.
Nas relações saudáveis temos identidades separadas. Numa relação saudável temos de
fazer compromissos. Mas isso não significa deixarmos de ser quem somos. Antes desta
relação ambos tinham a sua própria família, amigos, interesses, etc. e isso deve
continuar! Ninguém deve ter de fingir ser uma coisa que não é, deixar de ver amigos ou
largar atividades de que gosta.

Nas relações saudáveis há privacidade. Lá porque estamos numa relação não quer dizer
que tenhamos que partilhar tudo e que tenhamos que estar o tempo todo juntos. Nas
relações saudáveis para além de tempo a dois, cada um tem o seu espaço.

Nas relações saudáveis há uma boa comunicação. Uma boa comunicação significa que é
possível falar livremente, sem assuntos tabu, que podemos expressar os nossos
sentimentos e pensamentos sem sentirmos receio de sermos julgados. Para que exista
uma boa comunicação é igualmente importante perguntarmos e esclarecermos se
estamos a perceber o que o/a nosso/a namorado/a nos está a dizer. Se não temos a
certeza devemos falar abertamente e honestamente para evitar problemas de
comunicação. Não devemos calar um sentimento ou um desejo porque temos medo que
o/a nosso/a namorado/a não goste ou porque temos receio de parecemos parvos/as.
Numa relação saudável temos o tempo que precisamos para pensar num assunto antes
de termos de falar sobre ele.

Nas relações saudáveis há reciprocidade. Em todos os aspetos, incluindo os emocionais


e sexuais. Ambos os parceiros se preocupam, ambos cuidam, ambos estão interessados
em proporcionar prazer um ao outro.

Para sabermos se a nossa relação é ou não saudável temos de saber reconhecer a forma
como o nosso/a namorado/a nos trata e como o/a tratamos a ele/a. Estas características
das relações saudáveis estão presentes? Como nos sentimos quando estamos com ele/a?

Numa relação saudável sentimo-nos confortáveis em partilhar os nossos sentimentos,


pensamentos e experiências; as coisas privadas que partilhamos mantêm-se entre os
dois; podemos falar e resolver conflitos; preocupamo-nos com a outra pessoa e a sua
opinião; sentimo-nos amados e valorizados simplesmente por sermos quem somos (não
pelas nossas roupas, pela nossa aparência, pelo nosso carro, etc.).
2. As Relações Podem Ser Difíceis!

Já todos ouvimos dizer que para gostarmos de alguém precisamos de gostar de nós
próprios em primeiro lugar. De facto, é uma grande barreira quando numa relação uma
das pessoas tem problemas de autoestima. O/a nosso/a namorado/a não serve para nos
sentirmos bem connosco próprios se não o conseguimos fazer sozinhos.

Quando sentimos que o/a nosso/a namorado/a exige demasiado de nós, se a relação é
mais um fardo e uma fonte de problemas do que de alegria, então provavelmente não é
o par certo para nós.

Relações muito intensas podem ser difíceis para os adolescentes. Quando somos
adolescentes estamos focados em desenvolver os nossos sentimentos e
responsabilidades, por isso pode não nos restar energia para responder aos sentimentos e
necessidades de outra pessoa. Para além disso, ainda estamos a crescer e a mudar, todos
os dias. A pessoa que parecia perfeita para nós há uns meses atrás, pode já não o ser. E é
melhor ficarem amigos do que investirem numa relação que já não parece certa.

Quer estejamos sozinhos ou numa relação devemos ser “picuinhas” quando escolhemos
alguém para manter uma relação próxima. Se não nos sentirmos preparados para uma
relação não é um problema!

3. Alguns Mitos sobre Relações:

Os media, a música que ouvimos ou os filmes que vemos podem transmitir-nos algumas
ideias erradas sobre o que são as relações ou como nos devemos comportar numa
relação. É importante destruir alguns desses mitos:

 Ter sexo com alguém não equivale a ter uma relação com alguém. Devemos, no
entanto, deixar sempre claro para o outro qual é a nossa intenção e perceber se o
outro tem as mesmas expectativas.
 As relações não são uma competição.
 O amor não é instantâneo.
 É normal (e até desejável!) ter de trabalhar e termos de nos esforçar para
construir uma relação de amor e fazê-la funcionar.
 Os homens não mandam numa relação. Ambos os parceiros mandam na relação
e são responsáveis por fazê-la funcionar.
 Não são apenas as nossas características físicas que interessam nem são elas que
determinam se ou quem vamos namorar.

4. Quando Uma Relação Termina

Terminar uma relação é uma experiência dolorosa. Sobretudo se é o nosso primeiro


amor ou se a relação terminou sem nós querermos que isso acontecesse. Podemos
sentir-nos completamente esmagados e devastados. Por algum motivo existe a
expressão “coração partido”…

Às vezes, alguns adultos esperam que, como somos adolescentes e a relação que
terminámos era uma relação entre adolescentes, ultrapassemos isso e pronto. Mas se
estamos a sofrer é importante sentirmos o apoio de alguém em quem confiemos (um dos
nossos pais, um irmão, um amigo, um Professor ou um Psicólogo).

Ao início é difícil imaginar que nos vamos sentir melhor. Mas devagarinho os nossos
sentimentos vão tornar-se menos intensos e, eventualmente, até iniciaremos uma nova
relação. As relações que vamos mantendo ao longo da vida são sempre oportunidades
de experimentar o amor e de aprender a amar e a sermos amados.

Se a tristeza e a dor de terminar uma relação está a controlar a nossa vida e isso é a
única coisa em que conseguimos pensar, devemos procurar ajuda, falar com um
Professor ou um Psicólogo pode ajudar.

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